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BOLETIM DA CASA DA ACHADA-CENTRO MÁRIO DIONÍSIO ficha MARIA LETÍCIA, COMPANHEIRA Sem a memória (rigorosa e crítica) e o trabalho de Maria Letí- cia, que começou a organização e catalogação do espólio de Mário Dionísio logo em 1994; sem as suas economias, que foram suficientes para adquirir o prédio em que se instalou a Casa da Achada; e sem a sua vida dedicada a Mário Dionísio, à educação e ao conhecimento, e à luta por um mundo diferente, não existiria esta casa. Nas centrais, homenagem nossa à mulher, à educadora e à resistente antifascista. FESTEJANDO ABRIL. E MAIO... Na contracorrente «liberal», designação eufemística da mais descarada usura ca- pitalista, festejamos Abril (e já agora, Maio) com o ânimo de sempre. A 25 abri- mos portas a uma nova exposição de pin- turas, desenhos e tábuas biobibliográ- ficas de Mário Dionísio. E lançamos o res- pectivo livro-catálogo, prosseguindo a nossa aventura editorial. E também esta Ficha segunda. E há Coro, canções so- nantes e risos dissonantes. E pastéis de nata. E bebidas honestas e das outras. E festarola até às tantas.

BOLETIM DA CASA DA ACHADA-CENTRO MÁRIO …noticias.centromariodionisio.org/wp-content/uploads/Boletim-2_.pdf · mulher, à educadora e à ... que M.D.recebeu sobre polémicas,obras,edições,exposições,

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B O L E T I M   D A   C A S A   D A   A C H A DA - C E N T R O   M Á R I O   D I O N Í S I O

fichaMARIA LETÍCIA, COMPANHEIRA Sem a memória (rigorosa e crítica) e o trabalho de Maria Letí-cia, que começou a organização e catalogação do espólio deMário Dionísio logo em 1994; sem as suas economias, que foram

suficientes para adquirir o prédioem que se instalou a Casa daAchada; e sem a sua vida dedicadaa Mário Dionísio, à educação e aoconhecimento, e à luta por ummundo diferente, não existiria estacasa. Nas centrais, homenagem nossa àmulher, à educadora e à resistenteantifascista.

FESTEJANDO ABRIL. E MAIO...Na contracorrente «liberal», designaçãoeufemística da mais descarada usura ca-pitalista, festejamos Abril (e já agora,Maio) com o ânimo de sempre. A 25 abri-mos portas a uma nova exposição de pin-turas, desenhos e tábuas biobibliográ-ficas de Mário Dionísio. E lançamos o res-pectivo livro-catálogo, prosseguindo anossa aventura editorial. E também estaFicha segunda. E há Coro, canções so-nantes e risos dissonantes. E pastéis denata. E bebidas honestas e das outras. Efestarola até às tantas.

FAZERES & AFAZERESde Outubro a  ABRIL 

1. CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO

Continua a ser tratado o espólio literário deMário Dionísio e o seu arquivo pessoal e deMaria Letícia. Está em curso a inventariaçãoe a digitalização da correspondência que seencontra no Centro de Documentação.O acervo é constituído por mais de 4000 car-tas, cartões, postais, telegramas. Mais de 2000incluídos no Espólio Literário. Os restantesno Espólio Artístico e no Arquivo Pessoal. Nele se encontram cópias de cartas queMário Dionísio enviou e sobretudo cartas(algumas delas ilustradas) que M. D. recebeusobre polémicas, obras, edições, exposições,colaborações (muitas delas de instituições,partidos, jornais e revistas, etc.) e tambémsobre assuntos pessoais. Entre muitos ou-tros, assinam cartas, cartões e postais: LuisAlbuquerque, João Pedro de Andrade, MárioBraga, João de Freitas Branco, Bento Caraça,Ferreira de Castro, João José Cochofel, JoséFernandes Fafe, José Gomes Ferreira, ManuelFerreira, Vergílio Ferreira, Keil do Amaral,Maria Keil, José-Augusto França, FernandoLopes-Graça, Óscar Lopes, Ilse Losa, JoséRodrigues Miguéis, Casais Monteiro, Fer-nando Namora, Joaquim Namorado, Car-doso Pires, Júlio Pomar, Portinari, CarlosScliar, Júlio Resende, Marmelo e Silva, AnaMaria Matute… Do acervo também fazem parte cartas paraMaria Letícia acerca dos seus assuntos (fa-mília, escola, traduções, edições…) e sobreo tratamento da obra de M. D. (emprésti-mos, direitos, publicações, exposições, etc.)depois da sua morte.

2. ESPÓLIO ARTÍSTICO

Duas técnicas do Departamento de Con-servação e Restauro da Faculdade de Ciên-cias e Tecnologia da Universidade Nova deLisboa começarão muito em breve a tratar(acondicionamento para conservação e con-sulta, restauro e emolduramento de alguns)os desenhos de Mário Dionísio (cerca detrês centenas), soltos ou reunidos em blo-cos, com técnicas e dimensões muito diver-sas. Está prevista para finais de Setembro umaexposição de Desenhos de Mário Dionísio,com curadoria de Paula Ribeiro Lobo, doDepartamnto de História de Arte da Uni-versidade Nova de Lisboa.Foi pedido um apoio ao Montepio. Concor-remos a um apoio da DGArtes do Ministé-rio da Cultura para o mesmo efeito e paraum programa que acompanhará a exposiçãodurante 5 meses.

3. EDIÇÕES

Por iniciativa de Vânia Chaves (responsávelpelo trabalho de edição) e de João MarquesLopes, fundador da CA-CMD (autor da in-trodução) foi editada pelo CLEPUL (Centrode Literaturas e Culturas Lusófonas e Euro-peias da Faculdade de Letras da Universi-dade de Lisboa) a dissertação de licenciaturade Mário Dionísio, apresentada em 1939 naFaculdade de Letras de Lisboa, sobre EricoVeríssimo.

Esta é a segunda dissertação de licenciaturade Mário Dionísio, uma vez que, no ano an-terior, tinha ficado reprovado com umaoutra sobre a «Ode Marítima» de Álvaro deCampos. Fernando Pessoa tinha morrido há3 anos e era moderno de mais para ter en-trado na Faculdade de Letras de Lisboa… Na sessão de lançamento, que teve lugar nodia 22 de Fevereiro na Casa da Achada, in-tervieram Vânia Chaves, João Marques Lopese Eduarda Dionísio, além de elementos dopúblico.[ERICO VERÍSSIMO] UM ROMANCISTABRASILEIRO encontra-se à venda na Casada Achada (10 €). No dia em que sai esta Ficha 2, sai MÁRIODIONÍSIO VIDA E OBRA, editado pela Casada Achada-Centro Mário Dionísio.É o n.º 4 da Colecção Mário Dionísio. Assi-nala e complementa a exposição MÁRIODIONÍSIO – VIDA E OBRA que, além depinturas e desenhos, tem documentos, livros,

Foram emoldurados mais cerca de 20 qua-dros de Mário Dionísio com vista a figura-rem na exposição «Vida e obra» que inaugu-ra no fim da tarde do dia 25 de Abril de 2011,e noutras exposições.

A NOSSA POLÍTICA

Como se deixa ler, não faltam dados a encheras caixas laterais desta Ficha, sinal evidentede uma actividade a muitos títulos febricitante(é o termo) e que envolve esforço de menosgente do que à primeira vista se poderiasupor, atendendo ao número de iniciativaspostas em marcha.

No entanto, e apesar da alegria que é vermosa criançada a participar nas oficinas, verifi-camos ser parco, se bem que caloroso, o in-teresse dos locatários do bairro ondeestamos inseridos, praticamente nulos quero uso da Biblioteca que abrimos para ser«pública» quer o do Centro de Documen-tação, além de algo irregular a assistência àssessões de leituras, às conversas com pes-soas culturalmente atractivas, e até às pro-jecções de filmes que escolhemos já na mirade atrair um leque aberto de possíveis inte-ressados.

Será isto reflexo de um débito de informação,chegando pois a pouca e distraída gente asnotícias do que fazemos e nos propomosfazer? – Talvez, em parte. Por outro lado, écerto que a localização da nossa Sede e oseu acesso pouco ameno também não fa-vorecem afluências mais amplas, já que osautomóveis não sobem escadinhas...

Sabemos no entanto que são outras – e bemmais fundas – as razões de fundo que con-duzem a esta situação. Tais razões, endémi-cas, e que se espraiam da área socioculturalà área propriamente política (e não tanto,para o caso, à área económica, uma vez quesão livres todas as entradas), não são anu-láveis por mero desejo ou voluntarismo deuns quantos como nós. Mas podem, e de-vem, ser quanto possível contrariadas.

Por nossa parte, não só não desmobilizamoscomo não estamos nem estaremos de braçoscruzados face à apatia e à digestão de en-tretenimentos alienantes que são já progra-mados para isso mesmo. Por isso insistimosnos trabalhos (es)forçados. É da nossa razãode ser. Ou, noutros termos, é a nossa polí-tica.

fotografias e tábuas biobibliográficas, que aCasa da Achada faculta ao público, na suasede, entre 25 de Abril e 25 de Setembro de2011, para depois itinerar.Não é um vulgar catálogo de Exposição.Contém um conjunto de estudos e opiniõescríticas que são outras tantas incursões pelaobra plurifacetada de Mário Dionísio – o ar-tista (poeta, romancista, pintor), o pedagogoe, em tudo, o intelectual interventivo, ética epoliticamente.São autores dos textos: Isabel da Nóbrega,Jorge Silva Melo, João Madeira, Luís Trindade,António Pedro Pita, Rui Canário, Maria AlziraSeixo, Rocha de Sousa, Regina Guimarães,Cristina Almeida Ribeiro, Nuno Júdice, Sa-guenail, Manuel Gusmão, Eugénia Leal.Encontra-se em preparação um álbum de de-senhos de Mário Dionísio, com texto dePaula Ribeiro Lobo.

5. CORO DA ACHADA  

Nos tempos que correm, um milagre. Com-posto por mais de 50 pessoas de todas asidades, tem ensaiado todas as quartas-feirasà noite, desde Julho 09. Do repertório, quetem aumentado, fazem parte canções comletra de Mário Dionísio, várias musicadaspelo próprio coro, além de muitas outras. Desde Setembro de 2010, tem cantado naCasa da Achada (1.º Aniversário, 2 Out.10;Fim-de-Semana Diferente, 18 Dez. 10; O CasoBattisti, 12 Fev. 1; Itinerário de Alípio de Freitas,16 Abr. 11) e em vários outros locais, a convitede Câmaras, Universidades, Associações: LargoCamões, apelo à Greve Geral, 6 Nov. 10; pelasruas de Lisboa, 24 Nov. 10, dia de greve geral;Clube Ferroviário de Portugal (nos 20 anos doSOS Racismo), 8 Dez. 10; Coimbra, Colóquiointernacional «Portugal entre desassossegos edesafios», 17 Fev. 11; RDA 69, Jornadas Antica-pitalistas, 26 Fev. 11.Também participou em França na Fête deChorales, Montreuil, 23 Out. 10, e em Itáliana Festa anual da Lega di Cultura di Piadena(25-27 Mar.), no Teatro Comunale de Casal-maggiore e em Pontirolo-Piadena). Próximas actuações: Escola Secundária deCamões, Lourinhã.

6. EXPOSIÇÕES

De 29 de Setembro de 2010 a 22 de Abril de2011, esteve patente ao público a exposição50 ANOS DE PINTURA E DESENHO – 2,reformulação daquela com a qual a Casa daAchada-Centro Mário Dionísio inaugurouem Setembro de 2009. Dela fizeram parte 30 obras de Mário Dio-nísio, de várias fases, e 21 obras de vários ar-tistas que por eles lhe foram oferecidas eque constam, assim, do seu espólio: Abel Sa-lazar, Álvaro Cunhal, António Cunhal, Ave-lino Cunhal, Cândido Portinari, Carlos deOliveira, Carlos Scliar, Germano Santo, JoséJúlio, Júlio, Júlio Pomar, Júlio Resende, Ma-nuel Ribeiro de Pavia, Maria Helena Vieira daSilva, Raul Perez.Rui-Mário Gonçalves, Sílvia Chico e EduardaDionísio guiaram visitas a esta exposição. Algumas foram propostas por instituições,

Uma casa aberta a tanta gente

A festa tem sempre um tema diferente. Este ano, umapergunta: «A che cosa serve il canto popolare?»Ocasião para um largo debate sobre as funções docanto popular e a sua importância social, as suas par-ticularidades musicais, a sua política. A pergunta foilançada por Alessandro Portelli, importante investi-gador e estudioso da «história oral». Ele perguntavase não estaria enfraquecida «a voz» das classes não--hegemónicas: «não apenas a voz do canto, mas tam-bém da subjectividade política antagonista ealternativa da qual o canto popular foi historicamentea expressão e um instrumento organizativo». O textode Portelli que acompanhava a pergunta questionavao lugar do canto popular hoje ainda «na organizaçãode lugares possíveis de alteridade e resistência cul-tural». Que novos cantos são esses? E cantar canções«históricas», testemunhos de outros tempos? Portellijulga que elas podem, entre outras coisas, «servir paramanter viva, sem nostalgia, a consciência de umahistória sem a qual arriscamos todos os dias esque-cer quem somos».

No primeiro dia, Sexta-feira, 25 de Março, o Coro daAchada cantou num pequeno belo teatro emCasalmaggiore, depois de cantarem GiovannaMarini, o coro multiétnico «Sarabanda», de Roma,um coro de Marselha («Color de Mai») e o coro «Sibémol et 14 demis», de Paris. No sábado, dia 26, foidia de discussão num espaço cedido pela igreja local,em Piadena, com intervenções de Giovanna Marini,Portelli, e de todos os coros. O Coro da Achada con-tribuiu para o debate lendo um diálogo onde se le-vantavam novas perguntas e tentavam respostas apartir da pergunta inicial do «Para que serve o cantopopular?»

O debate foi muito para além das funções do cantopopular. Não é fácil dizê-lo em duas palavras. Algu-mas ideias:1. O canto popular não é estático, mas dinâmico – umprocesso de transformação, e não apenas um pa-trimónio a «defender» ou «preservar».2. Investigar e intervir não são coisas que devam se-parar-se (disse Alessandro Portelli), tal como culturae política são inseparáveis para a Lega di Cultura diPiadena.3. Portelli lembrou a perspectiva de um homem quededicou grande parte da sua vida à recolha de cantopopular e da cultura oral em Itália e não só: Gianni

25 pessoas foram de Lisboa, nos dias 25, 26 e 27 de Março, à festa da Lega di Cultura di Pi-adena. Esta associação de base operária e camponesa reclama-se do movimento de resistênciacamponesa na região de Mântua entre 1895 e 1900. É autónoma dos partidos políticos e das or-ganizações sindicais. Tem como objectivo desenvolver actividades de investigação, recolha, ela-boração e discussão de materiais culturais das classes trabalhadoras e de os difundir através depublicações, encontros, debates, colóquios e outras formas de comunicação oral de massa. Ela-bora «propostas para a transformação num sentido progressista da condição operária e cam-ponesa», procurando fazê-lo numa «relação constante e na livre discussão com os trabalhadores».Foi fundada em 1967 por Gianfranco Azzali («il Micio»), Giuseppe Morandi, Eugenia Arnoldi ePierino Azzali e outros amigos.

Bosio, homenageado no sábado de manhã com umalápide em Acquanegra, na sua antiga casa. GianniBosio não procurava a antiguidade mas a contempo-raneidade dos cantos e procurava compreender osprocessos complexos da sua transmissão e transfor-mação.4. Se for apenas um instrumento empobrecido e es-tagnado ao serviço de uma representação cristalizadade uma identidade não dinâmica, ou um produto depropaganda da intolerância, do fechamento e doressentimento, o canto popular pode servir a extrema--direita regionalista e fascista (que tem alguma forçaem Itália, como é sabido).5. Pelo contrário, o canto popular pode ser expressãoe ferramenta de uma colectividade aberta, ajudando aconstruir (outra) sociedade, que tem uma dimensãolocal mas nunca perde de vista a globalidade domundo e das relações humanas, consciente de ser umcanto-na-história, que viajou e mudou, partilhou ca-

racterísticas, canto que hoje interfere e (se) transforma.6. Portelli sublinhou a importância de compreender adiversidade e a multiplicidade dos cantos, em vez deprocurar uma inexistente «pureza».7. Parece mais interessante procurar no canto popularo que é dissonante e dissensual (por oposição a con-sonante e consensual). Giovanna Marini deu exem-plos concretos – cantados – destas rugosidades edissonâncias, explicando como foi para ela, que andounos conservatórios, um extraordinário campo deaprendizagem.

VIAGEM A ITÁLIA

escolas, associações, para grupos de visitan-tes. Entre eles, Centro Nacional de Cultura,Atrium, Comunidade Vida e Paz.

De 23 de Outubro a 8 de Novembro de2010, esteve patente a exposição de foto-grafia VIEIRA DA SILVA E ARPAD SZENESVISTOS POR URSULA ZANGLER, conjuntode fotografias a preto e branco dos dois ar-tistas, feitas pela fotógrafa Ursula Zangler,que com eles muito conviveu em Paris eYèvre-le-Chatel, entre 1963 e 1978. A au-tora esteve presente na abertura e contoucoisas sobre o quotidiano dos dois pintores.A folha da exposição incluiu a reedição deuma entrevista a Vieira da Silva, feita porMário Dionísio em 1958, publicada na Gazetamusical e de todas as artes.

7.  BIBLIOTECA PÚBLICA

Estão à disposição de quem quiser, às horasde abertura da Casa da Achada, mais de 4000livros em várias línguas, arrumados por sec-ções, e exemplares de cerca de 200 publica-ções periódicas. Tudo ofertas à Casa daAchada. As principais secções: Literatura,Arte, Ciência, História, Filosofia, 25 de Abril.A catalogação tem continuado, com ajuda devários voluntários. Em breve estará a funcio-nar o empréstimo domiciliário.

8. CICLO A PALETA E O MUNDO II 

Terminou a leitura das 2ª, 3ª, 4ª e 5ª partes(pintura do século xVIII a meados do séculoxx) de A PALETA E O MUNDO de MárioDionísio. Desde a abertura da Casa da Achada, em fi-nais de Setembro de 2009, houve uma horade leitura semanal da obra, todas as segun-das-feiras ao fim da tarde, com projecção deimagens e alguns comentários. Os leitores,

E tantas outras questões: O canto popular é prazerou obrigação? Trabalho ou arte? Amador ou profis-sional? De especialistas ou de curiosos? É pro-priedade de quem? Com ou sem autor, é de todos, nãoé de ninguém? É herança viva? Está ligada à vida oudesligada? Canta-se no trabalho, na rua ou no teatro?Canta-se em casa ou na praça? É emancipador, can-tar? Qual a sua função nas lutas sociais? É produçãoou só consumo? Não se deixa administrar? É umamemória resistente? Em que sentido é revolu-cionária? Em que sentido não é? O canto pode ser fer-ramenta antagonista de autonomia e luta das taisclasses «não-hegemónicas»? Parece que sim.

Tudo o que é importante no cantar está no canto po-pular, mas as grandes revoluções formais foram deoutras músicas escritas, disse Giovanna Marini. E pôs a gente a pensar quando disse depois, simples-mente: «Uma canção faz-se todos os dias, de cada vezque se canta.»

No Domingo, dia 27, a festa propriamente dita. Fazer a festa é comer, arrumar, beber, lavar loiça,dançar, cantar, cozinhar, passar ideias, abraços, dis-tribuir comida, discutir comidas, apanhar ovos, par-tilhar cantos, aprender, fotografar, provocar, conhe-cer, falar outras línguas, quebrar barreiras, traduzir,traduzir outra vez, descobrir diferenças e necessi-dades comuns, partilhar experiências de batalhas evidas diferentes.

A Casa da Achada, no seu conjunto, fez muito para afesta. Enviou prendas e ideias, comidas e con-tribuições. O coro da Achada participou trabalhando,ajudando, debatendo e cantando lá.

Canta-se música popular do mundo inteiro, cantopolítico, criações novas, adaptações de canções (ogrupo de Piadena «I giorni cantati» fez uma letra paraa festa, e o coro da Achada uma com sentido dehumor sobre a queda do governo português). Can-tam-se cantos de trabalhos que já não existem, cantosda tasca, canções de revoluções e combates, teste-munhos e histórias, algumas bandeiras com amor ecom raiva, forças comuns e necessidades comuns,canto popular, canções teatrais, reactualização decanções passadas. De Roma ao Bangladesh, deMarselha a Lisboa, de Sevilha a Paris, de Piadena aomundo.

Gianfranco Azzali, fora dos microfones, diz que ocanto é uma questão de tempo. Cantar devagar ou de-pressa. Ser da cidade ou do campo. E não esquece ostempos de hoje. Ele fala-nos, quando tem tempo e lheapetece, de tudo, com horizontes largos: grave aci-dente numa central nuclear no Japão, água inquinadada Bassa Padana, a guerra na Líbia, a fábrica de be-tume, o racismo, os problemas com a nova gestão da«comuna» de Piadena que nem a protecção civildisponibilizou, os combates, a imigração, a riqueza ea pobreza em Itália, o progresso, o decrescimento…Ou como a sua mãe, a Genia, fundadora da Lega diCultura, cega no fim da vida, não podia ver masgostava de ouvir dar as horas no relógio da cozinha.E ela cantava.Naquela casa cabe o mundo inteiro. Naquela casaaberta a tanta gente.

E aqui, em Lisboa, interrogamo-nos tambémfazendo.Como se aprende a cantar quando se quer fazer umcoro de não-cantores? E como é isso de fazer um corode gente que diz que não sabe cantar, mas quer? Von-tade não chega. E de boas intenções está o infernocheio…Quando se quer cantar colectivamente fora da pro-dução cultural mercantil, como se «sustenta» amúsica? Quando gente de 4 anos, 16, 24, 32, 40, 48,56, 64 anos se junta, não vem logo a generation gapdizer que não dá? Quando se escolhem cançõesmenos conhecidas ou postas de lado, quem as quercantar e ouvir? Não são velhas? São, são de mil oito-centos e… já!

Quando se porfia, ensaiando e experimentando, ondese esbarra? Em nós próprios, no que não sabemos, noque não queremos saber, no que não sabemos que afi-nal sabemos. Que mais se enfrenta? O preconceito,claro. Então cantam e não sabem? A divisão do tra-balho. Também posso ser maestro um bocadinho? Omedo. Isto vai correr mal… (Afinal correu bem, es-tamos vivos). A reprodução. Um coro «tem de fazerassim e assado…» A propriedade. Esta canção pagadireitos! O dia-a-dia. Posso ir ao próximo ensaio?Tenho transporte? Trabalho de noite? Hoje sim, infe-lizmente. Estou cansado? Vou chegar atrasada? Quemabre a porta?

O que cantamos: canções com letras de Mário Dioní-sio? Claro. Lopes Graça? Sim, mas não chega. Can-ções novas para poemas antigos? Pois. E outrospoetas? Sim, mas dá trabalho. Canção popular, qual?Canção política, em que língua? Traduz-se? Pode ser.Faz-se uma versão? Sim. O que escolhemos «salvar»– a letra ou a música? Ali a letra, ali a música. É ac-tual, para cantar hoje, ou é para o museu? É actual.Como se canta? Faz sentido? Qual é o tom, qual é otempo? Para a rua, para o teatro, para a associação,para quem? Vamos decorar comemorações de re-voluções passadas? Pode fazer sentido. Mas e entãoa urgente energia do presente? Canções completa-mente novas, porque não?

Lá fizemos, cantámos, experimentámos. Bem, mal,assim-assim. Aprendendo com os erros. Discutindoum pouco. Procurando os caminhos. O caminho nãoestá feito à partida.

O coro da Achada nasceu em Junho de 2009. Ensaiatodas as semanas uma vez. Cantou para amigos e des-conhecidos, em encontros de coros, a convite de as-sociações e de movimentos sociais, fora e dentro deLisboa, fora e dentro do país, na última greve geralpor iniciativa própria, na rua, em festas, e na Casa daAchada, na Mouraria, ali onde o coro nasceu, ondeensaia, onde encontra ecos em pinturas e ideias, emvidas de pessoas, em livros que se desempoeiram derepente, porque era urgente ou se teve curiosidade.

É possível? Tem sido.

Pontos de partida: a música, a igualdade, a abertura,a curiosidade, o prazer, a aventura comum. Sem par-titura, porque não tem de se ter estudado música.Reinventando a transmissão oral, com ajudas da eradigital. O amador não finge de profissional – desco-bre outros caminhos, métodos imprevistos. E nãoganha nada com isso. Ou talvez ganhe, mas não emtostões.

Buscando um espaço de liberdade, igualdade, gozoe… Limitações musicais? Sim, mas! Mas há sempreoutras hipóteses e saltos no aprender. Aprendemos enem percebemos que já mudámos. E as canções tam-bém não percebem.

A importância da música, da voz (ah, mas eu tenhoesta voz?), da pausa, da dinâmica, do tempo, do in-tervalo, de uma palavra (amor, luta, chinelo, espe-rança) – o que nos liga ou afasta, o que nos obriga anovas soluções musicais (ah, eu posso cantar assim ejá resulta!) e, no mesmo gesto, a transformar omundo e as coisas, com um riso dissonante.

O que tem piada é que não estava escrito nos astros.

Pedro Rodrigues

mais de duas dezenas, foram variando, ro-dando, reincidindo, muitas vezes com a ajudada Carla Mota para as imagens. Em Maio terá início a leitura da 1.ª parte queaborda questões gerais. São 11 capítulos jáanalisados e debatidos em sessões mensais(Ciclo «A Paleta e o Mundo – I»), de Outu-bro de 2009 a Agosto de 2010, cada umadelas coordenada por um fundador da Casada Achada-Centro Mário Dionísio: Luis Mi-guel Cintra, Rui-Mário Gonçalves, MargaridaAcciaiuoli, Manuel Gusmão, Regina Guima-rães, Pitum Keil do Amaral, Jorge Silva Melo,Vítor Silva Tavares, Pedro Rodrigues, ManuelAugusto Araújo e António Pedro Pita. Para ládos coordenadores, participaram muitos ou-tros.

9. CICLOS DE CINEMA

Todas as segundas-feiras à noite continuou ahaver cinema. Em Outubro de 2010, recolheua casa. De Outubro a Dezembro, foi o o ciclo«Realizadores de uma só longa-metragem»;de Janeiro a Março, o ciclo «Cinema e Pin-tura». Está em curso o ciclo «Revoltas e Re-voluções» que durará até ao fim de Junho.

Em Julho, Agosto e Setembro, voltaremos aoCinema ao Ar Livre, no terreno em frente daCasa da Achada, onde plantámos uma árvore,pusemos flores e pintámos murais: dois comdesenho de Mário Dionísio, outro de BárbaraAssis Pacheco que o pintou, durante o 1.ºaniversário da CA-CMD.Todos os filmes foram exibidos com legen-dagem em português. Todos foram apresen-tados por alguém que deles gosta. Em todasas sessões foi distribuída uma folha com fichatécnica, sinopse, textos e imagens.

Cruzei hoje pela primeira vez os umbrais da comis-são de Censura à imprensa. Por mais que isto sejaum acontecimento banal na actividade profissionaldos jornalistas e de muitos escritores, trata-se talvezde uma pequena data na minha vida.

(…)Pensei demoradamente antes de bater à porta docensor. Há muitas maneiras de bater à porta, desdeo tímido toque do que pede e das pancadas nítidase serenas do que reconhece o direito de se fazer re-ceber, ao estrondo irritado do que reclama, para nãofalar desses que, batendo estão já a arrombar a portae que pelo simples ruído do anúncio já nos deixamver que vão voltar a casa do avesso, gavetas ecolchões. Mas há quem não queira ver, certamente,neste «bater à porta do censor», mais que um ne-buloso, impreciso, já de si infamante bater à porta…

dentro do boné. É este o homem. Mas quem abre aporta é um sujeitinho baixo, já de meia-idade, defala encolhida, olhar indiferente, que me ouve e la-menta não saber nada do assunto em causa: – «Souo secretário. O melhor é voltar dentro de uma horapara conversar com o senhor director-adjunto. – «Maseu queria falar com o próprio director.» – «Não, é me-lhor falar com o senhor director-adjunto. O senhordirector» (gesto vago, alusivo a grandes alturas)«não está ao facto destas questões.»Volto dentro de uma hora e sou logo recebido. Umhomem alto, forte, cinquentão, de óculos de arofino, cabelo castanho pouco domável, ergue-se portrás da secretária e, depois de apresentar-se(Tenente-Coronel D. S.), pede-me com grande ama-bilidade que me sente. Passo os olhos pela estanteda frente, onde avulta um volume da editorialCalvino, do Rio de Janeiro, enquanto o oiço semprotestos. Diz que me conhece há muito tempo

– embora não pessoalmente –que é um admirador da mi-nha cultura e do meu estiloque aprecia imenso, cumpri-mentos que agradeço comum aceno de cabeça tãosóbrio quanto possível. In-siste nos cumprimentos cer-tamente habituais (tambémele deve supor que os in-telectuais são poços de vai-dade e que não há comoelogiá-los para os ter namão...): – «V. Ex.ª não pre-cisa dos meus elogios, cer-tamente os tem recebido depessoas de muito mais valordo que eu que sou um sim-ples tropa...» E, como nãome vê disposto a entrar emassuntos diferentes do meuassunto, curva-se todo:

– «Queira dizer em que lhe posso ser útil.» E,voltando logo à criação de ambiente: – «Não é ser-vido? Dá-me licença que tome o meu café?»Enquanto exponho o meu assunto (saber concreta-mente em que é que o meu artigo pode fazer perigaros princípios morais, religiosos ou políticos do Es-tado, tratando-se de um ataque à exaltação com quecostumam ser tratados os problemas da arte e da de-fesa de ponto de vista, segundo a qual existe umalinguagem específica na arte que é preciso conhecerpara se realizar uma obra!...), não há sobressaltosdo lado de lá. Esperava um ligeiro estremecimento,uma reacção fugaz, quando citasse o nome da re-vista em que colaboro. Mas nada. Em vez disso,veio esta confissão inesperada: – «Sabe o senhorM. D., nós temos aqui muita consideração pela suaobra e limitamo-nos a uma atitude puramente legal.Mas estamos sempre um bocadinho de pé atrás comos seus escritos. Às vezes, uma palavra, uma citaçãopode querer dizer mais do que parece. E, então, umcorte pode ser mais pelo que se receia que o artigodiga do que...»

cont. depois das centrais

DO DIÁRIO INéDITO «PASSAGEIRO CLANDESTINO»

Conversa com o censorMário Dionísio

(…)Negociar com a censura seria já a miséria moral.Mas não se trata de negociar. Trata-se de lutar,sabendo esgotar todas as gradações da luta, por con-seguir fazer chegar ao público o que julgamos deverser dito. Trata-se de defender o resultado de um tra-balho de horas, de dias, de anos. Trata-se de não ab-dicar.

(…)Até hoje não conheci esta entidade da censura senãode longe. Tanto sabia se eram homens ou máquinasque cortavam, que impediam as palavras de sairpara a rua, livres e felizes, ao encontro dos homensa que se destinam. Hoje, estou aqui na porta, suboas escadas e (enquanto lá do fundo da parte co-modista de mim mesmo uma tentação me segreda:ainda estás a tempo de regressar, de continuar a ig-norá-los) bato ao pequeno postigo de vidro: «De-sejo falar com o senhor director da Censura.»Mandam-me entrar. Numa sala vulgar, com um sofáe dois maples de cabedal, dois grandes retratos naparede: um do director cessante, gordo e sorridente(de monóculo?, não sei), outro do director actual,fardado, com o rosto magro e mole a escorrer de

UMA MEMÓRiA DE MARiA LETÍCiAA27 DE DEzEMBRO do ano passado,

morreu, aos 95 anos, Maria Letí-cia Clemente da Silva, companheirade toda a vida de Mário Dionísio.

Maria Letícia nasceu em 12 deSetembro de 1915, em Beja. Aindacriança, mudou-se com a família pa-ra Lisboa, onde sempre viveu. Na Se-mana de Abertura da Casa da Acha-da – Centro Mário Dionísio, EduardaDionísio contou-nos esta história:«Era uma vez um miúdo, nascido noséculo xix, de “mãe incógnita” se-gundo ouvi dizer, criado na Casa Pia,depois ferroviário, republicano e ma-çon (o que só soube depois da suamorte), que tirou o curso de Direitoenquanto a filha fazia o liceu noCamões (uma das poucas raparigasque por lá andaram ao mesmo tempoque Álvaro Cunhal, nos anos 20 doséculo xx). A mulher desse ferroviáriotinha o curso do magistério primário(tirado nos anos 10 do mesmo sé-culo), mas nunca teve profissão por-que se casou com ele. Aplicou ossaberes a preparar a filha para tirar a4.ª classe, a fazer fotografia em casae na economia doméstica. Mal con-tada, esta é a história da pequena as-censão dos pais de Maria Letícia.»

dade de Letras da Universidade deLisboa, onde conheceu Mário Dioní-sio, com quem casou em 1940. Fez oestágio do ensino liceal em Lisboa,no Liceu Pedro Nunes, e foi profes-sora de Português e de Latim no Li-ceu de Santarém, no Liceu Camões,no Liceu D. Filipa de Lencastre e noLiceu Rainha D. Leonor. Deu tam-bém aulas particulares. Em 1947, foi afastada do ensino du-rante oito anos (até 1955) peloregime salazarista «por razões deordem política», nunca explicadas.Julga-se que por ter assinado as lis-tas para a constituição do MUD(Movimento de Unidade Democrá-tica) em 1945.Também em 1945, depois do fim daguerra, altura em que nasceu umanova esperança de mudança políticaem Portugal – que como sabemosnão se veio a verificar…–, Maria Letí-cia fez parte do numeroso grupo demulheres que aderiu ao ConselhoNacional de Mulheres Portuguesas,encerrado pelo Estado Novo em1947. Pertenceu também à Associ-ação Feminina Portuguesa para aPaz, de que foi Presidente, Vice--Presidente e Secretária da Assem-bleia Geral, entre 1945 e 1951, quando

Para além de ter concluído o CursoSuperior de Piano do ConservatórioNacional, tendo sido aluna de músicade Oliva Guerra e Francine Benoît,Maria Letícia terminou em 1937 ocurso de Filologia Clássica na Facul-

«A mulher tem um instintivo horror à guerra..»No seu número 82, de 19 de Janeiro de1936, o jornal O Diabo, numa linha clara-mente pacifista face à avançada bélica dosnazo-fascismos, fez publicar um «Inquéritoàs Mulheres Portuguesas». Nele, a entãojovem aluna da Faculdade de Letras,Maria Letícia, respondeu de feição ao refe-rido inquérito:

«O Diabo» – Maria Letícia estuda grego elatim na Faculdade de Letras. E as suas im-pressões para o nosso inquérito são-nostransmitidas com uma convicção e umasinceridade que criam confiança no futuro:– É sempre difícil falar das aspirações damulher se atendermos à influência que nelanecessariamente exercem o temperamento,a mentalidade e a cultura de cada uma.Contudo, entre a mulher romântica que,crente no Amor, aspira unicamente a cons-truir um lar, e aquela que alimenta a utopiados maravilhosos resultados de uma igual-dade completa de direitos com o homem,surge uma outra de quem se conhecem asaspirações. É esta a Nova Mulher que, cons-ciente do papel que lhe está reservado, as-pira à independência, à elevação da sua

cultura, a uma benéfica coadjuvação juntodo homem, à livre criação da sua personali-dade num ambiente necessariamente pró-prio do seu sexo.– Para essa mulher, que representa o tra-balho?– O trabalho feminino, quer material, querintelectual, é absolutamente necessário: éuma das imposições da vida. Podemos con-siderá-lo, até, uma razão de existência. Defuturo – porque eu creio nele –, quando àsmulheres forem concedidos trabalhos emque ela possa manifestar plenamente todasas suas qualidades, o trabalho feminino se-rá a afirmação de um valor de que muitosduvidam...– E será pacifista?– A mulher, como de resto todo o ser in-

telectual e sentimentalmente bem formado,tem um instintivo horror à guerra. Não fa-lando já das mulheres a quem o pensamen-to da perda de «alguém» basta para astornar ferozes e irredutíveis inimigas desteflagelo social, toda a mulher, por um natu-ral sentimento de fraternidade universal, élevada a considerar a guerra como um es-colho para o progresso e felicidade dospovos.– E o que pensa sobre o Amor?– De uma maneira geral, considero muitotranscendentes as respostas a dar a estasperguntas, porque desde o amor conside-rado um mero passatempo, até aquele quetem somente o fim de criar uma cómoda ins-talação na vida, ele tem as mais variadas in-terpretações. Mas o amor há-de ser sempre

Únicamulherentre oshomensna Coop.Autome-cânicade Portugal,1938

Maria Letícia dedicou tambémmuito do seu tempo à tradução,tendo traduzido e introduzido vá-rias obras e apoiado o trabalho deoutros tradutores. Foi ainda auto-ra, com Eduarda Dionísio, de livrosescolares para o ensino do Por-tuguês, publicados entre 1972 e1975 e adoptados pelas escolasdurante alguns anos.O espólio de Maria Letícia Cle-mente da Silva, ainda não estu-dado, que inclui a sua biblioteca (amesma de Mário Dionísio), estádisponível ao público no Centro deDocumentação do Centro MárioDionísio desde a abertura da Casada Achada.Não é demais repetir que sem amemória (rigorosa e crítica) e o tra-balho de Maria Letícia – que come-çou, com Natércia Coimbra, aorganização e catalogação do es-pólio de Mário Dionísio logo em1994 –, sem as suas economias– que foram suficientes para ad-quirir o prédio em que se instalou aCasa da Achada – e sem a suavida dedicada a Mário Dionísio, àeducação e ao conhecimento, e àluta por um mundo diferente, nãoexistiria esta casa.

a associação foi encerrada pelo Es-tado Novo.

Maria Letícia Clemente da Silva eMaria Emília Coutinho Diniz foramcolaboradoras de A Capital (de Mar-ço de 1968 a Julho de 1969) com opseudónimo de Dinis da Silva, umavez que os professores do ensino ofi-cial só podiam nesta época escrevernos jornais sobre ensino depois desuperiormente autorizados. Mantevecom este pseudónimo a secção«Consultório Escolar».

À Maria Letícia

chapelinho de quadrados

de vagar pela rua frenética

com uma fímbria de sol no laço

e uma saudade solta

desce um ar de natal sobre os passeios

sobre as pessoas sobre os carros

e um olhar sem palavras que flutua

põe-se a dizer de manso

antigamente

sinto surpreso que há momentos

em que as próprias rugas sabem bem

a ao nosso lado

numa alegria de cabelos soltos

o passado e o futuro correm de mãos

dadas

Mário DionísioO riso dissonante, 1950

– resposta a um inquéritoo mesmo sentimento incompreendido e as-sassinado que pela sua vulgaridade nuncafrutificará o que seria para desejar. De resto,é uma moda que não passa, mas que sócom a valorização intelectual do homem eda mulher será um sentimento conscientenas sociedades futuras.– Qual o ciclo histórico em que a mulher foimais feliz?– Seria um absurdo afirmar-se ter havidouma época em que a felicidade ou a infeli-cidade fosse completa para todas as mu-lheres. Presentemente, há mulheres que sesentiriam felicíssimas se vivessem na IdadeMédia, no isolamento de um castelo feudal,escutando embevecidas o cantar de umtrovador. Eu, por mim, analisando a vida damulher através dos tempos, sou levada aafirmar que apesar de tudo é a nossa épocaa que melhor se coaduna com a maneira deser da mulher que na vida procura um meiode viver melhor.– Tem algumas ideias formadas sobre opapel da Maternidade na vida espiritual damulher?– A maternidade, nas mulheres que nasce-

ram para ser mães, é um bem. Dignifica-as,transforma-as, convence-as do papel im-portante que devem desempenhar. Social-mente, é utilíssima – porque o pensamentoegoísta e aliás legítimo do futuro dos filhosas torna, evidentemente, em instrumentosúteis para a colectividade. Infelizmente hámuitas mulheres que não compreendem asua missão. Daí a necessidade de um cons-ciente exame de consciência – perdoe-meo pleonasmo! – da parte daquelas que sepropõem desempenhar este cargo, que éafinal tão difícil como louvável.– Sobre o desenvolvimento intelectual damulher...– Pondo de parte a influência que só pelofacto de ser mulher ela pode exercer, e con-siderando-a apenas um elemento da so-ciedade, a necessidade de cultura intelec-tual da mulher – não unicamente para seequiparar ao homem, mas porque sinta anecessidade de abrir novos horizontes aoseu espírito – é a atitude mais louvável quese lhe deve atribuir e reconhecer.Uma vez que a mulher completa a sua exis-tência criando e povoando um lar, o desen-

volvimento intelectual, não sendo incom-patível com o seu papel de mãe, contribuipara cimentar os alicerces sobre os quaisela elevará, como mentor espiritual dos seusfilhos, a personalidade daqueles de quemela legitimamente sempre deseja fazer cria-turas moral e socialmente superiores. Pe-rante a sociedade, a mulher culta serásempre um elemento de valor que trabalhapara o progresso e para a perfeição hu-mana. E a terminar:– A convicção de que pode ser um «valor»imprescindível na construção de uma novaera de felicidade, eis o que mais dignifica amulher – exigindo uma cultura, uma in-teligência e, antes de mais, uma sensibili-dade feminina, muito feminina.

10. OFICINAS AOS DOMINGOS

Têm continuado as oficinas aos domingos àtarde, com idade mínima de inscrição massem idade máxima, o que reúne novos e ve-lhos nos mesmos trabalhos: em 3 de Outu-bro de 2010, durante o 1.º aniversário daCasa da Achada, conclui-se a OFICINA DEFOTOGRAFIA PINHOLE, chamada RETRA-TO(S) URBANO(S), orientada por LuísRocha e Tânia Araújo do MEF, para jovens e famílias, com a inauguração de uma expo-sição.A seguir, foi a OFICINA DE TEATRO queMariana Goes orientou. Em Novembro, a ofi-cina CONSTRUIR FANTOCHES, com Irenevan Es e Clara Boléo, para todos de mais de6 anos, a partir de uma peça de Jacques Pré-vert, e que deu origem a nova oficina emMarço deste ano. Construíram-se mais de 20fantoches. Em Dezembro, mês das compras, EupremioScarpa retomou pela terceira vez o «fazer oque presta a partir do que não presta» e aoficina, para todos a partir dos 6 anos, cha-mou-se PRENDAS SOU EU QUE AS FAÇO.Em Janeiro e Fevereiro deste ano as oficinasforam para mais velhos: ENCADERNAÇÃO,com Sónia Gabriel e Pedro Oliveira, paratodos a partir dos 15 anos (ou mais novosdesde que acompanhados); em Fevereiro,MÚSICAS COM HISTÓRIA(S), orientadapor Manuel Videira, para todos, a partir dos14 anos (ver texto). Em Março, regressámosentão aos fantoches e aos mais novos, comLena Bragança Gil, Diana Dionísio, Marta Cal-das: MONTAR UMA CENA COM FANTO-CHES, com os bonecos fabricados emNovembro. A cena foi escrita, encenada, feitoo cenário e apresentada. Voltará a poder servista na próxima Feira de Julho. Acabou em 17 de Abril, a oficina JUNTARFOLHAS EM CADERNOS, orientada porSónia Gabriel e Pedro Oliveira, que reduzi-ram o trabalho de encadernação ao quetodos, pequenos e grandes, podem aprendera fazer.Em Maio haverá uma oficina de gravura, comCarla Mota: GRAVAR MAIO.

11. MÁRIO DIONÍSIO, UM ESCRITOR

Entre Outubro e Março, houve 5 sessões dasérie mensal «Mário Dionísio, um escritor»,sobre livros e textos de Mário Dionísio – oraleituras, ora palestras. Antonino Solmer leu contos de O DIA CIN-ZENTO (publicado em1944, reescrito e ree-ditado com mais contos em 1967, com o

título DIA CINZENTO E OUTROS CON-TOS) escolhidos por ele; José Manuel Men-des leu poemas de Mário Dionísio, tambémescolhidos pelo próprio. Cristina Almeida Ribeiro falou dos contos deO DIA CINZENTO E OUTROS CONTOS,lidos por Antonino Solmer no mês anterior;Maria Alzira Seixo falou do livro de contosMONÓLOGO A DUAS VOZES (1986), Eu-génia Leal, do livro de contos A MORTE ÉPARA OS OUTROS, publicado em 1988. Continuarão estas sessões mensais: Em Abril,dia 29, ao fim da tarde, Manuel Cintra lê poe-mas de Mário Dionísio escolhidos por si, comacompanhamento musical de Bruno Broa. Eem Maio, dia 13, também ao fim da tarde,António Cortez falará da poesia de MárioDionísio. Em Junho será a vez de AUTO-BIOGRAFIA, com Rui Canário.

12. LIVROS DAS NOSSAS VIDAS

Foram 6 as sessões mensais intituladas Livrosdas Nossas Vidas, feitas a partir de livros re-feridos num depoimento de Mário Dionísiosobre «Os livros da minha vida» (publicadono JL de 6/7/87). Cada um escolhe um livroou um autor que lhe interessa: Pedro Rodri-gues falou de MODERATO CANTABILE deMarguerite Duras; Gabriela Dias, de MON-TANHA MÁGICA de Thomas Mann; HéliaCorreia, de D. QUIxOTE de Cervantes,Mário de Carvalho, de A CONDIÇÃO HU-MANA de André Malraux; Joaquim Beja, de APESTE de Albert Camus, Filomena MaronaBeja falou de Júlio Verne e Georges Simenon,Cristina Almeida Ribeiro, do conto «Arranjoem preto e branco» de Dorothy Parker. As sessões continuam. Em Maio, será a vez deMarx (e Engels), com o Manifesto do PartidoComunista. Todos os que leram ou relerameste livro há menos de um ano estão convi-dados a participar.

13. ITINERÁRIOS

Continuaram as conversas, de dois em doismeses, com pessoas que têm um percursopouco vulgar e com as quais se aprende. Conversámos com Jorge Valadas, emigrante,militante, autor de livros em francês, quasetodos com pseudónimo, que, nos anos 60,partiu de Lisboa para Paris, para não fazer aguerra colonial, e que hoje vive entre Paris eTavira, reformado do trabalho de electricistaque foi tendo.

Aproveito: – «Talvez então este artigo não tenha sidovisto com a atenção necessária...» – «É possível», res-ponde ele. «Vamos já ver o artigo todo.»

(…)Mas já o secretário, que antes me recebera,viera trazeras provas cortadas. Sentei-me ao lado do censor, à se-cretária, e vimos o longo artigo parágrafo por parágrafo,período por período. Em cada linha, ele julgava encon-trar a justificação do corte. Mas com tanta infelicidadeque cada frase escolhida tinha a seguir a sua negação.Assim, quando digo que talvez tudo esteja justificado, aexaltação, a ira (e ele logo: – «Vê? O senhor diz queestá justificada a revolta!»), faço-o ler o que vem aseguir: «Mas a exaltação não explica nem constrói.»Etc. Houve que explicar, período a período, que o queali estava em causa não era a política portuguesa, o co-munismo ou o anticomunismo, mas a defesa da arte; quesó superficialmente poderia alguém pensar o que, natu-ralmente, ele dissera dois minutos antes ou ia dizer daía pouco. E ele não parecia querer vestir essa camisa. Asua relutância maior estava, manifestamente, em aceitarcertos autores citados. Teve sorrisinhos de entendedorpara os nomes de Langevin, de Aragon, de Lefeb-vre.«Para quê citar tantos comunistas?» Aí lhe expliqueique a minha posição era naturalmente diferente da dele,que, sendo um escritor independente, pensava que osautores deviam ser estudados, e citados, independente-mente de serem comunistas, ou não, pelo que diziam desério e de útil. Ao que ele contrapôs que era um perigodeixar citar tais autores: o público lia, interessava-se,procurava livros deles. Ao que eu contrapus, por minhavez, não evidentemente, que era isso o necessário parao desenvolvimento da cultura, mas que não via incon-veniente nenhum em tratar-se qualquer assunto ou qual-quer autor, desde que isso fosse feito num nível elevado,como ele próprio dizia reconhecer nos meus escritos.De repente: – «Quem é este Victor Cousin?» – «VictorCousin foi um ministro da Educação, francês, católicodo século passado, a primeira pessoa que empregou aexpressão “arte pela arte”...» – «Muito obrigado pelalição» disse; e seguiu. Mais à frente: – «Quem é este Ja-mati?» E, depois, voltou ao seu tema principal: – «Vê?Cá está outro comunista: Lefebvre! E cá estão as “con-tradições” da filosofia comunista.» – «As contradiçõessão apanágio da filosofia comunista?» – «Sim, as con-tradições que eles aplicam depois na prática, ao social.»Regressei ao meu ponto de partida: – «O que me inte-ressa não é o ponto de vista político; aqui defendo a im-portância da arte. Realmente penso que pode haver naRússia, por exemplo, um grande artista ou um grandecientista... E ele logo: – «Claro! Mas estas contradi-ções...» – «A contradição, interrompi, é do domínio detodas as correntes de pensamento. Que seria da filosofiacristã sem a contradição entre o bem e o mal? No Autoda Alma, Gil Vicente...» Mas o censor não queria ouvir-me mais. Ele próprio estava um pouco cansado de andardurante hora e meia por assuntos em que se sentia umpouco estranho. Anunciou-me que ia levantar todo ocorte! Todo o corte!

Pedi-lhe então que carimbasse imediatamente aquelasprovas para que o número da revista se não atrasassemais. Chamou o contínuo para pôr no artigo o carimbode visado e levantámo-nos. Não dei mostras da minhaalegria. Vencera-o. Mas estava extenuado. Era precisotudo aquilo para que um artigo saísse!

Conversa com o censor

Conversámos com João Paiva, operário litó-grafo, que trabalhou na Gravura – Coopera-tiva de Gravadores Portugueses, ensinandoo seu ofício a grandes artistas, e que, depoisdo 25 de Abril, animou as comissões de mo-radores e o desporto em Campolide. Evimos nesse dia, com ele presente, o docu-mentário de Jorge Silva Melo (também pre-sente) GRAVURA: ESTA MÚTUA APREN-DIZAGEM (2008) sobre a Cooperativa Gra-vura, onde ele evidentemente aparece. Conversámos com Rui Canário, à beira daaposentação do Instituto de Ciências de Edu-cação (porquê?), onde é professor catedrá-tico. Ex-professor do ex-ensino preparatório,ex-sindicalista, ex-militante de pequenas emédias organizações políticas, antes e depoisdo 25 de Abril. E que actualmente tambémpinta. Pela primeira vez, nesse dia, foram ex-postas algumas obras suas. Conversámos com Alípio de Freitas, homemde farta vida e «de grande firmeza», comquem Zeca Afonso na sua canção (e não só)se solidarizou, alguém que começou por serpadre, que sabe o que são os camponeses eter armas nas mãos, que conheceu a prisão eo exílio, que partiu de Trás-os-Montes e che-gou ao Brasil (e outros países da América doSul) e que regressou à nossa terra depois do25 de Abril. E nessa sessão se cantou a canção do Zeca ese projectou o vídeo À PROCURA DO SO-CIALISMO de Alípio de Freitas e Mário Lin-dolfo.

14. AMIGOS DE MÁRIO DIONÍSIO 

Esta série trimestral começou-se pela maisesquecida, MANUELA PORTO, com uma

sessão sobre a actriz e escritora, que se sui-cidou em 1950, organizada por Diana Dioní-sio e Pedro Rodrigues, durante a semana do1º aniversário da Casa da Achada, com mú-sica, leitura de textos e pequena exposiçãodocumental. A sessão partiu do trabalho feitosobre Manuela Porto por Diana Dionísio paraa sua dissertação de mestrado. Ouviu-se avoz de Manuela Porto, no único registo queexiste, oferecido por Teresa Avelar, filha dapianista Maria da Graça Amado da Cunha,grande amiga de Manuela Porto e de MárioDionísio.

A segunda sessão foi sobre FERNANDOLOPES-GRAÇA, que esteve do lado de MárioDionísio, João José Cochofel, Carlos de Oli-veira, na chamada «polémica do neo-rea-lismo» na Vértice dos anos 50. Quem orientoua conversa e algumas audições de peças doimportante compositor foi o jovem musicó-logo Manuel Deniz Silva. Estiveram presentese participaram várias pessoas que conhece-ram bem Fernando Lopes-Graça, incluindoelementos do Coro da Academia dos Ama-dores de Música, que ele fundou e que ac-tualmente tem o seu nome. Francisco CastroRodrigues, Maria Eugénia Cochofel, PedroAvelar fizeram depoimentos sobre alguémque, de formas diferentes, os marcou. Em Maio, dia 21, será a vez da pintora MARIAKEIL. Pelo meio da sua grande obra, está o ar-ranjo gráfico da 1.ª edição de A Paleta e oMundo de Mário Dionísio.

15. DIREIS QUE NÃO É POESIA 

O título destas sessões, de periodicidade nãoregular, que foram acontecendo quando a al-guém apetece, é um verso de Mário Dionísio,provando que partindo de poemas seus (e deoutros) se pode chegar a outras artes, à vistade quem está.

Bárbara Assis Pacheco, que pediu a colabora-ção de João Pacheco, Miguel Manso, do grupomusical Duas Semicolcheias Invertidas e decrianças da Escola n.º10, desenhou, num gran-de papel-cenário, a partir dum verso de Le feu

qui dort de Mário Dionísio.Inês Nogueira (voz) e Carlos Zíngaro (violinoe electrónica) refizeram um espectáculo quejá tinham experimentado e apresentado noTeatro Maria Matos, usando frases de MárioDionísio (e até a sua voz).

16. GRUPOS DE  QUEM ESTÁ ZAN-GADO COM A LEITURA

Depois da Leitura Furiosa 2010 (28 a 30 deMaio) em parceria com a Associação Cardan

Tudo indicava que não era bem uma oficina como asoutras que têm acontecido aos domingos à tarde na Casada Achada. Ouvir música não é sujar as mãos, comoquando se pinta, ou se escreve, ou se reciclam materiais,ou se constroem fantoches, ou se encadernam livros.Ouvir música é até uma actividade bem limpinha. Eouvir história. Mas que história? Da música ouvida? – Não foi isso que aconteceu. Quer dizer, não foi bemisso. Daí o plural entre parêntesis, já emprestado do plu-ral entre parêntesis da história do Godard do cinema(s).Começámos por ouvir uma música, a primeira de todasfoi a Grândola do Zeca. Depois ouvimos a história destacanção. – Não, não foi bem isso. Ouvimos uma das históriasdesta canção, contada e escolhida pelo Manuel Videirae logo a seguir ele pôs outra música que ele achava queestava relacionada com essa história que por sua veztinha mais história(s). E depois alguém de repente contamais uma a propósito disso. As músicas estavam inter-caladas com as histórias. Mas depois havia músicas quetambém contavam histórias. E histórias que contavammúsicas? Pelo menos havia polifonia nas vozes dos par-ticipantes. Éramos quase sempre uns dez, doze, oito.Um dos participantes dizia: essa história não foi assim.

– Não foi assim? Não ponhas em causa a música seguinte!E depois as músicas que íamos descobrindo, que nãoconhecíamos, e outras, que conhecíamos as músicasmas não conhecíamos as histórias. Por exemplo, eu nãosabia que a Judite do Fausto era a polícia judiciária. Enão sabia que o Charlie Haden, no primeiro festival dejazz do Estoril, em 1971 tinha a gravação da cançãopara o Che guardada no bolso da gabardina que pendu-rou no bengaleiro da Pide antes de ser revistado e inter-rogado e que ninguém se lembrara de interrogar obengaleiro, e por isso pôde a dita gravação dedicada noconcerto aos movimentos de libertação de Angola e Mo-çambique ser mais tarde editada em disco. E nunca metinha ocorrido que a música mais literalmente de inter-venção podia ser o canto gregoriano. E quando ouvimoso coro dos escravos hebreus do Verdi alguém lembrouque os anarquistas cantavam esse tema com outra letra,chamando-lhe «a canção do Maio».Isto já estava a ser muito uma oficina, como a dos fan-toches, ou a dos materiais reciclados, ou a das pinturas.Então, para última sessão, o Manuel Videira lançou umdesafio aos participantes: cada um que traga uma mú-sica da vossa história. E que a conte.– Mas o quê, a música da minha vida? – Não, uma música relacionada com a nossa históriapessoal. – Quê, mas a minha vida não é por aí além interessantepara estar aqui a contar. – Não, não é contares a tua vida, é contar de que ma-neira te ligas a uma música. Trata-se mais aqui de con-tar músicas a partir do ponto de vista que é o nosso.– Contar músicas a partir do ponto de vista que é onosso. E foi assim que sujámos as mãos na música.

Miguel Castro Caldas

MúSICAS COM HISTóRIA(S)

18.  ANIVERSÁRIO  DA  CASA  DAACHADA

Uma semana entre 29 de Setembro e 5 deOutubro, com actividades várias: além dainauguração das exposições «50 anos de Pin-tura e de Desenho – 2» e «1 ano de activi-dades da Casa da Achada-Centro MárioDionísio», exibição de um filme sobre umano de actividades na CA-CMD; lançamentodo livro Entrevistas de Mário Dionísio; 1.ªsessão de «Amigos de Mário Dionísio» –Quem foi Manuela Porto?; leitura por 15 fun-dadores da CA-CMD da antologia de textosde Mário Dionísio «Mais verde, mais azul,mais branco, mais vermelho», coordenadapor Luis Miguel Cintra; concerto com oCoro da Achada e o grupo CRAMOL, pin-tura de murais, última sessão da oficina Pi-nhole com exposição; «Pequeno é bom» –feira de edição independente; e para assina-lar o 5 de Outubro: plantação de uma árvoreacompanhada por leitura de textos de JoséGomes Ferreira, leitura de textos de RaulBrandão por Jorge Silva Melo e ainda o 2.ºleilão de arte, em que a Gesto-CooperativaCultural participou – e muito. Uma das for-mas, das mais importantes, de encontrar re-cursos para manter a CA-CMD, a partir deofertas de um grande número de artistas.

19. FIM-DE-SEMANA DIFERENTE

Como em Dezembro do ano anterior, fez-seno mesmo mês (Dezembro), com activida-des várias: vendas de livros em segunda mãoe cds, peças de vidros de artistas vindas deTallinn («Cores, Imagens, Sentimentos»), pro-jecção do filme estónio Baile de Outono, vi-sita guiada por Sílvia Chicó à exposição «50anos de pintura e desenho-2»; canções peloCoro da Achada; última sessão da oficina«Prendas sou eu que as faço»; apresentaçãodo resultado da oficina de fantoches (excer-tos da peça Guignol de Jacques Prévert);«Movimento Diplomático do Outono» – lei-tura de poemas por Fernando Nunes comacompanhamento musical.

de Amiens (França), que foi a 7.ª edição destarealização anual em Lisboa, com a participa-ção dos Centros Sociais/ Polivalentes/ DeDia dos Anjos, Socorro, S. Cristóvão e S. Lou-renço, da Escola EB1 n.º 10 (Castelo), da Es-cola EB1 n.º 75 (Madalena), da Escola GilVicente e do CPR (Centro Português dosRefugiados), com os escritores ArmandoSilva Carvalho, Filomena Marona Beja, JacintoLucas Pires, José Mário Silva, Mário de Car-valho, Miguel Castro Caldas, Raul MalaquiasMarques, em que colaboraram os desenha-dores Bárbara Assis Pacheco, José Smith Var-gas, Nadine Rodrigues, Nuno Saraiva, PierrePratt, Zé d’Almeida e os actores e músicosAntonino Solmer, Bruno Bravo, Diana Dioní-sio, Diogo Dória, Fernanda Neves, Inês No-gueira, Pedro Rodrigues, Sandra Faleiro e 10tradutores; começaram a funcionar algunsgrupos de leitura, com os escritores Filo-mena Marona Beja, Jacinto Lucas Pires, Miguel Castro Caldas e Raul Malaquias Mar-ques, no Centro Social da Sé, no Centro So-cial de S. Cristóvão e S. Lourenço, na EscolaEB1 n.º 10 (Castelo), na Escola EB1 n.º 75(Madalena). Uns melhor, outros pior.

Na Casa da Achada, reuniram-se os que es-tavam a funcionar, comunicando uns aos ou-tros o que andavam a ler. E leram em voz alta.As crianças da Escola do Castelo cantarampoemas de Mário Dionísio, musicados algunspor eles próprios, com o incentivo e o saberda professora Ariana Furtado.A 8.ª edição da Leitura Furiosa em Lisboaacontecerá nos dias 6, 7 e 8 de Maio em vá-rios lugares. Domingo, 8 de Maio, haverá umasessão pública: leituras e músicas, apresenta-ção dos resultados do que foi feito emAmiens, Lisboa, Porto, Beja (pela 1ª vez) e tal-vez em Kinshasa nos mesmos dias.

17. APRESENTAÇÃO DE LIVROS  EVÍDEOS

Apresentaram-se livros e vídeos com algumarelação com a Casa da Achada-CentroMário Dionísio: obras de fundadores, obrasrelacionadas com o que Mário Dionísioviveu: «Antes do Inverno» chamou-se a sessãoonde foram apresentados, em Novembro, li-vros e vídeos de Regina Guimarães e de Sa-guenail, produzidos pela Hélastre em 2010.Foi apresentado o livro HHhH – OPERA-ÇÃO ANTROPÓIDE de Laurent Binet, edi-tado pela Sextante, com a presença do autorque à noite apresentou o fime OS CAR-RASCOS TAMBÉM MORREM, de Fritz Lang,incluído no Ciclo Revoltas e Revoluções,com o mesmo tema do seu livro.

20. EMPRÉSTIMO DAS INSTALAÇÕES

Continuámos a emprestar o espaço para al-gumas realizações: – PEQUENO É BOM, encontro da ediçãoindependente (mostra e venda de fanzines,debates, vídeos), organizado por Chili comCarne, fez mais duas sessões. – Ciclo de documentários AS CIDADES E ACONSTRUÇÃO INFORMAL, inserido noColóquio «Políticas de Habitação e Cons-trução Informal» (ISCTE-IUL, org. CIES),aconteceu todas as terças-feiras de Janeiro, àtarde e à noite.

SAUDAMOS CASTRO RODRIGUES

No passado dia 2 de Março, estando a decor-rer a xIII semana cultural da Universidade deCoimbra dedicada ao tema «Reinventar aCidade», estivemos presentes com FranciscoCastro Rodrigues, no bar do Teatro da Cercade S. Bernardo, para apresentação (seguidade debate moderado pelo prof. arquitectoJosé António Bandeirinha) do livro Um Cestode Cerejas. Na presença de uns tantos alunosde arquitectura, houve ocasião para uma ani-mada conversa que alastrou das «arquitex-turas» às abordagens de vidas, pessoas,tempos e lugares que conduzem finalmente àprópria reinvenção das cidades. Dias depois fomos surpreendidos pela atri-buição do prémio AICA de Arquitectura aFrancisco Castro Rodrigues. O júri portuguêsdaquela Associação Internacional dos Críti-cos de Arte, presidido por Manuel GraçaDias, considerou a obra do Arquitecto «degrande relevância cultural na cena portu-guesa, ainda que pouco conhecida das ge-rações recentes», sublinhando que a partemais significativa dessa obra se situou nacidade angolana do Lubito, à qual o premi-ado «imprimiu um forte carácter urbano apartir dos anos de 1950». Recordou ainda ojúri daquele importante prémio, que é atri-buído anualmente, que Castro Rodrigues «sedestacou logo em 1947 quando liderou ogrupo refundador da revista Arquitectura» edo seu papel na divulgação da escola moder-nista inspirada em Le Corbusier.Sai daqui uma saudação (suplementar) aonosso sócio fundador.

– Apresentação do filme De Caras de TiagoAfonso sobre Camilo Mortágua.– Concerto do grupo Le Doux Vacarme,vindo de França. – Apresentação do livro Classe – Uma ideia

política sob o signo de Walter Benjamin de An-drea Cavalletti, editado pela Antígona, com aparticipação do autor, de António Guerreiro,Bruno Peixe, Ricardo Noronha.– Mesas-redondas, organizadas pela UNI-POP: «O Espectro da Anarquia», com Antó-nio Cunha, António Pedro Dores, José Car-valho Ferreira, José Neves, Miguel Madeira,Miguel Serras Pereira e Ricardo Noronha;«Dos motins às revoluções e vice-versa»,com Miguel Cardoso, Pedro Rita, José Soeiro,Paulo Granjo e Ricardo Noronha.– Apresentação do livro Contos da Biodiver-

sidade, editado pela Quercus.– Debates organizados por O Beco/Exit: «ACrise e a Crítica do Valor»; «A Crise e o DuploMarx».– Leitura de A Comunidade de Luiz Pachecopor Isabel da Nóbrega, organizada por Tânia Pinto.– Sessão «O caso Battisti é o caso de todosnós», com João Bernardo, Rui Mendes e Antó-nio Pedro Dores, em que houve música comJosé Mário Branco, Amélia Muge, Diana e Pedro,Pedro Soares, Marta Caldas e Coro da Achada.– Lançamento do n.º 2 da revista Capicua,organizada pela Associação Cultural Catalu-nyapresenta, com Ana Marques Gastão, Ri-cardo Marques, Alèx Tarradellas. Leituras porIsabel da Nóbrega e projecção dum filmesobre Manuel Pedrolo.– Debate de bloggers sobre ‹‹O PREC e aactualidade››, inserido no Festival Panorama,com Pedro Mexia, Tiago Mota Saraiva, Daniel Oli-veira, Rodrigo Moita de Deus e João Villalobos.

21. AMIGOS DA CASA DA ACHADA

Foram criados em Janeiro de 2010 os «Ami-gos da Casa da Achada», que contribuemcom uma pequena quota simbólica e usu-fruem de descontos nas edições da Casa daAchada e nos seguintes espaços culturais:Castelo de São Jorge, Museu Arpad Szenes-- Vieira da Silva, Museu do Fado, Museu daMarioneta, Padrão dos Descobrimentos, Tea-tro o Bando, Teatro Municipal Maria Matos,Teatro da Trindade. São até agora cerca de 170, sem contar comos sócios fundadores.

22. COLABORAÇÕES e PARCERIAS 

Foram feitos protocolos de colaboração com asseguintes associações: Associação Cardan(Amiens-França) com quem fazemos a Lei-tura Furiosa; Associação Alagamares (Sintra)que realizou uma sessão sobre Mário Dioní-sio em Galamares, onde participaram Eduar-da Dionísio, Filomena Marona Beja, FranciscoCastro Rodrigues, Diana Dionísio e PedroRodrigues; Centro Nacional de Cultura (Lis-boa) que promoveu uma visita à CA-CMD eagendou uma nova para Julho; CACAV (Cír-culo de Animação Cultural de Alhos Vedros)onde iremos em breve e que apresenta filmesprogramados nos nossos ciclos de cinema.Colaboramos com a AJA-Norte, na iniciativa«Ocupar Abril e Tomar de Assalto Maio», nal-gumas realizações. Foi assinado um Protocolo com a EGEACpara descontos aos Amigos da Casa daAchada nas entradas em espaços culturaispor ela geridos.Colaborámos pontualmente com a Associa-ção Renovar a Mouraria (Lisboa), o CentroEm Movimento (Lisboa), a Lega di Cultura diPiadena (Itália), o Coro Dominguero (Sevilha),o Coro Si Bemol et 14 demis (Paris).Participámos no Festival Todos (CML, Lisboa).Fomos agora aceites como parceiros do QREN--Mouraria, processo que se arrasta desdeantes da nossa abertura ao público em 2009.

23. APOIOS E PEDIDOS DE APOIO 

A Fundação Gulbenkian deu-nos um apoiopara «promoção da leitura em bibliotecas pú-blicas» no valor de 15 000 € para dois anos.A Direcção Regional de Lisboa e Vale do Tejodeu um apoio de 5850 € para dois anos(Julho 2010), nomeadamente para actividadesrelacionadas com a obra de Mário Dionísioque podem ter interesse para o bairro.Continuamos à espera da resposta da CML àcandidatura apresentada em 31 de Julho de2010 (antes de termos recebido o montantede 20 mil euros referente ao mesmo ano)para as nossas actividades de 2011. Estamos à espera da resposta à candidaturaBIP-ZIP apresentada pela Junta de Freguesiade S. Cristóvão e S. Lourenço, em que somosparceiros, sobretudo para o arranque dosempréstimos da Biblioteca Pública e tambémda candidatura que apresentámos à DGArtespara o restauro e exposição dos desenhos deMário Dionísio, assim como do pedido deapoio ao Montepio, que, a existir, só poderáchegar depois do dia 28 de Abril.

Sessão na Casa da Achada:Desenho de João Palla

EDIÇÕES: LIVROS

SERIGRAFIAS

RUI-MÁRIO GONÇALVES – MÁRIO DIONÍSIO PINTORÁlbum. 64 pp. Texto de Rui-Mário Gonçalves ilustrado, 30 reproduçõesde quadros de Mário Dionísio de tamanho de página, cro-nologia ilustrada. Col. Mário Dionísio 2 PVP - 14 € Aqui - 10 €

MÁRIO DIONÍSIO – ENTRE PALAVRAS E CORES – algunsdispersos (1937- 1990)54 textos de Mário Dionísio. 372 pp.Selecção e organização: Clara Boléo, Cristina Almeida Ri-beiro, Eugénia Leal, Jorge Silva Melo, Maria das GraçasMoreira de Sá, Pedro Rodrigues, Regina Guimarães. Coordenação: Cristina Almeida Ribeiro.Col. Mário Dionísio 1Edição em parceria com Livros CotoviaApoio: Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas

PVP - 18 € Aqui - 14 €

MÁRIO DIONÍSIO – VIDA E OBRALivro-catálogo da exposição. 112 pp.Com textos de: Isabel da Nóbrega, Jorge Silva Melo, JoãoMadeira, Luís Trindade, António Pedro Pita, Rui Canário,Maria Alzira Seixo, Rocha de Sousa, Regina Guimarães,Cristina Almeida Ribeiro, Nuno Júdice, Saguenail, ManuelGusmão, Eugénia Leal.Col. Mário Dionísio 4

PVP - 20 € Amigos da Casa da Achada - 15 €

MÁRIO DIONÍSIO – ENTREVISTAS (1945-1991)Entrevistas a Mário Dionísio e de Mário Dionísio. 350 pp.Selecção e organização: Clara Boléo, Cristina Almeida Ri-beiro, Eugénia Leal, Pedro Rodrigues, Regina Guimarães.Coordenação: Cristina Almeida Ribeiro.Col. Mário Dionísio 3

PVP - 18 € Aqui - 16 € Amigos da Casa da Achada - 14 €

FRANCISCO CASTRO RODRIGUES – UM CESTO DE CE-REJAS – conversas, memórias, uma vidaOrganização, introdução e notas de Eduarda DionísioVolume cartonado. 200 imagens. 480 pp.Apoio: Ass. Promotora do Museu do Neo-Realismo

PVP - 22 € Aqui - 18 €

5 serigrafias a partir de desenhos de M. D. numa tiragemde 80 exemplares, em co-edição com a Gesto-Coopera-tiva Cultural.

Preço de cada: 50€; Preço do conjunto: 200€

JÁ PUBLICADOS:

APOIOS: C.M.L., FUNDAÇãO CALOUSTE GULBENkIAN, MINISTéRIO DA CULTURA-DIRECÇãO REGIONAL DE LISBOA E VALE DO TEJO. PARCERIAS COM QREN-MOURARIA E ASSOCIAÇãO CARDAN.

fichaFabrico caseiro. 25 Abril 2011

Rua da Achada 11, 1100-004 Lisboa. Tel. 218877090. [email protected]

AbrilSeg. 25, 19h Abertura da expo-sição e apresentação do livro. Can-ções pelo Coro da Achada. Con-vívio. Sex. 29, 18h MÁRiO DiONÍ-SiO, UM ESCRiTOR: 11.ª sessãode uma série mensal sobre livros etextos de M.D. Manuel Cintra lêpoesias, com acompanhamentomusical de Bruno Broa. Sab. 30,16h Visita guiada à Exposição.

Casa da Achada, vista exterior – pintura de Joaquim Simões, 2010

MaioSeg. 2, 18h30 CiCLO A PALETA E O MUN-DO ii: Leitura da Conclusão, com projecçãode imagens e comentários. Seg. 2, 21h30CiCLO REVOLTAS E REVOLUÇÕES:Cenas da Luta de Classes de RobertKramer. Dom. 8, às 15h LEiTURA FU-RiOSA: leitura pública por actores dos tex-tos escritos em Lisboa, Porto, Beja,Amiens, Kinshasa, resultado de encontros,na sexta-feira 6, de escritores com «zanga-dos com a leitura» em Centros Sociais e deDia, escolas públicas e outros lugares.Seg. 9, 18h30 CiCLO A PALETA E O MUN-DO ii: Leitura do 1.º capítulo («Chamemos--lhe divórcio», sobre as relações entre aarte e o público), com projecção de ima-gens e comentários. Seg. 9, 21h30 CiCLOREVOLTAS E REVOLUÇÕES: Gestos efragmentos de Alberto Seixas Santos Sex.13, às 18h MÁRiO DiONÍSiO, UM ES-CRiTOR: 12.ª sessão. António Carlos Cor-tez fala da poesia de Mário Dionísio. Dom.15, às 15h30 OFiCiNA: Gravar Maio – gra-vura e impressão, com Carla Mota, paratodos a partir dos 6 anos. Seg. 16, 18h30CiCLO A PALETA E O MUNDO ii: Continu-ação da leitura do 1.º capítulo, com pro-jecção de imagens e comentários. Seg. 16,21h30 CiCLO REVOLTAS E REVOLU-ÇÕES: Os malucos de Maio de LouisMalle. Qua. 18, 17h O Que é o espólioMário Dionísio. Para que pode servir.

Sessão destinada às Universidades. Sab.21, às 16h AMiGOS DE MÁRiO DiONÍSiO:MARiA KEiL 3.ª Sessão de uma sérietrimestral, com uma pequena exposição-relâmpago e projecção de um vídeo. Dom.22, às 15h30 OFiCiNA: Gravar Maio – gra-vura e impressão, com Carla Mota, paratodos a partir dos 6 anos. Seg. 23, 18h30CiCLO A PALETA E O MUNDO ii: Leiturado 2.º capítulo («A ciência contra a Arte?»,sobre as relações entre arte e ciência), comprojecção de imagens e comentários. Seg.23, 21h30 CiCLO REVOLTAS E REVOLU-ÇÕES: A nova Babilónia de Grigori Ko-zintsev e Leonid Trauberg. Sab. 28, 16hLiVROS DAS NOSSAS ViDAS: Manifestodo Partido Comunista de Marx e Engels,por quem o leu ou releu há menos de umano. 11.ª sessão de uma série mensal, apartir de livros referidos num depoimentode Mário Dionísio sobre «Os livros daminha vida». Dom. 29, às 15h30 OFiCiNA:Gravar Maio - gravura e impressão, comCarla Mota. Seg. 30, 18h30 CiCLO A PA-LETA E O MUNDO ii: início da leitura do 3.ºcapítulo («Os caprichos têm data», sobreas relações entre arte e História), com pro-jecção de imagens e comentários. Seg. 30,21h30 CiCLO REVOLTAS E REVOLU-ÇÕES: Histórias da revolução de TomasGutierrez Alea.

TRABALHOS NA ACHADA: O QUE AÍ VEM