SALVADOR QUARTA-FEIRA 26/1/20114 SALVADOR QUARTA-FEIRA 26/1/2011 52 2

FOTOGRAFIA Considerado um dos artistas mais originais de sua geração, ele é destacadocomo um criador que sai da “vulgaridade e do padrão” e um “pensador” da estética

Jamison Pedra, um catador de“momentos mágicos” pela cidadeCÁSSIA CANDRA

Em 1968, quando Jamison Pe-dra ganhou sua primeira má-quina fotográfica – uma vistosaRolleiflex – a identificação foitão grande que ele resolveu im-provisar um laboratório em ca-sa. “Quando todos iam dormir,eu revelava as fotos”, lembra.

Atécnicamudoucomosavan-ços tecnológicos das últimasquatro décadas, mas a sensaçãoindescritível de ver a imagemsurgindo sobre o papel em bran-co ainda move o artista. Hoje,aos 72 anos, não é raro vê-losaindo do ateliê, na Pituba, comsua Nikon digital em punho.

Jamison define-se como “umfotógrafo de rua”. Gosta de pen-sar que tem a cidade inteira pelafrente, com todas as possibili-dades de seus “momentos eter-nos”: “Vejo as faces da cidade seinterpenetrando. A antiga e amoderna dialogando”, diz.

Por trás da lente, o olhar doartista capta a realidade em pre-to e branco, por meio da com-posiçãodoselementosemcena,de suas alternâncias de sombrae luz. Os cenários criados pelascircunstâncias são transforma-dos em quase-pinturas.

“O olhar do fotógrafo é o con-teúdo de tudo o que ele viveu.É issoqueinconscientementeor-ganiza a fotografia. O momentoé formado por isso. É todo esseconjunto de informações quedetermina o clic”, reflete.

Aposturadoartistarevelasuaessência mais profunda: “Ele éum pensador, um investigador,um teórico, um homem das ar-tes”, define o galerista DenissonOliveira, da Prova do Artista, ga-leria onde Jamison expôs mui-tas vezes suas pinturas.

Op art e fotojornalismoA fotografia pontua todas as fa-ses da carreira de Jamison. Éanterior à formação em Arqui-tetura, na Universidade Federalda Bahia, onde ingressou comoprofessor nos anos de chumbo(1970). E não se arrefeceu nemquando ele se lançou nas artesvisuais, após voltar dos EstadosUnidos, onde apresentou dis-sertação de mestrado (1984).

“Sua maior referência é comoartista plástico, mas como fo-tógrafo, é um artista que sai davulgaridade e do padrão. Ao la-do de Sílvio Robatto, ele é umdiferencial na fotografia baia-na”, observa Juarez Paraíso, ar-tista da mesma Geração 60 dasartes plásticas baianas.

Na verdade há um intensodiálogo entre suas artes, comoobserva o crítico de arte JustinoMarinho: “Sua fotografia se co-munica com a sua pintura exa-tamente por meio do lado sen-sível, correto e emotivo. Ambasrevelam um artista de raros sen-timentos e possibilidades”.

“A marca de Jamison Pedra éseu potencial criativo”, sublinhaJuarez: “É o único representantebaiano da op art” (termo sur-gido na Time Magazine, em1964, para definir a arte do queparece, mas não é). “Jamisoninovou muito na pintura”, afir-ma Denisson Oliveira, que nosanos 90 fez, com ele, a primeiraexposição digital na Bahia.

Fotos Jamison Pedra

Flagrante de 2006, Operários Iguatemi, é uma das fotos do artista da série sobre o tema operários, registradas em Salvador, Porto Alegre e outras cidades do Brasil, ao longo da última década

Eleição, em Salvador, 1971: em sua trajetória, Jamison também foi um observador contumaz da política, tema de vários de seus trabalhos

Raul Spinassé/ Ag. A TARDE

O artista, comsua máquina,em um passeiopelo bairroda Pituba

TRIBUTO AO COTIDIANO / JAMISON PEDRA

Kalango / 96 páginas / distri-buição gratuita

Voyeur eintérprete dasolidão da cidade

Almandradeartista plástico, poeta e arquiteto

almandrade2@hotmail.com

A fotografia faz parte de nossacivilização, na arte contempo-rânea, tem lugar de destaque,no dia a dia da cidade, está emtodos os cantos, há um fascínioem registrar tudo que se vê. Narua, no trabalho, no bar, no res-taurante, no aniversário, napraia, no museu, profissionaisou amadoras, fazem a festa.

As câmeras fotográficas inva-dem até privacidades, chegam aincomodar, principalmente ce-lebridades. Mas a câmera deJamisson Pedra é discreta e in-tencional, tem um objetivo: do-cumentar a solidão anônima nocotidianodascidadeseconstruiruma poética da luz e espaço.

“Ao invés de apenas registrara realidade, as fotografias setornaram o modelo de como ascoisas se apresentam para nós,mudando assim a própria ideiaderealidadeerealismo”,(SusanSontag).AscidadesdeJamissonsão realidades inventadas a par-tirdaquelasoutrasobservadasevividas pelo artista.

A fotografia é também ficçãoe fantasia, uma invenção de umolhar particular, o do fotógrafo,ou melhor, do arquiteto pintor,que vive entre duas realidades:a solidão do atelier que não temnem mais a visita esporádica domodelo, dispensada pela pin-tura moderna, e a multidão dascidades, formada por pessoassolitárias e indiferentes.

Portanto, ninguém melhordo que o artista para perceber asolidão cotidiana que passa des-percebida, como um destino re-servado às pessoas que vivemnas cidades. O fotógrafo arqui-tetotornavisíveis instantes ines-perados da paisagem urbana,em preto e branco, num jogomágicodeluzesombra,congelaum tempo que não mais existe.Por isto mesmo, das fotografiasde Tributo ao Cotidiano, exalamum perfume cinza de nostalgiadas coisas que se foram.

O cenário da foto é um pa-ralelo do real. Esse fotógrafo éum voyeur solitário de cidades,que, sem fazer barulho, semflash, rouba a cena insignifican-te e a enriquece nos detalhes doenquadramento, nos cortes, nocontrole da luz, nas variações decinzas e no acabamento final dolaboratório. Olhar é um ato deum sonhador solitário que in-terroga a realidade.

Na fotografia, a mesma pos-tura investigativa – que fez nas-cer tanto o exímio técnico, comoo artista sensível – o levou dafoto-arte ao fotojornalismo daVeja, do jornal Opinião e revistaRealidade, onde publicou fotospremiadas nacionalmente.

Dessa vivência veio o apren-dizado do “momento mágico”.“É isto que é importante em

fotografia, o momento que fi-ca”, ensina Jamison.

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Veja outras fotos do livro Tributo aoCotidiano no blog do Caderno 2+

TRIBUTO AO COTIDIANO / LANÇAMENTO:

SÁBADO, ÀS 19H / LIVRARIA SARAIVA

(SHOPPING IGUATEMI) / ENTRADA FRANCA

VERENA PARANHOS

Recorrer aos amigos nem sem-pre funciona quando se está emdúvida de como fazer uma ma-quiagem para aquela ocasiãoespecial, como arrematar o ca-checol que você levou meses pa-ra terminar com o ponto básicoque a sua avó ensinou ou comoinstalar um programa no com-putador. Blogs especializados evídeostutoriaisdoYouTube,queensinam passo a passo diversasatividades, podem ser a melhorsaída nessas horas.

Essa foi a máxima utilizadapor John Brennan, o persona-gem de Russell Crowe em 72Horas, que aprendeu pelo You-Tube a fazer uma chave mestrapara tirar a esposa da prisão. Navida real não é bem assim, mas,como diria o personagem, po-de-se aprender a fazer quasetudo na internet.

Fazendo“Eu me acho uma completa ne-gação em termos de maquia-gem, mas, olhando vídeos depessoas ensinando, consigoaprender”, conta a nutricionistae webdesigner Sara Nascimen-to, 23 anos, que frequenta blogse canais no YouTube, que dãodicas de maquiagem e estilo.

A baiana Mandy, 22, semprese interessou por maquiagem emoda e, por conta dos pedidosde ajuda, resolveu criar oblog.mandyemais.com paracompartilhar o que sabia comoutras pessoas.

“Primeiro comecei a procurare me envolver na rede. Depoispassei a fazer meus próprios ví-deos”, conta.

Já no título do blog TentandoTricotar, Regina, 50, mostra quenão era uma expert em tricô. “Oque eu sabia era superbásico.Nesses blogs aprendi muito edecidi repassar também o queaprendi. É uma obrigação dagente divulgar esta tradição pa-ra que ela prossiga”, conta afuncionária pública, que resol-veu retomar a atividade que ti-nhaaprendidonainfânciaecriaro blog para se desestressar.

Quando fez 17 anos, a es-tudante de ciências sociais Lays

Fernando Amorim / Ag. A TARDE

A baiana Mandy, do blog.mandyemais.com, se maquia diante da câmera para compartilhar com outras pessoas as dicas de como fazer

DIGITAL Páginas especializadas e imagens ganham espaço na rede, oferecendodicas em diversas áreas, desde beleza e artesanato à instalação de softwares

Blogs e vídeos tutoriais ensinama fazer quase tudo na internet

Tavares, 22, decidiu parar deroer unhas e, para atingir essadifícil missão, começou a pin-tá-las mais de uma vez por se-mana e colocar as fotos no Or-kut. “Amigos comentavam, per-guntavam qual era a cor, a mar-ca do esmalte. Eu respondia oscomentários, mas a conversa ialonge, não tinha mais espaço noOrkut”.

A partir daí, a garota criou em2008 o blog utilidadefemini-na.com, o primeiro a falar sósobre esmalte no Brasil. “As lei-toras interagem dizendo ondeas novidades podem ser encon-tradas ou dividindo o frete deencomendas para ficar mais ba-rato”, conta Lays, cujo blog che-ga a alcançar a média de 1.500acessos diários.

Segundo Lia Raquel Almeida,mestreemjornalismoonlinepe-lo programa de pós-graduaçãoem comunicação e cultura con-temporânea da Ufba, quandoprocuramos um blog queremosa opinião de um especialista.“São pessoas que têm históricoem uma área ou que gostammuito de um tema e passam ase dedicar a ele, fazendo pos-

Muitos blogueirosfazem resenhas dosprodutos que usame dão sua opinião,falando sobre oefeito alcançado

tagens regulares”.Não basta mostrar ou apren-

der como se faz, mas é precisotambém saber se o investimen-to em determinados produtosvale a pena. Por isso, muitosblogueiros fazem resenhas dosprodutos que usam e dão suaopinião, falando sobre o efeitoalcançado, a durabilidade ecomparando a outras marcas.

“Todos os materiais que façoresenha eu uso mesmo. Gos-tando ou não, sempre falo aminha opinião, pois o meu com-promisso é com os leitores. As-sim, construímos um espaço detroca”, afirma Mandy, que noblog fala sobre produtos de be-leza e ainda propõe looks com-pletos para datas especiais.

Para Mônica Lira a opiniãodesses especialistas da webrealmente importa. “Compromuito influenciada pelos tuto-riais, resenhas e comentáriosque vejo em blogs. É uma gran-de ajuda”, diz a promoter deeventos, que também descobrepor meio dos blogs onde acharprodutos com ótimos preços.

Em outras redesPara Lia Raquel Almeida osblogs já se consolidaram e otrunfo da vez está no crescimen-to da integração entre eles eoutras redes. “Antes o assuntopraticamente morria no blog,agora pode estar também emum vídeo no YouTube, relacio-nado a um canal, recomendadono Twitter, Facebook ou ser en-viado por e-mail”.

Um dos usos dessas redes so-ciais está na divulgação de pro-moções e sorteios promovidospor blogs especializados, umaestratégia que também fidelizaoleitor.“Sorteiocoisasquecom-pro, ganho de presente ou con-sigo com parcerias”, revela LaysTavares. E não é raro encontrarquem tenha sido contempladoporsorteiosdeblogs:“Jáganheikits de esmaltes e maquiagensde marcas nacionais e impor-tadas”, diz Sara Nascimento.

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Veja alguns vídeos e dicas de blogs

ARTES VISUAIS

Sete grafiteiros fazem intervenção artísticano prédio do Centro Cultural Correios

CHICO CASTRO JR.

A partir de amanhã, o público deSalvador poderá acompanhar,in loco, o que no jargão artísticose chama work in progress. Tra-ta-se da exposição Grafite: Si-nais Urbanos, que reúne setedos mais representativos artis-tas de rua de Salvador.

Sob a curadoria de César Ro-mero, os grafiteiros Afro, Char-les Brak, Corexplosion, Denis-sena, Rebeca Silva, Samuca eTarcio V. iniciarão uma interven-ção artística no prédio do CentroCultural Correios (Pelourinho).

“É uma nova proposta, quan-do o aparelho (o prédio) servecomo suporte para o trabalhode sete grafiteiros”, observa Cé-sar. “Como o prédio é patrimô-nio tombado, as paredes nasquais os grafiteiros vão atuarforam revestidas de madeira,

tendo absoluto cuidado com apreservação do espaço”, apres-sa-se em acrescentar.

Iconografia pessoalEle conta que o espaço desti-nado a cada artista foi definidode ”forma democrática, por sor-teio, na frente de todos. Cadaum deles usará sua iconografiapessoal e, em alguns espaços,

eles trabalharão em dupla”.Para César, a mostra é im-

portante por diversas razões,até para ajudar a desvanecer aaura “marginal” da arte de rua:“Cada vez mais, o mundo tomaconhecimento e respeito pelografite. Nas ruas de Salvadorexiste quase um museu a céuaberto”, nota. “O grafite temuma comunicação imediatacom a comunidade, seja elamais simples ou erudita”, diz.

Artistas como Keith Haring(1958-1990) e Jean-Michel Bas-quiat (1960-1988), ele lembra,“começaram como grafiteiros ehoje estão nos principais mu-seus do mundo”, conclui.

GRAFITE: SINAIS URBANOS / A PARTIR DE

AMANHÃ ATÉ 12 DE MARÇO / SEG. À SEX.,

DAS 10H ÀS 18H / SÁB, DAS 8 ÀS 12H /

CENTRO CULTURAL CORREIOS / PRAÇA

ANCHIETA, 20, PELOURINHO / GRÁTIS

Os grafiteiros sãoAfro, Charles Brak,Corexplosion,Denissena, RebecaSilva, Samucae Tarcio V

Trabalho de Denissena, um dos grafiteiros que participam da mostra Grafite: Sinais Urbanos

Divulgação

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