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20 5JANEIRO2012 inovação CÉREBROS 20 MARCO ROQUE NO SOCIALAB, na Universidade da Beira Interior (UBI), estuda-se uma tecnologia que, durante muitos anos, esteve limitada ao mundo da ficção científica: a biometria. "A biometria procura reconhecer seres huma- nos de forma automática, utilizando sinais oriundos do corpo humano", explica Hugo Proença. Ou seja, o objetivo é identificar uma pessoa através de sinais fisiológicos: forma da orelha, padrões da íris, impressões digitais; ou comportamentais: assinatura e dinâmica de datilografia. Num campo tão complexo, será redutor per- guntar quais os sinais mais "fáceis" de identifi- car. "Penso que se deve evitar a visão redutora e simplista de identificar 'o melhor' ou 'o mais fácil'", uma vez que "os requisitos específicos do ambiente onde o sistema biométrico deve- rá funcionar, determinam o tipo de sinal mais aconselhável", avança o investigador. Apesar disso, os "sinais que concentram maiores es- forços de desenvolvimento e os que têm mais sistemas em funcionamento serão a face, íris e impressão digital". O TRABALHO DO SociaLab tenta levar esta tecnologia mais além. A ideia é reconhecer o indivíduo usando dados de menor qualida- de e sem a cooperação da pessoa. "O nosso foco está no grau de cooperação exigido aos sujeitos, de forma a possibilitar o processo de reconhecimento", destaca Hugo Proença, avançando que a empresa procura "desenvol- ver sistemas de identificação surretícia, isto é, sistemas que não exigem qualquer partici- pação do indivíduo a reconhecer, o que torna possível a utilização deste tipo de sistemas em aplicações de segurança e forenses". NO ENTANTO, obter os dados sem a per- missão do indivíduo levanta um conjunto de problemas. "Os dados capturados sem exigir a participação dos sujeitos no processo de re- conhecimento têm normalmente baixa qua- lidade, o que exige técnicas alternativas para cada uma das fases clássicas de um processo de reconhecimento", conta Hugo Proença. Assim, "a investigação tem-se centrado no estudo e desenvolvimento de técnicas de re- conhecimento capazes de lidar com dados degradados, em termos de qualidade". Nessa investigação, destaca, a íris acaba por ser "o sinal biométrico preferencial com vista ao desenvolvimento de sistemas de reconhe- cimento biométrico não-cooperativo". Isto porque a íris apresenta quatro características que ajudam a este trabalho. "Tem padrões de textura de origem quasi-caótica, o que impli- ca que o padrão de gémeos tenha um baixo nível de correlação; sendo também um órgão interno, visível a partir do exterior", conta Hugo Proença, indicando que a "íris é relati- vamente planar e tem uma forma facilmente parametrizável, o que facilita o processo de O SEGREDO DA IDENTIFICAÇ HUGO PROENÇA, INVESTIGADOR DA UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR, ESTÁ A ESTUDAR NOVAS FORMAS DE IDENTIF A ÍRIS tem padrões de textura de origem quasi-caótica: o padrão de gémeos, até entre os olhos da mesma pessoa, tem um baixo nível de correlação É UM órgão interno, visível a partir do exterior. O ser humano possui comporta- mentos instintivos que o levam a proteger os olhos de uma forma especial SÃO relativamente planares e tem uma forma (circular) facilmente parametrizável, o que facilita o processo de captura e deteção da informação

Biometria

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Artigo sobre novos avanços no mundo da biometria.

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Page 1: Biometria

20 5JANEIRO2012

inovação

cérebroscérebros

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MARCO ROQUE

NO SOCIALAB, na Universidade da Beira Interior (UBI), estuda-se uma tecnologia que, durante muitos anos, esteve limitada ao mundo da ficção científica: a biometria. "A biometria procura reconhecer seres huma-nos de forma automática, utilizando sinais oriundos do corpo humano", explica Hugo Proença. Ou seja, o objetivo é identificar uma pessoa através de sinais fisiológicos: forma da orelha, padrões da íris, impressões digitais; ou comportamentais: assinatura e dinâmica de datilografia.Num campo tão complexo, será redutor per-guntar quais os sinais mais "fáceis" de identifi-car. "Penso que se deve evitar a visão redutora e simplista de identificar 'o melhor' ou 'o mais fácil'", uma vez que "os requisitos específicos do ambiente onde o sistema biométrico deve-rá funcionar, determinam o tipo de sinal mais aconselhável", avança o investigador. Apesar

disso, os "sinais que concentram maiores es-forços de desenvolvimento e os que têm mais sistemas em funcionamento serão a face, íris e impressão digital".

O TRABALHO DO SociaLab tenta levar esta tecnologia mais além. A ideia é reconhecer o indivíduo usando dados de menor qualida-de e sem a cooperação da pessoa. "O nosso foco está no grau de cooperação exigido aos sujeitos, de forma a possibilitar o processo de reconhecimento", destaca Hugo Proença, avançando que a empresa procura "desenvol-ver sistemas de identificação surretícia, isto é, sistemas que não exigem qualquer partici-pação do indivíduo a reconhecer, o que torna possível a utilização deste tipo de sistemas em aplicações de segurança e forenses".

NO ENTANTO, obter os dados sem a per-missão do indivíduo levanta um conjunto de problemas. "Os dados capturados sem exigir

a participação dos sujeitos no processo de re-conhecimento têm normalmente baixa qua-lidade, o que exige técnicas alternativas para cada uma das fases clássicas de um processo de reconhecimento", conta Hugo Proença. Assim, "a investigação tem-se centrado no estudo e desenvolvimento de técnicas de re-conhecimento capazes de lidar com dados degradados, em termos de qualidade". Nessa investigação, destaca, a íris acaba por ser "o sinal biométrico preferencial com vista ao desenvolvimento de sistemas de reconhe-cimento biométrico não-cooperativo". Isto porque a íris apresenta quatro características que ajudam a este trabalho. "Tem padrões de textura de origem quasi-caótica, o que impli-ca que o padrão de gémeos tenha um baixo nível de correlação; sendo também um órgão interno, visível a partir do exterior", conta Hugo Proença, indicando que a "íris é relati-vamente planar e tem uma forma facilmente parametrizável, o que facilita o processo de

O SEGREDO DA IDENTIFICAÇÃO ESTÁ NA ÍRISHUGO PROENÇA, INVESTIGADOR DA UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR, ESTÁ A ESTUDAR NOVAS FORMAS DE IDENTIFICAR PESSOAS ATRAVÉS DE DADOS BIOMÉTRICOS DEGRADADOS

A ÍRIS tem padrões de textura de origem quasi-caótica: o padrão de gémeos, até entre os olhos da mesma pessoa, tem um baixo nível de correlação

É UM órgão interno, visível a partir do exterior. O ser humano possui comporta-mentos instintivos que o levam a proteger os olhos de uma forma especial

SÃO relativamente planares e tem uma forma (circular) facilmente parametrizável, o que facilita o processo de captura e deteção da informação

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A UNIVERSIDADE de Aveiro dis-ponibilizou, online, o seu Reposi-tório Institucional (RIA). O RIA é "um sistema de informação que armazena, preser va divulga e dá acesso à produção intelectual da Universidade de Aveiro em forma-to digital, através da web e de for-ma gratuita, em regime de acesso livre". O arquivo conta já "com um conjunto de depositantes regista-dos de várias comunidades da UA e com mais de 4.200 documentos diversos".

FREDERICO FIÚZA, investigador natural de Leiria, foi o seleciona-do para o prémio Seed of Science júnior de 2011. O cientista, de 27 anos, faz parte do Grupo de Lasers e Plasmas do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear do Instituto Supe-rior Técnico e está a desenvolver um doutoramento sobre a utiliza-çã o de lasers para tratar tumores.

A AGÊNCIA espacial norte ameri-cana (NASA) deu destaque à Pe-nínsula Ibérica numa das suas fo-tos do dia. A imagem, fotografada à noite, mostra as luzes de Portu-gal e Espanha. Poluição luminosa para uns, uma imagem bonita para outros.

UA disponibilizaprodução intelectual

Leiriense conquista "Seed of Science"

Luzes de Portugal vistas do espaço

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O SEGREDO DA IDENTIFICAÇÃO ESTÁ NA ÍRISHUGO PROENÇA, INVESTIGADOR DA UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR, ESTÁ A ESTUDAR NOVAS FORMAS DE IDENTIFICAR PESSOAS ATRAVÉS DE DADOS BIOMÉTRICOS DEGRADADOS

captura e deteção da informação. Para além disso, "a maioria da informação discriminan-te entre as diferentes íris está nos componen-tes de média e baixa frequência". Este facto, "implica que o nível de detalhe adquirido em processos de captura de informação pouco controlados não tenha a mesma importância que em outros sinais".

O LABORATÓRIO já desenvolveu dois proje-tos nesta área. Por um lado, o Biorec "corres-pondeu ao início do processo de construção de um protótipo de sistema de reconhecimen-to biométrico não cooperativo, capaz de cap-turar dados com qualidade mínima a partir de sujeitos em andamento a distância entre quatro e nove metros". Por outro, o Necovid, a decorrer, "procura operar em dados (ainda mais) degradados, em que se torna inviável garantir com certeza suficiente a identidade de um determinado indivíduo. Nessas situa-ções, o objetivo passará por tentar determinar

quem o indivíduo não é, o que na maioria das vezes corresponde exatamente ao que é fun-damental".

PARA ALÉM DE ações policiais (ver caixa), estes sistemas podem ser utilizados para atividades mais mundanas, como, por exem-plo, verificar que alunos faltam numa sala de aula. "Essa aplicação corresponderia a um sistema de reconhecimento a operar em condições de captura com algum controle ambiente interior de uma sala de aula, onde os alunos estão sentados e relativamente imóveis", explica o investigador. Hoje, ga-rante, "já existem sistemas de reconheci-mento biométrico capazes de obter taxas de reconhecimento aceitáveis neste tipo de ambientes". Assim, "poderia ser desenvolvi-do um protótipo de imediato, caso existisse interesse de uma empresa de financiar esse processo de implementação, teste e depura-mento", conclui Hugo Proença.

Tecnologia de futuro

APESAR DE ESTA "ser uma área de conhecimento relativamente recente, as potencialidades são tão óbvias que suscitam o interesse de múltiplas organizações em todo o mundo", avança Hugo Proença. As agências governamentais ameri-canas, em particular, "têm projetos de desenvolvimento deste tipo de sistemas já em fase de protótipo". Assim, "neste momento, será já possível reconhecer de forma relativamente fiável, indivíduos, em movimento, a distâncias superiores a 20 metros, e com comportamen-tos antagónicos, isto é, procurando dificultar o processo de reconheci-mento". No entanto, sublinha Hugo Proença, "isto só seria possível com equipas de investigação multidis-ciplinares, integradas em projetos com orçamentos muito superiores aos que dispomos".

A MAIORIA da informa-ção discriminante entre diferentes íris está nos componentes de média e baixa frequência