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0 INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO E FORMAÇÃO AVANÇADA ÉVORA, 20 DE JUNHO DE 2013 ORIENTADOR: Professor Doutor Paulo Quaresma Tese apresentada à Universidade de Évora Para obtenção do Grau de Doutor em Ciências da Informação e Documentação Paula Cristina Sousa Saraiva REENGENHARIA DE ESPAÇOS, SERVIÇOS E COMPETÊNCIAS NAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS DO SÉCULO XXI BIBLIOTECAS FÍSICAS OU VIRTUAIS?

BIBLIOTECAS FÍSICAS OU VIRTUAIS? - dspace.uevora.pt · BIBLIOTECAS FÍSICAS OU VIRTUAIS? Reengenharia de espaços, serviços e competências nas Bibliotecas Universitárias do século

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    INSTITUTO DE INVESTIGAO E FORMAO AVANADA

    VORA, 20 DE JUNHO DE 2013

    ORIENTADOR: Professor Doutor Paulo Quaresma

    Tese apresentada Universidade de vora

    Para obteno do Grau de Doutor em

    Cincias da Informao e Documentao

    Paula Cristina Sousa Saraiva

    REENGENHARIA DE ESPAOS, SERVIOS E COMPETNCIAS NAS BIBLIOTECAS

    UNIVERSITRIAS DO SCULO XXI

    BIBLIOTECAS FSICAS OU VIRTUAIS?

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    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

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    La bibliothque en feu Vieira da Silva

    As palavras no mudam a realidade. Mas ajudam-nos a pensar, a conversar, a tomar conscincia. E a conscincia, essa sim, pode mudar a realidade.

    (Prof. Doutor Antnio Nvoa, 2012)

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    Em memria da minha Me

    Aida Sousa

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    AGRADECIMENTO

    Quero manifestar em primeiro lugar o meu profundo agradecimento ao meu orientador, Prof. Doutor

    Paulo Quaresma, pelo acompanhamento e orientao neste trabalho e pelo incentivo constante que

    me impeliu sempre a prosseguir. Obrigado, por acreditar no meu trabalho e por me fazer acreditar

    que era possvel chegar ao fim.

    s bibliotecas e utilizadores inquiridos e aos responsveis das bibliotecas que me acolheram nas

    visitas que efetuei, sem os quais este trabalho no seria possvel, pela pacincia em responder s

    minhas questes e pela delicadeza com que me receberam.

    Dra. Emlia Clamote, chefe de diviso aposentada da Biblioteca da Faculdade de Medicina de

    Lisboa, pelo companheirismo e por tudo o que aprendi com ela nesta profisso de ser bibliotecria ao

    longo da minha vida, por ser uma referncia sempre constante, um apoio permanente e um exemplo

    de vida para mim.

    A uma amiga e colega de profisso muito especial, Lgia Neto, por partilhar comigo, pensamentos,

    textos, dvidas e anseios e por estar presente na minha vida sempre que eu preciso.

    Dedico este trabalho memria da minha me e dos meus padrinhos Henrique e Iva, pois foi por eles

    que eu continuei, honrando aquilo que sempre me ensinaram e o incentivo que sempre me deram para

    que eu nunca desistisse de prosseguir viagem pelos caminhos da aprendizagem e do conhecimento.

    Este trabalho a prova que as asas que me deram continuam abertas, voando nos trilhos desta vida

    apesar da sua ausncia.

    E por ltimo, porque so e sempre sero os primeiros, aos meus filhos Andr e Beatriz e ao meu

    companheiro de viagem Joaquim, um obrigado muito especial por me permitirem continuar a voar e

    por me apoiarem incondicionalmente, mesmo quando o tempo que lhes dediquei por vezes foi mais

    curto que o desejvel e merecido. Agora com a misso cumprida, hoje o primeiro dia do resto da

    nossa vida, para juntos vivermos a vida com novas experincias, outros voos e inmeros desafios.

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    RESUMO

    O novo modelo de ensino-aprendizagem introduzido por Bolonha e a implementao de tecnologias

    nas bibliotecas acadmicas, trouxeram mudanas profundas ao modo como o conhecimento

    produzido e disseminado e conduziram necessidade de uma reengenharia de espaos, servios e

    competncias, conferindo s bibliotecas um maior dinamismo e inovao nos servios que oferecem,

    cada vez mais centrados nas necessidades reais dos seus utilizadores.

    Este estudo, analisa as tendncias conjeturais centradas na triologia utilizadores/ bibliotecas/

    tecnologias, recorrendo triangulao de dados, baseada na reviso de literatura, na realizao de

    inquritos aos utilizadores e bibliotecas portuguesas e europeias e na observao de bibliotecas

    atravs de visitas de estudo, anlise das homepages e planos estratgicos.

    Os resultados obtidos, permitiram delinear um modelo de biblioteca acadmica inserida numa rede de

    bibliotecas, demonstrando-se que a colaborao entre instituies e a integrao comum de servios

    so essenciais para o desenvolvimento futuro destas estruturas acadmicas, produtoras e geradoras de

    conhecimento.

    Palavras-chave

    Bibliotecas acadmicas Modelo; Bibliotecas Fsicas; Bibliotecas Digitais; Biblioteca 2.0; Biblioteca

    3.0; Reengenharia de espaos; Competncias dos bibliotecrios; Redes de Bibliotecas

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    ABSTRACT

    PHYSICAL OR VIRTUAL LIBRARIES?

    Spaces, services and expertise reengineering in the university libraries of 21st century

    The new teaching and learning model introduced by Bologna process and the implementation of

    technologies in academic libraries, changed the way how knowledge is produced and disseminated

    and have created within academic libraries, new needs of space reengeneering, new services and new

    librarian skills that increased the offer of dynamic and innovating services with high level quality,

    based on new technologies and user centered.

    This study is focused in the library trends and based in the analysis of the triology: users / libraries /

    technologies and applied as methodology, the data triangulation method, based on the literature

    review, user survey / questionnaires to portuguese and european libraries and observation of libraries

    in study visits and analysis of their homepages and strategic plans.

    The results, brings to the light a new model for the academic library in 21st century embedded in a

    network of libraries, showing us that collaboration between institutions and the integration of

    services (shared services) are essential for the future development of these academic structures

    responsible for producing and sharing knowledge.

    Keywords

    Academic Libraries Model; Physical Libraries; Digital Libraries; Library 2.0; Library 3.0; Library

    Spaces; Librarian Skills; Library Networks

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    SUMRIO

    NDICE DE FIGURAS ...

    NDICE DE TABELAS...

    NDICE DE GRFICOS....

    SIGLAS

    INTRODUO .

    9

    12

    13

    18

    20

    Captulo 1 Enquadramento terico e contextual .. 27

    1.1. Da antiguidade era da sociedade da informao: breve histria das bibliotecas. 28

    1.2. As bibliotecas universitrias como centros dinmicos de aprendizagem e modelo

    colaborativo....

    42

    1.3 Tecnologias, utilizadores e bibliotecrios: atores da mudana nas bibliotecas

    acadmicas ...

    51

    1.3.1. Perfil do utilizador das bibliotecas acadmicas 51

    1.3.2. Profisso bibliotecrio: desafios e novos modelos de competncia nas

    bibliotecas acadmicas....

    58

    1.3.3. Otimizao de tecnologias e suportes, facilitadores de comunicao entre

    utilizador e biblioteca ....

    68

    1.4. Gesto e preservao de colees: ontologias, web semntica e curadoria de dados

    ....

    88

    1.5. Novos servios, novos espaos: reengenharia dos espaos nas bibliotecas acadmicas

    e sua afirmao como local de convergncia de saberes, servios e suportes fsicos e

    digitais...

    105

    1.5.1. A biblioteca sem fronteiras: servios de apoio ao utilizadores baseados em

    novas tecnologias ..

    105

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    1.5.2. Reengenharia dos espaos nas bibliotecas acadmicas: exemplos de boas

    prticas na arquitetura de bibliotecas...

    125

    Captulo 2 Metodologia de investigao.. 135

    2.1.Mtodos de Investigao .

    2.1.1. Anlise documental..............................................

    136

    137

    2.1.2.Observao 139

    2.1.3. Mtodo de investigao quantitativo.... 140

    2.1.3.1 Inquritos por questionrio a bibliotecrios e a utilizadores de bibliotecas

    acadmicas.....

    140

    2.2. Triangulao de mtodos ......

    2.3. Norma bibliogrfica adotada.

    141

    142

    Captulo 3 Apresentao e discusso de resultados .... 143

    3.1. Apresentao dos resultados dos inquritos por questionrio dirigidos s bibliotecas

    portuguesas e europeias.....

    144

    3.2.Observao das homepages das bibliotecas inquiridas..... 209

    3.3. Interpretao dos planos estratgicos das bibliotecas acadmicas 211

    3.4. Anlise das bibliotecas observadas em visita de estudo . 222

    3.4.1.Casos de boas prticas selecionados no grupo das bibliotecas visitadas.

    3.5. Apresentao dos resultados dos inquritos por questionrio dirigidos aos

    utilizadores

    226

    243

    3.6. Sntese dos resultados obtidos... 266

    Captulo 4 Proposta de um modelo de biblioteca acadmica....

    270

    4.1. Definio do modelo de biblioteca acadmica . 271

    4.2. Definio de um modelo para as redes de bibliotecas acadmicas.... 276

    CONCLUSO.

    282

    BIBLIOGRAFIA. 290

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    ANEXOS....

    Anexo A Questionrio s bibliotecas portuguesas ......

    Anexo A1 Questionrio s bibliotecas estrangeiras .....

    Anexo B Questionrio aos utilizadores ...

    Anexo1 Oramento das bibliotecas inquiridas .....

    Anexo 1 a Oramento das Bibliotecas portuguesas disponvel para peridicos

    impressos e para peridicos eletrnicos ...........

    Anexo 1 b Oramento das Bibliotecas estrangeiras disponvel para peridicos

    impressos e para peridicos eletrnicos ........

    Anexo 2 - Transio das aquisies impressas para eletrnicas (questes 2.3.1. e

    2.3.1.1.)...................................................................................................................................

    Anexo 2 a Caso das bibliotecas portuguesas .

    Anexo 2 b Caso das bibliotecas europeias .

    Anexo 3 - Caracterizao do espao fsico ..

    Anexo 3 a Caso das bibliotecas portuguesas ..

    Anexo 3 b Caso das bibliotecas europeias..

    Anexo 4 Anlise dos sites das bibliotecas inquiridas realizado em 2012 .........

    Anexo 5 Anlise dos planos estratgicos de bibliotecas estrangeiras recolhidos em

    2012.

    Anexo 6 Matrizes de anlise das visitas a bibliotecas acadmicas .

    320

    321

    333

    344

    351

    351

    351

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    NDICE DE FIGURAS

    Fig. 1: Ilustrao retratando o trio de entrada da Biblioteca de Ninve. 30

    Fig. 2: ilustrao retratando a Biblioteca de Alexandria.. 31

    Fig. 3: Fotografia da Biblioteca de Celso, fesus, Turquia. 31

    Fig. 4: Jean Milot dans son scriptorium. 32

    Fig. 5: Imagem da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra 33

    Fig. 6: Merton College Library OXFORD. 33

    Fig. 7: Fotografia da Bblia de Gutenberg. Cpia existente na Biblioteca do Congresso

    EUA

    34

    Fig. 8: Imagem da Biblioteca Real do Palcio Nacional de Mafra... 35

    Fig. 9: Obra pertencente ao acervo histrico da Faculdade de Medicina de

    Lisboa.

    35

    Fig. 10: Ilustrao da Classificao da Biblioteca do Congresso USA. 36

    Fig. 11: Imagem representando uma biblioteca hbrida 37

    Fig. 12: Abordagem centrada no utilizador .. 54

    Fig. 13: Quadro resumo de aptides e competncias do Euro-referencial ID . 61

    Fig 14: Competncias dos bibliotecrios no sculo XXI ... 63

    Fig.15: Diferenas entre culturas: Informticos e bibliotecrios ... 65

    Fig.16: Evoluo tecnolgica das Bibliotecas. 68

    Fig. 17:Perfil tecnolgico dos alunos ..... 76

    Fig.18: Modelo conceptual de Academic Library 2.0 .... 78

    Fig. 19: Contexto genrico da catalogao numa biblioteca ..... 89

    Fig. 20: O tringulo da Information Retrieval. . 96

    Fig. 21 Arquitectura da web semntica na perspectiva do consrcio W3C.. 97

    Fig. 22: Modelo do ciclo de vida da Curadoria Digital . 104

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    Fig. 23: Os percursos da Biblioteca Digital .... 107

    Fig.24 : Computao em Nuvem . 111

    Fig..25: Papeis na computao em nuvem .. 112

    Fig.26: Sete pilares da literacia da informao .. 121

    Fig. 27: Conceptualizao do CRAI ......

    128

    Fig. 28: Hunt Library NC State University .. 130

    Fig 29: University of California, Los Angeles - The College Library Instructional

    Computing Commons (CLICC) 131

    Figura 30: Triangulao de metodologias definidas para o presente estudo 142

    Fig. 31: Karolinska University Library: Plo de Huddinge e Plo de Solna... 226

    Fig. 32: Estrutura orgnica da Karolinska University Library 227

    Fig 33: Sistema self-service de emprstimos e devoluo de livros 231

    Fig. 34: Plo de Solna: Cmara obscura 232

    Fig. 35: Plo de Solna: rea recreativa: coleces escritas por mdicos/investigadores

    do KI sobre literatura, culinria e hobbies.. 232

    Fig. 36: Plo de Solna: Sala de leitura individual: isolada do som do corredor, por

    paredes de vidro... 233

    Fig.37: Plo de Solna: Salas de trabalhos de grupo. 233

    Fig. 38: Plo de Solna: rea em open space com quiosques de computadores para

    pesquisa no catlogo bibliogrfico 233

    Fig. 39: Plo de Solna: Balco de atendimento e helpdesk isolado por vidro atrs do

    balco 234

    Fig. 40: Plo de Solna: Postos de pesquisa 234

    Fig. 41: Plo de Huddinge: Vista geral do trio de entrada .. 234

    Fig. 42: Plo de Huddinge: Zonas de trabalhos de grupo e postos pesquisa bibliogrfica.. 235

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    Fig. 43: Plo de Huddinge: Postos de helpdesk e apoio a pesquisas bibliogrficas 235

    Fig. 44: Plo de Huddinge: Salas de formao da biblioteca... 236

    Fig. 45: Plo de Huddinge: Estantes em livre acesso com espaos para leitura informal e

    sala de estudo individual.. 236

    Fig. 46: Entrada principal da Central Library 238

    Fig. 47: Internet Caf.. 239

    Fig. 48: rea de trabalho de grupo tipo 1 denominado Think tanks 239

    Fig. 49: rea de trabalho de grupo tipo 2 em espao aberto.. 240

    Fig. 50: rea de trabalho de grupo tipo 3 em gabinete fechado e equipado com

    computador e quadro 240

    Fig. 51: Salas de estudo (quiet study) e estantes em open space.. 240

    Fig. 52: Salas de Computadores denominados Computer cluster space. 241

    Fig. 53: Mathematics Learning Centre.. 241

    Fig. 54: Core text collection 241

    Fig. 55: Servio de referncia. 242

    Fig. 56: Espaos de leitura Informal 242

    Fig.57: A evoluo do modelo de organizao da biblioteca acadmica. 272

    Fig.58: Modelo de servios integrados de uma rede de bibliotecas acadmicas. 277

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    NDICE DE TABELAS

    Tabela 1: Modelo de ensino pr e ps Bolonha ... 46

    Tabela 2: Metadata Dublin Core .. 73

    Tabela 3: mbito dos elementos do formato Dublin Core 74

    Tabela 4: Caractersticas da web. 3.0 ou web semntica .. 87

    Tabela 5: Evoluo da Internet da Web 1.0 web 3.0... 94

    Tabela 6: Modelos de servios de cloud computinge suas permisses de acesso. .... 112

    Tabela 7: Servios da Z. Smith Reynolds baseados em Cloud Computing . 116

    Tabela 8: Competncias e atitudes dos 7 pilares da literacia da informao 123

    Tabela 9: Listagem de Bibliotecas universitrias estrangeiras participantes no inqurito 145

    Tabela 10: Listagem de bibliotecas universitrias portuguesas participantes no inqurito 147

    Tabela 11: Horrios praticados nas bibliotecas participantes no inqurito 153

    Tabela 12: Tipologias do fundo documental das Bibliotecas. 161

    Tabela 13: BIBLIOTECAS: Competncias dos profissionais de informao previstas no

    Euro-referencial I-D Caso Portugus . 182

    Tabela 14: BIBLIOTECAS: Competncias dos profissionais de informao previstas no

    Euro-referencial I-D Caso Europeu. 184

    Tabela 15: Anlise SWOT a trs tipologias diferentes de Bibliotecas Caso portugus. 204

    Tabela 16: Anlise SWOT a trs tipologias diferentes de Bibliotecas Caso Europeu 206

    Tabela 17:Servios disponibilizados pelas Bibliotecas que os utilizadores utilizam 247

    Tabela 18: UTILIZADORES: Opinio sobre as competncias dos profissionais de

    informao previstas no Euro-referencial I-D 260

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    NDICE DE GRFICOS

    Grfico 1: Ano de fundao das bibliotecas portuguesas e estrangeiras.. 149

    Grfico 2: Tipologia das bibliotecas portuguesas e estrangeiras .. 150

    Grfico 3: Tipologia dos utilizadores .... 150

    Grfico 4: N de utilizadores nas bibliotecas. 151

    Grfico 5: Adequao do horrio das bibliotecas.. 153

    Grfico 6: Servios disponibilizados nas bibliotecas acadmicas. 154

    Grfico 7: N de colaboradores nas bibliotecas 155

    Grfico 8: Fundo histrico das bibliotecas (anterior ao sculo XVIII e obras raras)... 156

    Grfico 9: Documentao intermdia das bibliotecas (do sculo XVIII a 1960) . 157

    Grfico 10: Documentao corrente das bibliotecas (posterior a 1960) ... 158

    Grfico 11: Colees de peridicos impressos das bibliotecas. 158

    Grfico 12: Colees de peridicos eletrnicos das bibliotecas... 159

    Grfico 13: N de bases de dados existentes nas bibliotecas. 160

    Grfico 14: Tipologia dos suportes documentais... 162

    Grfico 15: Postos de pesquisa disponveis nas bibliotecas.. 163

    Grfico 16: Caso portugus: forma de disponibilizao da informao eletrnica e tipo de

    acesso remoto. 164

    Grfico 17: Caso portugus: forma de disponibilizao da informao eletrnica e tipo de

    acesso remoto. 165

    Grfico 18: Afluncia de utilizadores com a implementao do acesso VPN e Wireless. 165

    Grfico 19: Tipo de recursos eletrnicos existentes nas bibliotecas..... 166

    Grfico 20: caso Portugus: contedos eletrnicos mais consultados nas bibliotecas. 166

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    Grfico 21: caso europeu: contedos eletrnicos mais consultados nas bibliotecas 167

    Grfico 22: caso portugus: acesso aos contedos da B-ON e da Web of Knowledge 168

    Grfico 23: caso europeu: acesso aos contedos da Web of Knowledge.. 168

    Grfico 24: Acesso aos documentos eletrnicos vs. acesso aos documentos eletrnicos 169

    Grfico 25: Processo de envio dos documentos para o exterior da biblioteca... 169

    Grfico 26: Implantao da biblioteca... 170

    Grfico 27: Remodelaes e reas das bibliotecas. 171

    Grfico 28: N total de lugares nas salas de leitura 172

    Grfico 29: Tipologia de espaos nas bibliotecas. 173

    Grfico 30: Adequao do espao da biblioteca 174

    Grfico 31: Mudanas desejadas para a biblioteca 175

    Grfico 32: Dimenso da biblioteca no seu espao fsico v.s espao digital 176

    Grfico 33: Caso portugus: necessidades diagnosticadas para a execuo de obras.. 177

    Grfico 34: Caso europeu: necessidades diagnosticadas para a execuo de obras. 178

    Grfico 35: Novas funcionalidades da biblioteca aps a execuo das obras.. 179

    Grfico 36: Acesso distncia aos documentos em formato eletrnico v.s acesso aos

    espaos fsicos da biblioteca. 180

    Grfico 37: PORTUGAL: Competncias das equipas : Grupo I - Informao do Euro-

    referencial I-D . 184

    Grfico 38: EUROPA: Competncias das equipas : Grupo I - Informao do Euro-

    referencial I-D .. 185

    Grfico 39: PORTUGAL: Competncias das equipas : Grupo T - Tecnologias do Euro-

    referencial I-D . 186

    Grfico 40: EUROPA: Competncias das equipas : Grupo T - Tecnologias do Euro-

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    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    15

    referencial I-D 186

    Grfico 41: PORTUGAL: Competncias das equipas : Grupo C - Comunicao do Euro-

    referencial I-D 187

    Grfico 42: EUROPA: Competncias das equipas : Grupo C - Comunicao do Euro-

    referencial I-D 188

    Grfico 43: PORTUGAL: Competncias das equipas : Grupo M - Gesto do Euro-

    referencial I-D 189

    Grfico 44: EUROPA: Competncias das equipas : Grupo M - Gesto do Euro-referencial

    I-D .. 190

    Grfico 45: Competncias essenciais das equipas no futuro face ais desafios da era digital. 191

    Grfico 46: PORTUGAL: Aptides das equipas das bibliotecas atuais e futuras.. 192

    Grfico 47: EUROPA: Aptides das equipas das bibliotecas atuais e futuras.. 193

    Grfico 48: PORTUGAL: Na era digital os bibliotecrios sero substitudos por

    informticos e acabar a biblioteca fsica.. 194

    Grfico 49: EUROPA: Na era digital os bibliotecrios sero substitudos por informticos

    e acabar a biblioteca fsica 195

    Grfico 50: PORTUGAL: Modelo de biblioteca acadmica nos prximos 50 anos 197

    Grfico 51: EUROPA: Modelo de biblioteca acadmica nos prximos 50 anos. 198

    Grfico 52: Recursos disponibilizados nos sites das bibliotecas em 2012 209

    Grfico 53: Servios divulgados nos sites das bibliotecas em 2012.. 210

    Grfico 54: Representatividade das bibliotecas acadmicas estrangeiras com planos

    estratgicos na Internet.. 213

    Grfico 55: Abrangncia temporal dos planos estratgicos... 214

    Grfico 56: Viso das bibliotecas.. 215

    Grfico 57: Objetivos estratgicos das bibliotecas 216

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    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    16

    Grfico 58: Estudos prvios e inquritos aos utilizadores.. 216

    Grfico 59: Aes a implementar pelos planos estratgicos.. 217

    Grfico 60: Conceitos subjacentes s frases estratgicas... 217

    Grfico 61: Espaos fsicos das bibliotecas visitadas 223

    Grfico 62: Espaos virtuais das bibliotecas visitadas.. 223

    Grfico 63: Recursos disponibilizados pelas bibliotecas visitadas 224

    Grfico 64: Servios disponibilizados pelas bibliotecas visitadas 224

    Grfico 65: Perfil dos utilizadores quanto idade e tipologia... 244

    Grfico 66: Tipologia das bibliotecas frequentadas pelos utilizadores inquiridos 244

    Grfico 67: Horrios das bibliotecas frequentadas pelos utilizadores... 245

    Grfico 68: Adequao do horrio da biblioteca na perspetiva do utilizador 245

    Grfico 69: Propostas alternativas aos horrios praticados pelas bibliotecas 246

    Grfico 70: Comparao de respostas bibliotecrios v.s. utilizadores relativamente aos

    horrios das bibliotecas 246

    Grfico 71: Servios existentes na biblioteca 248

    Grfico 72: Servios da biblioteca que o utilizador utiliza efetivamente...... 249

    Grfico 73: Frequncia de utilizao da biblioteca por parte dos utilizadores que usam

    VPN e Wireless.. 250

    Grfico 74:Grfico comparativo relativo frequncia de utilizao do espao da

    Biblioteca face utilizao de VPN e Wireless ... 250

    Grfico 75: Contedos digitais disponibilizados pelas bibliotecas 251

    Grfico 76: Contedos digitais que os utilizadores consultam... 252

    Grfico 77: Diminuio do procura de documentos impressos com o acesso aos

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    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    17

    documentos eletrnicos.. 253

    Grfico 78: Grfico comparativo da diminuio do procura de documentos impressos com

    o acesso aos documentos eletrnicos. 253

    Grfico 79: Espaos fsicos das bibliotecas. 254

    Grfico 80 : Adequao do espao da biblioteca.. 254

    Grfico 81: Mudanas que os utilizadores fariam nas bibliotecas 255

    Grfico 82: Opinio relativamente utilizao do espao fsico se a biblioteca se tornasse

    totalmente digital 256

    Grfico 83: As bibliotecas digitais podero afastar os utilizadores e levar ao encerramento

    das bibliotecas?.................................................................................................................. 256

    Grfico 84: UTILIZADORES: Opinio sobre as competncias das equipas : Grupo I -

    Informao do Euro-referencial I-D.. 261

    Grfico 85: UTILIZADORES: Opinio sobre as competncias das equipas : Grupo T -

    Tecnologias do Euro-referencial I-D . 262

    Grfico 86: UTILIZADORES: Opinio sobre as competncias das equipas : Grupo C -

    Comunicao do Euro-referencial I-D.. 263

    Grfico 87: UTILIZADORES: Opinio sobre as competncias das equipas : Grupo M -

    Gesto do Euro-referencial I-D. 263

    Grfico 88: UTILIZADORES: Opinio sobre as competncias essenciais das equipas no

    futuro face aos desafios da era digital 264

    Grfico 89 : UTILIZADORES: Opinio sobre as aptides das equipas das bibliotecas

    atuais e futuras 265

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    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    18

    SIGLAS

    ACRL- Association of College and Research Libraries

    ALA American Library Association

    APDSI Associao para a Promoo e Desenvolvimento da Sociedade da Informao

    API - Application Programming Interface

    ARL Associatiom of Research Libraries

    B-ON Biblioteca do conhecimento Online

    CILIP Council on Libraries and Information Resources

    CRAI Centro de Recursos para la Aprendizage y la Investigacin

    DC Dublin Core

    ECTS - European Credit Transfer and Accumulation System

    EEES Espao Europeu de Ensino Superior

    EEI Espao Europeu de Investigao

    FCT Fundao para a Cincia e Tecnologia

    FTP File Transfer Protocol

    HEFCE - Higher Education Funding Council for England

    HTML - HyperText Markup Language

    IaaS Infrastructure as a Service

    IFLA- International Federation of Libraries Association and Institutions

    ILS Integrated Library System

    IM Instant Messaging

    JISC Joint information Systems Committee

    NLM National Library of Medicine

    OAIS Open Archive Information System

    OCLC Online Computer Library Center

    OIL Ontology Inference Layer

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    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    19

    OWL Web Ontology Language

    PaaS Platform as a Service

    RCAAP Repositrio Cientfico de Acesso Aberto em Portugal

    RDF - Resource Description Framework

    REST - Representational State Transfer

    RSS Real Simple Syndication

    SaaS Software as a Service

    SCONUL Society of College, National and University Libraries

    SHOE Simple HTML Ontology Extensions

    SOAP - Simple Object Access Protocol

    SPARQL SPARQL protocol and RDF Query Language

    SKOS Simple Knowledge Organisation System

    TIC tecnologias de informao e Comunicao

    UDDI - Universal Description, Discovery and Integration

    URI Uniform Resource Identifier

    VPN Virtual Private Network

    WSDL - Web Services Description Language

    XML - eXtensible Markup Language

  • BIBLIOTECAS FSICAS OU VIRTUAIS?

    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    20

    INTRODUO

    Vieira da Silva

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    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    21

    DELIMITAO DO TEMA

    Learning is changing in the 21st century. Technologies used in learning, such as interactive

    whiteboards, personal learning environments, wireless networks and mobile devices, plus the

    internet and high-quality digital learning resources and the ability to access many of these

    from home and the workplace are altering the experiences and aspirations of learners.

    (Higher Education Funding Council for England [HEFCE], 2006)

    A emergncia da sociedade da informao centrada nos avanos tecnolgicos e na inovao,

    imprimiu um maior dinamismo e transformaes profundas no seio das bibliotecas acadmicas,

    possibilitando entre outras mudanas, o desenvolvimento de contedos e colees digitais a par da

    oferta de novos servios de alta qualidade, baseados no uso de novas tecnologias emergentes que

    permitem aos utilizadores, obterem a informao cientfica que necessitam com maior rigor, rapidez

    e eficcia, e se assim o entenderem, sem terem que se deslocar fisicamente s suas bibliotecas. Nas

    ltimas dcadas, emergiram gradualmente as bibliotecas digitais e os servios virtuais de referncia,

    facto que obrigou reflexo por parte dos bibliotecrios, sobre as novas necessidades de redefinirem

    e adaptarem os seus espaos fsicos e virtuais, de modo a que se tornem simultaneamente rentveis

    para as suas instituies, mas ao mesmo tempo funcionais e apelativos para os utilizadores, que

    assumem agora duas facetas: os que procuram um espao fsico onde possam trabalhar, pesquisar,

    socializar e interagir e os que por condicionalismos de localizao e de rentabilizao do seu tempo,

    necessitam de aceder aos recursos da sua biblioteca distncia.

    Para alguns, as bibliotecas virtuais substituiro gradualmente as bibliotecas fsicas, outros, defendem

    a emergncia de um novo modelo para as bibliotecas acadmicas, o que sugere um equilbrio entre o

    mundo fsico e o digital em contexto hbrido tornando-se consensual a ideia, de que quer o espao

    fsico, quer o virtual, cumprem funes diferentes face s necessidades tambm dspares dos

    utilizadores, detentores de perfis tambm diferentes e que neste contexto de hibridez podero ver

    mais personalizada e adequada ao seu perfil a satisfao das suas necessidades de informao.

    O presente estudo emergiu da discusso em torno de um conceito-chave: Library as place

    apresentado pela primeira vez no Symposium de Bethesda, patrocinado pela National Library of

    Medicine em 2003 (NLM, 2005) e desenvolvido num estudo em 2005 pelo Council on Libraries and

    Information Resources, (CILIP, 2005), onde se discutia o futuro das bibliotecas, a reengenharia de

    espaos e a influncia cada vez mais vincada das novas tecnologias no seio das bibliotecas.

  • BIBLIOTECAS FSICAS OU VIRTUAIS?

    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    22

    sabido, que todas as transformaes tecnolgicas, de gesto e marketing dos servios e de novos

    procedimentos no tratamento documental, conduziram a um novo redimensionamento, alterao e

    reformulao dos espaos fsicos, no seio das bibliotecas, conforme os novos servios prestados e as

    necessidades de novos grupos de utilizadores. Quer na anlise de literatura cientfica produzida

    acerca da temtica, quer pelas experincias partilhadas mundialmente pelos bibliotecrios, notria

    uma tendncia comum, em que se afirma que a biblioteca virtual no ir nunca conseguir substituir a

    biblioteca fsica, por mais que essa fosse uma conjuntura muito ambicionada pelos gestores e

    administradores das instituies, lutando com dificuldades de gesto global de espaos e servios nas

    instituies. Haver sim, a redefinio de espaos. Vejamos como exemplo, o caso de uma instituio

    acadmica que decide fechar a sua biblioteca, pois os recursos passaram a estar disponveis a

    qualquer hora e qualquer lugar atravs da Internet. Existem duas condies importantes que no

    devem ser ignoradas: a primeira que sendo uma escola, tero sempre que proporcionar aos seus

    alunos espaos onde estes se possam dirigir, ligar o seu porttil, em modo wireless, ou no, solicitar

    apoio especializado para proceder corretamente s pesquisas e onde se possam concentrar no seu

    trabalho individual ou em grupo. Ora, se no existir biblioteca como espao fsico, restar aos alunos,

    tentarem concentrar-se nos seus estudos, em espaos pblicos e desadequados (ainda que com

    wireless) como o jardim da instituio ou mesmo, um qualquer bar ou refeitrio, pois por vezes

    mesmo nas suas casas no tm condies econmicas para aceder Internet. A segunda condio

    que a introduo de novas tecnologias, novas bases de dados e novos equipamentos, iro conduzir os

    utilizadores ao balco da biblioteca, para pedir frequentemente suporte na parametrizao de

    equipamentos e formao para aprenderem a potenciar as suas pesquisas nos novos recursos. Assim,

    continuam a ser necessrios espaos fsicos para pesquisa, trabalho individual e de grupo e para

    suporte, formao e tambm socializao.

    No simposium de Bethesda, patrocinado pela National Library of Medicine em 2003 e intitulado

    The library as place: building and revitalizing health sciences library in the digital age (National

    Library of Medicine [NLM], 2005), reafirmou-se a ideia de que as bibliotecas iro permanecer na era

    digital, porm com uma reorganizao de espaos e recursos tcnicos e humanos e funcionando como

    facilitadoras da comunicao. Esta reorganizao conduzir nesta perspetiva a:

    Mais espaos de interao da biblioteca com os utilizadores, destinados a suporte tcnico e

    formao de utilizadores;

    Espaos com controlo de rudo, para trabalhos e leituras individuais e espaos mais dinmicos

    e interativos destinados a trabalhos de grupo;

  • BIBLIOTECAS FSICAS OU VIRTUAIS?

    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    23

    Espaos pblicos atrativos e funcionais;

    Disponibilidade permanente de equipas de biblioteca bem formadas e peritas em responder

    com celeridade aos problemas tcnicos e tecnolgicos bem como auxiliando na pesquisa de

    informao.

    A representante da Biblioteca do Congresso, no Symposium de Bethesda, Deena Marcum,

    afirmou nessa ocasio que:

    Place is very important. (...) since antiquity, libraries and information media, have survived

    together and that although entire libraries now can be put on a disk, physical libraries will still be

    needed because they connect learners with learning, link knowledge seekers with librarian-guides,

    serve as repositories of scholarly information, provide spaces for scholars to congregate and spur

    incubation of new methods of information sharing and distribution. (NLM, 2005)

    Tambm no mesmo Symposium de Bethesda, Eugene Prime da Hewlett-Packards menciona uma

    tentativa falhada de implementao de uma biblioteca virtual na empresa que correspondesse a

    todas as necessidades dos seus empregados:

    I was wrong! (..) The role of libraries is to restore the sense of place because more and more, people

    are coming together to think, dream and work, you cannot have a world-class organization without a

    world-class library. Libraries built communities of practice where disciplines come together and

    things happen. (NLM, 2005)

    MOTIVAO PARA A ELABORAO DO ESTUDO

    Learners have been shown to benefit academically from social interaction with their peers.

    Open-plan informal learning areas provide individualised learning environments which also

    support collaborative activities, and they can often be created from previously underutilised

    spaces (...). If we are to foster truly flexible, creative and adaptable minds, we need to look

    more critically at the extent to which learning space design promote innovative ways of

    thinking. (HEFCE, 2006)

    A motivao para a elaborao deste estudo, est relacionada com o eclodir de mudanas quase a um

    ritmo vertiginoso no seio das bibliotecas, que o impacto dos novos ambientes de ensino-

    aprendizagem baseados na implementao de novas tecnologias, vieram proporcionar.

  • BIBLIOTECAS FSICAS OU VIRTUAIS?

    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    24

    Assim, mudam os ambientes de aprendizagem, mudam tambm as necessidades dos utilizadores em

    termos de acesso a novos servios, sobretudo os de acesso distncia e que condicionaro

    necessariamente as bibliotecas a terem que repensar a mdio prazo na reengenharia dos seus espaos,

    dos seus servios e das competncias das suas equipas, de forma a melhor se adaptarem e

    sobreviverem s transformaes impostas pela sociedade da informao. Este condicionalismo,

    conduz-nos a outro tipo de reflexes no mbito das bibliotecas universitrias (espaos por excelncia

    do ensino e da investigao), sobre o modelo futuro das bibliotecas acadmicas. Qual o melhor

    modelo para as bibliotecas universitrias tendo em conta a emergncia das tecnologias e contedos

    digitais e as novas necessidades dos utilizadores? O modelo ser fsico ou virtual? ou em alternativa,

    evoluir-se- para uma coexistncia pacfica entre fsico e digital em contexto hbrido? Iro as

    bibliotecas fsicas desaparecer face aos avanos das tecnologias que permitem ao utilizador recorrer a

    bibliotecas digitais sem ter que se deslocar universidade? O que pensam os bibliotecrios e os

    utilizadores da informao sobre esta problemtica?

    A par desta realidade comearam a surgir nos ltimos 5 anos, sobretudo nos EUA, debates em

    congressos e seminrios e em literatura da especialidade, em torno do conceito: Library as place,

    que defende a teoria que as bibliotecas (sobretudo as acadmicas) nunca podero prescindir dos seus

    espaos fsicos se quiserem corresponder s reais necessidades dos seus clientes os utilizadores.

    Existir porm, uma necessria reengenharia de espaos que permitir s bibliotecas e aos

    bibliotecrios continuarem a fornecer novos servios e a desenvolverem competncias de modo a

    cumprirem a sua misso com excelncia, adaptando-se positivamente s transformaes da ltima

    dcada. A explorao deste conceito, de modo a chegar a algumas respostas mais concretas sobre

    estas questes, esto na base da motivao para a elaborao deste estudo.

    DEFINIO DA PROBLEMTICA DE ESTUDO

    A problemtica para a elaborao deste estudo, adveio da experincia de trabalho da doutoranda em

    bibliotecas acadmicas, onde a informao cientfica est constantemente a ser atualizada,

    recorrendo-se para isso ao acesso a potentes bases de dados que permitem fornecer informao

    pertinente e credvel a toda a comunidade acadmica. Por outro lado, alguns utilizadores so

    autnomos na pesquisa de informao e requerem com frequncia o acesso informao contida na

    biblioteca virtual, a partir de suas casas (atravs de VPN Virtual Private Network).

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    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    25

    Os bibliotecrios so constantemente confrontados com as seguintes questes: iro as bibliotecas

    fsicas ser suplantadas pelas bibliotecas digitais? Que reengenharia de espaos ser necessria para

    cativar continuamente os utilizadores motivando-os para no deixarem de frequentar a Biblioteca?

    Em que sentido, devero as bibliotecas acadmicas evoluir para continuarem a ser determinantes na

    vida acadmica dos seus utilizadores, chamando-os para os seus espaos? Estar a profisso de

    bibliotecrio em risco, suplantada por novas profisses na rea da informtica? Que novos servios

    podero oferecer os bibliotecrios e que competncias tero que desenvolver para continuarem a

    evoluir com as novas tendncias tecnolgicas, provando simultaneamente o seu valor e a necessidade

    de manterem os espaos fsicos em funcionamento?

    Quando inicimos o nosso estudo, pensmos restringi-lo apenas s bibliotecas universitrias.

    Posteriormente, verificmos que incluindo as restantes bibliotecas do ensino superior,

    conseguiramos obter resultados mais abrangentes de uma realidade global em mudana sujeita s

    novas regras ditadas pelo processo de Bolonha e dada a disponibilidade e interesse que estas

    bibliotecas demonstraram em participar neste trabalho de investigao, decidimos alargar o mbito e

    abrangncia da nossa investigao..

    DEFINIO DE OBJETIVOS

    So objetivos deste estudo:

    a) Contribuir para uma reflexo mais aprofundada sobre o modo como as bibliotecas acadmicas

    evoluiro neste sculo XXI, em termos de servios, tecnologias, competncias e redefinio

    de espaos de modo a cativarem e manterem o seu pblico-alvo.

    a) Avaliar se os bibliotecrios e utilizadores de bibliotecas do ensino superior tm alguma noo

    prpria, sobre o modo como estas evoluiro no futuro.

    b) Com base na metodologia proposta (reviso da literatura, inquritos dirigidos aos utilizadores

    e s bibliotecas acadmicas, anlise de websites, planos estratgicos e visitas s bibliotecas),

    propor um modelo de biblioteca acadmica adequado aos resultados obtidos neste estudo e

    que seja aplicvel numa perspetiva futura s bibliotecas, enquanto organismos isolados ou

    enquadradas numa rede de bibliotecas.

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    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    26

    CONTRIBUIES PREVISTAS

    Pretende-se que este estudo contribua para a clarificao e definio de um modelo de biblioteca

    acadmica neste incio de sculo XXI, onde se entrecruzam espaos e servios tradicionais e virtuais,

    gerando no seio dos bibliotecrios novas competncias que possam dar resposta s novas imposies

    decorrentes deste contexto hbrido. tambm nosso intuito, contribuir para uma discusso mais

    consciente e baseada na reviso de literatura pertinente, sobre a questo da evoluo dos espaos das

    bibliotecas num mundo em que o digital se impe e os contactos entre os indivduos se fazem cada

    vez mais distncia com recurso utilizao de novas tecnologias.

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    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    27

    CAPTULO 1 - ENQUADRAMENTO

    TERICO E CONTEXTUAL: A

    REVISO DA LITERATURA

    Vieira da Silva

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    28

    1.1. DA ANTIGUIDADE ERA DA SOCIEDADE DA INFORMAO: BREVE HISTRIA

    DAS BIBLIOTECAS

    A Biblioteca existe ab aeterno. Dessa verdade, cujo corolrio imediato a eternidade futura do

    mundo, nenhuma mente razovel pode duvidar. O homem, o bibliotecrio imperfeito, pode ser

    obra da sorte ou dos demiurgos malvolos; o universo, com sua elegante dotao de prateleiras, de

    tomos enigmticos, de escadas infatigveis para o viajante e de latrinas para o bibliotecrio

    sentado, somente pode ser criao de um deus () suspeito que a espcie humana - a nica - est

    por extinguir-se e que a Biblioteca perdurar: iluminada, solitria, infinita, perfeitamente imvel,

    armada de volumes preciosos, intil, incorruptvel, secreta. (Borges, 2009)

    Para Jorge Lus Borges, a Biblioteca era a representao do universo, o incio e o fim das coisas e a

    ordenao perfeita dos saberes que geram conhecimento. Assim, a Biblioteca infinita, nunca

    acabar e atravessar todos os tempos, sofrer mutaes, mas estar sempre presente na vida humana

    pois o bero e simultaneamente, guardi e transmissora do saber inteligvel. Assim, nunca poder

    extinguir-se, mas antes perdurar para alm da existncia humana, porque o conhecimento ainda que

    em constante transformao, tambm infinito.

    De fato, as bibliotecas tm tido atravs dos tempos uma presena forte na sociedade, funcionando

    como centro do saber e do conhecimento e ponto de ligao entre a cincia, o progresso e a evoluo

    da humanidade.

    Assim, para Virgil (2007), a Biblioteca de Babel de Jorge Lus Borges,

    Apresenta um retrato da sociedade da informao (e no apenas do ciberespao) sob vrios aspectos:

    A sociedade da informao estrutura-se em rede, com ligaes que apontam infinitamente para

    outros conectores, numa forma de comunicao de todos e para todos. A possibilidade de se

    efetuarem conexes com todos os pontos da rede, contudo, no permite que se tenha uma viso geral

    do contexto que a rede assume. () A sociedade da informao a cultura do virtual. A virtualidade

    desempenha um papel importantssimo, uma vez que responsvel pela criao de uma supra

    realidade que quebra duas limitaes existentes no passado: o espao e o tempo. Obviamente, a

    superao dessas duas barreiras cria a mobilidade, uma forma gil de preservar-se contra o que se

    constitui uma ameaa. No entanto, a mobilidade s tem valor quando se tem poder sobre os estoques

    de informao (). A sociedade da informao alienante. Existe uma tendncia natural utilizao

    de metalinguagens para configurar meta-informaes. Toda a forma de criptografia ou de regras, no

  • BIBLIOTECAS FSICAS OU VIRTUAIS?

    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    29

    claras e definidas se revela uma maneira perversa de dominao. A tecnologia tambm atua como

    meio condicionante (p.11-12).

    H ento, subjacente ao conceito de Biblioteca, o carter eterno, cclico mas de perenidade e de

    cumplicidade entre o mundo fsico e o virtual, sendo ambos indispensveis sociedade do

    conhecimento.

    Por conseguinte, falar da histria das bibliotecas no dever ser apenas um mero enumerar de dados

    cronolgicos que se sucedem, nem de confinar a sua misso, definio tradicional do conceito

    segundo a terminologia grega (Bibliothk que significa depsito de livros), mas antes um exerccio

    de evidenciar as mudanas e tendncias que ao longo da histria estiveram subjacentes ao evoluir do

    conhecimento e sua transformao, desde o ato simples na antiguidade, de registar na pedra de

    argila os clculos do dia-a-dia, as histrias e as memrias e de as guardar em lugar seguro (a

    Biblioteca) para prova e transmisso futura, at ao plano digital que se vive atualmente na sociedade

    da informao, mas que continua a valorizar a biblioteca, simultaneamente, como fonte difusora do

    saber, quer em forma fsica, quer digital, mas tambm como entidade que preserva a memria do

    passado.

    Deste modo, as bibliotecas atualmente, no so meros repositrios guardies do saber, mas so

    sobretudo, centros difusores do conhecimento humano e gestores da informao nos mais diversos

    tipos de suporte (fsicos e digitais) e utilizando os mais diversos equipamentos (fixos ou mveis).

    A evoluo a que assistimos nas bibliotecas marcante e sofreu transformaes profundas ao longo

    das pocas, desde as primeiras bibliotecas da antiguidade, ditas minerais, pois os acervos eram

    constitudos por placas de argila e que comearam por aparecer na regio da mesopotmia em 5000

    a.C., evoluo para um tipo de organizao como a biblioteca de Assurbanipal (em Nnive), que

    consistiu na primeira biblioteca sistemtica e organizada com um acervo de cerca de 30.000

    exemplares em vrias reas do conhecimento humano) passando pelas bibliotecas egpcias

    constitudas por suportes vegetais (documentos em suporte de papiro), clebre biblioteca de

    Alexandria j no perodo helenstico (sc. III a.C.), tambm organizada em rolos de papiro e

    passando ainda pelas bibliotecas em pergaminho (de matria animal). As bibliotecas passaram

    sistematicamente de repositrios do saber, mantidos exclusivamente nas mos das elites sociais

    (nobreza e clero), para uma maior liberalizao do acesso aos documentos, a partir da fundao das

    universidades nos sculos XII e XIII (com o objetivo primordial de apoiar o ensino e a investigao)

    e sobretudo aps 1455, com a inveno da imprensa por Gutenberg.

  • BIBLIOTECAS FSICAS OU VIRTUAIS?

    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    30

    As bibliotecas enquanto instituio, passam assim por vrias mudanas cclicas na histria e esto

    tambm ligadas ao tipo de organizao poltica e social da poca, destacando-se os seguintes

    perodos histricos, muitos deles percursores da realidade existente ainda hoje nas bibliotecas:

    a) As Bibliotecas enquanto repositrios do saber, guardis da memria humana (Mesopotmia,

    Sumria, Nnive) onde o conhecimento e o saber so sinnimo de poder, aparecendo com

    Assurbanipal em Nnive, a primeira tentativa de classificao e organizao temtica.

    Fig. 1: Ilustrao retratando o trio de entrada da Biblioteca de Nnive. In: Ninve Livraria (2010, 24

    de maio). Porqu Ninve? (blogue). Disponvel em: http://livrariadasede.blogspot.pt/2010/05/livraria-da-

    sede.html

    b) Na Grcia clssica e helenstica, as bibliotecas so repositrios do saber, mas tambm espaos

    sociais para discusso e partilha de ideias entre letrados, onde o aparecimento pela primeira vez

    do conceito de democracia, conduz ao gosto pela partilha de saberes (biblioteca de Atenas e

    biblioteca de Alexandria). O caso da Biblioteca de Alexandria, de facto notvel com o seu

    objetivo de reunir num s espao, uma biblioteca com todos os livros e todo o conhecimento, de

    todos os povos da terra. Assim, neste caso, o conceito de universalidade est bem presente. J a

    sua rival, a Biblioteca de Prgamo, ter tido um acervo documental estimado entre duzentas a

    trezentas mil obras, o qual ter sido doado em 30.a.C. a Alexandria, por Marco Antnio, como

    prenda a Clepatra.

    http://livrariadasede.blogspot.pt/2010/05/livraria-da-sede.htmlhttp://livrariadasede.blogspot.pt/2010/05/livraria-da-sede.html

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    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    31

    Fig. 2: Ilustrao retratando a Biblioteca de Alexandria. In: Um mundo de letras (2001, 28 de Dezembro).

    Curiosidade: biblioteca de Alexandria reuniu o maior acervo da antiguidade (blogue). Disponvel em:

    http://blogs.mundolivrefm.com.br/mundodeletras/2011/12/28/curiosidade-biblioteca-de-alexandria-reuniu-o-

    maior-acervo-da-antiguidade/

    c) No Imprio Romano, as bibliotecas surgem como um instrumento poltico de domnio intelectual,

    sob a forma das primeiras bibliotecas pblicas do imprio romano em 30 d.C. Eram por outro

    lado, smbolo de poder e prestgio de uma minoria pertencente elite social que no l os livros

    apenas os coleciona, sucedendo neste perodo o apogeu das bibliotecas particulares.

    Fig. 3: Fotografia da Biblioteca de Celso, Efsus, Turquia. Fotografia de Djenan Kozic, disponibilizada na

    Wikipedia com a licena wikimedia commons, a 21 de Junho de 2007, em:

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Celsiuslibrary-DK.JPG

    http://blogs.mundolivrefm.com.br/mundodeletras/2011/12/28/curiosidade-biblioteca-de-alexandria-reuniu-o-maior-acervo-da-antiguidade/http://blogs.mundolivrefm.com.br/mundodeletras/2011/12/28/curiosidade-biblioteca-de-alexandria-reuniu-o-maior-acervo-da-antiguidade/http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Celsiuslibrary-DK.JPG

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    32

    d) Na alta idade mdia, as bibliotecas passam novamente a viver um ciclo de retrocesso, com a

    instabilidade poltica vivida no fim do Imprio Romano, sendo que as obras que escapam

    destruio, permanecem enclausuradas nos conventos, onde apesar da dificuldade de acesso

    informao, os monges copistas nos seus scriptoria, prosseguem o esforo de reproduo das

    obras e so percursores de uma forma rudimentar de emprstimo interbibliotecas, fazendo

    circular as cpias das obras entre os mosteiros. Mais tarde, o perodo de inquisio, censura e

    extino das ordens monsticas, marcaram novamente, um retrocesso na histria das bibliotecas

    pela destruio massiva de acervos, que constituam repositrios nicos do pensamento humano

    atravs dos tempos.

    Fig. 4: Jean Milot dans son scriptorium. In : Miracles de Notre Dame, inventrio Fr 9198, f.19. Bibliothque

    Nationale de France e disponibilizado na wikipedia, com a licena wikimedia Commons, a 9 de janeiro de

    2006, em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_das_bibliotecas

    e) O aparecimento das universidades, marca o incio da circulao da informao cientfica, da

    partilha do conhecimento entre os que frequentam as universidades e o aumento da produo

    literria e cientfica, o que conduz a uma maior abertura das bibliotecas que se tornam centros de

    partilha e circulao de informao cientfica em permanente atualizao e transformao e

    tambm locais de estudo e reflexo.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_das_bibliotecas

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    33

    Fig. 5: Imagem da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra. In: Internet Nations (s.d.). Bibliotecas no

    mundo (blogue). Disponvel em: https://sites.google.com/site/internetnations/Home/bibliotecas-pelo-mundo

    A par da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra em Portugal, outra das mais antigas

    bibliotecas ainda em funcionamento nos dias de hoje, a Biblioteca de Merton College na

    Universidade de Oxford e que remonta a 1276, cujo acervo foi enriquecido com o contributo pessoal

    dos alunos, que foram convidados pelo Arcebispo de Canterbury, a deixar os livros que traziam com

    eles ou que adquiriram durante o seu percurso acadmico na Universidade (Normans, 2004-2013):

    Fig. 6: Merton College Library OXFORD. In: Normans , J (2004-2013). The World's Oldest Continuously

    Functioning Library for University Academics and Students" (1276). From cave paintings to the internet:

    chronological and thematic studies on the history of information and media (website). Disponvel em:

    http://www.historyofinformation.com/expanded.php?id=2267

    https://sites.google.com/site/internetnations/Home/bibliotecas-pelo-mundohttp://www.historyofinformation.com/expanded.php?id=2267

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    34

    Clark, (1901), afirma que as bibliotecas universitrias distinguem-se das demais, ao provocarem no

    ser humano um sentimento de associao. E este sentimento, pode ser entendido como associao ao

    passado, numa espcie de viagem no tempo, onde o leitor de hoje ao partilhar os mesmos espaos e

    ler as mesmas obras, que os grandes mestres de outrora leram, est a associar-se a essa mesma

    dimenso do conhecimento e em termos mais latos, se pensarmos que a biblioteca universitria um

    espao de associao entre seres humanos, para alcanarem juntos, partilhando saberes, novos

    patamares no desenvolvimento da investigao cientfica:

    When we enter the library of Queens' College, or the older part of the University Library, at

    Cambridge, where there has been continuity from the fifteenth century to the present day, are we not

    moved by feelings such as I have tried to indicate, such in fact as moved John Leland when he saw

    the library at Glastonbury for the first time? Moreover, there is another sentiment closely allied to

    this by which members of a College or a University are more deeply moved than others I mean

    the sentiment of association. The most prosaic among them cannot fail to remember that the very

    floors were trodden by the feet of the great scholars of the past; that Erasmus may have sat at that

    window on that bench, and read the very book which we are ourselves about to borrow (p. 318)

    f) A inveno da imprensa por Gutenberg, marca a par das universidades, a revoluo do livro na

    Idade Moderna e o ponto de viragem para uma maior liberalizao do acesso informao, com a

    reproduo e distribuio das obras em larga escala e a sua exportao para a Europa e resto do

    mundo.

    Fig. 7: Fotografia da Bblia de Gutenberg. Cpia existente na Biblioteca do Congresso dos EUA. Disponvel

    na Wikipedia, com a licena wikimedia Commons, a 2 de janeiro de 2005, em:

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Gutenberg_Bible.jpg

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Gutenberg_Bible.jpg

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    35

    Comearam tambm a aparecer entre o sc. XIV a XVI as bibliotecas senhoriais e reais como

    smbolo de riqueza e prestgio.

    Fig. 8: Imagem da Biblioteca Real do Palcio Nacional de Mafra. Internet Nations (s.d.). Bibliotecas no

    mundo (blogue). Disponvel em: https://sites.google.com/site/internetnations/Home/bibliotecas-pelo-mundo

    O sculo das luzes, veio trazer novo fulgor cultura e s bibliotecas, verificando-se um maior

    desenvolvimento nas bibliotecas universitrias com o aumento das colees nos seus catlogos e

    recorrendo a tcnicas de tratamento documental cada vez mais

    especializado numa tentativa de organizar e gerir toda a

    informao e disponibiliz-la ao pblico, sobretudo alunos e

    investigadores. Cincias como a medicina, vieram enriquecer as

    colees, pois os alunos necessitavam para os seus estudos de

    obras e manuais tcnicos muito atualizados e escritos pelos

    grandes mestres e especialistas nestas matrias, comeando a

    circular nas bibliotecas de obras estrangeiras de autores de

    renome e pertencentes s grandes escolas universitrias da

    poca, o que enriqueceu em termos de dimenso e qualidade os

    acervos documentais.

    Fig. 9: Obra pertencente ao acervo histrico da Faculdade de Medicina de Lisboa. Abreu, J.R. (1733-1752).

    Historiologia medica, fundada, e estabelecida nos princpios de George Ernesto Stahl. Lisboa Occidental:

    Officina da Musica. Disponvel em: http://coleccoes-digitalizadas.fm.ul.pt/repo/ULFM-res400-4/ULFM-

    res400_4_item2/ULFM-res400-a/ULFM-res400-a_item2/index.html

    https://sites.google.com/site/internetnations/Home/bibliotecas-pelo-mundohttp://coleccoes-digitalizadas.fm.ul.pt/repo/ULFM-res-400-4/ULFM-res-400_4_item2/ULFM-res-400-a/ULFM-res-400-a_item2/index.htmlhttp://coleccoes-digitalizadas.fm.ul.pt/repo/ULFM-res-400-4/ULFM-res-400_4_item2/ULFM-res-400-a/ULFM-res-400-a_item2/index.html

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    36

    g) No sculo XIX e XX, assistiu-se ao desenvolvimento dos grandes sistemas de classificao e

    tentativa de organizao sistemtica da informao: desde a Classificao Decimal de Dewey em

    1876, Classificao Decimal Universal, desenvolvida no final do sc. XIX pelos belgas Paul

    Otlet e Henri la Fontaine e Classificao da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos

    tambm desenvolvida no final do sculo XIX, tornaram-se classificaes universais.

    Fig. 10: Ilustrao da Classificao da Biblioteca do Congresso USA. In : Pot of Gold: Information Literacy

    Tutorial. Hesburgh Libraries, University of Notre Dame (website). Disponvel em:

    http://www.library.nd.edu/instruction/potofgold/locating/?page=5

    h) Nos sculos XX e XXI com o apogeu da sociedade da informao, a emergncia das novas

    tecnologias e o aparecimento da Internet, assiste-se informatizao dos sistemas das bibliotecas,

    o que conduziu a uma maior eficcia na gesto documental e na recuperao da informao.

    indiscutvel que a histria das bibliotecas e a sua evoluo para a era digital, esteja diretamente

    relacionada com a histria da Internet.

    Castells (2004), refere que a criao e desenvolvimento da Internet uma extraordinria aventura

    humana. Mostra a capacidade das pessoas para transcender as regras institucionais, superar as

    barreiras burocrticas e subverter os valores estabelecidos no processo de criao do novo mundo.

    Serve tambm para reafirmar a ideia de que a cooperao e a liberdade de informao podem

    favorecer mais a inovao do que a concorrncia e os direitos de propriedade (p.25).

    http://www.library.nd.edu/instruction/potofgold/locating/?page=5

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    37

    Para este autor, o aparecimento da internet comeou em 1969 com a ARPANET, uma rede de

    computadores da agncia ARPA pertencente ao Departamento de Defesa dos EUA, que tinha por

    objetivo repartir o tempo de trabalho online dos computadores, entre os vrios centros de informtica

    interativa e grupos de investigao da agncia. A ARPANET converte-se em 1983 em ARPA-

    INTERNET depois de ter sido substituda no campo militar por outro sistema, e passa a dedicar-se

    apenas investigao e em 1990 o aparecimento da world wide web veio potenciar a partilha de

    informao a nvel planetrio.

    Assim, graas aos avanos tecnolgicos do sc. XX, o acesso informao democratiza-se e surgem

    vrias tipologias de bibliotecas ao alcance de todos os tipos e perfis de utilizadores. a era digital a

    impor-se e que imprimir um dinamismo diferente s bibliotecas que deixam de ser definitivamente

    meros repositrios do saber e passam a ser difusoras de informao, pertinente, credvel e de alta

    qualidade, atravs de uma diversidade de novos servios presenciais, digitais e mveis consoante o

    perfil e as necessidades dos seus utilizadores. Presentemente as bibliotecas partilham um

    compromisso hbrido entre o fsico e o virtual, duas facetas distintas, mas que se complementam, na

    eterna tentativa de organizar o universo catico do excesso de informao.

    Fig. 11: Imagem representando uma biblioteca hbrida. In: Hybrid library (2011, 8 de Fevereiro). Hybrid

    library (blogue). Disponvel em : http://hybridlibrary.blogspot.pt/

    Interessante a perspetiva de Cohen (2006), que pela interpretao do pensamento de Jorge Lus

    Borges, relativo ao caos informacional, vem propor que a este caos produto da sociedade da

    informao em que vivemos, se dever aplicar uma nova ordem, trazida pelo advento das novas

    tecnologias, que tm por misso ordenar o universo catico gerado pelo excesso de informao

    existente nas bibliotecas:

    http://hybridlibrary.blogspot.pt/

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    38

    Borges's nightmare, of course, is a cursed vision of the research methods of disciplines such as

    literature, history, and philosophy, where the careful reading of books, one after the other, is

    supposed to lead inexorably to knowledge and understanding. Computer scientists would approach

    Borges's library far differently. Employing the information theory that forms the basis for search

    engines and other computerized techniques for assessing in one fell swoop large masses of

    documents, they would quickly realize the collection's incoherence though sampling and statistical

    methods and wisely start looking for the library's exit. These computational methods, which allow

    us to find patterns, determine relationships, categorize documents, and extract information from

    massive corpuses, will form the basis for new tools for research in the humanities and other

    disciplines in the coming decade (p.2).

    As tendncias e os ciclos de evoluo, na histria das bibliotecas atravs dos tempos, so variveis,

    possuindo avanos e recuos, porm, em todas as pocas a informao foi e sinnimo de poder,

    numa tentativa de controlar o mundo atravs do conhecimento profundo do sentido das coisas.

    Assim, atualmente a boa gesto do conhecimento e a governao da sociedade da informao,

    tambm uma condio poltica dos governos. Em Portugal, algumas medidas tm vindo a ser

    tomadas na ltima dcada, surgindo no XVII Governo Constitucional (2005-2009), o Plano

    Tecnolgico (PT), para potenciar a utilizao das novas tecnologias, nos atos simples da vida dos

    cidados1.

    Enquadrada no Plano Tecnolgico, foi anunciada em 2010 e aprovada em Conselho de Ministros de

    20 de dezembro de 2012, a Agenda Digital 2015, seguindo a tendncia precedida pela Comisso

    Europeia, de implementao de uma Agenda Digital para a Europa2, no mbito do programa

    Estratgia Europa 20203.

    A Agenda Digital Nacional Portugal Digital, imps como objetivo, desenvolver e impulsionar a

    economia digital e a sociedade do conhecimento, centrando estes dois vetores na inovao e no

    conhecimento e direcionando a economia e a indstria para os mercados internacionais, onde a aposta

    1 Programa do Plano Tecnolgico disponvel em : http://www.ei.gov.pt/iniciativas/detalhes.php?id=29

    2 COM(2010)245 final de 19.05.2010 - Comunicao da Comisso ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comit Econmico e

    Social Europeu e ao Comit das Regies Uma Agenda Digital para a Europa

    3 COM(2010) 2020 final de 03.03.2010 Comunicao da Comisso EUROPA 2020: Estratgia para um crescimento inteligente,

    sustentvel e inclusivo

    http://www.ei.gov.pt/iniciativas/detalhes.php?id=29

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    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    39

    mais forte se verifica no setor das TIC (Tecnologias de Informao e Comunicao), com interveno

    nas seguintes reas4:

    Acesso banda larga e ao mercado digital;

    Investimento em investigao, desenvolvimento e inovao;

    Melhorar a literacia, a qualificao e incluso digitais;

    Combater a fraude e a evaso fiscais, contributivas e prestacionais;

    Resposta aos desafios da sociedade;

    Empreendedorismo e internacionalizao do setor das TIC.

    No mbito das bibliotecas, a Agenda Portugal Digital, vem implementar medidas numa rea

    fundamental para o desenvolvimento do setor, que a rea que visa melhorar a literacia, qualificao

    e incluso digitais, com objetivos de implementao at 2015.

    E neste sentido, o plano de ao prometedor, segundo o que transcrevemos do site do Programa

    Portugal Digital (http://www.portugaldigital.pt/index/) e salientamos a negrito, o que mais se

    relaciona com a rea das bibliotecas:

    a) Desenvolver competncias para a Economia Digital - Promover a utilizao das TIC, na

    educao e na formao. Desenvolver qualificaes avanadas e de talento para a Economia

    Digital, nomeadamente de nvel superior e com a especializao adequada s necessidades da

    competitividade global. Adaptar as competncias digitais s reas emergentes, como as

    tecnologias verdes, smartgrids, computao em nuvem, segurana da Internet e

    indstrias culturais e criativas. Promover o desenvolvimento de competncias

    multidisciplinares, assumindo as TIC com transversalidade, no mbito das reas

    cientficas. Fomentar alianas entre empresas TIC e associaes empresariais, no sentido de

    mobilizar a introduo das TIC no tecido empresarial e com o objetivo de aumentar a

    capacitao do tecido laboral das PME. Uma das iniciativas a lanar no mbito desta medida

    ser a Academia Digital, que visa dotar os formandos de conhecimentos prticos e avanados na

    gesto digital de negcios (incluindo comrcio eletrnico, marketing digital, desenvolvimento

    de produtos e servios digitais, legislao e propriedade digital, tecnologia e

    empreendedorismo).

    4 Vid Agenda Portugal Digital em: http://www.portugaldigital.pt/index/

    http://www.portugaldigital.pt/index/

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    40

    b) Promover a incluso digital e a utilizao regular da Internet Promover a utilizao das

    TIC para a incluso social (TIC e Sociedade), de forma a permitir uma ampla penetrao das

    tecnologias e da Economia Digital na populao e reforar a cidadania digital,

    inclusivamente para cidados em zonas remotas, nveis baixos educacionais, idosos ou com

    necessidades especiais, numa lgica de aprendizagem ao longo da vida.

    c) Promover a disponibilizao e utilizao de ebooks (livros eletrnicos) - Promover

    polticas de aluguer de ebooks escolares e de carter tcnico, que so hoje j uma realidade

    em alguns pases. A promoo de uma poltica de aluguer ter impacto ao nvel da

    reduo dos custos para os leitores, promover a adaptao das obras para pblicos com

    necessidades especiais e, por outro lado, ser um desincentivo cpia violadora dos

    direitos de autor, devido ao baixo custo das obras.

    d) Promover a criao e a digitalizao massiva de contedos - Estimular a criao e o

    desenvolvimento de contedo em lngua portuguesa. No sentido de assegurar a qualidade

    necessria dos contedos a digitalizar, sero adotados formatos tcnicos interoperveis e de

    acordo com normas abertas, para a disponibilizao de contedos digitais na Internet de forma

    aberta.

    d) Definir uma poltica de acessibilidade para os contedos e plataformas digitais

    portuguesas a disponibilizar na Internet - Promover a adoo de medidas legislativas no

    mbito da adoo de diretrizes de acessibilidade aplicadas web que potenciem um acesso

    universal aos contedos e plataformas disponibilizados, nomeadamente, pelos seguintes setores-

    chave: administrao central e local, instituies de ensino, banca online, utilities, media

    (televiso, rdio, jornais), comrcio eletrnico (grandes cadeias comerciais, incluindo a

    hotelaria).

    Por conseguinte, esto expressas nesta agenda digital, muitas oportunidades de interveno para as

    bibliotecas (num futuro que se vislumbra muito prximo), no mbito do desenvolvimento de novos

    contedos digitais (uma tendncia que j se verifica nas bibliotecas europeias, com a produo dos

    seus prprios contedos) e disponibilizao de documentos em suporte digital (eBooks). A expanso

    dos servios de literacia da informao / formao, passam tambm para o plano digital, no sentido

    de se formar um cidado digital, que saiba utilizar as tecnologias de informao existentes para lhe

    simplificar a vida diria e as suas pesquisas e necessidades informacionais, havendo aqui um

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    41

    potencial de mercado para as bibliotecas, que podem intervir nesta rea e chegar mesmo ao pblico

    mais remoto atravs de processos como o eLearning5.

    esta a tendncia evolutiva da histria das Bibliotecas, um percurso vivido lado a lado, com as novas

    tecnologias e o mundo digital, num ambiente de hibridez, pois os espaos fsicos, embora sofrendo

    um processo de reengenharia, continuaro a ser importantes, pois a varivel sempre presente neste

    processo, o ser humano, um ser cada vez mais tecnolgico mas tambm e acima de tudo - um ser

    social.

    5 O eLearning ou ensino eletrnico, um modelo de ensino no presencial ministrado distncia e utilizando para o

    efeito plataformas e ferramentas tecnolgicas no processo de ensino aprendizagem e recorrendo au uso da internet como

    suporte de comunicao e na distribuio/produo de contedos.

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    42

    1.2. AS BIBLIOTECAS UNIVERSITRIAS COMO CENTROS DINMICOS DE

    APRENDIZAGEM E MODELO COLABORATIVO

    La biblioteca es el corazn de la Universidad

    (Orera Orera, 2005)

    As bibliotecas universitrias, marcaram um ponto de viragem e de abertura na histria das bibliotecas

    assumindo-se como espao de partilha de saberes e de investigao geradora de novo conhecimento

    cientfico.

    Orera Orera (2005), afirma que:

    Entre los cambios que afectan atualmente a las bibliotecas universitarias y que condicionan el nuevo

    modelo destacamos: El character hbrido de su coleccin; la presencia cada vez ms fuerte de las

    tecnologas de la informacin y la comunicacin; la cooperacin interbibliotecaria a travs de

    modelos ya existentes como las redes y la potenciacin de otros de aparicin ms reciente como los

    consorcios; la preocupacin creciente por la bsqueda de la calidad en los processos de gestin,

    potenciando su planificacin y evaluacin (p.31).

    Porm, a biblioteca universitria muito mais que isso, como veremos adiante, pois tem estado

    constantemente exposta a mudanas sociais e culturais profundas, tendo que se adaptar e evoluir no

    seu modelo, de modo a acompanhar o processo de ensino-aprendizagem, tambm em permanente

    mudana, numa espiral de exigncia rumo qualidade, que obriga as bibliotecas universitrias a

    adaptarem-se continuamente, conforme as tendncias, para poderem oferecer servios atrativos e em

    consonncia com as novas necessidades dos seus utilizadores.

    As novas tendncias que se fazem sentir na sociedade so diversificadas e constituem um desafio

    para as bibliotecas universitrias no sentido de se adaptarem e corresponderem a estas transformaes

    sociais. Alguns dos principais desafios para os quais as instituies acadmicas devem estar despertas

    so os seguintes:

    a) Desafios ambientais com repercues na investigao - Com o consequente crescimento

    populacional estimado em 9 bilies de pessoas em 2050, a investigao crescer a um ritmo

    acelerado, tentando fazer face ao aparecimento de novas doenas, alteraes climticas,

    escassez de gua, alimentos e energia. E neste contexto, j hoje prtica corrente, as

    universidades serem financiadas de acordo a qualidade dos seus projetos de investigao, o

  • BIBLIOTECAS FSICAS OU VIRTUAIS?

    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

    43

    que torna fundamental para a investigao, quer os suportes, quer os recursos proporcionados

    pelas bibliotecas aos investigadores.

    O Movimento Open Access6, veio tambm proporcionar uma difuso mais rpida da

    informao cientfica que circulando livremente nas redes, permite elevar os ndices de

    citao dos investigadores e consequentemente, aumentar quer o impacto quer o

    posicionamento no ranking das universidades.

    b) A globalizao da informao e a mobilidade de alunos e investigadores, faz com que o

    utilizador da biblioteca universitria, queira aceder informao de qualquer parte do mundo.

    Aqui o desafio no ser apenas a nvel do desenvolvimento da biblioteca digital, com acesso

    remoto, mas tambm o encetar de parcerias, consrcios nacionais e internacionais e projetos

    de cooperao, de modo a que de uma forma partilhada, se possa alargar o acesso a mais e

    melhores contedos, que cubram as necessidades de investigao dos utilizadores, podendo

    estes usufruir do seu acesso, onde quer que se encontrem. No podemos pensar nos nossos

    utilizadores universitrios, como pertencentes apenas nossa universidade, mas temos que

    v-los como cidados do mundo, interagindo com seus pares internacionais, em projetos

    cooperativos e alm-fronteiras.

    c) O processo educativo est em transformao profunda e os novos modelos de ensino-

    aprendizagem, enfatizam o valor da literacia da informao e do papel a desempenhar pelas

    bibliotecas neste mbito, recorrendo quer a mtodos de formao mais tradicionais em modo

    presencial, ou recorrendo a tcnicas eLearning e bLearning7 (blend learning). Tambm a

    integrao nos currcula acadmicos, das reas relacionadas com a literacia de informao

    ministradas por tcnicos especializados das bibliotecas acadmicas, constitui um desafio, que

    tem vindo a ser bem acolhido no seio das instituies de ensino superior, constituindo uma

    mais-valia comprovada para os alunos.

    6 Este movimento teve na base duas declaraes internacionais sobre o acesso livre, a Budapest Open Access Initiative em

    2002 e a Berlin Declaration on Open Access to Knowledge in the Sciences and Humanities em 2003.

    Em novembro de 2011, a UNESCO aprovou por ocasio da sua 36 Conferncia Geral realizada em Paris, o Global Open

    Access Portal, GOAP (http://www.unesco.org/new/en/communication-and-information/portals-and-platforms/goap/),

    cujo objetivo apresentar os mais de 2 mil projetos de acesso livre informao cientfica nos 148 pases membros da

    UNESCO.

    O movimento Open Access (OA) contribuiu para uma das maiores mudanas sociais vividas no incio deste sc. XXI - o

    acesso livre ao conhecimento cientfico, permitindo a qualquer cidado do mundo pesquisar, consultar, descarregar,

    imprimir, copiar e distribuir, o texto integral de artigos e outras fontes de informao cientfica, ou seja, participar em

    pleno numa sociedade da informao de todos e para todos.

    A edio em Open Access pode ser feita atravs de duas formas: As revistas disponibilizam livremente os seus artigos no

    momento da publicao (a iniciativa surge por parte dos editores) sendo esta apelidada a via dourada, ou por outro lado, o

    acesso livre feito por autoarquivo dos autores que disponibilizam livremente os seus artigos, depositando uma cpia

    num repositrio temtico ou institucional, sendo esta apelidada a via verde.

    7O ensino bLearning um modelo que engloba aulas distncia utilizando as plataformas tecnolgicas e aulas

    presenciais.

    http://www.unesco.org/new/en/communication-and-information/portals-and-platforms/goap/

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    Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI

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    d) O permanente desenvolvimento tecnolgico, torna quase impossvel prever a evoluo a

    longo prazo e como estaremos daqui a 20 anos. O futuro a nvel tecnolgico, mede-se a curto

    prazo, uma vez que o avano tecnolgico progressivo e obriga a constante adaptao. A

    penetrao da Internet e das comunicaes mveis na vida pessoal dos indivduos, obriga a

    que as instituies acompanhem este ritmo, numa sociedade da informao onde atualmente

    quase tudo mvel (os recursos, as pessoas, as comunicaes, os servios, o conhecimento,

    etc.).

    A aplicao dos jogos e da realidade virtual aos game labs, permitem hoje em dia, a

    utilizao destes recursos no apoio investigao em laboratrios de experimentao e em

    contexto de ensino-aprendizagem.

    A web 2.0 e as ferramentas colaborativas, marcaram a transio nos indivduos, de meros

    consumidores de informao, para produtores de contedos e da sua prpria informao, a par

    do aparecimento de ferramentas e sistemas open source de acesso totalmente livre, que

    permitiram no s desenvolver novos contedos, mas tambm um acesso gratuito e mais

    democratizado da informao.

    A web semntica, veio introduzir no s uma ordem relacional aos contedos informacionais,

    mas introduziu o conceito de web 3.0, ao proporcionar a interao dos utilizadores com os

    computadores, evidenciando as suas reas de interesse, de modo a que se possa oferecer-lhes

    produtos direcionados exclusivamente para o seu perfil.

    Assim, as tecnologias permitem a permanente conetividade e partilha de informao,

    independentemente do espao e do tempo, projetando-nos do espao fsico para o virtual. Para

    vencer este desafio, a cooperao, as parcerias e os consrcios so preciosos, pois permitem

    reforar as equipas em ambientes multidisciplinares, com uma diversidade de competncias,

    que permitiro enfrentar os desafios tecnolgicos, colocando-os ao servio do saber, da

    investigao e das prprias pessoas.

    A par destas tendncias, a grande mudana deu-se a nvel das polticas de educao europeias, que

    introduziram vrias medidas, que condicionaram a evoluo do conceito de biblioteca universitria:

    a) O processo de Bolonha, viabilizado atravs da declarao conjunta dos Ministros da

    Educao Europeus de 19 de junho de 19998, introduziu o conceito de Espao Europeu de

    Ensino Superior (EEES), implementando um sistema de graus acadmicos equiparados e

    reconhecidos em todo o Espao Europeu; promovendo a mobilidade de toda a comunidade

    8 Declarao de Bolonha de 9 de junho de 1999 Disponvel em:

    http://europa.eu/legislation_summaries/education_training_youth/lifelong_learning/c11088_pt.htm

    http://europa.eu/legislation_summaries/education_training_youth/lifelong_learning/c11088_pt.htm

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    acadmica (alunos, professores e investigadores), assegurando a elevada qualidade no ensino

    superior.

    b) O Comunicado de Praga de 19 de maio9, complementou o Processo de Bolonha, no que diz

    respeito introduo do conceito de aprendizagem ao longo da vida como fator-chave do

    Espao Europeu do Ensino Superior, para aumentar a competitividade econmica e envolver

    toda a comunidade acadmica, nomeadamente os estudantes na criao do EEES.

    c) O Comunicado de Berlim de 19 de setembro de 200310, articulou o EEES com o EEI (Espao

    Europeu de Investigao), integrando-os no Processo de Bolonha e vincando a importncia da

    mobilidade universitria a nvel dos investigadores para a partilha de conhecimentos.

    d) A Declarao de Budapeste-Viena de 12 de maro de 201011, oficializou o EEES tal como

    havia sido preconizado no processo de Bolonha, reiterando princpios como a liberdade

    acadmica, a autonomia das instituies de ensino superior e o envolvimento de toda a

    comunidade acadmica, desde os dirigentes ao pessoal no docente, docentes, investigadores

    e alunos, para tornarem real o Espao Europeu do Ensino Superior, reforando a garantia da

    qualidade atravs da cooperao.

    As polticas europeias, trouxeram uma maior exigncia ao ensino universitrio, transformando o

    espao da biblioteca num novo espao de ensino-aprendizagem e um aliado da investigao

    institucional. A biblioteca universitria agora um organismo prestador de servios diversificados e

    no apenas um mero repositrio de saber e um guardio de livros.

    O processo de Bolonha e o sistema de crditos europeus (ECTSs), foram assim, fundamentais para

    modificar os hbitos de estudo e de aprendizagem dos alunos.

    Area Moreira (2005), apresenta um quadro comparativo do modelo tradicional de aprendizagem

    anterior a Bolonha, que apelida de instrucionista e o novo modelo cooperativo/construtivista que se

    imps aps Bolonha:

    9 Comunicado de Praga de 19 de maio de 2001 Rumo ao espao europeu. Disponvel em:

    http://www.ond.vlaanderen.be/hogeronderwijs/bologna/documents/MDC/PRAGUE_COMMUNIQUE.pdf

    10 Comunicado de Berlim de 19 de setembro de 2003 - Realizao do Espao Europeu do Ensino Superior. Disponvel

    em: http://www.ond.vlaanderen.be/hogeronderwijs/bologna/documents/MDC/Berlin_Communique1.pdf

    11 Declarao de Budapeste-Viena de 12 de maro de 2010. Disponvel em:

    http://www.ond.vlaanderen.be/hogeronderwijs/Bologna/2010_conference/documents/Budapest-Vienna_Declaration.pdf

    http://www.ond.vlaanderen.be/hogeronderwijs/bologna/documents/MDC/PRAGUE_COMMUNIQUE.pdfhttp://www.ond.vlaanderen.be/hogeronderwijs/bologna/documents/MDC/Berlin_Communique1.pdfhttp://www.ond.vlaanderen.be/hogeronderwijs/Bologna/2010_conference/documents/Budapest-Vienna_Declaration.pdf

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    ELEMENTOS DEL MODELO DE ENSEANZA INSTRUCCIONISTA CONSTRUCTIVISTA/COOPERATIVO

    NFASIS En los Contenidos En el Proceso

    CONCEPCIN Bancaria Transformadora, Emprendedora

    MOTIVACIN Exgena Endgena

    QUIEN SE FORMA ES Objeto a Formar Sujeto Protagonista

    EJE DEL APRENDIZAJE Profesor Texto Sujeto/Grupo

    OBJETIVO Ensear-Aprender-Repetir Pensar-Transformar

    CLAVE FORMATIVA Transmisin de los Conceptos Reflexin/Accin

    CLAVE FORMATIVA Transmisin Informacin Comunicacin/Dialogo

    QUIEN FORMA Enseante/Instructor Facilitador/Animador

    PARTICIPACIN Mnima/ No Discusin Mxima

    CREATIVIDAD Bloqueada Estimulada

    PAPEL DEL ERROR Fallo/Repeticin Camino Bsqueda

    METODOLOGIA Clases Magistrales

    Proyectos de Aprendizaje, Resolucin

    de Problemas, Investigacin y

    Desarrollo, Informes, Trabajos

    ESCENARIOS DE APRENDIZAJE Presencial Presencial, no presencial(CRAI), On

    Line

    RECURSOS Transparencias, Libros De Texto,

    Apuntes

    Off Line (Guas Didticas,

    Presentaciones, libros, videos, audios,

    CDs), y online( Internet, Archivos, ,

    Etc..)

    TECNOLOGIA Refuerzo a la Transmisin Generadores de Actividad: Bsqueda,

    Transformacin, Difusin

    EVALUACIN Examen Examen, Trabajo, Exposiciones,

    Presentaciones, Publicaciones

    Tabela 1: Modelo de ensino pr e ps Bolonha (Area, 2005, p.10)

    Martins e Martins (2012), evocam o novo modelo trazido por Bolonha sublinhando que este,

    Est focalizado no aluno e no no docente, o que exige da parte do estudante, o desenvolvimento de

    capacidades de aprendizagem autnoma e de competncias interpessoais, no mbito acadmico e na

    sociedade. As bibliotecas de ensino superior tm por isso cada vez mais um papel ativo e dinmico

    quer ao nvel da criao de mecanismos alternativos que facilitam o acesso informao aos

    utilizadores com necessidades e