41
“ELES NOS DETESTAM”. TROPEÇOS DO POLICIAMENTO DE PROXIMIDADE EM FAVELAS RESULTADOS DA PESQUISA UPP: O QUE PENSAM OS POLICIAIS , 2014 LEONARDA MUSUMECI BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19

BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

ldquoELES NOS DETESTAMrdquo TROPECcedilOS DO POLICIAMENTO DE PROXIMIDADE EM FAVELASRESULTADOS DA PESQUISA UPP O QUE PENSAM OS POLICIAIS 2014

LEONARDA MUSUMECI

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015

19

RESUMO

O artigo analisa resultados da 3ordf rodada do survey ldquoUPP O que pensam os policiaisrdquo realizado em 2014 que entrevistou 2002 cabos e soldados das 36 unidades entatildeo existentes na cidade do Rio de Janeiro Em comparaccedilatildeo com os das pesquisas de 2010 e 2012 tais resultados mostram a persistecircncia de problemas relativos agrave formaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de trabalho e agrave vontade da maioria dos agentes de deixar o programa Mas revelam sobretudo um avanccedilo das praacuteticas de policiamento convencional e repressivo em detrimento daquelas associadas agrave poliacutecia de proximidade com um crescente protagonismo dos GTPPs grupamentos calcados no modelo do Bope e das tropas de elite dos batalhotildees Apontam tambeacutem sinais de forte deterioraccedilatildeo das relaccedilotildees entre policiais e moradores assim como um aumento das percepccedilotildees de presenccedila do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas nas UPPs Em diaacutelogo com algumas pesquisas etnograacuteficas recentes sobre favelas ocupadas o trabalho relaciona a crise por que passam essas unidades a tropeccedilos lacunas e desvios de rota do proacuteprio programa natildeo simplesmente a um ldquoretornordquo do traacutefico que estaria desafiando a chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Na sua terceira rodada o survey sobre experiecircncias e percepccedilotildees de policiais de ponta das UPPs realizado previamente pelo CESeC em 2010 e 2012 gerou resultados que reforccedilam inquietaccedilotildees manifestas desde o iniacutecio da pesquisa e ecoam um cenaacuterio de reversatildeo de expectativas que vem sendo apontado tambeacutem por outros estudos recentes sobre o processo de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas1 Este artigo apresenta os resultados do levantamento de 2014 buscando sempre que possiacutevel contex-tualizaacute-los natildeo soacute em comparaccedilatildeo com os das rodadas anteriores2 mas tambeacutem em diaacutelogo com algumas pesquisas qua-litativas sobre moradores e policiais de UPPs desenvolvidas nos uacuteltimos anos

O trabalho de campo teve duraccedilatildeo bem superior agrave dos precedentes esten-dendo-se por trecircs meses e meio de 30 de julho a 19 de novembro Isso se deveu tanto agrave situaccedilatildeo conturbada em algumas favelas quanto a outros tipos de obstaacuteculos encontrados no processo de aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios como a natildeo-divulgaccedilatildeo preacutevia da pesquisa para os policiais sorteados ou a particular dificuldade de entrevistar mulheres dado que a amostra desta vez foi estrati-ficada por gecircnero Em vaacuterias unidades o pequeno nuacutemero de policiais femininas tornou necessaacuterio entrevistar todas ou quase todas para garantir a consistecircncia dos resultados o que deixou pouca ou nenhuma margem para substituiccedilotildees Como se sabe afastamentos tempo-raacuterios por licenccedila meacutedica resposta a inqueacuteritos e outros motivos satildeo muito frequentes na Poliacutecia Militar Quanto mais o levantamento se estendia mais a lista original que servira para sortear a amostra tornava-se obsoleta Testes realizados posteriormente mostraram poreacutem que os criteacuterios de substituiccedilatildeo adotados e mesmo a perda de algumas

LEONARDA MUSUMECI Eacute PROFESSORA DO INSTITUTO DE

ECONOMIA DA UFRJ E PESQUISADORA

ASSOCIADA DO CENTRO DE ESTUDOS

DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC)

Coordenam desde 2010 a pesquisa UPP

O que pensam os policiais BARBARA

MUSUMECI MOURAtildeO JULITA LEMGRUBER

LEONARDA MUSUMECI e SILVIA RAMOS

A rodada de 2014 contou ainda com a

participaccedilatildeo do pesquisador ALBERTO

ALVADIA FILHO e dos estatiacutesticos DORIAM

BORGES e GREICE CONCEICcedilAtildeO

A coordenaccedilatildeo de campo ficou a cargo de

SONIA NUNES e a aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios

foi feita pela empresa EXATA PESQUISAS E

EVENTOS O apoio financeiro a esse terceiro

survey veio de doaccedilatildeo da OPEN SOCIETY

FOUNDATIONS (OSF) Como nas rodadas

anteriores nesta tambeacutem foi fundamental

a colaboraccedilatildeo da COORDENACcedilAtildeO DE

POLIacuteCIA PACIFICADORA DA PMERJ dando

suporte agrave pesquisa divulgando-a entre os

comandos das UPPs e fornecendo as listas

de cabos e soldados para sorteio da amostra

Agradecemos aos diversos comandantes

de unidades e aos outros oficiais da PM que

contribuiacuteram para tornar o levantamento

possiacutevel O grande nuacutemero de entrevistados

e nosso compromisso de manter em sigilo a

identidade deles nos impede de mencionar

um a um mas natildeo podemos deixar de

registrar um agradecimento geral a todos(as)

os(as) policiais militares que se dispuseram

a responder agraves nossas muitas e longas

perguntas

3

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

entrevistas com mulheres policiais natildeo prejudicaram a abrangecircncia e aleato-riedade da amostra nem alteraram a margem de erro dos resultados (4)

Foram ouvidos ao todo 2002 poli-ciais (1896 soldados e 106 cabos 1548 homens e 454 mulheres) em amostra aleatoacuteria representativa do universo de 7643 policiais de ponta alocados naquele momento em 36 UPPs da cidade3 Embora extensa (cerca de frac14 do universo) essa amostra natildeo repre-senta estatisticamente as unidades individuais apenas o conjunto delas e alguns subconjuntos construiacutedos por agregaccedilatildeo Sacrifica-se assim a grande diversidade entre as favelas e perde-se a possibilidade de captar variaccedilotildees nas experiecircncias e percepccedilotildees dos policiais que possam estar associadas a dife-renccedilas locais4 Mas para obter resul-tados desagregaacuteveis por unidade seria necessaacuterio um levantamento bem mais amplo quase um censo geral dos poli-ciais militares das UPPs cujo custo tor-naria a pesquisa inviaacutevel

PERFIL DOS ENTREVISTADOS

Se os resultados dos dois surveys anteriores sugeriam uma tendecircncia agrave crescente feminizaccedilatildeo da tropa das UPPs tendo a participaccedilatildeo de mulheres aumentado de 08 em 2010 para 114 em 2012 os de 2014 contrariam essa expectativa pois mostram ligeiro recuo (na margem de erro da pesquisa) da parcela de policiais femininas que trabalham em favelas ldquopacificadasrdquo 975 Em relaccedilatildeo ao perfil etaacuterio houve certo envelhecimento do efetivo registrando-se acreacutescimo da parcela de policiais com mais de 33 anos (164 contra 67 em 2012) e reduccedilatildeo da faixa mais jovem com idades entre 18 e 24 anos (de 115 em 2012 para

49 em 2014) Isso talvez reflita um ritmo menor de incorporaccedilatildeo de poli-ciais receacutem-formados eou a entrada de agentes mais velhos oriundos de outros setores da PM De todo modo a faixa amplamente majoritaacuteria con-tinua sendo de 24 a 33 anos com uma pequena variaccedilatildeo entre 2012 e 2014 (de 817 para 786) dentro da margem de erro da pesquisa

O grau de instruccedilatildeo alterou-se pouco entre os dois uacuteltimos levantamentos com ligeira queda da proporccedilatildeo de poli-ciais que tecircm curso superior completo ou incompleto (de 475 para 426 do total) mas aumentou bastante o percentual dos que disseram estar estudando na eacutepoca da pesquisa (de 302 para 412)

Em 2014 como em 2012 os evan-geacutelicos prevaleceram sobre os catoacutelicos (419 contra 373) os autodeclarados pretos e pardos sobre os brancos (676 contra 308) e os casados sobre os solteiros (635 contra 365) Quanto agrave renda pessoal observa-se desde o primeiro survey uma concentraccedilatildeo na faixa de trecircs a cinco salaacuterios miacutenimos por mecircs variando de 63 a 65 nas trecircs rodadas do levantamento Entre 2010 e 2014 contudo dobrou a parcela de policiais que disseram ter renda mensal superior a cinco salaacuterios miacutenimos (de 148 para 301) ndash o que possivelmente se deve agrave instituiccedilatildeo dos programas Proeis e RAS em 2011 e 2012 que permitiram aos funcionaacuterios de segu-ranccedila puacuteblica prestar legalmente ser-viccedilos remunerados nos seus horaacuterios de folga6 Ainda assim em 2014 uma parcela muito alta dos entrevistados (832) afirmou que o rendimento incluindo gratificaccedilotildees era insuficiente para sustentar a famiacutelia

A grande maioria (763) do efetivo de 2014 ingressara na corporaccedilatildeo dois a cinco anos antes Praticamente metade

4

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

jaacute trabalhava em UPP havia mais de dois anos mas soacute 317 estavam haacute mais de dois anos alocados na unidade atual o que sugere a existecircncia de alguma rota-tividade entre as UPPs De fato respon-dendo a outra pergunta 38 dos sol-dados e cabos disseram jaacute ter passado por duas ou mais unidades Aleacutem disso 204 jaacute haviam trabalhado anterior-mente em outros setores da PMERJ a maior parte deles (836) em batalhotildees convencionais7

Embora minoritaacuterias essas par-celas satildeo significativas por sugerir certo afastamento em relaccedilatildeo a dois prin-ciacutepios originais do programa (a) de que todos os agentes de ponta fossem desde o ingresso na PM especialmente designados e treinados para trabalhar em UPP a fim de evitar a reproduccedilatildeo dos ldquoviacuteciosrdquo da poliacutecia tradicional e (b) de que os policiais permanecessem nos mesmos territoacuterios de modo a criarem laccedilos de convivecircncia e con-fianccedila com os moradores conhecerem bem as caracteriacutesticas e os problemas de cada favela e poderem com isso desen-volver o chamado ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo Mas segundo Albernaz e Mazzurana (2015 78) o uacuteltimo prin-ciacutepio foi alterado com o tempo restrin-gindo-se os novatos a 23 do efetivo da UPP e passando-se a preencher o outro terccedilo com policiais deslocados de outras unidades para ldquocompartilharem a expe-riecircncia adquirida em outras aacutereas em processo de pacificaccedilatildeordquo Independen-temente do sucesso maior ou menor dessa estrateacutegia explica-se assim a per-centagem relativamente proacutexima de 13 dos policiais que disseram jaacute ter passado por mais de uma unidade O que natildeo fica esclarecido eacute o percentual de 204 de cabos e soldados oriundos de bata-lhotildees convencionais e de outros setores

da PM esse deslocamento estaacute previsto para os sargentos e subtenentes respon-saacuteveis pela supervisatildeo mas nenhuma das duas categorias foi incluiacuteda na nossa amostra

ldquoMUITO BLAacute-BLAacute-BLAacuterdquo E ldquoESTAacuteGIO NA PRAIArdquo CRIacuteTICAS Agrave FORMACcedilAtildeO

Assim como na pesquisa anterior cerca de metade dos policiais ouvidos em 2014 (517) natildeo se considera ade-quadamente formada para trabalhar em UPP Essa apreciaccedilatildeo geneacuterica aparen-temente diverge do fato de mais de 70 dos entrevistados considerarem adequa-damente ministrados alguns conteuacutedos essenciais ao tipo de trabalho proposto pelo programa como policiamento comunitaacuterio policiamento de proxi-midade direitos humanos e uso gradual da forccedila8 Entretanto haacute outros con-teuacutedos tambeacutem importantes para esse trabalho que a maioria considerou ina-dequadamente ensinados ou inexistentes praacutetica de policiamento cotidiano em favelas mediaccedilatildeo de conflitos procedi-mentos para violecircncia domeacutestica e uso de armamento menos letal Ademais a uma pergunta aberta (feita soacute aos que se disseram despreparados) sobre o que achavam que havia faltado na formaccedilatildeo a maior parte (52) reclamou da falta de conhecimento da realidade das favelas ou da completa ausecircncia de treinamento direcionado especificamente ao trabalho em UPP Isso parece indicar que mesmo os conteuacutedos avaliados como ldquoadequa-damenterdquo ministrados podem ser vistos como excessivamente teoacutericos ensina-se bem a doutrina do ldquopoliciamento comu-nitaacuteriordquo ou ldquode proximidaderdquo mas natildeo se promove a aproximaccedilatildeo cognitiva e praacutetica dos formandos aos ambientes especiacuteficos em que deveriam aplicaacute-la

CERCA DE METADE DOS POLICIAIS OUVIDOS EM 2014 NAtildeO SE CONSIDERA ADEQUADAMENTE FORMADA PARA TRABALHAR EM UPPrdquo

ldquo5

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ldquoMuita teoria e pouca praacuteticardquo ldquomuito blaacute-blaacute-blaacuterdquo ldquoa realidade natildeo corresponde ao que eacute ensinado no cursordquo ldquofaltou mostrar o que eacute a rea-lidade da comunidade e que existem diferentes comunidadesrdquo ldquoo que se mostra eacute diferente do que vemos aquirdquo ldquofaltou psicologia para [lidar com] a hostilidade da comunidaderdquo ldquoa for-maccedilatildeo foi para batalhatildeo natildeo para UPPrdquo ldquoo estaacutegio foi feito na praiardquo [sic] ou ldquoem batalhatildeordquo quando ldquodeveria ter sido feito em UPPrdquo ndash satildeo algumas das respostas que ilustram essa criacutetica Seguem-se a ela 137 de apreciaccedilotildees negativas gerais sobre o curso (maacute qua-lidade dos professores e instrutores estrutura e organizaccedilatildeo ruins tudo ou quase tudo peacutessimo) e 8 de recla-maccedilotildees sobre o periacuteodo muito curto da formaccedilatildeo9

Jaacute se sublinhara na rodada anterior da pesquisa a grande defasagem exis-tente entre a pretensatildeo de disseminar um ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia baseado na noccedilatildeo de proximidade e a permanecircncia dos velhos conteuacutedos e meacutetodos de ensino oferecidos aos poli-ciais militares (cf Musumeci et al 2013 4-5 21) Ainda que com muito atraso ndash quase oito anos depois da inau-guraccedilatildeo da primeira UPP ndash a PMERJ promoveu recentemente uma atuali-zaccedilatildeo do Curso de Formaccedilatildeo de Sol-dados (CFSd) que deve entrar em vigor no final de 2015 A nova grade curri-cular natildeo soacute aumenta a carga horaacuteria total do curso de 1182 para 1437 horas como cria as disciplinas Poliacutecia de Pro-ximidade (pela fusatildeo das antigas Poli-ciamento Comunitaacuterio e Praacutetica Policial Cidadatilde) Tecnologias Natildeo-Letais (antes parte da disciplina Armamento) e Admi-nistraccedilatildeo Institucional de Conflitos antes inexistente Aleacutem disso o estaacutegio praacutetico passaraacute a durar dois meses e

todas as disciplinas do curso teratildeo de abordar ao menos trecircs estudos de caso (cf Cortes e Mazzurana 2015)

Tais mudanccedilas representam sem duacutevida um avanccedilo importante Resta saber se seratildeo suficientes para trans-formar o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo na ldquofilosofia () orientadora das formas de atuaccedilatildeo e policiamento da corporaccedilatildeordquo (idem 6) abrindo caminho para a superaccedilatildeo da loacutegica beacutelica hoje predominante E sobretudo se conseguiratildeo reduzir o abismo entre teoria e praacutetica no qual florescem o ldquocurriacuteculo ocultordquo e a ldquopedagogia informalrdquo muitas vezes em completa oposiccedilatildeo ao que os cursos formais pre-tendem transmitir

ldquoEstes procedimentos [informais] podem se tornar lesivos agrave proposta educacional oficial por concorrer ou desconstruir conteuacutedos do curriacuteculo formal quando trazem o entendimento de que a construccedilatildeo do que eacute ser e fa-zer poliacutecia ocorre exclusivamente pela tradiccedilatildeo (experiecircncia de trabalho dos mais antigos) e quando reforccedilam valo-res e atitudes contraacuterios aos explicita-dos no curriacuteculo formalrdquo (idem 8)

Como se veraacute logo a seguir a pesquisa do CESeC indica que estaacute ocorrendo nas UPPs uma crescente reproduccedilatildeo de concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia em detrimento do que possa ser entendido como ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo Natildeo eacute o caso de atribuir tal tendecircncia unicamente a lacunas de for-maccedilatildeo ou agrave vitoacuteria do curriacuteculo oculto Mas certamente reside aiacute um dos flancos deixados abertos ateacute agora pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo de favelas e soacute o futuro diraacute se e em que medida as inovaccedilotildees pedagoacutegicas de 2015 teratildeo sido capazes de reverter esse quadro No iniacutecio do programa quando questionados sobre

6

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a necessidade de mudanccedila urgente e radical na formaccedilatildeo dos policiais os gestores diziam que tinham de ldquotrocar o pneu com o carro andandordquo Resta torcer para que os oito anos de rodagem sem pneu natildeo tenham danificado de vez a roda e o eixo do carro

O QUE FOI FEITO DO POLICIAMENTO DE PROXIMIDADE

Ao lado das criacuteticas agrave formaccedilatildeo os resultados do levantamento de 2014 apontam uma fraca presenccedila quando natildeo um encolhimento de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo nas UPPs10 como mostra ao lado o Graacutefico 1

Vecirc-se que pouco mais de frac14 dos poli-ciais realizava com frequecircncia em 2014 algum tipo (natildeo especificado) de praacutetica de aproximaccedilatildeo com moradores menos de 20 buscavam levantar problemas da comunidade cerca de 14 realizavam frequentemente mediaccedilatildeo de conflitos pouco mais de 8 participavam de ati-vidades voltadas para crianccedilas ou jovens

GRAacuteFICO 1_ATIVIDADES DE ldquoPROXIMIDADErdquo QUE OS POLICIAIS DIZEM REALIZAR COM MUITA FREQUEcircNCIA NAS UPPS ( DE ENTREVISTADOS)

() OPCcedilOtildeES INCLUIacuteDAS SOacute NO QUESTIONAacuteRIO DE 2014

e soacute 53 participavam frequentemente de reuniotildees com moradores Observa-se aleacutem disso no Graacutefico 2 um progressivo decliacutenio dos percentuais de agentes que dizem manter algum contato com insti-tuiccedilotildees locais

GRAacuteFICO 2_INSTITUICcedilOtildeES COM QUE OS POLICIAIS MANTEcircM ALGUM CONTATO ( DE ENTREVISTADOS)

OS RESULTADOS APONTAM UMA FRACA PRESENCcedilA QUANDO NAtildeO UM ENCOLHIMENTO DE ATIVIDADES IDENTIFICAacuteVEIS AO lsquoPOLICIA-MENTO DE PROXIMIDADErsquo NAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

7

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Em compensaccedilatildeo vatildeo de 29 a 564 as parcelas de entrevistados na uacuteltima pesquisa que disseram fazer com muita frequecircncia prisotildees e apreensotildees recebimento de queixas registros de ocorrecircncias em delegacia e abordagem e revista de suspeitos ndash tarefas tiacutepicas do policiamento ostensivo tradicional (Graacutefico 3) Apesar de todos os percen-tuais desse grupo de atividades tambeacutem terem decrescido bastante desde 2012 ele parece ser bem mais generalizado no trabalho cotidiano dos policiais de UPP do que as praacuteticas indicativas de aproximaccedilatildeo e interlocuccedilatildeo com os moradores Os resultados confirmam assim uma tendecircncia jaacute apontada em pesquisas precedentes a restriccedilatildeo do chamado ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo a um grupo mais ou menos especializado de ldquoarticuladores comu-nitaacuteriosrdquo enquanto para a grande maioria dos policiais ldquoproximidaderdquo se traduziria apenas na presenccedila con-tiacutenua e ostensiva dentro das favelas

GRAacuteFICO 3_ATIVIDADES DE POLICIAMENTO CONVENCIONAL QUE OS POLICIAIS DIZEM REALIZAR COM MUITA FREQUEcircNCIA NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

() OPCcedilOtildeES INCLUIacuteDAS SOacute NO QUESTIONAacuteRIO DE 2014

com pouco ou nenhum diaacutelogo com a populaccedilatildeo local (Cano Borges e Ribeiro 2014 157 Musumeci et al 2013 17)

Outra indicaccedilatildeo de que o ldquonovo paradigmardquo de policiamento vem per-dendo terreno como mostra o Graacutefico 4 estaacute na reduccedilatildeo do percentual de policiais que dizem realizar ronda a peacute11 e no acreacutescimo dos que trabalham em patrulhas atualmente denominadas Grupamentos Taacuteticos de Poliacutecia de Proxi-midade (GTPP) Estas uacuteltimas apesar de trazerem ldquoproximidaderdquo no nome satildeo destacamentos ldquooperacionaisrdquo que transitam livremente por todas as ruas e becos da favela com policiais for-temente armados desempenhando tarefas eminentemente repressivas ou modos tradicionais de ldquoprevenccedilatildeo pro-ativardquo perseguiccedilatildeo agraves drogas agraves armas e aos ldquoesticasrdquo (pequenos traficantes que permanecem no territoacuterio) abordagem e revista de ldquosuspeitosrdquo contenccedilatildeo de protestos ou ldquoperturbaccedilotildees da ordemrdquo na comunidade Quando haacute situaccedilotildees

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

8

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

consideradas criacuteticas em outras UPPs o efetivo desses grupos pode ser des-locado temporariamente para apoiaacute-las (Albernaz e Mazzurana 2015 69)

Observaccedilotildees etnograacuteficas feitas por outros pesquisadores mostram que pelo menos em algumas favelas os inte-grantes dos GTPPs buscam mimetizar as tropas de elite dos batalhotildees (Gates) e das unidades especiais da PM (Bope BPChoque) podendo manter para tanto uma atitude deliberada de dis-tanciamento em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo O que inclui por exemplo natildeo cum-primentar os moradores e tratar com rispidez quando natildeo com violecircncia os incontaacuteveis ldquosuspeitosrdquo revistados dia-riamente (Esperanccedila 2014 137-43) Ou empenhar-se em exibiccedilotildees de forccedila que atemorizam a populaccedilatildeo e justificam o apelido de ldquobondesrdquo dado a esses desta-camentos em alguns lugares por ana-logia com os grupos de traficantes que com o mesmo propoacutesito desfilavam for-temente armados pelas ruas da comu-nidade (Soares 2015 287)12

A julgar por tais relatos chega a ser irocircnica a presenccedila da expressatildeo ldquopoliacutecia de proximidaderdquo no nome dos GTPPs

GRAacuteFICO 4_TIPO DE TRABALHO QUE OS POLICIAIS REALIZAM NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

salvo se ela abarcar a pura e simples coexistecircncia no territoacuterio ou os con-tatos verbais e fiacutesicos durante abor-dagens policiais Nem a proacutepria des-criccedilatildeo oficial fornece alguma pista do que possa significar ldquoproximidaderdquo num grupamento como esse definido da seguinte maneira

efetivo de uma patrulha com treina-mento operacional especializado e munida de equipamento especial em-pregada em accedilotildees de Poliacutecia Ostensiva especiacuteficas que demandam accedilatildeo raacutepida e repressatildeo qualificada Exemplos de sua atuaccedilatildeo controle de tumultos e accedilotildees para restauraccedilatildeo da ordem puacute-blica de maior magnitude Por suas caracteriacutesticas de natureza e emprego possuem base territorial ampla atuan-do em toda aacuterea da Unidade Policial de Proximidade respondendo diretamen-te ao Comandante desta (PMERJ Di-retriz Geral de Poliacutecia de Proximidade Boletim da PM n 139 2014 apud Viva Rio 2014 15-16 Cf tambeacutem Albernaz e Mazzurana 2015 69 71)13

A seacuterie de dados do ISP sobre as 36 UPPs abrangidas em 201414 reforccedila ainda mais os indiacutecios de reiteraccedilatildeo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

9

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

do velho paradigma de policiamento centrado em prisotildees e apreensotildees de drogas Como mostra o Graacutefico 5 agrave medida que a ldquopacificaccedilatildeordquo se estende a um nuacutemero maior de favelas cresce o volume de ocorrecircncias tradicional-mente usadas para aferir a ldquoproduccedilatildeo policialrdquo exceto no caso das armas apreendidas cujo nuacutemero diminui no periacuteodo15 Vale sublinhar que o aumento dos outros registros natildeo reflete necessa-riamente um aumento da criminalidade ou da quantidade de drogas em circu-laccedilatildeo assim como a queda do nuacutemero de armas apreendidas natildeo significa necessariamente que haja menos armas ilegais nas favelas O que essas ocor-recircncias informam sobretudo eacute o dire-cionamento dado ao trabalho policial15 E

o fato de elas terem crescido em todo o estado no mesmo periacuteodo indica que a ldquocaccedilardquo agraves drogas e aos traficantes con-tinuou sendo foco privilegiado da accedilatildeo policial dentro e fora das UPPs16

Voltando aos resultados do survey nota-se que o percentual de entrevis-tados em 2014 que disseram trabalhar a maior parte do tempo em GTPP (222) eacute apenas um pouco inferior ao dos que afirmaram realizar com frequecircncia alguma espeacutecie de atividade de apro-ximaccedilatildeo com os moradores (258) Isso poderia indicar agrave primeira vista uma especializaccedilatildeo dual e contradi-toacuteria nas UPPs de um lado ldquoarticu-ladores comunitaacuteriosrdquo mediadores de conflitos e ldquopoliciais sociaisrdquo que buscam desenvolver atividades capazes

GRAacuteFICO 5_OCORREcircNCIAS DE ldquoPRODUCcedilAtildeO POLICIALrdquo REGISTRADAS NOS TERRITOacuteRIOS DE 36 UPPs ndash 20072014 (NUacuteMERO-IacuteNDICE 2007=100)

A ldquoCACcedilArdquo AgraveS DROGAS E AOS TRAFICANTES CONTINUOU SENDO FOCO PRIVILEGIADO DA ACcedilAtildeO POLICIAL DENTRO E FORA DAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

10

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

de aproximaacute-los ao menos de alguns seg-mentos da populaccedilatildeo18 de outro mini--Bopes e mini-Choques cujas atuaccedilatildeo atitude e ideologia parecem destinadas a promover o movimento oposto de distanciamento e tensionamento das relaccedilotildees entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Essa imagem poreacutem pode resultar algo simplista Como mostram as Tabelas 1 e 2 a seguir existem de fato

diferenccedilas enormes entre as atividades dos que atuam em GTPPs e dos que trabalham a maior parte do tempo em outros tipos de serviccedilo especialmente quanto agrave frequecircncia de abordagens registros de ocorrecircncia prisotildees e apre-ensotildees19 Mas tambeacutem haacute uma surpre-endente convergecircncia no que se refere a praticas geneacutericas de aproximaccedilatildeo com moradores levantamento de

TABELA 1_ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM MUITA FREQUEcircNCIA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO PELOS POLICIAIS ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS 950 456

REGISTROS DE OCORREcircNCIA EM DELEGACIAS 712 213

PRISOtildeES E APREENSOtildeES 710 171

RECEBIMENTO DE QUEIXAS 318 286

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES 260 258

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS 227 189

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS 157 137

ATIVIDADES COM CRIANCcedilAS JOVENS OU IDOSOS 33 95

PARTICIPACcedilAtildeO EM REUNIOtildeES NA COMUNIDADE 14 64

TABELA2_OCORREcircNCIAS DE QUE OS POLICIAIS PARTICIPARAM PELO MENOS UMA VEZ NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO POR ELES REALIZADO A MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

APREENSAtildeO DE DROGAS 803 332

APREENSAtildeO DE CRIANCcedilA OU ADOLESCENTE INFRATOR 674 246

OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 529 251

USO DE ARMA DE FOGO PELO(A) POLICIAL 332 137

APREENSAtildeO DE ARMA(S) DE FOGO 239 57

USO DE ARMAMENTO ldquoMENOS LETALrdquo 221 11 1

11

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

problemas e ateacute mediaccedilatildeo de conflitos Em outras palavras trabalhar a maior parte do tempo em GTPP natildeo exclui necessariamente o envolvimento em algumas estrateacutegias de proximidade20 Satildeo bem poucos eacute verdade os policiais dos mini-Bopes com essa caracteriacutestica ldquohiacutebridardquo mas como se viu satildeo poucos tambeacutem os do restante da tropa que rea-lizam esforccedilos frequentes de aproxi-maccedilatildeo com os moradores pelo menos ateacute onde as categorias da nossa pesquisa permitem observar

A impressatildeo que se tem a partir dos resultados expostos nesta seccedilatildeo e tambeacutem da leitura de outros trabalhos recentes sobre UPPs eacute natildeo soacute de recuo como de persistecircncia de uma grande confusatildeo e indefiniccedilatildeo em torno do que signifique ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo21 Apresentado desde o iniacutecio como pedra angular do programa de ldquopacificaccedilatildeordquo esse tipo de policia-mento em 2014 quase sete anos apoacutes a inauguraccedilatildeo da primeira UPP ainda carecia de formalizaccedilatildeo doutrinaacuteria e metodoloacutegica de uma padronizaccedilatildeo miacutenima entre as unidades de insti-tucionalizaccedilatildeo dos canais de interlo-cuccedilatildeo entre policiais e moradores de mecanismos de accountability (controle monitoramento avaliaccedilatildeo) e como jaacute visto de conteuacutedos e meacutetodos de ensino adequados ao ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia que se pretendia imple-mentar nas favelas22

Eacute um dos idealizadores e primeiro coordenador das UPPs quem ressalta o contraste entre o baixo investimento na sistematizaccedilatildeo da ldquoproximidaderdquo e o minucioso planejamento das etapas ante-riores de ldquorecuperaccedilatildeordquo e ldquoestabilizaccedilatildeordquo dos territoacuterios ocupados pela poliacutecia

Apesar de todo esse detalhamento so-bre os preparativos do ambiente para a chegada da UPP em suas primeiras fases o plano em nenhum momento detalha o que eacute ou como se deva fazer a ldquoproximidaderdquo Trata-se portanto basicamente de uma ocupaccedilatildeo mili-tar jaacute que eacute niacutetida sua maior preocu-paccedilatildeo com as fases iniciais (I e II) em detrimento das uacuteltimas Essa lacuna que deveria ter sido preenchida pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP ndash por meio de um ldquoPrograma de Poliacutecia Pacificadorardquo como previa o decreto que estruturou a UPP encontra-se ateacute hoje aberta (Rodrigues 2014 76)

No iniacutecio diz o autor a lacuna pode ter favorecido em alguma medida o processo

porque lhe deu certa plasticidade praacute-tica deixando-o aberto agrave construccedilatildeo cotidiana por atores que normalmen-te natildeo participariam no caso de uma construccedilatildeo formal como lideranccedilas locais e policiais No entanto hoje com a ampliaccedilatildeo do programa ela soa mais como ameaccedila que como opor-tunidade para o seu gerenciamento estrateacutegico Assim ela tem sido preen-chida por um amplo referencial de fa-zeres que vai do ldquotiro-porrada-e-bom-bardquo expressatildeo usada para se referir agraves operaccedilotildees policiais baseadas na loacutegica da guerra ateacute a uma cosmeacutetica e nada instrumental ldquopoliacutecia boazinhardquo que vecirc na UPP a oportunidade de melho-rar a imagem da poliacutecia Eacute provaacutevel que os problemas por que passam atualmente as UPPs sobretudo nos casos de desvios e uso arbitraacuterio da forccedila tenham a ver com esse possiacutevel descontrole gerencial (idem 79)

Algum tempo apoacutes a implemen-taccedilatildeo ainda experimental das pri-meiras unidades esperava-se um esforccedilo concentrado de avaliaccedilatildeo de organizaccedilatildeo do conhecimento praacutetico

A IMPRESSAtildeO QUE SE TEM Eacute NAtildeO SOacute DE RECUO COMO DE PERSISTEcircNCIA DE UMA GRANDE CONFUSAtildeO E INDEFINICcedilAtildeO EM TORNO DO QUE SIGNIFIQUE lsquoPOLI-CIAMENTO DE PROXIMIDADErsquordquo

ldquo12

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

adquirido e de elaboraccedilatildeo de diretrizes para a replicaccedilatildeo e o gerenciamento do programa nas outras favelas Mesmo que devessem persistir graus de flexi-bilidade dadas as enormes diferenccedilas nos ambientes de atuaccedilatildeo do novo poli-ciamento era imprescindiacutevel que essa sistematizaccedilatildeo avanccedilasse antes que o vertiginoso crescimento do nuacutemero de UPPs e de policiais deixasse escapar do controle um dos pilares centrais do pro-grama a substituiccedilatildeo da truculecircncia do desrespeito e da ldquoguerrardquo pelo diaacutelogo com a populaccedilatildeo das favelas Na verdade em 2012 o ISP chegou a con-tratar a consultoria de universidades e institutos de pesquisa para o detalha-mento do ldquoPrograma de Poliacutecia Pacifi-cadorardquo mas soacute em 2015 o processo de formalizaccedilatildeo e institucionalizaccedilatildeo das UPPs parece estar sendo retomado (cf Albernaz e Mazzurana 2015)

Tal como as mudanccedilas introdu-zidas no curso de formaccedilatildeo mencio-nadas mais acima essa retomada eacute sem duacutevida auspiciosa Vale torcer para que sua aplicaccedilatildeo efetiva natildeo chegue tarde demais e para que ainda seja possiacutevel recobrar controle sobre o espaccedilo que ficou tanto tempo aberto agrave interpre-taccedilatildeo e ao exerciacutecio informais da ldquopro-ximidaderdquo Por ora esse espaccedilo mais parece um saco de gatos onde cabem desde a pura e simples presenccedila no territoacuterio ateacute estrateacutegias mais profis-sionalizadas de aproximaccedilatildeo como a dos policiais-mediadores (Mouratildeo 2014 2015a)23 passando por inicia-tivas diversas dos chamados ldquopoliciais sociaisrdquo (Teixeira 2015) por promoccedilatildeo de festas eventos e passeios24 e por muito trabalho administrativo25 Nele cabem tambeacutem a regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades econocircmicas e de lazer nas favelas (Cano Borges e Ribeiro 2014 172 Soares 2015 230-1) um frenesi

de abordagens e apreensotildees de drogas a circulaccedilatildeo de mini-Bopes agrave caccedila de mini-traficantes (Esperanccedila 2014) e ateacute a ldquoaproximaccedilatildeo predatoacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) traduzida nas velhas praacuteticas de privatizaccedilatildeo de informaccedilotildees cor-rupccedilatildeo abuso de poder e violecircncia

Na borda desse espaccedilo como se veraacute existe ainda uma faixa de poli-ciais com atitudes de indiferenccedila ou descrenccedila quando natildeo de repulsa a qualquer espeacutecie de aproximaccedilatildeo com os moradores A frase ldquoproximidade eacute o caceterdquo ouvida de um policial de UPP por Vinicius Esperanccedila (2014 146) soa assim como eco perfeito agrave locuccedilatildeo ldquoUPP eacute o caralhordquo brandida por mora-dores refrataacuterios a qualquer tipo de aproximaccedilatildeo com a poliacutecia

ldquoINTRUSO MALTRATADO E ODIADOrdquo TENSOtildeES EM ALTA NA RELACcedilAtildeO POLIacuteCIACOMUNIDADE

Se o policiamento de proximidade foi pensado como ldquoestrateacutegia de cons-truccedilatildeo partilhada de legitimidade entre os policiais e destes com os cidadatildeosrdquo (Muniz e Mello 2015 52) natildeo sur-preende que aos tropeccedilos da ldquoproxi-midaderdquo correspondam sinais de cres-cente deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees do conviacutevio e dos graus de aceitaccedilatildeo da pre-senccedila policial por parte dos moradores de favelas com UPP Mais uma vez eacute necessaacuterio sublinhar duas limitaccedilotildees da nossa pesquisa que impotildeem ressalvas agrave anaacutelise (1) a impossibilidade de desa-gregar espacialmente os resultados logo de captar diferenccedilas entre as loca-lidades e dentro delas (2) o fato de o survey ter colhido apenas percepccedilotildees e opiniotildees dos policiais registrando portanto o que eles pensam que os moradores pensam deles natildeo necessa-riamente o que os moradores de fato

13

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

pensam Falta ainda um levantamen-to-espelho com perguntas aos resi-dentes anaacutelogas agraves respondidas pelos policiais capazes de identificar con-vergecircncias e divergecircncias entre essas percepccedilotildees que satildeo por definiccedilatildeo afe-tivas e subjetivas26

De todo modo ainda que geneacute-ricos e unilaterais extraem-se indiacutecios de deterioraccedilatildeo do ambiente nas UPPs comparando-se ao longo dos trecircs surveys as respostas sobre sentimentos que os policiais percebem na popu-laccedilatildeo Como mostra o Graacutefico 6 haacute uma progressiva e expressiva queda da per-cepccedilatildeo de sentimentos favoraacuteveis (sim-patia admiraccedilatildeo respeito aceitaccedilatildeo) e um aumento da sensaccedilatildeo de que pre-valecem a hostilidade a resistecircncia o medo a desconfianccedila e a rejeiccedilatildeo

Impressiona natildeo soacute o crescimento da parcela que se percebe malquista pela comunidade mas tambeacutem a ecircnfase

com que foram verbalizados os senti-mentos hostis na uacuteltima rodada da pes-quisa A pergunta do questionaacuterio trazia sete opccedilotildees fechadas entre elas ldquoraivardquo e um campo aberto para ldquooutros senti-mentosrdquo27 Mais de frac14 (273) das res-postas foram ldquoraivardquo mas em outras 9 os entrevistados natildeo se conten-taram com esse termo talvez por con-sideraacute-lo muito leve ou pouco espe-ciacutefico e fizeram questatildeo de carregar nas tintas utilizando o campo aberto para descrever melhor o que achavam que a maioria da populaccedilatildeo sentia por eles ldquooacutediordquo ldquooacutedio fatalrdquo ldquonojordquo ldquoascordquo ldquoaversatildeordquo ldquorepulsardquo ldquorepugnacircnciardquo ldquoojerizardquo ldquorancorrdquo ldquorevoltardquo ldquorejeiccedilatildeordquo ldquodesprezordquo ldquodesdeacutemrdquo e assim por diante Um dos entrevistados resumiu esse dra-maacutetico rol de sentimentos adversos com a frase ldquoeles nos detestamrdquo que tomamos emprestada para o tiacutetulo deste artigo E em resposta agrave pergunta sobre

GRAacuteFICO 6_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

HAacute UMA PROGRESSIVA E EXPRESSIVA QUEDA DA PERCEPCcedilAtildeO DE SENTIMENTOS FAVORAacuteVEIS E UM AUMENTO DA SENSACcedilAtildeO DE QUE PREVALECEM A HOSTILIDADE A RESISTEcircNCIA O MEDO A DESCONFIANCcedilA E A REJEICcedilAtildeOrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

14

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

motivos de insatisfaccedilatildeo com o trabalho em UPP que seraacute comentada mais adiante outro policial disse que aleacutem de ldquointrusordquo sentia-se ldquomaltratado e odiadordquo pela maioria da populaccedilatildeo

O Graacutefico 7 acima desagrega em alguns blocos de respostas os senti-mentos positivos negativos e neutros com que os policiais de UPP se veem tra-tados pelos moradores locais segundo os resultados da uacuteltima pesquisa Nunca eacute demais lembrar que esses resultados dizem respeito ao conjunto das UPPs e possivelmente ocultam grandes dife-renccedilas entre as 36 localidades assim como variaccedilotildees significativas dentro de cada uma delas

Agrave pergunta sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP o grupo mais frequente de respostas (281)

mencionava relaccedilatildeo ruim com os moradores enquanto soacute 92 referi-ram-se a boas relaccedilotildees com moradores como a melhor coisa do trabalho em UPP28 Aleacutem de percepccedilotildees e opiniotildees algumas experiecircncias vividas pelos policiais reforccedilam a impressatildeo de um ambiente muito hostil em boa parte dos territoacuterios ocupados Nota-se na Tabela 3 que nos uacuteltimos trecircs meses antes do survey 558 dos entrevistados haviam sido alvo pelo menos uma vez de algum objeto arremessado por moradores 618 natildeo haviam obtido resposta a um cumprimento 63 haviam-se sentido desrespeitados e 658 haviam sido xingados em pelo menos uma ocasiatildeo Soacute 37 no entanto disseram que algum(a) morador(a) prestara queixa contra eles durante esses trecircs meses

GRAacuteFICO 7_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

() ESPERANCcedilA CONFIANCcedilA FELICIDADE SEGURANCcedilA GRATIDAtildeO

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

15

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Reaccedilotildees anaacutelogas por parte de habitantes das favelas ndash arremesso de objetos e insultos ndash foram relatadas em pesquisas qualitativas no comeccedilo da instalaccedilatildeo das UPPs e associadas agrave resis-tecircncia ou desconfianccedila inicial dos mora-dores em relaccedilatildeo agrave presenccedila contiacutenua da poliacutecia nas comunidades (Cano Borges e Ribeiro 2014 181 Menezes 2014 671)29 Esperava-se que com o correr do tempo agrave medida que a con-vivecircncia e a proximidade produzisssem seus efeitos humanizadores essas mani-festaccedilotildees hostis tendessem a decrescer ndash o que de fato parece ter acontecido em algumas UPPs mais antigas pelo menos ateacute poucos anos atraacutes30 Mas natildeo soacute a tensatildeo se manteve alta em outras localidades como recentemente parte das favelas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada voltou a apresentar niacuteveis elevados de tensatildeo e desconfianccedila ndash situaccedilatildeo que o Graacutefico 6 acima em certa medida traduz e que se confirma em pesquisas qualitativas rea-lizadas nos uacuteltimos dois anos (Menezes 2014 Esperanccedila 2014 Soares 2015)

O discurso de alguns policiais e agraves vezes tambeacutem de moradores tende a associar esse aumento de tensotildees ao ldquoretorno do traacuteficordquo e agrave volta dos con-frontos armados em vaacuterias favelas com UPP tanto as de ocupaccedilatildeo recente

quanto algumas das mais antigas Temerosos com as consequecircncias do reempoderamento dos traficantes e pre-ocupados em natildeo se identificar como ldquoamigos da poliacuteciardquo os moradores teriam passado com mais frequecircncia a evitar o contato ou mesmo a mani-festar desapreccedilo e hostilidade contra os policiais Discutiremos mais agrave frente o tema do ldquoretornordquo e a interpretaccedilatildeo que tende a creditar-lhe inteiramente os tropeccedilos do policiamento de pro-ximidade Cabe ressaltar por ora que segundo observaccedilotildees etnograacuteficas feitas em 2013 e 2014 os conflitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo despontam em con-textos e por motivos diversos natildeo redu-tiacuteveis agrave equaccedilatildeo simplista hostilidade agrave poliacutecia = viacutenculos com o traacutefico

Quando os policiais recorriam ao capi-tal da forccedila fiacutesica para realizar prisotildees e apreensotildees os moradores muitas vezes praticavam atos de agressatildeo aos policiais estimulados por conflitos decorrentes de abordagens policiais tentativas de prisotildees interrupccedilotildees de festas Foram incontaacuteveis os relatos de policiais que receberam pedradas e ateacute gavetadas [sic] de moradores re-voltados Na favela da zona Norte um policial retornou agrave base com a cabeccedila aberta atingida pelas pedras Na favela da zona Sul ateacute crianccedilas se engajavam nas accedilotildees ldquoEu fiquei muito surpreso

TABELA 3_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES ( DE ENTREVISTADOS)

NENHUMA VEZ

UMA VEZ

ALGUMAS VEZES

MUITAS VEZES

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 442 84 227 247

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 342 58 233 367

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 370 67 234 329

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 382 40 241 337

MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 963 20 09 08

OS CONFLITOS ENTRE POLIacuteCIA E POPULACcedilAtildeO DESPONTAM EM CONTEXTOS E POR MOTIVOS DIVERSOS NAtildeO REDUTIacuteVEIS Agrave EQUACcedilAtildeO SIMPLISTA HOSTILIDADE Agrave POLIacuteCIA = VIacuteNCULOS COM O TRAacuteFICOrdquo

ldquo

16

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 2: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

RESUMO

O artigo analisa resultados da 3ordf rodada do survey ldquoUPP O que pensam os policiaisrdquo realizado em 2014 que entrevistou 2002 cabos e soldados das 36 unidades entatildeo existentes na cidade do Rio de Janeiro Em comparaccedilatildeo com os das pesquisas de 2010 e 2012 tais resultados mostram a persistecircncia de problemas relativos agrave formaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de trabalho e agrave vontade da maioria dos agentes de deixar o programa Mas revelam sobretudo um avanccedilo das praacuteticas de policiamento convencional e repressivo em detrimento daquelas associadas agrave poliacutecia de proximidade com um crescente protagonismo dos GTPPs grupamentos calcados no modelo do Bope e das tropas de elite dos batalhotildees Apontam tambeacutem sinais de forte deterioraccedilatildeo das relaccedilotildees entre policiais e moradores assim como um aumento das percepccedilotildees de presenccedila do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas nas UPPs Em diaacutelogo com algumas pesquisas etnograacuteficas recentes sobre favelas ocupadas o trabalho relaciona a crise por que passam essas unidades a tropeccedilos lacunas e desvios de rota do proacuteprio programa natildeo simplesmente a um ldquoretornordquo do traacutefico que estaria desafiando a chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Na sua terceira rodada o survey sobre experiecircncias e percepccedilotildees de policiais de ponta das UPPs realizado previamente pelo CESeC em 2010 e 2012 gerou resultados que reforccedilam inquietaccedilotildees manifestas desde o iniacutecio da pesquisa e ecoam um cenaacuterio de reversatildeo de expectativas que vem sendo apontado tambeacutem por outros estudos recentes sobre o processo de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas1 Este artigo apresenta os resultados do levantamento de 2014 buscando sempre que possiacutevel contex-tualizaacute-los natildeo soacute em comparaccedilatildeo com os das rodadas anteriores2 mas tambeacutem em diaacutelogo com algumas pesquisas qua-litativas sobre moradores e policiais de UPPs desenvolvidas nos uacuteltimos anos

O trabalho de campo teve duraccedilatildeo bem superior agrave dos precedentes esten-dendo-se por trecircs meses e meio de 30 de julho a 19 de novembro Isso se deveu tanto agrave situaccedilatildeo conturbada em algumas favelas quanto a outros tipos de obstaacuteculos encontrados no processo de aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios como a natildeo-divulgaccedilatildeo preacutevia da pesquisa para os policiais sorteados ou a particular dificuldade de entrevistar mulheres dado que a amostra desta vez foi estrati-ficada por gecircnero Em vaacuterias unidades o pequeno nuacutemero de policiais femininas tornou necessaacuterio entrevistar todas ou quase todas para garantir a consistecircncia dos resultados o que deixou pouca ou nenhuma margem para substituiccedilotildees Como se sabe afastamentos tempo-raacuterios por licenccedila meacutedica resposta a inqueacuteritos e outros motivos satildeo muito frequentes na Poliacutecia Militar Quanto mais o levantamento se estendia mais a lista original que servira para sortear a amostra tornava-se obsoleta Testes realizados posteriormente mostraram poreacutem que os criteacuterios de substituiccedilatildeo adotados e mesmo a perda de algumas

LEONARDA MUSUMECI Eacute PROFESSORA DO INSTITUTO DE

ECONOMIA DA UFRJ E PESQUISADORA

ASSOCIADA DO CENTRO DE ESTUDOS

DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC)

Coordenam desde 2010 a pesquisa UPP

O que pensam os policiais BARBARA

MUSUMECI MOURAtildeO JULITA LEMGRUBER

LEONARDA MUSUMECI e SILVIA RAMOS

A rodada de 2014 contou ainda com a

participaccedilatildeo do pesquisador ALBERTO

ALVADIA FILHO e dos estatiacutesticos DORIAM

BORGES e GREICE CONCEICcedilAtildeO

A coordenaccedilatildeo de campo ficou a cargo de

SONIA NUNES e a aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios

foi feita pela empresa EXATA PESQUISAS E

EVENTOS O apoio financeiro a esse terceiro

survey veio de doaccedilatildeo da OPEN SOCIETY

FOUNDATIONS (OSF) Como nas rodadas

anteriores nesta tambeacutem foi fundamental

a colaboraccedilatildeo da COORDENACcedilAtildeO DE

POLIacuteCIA PACIFICADORA DA PMERJ dando

suporte agrave pesquisa divulgando-a entre os

comandos das UPPs e fornecendo as listas

de cabos e soldados para sorteio da amostra

Agradecemos aos diversos comandantes

de unidades e aos outros oficiais da PM que

contribuiacuteram para tornar o levantamento

possiacutevel O grande nuacutemero de entrevistados

e nosso compromisso de manter em sigilo a

identidade deles nos impede de mencionar

um a um mas natildeo podemos deixar de

registrar um agradecimento geral a todos(as)

os(as) policiais militares que se dispuseram

a responder agraves nossas muitas e longas

perguntas

3

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

entrevistas com mulheres policiais natildeo prejudicaram a abrangecircncia e aleato-riedade da amostra nem alteraram a margem de erro dos resultados (4)

Foram ouvidos ao todo 2002 poli-ciais (1896 soldados e 106 cabos 1548 homens e 454 mulheres) em amostra aleatoacuteria representativa do universo de 7643 policiais de ponta alocados naquele momento em 36 UPPs da cidade3 Embora extensa (cerca de frac14 do universo) essa amostra natildeo repre-senta estatisticamente as unidades individuais apenas o conjunto delas e alguns subconjuntos construiacutedos por agregaccedilatildeo Sacrifica-se assim a grande diversidade entre as favelas e perde-se a possibilidade de captar variaccedilotildees nas experiecircncias e percepccedilotildees dos policiais que possam estar associadas a dife-renccedilas locais4 Mas para obter resul-tados desagregaacuteveis por unidade seria necessaacuterio um levantamento bem mais amplo quase um censo geral dos poli-ciais militares das UPPs cujo custo tor-naria a pesquisa inviaacutevel

PERFIL DOS ENTREVISTADOS

Se os resultados dos dois surveys anteriores sugeriam uma tendecircncia agrave crescente feminizaccedilatildeo da tropa das UPPs tendo a participaccedilatildeo de mulheres aumentado de 08 em 2010 para 114 em 2012 os de 2014 contrariam essa expectativa pois mostram ligeiro recuo (na margem de erro da pesquisa) da parcela de policiais femininas que trabalham em favelas ldquopacificadasrdquo 975 Em relaccedilatildeo ao perfil etaacuterio houve certo envelhecimento do efetivo registrando-se acreacutescimo da parcela de policiais com mais de 33 anos (164 contra 67 em 2012) e reduccedilatildeo da faixa mais jovem com idades entre 18 e 24 anos (de 115 em 2012 para

49 em 2014) Isso talvez reflita um ritmo menor de incorporaccedilatildeo de poli-ciais receacutem-formados eou a entrada de agentes mais velhos oriundos de outros setores da PM De todo modo a faixa amplamente majoritaacuteria con-tinua sendo de 24 a 33 anos com uma pequena variaccedilatildeo entre 2012 e 2014 (de 817 para 786) dentro da margem de erro da pesquisa

O grau de instruccedilatildeo alterou-se pouco entre os dois uacuteltimos levantamentos com ligeira queda da proporccedilatildeo de poli-ciais que tecircm curso superior completo ou incompleto (de 475 para 426 do total) mas aumentou bastante o percentual dos que disseram estar estudando na eacutepoca da pesquisa (de 302 para 412)

Em 2014 como em 2012 os evan-geacutelicos prevaleceram sobre os catoacutelicos (419 contra 373) os autodeclarados pretos e pardos sobre os brancos (676 contra 308) e os casados sobre os solteiros (635 contra 365) Quanto agrave renda pessoal observa-se desde o primeiro survey uma concentraccedilatildeo na faixa de trecircs a cinco salaacuterios miacutenimos por mecircs variando de 63 a 65 nas trecircs rodadas do levantamento Entre 2010 e 2014 contudo dobrou a parcela de policiais que disseram ter renda mensal superior a cinco salaacuterios miacutenimos (de 148 para 301) ndash o que possivelmente se deve agrave instituiccedilatildeo dos programas Proeis e RAS em 2011 e 2012 que permitiram aos funcionaacuterios de segu-ranccedila puacuteblica prestar legalmente ser-viccedilos remunerados nos seus horaacuterios de folga6 Ainda assim em 2014 uma parcela muito alta dos entrevistados (832) afirmou que o rendimento incluindo gratificaccedilotildees era insuficiente para sustentar a famiacutelia

A grande maioria (763) do efetivo de 2014 ingressara na corporaccedilatildeo dois a cinco anos antes Praticamente metade

4

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

jaacute trabalhava em UPP havia mais de dois anos mas soacute 317 estavam haacute mais de dois anos alocados na unidade atual o que sugere a existecircncia de alguma rota-tividade entre as UPPs De fato respon-dendo a outra pergunta 38 dos sol-dados e cabos disseram jaacute ter passado por duas ou mais unidades Aleacutem disso 204 jaacute haviam trabalhado anterior-mente em outros setores da PMERJ a maior parte deles (836) em batalhotildees convencionais7

Embora minoritaacuterias essas par-celas satildeo significativas por sugerir certo afastamento em relaccedilatildeo a dois prin-ciacutepios originais do programa (a) de que todos os agentes de ponta fossem desde o ingresso na PM especialmente designados e treinados para trabalhar em UPP a fim de evitar a reproduccedilatildeo dos ldquoviacuteciosrdquo da poliacutecia tradicional e (b) de que os policiais permanecessem nos mesmos territoacuterios de modo a criarem laccedilos de convivecircncia e con-fianccedila com os moradores conhecerem bem as caracteriacutesticas e os problemas de cada favela e poderem com isso desen-volver o chamado ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo Mas segundo Albernaz e Mazzurana (2015 78) o uacuteltimo prin-ciacutepio foi alterado com o tempo restrin-gindo-se os novatos a 23 do efetivo da UPP e passando-se a preencher o outro terccedilo com policiais deslocados de outras unidades para ldquocompartilharem a expe-riecircncia adquirida em outras aacutereas em processo de pacificaccedilatildeordquo Independen-temente do sucesso maior ou menor dessa estrateacutegia explica-se assim a per-centagem relativamente proacutexima de 13 dos policiais que disseram jaacute ter passado por mais de uma unidade O que natildeo fica esclarecido eacute o percentual de 204 de cabos e soldados oriundos de bata-lhotildees convencionais e de outros setores

da PM esse deslocamento estaacute previsto para os sargentos e subtenentes respon-saacuteveis pela supervisatildeo mas nenhuma das duas categorias foi incluiacuteda na nossa amostra

ldquoMUITO BLAacute-BLAacute-BLAacuterdquo E ldquoESTAacuteGIO NA PRAIArdquo CRIacuteTICAS Agrave FORMACcedilAtildeO

Assim como na pesquisa anterior cerca de metade dos policiais ouvidos em 2014 (517) natildeo se considera ade-quadamente formada para trabalhar em UPP Essa apreciaccedilatildeo geneacuterica aparen-temente diverge do fato de mais de 70 dos entrevistados considerarem adequa-damente ministrados alguns conteuacutedos essenciais ao tipo de trabalho proposto pelo programa como policiamento comunitaacuterio policiamento de proxi-midade direitos humanos e uso gradual da forccedila8 Entretanto haacute outros con-teuacutedos tambeacutem importantes para esse trabalho que a maioria considerou ina-dequadamente ensinados ou inexistentes praacutetica de policiamento cotidiano em favelas mediaccedilatildeo de conflitos procedi-mentos para violecircncia domeacutestica e uso de armamento menos letal Ademais a uma pergunta aberta (feita soacute aos que se disseram despreparados) sobre o que achavam que havia faltado na formaccedilatildeo a maior parte (52) reclamou da falta de conhecimento da realidade das favelas ou da completa ausecircncia de treinamento direcionado especificamente ao trabalho em UPP Isso parece indicar que mesmo os conteuacutedos avaliados como ldquoadequa-damenterdquo ministrados podem ser vistos como excessivamente teoacutericos ensina-se bem a doutrina do ldquopoliciamento comu-nitaacuteriordquo ou ldquode proximidaderdquo mas natildeo se promove a aproximaccedilatildeo cognitiva e praacutetica dos formandos aos ambientes especiacuteficos em que deveriam aplicaacute-la

CERCA DE METADE DOS POLICIAIS OUVIDOS EM 2014 NAtildeO SE CONSIDERA ADEQUADAMENTE FORMADA PARA TRABALHAR EM UPPrdquo

ldquo5

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ldquoMuita teoria e pouca praacuteticardquo ldquomuito blaacute-blaacute-blaacuterdquo ldquoa realidade natildeo corresponde ao que eacute ensinado no cursordquo ldquofaltou mostrar o que eacute a rea-lidade da comunidade e que existem diferentes comunidadesrdquo ldquoo que se mostra eacute diferente do que vemos aquirdquo ldquofaltou psicologia para [lidar com] a hostilidade da comunidaderdquo ldquoa for-maccedilatildeo foi para batalhatildeo natildeo para UPPrdquo ldquoo estaacutegio foi feito na praiardquo [sic] ou ldquoem batalhatildeordquo quando ldquodeveria ter sido feito em UPPrdquo ndash satildeo algumas das respostas que ilustram essa criacutetica Seguem-se a ela 137 de apreciaccedilotildees negativas gerais sobre o curso (maacute qua-lidade dos professores e instrutores estrutura e organizaccedilatildeo ruins tudo ou quase tudo peacutessimo) e 8 de recla-maccedilotildees sobre o periacuteodo muito curto da formaccedilatildeo9

Jaacute se sublinhara na rodada anterior da pesquisa a grande defasagem exis-tente entre a pretensatildeo de disseminar um ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia baseado na noccedilatildeo de proximidade e a permanecircncia dos velhos conteuacutedos e meacutetodos de ensino oferecidos aos poli-ciais militares (cf Musumeci et al 2013 4-5 21) Ainda que com muito atraso ndash quase oito anos depois da inau-guraccedilatildeo da primeira UPP ndash a PMERJ promoveu recentemente uma atuali-zaccedilatildeo do Curso de Formaccedilatildeo de Sol-dados (CFSd) que deve entrar em vigor no final de 2015 A nova grade curri-cular natildeo soacute aumenta a carga horaacuteria total do curso de 1182 para 1437 horas como cria as disciplinas Poliacutecia de Pro-ximidade (pela fusatildeo das antigas Poli-ciamento Comunitaacuterio e Praacutetica Policial Cidadatilde) Tecnologias Natildeo-Letais (antes parte da disciplina Armamento) e Admi-nistraccedilatildeo Institucional de Conflitos antes inexistente Aleacutem disso o estaacutegio praacutetico passaraacute a durar dois meses e

todas as disciplinas do curso teratildeo de abordar ao menos trecircs estudos de caso (cf Cortes e Mazzurana 2015)

Tais mudanccedilas representam sem duacutevida um avanccedilo importante Resta saber se seratildeo suficientes para trans-formar o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo na ldquofilosofia () orientadora das formas de atuaccedilatildeo e policiamento da corporaccedilatildeordquo (idem 6) abrindo caminho para a superaccedilatildeo da loacutegica beacutelica hoje predominante E sobretudo se conseguiratildeo reduzir o abismo entre teoria e praacutetica no qual florescem o ldquocurriacuteculo ocultordquo e a ldquopedagogia informalrdquo muitas vezes em completa oposiccedilatildeo ao que os cursos formais pre-tendem transmitir

ldquoEstes procedimentos [informais] podem se tornar lesivos agrave proposta educacional oficial por concorrer ou desconstruir conteuacutedos do curriacuteculo formal quando trazem o entendimento de que a construccedilatildeo do que eacute ser e fa-zer poliacutecia ocorre exclusivamente pela tradiccedilatildeo (experiecircncia de trabalho dos mais antigos) e quando reforccedilam valo-res e atitudes contraacuterios aos explicita-dos no curriacuteculo formalrdquo (idem 8)

Como se veraacute logo a seguir a pesquisa do CESeC indica que estaacute ocorrendo nas UPPs uma crescente reproduccedilatildeo de concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia em detrimento do que possa ser entendido como ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo Natildeo eacute o caso de atribuir tal tendecircncia unicamente a lacunas de for-maccedilatildeo ou agrave vitoacuteria do curriacuteculo oculto Mas certamente reside aiacute um dos flancos deixados abertos ateacute agora pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo de favelas e soacute o futuro diraacute se e em que medida as inovaccedilotildees pedagoacutegicas de 2015 teratildeo sido capazes de reverter esse quadro No iniacutecio do programa quando questionados sobre

6

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a necessidade de mudanccedila urgente e radical na formaccedilatildeo dos policiais os gestores diziam que tinham de ldquotrocar o pneu com o carro andandordquo Resta torcer para que os oito anos de rodagem sem pneu natildeo tenham danificado de vez a roda e o eixo do carro

O QUE FOI FEITO DO POLICIAMENTO DE PROXIMIDADE

Ao lado das criacuteticas agrave formaccedilatildeo os resultados do levantamento de 2014 apontam uma fraca presenccedila quando natildeo um encolhimento de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo nas UPPs10 como mostra ao lado o Graacutefico 1

Vecirc-se que pouco mais de frac14 dos poli-ciais realizava com frequecircncia em 2014 algum tipo (natildeo especificado) de praacutetica de aproximaccedilatildeo com moradores menos de 20 buscavam levantar problemas da comunidade cerca de 14 realizavam frequentemente mediaccedilatildeo de conflitos pouco mais de 8 participavam de ati-vidades voltadas para crianccedilas ou jovens

GRAacuteFICO 1_ATIVIDADES DE ldquoPROXIMIDADErdquo QUE OS POLICIAIS DIZEM REALIZAR COM MUITA FREQUEcircNCIA NAS UPPS ( DE ENTREVISTADOS)

() OPCcedilOtildeES INCLUIacuteDAS SOacute NO QUESTIONAacuteRIO DE 2014

e soacute 53 participavam frequentemente de reuniotildees com moradores Observa-se aleacutem disso no Graacutefico 2 um progressivo decliacutenio dos percentuais de agentes que dizem manter algum contato com insti-tuiccedilotildees locais

GRAacuteFICO 2_INSTITUICcedilOtildeES COM QUE OS POLICIAIS MANTEcircM ALGUM CONTATO ( DE ENTREVISTADOS)

OS RESULTADOS APONTAM UMA FRACA PRESENCcedilA QUANDO NAtildeO UM ENCOLHIMENTO DE ATIVIDADES IDENTIFICAacuteVEIS AO lsquoPOLICIA-MENTO DE PROXIMIDADErsquo NAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

7

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Em compensaccedilatildeo vatildeo de 29 a 564 as parcelas de entrevistados na uacuteltima pesquisa que disseram fazer com muita frequecircncia prisotildees e apreensotildees recebimento de queixas registros de ocorrecircncias em delegacia e abordagem e revista de suspeitos ndash tarefas tiacutepicas do policiamento ostensivo tradicional (Graacutefico 3) Apesar de todos os percen-tuais desse grupo de atividades tambeacutem terem decrescido bastante desde 2012 ele parece ser bem mais generalizado no trabalho cotidiano dos policiais de UPP do que as praacuteticas indicativas de aproximaccedilatildeo e interlocuccedilatildeo com os moradores Os resultados confirmam assim uma tendecircncia jaacute apontada em pesquisas precedentes a restriccedilatildeo do chamado ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo a um grupo mais ou menos especializado de ldquoarticuladores comu-nitaacuteriosrdquo enquanto para a grande maioria dos policiais ldquoproximidaderdquo se traduziria apenas na presenccedila con-tiacutenua e ostensiva dentro das favelas

GRAacuteFICO 3_ATIVIDADES DE POLICIAMENTO CONVENCIONAL QUE OS POLICIAIS DIZEM REALIZAR COM MUITA FREQUEcircNCIA NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

() OPCcedilOtildeES INCLUIacuteDAS SOacute NO QUESTIONAacuteRIO DE 2014

com pouco ou nenhum diaacutelogo com a populaccedilatildeo local (Cano Borges e Ribeiro 2014 157 Musumeci et al 2013 17)

Outra indicaccedilatildeo de que o ldquonovo paradigmardquo de policiamento vem per-dendo terreno como mostra o Graacutefico 4 estaacute na reduccedilatildeo do percentual de policiais que dizem realizar ronda a peacute11 e no acreacutescimo dos que trabalham em patrulhas atualmente denominadas Grupamentos Taacuteticos de Poliacutecia de Proxi-midade (GTPP) Estas uacuteltimas apesar de trazerem ldquoproximidaderdquo no nome satildeo destacamentos ldquooperacionaisrdquo que transitam livremente por todas as ruas e becos da favela com policiais for-temente armados desempenhando tarefas eminentemente repressivas ou modos tradicionais de ldquoprevenccedilatildeo pro-ativardquo perseguiccedilatildeo agraves drogas agraves armas e aos ldquoesticasrdquo (pequenos traficantes que permanecem no territoacuterio) abordagem e revista de ldquosuspeitosrdquo contenccedilatildeo de protestos ou ldquoperturbaccedilotildees da ordemrdquo na comunidade Quando haacute situaccedilotildees

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

8

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

consideradas criacuteticas em outras UPPs o efetivo desses grupos pode ser des-locado temporariamente para apoiaacute-las (Albernaz e Mazzurana 2015 69)

Observaccedilotildees etnograacuteficas feitas por outros pesquisadores mostram que pelo menos em algumas favelas os inte-grantes dos GTPPs buscam mimetizar as tropas de elite dos batalhotildees (Gates) e das unidades especiais da PM (Bope BPChoque) podendo manter para tanto uma atitude deliberada de dis-tanciamento em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo O que inclui por exemplo natildeo cum-primentar os moradores e tratar com rispidez quando natildeo com violecircncia os incontaacuteveis ldquosuspeitosrdquo revistados dia-riamente (Esperanccedila 2014 137-43) Ou empenhar-se em exibiccedilotildees de forccedila que atemorizam a populaccedilatildeo e justificam o apelido de ldquobondesrdquo dado a esses desta-camentos em alguns lugares por ana-logia com os grupos de traficantes que com o mesmo propoacutesito desfilavam for-temente armados pelas ruas da comu-nidade (Soares 2015 287)12

A julgar por tais relatos chega a ser irocircnica a presenccedila da expressatildeo ldquopoliacutecia de proximidaderdquo no nome dos GTPPs

GRAacuteFICO 4_TIPO DE TRABALHO QUE OS POLICIAIS REALIZAM NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

salvo se ela abarcar a pura e simples coexistecircncia no territoacuterio ou os con-tatos verbais e fiacutesicos durante abor-dagens policiais Nem a proacutepria des-criccedilatildeo oficial fornece alguma pista do que possa significar ldquoproximidaderdquo num grupamento como esse definido da seguinte maneira

efetivo de uma patrulha com treina-mento operacional especializado e munida de equipamento especial em-pregada em accedilotildees de Poliacutecia Ostensiva especiacuteficas que demandam accedilatildeo raacutepida e repressatildeo qualificada Exemplos de sua atuaccedilatildeo controle de tumultos e accedilotildees para restauraccedilatildeo da ordem puacute-blica de maior magnitude Por suas caracteriacutesticas de natureza e emprego possuem base territorial ampla atuan-do em toda aacuterea da Unidade Policial de Proximidade respondendo diretamen-te ao Comandante desta (PMERJ Di-retriz Geral de Poliacutecia de Proximidade Boletim da PM n 139 2014 apud Viva Rio 2014 15-16 Cf tambeacutem Albernaz e Mazzurana 2015 69 71)13

A seacuterie de dados do ISP sobre as 36 UPPs abrangidas em 201414 reforccedila ainda mais os indiacutecios de reiteraccedilatildeo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

9

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

do velho paradigma de policiamento centrado em prisotildees e apreensotildees de drogas Como mostra o Graacutefico 5 agrave medida que a ldquopacificaccedilatildeordquo se estende a um nuacutemero maior de favelas cresce o volume de ocorrecircncias tradicional-mente usadas para aferir a ldquoproduccedilatildeo policialrdquo exceto no caso das armas apreendidas cujo nuacutemero diminui no periacuteodo15 Vale sublinhar que o aumento dos outros registros natildeo reflete necessa-riamente um aumento da criminalidade ou da quantidade de drogas em circu-laccedilatildeo assim como a queda do nuacutemero de armas apreendidas natildeo significa necessariamente que haja menos armas ilegais nas favelas O que essas ocor-recircncias informam sobretudo eacute o dire-cionamento dado ao trabalho policial15 E

o fato de elas terem crescido em todo o estado no mesmo periacuteodo indica que a ldquocaccedilardquo agraves drogas e aos traficantes con-tinuou sendo foco privilegiado da accedilatildeo policial dentro e fora das UPPs16

Voltando aos resultados do survey nota-se que o percentual de entrevis-tados em 2014 que disseram trabalhar a maior parte do tempo em GTPP (222) eacute apenas um pouco inferior ao dos que afirmaram realizar com frequecircncia alguma espeacutecie de atividade de apro-ximaccedilatildeo com os moradores (258) Isso poderia indicar agrave primeira vista uma especializaccedilatildeo dual e contradi-toacuteria nas UPPs de um lado ldquoarticu-ladores comunitaacuteriosrdquo mediadores de conflitos e ldquopoliciais sociaisrdquo que buscam desenvolver atividades capazes

GRAacuteFICO 5_OCORREcircNCIAS DE ldquoPRODUCcedilAtildeO POLICIALrdquo REGISTRADAS NOS TERRITOacuteRIOS DE 36 UPPs ndash 20072014 (NUacuteMERO-IacuteNDICE 2007=100)

A ldquoCACcedilArdquo AgraveS DROGAS E AOS TRAFICANTES CONTINUOU SENDO FOCO PRIVILEGIADO DA ACcedilAtildeO POLICIAL DENTRO E FORA DAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

10

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

de aproximaacute-los ao menos de alguns seg-mentos da populaccedilatildeo18 de outro mini--Bopes e mini-Choques cujas atuaccedilatildeo atitude e ideologia parecem destinadas a promover o movimento oposto de distanciamento e tensionamento das relaccedilotildees entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Essa imagem poreacutem pode resultar algo simplista Como mostram as Tabelas 1 e 2 a seguir existem de fato

diferenccedilas enormes entre as atividades dos que atuam em GTPPs e dos que trabalham a maior parte do tempo em outros tipos de serviccedilo especialmente quanto agrave frequecircncia de abordagens registros de ocorrecircncia prisotildees e apre-ensotildees19 Mas tambeacutem haacute uma surpre-endente convergecircncia no que se refere a praticas geneacutericas de aproximaccedilatildeo com moradores levantamento de

TABELA 1_ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM MUITA FREQUEcircNCIA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO PELOS POLICIAIS ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS 950 456

REGISTROS DE OCORREcircNCIA EM DELEGACIAS 712 213

PRISOtildeES E APREENSOtildeES 710 171

RECEBIMENTO DE QUEIXAS 318 286

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES 260 258

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS 227 189

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS 157 137

ATIVIDADES COM CRIANCcedilAS JOVENS OU IDOSOS 33 95

PARTICIPACcedilAtildeO EM REUNIOtildeES NA COMUNIDADE 14 64

TABELA2_OCORREcircNCIAS DE QUE OS POLICIAIS PARTICIPARAM PELO MENOS UMA VEZ NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO POR ELES REALIZADO A MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

APREENSAtildeO DE DROGAS 803 332

APREENSAtildeO DE CRIANCcedilA OU ADOLESCENTE INFRATOR 674 246

OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 529 251

USO DE ARMA DE FOGO PELO(A) POLICIAL 332 137

APREENSAtildeO DE ARMA(S) DE FOGO 239 57

USO DE ARMAMENTO ldquoMENOS LETALrdquo 221 11 1

11

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

problemas e ateacute mediaccedilatildeo de conflitos Em outras palavras trabalhar a maior parte do tempo em GTPP natildeo exclui necessariamente o envolvimento em algumas estrateacutegias de proximidade20 Satildeo bem poucos eacute verdade os policiais dos mini-Bopes com essa caracteriacutestica ldquohiacutebridardquo mas como se viu satildeo poucos tambeacutem os do restante da tropa que rea-lizam esforccedilos frequentes de aproxi-maccedilatildeo com os moradores pelo menos ateacute onde as categorias da nossa pesquisa permitem observar

A impressatildeo que se tem a partir dos resultados expostos nesta seccedilatildeo e tambeacutem da leitura de outros trabalhos recentes sobre UPPs eacute natildeo soacute de recuo como de persistecircncia de uma grande confusatildeo e indefiniccedilatildeo em torno do que signifique ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo21 Apresentado desde o iniacutecio como pedra angular do programa de ldquopacificaccedilatildeordquo esse tipo de policia-mento em 2014 quase sete anos apoacutes a inauguraccedilatildeo da primeira UPP ainda carecia de formalizaccedilatildeo doutrinaacuteria e metodoloacutegica de uma padronizaccedilatildeo miacutenima entre as unidades de insti-tucionalizaccedilatildeo dos canais de interlo-cuccedilatildeo entre policiais e moradores de mecanismos de accountability (controle monitoramento avaliaccedilatildeo) e como jaacute visto de conteuacutedos e meacutetodos de ensino adequados ao ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia que se pretendia imple-mentar nas favelas22

Eacute um dos idealizadores e primeiro coordenador das UPPs quem ressalta o contraste entre o baixo investimento na sistematizaccedilatildeo da ldquoproximidaderdquo e o minucioso planejamento das etapas ante-riores de ldquorecuperaccedilatildeordquo e ldquoestabilizaccedilatildeordquo dos territoacuterios ocupados pela poliacutecia

Apesar de todo esse detalhamento so-bre os preparativos do ambiente para a chegada da UPP em suas primeiras fases o plano em nenhum momento detalha o que eacute ou como se deva fazer a ldquoproximidaderdquo Trata-se portanto basicamente de uma ocupaccedilatildeo mili-tar jaacute que eacute niacutetida sua maior preocu-paccedilatildeo com as fases iniciais (I e II) em detrimento das uacuteltimas Essa lacuna que deveria ter sido preenchida pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP ndash por meio de um ldquoPrograma de Poliacutecia Pacificadorardquo como previa o decreto que estruturou a UPP encontra-se ateacute hoje aberta (Rodrigues 2014 76)

No iniacutecio diz o autor a lacuna pode ter favorecido em alguma medida o processo

porque lhe deu certa plasticidade praacute-tica deixando-o aberto agrave construccedilatildeo cotidiana por atores que normalmen-te natildeo participariam no caso de uma construccedilatildeo formal como lideranccedilas locais e policiais No entanto hoje com a ampliaccedilatildeo do programa ela soa mais como ameaccedila que como opor-tunidade para o seu gerenciamento estrateacutegico Assim ela tem sido preen-chida por um amplo referencial de fa-zeres que vai do ldquotiro-porrada-e-bom-bardquo expressatildeo usada para se referir agraves operaccedilotildees policiais baseadas na loacutegica da guerra ateacute a uma cosmeacutetica e nada instrumental ldquopoliacutecia boazinhardquo que vecirc na UPP a oportunidade de melho-rar a imagem da poliacutecia Eacute provaacutevel que os problemas por que passam atualmente as UPPs sobretudo nos casos de desvios e uso arbitraacuterio da forccedila tenham a ver com esse possiacutevel descontrole gerencial (idem 79)

Algum tempo apoacutes a implemen-taccedilatildeo ainda experimental das pri-meiras unidades esperava-se um esforccedilo concentrado de avaliaccedilatildeo de organizaccedilatildeo do conhecimento praacutetico

A IMPRESSAtildeO QUE SE TEM Eacute NAtildeO SOacute DE RECUO COMO DE PERSISTEcircNCIA DE UMA GRANDE CONFUSAtildeO E INDEFINICcedilAtildeO EM TORNO DO QUE SIGNIFIQUE lsquoPOLI-CIAMENTO DE PROXIMIDADErsquordquo

ldquo12

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

adquirido e de elaboraccedilatildeo de diretrizes para a replicaccedilatildeo e o gerenciamento do programa nas outras favelas Mesmo que devessem persistir graus de flexi-bilidade dadas as enormes diferenccedilas nos ambientes de atuaccedilatildeo do novo poli-ciamento era imprescindiacutevel que essa sistematizaccedilatildeo avanccedilasse antes que o vertiginoso crescimento do nuacutemero de UPPs e de policiais deixasse escapar do controle um dos pilares centrais do pro-grama a substituiccedilatildeo da truculecircncia do desrespeito e da ldquoguerrardquo pelo diaacutelogo com a populaccedilatildeo das favelas Na verdade em 2012 o ISP chegou a con-tratar a consultoria de universidades e institutos de pesquisa para o detalha-mento do ldquoPrograma de Poliacutecia Pacifi-cadorardquo mas soacute em 2015 o processo de formalizaccedilatildeo e institucionalizaccedilatildeo das UPPs parece estar sendo retomado (cf Albernaz e Mazzurana 2015)

Tal como as mudanccedilas introdu-zidas no curso de formaccedilatildeo mencio-nadas mais acima essa retomada eacute sem duacutevida auspiciosa Vale torcer para que sua aplicaccedilatildeo efetiva natildeo chegue tarde demais e para que ainda seja possiacutevel recobrar controle sobre o espaccedilo que ficou tanto tempo aberto agrave interpre-taccedilatildeo e ao exerciacutecio informais da ldquopro-ximidaderdquo Por ora esse espaccedilo mais parece um saco de gatos onde cabem desde a pura e simples presenccedila no territoacuterio ateacute estrateacutegias mais profis-sionalizadas de aproximaccedilatildeo como a dos policiais-mediadores (Mouratildeo 2014 2015a)23 passando por inicia-tivas diversas dos chamados ldquopoliciais sociaisrdquo (Teixeira 2015) por promoccedilatildeo de festas eventos e passeios24 e por muito trabalho administrativo25 Nele cabem tambeacutem a regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades econocircmicas e de lazer nas favelas (Cano Borges e Ribeiro 2014 172 Soares 2015 230-1) um frenesi

de abordagens e apreensotildees de drogas a circulaccedilatildeo de mini-Bopes agrave caccedila de mini-traficantes (Esperanccedila 2014) e ateacute a ldquoaproximaccedilatildeo predatoacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) traduzida nas velhas praacuteticas de privatizaccedilatildeo de informaccedilotildees cor-rupccedilatildeo abuso de poder e violecircncia

Na borda desse espaccedilo como se veraacute existe ainda uma faixa de poli-ciais com atitudes de indiferenccedila ou descrenccedila quando natildeo de repulsa a qualquer espeacutecie de aproximaccedilatildeo com os moradores A frase ldquoproximidade eacute o caceterdquo ouvida de um policial de UPP por Vinicius Esperanccedila (2014 146) soa assim como eco perfeito agrave locuccedilatildeo ldquoUPP eacute o caralhordquo brandida por mora-dores refrataacuterios a qualquer tipo de aproximaccedilatildeo com a poliacutecia

ldquoINTRUSO MALTRATADO E ODIADOrdquo TENSOtildeES EM ALTA NA RELACcedilAtildeO POLIacuteCIACOMUNIDADE

Se o policiamento de proximidade foi pensado como ldquoestrateacutegia de cons-truccedilatildeo partilhada de legitimidade entre os policiais e destes com os cidadatildeosrdquo (Muniz e Mello 2015 52) natildeo sur-preende que aos tropeccedilos da ldquoproxi-midaderdquo correspondam sinais de cres-cente deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees do conviacutevio e dos graus de aceitaccedilatildeo da pre-senccedila policial por parte dos moradores de favelas com UPP Mais uma vez eacute necessaacuterio sublinhar duas limitaccedilotildees da nossa pesquisa que impotildeem ressalvas agrave anaacutelise (1) a impossibilidade de desa-gregar espacialmente os resultados logo de captar diferenccedilas entre as loca-lidades e dentro delas (2) o fato de o survey ter colhido apenas percepccedilotildees e opiniotildees dos policiais registrando portanto o que eles pensam que os moradores pensam deles natildeo necessa-riamente o que os moradores de fato

13

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

pensam Falta ainda um levantamen-to-espelho com perguntas aos resi-dentes anaacutelogas agraves respondidas pelos policiais capazes de identificar con-vergecircncias e divergecircncias entre essas percepccedilotildees que satildeo por definiccedilatildeo afe-tivas e subjetivas26

De todo modo ainda que geneacute-ricos e unilaterais extraem-se indiacutecios de deterioraccedilatildeo do ambiente nas UPPs comparando-se ao longo dos trecircs surveys as respostas sobre sentimentos que os policiais percebem na popu-laccedilatildeo Como mostra o Graacutefico 6 haacute uma progressiva e expressiva queda da per-cepccedilatildeo de sentimentos favoraacuteveis (sim-patia admiraccedilatildeo respeito aceitaccedilatildeo) e um aumento da sensaccedilatildeo de que pre-valecem a hostilidade a resistecircncia o medo a desconfianccedila e a rejeiccedilatildeo

Impressiona natildeo soacute o crescimento da parcela que se percebe malquista pela comunidade mas tambeacutem a ecircnfase

com que foram verbalizados os senti-mentos hostis na uacuteltima rodada da pes-quisa A pergunta do questionaacuterio trazia sete opccedilotildees fechadas entre elas ldquoraivardquo e um campo aberto para ldquooutros senti-mentosrdquo27 Mais de frac14 (273) das res-postas foram ldquoraivardquo mas em outras 9 os entrevistados natildeo se conten-taram com esse termo talvez por con-sideraacute-lo muito leve ou pouco espe-ciacutefico e fizeram questatildeo de carregar nas tintas utilizando o campo aberto para descrever melhor o que achavam que a maioria da populaccedilatildeo sentia por eles ldquooacutediordquo ldquooacutedio fatalrdquo ldquonojordquo ldquoascordquo ldquoaversatildeordquo ldquorepulsardquo ldquorepugnacircnciardquo ldquoojerizardquo ldquorancorrdquo ldquorevoltardquo ldquorejeiccedilatildeordquo ldquodesprezordquo ldquodesdeacutemrdquo e assim por diante Um dos entrevistados resumiu esse dra-maacutetico rol de sentimentos adversos com a frase ldquoeles nos detestamrdquo que tomamos emprestada para o tiacutetulo deste artigo E em resposta agrave pergunta sobre

GRAacuteFICO 6_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

HAacute UMA PROGRESSIVA E EXPRESSIVA QUEDA DA PERCEPCcedilAtildeO DE SENTIMENTOS FAVORAacuteVEIS E UM AUMENTO DA SENSACcedilAtildeO DE QUE PREVALECEM A HOSTILIDADE A RESISTEcircNCIA O MEDO A DESCONFIANCcedilA E A REJEICcedilAtildeOrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

14

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

motivos de insatisfaccedilatildeo com o trabalho em UPP que seraacute comentada mais adiante outro policial disse que aleacutem de ldquointrusordquo sentia-se ldquomaltratado e odiadordquo pela maioria da populaccedilatildeo

O Graacutefico 7 acima desagrega em alguns blocos de respostas os senti-mentos positivos negativos e neutros com que os policiais de UPP se veem tra-tados pelos moradores locais segundo os resultados da uacuteltima pesquisa Nunca eacute demais lembrar que esses resultados dizem respeito ao conjunto das UPPs e possivelmente ocultam grandes dife-renccedilas entre as 36 localidades assim como variaccedilotildees significativas dentro de cada uma delas

Agrave pergunta sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP o grupo mais frequente de respostas (281)

mencionava relaccedilatildeo ruim com os moradores enquanto soacute 92 referi-ram-se a boas relaccedilotildees com moradores como a melhor coisa do trabalho em UPP28 Aleacutem de percepccedilotildees e opiniotildees algumas experiecircncias vividas pelos policiais reforccedilam a impressatildeo de um ambiente muito hostil em boa parte dos territoacuterios ocupados Nota-se na Tabela 3 que nos uacuteltimos trecircs meses antes do survey 558 dos entrevistados haviam sido alvo pelo menos uma vez de algum objeto arremessado por moradores 618 natildeo haviam obtido resposta a um cumprimento 63 haviam-se sentido desrespeitados e 658 haviam sido xingados em pelo menos uma ocasiatildeo Soacute 37 no entanto disseram que algum(a) morador(a) prestara queixa contra eles durante esses trecircs meses

GRAacuteFICO 7_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

() ESPERANCcedilA CONFIANCcedilA FELICIDADE SEGURANCcedilA GRATIDAtildeO

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

15

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Reaccedilotildees anaacutelogas por parte de habitantes das favelas ndash arremesso de objetos e insultos ndash foram relatadas em pesquisas qualitativas no comeccedilo da instalaccedilatildeo das UPPs e associadas agrave resis-tecircncia ou desconfianccedila inicial dos mora-dores em relaccedilatildeo agrave presenccedila contiacutenua da poliacutecia nas comunidades (Cano Borges e Ribeiro 2014 181 Menezes 2014 671)29 Esperava-se que com o correr do tempo agrave medida que a con-vivecircncia e a proximidade produzisssem seus efeitos humanizadores essas mani-festaccedilotildees hostis tendessem a decrescer ndash o que de fato parece ter acontecido em algumas UPPs mais antigas pelo menos ateacute poucos anos atraacutes30 Mas natildeo soacute a tensatildeo se manteve alta em outras localidades como recentemente parte das favelas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada voltou a apresentar niacuteveis elevados de tensatildeo e desconfianccedila ndash situaccedilatildeo que o Graacutefico 6 acima em certa medida traduz e que se confirma em pesquisas qualitativas rea-lizadas nos uacuteltimos dois anos (Menezes 2014 Esperanccedila 2014 Soares 2015)

O discurso de alguns policiais e agraves vezes tambeacutem de moradores tende a associar esse aumento de tensotildees ao ldquoretorno do traacuteficordquo e agrave volta dos con-frontos armados em vaacuterias favelas com UPP tanto as de ocupaccedilatildeo recente

quanto algumas das mais antigas Temerosos com as consequecircncias do reempoderamento dos traficantes e pre-ocupados em natildeo se identificar como ldquoamigos da poliacuteciardquo os moradores teriam passado com mais frequecircncia a evitar o contato ou mesmo a mani-festar desapreccedilo e hostilidade contra os policiais Discutiremos mais agrave frente o tema do ldquoretornordquo e a interpretaccedilatildeo que tende a creditar-lhe inteiramente os tropeccedilos do policiamento de pro-ximidade Cabe ressaltar por ora que segundo observaccedilotildees etnograacuteficas feitas em 2013 e 2014 os conflitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo despontam em con-textos e por motivos diversos natildeo redu-tiacuteveis agrave equaccedilatildeo simplista hostilidade agrave poliacutecia = viacutenculos com o traacutefico

Quando os policiais recorriam ao capi-tal da forccedila fiacutesica para realizar prisotildees e apreensotildees os moradores muitas vezes praticavam atos de agressatildeo aos policiais estimulados por conflitos decorrentes de abordagens policiais tentativas de prisotildees interrupccedilotildees de festas Foram incontaacuteveis os relatos de policiais que receberam pedradas e ateacute gavetadas [sic] de moradores re-voltados Na favela da zona Norte um policial retornou agrave base com a cabeccedila aberta atingida pelas pedras Na favela da zona Sul ateacute crianccedilas se engajavam nas accedilotildees ldquoEu fiquei muito surpreso

TABELA 3_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES ( DE ENTREVISTADOS)

NENHUMA VEZ

UMA VEZ

ALGUMAS VEZES

MUITAS VEZES

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 442 84 227 247

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 342 58 233 367

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 370 67 234 329

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 382 40 241 337

MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 963 20 09 08

OS CONFLITOS ENTRE POLIacuteCIA E POPULACcedilAtildeO DESPONTAM EM CONTEXTOS E POR MOTIVOS DIVERSOS NAtildeO REDUTIacuteVEIS Agrave EQUACcedilAtildeO SIMPLISTA HOSTILIDADE Agrave POLIacuteCIA = VIacuteNCULOS COM O TRAacuteFICOrdquo

ldquo

16

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 3: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Na sua terceira rodada o survey sobre experiecircncias e percepccedilotildees de policiais de ponta das UPPs realizado previamente pelo CESeC em 2010 e 2012 gerou resultados que reforccedilam inquietaccedilotildees manifestas desde o iniacutecio da pesquisa e ecoam um cenaacuterio de reversatildeo de expectativas que vem sendo apontado tambeacutem por outros estudos recentes sobre o processo de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas1 Este artigo apresenta os resultados do levantamento de 2014 buscando sempre que possiacutevel contex-tualizaacute-los natildeo soacute em comparaccedilatildeo com os das rodadas anteriores2 mas tambeacutem em diaacutelogo com algumas pesquisas qua-litativas sobre moradores e policiais de UPPs desenvolvidas nos uacuteltimos anos

O trabalho de campo teve duraccedilatildeo bem superior agrave dos precedentes esten-dendo-se por trecircs meses e meio de 30 de julho a 19 de novembro Isso se deveu tanto agrave situaccedilatildeo conturbada em algumas favelas quanto a outros tipos de obstaacuteculos encontrados no processo de aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios como a natildeo-divulgaccedilatildeo preacutevia da pesquisa para os policiais sorteados ou a particular dificuldade de entrevistar mulheres dado que a amostra desta vez foi estrati-ficada por gecircnero Em vaacuterias unidades o pequeno nuacutemero de policiais femininas tornou necessaacuterio entrevistar todas ou quase todas para garantir a consistecircncia dos resultados o que deixou pouca ou nenhuma margem para substituiccedilotildees Como se sabe afastamentos tempo-raacuterios por licenccedila meacutedica resposta a inqueacuteritos e outros motivos satildeo muito frequentes na Poliacutecia Militar Quanto mais o levantamento se estendia mais a lista original que servira para sortear a amostra tornava-se obsoleta Testes realizados posteriormente mostraram poreacutem que os criteacuterios de substituiccedilatildeo adotados e mesmo a perda de algumas

LEONARDA MUSUMECI Eacute PROFESSORA DO INSTITUTO DE

ECONOMIA DA UFRJ E PESQUISADORA

ASSOCIADA DO CENTRO DE ESTUDOS

DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC)

Coordenam desde 2010 a pesquisa UPP

O que pensam os policiais BARBARA

MUSUMECI MOURAtildeO JULITA LEMGRUBER

LEONARDA MUSUMECI e SILVIA RAMOS

A rodada de 2014 contou ainda com a

participaccedilatildeo do pesquisador ALBERTO

ALVADIA FILHO e dos estatiacutesticos DORIAM

BORGES e GREICE CONCEICcedilAtildeO

A coordenaccedilatildeo de campo ficou a cargo de

SONIA NUNES e a aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios

foi feita pela empresa EXATA PESQUISAS E

EVENTOS O apoio financeiro a esse terceiro

survey veio de doaccedilatildeo da OPEN SOCIETY

FOUNDATIONS (OSF) Como nas rodadas

anteriores nesta tambeacutem foi fundamental

a colaboraccedilatildeo da COORDENACcedilAtildeO DE

POLIacuteCIA PACIFICADORA DA PMERJ dando

suporte agrave pesquisa divulgando-a entre os

comandos das UPPs e fornecendo as listas

de cabos e soldados para sorteio da amostra

Agradecemos aos diversos comandantes

de unidades e aos outros oficiais da PM que

contribuiacuteram para tornar o levantamento

possiacutevel O grande nuacutemero de entrevistados

e nosso compromisso de manter em sigilo a

identidade deles nos impede de mencionar

um a um mas natildeo podemos deixar de

registrar um agradecimento geral a todos(as)

os(as) policiais militares que se dispuseram

a responder agraves nossas muitas e longas

perguntas

3

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

entrevistas com mulheres policiais natildeo prejudicaram a abrangecircncia e aleato-riedade da amostra nem alteraram a margem de erro dos resultados (4)

Foram ouvidos ao todo 2002 poli-ciais (1896 soldados e 106 cabos 1548 homens e 454 mulheres) em amostra aleatoacuteria representativa do universo de 7643 policiais de ponta alocados naquele momento em 36 UPPs da cidade3 Embora extensa (cerca de frac14 do universo) essa amostra natildeo repre-senta estatisticamente as unidades individuais apenas o conjunto delas e alguns subconjuntos construiacutedos por agregaccedilatildeo Sacrifica-se assim a grande diversidade entre as favelas e perde-se a possibilidade de captar variaccedilotildees nas experiecircncias e percepccedilotildees dos policiais que possam estar associadas a dife-renccedilas locais4 Mas para obter resul-tados desagregaacuteveis por unidade seria necessaacuterio um levantamento bem mais amplo quase um censo geral dos poli-ciais militares das UPPs cujo custo tor-naria a pesquisa inviaacutevel

PERFIL DOS ENTREVISTADOS

Se os resultados dos dois surveys anteriores sugeriam uma tendecircncia agrave crescente feminizaccedilatildeo da tropa das UPPs tendo a participaccedilatildeo de mulheres aumentado de 08 em 2010 para 114 em 2012 os de 2014 contrariam essa expectativa pois mostram ligeiro recuo (na margem de erro da pesquisa) da parcela de policiais femininas que trabalham em favelas ldquopacificadasrdquo 975 Em relaccedilatildeo ao perfil etaacuterio houve certo envelhecimento do efetivo registrando-se acreacutescimo da parcela de policiais com mais de 33 anos (164 contra 67 em 2012) e reduccedilatildeo da faixa mais jovem com idades entre 18 e 24 anos (de 115 em 2012 para

49 em 2014) Isso talvez reflita um ritmo menor de incorporaccedilatildeo de poli-ciais receacutem-formados eou a entrada de agentes mais velhos oriundos de outros setores da PM De todo modo a faixa amplamente majoritaacuteria con-tinua sendo de 24 a 33 anos com uma pequena variaccedilatildeo entre 2012 e 2014 (de 817 para 786) dentro da margem de erro da pesquisa

O grau de instruccedilatildeo alterou-se pouco entre os dois uacuteltimos levantamentos com ligeira queda da proporccedilatildeo de poli-ciais que tecircm curso superior completo ou incompleto (de 475 para 426 do total) mas aumentou bastante o percentual dos que disseram estar estudando na eacutepoca da pesquisa (de 302 para 412)

Em 2014 como em 2012 os evan-geacutelicos prevaleceram sobre os catoacutelicos (419 contra 373) os autodeclarados pretos e pardos sobre os brancos (676 contra 308) e os casados sobre os solteiros (635 contra 365) Quanto agrave renda pessoal observa-se desde o primeiro survey uma concentraccedilatildeo na faixa de trecircs a cinco salaacuterios miacutenimos por mecircs variando de 63 a 65 nas trecircs rodadas do levantamento Entre 2010 e 2014 contudo dobrou a parcela de policiais que disseram ter renda mensal superior a cinco salaacuterios miacutenimos (de 148 para 301) ndash o que possivelmente se deve agrave instituiccedilatildeo dos programas Proeis e RAS em 2011 e 2012 que permitiram aos funcionaacuterios de segu-ranccedila puacuteblica prestar legalmente ser-viccedilos remunerados nos seus horaacuterios de folga6 Ainda assim em 2014 uma parcela muito alta dos entrevistados (832) afirmou que o rendimento incluindo gratificaccedilotildees era insuficiente para sustentar a famiacutelia

A grande maioria (763) do efetivo de 2014 ingressara na corporaccedilatildeo dois a cinco anos antes Praticamente metade

4

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

jaacute trabalhava em UPP havia mais de dois anos mas soacute 317 estavam haacute mais de dois anos alocados na unidade atual o que sugere a existecircncia de alguma rota-tividade entre as UPPs De fato respon-dendo a outra pergunta 38 dos sol-dados e cabos disseram jaacute ter passado por duas ou mais unidades Aleacutem disso 204 jaacute haviam trabalhado anterior-mente em outros setores da PMERJ a maior parte deles (836) em batalhotildees convencionais7

Embora minoritaacuterias essas par-celas satildeo significativas por sugerir certo afastamento em relaccedilatildeo a dois prin-ciacutepios originais do programa (a) de que todos os agentes de ponta fossem desde o ingresso na PM especialmente designados e treinados para trabalhar em UPP a fim de evitar a reproduccedilatildeo dos ldquoviacuteciosrdquo da poliacutecia tradicional e (b) de que os policiais permanecessem nos mesmos territoacuterios de modo a criarem laccedilos de convivecircncia e con-fianccedila com os moradores conhecerem bem as caracteriacutesticas e os problemas de cada favela e poderem com isso desen-volver o chamado ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo Mas segundo Albernaz e Mazzurana (2015 78) o uacuteltimo prin-ciacutepio foi alterado com o tempo restrin-gindo-se os novatos a 23 do efetivo da UPP e passando-se a preencher o outro terccedilo com policiais deslocados de outras unidades para ldquocompartilharem a expe-riecircncia adquirida em outras aacutereas em processo de pacificaccedilatildeordquo Independen-temente do sucesso maior ou menor dessa estrateacutegia explica-se assim a per-centagem relativamente proacutexima de 13 dos policiais que disseram jaacute ter passado por mais de uma unidade O que natildeo fica esclarecido eacute o percentual de 204 de cabos e soldados oriundos de bata-lhotildees convencionais e de outros setores

da PM esse deslocamento estaacute previsto para os sargentos e subtenentes respon-saacuteveis pela supervisatildeo mas nenhuma das duas categorias foi incluiacuteda na nossa amostra

ldquoMUITO BLAacute-BLAacute-BLAacuterdquo E ldquoESTAacuteGIO NA PRAIArdquo CRIacuteTICAS Agrave FORMACcedilAtildeO

Assim como na pesquisa anterior cerca de metade dos policiais ouvidos em 2014 (517) natildeo se considera ade-quadamente formada para trabalhar em UPP Essa apreciaccedilatildeo geneacuterica aparen-temente diverge do fato de mais de 70 dos entrevistados considerarem adequa-damente ministrados alguns conteuacutedos essenciais ao tipo de trabalho proposto pelo programa como policiamento comunitaacuterio policiamento de proxi-midade direitos humanos e uso gradual da forccedila8 Entretanto haacute outros con-teuacutedos tambeacutem importantes para esse trabalho que a maioria considerou ina-dequadamente ensinados ou inexistentes praacutetica de policiamento cotidiano em favelas mediaccedilatildeo de conflitos procedi-mentos para violecircncia domeacutestica e uso de armamento menos letal Ademais a uma pergunta aberta (feita soacute aos que se disseram despreparados) sobre o que achavam que havia faltado na formaccedilatildeo a maior parte (52) reclamou da falta de conhecimento da realidade das favelas ou da completa ausecircncia de treinamento direcionado especificamente ao trabalho em UPP Isso parece indicar que mesmo os conteuacutedos avaliados como ldquoadequa-damenterdquo ministrados podem ser vistos como excessivamente teoacutericos ensina-se bem a doutrina do ldquopoliciamento comu-nitaacuteriordquo ou ldquode proximidaderdquo mas natildeo se promove a aproximaccedilatildeo cognitiva e praacutetica dos formandos aos ambientes especiacuteficos em que deveriam aplicaacute-la

CERCA DE METADE DOS POLICIAIS OUVIDOS EM 2014 NAtildeO SE CONSIDERA ADEQUADAMENTE FORMADA PARA TRABALHAR EM UPPrdquo

ldquo5

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ldquoMuita teoria e pouca praacuteticardquo ldquomuito blaacute-blaacute-blaacuterdquo ldquoa realidade natildeo corresponde ao que eacute ensinado no cursordquo ldquofaltou mostrar o que eacute a rea-lidade da comunidade e que existem diferentes comunidadesrdquo ldquoo que se mostra eacute diferente do que vemos aquirdquo ldquofaltou psicologia para [lidar com] a hostilidade da comunidaderdquo ldquoa for-maccedilatildeo foi para batalhatildeo natildeo para UPPrdquo ldquoo estaacutegio foi feito na praiardquo [sic] ou ldquoem batalhatildeordquo quando ldquodeveria ter sido feito em UPPrdquo ndash satildeo algumas das respostas que ilustram essa criacutetica Seguem-se a ela 137 de apreciaccedilotildees negativas gerais sobre o curso (maacute qua-lidade dos professores e instrutores estrutura e organizaccedilatildeo ruins tudo ou quase tudo peacutessimo) e 8 de recla-maccedilotildees sobre o periacuteodo muito curto da formaccedilatildeo9

Jaacute se sublinhara na rodada anterior da pesquisa a grande defasagem exis-tente entre a pretensatildeo de disseminar um ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia baseado na noccedilatildeo de proximidade e a permanecircncia dos velhos conteuacutedos e meacutetodos de ensino oferecidos aos poli-ciais militares (cf Musumeci et al 2013 4-5 21) Ainda que com muito atraso ndash quase oito anos depois da inau-guraccedilatildeo da primeira UPP ndash a PMERJ promoveu recentemente uma atuali-zaccedilatildeo do Curso de Formaccedilatildeo de Sol-dados (CFSd) que deve entrar em vigor no final de 2015 A nova grade curri-cular natildeo soacute aumenta a carga horaacuteria total do curso de 1182 para 1437 horas como cria as disciplinas Poliacutecia de Pro-ximidade (pela fusatildeo das antigas Poli-ciamento Comunitaacuterio e Praacutetica Policial Cidadatilde) Tecnologias Natildeo-Letais (antes parte da disciplina Armamento) e Admi-nistraccedilatildeo Institucional de Conflitos antes inexistente Aleacutem disso o estaacutegio praacutetico passaraacute a durar dois meses e

todas as disciplinas do curso teratildeo de abordar ao menos trecircs estudos de caso (cf Cortes e Mazzurana 2015)

Tais mudanccedilas representam sem duacutevida um avanccedilo importante Resta saber se seratildeo suficientes para trans-formar o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo na ldquofilosofia () orientadora das formas de atuaccedilatildeo e policiamento da corporaccedilatildeordquo (idem 6) abrindo caminho para a superaccedilatildeo da loacutegica beacutelica hoje predominante E sobretudo se conseguiratildeo reduzir o abismo entre teoria e praacutetica no qual florescem o ldquocurriacuteculo ocultordquo e a ldquopedagogia informalrdquo muitas vezes em completa oposiccedilatildeo ao que os cursos formais pre-tendem transmitir

ldquoEstes procedimentos [informais] podem se tornar lesivos agrave proposta educacional oficial por concorrer ou desconstruir conteuacutedos do curriacuteculo formal quando trazem o entendimento de que a construccedilatildeo do que eacute ser e fa-zer poliacutecia ocorre exclusivamente pela tradiccedilatildeo (experiecircncia de trabalho dos mais antigos) e quando reforccedilam valo-res e atitudes contraacuterios aos explicita-dos no curriacuteculo formalrdquo (idem 8)

Como se veraacute logo a seguir a pesquisa do CESeC indica que estaacute ocorrendo nas UPPs uma crescente reproduccedilatildeo de concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia em detrimento do que possa ser entendido como ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo Natildeo eacute o caso de atribuir tal tendecircncia unicamente a lacunas de for-maccedilatildeo ou agrave vitoacuteria do curriacuteculo oculto Mas certamente reside aiacute um dos flancos deixados abertos ateacute agora pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo de favelas e soacute o futuro diraacute se e em que medida as inovaccedilotildees pedagoacutegicas de 2015 teratildeo sido capazes de reverter esse quadro No iniacutecio do programa quando questionados sobre

6

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a necessidade de mudanccedila urgente e radical na formaccedilatildeo dos policiais os gestores diziam que tinham de ldquotrocar o pneu com o carro andandordquo Resta torcer para que os oito anos de rodagem sem pneu natildeo tenham danificado de vez a roda e o eixo do carro

O QUE FOI FEITO DO POLICIAMENTO DE PROXIMIDADE

Ao lado das criacuteticas agrave formaccedilatildeo os resultados do levantamento de 2014 apontam uma fraca presenccedila quando natildeo um encolhimento de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo nas UPPs10 como mostra ao lado o Graacutefico 1

Vecirc-se que pouco mais de frac14 dos poli-ciais realizava com frequecircncia em 2014 algum tipo (natildeo especificado) de praacutetica de aproximaccedilatildeo com moradores menos de 20 buscavam levantar problemas da comunidade cerca de 14 realizavam frequentemente mediaccedilatildeo de conflitos pouco mais de 8 participavam de ati-vidades voltadas para crianccedilas ou jovens

GRAacuteFICO 1_ATIVIDADES DE ldquoPROXIMIDADErdquo QUE OS POLICIAIS DIZEM REALIZAR COM MUITA FREQUEcircNCIA NAS UPPS ( DE ENTREVISTADOS)

() OPCcedilOtildeES INCLUIacuteDAS SOacute NO QUESTIONAacuteRIO DE 2014

e soacute 53 participavam frequentemente de reuniotildees com moradores Observa-se aleacutem disso no Graacutefico 2 um progressivo decliacutenio dos percentuais de agentes que dizem manter algum contato com insti-tuiccedilotildees locais

GRAacuteFICO 2_INSTITUICcedilOtildeES COM QUE OS POLICIAIS MANTEcircM ALGUM CONTATO ( DE ENTREVISTADOS)

OS RESULTADOS APONTAM UMA FRACA PRESENCcedilA QUANDO NAtildeO UM ENCOLHIMENTO DE ATIVIDADES IDENTIFICAacuteVEIS AO lsquoPOLICIA-MENTO DE PROXIMIDADErsquo NAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

7

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Em compensaccedilatildeo vatildeo de 29 a 564 as parcelas de entrevistados na uacuteltima pesquisa que disseram fazer com muita frequecircncia prisotildees e apreensotildees recebimento de queixas registros de ocorrecircncias em delegacia e abordagem e revista de suspeitos ndash tarefas tiacutepicas do policiamento ostensivo tradicional (Graacutefico 3) Apesar de todos os percen-tuais desse grupo de atividades tambeacutem terem decrescido bastante desde 2012 ele parece ser bem mais generalizado no trabalho cotidiano dos policiais de UPP do que as praacuteticas indicativas de aproximaccedilatildeo e interlocuccedilatildeo com os moradores Os resultados confirmam assim uma tendecircncia jaacute apontada em pesquisas precedentes a restriccedilatildeo do chamado ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo a um grupo mais ou menos especializado de ldquoarticuladores comu-nitaacuteriosrdquo enquanto para a grande maioria dos policiais ldquoproximidaderdquo se traduziria apenas na presenccedila con-tiacutenua e ostensiva dentro das favelas

GRAacuteFICO 3_ATIVIDADES DE POLICIAMENTO CONVENCIONAL QUE OS POLICIAIS DIZEM REALIZAR COM MUITA FREQUEcircNCIA NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

() OPCcedilOtildeES INCLUIacuteDAS SOacute NO QUESTIONAacuteRIO DE 2014

com pouco ou nenhum diaacutelogo com a populaccedilatildeo local (Cano Borges e Ribeiro 2014 157 Musumeci et al 2013 17)

Outra indicaccedilatildeo de que o ldquonovo paradigmardquo de policiamento vem per-dendo terreno como mostra o Graacutefico 4 estaacute na reduccedilatildeo do percentual de policiais que dizem realizar ronda a peacute11 e no acreacutescimo dos que trabalham em patrulhas atualmente denominadas Grupamentos Taacuteticos de Poliacutecia de Proxi-midade (GTPP) Estas uacuteltimas apesar de trazerem ldquoproximidaderdquo no nome satildeo destacamentos ldquooperacionaisrdquo que transitam livremente por todas as ruas e becos da favela com policiais for-temente armados desempenhando tarefas eminentemente repressivas ou modos tradicionais de ldquoprevenccedilatildeo pro-ativardquo perseguiccedilatildeo agraves drogas agraves armas e aos ldquoesticasrdquo (pequenos traficantes que permanecem no territoacuterio) abordagem e revista de ldquosuspeitosrdquo contenccedilatildeo de protestos ou ldquoperturbaccedilotildees da ordemrdquo na comunidade Quando haacute situaccedilotildees

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

8

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

consideradas criacuteticas em outras UPPs o efetivo desses grupos pode ser des-locado temporariamente para apoiaacute-las (Albernaz e Mazzurana 2015 69)

Observaccedilotildees etnograacuteficas feitas por outros pesquisadores mostram que pelo menos em algumas favelas os inte-grantes dos GTPPs buscam mimetizar as tropas de elite dos batalhotildees (Gates) e das unidades especiais da PM (Bope BPChoque) podendo manter para tanto uma atitude deliberada de dis-tanciamento em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo O que inclui por exemplo natildeo cum-primentar os moradores e tratar com rispidez quando natildeo com violecircncia os incontaacuteveis ldquosuspeitosrdquo revistados dia-riamente (Esperanccedila 2014 137-43) Ou empenhar-se em exibiccedilotildees de forccedila que atemorizam a populaccedilatildeo e justificam o apelido de ldquobondesrdquo dado a esses desta-camentos em alguns lugares por ana-logia com os grupos de traficantes que com o mesmo propoacutesito desfilavam for-temente armados pelas ruas da comu-nidade (Soares 2015 287)12

A julgar por tais relatos chega a ser irocircnica a presenccedila da expressatildeo ldquopoliacutecia de proximidaderdquo no nome dos GTPPs

GRAacuteFICO 4_TIPO DE TRABALHO QUE OS POLICIAIS REALIZAM NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

salvo se ela abarcar a pura e simples coexistecircncia no territoacuterio ou os con-tatos verbais e fiacutesicos durante abor-dagens policiais Nem a proacutepria des-criccedilatildeo oficial fornece alguma pista do que possa significar ldquoproximidaderdquo num grupamento como esse definido da seguinte maneira

efetivo de uma patrulha com treina-mento operacional especializado e munida de equipamento especial em-pregada em accedilotildees de Poliacutecia Ostensiva especiacuteficas que demandam accedilatildeo raacutepida e repressatildeo qualificada Exemplos de sua atuaccedilatildeo controle de tumultos e accedilotildees para restauraccedilatildeo da ordem puacute-blica de maior magnitude Por suas caracteriacutesticas de natureza e emprego possuem base territorial ampla atuan-do em toda aacuterea da Unidade Policial de Proximidade respondendo diretamen-te ao Comandante desta (PMERJ Di-retriz Geral de Poliacutecia de Proximidade Boletim da PM n 139 2014 apud Viva Rio 2014 15-16 Cf tambeacutem Albernaz e Mazzurana 2015 69 71)13

A seacuterie de dados do ISP sobre as 36 UPPs abrangidas em 201414 reforccedila ainda mais os indiacutecios de reiteraccedilatildeo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

9

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

do velho paradigma de policiamento centrado em prisotildees e apreensotildees de drogas Como mostra o Graacutefico 5 agrave medida que a ldquopacificaccedilatildeordquo se estende a um nuacutemero maior de favelas cresce o volume de ocorrecircncias tradicional-mente usadas para aferir a ldquoproduccedilatildeo policialrdquo exceto no caso das armas apreendidas cujo nuacutemero diminui no periacuteodo15 Vale sublinhar que o aumento dos outros registros natildeo reflete necessa-riamente um aumento da criminalidade ou da quantidade de drogas em circu-laccedilatildeo assim como a queda do nuacutemero de armas apreendidas natildeo significa necessariamente que haja menos armas ilegais nas favelas O que essas ocor-recircncias informam sobretudo eacute o dire-cionamento dado ao trabalho policial15 E

o fato de elas terem crescido em todo o estado no mesmo periacuteodo indica que a ldquocaccedilardquo agraves drogas e aos traficantes con-tinuou sendo foco privilegiado da accedilatildeo policial dentro e fora das UPPs16

Voltando aos resultados do survey nota-se que o percentual de entrevis-tados em 2014 que disseram trabalhar a maior parte do tempo em GTPP (222) eacute apenas um pouco inferior ao dos que afirmaram realizar com frequecircncia alguma espeacutecie de atividade de apro-ximaccedilatildeo com os moradores (258) Isso poderia indicar agrave primeira vista uma especializaccedilatildeo dual e contradi-toacuteria nas UPPs de um lado ldquoarticu-ladores comunitaacuteriosrdquo mediadores de conflitos e ldquopoliciais sociaisrdquo que buscam desenvolver atividades capazes

GRAacuteFICO 5_OCORREcircNCIAS DE ldquoPRODUCcedilAtildeO POLICIALrdquo REGISTRADAS NOS TERRITOacuteRIOS DE 36 UPPs ndash 20072014 (NUacuteMERO-IacuteNDICE 2007=100)

A ldquoCACcedilArdquo AgraveS DROGAS E AOS TRAFICANTES CONTINUOU SENDO FOCO PRIVILEGIADO DA ACcedilAtildeO POLICIAL DENTRO E FORA DAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

10

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

de aproximaacute-los ao menos de alguns seg-mentos da populaccedilatildeo18 de outro mini--Bopes e mini-Choques cujas atuaccedilatildeo atitude e ideologia parecem destinadas a promover o movimento oposto de distanciamento e tensionamento das relaccedilotildees entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Essa imagem poreacutem pode resultar algo simplista Como mostram as Tabelas 1 e 2 a seguir existem de fato

diferenccedilas enormes entre as atividades dos que atuam em GTPPs e dos que trabalham a maior parte do tempo em outros tipos de serviccedilo especialmente quanto agrave frequecircncia de abordagens registros de ocorrecircncia prisotildees e apre-ensotildees19 Mas tambeacutem haacute uma surpre-endente convergecircncia no que se refere a praticas geneacutericas de aproximaccedilatildeo com moradores levantamento de

TABELA 1_ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM MUITA FREQUEcircNCIA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO PELOS POLICIAIS ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS 950 456

REGISTROS DE OCORREcircNCIA EM DELEGACIAS 712 213

PRISOtildeES E APREENSOtildeES 710 171

RECEBIMENTO DE QUEIXAS 318 286

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES 260 258

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS 227 189

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS 157 137

ATIVIDADES COM CRIANCcedilAS JOVENS OU IDOSOS 33 95

PARTICIPACcedilAtildeO EM REUNIOtildeES NA COMUNIDADE 14 64

TABELA2_OCORREcircNCIAS DE QUE OS POLICIAIS PARTICIPARAM PELO MENOS UMA VEZ NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO POR ELES REALIZADO A MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

APREENSAtildeO DE DROGAS 803 332

APREENSAtildeO DE CRIANCcedilA OU ADOLESCENTE INFRATOR 674 246

OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 529 251

USO DE ARMA DE FOGO PELO(A) POLICIAL 332 137

APREENSAtildeO DE ARMA(S) DE FOGO 239 57

USO DE ARMAMENTO ldquoMENOS LETALrdquo 221 11 1

11

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

problemas e ateacute mediaccedilatildeo de conflitos Em outras palavras trabalhar a maior parte do tempo em GTPP natildeo exclui necessariamente o envolvimento em algumas estrateacutegias de proximidade20 Satildeo bem poucos eacute verdade os policiais dos mini-Bopes com essa caracteriacutestica ldquohiacutebridardquo mas como se viu satildeo poucos tambeacutem os do restante da tropa que rea-lizam esforccedilos frequentes de aproxi-maccedilatildeo com os moradores pelo menos ateacute onde as categorias da nossa pesquisa permitem observar

A impressatildeo que se tem a partir dos resultados expostos nesta seccedilatildeo e tambeacutem da leitura de outros trabalhos recentes sobre UPPs eacute natildeo soacute de recuo como de persistecircncia de uma grande confusatildeo e indefiniccedilatildeo em torno do que signifique ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo21 Apresentado desde o iniacutecio como pedra angular do programa de ldquopacificaccedilatildeordquo esse tipo de policia-mento em 2014 quase sete anos apoacutes a inauguraccedilatildeo da primeira UPP ainda carecia de formalizaccedilatildeo doutrinaacuteria e metodoloacutegica de uma padronizaccedilatildeo miacutenima entre as unidades de insti-tucionalizaccedilatildeo dos canais de interlo-cuccedilatildeo entre policiais e moradores de mecanismos de accountability (controle monitoramento avaliaccedilatildeo) e como jaacute visto de conteuacutedos e meacutetodos de ensino adequados ao ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia que se pretendia imple-mentar nas favelas22

Eacute um dos idealizadores e primeiro coordenador das UPPs quem ressalta o contraste entre o baixo investimento na sistematizaccedilatildeo da ldquoproximidaderdquo e o minucioso planejamento das etapas ante-riores de ldquorecuperaccedilatildeordquo e ldquoestabilizaccedilatildeordquo dos territoacuterios ocupados pela poliacutecia

Apesar de todo esse detalhamento so-bre os preparativos do ambiente para a chegada da UPP em suas primeiras fases o plano em nenhum momento detalha o que eacute ou como se deva fazer a ldquoproximidaderdquo Trata-se portanto basicamente de uma ocupaccedilatildeo mili-tar jaacute que eacute niacutetida sua maior preocu-paccedilatildeo com as fases iniciais (I e II) em detrimento das uacuteltimas Essa lacuna que deveria ter sido preenchida pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP ndash por meio de um ldquoPrograma de Poliacutecia Pacificadorardquo como previa o decreto que estruturou a UPP encontra-se ateacute hoje aberta (Rodrigues 2014 76)

No iniacutecio diz o autor a lacuna pode ter favorecido em alguma medida o processo

porque lhe deu certa plasticidade praacute-tica deixando-o aberto agrave construccedilatildeo cotidiana por atores que normalmen-te natildeo participariam no caso de uma construccedilatildeo formal como lideranccedilas locais e policiais No entanto hoje com a ampliaccedilatildeo do programa ela soa mais como ameaccedila que como opor-tunidade para o seu gerenciamento estrateacutegico Assim ela tem sido preen-chida por um amplo referencial de fa-zeres que vai do ldquotiro-porrada-e-bom-bardquo expressatildeo usada para se referir agraves operaccedilotildees policiais baseadas na loacutegica da guerra ateacute a uma cosmeacutetica e nada instrumental ldquopoliacutecia boazinhardquo que vecirc na UPP a oportunidade de melho-rar a imagem da poliacutecia Eacute provaacutevel que os problemas por que passam atualmente as UPPs sobretudo nos casos de desvios e uso arbitraacuterio da forccedila tenham a ver com esse possiacutevel descontrole gerencial (idem 79)

Algum tempo apoacutes a implemen-taccedilatildeo ainda experimental das pri-meiras unidades esperava-se um esforccedilo concentrado de avaliaccedilatildeo de organizaccedilatildeo do conhecimento praacutetico

A IMPRESSAtildeO QUE SE TEM Eacute NAtildeO SOacute DE RECUO COMO DE PERSISTEcircNCIA DE UMA GRANDE CONFUSAtildeO E INDEFINICcedilAtildeO EM TORNO DO QUE SIGNIFIQUE lsquoPOLI-CIAMENTO DE PROXIMIDADErsquordquo

ldquo12

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

adquirido e de elaboraccedilatildeo de diretrizes para a replicaccedilatildeo e o gerenciamento do programa nas outras favelas Mesmo que devessem persistir graus de flexi-bilidade dadas as enormes diferenccedilas nos ambientes de atuaccedilatildeo do novo poli-ciamento era imprescindiacutevel que essa sistematizaccedilatildeo avanccedilasse antes que o vertiginoso crescimento do nuacutemero de UPPs e de policiais deixasse escapar do controle um dos pilares centrais do pro-grama a substituiccedilatildeo da truculecircncia do desrespeito e da ldquoguerrardquo pelo diaacutelogo com a populaccedilatildeo das favelas Na verdade em 2012 o ISP chegou a con-tratar a consultoria de universidades e institutos de pesquisa para o detalha-mento do ldquoPrograma de Poliacutecia Pacifi-cadorardquo mas soacute em 2015 o processo de formalizaccedilatildeo e institucionalizaccedilatildeo das UPPs parece estar sendo retomado (cf Albernaz e Mazzurana 2015)

Tal como as mudanccedilas introdu-zidas no curso de formaccedilatildeo mencio-nadas mais acima essa retomada eacute sem duacutevida auspiciosa Vale torcer para que sua aplicaccedilatildeo efetiva natildeo chegue tarde demais e para que ainda seja possiacutevel recobrar controle sobre o espaccedilo que ficou tanto tempo aberto agrave interpre-taccedilatildeo e ao exerciacutecio informais da ldquopro-ximidaderdquo Por ora esse espaccedilo mais parece um saco de gatos onde cabem desde a pura e simples presenccedila no territoacuterio ateacute estrateacutegias mais profis-sionalizadas de aproximaccedilatildeo como a dos policiais-mediadores (Mouratildeo 2014 2015a)23 passando por inicia-tivas diversas dos chamados ldquopoliciais sociaisrdquo (Teixeira 2015) por promoccedilatildeo de festas eventos e passeios24 e por muito trabalho administrativo25 Nele cabem tambeacutem a regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades econocircmicas e de lazer nas favelas (Cano Borges e Ribeiro 2014 172 Soares 2015 230-1) um frenesi

de abordagens e apreensotildees de drogas a circulaccedilatildeo de mini-Bopes agrave caccedila de mini-traficantes (Esperanccedila 2014) e ateacute a ldquoaproximaccedilatildeo predatoacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) traduzida nas velhas praacuteticas de privatizaccedilatildeo de informaccedilotildees cor-rupccedilatildeo abuso de poder e violecircncia

Na borda desse espaccedilo como se veraacute existe ainda uma faixa de poli-ciais com atitudes de indiferenccedila ou descrenccedila quando natildeo de repulsa a qualquer espeacutecie de aproximaccedilatildeo com os moradores A frase ldquoproximidade eacute o caceterdquo ouvida de um policial de UPP por Vinicius Esperanccedila (2014 146) soa assim como eco perfeito agrave locuccedilatildeo ldquoUPP eacute o caralhordquo brandida por mora-dores refrataacuterios a qualquer tipo de aproximaccedilatildeo com a poliacutecia

ldquoINTRUSO MALTRATADO E ODIADOrdquo TENSOtildeES EM ALTA NA RELACcedilAtildeO POLIacuteCIACOMUNIDADE

Se o policiamento de proximidade foi pensado como ldquoestrateacutegia de cons-truccedilatildeo partilhada de legitimidade entre os policiais e destes com os cidadatildeosrdquo (Muniz e Mello 2015 52) natildeo sur-preende que aos tropeccedilos da ldquoproxi-midaderdquo correspondam sinais de cres-cente deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees do conviacutevio e dos graus de aceitaccedilatildeo da pre-senccedila policial por parte dos moradores de favelas com UPP Mais uma vez eacute necessaacuterio sublinhar duas limitaccedilotildees da nossa pesquisa que impotildeem ressalvas agrave anaacutelise (1) a impossibilidade de desa-gregar espacialmente os resultados logo de captar diferenccedilas entre as loca-lidades e dentro delas (2) o fato de o survey ter colhido apenas percepccedilotildees e opiniotildees dos policiais registrando portanto o que eles pensam que os moradores pensam deles natildeo necessa-riamente o que os moradores de fato

13

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

pensam Falta ainda um levantamen-to-espelho com perguntas aos resi-dentes anaacutelogas agraves respondidas pelos policiais capazes de identificar con-vergecircncias e divergecircncias entre essas percepccedilotildees que satildeo por definiccedilatildeo afe-tivas e subjetivas26

De todo modo ainda que geneacute-ricos e unilaterais extraem-se indiacutecios de deterioraccedilatildeo do ambiente nas UPPs comparando-se ao longo dos trecircs surveys as respostas sobre sentimentos que os policiais percebem na popu-laccedilatildeo Como mostra o Graacutefico 6 haacute uma progressiva e expressiva queda da per-cepccedilatildeo de sentimentos favoraacuteveis (sim-patia admiraccedilatildeo respeito aceitaccedilatildeo) e um aumento da sensaccedilatildeo de que pre-valecem a hostilidade a resistecircncia o medo a desconfianccedila e a rejeiccedilatildeo

Impressiona natildeo soacute o crescimento da parcela que se percebe malquista pela comunidade mas tambeacutem a ecircnfase

com que foram verbalizados os senti-mentos hostis na uacuteltima rodada da pes-quisa A pergunta do questionaacuterio trazia sete opccedilotildees fechadas entre elas ldquoraivardquo e um campo aberto para ldquooutros senti-mentosrdquo27 Mais de frac14 (273) das res-postas foram ldquoraivardquo mas em outras 9 os entrevistados natildeo se conten-taram com esse termo talvez por con-sideraacute-lo muito leve ou pouco espe-ciacutefico e fizeram questatildeo de carregar nas tintas utilizando o campo aberto para descrever melhor o que achavam que a maioria da populaccedilatildeo sentia por eles ldquooacutediordquo ldquooacutedio fatalrdquo ldquonojordquo ldquoascordquo ldquoaversatildeordquo ldquorepulsardquo ldquorepugnacircnciardquo ldquoojerizardquo ldquorancorrdquo ldquorevoltardquo ldquorejeiccedilatildeordquo ldquodesprezordquo ldquodesdeacutemrdquo e assim por diante Um dos entrevistados resumiu esse dra-maacutetico rol de sentimentos adversos com a frase ldquoeles nos detestamrdquo que tomamos emprestada para o tiacutetulo deste artigo E em resposta agrave pergunta sobre

GRAacuteFICO 6_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

HAacute UMA PROGRESSIVA E EXPRESSIVA QUEDA DA PERCEPCcedilAtildeO DE SENTIMENTOS FAVORAacuteVEIS E UM AUMENTO DA SENSACcedilAtildeO DE QUE PREVALECEM A HOSTILIDADE A RESISTEcircNCIA O MEDO A DESCONFIANCcedilA E A REJEICcedilAtildeOrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

14

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

motivos de insatisfaccedilatildeo com o trabalho em UPP que seraacute comentada mais adiante outro policial disse que aleacutem de ldquointrusordquo sentia-se ldquomaltratado e odiadordquo pela maioria da populaccedilatildeo

O Graacutefico 7 acima desagrega em alguns blocos de respostas os senti-mentos positivos negativos e neutros com que os policiais de UPP se veem tra-tados pelos moradores locais segundo os resultados da uacuteltima pesquisa Nunca eacute demais lembrar que esses resultados dizem respeito ao conjunto das UPPs e possivelmente ocultam grandes dife-renccedilas entre as 36 localidades assim como variaccedilotildees significativas dentro de cada uma delas

Agrave pergunta sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP o grupo mais frequente de respostas (281)

mencionava relaccedilatildeo ruim com os moradores enquanto soacute 92 referi-ram-se a boas relaccedilotildees com moradores como a melhor coisa do trabalho em UPP28 Aleacutem de percepccedilotildees e opiniotildees algumas experiecircncias vividas pelos policiais reforccedilam a impressatildeo de um ambiente muito hostil em boa parte dos territoacuterios ocupados Nota-se na Tabela 3 que nos uacuteltimos trecircs meses antes do survey 558 dos entrevistados haviam sido alvo pelo menos uma vez de algum objeto arremessado por moradores 618 natildeo haviam obtido resposta a um cumprimento 63 haviam-se sentido desrespeitados e 658 haviam sido xingados em pelo menos uma ocasiatildeo Soacute 37 no entanto disseram que algum(a) morador(a) prestara queixa contra eles durante esses trecircs meses

GRAacuteFICO 7_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

() ESPERANCcedilA CONFIANCcedilA FELICIDADE SEGURANCcedilA GRATIDAtildeO

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

15

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Reaccedilotildees anaacutelogas por parte de habitantes das favelas ndash arremesso de objetos e insultos ndash foram relatadas em pesquisas qualitativas no comeccedilo da instalaccedilatildeo das UPPs e associadas agrave resis-tecircncia ou desconfianccedila inicial dos mora-dores em relaccedilatildeo agrave presenccedila contiacutenua da poliacutecia nas comunidades (Cano Borges e Ribeiro 2014 181 Menezes 2014 671)29 Esperava-se que com o correr do tempo agrave medida que a con-vivecircncia e a proximidade produzisssem seus efeitos humanizadores essas mani-festaccedilotildees hostis tendessem a decrescer ndash o que de fato parece ter acontecido em algumas UPPs mais antigas pelo menos ateacute poucos anos atraacutes30 Mas natildeo soacute a tensatildeo se manteve alta em outras localidades como recentemente parte das favelas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada voltou a apresentar niacuteveis elevados de tensatildeo e desconfianccedila ndash situaccedilatildeo que o Graacutefico 6 acima em certa medida traduz e que se confirma em pesquisas qualitativas rea-lizadas nos uacuteltimos dois anos (Menezes 2014 Esperanccedila 2014 Soares 2015)

O discurso de alguns policiais e agraves vezes tambeacutem de moradores tende a associar esse aumento de tensotildees ao ldquoretorno do traacuteficordquo e agrave volta dos con-frontos armados em vaacuterias favelas com UPP tanto as de ocupaccedilatildeo recente

quanto algumas das mais antigas Temerosos com as consequecircncias do reempoderamento dos traficantes e pre-ocupados em natildeo se identificar como ldquoamigos da poliacuteciardquo os moradores teriam passado com mais frequecircncia a evitar o contato ou mesmo a mani-festar desapreccedilo e hostilidade contra os policiais Discutiremos mais agrave frente o tema do ldquoretornordquo e a interpretaccedilatildeo que tende a creditar-lhe inteiramente os tropeccedilos do policiamento de pro-ximidade Cabe ressaltar por ora que segundo observaccedilotildees etnograacuteficas feitas em 2013 e 2014 os conflitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo despontam em con-textos e por motivos diversos natildeo redu-tiacuteveis agrave equaccedilatildeo simplista hostilidade agrave poliacutecia = viacutenculos com o traacutefico

Quando os policiais recorriam ao capi-tal da forccedila fiacutesica para realizar prisotildees e apreensotildees os moradores muitas vezes praticavam atos de agressatildeo aos policiais estimulados por conflitos decorrentes de abordagens policiais tentativas de prisotildees interrupccedilotildees de festas Foram incontaacuteveis os relatos de policiais que receberam pedradas e ateacute gavetadas [sic] de moradores re-voltados Na favela da zona Norte um policial retornou agrave base com a cabeccedila aberta atingida pelas pedras Na favela da zona Sul ateacute crianccedilas se engajavam nas accedilotildees ldquoEu fiquei muito surpreso

TABELA 3_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES ( DE ENTREVISTADOS)

NENHUMA VEZ

UMA VEZ

ALGUMAS VEZES

MUITAS VEZES

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 442 84 227 247

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 342 58 233 367

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 370 67 234 329

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 382 40 241 337

MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 963 20 09 08

OS CONFLITOS ENTRE POLIacuteCIA E POPULACcedilAtildeO DESPONTAM EM CONTEXTOS E POR MOTIVOS DIVERSOS NAtildeO REDUTIacuteVEIS Agrave EQUACcedilAtildeO SIMPLISTA HOSTILIDADE Agrave POLIacuteCIA = VIacuteNCULOS COM O TRAacuteFICOrdquo

ldquo

16

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 4: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

entrevistas com mulheres policiais natildeo prejudicaram a abrangecircncia e aleato-riedade da amostra nem alteraram a margem de erro dos resultados (4)

Foram ouvidos ao todo 2002 poli-ciais (1896 soldados e 106 cabos 1548 homens e 454 mulheres) em amostra aleatoacuteria representativa do universo de 7643 policiais de ponta alocados naquele momento em 36 UPPs da cidade3 Embora extensa (cerca de frac14 do universo) essa amostra natildeo repre-senta estatisticamente as unidades individuais apenas o conjunto delas e alguns subconjuntos construiacutedos por agregaccedilatildeo Sacrifica-se assim a grande diversidade entre as favelas e perde-se a possibilidade de captar variaccedilotildees nas experiecircncias e percepccedilotildees dos policiais que possam estar associadas a dife-renccedilas locais4 Mas para obter resul-tados desagregaacuteveis por unidade seria necessaacuterio um levantamento bem mais amplo quase um censo geral dos poli-ciais militares das UPPs cujo custo tor-naria a pesquisa inviaacutevel

PERFIL DOS ENTREVISTADOS

Se os resultados dos dois surveys anteriores sugeriam uma tendecircncia agrave crescente feminizaccedilatildeo da tropa das UPPs tendo a participaccedilatildeo de mulheres aumentado de 08 em 2010 para 114 em 2012 os de 2014 contrariam essa expectativa pois mostram ligeiro recuo (na margem de erro da pesquisa) da parcela de policiais femininas que trabalham em favelas ldquopacificadasrdquo 975 Em relaccedilatildeo ao perfil etaacuterio houve certo envelhecimento do efetivo registrando-se acreacutescimo da parcela de policiais com mais de 33 anos (164 contra 67 em 2012) e reduccedilatildeo da faixa mais jovem com idades entre 18 e 24 anos (de 115 em 2012 para

49 em 2014) Isso talvez reflita um ritmo menor de incorporaccedilatildeo de poli-ciais receacutem-formados eou a entrada de agentes mais velhos oriundos de outros setores da PM De todo modo a faixa amplamente majoritaacuteria con-tinua sendo de 24 a 33 anos com uma pequena variaccedilatildeo entre 2012 e 2014 (de 817 para 786) dentro da margem de erro da pesquisa

O grau de instruccedilatildeo alterou-se pouco entre os dois uacuteltimos levantamentos com ligeira queda da proporccedilatildeo de poli-ciais que tecircm curso superior completo ou incompleto (de 475 para 426 do total) mas aumentou bastante o percentual dos que disseram estar estudando na eacutepoca da pesquisa (de 302 para 412)

Em 2014 como em 2012 os evan-geacutelicos prevaleceram sobre os catoacutelicos (419 contra 373) os autodeclarados pretos e pardos sobre os brancos (676 contra 308) e os casados sobre os solteiros (635 contra 365) Quanto agrave renda pessoal observa-se desde o primeiro survey uma concentraccedilatildeo na faixa de trecircs a cinco salaacuterios miacutenimos por mecircs variando de 63 a 65 nas trecircs rodadas do levantamento Entre 2010 e 2014 contudo dobrou a parcela de policiais que disseram ter renda mensal superior a cinco salaacuterios miacutenimos (de 148 para 301) ndash o que possivelmente se deve agrave instituiccedilatildeo dos programas Proeis e RAS em 2011 e 2012 que permitiram aos funcionaacuterios de segu-ranccedila puacuteblica prestar legalmente ser-viccedilos remunerados nos seus horaacuterios de folga6 Ainda assim em 2014 uma parcela muito alta dos entrevistados (832) afirmou que o rendimento incluindo gratificaccedilotildees era insuficiente para sustentar a famiacutelia

A grande maioria (763) do efetivo de 2014 ingressara na corporaccedilatildeo dois a cinco anos antes Praticamente metade

4

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

jaacute trabalhava em UPP havia mais de dois anos mas soacute 317 estavam haacute mais de dois anos alocados na unidade atual o que sugere a existecircncia de alguma rota-tividade entre as UPPs De fato respon-dendo a outra pergunta 38 dos sol-dados e cabos disseram jaacute ter passado por duas ou mais unidades Aleacutem disso 204 jaacute haviam trabalhado anterior-mente em outros setores da PMERJ a maior parte deles (836) em batalhotildees convencionais7

Embora minoritaacuterias essas par-celas satildeo significativas por sugerir certo afastamento em relaccedilatildeo a dois prin-ciacutepios originais do programa (a) de que todos os agentes de ponta fossem desde o ingresso na PM especialmente designados e treinados para trabalhar em UPP a fim de evitar a reproduccedilatildeo dos ldquoviacuteciosrdquo da poliacutecia tradicional e (b) de que os policiais permanecessem nos mesmos territoacuterios de modo a criarem laccedilos de convivecircncia e con-fianccedila com os moradores conhecerem bem as caracteriacutesticas e os problemas de cada favela e poderem com isso desen-volver o chamado ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo Mas segundo Albernaz e Mazzurana (2015 78) o uacuteltimo prin-ciacutepio foi alterado com o tempo restrin-gindo-se os novatos a 23 do efetivo da UPP e passando-se a preencher o outro terccedilo com policiais deslocados de outras unidades para ldquocompartilharem a expe-riecircncia adquirida em outras aacutereas em processo de pacificaccedilatildeordquo Independen-temente do sucesso maior ou menor dessa estrateacutegia explica-se assim a per-centagem relativamente proacutexima de 13 dos policiais que disseram jaacute ter passado por mais de uma unidade O que natildeo fica esclarecido eacute o percentual de 204 de cabos e soldados oriundos de bata-lhotildees convencionais e de outros setores

da PM esse deslocamento estaacute previsto para os sargentos e subtenentes respon-saacuteveis pela supervisatildeo mas nenhuma das duas categorias foi incluiacuteda na nossa amostra

ldquoMUITO BLAacute-BLAacute-BLAacuterdquo E ldquoESTAacuteGIO NA PRAIArdquo CRIacuteTICAS Agrave FORMACcedilAtildeO

Assim como na pesquisa anterior cerca de metade dos policiais ouvidos em 2014 (517) natildeo se considera ade-quadamente formada para trabalhar em UPP Essa apreciaccedilatildeo geneacuterica aparen-temente diverge do fato de mais de 70 dos entrevistados considerarem adequa-damente ministrados alguns conteuacutedos essenciais ao tipo de trabalho proposto pelo programa como policiamento comunitaacuterio policiamento de proxi-midade direitos humanos e uso gradual da forccedila8 Entretanto haacute outros con-teuacutedos tambeacutem importantes para esse trabalho que a maioria considerou ina-dequadamente ensinados ou inexistentes praacutetica de policiamento cotidiano em favelas mediaccedilatildeo de conflitos procedi-mentos para violecircncia domeacutestica e uso de armamento menos letal Ademais a uma pergunta aberta (feita soacute aos que se disseram despreparados) sobre o que achavam que havia faltado na formaccedilatildeo a maior parte (52) reclamou da falta de conhecimento da realidade das favelas ou da completa ausecircncia de treinamento direcionado especificamente ao trabalho em UPP Isso parece indicar que mesmo os conteuacutedos avaliados como ldquoadequa-damenterdquo ministrados podem ser vistos como excessivamente teoacutericos ensina-se bem a doutrina do ldquopoliciamento comu-nitaacuteriordquo ou ldquode proximidaderdquo mas natildeo se promove a aproximaccedilatildeo cognitiva e praacutetica dos formandos aos ambientes especiacuteficos em que deveriam aplicaacute-la

CERCA DE METADE DOS POLICIAIS OUVIDOS EM 2014 NAtildeO SE CONSIDERA ADEQUADAMENTE FORMADA PARA TRABALHAR EM UPPrdquo

ldquo5

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ldquoMuita teoria e pouca praacuteticardquo ldquomuito blaacute-blaacute-blaacuterdquo ldquoa realidade natildeo corresponde ao que eacute ensinado no cursordquo ldquofaltou mostrar o que eacute a rea-lidade da comunidade e que existem diferentes comunidadesrdquo ldquoo que se mostra eacute diferente do que vemos aquirdquo ldquofaltou psicologia para [lidar com] a hostilidade da comunidaderdquo ldquoa for-maccedilatildeo foi para batalhatildeo natildeo para UPPrdquo ldquoo estaacutegio foi feito na praiardquo [sic] ou ldquoem batalhatildeordquo quando ldquodeveria ter sido feito em UPPrdquo ndash satildeo algumas das respostas que ilustram essa criacutetica Seguem-se a ela 137 de apreciaccedilotildees negativas gerais sobre o curso (maacute qua-lidade dos professores e instrutores estrutura e organizaccedilatildeo ruins tudo ou quase tudo peacutessimo) e 8 de recla-maccedilotildees sobre o periacuteodo muito curto da formaccedilatildeo9

Jaacute se sublinhara na rodada anterior da pesquisa a grande defasagem exis-tente entre a pretensatildeo de disseminar um ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia baseado na noccedilatildeo de proximidade e a permanecircncia dos velhos conteuacutedos e meacutetodos de ensino oferecidos aos poli-ciais militares (cf Musumeci et al 2013 4-5 21) Ainda que com muito atraso ndash quase oito anos depois da inau-guraccedilatildeo da primeira UPP ndash a PMERJ promoveu recentemente uma atuali-zaccedilatildeo do Curso de Formaccedilatildeo de Sol-dados (CFSd) que deve entrar em vigor no final de 2015 A nova grade curri-cular natildeo soacute aumenta a carga horaacuteria total do curso de 1182 para 1437 horas como cria as disciplinas Poliacutecia de Pro-ximidade (pela fusatildeo das antigas Poli-ciamento Comunitaacuterio e Praacutetica Policial Cidadatilde) Tecnologias Natildeo-Letais (antes parte da disciplina Armamento) e Admi-nistraccedilatildeo Institucional de Conflitos antes inexistente Aleacutem disso o estaacutegio praacutetico passaraacute a durar dois meses e

todas as disciplinas do curso teratildeo de abordar ao menos trecircs estudos de caso (cf Cortes e Mazzurana 2015)

Tais mudanccedilas representam sem duacutevida um avanccedilo importante Resta saber se seratildeo suficientes para trans-formar o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo na ldquofilosofia () orientadora das formas de atuaccedilatildeo e policiamento da corporaccedilatildeordquo (idem 6) abrindo caminho para a superaccedilatildeo da loacutegica beacutelica hoje predominante E sobretudo se conseguiratildeo reduzir o abismo entre teoria e praacutetica no qual florescem o ldquocurriacuteculo ocultordquo e a ldquopedagogia informalrdquo muitas vezes em completa oposiccedilatildeo ao que os cursos formais pre-tendem transmitir

ldquoEstes procedimentos [informais] podem se tornar lesivos agrave proposta educacional oficial por concorrer ou desconstruir conteuacutedos do curriacuteculo formal quando trazem o entendimento de que a construccedilatildeo do que eacute ser e fa-zer poliacutecia ocorre exclusivamente pela tradiccedilatildeo (experiecircncia de trabalho dos mais antigos) e quando reforccedilam valo-res e atitudes contraacuterios aos explicita-dos no curriacuteculo formalrdquo (idem 8)

Como se veraacute logo a seguir a pesquisa do CESeC indica que estaacute ocorrendo nas UPPs uma crescente reproduccedilatildeo de concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia em detrimento do que possa ser entendido como ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo Natildeo eacute o caso de atribuir tal tendecircncia unicamente a lacunas de for-maccedilatildeo ou agrave vitoacuteria do curriacuteculo oculto Mas certamente reside aiacute um dos flancos deixados abertos ateacute agora pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo de favelas e soacute o futuro diraacute se e em que medida as inovaccedilotildees pedagoacutegicas de 2015 teratildeo sido capazes de reverter esse quadro No iniacutecio do programa quando questionados sobre

6

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a necessidade de mudanccedila urgente e radical na formaccedilatildeo dos policiais os gestores diziam que tinham de ldquotrocar o pneu com o carro andandordquo Resta torcer para que os oito anos de rodagem sem pneu natildeo tenham danificado de vez a roda e o eixo do carro

O QUE FOI FEITO DO POLICIAMENTO DE PROXIMIDADE

Ao lado das criacuteticas agrave formaccedilatildeo os resultados do levantamento de 2014 apontam uma fraca presenccedila quando natildeo um encolhimento de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo nas UPPs10 como mostra ao lado o Graacutefico 1

Vecirc-se que pouco mais de frac14 dos poli-ciais realizava com frequecircncia em 2014 algum tipo (natildeo especificado) de praacutetica de aproximaccedilatildeo com moradores menos de 20 buscavam levantar problemas da comunidade cerca de 14 realizavam frequentemente mediaccedilatildeo de conflitos pouco mais de 8 participavam de ati-vidades voltadas para crianccedilas ou jovens

GRAacuteFICO 1_ATIVIDADES DE ldquoPROXIMIDADErdquo QUE OS POLICIAIS DIZEM REALIZAR COM MUITA FREQUEcircNCIA NAS UPPS ( DE ENTREVISTADOS)

() OPCcedilOtildeES INCLUIacuteDAS SOacute NO QUESTIONAacuteRIO DE 2014

e soacute 53 participavam frequentemente de reuniotildees com moradores Observa-se aleacutem disso no Graacutefico 2 um progressivo decliacutenio dos percentuais de agentes que dizem manter algum contato com insti-tuiccedilotildees locais

GRAacuteFICO 2_INSTITUICcedilOtildeES COM QUE OS POLICIAIS MANTEcircM ALGUM CONTATO ( DE ENTREVISTADOS)

OS RESULTADOS APONTAM UMA FRACA PRESENCcedilA QUANDO NAtildeO UM ENCOLHIMENTO DE ATIVIDADES IDENTIFICAacuteVEIS AO lsquoPOLICIA-MENTO DE PROXIMIDADErsquo NAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

7

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Em compensaccedilatildeo vatildeo de 29 a 564 as parcelas de entrevistados na uacuteltima pesquisa que disseram fazer com muita frequecircncia prisotildees e apreensotildees recebimento de queixas registros de ocorrecircncias em delegacia e abordagem e revista de suspeitos ndash tarefas tiacutepicas do policiamento ostensivo tradicional (Graacutefico 3) Apesar de todos os percen-tuais desse grupo de atividades tambeacutem terem decrescido bastante desde 2012 ele parece ser bem mais generalizado no trabalho cotidiano dos policiais de UPP do que as praacuteticas indicativas de aproximaccedilatildeo e interlocuccedilatildeo com os moradores Os resultados confirmam assim uma tendecircncia jaacute apontada em pesquisas precedentes a restriccedilatildeo do chamado ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo a um grupo mais ou menos especializado de ldquoarticuladores comu-nitaacuteriosrdquo enquanto para a grande maioria dos policiais ldquoproximidaderdquo se traduziria apenas na presenccedila con-tiacutenua e ostensiva dentro das favelas

GRAacuteFICO 3_ATIVIDADES DE POLICIAMENTO CONVENCIONAL QUE OS POLICIAIS DIZEM REALIZAR COM MUITA FREQUEcircNCIA NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

() OPCcedilOtildeES INCLUIacuteDAS SOacute NO QUESTIONAacuteRIO DE 2014

com pouco ou nenhum diaacutelogo com a populaccedilatildeo local (Cano Borges e Ribeiro 2014 157 Musumeci et al 2013 17)

Outra indicaccedilatildeo de que o ldquonovo paradigmardquo de policiamento vem per-dendo terreno como mostra o Graacutefico 4 estaacute na reduccedilatildeo do percentual de policiais que dizem realizar ronda a peacute11 e no acreacutescimo dos que trabalham em patrulhas atualmente denominadas Grupamentos Taacuteticos de Poliacutecia de Proxi-midade (GTPP) Estas uacuteltimas apesar de trazerem ldquoproximidaderdquo no nome satildeo destacamentos ldquooperacionaisrdquo que transitam livremente por todas as ruas e becos da favela com policiais for-temente armados desempenhando tarefas eminentemente repressivas ou modos tradicionais de ldquoprevenccedilatildeo pro-ativardquo perseguiccedilatildeo agraves drogas agraves armas e aos ldquoesticasrdquo (pequenos traficantes que permanecem no territoacuterio) abordagem e revista de ldquosuspeitosrdquo contenccedilatildeo de protestos ou ldquoperturbaccedilotildees da ordemrdquo na comunidade Quando haacute situaccedilotildees

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

8

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

consideradas criacuteticas em outras UPPs o efetivo desses grupos pode ser des-locado temporariamente para apoiaacute-las (Albernaz e Mazzurana 2015 69)

Observaccedilotildees etnograacuteficas feitas por outros pesquisadores mostram que pelo menos em algumas favelas os inte-grantes dos GTPPs buscam mimetizar as tropas de elite dos batalhotildees (Gates) e das unidades especiais da PM (Bope BPChoque) podendo manter para tanto uma atitude deliberada de dis-tanciamento em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo O que inclui por exemplo natildeo cum-primentar os moradores e tratar com rispidez quando natildeo com violecircncia os incontaacuteveis ldquosuspeitosrdquo revistados dia-riamente (Esperanccedila 2014 137-43) Ou empenhar-se em exibiccedilotildees de forccedila que atemorizam a populaccedilatildeo e justificam o apelido de ldquobondesrdquo dado a esses desta-camentos em alguns lugares por ana-logia com os grupos de traficantes que com o mesmo propoacutesito desfilavam for-temente armados pelas ruas da comu-nidade (Soares 2015 287)12

A julgar por tais relatos chega a ser irocircnica a presenccedila da expressatildeo ldquopoliacutecia de proximidaderdquo no nome dos GTPPs

GRAacuteFICO 4_TIPO DE TRABALHO QUE OS POLICIAIS REALIZAM NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

salvo se ela abarcar a pura e simples coexistecircncia no territoacuterio ou os con-tatos verbais e fiacutesicos durante abor-dagens policiais Nem a proacutepria des-criccedilatildeo oficial fornece alguma pista do que possa significar ldquoproximidaderdquo num grupamento como esse definido da seguinte maneira

efetivo de uma patrulha com treina-mento operacional especializado e munida de equipamento especial em-pregada em accedilotildees de Poliacutecia Ostensiva especiacuteficas que demandam accedilatildeo raacutepida e repressatildeo qualificada Exemplos de sua atuaccedilatildeo controle de tumultos e accedilotildees para restauraccedilatildeo da ordem puacute-blica de maior magnitude Por suas caracteriacutesticas de natureza e emprego possuem base territorial ampla atuan-do em toda aacuterea da Unidade Policial de Proximidade respondendo diretamen-te ao Comandante desta (PMERJ Di-retriz Geral de Poliacutecia de Proximidade Boletim da PM n 139 2014 apud Viva Rio 2014 15-16 Cf tambeacutem Albernaz e Mazzurana 2015 69 71)13

A seacuterie de dados do ISP sobre as 36 UPPs abrangidas em 201414 reforccedila ainda mais os indiacutecios de reiteraccedilatildeo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

9

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

do velho paradigma de policiamento centrado em prisotildees e apreensotildees de drogas Como mostra o Graacutefico 5 agrave medida que a ldquopacificaccedilatildeordquo se estende a um nuacutemero maior de favelas cresce o volume de ocorrecircncias tradicional-mente usadas para aferir a ldquoproduccedilatildeo policialrdquo exceto no caso das armas apreendidas cujo nuacutemero diminui no periacuteodo15 Vale sublinhar que o aumento dos outros registros natildeo reflete necessa-riamente um aumento da criminalidade ou da quantidade de drogas em circu-laccedilatildeo assim como a queda do nuacutemero de armas apreendidas natildeo significa necessariamente que haja menos armas ilegais nas favelas O que essas ocor-recircncias informam sobretudo eacute o dire-cionamento dado ao trabalho policial15 E

o fato de elas terem crescido em todo o estado no mesmo periacuteodo indica que a ldquocaccedilardquo agraves drogas e aos traficantes con-tinuou sendo foco privilegiado da accedilatildeo policial dentro e fora das UPPs16

Voltando aos resultados do survey nota-se que o percentual de entrevis-tados em 2014 que disseram trabalhar a maior parte do tempo em GTPP (222) eacute apenas um pouco inferior ao dos que afirmaram realizar com frequecircncia alguma espeacutecie de atividade de apro-ximaccedilatildeo com os moradores (258) Isso poderia indicar agrave primeira vista uma especializaccedilatildeo dual e contradi-toacuteria nas UPPs de um lado ldquoarticu-ladores comunitaacuteriosrdquo mediadores de conflitos e ldquopoliciais sociaisrdquo que buscam desenvolver atividades capazes

GRAacuteFICO 5_OCORREcircNCIAS DE ldquoPRODUCcedilAtildeO POLICIALrdquo REGISTRADAS NOS TERRITOacuteRIOS DE 36 UPPs ndash 20072014 (NUacuteMERO-IacuteNDICE 2007=100)

A ldquoCACcedilArdquo AgraveS DROGAS E AOS TRAFICANTES CONTINUOU SENDO FOCO PRIVILEGIADO DA ACcedilAtildeO POLICIAL DENTRO E FORA DAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

10

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

de aproximaacute-los ao menos de alguns seg-mentos da populaccedilatildeo18 de outro mini--Bopes e mini-Choques cujas atuaccedilatildeo atitude e ideologia parecem destinadas a promover o movimento oposto de distanciamento e tensionamento das relaccedilotildees entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Essa imagem poreacutem pode resultar algo simplista Como mostram as Tabelas 1 e 2 a seguir existem de fato

diferenccedilas enormes entre as atividades dos que atuam em GTPPs e dos que trabalham a maior parte do tempo em outros tipos de serviccedilo especialmente quanto agrave frequecircncia de abordagens registros de ocorrecircncia prisotildees e apre-ensotildees19 Mas tambeacutem haacute uma surpre-endente convergecircncia no que se refere a praticas geneacutericas de aproximaccedilatildeo com moradores levantamento de

TABELA 1_ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM MUITA FREQUEcircNCIA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO PELOS POLICIAIS ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS 950 456

REGISTROS DE OCORREcircNCIA EM DELEGACIAS 712 213

PRISOtildeES E APREENSOtildeES 710 171

RECEBIMENTO DE QUEIXAS 318 286

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES 260 258

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS 227 189

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS 157 137

ATIVIDADES COM CRIANCcedilAS JOVENS OU IDOSOS 33 95

PARTICIPACcedilAtildeO EM REUNIOtildeES NA COMUNIDADE 14 64

TABELA2_OCORREcircNCIAS DE QUE OS POLICIAIS PARTICIPARAM PELO MENOS UMA VEZ NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO POR ELES REALIZADO A MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

APREENSAtildeO DE DROGAS 803 332

APREENSAtildeO DE CRIANCcedilA OU ADOLESCENTE INFRATOR 674 246

OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 529 251

USO DE ARMA DE FOGO PELO(A) POLICIAL 332 137

APREENSAtildeO DE ARMA(S) DE FOGO 239 57

USO DE ARMAMENTO ldquoMENOS LETALrdquo 221 11 1

11

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

problemas e ateacute mediaccedilatildeo de conflitos Em outras palavras trabalhar a maior parte do tempo em GTPP natildeo exclui necessariamente o envolvimento em algumas estrateacutegias de proximidade20 Satildeo bem poucos eacute verdade os policiais dos mini-Bopes com essa caracteriacutestica ldquohiacutebridardquo mas como se viu satildeo poucos tambeacutem os do restante da tropa que rea-lizam esforccedilos frequentes de aproxi-maccedilatildeo com os moradores pelo menos ateacute onde as categorias da nossa pesquisa permitem observar

A impressatildeo que se tem a partir dos resultados expostos nesta seccedilatildeo e tambeacutem da leitura de outros trabalhos recentes sobre UPPs eacute natildeo soacute de recuo como de persistecircncia de uma grande confusatildeo e indefiniccedilatildeo em torno do que signifique ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo21 Apresentado desde o iniacutecio como pedra angular do programa de ldquopacificaccedilatildeordquo esse tipo de policia-mento em 2014 quase sete anos apoacutes a inauguraccedilatildeo da primeira UPP ainda carecia de formalizaccedilatildeo doutrinaacuteria e metodoloacutegica de uma padronizaccedilatildeo miacutenima entre as unidades de insti-tucionalizaccedilatildeo dos canais de interlo-cuccedilatildeo entre policiais e moradores de mecanismos de accountability (controle monitoramento avaliaccedilatildeo) e como jaacute visto de conteuacutedos e meacutetodos de ensino adequados ao ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia que se pretendia imple-mentar nas favelas22

Eacute um dos idealizadores e primeiro coordenador das UPPs quem ressalta o contraste entre o baixo investimento na sistematizaccedilatildeo da ldquoproximidaderdquo e o minucioso planejamento das etapas ante-riores de ldquorecuperaccedilatildeordquo e ldquoestabilizaccedilatildeordquo dos territoacuterios ocupados pela poliacutecia

Apesar de todo esse detalhamento so-bre os preparativos do ambiente para a chegada da UPP em suas primeiras fases o plano em nenhum momento detalha o que eacute ou como se deva fazer a ldquoproximidaderdquo Trata-se portanto basicamente de uma ocupaccedilatildeo mili-tar jaacute que eacute niacutetida sua maior preocu-paccedilatildeo com as fases iniciais (I e II) em detrimento das uacuteltimas Essa lacuna que deveria ter sido preenchida pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP ndash por meio de um ldquoPrograma de Poliacutecia Pacificadorardquo como previa o decreto que estruturou a UPP encontra-se ateacute hoje aberta (Rodrigues 2014 76)

No iniacutecio diz o autor a lacuna pode ter favorecido em alguma medida o processo

porque lhe deu certa plasticidade praacute-tica deixando-o aberto agrave construccedilatildeo cotidiana por atores que normalmen-te natildeo participariam no caso de uma construccedilatildeo formal como lideranccedilas locais e policiais No entanto hoje com a ampliaccedilatildeo do programa ela soa mais como ameaccedila que como opor-tunidade para o seu gerenciamento estrateacutegico Assim ela tem sido preen-chida por um amplo referencial de fa-zeres que vai do ldquotiro-porrada-e-bom-bardquo expressatildeo usada para se referir agraves operaccedilotildees policiais baseadas na loacutegica da guerra ateacute a uma cosmeacutetica e nada instrumental ldquopoliacutecia boazinhardquo que vecirc na UPP a oportunidade de melho-rar a imagem da poliacutecia Eacute provaacutevel que os problemas por que passam atualmente as UPPs sobretudo nos casos de desvios e uso arbitraacuterio da forccedila tenham a ver com esse possiacutevel descontrole gerencial (idem 79)

Algum tempo apoacutes a implemen-taccedilatildeo ainda experimental das pri-meiras unidades esperava-se um esforccedilo concentrado de avaliaccedilatildeo de organizaccedilatildeo do conhecimento praacutetico

A IMPRESSAtildeO QUE SE TEM Eacute NAtildeO SOacute DE RECUO COMO DE PERSISTEcircNCIA DE UMA GRANDE CONFUSAtildeO E INDEFINICcedilAtildeO EM TORNO DO QUE SIGNIFIQUE lsquoPOLI-CIAMENTO DE PROXIMIDADErsquordquo

ldquo12

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

adquirido e de elaboraccedilatildeo de diretrizes para a replicaccedilatildeo e o gerenciamento do programa nas outras favelas Mesmo que devessem persistir graus de flexi-bilidade dadas as enormes diferenccedilas nos ambientes de atuaccedilatildeo do novo poli-ciamento era imprescindiacutevel que essa sistematizaccedilatildeo avanccedilasse antes que o vertiginoso crescimento do nuacutemero de UPPs e de policiais deixasse escapar do controle um dos pilares centrais do pro-grama a substituiccedilatildeo da truculecircncia do desrespeito e da ldquoguerrardquo pelo diaacutelogo com a populaccedilatildeo das favelas Na verdade em 2012 o ISP chegou a con-tratar a consultoria de universidades e institutos de pesquisa para o detalha-mento do ldquoPrograma de Poliacutecia Pacifi-cadorardquo mas soacute em 2015 o processo de formalizaccedilatildeo e institucionalizaccedilatildeo das UPPs parece estar sendo retomado (cf Albernaz e Mazzurana 2015)

Tal como as mudanccedilas introdu-zidas no curso de formaccedilatildeo mencio-nadas mais acima essa retomada eacute sem duacutevida auspiciosa Vale torcer para que sua aplicaccedilatildeo efetiva natildeo chegue tarde demais e para que ainda seja possiacutevel recobrar controle sobre o espaccedilo que ficou tanto tempo aberto agrave interpre-taccedilatildeo e ao exerciacutecio informais da ldquopro-ximidaderdquo Por ora esse espaccedilo mais parece um saco de gatos onde cabem desde a pura e simples presenccedila no territoacuterio ateacute estrateacutegias mais profis-sionalizadas de aproximaccedilatildeo como a dos policiais-mediadores (Mouratildeo 2014 2015a)23 passando por inicia-tivas diversas dos chamados ldquopoliciais sociaisrdquo (Teixeira 2015) por promoccedilatildeo de festas eventos e passeios24 e por muito trabalho administrativo25 Nele cabem tambeacutem a regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades econocircmicas e de lazer nas favelas (Cano Borges e Ribeiro 2014 172 Soares 2015 230-1) um frenesi

de abordagens e apreensotildees de drogas a circulaccedilatildeo de mini-Bopes agrave caccedila de mini-traficantes (Esperanccedila 2014) e ateacute a ldquoaproximaccedilatildeo predatoacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) traduzida nas velhas praacuteticas de privatizaccedilatildeo de informaccedilotildees cor-rupccedilatildeo abuso de poder e violecircncia

Na borda desse espaccedilo como se veraacute existe ainda uma faixa de poli-ciais com atitudes de indiferenccedila ou descrenccedila quando natildeo de repulsa a qualquer espeacutecie de aproximaccedilatildeo com os moradores A frase ldquoproximidade eacute o caceterdquo ouvida de um policial de UPP por Vinicius Esperanccedila (2014 146) soa assim como eco perfeito agrave locuccedilatildeo ldquoUPP eacute o caralhordquo brandida por mora-dores refrataacuterios a qualquer tipo de aproximaccedilatildeo com a poliacutecia

ldquoINTRUSO MALTRATADO E ODIADOrdquo TENSOtildeES EM ALTA NA RELACcedilAtildeO POLIacuteCIACOMUNIDADE

Se o policiamento de proximidade foi pensado como ldquoestrateacutegia de cons-truccedilatildeo partilhada de legitimidade entre os policiais e destes com os cidadatildeosrdquo (Muniz e Mello 2015 52) natildeo sur-preende que aos tropeccedilos da ldquoproxi-midaderdquo correspondam sinais de cres-cente deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees do conviacutevio e dos graus de aceitaccedilatildeo da pre-senccedila policial por parte dos moradores de favelas com UPP Mais uma vez eacute necessaacuterio sublinhar duas limitaccedilotildees da nossa pesquisa que impotildeem ressalvas agrave anaacutelise (1) a impossibilidade de desa-gregar espacialmente os resultados logo de captar diferenccedilas entre as loca-lidades e dentro delas (2) o fato de o survey ter colhido apenas percepccedilotildees e opiniotildees dos policiais registrando portanto o que eles pensam que os moradores pensam deles natildeo necessa-riamente o que os moradores de fato

13

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

pensam Falta ainda um levantamen-to-espelho com perguntas aos resi-dentes anaacutelogas agraves respondidas pelos policiais capazes de identificar con-vergecircncias e divergecircncias entre essas percepccedilotildees que satildeo por definiccedilatildeo afe-tivas e subjetivas26

De todo modo ainda que geneacute-ricos e unilaterais extraem-se indiacutecios de deterioraccedilatildeo do ambiente nas UPPs comparando-se ao longo dos trecircs surveys as respostas sobre sentimentos que os policiais percebem na popu-laccedilatildeo Como mostra o Graacutefico 6 haacute uma progressiva e expressiva queda da per-cepccedilatildeo de sentimentos favoraacuteveis (sim-patia admiraccedilatildeo respeito aceitaccedilatildeo) e um aumento da sensaccedilatildeo de que pre-valecem a hostilidade a resistecircncia o medo a desconfianccedila e a rejeiccedilatildeo

Impressiona natildeo soacute o crescimento da parcela que se percebe malquista pela comunidade mas tambeacutem a ecircnfase

com que foram verbalizados os senti-mentos hostis na uacuteltima rodada da pes-quisa A pergunta do questionaacuterio trazia sete opccedilotildees fechadas entre elas ldquoraivardquo e um campo aberto para ldquooutros senti-mentosrdquo27 Mais de frac14 (273) das res-postas foram ldquoraivardquo mas em outras 9 os entrevistados natildeo se conten-taram com esse termo talvez por con-sideraacute-lo muito leve ou pouco espe-ciacutefico e fizeram questatildeo de carregar nas tintas utilizando o campo aberto para descrever melhor o que achavam que a maioria da populaccedilatildeo sentia por eles ldquooacutediordquo ldquooacutedio fatalrdquo ldquonojordquo ldquoascordquo ldquoaversatildeordquo ldquorepulsardquo ldquorepugnacircnciardquo ldquoojerizardquo ldquorancorrdquo ldquorevoltardquo ldquorejeiccedilatildeordquo ldquodesprezordquo ldquodesdeacutemrdquo e assim por diante Um dos entrevistados resumiu esse dra-maacutetico rol de sentimentos adversos com a frase ldquoeles nos detestamrdquo que tomamos emprestada para o tiacutetulo deste artigo E em resposta agrave pergunta sobre

GRAacuteFICO 6_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

HAacute UMA PROGRESSIVA E EXPRESSIVA QUEDA DA PERCEPCcedilAtildeO DE SENTIMENTOS FAVORAacuteVEIS E UM AUMENTO DA SENSACcedilAtildeO DE QUE PREVALECEM A HOSTILIDADE A RESISTEcircNCIA O MEDO A DESCONFIANCcedilA E A REJEICcedilAtildeOrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

14

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

motivos de insatisfaccedilatildeo com o trabalho em UPP que seraacute comentada mais adiante outro policial disse que aleacutem de ldquointrusordquo sentia-se ldquomaltratado e odiadordquo pela maioria da populaccedilatildeo

O Graacutefico 7 acima desagrega em alguns blocos de respostas os senti-mentos positivos negativos e neutros com que os policiais de UPP se veem tra-tados pelos moradores locais segundo os resultados da uacuteltima pesquisa Nunca eacute demais lembrar que esses resultados dizem respeito ao conjunto das UPPs e possivelmente ocultam grandes dife-renccedilas entre as 36 localidades assim como variaccedilotildees significativas dentro de cada uma delas

Agrave pergunta sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP o grupo mais frequente de respostas (281)

mencionava relaccedilatildeo ruim com os moradores enquanto soacute 92 referi-ram-se a boas relaccedilotildees com moradores como a melhor coisa do trabalho em UPP28 Aleacutem de percepccedilotildees e opiniotildees algumas experiecircncias vividas pelos policiais reforccedilam a impressatildeo de um ambiente muito hostil em boa parte dos territoacuterios ocupados Nota-se na Tabela 3 que nos uacuteltimos trecircs meses antes do survey 558 dos entrevistados haviam sido alvo pelo menos uma vez de algum objeto arremessado por moradores 618 natildeo haviam obtido resposta a um cumprimento 63 haviam-se sentido desrespeitados e 658 haviam sido xingados em pelo menos uma ocasiatildeo Soacute 37 no entanto disseram que algum(a) morador(a) prestara queixa contra eles durante esses trecircs meses

GRAacuteFICO 7_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

() ESPERANCcedilA CONFIANCcedilA FELICIDADE SEGURANCcedilA GRATIDAtildeO

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

15

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Reaccedilotildees anaacutelogas por parte de habitantes das favelas ndash arremesso de objetos e insultos ndash foram relatadas em pesquisas qualitativas no comeccedilo da instalaccedilatildeo das UPPs e associadas agrave resis-tecircncia ou desconfianccedila inicial dos mora-dores em relaccedilatildeo agrave presenccedila contiacutenua da poliacutecia nas comunidades (Cano Borges e Ribeiro 2014 181 Menezes 2014 671)29 Esperava-se que com o correr do tempo agrave medida que a con-vivecircncia e a proximidade produzisssem seus efeitos humanizadores essas mani-festaccedilotildees hostis tendessem a decrescer ndash o que de fato parece ter acontecido em algumas UPPs mais antigas pelo menos ateacute poucos anos atraacutes30 Mas natildeo soacute a tensatildeo se manteve alta em outras localidades como recentemente parte das favelas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada voltou a apresentar niacuteveis elevados de tensatildeo e desconfianccedila ndash situaccedilatildeo que o Graacutefico 6 acima em certa medida traduz e que se confirma em pesquisas qualitativas rea-lizadas nos uacuteltimos dois anos (Menezes 2014 Esperanccedila 2014 Soares 2015)

O discurso de alguns policiais e agraves vezes tambeacutem de moradores tende a associar esse aumento de tensotildees ao ldquoretorno do traacuteficordquo e agrave volta dos con-frontos armados em vaacuterias favelas com UPP tanto as de ocupaccedilatildeo recente

quanto algumas das mais antigas Temerosos com as consequecircncias do reempoderamento dos traficantes e pre-ocupados em natildeo se identificar como ldquoamigos da poliacuteciardquo os moradores teriam passado com mais frequecircncia a evitar o contato ou mesmo a mani-festar desapreccedilo e hostilidade contra os policiais Discutiremos mais agrave frente o tema do ldquoretornordquo e a interpretaccedilatildeo que tende a creditar-lhe inteiramente os tropeccedilos do policiamento de pro-ximidade Cabe ressaltar por ora que segundo observaccedilotildees etnograacuteficas feitas em 2013 e 2014 os conflitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo despontam em con-textos e por motivos diversos natildeo redu-tiacuteveis agrave equaccedilatildeo simplista hostilidade agrave poliacutecia = viacutenculos com o traacutefico

Quando os policiais recorriam ao capi-tal da forccedila fiacutesica para realizar prisotildees e apreensotildees os moradores muitas vezes praticavam atos de agressatildeo aos policiais estimulados por conflitos decorrentes de abordagens policiais tentativas de prisotildees interrupccedilotildees de festas Foram incontaacuteveis os relatos de policiais que receberam pedradas e ateacute gavetadas [sic] de moradores re-voltados Na favela da zona Norte um policial retornou agrave base com a cabeccedila aberta atingida pelas pedras Na favela da zona Sul ateacute crianccedilas se engajavam nas accedilotildees ldquoEu fiquei muito surpreso

TABELA 3_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES ( DE ENTREVISTADOS)

NENHUMA VEZ

UMA VEZ

ALGUMAS VEZES

MUITAS VEZES

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 442 84 227 247

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 342 58 233 367

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 370 67 234 329

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 382 40 241 337

MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 963 20 09 08

OS CONFLITOS ENTRE POLIacuteCIA E POPULACcedilAtildeO DESPONTAM EM CONTEXTOS E POR MOTIVOS DIVERSOS NAtildeO REDUTIacuteVEIS Agrave EQUACcedilAtildeO SIMPLISTA HOSTILIDADE Agrave POLIacuteCIA = VIacuteNCULOS COM O TRAacuteFICOrdquo

ldquo

16

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 5: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

jaacute trabalhava em UPP havia mais de dois anos mas soacute 317 estavam haacute mais de dois anos alocados na unidade atual o que sugere a existecircncia de alguma rota-tividade entre as UPPs De fato respon-dendo a outra pergunta 38 dos sol-dados e cabos disseram jaacute ter passado por duas ou mais unidades Aleacutem disso 204 jaacute haviam trabalhado anterior-mente em outros setores da PMERJ a maior parte deles (836) em batalhotildees convencionais7

Embora minoritaacuterias essas par-celas satildeo significativas por sugerir certo afastamento em relaccedilatildeo a dois prin-ciacutepios originais do programa (a) de que todos os agentes de ponta fossem desde o ingresso na PM especialmente designados e treinados para trabalhar em UPP a fim de evitar a reproduccedilatildeo dos ldquoviacuteciosrdquo da poliacutecia tradicional e (b) de que os policiais permanecessem nos mesmos territoacuterios de modo a criarem laccedilos de convivecircncia e con-fianccedila com os moradores conhecerem bem as caracteriacutesticas e os problemas de cada favela e poderem com isso desen-volver o chamado ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo Mas segundo Albernaz e Mazzurana (2015 78) o uacuteltimo prin-ciacutepio foi alterado com o tempo restrin-gindo-se os novatos a 23 do efetivo da UPP e passando-se a preencher o outro terccedilo com policiais deslocados de outras unidades para ldquocompartilharem a expe-riecircncia adquirida em outras aacutereas em processo de pacificaccedilatildeordquo Independen-temente do sucesso maior ou menor dessa estrateacutegia explica-se assim a per-centagem relativamente proacutexima de 13 dos policiais que disseram jaacute ter passado por mais de uma unidade O que natildeo fica esclarecido eacute o percentual de 204 de cabos e soldados oriundos de bata-lhotildees convencionais e de outros setores

da PM esse deslocamento estaacute previsto para os sargentos e subtenentes respon-saacuteveis pela supervisatildeo mas nenhuma das duas categorias foi incluiacuteda na nossa amostra

ldquoMUITO BLAacute-BLAacute-BLAacuterdquo E ldquoESTAacuteGIO NA PRAIArdquo CRIacuteTICAS Agrave FORMACcedilAtildeO

Assim como na pesquisa anterior cerca de metade dos policiais ouvidos em 2014 (517) natildeo se considera ade-quadamente formada para trabalhar em UPP Essa apreciaccedilatildeo geneacuterica aparen-temente diverge do fato de mais de 70 dos entrevistados considerarem adequa-damente ministrados alguns conteuacutedos essenciais ao tipo de trabalho proposto pelo programa como policiamento comunitaacuterio policiamento de proxi-midade direitos humanos e uso gradual da forccedila8 Entretanto haacute outros con-teuacutedos tambeacutem importantes para esse trabalho que a maioria considerou ina-dequadamente ensinados ou inexistentes praacutetica de policiamento cotidiano em favelas mediaccedilatildeo de conflitos procedi-mentos para violecircncia domeacutestica e uso de armamento menos letal Ademais a uma pergunta aberta (feita soacute aos que se disseram despreparados) sobre o que achavam que havia faltado na formaccedilatildeo a maior parte (52) reclamou da falta de conhecimento da realidade das favelas ou da completa ausecircncia de treinamento direcionado especificamente ao trabalho em UPP Isso parece indicar que mesmo os conteuacutedos avaliados como ldquoadequa-damenterdquo ministrados podem ser vistos como excessivamente teoacutericos ensina-se bem a doutrina do ldquopoliciamento comu-nitaacuteriordquo ou ldquode proximidaderdquo mas natildeo se promove a aproximaccedilatildeo cognitiva e praacutetica dos formandos aos ambientes especiacuteficos em que deveriam aplicaacute-la

CERCA DE METADE DOS POLICIAIS OUVIDOS EM 2014 NAtildeO SE CONSIDERA ADEQUADAMENTE FORMADA PARA TRABALHAR EM UPPrdquo

ldquo5

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ldquoMuita teoria e pouca praacuteticardquo ldquomuito blaacute-blaacute-blaacuterdquo ldquoa realidade natildeo corresponde ao que eacute ensinado no cursordquo ldquofaltou mostrar o que eacute a rea-lidade da comunidade e que existem diferentes comunidadesrdquo ldquoo que se mostra eacute diferente do que vemos aquirdquo ldquofaltou psicologia para [lidar com] a hostilidade da comunidaderdquo ldquoa for-maccedilatildeo foi para batalhatildeo natildeo para UPPrdquo ldquoo estaacutegio foi feito na praiardquo [sic] ou ldquoem batalhatildeordquo quando ldquodeveria ter sido feito em UPPrdquo ndash satildeo algumas das respostas que ilustram essa criacutetica Seguem-se a ela 137 de apreciaccedilotildees negativas gerais sobre o curso (maacute qua-lidade dos professores e instrutores estrutura e organizaccedilatildeo ruins tudo ou quase tudo peacutessimo) e 8 de recla-maccedilotildees sobre o periacuteodo muito curto da formaccedilatildeo9

Jaacute se sublinhara na rodada anterior da pesquisa a grande defasagem exis-tente entre a pretensatildeo de disseminar um ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia baseado na noccedilatildeo de proximidade e a permanecircncia dos velhos conteuacutedos e meacutetodos de ensino oferecidos aos poli-ciais militares (cf Musumeci et al 2013 4-5 21) Ainda que com muito atraso ndash quase oito anos depois da inau-guraccedilatildeo da primeira UPP ndash a PMERJ promoveu recentemente uma atuali-zaccedilatildeo do Curso de Formaccedilatildeo de Sol-dados (CFSd) que deve entrar em vigor no final de 2015 A nova grade curri-cular natildeo soacute aumenta a carga horaacuteria total do curso de 1182 para 1437 horas como cria as disciplinas Poliacutecia de Pro-ximidade (pela fusatildeo das antigas Poli-ciamento Comunitaacuterio e Praacutetica Policial Cidadatilde) Tecnologias Natildeo-Letais (antes parte da disciplina Armamento) e Admi-nistraccedilatildeo Institucional de Conflitos antes inexistente Aleacutem disso o estaacutegio praacutetico passaraacute a durar dois meses e

todas as disciplinas do curso teratildeo de abordar ao menos trecircs estudos de caso (cf Cortes e Mazzurana 2015)

Tais mudanccedilas representam sem duacutevida um avanccedilo importante Resta saber se seratildeo suficientes para trans-formar o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo na ldquofilosofia () orientadora das formas de atuaccedilatildeo e policiamento da corporaccedilatildeordquo (idem 6) abrindo caminho para a superaccedilatildeo da loacutegica beacutelica hoje predominante E sobretudo se conseguiratildeo reduzir o abismo entre teoria e praacutetica no qual florescem o ldquocurriacuteculo ocultordquo e a ldquopedagogia informalrdquo muitas vezes em completa oposiccedilatildeo ao que os cursos formais pre-tendem transmitir

ldquoEstes procedimentos [informais] podem se tornar lesivos agrave proposta educacional oficial por concorrer ou desconstruir conteuacutedos do curriacuteculo formal quando trazem o entendimento de que a construccedilatildeo do que eacute ser e fa-zer poliacutecia ocorre exclusivamente pela tradiccedilatildeo (experiecircncia de trabalho dos mais antigos) e quando reforccedilam valo-res e atitudes contraacuterios aos explicita-dos no curriacuteculo formalrdquo (idem 8)

Como se veraacute logo a seguir a pesquisa do CESeC indica que estaacute ocorrendo nas UPPs uma crescente reproduccedilatildeo de concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia em detrimento do que possa ser entendido como ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo Natildeo eacute o caso de atribuir tal tendecircncia unicamente a lacunas de for-maccedilatildeo ou agrave vitoacuteria do curriacuteculo oculto Mas certamente reside aiacute um dos flancos deixados abertos ateacute agora pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo de favelas e soacute o futuro diraacute se e em que medida as inovaccedilotildees pedagoacutegicas de 2015 teratildeo sido capazes de reverter esse quadro No iniacutecio do programa quando questionados sobre

6

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a necessidade de mudanccedila urgente e radical na formaccedilatildeo dos policiais os gestores diziam que tinham de ldquotrocar o pneu com o carro andandordquo Resta torcer para que os oito anos de rodagem sem pneu natildeo tenham danificado de vez a roda e o eixo do carro

O QUE FOI FEITO DO POLICIAMENTO DE PROXIMIDADE

Ao lado das criacuteticas agrave formaccedilatildeo os resultados do levantamento de 2014 apontam uma fraca presenccedila quando natildeo um encolhimento de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo nas UPPs10 como mostra ao lado o Graacutefico 1

Vecirc-se que pouco mais de frac14 dos poli-ciais realizava com frequecircncia em 2014 algum tipo (natildeo especificado) de praacutetica de aproximaccedilatildeo com moradores menos de 20 buscavam levantar problemas da comunidade cerca de 14 realizavam frequentemente mediaccedilatildeo de conflitos pouco mais de 8 participavam de ati-vidades voltadas para crianccedilas ou jovens

GRAacuteFICO 1_ATIVIDADES DE ldquoPROXIMIDADErdquo QUE OS POLICIAIS DIZEM REALIZAR COM MUITA FREQUEcircNCIA NAS UPPS ( DE ENTREVISTADOS)

() OPCcedilOtildeES INCLUIacuteDAS SOacute NO QUESTIONAacuteRIO DE 2014

e soacute 53 participavam frequentemente de reuniotildees com moradores Observa-se aleacutem disso no Graacutefico 2 um progressivo decliacutenio dos percentuais de agentes que dizem manter algum contato com insti-tuiccedilotildees locais

GRAacuteFICO 2_INSTITUICcedilOtildeES COM QUE OS POLICIAIS MANTEcircM ALGUM CONTATO ( DE ENTREVISTADOS)

OS RESULTADOS APONTAM UMA FRACA PRESENCcedilA QUANDO NAtildeO UM ENCOLHIMENTO DE ATIVIDADES IDENTIFICAacuteVEIS AO lsquoPOLICIA-MENTO DE PROXIMIDADErsquo NAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

7

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Em compensaccedilatildeo vatildeo de 29 a 564 as parcelas de entrevistados na uacuteltima pesquisa que disseram fazer com muita frequecircncia prisotildees e apreensotildees recebimento de queixas registros de ocorrecircncias em delegacia e abordagem e revista de suspeitos ndash tarefas tiacutepicas do policiamento ostensivo tradicional (Graacutefico 3) Apesar de todos os percen-tuais desse grupo de atividades tambeacutem terem decrescido bastante desde 2012 ele parece ser bem mais generalizado no trabalho cotidiano dos policiais de UPP do que as praacuteticas indicativas de aproximaccedilatildeo e interlocuccedilatildeo com os moradores Os resultados confirmam assim uma tendecircncia jaacute apontada em pesquisas precedentes a restriccedilatildeo do chamado ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo a um grupo mais ou menos especializado de ldquoarticuladores comu-nitaacuteriosrdquo enquanto para a grande maioria dos policiais ldquoproximidaderdquo se traduziria apenas na presenccedila con-tiacutenua e ostensiva dentro das favelas

GRAacuteFICO 3_ATIVIDADES DE POLICIAMENTO CONVENCIONAL QUE OS POLICIAIS DIZEM REALIZAR COM MUITA FREQUEcircNCIA NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

() OPCcedilOtildeES INCLUIacuteDAS SOacute NO QUESTIONAacuteRIO DE 2014

com pouco ou nenhum diaacutelogo com a populaccedilatildeo local (Cano Borges e Ribeiro 2014 157 Musumeci et al 2013 17)

Outra indicaccedilatildeo de que o ldquonovo paradigmardquo de policiamento vem per-dendo terreno como mostra o Graacutefico 4 estaacute na reduccedilatildeo do percentual de policiais que dizem realizar ronda a peacute11 e no acreacutescimo dos que trabalham em patrulhas atualmente denominadas Grupamentos Taacuteticos de Poliacutecia de Proxi-midade (GTPP) Estas uacuteltimas apesar de trazerem ldquoproximidaderdquo no nome satildeo destacamentos ldquooperacionaisrdquo que transitam livremente por todas as ruas e becos da favela com policiais for-temente armados desempenhando tarefas eminentemente repressivas ou modos tradicionais de ldquoprevenccedilatildeo pro-ativardquo perseguiccedilatildeo agraves drogas agraves armas e aos ldquoesticasrdquo (pequenos traficantes que permanecem no territoacuterio) abordagem e revista de ldquosuspeitosrdquo contenccedilatildeo de protestos ou ldquoperturbaccedilotildees da ordemrdquo na comunidade Quando haacute situaccedilotildees

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

8

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

consideradas criacuteticas em outras UPPs o efetivo desses grupos pode ser des-locado temporariamente para apoiaacute-las (Albernaz e Mazzurana 2015 69)

Observaccedilotildees etnograacuteficas feitas por outros pesquisadores mostram que pelo menos em algumas favelas os inte-grantes dos GTPPs buscam mimetizar as tropas de elite dos batalhotildees (Gates) e das unidades especiais da PM (Bope BPChoque) podendo manter para tanto uma atitude deliberada de dis-tanciamento em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo O que inclui por exemplo natildeo cum-primentar os moradores e tratar com rispidez quando natildeo com violecircncia os incontaacuteveis ldquosuspeitosrdquo revistados dia-riamente (Esperanccedila 2014 137-43) Ou empenhar-se em exibiccedilotildees de forccedila que atemorizam a populaccedilatildeo e justificam o apelido de ldquobondesrdquo dado a esses desta-camentos em alguns lugares por ana-logia com os grupos de traficantes que com o mesmo propoacutesito desfilavam for-temente armados pelas ruas da comu-nidade (Soares 2015 287)12

A julgar por tais relatos chega a ser irocircnica a presenccedila da expressatildeo ldquopoliacutecia de proximidaderdquo no nome dos GTPPs

GRAacuteFICO 4_TIPO DE TRABALHO QUE OS POLICIAIS REALIZAM NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

salvo se ela abarcar a pura e simples coexistecircncia no territoacuterio ou os con-tatos verbais e fiacutesicos durante abor-dagens policiais Nem a proacutepria des-criccedilatildeo oficial fornece alguma pista do que possa significar ldquoproximidaderdquo num grupamento como esse definido da seguinte maneira

efetivo de uma patrulha com treina-mento operacional especializado e munida de equipamento especial em-pregada em accedilotildees de Poliacutecia Ostensiva especiacuteficas que demandam accedilatildeo raacutepida e repressatildeo qualificada Exemplos de sua atuaccedilatildeo controle de tumultos e accedilotildees para restauraccedilatildeo da ordem puacute-blica de maior magnitude Por suas caracteriacutesticas de natureza e emprego possuem base territorial ampla atuan-do em toda aacuterea da Unidade Policial de Proximidade respondendo diretamen-te ao Comandante desta (PMERJ Di-retriz Geral de Poliacutecia de Proximidade Boletim da PM n 139 2014 apud Viva Rio 2014 15-16 Cf tambeacutem Albernaz e Mazzurana 2015 69 71)13

A seacuterie de dados do ISP sobre as 36 UPPs abrangidas em 201414 reforccedila ainda mais os indiacutecios de reiteraccedilatildeo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

9

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

do velho paradigma de policiamento centrado em prisotildees e apreensotildees de drogas Como mostra o Graacutefico 5 agrave medida que a ldquopacificaccedilatildeordquo se estende a um nuacutemero maior de favelas cresce o volume de ocorrecircncias tradicional-mente usadas para aferir a ldquoproduccedilatildeo policialrdquo exceto no caso das armas apreendidas cujo nuacutemero diminui no periacuteodo15 Vale sublinhar que o aumento dos outros registros natildeo reflete necessa-riamente um aumento da criminalidade ou da quantidade de drogas em circu-laccedilatildeo assim como a queda do nuacutemero de armas apreendidas natildeo significa necessariamente que haja menos armas ilegais nas favelas O que essas ocor-recircncias informam sobretudo eacute o dire-cionamento dado ao trabalho policial15 E

o fato de elas terem crescido em todo o estado no mesmo periacuteodo indica que a ldquocaccedilardquo agraves drogas e aos traficantes con-tinuou sendo foco privilegiado da accedilatildeo policial dentro e fora das UPPs16

Voltando aos resultados do survey nota-se que o percentual de entrevis-tados em 2014 que disseram trabalhar a maior parte do tempo em GTPP (222) eacute apenas um pouco inferior ao dos que afirmaram realizar com frequecircncia alguma espeacutecie de atividade de apro-ximaccedilatildeo com os moradores (258) Isso poderia indicar agrave primeira vista uma especializaccedilatildeo dual e contradi-toacuteria nas UPPs de um lado ldquoarticu-ladores comunitaacuteriosrdquo mediadores de conflitos e ldquopoliciais sociaisrdquo que buscam desenvolver atividades capazes

GRAacuteFICO 5_OCORREcircNCIAS DE ldquoPRODUCcedilAtildeO POLICIALrdquo REGISTRADAS NOS TERRITOacuteRIOS DE 36 UPPs ndash 20072014 (NUacuteMERO-IacuteNDICE 2007=100)

A ldquoCACcedilArdquo AgraveS DROGAS E AOS TRAFICANTES CONTINUOU SENDO FOCO PRIVILEGIADO DA ACcedilAtildeO POLICIAL DENTRO E FORA DAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

10

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

de aproximaacute-los ao menos de alguns seg-mentos da populaccedilatildeo18 de outro mini--Bopes e mini-Choques cujas atuaccedilatildeo atitude e ideologia parecem destinadas a promover o movimento oposto de distanciamento e tensionamento das relaccedilotildees entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Essa imagem poreacutem pode resultar algo simplista Como mostram as Tabelas 1 e 2 a seguir existem de fato

diferenccedilas enormes entre as atividades dos que atuam em GTPPs e dos que trabalham a maior parte do tempo em outros tipos de serviccedilo especialmente quanto agrave frequecircncia de abordagens registros de ocorrecircncia prisotildees e apre-ensotildees19 Mas tambeacutem haacute uma surpre-endente convergecircncia no que se refere a praticas geneacutericas de aproximaccedilatildeo com moradores levantamento de

TABELA 1_ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM MUITA FREQUEcircNCIA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO PELOS POLICIAIS ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS 950 456

REGISTROS DE OCORREcircNCIA EM DELEGACIAS 712 213

PRISOtildeES E APREENSOtildeES 710 171

RECEBIMENTO DE QUEIXAS 318 286

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES 260 258

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS 227 189

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS 157 137

ATIVIDADES COM CRIANCcedilAS JOVENS OU IDOSOS 33 95

PARTICIPACcedilAtildeO EM REUNIOtildeES NA COMUNIDADE 14 64

TABELA2_OCORREcircNCIAS DE QUE OS POLICIAIS PARTICIPARAM PELO MENOS UMA VEZ NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO POR ELES REALIZADO A MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

APREENSAtildeO DE DROGAS 803 332

APREENSAtildeO DE CRIANCcedilA OU ADOLESCENTE INFRATOR 674 246

OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 529 251

USO DE ARMA DE FOGO PELO(A) POLICIAL 332 137

APREENSAtildeO DE ARMA(S) DE FOGO 239 57

USO DE ARMAMENTO ldquoMENOS LETALrdquo 221 11 1

11

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

problemas e ateacute mediaccedilatildeo de conflitos Em outras palavras trabalhar a maior parte do tempo em GTPP natildeo exclui necessariamente o envolvimento em algumas estrateacutegias de proximidade20 Satildeo bem poucos eacute verdade os policiais dos mini-Bopes com essa caracteriacutestica ldquohiacutebridardquo mas como se viu satildeo poucos tambeacutem os do restante da tropa que rea-lizam esforccedilos frequentes de aproxi-maccedilatildeo com os moradores pelo menos ateacute onde as categorias da nossa pesquisa permitem observar

A impressatildeo que se tem a partir dos resultados expostos nesta seccedilatildeo e tambeacutem da leitura de outros trabalhos recentes sobre UPPs eacute natildeo soacute de recuo como de persistecircncia de uma grande confusatildeo e indefiniccedilatildeo em torno do que signifique ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo21 Apresentado desde o iniacutecio como pedra angular do programa de ldquopacificaccedilatildeordquo esse tipo de policia-mento em 2014 quase sete anos apoacutes a inauguraccedilatildeo da primeira UPP ainda carecia de formalizaccedilatildeo doutrinaacuteria e metodoloacutegica de uma padronizaccedilatildeo miacutenima entre as unidades de insti-tucionalizaccedilatildeo dos canais de interlo-cuccedilatildeo entre policiais e moradores de mecanismos de accountability (controle monitoramento avaliaccedilatildeo) e como jaacute visto de conteuacutedos e meacutetodos de ensino adequados ao ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia que se pretendia imple-mentar nas favelas22

Eacute um dos idealizadores e primeiro coordenador das UPPs quem ressalta o contraste entre o baixo investimento na sistematizaccedilatildeo da ldquoproximidaderdquo e o minucioso planejamento das etapas ante-riores de ldquorecuperaccedilatildeordquo e ldquoestabilizaccedilatildeordquo dos territoacuterios ocupados pela poliacutecia

Apesar de todo esse detalhamento so-bre os preparativos do ambiente para a chegada da UPP em suas primeiras fases o plano em nenhum momento detalha o que eacute ou como se deva fazer a ldquoproximidaderdquo Trata-se portanto basicamente de uma ocupaccedilatildeo mili-tar jaacute que eacute niacutetida sua maior preocu-paccedilatildeo com as fases iniciais (I e II) em detrimento das uacuteltimas Essa lacuna que deveria ter sido preenchida pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP ndash por meio de um ldquoPrograma de Poliacutecia Pacificadorardquo como previa o decreto que estruturou a UPP encontra-se ateacute hoje aberta (Rodrigues 2014 76)

No iniacutecio diz o autor a lacuna pode ter favorecido em alguma medida o processo

porque lhe deu certa plasticidade praacute-tica deixando-o aberto agrave construccedilatildeo cotidiana por atores que normalmen-te natildeo participariam no caso de uma construccedilatildeo formal como lideranccedilas locais e policiais No entanto hoje com a ampliaccedilatildeo do programa ela soa mais como ameaccedila que como opor-tunidade para o seu gerenciamento estrateacutegico Assim ela tem sido preen-chida por um amplo referencial de fa-zeres que vai do ldquotiro-porrada-e-bom-bardquo expressatildeo usada para se referir agraves operaccedilotildees policiais baseadas na loacutegica da guerra ateacute a uma cosmeacutetica e nada instrumental ldquopoliacutecia boazinhardquo que vecirc na UPP a oportunidade de melho-rar a imagem da poliacutecia Eacute provaacutevel que os problemas por que passam atualmente as UPPs sobretudo nos casos de desvios e uso arbitraacuterio da forccedila tenham a ver com esse possiacutevel descontrole gerencial (idem 79)

Algum tempo apoacutes a implemen-taccedilatildeo ainda experimental das pri-meiras unidades esperava-se um esforccedilo concentrado de avaliaccedilatildeo de organizaccedilatildeo do conhecimento praacutetico

A IMPRESSAtildeO QUE SE TEM Eacute NAtildeO SOacute DE RECUO COMO DE PERSISTEcircNCIA DE UMA GRANDE CONFUSAtildeO E INDEFINICcedilAtildeO EM TORNO DO QUE SIGNIFIQUE lsquoPOLI-CIAMENTO DE PROXIMIDADErsquordquo

ldquo12

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

adquirido e de elaboraccedilatildeo de diretrizes para a replicaccedilatildeo e o gerenciamento do programa nas outras favelas Mesmo que devessem persistir graus de flexi-bilidade dadas as enormes diferenccedilas nos ambientes de atuaccedilatildeo do novo poli-ciamento era imprescindiacutevel que essa sistematizaccedilatildeo avanccedilasse antes que o vertiginoso crescimento do nuacutemero de UPPs e de policiais deixasse escapar do controle um dos pilares centrais do pro-grama a substituiccedilatildeo da truculecircncia do desrespeito e da ldquoguerrardquo pelo diaacutelogo com a populaccedilatildeo das favelas Na verdade em 2012 o ISP chegou a con-tratar a consultoria de universidades e institutos de pesquisa para o detalha-mento do ldquoPrograma de Poliacutecia Pacifi-cadorardquo mas soacute em 2015 o processo de formalizaccedilatildeo e institucionalizaccedilatildeo das UPPs parece estar sendo retomado (cf Albernaz e Mazzurana 2015)

Tal como as mudanccedilas introdu-zidas no curso de formaccedilatildeo mencio-nadas mais acima essa retomada eacute sem duacutevida auspiciosa Vale torcer para que sua aplicaccedilatildeo efetiva natildeo chegue tarde demais e para que ainda seja possiacutevel recobrar controle sobre o espaccedilo que ficou tanto tempo aberto agrave interpre-taccedilatildeo e ao exerciacutecio informais da ldquopro-ximidaderdquo Por ora esse espaccedilo mais parece um saco de gatos onde cabem desde a pura e simples presenccedila no territoacuterio ateacute estrateacutegias mais profis-sionalizadas de aproximaccedilatildeo como a dos policiais-mediadores (Mouratildeo 2014 2015a)23 passando por inicia-tivas diversas dos chamados ldquopoliciais sociaisrdquo (Teixeira 2015) por promoccedilatildeo de festas eventos e passeios24 e por muito trabalho administrativo25 Nele cabem tambeacutem a regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades econocircmicas e de lazer nas favelas (Cano Borges e Ribeiro 2014 172 Soares 2015 230-1) um frenesi

de abordagens e apreensotildees de drogas a circulaccedilatildeo de mini-Bopes agrave caccedila de mini-traficantes (Esperanccedila 2014) e ateacute a ldquoaproximaccedilatildeo predatoacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) traduzida nas velhas praacuteticas de privatizaccedilatildeo de informaccedilotildees cor-rupccedilatildeo abuso de poder e violecircncia

Na borda desse espaccedilo como se veraacute existe ainda uma faixa de poli-ciais com atitudes de indiferenccedila ou descrenccedila quando natildeo de repulsa a qualquer espeacutecie de aproximaccedilatildeo com os moradores A frase ldquoproximidade eacute o caceterdquo ouvida de um policial de UPP por Vinicius Esperanccedila (2014 146) soa assim como eco perfeito agrave locuccedilatildeo ldquoUPP eacute o caralhordquo brandida por mora-dores refrataacuterios a qualquer tipo de aproximaccedilatildeo com a poliacutecia

ldquoINTRUSO MALTRATADO E ODIADOrdquo TENSOtildeES EM ALTA NA RELACcedilAtildeO POLIacuteCIACOMUNIDADE

Se o policiamento de proximidade foi pensado como ldquoestrateacutegia de cons-truccedilatildeo partilhada de legitimidade entre os policiais e destes com os cidadatildeosrdquo (Muniz e Mello 2015 52) natildeo sur-preende que aos tropeccedilos da ldquoproxi-midaderdquo correspondam sinais de cres-cente deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees do conviacutevio e dos graus de aceitaccedilatildeo da pre-senccedila policial por parte dos moradores de favelas com UPP Mais uma vez eacute necessaacuterio sublinhar duas limitaccedilotildees da nossa pesquisa que impotildeem ressalvas agrave anaacutelise (1) a impossibilidade de desa-gregar espacialmente os resultados logo de captar diferenccedilas entre as loca-lidades e dentro delas (2) o fato de o survey ter colhido apenas percepccedilotildees e opiniotildees dos policiais registrando portanto o que eles pensam que os moradores pensam deles natildeo necessa-riamente o que os moradores de fato

13

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

pensam Falta ainda um levantamen-to-espelho com perguntas aos resi-dentes anaacutelogas agraves respondidas pelos policiais capazes de identificar con-vergecircncias e divergecircncias entre essas percepccedilotildees que satildeo por definiccedilatildeo afe-tivas e subjetivas26

De todo modo ainda que geneacute-ricos e unilaterais extraem-se indiacutecios de deterioraccedilatildeo do ambiente nas UPPs comparando-se ao longo dos trecircs surveys as respostas sobre sentimentos que os policiais percebem na popu-laccedilatildeo Como mostra o Graacutefico 6 haacute uma progressiva e expressiva queda da per-cepccedilatildeo de sentimentos favoraacuteveis (sim-patia admiraccedilatildeo respeito aceitaccedilatildeo) e um aumento da sensaccedilatildeo de que pre-valecem a hostilidade a resistecircncia o medo a desconfianccedila e a rejeiccedilatildeo

Impressiona natildeo soacute o crescimento da parcela que se percebe malquista pela comunidade mas tambeacutem a ecircnfase

com que foram verbalizados os senti-mentos hostis na uacuteltima rodada da pes-quisa A pergunta do questionaacuterio trazia sete opccedilotildees fechadas entre elas ldquoraivardquo e um campo aberto para ldquooutros senti-mentosrdquo27 Mais de frac14 (273) das res-postas foram ldquoraivardquo mas em outras 9 os entrevistados natildeo se conten-taram com esse termo talvez por con-sideraacute-lo muito leve ou pouco espe-ciacutefico e fizeram questatildeo de carregar nas tintas utilizando o campo aberto para descrever melhor o que achavam que a maioria da populaccedilatildeo sentia por eles ldquooacutediordquo ldquooacutedio fatalrdquo ldquonojordquo ldquoascordquo ldquoaversatildeordquo ldquorepulsardquo ldquorepugnacircnciardquo ldquoojerizardquo ldquorancorrdquo ldquorevoltardquo ldquorejeiccedilatildeordquo ldquodesprezordquo ldquodesdeacutemrdquo e assim por diante Um dos entrevistados resumiu esse dra-maacutetico rol de sentimentos adversos com a frase ldquoeles nos detestamrdquo que tomamos emprestada para o tiacutetulo deste artigo E em resposta agrave pergunta sobre

GRAacuteFICO 6_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

HAacute UMA PROGRESSIVA E EXPRESSIVA QUEDA DA PERCEPCcedilAtildeO DE SENTIMENTOS FAVORAacuteVEIS E UM AUMENTO DA SENSACcedilAtildeO DE QUE PREVALECEM A HOSTILIDADE A RESISTEcircNCIA O MEDO A DESCONFIANCcedilA E A REJEICcedilAtildeOrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

14

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

motivos de insatisfaccedilatildeo com o trabalho em UPP que seraacute comentada mais adiante outro policial disse que aleacutem de ldquointrusordquo sentia-se ldquomaltratado e odiadordquo pela maioria da populaccedilatildeo

O Graacutefico 7 acima desagrega em alguns blocos de respostas os senti-mentos positivos negativos e neutros com que os policiais de UPP se veem tra-tados pelos moradores locais segundo os resultados da uacuteltima pesquisa Nunca eacute demais lembrar que esses resultados dizem respeito ao conjunto das UPPs e possivelmente ocultam grandes dife-renccedilas entre as 36 localidades assim como variaccedilotildees significativas dentro de cada uma delas

Agrave pergunta sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP o grupo mais frequente de respostas (281)

mencionava relaccedilatildeo ruim com os moradores enquanto soacute 92 referi-ram-se a boas relaccedilotildees com moradores como a melhor coisa do trabalho em UPP28 Aleacutem de percepccedilotildees e opiniotildees algumas experiecircncias vividas pelos policiais reforccedilam a impressatildeo de um ambiente muito hostil em boa parte dos territoacuterios ocupados Nota-se na Tabela 3 que nos uacuteltimos trecircs meses antes do survey 558 dos entrevistados haviam sido alvo pelo menos uma vez de algum objeto arremessado por moradores 618 natildeo haviam obtido resposta a um cumprimento 63 haviam-se sentido desrespeitados e 658 haviam sido xingados em pelo menos uma ocasiatildeo Soacute 37 no entanto disseram que algum(a) morador(a) prestara queixa contra eles durante esses trecircs meses

GRAacuteFICO 7_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

() ESPERANCcedilA CONFIANCcedilA FELICIDADE SEGURANCcedilA GRATIDAtildeO

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

15

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Reaccedilotildees anaacutelogas por parte de habitantes das favelas ndash arremesso de objetos e insultos ndash foram relatadas em pesquisas qualitativas no comeccedilo da instalaccedilatildeo das UPPs e associadas agrave resis-tecircncia ou desconfianccedila inicial dos mora-dores em relaccedilatildeo agrave presenccedila contiacutenua da poliacutecia nas comunidades (Cano Borges e Ribeiro 2014 181 Menezes 2014 671)29 Esperava-se que com o correr do tempo agrave medida que a con-vivecircncia e a proximidade produzisssem seus efeitos humanizadores essas mani-festaccedilotildees hostis tendessem a decrescer ndash o que de fato parece ter acontecido em algumas UPPs mais antigas pelo menos ateacute poucos anos atraacutes30 Mas natildeo soacute a tensatildeo se manteve alta em outras localidades como recentemente parte das favelas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada voltou a apresentar niacuteveis elevados de tensatildeo e desconfianccedila ndash situaccedilatildeo que o Graacutefico 6 acima em certa medida traduz e que se confirma em pesquisas qualitativas rea-lizadas nos uacuteltimos dois anos (Menezes 2014 Esperanccedila 2014 Soares 2015)

O discurso de alguns policiais e agraves vezes tambeacutem de moradores tende a associar esse aumento de tensotildees ao ldquoretorno do traacuteficordquo e agrave volta dos con-frontos armados em vaacuterias favelas com UPP tanto as de ocupaccedilatildeo recente

quanto algumas das mais antigas Temerosos com as consequecircncias do reempoderamento dos traficantes e pre-ocupados em natildeo se identificar como ldquoamigos da poliacuteciardquo os moradores teriam passado com mais frequecircncia a evitar o contato ou mesmo a mani-festar desapreccedilo e hostilidade contra os policiais Discutiremos mais agrave frente o tema do ldquoretornordquo e a interpretaccedilatildeo que tende a creditar-lhe inteiramente os tropeccedilos do policiamento de pro-ximidade Cabe ressaltar por ora que segundo observaccedilotildees etnograacuteficas feitas em 2013 e 2014 os conflitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo despontam em con-textos e por motivos diversos natildeo redu-tiacuteveis agrave equaccedilatildeo simplista hostilidade agrave poliacutecia = viacutenculos com o traacutefico

Quando os policiais recorriam ao capi-tal da forccedila fiacutesica para realizar prisotildees e apreensotildees os moradores muitas vezes praticavam atos de agressatildeo aos policiais estimulados por conflitos decorrentes de abordagens policiais tentativas de prisotildees interrupccedilotildees de festas Foram incontaacuteveis os relatos de policiais que receberam pedradas e ateacute gavetadas [sic] de moradores re-voltados Na favela da zona Norte um policial retornou agrave base com a cabeccedila aberta atingida pelas pedras Na favela da zona Sul ateacute crianccedilas se engajavam nas accedilotildees ldquoEu fiquei muito surpreso

TABELA 3_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES ( DE ENTREVISTADOS)

NENHUMA VEZ

UMA VEZ

ALGUMAS VEZES

MUITAS VEZES

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 442 84 227 247

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 342 58 233 367

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 370 67 234 329

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 382 40 241 337

MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 963 20 09 08

OS CONFLITOS ENTRE POLIacuteCIA E POPULACcedilAtildeO DESPONTAM EM CONTEXTOS E POR MOTIVOS DIVERSOS NAtildeO REDUTIacuteVEIS Agrave EQUACcedilAtildeO SIMPLISTA HOSTILIDADE Agrave POLIacuteCIA = VIacuteNCULOS COM O TRAacuteFICOrdquo

ldquo

16

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 6: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ldquoMuita teoria e pouca praacuteticardquo ldquomuito blaacute-blaacute-blaacuterdquo ldquoa realidade natildeo corresponde ao que eacute ensinado no cursordquo ldquofaltou mostrar o que eacute a rea-lidade da comunidade e que existem diferentes comunidadesrdquo ldquoo que se mostra eacute diferente do que vemos aquirdquo ldquofaltou psicologia para [lidar com] a hostilidade da comunidaderdquo ldquoa for-maccedilatildeo foi para batalhatildeo natildeo para UPPrdquo ldquoo estaacutegio foi feito na praiardquo [sic] ou ldquoem batalhatildeordquo quando ldquodeveria ter sido feito em UPPrdquo ndash satildeo algumas das respostas que ilustram essa criacutetica Seguem-se a ela 137 de apreciaccedilotildees negativas gerais sobre o curso (maacute qua-lidade dos professores e instrutores estrutura e organizaccedilatildeo ruins tudo ou quase tudo peacutessimo) e 8 de recla-maccedilotildees sobre o periacuteodo muito curto da formaccedilatildeo9

Jaacute se sublinhara na rodada anterior da pesquisa a grande defasagem exis-tente entre a pretensatildeo de disseminar um ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia baseado na noccedilatildeo de proximidade e a permanecircncia dos velhos conteuacutedos e meacutetodos de ensino oferecidos aos poli-ciais militares (cf Musumeci et al 2013 4-5 21) Ainda que com muito atraso ndash quase oito anos depois da inau-guraccedilatildeo da primeira UPP ndash a PMERJ promoveu recentemente uma atuali-zaccedilatildeo do Curso de Formaccedilatildeo de Sol-dados (CFSd) que deve entrar em vigor no final de 2015 A nova grade curri-cular natildeo soacute aumenta a carga horaacuteria total do curso de 1182 para 1437 horas como cria as disciplinas Poliacutecia de Pro-ximidade (pela fusatildeo das antigas Poli-ciamento Comunitaacuterio e Praacutetica Policial Cidadatilde) Tecnologias Natildeo-Letais (antes parte da disciplina Armamento) e Admi-nistraccedilatildeo Institucional de Conflitos antes inexistente Aleacutem disso o estaacutegio praacutetico passaraacute a durar dois meses e

todas as disciplinas do curso teratildeo de abordar ao menos trecircs estudos de caso (cf Cortes e Mazzurana 2015)

Tais mudanccedilas representam sem duacutevida um avanccedilo importante Resta saber se seratildeo suficientes para trans-formar o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo na ldquofilosofia () orientadora das formas de atuaccedilatildeo e policiamento da corporaccedilatildeordquo (idem 6) abrindo caminho para a superaccedilatildeo da loacutegica beacutelica hoje predominante E sobretudo se conseguiratildeo reduzir o abismo entre teoria e praacutetica no qual florescem o ldquocurriacuteculo ocultordquo e a ldquopedagogia informalrdquo muitas vezes em completa oposiccedilatildeo ao que os cursos formais pre-tendem transmitir

ldquoEstes procedimentos [informais] podem se tornar lesivos agrave proposta educacional oficial por concorrer ou desconstruir conteuacutedos do curriacuteculo formal quando trazem o entendimento de que a construccedilatildeo do que eacute ser e fa-zer poliacutecia ocorre exclusivamente pela tradiccedilatildeo (experiecircncia de trabalho dos mais antigos) e quando reforccedilam valo-res e atitudes contraacuterios aos explicita-dos no curriacuteculo formalrdquo (idem 8)

Como se veraacute logo a seguir a pesquisa do CESeC indica que estaacute ocorrendo nas UPPs uma crescente reproduccedilatildeo de concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia em detrimento do que possa ser entendido como ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo Natildeo eacute o caso de atribuir tal tendecircncia unicamente a lacunas de for-maccedilatildeo ou agrave vitoacuteria do curriacuteculo oculto Mas certamente reside aiacute um dos flancos deixados abertos ateacute agora pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo de favelas e soacute o futuro diraacute se e em que medida as inovaccedilotildees pedagoacutegicas de 2015 teratildeo sido capazes de reverter esse quadro No iniacutecio do programa quando questionados sobre

6

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a necessidade de mudanccedila urgente e radical na formaccedilatildeo dos policiais os gestores diziam que tinham de ldquotrocar o pneu com o carro andandordquo Resta torcer para que os oito anos de rodagem sem pneu natildeo tenham danificado de vez a roda e o eixo do carro

O QUE FOI FEITO DO POLICIAMENTO DE PROXIMIDADE

Ao lado das criacuteticas agrave formaccedilatildeo os resultados do levantamento de 2014 apontam uma fraca presenccedila quando natildeo um encolhimento de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo nas UPPs10 como mostra ao lado o Graacutefico 1

Vecirc-se que pouco mais de frac14 dos poli-ciais realizava com frequecircncia em 2014 algum tipo (natildeo especificado) de praacutetica de aproximaccedilatildeo com moradores menos de 20 buscavam levantar problemas da comunidade cerca de 14 realizavam frequentemente mediaccedilatildeo de conflitos pouco mais de 8 participavam de ati-vidades voltadas para crianccedilas ou jovens

GRAacuteFICO 1_ATIVIDADES DE ldquoPROXIMIDADErdquo QUE OS POLICIAIS DIZEM REALIZAR COM MUITA FREQUEcircNCIA NAS UPPS ( DE ENTREVISTADOS)

() OPCcedilOtildeES INCLUIacuteDAS SOacute NO QUESTIONAacuteRIO DE 2014

e soacute 53 participavam frequentemente de reuniotildees com moradores Observa-se aleacutem disso no Graacutefico 2 um progressivo decliacutenio dos percentuais de agentes que dizem manter algum contato com insti-tuiccedilotildees locais

GRAacuteFICO 2_INSTITUICcedilOtildeES COM QUE OS POLICIAIS MANTEcircM ALGUM CONTATO ( DE ENTREVISTADOS)

OS RESULTADOS APONTAM UMA FRACA PRESENCcedilA QUANDO NAtildeO UM ENCOLHIMENTO DE ATIVIDADES IDENTIFICAacuteVEIS AO lsquoPOLICIA-MENTO DE PROXIMIDADErsquo NAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

7

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Em compensaccedilatildeo vatildeo de 29 a 564 as parcelas de entrevistados na uacuteltima pesquisa que disseram fazer com muita frequecircncia prisotildees e apreensotildees recebimento de queixas registros de ocorrecircncias em delegacia e abordagem e revista de suspeitos ndash tarefas tiacutepicas do policiamento ostensivo tradicional (Graacutefico 3) Apesar de todos os percen-tuais desse grupo de atividades tambeacutem terem decrescido bastante desde 2012 ele parece ser bem mais generalizado no trabalho cotidiano dos policiais de UPP do que as praacuteticas indicativas de aproximaccedilatildeo e interlocuccedilatildeo com os moradores Os resultados confirmam assim uma tendecircncia jaacute apontada em pesquisas precedentes a restriccedilatildeo do chamado ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo a um grupo mais ou menos especializado de ldquoarticuladores comu-nitaacuteriosrdquo enquanto para a grande maioria dos policiais ldquoproximidaderdquo se traduziria apenas na presenccedila con-tiacutenua e ostensiva dentro das favelas

GRAacuteFICO 3_ATIVIDADES DE POLICIAMENTO CONVENCIONAL QUE OS POLICIAIS DIZEM REALIZAR COM MUITA FREQUEcircNCIA NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

() OPCcedilOtildeES INCLUIacuteDAS SOacute NO QUESTIONAacuteRIO DE 2014

com pouco ou nenhum diaacutelogo com a populaccedilatildeo local (Cano Borges e Ribeiro 2014 157 Musumeci et al 2013 17)

Outra indicaccedilatildeo de que o ldquonovo paradigmardquo de policiamento vem per-dendo terreno como mostra o Graacutefico 4 estaacute na reduccedilatildeo do percentual de policiais que dizem realizar ronda a peacute11 e no acreacutescimo dos que trabalham em patrulhas atualmente denominadas Grupamentos Taacuteticos de Poliacutecia de Proxi-midade (GTPP) Estas uacuteltimas apesar de trazerem ldquoproximidaderdquo no nome satildeo destacamentos ldquooperacionaisrdquo que transitam livremente por todas as ruas e becos da favela com policiais for-temente armados desempenhando tarefas eminentemente repressivas ou modos tradicionais de ldquoprevenccedilatildeo pro-ativardquo perseguiccedilatildeo agraves drogas agraves armas e aos ldquoesticasrdquo (pequenos traficantes que permanecem no territoacuterio) abordagem e revista de ldquosuspeitosrdquo contenccedilatildeo de protestos ou ldquoperturbaccedilotildees da ordemrdquo na comunidade Quando haacute situaccedilotildees

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

8

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

consideradas criacuteticas em outras UPPs o efetivo desses grupos pode ser des-locado temporariamente para apoiaacute-las (Albernaz e Mazzurana 2015 69)

Observaccedilotildees etnograacuteficas feitas por outros pesquisadores mostram que pelo menos em algumas favelas os inte-grantes dos GTPPs buscam mimetizar as tropas de elite dos batalhotildees (Gates) e das unidades especiais da PM (Bope BPChoque) podendo manter para tanto uma atitude deliberada de dis-tanciamento em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo O que inclui por exemplo natildeo cum-primentar os moradores e tratar com rispidez quando natildeo com violecircncia os incontaacuteveis ldquosuspeitosrdquo revistados dia-riamente (Esperanccedila 2014 137-43) Ou empenhar-se em exibiccedilotildees de forccedila que atemorizam a populaccedilatildeo e justificam o apelido de ldquobondesrdquo dado a esses desta-camentos em alguns lugares por ana-logia com os grupos de traficantes que com o mesmo propoacutesito desfilavam for-temente armados pelas ruas da comu-nidade (Soares 2015 287)12

A julgar por tais relatos chega a ser irocircnica a presenccedila da expressatildeo ldquopoliacutecia de proximidaderdquo no nome dos GTPPs

GRAacuteFICO 4_TIPO DE TRABALHO QUE OS POLICIAIS REALIZAM NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

salvo se ela abarcar a pura e simples coexistecircncia no territoacuterio ou os con-tatos verbais e fiacutesicos durante abor-dagens policiais Nem a proacutepria des-criccedilatildeo oficial fornece alguma pista do que possa significar ldquoproximidaderdquo num grupamento como esse definido da seguinte maneira

efetivo de uma patrulha com treina-mento operacional especializado e munida de equipamento especial em-pregada em accedilotildees de Poliacutecia Ostensiva especiacuteficas que demandam accedilatildeo raacutepida e repressatildeo qualificada Exemplos de sua atuaccedilatildeo controle de tumultos e accedilotildees para restauraccedilatildeo da ordem puacute-blica de maior magnitude Por suas caracteriacutesticas de natureza e emprego possuem base territorial ampla atuan-do em toda aacuterea da Unidade Policial de Proximidade respondendo diretamen-te ao Comandante desta (PMERJ Di-retriz Geral de Poliacutecia de Proximidade Boletim da PM n 139 2014 apud Viva Rio 2014 15-16 Cf tambeacutem Albernaz e Mazzurana 2015 69 71)13

A seacuterie de dados do ISP sobre as 36 UPPs abrangidas em 201414 reforccedila ainda mais os indiacutecios de reiteraccedilatildeo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

9

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

do velho paradigma de policiamento centrado em prisotildees e apreensotildees de drogas Como mostra o Graacutefico 5 agrave medida que a ldquopacificaccedilatildeordquo se estende a um nuacutemero maior de favelas cresce o volume de ocorrecircncias tradicional-mente usadas para aferir a ldquoproduccedilatildeo policialrdquo exceto no caso das armas apreendidas cujo nuacutemero diminui no periacuteodo15 Vale sublinhar que o aumento dos outros registros natildeo reflete necessa-riamente um aumento da criminalidade ou da quantidade de drogas em circu-laccedilatildeo assim como a queda do nuacutemero de armas apreendidas natildeo significa necessariamente que haja menos armas ilegais nas favelas O que essas ocor-recircncias informam sobretudo eacute o dire-cionamento dado ao trabalho policial15 E

o fato de elas terem crescido em todo o estado no mesmo periacuteodo indica que a ldquocaccedilardquo agraves drogas e aos traficantes con-tinuou sendo foco privilegiado da accedilatildeo policial dentro e fora das UPPs16

Voltando aos resultados do survey nota-se que o percentual de entrevis-tados em 2014 que disseram trabalhar a maior parte do tempo em GTPP (222) eacute apenas um pouco inferior ao dos que afirmaram realizar com frequecircncia alguma espeacutecie de atividade de apro-ximaccedilatildeo com os moradores (258) Isso poderia indicar agrave primeira vista uma especializaccedilatildeo dual e contradi-toacuteria nas UPPs de um lado ldquoarticu-ladores comunitaacuteriosrdquo mediadores de conflitos e ldquopoliciais sociaisrdquo que buscam desenvolver atividades capazes

GRAacuteFICO 5_OCORREcircNCIAS DE ldquoPRODUCcedilAtildeO POLICIALrdquo REGISTRADAS NOS TERRITOacuteRIOS DE 36 UPPs ndash 20072014 (NUacuteMERO-IacuteNDICE 2007=100)

A ldquoCACcedilArdquo AgraveS DROGAS E AOS TRAFICANTES CONTINUOU SENDO FOCO PRIVILEGIADO DA ACcedilAtildeO POLICIAL DENTRO E FORA DAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

10

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

de aproximaacute-los ao menos de alguns seg-mentos da populaccedilatildeo18 de outro mini--Bopes e mini-Choques cujas atuaccedilatildeo atitude e ideologia parecem destinadas a promover o movimento oposto de distanciamento e tensionamento das relaccedilotildees entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Essa imagem poreacutem pode resultar algo simplista Como mostram as Tabelas 1 e 2 a seguir existem de fato

diferenccedilas enormes entre as atividades dos que atuam em GTPPs e dos que trabalham a maior parte do tempo em outros tipos de serviccedilo especialmente quanto agrave frequecircncia de abordagens registros de ocorrecircncia prisotildees e apre-ensotildees19 Mas tambeacutem haacute uma surpre-endente convergecircncia no que se refere a praticas geneacutericas de aproximaccedilatildeo com moradores levantamento de

TABELA 1_ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM MUITA FREQUEcircNCIA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO PELOS POLICIAIS ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS 950 456

REGISTROS DE OCORREcircNCIA EM DELEGACIAS 712 213

PRISOtildeES E APREENSOtildeES 710 171

RECEBIMENTO DE QUEIXAS 318 286

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES 260 258

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS 227 189

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS 157 137

ATIVIDADES COM CRIANCcedilAS JOVENS OU IDOSOS 33 95

PARTICIPACcedilAtildeO EM REUNIOtildeES NA COMUNIDADE 14 64

TABELA2_OCORREcircNCIAS DE QUE OS POLICIAIS PARTICIPARAM PELO MENOS UMA VEZ NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO POR ELES REALIZADO A MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

APREENSAtildeO DE DROGAS 803 332

APREENSAtildeO DE CRIANCcedilA OU ADOLESCENTE INFRATOR 674 246

OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 529 251

USO DE ARMA DE FOGO PELO(A) POLICIAL 332 137

APREENSAtildeO DE ARMA(S) DE FOGO 239 57

USO DE ARMAMENTO ldquoMENOS LETALrdquo 221 11 1

11

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

problemas e ateacute mediaccedilatildeo de conflitos Em outras palavras trabalhar a maior parte do tempo em GTPP natildeo exclui necessariamente o envolvimento em algumas estrateacutegias de proximidade20 Satildeo bem poucos eacute verdade os policiais dos mini-Bopes com essa caracteriacutestica ldquohiacutebridardquo mas como se viu satildeo poucos tambeacutem os do restante da tropa que rea-lizam esforccedilos frequentes de aproxi-maccedilatildeo com os moradores pelo menos ateacute onde as categorias da nossa pesquisa permitem observar

A impressatildeo que se tem a partir dos resultados expostos nesta seccedilatildeo e tambeacutem da leitura de outros trabalhos recentes sobre UPPs eacute natildeo soacute de recuo como de persistecircncia de uma grande confusatildeo e indefiniccedilatildeo em torno do que signifique ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo21 Apresentado desde o iniacutecio como pedra angular do programa de ldquopacificaccedilatildeordquo esse tipo de policia-mento em 2014 quase sete anos apoacutes a inauguraccedilatildeo da primeira UPP ainda carecia de formalizaccedilatildeo doutrinaacuteria e metodoloacutegica de uma padronizaccedilatildeo miacutenima entre as unidades de insti-tucionalizaccedilatildeo dos canais de interlo-cuccedilatildeo entre policiais e moradores de mecanismos de accountability (controle monitoramento avaliaccedilatildeo) e como jaacute visto de conteuacutedos e meacutetodos de ensino adequados ao ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia que se pretendia imple-mentar nas favelas22

Eacute um dos idealizadores e primeiro coordenador das UPPs quem ressalta o contraste entre o baixo investimento na sistematizaccedilatildeo da ldquoproximidaderdquo e o minucioso planejamento das etapas ante-riores de ldquorecuperaccedilatildeordquo e ldquoestabilizaccedilatildeordquo dos territoacuterios ocupados pela poliacutecia

Apesar de todo esse detalhamento so-bre os preparativos do ambiente para a chegada da UPP em suas primeiras fases o plano em nenhum momento detalha o que eacute ou como se deva fazer a ldquoproximidaderdquo Trata-se portanto basicamente de uma ocupaccedilatildeo mili-tar jaacute que eacute niacutetida sua maior preocu-paccedilatildeo com as fases iniciais (I e II) em detrimento das uacuteltimas Essa lacuna que deveria ter sido preenchida pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP ndash por meio de um ldquoPrograma de Poliacutecia Pacificadorardquo como previa o decreto que estruturou a UPP encontra-se ateacute hoje aberta (Rodrigues 2014 76)

No iniacutecio diz o autor a lacuna pode ter favorecido em alguma medida o processo

porque lhe deu certa plasticidade praacute-tica deixando-o aberto agrave construccedilatildeo cotidiana por atores que normalmen-te natildeo participariam no caso de uma construccedilatildeo formal como lideranccedilas locais e policiais No entanto hoje com a ampliaccedilatildeo do programa ela soa mais como ameaccedila que como opor-tunidade para o seu gerenciamento estrateacutegico Assim ela tem sido preen-chida por um amplo referencial de fa-zeres que vai do ldquotiro-porrada-e-bom-bardquo expressatildeo usada para se referir agraves operaccedilotildees policiais baseadas na loacutegica da guerra ateacute a uma cosmeacutetica e nada instrumental ldquopoliacutecia boazinhardquo que vecirc na UPP a oportunidade de melho-rar a imagem da poliacutecia Eacute provaacutevel que os problemas por que passam atualmente as UPPs sobretudo nos casos de desvios e uso arbitraacuterio da forccedila tenham a ver com esse possiacutevel descontrole gerencial (idem 79)

Algum tempo apoacutes a implemen-taccedilatildeo ainda experimental das pri-meiras unidades esperava-se um esforccedilo concentrado de avaliaccedilatildeo de organizaccedilatildeo do conhecimento praacutetico

A IMPRESSAtildeO QUE SE TEM Eacute NAtildeO SOacute DE RECUO COMO DE PERSISTEcircNCIA DE UMA GRANDE CONFUSAtildeO E INDEFINICcedilAtildeO EM TORNO DO QUE SIGNIFIQUE lsquoPOLI-CIAMENTO DE PROXIMIDADErsquordquo

ldquo12

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

adquirido e de elaboraccedilatildeo de diretrizes para a replicaccedilatildeo e o gerenciamento do programa nas outras favelas Mesmo que devessem persistir graus de flexi-bilidade dadas as enormes diferenccedilas nos ambientes de atuaccedilatildeo do novo poli-ciamento era imprescindiacutevel que essa sistematizaccedilatildeo avanccedilasse antes que o vertiginoso crescimento do nuacutemero de UPPs e de policiais deixasse escapar do controle um dos pilares centrais do pro-grama a substituiccedilatildeo da truculecircncia do desrespeito e da ldquoguerrardquo pelo diaacutelogo com a populaccedilatildeo das favelas Na verdade em 2012 o ISP chegou a con-tratar a consultoria de universidades e institutos de pesquisa para o detalha-mento do ldquoPrograma de Poliacutecia Pacifi-cadorardquo mas soacute em 2015 o processo de formalizaccedilatildeo e institucionalizaccedilatildeo das UPPs parece estar sendo retomado (cf Albernaz e Mazzurana 2015)

Tal como as mudanccedilas introdu-zidas no curso de formaccedilatildeo mencio-nadas mais acima essa retomada eacute sem duacutevida auspiciosa Vale torcer para que sua aplicaccedilatildeo efetiva natildeo chegue tarde demais e para que ainda seja possiacutevel recobrar controle sobre o espaccedilo que ficou tanto tempo aberto agrave interpre-taccedilatildeo e ao exerciacutecio informais da ldquopro-ximidaderdquo Por ora esse espaccedilo mais parece um saco de gatos onde cabem desde a pura e simples presenccedila no territoacuterio ateacute estrateacutegias mais profis-sionalizadas de aproximaccedilatildeo como a dos policiais-mediadores (Mouratildeo 2014 2015a)23 passando por inicia-tivas diversas dos chamados ldquopoliciais sociaisrdquo (Teixeira 2015) por promoccedilatildeo de festas eventos e passeios24 e por muito trabalho administrativo25 Nele cabem tambeacutem a regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades econocircmicas e de lazer nas favelas (Cano Borges e Ribeiro 2014 172 Soares 2015 230-1) um frenesi

de abordagens e apreensotildees de drogas a circulaccedilatildeo de mini-Bopes agrave caccedila de mini-traficantes (Esperanccedila 2014) e ateacute a ldquoaproximaccedilatildeo predatoacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) traduzida nas velhas praacuteticas de privatizaccedilatildeo de informaccedilotildees cor-rupccedilatildeo abuso de poder e violecircncia

Na borda desse espaccedilo como se veraacute existe ainda uma faixa de poli-ciais com atitudes de indiferenccedila ou descrenccedila quando natildeo de repulsa a qualquer espeacutecie de aproximaccedilatildeo com os moradores A frase ldquoproximidade eacute o caceterdquo ouvida de um policial de UPP por Vinicius Esperanccedila (2014 146) soa assim como eco perfeito agrave locuccedilatildeo ldquoUPP eacute o caralhordquo brandida por mora-dores refrataacuterios a qualquer tipo de aproximaccedilatildeo com a poliacutecia

ldquoINTRUSO MALTRATADO E ODIADOrdquo TENSOtildeES EM ALTA NA RELACcedilAtildeO POLIacuteCIACOMUNIDADE

Se o policiamento de proximidade foi pensado como ldquoestrateacutegia de cons-truccedilatildeo partilhada de legitimidade entre os policiais e destes com os cidadatildeosrdquo (Muniz e Mello 2015 52) natildeo sur-preende que aos tropeccedilos da ldquoproxi-midaderdquo correspondam sinais de cres-cente deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees do conviacutevio e dos graus de aceitaccedilatildeo da pre-senccedila policial por parte dos moradores de favelas com UPP Mais uma vez eacute necessaacuterio sublinhar duas limitaccedilotildees da nossa pesquisa que impotildeem ressalvas agrave anaacutelise (1) a impossibilidade de desa-gregar espacialmente os resultados logo de captar diferenccedilas entre as loca-lidades e dentro delas (2) o fato de o survey ter colhido apenas percepccedilotildees e opiniotildees dos policiais registrando portanto o que eles pensam que os moradores pensam deles natildeo necessa-riamente o que os moradores de fato

13

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

pensam Falta ainda um levantamen-to-espelho com perguntas aos resi-dentes anaacutelogas agraves respondidas pelos policiais capazes de identificar con-vergecircncias e divergecircncias entre essas percepccedilotildees que satildeo por definiccedilatildeo afe-tivas e subjetivas26

De todo modo ainda que geneacute-ricos e unilaterais extraem-se indiacutecios de deterioraccedilatildeo do ambiente nas UPPs comparando-se ao longo dos trecircs surveys as respostas sobre sentimentos que os policiais percebem na popu-laccedilatildeo Como mostra o Graacutefico 6 haacute uma progressiva e expressiva queda da per-cepccedilatildeo de sentimentos favoraacuteveis (sim-patia admiraccedilatildeo respeito aceitaccedilatildeo) e um aumento da sensaccedilatildeo de que pre-valecem a hostilidade a resistecircncia o medo a desconfianccedila e a rejeiccedilatildeo

Impressiona natildeo soacute o crescimento da parcela que se percebe malquista pela comunidade mas tambeacutem a ecircnfase

com que foram verbalizados os senti-mentos hostis na uacuteltima rodada da pes-quisa A pergunta do questionaacuterio trazia sete opccedilotildees fechadas entre elas ldquoraivardquo e um campo aberto para ldquooutros senti-mentosrdquo27 Mais de frac14 (273) das res-postas foram ldquoraivardquo mas em outras 9 os entrevistados natildeo se conten-taram com esse termo talvez por con-sideraacute-lo muito leve ou pouco espe-ciacutefico e fizeram questatildeo de carregar nas tintas utilizando o campo aberto para descrever melhor o que achavam que a maioria da populaccedilatildeo sentia por eles ldquooacutediordquo ldquooacutedio fatalrdquo ldquonojordquo ldquoascordquo ldquoaversatildeordquo ldquorepulsardquo ldquorepugnacircnciardquo ldquoojerizardquo ldquorancorrdquo ldquorevoltardquo ldquorejeiccedilatildeordquo ldquodesprezordquo ldquodesdeacutemrdquo e assim por diante Um dos entrevistados resumiu esse dra-maacutetico rol de sentimentos adversos com a frase ldquoeles nos detestamrdquo que tomamos emprestada para o tiacutetulo deste artigo E em resposta agrave pergunta sobre

GRAacuteFICO 6_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

HAacute UMA PROGRESSIVA E EXPRESSIVA QUEDA DA PERCEPCcedilAtildeO DE SENTIMENTOS FAVORAacuteVEIS E UM AUMENTO DA SENSACcedilAtildeO DE QUE PREVALECEM A HOSTILIDADE A RESISTEcircNCIA O MEDO A DESCONFIANCcedilA E A REJEICcedilAtildeOrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

14

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

motivos de insatisfaccedilatildeo com o trabalho em UPP que seraacute comentada mais adiante outro policial disse que aleacutem de ldquointrusordquo sentia-se ldquomaltratado e odiadordquo pela maioria da populaccedilatildeo

O Graacutefico 7 acima desagrega em alguns blocos de respostas os senti-mentos positivos negativos e neutros com que os policiais de UPP se veem tra-tados pelos moradores locais segundo os resultados da uacuteltima pesquisa Nunca eacute demais lembrar que esses resultados dizem respeito ao conjunto das UPPs e possivelmente ocultam grandes dife-renccedilas entre as 36 localidades assim como variaccedilotildees significativas dentro de cada uma delas

Agrave pergunta sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP o grupo mais frequente de respostas (281)

mencionava relaccedilatildeo ruim com os moradores enquanto soacute 92 referi-ram-se a boas relaccedilotildees com moradores como a melhor coisa do trabalho em UPP28 Aleacutem de percepccedilotildees e opiniotildees algumas experiecircncias vividas pelos policiais reforccedilam a impressatildeo de um ambiente muito hostil em boa parte dos territoacuterios ocupados Nota-se na Tabela 3 que nos uacuteltimos trecircs meses antes do survey 558 dos entrevistados haviam sido alvo pelo menos uma vez de algum objeto arremessado por moradores 618 natildeo haviam obtido resposta a um cumprimento 63 haviam-se sentido desrespeitados e 658 haviam sido xingados em pelo menos uma ocasiatildeo Soacute 37 no entanto disseram que algum(a) morador(a) prestara queixa contra eles durante esses trecircs meses

GRAacuteFICO 7_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

() ESPERANCcedilA CONFIANCcedilA FELICIDADE SEGURANCcedilA GRATIDAtildeO

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

15

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Reaccedilotildees anaacutelogas por parte de habitantes das favelas ndash arremesso de objetos e insultos ndash foram relatadas em pesquisas qualitativas no comeccedilo da instalaccedilatildeo das UPPs e associadas agrave resis-tecircncia ou desconfianccedila inicial dos mora-dores em relaccedilatildeo agrave presenccedila contiacutenua da poliacutecia nas comunidades (Cano Borges e Ribeiro 2014 181 Menezes 2014 671)29 Esperava-se que com o correr do tempo agrave medida que a con-vivecircncia e a proximidade produzisssem seus efeitos humanizadores essas mani-festaccedilotildees hostis tendessem a decrescer ndash o que de fato parece ter acontecido em algumas UPPs mais antigas pelo menos ateacute poucos anos atraacutes30 Mas natildeo soacute a tensatildeo se manteve alta em outras localidades como recentemente parte das favelas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada voltou a apresentar niacuteveis elevados de tensatildeo e desconfianccedila ndash situaccedilatildeo que o Graacutefico 6 acima em certa medida traduz e que se confirma em pesquisas qualitativas rea-lizadas nos uacuteltimos dois anos (Menezes 2014 Esperanccedila 2014 Soares 2015)

O discurso de alguns policiais e agraves vezes tambeacutem de moradores tende a associar esse aumento de tensotildees ao ldquoretorno do traacuteficordquo e agrave volta dos con-frontos armados em vaacuterias favelas com UPP tanto as de ocupaccedilatildeo recente

quanto algumas das mais antigas Temerosos com as consequecircncias do reempoderamento dos traficantes e pre-ocupados em natildeo se identificar como ldquoamigos da poliacuteciardquo os moradores teriam passado com mais frequecircncia a evitar o contato ou mesmo a mani-festar desapreccedilo e hostilidade contra os policiais Discutiremos mais agrave frente o tema do ldquoretornordquo e a interpretaccedilatildeo que tende a creditar-lhe inteiramente os tropeccedilos do policiamento de pro-ximidade Cabe ressaltar por ora que segundo observaccedilotildees etnograacuteficas feitas em 2013 e 2014 os conflitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo despontam em con-textos e por motivos diversos natildeo redu-tiacuteveis agrave equaccedilatildeo simplista hostilidade agrave poliacutecia = viacutenculos com o traacutefico

Quando os policiais recorriam ao capi-tal da forccedila fiacutesica para realizar prisotildees e apreensotildees os moradores muitas vezes praticavam atos de agressatildeo aos policiais estimulados por conflitos decorrentes de abordagens policiais tentativas de prisotildees interrupccedilotildees de festas Foram incontaacuteveis os relatos de policiais que receberam pedradas e ateacute gavetadas [sic] de moradores re-voltados Na favela da zona Norte um policial retornou agrave base com a cabeccedila aberta atingida pelas pedras Na favela da zona Sul ateacute crianccedilas se engajavam nas accedilotildees ldquoEu fiquei muito surpreso

TABELA 3_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES ( DE ENTREVISTADOS)

NENHUMA VEZ

UMA VEZ

ALGUMAS VEZES

MUITAS VEZES

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 442 84 227 247

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 342 58 233 367

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 370 67 234 329

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 382 40 241 337

MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 963 20 09 08

OS CONFLITOS ENTRE POLIacuteCIA E POPULACcedilAtildeO DESPONTAM EM CONTEXTOS E POR MOTIVOS DIVERSOS NAtildeO REDUTIacuteVEIS Agrave EQUACcedilAtildeO SIMPLISTA HOSTILIDADE Agrave POLIacuteCIA = VIacuteNCULOS COM O TRAacuteFICOrdquo

ldquo

16

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 7: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a necessidade de mudanccedila urgente e radical na formaccedilatildeo dos policiais os gestores diziam que tinham de ldquotrocar o pneu com o carro andandordquo Resta torcer para que os oito anos de rodagem sem pneu natildeo tenham danificado de vez a roda e o eixo do carro

O QUE FOI FEITO DO POLICIAMENTO DE PROXIMIDADE

Ao lado das criacuteticas agrave formaccedilatildeo os resultados do levantamento de 2014 apontam uma fraca presenccedila quando natildeo um encolhimento de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de pro-ximidaderdquo nas UPPs10 como mostra ao lado o Graacutefico 1

Vecirc-se que pouco mais de frac14 dos poli-ciais realizava com frequecircncia em 2014 algum tipo (natildeo especificado) de praacutetica de aproximaccedilatildeo com moradores menos de 20 buscavam levantar problemas da comunidade cerca de 14 realizavam frequentemente mediaccedilatildeo de conflitos pouco mais de 8 participavam de ati-vidades voltadas para crianccedilas ou jovens

GRAacuteFICO 1_ATIVIDADES DE ldquoPROXIMIDADErdquo QUE OS POLICIAIS DIZEM REALIZAR COM MUITA FREQUEcircNCIA NAS UPPS ( DE ENTREVISTADOS)

() OPCcedilOtildeES INCLUIacuteDAS SOacute NO QUESTIONAacuteRIO DE 2014

e soacute 53 participavam frequentemente de reuniotildees com moradores Observa-se aleacutem disso no Graacutefico 2 um progressivo decliacutenio dos percentuais de agentes que dizem manter algum contato com insti-tuiccedilotildees locais

GRAacuteFICO 2_INSTITUICcedilOtildeES COM QUE OS POLICIAIS MANTEcircM ALGUM CONTATO ( DE ENTREVISTADOS)

OS RESULTADOS APONTAM UMA FRACA PRESENCcedilA QUANDO NAtildeO UM ENCOLHIMENTO DE ATIVIDADES IDENTIFICAacuteVEIS AO lsquoPOLICIA-MENTO DE PROXIMIDADErsquo NAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

7

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Em compensaccedilatildeo vatildeo de 29 a 564 as parcelas de entrevistados na uacuteltima pesquisa que disseram fazer com muita frequecircncia prisotildees e apreensotildees recebimento de queixas registros de ocorrecircncias em delegacia e abordagem e revista de suspeitos ndash tarefas tiacutepicas do policiamento ostensivo tradicional (Graacutefico 3) Apesar de todos os percen-tuais desse grupo de atividades tambeacutem terem decrescido bastante desde 2012 ele parece ser bem mais generalizado no trabalho cotidiano dos policiais de UPP do que as praacuteticas indicativas de aproximaccedilatildeo e interlocuccedilatildeo com os moradores Os resultados confirmam assim uma tendecircncia jaacute apontada em pesquisas precedentes a restriccedilatildeo do chamado ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo a um grupo mais ou menos especializado de ldquoarticuladores comu-nitaacuteriosrdquo enquanto para a grande maioria dos policiais ldquoproximidaderdquo se traduziria apenas na presenccedila con-tiacutenua e ostensiva dentro das favelas

GRAacuteFICO 3_ATIVIDADES DE POLICIAMENTO CONVENCIONAL QUE OS POLICIAIS DIZEM REALIZAR COM MUITA FREQUEcircNCIA NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

() OPCcedilOtildeES INCLUIacuteDAS SOacute NO QUESTIONAacuteRIO DE 2014

com pouco ou nenhum diaacutelogo com a populaccedilatildeo local (Cano Borges e Ribeiro 2014 157 Musumeci et al 2013 17)

Outra indicaccedilatildeo de que o ldquonovo paradigmardquo de policiamento vem per-dendo terreno como mostra o Graacutefico 4 estaacute na reduccedilatildeo do percentual de policiais que dizem realizar ronda a peacute11 e no acreacutescimo dos que trabalham em patrulhas atualmente denominadas Grupamentos Taacuteticos de Poliacutecia de Proxi-midade (GTPP) Estas uacuteltimas apesar de trazerem ldquoproximidaderdquo no nome satildeo destacamentos ldquooperacionaisrdquo que transitam livremente por todas as ruas e becos da favela com policiais for-temente armados desempenhando tarefas eminentemente repressivas ou modos tradicionais de ldquoprevenccedilatildeo pro-ativardquo perseguiccedilatildeo agraves drogas agraves armas e aos ldquoesticasrdquo (pequenos traficantes que permanecem no territoacuterio) abordagem e revista de ldquosuspeitosrdquo contenccedilatildeo de protestos ou ldquoperturbaccedilotildees da ordemrdquo na comunidade Quando haacute situaccedilotildees

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

8

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

consideradas criacuteticas em outras UPPs o efetivo desses grupos pode ser des-locado temporariamente para apoiaacute-las (Albernaz e Mazzurana 2015 69)

Observaccedilotildees etnograacuteficas feitas por outros pesquisadores mostram que pelo menos em algumas favelas os inte-grantes dos GTPPs buscam mimetizar as tropas de elite dos batalhotildees (Gates) e das unidades especiais da PM (Bope BPChoque) podendo manter para tanto uma atitude deliberada de dis-tanciamento em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo O que inclui por exemplo natildeo cum-primentar os moradores e tratar com rispidez quando natildeo com violecircncia os incontaacuteveis ldquosuspeitosrdquo revistados dia-riamente (Esperanccedila 2014 137-43) Ou empenhar-se em exibiccedilotildees de forccedila que atemorizam a populaccedilatildeo e justificam o apelido de ldquobondesrdquo dado a esses desta-camentos em alguns lugares por ana-logia com os grupos de traficantes que com o mesmo propoacutesito desfilavam for-temente armados pelas ruas da comu-nidade (Soares 2015 287)12

A julgar por tais relatos chega a ser irocircnica a presenccedila da expressatildeo ldquopoliacutecia de proximidaderdquo no nome dos GTPPs

GRAacuteFICO 4_TIPO DE TRABALHO QUE OS POLICIAIS REALIZAM NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

salvo se ela abarcar a pura e simples coexistecircncia no territoacuterio ou os con-tatos verbais e fiacutesicos durante abor-dagens policiais Nem a proacutepria des-criccedilatildeo oficial fornece alguma pista do que possa significar ldquoproximidaderdquo num grupamento como esse definido da seguinte maneira

efetivo de uma patrulha com treina-mento operacional especializado e munida de equipamento especial em-pregada em accedilotildees de Poliacutecia Ostensiva especiacuteficas que demandam accedilatildeo raacutepida e repressatildeo qualificada Exemplos de sua atuaccedilatildeo controle de tumultos e accedilotildees para restauraccedilatildeo da ordem puacute-blica de maior magnitude Por suas caracteriacutesticas de natureza e emprego possuem base territorial ampla atuan-do em toda aacuterea da Unidade Policial de Proximidade respondendo diretamen-te ao Comandante desta (PMERJ Di-retriz Geral de Poliacutecia de Proximidade Boletim da PM n 139 2014 apud Viva Rio 2014 15-16 Cf tambeacutem Albernaz e Mazzurana 2015 69 71)13

A seacuterie de dados do ISP sobre as 36 UPPs abrangidas em 201414 reforccedila ainda mais os indiacutecios de reiteraccedilatildeo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

9

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

do velho paradigma de policiamento centrado em prisotildees e apreensotildees de drogas Como mostra o Graacutefico 5 agrave medida que a ldquopacificaccedilatildeordquo se estende a um nuacutemero maior de favelas cresce o volume de ocorrecircncias tradicional-mente usadas para aferir a ldquoproduccedilatildeo policialrdquo exceto no caso das armas apreendidas cujo nuacutemero diminui no periacuteodo15 Vale sublinhar que o aumento dos outros registros natildeo reflete necessa-riamente um aumento da criminalidade ou da quantidade de drogas em circu-laccedilatildeo assim como a queda do nuacutemero de armas apreendidas natildeo significa necessariamente que haja menos armas ilegais nas favelas O que essas ocor-recircncias informam sobretudo eacute o dire-cionamento dado ao trabalho policial15 E

o fato de elas terem crescido em todo o estado no mesmo periacuteodo indica que a ldquocaccedilardquo agraves drogas e aos traficantes con-tinuou sendo foco privilegiado da accedilatildeo policial dentro e fora das UPPs16

Voltando aos resultados do survey nota-se que o percentual de entrevis-tados em 2014 que disseram trabalhar a maior parte do tempo em GTPP (222) eacute apenas um pouco inferior ao dos que afirmaram realizar com frequecircncia alguma espeacutecie de atividade de apro-ximaccedilatildeo com os moradores (258) Isso poderia indicar agrave primeira vista uma especializaccedilatildeo dual e contradi-toacuteria nas UPPs de um lado ldquoarticu-ladores comunitaacuteriosrdquo mediadores de conflitos e ldquopoliciais sociaisrdquo que buscam desenvolver atividades capazes

GRAacuteFICO 5_OCORREcircNCIAS DE ldquoPRODUCcedilAtildeO POLICIALrdquo REGISTRADAS NOS TERRITOacuteRIOS DE 36 UPPs ndash 20072014 (NUacuteMERO-IacuteNDICE 2007=100)

A ldquoCACcedilArdquo AgraveS DROGAS E AOS TRAFICANTES CONTINUOU SENDO FOCO PRIVILEGIADO DA ACcedilAtildeO POLICIAL DENTRO E FORA DAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

10

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

de aproximaacute-los ao menos de alguns seg-mentos da populaccedilatildeo18 de outro mini--Bopes e mini-Choques cujas atuaccedilatildeo atitude e ideologia parecem destinadas a promover o movimento oposto de distanciamento e tensionamento das relaccedilotildees entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Essa imagem poreacutem pode resultar algo simplista Como mostram as Tabelas 1 e 2 a seguir existem de fato

diferenccedilas enormes entre as atividades dos que atuam em GTPPs e dos que trabalham a maior parte do tempo em outros tipos de serviccedilo especialmente quanto agrave frequecircncia de abordagens registros de ocorrecircncia prisotildees e apre-ensotildees19 Mas tambeacutem haacute uma surpre-endente convergecircncia no que se refere a praticas geneacutericas de aproximaccedilatildeo com moradores levantamento de

TABELA 1_ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM MUITA FREQUEcircNCIA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO PELOS POLICIAIS ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS 950 456

REGISTROS DE OCORREcircNCIA EM DELEGACIAS 712 213

PRISOtildeES E APREENSOtildeES 710 171

RECEBIMENTO DE QUEIXAS 318 286

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES 260 258

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS 227 189

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS 157 137

ATIVIDADES COM CRIANCcedilAS JOVENS OU IDOSOS 33 95

PARTICIPACcedilAtildeO EM REUNIOtildeES NA COMUNIDADE 14 64

TABELA2_OCORREcircNCIAS DE QUE OS POLICIAIS PARTICIPARAM PELO MENOS UMA VEZ NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO POR ELES REALIZADO A MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

APREENSAtildeO DE DROGAS 803 332

APREENSAtildeO DE CRIANCcedilA OU ADOLESCENTE INFRATOR 674 246

OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 529 251

USO DE ARMA DE FOGO PELO(A) POLICIAL 332 137

APREENSAtildeO DE ARMA(S) DE FOGO 239 57

USO DE ARMAMENTO ldquoMENOS LETALrdquo 221 11 1

11

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

problemas e ateacute mediaccedilatildeo de conflitos Em outras palavras trabalhar a maior parte do tempo em GTPP natildeo exclui necessariamente o envolvimento em algumas estrateacutegias de proximidade20 Satildeo bem poucos eacute verdade os policiais dos mini-Bopes com essa caracteriacutestica ldquohiacutebridardquo mas como se viu satildeo poucos tambeacutem os do restante da tropa que rea-lizam esforccedilos frequentes de aproxi-maccedilatildeo com os moradores pelo menos ateacute onde as categorias da nossa pesquisa permitem observar

A impressatildeo que se tem a partir dos resultados expostos nesta seccedilatildeo e tambeacutem da leitura de outros trabalhos recentes sobre UPPs eacute natildeo soacute de recuo como de persistecircncia de uma grande confusatildeo e indefiniccedilatildeo em torno do que signifique ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo21 Apresentado desde o iniacutecio como pedra angular do programa de ldquopacificaccedilatildeordquo esse tipo de policia-mento em 2014 quase sete anos apoacutes a inauguraccedilatildeo da primeira UPP ainda carecia de formalizaccedilatildeo doutrinaacuteria e metodoloacutegica de uma padronizaccedilatildeo miacutenima entre as unidades de insti-tucionalizaccedilatildeo dos canais de interlo-cuccedilatildeo entre policiais e moradores de mecanismos de accountability (controle monitoramento avaliaccedilatildeo) e como jaacute visto de conteuacutedos e meacutetodos de ensino adequados ao ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia que se pretendia imple-mentar nas favelas22

Eacute um dos idealizadores e primeiro coordenador das UPPs quem ressalta o contraste entre o baixo investimento na sistematizaccedilatildeo da ldquoproximidaderdquo e o minucioso planejamento das etapas ante-riores de ldquorecuperaccedilatildeordquo e ldquoestabilizaccedilatildeordquo dos territoacuterios ocupados pela poliacutecia

Apesar de todo esse detalhamento so-bre os preparativos do ambiente para a chegada da UPP em suas primeiras fases o plano em nenhum momento detalha o que eacute ou como se deva fazer a ldquoproximidaderdquo Trata-se portanto basicamente de uma ocupaccedilatildeo mili-tar jaacute que eacute niacutetida sua maior preocu-paccedilatildeo com as fases iniciais (I e II) em detrimento das uacuteltimas Essa lacuna que deveria ter sido preenchida pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP ndash por meio de um ldquoPrograma de Poliacutecia Pacificadorardquo como previa o decreto que estruturou a UPP encontra-se ateacute hoje aberta (Rodrigues 2014 76)

No iniacutecio diz o autor a lacuna pode ter favorecido em alguma medida o processo

porque lhe deu certa plasticidade praacute-tica deixando-o aberto agrave construccedilatildeo cotidiana por atores que normalmen-te natildeo participariam no caso de uma construccedilatildeo formal como lideranccedilas locais e policiais No entanto hoje com a ampliaccedilatildeo do programa ela soa mais como ameaccedila que como opor-tunidade para o seu gerenciamento estrateacutegico Assim ela tem sido preen-chida por um amplo referencial de fa-zeres que vai do ldquotiro-porrada-e-bom-bardquo expressatildeo usada para se referir agraves operaccedilotildees policiais baseadas na loacutegica da guerra ateacute a uma cosmeacutetica e nada instrumental ldquopoliacutecia boazinhardquo que vecirc na UPP a oportunidade de melho-rar a imagem da poliacutecia Eacute provaacutevel que os problemas por que passam atualmente as UPPs sobretudo nos casos de desvios e uso arbitraacuterio da forccedila tenham a ver com esse possiacutevel descontrole gerencial (idem 79)

Algum tempo apoacutes a implemen-taccedilatildeo ainda experimental das pri-meiras unidades esperava-se um esforccedilo concentrado de avaliaccedilatildeo de organizaccedilatildeo do conhecimento praacutetico

A IMPRESSAtildeO QUE SE TEM Eacute NAtildeO SOacute DE RECUO COMO DE PERSISTEcircNCIA DE UMA GRANDE CONFUSAtildeO E INDEFINICcedilAtildeO EM TORNO DO QUE SIGNIFIQUE lsquoPOLI-CIAMENTO DE PROXIMIDADErsquordquo

ldquo12

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

adquirido e de elaboraccedilatildeo de diretrizes para a replicaccedilatildeo e o gerenciamento do programa nas outras favelas Mesmo que devessem persistir graus de flexi-bilidade dadas as enormes diferenccedilas nos ambientes de atuaccedilatildeo do novo poli-ciamento era imprescindiacutevel que essa sistematizaccedilatildeo avanccedilasse antes que o vertiginoso crescimento do nuacutemero de UPPs e de policiais deixasse escapar do controle um dos pilares centrais do pro-grama a substituiccedilatildeo da truculecircncia do desrespeito e da ldquoguerrardquo pelo diaacutelogo com a populaccedilatildeo das favelas Na verdade em 2012 o ISP chegou a con-tratar a consultoria de universidades e institutos de pesquisa para o detalha-mento do ldquoPrograma de Poliacutecia Pacifi-cadorardquo mas soacute em 2015 o processo de formalizaccedilatildeo e institucionalizaccedilatildeo das UPPs parece estar sendo retomado (cf Albernaz e Mazzurana 2015)

Tal como as mudanccedilas introdu-zidas no curso de formaccedilatildeo mencio-nadas mais acima essa retomada eacute sem duacutevida auspiciosa Vale torcer para que sua aplicaccedilatildeo efetiva natildeo chegue tarde demais e para que ainda seja possiacutevel recobrar controle sobre o espaccedilo que ficou tanto tempo aberto agrave interpre-taccedilatildeo e ao exerciacutecio informais da ldquopro-ximidaderdquo Por ora esse espaccedilo mais parece um saco de gatos onde cabem desde a pura e simples presenccedila no territoacuterio ateacute estrateacutegias mais profis-sionalizadas de aproximaccedilatildeo como a dos policiais-mediadores (Mouratildeo 2014 2015a)23 passando por inicia-tivas diversas dos chamados ldquopoliciais sociaisrdquo (Teixeira 2015) por promoccedilatildeo de festas eventos e passeios24 e por muito trabalho administrativo25 Nele cabem tambeacutem a regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades econocircmicas e de lazer nas favelas (Cano Borges e Ribeiro 2014 172 Soares 2015 230-1) um frenesi

de abordagens e apreensotildees de drogas a circulaccedilatildeo de mini-Bopes agrave caccedila de mini-traficantes (Esperanccedila 2014) e ateacute a ldquoaproximaccedilatildeo predatoacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) traduzida nas velhas praacuteticas de privatizaccedilatildeo de informaccedilotildees cor-rupccedilatildeo abuso de poder e violecircncia

Na borda desse espaccedilo como se veraacute existe ainda uma faixa de poli-ciais com atitudes de indiferenccedila ou descrenccedila quando natildeo de repulsa a qualquer espeacutecie de aproximaccedilatildeo com os moradores A frase ldquoproximidade eacute o caceterdquo ouvida de um policial de UPP por Vinicius Esperanccedila (2014 146) soa assim como eco perfeito agrave locuccedilatildeo ldquoUPP eacute o caralhordquo brandida por mora-dores refrataacuterios a qualquer tipo de aproximaccedilatildeo com a poliacutecia

ldquoINTRUSO MALTRATADO E ODIADOrdquo TENSOtildeES EM ALTA NA RELACcedilAtildeO POLIacuteCIACOMUNIDADE

Se o policiamento de proximidade foi pensado como ldquoestrateacutegia de cons-truccedilatildeo partilhada de legitimidade entre os policiais e destes com os cidadatildeosrdquo (Muniz e Mello 2015 52) natildeo sur-preende que aos tropeccedilos da ldquoproxi-midaderdquo correspondam sinais de cres-cente deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees do conviacutevio e dos graus de aceitaccedilatildeo da pre-senccedila policial por parte dos moradores de favelas com UPP Mais uma vez eacute necessaacuterio sublinhar duas limitaccedilotildees da nossa pesquisa que impotildeem ressalvas agrave anaacutelise (1) a impossibilidade de desa-gregar espacialmente os resultados logo de captar diferenccedilas entre as loca-lidades e dentro delas (2) o fato de o survey ter colhido apenas percepccedilotildees e opiniotildees dos policiais registrando portanto o que eles pensam que os moradores pensam deles natildeo necessa-riamente o que os moradores de fato

13

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

pensam Falta ainda um levantamen-to-espelho com perguntas aos resi-dentes anaacutelogas agraves respondidas pelos policiais capazes de identificar con-vergecircncias e divergecircncias entre essas percepccedilotildees que satildeo por definiccedilatildeo afe-tivas e subjetivas26

De todo modo ainda que geneacute-ricos e unilaterais extraem-se indiacutecios de deterioraccedilatildeo do ambiente nas UPPs comparando-se ao longo dos trecircs surveys as respostas sobre sentimentos que os policiais percebem na popu-laccedilatildeo Como mostra o Graacutefico 6 haacute uma progressiva e expressiva queda da per-cepccedilatildeo de sentimentos favoraacuteveis (sim-patia admiraccedilatildeo respeito aceitaccedilatildeo) e um aumento da sensaccedilatildeo de que pre-valecem a hostilidade a resistecircncia o medo a desconfianccedila e a rejeiccedilatildeo

Impressiona natildeo soacute o crescimento da parcela que se percebe malquista pela comunidade mas tambeacutem a ecircnfase

com que foram verbalizados os senti-mentos hostis na uacuteltima rodada da pes-quisa A pergunta do questionaacuterio trazia sete opccedilotildees fechadas entre elas ldquoraivardquo e um campo aberto para ldquooutros senti-mentosrdquo27 Mais de frac14 (273) das res-postas foram ldquoraivardquo mas em outras 9 os entrevistados natildeo se conten-taram com esse termo talvez por con-sideraacute-lo muito leve ou pouco espe-ciacutefico e fizeram questatildeo de carregar nas tintas utilizando o campo aberto para descrever melhor o que achavam que a maioria da populaccedilatildeo sentia por eles ldquooacutediordquo ldquooacutedio fatalrdquo ldquonojordquo ldquoascordquo ldquoaversatildeordquo ldquorepulsardquo ldquorepugnacircnciardquo ldquoojerizardquo ldquorancorrdquo ldquorevoltardquo ldquorejeiccedilatildeordquo ldquodesprezordquo ldquodesdeacutemrdquo e assim por diante Um dos entrevistados resumiu esse dra-maacutetico rol de sentimentos adversos com a frase ldquoeles nos detestamrdquo que tomamos emprestada para o tiacutetulo deste artigo E em resposta agrave pergunta sobre

GRAacuteFICO 6_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

HAacute UMA PROGRESSIVA E EXPRESSIVA QUEDA DA PERCEPCcedilAtildeO DE SENTIMENTOS FAVORAacuteVEIS E UM AUMENTO DA SENSACcedilAtildeO DE QUE PREVALECEM A HOSTILIDADE A RESISTEcircNCIA O MEDO A DESCONFIANCcedilA E A REJEICcedilAtildeOrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

14

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

motivos de insatisfaccedilatildeo com o trabalho em UPP que seraacute comentada mais adiante outro policial disse que aleacutem de ldquointrusordquo sentia-se ldquomaltratado e odiadordquo pela maioria da populaccedilatildeo

O Graacutefico 7 acima desagrega em alguns blocos de respostas os senti-mentos positivos negativos e neutros com que os policiais de UPP se veem tra-tados pelos moradores locais segundo os resultados da uacuteltima pesquisa Nunca eacute demais lembrar que esses resultados dizem respeito ao conjunto das UPPs e possivelmente ocultam grandes dife-renccedilas entre as 36 localidades assim como variaccedilotildees significativas dentro de cada uma delas

Agrave pergunta sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP o grupo mais frequente de respostas (281)

mencionava relaccedilatildeo ruim com os moradores enquanto soacute 92 referi-ram-se a boas relaccedilotildees com moradores como a melhor coisa do trabalho em UPP28 Aleacutem de percepccedilotildees e opiniotildees algumas experiecircncias vividas pelos policiais reforccedilam a impressatildeo de um ambiente muito hostil em boa parte dos territoacuterios ocupados Nota-se na Tabela 3 que nos uacuteltimos trecircs meses antes do survey 558 dos entrevistados haviam sido alvo pelo menos uma vez de algum objeto arremessado por moradores 618 natildeo haviam obtido resposta a um cumprimento 63 haviam-se sentido desrespeitados e 658 haviam sido xingados em pelo menos uma ocasiatildeo Soacute 37 no entanto disseram que algum(a) morador(a) prestara queixa contra eles durante esses trecircs meses

GRAacuteFICO 7_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

() ESPERANCcedilA CONFIANCcedilA FELICIDADE SEGURANCcedilA GRATIDAtildeO

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

15

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Reaccedilotildees anaacutelogas por parte de habitantes das favelas ndash arremesso de objetos e insultos ndash foram relatadas em pesquisas qualitativas no comeccedilo da instalaccedilatildeo das UPPs e associadas agrave resis-tecircncia ou desconfianccedila inicial dos mora-dores em relaccedilatildeo agrave presenccedila contiacutenua da poliacutecia nas comunidades (Cano Borges e Ribeiro 2014 181 Menezes 2014 671)29 Esperava-se que com o correr do tempo agrave medida que a con-vivecircncia e a proximidade produzisssem seus efeitos humanizadores essas mani-festaccedilotildees hostis tendessem a decrescer ndash o que de fato parece ter acontecido em algumas UPPs mais antigas pelo menos ateacute poucos anos atraacutes30 Mas natildeo soacute a tensatildeo se manteve alta em outras localidades como recentemente parte das favelas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada voltou a apresentar niacuteveis elevados de tensatildeo e desconfianccedila ndash situaccedilatildeo que o Graacutefico 6 acima em certa medida traduz e que se confirma em pesquisas qualitativas rea-lizadas nos uacuteltimos dois anos (Menezes 2014 Esperanccedila 2014 Soares 2015)

O discurso de alguns policiais e agraves vezes tambeacutem de moradores tende a associar esse aumento de tensotildees ao ldquoretorno do traacuteficordquo e agrave volta dos con-frontos armados em vaacuterias favelas com UPP tanto as de ocupaccedilatildeo recente

quanto algumas das mais antigas Temerosos com as consequecircncias do reempoderamento dos traficantes e pre-ocupados em natildeo se identificar como ldquoamigos da poliacuteciardquo os moradores teriam passado com mais frequecircncia a evitar o contato ou mesmo a mani-festar desapreccedilo e hostilidade contra os policiais Discutiremos mais agrave frente o tema do ldquoretornordquo e a interpretaccedilatildeo que tende a creditar-lhe inteiramente os tropeccedilos do policiamento de pro-ximidade Cabe ressaltar por ora que segundo observaccedilotildees etnograacuteficas feitas em 2013 e 2014 os conflitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo despontam em con-textos e por motivos diversos natildeo redu-tiacuteveis agrave equaccedilatildeo simplista hostilidade agrave poliacutecia = viacutenculos com o traacutefico

Quando os policiais recorriam ao capi-tal da forccedila fiacutesica para realizar prisotildees e apreensotildees os moradores muitas vezes praticavam atos de agressatildeo aos policiais estimulados por conflitos decorrentes de abordagens policiais tentativas de prisotildees interrupccedilotildees de festas Foram incontaacuteveis os relatos de policiais que receberam pedradas e ateacute gavetadas [sic] de moradores re-voltados Na favela da zona Norte um policial retornou agrave base com a cabeccedila aberta atingida pelas pedras Na favela da zona Sul ateacute crianccedilas se engajavam nas accedilotildees ldquoEu fiquei muito surpreso

TABELA 3_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES ( DE ENTREVISTADOS)

NENHUMA VEZ

UMA VEZ

ALGUMAS VEZES

MUITAS VEZES

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 442 84 227 247

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 342 58 233 367

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 370 67 234 329

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 382 40 241 337

MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 963 20 09 08

OS CONFLITOS ENTRE POLIacuteCIA E POPULACcedilAtildeO DESPONTAM EM CONTEXTOS E POR MOTIVOS DIVERSOS NAtildeO REDUTIacuteVEIS Agrave EQUACcedilAtildeO SIMPLISTA HOSTILIDADE Agrave POLIacuteCIA = VIacuteNCULOS COM O TRAacuteFICOrdquo

ldquo

16

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 8: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Em compensaccedilatildeo vatildeo de 29 a 564 as parcelas de entrevistados na uacuteltima pesquisa que disseram fazer com muita frequecircncia prisotildees e apreensotildees recebimento de queixas registros de ocorrecircncias em delegacia e abordagem e revista de suspeitos ndash tarefas tiacutepicas do policiamento ostensivo tradicional (Graacutefico 3) Apesar de todos os percen-tuais desse grupo de atividades tambeacutem terem decrescido bastante desde 2012 ele parece ser bem mais generalizado no trabalho cotidiano dos policiais de UPP do que as praacuteticas indicativas de aproximaccedilatildeo e interlocuccedilatildeo com os moradores Os resultados confirmam assim uma tendecircncia jaacute apontada em pesquisas precedentes a restriccedilatildeo do chamado ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo a um grupo mais ou menos especializado de ldquoarticuladores comu-nitaacuteriosrdquo enquanto para a grande maioria dos policiais ldquoproximidaderdquo se traduziria apenas na presenccedila con-tiacutenua e ostensiva dentro das favelas

GRAacuteFICO 3_ATIVIDADES DE POLICIAMENTO CONVENCIONAL QUE OS POLICIAIS DIZEM REALIZAR COM MUITA FREQUEcircNCIA NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

() OPCcedilOtildeES INCLUIacuteDAS SOacute NO QUESTIONAacuteRIO DE 2014

com pouco ou nenhum diaacutelogo com a populaccedilatildeo local (Cano Borges e Ribeiro 2014 157 Musumeci et al 2013 17)

Outra indicaccedilatildeo de que o ldquonovo paradigmardquo de policiamento vem per-dendo terreno como mostra o Graacutefico 4 estaacute na reduccedilatildeo do percentual de policiais que dizem realizar ronda a peacute11 e no acreacutescimo dos que trabalham em patrulhas atualmente denominadas Grupamentos Taacuteticos de Poliacutecia de Proxi-midade (GTPP) Estas uacuteltimas apesar de trazerem ldquoproximidaderdquo no nome satildeo destacamentos ldquooperacionaisrdquo que transitam livremente por todas as ruas e becos da favela com policiais for-temente armados desempenhando tarefas eminentemente repressivas ou modos tradicionais de ldquoprevenccedilatildeo pro-ativardquo perseguiccedilatildeo agraves drogas agraves armas e aos ldquoesticasrdquo (pequenos traficantes que permanecem no territoacuterio) abordagem e revista de ldquosuspeitosrdquo contenccedilatildeo de protestos ou ldquoperturbaccedilotildees da ordemrdquo na comunidade Quando haacute situaccedilotildees

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

8

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

consideradas criacuteticas em outras UPPs o efetivo desses grupos pode ser des-locado temporariamente para apoiaacute-las (Albernaz e Mazzurana 2015 69)

Observaccedilotildees etnograacuteficas feitas por outros pesquisadores mostram que pelo menos em algumas favelas os inte-grantes dos GTPPs buscam mimetizar as tropas de elite dos batalhotildees (Gates) e das unidades especiais da PM (Bope BPChoque) podendo manter para tanto uma atitude deliberada de dis-tanciamento em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo O que inclui por exemplo natildeo cum-primentar os moradores e tratar com rispidez quando natildeo com violecircncia os incontaacuteveis ldquosuspeitosrdquo revistados dia-riamente (Esperanccedila 2014 137-43) Ou empenhar-se em exibiccedilotildees de forccedila que atemorizam a populaccedilatildeo e justificam o apelido de ldquobondesrdquo dado a esses desta-camentos em alguns lugares por ana-logia com os grupos de traficantes que com o mesmo propoacutesito desfilavam for-temente armados pelas ruas da comu-nidade (Soares 2015 287)12

A julgar por tais relatos chega a ser irocircnica a presenccedila da expressatildeo ldquopoliacutecia de proximidaderdquo no nome dos GTPPs

GRAacuteFICO 4_TIPO DE TRABALHO QUE OS POLICIAIS REALIZAM NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

salvo se ela abarcar a pura e simples coexistecircncia no territoacuterio ou os con-tatos verbais e fiacutesicos durante abor-dagens policiais Nem a proacutepria des-criccedilatildeo oficial fornece alguma pista do que possa significar ldquoproximidaderdquo num grupamento como esse definido da seguinte maneira

efetivo de uma patrulha com treina-mento operacional especializado e munida de equipamento especial em-pregada em accedilotildees de Poliacutecia Ostensiva especiacuteficas que demandam accedilatildeo raacutepida e repressatildeo qualificada Exemplos de sua atuaccedilatildeo controle de tumultos e accedilotildees para restauraccedilatildeo da ordem puacute-blica de maior magnitude Por suas caracteriacutesticas de natureza e emprego possuem base territorial ampla atuan-do em toda aacuterea da Unidade Policial de Proximidade respondendo diretamen-te ao Comandante desta (PMERJ Di-retriz Geral de Poliacutecia de Proximidade Boletim da PM n 139 2014 apud Viva Rio 2014 15-16 Cf tambeacutem Albernaz e Mazzurana 2015 69 71)13

A seacuterie de dados do ISP sobre as 36 UPPs abrangidas em 201414 reforccedila ainda mais os indiacutecios de reiteraccedilatildeo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

9

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

do velho paradigma de policiamento centrado em prisotildees e apreensotildees de drogas Como mostra o Graacutefico 5 agrave medida que a ldquopacificaccedilatildeordquo se estende a um nuacutemero maior de favelas cresce o volume de ocorrecircncias tradicional-mente usadas para aferir a ldquoproduccedilatildeo policialrdquo exceto no caso das armas apreendidas cujo nuacutemero diminui no periacuteodo15 Vale sublinhar que o aumento dos outros registros natildeo reflete necessa-riamente um aumento da criminalidade ou da quantidade de drogas em circu-laccedilatildeo assim como a queda do nuacutemero de armas apreendidas natildeo significa necessariamente que haja menos armas ilegais nas favelas O que essas ocor-recircncias informam sobretudo eacute o dire-cionamento dado ao trabalho policial15 E

o fato de elas terem crescido em todo o estado no mesmo periacuteodo indica que a ldquocaccedilardquo agraves drogas e aos traficantes con-tinuou sendo foco privilegiado da accedilatildeo policial dentro e fora das UPPs16

Voltando aos resultados do survey nota-se que o percentual de entrevis-tados em 2014 que disseram trabalhar a maior parte do tempo em GTPP (222) eacute apenas um pouco inferior ao dos que afirmaram realizar com frequecircncia alguma espeacutecie de atividade de apro-ximaccedilatildeo com os moradores (258) Isso poderia indicar agrave primeira vista uma especializaccedilatildeo dual e contradi-toacuteria nas UPPs de um lado ldquoarticu-ladores comunitaacuteriosrdquo mediadores de conflitos e ldquopoliciais sociaisrdquo que buscam desenvolver atividades capazes

GRAacuteFICO 5_OCORREcircNCIAS DE ldquoPRODUCcedilAtildeO POLICIALrdquo REGISTRADAS NOS TERRITOacuteRIOS DE 36 UPPs ndash 20072014 (NUacuteMERO-IacuteNDICE 2007=100)

A ldquoCACcedilArdquo AgraveS DROGAS E AOS TRAFICANTES CONTINUOU SENDO FOCO PRIVILEGIADO DA ACcedilAtildeO POLICIAL DENTRO E FORA DAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

10

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

de aproximaacute-los ao menos de alguns seg-mentos da populaccedilatildeo18 de outro mini--Bopes e mini-Choques cujas atuaccedilatildeo atitude e ideologia parecem destinadas a promover o movimento oposto de distanciamento e tensionamento das relaccedilotildees entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Essa imagem poreacutem pode resultar algo simplista Como mostram as Tabelas 1 e 2 a seguir existem de fato

diferenccedilas enormes entre as atividades dos que atuam em GTPPs e dos que trabalham a maior parte do tempo em outros tipos de serviccedilo especialmente quanto agrave frequecircncia de abordagens registros de ocorrecircncia prisotildees e apre-ensotildees19 Mas tambeacutem haacute uma surpre-endente convergecircncia no que se refere a praticas geneacutericas de aproximaccedilatildeo com moradores levantamento de

TABELA 1_ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM MUITA FREQUEcircNCIA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO PELOS POLICIAIS ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS 950 456

REGISTROS DE OCORREcircNCIA EM DELEGACIAS 712 213

PRISOtildeES E APREENSOtildeES 710 171

RECEBIMENTO DE QUEIXAS 318 286

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES 260 258

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS 227 189

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS 157 137

ATIVIDADES COM CRIANCcedilAS JOVENS OU IDOSOS 33 95

PARTICIPACcedilAtildeO EM REUNIOtildeES NA COMUNIDADE 14 64

TABELA2_OCORREcircNCIAS DE QUE OS POLICIAIS PARTICIPARAM PELO MENOS UMA VEZ NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO POR ELES REALIZADO A MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

APREENSAtildeO DE DROGAS 803 332

APREENSAtildeO DE CRIANCcedilA OU ADOLESCENTE INFRATOR 674 246

OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 529 251

USO DE ARMA DE FOGO PELO(A) POLICIAL 332 137

APREENSAtildeO DE ARMA(S) DE FOGO 239 57

USO DE ARMAMENTO ldquoMENOS LETALrdquo 221 11 1

11

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

problemas e ateacute mediaccedilatildeo de conflitos Em outras palavras trabalhar a maior parte do tempo em GTPP natildeo exclui necessariamente o envolvimento em algumas estrateacutegias de proximidade20 Satildeo bem poucos eacute verdade os policiais dos mini-Bopes com essa caracteriacutestica ldquohiacutebridardquo mas como se viu satildeo poucos tambeacutem os do restante da tropa que rea-lizam esforccedilos frequentes de aproxi-maccedilatildeo com os moradores pelo menos ateacute onde as categorias da nossa pesquisa permitem observar

A impressatildeo que se tem a partir dos resultados expostos nesta seccedilatildeo e tambeacutem da leitura de outros trabalhos recentes sobre UPPs eacute natildeo soacute de recuo como de persistecircncia de uma grande confusatildeo e indefiniccedilatildeo em torno do que signifique ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo21 Apresentado desde o iniacutecio como pedra angular do programa de ldquopacificaccedilatildeordquo esse tipo de policia-mento em 2014 quase sete anos apoacutes a inauguraccedilatildeo da primeira UPP ainda carecia de formalizaccedilatildeo doutrinaacuteria e metodoloacutegica de uma padronizaccedilatildeo miacutenima entre as unidades de insti-tucionalizaccedilatildeo dos canais de interlo-cuccedilatildeo entre policiais e moradores de mecanismos de accountability (controle monitoramento avaliaccedilatildeo) e como jaacute visto de conteuacutedos e meacutetodos de ensino adequados ao ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia que se pretendia imple-mentar nas favelas22

Eacute um dos idealizadores e primeiro coordenador das UPPs quem ressalta o contraste entre o baixo investimento na sistematizaccedilatildeo da ldquoproximidaderdquo e o minucioso planejamento das etapas ante-riores de ldquorecuperaccedilatildeordquo e ldquoestabilizaccedilatildeordquo dos territoacuterios ocupados pela poliacutecia

Apesar de todo esse detalhamento so-bre os preparativos do ambiente para a chegada da UPP em suas primeiras fases o plano em nenhum momento detalha o que eacute ou como se deva fazer a ldquoproximidaderdquo Trata-se portanto basicamente de uma ocupaccedilatildeo mili-tar jaacute que eacute niacutetida sua maior preocu-paccedilatildeo com as fases iniciais (I e II) em detrimento das uacuteltimas Essa lacuna que deveria ter sido preenchida pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP ndash por meio de um ldquoPrograma de Poliacutecia Pacificadorardquo como previa o decreto que estruturou a UPP encontra-se ateacute hoje aberta (Rodrigues 2014 76)

No iniacutecio diz o autor a lacuna pode ter favorecido em alguma medida o processo

porque lhe deu certa plasticidade praacute-tica deixando-o aberto agrave construccedilatildeo cotidiana por atores que normalmen-te natildeo participariam no caso de uma construccedilatildeo formal como lideranccedilas locais e policiais No entanto hoje com a ampliaccedilatildeo do programa ela soa mais como ameaccedila que como opor-tunidade para o seu gerenciamento estrateacutegico Assim ela tem sido preen-chida por um amplo referencial de fa-zeres que vai do ldquotiro-porrada-e-bom-bardquo expressatildeo usada para se referir agraves operaccedilotildees policiais baseadas na loacutegica da guerra ateacute a uma cosmeacutetica e nada instrumental ldquopoliacutecia boazinhardquo que vecirc na UPP a oportunidade de melho-rar a imagem da poliacutecia Eacute provaacutevel que os problemas por que passam atualmente as UPPs sobretudo nos casos de desvios e uso arbitraacuterio da forccedila tenham a ver com esse possiacutevel descontrole gerencial (idem 79)

Algum tempo apoacutes a implemen-taccedilatildeo ainda experimental das pri-meiras unidades esperava-se um esforccedilo concentrado de avaliaccedilatildeo de organizaccedilatildeo do conhecimento praacutetico

A IMPRESSAtildeO QUE SE TEM Eacute NAtildeO SOacute DE RECUO COMO DE PERSISTEcircNCIA DE UMA GRANDE CONFUSAtildeO E INDEFINICcedilAtildeO EM TORNO DO QUE SIGNIFIQUE lsquoPOLI-CIAMENTO DE PROXIMIDADErsquordquo

ldquo12

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

adquirido e de elaboraccedilatildeo de diretrizes para a replicaccedilatildeo e o gerenciamento do programa nas outras favelas Mesmo que devessem persistir graus de flexi-bilidade dadas as enormes diferenccedilas nos ambientes de atuaccedilatildeo do novo poli-ciamento era imprescindiacutevel que essa sistematizaccedilatildeo avanccedilasse antes que o vertiginoso crescimento do nuacutemero de UPPs e de policiais deixasse escapar do controle um dos pilares centrais do pro-grama a substituiccedilatildeo da truculecircncia do desrespeito e da ldquoguerrardquo pelo diaacutelogo com a populaccedilatildeo das favelas Na verdade em 2012 o ISP chegou a con-tratar a consultoria de universidades e institutos de pesquisa para o detalha-mento do ldquoPrograma de Poliacutecia Pacifi-cadorardquo mas soacute em 2015 o processo de formalizaccedilatildeo e institucionalizaccedilatildeo das UPPs parece estar sendo retomado (cf Albernaz e Mazzurana 2015)

Tal como as mudanccedilas introdu-zidas no curso de formaccedilatildeo mencio-nadas mais acima essa retomada eacute sem duacutevida auspiciosa Vale torcer para que sua aplicaccedilatildeo efetiva natildeo chegue tarde demais e para que ainda seja possiacutevel recobrar controle sobre o espaccedilo que ficou tanto tempo aberto agrave interpre-taccedilatildeo e ao exerciacutecio informais da ldquopro-ximidaderdquo Por ora esse espaccedilo mais parece um saco de gatos onde cabem desde a pura e simples presenccedila no territoacuterio ateacute estrateacutegias mais profis-sionalizadas de aproximaccedilatildeo como a dos policiais-mediadores (Mouratildeo 2014 2015a)23 passando por inicia-tivas diversas dos chamados ldquopoliciais sociaisrdquo (Teixeira 2015) por promoccedilatildeo de festas eventos e passeios24 e por muito trabalho administrativo25 Nele cabem tambeacutem a regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades econocircmicas e de lazer nas favelas (Cano Borges e Ribeiro 2014 172 Soares 2015 230-1) um frenesi

de abordagens e apreensotildees de drogas a circulaccedilatildeo de mini-Bopes agrave caccedila de mini-traficantes (Esperanccedila 2014) e ateacute a ldquoaproximaccedilatildeo predatoacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) traduzida nas velhas praacuteticas de privatizaccedilatildeo de informaccedilotildees cor-rupccedilatildeo abuso de poder e violecircncia

Na borda desse espaccedilo como se veraacute existe ainda uma faixa de poli-ciais com atitudes de indiferenccedila ou descrenccedila quando natildeo de repulsa a qualquer espeacutecie de aproximaccedilatildeo com os moradores A frase ldquoproximidade eacute o caceterdquo ouvida de um policial de UPP por Vinicius Esperanccedila (2014 146) soa assim como eco perfeito agrave locuccedilatildeo ldquoUPP eacute o caralhordquo brandida por mora-dores refrataacuterios a qualquer tipo de aproximaccedilatildeo com a poliacutecia

ldquoINTRUSO MALTRATADO E ODIADOrdquo TENSOtildeES EM ALTA NA RELACcedilAtildeO POLIacuteCIACOMUNIDADE

Se o policiamento de proximidade foi pensado como ldquoestrateacutegia de cons-truccedilatildeo partilhada de legitimidade entre os policiais e destes com os cidadatildeosrdquo (Muniz e Mello 2015 52) natildeo sur-preende que aos tropeccedilos da ldquoproxi-midaderdquo correspondam sinais de cres-cente deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees do conviacutevio e dos graus de aceitaccedilatildeo da pre-senccedila policial por parte dos moradores de favelas com UPP Mais uma vez eacute necessaacuterio sublinhar duas limitaccedilotildees da nossa pesquisa que impotildeem ressalvas agrave anaacutelise (1) a impossibilidade de desa-gregar espacialmente os resultados logo de captar diferenccedilas entre as loca-lidades e dentro delas (2) o fato de o survey ter colhido apenas percepccedilotildees e opiniotildees dos policiais registrando portanto o que eles pensam que os moradores pensam deles natildeo necessa-riamente o que os moradores de fato

13

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

pensam Falta ainda um levantamen-to-espelho com perguntas aos resi-dentes anaacutelogas agraves respondidas pelos policiais capazes de identificar con-vergecircncias e divergecircncias entre essas percepccedilotildees que satildeo por definiccedilatildeo afe-tivas e subjetivas26

De todo modo ainda que geneacute-ricos e unilaterais extraem-se indiacutecios de deterioraccedilatildeo do ambiente nas UPPs comparando-se ao longo dos trecircs surveys as respostas sobre sentimentos que os policiais percebem na popu-laccedilatildeo Como mostra o Graacutefico 6 haacute uma progressiva e expressiva queda da per-cepccedilatildeo de sentimentos favoraacuteveis (sim-patia admiraccedilatildeo respeito aceitaccedilatildeo) e um aumento da sensaccedilatildeo de que pre-valecem a hostilidade a resistecircncia o medo a desconfianccedila e a rejeiccedilatildeo

Impressiona natildeo soacute o crescimento da parcela que se percebe malquista pela comunidade mas tambeacutem a ecircnfase

com que foram verbalizados os senti-mentos hostis na uacuteltima rodada da pes-quisa A pergunta do questionaacuterio trazia sete opccedilotildees fechadas entre elas ldquoraivardquo e um campo aberto para ldquooutros senti-mentosrdquo27 Mais de frac14 (273) das res-postas foram ldquoraivardquo mas em outras 9 os entrevistados natildeo se conten-taram com esse termo talvez por con-sideraacute-lo muito leve ou pouco espe-ciacutefico e fizeram questatildeo de carregar nas tintas utilizando o campo aberto para descrever melhor o que achavam que a maioria da populaccedilatildeo sentia por eles ldquooacutediordquo ldquooacutedio fatalrdquo ldquonojordquo ldquoascordquo ldquoaversatildeordquo ldquorepulsardquo ldquorepugnacircnciardquo ldquoojerizardquo ldquorancorrdquo ldquorevoltardquo ldquorejeiccedilatildeordquo ldquodesprezordquo ldquodesdeacutemrdquo e assim por diante Um dos entrevistados resumiu esse dra-maacutetico rol de sentimentos adversos com a frase ldquoeles nos detestamrdquo que tomamos emprestada para o tiacutetulo deste artigo E em resposta agrave pergunta sobre

GRAacuteFICO 6_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

HAacute UMA PROGRESSIVA E EXPRESSIVA QUEDA DA PERCEPCcedilAtildeO DE SENTIMENTOS FAVORAacuteVEIS E UM AUMENTO DA SENSACcedilAtildeO DE QUE PREVALECEM A HOSTILIDADE A RESISTEcircNCIA O MEDO A DESCONFIANCcedilA E A REJEICcedilAtildeOrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

14

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

motivos de insatisfaccedilatildeo com o trabalho em UPP que seraacute comentada mais adiante outro policial disse que aleacutem de ldquointrusordquo sentia-se ldquomaltratado e odiadordquo pela maioria da populaccedilatildeo

O Graacutefico 7 acima desagrega em alguns blocos de respostas os senti-mentos positivos negativos e neutros com que os policiais de UPP se veem tra-tados pelos moradores locais segundo os resultados da uacuteltima pesquisa Nunca eacute demais lembrar que esses resultados dizem respeito ao conjunto das UPPs e possivelmente ocultam grandes dife-renccedilas entre as 36 localidades assim como variaccedilotildees significativas dentro de cada uma delas

Agrave pergunta sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP o grupo mais frequente de respostas (281)

mencionava relaccedilatildeo ruim com os moradores enquanto soacute 92 referi-ram-se a boas relaccedilotildees com moradores como a melhor coisa do trabalho em UPP28 Aleacutem de percepccedilotildees e opiniotildees algumas experiecircncias vividas pelos policiais reforccedilam a impressatildeo de um ambiente muito hostil em boa parte dos territoacuterios ocupados Nota-se na Tabela 3 que nos uacuteltimos trecircs meses antes do survey 558 dos entrevistados haviam sido alvo pelo menos uma vez de algum objeto arremessado por moradores 618 natildeo haviam obtido resposta a um cumprimento 63 haviam-se sentido desrespeitados e 658 haviam sido xingados em pelo menos uma ocasiatildeo Soacute 37 no entanto disseram que algum(a) morador(a) prestara queixa contra eles durante esses trecircs meses

GRAacuteFICO 7_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

() ESPERANCcedilA CONFIANCcedilA FELICIDADE SEGURANCcedilA GRATIDAtildeO

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

15

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Reaccedilotildees anaacutelogas por parte de habitantes das favelas ndash arremesso de objetos e insultos ndash foram relatadas em pesquisas qualitativas no comeccedilo da instalaccedilatildeo das UPPs e associadas agrave resis-tecircncia ou desconfianccedila inicial dos mora-dores em relaccedilatildeo agrave presenccedila contiacutenua da poliacutecia nas comunidades (Cano Borges e Ribeiro 2014 181 Menezes 2014 671)29 Esperava-se que com o correr do tempo agrave medida que a con-vivecircncia e a proximidade produzisssem seus efeitos humanizadores essas mani-festaccedilotildees hostis tendessem a decrescer ndash o que de fato parece ter acontecido em algumas UPPs mais antigas pelo menos ateacute poucos anos atraacutes30 Mas natildeo soacute a tensatildeo se manteve alta em outras localidades como recentemente parte das favelas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada voltou a apresentar niacuteveis elevados de tensatildeo e desconfianccedila ndash situaccedilatildeo que o Graacutefico 6 acima em certa medida traduz e que se confirma em pesquisas qualitativas rea-lizadas nos uacuteltimos dois anos (Menezes 2014 Esperanccedila 2014 Soares 2015)

O discurso de alguns policiais e agraves vezes tambeacutem de moradores tende a associar esse aumento de tensotildees ao ldquoretorno do traacuteficordquo e agrave volta dos con-frontos armados em vaacuterias favelas com UPP tanto as de ocupaccedilatildeo recente

quanto algumas das mais antigas Temerosos com as consequecircncias do reempoderamento dos traficantes e pre-ocupados em natildeo se identificar como ldquoamigos da poliacuteciardquo os moradores teriam passado com mais frequecircncia a evitar o contato ou mesmo a mani-festar desapreccedilo e hostilidade contra os policiais Discutiremos mais agrave frente o tema do ldquoretornordquo e a interpretaccedilatildeo que tende a creditar-lhe inteiramente os tropeccedilos do policiamento de pro-ximidade Cabe ressaltar por ora que segundo observaccedilotildees etnograacuteficas feitas em 2013 e 2014 os conflitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo despontam em con-textos e por motivos diversos natildeo redu-tiacuteveis agrave equaccedilatildeo simplista hostilidade agrave poliacutecia = viacutenculos com o traacutefico

Quando os policiais recorriam ao capi-tal da forccedila fiacutesica para realizar prisotildees e apreensotildees os moradores muitas vezes praticavam atos de agressatildeo aos policiais estimulados por conflitos decorrentes de abordagens policiais tentativas de prisotildees interrupccedilotildees de festas Foram incontaacuteveis os relatos de policiais que receberam pedradas e ateacute gavetadas [sic] de moradores re-voltados Na favela da zona Norte um policial retornou agrave base com a cabeccedila aberta atingida pelas pedras Na favela da zona Sul ateacute crianccedilas se engajavam nas accedilotildees ldquoEu fiquei muito surpreso

TABELA 3_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES ( DE ENTREVISTADOS)

NENHUMA VEZ

UMA VEZ

ALGUMAS VEZES

MUITAS VEZES

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 442 84 227 247

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 342 58 233 367

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 370 67 234 329

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 382 40 241 337

MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 963 20 09 08

OS CONFLITOS ENTRE POLIacuteCIA E POPULACcedilAtildeO DESPONTAM EM CONTEXTOS E POR MOTIVOS DIVERSOS NAtildeO REDUTIacuteVEIS Agrave EQUACcedilAtildeO SIMPLISTA HOSTILIDADE Agrave POLIacuteCIA = VIacuteNCULOS COM O TRAacuteFICOrdquo

ldquo

16

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 9: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

consideradas criacuteticas em outras UPPs o efetivo desses grupos pode ser des-locado temporariamente para apoiaacute-las (Albernaz e Mazzurana 2015 69)

Observaccedilotildees etnograacuteficas feitas por outros pesquisadores mostram que pelo menos em algumas favelas os inte-grantes dos GTPPs buscam mimetizar as tropas de elite dos batalhotildees (Gates) e das unidades especiais da PM (Bope BPChoque) podendo manter para tanto uma atitude deliberada de dis-tanciamento em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo O que inclui por exemplo natildeo cum-primentar os moradores e tratar com rispidez quando natildeo com violecircncia os incontaacuteveis ldquosuspeitosrdquo revistados dia-riamente (Esperanccedila 2014 137-43) Ou empenhar-se em exibiccedilotildees de forccedila que atemorizam a populaccedilatildeo e justificam o apelido de ldquobondesrdquo dado a esses desta-camentos em alguns lugares por ana-logia com os grupos de traficantes que com o mesmo propoacutesito desfilavam for-temente armados pelas ruas da comu-nidade (Soares 2015 287)12

A julgar por tais relatos chega a ser irocircnica a presenccedila da expressatildeo ldquopoliacutecia de proximidaderdquo no nome dos GTPPs

GRAacuteFICO 4_TIPO DE TRABALHO QUE OS POLICIAIS REALIZAM NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

salvo se ela abarcar a pura e simples coexistecircncia no territoacuterio ou os con-tatos verbais e fiacutesicos durante abor-dagens policiais Nem a proacutepria des-criccedilatildeo oficial fornece alguma pista do que possa significar ldquoproximidaderdquo num grupamento como esse definido da seguinte maneira

efetivo de uma patrulha com treina-mento operacional especializado e munida de equipamento especial em-pregada em accedilotildees de Poliacutecia Ostensiva especiacuteficas que demandam accedilatildeo raacutepida e repressatildeo qualificada Exemplos de sua atuaccedilatildeo controle de tumultos e accedilotildees para restauraccedilatildeo da ordem puacute-blica de maior magnitude Por suas caracteriacutesticas de natureza e emprego possuem base territorial ampla atuan-do em toda aacuterea da Unidade Policial de Proximidade respondendo diretamen-te ao Comandante desta (PMERJ Di-retriz Geral de Poliacutecia de Proximidade Boletim da PM n 139 2014 apud Viva Rio 2014 15-16 Cf tambeacutem Albernaz e Mazzurana 2015 69 71)13

A seacuterie de dados do ISP sobre as 36 UPPs abrangidas em 201414 reforccedila ainda mais os indiacutecios de reiteraccedilatildeo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

9

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

do velho paradigma de policiamento centrado em prisotildees e apreensotildees de drogas Como mostra o Graacutefico 5 agrave medida que a ldquopacificaccedilatildeordquo se estende a um nuacutemero maior de favelas cresce o volume de ocorrecircncias tradicional-mente usadas para aferir a ldquoproduccedilatildeo policialrdquo exceto no caso das armas apreendidas cujo nuacutemero diminui no periacuteodo15 Vale sublinhar que o aumento dos outros registros natildeo reflete necessa-riamente um aumento da criminalidade ou da quantidade de drogas em circu-laccedilatildeo assim como a queda do nuacutemero de armas apreendidas natildeo significa necessariamente que haja menos armas ilegais nas favelas O que essas ocor-recircncias informam sobretudo eacute o dire-cionamento dado ao trabalho policial15 E

o fato de elas terem crescido em todo o estado no mesmo periacuteodo indica que a ldquocaccedilardquo agraves drogas e aos traficantes con-tinuou sendo foco privilegiado da accedilatildeo policial dentro e fora das UPPs16

Voltando aos resultados do survey nota-se que o percentual de entrevis-tados em 2014 que disseram trabalhar a maior parte do tempo em GTPP (222) eacute apenas um pouco inferior ao dos que afirmaram realizar com frequecircncia alguma espeacutecie de atividade de apro-ximaccedilatildeo com os moradores (258) Isso poderia indicar agrave primeira vista uma especializaccedilatildeo dual e contradi-toacuteria nas UPPs de um lado ldquoarticu-ladores comunitaacuteriosrdquo mediadores de conflitos e ldquopoliciais sociaisrdquo que buscam desenvolver atividades capazes

GRAacuteFICO 5_OCORREcircNCIAS DE ldquoPRODUCcedilAtildeO POLICIALrdquo REGISTRADAS NOS TERRITOacuteRIOS DE 36 UPPs ndash 20072014 (NUacuteMERO-IacuteNDICE 2007=100)

A ldquoCACcedilArdquo AgraveS DROGAS E AOS TRAFICANTES CONTINUOU SENDO FOCO PRIVILEGIADO DA ACcedilAtildeO POLICIAL DENTRO E FORA DAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

10

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

de aproximaacute-los ao menos de alguns seg-mentos da populaccedilatildeo18 de outro mini--Bopes e mini-Choques cujas atuaccedilatildeo atitude e ideologia parecem destinadas a promover o movimento oposto de distanciamento e tensionamento das relaccedilotildees entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Essa imagem poreacutem pode resultar algo simplista Como mostram as Tabelas 1 e 2 a seguir existem de fato

diferenccedilas enormes entre as atividades dos que atuam em GTPPs e dos que trabalham a maior parte do tempo em outros tipos de serviccedilo especialmente quanto agrave frequecircncia de abordagens registros de ocorrecircncia prisotildees e apre-ensotildees19 Mas tambeacutem haacute uma surpre-endente convergecircncia no que se refere a praticas geneacutericas de aproximaccedilatildeo com moradores levantamento de

TABELA 1_ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM MUITA FREQUEcircNCIA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO PELOS POLICIAIS ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS 950 456

REGISTROS DE OCORREcircNCIA EM DELEGACIAS 712 213

PRISOtildeES E APREENSOtildeES 710 171

RECEBIMENTO DE QUEIXAS 318 286

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES 260 258

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS 227 189

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS 157 137

ATIVIDADES COM CRIANCcedilAS JOVENS OU IDOSOS 33 95

PARTICIPACcedilAtildeO EM REUNIOtildeES NA COMUNIDADE 14 64

TABELA2_OCORREcircNCIAS DE QUE OS POLICIAIS PARTICIPARAM PELO MENOS UMA VEZ NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO POR ELES REALIZADO A MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

APREENSAtildeO DE DROGAS 803 332

APREENSAtildeO DE CRIANCcedilA OU ADOLESCENTE INFRATOR 674 246

OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 529 251

USO DE ARMA DE FOGO PELO(A) POLICIAL 332 137

APREENSAtildeO DE ARMA(S) DE FOGO 239 57

USO DE ARMAMENTO ldquoMENOS LETALrdquo 221 11 1

11

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

problemas e ateacute mediaccedilatildeo de conflitos Em outras palavras trabalhar a maior parte do tempo em GTPP natildeo exclui necessariamente o envolvimento em algumas estrateacutegias de proximidade20 Satildeo bem poucos eacute verdade os policiais dos mini-Bopes com essa caracteriacutestica ldquohiacutebridardquo mas como se viu satildeo poucos tambeacutem os do restante da tropa que rea-lizam esforccedilos frequentes de aproxi-maccedilatildeo com os moradores pelo menos ateacute onde as categorias da nossa pesquisa permitem observar

A impressatildeo que se tem a partir dos resultados expostos nesta seccedilatildeo e tambeacutem da leitura de outros trabalhos recentes sobre UPPs eacute natildeo soacute de recuo como de persistecircncia de uma grande confusatildeo e indefiniccedilatildeo em torno do que signifique ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo21 Apresentado desde o iniacutecio como pedra angular do programa de ldquopacificaccedilatildeordquo esse tipo de policia-mento em 2014 quase sete anos apoacutes a inauguraccedilatildeo da primeira UPP ainda carecia de formalizaccedilatildeo doutrinaacuteria e metodoloacutegica de uma padronizaccedilatildeo miacutenima entre as unidades de insti-tucionalizaccedilatildeo dos canais de interlo-cuccedilatildeo entre policiais e moradores de mecanismos de accountability (controle monitoramento avaliaccedilatildeo) e como jaacute visto de conteuacutedos e meacutetodos de ensino adequados ao ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia que se pretendia imple-mentar nas favelas22

Eacute um dos idealizadores e primeiro coordenador das UPPs quem ressalta o contraste entre o baixo investimento na sistematizaccedilatildeo da ldquoproximidaderdquo e o minucioso planejamento das etapas ante-riores de ldquorecuperaccedilatildeordquo e ldquoestabilizaccedilatildeordquo dos territoacuterios ocupados pela poliacutecia

Apesar de todo esse detalhamento so-bre os preparativos do ambiente para a chegada da UPP em suas primeiras fases o plano em nenhum momento detalha o que eacute ou como se deva fazer a ldquoproximidaderdquo Trata-se portanto basicamente de uma ocupaccedilatildeo mili-tar jaacute que eacute niacutetida sua maior preocu-paccedilatildeo com as fases iniciais (I e II) em detrimento das uacuteltimas Essa lacuna que deveria ter sido preenchida pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP ndash por meio de um ldquoPrograma de Poliacutecia Pacificadorardquo como previa o decreto que estruturou a UPP encontra-se ateacute hoje aberta (Rodrigues 2014 76)

No iniacutecio diz o autor a lacuna pode ter favorecido em alguma medida o processo

porque lhe deu certa plasticidade praacute-tica deixando-o aberto agrave construccedilatildeo cotidiana por atores que normalmen-te natildeo participariam no caso de uma construccedilatildeo formal como lideranccedilas locais e policiais No entanto hoje com a ampliaccedilatildeo do programa ela soa mais como ameaccedila que como opor-tunidade para o seu gerenciamento estrateacutegico Assim ela tem sido preen-chida por um amplo referencial de fa-zeres que vai do ldquotiro-porrada-e-bom-bardquo expressatildeo usada para se referir agraves operaccedilotildees policiais baseadas na loacutegica da guerra ateacute a uma cosmeacutetica e nada instrumental ldquopoliacutecia boazinhardquo que vecirc na UPP a oportunidade de melho-rar a imagem da poliacutecia Eacute provaacutevel que os problemas por que passam atualmente as UPPs sobretudo nos casos de desvios e uso arbitraacuterio da forccedila tenham a ver com esse possiacutevel descontrole gerencial (idem 79)

Algum tempo apoacutes a implemen-taccedilatildeo ainda experimental das pri-meiras unidades esperava-se um esforccedilo concentrado de avaliaccedilatildeo de organizaccedilatildeo do conhecimento praacutetico

A IMPRESSAtildeO QUE SE TEM Eacute NAtildeO SOacute DE RECUO COMO DE PERSISTEcircNCIA DE UMA GRANDE CONFUSAtildeO E INDEFINICcedilAtildeO EM TORNO DO QUE SIGNIFIQUE lsquoPOLI-CIAMENTO DE PROXIMIDADErsquordquo

ldquo12

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

adquirido e de elaboraccedilatildeo de diretrizes para a replicaccedilatildeo e o gerenciamento do programa nas outras favelas Mesmo que devessem persistir graus de flexi-bilidade dadas as enormes diferenccedilas nos ambientes de atuaccedilatildeo do novo poli-ciamento era imprescindiacutevel que essa sistematizaccedilatildeo avanccedilasse antes que o vertiginoso crescimento do nuacutemero de UPPs e de policiais deixasse escapar do controle um dos pilares centrais do pro-grama a substituiccedilatildeo da truculecircncia do desrespeito e da ldquoguerrardquo pelo diaacutelogo com a populaccedilatildeo das favelas Na verdade em 2012 o ISP chegou a con-tratar a consultoria de universidades e institutos de pesquisa para o detalha-mento do ldquoPrograma de Poliacutecia Pacifi-cadorardquo mas soacute em 2015 o processo de formalizaccedilatildeo e institucionalizaccedilatildeo das UPPs parece estar sendo retomado (cf Albernaz e Mazzurana 2015)

Tal como as mudanccedilas introdu-zidas no curso de formaccedilatildeo mencio-nadas mais acima essa retomada eacute sem duacutevida auspiciosa Vale torcer para que sua aplicaccedilatildeo efetiva natildeo chegue tarde demais e para que ainda seja possiacutevel recobrar controle sobre o espaccedilo que ficou tanto tempo aberto agrave interpre-taccedilatildeo e ao exerciacutecio informais da ldquopro-ximidaderdquo Por ora esse espaccedilo mais parece um saco de gatos onde cabem desde a pura e simples presenccedila no territoacuterio ateacute estrateacutegias mais profis-sionalizadas de aproximaccedilatildeo como a dos policiais-mediadores (Mouratildeo 2014 2015a)23 passando por inicia-tivas diversas dos chamados ldquopoliciais sociaisrdquo (Teixeira 2015) por promoccedilatildeo de festas eventos e passeios24 e por muito trabalho administrativo25 Nele cabem tambeacutem a regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades econocircmicas e de lazer nas favelas (Cano Borges e Ribeiro 2014 172 Soares 2015 230-1) um frenesi

de abordagens e apreensotildees de drogas a circulaccedilatildeo de mini-Bopes agrave caccedila de mini-traficantes (Esperanccedila 2014) e ateacute a ldquoaproximaccedilatildeo predatoacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) traduzida nas velhas praacuteticas de privatizaccedilatildeo de informaccedilotildees cor-rupccedilatildeo abuso de poder e violecircncia

Na borda desse espaccedilo como se veraacute existe ainda uma faixa de poli-ciais com atitudes de indiferenccedila ou descrenccedila quando natildeo de repulsa a qualquer espeacutecie de aproximaccedilatildeo com os moradores A frase ldquoproximidade eacute o caceterdquo ouvida de um policial de UPP por Vinicius Esperanccedila (2014 146) soa assim como eco perfeito agrave locuccedilatildeo ldquoUPP eacute o caralhordquo brandida por mora-dores refrataacuterios a qualquer tipo de aproximaccedilatildeo com a poliacutecia

ldquoINTRUSO MALTRATADO E ODIADOrdquo TENSOtildeES EM ALTA NA RELACcedilAtildeO POLIacuteCIACOMUNIDADE

Se o policiamento de proximidade foi pensado como ldquoestrateacutegia de cons-truccedilatildeo partilhada de legitimidade entre os policiais e destes com os cidadatildeosrdquo (Muniz e Mello 2015 52) natildeo sur-preende que aos tropeccedilos da ldquoproxi-midaderdquo correspondam sinais de cres-cente deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees do conviacutevio e dos graus de aceitaccedilatildeo da pre-senccedila policial por parte dos moradores de favelas com UPP Mais uma vez eacute necessaacuterio sublinhar duas limitaccedilotildees da nossa pesquisa que impotildeem ressalvas agrave anaacutelise (1) a impossibilidade de desa-gregar espacialmente os resultados logo de captar diferenccedilas entre as loca-lidades e dentro delas (2) o fato de o survey ter colhido apenas percepccedilotildees e opiniotildees dos policiais registrando portanto o que eles pensam que os moradores pensam deles natildeo necessa-riamente o que os moradores de fato

13

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

pensam Falta ainda um levantamen-to-espelho com perguntas aos resi-dentes anaacutelogas agraves respondidas pelos policiais capazes de identificar con-vergecircncias e divergecircncias entre essas percepccedilotildees que satildeo por definiccedilatildeo afe-tivas e subjetivas26

De todo modo ainda que geneacute-ricos e unilaterais extraem-se indiacutecios de deterioraccedilatildeo do ambiente nas UPPs comparando-se ao longo dos trecircs surveys as respostas sobre sentimentos que os policiais percebem na popu-laccedilatildeo Como mostra o Graacutefico 6 haacute uma progressiva e expressiva queda da per-cepccedilatildeo de sentimentos favoraacuteveis (sim-patia admiraccedilatildeo respeito aceitaccedilatildeo) e um aumento da sensaccedilatildeo de que pre-valecem a hostilidade a resistecircncia o medo a desconfianccedila e a rejeiccedilatildeo

Impressiona natildeo soacute o crescimento da parcela que se percebe malquista pela comunidade mas tambeacutem a ecircnfase

com que foram verbalizados os senti-mentos hostis na uacuteltima rodada da pes-quisa A pergunta do questionaacuterio trazia sete opccedilotildees fechadas entre elas ldquoraivardquo e um campo aberto para ldquooutros senti-mentosrdquo27 Mais de frac14 (273) das res-postas foram ldquoraivardquo mas em outras 9 os entrevistados natildeo se conten-taram com esse termo talvez por con-sideraacute-lo muito leve ou pouco espe-ciacutefico e fizeram questatildeo de carregar nas tintas utilizando o campo aberto para descrever melhor o que achavam que a maioria da populaccedilatildeo sentia por eles ldquooacutediordquo ldquooacutedio fatalrdquo ldquonojordquo ldquoascordquo ldquoaversatildeordquo ldquorepulsardquo ldquorepugnacircnciardquo ldquoojerizardquo ldquorancorrdquo ldquorevoltardquo ldquorejeiccedilatildeordquo ldquodesprezordquo ldquodesdeacutemrdquo e assim por diante Um dos entrevistados resumiu esse dra-maacutetico rol de sentimentos adversos com a frase ldquoeles nos detestamrdquo que tomamos emprestada para o tiacutetulo deste artigo E em resposta agrave pergunta sobre

GRAacuteFICO 6_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

HAacute UMA PROGRESSIVA E EXPRESSIVA QUEDA DA PERCEPCcedilAtildeO DE SENTIMENTOS FAVORAacuteVEIS E UM AUMENTO DA SENSACcedilAtildeO DE QUE PREVALECEM A HOSTILIDADE A RESISTEcircNCIA O MEDO A DESCONFIANCcedilA E A REJEICcedilAtildeOrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

14

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

motivos de insatisfaccedilatildeo com o trabalho em UPP que seraacute comentada mais adiante outro policial disse que aleacutem de ldquointrusordquo sentia-se ldquomaltratado e odiadordquo pela maioria da populaccedilatildeo

O Graacutefico 7 acima desagrega em alguns blocos de respostas os senti-mentos positivos negativos e neutros com que os policiais de UPP se veem tra-tados pelos moradores locais segundo os resultados da uacuteltima pesquisa Nunca eacute demais lembrar que esses resultados dizem respeito ao conjunto das UPPs e possivelmente ocultam grandes dife-renccedilas entre as 36 localidades assim como variaccedilotildees significativas dentro de cada uma delas

Agrave pergunta sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP o grupo mais frequente de respostas (281)

mencionava relaccedilatildeo ruim com os moradores enquanto soacute 92 referi-ram-se a boas relaccedilotildees com moradores como a melhor coisa do trabalho em UPP28 Aleacutem de percepccedilotildees e opiniotildees algumas experiecircncias vividas pelos policiais reforccedilam a impressatildeo de um ambiente muito hostil em boa parte dos territoacuterios ocupados Nota-se na Tabela 3 que nos uacuteltimos trecircs meses antes do survey 558 dos entrevistados haviam sido alvo pelo menos uma vez de algum objeto arremessado por moradores 618 natildeo haviam obtido resposta a um cumprimento 63 haviam-se sentido desrespeitados e 658 haviam sido xingados em pelo menos uma ocasiatildeo Soacute 37 no entanto disseram que algum(a) morador(a) prestara queixa contra eles durante esses trecircs meses

GRAacuteFICO 7_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

() ESPERANCcedilA CONFIANCcedilA FELICIDADE SEGURANCcedilA GRATIDAtildeO

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

15

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Reaccedilotildees anaacutelogas por parte de habitantes das favelas ndash arremesso de objetos e insultos ndash foram relatadas em pesquisas qualitativas no comeccedilo da instalaccedilatildeo das UPPs e associadas agrave resis-tecircncia ou desconfianccedila inicial dos mora-dores em relaccedilatildeo agrave presenccedila contiacutenua da poliacutecia nas comunidades (Cano Borges e Ribeiro 2014 181 Menezes 2014 671)29 Esperava-se que com o correr do tempo agrave medida que a con-vivecircncia e a proximidade produzisssem seus efeitos humanizadores essas mani-festaccedilotildees hostis tendessem a decrescer ndash o que de fato parece ter acontecido em algumas UPPs mais antigas pelo menos ateacute poucos anos atraacutes30 Mas natildeo soacute a tensatildeo se manteve alta em outras localidades como recentemente parte das favelas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada voltou a apresentar niacuteveis elevados de tensatildeo e desconfianccedila ndash situaccedilatildeo que o Graacutefico 6 acima em certa medida traduz e que se confirma em pesquisas qualitativas rea-lizadas nos uacuteltimos dois anos (Menezes 2014 Esperanccedila 2014 Soares 2015)

O discurso de alguns policiais e agraves vezes tambeacutem de moradores tende a associar esse aumento de tensotildees ao ldquoretorno do traacuteficordquo e agrave volta dos con-frontos armados em vaacuterias favelas com UPP tanto as de ocupaccedilatildeo recente

quanto algumas das mais antigas Temerosos com as consequecircncias do reempoderamento dos traficantes e pre-ocupados em natildeo se identificar como ldquoamigos da poliacuteciardquo os moradores teriam passado com mais frequecircncia a evitar o contato ou mesmo a mani-festar desapreccedilo e hostilidade contra os policiais Discutiremos mais agrave frente o tema do ldquoretornordquo e a interpretaccedilatildeo que tende a creditar-lhe inteiramente os tropeccedilos do policiamento de pro-ximidade Cabe ressaltar por ora que segundo observaccedilotildees etnograacuteficas feitas em 2013 e 2014 os conflitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo despontam em con-textos e por motivos diversos natildeo redu-tiacuteveis agrave equaccedilatildeo simplista hostilidade agrave poliacutecia = viacutenculos com o traacutefico

Quando os policiais recorriam ao capi-tal da forccedila fiacutesica para realizar prisotildees e apreensotildees os moradores muitas vezes praticavam atos de agressatildeo aos policiais estimulados por conflitos decorrentes de abordagens policiais tentativas de prisotildees interrupccedilotildees de festas Foram incontaacuteveis os relatos de policiais que receberam pedradas e ateacute gavetadas [sic] de moradores re-voltados Na favela da zona Norte um policial retornou agrave base com a cabeccedila aberta atingida pelas pedras Na favela da zona Sul ateacute crianccedilas se engajavam nas accedilotildees ldquoEu fiquei muito surpreso

TABELA 3_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES ( DE ENTREVISTADOS)

NENHUMA VEZ

UMA VEZ

ALGUMAS VEZES

MUITAS VEZES

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 442 84 227 247

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 342 58 233 367

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 370 67 234 329

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 382 40 241 337

MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 963 20 09 08

OS CONFLITOS ENTRE POLIacuteCIA E POPULACcedilAtildeO DESPONTAM EM CONTEXTOS E POR MOTIVOS DIVERSOS NAtildeO REDUTIacuteVEIS Agrave EQUACcedilAtildeO SIMPLISTA HOSTILIDADE Agrave POLIacuteCIA = VIacuteNCULOS COM O TRAacuteFICOrdquo

ldquo

16

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 10: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

do velho paradigma de policiamento centrado em prisotildees e apreensotildees de drogas Como mostra o Graacutefico 5 agrave medida que a ldquopacificaccedilatildeordquo se estende a um nuacutemero maior de favelas cresce o volume de ocorrecircncias tradicional-mente usadas para aferir a ldquoproduccedilatildeo policialrdquo exceto no caso das armas apreendidas cujo nuacutemero diminui no periacuteodo15 Vale sublinhar que o aumento dos outros registros natildeo reflete necessa-riamente um aumento da criminalidade ou da quantidade de drogas em circu-laccedilatildeo assim como a queda do nuacutemero de armas apreendidas natildeo significa necessariamente que haja menos armas ilegais nas favelas O que essas ocor-recircncias informam sobretudo eacute o dire-cionamento dado ao trabalho policial15 E

o fato de elas terem crescido em todo o estado no mesmo periacuteodo indica que a ldquocaccedilardquo agraves drogas e aos traficantes con-tinuou sendo foco privilegiado da accedilatildeo policial dentro e fora das UPPs16

Voltando aos resultados do survey nota-se que o percentual de entrevis-tados em 2014 que disseram trabalhar a maior parte do tempo em GTPP (222) eacute apenas um pouco inferior ao dos que afirmaram realizar com frequecircncia alguma espeacutecie de atividade de apro-ximaccedilatildeo com os moradores (258) Isso poderia indicar agrave primeira vista uma especializaccedilatildeo dual e contradi-toacuteria nas UPPs de um lado ldquoarticu-ladores comunitaacuteriosrdquo mediadores de conflitos e ldquopoliciais sociaisrdquo que buscam desenvolver atividades capazes

GRAacuteFICO 5_OCORREcircNCIAS DE ldquoPRODUCcedilAtildeO POLICIALrdquo REGISTRADAS NOS TERRITOacuteRIOS DE 36 UPPs ndash 20072014 (NUacuteMERO-IacuteNDICE 2007=100)

A ldquoCACcedilArdquo AgraveS DROGAS E AOS TRAFICANTES CONTINUOU SENDO FOCO PRIVILEGIADO DA ACcedilAtildeO POLICIAL DENTRO E FORA DAS UPPsrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

10

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

de aproximaacute-los ao menos de alguns seg-mentos da populaccedilatildeo18 de outro mini--Bopes e mini-Choques cujas atuaccedilatildeo atitude e ideologia parecem destinadas a promover o movimento oposto de distanciamento e tensionamento das relaccedilotildees entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Essa imagem poreacutem pode resultar algo simplista Como mostram as Tabelas 1 e 2 a seguir existem de fato

diferenccedilas enormes entre as atividades dos que atuam em GTPPs e dos que trabalham a maior parte do tempo em outros tipos de serviccedilo especialmente quanto agrave frequecircncia de abordagens registros de ocorrecircncia prisotildees e apre-ensotildees19 Mas tambeacutem haacute uma surpre-endente convergecircncia no que se refere a praticas geneacutericas de aproximaccedilatildeo com moradores levantamento de

TABELA 1_ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM MUITA FREQUEcircNCIA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO PELOS POLICIAIS ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS 950 456

REGISTROS DE OCORREcircNCIA EM DELEGACIAS 712 213

PRISOtildeES E APREENSOtildeES 710 171

RECEBIMENTO DE QUEIXAS 318 286

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES 260 258

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS 227 189

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS 157 137

ATIVIDADES COM CRIANCcedilAS JOVENS OU IDOSOS 33 95

PARTICIPACcedilAtildeO EM REUNIOtildeES NA COMUNIDADE 14 64

TABELA2_OCORREcircNCIAS DE QUE OS POLICIAIS PARTICIPARAM PELO MENOS UMA VEZ NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO POR ELES REALIZADO A MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

APREENSAtildeO DE DROGAS 803 332

APREENSAtildeO DE CRIANCcedilA OU ADOLESCENTE INFRATOR 674 246

OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 529 251

USO DE ARMA DE FOGO PELO(A) POLICIAL 332 137

APREENSAtildeO DE ARMA(S) DE FOGO 239 57

USO DE ARMAMENTO ldquoMENOS LETALrdquo 221 11 1

11

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

problemas e ateacute mediaccedilatildeo de conflitos Em outras palavras trabalhar a maior parte do tempo em GTPP natildeo exclui necessariamente o envolvimento em algumas estrateacutegias de proximidade20 Satildeo bem poucos eacute verdade os policiais dos mini-Bopes com essa caracteriacutestica ldquohiacutebridardquo mas como se viu satildeo poucos tambeacutem os do restante da tropa que rea-lizam esforccedilos frequentes de aproxi-maccedilatildeo com os moradores pelo menos ateacute onde as categorias da nossa pesquisa permitem observar

A impressatildeo que se tem a partir dos resultados expostos nesta seccedilatildeo e tambeacutem da leitura de outros trabalhos recentes sobre UPPs eacute natildeo soacute de recuo como de persistecircncia de uma grande confusatildeo e indefiniccedilatildeo em torno do que signifique ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo21 Apresentado desde o iniacutecio como pedra angular do programa de ldquopacificaccedilatildeordquo esse tipo de policia-mento em 2014 quase sete anos apoacutes a inauguraccedilatildeo da primeira UPP ainda carecia de formalizaccedilatildeo doutrinaacuteria e metodoloacutegica de uma padronizaccedilatildeo miacutenima entre as unidades de insti-tucionalizaccedilatildeo dos canais de interlo-cuccedilatildeo entre policiais e moradores de mecanismos de accountability (controle monitoramento avaliaccedilatildeo) e como jaacute visto de conteuacutedos e meacutetodos de ensino adequados ao ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia que se pretendia imple-mentar nas favelas22

Eacute um dos idealizadores e primeiro coordenador das UPPs quem ressalta o contraste entre o baixo investimento na sistematizaccedilatildeo da ldquoproximidaderdquo e o minucioso planejamento das etapas ante-riores de ldquorecuperaccedilatildeordquo e ldquoestabilizaccedilatildeordquo dos territoacuterios ocupados pela poliacutecia

Apesar de todo esse detalhamento so-bre os preparativos do ambiente para a chegada da UPP em suas primeiras fases o plano em nenhum momento detalha o que eacute ou como se deva fazer a ldquoproximidaderdquo Trata-se portanto basicamente de uma ocupaccedilatildeo mili-tar jaacute que eacute niacutetida sua maior preocu-paccedilatildeo com as fases iniciais (I e II) em detrimento das uacuteltimas Essa lacuna que deveria ter sido preenchida pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP ndash por meio de um ldquoPrograma de Poliacutecia Pacificadorardquo como previa o decreto que estruturou a UPP encontra-se ateacute hoje aberta (Rodrigues 2014 76)

No iniacutecio diz o autor a lacuna pode ter favorecido em alguma medida o processo

porque lhe deu certa plasticidade praacute-tica deixando-o aberto agrave construccedilatildeo cotidiana por atores que normalmen-te natildeo participariam no caso de uma construccedilatildeo formal como lideranccedilas locais e policiais No entanto hoje com a ampliaccedilatildeo do programa ela soa mais como ameaccedila que como opor-tunidade para o seu gerenciamento estrateacutegico Assim ela tem sido preen-chida por um amplo referencial de fa-zeres que vai do ldquotiro-porrada-e-bom-bardquo expressatildeo usada para se referir agraves operaccedilotildees policiais baseadas na loacutegica da guerra ateacute a uma cosmeacutetica e nada instrumental ldquopoliacutecia boazinhardquo que vecirc na UPP a oportunidade de melho-rar a imagem da poliacutecia Eacute provaacutevel que os problemas por que passam atualmente as UPPs sobretudo nos casos de desvios e uso arbitraacuterio da forccedila tenham a ver com esse possiacutevel descontrole gerencial (idem 79)

Algum tempo apoacutes a implemen-taccedilatildeo ainda experimental das pri-meiras unidades esperava-se um esforccedilo concentrado de avaliaccedilatildeo de organizaccedilatildeo do conhecimento praacutetico

A IMPRESSAtildeO QUE SE TEM Eacute NAtildeO SOacute DE RECUO COMO DE PERSISTEcircNCIA DE UMA GRANDE CONFUSAtildeO E INDEFINICcedilAtildeO EM TORNO DO QUE SIGNIFIQUE lsquoPOLI-CIAMENTO DE PROXIMIDADErsquordquo

ldquo12

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

adquirido e de elaboraccedilatildeo de diretrizes para a replicaccedilatildeo e o gerenciamento do programa nas outras favelas Mesmo que devessem persistir graus de flexi-bilidade dadas as enormes diferenccedilas nos ambientes de atuaccedilatildeo do novo poli-ciamento era imprescindiacutevel que essa sistematizaccedilatildeo avanccedilasse antes que o vertiginoso crescimento do nuacutemero de UPPs e de policiais deixasse escapar do controle um dos pilares centrais do pro-grama a substituiccedilatildeo da truculecircncia do desrespeito e da ldquoguerrardquo pelo diaacutelogo com a populaccedilatildeo das favelas Na verdade em 2012 o ISP chegou a con-tratar a consultoria de universidades e institutos de pesquisa para o detalha-mento do ldquoPrograma de Poliacutecia Pacifi-cadorardquo mas soacute em 2015 o processo de formalizaccedilatildeo e institucionalizaccedilatildeo das UPPs parece estar sendo retomado (cf Albernaz e Mazzurana 2015)

Tal como as mudanccedilas introdu-zidas no curso de formaccedilatildeo mencio-nadas mais acima essa retomada eacute sem duacutevida auspiciosa Vale torcer para que sua aplicaccedilatildeo efetiva natildeo chegue tarde demais e para que ainda seja possiacutevel recobrar controle sobre o espaccedilo que ficou tanto tempo aberto agrave interpre-taccedilatildeo e ao exerciacutecio informais da ldquopro-ximidaderdquo Por ora esse espaccedilo mais parece um saco de gatos onde cabem desde a pura e simples presenccedila no territoacuterio ateacute estrateacutegias mais profis-sionalizadas de aproximaccedilatildeo como a dos policiais-mediadores (Mouratildeo 2014 2015a)23 passando por inicia-tivas diversas dos chamados ldquopoliciais sociaisrdquo (Teixeira 2015) por promoccedilatildeo de festas eventos e passeios24 e por muito trabalho administrativo25 Nele cabem tambeacutem a regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades econocircmicas e de lazer nas favelas (Cano Borges e Ribeiro 2014 172 Soares 2015 230-1) um frenesi

de abordagens e apreensotildees de drogas a circulaccedilatildeo de mini-Bopes agrave caccedila de mini-traficantes (Esperanccedila 2014) e ateacute a ldquoaproximaccedilatildeo predatoacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) traduzida nas velhas praacuteticas de privatizaccedilatildeo de informaccedilotildees cor-rupccedilatildeo abuso de poder e violecircncia

Na borda desse espaccedilo como se veraacute existe ainda uma faixa de poli-ciais com atitudes de indiferenccedila ou descrenccedila quando natildeo de repulsa a qualquer espeacutecie de aproximaccedilatildeo com os moradores A frase ldquoproximidade eacute o caceterdquo ouvida de um policial de UPP por Vinicius Esperanccedila (2014 146) soa assim como eco perfeito agrave locuccedilatildeo ldquoUPP eacute o caralhordquo brandida por mora-dores refrataacuterios a qualquer tipo de aproximaccedilatildeo com a poliacutecia

ldquoINTRUSO MALTRATADO E ODIADOrdquo TENSOtildeES EM ALTA NA RELACcedilAtildeO POLIacuteCIACOMUNIDADE

Se o policiamento de proximidade foi pensado como ldquoestrateacutegia de cons-truccedilatildeo partilhada de legitimidade entre os policiais e destes com os cidadatildeosrdquo (Muniz e Mello 2015 52) natildeo sur-preende que aos tropeccedilos da ldquoproxi-midaderdquo correspondam sinais de cres-cente deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees do conviacutevio e dos graus de aceitaccedilatildeo da pre-senccedila policial por parte dos moradores de favelas com UPP Mais uma vez eacute necessaacuterio sublinhar duas limitaccedilotildees da nossa pesquisa que impotildeem ressalvas agrave anaacutelise (1) a impossibilidade de desa-gregar espacialmente os resultados logo de captar diferenccedilas entre as loca-lidades e dentro delas (2) o fato de o survey ter colhido apenas percepccedilotildees e opiniotildees dos policiais registrando portanto o que eles pensam que os moradores pensam deles natildeo necessa-riamente o que os moradores de fato

13

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

pensam Falta ainda um levantamen-to-espelho com perguntas aos resi-dentes anaacutelogas agraves respondidas pelos policiais capazes de identificar con-vergecircncias e divergecircncias entre essas percepccedilotildees que satildeo por definiccedilatildeo afe-tivas e subjetivas26

De todo modo ainda que geneacute-ricos e unilaterais extraem-se indiacutecios de deterioraccedilatildeo do ambiente nas UPPs comparando-se ao longo dos trecircs surveys as respostas sobre sentimentos que os policiais percebem na popu-laccedilatildeo Como mostra o Graacutefico 6 haacute uma progressiva e expressiva queda da per-cepccedilatildeo de sentimentos favoraacuteveis (sim-patia admiraccedilatildeo respeito aceitaccedilatildeo) e um aumento da sensaccedilatildeo de que pre-valecem a hostilidade a resistecircncia o medo a desconfianccedila e a rejeiccedilatildeo

Impressiona natildeo soacute o crescimento da parcela que se percebe malquista pela comunidade mas tambeacutem a ecircnfase

com que foram verbalizados os senti-mentos hostis na uacuteltima rodada da pes-quisa A pergunta do questionaacuterio trazia sete opccedilotildees fechadas entre elas ldquoraivardquo e um campo aberto para ldquooutros senti-mentosrdquo27 Mais de frac14 (273) das res-postas foram ldquoraivardquo mas em outras 9 os entrevistados natildeo se conten-taram com esse termo talvez por con-sideraacute-lo muito leve ou pouco espe-ciacutefico e fizeram questatildeo de carregar nas tintas utilizando o campo aberto para descrever melhor o que achavam que a maioria da populaccedilatildeo sentia por eles ldquooacutediordquo ldquooacutedio fatalrdquo ldquonojordquo ldquoascordquo ldquoaversatildeordquo ldquorepulsardquo ldquorepugnacircnciardquo ldquoojerizardquo ldquorancorrdquo ldquorevoltardquo ldquorejeiccedilatildeordquo ldquodesprezordquo ldquodesdeacutemrdquo e assim por diante Um dos entrevistados resumiu esse dra-maacutetico rol de sentimentos adversos com a frase ldquoeles nos detestamrdquo que tomamos emprestada para o tiacutetulo deste artigo E em resposta agrave pergunta sobre

GRAacuteFICO 6_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

HAacute UMA PROGRESSIVA E EXPRESSIVA QUEDA DA PERCEPCcedilAtildeO DE SENTIMENTOS FAVORAacuteVEIS E UM AUMENTO DA SENSACcedilAtildeO DE QUE PREVALECEM A HOSTILIDADE A RESISTEcircNCIA O MEDO A DESCONFIANCcedilA E A REJEICcedilAtildeOrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

14

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

motivos de insatisfaccedilatildeo com o trabalho em UPP que seraacute comentada mais adiante outro policial disse que aleacutem de ldquointrusordquo sentia-se ldquomaltratado e odiadordquo pela maioria da populaccedilatildeo

O Graacutefico 7 acima desagrega em alguns blocos de respostas os senti-mentos positivos negativos e neutros com que os policiais de UPP se veem tra-tados pelos moradores locais segundo os resultados da uacuteltima pesquisa Nunca eacute demais lembrar que esses resultados dizem respeito ao conjunto das UPPs e possivelmente ocultam grandes dife-renccedilas entre as 36 localidades assim como variaccedilotildees significativas dentro de cada uma delas

Agrave pergunta sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP o grupo mais frequente de respostas (281)

mencionava relaccedilatildeo ruim com os moradores enquanto soacute 92 referi-ram-se a boas relaccedilotildees com moradores como a melhor coisa do trabalho em UPP28 Aleacutem de percepccedilotildees e opiniotildees algumas experiecircncias vividas pelos policiais reforccedilam a impressatildeo de um ambiente muito hostil em boa parte dos territoacuterios ocupados Nota-se na Tabela 3 que nos uacuteltimos trecircs meses antes do survey 558 dos entrevistados haviam sido alvo pelo menos uma vez de algum objeto arremessado por moradores 618 natildeo haviam obtido resposta a um cumprimento 63 haviam-se sentido desrespeitados e 658 haviam sido xingados em pelo menos uma ocasiatildeo Soacute 37 no entanto disseram que algum(a) morador(a) prestara queixa contra eles durante esses trecircs meses

GRAacuteFICO 7_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

() ESPERANCcedilA CONFIANCcedilA FELICIDADE SEGURANCcedilA GRATIDAtildeO

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

15

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Reaccedilotildees anaacutelogas por parte de habitantes das favelas ndash arremesso de objetos e insultos ndash foram relatadas em pesquisas qualitativas no comeccedilo da instalaccedilatildeo das UPPs e associadas agrave resis-tecircncia ou desconfianccedila inicial dos mora-dores em relaccedilatildeo agrave presenccedila contiacutenua da poliacutecia nas comunidades (Cano Borges e Ribeiro 2014 181 Menezes 2014 671)29 Esperava-se que com o correr do tempo agrave medida que a con-vivecircncia e a proximidade produzisssem seus efeitos humanizadores essas mani-festaccedilotildees hostis tendessem a decrescer ndash o que de fato parece ter acontecido em algumas UPPs mais antigas pelo menos ateacute poucos anos atraacutes30 Mas natildeo soacute a tensatildeo se manteve alta em outras localidades como recentemente parte das favelas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada voltou a apresentar niacuteveis elevados de tensatildeo e desconfianccedila ndash situaccedilatildeo que o Graacutefico 6 acima em certa medida traduz e que se confirma em pesquisas qualitativas rea-lizadas nos uacuteltimos dois anos (Menezes 2014 Esperanccedila 2014 Soares 2015)

O discurso de alguns policiais e agraves vezes tambeacutem de moradores tende a associar esse aumento de tensotildees ao ldquoretorno do traacuteficordquo e agrave volta dos con-frontos armados em vaacuterias favelas com UPP tanto as de ocupaccedilatildeo recente

quanto algumas das mais antigas Temerosos com as consequecircncias do reempoderamento dos traficantes e pre-ocupados em natildeo se identificar como ldquoamigos da poliacuteciardquo os moradores teriam passado com mais frequecircncia a evitar o contato ou mesmo a mani-festar desapreccedilo e hostilidade contra os policiais Discutiremos mais agrave frente o tema do ldquoretornordquo e a interpretaccedilatildeo que tende a creditar-lhe inteiramente os tropeccedilos do policiamento de pro-ximidade Cabe ressaltar por ora que segundo observaccedilotildees etnograacuteficas feitas em 2013 e 2014 os conflitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo despontam em con-textos e por motivos diversos natildeo redu-tiacuteveis agrave equaccedilatildeo simplista hostilidade agrave poliacutecia = viacutenculos com o traacutefico

Quando os policiais recorriam ao capi-tal da forccedila fiacutesica para realizar prisotildees e apreensotildees os moradores muitas vezes praticavam atos de agressatildeo aos policiais estimulados por conflitos decorrentes de abordagens policiais tentativas de prisotildees interrupccedilotildees de festas Foram incontaacuteveis os relatos de policiais que receberam pedradas e ateacute gavetadas [sic] de moradores re-voltados Na favela da zona Norte um policial retornou agrave base com a cabeccedila aberta atingida pelas pedras Na favela da zona Sul ateacute crianccedilas se engajavam nas accedilotildees ldquoEu fiquei muito surpreso

TABELA 3_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES ( DE ENTREVISTADOS)

NENHUMA VEZ

UMA VEZ

ALGUMAS VEZES

MUITAS VEZES

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 442 84 227 247

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 342 58 233 367

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 370 67 234 329

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 382 40 241 337

MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 963 20 09 08

OS CONFLITOS ENTRE POLIacuteCIA E POPULACcedilAtildeO DESPONTAM EM CONTEXTOS E POR MOTIVOS DIVERSOS NAtildeO REDUTIacuteVEIS Agrave EQUACcedilAtildeO SIMPLISTA HOSTILIDADE Agrave POLIacuteCIA = VIacuteNCULOS COM O TRAacuteFICOrdquo

ldquo

16

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 11: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

de aproximaacute-los ao menos de alguns seg-mentos da populaccedilatildeo18 de outro mini--Bopes e mini-Choques cujas atuaccedilatildeo atitude e ideologia parecem destinadas a promover o movimento oposto de distanciamento e tensionamento das relaccedilotildees entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Essa imagem poreacutem pode resultar algo simplista Como mostram as Tabelas 1 e 2 a seguir existem de fato

diferenccedilas enormes entre as atividades dos que atuam em GTPPs e dos que trabalham a maior parte do tempo em outros tipos de serviccedilo especialmente quanto agrave frequecircncia de abordagens registros de ocorrecircncia prisotildees e apre-ensotildees19 Mas tambeacutem haacute uma surpre-endente convergecircncia no que se refere a praticas geneacutericas de aproximaccedilatildeo com moradores levantamento de

TABELA 1_ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM MUITA FREQUEcircNCIA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO PELOS POLICIAIS ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS 950 456

REGISTROS DE OCORREcircNCIA EM DELEGACIAS 712 213

PRISOtildeES E APREENSOtildeES 710 171

RECEBIMENTO DE QUEIXAS 318 286

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES 260 258

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS 227 189

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS 157 137

ATIVIDADES COM CRIANCcedilAS JOVENS OU IDOSOS 33 95

PARTICIPACcedilAtildeO EM REUNIOtildeES NA COMUNIDADE 14 64

TABELA2_OCORREcircNCIAS DE QUE OS POLICIAIS PARTICIPARAM PELO MENOS UMA VEZ NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO TIPO DE TRABALHO POR ELES REALIZADO A MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

APREENSAtildeO DE DROGAS 803 332

APREENSAtildeO DE CRIANCcedilA OU ADOLESCENTE INFRATOR 674 246

OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 529 251

USO DE ARMA DE FOGO PELO(A) POLICIAL 332 137

APREENSAtildeO DE ARMA(S) DE FOGO 239 57

USO DE ARMAMENTO ldquoMENOS LETALrdquo 221 11 1

11

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

problemas e ateacute mediaccedilatildeo de conflitos Em outras palavras trabalhar a maior parte do tempo em GTPP natildeo exclui necessariamente o envolvimento em algumas estrateacutegias de proximidade20 Satildeo bem poucos eacute verdade os policiais dos mini-Bopes com essa caracteriacutestica ldquohiacutebridardquo mas como se viu satildeo poucos tambeacutem os do restante da tropa que rea-lizam esforccedilos frequentes de aproxi-maccedilatildeo com os moradores pelo menos ateacute onde as categorias da nossa pesquisa permitem observar

A impressatildeo que se tem a partir dos resultados expostos nesta seccedilatildeo e tambeacutem da leitura de outros trabalhos recentes sobre UPPs eacute natildeo soacute de recuo como de persistecircncia de uma grande confusatildeo e indefiniccedilatildeo em torno do que signifique ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo21 Apresentado desde o iniacutecio como pedra angular do programa de ldquopacificaccedilatildeordquo esse tipo de policia-mento em 2014 quase sete anos apoacutes a inauguraccedilatildeo da primeira UPP ainda carecia de formalizaccedilatildeo doutrinaacuteria e metodoloacutegica de uma padronizaccedilatildeo miacutenima entre as unidades de insti-tucionalizaccedilatildeo dos canais de interlo-cuccedilatildeo entre policiais e moradores de mecanismos de accountability (controle monitoramento avaliaccedilatildeo) e como jaacute visto de conteuacutedos e meacutetodos de ensino adequados ao ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia que se pretendia imple-mentar nas favelas22

Eacute um dos idealizadores e primeiro coordenador das UPPs quem ressalta o contraste entre o baixo investimento na sistematizaccedilatildeo da ldquoproximidaderdquo e o minucioso planejamento das etapas ante-riores de ldquorecuperaccedilatildeordquo e ldquoestabilizaccedilatildeordquo dos territoacuterios ocupados pela poliacutecia

Apesar de todo esse detalhamento so-bre os preparativos do ambiente para a chegada da UPP em suas primeiras fases o plano em nenhum momento detalha o que eacute ou como se deva fazer a ldquoproximidaderdquo Trata-se portanto basicamente de uma ocupaccedilatildeo mili-tar jaacute que eacute niacutetida sua maior preocu-paccedilatildeo com as fases iniciais (I e II) em detrimento das uacuteltimas Essa lacuna que deveria ter sido preenchida pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP ndash por meio de um ldquoPrograma de Poliacutecia Pacificadorardquo como previa o decreto que estruturou a UPP encontra-se ateacute hoje aberta (Rodrigues 2014 76)

No iniacutecio diz o autor a lacuna pode ter favorecido em alguma medida o processo

porque lhe deu certa plasticidade praacute-tica deixando-o aberto agrave construccedilatildeo cotidiana por atores que normalmen-te natildeo participariam no caso de uma construccedilatildeo formal como lideranccedilas locais e policiais No entanto hoje com a ampliaccedilatildeo do programa ela soa mais como ameaccedila que como opor-tunidade para o seu gerenciamento estrateacutegico Assim ela tem sido preen-chida por um amplo referencial de fa-zeres que vai do ldquotiro-porrada-e-bom-bardquo expressatildeo usada para se referir agraves operaccedilotildees policiais baseadas na loacutegica da guerra ateacute a uma cosmeacutetica e nada instrumental ldquopoliacutecia boazinhardquo que vecirc na UPP a oportunidade de melho-rar a imagem da poliacutecia Eacute provaacutevel que os problemas por que passam atualmente as UPPs sobretudo nos casos de desvios e uso arbitraacuterio da forccedila tenham a ver com esse possiacutevel descontrole gerencial (idem 79)

Algum tempo apoacutes a implemen-taccedilatildeo ainda experimental das pri-meiras unidades esperava-se um esforccedilo concentrado de avaliaccedilatildeo de organizaccedilatildeo do conhecimento praacutetico

A IMPRESSAtildeO QUE SE TEM Eacute NAtildeO SOacute DE RECUO COMO DE PERSISTEcircNCIA DE UMA GRANDE CONFUSAtildeO E INDEFINICcedilAtildeO EM TORNO DO QUE SIGNIFIQUE lsquoPOLI-CIAMENTO DE PROXIMIDADErsquordquo

ldquo12

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

adquirido e de elaboraccedilatildeo de diretrizes para a replicaccedilatildeo e o gerenciamento do programa nas outras favelas Mesmo que devessem persistir graus de flexi-bilidade dadas as enormes diferenccedilas nos ambientes de atuaccedilatildeo do novo poli-ciamento era imprescindiacutevel que essa sistematizaccedilatildeo avanccedilasse antes que o vertiginoso crescimento do nuacutemero de UPPs e de policiais deixasse escapar do controle um dos pilares centrais do pro-grama a substituiccedilatildeo da truculecircncia do desrespeito e da ldquoguerrardquo pelo diaacutelogo com a populaccedilatildeo das favelas Na verdade em 2012 o ISP chegou a con-tratar a consultoria de universidades e institutos de pesquisa para o detalha-mento do ldquoPrograma de Poliacutecia Pacifi-cadorardquo mas soacute em 2015 o processo de formalizaccedilatildeo e institucionalizaccedilatildeo das UPPs parece estar sendo retomado (cf Albernaz e Mazzurana 2015)

Tal como as mudanccedilas introdu-zidas no curso de formaccedilatildeo mencio-nadas mais acima essa retomada eacute sem duacutevida auspiciosa Vale torcer para que sua aplicaccedilatildeo efetiva natildeo chegue tarde demais e para que ainda seja possiacutevel recobrar controle sobre o espaccedilo que ficou tanto tempo aberto agrave interpre-taccedilatildeo e ao exerciacutecio informais da ldquopro-ximidaderdquo Por ora esse espaccedilo mais parece um saco de gatos onde cabem desde a pura e simples presenccedila no territoacuterio ateacute estrateacutegias mais profis-sionalizadas de aproximaccedilatildeo como a dos policiais-mediadores (Mouratildeo 2014 2015a)23 passando por inicia-tivas diversas dos chamados ldquopoliciais sociaisrdquo (Teixeira 2015) por promoccedilatildeo de festas eventos e passeios24 e por muito trabalho administrativo25 Nele cabem tambeacutem a regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades econocircmicas e de lazer nas favelas (Cano Borges e Ribeiro 2014 172 Soares 2015 230-1) um frenesi

de abordagens e apreensotildees de drogas a circulaccedilatildeo de mini-Bopes agrave caccedila de mini-traficantes (Esperanccedila 2014) e ateacute a ldquoaproximaccedilatildeo predatoacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) traduzida nas velhas praacuteticas de privatizaccedilatildeo de informaccedilotildees cor-rupccedilatildeo abuso de poder e violecircncia

Na borda desse espaccedilo como se veraacute existe ainda uma faixa de poli-ciais com atitudes de indiferenccedila ou descrenccedila quando natildeo de repulsa a qualquer espeacutecie de aproximaccedilatildeo com os moradores A frase ldquoproximidade eacute o caceterdquo ouvida de um policial de UPP por Vinicius Esperanccedila (2014 146) soa assim como eco perfeito agrave locuccedilatildeo ldquoUPP eacute o caralhordquo brandida por mora-dores refrataacuterios a qualquer tipo de aproximaccedilatildeo com a poliacutecia

ldquoINTRUSO MALTRATADO E ODIADOrdquo TENSOtildeES EM ALTA NA RELACcedilAtildeO POLIacuteCIACOMUNIDADE

Se o policiamento de proximidade foi pensado como ldquoestrateacutegia de cons-truccedilatildeo partilhada de legitimidade entre os policiais e destes com os cidadatildeosrdquo (Muniz e Mello 2015 52) natildeo sur-preende que aos tropeccedilos da ldquoproxi-midaderdquo correspondam sinais de cres-cente deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees do conviacutevio e dos graus de aceitaccedilatildeo da pre-senccedila policial por parte dos moradores de favelas com UPP Mais uma vez eacute necessaacuterio sublinhar duas limitaccedilotildees da nossa pesquisa que impotildeem ressalvas agrave anaacutelise (1) a impossibilidade de desa-gregar espacialmente os resultados logo de captar diferenccedilas entre as loca-lidades e dentro delas (2) o fato de o survey ter colhido apenas percepccedilotildees e opiniotildees dos policiais registrando portanto o que eles pensam que os moradores pensam deles natildeo necessa-riamente o que os moradores de fato

13

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

pensam Falta ainda um levantamen-to-espelho com perguntas aos resi-dentes anaacutelogas agraves respondidas pelos policiais capazes de identificar con-vergecircncias e divergecircncias entre essas percepccedilotildees que satildeo por definiccedilatildeo afe-tivas e subjetivas26

De todo modo ainda que geneacute-ricos e unilaterais extraem-se indiacutecios de deterioraccedilatildeo do ambiente nas UPPs comparando-se ao longo dos trecircs surveys as respostas sobre sentimentos que os policiais percebem na popu-laccedilatildeo Como mostra o Graacutefico 6 haacute uma progressiva e expressiva queda da per-cepccedilatildeo de sentimentos favoraacuteveis (sim-patia admiraccedilatildeo respeito aceitaccedilatildeo) e um aumento da sensaccedilatildeo de que pre-valecem a hostilidade a resistecircncia o medo a desconfianccedila e a rejeiccedilatildeo

Impressiona natildeo soacute o crescimento da parcela que se percebe malquista pela comunidade mas tambeacutem a ecircnfase

com que foram verbalizados os senti-mentos hostis na uacuteltima rodada da pes-quisa A pergunta do questionaacuterio trazia sete opccedilotildees fechadas entre elas ldquoraivardquo e um campo aberto para ldquooutros senti-mentosrdquo27 Mais de frac14 (273) das res-postas foram ldquoraivardquo mas em outras 9 os entrevistados natildeo se conten-taram com esse termo talvez por con-sideraacute-lo muito leve ou pouco espe-ciacutefico e fizeram questatildeo de carregar nas tintas utilizando o campo aberto para descrever melhor o que achavam que a maioria da populaccedilatildeo sentia por eles ldquooacutediordquo ldquooacutedio fatalrdquo ldquonojordquo ldquoascordquo ldquoaversatildeordquo ldquorepulsardquo ldquorepugnacircnciardquo ldquoojerizardquo ldquorancorrdquo ldquorevoltardquo ldquorejeiccedilatildeordquo ldquodesprezordquo ldquodesdeacutemrdquo e assim por diante Um dos entrevistados resumiu esse dra-maacutetico rol de sentimentos adversos com a frase ldquoeles nos detestamrdquo que tomamos emprestada para o tiacutetulo deste artigo E em resposta agrave pergunta sobre

GRAacuteFICO 6_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

HAacute UMA PROGRESSIVA E EXPRESSIVA QUEDA DA PERCEPCcedilAtildeO DE SENTIMENTOS FAVORAacuteVEIS E UM AUMENTO DA SENSACcedilAtildeO DE QUE PREVALECEM A HOSTILIDADE A RESISTEcircNCIA O MEDO A DESCONFIANCcedilA E A REJEICcedilAtildeOrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

14

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

motivos de insatisfaccedilatildeo com o trabalho em UPP que seraacute comentada mais adiante outro policial disse que aleacutem de ldquointrusordquo sentia-se ldquomaltratado e odiadordquo pela maioria da populaccedilatildeo

O Graacutefico 7 acima desagrega em alguns blocos de respostas os senti-mentos positivos negativos e neutros com que os policiais de UPP se veem tra-tados pelos moradores locais segundo os resultados da uacuteltima pesquisa Nunca eacute demais lembrar que esses resultados dizem respeito ao conjunto das UPPs e possivelmente ocultam grandes dife-renccedilas entre as 36 localidades assim como variaccedilotildees significativas dentro de cada uma delas

Agrave pergunta sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP o grupo mais frequente de respostas (281)

mencionava relaccedilatildeo ruim com os moradores enquanto soacute 92 referi-ram-se a boas relaccedilotildees com moradores como a melhor coisa do trabalho em UPP28 Aleacutem de percepccedilotildees e opiniotildees algumas experiecircncias vividas pelos policiais reforccedilam a impressatildeo de um ambiente muito hostil em boa parte dos territoacuterios ocupados Nota-se na Tabela 3 que nos uacuteltimos trecircs meses antes do survey 558 dos entrevistados haviam sido alvo pelo menos uma vez de algum objeto arremessado por moradores 618 natildeo haviam obtido resposta a um cumprimento 63 haviam-se sentido desrespeitados e 658 haviam sido xingados em pelo menos uma ocasiatildeo Soacute 37 no entanto disseram que algum(a) morador(a) prestara queixa contra eles durante esses trecircs meses

GRAacuteFICO 7_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

() ESPERANCcedilA CONFIANCcedilA FELICIDADE SEGURANCcedilA GRATIDAtildeO

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

15

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Reaccedilotildees anaacutelogas por parte de habitantes das favelas ndash arremesso de objetos e insultos ndash foram relatadas em pesquisas qualitativas no comeccedilo da instalaccedilatildeo das UPPs e associadas agrave resis-tecircncia ou desconfianccedila inicial dos mora-dores em relaccedilatildeo agrave presenccedila contiacutenua da poliacutecia nas comunidades (Cano Borges e Ribeiro 2014 181 Menezes 2014 671)29 Esperava-se que com o correr do tempo agrave medida que a con-vivecircncia e a proximidade produzisssem seus efeitos humanizadores essas mani-festaccedilotildees hostis tendessem a decrescer ndash o que de fato parece ter acontecido em algumas UPPs mais antigas pelo menos ateacute poucos anos atraacutes30 Mas natildeo soacute a tensatildeo se manteve alta em outras localidades como recentemente parte das favelas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada voltou a apresentar niacuteveis elevados de tensatildeo e desconfianccedila ndash situaccedilatildeo que o Graacutefico 6 acima em certa medida traduz e que se confirma em pesquisas qualitativas rea-lizadas nos uacuteltimos dois anos (Menezes 2014 Esperanccedila 2014 Soares 2015)

O discurso de alguns policiais e agraves vezes tambeacutem de moradores tende a associar esse aumento de tensotildees ao ldquoretorno do traacuteficordquo e agrave volta dos con-frontos armados em vaacuterias favelas com UPP tanto as de ocupaccedilatildeo recente

quanto algumas das mais antigas Temerosos com as consequecircncias do reempoderamento dos traficantes e pre-ocupados em natildeo se identificar como ldquoamigos da poliacuteciardquo os moradores teriam passado com mais frequecircncia a evitar o contato ou mesmo a mani-festar desapreccedilo e hostilidade contra os policiais Discutiremos mais agrave frente o tema do ldquoretornordquo e a interpretaccedilatildeo que tende a creditar-lhe inteiramente os tropeccedilos do policiamento de pro-ximidade Cabe ressaltar por ora que segundo observaccedilotildees etnograacuteficas feitas em 2013 e 2014 os conflitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo despontam em con-textos e por motivos diversos natildeo redu-tiacuteveis agrave equaccedilatildeo simplista hostilidade agrave poliacutecia = viacutenculos com o traacutefico

Quando os policiais recorriam ao capi-tal da forccedila fiacutesica para realizar prisotildees e apreensotildees os moradores muitas vezes praticavam atos de agressatildeo aos policiais estimulados por conflitos decorrentes de abordagens policiais tentativas de prisotildees interrupccedilotildees de festas Foram incontaacuteveis os relatos de policiais que receberam pedradas e ateacute gavetadas [sic] de moradores re-voltados Na favela da zona Norte um policial retornou agrave base com a cabeccedila aberta atingida pelas pedras Na favela da zona Sul ateacute crianccedilas se engajavam nas accedilotildees ldquoEu fiquei muito surpreso

TABELA 3_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES ( DE ENTREVISTADOS)

NENHUMA VEZ

UMA VEZ

ALGUMAS VEZES

MUITAS VEZES

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 442 84 227 247

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 342 58 233 367

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 370 67 234 329

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 382 40 241 337

MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 963 20 09 08

OS CONFLITOS ENTRE POLIacuteCIA E POPULACcedilAtildeO DESPONTAM EM CONTEXTOS E POR MOTIVOS DIVERSOS NAtildeO REDUTIacuteVEIS Agrave EQUACcedilAtildeO SIMPLISTA HOSTILIDADE Agrave POLIacuteCIA = VIacuteNCULOS COM O TRAacuteFICOrdquo

ldquo

16

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 12: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

problemas e ateacute mediaccedilatildeo de conflitos Em outras palavras trabalhar a maior parte do tempo em GTPP natildeo exclui necessariamente o envolvimento em algumas estrateacutegias de proximidade20 Satildeo bem poucos eacute verdade os policiais dos mini-Bopes com essa caracteriacutestica ldquohiacutebridardquo mas como se viu satildeo poucos tambeacutem os do restante da tropa que rea-lizam esforccedilos frequentes de aproxi-maccedilatildeo com os moradores pelo menos ateacute onde as categorias da nossa pesquisa permitem observar

A impressatildeo que se tem a partir dos resultados expostos nesta seccedilatildeo e tambeacutem da leitura de outros trabalhos recentes sobre UPPs eacute natildeo soacute de recuo como de persistecircncia de uma grande confusatildeo e indefiniccedilatildeo em torno do que signifique ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo21 Apresentado desde o iniacutecio como pedra angular do programa de ldquopacificaccedilatildeordquo esse tipo de policia-mento em 2014 quase sete anos apoacutes a inauguraccedilatildeo da primeira UPP ainda carecia de formalizaccedilatildeo doutrinaacuteria e metodoloacutegica de uma padronizaccedilatildeo miacutenima entre as unidades de insti-tucionalizaccedilatildeo dos canais de interlo-cuccedilatildeo entre policiais e moradores de mecanismos de accountability (controle monitoramento avaliaccedilatildeo) e como jaacute visto de conteuacutedos e meacutetodos de ensino adequados ao ldquonovo paradigmardquo de poliacutecia que se pretendia imple-mentar nas favelas22

Eacute um dos idealizadores e primeiro coordenador das UPPs quem ressalta o contraste entre o baixo investimento na sistematizaccedilatildeo da ldquoproximidaderdquo e o minucioso planejamento das etapas ante-riores de ldquorecuperaccedilatildeordquo e ldquoestabilizaccedilatildeordquo dos territoacuterios ocupados pela poliacutecia

Apesar de todo esse detalhamento so-bre os preparativos do ambiente para a chegada da UPP em suas primeiras fases o plano em nenhum momento detalha o que eacute ou como se deva fazer a ldquoproximidaderdquo Trata-se portanto basicamente de uma ocupaccedilatildeo mili-tar jaacute que eacute niacutetida sua maior preocu-paccedilatildeo com as fases iniciais (I e II) em detrimento das uacuteltimas Essa lacuna que deveria ter sido preenchida pelo Instituto de Seguranccedila Puacuteblica ndash ISP ndash por meio de um ldquoPrograma de Poliacutecia Pacificadorardquo como previa o decreto que estruturou a UPP encontra-se ateacute hoje aberta (Rodrigues 2014 76)

No iniacutecio diz o autor a lacuna pode ter favorecido em alguma medida o processo

porque lhe deu certa plasticidade praacute-tica deixando-o aberto agrave construccedilatildeo cotidiana por atores que normalmen-te natildeo participariam no caso de uma construccedilatildeo formal como lideranccedilas locais e policiais No entanto hoje com a ampliaccedilatildeo do programa ela soa mais como ameaccedila que como opor-tunidade para o seu gerenciamento estrateacutegico Assim ela tem sido preen-chida por um amplo referencial de fa-zeres que vai do ldquotiro-porrada-e-bom-bardquo expressatildeo usada para se referir agraves operaccedilotildees policiais baseadas na loacutegica da guerra ateacute a uma cosmeacutetica e nada instrumental ldquopoliacutecia boazinhardquo que vecirc na UPP a oportunidade de melho-rar a imagem da poliacutecia Eacute provaacutevel que os problemas por que passam atualmente as UPPs sobretudo nos casos de desvios e uso arbitraacuterio da forccedila tenham a ver com esse possiacutevel descontrole gerencial (idem 79)

Algum tempo apoacutes a implemen-taccedilatildeo ainda experimental das pri-meiras unidades esperava-se um esforccedilo concentrado de avaliaccedilatildeo de organizaccedilatildeo do conhecimento praacutetico

A IMPRESSAtildeO QUE SE TEM Eacute NAtildeO SOacute DE RECUO COMO DE PERSISTEcircNCIA DE UMA GRANDE CONFUSAtildeO E INDEFINICcedilAtildeO EM TORNO DO QUE SIGNIFIQUE lsquoPOLI-CIAMENTO DE PROXIMIDADErsquordquo

ldquo12

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

adquirido e de elaboraccedilatildeo de diretrizes para a replicaccedilatildeo e o gerenciamento do programa nas outras favelas Mesmo que devessem persistir graus de flexi-bilidade dadas as enormes diferenccedilas nos ambientes de atuaccedilatildeo do novo poli-ciamento era imprescindiacutevel que essa sistematizaccedilatildeo avanccedilasse antes que o vertiginoso crescimento do nuacutemero de UPPs e de policiais deixasse escapar do controle um dos pilares centrais do pro-grama a substituiccedilatildeo da truculecircncia do desrespeito e da ldquoguerrardquo pelo diaacutelogo com a populaccedilatildeo das favelas Na verdade em 2012 o ISP chegou a con-tratar a consultoria de universidades e institutos de pesquisa para o detalha-mento do ldquoPrograma de Poliacutecia Pacifi-cadorardquo mas soacute em 2015 o processo de formalizaccedilatildeo e institucionalizaccedilatildeo das UPPs parece estar sendo retomado (cf Albernaz e Mazzurana 2015)

Tal como as mudanccedilas introdu-zidas no curso de formaccedilatildeo mencio-nadas mais acima essa retomada eacute sem duacutevida auspiciosa Vale torcer para que sua aplicaccedilatildeo efetiva natildeo chegue tarde demais e para que ainda seja possiacutevel recobrar controle sobre o espaccedilo que ficou tanto tempo aberto agrave interpre-taccedilatildeo e ao exerciacutecio informais da ldquopro-ximidaderdquo Por ora esse espaccedilo mais parece um saco de gatos onde cabem desde a pura e simples presenccedila no territoacuterio ateacute estrateacutegias mais profis-sionalizadas de aproximaccedilatildeo como a dos policiais-mediadores (Mouratildeo 2014 2015a)23 passando por inicia-tivas diversas dos chamados ldquopoliciais sociaisrdquo (Teixeira 2015) por promoccedilatildeo de festas eventos e passeios24 e por muito trabalho administrativo25 Nele cabem tambeacutem a regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades econocircmicas e de lazer nas favelas (Cano Borges e Ribeiro 2014 172 Soares 2015 230-1) um frenesi

de abordagens e apreensotildees de drogas a circulaccedilatildeo de mini-Bopes agrave caccedila de mini-traficantes (Esperanccedila 2014) e ateacute a ldquoaproximaccedilatildeo predatoacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) traduzida nas velhas praacuteticas de privatizaccedilatildeo de informaccedilotildees cor-rupccedilatildeo abuso de poder e violecircncia

Na borda desse espaccedilo como se veraacute existe ainda uma faixa de poli-ciais com atitudes de indiferenccedila ou descrenccedila quando natildeo de repulsa a qualquer espeacutecie de aproximaccedilatildeo com os moradores A frase ldquoproximidade eacute o caceterdquo ouvida de um policial de UPP por Vinicius Esperanccedila (2014 146) soa assim como eco perfeito agrave locuccedilatildeo ldquoUPP eacute o caralhordquo brandida por mora-dores refrataacuterios a qualquer tipo de aproximaccedilatildeo com a poliacutecia

ldquoINTRUSO MALTRATADO E ODIADOrdquo TENSOtildeES EM ALTA NA RELACcedilAtildeO POLIacuteCIACOMUNIDADE

Se o policiamento de proximidade foi pensado como ldquoestrateacutegia de cons-truccedilatildeo partilhada de legitimidade entre os policiais e destes com os cidadatildeosrdquo (Muniz e Mello 2015 52) natildeo sur-preende que aos tropeccedilos da ldquoproxi-midaderdquo correspondam sinais de cres-cente deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees do conviacutevio e dos graus de aceitaccedilatildeo da pre-senccedila policial por parte dos moradores de favelas com UPP Mais uma vez eacute necessaacuterio sublinhar duas limitaccedilotildees da nossa pesquisa que impotildeem ressalvas agrave anaacutelise (1) a impossibilidade de desa-gregar espacialmente os resultados logo de captar diferenccedilas entre as loca-lidades e dentro delas (2) o fato de o survey ter colhido apenas percepccedilotildees e opiniotildees dos policiais registrando portanto o que eles pensam que os moradores pensam deles natildeo necessa-riamente o que os moradores de fato

13

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

pensam Falta ainda um levantamen-to-espelho com perguntas aos resi-dentes anaacutelogas agraves respondidas pelos policiais capazes de identificar con-vergecircncias e divergecircncias entre essas percepccedilotildees que satildeo por definiccedilatildeo afe-tivas e subjetivas26

De todo modo ainda que geneacute-ricos e unilaterais extraem-se indiacutecios de deterioraccedilatildeo do ambiente nas UPPs comparando-se ao longo dos trecircs surveys as respostas sobre sentimentos que os policiais percebem na popu-laccedilatildeo Como mostra o Graacutefico 6 haacute uma progressiva e expressiva queda da per-cepccedilatildeo de sentimentos favoraacuteveis (sim-patia admiraccedilatildeo respeito aceitaccedilatildeo) e um aumento da sensaccedilatildeo de que pre-valecem a hostilidade a resistecircncia o medo a desconfianccedila e a rejeiccedilatildeo

Impressiona natildeo soacute o crescimento da parcela que se percebe malquista pela comunidade mas tambeacutem a ecircnfase

com que foram verbalizados os senti-mentos hostis na uacuteltima rodada da pes-quisa A pergunta do questionaacuterio trazia sete opccedilotildees fechadas entre elas ldquoraivardquo e um campo aberto para ldquooutros senti-mentosrdquo27 Mais de frac14 (273) das res-postas foram ldquoraivardquo mas em outras 9 os entrevistados natildeo se conten-taram com esse termo talvez por con-sideraacute-lo muito leve ou pouco espe-ciacutefico e fizeram questatildeo de carregar nas tintas utilizando o campo aberto para descrever melhor o que achavam que a maioria da populaccedilatildeo sentia por eles ldquooacutediordquo ldquooacutedio fatalrdquo ldquonojordquo ldquoascordquo ldquoaversatildeordquo ldquorepulsardquo ldquorepugnacircnciardquo ldquoojerizardquo ldquorancorrdquo ldquorevoltardquo ldquorejeiccedilatildeordquo ldquodesprezordquo ldquodesdeacutemrdquo e assim por diante Um dos entrevistados resumiu esse dra-maacutetico rol de sentimentos adversos com a frase ldquoeles nos detestamrdquo que tomamos emprestada para o tiacutetulo deste artigo E em resposta agrave pergunta sobre

GRAacuteFICO 6_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

HAacute UMA PROGRESSIVA E EXPRESSIVA QUEDA DA PERCEPCcedilAtildeO DE SENTIMENTOS FAVORAacuteVEIS E UM AUMENTO DA SENSACcedilAtildeO DE QUE PREVALECEM A HOSTILIDADE A RESISTEcircNCIA O MEDO A DESCONFIANCcedilA E A REJEICcedilAtildeOrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

14

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

motivos de insatisfaccedilatildeo com o trabalho em UPP que seraacute comentada mais adiante outro policial disse que aleacutem de ldquointrusordquo sentia-se ldquomaltratado e odiadordquo pela maioria da populaccedilatildeo

O Graacutefico 7 acima desagrega em alguns blocos de respostas os senti-mentos positivos negativos e neutros com que os policiais de UPP se veem tra-tados pelos moradores locais segundo os resultados da uacuteltima pesquisa Nunca eacute demais lembrar que esses resultados dizem respeito ao conjunto das UPPs e possivelmente ocultam grandes dife-renccedilas entre as 36 localidades assim como variaccedilotildees significativas dentro de cada uma delas

Agrave pergunta sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP o grupo mais frequente de respostas (281)

mencionava relaccedilatildeo ruim com os moradores enquanto soacute 92 referi-ram-se a boas relaccedilotildees com moradores como a melhor coisa do trabalho em UPP28 Aleacutem de percepccedilotildees e opiniotildees algumas experiecircncias vividas pelos policiais reforccedilam a impressatildeo de um ambiente muito hostil em boa parte dos territoacuterios ocupados Nota-se na Tabela 3 que nos uacuteltimos trecircs meses antes do survey 558 dos entrevistados haviam sido alvo pelo menos uma vez de algum objeto arremessado por moradores 618 natildeo haviam obtido resposta a um cumprimento 63 haviam-se sentido desrespeitados e 658 haviam sido xingados em pelo menos uma ocasiatildeo Soacute 37 no entanto disseram que algum(a) morador(a) prestara queixa contra eles durante esses trecircs meses

GRAacuteFICO 7_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

() ESPERANCcedilA CONFIANCcedilA FELICIDADE SEGURANCcedilA GRATIDAtildeO

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

15

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Reaccedilotildees anaacutelogas por parte de habitantes das favelas ndash arremesso de objetos e insultos ndash foram relatadas em pesquisas qualitativas no comeccedilo da instalaccedilatildeo das UPPs e associadas agrave resis-tecircncia ou desconfianccedila inicial dos mora-dores em relaccedilatildeo agrave presenccedila contiacutenua da poliacutecia nas comunidades (Cano Borges e Ribeiro 2014 181 Menezes 2014 671)29 Esperava-se que com o correr do tempo agrave medida que a con-vivecircncia e a proximidade produzisssem seus efeitos humanizadores essas mani-festaccedilotildees hostis tendessem a decrescer ndash o que de fato parece ter acontecido em algumas UPPs mais antigas pelo menos ateacute poucos anos atraacutes30 Mas natildeo soacute a tensatildeo se manteve alta em outras localidades como recentemente parte das favelas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada voltou a apresentar niacuteveis elevados de tensatildeo e desconfianccedila ndash situaccedilatildeo que o Graacutefico 6 acima em certa medida traduz e que se confirma em pesquisas qualitativas rea-lizadas nos uacuteltimos dois anos (Menezes 2014 Esperanccedila 2014 Soares 2015)

O discurso de alguns policiais e agraves vezes tambeacutem de moradores tende a associar esse aumento de tensotildees ao ldquoretorno do traacuteficordquo e agrave volta dos con-frontos armados em vaacuterias favelas com UPP tanto as de ocupaccedilatildeo recente

quanto algumas das mais antigas Temerosos com as consequecircncias do reempoderamento dos traficantes e pre-ocupados em natildeo se identificar como ldquoamigos da poliacuteciardquo os moradores teriam passado com mais frequecircncia a evitar o contato ou mesmo a mani-festar desapreccedilo e hostilidade contra os policiais Discutiremos mais agrave frente o tema do ldquoretornordquo e a interpretaccedilatildeo que tende a creditar-lhe inteiramente os tropeccedilos do policiamento de pro-ximidade Cabe ressaltar por ora que segundo observaccedilotildees etnograacuteficas feitas em 2013 e 2014 os conflitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo despontam em con-textos e por motivos diversos natildeo redu-tiacuteveis agrave equaccedilatildeo simplista hostilidade agrave poliacutecia = viacutenculos com o traacutefico

Quando os policiais recorriam ao capi-tal da forccedila fiacutesica para realizar prisotildees e apreensotildees os moradores muitas vezes praticavam atos de agressatildeo aos policiais estimulados por conflitos decorrentes de abordagens policiais tentativas de prisotildees interrupccedilotildees de festas Foram incontaacuteveis os relatos de policiais que receberam pedradas e ateacute gavetadas [sic] de moradores re-voltados Na favela da zona Norte um policial retornou agrave base com a cabeccedila aberta atingida pelas pedras Na favela da zona Sul ateacute crianccedilas se engajavam nas accedilotildees ldquoEu fiquei muito surpreso

TABELA 3_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES ( DE ENTREVISTADOS)

NENHUMA VEZ

UMA VEZ

ALGUMAS VEZES

MUITAS VEZES

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 442 84 227 247

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 342 58 233 367

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 370 67 234 329

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 382 40 241 337

MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 963 20 09 08

OS CONFLITOS ENTRE POLIacuteCIA E POPULACcedilAtildeO DESPONTAM EM CONTEXTOS E POR MOTIVOS DIVERSOS NAtildeO REDUTIacuteVEIS Agrave EQUACcedilAtildeO SIMPLISTA HOSTILIDADE Agrave POLIacuteCIA = VIacuteNCULOS COM O TRAacuteFICOrdquo

ldquo

16

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 13: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

adquirido e de elaboraccedilatildeo de diretrizes para a replicaccedilatildeo e o gerenciamento do programa nas outras favelas Mesmo que devessem persistir graus de flexi-bilidade dadas as enormes diferenccedilas nos ambientes de atuaccedilatildeo do novo poli-ciamento era imprescindiacutevel que essa sistematizaccedilatildeo avanccedilasse antes que o vertiginoso crescimento do nuacutemero de UPPs e de policiais deixasse escapar do controle um dos pilares centrais do pro-grama a substituiccedilatildeo da truculecircncia do desrespeito e da ldquoguerrardquo pelo diaacutelogo com a populaccedilatildeo das favelas Na verdade em 2012 o ISP chegou a con-tratar a consultoria de universidades e institutos de pesquisa para o detalha-mento do ldquoPrograma de Poliacutecia Pacifi-cadorardquo mas soacute em 2015 o processo de formalizaccedilatildeo e institucionalizaccedilatildeo das UPPs parece estar sendo retomado (cf Albernaz e Mazzurana 2015)

Tal como as mudanccedilas introdu-zidas no curso de formaccedilatildeo mencio-nadas mais acima essa retomada eacute sem duacutevida auspiciosa Vale torcer para que sua aplicaccedilatildeo efetiva natildeo chegue tarde demais e para que ainda seja possiacutevel recobrar controle sobre o espaccedilo que ficou tanto tempo aberto agrave interpre-taccedilatildeo e ao exerciacutecio informais da ldquopro-ximidaderdquo Por ora esse espaccedilo mais parece um saco de gatos onde cabem desde a pura e simples presenccedila no territoacuterio ateacute estrateacutegias mais profis-sionalizadas de aproximaccedilatildeo como a dos policiais-mediadores (Mouratildeo 2014 2015a)23 passando por inicia-tivas diversas dos chamados ldquopoliciais sociaisrdquo (Teixeira 2015) por promoccedilatildeo de festas eventos e passeios24 e por muito trabalho administrativo25 Nele cabem tambeacutem a regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades econocircmicas e de lazer nas favelas (Cano Borges e Ribeiro 2014 172 Soares 2015 230-1) um frenesi

de abordagens e apreensotildees de drogas a circulaccedilatildeo de mini-Bopes agrave caccedila de mini-traficantes (Esperanccedila 2014) e ateacute a ldquoaproximaccedilatildeo predatoacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) traduzida nas velhas praacuteticas de privatizaccedilatildeo de informaccedilotildees cor-rupccedilatildeo abuso de poder e violecircncia

Na borda desse espaccedilo como se veraacute existe ainda uma faixa de poli-ciais com atitudes de indiferenccedila ou descrenccedila quando natildeo de repulsa a qualquer espeacutecie de aproximaccedilatildeo com os moradores A frase ldquoproximidade eacute o caceterdquo ouvida de um policial de UPP por Vinicius Esperanccedila (2014 146) soa assim como eco perfeito agrave locuccedilatildeo ldquoUPP eacute o caralhordquo brandida por mora-dores refrataacuterios a qualquer tipo de aproximaccedilatildeo com a poliacutecia

ldquoINTRUSO MALTRATADO E ODIADOrdquo TENSOtildeES EM ALTA NA RELACcedilAtildeO POLIacuteCIACOMUNIDADE

Se o policiamento de proximidade foi pensado como ldquoestrateacutegia de cons-truccedilatildeo partilhada de legitimidade entre os policiais e destes com os cidadatildeosrdquo (Muniz e Mello 2015 52) natildeo sur-preende que aos tropeccedilos da ldquoproxi-midaderdquo correspondam sinais de cres-cente deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees do conviacutevio e dos graus de aceitaccedilatildeo da pre-senccedila policial por parte dos moradores de favelas com UPP Mais uma vez eacute necessaacuterio sublinhar duas limitaccedilotildees da nossa pesquisa que impotildeem ressalvas agrave anaacutelise (1) a impossibilidade de desa-gregar espacialmente os resultados logo de captar diferenccedilas entre as loca-lidades e dentro delas (2) o fato de o survey ter colhido apenas percepccedilotildees e opiniotildees dos policiais registrando portanto o que eles pensam que os moradores pensam deles natildeo necessa-riamente o que os moradores de fato

13

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

pensam Falta ainda um levantamen-to-espelho com perguntas aos resi-dentes anaacutelogas agraves respondidas pelos policiais capazes de identificar con-vergecircncias e divergecircncias entre essas percepccedilotildees que satildeo por definiccedilatildeo afe-tivas e subjetivas26

De todo modo ainda que geneacute-ricos e unilaterais extraem-se indiacutecios de deterioraccedilatildeo do ambiente nas UPPs comparando-se ao longo dos trecircs surveys as respostas sobre sentimentos que os policiais percebem na popu-laccedilatildeo Como mostra o Graacutefico 6 haacute uma progressiva e expressiva queda da per-cepccedilatildeo de sentimentos favoraacuteveis (sim-patia admiraccedilatildeo respeito aceitaccedilatildeo) e um aumento da sensaccedilatildeo de que pre-valecem a hostilidade a resistecircncia o medo a desconfianccedila e a rejeiccedilatildeo

Impressiona natildeo soacute o crescimento da parcela que se percebe malquista pela comunidade mas tambeacutem a ecircnfase

com que foram verbalizados os senti-mentos hostis na uacuteltima rodada da pes-quisa A pergunta do questionaacuterio trazia sete opccedilotildees fechadas entre elas ldquoraivardquo e um campo aberto para ldquooutros senti-mentosrdquo27 Mais de frac14 (273) das res-postas foram ldquoraivardquo mas em outras 9 os entrevistados natildeo se conten-taram com esse termo talvez por con-sideraacute-lo muito leve ou pouco espe-ciacutefico e fizeram questatildeo de carregar nas tintas utilizando o campo aberto para descrever melhor o que achavam que a maioria da populaccedilatildeo sentia por eles ldquooacutediordquo ldquooacutedio fatalrdquo ldquonojordquo ldquoascordquo ldquoaversatildeordquo ldquorepulsardquo ldquorepugnacircnciardquo ldquoojerizardquo ldquorancorrdquo ldquorevoltardquo ldquorejeiccedilatildeordquo ldquodesprezordquo ldquodesdeacutemrdquo e assim por diante Um dos entrevistados resumiu esse dra-maacutetico rol de sentimentos adversos com a frase ldquoeles nos detestamrdquo que tomamos emprestada para o tiacutetulo deste artigo E em resposta agrave pergunta sobre

GRAacuteFICO 6_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

HAacute UMA PROGRESSIVA E EXPRESSIVA QUEDA DA PERCEPCcedilAtildeO DE SENTIMENTOS FAVORAacuteVEIS E UM AUMENTO DA SENSACcedilAtildeO DE QUE PREVALECEM A HOSTILIDADE A RESISTEcircNCIA O MEDO A DESCONFIANCcedilA E A REJEICcedilAtildeOrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

14

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

motivos de insatisfaccedilatildeo com o trabalho em UPP que seraacute comentada mais adiante outro policial disse que aleacutem de ldquointrusordquo sentia-se ldquomaltratado e odiadordquo pela maioria da populaccedilatildeo

O Graacutefico 7 acima desagrega em alguns blocos de respostas os senti-mentos positivos negativos e neutros com que os policiais de UPP se veem tra-tados pelos moradores locais segundo os resultados da uacuteltima pesquisa Nunca eacute demais lembrar que esses resultados dizem respeito ao conjunto das UPPs e possivelmente ocultam grandes dife-renccedilas entre as 36 localidades assim como variaccedilotildees significativas dentro de cada uma delas

Agrave pergunta sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP o grupo mais frequente de respostas (281)

mencionava relaccedilatildeo ruim com os moradores enquanto soacute 92 referi-ram-se a boas relaccedilotildees com moradores como a melhor coisa do trabalho em UPP28 Aleacutem de percepccedilotildees e opiniotildees algumas experiecircncias vividas pelos policiais reforccedilam a impressatildeo de um ambiente muito hostil em boa parte dos territoacuterios ocupados Nota-se na Tabela 3 que nos uacuteltimos trecircs meses antes do survey 558 dos entrevistados haviam sido alvo pelo menos uma vez de algum objeto arremessado por moradores 618 natildeo haviam obtido resposta a um cumprimento 63 haviam-se sentido desrespeitados e 658 haviam sido xingados em pelo menos uma ocasiatildeo Soacute 37 no entanto disseram que algum(a) morador(a) prestara queixa contra eles durante esses trecircs meses

GRAacuteFICO 7_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

() ESPERANCcedilA CONFIANCcedilA FELICIDADE SEGURANCcedilA GRATIDAtildeO

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

15

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Reaccedilotildees anaacutelogas por parte de habitantes das favelas ndash arremesso de objetos e insultos ndash foram relatadas em pesquisas qualitativas no comeccedilo da instalaccedilatildeo das UPPs e associadas agrave resis-tecircncia ou desconfianccedila inicial dos mora-dores em relaccedilatildeo agrave presenccedila contiacutenua da poliacutecia nas comunidades (Cano Borges e Ribeiro 2014 181 Menezes 2014 671)29 Esperava-se que com o correr do tempo agrave medida que a con-vivecircncia e a proximidade produzisssem seus efeitos humanizadores essas mani-festaccedilotildees hostis tendessem a decrescer ndash o que de fato parece ter acontecido em algumas UPPs mais antigas pelo menos ateacute poucos anos atraacutes30 Mas natildeo soacute a tensatildeo se manteve alta em outras localidades como recentemente parte das favelas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada voltou a apresentar niacuteveis elevados de tensatildeo e desconfianccedila ndash situaccedilatildeo que o Graacutefico 6 acima em certa medida traduz e que se confirma em pesquisas qualitativas rea-lizadas nos uacuteltimos dois anos (Menezes 2014 Esperanccedila 2014 Soares 2015)

O discurso de alguns policiais e agraves vezes tambeacutem de moradores tende a associar esse aumento de tensotildees ao ldquoretorno do traacuteficordquo e agrave volta dos con-frontos armados em vaacuterias favelas com UPP tanto as de ocupaccedilatildeo recente

quanto algumas das mais antigas Temerosos com as consequecircncias do reempoderamento dos traficantes e pre-ocupados em natildeo se identificar como ldquoamigos da poliacuteciardquo os moradores teriam passado com mais frequecircncia a evitar o contato ou mesmo a mani-festar desapreccedilo e hostilidade contra os policiais Discutiremos mais agrave frente o tema do ldquoretornordquo e a interpretaccedilatildeo que tende a creditar-lhe inteiramente os tropeccedilos do policiamento de pro-ximidade Cabe ressaltar por ora que segundo observaccedilotildees etnograacuteficas feitas em 2013 e 2014 os conflitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo despontam em con-textos e por motivos diversos natildeo redu-tiacuteveis agrave equaccedilatildeo simplista hostilidade agrave poliacutecia = viacutenculos com o traacutefico

Quando os policiais recorriam ao capi-tal da forccedila fiacutesica para realizar prisotildees e apreensotildees os moradores muitas vezes praticavam atos de agressatildeo aos policiais estimulados por conflitos decorrentes de abordagens policiais tentativas de prisotildees interrupccedilotildees de festas Foram incontaacuteveis os relatos de policiais que receberam pedradas e ateacute gavetadas [sic] de moradores re-voltados Na favela da zona Norte um policial retornou agrave base com a cabeccedila aberta atingida pelas pedras Na favela da zona Sul ateacute crianccedilas se engajavam nas accedilotildees ldquoEu fiquei muito surpreso

TABELA 3_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES ( DE ENTREVISTADOS)

NENHUMA VEZ

UMA VEZ

ALGUMAS VEZES

MUITAS VEZES

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 442 84 227 247

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 342 58 233 367

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 370 67 234 329

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 382 40 241 337

MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 963 20 09 08

OS CONFLITOS ENTRE POLIacuteCIA E POPULACcedilAtildeO DESPONTAM EM CONTEXTOS E POR MOTIVOS DIVERSOS NAtildeO REDUTIacuteVEIS Agrave EQUACcedilAtildeO SIMPLISTA HOSTILIDADE Agrave POLIacuteCIA = VIacuteNCULOS COM O TRAacuteFICOrdquo

ldquo

16

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 14: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

pensam Falta ainda um levantamen-to-espelho com perguntas aos resi-dentes anaacutelogas agraves respondidas pelos policiais capazes de identificar con-vergecircncias e divergecircncias entre essas percepccedilotildees que satildeo por definiccedilatildeo afe-tivas e subjetivas26

De todo modo ainda que geneacute-ricos e unilaterais extraem-se indiacutecios de deterioraccedilatildeo do ambiente nas UPPs comparando-se ao longo dos trecircs surveys as respostas sobre sentimentos que os policiais percebem na popu-laccedilatildeo Como mostra o Graacutefico 6 haacute uma progressiva e expressiva queda da per-cepccedilatildeo de sentimentos favoraacuteveis (sim-patia admiraccedilatildeo respeito aceitaccedilatildeo) e um aumento da sensaccedilatildeo de que pre-valecem a hostilidade a resistecircncia o medo a desconfianccedila e a rejeiccedilatildeo

Impressiona natildeo soacute o crescimento da parcela que se percebe malquista pela comunidade mas tambeacutem a ecircnfase

com que foram verbalizados os senti-mentos hostis na uacuteltima rodada da pes-quisa A pergunta do questionaacuterio trazia sete opccedilotildees fechadas entre elas ldquoraivardquo e um campo aberto para ldquooutros senti-mentosrdquo27 Mais de frac14 (273) das res-postas foram ldquoraivardquo mas em outras 9 os entrevistados natildeo se conten-taram com esse termo talvez por con-sideraacute-lo muito leve ou pouco espe-ciacutefico e fizeram questatildeo de carregar nas tintas utilizando o campo aberto para descrever melhor o que achavam que a maioria da populaccedilatildeo sentia por eles ldquooacutediordquo ldquooacutedio fatalrdquo ldquonojordquo ldquoascordquo ldquoaversatildeordquo ldquorepulsardquo ldquorepugnacircnciardquo ldquoojerizardquo ldquorancorrdquo ldquorevoltardquo ldquorejeiccedilatildeordquo ldquodesprezordquo ldquodesdeacutemrdquo e assim por diante Um dos entrevistados resumiu esse dra-maacutetico rol de sentimentos adversos com a frase ldquoeles nos detestamrdquo que tomamos emprestada para o tiacutetulo deste artigo E em resposta agrave pergunta sobre

GRAacuteFICO 6_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

HAacute UMA PROGRESSIVA E EXPRESSIVA QUEDA DA PERCEPCcedilAtildeO DE SENTIMENTOS FAVORAacuteVEIS E UM AUMENTO DA SENSACcedilAtildeO DE QUE PREVALECEM A HOSTILIDADE A RESISTEcircNCIA O MEDO A DESCONFIANCcedilA E A REJEICcedilAtildeOrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

14

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

motivos de insatisfaccedilatildeo com o trabalho em UPP que seraacute comentada mais adiante outro policial disse que aleacutem de ldquointrusordquo sentia-se ldquomaltratado e odiadordquo pela maioria da populaccedilatildeo

O Graacutefico 7 acima desagrega em alguns blocos de respostas os senti-mentos positivos negativos e neutros com que os policiais de UPP se veem tra-tados pelos moradores locais segundo os resultados da uacuteltima pesquisa Nunca eacute demais lembrar que esses resultados dizem respeito ao conjunto das UPPs e possivelmente ocultam grandes dife-renccedilas entre as 36 localidades assim como variaccedilotildees significativas dentro de cada uma delas

Agrave pergunta sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP o grupo mais frequente de respostas (281)

mencionava relaccedilatildeo ruim com os moradores enquanto soacute 92 referi-ram-se a boas relaccedilotildees com moradores como a melhor coisa do trabalho em UPP28 Aleacutem de percepccedilotildees e opiniotildees algumas experiecircncias vividas pelos policiais reforccedilam a impressatildeo de um ambiente muito hostil em boa parte dos territoacuterios ocupados Nota-se na Tabela 3 que nos uacuteltimos trecircs meses antes do survey 558 dos entrevistados haviam sido alvo pelo menos uma vez de algum objeto arremessado por moradores 618 natildeo haviam obtido resposta a um cumprimento 63 haviam-se sentido desrespeitados e 658 haviam sido xingados em pelo menos uma ocasiatildeo Soacute 37 no entanto disseram que algum(a) morador(a) prestara queixa contra eles durante esses trecircs meses

GRAacuteFICO 7_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

() ESPERANCcedilA CONFIANCcedilA FELICIDADE SEGURANCcedilA GRATIDAtildeO

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

15

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Reaccedilotildees anaacutelogas por parte de habitantes das favelas ndash arremesso de objetos e insultos ndash foram relatadas em pesquisas qualitativas no comeccedilo da instalaccedilatildeo das UPPs e associadas agrave resis-tecircncia ou desconfianccedila inicial dos mora-dores em relaccedilatildeo agrave presenccedila contiacutenua da poliacutecia nas comunidades (Cano Borges e Ribeiro 2014 181 Menezes 2014 671)29 Esperava-se que com o correr do tempo agrave medida que a con-vivecircncia e a proximidade produzisssem seus efeitos humanizadores essas mani-festaccedilotildees hostis tendessem a decrescer ndash o que de fato parece ter acontecido em algumas UPPs mais antigas pelo menos ateacute poucos anos atraacutes30 Mas natildeo soacute a tensatildeo se manteve alta em outras localidades como recentemente parte das favelas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada voltou a apresentar niacuteveis elevados de tensatildeo e desconfianccedila ndash situaccedilatildeo que o Graacutefico 6 acima em certa medida traduz e que se confirma em pesquisas qualitativas rea-lizadas nos uacuteltimos dois anos (Menezes 2014 Esperanccedila 2014 Soares 2015)

O discurso de alguns policiais e agraves vezes tambeacutem de moradores tende a associar esse aumento de tensotildees ao ldquoretorno do traacuteficordquo e agrave volta dos con-frontos armados em vaacuterias favelas com UPP tanto as de ocupaccedilatildeo recente

quanto algumas das mais antigas Temerosos com as consequecircncias do reempoderamento dos traficantes e pre-ocupados em natildeo se identificar como ldquoamigos da poliacuteciardquo os moradores teriam passado com mais frequecircncia a evitar o contato ou mesmo a mani-festar desapreccedilo e hostilidade contra os policiais Discutiremos mais agrave frente o tema do ldquoretornordquo e a interpretaccedilatildeo que tende a creditar-lhe inteiramente os tropeccedilos do policiamento de pro-ximidade Cabe ressaltar por ora que segundo observaccedilotildees etnograacuteficas feitas em 2013 e 2014 os conflitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo despontam em con-textos e por motivos diversos natildeo redu-tiacuteveis agrave equaccedilatildeo simplista hostilidade agrave poliacutecia = viacutenculos com o traacutefico

Quando os policiais recorriam ao capi-tal da forccedila fiacutesica para realizar prisotildees e apreensotildees os moradores muitas vezes praticavam atos de agressatildeo aos policiais estimulados por conflitos decorrentes de abordagens policiais tentativas de prisotildees interrupccedilotildees de festas Foram incontaacuteveis os relatos de policiais que receberam pedradas e ateacute gavetadas [sic] de moradores re-voltados Na favela da zona Norte um policial retornou agrave base com a cabeccedila aberta atingida pelas pedras Na favela da zona Sul ateacute crianccedilas se engajavam nas accedilotildees ldquoEu fiquei muito surpreso

TABELA 3_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES ( DE ENTREVISTADOS)

NENHUMA VEZ

UMA VEZ

ALGUMAS VEZES

MUITAS VEZES

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 442 84 227 247

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 342 58 233 367

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 370 67 234 329

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 382 40 241 337

MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 963 20 09 08

OS CONFLITOS ENTRE POLIacuteCIA E POPULACcedilAtildeO DESPONTAM EM CONTEXTOS E POR MOTIVOS DIVERSOS NAtildeO REDUTIacuteVEIS Agrave EQUACcedilAtildeO SIMPLISTA HOSTILIDADE Agrave POLIacuteCIA = VIacuteNCULOS COM O TRAacuteFICOrdquo

ldquo

16

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 15: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

motivos de insatisfaccedilatildeo com o trabalho em UPP que seraacute comentada mais adiante outro policial disse que aleacutem de ldquointrusordquo sentia-se ldquomaltratado e odiadordquo pela maioria da populaccedilatildeo

O Graacutefico 7 acima desagrega em alguns blocos de respostas os senti-mentos positivos negativos e neutros com que os policiais de UPP se veem tra-tados pelos moradores locais segundo os resultados da uacuteltima pesquisa Nunca eacute demais lembrar que esses resultados dizem respeito ao conjunto das UPPs e possivelmente ocultam grandes dife-renccedilas entre as 36 localidades assim como variaccedilotildees significativas dentro de cada uma delas

Agrave pergunta sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP o grupo mais frequente de respostas (281)

mencionava relaccedilatildeo ruim com os moradores enquanto soacute 92 referi-ram-se a boas relaccedilotildees com moradores como a melhor coisa do trabalho em UPP28 Aleacutem de percepccedilotildees e opiniotildees algumas experiecircncias vividas pelos policiais reforccedilam a impressatildeo de um ambiente muito hostil em boa parte dos territoacuterios ocupados Nota-se na Tabela 3 que nos uacuteltimos trecircs meses antes do survey 558 dos entrevistados haviam sido alvo pelo menos uma vez de algum objeto arremessado por moradores 618 natildeo haviam obtido resposta a um cumprimento 63 haviam-se sentido desrespeitados e 658 haviam sido xingados em pelo menos uma ocasiatildeo Soacute 37 no entanto disseram que algum(a) morador(a) prestara queixa contra eles durante esses trecircs meses

GRAacuteFICO 7_SENTIMENTOS QUE SEGUNDO OS POLICIAIS A MAIORIA DA POPULACcedilAtildeO DEMONSTRA EM RELACcedilAtildeO A ELES ( DE RESPOSTAS)

() ESPERANCcedilA CONFIANCcedilA FELICIDADE SEGURANCcedilA GRATIDAtildeO

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

15

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Reaccedilotildees anaacutelogas por parte de habitantes das favelas ndash arremesso de objetos e insultos ndash foram relatadas em pesquisas qualitativas no comeccedilo da instalaccedilatildeo das UPPs e associadas agrave resis-tecircncia ou desconfianccedila inicial dos mora-dores em relaccedilatildeo agrave presenccedila contiacutenua da poliacutecia nas comunidades (Cano Borges e Ribeiro 2014 181 Menezes 2014 671)29 Esperava-se que com o correr do tempo agrave medida que a con-vivecircncia e a proximidade produzisssem seus efeitos humanizadores essas mani-festaccedilotildees hostis tendessem a decrescer ndash o que de fato parece ter acontecido em algumas UPPs mais antigas pelo menos ateacute poucos anos atraacutes30 Mas natildeo soacute a tensatildeo se manteve alta em outras localidades como recentemente parte das favelas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada voltou a apresentar niacuteveis elevados de tensatildeo e desconfianccedila ndash situaccedilatildeo que o Graacutefico 6 acima em certa medida traduz e que se confirma em pesquisas qualitativas rea-lizadas nos uacuteltimos dois anos (Menezes 2014 Esperanccedila 2014 Soares 2015)

O discurso de alguns policiais e agraves vezes tambeacutem de moradores tende a associar esse aumento de tensotildees ao ldquoretorno do traacuteficordquo e agrave volta dos con-frontos armados em vaacuterias favelas com UPP tanto as de ocupaccedilatildeo recente

quanto algumas das mais antigas Temerosos com as consequecircncias do reempoderamento dos traficantes e pre-ocupados em natildeo se identificar como ldquoamigos da poliacuteciardquo os moradores teriam passado com mais frequecircncia a evitar o contato ou mesmo a mani-festar desapreccedilo e hostilidade contra os policiais Discutiremos mais agrave frente o tema do ldquoretornordquo e a interpretaccedilatildeo que tende a creditar-lhe inteiramente os tropeccedilos do policiamento de pro-ximidade Cabe ressaltar por ora que segundo observaccedilotildees etnograacuteficas feitas em 2013 e 2014 os conflitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo despontam em con-textos e por motivos diversos natildeo redu-tiacuteveis agrave equaccedilatildeo simplista hostilidade agrave poliacutecia = viacutenculos com o traacutefico

Quando os policiais recorriam ao capi-tal da forccedila fiacutesica para realizar prisotildees e apreensotildees os moradores muitas vezes praticavam atos de agressatildeo aos policiais estimulados por conflitos decorrentes de abordagens policiais tentativas de prisotildees interrupccedilotildees de festas Foram incontaacuteveis os relatos de policiais que receberam pedradas e ateacute gavetadas [sic] de moradores re-voltados Na favela da zona Norte um policial retornou agrave base com a cabeccedila aberta atingida pelas pedras Na favela da zona Sul ateacute crianccedilas se engajavam nas accedilotildees ldquoEu fiquei muito surpreso

TABELA 3_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES ( DE ENTREVISTADOS)

NENHUMA VEZ

UMA VEZ

ALGUMAS VEZES

MUITAS VEZES

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 442 84 227 247

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 342 58 233 367

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 370 67 234 329

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 382 40 241 337

MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 963 20 09 08

OS CONFLITOS ENTRE POLIacuteCIA E POPULACcedilAtildeO DESPONTAM EM CONTEXTOS E POR MOTIVOS DIVERSOS NAtildeO REDUTIacuteVEIS Agrave EQUACcedilAtildeO SIMPLISTA HOSTILIDADE Agrave POLIacuteCIA = VIacuteNCULOS COM O TRAacuteFICOrdquo

ldquo

16

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 16: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Reaccedilotildees anaacutelogas por parte de habitantes das favelas ndash arremesso de objetos e insultos ndash foram relatadas em pesquisas qualitativas no comeccedilo da instalaccedilatildeo das UPPs e associadas agrave resis-tecircncia ou desconfianccedila inicial dos mora-dores em relaccedilatildeo agrave presenccedila contiacutenua da poliacutecia nas comunidades (Cano Borges e Ribeiro 2014 181 Menezes 2014 671)29 Esperava-se que com o correr do tempo agrave medida que a con-vivecircncia e a proximidade produzisssem seus efeitos humanizadores essas mani-festaccedilotildees hostis tendessem a decrescer ndash o que de fato parece ter acontecido em algumas UPPs mais antigas pelo menos ateacute poucos anos atraacutes30 Mas natildeo soacute a tensatildeo se manteve alta em outras localidades como recentemente parte das favelas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada voltou a apresentar niacuteveis elevados de tensatildeo e desconfianccedila ndash situaccedilatildeo que o Graacutefico 6 acima em certa medida traduz e que se confirma em pesquisas qualitativas rea-lizadas nos uacuteltimos dois anos (Menezes 2014 Esperanccedila 2014 Soares 2015)

O discurso de alguns policiais e agraves vezes tambeacutem de moradores tende a associar esse aumento de tensotildees ao ldquoretorno do traacuteficordquo e agrave volta dos con-frontos armados em vaacuterias favelas com UPP tanto as de ocupaccedilatildeo recente

quanto algumas das mais antigas Temerosos com as consequecircncias do reempoderamento dos traficantes e pre-ocupados em natildeo se identificar como ldquoamigos da poliacuteciardquo os moradores teriam passado com mais frequecircncia a evitar o contato ou mesmo a mani-festar desapreccedilo e hostilidade contra os policiais Discutiremos mais agrave frente o tema do ldquoretornordquo e a interpretaccedilatildeo que tende a creditar-lhe inteiramente os tropeccedilos do policiamento de pro-ximidade Cabe ressaltar por ora que segundo observaccedilotildees etnograacuteficas feitas em 2013 e 2014 os conflitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo despontam em con-textos e por motivos diversos natildeo redu-tiacuteveis agrave equaccedilatildeo simplista hostilidade agrave poliacutecia = viacutenculos com o traacutefico

Quando os policiais recorriam ao capi-tal da forccedila fiacutesica para realizar prisotildees e apreensotildees os moradores muitas vezes praticavam atos de agressatildeo aos policiais estimulados por conflitos decorrentes de abordagens policiais tentativas de prisotildees interrupccedilotildees de festas Foram incontaacuteveis os relatos de policiais que receberam pedradas e ateacute gavetadas [sic] de moradores re-voltados Na favela da zona Norte um policial retornou agrave base com a cabeccedila aberta atingida pelas pedras Na favela da zona Sul ateacute crianccedilas se engajavam nas accedilotildees ldquoEu fiquei muito surpreso

TABELA 3_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES ( DE ENTREVISTADOS)

NENHUMA VEZ

UMA VEZ

ALGUMAS VEZES

MUITAS VEZES

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 442 84 227 247

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 342 58 233 367

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 370 67 234 329

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 382 40 241 337

MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 963 20 09 08

OS CONFLITOS ENTRE POLIacuteCIA E POPULACcedilAtildeO DESPONTAM EM CONTEXTOS E POR MOTIVOS DIVERSOS NAtildeO REDUTIacuteVEIS Agrave EQUACcedilAtildeO SIMPLISTA HOSTILIDADE Agrave POLIacuteCIA = VIacuteNCULOS COM O TRAacuteFICOrdquo

ldquo

16

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 17: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para natildeo dizer bem apavorado no dia que eu vi um policial fazendo uma pri-satildeo por traacutefico de drogas e crianccedilas jogando pedras no policial que esta-va na ocorrecircnciardquo (Representante da UPP 3 Favela da zona Sul) (Soares 2015 165)

Outra pesquisa realizada na UPP Nova Brasiacutelia em 2013 ndash antes do recru-descimento dos tiroteios no local ndash identificou nexos entre manifestaccedilotildees de hostilidade e ocorrecircncia de abusos policiais especialmente durante abor-dagens e prisotildees Segundo o autor um ldquoacordo de cavalheirosrdquo estipulava que ningueacutem atiraria nos policiais caso contraacuterio o temido Bope seria acionado em contrapartida os agentes da UPP natildeo ldquoesculachariamrdquo as pessoas revistadas ou presas Agrave quebra dessa contrapartida seguiam-se pichaccedilotildees contra os policiais ldquoesculachadoresrdquo e por vezes tumultos pedradas gar-rafadas ou ateacute revides armados (Espe-ranccedila 2014137 142) Um terceiro estudo etnograacutefico feito nas duas UPPs mais antigas (Santa Marta e Cidade de Deus) captou um adensamento desde 2012 e sobretudo em 2014 dos ldquorumoresrdquo quanto agrave volta natildeo soacute da cir-culaccedilatildeo de traficantes armados mas tambeacutem da violecircncia e da corrupccedilatildeo policiais (Menezes 2014 676-7)

Tudo indica assim que ndash para aleacutem da presenccedila do traacutefico e suas possiacuteveis influecircncias nas atitudes dos moradores ndash haacute fontes de conflitos desencadeadas por modos tradicionais de atuaccedilatildeo da poliacutecia que contrariam a promessa de um ldquopoliciamento de proximidaderdquo

ou pelo menos da reduccedilatildeo das praacuteticas repressivas frequentemente abusivas e violentas no trato com a populaccedilatildeo das favelas Natildeo deve ser por acaso que no uacuteltimo survey do CESeC os poli-ciais dos GTPPs disseram-se viacutetimas de agressotildees em proporccedilatildeo significati-vamente mais alta que as dos agentes ocupados em outros tipos de serviccedilos (embora estas tambeacutem sejam altas ndash ver Tabela 4 abaixo)31 Tampouco deve ser por acaso que os policiais-me-diadores identificados na amostra registraram muito menos agressotildees e muito menos percepccedilotildees de senti-mentos hostis do que o conjunto dos policiais entrevistados (cf Mouratildeo 2015a) Ainda que de forma esque-maacutetica pode-se dizer que esses dois grupos encarnam respecti-vamente o miacutenimo e o maacuteximo de uma postura de aproximaccedilatildeo e diaacutelogo com os moradores Se isso eacute verdade a foacutermula mais proximidade = menos conflito parece fazer sentido na praacutetica natildeo apenas na teoria inspiradora do projeto original das UPPs Mas ao que tudo indica eacute a foacutermula inversa que estaacute prevale-cendo nas aacutereas ditas ldquopacificadasrdquo como reconhece um membro da cuacutepula da PMERJ ao tentar explicar a crise atual do programa

Vaacuterios fatores comeccedilaram a ser des-virtuados na hora de desenvolver es-trateacutegia no resgate da confianccedila da populaccedilatildeo Foram criados Grupos de Apoio Taacutetico de cunho repressivo Repressatildeo e aproximaccedilatildeo como que-remos na UPP satildeo incompatiacuteveis32

17

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 18: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

TABELA 4_FREQUEcircNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO NOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA MANIFESTACcedilOtildeES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES SEGUNDO TIPO DE TRABALHO REALIZADO NA MAIOR PARTE DO TEMPO ( DE ENTREVISTADOS)

GTPP OUTROS TIPOS DE TRABALHO

MORADORES ARREMESSARAM ALGUM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 787 493

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 857 602

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 836 572

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 797 569

CONDICcedilOtildeES DE (IN)SEGURANCcedilA REVANCHE DO TRAacuteFICO OU RETOMADA DA GUERRA PARTICULAR

Em 23072012 morria a policial militar Fabiana Aparecida de Souza de 30 anos viacutetima de um ataque armado agrave UPP Nova Brasiacutelia no Com-plexo do Alematildeo Foi a primeira morte de policial em serviccedilo nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo De laacute para caacute mais de 150 policiais de UPP foram baleados e mais de 20 mortos em serviccedilo33 Essa vitimizaccedilatildeo eacute geralmente atribuiacuteda a confrontos com traficantes de drogas

De janeiro a maio de 2015 segundo a PMERJ ocorreram nas UPPs quase 500 episoacutedios definidos como ldquocon-frontosrdquo em meacutedia cerca de cem por mecircs34 Soacute duas unidades ndash FeacuteSereno e Santa Marta ndash natildeo registraram nenhum episoacutedio e apenas outras nove foram classificadas como ldquoverdesrdquo por regis-trarem cada uma menos de cinco episoacutedios nesse periacuteodo35 As demais 24 incluiacutedas na nossa pesquisa teriam sido palco de um nuacutemero maior de ocorrecircncias do gecircnero variando de 7 a 13 nas ldquoamarelasrdquo36 e de 14 a 49 nas ldquovermelhasrdquo37 Nova Brasiacutelia deteria o

recorde com 49 ldquoconfrontosrdquo seguida por Alematildeo (41) Rocinha (31) Vila Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26)

A tentativa de verificar possiacuteveis nexos entre alguns dados do nosso survey e a incidecircncia desses episoacutedios nas UPPs por meio de cruzamentos com os grupos que a PM classifica de ldquovermelhordquo ldquoamarelordquo e ldquoverderdquo produziu corre-laccedilotildees estatisticamente significantes mas quase sempre fracas Talvez a defa-sagem temporal entre as informaccedilotildees da PM e as do CESeC considerando-se as raacutepidas mudanccedilas na geografia dos ldquocon-frontosrdquo tenha influenciado negativa-mente a robustez desses cruzamentos38 Outro problema talvez tenha sido a agre-gaccedilatildeo das UPPs por intervalos muito desiguais De qualquer modo se utili-zados com cautela apenas como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica alguns resultados podem servir de sub-siacutedios ao debate sobre a crise atual da chamada ldquopacificaccedilatildeordquo

Note-se inicialmente que entre os surveys de 2012 e 2014 aumentou de forma expressiva a parcela de policiais que considera serem muito frequentes nas UPPs as ocorrecircncias de traacutefico de drogas e de porte ilegal de armas

AUMENTOU DE FORMA EXPRESSIVA A PARCELA DE POLICIAIS QUE CONSIDERA SEREM MUITO FREQUENTES NAS UPPs AS OCORREcircNCIAS DE TRAacuteFICO DE DROGAS E DE PORTE ILEGAL DE ARMASrdquo

ldquo

18

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 19: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 8)39 A percepccedilatildeo de que haacute roubos e furtos frequentes tambeacutem cresceu ao passo que a de violecircncia domeacutestica decresceu e a de outras ocorrecircncias ndash perturbaccedilatildeo do sossego desacato e rixas ndash teve pequenas variaccedilotildees para mais ou para menos entre as duas uacuteltimas pesquisas

Algumas dessas percepccedilotildees apre-sentam correlaccedilatildeo estatisticamente significante ainda que fraca com as faixas de incidecircncia de confrontos armados definidas pela PM como se vecirc na Tabela 5 As UPPs ldquoverdesrdquo tendem

a apresentar percentuais menores de policiais que consideram muito fre-quentes as ocorrecircncias listadas com especial destaque para o porte ilegal de armas e o traacutefico de drogas em que as diferenccedilas entre aquelas unidades e as ldquovermelhasrdquo satildeo particularmente grandes e os coeficientes de corre-laccedilatildeo satildeo superiores aos obtidos para as demais ocorrecircncias

A sensaccedilatildeo de seguranccedila dos poli-ciais como seria de esperar tambeacutem varia nesses trecircs conjuntos de unidades sendo significativamente mais alta nas

GRAacuteFICO 8_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

TABELA 5_OCORREcircNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

TRAacuteFICO DE DROGAS 819 667 483 688

PORTE ILEGAL DE ARMAS 544 296 84 353

DESACATO 767 670 568 687

ROUBO 232 149 106 175

POSSE E USO DE DROGAS 894 856 739 844

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

19

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 20: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

UPPs ldquoverdesrdquo do que nas demais (Tabela 6) Jaacute a diferenccedila entre ldquovermelhasrdquo e ldquoamarelasrdquo natildeo eacute expressiva levando-se em conta a margem de erro da pesquisa Observe-se que no conjunto uma pro-porccedilatildeo bastante alta (424) dos entre-vistados de 2014 sentia-se insegura ou muito insegura trabalhando em UPP40

Verificaram-se tambeacutem relaccedilotildees sig-nificantes entre os agrupamentos de UPPs segundo nuacutemero de confrontos e algumas experiecircncias dos entrevistados no nosso survey em particular a de ter visto pelo menos uma vez nos uacuteltimos trecircs meses indiviacuteduo(s) natildeo policial(is)

portando armas na comunidade (Tabela 7)41 Esses resultados apenas indica-tivos mostram parcelas mais baixas nas unidades ldquoverdesrdquo de agentes que dizem ter visto armas em outras matildeos que natildeo as da poliacutecia E tambeacutem apontam para alguma relaccedilatildeo embora tecircnue entre menor incidecircncia de confrontos e menos manifestaccedilotildees de hostilidade dos moradores contra os policiais rei-terada pela percepccedilatildeo de sentimentos negativos da populaccedilatildeo numa faixa bem maior das unidades ldquovermelhasrdquo (701) do que nas dos agentes alo-cados em unidades ldquoverdesrdquo (44)

TABELA 6_SENSACcedilAtildeO DE SEGURANCcedilA DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

MUITO SEGURO(A) 08 20 55 24

SEGURO(A) 179 205 370 235

NEM SEGURO(A) NEM INSEGURO(A) 293 320 356 317

INSEGURO(A) 345 323 184 298

MUITO INSEGURO(A) 175 131 35 127

TOTAL 1000 1000 1000 1000

TABELA 7_EXPERIEcircNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS UacuteLTIMOS TREcircS MESES ANTES DA PESQUISA SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

VIU INDIVIacuteDUO ARMADO NA COMUNIDADE 486 298 107 334

VIU GRUPO ARMADO NA COMUNIDADE 373 200 52 240

PARTICIPOU DE OCORREcircNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 441 280 119 312

MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 567 635 447 558

POLICIAL FOI XINGADO(A) POR MORADORES 705 678 549 658

POLICIAL FOI DESRESPEITADO(A) POR MORADORES 657 683 516 630

MORADORES NAtildeO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 649 652 522 618

20

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 21: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Tais indicaccedilotildees contudo natildeo per-mitem endossar o discurso que rela-ciona univocamente a presenccedila de tra-ficantes armados e a rejeiccedilatildeo de parte dos moradores agrave UPP como sugerem algumas respostas de policiais a per-guntas abertas do nosso questionaacuterio e entrevistas colhidas em outras pes-quisas Trata-se de estrateacutegia argumen-tativa posta em jogo para tentar explicar a crise da ldquopacificaccedilatildeordquo com base numa loacutegica maniqueiacutesta reforccediladora ao mesmo tempo da retoacuterica da ldquoguerrardquo e dos claacutessicos estereoacutetipos sobre a popu-laccedilatildeo de favelas42 Como realccedila Soares (2015 135) em estudo sobre duas comunidades com UPP

Seus argumentos [dos policiais entre-vistados] revelam um posicionamen-to da UPP como a figura do bem que resgatou a favela das matildeos do traacutefico Os pressupostos que sustentam sua argumentaccedilatildeo satildeo claros todo aque-le que se opotildee agraves boas accedilotildees da UPP possui ou possuiu alguma relaccedilatildeo com o traacutefico ou aqueles que natildeo apoacuteiam a UPP apoacuteiam os bandidos Haacute quase uma obrigaccedilatildeo de apoiar a UPP para que se possa qualificar enquanto uma pessoa de ldquobemrdquo O trabalho da UPP na favela consiste tambeacutem em uma disputa entre bem e mal

Natildeo haacute como negar por outro lado o agravamento recente do cenaacuterio da seguranccedila em boa parte das comu-nidades ditas ldquopacificadasrdquo que se expressa de modo mais claro pelo aumento dos tiroteios das mortes de policiais e dos homiciacutedios come-tidos pela poliacutecia Jaacute nos referimos ao nuacutemero de PMs baleados e mortos em serviccedilo desde 2012 Cabe acres-centar que esse eacute tambeacutem o momento em que aumentam nas UPPs os homi-ciacutedios decorrentes de intervenccedilatildeo policial (ldquoautos de resistecircnciardquo) depois

de quatro anos em queda E que apesar de um recuo em 2013 eles sobem nova-mente em 2014 a uma taxa maior nos territoacuterios ldquopacificadosrdquo (176) do que no resto da cidade do Rio (92)43

Estudos etnograacuteficos recentes com policiais eou moradores datildeo conta de uma presenccedila mais ostensiva do traacutefico armado nesses territoacuterios mas enfa-tizam que mesmo nos de ocupaccedilatildeo mais antiga nunca deixou de existir domiacutenio dos traficantes sobre determi-nadas regiotildees geralmente as mais altas ou mais afastadas do centro das comu-nidades Ainda que enfraquecido pela presenccedila da UPP manteve-se assim em vaacuterias favelas o poder desses grupos de controlar porccedilotildees do territoacuterio de impor certas regras aos moradores e de puniacute-los pela proximidade com os policiais44

Segundo Vanessa Soares que pes-quisou duas UPPs relativamente antigas uma da Zona Norte outra da Zona Sul da cidade em ambas a

legitimidade do uso da violecircncia pare-ce natildeo estar plenamente estabelecida para nenhum dos polos desta disputa Tanto os policiais das UPPs quanto os traficantes parecem ser questionados em alguns momentos os primeiros quando satildeo agredidos e os segundos quando satildeo denunciados pelos mo-radores Mas em alguns momentos ambos encontram obediecircncia nos mo-radores o que implica a ambiguidade de leis que marca a favela ldquopacificadardquo (Soares 2015 166)

Agrave medida que a disputa terri-torial se acirra a tendecircncia dos mora-dores eacute manter-se distantes dos poli-ciais temendo ser identificados como X-9 (informantes) e sofrer retaliaccedilotildees ldquoconforme o clima de conflito com o traacutefico esquentava as relaccedilotildees entre UPP e moradores esfriavam na mesma proporccedilatildeordquo (idem 171) Mas outro fator

21

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 22: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

importante para entender esse afasta-mento sugere a autora referindo-se agrave unidade da Zona Sul eacute o baixo ldquocapital socialrdquo acumulado pela UPP natildeo obs-tante seus vaacuterios anos de existecircncia Vale dizer os fracos viacutenculos de pro-ximidade e cooperaccedilatildeo estabelecidos com os moradores em boa parte como decorrecircncia da regulaccedilatildeo autoritaacuteria de atividades das abordagens frequentes e natildeo raro truculentas do desinteresse dos policiais pelo cotidiano da comu-nidade e por informaccedilotildees locais que natildeo dissessem respeito a crimes levan-do-os inclusive a cometer sucessivas gafes ateacute mesmo em relaccedilatildeo aos nomes das favelas abrangidas (idem 177-80) Que essa postura natildeo eacute exclusiva da comunidade em foco parecem mostrar os resultados jaacute comentados do nosso uacuteltimo survey apontando uma fraca presenccedila de atividades identificaacuteveis ao ldquopoliciamento de proximidaderdquo no conjunto das UPPs e uma prevalecircncia daquelas associadas ao policiamento ostensivo tradicional muito pouco favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de ldquocapital socialrdquo ou agrave reduccedilatildeo de tensotildees e con-flitos entre poliacutecia e populaccedilatildeo

Tambeacutem contribui para a perda de legitimidade das UPPs o proacuteprio

recrudescimento dos tiroteios Com efeito se os principais motivos de apoio dos moradores agrave ocupaccedilatildeo policial satildeo a reduccedilatildeo dos tiros a diminuiccedilatildeo do medo e a melhoria de vida daiacute decor-rente cada confronto em favela ldquopaci-ficadardquo torna-se uma ldquodenuacutencia de falecircncia do programardquo ndash tanto para a imagem externa repercutida pela miacutedia quanto para os proacuteprios resi-dentes da favela em questatildeo (Soares 2015 196) Novamente a observaccedilatildeo etnograacutefica parece convergir com os dados do survey embora no nosso caso trate-se de avaliaccedilatildeo de legitimidade feita pelos policiais natildeo pelos mora-dores como mostra a Tabela 8 as opi-niotildees dos agentes de ponta sobre apoio dos habitantes agrave permanecircncia da UPP tem alguma correlaccedilatildeo com o nuacutemero de confrontos armados registrados nas comunidades (Tabela 8)

Por sua vez a pesquisa de Palloma Menezes nas UPPs Santa Marta e Cidade de Deus acrescenta outro com-ponente a essa complexa relaccedilatildeo entre reempoderamento do traacutefico baixa legitimidade da poliacutecia e distancia-mento ou hostilidade dos moradores a ldquovoltardquo da violecircncia e da corrupccedilatildeo poli-ciais Segundo a autora

TABELA 8_MORADORES QUEREM QUE A UPP CONTINUE OPINIOtildeES DOS POLICIAIS SEGUNDO CLASSIFICACcedilAtildeO DAS UPPs POR QUANTIDADE DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 ( DE ENTREVISTADOS)

VERMELHAS (14 A 49)

AMARELAS (7 A 13)

VERDES (0 A 6)

TODAS AS UPPs

A MAIORIA QUER 262 256 483 316

PARTE QUER PARTE NAtildeO 356 378 339 358

A MAIORIA NAtildeO QUER 383 365 177 326

TOTAL 1000 1000 1000 1000

22

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 23: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

a partir de 2011 e principalmente de 2012 especulaccedilotildees comeccedilaram a apontar para um novo fortalecimen-to dos traficantes Comeccedilaram a sur-gir notiacutecias de que a venda de drogas estava se intensificando novamente e de que bandidos estavam voltando a andar armados de pistola pelas fave-las com UPP ndash sobretudo nos bailes Em 2012 comeccedilou a se intensificar tambeacutem a circulaccedilatildeo de boatos sobre a ldquovolta da corrupccedilatildeordquo no Santa Mar-ta e na Cidade de Deus A percepccedilatildeo de que o projeto estaacute ldquocomeccedilando a entrar em criserdquo intensificou-se ain-da mais entre 2013 e 2014 Aleacutem das inuacutemeras notiacutecias de violecircncia poli-cial naqueles locais que vecircm multi-plicando-se desde o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo tambeacutem cresceram as falas sobre tra-ficantes que estariam voltando a fazer uso da forccedila na favela de modo cada vez menos cauteloso Se antes os mo-radores da Cidade de Deus e do Santa Marta diziam que o uso da forccedila pelos agentes do mercado ilegal de drogas parecia estar sendo mais ldquoreguladordquo para natildeo chamar atenccedilatildeo e evitar con-flitos com a UPP hoje os ldquobandidosrdquo parecem jaacute natildeo ter mais medo de usar a forccedila fiacutesica naquelas comunidades (Menezes 2014 676-7)

A corrosatildeo da confianccedila dos mora-dores na UPP parece ligada assim natildeo soacute ao fortalecimento dos traficantes como ao ldquoretornordquo das velhas praacuteticas policiais ilegais e talvez ao nexo entre as duas coisas Dessa perspectiva o proacuteprio aumento dos confrontos se explicaria menos por uma suposta revanche do traacutefico contra a ldquopacifi-caccedilatildeordquo do que pela reediccedilatildeo da ldquoguerra particularrdquo alimentadora de fontes iliacute-citas de renda para uma parcela de poli-ciais Eacute o que sugere Robson Rodrigues ex-coordenador do programa

Alguns conflitos violentos entre po-liciais e criminosos indicam que mesmo com a UPP velhas praacuteticas criminosas parecem ainda ocorrer por parte de policiais para quem a ldquoguerrardquo eacute instrumento particulari-zado mais que um fim em si mesmo Nesse caso natildeo eacute a falta de formaccedilatildeo especiacutefica ou de uma leitura adequada das estruturas locais que prejudicam o processo de aproximaccedilatildeo mas ao contraacuterio eacute o aprendizado particu-larizado delas para a manutenccedilatildeo de negoacutecios iliacutecitos que crescem com a imperfeiccedilatildeo dos mecanismos formais de controle Em algumas UPPs onde esses desvios puderam ser detectados era niacutetida a estagnaccedilatildeo ou mesmo o retrocesso do projeto pelo descreacutedito gerado na populaccedilatildeo local ainda que houvesse a prisatildeo dos criminosos (Ro-drigues 2014 81)

Relacionados ou natildeo diretamente agrave corrupccedilatildeo os confrontos derivariam tambeacutem de um novo reforccedilo do vieacutes beacutelico e repressivo manifesto na cres-cente centralidade dos GTPPs (quando natildeo na intervenccedilatildeo direta do Bope) em aacutereas ldquopacificadasrdquo Talvez aqui caiba efetivamente falar em revanche ndash reaccedilatildeo da velha cultura policial agrave tentativa de implantaccedilatildeo de um ldquonovo paradigmardquo de policiamento em favelas natildeo mais assentado na loacutegica do confronto Assim como o traacutefico armado mesmo enco-lhido permaneceu atuante no interior das comunidades a cultura da ldquoguerrardquo embora temporariamente submersa manteve-se viva nos discursos e atitudes de boa parte dos policiais de UPP45 parecendo encontrar agora um espaccedilo ampliado para manifestar-se mais aber-tamente46 E por vezes ateacute agrave revelia dos comandos locais como no exemplo relatado por Soares sobre a accedilatildeo do GTPP numa favela da Zona Norte

A CORROSAtildeO DA CONFIANCcedilA DOS MORADORES NA UPP PARECE LIGADA NAtildeO SOacute AO FORTALECI-MENTO DOS TRAFICANTES COMO AO ldquoRETORNOrdquo DAS VELHAS PRAacuteTICAS POLICIAIS ILEGAIS E TALVEZ AO NEXO ENTRE AS DUAS COISASrdquo

ldquo23

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 24: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

para evitar os tiros e a consequente deslegitimaccedilatildeo daquela UPP os po-liciais acabam perdendo regiotildees da favela para o traacutefico que passa a se concentrar em geral em regiotildees altas do morro onde escondem seus arma-mentos e drogas Quando isto aconte-ce alguns comandantes ordenam que se evite circular na regiatildeo pois a che-gada de um policial no local pode re-sultar em uma troca de tiros digna de capa de jornal que a qualifica como falha no programa

() Alguns policiais me contavam orgulhosos que suas guarniccedilotildees eram chamadas de ldquobondesrdquo o que para eles significava que eles faziam um ldquotrabalho seacuteriordquo O que entendiam por ldquotrabalho seacuteriordquo era o fato de que sua guarniccedilatildeo tendia a desobedecer agraves ordens do comandante e circular por regiotildees do morro onde era sabido ter uma maior concentraccedilatildeo de trafican-tes armados e por isso eram estas as guarniccedilotildees com mais frequecircncia en-volvidas em confrontos (Soares 2015 196-7 288)

Baixa acumulaccedilatildeo de capital social abandono ou enfraquecimento do ldquopoli-ciamento de proximidaderdquo reforccedilo das atividades e mentalidades repres-sivas aumento da violecircncia e da cor-rupccedilatildeo policiais maior ostensividade do traacutefico armado retorno dos tiro-teios e perda de legitimidade da UPP satildeo assim alguns dos ingredientes da crise atualmente vivida pelo programa Ingredientes a que se somam (1) a frus-traccedilatildeo dos habitantes de favelas com mais uma das inuacutemeras promessas natildeo cumpridas pelo poder puacuteblico a melhoria das condiccedilotildees urbaniacutesticas econocircmicas e sociais que supostamente acompanharia a ocupaccedilatildeo policial47 (2) as incertezas (seja de moradores ou de policiais) quanto agrave permanecircncia da UPP depois das Olimpiacuteadas e em

consequecircncia (3) o questionamento sobre os reais propoacutesitos do programa e sobre quem seriam afinal de contas os seus reais beneficiaacuterios (cf Soares 2015 247-57)48 Todos esses aspectos parecem interconectar-se fortemente e natildeo podem ser reduzidos agrave visatildeo sim-plista de um ldquoretornordquo do traacutefico desa-fiando uma suposta ldquopacificaccedilatildeordquo49

TROPA INSATISFEITA MAS ACOMODADA

A satisfaccedilatildeo dos policiais de UPP que havia aumentado ligeiramente entre 2010 e 2012 teve expressiva queda entre os dois uacuteltimos surveys com o crescimento tanto da proporccedilatildeo de insatisfeitos quanto da parcela que se declara indiferente (ver Graacutefico 9)

GRAacuteFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM A MAIOR PARTE DO TEMPO TRABALHANDO EM UPP ( DE ENTREVISTADOS)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

24

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 25: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Para os que responderam estar satis-feitos em 2014 os trecircs motivos mais fre-quentes da satisfaccedilatildeo foram boas con-diccedilotildees de trabalho (212 das respostas) gostar de trabalhar em UPP (203) e acreditar no projetoenxergar melhorias (146) Os insatisfeitos por sua vez mencionaram em primeiro lugar con-diccedilotildees de trabalho ruins (37) e em seguida (107) aspectos negativos da relaccedilatildeo com os moradores (hostilidade rejeiccedilatildeo desrespeito natildeo-colaboraccedilatildeo etc)50 No tocante agraves condiccedilotildees de tra-balho 121 dos motivos de insatisfaccedilatildeo referiam-se agrave escala de serviccedilo enquanto nos surveys anteriores esse item aparecia frequentemente como razatildeo para estar satisfeito(a) Em 2014 diversos policiais insatisfeitos reclamaram de ldquoter de fazer escala extra nas folgasrdquo do ldquoRAS com-pulsoacuteriordquo do excesso de carga horaacuteria da falta de tempo para a vida social e do descumprimento das regras de escala por parte dos comandantes Jaacute entre os satisfeitos que citaram como motivo boas condiccedilotildees de trabalho o que pre-valeceu foram referecircncias agrave gratificaccedilatildeo pecuniaacuteria mas houve alguns elogios agrave escala ldquoleverdquo ao serviccedilo de cinco dias na semana e agrave jornada ldquotranquilardquo ndash o que sugere que ao menos parte dos poli-ciais felizes com a escala eacute composta por aqueles alocados no setor administrativo (alguns afirmam isso explicitamente)

Entre os insatisfeitos com as con-diccedilotildees de trabalho aleacutem da escala ruim e da jornada excessiva o maior volume de respostas faz menccedilatildeo geneacuterica a maacutes condiccedilotildees e agrave falta de estrutura ou infra-estrutura Noutra pergunta (fechada) em que se pedia que avaliassem item a item algumas das condiccedilotildees de trabalho os uacutenicos quesitos considerados ldquobonsrdquo pela maioria dos policiais em 2014 foram a pontualidade da gratificaccedilatildeo51 o rela-cionamento com policiais de outros

setores da PM e a distacircncia entre a UPP e o batalhatildeo Quanto aos demais (estado geral da sede distacircncia entre casa e trabalho escala de serviccedilo uni-forme salaacuterios local para alimentaccedilatildeo assistecircncia psicoloacutegica dormitoacuterios auxiacutelio-transporte banheiros e estacio-namento) prevaleceram amplamente os qualificativos ldquoruimrdquo e ldquoregularrdquo variando tais avaliaccedilotildees de pouco menos de 70 a mais de 95 dos entrevistados conforme o quesito em questatildeo

Apesar de 424 dos policiais terem-se declarado inseguros ou muito inseguros em trabalhar na UPP o sen-timento de inseguranccedila apareceu em proporccedilatildeo relativamente pequena como causa da insatisfaccedilatildeo (cerca de 7) e ainda menor foi a parcela de respostas espontacircneas mencionando seguranccedila ou tranquilidade como motivo de satis-faccedilatildeo (37) Entretanto o cruzamento direto entre as variaacuteveis satisfaccedilatildeo e seguranccedila feito com base em perguntas fechadas mostra que existe correlaccedilatildeo significante ainda que fraca entre elas 658 dos policiais insatisfeitos dis-seram sentir-se inseguros ou muito inse-guros contra 239 dos satisfeitos e 34 dos indiferentes Ademais inseguranccedila risco de confronto ou proximidade com ldquosuspeitosrdquo foram mencionados em 208 das respostas (abertas) sobre a pior coisa de se trabalhar em UPP enquanto seguranccedilatranquilidade apa-receram em apenas 09 das respostas espontacircneas sobre a melhor coisa desse trabalho

Existe ainda alguma correlaccedilatildeo mesmo tecircnue entre satisfaccedilatildeo e tipo de serviccedilo realizado a maior parte do tempo pelos policiais havendo pro-porccedilotildees de satisfeitos bem superiores agrave meacutedia entre os que realizam trabalho administrativo (478) ou desem-penham ldquooutros serviccedilosrdquo (391)

25

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 26: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Estes uacuteltimos correspondem a uma categoria aberta residual que englobou tarefas ligadas predominantemente agrave ldquoproximidaderdquo como ronda escolar ensino Proerd (programa de pre-venccedilatildeo ao uso de drogas) P5 (relaccedilotildees puacuteblicas) mediaccedilatildeo de conflitos desen-volvimento de projetos sociais etc mas tambeacutem em menor proporccedilatildeo tra-balhos convencionais como conduccedilatildeo de veiacuteculos motopatrulha guarda de armamento e outras Curiosamente a parcela de satisfeitos entre os que militam nos GTPPs (266) natildeo se diferencia muito da verificada no con-junto da tropa (284)

Junto com o grau de satisfaccedilatildeo caiu de forma expressiva entre os dois uacuteltimos levantamentos a parcela de poli-ciais que avaliam positivamente o pro-grama UPP tendo aumentado a faixa dos que expressam opiniatildeo negativa e variado pouco a dos que mantecircm uma apreciaccedilatildeo neutra (Graacutefico 10) O nexo estatiacutestico entre avaliaccedilatildeo das UPPs e tipo de trabalho realizado eacute bastante fraco e tampouco haacute convergecircncia sig-nificativa entre avaliaccedilatildeo do programa e nuacutemero de confrontos nas comuni-dades Mais forte e oacutebvio parece ser o viacutenculo entre avaliaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo 77 dos policiais satisfeitos qualificaram positivamente o programa ao passo que soacute 18 dos insatisfeitos expressaram essa opiniatildeo

Os vaacuterios sinais de crise ecoados pela pesquisa e espelhados em trabalhos etnograacuteficos ndash deterioraccedilatildeo das con-diccedilotildees de seguranccedila das relaccedilotildees com os moradores e do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos agentes ndash somados agrave persistecircncia de peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs levariam a esperar um grande aumento da proporccedilatildeo de poli-ciais desejosos de sair do programa e trabalhar em outros setores da PM

Entretanto praticamente natildeo se alterou nos dois uacuteltimos surveys a parcela dos que prefeririam caso tivessem escolha estar em outro tipo de serviccedilo que natildeo UPP 599 em 2012 e 589 em 2014 Continua sendo a maioria mas se se considera que no primeiro levan-tamento em 2010 essa parcela era de 696 parece ter ocorrido algum tipo de acomodaccedilatildeo na qual mesmo parte dos policiais insatisfeitos ou pouco aderidos ao programa natildeo veem tanta vantagem em sair dele A anaacutelise de alguns cruzamentos e respostas abertas pode ajudar a entender melhor esse fenocircmeno agrave primeira vista paradoxal

Existe como eacute oacutebvio uma relaccedilatildeo entre estar ou natildeo satisfeito(a) e desejo ou natildeo de mudar de trabalho 828 dos insatisfeitos querem sair de UPP e 708 dos satisfeitos querem ficar Mas natildeo soacute ambos os percentuais satildeo infe-riores a 100 como haacute ainda os indife-rentes ndash nem satisfeitos nem insatis-feitos ndash que se dividem entre a vontade de ficar (405) e a de sair (595) Tambeacutem haacute relaccedilatildeo embora mais fraca com o tipo de trabalho que os policiais

GRAacuteFICO 10_AVALIACcedilAtildeO DOS POLICIAIS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

JUNTO COM O GRAU DE SATISFACcedilAtildeO CAIU DE FORMA EXPRESSIVA ENTRE OS DOIS UacuteLTIMOS LEVANTAMENTOS A PARCELA DE POLICIAIS QUE AVALIAM POSITIVAMENTE O PROGRAMA UPPrdquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

26

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 27: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

realizam a maior parte do tempo entre os alocados em ponto fixo o percentual dos que prefeririam trabalhar em outro setor da PM (715) eacute bem superior agrave meacutedia (589) e entre os do serviccedilo administrativo eacute significativamente inferior (38) A distacircncia entre tra-balho e local de moradia tambeacutem parece ter certo peso natildeo soacute ela foi mencionada espontaneamente como justificativa para querer trabalhar em outro serviccedilo (ver Graacutefico 12 adiante) mas foram altas as percentagens dos que gostariam de sair entre os que ava-liaram a distacircncia casatrabalho como ldquoruimrdquo (731) e entre os que disseram gastar mais de duas horas no desloca-mento da residecircncia ateacute a UPP (815) Seguranccedila eacute outro fator correlacionado com a vontade ou natildeo de sair 78 dos que se sentem muito inseguros gos-tariam de ir para outro serviccedilo e soacute 36 dos que se sentem muito seguros prefe-ririam sair do programa

Ao lado dos nexos entre vontade de sair e condiccedilotildees de trabalho de

seguranccedila ou conveniecircncias pessoais haacute uma parcela de entrevistados para quem querer trocar a UPP por outro serviccedilo sugere preferecircncia por formas tradicionais de policiamento Note-se inicialmente que caso pudessem optar por outro trabalho mais de 90 esco-lheriam batalhatildeo convencional (BPM) ou unidade especial como Bope BPChoque e outras (Graacutefico 11)

Esse resultado eacute bastante parecido com o de 2012 (Musumeci et al 2015 8)52 Mas de laacute para caacute diminuiu a pro-porccedilatildeo de justificativas que apontam claramente uma rejeiccedilatildeo agraves UPPs um repuacutedio ao trabalho em favela ou uma valorizaccedilatildeo das atividades e da imagem tradicionais de poliacutecia ndash tais como ldquogosta maisidentifica-se maisrdquo [com o outro tipo de serviccedilo] ldquoteria mais aceitaccedilatildeoreconhecimentorespeitordquo ldquoficaria longe da comunidaderdquo seria ldquomais poliacuteciardquo ou ldquopoliacutecia de verdaderdquo ldquoteria mais autonomia e liberdade para agirrdquo ldquonatildeo gosta de UPPrdquo ou ldquonatildeo acredita no projetordquo e ldquoaprenderia maisrdquo

GRAacuteFICO 11_TIPO DE SERVICcedilO EM QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO ( DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

27

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 28: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

(Graacutefico 12) Na soma esse tipo de motivaccedilatildeo representa menos da metade (485) das respostas de 2014 (contra 641 em 2012) ao passo que alegaccedilotildees mais ldquoutilitaacuteriasrdquo como a jaacute mencionada distacircncia de casa condiccedilotildees de trabalho melhores mais seguranccedila mais apoio institucional e outras anaacutelogas perfazem pouco mais da metade

Caso o ldquopoliciamento de proxi-midaderdquo estivesse em vias de expansatildeo e consolidaccedilatildeo isso poderia ser um sinal alvissareiro de recuo das resis-tecircncias e aumento da adesatildeo ao projeto Entretanto tudo indica que estaacute ocor-rendo exatamente o oposto nas UPPs e eacute possiacutevel que a aparente reduccedilatildeo das resistecircncias sinalize que essas unidades estatildeo-se tornando cada vez mais pare-cidas com os batalhotildees tanto no que toca agraves formas de policiamento quanto na loacutegica do confronto ou ainda nas oportunidades de ldquoaproximaccedilatildeo preda-toacuteriardquo (Rodrigues 2014 81) Noutras palavras o que se afigura para muitos

agentes gestores moradores de favela e pessoas de fora como uma ldquocriserdquo do programa para alguns policiais talvez signifique apenas a expansatildeo do ldquovelho paradigmardquo que diminui a sensaccedilatildeo de serem ldquomenos poliacuteciardquo e torna menos desvantajosa a permanecircncia nas UPPs Natildeo fossem a longa distacircncia de casa e as peacutessimas condiccedilotildees de trabalho em diversas unidades provavelmente os niacuteveis de satisfaccedilatildeo e a vontade de per-manecer em UPP seriam bem supe-riores aos registrados pela pesquisa ndash mesmo com a crescente percepccedilatildeo de hostilidade dos moradores

A concordacircncia com frases recor-rentes sobre as UPPs apresentadas no questionaacuterio de 2014 em compa-raccedilatildeo com os percentuais do survey anterior tambeacutem parece confirmar essa hipoacutetese de uma relativa acomo-daccedilatildeo de parte dos agentes ndash a des-peito das inseguranccedilas e tensotildees ndash agrave nova realidade do programa (Graacutefico 13) Note-se que embora metade ou

GRAacuteFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVICcedilO ( DAS RESPOSTAS DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)

Eacute POSSIacuteVEL QUE A APARENTE REDUCcedilAtildeO DAS RESISTEcircNCIAS SINALIZE QUE ESSAS UNIDADES ESTAtildeO-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS PARECIDAS COM OS BATALHOtildeES TANTO NO QUE TOCA AgraveS FORMAS DE POLICIAMENTO QUANTO NA LOacuteGICA DO CONFRONTO OU AINDA NAS OPORTUNI-DADES DE lsquoAPROXIMACcedilAtildeO PREDATOacuteRIArsquordquo

ldquo

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

28

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 29: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

mais dos entrevistados continue con-cordando em que as UPPs foram um projeto eleitoreiro e seu uacutenico objetivo era garantir a seguranccedila dos grandes eventos essas proporccedilotildees caiacuteram desde 2012 e aumentou ligeiramente a dos que acreditam que ldquoas UPPs vieram para ficarrdquo Ao mesmo tempo diminuiu muito a crenccedila otimista na recuperaccedilatildeo da confianccedila da populaccedilatildeo por meio dessa iniciativa assim como decresceu um pouco (dentro da margem de erro da pesquisa) a aposta na ideia de que essa seria a ldquopoliacutecia do futurordquo

Por fim como jaacute havia sido feito em 2012 buscou-se estabelecer uma escala sinteacutetica de niacuteveis de adesatildeo dos poli-ciais agraves UPPs combinando cinco dife-rentes perguntas do questionaacuterio (ver Quadro 1 abaixo) A comparaccedilatildeo com os resultados de 2012 natildeo eacute muito precisa porque houve mudanccedila no modo de obtenccedilatildeo de uma das respostas trata-se da afirmaccedilatildeo de que ldquoas UPPs deveriam acabarrdquo antes surgida espontaneamente numa pergunta aberta e transformada em 2014 numa das frases estilizadas para as quais se pedia a concordacircncia ou discordacircncia dos entrevistados Como

GRAacuteFICO 13_CONCORDAcircNCIA COM ALGUMAS FRASES ESTILIZADAS SOBRE AS UPPs ( DE ENTREVISTADOS)

os percentuais foram muito diferentes (35 de respostas espontacircneas em 2012 e 454 de fechadas em 2014) pode natildeo ser negligenciaacutevel o impacto dessa mudanccedila metodoloacutegica na comparaccedilatildeo entre os dois momentos

Os policiais que responderam de modo favoraacutevel a todas as cinco per-guntas foram considerados totalmente identificados com o projeto e os que

QUADRO 1_PERGUNTAS SELECIONADAS E TIPOS DE RESPOSTAS PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE GRAUS DE ADESAtildeO DOS POLICIAIS AO PROJETO ndash 20122014

PERGUNTAS RESPOSTAS

FAVORAacuteVEIS DESFAVORAacuteVEIS NEUTRAS

SENDO UM(A) POLICIAL DE UPP COMO SE SENTE NA MAIOR PARTE DO TEMPO SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

ldquoA UPP Eacute A POLIacuteCIA DO FUTUROrdquo CONCORDA OU DISCORDA CONCORDA DISCORDA NA

ATUALMENTE () SUA OPINIAtildeO SOBRE O PROJETO Eacute POSITIVA NEGATIVA OU NEUTRA POSITIVA NEGATIVA NEUTRA

PREFERIRIA ESTAR TRABALHANDO EM OUTRO TIPO DE POLICIAMENTO FORA DA UPP NAtildeO SIM NA

ldquoAS UPPs DEVERIAM ACABARrdquo CONCORDA OU DISCORDA DISCORDA CONCORDA NA

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

29

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 30: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

deram pelo menos trecircs respostas favo-raacuteveis parcialmente identificados Do mesmo modo cinco respostas desfavo-raacuteveis classificavam o(a) policial como totalmente avesso(a) ou resistente agraves UPPs e pelo menos trecircs desfavoraacuteveis como parcialmente resistente ou avesso(a) Aos demais entrevistados que responderam menos de trecircs favoraacuteveis e menos de trecircs desfavoraacuteveis foi atribuiacuteda a classi-ficaccedilatildeo neutros ou ambiacuteguos

No Graacutefico 14 abaixo os resultados estatildeo dispostos num gradiente que vai de um niacutevel maacuteximo de adesatildeo a um miacutenimo passando por duas posiccedilotildees intermediaacuterias de aderecircncia e rejeiccedilatildeo parciais e por uma faixa de indiferenccedila ou de baixa definiccedilatildeo Comparados aos de 2012 os resultados mais recentes mostram primeiro uma reduccedilatildeo do extremo positivo e um aumento do negativo o que equivale a dizer que haacute menos policiais totalmente ade-ridos e mais totalmente resistentes Mas tambeacutem apontam para o aumento das parcelas tanto de adesatildeo quanto de rejeiccedilatildeo parcial acompanhado de um draacutestico encolhimento da faixa de

GRAacuteFICO 14_GRAUS DE IDENTIFICACcedilAtildeO DOS POLICIAIS COM O PROGRAMA ( DE ENTREVISTADOS)

ldquoneutrosambiacuteguosrdquo que representava mais da metade dos agentes em 2012 e reduziu-se a menos de 20 em 2014

Tais resultados contudo satildeo difiacuteceis de interpretar e natildeo apenas por causa da alteraccedilatildeo metodoloacutegica em uma das variaacuteveis Se em 2012 ainda havia certo resquiacutecio de clareza sobre o que signi-ficava ldquoo projetordquo das UPPs ndash um poli-ciamento inovador para as favelas baseado essencialmente na proxi-midade e no diaacutelogo natildeo no confronto e na repressatildeo ndash podia-se considerar com certa seguranccedila que os policias aderidos ou avessos eram favoraacuteveis ou contraacuterios em grau maior ou menor agravequela proposta por mais que seus motivos de adesatildeo ou rejeiccedilatildeo pudessem ser muito diversos Mas com o rumo que as UPPs parecem ter tomado nos uacuteltimos anos jaacute natildeo se pode traccedilar essa linha com tanta firmeza pois jaacute natildeo se sabe muito bem a que ldquoprojetordquo os agentes estariam aderindo resistindo ou simplesmente se acomodando A justificativa para a satisfaccedilatildeo dada por um ou uma dos nossos entrevistados talvez ilustre bem o que se quis dizer

2010 2012 2014

2010 2012 2014

50

128

279

50

137

248

53

81

141

198

258

REUNIOtildeES COM MORADORES

ATIVIDADES COM CRIANCcedilASJOVENS OU IDOSOS

MEDIACcedilAtildeO DE CONFLITOS

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

PRAacuteTICAS DE APROXIMACcedilAtildeO COM OS MORADORES

353

257

179 181

99

332

224

164138

303

183

10281

45 45

ASSOCIACcedilAtildeODE MORADORES

IGREJAS GRUPOSCULTURAIS

ONGS IMPRENSACOMUNITAacuteRIA

2010 2012 2014

599

455

794

529

493

745

290

293

323

564

PRISOES E APREENSOtildeES

RECEBIMENTO DE QUEIXAS

REGISTRO DE OCORREcircNCIASNA DELEGACIA

ABORDAGEM E REVISTA DE SUSPEITOS

75

376

72

298

77

144 151

376

133

189222 237

ADMINISTRATIVO PONTO FIXO GATGTPP RONDA A PEacute

2010 2012 2014

0

100

200

300

400

500

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

APREENSAtildeO DE DROGAS ARMAS APREENDIDAS

CUMPRIMENTO DE MANDADODE PRISAtildeO

OCORREcircNCIAS COM FLAGRANTE

50 103 149

285

461

601

665

437

251

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

POSITIVOS

NEGATIVOS

NEUTROS

71

168

363

149

27

27

30

105

MEDO

DESCONFIANCcedilA RESISTEcircNCIA

RAIVA OacuteDIO HOSTILIDADE REJEICcedilAtildeO AVERSAtildeO

INDIFERENCcedilA

OUTROS POSITIVOS

ADMIRACcedilAtildeO

RESPEITO

61ACEITACcedilAtildeO

SIMPATIA

751

242

626

521

616

1182

4003 14

789

426

661

551

651

64 9655

05 15

723 688 688

485 465

353

184 175

4327

PERTURBACcedilAtildeODO SOSSEGO

TRAacuteFICO DE

DROGAS

DESACATO RIXASVIAS DE

FATO

VIOLEcircNCIADOMEacuteSTICA

PORTE ILEGAL DE

ARMAS

FURTOS ROUBOS HOMICIacuteDIOS VIOLEcircNCIASEXUAL

201020122014

280 274362

314264

355

406462

283

0

25

50

75

100

2010 2012 2014

SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE

199 228

199

359

602

413

0

25

50

75

100

2012 2014

POSITIVA

NEGATIVA

NEUTRA

BPM685

FORA DA PM04

QUALQUER COISAMENOS UPP

10

OUTROS TIPOSDE SERVICcedilO

35AacuteREA DE SAUacuteDEOU ENSINO 19

SERVICcedilO INTERNO30

BOPE72

CHOQUE32

OUTRASESPECIALIZADAS 112

UNIDADESESPECIALIZADAS 216

33

22

24

24

28

33

47

88

90

126

242

244

OUTROS MOTIVOS

APRENDERIA MAIS

NAtildeO GOSTA DE UPP NAtildeO ACREDITA NO PROJETO

TERIA MAIS RESPALDO INSTITUCIONAL

TERIA MAIS AUTONOMIALIBERDADE PARA AGIR

SERIA MAIS POLIacuteCIAPOLIacuteCIA DE VERDADE

FICARIA LONGE DA COMUNIDADE

TERIA MAIS SEGURANCcedilA TRANQUILIDADE

TERIA MAIS ACEITACcedilAtildeO RECONHECIMENTO RESPEITO

CONDICcedilOtildeES DE TRABALHO MELHORES

GOSTA MAIS IDENTIFICA-SE MAIS

FICARIA MAIS PERTO DE CASA

677798

FOI UM PROJETO ELEITOREIRO

500627AS UPPS FORAM CRIADAS SOacute PARA

GARANTIR A SEGURANCcedilA DA COPADE 2014 E DAS OLIMPIacuteADAS DE 2016

454813AS UPPS AJUDARAM A RECUPERAR

A CONFIANCcedilA DA POPULACcedilAtildeONA POLIacuteCIA

549507

AS UPPS VIERAM PARA FICAR

394426

AS UPPS SAtildeO A POLIacuteCIA DO FUTURO2012

2014

109

176

311

156

196

513

277

125

108

30

2014

2012

TOTALMENTE IDENTIFICADOS

PARCIALMENTE IDENTIFICADOS

NEUTROSAMBIacuteGUOS

PARCIALMENTE RESISTENTES

TOTALMENTE RESISTENTES

30

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 31: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ateacute aqui e obrigue a fechar a anaacutelise desse uacuteltimo graacutefico com um ponto de interrogaccedilatildeo no lugar de alguma pos-siacutevel resposta ldquo[Estou satisfeito(a) em trabalhar na UPP porque] natildeo eacute dife-rente de trabalhar em batalhatildeo E a gra-tificaccedilatildeo eacute melhorrdquo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E ALEacuteM

Os resultados gerados em 2014 pela pesquisa UPP O que pensam os policiais parecem confirmar motivos de pre-ocupaccedilatildeo jaacute detectados nos levanta-mentos anteriores a respeito do futuro do programa Motivos esses acrescidos de outros problemas que se tornaram mais intensos ou mais expliacutecitos de laacute para caacute como o aumento dos tiroteios mesmo em aacutereas onde a ldquopacificaccedilatildeordquo parecia razoavelmente consolidada o recuo das praacuteticas identificaacuteveis ao policiamento de proximidade o cres-cimento do nuacutemero de policiais com percepccedilatildeo da presenccedila muito frequente do traacutefico de drogas e do porte ilegal de armas e o aumento tambeacutem expressivo da sensaccedilatildeo desses policiais de serem detestados e rejeitados pela maioria dos moradores de favelas com UPP

Uma leitura da crise por que passa atualmente o programa ndash encontraacutevel no discurso de policiais de ponta no de alguns gestores e em mateacuterias na imprensa ndash credita os problemas prin-cipal ou integralmente ao ldquoretornordquo do traacutefico de drogas supostamente a maior ameaccedila agrave poliacutetica de ldquopacificaccedilatildeordquo Leitura que no limite desemboca em reforccedilo da visatildeo beacutelica e repressiva agrave qual o projeto original das UPPs justamente buscava se contrapor Elevado a ldquocausardquo das dificuldades o traacutefico de drogas ldquoinimigordquo de sempre estaria a demandar da poliacutecia mais repressatildeo mais abor-dagens mais confrontos mais fuzis

mais intervenccedilotildees militarizadas e mais suspeiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos moradores de favelas possiacuteveis aliados ou prote-tores dos traficantes Em suma mais do mesmo mais do que sempre se pensou e fez ndash sem nenhum sucesso ndash na poliacutetica de seguranccedila do Rio de Janeiro ao inveacutes da mudanccedila de paradigma anunciada em sua origem pelo programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo de favelas

Buscando diaacutelogo com pesquisas etno-graacuteficas recentes a anaacutelise dos resul-tados do survey de 2014 desenvolvida neste artigo aponta para uma relaccedilatildeo bem mais complexa entre os fatores interve-nientes na crise atual das UPPs em que sobressaem tropeccedilos do proacuteprio pro-grama como a grande demora na alte-raccedilatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo dos poli-ciais de ponta soacute realizada quase oito anos apoacutes o iniacutecio da ldquopacificaccedilatildeordquo o baixo investimento ateacute agora na siste-matizaccedilatildeo doutrinaacuteria e na institucionali-zaccedilatildeo praacutetica do chamado ldquopoliciamento de proximidaderdquo o fraco ou nenhum desenvolvimento de mecanismos insti-tucionais de controle monitoramento e avaliaccedilatildeo da atividade policial o crescente protagonismo atribuiacutedo aos GTPPs ndash gru-pamentos que soacute tecircm proximidade no nome pois via de regra atuam como mini--Bopes circulando fortemente armados pelas comunidades revistando uma quan-tidade enorme de moradores reprimindo accedilotildees de protesto nas favelas intimidando a populaccedilatildeo e por vezes provocando con-frontos com traficantes armados Longe de servirem como ponta de lanccedila de um novo paradigma de policiamento as UPPs parecem assim ter preservado e mesmo reforccedilado nos uacuteltimos anos concepccedilotildees e praacuteticas tradicionais de poliacutecia tor-nando-se cada vez mais semelhantes aos batalhotildees com suas rotinas costumeiras incluindo as iliacutecitas e abusivas e suas tropas de elite vestidas para guerrear

UMA LEITURA DA CRISE POR QUE PASSA ATUALMENTE O PROGRAMA CREDITA OS PROBLEMAS PRINCIPAL OU INTEGRALMENTE AO lsquoRETORNOrsquo DO TRAacuteFICO DE DROGAS SUPOSTAMENTE A MAIOR AMEACcedilA Agrave POLIacuteTICA DE lsquoPACIFICACcedilAtildeOrsquordquo

ldquo31

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 32: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

Certamente tambeacutem contribuem para o desgaste da legitimidade do pro-grama elementos que fogem do campo de anaacutelise deste trabalho mas que natildeo se pode deixar de mencionar a evapo-raccedilatildeo da UPP Social natildeo substituiacuteda por nenhum outro programa efetivo de coordenaccedilatildeo de accedilotildees urbaniacutesticas e socioeconocircmicas para as favelas ocu-padas pela poliacutecia o forte desgaste do governo do estado no periacuteodo das grandes manifestaccedilotildees de 2013 que fez murchar o entusiasmo inicial em relaccedilatildeo agraves UPPs a crescente exposiccedilatildeo de casos de violecircncia e corrupccedilatildeo ndash entre os quais tornaram-se emblemaacute-ticos o ldquodesaparecimentordquo do auxiliar de pedreiro Amarildo Dias de Souza na UPP da Rocinha em julho de 2013 e mais recentemente a execuccedilatildeo extraju-dicial com forjamento de auto de resis-tecircncia filmada por moradores do morro da Providecircncia em setembro de 2015 o proacuteprio recrudescimento dos tiro-teios que alimentam a inseguranccedila no interior e no entorno das comunidades as incertezas (seja de moradores ou dos proacuteprios policiais) quanto agrave perma-necircncia do programa apoacutes as Olimpiacuteadas de 2016 assim como a duacutevida sobre os reais propoacutesitos das UPPs e sobre quais seriam os seus reais beneficiaacuterios se de fato elas visam agrave melhoria de vida da populaccedilatildeo das favelas ou se servem sobretudo ao processo de ldquogentrifi-caccedilatildeordquo valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e explo-raccedilatildeo turiacutestica que acompanha o projeto de transformar o Rio de Janeiro em ambiente de grandes eventos negoacutecios e lucros Sob questionamento estaacute tambeacutem a propaganda governamental e midiaacutetica que apresentou as UPPs como uma poliacutetica de seguranccedila com supostos impactos positivos para toda a populaccedilatildeo fluminense Por exemplo a proacutepria atribuiccedilatildeo da queda dos

homiciacutedios e dos autos de resistecircncia no estado ao processo de ldquopacificaccedilatildeordquo vem sendo posta em xeque por indicaccedilotildees de que se houve esse impacto ele se res-tringiu ao acircmbito da capital53 Ademais natildeo soacute os homiciacutedios comuns voltaram a subir como as mortes provocadas pela poliacutecia vecircm aumentando fortemente no estado desde 2012

Ao lado de todos esses fatores que tecircm corroiacutedo a confianccedila no programa dentro e fora das UPPs ficam tambeacutem interro-gaccedilotildees de fundo sobre a efetiva possibi-lidade de se realizar uma mudanccedila de paradigma nos modos de accedilatildeo da poliacutecia sem uma reforma estrutural das proacuteprias instituiccedilotildees policiais Seraacute possiacutevel imple-mentar projetos bem sucedidos e dura-douros de policiamento de proximidade especialmente em favelas sem essa reforma profunda Pode-se esperar que experiecircncias-piloto mesmo de grande escala como as UPPs sobrevivam agrave forccedila destruidora do modelo beacutelico-repressivo ndash ainda mais se ele permanece vigente nas outras aacutereas natildeo contempladas por essas experiecircncias continua hegemocircnico nas ideias e praacuteticas da maior parte da cor-poraccedilatildeo e conta com o apoio de parcela expressiva da sociedade Seraacute realista apostar no poder transformador a meacutedio e longo prazo de programas inovadores progressistas e bem intencionados poreacutem desprovidos de condiccedilotildees concretas de sustentabilidade

Quando se leem balanccedilos da expe-riecircncia dos GPAEs no Rio de Janeiro54 experiecircncia que precedeu e inspirou a das UPPs eacute quase inevitaacutevel responder negativamente a todas as perguntas acima pois se percebe que natildeo obs-tante as diferenccedilas nas concepccedilotildees das duas iniciativas e nos momentos histoacute-ricos em que surgiram exatamente os mesmos problemas apontados no caso dos GPAEs repetem-se ndash em escala

FICAM INTERROGACcedilOtildeES DE FUNDO SOBRE A EFETIVA POSSIBILIDADE DE SE REALIZAR UMA MUDANCcedilA DE PARADIGMA NOS MODOS DE ACcedilAtildeO DA POLIacuteCIA SEM UMA REFORMA ESTRUTURAL DAS PROacutePRIAS INSTITUICcedilOtildeES POLICIAISrdquo

ldquo32

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 33: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

ampliada ndash no atual programa de ldquopacifi-caccedilatildeordquo A saber falta de monitoramento e avaliaccedilatildeo baixa institucionalizaccedilatildeo extrema dependecircncia de lideranccedilas carismaacuteticas individuais no comando das unidades fragilidade dos mecanismos de controle interno e externo da atividade policial falhas na seleccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos policiais de ponta baixa capacidade de diaacutelogo com organizaccedilotildees e lideranccedilas comunitaacuterias concepccedilatildeo paternalista e tutelar quando natildeo francamente auto-ritaacuteria da regulaccedilatildeo policial nas favelas ocupadas fracasso da tentativa de ldquointe-graccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos atraveacutes da participaccedilatildeo articulada das agecircncias do Estado da Sociedade Civil aleacutem da proacutepria comunidaderdquo para melhorar as condiccedilotildees de vida dos moradores55 con-sequentemente excessiva extensatildeo do mandato da poliacutecia que pode se trans-formar em ldquointendecircncia geralrdquo da favela convertendo o policial de ponta em ldquofaz--tudordquo56 e os comandantes em ldquosiacutendicos das comunidadesrdquo ou novos ldquodonos do morrordquo57 Como ocorreu com os GPAEs as UPPs tambeacutem parecem estar sendo incapazes de manter a confianccedila dos moradores para aleacutem de um comeccedilo auspicioso no qual a suspensatildeo dos tiro-teios das incursotildees policiais violentas da circulaccedilatildeo de traficantes armados e da impunidade para praacuteticas abusivas da poliacutecia gera receptividade e apoio de grande parte da populaccedilatildeo

A facilidade com que tais inicia-tivas se degradam ou satildeo sumariamente interrompidas estende-se tambeacutem a experiecircncias mais antigas como a do policiamento comunitaacuterio em Copa-cabana nos anos 199058 e mostra quatildeo fraacutegeis satildeo os fundamentos para o sucesso e a permanecircncia desses proje-tos-piloto na praacutetica verifica-se que em vez de as experiecircncias de poliacutecia de

proximidade funcionarem como pontas de lanccedila para mudanccedilas internas na ins-tituiccedilatildeo elas eacute que tendem a ser fago-citadas mais cedo ou mais tarde pela cultura corporativa tradicional

No caso das UPPs como nos ante-riores pesa ainda ndash e pelos mesmos motivos ndash a baixa adesatildeo de grande parte dos policiais a projetos que pre-tendem afastar-se do ethos guerreiro e da eterna reproduccedilatildeo dos modos con-vencionais de fazer poliacutecia Com o seacuterio agravante (natildeo verificado na experiecircncia dos GPAEs nem em outras similares) de as condiccedilotildees de trabalho em diversas UPPs serem simplesmente abominaacuteveis o que contribui sobremaneira para que parcela expressiva dos agentes de ponta natildeo se sinta nem um pouco valorizada apoiada e beneficiada pelo programa de ldquopacificaccedilatildeordquo Natildeo surpreende assim que muitos policiais ouvidos nos trecircs surveys do CESeC o encarem como um ldquoprograma eleitoreirordquo e como foco de exploraccedilatildeo poliacutetica e midiaacutetica total-mente distanciada da realidade concreta que eles enfrentam no dia a dia59

Mas apesar dos muitos motivos de desacircnimo e descrenccedila na possi-bilidade de recuperaccedilatildeo da proposta original das UPPs as dimensotildees ineacute-ditas desse programa as grandes espe-ranccedilas que mobilizou e os sinais de que a atual cuacutepula da PMERJ estaacute empe-nhada em tentar corrigir os desvios de rota apontados fazem com que se possa ainda acreditar numa reversatildeo do atual cenaacuterio de crise tensatildeo desgaste e enfraquecimento do policiamento de proximidade em favelas60 Reversatildeo necessaacuteria para que as UPPs natildeo se tornem mais uma entre outras opor-tunidades de mudanccedila desperdiccediladas ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas na seguranccedila puacuteblica do Rio de Janeiro

NA PRAacuteTICA VERIFICA-SE QUE EM VEZ DE AS EXPERIEcircNCIAS DE POLIacuteCIA DE PROXIMIDADE FUNCIONAREM COMO PONTAS DE LANCcedilA PARA MUDANCcedilAS INTERNAS NA INSTITUICcedilAtildeO ELAS Eacute QUE TENDEM A SER FAGOCITADAS MAIS CEDO OU MAIS TARDE PELA CULTURA CORPORATIVA TRADICIONALrdquo

ldquo33

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 34: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

NOTAS

1 Ao longo do texto o termo ldquopacificaccedilatildeordquo seraacute utilizado sempre entre aspas para assinalar que se trata de uma categoria do discurso ofi-cial e midiaacutetico sujeito a diversas leituras e criacute-ticas Como lembra Oliveira (2014) esse termo aponta para uma visatildeo militar tutelar e ldquocivili-zatoacuteriardquo que se aplica sempre a um Outro per-cebido como social e moralmente inferior Na-turalizaacute-lo implica portanto ocultar todo um conjunto de significados culturais e poliacuteticos que se transmite de experiecircncias histoacutericas agrave situaccedilatildeo atual segundo o autor muitas analo-gias podem ser traccediladas entre a ldquopacificaccedilatildeordquo de grupos indiacutegenas no passado e a dos mo-radores das favelas cariocas contemporacircneas particularmente o pressuposto de uma accedilatildeo tutelar exercida sobre uma populaccedilatildeo vulne-raacutevel e desprovida de ldquocivilizaccedilatildeordquo

2 Os resultados da pesquisa de 2010 en-contram-se em CESeC (2010) e Soares et al (2012) os do survey de 2012 em CESeC (2012) Soares (2012) e Musumeci et al (2013) Algumas perguntas do questionaacuterio foram al-teradas em 2014 e introduziram-se algumas novas por isso nem sempre se podem compa-rar os dados dos trecircs levantamentos

3 Em julho de 2014 quando teve iniacutecio a pes-quisa jaacute havia na verdade 38 UPPs mas duas foram excluiacutedas do levantamento por serem recentes demais Manguerinha em Duque de Caxias uacutenica fora do municiacutepio do Rio inaugurada em abril e Vila Kennedy na Zona Oeste da cidade criada em maio da-quele ano O total de policiais tambeacutem jaacute era maior mas a nossa lista soacute incluiu os das 36 UPPs e entre estes soacute os que estavam ldquopron-tosrdquo (isto eacute natildeo afastados ou licenciados) na data inicial do levantamento

4 Esta eacute decerto a maior limitaccedilatildeo da pesquisa pois obriga a tratar implicitamente as favelas com UPP como se fossem um conjunto ho-mogecircneo ndash o que alerta Valladares (2005 151-2) pode ter fortes implicaccedilotildees negativas ao unificar ldquosituaccedilotildees com caracteriacutesticas muito diferentes nos planos geograacutefico de-mograacutefico urbaniacutestico e socialrdquo reduzindo ldquofavelardquo (no singular) pura e simplesmente ao ldquolocus da pobrezardquo ou ldquoterritoacuterio urbano dos pobresrdquo Ou ainda ao territoacuterio da violecircncia e da ilegalidade a que se aplicariam poliacuteticas de seguranccedila homogecircneas com resultados supostamente uniformes (Leite 2014 Macha-do da Silva 2015)

5 Uma anaacutelise do contingente feminino das UPPs com base no survey de 2014 e uma re-flexatildeo mais ampla a partir de pesquisa quali-tativa sobre concepccedilotildees e papeis de gecircnero entre policiais dessas unidades encontram-se respectivamente em Mouratildeo (2015b) e Mou-ratildeo (2013)

6 O Proeis (Programa Estadual de Integraccedilatildeo na Seguranccedila) criado em 2011 permite aos policiais militares prestarem serviccedilos me-diante convecircnio a oacutergatildeos estaduais muni-cipais e concessionaacuterias de serviccedilos puacutebli-

cos o RAS (Regime Adicional de Serviccedilos) regulamentado em abril de 2012 autoriza todos os servidores de seguranccedila puacuteblica a desempenhar tarefas especiais de poli-ciamento ostensivo durante os periacuteodos de folga (ver httpwwwrjgovbrwebim-prensaexibeconteudoarticle-id=850254 Uacuteltimo acesso 16092015)

7 A pergunta sobre passagem anterior por ou-tros setores excluiacutea expressamente o estaacutegio realizado durante a formaccedilatildeo e a prestaccedilatildeo de serviccedilos complementares via Regime Adicional de Serviccedilo (RAS) O percentual se refere por-tanto a policiais que haviam de fato pertencido a outras unidades fora do programa UPP

8 Os conteuacutedos avaliados natildeo correspondem necessariamente a disciplinas do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PM Trata-se de temas propostos no questionaacuterio do CESeC para que os entrevistados classificassem o ensino de cada tema como ldquoadequadordquo ldquoina-dequadordquo ou ldquoinexistenterdquo

9 A maioria dos policiais entrevistados em 2014 (572) disse que seu curso de entrada na PM incluindo estaacutegio havia durado de 7 a 9 meses 396 afirmaram que durara de 10 a 14 meses e 32 disseram tecirc-lo concluiacutedo em menos de 6 meses A malha curricular do Curso de Formaccedilatildeo de Soldados da PMERJ vigente desde 2012 previa uma carga horaacuteria total de 1182 horas incluindo estaacutegio o que equivalia a 7 meses ou mais de duraccedilatildeo (cf Cortes e Mazzurana 2015 14-15)

10 Por ldquopoliacutecia de proximidaderdquo segundo a defi-niccedilatildeo oficial deve-se entender ldquoum conceito e uma estrateacutegia fundamentada na parceria entre a populaccedilatildeo e as instituiccedilotildees da aacuterea de seguranccedila puacuteblica Os policiais da UPP natildeo satildeo policiais de confronto e lsquoguerrarsquo e sim de mediaccedilatildeo de conflitos e de relaccedilatildeo com as comunidades A poliacutecia de proximi-dade busca ainda instaurar novas formas de interaccedilatildeo e parceria entre as instituiccedilotildees po-liciais e a sociedade privilegiando o atendi-mento preventivo Os policiais satildeo orientados a estreitar laccedilos com a comunidade em que atuam conhecendo os moradores e os pro-blemas que possam gerar crimes e conflitos Satildeo pressupostos baacutesicos do policiamento comunitaacuterio accedilatildeo proacute-ativa accedilatildeo preventiva integraccedilatildeo dos sistema de defesa puacuteblica e defesa social transparecircncia cidadania e accedilatildeo educativardquo (Paacutegina ldquoFAQrdquo do site UPPRJ httpwwwupprj comindexphpfaq Uacuteltimo acesso 16092015)

11 Feita pelos Grupamentos de Policiamento de Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-liciais que desempenham atividades de poliacute-cia ostensiva e se deslocam a peacute (Albernaz e Mazzurana 2015 69 71) O GPP eacute considerado estrateacutegico para os objetivos da ldquopacifica-ccedilatildeordquo porque ao menos em tese ldquodescentra-liza e personaliza a prestaccedilatildeo de serviccedilos de policiamento permitindo maior aproximaccedilatildeo entre comunidade e policiais militaresrdquo (idem

34

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 35: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

75) Em algumas localidades poreacutem o que eacute chamado GPP eacute o policiamento em ponto fixo (Soares 2015 194)

12 O termo ldquobonderdquo tambeacutem pode ser usado para designar ldquoum grupo de policiais que tra-balha[m] juntos fazendo o mesmo plantatildeo cobrindo o mesmo turnordquo natildeo necessariamen-te integrantes de GTPP (Menezes 2014 673) Trata-se em geral dos grupos mais agressivos liderados por agentes que os moradores (e os proacuteprios policiais) identificam como ldquotruculen-tosrdquo (Soares 2015 212 287)

13 Eacute possiacutevel que haja significativas variaccedilotildees na atuaccedilatildeo desses policiais em diferentes fa-velas mas pelo menos em algumas o nome mais adequado para o destacamento talvez fosse ldquoPoliacutecia de Pouca Proximidaderdquo como sugere o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 137) que acompanhou diretamente vaacuterias operaccedilotildees do GTPP em Nova Brasiacutelia

14 Instituto de Seguranccedila Puacuteblica do Es-tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) ndash Indi-cadores por AISPs e por UPPs [httpwwwisprjgovbrmapasiteaspflag=003 Uacuteltimo acesso 05092015] As seacuteries para as UPPs iniciam-se em 2007 uacuteltimo ano antes da implantaccedilatildeo do programa que serve de ldquomarco zerordquo para a anaacutelise da evoluccedilatildeo das ocorrecircn-cias nos territoacuterios que foram sendo progressi-vamente ocupados

15 A ldquoproduccedilatildeo policialrdquo divulgada pelo ISP seja para as UPPs ou para o resto do estado natildeo inclui poreacutem a conduccedilatildeo agrave delegacia de indi-viacuteduos detidos em abordagens policiais sem flagrante ou mandado judicial simplesmente para realizaccedilatildeo do ldquosarquerdquo (checagem de an-tecedentes penais) Essa praacutetica eacute ilegal mas bastante comum na UPP de Nova Brasiacutelia ndash onde o pesquisador Vinicius Esperanccedila (2014 144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re-gistro de Ocorrecircncia) de ldquosarquesrdquo no interva-lo de um ano ndash e provavelmente tambeacutem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

16 Isso fica claro quando se examina a evoluccedilatildeo dos registros de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo desagre-gados por UPP No caso das apreensotildees de armas eacute possiacutevel perceber um padratildeo que corresponde agraves etapas planejadas de ldquopaci-ficaccedilatildeordquo dos territoacuterios em muitos deles haacute um pico de armas apreendidas logo antes da inauguraccedilatildeo da UPP e em seguida um decliacute-nio da curva com eventual aumento no uacutelti-mo ano da seacuterie As apreensotildees de drogas ao contraacuterio natildeo seguem um padratildeo perceptiacutevel em algumas aacutereas como Pavatildeo-Pavatildeozinho Providecircncia Turano Macacos Mangueira e Nova Brasiacutelia elas crescem significativamente apoacutes a instalaccedilatildeo da UPP em outras como Ci-dade de Deus e Rocinha elas diminuem e em vaacuterias outras mostram uma mesma tendecircncia ou uma oscilaccedilatildeo aleatoacuteria antes e depois da UPP Tais diferenccedilas precisariam ser mais bem estudadas mas uma hipoacutetese eacute de que reflitam distintas e mutaacuteveis orientaccedilotildees dos comandos locais

17 Por outro lado em 2014 diversas aacutereas ldquopa-cificadasrdquo tiveram uma brusca e inexplicaacutevel queda dos registros tanto de apreensatildeo de dro-gas quanto de prisotildees em flagrante o que natildeo ocorreu no resto do estado onde ambos os ti-pos de ocorrecircncias continuaram em alta Para a

evoluccedilatildeo dos indicadores de ldquoproduccedilatildeo policialrdquo no Estado do Rio entre 1991 e 2014 ver CESeCEstatiacutesticasEvoluccedilatildeo e DistribuiccedilatildeoIndicadores de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro [httpwwwucamceseccombrestatisticas]

18 Cf Cano Borges e Ribeiro (2014) Sobre os policiais mediadores das UPPs ver Mouratildeo (2014 2015a) Sobre o ldquopolicial socialrdquo de UPP com suas ambiguidades e ambivalecircn-cias ver Teixeira (2015)

19 Aleacutem das diferenccedilas exibidas nas Tabelas 1 e 2 a pesquisa de 2014 registrou que 688 dos po-liciais que trabalhavam a maior parte do tempo em GTPP faziam em meacutedia 10 ou mais aborda-gens por turno de serviccedilo enquanto no resto da tropa esse percentual era de 25 Todos os cruzamentos de dados da pesquisa usados neste trabalho satildeo estatisticamente significan-tes mas tecircm coeficientes de correlaccedilatildeo baixos (variando de pouco mais de 01 a menos de 06) logo devem ser tomados apenas como indica-ccedilotildees natildeo como evidecircncia estatiacutestica

20 Eacute importante contudo diferenciar os entre-vistados que afirmam realizar frequentemen-te mediaccedilatildeo de conflitos (sem que se saiba bem o que entendem por isso) do grupo de policiais-mediadores especialmente treina-dos para conduzir mediaccedilotildees nas UPPs por meio de parceria entre a PM o Tribunal de Justiccedila e o Ministeacuterio Puacuteblico estaduais O nuacutemero total desses policiais-mediadores natildeo passava de 40 em 2014 e nenhum dos 16 identificados na amostra do survey disse trabalhar em GTPP (cf Mouratildeo 2015a)

21 Para Muniz e Mello (2015 54) ldquoas diversas finalidades atribuiacutedas agrave poliacutecia de proximi-dade levam a uma concepccedilatildeo de mandato policial tatildeo estendido que combina taacuteticas policiais convencionais de repressatildeo e dissu-asatildeo com outras modalidades alternativas de intervenccedilatildeo como a mediaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos o aconselhamento orientaccedilatildeo au-xiacutelio e assistecircncia comunitaacuterias a mobilizaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo civil a promoccedilatildeo de uma cultura civilista etcrdquo

22 O mesmo policiamento estaacute sendo atualmen-te expandido para projetos-piloto em bairros de classe meacutedia da cidade do Rio de Janeiro com o nome de CIPPs (Companhias Integra-das de Poliacutecia de Proximidade) popularmen-te batizadas de ldquoUPPs do asfaltordquo A primeira unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-ro de 2015 abrangendo partes dos bairros da Tijuca e do Grajauacute (cf httpwwwpmerjrjgovbr1a-companhia-integrada-de-policia-de--proximidade-cipp-completa-seis-meses Uacuteltimo acesso 16092015) Ao contraacuterio do que ocorreu nas UPPs o projeto CIPP foi mo-nitorado desde o iniacutecio por meio de um con-vecircnio entre a PMERJ e o CESeC os resulta-dos da avaliaccedilatildeo deveratildeo ser divulgados ateacute o final de 2015

23 Um projeto que lamentavelmente parece es-tar sendo desmobilizado com a atribuiccedilatildeo de outras funccedilotildees a esses policiais

24 Veja-se a seccedilatildeo ldquoAcontecerdquo do site oficial UPPRJ (httpwwwupprjcomindexphpacontece Uacuteltimo acesso 21092015)

35

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 36: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

25 Do conjunto dos policiais entrevistados pelo CESeC em 2014 133 afirmaram realizar tra-balho administrativo a maior parte do tem-po (ver Graacutefico 4 acima) Entre as policiais femininas essa percentagem foi de 47 (cf Mouratildeo 2015b)

26 As pesquisas quantitativas que ouviram mo-radores das favelas ocupadas natildeo abrangem todas as UPPs A mais recente realizada em 2014 focaliza apenas dez unidades em cada uma das quais foram entrevistados cem mora-dores Observa que de modo geral haacute adesatildeo ao programa avaliaccedilatildeo positiva do impacto da UPP ndash especialmente na reduccedilatildeo dos tiro-teios ndash e desejo de que ela continue apoacutes as Olimpiacuteadas Mas mostra tambeacutem que as opini-otildees variam muito entre os diferentes segmen-tos etaacuterios e que quase 60 da populaccedilatildeo natildeo confiam nos policiais registra aleacutem disso ex-periecircncias de desrespeito seletividade e vio-lecircncia nas abordagens policiais tendo como alvo especialmente os moradores jovens e ne-gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014)

27 As opccedilotildees fechadas eram medo descon-fianccedila simpatia raiva respeito admiraccedilatildeo e indiferenccedila Natildeo soacute podia-se escolher mais de uma dessas alternativas como no campo aberto vaacuterios policiais responderam mais de um sentimento Por isso os percentuais dos Graacuteficos 7 e 8 se referem ao total de respos-tas natildeo ao de entrevistados

28 Ambas as perguntas eram abertas e espontacirc-neas e vaacuterios entrevistados forneceram mais de uma resposta Os percentuais referem-se assim ao total de respostas natildeo ao de entre-vistados

29 Em grupos focais com cabos e soldados de UPP conduzidos pelo CESeC na primeira ro-dada da pesquisa em 2010 tambeacutem houve re-latos de hostilidades por parte de moradores sobretudo jovens que atiravam pedras e sacos de urina ou fezes contra os policiais e xingavam ou cuspiam no chatildeo quando passavam por eles

30 Na pesquisa do CESeC a pergunta sobre ex-periecircncias de ter sido hostilizados soacute foi feita aos policiais em 2014 por isso natildeo haacute possi-bilidade de comparaccedilatildeo com os surveys dos anos anteriores

31 Vale insistir que os baixos coeficientes de correlaccedilatildeo dos cruzamentos fazem com que os resultados devam ser tomados como indi-caccedilotildees natildeo como evidecircncias

32 Entrevista do coronel Antonio Carballo as-sessor de Assuntos Estrateacutegicos do Estado Maior da PM G1 11072015 [httpg1glo-bocomrio-de-janeironoticia201507policia-admite-erros-nas-upps-e-espe-cial istas-avaliam-mortes-de-pmshtml Uacuteltimo acesso 25092015]

33 Segundo levantamento do G1 foram 4 mor-tes de policiais de UPP em 2012 3 em 2013 8 em 2014 e 7 soacute de 1ordm de janeiro a 8 de julho de 2015 (httpg1globocomrio-de-janeironoticia201507um-policial-morre-cada--40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014html Uacuteltimo acesso 21092015)

34 Planilha ldquoRanking das UPPs por quan-tidade de confrontosrdquo fornecida ao CESeC pela Coordenaccedilatildeo de Poliacutecia Pacificadora da PMERJ Embora natildeo haja um esclarecimento expliacutecito a categoria ldquoconfron-tordquo utilizada pela PM parece supor sempre tro-ca de tiros de arma de fogo com criminosos

35 Barreira do VascoTuiuti Batan Borel Cer-ro-Coraacute Chapeacuteu MangueiraBabilocircnia For-miga Jacarezinho PrazeresEscondidinho e Vidigal

36 AdeusBaiana Andaraiacute Araraacute Mandela Cha-tuba CoroaFalletFogueteiro Fazendinha Macacos Manguinhos Pavatildeo-PavatildeozinhoCantagalo Providecircncia Salgueiro e Tabajaras

37 Alematildeo Caju Camarista Meacuteier Cidade de Deus Lins Mangueira Nova Brasiacutelia Parque Proletaacuterio Rocinha Satildeo Carlos Satildeo Joatildeo Tu-rano e Vila Cruzeiro

38 Natildeo haacute dados sobre confrontos no periacuteodo correspondente ao da pesquisa

39 Natildeo se trata de ocorrecircncias registradas ape-nas da avaliaccedilatildeo dos policiais sobre frequecircn-cia de casos nas aacutereas de UPP onde traba-lham

40 Jaacute o cruzamento entre sensaccedilatildeo de seguranccedila e tipo de trabalho realizado na maior parte do tempo natildeo apresentou resultado notaacutevel os policiais de GTPP disseram sentir-se seguros ou muito seguros numa proporccedilatildeo (299) apenas um pouco maior que a dos ocupados em outros tipos de serviccedilos (247)

41 Outras experiecircncias listadas no questionaacuterio ndash ter feito uso de arma letal ou natildeo-letal e ter apreendido drogas armas ou adolescentes infratores ndash apresentaram coeficientes de correlaccedilatildeo menores que 01 no cruzamento com a divisatildeo das UPPs por quantidade de confrontos

42 Ver a esse respeito entre outros Valladares (2005) Ramos e Musumeci (2005) Cano Borges e Ribeiro (2014 176-8) Cecchetto et al (2013 11-13) Soares (2015 135)

43 ISP-RJ (httpwwwisprjgovbrConteudoaspident=61) Ainda natildeo haacute dados de 2015 para as aacutereas com UPP

44 Soares (2015 164) relata casos de morado-ras expulsas da comunidade por traficantes porque mantinham relaccedilotildees amorosas com agentes da UPP de comerciantes proibidos de vender aos policiais e de pessoas que fo-ram punidas ou tiveram a porta de casa mar-cada por conversarem muito com a poliacutecia ndash fatos que provavelmente se repetem em outras favelas ldquopacificadasrdquo

45 Ver a esse respeito Cano Borges e Ribeiro (2014 149-52) Musumeci et al (2013 8-10 14)

46 Zaluar (2015 sp) sugere que esse fortaleci-mento tem relaccedilatildeo com as grandes manifes-taccedilotildees de 2013 quando muitos jovens poli-ciais de UPP foram deslocados para prestar auxiacutelio ao BPChoque ou aos batalhotildees con-vencionais e assimilaram na praacutetica ldquoas teacutec-nicas da repressatildeo e o abuso no uso da forccedila que caracterizavam a PM em situaccedilatildeo de en-frentamentordquo tendo oportunidade de colocar

36

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 37: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

em ato a ldquoloacutegica da accedilatildeo que impera na cul-tura organizacionalrdquo A autora tambeacutem asso-cia a esse periacuteodo o reempoderamento dos traficantes nas UPPs ldquocom menos policiais presentes os traficantes voltaram a exibir ar-mas e se comportar provocativamente sem se esconder nos becos como faziam nos uacuteltimos anos Confrontos entre policiais e traficantes voltaram a ocorrer e a caccedila aos lsquobandidosrsquo hoje periga vir a ser novamente o modus ope-randi de policiais militares mesmo nas UPPsrdquo

47 Soares (2015 172) relata inclusive que numa das favelas que pesquisou reaccedilotildees de revolta de moradores com xingamentos e arremesso de sacos de urina fezes e ratos natildeo tiveram como alvo apenas policiais da UPP mas tam-beacutem funcionaacuterios do PAC em resposta a re-moccedilotildees feitas de modo autoritaacuterio e a atrasos nas obras de reassentamento dos moradores jaacute removidos

48 Em anaacutelise feita de uma perspectiva distinta Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca os rearranjos na ldquogeopoliacutetica da drogardquo de-sencadeados pela instalaccedilatildeo das UPPs afe-tando as relaccedilotildees de poder entre traficantes policiais e milicianos na cidade do Rio de Janeiro Para o autor os recentes ataques a UPPs o aumento dos crimes contra o patri-mocircnio e o re-fortalecimento das miliacutecias nos uacuteltimos anos (inclusive em favelas com UPP) seriam algumas das consequecircncias interrrela-cionadas do processo de ldquopacificaccedilatildeordquo cujo objetivo maior teria sido e continuaria sendo o de extinguir ou desterritorializar natildeo o traacute-fico de drogas ou os grupos armados em ge-ral mas especificamente a facccedilatildeo criminosa intitulada Comando Vermelho

49 A tentativa de ldquoexplicarrdquo a crise por ataques do traacutefico contra a ldquopacificaccedilatildeordquo aparece em diversos editoriais e mateacuterias recentes da grande imprensa ndash por exemplo no tiacutetulo de uma reportagem do Globo de 30032014 ldquoMenos de 24 horas apoacutes accedilatildeo na Mareacute traacute-fico desafia pacificaccedilatildeordquo O curioso poreacutem eacute que o lead e a abertura dessa reportagem re-ferem-se ao caso de cinco policiais militares ldquopresos acusados de fazerem jogo duplo tra-balhavam na Unidade de Poliacutecia Pacificadora (UPP) da Rocinha mas receberiam ordens em troca de propina dos traficantes Aleacutem de passar informaccedilotildees sobre operaccedilotildees policiais eles fariam vista grossa agrave venda de drogas natildeo reprimindo o traacutefico de armas e municcedilotildees da quadrilha do traficante Antocircnio Francisco Bonfim Lopes o Nem da Rocinha que cum-pre pena no presiacutedio federal de Campo Gran-de Horas antes no fim da noite de domingo dois policiais da UPP da Rua Canitar no Com-plexo do Alematildeo foram baleados em uma troca de tiros com traficantesrdquo Fica evidente aiacute a oscilaccedilatildeo entre um endosso agrave loacutegica beacute-lica ou agrave dicotomia simploacuteria poliacutecia X trafi-cantes e o reconhecimento de imbricaccedilotildees muito mais complexas entre esses supostos ldquoinimigos de guerrardquo [httpogloboglobocomriomenos-de-24-horas-apos-acao-na--mare-trafico-desafia-pacificacao-12050817 Uacuteltimo acesso 25092015]

50 Os motivos de satisfaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo foram categorizados e agregados a partir de muacutel-tiplas respostas agrave pergunta aberta e espon-tacircnea O grupo ldquocondiccedilotildees de trabalhordquo por exemplo inclui elementos como escala grati-ficaccedilatildeo condiccedilotildees da sede auxiacutelio-transporte etc Como alguns policiais responderam mais de um motivo as percentagens se referem ao total de respostas natildeo ao de entrevistados

51 Na eacutepoca do survey anterior em 2012 a gratificaccedilatildeo dos policiais de UPP paga pela prefeitura costumava atrasar muito e a pon-tualidade do pagamento foi o item com pior avaliaccedilatildeo depois do salaacuterio soacute 63 qualifi-caram-no como ldquobomrdquo e soacute 6 consideraram ldquobomrdquo o salaacuterio que recebiam Em 2014 pare-ce natildeo haver mais atrasos aleacutem disso como jaacute mencionado o acreacutescimo de serviccedilo extra no RAIS e no Proeis elevou a meacutedia salarial e aumentou significativamente a parcela de policiais que consideram o salaacuterio ldquobomrdquo (de 6 para 215) embora ao preccedilo de uma carga de trabalho maior

52 A proporccedilatildeo de policiais desejosos de traba-lhar em BPM contudo foi mais alta em 2014 que na rodada anterior (685 contra 594 ) Cf Musumeci et al (2013 8)

53 Ver a jaacute mencionada seacuterie de dados do ISP para as aacutereas com UPPs a cidade e o estado do Rio de Janeiro Cf tambeacutem MIsse (2014)

54 Cf por exemplo Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007) Cardoso (2010 2014) A sigla GPAE eacute de Grupamentos de Policiamento em Aacutereas Especiais

55 Diretriz de Planejamento 2300 que instituiu o primeiro GPAE nas favelas do Cantagalo e Pavatildeo-Pavatildeozinho Boletim PM n 37 9 de agosto de 2000 apud Albernaz Caruso e Pa-triacutecio (2007 p 40) A mesma intenccedilatildeo inte-gradora com o mesmo insucesso repetiu-se anos depois na criaccedilatildeo do programa UPP So-cial (cf Henriques e Ramos 2011 Foley 2014 Soares 2015)

56 Albernaz Caruso e Patriacutecio (2007 pp 42-43)

57 Cano Borges e Ribeiro (2014 pp 173 198)

58 Cf Musumeci coord (1996)

59 Nas duas primeiras rodadas do survey em 2010 e 2012 493 e 537 dos policiais respectiva-mente disseram que a miacutedia retratava as UPPs melhor do que elas eram na realidade A per-gunta foi suprimida do questionaacuterio de 2014

60 Desde o iniacutecio de 2015 e ateacute o momento da conclusatildeo deste artigo ocupavam cargos de algo comando na PMERJ alguns oficiais afi-nados com a concepccedilatildeo de poliacutecia cidadatilde comunitaacuteria e respeitadora dos direitos hu-manos Entre eles os idealizadores e imple-mentadores do primeiro GPAE e das primeras UPPs

37

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 38: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ Elizabete R CARUSO Haydeacutee PATRIacuteCIO Luciane Tensotildees e desafios de um policiamento comunitaacuterio em favelas do Rio de Janeiro o caso do Grupamento de Policiamento em Aacutereas Especiais Satildeo Paulo em Perspectiva v 21 n 2 pp 39-52 juldez 2007 [httpprodutosseadegovbrprodutossppv21n02v21n02_04pdf Uacuteltimo acesso 20092015]

ALBERNAZ Elizabete R MAZZURANA Leo-nardo Unidad de Policiacutea Pacificadora ndashUPP del origen del programa a la poliacutetica de pacificacioacuten Rio de Janeiro ISER 2015 [httpwwwamuprevorgdocumentos2015851588pdf Uacuteltimo acesso 14092015]

CANO Ignacio BORGES Doriam RIBEIRO Eduardo (orgs) ldquoOs donos do morrordquo Uma avaliaccedilatildeo exploratoacuteria do impacto das Unidades de Poliacutecia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Heinrich Boll 2014 [httpbrboellorgsites defaultfilesos_donos_do_morro_-_miolo_web_baixapdf Uacuteltimo acesso 30082015]

CARDOSO Marcus Como morre um projeto de policiamento comunitaacuterio O caso do Cantagalo e do Pavatildeo-Pavatildeozinho Tese de Doutorado Brasiacutelia Departa-mento de Antropologia da UnB maio de 2010 [httprepositoriounbbrbits-tream104827918 12010_MarcusAn-drC3A9DeSouzaCardosoDaSilvapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CARDOSO Marcus O policiamento comunitaacuterio na perspectiva dos moradores de favelas apon-tamentos etnograacuteficos Trabalho apresentado no VIII Encontro da Andhep ndash Poliacuteticas Puacuteblicas para a Seguranccedila Puacuteblica e Direitos Humanos GT 12 Satildeo Paulo Faculdade de Direito da USP 28 a 30 de abril de 2014 [httpwwwencontro2014andheporgbrresourcesanais11394923945_ARQUIVO_MARCUSCARDOSOpdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da pri-meira etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2010 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfupps_finalppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CESeC (CENTRO DE ESTUDOS DE SEGU-

RANCcedilA E CIDADANIA) Resultados da segunda etapa do levantamento estatiacutestico sobre o que pensam os policiais das UPPs (apre-sentaccedilatildeo de slides) Rio de Janeiro 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentfiles_mfppt_upp19dejulhoppt Uacuteltimo acesso 15082015]

CECCHETTO Fatima et al Os jovens das favelas e a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios no Rio de Janeiro estilos e estrateacutegias de convivecircncia com a violecircncia criminal e policial Acta Cientiacutefica ndash XXIX Con-greso de la Asociacioacuten Latinoamericana de Sociologiacutea Santiago Chile 2013 [httpactacientificaservicioitclbibliotecagtGT24GT24_Cecchetto_Correapdf Uacuteltimo acesso 20092015]

CORTES Vanessa de Amorim MAZZURANA Leonardo Atualizaccedilatildeo curricular do CFSd contribuiccedilotildees para a gestatildeo educacional na aacuterea da seguranccedila puacuteblica Cadernos de Seguranccedila Puacuteblica ano 7 n 6 julho de 2015 pp 1-15 [httpwwwisprjgovbrrevistadownloadRev20150701pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

ESPERANCcedilA Vinicius ldquoBrincando de gato e ratordquo no Complexo do Alematildeo UPPS esticas e acordo de cavalheiros na Nova Brasiacutelia e no Alematildeo Confluecircncias - Revista Interdisci-plinar de Sociologia e Direito v 16 n 3 2014 pp 125-150 [httpwwwconfluenciasuffbrindexphpconfluenciasarticleview368307 Uacuteltimo acesso 13092015]

FOLEY Conor Pelo telefone Rumors truths and myths in the lsquopacificationrsquo of the favelas of Rio de Janeiro Rio de Janeiro Human-itarian Action in Situations Other than War March 2014 (HASOW Discussion Paper 11) [httpwwwhasoworguploadst raba l ho s 117do c1760 478317 pdf Uacuteltimo acesso 31082015]

HENRIQUES Ricardo RAMOS Silvia UPP social accedilotildees sociais para a consolidaccedilatildeo da pacificaccedilatildeo In URANI Andreacute e GIAM-

BIAGI Fabio (orgs) Rio a hora da virada Rio de Janeiro CampusElsevier 2011 pp 242-254 [Disponiacutevel tambeacutem em httpwwwieufrjbrdatacenteriepdfsseminariospesquisa texto3008pdf Uacuteltimo acesso 30082015]

38

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 39: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

LEITE Maacutercia Pereira Da ldquometaacutefora da guerrardquo ao projeto de ldquopacificaccedilatildeordquo favelas e poliacute-ticas de seguranccedila puacuteblica no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica v 6 n 2 agoset 2012 pp 374-389[httprevistaforumsegurancaorgbrindexphprbsparticleview126123 Uacuteltimo acesso 20092015]

LEITE Maacutercia Pereira Entre a ldquoguerrardquo e a ldquopazrdquo Unidades de Poliacutecia Pacificadora e gestatildeo dos territoacuterios de favela no Rio de Janeiro Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 625-642 [httprevistadildominio tem-porariocomdocDILEMAS-7-4_Art2pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MACHADO DA SILVA Luiz Antonio A experi-ecircncia das UPPs Uma tomada de posiccedilatildeo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 7- 24 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art1pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

MENEZES Palloma Valle Os rumores da lsquopaci-ficaccedilatildeorsquo A chegada da UPP e as mudanccedilas nos problemas puacuteblicos no Santa Marta e na Cidade de Deus Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 4 outnovdez 2014 pp 665-684[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 4 _ A r t 4 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MISSE Daniel Ganem Cinco anos de UPP Um breve balanccedilo Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social v 7 n 3 julagoset 2014 pp 675-700[httprevistadildominiotemporarioc o m d o c D I L E M A S - 7 - 3 - A r t 3 p d f Uacuteltimo acesso 15082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci UPPs Uma poliacutecia de que gecircnero Rio de Janeiro CESeC 2013 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuplo-ads2013123-UUPs-Barbara-webpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Mediaccedilatildeo de conflitos nas UPPs Sistematizaccedilatildeo de uma escuta Rio de Janeiro CESeC setembro de 2014 [httpwwwucam-ceseccombrwordpresswp-contentuploads201409UPP-MEDIACAO-finalpdf Uacuteltimo acesso 24082015]

MOURAtildeO Barbara Musumeci Promessas e dilemas da mediaccedilatildeo policial nas UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 15 2015a (a sair)

MOURAtildeO Barbara Musumeci A face feminina das UPPs Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC n 18 2015b (a sair)

MUNIZ Jacqueline MELLO Katia Sento Seacute Nem tatildeo perto nem tatildeo longe O dilema da cons-truccedilatildeo da autoridade policial nas UPPs Civitas v 15 n 1 jan-mar 2015 pp 44-65 [httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpcivitasarticleviewFile1993912832 Uacuteltimo acesso 24082015]

MUSUMECI Leonarda (coord) Seguranccedila puacuteblica e cidadania A experiecircncia de policiamento comuni-taacuterio em Copacabana (1994-95) Relatoacuterio final do monitoramento qualitativo Rio de Janeiro ISER 1996 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201105PolicComunitCopacabana_texto+anexospdf Uacuteltimo acesso 17082015]

MUSUMECI Leonarda MOURAtildeO Barbara Musumeci LEMGRUBER Julita RAMOS Silvia Ser policial de UPP Aproximaccedilotildees e resistecircncias Boletim Seguranccedila e Cidadania Rio de Janeiro CESeC ano 12 n 14 dezembro de 2013 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentfiles_mfboletim14pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

OLIVEIRA Joatildeo Pacheco de Pacificaccedilatildeo e tutela militar na gestatildeo de popu-laccedilotildees e territoacuterios Mana v 20 n 1 2014 pp 125-161 [httpwwwscielob r p d f m a n a v 2 0 n 1 a 0 5 v 2 0 n 1 p d f Uacuteltimo acesso 23082015]

RAMOS Silvia MUSUMECI Leonarda Elemento suspeito Abordagem policial e discriminaccedilatildeo na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira e CESeC 2005

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (1ordf parte) Capitalismo em desencanto 10042014 (2014a) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140410rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-1a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

RODRIGUES Eduardo Rio-veratildeo-2014 quando extinguir o Comando Vermelho passa a ser a noviacutessima soluccedilatildeo para a questatildeo da vio-lecircncia urbana carioca (2ordf parte) Capitalismo em desencanto 28042014 (2014b) [httpscapitalismoemdesencantowordpresscom20140428rio-verao-2014-quando--extinguir-o-comando-vermelho-passa-a--ser-a-novissima-solucao-para-a-questao--da-violencia-urbana-carioca-2a-parte Uacuteltimo acesso 20092015]

39

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 40: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

BOLETIM SEGURANCcedilA E CIDADANIA bull 19Novembro 2015

RODRIGUES Robson Os dilemas da pacifi-caccedilatildeo Notiacutecias de guerra e paz em uma ldquoCidade Maravilhosardquo Rio de Janeiro Ins-tituto Igarapeacute agosto de 2014 (Artigo Estra-teacutegico 8) [httpigarapeorgbrwp-contentu p l o a d s 2 0 1 4 0 7 a r t i g o - 8 - p 5 p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara Unidades de Poliacutecia Paci-ficadora O que pensam os policiais ano II Rio de Janeiro CESeC 2012 [httpwwwucamceseccombrwor-dpresswp-contentuploads201109R e l a t o r i o 2 0 1 2 c o m A n e x o s p d f Uacuteltimo acesso 04092015]

SOARES Barbara LEMGRUBER Julita MUSUMECI Leonarda RAMOS Silvia O que pensam os policiais das UPPs Ciecircncia Hoje n 294 julho de 2012 [httpwwwucamceseccombrwordpresswp-contentuploads201109policiaisdasUPPs294pdf Uacuteltimo acesso 15082015]

SOARES Vanessa Brulon (Des)organizando o espaccedilo social de favelas O campo burocraacutetico do Estado em accedilatildeo no contexto da ldquopacifi-caccedilatildeordquo Tese de doutorado em Administraccedilatildeo Rio de Janeiro Escola Brasileira de Admi-nistraccedilatildeo Puacuteblica e de EmpresasFGV-RJ junho de 2015 [httpsbibliotecadigitalfgvbrdspacebitstreamhandle1043813848Tese20-20Vanessa20Brulon20- 2 0 V e r s C 3 A 3 o 2 0 F i n a l 2 0A p C 3 B 3 s 2 0 D e f e s a 2 0 ( 2 ) p d f s e q u e n c e = 5 amp i s A l l o w e d = y Uacuteltimo acesso 12092015]

TEIXEIRA Cesar Pinheiro O lsquopolicial socialrsquo Algumas observaccedilotildees sobre o engajamento de policias militares em projetos sociais no contexto de favelas ocupadas por UPPs

Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Con-trole Social v 8 n 1 janfevmar 2015 pp 77-96 [httprevistadildominiotem-porariocomdocDILEMAS-8-1-Art5pdf Uacuteltimo acesso 08092015]

VALLADARES Licia do Prado A invenccedilatildeo da favela do mito de origem a favelacom Rio de Janeiro Ed FGV 2005

VILAROUCA Maacutercio Grijoacute RIBEIRO Ludmila Descortinando as praacuteticas de pacificaccedilatildeo Resultados de um survey com residentes em dez UPPs Trabalho apresentado no seminaacuterio internacional ldquoPacificaccedilatildeo o que eacute e a quem se destina Reflexotildees sobre a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees de pacificaccedilatildeo ao longo da histoacuteria do Brasilrdquo Rio de Janeiro CPDOCFGV UFRRJ e Universiteacute Paris Est Marne la Valeacutee 3 e 4 de novembro de 2014

VIVA RIO Relatoacuterio de experiecircncias de enfrenta-mento da violecircncia em perspectiva comparada Os casos de Rio de Janeiro Salvador Curitiba e Cidade do Panamaacute Rio de Janeiro setembro de 2014 [httpvivarioorgbrwp-contentuploads201412RelatC3B3rio_CAF_1pdf Uacuteltimo acesso 28102015]

ZALUAR Alba Dilemas desafios e problemas da UPP no Rio de Janeiro Trabalho apre-sentado no XII Congresso Internacional da Associaccedilatildeo de Estudos Brasileiros (Brasa) Londres Kingrsquos College 20-23 de agosto de 2014 [httpwwwbrasaorgwordpressDocumentsBRASA_XIIProceedingsAlba20Zalaur20-20Dilemas20desafios20e20problemas20da20UPP20no20 Rio20de20Janeiropdf Uacuteltimo acesso 28092015]

40

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores

Page 41: BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 · 2018-05-22 · BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA NOVEMBRO 2015 19. RESUMO O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP:

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANCcedilA E CIDADANIA (CESEC) PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

RUA DA ASSEMBLEIA 10 SALA 810CENTRO ndash RIO DE JANEIRO ndash RJBRASIL ndash 20011-901

(55) (21) 2531-2033(55) (21) 2232-0007

wwwucamceseccombr ceseccandidomendesedubr

ISSN 1807-528 2

apoiadores