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BIOGRAFIA DE ALCINO PALMEIRA DA SILVA Autor Fernando salgado

BIOGRAFIA DE ALCINO PALMEIRA DA SILVA · as minhas memórias remontam, não posso deixar de ter uma ... onde só era permitido ... Começo a descobrir as minhas competências para

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BIOGRAFIA

DE

ALCINO PALMEIRA DA SILVA

Autor

Fernando salgado

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UMA PESSOA QUE É MEU AMIGO

Valores que sempre defendemos é algo de que gostamos e costumamos elogiar,

defender os valores da vida é mais difícil pois não temos o dom de adivinhar e o que ela

nos pode proporcionar. Estarmos atentos aos diversos sinais que nos vão sendo dados é

importante e se possível tentarmos ir decifrando esses sinais de maneira a que não

sejamos apanhados desprevenidos, mas muitas das vezes acontece aquilo que não

estávamos à espera.

Tudo aquilo que foi dito atrás serve como introdução a algo que aconteceu a uma

pessoa que é meu amigo e pela qual tenho uma grande admiração e estima, no entanto

debate-se nesta altura com uma doença bastante grave. Normalmente vimos a terreiro

expressar as nossas mágoas quando as pessoas já não se encontram no nosso convívio,

mas felizmente não é este o caso pois ele ainda se encontra “vivo e bem vivo” e espero

que durante muitos e longos anos.

Se existe algo que não te possa ensinar é a lutar pois durante a tua vida foste

sempre um lutador de primeira, quer na tua vida privada, quer no desporto que

praticaste e onde ascendeste ao topo nacional. Agora tens outro desafio pela frente que

é tentares viver com aquilo que ninguém quer a “doença”, infelizmente não nos

pergunta se a queremos, mas tu, que sempre lutaste até à exaustão, por determinados

objetivos não podes esmorecer, nem sequer pensares que vais ser vencido sem luta.

Enquanto houver algo em que possamos acreditar e ter esperança vamos em busca

do impossível, “mas desistir jamais”.

Fernando Salgado

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PREFÁCIO

Meu bom e querido amigo “Cino”, alcunha pela qual eras conhecido quando

eramos crianças. Em tempos lançaste-me um desafio, para que fizesse a tua biografia,

não sendo escritor, nem nada que se pareça com quem domina tal arte de bem escrever,

aceitei a tua provocação e digo-te senti um imenso orgulho pelo repto que me lançaste.

Não foi fácil descrever tudo aquilo que me transmitiste e muito menos o de ter

encarnado o teu papel na escrita. Escrever no eu, foi algo que nunca me tinha ocorrido e

jamais me teria passado pela cabeça, mas espero que tenha interpretado bem o papel que

me incumbiste. Normalmente diz-se que a pessoa que vai interpretar o papel de outrem,

só consegue convencer o público se conseguir fazer passar a mensagem que o autor

quer, que é através da personagem criada, e tenha transmitido tudo aquilo que ele julgou

ser transcendente.

Espero não ter defraudado o teu entusiasmo e o teu ego, mas para mim foi uma

honra ter feito e criado a tua biografia e desde já os meus sinceros agradecimentos por

teres confiado em mim.

Acredito estar contigo daqui a alguns anos a reler tudo aquilo que aqui foi dito e

escrito e ao mesmo tempo possamos acrescentar outras coisas que entretanto se foram

passando.

O meu bem-haja amigo e sinceras felicidades.

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Com 20 anos de idade

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Biografia

Olhar simples, corpo franzino, metro e quarto de gente, filho de gente simples e

humilde, dez anos de idade era esta a fisionomia de um menino que passados alguns

anos viria a ser um dos desportistas amadores mais notáveis deste País, na área do boxe,

de seu nome ALCINO PALMEIRA DA SILVA.

Nasci na cidade do Porto, a 15/05/1952 na freguesia do Bonfim, filho de pessoas

humildes e trabalhadoras, não posso negar as minhas origens e a partir da altura em que

as minhas memórias remontam, não posso deixar de ter uma palavra de carinho para um

casal que fez o favor de me acolher no seu lar a partir dos meus 3 anos e aqui mais uma

vez se demonstra o espirito de solidariedade que nessa época era visível, pois esse casal

tinha 5 filhos e não se coibiu de me acolher em sua casa, assumindo mais essa

responsabilidade. Um casal que infelizmente já não se encontra no nosso meio, mas que

não posso deixar passar em claro este meu reconhecimento. Ao Sr. Artur Barbosa e sua

esposa Isilda, a quem carinhosamente chamava de mãenhia (o meu eterno bem-haja).

Entretanto, a idade vai avançando e começo a frequentar a escola primária que existia

no bairro da polícia, na travessa do Bonfim e na qual fiz o ensino primário até à

4ºclasse.

Não falar dos meus pais é algo impensável e quero homenageá-los pelos

sacrifícios que fizeram, para que eu e os meus 5 irmãos e irmãs, fossemos pessoas bem-

criadas, honestas e com alguns princípios e pelas quais nos fosse possível viver sem

termos de atropelar alguém com o fim de atingirmos determinados objetivos. Como não

tive possibilidades de continuar a estudar, voltei-me para o mercado de trabalho com o

fim de ajudar os meus pais monetariamente na luta pela nossa sobrevivência. As

traquinices próprias das crianças nessa idade também fazem parte das minhas

recordações, onde só era permitido brincar depois do trabalho ter terminado e aí sim

jogar ao peão, saltar à corda e às escondidas era aquilo que nos era permitido fazer, pois

nessa altura brinquedos eram algo que não se podia pensar.

O respeito e as boas maneiras, era uma vertente que nos era incutida pelos nossos

pais e da qual eles não queriam que nós fugíssemos. Nos meses de maio era engraçado

ver as crianças irem às novenas, pois os primeiros que chegassem à porta da igreja iam

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No início da minha carreira no pugilismo

Num treino de judo nos pára-quedistas

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ajudar o padre na novena, o que para nós era uma coisa especial. Nos meses de verão

quando a fruta começava a aparecer, era uma festa, pois com os meus amigos íamos aos

pomares existentes na zona e nessas alturas tirávamos a barriga de miséria em relação à

fruta, mas muitas das vezes tínhamos que fugir, pois os donos desses pomares vinham

atrás de nós. Ir à praia era quase irreal pois os meus pais não tinham disponibilidade

financeira para custear essa ida e a maneira mais fácil de muitas das vezes ir até alguma

coisa parecida com a praia, era descer a pé até à margem do rio Douro e na zona de

Valbom existia um caneiro e aí brincava com os meus amigos e foi nessa zona que

aprendi a dar as minhas primeiras braçadas.

O tempo vai passando e vou-me apercebendo que tenho algum jeito para a prática

do desporto e decido ir treinar futebol nos juvenis do Salgueiros, nessa altura o meu

primeiro treinador foi uma lenda do futebol português chamava-se Barrigana e tinha

sido guarda-redes no F.C. Porto. Entretanto, como tinha facilidade em dominar a bola,

decidem pôr-me a jogar no eixo da defesa, posição na qual e durante vários anos joguei,

quer no clube atrás descrito como noutros subsequentes e durante várias épocas.

Com a minha entrada no futebol, descobri as minhas aptidões para o desporto em

si. Começo a descobrir as minhas competências para o boxe através de umas

brincadeiras que o Pinto Lopes fazia connosco no bairro da polícia, ele treinava boxe no

F.C. Porto e tentava incutir-nos nas nossas mentes o gosto pelo boxe, indo a casa buscar

toalhas de rosto e embrulhava-as nas nossas mãos para fazerem de luvas e punha-nos a

combater uns contra os outros e nessas brincadeiras descobre que tenho jeito para o

boxe e leva-me a um treino. Claro que a partir dessa altura a minha vida sofre uma

alteração enorme, pois comecei a dedicar-me ao boxe com todas as minhas faculdades e

energias, estávamos no ano de 1967. A minha dedicação ao boxe é indescritível e

treinos era aquilo que nunca perdia, assimilando com bastante facilidade tudo aquilo

que me era transmitido e isso veio a dar-me alguma notoriedade, pois passados alguns

meses, já estava envolvido nos primeiros combates e daí a alcançar o meu primeiro

título nacional “pluma” foi um ápice.

Ser jovem nessa altura, como em qualquer outra, é sempre um bocado difícil, pois

é a altura em que começamos a descobrir as nossas valências e o sentido de

responsabilidade que nos é transmitido quer no trabalho, quer no desporto, dá-nos uma

motivação extra. Na minha juventude também tinha os meus devaneios e uma das

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No serviço militar obrigatório “pára-quedistas”

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coisas que gostava, era o de dançar, aos domingos juntávamo-nos na zona aonde eu

vivia e lá íamos nós dar um pé de dança e era engraçado de ver e ouvir ao meus amigos

dizerem uns para os outros que se fossem comigo não havia problemas, pois eles

confiavam nas minhas faculdades de pugilista, mas felizmente nunca tive que usar esses

meus atributos, razão pela qual consegui ganhar o respeito de todas as pessoas que fui

conhecendo e contactando ao longo dos tempos.

Entretanto, vivíamos num regime que não nos dava muitas hipóteses de pensar em

grande. Nessa altura travávamos uma guerra em África, na defesa daquilo que eles

diziam ser as nossas “províncias ultramarinas “,não tendo condições para dizer que não,

lá tínhamos que encarnar o papel de combatente e ir defender, aquilo que os nossos

governantes diziam ser nosso e por lá andávamos durante 3 anos. Num “meeting” de

boxe realizado no pavilhão das Antas entre o F. C. Porto-Pára-quedistas, em conversa

com o Sr. David Ferreira que era o treinador de boxe dos Pára-quedistas, propôs-me ir

fazer um teste à referida equipa. Alertado para tudo que se estava a passar em relação à

guerra colonial, decidi ir fazer os testes, fiquei aprovado e entro para cumprir o meu

dever cívico em Janeiro de 1973.

Ia começar uma nova etapa na minha vida e tentar descobrir o que me era

proposto, numa unidade de elite das forças armadas. Disciplina, rigor e valentia era o

que pediam e que fosse um soldado exemplar numa tropa de elite, dentro dos possíveis

e do tolerável procurei sempre dar o meu melhor em tudo aquilo que me era proposto.

Começar algo de novo é sempre difícil, pois temos que nos adaptar às pessoas que

connosco vão trabalhar e conviver no dia-a-dia, começamos a ter novos métodos e

vamos ganhando novos hábitos e amigos e aquilo parecia ser difícil, aos poucos vai

sendo ultrapassado.

Durante o tempo da recruta foi bastante penoso, porque tínhamos aplicação

militar, ordem unida, saltos e ginástica no entanto, havia exercícios em que estava à

vontade pois atendendo ao meu percurso como atleta já os tinha executado e os que

eram novidade procurava entende-los de maneira a poder “desenrascar-me”. Para mim

quase tudo era novidade e como tal não posso deixar de realçar os primeiros saltos da

torre. Era essencial não nos sentirmos atemorizados, mas as primeiras vezes custaram-

me um bocado, mas nada que não fosse superado por um friozinho no fundo da barriga.

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Com a minha futura esposa e a minha filha

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As várias fases do processo de integração nesta unidade de elite vão sendo ultrapassadas

e eis que chega a altura de dar o meu primeiro salto com para quedas do avião, dizer

alguma coisa sobre o que nos vem à cabeça antes de saltarmos é um misto de sensações

extraordinárias e só quem passa por esse sentimento é que as consegue descrever. Chega

o momento do tão almejado primeiro salto e eis que começamos a sentir um misto de

medo, novidade, liberdade e curiosidade, pois também era a minha primeira vez que

entrava num avião, todas estas sensações eram inenarráveis. O “Nord Atlas” foi o avião

que nos transportou e conforme íamos entrando, era-nos dada a indicação para ocupar o

nosso lugar e ao mesmo tempo informações sobre o que se deveria ter em conta para

que o salto que ia executar fosse um sucesso. Quando chega a hora de saltar, chego à

porta do avião e olho para baixo, fiquei atemorizado, ao ver que tinha que saltar para

aquele vazio imenso, não pensei muito, esperei que dessem a ordem e não me fiz

rogado, a sensação que senti foi impressionante mas por ser o meu primeiro salto, a

única preocupação que tinha era o de sentir terra firme debaixo dos meus pés. Depois e

como era norma realizei mais de 30 saltos e em cada um desses saltos que efectuei, as

sensações eram diferentes e havia sempre algo de novo que ia descobrindo.

Entretanto, acabo a recruta e o curso de pára-quedista e fico na mesma unidade,

como monitor e responsável pela secção de boxe, onde me mantive até ao fim do meu

tempo de tropa. No entanto não posso esquecer um dos dias que marcou a minha vida e

de milhões de portugueses, foi o 25 de Abril de 1974. Porque estava na tropa e senti

entrar uma lufada de ar fresco neste país que muitos queriam que fosse cinzento. A

sensação de liberdade que nos era dada, pudermos dizer ou fazer aquilo que nos ia na

alma sem termos de olhar para o lado e ver se nos estavam a escutar é algo que não

posso esquecer.

Eis que acabo o serviço militar em Maio de 1975 e como qualquer jovem, começo

a pensar no que fazer a partir de agora à minha vida, já namorava há algum tempo com

uma moça, de seu nome Fátima, com quem mais tarde iria juntar a minha escova dos

dentes. Mas surge um imprevisto e a minha namorada fica grávida, não sendo pessoa

para fugir às responsabilidades, pensar na maneira de resolver este problema foi a minha

prioridade, e que a bebé que estava para nascer fosse acolhida da melhor forma possível.

No dia 02/12/1975, nasce a minha filha Paula e foi maravilhoso sentir-me na pele de

pai, pois é um sentimento que não é possível de descrever, é uma sensação única e só

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Com a faixa de campeão distrital de amadores da associação do Porto, pelo F C.C. do Porto

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quem já passou por esta situação é que a pode ajuizar, a partir dessa altura essa menina

começou a ser o sol que me aquecia e a luz que me iluminava.

Um Portugal novo se abria aos portugueses, no entanto, as dificuldades que dai

vão surgir é algo que não estávamos preparados e começam a surgir as contrariedades e

no plano profissional começam a surgir os primeiros obstáculos, a profissão que exercia

na altura era a de tipógrafo-impressor e começava-se a viver a época das novas

tecnologias e eis que chegam as primeiras máquinas de fotocópias e com isso diminui a

procura de serviços relativo à minha área profissional e sem querer estava numa

situação de desemprego. Os problemas surgem e temos que ter capacidade para os

solucionar, a minha prioridade era a minha filha e não podia abdicar de lhe dar o meu

amor e tudo aquilo que para ela fosse necessário.

Mesmo com todas as contrariedades que iam surgindo, nunca deixei a vertente

desportiva de lado e ia conciliando tudo de maneira a estar sempre na minha melhor

forma, nunca faltando aos treinos e ia fazendo aquilo que tanto gostava. No boxe ia

mantendo a minha superioridade, quer a nível regional, quer a nível nacional e sem

menosprezo por ninguém, lá ia conquistando os títulos em disputa, nas diversas

categorias em que passei e foram “Pluma”, “ligeiro”, “meio médio ligeiro” e “meio

médio” foram vários anos em representação do F. C. Porto e Ramaldense e neste último

estive uma época, onde também fui campeão distrital e nacional. Tive vários treinadores

e seria indigno não os referir, pois foram pessoas que me marcaram, por aquilo que me

ensinaram e ao mesmo tempo ajudaram a vincar a minha personalidade como pugilista.

Ao Sr.º. Miguel Ferreira, Luís Saavedra e ao meu irmão Luís Palmeira, que sendo mais

novo e tendo também praticado este nobre desporto, foi também durante alguns anos

campeão distrital e nacional, mas que por motivos de saúde teve de abandonar a prática

do boxe, passando depois a treinar o boxe do F.C. Porto, (a todos os meus sinceros

agradecimentos por me terem ensinado tão belo desporto).

O futebol era outra das minhas paixões, pois tendo jogado em vários clubes e

sendo finalista do campeonato de amadores no Porto em alguns, tive a sorte e o

privilégio de ter sido campeão pelo F. C. Cerco do Porto.

Seja qual for o desporto que pratiquemos, ele é uma fábrica de virtudes, de

ensinamentos e conhecimentos. Numa fase da minha vida em que estava sem trabalho,

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No dia do meu casamento com a minha filha a ser a menina das alianças

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um amigo que conhecia a minha situação veio-me propor se queria jogar futebol de

salão pela empresa onde ele trabalhava e que poderia ser uma hipótese de conseguir lá

ser admitido, visto que os donos da empresa gostavam muito deste desporto e sendo um

veículo de publicidade para a empresa, não me fiz rogado e no fim do primeiro treino e

eles sabendo a situação em que eu estava fizeram-me um convite para ir trabalhar com

eles na qual agradeci e aceitei. Como a minha situação financeira tinha melhorado,

decido casar-me pois era algo que já estava no meu pensamento. Só esperava pela altura

certa e no ano de 1979 dá-se o tão ansiado enlace com a mãe da minha filha e o amor da

minha vida Fátima Aurélio.

Representar o nosso país seja na modalidade que for é o ponto mais alto para

qualquer atleta, felizmente tive esse privilégio e na qual fi-lo com grande honra, fui

várias vezes internacional, mas a primeira vez é aquilo que nunca mais se esquece, foi

no Brasil, no estado do Rio de Janeiro, no pavilhão do Maracanã. Com a lotação

esgotada é impressionante e ouvires gritar pelo teu nome é indescritível, parecia que

estava a viver um sonho e em que tinha a vontade de nunca mais acordar. Como em

tudo na vida tem o seu fim, aos 36 anos de idade decido parar, depois de ter sido

campeão nacional por 14 vezes em diversas categorias, campeão regional por outras

tantas vezes e várias vezes internacional, chega a altura de dizer adeus, muitas das vezes

não estamos preparados para o passo que vamos dar e descrever essa altura é a parte

mais difícil, a sensação que sentes por deixares aquilo que durante tantos anos fizeste

com amor e dedicação, é um vazio enorme que fica e que nunca mais sai de dentro de

nós.

Profissionalmente a minha vida foi melhorando e fui tendo vários empregos desde

porteiro em alguns pubs, segurança, empregado de mesa, barman e responsável de sala

nalgumas discotecas, foram experiências todas elas enriquecedoras e que me deram uma

forma diferente de estar e ver a vida. Trabalhar de noite tem sempre o seu risco pois

podemos encontrar pessoas de vários temperamentos e feitios e onde tinha de ter um

sentido muito apurado para no mínimo não me ver metidos em sarilhos, pois mesmo

sem querer às vezes as coisas aconteciam e aí tentava usar a minha perspicácia e

subtileza para resolver as coisas da melhor maneira possível e felizmente fui-me saindo

mais ou menos bem, tentando fazer de cada cliente um amigo e que sentissem respeito

por aquilo que eu fazia.

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Num dos meus muitos combates de boxe

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Entretanto, sinto um vazio dentro de mim e sinto necessidade de ir viver a adrenalina do

boxe fora do ringue e, em conversa com o meu irmão Luís, convidou-me a ir treinar as

camadas mais jovens do F.C. Porto. Como era um projecto que se estava a iniciar e era

ambicioso, decido aceitar em boa hora, pois inspirar jovens nesta modalidade foi sempre

o que desejei, mas nem sempre quem foi bom atleta seja na modalidade que for é um

bom treinador ou bom condutor de jovens, esse era o meu dilema, mas felizmente não

foi isso que sucedeu e a partir do primeiro treino senti que tinha capacidades para isso.

Trabalhar com jovens tem sempre o seu quê de gratificante e como tinha vivido parte da

minha vida no bairro do Cerco do Porto, decido falar com a direção do grupo desportivo

do mesmo bairro, em lançarmos a modalidade no clube e ao mesmo tempo dar aos

jovens alguma coisa em que eles estivessem entretidos e assim os pudéssemos desviar

de outros vícios, muito comuns neste tipo de idade. Não será fácil fazer o balanço desta

nossa iniciativa, procuramos dar a esses jovens uma vida com melhor qualidade, virada

para o desporto e para as coisas boas que daí pudessem advir. Claro que em qualquer

iniciativa que se tenha existe sempre um risco e os responsáveis pelo grupo desportivo

decidiram em boa hora correr esse risco e durante uns tempos era bom ver alguns jovens

a praticar este nobre desporto.

Como nessa altura o boxe estava em alta, recebo um convite da Ass. Boxe do

Porto para ser o seu director técnico regional. Foi uma forma de reconhecerem tudo

aquilo que tinha feito em prol desta modalidade e passar os meus conhecimentos a

outras pessoas que quisessem ser futuros treinadores, além disso fazia parte da minha

missão tentar aliciar novos clubes para que se iniciassem nesta atividade, nem sempre

consegui, mas fico satisfeito por durante alguns anos tentar dar um impulso grande a

esta tão nobre arte. Se houve algo que me deixou muito enternecido foi o convite que

recebi da F.P. de Boxe para o cargo de seleccionador nacional, como em tudo na vida

existem coisas que nos honram muito e este convite não podia recusar. Foram

momentos inesquecíveis que passei durante 4/5 anos à frente da selecção, não posso

esquecer a grande camaradagem que existia tanto a nível de seleccionados, treinadores e

dos seus directores. Estive num campeonato do mundo que se realizou na R.D.

Alemanha e ver tudo aquilo que se estava a passar à minha volta é impossível de ser

esquecer, pois tudo estava a ser previsto até ao mínimo pormenor, sendo eu um

apreciador do rigor e da competência senti-me cativado pela maneira como tinha sido

realizado este campeonato. Não posso deixar de descrever um combate que se realizou

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Equipa de boxe do F.C. do Porto com o treinador Luís Saavedra, onde estou eu e o meu irmão Luís Palmeira

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neste campeonato, os intervenientes eram o Jorge Jeremias e um americano, não me

lembro do nome desse atleta, mas da maneira como eles se bateram e aplicaram em

cima do ringue foi tal, que conseguiram que as pessoas que assistiam a este combate se

empolgassem de tal maneira que no fim do referido combate aplaudiram

entusiasticamente de pé os dois intervenientes, o Jorge tinha perdido e não passou à

outra fase, mas o americano que tinha vencido também não participou em mais

nenhuma eliminatória, por não ter recuperado desse combate. Qualquer pessoa

responsável se sente entusiasmado pela conduta e entrega dos seus atletas e eu não

poderia deixar de referir este ato, que muito me prestigiou e honrou. Os resultados não

foram aqueles que gostaríamos que tivessem sido, mas conseguimos ver como se tratava

o boxe noutros países.

As novas metodologias que eram aplicadas nos treinos, a maneira como o boxe

era acarinhado em alguns países e onde os próprios organizadores deste campeonato do

mundo, não se coibiram em nos manterem informados sobre tudo que se realizasse, quer

em termos de colóquios e apresentações. Como foi o meu primeiro e único campeonato

do mundo de boxe em que estive presente como seleccionador, fiquei muito

sensibilizado e ao mesmo tempo agradecido por esta experiência única. Sempre que me

desloquei como seleccionador ao estrangeiro, procurei sempre dignificar e honrar o

nosso país da melhor maneira e aos atletas que comigo se deslocassem exigia-lhes

também a mesma atitude e isso foi uma das razões para me sentir realizado e respeitado

por onde passei. Estive presente nos mais diversos “meetings” de boxe que se

realizaram na Europa e aquilo que mais nos vai enobrecer são as vitórias que vamos

conseguindo, no entanto, dizia aos meus atletas que a vitória era importante, mas que

nunca deveríamos de menosprezar o valor dos nossos adversários. Para além de

desportistas eu procurava que os meus atletas fossem pessoas de boa índole e que nunca

sentissem vergonha de terem sido treinados por mim, pois tudo o que lhes ensinei foi

sempre para bem deles e ao mesmo tempo prepara-los para a vida futura.

A vida nem sempre me proporcionou só coisas boas e quando menos se espera

temos aquilo a que chamamos de inesperado. Só que a maior parte das vezes não

estamos preparados e quando alguma coisa fora do normal nos acontece, verificamos

que devíamos ter dado mais atenção às coisas que no nosso dia-a-dia executamos, “ mas

há sempre um mas” e só nos apercebemos quando as coisas acontecem. No ano de

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Da parte de fora do ringue a orientar um combate de boxe

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2005, começo a sentir umas fortes dores nas costas e como isso nunca me tinha

acontecido, decido fazer uma consulta com o meu médico e perante aquilo que eu lhe

transmiti mandou-me fazer uma ressonância magnética e onde me foi diagnosticada

uma hérnia discal na coluna cervical entre os elos 6 e 7 e o médico que me assistia

aconselhou-me a ser operado. Ponderei todos os inconvenientes que pudessem advir

dessa operação com os meus familiares mais próximos e decidi avançar para a dita

cirurgia. Como o meu histórico clinico não comportava assuntos com muita gravidade,

resolvo então fazer a operação. Preparei-me mentalmente para aquilo que iria fazer, pois

fazer uma operação à coluna é sempre algo de arriscado, mas com a graça de Deus iria

correr bem e segundo o médico a cirurgia tinha sido um êxito, agora era necessário fazer

a respectiva recuperação e depois podia voltar a fazer a minha vida normalmente como

veio a acontecer.

Vou continuando a fazer a minha vida normalmente, agora com algumas

restrições. Mas sem nada que o fizesse prever começo a sentir problemas na coxa, pois

os sintomas que sentia davam-me a impressão de que estava a perder massa muscular.

Fui outra vez ao meu médico, ele mandou-me fazer analises e exame clínicos, e como

me queixava também da massa muscular, encaminhou-me para uma clinica para fazer

uma electromiografia. Só quem passa por estas situações é que sabe e sente a ansiedade

que dai advém e enquanto não sabemos o resultado da respectiva análise vamos

pensando sempre no pior que nos pode vir a acontecer. Como previa a análise deu

positiva à massa muscular. E agora como encarar este problema? E de que maneira o

iria transmitir aos meus familiares mais próximos? Senti-me perdido e sem soluções, e

se calhar fiz aquilo que ninguém deve fazer. A ideia que eu julguei ser a mais adequada

foi não lhes ter comunicado na altura que soube o resultado e hoje sinto-me bastante

arrependido, porque pensava que com alguns tratamentos voltasse tudo ao normal e

assim evitava que elas sofressem, pois eu próprio ainda não tinha conhecimento certo

do que se tratava. Mas sinto que estou a perder aptidões e ao mesmo tempo vou

sentindo cada vez mais os músculos a atrofiarem-se, mas nada que pudesse levantar

suspeitas à minha mulher.

Como diz o provérbio “a mentira tem perna curta”, um belo dia estava a tentar

desfazer a barba e sem nada que o fizesse prever a minha esposa entra na casa de banho

e vê-me a escanhoar a barba com as duas mãos, estranhou aquilo que se estava a passar

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Nesta altura ainda de boa saúde

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e perguntou-me o que era aquilo que estava a fazer, pois normalmente utilizava uma

mão ao desfazer a barba. Fui apanhado como se costuma dizer “com as calças na mão”

e tive que contar a verdade, o que para mim foi um alívio poder contar-lhe aquilo que se

estava a passar comigo. Os momentos que se seguiram são algo que eu não gostaria de

contar, mas o certo é que tanto a minha esposa como a minha filha estavam cheias de

razão por tudo o que me diziam e de lhes ter ocultado o que se estava a passar comigo,

nada que eu não me tenha arrependido e serviu-me de lição.

O principal objectivo a partir dessa altura era tentar descobrir que género de

doença era, tentar obter toda a informação sobre possíveis tratamentos e ao mesmo

tempo saber qual a posologia mais adequada para que fosse possível atenuar os efeitos

nefastos da doença. Os sintomas que ia tendo transmitia-os aos médicos que me

assistiam e eles iam-me mandando fazer os exames que achavam convenientes de modo

a irmos eliminando as hipóteses. Fiz todos os exames possíveis e imaginários para

detetar a doença, até à altura em que vou a uma consulta e pelo comportamento do

médico pressenti que não era boa a notícia que tinha para me dar. Com a perspicácia

própria de um clínico e sabendo que vai dar uma má notícia, manda-me sentar e se estou

bem, pois a notícia que tem para me transmitir não era boa e é quando ele me participa

que a doença que tenho é Esclerose Lateral Amiotrófica (E.L.A.).

Como era uma doença da qual não tinha ouvido falar, pedi-lhe para que me

elucidasse sobre o comportamento dessa doença e se havia hipóteses de cura. Perante as

perguntas que lhe fiz, ele responde-me quais são os sintomas desta doença, os seus

efeitos malévolos e as hipóteses de cura serem quase nulas, também disse que enquanto

há vida há esperança e com os avanços que a medicina vai tendo há sempre uma nesga

de confiança. Esta doença degenerativa debilita toda a estrutura muscular e óssea, com o

passar do tempo.

Se existe alguma coisa para a qual não estamos preparados é o de alguém dizer

que não vamos durar muito tempo, não sei o que senti naquela altura, o sentimento de

impotência foi tal, quase me senti banido da sociedade. Perante tal desígnio que Deus

me destinou, nem tudo tem sido mau nesta fase da minha vida e o nascimento do meu

neto Miguel foi a coisa mais bonita que me pôde ter acontecido, pois tem sido para mim

o analgésico que eu necessitava para me ajudar a superar todas estas vicissitudes da

vida. Os netos normalmente ajudam-nos a rever muitas coisas, algo que não tivemos

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Com a minha mulher, filha e sobrinha na inauguração de uma discoteca

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hipóteses de dar aos nossos filhos, pelas circunstâncias mais variadas e neste caso

funcionam como uma forma simbólica de compensarmos os filhos.

Começo a aperceber-me que vou perdendo algumas capacidades e cada vez fico

mais revoltado comigo mesmo, por ainda não estar convencido por tudo isto que me

está a acontecer e por psicologicamente não estar preparado para aceitar este drama que

instalou na minha vida. O apoio da minha mulher, da minha filha e de algumas pessoas

que considero minhas amigas tem sido extraordinário, mas enquanto me puder deslocar

sem depender seja de quem for, vou tentar não me subordinar. Vou alcançando a minha

auto-suficiência com alguma dificuldade, pois começo a sentir alguns impedimentos em

determinadas coisas que vou fazendo como por exemplo, andar e ligar a chave de

ignição do carro, mas ainda não se torna muito preocupante para mim e como ainda me

sinto uma pessoa normal, vou tentar aguentar o mais possível esta situação, para não

começar a depender das outras pessoas.

Das coisas que me tem custado muito e tem sido o meu maior problema é o de

não ter encarado esta doença da melhor maneira, e da forma que entrou na minha vida e

por muito que as pessoas tentem dizer ou encontrar palavras para que eu me vá

mentalizando é lisonjeiro, pois sei que só me resta ter de coabitar com a doença e dentro

de tudo o que pudermos chamar de racional, vou tentar encarar a doença de maneira a

que as pessoas que me são queridas, não se sintam defraudadas por todo o carinho e

amor que me têm transmitido.

O estar ciente de tudo o que se passa à minha volta e as minhas capacidades

mentais estarem normais, faz-me ficar muitas vezes mais zangado comigo mesmo e há

horas, em que por motivos de estar só ou não querer ninguém ao pé de mim, sinto

nostalgia e nesses momentos sinto-me uma pessoa revoltada e triste e que sem querer

penso naquilo que não devia.

O tempo vai passando e começam a surgir novos problemas e novas

dependências, o atrofiamento muscular cada vez é mais intenso, o ter autonomia para ir

à casa de banho, tomar banho e fazer o meu asseio diário, já não é nenhum e começo a

depender da minha mulher.

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Com uma das muitas faixas de campeão nacional

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Nunca fui pessoa com grandes vícios e se existem coisas que não prescindo é o de

tomar um café após o almoço e a seguir ao jantar. Como tenho dificuldade em deslocar-

me, é amparado na minha mulher na maior parte das vezes que vou até ao café. Das

coisas que gostava de fazer era andar a pé e sozinho, procurando manter-me activo, mas

infelizmente tive que abandonar esse projecto pois tive várias quedas e algumas com

gravidade e a partir dessa altura comecei a sair acompanhado.

Existem coisas que nos marcam para toda a vida e a onda de solidariedade que se

desenvolveu em prol da minha pessoa, é algo que enquanto viver não vou esquecer e

não posso omitir o que diversas pessoas amigas me tentaram proporcionar, o

compromisso e devoção que eles puseram na feitura desta festa de homenagem. Isto só

foi possível graças ao empenho de pessoas que me merecem muita estima e

consideração. Aquilo que só quem tem muita perseverança e não desistem ao primeiro

obstáculo, é indiscritível, pois numa altura em que o nosso país vive uma situação de

desemprego e de restrições macroeconómicas muito sérias, seria impensável ver um

pavilhão com centenas de pessoas a tentarem dizer-me para não desistir de mim e

darem-me alento para que enquanto for possível eu não desista de tudo aquilo amo. Esta

festa foi no pavilhão Luso-Venezolano em Nogueira da Regedoura-Feira e só foi

possível graças à generosidade de amigos que ficarão para sempre no meu coração e que

não posso deixar de cita-los, ao José Pinto Lopes, Cipriano Costa, Dr. António de

Oliveira antigo jogador do F.C. Porto, ao jornalista da SIC António Reis, ao sargento-

mor Manuel Gonçalves dos pára-quedistas, às empresas que patrocinaram este evento e

a todos os que colaboraram e que não os enumero as minhas desculpas, os meus

sinceros agradecimentos e o meu bem-haja por tudo o que fizeram e que esta festa sem

eles não teria sido possível.

A gratidão e respeito que todos os presentes me quiseram tributar, jamais poderei

esquecer e vem enaltecer uma velha “máxima” na qual impus no meu relacionamento

com os outros, o do respeito e a verdade por tudo aquilo que fizéssemos ou

praticássemos, quer com os adversários, amigos ou familiares. Foi gratificante ver

pessoas que conviveram comigo em criança, na escola primária, no trabalho, camaradas

da arma de pára-quedistas, antigos colegas que comigo praticaram o boxe e o futebol,

dirigentes do boxe e de alguns clubes que não quiseram deixar de estar presentes, além

de algumas pessoas que comigo disputaram títulos nacionais e regionais, dos meus

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Ainda com um pouco de saúde

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familiares e amigos. Se pudesse descrever tudo aquilo que senti ou vivi nesse dia, não

tinha palavras nem adjectivos que conseguissem demonstrar toda a minha gratidão.

Ver imortalizados os meus feitos num lugar público como é o “Museu do F.C.

Porto” é honroso e dignificante, por tudo aquilo que ao longo da minha carreira

consegui como boxer nos diversos escalões. Sentir que tudo aquilo que fiz em prol do

desporto que adorei, e o de deixar algo que possa ser visto pelas gerações vindouras e ao

mesmo tempo lhes possa servir de exemplo para a prática de tão nobre arte desportiva.

Ao escrever esta minha biografia, procurei ser o mais realista possível e ao mesmo

tempo enquadra-la dentro do espaço de tempo que julguei ser a mais adequada e tudo o

que está enumerado não é ficção. Como calculam foi muito difícil relatar todos estes

acontecimentos, pois estou numa situação que, reconheço, não é a mais aconselhável.

No entanto, tenho que confirmar a satisfação que me deu falar sobre tudo aquilo de que

me fui lembrando. Recordar o meu tempo de meninice foi das coisas mais lindas que

escrevi e puder lembrar aqueles tempos em que a pureza da inocência era assombrosa.

Todas as épocas que foram decorrendo daí em diante não deixam de ser importantes

para mim e que com a graça de Deus foram ultrapassadas. É impressionante ao fazer-se

uma retrospectiva de tudo aquilo pela qual passei e o sentimento de saudade que dela

nos advém é melancólica e enternecedora.

Compreendo que ao lerem esta minha biografia, se interroguem sobre se não

existiriam outras coisas que merecessem mais ênfase ou realce, tentei dar relevo a tudo

aquilo que julguei ser o mais importante.

A todos o meu muito obrigado por terem tido a paciência de ler a minha biografia.

Alcino Palmeira

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Na minha festa de homenagem com alguns amigos em Nogueira da Regedoura