12
Ano III • nº 9 • junho de 2004 Publicação do Instituto de Estudos Socioeconômicos - Inesc 9 A água nas terras indígenas A despeito de existir hoje no Brasil uma legislação capaz de garantir aos povos indígenas um ambiente sau- dável num território suficiente ao seu bem-estar, e tam- bém sua reprodução física e cultural, o que vamos apre- sentar neste boletim sobre a situação dos recursos hídricos nas terras indígenas demonstra que tanto os direitos consuetudinários indígenas quanto os direitos constitucionais não têm sido respeitados, nem pelos go- vernos e nem pela sociedade nacional brasileira. Há informações que indicam claramente que, além de não estar sendo garantido o usufruto exclusivo dos rios e lagos existentes nos territórios indígenas, não tem sido assegurado aos povos e comunidades indígenas o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibra- do e essencial a uma sadia qualidade de vida, conforme prescreve a Constituição de 1988. Água: um direito humano m 2025, 2,7 bilhões de pessoas poderão ficar sem água, segundo previsão da ONU. Apesar da gravidade do proble- ma, o que se verifica normalmente é a má administração dos recursos hídricos, e não a implementação de uma política eficiente de proteção e gerenciamento. O Brasil possui 13,8% da água doce do mundo, mas 70% desses recursos estão contaminados. O problema da água – poluição, escas- sez, contaminação etc - ameaça a popu- lação mundial e o conjunto da socieda- de brasileira. Nesta publicação, no en- tanto, o Instituto de Estudos Socioeco- nômicos - Inesc, em parceria com a Fun- dação Heinrich Boll, pretende chamar a atenção para a questão da água nas ter- ras indígenas e seu impacto na qualida- de de vida das pessoas que nelas vivem – homens, mulheres e crianças. A água, mais que um produto necessário à sobre- vivência, é um bem social, cultural. Esperamos, assim, tirar da marginalidade e dar visibilidade a um tema tão impor- tante quanto o da terra, fundamental para o presente e o futuro dos povos in- dígenas no Brasil. A água potável, con- forme já declarou o Comitê das Nações Unidas para os Direitos Econômicos, Cul- turais e Sociais, é um direito humano. www.inesc.org.br E D I T O R I A L E

Boletim Orcamento Socioambiental 9

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Boletim Orcamento Socioambiental 9

Citation preview

Page 1: Boletim Orcamento Socioambiental 9

Ano III • nº 9 • junho de 2004Publicação do Instituto de Estudos Socioeconômicos - Inesc

9

A água nas terrasindígenas

A despeito de existir hoje no Brasil uma legislaçãocapaz de garantir aos povos indígenas um ambiente sau-dável num território suficiente ao seu bem-estar, e tam-bém sua reprodução física e cultural, o que vamos apre-sentar neste boletim sobre a situação dos recursoshídricos nas terras indígenas demonstra que tanto osdireitos consuetudinários indígenas quanto os direitosconstitucionais não têm sido respeitados, nem pelos go-vernos e nem pela sociedade nacional brasileira.

Há informações que indicam claramente que, alémde não estar sendo garantido o usufruto exclusivo dosrios e lagos existentes nos territórios indígenas, não temsido assegurado aos povos e comunidades indígenas odireito a um meio ambiente ecologicamente equilibra-do e essencial a uma sadia qualidade de vida, conformeprescreve a Constituição de 1988.

Água:um direito humano

m 2025, 2,7 bilhões de pessoas poderãoficar sem água, segundo previsão daONU. Apesar da gravidade do proble-ma, o que se verifica normalmente é amá administração dos recursos hídricos,e não a implementação de uma políticaeficiente de proteção e gerenciamento. OBrasil possui 13,8% da água doce domundo, mas 70% desses recursos estãocontaminados.O problema da água – poluição, escas-sez, contaminação etc - ameaça a popu-lação mundial e o conjunto da socieda-de brasileira. Nesta publicação, no en-tanto, o Instituto de Estudos Socioeco-nômicos - Inesc, em parceria com a Fun-dação Heinrich Boll, pretende chamar aatenção para a questão da água nas ter-ras indígenas e seu impacto na qualida-de de vida das pessoas que nelas vivem –homens, mulheres e crianças. A água,mais que um produto necessário à sobre-vivência, é um bem social, cultural.Esperamos, assim, tirar da marginalidadee dar visibilidade a um tema tão impor-tante quanto o da terra, fundamentalpara o presente e o futuro dos povos in-dígenas no Brasil. A água potável, con-forme já declarou o Comitê das NaçõesUnidas para os Direitos Econômicos, Cul-turais e Sociais, é um direito humano.

www.inesc.org.br

E D I T O R I A L

E

Page 2: Boletim Orcamento Socioambiental 9

2 junho de 2004

Vários cursos d’água estão sendo utilizados comovia de escoamento da produção agrícola, principal-mente a extensiva para exportação, e recebem lixode núcleos urbanos localizados a montante de riosque passam dentro das terras indígenas. Háassoreamento de rios e igarapés em decorrência dedesmatamentos e da retirada de matas ciliares den-tro e no entorno das terrasindígenas. Há contamina-ção de cursos d’água porresíduos químicos deriva-dos das atividades de mi-neração, garimpo e agri-cultura. Há redução naquantidade de peixe paraa alimentação indígena,decorrente da construçãode barragens, transposi-ções e inundações de áre-as de caça, coleta e sítioscom alto valor histórico ecultural para as comunida-des. Além dos danosambientais, estas ativida-des têm ocasionado danos à saúde e ao bem-estardas populações indígenas de um modo geral.

Esquece-se ou despreza-se o fato da água ter umaimportância e um significado multidimensional paraos grupos sociais e comunidades locais. À água es-tão associadas crenças, religião, ritos, mitos, memó-rias, relações políticas, regras e práticas de recipro-cidade, economia, alimentação, usos e conceitossobre o corpo, enfim, cultura. Em muitas socieda-des e comunidades locais, a água é o elo entre ovisível e o invisível.

Com freqüência, os modelos e práticas indígenasde gestão da água têm sido ignorados ou simplesmen-

te desprezados e vistos como irracionais ou como nãoadequados à racionalidade econômica hegemônica –seja na elaboração e implementação dos planos e pro-gramas de “desenvolvimento econômico”, seja nos pro-cessos de expansão da exploração predatória dos cha-mados “recursos naturais” -, comportamento típico davisão economicista e mercantil que se expande e se

projeta de forma acelerada sobre a natureza e osterritórios indígenas. Contribui para essa relaçãoassimétrica entre indígenas e não-indígenas o pro-cesso de empobrecimento e a situação de depen-dência de relações e políticas assistenciais a que osprimeiros vão sendo submetidos.

Conforme pôde ser constatado na VIII Cara-vana de Direitos Humanos, realizada em outu-bro de 2003, em Brasília, a principal fonte depressão hoje existente sobre os territórios indíge-nas decorre da idéia disseminada em amplos se-tores da sociedade nacional, e em alguns setoresindígenas também, de que a exploração dos re-cursos lá existentes pode gerar “desenvolvimen-to”. Para alguns, o “desenvolvimento” justificariainclusive utilizar as terras indígenas para a implan-tação da monocultura de produtos agrícolas de

exportação, para as atividades de mineração e ga-rimpo, para a extração de madeira ou para a cons-trução de barragens e hidrelétricas.1

A situação da água nas terras indígenasCom base em informações oferecidas por orga-

nizações indígenas e indigenistas, num processo deconsulta iniciado em março passado, e também como apoio de técnicos da Fundação Nacional de Saú-de – Funasa - e dos Distritos Sanitários EspeciaisIndígenas –DSEIs, elaboramos um apanhado “de-monstrativo” da situação da água em diferentes re-giões do Brasil.

Orçamento & Política Socioambiental: uma publicação trimestral do INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos, em parceria com

a Fundação Heinrich Böll. Tiragem: 3 mil exemplares. INESC - End: SCS – Qd, 08, Bl B-50 - Sala 435 Ed. Venâncio 2000 – CEP. 70.333-

970 – Brasília/DF – Brasil – Tel: (61) 212 0200 – Fax: (61) 212 0216 – E-mail: [email protected] – Site: www.inesc.org.br - Conselho

Diretor: Eva Faleiros, Gisela Santos de Alencar, Iliana Alves Canoff, Juraci de Souza, Mariza Veloso M. Santos, Nathalie Beghin, Neide

Castanha, Paulo du Pim Calmon, Pe. Virgílio Leite Uchoa, Paulo Calmon - Colegiado de Gestão: Iara Pietricovsky, José Antônio Moroni

- Assessoria: Denise Rocha, Edélcio Vigna, Jair Barbosa Júnior, Jussara de Goiás, Luciana Costa, Márcio Pontual, Ricardo Verdum, Selene

Nunes - Jornalista responsável: Luciana Costa (DRT 258/82) - Projeto gráfico: Data Certa Comunicação - Impressão:

Esta publicação utiliza papel reciclado

1 Conferir o relatório VIII Caravana Nacional de Direitos Humanos. Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, Brasília, 2004.

Com freqüência, os

modelos e práticas

indígenas de gestão

da água têm sido

ignorados ou

simplesmente

desprezados e vistos

como irracionais ou

como não adequados

à racionalidade

econômica

hegemônica

Page 3: Boletim Orcamento Socioambiental 9

junho de 2004 3

O levantamento e a sistematização das informaçõesforam feitos a partir de um roteiro básico encaminha-do aos colaboradores, e onde constavam questões so-bre a existência ou não do problema de “acesso à águade boa qualidade”, suas causas, e, eventualmente, asalternativas que foram ou estão sendo implementadaspara solucionar ou minimizar o problema identifica-do. Também foram incorporados ao estudo os resulta-dos da VIII Caravana de Direitos Humanos.

AlagoasNa Terra Indígena – TI - Kariri-Xocó, no estado

de Alagoas, há problemas na quantidade e na qua-lidade da água de superfície. A água do rio São Fran-cisco, altamente poluída por metais pesados, cheganas casas sem tratamento, por intermédio de umsistema de bombeamento que com freqüência que-bra, deixando a comunidade sem o produto. Cercade 400 famílias são afetadas pelo problema. A máqualidade da água de superfície decorre dedesmatamentos, do lançamento de lixo urbano,agrotóxicos e efluentes domiciliares nos cursosd’água, além de represamentos e navegação inten-siva com derramamento de óleo no rio. A popula-ção reivindica a abertura de poços artesianos empontos que permitam maior acesso para todos, ainstalação de um sistema de tratamento da água, deuma bomba e canos novos, e também ações de “edu-cação sanitária” junto à comunidade.

CearáNo estado do Ceará, praticamente a totalidade das

comunidades do povo indígena Tremembé tem pro-blemas de acesso à água para atender suas necessida-des básicas. Entre os Tremembé de Almofala, no mu-nicípio de Itarema, as fontes de água utilizadas pelapopulação são o rio e os poços artesianos. A qualidadeda água é afetada por desmatamentos, hidrelétrica,lançamento de agrotóxicos pela empresa Ducoco Agrí-cola S.A. e represamentos para criação de camarão.

Um estudo realizado pelo Departamento de Geo-grafia da Universidade Federal do Ceará – UFCE - juntoaos Tremembé de Almofala, o “Diagnóstico ambientale da qualidade de vida dos Tremembé”, identificou osseguintes problemas: contaminação das águas do rioAracatimirim e do lençol freático por efluentes indus-triais derivados da carcinocultura (criação de camarão

em cativeiro) e domiciliares; impermeabilização do solopelos viveiros de camarão em áreas de manguezal eapicum, interferindo na qualidade e quantidade da águasubterrânea; e extinção de lagoa (local de pesca) paraimplantação de viveiro de camarão.

A supressão, o soterramento e o barramento de ria-chos e canais de maré para a implantação dos viveirosde camarão, e a contaminação da água pelo lançamen-to de efluentes durante o período da despesca, vêmocasionando danos tanto ambientais (desmatamento,erosão, assoreamento e contaminação da água e dosolo) quanto socioeconômicos (perda de biodiversidadee da produtividade do solo) às comunidades indíge-nas que dependem diretamente dos recursos hídricos.

No setor Comondongo, por exemplo, foi possívelverificar uma larga área de várzea, na margem direitado rio Aracatimirim, em elevado estágio de degrada-ção ambiental, incluindo desmatamento do carnaubal,remoção da camada fértil do solo, soterramento decanais de domínio das marés, bloqueio dos canais demaré associados ao rio Aracatimirim para a constru-ção de diques e desmatamento de setores da vegetaçãode mangue nas proximidades dos canais de maré e dorio Aracatimirim. Os impactos ambientais foram am-plamente denunciados pela comunidade indígena emreunião realizada no dia 12 de janeiro de 2004, noCentro Comunitário Indígena Tremembé. Da reu-nião, participaram cerca de 80 indígenas pertencen-tes às localidades de Urubu, Comondongo, Tapera,Panã, Varjota, Torrões e Praia.

Na Passagem Rasa foram registrados desma-tamentos da mata ciliar, terraplenagem das verten-tes e planície de maré associados à margem direitado rio Aracatimirim e depósitos de blocos de rochasobre a planície de maré. Uma extensa área de pla-nície fluviomarinha, denominada localmente pelosíndios de “lagoa”, com largura média de 600m eextensão de aproximadamente 1.200m, estava sen-do suprimida dos processos geoambientais,hidrodinâmicos e ecológicos associados ao rioAracatimirim. Essa área, utilizada para a pesca pe-los índios de Passagem Rasa, vai aos poucos se tor-nando inviável. A isso se somam as conseqüênciasdo desmatamento do carnaubal e do manguezal, ea provável contaminação da água pelos efluentes aserem gerados durante o processo de retirada docamarão adulto dos viveiros.

Page 4: Boletim Orcamento Socioambiental 9

4 junho de 2004

No setor Praia da Tijuca, a noroeste da Vila deAlmofala, as unidades ambientais caracterizadas porplanície de maré, laguna, manguezal e dunas fixas esemifixas foram as utilizadas para a construção da fa-zenda de camarão. Essas unidades estão intimamen-te interligadas pelos fluxos diários de maré e pela açãodos ventos. Foram suprimidas áreas dos ecossistemasestuarino, lagunar e dunar, as quais envolvem umadiversificada fauna e flora, gerando danos ambientaisà biodiversidade. Para a implantação dos viveiros ecanais de adução e despejo de efluentes foi realizadoo desmatamento de setores do coqueiral, vegetaçãode dunas e de mangue. A faixa da planície costeirautilizada para a implantação dos viveiros é cultural-mente denominada pela comunidade indígena comoberço da Nação Tremembé.

Não consta que os Tremembé das aldeias Passa-gem Rasa e Comondongo tenham sido formalmenteconsultados sobre os projetos de carcinocultura nafase de definição dos impactos socioambientais eeconômicos, durante a elaboração dos Estudos deImpacto Ambiental/ Relatório de Impacto no MeioAmbiente - EIA/Rima. Além disso, em nenhumadas áreas visitadas durante o diagnóstico foram en-contradas placas de identificação, indicativas delicenciamento ambiental pela SuperintendênciaEstadual do Meio Ambiente – Semace.

Em resumo, para a população Tremembé, osprincipais riscos e impactos do processo de implan-tação de viveiros (Comondongo e Passagem Rasa),e onde as atividades de produção estão em anda-mento (Praia da Tijuca), são: extinção de áreas des-tinadas à pesca e coleta de mariscos; perda dabiodiversidade através da ação conjunta dos impac-tos ambientais; risco de salinização do lençol freático;risco de redução dos estoques pesqueiros e de dimi-nuição da pesca e captura de peixes e mariscos pe-las comunidades; risco de incremento de processoserosivos ao longo da faixa de praia; risco de incre-mento de inundação durante os eventos de cheiana bacia hidrográfica do rio Aracatimirim; e dimi-nuição dos espaços utilizados pelas comunidadescomo áreas destinadas ao extrativismo vegetal, plan-tio de agricultura de subsistência, e para a pesca,lazer e acesso ao manguezal.

Na TI Lagoa Encantada, dos Jenipapo Kanindé,na região da Grande Fortaleza, a empresa Ypiocalança vinhoto na Lagoa Encantada, principal fontede abastecimento de água da população. Além dosproblemas de saúde que vêm afetando principal-mente as crianças, os resíduos lançados no cursod’água têm ocasionado a mortandade do pescado,principal fonte alimentar da população indígena,afetando cerca de 282 pessoas.

Entre os Tabajara e Kalabaça da TI Imburana,município de Poranga, há problemas de escassez ede qualidade da água de superfície decorrentes dosdesmatamentos e do lançamento de lixo urbano noscursos d’água da região. Além disso, as fontes tradi-cionalmente utilizadas pela comunidade vêm sen-do privatizadas para a comercialização da água parao município vizinho. Atualmente, a população temacesso à água por meio de poços e um “olho-d’água”.As dificuldades de acesso à água afetam 450 famíli-as, praticamente a totalidade da população.

Espírito SantoNo caso do estado do Espírito Santo, pode-se

dizer que há problemas relacionados com os recur-sos hídricos em praticamente todas as terras indíge-nas, decorrentes principalmente do monocultivoextensivo do eucalipto em amplas áreas do estado,inclusive no interior dos territórios indígenas. Soma-se a isso a apropriação dos recursos hídricos promo-vidos pela Aracruz Celulose, com grande impactonegativo nas condições de vida dos Guarani-Mbyae dos Tupinikim.2

A presença da monocultura do eucalipto nos ter-ritórios indígenas do Espírito Santo data dos anos de1968/1969, quando foram iniciados os primeirosplantios pela empresa Vera Cruz Florestal, posterior-mente denominada Aracruz Florestal S/A - Arflo. Noinício dos anos 1970, foi criada a fábrica AracruzCelulose S/A - Arcel, destinada à produção de celu-lose a partir dos plantios instalados no litoral nortedo estado. Até 1975, haviam sido plantados cerca de51 milhões de pés de eucalipto nos municípios deAracruz, São Mateus e Conceição da Barra,totalizando 70 mil hectares, alterando completamenteo ambiente da região e impactando diretamente as

2 Para maiores informações, conferir o diagnóstico elaborado pela Associação dos Geógrafos Brasileiros (Seção Espírito Santo), Impactos da apropriação dos recursoshídricos pela Aracruz Celulose nas Terras Indígenas Guarani e Tupinikim, Vitória, março de 2004.

Page 5: Boletim Orcamento Socioambiental 9

junho de 2004 55

fontes alimentares das populações indígenas e tradi-cionais que viviam dos recursos naturais da região.

Com o objetivo de garantir o abastecimento deágua para a terceira fábrica da Arcel, em 1999 foiconstruído um canal de nome Caboclo Bernardoligando o Rio Doce ao Rio Comboios. Esta ligaçãoimpactou diretamente asaldeias Tupinikim do RioComboios. Conformepôde ser verificado ao fi-nal das obras do canal, aoreceber as águas do RioDoce o Rio Comboiospassou a receber tambémtodos os resíduos erejeitos que nele são lan-çados, desde o estado deMinas Gerais, onde nas-ce, até o Espírito Santo,onde deságua. Logo se feznotar a queda na produ-tividade de peixe e camarão capturados pela popu-lação indígena. A maior quantidade de água rece-bida pelo Rio Comboio acabou por alagar as pou-cas áreas de várzea disponíveis para a prática da agri-cultura e do pastoreio.

Não obstante a “canalização” beneficiar diretamen-te a Aracruz Celulose e incidir sobre um rio de res-ponsabilidade federal, as obras de “transposição debacias” foram licenciadas pela Secretaria Estadual deMeio Ambiente - Seama - em nome da PrefeituraMunicipal de Aracruz, em prazo recorde (menos deum mês), dispensando a necessidade de apresenta-ção prévia de EIA/Rima. O relatório apresentado pelaAssociação dos Geógrafos Brasileiros – AGB - enu-mera uma série de irregularidades no processo, que,se tomadas a sério, seriam suficientes para uma açãode responsabilidade administrativa, civil e criminalde todos os envolvidos.

A Aldeia Pau Brasil, localizada nas proximidadesdos rios Sahy e Guaxindiba, foi grandementeimpactada pela chegada da Aracruz Celulose e pelocrescimento da população do município deAracruz. A floresta nativa foi totalmente substituí-da pelo plantio de eucalipto e os cursos d’água, an-tes altamente piscosos, hoje estão envenenados emortos (sem peixe). O Rio Sahy era utilizado pela

população como via de acesso ao mar, o que hoje écompletamente impensável dada a intensidade doassoreamento. O Córrego Sahy mirim, afluente doSahy, encontra-se totalmente seco devido à cons-trução da Barragem do Inácio, que impede a che-gada da água – esta barragem foi construída em1972 com a finalidade de captação de água para afábrica da Aracruz.

O Rio Guaxindiba chega à foz praticamentemorto: tendo sua nascente principal dentro do pe-rímetro urbano de Aracruz, recebe no Bairro deFátima esgotos in natura; ao sair da área urbana,percorre uma grande área de monocultura deeucalipto da Aracruz Celulose, onde recebe osagrotóxicos ali utilizados.

Atualmente, há uma interessante mobilizaçãona região envolvendo vários setores sociais comopescadores, agricultores, indígenas, ambientalistas,o Ministério Público, a AGB etc., com vistas a pres-sionar a Aracruz a assumir os danos causados e ini-ciar um processo de “recuperação total” dos rios

Guaxindiba e Sahy no município de Aracruz.

Mato GrossoA expansão dos grandes plantios de

monocultura - principalmente soja e cana - é hojea principal causa de pressão sobre os territórios in-dígenas no estado do Mato Grosso e sobre os re-cursos hídricos utilizados pela população indíge-na. Há vários territórios indígenas hoje cercadospelo cultivo da soja, como é o caso dos Xavante,que além disso vêm sendo assediados para arren-darem suas terras para a ampliação dos cultivos defazendeiros da região. Já se faz sentir oescasseamento dos animais de caça e o ressecamentode cursos d’água que, mesmo no período de secana região dos cerrados, se mantinham como umafonte alternativa de água.

Os índios da região da Chapada dos Pareci, mu-nicípio de Tangará da Serra, também enfrentampressão e problemas semelhantes aos Xavante e ou-tros grupos indígenas encurralados pelas frentesagrícola e madeireira. Além disso, há notícias de quea Agência Nacional de Energia Elétrica –Aneel -aprovou vários projetos de construção de pequenashidrelétricas - PCHs - em cursos d’água de rios queservem as terras dos Pareci.

Há uma interessante

mobilização na região

(Espírito Santo) com

vistas a pressionar a

Aracruz Celulose a

assumir os danos

causados e iniciar um

processo de

recuperação dos rios

Page 6: Boletim Orcamento Socioambiental 9

6 junho de 2004

Atualmente, tramitam no Congresso Nacional doisdecretos legislativos de grande importância para a inte-gridade dos territórios indígenas e dos recursos hídricosneles existentes: um de autoria de Blairo Maggi (nº 121/99), que autoriza o aproveitamento dos recursos hídricosdo Rio das Mortes, Araguaia e Tocantins, situados à mar-gem ou no interior de reservas indígenas, para escoa-mento da safra agrícola,principalmente soja; e ou-tro de Jonas Pinheiro (nº145/01), que autoriza oaproveitamento dos recur-sos hídricos situados nasterras indígenas na regiãode Ponte de Pedra, no es-tado do Mato Grosso,para escoamento de safraagrícola - principalmentesoja - e aproveitamentodos potenciais energéticos.

Mato Grosso do SulNo município de

Dourados, no MatoGrosso do Sul, há cercade dez mil Guarani-Kaiwá vivendo em aproxima-damente 3.500 hectares, cercados por plantaçõesde soja e cana-de-açúcar. As águas disponíveis paraa população indígena estão completamente poluí-das por fertilizantes e agrotóxicos utilizados nasmonoculturas implantadas na região.

Encurralados em territórios minúsculos e comuma população em expansão demográfica apesardas precárias condições, sem alternativas e incenti-vos, os Guarani estão plantando soja nas suas áreasou saindo destas para trabalhar como peão nas fa-zendas da região.

Minas GeraisNo caso da TI Krenak, no município de Resplen-

dor, atualmente a captação da água é feita em ma-nancial superficial e em poços rasos (cisternas) semnenhum tipo de tratamento. Para julho, está pre-visto entrar em funcionamento um sistema de abas-

tecimento de água. A má qualidade da água decor-re dos desmatamentos e dos agrotóxicos utilizadosnos cultivos rio acima, que acabam escoando paraos cursos d’água utilizados pela população comofonte de abastecimento. Além disso, o rio Doce re-cebe o esgoto de várias cidades, agravando aindamais a situação das águas na terra indígena. Pratica-mente toda a população, 192 pessoas, sofre as con-seqüências e restrições decorrentes dessa situação.

Há problemas de qualidade e escassez de águatambém entre os Pataxó da TI Fazenda Guarani,entre os Xukuru-kariri e os Kiriri da TI Fazenda BelaVista, e entre os Xakriabá da TI Xakriabá. O princi-pal problema mencionado: os desmatamentos reali-zados no interior e entorno dessas terras indígenas.O quesito “qualidade da água” vem sendo mitigadocom a perfuração de poços tubulares profundos e aimplantação do sistema de abastecimento de águadomiciliar.3 Cerca de 2.800 pessoas são impactadaspela falta d’água ou péssima qualidade da água dis-ponível. São freqüentes os casos de diarréia, doençasparasitárias e infecções de pele na população, princi-palmente nas crianças.

ParáDos Xikrim do Bacajá, da TI Trincheira, foi in-

formado que a população supre suas necessidadesde água no rio Bakajá e em poços escavados. O pro-blema de escassez de água ocorre no período de seca,quando a população é obrigada a buscar água dire-tamente no rio, o que estaria ocasionando uma sé-rie de problemas de saúde. Quatro fatores são men-cionados como causas da má qualidade e escassezda água: garimpo, mineração, colonização edesmatamentos “rio acima”. Cerca de 431 pessoas(comunidades Bakajá e Mrotdjam) são afetadas peloproblema.

Problemas na qualidade da água também forammencionados no caso dos Araweté do Igarapé Ipixuna(município de Altamira). A população supre sua ne-cessidade de água diretamente no igarapé, que vemsendo impactado pelos desmatamentos nos assenta-mentos de colonização a montante do ponto onde selocaliza o aldeamento indígena. O mesmo problema

3 Para maiores informações sobre as ações de saneamento na região e seus resultados na população indígena, conferir a dissertação de mestrado de João Luiz Pena:“Perfil sanitário, indicadores demográficos e saúde ambiental após a implantação do Distrito Sanitário Especial Indígena: o caso dos Xakriabá em Minas Gerais”,defendida na Escola de Engenharia da UFMG, em 2004.

No Mato Grosso do

Sul, as águas

disponíveis para a

população

indígena estão

completamente

poluídas por

fertilizantes e

agrotóxicos

utilizados nas

monoculturas

implantadas na

região

Page 7: Boletim Orcamento Socioambiental 9

junho de 2004 7

foi indicado para o caso dos Arara da Aldeia Iriri/Cachoeira Seca e da Aldeia Arara; para os Kuruyada Aldeia Curuá; para os Xipaya da Aldeia Tukaman/Xipaya; para os Juruna da Aldeia Pakiçamba; para osKayapó da Aldeia Kararaô e entre os Assurini da Al-deia Kwatinemu. Em alguns casos, a situação é agra-vada pela instalação de ga-rimpos nas cabeceiras doscursos d’água utilizadospela população.

Embora não tenha sidomencionado diretamentepor nenhum dos colabora-dores deste documento,não poderíamos deixar demencionar os prováveis im-pactos que a construção doComplexo Hidroener-gético Belo Monte, emAltamira/Pará, terá sobre ospovos e as comunidades lo-cais indígenas que habitamna região das Bacias dosRios Xingu e Iriri. Além dos Juruna da Terra Indí-gena Paquiçamba, impactados diretamente pelasobras da barragem, na área de influência de BeloMonte estão os Assurini do Xingu, os Araweté, osParakanã, os Kararaô, os Xikrin do Bacajá, os Arara,os Xipaia, os Kuruaia e vários grupos Kaiapó.

PernambucoEntre os Kapinawá, há problemas de acesso à água

principalmente no período do verão (seca). Esse pro-blema atinge as aldeias Ponta de Várzea, Riachinho,Pau Ferro Grosso, Tabuleiro, Malhador, Caldeira,Colorau e Areia Grossa. Aproximadamente 1.500pessoas são atingidas. Algumas aldeias, no verão são“beneficiadas” com a água de barragens, mas quetem qualidade e coloração “diferente”. A popula-ção dos aldeamentos tem reivindicado a perfura-ção de poços artesianos.

O mesmo problema afeta os Pipipã da TI Pipipãde Kambaxuru, onde há problemas de escassez ede qualidade da água em algumas barreiras e bar-ragens. Aproximadamente 1.200 pessoas são afeta-das pelo problema da água, que aparecem associa-dos a desmatamentos e lixo urbano. Nos períodos

de muita seca, a população é obrigada a sair de suasaldeias. A comunidade reivindica apoio para a per-furação de poços artesianos, para projetos de recu-peração ambiental e para projetos de produção semuso de agrotóxicos e desmatamento.

Os Kambiwá do município de Ibimirim têm pro-blemas de acesso à água nas seguintes comunida-des: Nazário, Baixa da Alexandra, Serra do Peri-quito, Tacho, Guela, Tear, Retomada e Santa Rosa.A água utilizada pela população provém de lago,poço e barragem – esta última só disponível noperíodo das chuvas. No verão, a população daSerra do Periquito é obrigada a abandonar suascasas, roças e criações para fugir da seca. Eles rei-vindicam a construção de cisternas públicas, a am-pliação do número de poços artesianos e condi-ções para a manutenção das bombas de sucção edo sistema elétrico de manutenção. Para FranciscaBezerra da Silva e Maria da Saúde da Silva(Kambiwá), “queremos lembrar que moramos namaior bacia hidrográfica do Nordeste, a baciaJatobá. O que falta mesmo é a ação dos poderespúblicos competentes para resolver os problemas

da Terra Indígena Kambiwá. Temos solo fértil que,com a perfuração de poços e irrigação, nos trans-formaria em pessoas dignas de vivência no nosso pró-prio território”.

Entre os Xukuru de Pesqueira, consta que osmananciais estão poluídos e não há qualquer espé-cie de serviço de tratamento de água. Principais cau-sas: desmatamentos, assoreamentos, agrotóxicos elixo urbano. Cerca de dois terços de uma popula-ção total de aproximadamente 9 mil pessoas são afe-tados pela má qualidade da água disponível. Osxukuru reivindicam do governo federal infra-estru-tura para captação de água subterrânea e sistemade tratamento adequado. A falta de água de boaqualidade tem levado a população a migrar paraoutras localidades, especialmente no período deseca. A Fundação Nacional de Saúde – Funasa -não tem atendido às reivindicações indígenas poruma maior e melhor atenção à saúde e, principal-mente, para a implantação de ações de prevençãode agravos derivados da qualidade da água hoje dis-ponível. Problemas e reivindicações semelhantes sãoencontrados entre os Pancará de Camaubeira daPenha, com uma população de 3.800 pessoas.

Na terra

indígena Pipipã

de Kambaxuru,

em Pernambuco,

nos períodos de

muita seca, a

população

é obrigada

a sair de

suas aldeias

Page 8: Boletim Orcamento Socioambiental 9

8 junho de 2004

Durante a visita da Caravana de Direitos Huma-nos à TI Xukuru, em outubro de 2003, foi constata-do que o acesso à água tem gerado uma situação detensão entre os xukuru e os moradores da cidade dePesqueira. Isso porque a fonte de água que abastecea cidade está localizada numa serra no interior daTerra Indígena. À falta de uma legislação específicaque resguarde os direitos indígenas ao controle e àgestão das águas em seus territórios se soma o pre-conceito e a discriminação da população regionalcontra os indígenas, gerando inclusive conflitos nointerior da comunidade Xukuru de Pesqueira.

RondôniaAs comunidades indígenas da TI Rio Branco es-

tão vendo vários cursos d’água importantes para seusustento, inclusive alimentar, secando em decorrên-cia da construção de barragens e do desvio do leitode pelo menos dois rios pelo Grupo Cassol, da fa-mília do governador Ivo Cassol (PSDB). Atualmente,perto de Alta Floresta, o Rio Figueiredo está prestesa ser desviado para abastecer a uma pequena cen-tral hidrelétrica – PCH - que pertence ao grupo econta com recursos do Banco Nacional de Desen-volvimento Econômico e Social -BNDES.

Em 1993, o Grupo Cassol colocou em funciona-mento a PCH Santa Luzia, no Rio Vermelho, que teveque ser fortalecida com o desvio das águas dos rios Brancoe Jacaré. Segundo relatório do chefe de posto da Funai,datado de 2002, primeiramente as águas do Rio Jacarésão desviadas para o rio Branco, por um canal de 5 qui-lômetros, sendo daí levadas até o rio Vermelho.

Conforme dados levantados junto à AgênciaNacional de Energia Elétrica - Aneel4 , o grupoCassol é proprietário de três PCHs em Rondônia(Santa Luzia, Cabixi e Monte Belo), respondendopor mais de 30% da energia gerada por PCHs noestado. Atualmente, constrói mais duas: a ÂngeloCassol e a Rio Branco, que produzirão cerca de 10,5mil quilowatts.

Como as PCHs não exigem relatório de impactoambiental, por serem consideradas de baixo impacto,e são regulamentadas por lei estadual, somente com aintervenção do Ministério Público será possível evitarmaiores danos ao patrimônio hídrico indígena.

RoraimaNa Terra Indígena Raposa/Serra do Sol, com uma

população indígena de 15.834 pessoas (154 comu-nidades), há uso indiscriminado de agrotóxicos porplantadores de arroz localizados dentro do territórioindígena, nas várzeas dos rios Surumu e Cotingo, afe-tando 1.000 pessoas das comunidades do Limão,Pedra do Sol, São Jorge, Copaíba, Juazeiro, Repou-so, Jawari, Coqueirinho e Cedro. Entre os danosambientais causados pelos arrozais da região estão adrenagem de áreas de várzea, lagos e pequenos cur-sos d’água, e a emissão de grandes quantidades deagrotóxicos e fertilizantes, com impacto sobre os re-cursos pesqueiros e as aves. São freqüentes os casosde doenças e dor estomacal entre a população indí-gena, que acaba bebendo água poluída.

Há também contaminação de fontes de água pelomercúrio de garimpos ativos ou já inativos nas regi-ões do rio Mau e Quinô, afetando 1.200 pessoas dascomunidades do Caju, Maloquinha, Pedra Preta,Uiramutã e Lage. A má qualidade da água, devido àpouca quantidade de poços e à pequena vazão dosigarapés que abastecem as aldeias, afeta comunida-des como Estevão, Mudubim, Manaparú, Pedra doSol, Novo Paraíso, Cumatã, Ubaru, Feliz Encontro,São Pedro, Uixi, Itacutu, Raposa, Bismark,Cachoeirinha, Serra Grande e Santa Cruz. São 10mil pessoas prejudicadas. O Conselho Indígena deRoraima – CIR- e a Fundação Nacional da Saúde –Funasa - implementam na região projetos de canali-zação de água de vertentes e poços artesianos, tendobeneficiado 38 comunidades indígenas.

Ao lado do problema da poluição e da indefiniçãosobre a homologação do seu território, a populaçãoindígena da TI Raposa/Serra do Sol tem enfrentadouma crescente pressão do governo do estado e desetores empresariais da região pela ocupação e ex-ploração energética dos recursos hídricos lá disponí-veis. Um dos casos mais polêmicos é o da construçãoda usina hidrelétrica do Cotingo.

Na TI Tabalascada, há presença de lixão dentroda área indígena, de responsabilidade da PrefeituraMunicipal de Cantá, contaminando fontes de águautilizadas pela comunidade. Há suspeitas de que osdesmatamentos e as plantações de acácia no entorno

4 O Estado de São Paulo, 07/06/2004 – http://www.estado.com.br.

Page 9: Boletim Orcamento Socioambiental 9

junho de 2004 9

da TI estejam influenciando na escassez de água nosigarapés, verificada especialmente no período de es-tiagem. A comunidade vem sendo beneficiada peloprojeto de abastecimento de água e melhorias sani-tárias desenvolvido pela Funasa, por meio da perfu-ração de poços artesianos, construção de chafariz nocentro da aldeia e sanitários domiciliares.

Na TI São Marcos, há uso indiscriminado deagrotóxicos por plantadores de arroz localizados den-tro e fora da Terra Indígena, nas várzeas do rioSurumu e afluentes, afetando as 500 pessoas dascomunidades de Xiriri, Monte Cristal, Carangue-jo, Lagoa e Bala. Há também a contaminação defontes de água por depósitos de lixo da sede domunicípio de Pacaraima e o desmatamentoindiscriminado no Morro do Quiabo por invasoresda área indígena, na região das cabeceiras do rioMiang, afetando as comunidades de Nova Esperan-ça, Samã, Miang e Barro, com 500 pessoas. A essesproblemas se soma a pouca quantidade de poços ea pequena vazão dos igarapés que abastecem as al-deias, afetando comunidades como Ilha, Vista Nova,Mauíxe, Bom Jesus, Roça, Bala, Pato, Lagoa,Curicaca, Sabiá e Serra do Mel, onde vivem 2.500pessoas. Estão sendo implementados na região, peloConselho Indígena de Roraima – CIR - e a Funasa,projetos de abastecimento de água, com canaliza-ção de água de vertentes e perfuração de poçosartesianos. Já foram beneficiadas oito comunidadesindígenas. Existe também um projeto de recupera-ção ambiental e controle de queimadas sendoimplementado pela Associação dos Povos Indíge-nas de Roraima – Apirr.

Na TI São Marcos, o fato da terra indígena jáestar demarcada e homologada não tem impedidoque os recursos hídricos lá localizados sejam explo-rados indiscriminadamente, inclusive pelo poderpúblico local. No período de 15 de março a 22 deabril de 2003, a Prefeitura da Vila Pacaraima bom-beou para dentro de caminhões-pipa cerca de 7,2milhões de litros de água do Igarapé Samã, locali-zado nas proximidades da Aldeia Nova Esperança.De nada adiantaram as denúncias de desrespeitoaos direitos territoriais indígenas e dos possíveis im-pactos sobre o ambiente. A comunidade inclusivese viu ameaçada de ter a aldeia e suas residênciasinvadidas por grupos organizados do município,

caso mantivesse a postura contrária à retirada daágua. Além da retirada da água, foram realizadasadaptações no leito do rio para permitir a instala-ção de equipamentos e uma melhor aproximaçãodos caminhões-pipa.

Santa CatarinaOs Kaingang e os Guarani Ñandeva da Terra

Indígena Toldo do Chimbangue, no município deChapecó, enfrentam um sério problema de faltad’água. Além disso, os rios estão contaminados porrejeitos e fezes liberados nos cursos d’água pelas fa-zendas de criação intensiva de aves e porcos. É des-sa região de onde se origina grande parte da pro-dução de frango que abastece empresas como a Per-digão e a Sadia.

O direito indígena à águaO direito dos povos indígenas à água tem sido

considerado até certo ponto um tema marginal nadiscussão mais geral sobre os direitos indígenas. Nãoobstante os inúmeros problemas com os recursoshídricos nos territórios indígenas, parece ser aindafraca a percepção social sobre a conexão entre água eterra no contexto dos direitos indígenas. E aqui nãoestamos nos referindo apenas aos atores sociais quenão querem que essa relação seja feita por interessesvários, inclusive e principalmente econômicos.

De fato, ainda são poucos os instrumentos legaisque podem ser acionados no sentido de garantir osdireitos dos povos e das comunidades indígenas àágua, tratando-se, portanto, de um campo de for-mulação onde muito existe por se fazer e avançar. AConstituição Federal de 1988, no capítulo “Dos Ín-dios”, artigo 231, define que:

§ 2o As terras tradicionalmente ocupadas pelos ín-dios destinam-se a sua posse permanente, ca-bendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas dosolo, dos rios e dos lagos nelas existentes.

§ 3o O aproveitamento dos recursos hídricos,incluídos os potenciais energéticos, a pesqui-sa e a lavra das riquezas minerais em terrasindígenas, só pode ser efetivado com auto-rização do Congresso Nacional, ouvidas ascomunidades afetadas, ficando-lhes assegu-rada participação nos resultados da lavra, naforma da lei.

Page 10: Boletim Orcamento Socioambiental 9

10 junho de 2004

§ 6o São nulos e extintos, não produzindo efeitojurídico, os atos que tenham por objeto a ocu-pação, o domínio e a posse das terras a que serefere este artigo, ou a exploração das riquezasnaturais do solo, dos rios e dos lagos nelas exis-tentes, ressalvando relevante interesse públicoda União, segundo o que dispuser lei comple-mentar, não gerando a nulidade e a extinçãodo direito a indenização ou a ações contra aUnião, salvo, na forma da lei, quanto àsbenfeitorias derivadas da ocupação de boa-fé.

É claro que, apesar do artigo 231 da Constitui-ção Federal de 1988 reconhecer os direitos indíge-nas aos rios, lagos e demais recursos hídricos exis-tentes nos seus territórios - demonstrando que o le-gislador compreendeu que água e terra conformamuma unidade territorial indissociável e uma condi-ção necessária para o bem-estar das comunidadeslocais e povos indígenas -, na prática isso não temsido garantido de fato, seja pelo Estado nacionalbrasileiro seja por particulares.5

Em relação à legislação ambiental, além do pres-crito no Código Florestal (Lei nº 4.771/1965), aConstituição Federal de 1988, no capítulo “DoMeio Ambiente”, artigo 225, define que: “todostêm direito ao meio ambiente ecologicamente equi-librado, bem de uso comum do povo e essencial àsadia qualidade de vida, impondo-se ao poder pú-blico e à coletividade o dever de defendê-lo epreservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Diz ainda que é dever do Poder Público e dosparticulares preservar a biodiversidade,notadamente a flora, a fauna, os recursos hídricos,as belezas naturais e o equilíbrio ecológico, evitan-do a poluição das águas, solo e ar, pressuposto in-trínseco ao reconhecimento e exercício do direitode propriedade, nos termos dos artigos 5º, caput(direito à vida) e inciso XXIII (função social da pro-priedade); 170, VI; e 186, II.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente –Conama - dispõe de um bom número de resolu-ções que podem ser acionadas na defesa dos direi-tos indígenas, como por exemplo, a Resolução 237/1997, que regulamenta os aspectos de licenciamentoambiental estabelecidos na Política Nacional do

Meio Ambiente; a 303/2002, que dispõe sobreparâmetros, definições e limites de Áreas de Preser-vação Permanente; a 312/2002, que dispõe sobreo licenciamento ambiental dos empreendimentosde carcinicultura na zona costeira; a 341/2003, quedispõe sobre critérios para a caracterização de ativi-dades ou empreendimentos turísticos sustentáveiscomo de interesse social para fins de ocupação dedunas originalmente desprovidas de vegetação, naZona Costeira; entre outras.

No texto constitucional de 1988 consta, no arti-go 200, que ao sistema único de saúde (leia-se SUS)compete “executar as ações de vigilância sanitária eepidemiológica”, “participar da formulação da po-lítica e da execução das ações de saneamento bási-co” e “colaborar na proteção do meio ambiente”.

A promulgação da Convenção no 169, da Or-ganização Internacional do Trabalho – OIT, sobrePovos Indígenas e Tribais (Decreto no 5.051, de 19de abril de 2004, DOU 20/04/2004), proporcio-nou um instrumento a mais na defesa do direitoindígena à água. O artigo 15o estabelece que:

• Os direitos dos povos interessados nos recur-sos naturais existentes nas suas terras deverãoser especialmente protegidos. Esses direitosabrangem o direito desses povos a participa-rem da utilização, administração e conserva-ção dos recursos mencionados.

• Em caso de pertencer ao Estado a proprieda-de dos minérios ou dos recursos do subsolo,ou de ter direitos sobre outros recursos exis-tentes nas terras, os governos deverão estabe-lecer ou manter procedimentos com vistas aconsultar os povos interessados, a fim de sedeterminar se os interesses desses povos seri-am prejudicados, e em que medida, antes dese empreender ou autorizar qualquer progra-ma de prospecção ou exploração dos recur-sos existentes nas suas terras. Os povos inte-ressados deverão participar sempre que forpossível dos benefícios que essas atividadesproduzam, e receber indenização eqüitativapor qualquer dano que possam sofrer comoresultado dessas atividades.

5 Sobre a situação dos direitos indígenas a água na América Latina, conferir o documento elaborado por Ingo Gentes, Derecho al água de los pueblos indígenas emAmérica Latina. Série Recursos Naturais e Infra-estrutura, no 38. Cepal.

Page 11: Boletim Orcamento Socioambiental 9

junho de 2004 11

2004Programas/Ações autorizado liquidado %

10/06/2004 10/06/2004 exec.

Identidade Étnica e Patrimônio Cultural dos Povos Indígenas 186.171.179 58.368.316 31,35%MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 1.908.210 0 0,00%Apoio ao Ensino Fundamental Escolar Indígena 893.810 0 0,00%Apoio à Distribuição de Material Didático para a Educação Indígena 480.000 0 0,00%Capacitação de Professores para a Educação Fundamental Indígena 534.400 0 0,00%MINISTÉRIO DA JUSTIÇA 19.183.988 3.120.377 16,27%Gestão e Administração do Programa 299.999 34.006 11,34%Atendimento Emergencial aos Povos Indígenas 7.999.997 1.864.390 23,30%Atendimento aos Adolescentes e Jovens Indígenas em Situação de Risco Social 950.000 1.391 0,15%Capacitação de Indígenas e Técnicos de Campo para o Desenvolvimento 459.997 18.703 4,07%de Atividades Auto-Sustentáveis em Terras IndígenasCapacitação de Professores e Técnicos em Educação Indígena 380.000 20.272 5,33%Garantia dos Direitos e Afirmação dos Povos Indígenas 556.999 94.624 16,99%Comunidade Escolar nas Aldeias 2.199.999 265.305 12,06%Pesquisa sobre Populações Indígenas 280.000 32.942 11,77%Funcionamento do Museu do Índio 1.026.999 42.922 4,18%Instalação de Memorial do Patrimônio Cultural 340.000 10.726 3,15%Construção de Moradia para Comunidade Indígena 1.100.000 0 0,00%Capacitação de Servidores Públicos Federais em Processo de Qualificação e Requalificação 600.000 66.387 11,06%Funcionamento do Centro Especial de Assistência do Índio 280.000 0 0,00%Assistência a Estudantes Indígenas fora de suas Aldeias 2.459.998 654.797 26,62%Organização, Preservação e Divulgação dos Acervos Documentais 250.000 13.912 5,56%sobre Índios e a Política IndigenistaMINISTÉRIO DA SAÚDE 164.598.981 55.247.939 33,57%Apoio a Estudos e Pesquisas no âmbito das Populações Indígenas 894.000 0 0,00%Gestão e Administração do Programa 2.500.000 110.308 4,41%Estruturação de Unidades de Saúde para Atendimento à População Indígena 10.155.000 36.129 0,36%Publicidade de Utilidade Pública 1.799.997 61.415 3,41%Promoção da Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Indígenas 3.000.000 80.151 2,67%Promoção da Educação em Saúde dos Povos Indígenas 950.000 26.595 2,80%Capacitação de Profissionais para Atenção à Saúde da População Indígena 10.000.000 0 0,00%Atenção à Saúde dos Povos Indígenas 129.999.985 54.910.239 42,24%Sistema de Informação em Saúde Indígena 5.299.999 23.102 0,44% MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO 480.000 - 0,00%Assistência Técnica e Extensão Rural em Áreas Indígenas 480.000 0 0,00%Proteção de Terras Indígenas, Gestão Territorial e Etnodesenvolvimento 64.437.283 8.029.827 12,46%MINISTÉRIO DA JUSTIÇA 53.081.953 7.865.056 14,82%Demarcação e Aviventação de Terras Indígenas 2.099.998 465.273 22,16%Gestão e Administração do Programa 56.975 56.444 99,07%Fomento a Projetos Especiais Implementados em Terras Indígenas 100.000 0 0,00%Avaliação de Estudos de Impacto Ambiental e Cultural de Empreendimentos em Terras Indígenas 250.000 17.250 6,90%Conservação e Recuperação da Biodiversidade em Terras Indígenas 1.159.998 47.759 4,12%Fiscalização de Terras Indígenas 5.999.995 1.631.192 27,19%Fomento às Atividades Produtivas em Áreas Indígenas 9.149.997 1.843.622 20,15%Funcionamento de Postos Indígenas 4.934.999 943.915 19,13%Identificação e Revisão de Terras Indígenas 1.999.997 138.798 6,94%Regularização Fundiária de Terras Indígenas 18.579.997 1.911.654 10,29%Proteção de População Indígena Isolada e de Recente Contato 750.000 188.551 25,14%Regularização e Proteção de Terras Indígenas na Amazônia Legal - PPTAL (Programa-Piloto) 7.999.997 620.598 7,76%MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE 11.355.330 164.771 1,45%Gestão Ambiental em Terras Indígenas no Brasil - Nacional 250.000 0 0,00%Gestão Ambiental em Terras Indígenas no Brasil - Norte 735.139 164.771 22,41%Fomento a Projetos de Gestão Ambiental dos Povos Indígenas da Amazônia (Programa-Piloto) 10.370.191 0 0,00%Desenvolvimento Sustentável do Pantanal 1.000.000 0 0,00%MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE 1.000.000 0 0,00%Apoio a Ações Socioambientais em Terras Indígenas na Bacia do Alto Paraguai 1.000.000 0 0,00%Saneamento Rural 25.999.986 1.497.160 5,76%MINISTÉRIO DA SAÚDE 25.999.986 1.497.160 5,76%Ampliação de Ações de Saneamento Básico em Aldeias Indígenas 25.999.986 1.497.160 5,76%TOTAL 277.608.448 67.895.303 24,46%Fonte: SIAFI/STN - Base de Dados: Consultoria de Orçamento/ CD e ProdasenElaboração: INESCNotação das colunas:% Execução - Obtido através da divisão da despesa autorizada pela despesa liquidada.Nota: A liquidação da despesa constitui a verificação do direito adquirido pelo credor, tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito.

Orçamento IndigenistaT abela 1

Page 12: Boletim Orcamento Socioambiental 9

12 junho de 2004

A defesa do direito indígena a água

Apesar dos inúmeros problemas relacionados coma água nos territórios indígenas, da marginalidadedo tema no cenário da política indigenista, e da

fragilidade e limitações dos instrumentos legais e adminis-trativos hoje disponíveis para evitar danos ao patrimôniosociocultural e ambiental indígena e punir seus promoto-res - públicos e privados -, existem alguns espaços que po-dem ser melhor aproveitados pelo movimento indígena eseus aliados - indigenistas e socioambientalistas -, seja paradenúncias seja para a criação e o aprimoramento de instru-mentos e condições legais, técnicas, administrativas e orça-mentárias necessárias para a defesa e promoção dos direitosindígenas à água e a um ambiente saudável.

A Constituição Federal de 1988 prevê, no capítulo I(Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) que“qualquer cidadão é parte legítima para propor ação po-pular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio públicoou de entidade de que o Estado participe, à moralidadeadministrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio his-tórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência”(LXXIII). Além disso, no artigo 232 do capítulo VIII“Dos Índios”, é garantido que “os índios, suas comuni-dades e organizações são partes legítimas para ingressarem juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervin-do o Ministério Publico em todos os atos e processos”.

Ou seja, além da legitimidade das comunidades eorganizações indígenas para ingressarem em juízo con-tra os promotores de danos ambientais em seus territó-rios, é um dever do Ministério Público atuar no senti-do de garantir os direitos indígenas.

O movimento indígena tem hoje assento em comis-sões e conselhos consultivos e deliberativos de políticaspúblicas importantes, que poderiam ser maior e melhoraproveitados como espaços de discussão e definição decritérios e procedimentos relacionados às questões aquitratadas. A título de exemplo, há representação indígenaprevista: no Conselho Nacional do Meio Ambiente -Conama; no Conselho Nacional de Saúde - CNS; e noConselho Nacional de Segurança Alimentar - Consea.

Em relação à política de recursos hídricos, o SistemaNacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos –

Singreh - foi criado pela Constituição Federal de 1988e instituído pela Lei no 9.433/97, de 08/01/1997, jun-tamente com a Política Nacional de Recursos Hídricos.

Para a implementação da Política Nacional dos Re-cursos Hídricos, o Singreh é formado por um Conse-lho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH, pelosConselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Dis-trito Federal, e pelos Comitês de Bacia Hidrográfica.1

Estas instâncias administrativas são organismoscolegiados, com caráter consultivo e deliberativo emrelação a suas competências específicas, compostas porrepresentantes dos “setores usuários de água”, do gover-no e da sociedade civil. 2

Em relação à participação indígena, a Lei no 9.433/97 só a prevê nos Comitês de Bacia Hidrográfica debacias cujos territórios abranjam terras indígenas. Nes-tes casos, devem ser incluídos como membros perma-nentes representantes da Fundação Nacional do Índio -Funai (como parte da representação da União) e dascomunidades indígenas ali residentes ou com interessena bacia. Ou seja, é garantida por lei a participação in-dígena nos Comitês de Bacia.

A participação de representação indígena qualificada eo controle social sobre as ações nos Comitês de Bacia sãoquestões importantes. Entre outras coisas, compete aosComitês (i) promover o debate das questões relaciona-das a recursos hídricos e articular a atuação das entidadesintervenientes; (ii) arbitrar, em primeira instância admi-nistrativa, os conflitos relacionados aos recursos hídricos;(iii) aprovar o Plano de RH da bacia; (iv) acompanhar aexecução do Plano de RH da bacia e sugerir as providên-cias necessárias ao cumprimento de suas metas; e (v) esta-belecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursoshídricos e sugerir os valores a serem cobrados.

Infelizmente, a mesma compreensão sobre a neces-sidade e a importância da participação indígena não serepetiu na formação dos Comitês Nacional e Estadu-ais. Estes são espaços de decisão e acompanhamento daspolíticas públicas de recursos hídricos a serem conquis-tados pelo movimento indígena.

Ricardo Verdum

Assessor de Políticas Indígena e Ambiental do Inesc

1 Também fazem parte do Singreh os órgãos públicos estaduais e municipais que atuam na gestão dos recursos hídricos, a Secretaria de Recursos Hídricos – SRH-e a Agência Nacional de Águas – ANA, do Ministério do Meio Ambiente, e as Agências de Águas (ou de Bacia) que atuam como Secretaria Executiva dos Comitês.A Lei nº 10.881, de 09/06/2004, dá aos Conselhos Nacional e Estaduais o poder de delegar a organizações da sociedade civil sem fins lucrativos, por prazodeterminado, o exercício de funções de competência das Agências de Águas, enquanto esses organismos não estiverem constituídos.

2 Atualmente, o Singreh é composto por 12 Regiões Hidrográficas: Amazônica, Tocantins-Araguaia, Atlântico Nordeste Ocidental, Parnaíba, Atlântico NordesteOriental, São Francisco, Atlântico Leste, Atlântico Sudeste, Paraná, Paraguai, Uruguai e Atlântico Sul.