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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
FRANCISLAINE HASPER
BEBETECAS: UM ESPAÇO DE MEDIAÇÃO DO LITERÁRIO COM CRIANÇAS
PEQUENAS
Itajaí (SC) 2017
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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Vice-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura
Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE Curso de Mestrado Acadêmico em Educação
FRANCISLAINE HASPER
BEBETECAS: UM ESPAÇO DE MEDIAÇÃO DO LITERÁRIO COM CRIANÇAS
PEQUENAS
Dissertação apresentada ao colegiado do PPGE como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Educação – área de concentração: Educação – (Linha de Pesquisa - Cultura, Tecnologia e Processos de Aprendizagem). Orientadora: Prof.ª Dr.ª Adair de Aguiar Neitzel.
Itajaí (SC) 2017
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UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
Vice-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE
Curso de Mestrado Acadêmico em Educação
CERTIFICADO DE APROVAÇÃO
FRANCISLAINE HASPER
BEBETECAS: UM ESPAÇO DE MEDIAÇÃO DO LITERÁRIO COM CRIANÇAS
PEQUENAS
Dissertação avaliada e aprovada pela Comissão Examinadora e referendada pelo Colegiado do PPGE como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Educação. Itajaí (SC), 12 de julho de 2017.
Membros da Comissão:
Orientadora: _______________________________________ Prof.ª Dr.ª Adair de Aguiar Neitzel Membro Externo: _______________________________________ Prof.ª Dr.ª Marynelma Camargo Garanhani (Universidade Federal do Paraná) Membro representante do colegiado: ______________________________________ Prof.ª Dr.ª Valéria Silva Ferreira
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AGRADECIMENTOS
Inicialmente, agradeço a Deus pela força, pela paz, pela superação. Obrigada!
À minha família, que, além de serem incentivadores, ajudaram-me
diariamente, possibilitando que estivesse ausente em relação aos cuidados com a Livia.
Ao meu querido esposo, Roger, que sempre sonhou junto comigo,
incentivando cada escolha com seu o amor e tempo, para esta tão intensa jornada. Te amo!
A você, Livia, minha princesa, que deixei horas e horas do nosso brincar, do
nosso aconchego, para me envolver com os livros. E você, que artista! Desenhou e deixou o trabalho da mamãe ainda mais belo. Agradeço-te por
entender o tempo que estive por horas ausente, mas, certamente, lhe mostrando, nessa ausência, a importância do foco e da dedicação para com
os estudos! Dentre tantas falas, fico com esta - “Mamãe, agora você tem que estudar, não é?”.
À minha querida e admirável orientadora, Adair de Aguiar Neitzel, que tanto me ajudou. Quantas foram as correções, quanta paciência teve comigo. Tudo
isso permitiu que eu evoluísse! A você, agradeço imensamente, pelo sorriso espontâneo, pelo abraço caloroso, deixando-me tranquila, pelo olhar sensível,
pois, certamente, não teria realizado este grande sonho, pois foi você quem me escolheu. Imensamente, meu muito obrigada!
Às professoras Valéria, Mônica, Carla, Verônica, Regina e Cássia, que
privilégio conhecê-las e aprender ainda mais. Muito obrigada!
À banca examinadora, Prof.a Dr.a Marynelma Camargo Garanhani e Prof.a Dr.a Valéria Silva Ferreira, agradeço imensamente pela disponibilidade em participar da
pesquisa e pelas sugestões relevantes que tornaram o estudo ainda mais consistente.
Aos amigos que encontrei no Mestrado. Quantos trabalhos; quantos
encontros, uns com choros, outros com risadas; quantas alegrias; quantas mensagens; quantos cafés e almoços, até viagens e passeios; quantas
parcerias desfrutamos juntos. A vocês agradeço o privilégio de ter conhecido e vivido, quantas novas amizades!
Às amigas do coração, Tatiane, Karina e Ana Cláudia, mesmo de longe
estavam presentes, incentivando e vivendo este sonho. A vocês o meu muito obrigada!
Às bebetecas do CEI Darlan Dotto Wiersinski, do CMEI Padre Livio Donati, e tantas outras as quais visitei, sem a recepção e a disponibilidade do acesso
ao espaço e às informações nada seria possível! Meu muito obrigada!
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À Secretaria Municipal de Educação de Itapema, por conceder-me a licença para poder envolver-me ainda mais com o trabalho. Esse incentivo impulsionará minha carreira profissional e possibilitará que eu esteja ainda
mais capaz para exercer a função.
Muito obrigada a todos!
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A deslizar sereno sob o céu Luminoso, o barco deriva na
Idílica tarde de verão, ao léu...
Crianças ali perto aninhadas, Espertas, ouvidos atentos, esperam
Pela história que lhes será contada...
Lá no alto do céu há muito empalideceu, Ecos declinam, lembranças perecem. A friagem do outono, o verão varreu.
Senão que, espectral, ela segue a me obsedar,
Alice a percorrer estranhas terras Nunca vistas por quem não sabe sonhar.
Crianças que queiram esta história ouvir,
Espertas, ouvidos curiosos e Lúcidos, deve pertinho se reunir.
Imaginário País das Maravilhas percorrem,
Devaneando enquanto os dias passam, Devaneando enquanto os verões morrem.
Encantadas, pela corrente se deixam levar...
Lentamente sucumbindo ao fascínio da Lenda... Que mais é viver senão sonhar?
Lewis Carroll (2009, p. 316).
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RESUMO
Esta pesquisa, vinculada à linha de pesquisa Cultura, Tecnologia e Processos de Aprendizagem do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) e do grupo de pesquisa Cultura, Escola e Educação Criadora, teve uma proposta de abordagem qualitativa. A temática é a bebeteca, um espaço proposto para a mediação do literário com crianças pequenas. Discutem-se duas realidades de espaço de bebetecas, sendo uma na cidade de Itajaí (SC), o Centro de Educação Infantil (CEI) Darlan Dotto Wiersinski; e outro espaço na cidade de Castro (PR), o Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Padre Lívio Donati. A questão problema que norteou este estudo foi: Como ocorre a mediação do literário nas bebetecas? Assim sendo, o objetivo geral foi analisar como ocorre a mediação do literário nas bebetecas. Os objetivos específicos foram: apresentar concepções de bebetecas; identificar bebetecas no Brasil; discutir sobre os acervos literários das bebetecas do CEI Darlan Dotto Wiersinski e do CMEI Padre Lívio Donati; identificar as condições dos espaços físicos das bebetecas dos Centros de Educação Infantil, que foram foco desta pesquisa; identificar como as professoras interagem com a crianças durante os encontros literários nos dois Centros de Educação Infantil pesquisados. A coleta de dados foi feita por meio dos seguintes instrumentos: observação, entrevista, diário de bordo, documentos e fotos. A análise dos dados pautou-se na triangulação dos dados da observação, da entrevista e dos documentos. Os aportes teóricos que nortearam esta pesquisa foram: Escardó i Bás (1999), Instituto Espantapájaros (2014), Senhorini e Bortolin (2008), Pereira (2014), Barros e Santos (2009), os quais apresentam o conceito de bebeteca; Petit (2012, 2013a, 2013b), Reyes (2010, 2012, 2013, 2015, 2016), Reis (2014), Martins e Neitzel (2016), os quais tratam da importância de propor às crianças pequenas alimentos culturais literários, que lhes permitirão construir uma relação estética com o livro de literatura, para que elas comecem a apreciar a leitura e sintam-se afetadas por ela. Além desses autores, contou-se com Duarte Jr. (2010), que reflete sobre os primeiros encontros sensíveis dos sujeitos com a arte; Martins (2012a, 2012b, 2014), a qual traz a ação propositora como uma mediação provocada que gera experiências estésicas. Como resultados, indica-se que a mediação do literário proposta no interior das bebetecas é feita por objetos propositores como os livros, os adereços, os fantoches, por professores, pelas próprias crianças pequenas e pela família. A mediação é possibilitada, também, pela curadoria educativa, que transforma o espaço em um ambiente de aprendizagem, de trânsito e de encontros entre a criança, os professores e a família, favorecendo a educação estética. A concepção de mediação do literário nas bebetecas permite inferir que, para as professoras, a mediação se estabelece como trocas, diálogos, momentos que dão voz às crianças pequenas. É uma aprendizagem que explora a ludicidade e permite descortinar o livro como brinquedo. Com relação aos espaços, identificou-se que, no CEI Darlan Dotto Wiersinski, apesar de ser um espaço adaptado, ela possui estantes com livros, alguns na altura das crianças, e tapete no chão onde as crianças manuseiam os livros e ouvem histórias. Nesse espaço, há trânsito de pessoas, mas é um lugar onde ocorrem mediações. Já o CMEI Padre Livio Donati apresenta uma sala própria para bebeteca, com estante na altura das crianças, tapetes e almofadas que lhes permitem ficar em uma posição confortável no chão, com boa iluminação e paredes com os personagens das histórias. O acervo de ambas as bebetecas é bem variado, contemplando o gênero narrativo e lírico. Todos os livros estão à disposição das crianças podendo ser
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manuseados sem restrições. O trabalho desenvolvido pelas bebetecas permite uma educação estética das crianças pequenas, porque elas são educadas para apreciar os livros como objeto artístico e estético. A postura sensível das professoras possibilita que o movimento literário propicie momentos de troca, de interação, de afeto e de formação mútua. Esta pesquisa compreende a bebeteca como uma ação de aproximação das crianças com o livro, independentemente do espaço físico, seja uma sala, um canto ou mesmo uma cesta com livros, desde que, nesse espaço, haja a intenção de aproximar os livros das crianças pequenas, isto é, que seja produto de um projeto que pode ser construído e que seja de conhecimento de todos os docentes que fazem parte da Instituição. Outro aspecto importante trata-se da concepção do livro, que ele seja visto como um brinquedo, que possa estar nas mãos das crianças pequenas, para que elas possam entender sua função social. Palavras-chave: Bebeteca. Mediação cultural. Formação de leitores.
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ABSTRACT
This research, linked to the research line Culture, Technology and Learning Processes of the Postgraduate Program in Education of the University of Vale do Itajaí (UNIVALI) and the group of research Culture, School and Creative Education, had a qualitative approach proposal. The theme is ‘bebeteca’, a space proposed for mediation of the library literary collection with young children. Two realities of ‘bebetecas” are discussed, one in the city of Itajaí (SC), the Center for Early Childhood Education Darlan Dotto Wiersinski; and the other in the city of Castro (PR), the Municipal Center for Early Childhood Education Padre Lívio Donati. The problem question that underpinned this study was: How does the mediation of the literary in the ‘bebetecas’ occur? Thus, the main objective was to analyze how the literary mediation occurs in the ‘bebetecas’. The specific objectives were: present conceptions of ‘bebetecas’; identify ‘bebetecas’ in Brazil; discuss the literary collections of the ‘bebetecas’ of the Center for Early Childhood Education Darlan Dotto Wiersinski and the Municipal Center for Early Childhood Education Padre Lívio Donati; identify the conditions of the physical spaces of the ‘bebetecas’ of these Child Education Centers, which were the focus of this research; identify how the teachers interact with the children during the literary encounters in the two surveyed Child Education Centers. Data collection was conducted through the following instruments: observation, interview, journal, documents and photos. The data analysis was drawn from the triangulation of the interview, observation and document data. The theoretical contributions that guided this research were: Escardó i Bás (1999), Instituto Espantapájaros (2014), Senhorini and Bortolin (2008), Pereira (2014), Barros and Santos (2009), who present the concept of ‘bebeteca’; Petit (2012, 2013a, 2013b), Reyes (2010, 2012, 2013, 2015, 2016), Reis (2014), Martins and Neitzel (2016), who deal with the importance of proposing to young children literary cultural feeding, which allow them to build an aesthetic relationship with the literature book so that they begin to enjoy reading and are affected by it. In addition to these authors, we counted on Duarte Jr. (2010), who reflects on the first sensitive encounters of subjects with art; Martins (2012a, 2012b, 2014), who brings the proposed action as a provoked mediation that generates aesthesic experiences. As results, we indicate that the mediation of the literary proposed within the ‘bebetecas’ is made by propositional objects such as books, ornaments, puppets, by teachers, by the young children themselves and by the family. Mediation is also proposed by educational curatorship, which transforms the space into an environment of learning, transit and encounters between the child, teachers and family, favoring the aesthetic education. The conception of mediation of the literary in the ‘bebetecas’ allows to infer that, for the teachers, the mediation is established as exchanges, dialogs, moments that give voice to the young children. It is a learning that explores playfulness and allows to see the book as a toy. Regarding the spaces, we identified that, in the Center of Education Darlan Dotto Wiersinski, despite being an adapted space, it has shelves with books, some at the height of the children, and carpet on the floor where the children handle the books and listen to stories. In this space, there are people passing by, but it is a place where mediations take place. The Center of Education Padre Livio Donati has its own ‘bebeteca’, with a bookshelf on the same height of the children, carpets and cushions that allow them to be in a comfortable position on the floor, with good illumination and story characters on the walls. The collection of both ‘bebetecas’ is varied, contemplating the narrative and lyrical genre. All books are available to the children and can be handled without restrictions. The
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work developed by the ‘bebetecas’ allows an aesthetic education of young children because they are educated to appreciate the books as an artistic and aesthetic object. The sensitive posture of the teachers permits the literary movement to provide moments of exchange, interaction, affection and mutual education. This research comprehends the ‘bebeteca’ as an action of approximation of the children with the book, regardless of the physical space, whether it is a room, a corner or even a basket with books, provided that, in this space, there is the intention to bring the books closer to the small children, in other words, that is the product of a project that can be built and that is known to all the teachers who are part of the Institution. Another important aspect is the conception of the book, which should be seen as a toy that can be in the hands of the small children, so that they can understand its social function. Keywords: ‘Bebeteca’. Cultural mediation. Reader education
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Nuvem de palavras 1 31
Figura 2 - Demonstrativo da origem da palavra bebeteca 32
Figura 3 - Corpus da pesquisa - as sete bebetecas 38
Figura 4 - Pontos de observação 40
Figura 5 - Pontos observados sobre o espaço da bebeteca 40
Figura 6 - Pontos observados sobre o acervo da bebeteca 41
Figura 7 - Documentos analisados da bebeteca 41
Figura 8 - Instrumentos para coleta de dados 43
Figura 9 - Nuvem de palavras 2 102
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LISTA DE IMAGENS
Imagem 1 - Bebeteca CEI Darlan Dotto Wiersinsk 46
Imagem 2 - Bebeteca CMEI Padre Lívio Donati 48
Imagem 3 – Livros expostos na bebetecas 63
Imagem 4 - Biblioteca intinerante 64
Imagem 5 - Encontro de pais no CEI Darlan Dotto Wiersinsck 66
Imagem 6 - Mediação do literário 71
Imagem 7 - Experiências com o livro 73
Imagem 8 - Diálogo durantes as histórias 74
Imagem 9 – Crianças do CEI escolhendo seus livros 76
Imagem 10 - Leitura livre 77
Imagem 12 - Personagens do Sítio do Picapau amarelo 84
Imagem 11 - Casa da Cuca na Bebeteca 84
Imagem 13 - Alguns materiais que compõem o espaço da bebeteca 85
Imagem 14 - Acervo da bebeteca do CMEI Padre Lívio Donati 88
Imagem 15 - Aproximação com o livro 90
Imagem 16 - Caracterização da professora 91
Imagem 17 - Encontros literários 94
Imagem 18 - Manuseio dos livros 96
Imagem 19 - Bolsa de histórias 98
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Demonstrativo das pesquisas encontradas no banco de dados da CAPES e da BDTD 19
Quadro 2 - Demonstrativo das pesquisas encontradas no banco de dados da CAPES e da BDTD 21
Quadro 3 - Pesquisas encontradas com a palavra-chave “bebeteca” 26
Quadro 4 - Bebetecas no estado de Santa Catarina 36
Quadro 5 - Bebeteca no estado do Rio Grande do Sul 36
Quadro 6 - Bebetecas no estado do Paraná 36
Quadro 7 - Bebeteca no estado do Rio de Janeiro 36
Quadro 8 - Bebeteca no estado de Minas Gerais 36
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SUMÁRIO
1 O LIVRO EM MINHA VIDA, O PERCURSO COMO PESQUISADORA 15
1.1 A PRIMEIRA DESCOBERTA: LITERATURA PARA CRIANÇA PEQUENA 27
1.2 EM BUSCA DE ESPAÇOS DE LEITURA 35
1.3 OS ENCONTROS NAS BEBETECAS GERANDO DADOS 37
1.4 OS ENCONTROS DA PESQUISA 39
1.5 ANÁLISE DE DADOS 43
2 CONTEXTOS DA PESQUISA: BEBETECA EM AÇÃO 45
2.1 CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL DARLAN DOTTO WIERSINSKI 46
2.2 CENTRO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL PADRE LÍVIO DONATI 48
3 POR QUE LER PARA AS CRIANÇAS PEQUENAS? 50
4 ENCONTROS NA BEBETECA: CEI DARLAN DOTTO WIERSINSKI 60
4.1 O ESPAÇO 60
4.2 O ACERVO 67
4.3 A CRIANÇA PEQUENA E O LIVRO 70
4.4 A CRIANÇA PEQUENA, O LIVRO E A FAMÍLIA 76
5 ENCONTROS NA BEBETECA: CMEI PADRE LÍVIO DONATI 81
5.1 O ESPAÇO 83
5.2 O ACERVO 86
5.3 A CRIANÇA PEQUENA E O LIVRO 89
5.4 A CRIANÇA PEQUENA, O LIVRO E A FAMÍLIA 97
6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES 100
REFERÊNCIAS 100
APÊNDICES 115
15
1 O LIVRO EM MINHA VIDA, O PERCURSO COMO
PESQUISADORA1
Juntos naquela tarde dourada Deslizávamos em doce vagar,
Pois eram braços pequenos, ineptos, Que iam os remos a manobrar,
Enquanto mãozinhas fingiam apenas O percurso do barco determinar.
Lewis Carroll (2009, p. 10).
Foi assim, bem devagar fechei os olhos e comecei a
relembrar qual foi o início da leitura em minha vida. Nesse
voltar ao passado, surgiu o livro As Aventuras de Alice no
país das maravilhas. Ele vem ao encontro dos momentos da
minha infância, da leitura ao ser contada pela minha mãe em
nossa casa. O contato com a leitura deu-se apenas com esse
livro, que não acontecia com frequência. No entanto, recordo
que essa história se fez presente. Petit (2013a, p. 17) discute
que “[...] talvez toda pessoa que trabalha com a leitura
deveria pensar em seu próprio percurso como leitor”, para
compreender como se forma um leitor e como pode mediar
a leitura do literário. Meu percurso de leitora iniciou-se com
Lewis Carroll e, hoje, aqui trago minha experiência como
pesquisadora sobre formação de leitor.
Quando pequena, sempre fui fascinada pelos livros
infantis, apesar de eles não terem feito parte dos meus
brinquedos. Meu contato maior com outras obras eram
possibilitadas nos momentos de contação de histórias que
ocorreram no contexto escolar. Lembro-me da voz suave da
professora ao contar, que me seduzia envolvendo com o
1 Muitas foram as vezes que estive acompanhada de minha filha Livia Hasper Waltrick Melnick em meus momentos de estudo. Dentre tantos livros sobre a mesa, um em especial lhe chamou a atenção - o conto As aventuras de Alice no país das maravilhas. Esse livro a acompanhou por muitos dias, esteve entre suas brincadeiras, fez leituras para suas bonecas, andou de bicicleta com o livro na cestinha, guardou em sua bolsa; enfim, circulou pela casa com o livro. Algumas vezes, ela explicava aos seus colegas: “Esse livro é da mamãe, não posso tirar as fitas, mas ela me empresta”. Um dia, como tantos outros, quando ela me acompanhava em minhas escritas, algo em especial aconteceu: Livia, ao observar as imagens impressas no conto de Alice, resolveu fazer os seus próprios registros
MELNICK, 5 anos. MELNICK, 5 anos.
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enredo da história, bem como do movimento das mãos ao folhear cada página. Por
falar em páginas, estas ainda estão na minha memória: folhas finas e lisas com cores
bem expressivas. A cada conto ouvido, mais e mais aguçava o meu interesse e o
prazer em ouvi-los. Essas histórias passaram a fazer parte da minha infância, sendo
apreciadas e vividas na escola.
Com o passar dos anos, os livros infantis foram sendo substituídos pelos livros
didáticos, e a literatura foi sendo esquecida; poucos livros literários lembro-me de ter
lido. Minhas leituras, além dos livros didáticos, partiam de revistas, de jornais, o que
realmente minha família costumava ler. Raros foram os encontros na biblioteca.
Realmente, esse espaço teve sentido para mim na universidade, pois foi ali que,
inúmeras vezes, tive contato com novas obras, mas todas destinadas aos conteúdos
explorados pelas disciplinas. A literatura continuava ausente.
A escolha pela profissão de professora aconteceu por volta dos dezesseis
anos. Em uma conversa informal, duas colegas que estavam ingressando no curso
do Magistério convidaram-me para participar de uma aula experimental. Já, no
primeiro dia, fiquei interessada e motivada a continuar a frequentar as aulas. Ao
término do curso do Magistério, iniciei o curso de Pedagogia. Naquele mesmo ano,
ingressei no campo profissional, com uma turma de primeira série do Ensino
Fundamental. Nesse grupo, um dos objetivos principais trabalhados foi a
alfabetização.
No segundo ano profissional, percebi que as turmas das crianças pequenas
faziam mais sentido para mim, pois, nos momentos que tinha oportunidade de estar
com os pequenos, eu tinha vontade de ficar ali, brincando e interagindo com eles.
Assim, no ano de 2000, iniciei um novo desafio: trabalhar com a turma de berçário,
com as crianças pequenas de um ano.
Os momentos de leituras sempre estiveram presentes na rotina proposta em
minhas aulas. Diariamente, proporcionava encontros - eu convidava as crianças
pequenas para ouvirem e manusearem livremente os livros, porém, na maioria das
vezes, com o enfoque pedagógico. Ao ler uma história, envolvia uma ação pedagógica
das personagens que mais lhe chamaram a atenção: Alice e o coelho. Certamente, esses registros não poderiam ser esquecidos, pelos momentos que juntas desfrutamos. Assim, os desenhos impressos no início de cada capítulo desta dissertação e na dedicatória são uma forma de agradecimento - uma companhia que, apesar de pequena, compartilhou horas e horas deste trabalho.
17
como: culinária, dobradura, pintura, imitação das personagens, fantoches, máscaras,
entre outros, não me permitindo apenas a leitura - eu estava sempre condicionada às
atividades. Era o que sabia e aprendi a fazer.
Nesse percurso como professora, acompanhada de minha paixão pelas
histórias infantis resgatadas da infância, levaram-me a idas às livrarias - encanto que
me acompanha até os dias atuais, fazendo parte da minha vivência, pois sempre que
posso procuro adquirir novos livros. Possuo uma pequena biblioteca composta por
volta de cem livros de literatura infantil. A ausência das obras literárias em minha
infância instigou-me a tê-las para minha filha, compensando minha limitação de
leituras no passado. Com esse acervo, oportunizo momentos agradáveis de leituras,
repetindo minha experiência maternal, como uma tradição de acalento ao fazê-la
dormir. Sento-me ao lado dela na cama e, ali, aninhadas, lemos e lemos mais
histórias. Esse é um ritual vivido por nós. Pennac (2008, p. 31) aponta: “Sem saber,
descobríamos uma das funções essenciais do conto e, mais amplamente, da arte em
geral, que é impor uma trégua ao combate entre os homens. O amor ganhava pele
nova. Era gratuito”. Esse momento de troca de amor, pela arte de ler, revela o elo
gratuito entre mãe e filha. Pelo ouvir as histórias, cela uma nova história no livro da
intimidade, do afeto e das lembranças, A obra literária situando-se como objeto
estético propõe um encontro maternal sensível, repercutido em outra geração.
Após quinze anos exercendo a função de professora com crianças de um a três
anos, senti a necessidade de retornar à academia e pesquisar sobre a formação do
leitor nessa fase da vida. Ao ser escolhida e poder participar do grupo de pesquisa
Cultura, Escola e Educação Criadora, percebi, desde o início, o quanto minha prática,
com relação à literatura, tinha novos desafios a serem superados. A cada novo
encontro, novos conhecimentos na busca de melhorar o contato com os livros e as
crianças pequenas. O desafio era deixá-los manusear livremente as obras.
Durante as disciplinas do Mestrado, participei do seminário Leitura do Literário,
no qual tive a oportunidade de ler três clássicos da literatura, Madame Bovary, de
Flaubert; Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis; e Dom Quixote
de La Mancha, de Miguel Cervantes. Um título no qual me permiti a releitura foi As
Aventuras de Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, de forma a resgatar as
memórias da infância. Assim, a mediação provocada pela professora apresentou-me
a outras obras literárias, ampliando meu repertório de literatura infantil para literatura
18
adulta nunca antes lida por mim, mostrando-me a importância de conhecer os
clássicos, de como mediar e se perder neles.
Kupiec, Neitzel e Carvalho (2016, p. 24) falam sobre a mediação cultural nos
espaços educativos, pois esses espaços “[...] são também responsáveis por estimular
o contato com a arte e, nessa interação, pode-se levar os sujeitos a serem capazes
de perceber, ver, sentir, apreciar e produzir, percebendo-se atores de sua história”.
Foi essa sensação que senti, muitas vezes. Durante esse período, perguntei-me:
“Onde estive nesse tempo todo que não procurei dedicar-me a esse prazer, em
deliciar-me com uma boa história?”. Confesso que, por vezes, tive vergonha do grupo,
mas, ao mesmo tempo, agradecida por estar ali tendo a experiência de poder ler e
conhecer o mundo literário adulto e gostar ainda mais dos livros. Petit (2013a, p. 62)
afirma que “[...] para transmitir o amor pela leitura, e em particular pela leitura de obras
literárias, é preciso tê-lo experimentado”. Nesse sentido, envolver-me com as histórias
literárias fez e tem feito toda diferença para mim, pois o contato com o objeto estético
livro e a mediação oportunizam um novo espaço no cotidiano.
Uriarte, Neitzel e Carvalho (2016, p. 188) apontam que a educação estética
se constitui pelas aprendizagens que ocorrem pelas experiências cognitivas, pelos
sentidos e pelos afetos. As autoras evidenciam que se ocupar “[...] com a estética, a
partir do século XVII, é lidar com o mundo sensível, isto é, com possibilidades de
aprender o mundo pelas vias sensoriais, pela percepção, participando de diferentes
manifestações de acontecimentos do mundo”. Com minhas vivências com o objeto
estético, durante os seminários, novos livros foram adquiridos, novas leituras foram
realizadas e o prazer de ler, contemplar e refletir sobre a obra e sobre a vida tomou
sentido. As autoras afirmam que a educação do sensível é um movimento
contemplativo que não se dá apenas na subjetividade, mas, principalmente, no
pensamento reflexivo, pois razão e sensibilidade são complementares.
Nos seminários, novos questionamentos quanto a minha prática foram
surgindo, dentre eles a importância de escolher uma boa obra para ser lida para as
crianças pequenas. Assim, fiz uma busca dentre os livros infantis que possuía, no
intuito de saber quais deles tinham uma boa história, que tivessem desdobramentos
e permitissem deslocamentos, qualidade estética imprescindível que contribui para
formar leitores que pensam e sintam o deleite da obra.
19
Dentre as obras que possuo em minha biblioteca pessoal, alguns títulos podem
ser trabalhados com as crianças pequenas. Percebi que alguns livros possuem a
hipertextualidade, elemento muito discutido quando se trata da qualidade de um livro
de literatura. Martins e Neitzel (2016, p. 44) ressaltam que a hipertextualidade “[...]
permite ao leitor no ato da leitura conectar, efetuar combinações e permutações de
diferentes textos que convivem na mesma narrativa”. Para tanto, esse tipo de obra
oferece aberturas, entrecruzamentos; são livros que provocam o leitor. Dos cem livros
que possuo, trinta e oito possuem características que se aproximam do que as autoras
propõem a respeito de hipertextualidade.
Com o desejo de ampliar meu olhar, de fortalecer e de revelar estudos já
existentes no contexto de Educação Infantil, que pudessem orientar os colegas
professores que também trabalham nessa área, procuramos (a partir de agora minha
orientadora e eu) concentrar leituras que priorizassem as mediações de leituras com
crianças pequenas. Buscamos nos sites da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações
(BDTD), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
nos últimos anos, pesquisas brasileiras que contemplassem a palavra-chave “bebê
AND leitura”. Nos portais, encontramos quatro pesquisas brasileiras que envolviam o
tema em questão. A seguir, o Quadro 1 mostra as pesquisas selecionadas com os
respectivos títulos, autores e o ano de defesa.
Quadro 1 - Demonstrativo das pesquisas encontradas no banco de dados da CAPES e da BDTD com o tema “bebê AND leitura” no período de 2011 a 2017
AUTOR PESQUISA PORTAL ANO Liliane Resende
Laviano
Apresentação de um programa de formação de professores de educação infantil em desenvolvimento de linguagem (Dissertação).
CAPES 2015
Nivia Barros Escouto
A formação do leitor-literário na educação infantil (Dissertação).
BDTB 2013
Marcela Souza de Almeida
Leitura de histórias infantis em UTI neonatal: uma estratégia voltada para a relação mãe jovem bebê (Dissertação).
BDTB CAPES
2013
Rosele Martins Guimarães
Encontros, cantigas, brincadeiras, leituras: um estudo acerca das interações dos bebês, crianças bem pequenas e o objeto livro numa turma de berçário (Dissertação).
BDTB
2011
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa.
A pesquisa de Laviano (2015), intitulada Apresentação de um programa de
formação de professores de educação infantil em desenvolvimento de linguagem,
desenvolveu um programa de formação para os professores da Educação Infantil, no
20
intuito de ter como elemento de reflexão o desenvolvimento da linguagem. O estudo
apontou que a formação de professores possibilita transformações nas práticas dos
professores, no que tange à autonomia para planejar, para determinar os objetivos e
para observar as crianças.
Em se tratando de mediação do literário, dois trabalhos estão relacionados a
essa temática, sendo eles: A formação do leitor- literário na educação infantil, de
Escouto (2013), e Encontros, cantigas, brincadeiras, leituras: um estudo acerca das
interações dos bebês, crianças bem pequenas e o objeto livro numa turma de berçário,
de Guimarães (2011)2. Escouto (2013) evidenciou que as ações desenvolvidas
oferecem condições e elementos para que a formação se institua e se consolide.
Nesse sentido:
A formação do leitor-literário passa, pela relação entre as palavras das crianças e as dos outros que participam da construção da história de leitura da criança e lhe possibilitam a aprendizagem e o desenvolvimento do que se refere à produção literária e a outros enunciados próprios desse campo de conhecimento. (ESCOUTO, 2013, p. 9).
Guimarães (2011, p. 8), em um de seus resultados, apontou que não basta o
bebê ter apenas o acesso aos livros, o bebê precisa, também, de “[...] uma mediação
lúdica, livre de regras reguladoras, mas repletas de experiências criativas, que
potencializem o desejo e as formas de uso do livro”. A autora evidencia a importância
de o livro ser uma ferramenta que vem a possibilitar adultos e bebês em uma nova
cultura dos livros.
A pesquisa de Almeida (2013), Leitura de histórias infantis em UTI neonatal:
uma estratégia voltada para a relação mãe jovem bebê, apresenta o projeto Biblioteca
viva, onde mães e recém-nascidos da UTI neonatal têm a oportunidade de aproximar-
se e estar em contato com os livros. Almeida (2013, p. 8) apresenta, entre seus
resultados, que o momento de contação de histórias na UTI neonatal, que tem por
objetivo “[...] aproximar mãe e bebê, possibilita para esse par um momento em que o
foco principal não seja relativo ao adoecimento e vem a somar às propostas de
atenção a essa clientela e às estratégias de aproximação da dupla mãe-bebê”. Ao
analisarmos as quatro pesquisas, evidenciamos que, apesar de três pesquisas
estarem em um ambiente educacional e uma estar em um hospital, a mediação do
2 Esta pesquisa apresenta-se com ambas as palavras-chave bebê AND leitura / Criança pequena AND leitura.
21
literário, o encontro da criança pequena com o livro, acontece com a presença de um
adulto.
Para continuar a pesquisa nos bancos de dados, utilizamos a palavra-chave
“criança pequena AND leitura”. Com ela, encontramos trabalhos, brasileiros, nos sites
da BDTD e da CAPES. Selecionamos dez pesquisas que abordam a faixa etária das
crianças de até três anos de idade, dos últimos seis anos, que tratam especificamente
sobre o tema em questão. O Quadro 2, a seguir, mostra as pesquisas selecionadas
com os respectivos títulos, autores e o ano de defesa.
Quadro 2 - Demonstrativo das pesquisas encontradas no banco de dados da CAPES e da BDTD
com o tema “criança pequena AND leitura” no período de 2011 a 2017
AUTOR PESQUISA PORTAL ANO Ana Carolina de Azevedo Mello
Bibliotecas públicas e escolares da cidade de Cornélio Procópio - PR: desafios dos mediadores de leitura para a formação de leitores (Dissertação).
CAPES 2016
Eritania Silmara de Brittos
A importância dos contos de fadas para o desenvolvimento psicossexual da criança: o que pensam, o que dizem e o que fazem as professoras? (Dissertação).
CAPES 2016
Priscila de Oliveira Dornelles Machado
A Creche UFF e sua Flor de papel: uma análise sobre a produção de conhecimento de uma Biblioteca Escolar Infantil (Dissertação).
CAPES 2016
Renata de Almeida Torres Vilhena
Literatura na Educação Infantil: práticas pedagógicas e a formação da criança pequena (Dissertação).
BDTB CAPES
2014
Gesiele Reis
Literatura para os pequenos: experiências de San Miniato (Dissertação).
CAPES 2014
Daniela Gaspar Pedrazzoli Bagnasco
Leitura de histórias na educação infantil: como se desenvolve? (Dissertação).
BDTB 2014
Luciano Eiken Senaha
Quais as contribuições neurocientíficas para o letramento emergente na educação infantil em crianças de 0 a 5 anos de idade? (Dissertação).
BDTB CAPES
2013
Cinthia Silva de Albuquerque
Os acervos, os espaços e os projetos de leitura em instituições públicas de educação infantil do Recife (Dissertação).
BDTB 2012
Keyla Andrea Santiago Oliveira
A experiência estética na educação da infância: uma crítica no contexto da indústria cultural (Tese).
BDTB 2012
Rosele Martins Guimarães
Encontros, cantigas, brincadeiras, leituras: um estudo acerca das interações dos bebês, crianças bem pequenas e o objeto livro numa turma de berçário (Dissertação).
BDTB 2011
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa.
Foi possível subdividir essas pesquisas em temas relacionados, a saber:
políticas públicas, mediação de leitura, estética e espaços. Evidenciamos três
pesquisas, sendo elas de Albuquerque (2012), Brittos (2016) e Mello (2016), as quais
apontam políticas públicas de investimentos.
22
A pesquisa de Albuquerque (2012) - Os acervos, os espaços e os projetos de
leitura em instituições públicas de educação infantil do Recife - aborda sobre os
investimentos públicos nos espaços e nos acervos da Educação Infantil. Albuquerque
(2012) evidencia a fragilidade do espaço da biblioteca nas instituições de Educação
Infantil que foram analisadas, bem como poucos cantinhos de leituras nas salas de
aula. A pesquisadora sinaliza que as instituições possuem livros de literatura infantil
com qualidade, porém, pela ausência do espaço, os livros ficam guardados nos
armários, dificultando o acesso das crianças aos livros. Quanto à mediação de leitura,
a autora pontua que a mediação, pela grande parte das instituições, fica a cargo da
professora de sala. A pesquisa apresenta três elementos fundamentais, que são as
ações articuladas as quais envolvem “[...] os espaços organizados para ler, o acervo
e a mediação de leitura” (ALBUQUERQUE, 2012, p. 8). Em seus resultados, a autora
evidencia a importância dos investimentos públicos para “[...] oferecer condições
básicas para concretizar com qualidade a formação de crianças leitoras desde a
Educação Infantil” (ALBUQUERQUE, 2012, p. 8).
Em se tratando de políticas públicas de investimentos para formação de
professores, a pesquisa de Brittos (2016) - A importância dos contos de fadas para o
desenvolvimento psicossexual da criança: o que pensam, o que dizem e o que fazem
as professoras? - aponta que o trabalho com os contos de fadas possibilitou olhar para
a primeira infância. Entretanto, a pesquisadora evidencia a necessidade de formação
em educação sexual emancipatória para os professores de Educação Infantil do
município de Francisco Beltrão (PR).
Mello (2016), em seu trabalho Bibliotecas públicas e escolares da cidade de
Cornélio Procópio - PR: desafios dos mediadores de leitura para a formação de
leitores, investiga os mediadores de leituras que atuam nas bibliotecas públicas
escolares da cidade de Cornélio Procópio. Os resultados apontam que existem
dificuldades nas instituições analisadas. A autora sinaliza que poucos mediadores
realizam práticas de leituras sistematizadas, suas ações são mais intuitivas. Mello
(2016) evidencia que os profissionais que atuam nas bibliotecas não possuem
conhecimento sobre a existência de políticas públicas na esfera municipal, estadual e
federal, que possam orientar em suas ações para a formação de leitores.
As palavras-chave “criança pequena AND leitura” levaram-nos a três trabalhos
que evidenciam a importância da mediação de leitura proposta pelo professor para
23
que a criança pequena tenha contato com os livros. Guimarães (2011), em Encontros,
cantigas, brincadeiras, leituras: um estudo acerca das interações dos bebês, crianças
bem pequenas e o objeto livro numa turma de berçário, apresenta a mediação lúdica
do professor como forma de aproximar as crianças, de uma turma de berçário, do
objeto livro3. Outra autora que aponta a ação do professor é Bagnasco (2014), em sua
pesquisa Leitura de histórias na educação infantil: como se desenvolve? O estudo
apresenta o papel importante do professor ao promover a prática de leitura de história
com as crianças. Há evidencias da influência da ação das professoras quando as
crianças desenvolvem as suas próprias leituras. Estas imitam as professoras fazendo
gestos, bem como, segundo Bagnasco (2014, p. 8), “[...] apropriam-se de forma
inventiva das histórias e dos suportes, atribuindo a estes outros usos”.
A pesquisa de Vilhena (2014) trata do uso da literatura infantil nas práticas
pedagógicas com as crianças pequenas. Em seus resultados, a autora evidencia a
[...] importância do desenvolvimento de atividades de linguagem, oral e escrita, junto à criança pequena - inserida na primeira etapa da educação básica - e explicita-se o necessário cuidado e planejamento com o contexto, espaços e tempos destinados à implementação da ação pedagógica que, evidentemente, se dá em determinada cultura. (VILHENA, 2014, p. 8).
O estudo busca contribuir com a prática de leitura, para que a criança pequena,
desde cedo, interaja com o mundo letrado. A autora apresenta uma educação para a
liberdade como ação pedagógica que possibilita as crianças pequenas exercitarem a
“[...] sua capacidade de análise de textos e contextos, de criatividade e de abertura
para novos olhares” (VILHENA, 2014, p. 8).
A pesquisa de Senaha (2013), intitulada Quais as contribuições neurocientíficas
para o letramento emergente na educação infantil em crianças de 0 a 5 anos de
idade?, aponta a necessidade de novos estudos, novas reflexões e teorias que
abordem e “[...] fundamentem o encadeamento da perspectiva biológica às
perspectivas culturais do letramento emergente, principalmente naquela que a
investiga de forma multidisciplinar” (SENAHA, 2013, p. 7-8). A pesquisa aponta para
a fragilidade em estudos nessa área e que o tipo de abordagem teórica, baseada em
evidências acadêmico-científicas, possibilita fundamentar a prática dos educadores
das famílias e as políticas públicas.
3 O trabalho Encontros, cantigas, brincadeiras, leituras: um estudo acerca das interações dos bebês, crianças bem pequenas e o objeto livro numa turma de berçário também consta no Quadro 1.
24
Os espaços da biblioteca na Educação Infantil foram abordados por Machado,
P de O. D. (2016) na pesquisa A creche UFF e sua Flor de papel: uma análise sobre
a produção de conhecimento de uma Biblioteca Escolar Infantil. O estudo buscou
investigar a relação da criança com o livro e a literatura, em espaços específicos como
a biblioteca, pensada e organizada para receber crianças de um a cinco anos. A
pesquisa apontou que a biblioteca escolar aproxima a criança da literatura infantil e é
um espaço que produz experiências de infância e de culturas, de forma que as
crianças
[...] criam e recriam livremente suas vivências e interações com os livros, com seus pares e com os adultos além de afirmar a identidade da Biblioteca Flor de Papel como um ambiente da educação infantil que visa contribuir para a formação dos pequenos leitores e produz conhecimento sobre as crianças e a infância no contexto da leitura e da literatura infantis. (MACHADO, P de O. D., 2016, p. 8).
Ao analisarmos as pesquisas mapeadas, identificamos que duas aparecem
relacionadas à educação estética. Oliveira (2012), com a pesquisa intitulada A
experiência estética na educação da infância: uma crítica no contexto da indústria
cultural, busca evidenciar que a educação estética é possível. A autora discute que a
educação estética proposta para o ambiente educacional infantil contrapõe a
concepção de obra de arte. Ela salienta que a obra de arte é explorada no viés do
comércio, com a “[...] ideia de naturalidade, de fuga da existência do duro cotidiano,
entretenimento barato”. Nesse sentido, o estudo traz como proposta “[...] o respeito
pela arte, respeito que se estende às crianças, à infância e a uma educação estética
possível”. Outra autora que discute a temática na infância é Reis (2014) em sua
pesquisa Literatura para os pequenos: experiências de San Miniato. A pesquisadora
aponta que a literatura em San Miniato, Itália, não parte de projetos; são os projetos
que partem da literatura. A literatura é possibilitada às crianças para que elas apreciem
e sintam-se afetadas por ela, pelo viés estético.
Os Quadros 1 e 2, mostrados anteriormente, apontam a fragilidade em número
de pesquisas na área que envolvem crianças pequenas e leitura. Ao observarmos os
anos das pesquisas, há uma ordem crescente, pois, no ano de 2011, havia uma
pesquisa, a qual aparece com ambas as palavras-chave. Já, no ano de 2016, foram
encontradas três pesquisas, o que evidencia um crescimento. Apesar desse
crescimento, há necessidade de aprofundar os estudos.
25
Assim, nas pesquisas do Grupo Cultura, Escola e Educação Criadora, surgiu o
assunto “bebetecas”, pouco discutido e que despertou nossa curiosidade. Decidimos,
dessa forma, pesquisá-lo. Aceitamos o desafio em conhecer esse espaço destinado
a leituras para a criança pequena. Com as pesquisas apontadas nos Quadros 1 e 2,
selecionamos, principalmente, a dissertação de Reis (2014), pois a autora
desenvolveu seu trabalho de pesquisa em um local que tem uma concepção de
literatura. A autora discute sobre a experiência literária para os pequenos em San
Miniato. A pesquisadora não aborda o tema “bebeteca”, mas evidencia a importância
da literatura para os pequenos em sua rotina, da existência de projetos de formação
de leitores e sobre a relação estreita entre criança, professores e, em especial, a
família.
Em seus resultados, Reis (2014) aponta-nos que a literatura em uma escola de
San Miniato é experiência de ações do dia a dia da criança, sendo ela entrelaçada
com outras atividades, tanto na esfera educacional como familiar. As crianças veem o
livro como um brinquedo, o livro é percebido como um objeto estético, e os projetos
da escola partem da literatura. A mediação é provocada pelos professores com vistas
a envolver as famílias e as crianças na creche. O contato com o livro é permitido à
criança de forma livre, a criança manipula a obra no momento que sente vontade, o
que “[...] contribui para o estabelecimento de uma relação afetiva com o livro e,
consequentemente, na construção de um leitor. [...] em San Miniato há uma rotina
transdisciplinar em que a literatura é um instrumento de apreciação inferindo a
educação para o sensível” (REIS, 2014, p. 7). A autora traz a presença forte da
literatura no ambiente escolar e nas mais variadas possibilidades cotidianas em que
as crianças lidam com o livro de forma espontânea, bem como a presença da família
junto aos professores, envolvendo-se no processo de educação para o sensível.
Outro critério para a escolha da pesquisa de Gesiele Reis (2014) foi a
participação da autora no mesmo grupo de pesquisa do qual participamos. Existiu,
desse modo, uma afinidade nas concepções e no aporte teórico. Além disso, as
experiências da pesquisadora em San Miniato trouxeram reflexões importantes para
o contexto desta pesquisa. Assim, apropriamo-nos delas para discuti-las nas próximas
páginas.
Partimos, então, em busca de trabalhos, já existentes no país, com a palavra-
chave “bebeteca” nos sites da BDTD, da CAPES e da Scientific Electronic Library
26
Online (SCIELO), nos últimos anos - entre 2008 e 2016. As pesquisas encontradas
estão no Quadro 3 que segue.
Quadro 3 - Pesquisas encontradas com a palavra-chave “bebeteca” Autores Título Ano Local de
busca
Mariana Senhorini Sueli Bortolin
Bebeteca: uma maternidade de leitores (Artigo).
2008 CAPES
Alessandra Barros Ana Paula Souza dos
Santos
Incentivo da leitura e atividades lúdicas a crianças de 0 a 3 anos de idade: bebeteca e brinquedoteca uma oportunidade no desenvolvimento e hábito pela leitura (Artigo).
2009 CAPES
Fernanda Rohlfs Pereira
Práticas de leitura literária na educação infantil: como elas ocorrem em turmas de uma UMEI em Belo Horizonte? (Dissertação)
2014
CAPES
Fernanda Rohlfs Pereira
Práticas de leitura literária na educação infantil: como elas ocorrem em turmas de uma UMEI de Belo Horizonte? (Dissertação)
2014
BDTD
Renata Junqueira de Souza
Juliane Francischeti Martins Motoyama
Bebeteca: espaço e ações para formar o leitor (Artigo).
2016 CAPES
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa.
Como podemos perceber, em nove anos, apenas cinco pesquisas – sendo
duas a mesma - foram encontradas envolvendo a palavra-chave “bebeteca”. Isso
evidencia o pequeno volume de pesquisas brasileiras referentes ao tema em questão.
Mediante esse dado, justifica-se o desenvolvimento desta pesquisa para dar mais
visibilidade na necessidade de ampliar-se os espaços de leitura para crianças
pequenas.
Assim sendo, esta dissertação está organizada em cinco capítulos. No primeiro,
O livro em minha vida, o percurso como pesquisadora, trouxemos a formação leitora
da pesquisadora, as atuais pesquisas que sustentam o tema em questão, dentre os
quais citamos Escardó i Bás (1999), Instituto Espantapájaros (2014), Senhorini e
Bortolin (2008), Pereira (2014), Barros e Santos (2009), que apresentam o conceito
de bebeteca. Também abordamos a metodologia da pesquisa, no intuito de revelar o
caminho percorrido da pesquisa e a questão problema que norteia toda a pesquisa:
Como ocorre a mediação do literário nas bebetecas?
No segundo capítulo, Contextos da pesquisa: bebeteca em ação, apresentamos
os sujeitos e os espaços desta pesquisa, sendo um o CEI Darlan Dotto Wiersinski, na
27
cidade de Itajaí, Santa Catarina, e o outro o CMEI Padre Livio Donati, em Castro,
Paraná. Não temos interesse em comparar os espaços de leitura, mas sim conhecer
o perfil dos ambientes educativos nos quais foram coletados os dados para a análise
da pesquisa.
No terceiro capítulo, Por que ler para as crianças pequenas?, trazemos
reflexões a respeito da literatura, cujo referencial está pautado em Eco (2003), que
aponta as funções da literatura, entre elas a “gratia sui”, leitura para puro deleite.
Buscamos, em Reyes (2010), entender como ela aborda os encontros com a leitura
ao intitulá-los como triângulo amoroso (adulto, criança, livro). Em Barthes (2013),
procuramos evidenciar o conceito de texto fruição que se difere do texto de prazer.
Com Petit (2013b), procuramos entender sobre a importância da familiaridade precoce
com os livros.
O quarto capítulo, Encontros na bebeteca: CEI Darlan Dotto Wiersinski,
apresenta a análise da bebeteca desse CEI, seu espaço, o projeto bebeteca, a
qualidade do acervo e a mediação da professora. Para tal análise, contamos com
autores como: Reyes (2010, 2012, 2013), Martins e Neitzel (2016), Reis (2014),
Duarte Jr. (2010) e Martins (2012a, 2012b).
No quinto capítulo, Encontros na bebeteca: CMEI Padre Lívio Donati, fazemos
a mesma abordagem, mais focada no CEI. A intenção é debater o projeto da bebeteca,
o espaço, a qualidade dos livros e como ocorrem as mediações na bebeteca. A análise
está pautada nos autores: Reyes (2010, 2012, 2015, 2016), Martins e Neitzel (2016),
Reis (2014), Duarte Jr. (2010) e Martins (2012a, 2012b, 2014). No sexto capítulo,
trazemos algumas considerações a respeito do conceito de bebeteca que entendemos
ser o mais próximo à realidade brasileira na intenção de formar leitores.
Para entender como começou esse espaço de leitura, convidamos, você
leitor(a), a conhecer as primeiras descobertas referentes ao tema bebeteca.
1.1 A PRIMEIRA DESCOBERTA: LITERATURA PARA A CRIANÇA PEQUENA
E como iria reunir outras criancinhas à sua volta e tornar os olhos delas brilhantes e impacientes com muitas
histórias estranhas, talvez até com o sonho do país das maravilhas de tanto tempo atrás.
Lewis Carroll (2009, p. 149).
28
Pela pesquisadora ser professora de Educação Infantil, por apreciar os
momentos vivenciados com as crianças pequenas, em que a literatura se faz
presente, momentos como estes no conto de Lewis Carroll configuram a receptividade
positiva das crianças pelas histórias. Passamos, assim, a pesquisar sobre esse
espaço de leitura denominado “bebeteca”. Após lermos algumas pesquisas já
existentes, selecionamos algumas para entender e discutir o conceito desse espaço.
Segundo Escardó i Bás (1999), a bebeteca é um:
Servicio de atención especial para la pequeña infancia (de O a 6 años) que incluye, además de un espacio y un fondo de libros escogidos para satisfacer las necesidades de los más pequeños y de sus padres, el préstamo de estos libros, charlas periódicas sobre su uso y sobre los cuentos, asesoramiento, y una atención constante por parte de los profesionales de la biblioteca hacia sus usuarios4. (ESCARDÓ I BÁS, 1999, p. 10).
Considerar que a bebeteca oferece um atendimento especial para a criança
pequena que precisa de um espaço próprio já é um grande avanço, tendo em vista
que, nem sempre, se considera que os pequenos necessitam de uma bebeteca, pois
subestima-se a sua capacidade de compreensão. “Especial” significa que ela está
focada na criança pequena de forma que ela se identifique com o material, que ela
tenha mais acesso. Diante dessa concepção, evidencia-se que a bebeteca precisa de
um espaço próprio e adequado na acolhida dos livros e das crianças pequenas, onde
haja uma mediação, que pode ser dos bibliotecários, dos professores ou dos pais. A
intenção é aproximar os pequenos dos livros, pelo manuseio livre das obras ao tocá-
las; pela escuta; pelas trocas ao compartilhar; pelo observar ao olhar; enfim,
possibilitar aos pequenos afetar-se pelos livros.
Em se tratando das pesquisas analisadas, Pereira (2014) apresenta o conceito
de bebeteca discutido por Escardó i Bás (1999). Já Senhorini e Bortolin (2008, p. 129)
conceituam bebeteca como “[...] uma biblioteca especialmente destinada para os
bebês, seus pais ou responsáveis em trabalhar todas as possibilidades de leitura e
envolvendo a criança e o mundo lúdico, despertando primeiramente, o prazer e a
paixão pela leitura”. Esse conceito traz, dessa forma, a bebeteca como lugar
especializado para os bebês, para os pais e para os responsáveis. Pontuamos a
4 “Serviço de atenção especial à primeira infância (de 0 a 6 anos), que inclui, além de um espaço e uma coleção de livros escolhidos para atender às necessidades dos mais pequenos e seus pais, o empréstimo desses livros, conversações periódicas sobre as histórias, conselhos e atenção constante de profissionais de biblioteca aos seus usuários.” (ESCARDÓ I BÁS, 1999, p. 10, tradução nossa).
29
importância em cultivar esse laço com a leitura em família, sendo a família também
leitora e partícipe desse momento da mediação do literário com a criança pequena.
As autoras relacionam o livro com o mundo lúdico, concepção que nos permite
relacionar o livro com o brinquedo. Entretanto, sinalizamos que, para o livro ser visto
pela criança pequena como um brinquedo, ele necessita ser explorado de forma livre,
contínua e apreciativa. Defendemos, portanto, um explorar em que a criança pequena
possa realmente construir uma relação de intimidade com o livro. Essa relação
demanda toque, cheiro, sabor, brincadeira. Assim, evidenciamos a importância do
brincar nesse processo, pois ele é inerente ao ser criança. A brincadeira é uma
estratégia de trazer a criança para o livro, que pode dar-se pela exploração do
momento de leitura em voz alta pelo adulto. Brincar e ler podem ser atos
complementares presentes na rotina da criança, nos encontros na bebeteca, pois o
manusear e o ouvir histórias são ações que aguçam o imaginário da criança, o faz de
contas e são requisitos importantes para a formação do pequeno leitor.
Senhorini e Bortolin (2008) apontam que cabe à bebeteca despertar o prazer e
a paixão; assim como Pennac (2008, p. 108) que compara a leitura prazerosa com o
ato de enamorar “[...] eu, nunca tive tempo para ler, mas nada, jamais, pôde me
impedir de terminar um romance de que eu gostasse”. É nesse mesmo viés que
defendemos que o livro seja possibilitado à criança pequena, não como obrigação,
aprisionamento, mas que as crianças pequenas se sintam afetadas pelo livro, como
elas são pelo brinquedo.
Barros e Santos (2009) apresentam a bebeteca como
[...] um local propício para crianças de oito a três anos iniciarem o primeiro contato com os livros. Um local pequeno, com livros adequados, almofadas pelo chão, com o objetivo de fazer com que as crianças se sintam bem, e a professora ou bibliotecária possa realizar suas atividades da melhor maneira possível, alcançando os objetivos desejados”. (BARROS; SANTOS, 2009, p. 49).
As autoras afirmam ser um espaço destinado às crianças pequenas, um
espaço que tem a preocupação em desenvolver atividades com os livros. Essa
compreensão implica em atividades de mediação que envolvem os livros e permitam
que a criança pequena se sinta afetada.
O Instituto Espantapájaros (2014), na Colômbia5, entende que a bebeteca é
5 Projeto cultural que incentiva a leitura e a expressão artística, promovendo um encontro criativo com literatura e arte. Disponível em: <http://espantapajaros.com/>. Acesso em: 20 abr. 2017.
30
[...] una biblioteca especializada en literatura para la primera infancia, del jardín infantil, de la librería y de los talleres para niños y adultos, construimos alternativas pedagógicas para que los niños crezcan como lectores, escritores y sujetos de lenguaje desde el comienzo de lavida 6. (INSTITUTO ESPANTAPÁJAROS, 2014, s/p).
Nesse espaço da bebeteca, uma vez por semana, acontece o “cuento em
panãles” (contos em fraldas) - uma oficina literária para os bebês a partir de oito
meses. Os bebês vão acompanhados de sua mãe, de seu pai, de seus avós, para que
possa “[...] tocar, ver y morder libros de imágenes; escuchar y moverse al ritmo de
poemas, rimas y canciones; sentir la arena y la grama entre sus deditos”7. É, também,
uma definição que propõe a bebeteca como um espaço especializado para a criança
pequena, mostrando a sua importância para aproximar a criança dos livros.
Concordamos com a concepção do Instituto Espantapájaros de desenvolver
mediações de leituras para a criança pequena no intuito de aproximarem os futuros
leitores do material literário. Uma bebeteca precisa ser um espaço que acolha a
criança pequena, desenvolvendo mediações de leituras, possibilitando que a família
faça parte desse momento, pois ela conhece o pequeno leitor e tem uma relação de
intimidade, o que lhe assegura confiança em estar em um ambiente social e cultural
onde outras pessoas também fazem parte. As mediações de leituras desenvolvidas
em “cuento em panãles”8 possibilitam que a família esteja junto à criança pequena,
momento que ambos ouvem e leem histórias e podem manusear as obras. São
nesses encontros com o livro que são alimentados os sentidos dos pequenos. A
bebeteca é conceituada, portanto, como um espaço de trocas e de manuseio de livros,
de contação de histórias, de colo, de escolhas, de intimidade, de conversas e de
balbucios, de olhares mútuos, onde o afeto ganha espaço e o pequeno leitor possa
vivenciar e apreciar esteticamente o momento literário.
Tendo em vista esses conceitos, sintetizamos as concepções apresentadas por
meio de uma nuvem de palavras (Figura 1) organizadas por uma rede semântica de
acordo com seis categorias, a saber:
6 “[...] uma biblioteca especializada em literatura para a infância, do jardim de infância, da biblioteca e das oficinas para crianças e adultos, construímos alternativas pedagógicas para que as crianças cresçam como leitores, escritores e sujeitos de linguagem desde o início da vida” (INSTITUTO ESPANTAPÁJAROS, 2014, s/p, tradução nossa). 7 “[...] tocar, ver e morder os livros ilustrados; ouvir e mover-se ao ritmo de poemas, rimas e canções; sentir a gama de livros entre os dedos” (INSTITUTO ESPANTAPÁJAROS, 2014, s/p, tradução nossa). 8 Disponível em: <http://espantapajaros.com/cuentos-en-panales/>. Acesso em: 10 maio 2017.
31
espaço sujeitos ações na bebeteca recursos e materiais
provocações objetivos da bebeteca
Figura 1 - Nuvem de palavras 1
Fonte: Elaborada pela autora para fins de pesquisa.
Assim, buscamos conhecer e identificar espaços de bebetecas no território
brasileiro. Embora pouco conhecida e apontada em pesquisas, a bebeteca é um
campo que sutilmente está ganhando espaço em terras brasileiras, o que inspira
novas pesquisas sobre a formação de leitores no viés da leitura literária para crianças
pequenas. Dessa forma, antes de conhecer tais espaços, realizamos uma revisão de
literatura para conhecer o que está sendo pesquisado e discutido sobre esse espaço
de leitura. Para tanto, procuramos conhecer qual foi a primeira bebeteca a ser
constituída.
De acordo com Escardó i Bas (1999, p. 9), sobre a V Conferência Europea de
Lectura, na cidade de Salamanca, em julho de 1987,
[...] escuché por primera vez en francés, de la voz de Georges Curie, la palabra mágica: Bebètheque. Esta palabra y las explicaciones que la acompañaban disiparon todas mis dudas sobre los primeros intentos de acercar a los libros que realizábamos con niños que aún no habían empezado su aprendizaje de lectura. 9 (ESCARDÓ I BAS, 1999, p. 9).
9 “[...] escutei pela primeira vez em francês, da voz de Georges Curie, a palavra mágica: Bebetheque. Essa palavra e as explicações que a acompanham dissiparam todas as minhas dúvidas sobre as
32
Outra autora que também comenta sobre essa conferência é Baptista (2012)
que, em seu artigo Leitura literária na primeira infância: a experiência da bebeteca
Can Butjosa em Barcelona, afirma que Georges Curie, palestrante, fez o uso do termo
Bebétheque com o objetivo de discutir sobre a importância de aproximar os livros das
crianças menores antes de elas aprenderem a ler e a escrever. Curie fez menção a
práticas que promoviam a leitura para as crianças inicialmente em creches e não em
uma biblioteca exclusiva para eles.
Assim, da V Conferencia Europea de Lectura à prática, foi na Espanha, em 3
de maio de 1991, que surgiu o primeiro espaço denominado “bebeteca”, traduzido
para a língua espanhola. Esse espaço foi estruturado junto ao ambiente de uma
Biblioteca - a de Can Butjosa. A bebeteca foi organizada pela iniciativa da bibliotecária
Mercè Escardó i Bas. Facchini (2010, p. 3) reflete sobre o significado da palavra
espanhola “bebeteca” (Figura 2).
Figura 2 - Demonstrativo da origem da palavra bebeteca beba ninã, chiquilla, criatura...
beteca bibliotecário, biblioteca pública.
Bebeteca - espaço de leitura para bebês na biblioteca
Fonte: Facchini (2010, p. 3).
Da Espanha para o território brasileiro, a primeira bebeteca (como aqui é
denominada, mas cuja palavra ainda não está dicionarizada) a ser mencionada em
sites brasileiros,10 em espaço educacional, foi no ano de 2005, na cidade de Castro,
no Paraná, no Centro de Educação Infantil Cavalinho de Pau11. A Secretaria de
Educação oferece esse espaço de leitura em todos os Centros Municipais de
Educação Infantil, com a intenção de que as crianças tenham acesso aos livros desde
a mais tenra idade.
Nas primeiras leituras de Facchini (2010), Senhorini e Bortolin (2008), Baptista
(2012), Barros e Santos (2009), percebemos que a Bebeteca é um espaço que vem
primeiras tentativas de trazer livros que realizávamos com crianças que ainda não tinham começado a sua formação de leitura” (ESCARDÓ I BAS, 1999, p. 9, tradução nossa). 10 Para conhecer mais sobre a primeira bebeteca em espaço educacional, no Brasil, acesse: <http://smedinfantilcastro-nanci.blogspot.com.br/2010/10/bebeteca.html>. Acesso em: 10 jan. 2017. 11 Para conhecer mais sobre a primeira bebeteca em espaço educacional no Brasil, acesse: <http://www.adeepra.org.ar/congresos/Congreso%20IBEROAMERICANO/FOMENTOLECTURA/R1932FAcc.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2017.
33
auxiliando as instituições de Educação Infantil a empreender os seus primeiros gestos
embrionários em leituras com crianças pequenas. Embora algumas bebetecas
atendam crianças de até seis anos, o foco para este estudo são as crianças de quatro
meses a três anos. Assim, nesta pesquisa, consideramos como crianças pequenas as
crianças de quatro meses a três anos. Escolhemos essa etapa da infância por
entender que oportunizar momentos de leitura às crianças pequenas é, antes de tudo,
respeitá-las, isto é, possibilitar que elas tenham o direito de os livros fazerem parte de
suas vidas, assim como as brincadeiras.
Quanto mais cedo a criança pequena estiver em contato com os livros, quanto
mais a leitura tenha espaço em suas vivências, maiores serão as chances de o livro
repercutir em suas vidas, em aguçar sua vontade de ler, em terem experiências de
leitura. Segundo Petit (2012),
[...] as primeiras bolas que são lançadas à criança são fundamentais: delas dependerá, em grande medida, seu desenvolvimento. Todos os grandes especialistas nessa idade assinalaram a importância, para o despertar sensível, intelectual e estético das crianças, das trocas precoces com a mãe (ou a pessoa que representa) tem com o bebê. (PETIT, 2012, p. 52).
Nessa perspectiva, para que essas experiências ocorram, as crianças
pequenas necessitam das interações com o adulto. São nas interações, nas
experiências vivenciadas pela criança que aos poucos ela constrói significados e se
desenvolve. As experiências de manuseio livre que a criança possui com o livro junto
ao adulto, quando mediadas de forma adequada, podem possibilitar que ela construa
uma concepção do livro não apenas como objeto utilitário, de conhecimento, mas,
sobretudo, como objeto artístico e estético, uma relação que se constrói pela
afetividade e pela percepção sensorial.
Por termos escolhido a criança pequena, muitas inquietações foram surgindo,
entre elas: Como contar histórias para a criança pequena? Como pode ser o espaço
de mediação do literário na bebeteca? Quais são os melhores livros literários que
podem ser oferecidos à criança pequena? Como ocorrem os encontros literários nas
bebetecas? Muitas perguntas surgiam, mas um questionamento se repetia: Qual a
importância do contato com o livro na vida do homem desde criança? Petit (2012, p.
123) aponta “[...] o quanto é importante, desde a mais tenra idade, propor aos bebês
alimentos culturais, contar-lhes histórias e ler para eles”. A autora afirma que ler é
possível para as crianças pequenas, e elas têm potencialidades para receber esses
34
alimentos culturais. Tais inquietações permitiram que a pesquisa fosse sendo
desenhada, com a proposta de refletir sobre a bebeteca, tendo como questão
problema:
Mediante essa questão, delineamos o seguinte objetivo geral:
Para alcançar esse objetivo, traçamos os seguintes objetivos específicos:
Ø Apresentar concepções de bebetecas.
Ø Identificar bebetecas no Brasil.
Ø Discutir sobre os acervos literários das bebetecas do Centro de Educação
Infantil Darlan Dotto Wiersinski e do Centro Municipal de Educação Infantil
Padre Lívio Donati.
Ø Identificar as condições dos espaços físicos das bebetecas dos Centros de
Educação Infantil que são foco desta pesquisa.
Ø Identificar como as professoras interagem com as crianças durante os
encontros literários nos dois Centros de Educação Infantil pesquisados.
Esta é uma pesquisa que nasceu junto ao Grupo de Pesquisa Cultura, Escola
e Educação Criadora. Em se tratando do aporte teórico, esta pesquisa traz Escardó i
Bás (1999), Instituto Espantapájaros (2014), Senhorini e Bortolin (2008), Pereira
(2014), Barros e Santos (2009), que apresentam o conceito da palavra bebeteca. Petit
(2012, 2013a, 2013b) discute sobre a mediação de leitura e o papel do mediador; Petit
(2012), Reis (2014), Reyes (2010, 2012, 2013, 2015, 2016) e Martins e Neitzel (2016)
ressaltam a importância de propor às crianças pequenas alimentos culturais que lhes
permitirão construir uma relação estética com o livro de literatura, de forma
Como ocorre a mediação do literário nas bebetecas?
Analisar como ocorre a mediação do literário nas bebetecas.
35
a apreciarem a leitura e afetarem-se por ela. Duarte Jr. (2010) aponta a importância
de iniciar, desde cedo, a educação do sensível; Martins (2012a, 2012b, 2014) traz
como ação propositora uma mediação provocada que gere experiências estésicas.
Trazemos, também, as pesquisas de nosso Grupo de Pesquisa Cultura, Escola
e Educação Criadora, que apresentam trabalhos direcionados sobre essa temática,
entre elas: Borba (2016), com a pesquisa intitulada Mediação cultural em bibliotecas,
discute como as bibliotecas se constituem em espaços de mediação cultural. A autora
evidenciou a biblioteca como um espaço de encontros e mediação cultural para
educação dos sentidos; Weiss (2016), com A leitura do literário e a sala de aula,
mediações em/de leitura, apontou, entre seus objetivos, as estratégias de leituras
mais adequadas na concepção de leitura fruitiva; Reis (2014), como já apontado,
discute sobre a experiência literária para os pequenos em San Miniato – Itália; Neitzel
e Carvalho (2016), ao organizarem o livro Mediação Cultural, formação de leitores &
educação estética, apresentam várias pesquisas que foram desenvolvidas pelo GP
Cultura Escola e Educação Criadora sobre mediação, leitura e educação do sensível.
A escolha por esses autores ocorreu por eles compreenderem a mediação
cultural como fundamental no processo de ensino e aprendizagem. Por meio desse
aporte teórico, compreendemos que a leitura pode ser proposta às crianças pequenas;
que a bebeteca é um espaço de trânsito, que permite encontros sensíveis com a arte
literária; e que os primeiros contatos com a obra literária ocorrem pela mediação de
um adulto, que pode estar na família ou na escola.
1.2 EM BUSCA DE ESPAÇOS DE LEITURA
Gostaria de não ter chorado tanto!
Disse Alice, enquanto nadava de um lado para outro, tentando encontrar uma saída.
Lewis Carroll (2009, p. 28).
Como Alice, que tanto nadou em busca do caminho para a saída, não nadamos,
mas muitas foram as andanças à procura de espaços de bebetecas. Iniciamos
investigando por meio das secretarias de Educação da região do Vale do Itajaí e das
bibliotecas públicas a existência desse espaço de leitura. Logo seguimos para outros
estados na intenção de encontrar mais espaços. Muitos foram os desafios no que se
refere às localizações, porém estas foram identificadas por meio dos sites e e-mails
36
enviados às secretarias12. Os Quadros 4 a 8 a seguir mostram as bebetecas
encontradas em 5 estados.
Quadro 4 - Bebetecas no estado de Santa Catarina
ESTADO DE SANTA CATARINA BEBETECAS CIDADE
NEI Sonhos de infância Balneário Camboriú CEI Darlan Dotto Wiersinski Itajaí Biblioteca Pública Dom Daniel Hostins Gaspar
Fonte: Elaborado pela autora para fins de pesquisa.
Quadro 5 - Bebeteca no estado do Rio Grande do Sul ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
BEBETECA CIDADE Núcleo de Educação Infantil Caic Luizinho De Grandi Santa Maria
Fonte: Elaborado pela autora para fins de pesquisa.
Quadro 6 - Bebetecas no estado do Paraná
ESTADO DO PARANÁ BEBETECAS CIDADE
CMEI Ciranda do saber Castro CMEI Cavalinho de Pau Castro CMEI Rivadávia de Gracia Lara Castro CMEI Padre Lívio Donatti Castro
CMEI Rubens José Quintiliano Castro CMEI Pequeno Reino Castro CMEI Nosso Lar Castro
CMEI Marly Rolim Castro CMEI Leda Maria Torres Pereira Castro
CMEI João Paulo II Castro CMEI Elizabet Macedo Kugler Castro
CMEI Turma do Pererê Castro CMEI Despertar para o mundo Castro
Fonte: Elaborado pela autora para fins de pesquisa.
Quadro 7 - Bebeteca no estado do Rio de Janeiro ESTADO DO RIO DE JANEIRO
BEBETECA CIDADE Biblioteca Parque Estadual Rio de Janeiro
Fonte: Elaborado pela autora para fins de pesquisa.
Quadro 8 - Bebeteca no estado de Minas Gerais
ESTADO DE MINAS GERAIS BEBETECA CIDADE
12 Realizamos buscas, no Brasil, em sites, blogs e aplicativos como Facebook, Instagram, com a palavra bebeteca. Encaminhamos e-mails para algumas secretarias de educação da região (Florianópolis, Blumenau, Gaspar, Balneário Camboriú, Itajaí, Itapema) do estado de Santa Catarina. Como algumas secretarias não responderem aos e-mails, também usamos o recurso do telefone para entrar em contato.
37
Faculdade de Educação da UFMG Belo Horizonte Fonte: Elaborado pela autora para fins de pesquisa.
A partir desse mapeamento, selecionamos algumas para visitação. A seleção
deu-se tendo em vista a aproximação das bebetecas com a região onde a
pesquisadora reside.
1.3 OS ENCONTROS NAS BEBETECAS GERANDO DADOS
Uma grande roseira crescia junto à entrada do jardim; suas flores eram brancas,
mas três jardineiros estavam à sua volta, pintando-as de vermelho.
Alice achou aquilo curiosíssimo e se aproximou para observá-los Lewis Carroll (2009, p. 92).
Como no conto de Alice, a curiosidade foi o sentimento que caminhou junto aos
momentos de observação, um movimento de perguntar, de conhecer e de
compartilhar algumas horas ao lado das crianças e dos mediadores de leitura.
Transitar por esses caminhos desconhecidos e ter a oportunidade de indagar e poder
conhecer a prática e a teoria. Compartilhamos a sensação de contentamento em
poder observar como é este espaço de leitura para pequenos e como ocorre a
mediação do literário. Borba (2016, p. 56-57) afirma que, na mediação de leitura, “[...]
o objeto estético é a obra que incita os sujeitos e os leva a repercussões sensíveis por
meio das relações estabelecidas entre a obra/o sujeito/o mediador e, posteriormente,
podem ser alimentadas cotidianamente”. Entendemos que, pela mediação do literário,
nas interações, nas vivências com o livro, o mediador pode possibilitar à criança
pequena sentir outras sensações, sentidos e percepções que potencializam a
educação estética.
Para observar o objeto de pesquisa, assim como fez Alice, tivemos de
aproximarmo-nos dele, sendo necessário escolher alguns espaços para observação.
Nessa etapa, selecionamos sete bebetecas, as quais fizeram, assim, parte do corpus
desta pesquisa, tendo em vista dois critérios:
a) Santa Catarina, por ser onde reside a pesquisadora e onde ela exerce a função
de professora. Há facilidade, assim, quanto à entrada na rede e, também,
oportunidade em conhecer a realidade de mediação do literário com crianças
pequenas na região.
38
b) Paraná, em Castro, devido à cidade ser pioneira em duas situações:
Ø desenvolver espaços de bebetecas em Instituições de Educação Infantil;
Ø ser a primeira cidade no Brasil a oportunizar o acesso da criança ao
jardim de infância. Segundo Cardoso Filho (2006, p. 1683), a professora
Emília Faria de Albuquerque Erichsen iniciou “[...] na cidade de Castro,
Paraná, em 1862, o primeiro jardim de infância no Brasil, segundo
métodos pedagógicos derivados das obras do educador alemão
Frederich Froebel”.
Valemo-nos da Figura 3 a seguir para ilustrar as sete bebetecas escolhidas,
com as datas das visitas e o número de horas passadas no espaço das bebetecas.
Figura 3 - Corpus da pesquisa - as sete bebetecas
Fonte: Elaborada pela autora para fins de pesquisa.
Após a seleção das sete bebetecas, a pesquisadora fez uma visita in loco para
conhecer os espaços e decidir sobre quais bebetecas a pesquisa iria debruçar-se.
Para coleta de dados, escolhemos uma bebeteca da cidade de Itajaí - o CEI Darlan
Dotto Wiersinski, e a outra bebeteca da cidade de Castro - o Centro Municipal de
Educação Infantil (CMEI) Padre Lívio Donati. A escolha dessas duas deu-se tendo em
vista que ambas atendem crianças de quatro meses a três anos de idade, isto é,
trabalham com a criança pequena.
NEI Municipal
Sonhos de Criança
( Balneário Camboriú,
SC)
- 6/05/2016
- 13/10/2016
(8 HORAS)
CEI Darlan Dotto
Wiersinski
(Itajaí, SC)
-22/09/2016
-29/09/2016
-21/10/2016
- 6/04/2017
(12 HORAS)
Biblioteca
Pública Dom Daniel Hostin
(Gaspar, SC)
3/08/2016
(2 HORAS)
CMEI Ciranda do
Saber
(Castro, PR)
13/09/2016
(2 HORAS)
CMEI Rubens José Quintiliano
(Castro, PR)
12/09/2016
(3 HORAS)
CMEI Leda Maria Torres
Pereira
(Castro, PR)
13/09/2016
(2 HORAS)
CMEI Padre Lívio Donati (Castro, PR)
14/09/2016
(4 HORAS)
39
As bebetecas possuem funcionamentos diferentes (a de Castro tem um
professor contratado para mediação na bebeteca; e, em Itajaí, ela ocorre pela
mediação do próprio professor regente da turma). Ambas possuem o projeto de
bebeteca, os espaços diferenciam-se e há evidências em mediação do literário.
1.4 OS ENCONTROS DA PESQUISA
“Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?” “Depende bastante de para onde quer ir”, respondeu o Gato.
“Não importa muito para onde”, disse Alice. “Então não importa que caminho tome.” disse o Gato.
“Contando que eu chegue a algum lugar”, Alice acrescentou à guisa de explicação. “Oh, isso certamente vai conseguir”, afirmou o Gato, “desde que ande o bastante.
Lewis Carroll (2009, p. 76-77).
Alice intriga-nos com a não certeza do caminho para ir embora. Qualquer um
para ela poderá ser, desde que a levem. O Gato afirma que não importa o destino que
se tome, desde que caminhe bastante. A pesquisa inicia-se, assim, com muita
caminhada. Temos uma temática que queremos pesquisar, mas o caminho parece
incerto, por isso todo processo deve ser pensado e desenhado com cautela e
objetividade, para que saibamos lidar com o previsto e os imprevistos na pesquisa. A
escolha metodológica mostra-nos os caminhos a serem percorridos, as escolhas a
serem feitas, os encontros a serem realizados e, com isso, os resultados obtidos.
Optamos pela pesquisa qualitativa, pois, segundo Creswell (2010, p. 52), “[...]
uma das principais razões para se conduzir um estudo qualitativo é que o estudo é
exploratório”, pois ele permite observar os sujeitos envolvidos na pesquisa, e, com
base nos sujeitos, desenvolver a sua compreensão para com o objeto pesquisado.
Esse método possibilita ser flexível na escolha dos instrumentos que serão utilizados
na coleta os dados. Silverman (2009, p. 51) afirma que “[...] o ponto forte da pesquisa
qualitativa é que ela usa dados que ocorrem naturalmente”. Assim, a intenção foi
observar as bebetecas, com vistas a tornar mais explícito o cenário, como um todo,
seja o espaço arquitetural, com os elementos que o compõem, sejam as obras e a
mediação que ocorre entre os sujeitos (criança pequena, professor, família)
envolvidos nesse espaço de leitura. A pesquisa qualitativa permitiu coletar os dados
do contexto, de forma aberta, de forma a verificar os detalhes ocorridos durante a
observação. Também é possível os pesquisadores fazerem o uso de mais de uma
forma de dados, entre elas a “entrevista, observações e documentos” (CRESWELL,
40
2010, p. 208). Nesta pesquisa, os instrumentos escolhidos para a coleta de dados
foram:
ü Observação, que possibilitou obter as reais informações do momento que elas
aconteceram, no próprio campo da pesquisa. Investigamos vários pontos de
observação, sinalizados na Figura 4 a seguir.
Figura 4 - Pontos de observação
Fonte: Elaborada pela autora para fins de pesquisa.
No espaço físico da bebeteca, observamos os pontos mostrados na Figura 5
que segue.
Figura 5 - Pontos observados sobre o espaço da bebeteca
Fonte: Elaborada pela autora para fins de pesquisa.
Quanto ao acervo da bebeteca, observamos os elementos apresentados na
Figura 6 a seguir.
Espaço
Documentos
Mediação literária
Acervo
literário
gu
O espaço permite o
acesso livre das crianças pequenas?
O mobiliário é acessível à altura das crianças
pequenas?
paço
é Quais as
condições do ambiente (arejado,
iluminado, há poluição visual nas paredes)?
ual ?
Como são as bebetecas?
41
Figura 6 - Pontos observados sobre o acervo da bebeteca
Fonte: Elaborada pela autora para fins de pesquisa.
Em se tratando dos documentos, os escolhidos foram os trazidos na Figura 7.
Figura 7 - Documentos analisados da bebeteca
Fonte: Elaborada pela autora para fins de pesquisa.
Nos encontros literários, procuramos observar como as crianças se relacionam
com os livros e como as professoras medeiam as atividades literárias. Alguns
questionamentos nortearam as observações, tais como:
Ø As crianças pequenas podem manusear livremente as obras?
Ø Durante a contação, as crianças pequenas se mantêm atentas? Conversam?
Interagem com seus pares?
Ø Como as crianças pequenas se comportam durante a contação de história?
Dividem descobertas com os colegas? Elas se mantêm em silêncio? Balbuciam
imitando a contação da professora?
Ø Qual a frequência dos encontros?
Ø Ao contar histórias, as professoras fazem o uso de outro objeto ou recurso além
do livro? Qual?
Ø Como as professoras fazem a roda de leitura13?
Ø Como as professoras contam a história com o livro?14
13 Roda de leitura: momento que os livros estão à disposição das crianças pequenas para que elas manuseiem de forma livre. 14 Contação de histórias com o livro: é uma ação que envolve o contador que conta a história com a presença do livro para a criança pequena.
Quantidade de livros
Estado de conservação
GênerosMateriais dos
livros
Projeto bebeteca
Planejamento
42
Ø As professoras permitem as crianças pequenas participarem da história, a
questionarem, a falarem durante a contação?
Ø Como as professoras medeiam a escolha dos livros?
Além da observação, utilizamos outros instrumentos para coleta de dados:
Ø Fotografias: para registrar e recolher informações vistas durante o processo de
observação nas bebetecas. Com elas, registramos os detalhes que foram
percebidos, bem como as utilizamos para recordar informações que
complementaram a análise dos dados.
Ø Diário de bordo: foram registrados fatos vistos, perguntas ou questionamentos
de forma aberta que pudessem, no ato da observação, surgir. Em alguns
momentos das observações, a pesquisadora fez algumas perguntas às
professoras para melhor entender como realizam os encontros na bebeteca.
Assim, os momentos dos encontros foram observados e registrados. Creswell
(2010, p. 214) afirma que é possível o pesquisador realizar anotações sobre o
comportamento e as ações desenvolvidas pelos sujeitos no campo da pesquisa.
Ø Entrevista: com a intenção de levantar informações que auxiliam a compreensão
sobre como as professoras trabalham a literatura com as crianças pequenas.
Entrevistamos as professoras no intuito de refletir sobre a sua concepção de
literatura. Para a entrevista, foi enviado um e-mail às professoras das bebetecas
com a seguinte pergunta: - “Para que serve este bem imaterial que é a
literatura?” (ECO, 2003, p. 9). Outra característica relevante da pesquisa
qualitativa é que permite coletar várias fontes de dados na pesquisa. Assim, a
entrevista é mais um instrumento que agregou informações para a
fundamentação e a discussão teórica do trabalho.
Ø Documentos (projeto da bebeteca e planejamento): possibilitou uma análise
mais concreta do objeto de pesquisa, bem como contribuiu para conhecer ainda
mais o retrato do corpus da bebeteca.
Em síntese, os instrumentos para a coleta de dados foram os mostrados na
Figura 8.
43
Figura 8 - Instrumentos para coleta de dados
Fonte: Elaborada pela autora para fins de pesquisa.
1.5 ANÁLISE DE DADOS
[...] lera muitas historinhas divertidas sobre crianças que tinham ficado queimadas e sido comidas por animais selvagens e outras coisas desagradáveis,
tudo porque não se lembravam das regrinhas simples que seus amigos haviam ensinado. Lewis Carroll (2009, p. 19).
Para que não cometamos os mesmos erros de Alice, por não se lembrar das
regrinhas básicas, é importante o registro cuidadoso e detalhado da coleta de dados,
assim como uma análise rigorosa. Essa análise foi combinada com o entrecruzamento
da observação, dos documentos e da entrevista. Para Creswell (2010, p. 236), “[...] a
análise dos dados é um processo contínuo durante a pesquisa”, a qual envolveu
analisar as informações coletadas pelos envolvidos. Escolhemos essa metodologia
tendo em vista que ela permite ser realizada durante todo o processo do trabalho de
pesquisa. O método de triangulação, que podemos chamar, segundo Silverman
(2009, p. 261), de “métodos múltiplos”, é a “[...] combinação de muitas teorias, muitos
métodos, observadores e materiais empíricos, para produzir uma representação mais
acurada, abrangente e objetiva do objeto de estudo”. Os instrumentos da coleta de
dados foram utilizados para que fosse possível, com a triangulação, analisar os dados
coletados sobre o objeto de estudo no intuito de responder à questão problema que
é: Como ocorre a mediação do literário nas bebetecas?
Instrumentos
Fotografias
Diário de bordo
EntrevistasDocumentos
Observação in loco
44
A seguir, fazemos um levantamento sobre as características das Instituições
de Educação Infantil, onde as bebetecas estão inseridas, com o objetivo de conhecer
como se configuram tais espaços e quem são os sujeitos que ali vivenciam o encontro
com a leitura.
45
2 CONTEXTOS DA PESQUISA: BEBETECA EM AÇÃO
A lagarta e a Alice ficaram olhando uma para a outra algum tempo em silêncio.
Finalmente a lagarta tirou o narguilé da boca e se dirigiu a ela numa voz
lânguida, sonolenta. “Quem é você?” perguntou a lagarta.
Lewis Carroll (2009, p. 55).
Como na fala da lagarta, no conto de Alice, o começo
de uma conversa inicia-se por conhecer o outro, o
desconhecido, o sujeito que está a sua frente - “Quem é
você?”. Adentramos, como Alice, um campo desconhecido;
neste caso, o cotidiano de dois ambientes educativos: o
Centro de Educação Infantil Darlan Dotto Wiersinski e o
Centro Municipal de Educação Infantil Padre Lívio Donati.
Cada um possui suas próprias particularidades, mas ambos
possuem o espaço da bebeteca, que é o tema desta
pesquisa. Assim sendo, o intuito foi conhecer esse espaço de
leitura e, sobretudo, como ocorre a mediação do literário na
bebeteca.
Os espaços escolhidos para o campo da pesquisa
estão inseridos no ambiente educacional. Tanto um quanto o
outro atendem crianças de quatro meses a três anos. Seus
trabalhos envolvendo a leitura nas bebetecas iniciaram no
ano de 2016. Ambas possuem um projeto de bebeteca, seus
projetos são diferentes, mas o intuito da proposta é aproximar
a criança pequena dos livros. Não estávamos interessadas
em comparar os espaços de leituras, mas sim compreender
a concepção das bebetecas, identificar como é seu espaço
físico, discutir o acervo e perceber como as professoras
interagem com a criança pequena durante os encontros
literários.
MELNICK, 5 anos.MELNICK, 5 anos.
46
2.1 CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL DARLAN DOTTO WIERSINSKI
O Centro de Educação Infantil (CEI) Darlan Dotto Wiersinski (Imagem 1) está
localizado na cidade de Itajaí, no bairro São Vicente. Sua inauguração foi em julho de
2005. Segundo a Secretaria Municipal de Educação de Itajaí, o município possui 57
Centros de Educação Infantil. Contudo, esse é o único que possui um espaço
destinado à bebeteca. Esse espaço de leitura foi inaugurado no mês de junho do ano
de 2016.
Imagem 1 - Bebeteca CEI Darlan Dotto Wiersinsk
Fonte: Acervo da autora.
O Centro é situado em uma comunidade em que o comércio local é variado.
Há várias lojas, supermercados, escolas públicas e privadas, entre outros
estabelecimentos comerciais. Muitas famílias trabalham nesse comércio local ou se
deslocam para outros bairros para exercer suas funções. O CEI é adaptado, não foi
construído mediante um planejamento arquitetônico para uma instituição de Educação
Infantil. Foi estruturado e organizado dentro de um projeto já concebido de uma casa,
sua estrutura apresenta-se com um espaço físico pequeno. Ele é composto por uma
sala de professores, uma cozinha, um refeitório - cujo ambiente é dividido pela
bebeteca -, banheiros, quatro salas de aula, um parque de areia, um pequeno espaço
coberto para brincar na parte interna, um pequeno jardim e uma sala de direção e
coordenação pedagógica.
O CEI atende cerca de cinquenta e três crianças pequenas entre a idade de
quatro meses a três anos, que frequentam a unidade em período integral. Nessa
47
instituição, atuam uma coordenadora, uma secretária, cinco professoras e oito
agentes de atividade de educação e mais quatro funcionários. As turmas são
subdivididas em Berçário I, Berçário II, Maternal I e Maternal II. O próprio CEI é o
responsável em realizar as matrículas das crianças, respeitando a data corte de trinta
e um de março.
O Centro possui um Projeto Político Pedagógico, que foi reestruturado em julho
de 2015. Nele constam informações sobre o calendário anual, as ações
desenvolvidas, os eventos realizados, as atividades com as crianças, o horário da
alimentação e o cardápio, os profissionais que ali atuam, a filosofia, os objetivos
propostos pelo CEI, entre outras informações. Salientamos que, no momento da
coleta de dados, não constava no PPP o projeto Bebê também lê (ITAJAÍ, 2015), pois
esse projeto foi organizado pelos docentes do CEI, após a reformulação do PPP.
Segundo entrevista junto à professora, o movimento de início do projeto Bebê também
lê iniciou-se tendo em vista o número de livros de literatura infantil que o CEI recebeu
do Plano Nacional de Bibliotecas da Escola (PNBE) 15. Assim, o objetivo inicial foi
construir um espaço no qual os livros pudessem ter destaque de forma que todos
tivessem acesso aos livros. Logo houve a necessidade também em compartilhar os
livros não só entre crianças pequenas e docentes, mas com a família também.
Para a organização do espaço, o CEI teve o apoio do Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID)16, que é um programa de estágio para as
futuros professores. O programa do PIBID contribuíu com suas ações, na organização
do espaço - pintura das caixas, onde são colocados os livros, e confecção do tapete.
Na bebeteca são os próprios regentes da turma que fazem as mediações do
literário e levam as crianças pequenas até o espaço. Para analisar as ações
desenvolvidas nesse CEI, com relação ao espaço da bebeteca, escolhemos uma
turma de maternal II para observar os momentos de mediação do literário. A escolha
por essa turma veio ao encontro da sugestão da própria coordenadora, devido à
mediação do literário provocada pela docente para as crianças pequenas.
15 Desde o ano de 1997, o PNBE desenvolve ações que “[...] tem por objetivo, promover o acesso à cultura e o incentivo à leitura nos alunos e professores por meio da distribuição de acervos de obras de literatura, de pesquisa e de referência” (BRASIL, 1997, s/p). Ele atende a todas as escolas de Educação Infantil, porém desde que estas estejam cadastradas regularmente no censo escolar. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/programas/biblioteca-da-escola/biblioteca-da-escola-apresentacao>. Acesso em: 10 jan. 2017. 16 Para conhecer o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), acesse <http://portal.mec.gov.br/pibid>.
48
A professora trabalha quarenta horas semanais com o grupo. Sua carreira
profissional na área educacional é de vinte anos. Formada no curso superior de
Pedagogia, ela tem especialização em Ludopedagogia. Também é professora
supervisora do PIBID da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). A turma de
maternal II é formada por dezesseis crianças pequenas de dois a três anos, das quais
quatorze são meninos e duas são meninas. Todos frequentam o CEI em período
integral. Com essa turma, atuam a professora regente e uma agente de atividade de
educação. A bebeteca está inserida no mesmo espaço do refeitório do CEI, não
havendo uma sala destinada apenas para essa função.
2.2 CENTRO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL PADRE LÍVIO DONATI
O CMEI Padre Lívio Donati (Imagem 2) é localizado na cidade de Castro, no
estado do Paraná. Segundo a Secretaria Municipal de Educação de Castro, o
município possui treze unidades de Educação Infantil, e, em todas, há uma sala
destinada somente à bebeteca.
Imagem 2 - Bebeteca CMEI Padre Lívio Donati
Fonte: Acervo da autora.
O CMEI Padre Lívio Donati atende cerca de cento e vinte e oito crianças
pequenas de quatro meses a três anos, que frequentam o ambiente educativo em
período integral. Está localizado em um bairro onde há muitos comércios, como:
padarias, supermercados, unidade de saúde, lojas, farmácias, oficinas, entre outros.
49
Nesses comércios, alguns pais das crianças pequenas que frequentam o CMEI
exercem suas funções profissionais.
Houve reformas e sua inauguração ocorreu no dia 24 de maio de 2016, porém
algumas obras continuam sendo realizadas. Estão sendo construídas mais seis salas
de aula, mas o desenrolar dos trabalhos com as crianças segue normalmente.
O espaço físico do CMEI é amplo, sendo composto por uma sala de
professores, uma cozinha, um refeitório, uma sala de bebeteca, banheiros, seis salas
de aula, um parque externo e um pequeno espaço para brincar na parte interna, uma
sala de orientação, uma secretaria e uma sala de direção e coordenação pedagógica.
As turmas são subdivididas em Creche I, Creche II e Creche III. A Secretaria
Municipal de Educação é responsável em realizar as matrículas das crianças,
respeitando a data corte de trinta e um de março. Além disso, as famílias normalmente
escolhem o CMEI mais próximo de seus domicílios.
Na Proposta Curricular do Município, consta o projeto Bebeteca berço de
futuros leitores (2007), o qual é apresentado, também, no Projeto Político Pedagógico
de cada CMEI. Contudo, cada um atende as suas peculiaridades que cada espaço
requer, mas seguindo os objetivos nele propostos. Na Bebeteca, quem atua é apenas
uma professora, exclusiva para essa função, a qual trabalha quarenta horas
semanais, atendendo a todas as crianças pequenas do CMEI. Sua formação é em
Magistério e, está cursando o curso superior de Pedagogia. Sua trajetória profissional
é de dois anos.
Outro projeto realizado pelos professores da rede é o projeto Valorizando
Trajetórias. Esse projeto foi desenvolvido por toda Rede Municipal de Ensino. Ele
consiste na apresentação de todos os projetos pedagógicos desenvolvidos no
decorrer do ano letivo. O professor que atua na bebeteca também participa desse
projeto. No ano de 2016, o projeto completou 10 anos.
No próximo capítulo, discutimos por que ler para as crianças pequenas. O
referencial teórico está pautado em Eco (2003), Reyes (2010), Petit (2013b) e Barthes
(2013). Trazemos, também, extratos das entrevistas, referentes ao posicionamento
das professoras que atuam nas bebetecas analisadas com relação à: “Para que serve
este bem imaterial que é a literatura?” (ECO, 2003, p. 10).
50
3 POR QUE LER PARA AS CRIANÇAS PEQUENAS?
Alice estivera olhando por cima do ombro dela com certa curiosidade. “Que relógio engraçado!” observou.
“Marca o dia do mês, e não marca a hora!” “Por que deveria?” resmungou o Chapeleiro.
“Por acaso o seu relógio marca o ano? Lewis Carroll (2009, p. 87).
O conto de Alice encanta-nos pela ficcionalidade nele
entranhada, com seus personagens insólitos, como o
Chapeleiro, mas, principalmente, pelos cruzamentos
hipertextuais que poderão ser percebidos pelas conforme
elas vão se ambientando com o texto literário. Essa
percepção das crianças pequenas amplia-se à medida que
ela mantém uma relação fruitiva com o livro, e este passa a
ser percebido não só como um brinquedo, mas também como
um objeto estético, para sua apreciação. Isso já responde à
pergunta: Para que ler para os pequenos? No entanto, essa
resposta não basta. Vamos, assim, buscar outras respostas
a esse questionamento.
Então, por que ler para a criança pequena? Essa foi
uma das perguntas direcionadas à pesquisadora em uma
visita informal à Biblioteca Pública Municipal de Itapema, por
um profissional que atua nesse ambiente de leitura. Muitas
respostas vieram à tona – trazemos, aqui, uma delas: “Ler
para que as crianças sejam mais felizes, mais humanas!”.
Essa resposta traz à baila a concepção de que, por meio da
literatura, pode-se promover momentos de prazer, de alegria,
de experiências “gratia sui”. Eco (2003, p. 9) define uma das
funções da literatura como “gratia sui”, colocando a leitura na
esfera do deleite, um texto fruitivo que, além de informar,
sensibiliza e possibilita momentos estéticos.
Para começar a discutir sobre as concepções,
trazemos o questionamento de Eco (2003): “Para que serve
este bem imaterial que é a literatura?”. Endereçamos esse
MELNICK, 5 anos.
MELNICK, 5 anos.
51
questionamento as duas professoras que trabalham nas bebetecas selecionadas para
coleta de dados.
Para a professora do CEI Darlan Dotto Wiersinski:
A professora do CMEI Padre Lívio Donati afirma:
As professoras defendem as obras literárias como forma de comunicação, de
imaginação, de interpretação livre e de possibilidade de viajarmos nas histórias. Além
disso, uma delas propôs que a literatura permite momentos de devaneio. As
considerações das professoras permitem refletir um pouco mais sobre o por que ler
para as crianças pequenas.
Eco (2003), como apontado anteriormente, define que uma das funções da
literatura é ser “gratia sui”. Contudo, a literatura ao adentrar os ambientes escolares,
ao ser vivenciada pelo público mirim, ao ser contada, pode ser estabelecida uma
postura que diferencie de uma leitura de um texto funcional (que só tem o objetivo de
informar). Ambas as professoras das bebetecas do CEI Darlan Dotto Wiersinski e do
CMEI Padre Lívio Donati, em suas reflexões, enfatizaram as funções da literatura -
elas destacaram a literatura para informar, ampliar vocabulário e ser instrumento para
comunicação. Entendemos que a literatura vai muito além de informar; ela sensibiliza,
ela toca o leitor. Entretanto, para que o texto se diferencie de um texto informativo, ele
precisa de um ritmo ao ser lido. Nesse sentido, o mediador de leitura, quando lê um
texto literário para a criança pequena, precisa utilizar um ritmo ao narrar, tentando
expor o encantamento do texto. Reyes (2013, p. 24) destaca que “[...] ler um manual
de instruções para instalar um forno, não é o mesmo que ler um poema”. Segundo a
“A literatura é alimento que energiza a alma com prazer, envolve a imaginação fazendo-a percorrer viagens únicas onde o mesmo enredo apreciado por pessoas diferentes leva cada uma delas a criar suas cenas particulares baseadas em referências já experienciadas. A literatura são
devaneios registrados e compartilhados que levam leitores e apreciadores a submergirem nas mais surpreendentes histórias e assim de lucro, além do prazer envolvente, leitores e escritores
ampliam seus vocabulários, aguçam seus gostos, desenvolvem a criatividade, elevam seus intelectos, ampliam suas capacidades comunicativas entre outros benefícios.”
“As obras literárias nos convidam à liberdade de interpretação, pois podemos viajar nas
histórias, em seu tempo ou em outros, sem mesmo termos saídos do seu lugar. A literatura é um instrumento de comunicação e de interação social, ela conduz o leitor a mundos
imaginários.”
52
autora, se a escola não conseguir ter a delicadeza de ler um poema, todos os textos
serão tidos com a “mesma postura”, serão vistos com o mesmo olhar, e a criança
pequena não conseguirá sentir as ressonâncias que o texto literário tem a oferecer.
As professoras das bebetecas mencionaram a literatura como forma de
possibilitar a liberdade de interpretação. Concordamos com elas pois entendemos que
a obra literária leva muito mais além do que perguntas sobre o enredo do texto, “[...] a
literatura trabalha com toda a experiência vital” (REYES, 2013, p. 22), que não pode
ser medida e calculada, ela reflete na subjetividade do sujeito leitor. Trazemos Eco
(2003) que discute sobre o “[...] exercício de fidelidade e de respeito na liberdade de
interpretação”. Para o autor, a leitura é passível de muitas interpretações, permitindo
ao leitor certa autonomia em entrar no contexto da obra, interpretar e refletir sobre ela,
compreender, dando sentido e se permitindo sentir o que talvez nem mesmo o autor
pudesse ter pensado no momento da sua criação. Eco propõe que o texto literário
permite várias interpretações, mas, mesmo existindo esse convite à liberdade de
interpretação, em que para cada geração as leituras das obras literárias são lidas de
modo diversificado, é necessário estar movido pelo profundo respeito à obra. Eco
(2003, p. 13) chama esse respeito de “intenção do texto”. No texto literário, há marcas
que indicam o que não podemos colocar em dúvida e adotar como interpretação livre.
Isso nos faz refletir sobre a mediação do literário realizada na Educação Infantil.
Em se tratando da criança pequena, ao ouvirem as histórias, podem ser
mobilizadas pelo mediador na intenção de tentar decifrar e entender o texto contado,
por meio das conversas, desafiando os pequenos a expor seus sentimentos, sejam
em suas falas (balbucios), em seus gestos, em seus olhares; enfim, podem despertar
a sua imaginação. Desse modo, a criança pequena experimenta nas histórias a
fantasia, por meio da troca de papéis - ora a criança pequena pode imitar um rei, um
dragão, um lobo, um pássaro, uma princesa, saindo da realidade vivida. Sobre esse
envolvimento, Petit (2013b, p. 179) destaca ser importante, pois “[...] o imaginário não
é algo com que se nasce. É algo que se elabora se desenvolve, se enriquece, se
trabalha ao longo dos encontros”. São nesses encontros, com a arte literária, que a
criança pequena envolve seu corpo, brinca, sente e dialoga expressando o que sente.
As experiências literárias ajudam a ampliar essa dinâmica, ler e ouvir as histórias e
brincar com a imaginação. “[...] ler não nos separa do mundo. Somos introduzidos nele
de uma maneira diferente” (PETIT, 2013a, p. 55), o que permite que a criança pequena
53
aprenda a olhar a realidade, agregando-lhe novos sentidos a fim de conhecer um
pouco mais de si. Com o passar do tempo, com as experiências vivenciadas com um
mediador de leitura, elas passam a entender e a perceber o mundo.
Para defender essa aproximação dos livros já com a criança pequena,
trazemos Reyes (2010). Para a autora, os primeiros livros são aqueles sem páginas,
aqueles que “[...] escrevem na pele, no ritmo do jogo, nos olhares, na voz [...]”
(REYES, 2010, p. 41). Quando o adulto escolhe uma história para ser lida, ele
incentiva a criança pequena ao prazer de ouvir e torna familiar esse momento de
afetividade entre criança pequena e adulto. Reyes (2012) intitula esse momento de
“triângulo amoroso”17 (adulto, criança e livro). Nesse sentido, refletimos sobre esse
momento de leitura, por tratar-se de crianças pequenas, pois elas possuem algumas
particularidades que precisam ser respeitadas, dentre elas está a dependência dos
cuidados de alguém, que oportuniza a segurança e o aconchego.
No momento da leitura, isso não ocorre de forma diferente, pois, se o pequeno
se sentir inseguro, se ele “[...] não se sente acolhido em uma leitura ou em uma
contação de histórias, pode sentir-se incomodado com esse momento e começar a
chorar; então, o que era para ser um momento de interação, torna-se um incômodo
para o bebê” (REIS, 2014, p. 34). Para que isso não aconteça, o contador de histórias,
além de planejar a escolha do título do livro que irá contar, precisa estar atento às
crianças pequenas durante o processo da história narrada, dando ênfase à presença
amorosa, ao aconchego no ato de contar a história e ao interagir com os pequenos.
Neitzel e Carvalho (2016, p. 152) afirmam que o contador de histórias é aquele que
“[...] pode mobilizar o leitor a entrar no universo literário”. As autoras evidenciam a
possibilidade de enredar o leitor. Em se tratando de crianças pequenas, concordamos
com as pesquisadoras, pois são nas vivências de leitura que o contador de histórias
se utiliza da presença do livro em conjunto à oralidade, ao ritmo das palavras, da
musicalidade, dentre outros elementos para envolver a criança pequena, seduzindo-
as, afetando-as no sentido de desejarem estar com os livros.
Entendemos que o livro literário precisa circular nas mãos da criança pequena
desde os primeiros anos de vida, pois o livro é percebido como um brinquedo, que a
criança pequena manuseia, gira, folheia, observa as cores e as imagens, empilha uns
17 No link a seguir, há uma entrevista com a autora Yolanda Reyes. Nela a autora fala sobre o Triângulo amoroso na primeira infância: <http://www.revistaemilia.com.br/mostra.php?id=237>. Acesso em: 30 fev. 2017.
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sobre os outros, formando torres. Ela deita sobre eles, mostra as imagens apontando-
as, esconde os livros e os mostra. Enfim, são inúmeras as possibilidades de brincar
que nos apontam que o livro é um objeto que pode ser manuseado pelos pequenos.
O livro é um objeto a ser apreciado, mas também tocado, uma aproximação que é
possível. Essa aproximação depende da mediação do adulto quando possibilita o
encontro da criança pequena com o livro. Assim, mais uma triangulação de Reyes
(2012) é apontada.
Muitas são as obras literárias existentes no mercado, e um tipo de obra que
está ganhando espaço e abarca o público infantil de 0 a 3 anos são os livros chamados
“livros-brinquedos”. Estes se diferenciam dos tradicionais devido ao seu formato, à
sua textura e à sua sonoridade. Para Silva e Chevbotar (2016, p. 71), esses livros, ao
ultrapassarem as barreiras da leitura, “[...] convidam à experimentação, à vivência
sensória e emocional, exatamente como os bebês e crianças pequenas necessitam
em seus primeiros anos de vida”. São livros que vão além da leitura, eles permitem
que as crianças pequenas experimentem outra sensação pelo toque, justamente pelo
tipo de material que possibilita a criança morder, molhar, encaixar (quando são
compostos por peças), dobrar, ouvir os sons - são inúmeras as formas possíveis de
aproximar e envolver o pequeno no brincar.
Entretanto, é importante salientar que esses livros-brinquedos não substituem
os livros tradicionais e os momentos ricos de contação de histórias narradas em voz
alta por um adulto, mas se completam ao serem ofertados ao público mirim.
Defendemos que o livro esteja nas mãos das crianças pequenas como um brinquedo;
que ele não seja percebido como algo sagrado, que não pode ser tocado. Um livro-
brinquedo não é um livro mais fácil ou com menor conteúdo. Ele é um conceito que
utilizamos para lembrar a importância de a criança pequena brincar com o livro para
manter uma relação estética com ele desde pequena. O livro como um brinquedo,
conforme abordamos, é um conceito não um objeto. Como conceito, ele sinaliza que
qualquer livro pode estar nas mãos das crianças, assim como o brinquedo está para
a experiência.
Petit (2013b, p. 140) reflete sobre a “[...] importância da familiaridade precoce
com os livros, de sua presença física na casa, de sua manipulação”. É fundamental o
movimento de folheá-lo, antes de ter o livro como um objeto de leitura, para que as
crianças se tornem, mais tarde, leitoras. Nessa intimidade com o livro, no contato
55
precoce com o objeto estético, nos encontros com a cultura literária é que se vai
construindo uma relação fruitiva, estética e sensível entre o livro e a criança pequena.
A mediação do adulto nas leituras narradas e nas conversas tecidas possibilita nutri-
la emocional e cognitivamente, inserindo-a nas experiências de leitura. À medida que
essa familiaridade com os livros acontece, ela percebe que junto aos livros está a
presença de um adulto, que é possível envolvê-lo nas folhas dos livros, no ato de
contar histórias, vozes que são repetidas infinitas vezes que tocam e envolvem a
criança pequena. Uma relação de afeto vai sendo tecida e surge, então, o “conte mais
uma vez”.
Entendemos que as histórias narradas quando articuladas com a presença do
livro contribui para a formação do leitor, visto que, nas histórias oralmente contadas,
em que há ausência do livro, a criança pequena não experimenta o movimento do ler,
mas sim apenas o ouvir. Neitzel e Carvalho (2010, p. 175) afirmam que um dos
princípios da leitura do literário é que o livro esteja sempre à mão, mesmo que o texto
tenha sido memorizado, para que, assim, o leitor visualize a origem da fonte, para que
ele observe o livro. Com a criança pequena essa prática não se diferencia, visto a
importância de os pequenos já estarem envolvidos com os contos narrados com a
presença física do livro, para que possam entender que as histórias estão organizadas
em um espaço, ou seja, neste caso nas páginas do livro.
O adulto tem a virtuosa capacidade de convidar a criança pequena para esse
encontro com a literatura, não com a intenção de destacar do texto as principais ideias,
mas para oportunizar o acesso a uma linguagem artística. São esses momentos que
possuem função estética. Essas experiências, se bem conduzidas esteticamente,
possibilitam a educação do sensível. Duarte Jr. (2010) discute que isso necessita ser
iniciado com os pequenos, incentivando as maneiras de sentir e conhecer o mundo,
naturezas distintas, mas que se complementam e são essenciais.
Para Duarte Jr. (2010), o sensível diz respeito a como sentimos o mundo, e o
conhecer diz respeito ao conhecimento inteligível, que é a forma pela qual pensamos
o mundo. É importante evidenciar que esses saberes andam juntos e, quando
vivenciados desde criança, possivelmente repercutirão em um adulto mais sensível,
perante os sentimentos e as percepções da realidade vivida. São nas experiências
que são possibilitadas à criança pequena, com o contato com um vasto acervo literário
que, possivelmente, se pode despertar o encantamento pela leitura. Esse acesso cabe
56
ao mediador de leitura. Para tanto, Reyes (2013) reflete sobre o papel do mediador, o
que ela denomina de “tarefa”, propondo que
[...] o objetivo fundamental de um professor é o de acompanhar seus alunos nesta tarefa, criando, ao mesmo tempo, um clima de introspecção e condições de diálogo, para que, em torno de cada texto, possam ser tecidas as vozes, as experiências e as particularidades de cada criança de cada jovem de carne e osso, com seu nome e sua história. (REYES, 2013, p. 28).
Esse envolvimento com a leitura dependerá da forma com a qual ela é ofertada
à criança pequena pelo mediador. Essa oferta depende da concepção que temos do
texto literário. Esses encontros com o livro são com vistas a conceber a literatura como
arte, explorar sua função estética implica em oferecê-la para deleite, fruição, sem
compromisso com estratégias que visem a exploração do texto, ou seja, como
pretexto para ensino de determinados conteúdos. O manuseio dos livros e a contação
de histórias são, por si só, atividades, conteúdos que ensinam pelo viés artístico, que
possibilitam aos pequenos momentos de puro deleite em que a sensibilidade e o
inteligível não estejam separados da aprendizagem. Daí também se dá a importância
de eleger obras de qualidade literária. Nessa dinâmica, os encontros para leituras,
com obras de qualidade, oportunizam a criança pequena sentir a leitura, afetá-la pelas
obras e mobilizá-la a perceber que o ato de ler faz parte de sua vida. Mello (2016, p.
45) afirma que “[...] o amor aos livros, a necessidade da leitura são produtos da
experiência vivida, ou seja, são apreendidos e formados socialmente”.
Carvalho e Neitzel (2008) discutem essa mesma relação da literatura pelo viés
da experiência estética, pelo contato com a obra de forma fruitiva. As autoras afirmam
que “[...] não podemos pensar em uma literatura focada somente no aprender, a
literatura ensina pela via da fruição; o aprender se dá através da experiência e na
literatura não se dá de forma diferente” (CARVALHO; NEITZEL, 2008, p. 769). A arte
requer apreciação e sensibilização estética. Nesse sentido, quando um adulto faz a
leitura de um conto a criança pequena, ao mediar, ao provocar o desejo e a
curiosidade de conhecer, ele oferece possibilidades de entradas no texto e circular
por diferentes lugares e contextos ao mesmo tempo. O texto literário possibilita a
criança pequena aprender no devaneio, permitindo a ele deixar levar pela imaginação.
Barthes (2013) conceitua fruição diferentemente do prazer. Para ele, a fruição
é um texto “[...] que põe em estado de perda, aquele que desconforta (talvez até um
certo enfado), faz vacilar as bases históricas, culturais, psicológicas do leitor”
57
(BARTHES, 2013, p. 20). Um texto que desafia o leitor, que questiona, faz o leitor
pensar e sair de sua zona de conforto, impulsionando-o a novas leituras, permitindo
abrir novos horizontes e conhecer saberes diversos. Weiss (2016) questiona: “Como
a fruição pode acontecer?”. A autora evidencia o papel do mediador nas escolhas da
obra a ser trabalhada nos momentos de leitura literária, enfatizando que essa escolha
é decisiva para o processo da fruição. Entendemos que a escolha por obras para
serem lidas para a criança pequena certamente é fundamental para potencializar a
fruição, visto que os textos precisam ser textos provocativos que estimulem a atenção,
a curiosidade e a participação da criança pequena. Aqui mais um triângulo amoroso
de Reyes (2012) é sinalizado: a criança, o livro e o adulto.
Barthes (2013) evidencia o texto de prazer como aquele que o leitor lê de forma
confortável, tudo está impresso nas linhas escritas, não permitindo novas aberturas
ao leitor, pois tudo está ali, do início ao fim da história, ou seja, o texto é legível, com
início, meio e fim, estruturados de forma linear, com poucas ou nenhuma abertura
para leituras intertextuais, por exemplo. Barthes (2013, p. 20) afirma que esse texto
“[...] contenta, enche, dá euforia”. Por tratar-se de criança pequena, não defendemos
somente esses textos, mas sim todos os tipos de textos, que sejam oportunizados aos
pequenos. Contudo, entendemos que, da gama diversa de textos que permeiam o
cotidiano da Educação Infantil, a literatura que apresenta o texto fruitivo pode ter
espaço, ser ofertada como leitura que ultrapasse os momentos de puro prazer, que
leve a criança pequena à reflexão sobre si e o outro.
Nossas crianças pequenas estão imersas em um cotidiano embrutecido, em
uma cultura em que o tempo e o ritmo de vida são direcionados pela pressa. São
poucas as oportunidades em encontrar um espaço e um momento de refúgio de pausa
para si. Nesse sentido, defendemos esses momentos que podem significar uma pausa
no ritmo frenético de vida e das instituições. Não entendemos esse momento de pausa
como passividade, somente de escuta, mas de ação de interação com a obra, com o
leitor ...enfim, parada para reflexão, conexão, buscas de sentidos. Os encontros com
textos literários, além de informar, movimentam todo o corpo, as formas de ser, de
sentir, de fazer...com o que a vida oferece, com o que temos de potencial .... afeta o
interior do leitor, o que permite ao leitor de conectar-se consigo mesmo. “[...] a
literatura deve ser lida - vale dizer: sentida” (REYES, 2013, p. 26).
58
Pensando nesse ritmo de vida que nossas crianças pequenas estão imersas,
Pennac (2008, p. 130) discute que a leitura nos torna um pouco mais “humanos”, pois
ela pode levar a preocuparmo-nos com nossos pares e ser um pouco menos
embrutecidos. Essa leitura que tende a emancipar parte do princípio da potência que
todos temos, especialmente nessa relação educacional na qual estamos inseridos.
Larrosa (2016) aponta as discussões do “Mestre ignorante” (RANCIÈRE, 2013) como
importante ponto de reflexão acerca das relações educacionais que embrutecem ou
que emancipam os sujeitos por meio do diálogo e da igualdade da inteligência, ou
seja, “[...] a partir da potência comum de ver, de sentir, de falar e de pensar”
(LARROSA, 2016, p.160) dos sujeitos envolvidos.
Petit (2012, p. 93) afirma que, em situação de crise, a literatura tem um papel
privilegiado, um modo decisivo, pois ela permite “[...] dar forma aos lugares onde viver,
a se lançar e a abrir caminho”. Pennac (2008) e Petit (2012) afirmam que a literatura
possibilita ao leitor tornar-se ainda mais sensível; ela toca o leitor em seu íntimo,
possibilitando-o estar mais atento aos sujeitos iguais ou opostos, que vivenciam
conosco o elo da humanidade. Para Reyes (2004):
De ahí que la experiencia del texto literario y el encuentro con esos libros reveladores que no se leen sólo con los ojos o con la razón, sino con el corazón y el deseo, sean hoy más necesarios que nunca como alternativas para ir construyendo esas casas o palacios interiores.18 (REYS, 2004, s/p).
Nesse viés, por meio da literatura, além de ser apreciada e sentida, pelas suas
ressonâncias, podemos aprender a compreender o que está em nossa volta, a olhar
para si e para o outro com mais sensibilidade, percebermo-nos como parte de um
grupo, sermos mais sensíveis e humanos.
Retornando à pergunta inicial - Por que ler para as crianças pequenas? -, dentre
tantas finalidades e possibilidades que o texto literário abriga em suas linhas, a
literatura permite a criança pequena estabelecer relações fruitivas, estésicas com o
livro. Além disso, o que não observamos nas reflexões das professoras das bebetecas
e que consideramos ser muito importante é que a literatura permite uma conexão
emocional com o adulto, de troca, de colo, de afeto, de olhar, de voz; que pode
potencializar a sensibilidade para com a vida - itens valorosos da literatura. Enfim,
18 “Daí a experiência do texto literário e o encontro com esses livros reveladores que não são lidos somente com os olhos ou com a razão, mas com o coração e o desejo, são hoje mais necessários do que nunca como alternativas a fim de construir essas casas ou palácios interiores” (REYS, 2004, s/p, tradução nossa).
59
refletir sobre a formação do leitor mirim é defender encontros estéticos da criança
pequena com o objeto livro - encontros que exploramos no capítulo a seguir.
60
4 ENCONTROS NA BEBETECA: CEI DARLAN DOTTO WIERSINSKI
“ Oh, Alice sua tola!”, respondeu a si mesma.
“como vai poder estudar as lições aqui? “Ora, mal há lugar para você,
que dirá para os livros!” Lewis Carroll (2009, p. 46).
Ao conhecermos o espaço educativo, a primeira
pergunta que nos veio foi: Como este lugar tão pequeno
conseguiu organizar uma bebeteca? O desafio, as
conversas, as trocas entre os envolvidos certamente foram
muitas. O CEI Darlan Dotto Wiersinski, sem sombra de
dúvida, é um caso a ser analisado, pela maneira com a qual
organizou a sua estrutura de forma adaptada. O conto de
Alice faz-nos refletir sobre as possibilidades de um espaço
onde “[...] mal há lugar para você, que dirá para os livros!”
(CARROLL, 2009, p. 46). Assim, iniciamos nossa conversa,
questionando como esse espaço de leitura adaptado
desenvolve seus encontros literários.
Inseridas no mesmo ambiente do refeitório, já, de
início, perguntamo-nos: É possível promover encontros com
os livros no mesmo espaço no qual outras funções ocorrem?
Será que o livro nesse espaço ganha destaque? Será que a
crianças pequenas se interessam pelas obras? É o que
discutimos a seguir.
4.1 O ESPAÇO
“[...] poderiam me dizer”, perguntou Alice, um pouco tímida, “por que estão pintando essas rosas?
Lewis Carroll (2009, p. 93).
Como Alice, fazemos muitas perguntas tentando
desvendar os mistérios do conto de Lewis Carroll. Nesta
pesquisa, esse movimento de inquietações surge como um
MELNICK, 5 anos. MELNICK, 5 anos.
61
desafio a ser superado a cada nova etapa. Ao conhecermos o novo, muitas perguntas
vêm à tona. Assim, ao pensarmos sobre a organização do ambiente de leitura, fomos
em busca de referências na intenção de desvendar sobre como esse espaço interfere
nas vivências literárias das crianças pequenas.
Reyes (2012), ao falar do ambiente da casa, afirma que “[...] não é só o espaço
físico, embora ele ajude. O principal é a disponibilidade: ser um corpo que canta”
(REYES, 2012, s/p). López (2009, p. 3-4) defende a mesma proposta:
Claro que también es importante la presencia de espacios especialmente diseñados para eso, pero creo que es muy valioso también aprovechar los contextos cotidianos de los bebés y niños pequeños, convirtiéndolos en sitios de encuentro con los libros. 19 (LÓPEZ, 2009, p. 3-4).
As autoras concordam sobre a importância do espaço da bebeteca, mas
evidenciam que eles não são primordiais para os encontros cotidianos com o livro.
Perrotti (2015, p. 136) compartilha da mesma ideia, defendendo que o espaço de
leitura pode ser “[...] um canto ou uma pequena sala de leitura, seja uma biblioteca
ampla, com diferentes e variados ambientes e recursos, há que se considerar,
sempre, a qualidade estética do lugar”. Sinalizamos que o espaço da bebeteca pode
configurar-se em uma sala (apenas para finalidade bebeteca), um canto com livros ou
um cesto com livros. Contudo, evidenciamos que, além do espaço físico, é importante
ser um espaço que tire os livros do armário, um ambiente de aprendizagem que
acolha, que os objetos estejam dispostos no intuito de levar a criança pequena à
autonomia, tanto ao pegar o livro (segurar em sua mão), quanto na escolha dos livros
(fazendo a sua própria seleção). Que seja um ambiente planejado, onde a criança
pequena possa construir seus significados pela experiência vivida com os livros. É
fundamental, portanto, que a bebeteca tenha um projeto que oriente as ações do
mediador, tanto na organização do ambiente quanto nas mediações, as quais
possibilitem, nas mais diversas formas, a criança pequena experimentar os livros.
No espaço da bebeteca do CEI Darlan Dotto Wiersinski, a professora organiza,
em seus encontros, momentos que são produtivos e geradores de grandes
experiências. Por meio destas, é possível aferir a minimização da perda de um espaço
apropriado, pois há certa fragilidade, com relação, por exemplo, às interferências
19 “Claro que também é importante a presença de espaços especialmente concebidos para isso, mas acredito que é muito valioso, também, aproveitar os contextos cotidianos dos bebês e das crianças pequenas, convertê-los em locais de encontro com os livros” (LÓPEZ, 2009, p. 3-4, tradução nossa).
62
acústicas (ruídos). Schafer (1991) fez um estudo referente aos sons agradáveis e
desagradáveis. Para o autor, o “[...] ruído é o som indesejável” (SCHAFER, 1991, p.
68), pois este interfere no que estamos ouvindo, ou seja, no que queremos ouvir.
Salientamos que, como as mediações que a professora opera são muito interativas e
adequadas, apesar dos ruídos presentes no ambiente, o contato com o livro dá-se e
a relação que a criança pequena estabelece com o livro é fruitiva e educa
esteticamente.
O CEI apresenta, na bebeteca, um pequeno espaço que abarca tantas outras
funções que envolvem as rotinas vivenciadas na creche, como o lanche. Nesse
espaço, muitas são as oportunidades possibilitadas às crianças pequenas para terem
encontros estéticos com o livro literário. Nessas vivências, são envolvidos: a criança
pequena, o docente e a família.
Ao organizar uma bebeteca, é indispensável discutir sobre o seu projeto, visto
ser este um planejamento que precisa ser pensado, sendo o espaço um dos
elementos que aparecem no projeto analisado. Nessa perspectiva, entendemos que
esse espaço não visa ser apenas aquele para guarda de livros, mas sim para
encontros da criança pequena com o livro. Alguns detalhes, portanto, são pensados
no intuito de compor um ambiente aconchegante e atrativo, com a intenção de ser um
ambiente que oportunize experiências contemplativas, apreciativas e fruitivas. No
projeto da bebeteca, destacamos um dos seus objetivos no que diz respeito a esse
espaço de leitura:
Tão importante quanto garantir que as crianças tenham acesso a bons livros desde bem pequenas, é organizar ambientes convidativos,
aconchegantes e singulares para que elas possam usufruir das histórias em situações prazerosas de interação com os colegas, professores e famílias. A iniciativa de construir uma biblioteca itinerante bem como um espaço para as
crianças fazerem leituras bem como a retirada pelo pais destes livros para levarem para casa, constitui-se uma excelente oportunidade para fomentar o
contato das crianças com os livros, criar lugares mágicos, cheios de identidade, e realizar rodas de leituras.
Projeto do CEI Darlan Dotto Wiersinski- Bebê também lê (2015, p. 1).
63
Um espaço convidativo, em que as crianças pequenas estejam envolvidas com
os livros, os colegas, os professores e os familiares, é o pilar principal que poderia
destacar do objetivo dessa bebeteca. As escolhas foram pensadas no intuito de
melhor oportunizar o contato com as obras, atendendo às necessidades das crianças
pequenas que requerem cuidados e atenção.
São muitos os questionamentos que surgem quando se pensa em um espaço
adequado para a criança pequena, que vão desde os móveis, à iluminação, à acústica,
à temperatura e às cores. Todos eles são subsídios que complementam o espaço em
conjunto à disposição dos objetos, com a finalidade de, nesse espaço de leitura,
acontecerem encontros estéticos, pois é nesse espaço organizado pelo curador que
se propõe potencializar o encontro da criança pequena com o livro.
O espaço adaptado, dentro do refeitório, que configura a bebeteca, possui
cento e vinte livros expostos na parede em caixas (Imagem 3). A exposição desses
livros dá-se em um encostado no outro, com as capas escondidas, aparecendo
apenas a lombada do livro. O ideal seria que os livros estivessem com as capas
voltadas para a criança pequena, assim elas poderiam famililiarizar-se com os livros
e poderiam melhor fazer suas opções.
Imagem 3 – Livros expostos na bebetecas
Fonte: Acervo da autora.
Essas caixas estão fixadas na parede, algumas estão no mesmo nível de visão
das crianças, porém há algumas que não. Há, também, um carrinho (biblioteca
64
intinerante), com rodas para transportar os livros pelas salas ou por outro espaço
(Imagem 4). É um espaço esteticamente organizado, simples, mas convidativo à
exploração das crianças.
Imagem 4 - Biblioteca intinerante
Fonte: Acervo da autora.
Há uma curadoria educativa que evidencia a possibilidade de levar às crianças
a autonomia e a experimentação. Martins (2012b) afirma que os professores também
podem ser curadores quando “[...] ativam culturalmente as obras” (MARTINS, 2012b,
p. 63) . A autora pontua o papel de curadoria exercido pelos professores. Martins aqui
se refere à curadoria de uma exposição, mas a lógica do argumento pode ser também
usada para a organização dos espaços. Um espaço que não venha apenas receber
as crianças pequenas, mas ser um ambiente de aprendizagem que venha nutrir
esteticamente os envolvidos. Essa postura de quem organiza o espaço tende a ser
vista como um espaço para guarda de livros, mas não somente isso, ser também um
espaço de encontros, de diálogos, de movimentos, de afetamentos e de trocas.
No projeto Bebê também lê, dois objetivos iniciais foram propostos para a
organização desse ambiente de leitura, no qual todos os docentes do CEI, o PIBID e
algumas famílias organizaram a bebeteca. Compreendemos que muitos são os
benefícios de ter-se um espaço apropriado, visto que ele permite o convite às crianças
a se envolverem no ambiente e a possibilidade de as crianças aprenderem ainda mais.
Apesar de ser um espaço pequeno, podemos inferir o interesse dos envolvidos na
65
organização, na disponibilização dos objetos, no intuito de possibilitar a aproximação
da criança com os livros e para que esse espaço não seja apenas um ambiente
organizado para expor os livros.
As ações propostas no projeto que foram desenvolvidas pelos docentes e pelas
famílias do CEI são:
O projeto Bebê também lê (ITAJAÍ, 2015) traçou algumas ações para envolver
a família, uma delas foi a confecção de um tapete pelos pais e pelas crianças para ser
usado em contação de histórias. Na escola, cada família recebeu um pedaço de tecido
para desenhar junto ao seu filho. Essa ação que envolve trazer os pais para o
ambiente escolar permitiu discutir sobre o espaço de leitura, sobre a importância do
envolvimento dos pais em levar os filhos na bebeteca, sobre escolher um livro para
ser levado para casa e sobre como as famílias também podem aproximar o livro da
criança pequena.
Como expemplo dessa experiência envolvendo a aproximação das famílias nas
ações desenvolvidas no CEI Darlan Dotto Wiersinski, trazemos o trabalho de pesquisa
de Reis (2014) intitulado: Literatura para os pequenos: experiências de San Miniato.
A autora relata que a rede de San Miniato (Itália) propõe que “[...] projetos envolvendo
a leitura de textos literários terão um êxito ainda mais satisfatório se as famílias forem
envolvidas, porque é evidente que não basta apenas o contato físico com o livro”
(REIS, 2014, p. 47). Essas ações possibilitam tanto ao CEI quanto à família
compartilhar informações sobre as experiências com o livro vividas pela criança, bem
como aproximam as famílias do ambiente educativo. Para tanto, San Miniato
O grupo da escola organizará um lugar onde os livros ficarão expostos e acessíveis às crianças. Faremos um carrinho utilizando caixotes de madeiras com rodinhas, uma vez que poderão ser transportados de um lugar para outro. Projeto do CEI Darlan Dotto Wiersinsk - Bebê também lê (ITAJAÍ, 2015, p. 1).
Construiremos um tapete com as crianças. O objetivo principal é fazer com que o tapete tenha "a identidade" delas, uma vez que servirá como um indicador dos momentos de leitura, iniciando assim um ritual próprio da turma. Projeto do CEI Darlan Dotto Wiersinsk Bebê também lê (ITAJAÍ, 2015, p. 1).
66
desenvolve ações de empréstimo de livros, mas evidencia a importância de um
trabalho com a família para que esta “[...] reconheça o real significado desta ação”
(REIS, 2014, p. 47).
Compreendemos que transmitir o conhecimento às famílias sobre a mediação
do literário realizada no espaço educativo e a possibilidade de as famílias também
serem mediadoras de leituras são requisitos que potencializam a aproximação da
criança com o livro. Nesse sentido, Casanova e Ferreira (2015) afirmam ser
[...] imprescindível registrar a responsabilidade da creche em revelar às famílias suas ações fundamentadas em conhecimentos. Tanto professores quanto familiares podem e precisam conhecer o porquê, como e para que as atividades existem dentro da creche e qual é o seu verdadeiro papel. (CASANOVA; FERREIRA, 2015, p. 89).
Constatamos que o CEI Darlan Dotto Wiersinski desenvolveu ações que
fortalecem a aproximação e a interação das famílias na bebeteca (Imagem 5).
Imagem 5 - Encontro de pais no CEI Darlan Dotto Wiersinsck
Fonte: Acervo do CEI Darlan Dotto Wiersinski.
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No primeiro encontro entre pais, docentes e PIBID, foi possível revelar às
famílias o espaço que estava sendo organizado e quais seriam as ações realizadas
na bebeteca. A pintura do tapete e a discussão sobre a bebeteca evidenciam-nos que
essas ações permitem às famílias conhecerem o motivo pelo qual o espaço está
sendo organizado e sua finalidade. Em se tratando da finalidade desse espaço,
Kupiec, Neitzel e Carvalho (2016, p. 25) propõem que a “[...] experiência vivida dá-se
no trânsito dos espaços e as relações pessoais são marcadas por essa
transitoriedade”. As autoras comentam sobre a possibilidade de possibilitar ao sujeito
espaços que estimulem o contato com a arte, no intuito de estabelecer relações entre
os sujeitos e o mundo em seu etorno. Concordamos com as autoras, visto que o
movimento de encontro com o livro de literatura, no espaço da bebeteca desenvolvido
no CEI, estimula o contato com a arte e permite que as crianças pequenas e seus
familiares sejam tocados pela experiência vivida, desde que essa experiência
possibilite o deslocamento, seja entre os espaços, entre as artes, entre as pessoas
envolvidas nesse movimento. Enfim, as relações estabelecidas no espaço da
bebeteca, nas ações de mediação do literário, que, aqui, também chamamos de
encontro, tendem a provocar um movimento efêmero que corrobora com a
compreensão de si e do outro.
4.2 O ACERVO “[...] um gato pode olhar para um rei”, disse Alice.
“Li isso em algum livro, mas não me lembro qual.”
Lewis Carroll (2009, p. 101).
O livro no conto de Lewis Carroll é apresentado pela personagem Alice como
fonte de outras histórias. “Um gato pode olhar para um rei” - revela o livro como
poderosa ferramenta de interlocução com outras obras. A ideia de um livro dentro de
outro livro mostra-se aqui, pois As aventuras de Alice no país das maravilhas
apresenta características de uma literatura hipertextual, segundo o conceito
apresentado por Martins e Neitzel (2016). Essa declaração de Alice coloca o livro em
relevo e, assim, acontece no espaço da bebeteca - o livro ocupa espaço prioritário,
sendo ele um objeto que ganha força pela própria mediação, por ser um objeto
propositor. Para Martins (2012a, p. 26), “[...] a obra, assim, é sua própria mediadora”.
Nesse sentido, o livro sendo um objeto propositor, estando nas mãos das crianças
68
pequenas, propõe a mediação, isto é, ele próprio medeia. Borba (2016, p. 48) afirma
que, para o objeto propositor: “Não há necessariamente a necessidade da presença
física de um sujeito mediador, pois a relação entre obra e fruidor se constrói pelo
afetamento que ocorre entre um e outro, e este com ou sem a presença do mediador”.
Em se tratando de crianças pequenas, a presença física do mediador no espaço é
fundamental, uma vez que são pequenos e precisam de cuidados e atenção, do olhar
do mediador. Contudo, é importante pontuarmos que a mediação entre criança
pequena e livro pode ocorrer mesmo sem a interferência direta por parte do mediador,
pois, como já afirmamos, o livro próprio medeia.
No CEI Darlan Dotto Wiersinski, constatamos a real possibilidade de mediação
com o manuseio livre dos livros pelas crianças pequenas. Nessa ação, os livros são
manipulados, mordidos e sentidos com os cincos sentidos. São nas experiências com
o livro que a criança pequena irá desenvolver saberes sobre o livro, podendo ele ser
apreciado, tocado, ao invés de ser rasgado. Duarte Jr. (2010, p. 101) afirma que o
toque com “[...] as mãos parecem ser a extensão natural de nossos olhos”, é com o
toque que compreendemos o conhecimento inicial dos nossos olhos. O autor afirma
que “[...] o tato se compraz com a descoberta de formas e texturas, num complemento
da visão, estabelecendo, de certo modo, uma relação ‘amorosa’ com o objeto”
(DUARTE JR., 2010, p. 101, grifo do autor). Para que essa relação aconteça, o acesso
às obras é fundamental para que as crianças pequenas as toquem, brinquem com
elas, as sintam e as experienciem.
O livro, dessa forma, é objeto propositor que faz a própria mediação na roda de
leitura, sendo um momento que a criança pequena está livre para tocar o livro, trocar
os livros com seus pares, imitar o professor e estabelecer uma relação com ele. Tendo
em vista que o livro também medeia, é importante que a bebeteca seja composta por
vários gêneros textuais. A bebeteca do CEI abarca vários gêneros textuais, entre eles:
contos clássicos, mitos, fábulas, contos modernos, parlendas, advinhas, músicas. Os
materiais dos livros caracterizam-se por: livros de pano, plásticos, papel cartonado,
papel mais fino, EVA, entre outras texturas. O aspecto das obras estão com aparência
de bem manuseados, pois muitos apresentam fitas adesivas. As obras são adquiridas
pelos recursos do próprio CEI, principalmente os livros de pano e plástico, mas
69
recebem livros da Secretaria de Educação, do Programa Nacional de Bibliotecas na
Escola (PNBE)20, bem como do Programa do Banco Itaú21 (Eu leio para uma criança).
Muitos dos livros disponíveis na bebeteca são os livros-brinquedo, livros que
possuem características que possibilitam a criança pequena explorá-los das mais
variadas formas, permitindo intimidade entre a criança pequena e o livro. Silva e
Chevbotar (2016, p. 72) afimam que esse tipo de livro convoca “[...] os pequeninos a
momentos de prazer, descoberta e aproximação. São um convite para pulsões, afetos,
sentimentos e prazer sensorial dos pequenos”. No entanto, é importante sinalizarmos
que muitos livros-brinquedo esquecem que sua função se completa por meio da
palavra ou da imagem e que um bom livro, que tem qualidade estética, é aquele que,
além do seu layout atrativo e de material adequado, possui conteúdo que permita
muitas provocações e produções de sentido a partir de sua leitura.
Martins e Neitzel (2016) convidam-nos a ampliar essa discussão sobre a
escolha das obras. Segundo as autoras, o livro é um objeto estético, é arte, e sua
finalidade, que é a apreciação, já define sua característica estética: ele provoca
sensações, os sentidos, e sua função pedagógica (que pode ser o ensino) se realiza
pelo viés estético e artístico, desprovido de finalidade prática. Nessa lógica, um dos
critérios na escolha do livro seria as possibilidades de abertura da obra, de ampliação
de sentidos, mesmo quando o público são crianças pequenas. Uma boa história deve
produzir efeitos mais impactantes na formação das crianças do que uma história
previsível, que subestima a capacidade da criança. Com o tempo e mais idade, as
crianças poderão perceber os hipertextos, entre outras funções possíveis que
permeiam uma obra com características hipertextuais.
Entendemos que a escolha possa partir dos textos que aguçam a curiosidade
e o desejo de ouvir; textos que provoquem as crianças pequenas, que as levem a
experimentar sensações diversas, não só pelo ouvir, mas com o corpo, pois as
crianças pequenas ao experimentar nas ações com os livros entram em contato com
o mundo simbólico, que favorece a apropriação de novos conhecimentos. Nesse
sentido, a escolha dos títulos, a familiarização do mediador com as obras e o
entendimento de que a literatura é arte, e que ela “tem uma potência estética”, como
sinalizam Uriarte, Neitzel e Carvalho (2016, p. 187), são elementos fundamentais para
21 Para conhecer o Programa, acesse: <https://www.itau.com.br/crianca/pratique/>. Acesso em: 10 jan. 2017.
70
quem organiza o espaço, seleciona os livros, bem como para quem atua na mediação
de leitura. Weiss (2016, p. 64) afirma que o “[...] livro pode ser uma porta a mais que
se abre em busca da experiência estética, e das significações de vida. Porém a
escolha deles pode ser atentamente acompanhada, mediada, sendo este o papel do
professor, do bibliotecário, da família”.
Compreender que o livro de literatura é um objeto estético é possibilitar a
entrada das crianças pequenas ao encontro com a obra. Um encontro que pode
possibilitar o envolvimento pela curiosidade, pelo imaginar e fantasiar, descobrir
prazer nas histórias e nos encontros, entre outros sentimentos e sensações possíveis
de uma experiência estética.
4.3 A CRIANÇA PEQUENA E O LIVRO
“Conte-nos uma história!”, disse a Lebre de Março. “Conte por favor!”, implorou Alice.
“E trate de ser rápido”, acrescentou o Chapeleiro”. Lewis Carroll (2009, p. 87).
O conto de Lewis Carroll surge como um convite à contação de uma história.
As personagens evidenciam o desejo por ouvi-la. Assim acontece com as crianças
quando a história é bem contada. Uma história provocativa incentiva a aproximação
com o livro. O encontro literário na bebeteca acontece com frequência - duas vezes
por semana as agentes recebem as crianças nesse espaço quando chegam ao CEI
no início da manhã. Além desses encontros com as agentes, as professoras regentes
fazem as mediações de leituras em outros momentos da rotina. No planejamento da
professora regente, a qual escolhemos para observar as mediações de leitura, consta
ação de leitura a ser desenvolvida no espaço da bebeteca, como uma ação de rotina.
Essa ação pode acontecer com o momento do conto, cuja história pode ser escolhida
pela professora bem como pelas crianças, seguido do momento livre de
experimentação das obras (Imagem 6).
71
Imagem 6 - Mediação do literário
Fonte: Acervo da autora.
Na hora do conto, as crianças são convidadas a ouvirem a história que, por
vezes, é escolhida pela professora como também pelos próprias crianças, que, por
conhecerem alguns títulos, dão suas sugestões. Ao contar a história, a professora
oportuniza momentos de diálogo sobre a história lida, pois, no momento da história, é
permitida a participação das crianças - elas fazem gestos, imitam as personagens,
bem como conversam sobre a história a ser contada. A professora dialoga sobre o
enredo e convida os leitores mirins para manusearem as obras em um processo de
nutrição estética. Picosque e Martins (2012, p. 36) afirmam que a nutrição estética
significa ela ser “[...] ofertada para ser saboreada como um delicioso almoço que
fazemos a alguém”. Para as autoras, o importante é levar os aprendizes a “saber-
perceber” pela experiência do olhar, do ouvir, do tocar. Entretanto, para isso, podemos
mostrar o objeto sem pressa, para que o “[...] corpo possa coletar as impressões e ser
levado a estesia, pelo saber sensível”.
A bebeteca ideal é aquela que permite um ambiente que perpassa as vozes da
leitura. Um espaço em que a criança pequena possa se expressar, interagir e se
72
relacionar com o livro literário, sendo este um movimento que possibilita o desejo pela
aproximação com a obra. Esse espaço de leitura indicou-nos que a mediação
provocada pela professora ao envolver os pequenos na história desafia-os a entrar e
sair da história, abrindo espaço para as falas das crianças. A contação empregada
pela professora oportuniza que ela faça questionamentos dirigidos aos pequenos.
Esse espaço para o diálogo convida as crianças a serem também contadores.
Duarte Jr. (2010, p. 22) discute que é por meio da arte que o ser humano
representa mais de perto o seu encontro primeiro com o mundo. Assim, defendemos
a importância de a criança pequena ter encontros com a arte, em especial com o
objeto livro, desde pequenas, no intuito de possibilitar sentir e perceber o mundo.
Uriarte, Neitzel e Carvalho (2016, p. 191) afirmam que a “[...] educação estética tem
como elemento fundante o sensível a estesia”. Nesse sentido, entendemos que a
estética não está restrita a espaços como os museus, por exemplo. As vivências que
envolvem o ato de um adulto ler, seja uma leitura para si ou uma leitura narrada,
possibilitam a criança observar, sentir e conhecer as funções do livro. É nesse
vivenciar o livro de forma apreciativa que a criança pequena tem experiências
estésicas que são produtoras de sentidos, e a produção do eu é nutrida pela
experiência no mundo vivido (DUARTE JR., 2010).
Durante a contação da história, as crianças escolhem seus lugares, umas
deitadas outras sentadas. Confortavelmente, elas encontram o melhor jeito de
aconchegarem-se no espaço, para assim poderem ouvir. A cada folha sendo contada
muitas falas vão surgindo, os pequenos demonstram gostar de ouvir, bem como têm
afinidade com o enredo da história.
A professora medeia a participação das crianças nas histórias, dando voz aos
pequenos, bem como deixando-os se posicionar perante o texto. São nesses diálogos
que percebemos as intertextualidades presentes nas conexões das histórias
estabelecidas pelas crianças. Durante a contação da história do livro do Urso verde
– pequenos gigantes, as crianças fizeram conexões com a história dos três
porquinhos, apresentando o lobo mal, bem como com outras histórias que permitem
experiências vividas (Imagem 7). Duarte Jr. (2010) constitui como saber sensível a
aprendizagem que ocorre pelo mundo vivido por meio da sensibilidade e da
percepção.
73
Imagem 7 - Experiências com o livro
Fonte: Acervo da autora.
Uma história quando bem contada seduz a criança pequena, permitindo-a que
participe desse momento, retornando a lembranças já ouvidas e vividas. Reyes (2013,
p. 28) propõe que a função do professor de literatura é ser “uma voz que conta”, uma
voz que evidencia as essências das linhas do texto, traçando nelas os caminhos entre
o texto e o leitor. Para a autora, a função do professor é ler, e, nessas leituras,
envolver-se com conversas que são tecidas entre as vozes das crianças e da
professora durante as linhas lidas. A autora impulsiona-nos a pensar que “[...] é
urgente, sobretudo, aprender a conversar” (REYES, 2013, p. 29). É visível os
momentos ricos e privilegiados de conversação e de vivências entre os que ali vivem.
Durante a contação, algumas crianças dispersam-se, se movimentam,
levantando do espaço sem dar tanta atenção à história contada. Contudo, a
professora segue contando a história sem criar situação de aprisionamento para a
criança pequena. Garanhani e Nadolny (2014, p. 66) afirmam que o “[...] movimento
é um recurso utilizado pela criança, para o seu conhecimento e do meio em que se
insere, para expressar seu pensamento e também experimentar relações com
pessoas e objetos”.
Entendemos que são nessas situações em que a professora respeita a entrada
e a saída das crianças pequenas que ela possibilita o aprender pelo brincar, pelo
74
movimentar, estabelecer outras relações, agregando novos significados a realidade
da criança pequena pela fantasia vivenciada nas histórias. Na contação, algumas
crianças saem, movimentam-se, experimentam, brincam, mas logo retornam para
ouvi-la.
O momento da contação de história é uma experiência empregada na
mediação do literário. Pela experiência com o texto por meio do contador, possibilita-
se à criança pequena tecer relações com outras histórias, com os colegas, com o
livro, com a vida, o que a nutre esteticamente e a educa a apreciá-la (Imagem 8). Um
contador de histórias, para Neitzel e Carvalho (2016, p. 155), “[...] é este sujeito que
tocado pela literatura não se cala, sai a cantar e contar o que lê, porque acredita
nisso”.
Imagem 8 - Diálogo durantes as histórias
Fonte: Acervo da autora.
Evidenciamos que as falas de Neitzel e Carvalho ecoam no CEI, pois a
professora desenvolve momentos de contação possibilitando que a criança pequena
estabeleça uma relação de intimidade com os livros. Esses momentos de contação
dão-se em vários espaços do CEI Darlan Dotto Wiersinski e em vários tempos,
-Tem lobo lá?
- A minha casa é
‘amalelo’!
- A minha casa é azul!
- A minha casa é
marrom e é de
madeira!
75
inclusive durante o lanche. A professora senta para conversar com os pequenos e
questiona sobre o que querem ler. Durante a observação, constatamos a participação
das crianças na escolha das histórias, voltadas a alguns personagens já conhecidos
por elas, bem como por títulos já lidos pela professora. Para Machado, M. Z. V. (2012,
p. 19), os leitores mirins gostam muito de ouvir as mesmas histórias por diversas
vezes, pois a história, para a autora, não é só a história, mas sim o momento de
encontro comum ou compartilhado com alguém. Os pequenos demonstram já
conhecer o enredo das histórias, o que comprova que a professora mantém uma rotina
de contação.
Outra forma de contato com a obra é a roda de leitura, uma oportunidade de
as crianças pequenas vivenciarem experiências estésicas com o livro de literatura. É
deixá-las explorarem os livros livremente, brincando, manuseando-os. Reis (2014)
afirma:
O manuseio do livro pelas crianças, que deve ser uma atividade cotidiana, é uma motivação à leitura, principalmente quando a criança vê e ouve um adulto ler uma história de um livro para ela, ou simplesmente quando a criança vê um adulto lendo silenciosamente um livro. (REIS, 2014, p. 34).
O mediador é que dará espaço ao contato com o livro, para que as crianças
pequenas possam sentir, interagir e aprender. Ao privilegiar a autonomia dos
pequenos, por meio de ações propositoras de encontro contínuo com o livro, as
crianças pequenas poderão se sentir à vontade para manipulá-los, conversarem
sobre as histórias (uma conversa que pode ir além das páginas) e estarem mais
próximas do livro. A ação propositora do professor mediador é vista “[...] não como
ponte entre quem sabe e quem não sabe, entre a obra e o espectador, mas como
um ‘estar entre’” (MARTINS, 2012b, p. 62, grifo da autora). Entendemos que esse
estar entre demanda de muita observação e escuta do mediador para que ele
consiga traçar ações que levem a criança pequena à apreciação estética.
Reyes (2010, p. 47) afirma que, para que a criança pequena “[...] possa
entreter-se lendo sozinha, foi necessário que uma figura íntima lhe revelasse, não
uma, e sim muitas vezes, o truque mágico de como olhar e interpretar os objetos
planos e estáticos pinçados entre as páginas”. Essa ação demanda do mediador,
dessa figura íntima, que posssibilite à criança pequena, em suas ações contínuas,
descobrir o prazer impresso nas páginas dos livros. O interesse da criança pequena
em querer manusear, folhear, apreciar e brincar com o livro aponta que no CEI as
crianças ouvem histórias e têm o livro como objeto presente em sua rotina.
76
4.4 A CRIANÇA PEQUENA, O LIVRO E A FAMÍLIA
“Alice! Recebe este conto de fadas E guarda-o, com mão delicada,
Como a um sonho de primavera Que à teia da memória se entretece,
Como a guirlanda de flores murchas que A cabeça dos peregrinos guarnece.”
Lewis Carroll (2009, p. 11).
Alice recebe um conto de fadas, um sonho de primavera. São imagens dos
livros que ficam na memória, são vividas na infância e podem ser relembradas na fase
adulta. Uma lembrança de um momento feliz, de profundo contentamento. Assim
como a pesquisadora que, em meio a muitas vivências da infância, relembra esse
conto, As aventuras de Alice no país das maravilhas - um livro como objeto propositor,
que promove um encontro feliz entre pesquisadora, livro e figura materna.
A bebeteca como um espaço cultural abre portas às famílias para o encontro
com a criança pequena e o livro. A criação de oportunidades, propostas pelo CEI, ao
envolver os pais durante as sextas-feiras, quando as famílias junto aos seus filhos
escolhem um ou mais livros para serem levados para casa (Imagem 9), geram desejos
dos envolvidos a querer participar.
Imagem 9 – Crianças do CEI escolhendo seus livros
Fonte: Acervo da autora.
Fonte: Acervo da autora
77
Casanova e Ferreira ( 2011, p. 61), em uma pesquisa intitulada Famílias de
crianças e escola: relações em foco, afirmam “[...] que todos os estudos que tratam
da relação família-creche carregam consigo a validade desta relação como
indispensável para o desenvolvimento tanto da escola quanto das famílias, mas
principalmente das crianças”. Constatamos que essa ação, ao envolver a família e o
CEI no intuito de compartilhar experiências com o empréstimo dos livros, reflete
positivamente nas crianças pequenas, visto que foi possível ver a alegria dos
pequenos ao escolher as obras e levá-las.
As crianças pequenas sozinhas posicionavam suas mochilas no canto da
parede e dirigiam-se rapidamente à bebeteca. Nela, pais e filhos estavam
familiarizados com as obras, fizeram suas escolhas e conversavam sobre os títulos já
levados para casa. Essa mediação proposta com a criança pequena ao escolher os
livros (Imagem 10) incentiva a autonomia.
Imagem 10 - Leitura livre
Fonte: Acervo da autora.
Mejiá (2010) afirma que
[...] os espacios significativos deben interpretarse no sólo como los lugares físicos sino además como aquellas situaciones construidas por un agente educativo para propiciar experiencias potencialmente educativas. Podrían
78
tomarse como sinónimo de ‘ambiente de aprendizaje estructurado, generador de experiencias’.22 (MEJIÁ, 2010, p. 875).
É nessa perspectiva que entendemos ser um ambiente de aprendizagem, um
ambiente que privilegie a autonomia das crianças pequenas para que elas possam se
movimentar e aprender por si mesmas, estabelecendo relações com outras crianças,
com adultos e com objetos, nesse caso o livro. Que esse espaço seja um ambiente
que ofereça experiências significativas para as crianças pequenas, para que ele possa
ser lembrado como um espaço feliz vivido entre os livros, e que os pequenos tenham
vontade de retornar e poder vivenciar novas experiências.
Mejiá (2010) afirma que o espaço é muito mais que um simples lugar físico, ele
é mediador. Assim, é fundamental a escolha de sua organização para que ele permita
que as ações de leitura e de manuseio dos livros aconteçam de forma natural, de
maneira que as crianças pequenas consigam explorar o ambiente de forma autônoma.
Este conjunto de condições favoráveis para a leitura necessita ser prioridade nas
Instituições de Educação Infantil: o espaço para a bebeteca, um mediador leitor que
faça mediações adequadas que estimulem os sentidos e os livros de qualidade, sendo
eles os objetos propositores. Esse conjunto forma a tríade que envolve a criança na
experiência literária, que contribuirá para a educação dos sentidos e a memória leitora
das crianças pequenas.
A professora do CEI Darlan Dotto Wiersinski relatou que as crianças costumam
escolher as mesmas obras para serem levadas para casa. Esse relato provoca-nos a
pensar sobre a releitura e a relação de intimidade que essa ação de escolher as
mesmas obras podem promover entre os leitores mirins envoltos em projetos de leitura
como estes em debate, por exemplo. Pennac (2008, p. 137) corrobora com essa
reflexão quando propõe que “[...] relemos sobretudo gratuitamente, pelo prazer da
repetição, a alegria dos reencontros, para pôr a prova a intimidade”. Reyes (2010), em
sua pesquisa, aponta que as crianças têm preferências e as sinalizam de diferentes
formas. Um fato curioso que a autora apresenta são os livros preferidos das crianças:
os “mais mordidos”. Desse modo, quando pequenas, elas já sinalizam suas
preferências.
22 “Os espaços significativos devem ser interpretados não só como lugares físicos, mas também como situações construídas por um agente educacional para promover experiências potencialmente educativas. Eles poderiam ser tomados como sinônimo de ‘ambiente de aprendizagem estruturado, gerador de experiências’” (MEJIÁ, 2010, p. 875, tradução nossa).
79
Esse movimento proposto pelo CEI possibilita, por meio da mediação
empregada, a autonomia das crianças pequenas. As Diretrizes Curriculares Nacionais
de Educação Infantil (BRASIL, 2010, p. 26) propõem que se “[...] possibilitem
situações de aprendizagem mediadas para a elaboração da autonomia das crianças
nas ações de cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar”. A
intencionalidade do trabalho com a mediação do literário exercido ao propor a
liberdade da criança pequena escolher as obras pode ser vista como uma nutrição
infantil, oferecendo a criança pequena a possibilidade de fazer seus primeiros ensaios
ao selecionar os livros. Essa nutrição e essa vivência contínua potencializam o
desenvolvimento de sua autonomia.
Os mediadores de leitura precisam estar abertos para dialogar e observar,
atentos ao que os pequenos têm a dizer, respeitando, sobretudo, a escolha da criança
pequena pelo livro. Ao mediar a intenção não é discursar, ou seja, explicar as crianças
pequenas quais são os melhores livros, mas envolver e seduzir os pequenos em
leituras encantando-os. Nessa dinâmica, o mediador lê com paixão e gosto e daí
contamina os envolvidos, para que, assim, as crianças pequenas também queiram ler
o livro. Essa obra torna-se, portanto, objeto de desejo dos pequenos que ampliam seu
rol de leituras por meio do acesso aos livros.
Para a professora do CEI, um dos objetivos desse momento é a aproximação
do objeto estético livro com as famílias e as crianças:
“[...] ao ler para a sua criança estreita laços, ambos desfrutam de um momento de afeto, cumplicidade e de fantasia. O livro infantil ou narrativa pode ser destinado às crianças, mas os bons enredos envolvem leitores de todas as idades, mexendo com seu humor, sentimentos e lembranças, bem como despertando as mais diferentes sensações. A espera para a chegada da sexta-feira, a lembrança de ir até a bebeteca buscar um livro com a criança e o cuidado ao escolher um livro com ela é a mostra de que as famílias procuram formas de se aproximarem das ações do CEI e estão interessadas em fazer a diferença na educação dos pequenos. Isso me leva a refletir sobre a possibilidade de dialogar com as famílias para termos uma devolutiva e a sua visão em relação ao projeto”. (Professora do CEI Darlan Dotto Wiersinski).
O relato da professora sinaliza o compromisso da família com o projeto e as
perspectivas dessa ação produzir desdobramentos, outras ações que podem ajudar a
encantar as crianças pequenas, de forma a promover leituras fruitivas, estreitar o
encontro com o livro e a criança pequena, tornar o CEI um espaço de trânsito, que
valoriza o vínculo estabelecido com as famílias, um espaço de oportunidade de
80
diálogos. As vozes tecidas entre as crianças pequenas envolvidas durante as ações
nas bebetecas demonstram como esse momento as nutre esteticamente. A seguir,
tratamos dos encontros na bebeteca do Centro Municipal de Educação Infantil Padre
Lívio Donati.
81
5 ENCONTROS NA BEBETECA: CMEI PADRE LÍVIO DONATI
Como iria reunir outras criancinhas à sua volta e
tornar os olhos delas brilhantes e impacientes com
muitas histórias estranhas, talvez até com o sonho do
País da Maravilhas de tanto tempo atrás...
Lewis Carroll (2009, p.149).
A epígrafe de Lewis Carroll surge como um
questionamento ao papel do mediador. O que motiva as
crianças a estarem com seus olhos brilhantes e impacientes
com as histórias? O mediador que conta a história é um dos
grandes responsáveis por essa motivação. Vale lembrar
que o processo de contação de histórias, as possibilidades
de trocas e de experiências entre pessoas dependem da
concepção de leitura do literário do mediador. A mediação
é dependente da concepção do literário, por isso, para
entender como o professor medeia o literário, é preciso
conhecer as concepções que fundamentam essa mediação.
Em Castro (Paraná), adentramos um novo ambiente de
leitura, um espaço que foi pensado segundo os princípios
estabelecidos no projeto Bebeteca, berço de pequenos
leitores.
Rosa e Santos (2007, p. 2), autoras do projeto,
justificam o seu objetivo: “[...] expressar, antes de tudo, um
convite a todos os profissionais envolvidos com a educação
dos pequenos a refletirem e a experimentarem o espaço
literário denominado bebeteca, sensibilizando-os da
importância do contato com os livros a partir dos primeiros
meses de vida para a formação de futuros leitores”.
Poderíamos elencar muitas outras questões quando
pensamos em projetos sobre bebetecas, mas defendemos
que, por meio deles, os profissionais que ali atuam tenham
clareza de como as mediações de leituras adequadas são
MELNICK, 5 anos.
82
fundamentais, questionando-se sobre o motivo pelo qual estão realizando ou como
podem realizar as ações em um espaço de leitura.
O projeto Bebeteca, berço de pequenos leitores consta na proposta curricular
da Secretaria Municipal de Educação de Castro, bem como no Projeto Político
Pedagógico do CMEI Padre Lívio Donati. Carvalho, C. da M. (2012, p. 82) sinaliza que
“[...] o importante é que a biblioteca esteja presente no projeto político- pedagógico da
escola como lugar mais apropriado para o desenvolvimento de determinadas
atividades de leituras”. Para tanto, comecemos por analisar o objetivo quanto à
organização do espaço da bebeteca explícito no projeto:
Esse objetivo do espaço, do ambiente organizado, aponta para a potência da
literatura para a criança pequena, o de estimular a leitura por meio de ouvir e contar
histórias, a importância de o espaço da bebeteca ser um espaço físico adequado às
peculiaridades das crianças pequenas, ser um espaço de trânsito, um espaço de
encontros que possibilitem mediações do literário entre professor, familiares e
crianças, um espaço que eles tenham vontade de retornar. Isso nos auxilia a entender
que essa bebeteca tem por finalidade não ser uma sala destinada somente para
guarda dos livros. Nela há uma preocupação em ser um espaço adequado, um
ambiente de aprendizagem que busca atrair os sentidos das crianças para o livro.
A bebeteca deverá promover um ambiente físico e social adequado às crianças que possuem oito meses
a cinco anos de idade e necessitam de cuidados específicos. Deve possibilitar o relacionamento com
outros bebês, crianças, educadores e familiares. Todas as atividades desenvolvidas neste espaço
deverão estimular o ato de ler, ouvir e contar histórias. (ROSA; SANTOS, 2007, p. 20).
Esta ambientação pretende cativar o bebê e fazer com que as crianças ao entrarem na bebeteca, sintam-se
familiarizadas com as cores, móveis, tapetes, almofadas, brinquedos e principalmente pela
diversidade de livros. Com isto pretende-se que futuramente essas crianças sintam vontade e prazer ao
frequentarem bibliotecas tornando-se usuários assíduos. (ROSA; SANTOS, 2007, p. 20).
83
Assim, a finalidade é oferecer às crianças a oportunidade de experimentarem o livro,
pelo ler, pelo ouvir e pelo contar histórias, alimentando os sentidos.
5.1 O ESPAÇO
“A essa altura havia entrado num quartinho bem-arrumado, com uma mesa à janela e, sobre ela (como esperava),
um leque e dois ou três pares de minúsculas luvas brancas de pelica.” Lewis Carroll (2009, p. 44).
Alice apresenta o quarto do Coelho como um espaço bem-arrumado, com
seus objetos dispostos como já se esperasse por ela. Assim é o espaço da bebeteca,
que se apresenta com um ambiente organizado que possibilita momentos de
encontros, dividido em dois ambientes: em um, há uma televisão e um DVD; e, no
outro, a casa da Dona Benta. No primeiro ambiente, há um tapete grande e algumas
almofadas, um armário baixo de fácil acesso às crianças para manusear os livros, o
qual fica na parede da sala que dá acesso aos dois ambientes. No segundo ambiente,
está a casa da Dona Benta, com tapete, almofadas, um pneu para as crianças
sentarem e um painel decorativo com as personagens do sítio e uma gruta da cuca.
O ambiente é bem arejado, com janelas que possibilitam a circulação do ar, a
iluminação é bem clara, possui mais de uma lâmpada. É importante destacar que, em
todas as unidades escolares da Rede Municipal de Educação Infantil de Castro, há
uma sala destinada somente a essa finalidade. A organização do espaço é feita pela
própria professora, que, no contexto da proposta do projeto Valorizando trajetórias,
faz o entrecruzamento das obras e dos materias existentes no espaço.
O projeto Valorizando Trajetórias, desenvolvido pela professora da Bebeteca,
é referente ao tema: “Sítio do Picapau amarelo viajando e encantando as crianças”
(Imagens 11 e 12 a seguir). Esse projeto é realizado com todas as turmas do CMEI
Padre Lívio Donati. A sala é decorada pela professora, a qual utilizou a temática do
projeto. Em se tratando de murais, Souza e Motoyama (2016, p. 30) propõem que
estes “[...] sejam sempre construídos com o auxílio das crianças pequenas para que
aquilo tenha significado para elas”. Para as autoras, essas experiências vividas no
espaço para criança pequena tornam-se ainda mais significativas, quando há
participação das crianças pequenas. Assim, em toda decoração e organização do
espaço, o livro precisa ser visto como objeto principal do ambiente, pois “[...] os livros
são “as estrelas” (SOUZA; MOTOYANA, 2016, p. 30).
84
Fonte: Acervo da autora.
A curadoria educativa para a organização do espaço e a disposição dos objetos
podem ser pensados para ampliar os sentidos da criança, sua formação estética, de
forma a potencializar as experiências que exploram os sentidos. Assim, o espaço da
bebeteca foi organizado com diferentes objetos propositores. É claro que o livro é o
objeto principal e está em destaque, mas alguns outros objetos tornam esse espaço
ainda mais aconchegante e atrativo.
A bebeteca apresenta algumas peculiaridades para o público infantil, visto que,
em sua composição, sinalizamos: mobiliário baixo, dispostos no campo de visão da
criança pequena, com formas arredondadas nas pontas; tapete emborrachado (para
melhor higienização); aparelho de som; prateleiras com livros expostos de forma que
as crianças pequenas possam visualizar a capa, outros aparecendo apenas a
lombada; pneu; televisão; almofadas; cestos com livros; bichos de pelúcia, entre
outros (Imagem 13).
Imagem 11 - Personagens do Sítio do Picapau amarelo Imagem 12 - Casa da Cuca na Bebeteca
85
Imagem 13 - Alguns materiais que compõem o espaço da bebeteca
Martins (2014) discute sobre a ação propositora, que requer a quem atua no
espaço uma ação de curadoria educativa. Essa ação envolve a escolha e a disposição
dos objetos que fazem parte do ambiente. É importante, assim, a escolha dos
elementos que compõem o espaço de forma a propor uma educação estésica (sem
muita poluição visual, por exemplo), com móveis adequados à convivência das
crianças pequenas, para que elas tenham a oportunidade de experimentarem
situações diversas com o livro (para que elas possam se locomover, ter a autonomia
para pegar os objetos), com luminosidade e aquecimento adequado, além da escolha
das obras literárias. Apesar de evidenciar os benefícios que um espaço apropriado
pode promover para a educação estésica, é fundamental que a mediação do adulto
estabeleça vínculos com a criança pequena para que, nesse espaço, ela vivencie e
experimente o processo de estesia, e que as relações e as interações sejam
alimentadas continuamente, contribuindo para essa educação estética.
A educação estética são os afetamentos vivenciados no dia a dia, as
experiências no sentido atribuído por Larrosa (2002); assim, os espaços apropriados
são fundamentais. Segundo Bachelard (1998, p. 62), “[...] o espaço habitado
transcende o espaço geométrico”. Dessa forma, consideramos importante ter um
Fonte: Acervo da autora.
86
espaço apropriado, um espaço onde a criança pequena entre e tenha vontade de ficar,
para ali ter a oportunidade de experimentar encontros sensíveis, não só com a arte,
mas com a vida, que, possivelmente, poderão ser lembrados na fase adulta, como
espaço vivido, espaço sentido.
Partimos do pressuposto de que a organização do espaço é algo que enriquece
a mediação do literário e a apreciação do livro para criança pequena. Soares e Paiva
(2014, p. 14) apontam esse espaço de local de leitura, interação e experimentação
como “[...] referência de cultura e conhecimento para o leitor iniciante”. As autoras
mencionam na introdução no PNBE a palavra biblioteca, mas entendemos que o
espaço da bebeteca também se configura como um ambiente cultural, um local de
trânsito.
O espaço é organizado a fim de possibilitar autonomia das crianças pequenas.
Há uma intenção na disposição dos objetos, no intuito de provocar a curiosidade nos
pequenos e a vontade de tocar e conhecê-los ainda mais, bem como para traçarem
suas preferências delineando as escolhas pelas obras. Aí se dá a nutrição estética
que é a “[...] forma de aflorar as associações decorrentes da experiência particular de
cada um, que vai apresentando novas formas de conhecer algo” (MARTINS;
PICOSQUE, 2012, p. 37). Um ato que alimenta os sentidos, nutrindo esteticamente
pela experiência que o momento atribui, um encontro de interação e contato com a
arte, nesse caso o livro de literatura.
5.2 O ACERVO Alice nunca estivera num tribunal antes,
mas lera sobre eles em livros, ficando muito satisfeita ao descobrir que sabia de quase tudo ali.
Lewis Carroll (2009, p. 127).
Tamanha é a riqueza dos livros que eles nos levam a lugares imaginários. Alice
deu-nos um belo exemplo de um caminho nunca antes visto, pois, mesmo sem ter
saído do lugar, o conhecia por meio dos livros. Assim adentramos o espaço de leitura,
no qual o livro literário é percebido como objeto estético, pois ele não só possibilita
que o leitor mirim conheça novas existências e maneiras de ser, mas também os
auxilia a nutrir seu olhar para com o mundo, inspirando-os a serem no futuro leitores
mais conhecedores e quem sabe pessoas mais sensíveis. Senhorini e Bortolin (2012,
p. 148) defendem o livro propondo-o como foco principal do espaço. As autoras
87
sugerem que o espaço seja organizado com uma “[...] decoração discreta para que a
atenção dos bebês esteja voltada exclusivamente para os textos ali comunicados,
estando eles numa linguagem impressa, imagética, fílmica, cênica, midiática, etc.”. O
livro é o protagonista do espaço, e, por meio dos encontros, das leituras, das
conversas tecidas, do manuseio das obras pelas crianças, pode-se ampliar a nutrição
estética delas quando o acervo possui características hipertextuais.
Martins e Neitzel (2016), em sua pesquisa sobre narrativas hipertextuais
infantis, discutem a importância, desde cedo, de expormos as crianças a um acervo
literário fruitivo. Para as autoras, a literatura infantil contemporânea apresenta, hoje,
diversos recursos que ampliam a percepção do leitor mirim. Segundo as
pesquisadoras, o livro de literatura quando posto em destaque, a sua qualidade
estética pode ser um elemento artístico que auxilia no processo de formação estética.
Por qualidade estética, as autoras compreendem um conjunto de fatores que
envolvem o layout do livro, a ilustração, os materiais com os quais são feitos, assim
como o conteúdo.
As autoras evidenciam a importância de os livros serem selecionados pelos
professores tendo em vista, principalmente, seu conteúdo, isto é, obras que instiguem
e provoquem as crianças por meio das histórias abertas, plurissignificativas, que
ofereçam possibilidades de questionamentos (em contrapartida às fábulas que são
produzidas para moralizar, para uniformizar ideias).
O acervo do CMEI Padre Lívio Donati é composto por, aproximadamente, cem
livros de variados gêneros literários, que incluem: poesias, fábulas, contos modernos,
lendas, cantigas, entre outros (Imagem 14). Eles foram adquiridos pela Secretaria
Municipal de Educação, com recursos próprios do CMEI, por meio do PNBE e do
programa do Banco Itaú. O aspecto dos livros está em bom estado, mas com
características de usados, pois alguns livros apresentam dobras e fitas coladas, sinal
de que já foram restaurados.
88
Imagem 14 - Acervo da bebeteca do CMEI Padre Lívio Donati
Fonte: Acervo da autora.
A composição que abarca os variados gêneros textuais é um dos critérios que
entendemos ser fundamentais para garantir a qualidade estética do acervo. Essa
qualidade, segundo Martins e Neitzel (2016), também pode ser alimentada pela
escolha de livros que não subestimem a capacidade da criança, textos provocativos,
que estimulem a curiosidade delas. As autoras partem do princípio da “narrativa
hipertextual”, pois, para elas, esse tipo de obra contribui para a formação do leitor
mirim, visto ser uma obra inovadora, que convida o leitor para o texto, provocando-o
e instigando-o. Uma obra que, por suas características, se aproxima do conceito de
objeto estético, que foi construída pelo autor na intenção de ser uma obra aberta, a
qual permite ao leitor fazer as suas interferências.
Assim como Martins e Neitzel (2016), Reyes (2015) afirma: “Eu gosto da
complexidade. Me parece que as crianças vão crescendo em complexidade, que um
bom leitor infantil, cultivado desde a primeira infância, é um leitor que acessa muitas
possibilidades interpretativas e que não podemos subestimar os bebês”. Martins e
Neitzel (2016) discutem, também, sobre a escolha das obras que podem permear a
mediação do literário para crianças pequenas, as quais devem ser desafiadoras, que
89
tenham uma estrutura hipertextual, multilinear e plural. No caso das crianças
pequenas, é importante o papel do mediador. Um mediador que desenvolva
experiências de leituras com livros de qualidade, que não se limite a escolher livros
que não desafiem os pequenos, mas sim elegendo obras que agucem a curiosidade
e gerem expectativas no intuito de motivar os leitores mirins a desejarem brincar com
os livros, construindo sentidos.
5.3 A CRIANÇA PEQUENA E O LIVRO
“[...] todos para os seus lugares!” esbravejou a Rainha, e foi um corre-corre de gente para todo lado,
uns tropeçando nos outros, em um ou dois minutos, porém, estavam a postos e o jogo começou.
Lewis Carroll (2009, p. 98).
Diferentemente do conto de Alice, em que a rainha esbraveja solicitando que
todos estivessem a postos para o jogo começar, acontece nos encontros na bebeteca.
Ao chegarem à bebeteca, as crianças, com tranquilidade, sem tropeços e sem corre-
corre, circulam pelo espaço, escolhendo a forma mais confortável para se aconchegar
e aproveitar os encontros literários. Esses encontros acontecem uma vez na semana
com cada turma. Há um caderno de planejamento a ser seguido, no entanto a história
escolhida é contada para todas as turmas. No planejamento, é registrado o título do
livro, os objetivos propostos com a história e como será realizado, bem como se será
utilizado outro objeto propositor para o momento da contação. Nos momentos dos
encontros, a professora leva as crianças à bebeteca, dividindo as turmas em
pequenos grupos, pois, conforme a proposta do trabalho aponta, faz-se necessário
pequenos grupos23. A professora relatou-nos que ela segue a proposta, envolvendo
pequenos grupos, com a intenção de estabelecer vínculos entre a criança, o livro e a
professora. Sinalizamos que a professora opera em suas mediações o que a proposta
anuncia, o que configura que as ações seguem pautadas no projeto da bebeteca.
Quanto ao número de crianças pequenas, compreendemos que a proposta possibilita
um encontro mais íntimo, em que mediador e crianças pequenas podem compartilhar
23 Projeto Bebeteca, berço dos futuros leitores - Rosa e Santos (2007, p. 22) afirmam que “[...] para eficácia deste trabalho, é preciso que o número de bebês e crianças seja limitado, a fim de atender à necessidade e característica individual de cada uma, bem como estabelecer um vínculo maior com os livros e a bebetecária”.
90
do ambiente com mais tranquilidade, bem como a atenção do mediador para com a
criança pequena pode ser ainda mais eficaz. Nos encontros, a proposta é a contação
de histórias e o momento livre para o manuseio das obras (Imagem 15).
Imagem 15 - Aproximação com o livro
Fonte: Acervo da autora.
Para contar histórias, por vezes, a professora apresenta-se sem nenhuma
caracterização; por outras, ela faz uso de fantasias, adereços, chapéus, capas,
óculos, entre outros (Imagem 16). A professora mencionou que “[...] estar com algo
diferente atrai ainda mais a atenção das crianças para o momento da contação da
história”. Os objetos propositores, neste caso os acessórios, são elementos que
podem enriquecer o momento de contação, envolver as crianças pequenas e ampliar
suas vivências com o livro, estabelecendo outras conexões, além das páginas dos
livros. Segundo Souza e Motoyama (2016, p. 30), as “[...] contações com adereços e
objetos desenvolvem o simbolismo dos pequenos, pois o objeto usado para contar a
história, pode trazer a eles outros significados”.
91
Imagem 16 - Caracterização da professora
Fonte: Acervo da autora.
O contador de histórias desempenha o papel de afetar, sensibilizar e mobilizar
a curiosidade dos ouvintes. Evidenciamos a importância do mediador criar este
vínculo de afeto com as crianças pequenas para que, ao contar a história, além de
aproximar para o momento da contação, consiga estreitar a relação da criança
pequena com o livro. Pensando nessa aproximação do livro por meio da contação de
história, Neitzel e Carvalho (2016, p. 153) afirmam que a ação do contador, antes de
evidenciar a literatura como arte, seu valor literário, propõe que o contador seduza o
leitor mirim pela obra, “[...] colocá-lo frente ao texto para degustá-lo”.
Consideramos importante que o contador proponha o acesso à obra como jogo,
que o livro não seja imposto como uma obrigação, mas que, no ato de contar, o
contador consiga exprimir o que está impresso nos livros a fim de contagiar, de afetar
92
e de envolver os pequenos com o livro. Nesse mesmo viés, no projeto Bebeteca, berço
de futuros leitores, Rosa e Santos (2007) afirmam que
[...] a arte de contar histórias requer um profissional cuja doação seja intensa e conquiste seu público infantil sendo este seduzido pela sua linguagem artística. O professor deve estar sensibilizado a sensibilizar, seduzido para seduzir, portanto a história a ser contada deve primeiro apaixonar o narrador. (ROSA; SANTOS, 2007, p. 16).
Conhecer o texto que será contado faz toda diferença, pois facilita ao contador
estar mais envolvido com o texto bem como permite que ele consiga narrar com
segurança, estreitando a relação do livro com a criança pequena. Assim sendo, como
podemos contagiar as crianças pequenas para esse momento de contação de
histórias? Caroline Carvalho, professora e atriz, em 20 de agosto de 2016, ministrou
no Serviço Social do Comércio (SESC), no Departamento Regional de Santa Catarina,
a oficina Contar Histórias: O livro e a formação do leitor. Dentre suas falas, Carvalho,
C. ( 2016) destacou: “A contação de histórias através do livro”, enfatizando a postura
do contador de histórias. Ela propôs, assim, algumas dicas para esse momento,
dentre elas:
ü o contador pode criar seu próprio “convite”, pois ele convoca a criança
pequena e remete à lembrança dos pequenos para o momento de ouvir
histórias e para a roda de leitura. Para Carvalho, C. (2016), um objeto ou
uma música pode ser esse “motivador [...] porque ele é aquele que motiva
as crianças a se organizarem para o momento de ouvir histórias e a roda
de leitura”;
ü escolher uma posição para o contador ficar, que pode ser em pé ou
mesmo sentado, posicionando o livro de forma que as crianças possam
observá-lo;
ü no momento da leitura, o contador pode posicionar o livro para si e depois
mostrar as imagens para os pequenos;
ü em alguns momentos, o contador pode fazer movimentos com braços e
pernas, mas ter o cuidado para não ser o tempo todo, para não chamar
mais atenção para os movimentos do corpo do que para a história do livro
que está sendo contada;
ü a criança pequena pode, também, sentar-se no colo do contador com as
páginas do livro viradas para ambos.
93
Carvalho, C. ( 2016) pontuou a importância desse momento ser diário, que é o
que efetiva o leitor, a compreensão de que a literatura é parte de seu dia a dia. Como
também evidenciou que a contação de histórias é tão importante quanto a roda de
leitura, que é outro momento após a contação. Ela é o momento que ocorre a leitura
livre, pois, por meio da roda de leitura, a criança pequena passa a compreender que
ela encontra no livro as mesmas histórias incríveis que acabou de ouvir.
Pontuamos que a criança pequena se aproxima do livro quando vivencia o
encontro em mediações contínuas, que podem ser pela contação de histórias, pela
leitura, pela roda de leitura ou, simplesmente, pelo manuseio livre dos livros, entre
outras mediações possíveis que possibilitem a criança pequena observar, ouvir, tocar,
sentir, envolver-se com o livro.
Na bebeteca do CMEI, o espaço é organizado para oferecer mais estesia às
crianças. Há um tapete e almofadas. A professora mostra o livro, identifica o nome da
história, seu autor e ilustrador. Ao ler, faz uso da voz fazendo ondulações e gestos em
algumas situações. O rítmo de leitura é tranquilo, com uma voz suave que embala
toda a história. Para Reyes ( 2010):
A ênfase no ritmo e na prosódia e a carga melódica impressa pela voz adulta quando se dirige aos bebês demonstra que carregamos, como bagagem evolutiva da espécie, uma cadência que transcede o uso utilitário da linguagem e transmite uma experiência estética, além do significado literal das palavras. (REYES, 2010, p. 25).
Pelo encantamento criado pela professora, as crianças ouvem todo o conto.
Esse movimento de leitura, o qual envolve a contação e o manuseio livre do livro, feito
em todas as bebetecas dos CMEIs de Castro, apresenta-se como ponto forte
observado.
Em se tratando de crianças pequenas, os mediadores de leituras oferecem as
primeiras ações leitoras às crianças. Assim, são eles que possibilitam o encontro com
o livro. Para Reyes (2012), um momento que oportunize um clima de introspecção é
fundamental, permitindo às crianças condições de diálogo, para que, em torno dos
textos, as vozes sejam tecidas, as experiências e as peculiaridades de cada criança
sejam partilhadas (Imagem 17).
94
Imagem 17 - Encontros literários
Fonte: Acervo da autora.
Nesse sentido, por meio dos encontros literários que evidenciem o momento
estético, a relação estabelecida com o livro e com o mediador pode possibilitar à
criança pequena experiências para que ela possa interagir, conversar e expor as suas
emoções, que a leve à reflexão e à autonomia, ampliando, assim, a sua educação
estética. Uriarte, Neitzel e Carvalho (2016, p. 191) afirmam sobre a educação estética
que não é, portanto, “[...] um sentir espontâneo ou involuntário, mas um ato
contemplativo, reflexivo e, por isso, de empoderamento de sua própria posição no
mundo. Essa tomada de consciência promove sua autonomia”.
Em visita ao Brasil, especificamente em Florianópolis, no evento organizado
pela Universidade Federal de Santa Catarina, intitulado Seminário de Literatura Infantil
e Juvenil, no dia 26 de setembro de 2016, tivemos a oportunidade de ouvir Yolanda
Reyes, escritora e educadora, umas das fundadoras de Espantapájaros24. É também
diretora dessa instituição sobre a qual falou um pouco. Na roda de perguntas, foi
apresentada a seguinte questão: “Como trabalham a leitura na bebeteca, no Instituto
Espantapájaros e [...] como os professores atuam como mediadores neste espaço de
leitura?”. A Professora respondeu:
24 Para conhecer o Instituto, acesse: <http://espantapajaros.com/>. Acesso em: 10 maio 2017.
- A dona Benta vai “tá” lá?
- No sítio vai ter pomba?
95
Nos estudos, temos visto, nas conversas, todo o movimento da leitura constitui-se na primeira infância. Então o que fazemos com um bebê de oito meses? Nada de especial! Colocamos os livros para eles. Ensinamos os adultos a lerem para as crianças. Todos sabem que ler não precisa de muito esforço. E todo este trabalho é: escolher os livros, colocar na frente. E todas as crianças começam a subir no braço de alguém que está contando, começam a morder os livros, a movimentar as páginas e contamos contos e fazemos que os livros estejam sempre presentes na vida das crianças. (REYES, 2016, tradução nossa).
Reyes evidencia, com sua experiência no Instituto Espantapájaros, que não
há nada de muito especial para desenvolvermos um movimento de leitura, mas o
importante é a presença do livro e as ações adequadas do mediador. As palavras de
Reyes ecoam no CMEI Padre Lívio Donati, porque é assim que acontece nos
encontros literários na bebeteca. A postura do mediador é vista como um estar junto
às crianças;, em alguns momentos, ele apenas observa as crianças explorarem o
ambiente de aprendizagem; já, em outros, a ele interage com as crianças. As
crianças monstram-se muito à vontade no ambiente. Ao término da história e dos
diálogos tecidos entre as crianças e a professora, as crianças ficam livres para brincar
com os livros, folhearem as páginas, trocar os livros quantas vezes sentirem interesse.
As crianças são bem livres no espaço, podem brincar na gruta da Cuca e na casa da
Dona Benta. A professora medeia as crianças convidando-as a pegarem os livros e
a escolher as obras do armário, bem como faz leituras individuais dos livros escolhidos
por ela e pelos pequenos. Um momento no qual podemos identificar mais um triângulo
amoroso apontado por Reyes (2012).
No CMEI, as obras estão à disposição das crianças pequenas para
manusearem. Segundo a professora, “[...] sempre é destinado um tempo para livre
acesso das crianças às obras”. Elas têm autonomia para experimentarem os livros,
além de sentirem-no ao morder, ao cheirar, ao tocar e ao folhear, brincam com o corpo
em movimento, tendo o livro como um brinquedo.
A roda de leitura promove uma experiência rica que vai refinando o gosto
pessoal de cada criança pequena, uma oportunidade de estar mais próximo do livro e
de construir com ele uma relação como objeto estético, mediadas pelo adulto que,
nesse caso, pode ser o professor ou alguém da família. O contato dos pequenos com
os livros constrói-se acompanhado da liberdade ao acesso, permitindo-os
experimentarem as obras conforme o que já se é esperado pela idade, como: o
morder, o rasgar, o jogar, o brincar, entre outros. Essas ações são percebidas pelo
mediador como um movimento que pode acontecer pela idade das crianças, porque
96
estão respaldadas pela concepção do livro como um brinquedo, por isso é permitido
que as crianças explorem o livro, brinquem com o objeto, sem se preocupar tanto com
o “CUIDADO”. Nesse sentido, como afirmam Hasper et al. (2017), o importante é que
o mediador nos encontros com a leitura promova uma “[...] profunda relação de afeto
dos envolvidos, o mediador tende a ser aquele que desafia o bebê ao alcance de
novas etapas, pois tudo começa com um encontro, neste caso, que gerem
afetamentos positivos e permitam avançar novas etapas” (HASPER et al., 2017, p.
46). Assim, com o passar das novas experiências, ao ver o adulto lendo, a criança
pequena passa a entender e perceber as funções do livro. Tudo isso só é possível se
o mediador permitir encontros que possibilitem a criança pequena escolher a obra,
manuseá-la e senti-la com os sentidos.
Imagem 18 - Manuseio dos livros
Fonte: Acervo da autora.
As crianças pequenas demonstraram afinidade com a obra, mesmo sem saber
ler convencionalmente. Fizeram uso da ponta dos dedos imitando a professora ao
realizar a leitura, mostraram as imagens relatando e apontando, viraram as páginas,
trocaram os livros entre os pares, bem como escolheram as próprias obras. Essas
ações indicam que esse espaço de leitura oportuniza experiências fruitivas, que os
permitirão perceber o livro de literatura como arte.
No ambiente de aprendizagem as crianças pequenas movimentaram-se,
respeitando os colegas, agindo de forma organizada. Elas selecionaram os livros e
os colocaram novamente na estante. Borba (2016) afirma que
97
[...] as pessoas ao entrarem em uma biblioteca podem ser acolhidas por um espaço de desaceleramento, seja pelos profissionais que lá trabalham, pela arte, pelo ambiente esteticamente organizado, pelas ações que corroboram com o contato sensível do ser humano com a realidade, com sua cultura. (BORBA, 2016, p. 132).
A autora evidencia o espaço da bibloteca como um espaço de
desacelaremento. Isso propõe refletir sobre a bebeteca, visto que as ações realizadas
na bebeteca convidam as crianças a outro tipo de atividade, em que o espaço, os
objetos e o mediador corroboram para o encontro sensível entre a criança pequena
e o livro. Ao interagir com o livro, as crianças pequenas partilham do mesmo ambiente
com tranquilidade. São experiências vividas com o livro, em que são tecidas relações
de afeto entre os envolvidos, que permitem os pequenos nutrirem os sentidos.
5.4 A CRIANÇA PEQUENA, O LIVRO E A FAMÍLIA
Alice observou o Coelho Branco enquanto ele revirava a lista, muito curiosa para saber quem seria a próxima testemunha,
“ ...pois ainda não reuniram muitas provas”, disse para si mesma. Qual não foi sua surpresa quando o Coelho Branco leu,
forçando ao máximo sua vozinha esganiçada, o nome “Alice”! Lewis Carroll (2009, p. 136).
Alice fica curiosa para saber quem será a próxima testemunha do julgamento.
A curiosidade é uma das características das crianças pequenas, e ela as impulsiona
a descobertas. Com o projeto, as professoras mantêm a curiosidade das crianças
pequenas sobre os livros da bebeteca. Quem será o próximo colega que levará a
bolsa de leitura para casa? A escolha pela criança pequena que levará o livro se dá
pela sequência da chamada; assim, todos os dias, duas crianças pequenas de cada
turma levam para casa um boneco personagem do Sítio do Picapau amarelo (Imagem
19) e um livro de histórias, no intuito de mediar a leitura. Junto ao livro vai um caderno
de registro, no qual as famílias sinalizam aspectos da história lida e as percepções,
sendo a professora a que escolhe o título das obras.
98
Imagem 19 - Bolsa de histórias
Fonte: Acervo da autora.
Em relação a essa atividade de leitura que envolve a família e a criança
pequena em levar a bolsa de leitura para casa, temos o exemplo semelhante do
trabalho de Reis (2014). A autora relata o projeto denominado “Presta libro”, o qual
envolve as crianças e as famílias. A intenção do projeto é a criança levar o livro para
casa. Sem data determinada, o livro vai para casa e retorna para a creche. Reis (2014,
p. 55) aponta que o “[...] importante não é o tempo que esse livro ficará em casa, mas
o contato da criança e da família com a literatura e as relações que ela pode
proporcionar entre a criança pequena e a família em casa”. O livro vai para casa em
uma sacola de tecido cru. Essa sacola foi confeccionada pelas avós costureiras, e as
personalizações foram feitas pelos pais. Cada criança possui uma bolsa literária e são
as próprias crianças que escolhem as bolsas. A autora evidencia a importância da
autonomia, visto as crianças terem a liberdade para escolher as sacolas e o livro que
será levado para casa. Reis (2014, p. 55) afirma que as “[...] sacolas, assim como da
escolha do livro que irá para casa com a criança dentro da sacola, instiga uma relação
de carinho com o livro”.
As ações envolvendo a ida do livro para casa em Castro e em San Miniato
acontecem de formas parecidas, mas algumas diferenças nos fazem refletir. Em
Castro, a participação das famílias acontece quando os pais têm interesse em visitar
o espaço, embora não ocorra nenhuma programação envolvendo as famílias nesse
ambiente, além do empréstimo dos livros. Já, em San Miniato, Reis (2014) sinaliza
99
que há uma programação envolvendo as famílias, em um projeto no qual envolve: a
apresentação do projeto, a formação com as famílias, a participação na confecção
das bolsas de leituras, o momento do empréstimo do livro para casa e o cuidado com
os livros.
Outra diferença existente nas ações são o tempo em que o livro fica no
ambiente familiar. Em San Miniato, o livro permanece com a criança o tempo que
achar necessário. Já, em Castro, o livro vai para casa e, no outro dia, precisa retornar
para o CMEI para que outra criança também possa levá-lo para casa. Como são
apenas duas bolsas de leituras por turma, o tempo de espera para a criança pequena
levar o livro novamente para casa é maior. Dessa forma, o ideal seria que cada criança
pequena tivesse sua própria bolsa de leitura, para que as oportunidades de
aproximação do livro com a família acontecessem com mais frequência.
Em Castro, a bolsa de leitura é confeccionada pela própria professora, sua
caracterização segue a representação dos personagens que envolvem o projeto o
qual está sendo trabalhado no contexto da bebeteca. A mediação do literário
desenvolvida na bebeteca envolvendo o empréstimo dos livros está em aproximar o
livro da criança pequena. Nesse sentido, o livro passa a ser fruído como arte e uma
relação estética vai sendo tecida. Essa parceria entre escola e família é fundamental,
pois, apesar de os pais não estarem presentes nesse ambiente de leitura, a bolsa de
histórias, hoje, é o recurso que as bebetecas de Castro escolheram para lançar o livro
no ambiente familiar.
A seguir, sinalizamos o conceito de bebeteca que compreendemos ser o mais
adequado à realidade brasileira, a partir das pesquisas de Escardó I Bás (1999),
Instituto Espantapájaros (2014), Senhorini e Bortolin (2008), Pereira (2014), Barros e
Santos (2009) e algumas considerações sobre as duas bebetecas investigadas.
100
6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
[...] foi assim que, bem devagar, país das maravilhas foi urdido,
Um episódio vindo a outro se ligar – E agora a história está pronta,
Desvie o barco, comandante! Para casa! O sol declina, já vai se retirar.
Lewis Carroll (2009, p. 11).
Chegamos à parte na qual o trabalho se apresenta
como forma de fortalecer as forças e rever tudo aquilo que
nos acompanhou durante todo o caminho percorrido. Os
capítulos foram tomando forma, consistência, descobertas
foram apresentadas e, na busca por desvelar inquietações,
objetivos alcançados. Diferentemente do conto de Alice, em
que a história foi urdida, esta pesquisa apresenta-se como
forma de divulgar esse espaço de mediação do literário,
dando início a outras pesquisas que possam vir a discutir
sobre esse espaço de leitura denominado bebeteca.
Uma das inquietações foi identificar as bebetecas no
Brasil. Pensar em um espaço destinado à leitura para as
crianças, em bebetecas, ainda é uma novidade, visto tratar-
se de um ambiente que, aos poucos, está ganhando espaço
em terras brasileiras. Nesta pesquisa, encontramos
dezenove bebetecas, mas, para análise, escolhemos duas:
uma bebeteca em Itajaí (SC), o CEI Darlan Dotto Wiersinski;
e a outra em Castro (PR), o CMEI Padre Lívio Donati. Como
o objetivo principal pautou-se em analisar como ocorre a
mediação do literário nas bebetecas, o estudo focou em
conhecer os espaços educativos que possuem uma
bebeteca. Para compreendê-las, foi necessário visitá-las,
conhecer cada ambiente e acalmar as inquietações para dar
lugar a outras.
Nesse processo de desvelo de inquietações, surgiu a
discussão sobre o conceito de bebeteca. Para entender um
pouco esse conceito, pesquisamos trabalhos já existentes.
MELNICK, 5 anos.
MELNICK, 5 anos.
101
Sinalizamos as pesquisas de Escardó I Bás (1999), Instituto Espantapájaros (2014),
Senhorini e Bortolin (2008), Pereira (2014), Barros e Santos (2009). A partir dos
conceitos desses pesquisadores e dos dados coletados nas bebetecas analisadas,
construímos um conceito de bebeteca que se adequa à realidade brasileira e ao
objetivo da formação de leitores: a bebeteca como uma ação de aproximação da
criança com o livro, independentemente do espaço físico, seja uma sala, um canto ou
mesmo uma cesta de livros, desde que, nesse espaço, haja a intenção de aproximar
os livros da criança pequena, isto é, que seja produto de um projeto que pode ser
construído e que este seja de conhecimento de todos os docentes que fazem parte
da Instituição. Outro aspecto importante trata-se da concepção do livro, que ele seja
visto como um brinquedo, que possa estar nas mãos das crianças pequenas, para
que elas possam entender sua função social.
Compreendemos, dessa forma, que a mediação do literário proposta na
bebeteca pode ser feita por objetos, por professores, pela família, entre as crianças
pequenas e pelo próprio livro. Com os pequenos, a mediação do adulto tem algo
especial que é a relação amorosa que está em volta, é um estar junto (MARTINS,
2014), é um oferecer a leitura, variada e diversa, um texto que alimenta os sentidos,
um texto fruitivo que possa levar a criança pequena à autonomia e à reflexão. Esse
encontro demanda do mediador um olhar especial em relação à criança pequena. O
adulto compartilha de um mesmo livro que pode ser no colo ou não, sua voz como um
convite para ouvir um conto, elucidando uma troca de livro que possibilita ampliar o
repertório literário, de ter uma história preferida e o desejo de estar rotineiramente com
os livros. Nesse sentido, defendemos que a bebeteca seja um ambiente de
aprendizagem, um lugar de trânsito e de encontros, que possibilite a educação
estética.
Tendo em vista o conceito de bebeteca, a Figura 9 a seguir aponta questões
que consideramos fundamentais para que a bebeteca se constitua como um espaço
propício para a formação dos futuros leitores, de forma que ela impacte na formação
estética dos pequenos. As palavras compõem uma rede semântica que sinalizam o
conceito de bebeteca. Cada cor indica um aspecto que é essencial na formação desse
conceito.
102
espaço sujeitos projeto educação estética
livro mediação do literário
Figura 9 - Nuvem de palavras 2
Fonte: Elaborada pela autora para fins de pesquisa.
Dentre essas questões, evidenciamos a existência de um projeto. Ambas as
bebetecas selecionadas para este estudo possuem um projeto que norteia as ações
desse espaço cultural. Entendemos que a existência do projeto de bebeteca visa a
ser um documento fundamental, norteador, pois fundamenta as reais intenções com
o espaço e com as mediações de leitura que se pretende desenvolver, bem como
esclarece e agrega conhecimentos aos docentes e à família sobre o papel desse
espaço de leitura. Constatamos que os projetos em si são diferentes, porém o objetivo
principal de ambos é aproximar a criança pequena dos livros no espaço da bebeteca.
Organizar um projeto de bebeteca pode não ser uma tarefa fácil. Dentre as
muitas dificuldades em sua realização, está o espaço disponível nas Instituições de
Educação Infantil para essa finalidade, algo que pode limitar ou tirar os livros do
armário. Dessa forma, faz-se necessário pontuar exemplos significativos de bebeteca:
um espaço próprio, o que seria ideal ter em todas as Instituições de Educação Infantil
103
do Brasil, sendo uma sala destinada apenas para as mediações de leituras.
Compreendemos que esse ideal depende de políticas públicas, mas, também, de um
olhar dos gestores das instituições de Educação Infantil de perceberem o livro como
um importante objeto para o desenvolvimento cultural da criança pequena. Nesse
sentido, esta pesquisa trouxe um CEI que, apesar de não ter um espaço criado para
esse fim, sem as condições ideais, produziu e executou o projeto de implantação de
uma beteteca.
Outro aspecto importante que buscamos evidenciar ao longo desta pesquisa
se trata da concepção do livro, que ele seja visto como um brinquedo, que possa estar
nas mãos das crianças pequenas, para que elas possam entender sua função social.
O livro é um objeto propositor e, como tal, pode despertar na criança pequena
percepções diversas, as quais podem, com a ajuda da mediação de um adulto,
tornarem-se ao longo de sua infância fundantes para sua formação leitora. Quando
abordamos o livro brinquedo, não estamos falando do livro-brinquedo (com
dobradoras, sons ou outros recursos), com uma estrutura própria para criança
pequena experimentar. Defendemos que o livro de qualidade estética esteja nas mãos
da criança como brinquedo para que ela possa experimentá-lo, mordê-lo, cheirá-lo,
tocá-lo, jogá-lo e até ter o direito de rasgá-lo quando ainda não estiver familiarizada
com ele; afinal, são situações naturais que poderão ocorrer pela idade em que a
criança se encontra. A rotina atribuída ao contato com os livros possibilita que a
criança possa vir a entender as funções sociais dos livros, pois a criança pequena não
aprenderá sobre o livro se alguém falar dele para ela, mas sim se ela o experimentar.
Contudo, não é qualquer livro. É preciso atentar-se para a qualidade estética
desse livro. Não podemos subestimar a capacidade intelectual da criança pequena;
ao contrário, é necessário colocá-la em contato com variados gêneros literários, assim
como selecionar aqueles que aguçam sua criatividade e refinam seu gosto. Muitos
são os títulos existentes no mercado para o público infantil, mas cabe ressaltar a
importância da Instituição de Educação Infantil, ter critérios bem definidos de escolha
dos livros, critérios que garantam a seleção de livros com qualidade textual da obra,
pois não é qualquer obra literária que proporciona aos leitores deslocamentos. Assim,
é preciso que as crianças pequenas tenham acesso a obras literárias que nutrem os
sentidos, que alarguem as experiências vividas com o objeto livro. É muito importante
que os encontros com os livros possam acontecer de forma contínua, pois eles iniciam
104
as crianças pequenas no universo literário. Quando esse processo é bem mediado,
ocorre uma relação de fruição que pode ser deflagrada, pois a formação de um leitor
é algo que se conquista a cada dia, pela experiência e pelo contato com os textos, por
ouvir o mediador contando e por sua própria leitura. Os bons livros são aqueles que
possuem riqueza estética, mas que também possibilitam às crianças pequenas
interagirem, brincarem, sentirem o ritmo do jogo de linguagens, dentre tantas outras
riquezas, quando compartilham com o adulto ou com seus pares momentos de afeto,
com a presença dos livros, nutrindo-se esteticamente.
A presença do livro na rotina dos pequenos nas bebetecas do CEI Darlan Dotto
Wiersinski e do CMEI Padre Lívio Donati ocorreu de forma contínua, pois ele é um
objeto que está em volta a tantos outros. Dessa forma, o intuito das bebetecas é que
o livro seja visto como um brinquedo, como qualquer outro, que esteja realmente
circulando nas mãos dos pequenos, que ele não venha a provocar medo ao ser
tocado, mas sim liberdade e vontade de brincar com ele.
Uma inquietação que nos perseguiu ao longo desta pesquisa foi sobre as
condições dos espaços físicos das bebetecas. A bebeteca do CEI Darlan Dotto
Wiersinski, ao desenvolver um espaço com poucos recursos, possibilitou-nos refletir
sobre o espaço ser importante, porém não só ele, visto que a mediação é tão
importante quanto o espaço quando o objetivo é aproximar a criança pequena do livro.
Defendemos, dessa forma, que a bebeteca necessita ter um espaço próprio, um
ambiente arejado, com iluminação artificial e natural, com móveis na altura das
crianças pequenas, com elementos para ampliar o conforto das crianças como
almofadas. Um espaço apropriado sinaliza a importância que uma escola dá a este
objeto cultural, que é o livro, e possibilita interações que um espaço adaptado inibe.
Um espaço adequado requer uma curadoria educativa (MARTINS, 2012b), que inicie
por uma organização arquitetônica que busque auxiliar no desenvolvimento da
autonomia das crianças pequenas e permita a exploração da curiosidade, isto é,
possibilitar um ambiente de aprendizagem em que as crianças pequenas possam
escolher os seus próprios livros, sem depender tanto do adulto. A bebeteca é um
espaço que se configura para além da guarda de livros, um lugar para viver e brincar.
O exemplo do CEI Darlan Dotto, no entanto, pode ser visto como uma
motivação aos profissionais que trabalham em ambientes educativos que não
possuem uma sala destinada à bebeteca, mas tem interesse em desenvolver um
105
espaço como esse. Ao discutir como os espaços das bebetecas do CEI Darlan Dotto
Wiersinski e o CMEI Padre Lívio Donati interferem na mediação do literário, buscamos
apontar que os professores podem potencializar os livros, por meio da organização
do espaço bebeteca, de forma a possibilitar o interesse dos pequenos a
experimentarem o livro como brinquedo. Essas são ações de curadoria educativa que
propõem evidenciar o livro como objeto propositor em destaque no ambiente.
Retornando à questão problema que norteou este estudo - Como ocorre a
mediação do literário nas bebetecas? –, compreendemos que a mediação do
literário constitui-se pela visão dos docentes em perceber a potência desse espaço, a
potência das crianças pequena e do literário. A bebeteca um espaço não somente
para guarda de livros, mas sim sua organização necessita primar por uma ação
propositora, que passe pela curadoria educativa, ação esta que potencializa o
encontro entre a criança pequena e o livro, sendo este um ambiente de aprendizagem
para as crianças pequenas por meio de encontros com os livros. Além de ser um
espaço que atende as crianças pequenas os encontros nas bebetecas observadas
são mediados por meio de contações de histórias - são momentos que os livros são
escolhidos tanto pelas professoras como pelas crianças para serem lidos ao grupo. É
um um momento de mediação do literário compartilhada, com a possibilidade de a
criança pequena vivenciar as funções do livro pela voz do mediador.
Uma das formas de mediação do literário é a contação de histórias, além de
seu poder de encantamento, propiciada pelo momento agradável com a presença do
livro, pode ser vista como uma mediação que amplia o contato com o objeto propositor,
pois convida a criança pequena a experimentar histórias narradas, levando-a a
perceber (ou não) que são dos livros que as histórias surgem. Assim, ela pode ser
afetada e envolvida pela obra. Dessa forma, sinalizamos que é muito importante a
presença física do livro durante a mediação, como forma de a criança pequena
perceber que é de dentro dele que vem a história que está sendo contada.
Outra ação que amplia as possibilidades de mediação do texto literário é a roda
de leitura, presente nos encontros na bebeteca. Nesse momento ocorrem manuseio
livre dos livros, as crianças brincam, interagem, trocam de livros com seus pares,
conversam, balbuciam, movimentam-se no espaço de aprendizagem. Enfim, exploram
a liberdade de acesso aos livros. Momento que as professoras medeiam a escolha
das obras, fazem leituras individuais para as crianças que as solicitam, conversam
106
sobre as histórias, dando voz às crianças, colocando-se na mesma posição de diálogo
dos pequenos, desafiando-os a fim de ampliar o interesse dos pequenos pelos livros
e a participação dos pequenos nas conversas. As professoras das bebetecas do CEI
Darlan Dotto Wiersinski e do CMEI Padre Lívio Donati propõem encontros em que o
livro seja visto como um brinquedo, que ele esteja nas mãos das crianças, permitindo
experiências aos pequenos que possam alimentar os sentidos. Quando essas ações
de mediação ocorrem de forma contínua com a criança pequena, de vivência e de
presença do livro em suas vidas, esta poderá perceber aos poucos a função social do
livro.
Outro ponto importante evidenciado nesta pesquisa foi que a família é vista
como mediadora de leitura. Isso foi observado na bebeteca do CEI Darlan Dotto
Wiersinski, onde o espaço é aberto para os familiares experimentarem a leitura junto
aos seus filhos e escolherem obras para empréstimo. Em casa, com a família, um
irmão, o pai ou a mãe, propõe-se a mediação por meio de uma brincadeira prazerosa,
sem cobranças, momento no qual são estabelecidos vínculos de afeto, entre o adulto,
a criança e o livro. Na bebeteca do CMEI Padre Lívio Donati, o espaço é aberto às
famílias para visita caso tenham interesse. Há uma ação de leitura que faz uso de
outros objetos propositores, a bolsa literária, um caderno de registro e um
personagem, para que a criança leve o livro para casa e conte com a ajuda da família
para mediar. No dia seguinte, esses objetos precisam retornar para que outra criança
pequena também possa participar da ação mediadora. Essa foi uma ação que a
bebeteca encontrou para ampliar as possibilidades de contato da criança com os
livros.
Envolver a família em um ambiente leitor é uma oportunidade interessante de
propor o encontro com os livros além dos muros do ambiente educacional. Um espaço
de leitura familiar que possibilita à criança pequena imergir na cultura dos livros desde
cedo. Quanto mais cedo as crianças envolverem-se em um ambiente de
aprendizagem que gerem experiências estéticas literárias, maiores serão as
possibilidades de serem adultos leitores. A mediação proposta pela bebeteca é a
oportunidade e o direito do contato da criança com a leitura do literário. A qualidade
dos encontros são a chance de promover experiências sensíveis que poderão
provocar e afetar as crianças por meio das relações de apreciação e fruição com o
livro. O trabalho desenvolvido pelas bebetecas permite uma educação estética das
107
crianças pequenas devido ao fato de elas serem educadas para apreciação do livro
como objeto estético. E a postura sensível das professoras nesses momentos pode
possibilitar que o movimento literário se converta em momentos de troca, de interação,
de afeto e de formação mútua.
Diante desse cenário de bebetecas, parcerias precisam ser estabelecidas entre
o gestor e os docentes da instituição de Educação Infantil. A eficácia do trabalho
exercido em projetos como esse em questão pode ser articulada com estratégias para
organização, recursos, definição, conversas e, acima de tudo, um trabalho de equipe,
que tenha como propósito a mediação do literário com a criança pequena.
Nesse movimento, a pesquisa revelou a ação do professor e do gestor como
fundante para a mediação cultural. A mediação nesse contexto deu-se: a) pela ação
propositora no ambiente da bebeteca, que se refere a oferecer o livro de literatura nos
encontros para as crianças pequenas; b) pela curadoria educativa, que organiza o
espaço; C) pelos objetos propositores, pois vimos que o ambiente de aprendizagem,
que é um espaço que proporciona provocações estéticas, também possibilita
experiências apreciativas e fruitivas com a presença do livro. Vimos que esses critérios
corroboram com a nutrição estética das crianças pequenas, sendo essa a forma como
são alimentados os sentidos das crianças pequenas durante os encontros, com
pensamentos, percepções que levem a reflexões. A ação propositora, a curadoria
educativa, os objetos propositores e a nutrição estética (MARTINS, 2011) são os
elementos que vimos como primordiais na ação do professor mediador.
Trazemos as Aventuras de Alice no País das maravilhas, a qual nos
acompanhou durante toda esta pesquisa. Na obra, Alice estava dormindo e vivendo
um sonho. Como Alice, vivemos uma grande aventura, mas diferentemente da
experiência dela, que vivenciou um sonho, experimentamos a realidade de pesquisar.
Viver a rotina de pesquisadora, às vezes, não é tão fácil assim, mas aprendi a superar
as dificuldades e, com elas, refletir, na busca de vencer os obstáculos. Ser
pesquisadora também proporcionou experiências singulares, quanta curiosidade,
como passou rápido, quantos momentos intensos e estésicos, que fizeram me tornar
uma pessoa melhor, muito mais sensível!
Esta pesquisa não se encerra aqui, ela é só o começo de um movimento em
torno do direito da criança pequena ao livro, para que outros pesquisadores também
possam pesquisar e revelar outros achados voltados à criança pequena. Por fim,
108
buscamos compreender a mediação do literário nas bebetecas e viver essa realidade,
tão intensa, e que pode ser percebida como o sonho curioso e maravilhoso de Alice...
“Acorde, Alice querida!” disse sua irmã. “Mas que sono comprido você dormiu!”
“Ah, tive um sonho tão curioso!” disse Alice, e contou à irmã, tanto quanto podia se lembrar delas,
todas aquelas estranhas aventuras que tivera e que você acabou de ler; quando terminou, a irmã a beijou e disse:
“Sem dúvida foi um sonho curioso, minha querida; agora vá correndo tomar seu chá, está ficando tarde.”
Alice então se levantou e saiu correndo, pensando, enquanto corria o mais rápido que podia, que sonho maravilhoso tinha sido aquele”
Lewis Carroll (2009, p. 146).
Acorde, Francislaine, acorde! O sonho maravilhoso da bebeteca se realiza!
109
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116
LISTA DE APÊNDICES
Apêndice A: Consentimento de participação dos alunos 117
Apêndice B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento para os pais 118
117
Apêndice A - Consentimento de participação dos alunos
Eu,____________________________________, RG________________________,
CPF ______________________ abaixo assinado, concordo com a participação dos
meus alunos da Educação Infantil como sujeitos do presente estudo. Fui devidamente
informada e esclarecida sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim
como os possíveis riscos e benefícios decorrentes da participação das crianças
do................................................................................ Foi-me garantido que posso
retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer
penalidade aos nossos alunos.
Itajaí, ........de .....................................de .............
Nome:
________________________________________________________________
Assinatura da diretora do CMEI: _______________________________________
Telefone para contato: __________________________________
118
Apêndice B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento para os pais
Convidamos seu filho(a), aluno(a)
do..............................................................................................................................
para participar, como voluntário(a) de uma pesquisa. Após os esclarecimentos e
informações a seguir, no caso de aceitar, pedimos a gentileza de assinar ao final deste
documento. Em caso de recusa ninguém será penalizado de forma alguma.
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:
TÍTULO: ___________________________________________________________
MESTRANDA:_____________________________________________________
ORIENTADORA: Professora Dra. Adair de Aguiar Neitzel
PROBLEMA DA PESQUISA
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Ø Apresentar concepções de bebetecas.
Ø Identificar bebetecas no Brasil.
Ø Discutir sobre os acervos literários das bebetecas do Centro de Educação
Infantil Darlan Dotto Wiersinski e do Centro Municipal de Educação Infantil
Padre Lívio Donati.
Ø Identificar as condições dos espaços físicos das bebetecas dos Centros de
Educação Infantil que são foco desta pesquisa.
Ø Identificar como as professoras interagem com a crianças durante os encontros
literários nos dois Centros de Educação Infantil pesquisados.
CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO
Eu,____________________________________________,RG__________________
____, CPF ______________________ abaixo assinado, concordo com a participação
de meu/minha filho(a) como sujeito do presente estudo. Fui devidamente informado
(a) e esclarecido(a) sobre a pesquisa e os procedimentos nela envolvidos. Foi-me
Como ocorre a mediação do literário nas bebetecas?
119
garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto
leve a qualquer penalidade ao meu/minha filho(a).
Itajaí, ......de ...................................de 2015.
Nome: _________________________________________________
Assinatura do Responsável: ________________________________
Telefone para contato: ____________________________________