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BARROCO: a arte da indisciplina

Barroco 2011

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BARROCO: a arte da

indisciplina

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O Barroco -----predominou no século XVII –

momento de crise espiritual na cultura ocidental. duas mentalidades, duas formas distintas de ver o mundo: de um lado de outro o paganismo e o a forte onda desensualismo do religiosidade Renascimento, lembra (em declínio) teocentrismo medieval

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• vínculos com a cultura clássica

Século XVI

RENASCIMENTO

o retorno à cultura clássica grecolatinaa vitória do antropocentrismo

BARROCO

caminhos própriosnecessidades de expressão daquele momento

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Outros nomes do Barroco

• Marinismo: (Itália), Giambattista Marini.• Gongorismo: (Espanha) Luís de Gôngora y

Argote

Barroco e gongorismo = sinônimos. • Preciosismo: (França), em razão do requinte

formal dos poemas• Eufuísmo: (Inglaterra) criado a partir do título

do romance Euphues , or the anatomy

of wit, de John Lyly.

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A SOCIEDADEEUROPEIASéculo XVII

O CLERO A NOBREZATERCEIROESTADO

•Artesãos•Camponeses•Burguesia

Poder econộmico

Pressão

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CONTRADIÇÕES DO BARROCOContrarreforma

Econômico Político Espiritual

Livre Oprimido

Enriquecer

*Influênciado paganismo renascentista•Prazeres materiais

Restauração da feMedieval.

Homem:Ser contraditório

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Características da linguagem

Forma• Vocabulário selecionado• Gosto pelas inversões

sintáticas.• Figuração excessiva; ênfase

em certas figuras da linguagens:metáfora, antítese e hipérbole.

• Sugestões sonoras e cromâticas.

• Gosto por construções complexas e raras.

Conteúdo• Conflito espiritual.• Bemmal.• Consciencia da

efemeridade do tempo.• Carpe diem• Morbidez.• Gosto por raciocínios

complexos e intrincados.

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Um “BARROCO” Brasil

A cada canto um gram conselheiro, AQue nos quer governar na cabana, e vinha, BNão sabem governar sua cozinha, BE podem governar o mundo inteiro .A

Em cada porta um frequentado olheiro, AQue a vida do vizinho, e da vizinha, BPesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,BPara levar à Praça, e ao Terreiro. A

Muitos mulatos desavergonhados, CTrazidos pelos pés os homens nobres, DPostas nas palmas toda a picardia. E

Estupendas usuras nos mercados, CTodos, os que não furtam, muito pobres, DEis aqui a cidade da Bahia.E

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Os escritores barrocos brasileiros que mais se destacaram são:

• na poesia:

Gregório de Matos,

Bento Teixeira,

Botelho de Oliveira

Frei Itaparica;

• na prosa:

Pe. Antônio Vieira,

Sebastião da Rocha Pita

Nuno Marques Pereira.

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GREGÓRIO DE MATOSGREGÓRIO DE MATOSBAHIA (1633)

1° poeta brasileiro- estudou no Colégio Jesuíta.- em Coimbra se formou em Direito. - ficou ali uns anos exercendo a sua profissão, mas por suas sátiras retornou obrigado ao Brasil onde foi convidado a trabalhar com os Jesuítas no cargo de tesoureiro-mor da

Companhia de Jesus.-Ainda por suas sátiras abandonou os Padres e foi

degredado para Angola.- Retornou ao Brasil muito doente sob duas condições: 1.- não pisar terras baianas. 2.-não apresentar as suas sátiras.

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É conhecido pela sua: Poesia lírica Poesia religiosa ou sacra Poesia satírica-valeu-lhe o apelido de

“Boca de inferno” Cultivou----------- cultismo /conceptismo1. Poesia sacra2. poesia lírica3. poesia graciosa inédita até o S:XX

4. poesia satírica.5. Últimas

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POESIA LÍRICA• A lírica amorosa de Matos celebra a tensão entre:

A imagem a tentação da carne feminina angelical que atormenta o espírito

- define-se pelo erotismo- revela uma sensualidade ora grosseira/ora de rara fineza- glorifica e admira à mulata (1° poeta)

““Minha rica mulatinhaDesvelo e cuidado meu”

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Não vira em minha vida a formosura,

Ouvia falar nela cada dia,

E ouvida me incitava, e me movia

A querer ver tão bela arquitetura:

Ontem a vi por minha desventura

Na cara, no bom ar, na galhardia

De uma mulher, que em Anjo se mentia;

De um Sol, que se trajava em criatura

Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me,

Se esta a cousa não é, que encarecer-me

Sabia o mundo, e tanto exagerar-me:

Olhos meus, disse então por defender-me,

Se a beleza heis de ver para matar-me,

Antes olhos cegueis, do que eu perder-me.

(In: Antonio Candido e J. A. Castello, op. cit.,

p. 61).

Observe este soneto:

Sonetos a D. Ângela de Sousa ParedesSonetos a D. Ângela de Sousa Paredes

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a mulher figura de um “anjo”

pureza angelical contida no próprio nome

uma grandeza maior, o Sol

um ser superior, dotado de grandezas absolutas e inacessíveis

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POESIA SACRA

- Gregório diante de Deus pede perdão por seus erros.

- Sobressai o senso do pecado, mostra a fragilidade humana e o temor diante da morte e a condenação eterna.

- A faceta de pecador arrependido emerge na fase final da sua vida (em sua mocidade fez composições claramente desafiadoras do poder divino).

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A Jesus Cristo Nosso Señor

Pequei, Senhor, mas nâo porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,

A abrandar-vos sobeja um sóp gemido:

Que a mesma culpa ,que a vos há ofendido,

Vos tem para o perdão lisonjeado

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Se uma ovelha perdida e já cobradaGlória tal e prazer tão repentinoVos deu, como afirmais na Sacra História:

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,

Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória

Gregório de Mattos Guerra

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A sátiraAge :deformação caricatural daquilo que se pretende

atacar ou desmoralizar. Contém: -uma intenção reformadora, - ligada ao sentimento de indignação - à vontade de moralizar os costumes. Elemento motivador : - distingue-se o senso do ridículo, (a

percepção do lado cômico de personagens, situações e idéias.)

• Gregório de Matos pretendia, manifestar explicitamente o funcionamento dos discursos do poder.

• Utiliza :"malandragem", "plágio", " inveja", "imoralidade", "adultério", "racismo",

“"furto", "repúdio", "libertinagem" "promiscuidade".

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POESIA SATÍRICA A sátira de Matos tem muito de crônica social.

- foge dos padrões do Barroco

- se volta para a realidade social baiana século XVII.

- pode ser chamada de REALISTA ou BRASILEIRA.

- critica os letrados, os políticos, à corrupção, o relaxamento dos costumes, a cidade de Bahia.

-língua diversificada (indígena e africana) palavrões, gírias, expressões locais

“Que os brasileiros são Bestas

E estão sempre a trabalhar

Toda a vida, por manter

Maganos de Portugal”

Maganos: engraçados.

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A CIDADE DA BAHIA

A Cidade da Bahia! Ó quão dessemelhante

Estás e estou do nosso antigo estado,

Pobre te vê a ti, tu a mi empenhado,

Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

 

A ti trocou-te a máquina mercante,

que em tua larga barra tem entrado,

A mim foi-me trocando e tem trocado,

Tanto negócio e tanto negociante

Deste em dar tanto açúcar excelente

Pelas drogas inúteis, que abelhuda

Simples aceitas do sagaz Brichote.

 

Oh! se quisera Deus que de repente

Um dia amanheceras tão sisuda

que fora de algodão o teu capote!

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A BAHIA

Tristes sucessos, casos lastimosos,

Desgraças nunca vistas, nem faladas.

São, ó Bahia, vésperas choradas De outros que estão por vir

estranhos  Sentimo-nos confusos e teimosos Pois não damos remédios as já

passadas, Nem prevemos tampouco as

esperadas Como que estamos delas

desejosos

Levou-me o dinheiro, a má fortuna,

Ficamos sem tostão, real nem branca,

macutas, correão, nevelão, molhos:

 Ninguém vê, ninguém fala,

nem impugna, E é que quem o dinheiro nos

arranca, Nos arrancam as mãos, a

língua, os olhos

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Eis outro exemploEis outro exemplo:

Se Pica-flor me chamais,Pica-flor aceito ser,mas resta agora saber, se no nome que me dais,meteis a flor, que guardaisno passarinho melhor!Se me dais este favor,,Sendo só de mim o Pica, e o mais vosso, claro fica,que fica então Pica-flor.

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Ocupou-se de atacar viperinamente o baixo clero baiano, após ter sido destituído do cargo eclesiástico de Tesoureiro-mor da Sé por recusar-se a receber “ordens sacras” e a usar batina.Voltou sua veia satírica contra vários religiosos, padres, frades, freiras, cujo comportamento sexual foi alvo de vários de seus poemas.

...E nos Frades há manqueiras? - Freiras.Em que ocupam os serões? -Sermões.Não se ocupam em disputas? - Putas.Com palavras dissolutasMe concluís, na verdade,Que as lidas todas de um FradeSão freiras, sermões, e putas. (recolha)...

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• A poesia gregoriana recorre ao jogo entre o sagrado e o profano num processo de “dessacralização” e popularização, o que se verifica pelo uso que faz, repetidas vezes, da rima Jesu/cu: 

• Passou o surucucue como andava no cio,com um e outro assobio,pediu a Luisa o cu:Jesu nome de Jesu,disse a Mulata assustada,

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ENTRE O CONCEITO E A FORMACULTISMO ou GONGORISMO:• linguagem rebuscada, culta,

extravagante.• Valorização do pormenor

mediante jogos de palavras• Influência do poeta espanhol

Luis de Gôngora.

• Valorização do “como dizer”

CONCEPTISMO:

marcado pelo- jogo de idéias, de conceitos,

seguindo um raciocínio lógico.

- É usual a presença de elementos da lógica forma

Nada impede que o mesmo texto tenha aspectos cultistas e conceptistas. Didaticamente se fala de que:

* o Cultismo é predominante na poesia e * o Conceptismo é predominante na prosa

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Cultismo ou Gongorismo é o abuso no emprego de figuras de linguagem como as metáforas, antítese, hipérboles, hipérbatos, anáforas, paronomásias, etc...

"O todo sem a parte não é o todo;A parte sem o todo não é parte;Mas se a parte o faz todo, sendo parte,Não se diga que é parte, sendo o todo. Em todo o Sacramento está Deus todo,E todo assiste inteiro em qualquer parte,E feito em partes todo em toda a parte,Em qualquer parte sempre fica todo.”

(Gregorio de Matos)

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Conceptismo• utiliza uma retórica aprimorada(arte de bem falar, ou escrever, com o propósito

deconvencer; oratória).

Um dos principais cultores do ConceptismoConceptismo o espanhol Quevedo, QuevedismoQuevedismo.. • Valoriza-se "Valoriza-se "o que o que dizerdizer".".

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Conceptismo: é marcado pelo jogo de idéias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico

A – O SILOGISMO: Dedução formal tal que, postas duas proposições, chamadas premissas, delas se tira uma terceira, nelas logicamente implicada, chamada conclusão. Assim, temos como exemplo: Todo homem é mortal (premissa maior); ora, eu sou homem (premissa menor); logo, eu sou mortal (conclusão).

"Mui grande é o vosso amor e o meu delito;

Porém pode ter fim todo o pecar,

E não o vosso amor, que é infinito.

Essa razão me obriga a confiar

Que, por mais que pequei, neste conflito

Espero em vosso amor de me salvar."

Premissa maior: O amor infinito de Cristo salva o pecador.

Premissa menor: Eu sou um pecador.

Conclusão: Logo, eu espero salvar-me.

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B – O SOFISMA: É o argumento que parte de premissas verdadeiras e que chega a uma conclusão inadmissível, que não pode enganar ninguém, mas que se apresenta como resultante de regras formais do raciocínio, não pode ser refutado. É um raciocínio falso, elaborado com a função de enganar.

• Ex.:

Muitas nações são capazes de governarem-se por si mesmas;

as nações capazes de governarem-se por si mesma não devem

submeter-se às leis de um governo despótico.

Logo, nenhuma nação deve submeter-se às leis de um governodespótico

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Para a tropa do trapo vazo a tripae mais não digo, porque a Musa topa.

Em apa, epa , ipa, opa, upa

........Atacóu viperinamente o baixo clero baiano após de ser

destituído do cargo Tesoureiro-Mor da Sé por recusar-se a receber “ordens sacras ” e usar batina.

Manqueiras? - Freiras Em que ocupam os serões? - Sermões Não se ocupam em disputas - Putas Com palavras disolutas Me concluís, na verdade, Que as lidas todas de um Frade São freiras, sermões, e putas ........

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SonetoSoneto

Neste mundo é mais rico, o que mais rapa:

Quem mais limpo se faz, tem mais carepa:

Com sua língua a nobre o vil decepa:

O Velhaco maior sempre tem capa.

Mostra o patife da nobreza o mapa:

Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;

Quem menos falar pode, mais increpa:

Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

A flor baixa se inculca por Tulipa;

Bengala hoje na mão, ontem garlopa:

Mais isento se mostra, o que mais chupa.

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Pe. ANTÔNIO VIEIRA

• Lisboa • 7 anos chega a Bahia.• 1623: entra na Companhia de Jesus.• Quando Portugal se liberta de Espanha, volta para o

seu país e se torna confessor de D. João IV.• Políticamente tinha em contra de si:

_ a pequena burguesia cristã

o capital judaico e os cristão-novos.

_ os pequenos comerciantes

um monopólio comercial

_os administradores colonos

os índios.

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OBRAS

Profecias três obras Esperanças de Portugal Clavis Prophetarum História do futuroCartas umas 500Sermões quase 200 - estilo barroco conceptista

Sermão da Sexagésima Sermão pelo bom sucesso das armas....” Sermão de Santo Antônio

Sermões e cartas revelam a maestria com que Vieira usava a língua para cativar sua audiência através de:

- o uso de metáforas e analogias- passagens ilustrativas do Antigo e Novo Testamento- de uma crítica ao estilo cultista dos padres dominicanos

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• CARTAS:

São cerca de 500 cartas, que versam sobre o relacionamento entre Portugal e Holanda, sobrea inquisição e os cristãos novos e sobre a situação da colônia.

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SERMÕES:

• São quase 200 sermões o melhor da obra de Vieira.

• Em estilo barroco conceptista, totalmente oposto ao gongorismo, o pregador português usa a retórica jesuitica para trabalhar ideias e conceitos.

Pe Vieira

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A estrutura clássica:

Os sermões de Vieira tinham o “poder”de convencer quemOs sermões de Vieira tinham o “poder”de convencer quem

ouvia tanto pela razão quanto pela emoção.ouvia tanto pela razão quanto pela emoção.  • • Na unidade do assuntoNa unidade do assunto: o tema é estudado em todos os : o tema é estudado em todos os

aspectos. aspectos.

•• Na circularidade do desenvolvimentoNa circularidade do desenvolvimento: através da retomada : através da retomada constante das premissas iniciais que são repetidas até o constante das premissas iniciais que são repetidas até o fim do sermão. fim do sermão.

• • Na divisão em cinco partesNa divisão em cinco partes: : 

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1. Intróito: é exposto de maneira geral para todos que irão ouvi-lo.

2. Invocação: quem vai pregar o sermão pede ajuda e inspiração Divina.

3. Tema: sempre começa seus sermões, relembrando uma passagem da bíblia, que represente o tema que será pregado.

4. Argumentação: o pregador expõe a tese com exemplos bíblicos. Utiliza o método parenético que lança o argumento e pensa em todas as possibilidades de contestação do ouvinte-leitor.

5. Peroração ou Epílogo: o pregador então faz uma conclusão de tudo o que havia falado e ressalta os fatos mais importantes da pregação. 

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Assim há de ser um sermão:

“-Há-de ter raízes fortes e sólidas, por que há-de ser fundado no Evangelho;

- há-de ser um tronco, porque há-de ter um só assunto e tratar uma só matéria;

- Deste tronco hão-de nascer diversos ramos, que são novos discursos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela; estes ramos nã hão-de ser secos, sinão cobertos de folhas, porque os discursos hão-de ser vestidos e ornados de palavras”

- Sermão da Sexagéssima

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Sermão da Sexagésima,- pregado em 1655 na Capela Real,

- versa sobre a arte de pregar em suas dez partes.

- usa de uma metáfora: pregar é como semear.

- traça paralelos entre a parábola bíblica sobre o semeador que semeou nas pedras, nos espinhos (onde o trigo frutificou e morreu), na estrada (onde não frutificou) e na terra (que deu frutos),

- critica o estilo de outros pregadores contemporâneos seus, considerando que pregavam mal,

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O método utilizado por Vieira nos seus sermões:

1. Definir a matéria

2. Reparti-la.

3. Confirmá-la com a Escritura.

4. Confirmá-la com a razão.

5. Amplificá-la, dando exemplos e respondendo às

objeções, aos “argumentos contrários”

6. Tirar uma conclusão, exortar.

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• Assim, ao analisarmos “O Sermão da Sexagésima, precisamos entender:

A) as intenções discursivas do emissor da mensagem, no caso, Antônio Vieira, e

A) a situação histórica e social dos receptores, os demais catequistas.

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Sermão da sexagéssima:

“Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo?

Para esta vista são necessários olhos, e necessária luz e é necessário espelho.”

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A TÉCNICA ARGUMENTATIVA DE VIEIRA

A esses três fatores, o autor associa ainda três instrumentos:

a) olhos, b) espelho, c) luz. Vieira passa a distribuir e associar os instrumentos

por competência, segundo sua natureza: a) O pregador concorre com o espelho, que é a

doutrina;b) Deus concorre com a luz, que é a graça; c) o homem concorre com os olhos, que é o

conhecimento

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Expostas todas as variáveis de seu discurso, Vieira verificará então cada um dos itens para saber qual dos fatores está interferindo no frutificar da palavra de Deus.

O procedimento de Vieira passa então a ser por exclusão:

a) o primeiro fator a ser testado é a própria palavra de Deus. Apoiando-se na autoridade da Igreja, Vieira descarta a possibilidade de que seja a palavra de Deus a causa da pouca adesão à fé .

b) o segundo fator a ser dissecado por Vieira é o ouvinte, em quem o autor também não encontra culpa pelo pouco fruto da palavra de Deus, pois, por mais que sejam maus, a palavra de Deus neles faz efeito.

c) efetuadas as duas demonstrações acima, Vieira conclui, por consequência, que a culpa é dos pregadores o suposto pouco fruto e efeitos que a palavra de Deus exerce no mundo.

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SERMÃO DESANTO ANTÓNIO AOS PEIXES

Pregado em S. Luís do Maranhão, três dias antes de

se embarcar ocultamente para o Reino

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Tudo começa com o conceito predicável

• VÓS SOIS O SAL DA TERRA

• diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores

S. Mateus, capítulo V, versículo 13

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e explica as razões pelas quais a terra está tão corrupta.

Ou a culpa está no sal (pregadores), ou na terra (ouvintes). Se a culpa está no sal, é porque os pregadores não pregam a verdadeira doutrina,

ou porque dizem uma coisa e fazem outra ou porque se pregam a si e não a Cristo.

Se a culpa está na terra, é porque os ouvintes não querem receber a doutrina, ou antes imitam os pregadores e não o que eles dizem, ou porque servem os seus apetites e não os de Cristo.

Ao apresentar o conceito predicável, Padre António Vieira, introduz o tema do sermão,

mas apesar de tudo desvia-se do tema e preocupa-se apenas com a razão pela qual a terra está corrupta, partindo do principio de que a culpa é dos ouvintes.

Consegue isto, uma vez que o sermão é proferido no dia de santo António, aproveitando assim o exemplo deste.

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DESENVOLVIMENTO"(...) para que procedamos com alguma

clareza, dividirei, peixes, o vosso sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as

vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios."

EXPOSIÇÃO

E CONFIRMAÇÃO

Capítulos

II, III, IV e V

Capítulo II

Louvores dos

peixes

em geral

Capítulo III

Louvores de

peixes

em particular

Capítulo IV

Repreensão dos

peixes

em geral

Capítulo V

Repreensão de

peixes

em particular

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Bons ouvintes / obedientes

-Primeira criação de deus

-- Melhores do que os homens

-- Livres, puros, longe dos homens

-Estas qualidades, são por antítese os defeitos dos homens.

O capitulo II contempla os louvores aos peixes de carácter geral, recorre o exemplo de Jonas para mostrar que os homens são muito piores que os peixes. Como suas qualidades temos:

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Repreensão dos vícios em particular

Repreensões

em particular

RONCADORES- embora tão pequenos

roncam muito (simbolizam a

arrogância e a soberba);

PEGADORES- sendo pequenos,

pregam-se nos maiores, não os largando mais (simbolizam o parasitismo);

POLVO- com aparência de

santo, é o maior traidor do mar (simboliza a

traição).

VOADORES- sendo peixes, também

se metem a ser aves (simbolizam a

presunção (vaidade) e a ambição);

"É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de

ser as roncas do mar?"

"Pegadores se chamam estes de que agora falo, e com grande propriedade, porque sendo pequenos,

não só se chegam a outros maiores, mas de tal sorte

se lhes pegam aos costados, que jamais os

desferram."

"Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque

vos meteis a ser aves? (...) Contentai-vos com o mar e com nadar, e

não queirais voar, pois sois peixes."

"E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta

hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor

do mar."

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“ Louvai peixes, a Deus, os grandes e os pequenos… Louvai a Deus, porque vos criou em tanto número. Louvai a Deus, que vos distinguiu em tantas espécies; louvai a Deus, que vos vestiu de tanta variedade e formosura…”

A repetição da expressão Louvai a Deus acentua a finalidade do Sermão: o louvor a Deus que todos devem prestar.