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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DO RIO DE JANEIRO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – PGE MESTRADO EM GEOGRAFIA BÊZ, Marcelo, FIGUEIREDO, Lauro César. Algumas reflexões acerca da geografia socioambiental e comunidade. Geosul, Florianópolis, v.26, n.52, p 57-76, jul/dez. 2011. Jéssica Santos Prof. João Rua Ideia Central A ideia central do texto é pertinente a reflexões acerca dos pressupostos da chamada Geografia Socioambiental e do conceito de comunidade, enquanto uma corrente do pensamento geográfico que apresenta a relação homem e natureza de forma complexa e interconectada. Dessa forma, o texto nos leva a refletir sobre um mundo onde todos os seres são interdependentes, com tarefas enfrentadas por cada indivíduo, mas com as quais não se pode lidar individualmente, colocando que pensar a comunidade é pensar na própria Geografia Socioambiental, vez que os pressupostos desta abordagem partem do local em suas multidimensionalidades. Objetivos do autor Os autores têm como objetivo discutir os conceitos de Geografia Socioambiental e comunidade, apresentando seus principais avanços na área. Nesse sentido, propõem como ponto de partida uma visita à literatura produzida nos últimos anos. De modo geral, objetivam uma forma de pensar e perceber não só a Geografia, mas a própria vida, tentando ir além daquilo que salta aos olhos, no sentido de investigar não só os objetos, mas as suas relações e trocas, buscam analisar a Geografia Socioambiental e a comunidade. Estruturação do conteúdo O texto está dividido em Introdução; Pensando a Geografia Socioambiental; Comunidade e suas interrelações e Considerações finais. Em um primeiro momento os autores realizam uma abordagem dos pressupostos da Geografia Socioambiental, cujas reflexões ora são enfatizadas enquanto corrente do pensamento geográfico, ora como forma de se pensar e ver as coisas no/do mundo, numa perspectiva que possibilita refletir e agir, interrelacionando

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DO RIO DE JANEIROPROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA PGEMESTRADO EM GEOGRAFIABZ, Marcelo, FIGUEIREDO, Lauro Csar. Algumas reflexes acerca da geografia socioambiental e comunidade. Geosul, Florianpolis, v.26, n.52, p 57-76, jul/dez. 2011.Jssica Santos Prof. Joo Rua

Ideia CentralA ideia central do texto pertinente a reflexes acerca dos pressupostos da chamada Geografia Socioambiental e do conceito de comunidade, enquanto uma corrente do pensamento geogrfico que apresenta a relao homem e natureza de forma complexa e interconectada. Dessa forma, o texto nos leva a refletir sobre um mundo onde todos os seres so interdependentes, com tarefas enfrentadas por cada indivduo, mas com as quais no se pode lidar individualmente, colocando que pensar a comunidade pensar na prpria Geografia Socioambiental, vez que os pressupostos desta abordagem partem do local em suas multidimensionalidades.

Objetivos do autorOs autores tm como objetivo discutir os conceitos de Geografia Socioambiental e comunidade, apresentando seus principais avanos na rea. Nesse sentido, propem como ponto de partida uma visita literatura produzida nos ltimos anos. De modo geral, objetivam uma forma de pensar e perceber no s a Geografia, mas a prpria vida, tentando ir alm daquilo que salta aos olhos, no sentido de investigar no s os objetos, mas as suas relaes e trocas, buscam analisar a Geografia Socioambiental e a comunidade.

Estruturao do contedoO texto est dividido em Introduo; Pensando a Geografia Socioambiental; Comunidade e suas interrelaes e Consideraes finais. Em um primeiro momento os autores realizam uma abordagem dos pressupostos da Geografia Socioambiental, cujas reflexes ora so enfatizadas enquanto corrente do pensamento geogrfico, ora como forma de se pensar e ver as coisas no/do mundo, numa perspectiva que possibilita refletir e agir, interrelacionando sociedade e natureza, Geografia Fsica e Humana, homem e meio, dentre outras dicotomias. Em um segundo momento os autores procuram incluir as ideias que compem o conceito de comunidade, trazendo pensadores que abordam esta lgica segundo os aspectos socioambientais que a estruturam. Pensando a comunidade enquanto locus de formao e construo dos sujeitos no que se refere a questes como liberdade e segurana, ao mesmo tempo relacionais e excludentes, estruturao de saberes, relacionamentos interpessoais, conflitos, dentre outros processos subjetivos e ao mesmo tempo concretos.

Noes pessoais consideraesOs autores buscam uma compreenso da Geografia Socioambiental, partindo da ideia de que essa problemtica deixa de ser identificada apenas como ligada geografia fsica e passa a ser geogrfica, ou seja, mais abrangente e complexa. Procuram tambm trabalhar a Geografia Socioambiental na sua interrelao com a comunidade, abordando para tal o meio natural e social de forma indissocivel, em uma perspectiva conexa. interessante quando apontam que a insero da perspectiva humana (seja social, econmica, poltica e/ou cultural) na abordagem ambiental parece ter se transformado num desafio para toda uma gerao de estudiosos, intelectuais, cientistas e ambientalistas que esto cada vez mais engajados com essas discusses. Prova disso que h uma forte tendncia ao uso do termo socioambiental de forma mais ampla, de modo que se tornou difcil e insuficiente falar de meio ambiente somente a partir da perspectiva da natureza. O termo scio aparece, ento, conectado ao termo ambiental. Essa perspectiva mais ampla dialoga diretamente com a lgica do pensamento complexo, que paradoxalmente coloca-se como inimigo e aliado da ordem e da clareza. Coloca-se, portanto, uma lgica de saber e de pensar o espao em sua complexidade, alm de uma dialtica do mundo, tendo a tenso e a contradio como constantes, trilhando caminhos no lineares.Nesse contexto, os autores trazem a contribuio de Leff (2003) no que tange complexidade ambiental como uma nova racionalidade e um novo pensamento a respeito da produo do mundo embasado no conhecimento, na cincia, na tecnologia, na natureza, na tcnica e na cultura. Essa complexidade ambiental definida como um processo de reconstruo de identidades resultantes da hibridao entre o material e o simblico. Para alm disso, frisam que para trabalhar a comunidade em sua subjetividade, relaes e processos deve-se partir do lugar, necessitando que se conhea a histria e a espacialidade da mesma, procurando entender o que ali acontece. Desse modo, relatam a importncia de se trabalhar o lugar em sua totalidade, destacando a no neutralidade do lugar, pensando-o como construo repleta de histria e concretamente delimitada em um espao e em um tempo, ou seja, o lugar no pode ser compreendido isoladamente; o palco onde se sucedem os fenmenos, ator/autor, vez que oferece condies, pe limites e cria possibilidades.Dentro dessa noo de anlise da totalidade afirmam que no h como conceber o mundo de forma linear, estudando cada uma de suas partes separadamente para depois junt-las. Alertam tambm que no existem espaos iguais, pelo contrrio, h os espaos homogeneizados e homogeneizantes, os hierarquizados e os hierarquizantes, os que do ordens e os que as cumprem. Contudo, o mundo no pode ser compreendido apenas como a soma de suas partes, ele a totalidade, tem sentido em um raciocnio de interligaes particular-geral-particular. Exatamente devido a essa problemtica que preciso mobilizar todos os segmentos da sociedade, compreendendo que mobilizar pr em movimento; mobilizar-se pr-se em movimento, pr recursos em movimento, reunir suas foras, para fazer uso de si prprio como recurso. Para transformar mobilizao em ao deve-se considerar a relao dos sujeitos/moradores da comunidade com o saber, um conjunto de significados e de espao de atividades, tanto nos aspectos fsico-naturais quanto humanos, em seus sistemas complexos, embutidos de diferentes racionalidades, ordens de materialidade e escalas espao-temporais.Portanto, as questes socioambientais no devem, segundo os autores, serem tratadas exclusivamente pelas cincias; preciso que a populao afetada participe das aes e decises atravs do dilogo de saberes para transformar sua realidade. Valendo-se frisar que esses dilogos de saberes s podero ser compreendidos a partir da interdisciplinaridade, de modo que proporcionem um pensar sobre o mundo a partir de um pensar sobre si prprio; citam inclusive Freire (1981) na necessidade do ad-mirar, do mirar de dentro e voltar a mirar o todo ad-mirado, sendo um movimento de ir at o todo e voltar at suas partes. Os autores indicam ainda a necessidade de que os grupos de pessoas que atuam devam ser compostos de especialistas das mais diversas reas do conhecimento, completados por representantes da sociedade organizada e dirigentes polticos. Para isso frisam que fundamental que haja uma perspectiva de conscientizao, em que se ultrapasse a esfera espontnea de apreenso da realidade, buscando chegar a uma esfera crtica. Quanto mais conscientizao, mais se decifra a realidade. Destacam que esse processo de conscientizao e de mobilizao consiste em propor ao povo, por meio de certas contradies bsicas, sua situao existencial, concreta, presente, como problema que o desafia e que, por sua vez, lhe exige resposta, no apenas no nvel das ideias, mas no nvel da ao. No se trata, portanto, de apenas dissertar sobre a prtica e propor projetos que pouco ou nada tenham a ver com seus anseios, suas dvidas, suas esperanas, seus temores. Acreditam que preciso falar ao povo sobre a viso de mundo do cientista e faz-la dialogar com a sua viso, uma viso que se manifesta nas vrias formas de sua ao, reflete a sua situao no mundo, percebendo que entre eu e o mundo existe o outro. Essa citada viso do cientista deve contar ainda com a noo de comunidade enquanto indivduos que vivem em um lugar comum, compartilhando conflitos, em uma batalha diria pela sobrevivncia, criando e recriando saberes, valores, significados, relaes com este espao. Assim, a noo de comunidade tanto a de um lugar confortvel e aconchegante, como do lugar dos conflitos. a fraternidade, o perdo, a doao, a comunho, mas tambm a competio e o desprezo, as novas fronteiras, a ponto de por vezes comunidade evocar aquilo que se sente falta. Colocam-se, dessa forma, duas ideias de comunidade: a comunidade dos sonhos e a comunidade realmente existente, ou em outras palavras na individualidade de jure (real) e a tarefa de obter a individualidade de facto (imaginada). Uma evoca a segurana a outra o contrrio dela. Nessa dinmica, ocorre uma tentativa constante de manter os outros fora dos muros, longe, distante e ao mesmo tempo uma tentativa de buscar o aconchego, a segurana. Essa relao contraditria permeada, segundo os autores, por uma emoo bsica: o amor. Em sua presena configura-se uma convivncia harmnica, em sua falta desaparece a convivncia social, havendo uma relao dialtica entre amor e rejeio, provocando complexas interaes entre moradores e comunidade com rupturas e transformaes recprocas. A crise ambiental um exemplo disso uma vez que reflete uma despreocupao com as especificidades do local e das realidades ambientais. interessante a percepo de que frente indiferena para com o local, a comunidade acaba sendo procurada como abrigo contra as sucessivas correntezas de turbulncia global, sendo que estas correntezas so originadas em lugares distantes que nenhuma localidade pode controlar por si s.Os autores finalizam suas consideraes acerca da comunidade como um espao onde se busca a segurana, que nega e interage com a liberdade; onde ocorre a valorizao e o reconhecimento do outro como legtimo outro, onde as complexas e retroativas relaes homem e natureza acontecem, por vezes gerando aes, reaes, produtos e subprodutos; como uma reafirmao da identidade, na qual se vive e se est na comunidade; em suma, uma vida em comunho com o outro. Porm, o sentido de comunidade j no mais o mesmo, tanto no que se refere aos problemas socioambientais advindos das interrelaes entre pessoas e comunidade, quanto aos valores que j no so mais construdos nesta organizao social, como a segurana, o aconchego, a identidade individual e coletiva, a solidariedade, o respeito, a comunho, dentre outros.