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OÁSIS #151 EDIÇÃO BEAUTY Quando as pinturas ganham vida e movimento ADEUS, CLAUDIO ABBADO Morreu o maestro dos maestros DEPRESSÃO Segredo escondido nas profundezas da mente VOO RASANTE SOBRE OS CÂNIONS MARCIANOS ÁGUAS DE MARTE

BEAUTY Quando as pinturas ganham vida e movimento · acontece hoje na terra, a maior parte da superfície do Planeta Vermelho ... Seus continentes tinham lagos e eram percorridos

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Oásis#151

Edição

BEAUTY Quando as pinturas

ganham vida e movimento

ADEUS, CLAUDIO ABBADO

Morreu o maestro dos maestros

DEPRESSÃO Segredo escondido nas profundezas da mente

Voo raSantE SobrE oS cânionS MarcianoS

ÁGUAS DE MARTE

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por

Editor

PEllEgriniLuis

H á décadas já se confirmara que em Marte ainda existe água, em estado de congelamento, sobretudo na região dos polos e no fundo de crateras e vales onde a luz e o calor do sol não chega

nunca. Mais recentemente, a sonda Mars Express, da ESa (agência Es-pacial Europeia), realizou um voo tira fôlego sobre os cânions escavados pela água que, há milhões de anos, fluía sobre o Planeta Vermelho. Como acontece hoje na terra, a maior parte da superfície do Planeta Vermelho devia ser coberta por mares e oceanos. Seus continentes tinham lagos e eram percorridos por longos e caudalosos rios.

onde foi parar toda essa água marciana? a pergunta ainda não tem res-posta. Mas os cientistas trabalham ativamente para encontrá-la, pois o se-gredo do quase total desaparecimento da água em Marte deverá fornecer pistas importantes para sabermos o que acontecerá no futuro com nossas próprias reservas do precioso líquido. as fotos da superfície de Marte, mostrando imensos desfiladeiros, cânions e leitos de antigos rios, obtidas pela Mars Express, são de especial beleza e significado. da mesma forma

O segredO dO quase tOtal desaparecimentO da água em marte deverá fOrnecer

pistas impOrtantes para sabermOs O que acOntecerá nO futurO cOm nOssas próprias

reservas dO preciOsO líquidO

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OáSIS . Editorial

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PEllEgriniLuis

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que o vídeo que recentemente foi montado com elas, e que apresenta-mos na nossa matéria de capa.

não deixe de curtir também, neste número, o vídeo Beauty, uma anima-ção que utiliza alguns dos quadros mais importantes da pintura simbolista e maneirista, dando às figuras movimento e coreografia.Completam este número de oásis um noticiário sobre o falecimento de Claudio abbado, um dos maiores diretores de orquestra em todo o mundo, e o vídeo e a transcrição em português da palestra sobre depres-são dada à organização tEd pelo escritor e jornalista norte-americano andrew Solomon.

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ÁGUAS DE MARTEVoo rasante sobre os

cânions marcianos

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á dez anos, no dia 14 de janeiro de 2004, a sonda Mars Express, da Agência Espacial Europeia (ESA), que entrara em órbita marciana no dia 25 de dezembro precedente, en-viou as primeiras imagens 3D em cores da superfície do Planeta Vermelho. Para celebrar esse grande feito

astronômico, a ESA produziu, em colaboração com o Planetary Science and Remote Sensing Group da Freie Universitat de Berlim, um vídeo panorâmico da região chamada Kasei Valles, um gigantesco sistema de cânions escavados pela água que, com certeza quase absoluta, fluía anti-gamente sobre a superfície de Marte.

A porção do planeta que podemos observar nes-sas imagens estende-se por uma área de 1,55

Ha sonda mars express, da esa (agência espacial europeia), realizou um voo tira fôlego sobre os cânions escavados pela água que, há milhões de anos, fluía sobre o planeta vermelhoPor: EquiPE oásisFotos: EsA/DLr/Fu BErLin (G. nEukum) músicA Do víDEo: crABtAmBour)

milhões de quilômetros quadrados, uma área quase tão grande quanto o território da Mon-gólia. Esse vale (que foi rebatizado Kasei, o nome de Marte em japonês) tem comprimento de cerca 3 mil quilômetros; em certos pontos, os cânions atingem 3 quilômetros de profundi-dade.

O vale, que foi escavado no decurso de milê-nios por aluviões devastadores, e também mo-delado pela atividade geológica e pelos ventos marcianos, se bifurca em duas ramificações. Entre os dois principais sistemas de canais (chamados “canais de defluxo”) é possível se ver uma ilha: a Mesa Sagrada, um tipo de pla-nalto que se eleva a 2 quilômetros acima dos cânions.

A viagem continua até a cratera Sharonov (100 quilômetros de diâmetro) circundada por um arquipélago de ilhotas que devem ter resistido à erosão provocada pelas águas. O vídeo foi re-alizado a partir do mosaico de 67 imagens es-petaculares em alta resolução tiradas pela son-da em junho de 2013, por ocasião do décimo aniversário do lançamento da Mars Express.

Clique aqui para ver o video.

Marte, água por todo lado

Na galeria abaixo, as primeiras fotos 3D da superfície de Marte tiradas pela sonda Mars Express:

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1 Grand Canyon

Centenas de fotos ao dia, milhões de bites de dados. As sondas marcianas não param de transmitir informações sobre o Plane-ta Vermelho.Esta galeria de fotos mostra as imagens mais significativas enviadas pela sonda europeia Mars Express. Nesta foto, um setor do Valles Marines, um cânion com mais de 4 mil quilômetros de extensão e profundidades que atingem os 10 quilômetros (mais de 6 vezes a profundidade máxima do Grand Canyon, no Arizona). Foto: ESA/DLR/FU Berlin/G Neukum.

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2 Aqui está a prova

Pelo confronto dessas três imagens os cientistas da ESA conseguiram obter a primeira confirmação direta da presença de gelo na superfície de Marte. A hipótese da presença de água já tinha sido formulada graças a algumas provas indiretas, mas ainda nenhuma missão tinha conseguido comprová-la. Tiradas através de espectômetro e de câmera fotográfica infravermelha, as 3 imagens trazem a “assinatura” química de moléculas de vapor de água no polo sul do planeta. À direita está a imagem visível; no centro, a notação de anidrido carbônico; à esquerda, a notação da água gelada. Os cientistas ainda ignoram a quantidade exata de gelo detectado e se se trata de gelo temporário ou permanente: como no momento da foto estava-se no verão marcia-no, pensa-se que se trata de gelo permanente.

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3 Os canais hoje estão vazios

A bacia de Hellas, que é visível da Terra através de bons telescópios (ela é vista como uma mancha circular esbranquiçada no hemisfério sul do planeta), foi produzida pelo impacto de um pequeno asteroide na crosta de Marte quando o planeta ainda era jovem. Trata-se de uma depressão com diâmetro de cerca 2 mil quilômetros e profundidade de cerca 7 quilômetros. No seu interior encontra-se o Vale de Reull, do qual essa é apenas uma porção de cerca 100 quilômetros. A partir das fotos 3D tiradas pela sonda europeia conclui-se que se trata de um canal escavado, provavelmente pelo fluir da água. As zonas azuladas são apenas sombras. Foto: © ESA/DLR/FU Berlin/G Neukum.

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4 Voo rasante sobre Marte

A poderosa máquina fotográfica estereoscópica da Mars Express é capaz de revelar detalhes de apenas 2 metros de compri-mento, mas este não é o caso da resolução desta foto, na qual cada pixel equivale a cerca 12 metros. O tamanho da imagem é no entanto suficiente para nos fornecer algumas particularidades do Valli Marinensis. Podemos perceber promontórios, pla-naltos e detalhes que indicam claramente a erosão causada pela água. Com as primeiras imagens, os especialistas alemães da missão já reconstruíram em 3D e em computador o solo de Marte. Foto: ESA/DLR/FU Berlin/G Neukum.

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5 Estruturas tectônicas

Voando a uma altitude média de 275 quilômetros, Mars Express tirou esta foto na qual podemos ver as consequências do mo-vimento das placas tectônicas em Marte. Diferente da Terra, a crosta marciana esfriou completamente e não possui mais mo-vimento. Foto: ESA/DLR/FU Berlin/G Neukum.

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6 Vulcões extintos

Albor Tholus é um dos mais conhecidos vulcões marcianos: sua base mede 160 quilômetros de diâmetro e o seu cume supera 5 mil metros de altitude. As fotos em altíssima resolução permitiram compreender melhor a sua estrutura. Sobre o cume, com efeito, encontra-se essa profunda caldeira, com profundidade de 3 quilômetros, quase tanto quanto a altura do próprio vulcão. Trata-se de um particular muito raro de ser encontrado na Terra. Foto: ESA/DLR/FU Berlin/G Neukum.

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7 Lá em cima do planalto

Esta foto, obtida em 15 de janeiro de 2004, retrata – com as cores verdadeiras de Marte – um planalto com extensão de 7,5 quilômetros, erguido a 3 quilômetros de altura em relação ao terreno circundante. Foto: ESA/DLR/FU Berlin/G Neukum.

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BEAUTYQuando as pinturas ganham vida e movimento

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Vênus de Urbino, de Ticiano, acaricia o púbis; o Amor Ador-mecido, de Michelangelo, bai-xa a cabeça; escorre o sangue do peito ferido do São Miguel,

de Luca Giordano...Dezenas de obras primas da arte pictórica (do Renascimento ao Simbolismo, passando pelo Maneirismo, o Paisagismo, o Romantismo e o Período Neoclássico), aparecem animadas com a força expressiva de pequenos gestos de dor, de erotismo, de ternura. São movimentos quase imperceptíveis que transformam qua-dros em breves trechos de filmes. A eles, em alguns casos, não faltam efeitos sonoros de

AObras primas da pintura do renascimento, até o período simbolista, cujo tema central é a beleza, ganham vida e movimento com a animação digital deste vídeo que se chama “beauty”

víDEo: rino stEFAno tAGLiAFiErro

pequenos gemidos ou ruídos de terror; ou efeitos gráficos, como chuva ou reflexos de luz.

Este vídeo se chama Beauty, e se trata de uma animação digital realizada pelo italiano Rino Stefano Tagliafierro, 33 anos, diretor e na imador de vídeos experimentais, com es-túdio em Milão. Em Beauty a beleza aparece como foi representada desde a mais remota antiguidade pelos grandes artistas: como átimo fugidio da felicidade e da plenitude da vida.

http://vimeo.com/83910533

http://vimeo.com/rinostefanotaglia-fierro/beauty

As obras que aparecem neste vídeo são, em ordem de aparição, e com seus títulos origi-nais:

Asher Brown Durand - The Catskill ValleyThomas Hill - Emerald Bay, Lake TahoeAlbert Bierstadt - Among the Sierra Nevada MountainsIvan Shishkin - Forest edgeJames Sant - Frau und TochterWilliam Adolphe Bouguereau - L’InnocenceWilliam Adolphe Bouguereau - Song of the AngelsIvan Shishkin - Bach im Birkenwald

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William Adolphe Bouguereau - Le BaiserWilliam Adolphe Bouguereau - Nature’s Fan- Girl with a ChildWilliam Adolphe Bouguereau - The MotherlandIvan Shishkin - Morning in a Pine ForestWilliam Adolphe Bouguereau - The Nut GatherersWilliam Adolphe Bouguereau - Two SistersWilliam Adolphe Bouguereau - Not too Much to CarryThomas Cole - The Course of Empire: DesolationMartinus Rørbye - Entrance to an Inn in the Praestegar-den at Hillested

William Adolphe Bouguereau - SewingWilliam Adolphe Bouguereau - The Difficult LessonWilliam Adolphe Bouguereau - The CurtseyWilliam Adolphe Bouguereau - Little Girl with a BouquetClaude Lorrain - Pastoral Lands-capeWilliam Adolphe Bouguereau - CupidonWilliam Adolphe Bouguereau - AdmirationWilliam Adolphe Bouguereau - A Young Girl Defending Herself Against ErosWilliam Adolphe Bouguereau - DawnWilliam Adolphe Bouguereau - L’Amour et Psyche

William Adolphe Bouguereau - Spring BreezeWilliam Adolphe Bouguereau - The InvationWilliam Adolphe Bouguereau - Nymphs and SatyrWilliam Adolphe Bouguereau - The Youth of BacchusWilliam Adolphe Bouguereau - The Birth of VenusWilliam Adolphe Bouguereau - The NymphaeumGioacchino Pagliei - Le NaiadiLuis Ricardo Falero - Faust’s DreamLuis Ricardo Falero - Reclining NudeJules Joseph Lefebvre - La CigaleJohn William Godward - Tarot of DelphiJan van Huysum - Bouquet of Flowers in an Urn

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Adrien Henri Tanoux - SalamboGuillaume Seignac - Re-clining NudeTiziano - Venere di Urbi-noLouis Jean François La-grenée - Amor and PsycheCorreggio - Giove e IoFrançois Gérard - Psyché et l’AmourJohn William Godward - ContemplatioJohn William Godward - Far Away ThoughtJohn William Godward - An Auburn BeautyWilliam Adolphe Bougue-reau - Flora And ZephyLouis Jean François La-grenée - Amor and PsycheFritz Zuber-Bühle - A Reclining BeautyPaul Peel - The RestGuillaume Seignac - L’AbandonVictor Karlovich Shtemberg - Nu à la peau de betePierre Auguste Cot - Portrait Of Young WomanIvan Shishkin - Mast Tree GroveIvan Shishkin - Rain in an oak forestWilliam Adolphe Bouguereau - BiblisWilliam Adolphe Bouguereau - ElegyMarcus Stone - Loves Daydream EndWilliam Adolphe Bouguereau - Head Of A Young GirlHugues Merle - Mary Magdalene in the Cave

Andrea Vaccaro - Sant’AgataJacques-Luois David - Accademia (o Patroclo)Michelangelo Merisi da Caravaggio - San Giovanni Bat-tistaRoberto Ferri - In Nomine DeusMichelangelo Merisi da Caravaggio - Cristo alla colonnaMichelangelo Merisi da Caravaggio - Incoronazione di spinePaul Delaroche - L’Exécution de lady Jane Grey en la tour de Londres, l’an 1554Michelangelo Merisi da Caravaggio - Decollazione di San

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Giovanni BattistaMichelangelo Merisi da Caravaggio - Sacrificio di IsaccoGuido Reni - Davide e GoliaMichelangelo Merisi da Caravaggio - Giuditta e OloferneMichelangelo Merisi da Caravaggio - Davide e GoliaMichelangelo Merisi da Caravaggio - Salomè con la testa del BattistaMichelangelo Merisi da Caravaggio - Davide con la testa di GoliaJakub Schikaneder - All Soul’s DayMichelangelo Merisi da Caravaggio - San Gerolamo scri-venteGuido Reni - San GerolamoPieter Claesz - VanitasGabriel von Max - The Ecstatic Virgin Anna Katharina EmmerichWilliam Adolphe Bouguereau - Portrait of Miss Elizabeth GardnerJan Lievens - A young girlJohannes Vermeer - Portrait of a Young GirlLuis Ricardo Falero - Moonlit BeautiesJoseph Rebell - Burrasca al chiaro di luna nel golfo di Na-poliLuis Ricardo Falero - Witches going to their SabbathWilliam Adolphe Bouguereau - Dante And Virgil In HellThéodore Géricault - Cheval arabe gris-blancPeter Paul Rubens - SatiroFelice Boselli - Skinned Head of a Young BullGabriel Cornelius von Max - Monkeys as Judges of ArtMichelangelo Merisi da Caravaggio - MedusaLuca Giordano - San MicheleThéodore Géricault - Study of Feet and HandsPeter Paul Rubens - Saturn Devouring His Son

Ilya Repin - Ivan il Terribile e suo figlio IvanFranz von Stuck - Lucifero ModernoGustave Doré - EnigmaArnold Böcklin - Die Toteninsel (III)Sophie Gengembre Anderson - ElaineJohn Everett Millais - OpheliaPaul Delaroche - Jeune MartyreHerbert Draper - The Lament for IcarusMartin Johnson Heade - Twilight on the St. Johns RiverGabriel Cornelius von Max - Der AnatomEnrique Simonet - Anatomía del corazónThomas Eakins - Portrait of Dr. Samuel D. Gross (The Gross Clinic)Rembrandt - Lezione di anatomia del dottor TulpPeter Paul Rubens - Die Beweinung ChristiPaul Hippolyte Delaroche - Die Frau des Künstlers Loui-se Vernet auf ihrem TotenbettElizabeth Jane Gardner Bouguereau - Too ImprudentWilliam-Adolphe Bouguereau - The PrayerMichelangelo Merisi da Caravaggio - Amorino dormienteAugustin Théodule Ribot - St. Vincent (of Saragossa)Caspar David Friedrich - Abtei im eichwald

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ADEUS, CLAUDIO ABBADOMorreu o maestro

dos maestros

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aestro e senador vitalício da Itália, Claudio Abbado faleceu na manhã do dia 20 último, na cidade de Bo-

lonha. Estava com 80 anos e há tempos lutava contra um câncer. Nasceu em Mi-lão, em 26 de junho 1933, e foi diretor de orquestra do Teatro alla Scala de Milão, da Staatsoper de Viena e da Filarmônica de Berlim, três das mais prestigiosas sinfôni-cas do mundo.

Mfaleceu na manhã do dia 20 de janeiro, em bolonha, itália, um dos maiores diretores de orquestra de todos os tempos. uma vida dedicada à música e aos jovens talentos, constelada de sucessos e de empenho social e político

Por: EquiPE oásis

Uma vida no pódio

Grande defensor do valor social da mú-sica e das orquestras jovens, por muitos considerado o maior diretor de orquestra do mundo, Abbado iluminou o panorama musical internacional a partir dos anos Sessenta.

Filho de um professor de violino, for-mou-se em piano e direção de orquestra pelo Conservatório de Milão, em 1955. Em 1958 venceu o importante concurso Koussevitsky, da Boston Symphony Or-chestra em Tanglewood, Massachussets. Esse prêmio lhe permitiu debutar nos Es-tados Unidos com a Filarmônica de Nova York. Estreou em seguida em Trieste, como diretor sinfônico, e logo foi chama-do pelo Teatro alla Scala para ser diretor musical, numa trajetória que durou até os anos 80.

Abbado renovou toda a programação ar-tística do famoso teatro milanês, trazen-do de volta à ribalta importantes autores e compositores que há muito estavam esquecidos. Inaugurou em 1972 a tradi-ção dos concertos para estudantes e tra-balhadores, um modo eficaz para apro-ximar todas as classes sociais ao mundo dourado da música lírica e clássica.

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Nos teatros da Europa

Em 1971 tornou-se diretor principal da Filarmônica de Viena, e a partir de 1979 até 1987 foi diretor da Sinfônica de Londres. Deixou a direção do La Scala em 1986 para se lançar numa nova aventura profis-sional como diretor musical da Staatsoper de Viena (até 1991); em 1989 foi eleito diretor principal e ar-tístico da Filarmônica de Berlim, cargo que manteve até 2002. Foi o primeiro maestro não austro-alemão a ser eleito diretor diretamente pelos músicos inte-grantes da orquestra, considerada a melhor do mun-do.

Nos anos seguintes dedicou-se à criação da orques-tra do Festival de Lucerna, na Suíça, à fundação da Orquestra Mozart de Bolonha – a sua última cidade de adoção -, e à Orquestra de Câmera Mahler. Dedi-cou também parte considerável do seu tempo e for-ças a atividades ambientais e sociais.

Em junho 2010 aceitou voltar a dirigir no Scala de Milão, em troca de um “cachê in natura” de 90 mil árvores para serem plantadas na região central da cidade de Milão. Mas o empenho teve de ser cance-lado em razão de uma internação para tratamento de um câncer. Uma das muitas internações médicas

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a que foi obrigado a se submeter desde então.

Nomeado senador vitalício

Em 30 de agosto 2013, Giorgio Napolitano, Presidente da Repúbli-ca Italiana o nomeou senador vitalício, junto a 3 outros italianos no-táveis, o arquiteto Ren-zo Piano e os cientistas Elena Cattaneo e Carlo Rubbia. “Espero que meu estado de saúde me permita aceitar esse prestigioso cargo, para o qual é preciso garantir assiduidade e dedicação”, declarou Abbado após a nomeação, revelando a pre-ocupação que sentia quanto às suas próprias condi-ções.

Uma das suas últimas decisões foi devolver o seu salário de senador vitalício para a criação de bolsas de estudo na Escola de Música da cidade de Fiesole. Mais uma vez um gesto magnânimo a favor dos jo-vens talentos musicais.

Vídeos:

Já muito doente, Claudio Abbado ainda teve forças para reger a difícil Missa de Réquiem, de Wolfgang Amadeus Mozart, no Festival de Lucerna, em outu-bro 2012. Neste vídeo, o movimento Lacrimosa, um dos trechos mais comoventes do Réquiem.

Este outro vídeo mostra Claudio Abbado tomado pela emoção após a execução do Réquiem, no mesmo Festival de Lucerna. O maestro e o público perma-neceram em total silêncio durante 40 segundo, antes da explosão de merecidos aplausos.

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DEPRESSÃOSegredo escondido nas profundezas da mente

PS

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OáSIS . PSiCo

scritor especializado em política, cultura e comportamento, Andrew Solomon foi vítima de uma depres-são profunda que quase arruinou sua vida pessoal e sua carreira. A dura experiência o levou a uma reveladora jornada pelo mundo, entrevistando pessoas com depres-são, descobrindo, para sua surpre-

sa, que quanto mais ele falava, mais as pesso-as queriam contar suas histórias.

E

O oposto de depressão não é felicidade, e sim vitalidade, e ela parecia fugir de mim naquele momento.” em uma palestra tão eloquente quanto devastadora, o escritor andrew solomon nos leva aos cantos mais escuros de sua mente, nos anos em que lutou contra a depressão

víDEo FiLmADo no tEDxmEttrADução: viviAnE FErrAz mAtos rEvisão nADjA nAthAn

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AnDrEw soLomon

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Vídeo da palestra “Depressão”, de Andrew Solomon

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Tradução integral da palestra “Depressão”, de Andrew Solomon

“Senti um féretro em meu cérebro, e carpideiras indo e vindo, a pisar, a pisar, até eu sonhar. Meus sentidos fugindo. E quan-do tudo se sentou, O tambor de um ofício, Bateu, bateu, até eu sentir Inerte o meu juízo. E eu as ouvi, erguida a tampa, Ran-geram por minha alma com Todo o chumbo dos pés, de novo, E o espaço dobrou, Como se os céus fossem um sino E o ser apenas um ouvido, E eu e o silêncio, a estranha raça Só, nau-fragada, aqui. Partiu-se a tábua em minha mente, E eu fui cair de chão em chão, E em cada chão havia um mundo E terminei sabendo, então.” (Tradução: Augusto de Campos)

Conhecemos a depressão por metáforas. Emily Dickinson a convertia em linguagem, Goya, em imagem. Metade do propó-sito da arte, é descrever esses estados icônicos.No meu caso, sempre pensei ser forte, que sobreviveria, se fos-se para um campo de concentração.

Em 1991, passei por uma série de perdas. Minha mãe morreu, vivi o fim de um relacionamento, retornei aos Estados Unidos, após anos morando no exterior, e passei por tudo isso intacto.Mas, em 1994, três anos depois, perdi o interesse por quase tudo. Não queria fazer nadado que fazia antes, e não sabia o porquê. O oposto de depressão não é felicidade, e sim vitalida-de, e a vitalidade parecia fugir de mim naquele momento. Tudo que eu fazia parecia ser trabalhoso demais. Eu chegava em casa, via a luz da secretária eletrônica piscando, e não me ani-mava a saber dos amigos. Eu pensava: “Quanta gente para ligar de volta.” Ou decidia almoçar, e aí pensava em ter que pegar a comida, colocá-la no prato, cortá-la, mastigá-la e engoli-la. E me sentia em uma Via Crucis.

Algo que sempre se esquece em discussões sobre depressão, é que sabemos que isso é ridículo. Sabemos disso, quando a

vivenciamos. Sabemos que a maioria consegue ouvir as mensagens, almoçar, tomar banho sair de casa, e que não é nada demais. Ainda assim, você fica inerte e incapaz de pensar em uma saída. Assim, comecei a sentir que agia menos, pensava menos, e sentia menos. Era uma espécie de anulação.

E assim, veio a ansiedade. Se me dissessem que eu ficaria deprimido este mês, diria: “Desde que termine mês que vem, tudo bem.” Mas, se me dissessem: “Você terá ansie-dade aguda por um mês,” eu preferiria cortar os pulsos. Era o sentimento constante, como o de estar andando, escorregar ou tropeçar, e o chão vir a seu encontro, mas em vez de um durar um segundo, ele durou 6 meses. É uma sensação de medo permanente, mas sem saber do que se tem medo. E foi aí que comecei a pensar que era muito sofrido viver, e a única razão de não me matar era

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Tradução integral da palestra “Depressão”, de Andrew Solomon

a de não fazer os outros sofrerem.Finalmente, um dia, eu acordei e pensei que tivera um AVC, porque estava deitado na cama, paralisado, olhando o telefo-ne, pensando: “Algo está errado e preciso pedir socorro”, e não conseguia mover o braço e alcançar o telefone para ligar. Após quatro longas horas, imóvel, fixando o telefone, ele tocou, e consegui atendê-lo. Era meu pai, e falei: “Estou com um pro-blema sério. Precisamos fazer algo.”

Um dia depois, comecei com os medicamentos e a terapia. Co-mecei a me confrontar com a terrível pergunta: “Se não sou forte como pensara, que sobreviveria a um campo de concen-tração, então, quem sou eu? E se tenho que tomar medicamen-

to, ele fará com que eu seja eu mesmo, ou outra pessoa? Como me sentirei se ele me tornar outra pessoa?”

Ao entrar nessa luta, eu tinha duas vantagens. A de que sabia, objetivamente, que minha vida era agradável, e se ficasse bem, haveria algo do outro lado pelo qual valeria a pena viver. A outra, era a de ter acesso a um bom trata-mento.Apesar disso, eu melhorava e recaía, melhorava e recaía, melhorava e recaía, e finalmente entendi que tomaria medicamentos e faria terapia para sempre. Pensei: “É um problema químico ou psicológico? Precisa de cura química ou filosófica?” E não entendia qual seria.Percebi que, na verdade, não avançamos muito nessas áreas para sabermos com precisão.Tanto a cura química como a psicológica têm seu papel. Também pensei que a depres-são era algo que estava entranhado tão fundo em nós que não havia uma separação entre caráter e personalidade.

Os tratamentos que temos para depressão são lamentá-veis. Não são muito eficazes, são extremamente caros, provocam inúmeros efeitos colaterais. São um desastre. Mas sou grato por viver hoje, e não 50 anos atrás, quan-do quase nada podia ser feito. Espero que daqui a 50 anos, ao saberem do meu tratamento, as pessoas se es-pantem com ciência tão primitiva.

Depressão é a imperfeição no amor. Se você fosse casado e pensasse: “Se minha esposa morrer, encontrarei outra”, não seria amor como o conhecemos. Amor não existe sem a antecipação da perda, e esse espectro do desespero pode ser o motor da intimidade.

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Tradução integral da palestra “Depressão”, de Andrew Solomon

Há três coisas que tendemos a confundir: depressão, sentimen-to de luto e tristeza. O luto é explicitamente reativo. Se você vive uma perda, sente-se muito infeliz, e, seis meses depois, você ainda está muito triste, mas um pouco melhor, provavel-mente, é luto, e provavelmente se resolverá de alguma forma. Se você vivencia uma perda catastrófica, sente-se péssimo, e, seis meses depois, continua muito mal, talvez seja depressão desencadeada pelas circunstâncias catastróficas. A trajetória nos diz muito. As pessoas pensam em depressão apenas como tristeza. Ela é excesso de tristeza, excesso de luto, por uma cau-sa qualquer.

Ao me preparar para entender a depressão, e entrevistar quem a vivera, percebi que havia gente que parecia à beira de ter uma depressão branda, e mesmo assim, ficava incapacitada por ela. E outros tinham algo descrito como depressão terrivelmente severa, que viviam bem nos intervalos dos episódios depres-sivos. Então, planejei descobrir o que faz com que uns sejam mais resilientes que outros. Quais são os mecanismos que os permitem sobreviver? E fui entrevistando pessoas que sofriam de depressão.Uma das primeiras entrevistadas, descreveu a depressão como um meio mais lento de morrer, e foi bom ouvir isso logo no iní-cio porque me fez lembrar que esse jeito lento de morrer pode levar à morte real, que é um negócio sério. É a principal doença incapacitante do mundo, e as pessoas morrem disso todos os dias.

Conversei com uma pessoa, quando tentava entender isso, uma amiga querida que conhecia há anos, e tivera um surto psicótico no primeiro ano de faculdade, e mergulhou em uma depressão horrível. Ela era bipolar, ou maníaco-depressiva, como assim era chamado. E ela ficou muito bem por anos, to-

mando lítio, e depois, parou de tomá-lo, para ver como ficaria sem ele, e teve outro surto, e se afundou na maior depressão que eu já vira. Ela ficava no apartamento dos pais, meio catatônica, imóvel, dia após dia. Eu a entre-vistei sobre essa experiência, anos depois... Ela é poeta e psicoterapeuta, chama-se Maggie Robbins... Quando a entrevistei, ela disse: “Eu cantava ‘Where Have All The Flowers Gone’ o tempo todo, para ocupar minha mente. Cantava para expulsar o que minha mente dizia, que era: ‘Você não é nada. Você não é ninguém. Nem merece vi-ver.’ E comecei seriamente a pensar em me matar.”

Com depressão, você não pensa que pôs um véu cinza e vê o mundo através da névoa do mau humor. Você pen-sa que o véu foi retirado, o véu da felicidade, e que agora você vê de verdade. É mais fácil ajudar esquizofrênicos

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que percebem existir algo estranho neles que precisa ser exor-cizado, mas é difícil com deprimidos, pois acreditamos ver a verdade.Mas a verdade mente... Fiquei obcecado com essa frase: “Mas a verdade mente.”Descobri, ao conversar com deprimidos, que eles têm muitas percepções ilusórias. Alguém diz: “Ninguém me ama.” E você diz: “Eu o amo, sua esposa o ama, sua mãe o ama.” Você responde isso na hora, ao menos, a maioria. Mas o deprimido também diz: “Não importa o que façamos, vamos todos morrer, afinal.” Ou diz: “Não há comunhão verdadeira entre dois seres humanos. Estamos presos em nosso próprio corpo.” A quem você terá que dizer: “É verdade, mas agora devemos focar o que comer no café da manhã.” (Risos) Mui-

tas vezes,o que expressam não é doença, e sim insight, e chegamos a pensar que o extraordinário é que a maioria sabe dessas perguntas existenciais e elas não nos distra-em tanto assim.Gostei de um estudo, em que um grupo de deprimidos e um de não deprimidos tinham que jogar videogame por uma hora, e, ao final do tempo, respon-diam quantos monstrinhos eles pensavam ter matado. Os deprimidos tinham uma precisão em torno de 10%, e os não deprimidos falaram um número 15 a 20 vezes maior de monstrinhos — (Risos) — do que o que tinham efeti-vamente matado.

Ao escrever sobre minha depressão, diziam que deve ser muito difícil sair do armário, as pessoas saberem... Per-guntavam: “Falam diferente com você?” E dizia: “Sim, falam diferente. Elas falam diferente, na medida em que me contam suas experiências, ou a da irmã, ou do amigo. É diferente porque agora sei que depressão é o segredo de família que todo mundo tem.”

Há alguns anos, fui a uma conferência, e, no primeiro dia do evento, uma participante me chamou de lado e disse: “Sofro de depressão e fico um pouco envergonhada com isso, mas tomo esse medicamento, e queria saber sua opinião.” Tentei aconselhá-la da melhor forma. Então, ela disse: “Sabe, meu marido jamais entenderia. Ele não entende o sentido disso, então, sabe, fica só entre nós.” E falei: “Certo, tudo bem.” No último dia da conferência, o marido dela me chamou de lado, e disse: “Minha es-posa pensará que não sou homem de verdade se souber que estou lidando com depressão e tomo medicamento, e gostaria da sua opinião.” Eles escondiam medicamentos iguais em locais distintos

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do mesmo quarto. Eu disse que pensava que a comunicação no casamento estava causando problemas. (Risos) Eu também fiquei surpreso pela natureza opressiva de tal segredo mútuo. A depressão é muito exaustiva. Toma muito tempo e energia, e o silêncio agrava a depressão.

E, comecei a pensar sobre o que faz as pessoas melhorarem. Comecei com a medicina conservadora. Eu achava que havia algumas terapias que funcionavam, estava claro quais eram... havia medicamentos, certas psicoterapias, talvez, tratamento eletroconvulsivo, e que o restante era besteira. Então, descobri uma coisa. Se você tem câncer no cérebro, e diz que ficar de ponta-cabeça 20 minutos todo dia faz você se sentir melhor, talvez se sinta melhor, mas ainda tem câncer, e ainda poderá morrer. Mas se você diz que tem depressão, e que ficar de pon-ta-cabeça de manhã faz você melhorar, então, funcionou, pois é a doença de como você se sente, e se você se sente melhor, en-tão, não está mais deprimido.Assim, tornei-me mais tolerante ao vasto mundo de tratamentos alternativos.

E recebo cartas, centenas de cartas, de gente que diz o que fun-ciona. Hoje, perguntaram-me nos bastidores sobre meditação. Minha carta favorita é a de uma mulher que disse que tentou terapia, medicamentos, tentou quase tudo. Achou uma solução e desejava que o mundo soubesse: fazer coisinhas de lã. (Risos) Ela me enviou algumas peças. (Risos) Não estou usando uma hoje. Sugeri que ela desse uma olhada em comportamento ob-sessivo compulsivo no manual.

Ainda assim, ao pesquisar tratamentos alternativos, ganhei perspectiva sobre vários tipos de tratamentos. Passei por um exorcismo tribal, no Senegal, que envolvia sangue de carnei-ro, e não entrarei em detalhes, mas, anos depois, fui a Ruanda

num projeto diferente, e descrevi minha experiência a alguém, que disse: “Bem, sabe, aqui na África Oriental os rituais são muito diferentes, mas temos rituais com algo em comum com o que descreveu.”Falei: “Oh”. E ele: “Sim. Mas houve problemas com profissionais da saúde do Ocidente, os que vieram após o genocídio.” Eu disse: “Que tipo de problema?” Ele disse: “Bem, eles fa-ziam algo bizarro. Ninguém tomava banho de sol para se sentir melhor. Não incluíam batuques ou música para animá-los. Não envolviam a comunidade. Não externa-vam a depressão como um espírito invasor. Ao contrário, levavam as pessoas, uma a uma, para quartinhos escuros e elas falavam por uma hora sobre o que acontecera de ruim.” (Risos) (Aplausos) Falou: “Pedimos que deixas-sem o país.” (Risos)Na outra ponta dos tratamentos alternativos... vou falar

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sobre Frank Russakoff. Ele tinha a pior depressão que eu talvez tenha visto em um homem. Ele estava sempre deprimido. Eu o conheci em uma época em que todo mês ele tinha tratamento de choque. Ficava meio desorientado por uma semana. Depois, ficava bem uma semana. Tinha outra semana de piora. E uma semana de tratamento de choque.

Quando o vi, ele disse: “É insuportável passar semanas assim. Não aguento mais, e já sei como acabar com isso se eu não me-lhorar. Aí, ele disse: “Soube de um protocolo no hospital, um procedimento, cingulotomia, cirurgia no cérebro, e acho que vou tentar.” Lembro de ter me espantado por pensar que al-guém com tantas experiências ruins, com tantos tratamentos, ainda tinha dentro de si algum otimismo para almejar mais um. Ele fez a cingulotomia, e foi incrivelmente bem sucedida. Ele agora é meu amigo. Tem uma esposa adorável e dois filhos lindos. Ele me escreveu uma carta, após a cirurgia, e disse: “Meu pai me deu dois presentes este ano. Uma torre de CD, da “The Sharper Image”, de que eu não precisava, mas sei que foi para comemorar o fato de eu viver por conta própria, com um emprego que adoro. O outro presente era uma foto da mi-nha avó, que cometeu suicídio. Ao abrir o presente, comecei a chorar, e minha mãe disse: ‘Está chorando pelos parentes que não conheceu?’ Falei: ‘Ela teve a mesma doença que eu.’ Choro agora ao lhe escrever. Não estou muito triste, e sim emociona-do, pois, poderia quase ter me matado, mas meu pais me de-ram força, assim como os médicos, e fiz a cirurgia. Estou vivo e agradecido. Vivemos na época certa, mesmo que nem sempre pareça.”

Fiquei perplexo que a depressão seja amplamente entendida como algo moderno, ocidental, de classe média, e fui ver como ela funciona em vários outros contextos, e algo que me interes-

sou muito foi a depressão entre indigentes. Fui dar uma olhada no que se faz para pobres com depressão. Desco-bri que eles geralmente não são tratados de depressão. Depressão resulta da vulnerabilidade genética, distribu-ída igualitariamente na população, e circunstâncias de-sencadeadoras, que costumam ser mais severas em pes-soas mais pobres. Se você tem uma vida agradável mas se sente infeliz o tempo todo,pensa: “Por que me sinto assim? Devo estar com depressão.” E busca tratamento. Mas, se tem uma vida horrível, e sente-se péssimo o tem-po todo, você se sente de acordo com sua vida, e não lhe ocorre pensar: “Talvez exista tratamento.”

E assim temos uma epidemia neste país, de depressão entre os mais pobres que não é diagnosticada, tratada, e nem combatida, o que é uma grande tragédia. Conheci uma acadêmica que fazia projeto de pesquisa em favelas nos arredores de Washington, com mulheres com outras queixas de saúde, e diagnosticava a depressão, e dava--lhes seis meses do protocolo experimental. Uma delas, Lolly, chegou, e eis o que disse... Ela é uma mulher que teve sete filhos. Disse: “Eu tinha emprego, mas desisti dele porque não conseguia sair de casa. Não tenho assun-to com meus filhos. De manhã, mal espero eles saírem, volto para a cama, cubro-me com o cobertor, e quan-do voltam às 15:00, sinto que o tempo voou.” Ela disse: “Tomo um monte de Tylenol, qualquer coisa para dormir mais. Meu marido diz que sou burra, feia. Queria muito acabar com a dor.”

Ela veio para o protocolo experimental, e quando a entre-vistei seis meses depois, ela trabalhava numa creche da Marinha, deixara o marido ofensor, e disse: “Meus

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filhos estão mais felizes. Há um quarto em minha nova casa para os meninos e outro para as meninas, mas, à noite, vão todos para a minha cama, e fazemos dever de casa juntos. Um menino quer ser pastor, o outro bombeiro, e uma menina quer ser advogada. Não choram mais como antes, nem brigam como antes. Tudo que preciso agora são meus filhos. As coisas estão mudando: o jeito como me visto, sinto e ajo. Agora, consigo sair sem sentir medo. Acho que os sentimentos ruins não vol-tarão, e se não fosse pela doutora Miranda, ainda estaria em casa, com o cobertor sobre a cabeça, se é que ainda estaria viva. Pedi ao Senhor que me enviasse um anjo, e Ele escutou minhas preces.”

Fiquei muito emocionado com esses relatos, e decidi escrever sobre eles não apenas num livro, mas também num artigo, e, a pedido da “The New York Times Magazine” escrevi sobre de-pressão entre indigentes.Entreguei a história, e minha editora me disse: “Não podemos publicar.”E falei: “Por que não?”Ela disse: “É inverossímil. Essas pessoas que estão na cama-da mais baixa da sociedade, fazem uns meses de tratamento e podem comandar a Bolsa de Valores? É muito implausível.” Falou: “Nunca soube de algo assim.”

E falei: “O fato de você não saber indica que é notícia.” (Risos) (Aplausos) “E vocês são uma revista de notícias.”Depois de alguma negociação, eles aceitaram. Penso que o que disseram está ligado, de uma forma estranha, à aversão que as pessoas ainda têm à ideia do tratamento, à noção de que se fôssemos tratar muita gente nas comunidades carentes, seria uma exploração. Estaríamos modificando-as. Há essa falsa mo-ral imperativa a nossa volta, de que tratamento de depressão, e

medicamentos são um artifício, que não é natural. Acho que é um grande equívoco. Seria natural que os dentes caíssem, mas ninguém milita contra a pasta dental, não que eu saiba.As pessoas dizem: “Mas a depressão não é parte do que devemos vivenciar? Não evoluímos para ter depres-são? Não é parte da personalidade?” Eu diria: o humor é adaptável. Ser capaz de sentir tristeza, medo, alegria, prazer e todos os outros humores é muito valioso. De-pressão severa é algo que acontece quando esse sistema se rompe, fica mal ajustado.

As pessoas me dizem: “Penso que, se ficar firme por mais um ano, consigo me livrar dela.”Sempre digo: “Talvez consiga, mas jamais terá 37 anos de novo. A vida é curta, é mais um ano inteiro, do qual você desistirá. Pense nisso.”

É uma pobreza estranha da língua inglesa, e de tantas outras, que usemos a mesma palavra, depressão, ao des-crever como uma criança se sente se chove no seu aniver-sário, e descrever como alguém se sente um minuto antes de cometer suicídio.

Perguntam: “A tristeza normal é contínua?” E digo, de um modo, a tristeza normal é contínua. Há uma certa continuidade, assim como há continuidade, entre uma cerca de ferro, com um ponto de ferrugem que você lixa e repinta, e o que ocorre se você sai de casa por 100 anos, é que a cerca enferruja até virar uma pilha de pó. É esse ponto de ferrugem,esse ponto de problema, a que nos referimos.

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Agora as pessoas dizem: “Você toma uma pílula da felicidade e fica feliz?” Não fico. Mas não fico triste por ter que almoçar, não fico triste pela secretária eletrônica, nem por tomar banho. Sinto mais, na verdade, porque não me sinto anulado pela tris-teza. Sinto-me triste com decepções profissionais, com relacio-namentos ruins, com o aquecimento global. Essas são as coisas que me entristecem no momento. Disse a mim mesmo: “Qual é a conclusão? Como as pessoas que têm vidas melhores, mesmo com depressão mais grave, saíram dela? Qual é o mecanismo da resiliência?” Cheguei à conclusão de que quem renega sua experiência, e diz: “Estive deprimido há muito tempo e nunca mais quero pensar ou saber disso, e vou apenas seguir com a vida”, ironi-camente, essas são as pessoas mais escravizadas pelo que têm. Afastar a depressão a fortalece. Ao se esconder dela, ela cres-ce. E as pessoas que se dão melhor são as capazes de suportar o fato de terem essa condição. Aqueles que consegue aceitar a depressão são os que encontram resiliência.Frank Russakoff me disse: “Se tivesse que fazer de novo, acho que não faria desse jeito,mas, ainda assim, sou grato pelo que vivenciei. Sou grato pelas 40 idas ao hospital. Aprendi muito sobre o amor, e a relação com meus pais e médicos é preciosa para mim e sempre será.”

Maggie Robbins disse: “Eu era voluntária em uma clínica de AIDS, e eu falava e falava, e lidava com pessoas não muito re-ceptivas, e pensava: ‘Elas não são muito simpáticas ou prestati-vas.’ Aí compreendi que elas não se empenhariam além daque-les minutos de conversa fiada. Era apenas uma ocasião em que eu não tinha AIDS, e não estava morrendo, mas poderia supor-tar o fato de que elas tinham e morreriam. Nossas necessidades são nosso bem maior. Aprendi a dar tudo o que eu preciso.”Valorizar a nossa depressão não previne recaída, mas pode

fazer a perspectiva da recaída ou mesmo a recaída em si, mais fácil de suportar. A questão não é tanto encontrar grande significado e decidir que sua depressão significa muito. É buscar esse significado e pensar quando ela vol-tar: “Vai ser um inferno, mas aprenderei algo.” Aprendi com minha própria depressão como uma emoção pode ser imensa, como ela pode ser mais real do que fatos,e descobri que essa experiência me permite vivenciar emo-ção positiva de um jeito mais intenso e focado. O oposto de depressão não é felicidade, e sim vitalidade, e, atual-mente, minha vida é vital, mesmo nos dias em que estou triste. Senti aquele féretro no meu cérebro, e sentei-me próximo ao colosso, à beira do mundo, e descobri algo dentro de mim,que chamo de alma, que eu nunca elabo-rara até aquele dia, 20 anos atrás, quando o diabo me fez uma visita surpresa. Acho que ao odiar estar deprimido, e odiaria novamente,descobri um jeito de amar minha depressão. Eu a amo por ela ter me forçado a buscar ale-gria e a me agarrar a ela. Eu a amo porque, todos os dias, eu decido, às vezes com bravura, e outras, contra a razão do momento, agarrar-me às razões de viver. E isso é um grande privilégio.

Obrigado.

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