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A GAZETA ESPÍRITA ANO I - NUMERO 02 - Julho de 2017 [email protected] O INCÊNDIO TRÁGICO EM LONDRES LEMBRA O OCORRIDO NO ED. JOELMA O QUE OCORRE COM OS ESPÍRITOS NESTAS TRAGÉDIAS COLETIVAS? BIOGRAFIA DE SANTO AGOSTINHO A CRIANÇA E A EDUCAÇÃO SEXUAL KARDEC E A TERAPÊUTICA ESPÍRITA

BIOGRAFIA DE SANTO AGOSTINHO · PDF filena pelo amor e concede ao filho o tempo como agente da sua autoeducação. O cristianismo foi distorcido. Em nome de Jesus cria

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Page 1: BIOGRAFIA DE SANTO AGOSTINHO · PDF filena pelo amor e concede ao filho o tempo como agente da sua autoeducação. O cristianismo foi distorcido. Em nome de Jesus cria

A GAZETAESPÍRITA

ANO I - NUMERO 02 - Julho de [email protected]

O INCÊNDIO TRÁGICO EM LONDRES LEMBRA O OCORRIDO NO ED. JOELMA

O QUE OCORRE COM OS ESPÍRITOSNESTAS TRAGÉDIAS COLETIVAS?

BIOGRAFIA DE

SANTO AGOSTINHO

A CRIANÇA E A EDUCAÇÃO SEXUAL

KARDEC E A TERAPÊUTICA ESPÍRITA

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A Gazeta Espírita02 Julho de 2017

Por André Parente

Os adultos se esquecem facilmente de que foram crianças porque se acham integrados num mundo diferente, o mundo da gente gran-

de. Esse mundo dos adultos é geralmente feito de ambições, temores, ódio e violências. É um mundo hostil, muitas vezes brutal. Os adultos se tornam cria-turas práticas, objetivas, eficientes - o que vale dizer egoístas, secas, frias e insensíveis. Se fizessem algum esforço para vencer essa frieza moral, lembrando-se um pouco da infância, voltariam a viver e seriam capazes de amor e ternura”. (J. Herculano Pires).

A família é a instituição mais antiga da sociedade. Segundo o pedagogo Franco Cambi: “é o primeiro regu-lador da identidade física, psicológica e cultural do indi-víduo e age por ele por meio de fortíssima ação ideológi-ca” (CAMBI, 1999: 80). Isto significa dizer que esse instituto forma em grande parte o indivíduo antes dele inserir-se de forma mais direta na sociedade. Logo, muito do que somos hoje guarda relação com o período que convivemos em família.

Existem vários tipos de famílias: a família do mundo antigo, cujo poder do pai era muito grande; a família cristã, reconfigurada por Jesus; a família africana, ale-gre, viva e que não se perdeu com a migração forçada nem com a escravidão; a família indígena, com afirma-ção dos seus valores aos mais novos; família sagrada, importante, porém presa à fixidez doutrinária; a família burguesa, apegada exclusivamente aos próprios mem-bros; a família operária, embora os socialistas neguem devido à exploração dos trabalhadores; e a família dos novos tempos, a que é a síntese de todos os modelos ante-riores e a que transformará a humanidade .

Pode-se também, de acordo com o professor Hercu-lano Pires, estabelecer o vínculo entre o ser humano e a família: “O homem é relação e a família é o meio de rala-ção em que ele absorve a seiva humana que o faz homem”. (PIRES, 2000:32). Logo, o ser precisa do meio chamado família para se formar como ser humano. Mas se essa instituição passa por uma profunda crise, como lançar ao convívio social pessoas que não se formaram humanamente através da família?

O Espiritismo é uma proposta de educação e não de salvação. A educação espírita, que provém da Doutrina Espírita e talvez seja o seu mais puro reflexo, considera a infância o tipo de repouso e de preparação dos espíritos para os desafios da vida. É o crisol onde as famílias se unem para os reajustamentos entre os seus membros. São as antipatias e simpatias que encontramos ao reen-carnarmos. As simpatias devem ser cultivadas e as anti-patias transformadas.

O ser sob influxo de Deus faz-se criança, revestido da roupagem da inocência, para aperfeiçoar-se rumo à per-feição relativa que lhe está destinada. Quando alguém nasce num grupamento familiar é como o sol que brilha e espanta a noite. É o sopro da vida ensinando-nos a viver. A chegada de alguém, frequentemente, produz ânimo, alegria, tira a dor, suaviza olhares. Além disso, o nascimento de uma criança divide a história das famílias em antes e depois. Portanto, o cuidado com a educação dos filhos deve ser assunto de grande importância para os pais. Pode-se errar, quando o desconhecimento existe e quando o desejo de reparação é acionado, mas a indife-rença constitui em erro grave e pedirá dos responsáveis longo tempo de serviço em favor do bem comum...

A mãe pode ser considerada a primeira educadora. O amor de mãe pode ser reputado, desde que educado, como o maior amor que um ser possa ter por outros seres. Não é por outra razão que os grandes educadores da humanidade destacaram a forte influência da mãe na formação dos filhos. Devido a esse fato, parece ser medi-da de bom senso que a sociedade ajude na preparação das futuras mães.

Acreditamos ser de grande valor fazer uma reflexão sobre o tema família dentro da perspectiva espírita, porém, antes, iremos apresentar uma síntese sobre o que alguns povos da antiguidade pensavam sobre este assun-to.

Primeiro vamos referir-nos à Grécia Antiga. No mundo grego não existia a valorização da infância, da

mulher e a família era assentada no poder do “pater famí-lia”, do pai – que imprimia medo e terror.

Ainda na cultura grega encontramos na mitologia vários relatos que mostram deuses, semideuses e morta-is que possuíam relação de parentesco, mas não sabiam muito bem como lidar com as antipatias e simpatias.

Podemos citar também os registros sobre o tema famí-lia na cultura hebraica. No livro de Gênesis, encontra-mos a conhecida história de Esaú e Jacó – irmãos gême-os que brigavam desde o ventre. Eles brigaram durante boa parte da vida, mas depois se reconciliaram. Mas como entender essa animosidade entre os dois irmãos? Quando começou? Se alma foi criada junto com o corpo, como reconhecer a sabedoria de Deus?

Com o cristianismo primitivo encontramos na figura de Jesus o pedagogo maior que reconfigura o modelo de família. Ele valoriza a infância, a mulher e apresenta um novo modelo de pai: o que perdoa e não pune; o que ensi-na pelo amor e concede ao filho o tempo como agente da sua autoeducação.

O cristianismo foi distorcido. Em nome de Jesus cria-ram guerras, impérios e mais uma vez o instituto família foi desprezado. Cabia ao Espiritismo – terceira grande síntese da lei de Deus – resgatar o verdadeiro sentido dos ensinamentos de Jesus. Parecia destinado ao Espiritismo o ineditismo de explicar melhor a conversão “do coração dos filhos aos pais e dos pais aos filhos”. E sobre o tema família, Kardec- maior apostolo de Jesus na contempo-raneidade- penetrou na essência da questão. Como um artesão do conhecimento leva-nos a uma reflexão pro-funda sobre como as relações sociais são estabelecidas com os membros de um grupo familiar. Um dos princípi-os da Doutrina Espírita é lei da reencarnação. A partir dessa visão, compreendemos que “a sucessão de exis-tências corporais estabelece entre os espíritos ligações que remontam as vossas existências anteriores” [1] .

Diante disso, este trabalho considera a visão de mundo espírita, embora não seja única, importante para que possamos entender que Deus na sua sabedoria criou a instituição família para nos permitir através do véu do esquecimento e da pluralidade das existências aparar as arestas do amor e do ódio que construímos na esteira do tempo. O Espiritismo ensina-nos que podemos transfor-mar as antipatias que ainda temos em simpatias que alar-garão o nosso olhar sobre o viver e o existir. Segundo Herculano:

“Há na família, como no homem, uma finalidade superior a atingir. O elemento que determina a organiza-ção familial não é o simples interesse material. A linha-gem não é determinada pela tradição ou pelos títulos nobiliárquicos, mas pelo desenvolvimento das linhas sucessórias”. (PIRES, 2000: 39).

Sabe-se que o objetivo superior da família é permitir, ao contrário do que dizem, não o rompimento dos laços de família, mas a ampliação, através da reencarnação, das relações entre os seres humanos. É um recurso da pedagogia divina que busca ensinar aos homens a ama-

rem-se como irmãos. O Espiritismo ensina que somos todos membros de uma mesma família: a humana e, por-tanto, devemos fazer do lar a escola maior de aplicação dos ensinamentos éticos que levaremos para a socieda-de.

É importante reconhecer que a vida em família apre-senta dificuldades que podem levar os membros ao embotamento de suas potencialidades. O espírito Agos-tinho de Hipona numa importante comunicação diz o seguinte:

“De todas as provas, as mais penosas são as que afe-tam o coração. Aquele que suporta com coragem a misé-ria das provações materiais, sucumbe ao peso das amar-guras domésticas, esmagado pela ingratidão dos seus. Oh, é essa uma pungente angústia! Mas o que pode, nes-sas circunstâncias, reerguer a coragem moral serão senão o conhecimento das causas do mal, com a certeza de que, se há longas dilacerações, não há desesperos eternos”. (KARDEC, 2010: 195).

Conclui-se que a vida de relação, ou seja, o grande túnel que estamos mergulhados, acolhe-nos pela família temporal que temos e devemos transformar na grande família divina. Deus foi muito inteligente, com o perdão da expressão, de criar a instituição família, que ramifica-se em vários tipos, mas é antes de tudo uma representa-ção de sua sabedoria. É o elã evolutivo convidando-nos ao retemperamento de que somos filhos de Deus e via-jantes do universo fazendo do amor aos nossos familia-res o roteiro seguro do nosso reerguimento perante a lei maior. É o sopro de Deus inaugurando no mundo a famí-lia dos novos tempos...

Artigo publicado na Revista Internacional de Espiritismo. Nº6 - Matão, julho de 2014.

BIBLIOGRAFIA:A Bíblia de Jerusalém. São Paulo, Paulus, 1985.ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro, LTC,

1981.BUSCAGLIA, Leo. Amor. Rio de Janeiro, Record, 1972.CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo, UNESP, 1999.DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. Brasília, FEB, 2008.ENGELS, Friedrich. A Origem da Família e da Propriedade Privada, Rio de Janeiro,

Bertrand Brasil, 2005.GADOTTI, Moacir. Dialética do Amor Paterno. São Paulo, Cortez, 1989.KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. São Paulo, Lake, 2004.KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. São Paulo, Lake, 2010.KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. São Paulo, Lake, 2004.KARDEC, Allan. A Gênese. São Paulo, Lake, 2004.KARDEC, Allan. Revista Espírita de 1864.Tradução. Júlio Abreu Filho, São Paulo,

Edicel, 2002.KARDEC, Allan. Viagem Espírita em 1862. Matão, O Clarim, 2000.LUZURIAGA, Lorenza. História da Educação e da Pedagogia. São Paulo, Nacio-

nal, 1984.MIRANDA, Hermínio C. Nossos Filhos são Espíritos. Niterói, Editora Arte e

Cultura, 1991.PEREIRA, Yvone do Amaral. A Família Espírita. Brasília, FEB, 2013.PIRES, J. Herculano. Curso Dinâmico de Espiritismo. São Paulo, Paidéia, 2000.PIRES, J. Herculano. Pedagogia Espírita. São Paulo, Paidéia, 2004.PIRES, J.Herculano. Educação Espírita, Revista de Educação e Pedagogia. São

Paulo, Edicel, 1970 a 1974.SAMARA, E. Mesquita. A Família Brasileira. São Paulo, Brasiliense, 1986.TARANDACH, Ester Rosenberg. Diagnóstico Psicossocial da Família.

Petrópolis, Vozes, 1978.

[1] Conforme a questão 204 de O Livro dos Espíritos.

A FAMÍLIA DENTRO DA PERSPECTIVA ESPÍRITA

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A Gazeta Espírita 03Julho de 2017

Em primeiro lugar, é preciso esclarecer (ou res-gatar) alguns conceitos básicos do Espiritismo: Não se trata de uma revelação sagrada, por isso

considero muito problemática a denominação das obras de Kardec de o “pentateuco espírita”! Os livros de Kardec não são como a Bíblia é para os fundamen-talistas cristãos – palavra de Deus, revelada, que pode ser citada como fonte de autoridade absoluta. A obra de Kardec é de pesquisa, em que encarnados e desencar-nados participaram da construção. Justamente uma das grandes contribuições de Kardec foi dessacralizar a revelação. E ele fez isso estabelecendo um método de pesquisa dos fenômenos espíritas, uma abordagem nova da vida espiritual, com racionalidade crítica e observação empírica. Então, conservar-se fiel à obra de Kardec é muito mais conhecer, entender, aprofun-dar e mesmo desdobrar com os recursos atuais, o méto-do criado por ele (e foi criado por ele e não pelos Espí-ritos! Esses são na verdade ao mesmo tempo o objeto de estudo e os cooperadores de Kardec). O conteúdo do Espiritismo está sujeito à revisão, reelaboração e leituras históricas (compreendendo que algumas coi-sas que estão nas obras de Kardec são próprias do sécu-lo XIX, têm uma influência da cultura europeia da épo-ca). O próprio fundador do Espiritismo não o queria fechado, num corpo de dogmas, a que leitores futuros teriam que se submeter cegamente.

O tempo inteiro, Kardec alerta para o aspecto cien-tífico de sua proposta, cujas hipóteses poderiam ser revistas.

Mas é claro que encarar o Espiritismo como um pensamento aberto, em constante construção, porque se trata de um pensamento racional, científico, sempre pronto ao diálogo com as descobertas da ciência e com os avanços culturais, não significa fazer dele uma col-cha de retalhos, uma salada mística, incorporando modismos, novidades sem fundamento, práticas bizar-ras e ideias irracionais…

Então, podemos dizer a grosso modo que temos duas tendências predominantes no movimento espírita brasileiro atual:

Dos ortodoxos – vamos chamá-los assim – que não compreenderam o caráter dinâmico e aberto do Espiri-tismo (e muitos não compreenderam também o caráter fraterno da doutrina) e usam os textos de Kardec como argumento de autoridade, consideram suas obras como uma Bíblia. Esses ortodoxos, que estão dentro das instituições estabelecidas “como movimento ofi-cial” são em geral pessoas avessas ao diálogo, prati-cam a censura, a exclusão, não aceitam nenhum tipo de pensamento crítico e fazem uma reprodução pobre, descontextualizada, reacionária do texto de Kardec – que se torna um texto apostilado, interpretado apenas por um viés religioso, com muito pouca articulação racional e nenhum enraizamento científico.

Devo dizer que nós, da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita, apesar de mantermos um forte apelo à volta a Kardec, na linha de Herculano Pires, que temos um compromisso com pesquisa, filosofia e uma ética espírita, somos muitas vezes hostilizados ou silenciosamente excluídos por essa facção oficial, que se pretende ortodoxa. Meus livros são censurados em muitos centros espíritas, a ABPE não é chamada a par-ticipar de grandes eventos federativos para falarmos sobre Educação, quando nós somos a entidade especi-alizada no assunto, com uma produção reconhecida, inclusive academicamente. Mas somos críticos. E para

esse lado do movimento, quem critica é polêmico, persona non grata. E assim, o Espiritismo vai se tor-nando nas mãos no movimento institucional, mais uma religião fechada, sem nenhum avanço.

Do outro lado, estão os adeptos do vale-tudo. New Age, autoajuda, cristais, livros mediúnicos com reve-lações estapafúrdias etc. É a salada mística. Para esses, atualizar Kardec é simplesmente esquecê-lo, ignoran-do seus critérios de racionalidade, coerência e busca metódica da verdade. Mas é claro que esses criticam os ortodoxos e os ortodoxos os excluem sem pena.

E quais as motivações emocionais, inconscientes (ou conscientes) que estão por trás dos dois grupos?

No primeiro, a motivação é o poder – querem um movimento hierarquizado, que não debate, que não dá espaço para contestação (por mais qualificada que seja a pessoa que conteste), que se mantém sempre acrítico – e devo dizer, que embora esses se digam os reais seguidores de Kardec, não o compreenderam nem pela rama, pois falta de diálogo é falta de humildade, falta de criticidade é dogmatismo, exclusão é falta de frater-nidade. Portanto, nada disso é espírita.

No segundo grupo, a motivação é o comércio: médi-uns que viram terapeutas holísticos, médiuns que se pretendem gurus em todos os assuntos, livros que ven-dem às pencas nas grandes redes de livrarias e que mais parecem ficção científica de mau gosto do que obras mediúnicas sérias, comprometidas com o escla-recimento e a edificação dos leitores.

Então, logo se vê que, como dizia Kardec: contra interesses, não há fatos que convençam. Quando a motivação é o poder, a vaidade, a projeção pessoal ou o lucro financeiro, pura e simplesmente, não há verda-deiro amor ao Espiritismo, sincera busca da verdade, esforço sacrificial pela ideia, trabalho sério e profundo – mas de ambos os lados reina a mediocridade.

É claro que tudo isso faz parte do contexto em que vivemos no momento. Todos os movimentos religio-sos e espiritualistas têm alas fundamentalistas e alas de autoajuda light. Tem aqueles que desejam reter o movi-mento numa redoma de ideias fechadas e os que que-rem abrir, sem nenhum critério, a não ser o critério comercial.

Isso tudo em relação às posições existentes no momento espírita atual. Há muitos desgarrados, insa-tisfeitos, críticos em relação a ambos os lados e são para essas pessoas que nós, da ABPE, temos oferecido uma alternativa que não se pretende nem dogmática, nem superficial e descomprometida com a verdade (ou a sua busca, pois estamos ainda muito aquém de verda-des definitivas).

Há duas coisas que deveriam unir todos os espíri-tas: o elo de fraternidade e o compromisso com a busca isenta e desinteressada da verdade – podemos nos enga-nar, e as verdades por enquanto são relativas, mas por isso mesmo, temos que aprender a dialogar com o outro e temos que fazer um processo de autoconheci-mento (aconselho inclusive com terapia) para obser-varmos em nós as paixões, as inclinações, as motiva-ções obscuras que possam estar nos guiando em nossas atitudes em relação a essa ideia tão bela e fecunda, tão libertária e progressista, que se chama Espiritismo.

Portanto, nem pureza ortodoxa, nem salada místi-ca, mas estudo sério, aprofundado das obras de Kar-dec, diálogo aberto, civilizado, amistoso, desinteresse real, fraternidade – eis o que proponho aqui, para encerrar por enquanto, esse debate em nosso blog.

*Retirado, com autorização da autora Dora Incon-tri, do blog da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita

Vários articulistas já manifestaram suas posições a respeito desse polêmico assunto: pureza doutrinária. Chegou a minha vez de dizer algo a respeito.

O QUE ESTAMOS FAZENDO COM O ESPIRITISMO?

Diretor Responsável: Luiz Sérgio de Freitas Castro

Publicação da Editora Castro Circulação em todo o Brasil

Redação: Rua Jequitibá, 98 - Três Barras - Linhares-ES CEP.: 29.907-314 Cel. 999685641 - e-mail: [email protected]

As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião de A Gazeta Espírita

A GazetaEspírita

por Dora Incontri

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A Gazeta Espírita04 Julho de 2017

por Marcos Villas-Bôas

O Livro dos Médiuns, publicado por Allan Kar-dec, é considerado a grande obra sobre mediuni-dade, porém, após ele, muitas outras vieram, até

porque médiuns espetaculares encarnaram e puderam ser estudados, sobretudo no Brasil, como Yvonne do Amaral Pereira (1900-1984), Francisco Cândido Xavi-er (1910-2002) e Divaldo Pereira Franco (1927-).

Percebe-se pelas datas acima que a mediunidade não é doença e que é possível viver por muitíssimos anos passando por fenômenos surpreendentes, mas isso desde que sejam compreendidos e que o indivíduo saiba tomar os cuidados devidos para que a sua faculdade não lhe ocasione perturbações ou, o que é pior, doenças de ordem física ou mental.

Neste blog, insistimos muito na explicação científica sobre a existência dos Espíritos devido à capacidade que tem essa teoria de mudar a vida das pessoas para melhor. Dado que todos são médiuns, ninguém deixa de interagir com os Espíritos diariamente, o que afeta suas vidas de forma positiva ou negativa. Entendendo muito bem como se dá essa interação, é possível agregar mais experiências positivas do que negativas.

Todos são médiuns, pois o ser humano tem uma faculdade ínsita a ele de receber vibrações, pensamen-tos e até outras influências de seres desencarnados. A glândula pineal, sobre a qual voltaremos a tratar em outros textos, que é muito pouco estudada pela Medici-na, teria papel essencial na emanação dessa faculdade.

No item 159 do Livro dos Médiuns, está dito que são raras as exceções de pessoas que não têm esse “canal” aberto para o mundo espiritual ao menos em estado rudi-mentar:

“159. Toda pessoa que sente a influência dos Espíri-tos, em qualquer grau de intensidade, é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo não constitui privilégio e são raras as pessoas que não a pos-suem pelo menos em estado rudimentar. Pode-se dizer, pois, que todos são mais ou menos médiuns. Usualmen-te, porém, essa qualificação se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada,

que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensi-tiva”.

Normalmente, o que se entende por médium no dia a dia é aquele chamado no meio espírita de “médium ostensivo”, alguém com faculdades muito evidentes, que lhe permitem ver ou ouvir os Espíritos, ou ainda que permitam aos Espíritos escrever (psicografia) ou falar (psicofonia) por meio dele.

A mediunidade está, contudo, muito mais no dia a dia humano do que se pensa. Muitos há que podem enxergar campos magnéticos em torno das pessoas, vendo uma tênue linha de energia em volta do corpo (ex. a aura). Outros podem sentir, durante uma meditação ou outra atividade relaxante, formigamentos na pele, pres-sões na cabeça ou outras reações físicas decorrentes da conexão com Espíritos.

Muitos há que chegam em determinado local e sen-tem uma vibração ruim nele, descobrindo depois que algo negativo acontecia ali. Muitos há que sentem uma vibração ruim em certas pessoas e depois descobrem que ela estava passando por problemas ou que carrega muitos pensamentos negativos.

Acima de tudo, a mediunidade que a maioria tem é uma sensibilidade em relação às vibrações de outros Espíritos encarnados e desencarnados, que permite receber deles influências e ser até mesmo dirigido. Na pergunta 459 do Livro dos Espíritos, que Kardec faz a um Espírito, ele responde assim:

“459. Influem os Espíritos em nosso pensamentos e em nossos atos?

- Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem”.

Até pelo fato de se saber que todos têm um guia espi-ritual, é preciso que se tenha a mediunidade para haver influência por parte desse guia na vida do indivíduo. Muitas vezes, é ele quem nos dirige. Outras vezes são Espíritos menos evoluídos, que buscam satisfazer seus desejos, como vingança, diversão, vícios em álcool, fumo ou outras drogas etc.

A compreensão da mediunidade é fundamental para que os indivíduos possam se conectar cada vez mais

com Espíritos, encarnados ou desencarnados, que sejam evoluídos, pois um dos fatores elementares da mediunidade é abrir o ser para um magnetismo em rela-ção aos demais seres. Todos nós, encarnados ou desen-carnados, nos atraímos ou repelimos por sintonia das vibrações.

Há diversos tipos de mediunidade, muitos deles cata-logados em O Livro dos Médiuns, que é resultado de anos de observações realizadas por Kardec em reuniões mediúnicas, contando com esclarecimentos de Espíri-tos superiores, os quais assinam muitas das comunica-ções transcritas na obra.

Não iremos mais adentrar em questões sobre a exis-tência ou não de Espíritos ou de mediunidade, pois cabe a cada um pesquisar e tirar suas próprias conclusões. Focaremos na proposta principal deste blog que é, por uma visão científica, estudar a espiritualidade de modo a ajudar as pessoas a interagirem melhor com ela, reali-zando progressos em suas vidas.

Para quem tiver curiosidade sobre o tema, a literatura sobre ele é vastíssima. Ver, por exemplo, a obra Recor-dações da Mediunidade, de Yvonne Pereira, cujo trecho interessante destacamos abaixo:

“Aos 4 anos eu já me comunicava com Espíritos desencarnados, pela visão e pela audição: via-os e fala-va com eles. Eu os supunha seres humanos, uma vez que os percebia com essa aparência e me pareciam todos muito concretos, trajados como quaisquer homens e mulheres. Ao meu entender de então, eram pessoas da família, e por isso, talvez, jamais me surpreendi com a presença deles. Uma dessas personagens era-me parti-cularmente afeiçoada: eu a reconhecia como pai e pro-clamava como tal a todos os de casa, com naturalidade, julgando-a realmente meu pai e amando-a profunda-mente. Mais tarde, esse Espírito tornou-se meu assisten-te ostensivo, auxiliando-me poderosamente a vitória nas provações e tornando-se orientador dos trabalhos por mim realizados como espírita e médium. Tratava-se do Espírito Charles, já conhecido do leitor por meio de duas obras por ele ditadas à minha psicografia: Amor e ódio e Nas voragens do pecado” (p. 30).

TODOS OS HUMANOS SÃO MÉDIUNSE INTERAGEM COM OS ESPÍRITOS

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A Gazeta Espírita 05Julho de 2017

A resposta comum dos que não compreendem o assunto é pensar que uma afirmação como essa acima é obra da imaginação ou de peças que a consciência prega nas pessoas, porém essa conclusão é de logo afastada pelo caráter inteligente das comunicações obtidas desses seres invisíveis, que transmitem ideias importantes, das quais muitas vezes ninguém mais tinha conhecimento, a não ser aquele indivíduo encar-nado a quem o Espírito se refere como sendo a mesma pessoa.

Os Espíritos, frequentemente, sabem de fatos de que apenas nós mesmos temos conhecimento, ou dos quais nem nós mesmos nos lembrávamos, sendo que eles nos rememoram para poder nos ajudar, nos ensi-nar algo.

Muitos casos atribuídos, portanto, hoje à esquizo-frenia, a alguma espécie de loucura ou demência pela Medicina são, na verdade, espirituais e precisam ser tratados como tal. O desconhecimento do mundo invi-sível tem levado muitos à depressão e até ao suicídio, cujos números são hoje alarmantes, denotando que a sociedade está doente e que há uma falha grave na Medicina atual.

Como para muitos é, de fato, difícil de crer nos Espíritos e na sua influência sem uma prova mais material, não custa, então, ao menos levar aqueles que sofrem de algum mal desse tipo até um local onde se trabalhe com a espiritualidade e que possa prestar algum tipo de ajuda, mantendo o tratamento médico, nem que seja para causar um efeito placebo, que a própria Medicina reconhece. Se não houver qualquer efeito no tratamento espiritual, basta esquecê-lo e continuar o tratamento médico normalmente.

Nunca se deve deixar o tratamento indicado pelo médico, mas agregar outros é aconselhável, dado que a Medicina, como toda ciência, vem progredindo vagarosamente. Desde muitos séculos antes de Cristo, os médicos sangravam os indivíduos pressupondo que eles se curariam de suas doenças, colocando o mal para fora por meio do sangue. Essa era a forma de tra-tamento mais avançada para tratar muitas doenças, segundo a ciência, até o século XIX, ou seja, há menos de 200 anos.

Hoje, com a evolução da Medicina enquanto ciên-cia, descobriu-se que a sangria terminava causando a morte de muitas pessoas que poderiam ser curadas, tendo se restringido o tratamento a casos muito espe-cíficos em que é preciso descoagular o sangue de uma região ou reduzir nele a quantidade de ferro.

Deste modo, como em qualquer outra ciência, e isso será cada vez mais rápido, dentro do período de um século muito do que se tinha por verdade irrefutá-vel passa a ser considerado uma enorme bobagem. O mesmo acontecerá brevemente com o materialismo, pois o processo já está em marcha.

Yvonne do Amaral Pereira é uma das provas de que a mediunidade é um conjunto de faculdades que, quan-do bem desenvolvidas, podem gerar efeitos que a mai-oria dos humanos caracterizaria como miraculoso. Sua vida foi repleta de provas, assim como a de muitas outras pessoas que passam por situações parecidas, mas não descobrem que são médiuns, muitas vindo a se suicidar pela sucessão de perturbações que acaba enfrentando.

A vida de Dona Yvonne, como é também conheci-da, foi, por exemplo, marcada por experiências de morte aparente, que quase lhe levaram a ser enterrada viva quando tinha apenas um mês de vida, e se repeti-ram mais tarde:

“Certa noite, inesperadamente, verificou-se o fenô-meno de transporte em corpo astral, com a caracterís-tica de morte aparente. Felizmente para todos os de casa, a ocorrência fora em hora adiantada da noite, como sucede nos dias presentes, e apenas percebido pela velha ama que dormia conosco e que fora teste-munha do primeiro fenômeno, no primeiro mês do meu nascimento. Pôs-se ela então a debulhar o seu rosário, temerosa de acordar os de casa, o que não a impediu de me supor atacada de um ataque de vermes e por dando-me vinagre a cheirar; mas como o alvitre se verificara infrutífero para resolver a situação, pre-feriu as próprias orações, o que, certamente, equiva-leu a excelente ajuda para a garantia do transe. Somente no dia seguinte, portanto, o fato foi conheci-do por todos, por mim inclusive, que me lembrava do acontecimento como se tratasse de um sonho muito lúcido e inteligente” (p. 35).

Um dos maiores especialistas em doenças decor-rentes da não educação da mediunidade ou da com-preensão dos aspectos espirituais da consciência humana é Adolfo Bezerra de Menezes (1831-1900), que foi médico, político, espírita, dentre outras ativi-dades. Sua vida está retratada no filme “Bezerra de Menezes – O Diário de um Espírito”, que pode ser encontrado aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=JD52pssheVA.

Vários médiuns escreveram muitos textos atribuí-dos ao Espírito Bezerra de Menezes, inclusive Dona Yvonne. Sobre os efeitos danosos da mediunidade e da não compreensão da influência da espiritualidade sobre a consciência humana, ela diz o seguinte, com base no Dr. Bezerra:

“O Espírito Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, a quem tanto amamos, observou, em recentes instru-ções a nós concedidas, que nos manicômios terrestres existem muitos casos de suposta loucura que mais não são que estados agudos de excitação da subconsciên-cia recordando existências passadas tumultuosas, ou criminosas, ocasionando o remorso no presente, o mesmo acontecendo com a obsessão, que bem poderá

ser o tumulto de recordações do passado enegrecido pelos erros cometidos, recordações indevidamente levantadas pela pressão da vítima de ontem transfor-mada em algoz do presente. Muitos chamados loucos, e também certo número de obsidiados, costumam asseverar que foram esta ou aquela personalidade já vivida e fizeram isto ou aquilo, narrando, por vezes, atos deploráveis” (p. 39).

É amplamente sabido que a Medicina ainda não explica uma porção de casos de loucura e usa, inclusi-ve, tratamentos agressivos, que não obtêm resultado em muitas das situações. Não havendo uma compre-ensão dos aspectos espirituais dessas doenças, não se avançará.

“Não obstante, existem também homens que recordam suas vidas passadas sem padecerem aqueles desequilíbrios, conservando-se normais. Os médiuns positivos, ou seja, que possuam grandes forças inter-mediárias (eletromagnetismo, vitalidade, intensidade vibratória, sensibilidade superior, vigor mental em diapasão harmônico com as forças físico-cerebrais), serão mais aptos do que o normal das criaturas ao fenô-meno de reminiscências do passado, por predisposi-ções particulares, portanto. Assim sendo, e diante do vasto noticiário que produzimos acerca do empolgan-te acontecimento, temos o direito de deduzir que o fato de recordar o próprio passado reencarnatório é uma faculdade que bem poderá ser mediúnica, que, se bem desenvolvida e equilibrada, não alterará o curso da vida do seu possuidor, mas, se ainda em elaboração e prejudicada por circunstâncias menos boas, causará lamentáveis distúrbios, tal a mediunidade comum, já que o ser médium não implica a obrigatoriedade de ser espírita” (p. 40).

Nota-se, desses trechos da obra de Dona Yvonne, a seriedade dos fenômenos mediúnicos e dos demais aspectos espirituais sobre a mente humana. A ciência precisa se dedicar a eles, buscando os métodos de tra-tamento mais eficazes para evitar o sofrimento de milhares de pessoas em todo o mundo.

Fonte: http://jornalggn.com.br

Dona Yvonne do Amaral Pereira

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A Gazeta Espírita06 Julho de 2017

Por Camila Leste – Fonte: G1

Além de livros e cartas psicografadas, médium dei-xou ensinamentos de caridade e amor. Morte de Chico completa 15 anos no dia 30 de junho.

Quinze anos após a morte do líder espírita Chico Xavier, as mensagens de fé, amor e esperança através de cartas que traziam alívio para muitas pessoas, obras de caridade e divulgação da doutrina espírita mundo afora é gigantesco.

Tanto tempo depois, a figura do médium ainda influen-cia a vida de pessoas, como a de Claudete Louzada. Foram três encontros com Chico Xavier e, em um deles, ela rece-beu uma carta do irmão que morreu aos dez anos de idade. A satisfação foi tanta que ela sentiu que precisava retribuir. Por isso, há seis anos, começou a organizar excursões para Uberaba. Difundir o espiritismo se tornou uma missão.

"Essa vontade que a gente tem de progredir, de melhorar e não ser a mesma pessoa de ontem é a força que encontra-mos nessa doutrina que o Chico ampliou. Então, essa força que a gente tem, essa coragem de seguir em frente, vem de escutar o Chico falar uma frase naquelas gravações dele. Isso dá muita força para os espíritas que realmente querem melhorar. A gente nota que tem mais pessoas estudando Chico Xavier. E esta é a tarefa mesmo - que a obra dele seja para sempre, porque ela veio para transformar corações", afirmou.

Recentemente, uma caravana com mais de 40 pessoas do litoral de São Paulo visitou o Memorial Chico Xavier, em Uberaba, que recebe cerca de 650 visitantes por mês. Isto é apenas parte do número de turistas que visita a cidade para conhecer um pouco mais sobre a vida do médium. Pessoas como o Gilberto Gantagallo, que visita o memorial pela sétima vez consecutiva.

"Aqui (no memorial) tem uma energia diferente. Embo-ra as pessoas possam até não acreditar, mas tem uma ener-gia diferente. Porque Chico e Dona Cida, do Hospital do Pênfigo, e todos estes ícones do espiritismo e da caridade deixaram a sua marca em Uberaba. Então, a gente vem

recarregar as baterias para a gente voltar para as nossas cidades cheio de consolo e esperança para dividir com as pessoas o que aprendemos aqui", contou.

"A gente teve mais de cinco mil visitantes nestes oito meses de atividades. Já recebemos pessoas da Europa, dos Estados Unidos, da África. Chico é conhecido no mundo inteiro", disse o historiador do Museu, Jean Borges.

Principais recordações e obrasMas é na Casa de Memórias e Lembranças de Chico

Xavier, onde ele viveu por 27 anos, que estão as principais recordações do médium. São cartas psicografadas, roupas e boinas. O quarto dele é o que mais impressiona, justamente pela simplicidade.

Ao longo dos 92 anos de vida, Chico Xavier psicografou quase 500 livros - romances, contos e estudos traduzidos para 30 idiomas e que venderam mais de 60 milhões de exemplares. Os números deixariam qualquer escritor lison-jeado, mas ele nunca admitiu ser o autor das obras; afirmava sempre que apenas reproduzia o que os espíritos ditavam. Chico também nunca aceitou o dinheiro lucrado com a venda dos livros e os direitos autorais foram doados para a Federação Espírita Brasileira (FEB).

Uma das obras mais lidas é "Nosso Lar", que virou filme em 2010. A primeira publicação foi "Parnaso de Além-Túmulo", lançado em 1932, com poesias atribuídas a artis-tas brasileiros, que teve grande repercussão na época.

Chico também psicografou cerca de dez mil cartas para inúmeras famílias. As correspondências do lado de lá eram tidas como psicografias autênticas pelos familiares e algu-mas foram aceitas como provas em casos de julgamentos jurídicos. Com tudo isso, ele se tornou o maior nome do espiritismo, depois de Alan Kardec, que codificou a doutri-na.

Entre as obras que Chico Xavier deixou para Uberaba está o Grupo Espírita da Prece, que mantém o estudo do evangelho, o passe e as obras de caridade.

"Eles querem conhecer porque o Chico ficou conhecido

como mito. Então, eles ficam santificados pela bênção de chegar no lugar onde Chico conviveu ou passou. Procuram a energia, a essência de onde teve um ser diferenciado cha-mado Chico Xavier. Porque centros espíritas existem para todo o lado do país", explicou o filho do médium, Eurípedes Higino.

O mito Chico XavierAs histórias de milhares de pessoas mostram que, entre

todos os legados, o maior sem dúvida foi a própria vida de Chico Xavier, que serviu de exemplo para muitos e que mudou a trajetória de outros tantos, como a de Belmiro Chagas Neto.

O barbeiro conheceu a doutrina espírita quando confec-cionou uma peruca para Chico Xavier, e isso mudou para sempre a história dele, que até hoje se dedica a ajudar o próximo por meio do espiritismo. "A forma de viver, o por-quê estou aqui, o que vim fazer neste mundo. É uma missão nossa, é um compromisso nosso para seguir a doutrina espírita", relatou Neto.

Carlos Bacelli, que é um dos maiores estudiosos de Chico Xavier, explicou que o médium inspirou a criação de centenas de instituições espirituais no Brasil: escolas, hos-pitais, lares, creches, casas de apoio.

Quando foi morar em Uberaba, em 1959, havia menos de dez centros espíritas na cidade. Hoje, proporcionalmen-te, pode ser considerada a cidade mais espírita do mundo, com 140 casas espalhadas em diversos bairros.

"Chico Xavier e seu campo de atuação espiritual ainda não foram suficientemente abrangidos e nem compreendi-dos pelos próprios espíritas. Chico Xavier transcendia, extrapolava aquela figura humana, diminuta, que não tinha mais que 1,60m de altura. Era gigante em espírito e irradiava uma luz esplendorosa que contagiava e transfor-mava. O importante é que as pessoas, na presença de Chico Xavier, sentiam a vontade de serem melhores", ressaltou o pesquisador.

CHICO XAVIER: O LEGADO DO MAIOR LÍDER ESPÍRITA DO BRASIL QUE VIVEU EM UBERABA

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A Gazeta Espírita 07Julho de 2017

Por Marcus Vinicius de Azevedo Braga

O martelo das feiticeiras (Malleus Maleficarum Male-ficat & earum haeresim, ut framea potentissima conterens), obra alemã de 1487, com autoria atribuí-

da a Heinrich Kraemer e a James Sprenger, é um verdadeiro manual de combate a heresias, um guia para o processo de inquisição que manchou o cristianismo na Europa e nas Américas na segunda metade do segundo milênio, na triste-za das fogueiras onde se queimavam as intolerâncias e das salas de tortura que envergonharam a humanidade.

Parece distante no tempo esse cenário, mas eventos recentes trazem sua marca, como o ocorrido em fevereiro de 2017, na Nicarágua, no qual a Sra. Vilma Trujillo, de 25 anos, foi amarrada e queimada viva numa fogueira em uma tentativa de exorcismo promovida por um grupo cristão, e ainda, o linchamento em maio de 2014 da dona de casa Fabi-ane Maria de Jesus, de 33 anos, em Guarujá-SP, a partir de um boato de redes sociais de que ela sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra.

Ser cristão no mundo atual é ser perseguido em alguns locais, mas também é perseguir com atos de violência em tantos outros, com um espírito que afronta as ideias centrais de Jesus. O martelo ainda ecoa…

Essa intolerância etnocêntrica, pautada em um medo que se alimenta da ignorância, vitima todas as crenças não hegemônicas, em ocorrências que vão desde injúrias até a depredação de templos, expondo nosso lado mais hostil em relação aos outros e suas características[1]

Mas, além dessa discussão, da intolerância oriunda de outras religiões, o presente artigo traz à baila uma nova abordagem, da questão da intolerância endógena, do espiri-tismo com tudo que for mediúnico e que difira dele. Ques-tões oriundas de relações mal resolvidas com a mediunida-de.

Sim, o martelo ecoa também em nossas mentes, mas com um timbre diferente. O nosso país, surgido para o mundo ocidental poucos anos após a primeira edição de o “Martelo”, amargou na sua gênese não somente a sombra da inquisição, como teve as crenças indígenas e africanas proscritas, gerando a necessidade de um sincretismo que possibilitasse o exercício livre da prática religiosa desses grupos em seus aprisionamentos.

Essa inquisição que rotulou de bruxaria as religiões com traços mediúnicos oriundas dos escravos e dos nossos habi-tantes originais, se fez presente mesmo após a chamada abolição da escravatura e a Proclamação da República [2], dado que o Código Penal de 1890, que até 1942 ainda estava vigente, trazia no seu Art. 157 a previsão de crime “por se praticar o espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar de talismans (SIC) e cartomancias, para despertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar cura de molestais (SIC) curáveis ou incuráveis, enfim, para fascinar e subjugar a credulidade pública.”

Esse marcante temor da questão mediúnica, que traze-mos insculpido em nossas personalidades, por esse longo processo histórico sucintamente aqui descrito, associando o não hegemônico ao negativo, contaminou a prática medi-única no âmbito do próprio movimento espírita, revestindo essa de uma formalidade relevante, convertida em uma prática encapsulada, assustada e burocratizada, e por vezes, até negada como exercício de nossa espiritualidade.

Assim, ultrapassando os limites do respeito e da prudên-cia, essa formalidade torna a mediunidade na casa espírita um assunto para poucos, reservado, com um ar de sigilo, de mistério. Por vezes, visto como desnecessária, em uma postura curiosa em relação ao pedagogo francês que estu-dou esse fenômeno em salões de diversão.

A defesa do presente artigo é de que essa postura não é apenas uma questão de respeito pelos espíritos desencarna-dos, tratados por vezes como divindades[3], ou mesmo de apuro quanto aos escolhos da mediunidade, mas sim uma herança desse passado de proscrição da questão mediúnica, como motivo de vergonha e de medo.

Da mesma forma, muitas vezes no espiritismo torcemos o nariz para outras manifestações ditas espiritualistas, que têm práticas similares ao que fazemos no espiritismo, com a agregação de outras culturas, vistas muitas vezes pelos espíritas como inferiores, mistificadas, animismos, ainda que os espíritos insistam nas suas falas que não importa o local, pois onde houver trabalho no bem, lá eles estarão.

É mais um triste exemplo da lógica do Educador Paulo Freire, quando diz que se a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor, o que fazemos repetin-do o som do “Martelo” em nossas ações, quando tentamos moldar as relações mediúnicas aos nossos formatos, cheios desse medo antepassado, e de preconceitos de toda ordem.

Todo esse cenário se resume, por fim, em desprezo pela importantíssima dimensão espiritual na prática espírita, um fato que se reflete na carência literária, de estudos, e de palestras que adentrem mais amiúde nessa questão, geran-do fatos curiosos, da pessoa que frequenta a casa espírita e quando tem questões de foro mediúnico, termina por bus-car, meio que clandestinamente, essas casas espiritualistas.

Esse medo, esse aprisionamento, é diverso do espírito da doutrina de conhecer e pesquisar, de conviver e respeitar, buscando avançar sobre a ideia da “letra sagrada” para o campo do crescimento do conhecimento, nas trincheiras das discussões sobre energias, Chakras, materializações, apometria, transcomunicação instrumental e regressão de memória, o que só enriquece a chamada mediunidade com Jesus, que é essa na prática do bem, nas chamadas reuniões de desobssessão. Não existe esse muro.

Sob a batuta de taxar coisas de antidoutrinárias, fecha-mos portas ao conhecimento, aos avanços, à discussão,

encastelados em nossas posições, como se a prática espírita fosse uma coisa hermética e fossilizada no tempo. Kardec se posicionaria assim diante dessas questões nos dias de hoje?

Não se está advogando aqui a irresponsabilidade e a frivolidade com o tema, fiel ao espírito de Kardec no O livro dos Médiuns, e sim de enxergar que essa trajetória de perse-guição de nosso traço menos hegemônico nos marcou em uma visão encapsulada da prática mediúnica, varrida por vezes para baixo do tapete de nosso cotidiano espírita e que isso se reflete em medos, perseguições e negações.

Perceber isso – que o martelo ainda ecoa – e que a chama ainda arde, é um caminho para que rompamos esses mode-los de caçar demônios travestidos de obsessores, e de rene-gar práticas e conhecimentos que fujam do estreito aceitá-vel, elitizando e empobrecendo a prática mediúnica, ainda que ela insista em surgir na natureza de diversas formas, que contrariam dia a dia os nossos moldes.

[1] Para saber um pouco mais, recomendo ao artigo “A intolerância é uma palavra feia”, disponível em http://www.agendaespiritabrasil.com.br/2016/01/31/tolerancia-e-uma-palavra-feia/

[2] Para se aprofundar mais no assunto, recomendo o artigo “ O baixo espiritismo e a história dos cultos mediúni-cos”, de Emerson Giumbelli e disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/ha/v9n19/v9n19a10.pdf

[3] Esquecem o contido na Introdução de “O livro dos espíritos”: “O Espiritismo no-la mostra preenchida pelos seres de todas as ordens do mundo invisível e estes seres não são mais do que os Espíritos dos homens, nos diferentes graus que levam à perfeição”.

Fonte: blogabpe.org

O MARTELO AINDA ECOA, A CHAMA AINDA ARDE: A MEDIUNIDADE E A CAÇA ÀS BRUXAS

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A Gazeta Espírita08 Julho de 2017

A valiosa contribuição psicográfica do Apóstolo do Bem, Divaldo Franco, rendeu frutos sazonados com a produção de esclarecedores textos de natureza

psicológica redigidos pela Veneranda Joanna de Ângelis.São 16 volumes que integram a denominada Série Psi-

cológica, iniciando-se com o tocante Jesus e a atualidade e culminando com o expressivo Psicologia da gratidão.

O primeiro consiste na apresentação de vinte situações com ocorrências do cotidiano que aturdem a civilização, envolvendo amor, tolerância, justiça, dever, alegria, cora-gem, decisão, responsabilidade, posses, insegurança, sofri-mentos, entre outros assuntos, buscando respostas da con-duta humana na terapia de Jesus.

O segundo exalta a gratidão como roteiro de segurança a ser vivenciada em todos os momentos da existência corpo-ral, como um estado interior que resulta em alegria e paz.

Dentre esses mananciais de esclarecimento e consolo, há o segundo volume da série, cujo instigante título é O homem integral. Esta obra considera o grave momento por que passa a Humanidade, e faz um estudo de diversos fato-res de perturbação psicológica, procurando oferecer terapi-as de fácil aplicação, fundamentadas na análise do homem à luz do Evangelho e do Espiritismo, de forma a auxiliá-lo no equilíbrio e no amadurecimento emocional, com vistas à sua renovação e aquisição de saúde psicológica, tendo sem-pre como ser ideal Jesus, o Homem Integral de todos os tempos, por haver desenvolvido todas as aptidões herdadas de Deus, na condição do ser mais perfeito de que se tem notícia.

O homem integral esclarece que o Espiritismo, sinteti-zando diversas correntes de pensamento psicológico e estu-dando o homem na sua condição de Espírito eterno, apre-senta a proposta de um comportamento filosófico idealista, imortalista, auxiliando-o na equação dos seus problemas, sem violência e com base na reencarnação, apontando-lhe os rumos felizes que deve seguir.

É justamente nesse livro extraordinário que Joanna de Ângelis apresenta uma terapia liberativa do sofrimento. Em sua didática e sabedoria, a Mentora elenca quatro passos, constitutivos do caminho libertador, apresentados a seguir resumidamente:

1) Considerar todos os indivíduos como dignos de serem amados.

2) Identificar e estimular os traços de bondade do caráter alheio.

3) Aplicar a compaixão quando agredido.4) O amor deve ser uma constante na existência do

homem.

Vejamos como são conexas as etapas propostas por Joan-na. Retornemos um pouco e leiamos os itens 1 e 4 e, depois, os itens 2 e 3.

Para se libertar do sofrimento é preciso amar. Todas as pessoas são dignas de serem amadas, apenas para nos refe-rirmos ao ser humano em suas relações interpessoais. Para nossa felicidade, o amor deve estar presente em nossa vida. Todos somos irmãos, deveríamos constituir uma só família espiritual, pois somos filhos de um mesmo Pai, criaturas de um mesmo Criador. Enxergar o outro com respeito é sentir que o amor pleiteado a nosso favor é o amor que precisamos distribuir ao semelhante, sem preconceitos e em consonân-cia com o entendimento das diferenças que caracterizam a manifestação das individualidades.

Vários sofrimentos são gerados por ideias preconcebi-das ou por fazermos mau juízo do próximo, enxergando nele posturas inadequadas ou incomodativas, considerando que entendemos a realidade de modo distinto. A Mentora recomenda identificarmos e estimularmos os traços de bondade do caráter alheio, auxiliando-o em seu processo evolutivo. Todos, como seres divinos, trazemos latentes na intimidade do ser o deus interno, a consciência na qual está

registrada a lei de Deus, a nos possibilitar a distinção entre o certo e o errado, o bem e o mal. Assim, é preciso enxergar o lado bom das pessoas, para o nosso próprio bem. Quando vemos só o que é ruim, sofremos. Tornamo-nos pessimis-tas, negativos, amargos… Porém, quando nos predispomos a visualizar o mundo com lentes corretivas que nos facili-tam enxergar o belo, o bom e o útil, erradicamos de nossa mente o sofrimento e nos sentimos felizes.

A compaixão como saudável exercício para com aque-les que nos ofendem, magoam, ferem, prejudicam, é tam-bém terapia libertadora do sofrimento. É preciso ser com-passivo quando agredido. Jesus recomendou que revidásse-mos o mal recebido com o bem ativo que já trazemos no coração. Em O evangelho segundo o espiritismo, em seu capítulo 17, item 10, quando trata de O homem no mundo, Allan Kardec compila a significativa recomendação: “Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração dos que se reúnem sob as vistas do Senhor e imploram a assis-tência dos bons Espíritos.” Aplicar a piedade para com quem convivemos e que, direta ou indiretamente, nos atin-gem na sua maneira de agir e pensar, manifestando a exis-tência de naturais diferenças de posturas e comportamen-tos, é atitude virtuosa dos que se candidatam à conquista do Reino dos Céus por seus méritos próprios. Somos indivídu-os. Emmanuel, o guia espiritual de Chico Xavier, ensina-nos que Deus não cria duplicatas, apenas originais. Por isso, embora semelhantes, posto que irmãos, somos também diferentes em características a revelarem a personalidade que retrata nosso modo de ser em determinada encarnação ou existência física.

A melhor terapia para a libertação do sofrimento e con-quista da felicidade é o exercício do amor a Deus, do amor ao próximo e do amor a nós mesmos no cotidiano de nossas vidas.

COMO SE LIBERTAR DO SOFRIMENTO

por Geraldo Campetti Sobrinho

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A Gazeta Espírita 09Julho de 2017

Realizado a cada quatro anos, o Congresso Espírita de Mato Grosso que acontece de 17 a 20 de agosto, em Cuiabá, no Hotel Fazenda Mato Grosso, traz

como conferencistas, para essa sexta edição, 11 facilitado-res espíritas de renome nacional para que, através de suas conferências, fomentem reflexões inerentes à busca do ser enquanto espírito imortal a partir do tema do congresso, Amai-vos e Instruí-vos. O evento, que está sendo preparado para receber presencialmente duas mil pessoas, será trans-mitido ao vivo pelo site da Federação Espírita do Estado e pelo canal Febtv.

Presidente da Federação Espírita de Mato Grosso (Fe-emt), Lacordaire Faiad explica que todos os conteúdos que serão apresentados pelos conferencistas deverão convergir para o resgate reflexivo do pensamento que Allan Kardec, o codificador da doutrina espírita, buscou em Jesus. “Porque Jesus fazia esse exercício reflexivo em todas as suas con-versas, levando aqueles que se acercavam dele a um proces-so de reflexão de si para consigo e de si para com a vida”, comenta Lacordaire, que também será um dos palestrantes do evento.

Na esteira desse raciocínio acrescenta que o reviver do evangelho de Jesus em espírito e verdade é a proposta e a responsabilidade da doutrina espírita. Por isso, a escolha do tema amai-vos e instruí-vos como fio condutor do congres-so. Pontua que essa foi uma das orientações espirituais dita-das por Jesus, enquanto Espírito de Verdade, codificada por Allan Kardec, em 1861, e que consta do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo.

“Ao nos convidar ao amor e à instrução, Jesus nos leva a pensar não somente na educação formal e cognitiva, mas na educação do nosso ser. Talvez hoje dissesse: espíritas, amai-vos e educai-vos. Entendemos que é a educação dos sentimentos e das emoções que acontece através da auto-conscientização do amor às leis divinas e dos nossos esfor-ços íntimos para desenvolver as virtudes essenciais”.

Sobre o que chama de brisa reflexiva, Lacordaire acredi-ta que ela esteja chegando a várias áreas do conhecimento. E chama a atenção para esse importante exercício de auto-conhecimento. “Por exemplo, nós espíritas, quantas vezes sabemos as perguntas e as respostas contidas no Livro dos Espíritos ou os capítulos do Evangelho Segundo o Espiri-tismo, mas temos alguma dificuldade em entender, em refletir mais profundamente esses conteúdos para nossas vidas”.

Serão quase 20 horas de reflexão compartilhadas pelos facilitadores convidados, além das apresentações artísticas capitaneadas pelo Grupo Juventude Ativa, formado por jovens de várias casas espíritas adesas à Federação. E con-forme Saulo Gouveia, vice-presidente administrativo da Feemt, o evento também guarda em seu bojo o objetivo de oportunizar o convívio fraterno entre os congressistas.

Para isso, já há alguns meses, 50 voluntários trabalham na preparação do evento em diversas áreas e durante os quatro dias de congresso, esse número chegará a 150 tarefe-iros que deverão estar qualificados não só para acolher os participantes como também para dar fluidez às demandas pontuais na ocasião.

“Queremos que o evento se torne, a cada edição, mais fraterno, mais afetivo e mais acolhedor”, diz Saulo, ao justi-ficar a preparação prévia com envolvimento de tantas pes-soas. “Queremos oportunizar aos congressistas, além dos conteúdos oferecidos à luz da doutrina espírita, a real possi-bilidade da convivência fraterna”.

Palestras e palestrantes Entre os temas que serão abordados estão, Como desen-

volver o amor nas relações familiares (Alberto Almeida), O amor e a superação do sentimento de indiferença (Jorge Godinho), Como desenvolver o amor aos que nos perse-guem e caluniam (Gabriel Salum), Como desenvolver o amor a si mesmo (Sandra Borba), O espírita e a liderança

amorosa (Saulo Gouveia), O amor e a superação do senti-mento de vitimização (Lacordaire Faiad), O amor e a supe-ração das influências espirituais obsessivas (Suely Caldas), O amor e o cumprimento do propósito existencial (Afro Stefanini II), O meio prático para conhecer, compreender, amar e cumprir as leis divinas na consciência (Haroldo Dutra), O amor e a missão do espírito imortal (Alírio de Cerqueira Filho) e Como desenvolver o amor a Deus de todo coração, alma e entendimento (Geraldo Campetti). O médium Raul Teixeira é o convidado especial desta edição.

ServiçoAs inscrições para o 6º Congresso Espírita de Mato Gros-

so poderão ser feitas através do site www.feemt.org.br, em que também são encontradas outras informações sobre o congresso, como valores, palestrantes e a programação completa. Ou pelo telefone (65) 3644 2727. Para entrar em contato com a equipe de comunicação da Feemt : comuni-caçã[email protected] .

FEEMT REALIZARÁ CONGRESSO ESPÍRITA NO PRÓXIMO MÊS DE AGOSTO

Durante quatro dias milhares de pessoas ouvirão reflexões facilitadas por 11 expoentes do movimento no país

Presidente da Federação Espírita de Mato Grosso (Feemt), Lacordaire Faiad

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A Gazeta Espírita10 Julho de 2017

Com um tema bas tante suges t ivo , A TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM NA ERA DA REGENERAÇÃO, a Federação

Espírita do Maranhão realizará seu IV Congresso Espírita de 13 a 15 de outubro, no Centro de Conven-ções da UFMA.

Como sabemos, o planeta Terra passa por um momento de grande convulsão social, cataclismos de toda natureza, mudanças profundas de toda ordem, mostrando-nos que tudo aquilo que o Mestre falou no Evangelho, sobre o que aconteceria no final dos tempos, está realmente acontecendo. Mas, isso será o fim do mundo? O mundo vai mesmo se acabar? O que significa todas essas transformações por que passa a Humanidade?

De acordo com as palavras de Allan Kardec, no cap. XVIII de “A Gênese”, “Os tempos marcados por Deus são chegados, nos dizem de todas as partes, onde grandes acontecimentos vão se cumprir para a regeneração da Humanidade”. Já no item 27 do mesmo capítulo, é dito que “Para que os homens sejam felizes sobre a Terra, é necessário que ela não seja povoada senão por bons Espíritos, encarnados e desencarnados, que não quererão senão o bem”.

Assim, observamos que a Terra passa por uma fase de Transição, saindo de um planeta de Provas e Expiações para um mundo de Regeneração, onde o homem precisa se transformar para poder reencarnar nessa nova Terra em que o mal não mais prevalecerá. Por isso as mudanças, as transformações em todos os aspectos, numa preparação para poder receber esse homem novo que irá habitar o novo mundo.

Respondendo ao questionamento ora apresenta-do, acreditamos que não, que o mundo não vai se acabar, apenas se acabará o homem velho, cheio de vícios, para dar lugar ao homem crítico, espirituali-zado, que tem o bem e o amor como foco central de sua vida, pautada no Evangelho de Jesus à luz da Dou-trina Espírita. Haverá mudanças, mas não será o fim.

Nada mais adequado, portanto, que o tema esco-l h i d o p a r a e s t e I V C o n g r e s s o s e j a “ A TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM NA ERA DA REGENERAÇÃO”. Acompanhado de subtemas,

em forma de seminários e palestras, que aprofundam o tema central, como: A Transição Planetária e os Novos Tempos, O Papel do Espiritismo na Era da Regeneração, Alvorada Cristã, A importância do amor na fase de transição, O compromisso ético da nova geração, O papel da educação na transformação do homem, A fé racionada em tempo de regeneração, São chegados os tempos!, A Pátria do Evangelho e a Transição Planetária, A Transição Planetária e o Evangelho. A partir dessas palestras e seminários, teremos a oportunidade de apreciar os diversos expo-sitores que nos darão uma visão mais detalhada do que realmente está acontecendo e do que ainda está por vir.

Estarão conosco, para nos falar sobre todos esses assuntos, expositores renomados dentro do Movi-mento Espírita nacional e internacional: Alberto

Almeida (PA), André Peixinho (BA), Sandra Borba (RN) e Haroldo Dutra (BH).

Com o Espiritismo, exercendo o seu papel de Con-solador e Esclarecedor da Humanidade, teremos melhores condições de enfrentar os momentos de muita dor e sofrimento, violência e desequilíbrio, entendendo porque tudo está acontecendo e encon-trando os meios que nos aliviam e nos dão a oportuni-dade de ajudar os que estão conosco nesta jornada evolutiva.

Vamos participar deste grande evento do Movi-mento Espírita do nosso Estado que, além de propor-cionar momentos agradáveis de confraternização com os nossos amigos de vários lugares, fará com que possamos entender melhor o atual momento de mudança e consequentemente nos mostrará o cami-nho seguro para nossa transformação moral.

IV CONGRESSO ESPÍRITA DO MARANHÃO

O Centro de Convenções da UFMA, possui área de 8.802m² para contar com capacidade de mais de cinco mil pessoas. O espaço também conta com 4 miniauditórios com capacidade de 100 pessoas, uma cozinha industrial, uma cantina, salas de administração, almoxarifado, sala de som e setor administrativo.

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A Gazeta Espírita 11Julho de 2017

Nascido em 1º de maio de 1880, na pequena cidade de Sacramento, Estado de Minas Gerais, e desencarna-do na mesmo cidade, aos 38 anos de idade, em 1º de

novembro de 1918.Logo cedo manifestou- se nele profunda inteligência e

senso de responsabilidade, acervo conquistado natural-mente nas experiências de vidas pretéritas.

Era ainda bem moço, porém muito estudioso e com ten-dências para o ensino, por isso foi incumbido pelo seu mes-tre- escola de ensinar aos próprios companheiros de aula. Respeitável representante político de sua comunidade, tornou- se secretário da Irmandade de São Vicente de Paula, tendo participado ativamente da fundação do jornal "Gaze-ta de Sacramento" e do "Liceu Sacramentano". Logo viu- se guindado à posição natural de líder, por sua segura orienta-ção quanto aos verdadeiros valores da vida.

Despertado e convicto, converteu- se sem delongas e sem esmorecimentos, identificando-se plenamente com os novos ideais, numa atitude sincera e própria de sua persona-lidade, procurou o vigário da Igreja matriz onde prestava sua colaboração, colocando à disposição do mesmo o cargo de secretário da Irmandade.

Repercutiu estrondosamente tal acontecimento entre os habitantes da cidade e entre membros de sua própria famí-lia. Em poucos dias começou a sofrer as conseqüências de sua atitude incompreendida.

Persistiu lecionando e entre as matérias incluiu o ensino do Espiritismo, provocando reação em muitas pessoas da cidade, sendo procurado pelos pais dos alunos, que chega-ram a oferecer- lhe dinheiro para que voltasse atrás quanto à nova matéria e, ante sua recusa, os alunos foram retirados um a um.

Sob pressões de toda ordem e impiedosas perseguições, Eurípedes sofreu forte traumatismo, retirando- se para tra-tamento e recuperação em uma cidade vizinha, época em que nele desabrocharam várias faculdades mediúnicas, em especial a de cura, despertando- o para a vida missionária. Um dos primeiros casos de cura ocorreu justamente com sua própria mãe que, restabelecida, se tornou valiosa asses-sora em seus trabalhos.

A produção de vários fenômenos fez com que fossem atraídas para Sacramento centenas de pessoas de outras paragens, abrigando- se nos hotéis e pensões, e até mesmo em casas de famílias, pois a todos Barsanulfo atendia e nin-guém saía sem algum proveito, no mínimo o lenitivo da fé e a esperança renovada e, quando merecido, o benefício da cura, por meio de bondosos Benfeitores Espirituais.

Auxiliava a todos, sem distinção de classe, credo ou cor e, onde se fizesse necessária a sua presença, lá estava ele,

houvesse ou não condições materiais.Jamais esmorecia e, humildemente, seguia seu caminho

cheio de percalços, porém animado do mais vivo idealismo. Logo sentiu a necessidade de divulgar o Espiritismo, aumentando o número dos seus seguidores. Para isso fun-dou o "Grupo Espírita Esperança e Caridade", no ano de 1905, tarefa na qual foi apoiado pelos seus irmãos e alguns amigos, passando a desenvolver trabalhos interessantes, tanto no campo doutrinário, como nas atividades de assis-tência social.

Certa ocasião caiu em transe em meio dos alunos, no decorrer de uma aula. Voltando a si, descreveu a reunião havida em Versailles, França, logo após a I Guerra Mundial, dando os nomes dos participantes e a hora exata da reunião quando foi assinado o célebre tratado.

Em 1º de abril de 1907, fundou o Colégio Allan Kardec, que se tornou verdadeiro marco no campo do ensino. Esse instituto de ensino passou a ser conhecido em todo o Brasil, tendo funcionado ininterruptamente desde a sua inaugura-ção, com a média de 100 a 200 alunos, até o dia 18 de outu-bro, quando foi obrigado a cerrar suas portas por algum tempo, devido à grande epidemia de gripe espanhola que assolou nosso país.

Seu trabalho ficou tão conhecido que, ao abrirem- se as inscrições para matrículas, as mesmas se encerravam no mesmo dia, tal a procura de alunos, obrigando um colégio da mesma região, dirigido por freiras da Ordem de S. Fran-cisco, a encerrar suas atividades por falta de freqüentado-res.

Liderado a pulso forte, com diretriz segura, robustecia- se o movimento espírita na região e esse fato incomodava sobremaneira o clero católico, passando este, inicialmente de forma velada e logo após, declaradamente, a desenvol-ver uma campanha difamatória envolvendo o digno missio-nário e a doutrina de libertação, que foi galhardamente defendida por Eurípedes, por meio das colunas do jornal "Alavanca", discorrendo principalmente sobre o tema: "Deus não é Jesus e Jesus não é Deus", com argumentação abalizada e incontestável, determinando fragorosa derrota dos seus opositores que, diante de um gigante que não conhecia esmorecimento na luta, mandaram vir de Campi-nas, Estado de S. Paulo, o reverendo Feliciano Yague, famo-so por suas pregações e conhecimentos, convencidos de que com suas argumentações e convicções infringiriam o golpe derradeiro no Espiritismo.

Foi assim que o referido padre desafiou Eurípedes para uma polêmica em praça pública, aceita e combinada em termos que foi respeitada pelo conhecido apóstolo do bem.

No dia marcado o padre iniciou suas observações, insul-

tando o Espiritismo e os espíritas, "doutrina do demônio e seus adeptos, loucos passíveis das penas eternas", numa demonstração de falso zelo religioso, dando assim testemu-nho público do ódio, mostrando sua alma repleta de intole-rância e de sectarismo.

A multidão que se mantinha respeitosa e confiante na réplica do defensor do Espiritismo, antevia a derrota dos ofensores, pela própria fragilidade dos seus argumentos vazios e inconsistentes.

O missionário sublime, aguardou serenamente sua opor-tunidade, iniciando sua parte com uma prece sincera, humilde e bela, implorando paz e tranqüilidade para uns e luz para outros, tornando o ambiente propício para inspira-ção e assistência do plano maior e em seguida iniciou a defe-sa dos princípios nos quais se alicerçavam seus ensinamen-tos.

Com delicadeza, com lógica, dando vazão à sua inteli-gência, descortinou os desvirtuamentos doutrinários apre-goados pelo Reverendo, reduzindo- o à insignificância dos seus parcos conhecimentos, corroborado pela manifestação alegre e ruidosa da multidão que desde o princípio confiou naquele que facilmente demonstrava a lógica dos ensinos apregoados pelo Espiritismo.

Ao terminar a famosa polêmica e reconhecendo o estado de alma do Reverendo, Eurípedes aproximou- se dele e abraçou- o fraterna e sinceramente, como sinceros eram seus pensamentos e suas atitudes.

Barsanulfo seguiu com dedicação as máximas de Jesus Cristo até o último instante de sua vida terrena, por ocasião da pavorosa epidemia de gripe que assolou o mundo em 1918, ceifando vidas, espalhando lágrimas e aflição, redo-brando o trabalho do grande missionário, que a previra muito antes de invadir o continente americano, sempre falando na gravidade da situação que ela acarretaria.

Manifestada em nosso continente, veio encontrá-lo à cabeceira de seus enfermos, auxiliando centenas de famíli-as pobres. Havia chegado ao término de sua missão terrena. Esgotado pelo esforço despendido, desencarnou no dia 1o. de novembro de 1918, às 18 horas, rodeado de parentes, amigos e discípulos.

Sacramento em peso, em verdadeira romaria, acompa-nhou- lhe o corpo material até a sepultura, sentindo que ele ressurgia para uma vida mais elevada e mais sublime.

Fonte: Grandes Vultos do Espiritismo.

EURÍPEDES BARSANULFOBIOGRAFIA

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A Gazeta Espírita12 Julho de 2017

Agostinho nasceu a 13 de novembro de 354, em Tagaste, pequena cidade da atual Argélia. Na cidade natal transcorreram sua infância e juventude, um

ambiente limitado de um povoado perdido entre monta-nhas.

Talhado para a oratória, ele lê e decora trechos de poetas e prosadores latinos. Aprende elementos de música, física e matemática.

Em Cartago fez seus estudos superiores e ali também entrou em contato com a alegria e esplendor das cerimônias em honras aos deuses protetores do Império.

Embora seja descrito como um jovem ponderado, dedi-cado aos livros, ele confessa que "amar e ser amado era uma coisa deliciosa". Ele passou a viver com uma mulher a quem foi fiel, tendo se tornado pai em 373, com apenas 19 anos. Seu filho, de nome Adeodato, morreria aos 17 anos.

Desejava se destacar na eloqüência, confessa, por orgu-lho. Desejava ser o melhor. Um livro de Cícero o alerta que "a verdadeira felicidade reside na busca da sabedoria."

Retorna à sua cidade natal e se dedica ao ensino, por treze anos, depois ensina em Cartago e Roma. Dedicou-se ao estudo das Escrituras, contudo, achou seu estilo tão sim-ples que se desiludiu e o abandonou.

Em Milão parecia ser um homem feliz: pago pelo Esta-do, personagem quase oficial (ocupava a cátedra da elo-qüência), respeitado como professor. No entanto, ele se mostra inquieto. Busca a verdadeira alegria e não a encon-tra.

Afeiçoou-se ao maniqueísmo, doutrina do profeta persa Mani. Após 12 anos, insatisfeito com as respostas que a doutrina não lhe dava, recomeça a ler os Evangelhos e assis-

tir os sermões do bispo Ambrósio, que o recebeu como um pai.

Uma canção infantil, na voz cristalina de uma criança que insiste "Toma, lê", faz com que ele procure o livro a respeito de São Paulo e retorne em definitivo ao cristianis-mo.

Sua vida daquele momento em diante seria meditar, escrever livros, discursar. Em 391, é chamado a Hipona, um grande centro comercial de cerca de 30.000 habitantes. Cinco anos depois seria sagrado bispo auxiliar de Hipona.

Grande era a luta, à época contra as chamadas heresias. Agostinho, sempre orador oficial, nos sínodos e concílios em Cartago nunca esquece que "mais valioso que a palavra é o amor fraterno... Os olhos dos doentes queimam, por isso são tratados com delicadeza... Os médicos são delicados até com os doentes mais intolerantes: suportam o insulto, dão o remédio, não revidam as ofensas."

As palavras que mais aparecem em seus escritos são amor e caridade. Por vezes, desenvolvendo uma idéia inter-rompe seu raciocínio para deixar escapar gritos de amor a Deus: "Ó Senhor, amo-Te. Tu estremeceste meu coração com a palavra e fizeste nascer o amor por Ti. Tarde Te amei, ó Beleza tão amiga e tão nova, tarde Te amei... Tocasteme, e ardo de desejo de alcançar a Tua paz."

Duas vezes por semana falava na Igreja da Paz. Certa vez, discorrendo a respeito de São João se entusiasmou de tal forma que pregou durante cinco dias consecutivos, sem-pre aplaudido.

Mas, dizia: "Vossos louvores são folhas de árvores; gos-taria de ver os frutos." Tal era a admiração que tinham por Agostinho, que chegaram a acreditar que ele fosse capaz de

produzir curas e lhe levavam doentes."Se eu tivesse poder para curar", dizia, "curaria a mim

mesmo".A doença que o tomou durou poucos dias. Percebendo

que se avizinhava a morte, pediu que o deixassem a sós, para orar.

Morreu na noite de 28 para 29 de agosto de 430, aos 76 anos. Não deixou testamento, mesmo porque não tinha bens.

Os pintores medievais o retratam com o livro na mão e o coração em chamas. O livro simboliza a ciência, o coração inflamado, o amor. Sabedoria e amor foram os seus dons inseparáveis.

Interessante anotar que embora seja sempre retratado com muita pompa e luxo, mesmo como bispo ele se recusa-va a usar o anel e a mitra.

Esse espírito foi convidado a participar da equipe do Espírito da Verdade e suas ponderações podem ser encon-tradas em vários momentos da Obra Kardequiana, entre eles em O Livro dos Espíritos (prolegômenos, resposta às questões 495, 919 e 1009), O Evangelho segundo o Espiri-tismo (cap. III, itens 13 e 19; cap. V, item 19; cap. XII, itens 12 e 15; cap. XIV, item 9; cap. XXVII, item 23), O Livro dos Médiuns (cap. XXXI, dissertações de número 1 e XVI - Acerca do Espiritismo / Sobre as Sociedades Espíritas).

Fonte: Grandes personagens da História Universal, vol. 1 (Abril Cultural); O Livro dos Espíritos; O Evange-lho segundo o Espiritismo; O Livro dos Médiuns.

BIOGRAFIA

SANTO AGOSTINHO

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A Gazeta Espírita 13Julho de 2017

Uma pergunta muito comum que as pessoas fazem é:

“Se Deus é infinitamente bom, justo e misericordi-oso, por que Ele permite tantos sofrimentos no mun-do?”

Vamos responder essa pergunta com uma pequena estória, para que todos possam compreender a permis-são de Deus sobre nossos sofrimentos.

Havia um rapaz que recentemente enveredara pelo caminho das drogas. Seu pai muito o aconselhou para não seguir este direcionamento na vida, mas o rapaz não o ouviu. Experimentou algumas drogas e após um tempo não conseguia mais parar de usar. O pai con-versou com ele e insistiu que ele fizesse um tratamen-to. O rapaz recusou. O pai tentou mais uma vez e o rapaz não o ouviu.

Seu pai então providenciou que ele fosse internado numa clínica de reabilitação antidrogas. O filho fez todo o tratamento, se desintoxicou e foi liberado. No entanto, duas semanas depois já estava se drogando novamente. O pai decidiu mais uma vez leva-lo a uma clínica e fez todo o tratamento, mas assim que recebeu alta, novamente foi se drogar. O pai o internou cinco vezes, mas em todas as oportunidades o filho retoma-

va o antigo padrão e voltava a suar drogas.

O pai, desesperado, já não sabia mais o que fazer. Decidiu então que nada mais poderia ser feito, pois o filho simplesmente não correspondia, não reagia e tampouco queria ser ajudado. Ele desejava continuar mergulhado no mundo das drogas e nada do que o pai fizesse poderia lhe tirar desse caminho. O pai então decidiu que permitiria que o filho vivesse essas expe-riências para que chegasse sozinho a conclusão. Um dia ele entenderia o malefício das drogas e que, na verdade, ele estava se destruindo.

O filho então saiu de casa e passou a praticar rou-bos. Ele vivia de assalto em assalto, pois só assim con-seguia usar as drogas e se alimentar. Tornou-se um marginal e logo virou um traficante conhecido. Certo dia levou um tiro numa guerra entre facções para con-trole de uma boca de fumo. Foi para o hospital, ficou em coma por semanas e depois voltou. Assim que retomou a consciência, decidiu que largaria esse cami-nho…

Essa estória ilustra um pouco o que acontece com o ser humano neste mundo. Como um pai pode ajudar um filho que não deseja ouvi-lo e quer permanecer no

caminho do erro e da ilusão? Podemos tentar orienta-lo de várias formas, dar o tratamento adequado, mas se a pessoa insiste no erro, é necessário permitir que ela sofra as consequências de suas próprias ações. É mais ou menos assim que funciona o sofrimento huma-no. Deus procura enviar diversos tipos de mensagens sobre os erros que cometemos, mas nós não O ouvi-mos e não mudamos de caminho; insistimos no erro e na ilusão. O homem insiste em permanecer na embria-guez das ilusões do mundo, e Deus autoriza que venha a dor, o sofrimento, o desespero, as perdas, etc., para liberta-lo.

Dessa forma, Deus autoriza o sofrimento para que, somente assim, possamos encontrar o caminho real e nos transformar. Se as pessoas querem viver de tal modo a criar o sofrimento para si mesmas, Deus per-mite que isso seja feito para que elas possam aprender e despertar para a realidade. Nesse sentido, o sofri-mento acaba sendo a única forma do espírito acordar dos sonhos e miragens mundanas que criou para si mesmo.

Fonte: Mensagens Espiritas

Por Hugo Lapa

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A Gazeta Espírita14 Julho de 2017

Por Izabel Vitusso

Como é bom lembrar que no Brasil pode-mos contar com um sem-número de casas espíritas, oferecendo socorro espiritual,

acolhimento fraterno, oportunidade de estudo e orientação. Quem já precisou de socorro neste quesito fora do país entende o valor desta grande oferta de núcleos espíritas ao nosso dispor.

A forma como cada um deles teve início é a mais variada. Alguns surgiram ainda no século 19. Os registros apontam para o ano de 1865 o marco da fundação da primeira casa espírita do Brasil, o Grupo Familiar de Espiritismo, na cida-de de Salvador, BA. Hoje, somam-se cerca de 15 mil em todo o Brasil1.

Os vínculos espirituais também são os mais variados. Frequentemente eles acontecem pela identificação do centro com um grupo de assis-tência do plano espiritual, capitaneado por traba-lhadores expoentes do movimento espírita e sua equipe, missionários que abraçaram a causa e se mantêm incansáveis na tarefa de assistência na crosta terreste.

Quando não, o inverso. O planejamento da fun-dação da casa espírita vem como consequência dos anseios da espiritualidade maior. Impossível generalizar.

Mas o que importa é saber da grande responsa-bilidade que envolve a fundação de uma casa espí-rita, de mais um foco de luz na grande ciranda da fraternidade.

O que aconteceu com o casal Francisco e Nena Galves a partir de 1959 ilustra isso muito bem e evidencia todo o cuidado dispensado pela espiri-tualidade maior junto ao núcleo que se forma para servir na seara do Jesus.

Nena e Francisco Galves já frequentavam algu-mas casas espíritas na cidade de São Paulo e tive-ram despertada a vontade de conhecer o médium mineiro Chico Xavier. Partiram os dois com um grupo de vinte frequentadores e dirigentes espíri-tas para Uberaba, MG. Só não imaginavam o impacto que teriam e um novo mundo que se abri-ria depois daquela viagem.

É Nena quem conta:"Maio de 1959 é data que recordamos com

imensa alegria. O encontro com o médium fez florescer na memória atual reencarnações passa-das na Espanha e na França. Chico nos confiden-ciou que nos reconheceu imediatamente. Galves e eu sentimos uma atração imensa, uma grande afei-ção, e quando Chico tomou as mãos de Galves e as minhas entre as suas e as beijou, tivemos a cer-teza de que elas já haviam estado unidas num pas-sado distante."2

"A força do amor materializava-se em forma de homem de pequena estatura e de gestos lentos, ensinando-nos a andar certos e seguros, sem tro-peços. (...) Estávamos longe de imaginar que aque-la atenção representava trabalho e alegria futuros. (...) Nesse dia, senti-me mais esposa, mais mãe, mais filha. Um ser que renascia diante de um pai

espiritual que acabava de reencontrar, enfim."Nas visitas constantes de Nena e Francisco Gal-

ves ao médium (acabaram se tornando amigos íntimos), as orientações da espiritualidade foram chegando, com o respeito próprio da espirituali-dade superior à condição de cada um, observando o tempo de maturação do casal e de todo o grupo que aos poucos se estruturava.

Em 1965, Bezerra de Menezes orientaria:"A ideia do grupo íntimo com a finalidade de

desobsessão é um plano feliz, para cuja execução rogamos o amparo da providência divina. O con-junto pequeno, como é necessário à formação de corações fraternos, poderá reunir-se uma vez por semana, à noite, e pouco a pouco as diretrizes virão, de vez que é aconselhável dar tempo ao tempo e verificar o desenvolvimento da nova plan-ta de amor fraternal na terra do Cristo."

Em outra mensagem, Bezerra atenta para o esforço necessário no desenvolvimento moral e no sentimento de fraternidade para a sustentação de uma obra para o bem. Antes de erguidas as pare-des da casa espírita, há que se ter a edificação men-tal:

"É preciso nos decidamos levantar a constru-ção íntima, aquela que se baseia no ajuste dos cora-ções fraternos em uma obra de elevação espiritual em comum. Continuemos na tarefa da edificação mental, na certeza de que já podemos contar com o amparo da construção externa."

E, por fim, a orientação que revela a sutileza da presença da espiritualidade na base dos trabalhos de uma casa espírita, que nos apoia de maneira incondicional, mas que respeita sempre o direito de fazermos nossas escolhas.

"Através da inspiração, trocaremos ideias todos juntos acerca dos alicerces espirituais do conjunto em via de se formar."

Dois anos depois, o Centro Espírita União3 abriria suas portas no bairro Jabaquara, com um significativo trabalho de assistência social e espi-ritual, e até hoje, cinquenta anos depois, o laborio-so casal continua à frente, junto com o grande tare-feiro, dr. Bezerra de Menezes, assistindo necessi-tados e despertando corações para a verdadeira ciranda de amor e de luz.

Referências1- Estimativa de FEB.2- Até sempre, Chico Xavier, Nena Galves,

CEU, 2008.3- www.centroespiritauniao.org Publicado no jornal Correio Fraterno - Edição

475 - maio/junho 2017

A VERDADEIRA EDIFICAÇÃO

Francisco e Nena Galves: 50 anos de trabalho no Centro Espírita União

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A Gazeta Espírita 15Julho de 2017

Por Cláudio Conti

No primeiro capítulo do livro A Gênese, Kardec trata das três principais revelações, que são as de Moisés, de Jesus e do Espiritismo. Com

relação às revelações de Moisés, podemos dizer que a mais importante seria o conceito de Deus único trazido no seio de um povo politeísta e que passou a servir de norte para questões concernentes à divindade, simpli-ficando as práticas de adoração.

Conceitos relativos a Deus sempre serão de difícil entendimento para o espírito ainda não evoluído, pois não se tem uma experiência concreta logo de imediato, são conceitos abstratos que devem ser elaborados e desenvolvidos através de práticas religiosas para, depo-is de exercitadas, serem aplicadas na vida cotidiana. Atingindo a plenitude à experiência de Deus, este deixa de ser abstrato para ser concreto, momento em que surge a certeza de sua existência e não mais a pura crença.

Em decorrência desta dificuldade, a crença na exis-tência de vários deuses acarreta uma complexidade ainda maior, cuja extensão dependerá do número de deuses em que se crê existir, pois, invariavelmente, haverá discussões e conflitos acerca de qual seria o

melhor e maior, tipo de rituais, preferências pessoais etc.

As dificuldades decorrentes deste tipo de crença são melhor compreendidas quando comparamos o comportamento humano diante dos times de futebol e partidos políticos, onde, muitas vezes, perde-se o con-trole e reações mais arbitrárias ocorrem, quando não violentas.

Todavia, apesar de convivermos com a revelação do Deus único por mais de quatro mil anos, ainda encontramos comportamento politeísta em grande escala na parte ocidental do planeta. O grande proble-ma atualmente não é a crença politeísta de agrupamen-tos e povos como na época de Moisés, mas por ocorrer em nível de países.

Desde algum tempo até os dias atuais, a questão principal deixou de ser o politeísmo claro, consistindo de diferentes deuses representando coisas específicas, mas um politeísmo velado, muitas vezes com um único nome ou representando definições semelhantes, mas conceitos que podem ser muito diferentes. Tor-nou-se comum ouvir frases do tipo: "creio em deus, mas não no deus das religiões"; "o deus desta ou daquela religião" etc., demonstrando a existência de

variados conceitos acerca da divindade.Encontramos comportamento politeísta entre gran-

des religiões de origem comum no acidente, com cada uma considerando "possuir" o deus mais forte e mais sábio. Destas divergências de opinião surge a intole-rância religiosa, da mesma forma que a intolerância política ou do futebol, chegando à culminância das guerras em nome destes diferentes conceitos de deus.

Desta forma, pode-se até considerar o monoteísmo vigente no seio dos adeptos de uma mesma religião ou vertente de pensamento, mas existe uma multiplicida-de entre as diferentes religiões ou vertentes de pensa-mento.

Percebe-se, portanto, que a vivência em acordo com o conceito de Deus apresentado por Kardec no capítulo dois do livro A Gênese, isto é, uma postura pacífica e pacifista perante a vida e os outros, é muito mais adequado do que a crença ou não da existência de Deus, como se tem a possibilidade de se verificar em adeptos de certas vertentes filosóficas.

Esta abordagem não contradiz com os ensinamen-tos de Jesus, pois, segundo ele, os mandamentos podem ser resumidos em dois: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo". Devido à semelhança dos dois conceitos, alguém somente pode amar a Deus se amar ao próximo, assim sendo, quem ama ao próxi-mo, por definição, também amará a Deus independen-temente da sua crença.

Nos escritos de C. G. Jung disponibilizados há pou-cos anos no livro conhecido como O Livro Vermelho, encontra-se uma colocação muito interessante e que pode perfeitamente ser entendido à luz dos manda-mentos segundo Jesus. Diz Jung: "Ninguém possui meu Deus, mas meu Deus possui a todos, inclusive a mim. Os deuses de todas as pessoas individuais possu-em sempre todas as outras pessoas, inclusive a mim mesmo".

Quando a humanidade chegar à condição de com-preender que a interpretação pessoal de Deus deve considerar que Ele ama a todos indiscriminada e inde-pendentemente de qualquer outra coisa, será possível, finalmente, contar este como figurando entre os mun-dos de regeneração.

BibliografiaA. Kardec; A Gênese – Os Milagres e as Predições

Segundo o Espiritismo; 36ª edição, FEB, [1868] 1995.C. G. Jung; O Livro Vermelho - Liber Novus; 2ª

edição, Editora Vozes, 2013, pg 155.Fonte: Correio Espírita

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A Gazeta Espírita16 Julho de 2017

Por Dalva Silva Souza“E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões.” Joel 2:28

A metáfora “Janelas para o Além”, que serve de título a este texto, é da letra da música “Elos”, composição do Grupo Bem, melodia muito cantada nos Encon-

tros de Mocidades Espíritas promovidos, anualmente, nos feriados de Carnaval, pela Feees. De fato, aquele que traz a potencialidade mediúnica fica entre duas realidades, como a janela que, numa casa, de alguma maneira, liga o mundo da intimidade do lar com a vida lá de fora. Hermínio Correia de Miranda, falando da experiência da médium Regina, informa que janelas se abrem diante dela, mostrando cená-rios inacessíveis à percepção dos circunstantes.

Nos tempos do Velho Testamento, os profetas eram cria-turas que se destacavam do povo em geral por produzirem fenômenos extraordinários, eram potentes médiuns, mas a profecia em epígrafe nos informa que haveria um tempo em que os fenômenos deixariam de ser raros, passariam a espa-lhar-se sobre as criaturas independentemente de gênero ou idade. Pelo que temos experimentado nos dias que correm, estamos vivendo os tempos preditos e se multiplicam os indivíduos portadores dessas faculdades extraordinárias, tão bem estudadas pelo Espiritismo.

Observamos que a capacidade de interagir ou de comu-nicar-se com os semelhantes é inerente ao ser humano de maneira geral, mas, quando indivíduos que se comunicam estão em planos diferentes, sendo este encarnado e aquele desencarnado, há um componente que se interpõe: o corpo físico. Há, por isso, a necessidade de que esse componente seja especificamente constituído para permitir os efeitos patentes dessa interação, abrindo janelas para a outra reali-dade. Na linguagem bíblica é o derramamento do espírito sobre a carne que produz esse efeito e, de fato, na encarna-ção, o Espírito atua pelo seu períspirito na constituição do corpo físico que utilizará ao longo de sua trajetória nos cená-rios terrenos. Nestes tempos, por determinação divina, muitos se apresentam sensíveis e aptos à produção do fenô-meno mediúnico

Quem tem mediunidade ostensiva, contudo, não é necessariamente um ser evoluído e moralizado, é alguém que, por determinação superior, recebeu uma ferramenta importante de trabalho que deve ser utilizada principalmen-te para seu próprio aperfeiçoamento. Mas a faculdade medi-única, sem o correto direcionamento, pode gerar distúrbios do comportamento psicológico, orgânico ou mental e pro-vocar perturbações na vida do indivíduo, envolvendo tam-bém sua família, embora esse não seja o objetivo da Provi-dência Divina, quando determina para o indivíduo a possi-bilidade de abrir janelas para o Além.

A Doutrina Espírita pode orientar aqueles que nasceram com a predisposição para o transe mediúnico, oferecendo-lhes todos os subsídios, para a aplicação adequada do potencial que trouxeram ao reencarnar. Ela vem cumprir uma promessa de Jesus, quando armou que nos enviaria um Consolador, para lembrar seus ensinos e acrescentar outros esclarecimentos que, àquela época, não conseguiríamos compreender. No tempo previsto (século XIX), Allan Kar-dec codificou esta maravilhosa Doutrina e concretizou a promessa do Cristo. As obras básicas do Espiritismo ensi-nam que cada um deve tornar-se útil, de acordo com as faculdades e os meios que Deus lhe pôs nas mãos. O indiví-duo precisa, portanto, traçar um plano consistente de educa-ção e aplicação do seu potencial mediúnico, ostensivo ou latente, a m de ser peça ajustada no mundo, nestes tempos em que se cumprem as profecias do Senhor de derramar de seu espírito sobre toda a carne. Como instrumento de traba-lho, a mediunidade pode levar o indivíduo ao progresso, por oferecer significativa contribuição ao bem geral. Ser médi-um é ligar o mundo físico ao mundo espiritual, permitindo aos desencarnados sofredores a orientação de que necessi-tam e possibilitando aos bons Espíritos a chance de nos trazerem a mensagem de consolo e esperança.

Allan Kardec propõe para a mediunidade um conceito amplo e um restrito. Segundo o conceito restrito, o termo se aplicaria mais especificamente àqueles em quem a faculda-de se traduza por efeitos patentes, de certa identidade: “(...) o que depende de uma organização mais ou menos sensiti-va.”¹ A palavra organização refere-se à constituição física do ser, então a mediunidade propriamente dita, que se mani-festa por efeitos observáveis, depende de um corpo físico dotado de sensibilidade. Ratificando essa proposição, encontramos a seguinte pergunta e sua respectiva resposta:

“10 - O desenvolvimento da mediunidade guarda rela-

ção com o desenvolvimento moral dos médiuns? - Não; a faculdade propriamente dita se radica no orga-

nismo; independe do moral.” ²Há, pois, uma dependência entre mediunidade e orga-

nismo. Se não houvesse a necessidade de uma organização específica para a produção do fenômeno mediúnico, todos seriam capazes de produzir qualquer fenômeno. A expe-riência, entretanto, prova que não é assim. Daí a assertiva de Kardec: “Geralmente, os médiuns têm uma aptidão especi-al para os fenômenos desta, ou daquela ordem, donde resul-ta que formam tantas variedades, quantas são as espécies de manifestações.” ³

Ensinam os Espíritos:“Os órgãos são os instrumentos da manifestação das

faculdades da alma, manifestação que se acha subordina-da ao desenvolvimento e ao grau de perfeição dos órgãos, como a excelência de um trabalho o está à da ferramenta própria à sua execução.”

É preciso entender, pois, que o corpo físico é instrumen-to de manifestação do Espírito. A faculdade de comunicar-se é do Espírito, mas a sua exteriorização no plano físico depende do organismo. Ser uma janela para o Além é um desafio que precisa ser encarado a sério. Há um projeto divino para esta época de transição, e ser chamado a essa tarefa representa uma responsabilidade que não pode ser transferida a outrem.

“Quem tem mediunidade ostensiva, contudo, não é necessariamente um ser evoluído e moralizado, é alguém que, por determinação superior, recebeu uma ferramenta importante de trabalho que deve ser utilizada principal-mente para seu próprio aperfeiçoamento.”

Afirma o Codificador que o objetivo da Doutrina Espíri-ta é a transformação da Humanidade e, refletindo sobre isso, indaga:

“Que importa crer na existência dos Espíritos, se essa crença não faz que aquele que a tem se torne melhor, mais benigno e indulgente para com os seus semelhantes, mais humilde e paciente na adversidade? De que serve ao ava-rento ser espírita, se continua avarento; ao orgulhoso, se se conserva cheio de si; ao invejoso, se permanece dominado pela inveja?”

Acreditar na manifestação dos Espíritos, pois, deve gerar modificações em nós e, por consequência, em nossas relações com nossos semelhantes. Podemos acreditar nes-sas manifestações como resultado dos estudos sobre os fenômenos, ou podemos ter esses fenômenos como expe-riências pessoais, caso tenhamos nascido com a potenciali-dade mediúnica. Os fenômenos mediúnicos podem surgir

na infância, na adolescência, ou na fase adulta do indivíduo, e o estudo deles pode fornecer ao seu portador informações quanto às suas possibilidades de atuação em um grupo de trabalho mediúnico, evitando atitudes improdutivas e des-perdício de tempo. Esse conhecimento também poderá evitar as decepções tão frequentemente associadas à tarefa mediúnica. Os grupos de estudo e desenvolvimento da mediunidade possibilitam a manifestação de uma faculda-de que já existe no indivíduo e, quando bem orientados, pautam sua atuação pelas diretrizes da Doutrina Espírita, educando a faculdade, para direcioná-la a uma prática que irá proporcionar o equilíbrio e a harmonia. A casa espírita precisa preparar-se para oferecer a todos quantos a buscam a oportunidade de conhecer as orientações que a Doutrina oferece sobre o exercício adequado da mediunidade.

O indivíduo, por sua vez, deve dispor-se ao trabalho de educação do seu potencial. Para isso, deverá integrar um grupo que apresente condições propícias ao bom uso dessas faculdades e tenha a assistência dos bons Espíritos. É preci-so ter em mente as qualidades que atraem os bons Espíritos: bondade, benevolência, simplicidade de coração, amor ao próximo, desprendimento das coisas materiais e os defeitos que os afastam: orgulho, egoísmo, inveja, ciúme ódio, cupi-dez, sensualidade e paixões inferiores. Um grande desafio será o de aprender a disciplinar o pensamento e desenvolver a capacidade de concentração, sem descuidar de treinar o domínio do próprio corpo, praticando exercícios de relaxa-mento físico.

Não basta, pois, abrir janelas para o Além, é preciso observar onde situamos nossa casa mental, pois o panorama que se apresentará estará na dependência das conexões que fizermos com o mundo espiritual. Devemos valorizar a mediunidade e dedicar-nos com o maior empenho às tarefas mediúnicas, mas, antes e simultaneamente, será imperioso nos dedicarmos ao estudo da Doutrina Espírita e ao trabalho de autoeducação, certos de que somente a compreensão e a prática dos elevados princípios morais que ela nos ensina nos poderão encaminhar à vitória sobre nós mesmos e ao cumprimento do nosso papel no mundo.

1) O Livro dos Médiuns”, cap. XIV, n° 1592) O Livro dos Médiuns, cap. XIV, 2663) O Livro dos Médiuns”, cap. XIV, n° 1594) O Livro dos Espíritos”, questão 3695) MIRANDA, Hermínio C. Diversidade dos Carismas.

RJ: Ed. Arte e Cultura,Fonte: Revista Senda

JANELAS PARA O ALÉM

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A Gazeta Espírita 17Julho de 2017

A neurociência, ramo da biologia, é uma ciência multidisciplinar que estuda como o sistema nervoso se desenvolve, sua estrutura e seu fun-

cionamento, tanto em condições normais, quanto em seus transtornos. Diferente da neurobiologia, que estu-da a biologia do sistema nervoso, a neurociência reporta-se a qualquer coisa que tenha a ver com o siste-ma nervoso.

Os primeiros escritos sobre o cérebro foram encon-trados no Edwin Smith Papyrus, texto de 1700 a.C, que fala sobre cirurgias cranianas no Egito, mas, desde a década de 1950, com o progresso alcançado pela biologia molecular, a eletrofisiologia e a neurociência computacional, com os neurocientistas sendo capazes de estudar melhor o sistema nervoso, sua estrutura, desenvolvimento e funções, é que o estudo científico do sistema nervoso avançou muito e cada vez mais estudos são publicados sobre este tema. Até 1987, não passavam de 1000 estudos publicados por ano, mas, em 2016, foram mais de 38.000 publicações.

Ainda há um fosso enorme entre o pensamento aca-dêmico e os postulados espíritas sobre as bases da cons-ciência. Enquanto o Espiritismo coloca o Espírito ou princípio inteligente como origem e destino das mani-festações da consciência, a neurociência procura explicá-la como um subproduto da atividade química do cérebro, embora já existam vozes discordantes, como o Dr Amit Goswami, professor titular da Uni-versidade do Oregon, EUA, que diz que é a mente que secreta o cérebro, e do neurocientista Mario Beaure-gard, da Universidade do Arizona, EUA, em O Cére-bro Espiritual, que diz que “A consciência e outros aspectos da mente, que enunciam os eventos neurais, podem ocorrer de forma independente do cérebro [...]”. Já segundo o físico Nick Herbert: “O maior mis-tério da natureza é a consciência. Não se trata de pos-suirmos teorias ruins ou imperfeitas acerca da cons-ciência humana; simplesmente não temos estas teori-as.”

Allan Kardec, em A Gênese, diz que “O Espiritismo e a Ciência completam-se um ao outro; à Ciência sem o Espiritismo, fica impossível explicar certos fenôme-nos só com as leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, lhe faltaria apoio e controle.”

A construção do sistema nervoso que conhecemos vem se realizando há milhões de anos, com uma “evo-lução em dois mundos”, e ainda está em evolução. Essa afirmação, confirmada pela ciência com o traba-lho de Paul MacLean, publicado em 1973 no livro “Tri-une concept of brain and behavior”, vem constatar

exatamente o que descreve André Luiz sobre as três casas mentais ou o castelo de três andares no livro “No Mundo Maior”, publicado 26 anos antes, em 1947, que a evolução do cérebro passou por inclusão de estruturas no desenrolar da filogênese. Segundo Mac-Lean, no cérebro trino, o desenvolvimento da medula espinhal ocorreu com os peixes, o tronco encefálico com os répteis e o neocórtex com os humanos, ainda em evolução, principalmente o lobo pré-frontal.

Para André Luiz, temos, no primeiro andar, a medu-la, o cérebro inicial, onde vivem hábitos e automatis-mos, é o repositório dos movimentos instintivos, sede do Subconsciente, onde são arquivadas e registradas as experiências vividas. Quem se concentra nele vive no passado. No segundo andar, representado pelo cór-tex motor, zona intermediária entre os lobos frontais e os nervos, localiza-se a sede das conquistas atuais, o Consciente, que conta com o esforço e a vontade como ferramentas fundamentais para a manifestação do ser, o trabalho, o agora. No terceiro andar, representado pelos lobos frontais, encontramos a parte mais nobre do cérebro, o Superconsciente, por aonde chegam os estímulos do futuro, destacando o ideal e a meta supe-

rior.André Luiz também antecipou conhecimentos

sobre a glândula pineal que foram postulados, pesqui-sados e confirmados pela Ciência 60 anos depois da publicação do livro “Missionários da Luz”.

A Ciência atual, esgotando o estudo da matéria físi-ca, com a maturidade já alcançada, devotar-se-á a novas dimensões com o encontro do espiritual, confir-mando fatos relatados pela espiritualidade e, segundo Marlene Nobre, em A alma da matéria, “Entramos, definitivamente, na Era do Espírito. Preparemo-nos para uma espiral vertiginosa de novas descobertas, nunca antes imaginadas por nossos espíritos imperfei-tos.”

A Ciência Espírita aplica o método experimental, procedendo exatamente da mesma forma que as ciên-cias positivas. Sempre que um evento novo aparece, que não pode ser explicado pelas leis conhecidas; o “Espiritismo os observa, compara, analisa e, remon-tando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege; depois, deduz-lhes as consequências e busca as aplica-ções úteis.” (A Gênese).

NEUROCIÊNCIA E ESPIRITISMOPor Cristina Alochio

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A Gazeta Espírita18 Julho de 2017

Por Augusto Cury

Existe uma boa quantidade de espíritas que acredita que o espiritismo está completo, possuindo infor-mações e conhecimentos suficientes para todos nós,

basta apenas colocar isso em prática ou ler sobre eles. Bom, isso não deixa de ser verdade, ao menos para a grande maio-ria da população, mas apenas no que se refere à parte moral/ religiosa, uma vez que o segmento científico do espiritismo ainda requer muitas respostas para coisas mais simples.

Dentre as várias lacunas que o espiritismo possui (ou ainda carece de respostas exatas), está a comunicação medi-única entre vivos em estado de vigília (acordado). Se, de um lado há aqueles que acreditam ter a resposta já consa-grada para este fato, por outro há aqueles que ainda questi-onam a certeza sobre isso.

Recentemente foi publicado no Jornal de Estudos Espi-ritas (JEE) um trabalho bibliográfico onde o autor, Paulo Neto[2], explora em detalhes a Codificação e trabalhos de outros autores (i.e Ernesto Bozzano), defendendo a ideia de que não é possível ocorrer uma comunicação entre vivos estando eles em estado “acordado”.

Se houvesse apenas este estudo publicado sobre o tema, então seria algo bem aceito, principalmente frente às cita-ções e argumentos explorados pelo autor. Ocorre que um grupo de pesquisadores espíritas do IPCE (Instituto de Pesquisas em Ciência Espirita) resolveu testar isso na prá-tica e os resultados iniciais apontam para algo contrário ao concluído por Paulo Neto (2015).

O estudo do IPCE ainda está numa fase inicial onde se está aprimorando o método e testando experimentos obje-tivos. Uma pesquisa desse porte requer médiuns com ele-vado nível mediúnico e isso não é tão comum assim no meio espirita geral, portanto os resultados finais desse projeto ainda devem demorar um pouco para serem publi-cados.

Numa análise minha sobre o tema, avaliando o posicio-namento de Kardec e outros materiais complementares, entendo que o resultado seria inconclusivo até o presente momento, isto é, com o que temos de dados e fatos é pre-maturo optar por uma ou outra opção como verdadeira.

No entanto fui buscar, no meio cientifico-aberto, arti-gos e pesquisas que pudessem colaborar para um melhor entendimento sobre essa questão.

Os melhores estudos estão no campo da parapsicologia, embora ainda haja centenas de estudos da telepatia que impactam diretamente sobre essa “lacuna”, afinal, telepa-tia não deixa de ser uma comunicação entre espíritos encarnados, não?

Os experimentos telepáticos, sem sombra de dúvida, sinalizariam um resultado diferente ao proposto por Paulo Neto e isso implica em boa parte da Codificação também, haja visto que há momentos em que Kardec opta que a comunicação possa ocorrer, mas não em estado de vigília.

Ao longo de muitos anos pesquisadores de diversas áreas estudaram e vem estudando a comunicação mente-a-mente entre humanos, e isso vai desde enviar um símbolo de A para B, como também, por enviar sinalizações ou informações mais completas e abstratas. Tudo isso ocorre de forma consciente, ou seja, tanto o indivíduo emissor (A), quando o receptor (B) estão acordados.

A questão, no entanto, é bem mais complexa do que se parece. Temos alguns experimentos do passado, relatado por Paulo Neto, que apontam a dormência do indivíduo evocado, no entanto o modus operandi utilizado para tais casos é diferente do utilizado nos experimentos telepáti-cos.

Na telepatia (estudos Ganzfeld), inicialmente, se utili-zava questões objetivas, podendo quantificar os resulta-dos, já os estudos mediúnicos eram mais abrangentes e difíceis de mensurar, e olha que posso afirmar que muitos deles ficaram a desejar sobre a certeza da real comunica-ção, me refiro a determinados controles, tais como vaza-mento de informação, objetividade nas respostas etc..

Mas o que há de diferença entre ambos os casos? A prin-cipal diferença é a forma como se atua na experimentação. Nos casos mediúnicos se utilizava um médium em uma sessão e se fazia a evocação do espírito do encarnado. Wil-liam Stead (médium inglês) relatou em um de seus livros (Cartas de Julia), que executou diversos experimentos,

sem aviso aos encarnados, de que evocaria seus espíritos para conversar. Os resultados foram muito impressionan-tes, inclusive num deles, surgindo uma assinatura igual ao do encarnado.

Nesses mesmos experimentos de Stead, vale salientar, que não fica explícita ou clara a dormência do evocado.

Outra diferença, que chama a atenção, é o fato da inconsciência mesmo durante o momento da evocação, isto é, os encarnados não sabiam que haviam sido evocados e nem que responderam as questões. Há casos, em outras experiências, onde houve relato de sonolência e outros que não, mantendo ainda uma dúvida sobre essa temática de comunicação em estado de vigília.

Ademais tudo isso, quando Kardec indaga os espíritos a responderem sobre esse tema, a resposta induz a várias interpretações, sugerindo a sonolência inclusive, ficando evidente que a pessoa evocada não conseguiria exercer atividade inteligente ao mesmo tempo em que responderia ou se utilizaria de um médium para se comunicar.

Nos dias atuais vários pesquisadores tem aprimorado estudos referentes a telepatia e há alguns deles de suma importância para essa dúvida espírita. Dean Radin, um pesquisador dedicado a essa temática, escreve em um de seus livros um importante experimento que fez onde se utilizou de um EEG (Eletroencefalograma) para observar os sinais mentais entre transmissor e receptor.

A título de conhecimento geral, é importante enfatizar que a média de acertos para os experimentos telepáticos está em torno de 33%, onde o acaso é de 25%. Isso implica, devido a quantidade de amostragens, que a fenomenologia ocorre de fato, no entanto ainda é muito fraca e instável, motivo pelo qual os céticos ainda criticam pesadamente essas evidências, não aceitando assim a existência do fenô-meno.

Voltando ao experimento de Radin, os resultados foram um tanto impressionantes, motivo pelo qual vários pesqui-sadores repetiram o método, obtendo resultados muito similares. Mas o que ocorreu de fato?

Nas sessões ocorreu que, quando um transmissor (A) enviava uma mensagem ou sinal para um receptor (B) (mes-mo não sendo médium), os sinais de EEG eram compara-dos e se observou a mesma sinalização no receptor, mesmo que esse não conscientizasse a informação. Isso pode pare-cer algo sem importância aos mais desatentos mas para quem entende e busca conhecer o fenômeno, isso faz toda a diferença. Vamos entender um pouco melhor isso.

Imagine uma pessoa sentada numa sala, na frente de um monitor. Imagine também que sua cabeça está cheia de eletrodos e alguns médicos estão monitorando suas ativi-dades cerebrais.

Quando uma imagem é exibida no monitor, seu cérebro reage a elas e gera uma alteração nas ondas cerebrais.

Agora imagine que esse indivíduo se concentra para enviar o que está presenciando para outra pessoa, em outra

sala, que também esteja com eletrodos monitorando seu cérebro.

O que ocorreu nesses casos é que o cérebro do receptor demonstrou variações similares de picos de onda no exato momento em que a mensagem/imagem lhe foi enviada, demonstrando que o fenômeno ocorre de fato, no entanto nem sempre o receptor conseguia entender/perceber (cons-cientizar) o que lhe era enviado.

Isso, no meu entender, traz para o conhecimento espíri-ta algo muito importante e convergente com relatos de estudos do passado sobre a comunicação mediúnica entre vivos, uma vez que aponta a diferença entre o consciente e inconsciente e a relevância disso para uma efetiva comuni-cação mediúnica adequada.

Baseado nisso ficam algumas perguntas:a) Se o receptor estivesse em estado alterado de cons-

ciência (transe), ele conseguiria conscientizar melhor a informação enviada?

b) Qual a ligação do inconsciente com o cérebro em si? O cérebro reagiu/sinalizou o inconsciente?

c) O indivíduo transmissor enviaria melhor a informa-ção se estivesse dormindo? (evocação por parte do recep-tor para saber o que ocorria na tela de um monitor na sala de experimentação)

Se havia uma lacuna ainda não respondida adequada-mente pelo espiritismo, agora temos outra.

Essa, com certeza, está relacionada com a primeira mas talvez possa trazer melhor reflexão sobre a temática.

Dentre os fatos abordados nesse breve artigo, não pode-mos abdicar de que ambos os casos implicam em comuni-cação entre vivos, mesmo se utilizando do termo telepático ou comunicação mediúnica. Se a essência do espírito refle-te mais o inconsciente, então talvez esse seja um caminho possível a se investigar mais profundamente.

Por outro lado, se o envio de informação, mesmo que consciente, implique na recepção do inconsciente e exista a necessidade do envio disso para o estado de vigília, então as “coisas” não estão tão separadas assim como se pensa.

Os fatos até o momento apontam para uma inconclusão frente às comunicações mediúnicas em estado de vigília. As revisões bibliográficas, abundantes pela maioria dos estudiosos espíritas, não são suficientes para se optar por alguma certeza sobre esse tema (e muitos outros). Nesses casos apenas pesquisas de campo podem ser adequadas para melhor responder a essas questões.

[1] Revista Ciência Espírita - Junho/2017[2] Jornal de Estudos Espíritas – Volume 3 / 2015 –

Seção 2 – Manifestação de Espírito de Pessoa Viva: é pos-sível em estado de vigília?

Fonte: Blog Laboratório Espírita

MENTES INTERLIGADAS - OS NOVOS CONHECIMENTOS PODEM NOS AJUDAR?

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A Gazeta Espírita 19Julho de 2017

É fácil escrever difícil. Basta colocar no papel as ideias que surgem no bestunto, ainda que, não raro, desandem em destemperos mentais.

Difícil é escrever fácil. Exige demorada e árdua elaboração para tornar a leitura elegante, atraente e objetiva, sem impor prodígios de concentração e entendimento.

Trata-se de uma gentileza que todo autor escla-recido deve ao leitor que se dispõe a examinar suas criações. O texto que exige cuidadosa interpreta-ção é mais charada do que literatura. Fica por conta da capacidade de quem lê, no empenho em orientar-se por labirintos tortuosos, fruto dos deva-neios do autor.

Jesus dizia que a verdade está ao alcance dos simples.

Os doutos e entendidos costumam sofrer uma intoxicação intelectual que oblitera o bom senso e os leva a imaginar que tortuosidade e complexida-de são sinônimos de cultura e saber.

A propósito vale lembrar Guilherme de Occam (1285-1349), notável teólogo e filósofo inglês (nascido em Occam, nos arredores de Londres). Ingressou bem jovem na ordem franciscana. Estu-dou e lecionou na gloriosa universidade de Oxford.

Inteligente e lúcido estimava a simplicidade na exposição de suas ideias. Complexidades ou con-

jecturas, apenas se absolutamente necessárias.Adotou um princípio que ficaria conhecido

como a navalha de Occam, definindo o empenho em retirar de um pensamento ou de uma tese aces-sórios e complicações desnecessários, louvando-se no bom senso.

Se a aplicássemos em textos herméticos e obs-curos dos filósofos que fazem a história das con-tradições do pensamento humano, seria uma “car-nificina”. Pouco sobraria.

***Nem sempre Occam conseguiu usar sua nava-

lha.Aconteceu particularmente em relação à exis-

tência de Deus, assunto que preferia não abordar. Não a negava, mas considerava que, devido à transcendência do tema, seria impossível conjetu-rar sobre o Criador sem recorrer a argumentos com-plexos, de difícil entendimento.

Os Espíritos que orientaram a codificação da Doutrina Espírita ensinaram diferente. Dotados de notável capacidade de síntese, própria da sabedo-ria autêntica, demonstraram que é possível passar a navalha de Occam em lucubrações complexas e reduzir a argumentação em favor da existência de Deus à sua expressão mais singela.

Isso acontece na questão número quatro, em O Livro dos Espíritos.

Pergunta Kardec:Onde se pode encontrar a prova da existência

de Deus?Resposta:Num axioma que aplicais às vossas ciências.

Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão res-ponderá.

Comenta Kardec:Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar

sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pode fazer alguma coisa.

Simplíssimo! Se o Universo é um efeito inteli-gente, tão superior ao nosso entendimento que seus segredos são inabordáveis, forçosamente tem um autor infinitamente inteligente – Deus.

A partir dessa ideia o difícil é provar que Deus não existe. Teríamos que explicar o efeito sem cau-sa, a criação sem um Criador.

Quaisquer argumentos em favor desta tese ingrata seriam facilmente eliminados pelo próprio Occam, usando a navalha do bom senso.

Fonte: Agenda Espírita Brasil

Por Richard Simonetti

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A Gazeta Espírita20 Julho de 2017

João Donha

Tenho lido, repetidas vezes, afirmações de que as práticas terapêuticas disseminadas pelos nossos centros (água fluidificada, passe e desobsessão)

seriam criações do espiritismo brasileiro. Não. Como muitas outras coisas cujas origens são questionadas, essas práticas são também de responsabilidade de Kar-dec. Senão, vejamo-las em citações do mestre lionês.

Justificativa da terapia espírita“As doenças fazem parte das provas e das vicissitu-

des da vida terrena; são inerentes à grosseria da nossa natureza material e à inferioridade do mundo que habi-tamos. As paixões e os excessos de toda ordem semei-am em nós germens malsãos, às vezes hereditários. Nos mundos mais adiantados, física ou moralmente, o organismo humano, mais depurado e menos material, não está sujeito às mesmas enfermidades e o corpo não é minado surdamente pelo corrosivo das paixões. (Cap. III, n° 9.) Temos, assim, de nos resignar às con-seqüências do meio onde nos coloca a nossa inferiori-dade, até que mereçamos passar a outro. Isso, no entanto, não é de molde a impedir que, esperando tal se dê, façamos o que de nós depende para melhorar as nossas condições atuais. Se, porém, mau grado aos nossos esforços, não o conseguirmos, o Espiritismo nos ensina a suportar com resignação os nossos passa-geiros males. Se Deus não houvesse querido que os sofrimentos corporais se dissipassem ou abrandassem em certos casos, não houvera posto ao nosso alcance meios de cura. A esse respeito, a sua solicitude, em conformidade com o instinto de conservação, indica que é dever nosso procurar esses meios e aplicá-los. A par da medicação ordinária, elaborada pela Ciência, o magnetismo nos dá a conhecer o poder da ação fluídica e o Espiritismo nos revela outra força poderosa na mediunidade curadora e a influência da prece. (Ver, no Cap. XXVI, a notícia sobre a mediunidade curado-ra.)”(1)

Fluidoterapia: água fluidificada e passe“Pode (o Espírito), pela ação da sua vontade, operar

na matéria elementar uma transformação íntima, que lhe confira determinadas propriedades. Esta faculdade é inerente à natureza do Espírito, que muitas vezes a exerce de modo instintivo, quando necessário, sem disso se aperceber. A existência de uma matéria ele-mentar única está hoje quase geralmente admitida pela Ciência, e os Espíritos, como se acaba de ver, a confir-mam. Todos os corpos da Natureza nascem dessa maté-ria que, pelas transformações por que passa, também produz as diversas propriedades desses mesmos cor-pos. Daí vem que uma substância salutar pode, por efeito de simples modificação, tornar-se venenosa, fato de que a Química nos oferece numerosos exem-plos. Toda gente sabe que, combinadas em certas pro-porções, duas substâncias inocentes podem dar origem a uma que seja deletéria. Uma parte de oxigênio e duas de hidrogênio, ambos inofensivos, formam a água. Juntai um átomo de oxigênio e tereis um liquido corro-sivo.Sem mudança nenhuma das proporções, às vezes, a simples alteração no modo de agregação molecular basta para mudar as propriedades. Assim é que um corpo opaco pode tornar-se transparente e vice-versa. Pois que ao Espírito é possível tão grande ação sobre a matéria elementar, concebe-se que lhe seja dado não só formar substâncias, mas também modificar lhes as propriedades, fazendo para isto a sua vontade o efeito de reativo. Esta teoria nos fornece a solução de um fato bem conhecido em magnetismo, mas inexplicado até hoje: o da mudança das propriedades da água, por obra da vontade. O Espírito atuante é o do magnetizador, quase sempre assistido por outro Espírito.

Ele opera uma transmutação por meio do fluido magnético que, como atrás dissemos, é a substância que mais se aproxima da matéria cósmica, ou elemen-to universal. Ora, desde que ele pode operar uma modi-ficação nas propriedades da água,pode também produ-zir um fenômeno análogo com os fluidos do organis-mo, donde o efeito curativo da ação magnética, conve-nientemente dirigida. Sabe-se que papel capital

desempenha a vontade em todos os fenômenos do mag-netismo. Porém, como se há de explicar a ação materi-al de tão sutil agente? A vontade não é um ser, uma substância qualquer; não é, sequer, uma propriedade da matéria mais etérea que exista. A vontade é atributo essencial do Espírito, isto é, do ser pensante. Com o auxílio dessa alavanca, ele atua sobre a matéria ele-mentar e, por uma ação consecutiva, reage sobre seus compostos, cujas propriedades íntimas vêm assim a ficar transformadas. Tanto quanto do Espírito errante, a vontade é igualmente atributo do Espírito encarnado; daí o poder do magnetizador, poder que se sabe estar na razão direta da força de vontade. Podendo o Espírito encarnado atuar sobre a matéria elementar, pode do mesmo modo mudar-lhe as propriedades, dentro de certos limites. Assim se explica a faculdade de cura pelo contacto e pela imposição das mãos, faculdade que algumas pessoas possuem em grau mais ou menos elevado. (Veja-se, no capítulo dos Médiuns, o parágra-fo referente aos Médiuns curadores. Veja-se também a Revue Spirite, de julho de 1859, págs. 184 e 189: O zuavo de Magenta; Um oficial do exército da Itália.)” (2)

Costumam argumentar que tais citações referem-se aos magnetizadores e, não, aos espíritas comuns, trabalhadores de nossos centros. De novo, não. Além dessa profissão de “magnetizador”, existente no tempo de Kardec, ter desaparecido, e sua prática ter sido historicamente absorvida pelos espíritas, temos afirmações dele próprio que justificam tal aconteci-mento:

“Médiuns curadores. Os que têm o poder de curar ou aliviar pela imposição das mãos ou pela prece. 'Esta faculdade não é essencialmente mediúnica: pertence a todos os verdadeiros crentes, sejam médiuns ou não; muitas vezes não passa de uma exaltação da força mag-nética fortificada, caso necessário, pelo concurso dos bons Espíritos.' (n.175).” (3)

KARDEC E A TERAPÊUTICA ESPÍRITA

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A Gazeta Espírita 21Julho de 2017

DesobsessãoPelas citações abaixo, vemos que Kardec, ao

contrário do que se acredita, não preconiza o trata-mento da obsessão apenas em relação aos médi-uns, mas, sim, para todo e qualquer indivíduo que o necessite. E os passos são aqueles conhecidos dos espíritas da atualidade: esclarecimento do obsidi-ado, fluidoterapia (“mediante ação idêntica à do médium curador”) e, esclarecimento e convenci-mento do espírito obsessor, “em evocações parti-culares”.

“A obsessão é a ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracte-res muito diversos, desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a per-turbação completa do organismo e das faculdades mentais. Oblitera todas as faculdades mediúnicas; traduz-se, na mediunidade escrevente, pela obsti-nação de um Espírito em se manifestar, com exclu-são de todos os outros.Os Espíritos maus pululam em torno da Terra, em virtude da inferioridade moral de seus habitantes. A ação malfazeja que eles desenvolvem faz parte dos flagelos com que a Humanidade se vê a braços neste mundo. A obses-são, como as enfermidades e todas as tribulações da vida, deve ser considerada prova ou expiação e como tal aceita. Do mesmo modo que as doenças resultam das imperfeições físicas, que tornam o corpo acessível às influências perniciosas exterio-res, a obsessão é sempre o resultado de uma imper-feição moral, que dá acesso a um Espírito mau. A causas físicas se opõem forças físicas; a uma causa moral, tem-se de opor uma força moral. Para pre-servá-lo das enfermidades, fortifica-se o corpo; para isentá-lo da obsessão, é preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado trabalhe pela sua própria melhoria, o que as mais das vezes basta para o livrar do obsessor, sem recor-rer a terceiros. O auxílio destes se faz indispensá-vel, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque aí não raro o paciente perde a vontade e o livre-arbítrio. Quase sempre, a obses-são exprime a vingança que um Espírito tira e que com frequência se radica nas relações que o obsidi-ado manteve com ele em precedente existência. (Veja-se: Cap. X, n° 6; cap. XII, n° 5 e n° 6.)Nos casos de obsessão grave, o obsidiado se acha como que envolvido e impregnado de um fluido pernicio-so, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. É desse fluido que importa desembaraçá-lo. Ora, um fluido mau não pode ser eliminado por

outro fluido mau. Mediante ação idêntica à do médi-um curador nos casos de enfermidade, cumpre se elimine o fluido mau com o auxílio de um fluido melhor, que produz, de certo modo, o efeito de um reativo. Esta a ação mecânica, mas que não basta; necessário, sobretudo, é que se atue sobre o ser inte-ligente, ao qual importa se possa falar com autori-dade, que só existe onde há superioridade moral. Quanto maior for esta, tanto maior será igualmente a autoridade. E não é tudo: para garantir-se a liber-tação, cumpre induzir o Espírito perverso a renun-ciar aos seus maus desígnios; fazer que nele des-pontem o arrependimento e o desejo do bem, por meio de instruções habilmente ministradas, em evocações particulares, objetivando a sua educação moral. Pode-se então lograr a dupla satisfação de libertar um encarnado e de converter um Espírito imperfeito. A tarefa se apresenta mais fácil quando o obsidiado, compreendendo a sua situação, presta o concurso da sua vontade e da sua prece. O mesmo não se dá, quando, seduzido pelo Espírito embuste-iro, ele se ilude no tocante às qualidades daquele que o domina e se compraz no erro em que este últi-mo o lança, visto que, então, longe de secundar, repele toda assistência, É o caso da fascinação, infi-nitamente mais rebelde do que a mais violenta sub-jugação. (O Livro aos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII.)Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso auxiliar de quem haja de atuar sobre o Espírito obsessor.”

“Observação. – A cura das obsessões graves requer muita paciência, perseverança e devotamen-to. Exige também tato e habilidade, a fim de enca-minhar para o bem Espíritos muitas vezes perver-sos, endurecidos e astuciosos, porquanto há-os rebeldes ao extremo. Na maioria dos casos, temos de nos guiar pelas circunstâncias. Qualquer que seja, porém, o caráter do Espírito, nada se obtém, é isto um fato incontestável pelo constrangimento ou pela ameaça. Toda influência reside no ascendente moral. Outra verdade igualmente comprovada pela experiência tanto quanto pela lógica, é a completa ineficácia dos exorcismos, fórmulas, palavras sacramentais, amuletos, talismãs, práticas exterio-res, ou quaisquer sinais materiais. A obsessão muito prolongada pode ocasionar desordens pato-lógicas e reclama, por vezes, tratamento simultâ-neo ou consecutivo, quer magnético, quer médico, para restabelecer a saúde do organismo. Destruída a causa, resta combater os efeitos. (Veja-se: O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII – “Da obsessão”. – Revue Spirite, fevereiro e março de 1864; abril de 1865: exemplos de curas de obses-sões.)” (4)

NOTAS(1) ESE, XXVIII, 77.(2) LM, 129, 130, 131.(3) LM, 189.(4) ESE, XXVIII, 81

Fonte: Jornal Ciência Espírita

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A Gazeta Espírita22 Julho de 2017

LUCAS BERLANZA CORRÊA

Em tempos em que o conceito de Estado-nação e o sentimento de pertencimento do indivíduo em relação ao seu país, à sua identidade nacional, são

tão discutidos, em um cenário de globalização e de projetos supranacionais, parece útil propor uma reflexão sobre o tema, em conversa com a Doutrina Espírita – sempre salvaguardando a necessidade de separar o que é posição efetivamente doutrinária e o que é esforço de articulação de ideias de nossa parte, com caráter mais pessoal e, portanto, sem fazer lei em matéria de Espiritismo.

Compete coletar primeiro o material doutrinário a respeito. Em O Livro dos Espíritos, no capítulo VI da Parte Segunda, após discutir com os Espíritos o interesse que os desencarnados podem votar aos seus afazeres terrenos, particularmente pelas nossas artes e manifesta-ções culturais, Kardec obteve dos seus interlocutores a resposta de que isso depende da sua elevação. Para os Espíritos realmente elevados, todas as nossas artes e expressões, por mais refinadas e inebriantes que nos pareçam, são de bem pouco interesse e envergadura, atentando esses Espíritos mais para aquilo que “prove a elevação dos encarnados e seus progressos” (questão 316), isto é, aquilo que, dentro do circuito das transitorie-dades terrenas, pode ter impacto efetivo na trajetória geral de nosso desenvolvimento como Espíritos.

Em seguida, Kardec questiona, na pergunta 317, exatamente: “Após a morte, conservam os Espíritos o amor da pátria?” Ao que os Espíritos responderam: “O princípio é sempre o mesmo. Para os Espíritos eleva-dos, a Pátria é o universo. Na Terra, a pátria, para eles, está onde se ache o maior número das pessoas que lhes são simpáticas”. Em longa nota, Kardec refaz o argu-mento, comentando que são quase infinitas as “condições dos Espíritos e as maneiras por que veem as coisas”, e que há, naturalmente, aqueles cuja evolução não permite que se afastem muito de nossas concepções e interesses restritos, vinculando-se com prazer e afinco aos nossos gostos e atividades terrenos, enquanto outros, de maior evolução, se importam tão-somente com o que, de forma notória e direta, colabore para o nosso progresso.

Referências mais ou menos tangentes ao tema do patriotismo aparecem ainda em algumas outras passagens doutrinárias. Na Revista Espírita, em junho de 1864, sob o título “Perseguições militares”, comenta Kardec a perseguição que alguns militares espíritas sofreram, em razão de sua crença, dentro do oficialato, e termina comparando o orgulho que sentem “de deixar um mem-bro no campo de batalha pela pátria terrestre” com o sentimento que devem ter perante os “desgostos e desagrados suportados pela pátria eterna e pela causa da Humanidade”. Já em outubro de 1863, sob o título “Espíritos visitantes – François Franckowski”, em mensagem mediúnica, o Espírito de mesmo nome se manifesta lamentando crimes cometidos na Polônia. Ele começa dizendo que “o amor a Deus é o sentimento que resume todos os amores, todas as abnegações”, e que “o amor à pátria é um raio desse sublime sentimento”, antes de descrever os horrores que queria deplorar, e se referir àquela nação como seu infeliz e “pobre país”.

Como em vários outros exemplos, em O Céu e o Inferno, na sua segunda parte, capítulo VIII, o Espírito Charles de Saint G…, identificado como um Espírito encarnado como idiota (isto é, alguém com alguma deficiência intelectual, constrangido pelas limitações impostas pelo corpo físico), se manifesta em emancipa-ção, evocado, e diz que em breve tempo retornará “à sua pátria” – isto é, ao mundo espiritual, não à França. A mesma coisa diz o Espírito Sanson, no capítulo II (Espíri-tos felizes), ao se referir ao espaço como sua pátria. Em contrapartida, em junho de 1859, o Espírito Goethe, sob o título “Palestras familiares de além-túmulo”, perguntado sobre sua antiga antipatia pelos franceses, quando encarnado, respondeu que é “muito patriota”, e que continua amando a Alemanha mais do que qualquer outro país “por seu pensamento e por seus costumes quase patriarcais” – particularismo que, tal como vemos na questão 317, já denota certo grau de inferioridade.

Ainda, em carta sobre o Espiritismo na Espanha publicada em março de 1869 e enviada a Kardec, um espírita daquele país, Manuel Gonzalez Soriano, mencio-na o patriotismo, ao lado das ciências, artes, indústrias, religiões e filosofias, como uma das “grandes ideias que fizeram o mundo progredir”, tendo seus “apóstolos e seus mártires”. Finalmente, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec se refere ao “sacrifício dos interesses e das afeições de família aos da Pátria”, perguntando se, em relação àquele que deixa os parentes para marchar em defesa de seu país, “não se lhe reconhece (…) grande mérito em arrancar-se às doçuras do lar doméstico, aos liames da amizade, para cumprir um dever”. Faz então uma analogia disso a palavras de Jesus que sugerem a necessidade de um afastamento das questões domésticas e íntimas para pôr mãos à obra pela causa cristã. A analogia sugere, portanto, um tom algo positivo sobre esse dever e esse sentimento.

Afinal, o que se permite concluir desse apanhado? Em primeiro lugar, podemos asseverar que, no campo do planeta Terra, considerado em sua posição no Mundo Material, a ideia da existência de diferentes países, com suas conformações particulares, características particula-res e mesmo espaços naturais particulares, é produto de uma dinâmica natural. Os Espíritos dizem ainda que existe certa dose média de associação entre os caracteres dos Espíritos que encarnam juntos em um determinado povo, e que isso impacta no caráter geral de cada socieda-de e de cada cultura. Todas essas culturas e povos, tais como as famílias e indivíduos, têm também os seus Espíritos protetores, a velar por seu desenvolvimento e seus caminhos. É assim que, na questão 789, os Espíritos responderam a Kardec que nem o progresso fará com que todos os povos da Terra se reúnam sob a égide de uma só nação, posto que “da diversidade dos climas se originam costumes e necessidades diferentes, que constituem as nacionalidades, tornando indispensáveis sempre leis apropriadas a esses costumes e necessida-des”. O que deve vir a unir os povos, dentro do que diz a proposta espírita, é a caridade, não a unificação política ou cultural.

No entanto, os Espíritos, existindo no Universo e deslocando-se entre os infindáveis mundos, não têm pátria, no sentido terreno. Todo o Universo e toda a Criação são, para os que já atingiram essa elevação, igualmente um lar; os Espíritos Puros a todos amam indistintamente. Não faz sentido esperar que um Espírito de considerável envergadura seja “patriota”, num mundo superior, no sentido com que o somos aqui. O patriotismo, portanto, mesmo em sua melhor dimensão simbólica, é sim uma linguagem própria de certo grau de inferioridade espiritual, atinente a uma transitoriedade terrena que, salvo para os Espíritos mais “apegados” à realidade material, não se perpetuará pela sua trajetória infinita. Delimitar uma pátria para o Evangelho ou para o Espiritismo, quer seja esta a França ou o Brasil, tem sido, portanto, um equívoco acachapante de alguns

confrades espíritas desde o século XIX, a nosso ver, apegados a certas retóricas ufanistas e mesclando a expressão de leis universais, própria do Espiritismo, com sentimentos particulares e transitórios.

Quer isto dizer que o patriotismo não tem valor e deva ser combatido? Aqui, naturalmente, como entendemos que este espaço permite, colocamos uma apreciação de conteúdo subjetivo e pessoal, embora em desejada conversa com o pensamento espírita. Acredito que não. Dissemos que o patriotismo é um sentimento que conver-sa com algo transitório; por analogia, assim também o é a família terrena, de sorte que a relação que temos com nosso pai ou nossa mãe, pela configuração familiar da presente encarnação, poderá não existir ou se inverter totalmente numa próxima. Existe um sentimento particu-lar cultivado entre as famílias, dentro da organização social, em que elas, a um só tempo, procuram se auxiliar – tendo em vista o progresso individual de cada parente -, e ensaiam, em seu particularismo, o exercício do amor que, somente num futuro ainda distante, poderão sentir pela Humanidade cósmica inteira na mesma intensidade. Os laços, se sinceros, sobrevivem à morte; a configuração familiar terrena, porém, não. Dia virá, frisamos, em que mesmo esses laços não serão mais importantes do que o amor que o Espírito Puro sentirá por todas as criaturas do Universo. Então, mesmo a “família espiritual” abrangerá, para cada um de nós, a Humanidade inteira.

Do mesmo modo, parece-me que o sentimento de pertença cívica, e o impacto que o cultivo da memória de boas referências e de boas narrativas relacionadas a uma determinada comunidade pode exercer sobre a cultura nela em vigência, elementos que configuram o patriotis-mo, podem acabar sendo ferramentas úteis, no estágio presente do desenvolvimento dos Espíritos terrenos, para o progresso da coletividade e o enraizamento, em seu seio, de melhores valores. Não é porque uma determinada ferramenta ou realidade carecerá de importância no futuro, que ela é inútil hoje, como a criança, no curso de alfabetização, demanda certos elementos simbólicos e lúdicos para aprender que o estudante universitário dispensará.

Quero crer, com total respeito aos que discordarem, que o patriotismo pode ser uma das paixões de que fala O Livro dos Espíritos. Em sendo um gênero de “floreio”, de “excesso de que se acresceu a vontade” – neste caso, em relação aos sentimentos de dever e lugar dentro de uma comunidade, colaborando para o seu progresso e o cultivo dos melhores princípios em seu seio -, pode levar o homem “à realização de grandes coisas” (questão 907). Abusado, desviado para os despenhadeiros ignorantes do nacionalismo fanático e da xenofobia, passa, aí sim, à condição de totalmente indefensável, sob uma ótica espírita – ou, por outra, sob uma ótica minimamente equilibrada.

Fonte: Ciência Espírita

PATRIOTISMO E ESPIRITISMO

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A Gazeta Espírita 23Julho de 2017

Ailton Gonçalves de Carvalho

A criança e a educação sexual As respostas para a curiosidade infantil não podem ser intempestivas e muito menos questionadoras; antes, devem ser con-

textualizadas.Ao viajar de avião, ouvimos a seguinte instrução: “Em

caso de despressurização, máscaras de oxigênio cairão. Coloque primeiro em você e depois auxilie idosos e crian-ças.”

Podemos então analisar, sob esta óptica, nossas relações intrapessoais. No mundo atual vivemos com uma gama de informações; algumas se tornam conhecimentos e outras não. A internet nos coloca em contato com o mundo sem que precisemos sair do local que moramos. Desde a mais tenra idade, nossas crianças aprendem a navegar em busca de informações que muitas vezes norteiam seu dia a dia.

Pais, professores, evangelizadores e outros que têm a responsabilidade de auxiliar o espírito em seu progresso moral e intelectual estão assustados com o interesse cada vez mais precoce com questões sexuais, por exemplo. Nesse contexto, surge a questão: como nos prepararmos para enfrentar tantas informações sem que sejamos repres-sores, impositivos e donos da verdade?

Aconteceu um caso bem interessante na escola que tra-balho. Uma professora da educação infantil, primeiro período, adentrando na sala de aula flagrou dois alunos (um menino e uma menina) completamente nus – ele deitado sobre ela imitando uma relação sexual. Apavorada, saiu pelos corredores da escola pedindo socorro, alegando que estava ocorrendo uma relação sexual infantil dentro de sua sala.

Ao narrar este fato, muitos se lembrarão de alguma situ-ação parecida envolvendo crianças na temática sexual e imediatamente surgem os questionamentos: O que fazer? Como agir? Que postura adotar?

Retornando o caso do aviso no avião sobre a despressu-rização, partimos da premissa que antes de lidar com a sexu-alidade do outro é necessário lidar primeiramente com a nossa. Joanna de Ângelis ensina:

“Aos pais cabe a tarefa educativa inicial. Todavia, mal equipados de conhecimentos sobre conduta sexual, castram os filhos pelo silêncio constrangedor a respeito do tema, deixando-os desinformados, a fim de que aprendam com os colegas pervertidos e viciados, ou os liberam, ainda sem estrutura psicológica, para que atendam aos impulsos orgâ-nicos, sem qualquer ética ou lucidez a respeito da ocorrên-cia e das suas consequências inevitáveis. Quando se preten-de transferir para a Escola a responsabilidade da educação sexual, corre-se o risco, que deverá ser calculado, de o assunto ser apresentado com leveza, irresponsabilidade e perturbação do próprio educador, que vive conflitivamente o desafio, sem que o haja solucionado nele próprio de mane-ira correta (...).”[1]

Estes ensinos nos mostram como pais e professores, vivendo conflitos com a própria sexualidade, se omitem ou utilizam de métodos retrógrados para direcionar o desen-volvimento sexual da criança.

Somos sabedores que a etapa infantil é de suma impor-tância para o espírito reencarnante. É nesta fase que se ini-cia o processo educativo do ser. Novos ensinos éticos e morais, familiares e religiosos virão modificar aqueles trazidos de outras existências. Desde a mais tenra idade, o espírito apresenta comportamentos que os encarregados de educá-los devem prestar atenção e, como um jardineiro, ir arrancando as ervas daninhas.

O interesse por questões sexuais na infância tem chama-do atenção de muitos especialistas. É um fenômeno que não pode ser ignorado, mas enfrentado. O maior desafio é encontrar uma maneira correta de fazê-lo. Joanna de Ânge-lis esclarece:

“Talvez, em razão de ignorarem ou negarem a origem do

ser, como Espírito imortal que é, inúmeros psicólogos, sexó-logos e educadores limitam-se, com honestidade, a prepa-rar a criança de forma que apenas conheça o corpo, identifi-que suas funções, entre em contato com a sua realidade física. A proposta é saudável, inegavelmente; todavia, o corpo reflete os hábitos ancestrais, que provêm das expe-riências anteriores, vivenciadas em outras existências cor-porais, que imprimiram necessidades, anseios, conflitos ou harmonias que ora se apresentam com predominância no comportamento.”[1]

Aliadas a experiências antigas, temos também situações de vivências atuais. Certa feita, realizando palestra para pais de uma escola pública, fui questionado por uma mãe de como ela deveria agir com seu filho de seis anos, que todos os dias entrava na sala de aula e beijava todas as garotas – e com demonstração de força. Após alguns questionamentos, descobri que o pai era o maior incentivador de tal comporta-mento, haja vista que, seu filho beijando as meninas nesta idade, com certeza não beijaria homens amanhã.

Quando realizo atividade para professores e pais sobre sexualidade, deixo bem claro que uma pergunta, um jogo ou uma brincadeira com cunho sexual muitas vezes é um pedido de socorro da criança. Walter Barcelos ensina:

“(...) a capacidade de influenciar e a possibilidade de ser influenciada é própria de toda pessoa. Todos influenciam e são influenciados, mas ninguém é mais passível de ser sugestionada, do que a criança. Sua estrutura psicológica absorve e grava tudo, não faz seleção do que se lhe oferece, no campo cultural e moral.”[2]

Desta forma, as respostas para a curiosidade infantil não podem ser intempestivas e muito menos questionadoras – “Quem te disse isso?”; “Onde aprendeu estas coisas?”. Antes, devem ser contextualizadas.

Vivemos, atualmente, numa sociedade em que nossas crianças são erotizadas através de filmes, novelas, danças e tendências da moda. Quantas crianças queimam etapas de crescimento e passam da fase de brincar para a fase de namo-rar, de beijar, dentre outros comportamentos, possibilitando a maturação sexual “fora de época” com consequências desastrosas, tanto orgânicas quanto emocionais. A criança é atirada prematuramente para a puberdade, sem condições físicas nem emocionais para enfrentar tal situação. Um fator específico desse fenômeno é o alto índice de casos de gravidez na infância.

A primeira e mais importante escola para o ser reencar-nante é o lar e os pais seus educadores. A educação deve iniciar-se antes mesmo da concepção. Em relação à educa-ção sexual, Emmanuel, na questão 111 do livro O consola-dor, ao ser questionado sobre a fundação de escolas para a educação sexual, esclarece:

“Os professores do mundo, todavia, considerando o quadro legítimo das exceções, ainda não passam de servi-

dores do Estado, angustiados na concorrência do profissio-nalismo. Na sagrada missão de ensinar, eles instruem o intelecto, mas, de um modo geral, ainda não sabem ilumi-nar o coração dos discípulos, por necessitados da própria iluminação. Examinada a questão desse modo, e atendendo às circunstâncias das posições evolutivas, consideramos que os pais são os mestres da educação sexual de seus filhos, indicados naturalmente para essa tarefa, até que o orbe possua, por toda parte, as verdadeiras escolas de Jesus (...).”[3]

E ainda fornece valioso ensino acerca desta etapa de desenvolvimento do espírito, ao afirmar na questão 109 do mesmo livro:

“O período infantil é o mais sério e o mais propício à assimilação dos princípios educativos. Até aos sete anos, o Espírito ainda se encontra em fase de adaptação para uma nova existência que lhe compete no mundo. Suas recorda-ções do plano espiritual são, por isso, mais vivas, tornando-se mais suscetível de renovar o caráter e a estabelecer novo caminho, na consolidação dos princípios de responsabili-dade, se encontrar nos pais legítimos representantes do colégio familiar. Eis por que o lar é tão importante para a edificação do homem (...).”[3]

Infelizmente, nossas crianças estão crescendo sem refe-renciais seguros no tocante à sexualidade. Os genitores saíram de um regime educacional repressor – pressão social (castração, superproteção, violência), falta de diálogo, mitos e tabus, indiferença ou omissão – para um sistema banalizador – liberdade excessiva que culmina na libertina-gem, promiscuidades de toda ordem, ociosidade. A busca de um modelo, considerado ideal para lidar com o fenôme-no sexual infantil, e que se contraponha a esses dois siste-mas, tem gerado conflitos de como agir diante de comporta-mentos sexuais, que se manifestam cada vez mais cedo.

Joanna de Ângelis, no livro Adolescência e vida, escla-rece: “Os modelos devem ser silenciosos, falando mais pelos exemplos, pela alegria de viver, pelos valores com-provados, ao invés das palavras sonoras, mas cujas práticas demonstram o contrário.”

Não existe receita de bolo para a educação e aqui em especial para sexual. A melhor receita é procurar leituras sobre o tema e, principalmente, desenvolver sentimentos verdadeiros do querer fazer o seu melhor.

1. FRANCO, Divaldo Pereira. Adolescência. Pelo Espí-

rito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL.2. BARCELOS, Walter. Educadores do Coração. Salva-

dor: LEAL.3. XAVIER, Francisco Cândido. O consolador. Pelo

Espírito Emmanuel

A CRIANÇA E A EDUCAÇÃO SEXUAL

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A Gazeta Espírita24 Julho de 2017

or ocasião do incêndio do Edifício Joelma, em São PPaulo, ocorrido no dia lº de fevereiro de 1974, o médium Francisco Cândido Xavier, em seu lar, em

Uberaba (MG), ouvindo a notícia pelo rádio, reuniu-se em prece com quatro amigos, solicitando auxílio dos Benfeito-res Espirituais para as vitimas .

Atendendo ao apelo apresenta-se o Mentor Espiritual Emmanuel e escreve, através do médium, comovedora prece inserida no livro "Diálogo dos Vivos".*

Dias depois, em reunião pública, na qual estavam pre-sentes alguns familiares de vítimas do incêndio do Joelma, os poetas Cyro Costa e Cornélio Pires (Espíritos) manifes-taram-se pela psicografia, ditando ao médium sonetos refe-rentes à tragédia.

O soneto de Cyro Costa traz uma dedicatória e o trans-crevemos, tal como está, no citado livro "Diálogo dos Vivos" (cap. 26, pág. 150)

Luz nas chamasFogo!... Amplia-se a voz no assombro em que se espa-

lha.Gritos, alterações... O tumulto domina. No templo do

progresso, em garbos de oficina,O coração se agita, a vida se estraçalha. Tanto fogo a

luzir é mística fornalha e a presença da dor reflete a lei divina. Onde a fé se mantém, a prece descortina O passado remoto em longínqua batalha...

Varrem com fogo e pranto as sombras de outras eras Combatentes da Cruz em provações austeras, Conquanto heróis do mundo, honrando os tempos idos.

Na Terra o sofrimento, a angústia, a cinza, a escória... Mas ouvem-se no Além os hinos de vitória Das Milícias do Céu saudando os redimidos.

Tecendo comentários sobre o soneto de Cyro Costa, Herculano Pires (no livro retrocitado), pondera que somente a reencarnação pode explicar a ocorrência trági-ca.

Segundo o poeta as dívidas remontavam ao tempo das Cruzadas.

Estas foram realizadas entre os séculos XI e XIII e eram guerras extremamente cruéis com a agravante de terem sido praticadas em nome da fé cristã. Os historiadores relatam atos terríveis, crimes hediondos, chacinas vitiman-

do adultos e crianças. Os débitos contraídos foram de tal gravidade que os resgates ocorreram a longo prazo. Tal como o do circo em Niterói. O que denota a Bondade Divi-na que permite ao infrator o parcelamento da dívida,

pois não haveria condição de quitá-la de uma só vez.(Cornélio Pires)

Incêndio em São PauloCéu de São Paulo...O dia recomeça...O povo bom na rua lida e passa...Nisso, aparece um rolo de fumaçaE o fogo para cima se arremessa.A morte inesperada age possessa,E enquanto ruge, espanca ou despedaça,A Terra unida ao Céu a que se enlaçaÉ salvação e amor, servindo à pressa...A cidade magoada e enternecidaÉ socorro chorando a despedida,Trazendo o coração triste e deserto...Mas vejo, em prece, além do povo aflito,Braços de amor que chegam do InfinitoE caminhos de luz no céu aberto...(Cyro Costa)

(Homenagem aos companheiros desencarnados no incêndio ocorrido na capital de São Paulo a 1º de fevereiro de 1974, em resgate dos derradeiros resquícios de culpa que ainda traziam na própria alma, remanescentes de compro-missos adquiridos em guerra das Cruzadas.)

A idéia de que um ente querido tenha cometido crimes tão bárbaros às vezes não é bem aceita e muitos se revoltam diante dessas explicações, mas, conhecendo-se um pouco mais acerca do estágio evolutivo da Humanidade terrestre e do quanto é passageira e impermanente a vida humana, a compreensão se amplia e aceitam-se de forma mais resigna-da os desígnios do Criador. Por outro lado, que outra expli-cação atenderia melhor às nossas angustiosas indagações?

Estas orientações do Plano Maior sobre as provações coletivas expressam, é óbvio, o que ocorre igualmente no carma individual. Todavia, é compreensível que muitos indaguem como seria feita a aproximação dessas pessoas envolvidas em delitos no passado.

A literatura espírita, especialmente a mediúnica, tem trazido apreciáveis esclarecimentos sobre essa irresistível aproximação que une os seres afins, quando envolvidos em comprometimentos graves. A culpa, insculpida na cons-ciência, promove a necessidade da reparação.

O Codificador leciona de forma admirável a respeito das expiações, em "O Céu e o Inferno" (Ed. FEB), cap. 7 - As penas futuras segundo o Espiritismo. Esclarece que "o Espí-rito é sempre o árbitro da própria sorte, podendo prolongar os sofrimentos pela permanência no mal, ou suavizá-los e anulá-los pela prática do bem".

Assim - expressa Kardec -, as condições para apagar os resultados de nossas faltas resumem-se em três: arrependi-mento, expiação e reparação.

"O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a repa-ração, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa.

Este o notável Código penal da vida futura, que tem 33 itens e que apresenta no último o seguinte resumo, em três princípios:

lº O sofrimento é inerente à imperfeição.2º Toda imperfeição, assim como toda falta dela proma-

nada, traz consigo o próprio castigo nas conseqüências naturais e inevitáveis: assim, a moléstia pune os excessos e da ociosidade nasce o tédio, sem que haja mister de uma condenação especial para cada falta ou indivíduo.

3º Podendo todo homem libertar-se das imperfeições por efeito da vontade, pode igualmente anular os males consecutivos e assegurar a felicidade futura.

A cada um segundo as suas obras, no Céu como na Terra:- tal é a lei da Justiça Divina."___________* XAVIER, Francisco Cândido e PIRES, J. Herculano.

O INCÊNDIO TRÁGICO EM LONDRES LEMBRA O OCORRIDO NO ED. JOELMAO QUE OCORRE COM OS ESPÍRITOS NESTAS TRAGÉDIAS COLETIVAS?

por Chico Xavier