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Edição N. 1, março de 2008 abordagem psicanalítica dos transtornos alimentares grupo psicoeducativo para pais e cuidadores de pacientes com transtornos alimentares da CEPPAN 4 7 leituras 10, 11 Cadernos da Revista de Transtornos Alimentares VÉNUS OLHANDO-SE AO ESPELHO / DIEGO VELÁZQUEZ, 1483 / NATIONAL GALLERY - LONDRES MATERNA, DE MARICY RÉGIS - FOTO DE STEFAN LESLIE PATAY

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Edição N. 1, março de 2008

abordagem psicanalítica dos transtornos alimentares

grupo psicoeducativo para pais e cuidadores de pacientes com transtornosalimentares da CEPPAN

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GRUPO PSICOEDUCATIVO PARA PAIS E CUIDADORES

14 de abril

Aspectos clínicos e endocrinológicosdos Transtornos Alimentares

Profissional convidada: Louise Cominato - Médica pediatra(Sociedade Brasileira de Pediatria) e endocrinologista infantil (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia);colaboradora do PROTAD (ProjetoInterdisciplinar de Atendimento,Ensino e Pesquisa em transtornosAlimentares da Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP); médica da Unidade deEndocrinologia Pediátrica do Institutoda Criança do HC-FMUSP.

12 de maio

Os critérios diagnósticos e as complicações clínicas nos Transtornos Alimentares.O tratamento psiquiátrico

Profissional convidada: Rosa Magaly Morais - MédicaPediatra, especialista em PsiquiatriaGeral pela Associação Brasileira de Psiquiatria; Médica Psiquiatra da Infância e Adolescência peloServiço de Psquiatria da Infância e Adolescência do IPq-HC-FMUSP.Médica do Ambulatório de Ansiedade(AMBULANSIA) SEPIA-IPq-HC-FMUSP.

09 de junho

O tratamento nutricional

Profissional convidada: Marluce Nóbrega - Nutricionista,membro da equipe PROTAD.

14 de julho

Aspectos psicológicos e a psicoterapia dos pacientes com Transtornos Alimentares

Profissional convidada: Ana Paula Gonzaga - Psicóloga clínica, Psicanalista (DepartamentoFormação em Psicanálise do InstitutoSedes Sapientiae), Psicoterapeutaindividual e grupal do PROTAD e Coordenadora da CEPPAN.

11 de agosto

O início dos TranstornosAlimentares na adolescência e a importância em compreenderesse momento evolutivo

Profissional convidada: Cybelle Weinberg - Psicanalista(Departamento Formação emPsicanálise do Instituto SedesSapientiae), Mestra em Ciências pelaFMUSP, Coordenadora da CEPPAN.

08 de setembro

A família e sua inclusão no tratamento

Profissional convidada: Ester Z. Schomer - Psicóloga,Psicanalista, terapeuta familiar doAmbulatório de Bulimia e TranstornosAlimentares (AMBULIM – IPq – HCF-MUSP), psicóloga do Centro deSaúde Mental (CESAME).

agenda 2008

LocalR. João Moura, 627 - Mezzaninno - Fone: 3081 7068e-mail: [email protected] - www.ceppan.com.brÉ necessário agendar com antecedência

Cadernos da Revista de Transtornos Alimentares

Publicação trimestral da Clínica de Estudos e Pesquisa em Psicanálise da Anorexia e Bulimia (CEPPAN)

CONSELHO EDITORIALAna Paula Gonzaga e Cybelle Weinberg

REVISÃOValter Lellis Siqueira

JORNALISTA RESPONSÁVELCarlos Alberto Sardenberg

PROJETO GRÁFICO E ARTE FINAL2 Estúdio Gráfico

TIRAGEM 1.000 exemplares

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIAR. João Moura, 627, cj 203cep 05412-001 tel.(11) 3081 [email protected]

Somente será permitida a reprodução total ou parcial dos textos mediante autorização do Conselho Editorial

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editorialA Clínica de Estudos e Pesquisas em Psicanálise da Anorexia e Bulimia (CEPPAN)reúne psicanalistas com um objetivo bem determinado: compreender e definirum referencial teórico-clínico que alicerce a prática da Psicanálise nos TranstornosAlimentares.

A CEPPAN começou a formar-se no final da década de 1990, como um grupo deestudos coordenados por Ana Paula Gonzaga e Cybelle Weinberg, no Departa-mento de Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. Tomava corpo,então, a discussão sobre o aumento do número de casos de Transtornos Alimen-tares, fenômeno que levava ao modismo despropositado de se valorizar um corpodescarnado, quase etéreo. Esse primeiro grupo de estudos entendeu que se deve-ria buscar, na literatura psicanalítica, reflexões que pudessem lançar luz e com-preensão sobre um transtorno tão grave.

Em 2000 constituiu-se o projeto de pesquisa que, desde então, vem realizando, pormeio do exercício clínico da psicanálise e do estudo sistematizado, seus objetivosiniciais: compreender o funcionamento subjetivo de pacientes com anorexia e bu-limia nervosas, pesquisar o papel da subjetivação da feminilidade nesses transtornose difundir os conhecimentos adquiridos.

A CEPPAN parte de uma ponderação feita por Freud em 1912: “pesquisa e tratamen-to coincidem em sua execução”. Isto mostra a importância do atendimento clínico.E que “aqueles interessados em pesquisar devem precaver-se, durante o tratamento,para que o material apreendido na clínica não fique viciado pela pesquisa”.

Para combinar atendimento clínico e pesquisa, a CEPPAN definiu o seguinte cami-nho: atender um expressivo número de pacientes com uma mesma patologia pordiferentes psicanalistas, a fim de verificar a validade do método – referendado pe-la transferência – e a possibilidade de discutir o conceito de feminilidade na cons-tituição da subjetividade.

A CEPPAN considera, ainda, que é possível combinar as questões observadas naprática da psicanálise com as evoluções bioquímicas, medicamentosas, realizadasrecentemente na área médica. Desprezar os avanços da Medicina não cabe nosdias atuais e este, certamente, é um equívoco que Freud não cometeria. Não obs-tante, articular esta constatação com a psicanálise é uma das tarefas mais difíceis.

A partir desse posicionamento, a CEPPAN promoveu parcerias importantes comhospitais públicos, como o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, oHospital Servidor Público Estadual e o Hospital Universitário da USP, no encaminha-mento de pacientes.

Passados sete anos, a CEPPAN mantém o atendimento clínico, o estudo sistemáticoe o propósito da divulgação de conhecimentos sobre os Transtornos Alimentares.Atingiu, em agosto de 2007, o número de 100 pacientes triados, dos quais grandeparte recebeu ou ainda recebe acompanhamento gratuito. Criou, também em 2007,um grupo psicoeducativo para familiares e cuidadores de pacientes, com o objetivode orientar e esclarecer os riscos do quadro. Conta, atualmente, com cerca de vin-te profissionais, que atendem voluntariamente em seus consultórios, promovemcursos e palestras, oferecem supervisões clínicas e grupos de estudos.

Os Cadernos da CEPPAN, publicação trimestral, consolidam e dão novo impulso aoobjetivo de divulgar os conhecimentos adquiridos ao longo desses anos e abrem umespaço de interlocução com os profissionais envolvidos com a temática dosTranstornos Alimentares.

Ana Paula GonzagaCybelle Weinberg

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abordagem psicanalítica dos transtornos alimentares*

Alicia Weisz CobeloAna Paula GonzagaCybelle Weinberg

os Transtornos Alimentares, especialmente nas últimas décadas, têmsido objeto de muitas investigações científicas. Pesquisadores como BrianLask (2000), J. Mitchel (2001) e T. Cordás (2004) têm demonstrado o cará-ter multifatorial na etiologia desses transtornos. São unânimes em reco-nhecer os aspectos constitucionais, sociais, culturais, familiares e de perso-nalidade na origem desses transtornos, e ressaltam a importância de umaabordagem que considere a complexidade clínica no tratamento dessas pa-tologias.

Devido a essa complexidade, faz-se necessário avaliar os aspectos físicos,sociais e psicológicos dos pacientes, para propor uma terapêutica multidis-ciplinar estruturada que integre profissionais de diferentes áreas: médico,psiquiatra, nutricionista, psicólogo e terapeuta familiar. Neste contexto, opróprio papel da terapia psicanalítica precisa ser revisto como mais um re-curso a ser utilizado no tratamento, o que requer adaptações.

A abordagem psicanalítica tem sido considerada uma terapêutica indicadapara o tratamento dos Transtornos Alimentares, especialmente se articula-da a uma equipe multidisciplinar, devido às complicações clínicas e de ris-co que esses pacientes apresentam, e que não podem ser negligenciadas.Como afirma Jeammet, a abordagem psicanalítica pode-se apresentar sobduas vertentes: uma clássica, com adaptações da psicoterapia analítica noquadro de uma relação dual, e uma outra, que integre uma série de abor-dagens multidisciplinares incluindo outras técnicas e outros profissionais. Adireção do tratamento analítico, ainda que centrada no sintoma, tem comoobjetivo ir além do seu desaparecimento, visando à elaboração do confli-to subjacente a ele.

Do ponto de vista psicanalítico, o sintoma é uma solução de compromissoentre o desejo inconsciente e a censura psíquica, ou seja, um representan-te desse conflito. Se eliminado, mas não resolvido o conflito subjacente aele, o sintoma pode retornar ou ser substituído por um outro, diferente. Doponto de vista psicanalítico, as crises bulímicas e a recusa anoréxica podemser compreendidas como comportamentos que substituem a elaboraçãopsíquica esperada na resolução de conflitos intrapsíquicos. Os sintomas ca-

* parte de artigo “Tratamento Psicodinâmico dos Transtornos Alimentares”, a ser publicado em Cordás,Abreu e Salzano (eds.), Transtornos Alimentares e Obesidade, pela Editora Atheneu, São Paulo.

Alicia Weisz CobeloPsicóloga. Psicanalista. Supervisora daPsicologia e Terapeuta Familiar doProjeto Interdisciplinar de Atendimento,Ensino e Pesquisa dos TranstornosAlimentares na Infância e Adolescência(PROTAD) do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (AMBULIM) e do Serviço de Psiquiatria da Infânciae Adolescência (SEPIA) do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicinada Universidade de São Paulo(HCFMUSP). Posgraduanda da FMUSP.Membro da Academy for EatingDisorders.

Ana Paula GonzagaPsicóloga. Psicanalista. Membro efetivodo Departamento de Formação em Psicanálise do Instituto SedesSapientiae. Psicoterapeuta individual e grupal do PROTAD. Coordenadora da CEPPAN.

Cybelle WeinbergPsicanalista, membro efetivo do Departamento de Formação em Psicanálise do Instituto SedesSapientiae e Mestra em Ciências pelaFMUSP. Coordenadora da CEPPAN.

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racterísticos da Anorexia e da Bulimia podem ter uma variedade de signi-ficados, desde dificuldades nos processos de individuação próprios da ado-lescência, até sensibilidade a mudanças socioculturais.

Essa compreensão viabiliza tanto a sustentação psicodinâmica quanto aorientação para o trabalho psicoterapêutico. A avidez ou o repúdio, porexemplo, também se apresentarão no vínculo com o terapeuta. A manei-ra como esses pacientes se apresentam reflete sua dificuldade em resolverproblemáticas relacionadas especialmente ao narcisismo, entendido comobase para processos de diferenciação e de desenvolvimento da identidadeque remontam a fases precoces do desenvolvimento infantil. Falhas nesseprocesso promovem dificuldades importantes tanto nas referências de iden-tidade como na discriminação do que é próprio ao mundo interno ou ex-terno. Observa-se, por exemplo, como pacientes com Transtornos Alimen-tares são susceptíveis ao que lhes é demandado, dito, ou a como sãovistos. Para Jeammet (1999), são sujeitos cuja “auto-estima é tributária des-te suporte externo” (op. cit. p.119), o que os leva a oscilar da polaridade deuma dependência idealizada a uma auto-suficiência quase autística. Ou, setranspusermos para os quadros clínicos, da vulnerabilidade bulímica à rigi-dez anoréxica. Essa susceptibilidade narcísica impõe ao analista a necessi-dade de reconsiderar alguns manejos, especialmente no que diz respeito àsinterpretações. Brusset (1999) sublinha a necessidade de conduzir o pro-cesso analítico de tal maneira que promova o acesso à elaboração dos con-flitos vividos por esses pacientes como descobertas próprias. Ou seja, pou-co se interpreta de fato, mas se conduz o tratamento de tal forma que opaciente ativamente reconheça seus pensamentos e emoções.

Muitos estudos psiquiátricos, segundo Scazufka e Berlink (2004), não reco-mendam o tratamento psicanalítico para os transtornos alimentares, che-gando mesmo a contra-indicá-lo, sob o argumento de que seria pouco efi-caz. Tal posição merece algumas considerações.

Segundo esses autores, essa recomendação deriva dos estudos de HildeBruch com pacientes anoréxicas, que apresentam, como característicaprincipal, a pouca autonomia e a queixa de que suas mães sempre falarampor elas. No enquadre analítico, as interpretações dos significados incons-cientes de sua fala, feitas pelo analista, reforçariam, na transferência, ovínculo de dependência e repetiriam as suas vivências de invasão. Bruch re-comenda, então, uma atitude mais ativa do analista, estimulando as pacien-tes a pensarem por si próprias.

Desse modo, a psicanálise, em seus moldes tradicionais, requer adaptaçõesao ser eleita como terapêutica no tratamento dos Transtornos Alimentares.Sem dispensar a formação clássica do psicanalista no manejo dos recursostécnicos e metodológicos (transferência, abstinência, atenção e análise da

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contratransferência, resistências etc.), esses quadros exigem uma certa ade-quação da técnica e do enquadre. Essas “adaptações” dizem respeito à • atitude do analista, que, como afirma Brusset (op. cit., p.140), deve dei-

xar ao paciente “a iniciativa da fala sem nada impor, oferecendo-lheuma atenção igual para tudo o que ele manifesta de si mesmo, ficando,durante as sessões, completamente disponível e benevolente quaisquerque sejam seus propósitos, constituindo uma experiência nova que se-duz e inquieta”, tendo o “valor de uma reparação narcísica”;

• elaboração de um contrato de peso com o paciente, fixado no início dotratamento. Esse contrato de peso, proposto pela primeira vez por HelenDeutch ( ), em meados da década de 1940, consiste em uma promes-sa mútua, em que a paciente se compromete a não perder peso, e, emcontrapartida, o analista jamais a encorajará a comer ou perguntará so-bre sua alimentação. Fiorini (1999) chama a atenção para o caráter tec-nicamente inovador desse tipo de contrato e o aproxima do que chama,em seu trabalho com patologias narcisistas, de “intervenção vincular”,que compreenderia uma vasta gama de intervenções ativas do analistasobre o vínculo com o paciente, podendo assim desejar e manifestarque o paciente não morra de inanição;

• necessidade de manter contato com os outros profissionais que acom-panham o paciente e com sua família;

• observação de que esses pacientes não se beneficiam do uso do divã,sendo a posição face-a-face a mais recomendada, uma vez que preci-sam “ser vistos” pelo analista, e usá-lo em sua função de espelho pelomenos até que a sua capacidade simbólica seja restaurada;

• preparação para o trabalho com adolescentes, uma vez que esses trans-tornos se iniciam principalmente na fase da adolescência, que por si sóexige um trabalho diferenciado.

Brusset B. Conclusões terapêuticas sobre a bulimia. In: Urribarri R (org.) Anorexiae Bulimia. São Paulo: Escuta; 1999.

Cordás TA. Transtornos alimentares: classificação e diagnóstico. Rev Bras PsiquiatrClín 31 (4), 2004, 154-157.

Deutsch H. Anorexia Nervosa. In: Urribarri R (org.) Anorexia e Bulimia. São Paulo:Escuta; 1999.

Fiorini H. Comentários ao artigo de Helen Deutsch. In: Urribarri R (org.) Anorexiae Bulimia. São Paulo: Escuta; 1999.

Jeammet P. As condutas bulímicas como modalidade de acomodação das desregu-lações narcisiscas e objetais. In: Urribarri R (org) Anorexia e Bulimia. São Paulo:Escuta; 1999.

Lask B. Aetiology. In: Anorexia Nervosa and Related Eating Disorders in Childhoodand Adolescence. Lask B; Bryant-Waught R. Psychology Press Ptd. UK,2000;cap.5, 63-79.

Mitchel J. The Oupatient Treatment of Eating Disorders. University of MinessotaPress, 2001, 115-117.

Scazufca A C; Berlink MT. Sobre o tratamento psicoterapêutico da anorexia e dabulimia. In: Cardoso M R (org) Limites. São Paulo: Escuta, 2004, 89-106.

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oalto índice de abandono nos casos de tratamento dos TranstornosAlimentares tem evidenciado a necessidade de uma conduta terapêuticaque não esteja isolada do contexto familiar. Grupos de orientação a paistêm apontado para um modelo de intervenção psicoeducativo, com o ob-jetivo de integrar os elementos que compõem uma proposta de tratamen-to multidisciplinar.

Sob o enfoque de orientação e esclarecimento, o trabalho psicoeducativopermite a inclusão participativa dos familiares e cuidadores durante o tra-tamento, favorecendo a diminuição da angústia familiar, fator decisivo paraa melhora e recuperação do paciente.

O contato com profissionais especializados, que abordam de forma didá-tica temas específicos como a etiologia e epidemiologia dos TranstornosAlimentares, conceitos socioculturais, caráter fisiológico e nutricional, e as-pectos psicodinâmicos encontrados na doença, permite que as famíliasesclareçam suas dúvidas. A troca com outros familiares permite que com-partilhem seus medos e ansiedades. Esse acolhimento favorece bastante aadesão das famílias ao tratamento.

Levando esses dados em consideração, e atendendo a uma demanda espe-cífica de familiares, a CEPPAN iniciou, no primeiro semestre de 2007, ogrupo psicoeducativo para pais e cuidadores. Diante de uma maior divul-gação dos riscos e da gravidade da doença pelos meios de comunicação,pais, irmãos, cônjuges, tios, pessoas de importante ligação (babá, autorida-de religiosa íntima da família, namorados, amigos de referência) entraramem contato com a CEPPAN para obterem algum tipo de ajuda.

funcionamento dos gruposEmbora a formação dos grupos e o encaminhamento dos trabalhos tenhaseguido as referências literárias, foram realizadas algumas adaptações paramelhor atender às necessidades dos familiares.

Foram programados nove encontros, sendo o primeiro e o nono destinadosà abertura e ao encerramento das atividades. Sete encontros abertos, quin-zenais, com duração de uma hora e trinta minutos, foram destinados a te-

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grupo psicoeducativo para pais ecuidadores de pacientes comtranstornos alimentares da CEPPAN

Priscilla Gonçalves Liberatti MartinsVicente Sarubbi Júnior

Priscilla Gonçalves Liberatti MartinsPsicóloga. Especializada em PsicologiaHospitalar pela ISCMSP. Coordenadorado Grupo Psicoeducativo para pais e cuidadores da CEPPAN.

Vicente Sarubbi Jr.Psicólogo. Especializado em PsicologiaAplicada à nutrição Infantil pela UNIFESP. Pesquisador e Colaborador no Ambulatório de Obesidade do Instituto da Criança – (ICr) do HCFMUSP. Membro da CEPPAN.

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mas específicos, apresentados por profissionais com experiência emTranstornos Alimentares.Cada encontro, dirigido por dois coordenadores – membros da CEPPAN –,e seguindo uma proposta psicoeducativa, foi divido em três momentos:

1. apresentação do tema pelo profissional convidado (50 minutos);2. espaço para perguntas e comentários referentes ao tema proposto (30

minutos);3. fechamento do encontro realizado pelos coordenadores (10 minutos).

No primeiro encontro o grupo foi recepcionado com uma explanação so-bre a fundamentação e a finalidade terapêutica dos grupos psicoeducativos,sua estruturação e proposta de trabalho. Nos outros, foram abordados osseguintes temas:

O tratamento médico-psiquiátrico: critérios diagnósticos para definição doquadro da Anorexia e da Bulimia Nervosa; epidemiologia; etiologia; inci-dência; sintomatologia; fatores predisponentes, precipitantes e mantenedo-res dos Transtornos Alimentares; alimentação e uso de medicamentos; osTranstornos da Alimentação: o comer restritivo, o comer seletivo e a fobiaalimentar.

O tratamento nutricional: resistências ao tratamento; o que oferecer nas re-feições; quais os limites; a parceria com os pais; como lidar com o senti-mento de culpa e paralisação diante do quadro; orientações para o pacien-te e a família reconstruírem um padrão alimentar saudável.

Aspectos psicológicos e psicoterapia do paciente com T.A.: a inter-relaçãode fatores que formam o gatilho para o aparecimento da doença; desenvol-vimento psíquico infantil; transformações da puberdade; desafios da ado-lescência.

A família e o tratamento familiar: abordagem de estudos que compro-vam a eficácia da inclusão da família no tratamento; características co-muns encontradas nas famílias de pacientes com Anorexia e BulimiaNervosa; a doença como um sintoma familiar; o ideal e o possível de umtratamento.

Adolescência: diferenciação entre pubescência e adolescência; lugar e cri-se na adolescência; as dificuldades em lidar com as perdas do mundo in-fantil; imitação, competição e idealizações; sexualidade; limites.

Endocrinopediatria: o papel dos hormônios; a importância do tecido gor-duroso e o apetite; manifestações clínicas secundárias nos TranstornosAlimentares: amenorréia, retardo puberal, diminuição do crescimento, hi-potireodismo, osteoporose e osteopenia.

Durante os encontros, procurou-se esclarecer os familiares quanto às suasdúvidas, especialmente quanto às seguintes questões: número de refeições*

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necessárias, quantidade e qualidade dos alimentos; como deveriam se com-portar diante da recusa do paciente em se alimentar; dificuldade em lidarcom sentimentos de raiva e culpa diante desta recusa; ganhos secundáriosda doença e dificuldade em estabelecer limites; diferença entre cuidar e su-perproteger.

Segundo a avaliação dos pais, o resultado dos encontros foi satisfatório, es-pecialmente quanto aos seguintes quesitos: obtenção satisfatória de respos-tas; aprimoramento de conhecimento; oportunidade de externar dúvidase insatisfações com relação ao tratamento; possibilidade de partilhar dasevoluções positivas de outros familiares que passam pelo mesmo problema;diminuição da ansiedade e maior paciência para ajudar um filho; amplia-ção para um diagnóstico da família; pedidos de encaminhamento parapsicoterapia individual de alguns pais.

Ao finalizar os encontros propostos, foi satisfatório perceber a realização deum trabalho que possibilitou confrontar as expectativas teóricas com os da-dos obtidos na prática. A resposta demonstra que existe uma relação posi-tiva entre o rebaixamento da ansiedade e o desenvolvimento de uma pers-pectiva mais benigna do tratamento.

O contato com os profissionais e o interesse pelos encontros que as famí-lias mantiveram com a CEPPAN, os resultados obtidos na avaliação final ea demanda por encaminhamentos para atendimento individual mostraramum favorável grau de mobilização e reconhecimento da implicação dos fa-miliares e cuidadores no tratamento. Estes resultados estimulam e justificama continuidade de novos grupos psicoeducativos.

Look J; Grance DL; Agras WS; Dare C. Treatment manual for anorexia nervosa: a fa-mily-based approach. NewYork: The Guildford Press; 2001.

Nunes MAA; Ramos DC; Fasolo C. Transtornos Alimentares. Grupo de orientaçãoaos pais. Jornal Brasileiro de Psiquiatria; vol 44 supl 1, Outubro, 1995.

Souza LV; Santos MA. A família e os transtornos alimentares. Medicina, 35 (3): 403-409, jul-set, 2006.

Schomer EZ. O papel da família nos transtornos alimentares. In: Bucaretchi HA.Anorexia e Bulimia Nervosa: uma visão multidisciplinar. São Paulo: Casa doPsicólogo; 2003.

Steiger H. Trailer les troubles des conduites alimentaires: une approche psycho-édu-cative de groupe. Prisme, 30, 80-97, 1999.

Uehara T e cols. Psychoeducation for the famlilies of patients with eating disordersand changes in expressed emotions: a preliminary study. ComprehensivePsychiatry; 42 (2): 132-138, March/April, 2001.

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mais do que uma obra de referência, imprescindível a quem sededica ao trabalho com pacientes com Transtornos Alimentares, o livro deMaria Helena Fernandes remete ao cotidiano e à especificidade dessa clí-nica, tratada com refinamento e delicadeza. A cada página, seu trabalhoconsistente e pensamento agudo revelam-se de forma clara e generosa.

A primeira parte do livro é dedicada ao levantamento criterioso das contri-buições psiquiátricas, nutricionais, culturais e históricas que ampliam ocampo da compreensão dessas patologias através do tempo e das ciênciasafins. Apresenta e discute o quadro clínico da anorexia e bulimia nervosase os recursos terapêuticos disponíveis. E ainda, tomando a obra freudianacomo ponto de partida, faz uma importante revisão da literatura psicana-lítica sobre os Transtornos Alimentares.

A segunda parte nos contempla com suas idéias – produzidas pela inquie-tação diante da clínica – sobre uma das mais expressivas problemáticas vi-vidas especialmente pelas anoréxicas: a distorção da imagem corporal. M.Helena trabalha com conceitos psicanalíticos, desfiando toda uma subjeti-vidade própria dessas pacientes: as dificuldades na percepção das sensa-ções corporais, a indiscriminação entre os mundos interno e externo, o eue o outro, onde o corpo não exerce função de contorno ou fronteira. Tra-balhando com o conceito freudiano de pára-excitação, propõe uma riquís-sima compreensão dessa precariedade nos sistemas de fronteira e suaderivação para a sintomatologia da imagem corporal e a “ausência de au-tonomia e dificuldade de diferenciação da figura materna”. Discute aindaa função da dor na formação do ego corporal, dos processos de identifica-ção e narcisismo, e dos investimentos maternos que resultarão no emara-nhado das relações objetais regidas pela necessidade e pelo prazer.

M. Helena conclui o livro abrindo um campo de pensamento com a clíni-ca referenciando as possibilidades de compreensão e manejo dessas pato-logias, que têm o corpo por estandarte. Legitima e enfatiza o trabalho ana-lítico com essas pacientes, reconhecendo a singularidade de seu sofrimentoe convocando a “criatividade dos analistas para abrir possibilidades de cons-trução e reconstrução de sentidos na experiência subjetiva dessas jovens”.

Resenha de Transtornos Alimentares. Maria Helena Fernandes,

São Paulo, Col. Clínica Psicanalítica, Casa do psicólogo, 2006.

as fronteiras do euPor Ana Paula Gonzaga

leituras

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este estudo pretende abordar, do ponto de vista psicanalítico, a ano-rexia e a bulimia como distúrbios da oralidade, e fazer uma reflexão sobreo tratamento dessas manifestações psicopatológicas.

Resgata a tradição judaico-cristã que une o corpo, a carne e a sexualidade,que, vista como pecado, deve ser eliminada. Isto aponta para uma relaçãopatológica entre a anorexia, a bulimia e a sexualidade, entendida não ape-nas como as atividades de prazer genital, mas como toda uma série de vi-vências presentes desde o nascimento. Na contemporaneidade, essas ma-nifestações psicopatológicas aparecem associadas ao ideal do corpoperfeito, sem falhas, representado no corpo das top models.

Inicialmente, a anorexia e a bulimia são estudadas como transtornos ali-mentares, principalmente do ponto de vista psiquiátrico do ManualDiagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais na sua quarta edição, oDSM IV. Em seguida, o critério diagnóstico que indica haver uma “distor-ção da imagem corporal” nestes pacientes é ampliado, sob a ótica psica-nalítica.

Por meio de questões suscitadas a partir de fragmentos clínicos e da leitu-ra de autores que tratam do tema, propõe situar o problema psicopatoló-gico da anorexia e da bulimia no terreno das adicções e dentro da concep-ção freudiana da melancolia e do ideal do ego. Entende que a dimensãoperversa do comportamento adictivo na anorexia e na bulimia possuiuma dimensão melancólica subjacente, que remete a um nível primitivodas relações de objeto. Essa compreensão vai se refletir no enquadre, natécnica e na transferência, pois a gravidade do conflito oral nessas patolo-gias demanda atenção especial do psicoterapeuta. É preciso, nesses trata-mentos psicoterápicos, reintegrar os movimentos de vida, apagados peladestrutividade.

SCAZUFCA, Ana Cecília M. Abordagem psicanalítica da anorexia e da bu-limia como distúrbios da oralidade. 1998. Dissertação (Mestrado em Psico-logia Clínica). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

abordagem psicanalítica da anorexia e bulimia como distúrbios da oralidade

leituras

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DATA17 de maio de 2008das 8 às 18 horas

Supervisões devem ser agendadas previamente

CUSTOaté 09 de maio: R$ 150,00após: R$ 180,00

INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕESFONE: (11) 3081 7068

LOCALRua João Moura, 627 – Pinheiros – São Paulowww.redeceppan.com.br

SERÃO FORNECIDOS CERTIFICADOS

CLÍNICA DE ESTUDOS E PESQUISAS EM PSICANÁLISE DA ANOREXIA E BULIMIA

VI CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM TRANSTORNOS ALIMENTARESANOREXIA E BULIMIA NERVOSA

TEMAS DO PROGRAMA

• Breve história da Anorexia e Bulimia Nervosa• Critérios diagnósticos• Complicações clínicas• A clínica psicanalítica• Adolescência• Imagem corporal• Família• O trabalho em equipe multidisciplinar

DOCENTES

Ana Paula Gonzaga – CRP - 06/24740-0 – Psicanalista pelo Ins-tituto Sedes Sapientiae, coordenadora do CEPPAN e membro daequipe multidisciplinar do PROTAD do SEPIA – IPq do HCFMUSP.

Cybelle Weinberg – Psicanalista pelo Instituto Sedes Sapien-tiae, Mestre em Ciências pela FMUSP, autora de livros sobre Ado-lescência e Transtornos Alimentares. Coordenadora do CEPPAN.

Vicente Sarubbi Jr. – CRP - 06/59432-5 – Psicólogo, especiali-zação em Psicologia Aplicada a Nutrição – UNIFESP, membro doCEPPAN, pesquisador e colaborador no Ambulatório de Obesida-de do ICr-HC-FMUSP.

DESTINADO A: Psicólogos (e estudantes do último ano); Psiquia-tras (e residentes em Psiquiatria); Nutricionistas; outros profis-sionais de saúde/educação atuando na área.

Tendo por pilares a clínica, a pesquisa e o atendimento institucional, este curso propõe a reflexão da prática psicanalítica no tratamento dos transtornos alimentares.