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Ano ~Q 06 Brasília, julho de 2.000 (~MÇA E ADOLESCFN1E VERSUS ORfAMEN710, DESPESA E /NVESTI:LJIEN710 NO ANO 2000 o INESC vem atuando, há cer- ca de seis anos, no monitoramento dos gastos orçamentários do governo fede- ral e, em particular, dos gastos relativos às políticas sociais e ambientais. O Bo- letim da Criança e do Adolescente, publicado pela primeira vez em 1999, traz neste número os dados orçamentá- rios do ano 2000 levantados pelo INESC acompanhados de análises rea- lizadas por consultores independentes sobre a implementação de políticas re- lacionadas à criança e adolescentes. Esta análise é realizada a partir do con- ceito "senso estrito" de orçamento da criança, desenvolvido pelo Ipea com apoio do Unicef, que refere-se à sele- ção das rubricas orçamentárias que se destinam a ações que atingem única ou prioritariamente crianças e adolescentes. Ao divulgar estes dados e análi- ses ainda no correr da execução orçamen- tária de 2000, o Inesc pretende ampliar o raio de alcance e impacto dessas infor- mações sobre as organizações sociais, os formadores de opinião e órgãos de im- prensa, com vistas a melhorar a atuação governamental ainda no corrente ano. O INESC, através do levantamen- to e disseminação de informações dos gastos do governo federal, espera forta- lecer o papel propositor da sociedade ci- vil na co-gestão das políticas públicas para a infância e a adolescência dentro dos Conselhos de Direitos, nos três níveis de governo. O objetivo também é incentivar o envolvimento de diferentes segmentos sociais no debate sobre o tema. ZuleideAraújo Teixeira] o desenvolvimento das ações que envolvem a educação da criança e do adolescente no Brasil, em princípio, conta com quatro grandes instrumentos for- mais: o Plano Plurianual de Investimentos - PPA; a Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO; o Orçamento Anu- al e o Plano Nacional de Educação - PNE. Todos estes instrumentos elaborados sob a orientação política e le- gal da Constituição Federal em vigor e da Lei de Dire- trizes e Bases da Educação, além dos institutos legais decorrentes. É importante ter a clareza, quando se faz qualquer análise do orçamento público brasileiro, de que ele é um instrumento autorizativo, o que significa que o Poder Executivo não é obrigado a cumprir o or- çamento, conforme texto aprovado no Congresso Naci- onal. Para garantir o atendimento educacional da cri- ança e do adolescente são organizadas as redes de educação infantil e de educação fundamental, cumprin- do a primeira e segunda etapas da nova a concepção de educação básica. Conforme a Constituição, Art. 211, § 20, os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil; pelo § 3D, do mes- mo artigo, os Estadose o Distrito Federal atuarão priori- tariamente no ensino fundamental e médio. As principais fontes de financiamento da educação infantil e funda- mental são o orçamento próprio do Ministério da Edu- cação - MEC, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE e, eventualmente, recursos exter- nos, provenientes de acordos internacionais, como no caso do Programa Fundescola. Maria José Jaime Secretária Executiva Advogodo, pedagogo, assessoro técnica da liderança do PTno Senado e professo- ra da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes.

Boletim DCA 07

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Ano ~Q 06Brasília, julho de 2.000

(~MÇA E ADOLESCFN1E VERSUSORfAMEN710, DESPESA E

/NVESTI:LJIEN710 NO ANO 2000o INESC vem atuando, há cer-

ca de seis anos, no monitoramento dosgastos orçamentários do governo fede-ral e, em particular, dos gastos relativosàs políticas sociais e ambientais. O Bo-letim da Criança e do Adolescente,publicado pela primeira vez em 1999,traz neste número os dados orçamentá-rios do ano 2000 levantados peloINESC acompanhados de análises rea-lizadas por consultores independentessobre a implementação de políticas re-lacionadas à criança e adolescentes.Esta análise é realizada a partir do con-ceito "senso estrito" de orçamento dacriança, desenvolvido pelo Ipea comapoio do Unicef, que refere-se à sele-ção das rubricas orçamentárias que sedestinam a ações que atingem única ouprioritariamente crianças e adolescentes.

Ao divulgar estes dados e análi-ses ainda no correr da execução orçamen-tária de 2000, o Inesc pretende ampliar oraio de alcance e impacto dessas infor-mações sobre as organizações sociais, os

formadores de opinião e órgãos de im-prensa, com vistas a melhorar a atuaçãogovernamental ainda no corrente ano.

O INESC, através do levantamen-to e disseminação de informações dosgastos do governo federal, espera forta-lecer o papel propositor da sociedade ci-vil na co-gestão das políticas públicas paraa infância e a adolescência dentro dosConselhos de Direitos, nos três níveis degoverno. O objetivo também é incentivaro envolvimento de diferentes segmentossociais no debate sobre o tema.

ZuleideAraújo Teixeira]

o desenvolvimento das ações que envolvem aeducação da criança e do adolescente no Brasil, emprincípio, conta com quatro grandes instrumentos for-mais: o Plano Plurianual de Investimentos - PPA; a Leide Diretrizes Orçamentárias - LDO; o Orçamento Anu-al e o Plano Nacional de Educação - PNE. Todos estesinstrumentos elaborados sob a orientação política e le-gal da Constituição Federal em vigor e da Lei de Dire-trizes e Bases da Educação, além dos institutos legaisdecorrentes. É importante ter a clareza, quando se fazqualquer análise do orçamento público brasileiro, deque ele é um instrumento autorizativo, o que significaque o Poder Executivo não é obrigado a cumprir o or-çamento, conforme texto aprovado no Congresso Naci-onal.

Para garantir o atendimento educacional da cri-ança e do adolescente são organizadas as redes deeducação infantil e de educação fundamental, cumprin-do a primeira e segunda etapas da nova a concepçãode educação básica. Conforme a Constituição, Art. 211,§ 20, os Municípios atuarão prioritariamente no ensinofundamental e na educação infantil; pelo § 3D, do mes-mo artigo, os Estados e o Distrito Federal atuarão priori-tariamente no ensino fundamental e médio. As principaisfontes de financiamento da educação infantil e funda-mental são o orçamento próprio do Ministério da Edu-cação - MEC, o Fundo Nacional de Desenvolvimentoda Educação - FNDE e, eventualmente, recursos exter-nos, provenientes de acordos internacionais, como nocaso do Programa Fundescola.

Maria José JaimeSecretária Executiva

Advogodo, pedagogo, assessoro técnica da liderança do PT no Senado e professo-ra da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes.

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Visando o cumprimento das ações de-finidas para as duas primeiras etapas do or-çamento da União, foi proposto para o ano2000, na fonte FNDE, a quantia de R$2.409.645.739 (dois bilhões, quatrocentos enove milhões, seiscentos e quarenta e cincomil, setecentos e trinta e nove reais), e sanci-onado o valor de R$ 2.547.273.953 (dois bi-lhões, quinhentos e quarenta e sete milhões,duzentos e setenta e três mil, novecentos e cin-qüenta e três reais), ou seja, um acréscimo de5,71 %, entre o proposto e o sancionado apósos vetos. Na fonte MEC foram propostosR$165.906.526 (cento e sessenta e cinco mi-lhões, novecentos e seis mil, quinhentos e vin-te e seis reais) e sancionados R$l 76.301.526(cento e setenta e seis milhões, trezentos e ummil, quinhentos e vinte e seis reais), o que cons-titui um aumento de 6,27%.

Os dados internacionais indicam queos gastos a serem efetuados para cobrir a ne-cessidade da estrutura e gestão da educaçãobásica de qualidade variam entre 20% e 30%da renda per capita. Isso significa um customédio de R$ 1.200,00 (um mil e duzentos re-ais) aluno/ano. Entretanto, no Brasil, o FundoNacional de Desenvolvimento do Ensino Fun-damental e Valorização do Magistério - FUN-DEF que, hoje, é uma referência no país, esta-beleceu, para o ano 2000, uma média deR$333,OO (trezentos e trinta e três reais) de cus-to aluno/ano para as primeiras quatro séries,e R$349,65 (trezentos e quarenta e nove reaise sessenta e cinco centavos) para alunos de 5°à 8° séries e alunos de educação especial. Facea estes valores, criou-se a necessidade de queconstasse do orçamento a previsão deR$810.565.286,OO (oitocentos e dez milhões,quinhentos e sessenta e cinco mil, duzentos eoitenta e seis reais) para complementação doorçamento do FUNDEF, por parte da União,junto aos Estados e Municípios. Conforme le-gislação vigente (Lei 9.424/96) a média decusto aluno/ano do FUNDEF deveria ser deR$471,OO (quatrocentos e setenta e um reais).Vale salientar que, hoje, a dívida da Uniãopara com o FUNDEF já ultrapassa R$ 5 bi-lhões, do total de recursos que deveria ser co-locado como complementação desde 1998.

o custo aluno/ano calculado peloFUNDEF não está defasado apenas com rela-ção a parâmetros internacionais, mas tam-bém diante da média colocada no Plano Na-cional de Desenvolvimento-PNE (aprovadopelo Congresso Nacional, em junho/2000)pelo relator do projeto no Congresso Nacio-nal, Deputado Nelson Markezan. Vale salien-tar que o relator propôs no PNE, e foi apro-vado, um acréscimo no percentual vinculadoao recolhimento de impostos para que sejaaplicado no desenvolvimento e manutenção doensino, constante do Art. 212 da ConstituiçãoFederal/88. Lamentavelmente pode-se cons-tatar que não há a correspondência necessá-ria entre o PPA, o orçamento e o PNE.

Vale ressaltar, ainda, que no PPA, parao período 2000-2003, ficou definido que de-veriam ser assegurados recursos para açõesvoltadas ao programa Atenção Criança, comoaquisição e distribuição de material didático,formação continuada de professores e a distri-buição de merenda escolar para os alunos.Entretanto, segundo dados constantes do pró-prio PPA, o atendimento à demanda de crian-ças para a educação infantil não ultrapassouo percentual de 66%, incluindo as redes pú-blicas e privadas.

Desagregando os dados do orçamentopara educação, tendo as duas fontes já men-cionadas como referência, constata-se quenesse quadro a educação infantil não foi be-neficiada. Muito pelo contrário, sofreu umacentuado decréscimo em sua receita, expli-citando um prejuízo já denunciado e larga-mente discutido pela União Nacional de Diri-gentes Municipais de Educação - UNIDME epor outros segmentos envolvidos com esse ní-vel de educação. Com relação à educaçãoinfantil, por exemplo, na fonte FNDE, foi pro-posto no orçamento R$1 7.910.000 (dezessetemilhões e novecentos e dez mil reais), sendosancionados R$15.095.000 (quinze milhões enoventa e cinco mil reais). Restou uma dife-rença de 19,79% do montante dos recursosdo FNDE para a educação infantil. Entre osvalores propostos e os valores sancionados, oPrograma mais atingido foi de formação con-

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R$299. 999.900 (duzentos e noventa e nove

milhões, novecentos e noventa e nove mil enovecentos reais), sendo R$216.1 71 .900 (du-zentos e dezesseis milhões, cento e setenta eum mil e novecentos reais) para as regiões

Norte, Nordeste e Centro-Oeste eR$83.828.000 (oitenta e três milhões, oito-centos e vinte e oito mil reais) para as regiõesSul e Sudeste.

tinuada de professores da educação infantil:de R$7.164.000 (sete milhões, cento e ses-senta e quatro mil reais) para R$3.559.000(três milhões, quinhentos e cinqüenta e novemil reais), ou seja, -50,32%. Situação que seagravou com a criação do FUNDEF quandorestringiu a aplicação de seus recursos ape-nas para o ensino fundamental regular, preju-dicando a educação infantil, o ensino médioe a educação de jovens e adultos.

O ensino fundamental conta com gran-de volume de recursos para o seu desenvolvi-mento pelo fato de ser o único nível de edu-cação obrigatória com atendimento público egratuito, de imediato, já que a universaliza-ção do ensino médio público e gratuito é paraser progressiva. Apesar do desenvolvimentodesse nível de educação ser constitucionalmen-te função dos Estados e Municípios, a Uniãoassume uma assistência técnica mais organi-zada por parte do MEC. Sendo mais precáriaa assistência financeira, como no caso doFUNDEF, também constitucionalmente previs-ta. Os programas que têm merecido maisdedicação institucional e financeira são: ga-rantia do padrão mínimo de qualidade (com-plementação ao FUNDEF); formação continu-ada de docentes; apoio ao desenvolvimento doensino fundamental; ao lado da distribuição delivros didáticos; FUNDESCOLA I e lI; dinheirodireto na escola e veículos para transporte es-colar. Esse último sendo mais direcionado parao ensino médio.

Mesmo considerando o mencionadovolume de recursos destinados ao ensino fun-damental, segundo informações contidas noPPA, tem havido crescimento acentuado namatrícula, hoje atendendo 96,1 % da deman-da. No entanto, ainda existem mais de doismilhões de crianças sem atendimento educa-cional. Outro estrangulamento sério que exi-ge investimento é com relação às áreas dequalidade, repetência (índice de 23,2%), eva-são (índice de 3,9%) e defasagem idade-sérieque atinge um percentual de 46,6%. A situa-ção de professores leigos, face à exigênciada LDB pelo nível superior, o investimento naformação tem sido concentrado junto àquelesque já possuem segundo grau, o que significaprejuízo na perspectiva da qualidade, paraáreas mais distantes, como a zona rural dopaís, que ainda conta com um elevado nú-mero de professores leigos.

A Desvinculação de Receita da União -DRU atinge diretamente a educação. Citandodois exemplos: com a DRU, a manutenção edesenvolvimento do ensino, prevista no Art. 212da CF, perde R$2,6 bilhões e a erradicaçãodo analfabetismo perde R$780 milhões (sete-centos e oitenta milhões de reais). Estudos doMEC sobre as condições físicas das escolasinformam que: 15% das escolas públicas nasáreas mais populosas do Nordeste, Norte eCentro-Oeste estão deterioradas, exigindo re-construção; de 13 mil escolas, 80% delas ne-cessitam de algum tipo de reparo; 86,3% nãotêm biblioteca, e 35,6% não têm banheiro.Nas regiões mais populosas a situação nãodifere: 75% das escolas não têm bibliotecas,nem salas de leitura, e 27,75 não têm ba-nheiro. Como garantir uma educação de qua-lidade?

Assim, no orçamento de 2000, foramsancionados diretamente para o ensino fun-damental, pelo FNDE, R$1.119.079.763 (umbilhão, cento e dezenove milhões, setenta enove mil, setecentos e sessenta e três reais),além dos recursos provenientes do FUNDES-COLA I, no montante de R$65.672.955 (ses-senta e cinco milhões, seiscentos e setenta edois mil, novecentos e cinqüenta e cinco re-ais) e do FUNDESCOLA li, no montante deR$56.891.651 (cinqüenta e seis milhões, oi-tocentos e noventa e um mil e seiscentos ecinqüenta e um reais). Outro programa quetambém atinge o ensino fundamental é dinhei-ro direto na escola, que totalizou

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sessenta e oito milhões, cento e trinta mil, tre-zentos e sessenta reais). Vale salientar que osalário-educação é administrado pelo FNDE,estando, portanto, implícito nesse montante oprocesso de repasse para os Estados e, con-seqüentemente, para os municípios. A arre-cadação bruta do Salário Educação, até ju-nho/2000, pelo FNDE atingiu um teto deR$108.946.915,82 (cento e oito milhões, no-vecentos e quarenta e seis mil, novecentos equinze reais e oitenta e dois centavos), e peloINSS foram arrecadados R$105.000.000,00(cento e cinco milhões de reais). Valores apu-rados pelo regime da Caixa Econômica.

Apesar do quadro de realidade colo-cado, conforme dados acessíveis pelo SIAFI/STN/COFF-CD, até 26 de maio do ano emcurso, da fonte MEC, a execução do orçamentocom a educação básica chegou a 1,26%, dototal de recursos sancionados, o que significaum total de R$ 2.220.404,00 (dois milhões,duzentos e vinte mil, quatrocentos e quatroreais). Não está, ainda, disponível em docu-mento público quais as causas que provoca-ram essa execução ínfima dos recursos aloca-dos no orçamento próprio do MEC. Já pelafonte FNDE, a execução chegou a 22,29%,traduzidos em R$568.130.360 (quinhentos e

Boletim da Criança e Adolescente - Publicação realizada em parceria entre o UNICEF e o INESC com o apoio da Frente Parlamentarpelos Direitos da Criança e do Adolescente - Instituto de Estudos Socioeconômicos - SCS - Qd. 08 - BI. 50 - Salas 431/441 -Venãncio 2000 - CEP 70333-970 - Brasília-DF - Brasil Fone: (061) 226-8093 - Fax: 226-8042 E. Mail: [email protected] - Site:www.inesc.org.br - Editor: Jair P: Barbosa Jr. - Conselho Editorial: Bizeh Jaime, lara Pietricovsky, Jair P: Barbosa Jr - Diagramação:Jovelino Camuzi - Impressão: Ivan B. da Silveira.

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