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Z bezouro para ler no metrô #0 dezembro de 2010

Bezouro Nº 0

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Revistaura sobre arte e cultura...

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BEZOURO #001

a revista Bezouro é uma tentativa de abordar a cultura e a arte de forma mais ampla,, fugindo ao que se encontra nos manuais de turismo ou que costuma ser referendado pelas fontes oficiais. Trata-se de uma publicação para retratar e interagir com uma São Luís que teima em não se resumir ao oficialismo da cultura popular.

A intenção é fazer uma análise crítica da produção cultural local,incluindo tam-bém o contexto social em que ela se insere, falando de arte sem fechar o olho para o que está além.Esta publicação é resultado de um projeto de extensão do curso de Comunicação da Universidade Federal do Maranhão, habilitação jornalismo e seu conceito é de autoria dos alunos de jornalismo em colaboração com estudantes de outros cur-sos da UFMA. São futuros profissionais que acreditam e apostam em iniciativas inovadoras que fogem à realidade do mercado de revistas maranhenses nesta área.O número zero traz artes visuais, música, literatura, teatro, cinema, história, além de uma reportagem revelando o bairro do Desterro, onde o descaso do poder público pelo patrimônio convive com a prostituição.Todas as matérias seguem o critério de privilegiar trabalhos autorais e abor-dagens pouco comuns a respeito do que a cidade vive e respira. A linguagem também transita, em alguns casos, pelo jornalismo literário fugindo aos padrões habituais que se pratica em São Luís.Destaque para a diagramação e fotografias de Caroline Rêgo, designer gráfica e aluna do curso de Artes da UFMA.Em tudo e por todo esse esforço que resultou neste produto final espera-se que a Bezouro assegure sua periodicidade bimestral e se torne um espaço para muitos outros autores que queiram construir novas formas de se fazer jornalismo de revista.

O PDF poderá ser baixado no blog da revista (http://revistabezouro.blogspot.com/), incluindo um conteúdo exclusivo. Profa. Dra. Vera Lúcia Rolim Salles

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Capa: Eduardo Monteiro, baixista da banda Pedra Polida, fotografado duran-te o Mulambo Festival, por Caroline Rêgo.

REvista BEzouRo # 0dezembro de 2010http://revistabezouro.blogspot.com

univERsidadE FEdERal do MaRanhãowww.ufma.br

REitoR natalino salgado Filho

viCE-REitoR antônio José silva oliveira

ChEFE do dEPaRtaMEnto dE CoMuniCaÇão Francisco Gonçalves

CooRdEnadoR do CuRsoEsnel Fagundes

CooRdEnaÇão EditoRialProfa. vera lúcia Rolim salles

CooRdEnaÇão dE PRoduÇão Pablo habibe Figueiredo

EditoR ChEFEPablo habibe Figueiredo

ConsElho EditoRialProfa. vera lúcia Rolim sallesPablo habibe FigueiredoJonilson BruzzacaFábio sabino

MatÉRiasamy lorenPablo habibeleonardo Costaanissa ayala Rocha da silva CavalcanteRaíssa de souza oliveiraRicardo santosFábio sabino

PRoJEto GRÁFiCo Caroline Rêgo

FotoGRaFiasCaroline Rêgo

REvisão GRÁFiCaJonilson Bruzzaca

REvisãoProfa. vera lúcia Rolim sallesPablo habibe Figueiredo

ColaBoRadoREsMarlon silvafoto baterista da página 06 03

MULAMBOFESTIVAL

por Pablo Habibe

“de favor” já não é mais uma prisão.

convencer donos de bares e casas de show voltadas mais para estilos comer-cialmente estabelecidos como o reggae a ceder um espaço para seus eventos _ não raro em dias da semana considera-dos “mortos” _ ainda existe, tão produti-va quanto um casamento infeliz pode ser, mas divide espaço com iniciativas mais organizadas.Produtores (basarone e casanova) que tem apostado nas bandas locais enquanto atra-ções lucrativas têm assumido uma parte do trabalho que está simplesmente além das possibilidades de músicos diletantes. Ainda não se vive de rock, mas o vexame de tocar

Para além de atrações internacionais, o panorama da produção de shows de rock em São Luís parece estar engatinhando para fora do amadorismo. O que antes era um jogo de empurra entre donos de bares e bandas, no que se refere à divulgação e organização, cede lugar a uma cooperação, ainda que vacilante.De positivo, vemos que surgiram intermediários interessados no produto. O modus operandi de bandas ten-tando

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o festival

Foi um processo em construção. o que deveria ser apenas o show de um grupo

pernambucano (Mombojó) transformou-se, com a adesão de bandas locais, em um

o loCal o Circo nelson Brito (“Circo da Cidade”) tem

vantagens ainda insuperáveis para a realização de eventos de pequeno e médio porte. trata-se de um local com estacionamento e vizinho

ao terminal de integração da Praia Grande, tem banheiros passáveis e pode ser esvazia-

do rapidamente em caso de necessidade. a organização escolheu bem, mas a polÍ-cia não se fez presente o suficiente para

coibir a ação dos “flanelinhas”, que continuam transformando todos os mo-

toristas de são luís em reféns, inde-pendentemente de hora ou local.

a divulgaçãoFora os tradicionalmente inócuos spots de rádio e tv, a divul-

gação se fez majoritariamente boca a boca e pela internet, ex-plorando canais de comunicação já estabelecidos pelas ban-das _ que, até onde sabemos, sugeriram promover o evento

como um festival e ajudaram na venda dos ingressos. Podemos destacar o blog criado pelos

grupos locais apenas para o festival (http://mulambofestival.wordpress.com), disponibilizan-

do vídeos e entrevistas no meio já consagrado como principal veículo para divulgação de cultura

independente em são luís.o potencial local para a produção de peças publici-tárias poderia ter sido bem melhor aproveitado se

acionado com mais antecedência. Fica a dica.

festival. Eventos recentes como o show de lançamento do Cd da Ga-

ribaldo e o Resto do Mundo e os números da audiência de bandas

como Pedra Polida e, principalmente, da nova Bossa em sites como myspa-

ce e youtube indicam que elas mais ajudaram do que pegaram carona. as bandas, aliás, tomaram a fren-

te várias vezes, trazendo auxiliares próprios para iluminação, passagem de som e indicando fornecedores de equipamento, além de se preocupa-

rem com o registro em fotos, áudio e vídeo de suas apresentações.

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MEGazinEsCostuma ter apresentações enérgicas, um peso pop com

solos de guitarra. uma banda com um set list tão orga-nizado e até, as vezes, um pouco longo (não foi o caso

no festival), também fica devendo um disco pronto.

FaRol vERMElhoalterna covers do Barão vermelho e músicas auto-

rais. tem uma pegada rock com pitadas de blues e soa um pouco punk. Quem dá a cara para bater

com suas próprias músicas merece crédito, mas é preciso fazer a aposta e mergulhar sem salva-

vidas, só falta tirar a última rodinha da bicicleta.

vEntuRauma banda cover do los hermanos...

O EVENTOno dia do show, 27 de novembro de 2010, a passagem de som, marcada para as 13:00, só começou com três horas e meia de atraso (afinal, estamos em são luís). também

houve hesitação a respeito de se colocar uma ou duas baterias no palco, visto que o Mombojó iria usar um set

de equipamentos a parte. Ficou só uma.o show em si foi pontual e a Pedra Polida deu os pri-

meiros acordes às 20:30 (uma surpresa, afinal, estamos em são luís). Fora alguns problemas com o volume

dos microfones no início da apresentação da nova Bossa, tudo correu sem maiores transtornos até a

apresentação da banda pernambucana.o problema é que eles demoraram muito para se

apresentar, e o público chegou a se aglomerar perto do palco só para descobrir que estavam vendo uma

arrumação dos roadies e algumas mensagens dos patrocinadores. durante a espera a organização pa-rece ter entrado num transe “estereóptico” e tocou

uma seqüencia de reggaes, algo incompatível com o evento (afinal, estamos em são luís).

destaque para a “invasão” de palco perpetra-da por integrantes das outras bandas durante a

apresentação da Farol vermelho. viu-se, pelo menos, uma briga na platéia, do lado de fora da

tenda, sem qualquer intervenção dos seguranças (que só encontramos ao sermos revistados na

entrada).o saldo é positivo, mas ainda é preciso melhorar...

as Bandasa escolha das bandas foi feliz em privilegiar as que militam com

trabalhos autorais. a maioria tem músicas e vídeos disponíveis na internet e discos em produção, sendo que a Garibaldo

lançou o seu primeiro Cd recentemente.vemos com bons olhos não só o fato de esta geração estar au-

mentando geometricamente a aposta em suas próprias com-posições, mas também pela quebra da barreira das referências

obrigatórias à “cultura popular” (que hoje incluem o reggae). os grilhões do regionalismo não foram quebrados, simples-

mente deixaram de fazer sentido.

PEdRa PolidaProvavelmente a banda mais antiga em formação e tempo

de existência no Mulambo. a Pedra, já com quatro anos, está devendo um Cd (está quase pronto), mas é uma das que mais

ajudaram na formação da cena atual de são luís. são cronis-tas da cidade e de sua geração soando pop, country e punk.

Causticamente engraçados normalmente, são suaves quando querem e sádicos quando retratam nosso contexto.

GaRiBaldo E o REsto do Mundo

Única que já está com o Cd na praça. Paulo henrique (o Garibal-do) fez o disco sozinho com o produtor (adnon soares, da Casa-louCa) e montou a banda a partir daí. são bons músicos e soam

um pouco mais pesados que o disco, vale fazer a comparação. os slides da guitarra de Pedro dão o clima das músicas.

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zeca

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Entre a passagem de som com banda e a dos outros

cantores que participaram do show de 5 de novembro de 2010, a Bezouro entrevistou o cantor e compositor mara-nhense Zeca Baleiro. Na pau-ta, sua incursão literária com a compilação dos textos do seu blog no livro “Bala na Agu-lha”. Para além da sua entrada no mundo literário, Zeca tam-bém chega a uma nova fase da carreira agora com o selo de gravação próprio.

Responde por Bala na Agulha _ refle-xões de buteco, pastéis de memória e outras frituras..., fala do Maranhão e outras amenidades.

baLeiropor Amy Loren

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Bezouro: o seu último álbum inaugura uma nova fase da sua carreira por ser lançado com selo próprio. Para você, o que muda com isso?

zeca: a princípio está trazendo muito trabalho, porque do-brou o trabalho. além de ser o criador, o cantor, o divulga-dor, eu também sou o empresário. Eu tenho que dar conta das contas, das coisas todas. Mas eu sempre gostei também desse outro lado, de ter um certo controle da própria carrei-ra. Quando você trabalha com grandes gravadoras, você temum conforto de jogar na mão deles e só aparecer lá bonitinho e penteado. E quando você faz isso, você fica mais inteirado das coisas, do esquema que há por trás da distribuição, da divulgação, da promoção do trabalho. Eu já fazia isso, meio assim, de fora porque eu produzia pelo meu selo discos de outros artistas. Mas agora é a primeira experiência com o meu próprio trabalho. tem sido um aprendizado e tanto. Eu acho importante o artista tomar as rédeas e parar com essa postura romântica de que “ah, eu sou artista e só artista”, entende? o mundo não com-porta esse tipo de postura, embora o cara seja genial. Eu acho importante o artista tomar as rédeas da sua carreira.

Bezouro: o livro fala sobre “filosofias de buteco”. Como surgiram estes textos? foram realmente na mesa de bar com os amigos?

zeca: não foi exatamente na mesa de bar, embora eventu-almente alguma possa ter surgido na mesa de bar. Mas é um tipo de discussão e de abordagem que eu faço que po-deria ter nascido na mesa de bar. Por isso que eu chamei de reflexões de buteco. são aquelas conversinhas, debates, polêmicas que nem sempre ou quase nunca chegam a uma conclusão, mas que servem para apimentar a rodada de chopps, aquela conversa boa de bar entre amigos. Eu tento estabelecer com o leitor essa cumplicidade, como se fôsse-mos amigos conversando numa situação descontraída, em-bora alguns assuntos lá sejam bastante sérios.

Bezouro: a música teve que ceder espaço para o livro ou a literatura é algo que você sempre fez e só mostrou agora?

zeca: Bom, na verdade a escrita não é uma coisa tão estranha ao universo do compositor porque a canção é também uma obra lí-tero-musical, ou seja, metade literatura, metade música (se você considerar que letra de música é também poesia). Então, a palavra não é uma coisa totalmente estranha ao meu mundo. assim, é ób-vio que escrever em prosa, textos opinativos, reflexivos, então isso não é uma coisa nova para mim. Mas desde 2005 eu venho fazendo isso no meu site regularmente. Esse livro é uma coletânea desses textos. no meio do caminho fui convidado também para revista isto É, virei colunista mensal. isso também me deu mais disciplina, mais cancha para escrever com mais freqüência, mais profissionalmente falando. Mas eu sempre gostei de escrever, só que eu não tinha exposto isso. a literatura não roubou um espaço da canção porque são textos que eu escrevo na espera de aeroportos de passagem de som, de avião atrasado, hotéis, essas coisas todas. a vida do músi-co é muito feita de espera, então se nesses intervalos tem alguma idéia pululando na cabeça, eu vou lá e escrevo. Eu consigo ter uma disciplina interna razoável para equilibrar os dois.

Bezouro: Quais foram as maiores dificuldades enfrentadas para chegar ao reconhecimento que você tem hoje? o que está diferente das condições de quando você começou a carreira? as dificuldades são as mesmas?

zeca: os anos passam e as dificuldades de um músico permanecem praticamente as mesmas. hoje o que se tem a favor e contra é o mercado, e muito a favor são as novas tecnologias. no meu tempo de iniciante era uma dificuldade para gravar um Cd. Eram pouquíssimos estúdios de gravação que tinha na cidade. tinha um que era do finado Maestro nonato, que foi um cara pioneiro. Mas quando o cara queria um disco, uma coisa mais re-buscada, tinha que ir para Belém, Recife, e os centros mais movimentados eram são Paulo e Rio. Era tudo muito precário mesmo. E mesmo lá para são Paulo era muito difícil ter acesso a um estúdio profissional, poder pagar músicos e tudo mais. isso tudo simplificou muito com o grande advento da tecnologia de áudio, produtos, vários softwares e tal. simplificou e hoje no quintal da casa, no quartinho de casa o cara pode fazer um grande disco, como fez lobão, que eu participei e foi vendido em lojas de disco. Ele foi feito na dependência de empregada do produtor, lá em laranjeiras, no Rio. Então isso mudou muito, facilitou, criou um acesso maior para as pessoas, democratizou. Mas as dificuldades estão no negócio. É muito difícil você erguer a cabeça acima da manada e ganhar uma distinção, um destaque. Primeiro porque tem muita gente produzindo coisas boas, e isso também foi uma coisa que a tecnologia contribuiu. as pessoas produzem melhor as coisas. antigamente, às vezes, o cara tinha umas músicas lindas e na hora de produzir, de levar para o disco, aquilo ali ficava tão “xôxo”, tão sem vida que não atraía a atenção de ninguém. hoje em dia as pessoas produzem melhor com todas essas coisas que vão simplificando. Por outro lado, não tem mais o grande suporte das gravadoras, não tem mais acesso às rádios, que eu acho uma coisa fundamental para a música ser propagada. Eu devo muito ao rádio. Minhas músicas tocaram muito, e ainda tocam um pouco menos do que antes, mas ainda tocam no rádio. isso eu acho que é o maior caminho para a propagação da música popular. infelizmente o rádio hoje é o que a gente sabe, um meio nada democrático. Enfim, mas as dificuldades são as mesmas, basicamente.

Bezouro: Quanto ao título do livro, conta para gente como foi feita a escolha do

nome “Bala na agulha”?

zeca: Bala na agulha é o nome da sessão que eu criei no site em 2005 para escoar esses

textos. É uma alusão meio óbvia ao meu nome, zeca Baleiro. a minha empresa se

chama Ponto de Bala Produções, e isso tudo é meio relacionado. Então como já era uma sessão conhecida, eu não quis mexer nisso.

só acrescentei o subtítulo: reflexões de bute-co, pastéis de memória e outras frituras, que explica um pouco mais o que é o livro. Essas tais reflexões, um pouco da verdade das mi-

nhas memórias, da minha infância, da minha adolescência, que eu passei no Maranhão, parte em arari, cidade onde eu vivi minha

primeira infância na casa dos meus pais, e a outra parte é em são luís.

Bezouro: No livro, assim como nas suas composições, está refletido o retrato do que você pensa? existe alguma preten-são em disseminar um pensamento com o seu trabalho?

zeca: acho que sim. afinal, eu não sou só um animador de auditório, embora eu ache im-portante essa faceta da música dançante que alegra a vida das pessoas, que leva luminosi-dade. Eu acho isso bacana. Mas eu não que-ro ser só um animador de platéia, eu quero, óbvio, disseminar meu pensamento entre as pessoas e se possível encontrar eco. Eu acho que o artista deveria ser, pelo menos, um pen-sador do seu tempo, da sua época, da sua so-ciedade. Eu acho que é um papel natural que o artista desempenha. lógico, tem um tipo de artista que é voltado somente para o entre-tenimento, só para essa alegria, essa anima-ção e tal, e que eu não desprezo. Eu respeito e admiro. Mas eu acho que o meu trabalho e o lugar em que quero me inserir é esse, de um cara que além de fazer isso, também pode fazer as pessoas se mobilizarem e refletirem sobre a vida.

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Bezouro: o estado deve ter algum papel enquanto mecenas? Quem deve decidir que obras merecem apoio e visibilidade?

zeca: Eu acho que em um estado como o nosso não tem saída, tem mesmo que patrocinar. o que também gera alguns vícios, porque tem essa coisa do clientelismo, aquela coisa do cara que vai sema-nalmente ali e debruça o cotovelo no balcão da secretaria de cultu-ra e fica esperando verba. não sabe fazer nada, nenhuma canção se não tiver uma verba. Esse é o lado ruim. Mas em um estado como o Maranhão, ainda com o processo cultural e mercadológico num estágio ainda tão primitivo, digamos assim, eu acho que é inevi-tável, é imprescindível mesmo que o estado patrocine. Patrocínio esse que, também, dificilmente será justo, porque sempre vão ser beneficiados alguns e outros não. É impossível ser justo com todos. Mas eu acho que é um primeiro passo. Quando o Joãozinho Ribeiro, que é compositor, amigo, parceiro, poeta, foi secretário de cultura, ele tentou. teve o seu mandato interrompido por razões políticas, mas ele fez uma coisa bacana, que foi criar mandatos de toda sorte para abrir concorrência, como deve ser um processo democrático. infelizmente, nem todo mundo pode ser contemplado, porque há uma infinidade de gente produzindo. Mas eu acho que é um primei-ro passo. E a atitude do povo eu acho que tem que ser transforma-da, talvez através de campanhas. algo tem que ser feito. uma coisa que eu sempre me preocupava quando morava aqui, e ainda me preocupo é com a formação de platéia. são luís já fez parte de um circuito de shows interessantes. Eu mesmo quando estudava aqui gazeava aula e ia ver shows de tanta gente bacana que eu vi, como no projeto Pixinguinha, nos anos 80. Então já fez parte de um circui-to que hoje não faz mais. hoje tem um monopólio do axé, do pago-de. nada contra nenhum gênero específico, mas quando um mono-pólio muito grande, monocultura, o povo vai se desacostumando dos outros tipos de música, o que não é saudável. tem muita coisa a ser feita pelos artistas, pelas autoridades e também pelo povo.

Bezouro: Com a cultura popular e os artistas locais engajados como estão pelas verbas estatais aqui no

Maranhão, você acha que a saída para a independência artística local ainda é o aeroporto?

zeca: Eu espero que não. Para mim não foi doloroso sair porque eu não saí daqui para nada. Eu saí porque eu

queria sair, eu queria conhecer outras cidades, outras pessoas, outros lugares, outros modos de fazer arte,

inclusive. Eu não saí só porque “não tinha saída além do aeroporto”. E eu acho que nem todo mundo tem essa estrutura. tem gente que tem um apego com a

terra, com a família e que não gosta, nem tem estrutura emocional para sair. Então, eu acho que é uma violência

para essas pessoas terem que sair para fazer a sua vida, o seu caminho. seria muito bom se as pessoas

pudessem permanecer no seu lugar de origem e ain-da assim produzir e conseguir fazer uns trabalhos que

se sustentem. isso seria bacana, mas por enquanto, isso no Maranhão é um sonho, uma utopia, uma coisa

distante de se realizar. há cidades que já são um pouco mais auto-suficientes. salvador, Recife, Belém, Fortale-za... Essas cidades maiores, mais ricas e culturalmente mais avançadas – não no sentido de produção, mas de ter mercado para escoar essa produção. Culturalmen-te, são luís é uma sombra. o Maranhão é um estado

riquíssimo, que eu ponho entre os mais ricos, interes-santes e peculiares. isso, não por eu ser maranhense,

mas porque eu enxergo isso. Mas ainda vai levar muito tempo para que a gente consiga. É uma coisa de edu-cação mesmo, de educação do povo, de formação de platéia. É um processo lento e a gente mal começou.

Bezouro: você que já saiu do Maranhão e volta sempre, como vê a situação do estado considera-do o mais pobre do país, baixos índices de idh, etc.?

zeca: isso é uma coisa que transborda da música, da cultura e vai para um assunto que é política. É um assunto do qual eu nem gosto de falar porque me desagrada muito. É uma tristeza que o Ma-ranhão seja o segundo estado mais miserável do país, perdendo apenas para alagoas. não à toa, esses estados são dominados por “senhores feudais”. isso é uma triste realidade que a gente tem aqui, e que, pelo jeito, se eternizará. Eu fico triste por ser um maranhense, sabendo o potencial que o estado tem, não só cultural, mas econômico. a culi-nária maranhense, por exemplo, é uma das mais belas e ricas do país. tem tanta riqueza natural ainda, tanto verde, tanta terra que é injustificável essa pobreza que a gente vê, especialmente no interior. Eu viajo muito. sempre que venho faço viagens, nas férias inclusive. vou a minha cidade, arari, vou a Pedreiras, e vejo um quadro de miséria muito assustador que não era para ter. Então, isso tem a ver com a má gestão, com a usura mesmo dos políticos. nossos políticos são uma vergonha, isso é fato. aliás, os políticos brasileiros são uma vergonha, né? E quanto mais no recanto do país, no Brasil profundo, pior isso fica. Eu já confio mais na sociedade civil, confio mais que as pessoas individu-almente possam fazer transformações profundas do que pelas vias da política.

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Bezouro: no seu último álbum, você desfila por canções que vão de Cartola a Camisa de vênus, e de assis valente a Foo Fighters.

Por que?

zeca: [risos] Esse disco, a princípio, era um disco de releituras. Era um disco em que eu ia cantar outros compositores que de alguma forma tiveram ou tinham alguma importância na minha história, ou lá atrás, ou mais recentemente. E com o tempo ele foi se transfor-mando, foi virando um Cd metade de releituras, metade de músicas autorais que eu compus e acabei fazendo um mix. Mas ele, a priori, é um disco de releituras. Foi feito com músicas que eu gostava de cantar, e que, talvez num disco de carreira, produzido no estúdio, isso ficasse uma grande barafunda. Mas num disco ao vivo, com uma sonoridade muito específica, só de violões, eu achei que ficou tudo uniforme, ficou coerente. Eu aproveitei também para escoar esse projeto para livrar minha alma para os próximos trabalhos.

Bezouro: Quais foram suas maiores influências inte-lectuais?

zeca: Eu fiz faculdade de agronomia na uEMa e jor-nalismo na uFMa. não me formei em nenhuma, mas me relacionei com muita gente. Às vezes pes-soas mais velhas, com mais informações que foram passando livros e discos. Foi tudo muito errático, muito sinuoso. não tenho uma formação acadêmi-ca, escolar ou universitária de fato, do ciclo formal. Eu fui aprendendo com a vida, pegando coisas que me interessavam, lendo bastante. Eu sempre gostei de ler, por culpa do meu pai, que era um cara que quase impunha para gente ler, e hoje eu agradeço. E é isso, foi uma formação autodidata, portanto, toda cheia de acidentes, cheia de improvisos.

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ss por Leonardo Costa

TENASSão Luís e a crise da cultura de leitura

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Enredada à sombra de um ufanismo intelectual, a “Hélade” dos trópicos, cuja herança fran-cesa lhe deu o nome de batismo, não é mais que uma fotografia em preto e branco, cultuada por sucessivas gerações. Abraçada a uma saga quixotesca, São Luís acorrentou-se às raízes da tradição oitocentista da “Atenas Maranhense”, enquanto a presente vida cultural desfalece. A ausência de projetos educacionais mais audaciosos, somada aos exorbitantes preços do mercado editorial e à falta de incentivos governamentais contribuem para a quase inexistência de uma cultura livresca na capital.

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O problema, no entanto, não está restrito às variantes locais, sobretudo no que diz respeito ao baixo índice de leitores. Dados da última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada em, 2007, pelo Insti-tuto Pró-Livro (IPL), apontaram que 4,7 livros são lidos, em média, por pessoa durante um ano, dos quais 3,4 são indicações obrigatórias de escolas ou universidades. Em termos regionais, o Norte (3,9 livros per capita/ano) e o Nordeste (4,2 livros per capita/ano) ocupam as últimas posições. No caso de São Luís, o estudante e livreiro José Lorêdo Filho acrescenta: “Aliado ao fenômeno nacional da aversão ao hábito de ler, existe uma grande dificuldade para a circulação de determinadas obras, principalmente os clássicos”.

Outra queixa recorrente são os altos preços dos livros, explicados, em parte, pelos impostos que recaem sobre o papel, sua matéria-prima, e pela produção a partir de pequenas tiragens, o que eleva o preço unitá-rio do produto. Não bastassem esses fatores, a internet também passou a ser uma grande concorrente das livrarias ludovicenses, porque as editoras acabam oferecendo o mesmo desconto a quem faz encomendas virtuais. “Devido à quantidade cada vez mais rara de leitores, não se pode estocar livros sob pena de sair fi-nanceiramente prejudicado. Trabalha-se, agora, com a consignação: o que não for vendido, a livraria devol-ve para a editora”, afirma Marlene dos Santos, funcionária de um dos mais importantes estabelecimentos desse gênero na cidade. Perguntada sobre os motivos da discrepância entre as instalações das livrarias de São Luís e as das demais localidades, quase sempre dotadas de cibercafés e outras comodidades para os clientes, Marlene é taxativa: “Aqui se lê muito pouco. Seria um investimento alto e sem possibilidade de retorno”.

Poucas são as iniciativas das esferas de poder com vistas à promoção da leitura. A exceção fica por conta da Feira do Livro, que tem a organização da Fundação Municipal de Cultura (Func) e acontece anualmente na Praça Maria Aragão, congregando escritores, artistas, vendedores e a população. Embora a circulação do público seja um dado considerável (na edição de 2010, foram 220 mil pessoas), o evento parece não receber o tratamento merecido. “Não há nenhum respeito com os livreiros: estamos dentro de um ambiente quente, sujo e empoeirado. Isso demonstra que a Feira do Livro não é de interesse dos governantes e só acontece por força de uma lei municipal”, desabafa Silvia Diniz, responsável por um dos stands armados no Espaço Cultural, antigo galpão situado na Avenida Beira-Mar.A perda do prestígio cultural de uma capital que já possuiu os melhores grêmios literários do país não está ligada somente aos espaços reservados à comercialização do livro. Na verdade, não há uma política articulada de publicação e editoração das obras, restando apenas atitudes isoladas de algumas instituições, a exemplo do Fundação de Amparo a Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tec-nológico do Maranhão (FAPEMA) e da Academia Maranhense de Letras (AML). “Na maioria das vezes, existem bons escritores querendo publicar livro e tendo que arcar do próprio bolso, inclusive recorrendo a empréstimos bancários, ou correndo atrás de patrocínios, freqüentemente negados”, assevera o editor Claunísio Carvalho.

A concretização de uma realidade promissora, no tocante à formação de um número significativo e influente de leitores, dependerá enormemente das escolhas realizadas no âmbito da cidadania, tendo como meta a valorização da educação. Importante saber que o crescimento econômico por si só, acom-panhado de efeitos colaterais devastadores, como os congestionamentos no trânsito e a especulação imo-biliária, não levará São Luís a recuperar o tempo áureo de sua efervescência cultural.

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por anissa ayala Rocha da silva Cavalcante eRayssa de souza oliveira

DocumentárioTeatro

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Pouco conhecido e estudado no Brasil, o teatro-documentário

está baseado num trabalhode busca por registros como fo-tos, diários, testamentos, dentre outros documentos que captem a realidade, evitando a interferên-cia da ficção. Quem deseja tra-balhar com esse gênero precisa organizar um discurso a partir de cuja encenação se promova uma discussão pública.

a aluna do 6º período do Curso de teatro da uFMa, delcianny Garcês, já está trabalhan-do com essa modalidade. Ela coordena o projeto de extensão intitulado “Experimento anne: memória e gênero na cena documental”, que denuncia a violência sexual sofrida

por meninas maranhenses, com mais ou menos 13 anos, trabalhando com as referências do

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diário de anne Frank. o grupo já realizou apresentações em escolas, encontros, centros de artes cênicas e, recentemente, o projeto foi apresentado, também, em formato de pôster no encontro da associação

Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em artes Cênicas (aBRaCE).Para delcianny, o teatro-documentário não possui um conceito específico, se baseando a partir do dra-

ma-documentário. Esse gênero é “todo drama feito em cima de documentos históricos, não tem estética e sim dramaturgia pautada na não-ficção”.o trabalho envolve alunos do curso de serviço social, teatro e

comunicação. anderson França, aluno do curso de rádio e tv da uFMa, participa do projeto no intuito de divulgar aos acadêmicos o teatro-documentário e, com isso, mostrar como essa arte se aproxima da comunicação em termos de pesquisa e interdisciplinaridade. “o meu interesse em participar do grupo surgiu da necessidade de apresentar aos alunos de comunicação, através de workshops, as outras ver-tentes da nossa área, assim como a comunicação digital ou comunicação do teatro-documentário, for-

mas pouco conhecidas pelos acadêmicos”, afirma anderson.

outra questão interessante que o teatro-do-cumentário aborda é quanto ao discurso. o dado não-ficcional só será válido se houver,

por parte do público, um sentido a respeito do que ali é encenado. É o caso de tallysson Ramon, aluno da

isso mostra como é necessário seguir um discurso abordado pelo teatro-docu-mentário, a fim de proporcionar ao público uma boa recepção e um bom posi-cionamento daquilo que é encenado. “o texto é feito em cima do diário de

anne Frank, ou seja, toda a nossa dramaturgia se baseia nesse documento fazendo o ligamento com outros autores teatrais e usando depoimentos de meninas estupradas no Maranhão”, declara delcianny e acrescenta: “acre-dito que conseguimos uma boa percepção do nosso público, pois, quando fizemos a apresentação na Escola Mário Meireles, passamos um questioná-rio (recepção teatral) e eles responderam bem pautados no assunto”.o projeto de extensão termina em agosto de 2011, porém o grupo preten-de continuar com a divulgação do trabalho em outras cidades. a equipe já está presente no orkut _Factual Experimentações Cênicas_ disponível para contatos com outras pessoas interessadas no tema. “Esse projeto começou sendo individual, depois passou a ser profissional e hoje, é a nossa vida” finaliza delcianny.

uFMa, um apreciador das artes cênicas e que conta como foi sua percepção diante de um modelo de teatro-documentário. “Eu assisti somente a uma peça de um outro grupo. não consegui compreender bem o propósito que eles pretendiam passar. tal-vez porque eu não tinha conhecimento do fato histórico ou pelo discurso trabalhado por eles, não ter sido bem construído”, es-clarece Ramon. as dificuldades em se manter uma atividade cultural independente como esta são gran-des, principalmente pela questão financeira e pelos custos com figurinos e cenários. o projeto de delcianny conta com recursos próprios para se manter e com ajuda da equipe e demais colaboradores que acredi-tam na sua importância.

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g c

rim

e e

cas

tiinconfidências por trás da malha-ção de um judas. o

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por Ricardo Santos

Diz a lenda que a Igreja de São João Batista (Rua da Paz) foi erguida (1665) para pagar uma insólita promessa; o santo deveria impedir que a sociedade descobrisse o caso do governador Ruy Vaz Siqueira com uma senhora casada. É uma iro-nia que algo construído para encobrir uma traição tenha vindo a guardar os ossos daquele que foi “eleito” pela república como o traidor nacional: Joaquim Silvério dos Reis, o delator do Tiradentes.

A história da Inconfidência Mineira é conhecida por todos, tomou vulto a ponto de a execução de Tiradentes marcar o único feriado nacional dedicado a uma personalidade ausente da Bíblia, em que pesem as semelhanças forjadas e coincidências. A consagração de mártires é expediente comum na gestação de nações e símbolos, união de povos em torno de ideais. Assim, o enforcamento de Tiraden-tes foi utilizado pelos republicanos para derrubar o Império e consolidar o regime.

Entra aí a figura necessária do Coronel de Cavalaria Joaquim Silvério dos Reis. Acumulando em si todos os defeitos e vergonhas de alguém que trai seus amigos por dinheiro (no caso uma dívida) e contribuindo para a idealização do seu companheiro de armas, o Alferes da Silva Xavier. Esse drama com símbolos religiosos foi bastante trabalhado na construção da imagem de um sacrifício cristão.

As pinturas reproduzidas incessantemente nos livros escolares trazem o mártir de cabelos longos, barba grande e olhar sofrido, um Cris-to medieval ou renascentista. Ora, Joaquim José da Silva Xavier era militar e, nessa época era comum que sua posição o levasse a ter um mínimo de cuidado capilar. Houve uma intencionalidade na comparação: Tiradentes só passava por Cristo porque tinha um Judas.

“Melhor negócio que Judasfazes tu, Joaquim Silvério:que ele traiu Jesus Cristo,

tu trais um simples Alferes.”

(Romanceiro da Inconfidência - Cecília Meireles)

Silvério sofreu muitas perseguições e atentados nos anos após a morte de Tiradentes. Pela delação, passou a viver uma situação ambígua: para o império lusitano foi um súdito leal, enquanto, para aqueles que queriam autonomia, um homem que se vendeu por pouco. Chegaram a tentar incendiar sua casa no Rio de Janeiro, um entre outros atentados que ele sofreu. Depois da Inconfidência, apesar de sua “delação premiada”, sua situação financeira seguiu prejudicada. Em Portugal tentou viver na corte, mas foi rejeitado pelo príncipe, futuro Dom João VI.

Devido às guerras napoleônicas que assolavam a Europa, a corte portuguesa vem para o Brasil e Joaquim Silvério decide retornar. Ao fim da vida vem para o Maranhão, terra que ele nunca mais deixará. Seus ossos foram enterrados na Igreja que fica em frente a um prédio conhecido como Palácio das Lágrimas.

O seu túmulo não pode mais ser visto. Sucessivas reformas resguardaram seus ossos, que lá continuam, mas não sua lápide ou qualquer memorial de seu destino. As grandes histórias tem sua força por serem contadas e recontadas sempre e sempre, mesmo que se mudem as personagens e os sentidos.

Religião, política e história são formas que o homem desenvolveu naturalmente para se entender e se situar no mundo. Uma não precede à outra na construção da realidade humana. É só prestar atenção e ver como os grandes dramas se sobrepõem e se mis-turam no imaginário, tal é o misto de lenda e esquecimento que tornou-se o fim, a vida e a “obra” de Joaquim Silvério dos Reis.

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Onde Está a

Pla-téia?

Os paradOxOs da ilha que

nãO cultiva uma cultura

cinematOgráfica

por amy loren

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São luís atravessa um período de crescimento em termos de exibição de filmes do circuito não-comercial. É mais um esforço de pessoas engajadas nesse meio do que

uma demanda por esse segmento. Pontos de cultura, iniciativas universitárias e meios de comunicação de grande circulação têm promovido a exposição de filmes que geralmente são exibidos apenas em festivais. a estrutura (muitas vezes precária) é sem-pre receptiva, mas conta com uma audiência limitada.Essa realidade apresenta uma faceta da cultura para a qual não é dada visibilidade. ao contrário do que diz o senso comum, segundo o qual a produção cultural alternativa seria cara, logo inacessível, vivemos em são luís um momento curioso.

não se pode dizer que em são luís nunca houve um público apreciador da sétima arte. as exibições, geralmente realizadas no antigo teatro são luíz, atual teatro arthur azevedo, eram cheias. nos anos 70 , o cinema foi aos poucos perdendo espaço para outras formas de entretenimento.

o Cine Praia Grande, espaço já consagrado na cidade por sediar festivais e ser um centro de atividades culturais com boas condições para a exibição e acessibilidade,

raramente se encontra lotado. a resposta do público aos filmes em si é muito fraca, recrudescendo somente com a presença de “celebridades’ em eventos como o Guarnicê. tudo isso com um preço baixo (R$ 4) e três sessões diárias.

Uma tentativa para reverter esta situação partiu do jornal o imparcial, que idealizou um projeto de exibição de filmes batizado como Cine Ímpar. o local tem uma boa estrutura e oferece sessões de filmes do circuito alter-

nativo, indo de produções européias a japonesas. as exibições são todas gratuitas e amplamente divulgadas. “Para atrair o público para nossas sessões, a equipe res-ponsável até criou a ‘sessão secreta’, na qual o nome do filme é revelado somente na hora da apresentação. infelizmente, a presença do público não cresceu como o esperado”, explica o coordenador do Espaço Ímpar, Célio sérgio. outro grupo é o Cineclube Casarão universitário, projeto de extensão da uFMa, ligado ao departamento de Comunicação e que promove exibições às quintas-feiras. o grupo realizou a semana de audiovisual na universidade. o evento trouxe direto-res premiados como Cícero Filho (ai Que vida) e Eliane Caffé (narradores de Javé). Mesmo assim as exibições promovidas pelo Casarão ainda não alavancaram um público significativo.

não se pode dizer, portanto, que são luís não tenha uma base para o desenvolvimento da cultura cinematográfica. aqui é promovido um evento de cinema nacionalmente respeitado, o Festival Guarnicê de Cinema.

Em um cenário em que o discurso é de que o consumo desses bens não se dá da mes-ma maneira que o dos produtos comerciais, o que explica que a arte cinematográfica seja oferecida com acesso facilitado e mesmo assim a resposta do público continue fraca? Quais são os fatores que levam a este quadro?

É conhecido o conceito de que a questão sócio-econômica interfere diretamente no consumo de produtos culturais pelas classes menos abastadas. sempre em pauta, as dis-

cussões sobre o espaço público e as dificuldades impostas pela indústria Cultural, em geral apontam para a dificuldade enfren-tada pelo trabalhador no consumo de peças teatrais e literatu-ra. os preços seriam muito altos. no que diz respeito à platéia dos ditos filmes alternativos, são luís anda na contramão.

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desterro por Fábio Sabino

personagens de um mundo decadente

“Submerso no des-cuido, apartado do

interesse público de preservar algo que

ninguém sabe o que é, ou mesmo se

já foi um dia.”

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apesar de “maldita” e malvista, quem movimentava o comércio naquela época era a zona, e sua permanência pode ser atribuída ao fato de ter se tornado um ponto rentável, próximo ao centro comercial e histórico da ci-dade, com um grande número de trabalhadores infor-mais e um fluxo considerável de turistas. Restaurantes, quitandas, pequenas lojas de roupa, em suma, o comércio em geral, dependia quase que exclu-sivamente de um outro, o sexual. Boa parte dos produ-tos era negociada com as donas de pensão. segundo Maria “elas (as madames) não vinham comprar pessoal-mente, mandavam alguém para negociar com a gente, ou então, a gente deixava as mercadoria lá”. havia toda uma demanda por alimentação, remédios (em especial para anemia e preparação de ”receitas abortivas”) e pe-ças de vestuário de toda natureza. as moças eram rece-bidas e preparadas pelas madames. deveriam “descer” sempre bem vestidas e bem alimentadas. Quando saí-am para atender um cliente, não voltavam para o salão com o mesmo vestido, trocavam desde o sapato até as jóias, que pertenciam às donas de pensão. nesse enredo de relativa prosperidade, houve quem fizesse muito dinheiro, houve quem gastasse tão rápi-do quanto se ganhava. “Eu não repetia roupa. Quem freqüentava o salão era gente de dinheiro e ninguém ia pra lá desarrumado, feito meninote” afirma dona Jan-dira, ex-mulher de salão. “Eu tinha tudo do bom que fosse possível conseguir naquele tempo, esbanjava, mas aí peguei menino e tive que sair no mundo, por-que mulher buchuda não ficava, não! depois é que fui arranjar marido.”

MaRia, a dEvota.

“Meu filho, nesse mundo, a pessoa tem que ter três amigos: deus, a justiça e a polícia”, foi o que me disse dona Maria quando indagada sobre seus ”negócios” e sua boa relação com as autoridades públicas, tendo ela como pano de fundo, uma infinidade de imagens de nossa senhora da Conceição, ao comentar sobre o fluxo de prostitutas na porta de seu estabelecimento, desconversa: “Eu tenho meu bar aqui, essas mulheres ficam por aí, eu até evito elas, tem umas desbocadas, que não sabem se comportar no ambiente. Já falei pra elas, bagunçou aqui eu ponho logo pra rua! Mas eu não mexo com isso, quem traz umas meninas dos interiores é essa tal aí (referindo-se à dona de uma pousada na mesma rua). Eu procuro aju-dar, dou trabalho aqui no bar, tem uma até que queria se matar, eu levei ela para igreja e ela hoje tá boa. tem umas que saem daqui até casadas”.a proprietária do bar são sebastião (que a mesma resis-tiu chamar de cabaré ou ainda inferninho) conta que há mais de 40 anos trabalha na região e que vivenciou as-censões, quedas e promessas que fazem o nome “oscar Frota” ser bem mais do que o de uma extinta fábrica.

na pequena rua em formato de l, onde se encontra um enorme esgoto a céu aberto e onde é mais fácil encon-trar prostitutas, mesmo durante o dia, a “fauna urbana” é bastante variada. Fora do horário de funcionamento dos “bares” surgem mototaxistas, funcionários das oni-presentes gráficas, entregadores de bebida e um ou ou-tro membro do baixo clero do funcionalismo público, em alguns casos agindo com perfeita naturalidade e em outros, fugindo de cruzar olhares e andando com passo aflito de quem tomou a rua errada.o oscar Frota, ao mesmo tempo substituto e continua-ção dos cabarés e pensões das ruas da Palma e 28 de ju-lho, concentra a prostituição feminina da área. Enquan-to os seus precursores tornaram-se marca do passado áureo, datado da metade do século XX, os inferninhos atuais são marca da região chamada “de cima” do des-terro, ponto de tráfico e de uma prostituição decaden-te. o status da década de 1950, fase considerada, por alguns historiadores como de glamour da zBM (zona do Baixo Meretrício), passa, nos anos 70, a ser retrata-do como reino da promiscuidade e da marginalidade freqüente nas páginas policiais dos jornais da cidade.

luzia, a suiCida

diferente do que aconteceu na Manaus do inicio do século XX, o que todos os relatos e pesquisas apontam é que aqui, na “belle époque” ludovicense, difícilmente encontraría-mos cocottes francesas e polonesas em bordéis dançando bolero. Como afirma dona andrelina Macedo, antiga mora-dora (que após cinco ou seis cervejas descubro também ter “feito salão”) “dava mesmo era muita paraíba, cearense e umas caboca da Maioba, desses interior aí! .o relato mais precioso sobre a prostituição na área acabou por vir da própria dona andrelina. ao ser indagada sobre a visão da comunidade sobre a zBM, acabou por contar sua própria história. a vida de andrelina era algo que lembrava em muito uma rapsódia, um improviso folclórico que parecia até inven-tado de tanto que resumia bem o que seria uma “vida de puta”: aos doze anos saíra da casa dos pais, segundo ela, para visitar uma tia no centro e só voltou 5 anos depois. nesse entretempo, foi morar na casa de uma madame (es-tamos falando aqui dos anos 60) na rua 28 de julho, onde se revezava no trabalho de “agradar” os clientes e se esconder da polícia, num velho guarda roupa. sobre o público que freqüentava o lugar e a lembrança de alguma autoridade da época: políticos, promotores, juízes, que desfrutaram dos seus serviços, respondeu: “isso eu não sei dizer, mas umas amigas eram bancadas por umas figuras ricas da época, uns tão até vivos hoje (confesso nessa hora ter feito mentalmente um exercício especulativo). nesse tempo era de mais respeito. a gente não podia passá nem na calçada que eles (os donos dos melhores hotéis) não deixavam. tocava até banda militar nas festas e os homens do quartel (situado onde hoje é o Convento das Mercês), donos de embarcações e de trapiches vinham conhecer ‘as meninas novas’ e tomar uísques. nesse tempo não tinha criança fazendo ponto, vadiando e cheirando droga e nem briga de vagabundos como hoje”.

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Elas, as MEninas

a prostituição de hoje parece obedecer a uma lógica distinta, até por-que há competição com a de luxo, negociada por telefone ou internet, feita em geral por meninas de classe média. no universo dos atuais inferninhos, misturam-se mulheres de idade muitas vezes indefinível, com adolescentes. a maioria diz ter vindo da periferia de são luis, do interior do estado, de regiões pobres da Baixada. algumas têm casa própria, filhos ou mesmo maridos (que algumas disseram saber do seu ofício). no começo da tarde vão saindo dos casarões e pousadas, descendo nas paradas de ônibus do Mercado Central ou transitando ao lado do esgoto a céu aberto e, em meio a uma confusão de máquinas caça-níqueis e corredores apertados entre as mesas, cada uma vai tentando tirar dali o dinheiro do pão (da televisão nova ou para pagar o aluguel da kitnet).Recostadas pelos muros ou nas mesas avaliando os clientes (ou mesmo descansando), as prostitutas sustentam uma postura quase sempre ar-redia a olhares e questionamentos indiscretos, mas, ao mesmo tem-po, a de quem está ali, afinal, para comercializar. a reação esperada à figura de alguém com caderno e gravador na mão fazendo perguntas aos donos de bares é, no mínimo, de estranheza, e é de se supor que gerasse mal estar, mas, surpreendentemente, isso fez com que muitas delas se movessem de um, as vezes rude, senso de reserva e intimida-de, demonstrando curiosidade e mesmo perguntando, ironicamente, se eu era da policia ou tinha “gazeado” aula.

aproveitei para questionar um pequeno grupo de profissionais se poderíamos ter uma conversa rápida sobre as suas vidas e seu trabalho. Entre respostas entrecortadas como “vai ter que pagar a hora”, “pra conversar é mais caro”, recebi um “sim” do grupo, com a condição de que pagasse algumas cervejas, o que resultou na breve entrevista abaixo:

Como é a rotina do trabalho de vocês?- tem uns clientes que nem querem nada, só conversar, beber cerveja. E a gente conver-sa. tem muita coisa misturada nessa coisa da prostituição. só que a gente não aceita dizer essas coisas da gente. todo mundo pensa mal do trabalho, mas ninguém sabe de nada.- a gente tem mais liberdade é com o horário, tem dia que dá pra fazer um dinheiro até bom, apesar de que queima muito a gente com as pessoas, mas ninguém quer pagar nada de ninguém, né? só falar mal. E quanto aos filhos e maridos?- Filhos, umas tem outras não. umas aqui já perderam filho. a gente vai criando, a maio-ria aqui é preocupada com a criação dos filho. Marido (uma voz dissidente grita: é tudo corno... risos...risos) tem umas aqui que tem, umas dizem que tem, uma é até sapata, mas não vou dizer quem é. Mas a maioria é só fica ou umas descolam um coroa e tal.

E o lance com os clientes?- tem os fixos e uns que aparecem. a gente fica no bar só sacando, umas ficam na rua mesmo. o cara aparece, a gente acerta e pronto! dá uma volta, rapidinho e volta. Chato é que tem uns malas que arranjam confusão, fica rebaixando preço, tem uns esperto que ainda quer bater, mas aí fede pro lado deles, cara de mulher não se bate.

Como é a freqüência de clientes? vêm caras ricos? Rola disputa entre vocês?- dá muito cliente sexta, sábado depois que os ônibus vem deixar os peões das fábricas e os caras da lojas terminam expediente. Mas é só liso, uns mineiros, baianos que traba-lham nessas empreiteiras que alugam quartos pra eles por aqui. Com grana mesmo, só um ou outro esquema, mas é por fora daqui. tem uns caras que se fingem de rico quan-do tão bêbados, mas são só esses cara de moto, empregado de loja, tudo liso.- de vez em quando sai umas brigas de umas mulheres por causa de homem, de dinheiro. Mas não é toda hora. Como vocês acham que a comunidade vê o trabalho de vocês?

- tem gente que fala, tem quem passe e nem olhe. tem umas mulheres que trabalham pras pousadas, faz comida, lava roupa, faz manicure, pedicure da gente. Mas é só das dona de bar e das meninas que morar aqui mesmo. as que moram longe só vem aqui pra trabalhar. Eu não sei nem te dizer, nêgo diz que falam pelas costas que aqui só tem vaga-bunda e tem drogado. Mas aqui eu trabalho muito mais que muitas por aí, que ficam só nas costas de marido.

(Em tempo: a respeito da placa que indicava uma obra de saneamento e drenagem a ser realizada no Portinho pela prefeitura e, que, segundo relatos poderia por abaixo toda a área do oscar Frota, responderam que não acreditavam nisso e se fosse verdade, ficariam peladas em frente à prefeitura).

Era grande a presença de marinheiros, donos de loja, oficiais da polícia e do exército que se reuniam nos clubes náuticos dos portugueses e depois se dirigiam para a zona. até que, segundo andrelina, o assassi-nato de um tenente, de nome Marinho, por causa de uma briga entre o exército e a marinha, acabou por marcar o principio da “decadência” da zBM.

Cabe lembrar que essa visão da saudosa boemia não mantinha, na época, o mesmo prestígio de hoje, sendo também alvo de suspeitas de degeneração dos costumes. agora que se tornou parte da memória, integrou-se à paisagem imaginária da versão bucólica do bairro.Passadas algumas décadas, somam-se um sem número de casos e “causos” acerca de como a rotina local girava ao redor da vida na zona. locais de festividades e de circulação das pessoas “honestas”, pontos de encontros de jovens tinham como referência negativa o “puteiro”. da mesma forma “putas famosas” são mencionadas incessantemente pelos moradores mais idosos.

o caso de luzia é o mais curioso e se afasta um pouco do perfil médio encontrado. Como revelou Maria, a devota, luzia, a suicida, foi trazida do interior por familiares poucos anos atrás e, desde o início, atraiu a atenção da dona de bar. a razão seria a menina ter uma “tristeza que não passava” e ficar pensando obsessivamente em se matar. no dizer da católica fervorosa, graças a nossa senhora, após muitas orações e um longo tempo, luzia melhorou , sendo designada para os trabalhos de casa e hoje, passada a “tristeza”, leva rotina normal e me serviu a cerveja que temperou a entrevista com sua patroa (embora não tenha perdido o olhar suicida).

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CREudECy, a dEstERRada

não há uma definição oficial dos limites entre os bairros da Praia Grande, desterro e Portinho. Perguntando a dois mo-radores distintos, provavelmente serão obtidas respostas va-riadas ou mesmo opostas.Embora esteja em local reconhecido nos planos de urbaniza-ção como desterro, a antiga zBM parece ao mesmo tempo não pertencer a nenhuma dessas áreas, pois muitas pesso-as que constantemente transitam entre esses limites dificil-mente reconhecem os cabarés e pousadas como parte do “seu” bairro (embora o oscar Frota mantenha uma relação de troca de serviços com o entorno). Parte da atual antipatia se explica pela penetração do crack e dos traficantes que parecem espreitar a todo tempo de dentro de prédios abandonados. Essa razão não explica, en-tretanto, todos os sentimentos que circundaram a região ao longo tempo. segundo luzia Margareth Rego, antropóloga, “o baixo meretrício vem inevitavelmente associado à idéia da animalidade da carne, da bestialidade do sexo (...) ates-tando o último degrau de degradação atingido pela humani-dade. tudo aí passava pelo crivo do negativo, do sombrio, da brutalidade humana”. numa sociedade que desejava para seus meninos e meninas o amor respeitável do casamento futuro, não seria aceitável a concorrência do amor–ladrão. na opinião de Creudecy silva, professora, pesquisadora e ex-moradora do desterro “o principal problema hoje são as drogas. Eu tenho uma filha e quero que ela cresça num ambiente saudável, e o desterro, faz tempo, já não é esse lugar ”. Ela afirma que, de certa forma, foi sendo “expulsa” do lugar onde viveu sua infância e adolescência e onde ainda vivem seus familiares, pelo abandono da comunidade por parte de iniciativas públicas e privadas. “o que se denomina-va zona do Baixo Meretrício já se encerrou há muito tempo e o que resta são, talvez, resquícios da zBM associados ao tráfico de droga”, acrescenta.

o tráfico parece ter ocupado o centro da vida eco-nômica da área, que, durante um longo período, foi de empresas como olEaMa, CEMaR, fábricas de gelo e do comercio portuário. vendedores de crack e maconha ocupam uma parte considerável de ca-sarões, habitados ou não, e favorecem a evasão dos moradores.a antiga separação entre zona de “classe” e o des-terro, apontada como zona de violência, onde fun-cionavam casas de cômodos, cabarés inferiores se comparados aos da zBM, foi, pelo menos no imagi-nário popular, o que, como afirma Creudecy em sua tese, reforça a existência de uma suposta divisão oficial em relação à área que abrigou a antiga zBM de são luís. segundo a professora essa “divisão”, não só é muito simplista, como, provavelmente, já desapareceu na geléia geral do tráfico e dos muitos abandonos sofridos pela área.hoje, o lugar que antes recebia com os cuidados que o dinheiro pudesse pagar, parece ter sumido no des-cuido e no interesse público de preservar algo que ninguém sabe o que é, ou mesmo se já foi um dia. sobrou o rastro, de um lado, da zona de “segunda linha”, do xirizal, pobre e inverossímil e, do outro, da zBM iluminada, tão chique quanto ficta, concentra-da na rua da Palma, que era freqüentada por gran-finos de terno, sapato e empáfia, onde , segundo dizem, até valdick soriano já foi.

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Ricardo Santos

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quadrinhos

foto divulgação

garibaldo e o resto do mundo 2010

gaRiBaldo e o Resto do MuNdoEste primeiro disco da Garibaldo e o Resto do Mun-do, lançado em 2010, trás a possibilidade de se fazer uma comparação interessante com o som que a banda produz ao vivo. o projeto foi gestado e produzido por Paulo henrique (o Garibaldo) com o produtor adnon soares (EstÚdio CasalouCa). a banda veio depois, com o Cd pronto.Com todos os instrumentos gravados ou programados por adnon, que participou de algumas composições, e Paulo henrique, o disco é mais denso do que pesa-do. o peso é mais presente nas apresentações ao vivo. a banda, com destaque para os slides da guitarra de Pedro, não fica devendo nada, tratando-se apenas de uma abordagem um pouco diferente e igualmente in-teressante.adnon e Paulo henrique souberam aproveitar bem o estúdio, fazendo intervenções geralmente felizes como o “comunicado” em espanhol de El Paso (que ficaria melhor sem o que pareceram uns scratches no início) e jogando bem com efeitos como delay e re-verb em faixas como veludo.no final, o resultado agrada. o disco não se prendeu às limita-ções que existem em apresenta-ções ao vivo da mesma maneira que a banda achou abordagens interessantes no palco sem adul-terar o Cd. vale a pena comprar tanto o ingresso quanto o disco.

foto caroline rêgo

poraí_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ de assaltoQuanto um homem pode ansiar pelo seu algoz? Qual o humor e a roupa adequada para receber o gatuno que espreita? É provável que você nunca tenha se detido em pergun-tas como essas e é a partir desse mote que o já premiado dramaturgo igor nascimento, em parceria com o Grupo dRao teatro da (in)constância, parte para um rocambo-lesco monólogo sobre os temores, invectivas e meneios de um homem solitário que, na madrugada, se vê com a casa sendo invadida por um ladrão.Fica claro no monólogo “de assalto” que o autor quer, e por vezes consegue, criticar e expor, humoristicamente, a “solidão-do-tamanho-de-um-apartamento” da qual o homem moderno padece. Embora este tema seja pra lá de mastigado na literatura e no teatro contemporâneo, trata-se de um verdadeiro cavalo de tróia na estética maranhense e a abordagem vale o ingresso. nosso des-herói é “posto em carnes” pelo ator nuno lilah lisboa que, descontado certo histrionismo, demonstra grande do-mínio do “fazer teatral” e magnetismo so-bre um público pouco acostumado à mo-nólogos. Fica aqui o destaque para o som e a iluminação que dão vivacidade às pausas no texto e dialogam constantemente com os humores e ações do personagem. o trabalho de igor nascimento desponta (pela ótima qualidade somada à falta de concorrência) como uma opção alentadora para quem se interessa por algo além de “um lindo, Quase teatro”.o monólogo voltará a ser apresentado em 2011 em datas e locais a serem definidos.

FiCha tÉCniCaEsPEtÁCulo: “de assalto”

duração: 45 minutosdireção: igor nascimento.

Elenco: nuno lilah lisboa nazarethiluminação: Milena silva.

operadora de luz: Milena silva.operador de som: denis Carlos.

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ZRevista Bezouro