48
1 BIS#32/Abril_2004

BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

1BIS#32/Abril_2004

Page 2: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

2 BIS#32/Abril_2004

Editorial --------------------------------------------------------------------------------------------------------3Qualidade de vida e avaliação de políticas públicas ---------------------------------------------------4Capital Social, Saúde e Qualidade de vida --------------------------------------------------------------5Brincadeira infantil: um lugar de saúde -------------------------------------------------------------------6Pobres e pobreza. Por uma ética de afirmação da vida ------------------------------------------------8Bem-estar subjetivo e suas alterações ao longo da vida --------------------------------------------------- 10Qualidade da vida: uma contribuição das Políticas da Subjetividade Contemporânea --------- 11Cultura Corporal: busca desalienada por qualidade de vida --------------------------------------- 13PROFAE – uma política pública para a qualidade de vida? ----------------------------------------- 14Municípios e Comunidades Saudáveis: guia dos prefeitos para promoverqualidade de vida da Organização Pan-Americana da Saúde -------------------------------------- 15Capela do Socorro Saudável: um desafio para as políticas públicas------------------------------- 16Um olhar sobre a qualidade de vida de Francisco Morato ------------------------------------------ 18Percepção de gestores municipais sobre a implementação de agendas de qualidade de vida ---- 20Alimentação saudável e Escolas: possibilidades e incoerências ------------------------------------- 22Educação preventiva integral: desafios para os gestores da saúde e educação ------------------ 23Uso de Antiretrovirais e Qualidade de Vida ------------------------------------------------------------ 24Qualidade de vida e segurança alimentar e nutricional ---------------------------------------------- 25Informações para o monitoramento da iniqüidade em saúde --------------------------------------- 27Produção Científica e Tecnológica e Qualidade de Vida --------------------------------------------- 28Observatório de Saúde: uma revisão sistemática------------------------------------------------------ 29O Projeto Observatório de Qualidade de Vida de Santo André (OQVSA) ------------------------ 33Cidade, cidadania e Qualidade de Vida --------------------------------------------------------------- 34Indicadores para o diálogo ------------------------------------------------------------------------------- 37Longevidade como expressão da qualidade de vida urbana ---------------------------------------- 39Déficit Social nos municípios brasileiros : Uma proposta para priorização da ação pública --- 41Pesquisa de Percepção da Qualidade de Vida em Santo André/SP -------------------------------- 43Contribuição para reflexão sobre qualidade de vida ------------------------------------------------- 45Até que ponto somos donos do nosso tempo? -------------------------------------------- 47Navegue! ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 48

SumárioSumárioSumárioSumárioSumário

Expediente:Expediente:Expediente:Expediente:Expediente:

Editor:Editor:Editor:Editor:Editor: Tania Margarete Mezzomo KeinertEditor asssistente:Editor asssistente:Editor asssistente:Editor asssistente:Editor asssistente: Paulo Roberto NascimentoColaboradores com a etapa de ediçãoColaboradores com a etapa de ediçãoColaboradores com a etapa de ediçãoColaboradores com a etapa de ediçãoColaboradores com a etapa de edição: Maria de Lima Salum e Morais, Sandra Maria Greger Tavares, Marcelo Rouanet, Nelson Fco. BrandãoEEEEEditoração:ditoração:ditoração:ditoração:ditoração: Nelson Francisco BrandãoCapa: Liana Soares - Capa: Liana Soares - Capa: Liana Soares - Capa: Liana Soares - Capa: Liana Soares - Composição (releitura) de Fragmento da Obra de Ana Keinert “Second Grade”Apoio LApoio LApoio LApoio LApoio Logístico:ogístico:ogístico:ogístico:ogístico: Núcleo de Informática-ISDivulgaçãoDivulgaçãoDivulgaçãoDivulgaçãoDivulgação::::: Núcleo de Documentação e Informação-ISColaboradores:Colaboradores:Colaboradores:Colaboradores:Colaboradores: Alexandra C. de Freitas, Álvaro Escrivão Júnior, Ana Aparecida Sanches Bersusa, Carlos Botazzo, Carlos Tato Cortizo, Claudetede Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena deCampos Lico, Jacqueline Serafim de Freitas, Jorge Kayano, Juan Carlos Raxach, Juliana Teixeira Fiquer, Lígia Rivero Pupo, Márcia AlvesSantana, Marco Akerman, Maria de Lima Salum e Morais, Maria Lúcia Rosa Stefanini, Marisa Fefferman, Marli Fernandes, Massumi Kamimura,Mônica F. Horta, Monique Borba Cerqueira, Paulo de Martino Januzzi, Paulo Henrique Nico Monteiro, Regina Mara Ramo Aneiros Fernandez,Renata Bertazzi Levy-Costa, Renato Barboza, Rosilda Mendes, Rosirene Leme Beraldi Gottardi, Ruben Cesar Keinert, Tania Margarete MezzomoKeinert, Tereza Etsuko da Costa Rosa, Tereza S. Toma, Tiago Noel Ribeiro, Virgínia de Fátima Novelli e Wilza Villela.

Secretário de Estado da Saúde - SPSecretário de Estado da Saúde - SPSecretário de Estado da Saúde - SPSecretário de Estado da Saúde - SPSecretário de Estado da Saúde - SPLuiz Roberto Barradas Barata

Coordenador dos Institutos de PCoordenador dos Institutos de PCoordenador dos Institutos de PCoordenador dos Institutos de PCoordenador dos Institutos de PesquisaesquisaesquisaesquisaesquisaLuiz Jacintho da Silva

Diretora do Instituto de SaúdeDiretora do Instituto de SaúdeDiretora do Instituto de SaúdeDiretora do Instituto de SaúdeDiretora do Instituto de SaúdeMaria Lúcia Rosa Stefanini

BIS - Boletim do Insti tuto de SaúdeBIS - Boletim do Insti tuto de SaúdeBIS - Boletim do Insti tuto de SaúdeBIS - Boletim do Insti tuto de SaúdeBIS - Boletim do Insti tuto de Saúdenº 32 - Abril 2004 nº 32 - Abril 2004 nº 32 - Abril 2004 nº 32 - Abril 2004 nº 32 - Abril 2004 ISSN 1809-7529ISSN 1809-7529ISSN 1809-7529ISSN 1809-7529ISSN 1809-7529 Publicação quadrimestral do Instituto de Saúde.Tiragem: 3000 exemplares. R. Santo Antônio, 590 Bela Vista . Cep: 01314-000 São Paulo-SPTel: (11) 3293-2222/Fax: (11) 3105-2772. E-mail:[email protected]: http://www.isaude.sp.gov.br

Qualidade de VidaQualidade de VidaQualidade de VidaQualidade de VidaQualidade de Vida

Page 3: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

3BIS#32/Abril_2004

EditorialEditorialEditorialEditorialEditorial

Maria Lucia R. Stefanini1

* Diretora e pesquisadora Científica do Instituto de Saúde. Email: [email protected]

Há dois anos inauguramos este formato para oBIS: apresentar cada número focando um eixotemático, introduzindo várias abordagens conceituaise diversas maneiras de interpretar o tema e aomesmo tempo, procurando contribuir para a reflexãoda teoria e da prática sobre o assunto.

Qualidade de Vida é o sétimo tema abordadonessa modalidade do BIS. Como nos anteriores,esse apresenta vários olhares. Compõe-se de 28textos que expõem a pluralidade dos significados de“Qualidade de Vida”. Inicia-se com o desafio deconceituá-la, sinalizando a complexidade do seusignificado e daí seguem-se artigos com enfoquesdos mais diversos, procurando relacionar ou mesmocondicionar Qualidade de Vida ao ambiente social,ao significado das brincadeiras e do humor naformação do jovem e do adulto, à formação deprofissionais, à produção científica e tecnológica,aos direitos humanos, cidadania, longevidade,segurança alimentar e nutricional, educação, àpolítica de medicamentos. Outros artigosreproduzem experiências vivenciadas na construçãodo observatório de qualidade de vida do municípiode Santo André.

Há preocupação de vários dos autores emapontar aspectos fundamentais para diminuir asdesigualdades sociais e melhorar a qualidade devida: introdução de novas formas de gestão local/municipal que considerem a intersetorialidade e aparticipação da sociedade como elementosessenciais; a utilização de sistemas de informaçãode qualidade que permitam a construção e adoçãode indicadores sociais e de avaliação de políticaspúblicas.

Três abordagens distintas sobre aintersetorialidade e qualidade de vida, além damencionada no estudo desenvolvido em Santo

André: proposta pela Organização Panamericanade Saúde por meio de um guia dos prefeitos; oprojeto Capela do Socorro Saudável, que definiuum plano estratégico de ação e a política deSegurança Alimentar e Nutricional.

Conta ainda com a resenha de dois livros quecontribuem para a reflexão sobre Qualidade de Vida.Não faltou neste número a seção Navegue, onde oleitor encontrará os endereços eletrônicos nacionaise internacionais sobre o tema central.

Trata-se, portanto, de mais um número do BISque concentra a diversidade dos enfoques de umatemática atual, oferecendo densidade nos seus textose convidando os leitores para a reflexão e revisãode suas práticas.

Page 4: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

4 BIS#32/Abril_2004

Trabalhar com a questão da qualidade de vida éenfrentar o desafio de conceituá-la, percebendo suacomplexidade e suas múltiplas facetas. Poderíamos tratá-la em pelo menos três dimensões, relacionando-a aosaspectos individuais (modo, condições, estilos de vida,percepção de bem-estar, espiritualidade, objetivos de vida,relações sociais), coletivos (desenvolvimento humano,comunidades saudáveis, sustentabilidade e ecologiahumana) e políticos (democracia, direitos humanos esociais).

Uma importante vertente quando se fala de qualidadede vida, da perspectiva do indivíduo, remete aos aspectossubjetivos a ela associados. “A questão da percepção dapopulação é o ponto de partida fundamental para umapedagogia de participação, da inclusão, que busqueconstruir não só novos resultados ou indicadores dequalidade de vida, mas, sobretudo, produzir novossignificados a respeito da qualidade de vida. (...) Paraeste trabalho de uma pedagogia da inclusão, daparticipação e a disputa de significados em torno daqualidade de vida, é fundamental a agregação, nosdiagnósticos, de elementos ligados aos desejos dapopulação, aos sonhos, aos medos, aos fatores desofrimento, ao que as pessoas gostam, à possibilidadede decidir, de escolher” (PONTUAL; 2002). Sendo assim,subjetividades, percepção e estados emocionais adquiremimportância fundamental na conceituação de qualidadede vida e, até mesmo, na definição de indicadores paraoperacionalizá-la ou de políticas públicas para aprimorá-la.

Qualidade de vida é sempre um conceito relativo.Relatividade que pode ser atribuída a um lugar, adeterminada cidade, a suas peculiaridades e conflitos(RYKWERT; 2004). Pode ser relacionada a diferentes faixasetárias, sendo conceituada de forma diferente em crianças- quando o brincar adquire especial importância -, ou emidosos – quando o corpo, e também a alma, passam aperceber a vida de forma diversa. Qualidade de vidaque se manifesta de forma diferente quando relacionadaà juventude, com questões como violência, uso de drogasou doenças sexualmente transmissíveis ganhandodestaque. Ou então quando sob um recorte de gênero,abordando, por exemplo, o uso do tempo pelas mulheres- as quais se sentem sem tempo para nada, mas exigidascomo se tivessem tempo para tudo.

Os aspectos coletivos, principalmente aquelesassociados à noção de sustentabilidade socioeconômica

e desenvolvimento humano, são outra perspectivadesafiante. Desafios que se colocam desde as limitaçõesimpostas pela precarização das condições de vida, peladegradação do ambiente urbano, pelo enfraquecimentodas redes de solidariedade; e até pelo seu oposto - adificuldade em se associar diretamente nível de renda equalidade de vida, desenvolvimento econômico e bem-estar, condições de vida e percepção de felicidade.

A dimensão política da qualidade de vida também édesafiante pois pressupõe a construção de uma“comunidade cívica”, de acumulação de capital social eformação de capital humano. Dimensão que exige aconstrução de acordos negociados que contemplem anoção de direitos humanos, políticos e sociais. Pressupõea possibilidade de participar das decisões, manifestaropinião, ser parte ativa na construção de um sistema degoverno democrático. É a chamada “ética dascapacidades” (SEN, 2000), que garante aos indivíduosas condições de realização e efetivação de possibilidadesdiferenciadas de existência.

Aspecto final que queremos ressaltar nessa breveintrodução é o da qualidade de vida enquanto parâmetropara a avaliação de políticas públicas. Ao tratá-la sobesse ponto de vista, queremos compartilhar com o leitora compreensão de que tais políticas devem sempre pautar-se pelo respeito a sua própria continuidade, que baseiem-se em acordos intersetoriais e que sempre sejamparticipativas.

RRRRReferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficas

PONTUAL, P. “Qualidade de Vida, Participação e Percepção daPopulação” in KEINERT, T M. M. e KARRUZ, A P. Qualidade deVida: Observatórios, Experiências e Metodologias; São Paulo,FAPESP-Annablume, 2002.

RYKWERT, J. “A Sedução do Lugar.” São Paulo, Martins Fontes,2004.

SEN, Amartya. Desenvolvimento como Liberdade, São Paulo,Companhia das Letras, 2000.

Qualidade de vida e avaliação de políticasQualidade de vida e avaliação de políticasQualidade de vida e avaliação de políticasQualidade de vida e avaliação de políticasQualidade de vida e avaliação de políticaspúblicaspúblicaspúblicaspúblicaspúblicas

Tania Margarete Mezzomo Keinert*

* Administradora, Pesquisadora Científica do Instituto de Saúde eeditora desta edição do BIS. Email: [email protected] [email protected]

Page 5: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

5BIS#32/Abril_2004

Por que algumas comunidades prosperam, têminstituições políticas efetivas e cidadãos saudáveis,enquanto outras comunidades não?

Por que acentuados diferenciais de mortalidade gerale por causas específicas, tais como doençascardiovasculares, câncer e violência, segundo o nívelsocioeconômico, são observados, tanto em países combaixos níveis de desigualdade social, quanto naquelescom cobertura universal de saúde?

Por que pessoas que residem em áreas depauperadastêm maior risco para apresentar pior perfil de saúde,mesmo quando ajustados para idade, sexo e níveleducacional? Por que áreas residenciais mais afluentesapresentam grupos de moradores com perfil de saúdecardiovascular mais saudável depois de devidamenteajustados por características demográficas ecomportamentais?

O perfil de saúde em áreas pobres pode ser explicadacompletamente pelas características dos residentes? Ouas particularidades relacionadas com o ambiente socialpodem ter um papel independente?

Questionamentos de tal ordem têm levadopesquisadores a investigarem a possibilidade de que arelação entre nível socioeconômico e saúde é mediadapelo número e pela natureza dos relacionamentos entreas pessoas. No plano individual, esse conceito é avaliadocomo “apoio social” (número e tipo de relações que umindivíduo tem) e, no âmbito populacional, é medido como“capital social” (“organização social” e “eficácia coletiva”são conceitos próximos), ou seja, uma avaliação daqualidade dos relacionamentos entre os moradores dedeterminada área (COHEN e cols, 2003).

Capital social refere-se a sistemas horizontais departicipação cívica, como associações comunitárias,grupos de música, cooperativas, grêmios desportivos,partidos políticos etc. Essas redes de intercâmbio socialsão regidas pela confiança, cooperação e reciprocidade,sendo esta última fundamental porque facilita a soluçãodos dilemas de ação coletiva. Fontes de capital socialincluem não só trocas recíprocas, mas principalmentevalores culturais e solidariedade étnica e de classes. Ocapital social torna-se produtivo na medida em que podeacumular, equiparando-se ao capital físico e humano:quanto mais uma sociedade acumula capital social, maisbenefícios obterá (LABRA, 2002).

Outra linha de pesquisa provém dos estudos sobre osaspectos físicos do entorno em que as pessoas de baixo

nível socioeconômico vivem. Circunvizinhanças de pessoasde menor nível social tendem a ter maiores taxas dedesordens físicas e deterioração (lixo nas ruas e calçadas,paredes grafitadas, vidros quebrados etc.) e também sãocaracterizadas pela desordem social. Resultados depesquisas nessa linha respaldam a teoria de quemudanças no ambiente das comunidades podemefetivamente modificar os comportamentos de saúde daspessoas. O entorno transformou-se no foco das políticasdo “Terceiro Setor”, em alguns países desenvolvidos, parao combate à exclusão social e tem sido tomado como ocenário-alvo das políticas de redução das desigualdadesem saúde (CATTELL, 2001).

Compreender as formas pelas quais o ambiente socialafeta a saúde é importante para melhorar nossoconhecimento sobre como as desigualdades em saúdesurgem e como podem ser reduzidas. Diante dopensamento predominante, de que o conhecimento, asatitudes e as habilidades individuais determinam nossocomportamento de saúde, a possibilidade de que ascondições contextuais em que vivemos sejam em largaparte responsáveis pela saúde e qualidade de vida -portanto, da longevidade - sugere que futuras intervençõesem saúde pública devam considerar nosso ambiente físicoe social.

RRRRReferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficas

COHEN, DA; FARLEY, TA; MASON, K. - Why is poverty un-healthy? Social and physical mediators. Soc Sci MedSoc Sci MedSoc Sci MedSoc Sci MedSoc Sci Med 2003,57:1603-41.

CATTELL V. Poor people, poor places, and poor health: the me-diating role of social networks and social capital. Soc Sci MedSoc Sci MedSoc Sci MedSoc Sci MedSoc Sci Med2001, 52:1501-16.

LABRA ME. Capital social y consejos de salud en Brasil. Un círculovirtuoso? Cad Saúde Pública Cad Saúde Pública Cad Saúde Pública Cad Saúde Pública Cad Saúde Pública 2002, 18 (suplemento): 47-55

Capital Social, Saúde e Qualidade de vidaCapital Social, Saúde e Qualidade de vidaCapital Social, Saúde e Qualidade de vidaCapital Social, Saúde e Qualidade de vidaCapital Social, Saúde e Qualidade de vida

Tereza Etsuko da Costa Rosa*

* Psicóloga, mestre e doutoranda em Saúde Pública/USP. Pesquisadorado Instituto de Saúde. Email: [email protected] [email protected]

Page 6: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

6 BIS#32/Abril_2004

São inegáveis os benefícios da brincadeira e do humorpara a saúde humana. Dada a extensa dimensão dofenômeno da ludicidade, pretendo ater-me aqui ao brincarna criança, especificamente até os seis anos de idade.

Brown (1998), tratando de evidências clínicas dobrincar, aponta duas situações que atestam suaimportância na infância e suas repercussões na vidaadulta: (1) estudando a vida de alguns assassinos emsérie, evidencia que, em comum, foram impedidos debrincar livremente na infância; (2) antes mesmo de outrosindícios advindos de exames clínicos e laboratoriais decrianças gravemente enfermas, o primeiro sinal de melhorade seu estado de saúde é comportamental, manifestoatravés da retomada do brincar, interrompido durante asfases críticas da doença. A partir dessas evidências, Brownconclui sobre a função reparadora do brincar que, assimcomo o sono e o sonho, funcionaria como um super-organizador da experiência.

Pretendo levantar duas questões ligadas ao brincar: aprimeira delas diz respeito à espontaneidade da atividadelúdica, que tem sido objeto de discussão entrepesquisadores de base e educadores e que, em últimainstância, repercute sobre a saúde mental das crianças,principalmente daquelas inseridas no sistema educacionaldesde os anos pré-escolares. A segunda, mais ambiciosa,trata de tecer considerações sobre a brincadeira em nossacultura, comparando-a àquela existente em outrassociedades erigidas sobre bases mais simples etradicionais, representadas principalmente pelassociedades indígenas.

Carvalho, Magalhães, Pontes e Bichara (2003)ressaltam a importância da brincadeira na expressão deemoções, motivações, percepções e aspirações humanasfundamentais. Apresentam argumentos que contrariam a“formatação do brincar”, a prática pedagógica queprocura dirigir, enquadrar e apropriar-se da brincadeira,estruturando-a, regrando-a, delimitando-a. A essência dobrincar deve ser a espontaneidade.

O grupo de brinquedo é um espaço em que seconstróem redes de relações em que papéis são atribuídos,regras são estabelecidas, procedimentos são adotadosnuma dinâmica muito ágil, em que, a qualquer momento,uma mudança é possível. Os papéis não são fixos, asrotinas não se estabelecem. Trata-se de um mundo deinovação e, ao mesmo tempo, de transmissão e deiniciação cultural.

Uma das linhas da psicologia intercultural distingue,basicamente, dois tipos de cultura: as ocidentais e as nãoocidentais (KELLER,1998). Essa divisão, embora super-

Brincadeira infantil: um lugar de saúdeBrincadeira infantil: um lugar de saúdeBrincadeira infantil: um lugar de saúdeBrincadeira infantil: um lugar de saúdeBrincadeira infantil: um lugar de saúdeMaria de Lima Salum e Morais*

simplificadora, nos ajuda a compreender algumasdiferenças entre as formas de criação e de cuidados coma criança existentes em diversas comunidades. Associedades ocidentais, atualmente moldadas pelospadrões euro-americanos, seriam todas aquelas quederivam do chamado progresso tecnológico e nas quaisprevalecem valores de autonomia, independência, auto-realização e competitividade. Por sua vez, as culturas não-ocidentais são moldadas por valores coletivistas decompartilhamento dos bens materiais e pela importânciadada ao bem-estar do outro.

Ora, resulta que o espaço da criança e as expectativasem relação a ela diferem muito nos dois tipos de cultura.Nas sociedades ocidentais, em que o cuidado em relaçãoaos filhos é mais individualizado e o raciocínio lógico-abstrato supervalorizado, grande parte da educação nosprimeiros anos de vida é partilhada com creches e pré-escolas, espaço criado recentemente na história dahumanidade.

Por um lado, as crianças de nossa cultura vivem numambiente de altíssimo nível de estimulação, incentivadoainda mais pelos meios de comunicação, pela indústriade brinquedos e pela incorporação de novas tecnologias.Por outro lado, acostumam-se a algumas atividades emque são passivas e superdirecionadas. Nesse contexto,as iniciativas das crianças para brincadeiras tradicionaisauto-dirigidas tornam-se cada vez mais restritas.

Façamos agora uma tentativa de retomar o tipo devida de nossos ancestrais, o que pode ser ilustrado pelascomunidades indígenas atuais. Nessas sociedades, noprimeiro ano de vida, as crianças mantêm contato corporalintenso com as mães, que as transportam para onde querque vão e satisfazem suas necessidades à medida quesurgem. Os bebês são o centro das atenções dos maisvelhos, sendo acalentados pelos pais, irmãos e outrosmembros da comunidade (GOSSO & OTTA, 2003). Édesta forma que a criança começa a participar da vidacomunitária.

Quando chegam aos dois ou três anos, há umaabrupta mudança de status, em parte ocasionada pelonascimento de um irmão. Nessa nova fase, a criança passaa ser apenas mais um membro da comunidade. Emalgumas sociedades, os adultos e as crianças mais velhaspraticamente não dão atenção para a criança pequena.Seus acessos de raiva, suas birras, seus “caprichos” são

* Pesquisadora científica do Instituto de Saúde e doutoranda emPsicologia. Email: [email protected]

Page 7: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

7BIS#32/Abril_2004

ignorados pelos mais velhos. Assim, rapidamente, acriança entende que ninguém é especial, superior ouexerce domínio sobre os demais (BONTA, 1997). Aprendecom as crianças mais velhas, principalmente através debrincadeiras, em que também imitam os pais,incorporando valores e regras de seu grupo socioculturale iniciando-se nas principais tarefas comunitárias. Ascrianças aprendem a identificar os limites de formavivencial, obtendo assim conhecimento da sociedade emque vivem e dos indivíduos com quem interagem (NUNES,1999).

O sistema de valores, naturalmente, repercute nasbrincadeiras infantis. Embora as brincadeiras dos índiosbasicamente sejam muito semelhantes àquelas dascrianças de nossa sociedade, nelas, a inventividadeconvive harmoniosamente com a tradição. Nesse contexto,a brincadeira é uma escola através da qual a criançatreina habilidades que lhes serão fundamentais na vidaadulta. Os meninos imitam os homens e as meninas, asmulheres e, assim, pouco a pouco, à medida que sedesenvolvem, o jogo se transforma em trabalho.

Raramente ocorre o mesmo nas sociedades urbanasatuais, em que a maior parte das crianças não presenciao trabalho dos pais e em que, muitas vezes, o únicoexemplo que têm é o de uma figura feminina que realizaas atividades domésticas. Crianças que vivem nessesambientes passam a ter um contato extenso com ummundo, em grande parte, virtual.

Nunes (2002) também salienta o relativo isolamentodas crianças de nossa sociedade em relação ao mundoadulto e ressalta a liberdade na vivência do tempo e doespaço de crianças indígenas. A autora acredita que associedades indígenas propiciam à criança melhorcompreensão do social, enquanto as ocidentais estãodificultando a integração infantil no mundo adulto.

No entanto, a função das brincadeiras e jogos napreparação das crianças para a inserção gradual nasociedade adulta não lhes tira o caráter de prazerintrínseco, de atividade revigorante e organizadora, queajuda a criança a elaborar suas experiências, a lidar comsuas emoções, a entender o outro e a relacionar-se comele.

Gianetti (2002), em seu livro Felicidade coloca-nosas seguintes questões: que lições tirar das conquistas edesacertos das nações que lideram o processocivilizatório? A civilização entristece o animal humano?Não temos ainda respostas para estas questões, maspodemos parar para refletir sobre elas e sobre o que nossasociedade tem feito para promover a qualidade de vidade nossas crianças, tendo em perspectiva não só seupresente, mas também seu futuro: o jovem e o adultoque estamos formando.

RRRRReferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficas

BONTA, B. (1997). Cooperation and competition inpeaceful societies. Psychological Bulletin, 121(2), 299-320.

BROWN, S. L. (1998). Play as an organizing principle:clinical evidence and personal observations. In: M. Bekoff& J. A. Byers (Eds.), Animal Play (pp. 243-259). Cam-bridge, UK: Cambridge University Press.

CARVALHO, A.M.A.; MAGALHÃES, C.M.C; PONTESF.A.R. & BICHARA, I.D. (2003.), Brincadeira e cultura:viajando pelo Brasil que brinca [São Paulo: Casa doPsicólogo.

GIANETTI, E. (2002). Felicidade. São Paulo: CompanhiadasLetras.

GOSSO, Y. & OTTA, E. (2003). Em uma aldeia Parakanã..In A. M. A. CARVALHO; C. M. C. MAGALHÃES; F. A. R.PONTES & I. D. BICHARA (Orgs.), Brincadeira e cultura:viajando pelo Brasil que brinca .(pp. 33-76), vol. I. SãoPaulo: Casa do Psicólogo.

KELLER, H. (1998) Diferentes caminhos de socializaçãoaté a adolescência. Revista Brasileira de Crescimento eDesenvolvimento, 8, 1-14.

NUNES, A. (2002). No tempo e no espaço: brincadeirasdas crianças A’uwe-Xavante. In: A. L. SILVA, A. V. L. S.MACEDO & A. NUNES (orgs.), Crianças indígenas:ensaios antropológicos (pp. 64-99). São Paulo: Global.

Page 8: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

8 BIS#32/Abril_2004

PPPPPobres e pobreza.obres e pobreza.obres e pobreza.obres e pobreza.obres e pobreza.PPPPPor uma ética de afirmação da vidaor uma ética de afirmação da vidaor uma ética de afirmação da vidaor uma ética de afirmação da vidaor uma ética de afirmação da vida

Monique Borba Cerqueira*

Pobres e pobreza constituem um tema de difícilabordagem, seja por sua capacidade de produzir numplano abstrato um círculo estéril e vicioso de impasses nodebate político, econômico e sociológico, seja pelaexaustão que se explicita na sua concretude comofenômeno do mundo, generalizado e banal, apontandocada vez mais para uma realidade aceita socialmente emuito próxima do imutável. Essa mesma imprecisão efluidez passa pelo debate acadêmico e é evidenciada napreocupação de especialistas com a urgência daconstrução de um método científico consistente capaz demedir internacionalmente a pobreza, ao mesmo tempoque os indicadores precisariam incluir “medidas subjetivasrelacionadas ao sentir-se pobre”1 . Trata-se aqui de tentarmapear e dar contenção a um fenômeno poroso,altamente complexo. Por outro lado, essa degenerescênciapresa à noção de pobreza que jamais informa sobreexatamente do quê ou de quem se está falando éabsolutamente sintomática, posto que desencoraja odesvendamento de seus mistérios, tornando-os triviais eesgotados em si mesmos.

O predomínio de uma idéia informe e fantasmáticade pobreza não dissimula, molda e atormenta apenas osdesvalidos. Implantada no coração social, a ameaçarepresentada pela falta soberana gera medo e engendradispositivos políticos que percorrem toda sociedadecapitalista. Muitas são as gradações que essa poderosamáquina de codificação estabelecerá nos grupos eindivíduos. Nesse sentido, nossa discussão exige, aprincípio, não tomar a pobreza como fenômenodeterminado exclusivamente por um padrão econômicoexpresso na esfera da materialidade, mas a partir dadinâmica das relações sociais que ancora uma maior oumenor base de reciprocidades éticas entre os homens.

O pobre é incapaz, grotesco, burro, abjeto, sópodendo ocupar um lugar de subtração e exibir algumaforma de apagamento de si. Por isso, ao conjunto daplebe nomeia-se “povo”, título que prima pela mesmaindiferenciação atribuída às “classes populares”. Ambassão formas que sugerem uma adequação da política àpobreza. Apontando para vagos e imprecisos contingentes

humanos, sob tais definições constela-se uma grandedificuldade: a de reconhecer que os pobres são, antes detudo, possuidores de desejo, além de serem possuídospelos desejos alheios. Martin-Barbero (2003), ao tematizaras transformações do “homem da indústria”, cujaparticipação já não era apenas como espectador de umprocesso, mas também como ator, vê no proletário dofilme “Tempos Modernos” um “homem com fome, torpe,golpeado continuamente pela política e, contudo dotadode uma capacidade de significar, de uma forçarepresentativa imensa...”. Mas, porque o desejo é umaforça capaz de derrubar as distinções de classe, os pobresdificilmente são reconhecidos sob seu solo.

Em sua leitura sobre Espinosa, Deleuze (2002) apontapara uma filosofia que denuncia tudo aquilo que falsificae nos separa da vida através de valores de depreciaçãoda própria vida. É deste referencial que partimos para acompreensão de uma idéia que se expressa através deimagens e semânticas negativas e correlatas.

Num sentido oposto aos domínios da ética, amoralidade reforça a impotência, regula visibilidades einvisibilidades daqueles que estão em toda parte: ospobres. Por isso, requer atenção todo modo de identificar,classificar, qualificar o pobre. Códigos moralmentecompartilhados recomendam, indicam, estabelecem queo pobre bom, o pobre dócil é aquele que consome pouco,mas consome; é fundamentalmente um trabalhador; estáinserido em algum arranjo ou dinâmica familiar; podeser ou não eleitor, pois sua mera figuração existencialproduz antecipadamente dividendos políticos. Esse é opobre que está na literatura, na mídia, nas plataformaspolíticas, nos programas sociais. É o pobre que não podefalar, mas de quem se fala. É o pobre que recebe elogios,prêmios por seu esforço criativo ou empreendedor; éaquele para quem planejam-se intervenções e imagina-se resgatar dos limites da doença, do crime, dadelinquência; às vezes incômodo, esse pobre é, sobretudo,útil.

Mas há outro tipo de desvalido, aquele que é “sujo”,“esfarrapado”, “nauseabundo”, “coberto de úlceras” e

Page 9: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

9BIS#32/Abril_2004

“repugnante”. Pode ser, além disso, um “desclassificado”,representante da “escória”, o “refugo”, “o rebotalho detodas as classes” (MARX, 1978). A idéia delumpemproletariado reforça que não há lugar socialreservado para esses seres, cuja existência não é passívelde ser incorporada a uma classe.

Mas “pobreza” não é apenas uma palavra destinadaa designar. É o lugar de confinamento dos pobres. Porisso, surpreendente é a linha que atravessa as dimensõessemânticas reveladas na incrível variedade derepresentações em que o pobre e a pobreza associam-se a sentimentos. Mollat (1989) chama atenção para aenorme condescendência que o diminutivo “pobrezinho”pode exprimir, bem como suas oscilações de sentido,que vão do desdém, ao desprezo; do desprezo, à repulsa.Uma incrível dramaticidade acerca o homem pobre esua condição sofrida. A pobreza é um acontecimentoque impõe estranhas gradações à nossa sensibilidade— piedade, indignação, misericórdia, repugnância,temor, revolta —; emoções que ao circularem no espaçosocial imprimem sua marca nas esferas de produçãointelectual e política, onde encontram sua completanaturalização.

Ao contrário das visões que alegam uma tendência àobscuridade na qual enclausurou-se a pobreza, Telles(1999) afirma o quanto estamos diante de uma realidadeamplamente registrada na sociedade brasileira. Mas porque essa pobreza tão conhecida, tão persistente semprefoi incapaz de exigir padrões mínimos de civilização? Esteé o enigma da pobreza brasileira, segundo Vera Telles.

Até que ponto essa ampla visibilidade que temos dapobreza nos provoca? E aqui sua imagem mistura-se àexperiência real de uma sociedade que tropeça na misériae, talvez, por isso mesmo, tenha criado tantos artifíciospara absorvê-la de forma silenciosa.

A ampla visibilidade da pobreza na sociedade brasileiranão é formadora de opinião política, não traz clareza outransparência para solução dos problemas sociais. Maisdo que qualquer outra coisa, a imagem da pobreza reforçauma moral da impotência e da rejeição. E é sob este solomoral que se define um regime de representação eintervenção que elege qual o contingente de minimizaçãohumana sob seu foco.

RRRRReferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficas

DELEUZE, Gilles. Espinosa, Filosofia Prática. São Paulo:Escuta, 2002.

MARTIN-BARBERO, Jesús. Os Meios e as Mediações. Riode Janeiro: UFRJ, 2003.

MARX, Karl. O 18 Brumário e cartas a Kugelmann. Rio deJaneiro: Paz e Terra, 1978.

MOLLAT, Michel. Os Pobres na Idade Média. Rio deJaneiro: Campus, 1989.

TELLES, Vera. Direitos Sociais. Afinal, do que se trata? BeloHorizonte, UFMG: 1999.

Foto da exposição Retratos Falantes de Paulo Fridman.

* Pesquisadora do Instituto de Saúde. Email: [email protected] Palestra realizada em 18/11/2002, na PUC/SP, pelo Professor Dave

Gordon, Diretor do Centro Townsend para Pesquisa Internacional sobrea Pobreza.

Page 10: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

10 BIS#32/Abril_2004

1 Pesquisa realizada com apoio da FAPESP e do CNPq.* Professora associada - Departamento de Psicologia Experimental

(Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo).Email: [email protected]

**Graduanda do Curso de Psicologia (Instituto de Psicologia daUniversidade de São Paulo). Email: [email protected]

A idéia da presente pesquisa foi sugerida por um númerotemático do American Psychologist de Janeiro de 2000, dedicadoà felicidade e ao funcionamento humano ótimo. Um resultadorecorrentemente apresentado em vários artigos deste número éa influência favorável de estados emocionais positivos sobre asaúde física, o que pode se dar através de diferentesmecanismos, tais como: efeito direto sobre a fisiologia,especialmente o sistema imunológico, recursos psicológicosengendrados por estados emocionais positivos, motivação decomportamentos relevantes para a saúde. Considerando que obem-estar é uma medida de qualidade de vida, a compreensãodos seus determinantes pessoais e situacionais é importante parapolíticas públicas que visem a saúde.

Nosso objetivo no presente estudo foi investigar o bem-estar subjetivo em relação à idade, ao tipo de cidade em que apessoa vive e possíveis variações em função de gênero. Existemprevisões diversas a respeito da relação de bem-estar com idade.Segundo a perspectiva de indicadores sociais, o bem-estardiminui com o aumento da idade devido a uma menordisponibilidade de recursos físicos, psicológicos e materiais.Segundo a teoria da seletividade sócio-emocional, à medidaque as pessoas ficam mais velhas ocorre uma maximização deafetos positivos e uma minimização de afetos negativos, emfunção da adaptação aos eventos da vida e de alteraçõesvivenciadas em contextos sociais. Já para a teoria de “set-point”, a idade é irrelevante, sendo que as diferenças individuaispara sentir afetos positivos e negativos, e conseqüentemente,para avaliar bem-estar, são resultado do tipo de personalidade.

Na presente pesquisa, foram feitas entrevistas com 85pessoas (41 homens e 44 mulheres) que viviam em Socorro,uma cidade do interior do Estado de São Paulo com 40.000habitantes, e 80 pessoas (40 homens e 40 mulheres) que viviamem João Pessoa, uma cidade praiana do Estado da Paraíbacom 844.000 habitantes. Em ambas as cidades os participantesforam distribuídos em quatro grupos etários: jovens (n= 40),adultos (n=44), meia-idade (n=41) e idosos (n=40).Responderam a uma escala de seis afetos positivos e seis negativos(MROCZEK e KOLARZ, 1998), quanto à freqüência com queforam sentidos durante os últimos 30 dias, além de avaliaremsua satisfação perante a vida, a de seus melhores amigos e dealgumas figuras públicas (políticos, artistas e esportistas).

Os resultados encontrados foram submetidos a uma análisemultivariada de variância . A MANOVA revelou efeitos principaissignificativos de idade e de sexo. Pessoas idosas, em ambas asregiões, consideraram-se menos nervosas do que pessoas demeia-idade e mais satisfeitas com a vida do que os jovens,adultos e as pessoas de meia idade. Homens se mostrarammais freqüentemente satisfeitos do que as mulheres, apesar detenderem a relatar maior sentimento de obrigação.

A interação entre sexo e idade foi significativa para o

Bem-Bem-Bem-Bem-Bem-estar subjetivo e suas alterações aoestar subjetivo e suas alterações aoestar subjetivo e suas alterações aoestar subjetivo e suas alterações aoestar subjetivo e suas alterações aolongo da vidalongo da vidalongo da vidalongo da vidalongo da vida11111

Emma Otta* & Juliana Teixeira Fiquer**

sentimento de inutilidade e calma. Entre os adultos, as mulheresrelataram sentimento mais freqüente de inutilidade do que oshomens. Nas demais faixas etárias não houve diferença emfunção de sexo quanto a este sentimento. Entre os jovens, asgarotas relataram menor calma que os rapazes. O fato dasmulheres especialmente jovens se apresentarem com menoscalma em comparação com os homens está de acordo com aliteratura relacionada com estresse, que aponta uma prevalênciaentre meninas. A adolescência é uma fase do desenvolvimentohumano em que a probabilidade de desenvolver estresseaumenta, frente à necessidade de adaptação exigida doindivíduo em relação a mudanças corporais, de identidade e depapéis sociais. Meninas têm apresentado uma diminuição daauto-estima, aumento da preocupação com a imagem corporal,aumento de transtornos alimentares e depressão clínica, quenão se verifica de maneira significativa entre os meninos.Flutuações cíclicas de estrogênio e progesterona estariam nabase das reações de estresse das mulheres, conferindo-lhessuscetibilidade maior para ansiedade e irritabilidade emcomparação com homens. Contudo, também há possibilidadeda diferença encontrada estar relacionada com maiorexternalização de sentimentos entre as mulheres.

Em conjunto, nossos resultados mostram que o gêneroparece ser um fator importante na modulação das alteraçõesem bem-estar subjetivo que ocorrem ao longo da vida, aindaque novas pesquisas sobre alterações fisiológicas da puberdadee seus efeitos sobre o comportamento e estados de ânimo sejamnecessárias. Por outro lado, os resultados relativos à idadelançam perspectivas positivas no campo da gerontologia. Estãode acordo com a teoria da seletividade socioemocional, queconsidera que à medida que as pessoas envelhecem, as emoçõessão mais bem reguladas, o que proporcionaria maior sentimentode bem-estar entre idosos.

RRRRReferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficas

MROCZEK, D. K. & KOLARZ, C. M.(1998). The effect of age on positiveand negative affect: A developmental perspective on happiness. Journalof Personality and Social Psychology, 75, 1333 – 1349.

MYERS, D. G. (2000). The funds, friends, and faith of happy people.American Psychologist, 55, 56-67.

RYFF, C. D. & KEYES, C. L. M. (1995). The structure of psychologicalwell-being revisited. Journal of Personality and Social Psychology, 69,719- 727.

Resumo. Considerando a influência de estados emocionais sobre a saúde das pessoas, a presente pesquisa investigou o sentimento de bem-estar subjetivo de homens e mulheres de quatro grupos etários, moradores de uma cidade do interior de São Paulo e de uma cidade praianado Nordeste. Foram entrevistadas 165 pessoas que responderam a escalas de afetos positivos e negativos. O principal resultado foi aconstatação de que os idosos se mostraram mais satisfeitos com a vida e menos nervosos quando comparados com pessoas mais jovens.Uma possível interpretação pode ser dada segundo a teoria da seletividade socioemocional, segundo a qual as emoções são mais bemreguladas à medida que as pessoas envelhecem.

Page 11: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

11BIS#32/Abril_2004

Qualidade da vida: uma contribuição das PQualidade da vida: uma contribuição das PQualidade da vida: uma contribuição das PQualidade da vida: uma contribuição das PQualidade da vida: uma contribuição das Políticasolíticasolíticasolíticasolíticasda Subjetividade Contemporâneada Subjetividade Contemporâneada Subjetividade Contemporâneada Subjetividade Contemporâneada Subjetividade Contemporânea

Marli Fernandes*

Este artigo tem dupla intenção: a primeira é derepensar o conceito de qualidade dedededede vida e formas dadadadadavida sob a égide das políticas da subjetividade, sobretudo,nos modos de vida produzidos com a globalização e astecnociências, cujos efeitos envolvem mudança radicaldas formas de existência humana e exigem esforço deelaboração em todas as áreas do conhecimento. Se avida é expropriada pelo mercado capitalista, exige-se daspolíticas públicas a compreensão dos efeitos biopolíticosdo capitalismo, inclusive nos estratos mais carentes dapopulação, que, ao contrário do que possa parecer,sofrem tais conseqüências. A segunda é redesenhar osaspectos ditos “subjetivos” e objetivos na formulação daspesquisas em qualidade de vida, referenciadas mais porum pensamento ético-político de integração dos modelosquali/quantitativos e menos por uma ética de oposiçãoaos mesmos. Neste sentido, a subjetividade não é umasuperestrutura etérea, mas força viva, quantidade social,potência política. PPPPPalavrasalavrasalavrasalavrasalavras-----chavechavechavechavechave: produção desubjetividades, agenciamento, potência de criação,modos ou formas de vida.

Qual o sentido de se traçar um paralelo entre assubjetividades contemporâneas e as pesquisas públicasurbanas que pretendem consolidar uma melhora daqualidade de vida? De imediato, o sentido desta lógicatem a ver com o que nos interessa, ou seja, com a própriavida um campo de experiências, de afeto, de sonho,de conexões e fugas, de criação de sentido.

Em termos mais simples, o conceito de subjetividadepode apontar para um modo de viver, um modo de fazer,um modo de habitar. Mas se o modo de viver exprime aapreensão que temos da realidade, não é difícilcompreendermos que as subjetividades são tambémproduzidas, fabricadas e criadas por esta mesmarealidade, a partir de uma multiplicidade de planoscoletivos e individuais que se agenciam. Quais seriam asimplicações mais imediatas do conceito subjetividade,como produção?

A primeira implicação é que a subjetividade comoprodução ultrapassa o conceito representativo dosubjetivo como algo psicológico, um “desejo dasprofundezas do eu”. O subjetivo é um dos planos daprodução de subjetividades, não é sua totalidade. Asegunda implicação, é que os planos sociais, ambientais,mentais são planos heterogêneos que se agenciam o

tempo todo em nossas vidas. Agenciar-se não é a mesmacoisa que misturar-se. Os agenciamentos sãoheterogêneos, móveis e anunciam a aparição do novo,da diferença e da singularidade (DELEUZE & GUATARI,1995-1997). Portanto, não se trata apenas da mistura deplanos. Em outras palavras, a dinâmica do agenciamentonão se produz em termos das funções de causa e efeito,máxima representação da ciência clássica, e nem sempreresponde à condição da ordem do necessário e dosuficiente.

Em termos da pesquisa sobre qualidade de vida, nãoé novidade para os pesquisadores sociais que oschamados dados “subjetivos” somados aos indicadoressociais muitas vezes se mostram insuficientes no processode formulações de políticas públicas. Basta destacarmosas referências no livro “Qualidade de Vida, observatório,experiências e metodologia” (KEYNERT & KARRUZ, 2002)relativas à fonte de satisfação e de insatisfação em relaçãoaos espaços urbanos. Um estudo americano demonstraque, apesar da área degradada, 75% da populaçãoreferem satisfação (BRAVO & VERA, 1993: 99). Outroestudo incluindo o Brasil mostra a dissonância entre arenda ‘per capita’ e a expectativa de vida longa e viverbem: a amostra aponta que alguns países de menor renda‘per capita’, como o Sri Lanka, a China ou o Estado deKerala, na Índia, não obstante, apresentam uma maiselevada relação com “viver mais tempo” (SEN, 2000:123). Portanto, existe um grau de defasagem da qualidadede vida que inverte o sentido da função entre o que seespera em termos de indicadores e o que de fato ocorrena realidade.

Parece-nos claro que a relação “causal” é muitocomplexa, indicando, de certa forma, que o conhecimentoparece não ser suficiente para tornar, por exemplo, ascondições urbanas melhores, como nos diz o professorde Políticas Urbanas Robert H. Wilson (2002).

Cabe então a pergunta: como os estudos sobre assubjetividades podem contribuir para a explicitação doimensurável? Porque, geralmente, tal perspectiva nãoresponde à construção funcional da ciência clássica.

Eis aqui nosso primeiro susto. O paradoxo da incertezafere nossas convicções. Claro, já sabemos que é falsa aconvicção de que se algo não for mensurável não existeno real e não nos interessa, para efeitos práticos eobjetivos. Então, convém insistirmos na pergunta anterior.

Page 12: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

12 BIS#32/Abril_2004

Um dos estudos mais interessantes sobre a realidadecontemporânea e a produção de subjetividades é sobrea Biopolítica. Nas últimas décadas, produziu-se um novomodo de relação entre capital e subjetividade, umapenetração do capital na vida e na subjetividade numaescala nunca vista, como diz o filósofo Peter Pal Pelbart(prelo) e Pelbart (2000). Hoje se vive uma circulação defluxos de alta velocidade: capitais, informações, máquinasde captura fabricadas pela homogeneização do mercadocapitalista distribuidor de riqueza e da pobreza.

Coextensivos a estes estudos, autores como Deleuze,Negri, Hardt, Lazzaratto, mostram que a Biopolítica nãosó explicita o poder sobre o corpo, um controle atravésdas reproduções da vida, mas também aponta para osefeitos positivos e libertadores em outra dimensão, maisafirmativa e positiva. Em outros termos, trata-se dacapacidade de produzir o novo, a invenção de formas devida cuja capacidade não está subordinada à valorizaçãodo capital. Neste sentido, não se produz só na fábrica,não se cria só na arte, não se resiste só no campo daPolítica. A vida deixa de ser definida apenas a partir deprocessos biológicos que afetam a população e suascondições de reprodução, passa a significar uma energiaanorgânica, um desejo como produção de realidades,uma sinergia coletiva.

Não seria importante que as formulações de PolíticasPúblicas se detivessem no exame destas forças? Quandoum grupo de jovens presidiários compõe e grava suamúsica, o que eles mostram e vendem não é só suamúsica, nem só sua histórias de vida, mas seu estilo, suasingularidade, sua percepção, sua revolta, sua maneirade vestir, de morar na prisão, de protestar. Claro, omercado do capital cultural também vampiriza estasformas de criação, para depois descartá-las. Entretanto,a potência de criação extrapola estas forças perversas domercado e este é, sem dúvida, o diferencial que marcaos sinais da resistência da vida enquanto produção desubjetividades na contemporaneidade.

Nesta direção vimos no Brasil, no II Fórum SocialMundial, em 2002, o projeto Criação/Resistência

1, de

âmbito internacional, discutindo as análises de ferramentasde mapeamento entre as cidades globalizadas como SãoPaulo e o cenário atual dos planos culturais, sociais e daqualidade da vida ressoando subjetividades.

Estas novas configurações entre capital, subjetividadese qualidade da vida fazem parte atualmente de projetosde pesquisas que têm como pano de fundo todas astransformações tecnológicas e produtivas do mundoglobalizado.

Diante desta produção de subjetividades quecompõem as nossas vidas, podemos encaminhar umaidéia provisória, mas nada inofensiva. Parece-nos que senão se pode medir ou fazer o mapa dessas forças devida, podemos ao menos tentar cartografá-las, a partir

de um observatório das potências de vida, os seus pontosde emergência, seus locais de irrupção, seus dispositivos,tanto quanto dos efeitos da comercialização da vida comsua reativação vital. Ir além da racionalidade técnica,estimular a participação da comunidade, tendo osagenciamentos individuais e coletivos que se engendram,próprios de cada momento, lugar e conjuntura com oreal.

As Políticas Públicas da qualidade de vida devem serreativadas e somadas pelos indicadores, por debates naesfera pública em diversos níveis de pesquisas, ancoradospor um ética conectiva aos modos de vida, invertendo osentido da potência de criação, como forçasdesacreditadas da sociedade em geral. Senão, corremoso risco de formatarmos ações representativas de umcontrole social (“de fora para dentro”) produzindosubjetividades desvitalizadas da consciência do que sejaexercer cidadania, entendidas facilmente pela própriapopulação como uma atitude benemérita do Estado.

RRRRReferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficas

BRAVO, Maria Tereza de & VERA, Silvia F. de. EL conceptode calidad de vida:uma revision de su alcance y contenido.Revista geográfica venezuelana. Mérida,Universidad delos Andes, v.34, n.2, 1993

DELEUZE & GUATARI. Mil Platôs - Capitalismo eEsquizofrenia, 5 vols, São Paulo, Editora 34, 1995-1997(Mile Plateaux: capitalisme et schizophrénie. Paris,Minuit,1980).

KEINERT & KARRUZ Orgs. Qualidade de Vida,Observatório, Experiências e Metodologia.São Paulo:Annablume: Fapesp, 2002.

PELBART. P. - Michel Hardt. Affective Labor, inédito, Incluídoem Tecnosubjetividade- Cadernos de Subjetividade. Ed.Hucitec, no prelo. (IN: Negri . Traivall et affectt. I FuturAntérieur, Paris, 1997; incluído na edição brasileira deExílio)

PELBART, P. - A Vertigem por um Fio. Políticas daSubjetividade Contemporânea. Editora Iluminuras. SãoPaulo. 2000.

WILSON, R.H. prefácio Orgs. Qualidade de Vida,Observatório, Experiências e Metodologia. São Paulo:Annablume: Fapesp, 2002.

* Psicóloga, mestranda em Psicologia/PUC, Pesquisadora do Institutode Saúde. Email: [email protected]

1 PROJETO CRIAÇÃO /RESISTÊNCIA - II Fórum Social Mundial. PortoAlegre. Rio Grande do Sul. Brasil. Orgs: Catherine David, Suely Rolnik,Peter Pál Pelbart, Denise B. Sant’Ana, Laymert Garcia dos Santos,Kazuo Nakano, Ligia Nobre e Cécile Zoones, 2002.

Page 13: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

13BIS#32/Abril_2004

Como a sociedade trata o corpo das pessoas? Comocada pessoa trata seu próprio corpo?

Essas questões remetem à compreensão de como adinâmica social influencia a construção do corpo de cadaum, as relações humanas e conseqüentemente a própriaqualidade de vida. Nesse sentido, o corpo é definido como“relativo e absoluto simultaneamente, quando se buscasua identidade nas transações sinergéticas. Estas, por suavez, acontecem em meio a perversões e emancipações,dividindo o corpo ou tornando-o único” (DANTAS, 1994).

A partir dessa definição, é importante entender o corpodas pessoas, as quais se relacionam entre si, para quedesse modo seja possível também entender a reproduçãoda ordem social vigente e o desvelamento de suas políticaspúblicas.

“O corpo representa, a depender da época e doespaço, valores vigentes na sociedade. As necessidadesatribuídas ao corpo têm diferentes significadosrelacionados à sociedade, incorporando suasespecificidades, desejos reprimidos, outras vezesincentivados, de acordo com o contexto no qual seinserem” (CARVALHO, 1998: 33).

Durante muito tempo a doutrina da instrumentalizaçãodo corpo (o corpo como instrumento da alma) perpassouo pensamento de grandes filósofos antigos e medievaiscomo Platão, Aristóteles, Epicuro, São Tomas de Aquino,Hobbes entre outros. Mas, é a partir da visão cartesianaque corpo e alma se dicotomizaram. Passou-se a atribuirum valor superior ao trabalho mental em detrimento dotrabalho manual. Todo o arcabouço científico e filosóficodesta visão é sedimentado por uma revolução que ocorrepor volta dos séculos XVI e XVII, conduzida por pensadorescomo Copérnico, Galileu, Francis Bacon, Descartes, IsaacNewton, entre outros. Cria-se um modelo mecanicista;nasce um rigoroso determinismo (MEDINA, 1991).

De acordo com Morin (2002), o postulado deterministaoculta o imprevisto, o novo e a invenção. O princípio daredução pode também cegar e conduzir a excluir tudoque não seja quantificável e mensurável, eliminando dessaforma o elemento humano do humano.

Coube a Merleau-Ponty trazer uma abordagemsignificativa de corporeidade, como a maneira específicada presença do homem no mundo. De acordo com esseautor, “o corpo não tem um papel de passividade e inércia,mas sim o de colocar-nos em contato com o outro e como mundo” (CARMO, 2002: p 81 – 82).

Michel Foucault desmascarou os mecanismos dautilização dos corpos pelos poderes das instituições sociais(SANTIN, 1995: 41). Foucault refere que o corpo semprefoi alvo dos poderes instituídos e que a partir do séculoXVIII, com o desenvolvimento da racionalidade científica

Cultura Corporal: busca desalienada porCultura Corporal: busca desalienada porCultura Corporal: busca desalienada porCultura Corporal: busca desalienada porCultura Corporal: busca desalienada porqualidade de vidaqualidade de vidaqualidade de vidaqualidade de vidaqualidade de vida Rosirene Leme Beraldi Gottardi*

desenvolve-se a concepção de corpo, primeiro comoobjeto-homem-máquina (que é treinado aperfeiçoado econtrolado) e segundo, técnico – político, corpo inteligívelintegrado pela noção de docilidade (FOUCAULT, 1997apud PITIÁ, MIRANDA, LIMA, GALERA 2002).

Hoje, a sociedade está intensamente marcada pelacultura da imagem. Assim, o corpo que se busca ter écomo uma imagem de perfeição incitando ao narcisismo,submetendo-o como atrativo de consumo, o que implicanum problema ético para a ética da estética. (DANTAS,1994; SANTAELLA, 2004; SANTINI 1995).

Sobre as intervenções terapêuticas diretas no corpodas pessoas, vale tomar a questão do corpo reificado. “Areificação é um caso especial de alienação, sua formamais radical e generalizada, característica da modernasociedade capitalista. Significa igualmente atransformação dos seres humanos em seres semelhantesàs coisas” (BOTTOMORE, 1983). Assim sendo, éimprescindível que o sujeito participe isento de qualqueralienação do seu processo de cura e da busca de melhorescondições de qualidade de vida. Aceitar práticas alienadase alienantes passivamente, bem como a homogeneizaçãode comportamentos pautados por padrões rígidos debeleza é adormecer a capacidade reflexiva de estabelecercritérios pessoais a partir do próprio corpo.

Portanto, o profissional da saúde precisa estar atentoàs singularidades dos corpos, a sua expressividade, efortalecê-las no intuito de romper com comportamentosestereotipados.

RRRRReferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficas

BOTTOMORE, T. Dicionário do Pensamento Marxista. Jorge Zahar Editor, 1983.

CARMO, P.S.D. Merleau-Ponty: uma introdução São Paulo: Educ, 2002.

CARVALHO, Y.M. O mito da atividade física. São Paulo: Hucitec, 1998.

DANTAS M. O corpo na sociedade Pós-Moderna. In: Pensando o Corpoe o Movimento. Rio de Janeiro: Shape ed, 1994, pp. 97 – 108.

MEDINA, J.P. O brasileiro e Seu Corpo: Educação e Política de corpo.Campinas SP: Papirus,1991.

MORIN, E. Os sete saberes necessários à Educação do futuro. São Paulo:Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2002.

PITIÁ, ADCA; LIMA,GDM; MIRANDA, DNAF; GALERA, FAZ. O corpo comoLócus do cuidado. Acta Paulista de enfermagem, São Paulo, v. 15, n.1.

SANTAELLA, L. Corpo e Comunicação: sintoma da cultura. São Paulo:Paulus, 2004.

SANTINI, S. Educação Física: Ética, Estética, Saúde. Edições Est, PortoAlegre, 1995.

1 Educadora Física e Fisioterapeuta. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Infecções e Saúde Pública da Secretaria de Saúde do Estadode São Paulo. Área de Concentração: Saúde Coletiva, Instituto de Saúde.Email: [email protected]

Page 14: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

14 BIS#32/Abril_2004

“O Projeto de Profissionalização dos Trabalhadoresda Área de Enfermagem, PROFAE, tem como objetivo odesenvolvimento de Recursos Humanos na Área de Saúde.Sua meta é assegurar os processos de formação técnicae educação profissional em saúde, com a qualificação eespecialização de profissionais de enfermagem de nívelmédio e superior, visando a melhoria da qualidade dosserviços de saúde” (Conheça o PROFAE, 2000).

Não é difícil imaginarmos que o crescimentoprofissional pode vir a alterar a qualidade de vida de umindivíduo se considerarmos que ele passa a ter acesso aconhecimentos técnicos e gerais, que ele pode sediferenciar economicamente com salários maiores e quepoderá aumentar sua satisfação no trabalho, sentindo-semais seguro em prestar os cuidados.

Nosso envolvimento nesse projeto nos permite reunirtais mudanças em torno de dois aspectos: um deles, noplano individual, ocorre pelo crescimento profissionalacessível aos trabalhadores já inseridos na rede, tantopara os atendentes que freqüentam curso de auxiliar deenfermagem, quanto para os auxiliares que se preparampara a condição de técnicos de enfermagem. Em uminquérito realizado pelo Instituto de Saúde, em parceriacom o Centro de Formação de Recursos Humanos(CEFOR), junto a alunos do PROFAE que realizaram ocurso de Técnico de Enfermagem nos CEFOR daSecretaria de Estado da Saúde (n= 654 alunos), verificou-se que para 32,1% deles o curso tinha significado deatualização profissional; para 16% significava aumentode responsabilidade; para 12,1%, melhor capacitaçãotécnica; para 7,8% significava conquista social,profissional e econômica; e para 0,6 % o cursorepresentava mudança de vida.

Aspecto especialmente revelado pelo inquérito é apercepção que a grande maioria dos alunos tem docompromisso do Projeto em produzir mudanças nas suasvidas profissionais e na sociedade.

O segundo aspecto da mudança propiciada, que seexpressa no plano coletivo, se exerce sobre a populaçãousuária do SUS, que de maneira imediata terá acesso amelhor qualidade na assistência recebida: o aluno, jáinserido na rede de atenção, à medida que vai adquirindonovos conhecimentos e aprimoramentos, os coloca emprática no seu local de trabalho, mobilizando professorese trabalhadores do seu campo atuação.

O movimento criado por esse Projeto - estamosconfiantes disso – produz resultados positivossimultaneamente na qualidade de vida das pessoas –alunos e professores – e, coletivamente, através daqualificação profissional dos trabalhadores da saúde eda qualidade da assistência prestada à população usuáriado SUS.

RRRRReferência Bibliográficaeferência Bibliográficaeferência Bibliográficaeferência Bibliográficaeferência Bibliográfica

Conheça o PROFAE, 2000 (http://www.profae.gov.br/)

PROFPROFPROFPROFPROFAE – uma política pública para aAE – uma política pública para aAE – uma política pública para aAE – uma política pública para aAE – uma política pública para aqualidade de vida?qualidade de vida?qualidade de vida?qualidade de vida?qualidade de vida?

Ana Aparecida Sanches Bersusa*

* Enfermeira Pesquisadora Cientifica do Instituto de Saúde. Email:[email protected]

Page 15: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

15BIS#32/Abril_2004

Municípios e Comunidades Saudáveis: guia dosMunicípios e Comunidades Saudáveis: guia dosMunicípios e Comunidades Saudáveis: guia dosMunicípios e Comunidades Saudáveis: guia dosMunicípios e Comunidades Saudáveis: guia dosprefeitos para promover qualidade de vida daprefeitos para promover qualidade de vida daprefeitos para promover qualidade de vida daprefeitos para promover qualidade de vida daprefeitos para promover qualidade de vida daOrganização POrganização POrganização POrganização POrganização Pan-an-an-an-an-Americana da SaúdeAmericana da SaúdeAmericana da SaúdeAmericana da SaúdeAmericana da Saúde

Cláudia Maria Bógus* e Daniele Pompei Sacardo**

* Pedagoga, Educadora em Saúde Pública.Email: [email protected]

** Psicóloga, Mestre em Saúde Pública

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)aprovou, em 1994, o Plano de Ação Regional para aPromoção da Saúde nas Américas. A partir dessaresolução do seu Conselho Diretivo, estratégiasidentificadas com a promoção e proteção da saúde daspopulações passaram a ser valorizadas como capazesde mudar a prática da saúde pública e de melhorar osmúltiplos determinantes das condições de saúde. Asprincipais linhas de ação estabelecidas no Plano eacordadas pelos países foram: 1- envolver nas ações os“tomadores de decisão”; 2 – fortalecer as comunidadeslocais no desenvolvimento das ações de saúde; 3 -desenvolver parcerias e mobilizar recursos financeiros,humanos e materiais; 4 - estabelecer políticas e planosde ação em promoção da saúde nas escolas, ambientesde trabalho e municípios, promovendo redes de apoioentre prefeitos e organizações não-governamentais; e 5 -apoiar pesquisas operacionais que monitorem a avaliaçãodas experiências em promoção da saúde.

A OPAS tem acompanhado e reunido documentos erelatos sobre várias experiências e ações realizadas naregião, tanto em relação à promoção da saúde, quantoàs novas práticas da saúde pública. Tais experiências têmdemonstrado que uma das estratégias mais bem sucedidase efetivas é a de municípios e comunidades saudáveis(MCS).

Qualquer experiência de MCS começa com odesenvolvimento e/ou fortalecimento de uma parceriaentre as autoridades locais, as lideranças comunitárias eos representantes dos vários setores públicos e privados,no sentido de posicionar a saúde e a melhoria daqualidade de vida na agenda política e como parte centraldo planejamento do desenvolvimento local/municipal/regional. Trata-se de uma forma de gestão das políticaspúblicas – não, exclusivamente, estatais - que privilegia oplanejamento estratégico participativo e intersetorial paraanalisar e avaliar as necessidades da população,determinar prioridades e metas e monitorar as açõesempreendidas.

Um aspecto fundamental para a disseminação dasestratégias e ações que promovam a saúde e odesenvolvimento humano é a oferta de materiais einstrumentos que divulgam o tema, fazem a “abogacía”da promoção da saúde e contribuem com a capacitaçãolocal para a adoção de estratégias eficazes. Para tanto,desenvolveu-se o Guia dos Prefeitos para promoverQualidade de Vida, que vem sendo difundido pelas

representações da organização nos países da região. Essematerial apresenta um instrumental básico para que asautoridades locais possam iniciar a implementação deestratégias de promoção da saúde, recomendando linhasde ação para a construção de um município oucomunidade saudável.

O Guia provê às autoridades locais e outros“tomadores de decisão” uma estratégia prática parapromover a saúde e a qualidade de vida das pessoas,visando resultados a curto, médio e longo prazos, atravésde políticas inovadoras e campanhas de educaçãopública. Esse material pretende ser um instrumento flexívele adaptável às distintas realidades, fornecendo umaestrutura básica de utilização da estratégia em diferentescontextos, após as necessárias adaptações e modificações.Para tanto, esclarece o leitor/gestor distante do setor saúdequanto a conceitos importantes para compreensão daproposta de MCS e da promoção da saúde, como: visãointegral de saúde, participação comunitária, alianças eparcerias, políticas públicas saudáveis, sustentabilidade,conformação de redes e monitoramento e avaliação. Ouseja, apresentam-se os elementos essenciais para aimplementação da estratégia de municípios ecomunidades saudáveis e as diretrizes para sua avaliação.

Page 16: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

16 BIS#32/Abril_2004

O município de São Paulo vem realizando umcomplexo processo de descentralização político-administrativo. A Lei nº 13.399 de 1º de agosto de 2002criou 31 subprefeituras, e, no presente artigo, trataremosda experiência da subprefeitura Capela do Socorro. Estaé a maior em termos populacionais, com 563.922habitantes (FUNDAÇÃO IBGE, 2000), e a segunda maiorem território, compreendendo 134 km² da porção sul domunicípio. É constituída pelos distritos administrativos deSocorro, Cidade Dutra e Grajaú, sendo 82% de sua áreaabrangida pela lei de proteção aos mananciais. Caracteriza-se por possuir uma população jovem e pauperizada, o quecontribui para elevadas taxas de mortalidade por homicídioe altos índices de gravidez na adolescência. Possui escassosrecursos sociais, insuficientes equipamentos de saúde,problemas de infraestrutura urbana, revelando acentuadograu de exclusão social.

Essa subprefeitura vem acumulando uma experiênciade gestão intersetorial que teve início em fevereiro de2001, quando foi criado o NICS - Núcleo Intersecretarialda Capela do Socorro - com o objetivo planejar açõesintersetoriais. Esse núcleo foi formalizado como GovernoLocal por Decreto Municipal em março de 2002, dandoinício ao processo de implantação das subprefeituras.Entre março e junho de 2002, realizou-se um processode Planejamento Estratégico intra-governamental, queestabeleceu a missão de “Construir a Capela do Socorroambientalmente saudável através do desenvolvimentosustentável e solidário, estimulando e contribuindo paraa participação da população e o exercício de suacidadania”, além de 6 eixos de ação: saneamentoambiental, estruturação urbana, inclusão social, gestãopública, turismo sustentável e desenvolvimento rural.

Para implementar ações que conduzissem a melhornível de qualidade de vida, adotou-se estratégia dePromoção da Saúde, denominada Cidades Saudáveis,colocando-se em prática uma nova forma de gestão,centrada na intersetorialidade, na participação e eqüidadesocial, bem como na co-responsabilização dos diversossegmentos da população local. Pode-se considerar umacidade saudável como sendo aquela que coloca emprática, de modo contínuo, a melhoria de seu ambientefísico e social, utilizando os recursos de sua comunidade,objetivando oferecer aos seus cidadãos uma aptidãomútua em todas as atividades humanas que levem à suaplena realização (HANCOCK et al, 1986). Este conceitose relaciona com o de promoção da saúde, referindo-seà produção social da saúde no contexto das cidades,conforme a Carta de Otawa. Promoção da saúde “é um

Capela do Socorro Saudável: um desafio paraCapela do Socorro Saudável: um desafio paraCapela do Socorro Saudável: um desafio paraCapela do Socorro Saudável: um desafio paraCapela do Socorro Saudável: um desafio paraas políticas públicasas políticas públicasas políticas públicasas políticas públicasas políticas públicas

Fátima Madalena de Campos Lico*Regina Mara Ramo Aneiros Fernandez**

processo de capacitação da comunidade para atuar namelhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindouma maior participação no controle deste processo”(ASHTON, 1986:297).

PPPPProjeto Capela Saudávelrojeto Capela Saudávelrojeto Capela Saudávelrojeto Capela Saudávelrojeto Capela Saudável

Diante da complexidade dos problemas existentes naregião e para viabilizar sua missão, a subprefeitura definiuum recorte territorial denominado U.P.P. – Unidade dePlanejamento Participativo, que agrega dados produzidospela Fundação IBGE a partir da reunião de setorescensitários. Esse recorte constitui uma área “piloto”, com96.779 habitantes, no Distrito Cidade Dutra, onde estásendo desenvolvido o Projeto. Essa área concentra grandenúmero de favelas, tem a maior densidade populacionalda região, apresenta dados socioeconômicos medianos,contém o maior número de equipamentos públicosmunicipais e está classificada no Grupo 4 no índice deVulnerabilidade Juvenil

1 (FUNDAÇÃO SEADE, 2002).

Além disso, a região é estratégica, pois nela estãolocalizados três dos principais córregos contribuintes daRepresa Guarapiranga, que abastece de água 33% daRegião Metropolitana da Grande São Paulo.

O Projeto tem como objetivo geral a missão dasubprefeitura e, pretende estabelecer um sólido processode planejamento estratégico participativo, ancorado emuma participação social informada. Para sua implantaçãodefiniu-se como uma das estratégias a criação de umacomissão técnica composta por representantes dasCoordenadorias

2 e do Gabinete da Subprefeitura.

* Psicóloga, doutoranda em Saúde Coletiva pela CIP/SES, mestre emPsicologia Social pela PUC/SP e assessora técnica da Coordenadoriade Saúde - Socorro, São Paulo, SP. Email: [email protected]

** Educadora, mestranda em Educação pela FEUSP, especialista em AçãoCultural e assessora técnica da Subprefeitura da Capela do Socorro.

1 Índice de vulnerabilidade Juvenil- elaborado para os 96 Das (DistritosAdministrativos) a partir de cinco variáveis (taxa anual de crescimentopopulacional entre 1991 e 2000, porcentagem de jovens de 15 a 19anos no total da população dos DAs, taxa de mortalidade porhomicídio da população masculina de 15 a 19 anos, porcentagemde mães adolescentes de 15 a 17 anos no total de nascidos-vivos,valor do rendimento nominal médio do responsável pelo domicílio eporcentagem de jovens de 15 a 17 anos que não freqüentam aescola), sendo o Grupo 1 o de menor vulnerabilidade e o Grupo 5 ode maior vulnerabilidade social.

2 São Coordenadorias da subprefeitura: Assistência Social eDesenvolvimento; Saúde; Educação; Planejamento e DesenvolvimentoUrbano; Administração e Finanças; Projetos e Obras Novas;Manutenção da Infra Estrutura Urbana

Page 17: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

17BIS#32/Abril_2004

Em 08 de maio de 2003 realizou-se o I SeminárioCapela do Socorro Saudável, quando foram apresentadasa proposta do Projeto e a estratégia de criação de 4Comitês Locais nas Unidades Básicas de Saúde – UBS -,entendendo-as como centros articuladores das ações.Desde 22 de maio de 2003, são realizadas oficinasquinzenais de trabalho nas UBS com o objetivo de definirprioridades e elaborar um plano de ação local. A comissãotécnica coordena as oficinas articulando os diversos atoresdo Projeto e mantendo atualizado o registro daexperiência, bem como o monitoramento do processo.

Foi constituído um Comitê Geral, do qual participamrepresentantes da subprefeitura, dos Comitês Locais, dasUniversidades, do Centro de Estudos, Pesquisa eDocumentação sobre Cidades Saudáveis, da OrganizaçãoPan-Americana da Saúde – OPAS -, a Comissão Técnicae demais parceiros do Projeto. Em oficinas de trabalho,esse Comitê definiu dois eixos norteadores das ações:saneamento ambiental e criação de espaços saudáveis.

Em dezembro de 2003 foi realizado no SESC Interlagoso “Seminário Internacional Cidades Saudáveis: aexperiência em metrópoles”, quando foi assinado o Termode Cooperação Técnica entre a Prefeitura do Municípiode São Paulo e a OPAS/OMS, marcando o ingresso oficialda cidade no Movimento Internacional de MunicípiosSaudáveis.

Avanços e Desafios Avanços e Desafios Avanços e Desafios Avanços e Desafios Avanços e Desafios

Entre os avanços percebidos até o momento,destacamos o estabelecimento de uma diretriz pluralistae inclusiva voltada para o “empoderamento” social, ouseja, maior influência e controle sobre os determinantesde saúde e qualidade de vida, e a definição do projetocomo estratégico e estruturante para a subprefeitura,constituindo-se em uma experiência de gestão integradae participativa.

Representantes de vários setores da comunidade emembros dos conselhos gestores de unidades de saúdetêm participado ativamente da construção de espaçossaudáveis, realizando mutirões de limpeza, atividadeseducativas, culturais, de lazer e esportes, procurandoenvolver e ampliar a participação da população. Iniciativasvoltadas para a qualidade de vida ganharam mais forçae o espaço local vem se afirmando como um marcoestratégico na construção de novas práticas e decompromissos públicos para a melhoria da qualidade devida, por meio da gestão social, onde o poder local e osdiferentes atores sociais desempenham o papel depromotores e articuladores de políticas públicas, desde asua definição até a implementação e monitoramento dasações (SILVEIRA et al, 2002).

Uma experiência dessa natureza, inserida em umprocesso de descentralização administrativa, exige apermanente construção de consensos, pactos ecompromissos entre os atores envolvidos. A intersetoria-

lidade “articulação de saberes e de experiências noplanejamento, realização e avaliação de ações paraalcançar o efeito sinérgico em situações complexasvisando o desenvolvimento social, superando a exclusãosocial” (JUNQUEIRA & INOJOSA,1997) - e asustentabilidade são dois grandes desafios para o Projeto.Destaca-se ainda, a necessidade de se evitar apartidarização política da estratégia adotada, o quepoderia fragilizá-la diante do processo democrático dealternância no poder.

ConclusãoConclusãoConclusãoConclusãoConclusão

A adoção dos pressupostos de descentralização eintersetorialidade traz implícito uma nova concepção degestão das cidades, o que não implica em mudançasefetivas nas práticas organizacionais, pois estas só ocorremquando há transformação de valores da culturaorganizacional e participação dos diversos segmentos dasociedade (JUNQUEIRA,1997). Mudar a lógica de gestãodas políticas setoriais para das intersetoriais não é umatarefa fácil: o Projeto se propõe a efetivar essa mudança,construindo uma nova forma de gestão municipal,integrando saberes, recursos, estruturas e processosorganizacionais, caracterizando-se pela co-responsabilidadedos diferentes setores governamentais e da sociedade civilpara dar respostas mais efetivas à população do território,garantindo-lhe uma vida com qualidade.

RRRRReferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficas

ASHTON, J et. Al. Health cities WHO new public health iniciative.Health Promot.,1986.

FUNDAÇÃO IBGE. Censo demográfico 2000. Rio de Janeiro2000.

FUNDAÇÃO SEADE. Índice de Vulnerabilidade juvenil. São Paulo2002. Disponível em: http;/www.seade.gov.Br/ivj/.

HANCOCK,T.& DUHL,L. Health cities: promoting health in theurban context. Copenhagen, WHO,1986.

JUNQUEIRA L. A. P. Novas formas de gestão na saúde:Descentralização e intersetorialidade. Rev. Saúde e Sociedade:Saúde e Sociedade:Saúde e Sociedade:Saúde e Sociedade:Saúde e Sociedade:Cidades Saudáveis. Faculdade de Saúde Pública da USP eAssociação Paulista de Saúde Pública, São Paulo, 6 (2) : 31-45, agost/dez, 1997.

JUNQUEIRA,L.A.P. & INOJOSA, R.M. Desenvolvimento socialDesenvolvimento socialDesenvolvimento socialDesenvolvimento socialDesenvolvimento sociale intersetorialidade:e intersetorialidade:e intersetorialidade:e intersetorialidade:e intersetorialidade: a cidade solidária. São Paulo,FUNDAP,1997.

PMSP/ARCS. Plano de Ação do Governo Local da Capela doSocorro, julho, 2002.

PMSP/SPCS. Projeto Capela do Socorro Saudável, março, 2003.

SILVEIRA C; BOCAYUVA C e ZAPATA T. Ações integradas edesenvolvimento local: tendências oportunidades e caminhos.In: Spink P; Caccia Bava S. e Paulics V. Novos contornos dagestão local: conceitos em construção. São Paulo, Pólis, 2002.

Page 18: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

18 BIS#32/Abril_2004

Este artigo tem como objetivos descrever o municípiode Francisco Morato (FM), principalmente através deindicadores utilizados para medir a Qualidade de Vida(QV), e auxiliar no desenvolvimento de sete pesquisas doprojeto matricial “Efeitos da Regionalização sobre oSistema de Saúde: Estudo de Caso”, que serão realizadasnesta cidade por alunos do Curso de Aprimoramento emSaúde Coletiva do Instituto de Saúde/SES/SP/Fundap2003/2004.

Para realizar essa descrição, utilizaremos o conceitode QV adotado por Minayo et al. (2000), as impressõesdeixadas por visitas realizadas à cidade e os seguintesindicadores: IPRS (Índice Paulista de ResponsabilidadeSocial – SEADE) de 2000; ICVS (Índice de Condições deVida e Saúde – NISIS/IS/SES/SP) de 2002; IRSS (Índicede Resposta dos Serviços de Saúde – NISIS/IS/SES/SP)de 2002; e IDH- M (Índice de Desenvolvimento HumanoMunicipal – SEADE) de 2000.

O conceito de QV é heterogêneo, amplo e recebediversas interpretações e definições. Adotamos, nesteartigo, a definição de Minayo et al (2000), segundo aqual a noção de QV se pauta em três dimensões que secomplementam: a primeira relaciona-se ao modo,condições e estilos de vida; a segunda associa idéias dedesenvolvimento sustentável e de ecologia humana; e aterceira relaciona-se com o campo da democracia, dodesenvolvimento e dos direitos humanos e sociais.

O município de Francisco Morato localiza-se naGrande São Paulo, a 45 km da capital. A aproximaçãocom a realidade da cidade através de visitas nos mostroua precariedade de sua infra-estrutura. Numa região deterreno acidentado, as residências foram construídas deforma aglomerada, com esgoto a céu aberto em muitasregiões e com poucos e distantes unidades básicas desaúde. Observa-se uma grande quantidade de criançase adolescentes nas ruas, sem referência a espaçospúblicos de lazer e cultura. Com relação à atividadeeconômica, o pequeno comércio parece ser predominantee fundamental para a população local.

A área do município é de 49,16 km2 e 50% dosmunícipes residem em áreas de ocupação irregular

1. A

população estimada é de 149.096 habitantes (IBGE,2004), com a seguinte composição etária: 45,74% doshabitantes têm entre 0 e 19 anos de idade, 50,28%, entre20 e 59 anos e 3,98%, mais de 60 anos.

Segundo dados do DATASUS (BRASIL, 2004), asmaiores causas de mortalidade no município em 2000

Um olhar sobre a qualidade de vida deUm olhar sobre a qualidade de vida deUm olhar sobre a qualidade de vida deUm olhar sobre a qualidade de vida deUm olhar sobre a qualidade de vida deFFFFFrancisco Moratorancisco Moratorancisco Moratorancisco Moratorancisco Morato

Cristiane de Araújo*Jacqueline Serafim de Freitas**

Márcia Alves Santana**Tiago Noel Ribeiro**

foram: agressões (59,8 por cem mil habitantes), infartodo miocárdio (44,9 por cem mil habitantes) e doençascerebrovasculares (36,6 por cem mil habitantes). Aincidência de mortes por agressão predominou napopulação masculina, na faixa dos 15 aos 49 anos

2.

O coeficiente de mortalidade infantil em FM no anode 2002 – 17,68 por mil nascidos vivos – encontrava-seacima da média estadual de 15,08 por mil nascidos vivos(SES/SP, 2004). Da mesma forma, o coeficiente demortalidade materna, reflexo da assistência ao parto edo puerpério, foi de 50,35 óbitos por 100.000 mulheresem idade fértil no ano de 2000, enquanto, no Estado deSão Paulo, esse índice foi de 34,66 (SÃO PAULO/SES,2004).

Quanto ao nível educacional, em 2000, a taxa deanalfabetismo da população maior de 15 anos era de10,8% (SEADE, 2004). Com relação ao saneamentobásico, segundo dados de 2000, o município dispunhade rede geral de abastecimento de água para 92% dosdomicílios. Quanto à rede de esgoto, em 2000, 26,1%das residências possuía rede de esgoto ou pluvial e 49,1%,fossa rudimentar (IBGE, 2004). Em 2000, 83% do lixoproduzido era coletado e 10,1%, queimado (IBGE, 2004).

De acordo com o IPRS (Índice Paulista deResponsabilidade Social) de 2000 (SEADE, 2004), FMencontra-se no grupo 5 (baixo desenvolvimentoeconômico e social). Os municípios desse grupo possuembaixa riqueza municipal, baixa longevidade e escolaridademédia. O grupo 5 engloba municípios de pequeno porte,muitos deles predominantemente rurais, marcados pelalógica da pobreza e pela dificuldade local em propiciaravanços significativos no campo social. No âmbito daadministração estadual do setor da saúde, FM pertenceà DIR IV (Diretoria Regional de Saúde de Franco da Rocha),composta, também, pelos municípios de Franco da Rocha,Cajamar, Caieiras e Mairiporã. Comparando-se FM aosdemais municípios abrangidos pela DIR IV, verifica-se queFranco da Rocha se encontra no mesmo grupo de FM,Cajamar e Mairiporã estão no grupo 2 (economicamentedinâmico, mas com baixo desenvolvimento social);Caieiras situa-se no grupo 1 (município pólo).

* Fonoaudióloga, Aprimoranda do Instituto de Saúde-2003/2004.Email: [email protected]

** Psicólogo , Aprimoranda do Instituto de Saúde-2003/20041 Informações da Administração Municipal em 05/12/20032 Informações da Administração Municipal em 05/12/2003

Page 19: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

19BIS#32/Abril_2004

Em relação ao ICVS – que considera a dimensãobiológica, renda, habitação, educação e serviços de saúde–, FM ocupa a 591ª posição entre os 645 municípiospaulistas avaliados. Cajamar classifica-se em 315° lugar,Mairiporã, em 350°, Caieiras, em 415° e Franco daRocha, em 445° (NISIS, 2002).

Analisando os resultados do IRSS (Índice de Respostados Serviços de Saúde) – que combina o coeficiente demortalidade proporcional em menores de um ano, o índicede óbitos mal definidos e o índice sintético de óbitosevitáveis por doenças crônicas, infecciosas e por causasexternas (NISIS, 2002) –, observa-se que FM ocupa o624º lugar dentre os 629 municípios paulistas avaliados.Cajamar ocupa o 46º lugar; Mairiporã, o 53º, Francoda Rocha, o 54º e Caieiras, o 234º.

Quanto ao Índice de Desenvolvimento HumanoMunicipal (IDH-M) de 2000 – que combina indicadoresde longevidade, escolaridade e renda –, FM classifica-seem 586º lugar entre os 645 municípios do Estado de SãoPaulo (SEADE, 2004). Os outros municípios que compõema DIR IV situam-se nas seguintes posições: Caieiras no95º lugar, Mairiporã no 151º, Cajamar no 276º e Francoda Rocha no 332º (SEADE, 2004).

Todos os índices citados apontam para uma qualidadede vida precária em Francisco Morato. Tendo emperspectiva a definição de Minayo et al. (2000), podemosfazer algumas considerações relacionando o conceito deQV e a realidade municipal apresentada.

Verifica-se, ao analisar a pirâmide populacional domunicípio, um afunilamento entre 20 e 49 anos, o quepode ser em parte explicado pelo alto índice demortalidade por agressões. Isso contribui para diminuir alongevidade, além de aumentar o índice de mortalidadepor causas evitáveis e indica que ações de atenção básicaem saúde, tanto preventivas quanto curativas, precisamser reavaliadas e aprimoradas.

O fato de 50% dos habitantes residirem em áreas deocupação irregular indica um baixo poder aquisitivo dosmoradores e, conseqüentemente, um baixo nível dearrecadação municipal. Essa realidade contribui para queo município tenha recursos financeiros restritos, o que,por sua vez, dificulta o desenvolvimento de ações quevisem à melhoria da qualidade de vida de seus moradores.Além disso, a ocupação desordenada dos terrenos podeter contribuído para uma rede de saneamento básicoinsuficiente, prejudicando a saúde da população edificultando o alcance das ações preventivas.

Ao comparar os indicadores de FM com os dos demaismunicípios que compõem a DIR IV, constata-se queCajamar, Mairiporã e Caieiras apresentam melhoresíndices de QV do que Francisco Morato e Franco daRocha. Tal fato nos leva a considerar que, através dacooperação entre os municípios, compartilhando projetosbem sucedidos em diferentes áreas e encontrandonecessidades / objetivos comuns, é possível promover amelhoria da QV e o desenvolvimento da região.

Conclui-se que FM apresenta dificuldades em infra-estrutura (saneamento básico e habitação) e nas áreaseducacional, econômica e de saúde. Investimentos emsaneamento básico e nos serviços de saúde – tanto noque tange à promoção quanto no tocante à recuperaçãoda saúde – fazem-se necessários para melhorar ascondições de vida da população. Investimentos emhabitação, além de favorecer a saúde, propiciariamaumento na arrecadação municipal, o que levaria omunicípio a obter mais recursos para aplicar no setorsocial. Nota-se que o pequeno comércio é uma vocaçãolocal. Incentivá-lo, através de políticas de microcrédito,cooperativas etc, pode contribuir para o desenvolvimentoda economia local. É, também, inegável que investir emeducação é fundamental para o desenvolvimento em todasas áreas, inclusive para incrementar a participação popular.

O texto apontou possibilidades e restrições de seapreender o município de FM através das informaçõesutilizadas. Tão importante, porém, quanto a descriçãodeste campo diversificado é a necessidade da participaçãodos munícipes de FM na busca por soluções. Trata-se deuma representação, não só refletida em números queilustram as precariedades do município, mas que evidenciatambém o potencial planejador que reside nos indicadoresde saúde e de condições de vida, quando utilizados parao debate sobre as necessidade e para orientar as açõespúblicas - estatais ou privadas.

RRRRReferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficas

BRASIL. Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão.IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 15/02/2004.

BRASIL. Ministério da Saúde – DATASUS. Caderno deSaúde do Município de Francisco Morato [online]Disponível em: <http://www.datasus.gov.br>. Acesso em17/02/2004.

FUNDAÇÃO SEADE. Informações dos MunicípiosPaulistas. Disponível em: <http://www.seade.gov.br>.Acesso em 19/02/2004.

FUNDAÇÃO SEADE. Perfil Municipal de Francisco Morato.Disponível em: <http://www.seade.gov.br/perfil/index.html>. Acesso em 10/03/2004.

MINAYO, M. C. S et al. Qualidade de vida e saúde: umdebate necessário. Ciência e Saúde Coletiva, Rio deJaneiro, 5 (1), p. 7-18, 2000.

NÚCLEO DE INVESTIGAÇÃO EM SISTEMAS DE SAÚDE– NISIS. Instituto de Saúde. Quantos Brasis? Equidadepara locação de recursos do SUS, 2002. São Paulo: NoAR Estúdios. CDROM.

SÃO PAULO (Estado). SECRETARIA DE ESTADO DASAÚDE (SES/SP). Indicadores para avaliação do sistema- 2002. Disponível em: <http://www.saude.sp.gov.br>.Acesso em 10/03/2004.

Page 20: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

20 BIS#32/Abril_2004

A complexidade dos problemas urbanos contempo-râneos tem feito com que muitas das cidades brasileirasse insiram em movimentos que têm por objetivo amelhoria da qualidade de vida, filiando-se a distintasagendas sociais, como Cidades/Municípios Saudáveis,Agenda 21, entre outros. Tais propostas, guardadas suasespecificidades, pressupõem pessoas vivendo em umdado território, enfrentando problemas concretos quedemandam novas formas de gestão local, baseadas naintersetorialidade, na participação social e na eqüidadepara atingir a qualidade de vida.

A implementação de políticas sociais com esse enfoqueimplica na superação de políticas setoriais e oprivilegiamento de projetos articulados com ênfase naparticipação do cidadão, tanto no planejamento quantona avaliação. Há um consenso de que uma políticasubstantiva de descentralização deva ter o município comofoco e as autoridades e técnicos do nível local, preparadospara a gestão comprometida com o aumento da eficiênciado sistema e com a geração da eqüidade, por meio deações com capacidade de discriminação positiva (KISIL,1998). Aos gestores municipais cabe um papel centralna efetivação dessa lógica de governo, com reorientaçãodo desenho institucional, potencializando a açãocomunicativa entre dirigentes, profissionais e população.

Considerando a questão da implementação dosprojetos de políticas públicas locais, com enfoque namelhoria da qualidade de vida, foi realizado um estudocom o objetivo de identificar a percepção de gestoresmunicipais, identificados como atores-chave importantesna implementação desses projetos. Foram feitas entrevistasindividuais e em profundidade, com roteiro semi-estruturado, em dois municípios que adotam projetos deMunicípios Saudáveis - Limeira e Bertioga - e dois outrosque estão desenvolvendo projetos intersetoriais que seaproximam do ideário da Agenda 21: Santo André ePiracicaba (ver Quadro 1).

Os resultados apontam que, no Brasil, os projetosMunicípios Saudáveis são recentes e tiveram início nosanos de 1990, quando algumas universidades einstituições apoiaram e incentivaram a discussão e odesenvolvimento desses projetos, visando à formação deuma rede como uma estratégia que possibilitasse ampliaro movimento no país (MENDES, 2000).

No caso das iniciativas analisadas nesse estudo e queadotaram a estratégia de Municípios Saudáveis comoreferência, confirmou-se a tendência de que instituiçõesacadêmicas e organismos internacionais e nacionais dosetor da saúde induziram o seu surgimento eimplementação. Essa “indução” caracterizou-se, também,

PPPPPercepção de gestores municipais sobre aercepção de gestores municipais sobre aercepção de gestores municipais sobre aercepção de gestores municipais sobre aercepção de gestores municipais sobre aimplementação de agendas de qualidade de vidaimplementação de agendas de qualidade de vidaimplementação de agendas de qualidade de vidaimplementação de agendas de qualidade de vidaimplementação de agendas de qualidade de vida

Cláudia Maria Bógus*; Rosilda Mendes** e Marco Akerman***

pela influência de outros atores externos, como aOrganização Pan-Americana de Saúde e o Ministério daSaúde. Isso determinou o protagonismo e a liderançainicial do setor da saúde.

WESTPHAL & MENDES (2000) reiteram que construir,no interior de um governo, a marca Município Saudávelnão é uma questão fácil de ser equacionada, já que,muitas vezes, o adjetivo saudável parece relacionar-seexclusivamente à área de saúde, o que gera dificuldadescom as outras secretarias de governo. Isso reafirma anecessidade de que esses projetos sejam articulados comoutras forças políticas e instâncias de controle social.

A Faculdade de Saúde Pública da Universidade deSão Paulo (FSP/USP) e a Pontifícia Universidade Católicade Campinas (PUC Campinas), com o apoio daOrganização Pan-Americana da Saúde, acompanharamdois projetos com a marca municípios saudáveis: ProjetoBertioga Município Saudável (B) e Projeto Limeira Saudável(L), desde o ano de 1999.

(L) “Essa iniciativa veio para a Secretaria da Saúde,em meados de 98 através da PUC Campinas, que davauma assessoria em outras áreas e ela que nos trouxe essaidéia do Município Saudável, começamos a conversarsobre esse estilo de governar (...); o prefeito se empolgoumuito, achou isso muito interessante (...) .”

(B) “O trabalho junto com a universidade é importante. Odiagnóstico realizado em conjunto foi bem feito, todos oslevantamentos, os grupos e as oficinas realizadas nos bairrosda cidade. Foram elencadas as necessidades e as prioridades”.

Nesses dois municípios, a aproximação com a propostafoi justificada pelo seu potencial de organizar ações comvistas à melhoria da qualidade de vida para além do setorsaúde que tem sido, em muitos casos, o impulsionador doprocesso. Também houve referência significativa ao fato derepresentar uma forma alternativa de gestão local, com forteênfase na intersetorialidade e na participação social, quesão os principais componentes da proposta de MunicípiosSaudáveis (WESTPHAL & MENDES, 2000).

(L) “O que atraiu foi a questão de ser uma maneiradiferente, inovadora de se trabalhar a qualidade de vida,não só dentro da Secretaria da Saúde, mas num todo, naPrefeitura como um todo, envolvendo todo mundo (...)”.

Nas outras duas iniciativas, Santo André Cidade Futuro(SA) e Piracicaba 2010: realizando o futuro (P), a

* Pedagoga, Educadora em Saúde, Pesquisadora Científica do Institutode Saúde e Pesquisadora do Cepedoc Cidades Saudáveis . Email:[email protected]

** Bióloga, Pesquisadora do Cepedoc Cidades Saudáveis.*** Médico, Professor Titular da Faculdade de Medicina da Fundação

ABC, Pesquisador do Cepedoc Cidades Saudáveis.

Page 21: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

21BIS#32/Abril_2004

“ancoragem local” foi o que caracterizou fundamentalmenteo processo de implementação. O papel de liderançaconcentrou-se, desde o início, no prefeito, afastando-seda liderança de um setor específico do governo, com forteapoio da sociedade civil ou teve, como base fundamental,a sociedade civil, incluindo o setor privado.

Nesses municípios, o setor saúde participou dasiniciativas, não como indutor, mas como integrante doprocesso. As propostas possíveis de serem executadas pelosetor saúde foram definidas no processo mais amplo deplanejamento estratégico para o município.

(SA) “Tem um longo antecedente. O prefeito de SantoAndré sempre teve uma visão estratégica da cidade,umaproposta de pensar estrategicamente a cidade”.

(P) “(...) para a formação da ONG, para tudo isso,nós obtivemos recursos das empresas. (...) nós temos umalista dos patrocinadores que, até então, ajudaram e nosderam recursos para que nós pudéssemos executar oplano. Daqui para frente (...), os projetos não serãopatrocinados pela ONG. Cada projeto, cada grupo deimpulsão que vai trabalhar num projeto, seja ele dogoverno, da sociedade civil, seja ele um mix, esse grupotem que olhar o projeto como um todo.”.

Nesses casos, as iniciativas tiveram como ponto departida a identificação da necessidade de construção deuma visão estratégica de cidade, tendo como referência,explícita ou não, a proposição da Agenda 21 na buscade um modelo alternativo para o desenvolvimentosustentável (econômico, social e ambiental), elegendo umproblema aglutinador que permitisse a mobilização sociale, portanto, a participação social (SORRENTINO &TASSARA, 1999; JUNQUEIRA, 2000).

(SA) “Ele cria um grupo com empresários, sindicalistas,produtores culturais, representantes da diocese, da igrejacatólica, enfim um mix de pessoas da comunidade e, com essegrupo, ele começa a discutir os problemas de Santo André (...)e começa a discutir com essas pessoas possibilidades,alternativas possíveis para o futuro dessa cidade (...)”

(P) (...) a iniciativa surgiu da necessidade de você terum planejamento mais a longo prazo (...) Porque vocêvai criar uma visão de longo prazo, coisa que nós sentimosmuito a falta hoje na administração pública. Você nãotem visão a longo prazo, você tem projetos acontecendode acordo com as necessidades(...)”.

Ainda com relação ao processo de implementação dasiniciativas, identificou-se, em todos os casos analisados, fortemobilização social. Estudos têm apontado a importância doprotagonismo da sociedade civil, por meio de gruposorganizados, pois são eles que vivem e sentem os problemasda cidade no seu cotidiano. As soluções são mais reais e efetivasse discutidas em um fórum aberto e democrático (WESTPHAL,1997; RUIZ, 1998).

A principal diferença entre as iniciativas investigadasrelaciona-se com o foco para onde é dirigida talmobilização. Nos municípios de Bertioga e Limeira amobilização social foi dirigida para a proposição erealização de ações, de acordo com as demandasdefinidas como prioritárias e, nos municípios de SantoAndré e Piracicaba, essa mobilização voltou-se para a

elaboração de um planejamento estratégico integrado.A mobilização social para ações priorizadas é uma

forma de ampliar as capacidades que cada setor tem, aoatuar isoladamente, e de estimular a realização de projetosintegrados que se concretizem em propostas e açõesespecíficas, tais como: Bairro Saudável em Limeira eProjeto Guarani e Plano Diretor Municipal em Bertioga.

A mobilização social para o planejamento estratégicointegrado tem por objetivo planejar e construir uma cidadepara o futuro e dirige-se para a elaboração de macro-projetos que permitam e contemplem ações nos váriossetores, tais como as 450 ações no caso de Santo AndréCidade Futuro e 52 macro-projetos no caso de Piracicaba2010: realizando o futuro.

Por meio das entrevistas realizadas, constatou-se queexistem possibilidades e grupos sociais com potencial depromover a mudança. A cidade é o campo privilegiadode ação, onde a adoção de princípios comodescentralização, intersetorialidade, participação sociale rede social, estimula a construção de um desenhoestratégico organizacional que permite construir umprocesso factível e viável de intervenção social.

RRRRReferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências BibliográficasJUNQUEIRA, R. G. P. Agendas sociais: desafio da intersetorialidade naconstrução do desenvolvimento local sustentável. Revista deAdministração Pública, 34 (6), p. 117 – 130, 2000.

KISIL, M. Gestão da mudança organizacional. São Paulo. Série Saúde& Cidadania, v. 4, São Paulo: Faculdade de Saúde Pública, 1998.

MENDES, R. Cidades saudáveis no Brasil e os processos participativos:os casos de Jundiaí e Maceió. Tese de doutorado, Faculdade de SaúdePública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

RUIZ, G. Análisis de la participación social en el movimiento municipiossaludables en América Latina. Dissertação de Mestrado, Faculté deMédicine, Université Laval, Laval, Canadá, 1998.

SORRENTINO, M.; TASSARA, E. T. O. Educando para o desenvolvimentosustentável. In: Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal(CEPAM). O município no século XXI: cenários e perspectivas. São Paulo:CEPAM, 1999, p. 185 – 190.

WESTPHAL, M. F.; MENDES R. Cidade saudável: uma experiência deinterdisciplinartidade e intersetorialidade. Revista de AdministraçãoPública, 34 (6), p. 47 – 61, 2000.

WESTPHAL, M. F. Municípios saudáveis: aspectos conceituais. Saúde eSociedade, 6 (2), p. 9 – 18, 1997.

Quadro 1 – Informantes entrevistados por cidade

CIDCIDCIDCIDCIDADESADESADESADESADES PROJETPROJETPROJETPROJETPROJETOSOSOSOSOS ENTREVISTENTREVISTENTREVISTENTREVISTENTREVISTADOSADOSADOSADOSADOS

BERTIOGA Bertioga Município Secretário AdjuntoSaudável Secretária da Educação

LIMEIRA Limeira Saudável Prefeito atualEx-PrefeitoCoordenadora atual do projetoEx-Coordenadora do projetoSecretário da Saúde

SANTO ANDRÉ Santo André Secretária Municipal do projetoCidade Futuro Secretário da Saúde

PIRACICABA Piracicaba 2010: Secretário Executivo do projetorealizando o futuro Secretário da Saúde

Page 22: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

22 BIS#32/Abril_2004

Na elaboração deste texto, partimos da citação acimae das seguintes premissas: 1) uma alimentação saudável éfator determinante da melhoria da qualidade de vida; 2) aescola é um espaço privilegiado para a promoção da saúde,no tocante à melhoria da qualidade alimentar dos alunos.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) –documentos oficiais que vêm norteando, desde o final dadécada de 1990, as propostas pedagógicas das escolas,em seu Tema Transversal “Saúde” – definem como conteúdosdessa área a “identificação dos alimentos disponíveis nacomunidade e de seu valor nutricional” e “a valorização daalimentação adequada como fator essencial para ocrescimento e desenvolvimento, assim como para aprevenção de doenças, como a desnutrição, anemias oucáries” (BRASIL, 1997). Expressa-se, nesses documentos, arelação existente entre questões relacionadas à qualidadeda alimentação e o papel da escola como espaçoprivilegiado para a aquisição de conhecimentos relativos aesse tema e para o desenvolvimento de hábitos saudáveisreferentes à alimentação.

Tradicionalmente, a abordagem de questões ligadas atemas que não se encaixam na divisão disciplinar escolar,como a alimentação, vem sendo marcada por momentosem que especialistas, em geral ligados à área da saúde(médicos, nutricionistas etc.), vão às escolas para eventosde caráter pontual, muitas vezes sem avaliação e, em geral,sem continuidade.

Entendemos que questões relativas às possibilidadesde acesso à alimentação saudável, ao conhecimento deespecificidades socioculturais locais e ao desenvolvimentode hábitos alimentares saudáveis devem tornar-se objetode trabalho dos professores e devem ser entendidas comouma temática a ser incorporada no trabalho cotidiano desala de aula pelas diversas disciplinas e séries, tornando-se, portanto, curricular. Coloca-se, então, a necessidadeda existência de professores que compreendam o caráterinterdiscilplinar dessa temática e que consigam incorporá-la nos seus planejamentos de ensino, com o fim de traduzi-la em aprendizagens a serem adquiridas pelos alunos.

Entendemos, também, que o ambiente escolar interferede maneira significativa na formação dos alunos e que,portanto, deve ser objeto de análise dos professores edirigentes escolares. Corre-se o risco de uma profundaincoerência entre o que é aprendido em sala “como certo”e as práticas e posturas das escolas. Especialmente notema da qualidade da alimentação, uma questão quesalta aos olhos é a incoerência entre o discursopedagógico e as práticas alimentares, tanto das merendasescolares quanto da oferta de alimentos nas cantinas dasescolas e nas redondezas.

O país deu um grande passo para a melhoria daqualidade da alimentação escolar com a municipalizaçãodo Programa de Merenda Escolar, iniciada em 1983 emSão Paulo e, em 1985, em nível federal. A merenda escolar

Alimentação saudável e Escolas:Alimentação saudável e Escolas:Alimentação saudável e Escolas:Alimentação saudável e Escolas:Alimentação saudável e Escolas:possibilidades e incoerênciaspossibilidades e incoerênciaspossibilidades e incoerênciaspossibilidades e incoerênciaspossibilidades e incoerências

Paulo Henrique Nico Monteiro* e Renata Bertazzi Levy-Costa**

“Alimentação de qualidade é fundamental para garantir uma boa qualidade de vida.Somos o que comemos e como comemos” (VALENTE, 2002).

que, até o momento, era composta por multi-misturas –que, além de industrializadas, possuíam baixa aceitaçãopelas crianças – passou a oferecer alimentos in natura,como, arroz, feijão, carnes, verduras e frutas, conforme aépoca de safra e a cultura regional (STEFANINI,1998).

Paralelamente ao consumo da merenda fornecida pelaescola, atuam as cantinas escolares, que oferecemalimentos que, de maneira geral, não trazem benefícioalgum à saúde dos escolares. Tais alimentos possuemalta densidade energética, baixa densidade demicronutrientes e quantidades excessivas de sódio,açúcares e gorduras – componentes esses que têm comocaracterística o aumento de sua palatabilidade.

Preocupados com o rápido aumento na prevalência deobesidade entre crianças e adolescentes (10 a 17 anos)observado no Brasil – de 1% em 1975 para 4,6% em 1997(região Nordeste) e de 2,5% em 1975 para 12,9% em1997 (região Sudeste) –, alguns municípios e estadosbrasileiros passaram a tomar iniciativas de regulamentaçãoda venda de alimentos em cantinas escolares e arredoresda escola. Em junho de 2001, Florianópolis sancionou umalei regulamentando os alimentos vendidos nas cantinasescolares do município. Em dezembro de 2001, tal leipassou a ser estadual. A cidade do Rio de Janeiro conseguiu,em abril de 2002, a aprovação da regulamentação davenda de alimentos em cantinas das escolas públicassituadas no município. Em São Paulo, um projeto de lei,elaborado em 2001, que restringe a venda de certosalimentos nas cantinas de escolas públicas estaduais estáparado, à espera de ser votado.

Algumas iniciativas importantes no sentido deaproximar o discurso pedagógico das práticas alimentaresno ambiente escolar vêm sendo implementadas. Cabe-nos perguntar como os setores da saúde e da educaçãodo Estado de São Paulo vêm atuando na proposição deações intersetoriais que possam contribuir para a melhoriada qualidade da alimentação da população escolar.

RRRRReferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficas

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura, Secretaria deEducação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:meio ambiente e saúde. Brasília,1997.

STEFANINI, M. L .R. Merenda Escolar: história, evolução econtribuição no atendimento das necessidades nutricionais dascriança. Tese de doutoramento – Faculdade de Saúde Pública,Universidade de São Paulo. São Paulo, 1998.

VALENTE, F. L. S. (Org.) Direito Humano à alimentação: desafiose conquistas. São Paulo: Cortez, 2002.

* Educador, Pesquisador Científico do Instituto de Saúde.Email: [email protected]

** Nutricionista, Mestre em Saúde Pública, Pesquisadora Científica doInstituto de Saúde.

Page 23: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

23BIS#32/Abril_2004

Desde 1996, a Secretaria de Estado da Educação deSão Paulo, através da Fundação para o Desenvolvimentoda Educação, em parceria com a Secretaria da Saúde,implantaram o programa “Prevenção Também se Ensina”,objetivando a redução da incidência das DST/Aids e doabuso de drogas entre adolescentes da rede pública deensino fundamental e médio. Este programa atingiu 100%das diretorias de ensino; 4.635 educadores capacitados;3.468 escolas (58% da rede); 3.500.000 alunosbeneficiados por ações preventivas.

Segundo a UNESCO, a escola é um espaçoprivilegiado para desenvolver ações preventivas quecontribuam para formação de valores e atitudes, voltadaspara melhoria da qualidade de vida.

Estudos para estimar a prevalência do consumo dedrogas psicotrópicas entre estudantes de dez capitaisbrasileiras, realizados nos anos de 1987, 89, 93 e 97pelo CEBRID, indicam na análise do conjunto, tendênciade aumento do uso freqüente de drogas (uso de drogasseis ou mais vezes nos últimos trinta dias que antecederama pesquisa), destacando-se na análise do conjunto, amaconha, os ansiolíticos, os anfetamínicos e a cocaína.

Na amostra da Região Metropolitana de São Paulo,as drogas de uso freqüente são: maconha, cocaína,tabaco e álcool. Entre os usuários, 33,0% apresentaramtrês anos ou mais de defasagem escolar, do que entre osnão-usuários (20,2%).

Dados epidemiológicos do período de 1980 adezembro/2002, indicam que a faixa etária de dez adezenove anos, representa 12,4% do total de casos deAids notificados no Estado (116.733). Cabe destacar que20,9% dos casos, referem-se à faixa etária de vinte avinte e quatro anos, indicando que um número significativode pessoas, se infectaram no período da adolescência.

Portanto, a vulnerabilidade da população jovem àsDST/Aids, ao uso indevido de drogas e à gravidez nãoplanejada são demandas sociais e importantes desafiospara os gestores nas áreas da Saúde e Educação.

A complexidade das ações preventivas exige que estassejam discutidas não apenas no âmbito do comportamentoindividual, mas também no seu aspecto coletivo, atendo-seao contexto sociocultural, no qual o indivíduo está inserido.

Desde a década de 90, o conceito de vulnerabilidadetem contribuído para fundamentação teórico-metodológicae formulação de propostas de programas na área deEducação Preventiva. Para além do risco individual oucoletivo, a noção de vulnerabilidade aponta que todas aspessoas, possuem algum grau de risco frente aos diferentesproblemas de saúde e estes são determinados por fatoresindividuais, sociais e institucionais.

O Ministério da Educação define Educação PreventivaIntegral como um “processo de formação para o exercício

Educação preventiva integral: desafios para osEducação preventiva integral: desafios para osEducação preventiva integral: desafios para osEducação preventiva integral: desafios para osEducação preventiva integral: desafios para osgestores da saúde e educaçãogestores da saúde e educaçãogestores da saúde e educaçãogestores da saúde e educaçãogestores da saúde e educação

Renato Barboza* e Lígia Rivero Pupo**

da cidadania, apoiado na análise das condições de vidada população, seus padrões de comportamento, valoresculturais, atitudes e crenças,” tendo como finalidade aimplementação de políticas públicas.

A Carta de Otawa (1986) aponta como elementosfundamentais a promoção de políticas públicas, aparticipação comunitária e a responsabilização dosgovernos, em diferentes níveis, nas ações voltadas àproteção da população.

A Educação, enquanto processo de interação eformação de sujeitos, constitui-se em espaço social paraa construção de valores e atitudes saudáveis, promovendoo desenvolvimento da autonomia e do senso deresponsabilidade individual e coletiva de crianças,adolescentes e também das instituições.

Sendo assim, a prevenção deve ser responsabilidadeintrínseca da Saúde e da Educação, setores que devematuar de forma integrada e a partir de princípiosnorteadores, permitindo recompor a fragmentaçãoexistente nas práticas tradicionais de educação em saúde.Essas ações devem ser contextualizadas, contínuas e coma participação de diferentes segmentos da comunidade.

Desafios para os gestoresDesafios para os gestoresDesafios para os gestoresDesafios para os gestoresDesafios para os gestores- Elaboração de agenda conjunta, articulando em nível local

as pastas da Saúde e Educação para implementação depolíticas públicas em Educação Preventiva Integral;

- Instrumentalização dos profissionais da Saúde e Educaçãopara atenção integral à população adolescente;

- Desenvolvimento de programas eficazes, que possamminimizar os determinantes da vulnerabilidade dapopulação jovem e a desarticulação entre a rede públicade ensino e de saúde.

RRRRReferências bibliográficaseferências bibliográficaseferências bibliográficaseferências bibliográficaseferências bibliográficas

GALDURÓZ, J.C.F.; NOTO, A. R.; CARLINI, E. A. - IVLevantamento sobre o Uso de Drogas entre Estudantesde 1º e 2º graus em 10 Capitais Brasileiras. CEBRID,1997.

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE, Programa EstadualDST/AIDS. Boletim Epidemiológico AIDS – Raça/Cor eMortalidade. CVE Ano XXII, Número 1, Outubro 2003.

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO.Secretaria de Projetos Educacionais Especiais. SérieEducação Preventiva Integral, 1994.

* Sociólogo, mestrando em Saúde Coletiva, pesquisador científico doNúcleo de Investigação em Serviços e Sistemas de Saúde do Instituto deSaúde – SES/SP. Email: [email protected]

** Psicóloga, mestranda em Medicina Preventiva, pesquisadora científica doNúcleo de Investigação e Estudos em Epidemiologia do Instituto de Saúde– SES/SP.

Page 24: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

24 BIS#32/Abril_2004

Com a política de distribuição de antiretrovirais noSUS para portadores do HIV com diagnóstico de AIDS,implementada no Brasil desde 1997, multiplicaram-seesforços visando a adesão ao tratamento, dado que estaé uma condição fundamental para o sucesso terapêutico,em que pesem os efeitos colaterais que a medicação podecausar e a complexidade de vários dos regimesterapêuticos.2

A reiteração impessoal e autoritária da prescrição –você tem que tomar todas as doses, no horário certo,com a alimentação adequada – usual entre serviços eprofissionais de saúde, vem sendo contraposta por umentendimento de que se deveria buscar inserir a rotina domedicamento na rotina de vida de cada pessoa,adaptando o tratamento ao estilo de vida de cada um.Postura que implica um processo de diálogo e negociaçãocom o próprio médico na perspectiva de que o seutrabalho deve estar mais voltado para esclarecer aimportância de tomar o remédio. Quando e como tomá-lo deve ser uma elaboração conjunta entre profissional eusuário, considerando que o uso do medicamento se dádentro de um contexto que envolve o ambiente detrabalho, a família, os amigos e a capacidade de cadauma dessas instituições conhecer e lidar bem com asoropositividade para o HIV.

Achamos importante que adesão seja tratada de formaa reduzir a culpa porque de fato identificamos que para amaioria das pessoas é difícil ser aderente a partir doconceito atual tão estreito e estrito. Na medida em que sereduz a culpa por não se conseguir ser 100% aderente,podem-se identificar coisas que melhorariam a adesão,pois o fato de sentir culpa leva a negar a situação. Muitosfalam “sou aderente”, temendo ser julgados, pelo médico,pela sociedade ou por si próprios e apontados comoresponsáveis por estar criando um supervírus. Não terculpa traz tranqüilidade para identificar as dificuldadescom relação à adesão e as formas para tomar a maiorquantidade de doses, do melhor modo possível. E issoinflui na qualidade de vida, já que a categoria aderente/não aderente poderia se constituir em um estigma a maispara a pessoa que é soropositivo. Se você é aderente,você consegue, se você não é aderente, você nãoconsegue e então você não é um bom paciente, vocênão é um bom funcionário, você não é um bom marido,você não é um bom pai, você não é uma boa mulher,você não é uma boa pessoa...

Ou seja, se é fato que a oferta de antiretroviraisampliou a a duração da vida das pessoas com HIV,precisarmos ainda trabalhar para garantir que este ganho

Uso de Antiretrovirais e Qualidade de VidaUso de Antiretrovirais e Qualidade de VidaUso de Antiretrovirais e Qualidade de VidaUso de Antiretrovirais e Qualidade de VidaUso de Antiretrovirais e Qualidade de Vida11111

Wilza Villela* e Juan Carlos Raxach**

também signifique um ganho na qualidade de vida, daatenção e acompanhamento médico, psicológico e socialdas pessoas que vivem com HIV/AIDS.

A oferta de medicamentos foi um passo essencial parapodermos pensar a qualidade de vida do portador doHIV. Mas agora temos que avançar.

A terapia antiretroviral controla a replicação do HIV,mas introduz outros problemas na vida pessoal, como ahipertensão arterial, o diabetes, o aumento do colesterole a lipodistrofia que é, de fato, o efeito colateral quemais conflito causa entre as pessoas que estão em terapiaantiretroviral. Assim, as mudanças do corpo, como preçode ter o HIV sob controle, desencadeam uma série dereações que muitas vezes comprometem a adesão aotratamento, porque se o HIV está sob controle, vem avontade de viver com plenitude, abalada quando oespelho reflete uma imagem que nem sempre agrada aodono. Você se olha no espelho e não se acha bem, achaque “estão matando você”, e sofre.

A partir do momento que se controla o HIV, novasnecessidades emergem para as pessoas. Dito de outromodo, também existem, por exemplo, efeitos colateraisnão biológicos do uso da terapia antiretroviral que devemocupar nossa atenção, se pretendemos, como finalidadeúltima das ações em saúde, contribuir para aumentar aqualidade de vida das pessoas. Isso não está aindaestruturado. Os portadores do HIV estão querendo retomarsua vida social, produtiva, amorosa e reprodutiva... E doponto de vista social ainda não existem mecanismos parareintegrar essa pessoa na sociedade.

O Brasil está um passo à frente em relação, porexemplo, à América Latina, mas não se pode falar deboa qualidade de vida de quem tem AIDS apenas emfunção da disponibilidade do remédio que traz benefíciosagora, mas já está demonstrando efeitos colaterais,biológicos e psicológicos, que pioram a qualidade devida. É uma contradição?

Sim. Para ser enfrentada.

1 Esta reflexão toma como base a experiência acumulada na ABIA(Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids) de realização de oficinasde adesão com portadores do HIV e integra um esforço mais amplopara reconceitualizar a questão da Qualidade de Vida no contexto daepidemia de AIDS.

* Médica, pesquisadora do Núcleo de Investigação em Cidadania, IS.Email: [email protected]

**Médico, coordenador de projetos da Associação BrasileiraInterdisciplinar de AIDS – ABIA.

2 A adesão ao tratamento é uma questão estratégica na atenção aqualquer doença crônica, tanto para o profissional quanto para oportador da patologia.

Page 25: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

25BIS#32/Abril_2004

Qualidade de vida e segurança alimentar eQualidade de vida e segurança alimentar eQualidade de vida e segurança alimentar eQualidade de vida e segurança alimentar eQualidade de vida e segurança alimentar enutricionalnutricionalnutricionalnutricionalnutricional

Maria Lúcia R. Stefanini*

Relacionar a segurança alimentar e nutricional àqualidade de vida parece uma tarefa simples e óbvia,uma vez que a alimentação segura e adequada é condiçãointrínseca ao alcance de uma qualidade de vidasatisfatória. Porém, quando queremos analisar como essarelação vem se dando na saúde coletiva e no contextodas políticas públicas, precisamos resgatar os conceitosque vêm sendo utilizados.

Conceituar qualidade de vida tem sido um contínuodesafio, variando de sociedade para sociedade, de acordocom cada cultura. A revista Ciência & Saúde Coletivaapresenta uma edição totalmente dedicada à Qualidadede Vida e Saúde, com discussões riquíssimas e extensabibliografia . Destaco nessa publicação o artigo deMinayo,.Hartz & Buss (2000), em que os autores fazemrevisão sumária da literatura em busca de basesconceituais. Resumem seus achados na frase “A noçãode qualidade de vida transita em um campo semânticopolissêmico: de um lado, está relacionada a modo,condições e estilos de vida. De outro, inclui as idéias dedesenvolvimento sustentável e ecologia humana. E, porfim, relaciona-se ao campo da democracia, dodesenvolvimento e dos direitos humanos e sociais. Noque concerne à saúde, as noções se unem em umaresultante social da construção coletiva dos padrões deconforto e tolerância que determinada sociedadeestabelece como parâmetros”.

Importante frisar que não é objeto deste artigoconceituar qualidade de vida, porém parece relevanteuma referência que possa traduzir a inserção de umcomponente na qualidade de vida: o da SegurançaAlimentar e Nutricional.

Como conceituamos Segurança Alimentar eNutricional (SAN)? Como qualquer conceito, este tambémnão é neutro, ou seja, ele é historicamente construído:sua evolução demonstra como vem se construindosegundo implicações nas políticas e nos interesseseconômicos e sociais.

Destaco a seguir os momentos históricos da construçãodesse conceito e recomendo a leitura de pelo menos duaspublicações de um autor que vem trabalhando nesse temanas últimas duas décadas e de onde resgatamos muitasdas informações que seguem a respeito: Valente (2002)e Valente (2003).

O termo Segurança Alimentar foi utilizado inicialmenteno início do século XX, durante a I Grande Guerra e seuconceito estava ligado à capacidade de cada país de

produzir sua própria alimentação, de forma a não se tornarvulnerável a embargos ou boicotes de natureza políticaou militar.

As décadas de 30 e 40 foram marcadas pelopensamento de um dos maiores intelectuais brasileiros,Josué de Castro, que demonstrou em seus estudos que afome e a má alimentação são determinadas socialmentee que, portanto, a segurança alimentar e de controle deendemias carenciais que comprometem a qualidade devida, somente podem ser superadas por meio decompromissos políticos nacionais e internacionais. Em1953, por ocasião da 3ª Conferência Latinoamericanade Nutrição, presidida por Josué de Castro, embora tenhasido reafirmado que as raízes dos problemas alimentaresestão mergulhadas na estrutura econômica e social, aorecomendar a elaboração de planos nacionais focadosna assistência alimentar aos grupos mais vulneráveis àdesnutrição, utilizando a produção excedente dealimentos, limitou-se mais aos efeitos do que às causasdesses problemas.

O conceito de Segurança Alimentar irrompe com forçano cenário mundial a partir da crise de escassez dealimentos, no início da década de 70, quando foi propostona Conferência Mundial de Alimentação de 1974 quetodos os países incentivassem a produção e estoques dealimentos; ou seja a Segurança Alimentar era entendidacomo uma política de armazenamento estratégico e deoferta segura e adequada de alimentos, e não como umdireito de todo ser humano a ter acesso a uma alimentaçãosaudável. Com base nessa premissa, foi promovidoaumento substancial da produção de alimentos e quedados preços, danos ambientais e, ao mesmo tempo,aumentou o número de excluídos.

Isso tudo reforçou a explicação da fome e desnutriçãopor decorrência mais das dificuldades de acesso aoalimento do que da produção.

Assim a FAO, no início da década de 80 acrescentouao conceito de Segurança Alimentar, além da produçãoe estabilidade da oferta, a segurança no acesso aosalimentos ofertados.

A partir do final dos anos 80, modificações no conceitode Segurança Alimentar vão sendo acrescentadas ereferendadas nas Conferências – Conferência

* Nutricionista, Doutora em Saúde Pública e Diretora do Instituto deSaúde. Email: [email protected]

Page 26: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

26 BIS#32/Abril_2004

Internacional de Nutrição da FAO/OMS de 1991 e de1996. Incorporaram-se as noções de alimento seguro –não contaminado biológica ou quimicamente; dequalidade – nutricional, biológica, sanitária e tecnológica;do balanceamento da dieta, da informação e das opçõesculturais – hábitos alimentares.

Mais recentemente emergiu um movimento nacionale internacional em defesa da Segurança Alimentar comodireito humano básico que deve ser garantido por políticaspúblicas.

O conceito brasileiro, reafirmado na I ConferênciaNacional de SAN em 1994, produto de diversos fórunscom a participação de setores governamentais,empresariais e da sociedade civil, incorporou ocomponente nutricional e coloca a promoção da vidacomo valor ético universal e o acesso à alimentação comqualidade, um direito humano:

“Segurança Alimentar e Nutricional significa garantira todos condições de acesso a alimentos seguros e dequalidade, em quantidade suficiente para atender aosrequisitos nutricionais, de modo permanente e semcomprometer o acesso a outras necessidades essenciais,com base em práticas alimentares saudáveis, contribuindoassim para uma existência digna em um contexto dedesenvolvimento integral do ser humano.”

O direito humano ‘a alimentação e a soberaniaalimentar surgem com clareza na Declaração Final doFórum Mundial sobre Soberania Alimentar, em Havana,2001, e estão fortemente relacionados à conceituaçãobrasileira da II Conferência Nacional de SAN, realizadaem março de 2004, cujo tema foi a construção de umaPolítica de SAN: SAN é a realização do direito de todosao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade,em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso aoutras necessidades essenciais, tendo como base práticasalimentares promotoras de saúde, que respeitem adiversidade cultural e que sejam social, econômica eambientalmente sustentáveis” (CONSEA, 2004 ).

Assim, a definição da Política de SAN deve ser pautadana promoção dos princípios da intersetorialidade - querequer o envolvimento do governo e da sociedade civilorganizada, em seus diferentes setores (saúde, educação,agricultura, trabalho, desenvolvimento social etc) e emdiferentes esferas (produção, comercialização, acesso econsumo) - e da eqüidade, para superar as desigualdadeseconômicas, sociais, de gênero e étnicas.

A atuação do setor Saúde nesse contexto de SAN estáclaramente definida na Política Nacional de Alimentaçãoe Nutrição vigente (BRASIL, 2003), que integra a PolíticaNacional de Saúde e tem como propósito a garantia daqualidade dos alimentos colocados para consumo no País,a promoção de práticas alimentares saudáveis e aprevenção e o controle dos distúrbios nutricionais, bemcomo o estímulo às ações intersetoriais que propiciem oacesso universal aos alimentos.

É no setor Saúde que as conseqüências das falhas naoferta, no acesso, no consumo, na qualidade ou nautilização biológica dos alimentos, bem como a ocorrênciade doenças e agravos endêmicos e epidêmicos sãoidentificados: desnutrição, carências de nutrientesespecíficos, obesidade, diabetes, dislipidemias eassociações com outras doenças agudas e crônicas dereconhecida relevância epidemiológica.

O entendimento do papel do setor Saúde no tocanteà alimentação e nutrição acompanhou o processo deconstrução do conceito de saúde que permeou omovimento da Reforma Sanitária e da implementação doSistema Único de Saúde.

Os demais setores e a sociedade civil organizada têmse mobilizado mais recentemente, a partir da criação do1º Conselho Nacional de Segurança Alimentar, de 1993.Nos últimos quatro anos esses Conselhos têm sereproduzido nos estados e municípios. Trabalhar aintersetorialidade, potencializando os diversos saberes ea interdisciplinaridade, as experiências e práticas é o quese coloca como o grande desafio no encontro do caminhopara o alcance da SAN.

Esse processo não poderá ignorar a realidadeepidemiológica das regiões e do país e, principalmente,que o ato de se alimentar e alimentar familiares e amigostraduz a riqueza do processo histórico de construção dasrelações sociais e está intrinsecamente ligado à identidadecultural de cada povo ou grupo social.

Garantir o direito à alimentação saudável a todos oscidadãos, ou seja, alcançar a SAN, significa transitar emum campo semântico polissêmico, indissociável doalcance da qualidade de vida.

RRRRReferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficas

BRASIL. Ministério da Saúde. Política nacional dealimentação e nutrição. Ministério da Saúde. Secretariade Atenção Básica. Departamento de Atenção Básica.Brasília, DF, 2ª ed. 2003.

CONSELHO NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTARE NUTRICIONAL - CONSEA. Construção de uma Políticade Segurança Alimentar e Nutricional, II ConferênciaNacional de Segurança Alimentar e Nutricional, março,2004.

MINAYO, M.C.S.; HARTZ, Z.M.A. & BUSS, P.M. Qualidadede Vida e Saúde: um debate necessário. Ciência e SaúdeColetiva 5 (1): 7-18, ABRASCO, 2000

VALENTE, F.L.S. (org.) Direito humano à alimentação:desafios e conquistas. São Paulo, Cortez, 2002

VALENTE, F.L.S. Fome, desnutrição e cidadania: inclusãosocial e direitos humanos. Saúde e Sociedade, 12 (1):51-60, 2003 .

Page 27: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

27BIS#32/Abril_2004

Mais que a discussão conceitual sobre o significado dainiqüidade na saúde, realizada por diversos autores,considera-se essencial elaborar métodos e técnicas visandotornar disponíveis diretrizes, parâmetros e estratégias daspolíticas públicas que operacionalizem igualdade e eqüidadeno cotidiano dos cidadãos (ESCOREL, 2003).

Principalmente nos países com dados limitados e poucosrecursos para análise, é essencial o desenvolvimento demecanismos para detectar, medir e chamar a atenção paradesigualdades evitáveis entre grupos com diferentes níveissociais. Braveman (1997) considera importantes os seguintesaspectos: identificação de fontes de dados adequadas,acessíveis e contínuas; definição, em cada país, dos grupossociais a serem comparados; seleção dos indicadores desaúde e de cuidado de saúde que sejam úteis paracomparação entre grupos sociais.

Além da avaliação de diferenças entre grupos sociais,é necessário monitorar a magnitude das medidas de saúdede cada grupo, de modo a acompanhar a situação aolongo do tempo. As estratégias para enfrentar essesdesafios incluem, além da desagregação e melhor usono nível local dos dados coletados pelo censo e pelosórgãos do setor da saúde, a produção de outros dadosqualitativos e quantitativos referentes ao conjunto dapopulação, utilizando-se inclusive métodos que captema percepção da população sobre os problemas de saúde.O uso combinado dos dados de base populacional comos produzidos nos serviços de saúde permite avaliar melhora iniqüidade no cuidado da saúde.

No Brasil, apesar de se verificar um crescimento nonúmero de publicações e documentos de serviços desaúde sobre esse tema, principalmente análises realizadasem nível municipal, verifica-se a escassez de estudos queavaliem criticamente as categorias, os indicadores e osprocedimentos metodológicos da epidemiologia utilizadosnos estudos de situação de saúde e utilização de serviços.

A abordagem territorial permite uma melhor utilizaçãodas bases oficiais disponíveis e, ao mesmo tempo, forneceuma boa aproximação com relação a algumas unidadesde reprodução social dentro de determinados limites degeneralização, como demonstram diversos estudos emnosso meio. No entanto, discutem-se “os caminhos” queconduzem aos diferenciais de saúde entre diferentes áreasgeográficas, sendo que estes provavelmente decorram dacombinação de fatores históricos, culturais, ambientais esócio-econômicos, muitas vezes não sendo possível, dadaa carência dos dados necessários, avaliar claramente oimpacto do aumento das desigualdades de renda e bem-estar nas desigualdades de saúde.

Um estudo de Noronha (2001) mediu a desigualdadesocial em saúde no Brasil, considerando as diferençasentre os estados da federação, por meio da estimativa dadesigualdade, considerando grupos sócio-econômicosclassificados segundo os anos de escolaridade formal ea renda familiar per capita. Diferentemente da maioriados estudos sobre desigualdade que utilizam comoindicador de saúde os dados de mortalidade, a pesquisautilizou medidas de morbidade. Os resultados revelaram

Informações para o monitoramento daInformações para o monitoramento daInformações para o monitoramento daInformações para o monitoramento daInformações para o monitoramento dainiqüidade em saúdeiniqüidade em saúdeiniqüidade em saúdeiniqüidade em saúdeiniqüidade em saúde Álvaro Escrivão Junior*

uma desigualdade na situação de saúde e no acesso aosserviços de saúde a favor dos grupos de alta renda, emtodos os estados brasileiros. O mesmo estudo mostrouque quanto maior era a renda familiar per capita, maiorera a probabilidade do indivíduo consultar o médico,resultado que se mantém mesmo quando se controla avariável “existência de plano de saúde”.

Outro estudo brasileiro considerou taxas padronizadasde utilização de serviços verificando que a chance deadoecer diminui com o aumento da renda, o inversoocorrendo com o consumo de serviços de saúde emedicamentos. As pessoas com planos de saúde apresentammaior chance de uso de serviços de saúde e, dentre essas,as mais pobres pagam em média valores inferiores pelosseus planos, embora o peso percentual desse gasto na rendafamiliar tenda a ser excessivamente alto. Além disso, osplanos mais simples têm um elenco mais reduzido e menosdiversificado de serviços (TRAVASSOS, 2000).

O aprimoramento das fontes de dados existentes e ouso mais criativo dos indicadores epidemiológicostradicionais, assim como o desenvolvimento de novastécnicas, de pequena complexidade e cientificamenterigorosas para evidenciar as desigualdades em saúde,constituem desafios que os centros de pesquisa podemassumir para facilitar a escolha das ferramentas maiseficientes pelos profissionais dos serviços, para estudar asituação de saúde.

Do mesmo modo elas também devem servir para melhoraro desempenho desses profissionais no mister de estabeleceremrelações com outros atores envolvidos na superação dainiqüidade social e em saúde. O atendimento desta demandados serviços aos centros de pesquisa implica a construção deabordagens metodológicas adequadas a esse fim, bem comoo fortalecimento dessa área de pesquisa interdisciplinar,aportando-se os recursos necessários. A possibilidade deconcretizar, tanto a prática da análise de situação de saúde,nos moldes apresentados neste artigo, quanto o desenvolvimentoda área de pesquisa correspondente, são decisões políticas,que dependem da existência de uma demanda social nestesentido.

RRRRReferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências BibliográficasBRAVEMAN, P. Basic note to focus discussion on selected meth-odological issues. Geneva, WHO - document 3, sep./oct. 1997.

ESCOREL, S. Os dilemas da eqüidade em saúde: aspectosconceituais. wwwwwwwwwwwwwww.opas.org.opas.org.opas.org.opas.org.opas.org.br/servico/arquivos,.br/servico/arquivos,.br/servico/arquivos,.br/servico/arquivos,.br/servico/arquivos, acesso em 09de jan - 2003.

NORONHA, K.V.M.S. Dois ensaios sobre desigualdade social emsaúde. Belo Horizonte – MG, UFMG, 2001 (Dissertação de Mestrado)

TRAVASSOS, C.; VIACAVA, F.; FERNANDES, C.; ALMEIDA, C.M. Desigualdades geográficas e sociais na utilização de serviçosde saúde no Brasil. Ciência & Saúde ColetivaCiência & Saúde ColetivaCiência & Saúde ColetivaCiência & Saúde ColetivaCiência & Saúde Coletiva, 5(1):133-149,2000.* Médico, Professor Doutor da Escola de Administração de Empresas

de São Paulo – FGV e Ex-coordenador da CEInfo – SMS SP. Email:[email protected]

Page 28: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

28 BIS#32/Abril_2004

Seriam óbvias as relações entre os produtos da Ciênciae as condições de existência (habitação, renda, educação,alimentação, transporte)? Não tão óbvias quedispensassem comentários nem tão escassas a ponto denos interrogarmos, então, sobre o valor e as finalidadesda Ciência. Neste breve ensaio pontuarei algumasquestões que me parecem relevantes ao tema.

As considerações teóricas acerca da Qualidade de Vida(QV) são cercadas por polêmicas e ambigüidades.Inicialmente pelo fato de “qualidade” ser antes um traço dasubjetividade e depois porque, a despeito dos esforços paraestabelecer critérios objetivos com vistas à sua medida, daparte dos formuladores de políticas, entra em cena asubjetividade do formulador, isto é, qual a intenção ou osentido que se desejou atribuir a cada um deles, o quesignifica não apenas o “quantum” de qualidade se desejaestimar mas também qual modalidade “quali” entra emcena. Seria por esse duplo caráter, pela sobreposição dessasduas formas de subjetividade, enfim, que poderíamosexplicar a formidável dispersão de indicadores.

De fato, são conhecidos em torno de 10 modalidadesdistintas, dos quais a análise revela as intenções e os limites(MINAYO, HARTZ e BUSS, 2000). Se focamos, comofazem esses autores, qualidade de vida na Saúde,acrescentamos mais possibilidades de significados pelofato de ajuntarmos dois conceitos – Saúde e Qualidadede Vida - altamente polissêmicos. Por isso, afirmam: “...o tema qualidade de vida é tratado sob os mais diferentesolhares, seja da ciência, através de várias disciplinas, sejado ponto de vista objetivo ou subjetivo, seja emabordagens individuais ou coletivas. No âmbito da saúde,quando visto no sentido ampliado, ele se apóia nacompreensão das necessidades humanas fundamentais,materiais e espirituais e tem no conceito de promoção dasaúde seu foco mais relevante (ibidem, p. 15, grifos nooriginal).

E o que seriam essas “necessidades humanas”? ParaFlorestan Fernandes, a vida em sociedade tem por derivaçãoprover a satisfação de necessidades bióticas e biopsíquicasgerais dos seus membros. Numa perspectiva antropológica,encontramos que essas necessidades são satisfeitas de modoregular e constante, seja qual for o modo como associedades concretas estejam organizadas com vistas àprodução da existência (FERNANDES, 1985, p. 49). Oproblema se inicia quando, pelos efeitos dessa mesmaorganização, parte importante da riqueza produzida éapropriada privadamente por grupos sociais distintosdaqueles produtores. Sem dúvida, na sociedade capitalistaessa apropriação encontra seu vértice, onde nunca tãopoucos acumularam tanto. As conseqüências “sanitárias”desta tão formidável expropriação são facilmente detectáveiscom os instrumentos da epidemiologia.

Se, como diz Asa Cristina Laurell, “... toda pesquisadas condições de saúde da população é pesquisa dasaúde dos trabalhadores” (LAURELL, 1985, p. 255), entãoneste enfoque faz sentido essa ligação com o processoprodutivo. E qualidade de vida aqui não seria a categoria

PPPPProdução Científica e Trodução Científica e Trodução Científica e Trodução Científica e Trodução Científica e Tecnológica e Qualidade de Vidaecnológica e Qualidade de Vidaecnológica e Qualidade de Vidaecnológica e Qualidade de Vidaecnológica e Qualidade de VidaCarlos Botazzo*

abstraída do seu contexto mas, antes, a categoria vivaporque elaborada na concretude dos problemas práticosda existência de seres concretos. Assim, se as condiçõesde existência se exprimem como qualidade, inicialmentedevemos nos indagar a que qualidade nos referimos, istoé, qualidade da vida de quais sujeitos, e depois parecerazoável que as transformações necessárias sejamconduzidas tão autonomamente quanto possível por estesmesmos sujeitos. Admitir, todavia, este postulado implicaconsiderar graus bastante alargados de poder político dossujeitos ou grupos sociais afetados. Implicaria, emdecorrência, a emergência protagônica de classes ouestamentos subalternos e a conseqüente ultrapassagemdas relações políticas vigentes na sociedade. Por isso,ainda para Minayo, Hartz e Buss, QV é noção relativaque se materializaria na intersecção de três vieses, a saber:os históricos, os culturais e os de classe (Ibidem, p. 9).

Dito isto, pontuemos algumas questões. A ciênciaencontra sua justificação social na medida em que sededica à investigação de problemas práticos. Este aforismoé particularmente válido para a pesquisa aplicada e, acimade tudo, para a tecnológica. A ciência e a técnica ocupamlugar central na cultura contemporânea e seus produtosgarantem produção em larga escala, de alimentossobretudo (mas não apenas), sem os quais não seriapossível manter a população atual de mais de 6 bilhõesde indivíduos (HEISENBERG, 2000). A questão seria saberaté que ponto qualidade de vida em saúde acha-se nadependência de novos conhecimentos científicos etecnológicos, ou se a superação da má qualidade devida de milhões de pessoas antes não estaria nadependência de vontades políticas e relações de poder.Isto se explica na medida em que, não raro, insistir naprodução de novos conhecimentos é recurso destinado aprocrastinar a resolução verdadeira do problema existente.

A insistência no uso de indicadores mais precisos,finalmente, não significaria o zelo com que realizamos oexercício intelectual de busca de soluções que, na verdade,antes indicam habilidades em estabelecer correlaçõesentre situações dadas, sem conseqüências, todavia, paraos problemas da existência cotidiana?

RRRRReferências bibliográficaseferências bibliográficaseferências bibliográficaseferências bibliográficaseferências bibliográficasFERNANDES F. A sociologia: objeto e principais problemas. In:Ianni O (Org.). Florestan Fernandes (Coleção grandes cientistassociais, 58). São Paulo, Ática, 1986, 48-75.

HEISENBERG W. A parte e o todo: encontros e conversas sobre física,filosofia, religião e política. Rio de Janeiro; Contraponto, 2000.

LAURELL AC. Saúde e trabalho: os enfoques teóricos. In: NunesED (Org.). As ciências sociais em saúde na América Latina.Tendências e perspectivas. Brasília, OPAS, 1985, 255-76.

MINAYO MCS, HARTZ ZMA E BUSS PM. Qualidade de vida e saúde:um debate necessário. Ciência e Saúde Coletiva, (5)1, 2000, 7-18.

* Pesquisador científico do Instituto de Saúde, Professor do Programade Pós-Graduação em Infecções e Saúde pública, CIP/SES-SP. Email:[email protected]

Page 29: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

29BIS#32/Abril_2004

O Relatório Lalonde “Uma Nova Perspectiva na Saúdedos Canadenses”, de 1974 e a Carta de Ottawa de 1986,promulgada na Primeira Conferência Internacional sobrePromoção da Saúde, foram documentos importantes quecontribuíram, junto com outros fatores, para discussõesquanto a alguns paradigmas no campo da saúde, emespecial na valorização da promoção da saúde, no lugarde privilegiar, exclusivamente, a área assistencial. Nasúltimas décadas, o conceito de saúde tem sido entendidode forma mais ampliada e os agravos à saúde comodecorrência de vários fatores: estilo de vida, genética eambiente, possibilitando, assim, novas formas de pensare gerir o setor saúde.

O alto grau de disseminação de informação queacontece hoje, devido aos processos tecnológicosdecorrentes da globalização, possibilita a disseminaçãode pesquisas, conhecimentos e experiências que podemfacilitar a participação de diferentes e diversos grupossociais, preocupados com a saúde pública, em tomadasde decisões relacionadas com a melhoria da qualidadede vida das populações de suas regiões.

O “Observatório de Saúde” é um instrumento quepode ser utilizado para o monitoramento e avaliação deprojetos e programas de melhoria da qualidade de vida.

Os “observatórios” da América do Sul e Central estãofocados na questão dos recursos humanos em saúde ena saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde. NaEuropa os objetivos foram concentrados em três áreasprincipais: acompanhar o perfil dos sistemas de saúdeem transição; conduzir a comparação entre cidades comproblemas semelhantes; promover e facilitar o acesso apublicações sobre cuidados com a saúde, disseminarinformações sobre dados hospitalares e de sua interfacecom a atenção primária e evitar a duplicação de esforçose recursos.

A idéia principal é de que os processos de coleta dedados, análise e interpretação geram informações quepodem desencadear ações e decisões, por meio dacriação, proposição e adoção de políticas públicas,podendo ser utilizados para avaliar e retroalimentar osistema de informação em saúde em nível local e regional.

Um estudo secundário, retrospectivo, de revisãosistemática, produz conhecimento atual e pode sugeririniciativas futuras (THACKER,1994). As evidênciasencontradas, a partir de uma pergunta claramenteelaborada, podem facilitar a elaboração de ações ou adefinição de novos estudos. Nosso objetivo nesse estudofoi o de identificar estudos referidos como observatóriosde saúde nas bases de dados bibliográficos: LILACS

Observatório de Saúde: uma revisão sistemáticaObservatório de Saúde: uma revisão sistemáticaObservatório de Saúde: uma revisão sistemáticaObservatório de Saúde: uma revisão sistemáticaObservatório de Saúde: uma revisão sistemática11111

Virgínia de Fátima Novelli*

(Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciênciasda Saúde) e MEDLINE (Literatura Internacional);queríamos conhecer os locais onde foram instalados,para quê foram instalados, como funcionam, quemparticipa e como as informações geradas são utilizadaspelos gestores locais.

Aqui serão apresentados alguns resultadospreliminares de caracterização dos trabalhosidentificados.

Foi realizada uma pesquisa eletrônica na bibliotecavirtual da BIREME utilizando ‘Observatório de Saúde’como palavras-chave, sem limitador de tempo, emdecorrência do pequeno número de artigos encontrados.

O levantamento realizado em outubro de 2003, naBase LILACS revelou 26 artigos. Na análise dosrespectivos resumos, utilizou-se como filtro para a seleçãodos artigos, uma visão holística de saúde. Foramselecionados três artigos (Quadro 1). Tornou-se, então,necessário uma nova busca em novembro de 2003, naBase MEDLINE, utilizando novamente a mesmaterminologia. Aí foram localizados 17 artigos, conformeQuadro 2. A Tabela 1 apresenta o ano da publicaçãodos artigos. O maior número de publicações concentra-se no final da década de 1990 e no ano 2000.

TTTTTabela 1-abela 1-abela 1-abela 1-abela 1- Artigos referentes a observatório de saúde nabase LILACS e MEDLINE, 2003, conforme ano depublicação.

ANO LILACS MEDLINENN % N %

Anterior a 2000 15 57,70 5 29,422000 3 11,54 5 29,422001 4 15,38 3 17,642002 4 15,38 2 11,762003 - - 2 11,76

TOTAL 26 100,00 17 100,00

A Tabela 2 mostra os principais temas abordados,predominando os relacionados com recursos humanosna saúde e em saúde do trabalhador - na base LILACS -e com avaliação de impacto e informação - na baseMEDLINE.

* Administradora Hospitalar, Especialista em Administração Hospitalarpela Faculdade de Saúde Pública da USP e discente do Programa dePós -Graduação em Infecções e Saúde Pública (Área: Saúde Coletiva)da Coordenação dos Institutos de Pesquisa da SES/SP. Email:[email protected]

1 Agradecimento à minha orientadora Profª. Dra. Cláudia Maria Bógus,por seus comentários.

Page 30: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

30 BIS#32/Abril_2004

TTTTTabela 2 –abela 2 –abela 2 –abela 2 –abela 2 –Artigos referentes a observatório de saúde nabase LILACS e MEDLINE, conforme os temas abordados.

TEMAS LILACS MEDLINEN % N %

Qualidade de Vida 3 11,54 - -Recursos Humanos eSaúde do Trabalhador 10 38,46 - -Ambiente - - 3 17,64Avaliação de Impacto 1 3,84 4 23,53Informação 3 11.54 4 23,53Epidemiológicos 4 15,38 1 5,88Gênero 2 7,70 - -Outros 3 11,54 5 29,42

Total 26 100,00 17 100,00

As publicações científicas identificam os observatóriosde saúde como adequados instrumentos demonitoramento e avaliação de projetos e programas demelhoria da qualidade de vida em suas regiões porqueenfatizam as questões locais. A América Latina apresentou,no final dos anos de 1990, um número maior de artigossobre recursos humanos e saúde do trabalhador,preparados pelos Ministérios da Saúde dos respectivospaíses (Quadro 1). O restante da literatura internacionaltem concentrado seus estudos nas áreas de ambiente eavaliação quanto ao impacto do uso de informações(Quadro 2).

Nas cidades de Campinas e Santo André, oobservatório foi constituído com o objetivo de elaborarpolíticas públicas, aprimorando a intersetorialidade, aparticipação para a melhoria da qualidade de vida daspopulações locais.

Finalmente, vale destacar que os observatórios podemdesempenhar várias funções no sentido de aprimorar equalificar a participação social, a promoção da saúde eo desenvolvimento de políticas públicas saudáveis.

RRRRReferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficas

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de PSecretaria de PSecretaria de PSecretaria de PSecretaria de Políticas de Saúde.olíticas de Saúde.olíticas de Saúde.olíticas de Saúde.olíticas de Saúde.PPPPProjetorojetorojetorojetorojeto PPPPPromoção da Saúderomoção da Saúderomoção da Saúderomoção da Saúderomoção da Saúde, 2001.

European observatory will promote better health policyEuropean observatory will promote better health policyEuropean observatory will promote better health policyEuropean observatory will promote better health policyEuropean observatory will promote better health policy. BMJ1999; 318: 352

MADHUKAR PAI, coordenador. Introduction to Systematic reviewsand meta-analyses, São Paulo; 2003.[Apostila do WorkshopIntroduction to SystematicIntroduction to SystematicIntroduction to SystematicIntroduction to SystematicIntroduction to Systematic RRRRReviews & Meta-eviews & Meta-eviews & Meta-eviews & Meta-eviews & Meta-AnalysisAnalysisAnalysisAnalysisAnalysis- Faculdadede Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo;Programa dePós Graduação Coordenação dos Institutos de Pesquisa- CIP;Universidade de São Paulo Faculdade de MedicinaDepartamento de Medicina preventiva; Fogarty AIDSInternacional Training Program University of Califórnia, Berkeley,USA]

THACKER,S.B, Metanálise. Metanálise. Metanálise. Metanálise. Metanálise. Aspectos metodológicos, éticos epráticos em ciências da saúde; 1994.(OPAS- PublicaçãoCientífica).

Page 31: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

31BIS#32/Abril_2004

Quadro 1: Publicações Base LILACS *Autor(1º)Autor(1º)Autor(1º)Autor(1º)Autor(1º) IDIDIDIDID TítuloTítuloTítuloTítuloTítulo FFFFFonteonteonteonteonte Obs.Obs.Obs.Obs.Obs.Keinert,T 343342 Aspectos da concepção e construção do São Paulo,

Observatório da qualidade de vida de Santo André Instituto de Saúde, 2002Keinert,T 339546 Qualidade de vida: observatórios, experiências São Paulo,

e metodologias Annablume, 2002, 2002, 2002, 2002, 2002* 331960 II Encuentro Nacional del observatorio de Santa Cruz; *Ministério da

Recursos Humanos en Salud (Conferência(Conferência(Conferência(Conferência(Conferência) OPS; 2002; 2002; 2002; 2002; 2002 Saúde da Bolívia* 327978 Programa de Acción:Sistema Nacional de Secretaria de *Secretaria de

Informacion en Salud –2001-2006 Salud D.F; 20022002200220022002 Salud MéxicoOrtiz,J 312034 Otitis media aguda: Hospital Juan XXIII J & G rev..

como observatorio epidemiol. 19921992199219921992Pooley,B 312031 Mortalidad materna: un llamado de atención J & G rev..

para todos epidemiol.19921992199219921992* 309722 Observatorio epidemiológico en drogas: El Secretaria de *Secretaria de

fenômeno de as adicciones en México, 2001 Salud D.F; 2001; 2001; 2001; 2001; 2001 Salud MéxicoSilva,C 307880 Centro de informação sobre medicamentos da Fortaleza, 19991999199919991999 Tese

Universidade Federal do Ceará: um observatóriofarmacoepidemiológico UFC/FM

* 303425 Memorias del Primer Encuentro Nacional de Bogotá, D.C; *PontificiaExperiencias Significativas en Trabajo com 20012001200120012001 UniversidadeJóvenes (Conferência(Conferência(Conferência(Conferência(Conferência) Javeriana

Santos,P 300721 Estudo do processo de trabalho da enfermagem Rio de Janeiro, Tese/ENSPem hemodinâmica: desgastes, cargas de trabalho 20012001200120012001e fatores de riscos à saúde do trabalhador

* 299735 Recursos humanos en salud en Argentina/ 2001 Buenos Aires, *OPS,observatorio de recursos humanos em salud Argentina.OPS; Argentina

20012001200120012001* 291527 Escola de governo em saúde; observatório de Brasília, 19981998199819981998 * Ministério da

conjuntura Saúde, F.O.CBrito,Q 276819 Impacto de las reformas del sector de Rev. Panam.Salud

la salud sobre los recursos humanos y la gestionlaboral Pública, 2000

Brito, Q 275917 Desafios y problemas de la gestión de recursos Washington, D.C.humanos de salud en las reformas sectoriales OPS, 20002000200020002000

* 275890 Propuesta de desarrollo de un conjunto de datos San José, 19991999199919991999 *OPSbásicos de recursos humanos en el sector salud

Brito,P 273329 Observatorio de recursos humanos de salud Quito,OPS, 20002000200020002000Akerman, M 264318 A concepção de um projeto de observatório Saúde e

de qualidade de vida: relato de uma Sociedadeexperiência em Campinas, São Paulo 1997

Galin,P 252539 Guia para optimizar la utilizaciòn de la información San José,OPS, (Conferência)disponible sobre empleo en el sector salud 19991999199919991999

Novick,M 252538 Relaciones colectivas de trabajo: guia San José,OPS, (Conferência)metodológico 19991999199919991999

Rittler,M 242297 EI ECLAMC: un observatorio de malformaciones Argentina, 19991999199919991999 (Conferência)congénitas

* 234196 Salud, presente y futuro: oportunidades y retos México. D.F.19981998199819981998del binomio empresa/salud F.M.para la Salud

* 228824 Observatorio de los Recursos Humanos Washington,OPS/ (Conferência) en las Reformas Sctoriales de Salud CEPAL/OIT-19981998199819981998

* 226910 Observatorio de la salud: Nec.servicios,políticas México. D.F.1997.1997.1997.1997.1997 *México,Fund.M.* 219802 Observatorio de la salud: Nec.servicios,políticas México, D.F.19971997199719971997 *México,Fund.M.Alvaro, P 171960 Marco General para la creación y puesta Madri, Espanha

en marcha um sistema de indicadores sobre 19941994199419941994la igualdade de oportunidades de las mujeres

Alvaro, P 171959 Propuesta de um sistema de indicadores Madri, Espanhasociales de igualdad entre géneros 19941994199419941994

*Acesso em base de dados disponibilizado eletronicamente pela BIREME em novembro de 2003, site: http://www.bireme.br

Page 32: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

32 BIS#32/Abril_2004

*Acesso em base de dados disponibilizado eletronicamente pela BIREME em novembro de 2003, site: http://www.bireme.br

Quadro 2: Publicações Base MEDLINE *

Autor(1º)Autor(1º)Autor(1º)Autor(1º)Autor(1º) IDIDIDIDID TítuloTítuloTítuloTítuloTítulo FFFFFonteonteonteonteonte Obs.Obs.Obs.Obs.Obs.

Louie PK 12867169 A preliminary investigation of persistent organic Hong Kong, China

pollutants in ambient air in Hong Kong 2003, Chemosphere

Watkins F 12831083 Through a glass darkly: what should public health Liverpool, UK, 2002

observatories be observing? J Public Health Med.

Kashiwabara K 12507191 High frequency of emergency room visits of Kumamoto, Japan

asthmatic children on misty or foggy nights 2002, J Asthma

Tabah L 12336549 New emphases in demographic research after Bucharest, 1976

Bucharest? (Conference) Popul Bull Conf.

Otsuka K, 11774870 Alternating light - darkness- influenced human Nishiogu, Japan,

eletrocardiographic magnetoreception in association 2001

with geomagnetic pulsations Biomed Pharmacother

Nohr C, 11604822 Shared experience in 13 local Danish EPR projects: Aalborg, DenmarK,

the Danish EPR Observatory 2001, Medinfo

Cabras P, 11569768 Pesticide residues in grapes and wine in Italy Cagliari, Italy, 2001

Food Addit Contam

Roy DJ 11206994 Palliative care- past and future- questioning great Montreal, Canadá,

Expectations 2000 Acta Oncol

Kristensen M, 11187629 The Danish EPR Observatory. Assessing Aalborg, DenmarK,

organisational impact from EPR implementation 2000, Stud Health

Tecnol Inform.

Fleeman N, 11077896 A prospective health impact assessment of the Liverpool, UK, 2000

Merseyside Integrated Transport Strategy J Public Health Med.

Morabia A, 11002379 Smoking, dietary calcium and vitamin D deficiency Geneva, Switzerland

in women: a population- based study 2000, Eur J Clin Nutr

Yan YY, 10626765 The influence of weather on human mortality in Hong Kong, China

Hong Kong 2000, Soc Sci Med

Morabia A, 1009949 A Swiss population-based assesment of Geneva, Switzerland

dietary habits before and after the March 1996 1999, Eur J Clin Nutr

”mad cow disease” crisis

Avanzini F, 8706768 How informed general practitioners manage mild Milano, Italy, 1996

hypertension: a survey of readers of drug in 7 Eur J Clin Pharmacol

countries

No authors 7808385 Type B botulism associated with roasted Italy, 1995, MMWR

eggplant in oil. Italy, 1993 Morb. Mortal

Hemmings J, - What is a public health observatory? J.Epidemil

Community Health, 2003; 57: 324-326

No authors 9933193 European observatory will promote better health BMJ, 1999; 318

policy 165.

Page 33: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

33BIS#32/Abril_2004

O projeto OQVSA nasce de uma parceria do Instituto deSaúde com a Prefeitura Municipal de Santo André (PMSA),financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa doEstado de São Paulo (FAPESP), na linha de pesquisaPolíticas Públicas. Compreende três fases, uma primeirarelacionada à construção da parceria, a segunda voltadaà elaboração de propostas técnicas e, a terceira, destinadaà implementação da proposta propriamente dita.

PPPPPropostas Técnicasropostas Técnicasropostas Técnicasropostas Técnicasropostas TécnicasOs resultados da pesquisaOs resultados da pesquisaOs resultados da pesquisaOs resultados da pesquisaOs resultados da pesquisa compreenderam a

formulação de três propostas técnicas, apresentadas àequipe da PMSA e que deverão embasar o OQVSA. Trata-se de abordagens diferenciadas, ainda que em algunscasos possam se apresentar combinadas. A decisão sobrea escolha de uma, ou algumas delas combinadas, cabeà Prefeitura com a colaboração informal dospesquisadores, uma vez que a Fase II está sendo concluída(na Fase III não há participação formal dos pesquisadores).

A primeira, a proposta de ênfase na questão do DeficitDeficitDeficitDeficitDeficitSocialSocialSocialSocialSocial, privilegia uma perspectiva descritiva e instrumental dasdesigualdades intra-urbanas, utilizando indicadores sociaisbásicos. Deficit Social remete à noção do nível de carência dapopulação no usufruto da riqueza daquela sociedade.

LLLLLongevidade, ongevidade, ongevidade, ongevidade, ongevidade, como expressão da qualidade de vidaurbana, é a segunda proposta de metodologia paraembasar o OQVSA, a qual, ainda que se mantendo naarena de um indicador clássico relacionado à mortalidade,coloca em destaque aspectos inovadores como porexemplo a questão do estilo de vida e sua influência noaumento da longevidade média1 . A longevidade seriatomada, neste caso, como indicador-síntese das condiçõesde vida existentes.

Por fim, a proposta baseada na PPPPPercepção da Qualidadeercepção da Qualidadeercepção da Qualidadeercepção da Qualidadeercepção da Qualidadede Vidade Vidade Vidade Vidade Vida enfatiza a questão da subjetividade do conceito e,consequentemente, de sua avaliação. Qualidade de vida éum conceito mais complexo que a simples cobertura denecessidades básicas, incluindo interpretações subjetivas,sejam elas individuais ou coletivas. Reconhecido isto, torna-se imperativo incorporar a dimensão subjetiva nas práticasde planejamento e avaliação de políticas públicas depromoção da qualidade de vida.2

Fóruns de RFóruns de RFóruns de RFóruns de RFóruns de Reflexão, Teflexão, Teflexão, Teflexão, Teflexão, Transferência e Sistematização doransferência e Sistematização doransferência e Sistematização doransferência e Sistematização doransferência e Sistematização doConhecimentoConhecimentoConhecimentoConhecimentoConhecimento

No período de realização do projeto podem-sedestacar, especialmente, dois fóruns específicos de reflexãoe sistematização do conhecimento gerado, além dasreuniões entre a equipe de pesquisadores e a da Prefeitura(PMSA). São, respectivamente, o I Seminário Nacional

O PO PO PO PO Projeto Observatório de Qualidade de Vidarojeto Observatório de Qualidade de Vidarojeto Observatório de Qualidade de Vidarojeto Observatório de Qualidade de Vidarojeto Observatório de Qualidade de Vidade Santo André (OQVSA)de Santo André (OQVSA)de Santo André (OQVSA)de Santo André (OQVSA)de Santo André (OQVSA)

Tania Margarete Mezzomo Keinert* ; Claudete de Castro Silva Vitte**Paulo de Martino Januzzi*** e Ruben Cesar Keinert****

“Qualidade de Vida: Observatórios, Experiências eMetodologias” realizado em Santo André em junho de2001 e II Seminário “Gestão da Qualidade de Vida”realizado em setembro de 2003, envolvendo técnicos egestores das prefeituras, órgãos públicos e associaçõesda sociedade civil.

Em termos de sistematização do conhecimento geradodurante o processo de construção da parceria e dasreflexões do primeiro seminário, foi publicado o livro“Qualidade de Vida: Observatórios, Experiências eMetodologias”3 . Em termos das propostas elaboradasdurante a Fase II do referido projeto, novo livro se encontraem preparação.

PPPPPropostas de Continuidade da Propostas de Continuidade da Propostas de Continuidade da Propostas de Continuidade da Propostas de Continuidade da ParceriaarceriaarceriaarceriaarceriaO intercâmbio mantém-se firmemente estabelecido e

as possibilidades de o grupo de pesquisadores virem aauxiliar, ainda que informalmente, a PMSA na execuçãoda Fase III é bastante grande.

Destaque-se que, desde que o grupo de pesquisa passou ainteragir com os diversos grupos da PMSA, ou seja, desde oinício do projeto FAPESP, várias iniciativas foram surgindo nassecretarias, como a criação de Observatórios Setoriais (doTrabalho, da Educação, da Economia), bem como aimplantação da Coordenadoria de Indicadores Socioeconô-micos, de perspectiva intersetorial.

Cabe agora, na FASE III, à PMSA fazer os investimentospolíticos e financeiros necessários para que o OQVSAseja implementado em sua totalidade. Os subsídiosgerados por este projeto e a aprendizagem mútuarealizada no intercâmbio entre pesquisadores e gestoresem muito facilitará esse processo.

* Administradora, Pesquisadora científica do Instituto de Saúde.Email: [email protected] ou [email protected]

** Professorado Departamento de Geografia do Instituto deGeociências da Unicamp.

*** Professor no Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisa Socialna ENCE/IBGE.

**** Sociólogo, Professor de Administração Pública.1 Dentre os esforços que têm sido feitos neste sentido destaca-se

uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde, levada a caboem nível mundial e que redundou na criação do WHOQOL (TheWorld Health Organization Instrument to Evaluate Quality of Life)disponível no site www.who.int.

2 Em que pese o custo relativamente alto desta modalidade, elaparece ter muito resultado em termos de feedback das políticasimplementadas. Para se ter uma idéia da importância da dimensãosubjetiva, o instrumento WHOQOL inclui, entre os domíniosanalisados, a avaliação de “aspectos espirituais, religião e crençaspessoais”.

3 KEINERT, T. M. M. & KARRUZ, A P “Qualidade de Vida:Observatórios, Experiências e Metodologias”, FAPESP-Annablume,São Paulo, 2002.

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

Page 34: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

34 BIS#32/Abril_2004

Discutir qualidade de vida e cidade requer que seconsiderem as políticas públicas e a disponibilização deequipamentos urbanos, seu alcance ou cobertura, já que,geralmente, é por seu intermédio que as chamadasnecessidades humanas objetivas são atendidas. Mas,pressupõe considerar a questão do uso e apropriaçãodos espaços públicos que envolvem a questão daconvivialidade, da sociabilidade, remetendo a algunsaspectos das chamadas necessidades subjetivas, maisafeitas à integração dos indivíduos à sociedade, aosvínculos e contatos com a comunidade, à participaçãona vida coletiva, dentre outros.

Nas cidades vivenciamos um momento no qual cadavez mais a vida na sociedade é marcada e regulada pelalógica do mercado, inclusive muitas vezes havendo aconversão da própria cidade em uma mercadoria, emcontexto de grande competição entre localidades para aatração de investimentos diversos.

Esta lógica cada vez mais evidente remete a HenriLefebvre que há décadas já assinalava o predomíniocrescente da lógica do valor de troca sobre o valor deuso nas cidades capitalistas. Na discussão sobre qualidadede vida e cidade, cabe considerar que a lógica relevanteé a do valor de uso porque é esta a lógica essencial navida cotidiana, na cidade, entendida como um espaçovivido e percebido pelos seus habitantes.

Este texto pretende discutir sobre qualidade de vida ecidade considerando a questão da cidadania e dasociabilidade, em um momento em que as cidades vêmassumindo características perversas, cada vez maissegregadoras e injustas e quando cada vez mais ocorreum esvaziamento da arena política.

Partir-se-á do pressuposto, seguindo os argumentosde Francisco de Oliveira, que qualidade de vida não ésinônimo de cidadania e, de fato, a conquista dacidadania nem sempre é acompanhada da conquista daqualidade de vida e principalmente o oposto: a melhoriada qualidade de vida não significa a conquista dacidadania, o que seria uma inversão da POLÍTICA, jáque é por meio desta que os cidadãos lutam pelo bem-estar e não o oposto (OLIVEIRA, 2002:11-12).

Considerando a relação cidade e cidadania, vivemosem cidades muitas vezes estranhas a nós, hostis, poucoacolhedoras. Para muitos, ela passa a ser percebida comoespaços de privilégios, de exclusão, de barbárie. Sendoassim, há novos desafios para a gestão local e para aspolíticas públicas, que devem auxiliar no resgate do papelda cidade como lugar eletivo do processo civilizador.

Nessa realidade, na qual a vida da sociedade é cadavez mais regulada pelo mercado, há o reforço do

Cidade, Cidadania e Qualidade de VidaCidade, Cidadania e Qualidade de VidaCidade, Cidadania e Qualidade de VidaCidade, Cidadania e Qualidade de VidaCidade, Cidadania e Qualidade de VidaClaudete de Castro Silva Vitte*

individualismo e a auto-segregação, em detrimento dasociabilidade e solidariedade no convívio na cidade.

Nesse contexto, este trabalho buscou fazer algumasconsiderações sobre as possibilidades e os limites doavanço da cidadania na cidade contemporânea,apontando que, a tomar pelo usufruto dos espaçospúblicos nas nossas cidades, tem havido um recuo dacidadania, entendida como igualdade de direitos, mastambém de condições e de acessos aos equipamentos eespaços que a cidade oferece. Esse recuo reflete oaumento da segregação e a dificuldade crescente dosindivíduos lidarem com a diversidade. Assim, cabe àspolíticas públicas e à gestão local aprofundar as práticasdemocráticas em suas diversas modalidades, na tentativade romper com o imobilismo e reforçar as formas deconfiança e a solidariedade entre os citadinos.

Cidade e vida cotidiana: a dimensão do espaço vivido eCidade e vida cotidiana: a dimensão do espaço vivido eCidade e vida cotidiana: a dimensão do espaço vivido eCidade e vida cotidiana: a dimensão do espaço vivido eCidade e vida cotidiana: a dimensão do espaço vivido epercebidopercebidopercebidopercebidopercebido

A cidade é o lugar da manifestação do individual e daexperiência coletiva, já que há uma multiplicidade detrocas que são constitutivas da produção da sociabilidadena cidade. A cidade, como lugar, tem uma dimensãoexplicativa e é uma condição de realização da vidacotidiana, que resulta de uma relação do indivíduo coma cidade.

Na cidade dá-se aquilo que Ana Fani Carlos (2001:33)chama do processo da produção da vida. Esta produçãoda vida dá-se pelos modos de apropriação do espaço.Segundo a autora, “cada sociedade produz seu espaço,expressando sua função social, determinando os ritmosda vida, os modos de apropriação, seus projetos edesejos” (CARLOS, 2001:34). Para ela,

“... as relações sociais têm sua realização ligada ànecessidade de um espaço onde ganha concretude a casacomo universo do homem privado; a rua comoacessibilidade possível aos espaços públicos, lugar dosencontros, dos percursos [...]. As relações que os indivíduosmantêm com os espaços habitados se exprimem todos osdias nos modos do uso, nas condições mais banais eacidentais, na vida cotidiana. Revela-se como espaçopassível de ser sentido, pensado apropriado e vivido peloindivíduo por meio do corpo, pois é com todos os seussentidos que o habitante usa o espaço, cria/percebe osreferenciais, sente os odores dos lugares, dando-lhessentido. Isto significa que o uso envolve o indivíduo e

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

* Professora do Departamento de Geografia do Instituto de Geociênciasda UNICAMP. E-mail: [email protected].

Page 35: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

35BIS#32/Abril_2004

seus sentidos, seu corpo; é por ele que marca suapresença, é por ele que constrói e se apropria do espaçoe do mundo no plano do lugar, no modo como usa oespaço e emprega o tempo da vida cotidiana” (CARLOS,2001:34-35).

A cidade pode ser entendida, então, como um espaçoconcebido, como um espaço vivido e como um espaçopercebido. O espaço concebido é o espaço abstrato,conceitual estratégico dos projetos e do planejamentourbano. Já os espaços vividos e percebidos são o espaçoimediato, fragmentado da vida cotidiana (CARLOS, 2001:26).

Segundo Dídima Olave Farias (1992:01), comoespaço vivido, a cidade agrega símbolos e valoreselaborados por meio de impressões e experiênciaspessoais, mas também experiências coletivas. Nascidades, as atividades cotidianas, a busca pela satisfaçãodas necessidades e desejos resulta de interações dosindivíduos com o mundo. Os indivíduos interagem como mundo por meio das atividades cotidianas, na buscapela satisfação das necessidades e desejos.

Ana Fani Carlos lembra que o bairro, a praça, arua, o pequeno comércio podem aproximar os moradores.Tais lugares podem ser mais do que pontos de troca demercadorias, já que neles há a possibilidade do encontro,o que reforça a sociabilidade (CARLOS, 2001:35).

O indivíduo, ao vivenciar a cidade, percebe o meio eadquire uma imagem mental própria sobre ela, que podediferir de outros indivíduos. Pedro Jacobi define apercepção como a visão ou a compreensão que aspessoas têm sobre o meio no qual vivem, sobre o seulugar. Essas percepções individuais são afetadas pormediações socioculturais. A percepção de problemas, daqualidade de vida, na vida da cidade varia entre osdiferentes grupos sociais (JACOBI, 1999:15). Há umadimensão subjetiva que sofre interferência de fatoressocioculturais e há também uma percepção coletiva, naqual o coletivo atribui ao espaço ocupado o seu sentido.Mas, “as leituras individuais do mundo se fazem porparâmetros gestados pela sociedade” (MORAES,1988:19), sendo a consciência individual um produtosocial, bem como as subjetividades1.

Cidade, cidadania: (in)civilidade?Cidade, cidadania: (in)civilidade?Cidade, cidadania: (in)civilidade?Cidade, cidadania: (in)civilidade?Cidade, cidadania: (in)civilidade?

Marco Aurélio Santana (2000: 44-53), ao discutirsobre a cidade e cidadania lembra que em Henri Lefèbvreser cidadão é ter direito à cidade. No entanto, na cidade,há grandes diferenças constitutivas que resultam emdesigualdade, sendo ela que deveria ser o lugar deefetivação de direitos e deveres para todos.

A grande questão é que a segregação, tanto socialquanto espacial, aumenta de forma extraordinária nosdias de hoje. Paulo César da Costa Gomes analisa comoa segregação leva a um recuo da cidadania, refletindosobre os usos dos espaços públicos nas cidades atuais

não apenas pela configuração física, mas pelo tipo depráticas e dinâmicas sociais que neles ocorrem.

São quatro as situações que o autor entende comoprovocadoras de uma subversão na idéia de cidadaniaassociada aos usos de espaços públicos, idéia essaherdada do modelo de convivência social oriunda daModernidade.

Primeiramente, há uma apropriação privada deespaços comuns, como demonstram os casos dos camelôse dos condomínios fechados. Um outro processo queassinala esse recuo da cidadania é a progressão dasidentidades territoriais, que o autor utiliza como sinônimode tribalização, e é marcado pelos discursos sobre adiferença de forma sectária, sendo o espaço fragmentadonas divisões impostas por grupos de afinidades. Associadoao primeiro processo, o autor aponta o que chama deemuralhamento da vida social, processo no qual oindividualismo é mais exacerbado, levando a umconfinamento social. O último processo ele chama decrescimento das ilhas utópicas, que os condomínios deluxo ilustram bem, ao “recriarem” um ambiente muitasvezes paradisíaco, apartado na malha urbana (GOMES,2002: 176-188).

Assim, a urbanidade ou a civilidade ocorre de formacada vez menos freqüente e homogênea nas cidades. Seos sinais da cidadania, da igualdade de condições, deacessos, de direitos e de deveres comuns a todos deveriamestar inscritos por toda parte e serem reconhecidos emtodos os pontos, não é necessariamente o que acontece,pois as cidades apresentam as marcas da desigualdadede acessos aos equipamentos e aos lugares (SANTANA,2000:45). Há, na verdade, uma situação de ausência deregras de organização que transforma o espaço públicoem áreas de disputa onde a convivência e o respeito socialao diferente é cada vez mais ausente.

São situações de risco potencial, cabendo aadvertência de Suely Rolnik:

“obstruídas as saídas, a vida fica acuada e, aí sim, hágrandes chances de se produzirem situações devastadoras:é que a qualidade da vida tem a ver com o grau que estaafirma sua potência criadora, e esse grau depende doquanto se está encontrando modos de expressão para asdiferenças que vão se produzindo nas misturas do mundo,

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

1 Antonio Carlos Robert de Moraes fala que “as formas espaciais sãoproduto de intervenções teleológicas, materializações de projetoselaborados por sujeitos históricos e sociais. Por trás dos padrõesespaciais, das formas criadas, dos usos do solo, das repartições edistribuições, dos arranjos locacionais, estão concepções, valores,interesses, mentalidades, visões de mundo. Enfim, todo o complexouniverso da cultura, da política e das ideologias. [...] Envolve umafinalidade. Teleologia é um atributo da consciência, a capacidade depré-idear, de construir mentalmente a ação que se quer implementar.[...] A consciência está sediada, em termos estritos e absolutos, no serindividual. [...] Não existe ‘consciência coletiva’, mas valores sociais– como a ‘consciência de classe’ – que amarram diferentes indivíduosem projetos políticos comuns” (sem grifo no original) (MORAES, 1988:16-17).

Page 36: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

36 BIS#32/Abril_2004

as quais se fazem à sombra de suas formas visíveis”(ROLNIK, 1995:158).

Ignorar o que há de subjetivo nos indivíduos e focarapenas os problemas materiais como aspectosfundamentais para a construção de um projeto defelicidade coletiva2 , conforme muitos entenderam oplanejamento governamental e os projetos dedesenvolvimento levados a cabo em diversos países ecidades dos mais variados tipos mostrou-se como algofalho. Mas, ignorar a questão da cidadania como umaquestão não resolvida da luta de classes, bem comodefender como desnecessária a ação política pode seralienante e inócuo.

Para concluir, cabe citar Leandro Konder:“a cidade [é] um lugar onde as pessoas são desafiadas

a conviver com diferenças incômodas e precisam aprendera persuadir os outros de que os interesses básicos dacomunidade passam por determinados caminhosparticulares, quer dizer: precisam aprender a fazer política”(KONDER, 1994: 74).

Se a cidade é o espaço político por excelência, apolítica deve retornar ao seu lugar de origem e recuperaro que foi legado pela cidade política da antiguidadegreco-romana: a democracia, exprimindo a conquista dosdireitos, a valorização dos espaços públicos e cívicos paraa prática política; e a diversidade, como expressão dacultura.

RRRRReferências bibliográficaseferências bibliográficaseferências bibliográficaseferências bibliográficaseferências bibliográficas

CARLOS, Ana Fani. Espaço-Tempo na Metrópole. SãoPaulo: Contexto, 2001.

CECCATO, Vânia Aparecida. Proposta metodológica paraavaliação da qualidade de vida urbana a partir de dadosconvencionais de sensoriamento remoto, sistemas deinformações geográficas e banco de dados georrelacional.Dissertação de Mestrado. São José dos Campos: INPE,1994.

FARÍAS, Dídima Olave. Percepción del habitante emcalidad de vida em ciudades intermédias de Chile. Anaisdo Encontro Latino Americano de Geógrafos (CD-Rom).Buenos Aires: Universidade de Buenos Aires, 1992.

GOMES, Paulo César da Costa. A condição urbana:Ensaios de geopolítica da cidade. Rio de Janeiro: BertrandBrasil, 2002.

JACOBI, Pedro. Cidade e meio ambiente: Percepções epráticas em São Paulo. São Paulo: Annablume, 1999.

KONDER, Leandro. Um olhar filosófico sobre a cidade.In: PECHMAN, Robert M. (org.). Olhares sobre a cidade.Rio de Janeiro: UFRJ, 1994.

MORAES, Antonio Carlos Robert. Ideologias geográficas.São Paulo: Hucitec, 1988.

OLIVEIRA, Francisco. Aproximações ao enigma: que querdizer desenvolvimento local? In: SPINK, Peter et alii (orgs.).Novos contornos da gestão local: conceitos emconstrução. São Paulo: Polis: EAESP/FGV, 2002.

ROLNIK, Sueli. À sombra da cidadania: alteridade,homem da ética e reinvenção da democracia. In:MAGALHÃES, Maria Cristina Rios (org.). Na sombra dacidade. São Paulo: Escuta, 1995.

SANTANA, Marco Aurélio. Memória, cidade e cidadania.In: COSTA, Icléia T. M. & GONDAR, Jô. (Orgs.). Memóriae espaço. Rio de Janeiro: 7Letras, 2000.

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

2 Tal denominação deve ser creditada a Alain Lipietz, em seu livroAudácia . São Paulo: Nobel, 1990.

Page 37: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

37BIS#32/Abril_2004

Apresento três notícias interessantes sobre indicadores:

1) Segundo Nahas (2003) , o grande motivador daelaboração e uso de indicadores para avaliar o meiourbano foi o IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano,lançado pelo PNUD em 1990. O IDH pretende ser umamedida geral, sintética, do desenvolvimento humano. Eleparte do pressuposto de que para aferir o avanço de umapopulação não se deve considerar apenas a dimensãoeconômica, dada pelo Produto Interno Bruto (PIB) percapita, mas também outras características sociais, culturaise políticas que influenciam a qualidade da vida humana.

Aos poucos, o IDH tornou-se referência mundial. Éum índice-chave nos Objetivos de Desenvolvimento doMilênio e, no Brasil, tem sido utilizado pelo governo federale por administrações estaduais como critério paradistribuição de recursos dos programas sociais, com acriação do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal(IDH-M) dos 5.507 municípios.

De acordo com o Relatório do DesenvolvimentoHumano1 de 2003, o Brasil é o país que ganhou maisposições na classificação do IDH desde 1975. Foram 16postos ganhos ao longo de 26 anos, levando o país à65ª posição, com IDH de 0,777 referente ao ano de2001.

Essa escalada brasileira no ranking do IDH aconteceuapesar de uma taxa medíocre de crescimento da rendaper capita. Entre 1975 e 2001 o aumento foi, em média,de 0,8% ao ano, ficando abaixo das médias mundial(1,2%), dos países ricos (2,1%) e dos países emdesenvolvimento (2,3%). E já sabemos que em 2002 arenda per capita cresceu apenas 0,2%; em 2003 sofremosuma redução de 1,5%! Mas, o que incomoda mais é ofato de o Brasil ser citado no Relatório como paradigmade iniquidade no que se refere à distribuição da renda,que só não é pior do que a de quatro países da Áfricasub-saariana.

No indicador longevidade, que reflete as condiçõesde saúde geral da população, o Brasil teve resultadosmelhores. Em duas décadas e meia os brasileirosganharam mais de 8 anos na sua esperança de vida aonascer – de 59,5 anos para 67,8 anos. Mas por ter partidode um patamar muito baixo, esse avanço foi insuficientepara elevar o país a uma posição de destaque: o Brasilocupa apenas a 110ª posição entre 175 países no rankingda longevidade.

Indicadores para o diálogoIndicadores para o diálogoIndicadores para o diálogoIndicadores para o diálogoIndicadores para o diálogo Jorge Kayano*

2) A longevidade ‘puxa’ a questão da saúde – e vale apena contar sobre a polêmica criação, pela OMS, de um“Índice Geral de Desempenho do Sistema de Saúde”(Overall System Performance Index), calculado para osseus 191 países membros, e publicado no WHR (Informesobre a Saúde no Mundo) 2000 na forma de um rankentre esses países.

Houve uma contestação generalizada de governos epesquisadores sobre este Índice de Desempenho, quecolocou por exemplo o Brasil numa humilhante 125ªposição, junto com a Bolívia, e bem atrás – não por acaso- da Colômbia (22º). Em resposta, um amplo grupo depesquisadores trabalhou no projeto PRO-ADESS

2,

“Desenvolvimento de metodologia de avaliação dodesempenho do sistema de saúde brasileiro”,apresentando em seu relatório final, entre outras, asseguintes críticas:- Aparentemente, a OMS assumiu a advocacia de

determinados modelos de reforma setorialanteriormente preconizados pelo Banco Mundial,como parte de uma agenda mais ampla de mudançasna política social e de saúde. Com a publicação doWHR 2000, a OMS passa a balizar os termos dodebate político e ideológico na política de saúdemundial, e induzir a aplicação de determinadaagenda de reforma;

- O emprego de um único indicador para orientar aspolíticas voltadas para os sistemas de saúde pareceser excessivamente reducionista. A ênfase que o WHR2000 atribui aos indicadores compostos, caminhana direção oposta aos desenvolvimentos científicosrecentes e às tendências de pensamentopredominantes na academia, uma vez que há hojeuma forte convergência sobre a necessidade dedesagregar indicadores, tornando-os mais expressivose capazes de mensurações mais finas;

- A avaliação foi realizada com uma enormeinsuficiência de dados, pois apenas 5 5 5 5 5 (cinco) dos 191países membros possuíam todas as informaçõesnecessárias para o cálculo dos cinco indicadores,dentre eles o Brasil. A precariedade dos dados e afragilidade metodológica da avaliação realizadadesqualificam os resultados apresentados eobscurecem um debate político e teórico útil aodesenvolvimento dos sistemas de saúde dos paísesmembros;

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

Page 38: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

38 BIS#32/Abril_2004

- Uma das críticas centrais ao WHR 2000 é a validadedo índice Overall Health System Performance comomedida da efetividade dos sistemas de saúde, umavez que, surpreendentemente, não inclui nenhumindicador de uso de serviços de saúde, elementofundamental para refletir o acesso. Não há evidênciascientíficas que demonstrem que mudanças no estadode saúde, reflitam predominantemente a forma comoos sistemas de saúde operam. Exprimiriam antes ascondições sociais e econômicas vigentes nasdiferentes sociedades;

- O índice de desempenho (Overall Health SystemPerformance) não permite identificar os principaisproblemas a serem enfrentados nas distintasrealidades nacionais. Dessa forma, não avança nadireção de definir parâmetros válidos para omonitoramento do desenvolvimento do sistema desaúde de cada país e, muito menos, para a realizaçãode comparações internacionais.

Mais do que dar razão aos argumentos, interessaregistrar que está sendo criticada uma atitude “extra-técnica” do pessoal da OMS na produção de seu Índice.

3) No começo de fevereiro de 2002, o Brasil recebeuuma boa notícia: ocupa, em 2002, a 20ª posição, entre142 países, no Índice de Sustentabilidade Ambiental (ESI,na sigla em inglês), elaborado, pelo segundo anoconsecutivo, por especialistas das universidades norte-americanas Yale e Columbia. A lista, com a Finlândiacomo primeira colocada, seguida pela Noruega e Suécia,foi divulgada em Nova York, no Fórum EconômicoMundial, responsável pela encomenda do trabalho. Epossui alguns dados reconfortantes para a auto-estimanacional. Por exemplo: o Brasil, com uma pontuação geralde 59,6, numa escala de zero a cem, situou-se 31posições à frente dos Estados Unidos, que obtiveram 52,8.E registre-se que a poderosa nação ocupava, em 2001,o 11º lugar na lista, enquanto estávamos no modesto51º lugar hoje tomado pelos EUA. Na composição doESI versão 2002 entraram 20 indicadores, obtidos a partirde 68 variáveis. Elas incluem informações ambientais,propriamente, sociais e institucionais.

Segundo Carlos Alfredo Joly3 , coordenador do projetoBiota e professor titular de ecologia vegetal, do Institutode Biologia da Unicamp, “apresentaram esse índice pelaprimeira vez em 2001. E começam essa nova versão de2002 dizendo para esquecermos a de 2001, porque ametodologia foi completamente modificada”.

“Pesou muito para a posição do Brasil o fato de termosa maior área florestal tropical do mundo, com algo emtorno de 80% de seu total intactos. Não temos informaçõesefetivas para vários dos parâmetros, mas teve tambémuma influência forte a qualidade da água. No estado deSão Paulo discutimos essa questão como um problema,dentro de uma visão do esforço que está sendo feito pararecuperação das bacias e manutenção do potencialhídrico”. Ele alerta também que “o país pode ter a falsa

impressão de que as coisas estão melhores do queefetivamente estão. E que portanto não necessitamos deum esforço ou de um investimento tão significativo, porqueos ambientalistas teriam pintado o quadro muito maissombrio do que é”.

Essas três histórias recentes envolvendo indicadores,em temas bastante relevantes, não foram contadas parailustrar diferentes exemplos de legitimação ou contestação,mas sim para alertar-nos de uma característica comum atodos - a de serem construções sociais. Deixamos apenasassinalado que para Telles (2003) , “os indicadores nãomedem a realidade, algo que estaria lá, pronto para serdescrito, mas participam da construção social darealidade”.

Seguem, como decorrências: a necessária explicitaçãoda intencionalidade dos atores na e para a produção deindicadores; e a ênfase dada aos indicadores comoresultantes e produtores de um processo de diálogo, deinformação e comunicação pautados pela transparênciade intenções e ações e pela perspectiva doempoderamento da população e das organizações dasociedade civil.

RRRRReferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficaseferências Bibliográficas

NAHAS, MARIA INÊS P. (2003) Indicadores intra-urbanoscomo instrumentos de gestão da qualidade de vida urbanaem grandes cidades: discussão teórico-metodológica.Disponível em: http://www.virtual.pucminas.br/idhs/site/conteudo/pobreza_artigos.htm. Acesso em março/2004.

TELLES, VERA S. (2003) Indicadores Sociais entreObjetividade e Subjetividade, In Passos, CAK (Org.)Indicadores, ONGs e Cidadania – contribuiçõessociopolíticas e metodológicas. Curitiba: ADITEPP/Pólis[GT Indicadores da Plataforma Contrapartes Novib].

* Médico Sanitarista e pesquisador no Núcleo de Investigação emServiços e Sistemas de Saúde, do Instituto de Saúde.Email: [email protected]

1 http://www.undp.org.br2 http://www.proadess.cict.fiocruz.br3 Revista Pesquisa Fapesp Nº 73 – Entrevista: Em favor do meio ambiente

– disponível em: http://www.revistapesquisa.fapesp.br

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

Page 39: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

39BIS#32/Abril_2004

Mensurar a qualidade de vida tem sido uma buscaconstante desde que a noção passou a estar incluída naavaliação do impacto de políticas públicas determinadasou mesmo de gestões governamentais vistas de um pontode vista integral. Várias propostas de mensuraçãoconvivem atualmente, de modo geral respaldadas porentidades públicas de pesquisa e por institutos delevantamento de dados e opiniões.

Essas propostas diferenciam-se por causa da definiçãode qualidade de vida que escolhem. A maioria delas tomacondições de vida como referência e trata de medir adisponibilidade de bens e serviços para a população,supondo que a sua existência afeta positivamente aqualidade de vida. Pode–se dizer que essas propostasremetem à noção de bem-estar social, cuja consecuçãocaracterizou os esforços de desenvolvimento econômicoe social conduzidos pelos estados das nações emergentes,durante a maior parte do século XX.

Outra concepção de referência que tem sido utilizadaé a do desenvolvimento humano. Busca captar aefetivação de capacidades e potencialidades humanasda comunidade em estudo e tem inspiração evidente nosparâmetros do Índice de Desenvolvimento Humano,medido pelo Programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento (PNUD). Nesse caso, qualidade de vidaé aproximada à noção de desenvolvimento humano.

Uma terceira referência tem sido a da exclusão social.Nessa proposta, tenta-se mensurar o contingente depessoas não beneficiadas e, portanto, incapacitadas parausufruir as oportunidades oferecidas pelo mercado e quedeveriam ser objeto das políticas públicas de caráter social.Por meio dela, capta-se a falta ou insuficiência dequalidade de vida existente.

Outra referência é a que está implícita na noção decidade saudável. Tendo como base a noção de promoçãoà saúde, a qual reforça a importância da participaçãocomunitária e o desenvolvimento de parcerias entre o setorpúblico, privado e a sociedade civil, o movimento CidadesSaudáveis incentiva a ação intersetorial e a participaçãosocial no contexto específico da gestão local.

Outra importante vertente de trabalhos sobrequalidade de vida, busca captá-la pela percepção dapopulação. Parte de que qualidade é uma atribuição quea população faz da sua situação. Verifica o que realmentechega à população e é percebido por ela como qualidade.

Todas essas propostas contribuem para oconhecimento da realidade social a partir de uma ou de

LLLLLongevidade como expressão da qualidade deongevidade como expressão da qualidade deongevidade como expressão da qualidade deongevidade como expressão da qualidade deongevidade como expressão da qualidade devida urbanavida urbanavida urbanavida urbanavida urbana

Ruben Cesar Keinert*

um conjunto de variáveis tomadas como parâmetro. Essasvariáveis, no entanto, são muitas vezes condições paraque um bom nível de qualidade de vida seja atingido,não representariam por si próprias o que se pretende comoqualidade de vida, uma formalização da idéia de umavida que vale a pena ser vivida.

Nesse sentido, a observação das várias propostasexistentes acabou por proporcionar uma sugestão parauma nova formulação. Chamou a atenção aengenhosidade da proposta do IDH, particularmentequando inclui a longevidade como critério dedesenvolvimento, ao lado da renda e da escolaridade.Longevidade é uma variável de resultado, significa o modocomo uma população processa o seu poder aquisitivo deconsumo, suas condições de vida e, especialmente, oseu estilo de vida; conjuga ao mesmo tempo sabedoriade viver com possibilidades materiais e ambientaisdisponíveis e alcançadas.

Por ser de resultado, contrabalança o peso dasoutras variáveis estratégicas, renda e escolaridade,atributos que podem ser influenciados por iniciativas quenão visam necessariamente a produzir uma vida de melhorqualidade. A educação pode ser uma surpresa ao serconsiderada assim, mas é preciso levar em conta que elapode estar voltada para a mais estrita profissionalização,por vezes em atividade a ser exercida em situações derisco ou em ambientes poluídos. Não se podedesconsiderar, no entanto, que as duas variáveis – bemaproveitadas – têm contribuição positiva para a qualidadede vida, o que será comprovado pela longevidade maisalta.

A visão de qualidade de vida como passível de seexpressar na longevidade média da população estáfortemente influenciada pelas proposições de Amartya Sen,as quais contribuíram decisivamente para a elaboraçãodo Índice de Desenvolvimento Humano. Como se sabe,o autor foi o formulador mais hábil de uma concepçãoque põe em destaque as escolhas que os grupos sociaisfazem para o seu estilo de vida. Em trabalho que se tornouclássico, tomava como ilustração um romance de Dickens,que mostrava que os mineiros de um certo local “evitavamque suas famílias passassem fome e necessidades, porémmorriam prematuramente” (NUSSBAUM & SEN, 1998:15).Ou seja, destacava que melhores condições de vida

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

* Sociólogo, Prof. Dr. de Administração Pública e pesquisador principaldo Projeto OQVSA/Fapesp. Email: [email protected]

Page 40: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

40 BIS#32/Abril_2004

poderiam proporcionar melhores escolhas em estilos devida, o que – por sua vez – implicaria em maiorlongevidade, embora não houvesse garantia prévia deque isso acontecesse necessariamente. E exemplificavacom vários casos nacionais em que rendas mais altasnão implicavam em maior longevidade média, quandocomparados a outras nações com rendas mais baixas elongevidade mais alta.

Com esses focos em mente, foi elaborado o Índice deDesenvolvimento Humano, pelo PNUD, que se tornou oprincipal classificador comparativo dos Estados-membrosfiliados. O IDH é composto por três variáveis, passíveisde desdobramentos internos. As variáveis referem-se àrenda per capita, escolaridade e expectativa de vida. Osuposto envolvido é o de que renda e escolaridade maisaltas permitam escolhas de estilos de vida maiscompatíveis com a possibilidade de se viver mais e melhor.

A partir do IDH, vários outros índices e medidoresforam construídos por diversas instituições e analisadosem alguns textos produzidos pela Equipe de Pesquisaapresentados ao X Congresso da Associação Nacionalde Planejamento Urbano e Regional (ANPUR,2003).Como resultado de todas essas considerações, foielaborada uma proposta alternativa de monitoramentode qualidade de vida no nível local, que toma alongevidade como resultante de condições urbanas sobreas quais a comunidade (poder público local, empresários,organizações não-governamentais, entidades dasociedade civil) pode interferir. Essa interferência pode sedar por ação direta ou por capacidade de reivindicar açõesde outros poderes ou instâncias.

Desse modo, entende-se que qualidade de vida podeser expressa tomando-se a longevidade como dependentede um conjunto de variáveis que, por sua vez, expressamcondições objetivas e subjetivas. São elas:

- condições de habitação- provisão de água encanada- provisão de esgoto- nível de risco de enchentes- nível de risco de desmoronamentos- acessibilidade a serviços de primeira necessidade- acessibilidade a serviços de saúde- acessibilidade a serviços de educação- índices de violência- índices de acidentes de trânsito- índices de poluição.

Acentuam-se, portanto, variáveis locais. Um primeirolevantamento dessas variáveis foi conduzido por Keinert(2003). A coleta dos dados revelou-se de muito difícilexecução, mas os problemas podem ser contornados nofuturo com um esforço concentrado para compatibilizaros modos como são sistematizas e arquivadas as

informações. Uma constatação que pode ser tomadacomo resultado desta pesquisa foi a de que as fontes dedados não são conversíveis entre si. O custo seriarelativamente baixo, demandando tão somente esforçosde integração entre as diferentes metodologias de coletae disponibilização de dados.1

RRRRReferências bibliograficaseferências bibliograficaseferências bibliograficaseferências bibliograficaseferências bibliograficas

ANPUR, 2003. Mesa-Redonda “Qualidade de Vida nasCidades: Novas Abordagens, Metodologias de Avaliaçãoe Uma Proposta de Observatório Local”. Papersapresentados ao X Congresso da Associação Nacionalde Planejamento Urbano e Regional (ANPUR), BeloHorizonte, maio 2003.

KEINERT, R. C. “UMA PROPOSTA DE OBSERVATÓRIOLOCAL DE MONITORAMENTO DA QUALIDADE DE VIDAURBANA”, X Congresso da Associação Nacional dePlanejamento Urbano e Regional (ANPUR), Belo Horizonte,maio 2003.

KEINERT, T.M.M., KARRUZ, A.P. e KARRUZ, S.M. –“Sistemas locais de informação e a gestão pública daqualidade de vida nas cidades”. In KEINERT, T.M.M. eKARRUZ, A.P., Qualidade de vida: observatórios,experiências e metodologias. São Paulo: Annablume/FAPESP, 2002.

NUSSBAUM, M.C. e SEN, Amartya – La calidad de vida.Cidade do México: FCE/The U.N. University, 1998.

SEN, Amartya – Desenvolvimento como liberdade. SãoPaulo: Companhia das Letras, 2000.

1 A criação da Coordenadoria de Indicadores Sociais, no ano de 2001,na Prefeitura de Santo André (PMSA), pelo então prefeito Celso AugustoDaniel constitui-se em um passo na direção de obter-se dadosintersetoriais. Como foi constatado no decorrer do projeto, dadosexistem em abundância nas diferentes secretarias, o problema é queutilizam metodologias diferenciadas de coleta e sistematização.

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

Page 41: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

41BIS#32/Abril_2004

A improvisação, o voluntarismo, a falta deplanejamento e outras práticas condenáveis degestão municipal parecem estar cedendo espaço,nos últimos 10 anos, em diversas localidades no país,para iniciativas muito positivas de institucionalizaçãodas atividades de planejamento e formulação depolíticas públicas. A necessidade de dispor deanálises técnicas mais bem fundamentadas, dediagnósticos sociais e econômicos mais abrangentesou de justificar mais claramente as decisões dealocação dos recursos públicos, para fins deespecificação dos Planos Plurianuais ou de subsidiara formulação de Orçamentos Participativos, temlevado diversos municípios a desenvolver – emparceria com centros de pesquisa ou ONGs -sistemas de indicadores, mapas ou índices de“Exclusão Social”, “Desigualdade Social” ,“Vulnerabilidade Social”, “DesenvolvimentoHumano”, “Responsabilidade Social” ou “Qualidadede Vida Urbana” (SPOSATI 1996, NAHAS 2002,SEADE 2003).

No âmbito do projeto de pesquisa Observatóriode Qualidade de Vida de Santo André também sefez uma proposta para aprimoramento técnico-político da ação pública, desenvolvendo umametodologia de identificação das desigualdadessociais pelo território brasileiro e pelo espaçointraurbano. Apresentou-se um conjunto deindicadores sociais básicos para os municípiosbrasileiros, construídos a partir das informaçõeslevantadas no questionário básico (do universo) doCenso Demográfico de 2000, que procuramdimensionar os deficits de atendimento e de alcancede políticas sociais e serviços públicos no campo daeducação básica, renda, saneamento e necessidadeshabitacionais, enfim a parcela mais visível do DeficitSocial nos municípios brasileiros.

O conceito intuitivo de Deficit Social remete ànoção de nível de carência da população no usufrutoou consumo de bens públicos, bens privados eserviços sociais entendidos como básicos e

necessários segundo uma agenda de compromissospolítico-sociais definidos em diferentes fóruns dasociedade, no âmbito do Estado, da Sociedade Civile outras arenas de representação política. O DéficitSocial é, pois, um conceito normativamenteconstruído, definido segundo prioridades, escolhase compromissos politicamente assumidos no campoda educação, saúde pública, habitação popular,complementação de renda, proteção contra odesemprego, etc.

De fato, como ilustram vários trabalhos voltadosao diagnóstico e monitoramento de Condições deVida ou formulação de programas de combate àPobreza no Brasil, América Latina e Mundo, DeficitSocial tem sido entendido como a parcela dademanda populacional não atendidaadequadamente em termos de programas sociaisou de bens públicos e privados, segundo um padrãonormativo desejável de bem-estar. Entre os diversostrabalhos que tomam o Deficit Social como marcoconceitual, explícito ou não, pode-se citar, entreoutros, os Diagnósticos Nacionais de NecessidadesBásicas Insatisfeitas elaborados nos anos 80 e 90pela CEPAL, os relatórios anuais do Social Watch,representado no Brasil pelo Observatório daCidadania do IBASE, o Relatório de IndicadoresMunicipais do IBGE ou ainda o levantamento dedemanda por programas na área social do Estudodos Eixos Nacionais de Integração eDesenvolvimento, encomendado pelo Ministério doPlanejamento para subsidiar o Plano Plurianual deInvestimentos 1999-2003.

Para construir uma medida operacional paradimensionar o Déficit Social – isto é, para se chegara um indicador que aponte o nível da demandaefetiva ou potencial não atendida de serviços sociaisconsiderados fundamentais ou desejáveis - é preciso

Deficit Social nos municípios brasileiros :Deficit Social nos municípios brasileiros :Deficit Social nos municípios brasileiros :Deficit Social nos municípios brasileiros :Deficit Social nos municípios brasileiros :Uma proposta para priorização da ação públicaUma proposta para priorização da ação públicaUma proposta para priorização da ação públicaUma proposta para priorização da ação públicaUma proposta para priorização da ação pública

Paulo de Martino Jannuzzi*

* Professor no Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisa Socialna ENCE/IBGE. Emai: [email protected] ou [email protected]

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

Page 42: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

42 BIS#32/Abril_2004

definir qual a agenda de compromissos sociais quese está tomando como referência. A escolha dessaagenda não é uma simples operação metodológica,mas uma decisão política com desdobramentoscruciais nas demais etapas de construção doindicador de Deficit Social.

Tal agenda de compromissos pode ser mais oumenos abrangente dependendo do(s) documento(s)ou declarações normativas que se toma comoreferência, como por exemplo a Constituição de1988, a Lei de Diretrizes Básicas da Educação, asregulamentações de atendimento do Sistema Únicode Saúde, o Plano Nacional de Direitos Humanos,o Estatuto da Cidade, entre outros.

No âmbito do projeto optou-se por tomar umaagenda de compromissos político-sociais ainda maissimplificada, aquela implicitamente estabelecida noquestionário do Universo do Censo Demográfico.Os censos demográficos espelham, ainda que comimperfeição e limitações, parte expressiva da agendade prioridades de políticas por parte dos Governos– sobretudo o Federal - e, mais recentemente, daprópria Sociedade Civil Organizada - chamada aparticipar do processo de planejamento do Censo.Naturalmente é uma agenda incompleta, queprioriza as dimensões quantitativas mais facilmentecaptáveis, não necessariamente as mais relevantes,mas que, por outro lado, pode ser aferida comindicadores atualizados e referidos a espaçosgeográficos bastante específicos (setores censitários).

Assim, para esse trabalho, Deficit Social foientendido como demanda social não atendida deensino básico para crianças e adolescentes, deprogramas de assistência social de transferência derenda e proteção ao risco de desemprego de chefesde família, de serviços básicos de prevenção à saúdepública (minimamente garantidos pelo acesso aserviços de infraestrutura urbana comoabastecimento de água, saneamento básicoadequado, coleta de lixo) e programas de habitaçãopopular. Um déficit social de determinada magnitude(expresso em percentual ou em valores absolutos)em uma dada localidade estaria dimensionando aparcela da sua população que ainda exibiriacarências básicas para sua sobrevivência nasociedade contemporânea, como não residir em umamoradia adequada, não ter acesso a serviços básicosde infra-estrutura urbana, não ter acesso aoportunidades educacionais que lhe garantam

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

acesso à sociedade do conhecimento ou não disporde rendimentos suficientes - provenientes do seutrabalho, aposentadoria ou programas públicos detransferência de renda - para manutenção de umpadrão adequado de vida.

Este trabalho procurou trazer uma contribuiçãometodológica ao campo de estudos de IndicadoresSociais e Políticas Públicas. A defesa do uso deSistemas de Indicadores referidos a agendas político-institucionais estabelecidas, do uso de unidadesgeográficas de tamanho populacional comparável,da utilidade de tipologias combinando indicadoresde deficts – não de índices - são algumas dasproposições que, embora não sejam inéditas,parecem permitir superar práticas avaliadas, emoutra ocasião (JANNUZZI 2002), como inadequadasou pouco consistentes nesse campo de estudos.

O trabalho trouxe ainda alguns resultados que,com critério e bom senso, podem servir como maisum diagnóstico complementar das condições de vidae do deficit de atendimento social nos municípiosbrasileiros.

RRRRReferências bibliograficaseferências bibliograficaseferências bibliograficaseferências bibliograficaseferências bibliograficas

JANNUZZI,P.M. Considerações sobre uso, abuso emau uso de indicadores nas políticas públicasmunicipais. RRRRRevista de Administração Públicaevista de Administração Públicaevista de Administração Públicaevista de Administração Públicaevista de Administração Pública, Riode Janeiro, 36(1):51-72,2002.

NAHAS, M.I.P. Metodologia de construção de índicese indicadores sociais como instrumentos balizadoresda Gestão Municipal da Qualidade de Vida Urbana:uma síntese da experiência de Belo Horizonte.InHOGAN,D.J et al. Migração e Ambiente nasMigração e Ambiente nasMigração e Ambiente nasMigração e Ambiente nasMigração e Ambiente nasAglomerações UrbanasAglomerações UrbanasAglomerações UrbanasAglomerações UrbanasAglomerações Urbanas. Campinas, NEPO, 2002,p.465-487.

SEADE. Índice de VÍndice de VÍndice de VÍndice de VÍndice de Vulnerabilidade Juvenilulnerabilidade Juvenilulnerabilidade Juvenilulnerabilidade Juvenilulnerabilidade Juvenil. Acessadoem www.seade.gov.br em 10/11/2003.

SPOSATI,A . Mapa da inclusão/exclusão social daMapa da inclusão/exclusão social daMapa da inclusão/exclusão social daMapa da inclusão/exclusão social daMapa da inclusão/exclusão social dacidade de São Pcidade de São Pcidade de São Pcidade de São Pcidade de São Pauloauloauloauloaulo. São Paulo: EDUC, 1996.

Page 43: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

43BIS#32/Abril_2004

PPPPPesquisa de Pesquisa de Pesquisa de Pesquisa de Pesquisa de Percepção da Qualidade de Vida emercepção da Qualidade de Vida emercepção da Qualidade de Vida emercepção da Qualidade de Vida emercepção da Qualidade de Vida emSanto André/SPSanto André/SPSanto André/SPSanto André/SPSanto André/SP

Marisa Fefferman*

Cada real idade social é dotada de umainteligibilidade própria, expressa em normas, interessescoletivos, valores, princípios morais, enfim, na vidacoletiva dos indivíduos. O entendimento da sociedadeprocede da apreensão da sua ordem constitutiva, queinforma sobre a sua organização e seu funcionamento.É essa ordem que aponta para a trama da coesão edas disputas, da cooperação e dos conflitos, que sesoergue da tessitura social. Investigar, pois, umarealidade social pressupõe contar com um conjuntoordenado de representações, uma estrutura desentidos, de significados que circulam entre seusmembros, mediante diferentes formas de linguagem:esse conjunto é o imaginário social (TEVES; 1992).Essa definição é um dos eixos da pesquisa aplicadaem Julho de 2003, sobre a Percepção da Qualidadede Vida da População, em Santo André - cidade deaproximadamente 650 mil habitantes, com umaeconomia hoje voltada para serviços e comércio.

A pesquisa tinha como objetivo apreender aimportância dos aspectos subjetivos na construção dapercepção da qualidade de vida. Partia do princípio deque qualidade de vida não se restringe ao grau decobertura das necessidades básicas ou fundamentais dosindivíduos, sendo necessário observar a dimensãosubjetiva, presente na população e apreensível atravésda percepção dos moradores da cidade. O pressupostofundamental é que a garantia das necessidades básicasestá longe de ser suficiente para uma qualidade de vidaplena ou de uma vida com qualidade.

Minayo, Hartz & Buss (2000), no artigo “Qualidadede vida e saúde: um debate necessário”, apresentam a

pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha como umexemplo de pesquisa que trabalha com indicadoressubjetivos.1

Configurando objetividade e subjetividadesConfigurando objetividade e subjetividadesConfigurando objetividade e subjetividadesConfigurando objetividade e subjetividadesConfigurando objetividade e subjetividadesO estudo realizado em Santo André pretendia

contribuir para a reflexão sobre a inclusão de aspectosqualitativos a indicadores que norteiem os efeitos depolíticas públicas. Também pretendia, na prática, viabilizarmetodologicamente instrumentos integradores dasperspectivas qualitativa e quantitativa em pesquisas sobrerepresentação social.

Do ponto de vista operacional, o conceito de qualidadede vida foi tomado como o resultado das percepçõespessoais a respeito de 10 fatores – a partir dos quais seconstruiu um índice de qualidade de vida, o IQVSA(Quadro 1) -, sobre os quais se perguntaria ao entrevistadose haviam afetado o seu cotidiano no mês imediatamenteanterior à ocasião da pesquisa. Os fatores provêem deum ranking de problemas da cidade, que o Datafolhaelabora continuamente em uma série histórica bimestral.Elaboraram-se 40 perguntas-padrão relacionadas a fatosda vida pessoal do entrevistado ou a avaliações sobrefenômenos que afetaram sua vida.

Os resultados da pesquisa foram ponderados a partirda questão: “Qual o fator que você considera maisimportante para a felicidade?”, estimulada com cartõesque explicitavam os 10 fatores. Para se calcular o índice,atribuiu-se a cada um dos fatores um peso proporcional,estabelecido a partir do que os próprios moradoresdeclararam ser mais importante para sua qualidade devida e para a sua felicidade.

Quadro 1 –Quadro 1 –Quadro 1 –Quadro 1 –Quadro 1 – Descrição dos fatores constituintes de Qualidade de Vida, conforme definição utilizada pela PDescrição dos fatores constituintes de Qualidade de Vida, conforme definição utilizada pela PDescrição dos fatores constituintes de Qualidade de Vida, conforme definição utilizada pela PDescrição dos fatores constituintes de Qualidade de Vida, conforme definição utilizada pela PDescrição dos fatores constituintes de Qualidade de Vida, conforme definição utilizada pela PesquisaesquisaesquisaesquisaesquisaDatafolha e que deram origem ao IQVSA.Datafolha e que deram origem ao IQVSA.Datafolha e que deram origem ao IQVSA.Datafolha e que deram origem ao IQVSA.Datafolha e que deram origem ao IQVSA.

FFFFFator Constituinteator Constituinteator Constituinteator Constituinteator Constituinte Conceituação adotadaConceituação adotadaConceituação adotadaConceituação adotadaConceituação adotadaCondições de habitação e moradiaCondições de habitação e moradiaCondições de habitação e moradiaCondições de habitação e moradiaCondições de habitação e moradia Avaliação e grau de satisfação do entrevistado em relação às suas atuais condições de moradia.TTTTTrânsitorânsitorânsitorânsitorânsito O tempo que o entrevistado leva para se locomover na cidade e o grau de influência desse fator

em sua rotina.Serviço de saúdeServiço de saúdeServiço de saúdeServiço de saúdeServiço de saúde Acesso a serviços públicos e particulares de saúde e avaliação do atendimento.TTTTTrabalhorabalhorabalhorabalhorabalho Características da ocupação do entrevistado e seu grau de satisfação com a função que exerce.EducaçãoEducaçãoEducaçãoEducaçãoEducação Grau de escolaridade do entrevistado, acesso de seus filhos à escola e grau de importância que

atribui ao estudo.SegurançaSegurançaSegurançaSegurançaSegurança Ocorrência de roubos e agressões físicas, variação das taxas de homicídio e grau de percepção

do medo em relação à violência.PPPPPoder aquisitivooder aquisitivooder aquisitivooder aquisitivooder aquisitivo Avaliação do poder aquisitivo da família e grau de comprometimento da renda individual.Qualidade de arQualidade de arQualidade de arQualidade de arQualidade de ar Avaliação da qualidade do ar na cidade.LLLLLazerazerazerazerazer Avaliação e grau de satisfação em relação ao tempo que dedicou ao lazer no período que a

pesquisa abrange.Serviços básicos de saneamento e infra-Serviços básicos de saneamento e infra-Serviços básicos de saneamento e infra-Serviços básicos de saneamento e infra-Serviços básicos de saneamento e infra-estruturaestruturaestruturaestruturaestrutura

Ocorrência de interrupções ou problemas com o fornecimento de água e energia.

* Psicóloga, doutoranda do IP/USP e Pesquisadora do Instituto de Saúde. Email: [email protected] Levantamento Sistemático que o DATAFOLHA realizou na cidade de São Paulo a partir de março de 1999.

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

Page 44: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

44 BIS#32/Abril_2004

Aplicaram-se 672 entrevistas, distribuídas por toda acidade. Chegou-se a um Índice de Qualidade de Vida de‘score’ 0,57 (insatisfatório). O patamar satisfatório medidoseria de no mínimo 0,66. A Figura 1 exprime ospercentuais atingidos pelos fatores investigados comoimportantes para a percepção dos indivíduos naconstituição de sua felicidade.

A ponderação dos resultados do questionário aplicadocom os percentuais expressos na Figura 1 levou aos‘scores’ do Quadro 2.

FFFFFigura 1 – Figura 1 – Figura 1 – Figura 1 – Figura 1 – Fatores apontados pelos indivíduos comoatores apontados pelos indivíduos comoatores apontados pelos indivíduos comoatores apontados pelos indivíduos comoatores apontados pelos indivíduos comoconstitutivos da sua felicidade.constitutivos da sua felicidade.constitutivos da sua felicidade.constitutivos da sua felicidade.constitutivos da sua felicidade.

Quadro 2 – RQuadro 2 – RQuadro 2 – RQuadro 2 – RQuadro 2 – Relação de ‘scores’ dos fatores investigadoselação de ‘scores’ dos fatores investigadoselação de ‘scores’ dos fatores investigadoselação de ‘scores’ dos fatores investigadoselação de ‘scores’ dos fatores investigadoscomo constitutivos da qualidade de vida.como constitutivos da qualidade de vida.como constitutivos da qualidade de vida.como constitutivos da qualidade de vida.como constitutivos da qualidade de vida.

FFFFFatores Investigadosatores Investigadosatores Investigadosatores Investigadosatores Investigados ‘Score’‘Score’‘Score’‘Score’‘Score’Serviços de saúde 0,86Trânsito 0,86Serviços básicos de saneamentoe infra-estrutura 0,82Segurança 0,75Condições de habitação e moradia 0,62Educação 0,60Trabalho 0,57Lazer 0,30Qualidade do ar 0.35Poder aquisitivo 0,49

O resultado aponta a existência de um hiato entre osdados objetivos e a percepção da população. Estes nãopodem ser pensados isoladamente; a vida de um cidadãoé complexa e as variáveis que o tornam satisfeito sãoinúmeras.

Os índices variam de acordo com o perfil

socioeconômico dos entrevistados. A cidade é consideradaótima ou boa para se viver por mais da metade dapopulação. No entanto, se é boa para viver, por que aqualidade de vida não foi considerada boa?

Os Serviços de Saúde foram avaliados de formasatisfatória, tanto no que diz respeito à resolutividade dosserviços, assim como quanto ao atendimento médico, nosserviços conveniados e públicos.

Os indicadores relacionados às necessidades básicase de responsabilidade do Estado, como qualidade dosserviços de saúde, trânsito, educação e segurançacorresponderam às expectativas da população. Todavia,as necessidades básicas garantidas não implicaram napercepção de um bom índice de qualidade de vida.

Este retrato se apresenta como um desafio para aspolíticas públicas. Que fatores são consideradosestratégicos na busca da felicidade? Como possibilitarcondições para que as pessoas se sintam felizes? Qual aresponsabilidade do município, do estado, da nação eda sociedade civil organizada?

Focalizaremos um fator a título de exemplo: o lazer,considerado por muitos estudiosos como momento dereflexão e oportunidade de realizar o desejado, é naopinião dos moradores uma condição de poucaimportância para a sua felicidade. Algumas hipótesespodem ser levantadas: Santo André não tem espaço parao lazer? Ou as pessoas não têm tempo para se dedicarao lazer e, por isso, o desconsideram como itemdeterminante? A pesquisa nos aponta para odescontentamento com o tempo disponível para o lazer.As pessoas associam o lazer a algo que necessita dedinheiro? Ou, ainda, massificadas pelo cotidiano, nãosabem o que fazer com o seu tempo livre. No mínimo, oresultado encontrado deve subsidiar a Prefeitura nareflexão que deve empreender sobre por que razões osmoradores não percebem as possibilidades de lazer nacidade.

Estes resultados reforçam a importância de pesquisasque construam índices subjetivos, corroboram aimportância de conhecer as representações e percepçõesdas pessoas que vivem o cotidiano do lugar e fornecemsubsídios para reflexão desses dados e dos objetivos.Índices subjetivos constituem um instrumento fértil paraavaliar e monitorar ações públicas e de entidades não-governamentais, de maneira a que, associados aindicadores objetivos, possibilitem uma reflexão de maiorabrangência sobre uma questão tão complexa como ada qualidade de vida.

RRRRReferências Bibliograficaseferências Bibliograficaseferências Bibliograficaseferências Bibliograficaseferências Bibliograficas

MINAYO, M.C.S; HARTZ, Z. M. A & BUSS, P. M. -Qualidade de vida e saúde: um debate necessário.Ciência& Saúde Coletiva. Volume 5, número 1, 2000.

TEVES, Nilda - Imaginário Social e educação. Rio deJaneiro, Gryphus: Faculdade de Educação da UFRJ, 1992.

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

P

R

O

J E

T

O

O

Q V

S A

Page 45: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

45BIS#32/Abril_2004

Os autores produzem significativo conhecimento emtorno de um conceito tão amplamente utilizado nos diasde hoje, quanto distante de um consenso entre as diversasdefinições encontráveis nos vários estudos realizados: ode qualidade de vida. E o fazem enquanto apresentam oprocesso de construção do Observatório de Qualidadede Vida de Santo André (OQVSA), uma iniciativa conjuntado Instituto de Saúde da Secretaria de Saúde do Estadode São Paulo, da Prefeitura de Santo André e do Institutode Governo e Cidadania do ABC, apoiada pela Fundaçãode Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Com uma importante preocupação com a clareza, aprimeira parte do livro se incumbe da discussão deconceitos essenciais, como o de cidade e cidadania,indicadores, sistemas de informação, bem como aodetalhamento conceitual de processos complexos comoo de formulação de políticas públicas em prol dodesenvolvimento humano no âmbito local.

Na segunda parte são apresentados alguns trabalhosexpostos no seminário “Qualidade de vida: observatório,experiências e metodologias”, ocorrido no município deSanto André em junho de 2001. Trata-se da exposiçãode diferentes experiências de gestão e monitoramento daqualidade de vida, assim como da apresentação dediversas reflexões acerca da participação popular, dodesenvolvimento local, da intersetorialidade, entre outras,todos eles temas intrínsecos à construção da qualidadede vida de uma população.

Na análise do termo qualidade de vida há aapresentação de diferentes conceitos adotados por váriosautores. Estas conceituações levam em consideração apossibilidade de seu uso no planejamento dodesenvolvimento socioeconômico e nas práticas de gestãopública; além de reconhecer que o entendimento quecada comunidade apresenta de uma “vida comqualidade” é que constrói a noção de qualidade de vida.Para os propósitos do projeto OQVSA adotou-se comoqualidade de vida a capacidade de uma comunidadedesfrutar de uma vida-média longa de forma saudável,ou seja, viver muito e viver bem. Assim, a longevidade éabordada com bastante destaque, sendo considerada a

Contribuição para reflexão sobreContribuição para reflexão sobreContribuição para reflexão sobreContribuição para reflexão sobreContribuição para reflexão sobrequalidade qualidade qualidade qualidade qualidade de vidade vidade vidade vidade vida

Alexandra C. de Freitas* Massumi Kamimura**

Mônica F. Horta***

Resenha do livro “ Qualidade de vida: observatórios, experiênciase metodologias” organizado por Tânia M. M. Keinert e Ana Paula

Karruz – São Paulo: Annablume: Fapesp, 2002.

via de entrada para um estudo de qualidade de vida; emtorno dela são elaborados estudos temáticos como:violência e segurança pública, trânsito e transporte,qualidade da educação, ambiente físico, saúde, condiçõeshabitacionais, qualidade dos serviços básicos, empregoe renda, seguridade, existência de canais de participaçãopopular etc.

O livro incita à reflexão sobre o papel dos municípiosmonitorando e aprimorando as diversas dimensões doconceito de qualidade de vida, captando a percepção eos anseios da população local sobre o tema epromovendo a participação efetiva da comunidade emrelação aos destinos, à gestão e à produção da cidade.De fácil leitura, amplia conhecimento e incita à reflexãosobre qualidade de vida e seus determinantes,colaborando para futuras discussões e monitoramento daqualidade de vida em outros municípios. Por abrangerdiferentes temáticas que envolvem a qualidade de vida,não há restrição de público para apreciá-lo.

* Nutricionista, Aprimoranda do Instituto de Saúde.Email: [email protected]

** Psicóloga, Aprimoranda do Instituto de Saúde.*** Nutricionista, Aprimoranda do Instituto de Saúde.

R E S E N H AR E S E N H AR E S E N H AR E S E N H AR E S E N H A

Page 46: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

46 BIS#32/Abril_2004

Até que ponto somos donosAté que ponto somos donosAté que ponto somos donosAté que ponto somos donosAté que ponto somos donosdo nosso tempo?do nosso tempo?do nosso tempo?do nosso tempo?do nosso tempo?

Tereza Toma*

Assim começa este livro, cuja leitura se faz em poucotempo, tal é a sua capacidade de nos manter interessados,tanto pela forma da escrita quanto por seu conteúdo.

É interessante como um livro pode cair em nossasmãos. Este, por exemplo, fui buscar após ouvir umaentrevista com a autora em um programa de rádio.Imediatamente fui seduzida por suas idéias inovadoras arespeito da nossa constante queixa de falta de tempo.

“Hoje é o trabalho que ganha a nossa vida.” Temosessa sensação freqüentemente e, muitas vezes, dizemosque o dia deveria ter mais de 24 horas. Ao contrário, oque Rosiska propõe é a reengenharia do tempo comoforma de corrigir essa inversão de valores. Reengenharia,uma palavra da década de 90, surge no bojo dasmudanças nos métodos de produção e gestão propostaspor grandes corporações que buscavam tornar-se maiseficientes.

Como mulher, esposa, mãe e trabalhadora em tempointegral, tendo vivenciado algumas das situaçõesapresentadas no livro, tendo compartilhado com outrasmulheres falas acerca do nosso “terceiro turno”, o quenos espera em casa após jornada completa de trabalhofora, gostei particularmente da construção que a autorafaz acerca das conquistas das mulheres na vida pública eos equívocos que são necessários mudar. Se algumasquestões, relegadas a segundo plano ou mesmo nãoadequadamente refletidas, serviram ao propósito da lutadas mulheres em décadas passadas, hoje seria necessáriodiscutir e corrigir o rumo.

Para que as mulheres sejam donas de seu tempo nãobasta ter ao lado companheiros compreensivos eapoiadores, é preciso ir além, discutir seriamente arelação/equilíbrio entre vida pública e vida privada. Énecessário dar à vida privada o status que ela merece,para que possamos curtir nossa vida doméstica sem asensação de estar roubando tempo do trabalhoremunerado.

No capítulo “Pistas”, são apresentadas experiênciasinovadoras que podem servir como ponto de partidapara se pensar o que seria viável em nosso meio. A autoraapresenta experiências de reengenharia que mostramcomo a noção do tempo é encarada nos diferentes países.Nos Estados Unidos, por exemplo, onde “time is money”,a reengenharia do tempo tem sido mais neglicenciadado que nos países da comunidade européia. Na Suéciadeu-se início a esse movimento de reengenharia ao secriar uma licença remunerada que pode ser gozadaigualmente por mãe e pai, além de ter-se readequado arede de serviços públicos de creches. Na Holanda, evoluiu-se para o trabalho em tempo parcial e na Itália sereconhece que o problema não é das mulheres, mas simda família, e o debate tem levado a soluçõesextremamente criativas em algumas de suas cidades. NaFrança, por outro lado, a luta pelo reconhecimento dotrabalho em casa levou à remuneração das mulheres pormeio de um salário doméstico, que seria uma soluçãocontestável se considerarmos que as relações na vidaprivada se rege – ou, deve-se reger - por outros valores.

Embora utópico, esse futuro em que seremos donasdo nosso tempo, a leitura nos leva a considerar que énecessário começar a pensar sobre o assunto como únicaforma de garantir a eqüidade de gênero, o adequadocuidado às crianças e, portanto, a boa qualidade de vida.Se chegamos à Lua e estamos explorando Marte, éplausível pensar que mulheres e homens serão capazesde buscar uma solução criativa para a reengenharia dotempo, que conforme a autora “é construir, com nossosfragmentos, figuras coerentes, inteligíveis e luminosascomo um vitral. O que é obra de artistas, entregues à artede viver.”

Resenha do livro “Reengenharia do Tempo” de Rosiska Darcy de Oliveira

RRRRRocco, Rio de Janeiro, 2003occo, Rio de Janeiro, 2003occo, Rio de Janeiro, 2003occo, Rio de Janeiro, 2003occo, Rio de Janeiro, 2003

“Na minha infância, ganhar a vida significava garantir a sobrevivência graças a um trabalhoremunerado. Hoje, a expressão ganhar a vida tem para mim um sentido diferente. Entendo-a ao pé da letra: trata-se de recuperá-la, trazê-la de volta em sua múltiplas dimensões defruição do mundo, andando na contramão da inclemente invasão da mentalidade produtivista,que expropria a vida privada, tragando os momentos de amor e lazer. Ganhar a vida significa,antes de mais nada, reapropriar-se de sua matéria-prima: o tempo.”

* Médica e pesquisadora, coordenadora do Núcleo de Investigaçãoem Saúde da Mulher e da Criança do Instituto de Saúde. Email:[email protected]

R E S E N H AR E S E N H AR E S E N H AR E S E N H AR E S E N H A

Page 47: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

47BIS#32/Abril_2004

SERVIÇOSNavegue!Navegue!Navegue!Navegue!Navegue! Nessa seção, o BIS disponibiliza ao leitor endereços eletrônicos sobre o

tema da Qualidade de Vida. Encontram-se na Internet tanto Listas deDiscussão, quanto “sites” temáticos ou institucionais. A relação abaixo foireunida e sugerida por Carlos Tato Cortizo* e Elaine Batista** , por solicitaçãoda editoria do Boletim do Instituto de Saúde.

Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil(Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento)

http://www.pnud.org.br/

Biblioteca Virtual de Direitos Humanos – USPhttp://www.direitoshumanos.usp.br/principal.html

Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Públicahttp://www.crisp.ufmg.br

Centro de Estudos, Pesquisa e Documentação emCidades e Municípios Saudáveis

http://www.cidadessaudaveis.org.br/cepedoc.htm

Direitos e Desejos Humanos no Ciberespaçohttp://www.dhnet.org.br/

Fórum Gestão de Cidades – Cátedra Celso Danielhttp://www.metodista.br/forumdecidades

Índice de Qualidade de Vida Urbana –Prefeitura Municipal de Belo Horizonte - MG

http://portal2.pbh.gov.br/pbh/pgEDOCUMENT_VisualizaConteudo_Header.html?query=pp_conteudo.id=1790

Índice Paulista de Responsabilidade Socialhttp://www.al.sp.gov.br/index_iprs.htm

Indicadores Sociais/ QV – Rio Grande do Sulhttp://www.riogrande.com.br/indicadores/data9.htm

Instituto Observatório Mundialhttp://www.wwiuma.org.br/

Observatório Europeu de Sistemas de Saúde(European Observatory on Health System)

http://www.observatory.dk

Observatório Global Urbano – Global Urban Observatoryhttp://www.unchs.org/programmes/guo/

Observatório de Cidadaniahttp://www.ibase.br

Observatório de Desenvolvimento (ODD )http://www.odd.ucr.ac.cr

Observatório do Futuro do Trabalhohttp://www.observatorio.sp.gov.br

Observatório de Políticas Urbanas e Gestão Municipalhttp://www.ippur.ufrj.br/observatorio

Observatório da Competitividade e Qualidade de Vidahttp://www.observatorios.adrvc.pt

Observatório Social da America Latina (OSAL), em espanhol.http://osal.clacso.org

Observatório Social da Argentinawww.observatoriosocial.com.ar

Observatório Econômico de Santo André - SPhttp://www.santoandre.sp.gov.br/bn_conteudo_secao.asp?opr=273

Organização Mundial de Saúde – Instrumentos de Avaliaçãoda Qualidade de Vida – WHOQOLhttp://www.ufrgs.br/psiq/whoqol.html

Programa de Aprimoramento das Informaçõessobre Mortalidade ( PROAIM )

http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/saude/mortalidade/0012

Projeto de Indicadores de Sustentabilidade para oTexas Central ( Em Inglês )

http://www.centex-indicators.org/index.html

Projeto de Indicadores de Sustentabilidade - EUA( Em Inglês )

http://www.centex-indicators.org/links_cities.html

Rede Nacional de Direitos Humanoshttp://www.rndh.gov.br/oquee.html

Social Watchhttp://www.observatoriosocial.org.br

* Tecnólogo, Assistente de Pesquisa Científica e Tecnológica do Instituto de Saúde. Email: [email protected]** Auxiliar de Pesquisa do Núcleo de Politicas do Instituto de Saúde

S I T E SS I T E SS I T E SS I T E SS I T E S

Page 48: BIS#32/Abril 2004 - saude.sp.gov.br · de Castro Silva Vitte, Cláudia Maria Bogus, Cristiane de Araújo, Daniele Pompei Sacardo, Elaine Batista, Emma Otta, Fátima Madalena de Campos

48 BIS#32/Abril_2004

qualidade de qualidade de qualidade de qualidade de qualidade de vidavidavidavidavida