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A ndignaçã o Quando nos tornamos indignados sobre uma situação qualquer, parece que estamos do lado do bem e contra o mal, do lado da justiça e contarároi à injustiça. Parecemos então ser aquele que intervém entre o agressor e sua vítima de modo a impedir um mal maior. Contudo, pode-se também intervir entre eles com amor, e isso seria, com certeza, melhor. Assim, o que o indigando quer? O que ele realmente obtém? O indignado se comporta como se ele próprio fosse uma vítima, embora não seja. Ele assume o direito de exigir uma reparação do agressor embora nehuma injustiça tenha sido feita, pessoalmente a ele. Ele assume a tarefa de advogado das vítimas, como se ele tivesse dado a ele o direito de representá-las; e fazendo assim, deixa as verdadeiras vítimas sem direito. E o que faz o indignado com esta pretensão? Ele toma a liberdade de fazer coisas más aos agressores sem medo de qualquer consequência ruim para sua própria pessoa; pois suas más ações parecem estar a serviço do bem, e assim elas não temem qualquer punição. De modo a manter sua indignação justificada, tal pessoa dramatiza tanto a injustiça sofrida pelas vítimas quanto as consequências das ações da parte culpada. Ela intimida as vítimas a verem a injustiça pelo mesmo modo com ela mesma vê. De outro modo, caso as vítimas naõ concordem, tornam-se suspeitas e alvo de uma indignação justificada ,como se elas mesmas fossem agressores. Da perspectiva da indignação é difícil para as vítimas deixar seu sofrimento ir embora, e é difícil para os agressores deixarem sua culpa ir embora. Se às vítimas e aos agressores for permitido encontrar uma resolução e uma reconciliação por seus próprios meios, elas podem se permitir, uma a outra, um novo começo. Mas se a indignação entra em cena, tal resolução é muito mais difícil, pois o indignado, geralemente, não fica satisfeito até que o agressor tenha sido completamente destruído e humilhado, mesmo que isto, ao ser feito, intensifique o sofrimento das vítimas. A indignação é em primeiro lugar uma questão de moralidade. Isto quer dizer que o indignado não está realmente preocupado em ajudar outra pessoa, mas comprometido com uma certa demanda para a qual ele se proclama o executor. Deste modo, ao contrário de alguém que ama, tal pessoa naõ conhece nem contenção, nem compaixão. “Nós estamos liberados do mal quando podemos, serenamente, deixá-lo ir.” Conflitos étnicos e reconciliação - A paz começa na alma 2004

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A ndignação

Quando nos tornamos indignados sobre uma situação qualquer, parece que estamos do lado do bem e contra o mal, do lado da justiça e contarároi à injustiça. Parecemos então ser aquele que intervém entre o agressor e sua vítima de modo a impedir um mal maior. Contudo, pode-se também intervir entre eles com amor, e isso seria, com certeza, melhor. Assim, o que o indigando quer? O que ele realmente obtém?

O indignado se comporta como se ele próprio fosse uma vítima, embora não seja. Ele assume o direito de exigir uma reparação do agressor embora nehuma injustiça tenha sido feita, pessoalmente a ele. Ele assume a tarefa de advogado das vítimas, como se ele tivesse dado a ele o direito de representá-las; e fazendo assim, deixa as verdadeiras vítimas sem direito.

E o que faz o indignado com esta pretensão? Ele toma a liberdade de fazer coisas más aos agressores sem medo de qualquer consequência ruim para sua própria pessoa; pois suas más ações parecem estar a serviço do bem, e assim elas não temem qualquer punição. De modo a manter sua indignação justificada, tal pessoa dramatiza tanto a injustiça sofrida pelas vítimas quanto as consequências das ações da parte culpada. Ela intimida as vítimas a verem a injustiça pelo mesmo modo com ela mesma vê. De outro modo, caso as vítimas naõ concordem, tornam-se suspeitas e alvo de uma indignação justificada ,como se elas mesmas fossem agressores.

Da perspectiva da indignação é difícil para as vítimas deixar seu sofrimento ir embora, e é difícil para os agressores deixarem sua culpa ir embora. Se às vítimas e aos agressores for permitido encontrar uma resolução e uma reconciliação por seus próprios meios, elas podem se permitir, uma a outra, um novo começo. Mas se a indignação entra em cena, tal resolução é muito mais difícil, pois o indignado, geralemente, não fica satisfeito até que o agressor tenha sido completamente destruído e humilhado, mesmo que isto, ao ser feito, intensifique o sofrimento das vítimas.

A indignação é em primeiro lugar uma questão de moralidade. Isto quer dizer que o indignado não está realmente preocupado em ajudar outra pessoa, mas comprometido com uma certa demanda para a qual ele se proclama o executor. Deste modo, ao contrário de alguém que ama, tal pessoa naõ conhece nem contenção, nem compaixão.

“Nós estamos liberados do mal quando podemos, serenamente, deixá-lo ir.”

Conflitos étnicos e reconciliação - A paz começa na alma 2004

Bert Hellingerna Forham University, 4 de Outubro de 2004

Texto traduzido por Décio Fábio de Oliveira Júnior com a permissão expressa do Sr. Dan Booth Cohen, conforme o original em inglês no site http://www.hiddensolution.com/whatsnew.htm

* A raiz do conflito étnico é uma "Boa consciência"

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* Primeira Demonstração* Observações sobre a primeira demonstração* Perguntas* Segunda Demonstração* Observações sobre a Segunda Demonstração

A raiz do conflito étnico é uma "Boa Consciência"

Qual é a origem dos conflitos étnicos ? Se você olhar para isto bem de perto , você ficará surpreso ao perceber que na raiz de todos estes grandes conflitos está uma "boa consciência". Todos estes conflitos obtêm sua energia de uma boa consciência.

Nós somos ensinados desde a mais tenra infância , que nós temos que seguir nossa consciência. Algumas pessoas chegam a dizer que a consciência é a voz de Deus em nossa alma. Mas uma olhada bem superficial na consciência no mostra que pessoas de diferentes famílias e diferentes culturas têm diferentes consciências em relação a nós. Muito freqüentemente, seguindo sua própria boa consciência elas expressarão diferentes valores, apresentarão diferentes comportamentos e manterão diferentes atitudes do que nós teríamos dentro de nossa própria família e nossa própria cultura.

Um teste bem fácil para verificar isto: quando você vai até seu pai, você tem uma consciência diferente do que quando você vai até a sua mãe. Se você fica perto da mãe você se sente de má consciência em relação a seu pai. Se você fica perto do pai você se sente de má consciência em relação a sua mãe.

Assim, a consciência, na verdade, não nos diz o que é bom ou mau. Ela nos diz o que nós temos de fazer de modo a pertencer a um grupo particular ou a uma pessoa particular. A consciência tem uma função básica: ela nos liga nossa família de origem, especialmente a este grupo que é essencial para a nossa sobrevivência. Deste modo, quando nós seguimos nossa consciência, não é uma consciência pessoal, é a consciência de nosso grupo. Se nós seguimos tal consciência, nós nos sentimos seguros dentro de nosso próprio grupo.

Mas ao mesmo tempo que a consciência nos liga a nosso grupo, ela nos separa de outro grupo. Assim, divisões, entre pessoas e famílias e grupos maiores, vêm da boa consciência. Esta consciência é um pré-requisito para a sobrevivência. Para nossa sobrevivência e para a sobrevivência de nosso grupo.

Se há um inimigo de for a, ameaçando nosso grupo, a consciência se torna muito ativa e nos liga bem próximos a nosso grupo e mobiliza a energia para lutar com os outros pelo bem da sobrevivência de nosso próprio grupo. Se você olha para estes conflitos, você vê que ambos os lados têm uma boa consciência. Ambos os lados sentem que sua consciência é a voz de Deus. Sua causa é algo sagrado. Isto é o motivo pelo qual os conflitos entre grupos são defendidos como uma guerra santa.

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Sempre, uma guerra santa. Muito estranho, hum ?

A pergunta agora é: Nós podemos achar caminhos que podem superar os limites de nossa própria boa consciência e incluir dentro de nossas almas e nossos corações os valores de outras pessoas? Então nós teremos de ter uma má consciência. Através de ter uma má consciência nós podemos amar mais do que antes. Por causa deste tipo de amor, que vem da boa consciência, diz ao mesmo tempo , "Sim e não". O amor que leva à reconciliação seria o amor que pode dizer "Sim" para todo mundo e para tudo.

Isto não é politicamente factível. Os líderes políticos tem de seguir a consciência de seus grupos. Nós não podemos esperar deles que cruzem as fronteiras de sua boa consciência. Nos tempos recentes, há dois líderes políticos que fizeram isto, o presidente Sadat do Egito e o primeiro ministro Rabin de Israel. Ambos foram mortos por seu próprio povo que agiu de boa consciência, é claro. Superar as fronteiras de nosso próprio grupo é perigoso. Nós temos que saber disto.

Uma vez que você seguiu sua consciência, você não mais pode ver as outras pessoas. Voe nunca as vê. Elas são apenas "Os inimigos, os outros, o outro grupo". Deste modo a paz começa quando nós vemos as outras pessoas, nossos inimigos, como seres humanos exatamente como nós somos.

Todos os esforços para servir à paz têm de ser feitos bem devagar. Tem de começar na alma. Primeiro de tudo em nossa própria alma e então nós podemos encontrar outros que se unem em um certo movimento de paz. Isto pode alcançar momentum e ao longo do tempo alcançar alguma coisa boa a serviço da paz.

Primeira Demonstração

Aqui, eu gostaria de demonstrar o que acontece se nós seguimos nossa boa consciência e se nós vamos além do limite de nossa consciência. Eu farei algo que pode ser muito radical. Eu tomarei algumas pessoas para representar vítimas do Holocausto e algumas pessoas para representar os assassinos do Holocausto. Deixaremos que elas fiquem face-a-face. Nós olharemos o que acontece se nós permitimos a elas olharem-se mutuamente.

Eu preciso de cinco representantes para as vítimas do Holocausto. Alguém se dispõe? [Seleciona então os representantes] Você fica aqui. Só fiquem de pé, lado a lado. Então eu tomarei cinco representantes para os assassinos. [Seleciona os representantes].

[Hellinger coloca a linha de vítimas de frente para uma linha de agressores. Ele não dá nenhuma explicação adicional ou instruções. Isto não é um psicodrama ou uma encenação. Os representantes não falam nada. Após algum tempo, eles começam a exibir reações. Alguns começam a chorar, alguns se tornam fracos e caem, alguns se viram, alguns se movem para perto dos outros e alguns apenas ficam de pé, no

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lugar.

Hellinger permite o processo se desenvolver por cerca de 10 minutos. Então ele traz alguns representantes para cada lado, que ficam atrás dos outros. Ele não diz a eles nada, mas à medida que o processo se desenvolve eles podem ver os representantes dos descendentes das vítimas e dos agressores. Após algum tempo, eles também começam a reagir de vários modos.

O processo inteiro dura mais de 20 minutos sem nenhuma fala. Lágrimas fluem livremente, dos representantes das vítimas , dos agressores, dos descentes de dos observadores da audiência. Nós vemos que muito lentamente, os membros das duas linhas originais se misturaram uma com a outra. Muitos, mas não todos, se abraçaram em pequenos grupos. Alguns deitaram no chão sozinhos. Ninguém ficou imóvel.]

Eu acho que aqui eu posso interromper isto.

Observações sobre a primeira demonstração

Eu direi algo sobre o procedimento. Se nós não interferirmos com qualquer julgamento ou intenções, então em uma constelação como esta, os representantes são movidos por uma força mais profunda. Isto é "a alma" em um sentido muito mais amplo do que nós usualmente falamos sobre ela. Os movimentos básicos da alma são sempre os mesmos. Eles unem o que foi antes separado. Você pode ver isto muito lindamente.

Aqui alguma coisa muito importante aconteceu. Um dos agressores não pode ir. Nós o vimos ficar de pé dom seus pulsos cerrados. O jovem homem lá , obviamente, era um descendente de um agressor. Nós pudemos ver isto. Quando o agressor virou-se para seu descendente, o jovem homem veio e colocou sua mão no ombro do velho homem. Isto foi o começo de um movimento onde ele poderia se abrandar. O agressor não pode ficar brando a menos que ele seja amado. Isto foi mostrado. Não há mudança a menos que os agressores também sejam olhados como seres humanos que seguem sua consciência assim como os outros o fazem. Isto precisa ser reconhecido, que eles são chamados por um destino especial, como outros também.

No final, nenhum grupo mais, apenas pessoas. Apenas pessoas conectadas pelo amor e pelo profundo pesar que vocês puderam ver aqui, pelo que aconteceu. A principal força que traz paz entre pessoas e nações querelantes é um pesar compartilhado por aquilo que aconteceu .

Eu quero apontar algo muito importante. Alguma coisa que está no caminho da paz. Muitos daqueles que sofreram, ou que pertencem ao grupo que sofreu muito, estão com raiva dos agressores. Eles reprovam-nos. Eles não querem esquecer de nenhuma forma. O que acontece ? Aqueles que rejeitam os agressores em sua alma

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se tornam como eles. Subitamente, eles têm a energia dos agressores e continuam o conflito de alguma forma a sua volta. Como a roda que gira, mas é sempre a mesma, sem nenhuma solução. Além do mais, aqueles que são reprovados são reforçados em sua agressão. Assim, todas as acusações e todas as reclamações pelos sobreviventes dos conflitos étnicos contra os agressores apenas alcançam o propósito oposto ao qual almejam. Eles permanecem no caminho da reconciliação.

Uma vez que nós compreendemos isto e permitimo-nos em nossas almas desejar o bem a cada pessoa, mesmo aos agressores, mesmo àqueles que cometeram injustiças contra nós, mesmo na vida cotidiana, se nós aprendemos isto, nós crescemos. Se nós adotamos esta atitude nossa simples presença em uma dada situação promoverá a reconciliação e a paz. Há duas sentenças ditas por Jesus que explicam o que isto significa no final. Ele disse, " Tenha clemência, como meu pai no Céu; ele faz o sol nascer sobre os bons e os maus , igualmente. E Ele deixa a chuva cair sobre os justos e injustos, igualmente." Esta é a paz de Deus, realmente.

Perguntas

P: Houve um representante das vítimas que se moveu para longe dos outros. Quanto mais longe ele caminhou para longe, mais ele parecia colapsar. Enquanto isto, os representantes que se aproximaram dos agressores permaneceram de pé e eventualmente se moveram em harmonia com os outros. Eu me preocupo com o que aconteceu com o representante da vítima que se afastou.

Hellinger: Eu primeiro direi algo sobre todo o processo. Cada representante é um indivíduo que está sintonizado como alguma coisa por si mesmo. Nós não podemos explicar seus movimentos. Foi assim como foi, isto é tudo. E ainda, nós pudemos ver estes movimentos revelar algo sobre as forças internas que influenciam aqueles que tem experimentado contato com o Holocausto.

Neste exemplo, nós podemos ver que muito freqüentemente os descendentes das vítimas do Holocausto querem morrer. Muitos deles são atraídos para a morte. Aqui voê pôde ver um exemplo. Aqueles que são ousados o suficiente para encontrar os agressores, estes tem força. Você pôde ver isto também. Muito estranho, de fato. Isto é como é. Isto não foi planejado ou imaginado de forma alguma. Isto não pode ser imaginado. Algo da profundidade simplesmente surge, e vem à luz e nos é mostrado. Nós só assistimos. 

P: Os representantes não usam quaisquer palavras. O que , em termos do procedimento, significa esta falta de diálogos ?

Hellinger: Estes movimentos só podem ser revelados sem o uso de palavras. Só

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então as profundezas da alma se movem. Muito freqüentemente nós queremos desafiar ou questionar aquilo que vemos porque nós temos em mente a idéia que isto deveria ser de uma certa forma. Se nós ouvimos estas idéias, somos cortados da conexão com estes movimentos profundos, imediatamente. Isto só pode ser feito sem palavras. E isto mostra que não há interferências de fora. Assim que usamos palavras, vocês são desconectados dos movimentos.

P: Você instrui os representantes para não falar?

Hellinger: Você viu, desde que eu não disse nada, eles não disseram nada também. 

P: Você usou a palavra "consciência" para descrever a consciência baseada no pertencimento a um grupo particular que freqüentemente se vira , então, contra um outro grupo. Me parece que há também uma consciência baseada na identificação com toda a raça humana. Estas pessoas trabalham para a paz mundial. Pode não existir uma consciência como esta? Um grupo comprometido ce pessoas que são amantes da paz e não se identificam com um grupo religioso, nacional ou étnico particular, mas com a humanidade como um todo?

Hellinger: A consciência tem a ver com pertencimento. Pertencimento a um pequeno grupo ou à humanidade como um todo, sintonizar-se com o mundo como um todo. A consciência pessoal é sentida como culpada ou inocente; é como ela se mostra. Ela dirige nossas ações e comportamentos por meio destes sentimentos. Podemos também sentir o que é ficar em sintonia com todas as pessoas. Estar em sintonia é percebido como um sentimento de calma e centramento. Não estar em sintonia é sentido como intranqüilidade. Se nós trabalhamos para a paz, e nós somos muito calmos, confiamos no movimento maior do qual nós somos uma parte, então nós nos sentimos muito calmos e centrados. Então nós não temos nenhuma ansiedade. Tão logo as pessoas se tornam ansiosas e desejosas de alcançar algo, elas seguem sua consciência pessoal. Elas não estão em sintonia. Quando nós estamos em sintonia como o todo, estamos centrados. Nós confiamos que as coisas se desenvolverão no tempo devido; nós não nos apressamos. Deste modo o teste é: estamos calmos ou inquietos ?

Uma outra coisa a se notar é que quando você segue sua consciência pessoal e se sente ligado a seu grupo, você se sente conectado em uma relação muito íntima. Uma vez que você estiver em sintonia com a humanidade, você perde esta intimidade. Você está aberto ao amplo; você está conectado, mas não intimamente. Há um preço a ser pago. Você se sente de certa forma sozinho, ainda que conectado.

P: Como o pesar promove a reconciliação ? Além do sentimento de pesar, que outros promovem a paz?

Hellinger: A vida está sempre se movendo para a frente. O pesar é só por um curto tempo. Pela experiência do pesar [do luto], algo do passado se completa. Então você se move para a frente. Se nós carregamos nosso pesar e remorso conosco todo o tempo, nós perdemos nossa própria vida. Na alma, se estamos em conexão

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com aqueles com quem estivemos previamente em oposição, e compartilhamos juntos o pesar, então podemos estar completos. Então podemos nos mover para a frente com a vida, sem a necessidade de vingar os erros do passado na próxima geração.

Muito freqüentemente, as pessoas rejeitam algo em si mesmas. Chamam isto de sua sombra, ou o que quer que seja. Nossa alma contém uma imagem ou um reflexo da história de nossa família, nossa cultura, nossa religião, nossa raça, nossa nacionalidade. O que quer que seja que rejeitemos em nós mesmos, representa uma pessoa rejeitada. Muitas doenças, por exemplo, são conexões ocultas com uma pessoa excluída dentro de nosso sistema familiar. Se esta pessoa excluída é tomada em nosso coração, a doença pode ir. Muito freqüentemente.

A reconciliação começa em nossa alma. Quando o que quer que seja que rejeitamos, ou do qual temos vergonha é reconhecido e mesmo amado, então nós podemos nos tornar mais completos e em paz. Infelizmente, isto significa também que temos de deixar de lado nossa boa consciência.

Segunda Demonstração

Hellinger coloca uma segunda demonstração. Dez vítimas do Holocausto Armênio-Turco deitam-se no chão no centro do círculo. Eles são margeados de cada lado por cinco representantes dos descentes das vítimas armênias e cinco representantes dos agressores turcos. Nenhuma instrução adicional é dada.

Após vinte minutos, muitos representantes se movem em grupos com alguns de cada lado juntando-se para lamentar os mortos. Muitos estão chorando; no final estes grupos começam a rir juntos.

Observações sobre a segunda demonstração

Olhando para esta constelação, nós podemos ver como é difícil alcançar a reconciliação no final. Muito difícil. É muito difícil alcançar isto em larga escala. Só é possível entre uns poucos indivíduos. O principal obstáculo é que os descendentes de ambos os lados estão ligados a suas consciências. Mesmo agora, após tantos anos, eles estão ligados a suas consciências.

Há um importante aspecto a ser levado em consideração. Muitas pessoas que sofreram muito, como os armênios, ou na América do Sul, os índios, os incas ou os escravos nos Estados Unidos, e os nativos americanos especialmente, eles estão ligados por aquilo que aconteceu no passado. Sua energia é atraída do presente para o passado. Há uma esperança secreta que algo que foi terrivelmente mau no passado possa ser refeito e corrigido, até mesmo desfeito totalmente. Este desejo de mudar o passado impede os descendentes de olharem para frente.

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Na Alemanha, nós freqüentemente encontramos com israelenses para discutir o Holocausto Judaico-Alemão. Eles nos dizem que nós nunca devemos esquecer o que aconteceu. Eles dizem, "Nunca esqueça." Mas quando você faz isto, nada pode acabar. Por relembrar o passado, sempre repensando o que aconteceu, a energia é removida da vida presente. O que acontece àqueles descendentes que são admoestados a se lembrar ? Eles ficam com raiva. Então, justamente o oposto daquilo que se deseja obter é alcançado.

Na última demonstração, se os turcos que vivem hoje são forçados a expressar remorso e arrependimento por terem matado os armênios noventa anos atrás, eles se recusarão a fazê-lo e ficarão resistentes e hostis. Eles não poderão ficar brandos. O conflito continua e nunca poderá terminar.

Ano passado eu trabalhei na Flórida. Havia uma mulher no workshop que disse que se sentia desconectada de seu corpo. Ela sentia como se sua cabeça estivesse cortada do resto dela. Eu soube que ela era uma inca peruana. Então eu pensei no rei inca que foi decapitado pelos conquistadores espanhóis. Eu coloquei alguns representantes do povo inca deitados no chão. Então eu tomei um representante para o rei inca. Também coloquei três representantes para os conquistadores espanhóis. Eu coloquei esta mulher com eles. Após um momento, ela se moveu e uniu-se aos mortos, especialmente ao rei inca. Ela queria revivê-lo. Mas de fato, ele não podia ser ressuscitado. Ele apenas afundou mais e mais profundamente. Quando a mulher viu que nada podia ser feito, absolutamente nada, aí realmente acabou. Ela foi até os representantes dos espanhóis e segurou a mão de um deles. Então começou a chorar. Eles ficaram brandos.

No dia seguinte, ela me escreveu uma carta dizendo que ela era uma descendente direta do último rei inca. Através desta experiência, ficou claro para ela que qualquer tentativa de reviver o passado priva a geração presente de seu futuro.

Em alguns dias eu estarei indo ao Canadá onde eu fui convidado por um grupo de pessoas nativas a trabalhar com elas. Todos eles perderam suas terras e costumes tradicionais e eles também vêem que não há nenhum caminho para o futuro a menos que seja permitido encerrar o passado.

Há muitos obstáculos que ficam no caminho dos indivíduos deixarem o passado para trás. Um deles é a consciência, como eu já disse. Outro é o desejo de justiça. Nós todos temos uma premência para que algo tenha de ser equilibrado. Dar e tomar, ganhar e perder tem de ser colocados em equilíbrio. Este é um desejo forte e é muito útil para as relações humanas. Mas não é útil de forma alguma quando nós tentamos forçar a justiça na história. Assim, muitas guerras são iniciadas de modo a fazer justiça para aqueles que já morreram ou punir os mortos que cometeram crimes no passado. Isto nunca foi alcançado. Nunca !

Justiça, nessas circunstâncias, é uma grande ilusão. Isto está no fundo de muitos

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conflitos. Para criar paz nós temos que deixar de lado nosso desejo de justiça dirigido ao passado. De outro modo, o conflito futuro é inevitável.

Justiça é uma preocupação só dos vivos. Os mortos, cujo destino nós podemos querer vingar, não podem ser ajudados desta forma. A busca por alcançar a justiça para aqueles que sofreram e morreram nos dá o sentimento de que nós estamos fazendo a coisa certa; isto nos deixa de boa consciência. Mas o efeito é continuar uma luta sem fim.

Estes são alguns dos insights que vieram deste tipo de trabalho que eu demonstrei. Como vocês viram, não há nenhuma influência de fora. As camadas profundas da alma funcionam de uma forma diferente de nossos desejos e de nossa consciência. Se nós aprendemos a confiar nestes movimentos e vamos com eles, alcançamos algo e deixamos muita coisa ir embora.

Palestra proferida no terceiro Congresso Internacional de Constelações Familiares de Sistemas Humanos - Würzburg – Alemanha - 1 a 4 de Maio de 2001.

Tradução: Décio Fábio de Oliveira Júnior

Revisão: Tsuyuko Jinno-Spelter & Wilma Costa Gonçalves Oliveira

Os escolhidos e os rejeitados

Jesus , o Cristo

O mesmo Deus

Alemães e Judeus

Recompensa

História: A volta

O título da minha palestra hoje é "Cristãos /Judeus — Alemães /Judeus — Curando a alma". O que considero alma neste contexto é alma dos cristãos e dos alemães. Em vista do sofrimento do povo judeu durante a era do nazismo, estou focando nesta questão específica, nos termos do impacto dela sobre a alma dos alemães, distinguindo-os dos cristãos em geral. 

Os escolhidos e os rejeitados 

Na alma de ambos, cristãos e judeus, o conceito de pessoas escolhidas por Deus

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desempenha um papel central. Os cristãos tomaram esta imagem dos judeus e subseqüentemente, se identificaram como os novos escolhidos. Como resultado, eles viram o povo judeu como o povo rejeitado, abandonado por Deus. A imagem de um povo escolhido, necessariamente, atribui a Deus o fato de ele preferir um povo aos demais, eleva este grupo acima dos outros, e confere a ele, poder para reger sobre os demais, em Seu nome.

Como poderia, tal imagem de Deus, encontrar um lugar em nossas almas? Podemos mesmo falar de Deus aqui? Tal Deus, que escolhe e abandona, é ameaçador, porque mesmo os escolhidos, vivem com medo de serem expulsos a qualquer momento. Estas são imagens que vêm da profundidade da alma, em primeiro lugar da alma de cada indivíduo, e então, das grandes profundezas daquela alma compartilhada pelo grupo maior. As imagens de ser escolhido e abandonado vêm desta alma comum e são elevadas a um estado celestial onde elas parecem estar acima de todos, como algo "divino", algo a ser temido.

Aqueles que consideram a si mesmos escolhidos identificam-se com um Deus que seleciona e rejeita e assim eles também selecionam e rejeitam os demais. Neste processo eles se tornam algo terrível aos olhos daqueles que são rejeitados.

Mas o que acontece quando outros grupos e outros povos também agem de acordo com imagens internas similares? O resultado fica claro nas guerras religiosas. Tais grupos não estão nem conscientes de si nem dos outros como pessoas individuais. Ambos os lados se comportam como se possuídos por uma loucura coletiva.

Mas na alma dos cristãos há um fator adicional: os cristãos acreditam no mesmo Deus dos judeus. Assim, os cristãos, em nome do Deus dos judeus, vêem os judeus como o povo rejeitado e roubado de seus direitos por este Deus comum. As dimensões terríveis que tal presunção pode assumir foram demonstradas em nossa era pela tentativa dos nazistas de destruir o povo judeu como um todo.

Alguém agora poderia levantar aqui, a objeção de que os líderes nazistas e o movimento nazista não foram cristãos em qualquer sentido da palavra. Nós não podemos permitir a nós mesmos sermos cegados a esse ponto, porque a idéia nazista de ser "escolhido" refletiu essencialmente uma característica cristã. O "Führer"NT sentiu-se chamado pela providência a liderar o novo povo escolhido — neste caso a imagem da raça superior — à dominação mundial e ao longo deste caminho, eliminar os povos escolhidos anteriormente. Não importando o quanto distorcido ou cego isso possa nos parecer agora, o Socialismo Nacional, junto com uma grande parcela da população alemã, retirou energia para ir à Segunda Grande Guerra, primariamente, deste senso de missão. As atrocidades perpetradas por suas mãos foram essencialmente efetuadas a serviço de um "juízo divino".

Este senso de missão não se encerrou com o colapso do Terceiro Reich. Nós podemos vê-lo mesmo agora, nos movimentos radicais de esquerda ou direita. Esses movimentos demonstram um senso de missão similar e como conseqüência uma prontidão cega para usar a violência contra os outros.

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Jesus, o Cristo

Ainda, a oposição entre o novo e o velho povo escolhido não pode, sozinha, explicar a aversão de muitos cristãos ao povo judeu, nem a crueldade dos pogroms e as deportações. Entretanto há ainda uma outra raiz que me parece a mais importante de todas. Tem a ver com a irreconciliável diferença entre Jesus o homem de Nazaré e a crença em sua ressurreição e ascensão à mão direita de Deus.

Para os primeiros cristãos, Jesus, como homem, sumiu rapidamente de cena. A imagem de um Cristo que ascendeu foi sobreposta a do Jesus homem até que ele encolheu e se tornou irreconhecível. Isso permitiu aos cristãos reprimir a dolorosa realidade de que Jesus se sentiu abandonado por Deus na cruz e que o Deus em que ele acreditava não apareceu.

Elie Wiesel, o notável autor judeu, relata um enforcamento público de uma criança num campo de concentração. Olhando para esta atrocidade, alguém perguntou: "Onde está Deus aqui?" Elie Wiesel respondeu: "É aquele que está pendurado lá".

Quando Jesus na cruz chorou alto: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?" alguém poderia ter também perguntado: "Onde está Deus aqui?" E a resposta poderia ter sido a mesma: "É aquele que está pendurado lá".

Os discípulos não puderam suportar a realidade de seu Jesus abandonado por seu Deus. Eles escaparam disso através da crença em sua ressurreição, através da crença em Jesus como Cristo sentado à direita de Deus e em sua segunda vinda para julgar os vivos e os mortos. E ainda, o homem Jesus e seu destino humano não teriam sido apagados por esta crença na ressurreição. Isto continua na imagem dos judeus. O judaísmo na alma dos cristãos, primeiramente, representa Jesus o homem, que o cristão, acreditando na ressurreição dos mortos e na ascensão de Jesus à direita do Pai, não consegue ver. Os cristãos temem olhar o Jesus esquecido por Deus, temem que o seu medo os torne maus.

Assim, na medida em que viram as costas para o Jesus o homem, então eles se viram contra os judeus como uma manifestação do Jesus que eles temem e contra o Deus de Jesus e dos judeus, que eles também temem. Esta é a imagem que eu obtenho quando olho para o que acontece nas almas de muitos cristãos. Eu vou dar a vocês um exemplo:

Um incidente ocorreu durante um curso de dinâmicas de grupo para cristãos muito devotos. Os participantes eram todos teólogos e serviam em altas posições em suas respectivas igrejas. O líder do grupo sugeriu que se colocasse uma cadeira vazia no meio do grupo, e os membros do grupo deveriam imaginar Jesus sentado nessa

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cadeira. Cada pessoa poderia dizer algo a ele. Um participante imediatamente colocou a cadeira no centro e os outros começaram a falar com Jesus. A ira contra Jesus que irrompeu dos participantes foi inacreditável. A um certo ponto, um participante correu até a cozinha e, pegando uma faca, começou a golpear com ela a cadeira. Quando terminou, todos ficaram chocados com aquilo que emergiu das profundezas de suas almas e, se sentiram terrivelmente envergonhados.

O líder do grupo, que tinha sido considerado não-cristão por estes dedicados cristãos, disse: "Eu não vejo nenhuma culpa neste homem".

Se eu olho para os judeus durante sua perseguição pelo Terceiro Reich, e permito que esta imagem trabalhe em mim, eu os vejo sendo arrebanhados juntos, e enviados para sua morte. Eu os imagino concordando sem resistência, gentis e humildes, e vejo Jesus neles. Jesus, o homem; Jesus, o judeu.

As vítimas do holocausto estavam num papel, notavelmente como o Jesus cristão em face aos judeus. Como um povo, em seu comportamento e em seu destino, elas incorporaram o comportamento e o destino do Jesus cristão em face aos Conselheiros e Pilatos. Desta vez, os cristãos foram os brutos e os judeus exemplificaram as características de Jesus.

O mesmo Deus

Voltando à idéia de um Deus que "escolhe", eu gostaria de dizer algo sobre o início da religião na alma e acerca do que acontece nas almas dos cristãos quando eles se tornam cristãos e nas almas dos judeus quando se tornam judeus.

Uma criança nasce em uma família específica, tem pais específicos, dentro de uma família estendidaNT1 também específica. A criança tem uma cultura específica, é parte de um povo específico e uma religião específica. A criança não pode escolher nenhuma dessas coisas. 

Se a criança toma esta vida como ela vem para ela ou ele, sem qualificações — se a criança toma esta vida com tudo o que está incluído nesta família — o destino desta família, as possibilidades, os limites, a alegria e o sofrimento – então a criança está aberta, não só a estes pais, não só a este povo, não só a esta cultura específica, não só a esta religião em particular; mas esta criança está aberta a Deus e o que quer que seja que possamos sentir que esteja além deste nome. Tomar a vida deste modo é um ato religioso. É o ato religioso.

Alguém que nasce numa família judia não pode fazer nada mais, e não pode fazer nada além de começar sua caminhada até Deus de um modo judeu. Esse é o único caminho aberto a esta pessoa, e , deste modo, o único correto. O mesmo é verdade para um cristão acerca do caminho cristão. Quaisquer que sejam as diferenças de

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crença entre cristãos e judeus, eles são iguais quando se chega a este ato religioso essencial. Esse movimento é independente do conteúdo de suas religiões e não pode e nem deve ser abdicado, mesmo que a pessoa adote uma religião diferente depois.

Eu vou dar um exemplo:

Uma vez um jovem, em um curso, veio buscar ajuda porque se sentia desconectado da vida. Os fatos que emergiram foram que seu avô nascera judeu, mas o jovem neto se considerava cristão, não um judeu. Quando nós posicionamos sua família, eu coloquei cinco representantes próximos a seu avô para representar as vítimas do Holocausto. O representante do avô espontaneamente deitou sua cabeça no ombro do representante mais próximo. Após um instante, ele disse: "Este é o meu lugar". Quando foi solicitado ao jovem que dissesse a seu avô: "Eu também sou judeu e permaneço judeu", ele só conseguiu dizê-lo com grande ansiedade e tremendo. Entretanto, uma vez que ele foi capaz de dizer isso, sentiu seu próprio peso, pela primeira vez na vida.

O que foi verdadeiramente religioso neste caso? Sua identificação com a cristandade ou seu retorno com suas raízes judias? O ato religioso mais básico foi o seu reconhecimento: "Eu sou judeu e permaneço judeu".

Uma árvore não pode escolher onde cresce. Ainda assim, o lugar onde sua semente cai na terra é o lugar certo para aquela árvore. A mesma coisa é verdadeira para nós. O lugar onde os pais estão, é o único lugar possível para cada ser humano e, deste modo, o lugar certo. Cada pessoa pertence a um povo, tem uma língua, uma raça, uma religião e uma cultura que são as únicas possíveis e, deste modo, as certas. Quando um indivíduo concorda com isso em um senso profundo e humildemente toma isso a partir do que é maior que todos os indivíduos e quando o individual se desenvolve então apropriadamente, dando tudo o que é possível, então ele ou ela se sente igual a todos os demais. Ao mesmo tempo vem o reconhecimento de que esta força superior, como quer que nós a chamemos, tem de olhar para todos nós , igualmente. Não importa quão diferentes os povos do mundo possam ser, eles são todos iguais perante esta grandeza.

Alemães e Judeus

Dado este cenário, alguém poderia perguntar: "Como podem os cristãos , acima de tudo os alemães , lidar com sua culpa perante os judeus? O que eles podem fazer e o que eles tem que fazer para superar esta culpa e dar ao povo judeu um lugar de valor entre eles? E como pode o povo judeu lidar com a culpa dos cristãos e dos alemães?"

Eu tenho tido algumas experiências em vários cursos, que indicam como a

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reconciliação pode ser possível entre as vítimas e os agressores e , num sentido mais amplo, entre alemães e judeus. Uma das mais dramáticas experiências foi num curso em Bern. Um homem posicionou a constelação de sua família atual e então no final ele disse que tinha algo importante a acrescentar — ele era judeu. Eu reagi a isto posicionando sete representantes para vítimas do Holocausto e atrás delas, sete representantes para agressores mortos. Eu pedi então aos representantes das sete vítimas que se virassem e olhassem nos olhos dos agressores.

Após isto, não fiz mais nada. Deixei o movimento inteiramente por conta deles, como se desenvolvia, naturalmente. Alguns agressores caíram, se enrolaram no chão e choraram alto em dor e vergonha. As vítimas se viraram para os agressores e olharam para eles. Elas ajudaram aqueles que estavam no chão a se levantarem, colocaram-nos nos braços e os confortaram. Finalmente, houve um indescritível amor que emergiu entre eles.

Um dos agressores estava completamente rígido e não podia se mover de forma nenhuma. Eu coloquei então, uma pessoa atrás dele para representar o agressor por trás do agressor. O primeiro representante apoiou suas costas contra este novo representante e foi capaz de relaxar um pouco. O homem disse mais tarde que ele tinha se sentido como um dedo de uma mão gigante, totalmente a sua mercê. Isto também foi relatado pelos outros nessa constelação. Todos, vítimas e agressores, sentiram-se dirigidos, mas, também, carregados por uma força maior — uma força cujos efeitos não estavam claros.

Após essa constelação, solicitei a todos os participantes que me enviassem um relato do que haviam experimentado durante a constelação. Um representante de um agressor me escreveu:

À medida que você colocou sete de nós atrás das sete vítimas, eu fui tomado por um sentimento muito estranho e desagradável. Eu, intuitivamente, antecipei alguma coisa ruim, mesmo que não estivesse ainda claro para mim até aquele momento quem eu estava representando. Quando você disse que nós representávamos os agressores, um calafrio correu pela minha espinha. Quando as vítimas se viraram e eu olhei o homem que estava oposto a mim, toda a energia foi drenada do meu corpo. Eu nunca senti tanta vergonha na minha vida. Eu só olhava para ele e isto ia me tornando menor, na medida em que ele ia se tornando maior. Eu não queria nada, exceto, desaparecer em um buraco no chão, de preferência um buraco de rato bem fundo na terra.

Dentro de mim eu estava gritando "NÃO, NÃO, NÃO, isto não pode ser verdade". Eu senti a necessidade de pedir desculpas, mas ao mesmo tempo uma voz interna me disse que não havia meio de fazê-lo, nada poderia ser mudado, eu mesmo tinha que carregar tudo. A única palavra que eu pude pronunciar foi "por favor", neste momento minha vítima me tomou em seus braços. Sem este apoio eu teria caído no chão de vergonha. Em seus braços, minha voz interna mantinha-se dizendo "eu não mereço isto, eu não mereço isto tudo — ser amparado por ele.” Por sorte, eu fui capaz de deixar minhas lágrimas fluírem. De outro modo, a coisa toda teria sido insuportável.

Após minha vítima ter me deixado ir novamente, eu me senti um pouco melhor. Eu podia sentir vagamente o chão sob meus pés e podia respirar um pouco mais

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livremente. Ao mesmo tempo, estava consciente de que ele era somente a primeira vítima e havia ainda muito mais vítimas em minha consciência. Não só duas ou três, não — dezenas ou mesmo centenas ! Eu senti a forte necessidade de olhar cada uma delas nos olhos, e assim encontrar minha própria paz interior.

Quando você colocou um super-agressor atrás de nós, imediatamente ficou claro para mim que eu tinha de carregar sozinho a responsabilidade por tudo o que eu tinha feito. Não havia nenhum alívio que viesse deste agressor que estava atrás de mim. Eu também senti fortemente que teria sido muito melhor ter ficado do outro lado e não ter assumido toda esta culpa insana.

Minha necessidade de olhar a próxima vítima ficou mais intensa, mas de fato, o próximo contato de olhos, literalmente, me jogou no chão. Eu não podia mais ficar de pé. Eu chorei amargamente. Eu "fui". Eu estava apenas consciente de uma voz bem distante que dizia: "Agora volte lentamente", e fui voltando bem devagar. Para mim, havia ainda muita coisa inacabada, muitas vítimas não tinham sido vistas. Havia ainda uma poderosa urgência para trazer ordem a este negócio inacabado.

Após a constelação gastei pelo menos uma hora para voltar totalmente a mim mesmo de novo e sentir a minha força total.

Para mim, essa foi verdadeiramente um dos papéis mais difíceis que eu já tinha experimentado em uma constelação familiar. Foi também estranho o modo pelo qual os pensamentos emergiam tão cristalinos em minha consciência. Por exemplo, que era impossível empurrar a responsabilidade de minhas próprias ações para um outro alguém, mesmo que fosse algo pequeno na máquina. Após tal experiência, você sabe que não há nada mais a discutir, ou perguntar, ou explicar. É simplesmente como é.

Em uma constelação como esta, também fica claro que não há grupos, no sentido de que estas são as vítimas e aqueles os agressores. Só existem as vítimas individuais e os agressores individuais. Cada agressor individual tem de encarar a sua vítima individualmente, e cada vítima individual tem de encarar seu agressor individual.

O que se torna claro é que não há paz para as vítimas mortas até que os agressores mortos tenham tomado seu lugar próximo a elas — até que os agressores mortos tenham sido tomados por suas vítimas. E, não há paz para os agressores até que eles tenham deitado ao lado de suas vítimas como iguais. Se isto não acontece, se isto não é permitido acontecer, os agressores serão representados por alguém na próxima geração. Por exemplo, enquanto aos agressores da última guerra for negado um lugar nas almas dos alemães, eles serão representados pelos radicais de direita. Nas constelações de famílias judias, onde há descendentes de vítimas do Holocausto, eu tenho visto freqüentemente, uma criança identificada com um daqueles agressores. Não há nenhuma alternativa de reconciliação real, mesmo com os agressores.

Nestas constelações também fica claro que emaranhamentos só são resolvidos entre aqueles que foram realmente afetados, isto é, entre o agressor específico e sua vítima específica. Ninguém mais pode se interpor entre eles, ninguém mais tem o direito ou tarefa ou poder de fazê-lo. Nas constelações os representantes das vítimas mortas e os agressores mortos não querem os vivos interferindo em seus assuntos. Eles querem os vivos fora destas coisas e querem que a vida continue, sem ser limitada ou sobrecarregada com suas recordações. Do ponto de vista dos

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representantes das pessoas mortas, a vida pertence aos vivos que estão livres para tomá-la.

Eu tenho uma fantasia disto em termos de que efeito isto teria na alma dos cristãos se eles imaginassem Jesus morto, encontrando no reino dos mortos todos aqueles que o traíram, julgaram e executaram. Quando nós olhamos para eles como seres humanos, todos iguais em face aos grandes poderes que controlam seus destinos, então damos a todos eles nosso respeito, embora isto possa ser um pensamento repulsivo para muitos de nós. Acima de tudo, nós temos de honrar e respeitar o grande poder por detrás deles e de todos nós, como um mistério incompreensível.

Submeter-se a este mistério deste modo é algo verdadeiramente religioso e humano. Certa vez, eu fiz um exercício, nesse sentido, com uma mulher judia em cuja família muitos tinham sido assassinados.

Ela se sentiu chamada a reconciliar os vivos e os mortos. Eu pedi a ela que fechasse os olhos e fosse imaginariamente ao reino dos mortos. Ela deveria ficar entre os seis milhões de vítimas do holocausto e olhar para frente, para trás e para os lados direito e esquerdo. Em torno desta enorme massa de seis milhões de mortos, estavam deitados os agressores. Então todos se levantavam, as vítimas mortas, os agressores mortos e todos se viravam em direção ao horizonte, para o leste. Lá, eles viam uma luz branca e todos se curvavam a esta luz. A mulher também se curvou com todos os mortos e quando ela terminou, retirou-se lentamente, deixando os mortos na memória diante daquilo que apareceu no horizonte, mas que permanecia oculto. Então ela se virou de costas para os mortos e olhou para a vida de novo.

Recompensa

Algumas vezes os vivos precisam encarar os mortos. Olhá-los e serem vistos por eles — principalmente aqueles que são culpados em relação aos mortos, mas também aqueles que obtiveram alguma vantagem às custas do destino terrível de seus vizinhos judeusNT2. Em muitas constelações o que tem emergido é que aqueles indivíduos que sofreram com os erros de outros, afetam a alma dos indivíduos que cometeram tais erros, ou as almas daqueles que se beneficiaram destes erros, assim como as almas de seus descendentes.

Esta influência continua até que o erro tenha sido reconhecido e visto e até que as vítimas sejam reconhecidas como pessoas de igual valor, sejam respeitadas e seja feito luto por elas. Quando isto é feito, a ferida pode fechar e os efeitos terríveis de tais erros cessam.

Em conclusão, eu contarei a vocês uma estória que os levará a uma viagem pela alma se vocês desejarem segui-la.

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A volta

Alguém nasce em sua família, em sua pátria, em sua cultura e já desde criança ouve falar de seu modelo, professor e mestre, e sente um desejo profundo de tornar-se e ser como ele.

Junta-se a um grupo de pessoas que pensam da mesma forma, exercita disciplina por muitos anos e segue seu grande modelo, até que se torna igual a ele e pensa, fala, sente e quer como ele.

Entretanto, pensa que ainda falta uma coisa. Assim, parte por um longo caminho, buscando transpor, talvez, uma última fronteira na mais distante solidão. Passa por velhos jardins, há muito abandonados. Ali apenas florescem rosas silvestres e grandes árvores dão frutos todos os anos, mas eles caem esquecidos no chão porque não há ninguém aí que os queira. Dali em diante, começa o deserto.

Logo é cercado por um vazio desconhecido. Parece-lhe que, aí, todas as direções são iguais e, as imagens que às vezes vê diante de si logo se mostram vazias. Caminha impulsionado para adiante e quando já tinha perdido, há muito tempo, a confiança nos seus próprios sentidos, avista diante de si a fonte. Ela brota da terra e nela imediatamente se infiltra. Porém, até onde a água alcança, o deserto se transforma num paraíso.

Olhando à sua volta, vê, então, dois estranhos se aproximarem. Tinham feito exatamente como ele. Tinham seguido seus modelos, até se tornarem iguais a eles. Tinham empreendido, como ele, um longo caminho, buscando transpor, talvez, uma última fronteira na solidão do deserto. E encontraram, como ele, a fonte. Juntos, os três se curvam, bebem da mesma água e acreditam estar quase na meta. Depois dizem seus nomes: "Eu me chamo Gautama, o Buda". — "Eu me chamo Jesus, o Cristo". — "Eu me chamo Maomé, o Profeta".

Mas, então, chega a noite e, acima deles, como sempre, brilham as estrelas inalcançáveis, distantes e silenciosas. Os três se calam e um deles sabe que está mais próximo do seu grande modelo como nunca. É como se pudesse, por um momento, pressentir o que Ele sentira quando o soube: a impotência, a frustração, a humildade. E como deveria ter sentido, se tivesse conhecido também a culpa.

Na manhã seguinte, ele volta, saindo salvo do deserto. Mais uma vez, seu caminho o leva por jardins abandonados, até que acaba em um jardim que lhe pertence. Diante da entrada está um homem velho, como se estivesse esperando por ele. Ele diz: "Quem de tão longe encontra, como você, o caminho de volta, ama a terra úmida. Sabe que tudo o que cresce também morre e, quando cessa, nutre". — "Sim", responde o outro, "eu concordo com a lei da terra". E começa a cultivá-la.

NT Literalmente o "lider"— no caso, Hitler.

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NT1 Hellinger distingue a família nuclear— pai, mãe e irmãos — do conceito de família dentro do trabalho fenomenológico, aqui chamado de família "estendida", por seus efeitos no destino de alguém. Sugerimos ler nos livros de Hellinger já publicados em português, quem pertence a esta família "estendida".

NT2 Na Alemanha nazista, muitos judeus tiveram seus bens confiscados pelo estado e "leiloados" a preços muito baixos entre a população, que assim adquiriu apartamentos, casas, fazendas e outros bens por um valor muito vantajoso às custas dos judeus.

 

Palestra de Hellinger em Kyoto 2001 Palestra em Kyoto – As constelações familiares e a consciência coletiva

Bert Hellinger

Pronunciamentos de Bert Hellinger em Outubro de 2001 num workshop de Kyoto – Japão. (Bert Hellinger estava acompanhado por Harald Hohnen)

A consciência oculta

As diferenças culturais entre o ocidente e o oriente

A Consciência coletiva esquecida

A vinculação pelo sexo

A noite escura da alma

A atitude terapêutica

Eu quero dizer algo sobre este tipo de trabalho. É conhecido como constelação familiar. A constelação familiar é um método que visto de fora parece muito simples. Se um cliente tem um problema, é então solicitado a selecionar representantes para membros de sua família e colocá-los uns em relação aos outros. Tão logo isto é feito, os representantes sentem-se como as pessoas que estão representando, mesmo sem saber nada sobre elas. Isto é um fenômeno muito estranho. Se nós o tomamos seriamente, nós temos que dizer adeus a muitas de nossas noções sobre a alma humana.

Eu quero explicar agora algo sobre o que está por trás de importantes insights que vem à luz através deste método.

A consciência oculta

Durante um período de anos eu tenho visto que somos guiados por uma consciência coletiva oculta (inconsciente). Isto significa que os membros de uma família estão sob a influência de uma consciência que é comum a todos eles. Esta

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consciência é oculta, inconsciente. Eu tenho pensado muito sobre a origem de tal tipo de consciência. Eu imagino que no começo da raça humana, havia grupos pequenos de pessoas, eles viviam em grupos de 20-30 pessoas. Eles todos agiam de um certo modo. Eles TINHAM que agir do mesmo modo para sobreviver. Deste modo, os membros individuais deste grupo , todos eles, olhavam (zelavam) pelo benefício do grupo como um todo. Eles não poderiam manter desejos pessoais que fossem contra o benefício do grupo como um todo. E, de fato, neste grupo, cada membro era importante. Eles não podiam se dar ao luxo de perder um de seus membros. E ninguém podia deixar o grupo sem ficar em perigo de morrer rapidamente.

Assim, houve uma experiência básica na qual todos pertenciam juntos e um dependia do outro. Eles não precisavam pensar sobre o que era certo para eles. Havia uma força oculta que os movia nesta direção. Se eles não devotassem toda a energia para o benefício do grupo, se sentiam mal, se sentiam culpados. Este sentimento os motivava para mudar seu comportamento de modo que eles pudessem novamente devotar toda sua energia para o benefício do grupo como um todo.

As diferenças culturais entre o ocidente e o oriente

Agora compare isto a como nós nos comportamos na cultura ocidental – o povo japonês é também afetado de certa forma por esta cultura – onde um indivíduo pode dizer: “ Eu venho primeiro, meu desenvolvimento pessoal vem primeiro”. Como a Constituição americana coloca : “ Cada pessoa tem o direito de ser feliz, todos tem o direito de serem pessoalmente felizes”. Vocês vêem a diferença? Neste grupo original, todos pertenciam igualmente e esta alma comum que os unia zelava para que nenhum dos membros fosse perdido. E ela zelava para que todos os membros estivesse servindo ao grupo como um todo.

Dentro deste grupo havia um outro tipo de lei ou ordem operando. Esta lei dava a cada membro seu próprio lugar dentro do grupo. Havia uma hierarquia dentro deste grupo que se opõe à noção democrática que nós temos dos grupos, usualmente. Neste grupo aqueles que chegaram primeiro tinham o mais alto nível (hierárquico) e aqueles que vieram depois o nível mais baixo. Assim a hierarquia dava a cada membro um lugar de acordo com o tempo que ele ou ela entrou no grupo. Deste modo não havia conflito acerca do lugar próprio de alguém. Todos sabiam seu lugar certo. Mas aqueles que tinham vindo depois progrediam com o passar do tempo atingiam uma posição superior na hierarquia. A criança caçula, por exemplo, tinha o lugar mais baixo, mas quando ela crescesse e se tornasse velha, alcançaria um lugar mais alto afinal. Assim as posições não eram fixas, elas tinham um certo desenvolvimento. Por meio destas duas leis, estes grupos poderiam sobreviver enquanto estivessem entre si.

Mas o que aconteceu quando eles encontraram outros grupos? Subitamente eles tinha de diferenciar entre eles e os outros grupos. Então eles tiveram a noção: “Nós somos melhores e os outros não são tão bons.” Assim, enquanto antes havia uma igualdade entre os membros e onde tais divisões ou diferenciações não tinham lugar, tais diferenciações foram agora introduzidas.

Após algum tempo, os membros de um mesmo grupo começaram a fazer tais diferenciações. Eles disseram, “ Eu sou mais importante que outro membro, eu tenho um maior direito de pertencer a este grupo do que ele.” Então eles seguiram uma outra consciência que surgia, uma consciência pessoal em oposição àquela consciência coletiva que dirigia o grupo antes. De fato, este é um importante passo para a frente no desenvolvimento humano, sem dúvida. O indivíduo aprendeu a ver a diferença entre si e os outros. Então começou entre os membros do grupo um conflito ou uma competição pelo lugar mais alto na hierarquia. Este desenvolvimento alcançou o seu pico quando as pessoas vieram a entender sua

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consciência pessoal como a voz de DEUS em suas almas. Assim, quando elas fizeram algo contra o grupo, elas fizeram isto de boa consciência porque elas diziam que sua ação pessoal tinha a aprovação divina.

Agora, porque eu disse tudo isto aqui? O que isto tem a ver com as constelações familiares?

A Consciência coletiva esquecida

Por causa do correr do tempo, as regras da consciência coletiva foram esquecidas. Elas foram negadas, na verdade suprimidas. Mas a consciência coletiva, embora inconsciente, ainda está atuante. E porque ela está ainda atuante? Ela vai contra aquilo que as pessoas querem , desejam ou acham que seja certo. Deste modo, quando alguém age de boa consciência e pensa que aquilo que quer é bom, tais ações freqüentemente resultam em falha.

E o que é pior, agindo contra as regras da consciência coletiva , as pessoas podem vir a ficar doentes ou ter acidentes sérios ou se tornarem criminosas ou propensas ao suicídio. Como isto atua, vem à luz através das constelações familiares. Deste modo nós podemos entender as constelações familiares somente se nós sabemos algo acerca deste “pano de fundo”.

De fato, as constelações familiares não apenas trazem à luz estes emaranhamentos, elas também mostram um modo de como resolvê-los. E este é o motivo pelo qual elas tem seu efeito curativo e reconciliador.

Isto foi uma introdução difícil e longa e eu espero agora que vocês estejam prontos para que trabalhemos.

A vinculação pelo sexo

Eu devo dizer agora algo sobre este vínculo. Se há um intercurso sexual entre um casal adulto e ele é sem reservas, uma ligação é estabelecida entre ambos. Eu uso o termo “sem reservas” para incluir muitas coisas e não desejo ser muito específico. Esta ligação dura uma vida e após ela se estabelecer o casal não pode mais se comportar como se não tivesse acontecido nada. A profundidade do vínculo pode ser vista quando há uma separação. Após tal vínculo eles não podem se separar facilmente. Eles só podem se separar com dor e sentimentos de culpa. Se eles se separam e encontram outro(a) parceiro(a) com o(a) qual tem um intercurso sexual também um novo vínculo se estabelece. Mas este novo vínculo é menos intenso que o primeiro. Quando eles se separam a dor e os sentimentos de culpa são menores que antes. Após o terceiro é ainda menor. E assim prossegue. Após algum tempo eles são incapazes de estabelecer uma parceria estável e permanecerão solteiros. Isto pode servir a um propósito especial em relação à evolução talvez. De minha parte não há nenhum julgamento a respeito disto. Com relação ao incesto, abuso sexual e estupro, nós temos que saber que um vínculo também é estabelecido. Mas eu volto ainda para a relação de casal. Se houve um relacionamento e ele foi rompido e os parceiros tomam nova relação com pessoas diferentes, o parceiro anterior será representado na próxima relação por uma criança, a menos que a separação tenha acontecido com amor. Então a segunda

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relação pode ter sucesso. O mesmo se aplica ao incesto, estupro e caso de abuso sexual. A menos que o vínculo criado seja reconhecido e haja uma separação com respeito e amor os relacionamentos posteriores serão difíceis.

Com relação ao estupro, isto pode parecer muito estranho. Mas as constelações familiares mostram uma imagem diferente (da habitual). Houve uma vez uma mulher que colocou sua família. Ela havia me dito que tinha dificuldades sexuais. Eu disse que não desejava lidar com isto em público. Mas quando ela posicionou a família eu perguntei: “Houve algo especial?” Ela me disse então: “Eu fui estuprada 6 vezes.” Deste modo eu selecionei seis homens e os coloquei lá, lado a lado. Então a representante daquela mulher se posicionou em frente de cada um deles e se curvou, reverenciando-os, uns com mais profundidade que os outros. No final, ela se colocou ao lado do último. E disse então: “Este é o meu lugar”. Muito estranho! Isto vai contra o nosso pensamento moral. Mas as constelações familiares mostram um quadro diferente.

Agora, quanto ao incesto. Se vocês são confrontados com casos de incesto, uma dinâmica muito comum é que a esposa se retira do marido e lhe recusa uma relação sexual. Então, como um tipo de compensação, uma filha toma seu lugar. 

Isto é um movimento inconsciente, não é consciente. Mas você vê, com o incesto há dois agressores, um oculto e outro às claras. Não se pode resolver isto a menos que o agressor oculto venha à luz. Há então sentenças muito estranhas que vêm à luz. A filha pode dizer a sua mãe “Eu faço isto por você.” E ela pode dizer ao pai “Eu faço isso pela mamãe”. Qual é o efeito dessas sentenças? O incesto não pode mais continuar. Se você quer pará-lo, este é o melhor modo, sem qualquer acusação.

Se você levar o agressor à justiça, então a vítima expiará o que for feito ao agressor. Eu dou um exemplo. Em um grupo, um assistente social relatou um caso de abuso e incesto e ele disse que levaria os agressores à corte. Eu o adverti que isto poderia ser perigoso para a menina. Mas ele se sentiu no direito de levá-los à justiça. Então, depois eu o encontrei e perguntei a ele como estava indo a menina. Ele me disse: “Ela sempre está querendo pular pela janela”. Este é o resultado da ação justiceira dele.

Para o cliente: E isto também é importante para você.

A noite escura da alma

Eu quero dizer algo sobre a noite escura da alma. Este é um conceito da tradição mística da Europa. Mas ele é muito próximo do pensamento asiático também. Ele significa que eu me refreio de investigar , eu me refreio de qualquer curiosidade. E qual é o efeito disto? Paz para todos os envolvidos. Eu fico em paz. Eu não estou sobrecarregado pelos problemas alheios. E os demais não são mais perturbados por mim. Eu não interfiro de forma alguma nos movimentos de sua alma. Nós ambos podemos então respeitar-nos mutuamente. Se eu agora me entregasse À curiosidade, eu perderia o respeito do outro. E ele sentiria que eu não o respeito. Assim, este é um bom procedimento. Na verdade é um não-procedimento. Eu não faço nada. E ainda assim, pelo não fazer nada, eu faço muito. 

A atitude terapêutica

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Eu quero dizer algo sobre a atitude terapêutica. Ontem, eu trabalhei com ela e eu sabia das conseqüências, é claro.

Mas eu não interfiro. Eu só parei e esqueci dela. Eu não cuidei mais, não no sentido de que eu não me preocupei mais . Ontem eu trabalhei com ela ( e apontou outra mulher), eu parei e esqueci-a.Eu não fiquei preocupado, porque eu confio – alguma coisa acontecerá. Há forças maiores operando aqui. Nesta manhã esta outra mulher veio aqui e estava pronta para mais um pouco de trabalho. Eu trabalhei com ela e não achei uma solução – superficialmente nós não achamos uma solução – e eu parei. Após um tempo ela parecia feliz. Eu não sabia porque, eu não perguntei também. Para mim aquilo estava terminado. Não é mais meu assunto e não é mais da minha conta.

Agora ela veio por si mesma, porque a interrupção de ontem liberou algo em sua alma. Ela veio aqui e eu confrontei-a com suas conseqüências. Quantos de vocês ficaram chocados com o que eu disse a ela? Aquilo foi chocante. Mas foi verdade. É a verdade e não se pode brincar com ela. Aquilo é o que acontece se alguém deseja a morte de sua mãe.

Então eu tentei algo mais e não achei solução. Eu estava preparado para parar sem fazer mais nada. Eu não me preocupei. Então Harald me apontou algo. OK, havia uma outra oportunidade. Eu tomei-a e nós achamos uma solução. Agora, quem achou a solução? A grande alma achou a solução. A grande alma me dirigiu e a ele, a ela e ao grupo como um todo.

Estas mulheres aqui na constelação , elas foram boas? Elas foram inteligentes? Elas foram competentes? Não , elas foram guiadas por algo que veio de muito além delas mesmas. Elas apenas e permitiram serem movidas. Isto é o porque de nós termos achado uma solução. Mas não houveram bons terapeutas aqui, nem mesmo Harald foi um bom terapeuta, nem eu fui um bom terapeuta. Nós estivemos em sintonia com algo maior. E esta é nossa grandeza. Você vê quanta confiança é exigida para trabalhar desta forma? Quão cuidados nós temos que ser todo o tempo para que nada interfira (como nossas idéias ou intenções) neste trabalho?

Se você tem esta atitude sem nenhum medo e sem nenhuma intenção pessoal e só se permite ser guiado por algo maior, então você pode fazer este trabalho. Porque não é mais você , é algo além de você e de mim.

Tradução do inglês para o português com permissão expressa de Bert Hellinger por Décio Fábio de Oliveira Júnior.  Palestra de Hellinger em SP Muita gente julga que o amor tem o poder de superar tudo, que é preciso apenas amar bastante e tudo ficará bem. Contudo, a experiência mostra que isto não é verdade. Muitos pais são forçados a experimentar que, apesar do amor que dão a seus filhos, estes não se desenvolvem como eles esperavam. São forçados a ver seus filhos adoecerem, se drogarem ou suicidarem, apesar de todo o amor que lhes dão. Para que o amor dê certo, é preciso que exista alguma outra coisa ao lado dele. É necessário que haja o conhecimento e o reconhecimento de uma ordem oculta do amor.

Ordem e amor

O amor preenche o que a ordem abarca.O amor é a água, a ordem é o jarro.

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A ordem ajunta,o amor flui.Ordem e amor atuam juntos.

Como uma linda canção obedece às harmonias,assim o amor obedece à ordem.Assim como o ouvido dificilmente se acostumaàs dissonâncias, mesmo quando são explicadas,assim também nossa alma dificilmente se acostumaao amor sem ordem.

Muita gente trata essa ordemcomo se ela fosse uma opiniãoque se pode ter ou mudar à vontade.

Contudo, ela nos preexiste.Ela atua, mesmo que não a entendamos.Não é inventada, mas encontrada.É por seus efeitos que a descobrimos,Como descobrimos o sentido e a alma.

Muitas dessas ordens são ocultas. Não podemos sondá-las. Elas atuam nas profundezas da alma, e freqüentemente as encobrimos com pensamentos, objeções, desejos e medos. É preciso tocar no fundo da alma para vivenciar as ordens do amor.

Tomar a vida

Direi primeiro alguma coisa sobre as ordens do amor entre pais e filhos e, do ponto de vista da criança, isto é, do filho para com seus pais. Aqui menciono algumas verdades banais. Elas são tão óbvias que eu quase me envergonho de citá-las. Não obstante, são freqüentemente esquecidas.

O primeiro ponto é que os pais, ao darem a vida, dão à criança, nesse mais profundo ato humano, tudo o que possuem. A isso eles nada podem acrescentar, disso nada podem tirar. Na consumação do amor, o pai e a mãe entregam a totalidade do que possuem. Pertence portanto à ordem do amor que o filho tome a vida tal como a recebe de seus pais. Dela, o filho nada pode excluir, nem desejar que não exista. A ela, também, nada pode acrescentar. O filho é os seus pais. Portanto, pertence à ordem do amor para um filho, em primeiro lugar, que ele diga sim a seus pais como eles são -- sem qualquer outro desejo e sem nenhum medo. Só assim cada um recebe a vida: através dos seus pais, da forma como eles são.

Esse ato de tomar a vida é uma realização muito profunda. Ele consiste em assumir minha vida e meu destino, tal como me foi dado através de meus pais. Com os limites que me são impostos. Com as possibilidades que me são concedidas. Com o emaranhamento nos destinos e na culpa dessa família, no que houver nela de leve e de pesado, seja o que for.

Essa aceitação da vida é um ato religioso. É um ato de despojamento, uma renúncia a qualquer exigência que ultrapasse o que me foi transmitido através de meus pais. Essa aceitação vai muito além dos pais. Por esta razão, não posso, nesse ato, considerar apenas os meus pais. Preciso olhar para além deles, para o espaço distante de onde se origina a vida e me curvar diante de seu mistério. No ato de tomar os meus pais, digo sim a esse mistério e me ajusto a ele.

O efeito desse ato pode ser comprovado na própria alma. Imaginem-se curvando-se profundamente diante de seus pais e dizendo-lhes:"Eu tomo esta vida pelo preço que custou a vocês e que custa a mim. Eu tomo esta vida com tudo o que lhe

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pertence, com seus limites e oportunidades". Nesse exato momento, o coração se expande. Quem consegue realizar esse ato, fica bem consigo, sente-se inteiro.

Como contraprova, pode-se igualmente imaginar o efeito da atitude oposta, quando uma pessoa diz: "Eu gostaria de ter outros pais. Não os suporto como eles são." Que atrevimento! Quem fala assim, sente-se vazio e pobre, não pode estar em paz consigo mesmo.

Algumas pessoas acreditam que, se aceitarem plenamente seus pais, algo de mau poderá infiltrar-se nelas. Assim, não se expõem à totalidade da vida. Com isto, contudo, perdem também o que é bom. Quem assume seus pais, como eles são, assume a plenitude da vida, como ela é.

E algo que é próprio

Mas aqui existe ainda um mistério que não posso justificar. Com efeito, cada um experimenta que também tem em si algo de único, algo que é inteiramente próprio, irrepetível, e não pode ser derivado de seus pais. Isso também ele precisa assumir. Pode ser algo de leve ou de pesado, algo de bom ou de mau. Isto não podemos julgar.

A pessoa que encara o mundo e sua própria vida com olhos desimpedidos pode ver que tudo o que ela faz obedece a uma ordem. Tudo o que ela faz ou deixa de fazer, tudo o que ela apoia ou combate, ela o realiza porque foi encarregada de um serviço que ela própria não entende. Aquele que se entrega a tal serviço, experimenta-o como uma tarefa ou como um chamado, que não se baseia nos próprios méritos nem na própria culpa (quando for algo de pesado ou cruel). Ele foi simplesmente tomado a serviço.

Quando contemplamos o mundo desta maneira, cessam as diferenças habituais. Costumo descrever isto com o dito seguinte:

O mesmo

A brisa sopra e sussurra,A tempestade varre e se enfurece,E no entantoé o mesmo vento,o mesmo canto.

A mesma águanos tira a sede e nos afoga,nos carrega e nos sepulta.

Todo ser vivo se desgasta,se mantém vivo e se aniquila.Em ambos os casos,a mesma força o impele.

Ela é que conta.

A quem servem então as diferenças?

Falei até aqui sobre a ordem fundamental da vida. Foi-nos concedido termos pais e sermos filhos. E temos também algo de próprio.

Aceitar tudo o mais que nossos pais nos dão

Na verdade, os pais não dão aos filhos apenas a vida. Eles nos dão também outras

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coisas: alimentam-nos, educam-nos, cuidam de nós e assim por diante. Convém à criança que ela tome tudo isso, da forma como o recebe. Quando a criança o aceita de bom grado, costuma bastar. Existem exceções, que todos conhecemos, mas via de regra é suficiente. Pode não ser sempre o que desejamos, mas é o bastante.

Nesse particular, pertence à ordem que o filho diga a seus pais: "Eu recebi muito. Sei que é muito, é o bastante. Eu o tomo com amor". Então ele se sente pleno e rico, seja qual for a situação. Então ele acrescenta: "o resto, eu mesmo faço". Isto também é um belo pensamento. Finalmente, o filho ainda pode dizer aos pais: "E agora eu os deixo em paz". O efeito destas frases vai muito fundo: agora o filho tem seus pais e os pais têm o filho. Pais e filho estão simultaneamente separados e felizes. Os pais concluíram sua obra e a criança está livre para viver sua vida, com respeito pelos seus pais mas sem dependência.

Imaginem agora a situação contrária, quando o filho diz aos pais: "O que vocês me deram foi errado e foi muito pouco. Vocês ainda estão me devendo muito". O que esse filho tem de seus pais? Nada. E o que têm dele os pais? Igualmente nada. Esse filho não consegue soltar-se de seus pais. Sua censura e sua reivindicação o vinculam a eles, mas de uma forma tal que ele não os tem. Ele se sente vazio, pequeno e fraco.

Esta seria a segunda lei do amor entre filhos e pais.

O tamanho de criança

Existe algo que os pais adquirem por mérito pessoal. Se a mãe, por exemplo, tem um dom especial - suponhamos que ela seja pintora e pinte quadros maravilhosos - então isso pertence a ela e não ao filho. Este não pode reivindicar ser também um bom pintor, a não ser que o tenha merecido por dotação própria e dedicação pessoal.

A mesma coisa vale para a riqueza dos pais. O filho não tem o direito de reivindicá-la, como é o caso da herança. O que ele vier a receber será puro presente.

Isto vale ainda para a culpa pessoal dos pais. Também esta pertence exclusivamente a eles. Com freqüência, uma criança presume, por amor, tomar sobre si essa culpa, carregá-la em nome dos pais. Também isto vai contra a ordem. A criança se arroga um direito que não lhe compete. Quando os filhos querem expiar pelos pais, estão se julgando superiores a eles. Os pais passam a ser tratados como crianças, cuidadas por seus próprios filhos, que assumem o papel de pais.

Uma senhora, que recentemente participou de um grupo meu, tinha um pai cego e uma mãe surda. Os dois se completavam bem, mas a filha achava que devia cuidar deles. Quando montei a constelação de sua família, ela se comportou como se fosse ela a pessoa grande. Porém sua mãe lhe disse: "Esse assunto com seu pai eu resolvo sozinha". E o pai lhe disse: "Esse assunto com sua mãe eu resolvo sozinho. Não precisamos de você para isso". Aquela senhora ficou muito desapontada, porque foi reduzida ao seu tamanho de criança.

Na noite seguinte, ela não conseguiu dormir. Aliás, ela sentia uma grande dificuldade para adormecer. Perguntou-me se eu podia ajudá-la. Respondi: "Quem não consegue dormir talvez esteja pensando que precisa vigiar". Contei-lhe então a história de Borchert sobre o menino de Berlim que, no fim da guerra, tomava conta de seu irmão morto, para que os ratos não o comessem. O menino estava esgotado, porque achava que devia ficar vigiando. Nisto, passou por ali um senhor simpático que lhe disse: "Mas os ratos dormem à noite". E a criança adormeceu.

Na noite seguinte, aquela senhora dormiu melhor.

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Portanto, a ordem do amor entre filhos e pais estabelece, em terceiro lugar, que respeitemos o que pertence pessoalmente a nossos pais e o que eles podem e devem fazer sozinhos.

Receber e exigir

A ordem do amor entre pais e filhos envolve ainda um quarto elemento. Os pais são grandes, os filhos pequenos. Assim, o certo é que os pais dêem e os filhos recebam. Pelo fato de receber tanto, o filho sente a necessidade de pagar. Dificilmente suportamos quando recebemos algo sem dar algo em troca. Mas, em relação a nossos pais, nunca podemos compensar. Eles sempre nos dão muito mais do que podemos retribuir.

Alguns filhos querem escapar da pressão de retribuir e dos sentimentos de obrigação ou de culpa. Eles dizem então: "Prefiro nada receber, assim não sinto obrigação nem culpa". Esses filhos se fecham para seus pais e, nessa mesma medida, sentem-se pobres e vazios. Pertence à ordem do amor que os filhos digam: "Eu recebo tudo com amor". Assim, eles irradiam contentamento para os pais, e estes percebem a felicidade deles. Esta é uma forma de receber que é simultaneamente uma compensação, porque os pais se sentem respeitados por esse receber com amor. Eles dão, então, com um prazer ainda maior.

Quando, porém, os filhos dizem: "Vocês têm que me dar mais", o coração dos pais se fecha. Por causa da exigência do filho, eles não podem mais cumulá-lo de amor. Este é o efeito de tais reivindicações. Esse filho, por sua vez, mesmo quando recebe alguma coisa, não consegue tomar o que exigiu.

A equiparação

A verdadeira equiparação entre o dar e o tomar na família consiste em passar adiante o dom. Quando a criança diz: "Eu tomo tudo, e quando eu crescer, eu darei por minha vez", os pais ficam felizes. A criança, no seu dar, não olha para trás, mas para a frente. Os pais fizeram o mesmo. Eles receberam de seus pais e deram a seus filhos. Justamente pelo fato de terem recebido tanto, sentem-se pressionados a dar, e podem igualmente fazê-lo.

Até aqui, falei das ordens do amor entre filhos e pais.

O grupo familiar

Entretanto, nossa vinculação não se limita aos pais. Pertencemos também a um grupo familiar, a uma estirpe, um sistema maior. O grupo familiar se comporta como se fosse dirigido por uma instância comum e superior. Ele é comparável a um bando de pássaros em formação. De repente, todos mudam a direção do vôo, como se tivessem sido movidos por uma força superior comum.

No grupo familiar, essa instância superior atua quase como um comando (Gewissen) interior partilhado por todos, e que atua de modo amplamente inconsciente. Reconhecemos as ordens a que obedece pelos bons efeitos de sua observância e pelos maus efeitos de sua violação.

Quero citar, para começar, o círculo de pessoas que são abarcadas e dirigidas por esse comando interior (Gewissen), cuja amplitude podemos reconhecer por seus efeitos. Estão nele incluídos:

* Todos os filhos, inclusive os que morreram ou foram abortados;* Os pais e todos os seus irmãos;* Os avós;

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* Eventualmente, algum bisavô ou até mesmo um antepassado ainda mais distante, principalmente se teve um destino mau.* Incluem-se ainda pessoas sem relação de parentesco, a saber, aquelas de cuja morte ou infelicidade pessoas da família se beneficiaram, como são, por exemplo, antigos parceiros dos pais e dos avós.

O direito de pertencer

No interior de cada grupo familiar, vale a ordem básica, a lei fundamental: todas as pessoas do grupo familiar possuem o mesmo direito de pertencer. Em muitas famílias e grupo familiares, determinados membros são excluídos. Alguns dizem, por exemplo: "Esse tio não vale nada, ele não pertence a nós", ou então: "Dessa criança ilegítima nada queremos saber". Com isso, recusam a essas pessoas o direito de pertencer.

Existem também os que dizem: "Sou católico, você é evangélico. Como católico, tenho mais direito de pertencer que você". Ou inversamente: "Como protestante, tenho mais direito, porque minha fé é mais verdadeira. Você é menos crente do que eu, portanto tem menos direito de pertencer". Isto não é hoje tão freqüente como antigamente, mas ainda acontece.

Ocorre ainda, quando um filho morre prematuramente, que seus pais dão seu nome ao filho seguinte. Com isto, estão dizendo ao primeiro: "Você não pertence à família. Temos um substituto para você". Assim o filho morto não conserva nem mesmo o seu próprio nome. Com freqüência, não é mais contado nem mencionado. Assim lhe é negado e retirado o direito de pertencer.

O excesso de moral de alguns, que se sentem melhores e superiores a outros, na prática significa dizer-lhes: "Tenho mais direito de pertencer que você". Ou, quando alguém condena uma pessoa ou a considera má, praticamente está lhe dizendo: "Você tem menos direito de pertencer do que eu". "Bom" significa então: "Tenho mais direitos", e "mau" significa: "Você tem menos direitos".

Os excluídos são representados

Essa lei fundamental, que assegura a todos o mesmo direito de pertencer, não tolera nenhuma violação. Quando isso acontece, existe no sistema uma necessidade inconsciente de compensação, que faz com que os excluídos ou desprezados sejam mais tarde representados por algum outro membro da família, sem que essa pessoa tenha consciência do fato.

Quando, por exemplo, um homem casado se relaciona com outra mulher e diz à própria esposa: "Não quero mais saber de você", inventando falsas razõ es e cometendo injustiça contra ela, e depois se casa com a segunda mulher e tem filhos com ela, sua primeira mulher será representada por um desses filhos. Uma menina, por exemplo, combaterá o pai com o mesmo ódio da parceira rejeitada, sem que tenha a menor consciência dessa representação. Aqui atua uma força secreta de compensação, para que a injustiça feita à primeira pessoa seja vingada por uma segunda.

Muitos acontecimentos infelizes na família como, por exemplo, desvios de comportamento dos filhos, doenças, acidentes e suicídios acontecem pelo fato de que um filho inconscientemente representa um excluído e quer dar-lhe reconhecimento. Nisso se revela ainda uma outra propriedade da instância superior. Ela faz reinar justiça para com aqueles que vieram antes e injustiça para os que vêm depois.

A solução

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A solução de um tal emaranhamento torna-se possível quando a ordem básica é restabelecida, isto é, quando os excluídos voltam a ser acolhidos e respeitados. Neste caso, por exemplo, a segunda mulher deveria dizer à primeira: "Eu tenho este homem às suas custas. Eu honro isto e reconheço que foi feita injustiça a você. Por favor, queira bem a mim e a meus filhos". Desta forma, a primeira mulher é respeitada. Nas constelações familiares, pode-se perceber então como se relaxa o rosto da primeira mulher, como ela se torna amigável pelo fato de ser respeitada. Com isso, é reconhecido o seu direito de pertencer.

A solução exige também que a menina, que imita essa mulher, lhe diga interiormente: "Eu pertenço apenas à minha mãe e ao meu pai. Aquilo que se passou entre vocês adultos não tem nada a ver comigo". Ela diz a seu pai: "Você é meu pai, e eu sou sua filha. Por favor, olhe-me como sua filha". Então o pai não precisa mais ver nela sua ex-mulher, não precisa mais defrontar-se com o ódio ou a tristeza que ela possa ter. Ou, se ele ainda a ama, não precisa ver a criança como sua amante, mas apenas como sua filha. Então a criança pode ser a filha, e o pai pode ser o pai.

A criança precisa também dizer ao pai: "Esta aqui é a minha mãe. Com sua primeira mulher não tenho nada a ver. Eu tomo esta como minha mãe. Esta é para mim a certa". E então ela precisa dizer à mãe: "Com a outra mulher eu nada tenho a ver". De outra forma, essa criança se tornará uma rival da mãe, e não poderá ser filha. Talvez a mãe veja nela inconscientemente a outra mulher, e então mãe e filha entram em conflito como se fossem duas amantes rivais. Mas quando a criança diz: "Você é minha mãe e eu sou sua filha, com a outra não tenho nada a ver. Eu tomo você como minha mãe", então a ordem é restabelecida.

Existem contudo emaranhamentos bem mais complicados. Quando, por exemplo, numa família, um filho morre prematuramente, os filhos sobreviventes carregam muitas vezes um sentimento de culpa pelo fato de estarem vivos, enquanto seu irmão está morto. Acreditam que, por estarem vivos, possuem uma vantagem sobre o irmão falecido. Então eles querem compensar isto, por exemplo, deixando-se ficar mal, adoecendo ou mesmo desejando morrer, sem que saibam por quê.

Aqui pertence à ordem do amor que eles digam interiormente ao irmão morto: "Você é meu irmão (minha irmã). Eu respeito você como meu irmão (minha irmã). Você tem um lugar em meu coração. Eu me curvo diante do seu destino, da forma como lhe aconteceu, e digo sim ao meu destino, da forma como me foi determinado". Então a criança morta é respeitada, e a outra pode permanecer viva sem sentimento de culpa.

A imagem mágica do mundo e suas conseqüências

Por trás da necessidade de compensação, que faz adoecer, atua uma fantasia mágica, a saber, que eu posso salvar uma outra pessoa de seu pesado destino, desde que eu tome também algo de pesado sobre mim. É o caso da criança que diz à mãe gravemente doente: "Antes eu adoeça do que você. Antes morra eu do que você". Ou ainda, quando a mãe quer abandonar a vida, um filho se suicida, para que a mãe possa ficar viva.

Um exemplo disto é a magreza compulsiva. O anoréxico vai se tornando cada vez menor, desaparece, por assim dizer, até a morte. Em sua alma, essa criança diz a seu pai ou a sua mãe: "Antes desapareça eu do que você". Aqui atua um amor profundo. Mas quando a criança morre, qual é o efeito desse amor? Ele é totalmente inútil.

Quando trabalho com uma pessoa com essa compulsão, faço que olhe nos olhos de seu pai ou de sua mãe e diga: "Antes desapareça eu do que você". Quando ela os encara nos olhos a ponto de realmente os ver, ela não consegue mais dizer essa

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frase, porque percebe que o pai ou a mãe não aceitará isto dela. É que o amor mágico desconhece o fato de que também a outra pessoa ama e que ela recusaria isto, independentemente da inutilidade de tal amor.

Quando a mãe morre no nascimento de uma criança, é muito difícil para essa criança tomar a sua vida. Ela precisaria encarar a mãe nos olhos e dizer: "Mamãe, mesmo por este alto custo eu tomo esta vida e faço algo de bom com ela, em sua memória. Você precisa saber que não foi em vão". Isto é amor, num nível mais elevado. Ele exige o abandono da fantasia mágica de poder interferir no destino de outra pessoa e mudá-lo. Ele exige a passagem de um amor que faz adoecer para um amor que cura.

A fantasia do amor mágico está associada a uma presunção, a um sentimento de poder e superioridade. A criança realmente acha que, através de sua doença e de sua morte, pode salvar da morte outra pessoa. Renunciar a essa idéia só é possível pela humildade.

Até aqui falei da ordem do amor na relação entre filhos e pais.

Homens e Mulheres

Quero também dizer mais alguma coisa sobre a ordem do amor na relação do casal. Este tema nos fala mais de perto. Muitos se envergonham disso, como se fosse algo que a gente deveria ocultar. Aquilo que diferencia os homens das mulheres, que realmente os diferencia, é escondido. Ou, pode-se dizer também, é protegido. Pois é o lugar onde cada um é mais vulnerável. É o lugar próprio da vergonha. Vergonha significa, neste contexto, que eu guardo alguma coisa, para que nada de mau aconteça. E é o lugar onde nos sentimos mais entregues.

Alguns falam depreciativamente do instinto sexual e esquecem que ele é a força real e mais profunda, que tudo mantém unido e dirige, que toma cada pessoa a seu serviço, sem que ela possa se defender. Pela pura razão, ninguém se casaria ou teria filhos. Só esse instinto consegue isso. É através dele que estamos em sintonia mais profunda com a alma do mundo. Esse instinto é o que existe de mais espiritual. Todo entendimento e toda consideração racional empalidecem diante da força que atua por detrás desse instinto.

A ordem do amor entre homem e mulher exige portanto, em primeiro lugar, que o homem admita que lhe falta a mulher, e que ele, por si só, jamais poderá alcançar o que uma mulher tem. E exige igualmente que a mulher admita que lhe falta o homem, e que ela, por si só, jamais poderá alcançar o que o homem tem. Então ambos se experimentam como incompletos e admitem isto.

Quando o homem admite que precisa da mulher e que só através dela se torna um homem, e quando a mulher admite que precisa do homem e só através dele se torna uma mulher, então essa carência os liga um ao outro, justamente pelo fato de a admitirem. Então o homem recebe o feminino como presente da mulher, e a mulher recebe o masculino como presente do homem.

Imaginem agora um homem que desenvolve em si o feminino e uma mulher que desenvolve em si o masculino, como muitos consideram ideal. Se esse homem quiser se ligar a essa mulher, qual será a profundidade dessa relação? No fundo, eles não precisam um do outro. Inversamente, quando o homem renuncia ao feminino e a mulher ao masculino, então eles precisam um do outro e isto os mantém juntos.

O vínculo

Quando o homem e a mulher se aceitam mutuamente como tais, a consumação de

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seu amor cria um vínculo. Esse vinculo é indissolúvel. Isto nada tem a ver com a doutrina moral da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio. A realização do amor cria uma ligação, independentemente do casamento e de qualquer rito externo.

A existência de uma tal ligação é percebida pelos seus efeitos. Por exemplo, o homem que se separa levianamente de uma parceira a quem estava vinculado dessa forma pela consumação do amor, via de regra não conseguirá conservar uma segunda parceira num outro relacionamento. Pois esta percebe o seu vínculo com a parceira anterior, e não ousa tomá-lo plenamente. Quando um homem abandona uma mulher e se casa de novo, talvez sua segunda mulher se considere melhor que a primeira e diga: "Agora eu o tenho para mim". Ela entretanto o perderá. Nesse próprio triunfo o perde, pois reconhece o vínculo desse homem com a sua primeira mulher.

Então ela não o assumirá completamente. Nas constelações familiares, pode-se perceber que uma segunda mulher se distancia um pouco do homem. Ela não ousa colocar-se perto dele, pelo fato de não ser sua primeira ligação, mas a segunda.

A profundidade de um tal vínculo pode ser avaliada pelo seu efeito. A separação do primeiro amor é a mais difícil de se conseguir. É a mais dolorosa. Quando uma segunda ligação se desfaz, a dor é menor. Numa terceira, é ainda menor.

Essa ligação não é porém sinônimo de amor. O amor pode ser pequeno e o vínculo profundo. Inversamente, o amor pode ser profundo e a ligação pequena. O vínculo se origina do ato sexual. Por isto, ele também nasce de um incesto ou de um estupro. Para que mais tarde uma nova ligação seja possível, é preciso que a primeira seja corretamente resolvida. Ela é resolvida quando é reconhecida e quando é honrado o respectivo parceiro. Quem amaldiçoa o primeiro vínculo impede uma ligação ulterior.

A ordem de precedência

O fruto do amor entre o homem e a mulher são os filhos. Também aqui é importante observar uma ordem do amor, uma ordem de precedência no amor. Ela se orienta pelo começo. Isto significa que o que vem antes tem, via de regra, precedência sobre o que vem depois. Numa família, existe primeiro o casal homem-mulher. Seu amor funda a família. Por isso, seu amor como homem e mulher tem precedência sobre tudo o que vem depois, portanto, sobre seu amor de pais por seus filhos. Muitas vezes acontece nas famílias que os filhos atraem sobre si toda a atenção. Então os pais não são antes de tudo um casal, mas pais. Com isto os filhos não se sentem bem.

Quando a relação do casal tem prioridade, o pai diz a seu filho: "Em você, eu respeito e amo também a sua mãe". E a mãe diz ao filho: "Em você, eu respeito e amo também o seu pai". E a mulher diz ao homem: "Em nossos filhos, eu respeito e amo a você". E o homem diz à mulher: "Em nossos filhos, eu respeito e amo a você". Então o amor dos pais é a continuação do amor do casal. Este tem a prioridade. Os filhos então se sentem muito bem.

Várias famílias são segundas e terceiras famílias, quando o homem e a mulher já eram casados anteriormente e trouxeram filhos do matrimônio anterior. Como é então a ordem de precedência?

Eles são primeiramente pai e mãe de seus próprios filhos, e só depois disso constituem um casal. Por conseguinte, seu amor como casal não pode continuar nos filhos, pois já foram pais anteriormente. Então, o novo parceiro deve reconhecer que o outro é, em primeiro lugar, pai ou mãe dos próprios filhos, e que seu maior amor e sua maior força fluem para eles e, neles, naturalmente, também

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para o parceiro anterior. Só então seu amor e sua força fluem para o novo parceiro. Quando ambos os parceiros reconhecem isto, seu amor pode ser bem sucedido. Quando, porém, um parceiro diz ao outro: "Eu tenho prioridade em seu amor, e só então vêm seus filhos", a relação fica em perigo. Essa situação não se mantém por longo tempo.

Se eles mais tarde têm filhos em comum, então são, em primeiro lugar, pai e mãe dos filhos do primeiro casamento; em segundo lugar, são um casal e, em terceiro lugar, são pais de seus filhos comuns. Esta seria a ordem, neste caso. Quando se sabe disto, pode-se resolver ou evitar conflitos em muitas famílias.

Falei até aqui sobre algumas ordens do amor na relação entre o homem e a mulher. Para terminar, contarei a vocês uma história sobre o amor. Ela é assim:

Dois modos de ser feliz

Antigamente, quando os deuses ainda pareciam bem próximos dos homens, viviam numa pequena cidade dois cantores que se chamavam Orfeu.

Um deles era o grande. Tinha inventado a cítara, um tipo primitivo de guitarra. Quando tocava o instrumento e cantava, toda a natureza ficava enfeitiçada em torno dele. Animais ferozes se deitavam mansamente a seus pés, árvores altas se inclinavam para ele: nada podia resistir a seus cantos. Pelo fato de ser tão grande, ele conquistou a mais bela mulher. E aí começou a descida.

Enquanto ele ainda festejava o casamento, morreu a bela Eurídice, e a taça cheia, que ele erguia nas mãos, se partiu. Contudo, para o grande Orfeu, a morte ainda não foi o fim. Com a ajuda de sua arte requintada, encontrou a entrada para o mundo subterrâneo, desceu ao reino das sombras, atravessou o rio do esquecimento, passou pelo cão dos infernos, chegou vivo diante do trono do deus da morte e o comoveu com seu canto.

A morte liberou Eurídice -- porém sob uma condição, e Orfeu estava tão feliz que não percebeu o que se escondia por trás desse favor. Orfeu pôs-se a caminho de volta, ouvindo atrás de si os passos da mulher amada. Passaram ilesos pelo cão de guarda do inferno, atravessaram o rio do esquecimento, começaram o caminho para a luz, que já viam de longe. Então Orfeu ouviu um grito - Eurídice tinha tropeçado - horrorizado, ele se voltou, viu ainda a sombra dela caindo na noite e ficou sozinho. Esmagado pela dor, ele cantou sua canção de despedida: "Ai de mim, eu a perdi, toda a minha felicidade se foi!"

Ele próprio voltou à luz. Entretanto, no reino dos mortos, passara a estranhar a vida. Quando mulheres ébrias quiseram levá-lo à festa do novo vinho, ele se recusou, e elas o despedaçaram vivo.

Tão grande foi sua desgraça, tão inútil foi sua arte. Entretanto, todo o mundo o conhece.

O outro Orfeu era o pequeno. Era apenas um cantor de rua, aparecia em pequenas festas, tocava para gente humilde, alegrava um pouco e curtia isso. Como não conseguia viver de sua arte, aprendeu um ofício comum, casou-se com uma mulher comum, teve filhos comuns, pecou eventualmente, foi feliz de modo comum, morreu velho e satisfeito da vida.

Entretanto, ninguém o conhece - exceto eu!

 

Bert Hellinger

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Sobre as consciências O QUE FICA E O QUE PARTE

 

A constelação familiar espiritual

 

Congresso em Reit im Winkl, Alemanha

14 a 17 de dezembro de 2006

Bert Hellinger

 

 

 

O QUE FICA

 

Tudo aquilo que fica, fica por um tempo. Muitas vezes, nos alegramos que fique porque nos faz bem e nos presenteia com algo.

Por isso, nos alegramos quando as pessoas que amamos ficam, e nos alegramos com um sucesso que fica.

 

Contudo, ninguém e nada permanecem por si mesmo. Nós mesmos precisamos fazer algo para que fique. Fica, se fizermos algo com ele. Curiosamente, fica por mais tempo se o multiplicamos. Permanece, quando algo é acrescentado continuamente. Por isso, o que fica está simultaneamente em movimento.

Permanece, se nós também expandirmos com ele. Assim, uma árvore permanece enquanto cresce. Assim, o amor permanece enquanto cresce, enquanto continua dando mais e recebendo mais.

O que acontece com aquilo que parte? Parte porque terminou, porque não cresce e não se expande mais. Parte, porque precisa ceder espaço ao novo que se expande.

Assim também acontece com aquilo que ainda permanece, porque ainda está crescendo. Aquilo que fica termina no momento em que não cresce mais.

O que acontece com o espírito? O que acontece com o movimento do espírito? Ele sempre fica porque não chega a nenhum fim.

O movimento do espírito também deixa algo para trás por continuar infinitamente? Ou inclui o anterior no movimento seguinte de modo que continue dentro dele, de uma nova

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maneira? Por isso, o que fica agora também parte após um tempo para que fique de uma outra forma. Permanece, na medida em que caminha para frente.

 

 

 

A DIFERENCIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA

 

 

As diferentes consciências são campos espirituais. A primeira delas, a consciência pessoal, é estreita e tem o seu alcance limitado. Através de sua diferenciação entre o bom e o mau reconhece o pertencer só de alguns e exclui outros.

A segunda, a consciência coletiva, é mais ampla. Também defende os interesses dos que foram excluídos pela consciência pessoal. Por isso, está freqüentemente em conflito com a consciência pessoal. Contudo, essa consciência também tem um limite porque abrange somente os membros dos grupos que dependem dela.

A terceira, a consciência espiritual, supera os limites das outras consciências que colocam limites através da diferenciação entre bom e mau e da diferenciação entre pertencimento e exclusão.

 

 

 

A CONSCIÊNCIA PESSOAL

 

 

O vínculo

 

Vivenciamos essa consciência estreita como boa e má consciência. Sentimo-nos bem quando temos boa consciência e mal quando temos má consciência.

O que acontece quando temos uma boa consciência e o que acontece quando temos uma má consciência? O que precede à boa e à má consciência para que sintamos uma boa ou uma má consciência?

Se observarmos exatamente, quando temos uma boa consciência e quando temos uma má consciência, podemos perceber que ficamos com má consciência quando pensamos, sentimos e fazemos algo que não está em sintonia com as expectativas e as exigências

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das pessoas e grupos aos quais queremos pertencer e que freqüentemente também precisamos pertencer. Isso significa que nossa consciência vela para que fiquemos conectados com essas pessoas e grupos. Percebe, de imediato, se nossos pensamentos, desejos e ações colocam em perigo nossa ligação e nosso pertencer a essas pessoas e grupos. Quando a nossa consciência percebe que nos afastamos dessas pessoas e grupos através de nossos pensamentos, sentimentos e ações, ela reage com o sentimento de medo de perdermos nossa ligação com essas pessoas e grupos. Sentimos esse medo como má consciência.

Inversamente, quando pensamos, desejamos e agimos de uma forma que nos movimentamos em sintonia com as expectativas e exigências dessas pessoas e grupos, sentimo-nos pertencentes e temos a certeza de podermos pertencer. O sentimento de termos assegurado o nosso pertencer, sentimos como benéfico e bom. Não precisamos ficar preocupados de sermos cortados, de repente, por essas pessoas e grupos e nos experimentarmos sós e sem proteção. Sentimos como boa consciência, o sentimento seguro de podermos pertencer.

A consciência pessoal nos liga, portanto, a pessoas e grupos que são importantes para o nosso bem-estar e nossa vida. Contudo, porque essa consciência nos liga somente a determinadas pessoas e grupos e, simultaneamente, exclui outros, é uma consciência estreita.

Essa consciência nos foi de suma importância quando crianças. As crianças fazem de tudo para poderem pertencer, pois sem essa ligação e sem esse direito de pertencer estariam perdidas. A consciência pessoal assegura nossa sobrevivência junto às pessoas e grupos que são importantes para a mesma.. Por isso, a sua importância só pode ser altamente apreciada. Vemos também a importância que a consciência pessoal ocupa na nossa sociedade e cultura.

 

 

Bom e mau

 

Neste contexto podemos observar que as diferenciações que fazemos entre bom e mau são diferenciações dessa consciência. Elas estabelecem em que medida algo assegura o nosso pertencer e em que medida isso o coloca em perigo.

O que assegura o nosso pertencer, vivenciamos como bom. Vivenciamos isso como bom através da boa consciência sem que precisemos refletir muito se é realmente bom quando observado mais exatamente a uma certa distância, ou se isso pode ser até ruim para outros. Aqui o denominado bom é somente sentido, é sentido como algo bom.

Portanto, sentimos e defendemos o bom, de modo irrefletido, como bom, mesmo que para um observador que está fora desse campo espiritual pareça ser algo estranho que coloca mais em perigo a vida de muitos do que a serviço.

Evidentemente que o mesmo é válido para o mau. Contudo, sentimos o mau mais fortemente do que o bom, porque está ligado ao medo de que percamos o pertencer e, ao mesmo tempo, também nosso direito de viver.

A diferenciação do bom e do mau serve, portanto, à sobrevivência dentro do próprio

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grupo. Serve à sobrevivência do indivíduo no seu grupo.

 

 

 

A CONSCIÊNCIA COLETIVA

 

Atrás da consciência que sentimos ainda atua uma outra consciência. É uma consciência poderosa muito mais forte no seu efeito do que a consciência pessoal. Entretanto, em nossos sentimentos nos é relativamente inconsciente. Por que? Porque nos nossos sentimentos a consciência pessoal tem precedência em relação a essa consciência.

A consciência coletiva é uma consciência grupal. Enquanto que a consciência pessoal é sentida por cada indivíduo e está a serviço do seu pertencer e da sua sobrevivência pessoal, a consciência coletiva tem em seu campo de visão a família e o grupo como um todo. Está a serviço da sobrevivência do grupo inteiro, mesmo que para isso alguns precisem ser sacrificados. Está a serviço da totalidade desse grupo e das ordens que asseguram a sua sobrevivência da melhor forma possível.

Quando o interesse de cada indivíduo se contrapõe ao interesse de seu grupo, a consciência pessoal também se contrapõe à consciência coletiva.

 

 

A totalidade

 

A consciência coletiva está a serviço de que ordens, e como as impõe?

A primeira ordem, a qual essa consciência serve, é: todo membro de uma família tem o mesmo direito de pertenc er. Se um membro for excluído, não importam quais sejam os motivos, mais tarde, um outro membro precisa representar a pessoa excluída.

A consciência coletiva se mostra, comparada à consciência pessoal como imoral ou amoral. Isso significa que não diferencia entre bom e mau nem entre culpado e inocente. Por outro lado, protege todos da mesma forma. Quer proteger o seu direito de pertencer ou reestabelecê-lo se isso lhe for negado.

O que acontece quando esse direito é negado a um membro familiar? De certa forma, ele é reconduzido ao grupo por essa consciência, na medida em que outro membro dentro da família precisa representá-lo, sem que esteja consciente disso.

Como essa volta se mostra? Um outro membro familiar assume o destino da pessoa excluída, representando-a. Ele pensa como essa pessoa excluída, tem sentimentos semelhantes, vive de forma semelhante, fica doente de forma semelhante, até mesmo morre de forma semelhante. Esse membro familiar está, dessa forma, a serviço da pessoa excluída e representa os seus direitos. É apossada, por assim dizer, pela pessoa

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excluída, entretanto, sem se perder a si mesmo. Quando a pessoa excluída recupera o seu lugar, esse membro familiar se libera dessa pessoa.

Não é que a pessoa excluída queira que seja representada dessa forma, embora isso também aconteça algumas vezes, se ela deseja algo de mau para alguém da família. Em primeira instância, é essa consciência que atua e deseja a representação e o emaranhamento. Ela quer reestabelecer a totalidade do grupo.

 

 

O instinto

 

Aqui, existe o perigo que nós imaginemos essa consciência como uma pessoa, como se ela tivesse metas pessoais e as seguisse após reflexões profundas.

Essa consciência atua como um instinto. Um instinto grupal que quer somente uma coisa: salvar e reestabelecer a totalidade. Por isso é cego na escolha de seus meios.

 

 

O pertencimento para além da morte

 

Podemos reconhecer as pessoas que são influenciadas e impulsionadas por essa consciência, quando são atraídas ou não para representar membros familiares excluídos. Nesse sentido, precisamos considerar que ninguém perde o seu direito de pertencer através de sua morte. Isso significa que os membros familiares mortos da família são tratados por essa consciência da mesma forma que os vivos. Ninguém é separado de sua família através de sua morte. Ela abrange igualmente seus membros familiares vivos e mortos. Essa consciência também trazer de volta os membros mortos para a família, se foram excluídos, sim; principalmente estes. Portanto, isso significa que alguém, com efeito, perde a sua vida através de sua morte, contudo nunca o seu pertencimento.

 

 

Quem pertence?

 

Agora está na hora de eu enumerar quem pertence à família que é abrangida e conduzida por uma consciência coletiva comum. Vou começar com os que nos estão mais próximos:

 

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Aos membros familiares que estão sujeitos a essa consciência, pertencem:

 

1. Os filhos. Portanto, nós e nossos irmãos e irmãs. Aos nossos irmãos pertencem também os natimortos, também os irmãos que foram abortados e freqüentemente também os abortos espontâneos. Justamente aqui existe freqüentemente a idéia de que podemos excluí-los. Também fazem parte os filhos que foram ocultos e dados.

Para a consciência coletiva todos eles fazem parte completamente, são lembrados por ela e trazidos de volta à família. Eles são trazidos de volta cegamente, sem levar em consideração justificativas e desejos.

 

 

2. No nível superior aos filhos fazem parte seus pais e seus irmãos biológicos. Aqui também todos seus irmãos e irmãs, como eu já enumerei antes para os filhos.

Também os parceiros anteriores dos pais fazem parte. Se são rejeitados ou excluídos, mesmo que estejam mortos, serão representados por um dos filhos, até que sejam lembrados e reconduzidos à família com amor.

 

 

Só o amor libera

 

Agora gostaria de interromper a enumeração e falar como os excluídos podem ser trazidos de volta. Só o amor é capaz disso.

 

Que amor? O amor preenchido. Ele é sentido como dedicação ao outro, como ele é. Ele é também sentido como luto pela perda. É sentido especialmente como dor por aquilo que porventura fizemos de mal para o outro.

Sentimos também se esse amor alcança o outro, se o reconcilia, se o deixa em paz, se ele assume o seu lugar, permanecendo nele. Então essa consciência coletiva também encontra a paz.

Aqui nós vemos que essa consciência está a serviço do amor, a serviço do mesmo amor por todos que fazem parte dessa família.

 

 

Quem pertence ainda à família?

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Agora vou continuar com a enumeração de quem pertence à família, porque eles também são abrangidos e protegidos por essa consciência.

 

 

3. No próximo nível superior fazem parte os avós, mas sem seus irmãos, a não ser que eles tenham tido um destino especial. Os parceiros anteriores dos avós também fazem parte.

 

4. Também fazem parte um ou outro dos bisavós, mas isso é raro.

 

Até agora enumerei sobretudo os parentes consangüíneos, e ainda os parceiros anteriores dos pais e dos avós.

 

5. Além disso, também faz parte de nossa família aqueles que através de sua morte ou destino, a família teve uma vantagem. Por exemplo, através de uma herança considerável. Também fazem parte aqueles que a custa de sua saúde e vida a família enriqueceu.

 

6. Nesse contexto fazem parte de nossa família também aqueles que foram vítimas de atos violentos através de membros de nossa família, especialmente aqueles que foram assassinados. A família precisa olhar também para eles, com amor e dor.

 

7. Por último, algo que para alguns pode ser um desafio. Se membros de nossa família foram vítimas de crimes, principalmente se perderam a vida, os assassinos também fazem parte de nossa família. Se foram excluídos ou rejeitados, serão também representados por membros familiares sob a pressão da consciência coletiva.

Talvez possa aqui chamar a atenção de que tantos os assassinos se sentem atraídos para suas vítimas como também as vítimas para seus assassinos. Ambos se sentem totalmente inteiros quando se encontram. A consciência coletiva também não faz diferenciações aqui.

 

O equilíbrio

 

Antes de continuar quero dizer algo sobre o equilíbrio nessas duas consciências. A

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necessidade do equilíbrio entre o dar e o tomar e entre o lucro e a perda é também um movimento da consciência.

A consciência pessoal que sentimos como boa e má consciência e como culpa e inocência, vela sobre o equilíbrio com sentimentos semelhantes, portanto também com sentimentos de culpa e inocência e com o sentimento de uma boa e má consciência. Só que aqui sentimos a culpa e a inocência de um forma diferente.

 

A culpa aqui é sentida como dever, quando eu recebo algo ou tomei algo, sem devolver com algo equivalente. A inocência aqui é sentida como estar livre de um dever. Temos esse sentimento de liberdade quando tomamos e também damos, de uma forma que o dar e o tomar esteja equilibrado.

 

Aqui devo ainda acrescentar que podemos alcançar o equilíbrio também de uma outra forma. Ao invés de devolver com algo equivalente, como não podemos algumas vezes, por exemplo perante nossos pais, podemos também passar adiante algo equivalente. Por exemplo aos nossos filhos.

 

 

A expiação

 

Nós equiparamos através do sofrimento. Isso também é um movimento da consciência. Se causamos sofrimento a alguém, também queremos sofrer para equilibrar e depois do sofrimento temos novamente uma boa consciência.

Essa forma de equilíbrio conhecemos como expiação. Entretanto, devemos observar aqui que é uma auto-necessidade, porque ela não pode realmente dar algo para o outro, e com isso, equilibrando. Contudo, através dessa expiação o outro freqüentemente não se sente mais sozinho em seu sofrimento.

Esse maneira de equilibrar tem pouco ou nada a ver com o amor. É antes de mais nada, instintivo e cego.

 

 

A vingança

 

Temos a necessidade do equilíbrio quando alguém nos fez algo de mau. Então queremos também fazer algo de mau a ele. Aqui a necessidade de equilíbrio se transforma em uma necessidade de vingança. Entretanto, a vingança equilibra apenas no momento, porque ela desperta em todos os envolvidos outras necessidades de vingança, prejudicando-os

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no final.

 

 

A cura

 

Também na consciência coletiva existe o movimento de equilíbrio, contudo, está amplamente oculta de nossa consciência. Quem precisa representar um excluído, não sabe que está equilibrando.

O equilíbrio é aqui o movimento de um todo superior que equipara impessoalmente porque aqueles que são atraídos para equilibrar são inocentes, no sentido da consciência pessoal.

Podemos comparar essa forma de equilíbrio a um processo de cura. Aqui também algo que foi ferido é reestabelecido sob a influência de poderes superiores. A consciência coletiva quer reintroduzir algo que foi perdido e dessa forma trazer novamente a ordem em tudo e curar.

 

 

A hierarquia

 

Volto a falar das ordens da consciência coletiva e direi algo sobre a segunda ordem, que está a serviço da consciência e que tenta restaurá-la, quando foi ferida.

 

Essa ordem exprime que cada indivíduo de um grupo deve e precisa assumir o lugar que lhe pertence de acordo com a sua idade. Isso significa que aqueles que vieram antes, têm precedência em relação aos que vieram mais tarde. Por isso, os pais têm precedência em relação aos filhos, e o primeiro filho tem precedência em relação ao segundo. Portanto, cada um tem o seu próprio lugar que pertence somente a ele. No decorrer do tempo ele se desloca dentro da hierarquia de baixo para cima, até que cria sua própria família e nela assume imediatamente com seu parceiro o primeiro lugar.

Aqui se impõe uma outra ordem de hierarquia, uma heirarquia entre as famílias, por exemplo, entre a família de origem e a própria família nova. Aqui a nova família tem primazia perante a antiga.

Esta ordem também é válida se um dos pais inicia, durante o casamento, um relacionamento com um outro parceiro, do qual nasce uma criança. Com isso ele cria uma nova família que tem prioridade em relação à primeira.

A família posterior não anula o vínculo com a anterior, assim como a família nova não anula o vínculo com a família de origem. Contudo, ela tem prioridade em relação à

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anterior.

 

 

 

1. A violação da hierarquia e suas conseqüências

 

A hierarquia é violada quando alguém que veio mais tarde quer assumir uma posição superior a daquela que lhe cabe de acordo com a ordem hierárquica. Essa violação da ordem hierárquica é, na verdade, como se sabe, um orgulho que precede a queda.

As violações mais freqüentes da hierarquia observamos nas crianças. Em primeiro lugar quando se elevam acima de seus pais. Por exemplo, quando se sentem melhores que os seus pais e se comportam de forma correspondente. Isso é uma violação da hierarquia sem amor.

Essa hierarquia é principalmente violada quando a criança quer assumir algo pelos pais. Por exemplo, quando ficam doentes no lugar deles e querem morrer. Aqui a hierarquia é violada com amor. Entretanto, esse amor não protege a criança das conseqüências da transgressão da ordem.

O que existe de trágico nisso é que a criança transgride a ordem de boa consciência. Isso significa, sob a influência da consciência pessoal a criança se sente especialmente inocente e boa, através dessa transgressão. Isso também significa que com isso também se sente pertencente de uma forma especial.

Portanto, aqui essas duas consciências se opõem. A hierarquia, que impõe e protege a consciência coletiva, é violada em sintonia com a consciência pessoal. Nesse sentido ela é conscienciosa. Aqui a consciência pessoal impele alguém a transgredir essa ordem e sofrer as consequências dessa transgressão.

Quais são as conseqüências dessa transgressão? A primeira conseqüência é o fracasso. A pessoa que se eleva em relação aos pais, seja sem amor ou com amor, fracassa. Isso é válido não tão somente dentro da família, mas também em outros grupos, por exemplo, em organizações.

Muitas organizações fracassam através de conflitos internos, nos quais uma pessoa que é admitida depois ou um departamento que é criado posterioriormente se eleva, dentro da hieraquia, em relação a um anterior que tem precedência.

Na verdade, o fracasso, como conseqüência da violação da hierarquia é a morte. O herói trágico quer assumir algo por aqueles que lhe precedem. Contudo, ele não apenas fracassa, ele morre.

Vemos algo semelhante com as crianças, que carregam e querem assumir algo pelos pais. Elas lhes dizem internamente: “Melhor eu do que você.” O que realmente está contido nisso? Significa, por fim: “Eu morro no seu lugar.”

A hierarquia é a ordem da paz. Ela está a serviço da paz na família e no grupo. Ela está,

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no final, a serviço do amor e da vida.

 

 

O alcance

 

Até que ponto a consciência coletiva alcança? Somente os mortos que conhecemos pertencem? Ou essa consciência quer trazer de volta também os excluídos de muitas gerações anteriores? Talvez até nós, como éramos em uma vida anterior? Talvez até esteja a serviço de um movimento cósmico para o qual nada pode ficar perdido, nada que tenha existido? Nós também violamos essa hierarquia através de nossa crença de progresso como se nós fôssemos melhores do que nossos antepassados? Como se fôssemos superiores a eles?

O que acontece conosco se nos colocarmos internamente no nosso lugar adequado, humildemente no último lugar?

Se nós incluirmos no nosso presente todos aqueles que foram excluídos, não importam quais os motivos e aqueles que precisaram morrer antes de ter cumprido o seu tempo total, com aquilo que ainda lhes falta, então não estaremos também completos com eles?

 

 

 

A CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL

 

 

 

A consciência espiritual reage a que? Ela responde a um movimento do espírito, aquele espírito que movimenta tudo, se movimenta e que movimenta tudo de uma forma criativa. Tudo está submetido a esse movimento, não importando se isso seja ou não o nosso desejo, não importando se nos submetemos ou resistimos a ele. A pergunta é apenas, se nós nos percebemos em sintonia com esse movimento, se nós nos submetemos a ele de boa vontade e permanecemos em sintonia com ele, de maneira sábia. Quer dizer, se nós somente nos movimentamos, pensamos, sentimos e agimos até o ponto em que percebemos que estamos sendo conduzidos, levados e movimentados por ele.

O que acontece conosco quando sabemos estar em sintonia com esse movimento? O que acontece conosco quando talvez o nosso desejo seja o de nos afastarmos desse movimento porque a sua reivindicação nos pareça ser grande demais, nos provocando medo? Experimentamos aqui, em relação à consciência espiritual, aquilo que podemos

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comparar com a consciência pessoal.

Se experimentamos estar em sintonia com os movimentos do espírito, nos sentimos bem. Sobretudo, nós nos sentimos calmos e sem preocupações. Sabemos do nosso próximo passo e temos a força de dá-lo. Isso seria, por assim dizer, a boa consciência espiritual.

Como em relação à consciência pessoal aqui também sabemos imediatamente se estamos em sintonia. Contudo, esse conhecimento aqui é espiritual. A boa consciência é a entrega sábia a um movimento espiritual.

O que é, sobretudo, esse movimento espiritual? É um movimento de dedicação a tudo, assim como é, que está de acordo com a dedicação do espírito a tudo, assim como é.

Como é que experimentamos então uma má consciência espiritual, aqui novamente de modo análogo ao sentimento de culpa da consciência pessoal? Como sentimos a má consciência espiritual? Nós a sentimos como inquietação, como bloqueio espiritual. Nós não nos conhecemos mais, não sabemos o que podemos fazer e nos sentimos sem força.

Quando é que temos sobretudo uma má consciência espiritual? Quando nos desviamos do amor espiritual. Por exemplo, quando excluímos alguém de nossa dedicação e de nossa benevolência. Nesse momento, perdemos a sintonia com o movimento do espírito. Estamos entregues a nós mesmos e temos uma má consciência.

Contudo, como na consciência pessoal, a má consciência também está aqui a serviço da boa consciência. Ela nos reconduz através de seu efeito para a sintonia com os movimentos do espírito, até que fiquemos novamente calmos e nos tornemos um com o seu movimento de dedicação e amor por todos e por tudo, assim como é.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AS DIFERENTES CONSCIÊNCIAS E

AS CONSTELAÇÕES FAMILIARES

 

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Quando alguém quer entender e solucionar um problema pessoal com a ajuda das constelações familiares, um problema de relacionamento com um parceiro ou na família com uma criança, reconhecemos imediatamente, qual é a consciência que esse problema provoca e conserva, e o que esses problemas exigem de cada indivíduo e de sua família para uma solução. Aqui precisamos ver as diferentes consciências unidas umas às outras no sentido de que todas estão a serviço de nossas relações. Elas são erigidas umas sobre as outras e se complementam, de forma que precisamos ver um problema e a sua solução relacionadas a várias consciências e por último, a todas.

Por exemplo, se alguém pede a nossa ajuda, podemos reconhecer imediatamente, quais as consciências que estão envolvidas no seu problema e de que forma, e quais as soluções que estão disponíveis.

Inversamente, se um ajudante tem um problema com um cliente, ele pode se perguntar, quais as consciências relativas a ele que estão envolvidas nesse problema e o que elas também lhe oferecem como solução.

 

 

 

A consciência espiritual

 

Em primeiro lugar, observo aqui as Constelações Familiares partindo do fim do caminho percorrido por elas, portanto, do ponto de vista da consciência espiritual. Em retrospectiva ao caminho percorrido até agora, reconhecemos de forma mais clara o significado das outras duas consciências. Reconhecemos também onde é que chegam aos seus limites. A consciência espiritual nos conduz para além desses limites.

 

 

A diferenciação das consciências

 

O que diferencia sobretudo as diferentes consciências, e o que lhes impõe limites? É o alcance de seu amor.

 

A consciência pessoal está a serviço do vínculo a um grupo limitado, exclui outros que não pertencem a esse grupo. Não une somente, também separa. Não ama somente, também rejeita.

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A consciência coletiva vai para além da consciência pessoal, pois também ama aqueles que foram rejeitados e excluídos dentro da família e dentro de grupos similares pela consciência pessoal. A consciência coletiva quer também trazer de volta os excluídos, para que possam fazer parte novamente. Por isso, o seu amor vai além. Não exclui ninguém.

Contudo, em seu campo de visão não tem tanto o bem-estar de cada um. Senão, não poderia obrigar um inocente que não estava envolvido na exclusão, a representar um excluído, embora com isso lhe imponha algo pesado. Aqui se mostra que essa consciência não é pessoal, mas coletiva, que deseja principalmente a totalidade e a ordem em um grupo.

 

Os movimentos do espírito, ao contrário, se dedicam igualmente a todos. Quem entra em sintonia com os movimentos do espírito não pode fazer de outra forma a não ser se dedicar igualmente a todos com benevolência e amor, não importando qual seja o seu destino. Este amor não conhece fronteiras. Supera as diferenciações entre o melhor ou o pior e entre o bom e o mau. Por isso, supera os limites da consciência pessoal e os limites da consciência coletiva. Está dedicado de forma igual a cada um e a todos em sua família e nos outros grupos dos quais faz parte.

A consciência espiritual vela sobre este amor. Entra em jogo, quando nós nos desviamos dela.

 

 

As Constelações Familiares Espirituais

 

O que isso significa para as constelações familiares? Como esse amor se mostra nas constelações familiares?

 

Em primeiro lugar, chamo a atenção para o fato de que os movimentos do espírito nas constelações familiares se manifestam de uma forma expressiva. Eles são vivenciados e se tornam visíveis através dos representantes, igualmente para aqueles que observam esses movimentos. Isso significa que os movimentos do espírito são percebidos, em primeiro lugar pelos representantes e através deles também por aqueles que observam esses movimentos e talvez eles mesmos sejam atraídos e apanhados por eles.

Por isso, o procedimento das constelações familiares espirituais é um outro, diferente daquele que muitas pessoas associam a elas. Aqui não se coloca mais a família de forma que alguém escolhe de um grupo, representantes para os diversos membros da sua família e depois os coloca num espaço uns em relação aos outros. Aqui se coloca somente uma pessoa, por exemplo, o cliente ou um representante para ele, e talvez ainda uma segunda pessoa, por exemplo, seu parceiro. Contudo, não que este seja colocado no sentido habitual em relação ao outro. Ele também é apenas colocado, por exemplo, a uma certa distância em sua frente. Aqui não existem regras e intenções. O

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cliente ou seu representante e as outras pessoas adicionais são apenas colocadas.

De repente, são apanhados por um movimento sem que possam conduzi-lo. Esse movimento vem de fora, embora também seja vivenciado como se viesse de dentro. Isso significa que essas pessoas vivenciam estar em sintonia com um movimento que coloca algo em movimento através delas. Entretanto, isso acontece somente se ficarem concentrados, sem intenções próprias e sem medo daquilo que talvez se mostre. Tão logo entrem em jogo as próprias intenções, por exemplo, a intenção de ajudar alguém ou o medo daquilo que possa vir à luz e para onde isso talvez vá conduzir, a ligação com os movimentos do espírito se perde. Também o centramento dos observadores se perde. Por exemplo, ficam inquietos.

Após um certo tempo, através dos movimentos dos representantes mostra-se se é necessário ainda acrescentar uma outra pessoa. Por exemplo, quando um deles olha para o chão, isso significa que está olhando para uma pessoa morta. Então se escolhe um representante e ele é solicitado a se deitar no chão de costas em frente ao outro. Se um representante olha intensamente para uma direção, coloca-se alguém em frente a ele, para onde está olhando.

Os movimentos dos representantes são bem lentos. Tão logo uma pessoa se movimente depressa, está sendo movido por uma intenção e não está mais em sintonia com os movimentos do espírito. Ele não está mais centrado e não é mais confiável, precisamos substituí-lo por um outro representante.

Sobretudo o constelador precisa abster-se de suas intenções e interpretações. Ele também se deixa ser apanhado pelos movimentos do espírito. Isto é, ele só age, deixando ser movimentado claramente para um próximo passo ou para uma frase, que ele mesmo diz ou deixa que um representante a diga.

Além disso, recebe continuamente através dos movimentos dos representantes indicações daquilo que está acontecendo dentro deles e para onde os seus movimentos conduzem ou devem conduzir.

Por exemplo, quando um representante se afasta do representante de uma pessoa morta que está deitada à sua frente ou quer se virar, o constelador interfere, depois de um certo tempo e o conduz de volta. Contudo, não de uma forma que, ao seguir esse procedimento, o constelador deva deixar tudo ao critério dos movimentos dos representantes. Ele está, como eles, a serviço dos movimentos do espírito e os segue, muitas vezes irresistivelmente, quando interfere de uma determinada forma ou diz algo.

No final para onde conduzem esses movimentos do espírito? Eles unem o que antes estava separado. São sempre movimentos do amor.

Esses movimentos não precisam ser levados sempre até o fim. É o suficiente quando fica visível para onde conduzem. Por isso, essas constelações muitas vezes permanecem incompletas e abertas. É o suficiente que tenham entrado em movimento. Nós precisamos confiar que elas prosseguirão. Pois estes movimentos não mostram apenas algo, por exemplo, a solução para um determinado problema. Eles já são os movimentos de cura decisivos, e como a cura, precisam, via de regra, também o seu tempo. São o início de um movimento de cura.

As constelações familiares em sintonia com os movimentos do espírito pressupõem que sobretudo o constelador permaneça em sintonia com esses movimentos. Isto é, que em primeiro lugar permaneça dedicado a todos com o mesmo amor, para além dos limites da diferenciação entre o bom e o mau. Ele só pode fazer isso, se tiver aprendido a prestar atenção aos movimentos do espírito dentro de si, de forma que percebe

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imediatamente quando se desviou do amor. Por exemplo, quando quer internamente atribuir a culpa a um acontecimento ou quando tem pena da pessoa por aquilo que ela precisa sofrer. Desvios desse amor vivenciamos conosco continuamente. Entretanto, nós seremos reconduzidos à sintonia com o seu movimento do amor por tudo aquilo, assim como é, depois que tivermos aprendido a prestar atenção aos movimentos da consciência espiritual e nos sujeitarmos à sua disciplina.

 

 

A consciência pessoal

 

Os limites mais estreitos contra o amor são traçados pela consciência pessoal. Pois as nossas diferenciações usuais entre o direito de pertencer ou a sua perda são determinadas e aprovadas por essa consciência.

É evidente, que essa diferenciação tem um significado importante para a nossa sobrevivência, não podendo ser substituída por nada, dentro de determinados limites.

Essa consciência coloca seus limites principalmente em relação às crianças. Para as crianças, a realização das formas de pensamento e comportamento exigidas por essa consciência é importante para a sua sobrevivência, inclusive a desconfiança em relação àqueles que seguem uma outra consciência pessoal, porque estão ligadas a um outro grupo, rejeitando-os e lutando contra eles.

Essa consciência, como uma boa consciência, por um lado, possibilita e assegura a sobrevivência; por outro lado, a coloca em perigo logo que o nosso grupo entra em conflito com outros, estabelecendo disputas mortais com eles.

Na consciência pessoal também reside a necessidade do equilíbrio. Essa necessidade é um movimento da consciência, pois temos uma boa consciência, quando devolvemos algo equivalente àqueles que nos deram algo, de forma que exista um equilíbrio entre o dar e o receber. Temos também a mesma boa consciência quando não podendo devolver algo equivalente, transmitimos a outros algo equivalente.

Em conformidade com isso temos uma má consciência, quando recebemos sem dar algo equivalente ou quando fazemos exigências que não nos competem.

Aqui também a consciência pessoal tem uma tarefa fundamental a serviço de nossas relações. Sim, essa necessidade é que torna isso possível. Essa necessidade também está a serviço de nossa sobrevivência, entretanto apenas dentro de determinados limites.

Em sua função de equilíbrio, a consciência pessoal, de modo semelhante à sua função de nos ligar à nossa família, também serve tanto à vida e à sobrevivência, como também serve ao oposto, quando determinados limites forem transgredidos. Aqui leva também à morte.

A consciência pessoal com referência ao vínculo, foi a separação de outros grupos que pode levar a conflitos graves, inclusive à guerra.

Com referência à necessidade do equilíbrio, é a expansão dessa necessidade de

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equilíbrio quanto ao prejuízo e ofensa mútuos, chegando até à vingança mortal, por exemplo, a vingança pelo sangue.

A necessidade de expiação segue a mesma direção, quando para expiar pelo sofrimento e prejuízo que causamos a outros, também nos inflingimos um sofrimento, nos limitamos e nos prejudicamos.

Nesse contexto pertence também a expiação substitutiva. Por exemplo, quando uma criança expia pelos pais, mas também quando a mãe ou o pai espera de uma criança que ela expie por eles. Por exemplo, quando fica doente ou morre no lugar deles, como podemos observar muitas vezes nas constelações familiares. Entretanto, isso acontece de forma inconsciente de ambos os lados, pois aqui a consciência coletiva também é importante.

Contudo, sempre se trata de um equilíbrio, que se opõe à vida, que a prejudica ou até mesmo a sacrifica – de boa consciência ou com o sentimento de inocência.

 

Ao que precisamos prestar atenção nas constelações familiares, para que fiquemos dentro dos limites da consciência pessoal que está a serviço da vida? Precisamos ter deixado para trás os limites da diferenciação entre o bom e o mau. Se nas constelações familiares permanecermos na esfera da consciência pessoal, por exemplo, quando junto com o cliente rejeitamos outros, estaremos a serviço da vida de uma forma limitada. Então, como essa consciência estaremos a serviço, por um lado, da vida e por outro, da morte.

 

 

 

 

A consciência coletiva

 

 

A que devemos prestar atenção nas constelações familiares em relação à consciência coletiva?

Em primeiro lugar, que não excluamos ninguém nem em nossa nem na família do cliente e que procuremos na família dele e na nossa pelos excluídos, olhemos para eles com amor e os coloquemos, com amor, em nosso coração. Podemos fazer isso somente se tivermos deixado para trás a diferenciação entre o bom e o mau e se também colocarmos as nossas crianças não nascidas no nosso campo de visão, mesmo que isso seja difícil para nós. Aqui é necessário tanto a coragem como também a clareza.

Em segundo lugar, que nós nos atenhamos à hierarquia. Isto é, que em primeiro lugar fiquemos conscientes de que através de nossa ajuda nos tornamos temporariamente um membro da família do cliente. Contudo, nós chegamos nessa família como o último e por

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isso temos o último lugar dentro dela.

O que acontece, quando um ajudante se comporta como se tivesse o primeiro lugar, até ainda antes e acima dos pais do cliente? Ele fracassa. O cliente também fracassa, quando ele fere a hierarquia e o ajudante talvez até o apóie nisso. Por exemplo, quando junto com o cliente de uma ou outra forma se coloca contra os seus pais.

A violação da hierarquia algumas vezes coloca a vida em perigo também. Por exemplo, quando o cliente assumiu algo pelos pais, o que não lhe competia, de acordo com a hierarquia. Então algumas vezes, diz para seus pais: “Eu, no lugar de vocês...”

Também para o ajudante a violação contra a hierarquia pode ser perigoso. Por exemplo, quando ele se arroga assumir algo pelo cliente, algo que ele precisa carregar sozinho. Então se eleva acima do cliente, como talvez acima dos seus pais e como o ajudante tenha tentado fazer quando criança aos seus pais. Mas, principalmente, quando o ajudante se arroga, que poderia virar o destino de um cliente ou proteger o seu cliente.

Somente dentro da hierarquia o ajudante permanece em sua força e o cliente encontra a solução que lhe é adequada, aqui em sentido duplo.

Com referência à consciência coletiva só precisamos ficar dentro dos limites que ela nos coloca nas constelações familiares, pois esses limites são amplos e abertos.

 

 

 

CONCLUSÃO

 

 

Nas constelações familiares a consciência espiritual, através de seu amor por todos, nos conduz para além dos limites da consciência pessoal. Também nos protege para não desrespeitarmos os limites da consciência coletiva, pois ela está dedicada a todos da mesma forma. Ela presta especial atenção à hierarquia porque sabemos, quando seguimos os movimentos do espírito, que somos todos iguais e equivalentes, com todos no mesmo nível, embaixo.

Nas constelações familiares espirituais permacecemos sempre no amor, sempre no amor total. Somente as constelações familiares espirituais estão sempre a serviço, em todos os lugares e unicamente a serviço da vida – e do amor – e da paz.

   As ordens da ajuda

Tradução: Newton A. Queiroz

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Advertência do tradutor

Acho necessário dar um breve esclarecimento prévio sobre os dois vocábulos-chave do presente texto.

1. Ajuda, ajudante O título original do artigo é Die Ordnungen des Helfens, literalmente: As Ordens do Ajudar, que prefiro traduzir por As Ordens da Ajuda, por ser mais consoante com nosso uso. Assim, deve-se entender por ajuda, no presente texto, principalmente a maneira de ajudar e a atitude de quem presta ajuda. Quem presta ajuda – no mais das vezes, profissionalmente – é o que Hellinger denomina “der Helfer”, e que traduzimos literalmente, na falta de termo melhor, por “o ajudante”. Nesta categoria estão compreendidos principalmente os que profissionalmente prestam assistência a outras pessoas (o médico, o terapeuta, o assistente social, o sacerdote...), como também aqueles que o fazem voluntariamente, em caráter não profissional.

2. Ordens As “ordens”, no sentido típico de Bert Hellinger, são as leis, princípios ou ordenações básicas preestabelecidas, que devem presidir nossos comportamentos. Assim, as "ordens do amor” são as leis que devem presidir nossos relacionamentos, para que o amor seja bem sucedido, e cujo desconhecimento ou desrespeito pode ocasionar conseqüências funestas.

No presente texto, Bert Hellinger fala das ordens que devem presidir toda iniciativa de levar ajuda ao próximo e, de modo especial, a ação com objetivo ou efeito terapêutico.

A ajuda é uma arte. Como toda arte, envolve uma capacidade que pode ser aprendida e praticada. E envolve empatia em relação ao objeto, a saber, a compreensão do que corresponde a esse objeto e, simultaneamente, daquilo que o eleva, por assim dizer, acima de si mesmo, em algo mais abrangente.

 

Ajuda como compensação

Nós, seres humanos, dependemos, sob todos os aspectos, da ajuda dos outros, como condição de nosso desenvolvimento. Ao mesmo tempo, precisamos também de ajudar outras pessoas. Aquele de quem não se necessita, aquele que não pode ajudar outros, fica só e se atrofia. O ato de ajudar serve, portanto, não apenas aos outros, mas também a nós mesmos. Via de regra, a ajuda é um processo recíproco, por exemplo, entre parceiros. Ela se ordena pela necessidade de compensar. Quem recebeu de outros o que deseja e precisa, também quer dar algo, por sua vez, compensando a ajuda.

Muitas vezes, a compensação que podemos fazer através da retribuição é limitada. Isso ocorre, por exemplo, em relação a nossos pais. O que eles nos deram é excessivamente grande, para que o possamos compensar dando-lhes algo em troca. Só nos resta, em relação a eles, o reconhecimento pelo que nos deram e o agradecimento que vem do coração. A compensação pela doação, com o alívio que dela resulta, só se consegue,

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nesse caso, repassando essa dádiva a outras pessoas: por exemplo, aos próprios filhos.

Portanto, o processo de tomar e de dar se processa em dois diferentes patamares. O primeiro, que ocorre entre pessoas equiparadas, permanece no mesmo nível e exige reciprocidade. O outro, entre pais e filhos, ou entre pessoas em condição superior e pessoas necessitadas, envolve um desnível. Tomar e dar se assemelham aqui a um rio, que leva adiante o que recebe em si. Essa forma de tomar e dar é maior, e tem em vista também o que virá depois. Nesse modo de ajudar, o que foi doado se expande. Aquele que ajuda é tomado e ligado a uma realização maior, mais rica e mais duradoura.

Esse tipo de ajuda pressupõe que nós próprios tenhamos primeiro recebido e tomado. Pois só então sentimos a necessidade e temos a força para ajudar a outros, especialmente quando essa ajuda exige muito de nós. Ao mesmo tempo, ela parte do pressuposto de que as pessoas a quem queremos ajudar também necessitam e desejam o que podemos e queremos dar a elas. Caso contrário, nossa ajuda se perde no vazio. Então ela separa, ao invés de unir.

 

A primeira ordem da ajuda

A primeira ordem da ajuda consiste, portanto, em dar apenas o que temos, e em esperar e tomar somente aquilo de que necessitamos. A primeira desordem da ajuda começa quando uma pessoa quer dar o que não tem, e a outra quer tomar algo de que não precisa; ou quando uma espera e exige da outra algo que ela não pode dar, porque não tem. Há desordem também quando uma pessoa não tem o direito de dar algo, porque com isso tiraria da outra pessoa algo que somente ela pode ou deve carregar, ou que somente ela tem a capacidade e o direito de fazer. Assim, o dar e o tomar estão sujeitos a limites, e pertence à arte da ajuda percebê-los e respeitá-los.

Essa ajuda é humilde, e muitas vezes, em face da expectativa e da dor, ela renuncia a agir. O trabalho com as constelações familiares coloca diante de nossos olhos o que deve exigir quem ajuda, tanto de si mesmo quanto da pessoa que busca ajuda. Essa humildade e essa renúncia contradizem muitas concepções usuais sobre a correta maneira de ajudar, e freqüentemente expõem o ajudante a graves acusações e ataques.

 

A segunda ordem da ajuda

A ajuda está a serviço da sobrevivência, por um lado, e da evolução e do crescimento, por outro. Todavia, a sobrevivência, a evolução e o crescimento também dependem de circunstâncias especiais, tanto externas quanto internas. Muitas circunstâncias externas são preestabelecidas e não são modificáveis: por exemplo, uma doença hereditária, as conseqüências de acontecimentos ou de uma culpa. Quando a ajuda deixa de considerar as circunstâncias externas ou se recusa a admiti-las, ela se condena ao fracasso. Isto vale, com maior razão, para as circunstâncias internas. Elas incluem a missão pessoal particular, o envolvimento nos destinos de outros membros da família, e o amor cego que, sob o influxo da consciência, permanece vinculado ao pensamento mágico. O que

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isso significa em casos particulares eu expus exaustivamente em meu livro “ Ordens do Amor”, no capítulo “Do céu que faz adoecer, e da terra que cura”.

Para muitos ajudantes, o destino da outra pessoa pode parecer difícil, e gostariam de modificá-lo; não, porém, muitas vezes, porque o outro o necessite ou deseje, mas porque os próprios ajudantes dificilmente suportam esse destino. E quando o outro, não obstante, se deixa ajudar por eles, não é tanto porque precise disso, mas porque deseja ajudar o ajudante. Então, quem ajuda realmente está tomando, e quem recebe a ajuda se transforma em doador.

A segunda ordem da ajuda é, portanto, que ela se amolde às circunstancias e só intervenha com apoio na medida em que elas o permitem. Essa ajuda mantém reserva e possui força. Há desordem da ajuda, neste caso, quando o ajudante nega as circunstâncias ou as encobre, ao invés de encará-las, juntamente com a pessoa que busca a ajuda. Querer ajudar contra as circunstâncias enfraquece tanto o ajudante quanto a pessoa que espera ajuda ou a quem ela é oferecida ou mesmo imposta.

 

O protótipo da ajuda

O protótipo da ajuda é a relação entre pais e filhos e, principalmente, a relação entre a mãe e o filho. Os pais dão, os filhos tomam. Os pais são grandes, superiores e ricos, ao passo que os filhos são pequenos, necessitados e pobres. Contudo, porque os pais e os filhos são ligados entre si por um profundo amor, o dar e o tomar entre eles pode ser quase ilimitado. Os filhos podem esperar quase tudo de seus pais. E os pais estão dispostos a dar quase tudo a seus filhos. Na relação entre pais e filhos, as expectativas dos filhos e a disposição dos pais para atendê-las são necessárias; portanto, estão em ordem.

Contudo, elas só estão em ordem enquanto os filhos ainda são pequenos. Com o avançar da idade, os pais vão impondo aos filhos, em escala crescente, limites com os quais eles eventualmente se atritam e podem amadurecer. Estarão sendo os pais, nesse caso, menos bondosos para com seus filhos? Seriam pais melhores se não colocassem limites? Ou, pelo contrário, eles se manifestam como bons pais justamente ao exigirem de seus filhos algo que também os prepara para uma vida de adultos? Muitos filhos ficam então com raiva de seus pais, porque preferem manter a dependência original. Contudo, justamente porque os pais se retraem e desiludem essas expectativas, eles ajudam seus filhos a se livrarem dessa dependência e, passo a passo, a agirem por própria responsabilidade. Só assim os filhos tomam o seu lugar no mundo dos adultos e se transformam de tomadores em doadores.

 

A terceira ordem da ajuda

Muitos ajudantes, por exemplo, na psicoterapia e no trabalho social, acham que precisam ajudar os que lhes pedem ajuda, da mesma forma como os pais ajudam seus filhos pequenos. Inversamente, muitos que buscam ajuda esperam que os ajudantes se

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dediquem a eles como os pais se dedicam a seus filhos, no intuito de receber deles, tardiamente, o que esperam e exigem dos próprios pais.

O que acontece quando os ajudantes correspondem a essas expectativas? Eles se envolvem numa longa relação. Aonde leva essa relação? Os ajudantes ficam na mesma situação dos pais, em cujo lugar se colocaram com essa vontade de ajudar.

Passo a passo, eles precisam impor limites aos que buscam ajuda, decepcionando-os. Então estes desenvolvem freqüentemente, em relação aos ajudantes, os mesmos sentimentos que tinham antes em relação a seus pais. Assim, os ajudantes que se colocaram no lugar dos pais, querendo mesmo, talvez, ser pais melhores, tornam-se, para os clientes, iguais aos pais deles. Porém muitos ajudantes permanecem presos na transferência e na contratransferência da relação entre filho e pais. Com isso, dificultam ao cliente a despedida, tanto de seus pais quanto dos próprios ajudantes. Ao mesmo tempo, uma relação segundo o modelo da transferência entre pais e filhos impede também o desenvolvimento pessoal e o amadurecimento do ajudante.

Vou ilustrar isso com um exemplo:

Quando um homem jovem se casa com uma mulher mais velha, ocorre a muitos a imagem de que ele procura um substitutivo para sua mãe. E o que procura ela? Um substitutivo para seu pai. Inversamente, quando um homem mais velho se casa com uma moça mais jovem, muitos dizem que ela procurou um pai. E ele? Procurou uma substituta para sua mãe. Assim, por estranho que soe, quem se obstina por muito tempo numa posição superior e mesmo a procura e quer manter, recusa-se a assumir seu lugar entre adultos equiparados.

Existem, porém, situações, em que convém que, por algum tempo, o ajudante represente os pais: por exemplo, quando um movimento amoroso precocemente interrompido precisa ser levado a seu termo. Contudo, diferentemente da transferência da relação entre pais e filhos, o ajudante apenas representa aqui os pais reais. Ele não se coloca em lugar deles, como se fosse uma mãe melhor ou um pai melhor. Por esta razão, também não é preciso que o cliente se desprenda do ajudante, pois este o leva a afastar-se dele e a voltar-se para os próprios pais. Então o ajudante e cliente se liberam mutuamente.

Mediante a adoção desse padrão de sintonia com os pais verdadeiros, o ajudante frustra, desde o início, a transferência da relação entre os pais e o filho. Pois, quando respeita em seu coração os pais do cliente, e fica em sintonia com esses pais e seus destinos, o cliente encontra nele os seus pais, dos quais já não pode esquivar-se. A mesma coisa vale quando o ajudante precisa lidar com crianças ou deficientes físicos. Na medida em que ele apenas representa os pais, e não se coloca em seu lugar, os clientes podem sentir-se em segurança com ele.

A terceira ordem da ajuda seria, portanto, que, diante de um adulto que procura ajuda, o ajudante se coloque igualmente como um adulto. Com isso, ele recusa as tentativas do cliente para fazê-lo assumir o papel dos pais. É compreensível que essa atitude do ajudante seja sentida e criticada, por muitas pessoas, como dureza. Paradoxalmente, essa “dureza” é criticada por muitos como arrogância. Quem olha bem, vê que a

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arrogância consistiria antes no envolvimento do ajudante numa transferência da relação entre pais e filho.

A desordem da ajuda consiste aqui em permitir a um adulto que faça ao ajudante as exigências de um filho a seus pais, para que o trate como criança e o poupe de algo pelo qual somente o cliente pode e deve carregar a responsabilidade e as conseqüências. É o reconhecimento dessa terceira ordem da ajuda que constitui a mais profunda diferença entre o trabalho das constelações familiares e psicoterapia habitual.

 

A quarta ordem da ajuda

Sob a influência da psicoterapia clássica, muitos ajudantes freqüentemente encaram seu cliente como um indivíduo isolado. Com isso, também se expõem facilmente ao risco de assumirem a transferência da relação entre pais e filho. Contudo, o indivíduo é parte de uma família. Somente quando o ajudante o percebe assim é que ele percebe de quem o cliente precisa, e a quem ele possivelmente está devendo algo.

O ajudante realmente percebe o cliente a partir do momento em que o vê junto com seus pais e antepassados, e talvez também junto com seu parceiro e com seus filhos. Então ele percebe quem, nessa família, precisa principalmente de sua atenção e de sua ajuda, e a quem o cliente precisa dirigir-se para reconhecer os passos decisivos e levá-los a termo. Isto significa que a empatia do ajudante precisa ser menos pessoal e – principalmente - mais sistêmica. Ele não se envolve num relacionamento pessoal com o cliente. Esta é a quarta ordem da ajuda.

A desordem da ajuda, neste caso, consistiria em não contemplar nem honrar outras pessoas essenciais, que teriam em suas mãos, por assim dizer, a chave da solução. Incluem-se entre elas, sobretudo, aquelas que foram excluídas da família, por exemplo, porque os outros se envergonharam delas.

Também aqui é grande o perigo de que essa empatia sistêmica seja sentida como dureza pelo cliente, sobretudo por aqueles que fazem reivindicações infantis ao ajudante. Pelo contrário, aquele que busca a solução, de maneira adulta, sente esse enfoque sistêmico como uma liberação e uma fonte de força.

 

A quinta ordem da ajuda

O trabalho da constelação familiar aproxima o que antes estava separado. Nesse sentido, ele está a serviço da reconciliação, sobretudo com os pais. O que impede essa reconciliação é a distinção entre bons e maus membros da família, tal como é feita por muitos ajudantes, sob o influxo de sua consciência e de uma opinião pública presa nos limites dessa consciência. Por exemplo, quando um cliente se queixa de seus pais, das circunstâncias de sua vida ou de seu destino, e quando um ajudante se associa à visão desse cliente, ele serve mais ao conflito e à separação do que à reconciliação. Portanto, alguém só pode ajudar, no sentido da reconciliação, quando imediatamente dá um lugar

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em sua alma à pessoa de quem o cliente se queixa. Assim, o ajudante antecipa na própria alma o que o cliente ainda precisa realizar na sua.

A quinta ordem da ajuda é portanto o amor a cada pessoa como ela é, por mais que ela seja diferente de mim. Dessa maneira, o ajudante abre a essa pessoa o seu coração, de modo que ela se torna parte dele. Aquilo que se reconciliou em seu coração também pode reconciliar-se no sistema do cliente. A desordem da ajuda seria aqui o julgamento sobre outros, que geralmente é uma condenação, e a indignação moral associada a isso. Quem realmente ajuda, não julga.

 

A percepção especial

Para poder agir de acordo com as ordens da ajuda, não é preciso qualquer percepção especial. O que eu disse aqui sobre as ordens da ajuda não deve ser aplicado de forma precisa e metódica. Quem tentar isso estará p ensando, ao invés de perceber. Ele reflete e recorre a experiências anteriores, em vez de se expor á situação como um todo e apreender dela o essencial. Por isso, essa percepção envolve ambos os aspectos: ela é simultaneamente direcionada e reservada. Nessa percepção, eu me direciono a uma pessoa, porém sem querer algo determinado, a não ser percebê-la interiormente, de uma forma abrangente, e com vistas ao próximo ato que se fizer necessário.

Essa percepção surge do centramento. Nela, eu abandono o nível das ponderações, dos propósitos, das distinções e dos medos, e me abro para algo que me move imediatamente, a partir do interior. Aquele que, como representante numa constelação, já se entregou aos movimentos da alma e foi dirigido e impelido por eles de uma forma totalmente surpreendente, sabe de que estou falando. Ele percebe algo que, para além de suas idéias habituais, o torna capaz de ter movimentos precisos, imagens internas, vozes interiores e sensações inabituais.

Esses movimentos o dirigem, por assim dizer, de fora, e simultaneamente de dentro. Perceber e agir acontecem aqui em conjunto. Essa percepção é, portanto, menos receptiva e reprodutiva. Ela é produtiva; leva à ação, e se amplia e aprofunda no agir.

A ajuda que decorre dessa percepção é geralmente de curta duração. Ela fica no essencial, mostra o próximo passo a fazer, retira-se rapidamente e despede o outro imediatamente em sua liberdade. É uma ajuda de passagem. Há um encontro, uma indicação, e cada um volta a trilhar o próprio caminho. Essa percepção reconhece quando a ajuda é conveniente e quando seria antes danosa. Reconhece quando a ajuda coloca tutela ao invés de promover, e quando serve para remediar antes a própria necessidade do que a do outro. E ela é modesta.

 

Observação, percepção, compreensão, intuição, sintonia

Talvez seja útil descrever aqui ainda as diferentes formas de conhecimento, para que, quando ajudamos, possamos recorrer ao maior número delas que for possível, e

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escolher entre elas. Começo pela observação.

A observação é aguda e precisa, e tem em vista os detalhes. Como é tão exata, é também limitada. Escapa-lhe o entorno, tanto o mais próximo quando o mais distante. Pelo fato de ser tão exata, ela é próxima, incisiva, invasiva e, de certa maneira, impiedosa e agressiva. Ela é condição para a ciência exata e para a técnica moderna decorrente dela.

A percepção é distanciada. Ela precisa da distância. Ela percebe simultaneamente várias coisas, olha em conjunto, ganha uma impressão do todo, vê os detalhes em seu entorno e em seu lugar. Contudo, é imprecisa no que toca aos detalhes. Este é um dos lados da percepção. O outro lado é que ela entende o observado e o percebido. Ela entende o significado de uma coisa ou de um processo observação e percebido. Ela vê, por assim dizer, por trás do observado e do percebido, entende o seu sentido. Acrescenta, portanto, à observação e à percepção externa uma compreensão.

A compreensão pressupõe observação e percepção. Sem observação e percepção, também não existe compreensão. E vice-versa: sem compreensão, o observado e percebido permanece sem relação. Observação, percepção e compreensão compõem um todo. Somente quando atuam em conjunto é que percebemos de uma forma que nos permite agir de forma significativa e, principalmente, também ajudar de uma forma significativa.

Na execução e na ação, freqüentemente aparece ainda um quarto elemento: a intuição. Ela tem afinidade com a compreensão, assemelha-se a ela, mas não é a mesma coisa. A intuição é a compreensão súbita do próximo passo a dar. A compreensão é muitas vezes geral, entende todo o contexto e todo o processo. A intuição, em contraposição, reconhece o próximo passo e, por isso, é exata. Portanto, a relação entre a intuição e a compreensão é semelhante à relação entre a observação e a percepção.

Sintonia é uma percepção a partir do interior, num sentido amplo. Como a intuição, ela também se direciona para a ação, principalmente para a ação de ajuda. A sintonia exige que eu entre na mesma vibração do outro, alcance a mesma faixa de onda, sintonize com ele e o entenda assim. Para entendê-lo, também preciso ficar em sintonia com sua origem, principalmente com seus pais, mas também com seu destino, suas possibilidades, seus limites, e também com as conseqüências de seu comportamento e de sua culpa; e, finalmente, com sua morte.

Ficando em sintonia, eu me despeço, portanto, de minhas intenções, de meu juízo, de meu superego e de suas exigências sobre o que eu devo e preciso ser. Isso quer dizer: fico em sintonia comigo mesmo, da mesma forma que com o outro. Dessa maneira, o outro também pode ficar em sintonia comigo, sem se perder, sem precisar temer-me. Da mesma forma, também posso ficar em sintonia com ele permanecendo em mim mesmo. Não me entrego a ele, mas mantenho distancia na sintonia. Com isso, ao ajudá-lo, posso perceber exatamente o que posso fazer e o que tenho o direito de fazer. Por esta razão, a sintonia é também passageira. Ela dura apenas enquanto dura a ação da ajuda. Depois, cada um volta à sua própria vibração. Por esta razão, não existe na sintonia transferencia nem contratransferência, nem a chamada relação terapêutica. Portanto, um

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não assume a responsabilidade pelo outro. Cada um permanece livre do outro.

 

Sobre o movimento interrompido

Quando uma criança pequena não teve acesso à mãe ou ao pai, embora precisasse deles com urgência e ansiasse por eles, por exemplo, numa longa internação hospitalar, esse anseio se transforma em dor de perda, em desespero e raiva. A partir daí, a criança se retrai diante de seus pais e, mais tarde, também de outras pessoas, embora anseie por eles. Essas conseqüências de um movimento amoroso precocemente interrompido são superadas quando o movimento original é retomado e levado a seu termo. Nesse processo, o ajudante representa a mãe ou o pai daquele tempo, e o cliente pode completar o movimento interrompido, como a criança de então.

Constelações em Pacientes Psicóticos

1. Sobre a teoria e a técnica do trabalho sistêmico com constelações

O trabalho com constelações familiares é um procedimento psicoterapêutico relativamente recente e controvertido. Ainda menos numerosas são até agora as experiências realizadas através dessa abordagem com pessoas que exibem comportamento psicótico. Tais experiências, contudo, são animadoras a ponto de justificar nosso relato a seu respeito. Dispensamos-nos aqui de apresentar os principios que fundamentam esse trabalho, (“ordens do amor”, consciência pessoal e consciência do grupo familiar, etc).[1] Apresentamos apenas uma breve introdução, dedicando maior atenção aos aspectos que nesse trabalho com pacientes com diagnósticos de psicose nos aparecem como especialmente importantes.

1.1. O desenvolvimento do trabalho com constelações familiares

A técnica das constelações familiares foi desenvolvida em seus elementos básicos por Bert Hellinger, sobretudo nos anos 80 [2]. Desenvolveu-se e expandiu-se rapidamente no espaço cultural de lingua alemã e, nos últimos anos, também em escala internacional. Tem suas raízes na abordagem da terapia familiar através de várias gerações [3]. Abordagens da terapia familiar orientadas para o crescimento já utilizavam há mais tempo representações espaciais para entender constelações de relacionamentos e para estimular modificações.[4] Depois que Bert Hellinger entrou em

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contato com representantes da terapia familiar, nos Estados Unidos, e com o trabalho de escultura familiar, na Alemanha, ele começou a condensar insights sobre a dinâmica familiar, - sobretudo os que tinham caráter estrutural e envolviam várias ge rações -, com procedimentos da análise transacional [5], numa terapia breve de grupo, sob a condução de um diretor. Essa terapia ele denominou “Familien-Stellen” (método de “colocar” ou de “constelar” famílias). Esse trabalho era complementado, nas assim chamadas “rodadas”, por intervenções hipnoterapêuticas ou outras, de que se valia Hellinger, através do humor, da confrontação ou da narração de histórias para quebrar padrões rotineiros de pensamento e estimular novas alternativas de ação. Infelizmente, essa técnica de rodadas, onde os participantes relatavam, cada um por seu turno, seus sentimentos e suas questões, teve de ser abandonada quando Bert Hellinger passou a trabalhar com grupos muito numerosos.[6]

1.2. Comprensão do sistema e dos sintomas

Numa constelação são levados em conta todos os membros de um sistema familiar no âmbito de três gerações, de maneira a incluir os vivos e os mortos. Todos os membros da família tomam parte numa ordem básica[7] à qual estão permanentemente vinculados. Essa ordem básica inclui, por exemplo, o direito de todos a pertencer ao sistema e a precedência dos que vêm antes sobre os que vêm depois. As famílias onde os sintomas aparecem estão frequentemente em “desordem” no que toca a essas leis.

Os sintomas que estejam condicionados por implicações sistêmicas sistêmicas manifestam a existência de um profundo amor resultante do vínculo, uma ligação inconsciente do indivíduo com seu grupo de origem. Isto faz com que alguns repitam os destinos de outros e queiram, em lugar deles, assumir algo de pesado, expiar ou até mesmo morrer. Tal necessidade de compensar se radica num pensamento mágico de caráter infantil, já que tal atitude não tem o poder de redimir essas pessoas nem de aliviar ou de anular seus destinos. Outra base para o desenvolvimento de problemas é a perda de conexão com as fontes dos laços familiares. Isto acontece, por exemplo, quando membros da família não são respeitados ou são esquecidos. Além da implicação sistêmica, devem ser ainda considerados, na geração de dificuldades psíquicas, os aspectos associados à evolução pessoal, por exemplo, a interrupção do movimento precoce da criança, dirigido geralmente para a mãe. No presente trabalho focalizamos preferencialmente as dinâmicas sistêmicas, dando menos espaço ao significado da história individual da vida e do processo da aprendizagem.

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1.3. O processo da constelação

Em nossos seminários, que duram de dois dias e meio a quatro dias, trabalhamos com grupos de 12 a 14 participantes e com um máximo de 10 observadores participantes. Na constelação familiar cada participante do grupo monta espacialmente sua imagem interna de um dos seus sistemas (o de sua família de origem ou da atual, ou ainda de suas relações de trabalho), com a ajuda de representantes, escolhidos entre os integrantes do grupo. Esses representantes geralmente possuem pouquíssimas informações prévias sobre as circunstâncias da vida e da história das pessoas representadas. O terapeuta interroga os representantes sobre suas sensações e sentimentos nos lugares que ocupam. As percepções dos representantes fornecem indicações importantes sobre as dinâmicas familiares e as conexões sistêmicas, pois é incrível como refletem exatamente, muitas vezes, as pessoas representadas, que não são conhecidas pelos representantes. O dirigente do grupo tenta a seguir mudanças de posição para os interessados, buscando, na medida do possível, o „melhor“ lugar para cada um do sistema. Quando se consegue isto, o terapeuta geralmente introduz o próprio cliente em seu lugar (até então ocupado por seu representante). Em conexão com determinadas frases[8] que diz às pessoas importantes de suas relações, ele muitas vezes experimenta de novo uma dor antiga e emoções que aliviam, e ganha novas perspectivas. A “imagem da solução”, quando ele a consegue acolher e interiorizar, desenvolve nele frequentemente efeitos que perduram por longo tempo. 

1.4. A inserção da constelação familiar no processo terapêutico

Evolução progressiva ou experiência de iluminação?A forte expansão do trabalho com constelações tem despertado junto ao público, de um lado, expectativas fora da realidade e, de outro, críticas de simplificação sem seriedade. De acordo com nossas experiências, o trabalho da constelação familiar, justamente com pacientes que exibem comportamento psicótico, só se recomenda no contexto de uma relação terapêutica e com uma acurada preparação. Os pacientes se inscrevem para os seminários de forma autônoma e sob a própria responsabilidade, mas geralmente são advertidos dessa possibilidade por seus terapeutas, que frequentemente também os acompanham nos seminários. Não devem apresentar sintomas psicóticos agudos. Muitos pacientes comparecem inicialmente a seminários, uma vez ou várias, como observadores participantes, não fazendo incialmente suas próprias constelações mas presenciando as de outros ou delas participando como representantes. Os terapeutas que lhes recomendam o trabalho ou os acompanham nele deveriam conhecer o trabalho com as constelações e suas premissas, e o terapeuta que conduz a constelação deveria ter experiência com pacientes desses grupos de diagnóstico. Em seguimento a uma

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constelação familiar podem eventualmente surgir no paciente reações depreciadoras ou agressivas e até mesmo episódios psicóticos. Tais reações, que inicialmente interpretávamos como sinal de insucesso, hoje encaramos como medidas distanciadoras, que visam restabelecer a autonomia do paciente para poder lidar com o intenso desejo de estar próximo e de ser olhado, que se reavivou nesses seminários e foi satisfeito apenas por um curto período de tempo. Ultimamente, justamente em seguida a tais “pioras”, temos recebido com frequencia excelentes retornos de terapeutas relatando desenvolvimentos positivos depois de constelações familiares.

 

2. Elementos terapêuticos do trabalho com constelações familiares

2.1. Esclarecimento da solicitação

Um fator importante do seminário de constelações é o esclarecimento do que se deseja do terapeuta. Quanto mais concretamente forem formuladas as questões e os objetivos, tanto melhor se poderá decidir qual corte do sistema deverá ser representado ou levado em consideração. A ampla dispensa de uma anamnese detalhada e o enfoque dirigido para soluções e recursos choca-se, às vezes com resistências, justamente por parte de pacientes com longa história de tratamento, como se estes tivessem de “defender” seu status de doentes e justificar seus problemas. Contudo, se os pacientes com diagnósticos de psicose recebem nos seminários o mesmo tratamento como todos os demais, eles logo mostram, muitas vezes, incríveis habilidades sociais e geralmente se integram em problemas ao grupo.

2.2. A representação

O que se exige dos representantes nas constelações é que se desprendam em larga medida de suas histórias pessoais, que percebam “sem intenções” e comuniquem as reações corporais, sentimentos ou sensações que emergem nos lugares que ocupam

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como representantes. Esta exigência de deixar “de fora” a própria história e as hipóteses de uma psicologia corriqueira (por exemplo, „Aquela pessoa está longe de mim - com ela não devo ter muito a ver), e de se entregar sem reservas ao que se sente, oferece a cada participante um exercício de percepção que no decurso do seminário vai sendo cada vez melhor dominado. Tem-nos surpreendido, repetidas vezes, a maneira diferenciada e sensível que exibem, como representantes, pacientes que antes apresentavam um comportamento psicótico. Alguns ainda precisam de uma ajuda inicial, tanto para entrarem num papel quanto para se “despedirem” dele, mas muitos vão apreciando cada vez mais a possibilidade de vivenciar papéis e lugares totalmente diferentes nas famílias. Numa constelação é possível perceber onde esses pacientes frequentemente encontram problemas: em viver relações intensas e em seguida voltar a si mesmos (quando, depois de uma constelação, abandonam os papéis que representavam).

2.3. A vivência da imagem

Através do método de posicionar membros da família, com a ajuda de representantes, manifesta-se um aspecto vivencial que, à exceção do trabalho com esculturas familiares, raramente aparece em outras abordagens terapêuticas: a experiência subjetiva direta, realizada simultaneamente em muitos canais sensórios, envolvendo o lado fisiológico, o expressivo-motor, o emocional e então também o cognitivo. Através dessa experiência direta que envolve o corpo e os sentidos, as imagens consteladas têm muitas vezes fortes efeitos emocionais e com isto podem ser revividas e trabalhadas. O que se procura, em termos de imagem sensível, é um lugar melhor para o protagonista. As mudanças nas sensações corporais e nas emoções dos representantes e do próprio cliente servem de instrumentos para validar a solução. Na imagem da solução ganham um lugar informações e pessoas até então excluídas. Quando o processo da constelação, com a imagem da solução, é significativo para o cliente, ele ativa novas formas de ver e de proceder em constelações familiares até então experimentadas como problemáticas. Como num rito de passagem, os passos individuais (as imagens intermediárias) são condensados numa experiência que se pode apreender e compreender.[9]

3. Experiências já resultantes do trabalho de constelações com pessoas com diagnóstico de psicose

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Em contraposição às teorias e procedimentos de abordagens terapêuticas estabelecidas, exaustivamente formuladas e diferenciadas através de decênios, o trabalho com constelações, especialmente com pacientes de psicoses, só apresenta algumas experiências iniciais.[10] Essas experiências indicam que determinados padrões de relacionamento e determinadas dinâmicas sistêmicas aparecem mais frequentemente em sistemas com pacientes de psicose do que em outros sistemas. Isto não implica em afirmar que esses padrões estejam condicionando o aparecimento de psicoses. Entretanto, podemos verificar que processo de trazê-los à luz e resolvê-los através das constelações frequentemente influencia positivamente e de forma duradoura o comportamento dos envolvidos.

Descrevemos a seguir algumas dessas características e dinâmicas de relacionamento em pacientes com diagnoses de formas esquizofrênicas, inclusive alguns exemplos de casos. 

3.1. Fragilidade na diferenciação entre o „eu“ e os „outros“.

Nestas constelações, com mais frequência e de modo mais drástico do que em outras, os representantes expressam percepções que, num sentido mais amplo, se relacionam ao tema da „diferenciação entre si mesmo e outras pessoas no sistema“. Os representantes se confundem com outros, sentem-se enredados e ligados como se fossem siameses e carecem de um espaço próprio perceptível; ou então se sentem colocados inteiramente diante do sistema ou para fora dele. Exprimem-se com marcada ambivalência, oscilam entre sentimentos de estarem fundidos, amarrados e obrigados, desejando ter autonomia e espaço livre, ou então se apresentam desorientados, desesperados ou mudos. Estas manifestações de participantes „ingênuos“ do curso em posições de representantes correspondem às descrições da dinâmica psíquica nas abordagens da terapia individual.[11] Nas constelações pode-se mostrar com frequencia que esses estados psíquicos perturbadores, opacos e quase insuportavelmente contraditórios possuem o seu equivalente em acontecimentos e processos relacionais obscuros, traumáticos e cercados de segredos do sistema familiar, em que os interessados estão implicados de forma muitas vezes inconsciente. Trata-se aí de dinâmicas que atuam através de gerações. Nas constelações, o comportamento psicótico se manifesta como um esforço ativo para dominar inconciliáveis tensões e oposições, de caráter interpessoal e intrapsíquico.

3.2. Ligação profunda e identificação

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Denominamos „identificada“ uma pessoa que, de modo inconsciente, está implicada com aspectos de um ou de vários membros da família e tenta imitar ou superar aspectos da vida dele(s). Segundo nossa experiência, tais identificações surgem principalmente quando membros do sistema tiveram um destino especial, ou quando não são respeitados ou foram excluídos. Membros que se seguem no sistema familiar caem então em contextos de relacionamento em que muitas vezes, de forma inconsciente, repetem aspectos do destino dessa(s) pessoa(s) ou sentem a necessidade de resolver algo em seu lugar. Em famílias com formações sintomáticas esquizofrênicas, encontramos frequentemene formas especiais de identificação que descrevemos a seguir.

3.2.1. Identificação transsexual

Exemplo 1:

A mais velha de duas filhas desenvolvera um comportamento psicótico ao terminar seus estudos superiores. Apaixonara-se por um de seus professores, mas também não estava certa de que ela própria não fosse um homem, e durante semanas apresentou-se em suas aulas com trajes masculinos. Jamais conseguira trabalhar em sua profissão. Na constelação, sua representante se postou ao lado da mãe e o pai afirmou que não tinha nada a ver com aquilo. Através de perguntas apurou-se que a mãe tivera um noivo e que o casamento fora impedido pelas injunções da guerra. Durante toda a sua vida, ela rejeitara seu marido, desvalorizando-o em presença das filhas e também idealizando o noivo por sua melhor instrução. A cliente tinha cursara a mesma disciplina do antigo noivo da mãe e, como ela própria dizia, tomara o lugar dele junto da mãe.

Ela se sentiu liberada quando o noivo foi introduzido na constelação e quando ela disse, tanto a ele quanto à sua mãe, que nada tinha a ver com ele e que só queria viver a própria vida e aceitar-se plenamente como mulher. Em seguida colocou-se junto do pai e disse-lhe que ele era o responsável pela mãe.

Exemplo 2:

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Um paciente, que vinha sendo diagnosticado como doente psíquico crônico e que fora criado num círculo de muitas mulheres, após um seminário assumiu-se abertamente como homossexual. A partir daí passou a mostrar sintomas bem mais raramente, completou com acompanhamento terapêutico uma exigente formação e há dois anos exerce sua profissão.

3.2.2. Identificações duplas

Particularmente pesada é a identificação simultânea com dois excluídos. Uma forma especial dela é a identificação simultanea com vítima(s) e autor(es).

Um exemplo:

Uma participante de um seminário, de cerca de 50 anos, com uma carreira psiquiátrica de muitos anos, tinha um pai de mãe solteira, que entrou na policia especial nazista e mais tarde foi vigia num campo de concentração. Através de perguntas, apurou-se durante a constelação que o pai dele era judeu e que nada se sabia sobre seu destino. Com isto a paciente passou a compreender melhor seus sintomas, que já duravam anos, de ser simultaneamente simultaneamente perseguida e perseguidora.[12] Essa dinâmica foi por nós encontrada diversas vezes, por exemplo, nos chamados doentes mentais transgressores. Seja frisado, neste contexto, que com muita frequência tomamos à letra conteúdos de manias, que se revelam carregados de sentido. Se alguém se sente perseguido ou envenenado, perguntamos: quem na família foi perseguido ou envenenado? Ou, se alguém sente compulsão de lavar-se, perguntamos: quem na família precisava lavar-se? Não dispomos aqui do espaço necessário para entrar mais fundo nesta matéria. 

3.3. Segredos e tabus

Em constelações de pacientes de psicoses pudemos verificar repetidas vezes que provocavam perturbação nesses pacientes relacionamentos confusos e mal definidos, como paternidade obscura, adoções mantidas em segredo, ocultação de um irmão gêmeo que morreu no parto ou durante a gravidez,[13] causas de morte obscuras ou ocultadas (por exemplo, um suicídio apresentado como um acidente). Devido a sentimentos de lealdade, os pacientes frequentemente não se atrevem a comunicar as

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incertezas que experimentam, fazer perguntas sobre elas ou investigá-las.

3.4. Sequelas de culpa e de violência na família

Em famílias onde há psicoses parece também haver um número bem maior de segredos de família e de tabus relacionados com atos de violência, crimes e injustiças de que participaram, como autores ou como vítimas, membros da famía (geralmente de gerações precedentes). A culpa cometida ou experimentada geralmente não era encarada nem exteriorizada.

Ilustro com um exemplo de um seminário de constelações familiares:

Um homem de 33 anos, após uma grave tentativa de suicídio, procurou-me para uma terapia. Contou que nos últimos meses, quando estava se separando de sua namorada, retraiu-se de todo contato social e desenvolveu fantasias de perseguido e de perseguidor. Finalmente abriu a própria veia jugular e só foi salvo devido a circunstâncias felizes. Na época do início da terapia não mostrava sintomas psicóticos agudos, mas todos os sinais de uma grave crise de identidade e de autovalorização. Estava fortemente deprimido e padecia de sentimentos massivos de culpa, insuficiência e fracasso.Experimentava uma forte diminuição de seus impulsos e um retardamento motor, falava por monossílabos e estava grandemente limitado em sua expressão.Durante um ano de acompanhamento psicoterapêutico aconteceram vários episódios de crise e conversas em família com o pai e o irmão mais novo, que sempre exprimiam medo de uma recaída e pela vida dele. Ele se estabilizou, mas voltou a viver com os pais e cortou quase todo contato com o mundo exterior. Ele mesmo se queixava de falta de acesso emocional a si mesmo e à tentativa de suicídio, experimentava-se como se estivesse cortado de alguma coisa e não „sentisse“ mais a si mesmo.

Sua participação num seminário de constelações familiares tinha o objetivo principal de retomar contato com outros (interessados). No decurso do seminário ele constelou sua família de origem (os pais, ele próprio e um irmão mais novo). Os representantes de todos eles disseram que tinham pouco contato com os próprios sentimentos. Como o representante do pai, na constelação da família, se virou e olhava para fora, interrogamos o cliente sobre destinos ou acontecimentos especiais em sua família de origem. Apuramos que dois de seus irmãos tombaram na guerra e que seu avô voltara para casa ferido por um tiro na barriga. Fizemos com que o cliente incluísse na constelação os dois tios e o avô. Ele reverenciou cada um deles. Os representantes dos tios se sentiram olhados e honrados em seu destino, mas o representante do avô disse que não se devia reverenciá-lo pois cometera algo muito grave. Paralelamente já se tinham modificado antes os sentimentos dos demais representantes da família, de forma incomum e dramática. Todos eles se afastaram do representante do avô e mostravam

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um forte medo. Respondendo às perguntas, o cliente só pôde informar que o avô tinha sido um participante entusiasta da guerra. Experimentalmente foram então introduzidos representantes de vítimas da guerra, que se deitaram no chão. Sua presença provocou no representante do cliente uma veemente compaixão, enquanto o representante do avô permaneceu frio e distante. O representante do cliente se inclinou diante das vítimas, despediu-se também do avô, que fora colocado à parte da família, e deixou com ele a culpa. Em seguida foi colocado ao lado do pai.

Depois da constelação o cliente contou que da herança do pai ele tinha pedido para si a mochila de guerra (na ocasião, tinha sete anos). Essa mochila continha, entre outros objetos de uso, o livro de Hitler „Mein Kampf“ (Minha Luta) e uma velha pistola. Foi com essa arma que ele tentou suicidar-se e só recorreu à faca quando a pistola falhou. Foi profundamente tocante, para o cliente, sua vivência num grupo onde nem ele nem seu avô foram moralmente julgados, e no qual ele, de forma comovente, se dirigiu a seu pai e seu pai a ele. Por desejo próprio, ele terminou a terapia, depois umas cinco sessões adicionais, separadas por intervalos mais longos.

Dois anos depois, apareceu no consultório do terapeuta com um ramo de flores nas mãos. Relatou que tinha prestado com êxito seus exames finais como engenheiro, assumido um emprego e iniciado uma nova relação. Sentia que tinha „aterrissado bem na vida“. Disse que o seminário da constelação tinha sido a coisa mais difícil que conseguira na vida, e que fora incrivelmente importante para ele. 

3.5. Outros dilemas que pesam

Certas situações se tornam também insustentáveis para tais pacientes quando, além das implicações sistêmicas, se defrontam com vários dilemas de relacionamento. Podem estar colocados, por exemplo, entre duas pessoas relacionadas que estejam em conflito total entre si (por exemplo, seus pais ou a mãe e uma avó que também more em casa). Pode ser ainda que alguém tenha colocado para eles expectativas comportamento totalmente contraditórias e inconciliáveis, ou que várias pessoas ao mesmo tempo lhes tenham colocado expectativas diferentes e estressantes.[14]

Isto aconteceu, por exemplo, com uma paciente simultanemente identificada com agressora e vítima. Na constelação ela ficou em posição transversa entre a representante da mãe e a da avó paterna, que se odiavam mutuamente. Tais triangulações adicionais marcantes dessas crianças foram frequentemente encontradas por nós nas constelações. Suas soluções proporcionaram claros alívios adicionais. Quando os pais provinham de países diferentes ou pertenciam a diferentes comunidades religiosas, isto trazia aos filhos novos dilemas.

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4. Conclusão

Requer-se uma grande experiência terapêutica para se lidar cuidadosamente com as “informações” reveladas nas constelações, tomando-as, sim, a sério, não porém excessivamente à letra. Talvez mais do que em outros métodos, existe aqui, conforme a formação e a mentalidade do praticante, o perigo da simplificação, de uma abreviação sem seriedade e da manipulação. Além disto, cada família tem o direito de manter seus segredos. Pode ser útil que, depois de uma constelação, familiares acrescentem às percepções, até então tomadas como “loucas”, informações que esclareçam os acontecimentos já registrados. Quando, porém, aquilo que emerge nas constelações passa a ser considerado como a única verdade válida, a confusão e as manias apenas ficam piores. Em nossa apreciação, o trabalho da constelação familiar, com sua perspectiva sistêmica que abrange gerações e a utilização da representação espacial, é uma complementação e um prolongamento essencial do espectro terapêutico no tratamento de pessoas que exibem um comportamento psicótico. Nossas experiências apoiam as tentativas de pessoas versadas em assuntos psíquicos, no sentido de buscar um entendimento de seus sintomas aparentemente incompreensíveis como “mensagens do mundo interior”[15]. Nossa tendência é de interpretá-los, antes, como indicações de implicações sistêmicas até então não compreendidas.

Tradução: Newton Queiroz

Rio de Janeiro, julho 2002

Citações

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[1] Ver a respeito Weber (1993)

[2] ver Weber (1993); Hellinger (1994), (2001), Ulsamer (2001), Nelles (2002)

[3] ver Boszormenyi-Nagy e Spark (1972), Stierlin (1981) e no psicodrama de Moreno (Moreno 1959)

[4] ver Satir (1972), Scheflen (1972) , Duhl et al. (1973), Papp (1976)

[5] ver Berne (1972)

[6] Para conhecer o trabalho com rodadas, recomendamos a edição de vídeo “Wie Liebe gelingt”(Como o amor dá certo), Carl-Auer-Systeme Verlag, Heidelberg.

[7] Ver também Hildenbrand (2002)

[8] Ver Hellinger (1995)

[9] Ver Baxa (2001)

[10] Ver Langlotz (1999), Hellinger (2001), Ruppert (2002)

[11] Ver Mentzos (19 ).

[12] Ver também relatos sobre famílias alemãs onde familiares foram envolvidos em ações criminosas na época nazista, ou foram vítimas de crimes: Hellinger (1998 und 2001a), Ruppert (2002).

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[13] Ver também Mayer (1998)

[14] Ver também Simon et al. (1989) sobre dissociação sincrônica.

[15] Ver Stratenwerrth e Bock (1998)