Boletim Bibliográfico - O 1º Modernismo

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  • 8/16/2019 Boletim Bibliográfico - O 1º Modernismo

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    - Boletim Bibliográfico 14 - maio / junho de 2016 - O 1º Modernismo -

    1. 

    Os fnais de Oitocentos: A Sociedade 

    O século XIX introduziu formas diferentes de viver em sociedade, alterando padrões culturais e men-tais. Em Oitocentos, os cidadãos testemunharam a descoberta de novas fontes de energia, como opetróleo e a eletricidade, ou novos aparelhos de comunicação como o telégrafo e o telefone. A Lite-ratura popular e o jornalismo reivindicaram uma alfabezação universal que alguns países conside-raram uma das suas missões. O caminho de ferro e, depois, o barco a vapor expandiram comunica-ções pelo mundo. O século XIX foi um século novo pelas abordagens novas que viveu. Pela primeiravez, o valor do trabalho mudou em relação ao passado. Foi o século XIX que descobriu a importânciado dinheiro, desenvolvendo o conceito hoje popular de “ganhar dinheiro”. Em 1800, na maior partedo mundo, o dinheiro era quase invisível. Foi o século XIX, e depois o século seguinte, a torná-lo om-nipresente. Foi o século XIX a inventar uma ciência a ele ligado, a Economia, e a explicar que o ho-mem era uma endade económica que podia ser comprada e vendida. O que Oitocentos introduziufoi essa junção entre o trabalho e a vida e a impossibilidade de os separar. Adam Smith, em 1776,falava do mercado de trabalho pela primeira vez e foi o primeiro a esclarecer os novos tempos quese construíam como uma ideia em que a vida consisa no comprar e vender, incluindo o trabalho. O

    dinheiro tornou-

    se medida de sucesso em todas as avidades, o que fez alterar eslos de vida. A imi-tação da vida dos mais ricos tornou a fama seguidora da riqueza e a reputação possível ela tambémde ser comprada. O século XIX foi um prelúdio do século XX por ter induzido essa ideia de mudançaconstante, o futuro como único lugar para viver que O Fausto, de Goethe, dará conta com grandesignicado. O futuro que nasce, mas não para todos, ideia que inuenciou a losoa políca e queKarl Marx irá explorar, focando questões de trabalho social, ou da própria jusça. A civilização, queterminou em 1914, foi marcada por um progresso extraordinário do conhecimento cienco domundo. Foi também uma época de fé, de uma nova fé na inevitabilidade do progresso, alimentadana crença de que podemos compreender o mundo à nossa volta. A fotograa, o m da escravatura,a nova Literatura, com Walt Whitman, Melville ou Flaubert, procuravam um novo mundo moral eintelectual, onde faziam notar que realidades parecendo sólidas se poderiam desvanecer. Darwin ouFreud era da liberdade que falavam quando nos seus estudo estudavam o conhecimento da nature-za humana. A liberdade que procuravam compreender e que a sociedade burguesa parecia não vis-lumbrar. A 1ª guerra mundial acordaria aqueles imersos no brilho róseo de um tempo passado. 

    2. Arte e Sociedade 

    No início do século XX, a muldão tornou-se uma personagem das cidades, o indivíduo diluiu

    -se num

    conjunto. A urbanização massiva das cidades criou grandes centros urbanos e operou transforma-ções profundas na vida e nos valores da civilização ocidental. A massicação da sociedade e os tem-pos de ócio conduziram a uma necessidade de ocupação de tempos livres. O maior convívio entre osdois sexos e a práca do desporto colocaram em crise os valores tradicionais. A sociedade mergu-lhou numa crise de consciência, instalou-se uma ideia de ausência de valores morais, e sedimentou-se um relavismo de valores. A emancipação feminina e o papel das sufragistas alteraram ideias an-gas sobre o papel da mulher na sociedade. A conança posivista foi substuída pelo relavismo epela intuição, libertando-se o pensamento e as pessoas de uma abordagem racionalista. No nal de Oitocentos, o Modernismo iniciou uma abordagem nova ao que deveria ser a Arte. Movi-mento introduzido em Paris, centro de uma vanguarda cultural europeia, onde diferentes gurasexperimentavam ideias e experiências, criando correntes estécas que mudaram a cultura no séculoXX. O Fauvismo foi a primeira vaga que despertou o meio arsco, na exposição de 1905, no SalonD’ Automne, com as suas cores chocantes: um colorismo muito intenso, aplicado de forma arbitrária,

    o que lhes dava um sendo estranho, quase selvagem. Henri Masse foi um dos seus expoentes,reivindicando o primado da cor sobre a forma. A cor autonomiza-se do real e não precisa de corres-ponder ao que no real representa. Toda a arte moderna é devedora desta ideia de que não é essen-cial uma correspondência entre o mundo apreendido pelos sendos e o chamado mundo verdadei-ro. O expressionismo procura explorar os senmentos de angúsa e de revolta individual contra umasociedade muito hierarquizada. Teve uma grande expressão na Alemanha, onde procurou represen-tar emoções a parr de temas de natureza social. Ulizava grandes manchas de cor, intensas e con-trastantes, reduzindo a sua representação a formas primivas e simples. O Cubismo, com Picasso eBraque, procura alterar a representação tradicional que apenas mostrava uma parte da realidade e

    procurava angir uma visão total dos objetos representados. O cubismo pretendia representar o quese via em momentos sucessivos. Os movos eram decompostos em faces geométricas que se inter-cetam e se sucedem. Todo o quadro procura um volume aberto, as cores restrigem-se a uma paletamonocromáca de azuis, castanhos, cinzentos, para não perturbar a representação geométrica. Ocubismo destruiu as leis tradicionais da perspeva, assim como alargou horizontes com a introduçãode materiais de uso do quodiano, abrindo portasa outras formas de expressão, o futurismo. O apeloa uma libertação do pormenor representavo, às

    emoções a à concetualização fez surgir o Abstracio-nismo, desenvolvido por Kandinsky  ou Mondrian. Apar destas correntes, destaca-se também o Futuris-mo desenvolvido em Itália por Filippo Marine , em

    que se rejeita o passado e se glorica o futuro pelaação das máquinas, onde a velocidade é um culto. 

    “Somos portugueses que escrevem para a Europa, para toda a civilização;nada somos por enquanto, mas aquilo que agora zermos será um dia

    universalmente conhecido e reconhecido. (…)A uma arte assim cosmopo-lita, assim universal, assim sintética, é evidente que nenhuma disciplinapode ser imposta, que não a de sentir tudo de todas as maneiras, de sin te-tizar tudo, de se esforçar por de tal modo expressar -se que dentro de umaantologia da arte sensacionista esteja tudo o que de essencial produziramo Egipto, a Grécia, Roma, a Renascença e a nossa época. A arte, em vez deter regras como as artes do passado, passa a ter só uma regra - ser a sínte-se de tudo." (Páginas Íntimas e de Auto -Interpretação, p.124)

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    Ficha Técnica Redação: Equipa da Biblioteca Biblioteca: Escola Secundária Rainha Dona Amélia Periodicidade: Mensal (maio) Distribuição/Publicitação: 

    (Axação na Biblioteca / Plataformas digitais) 

    “ Pertenço a uma geração que ainda está por vir, cuja alma nãoconhece já, realmente, a sinceridade e os senmentos sociais".(Fernando Pessoa, Orpheu, Nº1)

     

    A História contemporânea portuguesa foi marcada por um con- junto de acontecimentos que criariam no país profundas dicul-dades de arranque industrial e de construção de uma sociedademoderna. Na 1ª metade do século XIX, houve uma grave crise doindústria e do comércio, agravada pelas invasões francesas, pelaida da corte para o Brasil, pela perda do exclusivo do comérciocom o Brasil e pela crescente inuência da economia inglesa nosmercados portugueses. Até 1850, falharam muitas das ideias deindustrialização para o país. Na 2ª metade de Oitocentos, a Rege-neração tentou modernizar o país através de um conjunto de pla-nos de reforma educava, fomento industrial e novas vias de co-municação. É o país que Eça nos deu nos seus romances e argosde opinião. No nal de Oitocentos, Portugal era predominantemente agrícola,com um déce acumulado por um maior número de importaçõese por uma indústria pouco compeva em quandade e qualida-de. O estado recorria a frequentes aumentos de impostos. A criseeconómica e nanceira de 1890 veio juntar-se ao Ulmato Inglêspara consolidar a ideia de uma crise da Monarquia. No início do

    século XX em Portugal há um confronto entre um pardo republi-cano em ascensão e as posições monárquicas em queda de inu-ência na sociedade. Foi neste contexto que o regicídio e a implan-tação da República criaram focos de esperança para uma socieda-de mais desenvolvida. Registaram-se sinais de profunda divisãona sociedade, ainda profundamente rural e sem grupos sociaiscapazes de uma mudança de fundo.É com este enquadramento e com a agitação social e políca da1ª República que as ideias do Modernismo tentam, pela Arte e

    pela Literatura, romper com um Portugal ango e propor umanova ideia sobre o país e sobre o mundo. Elementos essenciaisdeste 1º Modernismo são os pintores Santa-Rita, Amadeo de Sou-za-Cardoso, Almada Negreiros, Mário de Sá-Carneiro e FernandoPessoa. As ideias do futurismo e do sensacionismo organizaramos dois números da Orpheu, revista que, em 1915, procurou agi-tar a sociedade portuguesa. A Orpheu foi a expressão do movi-

    mento modernista, uma ideia nascente de um Portugal Futurista.Procurou responder estecamente a um país emconvulsão social, uma 1ª República em grandes di-culdades com a sua instabilidade políca, com assuas ideias de anclericalismo e também uma ideiade nacionalismo que atravessa esses tempos. AOrpheu apresenta-se como uma estéca de ruturapara armar, pelas ideias, pela cultura, pela arte epela literatura, uma forma esclarecida e criava de pensar o País.A Orpheu tentou canalizar os movimentos vanguardistas que che-gavam da Europa e é, sem dúvida, um grande objeto cultural quesinteza a estéca dos seus criadores e incorpora as ideias do seutempo, o Modernismo. 

    - Boletim Bibliográfico 13 - O Escritor do mês - janeiro de 2016 - Vergílio Ferreira -

    “Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!// Hup lá, hup lá, hup-la-hô, hup-lá!/ Hé-há! Hé-hô! Ho-o-o-o-o!/ Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!// Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!”Álvaro de Campos - “Ode triunfal”.

    “Nunca em Portugal tinha aparecido uma corrente literária que mostrasse originalidade,não relativa, senão absoluta; isto é, que excedesse as correntes literárias contemporâ-neas dos outros países.” - Fernando Pessoa sobre o Orpheu 

    Quadros de Kandinsky, Amadeo de Souza-Cardoso e Santa - Rita

    Quadros de Amadeo de Souza –  Cardoso e Almada Negreiros