BELO+E+BONITO

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texto a partir de livro questões da arte

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  • E de onde veio essa idia de "boniteza", relacionada com o alegre, o agradvel, o saudvel? Bem, isso teve origem na Grcia, na Antiguidade clssica, mais ou menos no sculo V a.c., quando Atenas era uma cidade importantssima. A arte que l se fazia pretendia expressar um ideal de beleza e vida por meio de composies nas quais predominassem a harmonia, a simetria, o equilbrio e a proporcionalidade. Foi essa arte que inspirou vrios movimentos artsticos desde o Renascimento at a Idade Moderna. Por ser considerada um modelo, essa arte - com seus critrios e princpios - foi chamada de clssica e, pela importncia que teve, acabou disseminando pelo mundo seu ideal de beleza, que passou a ser visto como universal. Assim, muitas pessoas passaram a julgar belas apenas as manifestaes artsticas agradveis, harmoniosas e que mostram o mundo no como ele , mas como deveria ser. Da a se confundir beleza com critrios de aparncia, com proporcionalidade de medidas e com equilbrio de formas foi um passo. E,

    assim, passamos a misturar prazer esttico que uma emoo profunda e sutil- com o prazer de olhar ou ouvir formas e composies agradveis. Essas idias tiveram muito sucesso, popularizaram-se e, at hoje, muita gente pensa que o belo deve necessariamente ser harmonioso, agradvel, saudvel e alegre. Alguns fatores vieram ainda consagrar a identificao da beleza com os padres clssicos de harmonia, simetria e proporcionalidade Um deles foi a indstria cultural, que acabou por popularizar esses conceitos. A fotografia, cinema, o vdeo e a televiso perpetuaram esses ideais mesmo quando j ultrapassados em relao arte e ao gosto da crtica.

    Outro fator que contribuiu para que se associasse beleza sensao de leveza e har-monia foi o desenvolvimento da indstria e lazer e do entretenimento. medida que os espetculos artsticos se estabeleceram em dias e horas de descanso e diverso, parecem ter adquirido como caractersticas a alegria, a distrao e o disfarce das dificuldades das imperfeies. Estava assim afastada a possibilidade de uma beleza que pudesse ser profunda, crtica e inquietante. Escolas artsticas posteriores ao Classicismo, entretanto, defenderam o princpio de uma beleza que pressupe o agressivo, a desarmonia e at o disforme. Os artistas mostraram que, muitas vezes, a desordem, e o desequilbrio so mais capazes de transmitir emoes e estimular o pensamento crtico do que as composies que procurassem submeter realidade a um ideal. o que se percebe na foto de Sebastio Salgado. Ser possvel falar de guerra, de revoluo e da sensao que despertam atravs de imagens nas quais predominam o equilbrio e a har-monia? Mesmo que seja possvel, a beleza no resulta desses princpios, mas da transmisso de uma forma peculiar de ver e interpretar o mundo, da idia que, transposta para a obra, se reconstitui na mente do espectador - parte integrante da arte. Dois movimentos artsticos se opuseram esttica clssica: o Realismo e o Expressionismo. O Realismo defendia ser fun-o da arte mostrar ao pblico o mundo tal como percebido pelo artista. O Expres-sionismo procurava transpor para a obra de arte o lado mrbido e doentio do homem e da sociedade. Dessa discusso resulta a certeza de que o belo uma qualidade das obras de arte, que desperta uma emoo qual esto associados os sentimentos e as idias do artis-ta e a identidade que ele capaz de estabelecer com o pblico. Que essa emoo resulte de uma composio aparentemente bonita ou feia, isso secundrio, est relacionado com o movimento artstico ao qual o artista pertence e com a idia que ele quer transmitir. No nos deixemos enganar, portanto, pelas aparncias

    Velho a sofrer (No limiar da eternidade),

    Vincent van Gogh, 1890. leo sobre tela, 81x64

    Sebastio Salgado

    A ESTTICA CLSSICA E A

    POPULARIZAO DO BONITO Cristina Costa Questes de Arte Ed. Moderna