Upload
ana-oliveira
View
19
Download
1
Embed Size (px)
DESCRIPTION
artiogo
Citation preview
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
INSTITUTO DE BIOCINCIAS
CMPUS DE BOTUCATU
AVALIAO DA ATIVIDADE ANTIULCEROGNICA E TXICA DOS
EXTRATOS METANLICO E CLOROFRMICO DAS FOLHAS DE Serjania erecta
Radlk (SAPINDACEAE)
ANA PAULA CORRA CASTELLO BRANCO NAPPI ARRUDA
Dissertao apresentada ao Instituto de Biocincias, Campus de Botucatu, UNESP, para obteno do ttulo de Mestre no Programa de Ps Graduao em Biologia Geral e Aplicada.
BOTUCATU SP 2008
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
INSTITUTO DE BIOCINCIAS
CMPUS DE BOTUCATU
AVALIAO DA ATIVIDADE ANTIULCEROGNICA E TXICA DOS
EXTRATOS METANLICO E CLOROFRMICO DAS FOLHAS DE Serjania erecta
Radlk (SAPINDACEAE)
ANA PAULA CORRA CASTELLO BRANCO NAPPI ARRUDA
ORIENTADORA: PROFA. DRA. CLLIA AKIKO HIRUMA-LIMA
Dissertao apresentada ao Instituto de Biocincias, Campus de Botucatu, UNESP, para obteno do ttulo de Mestre no Programa de Ps Graduao em Biologia Geral e Aplicada.
BOTUCATU SP 2008
FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA SEO TCNICA DE AQUISIO E TRATAMENTO DA INFORMAO
DIVISO TCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAO CAMPUS DE BOTUCATU UNESP BIBLIOTECRIA RESPONSVEL: Selma Maria de Jesus
Arruda, Ana Paula Correa Castello Branco Nappi.
Avaliao da atividade antiulcerognica e txica dos extratos metanlicos e clorofrmicos das folhas de Serjania erecta (Sapindaceae) / Ana Paula Correa Castello Branco Nappi Arruda. Botucatu: [s.n.], 2008.
Dissertao (mestrado) Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biocincias, Botucatu, 2008.
Orientadora: Cllia Akiko Hiruma-Lima
Assunto CAPES: 21400000
1. Plantas medicinais - Uso teraputico 2. lceras - Tratamento
CDD 616.343
Palavras-chave: Antiulcerognico; Cerrado; Farmacologia; Fitoqumica; Serjania
DEDICATRIA
Este trabalho dedicado primeiramente a Deus que me permitiu chegar at aqui,
trilhar e conhecer um pouco sobre o caminho da Cincia e, principalmente, sobre os caminhos
da vida.
Tambm dedicado aos meus pais que me deram a vida, sem eles eu simplesmente
no estaria aqui e tambm no teria chegado at aqui. No existem palavras que definam
tamanha e especial gratido, nem o amor que sinto por vocs....
E ao meu namorido Lucas, que me acompanha a mais de oito anos, sendo meu
companheiro, professor, editor, tradutor, compartilhando momentos de aventura, diverso,
medo, amor... momentos to especiais, importantes e imprescindveis na minha vida, mas
tambm ainda no inventaram palavras que possam traduzir fielmente o que quero dizer, mas
j d uma noozinha...
AGRADECIMENTOS
Professora Lcia Rocha que me apresentou professora Cllia, e por todos os
auxlios sobre as nomenclaturas endcrinas...
Professora Cllia que me aceitou como orientada sem mesmo me conhecer, que tiro
no escuro em professora??? Mas voc pode ter certeza que eu me entreguei este projeto de
corpo e alma e exigindo sempre muito de mim, alm de todas as incertezas e dificuldades de
uma marinheira de primeira viagem....
todo o pessoal do Laboratrio, que sempre que disponvel me ajudavam nos
experimentos, galera, com a ajuda de vocs as coisas se tornaram fceis.... e aqui eu preciso
citar uma pessoa em especial que me ajudou na grande maioria de meus experimentos e que
se fez presente com ajuda fundamental, a Catharine Ferrazoli, VALEU Potira...
Aos Tcnicos do departamento, Seu Jnior do biotrio sempre me ajudando com a
lavagem das caixas dos animais, Dona ngela ajudando a limpar as louas restantes dos
experimentos...
Ao pessoal da Seo da Ps, meu muito obrigada pelas facilidades e pelas
explicaes...
i
RESUMO
A planta Serjania erecta Radlk (SAPINDACEAE) uma espcie endmica da regio
de cerrado e apresenta como indicao popular a utilizao de suas folhas para o tratamento
de lcera. A partir destas informaes etnofarmacolgicas os extratos metanlico e
clorofrmico de suas folhas foram avaliados quanto a sua ao gastroprotetora e txica. Os
dois extratos no apresentaram atividade txica no modelo de toxicidade aguda e em triagem
hipocrtica em modelos de animais in vivo e ambos apresentaram atividade gastroprotetora
em modelo de induo de lcera gstrica por etanol absoluto. O extrato clorofrmico (apolar)
apresentou maior atividade gastroprotetora do que o extrato metanlico o que instigou a
caracterizao do mecanismo de ao deste extrato vegetal. A caracterizao do mecanismo
de ao foi realizada atravs de ensaios biolgicos com o objetivo de se avaliar a ao
antisecretria (ligadura de piloro) e o envolvimento de grupamentos sulfidrlicos, de xido
ntrico e das terminaes nervosas sensveis capsaicina na gastroproteo. Foi constatado
que este extrato no apresenta atividade anti-secretria e sua ao gastroprotetora ocorre por
envolvimento dos grupamentos sulfidrlicos, via ativao de xido ntrico e tambm das
terminaes nervosas sensveis capsaicina. A caracterizao fitoqumica do extrato
metanlico aponta para a presena de saponinas, taninos, flavonides e terpenos. J o extrato
clorofrmico de S. erecta possui saponinas, poliisoprenides, triterpenos que podem estar
envolvidos na ao gastroprotetora do extrato. Estes resultados mostram o potencial efeito
antiulcergenico do extrato apolar das folhas de S. erecta frente aos agentes ulcerognicos
mais comuns ao homem, porm, ainda so necessrios outros estudos para definir a classe
fitoqumica predominante que podem estar diretamente relacionado ao efeito gastroprotetor
deste extrato.
Palavras chaves: Cerrado; gastroproteo; planta medicinal, Sapindaceae; Serjania erecta.
ii
ABSTRACT
Serjania erecta Radlk (SAPINDACEAE) plant is an endemic species originally found
in the Brazilian savanna region with a popular use indicated to ulcer treatment. The known
ethnopharmacological data about this plant has directed this work to an evaluation of the
methanolic and chloroformic extracts made out of its leaves considering their gastroprotective
and toxic actions. Both extracts have showed no toxic activity in the acute toxicity model and
the hippocratic screening, both conducted for in vivo animal models. These extracts have also
showed a gastroprotective activity in the absolute ethanol model for gastric ulcer induction.
Since the chloroformic extract (apolar) has presented a higher gastroprotective action when
compared to the methanolic extract, its mechanism of action characterization was deeply
studied. This mechanism of action characterization was conducted with biological tests
aiming to evaluate the antisecretory effect (pylorus ligature) and the involvement of
sulfhydryl groups, nitric oxide and capsaicin sensory nerves. The chloroformic extract does
not show antisecretory effect as well as gastroprotective action involving sulfhydryl groups
and the activation of both the nitric oxide and the capsaicin sensory nerves. The
phytochemistry characterization of the methanolic extract points to the presence of saponins,
tannins, flavonoids and terpenes. The chloroformic extract, however, presents saponins,
polyisoprenoids and triterpenes which may be involved in the mentioned gastroprotective
action. These results show the high potential anti-ulcerogenic effect of the S. erecta apolar
extract against the most common ulcerogenic agents for human beings. Additional studies are
necessary in order to define the predominant phytochemistry class that may be directly related
to the gastroprotective effect of this extract.
Key words: Gastroprotection; medicinal plant, Savanna; Sapindaceae; Serjania erecta.
iii
SUMRIO
1. INTRODUO................................................................................................................. 1
1.1 Reviso bibliogrfica do gnero Serjania ..................................................................... 3
1.2 A espcie estudada: Serjania erecta.............................................................................. 8
1.3 A doena estudada: lcera Gstrica.............................................................................. 9
2. OBJETIVOS.................................................................................................................... 16
3. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.............................................................................. 17
ARTIGO: AVALIAO DA ATIVIDADE ANTIULCEROGNICA E TXICA DOS
EXTRATOS METANLICO E CLOROFRMICO DAS FOLHAS DE Serjania erecta
Radlk (SAPINDACEAE)..................................................................................................... 24
1. INTRODUO............................................................................................................... 25
2. MATERIAIS E MTODOS............................................................................................. 25
2.1 Espcie estudada ........................................................................................................ 25
2.1.1 Coleta................................................................................................................... 25
2.1.2 Preparao dos extratos metanlico e clorofrmico .............................................. 26
2.2 Animais...................................................................................................................... 26
2.3 Avaliao da atividade farmacolgica ........................................................................ 27
2.3.1 Estudo de Toxicidade Aguda e screening hipocrtico........................................ 27
2.3.2 Leses Ulcerosas .................................................................................................. 27
2.3.3 Induo de lcera por Etanol absoluto .................................................................. 28
2.4 Caracterizao da aoantiulcerognica do extrato clorofrmico ................................ 28
2.4.1 lceras induzidas pela Ligadura de piloro e avaliao dos parmetros do suco
gstrico ......................................................................................................................... 28
2.4.2 Determinao do papel dos grupamentos sulfidrlicos na gastroproteo .............. 29
2.4.3 Determinao do papel do xido Ntrico (NO) na gastroproteo......................... 29
2.4.4 Determinao do papel das terminaes nervosas sensveis Capsaicina na
gastroproteo............................................................................................................... 30
2.5 Anlise Estatstica ...................................................................................................... 30
3. RESULTADOS E DISCUSSO...................................................................................... 30
3.1 Toxicidade Aguda e screening hipocrtico .............................................................. 30
iv
3.2 Induo de lcera por Etanol absoluto ........................................................................ 35
3.3 Induo de lcera por Ligadura de Piloro ................................................................... 42
3.4 Determinao do papel dos grupamentos sulfidrlicos na gastroproteo .................... 44
3.5 Determinao do papel do xido ntrico (NO) na gastroproteo ................................ 46
3.6 Determinao do papel dos neurnios sensoriais sensveis capsaicina na
gastroproteo.................................................................................................................. 49
3.7 Determinao do papel da fitoqumica dos extratos na gastroproteo ........................ 51
4. CONCLUSO................................................................................................................. 53
5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.............................................................................. 54
ANEXO............................................................................................................................... 61
1
1. INTRODUO
H milhares de anos, o homem vem utilizando as plantas no tratamento de diversas
doenas. Existem relatos a respeito da utilizao de plantas com finalidades teraputicas que
datam do ano 3.000 a.C. como menciona a obra Pen Ts'ao do chins Shen Nung (Ko, 1999;
Tyler, 1996). No ano 78 d.C., o botnico grego Pedanios Dioscorides descreveu cerca de 600
plantas medicinais, alm de produtos minerais e animais, no tratado De Materia Medica. Este
tratado permaneceu como fonte de referncia por mais de catorze sculos (Robbers et al., 1996;
Tyler, 1996). Foi atravs da observao e da experimentao pelos povos primitivos que as
propriedades teraputicas de determinadas plantas foram sendo descobertas e propagadas de
gerao em gerao, integrando este conhecimento cultura popular (Turolla & Nascimento,
2006).
A transmisso do conhecimento sobre a utilizao das plantas entre as geraes tem
sido historicamente uma funo essencial da cultura (Berkes et al., 2000). O conhecimento
etnobotnico local se mostra bastante importante para a sade e para a alimentao,
particularmente em um meio rural com poucos recursos, porm a transio cultural e
econmica associada globalizao tem se tornado uma ameaa para este tipo de
conhecimento (McDade et al., 2007).
A fitoterapia uma forma popular de tratamento da sade com a utilizao de plantas
medicinais, e, por esta razo, mesmo existindo algumas diferenas entre este tratamento e o
tratamento farmacolgico convencional, ela necessita ser testada cientificamente na sua
eficcia e nos seus possveis efeitos txicos. Alm disso, as pessoas possuem a crena de que
os tratamentos naturais so seguros e no apresentam riscos colaterais sade, o que mais
um motivo para se intensificar as pesquisas nesta rea (Firenzuoli & Gori, 2007).
O Brasil detm a maior diversidade biolgica do mundo, e esta diversidade desperta
os interesses de comunidades cientficas internacionais para o estudo, conservao e
utilizao racional dos recursos. Um exemplo disto o bioma cerrado que contm mais de
6.000 plantas vasculares (Mendona et al., 1998) muitas delas com valor alimentcio e
medicinal (Almeida et al., 1998). Os componentes das plantas representam uma fonte rica em
produtos qumicos bioativos, que no setor farmacolgico, fornecem material para a produo
de analgsicos, tranqilizantes, diurticos, laxativos, antibiticos, dentre outros. A
diversidade da flora do cerrado brasileiro, o segundo mais importante bioma do pas, tem sido
2
pobremente estudada na validao da eficcia e de efeitos teraputicos de extratos ou
compostos isolados (Espindola et al., 2004; Napolitano et al., 2005; Mesquita et al., 2005a).
De acordo com Ribeiro & Walter (1998), o Cerrado ocupa 23% do territrio nacional
(dois milhes de km2), e se localiza basicamente no planalto central, alm de ser considerado
um complexo vegetacional de grande heterogeneidade fitofisionmica. Para Proena et al.,
(2000), o Cerrado o mais brasileiro dos biomas sul-americanos, pois, excetuando-se algumas
pequenas reas na Bolvia e no Paraguai, ele est totalmente inserido no territrio nacional.
Segundo Gottlieb & Borin (1994), embora haja possivelmente mais espcies vegetais
(diversidade especfica) em reas amostrais de mesmo tamanho na Floresta Amaznica que
nas de Cerrado, a diversidade taxonmica neste ltimo certamente muito maior. Esta
diversidade relativa aos txons mais elevados (gnero, famlia e ordem), mostrando a
importncia do Cerrado para pesquisas com plantas medicinais. Isto porque, quanto maior a
diversidade taxonmica em nveis superiores, maior o distanciamento filogentico entre as
espcies e maior a diferena e diversidade qumica entre elas. Portanto, estima-se que a
gama e o potencial de compostos bioativos produzidos pelas espcies do Cerrado sejam
maiores que as da Floresta Amaznica.
Ao se considerar a perspectiva de obteno de novos frmacos, dois aspectos
distinguem os produtos de origem natural dos sintticos: a diversidade molecular e a funo
biolgica. A diversidade molecular dos produtos naturais muito superior quela derivada
dos processos de sntese, que ainda limitada. Alm disso, os produtos naturais muitas vezes
exibem propriedades adicionais s antimicrobianas a eles associadas (Nisbet & Moore, 1997).
Tambm se pode observar atualmente que os produtos naturais so responsveis, direta ou
indiretamente, por cerca de 40% de todos os frmacos disponveis na teraputica moderna, e
considerando os frmacos antibiticos e antitumorais, essa porcentagem aumenta para
aproximadamente 70% (Yunes & Calixto, 2001).
Como pode ser observado, os dados mencionados so de grande importncia e
justificam a continuidade e o crescimento de pesquisas cientficas com plantas medicinais,
tanto para a identificao de espcies e sua etnofarmacologia, bem como para a validao dos
efeitos teraputicos e da toxicidade destas espcies.
3
1.1 Reviso bibliogrfica do gnero Serjania
O gnero Serjania pertence famlia Sapindaceae e a maioria de suas espcies
encontrada no bioma cerrado. Segundo Napolitano et al. (2005), a rica flora do cerrado
brasileiro tem sido pouco estudada para a validao da eficcia de seus efeitos teraputicos.
Extratos brutos, tanto quanto flavonides isolados de plantas pertencentes famlia
Sapindaceae, tem sido investigados por suas propriedades antiinflamatrias e anti-virais.
A famlia Sapindaceae uma rica fonte de isoprenides e polifenis (Hegnauer, 1973)
e saponinas (Voutquenne et al., 2002), triterpenos (Chvez & Delgado, 1994), diterpenos
(Ortega et al., 2001), flavonides (Mahmoud et al., 2001), lecitinas (Freire et al., 2002) e
hidrogis (Gorin et al., 2006). As sementes das plantas desta famlia so caracterizadas
predominantemente por sua abundncia em leos, algumas das quais apresentam intensa
atividade inseticida e so ricas em cianolipdeos (Sptizer, 1996).
A etimologia da palavra Sapindaceae, segundo Renn (1963) e Jussieu (1789); gnero
Sapindus, Lineu; sapindus o encontro de sapo, sabo e indus, da ndia; como o fruto de
algumas espcies indianas que tm substncias detergentes, da lhes veio o nome sapo indus
ou sapindus, sabo-da-ndia; Dicotiledneas.
A famlia Sapindaceae uma das vinte famlias botnicas pertencentes ordem
Sapindales, algumas com grande ocorrncia no Brasil e na regio amaznica. Esta ordem
rene inmeras plantas de grande valor medicinal e econmico. Na famlia Sapindaceae
destacam-se os gneros: Paullinia, Cupania e Serjania, muitas das quais usadas para a pesca
por serem consideradas narcticas para os peixes. Apresentam tambm, significativos efeitos
farmacolgicos, especialmente sobre o Sistema Nervoso Central (Di Stasi & Hiruma-Lima,
2002).
Vrias espcies do gnero Serjania apresentam em seu nome popular a palavra Timb.
Timb o nome genrico utilizado por nativos brasileiros para designao de plantas tropicais
venenosas utilizadas em pescaria. A mais potente destas plantas so pertencentes famlia
Leguminosae: Derris urucu (Killi & Smith) Macbr. = timb-macaquinho; Tephrosia toxicaria
Pers. = timb-de-caiena; Tephrosia nitens Benth = timb-ca, da qual a rotenona foi isolada
como substncia ativa (Krukoff & Smith, 1937; Corbett, 1940; Haller et al., 1942). Outras
plantas utilizadas como ictiotxicas no contm rotenona, so menos txicas e so chamadas
de timbs-falsos (Teixeira et al., 1984).
4
O gnero Serjania apresenta 226 espcies (Van der Ham & Tomlik, 1994), sendo que
apenas algumas apresentam indicao popular e pouqussimas foram estudadas sob o ponto de
vista farmacolgico. Abaixo esto listadas algumas das espcies que apresentam indicao
popular:
1) Serjania acuminata Radlk Segundo Corra (1924), esta uma das espcies mais
procuradas para tinguijar. conhecida popularmente por Timb de peixe ou Timb legtimo.
2) Serjania caracasana (Jacq.) Willd. De acordo com Pott & Pott (1994), esta planta
apcola, d nctar; txica para peixes e contm 3 saponinas (serjanosdeos). Segundo Corra
(1924), esta planta conhecida por Timb do Campo em Gois e reputada como muito
venenosa e bastante aproveitada para tinguijar peixe.
3) Serjania curassavica Radlk. Segundo Corra (1924), esta espcie largamente
disseminada pelo Brasil e em grande parte da frica tropical, considerada a mais nociva
deste gnero. O que confirma esta indicao que antigamente os escravos africanos extraam
da semente, da casca e de suas razes, uma substncia terrivelmente venenosa, que
administrada traioeiramente aos inimigos e aos senhores escravagistas, aos poucos e
continuadamente, minava o organismo levando morte. conhecida popularmente por
Curuc-ap.
4) Serjania cuspidata Camb. Segundo Corra (1924), esta espcie considerada venenosa,
porm este efeito apenas se verifica sobre animais de sangue frio, devido presena do
alcalide ictiotina, razo pela qual empregado para tinguijar. As folhas frescas apresentam
leo essencial. conhecida popularmente por Guarumina; Cip-Timb; Timb-cabeludo;
Timb de peixe.
5) Serjania fuscifolia Radlk. Segundo Cointe (1947), popularmente conhecida por Cip
Timb e Timb. acre, narctica e venenosa ictiotxico contm timbina. Segundo Corra
(1924), tambm uma das espcies mais procuradas para tinguijar e conhecida como Mata-
peixe em So Paulo.
6) Serjania lethalis A. St. Hil. Segundo Corra (1924), uma bela planta ornamental,
narctica como as outras do gnero, porm geralmente reputada como ainda mais venenosa.
Conhecida popularmente por Mata-fome.
7) Serjania nodosa Radlk. Segundo Corra (1924), as sementes so suspeitas de serem
venenosas e o suco da planta era utilizado pelos aborgines da Guiana Francesa para
5
envenenarem a ponta de suas flechas, alm disso, seus ramos servem para tinguijar.
conhecida popularmente por Curur; Arary; Cip cruap branco.
8) Serjania noxia St. Hil. Segundo Corra (1924), uma das espcies mais acusadas como
causa de envenenamento e tambm uma das mais procuradas pela abelha Poliste lecheguana,
que com seu nctar produz um mel absolutamente nocivo.
9) Serjania paucidentata DC. Segundo Corra (1924), o suco desta planta considerado
narctico e existe suspeita da planta ser txica. Conhecida popularmente por Icun; Timb.
10) Serjania piscatoria Radlk Segundo Corra (1924), uma das espcies mais utilizadas
para tinguijar, conhecida popularmente por Tingui.
11) Serjania triquetra Radlk Segundo Martinez (1959) esta espcie encontrada nas
regies central e sul do Mxico. Na medicina popular as folhas e o caule so utilizadas na
forma de infuso como diurtico.
Segundo Corra (1924), com rarssimas e importantes excees, estas espcies so
acres e at certo ponto narcticas, sempre com a suspeita de serem venenosas, porm ainda
faltam comprovaes cientficas de que realmente a sejam. Sobre os animais de sangue
quente, principalmente os caprinos, seus criadores so unnimes em afirmar que estes animais
ingerem as folhas destas Sapindceas sem que disso advenha algum tipo de incmodo, assim,
parece que nada justifica a indicao que se faz destas plantas. Esta imunidade, entretanto,
no abrange os animais de sangue frio, principalmente os peixes, pois todas essas
Sapindceas, conforme sua distribuio geogrfica, foram desde a poca pr-colombiana
utilizadas pelos aborgines para envenenar as flechas utilizadas para a pesca e caa, assim
como para a guerra, por certo, os resultados positivos adquiridos na pesca os levaram a crer
neste mesmo efeito tambm para os animais de sangue quente.
A ao narctica, atordoadora, tinguijante, incontestvel, todavia a morte dos peixes
s sobrevm quando eles ficam tempo excessivo na gua envenenada, seja por falta de sua
renovao, ou porque a renovao muito lenta. Existem, incontestavelmente, algumas
espcies cujo suco mais energtico como a S. noxia (que j foi considerada venenosa para
gado) e a S. lethalis, as quais produzem alterao nas brnquias dos peixes, matando-os por
asfixia, como ficou demonstrado graas aos estudos do fisiologista Claude Bernard. Estas
mesmas espcies (S. noxia e S. lethalis) so muito procuradas pela abelha Poliste lecheguana,
servindo produo de um mel conhecido no sul do Brasil por lecheguana cujos efeitos
perniciosos so bastante perigosos e foi pessoalmente experimentado pelo botnico A. de
Saint-Hilaire (Corra, 1924).
6
Sobre os efeitos farmacolgicos j publicados sobre o gnero Serjania, a espcie mais
estudada at hoje foi a Serjania lethalis. Segundo Mesquita et al. (2005b), os extratos
etanlico e hexano da casca da raiz de S. lethalis, foram testados em sua atividade
antiprotozorio in vitro contra Leishmania donovani e Trypanosoma cruzi. O seu extrato
etanlico se apresentou ativo, inibindo em 50% o crescimento do parasita L. donovani na dose
de 5,2 g/ml (IC50), no apresentando atividade contra T. cruzi.
A respeito desta mesma planta, Napolitano et al. (2005), baseado em seu uso
tradicional, testou os extratos etanlicos das folhas; do cerne do caule; da casca do caule e da
casca da raiz na produo de NO (xido ntrico) de macrfagos murinos J774 ativados com
LPS/IFN- e sua citotoxicidade. Os extratos etanlicos do caule (tanto da casca quanto do
cerne) na dose de 50 g/mL inibiram significativamente a produo de NO pelos macrfagos
J774. J os extratos etanlicos das folhas e da raiz foram inativos nesta mesma dose. Apenas o
extrato da casca da raiz mostrou um valor de IC50 significativamente baixo, o que representa
um efeito citotxico timo para as clulas J774.
No estudo realizado por De Lima et al. (2006), foram testados extratos de plantas para
avaliao antibacteriana contra Escherichia coli e contra Staphylococcus aureus. No teste
com Staphylococcus aureus foram utilizadas: uma cepa susceptvel (ATCC 25923) e duas
cepas resistentes (NorA e MsrA). Foram testados extratos de Serjania lethalis, que segundo o
prprio autor, apresenta como indicao popular o uso tpico para tratamento de dores e para
pesca, como ictiotxica. Nenhum destes extratos apresentou atividade contra Escherichia
coli, mas apresentaram atividade contra a cepa susceptvel (ATCC 25923) e sobre as cepas
resistente (NorA e MsrA) de S. aureus.
Segundo outro estudo realizado com S. lethalis, foram avaliados alguns de seus
extratos para validao de efeito larvicida contra a larva de Aedes aegypti (no terceiro
estgio). Os extratos testados foram: etanlico e hexano (das folhas; do cerne do caule; da
casca do caule e da casca da raiz). O valor de LC50 observado para o extrato etanlico da
casca do caule foi de 404.16 g/mL, porm o extrato etanlico da casca da raiz se apresentou
mais ativo, atingindo o valor de 285.76 g/mL, isto significa que nestas doses ocorreu uma
mortalidade superior a 65%. O componente que apresenta atividade larvicida ainda no
conhecido (Rodrigues et al., 2006).
Em outros testes, foi verificado que a atividade txica para peixes dos extratos brutos
de Serjania caracasana se encontra na frao de saponinas (Arago & Valle, 1973; Cordeiro
& Valle, 1975). Teixeira et al., (1984) afirmaram que nesta frao, os serjanosdeos A e B,
7
so predominantes. Foi testada tambm a ao farmacolgica dos serjanosdeos, que neste
caso foram isolados do caule da planta Serjania lethalis. Este princpio foi investigado em
peixes, comparando suas aes com a rotenona e com outras saponinas. A atividade
ictiotxica dos serjanosdeos se apresentou: 2.5 vezes maior do que o do extrato etanlico
bruto do caule; aproximadamente 10 vezes menor do que a atividade da rotenona; de 10 a 50
vezes melhor do que a atividade de outras saponinas.
A espcie medicinal Serjania triquetra Radlk. pode ser encontrada na parte central e
meridional do Mxico, e a medicina popular utiliza a infuso das folhas e do caule por seu
efeito diurtico. Esta planta foi estudada e caracterizaram as saponinas presentes em suas
partes areas, que foram: estigmasterol, cido oleanlico, cido morlico e hederagenina.
Tambm foi encontrada a estrutura de um novo derivativo triterpenide, 11-hidroperxido-
diacetil hederagenina, que foi considerada como a chave intermediria na biosntese de vrios
triterpenos (Chvez & Delgado, 1994).
Em outro trabalho, foi investigado o efeito antifngico e moluscicida da espcie
Serjania salzmanniana (extrato metanlico do p do caule), mais conhecida como Cip-
Cururu. Desde a descoberta de que as saponinas apresentam potentes princpios
moluscicidas, vrias saponinas e extratos de plantas de vrias espcies da famlia
Sapindaceae, tm sido testadas para validao deste efeito. Nesta investigao, foram
descobertas e isoladas duas novas saponinas: a salzmannianosdeo A e o salzmannianosdeo
B, e mais duas saponinas j conhecidas, a pulsatilla saponina D e o cido oleanlico. Estas
quatro saponinas apresentaram efeito moluscicida (10 ppm), causando mortalidade de 70 a
100% da Biomphalaria alexandrina, o vetor de Schistosoma mansoni no Vale do rio Nilo.
Estas saponinas tambm apresentaram atividade antifngica contra Cryptococcus neoformans
e Candida albicans em uma concentrao inibitria mnima de 8 e 16 g/mL,
respectivamente (Ekabo et al., 1996).
Por ltimo, em estudo recente realizado por David et al., (2007) foram avaliadas
espcies medicinais quanto aos seus efeitos antioxidantes e citotxicos, dentre elas estava a
Serjania glabrata (extrato metanlico). No teste para atividade citotxica, este extrato se
mostrou inativo. No teste para atividade antioxidante, apresentou resultado significativo na
dose 57.1 mg/mL. Concluiu-se que esta espcie apresenta atividade antioxidante, porm ela
no comparvel aos antioxidantes existentes no mercado.
Em vista do que foi apresentado nesta reviso bibliogrfica do gnero Serjania,
possvel constatar que existem ainda muito poucos estudos farmacolgicos sobre plantas
8
medicinais, e em especial, deste gnero. Alm disso, tambm faltam estudos que caracterizem
seus compostos bioativos. A respeito da espcie estudada aqui, a Serjania erecta, a situao
infelizmente a mesma e no foram encontrados dados publicados sobre sua ao
farmacolgica ou txica e tampouco sua composio fitoqumica.
1.2 A espcie estudada: Serjania erecta
Considerando seus dados botnicos, esta espcie um arbusto ereto, caule arqueado-
deflexo, que chega a at dois metros de altura. Apresenta-se rarssimas vezes como trepador,
sempre ramoso e glabro (Corra, 1924). Tm folhas compostas, com fololos largo-ovais.
Inflorescncia apical com flores de cor branca, sua florao se d de outubro a agosto. Seu
fruto varia de cordado a arredondado e a frutificao se d em maro (Silva, 1998).
Sobre seus nomes populares e sua indicao popular, Silva (1998) afirma que seu
nome popular Retrato-de-Tei. Este nome refere-se semelhana da folha com o lagarto
Tei que ocorre na regio do Cerrado. O ch da folha macerada usado como regulador
menstrual e alm disso, tambm extremamente utilizado para lavar ferimento, auxiliando na
cicatrizao. Segundo Corra (1924), esta planta passa por venenosa, ao menos atordoa os
peixes e conhecida popularmente por Cip de timb; Timb bravo; Tururi; Turari. De
acordo com Pott & Pott (1994), esta planta conhecida por cip-cinco-folhas e apresenta
como indicao popular a utilizao de suas folhas contra lcera e a raiz contra presso alta.
O perfil fitoqumico dos extratos metanlico e clorofrmico das folhas foram
realizados pelo Departamento de Qumica da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(UFMS) pela Doutora Roberta G. Coelho. No extrato metanlico foram encontrados:
terpenos, saponinas, flavonides e taninos. No extrato clorofrmico foram encontrados:
esterides, esterides glicosilados, triterpenos, saponinas, poliisoprenides e cidos graxos de
cadeia longa.
9
Figura 1. A Espcie Serjania erecta (Pott & Pott, 1994).
1.3 A doena estudada: lcera Gstrica
O estmago dos vertebrados desempenha uma variedade de funes incluindo o de
servir como reservatrio de comida, expor a comida ingerida ao cido (secretado pelas clulas
parietais) e pepsina (secretada pelas clulas principais), e prover uma barreira que previne
que microrganismos penetrem nos intestinos. Alm disso, o estmago extremamente rico
em clulas produtoras de peptdeos: clulas tipo enterocromafin (ECL) da histamina; clulas
D (somatostatina); clulas tipo A (grelina e obestatina); clulas D1/P (produtos
desconhecidos); clulas EC (serotonina) e clulas G (gastrina). As diversas funes
fisiolgicas do estmago dependem da integridade da mucosa gstrica (Chen et al., 2006).
O estmago dos mamferos na sua funo de rgo digestivo invariavelmente
exposto enzima proteoltica pepsina e ao cido clordrico que apresentam fora suficiente
para destru-lo. Ele resiste autodigesto pela presena de agentes protetores como a barreira
mucosa gstrica que normalmente resistente aos ons H+ at uma concentrao 105 vezes
mais alta do que no plasma e tambm apresenta uma camada altamente resistente de clulas
mucosas e uma das mais bem organizadas populaes de clulas epiteliais com junes
bastante prximas entre elas (Satyanarayana, 2006).
De uma forma geral, a lcera, decorre de um desequilbrio entre os mecanismos de
defesa e os fatores de agresso da mucosa gastroduodenal (Bittencourt et al., 2006). No
estmago, a principal barreira de proteo constituda pela confluncia entre as clulas
epiteliais e a secreo contnua de muco-on bicarbonato (HCO3-). Essa camada, cuja espessura
de aproximadamente 200-300 m, confere proteo eficiente (Konturek et al., 2005). Foi
10
demonstrado que o muco que reveste as clulas da superfcie do epitlio contm fosfolipdios
bipolares que, devido elevada polaridade, previnem a retrodifuso de cidos, como o cido
clordrico (HCl), da luz do estmago para o interior da mucosa. Entretanto, compostos
orgnicos no-ionizados, como sais biliares ou cido acetilsaliclico, que tm pKa
relativamente baixo, podem alcanar rapidamente, por difuso no-inica, as clulas da
superfcie da mucosa e se acumularem no interior dessas clulas, onde so dissociados e
provocam leso celular (Teorell, 1940).
A lcera uma leso profunda da mucosa, onde tanto os componentes dos tecidos
epitelial e conjuntivo, incluindo miofibroblastos subepiteliais, clulas do msculo liso, vasos e
nervos, podem ser destrudos (Milani & Calabr, 2001). As lceras do trato digestrio podem
se apresentar de trs formas: lcera pptica, que a lcera que se apresenta tanto no estmago
como no duodeno, lcera duodenal, que se apresenta apenas no duodeno e a lcera gstrica
que se apresenta apenas no estmago.
Foi atribudo a Hipcrates, em 460 a.C., o relato de um caso cujo diagnstico foi
posteriormente confirmado como sendo lcera pptica (UP). No sculo XVIII, os clnicos
dificilmente deixavam de descrever o quadro clnico da UP perfurada, quase invariavelmente
fatal naquela poca. Compndios de medicina legal, como o de Albertus, em 1725, menciona a
lcera perfurada como causa rara de morte, devendo ser diferenciada de envenenamentos
(Bittencourt et al., 2006).
Do incio do sculo XX at aproximadamente 1955, a incidncia e a prevalncia da
lcera aumentaram nos Estados Unidos, porm aps 1955, sua incidncia e prevalncia vm
diminuindo. Apesar deste declnio, a lcera pptica ainda um grande problema que resulta em
custos diretos de aproximadamente 4 bilhes de dlares por ano somente nos Estados Unidos.
Cerca de meio milho de novos casos e de quatro milhes de recorrncias so diagnosticadas
anualmente no mundo. Dados histricos sugerem que a prevalncia da lcera pptica, em
indivduos com sintomas, seja de 1 em 10. Entretanto, baseado em estudo endoscpico
prospectivo, se verificou que cerca de 50% do total de pacientes ulcerosos eram
assintomticos, o que leva a concluir que sua prevalncia seja de fato maior. Portanto, a lcera
pptica deve ser considerada doena comum e de grande importncia devido ao alto custo
direto (relacionado como diagnstico e tratamento) e indireto pelo absentesmo e alterao da
qualidade de vida que ocasiona. Alm disso, os ndices de mortalidade no se reduziram
significativamente e continuam sendo maiores na lcera gstrica do que na duodenal (Mincis,
2002).
11
A lcera pptica uma dentre vrias causas de dispepsia. Acomete cerca de 10 a 15%
da populao em algum momento da vida e 1 a 2% no perodo de um ano. A lcera era
considerada crnica e incurvel, dada sua evoluo em ciclos recorrentes. Foram nos ltimos
30 anos que houve revolucionrios avanos no diagnstico, patognese e tratamento da UP
(Chehter & Rodrigues, 2002).
A UP tem ligeiro predomnio no sexo masculino. A lcera duodenal (UD) prepondera
em adultos com menos de 45 anos e as lceras gstricas (UG), aps os 55 anos. Pais ou irmos
de portadores de UD apresentam 3 vezes mais lcera que a populao com as mesmas
caractersticas. A maior mortalidade da UG reflexo de seu predomnio entre idosos,
indivduos de baixo poder aquisitivo, desnutridos ou portadores de doenas associadas, e, a
morte decorre da maior freqncia de sangramentos graves. A UG predomina no Japo, pases
escandinavos e andinos, e em certas regies da ndia, enquanto que a prevalncia da UD
suplanta em 4 ou 5 vezes a da UG nas demais regies do globo (Chehter & Rodrigues, 2002).
Admite-se que at 45% das hemorragias digestivas altas so causadas por lceras
ppticas (Spirt, 1998). Foram descritos vrios fatores de risco para esta complicao, como a
administrao de drogas antiinflamatrias no-esteroidal, anticoagulantes orais,
corticosterides, bem como a presena de Helicobacter pylori e idade avanada (Gabriel et al.,
1991; Allison et al., 1992; Laine et al., 1992).
A lcera , h tempos, reconhecida como um fenmeno no especfico que pode ser
um ponto final comum de muitos caminhos diferentes, como por exemplo, entre fatores
genticos e ambientais (Lam & Sircus, 1975; Rotter & Rimoin, 1977; Spiro, 1987; Chang et
al., 1993; McColl et al., 1993; Lam, 1994; Spiro, 1998). Em vista disto, sero citadas a seguir
a etiopatogenia mais conhecida das lceras ppticas:
1) Fatores psicolgicos: Vrias condies fsicas e psicolgicas, ocasionadas
principalmente por estresse, esto relacionadas a causas de lcera gstrica em modelos
humanos e animais (Pacheco et al., 2006). Se os fatores envolvidos na etiopatologia da lcera
so mltiplos, algumas pessoas podem ser mais vulnerveis que outras ao estresse, ento,
fatores psicossociais podem ser importantes em apenas um subgrupo de pacientes ulcerosos
(Levenstein, 2000). Dados mostram ainda que situaes como a baixa condio scio
econmica (National Health Interview Survey: United States, 1986) e uma jornada dura de
trabalho (Sonnenberg & Sonnenberg, 1986; Sonnenberg, 1988) tambm so contribuintes
para o desenvolvimento da lcera pptica.
12
No passado, a lcera era considerada como sendo influenciada consideravelmente por
fatores psicossomticos, na qual se acreditava que os pacientes produziam a UP por ansiedade
e por caractersticas e comportamentos neurticos e histricos (Noyes et al., 1978; Tennant et
al., 1986). Dados clnicos anteriores e amostras baseadas na comunidade (Davidson et al.,
1991) tm mostrado que a UP ocorre mais freqentemente do que o esperado entre indivduos
com ansiedade e desordens depressivas (Rogers et al., 1994) e existem evidncias de uma
associao entre ansiedade e aumento das taxas de problemas na parte inferior do trato
gastrointestinal (Lydiard et al., 1994), apesar dos mecanismos destas associaes
permanecerem desconhecidos.
2) Drogas antiinflamatrias no-esteroidais (DAINES): so a maior causa de
morbidade e mortalidade entre os usurios. Dados epidemiolgicos sugerem que elas
aumentam o risco de complicaes ulcerosas e morte entre trs e dez vezes (Wang et al.,
2007). DAINES so um dos tipos mais freqentes de drogas amplamente utilizadas (Villegas
et al., 2004), e a aspirina um exemplo deles. Estudos indicam que lceras gstricas ou
duodenais esto presentes em 10 a 25% dos pacientes que utilizam DAINES por longos
perodos (Tibble et al., 2001). Alm disso, a continuidade na utilizao de DAINES
freqentemente resulta na recorrncia da lcera gstrica (Hull et al., 1997).
Apesar do fato de que mais de 30% dos pacientes que ingerem DAINES desenvolvem
sintomas gastrointestinais, a maioria apresenta apenas leses gastrointestinais mnimas ou
nenhuma leso em avaliao endoscpica. Mais de 5% de pacientes sem sintomas ter
endoscopicamente provado a lcera gstrica ou duodenal com um significante risco de
hemorragia gastrointestinal ou perfurao (Elsanullah et al., 1998).
Vrios fatores de risco tm sido identificados como potenciais variveis na patognese
da sintomatologia gastrointestinal relacionada com DAINES. No caso das doenas
reumticas, pode ser includa a idade, o sexo, histrico prvio de doena ulcerosa pptica, uso
de esterides e efeitos colaterais prvios atribudos ao uso de DAINES, em adio aos fatores
ambientais como fumo e excessiva ingesto de lcool (Fries et al., 1989).
H maior prevalncia de lcera pptica, principalmente gstrica, em pacientes que
usam regularmente AAS (cido acetilsaliclico) e outros DAINES, trs ou mais dias por
semana, durante dois ou mais meses. Eles atuam principalmente inibindo a sntese de
prostaglandinas endgenas (protetoras da mucosa gstrica), especialmente as PGE1, PGE2 e
PGI2 (Mincis, 2002).
13
3) Cigarro: Resultados de vrios estudos mostram a evidente associao positiva
entre o hbito de fumar e a incidncia, ndice de mortalidade, complicaes, recidivas e
cicatrizao mais lenta da lcera. Existe a correlao direta entre o nmero de cigarros
consumidos por dia (e tambm no ano) e a incidncia de lcera; h associao entre fumo e o
aumento do risco para desenvolver lcera duodenal e gstrica. Admite-se atualmente que
possa haver interao entre fumo e Helicobacter pylori em relao patogenia da lcera. O
hbito de fumar poderia aumentar a susceptibilidade infeco pelo H. pylori. O fumo pode
diminuir os fatores defensivos da mucosa ou tornar o meio mais favorvel infeco por este
agente (Mincis, 2002).
Os fumantes com ou sem lcera apresentam maiores nveis sricos de pepsinognio I
que os no fumantes, eventualmente por causa da infeco por H. pylori. O fumo retarda
significativamente o esvaziamento gstrico de lquidos e slidos. A prostaglandina, da mucosa
gstrica e duodenal, se apresenta diminuda em fumantes, especialmente em idosos. O fumo
reduz a secreo de bicarbonato, diminui o fluxo sangneo da mucosa e aumenta o refluxo
duodenogstrico (Mincis, 2002).
4) Helicobacter pylori: A H. pylori uma bactria Gram negativa, de forma espiralada
ou cocide e polar (4 a 6 flagelos embainhados com um bulbo terminal membranoso, que lhe
proporcionam mobilidade, capacitando-a a penetrar rapidamente no muco gstrico). O homem
o nico hospedeiro natural desta bactria e ela pode ser adquirida por via oral. A infeco
aguda tem perodo de incubao de 4 a 7 dias, aps os quais surge a gastrite neutroflica
(aguda) subclnica com durao de 7 a 10 dias (Chehter & Rodrigues, 2002).
A H. pylori um patgeno primrio, as enzimas e citotoxinas por ele secretados
possibilitam a penetrao no muco, a resistncia ao meio cido, a diminuio das defesas da
mucosa e a agresso ao epitlio, com conseqente inflamao e leso. Ela secreta vrias
enzimas e molculas que so importantes fatores de manuteno e virulncia: urease (a forma
mais ativa das enzimas produzidas por bactrias, vital para a sobrevivncia no meio cido),
catalase (diminui a eficcia da peroxidao lipdica e protica dos neutrfilos), mucinase
(degrada o muco), fosfolipase A2 (diminui a hidrofobicidade do muco), N-metil-histamina
(potente secretagogo), hemaglutininas (importante na fixao s clulas epiteliais) e
lipoprotenas (inibem a ligao da laminina na matriz extracelular, rompendo a mucosa). A H.
pylori tambm atua por mecanismo indireto, induzindo a liberao de interleucinas (IL) 8 e 1,
14
e fator de necrose tumoral (TNF) pelo epitlio e por clulas inflamatrias. Esses mediadores
desencadeiam inflamao, liberao de enzimas proteolticas e de radicais livres, que
determinam a leso tecidual, alm de estimularem as clulas G e inibirem as clulas D,
levando a uma maior produo de cido (Chehter & Rodrigues, 2002).
Cerca de 90% das lceras duodenais e 70% das gstricas esto associadas infeco
pelo H. pylori, porm, este como fator nico, no pode naturalmente ser o agente etiolgico
da lcera. H necessidade de condies apropriadas para sua ao ulcerognica, pois a grande
maioria dos portadores de H. pylori no apresenta leso (Mincis, 2002).
A infeco por H. pylori est presente em, aproximadamente, metade da populao
mundial (Cover & Blaser, 1996). A descoberta da bactria, descrita em 1983 (Marshall &
Warren, 1983), estabeleceu sua associao com inflamao gstrica. Estudos subseqentes
reconheceram a infeco por H. pylori como o principal fator causal de gastrite crnica e
como fator associado de risco para lcera pptica, cncer gstrico e linfoma do tecido linfide
associado mucosa gstrica (Go, 2002).
Apesar da induo histolgica de gastrite em indivduos infectados pela colonizao
gstrica com H. pylori, apenas a minoria desenvolve qualquer sinal clnico aparente desta
colonizao. estimado que pacientes positivos para H. pylori apresentam de 10 a 20% de
risco de desenvolver lcera e de 1 a 2% de risco de desenvolver cncer gstrico distal
(Kuipers et al., 1995; Kuipers, 1999; Ernst & Gold, 2000). O risco de desenvolver estas
desordens na presena da infeco por H. pylori depende de uma variedade de fatores, que so
relativos bactria, ao hospedeiro, e aos fatores ambientais que na maioria das vezes est
relacionado ao tipo e severidade da gastrite (Kusters et al., 2006).
5) Fator gentico: Em vrios trabalhos verificou-se que o fator gentico pode
predispor ao desenvolvimento da lcera. Algumas das concluses obtidas, segundo Minci
(2002) foram:
a) Maior incidncia em gmeos univitelinos (concordncia de 50%) e em familiares de
pacientes com lcera gstrica e duodenal (3 vezes maior que a da populao geral), no
havendo maior incidncia da lcera duodenal em famlias cujos membros tm lcera gstrica
e vice-versa;
b) Maior incidncia de marcadores subclnicos da lcera duodenal relacionados com
os seguintes fatores genticos: tipo sanguneo O, ausncia de fator ABH salivar, antgenos de
histocompatibilidade B5, B12 e Bw35, e pepsinognio do tipo I.
15
Entretanto, os ndices mais elevados de lcera em parentes de primeiro grau, poderiam
ser secundrios infeco pelo H. pylori nesses grupos e no devido a fatores genticos.
Embora algumas pesquisas tenham sido realizadas neste sentido, existe a necessidade de
estudos mais amplos para se avaliar o papel do fator gentico na patogenia da lcera (Mincis,
2002).
6) lcool (etanol): uma substncia txica e comumente utilizada com a finalidade
de produzir dano mucosa gstrica em pesquisa com animais. Entretanto, nesses modelos o
lcool freqentemente administrado como lcool absoluto (etanol puro). Dessa forma ele
lipossolvel, atravessa facilmente a mucosa e ocasiona um dano agudo bastante evidente.
Estes resultados no podem ser extrapolados para o que ocorre no homem, que geralmente,
no ingere etanol puro. Por outro lado, sabe-se que o etanol em baixas concentraes (5%)
estimula, embora discretamente, a secreo cida do estmago (e em altas concentraes pode
inib-la). Em estudos epidemiolgicos, concluiu-se que o consumo moderado de lcool
favoreceria a cicatrizao da lcera (estes estudos no consideraram o fator H. pylori)
(Mincis, 2002).
7) Idioptica: Existe um pequeno subgrupo de ulcerosos em que nenhum fator
etiolgico associado detectado, sendo essas lceras denominadas idiopticas. Publicaes
feitas nos Estados Unidos mencionam que mais de 20% das lceras estudadas nos ltimos anos
so de causa desconhecida (Mincis, 2002). A incidncia de UP idioptica alta em crianas e
em adultos jovens, o que pode causar uma prorrogao no tempo de durao da lcera
(Arakawa et al., 2004).
8) Corticosterides: Existem controvrsias quanto participao dos corticosterides
no desenvolvimento da lcera. De acordo com Mincis (2002), uma reviso de 42 trabalhos
possibilitou a concluso de que a lcera pode ocorrer em pacientes que utilizam
corticosterides diariamente, durante mais de um ms, bem como naqueles que utilizam dose
total equivalente a 1g de prednisona e nos pacientes que j tiveram lcera. J em outros
estudos, no houve associao entre o uso desses medicamentos e formao de lcera ou seu
sangramento. Os pacientes que utilizam corticosterides e tambm DAINES apresentam maior
risco para o desenvolvimento da lcera do que os pacientes em tratamento apenas com
DAINES. O mecanismo mais provvel do eventual efeito ulcerognico dos corticosterides
16
pela sua participao na reao em cascata das prostaglandinas, inibindo a liberao do cido
araquidnico.
9) Outros fatores: Outras causas consideradas nos casos de lcera pptica so:
reduo da ingesta alimentar no perodo matutino (Levenstein et al., 1997) e reduo do
horrio de sono (Segawa et al., 1987; Levenstein et al., 1997) que em parte se d pela
supresso da secreo do hormnio do crescimento (Veldhuis & Iranmanesh, 1996).
O tratamento clnico atual da lcera pptica geralmente baseado na inibio da
secreo cida pelos antagonistas do receptor H2, como o omeprazol e os antimuscarnicos,
bem como a terapia cida independente provida pelo sucralfato e o bismuto (Bighetti et al.,
2005). Contudo, um dos maiores problemas no tratamento da lcera gastroduodenal que,
apesar da taxa de cicatrizao ser de 80 a 100% aps 4 a 8 semanas de terapia com os
antagonistas H2 e com os inibidores da bomba de prtons, a taxa da recorrncia da lcera
dentro do prazo de um ano aps o tratamento est entre 40 e 80% (Miller & Faragher, 1986).
Alm disso, a maioria destes frmacos produzem vrias reaes adversas (Ariyphisi et al.,
1986).
Recentes estudos tm nos mostrado que diferentes substncias oriundas de plantas, no
oferecem apenas gastroproteo, mas tambm aceleram a cicatrizao de lceras gstricas.
Elas tambm podem apresentar aes antiinflamatrias pela supresso da cascata dos
neutrfilos / citocinas no trato gastrointestinal (TGI), promover reparao tecidual atravs da
expresso de vrios fatores de crescimento, exibir atividade antioxidante, reagir com espcies
reativas de oxignio (ROS), atividade antinecrtica e atividade anticarcinognica (Bagchi et
al., 2002; Kyogoku et al., 1979).
2. OBJETIVOS
1. Avaliar as atividades gastroprotetoras dos extratos metanlico e clorofrmico das folhas de
Serjania erecta Radlk (Se).
2. Avaliar a segurana dos extratos atravs do ensaio de toxicidade aguda e screening
hipocrtico.
17
3. Caracterizar os mecanismos de ao da atividade antiulcerognica do extrato mais
eficiente.
3. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ALLISON, M.C.; HOWATSON, A.G.; TORRENCE, C.J.; LEE, F.D.; RUSSEL, R.I. Gastrointestinal damage associated with the use of nonsteroidal antiinflammatory drugs. N. Engl. J. Med., v. 327, p. 749-54, 1992.
ALMEIDA, S.P.; PROENA, C.E.B.; SANO, S.M.; RIBEIRO, J.F. Cerrado: Espcies
vegetais teis. Planaltina, Embrapa-CPAC, 1998. ARAGO, J.A.; VALLE, J.R. Ictiotoxicidade de timbs dos gneros Serjania, Derris e
Tephrosia. Cincia e Cultura, v. 25, p. 649, 1973. ARAKAWA, T., HIGUCHI, K., FUJIWARA, Y., TOMINAGA, K., WATANABE, T.,
SHIBA, M., OSHITANI, N., MATSUMOTO, T. Has Helicobacter pylori eradication for peptic ulcer been overrated? Intern. Med., v. 43 (3), p. 179-83, 2004.
BERKES, F., COLDING, J., FOLKE, C. Rediscovery of traditional ecological knowledge as
adaptive management. Ecol. Appl., v. 10, p. 12511262, 2000. BITTENCOURT, P.F.S.; ROCHA, G.A.; PENNA, F.J.; QUEIROZ, D.M.M. lcera pptica
gastroduodenal e infeco pelo Helicobacter pylori na criana e adolescente. J. Pediatr., v. 82 (5), 2006.
CHANG, F.Y., LAI, K.H., WANG, T.F., LEE, S.D., TSAI, Y.T. Duodenal ulcer is a
multifactorial disorder: the role of pepsinogen I. S. Afr. Med. J., v. 83, p. 25466, 1993. CHVEZ, M.I.; DELGADO, G. Isolation and relay synthesis of 11-hydroperoxy diacetyl
hederagenin, a novel triterpenoid derivative from Serjania triquetra (Sapindaceae). Biogenetic implications. Tetrahedron, v. 50, p. 3869-3878, 1994.
CHEHTER, L.; RODRIGUES, L. Gastroenterologia: Guia de medicina ambulatorial e
hospitalar UNIFESP. Barueri: Editora manole, p. 49 63, 2002. CHEN, D.; AIHARA, T.; ZHAO, C.M.; HAKANSON, R.; OKABE, S. Differentiation of
the Gastric Mucosa I. Role of histamine in control of function and integrity of oxyntic mucosa: understanding gastric physiology through disruption of targeted genes. Am. J. Physiol. Gastrointest. Liver Physiol., v. 291, p. 539544, 2006.
COINTE, P.L. Amaznia Brasileira III: rvores e plantas teis. 2 ed. Rio de Janeiro, Companhia Editora Nacional, 1947.
CORBETT, C.E. Plantas Ictiotxicas, Farmacologia da Rotenona. Monografia Fac. Md.
Univ. So Paulo, 1940.
18
CORDEIRO, E.A.; VALLE, J.R. Ictiotoxicidade comparada da rotenona e do serjanosdeo. Cincia e Cultura, v. 27, p. 561, 1975.
CORRA, M.P. Dicionrio das Plantas teis do Brasil e das exticas cultivadas. Volumes
I, II, III, IV, V, VI. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1926 1978. COVER, T.L.; BLASER, M.J. Helicobacter pylori infection, a paradigm for chronic mucosal
inflammation: pathogenesis and implications for erradication and prevention. Adv. Intern. Med., v. 41, p. 85-117, 1996.
DAVIDSON, J.R., HUGHES, D., BLAZER, D.G., GEORGE, L.K. Post-traumatic stress
disorder in the community: an epidemiologic study. Psychol. Md., v. 21, p. 71321, 1991.
DE LIMA, M.R.F.; LUNA, J.S.; DOS SANTOS, A.F.; DE ANDRADE, M.C.C.;
SANTANA, A.E.G.; GENET, J.P.; MRQUEZ, B.; NEUVILLE, L.; MOREAU; N. Anti-bacterial activity of some Brazilian medicinal plants. J. Ethnopharmacol., v. 105, p. 137-147, 2006.
DI STASI, L.C.; HIRUMA-LIMA, C.A. Plantas medicinais na Amaznia e na mata
atlntica. 2 ed. So Paulo: Editora Unesp, p. 339, 2002. EKABO, O.A.; FARNSWORTH, N.R.; HENDERSON, T.O.; MAO, G.; MUKHERJEE, R.
Antifungal and molluscicidal saponins from Serjania salzmanniana. J. Nat. Prod., v. 59 (4), p. 431-5, 1996.
ELSANULLAH, R. S.; PAGE, M.C.; TILDESLEY, G.; WOOD, J.R. Prevention of
gastroduodenal damage induced by nonsteroidal anti-inflammatory drugs: controlled trial of ranitidine. B.M.J., v. 297, p. 1017-21, 1998.
ERNST, P.B.; GOLD, B.D. The disease spectrum of Helicobacter pylori: the
immunopathogenesis of gastroduodenal ulcer and gastric cancer. Annu. Rev. Microbiol., v. 54, p. 615-640, 2000.
ESPINDOLA, L.S.; VASCONCELOS JUNIOR, J.R.; DE MESQUITA, M.L.; MARQUI,
P.; DE PAULA, J.E.; MAMBU, L.; SANTANA, J.M. Trypanocidal activity of a new diterpene from Casearia sylvestris var. lingua. Planta Med., v. 70, p. 1093-1095, 2004.
FIRENZUOLI, F.; GORI, L. Herbal Medicine Today: Clinical and Research Issues. Evid.
Based Complement. Alternat. Md., v. 4 (1), p. 3740, 2007. FREIRE, M.G.; GOMES, V.M.; CORSINI, R.E.; MACHADO, O.L.T.; DE SIMONE, S.G.;
NOVELLO, J.C.; MARANGONI, S.; MACEDO, M.L.R. Isolation and partial characterization of a novel lectin from Talisia esculenta seeds that interferes with fungal growth. Plant Physiol. Biochem., v. 40, p. 61-68, 2002.
FRIES, J.F.; MILLER, S.R.; SPITZ, P.W.; WILLIAMS, C.A.; HUBERT, H.B.; BLOCH,
D.A. Toward an epidemiology of gastropathy associated with nonsteroidal anti epidemiology of gastropathy associated with nonsteroidal antiinflammatory drug use. Gastroenterology, v. 96, p. 647-55, 1989.
19
GABRIEL, S.E.; JAAKKIMAINEN, L.; BOMBARDIER, C. Risk of serious gastrointestinal
complications related to use of nonsteroidal anti-inflammatory drugs: a meta-analysis. Ann. Intern. Med., v. 115, p. 787-96, 1991.
GO, M.F. Natural history of Helicobacter pylori infection. Aliment. Pharmacol. Ther., v. 16
(1), p. 3-15, 2002. GORIN, A.J.P.; TEIXEIRA, A.Z.A.; TRAVASSOS, R.L.; LABORIAN, S.L.M.,
LACOMINI, M. Characterization of carbohydrate components of an unusual hydrogel formed by seed coats of Magnosia pubescens (Tingui). Carbohydr. Res., v. 286, p. 325- 333, 1996.
GOTTLIEB, O.R.; BORIN, M.R.M.B. The diversity of plants. Where is it? Why is it there?
What will it become? Anais da Academia Brasileira de Cincias, v. 66 (1), p. 205-210, 1994.
HALLER, H.L.; GOODHUF, L.D.; JONES, H.A. Constituents of Derris and other rotenone
bearing plants. Chem. Rev., v. 30, p. 33, 1942. HEGNAUER, R. Chemotaxonomie der Pflanzen IV. Birkhauser Verlag, Basel, 1973. HULL, M.A.; KNIFTON, A.; FILIPOWICZ, B.; BROUGH, J.L.; VAUTIER, G.; HAWKEY,
C.J. Healing with basic fibroblast growth factor is associated with reduced indomethacin induced relapse in a human model of gastric ulceration. Gut, v. 40, p. 204-210, 1997.
KO, R.J. Causes, epidemiology, and clinical evaluation of suspected herbal poisoning. Clin.
Toxicol., v. 37 (6), p. 697-708, 1999. KONTUREK, S.J.; KONTUREK, P.C.; BRZOZOWISKI, T.; KONTUREK, J.W.; PAWLIK,
W.W. From nerves and hormones to bacteria in the stomach; Nobel prize for achievements in gastrology during last century. J. Physiol. Pharmacol., v. 56, p. 507-30, 2005.
KRUKOFF, B.A.; SMITH, A.C. Rotenone: Yelding plants of South America. Am. J. Bot., v.
24, p. 573-587, 1937. KUIPERS, E.J.; THIJS, J.C.; FESTEN, H.P. The prevalence of Helicobacter pylori in peptic
ulcer disease. Aliment. Pharmacol. Ther., v. 9 (2), p. 59-69, 1995. KUIPERS, E.J. Exploring the link between Helicobacter pylori and gastric cancer. Aliment.
Pharmacol. Ther., v. 13, p. 3-12, 1999. KUSTERS, J.G.; VAN VLIET, A.H.M.; KUIPERS, E.J. Pathogenesis of Helicobacter pylori
Infection. Clin. Microbiol. Rev., v. 19 (3), p. 449-490, 2006. LAINE, L.; COHEN, H.; BRODHEAD, J. Prospective evaluation of immediate versus
delayed refeeding and prognostic value of endoscopy in patients with upper gastrointestinal hemorrhage. Gastroenterology, v. 102, p. 314-6, 1992.
20
LAM, S.K.; SIRCUS, W. Studies on duodenal ulcer I. The clinical evidence for the existence of two populations. Q. J. Med., v. 44, p. 36987, 1975.
LAM, S.K. Aetiological factors of peptic ulcer: perspectives of epidemiological observations
this century. J. Gastroenterol. Hepatol., v. 9 (1), p. 938, 1994. LEVENSTEIN S.; KAPLAN, G.A.; SMITH, M.W. Psychological predictors of peptic ulcer
incidence in the Alameda County Study. J. Clin. Gastroenterol., v. 24 (3), p. 140- 6, 1997.
LEVENSTEIN, S. The Very Model of a Modern Etiology: A Biopsychosocial View of Peptic
Ulcer. Psychosom. Med., v. 62, p. 176-82, 2000. LYDIARD, R.B.; GREENWALD, S.; WEISSMAN, M.M.; JOHNSON, J.; DROSSMAN,
D.A.; BALLENGER, J.C. Panic disorder and gastrointestinal symptoms: findings from the ECA. Am. J. Psychiatry, v. 151, p. 6470, 1994.
MAHMOUD, I.; MOHARRAN, F.A.; MARZOUK, M.S.; SOLIMAN, H.S.; EL-DIB, R.A.
Two new flavonol glycosides from leaves of Koelreuteria paniculata. Die Pharmazie, v. 56, p. 580-582, 2001.
MCCOLL, K.E.L.; EL-NUJUMI, A.M.; CHITTAJALLU, R.S.; DAHILL, S.W.; DORRIAN,
C.A.; EL-OMAR, E.; PENMAN, I.; FITZSIMONS, E.J.; DRAIN, J.; GRAHAM, H.; ARDILL, J.E.S.; BESSENT, R. A study of the pathogenesis of Helicobacter pylori negative chronic duodenal ulceration. Gut, v. 34, p. 7628, 1993.
MCDADE, T.W.; REYES-GARCIA, V.; BLACLACKINTON, P.; TANNER, S.; HUANCA,
T.; LEONARD, W.R. Ethnobotanical knowledge is associated with indices of child health in the Bolivian Amazon. Proc. Natl. Acad. Sci. USA, v. 104 (15), p. 6134-9, 2007.
MENDONA, R.; FELFILI, J.M.; WALTER, B.M.T.; SILVA JNIOR, M.C.; REZENDE,
A.V.; FILGUEIRAS, T.S.; NOGUEIRA, P.E.N. Flora vascular do Cerrado. p. 287-556. In: Sano & Almeida (eds.). Cerrado: ambiente e flora. Planaltina, Embrapa-CPAC, 1998.
MESQUITA, M.L.; GRELLIER, P.; BLOND, A.; BROUARD, J.P.; PAULA, J.E.;
ESPINDOLA, L.S.; MAMBU, L. New ether diglycosides from Matayba guianensis with antiplasmodial activity. Bioorg Med Chem, v. 13, p. 4499-4506, 2005a.
MESQUITA, M.L.; DESRIVOT, J.; BORIES, C.; FOURNET, A.; PAULA, J.E.;
GRELLIER, P.; ESPINDOLA, L.S. Antileishmanial and trypanocidal activity of Brazilian Cerrado plants. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v. 100, p. 783-787, 2005b.
MILANI, S.; CALABR, A. Role of growth factors and their receptors in gastric ulcer
healing. Microsc. Res. Tech., v. 53, p. 360-371, 2001. MINCIS, M. Gastroenterologia e hepatologia: diagnstico e tratamento. 3 ed. So Paulo:
Editorial Lemos, 2002.
21
NAPOLITANO, D.R.; MINEO, J.R.; DE SOUZA, M.A.; DE PAULA, J.E.; ESPINDOLA, L.S.; ESPINDOLA, F.S. Down-modulation of nitric oxide production in murine macrophages treated with crude plant extracts from the brazilian Cerrado. J. Ethnopharmacol., v. 99, p. 37-41, 2005.
NISBET, L.J.; MOORE, M. Will natural products remain an important source of drug
research for the future? Curr. Opin. Biotechnol., v. 8 (6), p. 708-12, 1997. ORTEGA, A.; GARCIA, E.P.; CAIDENAS, J.; MANCERA, C.; MARQUINA, S.;
GORDUNO, C.I.M.; MALDONADO, E. Methyldodonates, a new type of diterpene with modified derodane skeleton from Dodenaea viscose. Tetrahedron, v. 57, p. 2981-2989, 2001.
PACHECO, M.T.B.; BIGHETTI, E.; ANTNIO, M.; DE CARVALHO, J.E.; ROSALI, C.F.;
SGARBIERI, V.C.S. Efeito de um hidrolisado de protenas de soro de leite e de seus peptdeos na proteo de leses ulcerativas da mucosa gstrica de ratos. Rev. Nutri., v. 19 (1), p. 47 55, 2006.
POTT, A.; POTT, V. Plantas do Pantanal. Corumb: Embrapa SPI, 1994. PROENA, C.; OLIVEIRA, R.S.; SILVA, A.P. Flores e frutos do cerrado. Ed. UnB,
Braslia, 2000. RENN, L.R. Pequeno dicionrio etimolgico das Famlias Botnicas. Belo Horizonte:
Imprensa da Universidade de Minas Gerais, 1963. RIBEIRO, J.F.; WALTER, B.M.T. Fitofisionomias do Bioma Cerrado. p. 87-166. In: Sano &
Almeida (eds.). Cerrado: ambiente e flora. Embrapa Cerrados, Planaltina, 1998. ROBBERS, J.E.; SPEEDIE, M.K.; TYLER, V.E. Pharmacognosy and
pharmacobiotechnology. Baltimore: Willians & Wilkins, p.1-14, 1996. RODRIGUES, A.M.S.; DE PAULA, J.E.; DEGALLIER, J.; MOLEZ, J.F.; ESPINDOLA,
L.S. Larvicidal activity of some Cerrado Plant extracts against Aedes aegypti. J. Am. Mosq. Control Assoc., v. 22, p. 314-317, 2006.
ROGERS, M.P.; WHITE, K.; WARSHAW, M.G.; YONKERS, K.A.; RODRIGUEZ-VILLA,
F.; CHANG, G.; KELLER, M.B. Prevalence of medical illness in patients with anxiety disorders. Int. J. Psychiatry Med., v. 24, p. 8396, 1994.
ROTTER, J.I.; RIMOIN, D.L. Peptic ulcer disease: a heterogeneous group of disorders?
Gastroenterology, v. 73, p. 6047, 1977. SATYANARAYANA, M.N. Capsaicin and gastric ulcers. Crit. Rev. Food Sci. Nutr., v. 46,
p. 275328, 2006. SEGAWA, K.; NAKAZAWA, S.; TSUKAMOTO, Y.; KURITA, Y.; GOTO, H.; JUKUI, A.;
TAKANO, K. Peptic ulcer is prevalent among shift workers. Dig. Dis. Sci., v. 32, p. 44953, 1987.
22
SILVA, S.R. Plantas do Cerrado: utilizadas pelas comunidades da regio do grande Serto Veredas. Braslia: Fundao Pr-Natureza Funatura, 1998.
SONNENBERG, A. Factors which influence the incidence and course of peptic ulcer. Scand.
J. Gastroenterol., v. 155, p. 11940, 1988. SONNENBERG, A.; Sonnenberg, G.S. Occupational factors in disability pensions for gastric
and duodenal ulcer. J. Occup. Med., v. 28, p. 8790, 1986. SPIRO, H.M. Peptic ulcer is not a diseaseonly a sign. J. Clin. Gastroenterol., v. 9, p. 623
4, 1987. SPIRO, H.M. Peptic ulcer: Moynihans or Marshalls disease? Lancet, v. 352, p. 6456,
1998. SPTIZER, V. Fatty acid composition of some seed-oils of the Sapindaceae. Phytochemistry,
v. 42, p. 1357-1360, 1996. TEIXEIRA, J.R.; LAPA A.J.; SOUCCAR C.; VALLE J.R. Timbos: ichthyotoxic plants used
by Brazilian Indians. J. Ethnopharmacol., v. 10 (3), p. 311-8, 1984. TENNANT, C.; GOULSTON, K.; LANGELUDDECKE, P. Psychological correlates of
gastric and duodenal ulcer disease. Psychol. Med., v. 16, p. 36571, 1986. TEORREL, T. On the permeability of the stomach mucosa for acid and some other substances.
J. Gen. Physiol., v. 94, p. 308-14, 1940. TIBBLE, J.; SIGTHORSSON, G.; CALDWELL, C.; PALMER, R.H.; BJARNASON, I.
Effects of NSAIDs on cryoprobe-induced gastric ulcer healing in rats. Aliment. Pharmacol. Ther., v. 15, p. 2001-8, 2001.
TUROLLA, M.R.S.; NASCIMENTO, E.S. Informaes toxicolgicas de alguns fitoterpicos
utilizados no Brasil. Rev. Bras. Cienc. Farm., v. 42 (2), 2006. TYLER, V.E. Natural products and medicine: an overview. In: Balick, M.J.; Elisabetsky, E.;
Laird, S.A., (eds). Medicinal resources of the tropical forest, biodiversity and its importance to human health. New York: Columbia University Press, p.3-10, 1996.
VAN DER HAM, R. W. J. M.; TOMLIK, A. Serjania pollen and the origin of the tribe
Paullinieae (Sapindaceae). Rev. Palaeobot. Palynol., v. 83 (1-3), p. 43-53, 1994. VELDHUIS, J.D.; IRANMANESH, A. Physiological regulation of the human growth
hormone (GH)insulin-like growth factor type I (IGF-I) axis: predominant impact of age, obesity, gonadal function, and sleep. Sleep, v. 19 (10), p. 2214, 1996.
VILLEGAS, I.; LA CASA, C.; DE LA LASTRA, C.A.; MOTILVA, V.; HERRERIAS, J.M.;
MARTIN, M.J. Mucosal damage induced by preferential COX-1 and COX-2 inhibitors: role of prostaglandins and inflammatory response. Life Sci., v. 74, p. 873-884, 2004.
23
VOUTQUENNE, L.; KOUKOUGAN, C.; LAVAND, C.; POUNY, I.; LITAUDON, M. Triterpenoid saponins and acylated prosapogenins from Harpullia austrocaledonica. Phytochemistry, v. 59, p. 825-832, 2002.
WANG, G.Z.; HUANG, G.P.; YIN, G.L.; ZHOU, G.; GUO, C.J.; XIE, C.G.; JIA, B.B.;
WANG, J.F. Aspirin Can Elicit The Recurrence of Gastric Ulcer Induced with Acetic Acid in Rats. Cell. Physiol. Biochem., v. 20, p. 205-212, 2007.
YUNES, R.A.; CALIXTO, J.B. (orgs.). Plantas medicinais sob a tica da Qumica
Medicinal Moderna. Chapec: Argos, 2001.
24
O artigo a seguir ser submetido ao Journal of Ethnopharmacology
AVALIAO DA ATIVIDADE ANTIULCEROGNICA E TXICA DOS
EXTRATOS METANLICO E CLOROFRMICO DAS FOLHAS DE Serjania erecta
Radlk (SAPINDACEAE)
Ana Paula Nappi Arruda a; Catharine Ferrazoli a; Roberta Gomes Coelho b; Neli Kika Honda b; Cllia Akiko Hiruma-Lima a.
a Departamento de fisiologia, Instituto de biocincias, CP 510, CEP 18618-000, UNESP So Paulo State University, Botucatu, SP, Brazil
b Departamento de qumica, Centro de cincias exata e tecnologia, CP 549, CEP 79070-900, UFMS Mato Grosso do Sul Federal University, Campo Grande, MS, Brazil
RESUMO
A planta Serjania erecta Radlk (SAPINDACEAE) uma espcie presente na regio
de cerrado e apresenta como indicao popular a utilizao de suas folhas para o tratamento
de lcera. A partir destas informaes etnofarmacolgicas, os extratos metanlico e
clorofrmico de suas folhas foram avaliados quanto sua ao gastroprotetora e txica. Os
dois extratos no apresentaram atividade txica no modelo de toxicidade aguda e em triagem
hipocrtica em modelos animais in vivo e ambos apresentaram atividade gastroprotetora em
modelo de induo de lcera gstrica por etanol absoluto. O extrato clorofrmico (apolar)
apresentou maior atividade gastroprotetora do que o extrato metanlico o que instigou a
caracterizao do mecanismo de ao deste extrato vegetal. Foi constatado que este extrato
no apresenta atividade anti-secretria e sua ao gastroprotetora ocorre por envolvimento dos
grupamentos sulfidrlicos, via xido ntrico e tambm das terminaes nervosas sensveis
capsaicina. A caracterizao fitoqumica do extrato metanlico aponta para a presena de
saponinas, taninos, flavonides e terpenos. J o extrato clorofrmico de S. erecta apresenta
saponinas, poliisoprenides, triterpenos, esterides, esterides glicosilados e cidos graxos de
cadeia longa.
Palavras chaves: Cerrado; gastroproteo; planta medicinal, Sapindaceae; Serjania erecta.
ARTIGO: AVALIAO DA ATIVIDADE ANTIULCEROGNICA E TXICA DOS EXTRATOS METANLICO E CLOROFRMICO DAS FOLHAS DE Serjania erecta Radlk (SAPINDACEAE)
25
1. INTRODUO
O gnero Serjania pertence famlia Sapindaceae e a maioria de suas espcies
encontrada no bioma Cerrado. Segundo Napolitano et al. (2005), a rica flora do Cerrado
brasileiro tem sido pobremente estudada para a validao da eficcia e efeitos teraputicos de
extratos brutos ou componentes isolados obtidos de uma ampla gama de famlias botnicas.
Extratos brutos, tanto quanto flavonides isolados de plantas pertencentes famlia
Sapindaceae, tem sido investigados por suas atividades antiinflamatria e anti-viral.
Sobre os nomes populares e a indicao popular da espcie Serjania erecta Radlk,
Silva (1998) afirma que seu nome popular Retrato-de-Tei. Este nome refere-se
semelhana da folha com o lagarto Tei que ocorre na regio do Cerrado. O ch da folha
macerada usado como regulador menstrual e, alm disso, tambm extremamente utilizado
para lavar ferimento, auxiliando na cicatrizao. Segundo Corra (1924), esta planta passa por
venenosa, ao menos atordoa os peixes e conhecida popularmente por Cip de timb; Timb
bravo; Tururi; Turari. De acordo com Pott & Pott (1994), esta planta conhecida por cip-
cinco-folhas e apresenta como indicao popular a utilizao de suas folhas contra lcera e a
raiz contra presso alta.
Os objetivos do trabalho foram: avaliar as atividades gastroprotetoras dos extratos
metanlico e clorofrmico das folhas de Serjania erecta (Se); avaliar a segurana dos extratos
atravs do ensaio de toxicidade aguda e screening hipocrtico e caracterizar os provveis
mecanismos de ao envolvidos na atividade antiulcerognica do extrato mais efetivo.
2. MATERIAIS E MTODOS
2.1 Espcie estudada
2.1.1 Coleta
As folhas de Serjania erecta foram coletadas na regio sul de Cceres, estado do Mato
Grosso, na Fazenda So Lizito, S16 grau 33' 00.7 - W 58 grau 06' 08.9'', a 110 metros de
altura.
26
Os coletores e identificadores da planta foram Arnildo Pott e Vali Pott, da Embrapa
Gado de Corte de Campo Grande MS. A exsicata foi depositada no prprio herbrio da
Embrapa Gado de Corte com o nmero da coleta: HMS 8355.
2.1.2 Preparao dos extratos metanlico e clorofrmico
As folhas de Serjania erecta (180g) foram coletadas e secas temperatura ambiente.
Em seguida, as folhas foram trituradas em liquidificador NKS. O p resultante foi submetido
macerao em clorofrmio (CHCl3) por 48 horas recipiente hermeticamente fechado e
filtrado em papel de filtro. O extrato obtido foi concentrado em rotaevaporador, sob presso
reduzida, fornecendo o extrato clorofrmico de S. erecta (SeCHCl3). Esse procedimento foi
realizado trs vezes obtendo-se ao final cerca de 10 gramas de extrato clorofrmico. A torta
resultante da extrao com CHCl3 foi submetida macerao com solvente polar metanol
(MeOH) da mesma maneira descrita anteriormente, originando o extrato metanlico de S.
erecta (SeMeOH) com cerca de 14 gramas. O rendimento final do extrato SeCHCl3 foi de
5,55 % e o do extrato SeMeOH foi de 7,78 %.
2.2 Animais
Foram utilizados camundongos Swiss machos e fmeas (30 35g) e ratos Wistar
albinos machos (150 250g) para os experimentos. Eles foram provenientes do Biotrio
Central da UNESP de Botucatu, aclimatados s condies do biotrio setorial por pelo menos
sete dias antes da experimentao, sob temperatura de (23 2C) e ciclo claro-escuro de 12
horas controlados. Os animais foram alimentados com rao Guabi e gua ad libitum. Os
experimentos obedeceram aos protocolos experimentais que foram submetidos e aprovados
pelo Comisso de tica na Experimentao Animal, do Instituto de Biocincias da UNESP
Botucatu. O nmero de animais por grupo experimental variou de 5 a 11 animais por grupo.
27
2.3 Avaliao da atividade farmacolgica
2.3.1 Estudo de Toxicidade Aguda e screening hipocrtico
Este estudo foi realizado com o intuito de avaliar possveis efeitos txicos agudos dos
extratos metanlico e clorofrmico de Serjania erecta Radlk. Estes efeitos txicos poderiam
se apresentar na forma de alteraes de comportamento dos animais, na reduo do peso
corporal, na morte de animais ou na forma de modificaes macroscpicas de rgos vitais
como fgado, rins, corao, bao e pulmo.
Foram testados grupos de camundongos (machos e fmeas), com peso corporal entre
20 e 30 gramas, divididos aleatoriamente para os respectivos grupos de tratamento: Salina ou
Tween 80 8% (controle) e extratos metanlico e clorofrmico de Serjania erecta na dose
nica de 5000 mg/kg. Os tratamentos foram realizados por via oral (v.o.) e os parmetros
comportamentais observados foram descritos por Malone & Robichaud (1962) e Brito (1994)
(anexo 1). Os parmetros foram analisados aos 30, 60, 120, 180 e 240 minutos aps a
administrao dos extratos. Os parmetros de toxicidade aguda foram monitorados atravs do
registro do nmero de mortes de animais por grupo. Como parmetro adicional de toxicidade,
o peso dos animais foi monitorado durante 14 dias aps o incio do experimento e ao final
deste perodo todos os animais foram mortos para anlise dos rgos vitais. Estes foram
devidamente pesados, no intuito de se avaliar possveis alteraes morfolgicas detectadas
macroscopicamente. Outro parmetro analisado foi o peso relativo dos rgos, obtidos da
razo entre o peso do rgo e peso total do animal transformado em Arcoseno, para
adequao estatstica.
2.3.2 Leses Ulcerosas
Para avaliar a atividade antiulcerognica dos extratos, foram realizados experimentos
de induo de lcera gstrica com base em fatores etiolgicos da doena no homem como, por
exemplo, acmulo de suco gstrico e a ingesto de lcool etlico. Cada modelo experimental
apresenta os seus respectivos grupos controle positivo (cimetidina, capsaicina ou
carbenoxolona) e negativo (salina ou tween 80 8%) dependendo da especificidade de cada
modelo. Os animais, antes de cada tratamento, foram mantidos em gaiola especial, para evitar
coprofagia, sem maravalha e com gua ad libitum.
28
Nestes modelos, em seguida morte dos animais, os estmagos foram retirados e
abertos pela curvatura maior. Aps este procedimento, eles foram prensados entre placas de
vidro transparente e escaneados para medio das reas ulceradas com a utilizao do
programa AvSoft Bio View Espectra.
2.3.3 Induo de lcera por Etanol absoluto
Este mtodo foi baseado no modelo descrito por Morimoto et al., (1991). Foram
utilizados ratos Wistar machos que foram divididos aleatoriamente em grupos para seus
respectivos tratamentos (salina ou tween 80 8%, carbenoxolona 100 mg/kg e extratos
metanlico e clorofrmico nas doses de 15,6; 31,2; 62,5; 125, 250 e 500 mg/kg). Cada
tratamento foi administrado por via oral em dose volume de 10 mL/Kg. Decorridos 60
minutos, 1mL do agente lesivo (etanol 99,5%) foi aplicado em todos os animais. Transcorrido
mais 1 hora deste tratamento. O pH do suco gstrico foi determinado por fitas de pH (Merck,
Alemanha) e em seguida os estmagos foram abertos ao longo da maior curvatura, prensados
entre placas de vidro transparente e escaneados para posterior medio das reas ulceradas
com a utilizao do programa AvSoft Bio View Espectra. A seguir a este modelo foi dado
sequncia a caracterizao dos mecanismos de ao do extrato clorofrmico, pois este se
apresentou mais eficiente quando comparado ao extrato metanlico.
2.4 Caracterizao da aoantiulcerognica do extrato clorofrmico
2.4.1 lceras induzidas pela Ligadura de piloro e avaliao dos parmetros do suco
gstrico
Baseado no modelo descrito por Shay et al.(1945), onde os parmetros do suco
gstrico foram avaliados sob o efeito do extrato clorofrmico administrado por via oral ou via
intraduodenal com o objetivo de avaliar o efeito local ou sistmico do extrato. Aps 24 horas
de jejum os ratos, sob anestesia, sofreram uma inciso longitudinal logo abaixo da apfise
xifide para a ligadura do piloro. A administrao do extrato clorofrmico de S. erecta (250
mg/kg), cimetidina 100 mg/kg (controle positivo) ou tween 80 8% (controle negativo), foi
realizada logo aps a ligadura, por via intraduodenal ou 30 minutos antes nos tratamentos por
via oral. A dose do extrato (250 mg/kg) foi utilizada com base nos resultados obtidos nos
29
experimentos anteriores, por ser considerada a mais efetiva em termos de gastroproteo.
Aps esse processo as incises foram suturadas, e aps 4 horas os ratos foram mortos por
deslocamento cervical e a inciso reaberta. Em seguida foi realizada uma ligadura da crdia
(para preservao do contedo gstrico) antes da retirada do estmago. O contedo estomacal
foi coletado e, em seguida, determinado o volume do suco gstrico, o pH e a concentrao de
ons hidrognio na secreo gstrica atravs de titulao com NaOH 0,01N em bureta digital
modelo EM -burete, atravs da fenolftalena como indicador. A concentrao total de cido
foi expressa em mEq/ml/4h e o pH determinado por fitas de pH (Merck, Alemanha).
2.4.2 Determinao do papel dos grupamentos sulfidrlicos na gastroproteo
Baseado no mtodo de Matsuda et al. (1999b), ratos Wistar machos permaneceram em
jejum por 24 horas. Os animais foram separados em 6 grupos, onde 3 grupos foram pr-
tratados com uma injeo intraperitoneal de NEM (N-ethilmaleimida), enquanto os 3 restantes
receberam salina pela mesma via. Decorridos 30 minutos, cada grupo experimental recebeu
(v.o.) seu tratamento correspondente (tween 80 8%, carbenoxolona 100 mg/kg e extrato
clorofrmico de S. erecta 250 mg/kg). Depois de 60 minutos, os animais receberam um
volume fixo de 1mL de etanol absoluto 99,5% (v.o) sendo mortos aps 1 hora deste ltimo
tratamento. Os estmagos foram retirados e abertos pela grande curvatura, para ento suas
reas de leses serem medidas, como descrito anteriormente.
2.4.3 Determinao do papel do xido Ntrico (NO) na gastroproteo
Baseado no mtodo descrito por Arrieta et al. (2003), ratos Wistar machos em jejum
por 24 horas foram divididos em 6 grupos, onde 3 receberam injeo intraperitoneal de L-
NAME (N-nitro-L-arginina metil ster), enquanto os outros 3 grupos receberam salina pela
mesma via. Aps 30 minutos, os grupos receberam administrao oral dos respectivos
tratamentos (tween 80 a 8%, carbenoxolona 100 mg/kg e extrato clorofrmico de S. erecta
250 mg/kg). Aps 60 minutos, os animais foram tratados pela via oral com 1mL de etanol
absoluto 99,5%. Os animais foram mortos aps 1 hora, e os estmagos foram retirados e
abertos pela grande curvatura, para ento suas reas de leses serem medidas, como descrito
anteriormente.
30
2.4.4 Determinao do papel das terminaes nervosas sensveis Capsaicina na
gastroproteo
Baseado no mtodo de Pongpiriyadacha et al. (2003), ratos Wistar machos
permaneceram em jejum por 24 horas. Os animais foram separados em 6 grupos, onde 3
grupos foram pr-tratados com uma injeo intraperitoneal de R.R. (Ruthenium Red),
enquanto os 3 restantes receberam salina pela mesma via. Decorridos 30 minutos, cada grupo
experimental recebeu (v.o.) seu tratamento correspondente (tween 80 a 8%, capsaicina 4
mg/kg e extrato clorofrmico de S. erecta 250 mg/kg). Depois de 60 minutos, os animais
receberam um volume fixo de 1mL de etanol absoluto 99,5% (v.o), sendo mortos aps 1 hora
deste ltimo tratamento. Os estmagos foram retirados e abertos pela grande curvatura, para
ento suas reas de leses serem medidas, como descrito anteriormente.
2.5 Anlise Estatstica
Os resultados foram expressos na forma de mdia erro padro da mdia. Os valores
obtidos foram submetidos anlise de varincia de uma via (ANOVA) seguida do teste de
Dunnett ou Tukey-Kramer quando o nmero de grupos era maior que 2. No caso da anlise
entre 2 grupos, o teste utilizou a tratativa de T de Student no pareado (unpaired t test). A
significncia mnima considerada foi de p < 0,05. As anlises estatsticas foram realizadas
utilizando-se o software GraphPad InStat verso 3.00.
3. RESULTADOS E DISCUSSO
3.1 Toxicidade Aguda e screening hipocrtico
Esta foi uma avaliao estimativa e preliminar das possveis propriedades txicas dos
extratos testados, fornecendo informaes acerca dos riscos para a sade resultante de uma
exposio de curta durao. Durante o ensaio, os efeitos da dose de 5g/kg foram observados
nos camundongos fmeas e machos para verificao da taxa de mortalidade e comparando-os
com seus grupos controle. Alm disso, o perodo de observao suficientemente longo para
avaliar completamente o carter reversvel ou irreversvel dos efeitos observados (Brito,
31
1994). Este teste foi realizado com os dois extratos de S. erecta, o metanlico e o
clorofrmico.
Sobre o extrato metanlico, este no provocou alteraes nos parmetros
comportamentais analisados (dados no apresentados) quando comparados aos animais do
grupo controle que receberam somente o veculo (tabela em anexo). O monitoramento dirio
do peso dos animais tambm no indicou variao significativa em relao ao grupo controle.
Durante o perodo de observao tambm no ocorreram mortes de animais (Figuras 1 e 2).
Aps a realizao da avaliao com T de Student, verificou-se a no existncia de
diferena significativa (p > 0,05) entre os grupos tratados com o extrato e os tratados com o
controle negativo, tanto para os machos como para as fmeas (Tabela 1).
Figura 1 - Evoluo do peso corporal (g) de camundongos machos tratados com dose
nica de 5000 mg/kg do extrato metanlico de S. erecta (SeMeOH).
38
40
42
44
46
48
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
peso
(g)
tempo (dias)
Modelo de Toxicidade Aguda
Veculo SeMeOH
Variao da mdia dos pesos (g) dos animais monitorados durante 14 dias. Os pontos
representam as mdias dos grupos para cada dia de observao.
32
Tabela 1 Efeito da administrao aguda (5000 mg/Kg) do extrato metanlico de S.
erecta (SeMeOH) sobre o peso dos rgos de camundongos machos e fmeas.
Sexo Tratamento
(dose)
Fgado Corao Pulmes Rins Bao
Veculo
(10 ml/kg)
13.19 0.22 3.92 0.11 4.89 0.22 6.36 0.11 3.72 0.15
SeMeOH
(5g/kg)
13.80 0.21 3.65 0.05 5.10 0.15 6.20 0.11 3.91 0.06
Veculo
(10 ml/kg)
13.36 0.19 3.74 0.14 4.78 0.08 5.76 0.06 4.01 0.13
SeMeOH
(5g/kg)
13.19 0.30 3.80 0.10 4.85 0.22 5.65 0.15 4.22 0.17
Dados da razo do peso dos rgos dividido pelo peso corpreo e transformado em arcoseno,
valores expressos em mdia (arcoseno) erro padro da mdia.
Figura 2 - Evoluo do peso corporal (g) de camundongos fmeas tratadas com dose
nica de 5000 mg/kg do extrato metanlico de S. erecta (SeMeOH).
30
34
38
42
46
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
peso
(g)
tempo (dias)
Modelo de Toxicidade Aguda
Veculo SeMeOH
Variao da mdia dos pesos (g) dos animais monitorados durante 14 dias. Os pontos
representam as mdias dos grupos para cada dia de observao.
33
Sobre o extrato clorofrmico, a administrao da dose de 5000 mg/kg tambm no
provocou alteraes nos parmetros comportamentais analisados (dados no apresentados)
quando comparados aos animais do grupo controle que receberam somente veculo (tabela em
anexo). O monitoramento dirio do peso dos animais no indicou variao significativa em
relao ao grupo controle. Durante o perodo de observao no ocorreram mortes de animais
submetidos ao tratamento (Figuras 3 e 4).
Com relao aos outros parmetros analisados (o peso relativo dos rgos), tambm
foram verificados a no existncia de diferena significativa (p > 0,05) entre os grupos
tratados com o extrato e os tratados com o veculo, tanto para os machos como para as fmeas
(Tabela 2).
Figura 3 - Evoluo do peso corporal (g) de camundongos machos tratados com dose
nica de 5000 mg/kg do extrato clorofrmico de S. erecta (SeCHCl3).
24
28
32
36
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
peso
(g)
tempo (dias)
Modelo de Toxicidade Aguda
Veculo SeCHCl3
Variao da mdia dos pesos (g) dos animais monitorados durante 14 dias. Os pontos
representam as mdias dos grupos para cada dia de observao.
34
Tabela 2 Efeito da administrao aguda (5000 mg/Kg) do extrato clorofrmico de S.
erecta (SeCHCl3)