boas. raça e progresso

Embed Size (px)

Citation preview

  • 5/17/2018 boas. raa e progresso

    1/11

    66 Antropologia cultural

    oderna reside, a meu v. r, na enCase exagerada quehistorica - cuj portancia nao deveria ser

    minimizada - co al 0opost a urn estudo aprofundado doindividuo sob a pressa a cui ra em que ele vive.

    Permitam-me chamar atencao para oo aspectos cientificos de urnproblema que ha muito tern agitado nosso pais e que, pelas suasimplicacoes sociais eeconornicas, tern suscitado fortes reacoesernocionais e produzido diversos tip os de lei. Refire-me aos ~blernas surgidos com a rni~~.!a de tipos fClciais.-.Se desejamos adotar uma a.@ud~.sensa~ e pece iirjQ_g~rar ciaramente os as ectosjl)ioI6IDCo~elESlco OilCOSj~dasimplica-~6es SOCialSe ec .ca _ _ smo. Mais ainda, a rnotivacaosocial daquilo que esta acontecendo precisa ser examinada, naodo estrito ponto de vista de nossas condicoes presentes, mas deurn angulo mais amplo.

    Os fatos com os quais estamos lidando sao diversos. 0siste-ma de plantation do sui dos Estados Unidos trouxe para 0 ~grande contingente de popUIac;:ao negra. Consideravel rrusturaocorreu entre senhores brancos e mulheres escravas durante 0penodo da escravid30, de forma que 0 numero de negros puros" l ' o i diIiiinwndo continuamente, e a popUla(j:ao de cor tornou-segraduatIliente malS Clara.l1ouVetambern uma certa rnistura en-"treb rancos e indios, mas, nos Estados Unidos e no Canada, issonunca se deu num grau suficiente para transformar essa misturanum importante fen6meno social. Com 0 aumento da imigracao,

    - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - .4 Conferencia proferida no encontro da American Association for theAdvancement of Science, Pasadena, 15.6.1931. Franz Boas estava entaoassumindo a presidenciada associacao, [N.T.]

  • 5/17/2018 boas. raa e progresso

    2/11

    68 Antropologia cultural

    urn contingente populacional do suI e do leste da Europa viu-seatraida ara os EstadO s Omdos eatualm ente com ae um~

    arcela de nossa -'~ . sses m igran tes diferementre si segundo alguns tipos, e mb ora o s c on tra ste s raciais entredes sejam muito m enores do que os existentes en tre ind ios, ne-gros e brancos. O ~o grupo chegou ao nosso pais com a im igr.a-510 do Mtxico c das AntlJhas.partc delcs de descend~ncia sul-eu-~parte de descendencia negra ou india m isturada. A to-dos devern-se adicionar grupos chineses, japoneses e filip inos,que exercem urn papel particularrnente im portan te na costa doPacifico.o prim eiro ponto em rela ao ao ual necessitam os de escla-recime refere-se ao si nifica_d~eL .1 lL~ No inguajarcornurn , quando falamos de uma raca.iquerernos denotar urngrupo de pessoas que tern em com um algum as caracteristicascorporais e talvez tarnbern m entais. O s brancos, com a pele clara,os cabelos lisos uu ondulados c narizcs afilados, sao uma ra ac1aram cnte d istin ta dos oe ros com a pc e escur ,c e os cres-pos e narius achatados. Em rela~ao a esses tra os, as uas fa assao fundamenta m en istintas. Nao tao definida e a d is ti nc a oentre tipos asiaticos orien tats e europeus, porque ocorrem for-mas de transicao entre ind ividuos brancos norm a is, ta is comorostos achatados, cabelos negros lisos e form ato dos olhos pareci-dos com os dos tipos asiaticos orien tais; inversam ente, traces detipo europeu sao encontrados entre asiaticos orien ta is . Em rela-\ao a negros e brancos, podernos fa lar de traces raciais hered ita-rios, a m edida que nos referirm os a essas caracteris ticas rad ical-mente distin tas. Em relacao aos brancos e asiaticos orien tais, ad ifere nc a na o e tao abso luta , porque podem ser encontrados al-guns poucos ind ivlduos em cada uma dessas racas aos quaisessas caracteristicas raciais nao se aplicam bern ; por isso naocabe falar, em sentido estrito , de traces racia is hereditarios to-

    v

    69

    Essa condicao prevalece num a extensao m uito mais mar-ca nte e ntre a s dife ren tes racas assim cham ad as euro peias. E sta-mo s a co st um a do s a nos referir aos escandinavos com o a lt os , l oi -ros e de olhos azuis; a urn it alia no do sui como baixo , moreno ede olhos escuros; a urn boernio com o de porte medic, olhos mar-rons ou cinzentos, rosto largo e cabelos lisos. Estarnos aptos .1construir tip os id ca is lo ca is b us ca do s ern nossa e:\.I'cril~lh"i.\ ,,1Iidiana, abstraldos a partir de um a cornbinacao de fl1rlll.ls 11l.1i~freq iien tem ente v istas num a dada localidade, e nos esqucccm osde que ha inurneros indiv lduos para os quais essa descr icao 11:10 Cverdadeira.

    S eria um em preendim ento ternerario dcterrnin .u ;1 loc.ili-dade na qual a pessoa nasceu unicarncnte a partir de slla~ (.\l,llteris tic as co rp ora is. E m m uito s ca sos , po de mo s se r a ux iliud os e rnta l prop6sito por m aneiras de arrumar 0 c ab elo , m an cir is rn ospeculia res de m ovim entos e pela indurnentaria . m as esses t ril~OSnao devem ser tornados de form a equivocada com o essencial-mente hereditarios. Nas populacoes de varias partes da Europaencontrarn-se m uitos ind iv iduos que podem tao bern pcrtcnccr auma parte do continente quanto a outra . Nao ha verdudc na ale-gacao tantas vezes form ulada de que dois ingleses se asscrnclhamm ais em form as corporais entre si do que, digarnos, urn il1t:k~cum alernao. U rn maior nurnero de forrnas pode se duplicar 11;larea m ais restr ita, m as form as sirn ilares podem scr cncont 1,ld.1Sp or tod o 0 continen te. H a urna sobreposicao de forrnas corpor aisen tre os grupos locals.

    Nao e jus tificav el su po r q ue in div idu os qu e n ao s e en ca ixe rnno tipo ideal local, que se constroi a partir de irnpressocs snais.sejam elem entos estrangeiros a essa populacao, e que sua presen-ca sem pre se deva a m istura com tipos alien igenas. U ma c u r a c r c -ristica fundamental de todas as popuia \6c~e os ind~dtferem entre si, e urn estudo rnais detalhado mostr.i que i,~o evalido tan to para os animais quanto para os horncns. ~esses c . r -sos nao e ortanto a ro ir.ir i

  • 5/17/2018 boas. raa e progresso

    3/11

    1 1 1 ' " I,ic"I,d(01110 1I111 todo, pais muitos deles tarnbern ocorrem emI)l!IIos IIpo s r aci ai s. Traces racia is hereditarios deveriam ser com -! ',trl t1h ,lcio s po r toda um a popula< j: ao, para que se p udesse real< j:a-J Ib l'lll ,nlllt",lpn$i~,io a o ut ra s p op u la oe s.o as sunto e bern diferente quando os individuos sao estuda-, ; , 1 < ,(1 I1 1l' m cmb ro s d e SlI4lS prop rias linh agens farniliares. ~, 11 1 ,l ri cd .l de r ac ia l imp li ca n e ce ss ar iam en te a e xiste nc ia d e u nid a-dc dc dC ~C L'l1dcncla e a eX lstencia, num a certa epoca, de ur n pe -'11:,'11

  • 5/17/2018 boas. raa e progresso

    4/11

    72 Amropologia cultural

    quilo que se tern ehamado de carater desarrnonico, i ss o d ev er iaoeorrer com consideravel frequencia em toda populacao, p ois e n-contramos, digarnos, individuos com mandlbulas e dentes g ran-des e outros com mandibulas e dentes pequenos. Supondo que,na descendencia m ais recente, essas cornbinacoes possam resul-ta r n um a cornbinacao d e p eq ue na s mandlbulas e dente s grandes,entao teriamos um a d es arm o ni a. Nao sabernos se isso de fatoocorre; estou rneramente exemplificando a linha de racioclnio.N os acasalam entos en tre varies grupos europeus essas condicoesna o se alterariarn s ig nif ic ati vame nt e, emb or a diferencas maioresentre pais pudessem ser rna is freqtientes do que num a populacaohomogenea.

    A questao essencial a ser respondida se tem os qual~revidencia que indique que os acasalam entos entre individuos dedescenM ncia e tipos diferen tes resultariam num a prole m enosvigorosa do que a de seus ancestrais. Nao tivemos nenhumaQ .P-ortunidade para observar gualquer degenera~ao no hom emque se deva clara mente a essa causa. Pode-se demonstrar que aalta nobreza de todas as partes da Europa e de origem muitomisturada. Populacoes urbanas da Franca, Alemanha e Italia sa oderivadas de todos os distintos tipos europeus. Seria dif1cil m os-trar q ue q ua lq ue r degeneracao q ue pudesse existir entre eles podese r atribulda a u rn e fe ito malefico do in teracasalamento . A d eg e-neracao biol6gica ~ r na i s facilm ente encontrada em pequenas re-gioes com intensa endo gam ia. A qui novam ente nao se trata tantode um a questao de tipo, mas da presenca de condicoes patol6gi-cas nas estirpes farniliares, pois sab em os de varias com unidadesintensam ente endogarnicas que sao perfeitam ente saudaveis e vi-gorosas. Elas sao encontradas entre os esquim 6s e tarnbern entrem uitas tribos prim itivas nas quais 0 casam ento com prim os eprescrito p el o c os tume.

    Essas observacoes nao tocam no problema do efeito sobre aforma corporal, a saude e 0 vigor dos descendentes de casarnen-tos entre racas que sao biolog icamen te rna is distintas do que os

    Raca e progressc 73

    tipos europeus. N ao e ta o fa cil fo rn ec er e vid en cia absolurarncurcconclusiva a resp eito dessa questao, lulgando-se m eram cn te (O\1lbase em caracteristicas anatomicas e condi~oes de saude de po-resu lt a os desfavorA veis. tanto nas prim eiras quanto nas m ais rc-_ ce nte s g era 50 es d a p ro le . O s d esc en de nte s rnesticos de europeus cindios norte-arnericanos sao rna is altos e rnais ferteis que os in-dios puro-sangue. Sao m ais altos ainda que as racas de seus pa i s.Os rnesticos de holandeses e hotentotes do sui da A frica c os rues-ticos malaios da ilha de K isar sao de tipo interrnediar i o e nt re asduas racas e nao exibern q ualquer trace de degener acao , As p O p l I -lacoes do Sudao, m isturas de tipos negr6ides e mcditerr aucos,tern sempre se caracterizado par grande vigor. Tarnbem rcstupouca duvida de que na Russia oriental ocor reu urna consider.i-vel infusao de sangue asiatico. A s observaco es sobre nossos m ula-to s norte-arnericanos nao no s convencern da existencia de qual-q ue r e fe it o deleterio de m istura racial que seia evidente na formae fun cao anatornicas.

    Tambem ~ preciso lembrar que em arnbientes variaveis ,,~f orm a s h um an as na o sao de form a algum a estaveis, e que n .u it ostraces anatornicos corporais estao sujeitos a um a lim itada QUi\l1-tid ad e d e rn od ific aco es c on fo rm e 0 clim a e as condicces de vida.Tem os evidencias definitivas de rnuda ncas nas m edidas corpo-rais. A est at ur a da s p op ula co es e uro pe ia s tern aurnentado desdcmeados do seculo XIX. Guerra e fom e de ixa rarn se us c feiio s na scriancas q ue c re sc er am 11:\ segunda m eta de de nosso seculo .. \~proporcoes do corpo tumbcm mudum conforruc ,I l)'Ul',I,,\I'. ;\.