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Bases fisiológicas da Osteopatia

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COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 2

Índice

1 - INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................................... 6

2 – HISTÓRIA DA OSTEOPATIA .............................................................................................................................. 9

2.1 – Andrew Taylor Still .......................................................................................................................................... 9

2.2 – Criação da Osteopatia ..................................................................................................................................... 10

3 – OUTROS PERSONAGENS IMPORTANTES DA OSTEOPATIA ..................................................................... 12

4 – DEFINIÇÕES DA OSTEOPATIA ........................................................................................................................ 13

5 - PRINCÍPIOS DA OSTEOPATIA .......................................................................................................................... 14

5.1 - A unidade do corpo ......................................................................................................................................... 14

5.2 - A estrutura governa a função .......................................................................................................................... 15

5.3 - A autocura ....................................................................................................................................................... 15

5.4 - A lei da artéria ................................................................................................................................................. 15

6 – PRINCIPAIS FUNÇÕES DO OSTEOPATA ....................................................................................................... 16

7 – OSTEOPATIA NO BRASIL E NO MUNDO ....................................................................................................... 16

8 – ASPECTOS ANATÔMICOS E FISIOLÓGICOS RELEVANTES À OSTEOPATIA ........................................ 18

8.1 - Medula espinhal e raízes nervosas .................................................................................................................. 18

8.2 - Ramo meníngeo do nervo espinhal (nervo de Luschka) ................................................................................. 19

8.3 - Fibras nervosas................................................................................................................................................ 20

8.4 - Unidade motora ............................................................................................................................................... 21

8.5 - Potencial de ação............................................................................................................................................. 21

8.6 – Interneurônios ................................................................................................................................................ 22

8.7 - Receptores sensoriais ...................................................................................................................................... 23

8.7.1 - Receptores mecânicos .............................................................................................................................. 23

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COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 3

8.7.2 – Características dos receptores ................................................................................................................. 29

8.8 - Tipos de fibras nervosas sensoriais ................................................................................................................. 30

8.9 - Segmento medular/Metâmero: ........................................................................................................................ 30

8.10 – Sistema Nervoso Visceral (autônomo) ......................................................................................................... 32

8.9.1 – Sistema Nervoso Simpático .................................................................................................................... 33

8.9.2 – Sistema Nervoso Parassimpático ............................................................................................................ 34

8.11 - Reflexos ........................................................................................................................................................ 36

8.11.1 - Reflexo Medular .................................................................................................................................... 36

8.11.2 - Reflexo somato-somático ...................................................................................................................... 37

8.11.2 - Reflexo víscero-vísceral ........................................................................................................................ 37

8.11.3 - Reflexo víscero-somático: ..................................................................................................................... 38

8.11.4 - Reflexo somato-visceral ....................................................................................................................... 39

9 – CONCEITOS DE MACRO E MICROFISIOLOGIA ARTICULAR ................................................................... 39

9.1 – Macrofisiologia articular ................................................................................................................................ 39

9.2 – Microfisiologia articular ................................................................................................................................. 40

10 – DISFUNÇÕES SOMÁTICAS ............................................................................................................................. 41

10.1 – Características clínicas ................................................................................................................................. 42

10.2 – Hipótese fisiopatológica das disfunções somáticas ...................................................................................... 43

10.2.1 – Modelo da facilitação – Irwin Korr ....................................................................................................... 43

10.2.3 – Outro modelos ....................................................................................................................................... 49

10.3 – Disfunções somáticas em articulações periféricas ........................................................................................ 50

10.4 – Disfunções primárias e adaptações secundárias ........................................................................................... 51

11 - CONCEITOS DE HIPO E HIPERMOBILIDADE .............................................................................................. 52

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11.1 – Objetivos do tratamento Osteopático ........................................................................................................... 54

12 - FACILITAÇÃO MEDULAR ............................................................................................................................... 55

12.1 – Conseqüências da facilitação medular .......................................................................................................... 57

12.2 – Sinais clínicos da facilitação medular .......................................................................................................... 57

12.3 – Caracterização das facilitações ..................................................................................................................... 61

13 – MOBILIDADE VISCERAL: suas disfunções e técnicas de correção ................................................................. 62

14 – MOBILIDADE CRANIANA: suas disfunções e técnicas de correção ............................................................... 65

15 – OS 5 MODELOS DE APLICAÇÃO DA OSTEOPATIA ................................................................................... 68

15.1 – O modelo biomecânco-estrutural ................................................................................................................. 69

15.2 – O modelo respiratório-circulatório ............................................................................................................... 69

15.3 – O modelo neurológico .................................................................................................................................. 70

15.4 – O modelo metabólico ................................................................................................................................... 70

15.5 – O modelo comportamental ........................................................................................................................... 71

16 - TIPOS DE DOR ................................................................................................................................................... 73

16.1 - Características das dores devido a bloqueio articular ................................................................................... 73

16.2 - Características da dor discal .......................................................................................................................... 74

16.3 - Característica da dor ligamentar.................................................................................................................... 75

16.4 - Características da dor de origem muscular ................................................................................................... 77

16.5 - Características da dor de origem nervosa ...................................................................................................... 78

16.6 - Características da dor de origem visceral ...................................................................................................... 78

17 - DOR REFERIDA ................................................................................................................................................. 79

18 - DIAGNÓSTICO OSTEOPÁTICO ...................................................................................................................... 81

18.1- Anamnese ....................................................................................................................................................... 82

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18.2 – Inspeção (estática e dinâmica) ...................................................................................................................... 82

18.3- Palpação ......................................................................................................................................................... 83

18.4 – Testes de mobilidade .................................................................................................................................... 83

18.5 - Radiologia ..................................................................................................................................................... 84

19 - AS TÉCNICAS OSTEOPÁTICAS DE TRATAMENTO ................................................................................... 84

19.1 – Técnicas diretas (estruturais) ........................................................................................................................ 85

19.1.1 – Técnicas Rítmicas ................................................................................................................................. 85

19.1.2 – Técnicas de Thrust ................................................................................................................................ 94

19.2 – Técnicas Indiretas ou funcionais .................................................................................................................. 99

19.2.1 – Técnica de Jones ................................................................................................................................. 100

19.2.2 – Técnica de Hoover .............................................................................................................................. 101

20 - CIÊNCIA E OSTEOPATIA ............................................................................................................................... 102

20.1 - Aspectos biomecânicos da manipulação vertebral ...................................................................................... 102

20.2 - Aspectos neurofisológicos da manipulação vertebral ................................................................................. 104

21 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................................... 110

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1 - INTRODUÇÃO

No final do século XIX, o médico americano Dr. Andrew Taylor Still se encontrava

descontente com a prática de sua profissão exercida na época. Após a perda de pacientes e

familiares por algumas epidemias, passou a estudar a essência do ser humano e observar as

estruturas e o funcionamento do corpo como uma verdadeira máquina que tem todos os seus

sistemas inter-relacionados e também apresenta capacidade autorreguladora. Passou a deduzir

que as enfermidades, suas causas e tratamentos tinham origem em desequilíbrios funcionais que

poderiam repercutir sobre o organismo de maneira mecânica e também neurológica,

influenciando negativamente funções fisiológicas como a atividade do sistema nervoso e

vascular. De acordo com os relatos de sua biografia, após diversos fatos e anos de intensos

estudos e observações, em 1874 Still criou um método de diagnóstico e tratamento o qual

denominou alguns anos depois como Osteopatia.

Segundo o glossário de terminologia osteopática do ECOP (Educational Council of

Osteopathic Principles), a filosofia Osteopática: “é um conceito de cuidado de saúde embasado

no conhecimento científico em expansão que envolve o conceito da estrutura (anatomia) e

função (fisiologia) dos organismos vivos”. Enfatiza os seguintes princípios:

1 – O ser humano é uma unidade dinâmica funcional;

2 – O corpo possui mecanismos autorreguladores que são de natureza auto-curadoras.

3 – Estrutura e função são inter-relacionadas em todos os níveis.

4 – O tratamento racional é baseado nesses princípios.

Andrew Still chamou de “deslocamentos ósseos” as alterações funcionais que produziam

desequilíbrios fisiológicos e como consequência a perda da homeostase. Atualmente tal

problema é conhecido como disfunção somática: “função alterada ou debilitada dos componentes

relacionados ao sistema somático: esqueleto, articulações e estruturas fasciais, e elementos

vasculares, linfáticos e neurais relacionados”.

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Baseado em suas observações, Still compreendeu as relações diretas e evidentes entre o

sistema neuromusculoesquelético e os outros sistemas, e como os fenômenos neurofisiológicos

ligados às disfunções somáticas deixariam o organismo vulnerável às enfermidades. Sendo

assim, uma das ideias fundamentais do criador da Osteopatia foi utilizar o sistema

musculoesquelético como interface para poder abordar os outros sistemas em um tratamento.

O corpo humano apresenta uma admirável capacidade de adaptação em relação aos

meios (externo e interno). Quanto maior a quantidade de adaptações causadas por mecanismos

disfuncionais, menor é a capacidade de defesa do indivíduo.

A Osteopatia pode ser subdividida de maneira conceitual, basicamente em três categorias,

contudo deve ficar claro que a filosofia Osteopática envolve o profundo conhecimento anatômico

e fisiológico global, relacionando todos os sistemas. Desta forma, a Osteopatia diferencia-se de

outros métodos de terapia manual, pois busca o trabalho integral proporcionando condições para

que o próprio organismo busque seus próprios sistemas de equilíbrio/homeostase.

A OSTEOPATIA FOCA NO INDIVÍDUO, E NÃO NA DOENÇA!!!

Osteopatia Estrutural

É relacionada às disfunções neuromusculoesqueléticas, atuando com foco no

restabelecimento/manutenção da mobilidade tecidual (articulações, músculos, ligamentos,

fascias, etc). Para isto, o Osteopata tem um amplo arsenal de técnicas manuais específicas para

cada tipo de tecido.

Osteopatia Craniana

Um discípulo direto de Still, William Sutherland, foi inovador ao perceber a existência de

um micromovimento rítmico dos ossos cranianos relacionado com tensões das meninges (dura-

máter) e a dinâmica do líquido cerebroespinhal.

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COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 8

Disfunções deste mecanismo podem repercutir principalmente sobre o sistema nervoso

autônomo, nervos cranianos, e vascularização craniana, afetando o organismo de maneira global.

Sutherland propôs então, o diagnóstico tratamento craniano, seguindo os princípios da filosofia

Osteopática de Andrew Still.

Osteopatia Visceral

Está direcionada à percepção da mobilidade/motilidade dos órgãos e seus envoltórios.

Trata-se de testes e técnicas de manipulações aplicadas diretamente sobre as vísceras e seus

tecidos circundantes, e também a estimulação reflexa do sistema nervoso autônomo no intuito de

corrigir disfunções que repercutam sobre vascularização, desequilíbrios neurovegetativos,

espasmos da musculatura lisa, e aderências fasciais.

O diagnóstico e tratamento Osteopáticos são realizados de forma global sem limitações

de idade, integrando os sistemas corporais na busca das causas das enfermidades e não somente

suas consequências.

Este material descreve aspectos relevantes aos estudantes e praticantes da Osteopatia,

como seu histórico, conceitos, generalidades, modelos e princípios fisiológicos. O intuito é

auxiliar na preparação do aluno do Colégio Brasileiro de Osteopatia (CBO) a compreender de

forma clara as informações essenciais para a sua formação, para que possa aplicar a filosofia

Osteopática de forma eficaz na sua prática clínica diária, respeitando as tradições e evolução

científica.

Quando utilizada corretamente por um profissional devidamente qualificado e

habilitado, a Osteopatia além de não produzir efeitos colaterais, costuma gerar uma resposta

terapêutica rápida e segura, proporcionando a diminuição ou eliminação dos sintomas e o

restabelecimento da homeostasia natural.

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2 – HISTÓRIA DA OSTEOPATIA

2.1 – Andrew Taylor Still

Nasceu no dia 6 de agosto de 1828,

nos Estados Unidos, mais especificamente

em Lee County, no estado da Virginia.

Desenvolveu diversas habilidades em sua

vida, como de fazendeiro, mecânico,

inventor, além de ter sido um dedicado

homem de família. Tinha fascínio por

anatomia desde sua adolescência, quando

caçava animais e os dissecava para poder

observar suas estruturas. Teve sua formação

em medicina prática em Missouri.

Sofria fortes cefaléias e náuseas

quando era adolescente. Um dia encontrou

uma solução temporária para o problema,

que era apoiar sua cabeça sobre uma corda

presa entre duas árvores. Chamou esse

evento de: “primeira lição em Osteopatia”.

Sugere-se que essas observações

contribuíram para seus pensamentos

posteriores, que direcionaram o

desenvolvimento da filosofia Osteopática.

Epidemias de algumas enfermidades como sarampo, tuberculose e meningite, atingiam

sua comunidade e pacientes. Tais episódios fizeram com que Still refletisse sobre a impotência

que a medicina praticada na época tinha para resolver algumas enfermidades.

Em 1864, após retornar da guerra civil, três de seus filhos morreram em curto período de

tempo devido à meningite. Algumas semanas após, falece sua filha mais nova de pneumonia.

Devastado, Still passou a crer que essa medicina era muitas vezes ineficaz na compreensão da

Dr. Andrew Still

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etiologia das doenças, e consequentemente nos seus tratamentos. Tinha a convicção de que os

tratamentos agressivos que apenas aplicavam fortes medicamentos e cirurgias eram

inconvenientes para seus pacientes. Tratamentos poderiam ser mais danosos do que curadores.

A partir desses eventos traumáticos e de seu sentimento de impotência, passou a estudar

profundamente o funcionamento básico do ser humano no intuito de melhor compreender suas

condições naturais e patológicas.

2.2 – Criação da Osteopatia

No dia 22 de junho de 1874, Dr. Andrew Still relatou ter sido o momento que mudaria o

rumo de sua carreira e de sua vida. O dia em que percebeu a dimensão da importância da

anatomia e de suas relações com o desempenho de eventos naturais do organismo.

“No dia 22 de junho de 1874, atirei à brisa a bandeira da osteopatia”

Dedicou anos de sua vida analisando atentamente a anatomia e a fisiologia para buscar

melhor compreender o corpo humano, e dessa forma achar novas maneiras de poder abordá-lo.

Seus conceitos inicialmente sofreram resistência das pessoas ao seu redor. Foi

massacrado pela comunidade médica, e considerado insano por seus amigos e familiares. Isso o

levou a uma época de arruinamento financeiro.

Em 1875, se mudou para Kirksville no estado de Missouri, onde viveu o resto de sua

vida. Seu método foi se tornando lentamente conhecido pelos resultados promovidos.

Nessa época, Still passou a ensinar seus próprios filhos a pratica da osteopatia: Harry,

Charles e Herman. Percebendo que ele e seus três filhos não conseguiam atender a demanda de

pacientes que surgiam, pensou em ensinar outros discípulos para poder difundir a osteopatia.

Inicialmente seus alunos tinham dificuldade em compreender sua filosofia e acompanhar suas

profundas noções anatômicas e fisiológicas.

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Em 1892 fundou a primeira escola de osteopatia na cidade de Kirksville, a American

School of Osteopathy, atualmente denominada como A.T.Still University.

Estrutura inicial da American School of Osteopathy com Andrew Still sentado na

varanda.

Surgiu a necessidade de diferenciar a titulação de um médico “tradicionalista” com

reconhecimento de M.D. (Medical Doctor) daquele com a formação osteopática. Passou a existir

então a titulação de Diplomado em Osteopatia – D.O

Em 1900, se formou um aluno de Still: John Martin Littlejohn. Ele foi responsável por

fundar em 1915, uma das escolas de osteopatia mais reconhecidas e respeitadas da Europa até

hoje, a British School os Osteopathy. A partir daí ocorreu um processo de migração da osteopatia

para outros países da Europa e para o resto do mundo.

As principais obras publicadas pelo Dr. Andrew Still foram:

• Autobiography of Andrew Taylor Still with a History of the Discovery and Development

of the Science of Osteopathy, em 18971;

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• Philosophy of Osteopathy, em 18997;

• The Philosophy and Mechanical Principles of Osteopathy, em 19028;

• Osteopathy Research and Practice, em 19109.

Seguiu sua vida como osteopata clínico e professor difundindo sua filosofia até sua morte

em 12 de dezembro de 1917, com 89 anos..

3 – OUTROS PERSONAGENS IMPORTANTES DA OSTEOPATIA

Muitas pessoas contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento e evolução

da Osteopatia. Alguns desse personagens:

J.Martin Littlejohn: graduado na “Ämerican School of Osteopathy”. Fundou a primeira

escola em Chicago, e depois se mudou para Londres participando de forma direta na

fundação da B.S.O. (British School of Osteopathy).

William Garner Sutherland: aluno de Still, desenvolveu os conceitos da Osteopatia

craniana e passou muitos anos desenvolvendo as teorias e técnicas do método, muitas

delas aplicadas até os dias atuais.

Fryette: estudou a mobilidade vertebral pela fluoroscopia. Produziu o trabalho Physical

Laws of Vertebral Motion.

Fred Mitchell: desenvolveu importantes pesquisas em relação à mobilidade da região

pélvica e suas relações com a postura corporal. Auxiliou o desenvolvimento das técnicas

de energia muscular (T.E.M.).

Irwin korr: fisiologista que passou vários anos dando aulas em escolas de Osteopatia em

Kirsville, Michigan e no Texas. Descreveu em seus trabalhos os princípios

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neurofisiológicos das disfunções somáticas. Esses conceitos vêm sendo pesquisados

continuamente até os dias atuais.

Lawrence Jones: profissional do estado de Oregon que desenvolveu as técnicas de

tensão/contratensão (strain/counterstrain).

4 – DEFINIÇÕES DA OSTEOPATIA

A palavra osteopatia, desde a criação do método, causou dúvidas e confusão em sua

definição. Deriva de duas palavras gregas: “osteon” significando osso; e “pathos” denotando

doença/sofrimento ou influenciado por algo. A palavra pathos também pode ser empregada

como “influenciado ou sensível a algo”. O real signficado da palavra osteopatia, respeitando suas

raízes gregas seria: influenciado pelos ossos ou esqueleto. Esse nome aparentemente foi dado em

contraste á alopatia e homeopatia. Em grego, alopatia significa em sua raiz, “influenciado pelo

oposto”, e homeopatia significa, “influenciado pelo mesmo ou pelo semelhante”.

AOA (American Osteopathic Association)

“Um sistema completo de cuidado de saúde com uma filosofia que combina as

necessidades do paciente com a prática atual de medicina, cirurgia e obstetrícia; que enfatiza e

relação entre estrutura e função; e que tem apreciação na habilidade do corpo de curar a si

mesmo”.

BSO (British School of Osteopathy)

“Osteopatia é um sistema de cuidados primários de saúde, complementar a outras

práticas médicas. É apropriado para muitos pacientes e pode contribuir para o tratamento e

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condutas de uma vasta gama de condições. Os Osteopatas trabalham principalmente através do

sistema neuromúsculoesquelético, principalmente nos músculos e nas articulações, utilizando

abordagens holísticas”.

General Osteopathic Council of Great Britain (GOsC),

“Osteopatia é um sistema de diagnóstico e tratamento estabelecido e reconhecido, que

baseia sua principal ênfase na integridade estrutural e funcional do corpo. É distinta pelo fato

de reconhecer que algumas dores e incapacidades das quais sofremos vêm de anormalidades na

função da estrutura corporal assim como os danos causados pelas doenças

5 - PRINCÍPIOS DA OSTEOPATIA

Em suas obras, Still descreveu os grandes princípios da filosofia Osteopática.

1. A unidade do corpo.

2. A estrutura governa a função.

3. A autocura.

4. A lei da artéria.

5.1 - A unidade do corpo

O primeiro grande princípio refere-se à unidade do ser, de que cada indivíduo é uma

expressão do corpo, mente e espírito. A pessoa é regulada, coordenada e integrada por funções

fisiológicas interdependentes que relacionam diferentes elementos anatômicos, fisiológicos e

psicológicos.

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Todas as estruturas anatômicas corporais são mecanicamente interconectadas por

diferentes tipos de tecido conectivo/conjuntivo. Fisiologicamente os sistemas também se

relacionam diretamente para manter as condições de homeostase. O corpo humano tem a

capacidade de reencontrar o equilíbrio (físico, bioquímico, mental, etc.).

5.2 - A estrutura governa a função

A estrutura representa as diferentes partes do corpo, ossos, músculos, fascias, vísceras,

glândulas, etc. A função é a atividade de cada uma destas partes, como a função respiratória,

cardíaca, digestiva, etc. Still observou em algumas situações, relações alteradas entre estrutura e

função que eram tipicamente desconsideradas por outros.

A enfermidade não pode se desenvolver se a estrutura é harmoniosa, por tanto uma

desordem da estrutura pode ser a origem da enfermidade. Esta relação entre a estrutura e a

função se aplica a todos os elementos do corpo.

5.3 - A autocura

O corpo é auto-regulador, pois apresenta todos os elementos necessários para eliminar ou

reprimir as enfermidades, com a condição de que seus “meios” estejam livres para funcionar

efetivamente. Não devem existir obstáculos sobre a condução nervosa, linfática, vascular, para

que a nutrição celular e a eliminação de toxinas ocorram corretamente.

5.4 - A lei da artéria

O sangue é o meio de transporte de todos os elementos necessários para manter as

condições homeostásicas naturais. O papel da vascularização é primordial, sendo que os

desequilíbrios funcionais podem levar a má circulação arterial, debilidade do retorno venoso e

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linfático, provocando o acumulo de toxinas. As enfermidades se instalam sempre sobre órgãos

debilitados.

6 – PRINCIPAIS FUNÇÕES DO OSTEOPATA

As funções primárias de um praticante de osteopatia, propostas atualmente, são:

•Buscar as causas primárias das doenças utilizando práticas disponíveis baseadas em

evidências;

•Potencializar a capacidade de cura dos pacientes;

•Individualizar o planejamento de abordagem ao paciente com ênfase na saúde e na

prevenção de doenças;

•Utilizar um diagnóstico palpatório e tratamento manipulativo com foco nas alterações

das condições mecânicas, estruturais e fisiológicas.

7 – OSTEOPATIA NO BRASIL E NO MUNDO

A regulamentação da osteopatia ocorre de acordo com o que cada país define para os seus

padrões acadêmicos e profissionais. Recentemente, duas organizações foram criadas para ajudar

na padronização da aplicação e ensino da osteopatia pelo mundo: a International Osteopathic

Alliance (OIA) e a World Osteopathic Health Organization (WOHO). Em alguns países a

Osteopatia está diretamente vinculada à formação médica, em outros à formação em fisioterapia

e em alguns locais o Osteopata pode ter formação universitária independente de outras áreas da

saúde. Em alguns países europeus, o Osteopata pode se formar com nível de graduação

universitária (modelo chamado full-time) ou em cursos de formação (modelo chamado part time)

se já tiver uma formação universitária em área da saúde.

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Foi introduzida no Brasil por Osteopatas europeus na década de 1980 e desde então vem

se difundindo como modalidade terapêutica.

No ano 2000 foi criado o Registro Brasileiro dos Osteopatas, órgão vinculado à

Osteophatic International Alliance (OIA), que tem como objetivo o reconhecimento da

Osteopatia como profissão no Brasil e sua regulamentação19

.

No ano de 2001, a Osteopatia foi reconhecida como especialidade da Fisioterapia, na

resolução 220/2001 do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito).

No ano 2004 foi criada a Associação Brasileira dos Fisioterapeutas Osteopatas, que tem

como objetivo fortalecer a especialidade Osteopatia dentro da Fisioterapia. Em 2009, a

Associação vinculou-se ao Coffito.

No ano de 2013, a Osteopatia foi reconhecida como ocupação, na Classificação Brasileira

de Ocupações (CBO), sob número 2261- 10. O fisioterapeuta e o médico podem, desde então, ter

como ocupação a Osteopatia.

O capítulo a seguir irá abordar alguns aspectos anatomofisiológicos relevantes que devem

ser compreendidos pelo leitor, para que os conceitos básicos possam ser aplicados aos

fundamentos da Osteopatia. É importante ressaltar que muitos desses princípios

neurofisiológicos dão suporte teórico e científico aos fenômenos que envolvem as disfunções

somáticas e suas repercussões, assim como para as técnicas de tratamento utilizadas na

Osteopatia. Trata-se de um tratamento reflexo baseado em respostas desencadeadas por

estímulos mecânicos aplicados em receptores sensoriais

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8 – ASPECTOS ANATÔMICOS E FISIOLÓGICOS RELEVANTES À

OSTEOPATIA

Para que o leitor possa compreender de forma clara as bases anatomofisiológicas que dão

suporte à Osteopatia, é importante que alguns princípios fisiológicos básicos sejam lembrados e

considerados:

8.1 - Medula espinhal e raízes nervosas

A medula espinhal fica localizada no canal vertebral, formado pelos forames vertebrais

sucessivos, é o principal centro reflexo e via de condução entre o corpo e o encéfalo. Da face

ventral e dorsal da medula se originam as raízes anteriores e posteriores dos nervos espinhais,

respectivamente. As raízes posteriores contêm fibras aferentes (sensitivas) que transportam

fluxos nervosos da periferia (pele, músculos, cápsulas, ligamentos) para a medula, e as raízes

anteriores contêm fibras eferentes (motoras) que se originam dos neurônios motores espinhais e

seguem para o músculo esquelético.

As duas raízes se unem na saída do canal vertebral para formar um nervo espinhal, que

por sua vez, ramifica-se num ramo anterior e outro posterior. É importante lembrar que os dois

ramos são na maioria dos casos (salvo poucas exceções) mistos, pois contém fibras aferentes

(sensitivas) e eferentes (motoras). O ramo anterior sempre apresenta um longo trajeto antes de

atingir seu órgão alvo (músculo, glândula...), sendo que nas regiões cervical e lombar esses

ramos anteriores formam os plexos nervosos multisegmentares (cervical, braquial, lombar e

sacral), e na região torácica formam os grandes nervos intercostais, que no caso, são

unisegmentares. Já os ramos posteriores dos nervos espinhais normalmente apresentam um

trajeto bem mais curto, pois na maioria dos casos inerva a pele, músculos profundos, capsulas

articulares e o periósteo do próprio segmento medular.

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8.2 - Ramo meníngeo do nervo espinhal (nervo de Luschka)

É o primeiro ramo originado do nervo espinhal. Logo após sair do forame intervertebral o

nervo espinhal fornece um primeiro ramo que passa pelo forame intervertebral e, voltando para o

canal, junto com um ramo comunicante cinzento proveniente do gânglio simpático paravertebral.

Distribui-se mediante por filetes muito delgados, inervado o disco intervertebral, os ligamentos

longitudinal anterior e posterior, e a porção ventral da dura-máter.

Medula espinhal e raízes nervosas

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8.3 - Fibras nervosas

As fibras nervosas, em suas extremidades periféricas dão origem às terminações

nervosas, que podem ser sensitivas ou aferentes (receptores), e motoras ou eferentes. Quando as

terminações sensitivas são estimuladas adequadamente, dão origem a um impulso nervoso que é

levado e interpretado no sistema nervoso central (SNC). As terminações motoras existem na

porção terminal das fibras eferentes e são os elementos de ligação entre estas fibras e os órgãos

efetuadores: músculo ou glândula.

As fibras nervosas motoras têm sua origem no corno anterior da substância cinzenta da

medula e saem da medula, por meio das raízes anteriores para inervar as fibras musculares

esqueléticas. Estes neurônios podem ser de dois tipos: neurônios motores alfa e neurônios

motores gama. Os neurônios alfa têm em média 14 micrometros de diâmetro e inervam as

grandes fibras musculares. Os neurônios gama são menores com diâmetro médio de 5

micrometros e inervam pequenas fibras musculares, as fibras intrafusais dos fusos.

Nervos espinhais e ramos meníngeos

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8.4 - Unidade motora

A unidade motora (UM) apresentada na figura abaixo consiste num motoneurônio e as

fibras musculares inervadas por ele. O corpo do neurônio localiza-se no corno anterior da

substância cinzenta da medula e deixa a medula pela raiz anterior até chegar ao músculo-alvo. A

menor unidade de movimento controlada pelo sistema SNC é uma UM, definido por Sherington

em 1906.

Cada músculo tem muitas UMs. O

número de fibras musculares na UM de

músculos da mão varia de 200 a 300 e pode

chegar a mais de mil nos músculos grandes

do membro inferior. Quando a UM é ativada

o suficiente, todas as fibras musculares

pertencentes a ela vão contrair em poucos

milissegundos. Esse é o chamado princípio

do tudo ou nada.

8.5 - Potencial de ação

As membranas das células nervosas e musculares apresentam um potencial elétrico

negativo de repouso, o chamado potencial de membrana, decorrente da concentração de íons que

se encontram dentro e fora das células. A abertura dos canais iônicos da membrana nervosa faz

com que ocorra um potencial de ação (despolarização, repolarização e hiperpolarização) podendo

alcançar valores positivos. Este potencial percorre todo o neurônio motor até alcançar a fibra

Unidade motora

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muscular causando um estímulo para desencadear o potencial de ação muscular. Cada potencial

de ação gera uma contração muscular.

Na contração muscular normal, todas as fibras musculares da unidade motora se

despolarizam, produzindo repercussões elétricas no músculo que podem ser detectadas pela

eletromiografia (EMG). O sinal elétrico gerado nas fibras musculares como resultado do

recrutamento de uma UM é chamado de potencial de ação da unidade motora (PAUM).

8.6 – Interneurônios

O PAUM pode ser facilitado ou inibido pelas informações recebidas por neurônios que

fazem conexão com os neurônios motores na medula, os chamados interneurônios, que podem

ser excitatórios ou inibitórios. Eles estão presentes na substância cinzenta da medula (corno

anterior, posterior e nas áreas intermediárias entre os dois), e fazem sinapses com os neurônios

do corno anterior, assim como mostra a figura abaixo.

Potencial de ação

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Quase todos os sinais sensoriais que

chegam à medula provenientes dos nervos

espinhais ou do cérebro, são transmitidos e

processados pelos interneurônios para

finalmente convergir para os neurônios

motores anteriores, e controlar a função

muscular.

8.7 - Receptores sensoriais

Os itens relacionados a este tópico irão abordar os receptores sensoriais localizados nos

músculos, tendões e cápsulas articulares, enfatizando suas ações e repercussões sobre a medula

espinhal.Grande parte das atividades do sistema nervoso (SN) é iniciada pela atividade de

receptores sensoriais, podendo determinar vários tipos de reações corporais. Existem

basicamente cinco tipos de receptores sensoriais: mecanorreceptores, termorrreceptores,

nociceptores, receptores eletromagnéticos, e quimiorreceptores. Os mecanorreceptores detectam

a compressão ou o estiramento mecânico do receptor ou dos tecidos adjacentes a ele; os

termorreceptores detectam alterações de temperatura, alguns frio e outros calor; os nociceptores

(receptores de dor) detectam lesões teciduais; os eletromagnéticos detectam luz na retina do

olho; e os quimiorreceptores detectam alterações químicas no corpo .

8.7.1 - Receptores mecânicos

Os principais receptores mecânicos localizados nos músculos e tendões são os fusos

musculares (FM) e os órgãos tendinosos de Golgi (OTG) respectivamente. Os FM são pequenas

estruturas dispostas em paralelo nos ventres dos músculos esqueléticos. Já os OTGs encontram-

se em série nos tendões.

Interneurônios

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4.7.1.1- Fuso neuromuscular

Os fusos estão espalhados no ventre

dos músculos e seu número varia com a

complexidade da função do músculo em que

estão situados. Quanto mais complexo,

maior a proporção de fusos. Cada fuso está

envolto por tecido conjuntivo e tem

aproximadamente 3 milímetros de

comprimento. Contem numerosas fibras

musculares muito finas que se chamam

fibras intrafusais, e também fibras muito

mais longas e potentes – extrafusais – que

constituem a massa do músculo estriado.

Cada fuso contém 3 a 12 fibras musculares intrafusais que se fixam nas fibras musculares

extrafusais circundantes. A região central das fibras intrafusais não é contrátil, tem função

sensorial. Existem dois tipos de terminações sensoriais nas fibras intrafusais: a terminação

primária, fibra do tipo Ia, com diâmetro de 17 micrômetros que transmitem sinais sensoriais para

a medula com velocidade de 70 a 120 m/s; e terminações secundárias, fibras tipo II com

diâmetro médio de 8 micrômetros. As partes terminais das fibras intrafusais que efetivamente

contraem-se são excitadas pelas fibras motoras gama originadas no corno anterior da medula

espinhal, já as fibras extrafusais são excitadas por fibras motoras alfa.

O estiramento e alongamento das fibras intrafusais causa deformações mecânicas de seus

receptores sensoriais que enviam sinais nervosos para a medula pelas fibras aferentes e fazem

sinapse com os neurônios motores alfa. Os neurônios motores alfa geram impulsos de volta para

o músculo, que se contrai. Assim os FMs enviam informações para o SN mostrando o

comprimento do músculo e a velocidade de variação de seu comprimento.

(KOOR, 2003).

Fuso neuromuscular

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Fisiologicamente, as fibras intrafusais e as fibras extrafusais se contraem em paralelo: em

caso de disfunção somática, alguns modelos teóricos postulam que as fibras intrafusais se

contraem enquanto as extrafusais se relaxam, o que impede o relaxamento dos fusos

neuromusculares. Existe um desemparelhamento entre as fibras intra e extrafusais.

Hipótese da hiperatividade gama (Irwin Korr): No segmento em disfunção a atividade gama é

excessiva sobre um músculo ou sobre um grupo de músculos porque os neurônios gama

descarregam permanentemente e mantém as fibras intrafusais em um estado de encurtamento

crônico.

Terminações nervosas do fuso neuromuscular

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Quando o músculo é estirado mais do que seu comprimento de repouso, o fuso também

está estirado, o que faz descarregar as terminações primárias e secundárias com freqüências

crescentes, proporcionais ao grau de estiramento.

O encurtamento do músculo, seja por contração ou por aproximação passiva de suas

inserções, diminui proporcionalmente a freqüência de descargas e também pode fazer que

cessem.

Descarga do fuso neuromuscular em situação de repouso

Descarga do fuso neuromuscular em situação de alongamento

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Os fluxos aferentes procedentes do fuso têm uma influência excitatória. Quando um

músculo é estirado, o estímulo dos fusos faz que, por via reflexa, o músculo se contraia e resista

a este estiramento. Portanto, a função do fuso muscular é a de fazer o músculo resistir a toda

variação de comprimento em uma ou outra direção.

O fuso é o componente sensitivo dos reflexos de estiramento ou reflexos miotáticos. Este

mecanismo é extremamente importante na manutenção da postura. A força da gravidade tende

continuamente a flexionar o corpo. Os fusos situados nos músculos extensores asseguram a

estática e estão constantemente submetidos a tensão pelas forças gravitacionais. Esta tensão

crônica causa uma contração tônica destes músculos anti-gravitários, o que nos permite manter

retos.

Da mesma forma que os receptores sensoriais estão diretamente envolvidos no

aparecimento e manutenção das disfunções somáticas, o conhecimento da atividade desses

mesmos receptores nos permite compreender e aplicar os princípios das técnicas de tratamento

Osteopático.

Descarga do fuso neuromuscular em situação de contração

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4.7.1.2 - Órgão tendinoso de Golgi

Estão situados nos tendões, na união músculotendinosa e em série com as fibras

musculares. São fascículos tendinosos em torno dos quais se enrolam fibras nervosas aferentes,

ativados pelo estiramento do tendão, detectando alterações de tensão muscular. . Toda tensão

exercida sobre um tendão, deforma estes receptores. Os sinais do OTG são transmitidos por

fibras nervosas do tipo Ib para o SNC. O sinal que chega a medula excita um interneurônio

inibitório, que inibe por sua vez o neurônio motor anterior e a também a contração do músculo

respectivo. Por tanto, sua estimulação tem como resultado uma inibição, não permitindo que o

músculo realize mais tensão. É um mecanismo auto-regulador protetor.

8.7.1.3 - Receptores articulares

As terminações sensitivas localizadas nas cápsulas e ligamentos periarticulares, informam

constantemente medula espinhal e o restante do sistema nervoso central, através de receptores

sensitivos não-adaptativos, os movimento, posições e situações gerais das articulações. Dentro e

Orgão tendinoso de Golgi e suas terminações nervosas

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também ao redor das articulações sinoviais existem receptores sensoriais, como os de Ruffini e

de Pacini. Os receptores de Ruffini ficam dentro da cápsula e respondem a alterações na posição

articular e a velocidade de movimento articular. Localizado dentro da cápsula e nos tecidos

conectivos, os receptores de Pacini respondem as pressões criadas pelos músculos, assim como a

dor na articulação. Esses receptores articulares, assim como os receptores localizados nos

músculos, ligamentos e tendões mantêm o SN constantemente informado sobre as condições

dentro e ao redor das articulações.

Os receptores capsuloligamentares

também atuam como reguladores do aporte

sanguíneo muscular. Quando um ligamento

é estirado por um movimento, envia uma

mensagem para a medula espinhal, que por

sua vez aumenta o fluxo sangüíneo para

poder responder ao aumento do gasto

energético.

Movimentos mal controlados podem

excitar anormalmente o sistema

cápsuloligamentar e ser a origem de arcos

reflexos adaptativos.

8.7.2 – Características dos receptores

Uma característica em comum dos receptores sensoriais é qualquer que seja o estímulo

que os excite, ocorre uma alteração no potencial elétrico da membrana do receptor. As excitações

podem ocorrer de várias maneiras: pela deformação mecânica do receptor, pela aplicação de

substância química, pela alteração da temperatura, pelo efeito da radiação eletromagnética.

Receptores articulares

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8.8 - Tipos de fibras nervosas sensoriais

Os sinais emitidos pelos receptores são transmitidos para o SN por fibras nervosas

sensoriais. Essas fibras podem ser classificadas da seguinte maneira:

Grupo Ia, fibras de terminações sensitivas dos FMs;

Grupo Ib, fibras dos OTGs;

Grupo II, fibras da maioria dos receptores táteis;

Grupo III, fibras que conduzem sensações de temperatura, tato grosseiro e dor

em picada;

Grupo IV, fibras amielínicas que conduzem sensações de dor, coceira,

temperatura e de tato grosseiro.

Os sinais desencadeados pelos neurônios eferentes são considerados segmentares, pois

produzem respostas motoras nos músculos em que se localizam os neurônios aferentes do

mesmo segmento medular.

8.9 - Segmento medular/Metâmero:

É a unidade funcional vertebral: composta por duas vértebras e todos os elementos que

fazem parte do segmento (vasos, articulações, músculos, ligamentos dentre outras).

Um metâmero é um segmento medular que proporciona inervação sensitiva e motora para

regiões específicas do corpo de maneira segmentar, de acordo com a divisão embriológica.

Cada metâmero recebe e envia informações (inervação aferente e eferente), por meio do

sistema nervoso somático e autônomo a diferentes elementos:

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- Pele (Dermátomo): É a área cutânea inervada por uma única raiz nervosa.

- Músculo (Miótomo): músculos inervados por axônios motores dentro de cada nervo segmentar

(raiz). Ex: L1 – iliopsoas, C5 – Bíceps braquial, C4 – Trapézio superior dentre outras. Salienta-se

que cada músculo apresenta, normalmente, inervação multissegmentar.

- Osso (Esclerótomo): É uma região de periósteo inervada por uma única raiz nervosa. Há uma

grande variabilidade entre indivíduos.

- Artéria (Angiótomo): Compreende todos os vasos, artérias, veias e sistema linfático do nível da

raiz nervosa.

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- Vísceras (Viscerótomo): É uma víscera inervada por uma única raiz nervosa. Assim como o

músculo, as vísceras apresentam inervação multissegmentar.

SEGMENTO MEDULAR

8.10 – Sistema Nervoso Visceral (autônomo)

A seguir será descrita uma breve revisão sobre o sistema nervoso visceral para que se

compreendam suas relações com as disfunções somáticas. O intuito no momento não é

aprofundar demasiadamente o conhecimento nesse complexo sistema, pois isso será realizado em

outro momento do curso.

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O sistema nervoso visceral ou também chamado de autônomo ou neurovegetativo é um

sistema involuntário e dividido em dois: sistema nervoso simpático e sistema nervoso

parassimpático. Esses sistemas controlam as funções viscerais na busca da homeostase, e ao

mesmo tempo em que podem ser considerados antagonistas, na verdade são sinergistas.

Normalmente descreve-se que o sistema nervoso somático (voluntário) é totalmente

independente do sistema nervoso visceral, mas sabe-se que os componentes somáticos

proporcionam muitos efeitos sobre o sistema autônomo, e vice-versa. Outra grande diferença

entre o sistema somático e o visceral, é que o primeiro normalmente é composto por um único

neurônio, que vai da medula espinhal até seu órgão alvo (músculo, glândula...). Já o sistema

visceral é, na grande maioria das vezes composto por dois neurônios que realizam sinapse antes

de chegar ao destino final: neurônio pré e pós-ganglionar.

8.9.1 – Sistema Nervoso Simpático

É o sistema toracolombar, pois apresenta o corpo de seus neurônios na coluna lateral da

substância cinzenta da medula espinhal, desde o primeiro segmento torácico até o segundo

segmento lombar normalmente. Essas fibras nervosas deixam a medula junto aos axônios

motores por meio das raízes anteriores dos nervos espinhais. Deixam os nervos espinhais por

meio do ramo comunicante branco para chegar à cadeia de gânglios simpáticos laterovertebrais

(ou para-vertebrais), que se localizam anterolateralmente aos corpos vertebrais e muito próximos

das articulações costovertebrais. Quando chegam nesse nível, os neurônios simpáticos pré-

ganglionares podem fazer sinapse com os pós-ganglionares em diferentes níveis. (discutidos

profundamente no momento oportuno). Na maior parte de seu curso, os nervos simpáticos

viajam junto com os nervos somáticos.

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Esse sistema mediado pela adrenalina, geralmente acentua a atividade dos outros

sistemas, preparando o corpo para situações de “luta ou fuga”, dependendo de situações externas

e internas do corpo. As reações são moderadas constantemente e ajustadas em respostas às

informações recebidas por centros superiores: funções viscerais, circulação, metabolismo, tônus

da musculatura lisa, motilidade visceral, função cardíaca e pulmonar são reguladas.

8.9.2 – Sistema Nervoso Parassimpático

É conhecido como crânio-sacral, pois a origem dos neurônios pré-ganglionares

localizam-se no crânio (pares cranianos III, VII, IX e X) e no sacro (S2, S3 e S4). Fibras do III

Sistema nervoso simpático

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(oculomotor), VII (facial) e IX (glossofaríngeo) suprem basicamente os órgão localizados na

cabeça, enquanto o restante dos órgão toraco-abdomino-pélvicos recebem sua inervação

parassimpática do X (vago) e nervos pélvicos (S2, S3 e S4. Não existe inervação parassimpática

nas extremidades do corpo.

Os órgãos recebem duplo controle do simpático e parassimpático. Este processo é

sinérgico e deve manter-se constantemente equilibrado para que o organismo mantenha-se em

homeostase. As funções básicas do sistema parassimpático são de manutenção interna, incluindo

digestão e excreção. Esse sistema opera com mais intensidade durante períodos de recuperação e

repouso.

Sistema nervoso parassimpático

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8.11 - Reflexos

O reflexo nervoso é uma relação básica entre um estímulo de entrada para o corpo e uma

saída involuntária através de uma ação de um músculo ou um órgão secretório.

8.11.1 - Reflexo Medular

Os elementos funcionais dos reflexos medulares são: receptor sensorial, neurônio

aferente (sensorial), medula (interneurônios), neurônio eferente (motor) e as terminações

eferentes.

- Receptor: originam potenciais de ação de diferentes graduações que, provocam o aparecimento

de potencial de ação. Este é conduzido centripetamente, passando diretamente do prolongamento

periférico ao prolongamento central. Exemplos: corpúsculos de Paccini e Ruffini, terminações

nervosas livres, FNM, OTG, terminações das mucosas das vísceras, entre outros...

- Neurônio aferente (sensorial): especializado em conduzir impulsos. São aferentes os neurônios,

fibras ou feixes de fibras que trazem impulsos a uma determinada área do sistema nervoso

central.

- Interneurônios: Os neurônios de associação constituem a grande maioria dos neurônios

existentes no sistema nervoso central. Podem ter funções excitatórias ou inibitórias.

- Neurônios eferentes (motores): são eferentes os neurônios, fibras ou feixes de fibras que levam

impulsos de uma determinada área do sistema nervoso para a periferia.

- Terminações eferentes: As fibras nervosas eferentes somáticas relacionam-se com as fibras

musculares estriadas esqueléticas através de estruturas especializadas denominadas placas

motoras. Na placa motora, a terminação axônica emite finos ramos contendo pequenas

dilatações, os botões sinápticos de onde é liberado o neurotransmissor.

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COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 37

*** Terminações Eferentes Viscerais: o mediador químico pode ser a acetilcolina ou a

noradrenalina. Não possuem placas motoras, como nas terminações somáticas. O

neurotransmissor é liberado em um grande trecho final da fibra nervosa e não apenas em sua

extremidade, podendo a mesma fibra estabelecer contato com um grande número de fibras

musculares ou células glandulares.

8.11.2 - Reflexo somato-somático

Reflexos provocados nas estruturas somáticas gerados por estimulação na estrutura

somática relacionada ao segmento medular. É uma resposta musculoesquelética por um estímulo

dado a uma estrutura somática.

Ex: reflexos defensivos - movimentos de retirada para um estímulo nocivo. Ocorrem

quando um estímulo é aplicado a uma estrutura somática.

8.11.2 - Reflexo víscero-vísceral

Ocorre quando há entrada sensorial de uma estrutura visceral, que provoca consequente

atividade em um órgão. EX: distensão do intestino provocada pelo volume das fezes que resulta

no aumento da contração do músculo do próprio intestino.

Envolvem a atividade aferente dos receptores na medula espinhal através de

interneurônios para produzir atividade eferente simpática e/ou neurônios motores

parassimpáticos.

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8.11.3 - Reflexo víscero-somático:

É causado por estímulos viscerais locais que produzem padrões de resposta reflexas nas

estruturas somáticas segmentalmente relacionadas. É a repercussão no sistema

musculoesquelético ao estímulo de receptores viscerais. Pode causar, por exemplo, aumento do

nível de tensão muscular ou diminuição do limiar sensitivo da pele/periósteo.

Diversos receptores viscerais existem na mucosa e área epitelial, que respondem a

estímulos mecânicos, dolorosos e estímulos químicos. Há receptores de tensão nas camadas de

músculos viscerais que respondem à distensão mecânica; receptores de tensão na camada serosa,

que são mais lentos e que também monitoram plenitude da víscera, como por exemplo o

corpúsculos de Paccini localizados no mesentério. Há também receptores de dor (terminações

nervosas livres) nos vasos sanguíneos viscerais.

Representação esquemática do reflexo viscero-somático.

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8.11.4 - Reflexo somato-visceral

É a estimulação somática local produzindo padrões somáticos de resposta reflexa em

estruturas viscerais segmentalmente relacionados. É a repercussão no sistema visceral advindo de

uma alteração musculoesquelética correspondente ao mesmo segmento medular.

9 – CONCEITOS DE MACRO E MICROFISIOLOGIA ARTICULAR

Alguns aspectos referentes à fisiologia articular devem ser totalmente entendidos e

sempre lembrados pelos estudantes e praticantes de Osteopatia e terapia manual, pois fazem

parte da prática clínica diária desses métodos de trabalho.

Quando estudamos e avaliamos em nossos pacientes a fisiologia das articulações,

devemos lembrar que pode-se subdividir a fisiologia articular em macrofisiologia e

microfisiologia articular.

9.1 – Macrofisiologia articular

É utilizada para descrever o posicionamento dos ossos em relação ao espaço

(macrofisiologa estática), e também os movimentos de segmentos osteoarticulares

(macrofisiologia dinâmica).

A macrofisiologia estática é empregada principalmente na definição de situações ligadas

à postura corporal. Anteversão pélvica, retificação da lordose cervical são exemplos de

posicionamento de segmentos ósseos em relação ao espaço, que são facilmente visualizados pelo

observador ou até mesmo através de exames de imagem.

Já a macrofisiologia articular dinâmica descreve os principais movimentos de

articulações, como por exemplo a abdução do ombro, a extensão do quadril, etc. Mas é

importante entender que os grandes movimentos articulares descritos pela macrofisiologia são

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sempre acompanhados e de certa forma dependentes de pequenos movimentos que ocorrem

nessas articulações descritos pela microsfisiologia articular.

9.2 – Microfisiologia articular

Para que possam ocorrer os macromovimentos em segmentos corporais, sempre é

necessário que pequenos movimentos ocorram nas articulações envolvidas nesses movimentos.

Por exemplo: num movimento de abdução do ombro descrito pela macrofisiologia, várias

articulações são envolvidas e em cada uma delas existem movimentos específicos que são

essenciais para uma boa fisiologia. Em determinados graus da abdução, a cabeça do úmero

realiza um deslizamento inferior, depois a clavícula realiza um movimento de rotação, a

articulação escapulotorácica faz um movimento em báscula e por fim as primeiras vértebras

torácicas realizam pequenas inclinações para o lado oposto à abdução do ombro. Todos esses

pequenos movimentos devem ocorrer de forma sistemática para que o ombro consiga chegar na

amplitude máxima da abdução de 180 graus. Caso alguma das articulações envolvidas não seja

capaz de realizar tais micromovimentos por uma restrição/disfunção, o macromovimento sofrerá

limitações e adaptações, e possivelmente alguns tecidos moles serão expostos à situações de

stress constante.

A microfisiologia articular, ao contrário da macro, não é facilmente visível pelo

examinador e também não é de simples análise em exames de imagem (exames dinâmicos

facilitam tal análise). É necessário que o examinador Osteopata tenha profundo conhecimento de

cada micromovimento que cada articulação executa para que possa aplicar os testes de

mobilidade específicos e realizar as correlações clínicas.

É muito importante salientar ao leitor que estas forma de análise são inter-relacionadas

mas em certos casos são independentes. Exemplo: quando observa-se um indivíduo

estaticamente com uma anteversão pélvica e aumento da lordose lombar (macrofisiologia

articular), significa que os ossos ilíacos encontram-se rodados anteriormente e as vértebras

lombares encontram-se estendidas. Este posicionamento dos ossos em relação ao espaço não

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quer dizer que eles encontram-se fixados do ponto de vista da microfisiologia articular. Os ossos

ilíacos podem realizar pequenos movimentos de rotação anterior e posterior (microfisiologia),

mas no caso do exemplo descrito acima, não significa que pelo fato de estaticamente estarem em

anteversão, os ilíacos estejam fixados em rotação anterior. É uma tendência em alguns casos,

mas é possível que os ossos ilíacos apresentem seus micromovimentos livres nesse exemplo.

Deve-se compreender que quando existem problemas ligados à microfisiologia de uma

articulação, certamente prejuízos ocorrerão na macrofisiologia. O papel do Osteopata é analisar

profundamente e detalhadamente os micromovimentos articulares, para que possa tratar de forma

específica possibilitando uma macrofisiologia harmoniosa.

10 – DISFUNÇÕES SOMÁTICAS

Esse termo substitui outro utilizado antigamente por Still como “deslocamento ósseos” e

posteriormente de “lesão osteopática”.

Para o glossário de terminologia osteopática:

“Disfunção somática é a função alterada ou debilitada dos componentes relacionados ao sistema

somático: esqueleto, articulações e estruturas fasciais, e elementos vasculares, linfáticos e neurais

relacionados.”

São alterações funcionais de parâmetro menor, ou seja, são problemas mecânicos que não

são acompanhados de lesões teciduais (fratura, ruptura ligamentar, etc) seguidas de respostas

inflamatórias. Não são demonstrados em exames laboratoriais e/ou de imagem, sendo que seu

diagnóstico é dado através de palpação e testes de mobilidade específicos para cada tecido.

Uma disfunção somática se trata de um distúrbio funcional reversível que pode afetar

articulações da coluna vertebral e periferia do corpo, e também tecidos dispostos em outras zonas

como nos envoltórios fasciais das vísceras, ou até mesmo o tecido conjuntivo encontrado nas

suturas e membranas cranianas.

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A disfunção pode ser denominada de acordo com sua localização, como por exemplo:

disfunção vertebral, disfunção visceral, disfunção craniana, etc.

Há muito tempo tem sido considerada como o fator central e principal no contexto da

filosofia Osteopática, relacionando seus impactos sobre a saúde em um contexto de globalidade

do corpo humano. Diferentes teorias tentam explicar seus achados clínicos e sua fisiopatologia.

Com citado anteriormente, as disfunções somáticas podem afetar distintos tipos de

tecidos. Sugere-se que no caso das disfunções somáticas que envolvam níveis vertebrais, todos

os tecidos inervados pelo metâmero/segmento medular envolvido (músculo, pele, osso, víscera,

artéria) podem sofrer consequências negativas em sua funções. Da mesma forma, disfunções

somáticas periféricas em qualquer tipo de tecido (tendão, cápsula, dura-máter, peritônio, etc...)

que afetem a aferência desses tecidos ao sistema nervoso, pode originar ou manter disfunções

somáticas medulares.

10.1 – Características clínicas

Algumas características podem ser clinicamente observadas nas disfunções somáticas. A

literatura descreve tradicionalmente esses quatro parâmetros com a sigla TART (T - tenderness,

A - assimetry, R - restriction, T – texture changes):

•Tenderness: aumento da sensibilidade;

•Assimetry: assimetria;

•Restriction: restrição;

•Texture changes: Alteração da textura do tecido.

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10.2 – Hipótese fisiopatológica das disfunções somáticas

Cronologia inicial das pesquisas sobre as disfunções somáticas:

1900: Louisa Burns, que fez parte do instituto de pesquisa A.T. Still em Chicago, realizou

uma série de estudos relacionados aos distúrbios somáticos e repercussões sobre funções

viscerais.

1930: J. S. Denslow e seus colegas promoveram estudos pioneiros feitos com registros de

eletromiografia para obter evidências relacionadas aos achados palpatórios nas

disfunções somáticas.

1945: Irwin Korr se juntou a Denslow para dar continuidade às pesquisas utilizando

EMG e introduziu o conceito da facilitação medular, que será abordado posteriormente.

Esse modelo ainda é frequentemente descrito em obras literárias osteopáticas nas

principais escolas de Osteopatia do mundo, porém outros modelos descritos nas últimas

três décadas apresentam maior suporte científico.

10.2.1 – Modelo da facilitação – Irwin Korr

O fisiologista Irwin Korr propôs a relação da disfunção somática vertebral ao que ele

chamou de segmento medular “facilitado”. Denominava o problema naquela época como “lesão

osteopática”.

Em 1947, Denslow definiu: “Uma lesão osteopática vertebral representa um segmento

medular facilitado, mantido nesse estado por impulsos de origem endógena que penetram na raiz

dorsal correspondente. Todas as estruturas que recebem fibras nervosas eferentes desse segmento

estão consequentemente, potencialmente expostas à excessiva excitação ou inibição”.

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Esse modelo propõe que o fuso neuromuscular seria o principal receptor sensorial

envolvido e responsável pela manutenção da disfunção. O aumento da atividade das fibras

motoras gama causaria a manutenção da contração das fibras musculares intrafusais de tal forma

que estiramento da porção sensitiva do fuso manteria uma contração muscular crônica palpável

clinicamente.

Vários mecanismos poderiam causar esse fenômeno. Na sequencia, descreve-se uma dessas

possibilidades:

Na posição neutra de uma

articulação, os músculos antagonistas

responsáveis pela manutenção da

posição espacial da mesma,

apresentam uma atividade gama

basal, pois os fusos neuromusculares

mantém o sistema nervoso central

constantemente informado da

situação mecânica a todo o

momento.

Quando ocorre uma brusca

aproximação mecânica das inserções

musculares por um movimento

traumático, os fusos encontram-se

relaxados. Dessa forma o sistema

nervoso central não recebe as

informações aferentes sensoriais

desse receptor. Por um mecanismo

reflexo, o próprio SNC

automaticamente aumenta a

frequência de descargas eferentes

pelos motoneurônios gama para que

a fibras intrafusais se contraiam e

estirem a porção sensorial do fuso,

para que o mesmo envie novos sinais

aferentes. É um sistema de feedback

que ocorre com o intuito de obter as

Atividade gama em repouso

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informações dos receptores

musculares constantemente.

A gravidade, pela influência dos centros labirínticos e dos músculos antagonistas, tende a

levar a articulação novamente à posição neutra, devolvendo ao músculo seu comprimento

inicial. Isso faz como que ocorra o estiramento da porção sensorial do fuso, aumentando

ainda mais a descarga sensitiva desses receptores. Então o fuso vai estimular

permanentemente sua porção contrátil, recusando-se a estirar. Ocorre um

desemparelhamento entre as fibras intra e extrafusais. O músculo vai resistir a todo o

alongamento, mantendo-se num estado de “contração” crônica.

Movimento brusco

Adaptação do SNC Aumento da atividade gama

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Esse espasmo muscular funcional

fixa a vértebra e impede a

mobilidade em alguns parâmetros. A

este fenômeno neurológico que

explica em curto prazo a fixação

articular se somam alguns fatores

que explicam em longo prazo a

fixação articular, a cronicidade da

disfunção. Do lado fixado, existe

uma perda do movimento fisiológico

de abertura e fechamento das facetas

articulares. As cápsulas articulares

têm tendências a se retrair e formar

aderências.

Em um nível vertebral em disfunção, a hiperatividade gama é excessiva seja sobre um

grupo de fibras musculares ou sobre o conjunto do músculo. Os neurônios gama

descarregam permanentemente e conservam as fibras intrafusais em um estado de

contração crônico. As causas que podem produzir este tipo de espasmo podem ser um

traumatismo, uma queda, um movimento mau feito.

Os músculos responsáveis pela manutenção da disfunção estarão em processo isquêmico

devido à dificuldade de irrigação das arteríolas que penetram o ventre do músculo

hiperativo. Acredita-se que este mecanismo tenha papel importante na formação e

manutenção de pontos-gatilho miofasciais.

Inúmeros fatores deixam o corpo vulnerável a desequilíbrios do sistema

neuromusculoesquelético, predispondo a instalação de disfunções somáticas:

Disfunção somática

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Postura: habitual, ocupacional;

Gravidade;

Anormalidades estruturais: tamanho ou forma de vértebras alteradas, facetas articulares

anormais, fusão ou falta de fusão (lombarização, sacralização);

Zonas de transição de curvas/dobradiças: craniocervical, cervicotorácica, toracolombar,

lombosacral;

Irritabilidade muscular: stress, infecção, reflexo de outra estrutura somática ou visceral;

Alterações psicológicas;

Compensação de outras alterações estruturais/funcionais.

A figura abaixo demonstra a relação entre alguns fatores que podem repercutir sobre o

sistema neuromusculoesquelético:

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10.2.2 - Modelo nociceptivo de Van Buskirk

Van Buskirk, já em 1990, colocou em questão alguns conceitos propostos por Korr. Para

ele, os fusos neuromusculares não seriam capazes de produzir as contrações musculares reflexas.

Sugeriu que receptores sensoriais localizados em vários tecidos podem estar envolvidos com as

disfunções somáticas, em especial os nociceptores, seriam responsáveis pela manutenção da

contração muscular reflexa e aumento das descargas simpáticas.

O estresse nocivo mecânico, químico ou térmico em tecidos musculoesqueléticos ou

viscerais causariam alterações reflexas nos axônios que iriam bombardear o corno posterior da

substância cinzenta da medula. Isto levaria a uma série de eventos nos tecidos locais tendo como

consequência final a facilitação medular. Como consequência ocorreria alteração na atividade

Fatores que influenciam o sistema musculoesquelético

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das raízes anteriores e fibras eferentes viscerais causando respectivamente aumento do tônus

muscular e repercussões nas atividades autonômicas (vasomotora, sudorípara e atividade

visceral) do segmento medular envolvido.

O aumento da atividade muscular causaria sinais clínicos tradicionalmente observados:

restrição de mobilidade tecidual, assimetrias, e dor.

A manutenção da restrição de mobilidade ao longo do tempo provocaria alterações nos

tecidos conjuntivos locais ajudando a manter o distúrbio. Esse modelo neurológico das

disfunções somáticas tem sido predominante nas últimas décadas na explicação das disfunções

somáticas e suas relações somato-viscerais e viscero-somáticas, por mais que faltem evidências

conclusivas sobre o assunto.

10.2.3 – Outro modelos

O modelo fasciogênico proposto por Tozzi apresenta a perspectiva de que as disfunções

somáticas possam ter, além das influências baseadas no modelo nociceptivo, relações

fundamentais com alterações em algumas propriedades específicas da fascia, como sua

arquitetura, contratilidade, pH e viscoelasticidade. Tais modificações teciduais poderiam

justificar alguns dos sinais clínicos das disfunções somáticas encontrados palpatoriamente.

Para Garry Fryer (1999), os modelos que sugerem que as contrações musculares reflexas

são responsáveis pelas alterações de mobilidade encontradas nas disfunções somáticas articulares

são insustentáveis. Ele destaca que estudos recentes mostram que músculos segmentares são

inibidos na presença de dor.

Um modelo hipotético apresentado por Fryer propõe que as disfunções seriam iniciadas

por uma lesão tecidual, e as consequências seriam as alterações funcionais reversíveis

direcionadas pelos estímulos nocieptivos, assim como no modelo de Van Buskirk. Tensões

mecânicas impostas nos receptores localizados em cápsulas e ligamentos causam inflamação e

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efusão sinovial ativando nociceptores. Reflexos axonais produzem alteração da textura tecidual

local. A efusão articular e o ingurgitamento tecidual poderiam explicar a restrição de mobilidade.

A atividade nociceptiva que chega ao corno posterior da medula poderia ser responsável pelo

aumento da atividade simpática, provocando repercussões viscerais e imunes. Músculos

segmentares estabilizadores acabariam sendo inibidos e músculos multissegmentares excitados,

de tal forma que aquela articulação tornar-se-ia instável e mais suscetível a estresse mecânico. A

manutenção do problema ao longo do tempo produziria modificações nas características físicas

no tecido conjuntivo, contribuindo para a sustentação da restrição de mobilidade e as assimetrias.

Um ciclo autossustentável se instalaria.

Diversas outros modelos e descrições de hipóteses sobre os mecanismos fisiológicos

envolvendo as disfunções somáticas foram e vem sendo postuladas, porém diversos aspectos

como sua etiologia e suas repercussões mecânicas, neurológicas e sistêmicas continuam sendo

discutidos e pesquisados até o momento. Os trabalhos científicos a serem realizadas devem

responder muitas questões que ainda estão sem respostas...

10.3 – Disfunções somáticas em articulações periféricas

Distúrbios funcionais em músculos esqueléticos de qualquer outra articulação do corpo

podem levar a respostas similares. Por exemplo, uma irritação ou breve ruptura de fibras de

músculos ligados a articulação glenoumeral causadas por movimento traumático, vão causar não

somente um processo inflamatório local a princípio, mas também reações cicatriciais e alteração

tônica de músculos da cintura escapular.

Essa alteração tônica pode ser responsável por limitação de mobilidade (fixação) de

alguma articulação envolvida. As disfunções somáticas de articulações periféricas apresentam

diretamente, somente repercussões mecânicas; mas indiretamente são fontes de fluxos alterados

para o sistema nervoso central, podendo causar estímulos aferentes alterados para os níveis

medulares relacionados aos tecidos.

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Posteriormente será discutido nessa apostila, as possibilidades de disfunções em outros

tecidos como envoltórios viscerais e articulações cranianas.

10.4 – Disfunções primárias e adaptações secundárias

As disfunções somáticas primárias correspondem ao primeiro stress que ocorre no

organismo respeitando a cronologia do tempo. No exemplo descrito acima, a disfunção somática

da articulação glenoumeral gera aferências sensitivas negativas ao corno posterior da substância

cinzenta da medula nos níveis de C5-C6. Essa fonte de facilitação deve alterar o comportamento

reflexo desse nível medular causando disfunções somáticas secundárias locais, e perturbando os

tecidos inervados por esse nível medular/metâmero.

Uma disfunção primária pode ser:

Traumática: choques, quedas, etc,

Fisiológica: respeitando os movimentos fisiológicos da articulação/tecido.

Toda disfunção primária necessita de uma adaptação. A adaptação não necessita sempre

de um tratamento, somente se persiste por tempo prolongado mantendo-se mesmo após a

correção da disfunção primária.

A disfunção secundária trata-se de uma adaptação, produto de uma necessidade de uma

“acomodação” a uma dada situação. Por exemplo, uma disfunção primaria de um segmento

vertebral ou a disfunção primaria de outra articulação (tálus, ilíaco, etc). A adaptação pode ser

próxima ou distante da disfunção primária dinamicamente reversível. Se a primária é corrigida, a

adaptação desaparece.

Na coluna vertebral, as disfunções primárias, geralmente bloqueiam uma vértebra

isolada, as adaptações neutras afetam um grupo de vértebras. As adaptações diminuem a

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capacidade do corpo se defender. Quanto mais nos adaptamos a algo, menos podemos nos

adaptar a outra coisa.

Sem dúvida a persistência ao tempo da disfunção primária provocará mudanças

estruturais na disfunção secundária, que deixará de ser uma adaptação para se transformar em

uma compensação. Nesse caso, a correção da disfunção primária não será acompanhada pela

desaparição espontânea da disfunção secundária (compensação) que irá necessitar de um

tratamento direto e específico.

11 - CONCEITOS DE HIPO E HIPERMOBILIDADE

Toda perda de mobilidade de um elemento conjuntivo produz de forma adaptativa, o

prejuízo mecânico de outro segmento que deverá compensar essa falta de mobilidade com um

funcionamento excessivo, uma hipermobilidade adaptativa. Esta hipermobilidade reacional

ocorre em zonas adjacentes (supra ou subjacente) à fixação articular. Esse conceito sugere que as

zonas hipermóveis normalmente se encontrarão no sistema musculoesquelético, e não em tecidos

vísceras ou cranianos (menos móveis por natureza).

Como descrito anteriormente, alguns modelos sugerem que uma disfunção somática é

acompanhada de uma hiperatividade gama e espasmo muscular que fixa a disfunção Já a zona de

hipermobilidade adaptativa se caracteriza por uma debilidade muscular local.

Propõe-se que essas áreas reacionais seriam locais que geralmente apresentem dores

espontâneas do paciente, devido ao stress mecânico imposto aos tecidos periarticulares

(músculos, ligamentos, cápsulas, discos). Porém na prática clínica observa-se que certamente

áreas hipomóveis também podem ser o local sintomático.

Esse conceito postula que num primeiro momento, o stress mecânico na área hipermóvel

provoca processos inflamatórios e álgicos, e em longo prazo favorece processos degenerativos.

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EXEMPLO PRÁTICO

Quando um indivíduo realiza o movimento de abdução de 180 graus do ombro, várias

articulações devem estar livres para que o movimento aconteça como um todo. O movimento

inicia-se na glenoumeral, depois ocorre na acromioclavicular, esternoclavicular, escapulotorácia,

e por fim as primeiras vértebras torácicas realizam uma inclinação lateral para o lado oposto do

movimento para que se possa alcançar a amplitude total. No caso de uma hipomobilidade das

primeiras vértebras torácicas, o indivíduo realiza o movimento completamente, mas para isso,

algumas adaptações podem ocorrer, como por exemplo, uma hipermobilidade adaptativa da

articulação glenoumeral. Neste caso, os tecidos moles relacionados à glenoumeral estão

suscetíveis ao stress mecânico, e certamente será o local onde os sintomas irão aparecer.

Nas zonas hipermóveis os testes de mobilidade são negativos, pois não existem fixações

articulares presentes.

A figura ao lado mostra um exemplo

que ocorre com frequência na prática

clínica: hipomobilidade na articulação

sacroilíaca gerando hipermobilidade de

segmentos lombares. Neste caso, os

sintomas espontâneos localizam-se na região

lombar com a possibilidade de irradiações

para o membro inferior.

A figura abaixo demonstra em exemplo de uma disfunção (hipomobilidade) em extensão

em L5, e a possibilidade de hipermobilidade na articulação acima (L4) quando o indivíduo busca

realizar um movimento de flexão do tronco, o qual L5 não estaria apta a realizar.

Hipomobilidade sacroilíaca, com hipermobilidade lombar

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É frequente observar uma zona rígida de T1 a T5 responsável de uma hipermobilidade

reacional C7-T1 ou C5-C6 que gera uma nevralgia cervicobraquial.

11.1 – Objetivos do tratamento Osteopático

É diferente se estamos tratando uma lesão de hipomobilidade ou de hipermobilidade, e

sempre devemos ter em conta que as hipermobilidades são, na maioria dos casos, secundárias a

hipomobilidades, por tanto buscaremos:

a) Nas hipomobilidades

- dar mobilidade.

- restaurar o equilíbrio ligamentar e msucular.

Hipomobilidade adaptativa de L4 em flexão, devido à fixação de L5 em extensão

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b) Nas hipermobilidades

- diminuir a inflamação.

- diminuir o edema.

- diminuir a dor.

Não se devem manipular articulações hipermóveis, pois não faz sentido buscar aumentar

ainda mais o movimento nos locais que já o tem em excesso.

HIPOMOBILIDADE HIPERMOBILIDADE

Fixação articular Aumento da mobilidade articular

Espasmo/contratura muscular (fixa

a disfunção) Hipotonia muscular

Sem dor espontânea Dor espontânea

Dor à palpação Dor à palpação

Testes de mobilidade positivos Testes de mobilidade negativos

12 - FACILITAÇÃO MEDULAR

O glossário de terminologia osteopática define a facilitação medular como: “A

manutenção de um grupo de neurônios (neurônio pré-motor, neurônio motor ou neurônio

simpático pré-ganglionar) em um estado de excitação parcial ou subliminar; nesse estado menos

estímulos aferentes são necessários para desencadear descargas de impulsos. A facilitação pode

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ocorrer devido ao aumento constante de impulsos aferentes, padrões aberrantes de estímulos

aferentes, ou alterações nos neurônios afetados ou seus ambientes químicos. Uma vez

estabelecida, a facilitação pode ser sustentada por atividade normal do sistema nervoso central ”.

Uma disfunção somática vertebral provoca esse fenômeno neurofisiológico no segmento

medular/metâmero envolvido.

Produz-se um estado parcial ou total de excitação: necessita menos estímulos aferentes

provenientes de qualquer tecido, para produzir a descarga de influxos. O metâmero pode ser

ativado por reflexos somato-somáticos ou viscero-somáticos.

As primeiras experiências realizadas para se estudar esse fenômeno por Denslow,

demonstraram que esses segmentos de baixo limiar apresentam hiperatividade reflexa em

resposta a pressão exercida nas apófises espinhosas.

Segmentos facilitados são cronicamente hiperexcitados. Os músculos da região são

mantidos num estado hipertônico, que restringe a mobilidade segmentar. Acredita-se que todos

os tecidos do nível metamérico (músculo, pele, osso, víscera, artéria), sofram consequências da

facilitação medular. Qualquer um dos tecidos que provoque aferências para esse metâmero, pode

ser a fonte das facilitações.

Como descrito anteriormente, para o modelo da facilitação medular ou sensibilização

central de I. Korr, as restrições de mobilidade observadas nas disfunções somáticas são

provocadas por intensas atividades musculares decorrentes de impulsos neuronais sensoriais

elevados, que mantém reflexamente os neurônios motores cronicamente excitados. Os impulsos

originados em estruturas somáticas ou viscerais causam um bombardeio de estímulos no corno

posterior da substância cinzenta da medula correspondente. Esses eventos alteram os limiares de

atividade dos interneurônios medulares promovendo uma “facilitação” do segmento medular em

questão.

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As consequências são: redução do limiar de dor, aumento da descarga simpática e

alteração de tônus muscular. Todos os tecidos que recebem eferências nervosas através dos

ramos anteriores acabam sendo “bombardeados” neurologicamente de forma inapropriada.

12.1 – Conseqüências da facilitação medular

Os segmentos facilitados serão mais ativos que os demais:

1. As fibras musculares inervadas pelos segmentos facilitados têm um tônus elevado que

produz modificações morfológicas, químicas e metabólicas (que podem se transformar

em fontes de irritações crônicas).

Isto inclui as fibras musculares lisas viscerais e estriadas esqueléticas.

2. O limiar de percepção da dor fica diminuído: existe facilitação das fibras

espinotalâmicas.

3. A facilitação simpática produz uma simpaticotonia que afeta a pele:

Aumento da atividade sudorípara que diminui a condução elétrica da pele.

Vasoconstrição que produz uma ausência do reflexo histamínico à palpação da

pele e zonas mais frias à termografia.

Todos os tecidos que recebem uma inervação motriz (músculos, vasos, glândulas) a partir

do segmento facilitado estão expostos a uma excitação ou inibição.

12.2 – Sinais clínicos da facilitação medular

Quando existe uma disfunção vertebral com hiperatividade gama, a facilitação das

mensagens a partir do sistema gama vai perturbar a chegada das mensagens que a medula recebe,

assim como todas as mensagens que irão para os diferentes tecidos do metâmero se encontrarão

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alteradas. O segmento vertebral que se comporta assim é reconhecido como uma Disfunção

manipulável: deve ser corrigida quando encontrada.

Pode-se encontrar em caso de facilitação medular:

Uma dor à palpação da apófise espinhosa ou da faceta articular no nível do esclerótomo.

Dermalgias reflexas no nível do dermátomo.

Desequilíbrio tônico agonista-antagonista no nível do miótomo.

- dores referidas e espasmos dos músculos (pontos-gatilho).

- debilidade dos músculos antagonistas dos músculos hiperativos.

No nível do angiótomo, as artérias que dependem da inervação do nível facilitado

apresentam um angioespasmo, por tanto a vascularização dos tecidos (músculos, pele,

vísceras, nervos...) é debilitada. A contração muscular é de pior qualidade, a dor

isquêmica aumenta e ocorrem congestões a nível vascular e estase visceral. Acredita-se

que esses aspectos influenciam a economia energética corporal.

No nível do viscerótomo, as mensagens neurovegetativas (simpáticas e parassimpáticas)

são desequilibradas. Pode-se encontrar um sistema estimulado ou inibido.

Não se podem testar todos os elementos do metâmero, mas bastam três elementos para

confirmar o diagnóstico de uma verdadeira disfunção somática vertebral acompanhada da

facilitação medular (tríade metamérica).

Dermalgias reflexas: que se situam na zona em disfunção e/ou nos membros,

respeitando o território de dermátomos. Fibras do ramo meníngeo do nervo espinhal

(n. de Luschka) que inervam a pele unida à apófise articular e espinhosa encontram-se

facilitadas, justificando a dermalgia reflexa local. As dermalgias reflexas são

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colocadas em evidência quando se realiza o teste de “palpado rodado”, respeitando o

mapa de inervação dos dermátomos.

Esclerótomo: dor à palpação do periósteo no nível vertebral (apófise espinhosa,

transversa...), ou à distância respeitando a inervação do periósteo na periferia. .

Alteração tônica muscular: hiperatividade/espasmo/contratura ou debilidade. Uma

disfunção somática vertebral produz espasmo dos músculos monoarticulares locais

que mantém a fixação, e isso se põe em evidência por meio da palpação (zona de

tensão, pontos gatilho, sensibilidade). Além de alteração tônica local produzida pela

facilitação das fibras nervosas do ramo posterior do nervo espinhal, os músculos da

periferia também sofrem alteração de tônus, neste caso pela facilitação do ramo

anterior do nervo espinhal.

Nos casos de avaliação das disfunções somáticas de vértebras cervicais e lombares, pode-

se analisar o tônus de músculos inervados por esses níveis medulares nos membros superiores ou

inferiores, respectivamente. Já quando a avaliação é realizada em quase toda a coluna torácica,

os testes de tônus de músculos periféricos não podem ser aplicados, pois os ramos anteriores dos

nervos espinhais desses níveis medulares formam os nervos intercostais, que inervam músculos

de difícil possibilidade para se realizar os testes de tônus.

COMO PODEMOS TESTAR O TÔNUS?

Para se estudar o tônus de músculos, buscando evidenciar uma verdadeira facilitação

medular, é importante saber aplicar os testes musculares específicos para cada nível medular. É

necessário saber testar pelo menos um músculo para cada nível medular. A diferença de um teste

de tônus muscular para um teste de força, é que no primeiro caso é solicitada uma contração

isométrica e verifica-se a capacidade de manter tal contração, enquanto que no segundo caso é

solicitada uma contração em toda a excursão de atividade do músculo. No caso de disfunção

somática com facilitação medular, pode-se encontrar:

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Hiperatividade/espasmo: músculo mantém contração isométrica

máxima por apenas alguns segundos, e na sequencia fica debilitado;

Debilidade: incapacidade para manter a contração isométrica máxima

desde o início do teste.

Se encontrados estes três elementos alterados (tríade metamérica: dermátomo,

esclerótomo, miótomo) coloca-se em evidência uma disfunção somática com consequente

facilitação medular. Corrigindo a fixação, busca-se suprimir as mensagens disfuncionais no nível

do metâmero.

Comentários

1) Textura do tecido: as modificações de textura tecidual são devido a perturbações locais

da atividade vasomotora, do equilíbrio eletrolítico, da permeabilidade capilar, e outras

funções que estão sob influencia direta ou indireta do sistema nervoso simpático.

2) O limiar de dor: existe relação direta entre o limiar reflexo e o limiar de percepção de dor.

Nos segmentos em disfunção, o periósteo da vértebra é muito mais sensível que nos

segmentos normais.

Deve-se interpretar isto como o indício de uma facilitação das fibras espinotalâmicas,

condutoras da sensação dolorosa.

3) Predisposição às agressões físicas: em um segmento em disfunção, os outros neurônios

podem ser facilitados e mantidos em um estado de hiperexcitabilidade. Isto ocorre com

algumas fibras pré-ganglionares do sistema nervoso simpático e com as fibras

espinotalâmicas que conduzem para o cérebro as sensações dolorosas. A medição da

temperatura cutânea e subcutânea profunda permite mensurar a atividade das fibras

simpáticas que controlam a vasomotricidade e por tanto, o calor emitido pelos tecidos.

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12.3 – Caracterização das facilitações

Normalmente, os neurônios eferentes motores não geram respostas reflexas para qualquer

pequeno estímulo. Um neurônio eferente não descarrega até que seu potencial de membrana

chega a um valor subliminar. Deve ser estimulado suficientemente para descarregar um arco

reflexo, o que representa uma espécie de proteção para o sistema nervoso.

No segmento medular facilitado essa proteção não funciona. Grande número de

neurônios é mantido próximo de seus limiares de descarga e são facilitados inclusive em repouso

por um bombardeio aferente crônico que provem de estruturas em relação metamérica com os

neurônios: viscerotomo, esclerótomo, dermátomo, miótomo, angiótomo. Qualquer um desses

tecidos que pertencem ao metâmero podem ser a fonte primária de irritação.

Os receptores sensoriais mecânicos ou de dor representam uma fonte importante destes

tipos de aferências, não importa que estrutura metamérica possa ser a origem:

- uma víscera patológica

- um ponto gatilho miofascial

- uma cicatriz

- uma estrutura inflamada ou irritada, etc

O estado de facilitação pode estender-se a todos os neurônios que tem seu corpo celular

no segmento medular que inerva a articulação em disfunção, o que inclui as células do corno

anterior, as fibras pré-ganglionares do sistema nervoso simpático, assim como as fibras

espinotalâmicas condutoras de dor.

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13 – MOBILIDADE VISCERAL: suas disfunções e técnicas de correção

As vísceras apresentam papel importante na manutenção do funcionamento do corpo em

seu conjunto. São unidas e conectadas pelo tecido mais abundante em nosso corpo, o tecido

conjuntivo (peritônio, pleura, pericárdio, mesos...), e apresentam mobilidade fisiológica

governada principalmente pelo músculo diafragma. Por esses motivos, não devem ser

consideradas de maneira diferente de articulações. Quando os movimentos fisiológicos destas

“articulações” encontram-se restritos ou perdidos, prejuízos funcionais podem ocorrer.

Repercussões de disfunções somáticas

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No nível das vísceras, as “facetas articulares” se representam pelos diferentes elementos

do peritônio e o “líquido sinovial” está representado pela secreção serosa que envolve os órgãos,

o líquido peritoneal. Quando se realizam ciclos respiratórios, o diafragma exerce pressões

cefálicas e caudais, fazendo com que as vísceras se deslizam e rodem umas contra as outras

durante esses movimentos. Isto pode ser considerado como o jogo articular visceral.

A mobilidade visceral depende de alguns fatores:

sistema nervoso somático (diafragma);

sistema neurovegetativo (movimentos peristálticos, movimentos cardíacos);

movimento respiratório primário ou impulso rítmico craniano.

Esta mobilidade é necessária para uma boa funcionalidade já que a bomba vascular do

abdome está constituída pelos movimentos do diafragma, pelos diferentes movimentos viscerais

que permitem realizar um bombeamento vascular local. Estes mecanismos fazem parte da

homeostase corporal.

Seja pela presença de cicatrizes cirúrgicas, ou se um indivíduo apresenta uma infecção,

por exemplo, é possível que diferentes serosas criem aderências e limitem a mobilidade

fisiológica das vísceras. A “fixação ou disfunção visceral” consiste na perda de parte ou da

totalidade das possibilidades de movimento de uma víscera, assim como o sistema

musculoesquelético.

Podem-se distinguir diferentes tipos de disfunções viscerais:

Aderências (fixações articulares)

Ptoses (alterações ligamentares)

Espasmos viscerais (fixações musculares)

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Em casos de disfunções somáticas vertebrais com facilitações medulares, as informações

autônomas podem estar desequilibradas, repercutindo sobre o tônus muscular das vísceras e das

secreções glandulares. Outro elemento anatômico que pode perturbar as disfunções viscerais é o

décimo par craniano, o nervo vago. Ele proporciona a inervação parassimpática de várias

vísceras torácicas, abdominais e pélvicas, sendo que disfunções no nível do crânio ou das

vértebras cervicais altas podem gerar prejuízos às suas funções.

As manifestações das disfunções viscerais geralmente são distantes sobre o aparelho

locomotor, na forma de dores referidas. Todas as patologias orgânicas/teciduais produzem

fixações dos tecidos relacionados às vísceras. A víscera deixa de estar livre na cavidade a qual

pertence. Se o corpo não se adapta a esta situação, se desenvolve um transtorno estrutural.

Algumas causas de disfunções viscerais:

Cirurgias ou infecções que determinam aderências

Tensões Diafragmáticas

Disfunção circulatória, angioespasmo, tensões, pressão abdominal

Sistema neurovegetativo

Alteração psicológica

O tratamento buscará devolver para a víscera sua mobilidade primitiva fisiológica, assim

como sua vascularização e reequilíbrio neurológico. O Osteopata deve tratar todos os

movimentos no corpo humano, inclusive o movimento fisiológico visceral. A Osteopatia é a arte

de provocar uma auto-correção do organismo. A manipulação visceral é um destes meios.

Um órgão tem boa saúde se é móvel, graças às serosas, e aos ligamentos que o rodeiam.

Toda perda de mobilidade, fixação, aderência à outra estrutura, modificam o movimento da

víscera e predispõe as patologias.

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As funções das manipulações viscerais têm as seguintes ações:

Diminuir o espasmo reflexo da musculatura lisa.

Estirar as fascias com a finalidade de liberar as aderências entre as facetas de

deslizamento e dar elasticidade aos tecidos.

Aumentar a vascularização local, diminuindo o angioespasmo.

Suprimir o arco reflexo nociceptivo, neurovegetativo local que agrava ou mantém a

facilitação medular.

14 – MOBILIDADE CRANIANA: suas disfunções e técnicas de correção

Um discípulo direto de Andrew Still, William Garner Sutherland (1873 – 1954), é

considerado o pai da Osteopatia craniana. Estudou na American School of Osteopathy em

Kirksville, nos Estados Unidos e foi pioneiro na hipótese que o crânio teria mobilidade

fisiológica cíclica e inerente, e desde então várias diferentes hipóteses buscam descrever os

mecanismos responsáveis por esses movimentos.

Denominou o movimento inerente do crânio de “mecanismo respiratório primário”

(MRP). O autor sugeriu na época que esses movimentos seriam causados por ritmos de contração

e dilatação dos ventrículos cerebrais em decorrência da produção e bombeamento do líquido

cerebroespinhal. Insinuou que esse mecanismo afetaria a respiração celular e outros processos

fisiológicos orgânicos.

Atualmente outros termos podem ser encontrados relacionados ao movimento inerente do

crânio além do termo inicialmente denominado por Sutherland de MRP, como o “ritmo

craniosacral” (RCS) ou também o “impulso rítmico craniano” (IRC) que vem sendo amplamente

utilizado na atualidade.

A verdadeira origem da mobilidade inerente do crânio ainda é desconhecida. Além das

hipóteses de Sutherland, outras foram e vêm sendo sugeridas:

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A produção e absorção cíclicas do líquido cerebroespinhal no sistema nervoso

central criariam movimentos que se propagariam no crânio e restante do corpo;

A mobilidade seria resultante da combinação de outros movimentos involuntários

como a respiração diafragmática, a pulsação arterial, e o peristaltismo dos órgãos;

Atividade elétrica que ocorre no cérebro causaria uma espécie de motricidade que

se espalha pelo corpo;

Resquícios da mobilidade que ocorre no desenvolvimento embriológico dos

tecidos do corpo humano;

Resultante da atividade do sistema nervoso autônomo sobre as artérias.

A frequência considerada como normal desse ritmo tem certa variação dentro da

literatura que aborda o tema

Sutherland: 10 a 14 ciclos por minuto;

Brookes: 12 a 14 ciclos por minuto;

Greenman: 10 a 14 ciclos por minuto;

Mitchell Jr: 6 a 12 ciclos por minuto;

Retzlaff: 6 a 12 ciclos por minuto;

Upledger: 6 a 12 ciclos por minuto;

Nelson e colaboradores: 4 a 8 ciclos por minuto.

As disfunções cranianas seguem os mesmos conceitos de qualquer disfunção somática:

são restrições de mobilidade teciduais em um ou vários parâmetros de movimento. Sugere-se que

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as restrições ao nível craniano possam atingir tecidos suturais, membranosos, nervosos,

vasculares, musculares, assim como interferir diretamente no próprio IRC.

Restrições de mobilidade dessas articulações e ossos parecem ter importantes influências

sobre alguns fatores como: vascularização craniana (venosa, arterial), função fisiológica de

nervos cranianos e espinhais ligados ao crânio, etc... Sabe-se que dentro das suturas existem

receptores sensoriais, neurônios e vasos, e isso nos faz acreditar que a existência desses

elementos estejam diretamente ligados à presença de micromovimentos nessas articulações.

Também é importante ressaltar que os ossos cranianos estão todos unidos pelo tecido

conjuntivo que envolve o sistema nervoso central, a dura-máter. Este tipo de tecido conjuntivo

resistente e praticamente inelástico, interconecta os ossos cranianos e também liga o crânio com

a coluna vertebral e com a pelve do ponto de vista mecânico. Dessa forma, as tensões geradas

nesses tecidos por disfunções mecânicas certamente são transmitidas aos elementos que

constituem essa cadeia.

Causas de disfunções Cranianas:

Disfunção traumática: diminuição da amplitude de movimento.

Fixação articular, diminuindo a capacidade de abertura e fechamento de uma

sutura.

Lesão intra-ossea, que corresponde a uma alteração anatômica (escoliose).

Parto (ventosa, fórceps, a pelve).

Repercussões das manipulações Cranianas

Restabelecer a função articular. Equilibra as tensões no nível da sutura já que existe um

sistema sensitivo entre elas.

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Suprimir o estímulo nociceptivo que nasce dos mecanorreceptores, estes estão situados

nas suturas do crânio.

Suprimir as tensões da dura-máter que podem afetar:

- a inervação das meninges.

- os nervos cranianos, gânglios neurovegetativos, elementos neurovasculares encefálicos.

Liberar o sistema venoso intracraniano, para suprimir as estases circulatórias.

Suprimir os angioespasmos das artérias intracranianas.

15 – OS 5 MODELOS DE APLICAÇÃO DA OSTEOPATIA

No início da década de 1980, o Educational Council on Osteopathic Principles (ECOP)

publicou os cinco modelos conceituais relacionados à atuação osteopática, que são:

Biomecânico-estrutural;

Respiratório-circulatório;

Neurológico;

Metabólico-funcional;

Comportamental-biopsicossocial.

Cada modelo expressa maneiras distintas de observação, avaliação, diagnóstico e

tratamento através da Osteopatia. São as formas nas quais se pode influenciar os processos

fisiológicos dos indivíduos tratados com a Osteopatia.

Na prática, os modelos geralmente são aplicados combinados para um paciente

individualmente. As opções são guiadas por alguns fatores, como diagnóstico, histórico clinico,

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resposta ao tratamento, etc. O sistema neuromusculoesquelético é considerado o principal meio

de comunicação entre os cinco modelos, pois é através dele que o corpo pode se adaptar aos

múltiplos fatores de estresse. A organização mundial da saúde (OMS) reconheceu em 2006 os

cinco modelos como contribuições únicas da osteopatia nos cuidados de saúde.

15.1 – O modelo biomecânco-estrutural

Observa o paciente a partir de uma perspectiva estrutural e mecânica, dando ênfase à

anatomia da coluna vertebral, membros, músculos e as funções mecânicas da mobilidade e

postura corporal.

Esse modelo defende que em ocasiões de alterações estruturais, que causem ou sejam

causadas por disfunções de tecidos musculoesqueléticos, podem afetar estruturas neurológicas e

vasculares e consequentemente comprometer processos metabólicos e comportamentais. Isso

pode gerar distúrbios em várias funções corporais reduzindo sua capacidade homeostática.

O tratamento seguindo esse modelo é direcionado à correção das disfunções somáticas,

suprimindo as restrições e restaurando as funções mecânicas.

Para alcançar as metas propostas por esse modelo, o osteopata conta com várias

ferramentas como:

thrust;

mobilização articular;

técnicas de energia muscular; liberação

miofascial; técnicas funcionais;

técnica de Still.

15.2 – O modelo respiratório-circulatório

A proposta desse modelo é que a chave da homeostase seria a boa circulação de todos os

fluídos corporais, garantido nutrição e drenagem apropriada dos tecidos ao nível celular.

Os componentes primordiais desse modelo são os diafragmas: respiratório, craniano,

pélvico e escapular. Os diafragmas são áreas de possíveis restrições transversais que podem

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afetar não somente a mobilidade, mas também a dinâmica dos fluídos arteriais, venosos,

linfáticos e cerebroespinhais.

As técnicas que podem ser aplicadas nesse modelo são: técnicas cranianas; técnicas

articulares ; técnicas de liberação miofasciais dos diafragmas;

técnicas de bombeamento linfático;

técnicas viscerais.

15.3 – O modelo neurológico

Considera a relação e os impactos fisiopatológicos das disfunções somáticas e os

fenômenos de facilitação sobre os processos biomecânicos, circulatórios, metabólicos e

comportamentais. É dada importância às condições que envolvem as disfunções somáticas e os

sistemas viscerais através do sistema nervoso autônomo, e também o impacto dos distúrbios

neurológicos envolvidos na fisiopatologia das disfunções sobre o sistema neuroendócrino e o

comprometimento da homeostase.

A principal meta do tratamento osteopático seguindo esse modelo é suprimir os

segmentos facilitados para buscar o equilíbrio neurológico e redução dos sintomas. A restauração

da função neural irá beneficiar diretamente as funções sistêmicas e também potencializará a

capacidade adaptativa do paciente. Para atingir tais metas, o osteopata conta com grande

diversidade de abordagens incluindo os pontos de Chapman, técnicas de counterstrain,

osteopatia craniana, liberação neural.

15.4 – O modelo metabólico

O organismo precisa manter o equilíbrio entre a produção, distribuição e consumo de

energia, para que tenha plena capacidade de manter diversos processos fisiológicos como a

reparação de lesões e combate a infecções por exemplo. Disfunções somáticas que afetem essas

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funções promovem maior consumo energético, e consequentemente as suas correções auxiliam

nas respostas homeostáticas.

A base do tratamento osteopático seguindo esse modelo é a abordagem sobre os sistemas

viscerais e também sobre o sistema linfático. A meta é potencializar os processos de

autorregulação e autocura, e também as funções imunes e endócrinas. Além disso, o profissional

pode direcionar o paciente seguindo algumas recomendações como a realização de exercícios,

modalidades para redução do estresse e também aconselhamentos nutricionais.

15.5 – O modelo comportamental

Esse modelo propõe a observação do indivíduo em seus aspectos mentais, emocionais,

sociais e até mesmo espirituais. Traz a ideia que as disfunções somáticas atrapalham as reações

do sistema neuromusculoesquelético aos estressores biopsicossociais. O tratamento osteopático

pode ser útil para suprimir tais disfunções, com a aplicação de técnicas de liberação

somatoemocionais, e também com aconselhamentos diversos de estilo de vida.

A figura abaixo demonstra a interface entre os cinco modelos e o sistema

neuromusculoesqueletico. Esses modelos promovem uma observação da importância clinica das

disfunções somáticas no contexto das informações objetivas e subjetivas.

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Os 5 modelos clássicos que relacionam estrutura e função, afetados pelo sistema

neuromusculoesqueletico (NME) e que adaptam o corpo aos estressores ambientais. O exame e

tratamento manipulativo osteopáticos são representados como a modalidade de influenciar as

cinco funções estimulando a homeostase.

Os cinco modelos são conceituais e quando se aplicam técnicas distintas sobre os tecidos

corporais, estas abordagens proporcionam além das respostas biomecânicas, efeitos

neurológicos, fluídicos, metabólicos e comportamentais. A perspectiva distinta pode auxiliar na

compreensão e na maneira de abordar, porém os cinco modelos são interdependentes dentro da

globalidade do ser humano.

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16 - TIPOS DE DOR

Cada tipo de tecido apresenta características específicas de manifestação clínica de

sintomas. Torna-se essencial que o Osteopata saiba reconhecer tais características através da

anamnese e exame físico completo, para que possa aplicar um tratamento eficaz. Dentro do

amplo arsenal de técnicas disponível na Osteopatia, deve-se salientar que cada técnica tem seus

objetivos direcionados para tecidos específicos. O texto irá descrever na sequencia características

básicas de manifestação clínica dos principais tecidos corporais.

16.1 - Características das dores devido a bloqueio articular

A dor é precisa, centralizada sobre a articulação correspondente. A dor é quase sempre

surda (não se manifesta em repouso) e aumenta somente com determinados movimentos. A dor

articular é com frequência piorada por posturas e posições assumidas, nas quais as superfícies

articulares são aproximadas ou estressadas.

Sintomas:

- final de movimento abrupto nos testes de mobilidade.

- movimentos dolorosos ou impossíveis (bloqueio mecânico).

- dor aguda no movimento.

Esta dor tem caráter específico em função das articulações disfuncionais ou lesionadas:

Dor sacroilíaca que se manifesta durante a marcha, mudanças de decúbito, torções do

tronco, quando o paciente sentado calça as meias.

Dor de uma faceta articular lombar se manifesta sobretudo durante os movimentos de

extensão ou de inclinação e rotação homolateral que colocará a faceta em sofrimento.

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16.2 - Características da dor discal

O disco intervertebral praticamente não é inervado (somente em sua periferia), mas em

caso de protusão ou hérnia discal, a dor pode se transmitir pelo nervo meníngeo recorrente

(Luschka) devido ao efeito da tensão gerada sobre o ligamento longitudinal posterior ou sobre a

dura-máter em decorrência de um eventual processo inflamatório.

Uma anomalia discal pode perturbar a relação entre os diferentes elementos vertebrais e

modificar a dimensão do forame de conjugação ou canal medular pela inflamação e o edema que

provoca que invadem este espaço.

Sabemos que salvo em raras exceções, os nervos são mistos, por isso devemos considerar

não somente o trajeto anatômico dos mesmos quando realizamos o diagnóstico da nevralgia, mas

também devemos ter em mente os tecidos moles inervados por cada raiz e a extensão das

ramificações nervosas.

Supõe-se que a tração tensiona a bainha nervosa, alterando o equilíbrio pressórico intra e

extraneural, causando a diminuição da vascularização sanguínea do tecido neural. Este

mecanismo isquêmico é favorável ao aparecimento da dor.

A dor é aguda e se manifestará de preferência quando o corpo é submetido a pressões da

gravidade (posição sentada ou em pé: na posição sentada o disco impõe tensão no ligamento

longitudinal posterior e dura-máter, o que provoca dor).

Esta dor aparece imediatamente, sem tempo latente enquanto o peso aumenta sobre o

disco que já não é capaz de amortecer as pressões. Normalmente aumenta por flexão com o

paciente em pé, que aumenta a pressão do disco de maneira muito intensa. Em geral esta dor

aumenta com a tosse e pelos esforços de defecação, tosse e espirro (manobra de Valsalva) que

aumentam a pressão abdominal e intra-discal.

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16.3 - Característica da dor ligamentar

Os ligamentos são ricos em nociceptores e podem se tornar irritados pelas alterações

mecânicas e químicas em articulações degeneradas ou quando estão sujeitos à tensão prolongada

numa articulação submetida a stress mecânico.

A dor de origem ligamentar não é aguda, pois aparece quando o indivíduo está na mesma

posição por um longo período (sentado, em pé, deitado ou inclinado para frente). Esta dor

também se manifesta ao final das amplitudes articulares.

Aparece depois de um tempo de latência variável entre 10 minutos e uma hora:

frequentemente a dor aumenta com a mudança de posição que se realiza após longo período na

mesma posição. A dor normalmente é difusa e descrita como uma sensação de queimação.

Suas consequências são múltiplas:

- espasmos musculares.

- reflexo simpático neurovascular que provoca uma congestão e estase sanguínea, um

edema.

- restrições de mobilidade.

-dores referidas ligamentares que podem simular uma dor radicular.

Existem características próprias da dor para cada ligamento.

Cápsulas interapofisárias

São responsáveis pelas dores lombares unilaterais que se apresentam do lado lesionado.

A dor aumenta por inclinação e rotação homolateral.

Ligamentos iliolombares

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A dor é lateral lombar baixa ou também sacroilíaca, ás vezes inguinal. A dor aumenta

pela flexão e inclinação contralateral. Os ligamentos iliolombares podem provocar dores

projetadas do tipo ciatalgia L5.

Ligamentos inter-espinhosos.

São responsáveis pelas dores durante a flexão mantida (ex: sentado na cadeira) e ao

retornar a posição. Provoca dores em barra e dores situadas sobre a linha média da coluna. Os

ligamentos interespinhosos podem provocar dores referidas devido aos reflexos segmentários.

Ligamentos sacroilíacos

Os ligamentos sacroilíacos são responsáveis por ciatalgias (falsas dores do n. ciático)

localizadas no glúteo e na face posterior da coxa.

O tipo de ciatalgia depende da parte ligamentar colocada em tensão:

- a colocação em tensão dos ligamentos da parte superior do sulco provoca uma ciatalgia

do tipo S1.

- o sofrimento dos ligamentos da parte inferior do sulco provoca uma ciatalgia tipo S2.

A dor dos ligamentos sacroilíacos frequentemente aumenta com a rotação do tronco.

Ligamentos sacrotuberais.

São responsáveis por dores do tipo radicular que se irradia para o calcâneo e perna

(ciatalgia S2).

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16.4 - Características da dor de origem muscular

A dor pode resultar de irritantes químicos da isquemia, da tensão prolongada entre as

inserções musculares ou de um aumento no tônus do músculo sobrejacente a um problema

articular.

A dor manifesta-se durante o movimento, na contração muscular: o movimento doloroso

indica o músculo envolvido (rotadores, inclinadores, extensores ou flexores). O movimento

oposto que estira o músculo é responsável por um efeito muscular de rebote devido ao espasmo.

Às vezes existe uma dor referida a partir do músculo que é característica para cada

músculo: a dor sentida é descrita como surda e difusa, do tipo isquêmico; a dor aumenta com a

contração muscular isométrica.

Músculos sujeitos a prolongada tensão postural fadigam-se, de modo que uma dor

profunda e difusa frequentemente se desenvolve. Uma vez que metabólitos tenham sido

formados nos tecidos, eles levam algum tempo para serem dispersos, mesmo em uma posição

antigravitacional.

A dor pode aparecer em diferentes níveis do músculo:

1. No ventre por uma contração sustentada ou forte demasiada. A contração muscular cria uma

tensão intramuscular responsável do colapso de pequenos vasos sanguíneos. Fisiologicamente,

cada contração muscular é seguida de um período de repouso durante o qual o sangue circula de

novo no sistema capilar do músculo, renovando assim o oxigênio e permitindo a evacuação dos

metabólitos produzidos pelo trabalho muscular. A contratura/hiperatividade muscular perturba

esta fisiologia, o trabalho se desenvolve com uma circulação alterada, uma má oxigenação dos

tecidos e uma eliminação insuficiente dos metabólitos: o conjunto provoca a dor isquêmica do

músculo.

A associação da isquemia e do acúmulo dos metabólitos provoca uma inflamação tecidual que

posteriormente desenvolve uma fibrose muscular.

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2. Nas inserções do músculo sobre o periósteo, a tração crônica desenvolve a dor. O músculo

pode também mostrar seu sofrimento mediante mialgias em banda que simulam uma radiculagia.

Esta alteração muscular pode ter várias origens:

Atitudes viciosas posturais (esportes, posições profissionais)

Esforços violentos ou mal-controlados.

16.5 - Características da dor de origem nervosa

A dor de origem nervosa (raiz, nervo espinhal, nervo periférico) é descrita pelo paciente

como filiforme, radicular, portanto o paciente pode descrever o trajeto com o dedo. Quando a

compressão mecânica do tecido neural ocorre em sua raiz, esta dor aumenta com certos

movimentos do tronco. Quando a compressão ocorre em seu trajeto na periferia, geralmente os

movimentos do membro relacionado despertam os sintomas.

Uma das principais características desse tipo de sintoma é que ele é bem definido,

respeitando o trajeto anatômico da raiz nervosa afetada.

16.6 - Características da dor de origem visceral

Esta fonte de dor inclui todos os órgãos do corpo situados no tronco, abdômen e pelve,

tais como aqueles do sistema respiratório, digestivo, urogenital e endócrino, bem como o

pâncreas, o coração e os grandes vasos.

A dor visceral não é bem localizada por duas razões.

1. A inervação da víscera é multissegmentar, com poucas terminações nervosas. Por

exemplo, a dor cardíaca pode estender-se de C3 a T4. Isto explica muitos e

variados quadros clínicos de infarto do miocárdio.

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2. O local da dor visceral corresponde aos dermátomos dos quais o órgão doente

recebe sua inervação. Por exemplo, o pericárdio é adjacente ao diafragma. A dor

de origem cardíaca e diafragmática é muitas vezes percebda no ombro porque o

segmento espinhal C5-C6 também supre o coração e o diafragma.

A dor projetada não aumenta com o movimento, é rítmica pela função da víscera

(intestinos, bexiga, útero...) e pelo ciclo circadiano. A área somática dolorosa não apresenta uma

disfunção importante.

17 - DOR REFERIDA

Frequentemente, um indivíduo sente dor em parte do corpo que fica consideravelmente

distante do tecido que causa dor. Este tipo de dor é chamada de dor referida. A dor, usualmente é

iniciada em um dos órgãos viscerais e referida à área na superfície do corpo. A dor pode ser

referida à área do corpo não exatamente coincidente com a localização da víscera que produz a

dor.

Dois mecanismos foram descritos (Bowsher, 1988), fornecendo a base para a

compreensão da dor referida. Foram identificados axônios bifurcados nos nervos sensórios

periféricos. Mostrou-se que estes axônios apresentam unidades sensórias, as quais possuem um

ramo inervando a pele e outro inervando o músculo ou alguma outra estrutura sensória. Os

axônios bifurcados possuem um único corpo celular localizado em um gânglio de raiz nervosa e

um único axônio proximal dirigindo-se para a medula espinhal, partindo da célula ganglionar.

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O segundo mecanismo é baseado na convergência de nervos sensitivos periféricos para a

mesma célula na medula espinhal. Deste modo, nociceptores das vísceras, dirigindo-se para a

medula espinhal através dos nervos simpáticos ou esplâncnicos, terminam nas mesmas células do

corno dorsal que os nociceptores que partem da pele e são conduzidos por nervos somáticos. A

célula central pode ser mais solicitada para receber impulso via um dos neurônios periféricos e

pode interpretar o impulso de neurônios normalmente menos ativos como proveniente de

neurônios normalmente mais ativos.

Dor referida visceral gerada por axônio bifurcado

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18 - DIAGNÓSTICO OSTEOPÁTICO

Nos casos em que os pacientes procuram tratamento Osteopático pela presença de dor,

um dos primeiros trabalhos do Osteopata consiste em determinar os tecidos responsáveis pelos

sintomas apresentados pelo paciente e os motivos específicos que levaram a essas condições.

Aqui começa realmente o diagnóstico Osteopático, já que são vários os elementos capazes de

produzir dor.

Sabendo que para cada tecido existe uma técnica mais apropriada de tratamento, é muito

importante que o diagnóstico seja preciso para que os resultados das intervenções sejam eficazes.

Uma vez identificado o tecido, determinar se o tratamento é possível ou não, e se pode ou não ser

perigoso. Devemos lembrar que a dor pode ser referida de outro território ou de uma víscera.

Dor referida visceral gerada por convergência nervosa

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18.1- Anamnese

Num primeiro momento esta fase de uma consulta deve ser realizada da forma mais

ampla e ao mesmo tempo objetiva possível. Deve-se interrogar o paciente sobre todo seu

histórico clínico, e também sobre o histórico de seus sintomas atuais:

Dor: características, movimentos ou posições que aumentam ou diminuem,

momentos, como iniciou, progresso dos sintomas, outros tratamentos aplicados...

Traumas: qualquer tipo desde início da vida.

Doenças: incluir questionamentos sobre sintomas sub-clínicos que possas indicar

disfunção em algum sistema.

Cirurgias: explorar cicatriz(es) no intuito de verificar sua influencia sobre o

organismo.

Trabalho e atividade física.

Medicamentos e outros tratamentos realizados.

18.2 – Inspeção (estática e dinâmica)

Observar o pacientes nos três planos de espaço. Buscar situação das curvas

fisiológicas (lordose, cifose) e também desvios no plano coronal (escolioses).

Buscar se existe posição antálgica, e relacionar com os sintomas se os mesmo

estão presentes.

Estudar os movimentos ativos do paciente e observar: amplitude, simetria dor.

Buscar zonas planas ou quebras de curva na coluna vertebral.

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Localizar uma perna curta, e analisar se esta é verdadeira (anatômica) ou falsa

(funcional).

18.3- Palpação

A palpação é uma forma importante de buscar informações relevantes. Por meio dela,

podem-se buscar alterações da textura dos tecidos corporais – pele, fascia, músculos, ligamentos,

tendões... Alterações teciduais que ocorrem em resposta à inervação simpática, podem aumentar

ou diminuir a temperatura e umidade do local.

O Osteopata deve se concentrar nas sensações que recebe através de suas mãos quando

está palpando o paciente. A distribuição e profundidade dos receptores sensoriais localizados em

nossas mãos determinam qual parte das mãos são melhores utilizadas em cada teste palpatório

específico. Os receptores de calor encontram-se mais concentrados no dorso da mão, onde a pele

é mais fina do que na palma. Dessa forma, é mais apropriado utilizar essa região das mãos para

sentir a temperatura tecidual. Receptores táteis (Merkel, Meissner) estão dispostos em grande

proporção na polpa dos dedos, fazendo estas regiões mais sensíveis ao tato.

Existem vários tipos de testes palpatórios globais e locais que podem ser utilizados na

avaliação.

A observação dos tecidos deve ser agregada à palpação dos mesmos, na busca de

alterações de coloração da pele. Um eritema pode significar uma infecção ou inflamação, e é

tipicamente visto em disfunções somáticas agudas. Pele pálida e sem reflexo histamínico

normalmente encontra-se em zonas de disfunções somáticas crônicas.

18.4 – Testes de mobilidade

Testar a mobilidade de diferentes tipos de tecidos.

Identificar o que é barreira anatômica e barreira fisiológica.

Buscar porque está limitada a barreira fisiológica:

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- barreira elástica: aumento do tônus muscular.

- barreira brusca e abrupta: problema articular.

18.5 - Radiologia

A imaginologa é uma importante ferramenta de auxílio para o Osteopata. Pode dar

indícios de alterações funcionais, mas devemos lembrar que os exames são realizados em

condições estáticas, diferentes de nossa vida que é totalmente dinâmica.

A condição clinica do paciente é soberana, e não a imagem. Em momento oportuno do

curso de formação, será aprofundado o estudo imaginológico, e claro, durante os próprios

seminários de cada segmento corporal estudado, o estudo de exames de imagem será abordado.

Um dos principais objetivos que devemos ter é buscar as principais contraindicações ao

tratamento Osteopático:

Fraturas.

Transtornos degenerativos.

Transtornos infecciosos ou inflamatórios.

Transtornos metabólicos.

Metástases ósseas.

19 - AS TÉCNICAS OSTEOPÁTICAS DE TRATAMENTO

A Osteopatia é composta por um vasto arsenal de técnicas, assim como muitas variações

das mesmas. Cada técnica tem objetivos e ações especificas, e é importante ressaltar que deve-se

aplicá-las de forma coerente e segura. Podem-se dividir basicamente as técnicas em duas grandes

categorias:

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Técnicas diretas ou também chamadas de estruturais

Técnicas indiretas ou também chamadas de funcionais.

A seguir o texto ira definir e exemplificar tais categorias.

19.1 – Técnicas diretas (estruturais)

São todas as técnicas que, qualquer que seja o tecido tratado, se realizam no sentido da

barreira, contra a restrição de mobilidade tecidual. O princípio geral dessas técnicas é de ir no

sentido das restrições, seja em um ou vários parâmetros fisiológicos restritos. Sua finalidade é de

romper aderências, regularizar o tônus muscular, reduzir a densidade das fascias, restaurar a

função e a mobilidade articular, suprimir as facilitações medulares quando presentes.

Essa categoria pode ser subdividida em técnicas rítmicas e de thrust.

19.1.1 – Técnicas Rítmicas

Estas técnicas se caracterizam pelo controle do ritmo, assim como da repetição dos

movimentos. Os movimentos passivos realizados pelo Osteopata produzem respostas ao nível

dos mecanorreceptores proprioceptivos que respondem as variações de tensão no músculo, nas

fascias, nos tendões e nos elementos cápsuloligamentares.

Cada movimento passivo se acompanha de numerosos reflexos de regulação e de

adaptação. As técnicas passivas geram estímulos proprioceptivos em zonas de maior densidade

ou de restrição. As técnicas, tendo esta meta utilizam os movimentos de:

Translações.

Trações e compressões.

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Impulsos que forçam o limite articular.

Alguns exemplos de técnicas rítmicas:

Técnicas de streching

Técnicas articulatórias

Técnicas de bombeamento

Técnicas de tensão sustentada

Técnicas de inibição

Técnicas de energia muscular

Liberação miofascial

Técnicas neuromusculares

19.1.1.1 – Streching

Esta técnica é aplicada sobre ligamentos, fascias, tendões e músculos.

PRINCÍPIOS:

Ir no sentido da barreira, no sentido da restrição para romper aderências e regular o

tônus muscular.

Nesta técnica, o estiramento rítmico do tecido é transmitido aos receptores sensoriais.

No caso de aplicação para tecido muscular, ocorre o estímulo dos OTGs e o sistema

nervoso central diminui a hiperatividade gama para proteger o músculo estirado,

inibindo os motoneurônios alfa e gama.

OBJETIVOS;

Aumentar a vascularização local.

Suprimir a hiperatividade gama.

Lutar contra as fibroses e aderências.

Reduzir a densidade da fascia.

TÉCNICA:

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Quando aplicada para aponeuroses musculares, o estiramento rítmico pode ser feito em

duas direções:

No sentido das fibras musculares longitudinalmente,

Perpendicularmente às fibras musculares.

O ideal é combinar as duas técnicas.

O importante desta técnica é que a tração se aplique e se retire lentamente, de acordo com

as necessidades e objetivos.

Uma boa técnica de tecido mole consiste em “dialogar” com o tecido, encontrar o ritmo

que corresponde ao paciente.

19.1.1.2 – Articulatória

Esta técnica se realiza para afetar músculos monoarticulares, cápsulas articulares e

ligamentos.

PRINCÍPIOS:

Construir alavancas, assim como nas manipulações com thrust, no entanto uma alavanca

específica que permite focalizar a força num parâmetro de movimento da articulação.

Esse parâmetro é selecionado após criteriosa avaliação analítica de mobilidade.

OBJETIVOS

Suprimir as aderências cápsuloligamentares.

Relaxar os músculos monoarticulares espasmados.

Aumentar a amplitude articular do segmento.

TÉCNICA

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Mobiliza-se de forma passiva a articulação conservando a barreira que se construiu no

máximo de amplitude articular.

O Osteopata recebe permanentemente informação sobre os tecidos atingidos na técnica e

aumenta ou diminui a intensidade de sua ação em função de suas percepções.

19.1.1.3 – Bombeamento

Esta técnica é aplicada em aponeuroses, ligamentos e músculos.

PRINCÍPIOS

Tomar um contato o mais próximo possível da estrutura a ser tratada.

Alternar trações longitudinais e relaxamento até conseguir a desaparição das tensões e

da dor.

OBJETIVOS

Aumentar a vascularização local.

Descarregar os nociceptores que transmitem dor.

TÉCNICA

Quando é localizada a zona a se tratar, o bombeamento se realiza alternando trações e

relaxamentos no eixo da estrutura que se deve estirar, até que se obtenha uma sensação de

diminuição das tensões e da dor.

19.1.1.4 – Tensão sustentada

Esta técnica utiliza-se nos músculos e articulações.

PRINCÍPIOS

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Esta técnica utiliza os princípios das técnicas com thrust (flexão/extensão, inclinação e

rotação contrária).

A colocação de tensão é levada até a redução do slack, mas nessa técnica não é aplicado

um impulso corretivo. A correção é espontânea.

OBJETIVOS

Relaxar os músculos monoarticulares espasmados e devolver os movimentos fisiológicos

dos segmentos tratados.

TÉCNICA

Levar o segmento até a redução do slack, manter esta posição enquanto o paciente respira

profundamente até que se obtém um relaxamento tecidual.

19.1.1.5 – Inibição

Esta técnica é aplicada em músculos, especialmente os paravertebrais.

PRINCÍPIOS

Esta técnica se utiliza em caso de espasmo muscular.

Aplica-se em função das reações dos tecidos e do ritmo respiratório.

OBJETIVOS

Relaxar os músculos, aumentar a circulação local e diminuir a resposta aferente.

TÉCNICA

Exercer uma pressão perpendicular nas fibras musculares. Esta pressão se mantém até

que o músculo se relaxe. Depois se diminui a pressão lentamente.

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19.1.1.6 – Técnica de Energia Muscular

A Técnica de Energia Muscular foi inicialmente formulada pelo Americano Fred

Mitchell D.O. A técnica é aplicada sobre os músculos de qualquer segmento corporal, para que

ocorra estímulo de receptores sensoriais dos músculos colocados em posição de tensão.

Realizam-se vários ciclos de contrações isométricas, sendo que na medida em que se

fazem estas contrações às fibras musculares se inibem graças aos estímulos dos receptores de

Golgi, podendo estirar cada vez mais esse músculo e ganhar comprimento.

PRINCÍPIOS

Colocar o músculo em posição de estiramento e pedir uma contração isométrica ativa do

paciente. É o que se chama na fisioterapia tradicional de técnica de contração-

relaxamento.

A contração isométrica do músculo inicialmente tensionado (alongado) provoca

importante tensão ao nível das inserções tendinosas dos músculos, gerando o reflexo

inibitório de Golgi. Assim à medida que é estirado, ocorre relaxamento reflexo. Utiliza-se

progressivamente a tensão do músculo até encontrar o comprimento normal.

Utilizam-se contrações isométricas, para resistir essa contração se utiliza uma pressão que

varia entre 100 gramas até 10 quilos no máximo. Quanto menor o músculo envolvido,

menos carga mecânica é necessária na contração para recrutar suas unidades motoras.

A articulação fixada é mobilizada nos três planos do espaço o que permite chegar à

barreira motriz.

O paciente é instruído a gerar contrações musculares na direção oposta, até a tensão. No

sentido da disfunção para que contraia o músculo que está em espasmo.

Se utilizam de 3 até 5 contrações isométricas com duração de 3 a 5 segundos cada. Ao

final de cada contração se busca uma nova barreira motriz. Quando terminadas estas

contrações se leva a articulação passivamente para a posição inicial.

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OBJETIVOS

Suprimir a hiperatividade gama nos músculos e restaurar o jogo articular fisiológico.

TECNICAS

Utilizam-se 5 tipos de contrações.

1) RELAXAMENTO PÓS-ISOMÉTRICO:

Na contração isométrica, a força que o Osteopata realiza é igual à força realizada pelo

paciente. Aproveita-se do relaxamento que segue a contração para estirar o músculo

espasmado/hiperativo e devolver seu comprimento normal, suprindo assim a restrição de

mobilidade.

2) CONTRAÇÃOES ISOTÔNICAS:

Neste tipo de contração, começar pedindo ao paciente uma contração isométrica muito leve e

logo pedir que contraia cada vez mais forte sendo capaz de realizar força igual a do

Osteopata. Quando o paciente realiza uma força máxima, coloca em funcionamento o

máximo de unidades motoras do músculo, isto permite aumentar o tônus basal, é útil quando

se trata de um músculo debilitado ao teste de tônus.

3) CONTRAÇÕES ISOLÍTICAS

Pedir ao paciente uma resistência e o Osteopata exerce uma força maior que a do paciente,

isto permite estirar potentemente as fascias e romper as aderências e fibroses que existem

entre músculo e fascias.

Para músculos que tem tendência a se retrair se utiliza esse tipo de contração.

4) CONTRAÇÃO POR INIBIÇÃO RECÍPROCA DE SHERINGTON

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O mecanismo utilizado nesta técnica é a inibição recíproca descrito por Sherington. Se existe

um músculo em espasmo, colocar em posição de estiramento, pedir contração isométrica dos

antagonistas e automaticamente se inibe o tônus dos agonistas.

5) CONTRAÇÃO MIOTENSIVA

Neste tipo de técnica se utiliza a potência de um músculo para que ocorra a correçã da

disfunção.

Solicitam-se contrações importantes de músculos específicos, para que eles levem à correção

das disfunções de mobilidade.

19.1.1.7 – Liberação Miofascial

Técnica utilizada sobre músculos e fascias segmentadas ou de uma cadeia e também

sobre os diafragmas corporais (escapular, costal/respiratório e pélvico).

PRINCÍPIOS

O princípio básico desta técnica é relaxar os tecidos miofasciais.

Buscar a barreira fascial localmente.

OBJETIVOS

Conseguir o relaxamento de músculos e fascias.

TÉCNICA

Buscar a barreira fascial localmente, por isso se utiliza basicamente:

A tração axial.

A torção para focalizar a ação.

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Utiliza-se também para reforçar a ação, a colocação em tensão indireta das

articulações vizinhas, de modo indireto: cervical, cintura escapular ou pélvica.

A tensão máxima se mantém durante vários ciclos respiratórios, até conseguir o

relaxamento tecidual.

19.1.1.8 – Técnica neuromuscular

Utilizada em tecidos conjuntivos e musculares sendo necessário o conhecimento

anatômico para obter a melhor resposta.

OBJETIVOS

Aumentar a vascularização tecidual local.

Quebrar aderências.

Diminuir a densidade tecidual.

Alterar a característica tixotrópica tecidual.

Alterar o tônus muscular.

Buscar síntese de tecido conjuntivo mais “organizado”.

TÉCNICA

Uma das mãos toma contato proximalmente ao deslizamento que será realizado, e realiza

uma tensão tecidual na direção oposta a da utilizada na técnica. Isto é feito para impor uma

tensão prévia (tissue pull) nos tecidos a serem tratados.

A outra mão toma contato com a polpa do polegar posicionada de forma profunda no

tecido que será tratado e o antebraço voltado na direção do deslizamento. Quando a técnica é

realizada em músculos esqueléticos, o deslizamento deve ser feito sempre longitudinalmente às

fibras.

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O deslizamento deve ser profundo e lento sendo que a velocidade da técnica é controlada

pela liberação dos tecidos. Ou seja, quanto mais denso menor é a velocidade. É recomendado

realizar cerca de três traços profundos nos tecidos tratados. No final da técnica é possível

observar a zona avermelhada devido a reação de vasodilatação local.

19.1.2 – Técnicas de Thrust

São técnicas muito reflexógenas, que combinam movimentos da alta velocidade com

baixa amplitude. Nunca devem ser realizadas fora dos limites fisiológicos da amplitude de

movimento.

O thrust pode ser aplicado paralelamente ou perpendicularmente às superfícies articulares

numa das direções contra a barreira da articulação fixada. A separação brusca das superfícies

articulares e o estímulo provocado nos receptores sensoriais teciduais surpreendem o sistema

nervoso central e provocam um “black out sensorial local”.

Trata-se de utilizar alta velocidade e baixa amplitude para realizar a técnica de maneira

que surpreenda os sistemas de proteção, então o músculo se encontra estirado e os receptores de

Golgi estimulados, o que inibe o tecido.

A faceta e cápsula articulares são afastadas bruscamente, se ativam os corpúsculos de

Ruffini e estes enviam uma mensagem inibitória para a medula com o efeito de relaxamento

muscular. Com o thrust se corta o circuito nociceptivo, os músculos espasmados se relaxam e por

tanto se restabelece o jogo articular fisiológico.

PRINCÍPIOS

Um thrust é aplicado paralelamente ou perpendicularmente ao plano articular numa das

direções contra a barreira da articulação em disfunção.

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No corpo não existe linha reta, na natureza tudo é espiral, por tanto na hora de manipular

deve-se buscar a barreira articular de maneira individual, sentir por onde se movem as

superfícies articulares.

19.1.2.1 – Mecanismo neurofisiológico

O estiramento da cápsula articular durante a separação das facetas estimula os receptores

sensoriais e a informação sensitiva vai por vias aferentes até o corno posterior da medula

espinhal, neste nível haverá uma inibição dos motoneurônios alfa e gama, por tanto uma inibição

do espasmo muscular (hiperatividade gama) que mantém a disfunção articular.

19.1.2.2 – Alterações da pressão intradiscal após manipulações vertebrais

Extraído de: MAIGNE, J-Y; GUILLON, F. Highlighting of Intervertebral Movements and

Variations of Intradiskal Pressure During Lumbar Spine Manipulation: A Feasibility Study.

Journal of Manipulative and Physiological Therapeutics, 2000.

Esses autores estudaram os efeitos das manipulações sobre os discos sadios em dois

cadáveres masculinos frescos, falecidos uma semana antes do experimento. Para se analisar as

alterações de pressão, foi inserido um sensor de pressão intra-discal em L3-L4.

Foi observado que as manipulações vertebrais lombares têm um efeito mecânico nos

discos intervertebrais, produzindo uma mudança breve, mas marcante na pressão intra-

discal (aumento inicial e depois diminuição da pressão) e movimentos intervertebrais

relativos que diferem com o tipo de manipulação (flexão ou extensão).

O aumento de pressão pode ser devido à rotação pela aproximação dos corpos vertebrais

adjacentes, devido a orientação de 30 graus das fibras do anel.

A queda da pressão se deve ao componente de tração da coluna lombar.

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Esta diminuição breve da pressão pode produzir um benefício terapêutico por 2

mecanismos:

- a queda da pressão intra-discal durante a manipulação é suficiente para reduzir um núcleo

herniado num anel debilitado.

- a queda da pressão dentro do disco durante a manipulação pode produzir um modelo mais

uniforme de tensão compressiva e assim diminuir a dor.

19.1.2.3 – Cavitação após manipulação com thrust

O ruído articular se deve à liberação de gases (80% de dióxido de carbono).

O aumento do espaço intra-articular de uns 0,88 mm, enquanto outra técnica sem

thrust que não produz ruído articular se acompanha de um aumento do espaço

intra-articular de 0,45 mm.

Os estudos de SWEZEY, CASTELLENOS e AXELROD mostraram que não se

produzem lesões da cartilagem e nem dos ligamentos. Segundo WALTON para

produzir lesões articulares, a abertura articular deve passar de 1 mm durante a

cavitação.

O aumento da amplitude articular não se deve a cavitação mas sim ao estiramento

dos tecidos moles que ativam os mecanorreceptores, o que produz um reflexo

medular de relaxamento. Por esta razão o thrust é a técnica mais reflexógena.

OBJETIVOS

As metas destas técnicas são;

Liberar as aderências.

Fazer que se deslizem as facetas articulares uma com respeito a outra e restaurar a função

articular.

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Normalizar a vascularização produzindo um reflexo neurovascular local e a distância.

Provocar um reflexo aferente.

O THRUST

O thrust necessita a utilização de uma força mínima com certas condições já que a posição do

operador deve ser correta com respeito ao plano articular. O thrust é realizado por uma contração

breve e explosiva dos tríceps e peitorais do operador ou por um “body drop”.

POSIÇÃO DO PACIENTE

Deve permitir a colocação das alavancas necessárias para normalização da articulação, o

paciente deve estar confortável, estável e não deve existir dor.

POSIÇÃO DO OPERADOR

O operador deve colocar seu corpo no espaço de maneira que fique por cima da

articulação que vai manipular, seu centro de gravidade deve estar sistematicamente localizado

sobre a disfunção. Quando o Osteopata e o paciente encontram-se bem posicionados, as técnicas

de thrust tornam-se de fácil realização.

ALAVANCAS

A redução do slack será permitida pela combinação de parâmetros menores de

movimentos que serão os deslizamentos laterias ou deslizamentos anteroposteriores, compressão

ou tração.

Utilizam-se sistematicamente em todas as técnicas Osteopáticas para diminuir a

quantidade de parâmetros maiores necessários, também servem para diminuir a força necessária

na redução da disfunção.

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Quando os parâmetros menores são colocados, a amplitude articular diminui. A alavanca

primária é a direção principal na qual a força corretora deve ser executada. A alavanca

secundária serve para focalizar a força corretora. Numa manipulação com técnica de thrust

sempre se deve manter um jogo articular.

* Redução do slack = colocar a tensão final, com os parâmetros menores de movimento sobre a

faceta que vai ser manipulada.

AS TÉCNICAS DE THRUST

TÉCNICAS INDIRETAS

Para realizar estas técnicas a colocação em tensão e o thrust são realizados unicamente com a

ajuda das alavancas superior e inferior. O impulso não é dado com contato direto na articulação

tratada.

TÉCNICAS DIRETAS

Toma-se um contato na direção e sobre a articulação que é manipulada depois de ter

realizado um estiramento cutâneo, um “tissue pull”.

A redução do slack consiste em colocar a tensão unicamente com os contatos diretos, sem

grandes alavancas, a thrust deve ser o mais rápido possível.

A técnica direta geralmente se utiliza sobre a maca com drop que permite absorver o excesso

de força nos tecidos moles e que aumenta a velocidade da manipulação.

TÉCNICAS SEMI-DIRETAS

É uma combinação das técnicas diretas e indiretas. Serão muito mais seletivas que as técnicas

indiretas que permitem ao mesmo tempo ter todas as vantagens pela utilização das alavancas a de

ter a vantagem de uma técnica direta.

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Nessas técnicas, se toma um contato direto com uma mão sobre a articulação que é

manipulada. A colocação em tensão será dupla, uma pela alavanca inferior e a outra pelo contato

direto. O thrust é levado diretamente sobre a articulação no eixo do plano de redução e a força

pode ser aumentada se necessário, aumentando simultaneamente as alavancas.

19.1.2.4 – Contra-indicações das técnicas de thrust (não ao tratamento Osteopático)

Traumatismos (fraturas, entorses grau 3, luxações).

Tumores ósseos.

Infecções (espondilodiscite).

Reumatismos inflamatórios (espondilite anquilosante, artrite reumatóide, síndrome de

Reiter).

Síndrome de Barre-Liou.

Vasculares (aneurisma, insuficiência vértebro-basilar).

Metabólicas (osteoporose importante).

Congênitas (malformação da dobradiça crânio-cervical, malformação de Arnold

Chiari).

Síndromes hiperálgicas a associadas a patologias neurológicas.

Psíquicos (histeria, neurose).

Paralisia periférica ou central

19.2 – Técnicas Indiretas ou funcionais

O princípio dessas técnicas é de ir no sentido da disfunção, em sentido oposto à barreira,

no sentido da facilidade até o ponto neutro de mobilidade (Still point). Deve-se manter esta

posição de equilíbrio tridimensional até a liberação total e espontânea das tensões teciduais.

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Estas técnicas, que vão ao sentido da redução do espasmo muscular, da hiperatividade

gama e também das densidades fasciais, podem ter como ajuda a respiração do paciente. Permite

obter um “silêncio neurológico” no nível medular que provoca uma normalização do tônus

muscular e fascial.

As principais técnicas funcionais são:

19.2.1 – Técnica de Jones

As técnicas de counterstrain foram desenvolvidas por Lawrence Jones, Osteopata

Americano do estado de Oregon. Diminuir a hiperatividade gama dos músculos monoarticulares

aproximando as fixações, o que provoca um estado de relaxamento tecidual.

PRINCÍPIOS

Utiliza-se nos pontos gatilho dos músculos, ligamentos, tendões, cápsulas ou até mesmo

em vísceras.

OBJETO

Conseguir um “silêncio neurológico”. Normalizar a disparidade de comprimento entre as

fibras intra e extrafusais.

TÉCNICA

Buscar com um contato o ponto gatilho que provoca uma dor à palpação e manter a

pressão que desencadeia esta dor. Com a outra mão se busca nos diferentes planos do espaço

uma posição onde desapareça a dor do ponto gatilho completamente.

Nesta posição o ponto gatilho não emite mensagens nociceptivas, manter a posição 90

segundos. O tempo necessário que sistema nervoso central necessita para diminuir o tônus

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muscular. Deve-se manter esta posição imóvel. Depois dos 90 segundos, voltar muito lentamente

a articulação para a posição zero, de forma totalmente passiva por parte do paciente. Se voltar

rapidamente, cria-se outra vez o circuito vicioso.

19.2.2 – Técnica de Hoover

Atua sobre os músculos em espasmo diminuindo a disparidade entre as fibras intra e

extafusais graças ao encurtamento do músculo e produzindo um “black out” sensorial que

permite o relaxamento muscular.

PRINCÍPIOS

Estas técnicas se derivam da Osteopatia Craniana de Sutherland. São técnicas de

agravação da lesão, quer dizer, técnica funcional.

OBJETIVO

Diminuir a disparidade entre as fibras intra e extra fusais.

Suprimir a hiperatividade gama e por tanto reduzir a facilitação medular.

TÉCNICA

Ir no sentido da disfunção, por tanto no sentido oposto da barreira motriz, depois deve-se

manter este equilíbrio nos 3 planos de espaço até que a articulação se libere e os tecidos se

relaxem.

A redução das tensões vai no sentido da diminuição do espasmo muscular. Pede-se ao

paciente que respire para ajudar a oxigenação e relaxamento tecidual.

Estas técnicas se utilizam para tratar o crânio.

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20 - CIÊNCIA E OSTEOPATIA

Neste capítulo, que é uma síntese de vários artigos científicos, serão abordados trabalhos

que estudam e analisam os aspectos biomecânicos e neurofisiológicos das manipulações

vertebrais. Os objetivos dessa leitura são expor uma pequena parte da situação científica atual em

relação ao tópico e também estimular o aluno a realizar leituras de artigos científicos citados na

integra, para que possam formular hipóteses e desenvolver senso crítico para pesquisa científica

na Osteopatia.

20.1 - Aspectos biomecânicos da manipulação vertebral

O impulso manipulativo provoca o estímulo de receptores mecânicos nos tecidos da

coluna vertebral (cápsulas articulares, ligamentos, músculos) que geram conseqüências

fisiológicas devidas às informações sensoriais que chegam ao SNC. Durante o ato da

manipulação, o Osteopata impõe um impulso dinâmico numa vértebra específica, sendo que um

ruído ou estalido geralmente, mas não necessariamente, acompanha a manipulação (PICKAR,

2002).

Uma técnica manipulativa apresenta duas fases: num primeiro momento é imposta uma

pré-tensão pelo Osteopata para ajustar os parâmetros da manipulação e na segunda fase um

impulso veloz é aplicado. Foram mensuradas as forças aplicadas durante uma manipulação

sacroilíaca, e na fase de pré-tensão, alcançou-se 20 a 180 N, enquanto na fase de impulso chegou

de 220 a 550 N. A tensão inicial imposta antes do impulso obteve 25% da força aplicada na

manipulação que durou de 200 a 400 milissegundos (HERZOG et al. 1993 apud PICKAR,

2002). Triano e Schultz (1996) analisaram a força e sua duração durante uma manipulação

lombosacral em decúbito lateral utilizando uma plataforma de força. A duração dos impulsos

encontradas foram similares aos resultados de Herzog et al. (1993) e as cargas transmitidas

durante o ato manipulativo foram observadas menores que o necessário para causar qualquer tipo

de lesão tecidual nos pacientes.

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Ianuzzi e Khalsa apud (PICKAR e KANG, 2006) simularam uma manipulação vertebral

com thrust na região lombar de cadáveres e observaram que a vértebra manipulada realizou

translações de cerca de 1,5 ± 0,5 mm e rotações 2 à 3,5 graus. Estes movimentos foram

considerados seguros, pois ocorrem durante os movimentos fisiológicos da coluna vertebral.

Utilizando transdutores de força e análise cinemática das vértebras da coluna lombar de

cadáveres, Ianuzzi e Khalsa (2005) compararam os deslocamentos vertebrais e os estiramentos

das cápsulas articulares facetarias que ocorrem em movimentos fisiológicos com os que ocorrem

durante manipulações vertebrais aplicadas com durações de cerca 200 ms e magnitudes de 50 a

400 N. Constataram que as translações vertebrais ocorreram na direção do impulso aplicado pela

manipulação e que as rotações e estiramentos das cápsulas durante as manipulações vertebrais

foram similares aos que ocorrem nos movimentos fisiológicos. Baseados nesses dados, os

autores consideraram que as manipulações vertebrais lombares são biomecanicamente seguras.

Ross et al. (2004) observaram que a manipulação vertebral lombar nem sempre é precisa

no local selecionado pelo terapeuta, mas na maioria da vezes vários níveis vertebrais são

mobilizados incluindo o alvo escolhido.

Utilizando a análise cinemática, LEHMAN e MCGILL (2001) observaram a amplitude

de movimento de flexão do tronco de pacientes com dor lombar inespecífica imediatamente após

manipulações lombares aplicadas bilateralmente. Dos 14 pacientes avaliados, 5 obtiveram

aumento da amplitude, 3 diminuição e 6 nenhuma alteração significativa imediatamente após a

manipulação. Dessa forma, as alterações do grupo não foram significativas, pois houve equilíbrio

de modificações positivas e negativas. Porém, um achado significativo desta pesquisa foi o fato

de que as modificações mais intensas na amplitude de movimento do tronco ocorreram nos

pacientes que tinham os índices de Oswestry mais elevados e as amplitudes de movimento

iniciais menores.

Foi relatado num estudo feito com 4 pacientes durante um procedimento cirúrgico que

aplicações de impulsos manipulativos vertebrais póstero-anteriores geram deslocamentos nos

três planos de espaço (KELLER et al., 2003). Acredita-se que este deslocamento tridimensional

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do segmento manipulado desencadeia a ação dos receptores localizados nos tecidos que

envolvem a articulação tratada.

Peñas et al. (2007) buscaram demonstrar a ação de um único procedimento de

manipulação de alta velocidade na coluna torácica sobre a amplitude de movimento da coluna

cervical e sensação de dor em pacientes com cervicalgias mecânicas. A manipulação produziu

diminuição significativa na sensação de dor, e a amplitude de movimento teve uma tendência ao

aumento, mas sem atingir significância estatística (p>0,05).

Bicalho et al, (2010) observaram que uma manipulação vertebral de alta velocidade

aplicada em indivíduos com dor lombar crônica, aumenta a mobilidade do tronco e também

provoca respostas inibitórias neuromusculares.

20.2 - Aspectos neurofisológicos da manipulação vertebral

Numerosas teorias são propostas para explicar os efeitos neurofisiológicos da

manipulação vertebral (KORR, 1975; TRIANO, 2001; PICKAR, 2002; MAIGNE e

VAUTAVERS, 2003). Pickar (2002) sugere que alterações anatômicas, fisiológicas ou da

biomecânica normal de uma vértebra podem afetar a função do sistema nervoso (SN). Acredita-

se que as manipulações vertebrais corrigem estas alterações.

A presença de receptores mecânicos e nociceptivos nos tecidos vertebrais (disco, facetas

articulares, ligamentos e músculos) é a base do mecanismo neurofisiológico que decorre de uma

manipulação. Modelos teorizam que as técnicas geram repercussões mecânicas que estimulam ou

modulam o sistema somatosensorial e provocam reflexos neuromusculares. Tais reflexos inibem

a musculatura, as mensagens de dor e melhoram a mobilidade vertebral. A manipulação provoca

uma separação rápida das facetas articulares e a tensão exercida nos músculos mono-articulares

induz um relaxamento via mecanismos que ainda necessitam ser elucidados (GREENMAN,

2001; KORR, 1975; MAIGNE e VAUTRAVERS, 2003; PICKAR, 2002).

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Korr (1975) teorizou que os reflexos gerados pelos estímulos manipulativos causariam

uma diminuição/silêncio dos neurônios motores gama do segmento manipulado, e quando a

atividade destes neurônios encontra-se perturbada, os reflexos de estiramento de músculos

inervados por estas raízes estariam sensibilizados, fazendo com que este distúrbio neuromuscular

seja a causa de fixações articulares.

Para Le Corre e Rageot (2004), a ação reflexa do gesto manipulativo permite

compreender a diminuição significativa ou o desaparecimento quase instantâneo dos espasmos

musculares paravertebrais locais observados clinicamente. Postula-se que o espasmo muscular é

desfeito porque o gesto manipulativo de alta velocidade estimula rapidamente o sistema nervoso.

Alguns investigadores sugerem que isso ocorre porque a manipulação vertebral produz tensão

mecânica nos receptores capsulares e ligamentares e isso leva a uma inibição dos espasmos

musculares (DISHMAN e BULBULIAN, 2000).

Pesquisas experimentais com seres humanos (COLLOCA et al., 2000; COLLOCA et al.,

2003; COLLOCA, 2004; KELLER et al., 2003; RITVANEN et al., 2007) e com animais

(COLLOCA et al., 2006; GE et al., 2005; PICKAR e KANG, 2006; SUNG, 2004) vem

mostrando que reações neurofisiológicas importantes ocorrem quando estímulos mecânicos são

gerados nas articulações vertebrais.

Numa dessas pesquisas, estímulos mecânicos vertebrais foram realizados durante um

procedimento cirúrgico com um ativador, instrumento que tem por finalidade gerar estímulos

mecânico em articulações. A resposta neurofisiológica monitorada por sinais elétricos

provocados por potenciais de ação que ocorreram nas raízes nervosas dorsais evidenciaram os

estímulos causado nos receptores mecânicos localizados nos tecidos viscoelásticos vertebrais

(COLLOCA et al., 2000).

Em outro experimento in vivo, foi verificado que os estímulos manipulativos causaram

deslocamentos mecânicos vertebrais e respostas neurofisiológicas na raiz nervosa do segmento

manipulado e nos músculos adjacentes. Esta pesquisa foi realizada em quatro pacientes durante

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procedimentos cirúrgicos de descompressão do canal vertebral e os autores sugeriram que as

respostas foram geradas pelos receptores mecânicos teciduais (COLLOCA et al., 2003).

Essas repostas também foram encontradas em outra pesquisa em que estímulos

mecânicos eram realizados com um ativador em nove pacientes durante um procedimento

cirúrgico de descompressão nervosa (COLLOCA, 2004).

Pesquisas realizadas com animais também demonstraram respostas semelhantes. Numa

delas realizada em gatos anestesiados, foram aplicados impulsos mecânicos vertebrais com

diferentes durações e amplitudes e analisada a atividade neural aferente dos fusos musculares.

Impulsos de menor duração geraram freqüências maiores de descarga dos fusos. Isso dá suporte

à teoria que as manipulações de alta velocidade e pequena amplitude provocam respostas

neurofisiológicas mais intensas que as manipulações de baixa velocidade (PICKAR e KANG,

2006).

A descarga dos neurônios sensoriais dos músculos paravertebrais de 6 gatos foi

pesquisada com a aplicação de impulsos mecânicos de durações entre 25 e 800 ms e magnitudes

de 33%, 66%, ou 100% do peso corporal. A descarga neuronal foi praticamente a mesma nas

diferentes magnitudes aplicadas, mas os impulsos aplicados com baixa duração demonstraram

atividade mais marcante dos receptores mecânicos. Os autores sugeriram que as respostas

neurofisiológicas mais profundas ocorreram com impulsos de durações próximas às que são

utilizadas durante as manipulações de alta velocidade realizadas por terapeutas (30 a 400 ms)

(SUNG, 2004).

Alterações de 1-2 mm na posição de vértebras de gatos anestesiados causaram

repercussões agudas no controle neuromuscular da coluna. Essas mudanças de posição causaram

estímulos importantes nos receptores musculares afetando o controle proprioceptivo de músculos

paravertebrais (GE et al., 2005).

Colloca et al. (2006) realizaram uma experiência com dez ovelhas anestesiadas,

observando o comportamento biomecânico e neurofisiológico nos segmentos vertebrais após a

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aplicação de impulsos mecânicos com tempos de duração e forças diferentes. Constataram que

quanto maior o deslocamento mecânico das vértebras, maior era a resposta eletromiográfica dos

músculos relacionados com as vértebras.

Estas experiências (COLLOCA et al., 2000; COLLOCA et al., 2003; COLLOCA, 2004;

PICKAR e KANG, 2006; SUNG, 2004; GE et al., 2005; COLLOCA et al., 2006) analisaram as

respostas neuromusculares em situações de repouso após os procedimentos manipulativos.

Estudos recentes também têm demonstrado a ação de manipulações vertebrais no

mecanismo da dor (PICKAR, 2002; MAIGNE e VAUTRAVERS, 2003; DESCARREAUX et

al., 2004; GEORGE et al., 2006). A utilização de manipulação vertebral provocou uma

diminuição da sensibilidade à dor avaliada por testes quantitativos de percepção de dor. Foi

concluído com esse estudo que uma inibição local de fibras nervosas é um potencial mecanismo

de ação de uma manipulação vertebral (GEORGE et al., 2006).

Descarreaux et al. (2004) relataram que o tratamento manipulativo em pacientes com dor

lombar crônica inespecífica foi eficaz na diminuição da sensação de dor mensurada pela escala

visual analógica e que estes resultados duraram 10 meses.

As manipulações vertebrais provocam repercussões nos níveis de excitabilidade dos

neurônios motores relacionados ao segmento manipulado. Uma série de estudos analisou estas

alterações utilizando como base o reflexo de Hoffmann.

A análise deste reflexo, descrito por Paul Hoffmann em 1910, é uma forma utilizada para

acessar a modulação da atividade reflexa monosináptica da medula. Este reflexo é uma

estimativa da excitabilidade do motoneurônio alfa, que pode ser utilizada para verificar a

resposta do SN em patologias neurológicas, lesões músculo-esqueléticas, aplicação de

modalidades terapêuticas, dor, exercícios e desempenho de atividades motoras (PALMIERI et

al., 2004). Este método é analisado pela estimulação elétrica de um nervo periférico, resultando

no estímulo da fibra sensitiva aferente (do ponto do estímulo em direção à medula) e também da

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fibra nervosa motora eferente (da medula até o músculo correspondente), assim como uma

resposta eferente direta (do ponto do estímulo em direção ao músculo) (ZEHR, 2002).

As respostas de uma manipulação vertebral lombo-sacral de alta velocidade comparadas

com uma técnica de manipulação de baixa velocidade em indivíduos assintomáticos foram

analisadas pelo reflexo de Hoffmann do nervo tibial (DISHMAN e BULBILIAN, 2000). Foi

observada uma atenuação profunda, mas transitória na excitabilidade do motoneurônio alfa nos

dois tipos de técnica, sendo que retornaram aos valores basais aproximadamente 30 segundos

após o procedimento. Os autores sugeriram que ambas as técnicas provocaram respostas devido

ao estímulo dos receptores sensoriais (DISHMAN e BULBULIAN, 2000).

Os efeitos de uma manipulação lombo-sacral de alta velocidade mensurados pelo reflexo

de Hoffmann foram comparados com massagem nos músculos da coluna lombar de indivíduos

assintomáticos. Os autores observaram que a manipulação obteve resposta considerável

alterando a excitabilidade nervosa, ao contrário da massagem (DISHMAN e BULBULIAN,

2001).

A inibição temporária na excitabilidade do nervo tibial foi verificada novamente após

uma manipulação de alta velocidade na região lombo-sacral em indivíduos sem dor. Mas um

procedimento de manipulação na coluna cervical não provocou nenhuma alteração na

excitabilidade dos neurônios motores lombares, levando os autores a concluir que os efeitos da

manipulação são segmentares (DISHMAN et al., 2002).

A excitabilidade do nervo mediano foi mensurada após manipulação cervical (C5-C6) e

do nervo tibial após manipulação lombo-sacral (L5-S1) em indivíduos assintomáticos. A

atenuação foi provocada nos dois casos de forma transitória e as respostas do nervo tibial

levaram um pouco mais de tempo (aproxidamente 60 s) para retornar aos valores basais em

relação ao nervo mediano (aproximadamente 20 s) (DISHMAN e BURKE, 2003).

A excitabilidade nervosa foi utilizada num estudo que consistiu de dois experimentos

feitos em pessoas saudáveis. Em um grupo, as manipulações em L5-S1 foram realizadas por um

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terapeuta em decúbito ventral e no outro em decúbito lateral. Houve uma depressão significativa

na excitabilidade nervosa nos dois grupos, sendo que no grupo que recebeu a manipulação em

decúbito lateral o resultado foi um pouco mais prolongado. Os autores concluíram que os efeitos

neurofisiológicos são dependentes do tipo de manipulação e da posição do paciente durante o

procedimento (DISHMAN et al., 2005)..

Já Floman et al. (1997) analisaram a amplitude e a latência do reflexo H do nervo tibial

em pacientes com hérnias discais no nível L5-S1 antes e após manipulações vertebrais. O reflexo

foi registrado nos dois membros inferiores, e foram realizadas manipulações com o paciente em

decúbito lateral direito e esquerdo. Antes da manipulação, treze pacientes apresentaram a

amplitude do reflexo menor no membro inferior do lado da hérnia comparado ao lado contrário e

após a manipulação a amplitude do reflexo aumentou significativamente no membro do lado da

hérnia. As medidas do reflexo foram feitas em posições diferentes dos procedimentos

manipulativos.

Outro estudo foi dividido em dois. Num deles foi analisada a amplitude do reflexo H em

dois grupos de indivíduos assintomáticos, sendo que num grupo houve mudança de posição

(n=5) e no outro o exame e a manipulação foram feitos em decúbito lateral (n=12). Os autores

perceberam que as respostas não foram significativas quando não houve mudança na posição,

sugerindo que as alterações do reflexo demonstradas em experiências feitas com indivíduos

assintomáticos eram devidas ao reposicionamento. No segundo experimento, um grupo de

pacientes (n=15) com dor lombar crônica inespecífica recebeu manipulações na articulação

sacro-ilíaca na mesma posição do teste do reflexo H (decúbito lateral). Inicialmente, houve

atenuação profunda no reflexo H. Em 12 dos 15 pacientes, a média das amplitudes do reflexo

não retornou aos valores basais após um acompanhamento de 15 min. Em 6 deles, permaneceu

aproximadamente 20% abaixo e nos outros 6 aproximadamente 20 a 25% acima dos valores

basais. Os autores concluíram que as manipulações realizadas em indivíduos com dor lombar

crônica proporcionam respostas duradouras, e sugeriram outras pesquisas com indivíduos

sintomáticos para melhor compreensão do fenômeno (SUTER et al., 2005).

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Utilizando um protocolo de avaliação eletromiográfica dos músculos paravertebrais,

Bicalho et al (2010) constataram que após uma manipulação com thrust na coluna lombar em

indivíduos com dor, ocorre uma resposta inibitória na atividade dos músculos paravertebrais na

condição estática.

21 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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