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Boletim de Estudos Educacionais do Inep

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Ministério da Educação (MEC)Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)

Presidência Reynaldo FernandesDiretoria de Estudos Educacionais (Dired) Elaine Toldo PazelloDiretoria de Estatísticas Educacionais (Deed) Maria Inês PestanaDiretoria de Avaliação da Educação Básica (Daeb) Heliton TavaresDiretoria de Avaliação da Educação Superior (Daes) Iguatemy LucenaDiretoria de Tecnologia de Disseminação de Informações Educacionais (DTDIE) Bruno Adann

Sagratzki CouraDiretoria de Gestão e Planejamento (DGP) Cláudio Salles

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é umaautarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC) e tem como principal atribuição coordenaros sistemas e projetos de avaliação educacional no País, assim como organizar o sistema deinformações e estatísticas da educação brasileira.

ExpedienteNa Medida é uma publicação eletrônica bimestral coordenada pela Dired/Inep e visa à qualificação dodebate sobre a educação no País a partir da disseminação de análises técnicas a um público amplo.

Coordenação geral Elaine Toldo Pazello (Dired)Coordenação técnica Gabriela Moriconi (Dired)Equipe técnica desta edição Rafaella Cabral (Dired); Alex da Silveira, Christyne da Silva,

Cíntia Antônio, Patrícia Teixeira, Mariana dos Santos, Maruska de Almeida (Deed);Thiago Leitão (Diretoria de Políticas e Programa de Graduação/MEC)

Edição Maria Fernanda Conti Assessoria de ComunicaçãoProjeto gráfico/Capa/Diagramação Marcos Hartwich/Raphael Caron Freitas/Celi Rosalia Soares de Melo

Assessoria Técnica de Editoração e PublicaçõesRevisão Aline Ferreira de Souza e Josiane Cristina da Costa Silva

Assessoria Técnica de Editoração e PublicaçõesDistribuição Assessoria de ComunicaçãoContato: [email protected]

É permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte.

Artigos desta ediçãoEditorial ................................................................................................................... 3

1 Quem quer ser professor no Brasil? O que o Enem nos diz ........................................ 5

2 O que mudou no Censo Escolar da educação básica .................................................... 10

3 Avaliando o desempenho no Enade de bolsistas do ProUni ........................................ 15

4 Quais são os municípios brasileiros prioritários? ...................................................... 19

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Editorial

Seja por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais AnísioTeixeira (Inep), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ou de outrasentidades governamentais, o Brasil vem produzindo uma série de dados educacionais,os quais avançam em quantidade e em qualidade. Um dos estudos inseridos na 3ª ediçãodo boletim Na Medida descreve as mudanças promovidas no Censo Escolar da EducaçãoBásica, uma das principais fontes de dados educacionais do País. O estudo indica,inclusive, que, após essas mudanças, já é possível observar diversos avanços em termosda melhoria da qualidade da informação.

Uma das funções da coleta e do tratamento dos dados educacionais é poder gerarindicadores para que estes subsidiem políticas públicas para melhoria da educação. Outrotexto deste boletim apresenta uma visão geral sobre os chamados municípios prioritários.Foram definidos como prioritários os municípios de pior resultado no Índice deDesenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que foram os primeiros a receber assistênciado Ministério da Educação (MEC). O texto apresenta os critérios utilizados para essa seleção,quais são esses municípios e a evolução de seu Ideb entre 2005 e 2007.

Além disso, os dados produzidos permitem que sejam feitas análises de diversosaspectos das políticas educacionais em andamento no País. Um exemplo é o texto quebusca verificar se alunos bolsistas do Programa Universidade para Todos (ProUni) teriamdesempenho no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) pior que osdemais alunos dos cursos de ensino superior, o que indicaria uma possibilidade dequeda na qualidade dos cursos, após a inclusão dos bolsistas.

Outro exemplo é o estudo sobre o perfil de jovens de 17 a 20 anos atraídos paraa carreira do magistério no País, baseado em informações que podem ser obtidas pormeio do questionário socioeconômico respondido por eles ao participarem do ExameNacional do Ensino Médio (Enem). Esse estudo, assim como os demais contidos nessa3ª edição do boletim Na Medida, não tem o propósito de ser conclusivo, mas sim dechamar a atenção e contribuir para o debate de uma questão de grande importância emnosso País: a capacidade das redes de ensino de atrair bons candidatos para a profissãodocente, em especial para a educação básica.

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1 Quem quer ser professor noBrasil? O que o Enem nos diz

Se há um consenso na área de educação, este é o da relevância do papel doprofessor para o processo de ensino e para a aprendizagem dos alunos. Embora aspolíticas educacionais sejam, em sua maioria, formuladas no nível do Ministério edas Secretarias de Educação, a forma como essas políticas são implementadas e osseus resultados são influenciados diretamente pelos agentes que as efetivam nassalas de aula – os professores. São eles que, com maior ou menor autonomia, decidema metodologia a ser empregada, a forma como os materiais didáticos serão utilizados,com que tipo de atividades o tempo em sala de aula será ocupado, quais métodosde avaliação dos alunos serão empregados, entre outras questões de extremaimportância.

Nesse sentido, sabe-se que a forma como os professores tomam essas decisões edesenvolvem seu trabalho diariamente depende de diversos aspectos, que vão desde asua motivação e o seu grau de adesão e comprometimento com essas políticas até osrecursos que têm disponíveis, como infraestrutura, material de apoio, orientação e,principalmente, seus próprios conhecimentos e habilidades.

Desse modo, cada vez mais tem sido ressaltada a necessidade de se atrair eselecionar profissionais com alto nível de conhecimentos e habilidades para a carreiradocente. Em relatório divulgado pela consultoria McKinsey & Company, em 2007, chamaa atenção o dado que indica que todos os dez países1 com as melhores notas noProgramme for International Student Assessment (Pisa) da Organização para aCooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) selecionam os professores dentre os30% melhores graduados. Na Finlândia, esse percentual se reduz para 10% e na Coréiado Sul, para 5% dos melhores graduados.

Será que no Brasil encontramos situação semelhante? O País consegue selecionaros professores dentre os melhores graduados? Qual o perfil de quem quer ser professorno País?

O Enem e a escolha da profissãoOs dados disponíveis não permitem responder exatamente se o Brasil também

consegue selecionar os seus professores dentre os melhores graduados. Para tanto,seria necessário relacionar os resultados de exames de desempenho dos alunos aofinal do curso de graduação – como os resultados da prova do Exame Nacional deDesempenho de Estudantes (Enade) – com os resultados das provas de concurso paraas carreiras do magistério das redes de ensino, o que não é possível.

No entanto, uma análise do perfil dos potenciais candidatos ao magistério pode serrealizada a partir de dados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ao realizar o Enem,os candidatos respondem voluntariamente a um questionário que abrange tanto aspectos

1 São eles: Canadá, Austrália,Bélgica, Finlândia, HongKong, Japão, Holanda,Nova Zelândia, Cingapura eCoréia do Sul.

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socioeconômicos quanto relacionados a suas intenções e opiniões. Uma das perguntas é aseguinte: “Que profissão escolheu seguir?”. As possíveis respostas a essa questão são:

(a) Ainda não escolhi;(b) Profissão ligada às Engenharias/Ciências Tecnológicas;(c) Profissão ligada às Ciências Humanas;(d) Profissão ligada às Artes;(e) Profissão ligada às Ciências Biológicas e de Saúde;(f) Professor do Ensino Fundamental e Médio;(g) Não vou seguir nenhuma profissão.

Embora a partir dos dados do Enem não seja possível saber se de fato o candidatoentrou em um curso superior de formação de professores e nem se um dia seráselecionado para ingressar na carreira docente por meio de concurso público,2 aresposta de candidatos que estão em uma faixa etária de escolha da profissão – aquidefinida entre 17 e 20 anos – é um importante indicativo de sua intenção no momentoda realização do Exame. Esses dados permitem que seja feita uma análise do perfil dealunos atraídos para o magistério no País, incluindo a nota que eles obtêm no Exame.

GRÁFICO 1 DISTRIBUIÇÃO DAS RESPOSTAS NO ENEM 2007 À QUESTÃO: “QUE PROFISSÃO

ESCOLHEU SEGUIR?”

Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir de dados do Enem 2007

Dentre os jovens de 17 a 20 anos que fizeram a prova do Enem em 2007,3 cercade 25% ainda não haviam escolhido, até aquele momento, a profissão que pretendiamseguir. Dos que já haviam feito a escolha, a maioria optou por profissões da área deCiências Biológicas e da Saúde, seguidas por profissões da área de Engenharias e CiênciasTecnológicas e da área de Ciências Humanas. Aqueles que escolheram a profissão deProfessor de Ensino Fundamental e Médio correspondem a apenas 5,2% dos jovens.Dessa forma, já parece ser pouco provável que o Brasil consiga, assim como os dezmelhores países no Pisa, selecionar os professores entre os 30% melhores graduados,pois isso pressuporia um percentual significativo de interessados na carreira domagistério, dos quais se poderia selecionar os melhores, posteriormente.

Analisando o perfil de quem quer ser professorPara analisar o perfil dos candidatos que afirmam ter escolhido a profissão do

magistério, em comparação com os alunos que escolheram as demais profissões,4

2 A afirmação vale tanto paracandidatos que disseramter escolhido a profissãodo magistério quanto paraos demais candidatos.

3 Última edição do exame commicrodados disponíveis paraanálise.

4 Foram excluídos da análiseaqueles que afirmaram queainda não escolheram umaprofissão, que não vãoseguir nenhuma profissãoou não responderam aquestão.

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estimamos uma equação da probabilidade de um candidato escolher a profissãodocente em função de suas características pessoais e de sua nota na prova do Enem.5

Isso nos permite ler o impacto de uma determinada variável sobre a probabilidadeda escolha do magistério, livre do efeito das demais variáveis, visto que a estimativafixa todas as demais variáveis e estima a probabilidade somente variando acaracterística de interesse.6 Os resultados podem ser lidos da seguinte forma: umcandidato tem, em média, 6,69% de probabilidade de escolher ser professor do ensinobásico. Fixando todas as demais características e variando somente o gênero, porexemplo, observamos que a probabilidade do candidato querer ser professor, casoseja mulher, é de 7,21%, enquanto que, se o candidato for homem, a probabilidadecai para 5,60%.

GRÁFICO 2 PROBABILIDADE DE ESCOLHER SER PROFESSOR, DE ACORDO COM O GÊNERO

Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir dos dados do Enem 2007

Também foi encontrada diferença entre as probabilidades de escolha domagistério, de acordo com a dependência administrativa das escolas em que os alunosestudaram: aqueles que estudaram a vida toda em escolas públicas têm maiorprobabilidade de optar pela docência do que aqueles que estudaram parte ou toda avida em escolas privadas.

GRÁFICO 3 PROBABILIDADE DE ESCOLHER SER PROFESSOR, DE ACORDO COM O TIPO DE ESCOLA EM

QUE CURSOU O ENSINO BÁSICO

Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir dos dados do Enem 2007

5 As variáveis testadas foram: anota no Enem; o gênero; acor/raça; o tipo de escola emque estudou (pública ouprivada); a renda familiar; aescolaridade da mãe; se tra-balha; o turno em que estu-dou; sua participação emorganizações como grêmiosestudantis, associações co-munitárias, partidos políti-cos e Organizações não go-vernamentais (ONGs); e seuinteresse por questões rela-cionadas a política nacional,internacional e local, eco-nomia, meio ambiente, desi-gualdade social, cultura eserviços públicos como edu-cação e saúde.

6 Foi realizada uma análiseeconométrica utilizando ametodologia de regressãologit.

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As diferenças maiores começam a aparecer quando se analisa variáveis diretamenterelacionadas ao background familiar: a probabilidade de o candidato escolher aprofissão do magistério é três vezes maior para aqueles com menor renda familiar emrelação àqueles com maior renda familiar, e é quase duas vezes maior para aqueles commães que nunca estudaram em relação aos candidatos com mães mais escolarizadas.

GRÁFICO 4 PROBABILIDADE DE ESCOLHER SER PROFESSOR, DE ACORDO COM A RENDA FAMILIAR

DO CANDIDATO

Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir de dados do Enem 2007

* SM = Salários mínimos.

GRÁFICO 5 PROBABILIDADE DE ESCOLHER SER PROFESSOR, DE ACORDO COM A ESCOLARIDADE DA

MÃE DO CANDIDATO

Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir de dados do Enem 2007

Também é importante destacar os resultados em relação às notas dos candidatosno Enem: aqueles com piores notas têm probabilidade quase três vezes maior deescolherem a carreira do magistério do que aqueles com melhores notas. Ou seja, existemevidências de que a carreira do magistério não está conseguindo atrair os melhorescandidatos, o que leva à reflexão de que é pouco provável que o País esteja selecionandoos professores entre os melhores alunos, já que estes têm baixa probabilidade dequererem ser professores.

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GRÁFICO 6 PROBABILIDADE DE ESCOLHER SER PROFESSOR, DE ACORDO COM A NOTA DO CANDIDATO

NO ENEM 2007

Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir de dados do Enem 2007

Vale ressaltar que, ainda para as demais variáveis testadas – como cor/raça docandidato, se o candidato trabalha e sua participação em organizações como grêmiosestudantis, dentre outras –, os resultados encontrados apontaram para diferenças deprobabilidade bem pequenas – de menos de um ponto percentual.

Portanto, pelas evidências encontradas nesta análise, o indivíduo com maiorprobabilidade de escolher o magistério – dentre aqueles com 17 a 20 anos que realizaramo Enem 2007 e declararam a opção por uma profissão – tem o seguinte perfil: mulher,estudou sempre em escola pública, tem renda familiar de até dois salários mínimos, amãe nunca estudou e tirou uma nota abaixo de 20 no Enem.

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2 O que mudou no Censo Escolarda educação básica

O Censo Escolar da educação básicaO Censo Escolar é um levantamento anual de dados estatístico-educacionais de

âmbito nacional. Trata-se do principal instrumento de coleta de informações da educaçãobásica. É uma pesquisa declaratória, de participação obrigatória, que engloba toda apopulação em condição escolar matriculada em estabelecimentos públicos e privadosdo País, abrangendo todas as diferentes etapas e modalidades de ensino.

As informações produzidas pelo Censo Escolar são úteis para a elaboração dediagnósticos, para a formulação, implantação e avaliação de políticas públicas, bemcomo para a tomada de decisões em educação. Atualmente, programas e açõesgovernamentais dependem do fornecimento das informações coletadas, tais como oFundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dosProfissionais da Educação (Fundeb) e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica(Ideb). Os recursos financeiros do Fundeb, repassados a Estados, Distrito Federal emunicípios em um determinado ano, são calculados com base no número de matrículasconstantes no Censo Escolar do ano imediatamente anterior. O cálculo do Ideb, por suavez, possui um componente de fluxo escolar obtido a partir de dados do Censo Escolarreferentes à aprovação, à reprovação e ao abandono de alunos.

Breve histórico do Censo EscolarCensos que visam a obter informações educacionais não são novos no Brasil.

Desde 1872, a preocupação com analfabetismo, por exemplo, estava posta nos censosdemográficos. Todavia, foi em 1932 que se realizou, de fato, o primeiro censo compreocupação exclusivamente educacional.

Em 1997, após um grande processo de redimensionamento do setor delevantamentos estatísticos do Ministério da Educação (MEC), ocorrido nos anos de1995 e 1996, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira(Inep) assumiu as atividades estatísticas e de avaliação, antes realizadas pelo MEC. Nomesmo ano, recebeu a competência legal para organizar e manter o sistema deinformações e estatísticas educacionais pela Lei nº 9.448, de 14 de março de 1997.

A publicação da Lei nº 9.424, de 1996, que dispôs sobre o Fundo de Manutenção eDesenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), definiuque os dados de matrículas do Censo Escolar, publicados no Diário Oficial da União,constituiriam a base para fixação da proporção dos valores repassados a Estados, DistritoFederal e municípios. Tal vinculação implicou o fortalecimento e maior prestígio dolevantamento censitário, situação que se manteve com a substituição do Fundef peloFundeb.

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Em meados de 2007, com o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), açõesno sentido de inovar nos processos e nos conteúdos do Censo Escolar foram tomadas,a fim de ampliar o conhecimento da realidade escolar, bem como da educação brasileira.

Mudanças no Censo EscolarAté 1995, o Censo Escolar apresentava deficiências de cobertura, defasagem no

tempo de coleta e problemas de divulgação. Tais aspectos levavam a questionamentosprincipalmente sobre a dimensão do atendimento escolar e do fluxo dos discentes, oque gerava incertezas sobre a qualidade da informação e dificultava a utilização dasbases de dados produzidas.

Para solucionar tal situação, novos conceitos precisaram ser implantados, acomeçar pela definição, em 1995, de um “Dia Nacional do Censo Educacional”. Tratou-se de um marco temporal para o informe dos dados escolares, definido como a últimaquarta-feira do mês de março. A partir de então, todas as escolas passaram a ter umamesma data de referência para as informações, o que melhorou consideravelmente aqualidade dos dados.

A mais significativa mudança no Censo, no entanto, deu-se a partir de 2007, coma alteração na unidade de informação. Até 2006, a menor unidade de informação era aescola. Cada escola recebia formulários em papel, nos quais informava os dadosagregados referentes a suas turmas, matrículas, docentes e infraestrutura. Não havia apossibilidade de inserir informações sobre cada aluno, cada docente, cada disciplinaministrada ou a especificidade de cada turma. Os formulários preenchidos eram, então,encaminhados às secretarias estaduais e municipais para digitação no Sistema deInformações Educacionais (Sied). Como resultado, alunos e professores apareciam comoquantitativos agregados por estabelecimento, etapa e modalidade de ensino.

Com a mudança metodológica realizada em 2007, passou-se a coletar dadosindividuais de alunos e docentes. Atualmente, são unidades de informação as escolas,os alunos, as turmas, os docentes e os auxiliares de educação infantil. Para cada umadessas dimensões, há um cadastro específico no qual as escolas inserem informaçõesindividualizadas, como o nome, a data de nascimento, o endereço, entre outras. Parafacilitar o procedimento e melhorar o controle da qualidade dos dados, a coleta e atransmissão deles passaram a ser realizadas por uma ferramenta on-line, o SistemaEducacenso. Embora alguns sistemas estaduais de ensino já utilizassem formulárioseletrônicos, ainda não se tratava, todavia, de um sistema on-line e integrado, paramelhorar a agilidade, a organização e a disseminação da informação.

Adicionalmente, a Portaria nº 264, de 2007, modificou para “Dia Nacional do CensoEscolar da Educação Básica” a data de referência das informações declaradas aoCenso Escolar da educação básica. Com essa portaria, a data foi alterada para a últimaquarta-feira do mês de maio de cada ano. Nessa época, transferências de alunos, mudançasde docente, série, horários, entre outros, já não ocorrem de forma tão intensa como se dáno início do ano, garantindo que o Censo represente um momento em que as matrículasjá estão razoavelmente estabilizadas nas escolas.

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Mudanças nos resultadosEm relação ao controle da qualidade de dados, a reestruturação de metodologia

procurou aproximar-se das técnicas de pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE), que coleta informação individualizada. O monitoramento realizadopelo Inep mostra que, como resultado da mudança metodológica, o quantitativo dematrículas apurado pelo órgão foi ao encontro dos números levantados pela PesquisaNacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, conforme o Gráfico 1.

GRÁFICO 1 COMPARATIVO DO NÚMERO DE MATRÍCULAS NO ENSINO REGULAR DA EDUCAÇÃO

BÁSICA NA REDE PÚBLICA – CENSO ESCOLAR E PNAD (EM MIL) – BRASILFonte: Elaboração Deed/Inep, a partir de dados do Censo Escolar/Inep e da Pnad/IBGE

O Gráfico 1 indica que houve uma significativa queda no número de matrículasentre 2006 e 2007, de acordo com o Censo Escolar. Essa queda deveu-se especialmenteao fato de que a informação por aluno, a partir da nova metodologia, passou a sermais precisa, permitindo a identificação e a correção da duplicidade de alunos.1 Essefenômeno de diminuição do número de matrículas foi o indicativo de maior qualidadeda informação, tanto no momento da coleta quanto no da realização das críticas econsistências dos dados.

Vale ressaltar que a individualização cadastral produziu resistências naparticipação de algumas instituições privadas que deixaram de responder ao Censode 2007, o que também contribuiu para a queda de matrículas entre esses anos.Essas instituições, zelosas das informações pessoais de seus alunos, ofereceramquestionamentos a essa metodologia. Todavia, a partir de uma campanha deconscientização sobre os procedimentos de segurança e de garantia do sigilo daspessoas, a confiança foi novamente fortalecida e a resistência superada. Assim, noano de 2008, observou-se que diminuiu expressivamente o número de escolasprivadas que não prestaram informações, com o consequente reflexo nas respectivasmatrículas.

1 Duplicidade de alunos é acontagem de um mesmoaluno em mais de umaescola, seja na mesmaunidade federativa, seja emunidades distintas.

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TABELA 1 NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS DE EDUCAÇÃO BÁSICA PARTICIPANTES DO CENSO, POR

DEPENDÊNCIA ADMINISTRATIVA – 2006, 2007 E 2008 – BRASIL

Fonte: Elaboração Deed/Inep, a partir de dados do Censo Escolar

No caso dos professores, os dados também se restringiam ao total dessesprofissionais lotados em cada escola, por etapa e modalidade de ensino. Porconsequência, a dupla contagem de um mesmo indivíduo tinha probabilidade muitomaior de ocorrer do que entre alunos, pois um mesmo professor pode lecionar em maisde uma etapa ou modalidade de ensino e, ainda, em mais de um estabelecimento. Essascaracterísticas do levantamento, presentes até o ano de 2006, limitavam o alcance dasinformações e obrigavam todos os usuários do Censo Escolar a utilizarem o conceito defunção docente (que admite mais de uma contagem do mesmo indivíduo), semresponderem à pergunta sobre quantos docentes atuam na educação básica, informaçãofundamental para o planejamento e a definição de qualquer política pública afeta aosetor.

Ao observar a quantidade de professores que lecionam em mais de umestabelecimento, em 2007, é possível ter uma noção de quantas vezes um mesmoprofessor pode ser contado, quando se utiliza a noção de função docente – isso semconsiderar as replicações por lecionar em mais de uma etapa ou modalidade de ensino.

TABELA 2 NÚMERO DE PROFESSORES DO ENSINO REGULAR, POR QUANTIDADE DE

ESTABELECIMENTOS EM QUE LECIONAM, SEGUNDO AS ETAPAS DE ENSINO – 2007

Fonte: Elaboração Deed/Inep, a partir de dados do Censo Escolar

Com a nova metodologia, para registrar os dados do professor no Censo Escolar,tomou-se por base um código de identificação, gerado pelo próprio Educacenso paracada indivíduo. Dessa forma, é possível relacionar cada professor às demais variáveiscoletadas, por exemplo, disciplinas ministradas, quantidade e tipo de escolas em quetrabalha, número de turnos e de turmas, entre outras.

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Assim, os dados individualizados, tanto de alunos como de professores,viabilizarão análises inéditas no País, como fazer cruzamentos entre as áreas de formaçãoe de atuação do professor ou, ainda, estimar o déficit de professores em determinadasdisciplinas. Com a constituição das séries históricas, será possível conhecer o fluxo realde alunos, além de acompanhar as trajetórias de alunos, docentes e escolas.

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3 Avaliando o desempenho noEnade de bolsistas do ProUni

O ProgramaO Programa Universidade para Todos (ProUni) foi criado em 2004 com a finalidade

de conceder bolsas de estudo em cursos de ensino superior de instituições privadas.Em contrapartida, concede isenção de alguns tributos às instituições de ensino queaderem a ele.1

Por meio do ProUni, o Governo Federal busca ampliar o acesso ao ensino superiorno País e contribuir para o cumprimento de uma das metas do Plano Nacional deEducação, o qual prevê o atendimento em educação superior até 2010 para, pelo menos,30% dos jovens de 18 a 24 anos.2

Para candidatar-se a uma bolsa do ProUni, o estudante deve ter cursado o ensinomédio na rede pública ou na rede particular na condição de bolsista integral e obternota mínima de 45 pontos na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).3 Paraconcorrer a uma bolsa integral, o candidato deve ter renda familiar per capita máximade 1,5 salário mínimo, e para a bolsa parcial, deve estar entre 1,5 e 3 salários mínimos.O único caso em que não é necessário comprovar a renda é o de professores da redepública de ensino básico, em efetivo exercício do magistério, que integrem o quadropermanente da instituição e estejam concorrendo a vagas em cursos de licenciatura,normal superior ou pedagogia. E o único caso em que o candidato pode ter cursado oensino médio integral ou parcialmente em escolas privadas, sem bolsa, é o de portadoresde necessidades especiais (PNEs). Adicionalmente, o Programa reserva cotas para PNEse para os autodeclarados indígenas, pardos ou pretos4 – sendo que o cotista tambémdeve se enquadrar nos demais critérios de seleção descritos.

Ainda há outra exigência, desta vez referente ao comprometimento com o curso:os bolsistas devem ser aprovados em, no mínimo, 75% do total das disciplinas cursadasem cada período letivo. Caso contrário, o aluno perde a bolsa do ProUni.

Adicionalmente, em 2006, o Programa instituiu uma bolsa permanência no valorde R$ 300,00, com o objetivo de auxiliar no custeio das despesas educacionais dosestudantes com bolsa integral em cursos presenciais com, no mínimo, seis semestresde duração e carga horária diária igual ou superior a seis horas.

Segundo dados divulgados pelo Programa, desde a criação até o processo seletivodo segundo semestre de 2008, o ProUni já atendeu cerca de 430 mil estudantes, sendo70% com bolsas integrais.

A qualidade acadêmica dos alunos bolsistasComo acontece na implementação de grande parte das políticas de inclusão na

área da educação, foram levantados questionamentos relativos a uma possível quedana qualidade do ensino nos cursos superiores, devido à entrada dos bolsistas do ProUni.Esses questionamentos estavam baseados no pressuposto de que os bolsistas do ProUniseriam academicamente mais fracos que os alunos pagantes e comprometeriam o nível

1 Todas essas informações po-dem ser encontradas no sitedo ProUni: http://portal.mec.gov.br/prouni

2 De acordo com dados daPesquisa Nacional por Amos-tra de Domicílios (Pnad), em2007, apenas 15% dos jo-vens entre 18 e 24 anos cur-savam ou haviam comple-tado o ensino superior.

3 A nota utilizada é compostada média aritmética entre anota da parte de conheci-mentos gerais e a nota daredação.

4 O percentual de bolsasdestinadas aos cotistas éigual àquele de cidadãospretos, pardos e indígenas,em cada Estado, segundo oúltimo censo do InstitutoBrasileiro de Geografia eEstatística (IBGE).

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das turmas. Do outro lado, os responsáveis pelo Programa afirmavam que a exigênciade que o candidato tire uma nota mínima no Enem, aliada aos demais critérios, teriajustamente a intenção de conjugar a inclusão à qualidade e ao mérito dos estudantescom melhores desempenhos acadêmicos.

Para obter evidências de que a qualidade do ensino teria piorado – ou não – apartir da criação do ProUni, seria necessária a existência de uma avaliação do ensinosuperior cujos resultados fossem comparáveis ao longo do tempo, como é o caso doSistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Desse modo, seria possívelverificar qual a variação nas notas médias dos cursos com a inclusão de alunos bolsistas.No entanto, esse ainda não é o caso do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes(Enade), cujos resultados somente são comparáveis entre alunos da mesma área, quetenham realizado o exame no mesmo ano.

Apesar dessa limitação, o Enade permite que se compare o desempenho de alunoscom bolsa integral ou parcial no ProUni com o desempenho de alunos pagantes deinstituições privadas de ensino superior. Assim, é possível obter evidências quecorroborem ou enfraqueçam a hipótese de que os bolsistas seriam academicamentemais fracos que seus colegas pagantes. Isso pode ser feito no momento em que iniciamo curso, por meio da comparação de notas do Enade entre ingressantes, e também nomomento da conclusão do curso, mediante a comparação de notas dos concluintes.

Comparando o desempenho de alunos no Enade 2007Para evitar que a diferença de desempenho possa estar relacionada a diferenças

nas instituições e nos cursos que os alunos frequentam – como, por exemplo, acontecerde que somente as melhores (ou piores) instituições ofereçam vagas no ProUni –,foram comparadas as notas dos alunos ingressantes de determinado curso de umainstituição, e o mesmo foi feito para alunos concluintes.5 Por exemplo, foi comparadaa média das notas dos estudantes bolsistas ingressantes do curso de Enfermagem daUniversidade A com as notas dos não bolsistas ingressantes do mesmo curso. Portanto,só estão contidos nesta análise os cursos das instituições que possuem, no mínimo,um aluno ingressante ou concluinte com bolsa no ProUni.

TABELA 1 NÚMERO DE ALUNOS DA AMOSTRA UTILIZADA NA COMPARAÇÃO DE NOTA

Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir de dados do Enade 2007

5 A nota utilizada na análise é anota geral do aluno no exame,composta de 25% da nota deformação geral e 75% da notado componente específico.

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Em 10 das 16 áreas avaliadas em 2007, havia um número suficiente de alunos paracomparação de notas entre bolsistas e não bolsistas.6 O número de bolsistas ingressantesavaliados pelo Enade, em 2007, é bem mais expressivo que o de concluintes, devido aofato de que, como os primeiros alunos passaram a receber bolsas em 2005, essesconcluintes são alunos que conseguiram a bolsa quando já estavam cursando o ensinosuperior, estando da metade para o final do curso – um número reduzido, se comparadoaos alunos que solicitam a bolsa já desde o primeiro ano da graduação.

A Tabela 2 mostra quantos cursos estão contidos na amostra utilizada neste estudoe quantos são os cursos de instituições privadas que participaram do Enade 2007,indicando que o número de cursos com alunos bolsistas do ProUni avaliados – os quaisforam utilizados nesta análise – representam uma parcela significativa desses cursos.

TABELA 2 NÚMERO DE CURSOS DA AMOSTRA UTILIZADA NA COMPARAÇÃO DE NOTAS E DE

CURSOS DE INSTITUIÇÕES PRIVADAS AVALIADOS PELO ENADE 2007

Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir de dados do Enade 2007

Os resultados da comparação7 mostram que, para os ingressantes, em todas asáreas analisadas os alunos com bolsa ProUni possuem média maior no Enade do queaqueles sem bolsa ProUni. Essa diferença positiva em favor dos bolsistas foi em tornode 5,5 pontos – numa escala de 0 a 100 pontos.

TABELA 3 COMPARAÇÃO DAS MÉDIAS DE ALUNOS INGRESSANTES NO ENADE 2007

Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir de dados do Enade 2007

6 As demais áreas avaliadas em2007 foram: Educação Físi-ca, Fonoaudiologia, Nutri-ção, Tecnologia em Agroin-dústria, Terapia Ocupacionale Zootecnia.

7 Os resultados estatisticamen-te significativos a 1% estãodestacados em negrito nasTabelas 3 e 4.

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Já para os concluintes, os resultados mostraram que, na maioria das áreasavaliadas, não houve diferença estatisticamente significativa entre os alunos com bolsaProUni e aqueles sem bolsa ProUni.

TABELA 4 COMPARAÇÃO DAS MÉDIAS DE ALUNOS CONCLUINTES NO ENADE 2007Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir de dados do Enade 2007

Desse modo, não há como atribuir conclusões sobre os resultados encontradospara os alunos concluintes dessas áreas. Apenas duas áreas apresentaram coeficientesestatisticamente significativos: Biomedicina e Tecnologia em Radiologia. E aqui sim,pode-se afirmar estatisticamente que os concluintes com bolsa ProUni possuem médiamaior que os alunos concluintes sem bolsa ProUni.

De uma maneira geral, os resultados indicam ser muito pouco provável que ainclusão dos alunos bolsistas tenha piorado a qualidade dos cursos de um modo geral,já que o desempenho deles parece ser igual ou superior ao de seus colegas de curso.

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4 Quais são os municípiosbrasileiros prioritários?

Indicadores de desempenho educacional podem ter diversas funções. Uma delasé identificar as redes de ensino com resultados aquém do desejado e propor medidaspara solucionar os problemas encontrados. Após a primeira divulgação do Índice deDesenvolvimento da Educação Básica (Ideb), uma das ações do Ministério da Educação(MEC) para ajudar os municípios que apresentaram os piores resultados foi designarespecialistas para seu acompanhamento. Esses técnicos fizeram visitas aos municípios,procurando identificar os fatores responsáveis pelo baixo Ideb. A partir dessediagnóstico inicial e das orientações dos técnicos, cada município elaborou um Planode Ação Articulada (PAR) que nada mais é do que um conjunto de ações com o objetivode melhorar a qualidade da educação. Esses primeiros municípios selecionados receberamo nome de “municípios prioritários”.1

A seleção dos municípios foi feita com base no Ideb dos anos iniciais do ensinofundamental da rede municipal de ensino. Os seguintes critérios foram adotados:

1) inicialmente foram selecionados os 1000 municípios de mais baixo Ideb (osque empataram na milésima posição também foram selecionados);

2) em seguida, para evitar que algum Estado ficasse sem representação, foramselecionados os municípios de mais baixo Ideb dentro de cada Estado (até 20municípios), incluindo os já selecionados no primeiro passo (novamente, os queempataram na vigésima posição também foram incluídos). Para um município serincluído, no entanto, o respectivo Ideb deveria estar abaixo da média nacional.

Assim, pode acontecer de um ou mais Estados ficarem com mais ou menos de 20municípios na lista. Por exemplo: se um determinado Estado tem 30 municípios e todosestão entre os mil selecionados inicialmente, todos os 30 estão incluídos. Se outroEstado também com 30 municípios tem apenas 8 selecionados entre os mil, entãoserão selecionados mais 12 para completar os 20 municípios por Estado, respeitandoas regras de o Ideb ser menor que a média nacional e de todos os empatados seremincluídos. Portanto, esse Estado pode, ao final, permanecer com 8 municípios ou atéter 20 ou mais na lista dos prioritários.

A distribuição pelo País dos municípios dessa seleção, que ficou conhecida comoa “Lista dos Municípios Prioritários”,2 pode ser observada na Tabela 1 e nos Gráficos 1e 2.

1 De fato, a partir do lançamen-to do Plano de Desenvol-vimento da Educação (PDE),em 2007, todas as transfe-rências voluntárias e assistên-cia técnica do MEC aos muni-cípios, Estados e DistritoFederal estão vinculadas àadesão ao Plano de MetasCompromisso Todos pelaEducação e à elaboração doPlano de Ações Articuladas(PAR). Atualmente, todos os26 Estados, o Distrito Federale os 5.564 Municípios assina-ram o Termo de Adesão aoPlano de Metas do PDE.

2 Em 2005, foram selecionados1.242 municípios brasileiros;em 2007, 1.412 municípios.Se considerarmos os municí-pios que foram selecionadosem 2005 ou em 2007, temos1.827 municípios.

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TABELA 1 NÚMERO E PERCENTUAL DE MUNICÍPIOS POR ESTADO QUE COMPUSERAM A “LISTA DOSMUNICÍPIOS PRIORITÁRIOS” – 2005/2007

Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir dos dados de resultados do Ideb

* O Distrito Federal não possui rede municipal de ensino.

A Bahia é o Estado com a maior participação, com 15% dos municípios prioritários.Em seguida, estão os Estados da Paraíba e do Piauí, com 8% cada. Essa maior participaçãodos Estados do Nordeste também pode ser visualizada nos Gráficos 1 e 2. As áreasvermelhas representam os municípios prioritários, que estão claramente concentradosnas regiões Nordeste e Norte.

GRÁFICO 1 DISTRIBUIÇÃO DOS MUNICÍPIOS PRIORITÁRIOS PELOS ESTADOS EM 2005

Fonte: Elaborado por MEC/Inep/Dired

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GRÁFICO 2 DISTRIBUIÇÃO DOS MUNICÍPIOS PRIORITÁRIOS PELOS ESTADOS EM 2007

Fonte: Elaborado por MEC/Inep/Dired

Para cada um dos Estados brasileiros, foi calculada a razão entre o número demunicípios prioritários e o total de municípios do Estado – apresentada no Gráfico 3.Para o Brasil como um todo, dos 5.564 municípios brasileiros, 22,3% e 25,4% entraramna lista de prioritários em 2005 e em 2007, respectivamente.

GRÁFICO 3 PERCENTUAL DE MUNICÍPIOS PRIORITÁRIOS EM CADA ESTADO – 2005/2007

Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir dos dados de resultados do Ideb

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Em 2007, nos Estados do Acre e do Amapá, mais de 90% dos municípios sãoprioritários. No Acre, esse número é constante nos dois anos, mas, no Estado do Amapá,essa proporção aumentou significativamente – de 70% para 94% – entre 2005 e 2007.Por outro lado, nos Estados da Região Sul do País, em São Paulo e em Minas Gerais, aporcentagem de municípios prioritários é bem pequena.

Quantos atingiram ou superaram suas metas?No Gráfico 4, observamos o percentual dos municípios prioritários por Estado

que alcançaram ou superaram as metas do Ideb estipuladas para eles em 2007 e2021.

GRÁFICO 4 PERCENTUAL DE MUNICÍPIOS PRIORITÁRIOS QUE ATINGIRAM OU SUPERARAM SUAS

METAS DE 2007/2021, POR ESTADO

Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir dos dados de resultados do Ideb

Dos 1.827 municípios brasileiros prioritários, 1.493 (82%) atingiram ou superarama meta estipulada para 2007 e 196 (11%) chegaram a alcançar ou até mesmo a superara meta de 2021. Em Roraima, todos os municípios prioritários atingiram o Ideb estipuladopara 2007.

Do total de municípios prioritários, 415 apareceram exclusivamente em 2005 e,destes, 5 chegaram a superar a meta estipulada para 2021. Esses municípios são: SãoJoão do Sabugi/RN, Boa Vista do Tapim/BA, Santa Rita do Trivelato/MT, CachoeiraGrande/MA e São Bento/SP. Este último município, inclusive, superou a meta do Brasilpara 2021 – lembrando que a meta do Brasil para 2021 é alcançar um Ideb igual a 6,equivalente ao Ideb estimado na atualidade para os países desenvolvidos.

Calculando a diferença entre a meta do Brasil de 2021 e o Ideb de 2007 dosmunicípios prioritários, é possível ter uma ideia do tamanho do percurso que eles

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ainda têm que percorrer para alcançar o Ideb de países desenvolvidos. Em média, essesmunicípios têm que aumentar o Ideb em quase 3 pontos para alcançar o valor 6. Essesaumentos não são pequenos: conciliar melhora de fluxo escolar com melhora noaprendizado demanda um real comprometimento com a qualidade da educação.