167
Bio-óleo a partir da pirólise rápida, térmica ou catalítica, da palha da cana-de-açúcar e seu co-processamento com gasóleo em craqueamento catalítico Marlon Brando Bezerra de Almeida Escola de Química/UFRJ M.Sc. Orientadores: Prof. Donato Alexandre Gomes Aranda, D.Sc. Yiu Lau Lam, Ph.D Rio de Janeiro-RJ-Brasil Março, 2008

Bio Oleo a Partir Da Pirolise Rápida

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Biodiesel a partir da pirolise rápida.

Citation preview

  • Bio-leo a partir da pirlise rpida, trmica ou cataltica, da

    palha da cana-de-acar e seu co-processamento com gasleo

    em craqueamento cataltico

    Marlon Brando Bezerra de Almeida

    Escola de Qumica/UFRJ

    M.Sc.

    Orientadores: Prof. Donato Alexandre Gomes Aranda, D.Sc. Yiu Lau Lam, Ph.D

    Rio de Janeiro-RJ-Brasil

    Maro, 2008

  • ii

    Bio-leo a partir da pirlise rpida, trmica ou cataltica, da palha da cana-de-acar e

    seu co-processamento com gasleo em craqueamento cataltico.

    Marlon Brando Bezerra de Almeida

    Dissertao submetida ao corpo docente da Escola de Qumica da Universidade

    Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Cincias em tecnologia de processos qumicos e bioqumicos.

    Aprovada por:

    _______________________________________________ Prof. Donato Alexandre Gomes Aranda, D.Sc. (orientador) _______________________________________________ Yiu Lau Lam, Ph.D. (orientador)

    _______________________________________________ Prof. Nei Pereira Jnior Ph.D.

    _______________________________________________ Jos Dlcio Rocha D.Sc. _______________________________________________ Jos Luiz Zotin Ph.D.

    Rio de Janeiro-RJ-Brasil Maro, 2008

  • iii

    A447t18 Almeida, Marlon Brando Bezerra de . Bio-leo a partir da pirlise rpida, trmica ou cataltica, da

    palha da cana-de-acar e seu co-processamento com gasleo em craqueamento cataltico. Rio de Janeiro, 2008.

    xviii,149f;il. Dissertao (Mestrado em Tecnologia de Processos Qumicos e

    Bioqumicos) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Qumica, 2006.

    Orientadores: Donato Aranda Gomes Teixeira e Yiu Lau Lam. 1. Co-processamento. 2. Bio-leo. 3. Palha de cana-de-acar.

    4.Pirlise cataltica 5.Craqueamento cataltico 6. Biomassa Teses. I.Aranda, Donato A. G. (Orient.). II. Lam, Yiu Lau (Orient.). III. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Qumica. IV. Ttulo.

  • iv

    Aos meus pais, Plnio e Servla, minha tia Mundinha

    que me educou, ao meu filho, Andr, aos meus irmos,

    Socorro, Hlio, Concita, Jos e Graa, ao Pe. Stiro, que

    me concedeu bolsa de estudos durante toda a escola

    primria e ensino mdio, e a todos que me apoiaram na

    realizao deste trabalho.

  • v

    AGRADECIMENTOS

    Aos meus orientadores, Prof. Donato Alexandre Gomes Aranda e Yiu Lau Lam pelo

    incentivo, orientao e sugestes.

    PETROBRAS S.A. por propiciar os recursos e as condies para realizao deste

    trabalho e ao meu gerente Oscar Ren Chamberlain pelo incentivo e apoio para fazer

    este curso.

    I would like to thank my colleagues from Twente University, E.A.Bramer, G.Brem,

    T.H. van der Meer, K.Seshan, I. Babich, L. Lefferts, for the discussions, support and the

    opportunity to do this work at UT labs.

    I would like to thank Martin van Bruggen and Henk for the help in the lab and Sally

    Kloost-Zimmerman for the support during my stay in Holland.

    I would like to thank to Paul OConnor, from BIOeCON, for the very nice discussions

    and ideas. Some of them were tested in this work.

    Ao Pessoal da Bioware, especialmente Juan e Dlcio, pelo trabalho em parceria para

    obteno do bio-leo e pelas discusses e sugestes.

    Aos colegas dos grupos de preparo e avaliao de catalisadores do TFCC que

    colaboraram com realizao e discusso dos experimentos.

    Aos meus colegas do TFCC que se desdrobaram nos outros projetos enquanto eu estava

    dedicado a tese. Especialmente Renato Necco Castro, Yiu Lau Lam e Alexandre

    Figueiredo Costa.

    Aos colegas da gerncia de qumica pelas valiosas anlises e discusses especialmente,

    Marco Antonio Teixeira, Rosana Cardoso, ris, Alessandra, Ednardo, Emmanuelle,

    Maurcio, Sergio Marola, Guimares e Leonardo.

    Aos meus amigos pelo grande apoio durante toda esta etapa.

  • vi

    RESUMO

    ALMEIDA, Marlon Brando Bezerra de. Bio-leo a partir da pirlise rpida, trmica

    ou cataltica, da palha da cana-de-acar e seu co-processamento com gasleo em

    craqueamento cataltico. Rio de Janeiro, 2008. Dissertao (Mestrado em Tecnologia

    de Processos Qumicos e Bioqumicos) Escola de Qumica, Universidade Federal do

    Rio de Janeiro, 2008.

    Esta pesquisa tem dois objetivos principais: O primeiro estudar o co-

    processamento do gasleo com o bio-leo, oriundo da pirlise rpida da palha da cana,

    no processo de craqueamento cataltico (FCC) verificando seu efeito nos rendimentos e

    na qualidade dos produtos. O segundo estudar diferentes catalisadores no processo de

    pirlise cataltica de biomassa visando a obteno de um bio-leo de melhor qualidade,

    ou seja, com um menor teor de oxigenados, que possa ser co-processado em refinarias

    de petrleo.

    Misturas gasleo/bio-leo e gasleo/frao orgnica, frao obtida a partir da

    remoo dos cidos carboxlicos presentes no bio-leo, nas propores 90/10 e 95/5

    foram submetidas ao craqueamento cataltico a 535oC em um reator de laboratrio de

    leito fluidizado com catalisador de craqueamento de equilbrio (ECAT) puro e

    misturado a um aditivo base de ZSM-5, na proporo 90% ECAT / 10% aditivo. Foi

    demonstrada em escala de bancada a viabilidade de co-processamento de at 10% de

    bio-leo sem causar efeitos negativos na converso e distribuio de produtos.

    Observou-se um pequeno aumento no coque e gs combustvel, uma ligeira queda no

    rendimento de GLP, olefinas leves e hidrognio. A gasolina apresentou um pequeno

    aumento nos teores de olefinas e de aromticos, reduo do teor de parafinas e presena

    de fenis. A desoxigenao se deu principalmente via descarboxilao e desidratao,

    sendo a primeira favorecida pela ZSM-5 em relao zelita Y.

    Os estudos de pirlise cataltica foram conduzidos em um reator TGA-Vortex a 450-

    550oC utilizando como matria-prima a lignocel e a palha da cana-de-acar. Foram

    testados catalisadores cidos, contendo ZSM-5, e bsicos, MgO e hidrotalcita.

    Adicionalmente, a palha de cana foi impregnada com H3PO4 e Mg(NO3)2. Comparado

    com a pirlise trmica, o processo cataltico resultou em queda no rendimento de

  • vii

    lquido, aumento nos rendimentos de coque, dos gases, incluindo CO, CO2 e

    hidrocarbonetos, e de gua. A desoxigenao ocorreu principalmente atravs das

    reaes de descarboxilao, descarbonilao e desidratao. Os catalisadores bsicos

    favoreceram as reaes de descarboxilao, enquanto que os cidos favoreceram as

    reaes de descarbonilao e de desidratao. A impregnao da palha com cido

    fosfrico e com nitrato de magnsio alterou a degradao da lignocelulose, reduzindo a

    temperatura de mxima decomposio e modificando a distribuio dos produtos. O

    pr-tratamento da palha de cana com cido fosfrico, seguido da pirlise, favoreceu as

    reaes de desidratao em detrimento da descarboxilao.

    A desoxigenao via descarboxilao a rota mais indicada para produzir

    biocombustveis a partir do bio-leo, uma vez que so produzidos produtos com maior

    relao H/C e conseqentemente com maior contedo energtico. Portanto, os

    catalisadores bsicos so os mais indicados.

    Os resultados sugerem que o co-processamento de bio-leo, obtido via pirlise

    cataltica, com uma carga oriunda de petrleo no processo de FCC uma rota com

    potencial para obteno de biocombustveis. O uso da infra-estrutura existente para

    produo, distribuio e transporte de biocombustveis seria outro aspecto atrativo do

    ponto de vista econmico.

  • viii

    ABSTRACT

    ALMEIDA, Marlon Brando Bezerra de. Bio-oil from sugar cane straw fast pyrolysis,

    thermal and catalytic, and its co-processing with gasoil in catalytic cracking. Rio de

    Janeiro, 2008. Dissertao (Mestrado em Tecnologia de Processos Qumicos e

    Bioqumicos) Escola de Qumica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006.

    This research has two main objectives. The first is to study the co-processing of

    gasoil and bio-oils, derived from sugar cane straw fast pyrolysis, in the fluid catalytic

    cracking process (FCC), verifying the effects on yields and product quality. The second

    is to test different catalysts in the pyrolysis of sugar cane straw aiming to obtain a bio-

    oil with better quality, i.e. with lower oxygen content, which can be co-processed in

    existent oil refineries.

    Mixtures of gasoil/bio-oil and gasoil/organic fraction, fraction obtained by removing

    the carboxylic acids of the bio-oil, in proportions 90/10 and 95/5 were submitted to

    catalytic cracking at 535oC in a fluidized bed reactor. Equilibrium catalyst (FCC ECAT)

    pure and mixed with a ZSM-5 additive, in proportion 90% ECAT / 10% additive was

    used. It was demonstrated at lab scale the viability of co-processing 10% mixture of bio-

    oil with gasoil without negative effect on conversion and product distribution. It was

    observed a slight increase in coke and fuel gas and a slight decrease in LPG, light

    olefins and hydrogen yields. The gasoline presented a small increase in olefins and

    aromatics, lower paraffins and trace amounts of phenols. Deoxygenation mainly

    occurred via decarboxylation and dehydration, being the former being favored by ZSM-

    5 catalyst when compared to Y zeolite.

    Catalytic pyrolysis studies were carried out in a TGA-Vortex reactor at 450-550oC.

    Biomass source used were lignocel and sugar cane straw. Acid catalysts, containing

    ZSM-5, and basic catalysts, MgO and hydrotalcite, were tested. Additionally, sugar

    cane straw was impregnated with H3PO4 e Mg(NO3)2. Comparing to the thermal

    pyrolysis, the catalytic process led to a decrease in liquid yield and an increase in coke,

    gases, including CO, CO2 and hydrocarbons, and water yields. Deoxygenation mainly

    occurred via decarboxylation, decarbonylation and dehydration. Basic catalysts favored

    the decarboxylation reactions, while acids favored decarbonylation and dehydration.

  • ix

    The impregnation of the sugar cane straw with phosphoric acid and magnesium nitrate

    changed the degradation of lignocellulose, reducing its temperature of maximum

    decomposition. The pretreatment with phosphoric acid favored dehydration reactions in

    detrimental of decarboxylation.

    Deoxygenation via decarboxylation is the preferred route to produce biofuels from

    bio-oil, since it produces a bio-oil with higher H/C and consequently higher energy

    content. Therefore, the basic catalysts are recommended.

    The results suggest that the co-processing of bio-oil from catalytic pyrolysis with a

    petroleum feedstock in processes like FCC is a potential route for obtaining biofuels.

    The use of the existent infrastructure for production, distribution and transportation,

    would lead to low capital investment.

  • x

    SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................................. 1

    1.1 Objetivos....................................................................................................................... 4

    1.1.1 Objetivos especficos do co-processamento de gasleo com o bio-leo no

    craqueamento cataltico .................................................................................................. 5

    1.1.2 Objetivos especficos da pirlise cataltica de biomassa....................................... 5

    2 REVISO BIBLIOGRFICA ......................................................................................... 6

    2.1 Biomassa....................................................................................................................... 6

    2.2 Processos de converso de biomassa............................................................................ 9

    2.2.1 Combusto........................................................................................................... 10

    2.2.2 Gaseificao ........................................................................................................ 10

    2.2.3 Liquefao ........................................................................................................... 11

    2.2.4 Pirlise................................................................................................................. 11

    2.2.4.1 Pirlise rpida............................................................................................... 13

    2.3 Bio-leo ...................................................................................................................... 16

    2.4 Melhoramento (Upgrading) do Bio-leo ................................................................ 18

    2.4.1 Hidrodesoxigenao ............................................................................................ 18

    2.4.2 Misturas do bio-leo com o diesel....................................................................... 19

    2.4.3 Reforma de bio-leo ............................................................................................ 19

    2.4.4 Craqueamento sobre zelitas ............................................................................... 20

    2.4.4.1 Converso de compostos modelos oxigenados ............................................ 21

    2.4.4.2 Converso de bio-leo.................................................................................. 24

    2.5 Pirlise Cataltica........................................................................................................ 29

    2.6 Influncia dos ons metlicos, sais e cidos na pirlise.............................................. 32

    2.7 Estudos cinticos e Anlise termogravimtrica.......................................................... 36

    2.8 Co-processamento de bio-leo em refinarias de petrleo. ......................................... 38

    3 MATERIAIS E MTODOS........................................................................................... 44

    3.1 Fonte de Biomassa...................................................................................................... 44

    3.1.1 Acondicionamento da palha de cana-de-acar .................................................. 44

    3.2 Caracterizao da biomassa........................................................................................ 45

    3.2.1 Anlise elementar ................................................................................................ 45

  • xi

    3.2.2 Anlise imediata .................................................................................................. 45

    3.2.3 Poder calorfico ................................................................................................... 46

    3.2.3 Teor de celulose, hemicelulose e lignina............................................................. 46

    3.2.4 Distribuio granulomtrica ................................................................................ 46

    3.2.5 Densidade aparente.............................................................................................. 47

    3.2.6 Teor de metais nas cinzas .................................................................................... 47

    3.2.7 Anlise termogravimtrica TGA/DTA................................................................ 47

    3.3 Produo do bio-leo em planta piloto....................................................................... 47

    3.3.1 Fracionamento do bio-leo.................................................................................. 49

    3.4 Caracterizao do bio-leo, frao orgnica, extrato cido, carvo vegetal .............. 50

    3.4.1 Anlise elementar ................................................................................................ 50

    3.4.2 Anlise imediata .................................................................................................. 50

    3.4.3 Poder calorfico ................................................................................................... 50

    3.4.4 Teor de gua ........................................................................................................ 50

    3.4.5 ndice de acidez ................................................................................................... 51

    3.4.6 Cromatografia em fase gasosa acoplada a espectrometria de massa (CG/EM). . 51

    3.5 Misturas de gasleo e bio-leo ................................................................................... 52

    3.6 Preparo dos Catalisadores........................................................................................... 53

    3.6.1 Catalisadores para o Co-processamento .............................................................. 53

    3.6.2 Catalisadores para pirlise cataltica de biomassa............................................... 54

    3.6.2.1 Catalisadores slidos .................................................................................... 54

    3.6.2.2 Palha de cana impregnada ............................................................................ 54

    3.7 Caracterizao dos catalisadores ................................................................................ 55

    3.7.1 Composio Qumica .......................................................................................... 55

    3.7.2 Densidade Aparente............................................................................................. 55

    3.7.3 Volume de Poros ................................................................................................. 55

    3.7.4 ndice de Atrito.................................................................................................... 56

    3.7.5 Tamanho de Partcula .......................................................................................... 56

    3.7.6 Caracterizao Textural....................................................................................... 56

    3.7.8 Medida de acidez por craqueamento de n-hexano .............................................. 57

    3.7.9 Medida de acidez por adsoro de n-propilamina ............................................... 57

    3.8 Co-processamento do gasleo/bio-leo no craqueamento cataltico.......................... 58

  • xii

    3.8.1 Anlise da composio da gasolina (PIANIO).................................................... 59

    3.8.2 Teor de gua no efluente lquido ......................................................................... 60

    3.8.3 Determinao de compostos oxigenados no efluente lquido ............................. 60

    3.9 Pirlise Cataltica........................................................................................................ 61

    3.9.1 Pr-tratamento do catalisador .............................................................................. 64

    3.9.2 Acondicionamento da biomassa .......................................................................... 65

    3.9.3 Procedimento Experimental ................................................................................ 66

    3.9.3.1 Modo 1 Obteno de rendimentos............................................................. 66

    3.9.3.1.1 Clculo dos rendimentos ....................................................................... 69

    3.9.3.2 Modo 2 Coleta de produto lquido............................................................. 70

    3.9.4 Planejamento dos experimentos .......................................................................... 72

    3.9.4.1 Srie 1 Pirlise trmica vs. cataltica...................................................... 72

    3.9.4.2 Srie 2 Seleo de catalisadores ............................................................. 73

    3.9.4.3 Srie 3 Pirlise cataltica da palha de cana............................................. 73

    3.9.4.4 Srie 4 Pirlise da palha de cana impregnada em pirolisador (Py-

    CG/EM) .................................................................................................................... 74

    4 RESULTADOS E DISCUSSO .................................................................................... 75

    4.1 Caracterizao da biomassa........................................................................................ 75

    4.2 Caracterizao dos produtos de pirlise ..................................................................... 78

    4.2.1 Caracterizao do bio-leo .................................................................................. 80

    4.2.2 Caracterizao do Carvo.................................................................................... 81

    4.2.3 Caracterizao do extrato cido........................................................................... 82

    4.2.4 Caracterizao da frao orgnica....................................................................... 82

    4.2.5 Resultados de CG/EM - bio-leo, frao orgnica e extrato cido ..................... 83

    4.3 Caracterizao dos Catalisadores ............................................................................... 86

    4.4 Co-processamento de gasleo/bio-leo no craqueamento cataltico.......................... 88

    4.4.1 Caracterizao das cargas.................................................................................... 88

    4.4.2 Caracterizao dos catalisadores ......................................................................... 88

    4.4.3 Planejamento dos experimentos de co-processamento........................................ 89

    4.4.4 Resultados dos testes catalticos .......................................................................... 90

    4.4.4.1 Gasleo puro referncias com e sem ZSM-5............................................. 90

    4.4.4.2 Co-processamento gasleo/bio-leo ECAT puro ...................................... 90

  • xiii

    4.4.4.3 Co-processamento gasleo/bio-leo - Efeito da adio de ZSM-5 ao

    ECAT........................................................................................................................ 96

    4.4.4.4 Co-processamento gasleo/bio-leo ECAT+ ZSM-5 ............................... 97

    4.4.4.5 Co-processamento gasleo/ frao orgnica ECAT+ ZSM-5 ................... 97

    4.4.4.6 Efeito do tipo de emulsificante..................................................................... 98

    4.4.4.7 Anlise de PIANIO....................................................................................... 98

    4.4.4.8 Anlise dos oxigenados no efluente lquido............................................... 101

    4.4.4.9 Extenso da desoxigenao ........................................................................ 105

    4.5 Pirlise Cataltica...................................................................................................... 106

    4.5.1 Pirlise trmica vs. cataltica (Srie 1) ......................................................... 106

    4.5.2 Seleo de catalisadores (Srie 2) ............................................................... 114

    4.5.3 Pirlise cataltica da palha de cana (Srie 3) ............................................... 116

    4.5.5 Pirlise da palha de cana impregnada em pirolisador(Py-CG/EM) (Srie

    4)................................................................................................................................. 123

    4.5.6 Comentrios finais da pirlise cataltica......................................................... 128

    5 CONCLUSES E SUGESTES ................................................................................. 131

    5.1 Co-processamento de gasleo/bio-leo e gasleo/frao orgnica .......................... 131

    5.2 Pirlise Cataltica de Biomassa ................................................................................ 132

    5.3 Sugestes .................................................................................................................. 133

    6 REFERNCIAS ............................................................................................................ 135

    ANEXOS ........................................................................................................................... 148

  • xiv

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 2.1 Rendimentos tpicos obtidos para diversos tipos de pirlise. (Adaptado de BRIDGWATER, 2003) .......................................................................................... 12

    Tabela 2.2 Produtos tpicos obtidos para diversos tipos de pirlise (Adaptado de ROCHA, 1997, MOHAN et al. 2006, HUBER et al., 2006).................................. 13

    Tabela 3.1 Composies das emulses gasleo/bio-leo e gasleo/frao orgnica .. 53 Tabela 3.2 Formulao dos catalisadores para pirlise cataltica................................ 54 Tabela 3.3 Planejamento dos experimentos da Srie-1 Pirlise trmica vs. cataltica 72 Tabela 3.4 Planejamento dos experimentos da Srie-2 Seleo de catalisadores .... 73 Tabela 3.5 Planejamento dos experimentos da Srie-3-Pirlise cataltica da palha de

    cana......................................................................................................................... 74 Tabela 4.1 Anlises elementar e imediata, poder calorfico e densidade aparente da

    palha da cana-de-acar e Lignocel BK-40/90....................................................... 75 Tabela 4.2. Anlises de composio qumica da palha de cana .................................. 76 Tabela 4.3. Anlises de composio qumica das cinzas ............................................ 77 Tabela 4.4 Distribuio granulomtrica da palha de cana-de-acar (moda e

    classificada com peneiras de 5 mm e de 2mm de dimetro de furo)...................... 77 Tabela 4.5 Rendimentos dos produtos da pirlise....................................................... 78 Tabela 4.6 Caracterizao do bio-leo ........................................................................ 80 Tabela 4.7 Caracterizao do Carvo .......................................................................... 81 Tabela 4.8 Caracterizao da frao orgnica ............................................................. 82 Tabela 4.9 Compostos presentes no bio-leo .............................................................. 83 Tabela 4.10 Compostos presentes na frao orgnica................................................. 84 Tabela 4.11 Compostos presentes no extrato cido..................................................... 85 Tabela 4.12 Caracterizao dos catalisadores ............................................................. 86 Tabela 4.13 Acidez dos catalisadores.......................................................................... 87 Tabela 4.14 Caracterizao das cargas ........................................................................ 88 Tabela 4.15 Caracterizao do catalisador de equilbrio............................................. 89 Tabela 4.16 Planejamento dos experimentos de co-processamento............................ 89 Tabela 4.17 Rendimentos a isoconverso= 68%p....................................................... 95 Tabela 4.18 Anlise de CG/EM no efluente lquido ................................................. 101 Tabela 4.19 Rendimentos dos produtos de pirlise da Srie-1.................................. 107 Tabela 4.20 Caracterizao dos bio-leo obtidos na pirlise trmica e cataltica da

    lignocel a 500oC ................................................................................................... 110 Tabela 4.21 Rendimentos dos produtos de pirlise da Srie-2.................................. 115 Tabela 4.22 Rendimentos dos produtos de pirlise da Srie-3.................................. 118 Tabela 4.23 Caracterizao dos bio-leo obtidos na pirlise cataltica da palha de cana

  • xv

    a 500oC ................................................................................................................. 119 Tabela 4.24 Compostos identificados na pirlise trmica e cataltica da Lignocel e da

    palha de cana ........................................................................................................ 122 Tabela 4.25 Compostos identificados na pirlise da palha de cana impregnada ...... 127 Tabela 4.26 Relaes entre as reas dos picos cromatogrficos relacionados aos

    valores de m/z=44 (CO2) e m/z=18 (gua). ......................................................... 128

  • xvi

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1.1 Rotas convencionais e alternativas para upgrading do bio-leo............... 4 Figura 2.1 Estruturas da (a) celulose, (b) alguns constituintes da hemicelulose e (c)

    lignina (adaptado de MOHAN et al., 2006). ............................................................ 8 Figura 2.2 Processos de converso de biomassa, produtos e aplicaes (Adaptado de

    BRIDGWATER, 2006). ........................................................................................... 9 Figura 2.3 Esquema conceitual do processo de pirlise rpida (BRIDGWATER et al.,

    1999)....................................................................................................................... 14 Figura 2.4 Rendimentos tpicos em base seca para pirlise rpida da madeira em

    funo da temperatura (Adaptado de BRIDGWATER 2007)................................ 15 Figura 2.5 Aplicaes do bio-leo (Adaptado de BRIDGWATER, 2006) ................. 18 Figura 2.6 Esquema de reaes para o craqueamento cataltico de compostos

    oxigenados derivados da biomassa (HUBER et al, 2007)...................................... 23 Figura 2.7 Mecanismo proposto para o craqueamento de bio-leo sobre H-ZSM-5, H-

    Y e H-mordenita (Adaptado de ADJAYE e BAKHSHI, 1995c) ........................... 26 Figura 2.8 Esquema reacional para pirlise cataltica (ATUXTA et al., 2005). ......... 30 Figura 2.9 Mecanismo da degradao da celulose (A) na ausncia e (B) na presena de

    metais alcalinos (Adaptado de EVANS et al., 1987). ............................................ 32 Figura 2.10 Mecanismo de decomposio trmica da celulose por pirlise rpida na

    presena e ausncia de metais alcalinos (adaptado de SCOTT et al., 2001 e RADLEIN et al., 1991)........................................................................................... 33

    Figura 2.11 Estruturas do levoglucosan (LG) e da levoglucosenona (LGona) ........... 35 Figura 2.12 Esquema de uma unidade de craqueamento cataltico - UFCC ............... 41 Figura 3.1 Aspecto da palha de cana-de-acar antes (a) e depois da moagem com

    peneira de 5mm (b) e 2mm (c) ............................................................................... 45 Figura 3.2 Esquema da planta de pirlise rpida PPR-200. ........................................ 48 Figura 3.3 Esquema de fracionamento de bio-leo ..................................................... 49 Figura 3.4 Esquema do reator termogravimtrico Vortex........................................... 61 Figura 3.5 Sada de catalisador fechada (a), Sada de catalisador conectada ao

    ciclone(b). A entrada de nitrognio, B entrada de biomassa e C sada de catalisador............................................................................................................... 63

    Figura 3.6 Detalhes do reator vortex (a) vista lateral, (b) vista superior, (c) detalhe interno partes inferior/lateral (d) detalhe interno parte superior............................. 64

    Figura 3.7 Etapas da pesagem (a) Palha de cana, (b) Palha de cana + catalisador, (c) Palha de cana misturada ao catalisador .................................................................. 65

    Figura 3.8 Detalhes da alimentao da biomassa (a) entrada do reator bloqueada com grampo, (b) alimentao da biomassa+catalisador no tubo injetor via funil.......... 66

  • xvii

    Figura 3.9 Sistema de coleta de produtos lquidos e gasosos. (a) sada dos gases e filtro, (b) sada do filtro, bomba, bombona fechada c/ saco p/ amostragem de gs, medidor de volume de gs, (c) saco p/ amostragem de gs antes da reao e (d) saco com gs aps reao. ...................................................................................... 68

    Figura 3.10 Sistema de coleta de produtos lquidos no modo 2. (a) Condensador e filtro vista lateral, (b)condensador e filtro vista superior, (c) lquido extrado do condensador e do filtro com acetona, (d) material particulado retido aps a filtrao, (e) evaporao da acetona no filtrado e (f) bio-leo ............................... 71

    Figura 4.1 Termograma da palha da cana em atmosfera de N2 da temperatura ambiente at 700oC e em ar de 700oC at 1000oC.................................................. 79

    Figura 4.2 Termograma da lignocel BK-40/90 em atmosfera de N2 da temperatura ambiente at 700oC e em ar de 700oC at 1000oC.................................................. 79

    Figura 4.3 Amostra de Bio-leo .................................................................................. 80 Figura 4.4 Converso e rendimentos dos produtos ..................................................... 93 Figura 4.5 Rendimentos dos produtos gasosos............................................................ 94 Figura 4.6 Anlise de PIANIO .................................................................................. 100 Figura 4.7 Cromatograma de ons CG/EM dos efluentes: A- 276, B-292, C- 296, D-

    260 e E- 267.......................................................................................................... 102 Figura 4.8 Teor de Fenis no efluente lquido........................................................... 103 Figura 4.9 Rendimento de Fenis.............................................................................. 103 Figura 4.10 Rendimentos da pirlise trmica e com ZSM-5 da lignocel a 450-550oC..

    .............................................................................................................................. 108 Figura 4.11 Rendimentos dos componentes dos gases da pirlise trmica e com

    ZSM-5 da lignocel a 450-550oC........................................................................... 108 Figura 4.12a Cromatograma total de ons Corrida 18 (a)....................................... 112 Figura 4.12b Cromatograma total de ons Corrida 18 (b) ...................................... 112 Figura 4.13a Cromatograma total de ons Corrida 19 (a)....................................... 113 Figura 4.13b Cromatograma total de ons Corrida 19 (b) ...................................... 113 Figura 4.14 Rendimentos de gs, lquido e coque para a pirlise da Lignocel a 500oC

    na presena de diversos catalisadores................................................................... 115 Figura 4.15 Rendimentos de gs, lquido e coque para pirlise da palha de cana a

    500oC na presena de diversos catalisadores........................................................ 117 Figura 4.16a Cromatograma total de ons Corrida 53 (a)....................................... 120 Figura 4.16b Cromatograma total de ons Corrida 53 (b) ...................................... 120 Figura 4.17a Cromatograma total de ons Corrida 54 (a)....................................... 121 Figura 4.17b - Cromatograma total de ons RUN 54(b)............................................ 121 Figura 4.18 Termogramas da palha da cana impregnada com diferentes teores de cido

  • xviii

    fosfrico em atmosfera de N2. .............................................................................. 123 Figura 4.19 Curvas derivadas (DTG) dos termogramas da palha da cana impregnada

    com diferentes teores de cido fosfrico em atmosfera de N2. ............................ 124 Figura 4.20 Termogramas da palha da cana impregnada com diferentes teores de

    Nitrato de Magnsio em atmosfera de N2............................................................. 125 Figura 4.21 Cromatograma total de ons - pirlise a 500C de palha de cana (a) pura,

    (b)palha de cana 4P e (c) palha de cana 4Mg....................................................... 126

  • 1

    1 INTRODUO

    O relatrio divulgado pelo Painel Intergovernamental para Mudanas Climticas

    (IPCC) em fevereiro de 2007 afirma, com 90% de certeza, que as atividades humanas

    so responsveis pelo aquecimento global dos ltimos cinqenta anos. Esse fenmeno

    decorrente das elevadas emisses dos gases de efeito estufa (GEEs), gs carbnico

    (CO2), xido nitroso (N2O) e metano (CH4). O aumento global da concentrao de

    dixido de carbono, o contribuinte predominante, ocorre principalmente devido ao uso

    de combustveis fsseis, como petrleo, carvo e gs natural, e mudana no uso do

    solo (desmatamento), enquanto o aumento da concentrao de gs metano e de xido

    nitroso ocorre principalmente devido agricultura (IPCC, 2007a). No Brasil, cerca de

    75% das emisses so provenientes do desmatamento.

    O relatrio do terceiro grupo de trabalho do IPCC evidencia ser possvel reduzir,

    adiar ou evitar muitos impactos causados pelo aquecimento global se o processo de

    reduo das emisses for iniciado o quanto antes. H uma grande concordncia que a

    estabilizao nos nveis de emisses pode ser alcanada pelo emprego de um portflio

    de tecnologias que esto disponveis ou sero comercializadas nas prximas dcadas,

    assumindo incentivos apropriados e efetivos. Os cenrios de estabilizao das emisses

    avaliados indicam que 60-80% da reduo das emisses viriam do suprimento,

    fornecimento e uso da energia e dos processos industriais, com a eficincia energtica

    tendo um papel fundamental. O relatrio sugere vrias possibilidades, dentre elas a

    diminuio do desmatamento, o uso de energias renovveis no-convencionais,

    aumento da eficincia energtica e a reciclagem de materiais, o uso de veculos mais

    eficientes, principalmente se abastecidos com biocombustveis, e a melhoraria do

    transporte pblico (IPCC, 2007b).

    Alm dos problemas ambientais causados pela queima dos combustveis fsseis, o

    futuro declnio da produo de petrleo, aliado ao aumento do consumo pelas

    economias emergentes, principalmente China, ndia, Rssia e Brasil, e questes

    polticas ligadas dependncia da importao de petrleo e segurana energtica, faz

    com que sejam fundamentais o desenvolvimento e a produo sustentvel de

    combustveis. Nesse contexto, a biomassa vegetal a nica fonte sustentvel de carbono

    orgnico disponvel, e os biocombustveis, combustveis derivados de biomassa

  • 2

    renovvel, como o lcool e o biodiesel, so as nicas fontes sustentveis disponveis de

    combustveis lquidos. Os biocombustveis geram muito menos gases do efeito estufa

    do que os combustveis fsseis e podem ser considerados neutros, uma vez que o CO2

    emitido na queima reciclado para as plantas atravs da reao de fotossntese, quando

    mtodos eficientes para produo so utilizados (HUBER et al., 2006).

    A biomassa uma alternativa importante como fonte de carbono renovvel no

    Brasil. A imensa superfcie do pas aliada ao clima favorvel, oferece excelentes

    condies para a produo e o uso energtico da biomassa em larga escala. De acordo

    com os dados do Balano Energtico Nacional de 2006 (BEN, 2007), os produtos da

    cana-de-acar responderam por 14,5% (32,8Mtep) da oferta de energia no Brasil e a

    lenha e o carvo vegetal por 12,7% (28,6Mtep).

    Os principais biocombustveis de primeira gerao so o etanol e o biodiesel. O

    etanol obtido atravs da fermentao do caldo da cana-de-acar. No Brasil, a

    gasolina comercializada nos postos, gasolina C, j vem misturada com 20-25%vol. de

    etanol anidro. O etanol hidratado (96% etanol / 4% gua) pode tambm ser usado puro

    ou misturado com a gasolina em qualquer proporo nos carros flexfuel, que em 2006

    responderam por 75% das vendas de carros novos de passeio. O biodiesel obtido

    atravs da transesterificao de leos vegetais e/ou animais, sendo utilizado no Brasil

    em misturas com o diesel na proporo de 2% vol.(B-2), com meta para 5%vol. (B-5)

    em 2013.

    Os biocombustveis da segunda gerao so obtidos utilizando como matria-prima

    biomassa lignocelulsica, como os resduos agroindustriais e capins, e no competem

    com a produo de alimentos. Vrios processos esto sendo desenvolvidos e dentre eles

    se destacam: o etanol de lignocelulose, obtido a partir da hidrlise da biomassa, que

    produz monmeros de acar, seguida da fermentao, o BTL (biomass to liquid),

    obtido a partir da gaseificao da biomassa seguida da sntese de Fischer-Tropsch e a

    pirlise rpida ou liquefao da biomassa produzindo bio-leo. Contudo, o bio-leo

    apresenta vrias caractersticas indesejveis como, teor de oxignio e gua elevados,

    acidez alta, instabilidade qumica e menor poder calorfico (17 MJ/kg) quando

    comparado com o leo combustvel convencional (43 MJ/kg). Portanto, o bio-leo deve

    ser melhorado para ser usado como substituto do diesel ou gasolina. Os processos de

    upgrading (melhoramento) conhecidos so a hidrodesoxigenao utilizando

  • 3

    catalisadores tpicos de hidrotratamento (CoMo, NiMo), o craqueamento com zelitas, a

    mistura com o diesel formando uma emulso e a reforma com vapor para produzir

    hidrognio ou gs de sntese (BRIDGWATER, 2007; HUBER et. al, 2006).

    Em um pas de dimenses continentais como o Brasil e com grande produo

    agrcola, a disponibilidade de resduos agrcolas bastante elevada. Tomando como

    exemplo a produo de cana-de-acar: para cada tonelada de cana so produzidas cerca

    de 145 kg base seca (bs) de sacarose, 140 kg bs de bagao e 140 kg bs palha. A sacarose

    transformada em acar ou etanol, geralmente em torno de 50% de cada, mas os

    valores mudam conforme a demanda. O bagao usado para produzir energia (co-

    gerao: energia eltrica e trmica) para os processos de produo de acar e etanol na

    usina, sendo o excedente vendido para terceiros (MACEDO, 2005). A palha, constituda

    por ponteios e folhas, no utilizada e grande parte queimada no campo causando

    problemas ambientais como emisso de particulados, queima incompleta e riscos de

    incndios. O governo federal e o estado de So Paulo estabeleceram legislao

    proibindo gradualmente a queima, com cronograma que considera as tecnologias

    disponveis e o desemprego esperado, incluindo a proibio imediata em reas de risco

    (PAES, 2005). A palha contm cerca de 30% da energia total da planta, contudo, para

    seu aproveitamento necessrio que a colheita seja mecanizada e sem queima. Para

    uma produo anual de 317 milhes de toneladas (Mt) de cana, com a recuperao de

    50% da palha em 50% de rea plantada, foram estimados cerca de 11,9 Mt bs de palha

    (MACEDO e CORTEZ, 2005) que correspondem a cerca de 4,2 toneladas equivalentes

    de petrleo (tep). Considerando a produo de cana-de-acar na safra de 2005/2006 de

    368 Mt (UNICA, 2007), considerando a mesma recuperao citada acima, a quantidade

    de palha disponvel seria de cerca de 14,5 Mt. A palha da cana-de-acar foi escolhida

    como fonte de biomassa para este estudo devido a sua disponibilidade, alm de sua

    queima ser um problema ambiental. Diferente do bagao da cana, que utilizado para

    gerar energia eltrica nas usinas, a palha um resduo que ainda no aproveitado pela

    indstria sucroalcooleira.

    A produo de biocombustveis vem crescendo no mundo, porm, a integrao com

    as refinarias de petrleo e a distribuio de derivados essencial para sua expanso e

    para a fase de transio entre os combustveis fsseis e os renovveis. Muitas

    companhias de petrleo j contemplam o desenvolvimento de tecnologias e infra-

  • 4

    estrutura para produo e comercializao de biocombustveis dentre elas a SHELL,

    UOP, CHEVRON e PETROBRAS. Em particular, a PETROBRAS j tem um bom

    domnio da tecnologia de craqueamento cataltico fluido (FCC) e processa uma vasta

    gama de qualidade de fraes de petrleo. Assim, natural explorar o uso dessa

    competncia na transformao termo-cataltica das fontes renovveis. Dentro dessa

    tica, interessante estudar a produo de biocombustveis utilizando os processos

    existentes nas refinarias de petrleo.

    1.1 Objetivos

    Esta pesquisa tem dois objetivos principais: O primeiro estudar o co-

    processamento do gasleo com o bio-leo, oriundo da pirlise rpida da palha da cana,

    no processo de craqueamento cataltico (FCC) verificando seu efeito nos rendimentos e

    na qualidade dos produtos. Nesse caso o melhoramento (upgrading) do bio-leo seria

    feito na prpria unidade comercial de craqueamento. O segundo estudar diferentes

    catalisadores no processo de pirlise de biomassa visando obteno de um bio-leo de

    melhor qualidade, ou seja, com um menor teor de oxigenados e menor acidez, que possa

    ser utilizado ou co-processado em refinarias de petrleo. Essa rota contempla tambm

    em uma nica etapa os processos de pirlise e de upgrading. A Figura 1.1 ilustra as

    rotas propostas.

    Rota Convencional

    Rotas Alternativas Estudadas

    Objetivo 1- Co-processamento

    Objetivo 2 Pirlise Cataltica

    Bio-leoBiomassaresduos Pirlise

    Upgrading- Craqueamento zelitas- Hidrodesoxigenao- Reforma a vapor

    Bio-leoBiomassaresduos Pirlise Co-processamento

    FCCGasleo

    Bio-leoBiomassaresduos

    PirliseCataltica

    Bio-leo*menor % oxignio,

    menor acidez

    Rota Convencional

    Rotas Alternativas Estudadas

    Objetivo 1- Co-processamento

    Objetivo 2 Pirlise Cataltica

    Bio-leoBiomassaresduos Pirlise

    Upgrading- Craqueamento zelitas- Hidrodesoxigenao- Reforma a vapor

    Bio-leoBiomassaresduos Pirlise Co-processamento

    FCCGasleo

    Bio-leoBiomassaresduos

    PirliseCataltica

    Bio-leo*menor % oxignio,

    menor acidez Figura 1.1 Rotas convencionais e alternativas para upgrading do bio-leo

  • 5

    1.1.1 Objetivos especficos do co-processamento de gasleo com o bio-leo no craqueamento cataltico

    Testar o co-processamento de gasleo/bio-leo em diferentes propores. Testar dois sistemas catalticos com diferentes potenciais de desoxigenao no co-

    processamento.

    Verificar os efeitos do tipo e teor de carga co-processada e do sistema cataltico nos rendimentos dos produtos de craqueamento e na composio da gasolina.

    Reduzir a concentrao dos cidos carboxlicos presentes no bio-leo visando diminuir a acidez do bio-leo e testar seu co-processamento com gasleo.

    Identificar os compostos oxigenados presentes nos produtos.

    1.1.2 Objetivos especficos da pirlise cataltica de biomassa

    Verificar o efeito da temperatura de pirlise e do uso de catalisador nos rendimentos

    de lquido, gases e carvo visando definir condies para as prximas sries de

    experimentos.

    Testar catalisadores cidos e bsicos na pirlise, verificar o efeito nos rendimentos e selecionar as melhores formulaes em termos de desoxigenao.

    Comparar a pirlise da palha de cana na presena de catalisadores slidos com a pirlise da palha impregnada com cido e com base.

    Verificar o efeito do uso e do tipo de catalisador nas propriedades do bio-leo.

  • 6

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 Biomassa

    Existem vrias definies do termo biomassa, entre elas: a quantidade total de

    matria orgnica viva em nosso sistema ecolgico; o material das plantas produzido

    constantemente pela fotossntese; a massa das clulas de plantas, animais e

    microorganismos usados como matrias-primas em processos microbiolgicos.

    Recentemente foi sugerida uma definio de biomassa no contexto de utilizao

    industrial. O termo biomassa industrial significa qualquer matria orgnica que est

    disponvel em base recorrente ou renovvel, incluindo plantas, resduos agrcolas,

    plantas aquticas, madeira e resduos de madeira, dejetos de animais, resduos urbanos e

    outros resduos usados para produo industrial de energia, combustveis, qumicos e

    materiais (KAMM et al., 2006).

    As plantas convertem o dixido de carbono e gua em carboidratos (ex: acares) e

    oxignio usando a energia solar, atravs da reao de fotossntese (equao 2.1). Os

    acares so armazenados na forma de um polmero como celulose, hemicelulose ou

    amido. Cerca de 75% da biomassa constituda desses polmeros (HUBER et al., 2006).

    clorofila

    nCO2 + nH2O + luz (energia solar) (CH2O)n + nO2 (eq. 2.1) A biomassa lignocelulsica constituda de celulose, hemicelulose, lignina e

    pequenas quantidades de extrativos e minerais.

    A celulose, o principal componente presente na biomassa lignocelulsica (40-80%),

    um polmero cristalino linear de alta massa molecular (106 ou mais) de beta-1,4-D-

    glucopiranose na conformao 4C1, com algumas regies amorfas, cuja frmula

    emprica (C6H10O5)n (Figura 2.1a). A unidade bsica do polmero de celulose consiste

    de duas unidades de anidroglicose, chamada de celobiose. O grau de polimerizao de

    cerca de 10000 na madeira e 15000 no algodo (HUBER et al., 2006).

    A hemicelulose o segundo componente em maior quantidade (15-40%). A

    hemicelulose um polmero amorfo composto de aucares com 5 tomos de carbono,

  • 7

    xilose e arabinose, com 6 tomos de carbono a galactose, glicose e manose, e cido

    glicurnico (Figura 2.1b). A hemicelulose possui menor peso molecular e menor grau

    de polimerizao que a celulose. A hemicelulose junta com a celulose chamada de

    holocelulose (HUBER et al., 2006; MOHAN et al., 2006).

    A lignina o terceiro componente em maior proporo (10-30%). A lignina uma

    substncia polifenlica de estrutura tridimensional altamente ramificada constituda de

    uma variedade de unidades de fenil-propano substitudas com hidroxilas ou radicais

    metoxi. Essas unidades de fenil-propano monomricas exibem a estrutura do cumaril,

    coniferil (guaiacil) e sinapil (siringil) (Figura 2.1c). A lignina funciona como um ligante

    para aglomerao da celulose e hemicelulose protegendo contra a destruio dos

    micrbios e microorganismos das fibras da celulose (HUBER et al., 2006; (MOHAN et

    al., 2006).

    Os extrativos so compostos que podem ser extrados usando solventes polares

    (gua, lcoois) ou apolares (tolueno, hexano). Exemplos de compostos extrativos: os

    terpenos, alcalides, compostos fenlicos, aucares, leos essenciais, etc. (MOHAN et

    al. 2006)

    A biomassa tambm contm compostos inorgnicos que aparecem na forma de

    cinzas aps a pirlise. Seu teor desprezvel em madeiras (0,3 a 1%p/p), contudo, pode

    ser maior em resduos como no bagao de cana (3%p/p) ou significativamente elevado

    como na palha de arroz (23% p/p). Os principais elementos encontrados nas cinzas so:

    Si, Ca, K, Fe, P, Al, Na e Mg (ROCHA, 1977).

  • 8

    (a) Celulose

    (b) Hemicelulose

    -D-Xilopiranose

    O

    OHOH

    HH

    H

    H

    HOHOH

    HO

    OHOH

    HH

    H

    H

    HOHOH

    COOH

    cido Glucornico

    O

    OHOH

    HH

    H

    H

    HOHOH

    OH

    -D-Glucopiranose

    O

    OHOH

    HH

    OH

    H

    HOHH

    OH

    -D-Galactopiranose

    O

    OHH

    OHH

    H

    H

    HOHOH

    OH

    -D-Manopiranose

    O

    OHH

    OHH

    H

    OH

    HHOH

    H

    -D-Arabinopiranose (c) Lignina

    OH

    OH

    lcool p-Cumarlico

    OH

    OH

    O OCH3CH3

    lcool Sinaplico

    OH

    OH

    O CH3

    lcool Coniferlico

    Figura 2.1 Estruturas da (a) celulose, (b) alguns constituintes da hemicelulose e (c)

    lignina (adaptado de MOHAN et al., 2006).

    Unidadades de repetio

  • 9

    2.2 Processos de converso de biomassa

    A biomassa precisa ser convertida a combustveis slidos, lquidos ou gasosos que

    sero usados para gerar eletricidade, fornecer calor ou para mover automveis. Essa

    converso feita atravs de processos termoqumicos, bioqumicos e mecnicos. Na

    Figura 2.2 so mostrados os processos de converso e seus possveis produtos.

    Combusto, gaseificao, pirlise e liquefao so exemplos de processos

    termoqumicos. Dentre os processos bioqumicos temos a fermentao, para converter

    acar em etanol, e a digesto anaerbica para produo de biogs. Os processos

    mecnicos no so exatamente um processo de converso, uma vez que eles no alteram

    o estado fsico da biomassa. Exemplos de processos mecnicos so a compactao de

    resduos na forma de peletes, moagem ou picagem de palha, extrao mecnica do leo

    em filtro prensa (BRIDGWATER, 2006).

    Conversotrmica

    Conversobiolgica

    Conversomecnica Produto Mercado

    Produtos qumicos

    Calor

    Eletricidade

    Combustvel

    Pirlise e Liquefao

    Gaseificao

    Combusto

    Fermentao

    Prensagem leovegetal

    Digesto

    Gs

    Calor

    Etanol

    Bio-gs

    Bio-leo

    Conversotrmica

    Conversobiolgica

    Conversomecnica Produto Mercado

    Produtos qumicos

    Calor

    Eletricidade

    Combustvel

    Pirlise e Liquefao

    Gaseificao

    Combusto

    Fermentao

    Prensagem leovegetal

    Digesto

    Gs

    Calor

    Etanol

    Bio-gs

    Bio-leo

    Figura 2.2 Processos de converso de biomassa, produtos e aplicaes (Adaptado de

    BRIDGWATER, 2006).

  • 10

    As principais rotas para converso de materiais lignocelulsicos em combustveis

    lquidos so o etanol de lignocelulose, obtido a partir da hidrlise da biomassa, que

    produz monmeros de acar, seguida da fermentao, o BTL (biomass to liquid),

    obtido a partir da gaseificao da biomassa seguida da sntese de Fischer-Tropsch e a

    pirlise rpida ou liquefao da biomassa produzindo bio-leo (HUBER et al., 2006).

    Nesta reviso ser dada nfase aos processos termoqumicos e em especial a pirlise

    que o processo usado neste estudo.

    2.2.1 Combusto

    A combusto de biomassa largamente empregada para produzir calor para o

    aquecimento de ambientes, gerar vapor em caldeiras e movimentar turbinas geradoras

    de eletricidade. Apesar da baixa eficincia para gerao de eletricidade, 15% para

    plantas pequenas e 30% para plantas maiores e mais modernas, o custo competitivo

    quando so usados rejeitos ou resduos. Emisses de monxido de carbono, devido

    queima incompleta, de particulados e o manuseio de cinzas ainda so problemas

    tcnicos a serem melhorados. Esta tecnologia largamente disponvel no mercado com

    muitos casos de sucesso na Europa e Amrica do Norte, geralmente utilizando resduos

    agrcolas, florestais e industriais (BRIDGWATER, 2003). No Brasil, como exemplos de

    sucesso temos a queima do bagao da cana-de-acar e da lixvia (licor negro), que

    um resduo da indstria de papel e celulose, e o carvo vegetal que usado em usinas

    siderrgicas como termo-redutor (BAJAY et al., 2005).

    2.2.2 Gaseificao

    A gaseificao um processo em que um lquido ou slido a base de carbono, como

    biomassa, carvo, bio-leo ou gasleo, reage com o ar, oxignio puro ou vapor

    produzindo um gs que contm monxido de carbono, dixido de carbono, hidrognio,

    metano e nitrognio. A gaseificao de biomassa compreende as seguintes etapas

    seqenciais: secagem para evaporao da umidade; pirlise para obteno de gases,

    vapores do alcatro e carvo; e gaseificao ou oxidao parcial do carvo, alcatro e

    gases gerados na pirlise. A gaseificao com o ar produz um gs com baixo poder

  • 11

    calorfico (~5MJ/m3), devido diluio com o nitrognio, que pode ser queimado em

    turbinas para gerar eletricidade ou em caldeiras de vapor. A gaseificao com oxignio

    puro ou com vapor produz um gs com mdio poder calorfico, 10-12 MJ/m3 e 15-

    20MJ/m3, respectivamente. Esse gs mais adequado para produzir combustveis

    lquidos, via sntese de Fischer-Tropsch, e qumicos. As tecnologias de gaseificao de

    biomassa tm sido demonstradas com sucesso nas escalas prottipo e industrial,

    contudo, seu custo ainda elevado quando comparado com a energia produzida a partir

    dos combustveis fsseis. A integrao da gaseificao com outros processos, por

    exemplo, em uma biorefinaria, fundamental para viabilizar economicamente esta rota

    (BRIDGWATER, 2003).

    2.2.3 Liquefao

    A Liquefao a transformao da biomassa em produtos lquidos atravs de um

    processo a altas presses (50-200atm) e moderadas temperaturas (250 450C). Nesse

    processo a carga uma suspenso de biomassa em um solvente e a reao conduzida

    sob atmosfera redutora de hidrognio e ou monxido de carbono na presena ou no de

    catalisadores. O solvente normalmente usado gua (liquefao hidrotrmica), mas so

    tambm empregados outros solventes orgnicos como lcoois, fenis, leo creosoto e

    etileno glicol. O bio-leo obtido atravs da liquefao possui um menor teor de oxignio

    que o bio-leo oriundo da pirlise, contudo, possui uma viscosidade maior. Um

    processo chamado de HTU (Hidrothermal upgrading) foi desenvolvido pela Shell,

    contudo, tem sido questionado se essa tecnologia pode ser rapidamente comercializada

    (HUBER et al., 2006).

    2.2.4 Pirlise

    A pirlise a decomposio trmica na ausncia de oxignio. a primeira etapa dos

    processos de combusto e gaseificao. A pirlise da biomassa produz gs, lquido e

    slido. O gs composto de monxido de carbono, dixido de carbono e

    hidrocarbonetos leves. O lquido de colorao escura chamado de bio-leo e o slido

    de carvo vegetal. Os rendimentos e a qualidade dos produtos so influenciados pelas

  • 12

    condies operacionais empregadas. A pirlise recebe diferentes denominaes

    dependendo das condies utilizadas. Na pirlise lenta, ou carbonizao, so

    empregadas baixas temperaturas e longos tempos de residncia favorecendo a produo

    de carvo vegetal. Altas temperaturas e longos tempos de residncia favorecem a

    formao de gases. Temperaturas moderadas e baixo tempo de residncia dos gases

    favorecem a produo de lquidos (bio-leo). Na Tabela 2.1 so mostrados alguns

    exemplos do perfil de rendimentos dos produtos para diferentes condies de processo

    da pirlise (BRIDGWATER, 2003).

    Tabela 2.1 Rendimentos tpicos obtidos para diversos tipos de pirlise. (Adaptado de BRIDGWATER, 2003)

    Processo Condies operacionais Lquido

    (%p/p)

    Slido

    (%p/p)

    Gs

    (%p/p)

    Pirlise lenta

    (Carbonizao)

    Temperatura baixa ~ 400oC

    Tempo de residncia - horas/dias

    30 35 35

    Pirlise rpida

    Temperatura moderada ~ 500oC

    Tempo de residncia dos vapores

    baixo ~ 1s

    75 12 13

    Pirlise tipo

    Gaseificao

    Temperatura elevada ~ 800oC

    Tempo de residncia dos vapores

    longo

    5 10 85

    Na Tabela 2.2 so mostrados alguns tipos de pirlise com suas respectivas

    condies operacionais tpicas.

  • 13

    Tabela 2.2 Produtos tpicos obtidos para diversos tipos de pirlise (Adaptado de ROCHA, 1997, MOHAN et al. 2006, HUBER et al., 2006).

    Processo Tempo de

    residncia

    Temperatura

    (oC)

    Taxa de

    aquecimento

    Produto principal

    Pirlise lenta

    (Carbonizao)

    horas/dias 300-500

    Muito baixa Carvo vegetal

    Pirlise

    convencional

    5-30min 400-600 Baixa Bio-leo,

    Carvo e gases

    Pirlise rpida 0,5 5s 400-650 Alta Bio-leo

    Pirlise flash

    - Lquidos

    - Gases

    < 1s

    < 1s

    400-650

    > 650

    Alta

    Alta

    Bio-leo

    Qumicos e gs comb.

    Ultra-rpida < 0,5s 1000 Muito alta Qumicos e gs comb.

    2.2.4.1 Pirlise rpida

    A pirlise rpida para produo de lquidos uma rota bastante atrativa uma vez que

    o lquido, de maior densidade, pode ser transportado, estocado e manuseado com maior

    facilidade e menor custo que a biomassa slida de menor densidade.

    Os principais requerimentos do processo de pirlise rpida so:

    Altas taxas de aquecimento e de transferncia de calor, requerendo uma biomassa finamente moda.

    Temperatura de reao controlada em torno de 500C. Baixo tempo de residncia dos vapores, tipicamente menor que 2s. Resfriamento rpido dos vapores. O processo de pirlise rpida compreende uma etapa de secagem da biomassa,

    tipicamente para menos de 10% de umidade, para minimizar a quantidade de gua no

    produto lquido, moagem da biomassa para obter tamanho de partculas suficientemente

    pequeno, em torno de 2mm para leito fluidizado, reao de pirlise, separao do carvo

    dos gases e vapores e condensao rpida dos vapores e coleta do bio-leo. A Figura 2.3

    ilustra um esquema conceitual do processo de pirlise rpida (BRIDGWATER, 1999;

    2004).

  • 14

    Secador

    Moinho

    Biomassa

    Bio-leo

    GasesCalor p/ secagem

    Separadorgas-lquido

    Condensador

    Ciclone

    Carvo

    Calor p/pirlise

    Reatorde

    Pirlise

    Gs de fluidizao

    Gases Secador

    Moinho

    Biomassa

    Bio-leo

    GasesCalor p/ secagem

    Separadorgas-lquido

    Condensador

    Ciclone

    Carvo

    Calor p/pirlise

    Reatorde

    Pirlise

    Gs de fluidizao

    Gases

    Figura 2.3 Esquema conceitual do processo de pirlise rpida (BRIDGWATER et al.,

    1999).

    A distribuio tpica dos rendimentos dos produtos, lquidos, gases e carvo vegetal,

    e sua dependncia com a temperatura para pirlise rpida da madeira so mostrados na

    Figura 2.4. O rendimento de lquido, bio-leo, atinge um mximo para temperaturas em

    torno de 500oC e seu valor de cerca de 65%. Considerando bio-leo+gua, o

    rendimento mximo de cerca de 70%. O rendimento de gs aumenta e o de carvo

    vegetal diminui com o aumento da temperatura (BRIDGWATER, 2007).

  • 15

    Rendimentos, %p

    Temperatura,OC

    OrgnicosOrgnicos

    CarvoCarvo

    Gs

    gua

    Rendimentos, %p

    Temperatura,OC

    OrgnicosOrgnicos

    CarvoCarvo

    Gs

    gua

    Figura 2.4 Rendimentos tpicos em base seca para pirlise rpida da madeira em

    funo da temperatura (Adaptado de BRIDGWATER 2007).

    BRIDGWATER e PEACOCKE (2000) fizeram uma extensa reviso das tecnologias

    e configuraes de reatores disponveis no mundo para pirlise rpida, incluindo os

    reatores de leito fluidizado, tambm conhecidos como de leito fluidizado borbulhante,

    os de leito fluidizado circulante, os de leito transportado circulante, os reatores

    ciclnicos, os ablativos e os de pirlise a vcuo. As configuraes mais usadas so os

    reatores de leito fluidizado e os de leito fluidizado circulante devido fcil operao e

    aumento de escala (scale-up).

    Vrias tecnologias de pirlise rpida tm sido comercializadas, sendo os principais

    fabricantes a Ensyn, Dynomative, BTG, dentre outros (CZERNIK et al., 2004). Existem

    muitas unidades de pesquisas em diversas universidades e centros de pesquisa no

    mundo incluindo Universidade de Iowa e National Renewable Energy Laboratory

    (NREL) nos EUA, RTI no Canad, IWC na Alemanha, Aston University no Reino

    Unido, VTT na Finlndia e na Universidade de Twente na Holanda dentre outras

    (BRIDGWATER, 2007).

    No Brasil, praticamente no existem pesquisas na rea de pirlise rpida de

    biomassa. Apenas o grupo de biocombustveis da Universidade Estadual de Campinas -

  • 16

    UNICAMP em pareceria com a BIOWARE trabalham na obteno de bio-leo a partir

    da tecnologia de reator de leito fluidizado borbulhante com capacidade de 200kg/h

    (ROCHA et al., 2002; MESA-PEREZ et al., 2003).

    2.3 Bio-leo

    O bio-leo, conhecido tambm como leo de pirlise, bio-leo bruto, alcatro

    piroltico, alcatro pirolenhoso, licor pirolenhoso, lquido de madeira, leo de madeira,

    condensado da fumaa, destilado da madeira, um lquido de colorao marrom escura,

    quase negra, e odor caracterstico de fumaa com composio elementar prxima a da

    biomassa. O bio-leo uma mistura complexa de compostos oxigenados com uma

    quantidade significativa de gua, originada da umidade da biomassa e das reaes,

    podendo conter ainda pequenas partculas de carvo e metais alcalinos dissolvidos

    oriundos das cinzas. A sua composio depende do tipo de biomassa, das condies de

    processo, do equipamento e da eficincia na separao do carvo e na condensao. O

    bio-leo pode ser considerado como uma microemulso na qual a fase contnua uma

    soluo aquosa dos produtos da fragmentao da celulose e hemicelulose, que estabiliza

    a fase descontnua que so as macromolculas de lignina piroltica (BRIDGWATER,

    2003; BRIDGWATER, 2007).

    O bio-leo contm um nmero elevado de compostos oxigenados (mais de 200),

    incluindo cidos, acares, lcoois, aldedos, cetonas, steres, furanos, fenis,

    oxigenados mistos, guaiacis, seringis. Essa mistura de compostos primariamente

    originada da despolimerizao e da fragmentao dos componentes principais: celulose,

    hemicelulose e lignina. Os oxigenados mistos, acares e furanos so produtos

    primrios da pirlise da holocelulose, enquanto que os guaiacis e seringis so

    produtos da fragmentao da lignina. Os cidos, lcoois, aldedos, cetonas e steres so

    provavelmente originados da decomposio dos produtos primrios da celulose e

    hemicelulose (HUBER et al., 2006).

    O bio-leo apresenta caractersticas bem diferentes do leo combustvel. Possui um

    teor elevado de oxignio (35-40%p/p) e de gua (15-30%), acidez alta (pH ~ 2,5), maior

    densidade (1,2kg/l), menor poder calorfico superior (17MJ/Kg), que representa cerca

    de 40% do poder calorfico do leo combustvel (43MJ/kg). O bio-leo solvel em

  • 17

    solventes polares, mas completamente imiscvel em hidrocarbonetos. O bio-leo

    instvel, podendo sofrer polimerizao e condensao ao longo do tempo. Essas reaes

    so favorecidas com o aumento de temperatura e na presena de ar e luz, resultando em

    um aumento de viscosidade e separao de fases (BRIDGWATER, 2003). Uma reviso

    dos mecanismos fsicos e qumicos da estabilidade do bio-leo na estocagem foi feita

    por DIEBOLD (2000). Ele mostrou que a adio de solventes como metanol e etanol

    melhoram a estabilidade.

    Os principais problemas do uso de bio-leo como combustvel so a baixa

    volatilidade, a alta viscosidade, formao de coque e corrosividade. Esses problemas

    limitam o uso de bio-leo a aplicaes estticas. Para queima em motores a diesel as

    principais dificuldades so a difcil ignio, formao de coque e corrosividade. O bio-

    leo tem sido usado com sucesso em caldeiras e tem mostrado potencial para uso em

    motores a diesel e turbinas (CZERNICK e BRIDGWATER, 2004). As experincias

    relevantes no uso de bio-leo para gerao de eletricidade foram recentemente relatadas

    por CHIARAMONTI et al., (2007). Apesar de no existirem ainda normas e

    especificaes definidas para o bio-leo, OASMAA et al. (2005) propuseram

    especificaes do produto para as referidas aplicaes.

    Vrios produtos qumicos incluindo flavorizantes, hidroxi-acetaldedo, resinas e

    agroqumicos e fertilizantes podem ser tambm extrados ou derivados do bio-leo. Um

    resumo das aplicaes do bio-leo mostrado na Figura 2.5.

    Outra alternativa para o bio-leo seria us-lo como um fluido transportador de

    energia, energy carrier. O bio-leo pode ser produzido em pequenas plantas de

    pirlise rpida perto da fonte de matria-prima, onde a biomassa de baixa densidade

    convertida num lquido muito mais denso e livre de cinzas, e transportado

    economicamente para uma central de processamento onde seria gaseificado a gs de

    sntese para produo de combustveis lquidos (BRIDGWATER, 2004; BURGT,2006).

  • 18

    Gs Combustveis

    Motor

    Produtos qumicos

    Eletricidade

    Calor

    Aplicaes do carvo

    Pirliserpida

    Calor p/ pirlise

    Calor p/ processo

    Lquido

    Carvo vegetal

    Extrao Converso

    Melhoramentoupgrading

    Turbina

    Caldeira

    Co-queima

    Gs Combustveis

    Motor

    Produtos qumicos

    Eletricidade

    Calor

    Aplicaes do carvo

    Pirliserpida

    Calor p/ pirlise

    Calor p/ processo

    Lquido

    Carvo vegetal

    Extrao Converso

    Melhoramentoupgrading

    Turbina

    Caldeira

    Co-queima

    Figura 2.5 Aplicaes do bio-leo (Adaptado de BRIDGWATER, 2006)

    2.4 Melhoramento (Upgrading) do Bio-leo

    O bio-leo deve ser melhorado para ser usado como substituto do diesel ou gasolina.

    Os processos de melhoramento (upgrading) conhecidos so a hidrodesoxigenao, o

    craqueamento com zelitas, a mistura com o diesel formando uma emulso e a reforma

    com vapor para produzir hidrognio ou gs de sntese.

    2.4.1 Hidrodesoxigenao

    A hidrodesoxigenao conduzida a altas presses de hidrognio e a temperaturas

    moderadas a elevadas na presena de catalisadores, geralmente CoMo ou NiMo

    suportados em alumina na forma sulfetada, resultando na eliminao do oxignio como

    gua. GRANGE et al. (1996) estudaram a reatividade de diversos compostos

    oxigenados na reao de hidrodesoxigenao com catalisadores CoMo ou NiMo. Eles

  • 19

    apresentaram os parmetros e condies que influenciam o controle da reao.

    ELLIOTT (2007) fez uma extensa reviso do desenvolvimento do hidroprocessamento

    de bio-leo. Os bio-leos oriundos da liquefao so mais adequados para esta rota

    devido ao menor teor de oxignio. Diferenas no processo foram identificadas

    requerendo modificaes no processo convencional de hidroprocessamento de

    derivados do petrleo. O custo do processo ainda elevado quando comparado com o

    processamento de derivados do petrleo devido ao elevado consumo de H2, contudo, as

    avaliaes econmicas precisam ser atualizadas.

    2.4.2 Misturas do bio-leo com o diesel

    O bio-leo no miscvel em hidrocarbonetos, todavia, ele pode ser emulsionado no

    diesel com o auxlio de surfactantes. CHIARAMONTI et al. (2003a,b) prepararam

    emulses com 5 a 75% de bio-leo no diesel. As emulses apresentaram boas

    caractersticas de ignio, contudo foram observadas corroso e eroso dos injetores.

    IKURA et al.(2003) estudaram emulses contendo 10-30% de bio-leo. A corrosividade

    das emulses foi cerca da metade da corrosividade usando bio-leo puro e a viscosidade

    cresceu com o aumento do teor de bio-leo. A qualidade do diesel caiu evidenciada pelo

    menor nmero de cetanas. As desvantagens desta rota so o alto custo do surfactante e a

    alta energia requerida para emulsificao (BRIDGWATER, 2004; HUBER et al., 2006).

    2.4.3 Reforma de bio-leo

    Produo de hidrognio a partir de biomassa por pirlise e reforma tem sido

    estudada no NREL. A frao do bio-leo solvel em gua, que derivada dos

    carboidratos (holocelulose), foi convertida com eficincia a hidrognio e dixido de

    carbono num processo em leito fluidizado utilizando catalisador base de nquel em

    condies similares s usadas na reforma de gs natural. A frao orgnica insolvel

    derivada da lignina pode ser usada na produo de qumicos, como as resinas base de

    fenolformaldedo (CZERNICK e BRIDGWATER, 2004).

  • 20

    2.4.4 Craqueamento sobre zelitas

    O termo zelita foi utilizado inicialmente para designar uma famlia de minerais

    naturais que apresentavam como propriedades caractersticas a capacidade para trocas

    inicas e a desoro reversvel de gua. Esta ltima propriedade deu origem ao nome

    zelita, ao qual deriva do grego, zhein, zeo (que ferve) e lithos (pedra). Hoje em

    dia, este termo engloba um grande nmero de minerais naturais e sintticos que

    apresentam caractersticas estruturais comuns. As zelitas so aluminosilicatos

    cristalinos microporosos com estrutura porosa bem definida. A frmula estrutural das

    zelitas :

    (Mn+)z/n [(SiO2)y (AlO2)z]rede

    onde M um ction de valncia n e y+z o nmero total de tetraedros de alumnio e

    silcio na rede cristalina. Os alumnios da rede (AlO2) so associados com os stios

    cidos ativos e catalisam a converso dos hidrocarbonetos. A fora, nmero e densidade

    dos stios determinam a atividade e seletividade da zelita e podem ser ajustados para

    uma determinada aplicao. Os diferentes tamanhos e formas das cavidades, canais e

    aberturas de poros das zelitas lhe conferem a seletividade de forma. (GUISNET e

    RIBEIRO, 2006)

    Catalisadores base de zelitas so largamente empregados no refino de petrleo e

    petroqumica, sendo as zelitas Y e ZSM-5 as mais usadas no craqueamento de petrleo

    (CORMA, 1997).

    Bio-leo pode ser melhorado usando catalisadores zeolticos para reduzir o teor de

    oxignio e incrementar sua estabilidade trmica. As condies de reao usadas so

    temperaturas na faixa de 350 a 500C, presso atmosfrica e velocidade espacial do gs de 2h-1. Os produtos da reao incluem hidrocarbonetos aromticos e alifticos,

    compostos orgnicos solveis em gua e em leo, gua, gases (CO, CO2 e

    hidrocarbonetos leves) e coque. Vrias reaes ocorrem durante esse processo

    incluindo, desidratao, craqueamento, polimerizao, desoxigenao e aromatizao

    (HUBER et al., 2006).

    A seguir ser descrito primeiro a converso de compostos modelos oxigenados

    sobre zelitas e catalisadores bsicos e em seguida a converso do bio-leo sobre

    zelitas em si.

  • 21

    2.4.4.1 Converso de compostos modelos oxigenados

    CHANG e SILVESTRE (1977) estudaram a converso de diversos compostos

    oxigenados incluindo metanol, dimetil-ter, t-butanol, 1-heptanol, formaldedo,

    propanal, acetona, cido actico e acetato de n-propila dentre outros, sobre zelita ZSM-

    5. As reaes foram geralmente caracterizadas como desidratao e descarboxilao

    resultando em hidrocarbonetos. Contudo, observou-se descarbonilao com acetona e

    formaldedo.

    ADJAYE e BAKHSHI (1995a) estudaram a reatividade de vrios compostos

    oxigenados sobre ZSM-5. O objetivo era obter um mecanismo de reao para o bio-

    leo. Eles concluram que a converso de bio-leo sobre ZSM-5 para combustveis e

    qumicos uma complexa combinao de reaes, compreendendo principalmente,

    craqueamento, desoxigenao, aromatizao e polimerizao.

    GAYUBO et al. (2004a, 2004b, 2005) estudaram a converso de compostos

    modelos oxigenados sobre ZSM-5 em condies de craqueamento incluindo 1-propanol,

    2-propanol, 1-butanol, 2-butanol, fenol, 2-metoxifenol, acetona, butanona, acetaldedo,

    cido actico. Os lcoois so convertidos a olefinas. O fenol, 2-metoxifenol e o

    acetaldedo apresentaram baixa reatividade e elevada formao de coque. A

    transformao das cetonas, que so menos reativas que os lcoois, e do cido actico,

    que convertido primariamente em acetona, ocorrem principalmente via

    descarboxilao e, em um menor grau, via desidratao. Acima de 400oC h formao

    de olefinas e aromticos. A gerao de coque, abrandada pela presena do vapor dgua,

    maior do que com os lcoois. Os autores sugeriram a remoo de aldedos, fenis,

    oxifenis e furfural do bio-leo antes do processo de upgrading.

    CHEN et al. (1986) estudaram a converso de carboidratos sobre ZSM-5 em um

    reator de leito fixo e observaram principalmente a formao de coque, hidrocarbonetos,

    CO e CO2. Eles relataram que o grande desafio na converso de biomassa era remover o

    oxignio da biomassa e enriquecer o contedo de hidrognio no hidrocarboneto

    formado. Eles definiram uma relao hidrognio/carbono (H/Cef, eq. 2.2) efetiva para

    auxiliar a explicar a converso cataltica de carboidratos.

    H/Cef = (H 2*O 3*N 2*S) / C (eq.2.2)

  • 22

    em que, H, C, O, N e S so o nmero de moles de hidrognio, carbono, oxignio,

    nitrognio e enxofre, respectivamente, presentes na carga. Por exemplo: as relaes

    H/Cef da glicose (C6H12O6), do glicerol (C3H8O3) e do metanol (CH4O) so 0 (zero), 2/3

    e 2 respectivamente. Eles observaram que a adio do metanol aos carboidratos na

    converso cataltica sobre ZSM-5 reduziu a formao de coque e aumentou a formao

    de hidrocarbonetos, portanto, aumentando o H/Cef dos produtos. Por outro lado, os

    hidrocarbonetos possuem relao H/Cef maior ou igual a 2 para alcanos e alquenos e de

    1 para aromticos (ex: benzeno), portanto H/Cef maiores do que a maioria dos

    compostos oxigenados oriundos de biomassa. Desta forma a biomassa pode ser vista

    como um composto deficiente em oxignio quando comparada com os hidrocarbonetos

    (HUBER et al., 2007).

    CORMA et al. (2007) usaram o glicerol e o sorbitol como compostos modelos,

    representativos dos oxigenados presentes na biomassa, em reaes de craqueamento

    cataltico na faixa de 500-700oC com seis diferentes catalisadores: catalisador de FCC

    fresco, FCC de equilbrio (ECAT), um aditivo base de ZSM-5, zelita USY, alumina e

    uma slica inerte. Oxignio foi removido como gua, CO e CO2. ZSM-5 apresentou

    maior teor de olefinas, aromticos e menor coque. Sorbitol e glicerol apresentaram

    seletividades similares, sendo que o sorbitol produziu mais CO. Eles sugeriram que na

    converso cataltica de oxigenados derivados da biomassa ocorreriam principalmente

    cinco tipos de classes de reaes (Figura 2.6): reaes de desidratao, reaes de

    craqueamento de molculas maiores de oxigenados formando molculas menores (no

    mostradas na figura), reaes que produzem hidrognio, reaes que consomem

    hidrognio e produo de molculas maiores por reaes que formam ligaes C C

    como reaes de Diels-Alder e condensao aldlica. Reaes de desidratao ocorrem

    nos stios cidos, produzindo gua e um produto desidratado. O hidrognio pode ser

    produzido atravs da reforma a vapor, desidrogenao de carboidratos ou de

    hidrocarbonetos, reao de shift e descarbonilao das espcies parcialmente

    desidratadas. Estas reaes produzem CO, CO2 coque e H2. O hidrognio produzido

    nestas reaes pode ser consumido em outras reaes que aumentam a relao H/Cef,

    formando por exemplo, olefinas e parafinas. Hidrognio pode ser trocado diretamente

    atravs das reaes de transferncias de hidrognio entre dois hidrocarbonetos ou

    carboidratos, ou atravs de duas reaes consecutivas de desidrogenao e

  • 23

    Desca

    rbonila

    o

    Reforma c/ vapor

    ProdutosDesidrogenados

    Espcies ParcialmenteDesidratadas

    DesidrataoCompleta

    Desidratao

    Biomassa

    Aromticos

    Olefinas,Alcanos

    RepetidasDesidrataoHidrogenaoou Transfernciade hidrognio

    Formao de Coque(coque hidrogenado)

    DesidrataoCompleta

    HidrogenaoTransfernciade hidrognio Intermedirio

    ParcialmenteDesidratadoHidrogenado

    Reaes Diels-Alderou condensao

    Reaes que produzem hidrognio

    Reaes que consomem hidrognio

    Formao de Coque

    Shift

    Desca

    rbonila

    o

    Reforma c/ vapor

    ProdutosDesidrogenados

    Espcies ParcialmenteDesidratadas

    DesidrataoCompleta

    Desidratao

    Biomassa

    Aromticos

    Olefinas,Alcanos

    RepetidasDesidrataoHidrogenaoou Transfernciade hidrognio

    Formao de Coque(coque hidrogenado)

    DesidrataoCompleta

    HidrogenaoTransfernciade hidrognio Intermedirio

    ParcialmenteDesidratadoHidrogenado

    Reaes Diels-Alderou condensao

    Reaes que produzem hidrognio

    Reaes que consomem hidrognio

    Formao de Coque

    Shift

    Figura 2.6 Esquema de reaes para o craqueamento cataltico de compostos

    oxigenados derivados da biomassa (HUBER et al, 2007).

    hidrogenao. As reaes de transferncias de hidrognio ocorrem nos stios cidos no

    craqueamento de gasleo nas condies de FCC. Esta reao envolve tipicamente um

    doador de hidrognio, por exemplo, um nafteno, e um aceptor de hidrognio, uma

    olefina, formando parafinas e aromticos. A concentrao de naftenos no bio-leo

    baixa, portanto, uma outra fonte de hidrognio requerida para formar produtos com

    maior relao H/Cef. MARINANGELI et al.(2005) e HUBER et al. (2007) sugeriram

    que o hidrognio pode ser transferido de uma carga oriunda do petrleo, que rica em

    hidrognio, para uma carga originada de biomassa que deficiente em hidrognio

    durante o craqueamento cataltico de misturas de cargas originadas de biomassa e de

    petrleo. Por outro lado, as reaes de hidrogenao e desidrogenao ocorrem na

    presena de metais. Impurezas de xidos metlicos ou metais na superfcie da zelita

    podem dissociar H2. O hidrognio dissociado pode ento ser usado em reaes de

    hidrogenao Alquenos, aromticos, aldedos e cetonas podem tambm ser

    hidrogenados com catalisador cido. Aromticos so tambm produzidos neste processo

    possivelmente por reaes de Diels-Alder e de condensao de espcies

    desidratadas/hidrogenadas. Para produzir hidrocarbonetos com uma maior relao

    H/Cef, as reaes de desidratao, consumo e produo de hidrognio devem ser

    adequadamente balanceadas, sendo requerida uma produo mxima de H2 como

  • 24

    intermedirio. Este mximo depende das espcies em que o carbono convertido; o

    rendimento mximo de hidrognio aumenta na seguinte ordem: C < CO < CO2.

    Esto tambm disponveis na literatura estudos de converso de compostos

    oxigenados sobre catalisadores bsicos.

    A descarboxilao pode ocorrer na presena de catalisadores bsicos fortes.

    Descarboxilao utilizando a hidrotalcita tem sido explorada em diversas patentes (ex:

    KING et al., 1992). Descarboxilao de cidos graxos para produzir cetonas pode

    ocorrer sobre MgO (HAMMERBERG et al., 1958). Descarboxilao tambm uma

    etapa importante no acoplamento de duas molculas de cidos carboxlicos para formar

    uma cetona. Essa reao tem sido investigada a partir de cido actico utilizando um

    catalisador base de hidrotalcita tipo MgAlCO3-2 (SELS et al., 2001).

    Desidratao, assim como desidrogenao, pode ocorrer em slidos com um grande

    nmero de stios bsicos, sendo a desidrogenao mais favorvel. A interao entre um

    stio bsico e uma molcula de lcool causa uma abstrao do prton do grupo

    alcolico, produzindo adsoro de um alcxido. Em uma etapa posterior, a liberao do

    prton do carbono beta resulta na formao de acetona. A desidratao provavelmente

    resulta da interao de um stio bsico com um prton do carbono beta para formar um

    carbnion adsorvido, seguido da eliminao da hidroxila formando o alqueno

    (ARAMENDA et al., 1996).

    2.4.4.2 Converso de bio-leo

    No melhoramento (upgrading) de bio-leo atravs do craqueamento com zelitas

    duas abordagens tm sido aplicadas. Na primeira, o bio-leo, previamente obtido,

    submetido ao craqueamento, geralmente em leito fixo. Na segunda os vapores oriundos

    da pirlise so craqueados seqencialmente sobre um leito de catalisador antes da

    condensao.

    A maioria dos trabalhos de craqueamento do bio-leo com zelitas tem sido feito de

    acordo com a primeira rota. A seguir alguns exemplos:

    SHARMA e BAKHSHI (1993) estudaram o craqueamento do bio-leo e de duas

    fraes do mesmo sobre ZSM-5. As duas fraes foram a lignina piroltica, frao que

    resta aps a remoo dos compostos solveis em gua do bio-leo, e o leo residual,

  • 25

    que a frao insolvel em acetato de etila que resta aps a separao da parte fenlica.

    Os autores sugeriram que a rota mais promissora para produzir combustveis e produtos

    qumicos seria via a frao do leo residual, uma vez que o rendimento de coque

    baixo e a frao fenlica previamente separada adequada para fabricao de resinas

    fenlicas.

    ADJAYE e BAKHSHI (1994) estudaram o craqueamento de bio-leo oriundo da

    liquefao da madeira sobre as zelitas H-ZSM-5, H-Y e H-mordenita, silicalita e slica-

    alumina. A fase orgnica do bio-leo foi separada da fase aquosa e misturada na relao

    2:1 em massa com a tretalina para melhorar a estabilidade e a viscosidade. O tamanho

    dos poros e a acidez influenciaram a distribuio de produtos. O ZSM-5 apresentou o

    melhor desempenho em termos de rendimento de produtos lquidos (frao orgnica

    destilada - ODF), extenso da desoxigenao e seletividade a hidrocarbonetos,

    principalmente aromticos. Por outro lado, a slica-alumina apresenta maior seletividade

    a hidrocarbonetos alifticos.

    ADJAYE e BAKHSHI (1995b, 1995c) tambm estudaram o craqueamento de bio-

    leo oriundo da pirlise rpida sobre as zelitas H-ZSM-5, H-Y e H-mordenita,

    silicalita e slica-alumina. O rendimento de produto lquido (ODF organic destilation

    fraction) foi menor para o craqueamento de bio-leo de pirlise rpida do que o de

    liquefao, contudo, a seletividade a hidrocarbonetos foi maior e no houve formao

    de resduos. Os catalisadores cidos, H-ZSM-5, H-Y e H-mordenita, apresentaram

    maior converso do que a slica-alumina, que menos cida, e a silicalita que no

    possui acidez. H-ZSM-5 e H-mordenita foram mais seletivas a aromticos, enquanto

    que H-Y, silicalita e slica-alumina foram mais seletivas a hidrocarbonetos alifticos.

    Os autores propuseram mecanismos para converso do bio-leo. Foi postulado que a

    converso do bio-leo se processa como resultado de efeitos trmicos seguidos de

    efeitos termocatalticos. Os efeitos trmicos produziriam separao do bio-leo em

    orgnicos leves e pesados e polimerizao do bio-leo para carvo vegetal. Os efeitos

    catalticos produziriam coque, alcatro, gs, gua e o produto lquido desejado (ODF).

    A Figura 2.7 ilustra o mecanismo proposto para o ZSM-5, H-Y e H-mordenita.

    sugerido que os orgnicos pesados, que consistem de macromolculas de compostos

    oxigenados, so craqueados a orgnicos leves (etapa 4). Por ouro lado, parte desses

    orgnicos pode depositar-se na superfcie do catalisador e polimerizar formando

  • 26

    alcatro e coque (etapa 5). Os orgnicos leves (cidos, steres, lcoois, cetonas, teres, e

    fenis) so submetidos a um nmero de reaes no leito de catalisador (etapa 6). Parte

    deles desoxigenada e craqueada. A desoxigenao produz gua, monxido de carbono

    e dixido de carbono. Desidratao a principal rota de desoxigenao, entretanto,

    tambm podem ocorrer descarbonilao e descarboxilao. O craqueamento produz

    vrios fragmentos de carbono que podem sofrer oligomerizao formando olefinas C2-

    C6. As olefinas sofrem aromatizao seguida de alquilao e isomerizao produzindo

    aromticos (etapa 7). Parte dos aromticos pode polimerizar formando coque (etapa 8).

    sugerido que parte do carvo gaseificado (etapa 9).

    Bio-leo

    Carvo

    Polimerizao

    Gaseificao

    DesoxigenaoCraqueamentooligomerizao

    Orgnicos pesados

    Polimerizao

    Polimerizao

    Orgnicos leves

    C