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BOLETIM DO edição especial são paulo, setembro de 2012 PROCESSOS ADMINISTRATIVOS CONTRA ESTUDANTES E FUNCIONÁRIOS para reitor, estatuinte, fim dos processos e cotas na universidade. Este boletim é uma das primeiras iniciativas tiradas a partir do congresso. Seu objetivo é trazer esclarecimentos a respeito dos processos contra estudantes, as comissões processantes e a maneira como tudo está sendo conduzido. Neste mês se encerra o prazo para o julgamento de mais de 70 estudantes que podem ser eliminados da universidade. Se isso acontecer, em apenas três anos a gestão Rodas terá eliminado um terço do total de alunos eliminados durante a ditadura militar em todo o país. Serão realizadas atividades nos cursos Porque há tantos estudantes sendo processados? O que o Rodas quer fazer com a USP? Em que se baseiam esses processos? Entre os dias 23 e 26 de agosto foi realizado o XI Congresso de estudantes – o fórum pela democracia na USP! Contando com a participação de mais de 300 delegados que representavam cerca de 4000 estudantes de diversos cursos, este espaço foi muito vitorioso do ponto de vista de sua representatividade e também das campanhas que foram votadas. A partir de agora será fundamental organizar os estudantes da USP toda em defesa das diretas sobre esse tema. Procure o seu Centro Acadêmico e o DCE e venha você também lutar pelo direito de voz dos estudantes. “Contra a ideia da força, a força das ideias!” (Florestan Fernandes). O Regimento da ditadura A Universidade de São Paulo, na contramão do esforço do país para democratizar as suas instituições no final do anos 1980, manteve praticamente intactos os dispositivos jurídicos que regulamentam a sua vida universitária. As expulsões e também todos os processos administrativos movidos contra estudantes baseiam-se no Decreto 52.906, de 1972,

Boletim DCE - Processos

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Por que há tantos estudantes sendo processados na USP?

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Page 1: Boletim DCE - Processos

BOLETIM DO

edição especial

são paulo, setembro de 2012

PROCESSOS ADMINISTRATIVOS CONTRA ESTUDANTES E FUNCIONÁRIOS

para reitor, estatuinte, fim dos processos e cotas na universidade.

Este boletim é uma das primeiras iniciativas tiradas a partir do congresso. Seu objetivo é trazer esclarecimentos a respeito dos processos contra estudantes, as comissões processantes e a maneira como tudo está sendo conduzido. Neste mês se encerra o prazo para o julgamento de mais de 70 estudantes que podem ser eliminados da universidade. Se isso acontecer, em apenas três anos a gestão Rodas terá eliminado um terço do total de alunos eliminados durante a ditadura militar em todo o país.

Serão realizadas atividades nos cursos

Porque há tantos estudantes sendo processados?

O que o Rodas quer fazer com a USP? Em que se baseiam esses processos?

Entre os dias 23 e 26 de agosto foi realizado o XI Congresso de estudantes – o fórum pela democracia na USP! Contando com a participação de mais de 300 delegados que representavam cerca de 4000 estudantes de diversos cursos, este espaço foi muito vitorioso do ponto de vista de sua representatividade e também das campanhas que foram votadas. A partir de agora será fundamental organizar os estudantes da USP toda em defesa das diretas

sobre esse tema. Procure o seu Centro Acadêmico e o DCE e venha você também lutar pelo direito de voz dos estudantes. “Contra a ideia da força, a força das ideias!” (Florestan Fernandes).

O Regimento da ditadura

A Universidade de São Paulo, na contramão do esforço do país para democratizar as suas instituições no final do anos 1980, manteve praticamente intactos os dispositivos jurídicos que regulamentam a sua vida universitária.

As expulsões e também todos os processos administrativos movidos contra estudantes baseiam-se no Decreto 52.906, de 1972,

Page 2: Boletim DCE - Processos

Regime Disciplinar instituído sob a égide da Ditadura Militar, que vigora no estatuto da USP como “disposição transitória” até hoje. Segundo este decreto, são considerados atos de “indisciplina” de estudantes, trabalhadores e professores passíveis da punição de “eliminação”, expressa no artigo 248, inciso IV, as seguintes práticas: artigo 250 inciso VIII – “Promover manifestação ou propaganda de caráter político partidário, racial ou religioso bem como incitar, promover ou apoiar ausências coletivas aos trabalhos escolares”; inciso IV – “Praticar ato atentatório à moral ou aos bons costumes”; inciso II - “(...) Afixar cartazes fora dos locais a eles destinados”.

A juíza do Tribunal de Justiça de São Paulo, Alexandra Fuchs de Araújo, anulou uma das expulsões por reconhecer que esse regimento fere a Constituição Federal de 1988 que determina, no seu artigo 5º, inciso IV e IX: “é livre a manifestação do pensamento sendo vedado o anonimato; (...) é livre a expressão da atividade artística, intelectual, científica e de comunicação, independente de censura e licença". Além do artigo 9º que garante o direito de greve. A juíza sugeriu fortemente que todas as outras expulsões foram igualmente ilegais.

Ou seja, o regimento válido atualmente é inconstitucional uma vez que foi escrito e sancionado antes da democratização de nosso país e o mais sensato seria ser declarado ultrapassado e não, como faz Rodas, ser utilizado como ponto de apoio para perseguir estudantes e funcionários que tem divergências sobre sua gestão. Nós acreditamos que deve ser compromisso de todos aqueles que defendem uma concepção de universidade e sociedade democrática a defesa dos estudantes, professores e funcionários que estão sendo coagidos e perseguidos por Rodas!

A reitoria acusa; a reitoria julga; a reitoria pune!

Os processos contra dezenas estudantes e trabalhadores, entre eles uma diretora do SINTUSP, pela mobilização do ano passado, se apoiam no regimento disciplinar de 1972, não se baseiam em provas, e sim nos boletins de ocorrência da desocupação da reitoria e da reintegração de posse da Moradia Retomada, em que constam somente as acusações de Rodas e da polícia, e uma perícia fraudulenta do local, a portas fechadas.

As comissões processantes são indicadas pela própria reitoria, que é quem acusa; elas devem investigar e julgar, indicando uma sentença, para que a reitoria puna. Ou seja, não há parte

minimamente isenta: é a reitoria quem acusa, julga e pune! Este modelo de comissão foi instaurado pela ditadura em todo o serviço público, e na USP ainda é vigente. Entre os presidentes dessas comissões está a prof.ª Maria Fidela Navarro, que escreveu em jornais contra as mobilizações. A parcialidade fica clara nas oitivas dos processados, interrogados sob enorme pressão. Até históricos escolares são analisados, como se pudessem constituir prova de crime.

Não há presunção da inocência. Ao contrário, os processados são obrigados a apresentar provas de que são inocentes, contra acusações que sequer são claras ou individualizadas! A maior parte das comissões sequer ouviu as testemunhas apresentadas pelos processados, restringindo completamente o direito defesa. Ou seja, todo o processo é irregular, tanto em sua instauração como em seus trâmites, tanto no sentido da legitimidade quanto da própria legalidade. Estes são os processos cuja conclusão está prevista para setembro: inconstitucionais, conduzidos arbitrariamente para punir os que participaram da mobilização política de 2011. É um enorme ataque contra todo o movimento de estudantes e trabalhadores, que não deixaremos passar!

Fora PM! A polícia militar não é a solução!

Há um ano atrás a reitoria firmou um convênio com a secretaria de segurança do estado que garantia o policiamento ostensivo da USP pela PM. Mas o que vimos durante esse tempo não foi um campus mais seguro, mas sim uma atuação da PM com abordagens de cunho político, provocações, truculência e preconceito.

Enquanto isso, a promessa de instalação de um novo sistema de iluminação da universidade foi interpelado pela segunda vez pelo Ministério público devido a suspeita de favorecimento de empresa. Se o compromisso de nosso reitor fosse de fato garantir a segurança no campus da universidade, essas e outras medidas simples, como a abertura do campus para a circulação de mais pessoas, o corte dos matagais, entre outras já teriam sido efetivadas!

Mas por que Rodas processa os estudantes?

A gestão de Rodas, nomeada verticalmente pelo governo do estado, tem como objetivo tornar a universidade ainda mais voltada para os interesses restritos do mercado. Isso fica evidente quando, por exemplo, a reitoria anuncia corte de cursos e vagas levando em conta sua “demanda social” (leia-se, “de mercado”). Ou ainda, quando propõe uma reforma no

regimento da pós-graduação que visa retirar a obrigatoriedade de gratuidade para os cursos.

Para que seu projeto possa ser colocado em prática, a reitoria busca tirar do seu caminho aqueles que sempre defenderam uma universidade verdadeiramente pública e voltada para os interesses da maioria da população. Nesse sentido, busca impedir nossa organização, seja através processos e eliminações, ou até mesmo de medidas como proibição de realização de festas e comercialização de bebidas. Não podemos aceitar que tentem nos calar! Por isso, o XI congresso deliberou que a luta central do movimento estudantil no próximo período é pela democratização da USP! Exigimos uma estatuinte na universidade, eleições diretas para reitor e diretores de unidade, e o fim das políticas repressivas da reitoria. Da mesma maneira, é compromisso do movimento estudantil lutar pela democratização do acesso à universidade, através da defesa das cotas sociais e raciais.

A única maneira de mudarmos a realidade antidemocrática da USP será através de nossa organização e mobilização. O XI congresso foi uma parte importante dessa tarefa. Agora precisamos concretizar seus encaminhamentos unificando o conjunto dos ativistas e estudantes em uma só batalha pela democratização da universidade!

participe do ato-debate

“CONTRA AIDEIA DA FORÇA,

A FORÇA DAS IDEIAS”na faculdade de direito

20/set | quinta-f | 18hsala dos estudantes

com Souto Maior, Fabio Konder Comparato, Chico de Oliveria,

Gianazzi, DCE,SINTUSP,

ADUSP,

dentre outros.