@Bellorodrigo - Da Inconstitucionalidade Do RDD

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  • Da Inconstitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado

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    Da

    Inconstitucionalidade

    do Regime Disciplinar

    Diferenciado

    Rodrigo Bello

    Professor de Processo Penal e Leis Especiais em cursos no Rio

    de Janeiro, Paran, Bahia e Minas Gerais

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    Sumrio

    1- apresentao do tema.........................03

    2- trmite legislativo da lei 10.792/03.........07

    3- sistemas e prises em evoluo...............16

    4- conceitos jurdicos..........................22

    5- efetividade da norma.........................25

    a) presos no RDD........................25

    b) Pioneirismo Paulista.................39

    c) leading case pela inconstitucionalidade....44

    6- crticas.....................................55

    7 regime de segurana mxima...................66

    8- concluses...................................76

    9- bibliografia.................................79

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    O Inferno passa vergonha com o que acontece aqui dentro.1

    Detento no Identificado

    1 Frase retirada do Laudo n 274/98 1DRP/RS. WOLFF, Maria Palma. Antologia de Vidas e Histrias na

    Priso: Emergncia e Injuno de Controle Social. Ed. Lumen Juris.1 Edio 2005. Pgina XXV.

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    1 Apresentao do Tema

    O que necessrio para que tenhamos um mundo menos violento?

    O tema da violncia percorre as pginas de todos os jornais mundiais com uma nfase jamais vista. Ser que possvel vencer esse mal da criminalidade? Por que ela vem

    crescendo absurdamente, principalmente nos grandes centros?

    Ser que iremos acompanhar sem esperanas a evoluo dessa praga? Ser que devemos continuar abrindo mo de direitos existenciais mnimos, tais como a liberdade, para que

    possamos nos sentir protegidos?

    Hoje um governante que no encare esse problema, no mnimo, deve estar com suas faculdades mentais

    prejudicadas. So eleitos inmeros polticos com base no combate criminalidade. E nesse campo vemos as mais variadas e absurdas promessas. Vejamos dois exemplos: Construir presdios de segurana mxima, na concepo de alguns, erradica a violncia; inibe o criminoso. Alm disso, leis severas, de penas altssimas, sem benefcios

    faro com que os criminosos pensem duas vezes antes de

    cometer seus delitos. Pura iluso.

    Neste aspecto, para nossa infelicidade, o que vem

    ganhando status de verdadeira soluo destes inmeros problemas a poltica institucional de lei e ordem, implantada recentemente na cidade americana de Nova York. impressionante a exportao desta ideologia que muitos

    adoram em todos os cantos do planeta. Difcil encontrarmos

    pessoas adeptas de um combate em longo prazo, consertando

    primeiro problemas sociais de condio mnima para que a

    pessoa tenha sua dignidade humana respeitada.

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    Mas quem nos dias atuais, de alta

    competitividade, de tecnologia a velocidade da luz, de

    imediatismos exagerados, de globalizao, ir levantar a bandeira da anlise conjuntural da questo da violncia? Poltico que sustente isso em seus discursos provavelmente

    ir sofrer uma derrota considervel.

    O Direito Penal mnimo, de interveno mnima

    est preso nos livros de Direito. Ou melhor, este Direito Penal tornou-se a nica visvel soluo dos problemas da violncia.

    A humanidade quer a resposta para ontem. Os

    governantes querem mostrar servio, mesmo que isso acarrete

    um desrespeito completo da condio mnima que um homem

    precisa ter para sobreviver como cidado.

    Pergunto-me o porqu da falta de investimentos na

    educao, na sade, no saneamento bsico, na pavimentao de ruas, em suma, problemas esses que geram em muitos

    cidados a revolta, a indignao, verdadeiros propulsores

    pela busca de uma vida mais fcil. Pela vida do crime. No existem opes, o Estado no d estrutura mnima para que muitas pessoas construam algo e tenham orgulho disso. Quem soluciona os problemas da famlia o gerente, o dono do morro. Quem no tem problemas financeiros que mora perto? So essas mesmas pessoas. o Estado que paga o remdio dos moradores enfermos? Logicamente que no, pois so essas

    mesmssimas pessoas descritas anteriormente. Onde o Estado

    no chega, o crime chega forte, claro e evidente. Os

    valores se invertem. Os exemplos tomam novas caras. O

    respeito vem com o porte de uma arma militar importada. No

    existe orgulho em portar em baixo do brao um caderno

    escolar. Busca-se, sem opes, aquilo que muitos nunca

    tiveram: dignidade.

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    Nosso presente trabalho radicaliza. Critica

    severamente a postura de nossos legisladores em solucionar

    o problema da violncia com a construo de presdios de

    segurana mxima com um regime altamente degradante para o condenado.

    Muitos reacionrios, muitos representantes da direita conservadora do Direito, como bem descreve o

    professor lvaro Mayrink da Costa e como o aplaudo internamente por isso em suas aulas, devem estar afirmando

    neste instante que se trata de um trabalho pr-criminalidade.

    O leigo e o reacionrio juntam-se nessa crtica previsvel. Nosso trabalho no a favor ou contra o criminoso de alta periculosidade, termo este altamente

    subjetivo que todos agora, de uma hora para outra, arrumaram um conceito pr-determinado. Ele perigoso e ponto final.

    Nosso estudo a favor da dignidade humana.

    Gostaramos de enfrentar problemas conjunturais dos mais variados, passear pela sociologia, estudar

    aspectos criminolgicos, todavia nos ateremos a um tema especfico. A criao de um regime disciplinar diferenciado

    (RDD) para os criminosos perigosos. Nossos representantes no legislativo entendem que essas pessoas precisam se

    isolar do mundo para que suas penas sejam cumpridas do jeito que a sociedade exige. Afirmo que com requintes de crueldade para os tempos atuais. Veremos as justificativas para a criao deste regime, analisaremos em quais

    circunstncias ele ser aplicado e, finalmente, sem antes critic-lo veementemente, iremos concluir com a

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    apresentao de novos projetos, em trmite, no legislativo, neste sentido.

    Crticas com certeza existiro, at porque o tema escolhido faz com que qualquer pessoa afirme

    categoricamente sua posio a respeito. Todavia, mal sabem

    nossos crticos, que a escolha deste tema foi justamente e, simplesmente um, provoc-los.

    A inconstitucionalidade do Regime Disciplinar

    Diferenciado, o RDD, criado pela lei federal 10.792/03, o tema que passaremos a discorrer nas prximas pginas.

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    2 Trmite Legislativo

    A lei 10792/03, proveniente do Poder Executivo, pelo projeto de lei n 5073 de 2001, teve um longo trajeto legislativo at se tornar lei propriamente dita. Sua apresentao se deu em 13 de agosto de 2001 e sua

    publicao como lei, apenas em dezembro de 2003. Podemos

    dizer que foi um trmite altamente complexo com diversas

    alteraes e inmeras intervenes dos parlamentares.

    Seu objetivo, desde o incio, foi alterar importantes dispositivos da lei de Execuo Penal (7210/84) e tambm alguns artigos do Diploma Processual Penal. Quanto a este, nos ateremos apenas em informar que as alteraes

    primordiais foram no tocante ao procedimento do

    interrogatrio. Para no fugirmos do tema proposto, ficaremos restritos aos dispositivos da LEP, principalmente

    na alterao que mais nos interessa, ou seja, a criao de um regime disciplinar diferenciado (RDD).

    Em resumo, e apontando algumas particularidades

    quanto ao seu longo caminho entre idas e vindas da Cmara

    dos Deputados e do Senado Federal, destacamos a sua

    apresentao em plenrio da Cmara em 21/08/01 pelo ento Deputado Alberto Braga. Aps pareceres das Comisses envolvidas, o Deputado Luiz Eduardo Greenhalgh solicitou,

    em 18/03/03, urgncia quanto apreciao deste projeto de lei.

    Em 19/03/03 foi designado relator pela Comisso de Constituio e Justia e de Cidadania, o Deputado

    Federal Ibrahim Abi-Ackel. Logo em seguida, precisamente no

    dia 27/03/03 o relator profere parecer pela constitucionalidade, juridicidade e tcnica legislativa

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    deste e da Emenda de Plenrio e, no mrito, pela aprovao deste, com substitutivo, e rejeio da Emenda de Plenrio.

    Curiosa a falta de fundamentao para este parecer. Em seu voto, o ento relator restringe-se apenas

    em informar a constitucionalidade, seno vejamos:

    No se verificam bices quanto constitucionalidade, juridicidade e tcnica legislativa do projeto, bem como da Emenda apresentada em

    Plenrio.

    O parecer pela aprovao do projeto quanto constitucionalidade, juridicidade e tcnica legislativa, com as modificaes introduzidas no texto.

    Tambm quanto ao mrito, respeitadas as citadas

    modificaes, o parecer pela aprovao. O parecer quanto a

    Emenda apresentada em Plenrio pela rejeio.

    Mesmo assim, o parecer foi aprovado por

    unanimidade no mesmo dia.

    No dia 01/04/03, este projeto foi levado Plenrio e, por se tratar de matria polmica, a discusso foi grande com diversos parlamentares externado suas

    opinies. Manifestaram-se os seguintes membros do

    Legislativo Federal: Dep. Arnaldo Faria de S (PTB-SP), Dep. Alberto Fraga (PMDB-DF), Dep. Fernando Gabeira (PT-RJ), Dep. Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), Dep. Inaldo

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    Leito (PSDB-PB), Dep. Coronel Alves (PL-AP), Dep. Eduardo Paes (PFL-RJ), Dep. Dimas Ramalho (PPS-SP), Dep. Cabo Jlio (PSB-MG), Dep. Gilberto Nascimento (PSB-SP), Dep. Orlando Fantazzini (PT-SP), Dep. Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), Dep. Pompeo de Mattos (PDT-RS), Dep. Juza Denise Frossard (PSDB-RJ), Dep. Luiz Couto (PT-PB), Dep. Mendona Prado (PFL-SE) e Dep. Givaldo Carimbo (PSB-AL).

    Impressiona o n de Emendas apresentadas. Total

    de 25. Logicamente pela matria ter alto grau de carter eleitoreiro, nossos representantes no poderiam deixar de

    se manifestar e, teoricamente, mostrarem servio a seus

    eleitores.

    No encerramento desta movimentada sesso foi

    designado relator, Dep. Antonio Carlos Biscaia, para

    proferir o parecer pela Comisso de Segurana Pblica e Combate ao Crime Organizado, Violncia e Narcotrfico.

    Novamente a matria retorna ao Deputado Ibrahim Abi-Ackel, que ao proferir seu novo parecer, toma muito

    cuidado, altamente perceptvel em seu intrito:

    (...) a fim de esclarecer ponderaes feitas desta tribuna

    sem nenhuma relao direta ou

    indireta com o substitutivo que

    estamos apresentando, nascidas

    talvez de informaes deficientes,

    ou de publicaes de jornais, ou de m interpretao do texto escrito, mas que acabaram nesta sesso uma

    espcie de tentativa de excepcionalidade, como se aqui

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    estivssemos votando um estado de emergncia prisional.

    Negaria todo conhecimento que tenho

    da realidade prisional, como

    Relator que fui da nica Comisso Parlamentar de Inqurito que visitou praticamente todos os

    estabelecimentos de superlotao

    carcerria, faltaria experincia que tenho como advogado criminal

    durante toda a minha vida, se

    negasse aqui as palavras proferidas

    pelo Deputado Fernando Gabeira. O

    que se denomina sistema prisional

    brasileiro na verdade uma sucesso de depsitos de homens e mulheres, onde seres humanos so

    amontoados sem nenhum tratamento

    penal, padecendo os malefcios

    fsicos e morais da m alimentao, da ausncia de sol, das ofensas

    morais, dos castigos fsicos, o que

    transformou esse sistema numa

    sementeira de reincidncias, numa

    escola de aperfeioamento do crime,

    com o depauperamento da sade fsica, que, lentamente, conduz alienao mental.

    Aps, ida ao Senado Federal e retorno Cmara dos Deputados, em 18/11/2003 foi aprovada a redao final oferecida pelo Dep. Biscaia.

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    Finalmente, em 01/12/2003 nasce a lei 10.792/03 que de certa maneira moderniza o procedimento do

    interrogatrio, todavia retroage catastroficamente no tocante ao regime disciplinar diferenciado do preso.

    A roda da histria d marcha r.

    Vejamos a sua redao final no tocante ao tema proposto neste trabalho.

    "Art. 52. A prtica de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione subverso

    da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisrio, ou condenado, sem prejuzo da sano penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes

    caractersticas:

    I - durao mxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuzo de repetio da sano por nova falta grave de mesma espcie, at o limite de um sexto da pena aplicada;

    II - recolhimento em cela individual;

    III - visitas semanais de duas pessoas, sem

    contar as crianas, com durao de duas horas;

    IV - o preso ter direito sada da cela por 2 horas dirias para banho de sol.

    1o O regime disciplinar diferenciado tambm poder abrigar presos provisrios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a

    segurana do estabelecimento penal ou da sociedade.

    2o Estar igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisrio ou o condenado

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    sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou

    participao, a qualquer ttulo, em organizaes

    criminosas, quadrilha ou bando." (NR)

    "Art 53.

    V - incluso no regime disciplinar diferenciado."

    "Art. 54. As sanes dos incisos I a IV do art.

    53 sero aplicadas por ato motivado do diretor do

    estabelecimento e a do inciso V, por prvio e fundamentado despacho do juiz competente.

    1o A autorizao para a incluso do preso em

    regime disciplinar depender de requerimento circunstanciado elaborado pelo diretor do estabelecimento

    ou outra autoridade administrativa.

    2o A deciso judicial sobre incluso de preso em regime disciplinar ser precedida de manifestao do Ministrio Pblico e da defesa e prolatada no prazo mximo de quinze dias."

    "Art. 57. Na aplicao das sanes disciplinares,

    levar-se-o em conta a natureza, os motivos, as

    circunstncias e as conseqncias do fato, bem como a

    pessoa do faltoso e seu tempo de priso.

    Pargrafo nico. Nas faltas graves, aplicam-se as sanes previstas nos incisos III a V do art. 53 desta

    Lei." (NR)

    "Art. 58. O isolamento, a suspenso e a restrio

    de direitos no podero exceder a trinta dias, ressalvada a

    hiptese do regime disciplinar diferenciado."

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    "Art. 60. A autoridade administrativa poder decretar o isolamento preventivo do faltoso pelo prazo de

    at dez dias. A incluso do preso no regime disciplinar diferenciado, no interesse da disciplina e da averiguao

    do fato, depender de despacho do juiz competente.

    Pargrafo nico. O tempo de isolamento ou incluso preventiva no regime disciplinar diferenciado ser computado no perodo de cumprimento da sano disciplinar."

    (NR)

    "Art.70.

    I - emitir parecer sobre indulto e comutao de

    pena, excetuada a hiptese de pedido de indulto com base no estado de sade do preso;

    "Art.72.

    VI estabelecer, mediante convnios com as

    unidades federativas, o cadastro nacional das vagas

    existentes em estabelecimentos locais destinadas ao

    cumprimento de penas privativas de liberdade aplicadas pela

    justia de outra unidade federativa, em especial para presos sujeitos a regime disciplinar.

    "Art.86.

    1o A Unio Federal poder construir estabelecimento penal em local distante da condenao para

    recolher os condenados, quando a medida se justifique no interesse da segurana pblica ou do prprio condenado.

    3o Caber ao juiz competente, a requerimento da autoridade administrativa definir o estabelecimento

    prisional adequado para abrigar o preso provisrio ou

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    condenado, em ateno ao regime e aos requisitos

    estabelecidos."

    "Art. 87.

    Pargrafo nico. A Unio Federal, os Estados, o Distrito Federal e os Territrios podero construir Penitencirias destinadas, exclusivamente, aos presos provisrios e condenados que estejam em regime fechado, sujeitos ao regime disciplinar diferenciado, nos termos do art. 52 desta Lei."

    Art. 3o Os estabelecimentos penitencirios disporo de aparelho detector de metais, aos quais devem se

    submeter todos que queiram ter acesso ao referido

    estabelecimento, ainda que exeram qualquer cargo ou funo

    pblica.

    Art. 4o Os estabelecimentos penitencirios, especialmente os destinados ao regime disciplinar

    diferenciado, disporo, dentre outros equipamentos de

    segurana, de bloqueadores de telecomunicao para

    telefones celulares, rdio-transmissores e outros meios, definidos no art. 60, 1o, da Lei no 9.472, de 16 de julho de 1997.

    Art. 5o Nos termos do disposto no inciso I do

    art. 24 da Constituio da Repblica, observados os arts. 44 a 60 da Lei no 7.210, de 11 de junho de 1984, os Estados e o Distrito Federal podero regulamentar o regime

    disciplinar diferenciado, em especial para:

    I - estabelecer o sistema de rodzio entre os

    agentes penitencirios que entrem em contato direto com os presos provisrios e condenados;

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    II - assegurar o sigilo sobre a identidade e

    demais dados pessoais dos agentes penitencirios lotados nos estabelecimentos penais de segurana mxima;

    III - restringir o acesso dos presos

    provisrios e condenados aos meios de comunicao de informao;

    IV - disciplinar o cadastramento e agendamento

    prvio das entrevistas dos presos provisrios ou condenados com seus advogados, regularmente constitudos nos autos da

    ao penal ou processo de execuo criminal, conforme o

    caso;

    V - elaborar programa de atendimento

    diferenciado aos presos provisrios e condenados, visando a sua reintegrao ao regime comum e recompensando-lhes o bom

    comportamento durante o perodo de sano disciplinar." (NR

    Art. 6o No caso de motim, o Diretor do

    Estabelecimento Prisional poder determinar a transferncia do preso, comunicando-a ao juiz competente no prazo de at vinte e quatro horas.

    Art. 7o A Unio definir os padres mnimos do presdio destinado ao cumprimento de regime disciplinar.

    Art. 8o A Unio priorizar, quando da construo de presdios federais, os estabelecimentos que

    se destinem a abrigar presos provisrios ou condenados sujeitos a regime disciplinar diferenciado.

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    3 Sistemas e Prises em Evoluo

    Para explicarmos melhor nossa ltima afirmao do item anterior, entendemos ser de suma importncia a

    pesquisa evolutiva dos sistemas penitencirios, principalmente no Brasil.

    Nossa inteno demonstrar o retrocesso que nossa lei trouxe em criar um sistema prisional onde o preso

    se isola do mundo, no tendo contato direto com outros

    seres humanos, no tendo acesso a qualquer tipo de

    informao e no tendo, por exemplo, direito ao banho de

    sol com durabilidade razovel. Melhor seria construirmos masmorras e colocarmos esses tais presos altamente

    perigosos, isolados, no alto das torres e ao invs de carcereiros, pagarmos verdadeiros carrascos para cuidar

    destes insignificantes para a sociedade.

    A priso um mal, todos ns sabemos disso. Sendo necessria em alguns casos, no podemos permitir o isolamento completo do ser humano para que ele tenha uma

    pena degradante e sofra srias complicaes mentais. Cumpre salientarmos que o erro, que o crime cometido deve ser

    punido, mas nunca na mesma moeda, ou seja, em um Estado Democrtico de Direito no podemos permitir o desrespeito evidente do princpio da dignidade humana. E essa quebra de

    dogma constitucional vem em forma de tortura lenta, de

    isolar o ser humano para que o cio e a rotina o retirem do mundo civilizado. Trata-se de um sofrer lento e impiedoso.

    Cndido Furtado Maia Neto2, em sua obra

    Penitenciarismo en El Mercosul Poltica Criminal y

    2 MAIA NETO, Cndido Furtado. Penitenciarismo en El Mercosul Poltica Criminal y Penitenciaria Del

    Brasil. Editora Sergio Antonio Fabris Editor. 1 Edio 1998. Pgina 20 e 24.

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    Penitenciaria Del Brasil, coloca muito bem que El orgen

    de la prision em nada se asemeja con los objetivos contemporneos de la pena privativa de libertad (...) Aparecen las leyes contra la vagncia (1.597), se valora la vida humana, la pena privativa de libertad en cambio de la

    pena de muerte. Hay tambin aqullos que sostienen que ls crceles para los criminales surgieron como reaccin contra el carcter brbaro y los excesos de las penas anteriores; la prision constituy uma de las primeras formas de apartamiento de las sanciones criminales tradicionales.

    Percebemos igualmente que j se falava em valorizao da vida humana. A priso surgiu, para que

    fossem abolidas as penas corporais.

    Para entendermos mais claramente esse afirmado

    retrocesso da lei penal que sustentamos, iniciaremos neste

    instante uma pesquisa sobre prises, penas cruis e por que no, sistema histrico judicirio brasileiro.

    Em 1500, Portugal fez do Brasil sua colnia. Em

    1536, a Inquisio instalou-se em Portugal, a pedido do Rei

    Joo III. Quando o Brasil passou a integrar os mapas geogrficos, obteve de Portugal um sistema jurdico j estabelecido. Vigiam as Ordenaes Manuelinas, que

    substituram, em 1521, as Ordenaes Afonsinas. Mas

    aplicadas no Brasil, efetivamente, foram as Ordenaes

    Filipinas, a partir de 1603.3

    Interessante o resumo da autora Ana Miranda em sua obra Boca do Inferno4. Relata com preciso como era a

    situao jurdica colonial brasileira. Diz a romancista: Os jurisconsultos brasileiros, ouvidores e procuradores,

    3 BAJER, Paula. Processo Penal e Cidadania. Editora Jorge Zahar. 1 edio 2002. Pgina 11

    4 MIRANDA, Ana. Boca do Inferno. Editora Companhia das Letras. 4 edio.

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    bacharis, desembargadores, juzes, viviam numa conjuntura sombria e arrasada. Predominava uma mistura incoerente de

    princpios romansticos, barbricos e cannicos. O direito variava entre regras de viver e a definio do pecado.

    Alm disso, para ser advogado eram precisos oito anos de estudos em Coimbra. No Brasil no haviam muitos letrados.

    Quanto s Ordenaes Filipinas, podemos verificar que as penas eram as mais cruis possveis. Pena de morte por enforcamento, por fogo, precedida de tormentos.

    Penalizava-se ainda com aoites, confiscao de bens,

    degredo (para frica e ndia), marcas infamantes, servios nas gals (remo sem pagamento em embarcaes, trabalho forado). As normas repressivas eram atrozes, afirma a j citada autora Paula Bajer5.

    A Igreja esquivou-se um pouco para se intrometer no sistema judicirio do Antigo Regime. Mais uma vez consultando a excelente obra da professora paulista Paula

    Bajer6, menciona ela que Michel Foucalt esclareceu, em A Verdade e as Formas Jurdicas, por que o procedimento de

    inquirio de faltas e crimes, adotado pela Igreja nas visitas que os bispos faziam s dioceses, significava forma de saber e exerccio de poder ao mesmo tempo. O inqurito serviria para dar autenticidade ao que seria, a partir da

    investigao, considerado verdadeiro, aparecendo, o

    procedimento, como forma de saber-poder. Essa constatao de extrema importncia, na medida em que at hoje o inqurito permanece, no obstante pequenas variaes, como a forma adotada para a investigao de crime e autoria.

    5 BAJER, Paula. Processo Penal e Cidadania. Editora Jorge Zahar. 1 edio 2002. Pgina 13

    6 BAJER, Paula. Processo Penal e Cidadania. Editora Jorge Zahar. 1 edio 2002. Pgina 19

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    Sobre a crueldade das prises, assevera com

    maestreza o clssico Cesare Beccaria7 em sua ainda atual obra Dos Delitos e das Penas: A razo est em que o sistema atual da jurisprudncia criminal apresenta aos nossos espritos a idia da fora e do poder, em vez da justia; que se atiram, na mesma masmorra, sem distino alguma, o inocente suspeito e o criminoso convicto; que a priso entre ns, antes de tudo um suplcio e no um meio de deter um acusado; que, enfim, as foras que esto extremamente em defesa do trono e os direitos da nao

    esto separadas daquelas que mantm as leis no interior,

    quando deveriam estar intimamente ligadas (...) Nossos costumes e nossas leis retrgradas esto muito distantes das luzes dos povos. Somos ainda dominados pelos

    preconceitos brbaros que recebemos de nossos antepassados...

    Folheando as pginas da histria, esquecendo-nos de diversos eventos importantes, no podemos deixar de mais

    uma vez enfatizar e homenagear a escritora, Procuradora da

    Repblica, Paula Bajer8, que com sntese mpar nos remete aos campos evolutivos da cincia penal. Eis suas palavras:

    Na Frana, em 1791, j se havia editado a Declarao universal dos direitos do homem e do cidado,

    inaugurando-se regime liberal-individualista. A poca era a dos peridicos e da divulgao dos novos ideais de liberdade e igualdade. Cesare Beccaria tambm j havia publicado o famoso Dos Delitos e das Penas, discutindo e

    questionando todos os mtodos judicirios do Antigo Regime. Na Itlia, alis, Beccaria, Pietro Ferri e outros intelectuais iluministas publicavam o peridico Il Caff,

    7 BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Editora Martin Claret. 1 Edio 2005. Pgina 27.

    8 BAJER, Paula. Processo Penal e Cidadania. Editora Jorge Zahar. 1 edio 2002. Pgina 20-22

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    utilizado para criticar o sistema repressivo desumano e

    propagar os ideais racionalistas. No Brasil, tambm circulavam folhetos, panfletos e outras publicaes que

    divulgavam as idias iluministas e, acima de tudo, sobre a liberdade. Censores no foram bem sucedidos em vetar a

    propagao de pensamento liberal fundado em Monstesquieu,

    Rosseau, Voltaire, Duprat, e tantos outros.

    A Constituio de 1824 aboliu aoites, torturas,

    marcas de ferro quente e outras penas cruis. Afirmou, tambm que as cadeias deveriam ser limpas, seguras e bem arejadas. Permaneceria a pena de morte

    Nesta ltima afirmao j podemos constatar um primeiro retrocesso. Desde 1824 as prises deveriam ser

    lugares aptos a receberem com dignidade os seres humanos

    condenados. Entretanto, sabemos todos que a grande maioria

    das prises brasileiras so verdadeiros caixotes humanos

    propagadores de doenas, promiscuidades e campo frtil para a realizao de inmeros crimes.

    Assevera neste sentido Dimenstein: Os distritos

    policiais, cadeias e presdios brasileiros esto

    invariavelmente superlotados. As condies de vida so

    subumanas, e a AIDS se espalha, assim como outras pestes. O

    trabalho privilgio de poucos. Mata-se, estupra-se, escraviza-se, corrompe-se, vendem-se e compram-se drogas

    com a maior facilidade.

    Alm disso, foi abolida a tortura. Pois bem, indago-lhes: Seria a tortura s aquele atuar positivo, ativo e evidente? A tortura seria to somente o

    espancamento lento, o choque, ou at mesmo o pau-de-arara? No seria o isolamento completo um tipo severo de tortura

    psicolgica?

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    Concordando assim com Pinheiro9, humilhao e

    aniquilao parecem ser temas recorrentes das prises

    brasileiras.

    Nossos governantes atuais entendem que a

    construo de presdios de segurana mxima e isolar detentos seriam as melhores medidas para que a violncia-

    criminalidade diminua. Vimos, em breve resumo e em cortes

    histricos que a tendncia sempre foi dar uma maior importncia e respeito ao princpio da dignidade humana,

    abolindo de vez as famigeradas penas cruis. Beccaria sustenta muito bem isso, em tempos remotos. Nossa

    legislao caminhava neste sentido. Por que agora nossos

    legisladores reacionrios tendem a retroceder e criar verdadeiras prises de segurana mxima onde o nico objetivo acabar aos poucos com o preso? Acaba com sua esperana, acaba com sua dignidade, alimenta a raiva,

    alimenta a indignao. Enfim, mata o ser humano. Se, por

    acaso, ventilar na cabea desses condenados uma ligeira

    inteno em cumprir sua pena e voltar ao seio da sociedade

    como uma pessoa civilizada, esquea! A luta agora muito pior. A luta travada contra o seu subconsciente. A nica companhia ser a sua. Seus tramas, seus medos, suas ansiedades, sua saudade o consumiro de uma forma lenta,

    torturando-o, culminando numa alienao mental completa.

    9 WOLFF, Maria Palma. Antologia de Vidas e Histrias na Priso: Emergncia e Injuno de Controle

    Social. Ed. Lumen Juris.1 Edio 2005. Pgina 26.

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    4 Conceitos Jurdicos

    Afinal, o que seria o Regime Disciplinar

    Diferenciado? Vejamos extensa e importante colaborao nesse sentido do professor Julio Fabbrini Mirabete10: O

    regime disciplinar diferenciado foi concebido para atender

    s necessidades de maior segurana nos estabelecimentos penais e de defesa da ordem pblica contra criminosos que, por serem lderes ou integrantes de faces criminosas, so

    responsveis por constantes rebelies e fugas ou permanecem, mesmo encarcerados, comandando ou participando

    de quadrilhas ou organizaes criminosas atuantes no

    interior do sistema prisional e no meio social.

    Preocupa-se ainda o mestre em delimitar o

    contorno deste regime: no constitui um regime de

    cumprimento de pena em acrscimo aos regimes fechado, semi-aberto e aberto, nem uma nova modalidade de priso

    provisria, mas sim um regime de disciplina carcerria especial, caracterizado por maior grau de isolamento do

    preso e de restries ao contato com o mundo exterior, a

    ser aplicado como sano disciplinar ou como medida de

    carter cautelar, tanto ao condenado como ao preso provisrio, nas hipteses previstas em lei.

    Em sntese, o tambm professor Guilherme de Souza Nucci11, nos esclarece ainda mais acerca das condies

    deste regime disciplinar: Enfim, trs so as hipteses para a incluso no RDD: a) quando o preso provisrio ou condenado praticar fato previsto como crime doloso,

    conturbando a ordem e a disciplina interna do presdio onde

    10 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execuo Penal. Editora Atlas. 11 Edio 2004. Pgina 149.

    11 SOUZA NUCCI, Guilherme de. Manual de Processo e Execuo Penal. Editora Revista dos Tribunais.

    1 Edio 2005. Pgina 931.

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    se encontre; b) quando o preso provisrio ou condenado representar alto risco para a ordem e segurana do estabelecimento penal ou da sociedade; c) quando o preso provisrio ou condenado estiver envolvido com organizaes criminosa, quadrilha ou bando, bastando fundada suspeita.

    Neste instante podemos perceber a inteno do

    legislador em simplesmente isolar os chamados criminosos de

    alta periculosidade. Percebemos que conceitos vagos e

    imprecisos colocados na Lei de Execuo Penal do azo para

    que os aplicadores do direito envolvidos, possam se valer

    das paixes emergenciais que, em muita das vezes, so

    incentivadas por uma mdia viciada e tendenciosa. Ao que

    parece, o RDD retroage no tempo e faz com que as famosas

    solitrias tomem novo nome e elevem-se ao degrau de solues do problema da criminalidade, principalmente no

    tocante s organizaes criminosas.

    E no paramos por aqui, pois o artigo 86 1 da

    LEP, define que a Unio Federal precisa construir presdios

    de segurana mxima em locais distantes da condenao para recolher os condenados, no interesse da segurana pblica ou do prprio sentenciado.

    Assim, o condenado e submetido ao RDD pode ficar

    isolado dentro da unidade prisional e tambm excludo de seu seio familiar, nas visitas semanais de duas pessoas,

    sem contar as crianas, com durao de duas horas (art. 52 III LEP). Por acaso poderamos imaginar familiares deslocando-se por esse pas imenso, continental para

    visitar um parente por apenas 2 horas semanais? O

    legislador teria pensado na importncia da visita da

    famlia, na conscientizao que essa visita pode trazer

    para o condenado? Teria pensado naquela fora a mais,

    naquela base de sustentao que uma famlia pode trazer na

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    vida de um ser humano? Claro que no e de forma absurda.

    Doravante, haveria pensado nas despesas de deslocamento de

    uma famlia, na grande maioria de baixa renda, para visitar

    seu parente que cumpre pena em um lugar distante e

    desconhecido?

    Enfim, o legislador praticamente selou o destino

    do sujeito. O isolamento agora sinnimo de diminuio de violncia. Retira-o completamente do mundo civilizado para

    que ele no contamine mais os chamados homens de bem.

    Afinal, neste tema o que mais encontramos so conceitos

    vagos, imprecisos e tendenciosos. Engraado que diversos

    casos de corrupo no Parlamento no so encarados com

    crueldade, como so tratados agora os chamados criminosos

    de alta periculosidade, at porque este conceito nos parece se restringem aos chefes de faces criminosas, tais como

    Comando Vermelho, PCC e por a vai. Os chamados gangsters

    do colarinho branco possuem imunidades, prises especiais e

    outras demais regalias.

    Observamos, portanto, a severidade do regime

    disciplinar sob exame.

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    5 Efetividade da Norma

    Neste captulo que ora se inicia, daremos um

    cunho prtico e visual em nosso trabalho. Quem so os criminosos que esto inseridos neste Regime Disciplinar

    Diferenciado? Para onde so levados e como so

    fundamentadas suas decises?

    A) Presos no RDD

    Nomes como Marcola, Fernandinho Beira-Mar e

    outros tantos so conhecidos de todos os brasileiros. So

    os chamados chefes do trfico de entorpecentes. Figuras da mais alta periculosidade e que precisam ser isolados,

    segundo o legislador brasileiro.

    Vejamos o exemplo do chileno Maurcio Hernandes Norambuena, condenado por comandar o seqestro do

    publicitrio Washington Olivetto, em dezembro de 2001, que vai permanecer preso por mais um ano no regime disciplinar

    diferenciado, que impe normas mais rgidas de segurana. A

    prorrogao no regime de conteno mxima foi determinada pelo juiz-corregedor da Vara das Execues Criminais e Corregedoria dos Presdios de So Paulo, Miguel Marques e

    Silva. Norambuena est preso na penitenciria de Presidente Bernardes. As informaes so da revista Consultor

    Jurdico.

    O chileno requereu sua remoo do regime,

    alegando que o prazo de sua permanncia havia terminado em

    25 de novembro do ano passado e que no tinha praticado

    qualquer indisciplina durante sua permanncia no Centro de

    Readaptao Penitenciria de Presidente Bernardes.

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    No final de novembro, o juiz prorrogou a internao de Norambuena por mais 60 dias e requereu a

    manifestao do Ministrio Pblico. A promotora de Justia Mariza Schiavo Tucunduva opinou pela permanncia no RDD,

    sustentando que ele no preso de fcil conteno porque teria fugido do presdio de segurana mxima de Santiago do Chile.

    Em sua deciso, o juiz Miguel Marques e Silva refere que existem mais do que fundadas razes que apontam

    que Norambueno um risco comunidade e que a medida disciplinar mais rgida se impe, inclusive, para assegurar

    a aplicao da lei penal chilena, assim como eventual

    extradio a ser concedida pelo governo brasileiro.

    Por entendermos de suma importncia,

    transcrevemos a ntegra da deciso que em seguida ser analisada:

    Mauricio Hernandez Norambuena, qualificado nos

    autos, requer sua remoo do Regime Disciplinar

    Diferenciado, alegando que a internao determinada por

    este juzo, por 360 dias, teve seu trmino no dia 25 de novembro de 2004, tendo em vista no ter praticado qualquer

    falta disciplinar durante sua permanncia no Centro de

    Readaptao Penitenciaria de Presidente Bernardes (fls. 157/158). A fls. 160/161 o sr. Secretrio da Administrao Penitenciaria solicita deciso deste juzo a respeito da permanncia do referido sentenciado naquele regime,

    lembrando que ele trata-se de preso diferenciado dos

    demais, remetendo cpias de documentos (fls. 162/183).

    Por despacho de 29.11.2004 este juzo prorrogou a internao do sentenciado por 60 dias, cautelarmente,

    determinando em seguida vista ao Ministrio Pblico (fls.

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    160). Este, a fls. 188/189, por intermdio da sua representante, Dra. Mariza Schiavo Tucunduva, opinou no

    sentido de que o sentenciado permanea no regime

    disciplinar diferenciado, um vez que os motivos ensejadores da sua internao ainda persistem, sustentando, ainda, que

    ele no preso de fcil conteno, visto que fugiu de um

    presdio de segurana mxima de Santiago do Chile.

    A fls. 193/195, Embargos de Declarao oferecidos pelo sentenciado, os quais foram indeferidos

    pelo despacho de fls. 196, que determinou ainda,

    manifestao da Defesa acerca do pedido de prorrogao

    naquele regime. A fls. 197/199 esta se manifestou, alegando que o pedido do Ministrio Pblico no tem amparo legal e que o sentenciado no cometeu falta disciplinar grave,

    ostentando bom comportamento carcerrio. Alega ainda, que o risco de fuga no pode respaldar a internao do

    sentenciado, pois dever do Estado custodiar os presos e mant-los encarcerados. Por isso pede o indeferimento do

    pedido de prorrogao de internao do sentenciado em RDD.

    o relatrio. Decido.

    O sentenciado Mauricio Hernandez Norambuena

    requer sua remoo do Centro de Readaptao Penitenciria de Presidente Bernardes, onde se encontra cumprindo pena no

    regime disciplinar diferenciado, alegando que no registra

    qualquer falta disciplinar e o prazo de sua internao

    naquele presdio j expirou. O Ministro Pblico, por sua vez, por meio da sua representante legal, Dra. Marisa

    Schiavo Tucunduva, requer a permanncia do sentenciado no

    referido regime, pois os motivos que deram ensejo sua internao ainda persistem.

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    A razo est com o Ministrio Publico pois realmente persistem os motivos que acabaram levando o

    sentenciado a ser internado no aludido regime.

    Primeiramente, como j acentuamos na deciso anterior, o requerente sofreu duas condenaes em seu pas

    de origem, ambas pena de priso perptua, por assassinato

    de autoridades, quando chefiava organizao criminosa (fls. 05). Era conhecido nessa organizao por Comandante Ramiro (fls. 126 e 128, do apenso).

    Cumpria essas penas em presdio de segurana

    mxima em Santiago do Chile, quando foi resgatado de maneira espetacular por seus companheiros de crime, por

    meio de um helicptero.

    Posteriormente, veio ao Brasil com o intuito

    nico de cometer seqestros, tendo comandado aquele do qual foi vitima o publicitrio Washington Luiz Olivetto, o que demonstra toda sua audcia. Preso e processado, acabou sofrendo condenao pena privativa de liberdade de trinta anos.

    Portanto, tem o requerente situao diferente

    de todos os demais presos do Brasil. No um detento qualquer, no podendo merecer o mesmo tratamento durante a

    expiao da pena, como aquele que dado aos demais presos. O princpio da individualizao da pena, aplicvel na fase da execuo penal, tem que levar em considerao as

    peculiaridades do requerente, para que possa receber

    tratamento condizente com sua situao particular.

    Como j enfatizamos, a distribuio da justia, na fase da execuo penal, pressupe tratar desigualmente

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    os desiguais, impondo-se a devida retribuio ao mal

    cometido.

    A respeito leciona JULIO FABBRINI MIRABETE que,

    norma constitucional, no Direito Brasileiro, que a lei regular a individualizao da pena (art. 5, XLVI, 1 parte, da CF). A individualizao uma das chamadas garantias repressivas, constituindo postulado bsico de justia...

    Com os estudos referentes matria, chegou-se paulatinamente ao ponto de vista de que a execuo penal

    no pode ser igual para todos os presos justamente porque nem todos so iguais, mas sumamente diferentes e de que

    tampouco a execuo pode ser homognea durante a fase

    executria da pena, se exige um ajustamento desse programa conforme a reao observada no condenado, podendo-se s assim falar em verdadeira individualizao no momento

    executivo. (Execuo Penal, 9 ed., pg. 46).

    Assim, levando em considerao que o requerente

    encontra-se condenado em nosso pas a cumpri pena de 30 anos de priso, em decorrncia do crime de extorso

    mediante seqestro, seu resgate espetacular de um presdio

    de segurana mxima em Santiago, Chile,e, principalmente,

    suas duas condenaes nesse pas pena de priso perpetua

    pela pratica de terrveis, delitos, que inclusive deram

    ensejo solicitao de sua extradio pelo governo daquele pas, a melhor soluo, por ora, ainda mant-lo no atual

    regime disciplinar, com apoio nos 1 e 2, do art. 52 da

    Lei de Execuo Penal, pois no h duvidas de tratar-se aludido sentenciado de preso estrangeiro que representa

    alto risco para a ordem e a segurana, tanto de

    estabelecimento penal, como para a sociedade, envolvido com

    organizaes criminosas. Existe, portanto, mais do que

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    fundadas razoes no sentido de apontar o requerente como

    sendo um risco comunidade.

    H que ser ressaltado, ainda, que tal medida se impe, inclusive, para assegurar a aplicao da lei penal

    chilena, assim como eventual extradio a ser concedida

    pelo governo brasileiro.

    A Defesa, conforme se v nas suas

    manifestaes, tem insistido no argumento de que o

    sentenciado no praticou qualquer falta disciplinar grave

    no presdio onde se encontra, todavia isso muito pouco para autorizar a sada do regime disciplinar diferenciado.

    Na verdade, encontrando-se o sentenciado nesse regime, praticamente impossvel a prtica de falta disciplinar de natureza grave, em face das circunstncias e da estrutura

    do Centro de Readaptao Penitenciria de Presidente Bernardes.

    No que tange alegao de que o atual embaixador do Chile no Brasil favorvel desinternao do sentenciado, como j frisamos na deciso anterior, " curioso que, pouco tempo depois da primeira manifestao,

    outro embaixador daquele pas venha dizer que era interesse

    do governo do Chile que o sentenciado no fosse mais

    mantido no regime disciplinar diferenciado. H notcias, contudo, que bem podem justificar tal mudana de atitude, que, aps aquela primeira manifestao do governo chileno, seguiram-se naquele pas vrios atentados perpetrados por companheiros do sentenciado, componentes de uma organizao

    criminosa da qual ele faz parte, em represlia por haver sido solicitada sua permanncia no RDD pelo referido

    governo".

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    Uma ltima observao ainda se impe: o requerente reclama que alguns de seus direitos, de acordo

    com a Constituio brasileira, no estariam sendo

    observados, todavia, parece olvidar que sai do pas

    exclusivamente para aqui praticar delitos de natureza

    hedionda, uma vez que, tanto no processo de conhecimento,

    como no da execuo penal, consta como sendo sua residncia

    o endereo certificado a fls. 57 deste feito, ou seja, Rua Santiago, 218, Centro, Santiago, Chile. Seus

    familiares, como ele prprio diz, residem todos no Chile (fls. 55).

    A despeito da inequvoca incidncia dos

    dispositivos da nossa Constituio em favor do estrangeiro,

    tambm no se pode esquecer, por outro lado, que a mesma Carta, em seu artigo 5, caput estabelece que "Todos so

    iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza,

    garantindo-se aos brasileiros se aos estrangeiros

    residentes no Pas..." (g.n.).

    Na verdade, os direitos e garantias de

    condenado estrangeiro que aqui veio nica e exclusivamente para praticar crime hediondo e que sequer reside no Pas,

    deveriam se restringir ao cumprimento da pena aplicada e,

    em sendo de altssima periculosidade, em estabelecimento

    adequado.

    Indivduos assim, com alto grau de

    periculosidade, com duas condenaes em conseqncia da

    prtica de delitos hediondos no seu pas, que, aps espetacular fuga de um presdio de segurana mxima, ainda volta a delinqir, e, mais que isso, em outro pas, s pode receber do Estado resposta altura da sua audcia.

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    Alis, apenas o fato de ter contra si aquelas duas condenaes, a cumprir pena de priso perptua, j o bastante para autorizar seja o sentenciado mantido no presdio onde se encontra.

    Tal se d porque, se o nosso ordenamento no prev esse tipo de pena, evidentemente que no pode tambm o estrangeiro que se encontra condenado a esse tipo de

    punio receber tratamento igual ao sentenciado residente

    no pas, que punido, no mximo, com pena privativa de liberdade.

    Em suma, principalmente em razo da existncia

    dessas duas condenaes priso perptua no Chile, entendo que o sentenciado Maurcio Hernandez Norambuena deve

    continuar, por mais um ano, no regime disciplinar

    diferenciado do Centro de Readaptao Penitenciria de Presidente Bernardes.

    Em face do exposto, determino a prorrogao da

    internao de Maurcio Hernandez Norambuena, pelo perodo

    de 360 dias, com efeito retroativo a 1 de dezembro de

    2.004, com fulcro nos pargrafos 1 2 do art. 52, da Lei de Execuo Penal, expedindo-se ofcio Secretria da Administrao Penitenciria para as providncias.

    P.R.I.C

    So Paulo, 18 de Janeiro de 2.005.

    MIGUEL MARQUES E SILVA, juiz de Direito.

    Poderamos substituir toda essa deciso por uma

    palavra que traduz todo o sentimento que a sociedade pode

    estar sentindo em relao ao chamados perigosos criminosos:

    medo. Podemos perceber pelo inteiro teor da deciso que o

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    mais importante manter o isolamento deste indivduo. Qual seria o motivo? Periculosidade provada atravs de seu histrico criminoso. No sei se estamos sendo crticos em demasia, mas nos parece que pela simples leitura da

    deciso, o fato dele ser estrangeiro traz uma carga ainda

    maior de periculosidade. O exagero pauta a deciso do

    ilustre magistrado paulista.

    Reabilitaes, ressocializaes e a vontade de

    mudana so imperceptveis ao ser humano submetido ao RDD.

    O sujeito no produz nada, no tem um pingo de melhora na sua perspectiva de continusmo vital. O tempo passa, passa

    e seus fantasmas comeam a atorment-lo, levando-o, provavelmente, num futuro bem prximo complicaes cerebrais e nervosas.

    Em recente trabalho interdisciplinar, Rodrigo

    Moretto12 nos mostra a diferena na percepo do tempo.

    Seno vejamos: Hoje sabemos que o tempo pode se mostrar de duas formas, sendo uma objetiva e outra subjetiva. O tempo objetivo aquele que podemos medir, tal como o utilizado pela fsica e que precede a matria bem como obedece lei da entropia, e o subjetivo, o qual no medimos, o que sentimos.

    A marcao do tempo uma construo humana e a priso uma construo que consegue captar essas duas formas de tempo, sendo que a parte objetiva a medio da pena, a durao do cumprimento, enquanto que a subjetiva a forma como o indivduo encarcerado percebe o passar desse

    tempo.

    12 MORETTO, Rodrigo. Crtica Interdisciplinar da Pena de Priso Controle do Espao na Sociedade do

    Tempo. Editora Lumen Juris. 1 Edio 2005. Pgina XXIV.

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    Temos um tempo social para os que esto do lado

    de fora das muralhas, o qual se mostra progressivo,

    criador, cheio, enquanto que temos um tempo do encarcerado,

    que tem caractersticas diametralmente opostas, pois se

    mostra um tempo regressivo, improdutivo, vazio.

    Esta passagem retrata um dos inimigos de todo

    detento, o tempo. E no RDD o tempo torna-se um inimigo

    poderoso, invencvel que, com a ajuda da angstia, debilitar para sempre o condenado.

    Na verdade, a priso que foi criada para a

    reeducao e recuperao de delinqentes, termina por

    empreender a reproduo e a eliminao dos mesmos.13

    Vejamos outro exemplo dos criminosos que se encontram submetidos ao RDD. A notcia agora vinculada pela Agncia Estado de Notcias:

    A Justia Estadual determinou que lderes do

    Primeiro Comando da Capital (PCC) permaneam no regime disciplinar diferenciado (RDD) pelo perodo cautelar de 60 dias. Eles so acusados de comandar as 74 rebelies

    sincronizadas ocorridas entre os dias 12 e 15 de maio e

    ordenar os atentados s foras de segurana do Estado. As aes provocaram a morte de mais de 200 pessoas. Os presos

    punidos com o regime de isolamento so: Orlando Mota

    Jnior, o Macarro, Anderson Jesus Parro, o Moringa, Edilson Borges Nogueira, o Birosca, Cludio Rolim de Carvalho, o Polaco, Roberto Soriano, o Tiria, e Jlio Csar Guedes, o Julinho Carambola.

    13 WOLFF, Maria Palma. Antologia de Vidas e Histrias na Priso: Emergncia e Injuno de Controle

    Social. Ed. Lumen Juris.1 Edio 2005. Pgina 95.

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    Eles j haviam sido removidos no dia 14 de julho para o Centro de Readaptao Penitenciria (CRP) de Presidente Bernardes, por deciso preventiva da Secretaria

    da Administrao Penitenciria (SAP). O Departamento de Inteligncia da SAP, o Disap, e a Polcia Civil tm

    informaes de que Macarro, Biroska e Julinho Carambola

    tiveram participao efetiva no comando dos atentados e das

    rebelies.

    As investigaes da Polcia Civil, em conjunto com o Grupo de Atuao Especial de Represso e Combate ao

    Crime Organizado (Gaeco), apuraram que Macarro deu ordem advogada Valria Dammous para "virar" as cadeias do Oeste paulista. A ordem foi repassada a Moringa, que deflagrou

    rebelies em 17 presdios da regio. Em 26 de junho, Moringa tambm determinou advogada Valria que mandasse matar cinco agentes.

    Macarro tambm usou a advogada Libnia Fernandes Costa para repassar ordem a Polaco para "quebrar" as

    penitencirias de Araraquara e Itirapina. A ordem foi cumprida no dia 16 do ms passado.

    Para no ficarmos presos apenas uma deciso que foi colocada acima, entendemos confrontarmos com outra

    para que possamos perceber a onda que invade o judicirio brasileiro. A poltica de lei e ordem toma ares de rainha

    das decises. A deciso abaixo tambm tem como objeto a ida ou no de criminosos, agora de uma organizao criminosa

    (PCC), para o Regime Disciplinar Diferenciado.

    Processo C- 128/06 DECRIM VII.

    Representao por RDD referente a:

    MARCELO MOREIRA PRADO.

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    Trata-se de representao formulada pelo senhor

    Secretrio de Estado da Administrao Penitenciria, Doutor Nagashi Furukawa, objetivando a internao em Regime Disciplinar Diferenciado de MARCELO MOREIRA PRADO.

    Segundo consta da inicial, o condenado, de vulgo

    EXU, ao ser removido de penitenciria no interior do Estado, e depois ao DEIC, para ser ouvido por delegados de

    polcia, teria proferido diversas ameaas, praticando atos

    que se enquadrariam nas condutas do artigo 52 da Lei

    7.210/84. Segundo consta, EXU seria um dos lderes de faco criminosa, sendo um dos principais seguidores de

    Marco Willians Herbas Camacho, o MARCOLA.

    Requereu a apreciao de pedido de incluso

    cautelar, pelo prazo necessrio deciso de mrito.

    a sntese do Necessrio.

    Fundamento e decido.

    A Lei de Execues Penais Lei 7.210/84 permite que sejam internados em regime disciplinar diferenciado aqueles que tenham praticado fato previsto

    como crime doloso e quando a conduta ocasione subverso da

    ordem ou disciplina internas (artigo 52, caput), quando apresentem alto risco para a ordem e a segurana do

    estabelecimento penal ou da sociedade (art. 52, 1) ou quando recaiam sobre eles fundadas suspeitas de

    envolvimento ou participao em organizaes criminosas

    (art. 52, 2).

    A incluso no RDD pode ser feita de forma

    acautelatria, se presentes os requisitos das cautelares em geral, permitindo a regular realizao da sindicncia

    administrativa apuratria e de eventual inqurito policial.

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    Conforme se observa da documentao juntada, mormente o documento de folhas 09, h prova de que Marcola, no dia 12 ltimo, na presena de vrias pessoas, teria afirmado que havia passado ordem para que houvesse

    represlias por causa de sua transferncia. Tais represlias atingiriam tanto unidades prisionais quanto a sociedade civil e o Estado.

    Os demais documentos juntados demonstram a realizao de inmeros atos da mais vil covardia e vandalismo, materializando as ameaas formuladas.

    Relatrio do Departamento de Inteligncia e Segurana Penitenciria, juntado a folhas 61/62, aponta que Marcelo, quando retirado da penitenciria de Luclia, procedeu a ameaas a autoridades, sendo lavrado Boletim de

    Ocorrncia.

    O Boletim de Ocorrncia est presente a folhas 70/71, sendo Marcelo um dos averiguados, constando ter feito inmeras ameaas, ao agente penitencirio que estava cumprindo a ordem para remoo, ao governador do estado e

    ao secretrio de administrao penitenciria, findando por dizer que, removidos dali, o estabelecimento seria tomado

    pelos demais presos.

    Sem sua incluso cautelar, poderia encontrar

    meios para dar continuidade aos atos mencionados e

    atrapalhar a apurao do j ocorrido e de sua participao.

    Esto presentes os requisitos legais para ser

    concedida a medida acautelatria.

    POSTO ISSO, defiro o pedido acautelatrio formulado pela administrao penitenciria, e DETERMINO A INTERNAO CAUTELAR de Marcelo Moreira Prado, o EXU, em

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    Regime Disciplinar Diferenciado, pelo perodo de 90

    (noventa) dias.

    Expea-se a autorizao de internao,

    comunicando-se.

    Intime-se pessoalmente o reeducando.

    Requisitem-se cpias de inqurito policial e sindicncia que tenham sido instaurados. Vinda em at 60 dias.

    Abra-se vista ao Ministrio Pblico, para sua manifestao sobre o mrito do pedido, e em seguida defesa.

    So Paulo, 18 de maio de 2006.

    CARLOS FONSECA MONNERAT

    Juiz de Direito.

    Retratando a importncia do tema, que ganha as

    primeiras pginas dos jornais brasileiros, finalizaremos a questo com reportagem da Folha de So Paulo On-Line:

    STF decide manter Beira-Mar no Regime Disciplinar Diferenciado

    O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Nelson Jobim, negou pedido de habeas corpus ao traficante Fernandinho Beira-Mar, que est preso na penitenciria de Presidente Bernardes (589 km de SP).

    Beira-Mar contestou deciso do STJ (Superior Tribunal de Justia) que o manteve submetido ao RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), que impe regras mais rgidas aos presos. Em dezembro do ano passado, a 2 Turma do STF j havia negado pedido semelhante.

    Beira-Mar est preso em Presidente Bernardes desde maio de

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    2003. Ele tem duas condenaes definitivas na Justia. Uma delas, de 11 anos, em Belo Horizonte (MG), por trfico de drogas, e outra de 21 anos, em Cabo Frio (RJ), por trfico e formao de quadrilha.

    Ele acusado ainda de lavagem de dinheiro, contrabando e associao para o trfico internacional de drogas.

    Priso

    Beira-Mar foi preso em abril de 2001 na Colmbia. O traficante foi transferido para a Superintendncia da Polcia Federal em Braslia, onde ficou at abril de 2002.

    Depois, ele foi levado para Bangu 1, no Rio, onde teria comandado em setembro de 2002, a rebelio que deixou quatro rivais mortos. Em fevereiro de 2003, o traficante foi transferido para a penitenciria de Presidente Bernardes, em So Paulo, onde ficou por um ms at ser levado para a Superintendncia da PF em Macei. Depois retornou para o presdio paulista.

    RDD

    Banho de sol limitado a duas horas por dia, sem direito a contato com outros presos ou visita ntima e sem acesso rdio ou televiso. assim que ficam os detentos da penitenciria de Presidente Bernardes. Na unidade, os presos ficam em celas individuais.

    No presdio, inaugurado em abril de 2002, os "jumbos" --gneros alimentcios e de primeira necessidade destinados aos presos-- so reduzidos a itens determinados pela Secretaria da Administrao Penitenciria.

    Em Presidente Bernardes, o piso tem um metro de concreto, com tapetes de chapas de ao --para evitar fugas. Alm das muralhas com oito metros de altura, agentes penitencirios ficam espalhados pelo ptio, alguns com ces treinados.

    Os advogados dos criminosos tambm precisam passar por detectores de metal para entrar no local. As conversas com seus clientes ocorrem por meio de vidros. Desde que foi inaugurada, a unidade no registrou fuga ou tentativa.

    B) Pioneirismo Paulista

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    Primeiro Estado brasileiro a instituir este

    isolamento carcerrio foi So Paulo. Vejamos o relato comprobatrio trazido pelo ilustre e clssico professor Mirabete14: Inicialmente regulamentado em nvel estadual,

    era disciplinado no Estado de So Paulo pela Resoluo da

    Secretaria de Administrao Penitenciria n 26, de 4-5-2001. A medida provisria n 28, de 4-2-2002, que previa, no art. 2, a sua aplicao exclusivamente como sano

    disciplinar na hiptese de prtica, pelo preso ou condenado, de fato previsto como crime doloso, foi

    rejeitada pelo Congresso Nacional.

    Vejamos pronunciamento oficial do Estado de So Paulo no ano de 2000. A justificativa da criao deste Regime Disciplinar Diferenciado foi encabeada pelo ento

    membro do Poder Executivo Paulista, o Sr. Nagashi Furukawa

    que fez um breve histrico da situao penitenciria da poca para embasar ainda mais a suposta legalidade deste isolamento degradante. Eis o relato:

    A Secretaria da Administrao Penitenciria em dezembro de 2000 abrigava uma populao carcerria de 59.867 presos em 71 unidades com capacidade para 49.059. Em

    18 de dezembro desse ano uma rebelio ocorrida na Casa de

    Custdia de Taubat unidade de segurana mxima que desde a inaugurao at hoje no registrou nenhuma fuga e abrigava presos de altssima periculosidade e lderes de

    grupos organizados terminou com um saldo de 9 (nove) presos mortos (quatro deles decapitados) e a destruio total do espao fsico, conhecido pela populao como

    Piranho. A destruio do Piranho vinha sendo

    anunciada na comunidade carcerria e era prevista, inclusive, no estatuto da faco criminosa Primeiro Comando

    14 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execuo Penal. Editora Atlas. 11 Edio 2004. Pgina 149.

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    da Capital (PCC). Vrias providncias administrativas foram tomadas. Todos os imputveis que estavam na Casa de Custdia de Taubat foram transferidos. A maior parte para um Centro de Deteno Provisria de Belm, na Capital e um grupo de 30 (trinta), os que lideraram a rebelio, foram levados para a extinta Casa de Deteno e Penitenciria do Estado. Nesse perodo, os problemas se intensificaram na

    Deteno e na PE. Os presos comearam a fazer justia com as prprias mos e corpos apareciam nos lates de lixo. Em fevereiro de 2001, a Casa de Custdia estava reformada e os presos retornaram para a unidade. Dez lderes, no entanto,

    foram isolados em outras unidades prisionais. Em resposta

    ao endurecimento do regime, em 18 de fevereiro de 2001

    aconteceu a maior rebelio que se tem notcia. A

    megarrebelio envolveu 25 (vinte e cinco) unidades prisionais da Secretaria da Administrao Penitenciria e 4 (quatro) cadeias pblicas, sob a responsabilidade da Secretaria da Segurana Pblica do Estado. Depois dessa data, outras tantas medidas administrativas foram tomadas,

    provocadas pelas atitudes da populao carcerria. Vrias resolues foram editadas para assegurar a disciplina e a

    ordem do sistema prisional, entre elas a Resoluo SAP 26,

    de 4/5/2001, que instituiu o Regime Disciplinar Diferenciado. Em um primeiro momento o regime foi adotado

    em cinco unidades prisionais: Casa de Custdia de Taubat, Penitencirias I e II de Presidente Venceslau, Penitenciria de Iaras e Penitenciria I de Avar. Ao longo do ano as Penitencirias I e II de Presidente Venceslau e a Penitenciria de Iaras deixaram de aplicar o regime e um novo estabelecimento, o Centro de Readaptao Penitenciria de Presidente Bernardes, foi inaugurado (2/4/02) exclusivamente para tal finalidade. Hoje (6/8/03) trs unidades recebem os internos em regime disciplinar

    diferenciado: o Centro de Readaptao Penitenciria de

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    Presidente Bernardes, com capacidade para 160 presos,

    abriga 54; a Penitenciria I de Avar, com 450 vagas, abriga 392 e o Centro de Reabilitao Penitenciria de Taubat, com 160 vagas, abriga 69 mulheres presas. Resumindo de uma populao carcerria de 94.561 presos, 515 internos esto em regime RDD. Em agosto de 2002, a

    Resoluo SAP-59, institui o Regime Disciplinar Especial no

    Complexo Penitencirio de Campinas Hortolndia. A iniciativa visou melhorar a disciplinar e a segurana de

    uma regio que abriga 7 (sete) unidades prisionais. Uma delas foi destinada exclusivamente para os presos em regime

    disciplinar especial.

    Todavia, em 12 de maio de 2003, uma comisso

    paulista pronunciou-se contrria aplicao deste Regime Disciplinar Diferenciado. Finalizamos, para nossa

    felicidade, o presente item com este lcido relatrio:

    RELATRIO SOBRE O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO

    Por deciso adotada na 285 Reunio Ordinria, o Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria decidiu constituir uma Comisso para estudo do chamado

    Regime Disciplinar Diferenciado, da qual fazem parte os

    Conselheiros Maurcio Kuehne, Laertes de Macedo Torrens e

    Carlos Weis, que assim passam a relatar:

    O chamado Regime Disciplinar Diferenciado foi

    institudo administrativamente por iniciativa da Secretaria

    de Administrao Penitenciria do Estado de So Paulo e tido pelo titular daquela Pasta como fundamental para seja debelada a crise pela qual passa o sistema penitencirio paulista. O Governo Federal, premido pela necessidade de

    custodiar o preso Lus Fernando da Costa, vem dando ateno

    necessidade de construir unidades prisionais federais e

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    mesmo de auxiliar os Estados a manter penitencirias de segurana mxima. O assassinato do Juiz Alexandre Martins de Castro Filho, supostamente levado a cabo por ex-policial

    militar que se evadira de unidade prisional no Esprito

    Santo, parece ter impulsionado a iniciativa da criao do

    RDD em mbito nacional, mediante modificao da Lei de

    Execuo Penal. Foi ento apresentado um Substitutivo ao

    Projeto de Lei n. 5.073/2001, de comum acordo com o Relator da matria na Cmara dos Deputados, Deputado Abi-Ackel que, no tocante ao RDD, foi aprovado por aquela Casa.

    Relatado o tema, a Comisso reuniu-se e entendeu,

    na esteira da manifestao contida no MEMO/MJ/CNPCP/N 021/2003, que a instituio do chamado Regime Disciplinar Diferenciado, ou mesmo do Regime Disciplinar de Segurana

    Mxima, desnecessria para a garantia da segurana dos estabelecimentos penitencirios nacionais e dos que ali trabalham, circulam e esto custodiados, a teor do que j prev a Lei n. 7.210/84. De fato, ao estipular que o preso que cometer infrao disciplinar de natureza grave poder ser mantido em isolamento por at 30 dias, parece plenamente assegurada a possibilidade da direo do

    presdio de punir o preso faltoso e, ao mesmo tempo

    assegurar o retorno da paz no interior do estabelecimento,

    valendo lembrar que a aplicao de tal sano pode ser

    repetida quantas vezes o preso infringir, gravemente, a

    disciplina prisional. Alm disso, sempre que a falta caracterizar crime, o sentenciado poder ser novamente condenado, o que aumentar seu tempo de priso. Entendem os membros desta Comisso que no se deve confundir sano

    disciplinar com regime de cumprimento de pena e, muito

    menos, buscar, no isolamento em solitria a soluo para o funcionamento, em segurana, das unidades prisionais

    brasileiras.

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    Assim, adotando os termos do documento

    encaminhado ao Sr. Ministro da Justia pelo memorando acima

    referido, esta Comisso se posiciona pela rejeio a qualquer projeto de lei que institua regime disciplinar ou correlato.

    C) Leading Case

    Neste momento fica claro a importncia do tema e

    o alto teor de abstrao envolvida na questo. O tema da

    violncia, da alta periculosidade dos criminosos, do

    desrespeito de princpios constitucionais, fazem com que

    todos ns tenhamos uma opinio a respeito. Todos possuem uma soluo para o problema da criminalidade. Desde os mais

    reacionrios que acham que a pena de morte a soluo de todos os males, desde aqueles, pelos quais nos filiamos,

    que acreditam numa mudana em longo prazo, conjuntural e com melhoras nas condies mnimas para que o ser humano

    tenha sua dignidade respeitada.

    Isolar um chefe de faco criminosa parece neste

    instante como soluo primeira. Sem comando, teoricamente a

    bandidagem ir perder fora. No seria o desrespeito aos direitos e no privilgios como querem nos fazer achar que so, que fazem com que os criminosos se revoltem? A LEP

    traz uma srie de direitos que os presos devem possuir. Seria absurdo, por exemplo, o Estado assessorar

    juridicamente seus detentos? So Paulo sai neste aspecto atrs de alguns Estados brasileiros, pois ainda no possui uma Defensoria Pblica estruturada e organizada como manda a Constituio de 1988. Seria muito os condenados

    solicitarem um local digno para que possam dormir em paz,

    cumprindo sua pena normalmente?

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    O que podemos perceber nos relatos pesquisados que a maioria dos presos possuem a conscincia de que

    fizeram um mal e que devem ser castigados. Inclusive a

    religio dentro da priso mostra essa noo de uma forma

    esclarecedora para o detento. O que gera rebelies,

    revoltas, indignaes, raiva o desrespeito aos direitos e garantias que todo ser humano possui, at mesmo um preso. A bandeira tem nome: Dignidade Humana. Por que a mdia tendenciosa a colocar estes tais direitos como se fossem

    privilgios? Evidente, a reao imediata neste sentido.

    Entretanto, nos parece que essa concepo de

    degradao lenta do ser humano atravs de seu isolamento carcerrio quase que completo vem ganhando fora, principalmente no meio jurdico, sensvel aos princpios constitucionais envolvidos.

    Submetido ao crivo do Judicirio Paulista, o Regime Disciplinar Diferenciado teve o tratamento que

    merece. O leading case que inseriremos neste momento, nos

    incentivar nas pginas seguintes a criticar de forma contundente este regime que, num primeiro momento, fere

    princpios constitucionais da dignidade da pessoa humana e

    traz ainda crueldade no cumprimento das penas. E todos ns almejamos, at historicamente falando, a abolio total de penas cruis. Um Estado Democrtico de Direito no pode permitir tamanha reao estatal que nos remete aos tempos

    idos dos brbaros.

    Recebam com satisfao a deciso que julgou pela inconstitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado:

    HABEAS CORPUS" - Processo n 978.305.3/0-00

    Impetrante : MARIA CRISTINA DE SOUZA RACHADO

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    Paciente : MARCOS WILLIANS HERBAS CAMACHO

    Voto n 5714 : A Advogada MARIA CRISTINA DE SOUZA RACHADO

    impetra o presente "habeas corpus", com pedido liminar em

    benefcio de MARCOS WILLIANS HERBAS CAMACHO, apontando como

    autoridade coatora o Exm. Sr. Dr. Juiz de Direito

    Corregedor da Vara das Execues Criminais da Capital, nos

    autos do pedido de desinternao em regime disciplinar

    diferenciado (processo n C-127/2006), ao determinar a internao cautelar do paciente pelo prazo de noventa dias,

    em regime disciplinar diferenciado - RDD e contra ato do

    MM. Juiz de Direito da Vara das Execues Criminais da

    Capital. 1. Ao contrrio do que argumenta o lcido parecer do D. representante da Procuradoria Geral de Justia, a

    ordem deve ser conhecida.

    Argumenta a d. impetrante, em sntese, que o paciente est sofrendo constrangimento ilegal consistente no acolhimento

    de representao formulada pela autoridade administrativa e

    pelo MM. Juiz de Direito Corregedor da Vara das Execues

    Criminais de So Paulo, que determinou a internao

    cautelar do paciente pelo prazo de 90 dias. Ressalta que,

    enquanto o MM. Juzo de Direito Corregedor da VEC

    determinava a internao cautelar pelo prazo de 90 dias, o

    rgo do Ministrio Pblico tambm peticionava no mesmo sentido para o Juzo da VEC, que tambm determinou a internao cautelar sobre as mesmas alegaes, entendendo

    que o ora paciente foi apenado com duas internaes

    cautelares pelo mesmo fato, o que reputa ilegal. Alega que

    as decises judiciais que determinaram a internao cautelar do paciente em RDD nos autos de nmeros C-08/06 e n C-127/06, no demonstram o necessrio fumus boni juris ou a

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    verossimilhana das alegaes dos rgos Representantes, levando a concluso de que resta configurada como

    verdadeiro ato coator, vcio este sanvel pelo presente writ. Entende que o ato judicial impugnado peca por ilegalidade e abuso, vez que a deciso foi proferida sem

    qualquer manifestao do MP ou da Defesa. Insurge-se contra

    as notcias juntadas aos autos, dizendo que as mesmas no possuem qualquer valor probante. Alega que a imposio de

    qualquer restrio de direitos ao paciente, mesmo que

    cautelar, por imputar-se a ele a autoria intelectual de

    tais atos criminosos, constitui verdadeiro arrepio aos

    princpios do devido processo legal e da ampla defesa,

    representando inafastvel abuso de autoridade. Aduz sofrer o paciente constrangimento ilegal traduzido em sua incluso

    no RDD sem a comprovao de prtica de delito ou falta grave, nos termos da lei, sendo necessria a concesso do writ, a fim de que se garanta ao paciente sua permanncia

    em estabelecimento penal destitudo de regime mais gravoso.

    Culmina por pleitear liminarmente, a transferncia do

    paciente para outro presdio da sede estatal, destitudo do

    gravoso RDD.

    A liminar foi indeferida (fls. 33/35), e a d. autoridade apontada como coatora prestou informaes s fls. 38/40.

    A douta Procuradoria Geral de Justia opinou s fls. 54/60, opinou pelo no conhecimento da ordem ou, se conhecida, por

    sua denegao.

    RELATADOS.

    Com efeito, toda afronta aos Direitos Individuais dos

    cidados brasileiros, independentemente de raa, credo,

    condio financeira etc, desde que cause constrangimento

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    49

    ilegal, , e sempre dever ser passvel de "habeas corpus".

    de se observar, inclusive, que a impetrante questiona no s a ilegalidade RDD, como tambm pleiteia a transferncia do detento para outro presdio da rede Estatal.

    No que pertine ao mrito do pedido, razo assiste impetrante.

    de se observar inicialmente no se poder deixar de considerar o grave momento vivido pelas instituies

    pblicas, fruto de dezenas de anos de descaso para com as causas sociais, originando o nascimento de verdadeiro

    Estado Paralelo, que a medida ora questionada visa

    enfrentar.

    Segundo consta dos autos, em 17 de maio de 2006, o

    Secretrio da Administrao Penitenciria de So Paulo representou pela internao cautelar do paciente em regime

    disciplinar diferenciado diante da necessidade e urgncia

    da medida.

    De acordo com a representao do Secretrio, o paciente teria proferido ameaas contra ele e contra o Governador de

    So Paulo, desafiou as Autoridades Policiais e, juntamente com outros integrantes da faco criminosa, comandou os

    ataques e rebelies ocorridas nos dias 13, 14 e 15 de maio

    na cidade de So Paulo constando, ainda, que o paciente se

    mantm lder da faco ameaando e reprimindo a populao prisional.

    Segundo a d. autoridade apontada como coatora, o Secretrio tambm representou pela posterior internao definitiva pelo prazo mximo previsto em lei e foi instaurada

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    50

    sindicncia pela Secretaria para apurar os fatos, a qual

    ser remetida ao Juzo quando concluda, sendo certo que tambm se aguardam as informaes das Autoridades Policiais acerca dos fatos imputados ao ora paciente.

    Ainda de acordo com as informaes prestadas pela d.

    autoridade inquinada de coatora, em 18 de maio de 2006 foi

    deferida pelo Juzo, pelo prazo de noventa dias, a

    internao cautelar do ora paciente, nos termos do artigo

    60 da lei de Execues Penais.

    Trata-se, no entanto, de medida inconstitucional, como se

    sustenta a seguir:

    O chamado RDD (Regime disciplinar diferenciado), uma aberrao jurdica que demonstra saciedade como o legislador ordinrio, no af de tentar equacionar o problema do crime organizado, deixou de contemplar os mais

    simples princpios constitucionais em vigor.

    J no seu nascimento, a medida ofende mortalmente a Constituio Federal, desde que a resoluo SAP n 026/01, que cria o regime disciplinar diferenciado, ato de secretrio de Estado, membro do Poder Executivo, a quem no cabe legislar sobre matria penal, nem tampouco penitenciria, segundo a Constituio Federal (arts. 22, I e 24, I). Assim, a inexistncia de procedimento legislativo e da necessria edio de lei federal, que deveria bastar para demonstrar a inviabilidade de sua efetivao,

    configurando evidente constrangimento ilegal.

    Destarte, no cabe a ningum, nem mesmo ao juiz da execuo, determinar ou legitimar regresso (ou transferncia) a regime penitencirio inexistente em lei.

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    Como muito bem disserta Carmem Silva de Moraes Barros,

    Procuradora do Estado em So Paulo, "in"

    http://www.processocriminalpslf.com.br/rdd.htm, "ao criar o regime disciplinar diferenciado, a resoluo d vida a uma pena desumana e atentatria aos direitos e liberdades fundamentais: isolamento por 180 dias, na primeira incluso

    e 360, nas demais; banho de sol por, 'no mnimo', uma hora

    por dia; visita semanal de duas horas, sem algemas...

    (arts. 4 e 5, II, IV e V da resoluo). Observe-se que essas so regras previstas "para assegurar os direitos do

    preso" durante a permanncia no RDD, conforme o caput do

    art. 5 da resoluo. Assim que sob o pretexto de combater o crime organizado instituiu-se mtodo de aniquilamento de personalidades. Mas no s. A resoluo SAP n. 026/01 autoriza a transferncia para o RDD a critrio exclusivo da autoridade administrativa. Alijada a autoridade judicial, a autoridade administrativa se v, em razo dos prprios termos da resoluo, desobrigada de respeitar a Lei de Execuo Penal (que no consta tenha sido revogada pela resoluo). A resoluo no exige prtica de falta grave para transferncia para o RDD e exatamente porque estabelece que esse regime de cumprimento

    de pena aplicvel "aos lderes e integrantes de faces criminosas e aos presos cujo comportamento exija tratamento especfico" (art. 1), abre espao para qualquer tipo de arbtrio por parte da autoridade responsvel pela custdia do preso. Lembra, assim, os velhos pores, para os quais possvel transferir presos, se o critrio exclusivamente administrativo indicar tratar-se de pessoa cujo comportamento "exija tratamento especfico". Um tanto quanto vago, mas muito apropriado para os fins a que se

    prope. Diz a resoluo: "os objetivos de reintegrao do preso ao sistema comum devem ser alcanados pelo equilbrio

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    entre a disciplina severa e as oportunidades de

    aperfeioamento da conduta carcerria". Muito embora e isso ao que parece ainda no se contesta o processo de

    execuo seja jurisdicionalizado, a concesso que a resoluo faz ao juzo da execuo a comunicao da incluso e da excluso no RDD, em 48 horas (art. 8). No trata da bvia necessidade de que a autoridade administrativa comunique ao juzo qual o fato imputado ao preso que est fundamentando a transferncia para o RDD".

    Mas a citada jurista no pra a: "Ignora-se, sem qualquer cerimnia, a LEP que, no que

    tange, tanto regresso de regime de cumprimento da pena quanto s sanes, absolutamente clara e estabelece no art. 58 que o isolamento, a suspenso e a restrio de

    direitos no podero exceder 30 dias; no art. 60 que no

    caso de falta disciplinar a autoridade administrativa

    poder decretar o isolamento preventivo do faltoso pelo prazo mximo de dez dias e no pargrafo nico do art. 58, determina o dever que tem a autoridade administrativa de

    comunicar o isolamento ao juiz da execuo. E assim porque dez dias so o quanto basta para realizar-se o procedimento administrativo e comunicar-se ao

    juiz da execuo para que, sendo o caso, determine a oitiva do preso ou obste a aplicao da sano, quando

    configurados estiverem ilegalidades ou abuso de poder.

    Continua a Lei de Execuo Penal, atenta posio de garantidor que tem o juiz da execuo, dispondo no art. 47 que o poder disciplinar, na execuo da pena privativa de

    liberdade, caber autoridade administrativa e no pargrafo nico do art. 48 determinando a obrigatoriedade de representao, ao juiz da execuo, pela autoridade administrativa, nos casos de

    prtica de falta grave. A aplicao de penalidade

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    disciplinar ao executado, pelo cometimento de falta grave,

    obriga, portanto, a autoridade administrativa a comunicar,

    representando, ao juiz da execuo (art. 48, pargrafo nico c/c art. 66, III, letras b e c da LEP). Assim , porque ao poder judicirio cabe fazer o controle externo dos atos da administrao, faz parte de seu dever de zelar

    pelos direitos individuais do sentenciado e pelo correto

    cumprimento da pena. Portanto, ainda que se admita a

    possibilidade de incluso no RDD pela

    prtica de fato que no seja tipificado pela LEP como falta grave, deve a autoridade administrativa descrev-lo em

    alguma forma de "procedimento administrativo" e, por bvio que parea, esse "procedimento" deve ser enviado a juzo, pois o ato administrativo (includa a motivao) que determina a transferncia para o RDD, tambm est sujeito a controle de legalidade e da tipicidade pela autoridade

    judicial, at porque - no demais repetir - o processo de execuo penal, ainda , jurisdicionalizado. A resoluo, no entanto, permite a transferncia para o RDD sem qualquer participao da

    autoridade judicial e limita-se a estabelecer que a remoo do preso ao RDD pode ser solicitada pelo diretor tcnico de qualquer unidade, em petio fundamentada, ao coordenador

    regional das unidades prisionais que, se estiver de acordo,

    encaminhar o pedido ao secretrio adjunto, para deciso final (art. 2). Ah! No nos esqueamos, a resoluo concede ao preso, no intuito de assegurar seus direitos, o

    conhecimento dos motivos da incluso no RDD (art. 5, I). No entanto, se faz necessrio lembrar, que por outro ato, proibiu-se o contato do preso com seu advogado pelos dez

    dias posteriores incluso no regime fechadssimo. inominvel!

    E