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Universidade Metodista de Piracicaba Faculdade de Ciências Exatas e da Natureza Willis Vieira dos Santos Oliveira Biodiversidade, Declínio Populacional e Conservação de Anfíbios Anuros no Brasil Piracicaba 2014

Biodiversidade, Declínio Populacional e Conservação de Anfíbios Anuros No Brasil

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Os anfíbios são vertebrados divididos em três ordens, Caudata ou Urodela (salamandras), Gymnophiona (cobras-cegas e cecílias) e os Anuros (sapos, rãs, pererecas e jias), sendo este último o mais popular e abundante na natureza, podendo ser encontrado em todos os biomas do país. Possuem ciclo de vida bifásico, onde a fase larval é aquática e a pós-metamórfica, terrestre. São, em sua maioria, predadores de invertebrados, como insetos, enquanto que ao mesmo tempo servem de alimento para vários grupos animais, como répteis, aves, mamíferos e até invertebrados. Ações como a poluição, agrotóxicos, desmatamento e destruição de banhados têm se constituído ações humanas que estão reduzindo a quantidade de anfíbios e, até mesmo, em certas regiões, extinções. A biomassa da anurofauna numa área ainda não destruída pelo homem é superior que a dos répteis, aves e mamíferos que ali vivem, e assim, o extermínio desses animais pode trazer consequências graves para a natureza. Existem vários registros de declínios de anfíbios no país, a maioria sendo associados a perda do habitat, enquanto que em outras regiões do mundo as extinções por patógenos, efeito dos pesticidas, mudanças climáticas e comércio ilegal, são fatores investigados como possíveis causadores desse desaparecimento. O Brasil detém da quantia de 988 espécies de Anuros, entretanto esse número deve ser relacionado aos registros de declínios e extinções para que se possa compreender sua situação atual. A International Union for Conservation of Nature mostra que o país consta com 33 espécies ameaçadas de extinção, enquanto que o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, traz 17 espécies. Por isso devem receber atenção maior e haver o aumento de estudos relativos às melhores formas de manejo e estratégias de conservação. Assim sendo, o presente trabalho investiga a importância do conhecimento sobre a biodiversidade de anuros no Brasil e os métodos utilizados para sua conservação referente ao recente declínio populacional percebido e registrado na literatura, abordando, de forma breve, os aspectos ecológicos, os agentes causadores dos declínios e propor, através do que já se conhece, remediações e prevenções aos declínios.

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Page 1: Biodiversidade, Declínio Populacional e Conservação de Anfíbios Anuros No Brasil

Universidade Metodista de Piracicaba

Faculdade de Ciências Exatas e da Natureza

Willis Vieira dos Santos Oliveira

Biodiversidade, Declínio Populacional e Conservação de

Anfíbios Anuros no Brasil

Piracicaba

2014

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Biodiversidade, Declínio Populacional e Conservação de

Anfíbios Anuros no Brasil

Projeto de Pesquisa apresentado na 12ª Mostra

Acadêmica da Universidade Metodista de

Piracicaba vinculado à disciplina Núcleo de

Práticas Pedagógicas lll do Curso de Ciências

Biológicas.

Orientador(a): Margarete de Fátima Costa

Piracicaba

Outubro de 2014

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RESUMO

Os anfíbios são vertebrados divididos em três ordens, Caudata ou Urodela

(salamandras), Gymnophiona (cobras-cegas e cecílias) e os Anuros (sapos, rãs,

pererecas e jias), sendo este último o mais popular e abundante na natureza, podendo

ser encontrado em todos os biomas do país. Possuem ciclo de vida bifásico, onde a

fase larval é aquática e a pós-metamórfica, terrestre. São, em sua maioria, predadores

de invertebrados, como insetos, enquanto que ao mesmo tempo servem de alimento

para vários grupos animais, como répteis, aves, mamíferos e até invertebrados. Ações

como a poluição, agrotóxicos, desmatamento e destruição de banhados têm se

constituído ações humanas que estão reduzindo a quantidade de anfíbios e, até

mesmo, em certas regiões, extinções. A biomassa da anurofauna numa área ainda

não destruída pelo homem é superior que a dos répteis, aves e mamíferos que ali

vivem, e assim, o extermínio desses animais pode trazer consequências graves para

a natureza. Existem vários registros de declínios de anfíbios no país, a maioria sendo

associados a perda do habitat, enquanto que em outras regiões do mundo as

extinções por patógenos, efeito dos pesticidas, mudanças climáticas e comércio ilegal,

são fatores investigados como possíveis causadores desse desaparecimento. O Brasil

detém da quantia de 988 espécies de Anuros, entretanto esse número deve ser

relacionado aos registros de declínios e extinções para que se possa compreender

sua situação atual. A International Union for Conservation of Nature mostra que o país

consta com 33 espécies ameaçadas de extinção, enquanto que o Livro Vermelho da

Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, traz 17 espécies. Por isso devem receber

atenção maior e haver o aumento de estudos relativos às melhores formas de manejo

e estratégias de conservação. Assim sendo, o presente trabalho investiga a

importância do conhecimento sobre a biodiversidade de anuros no Brasil e os métodos

utilizados para sua conservação referente ao recente declínio populacional percebido

e registrado na literatura, abordando, de forma breve, os aspectos ecológicos, os

agentes causadores dos declínios e propor, através do que já se conhece,

remediações e prevenções aos declínios.

Palavras-chave: Biodiversidade; Declínio Populacional; Conservação; Anfíbios

Anuros.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 4

2. OBJETIVO ......................................................................................................................... 6

2.1. Objetivo Geral .................................................................................................... 6

2.2. Objetivos Específicos ........................................................................................ 6

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................... 7

3.1. Dados Gerais e Importância .............................................................................. 7

3.2. Biodiversidade e Declínio Populacional ............................................................. 8

3.3. Efeitos do declínio para a população humana brasileira e mundial ................. 10

3.4. Conservação ................................................................................................... 12

4. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................. 13

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 14

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 15

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1. INTRODUÇÃO

Os anfíbios são divididos em três ordens, Caudata ou Urodela (salamandras),

Gymnophiona (cobras-cegas e cecílias) e os Anuros (sapos, rãs, pererecas e jias),

sendo este último o responsável pela popularidade dos anfíbios no Brasil, e possui

alguns representantes famosos como o robusto sapo-cururu (Rhinella marina, R.

schneideri e R. icterica), a delicada perereca-do-banheiro (Scinax fuscovarius e S.

ruber) — com aparecimento comum em residências — e a rã-pimenta (Leptodactylus

labyrinthicus), anfíbio conhecido por liberar uma substância em sua defesa quando

incomodada, que causa irritação nos olhos e nariz, o que não impede que sua carne

seja comercializada, apreciada e difundida em território nacional (BERNARDE, 2012).

No Brasil, os anuros não são apenas os anfíbios mais conhecidos, mas também

os mais abundantes na natureza, e podem ser encontrados em todos os biomas do

país mais facilmente por sua característica vocalização — principalmente dos machos

durante a atividade reprodutiva (chamado de canto de corte), seguido por outras

motivações. Os cantos são classificados em: de anuncio, de encontro, de agonia, de

interações agonísticas, de reciprocidade, agressivo e sexual preventivo.

Predominantemente noturnos, exceto algumas espécies de hábitos diurnos, são, em

sua maioria, predadores de invertebrados, como insetos, enquanto que ao mesmo

tempo servem de alimento para vários grupos animais. Em relação à forma de vida,

podem ser de natureza aquática, terrícolas, fossoriais e arborícolas (BERNARDE,

2012).

Estes sapos, rãs e pererecas são animais de extrema importância para o

equilíbrio da natureza, e são numerosos, uma vez que controlam as populações de

insetos e de outros animais invertebrados e também servem de comida para muitas

espécies de répteis, aves, mamíferos e até alguns invertebrados. Ações como a

poluição, agrotóxicos, desmatamento e destruição de banhados têm se constituído

ações humanas que estão reduzindo a quantidade de anfíbios e, até mesmo, em

certas regiões, extinções. A biomassa da anurofauna numa área ainda não destruída

pelo homem é superior que a dos répteis, aves e mamíferos que ali vivem, e assim, o

extermínio desses animais pode trazer consequências graves para a natureza,

afetando os humanos de forma direta (JUNIOR; WOEHL, 2008; TOLEDO et al., 2010).

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Existem vários registros de declínios de anfíbios no país, a maioria sendo

associados a perda do habitat, interação entre espécies, flutuações populacionais, ou

amostragens insuficientes. Outros fatores, como extinção por patógenos, efeito dos

pesticidas, mudanças climáticas e comércio ilegal, necessitam de investimentos para

estudos de campo a curto e longo prazo, pois são fatores investigados em outras

partes do mundo como possíveis causadores ou aceleradores do desaparecimento

de anfíbios (ETEROVICK et al., 2005; KELLER; BORTOLINI; COPATTI, 2011;

SILVANO; SEGALLA, 2005). Segundo a última lista de anfíbios da Sociedade

Brasileira de Herpetologia (SEGALLA et al., 2014), o Brasil detém da quantia de 1026

espécies de anfíbios, sendo destas 33 do grupo dos Gymnophionas, 1 do grupo

Caudata e 988 dos Anuros. Isso demonstra a enorme diversidade de anfíbios,

principalmente de Anuros, encontrada nos biomas do país. Esse número, entretanto,

deve ser relacionado aos registros de declínios e extinções para que se possa

compreender a situação atual da fauna anfíbia. A International Union for Conservation

of Nature apresentou um catálogo (IUCN, 2013) em que o Brasil consta com 33

espécies ameaçadas de extinção e o Instituto Chico Mendes de Conservação da

Biodiversidade disponibiliza um banco de dados1 onde são possíveis buscas diretas

das espécies. Bancos como este que serviram como base para o Livro Vermelho da

Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (HADDAD, 2008), cujo capítulo dedicado aos

anfíbios, baseado na lista de 2005 da IUCN, traz 17 espécies categorizadas em

“Quase Ameaçadas” (NT), “Vulneráveis” (VU), “Em Perigo” (EN), “Criticamente em

Perigo” (CR), “Extintas” (EX). Essa lista revela ainda que todas as espécies de anfíbios

classificados em NT, VU, EN, CR e EX pertenciam à Ordem Anura (op. cit.).

Este trabalho visa levantar membros da Ordem Anura, por possuir grande

diversidade, ocupar todos os biomas em território nacional, apresentar

comportamentos variados em relação ao modo de vida, interações, características

morfológicas, aparente sensibilidade às mudanças ambientais, entre outros. Por tudo

isso devem receber atenção maior, devendo ser colocado em prática métodos

eficazes que possibilitem, posteriormente, melhores formas de manejo e estratégias

de conservação.

1 ICMbio – Lista de espécies ameaçadas. Disponível em: [http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/fauna-brasileira/lista-de-especies.html]. Acesso em 27 Maio de 2014.

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2. OBJETIVO

2.1. Objetivo Geral

O presente trabalho busca investigar a importância do conhecimento sobre a

biodiversidade de anuros no Brasil e os métodos utilizados para sua conservação

referente ao recente declínio populacional percebido e registrado na literatura.

2.2. Objetivos Específicos

Entender a importância da biodiversidade de anuros no Brasil para sua

conservação;

Mostrar de maneira simples a importância da anurofauna para o meio

ambiente e às populações humanas;

Apontar os principais agentes causadores de declínios populacionais;

Propor, através do que já se conhece, remediações e prevenções aos

declínios.

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Dados Gerais e Importância

Devido a certas características fisiológicas (como pele permeável) e ecológicas

(ciclo de vida bifásico) os anfíbios se tornam organismos fortemente dependentes da

água, sobretudo na fase larval. Apresentam forte sensibilidade às alterações nos

parâmetros físico-químicos da água e na estrutura da vegetação nas vizinhanças dos

corpos d’água, tendo como exemplos de intervenções humanas que causam danos

às populações de anuros o uso de pesticidas em culturas próximas às cabeceiras dos

rios ou na construção de pequenas barragens e açudes para a agricultura e pecuária.

Quanto à fragmentação das florestas, ela também pode afetar indiretamente as

populações de anfíbios devido às alterações na qualidade das bordas das matas,

promovendo mudanças na exposição aos ventos e ao sol que por conseguinte podem

levar a uma diminuição da umidade e maior exposição aos raios ultravioleta-B (UV-

B). Tal sensibilidade se deve principalmente por sua pele permeável e exposta, por

ocuparem os habitats aquáticos e terrestres e por apresentarem ovos sem casca

(podendo haver maior absorção de substâncias presentes no meio), tornando os

anfíbios indicadores sensíveis a diversos estresses ambientais (BLAUSTEIN, 1994;

SILVANO et al., 2003; TOLEDO, 2009).

São considerados um grupo de grande importância ecológica, tanto por sua

grande diversidade, quanto por corresponderem a um grupo de interface entre a água

e a terra e por apresentarem ciclo de vida bifásico (Toledo (2009) refere-se como

“trifásico” no caso de espécies que possuem também a fase dos ovos), na qual a fase

larval é aquática e fase pós-metamórfica, é terrestre, cada uma com sua ecologia

particular. Na fase larval, conhecidos como girinos, podem-se observar diferentes

tipos de dietas dentro das várias espécies: herbívoras (algas), detritívoras, filtradoras,

onívoras ou carnívoras. Na fase pós-metamórfica, os anfíbios se tornam excelentes

predadores, capturando presas nos ambientes aquáticos e terrestres, principalmente

invertebrados, mas havendo registros de predações de pequenos vertebrados como

mamíferos, répteis, aves, outros anfíbios (DUELLMAN; TRUEB, 1994, pp. 229, 246)

e até vegetais (ver Silva e Britto-Pereira (2006) sobre Xenohyla truncata, espécie

reconhecida como frugívora). Também servem de alimento a uma imensa gama de

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animais, desde invertebrados até peixes, répteis, aves, mamíferos e mesmo algumas

espécies de anfíbios (BERNARDE, 2012; CALDWELL; VITT, 2009, p. 297; HADDAD,

2008, p. 287).

Segundo Silvano et al. (2003), os anfibios são ainda organismos de baixa

mobilidade, o que faz deles modelos ideais para estudo sobre os efeitos da

fragmentação de florestas e, para Toledo (2009), características como alto grau de

filopatria e facilidade de encontro, captura e recaptura fortalecem a indicação desse

grupo de animais para obtenção de dados sobre áreas de interesse.

3.2. Biodiversidade e Declínio Populacional

De acordo com a última lista de anfíbios da Sociedade Brasileira de

Herpetologia atualizada em 2014, pela quantia de 988 espécies de anfíbios, sendo

destas 33 do grupo dos Gymnophionas, 1 do grupo Caudata e 913 dos Anuros

(SEGALLA et al., 2014). Em relação a Classe Amphibia, o Brasil é campeão em

número de espécies, apresentando enorme diversidade de anfíbios, principalmente

de Anuros, encontrada em todos os biomas do país (IUCN, 2013; MACHADO, 2008;

SILVANO; SEGALLA, 2005). A International Union for Conservation of Nature (IUCN,

2013) também catalogou 33 espécies ameaçadas de extinção no Brasil, enquanto que

o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (HADDAD, 2008), cujo

capítulo dedicado aos anfíbios, baseado na lista de 2005 da IUCN, traz 17 espécies

categorizadas em “Quase Ameaçadas” (NT), “Vulneráveis” (VU), “Em Perigo” (EN),

“Criticamente em Perigo” (CR) e “Extintas” (EX). Todas pertencentes à ordem Anura.

Estes números, entretanto, não representam o número total da biodiversidade

e de espécies ameaçadas, e isso se deve principalmente pelo número insuficiente de

profissionais atuantes no Brasil e, segundo Machado (2008), mesmo quando ocorrem

trabalhos que chegam a ser apresentados em congressos nacionais, muitos destes

não chegam a ser publicados e consequentemente não recebem a devida atenção

(SABINO; PRADO, 2006).

Segundo Stuart et al. (2004), em comparação aos mamíferos e as aves, os

anfíbios são os mais ameaçados e estão declinando mais rapidamente. O Brasil

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também possui vários registros de declínios de anfíbios, com associação à perda do

habitat, interação entre espécies, flutuações populacionais, ou amostragens

insuficientes. Toda via, quando se trata de declínio por patógenos, efeito dos

pesticidas, mudanças climáticas e comércio ilegal, existe a necessidade de

investimentos para estudos de campo a curto e longo prazo, pois são fatores

investigados em outras partes do mundo como possíveis causadores ou aceleradores

do desaparecimento de anfíbios. É de consenso entre os pesquisadores que (obs.

pess.), no Brasil, os declínios se devem principalmente pela destruição dos habitats,

no qual o desmatamento é motivado pelo avanço da fronteira agrícola, pela mineração

e pelos projetos de infraestrutura e urbanização (ETEROVICK et al., 2005; KELLER;

BORTOLINI; COPATTI, 2011; SILVANO; SEGALLA, 2005).

Apesar dos poucos estudos, para Silvano e Segalla (2005):

No entanto, os pesticidas vêm sendo utilizados indiscriminadamente nas

lavouras por todo o país; as mudanças climáticas são visíveis em algumas

regiões; e, apesar do pouco que está publicado, existem registros de

populações livres de espécies exóticas (p. ex., Rana catesbeiana),

principalmente nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, que podem estar

afetando as populações nativas de anfíbios (...). E, apesar de comprovado,

não existem dados quantitativos sobre o comércio de espécies nativas de

anfíbios no Brasil.

O Brasil, em toda sua extensão geográfica, abriga seis biomas (Amazônia,

Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal), no qual a Mata Atlântica é o

campeão em relatos de declínio de anfíbios (ETEROVICK et al., 2005) devido

principalmente ao desmatamento, que reduziu a floresta original para

aproximadamente 27%, que se encontra ainda dividida em milhares de fragmentos —

essa porcentagem chega a 8% quando sua conservação é colocada à prova e

comparada com a mata original (CAMPANILI; SCHÄFFER, 2010). Ainda assim é

importante notar que a Mata Atlântica é um hotspot2 e detêm da maioria das espécies

de anfíbios — e com alto endemismo — entre os biomas brasileiros, como pode ser

visto na Tabela 1 (MAFFEI; UBAID, 2014; TOLEDO; BATISTA, 2012). Como

comparativo, a Amazônia, maior bioma brasileiro, o Ministério do Meio Ambiente

(ROMA, 2007) compartilha a informação de que ainda restam cerca de 87,54% de sua

cobertura original, enquanto que a World Wide Fund for Nature – Brasil (WWF-

2 Termo cunhado em 1988 pelo ambientalista britânico Norman Myers. Hoje o termo é usado para definir uma área que: “1) Deve conter, pelo menos, 1.500 espécies de plantas vasculares (> 0,5% do total do planeta) como endêmicas; 2) Deve ter perdido pelo menos 70% do seu habitat original.”.

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BRASIL, 2013) atenta para uma perda de 17% de sua cobertura apenas no último

meio século.

Estes dois exemplos demonstram não somente a preocupação em relação a

anurofauna, como também evidenciam o risco de declínio capaz de acometer

diferentes organismos presentes nos biomas do país.

Tabela 1. Biomas brasileiros, área projetada, número de espécies anuros que ocorre

no bioma, e ordem de classificação da riqueza (considerando o número total de

espécies por bioma ou estado).

Bioma Área (km²) Número de

espécies

Classificação de

riqueza

Amazônia 4,196,943 318 2

Mata Atlântica 1,110,182 518 1

Caatinga 844,453 124 4

Cerrado 2,036,448 271 3

Pampas 176,496 75 5

Pantanal 150,355 68 6

Fonte: Adaptado e traduzido de Toledo e Batista (2012).

Além da diversidade de espécies, a biomassa da anurofauna numa área ainda

não destruída pelo homem é, muitas vezes, superior que a dos répteis, aves e

mamíferos que ali vivem, e assim, o extermínio desses animais pode trazer

consequências graves para a natureza, afetando os humanos de forma direta

(JUNIOR; WOEHL, 2008; TOLEDO et al., 2010).

3.3. Efeitos do declínio para a população humana brasileira e mundial

De forma massiva, os insetos correspondem ao principal alimento dos anfíbios

e a remoção desses animais de um ambiente ocasionará desequilíbrio ecológico,

causando surtos de pragas agrícolas que trará, como reflexo, prejuízos quantitativos

e qualitativos na agricultura. Também acarretará um aumento da poluição ambiental,

devido a necessidade de intensificar o uso de inseticidas (LEWINSOHN, 2006;

TOLEDO et al., 2010). Inúmeros fármacos potenciais para benefício da humanidade

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que poderiam ser obtidos através das substancias que compõe as glândulas cutâneas

(que servem para defesa contra predadores, contra microrganismos e doenças, ou

mesmo para permitir trocas gasosas eficientes), podem ser perdidos (exemplo: A

dermorfina, potente analgésico extraído da perereca Phyllomedusa bicolor e utilizado

para tratamento de doenças como Mal de Parkinson, AIDS, câncer, depressão e

outras doenças (AMAZONLINK.ORG, 2003; LEWINSOHN, 2006)) (CAMARGO, 2005;

PUKALA et al., 2006; TOLEDO et al., 2010). Em 2006, Pukala et al. reuniram em seu

extenso trabalho as investigações e descobertas de vários pesquisadores sobre as

toxinas presentes nas secreções dos anfíbios, apresentando, por exemplo, peptídeos

com ações biológicas diversas: antibacterianas, antivirais, antifúngicas, além de

peptídeos anticancerígenos e neuropeptídios. Já Dornelles, Marques e Renner (2011)

dedicaram sua revisão à catalogar diferentes toxinas presentes nos anuros e a

aplicabilidade farmacológica e biotecnológica de suas substâncias (Tabela 2).

Tabela 2. Anuros de interesse farmacológico e ações biológicas de suas toxinas.

Família Dendrobatidae Bufonidae Hylidae Pipidae Ranidae

Gênero

Epipedobates

Dendrobates

Phyllobates

Chanus Phyllomedusa Xenopus Rana

Toxinas:

Ação

biológica

Analgésico

Cardiotóxico

Miotóxico

Neurotóxico

Alucinógeno

Antimicrobiano

Cardiotóxico

Hemolítico

Neurotóxico

Analgésico

Antibiótico

Cicatrizante

Antibiótico

Hemolítico Antimicrobiano

Fonte: Adaptado de Dornelles, Marques e Renner (2011).

Ainda, o desaparecimento dos girinos em ambientes aquáticos, pode acarretar

na eutrofização3 dos rios e reservatórios de água, já que grande parte dessas larvas

alimentam-se de algas, podendo prejudicar o abastecimento de água potável,

encarecendo o valor do seu tratamento para o consumo das populações brasileiras

(TOLEDO et al., 2010).

3 Aumento excessivo de algas devido ao excesso de nutrientes.

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3.4. Conservação

Nota-se que tanto mamíferos como aves recebem maior atenção e,

consequentemente, vêm-se em um número bastante superior de artigos quando

postos em comparação aos anfíbios. Não é difícil entender a atenção por esses

animais, quando os mesmos são tão carismáticos e, portanto, mais estudados e

protegidos. Portanto, segundo Brito (2008), é necessário abordagens criativas que

mostrem o valor de populações de anfíbios saudáveis para a sociedade, além de

transformar algumas espécies em carismáticas. Brito ainda conclui que ao transformar

anfíbios em animais carismáticos, através da mídia, financiamentos poderiam vir

através de várias fontes e, em suas palavras: “Talvez isso ajudaria a diminuir essa

lacuna entre estudos sobre anfíbios, pássaros e mamíferos”4 (2008, tradução minha).

Devido ao declínio acelerado de várias espécies de anfíbios, faz-se necessário

expandir os programas de pesquisa e desenvolvimento de políticas efetivas capazes

de aumentar os esforços para a conservação desses animais, sobre tudo em regiões

onde os dados sobre diversidade, abundância e distribuição das espécies são

deficientes e entre as espécies classificadas como Deficientes em Dados (DD), além

de propostas de novas unidades de conservação ou corredores de biodiversidade

(HADDAD, 2008, p. 288; YOUNG et al., 2001). Young et al. (2004, pp. 41–45) também

destacam a importância da proteção integral de habitats, da necessidade de políticas

públicas e proteção legal, incluindo outras medidas como a criação em cativeiro,

educação ambiental, pesquisas sobre doenças infecciosas e inventários.

4 “Maybe this would help diminish this gap between amphibians and birds and mammals studies.”.

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4. MATERIAL E MÉTODOS

O desenvolver da pesquisa ocorreu com o auxílio de livros, artigos e sites, os

quais se demonstraram fundamentais para o enriquecimento da compreensão dos

temas e palavras chave “declínio populacional”, “biodiversidade” e “conservação” em

relação aos anfíbios anuros do Brasil. Esse levantamento bibliográfico ocorreu com o

auxílio do Portal CAPES (http://www.capes.gov.br/), Scielo (http://scielo.br/),

AmphibiaWeb (http://www.amphibiaweb.org/index.html) e do Google Acadêmico

(http://scholar.google.com.br/) e em seu site de busca.

Referente aos dados que determinam a quantidade estimada de espécies

existentes e ameaçadas, foram obtidos através dos endereços digitais de órgãos

nacionais como o ICMbio (http://www.icmbio.gov.br/portal/) e IBAMA

(http://www.ibama.gov.br) — ambos vinculados ao Ministério do Meio Ambiente — e

da SBH (http://www.sbherpetologia.org.br). Também a internacional IUCN

(http://www.iucn.org).

A pesquisa teve o critério de selecionar artigos e livros publicados entre 2000 e

2014, ano atual desta revisão. As exceções (publicações e livros anteriores a 2000)

se devem à importância dos mesmos. Artigos em língua inglesa são a maioria, embora

publicações nacionais tenham sido inquestionavelmente importantes para a

elaboração do trabalho.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da revisão bibliográfica, é notável que a biodiversidade dos anfíbios

anuros é rica, sobre tudo em território brasileiro e nos seus vários biomas. Em

contrapartida, sobre aspectos de desenvolvimento humano que não age sobre

parâmetros de conscientização ambiental, evidencia-se também um preocupante

declínio das populações anfíbias. Essas duas informações — rica biodiversidade e

declínio populacional — revelam a necessidade de um maior número de pesquisas e

publicações que se refiram tanto a descoberta de possíveis novas espécies, como a

condição atual das já conhecidas, levando-se em conta sua ecologia e fisiologia. Essa

é, como se nota, a essência que possibilita trabalhar com a conservação dos biomas,

tendo em vista a ligação estrita que estes animais possuem com o meio onde vivem,

que se refere tanto ao seu lugar na cadeia trófica, como também à sua capacidade

natural como bioindicadores.

O declínio destes animais pode causar sérios desequilíbrios ecológicos e

poderá afetar diretamente a população humana brasileira, sobretudo no que diz

respeito à agricultura e produção de fármacos. Por isso as pesquisas e implementação

de políticas conservacionistas se fazem essenciais para a manutenção da anurofauna.

Page 16: Biodiversidade, Declínio Populacional e Conservação de Anfíbios Anuros No Brasil

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMAZONLINK.ORG. Registros de patentes relacionados à rã Phyllomedusa bicolor “Vacina do Sapo.” Disponível em: <http://www.amazonlink.org/biopirataria/vacina_do_sapo.pdf>. Acesso em: 21 set. 2014.

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