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Organizadores Eliane Beê Boldrini Leocimara Sutil O. P. Paes Felipe Pinheiro Boas Práticas de Adaptação Antonina • Paraná

Boas Práticas de Adaptação

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  • Organizadores

    Eliane Be BoldriniLeocimara Sutil O. P. Paes

    Felipe Pinheiro

    R E A L I Z A O

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    2016

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    Boas Prticas de AdaptaoA n t o n i n a P a r a n

    P AT R O C N I O

  • ADEMADAN

    2016

    ORGANIZADORESELIANE BE BOLDRINI

    LEOCIMARA SUTIL O. P. PAESFELIPE PINHEIRO

    1 Edio

    Boas Prticas de AdaptaoA n t o n i n a P a r a n

  • Copyrigth 2016

    Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. proibida a reproduo total ou parcial por quaisquer meios, sem autorizao

    prvia, por escrito, dos autores.

    Capa, Projeto Grfico, Diagramao e Arte FinalDevanil Alves de Oliveira [email protected]

  • Boas Prticas de AdaptaoA n t o n i n a P a r a n

  • SUMRIOINTRODUO ..................................................................................................................................................................................................................... 09

    Clima, Solo e Agrofloresta

    O CLIMA DO LITORAL PARANAENSE: VARIABILIDADES, MUDANAS CLIMTICAS, TENDNCIAS E DESAFIOS

    1. INTRODUO ................................................................................................................................................................................................................... 13

    2. MTODOS E TCNICAS DA PESQUISA ......................................................................................................................................................................... 15

    2.1 QUANTO COLETA DE DADOS ............................................................................................................................................................................... 15

    2.2 QUANTO AO TRATAMENTO DOS DADOS E ANLISE DE TENDNCIAS ............................................................................................................. 16

    3. FATORES E ELEMENTOS CLIMTICOS: INTERAES E CONFIGURAES NO LITORAL DO PARAN .................................................................. 17

    4. VARIABILIDADES E TENDNCIAS DO CLIMA DO LITORAL DO PARAN .................................................................................................................. 19

    4.1 DINMICA DA TEMPERATURA ............................................................................................................................................................................... 19

    4.2 DINMICA DA PRECIPITAO................................................................................................................................................................................ 21

    5. DESAFIOS, ADAPTAES E MITIGAES EM FACE DOS POSSVEIS CENRIOS DE MUDANAS CLIMTICAS ..................................................26

    6. REFERNCIAS .................................................................................................................................................................................................................27

    DINMICA DO CARBONO DO SOLO EM SISTEMAS AGROFLORESTAIS: UMA VISO CONSERVACIONISTA SOB OS AVANOS DAS MUDANAS CLIMTICAS

    1. INTRODUO ...................................................................................................................................................................................................................30

    2. FLORESTAS E O SOLO COMO FONTE E DRENO DE CARBONO ................................................................................................................................... 31

    3. SISTEMAS AGROFLORESTAIS, UMA ALTERNATIVA SUSTENTVEL DE PRODUO ..............................................................................................32

    4. CARBONO E A RELAO COM AGREGADOS, ATRIBUTOS DE RAZES E ASPECTOS MICROBIOLGICOS .............................................................34

    5. FERTILIDADE DO SOLO EM SISTEMAS AGROFLORESTAIS ........................................................................................................................................37

    6. CONCLUSO ....................................................................................................................................................................................................................39

    7. REFERNCIAS .................................................................................................................................................................................................................40

  • METODOLOGIA PARA RECUPERAO DE MATA CILIAR COM A INSTALAO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS POR NUCLEAO1. INTRODUO .................................................................................................................................................................................................................. 442. METODOLOGIA DE PLANEJAMENTO PARA A RECUPERAO DE APPS E INSTALAO DE SAFS.......................................................................45 FASE I ..............................................................................................................................................................................................................................45 FASE II .............................................................................................................................................................................................................................46 FASE III ............................................................................................................................................................................................................................473. RESULTADOS .................................................................................................................................................................................................................. 514. REFERNCIAS ................................................................................................................................................................................................................52

    EDUCAO AMBIENTAL NO PROJETO RAPPS: UMA METODOLOGIA FUNDAMENTADA NO CONHECIMENTO DA AGROECOLOGIAINTRODUO .......................................................................................................................................................................................................................531. AGROFLORESTA E EDUCAO AMBIENTAL EM UMA ESCOLA RURAL DE ANTONINA ...........................................................................................542. CONTEDOS PEDAGGICOS DESENVOLVIDOS DURANTE AS ATIVIDADES DE EDUCAO AMBIENTAL .............................................................58 2.1 AS RAZES E A QUALIDADE DO SOLO ....................................................................................................................................................................58 2.2 A BIODIVERSIDADE E A POLINIZAO .................................................................................................................................................................59 2.3 FERTILIDADE DO SOLO: CICLAGEM DOS NUTRIENTES E FIXAO DO NITROGNIO .......................................................................................60 2.3.1 NITROGNIO .......................................................................................................................................................................................................... 61 2.3.2 FSFORO ...............................................................................................................................................................................................................62 2.3.3 POTSSIO .............................................................................................................................................................................................................62 2.4 ADUBAO VERDE: PLANTAS LEGUMINOSAS QUE FIXAM O NITROGNIO NO SOLO .....................................................................................623. RESULTADOS ..................................................................................................................................................................................................................634. REFERNCIAS ................................................................................................................................................................................................................66

  • Biotecnologias, Energia Solar e Bioarquitetura

    POLTICAS PBLICAS E A DIMENSO SOCIAL DA BIOTECNOLOGIA

    1. O NOVO CONCEITO DE BIOTECNOLOGIA .......................................................................................................................................................................69

    2. AS MLTIPLAS FUNES DA BIOTECNOLOGIA ..........................................................................................................................................................72

    3. ENERGIA, BIOTECNOLOGIA E O DESENVOLVIMENTO REGIONAL ..............................................................................................................................73

    4. O AMPARO PESQUISA E A PROMOO DE POLTICAS PBLICAS ........................................................................................................................75

    5. O USO SOCIAL DA BIOTECNOLOGIA .............................................................................................................................................................................78

    6. REFERNCIAS .................................................................................................................................................................................................................78

    CAMINHOS HISTRICOS: CONTRIBUIES PARA A GERAO DE ENERGIA RENOVVEL NO CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL

    1. PAPEL SOCIAL DAS FONTES DE ENERGIA E DA TECNOLOGIA ..................................................................................................................................80

    1.1 PROBLEMATIZAO DA QUESTO ENERGTICA .................................................................................................................................................82

    2. A ENERGIA NO SCULO XXI ..........................................................................................................................................................................................84

    3. O SISTEMA DE COMPENSAO DE ENERGIA ELTRICA E OS SISTEMAS ISOLADOS ............................................................................................88

    4. INSTALAO DE GERADORES FOTOVOLTAICOS ........................................................................................................................................................89

    5. O PAPEL DA TECNOLOGIA EM FUNO DO CENRIO POLTICO ............................................................................................................................... 91

    6. REFERNCIAS .................................................................................................................................................................................................................92

    EDIFICAES SAUDVEIS: A SADE E O MEIO AMBIENTE CONSTRUDO1. INTRODUO ...................................................................................................................................................................................................................94

    2. A BIOLOGIA DAS CONSTRUES E A MEDICINA DO HABITAT ..................................................................................................................................97

    3. ARQUITETURA ................................................................................................................................................................................................................99

    4. QUALIDADE DO AR INTERNO ........................................................................................................................................................................................99

    5. ILUMINAO NATURAL ............................................................................................................................................................................................... 101

    6. ACSTICA ..................................................................................................................................................................................................................... 101

    7. RADIOATIVIDADE..........................................................................................................................................................................................................102

    8. POLUIO ELETROMAGNTICA .................................................................................................................................................................................103

    9. REFERNCIAS ...............................................................................................................................................................................................................105

  • O TELHADO VERDE E SEUS BENEFCIOS1. INTRODUO .................................................................................................................................................................................................................107

    2. REVISO BIBLIOGRFICA ...........................................................................................................................................................................................108

    2.1 BENEFCIOS ............................................................................................................................................................................................................108

    2.1.1 ISOLAMENTO TRMICO, CONSERVAO DE ENERGIA E PROTEO DA EDIFICAO AOS RAIOS SOLARES ..........................................108

    2.1.2 REDUO DAS ILHAS DE CALOR E DA AMPLITUDE TRMICA .......................................................................................................................111

    2.1.3 SISTEMAS DE DRENAGEM MAIS EFICAZES .................................................................................................................................................... 112

    2.1.4 PRODUO DE OXIGNIO, ABSORO DE CO2 E FILTRAGEM DO AR ............................................................................................................ 113

    2.2 COMPOSIO ......................................................................................................................................................................................................... 114

    3. ESTUDO DE CASO ......................................................................................................................................................................................................... 116

    4. CONCLUSO ..................................................................................................................................................................................................................122

    5. REFERNCIAS ...............................................................................................................................................................................................................123

    CANTEIRO EXPERIMENTAL DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO COMO CATALIZADOR DE BOAS PRTICAS CONSTRUTIVAS E INOVAO TECNOLGICA1. INTRODUO .................................................................................................................................................................................................................125

    2. CANTEIRO DE EXPERIMENTAO E MATERIALIZAO DA ARQUITETURA ........................................................................................................130

    3. O CANTEIRO EXPERIMENTAL E SUAS MLTIPLAS RELAES ..............................................................................................................................133

    4. CONCLUSES E PERSPECTIVAS ................................................................................................................................................................................134

    5. REFERNCIAS ..............................................................................................................................................................................................................135

  • Mobilidade Urbana e Gesto do Territrio

    A BICICLETA COMO SMBOLO CULTURAL E SEU USO PELA COMUNIDADE ESCOLAR DE ANTONINA: DIAGNSTICO E PROPOSTAS1. INTRODUO .................................................................................................................................................................................................................1392. O USO DA BICICLETA PELA COMUNIDADE ESCOLAR DE ANTONINA .....................................................................................................................1403. DUAS HISTRIAS, DUAS CULTURAS: A CONVIVNCIA ENTRE BICICLETAS E AUTOMVEIS NO TRNSITO DE ANTONINA............................1424. CAMINHES EM MEU CAMINHO .................................................................................................................................................................................1455. A BICICLETA COMO SMBOLO CULTURAL E HISTRICO DA IDENTIDADE DE ANTONINA: PROPOSTAS ESTRUTURAIS E CICLOTURSTICAS .......1496. CONCLUSO ..................................................................................................................................................................................................................1567. REFERNCIAS ...............................................................................................................................................................................................................157

    REVITALIZAO DA PRAA ROMILDO GONALVES EM ANTONINA CONCURSO DE IDEIAS DE ARQUITETURA1. INTRODUO .................................................................................................................................................................................................................158 1.1 A ADEMADAN .........................................................................................................................................................................................................159 1.2 ANTONINA ..............................................................................................................................................................................................................1672. A PRAA ROMILDO GONALVES E O CONCURSO DE IDIAS DE ARQUITETURA ..................................................................................................173 2.1 A PRAA .................................................................................................................................................................................................................173 2.2 DIRETRIZES DE TOMBAMENTO DO IPHAN .........................................................................................................................................................1833. O CONCURSO DE IDEIAS DE ARQUITETURA ..............................................................................................................................................................184 3.1 CRITRIOS BSICOS PARA JULGAMENTOS DOS PROJETOS ............................................................................................................................185 3.2 DIRETRIZES GERAIS PARA ELABORAO DOS PROJETOS ..............................................................................................................................185 3.3 DIRETRIZES ESPECFICAS....................................................................................................................................................................................1864. PROGRAMAS PARA A REVITALIZAO DA PRAA FEIRA-MAR ..........................................................................................................................188 4.1 PROGRAMA DE NECESSIDADES ..........................................................................................................................................................................189 4.2 PROGRAMA DE ATIVIDADES MNIMAS ..............................................................................................................................................................189 4.2.1 TRAPICHE ............................................................................................................................................................................................................189 4.2.2 PAISAGISMO .......................................................................................................................................................................................................189 4.2.3 ESPAOS PARA PRTICAS DE ESPORTES E PLAYGROUND ........................................................................................................................190 4.2.4 MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE .....................................................................................................................................................................190 4.2.5 EQUIPAMENTOS PBLICOS E MOBILIRIO URBANO ......................................................................................................................................1905. REFERNCIAS ..............................................................................................................................................................................................................190

    OS DESAFIOS DE ANTONINA PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL: UM ENSAIO SOBRE POTENCIALIDADES E POSSIBILIDADES1. INTRODUO ................................................................................................................................................................................................................. 1912. UMA AGENDA POLTICA PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL ...............................................................................................................................1933. A CRIATIVIDADE COMO CHAVE PARA O DESENVOLVIMENTO ................................................................................................................................1964. CONSIDERAES FINAIS .............................................................................................................................................................................................1995. REFERNCIAS .............................................................................................................................................................................................................. 200

  • INTRODUOPipocam na imprensa denncias de que o Brasil o pas, em todo o planeta, que mais consome

    agrotxicos. No mundo, este setor da economia cresceu 93% nos ltimos dez anos, enquanto que no Brasil cresceu 190%, segundo os relatrios da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria. Espera-se que a maioria dos alimentos esteja contaminada por agrotxicos, sendo que muitos destes se quer so autorizados. O comrcio do veneno se realiza livremente no pas, que o paraso do agronegcio.

    O glifosato, veneno proibido na maioria dos pases do mundo classificado como extremamente txico, e ocupa a posio do terceiro qumico mais utilizado no Brasil em culturas de arroz, aveia, caf, cana-de-acar, centeio, cevada, milho, pastagem, soja, sorgo e trigo.

    A populao envenenada aumenta a demanda por medicamentos no tratamento de doenas por contaminao, e entre elas reina o cncer. Assim, uma linha direta traada entre o mundo da qumica para a agricultura e o mundo da qumica para a produo de medicamentos. Surgem indstrias extremamente lucrativas, enlaando estes dois mundos que caminham de braos dados de norte a sul, do leste ao oeste, em todos os rinces deste pas com dimenses continentais. As grandes corporaes estrangeiras, fortalecidas, so protegidas pela bancada chamada ruralista no Congresso Nacional. Uma bancada patrocinada pelo agronegcio e por planos de sade, melhor dizendo, pelos planos de doenas.

    A pulverizao de agrotxicos, por meio de avies, contamina o ar, mata os polinizadores e reduz toda a forma de organismo vivo. A biodiversidade imprescindvel para o combate de pragas e doenas na agricultura por meio do equilbrio ecolgico.

    As chuvas carregam os sedimentos contaminados por meio da eroso hdrica. A eroso provocada pela agricultura que revolve e desencobre o solo, assoreando as bacias hidrogrficas, poluindo os rios e os lenis freticos.

    A necessidade de grandes reas para plantios, devido ao custo de produo desta agricultura extremamente cara e cada vez menos produtiva, desertifica o solo e sacrifica as florestas e com elas toda a biodiversidade. Soma-se agricultura a minerao, que segue a mesma lgica, a da produo desmedida. Caso a humanidade no precise de toda esta produo para a sua qualidade de vida, ento fora-se a necessidade por meio de guerras e catstrofes ambientais.

    O resultado o absurdo em nome da ideologia de que preciso produzir muito para alimentar a humanidade, mas o que se alimenta, de fato, o lucro das grandes corporaes deixando arrasados o solo, os recursos hdricos, a biodiversidade e a sade humana.

    Ns vamos nos alimentando do veneno, seguindo anestesiados com nossos sentidos condicionados

  • aos sabores do sal, do acar e da gordura, num mundo de imagens descartveis. Com os sentidos embotados, do caf-da-manh ao jantar, consumimos alimentos processados, sem nutrientes, que enfraquecem nosso sistema imunolgico e nos deixam merc de todos os tipos de doenas.

    Somos constantemente expostos poluio, seja por tipos de substncias e tecnologias que consumimos em nosso dia-a-dia, como pelos acidentes ambientais causados por um modo de produo que no planeja seu territrio e comercializa em escala global, movido unicamente com fins para acumulao do capital.

    A natureza responde s agresses, assim, secas, geadas e inundaes passam a fazer parte dos calendrios agrcolas e incentivam novos venenos para garantir a produo desmedida.

    O combate ocorre por meio de movimentos que se organizam em torno da Economia Solidria e da Economia Criativa. Estes movimentos promovem a agroecologia por meio de feiras e do consumo de produtos orgnicos, estimulam o esporte e as expresses artsticas no lazer para alm das teletelas orwelianas1, dos celulares e do computador e reivindicam ciclovias e praas de convivncia nas cidades. Movimentos que estimulam novas tecnologias adaptadas ao clima e ao solo das regies. Movimentos que pensam o planejamento no em escala global, mas valorizando a produo e a circulao no prprio territrio, sem, contudo, deixarem de ser universais em seus fundamentos. Destaca-se, neste sentido, a proposta da agricultura quilmetro zero, do movimento slow food.

    Esta publicao aborda estes temas e apresenta sadas, oferece opes de boas prticas, que podem estimular a formulao de polticas pblicas para a vida e no para a morte, seja por meio da agrofloresta, a fim de produzir alimentos, como por meio das biotecnologias e da produo de energia limpa em nvel local. O livro aborda sobre a bioarquitetura, sobre o solo, sobre o clima e a suscetibilidade ambiental. Aborda sobre a qualidade de vida e o planejamento da cidade para estimular a troca do carro pela bicicleta, tendo o municpio de Antonina como pano de fundo.

    1 George Orwell, na obra 1984, criou o termo teletela para denominar a ferramenta de controle ideolgico do grande irmo (Big Brother) sobre a vida das pessoas dentro dos lares, no trabalho, na rua, em qualquer lugar. 1984 uma obra de fico, escrita na dcada de 40, do sculo que passou, que retrata a sociedade que vivemos hoje, cuja conscincia social controlada pelo Grande Irmo, por meio das teletelas que transmitem mensagens e monitoram as emoes ao mesmo tempo.

    Este livro uma iniciativa do projeto RAPPs, patrocinado pela Petrobras por meio do programa Petrobras Socioambiental.

  • Clima, Solo e Agrofloresta

  • Clima, Solo e Agrofloresta

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    O CLIMA DO LITORAL PARANAENSE: VARIABILIDADES, MUDANAS

    CLIMTICAS, TENDNCIAS E DESAFIOSGabriela Goudard1 | Eduardo Vedor de Paula2

    1 Graduanda em Geografia Universidade Federal do Paran. Bolsista de Iniciao Cientfica no Laboratrio de Climatologia (LABOCLIMA UFPR).

    2 Professor Adjunto Departamento de Geografia da Universidade Federal do Paran.

    1. INTRODUO

    As reflexes e as problemticas ligadas s mudanas climticas globais constituem-se como temas recorrentes de discusses, sobretudo, a partir do final da dcada de 1980, com a criao do IPCC (In-ternational Panel on Climate Change), atravs do qual, o tema inseriu-se, por definitivo, nas pautas internacionais. Desse modo, as abordagens climticas, as tendncias e os impactos atrelados a estes processos tm se destacado, seja por sua visibilidade poltica, miditica, econmica, ambiental ou mesmo por criar uma esfera de preocupaes, inquietaes e alarmismos de dimenso planetria.

    Os cenrios climticos construdos pela instituio supracitada, baseados em dados meteorolgi-cos e modelagens, acenam para um forte aquecimento da atmosfera e, portanto, dos climas da Terra, induzido, principalmente, pelas aes antrpicas atreladas aos padres de vida e consumo da socie-dade urbano-industrial.Os prognsticos mais recentes tm apontado para uma elevao da ordem de 1,5C (otimista) a 4,5C (pessimista) nas mdias trmicas globais para o sculo XXI, bem como para aumentos nos ndices de precipitao em mdias e altas latitudes; e elevaes do nvel mdio dos mares de 0,09 (otimistas) a 2 metros (pessimistas) entre 1990 e 2100 (MENDONA, 2007, 2014; MARENGO, 2007; IPCC, 2013).

    De modo conjugado, os ltimos relatrios do IPCC (AR4 e AR5) colocam em evidncia o fato de que uma gama considervel de fenmenos meteorolgicos e climticos excepcionais (chuvas tor-renciais, secas, vendavais, furaces) apresentaro suas intensidades e repetitividades acentuadas, em decorrncia de alteraes na temperatura e precipitao, impondo profundas mudanas na espacia-lidade, forma e funo das sociedades humanas (MENDONA, 2010; IPCC, 2007, 2013).Assim, denota-se a existncia de inmeros desafios quanto a medidas de preveno, adaptao e mitigao de eventos catastrficos, cujos cenrios indicam maiores potenciais de impacto.

  • Clima, Solo e Agrofloresta

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    No contexto da Regio Sul do Brasil, na qual o litoral paranaense se insere (Figura 1), estudos regionais e modelagens apontam para aumentos trmicos e pluviais, com destaque, sobretudo, no que concerne a frequncia e intensidade de precipitaes de cunho extremo, com potenciais de desen-cadeamento de episdios pluviais extremos e seus impactos associados (GROISMAN et al., 2005; HAYLOCK et al., 2006; TEIXEIRA et al., 2007; MARENGO et al., 2007; MARENGO e CAMAR-GO, 2008; PBMC, 2014).

    Entretanto, ainda que exista um aparente discurso hegemnico quanto s mudanas climticas e os problemas ambientais aguardados neste sculo XXI, no se pode negar que uma esfera de incer-teza permeia as discusses a respeito do conhecimento do fenmeno e suas configuraes futuras. Neste sentido, existem vozes dissonantes em face da temtica, que reiteram que estas dinmicas no se associam s atuaes humanas, mas que so naturais no planeta, estando relacionadas a processos astronmicos e eras geolgicas.

    Figura 1 Localizao da rea de estudo e tipologia das estaes de monitoramento meteorolgicoOrganizao: Goudard e Paula (2016)

  • Clima, Solo e Agrofloresta

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    De modo semelhante evidenciam-se questionamentos quanto aos modelos climticos empregados na fundamentao das anlises, tendo como base a escala global e, dessa forma, apresentando limita-es para a compreenso das dinmicas em outros nveis escalares. Nesse contexto, os debates per-passam necessariamente por discusses de escala, tanto do ponto de vista espacial, como temporal.

    No mbito temporal, o tempo atmosfrico (perodo mais curto), representado na climatologia pelo ritmo (hora, dia e ms), enquanto, o clima associa-se a sucesso habitual dos tipos de tempo e, portanto, ao tempo mais longo, demonstrado pela variabilidade (anos e dcadas) e mudana (s-culos a milhes de anos). Partindo-se destes pressupostos, constatam-se controvrsias quanto a de fato verificarem-se mudanas, ou apenas tratarem-se de variabilidades climticas, compreendidas como variaes de parmetros climticos em face da circulao geral da atmosfera, associada di-nmica dos oceanos, s teleconexes e aos ENOS - El Nio (EN) e La Nia (LN) - (MENDONA e DANNI-OLIVEIRA, 2007; ZANGALLI JUNIOR e SANTANNA NETO, 2012).

    Do ponto de vista espacial, destaca-se a heterogeneidade das repercusses das mudanas climti-cas no que se refere s escalas da climatologia (zonais, regionais e locais), de modo que em face dos cenrios previstos, os agrupamentos humanos e os espaos sero diferentemente impactados, uma vez que a capacidade de adaptao humana e as particularidades espaciais so bastante diversificadas no globo. Salienta-se, neste sentido, que os estudos para alm das escalas globais, notadamente con-solidados, so fundamentais, posto que grande parte das repercusses ocorrer regional e localmente; e de formas no-homogneas.

    Neste contexto, este captulo objetiva caracterizar o clima do litoral do Estado do Paran, apresen-tando aportes para entendimentos mais detalhados das particularidades climticas da poro espacial supracitada. Para tanto, so abordadas as condies gerais do clima relacionadas temperatura e plu-viosidade, bem como, de maneira introdutria, anlises de tendncias quanto s mudanas climticas, visando fomentar o debate e melhorar a compreenso da problemtica e seus possveis impactos na rea. Por fim, so apresentadas algumas recomendaes de boas prticas para mitigaes e adapta-es s mudanas do clima.

    2. MTODOS E TCNICAS DA PESQUISA2.1 Quanto coleta de dados

    As anlises das condies climticas da rea de estudo foram realizadas com base em aportes da literatura e dados dirios de 18 estaes de monitoramento (Figuras 1 e 2), com temporalidade de 1978 a 2014, coletados pelo Hidroweb Sistema de Informaes Hidrolgicas e disponibilizados pelo IAPAR Instituto Agronmico do Paran.

  • Clima, Solo e Agrofloresta

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    Figura 2 - Estaes Meteorolgicas utilizadas no estudoFonte de dados: HIDROWEB, IAPAR (1978 2014)Organizao: Goudard e Paula (2016)

    Posteriormente coleta de dados, foram realizados procedimentos quanto ao preenchimento das falhas atravs do software Hydrolab (LABORDE, 1998), por meio de regresses com 10 interaes entre os fatores. Este processo apresenta relevncia, sobretudo, no que se refere consistncia das sries de dados utilizadas.

    2.2 Quanto ao tratamento dos dados e anlise de tendncias

    Do ponto de vista dos dados de temperatura do ar, foram utilizadas duas estaes representativas, a saber: Morretes - IAPAR (2548038) e Guaraqueaba - IAPAR (2548039), por meio das quais foram calculadas mdias histricas mximas, mdias e mnimas, bem como, suas respectivas tendncias mdias anuais para o perodo de 1978 a 2014. De modo complementar, foram consultados estudos anteriores de Jorge e Mendona (2008), os quais permitiram anlises da espacialidade da temperatura no recorte espacial da Bacia Litornea.

    No que se refere aos dados pluviais, estes foram analisados na mesma temporalidade (1978 a 2014),

  • Clima, Solo e Agrofloresta

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    quanto aos totais histricos mdios anuais e sazonais, mdias mensais e eventos pluviais extremos, considerados no presente estudo como queles iguais ou superiores a 50mm/24h, dado que existem registros de impactos a partir deste limiar. Os clculos realizados para as precipitaes pautaram-se em quatro estaes representativas para a rea de estudo: Antonina (2548003), Morretes (2548047), Paranagu (2548049) e Guaraqueaba (2548039).

    No que tange s tendncias pluviais, foram utilizadas as 18 estaes presentes neste estudo, em funo da maior disponibilidade de dados de chuva na rea, bem como, da variabilidade das precipita-es serem mais significativas em detrimento da temperatura, demandando uma maior quantidade de dados. Destaca-se que a estao Vu da Noiva (2548002), ainda que tenha sido desativada em 1996, foi mantida em face das anlises devido ao fato de ser a nica estao inserida no contexto orogrfico da Serra do Mar.

    As tendncias trmicas e pluviais basearam-se em estatsticas lineares, calculadas por meio do Excel, e no teste estatstico de Mann-Kendall, atravs de uma planilha padro -Makesens_1_0. Ressalta-se que este teste configura-se como sendo o mtodo mais recomendado para anlises de mudanas climticas, tendo sido utilizado de maneira satisfatria em estudos recentes, tais como Jorge (2009), ao analisar a configurao climtica da Fachada Atlntica Sul do Brasil.

    3. FATORES E ELEMENTOS CLIMTICOS: INTERAES E CONFIGURAES NO LITORAL DO PARAN

    A configurao climtica de um local condicionada por elementos climticos e fatores do clima, os quais, em permanente interao, estipulam a dinmica da atmosfera sobre os diferentes lugares. Os elementos referem-se temperatura, umidade e presso, enquanto que os fatores correspondem s caractersticas geogrficas diferenciadoras da paisagem. Estes se dividem em estticos, relativos latitude, altitude, relevo, vegetao, maritimidade/continentalidade; e dinmicos, que decorrem da movimentao dos sistemas atmosfricos, representados pelas massas de ar e sistemas frontais (MENDONA e DANNI-OLIVEIRA, 2007; STEINKE, 2012).

    De acordo com apontamentos de Mendona e Danni-Oliveira (2007), os fatores climticos atuam na sucesso habitual dos tipos de tempo sobre um dado lugar da seguinte forma:

    Latitude: configura-se como um importante fator climtico, devido a sua relao com a quan-tidade de energia que entra no Sistema Superfcie-Atmosfera, atuando diretamente no ngulo com que os raios solares incidem sobre as superfcies do globo;

    Altitude: inversamente proporcional temperatura, assim, as temperaturas diminuem na razo mdia de 0,6C para cada 100 metros de altitude;

    Relevo: apresenta trs atributos significativos na definio dos climas posio, orientao das vertentes e declividade. A posio do relevo e a declividade favorecem ou dificultam flu-xos de calor e umidade, enquanto que a orientao define as vertentes mais aquecidas/frias e

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    secas/midas de acordo com a posio do Sol. No Hemisfrio Sul, as vertentes mais aquecidas so quelas voltadas para o Norte;

    Vegetao: atua como regulador trmico e de umidade, de modo que em regies com maiores concentraes vegetacionais, as temperaturas so inferiores se comparado s reas vizinhas;

    Maritimidade: os esturios, os mares e oceanos, assim como a vegetao, atuam como regu-ladores de temperatura e umidade, alm de configurarem-se como os principais fornecedores de gua para a atmosfera. Destaca-se que o aquecimento diferenciado das guas e a capaci-dade de reteno de calor favorecem a reduo das amplitudes trmicas dirias em reas sob influncia de circulao martima, como o caso do litoral paranaense;

    Continentalidade: encontra-se condicionada ao distanciamento das pores continentais em relao aos esturios, os mares e oceanos. Este fato faz com que os aquecimentos e resfria-mentos das superfcies continentais ocorram de maneira mais rpida. Dessa forma, locais mais distantes dos corpos hdricos, evidenciam-se como mais secos e com amplitudes trmicas mais acentuadas;

    Sistemas Atmosfricos: ao se deslocarem das suas regies de origem, com caractersticas termo-higromtricas especficas, as massas de ar influenciam as regies quanto a condies de temperatura e umidade, ao mesmo tempo em que so influenciadas por estas regies.

    Neste contexto, no mbito do litoral paranaense, o fator esttico mais importante na caracteriza-o climtica da regio o relevo, sendo que a Serra do Mar funciona como barreira para o avano de massas de ar, influenciando na distribuio da umidade, na manuteno da temperatura e nas pre-cipitaes atreladas orografia (JORGE e MENDONA, 2008).

    Destaca-se ainda a vegetao como um fator de considervel relevncia do ponto de vista clim-tico da rea, visto que esta poro espacial considerada o maior remanescente contnuo de Mata Atlntica. A vegetao responsvel pela amenizao das temperaturas mais elevadas, reduo da velocidade do vento, alteraes do balano de energia, filtro de poluentes e refgio para espcies ameaadas de extino.

    Salienta-se que estas particularidades influenciam a classificao climtica da regio, de modo que, segundo a classificao do IBGE (1998), nas regies mais elevadas predomina o tipo climtico mesotrmico brando, super mido sem seca, ao passo que na plancie costeira destaca-se o clima subquente, super mido sem seca, com temperatura mdia entre 15 e 18 C em pelo menos um ms.

    Do ponto de vista dos sistemas atmosfricos atuantes, a poro espacial supracitada, apresenta o clima definido pela predominncia da Massa Polar Atlntica (MPA) e da Massa Tropical Atlntica (MTA), bem como, pela atuao da Frente Polar Atlntica (FPA), sendo esta fundamental no controle do regime pluvial da regio o ano todo (MONTEIRO,1968; AYOADE, 2006).

    A MTA caracteriza-se por ser quente e mida, desempenhando considervel influncia na defini-o dos tipos climticos. Ressalta-se que este sistema atmosfrico apresenta atuao durante o ano todo, sobretudo na poro litornea, na qual em sua interface com a orografia, culmina em consider-veis precipitaes, devido aos aportes de umidade que adentram o continente, tendendo a instabilizar a atmosfera por meio de conveces (MENDONA e DANNI-OLIVEIRA, 2007).

    A MPA apresenta grande mobilidade e pode ser observada durante o ano todo, gerando estabili-

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    dades na atmosfera. Estes processos so rompidos pela passagem de Sistemas Frontais (SF), os quais culminam em intensas nebulosidades e precipitaes frontais, preponderantemente. De um modo geral, a atuao da Frente Polar Atlntica (FPA), proporciona oscilaes e linhas de instabilidade por meio da sua oposio Massa Tropical Atlntica (MENDONA e DANNI-OLIVEIRA, 2007).

    Desta forma, em face dos fatores estticos e dinmicos atuantes, o clima da poro costeira paranaen-se configura-se de maneira complexa e particular, contudo no apresenta estudos climatolgicos expres-sivos, paradoxalmente, a elevada quantidade de dados referentes atmosfera desta poro do territrio. Este fato compromete a constatao, previso e preveno de possveis problemas ambientais na rea.

    4. VARIABILIDADES E TENDNCIAS DO CLIMA DO LITORAL DO PARAN

    4.1 Dinmica da Temperatura

    No que se refere aos aspectos da temperatura, segundo apontamentos de Jorge e Mendona (2008), no Litoral do Estado do Paran a temperatura do ar pode ser considerada o principal elemento re-gionalizador do clima. Desse modo, de acordo com os mesmos autores, a temperatura mdia do ar, apresenta a seguinte variao espacial na regio:

    A mdia anual varia entre 19 e 21C na plancie litornea, diminuindo nas regies mais altas; Nas serras e nos morros, a mdia anual encontra-se entre 15 e 17C, chegando a menores

    valores nas altitudes elevadas; No vero a mdia oscila entre 22 e 24C na plancie, diminuindo para 19 e 21C nas regies

    mais altas, chegando 17 e 18C nos picos montanhosos; No inverno, as mdias variam entre 15 e 17C na plancie, sendo que nas encostas e regies

    mais altas atingem valores entre 13 e 14C. Neste contexto, ressalta-se que o relevo, em conjunto com as diferenas de presso e maritimida-

    de, evidencia-se como um fator de destaque na determinao das mdias (anual e sazonal) das tempe-raturas, bem como, em face da distribuio espacial destas na plancie litornea, visto que, de modo geral, a temperatura do ar diminui medida que a altitude aumenta.

    A anlise das temperaturas mdias mensais no perodo de 1978 a 2014, realizada para os muni-cpios de Morretes e Guaraqueaba, presente na sequncia de grficos da Figura 3, permite constatar que existe uma relativa homogeneidade dos dados de temperatura entre as duas estaes, de modo a indicar um padro trmico caracterstico para o litoral paranaense.

    Evidencia-se que o perodo mais quente representado pelos meses de dezembro, janeiro e feve-reiro, ao passo que, o perodo com menores temperaturas encontra-se atrelado aos meses de junho, julho e agosto, sendo que o ms de julho o que apresenta a menor mdia de temperatura. Neste sentido, do ponto de vista sazonal, a temperatura apresenta o seguinte comportamento: no vero,

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    sob domnio da MTA, registram-se as maiores mdias, as quais diminuem a partir do ms de maro, correspondendo ao incio do outono. No inverno, por influncia da MPA verificam-se os valores mais baixos, os quais aumentam progressivamente durante a primavera.

    No que concerne s tendncias trmicas para o litoral do Paran (Figura 3), a estatstica linear apon-tou para a elevao das mdias trmicas anuais (mximas, mdias e mnimas) nas duas estaes mete-orolgicas em anlise, sendo que a estao de Morretes (2548038) apresentou elevaes mais signifi-cativas em detrimento a de Guaraqueaba (2548039), no recorte temporal adotado no presente estudo.

    Figura 3 - Temperaturas mdias mensais (1978 - 2014) e tendncias mdias anuais para o litoral do ParanFonte de dados: IAPAR (1978 2014)Organizao: Goudard e Paula (2016)

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    Do ponto de vista das temperaturas mdias mximas, as tendncias positivas apresentaram-se na ordem de grandeza de 0,6C para a estao de Morretes e 0,1C para Guaraqueaba, ao passo que, em relao s mdias compensadas(mdias das temperaturas mdias), os valores constatados foram de 0,5C (Morretes) e 0,25C (Guaraqueaba). As mdias mnimas foram as que apresentaram as tendn-cias positivas mais significativas entre as destacadas neste estudo, com valores de 0,8C (Morretes) e 0,75C (Guaraqueaba).

    Dessa forma, de maneira geral, os dados indicaram tendncias de aquecimento na rea, sobretudo, no que se refere s temperaturas mdias mnimas, de forma mais acentuada, culminando em diminui-es das amplitudes trmicas na regio, visto que os percentuais de aumentos das temperaturas m-dias mnimas so mais significativos que os das mdias mximas. Cabe ressaltar que estes processos tambm foram evidenciados em estudos anteriores de Jorge (2009), em face das tendncias de 1977 a 2006, para a Fachada Atlntica Sul do Brasil e de Mendona (2007, 2014), ao analisar as condies termo-pluviomtricas na Regio Sul, no perodo de 1975 a 2004.

    4.2 Dinmica da Precipitao

    A poro litornea do Paran apresenta os mais elevados totais pluviais anuais do estado, com valores superiores a 2.000 mm (PAULA, 2010). Esta caracterstica encontra-se associada orografia e s brisas martimas, as quais regulam o regime de precipitao da regio, de modo que, as precipita-es acentuam-se medida que as altitudes aumentam (SILVA, 2006). Dessa forma, os totais pluviais anuais observados na vertente leste da Serra do Mar, esto entre os valores mais expressivos do pas, superando o total acumulado anual de 3.500 mm, conforme se verifica na estao do Vu da Noiva (2548002), situada no contexto orogrfico da Serra do Mar.

    Na plancie de Antonina, Morretes e Paranagu, as mdias anuais situam-se em torno de 2.000 e 2.500 mm/ano, ao passo que, em Guaratuba, Matinhos e Pontal do Paran, a mdia de aproximada-mente 2.300 mm/ano.As mdias anuais sazonais so mais significativas no vero, apresentando valores prximos a 1.000 mm/ano, em detrimento dos meses de inverno (350 mm/ano) e outono (580 mm/ano).

    Quanto aos tipos de precipitao observados nesta poro espacial, destacam-se as precipitaes convectivas, frontais e orogrficas. As chuvas convectivas caracterizam-se por sua forte intensidade e curta durao, apresentando maiores frequncias nos meses de vero, poca do ano em que pre-domina a atuao da MTA. As precipitaes de cunho frontal encontram-se atreladas a passagem de Sistemas Frontais, representados pelo encontro de massas de ar com caractersticas distintas. Estas apresentam menor intensidade, contudo so mais duradouras e abrangem maiores reas. As chuvas orogrficas, por sua vez,destacam-se no litoral do Paran, visto que se associam as interaes entre as massas de ar e a orografia, a qual atua como uma barreira livre circulao do ar, forando-o a ascender, de modo, a gerar precipitaes (AYOADE, 2006; TORRES e MACHADO, 2011).

    Em relao pluviosidade mdia mensal, a anlise das mdias histricas (1978 2014), para as estaes de Antonina (2548003), Morretes (2548047), Paranagu (2548049) e Guaraqueaba (2548039) Figura 4, permite constatar que as precipitaes so bem distribudas ao longo do ano todo, embora se note o predomnio destas no vero, correspondendo em mdia a, aproximadamente, 38,6% do total pluvial anual, em detrimento dos meses de outono (23,9%) e inverno (14,1%).

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    Neste sentido, as precipitaes concentram-se nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, apre-sentando mdias variando de 227,7 mm (Paranagu) a 305,4 mm (Antonina) em dezembro, 316,2 mm (Paranagu) a 397,6 mm (Guaraqueaba) em janeiro, e 283,2 mm (Paranagu) a 348,5 mm (Antoni-na) no ms de fevereiro. Em contrapartida, o inverno configura-se como o perodo do ano com menor mdia pluvial, com destaque, principalmente, para o ms de agosto, no qual as mdias situam-se em torno de 80 a 110 mm.

    De acordo com Jorge e Mendona (2008), estas caractersticas devem-se conjugao de dois fa-tores dinmicos: participao da Frente Polar Atlntica e as ocorrncias de chuvas de convergncia tra-zidas pelas correntes perturbadas de oeste. Salienta-se ainda que este carter sazonal das precipitaes favorece o desenvolvimento de processos erosivos e de movimentos de massa, e, consequentemente, o assoreamento dos rios e esturios, potencializando problemas ambientais na regio (PAULA, 2010).

    Alm disso, no mbito das anlises das chuvas, merecem destaque os eventos pluviais extremos (iguais ou superiores a 50 mm/24h) Figura 5, caracterizados por elevados totais pluviais dirios, os quais revelam alto poder de transporte de sedimentos e configuram-se como potenciais desencadea-dores de impactos ligados a desastres naturais, tais como as inundaes e deslizamentos.

    Ao examinar a distribuio mensal destes eventos em classes para as estaes de Antonina (2548003), Morretes (2548047), Paranagu (2548049) e Guaraqueaba (2548039) - Figura 5, cons-tata-se o carter sazonal destes processos, evidenciando-se, sobretudo, nos meses de vero, nos quais as chuvas so mais intensas e concentradas.

    Figura 4 - Mdias Pluviais Mensais (1978 - 2014)Fonte de dados: HIDROWEB, IAPAR (1978 2014)Organizao: Goudard e Paula (2016)

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    O ms de janeiro, seguido de fevereiro, maro e dezembro apresentam as maiores frequncia para os eventos em todas as estaes em anlise, com acumulados de 185 eventos em Antonina, 191 em Morretes, 168 em Paranagu e 211 em Guaraqueaba. O ms de agosto, em contrapartida, apresentou os valores menos expressivos, com variaes de 2 a 6 eventos extremos ao longo dos 36 anos.

    Em face das classes de precipitao extrema, predominam em todas as estaes as chuvas entre 50 e 75 mm/24h, sendo que os nmeros de dias de eventos pluviais extremos diminuem na medida em que as precipitaes tornam-se mais expressivas, como o caso da classe superior a 125mm/24h, na qual se constatam as menores frequncias. Nota-se ainda, que a estao de Guaraqueaba (2548039) apresentou os maiores percentuais destes eventos no trimestre mais quente, em comparao as de-mais, fato que pode ser explicado, em partes, pela localizao geogrfica desta estao, em uma rea de intensa cobertura vegetal e considerveis aportes de umidade ao longo do ano todo.

    No contexto da gnese destas dinmicas, ressalta-se que, alm das massas de ar, estes processos-so sensivelmente influenciados pelos episdios de El Nio Oscilao Sul (EN) e La Nia (LN), correspondendo ao aquecimento e resfriamento anormal nas guas superficiais do Oceano Pacfico, respectivamente. De acordo com Grimm et al. (1998) e Grimm (2009), o EN impacta fortemente a frequncia de eventos extremos de precipitao sobre o Sul do Brasil, ao passo que diminuem consi-deravelmente em anos de LN, nos quais, em geral, chove abaixo da mdia climatolgica.

    Assim, por meio da correlao entre o nmero de dias de chuva extrema ( a 50 mm/24h) e suas

    Figura 5 - Eventos Pluviais Extremos (1978 - 2014)Fonte de dados: HIDROWEB, IAPAR (1978 2014)Organizao: Goudard e Paula (2016)

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    Outono Inverno Primavera Vero Outono Inverno Primavera VeroAntonina Colnia Cachoeira 2548003 + + + + + + + + + +

    Guaraqueaba Guaraqueaba 2548023 - + - + + + - + + +

    Guaraqueaba Rio Guaraqueaba 2548042 - - - + + x - + + -

    Guaraqueaba Bananal 2548043 x - - + x x - + + +

    Guaraqueaba Passo do Vau 2548044 - - - - - - - - - -

    Guaraqueaba IAPAR 2548039 + + - + + + - + + +

    Guaratuba Pedra Branca 2548020 - - - - - - - + - -

    Guaratuba Guaratuba 2548053 + + - + + x - + + -

    Morretes Morretes 2548000 + + + + + + + + + +

    Morretes Vu da Noiva 2548002 + + + + + + + + + +

    Morretes So Joo da Graciosa 2548047 x + - + + x - + - -

    Morretes IAPAR 2548038 + + x + + + x + - +

    Paranagu Colnia Santa Cruz 2548049 + + x + + x - + - +

    Campina Grande do Sul Praia Grande 2548001 - - - - - x - + - +

    Campina Grande do Sul Posto Fiscal - km 309 2548036 + + - + + + - + - -

    Campina Grande do Sul

    Cachoeira Jusante 2548040 + + - + + + - + + +

    So Jos dos Pinhais

    Fazendinha 2549017 + + - + + + - + + +

    So Jos dos Pinhais Ilha do Rio Claro 2548052 x - - + + - - + + -

    Total e Mdia Sazonal Anual (M.K)Municpio Estao Cdigo Total Anual

    (linear)Total Anual

    (M.K)Total e Mdia Sazonal Anual (Linear)

    No SignificativoTendncia Negativa Tendncia PositivaLegenda

    relaes com os anos de El Nio e La Nia, verificou-se que os anos com maiores quantidades de dias de chuva extrema, relacionam-se a contextos de El Nio moderado a forte, como expresso, por exemplo, nos anos de 1982/1983 e 1997/1998.

    Deve-se indicar, contudo, que eventos de precipitao inferiores a 50mm/24h, j so capazes de ocasionar impactos, ligados a inundaes, enchentes e alagamentos nas pores mais baixas dos municpios litorneos, especialmente, em condies de mar alta (PAULA, 2003; CUNHA, 2006). Ademais, em face das modificaes adotadas nos ambientes com o intuito de atender aos anseios humanos, notadamente atrelados urbanizao, ou mesmo a alterao dos canais hidrogrficos nas reas rurais, constata-se que chuvas de menores propores, que outrora no eram impactantes, na atualidade causam impactos. Este fato ainda agravado ao se considerar as tendncias positivas de precipitaes extremas projetadas para a Regio Sul do Brasil e em face dos testes de tendncia apli-cados para o litoral do Paran no mbito deste estudo.

    No que se refere s tendncias de precipitaes (Figura 6), para alm dos eventos extremos, os dados indicaram, tanto nos testes lineares como de Mann-Kendall, tendncias positivas para os totais anuais de 12 dos 18 pontos de monitoramento analisados, sendo evidenciadas tendncias negativas em estaes do municpio de Guaraqueaba.

    Figura 6 - Tendncias Pluviais para o litoral do Paran (1978 - 2014)Fonte de dados: HIDROWEB, IAPAR (1978 2014)Organizao: Goudard e Paula (2016)

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    Entretanto, dado o carter extremamente sazonal das chuvas, salienta-se que as anlises no po-dem apenas pautarem-se em totais anuais, mas devem ser examinadas quanto as suas sazonalidades e particularidades intrnsecas. Dessa forma, os dois testes aplicados, evidenciaram tendncias nega-tivas para os totais e mdias anuais no outono em todas as estaes, com exceo de Antonina Co-lnia Cachoeira (2548003), Morretes So Joo da Graciosa (2548047) e Morretes - Vu da Noiva (2548002), as quais apresentam contextos altimtricos bastante variados, de modo a indicar que as hipteses explicativas para as tendncias de diminuio das precipitaes no so dadas unicamente pela posio destas no relevo.

    No entanto, os meses de inverno, primavera e vero apresentaram tendncias pluviais posi-tivas em face dos totais e mdias sazonais anuais para a maior parte das estaes em ambos os testes estatsticos. O inverno destacou-se neste contexto, com apenas trs estaes com tendncias negativas nas estatsticas lineares, a saber: Guaraqueaba Passo do Vau (2548044), Guaratuba Pedra Branca (2548020) e Campina Grande do Sul Praia Grande (2548001). Na tendncia de Mann-Kendall, apenas na estao Guaraqueaba Passo do Vau notaram-se tendncias negativas. Reitera-se que estas estaes tambm evidenciam altitudes diferenciadas, denotando-se assim, que as explicaes para as tendncias indicadas no presente estudo encontram-se atreladas no exclusi-vamente ao relevo, mas a complexidade das interaes entre fatores estticos e dinmicos na zona litornea do Estado.

    Os resultados das tendncias, totais e sazonais, aqui expressos encontram-se em concordncia com estudos de Jorge (2009), ao verificar aumentos pluviais variando entre 100 mm a valores supe-riores a 200 mm em relao aos totais anuais do litoral paranaense. Sazonalmente, o outono apre-sentou diminuies de at 150 mm/ano, enquanto a primavera e o vero evidenciaram tendncias a aumentos de precipitao com variaes de 100 mm/ano a 150 mm/ano em algumas regies.

    Estes processos denotam a complexidade das dinmicas das chuvas no litoral do Paran, o que se reflete, de maneira direta, nas tentativas de verificar tendncias do clima em face de possveis mudan-as climticas globais e suas modificaes dos elementos climticos da rea. Neste sentido, reitera-se o fato de que a temporalidade de dados utilizada, perfazendo um total de 36 anos (1978 a 2014), no permite analisar mudanas do clima, as quais demandam, no mnimo, dados seculares, fato distante da realidade de monitoramento meteorolgico de grande parcela do pas.

    Entretanto, as anlises aqui desenvolvidas permitiram vislumbrar as variabilidades climticas (anos e dcadas) desta poro espacial, suas particularidades e fatores intrnsecos, os quais de acor-do com as projees embasadas em modelagens globais, tendem a alterarem-se, notadamente, em direo a cenrios de aquecimento e maiores aportes pluviais. Estas evidncias foram reiteradas nas tendncias construdas neste estudo, indicando aumentos de temperatura e de precipitao nas ltimas dcadas.

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    5. DESAFIOS, ADAPTAES E MITIGAES EM FACE DOS POSSVEIS CENRIOS DE MUDANAS CLIMTICAS

    Os cenrios projetados para a regio Sul do Brasil e as tendncias das ltimas dcadas,verificadas neste estudo, acenam em direo ao aquecimento e a maiores quantidades de precipitao no lito-ral do Paran. Desse modo, frente a possveis contextos de mudana climtica no planeta e ante a generalizada degradao ambiental, os desafios, j bastante expressivos no litoral do Paran, dada a complexidade das interaes nesta poro espacial, tornam-se ainda mais relevantes. Assim, duas distintas posturas fazem-se necessrias para lidar com os panoramas esperados para este sculo XXI: mitigao e adaptao.

    Segundo Barbieri e Viana (2013), a mitigao, sob a tica das mudanas climticas, encontra--se relacionada s redues das emisses de gases intensificadores do efeito estufa. Estas medidas apresentam como objetivo atacar a causa geradora do aquecimento, sendo assim, sentidas em longo prazo e em uma escala global. Em contrapartida, as medidas adaptativas visam atenuar e assimilar (aprender a conviver) os impactos ligados aos cenrios das mudanas climticas, de modo que seus efeitos so sentidos de maneira mais imediata e seus benefcios so mais localizados. Neste sentido, este conceito parte do pressuposto que mudanas j se encontram em curso, e que, provavelmente, no sero revertidas. Desse modo, faz-se necessrio adaptar-se aos novos contextos impostos.

    Cabe ressaltar, que ainda que as medidas de mitigao e adaptao apresentem focos de atuao e tempos de resposta diferenciados, a integrao destas duas esferas fundamental, uma vez que proporciona a capacidade de reduzir de maneira mais efetiva os impactos. Assim, o desafio que se apresenta frente a este cenrio consolida-se como sendo a integrao de polticas e aes coordenadas entre distintos atores e setores da sociedade.

    Dessa forma, a seguir so apresentadas algumas recomendaes de prticas, com maiores e me-nores complexidades de efetivao, visando mitigaes e adaptaes s mudanas do clima, de modo integrado:

    Monitoramento permanente das condies climticas e atmosfricas, frente aos cenrios cli-mticos projetados para o futuro;

    Realizaes de avaliaes detalhadas de riscos ambientais, destacando as fragilidades e poten-cialidades das diversas reas, bem como, restries de ocupao de reas de risco;

    Elaborao de inventrios de emisses de gases do efeito estufa, possibilitando o conhecimen-to dos nveis de emisses e suas principais fontes;

    Estabelecimento de mecanismos de controle de emisses e metas de reduo; Implantao de programas de criao e valorizao de reas verdes (arborizao e criao de

    cintures verdes), bem como, incentivos para a criao e manejo de Unidades de Conserva-o, dado que a vegetao atua como um regulador trmico;

    Incentivos substituio de sistemas de produo agrcola convencionais por SAFs (sistemas agroflorestais), uma vez que aumentam a capacidade de adaptao das comunidades e ecos-sistemas, ao mesmo tempo em que reduzem as emisses de gases de efeito estufa pela fixao de carbono e prestam outros servios ambientais;

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    Incentivos bioarquitetura, visando construo de imveis em harmonia com a natureza, com baixo impacto ambiental e custos operacionais reduzidos;

    Restries impermeabilizao excessiva de reas urbanas; Incentivos utilizao de energias alternativas e tecnologias limpas; Criao de ciclovias, de modo a incentivar formas de transportes alternativos; Implantao de programas de educao ambiental, com o intuito de informar e sensibilizar a

    populao quanto aos problemas ambientais e seus impactos intensificados em contextos de mudanas do clima.

    6. REFERNCIAS

    AYOADE, J. O. Introduo Climatologia para os Trpicos. 11 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

    BARBIERI, A.F; VIANA, R.M. Respostas urbanas s mudanas climticas: construo de polticas pblicas e capacidades de planejamento. In: OJIMA, R.; MARANDOLA JR, E. Mudanas Climticas e as Cidades: novos e antigos debates na busca da sustentabilidade urbana e social. Blucher: Coleo Populao e Sustentabilidade, 2013, p. 57 -74.

    CUNHA M. R. B.; Identificao das reas e perodos mais suscetveis ocorrncia de enchentes no municpio de Paranagu (2000 2005). Paranagu, 2006, 67 f. Monografia (Graduao em Geografia). Departamento de Geografia, Instituto Superior do Litoral do Paran.

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    DINMICA DO CARBONO DO SOLO EM SISTEMAS AGROFLORESTAIS:

    UMA VISO CONSERVACIONISTA SOB OS AVANOS DAS MUDANAS CLIMTICAS

    Leocimara Sutil O. Pessoa Paes1 | Priscila Luzia Simon2

    1. INTRODUO

    O Brasil est entre os maiores produtores de alimentos sendo considerado um competidor mun-dial. Isso se deve a uma combinao de variveis vantajosas, tal como o clima que possibilita o culti-vo de diversos produtos agrcolas ao longo de todo o ano, obtendo vantagens comerciais. No entanto, a agricultura dependente das condies ambientais, principalmente quelas relacionadas ao clima.

    Nas ltimas dcadas, tem-se presenciado claras alteraes nos regimes climticos, como aumento da temperatura do ar, sazonalidade na precipitao pluviomtrica com srias consequncias econ-micas, sociais e ambientais, resultando em enchentes e secas devastadoras para a agricultura. Isso demonstra que a alterao do clima uma realidade a ser encarada. Dentre os principais impactos na agricultura pode-se citar a alterao do zoneamento agrcola, da produtividade e a real necessidade de adaptar novas tcnicas de manejo para o solo e para as culturas.

    O aumento da concentrao de gases de efeito estufa (GEEs) como o gs carbnico (CO2), me-tano (CH4) e xido nitroso (N2O), produto da intensificao de atividades antropognicas, tem sido apontado como o principal fator de elevao da temperatura global, acima do previsto pelos modelos climticos. Vale ressaltar que o efeito estufa um fenmeno natural fundamental para manter as ca-ractersticas da vida no planeta Terra. No entanto, o excesso de GEE, juntamente com o vapor dgua que permitem que a radiao solar atinja a superfcie do planeta, atua bloqueando parcialmente a

    1 Biloga, Mestre em Cincia do Solo UFPR. [email protected]

    2 Eng. Agrnoma, Mestre em Cincia do Solo; Doutoranda em Cincia do Solo UFPR. [email protected]

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    radiao infravermelha que emitida da superfcie para a atmosfera intensificando o efeito estufa (IPCC, 2006), com graves efeitos no ciclo biolgico da Terra. De acordo com Moss et al. (2000), at 2030 a temperatura do planeta ter aumentado entre 0,5 C e 2,5 C, enquanto que para o Painel das Naes Unidas sobre as Alteraes Climticas (UNFCCC), a temperatura poder aumentar 4,0 C at 2100 (IPCC, 2007) no cenrio mais pessimista.

    O quarto relatrio do IPCC (2007) relata que a converso de ecossistemas nativos para agros-sistemas contribuem atualmente, com aproximadamente 24% das emisses mundiais de CO2, 55% das emisses de CH4 e 85% das emisses de N2O para atmosfera. Cardoso (2012) cita que pesquisas realizadas por Cerri et al. (2009) utilizando a metodologia Climatic Analisys Indicator Tool apresen-taram dados para o Brasil, em que as emisses de GEE oriundas da mudana de uso da terra e da agropecuria so relativamente mais acentuadas, representando aproximadamente 75, 91 e 94% do total das emisses de CO2, CH4 e N2O, respectivamente. Gouvello (2010) aborda uma anlise sobre a economia das mudanas climticas, onde enfatiza que estas alteraes trazem riscos severos vida humana, ao meio ambiente e a economia local e global.

    As maiores concentraes de CO2 atmosfrico e mudanas nos regimes climticos podem afetar a produo de alimentos pela alterao da produtividade e intensidade de colheita, resultado da oscilao de temperaturas e mudanas nos padres de chuva, influenciando o crescimento vegetal, ou ento modificando a ocorrncia e a severidade de pragas e doenas, entre outros efeitos. J a conservao de estoques de carbono (C) nos solos aliada a preservao de florestas nativas, implan-tao de novas florestas e adoo de sistemas agrcolas sustentveis que recuperam reas degrada-das, contribuem do ponto de vista biolgico para a reduo da concentrao do CO2 na atmosfera (BRITISH COUNCIL, 2012).

    Sabendo-se das perspectivas em relao s mudanas climticas globais e que cerca de 80% da populao e dos grandes centros urbanos situam-se em regies costeiras, torna-se necessrio traar estratgias para conservar a biodiversidade e incentivar o uso sustentvel do solo e da vegetao na-tiva aliando a conservao das florestas com a produo de alimentos e a manuteno da capacidade produtiva do solo.

    2. Florestas e o solo como fonte e dreno de carbono

    A floresta ombrfila densa parte da formao florestal da Mata Atlntica. O remanescente atu-al de vegetao nativa est reduzido em aproximadamente 22% de sua cobertura original e encon-tra-se em diferentes estgios de regenerao. Apenas cerca de 7% est bem conservado, contudo, essa floresta encontra-se em estado de intensa fragmentao e destruio em benefcio da expanso urbana e de reas agricultveis, sendo ainda exploradas inmeras espcies florestais madeireiras, plantas ornamentais e medicinais. Muitas espcies j mostram indcios de desaparecimento em virtude das atividades predatrias como a introduo de animais exticos aos ecossistemas e su-

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    presso de habitat. Essa combinao ameaa a alta diversidade desse bioma que se estima, mesmo to fragmentada e degradada, conter em torno de 20.000 espcies vegetais.

    A rea de Proteo Ambiental (APA) de Guaraqueaba uma importante unidade de conservao localizada ao norte do litoral do Estado do Paran estendendo-se at a cidade de Antonina e possui alta ao antrpica sobre suas florestas. Grande parte dos solos presentes nas formaes florestais costeiras da Mata Atlntica, na APA de Guaraqueaba, so classificados como Cambissolos, os quais representam 50% da superfcie da APA, e Neossolos Regolticos, 12% da superfcie da APA (Mapa simplificado de solos do Paran). Esses solos so pouco desenvolvidos, naturalmente rasos, com ca-ractersticas naturais de acidez, variao de fertilidade, baixa capacidade de mecanizao, e quando desprotegidos de vegetao natural resultam em alta susceptibilidade eroso. Dessa maneira, em funo da sua gnese, a recomendao de manejo agrcola desses solos uso para sistemas agroflo-restais, silvicultura, pastagens plantadas e reflorestamento com espcies nativas (PEDRON et al., 2006). Isso corrobora para que a sua conservao seja uma das prioridades evitando a perda da biodi-versidade e do patrimnio gentico, assim como a supresso definitiva da vegetao que acarretaria em perda irreparvel de espcies vegetal e animal conhecidas e ainda desconhecidas pela cincia.

    No contexto social as preocupaes so crescentes devido ao crescimento populacional e a alta demanda de gua, alimentos, matria-prima e espaos urbanos. No entanto, a necessidade socioeco-nmica do uso do solo resulta em mudanas e converses de ambientes florestais em reas agrcolas provocando a reduo de florestas, mudanas drsticas nos atributos qumicos, fsicos e biolgicos do solo (LIMA et al., 2011) e consequentemente afetando a qualidade do meio ambiente.

    Nesse sentido, sistemas de uso que priorizem a deposio de resduos orgnicos na superfcie do solo, como os sistemas agroflorestais (SAFs), favorecem a atividade microbiolgica, promovem a ciclagem de nutrientes e incorporao de C no solo melhorando as propriedades qumicas, fsicas e biolgicas e contribuindo para a reteno do C atmosfrico (CO2) (RASSE, 2005; LAL, 2004).

    3. Sistemas Agroflorestais, uma alternativa sustentvel de produo

    A sustentabilidade dos sistemas de uso do solo nas regies subtropicais do Brasil est relacionada aos diferentes usos dos recursos naturais, principalmente do solo. Os sistemas agroflorestais (SAFs) so sistemas agrcolas cultivam combinado, simultneo ou sequencialmente espcies agrcolas com rvores frutferas, florestais e/ou animais numa mesma rea. um sistema de produo que preconiza o cuidado com o manejo da luminosidade e a eficincia fotossinttica, bem como, com a sucesso ecolgica e a reciclagem de nutrientes. Devido complexidade dos arranjos das composies dos SAFs formando diferentes extratos com espcies vegetais perenes, anuais e semiperenes, esse modelo de produo tem sido reconhecido pelo potencial de estoque de C e sequestro da atmosfera (GUTMANIS, 2004).

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    Os SAFs so considerados modelos produtivos de baixo custo e sustentveis, pois utilizam racionalmente os recursos naturais, sendo capazes de gerar renda e benefcios sociais, contribuindo para a biodiversidade e a conservao das bacias hidrogrficas, sem comprometer o potencial produtivo dos ecossistemas. Atualmente, no Brasil, tem se observado expanso dos SAFs em reas onde predominam a agricultura familiar, tornando-se uma alternativa para a recuperao de reas degradadas, resultantes do uso irracional do solo.

    Alm de atuar como dreno de carbono atmosfrico, os SAFs prestam servios ambientais como a ciclagem de nutrientes, a formao do microclima, aumento da biodiversidade e aumento do estoque de biomassa (GUTMANIS, 2004; MIRANDA et al., 2007; MLLER et al., 2009). O estoque de biomassa vegetal e sequestro de C so comprovados por diversos trabalhos (VILA et al., 2001; GUTMANIS, 2004; MLLER et al., 2009) que apontam a eficincia desses sistemas em atuar como sumidouros de gases de efeito estufa. Ainda, esses estudos indicam a relevante capacidade dos SAFs de gerar mais biomassa e armazenar mais carbono quando comparado a monocultivos agrcolas e silviculturais, enfatizando a importncia dos SAFs como um mitigador do efeito estufa.

    A distribuio do carbono nos compartimentos do ecossistema tais como solo, serapilheira, razes e biomassa arbrea, pode ser influenciada pelo estabelecimento de florestas naturais ou plantaes florestais, e pelo tempo que essas florestas esto implantadas (DEMESSIE et al., 2013). A entrada de C orgnico no solo depende da entrada de material orgnico atravs da senescncia de componentes da biomassa acima e abaixo do solo (GARTEN et al., 2009), como serapilheira e razes, com suas respectivas taxas de decomposio. Sendo assim, as fontes de material orgnico contribuem distintamente para o C do solo, dependendo de suas caractersticas qumicas e de seus estados variveis de estabilidade (GOMES, 2014).

    Nos SAFs a diversidade de espcies florestais e agrcolas compe um sistema de sucesso de culturas as quais produzem diferentes quantidades e tipos de resduos que sero decompostos pelos microrganismos. A natureza desses resduos influenciam as taxas de mineralizao do C no solo e, o efeito do no revolvimento e da maior densidade de razes favorece a agregao, devido ao enredamento promovido pelo sistema radicular (MILLER & JASTROW, 1990; WENDLING et al., 2012) aproximando as partculas de solo. Os agregados do solo so formados pela adeso de partculas minerais e matria orgnica do solo formando estruturas de vrios tamanhos que resistem quebra quando expostos a situaes de estresse como seca ou excesso de gua, compactao e outros distrbios fsicos e ainda influenciam caractersticas estruturais que interferem na fertilidade do solo, na infiltrao e na capacidade de reteno de gua, porosidade e aerao.

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    4. Carbono e a relao com agregados, atributos de razes e aspectos microbiolgicos

    No sistema terrestre o C pode estar localizado em cinco principais reservatrios. A figura 1 apresenta de forma esquemtica as inter-relaes que ocorrem entre estes pools (LAL, 1999, S et al., 2004).

    O reservatrio ocenico o maior deles e foi estimado em 38.000 Pg. O segundo maior o reservatrio geolgico com 5.000 Pg e constitudo pelos combustveis fsseis: carvo, petr-leo e gs natural. Este o que mais contribui com a emisso de CO2 para a atmosfera devido ao uso expressivo desses combustveis. O solo, o terceiro maior pool, foi estimado em 2300 Pg. constitudo pelo C orgnico, cuja estimativa para a profundidade de 1m varia de 1.220 a 1.550 Pg, e pelo C inorgnico que varia entre 695 a 748 Pg. A maior parte deste ltimo situa-se abaixo da profundidade de 1 m (BATJES, 1996). A atmosfera representa o quarto maior pool totalizando 760 Pg de C, e a biota, o menor pool, abriga 560 Pg (Figura 1).

    O estoque de C orgnico em solos do mundo aproximadamente trs vezes a quantidade estimada para a biota e o dobro do que existe na atmosfera, sendo considerado o maior reservatrio terrestre de C (ESWARAN et al., 1993; BATJES, 1996; LAL, 2004; CERRI et al., 2006).

    Figura 1. Esquema das irter-relaes entre os principais reservatrios de carbono do globo terrestre. 1 Pg (Peta grama) = 1 Gt (Giga tonelada) = 1 bilho de toneladas. Fonte: LAL (1999); S et al. (2004)

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    As perdas de C do solo na forma de CO2 esto relacionadas respirao de razes e microrganis-mos, onde situaes em que a taxa respiratria superior deposio de material orgnico, as perdas so favorecidas. Do ponto de vista agrcola, o solo torna-se uma fonte de CO2 para a atmosfera quan-do as perdas de C por oxidao so maiores do que as adies pelos resduos culturais.

    J o sequestro de C a captura e estocagem de CO2 da atmosfera com a finalidade de conter e reverter o aquecimento resultante do efeito estufa. Deste modo, uma variedade de meios artificiais de captura e de sequestro do C, assim como processos naturais, esto sendo estudados e explorados.

    A atividade basal e a emisso de CO2 decorrente da ao decompositora dos microrganismos heterotrficos no solo so dependentes das condies do meio, principalmente do contedo de MOS (matria orgnica do solo) e da disponibilidade de resduos vegetais, os quais se constituem nas prin-cipais fontes de C microbiota e tm influncia nas propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do solo (RASSE, 2005; Lal, 2004).

    O sistema de manejo adotado no solo influencia diretamente na taxa de adio ou perda do C no sistema, sendo que solos agrcolas com cultivos convencionais envolvendo prticas mecnicas de ara-o e gradagem promovem maiores liberaes deste C. Da mesma forma, o preparo do solo e o manejo de culturas afetam as taxas metablicas dos microrganismos nos processos de decomposio dos res-duos vegetais e da MOS, os quais tambm so influenciados pela temperatura e umidade do solo (LA SCALA JR. et al., 2006). Esta alterao na atividade microbiana tem influncia direta na sada (fonte) e entrada (dreno) de C no solo (Figura 2), assim como o processo erosivo que constitui fator relevante de perda do C e remoes de nutrientes intensificando a reduo da fertilidade do solo.

    Figura 2. Ilustrao do ciclo do C no sistema solo-gua-planta-atmosfera. Fonte: PEREIRA NETO (2012)

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    Segundo Piva (2012) o efluxo de C pode ser atribudo ao rompimento da estrutura do solo causada pelo preparo, liberando ento o metano (CH4) eventualmente contido no espao poroso. Alm desse efeito fsico direto, a alterao na estrutura do solo pelo preparo diminui a capacidade das bactrias em oxidar CH4 em funo da diminuio das condies fsicas, qumicas e biolgicas do solo que so ideais para o estabelecimento das bactrias metanotrficas (SMITH et al., 2000).

    Em estudo realizado por Lima et al. (2011) na avaliao dos estoques de C e nitrognio (N) com adoo de sistema ecolgico agroflorestal em diferentes idades de adoo (3, 6 e 10 anos) e compa-rao com agricultura e floresta nativa, mostrou aumento dos estoques de C orgnico total (COT) e nitrognio total (NT) nos SAFs (Tabela 1), o que pode estar relacionado melhoria da qualidade do solo, proporcionada pelo manejo agroflorestal, por meio das interaes entre os componentes florestal e agrcola que resultam no maior aporte de fitomassa no solo.

    Tabela 1 - Estoques totais de carbono e nitrognio de um Argissolo Vermelho-Amarelo na camada de 0-10 cm, sob sistema com base ecolgica com trs anos de adoo (SE3), sistemas agroflorestais com seis (SAF6) e 10 anos de adoo (SAF10), agricultura de corte e queima (ACQ) e floresta nativa (FN). Fonte: LIMA et al. (2011)

    PERODO SECO

    Sistema

    TeoresDensidade

    Estoques Relao

    COT NT COT NT C/N

    dag kg-1 g cm- Mg ha -1

    SE3 2,27 0,26 1 22,68 2,62 9,13

    SAF6 3,77 0,3 1,15 43,3 3,45 12,58

    SAF10 4,01 0,37 1,21 48,54 4,43 11,24

    ACQ 1,74 0,2 1,29 22,5 2,24 9,98

    FN 3,02 0,22 1,13 34,16 2,49 13,71

    PERODO SECO

    SE3 1,6 0,12 1 15,96 1,18 13,24

    SAF6 3,54 0,24 1,15 40,7 2,76 15,07

    SAF10 3,11 0,28 1,21 39,53 3,34 11,38

    ACQ 1,22 0,13 1,29 15,81 1,66 9,4

    FN 3,15 0,19 1,13 35,59 2,17 16,4

    COT: Carbono orgnico total; NT: Nitrognio total; C/N: Relao carbono: nitrognio.

    Os autores ainda afirmam que a ausncia de revolvimento do solo nos SAFs proporciona melhores condies para os organismos, responsveis pela fragmentao do material vegetal, e ciclagem dos nutrientes. Os menores estoques no sistema de agricultura (ACQ) foram atribudos ao manejo baseado na queima do material vegetal, bem como utilizao de arados para o revolvimento do solo. Embora a queima da vegetao proporcione mineralizao acelerada da matria orgnica, esse material mais facilmente perdido por lixiviao, ocorrendo posteriormente dficit nos estoques de nutrientes (LIMA et al., 2011).

    Outro compartimento muito importante para a alocao do C no subsolo so as razes, devido a seu lento processo de decomposio, a matria vegetal das razes faz com que aumente os estoques de C no solo (RASSE et al., 2005). Esse acmulo de C, proveniente das razes, representa a maior fonte

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    de adio em subsuperfcie, principalmente pelo fato do C radicular ter menor taxa de decomposio devido a sua composio qumica composta por lignina e celulose, podendo estar protegendo o C da ao da microbiota dentro de agregados (LU et al., 2003). Assim, os estoques de C esto intimamente relacionados com a dinmica das razes, com a atividade biolgica e com a agregao do solo.

    As razes tm grande importncia nos fluxos de C dentro dos ecossistemas, resultado da rpida taxa de renovao e decomposio radicular liberando compostos carbnicos e nitrogenados chamados de exsudatos. Estes exudatos liberados pelas razes servem de alimento para os microrganismos que excretam do seu metabolismo substncias orgnicas cimentantes que agem da mesma forma que os exsudatos (SIX et al., 2004; BRONICK & LAL, 2005; VEZZANI & MIELNICZUK, 2011) dando ao agregado resistncia e protegendo o C da oxidao.

    O emaranhado de razes em sistemas de cultivo conservacionistas promove um efeito de estabilizao e de formao de agregados devido ao efeito de enredamento, liberao de exsudatos no solo e absoro de gua pela rizosfera promovendo a movimentao e aproximao das partculas de solo - areia, silte e argila - alm de influenciarem na taxa de atividade biolgica (SIX et al., 2004). Segundo Bronick e Lal (2005) as bactrias iniciam a formao de agregados, pois suas colnias e seus exsudatos formam uma cpsula de polissacardeos no qual as argilas se grudam movimentadas pelos ciclos de umedecimento e secagem do solo.

    As perdas de C tambm esto relacionadas com importantes funes biolgicas, fsicas e qumicas do solo, como a destruio dos agregados e a diminuio da biomassa microbiana (RASSE et al., 2005). A biomassa microbiana tem sido utilizada como um bioindicador de qualidade do solo, pois influenciada pelos sistemas de cultivos, que, geralmente, afetam a densidade, a diversidade e a atividade da populao microbiana de modo a intensificar ou retardar os processos de decomposio e mineralizao nos diferentes usos do solo (POWLSON et al., 1987). Mendes et al. (2003) estudaram a distribuio da biomassa microbiana em macro e microagregados, sob diferentes sistemas de uso, e concluram que, em sistemas que promovem a quebra de agregados, como os sistemas convencionais, houve maiores perdas do C da biomassa microbiana em relao as reas no perturbadas, sistemas conservacionistas. Vezzani & Mielniczuk (2011) avaliaram diferentes sistemas de uso do solo e concluram que prticas conservacionistas promovem maior adio de C e recuperam a agregao do solo prximo a condio original nativa. Wendling et al. (2005) concluram que o cultivo convencional reduz a estabilidade de agregados em gua, porm quando em sistemas sem preparo do solo os ndices de agregao aumentam em relao a sistemas com preparo convencional.

    5. Fertilidade do solo em sistemas agroflorestais

    O sistema de uso e manejo do solo, afeta no somente as propriedades fsicas do mesmo como tambm os atributos qumicos e a concentra