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STF retoma julgamento que definirá a incidência de contribuição previdenciária sobre o salário-maternidade O Supremo Tribunal Federal (STF) deve finalizar, no dia 04/08/2020, o julgamento do Tema de Repercussão Geral nº 72 (RE nº 576.967/PR), no qual se discute a constitucionalidade da inclusão do salário-maternidade na base de cálculo da contribui- ção previdenciária a cargo do empregador. No julgamento iniciado em novembro/2019, o ministro relator Luís Roberto Barroso havia proferido seu voto pelo provimento do recurso e proposto a fixação da seguinte tese: “É inconstitucio- nal a incidência de contribuição previdenciária a cargo do empregador sobre o salário-maternidade”. Na ocasião, houve voto divergente proferido pelo ministro Alexandre de Moraes, tendo sido sus- penso o julgamento após pedido de vista do ministro Marco Aurélio. Retomado em 26/06/2020, na modalidade de julgamento vir- tual, até o momento o recurso extraordinário possui oito votos proferidos, cinco deles pela inconstitucionalidade da tributação sobre o salário-maternidade, de sorte que basta mais um voto nesse sentido para que se obtenha a maioria necessária para que a discussão tenha um desfecho favorável aos contribuintes. Vale lembrar que, a se confirmar uma decisão favorável aos contribuintes, restará superado o entendimento sobre a matéria consolidado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) no Recurso Especial nº 1.230.957/RS, julgado sob o rito dos recursos repe- titivos. Casos tributários relevantes estão pautados para ser julgados em agosto pelo STF Além da incidência da contribuição previdenciária sobre o salário maternidade, outros temas tributários relevantes estão pautados para ser julgados no mês de agosto de 2020 pelo STF. Dentre eles, destacamos dez casos: PAUTA ASSUNTO N° DO RECURSO 04/08 Extensão da imunidade relativa ao ICMS para a comercialização de embalagens fabricadas para produtos destinados à exportação. RE nº 754917 (Tema 475) Alcance da imunidade tributária do ITBI, prevista no art. 156, § 2º, I, da Constituição, sobre imóveis incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica, quando o valor total desses bens exceder o limite do capital social a ser integralizado. RE nº 796376 (Tema 796) Inconstitucionalidade da incidência do ISSQN sobre os serviços de cessão de andaimes, palcos, coberturas e outras estruturas de uso temporário, previstos no subitem 3.05 da lista de serviços anexa à LC nº 116/2003. ADI nº 3287 Inconstitucionalidade da incidência de ISSQN sobre serviços prestados mediante locação, sublocação, arrendamento, direito de passagem ou permissão de uso de ferrovia, rodovia, postes, cabos, dutos e condutos de qualquer natureza. ADI nº 3142 07/08 Referibilidade e natureza jurídica da contribuição para o INCRA, em face da Emenda Constitucional nº 33/2001. RE nº 630.898 (Tema 495) Constitucionalidade da incidência da Contribuição ao SEBRAE, à APEX e à ABDI sobre a “folha de salários” das empresas, em face da Emenda Constitucional nº 33/2001. RE nº 603.624/SC (Tema 325) Compatibilidade da LC nº 24/1975 com a CF/1988, tendo em vista a exigência de unanimidade dos estados para a concessão de benefícios fiscais de ICMS. ADPF 198 Constitucionalidade da cobrança do adicional de 10% após atingida a finalidade que motivou a sua instituição. RE nº 878.313 (Tema 846) Constitucionalidade do parágrafo único do art. 73 da Lei nº 9.430/1996, com a redação dada pela Lei nº 12.844/2013, que prevê a possibilidade de o Fisco, aproveitando o ensejo da restituição ou do ressarcimento de tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, proceder à compensação, de ofício, com débitos não parcelados ou parcelados sem garantia. RE nº 917.285 (Tema 874) 14/08 Violação ao princípio da isonomia (art. 150, II, da Constituição Federal) ante a incidência de IPI no momento do desembaraço aduaneiro de produto industrializado, assim como na sua saída do estabelecimento importador para comercialização no mercado interno. RE nº 946.648 (Tema 906) STJ confere direito creditório de PIS/COFINS sob o regime monofásico A 1ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu provimento ao recurso especial de contribuinte (REsp nº 1.861.190/RS) que objetivava o reco- nhecimento do direito ao creditamento de PIS/COFINS em operações de aquisição de bens destinados à revenda, sujeitos ao sistema monofásico das contribuições, nos termos do artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, que instituiu o REPORTO. Referido artigo dispõe, expressamente, que “As vendas efetuadas com suspensão, isenção, alíquota 0 (zero) ou não incidência da Contribuição para o PIS/PA- SEP e da COFINS não impedem a manutenção, pelo vendedor, dos créditos vinculados a essas operações”. O voto vencedor do acórdão, proferido pela ministra Regina Helena Costa, relatora do caso, discorre sobre a “possibilidade de aplicação da técnica da não cumulatividade, que gera direito a creditamento, no regime de incidência monofásica das contribuições”. Destaca-se que a não cumulatividade do PIS/COFINS é direito constitucional expressamente previsto no § 12 do artigo 195 da Constituição Federal. A ministra relembra que o sistema monofásico do PIS/COFINS consiste “na incidência única da contribuição, com alíquota mais gravosa, desonerando-se as demais fases da cadeia produtiva” e, ainda, que “Na monofasia, [...], o contribuinte é único e o tributo recolhido, ainda que as operações subsequentes não se consu- mem, não será devolvido”. Analisando o caso em concreto, a ministra Regina Helena Costa entendeu que a não cumulatividade do PIS/COFINS, por ser direito constitucional, deve ser prestigiada em sua máxima eficácia. Nesse contexto, a ministra afirmou que o artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, apesar de estar inserido no contexto da Lei instituidora do REPORTO, con- fere a “possibilidade de o contribuinte utilizar créditos da contribuição ao PIS e da COFINS no caso de venda efetuada no regime monofásico, pois garante a manu- tenção desses créditos pelo vendedor na hipótese de venda de produtos com incidência monofásica”, não se limitando às operações realizadas pelos beneficiários do REPORTO. Conclui a ministra, com supedâneo em outros julgados do Tribunal, pela irrelevância do fato de que as demais operações da cadeia produtiva não sejam sujeitas ao recolhimento do PIS/COFINS no sistema monofásico, o que não é impeditivo para a manutenção dos créditos das aquisições efetuadas pelos contribuintes. Após precedente do STJ, crescem decisões reconhecendo a limitação da base de cálculo das contribuições de terceiros em 20 salários mínimos Em março de 2020, foi publicado acórdão relativo ao julgamen- to do agravo interno em recurso especial nº 1.570.980/SP, por meio do qual a 1ª Turma do STJ reiterou a sua jurisprudência e reconheceu a aplicação do limite de 20 salários mínimos, previs- to no art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 6.950/1981, sobre a base de cálculo para o recolhimento das contribuições destinadas a terceiros. No entender do colegiado, o art. 3º do Decreto-Lei nº 2.318/1986 revogou esse limite apenas quanto às contribuições previdenciárias. Após aproximadamente quatro meses da decisão, é notável o aumento de demandas movidas por contribuintes para discutir o tema. Ademais, outro importante reflexo desse precedente é o aumento de decisões favoráveis aplicando a referida limitação da base de cálculo. Nesse aspecto, embora a Fazenda Nacional siga defendendo que o art. 3º do Decreto-Lei nº 2.318/1986 teria revogado tacita- mente esse limite também para as contribuições de terceiros, decisões recentes proferidas pelos Tribunais Regionais Federais (TRFs) da 3ª Região (5001788-41.2020.4.03.0000 e 5006603- 81.2020.4.03.0000) e da 5ª Região (0820287-55.2019.4.05.8100 e 0800488-89.2020.4.05.8100) vêm aplicando o entendimento firmado no precedente do STJ e limitando a base dessas contri- buições em 20 salários mínimos. Como as contribuições destinadas a terceiros podem chegar à alíquota de 5,8% sobre a folha de salários, o reconhecimento do limitador de base em 20 salários mínimos pode representar importante redução no recolhimento dessas contribuições, prin- cipalmente em um momento em que as empresas sofrem com a crise econômica causada pelo novo coronavírus. Ademais, como envolve legislação infraconstitucional, dificilmente a discussão será levada ao Supremo Tribunal Federal, de modo que prevale- cerá o entendimento do STJ. Vale ressaltar que não existe definição clara se esse limite dos 20 salários mínimos se aplica à folha inteira da empresa ou é computado por empregado. Os contribuintes têm defendido que a limitação se aplica à folha inteira. TRF da 3ª Região analisa plano de stock option Em recente acórdão, a 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, no julgamento de recurso de apelação (nº 5000156-46.2018.4.03.6144), entendeu, por maioria dos votos, que a stock option sob análise nada mais é do que um sistema de remuneração vinculado ao contrato de trabalho ou de prestação de serviço, razão pela qual deve sofrer a incidência do imposto de renda retido na fonte à alíquota progressiva de até 27,5% sobre acréscimos patrimoniais decorrentes dessa opção. O recurso de apelação decorre de mandado de segurança ajuizado por empresa que pretendia a declaração da natureza mercantil das stock options con- cedidas a seus empregados e a consequente tributação de ganhos de capital atrelados ao exercício das opções de compra à alíquota de 15% a 22,5%. O voto vencedor ainda determinou que o fato gerador para incidência do IRPF se dá no momento do exercício da opção de compra de ações, e que, por ocasião de revenda dessas ações, o novo acréscimo patrimonial também deverá ser tributado – o que, segundo entendimento do acórdão, não configura bitributação, pois nesse segundo momento o IRPF incidirá sobre o ganho de capital. O voto divergente entendeu pela natureza mercantil da stock option, alegando, em síntese, que eventual proveito econômico a ser obtido pelo funcioná- rio não deriva diretamente do trabalho por ele desempenhado, mas da conjuntura econômica e de diversos fatores de mercado. Vale notar que esta discussão já foi objeto de decisões esparsas por parte dos Tribunais Regionais Federais, que ora entendem pelo caráter remunerató- rio, ora pelo caráter mercantil do contrato de opção de compra de ações, tendo em vista, principalmente, a existência dos elementos da facultatividade, onerosidade e risco. O Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, ainda não analisou a natureza dos planos de stock options. Consideramos que, mesmo que haja interpreta- ção mais abrangente, é muito provável que o STJ siga pelo mesmo caminho de exigir a presença – de forma concomitante – dos três elementos mencio- nados acima. Assim, cabe às empresas rever os seus planos de stock option, a fim de verificar se estão presentes as características da facultatividade, onerosidade e risco típico do acionista, tendo em vista que ainda há argumentos para defender que, quando presentes esses elementos, o plano terá caráter mercantil e não será considerado remuneração. Lei que extinguiu o voto de qualidade no CARF é aplicada retroativamente pela Justiça Federal em MG A juíza Carla Dumont Oliveira de Carvalho, da 18ª Vara Federal Cível de Belo Horizonte, deferiu pedido de tutela de urgência nos autos do processo nº 1024238- 49.2020.4.01.3800 para suspender a exigibilidade de débito de instituição bancária que havia sido mantido por voto de qualidade na esfera administrativa. Para a juíza, o art. 29 da Lei nº 13.988/2020, que extin- guiu o voto de qualidade, pode ser aplicado retroativa- mente, de forma a atingir casos já julgados pelo CARF. Em seu entendimento, o dispositivo possui caráter meramente interpretativo, o que justifica a sua aplicação retroativa, a teor do que dispõe o artigo 106 do Código Tributário Nacional. Para ela, a Lei nº 13.988/2020, ao inserir o artigo 19-E na Lei nº 10.522/2002, “traz nova interpretação à aplicabilidade do voto de qualidade, tendo estabelecido que, nos casos de empate, deverá ser adotado o entendimento mais favorável ao contribuinte”. Trata-se de uma das primeiras decisões a aplicar de forma retroativa o artigo 29 da Lei nº 13.988/2020. Em nosso boletim de junho, já havíamos noticiado decisão proferida pela 27ª Vara Federal do Rio de Janeiro, que determinou o retorno de um processo ao CARF para novo julgamento, em face da extinção do voto de qualidade pela Lei nº 13.988/2020 (processo nº 5094299-45.2019.4.02.5101). Tais decisões servem de precedente para diversos con- tribuintes que se encontram na mesma situação e aguar- dam decisão judicial a respeito de seu pedido quanto ao retorno do processo ao CARF para novo julgamento, tendo em vista a extinção do voto de qualidade. CARF decide pela exclusão de créditos presumidos de ICMS das bases de cálculo do PIS/COFINS Recentemente, foi publicado acordão proferido pelo CARF no Processo nº 11516.720832/2016-28 que, em sede de julgamento do Recurso Voluntário, entendeu que os créditos presumidos de ICMS devem ser excluídos da base de cálculo do PIS e da COFINS. A 3ª Seção de Julgamento da 2ª Câmara da 1ª Turma Ordinária do CARF entendeu que o caso concreto tratava de subvenção para investimento e não de subvenção para custeio. Ou seja, no caso, a empresa teria direito a receber o benefício estadual de crédito presumido de ICMS se, em contrapartida, realizasse investimentos para modernização e expansão da região em que instalada. Sendo caracterizada a subvenção para investimento, os julgadores aplicaram o disposto no artigo 1º, § 3º, inciso IX, da Lei nº 10.833/2003 e no artigo 1º, § 3º, inciso X, da Lei nº 10.637/2002, que são expressos ao determinar que as subvenções para investimentos não integram a base de cálculo do PIS e da COFINS no regime não cumulativo, uma vez que são meros ingressos e não receita. O acórdão analisou fatos geradores ocorridos antes da Lei Complementar nº 160/2017, que passou a tratar todos os incentivos e benefícios fiscais ou financeiro-fiscais de ICMS como subvenções para investimento, acabando, portanto, com a discussão sobre as diferenças existentes entre as subvenções para custeio e investimento. Aplicando-se o racional do acórdão a fatos geradores ocorridos após a Lei Complementar nº 160/2017, todo e qualquer crédito presumido de ICMS deve ser excluído da base de cálculo do PIS e da COFINS. BOLETIM TRIBUTÁRIO Entendimento dos Tribunais Edição Julho 2020 Novidades na Legislação Disse o Fisco Reforma Tributária Tributário Internacional Fique de Olho Novo voto de qualidade é regulamentado pelo ministro da Economia Em abril deste ano, foi publicada a Lei nº 13.988/2020, fruto do projeto de conversão em lei da chamada Medida Provisória do Contribuinte Legal (nº 899/2019). No que diz respeito ao chamado voto de qualidade no âmbito do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), o artigo 29 da norma prevê que “em caso de empate no julgamento do processo administrativo de determinação e exi- gência do crédito tributário, não se aplica o voto de qualidade, [...] resolvendo-se favoravelmente ao contribuinte”. A despeito das críticas (e dos elogios) à alteração legis- lativa, que significou uma virada histórica nos julga- mentos do CARF, a resistência dos órgãos fazendários à aplicação prática do dispositivo ganhou um novo capítulo. Neste mês de julho, o Ministério da Economia editou a Portaria ME nº 260/2020, que, sob o pretex- to de regulamentar a aplicação do artigo 29 da Lei nº 13.988/2020 no âmbito do CARF, acabou por restringir a sua aplicação prática. De acordo com a Portaria, o resultado do julgamento decidido por voto de qualidade será declarado em favor do contribuinte apenas nos processos em que “há exigên- cia de crédito tributário por meio de auto de infração ou de notificação de lançamento”. Com isso, a norma exclui da alteração da Lei nº 13.988/2020 os casos em que o colegiado resolva, por voto de qualidade, matérias de natureza proces- sual, bem como de conversão do julgamento em diligência, embargos de declaração e demais espécies de processos de competência do CARF, tal como as manifestações de inconformidade apresentadas na hipótese de não homologação de compensação. A norma estabelece ainda que o julgamento favorá- vel ao contribuinte se aplica apenas a ele, não aproveitando ao responsável tributário. Por fim, a Portaria prevê que o artigo 29 da Lei nº 13.988/2020 se aplica somente aos julgamentos realizados a partir de 14 de abril de 2020, deixando claro o entendimento do Ministério da Economia de que a norma possui natureza processual e, portanto, não poderia retroagir para anular julgamentos anteriores à publicação da Lei. A nosso ver, a Portaria ME nº 260/2020 não só violou a Lei nº 13.988/2020, limitando o seu alcance quando nem o próprio Congresso Nacional o fez, mas, ainda mais relevante, feriu os princípios do devido processo legal e do colegiado, na medida em que retirou das atribuições dos conselheiros do CARF a interpretação de normas e a sua aplicação ao caso concreto. Dita portaria fere ainda o princípio da isonomia, ao tratar de forma desigual contri- buintes e responsáveis tributários. Resta agora observar a aplicação da Portaria no dia a dia do órgão fazendário. Transação de créditos tributários administrados pela AGU é regulamentada Destinada à transação de crédito tributário administrado pela Advocacia Geral da União (AGU), foi publicada, em 09/07/2020, a Portaria AGU nº 249/2020. Assim como as portarias editadas em junho pela PGFN e pelo Ministério da Economia (Portaria PGFN nº 14.402 e Portaria ME nº 247/2020), na linha da proposta da Lei nº 13.988/2020, a Portaria da AGU objetiva a resolução de litígios administrativos e judiciais, possibilitando a negociação de débitos decorrentes de multas aplicadas pelas Agências Reguladoras, Tribunal de Contas da União e outros órgãos e entidades. Poderão ser transacionados débitos de pessoas físicas ou jurídicas classificados como irrecuperáveis ou de difícil recuperação perante a AGU por meio de proposta a ser oferecida pela PGF, AGU ou pelo devedor. Ficam excluídas da transação as propostas que envolvam a redução do valor principal do débito. A Portaria prevê descontos progressivos de até 50%, com parcelas de até 84 meses para pessoas jurídicas. A solicitação à adesão ao programa encontra- -se disponível desde 15 de julho de 2020. Os contribuintes cadastrados no site www.agu.gov.br estão habilitados a receber eventuais propostas da AGU e PGF. A Portaria também disciplina a transação de débitos irrecuperáveis e de difícil recuperação devidos por empresários ou sociedades empresárias em recu- peração judicial, bem como de débitos devidos por pessoas físicas. Os critérios de classificação dos débitos como “irrecuperáveis e de difícil recuperação” se encontram detalhados na Portaria, assim como os efeitos da assunção do termo de transação, e as hipóteses e consequências da sua rescisão. Secretaria de Comércio Exterior regulamenta regimes de drawback A Secretaria de Comércio Exterior aprovou portaria que regulamenta a concessão e a gestão dos regimes aduaneiros especiais drawback suspensão e drawback isenção. As novas regras constam da Portaria nº 44, que foi publicada no Diário Oficial da União de 27 de julho de 2020. De modo geral, no Drawback Suspensão, a aquisição no mercado interno ou a importação, de forma combinada ou não, de mercadoria para emprego ou consumo na industrialização de produto a ser exportado poderá ser realizada com suspensão do Imposto de Importação, do IPI, das Contribuições para o PIS/PASEP e COFINS, da Contribuição para o PIS/PASEP-Importação, da COFINS-Importação e do Adicional ao Frete para a Renovação de Marinha Mercante (AFRMM). Já no modo Isenção, a aquisição no mercado interno ou a importação, de forma combinada ou não, de mercadoria equivalente à empregada ou consumida na industrializa- ção de produto exportado poderá ser realizada com isen- ção do II e com redução a zero do IPI, da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, da Contribuição para o PIS/PASEP-Importação e da COFINS-Importação. A norma apresenta as disposições sobre competências, análises, prazos, atos concessórios e encerramento dos regimes, e entrará em vigor no dia 17/08/2020 (15 dias úteis após a publicação da Portaria). Nova IN da Receita Federal consolida normas sobre cálculo de IOF A Instrução Normativa nº 1.969, publicada em 30/07, com vigência a partir de 1º/08/2020, fixa normas sobre a cobrança do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, Títulos ou Valores Mobiliários. De forma geral, pode-se afirmar que o propósito da IN é apenas consolidar normas e dire- trizes já previstas na legislação. Destaca-se a menção expressa ao IOF, na modalidade crédito, sobre as operações de “factoring”, cujas alíquotas ficam reduzidas a zero no período de 03/04/2020 a 02/10/2020, com a aplicação de alíquota diferenciada de 0,00137% ao dia, acrescida da alíquota adicional de 0,38%, quando o tomador for optante pelo Simples Nacional e o valor da operação não superar R$ 30.000,00. A IN ainda esclarece que, relativamente aos fundos de investimentos, o valor do IOF, na modalidade título, será deduzido da base de cálculo do imposto de renda, e sua retenção será realizada caso haja resgate de cotas, sendo dispensada, no último dia útil dos meses de maio e novembro, se não houver resgate de cotas (com a ressalva de que o valor do IOF será adicionado à base de cálculo do imposto de renda na sua subsequente incidência). Por fim, em relação às operações com derivativos, a IN confirma a aplicação da alíquota zero, não obstante a possibilidade de aplicação de alíquota de até 25%. SEFAZ/SP entende que a renegociação de dívidas no âmbito do crédito bancário não é doação para fins de incidência do ITCMD Em recente entendimento exarado por meio da Solução de Consulta n° 20.978/2019, disponibilizada em 30/06/2020, a Secretaria da Fazenda do Esta- do de São Paulo entendeu que a renegociação de dívidas não é fato gerador para a incidência do Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), desde que sejam legítimas, pertinentes e justificáveis. Considerando a situação de crise que assola o Brasil, diversas empresas têm renegociado suas dívidas com seus credores que, em diversas situações, concedem remissão parcial da dívida, visando ao adimplemento da obrigação. Nestes casos, muito embora o perdão da dívida, ainda que parcial, possa parecer uma doação realizada pelo credor, não haverá incidência do ITCMD se demonstrada a razoabilidade da medida. Ressaltamos que o entendimento da SEFAZ/SP deixa claro que operações realizadas com o intuito de fraudar a incidência do ITCMD poderão ser desconsideradas, promovendo a incidência do imposto acrescido de juros e multa. Retomada gradativa da reforma tributária Os esforços do presidente da Câmara dos Deputados, depu- tado Rodrigo Maia, para avançar com as discussões sobre a reforma tributária devem ser reconhecidos. No último dia 16, a Comissão Especial da Reforma Tributária, que discute, no âmbito da Câmara, a Proposta de Emenda Constitucio- nal (PEC) nº 45/2019, teve os seus trabalhos retomados, a pedido do presidente. Esse movimento de Rodrigo Maia foi uma resposta ao Senado Federal pela inércia em relação ao retorno dos trabalhos da Comissão Mista da Reforma Tri- butária, composta por membros de ambas as casas. Deve-se reconhecer, entretanto, que a reunião da Comis- são Especial foi quase simbólica, sem o aprofundamento necessário a uma alteração constitucional dessa magnitude e com discursos dos membros voltados fundamentalmente à importância da reforma. Vale destacar a manifestação do deputado Luis Miranda (DEM/DF), para incluir nas dis- cussões da Comissão Especial a PEC nº 128/2019, de sua autoria, uma terceira proposta em trâmite no Congresso Nacional sobre alterações no Sistema Tributário Nacional (semelhante à PEC nº 45/2019 em alguns aspectos). Não demorou muito e o cenário político foi movimentado. No dia 21, o ministro da Economia, Paulo Guedes, apresen- tou a proposta de reforma tributária do Governo Federal. Essa proposta será apresentada gradativamente, em fases distintas. Na primeira fase, o Governo apresentou ao Con- gresso Nacional projeto de lei de unificação da contribuição ao Programa de Integração Social (PIS) e da contribuição para o financiamento da seguridade social (COFINS), sob a denominação de contribuição sobre bens e serviços (CBS). Veja o artigo especial abaixo sobre a CBS. Por ora, a apresentação da proposta do Governo Federal rendeu uma entrevista coletiva com Paulo Guedes, Rodri- go Maia e Davi Alcolumbre, presidente do Senado. Nessa oportunidade, o presidente do Senado anunciou a retomada dos trabalhos na Comissão Mista, contudo sem maiores detalhes. Há expectativa de que ainda ocorra uma reunião da Comissão neste mês. O que se observa desse movimento político de atores do Congresso Nacional e do Governo Federal é a retomada, ainda que inicial, do ambiente propício para as discussões relativas à reforma tributária, especialmente para dar con- dições mais favoráveis para que o país possa se recuperar da retração econômica no período pós-pandemia. Apresentado Projeto de Lei que institui a Contribuição sobre Bens e Serviços O Projeto de Lei nº 3.887/2020, entregue ao Congresso Nacional no dia 21/07/2020 pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, tem por objetivo instituir a Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS). Trata-se da substituição das atuais contribuições “PIS” e “COFINS”, com tentativa de simplificação das regras desses tributos, principalmente com relação à tomada de créditos. De acordo com o projeto, a CBS terá como fato gerador o auferimento da receita bruta de que trata o art. 12 do Decreto-Lei nº 1.598/1977 nas operações de venda de produtos e cobrança de serviços. O art. 2º, § 1º, prevê ainda a incidência sobre “adições à receita bruta”, exemplifi- cando-as com “multas e encargos”. Os contribuintes serão as pessoas jurídicas ou assim equiparadas que auferem a receita mencionada. Dentre as novidades, destaca-se a res- ponsabilidade das plataformas digitais que cobram pelo serviço (termo definido no próprio PL) sobre o recolhimento da CBS incidente sobre operação não documentada para efeitos fiscais, o que é de questionável legalidade e constitucionalidade. A base de cálculo da CBS será o valor da receita bruta auferida em cada operação, não se incluindo o valor destacado do ICMS, do ISS, dos descontos incondicionais e da própria CBS (cálculo passa a ser “por fora”). A alíquota será de 12%, o que deverá impactar setores da economia que têm na mão de obra própria seu principal valor agregado e não têm direito a crédito sobre despesa com pessoal, especialmente empresas inseridas no lucro presumido, que atualmente apuram o PIS/COFINS cumulativo à alíquota de 3,65%. O consenso é que a alteração aumentaria o preço de serviços a consumidores finais, especialmente na aquisi- ção de serviços de empresas do lucro presumido. As empresas do Simples não devem ser afetadas, continuarão recolhendo pelas mesmas alíquotas de sempre. As instituições financeiras per- maneceriam sob o regime cumulativo na apuração da CBS, embora com alíquota majorada dos atuais 4,65% (PIS/COFINS) para 5,8%. A CBS observará a técnica da não cumulatividade, buscando tributar somente o valor agregado. Para isso, o PL prevê a utilização de créditos correspondentes ao valor da CBS destacado em todas as aquisições feitas de pessoas jurídicas (há algumas hipóteses de crédito presumido nas aquisições de pessoas físicas, como é o caso de subcontratação de transportador autônomo). Assim como ocorre com o PIS/COFINS, a CBS incidirá nas importações de bens, serviços e intangíveis. Entendemos que é questionável a in- cidência de CBS sobre qualquer coisa que não sejam bens e serviços, pois existe limitação constitucional para isso. Por exemplo, não está claro no projeto, mas entendemos que a CBS não pode incidir sobre arrendamento de bens de proprietário no exterior, por empresa brasileira. A CBS não incidirá nas exportações, sendo permitido que os exportadores mantenham o crédito decorrente da aquisição de insumos ou bens para exportação. A apuração de créditos e débitos, com o recolhimento do saldo devedor, será mensal. Já o saldo credor ao final de cada trimestre-calendário poderá ser utilizado para compensação com outros tributos administrados pela RFB ou objeto de pedido de ressarcimento. TozziniFreire divulgará em breve material específico sobre o Projeto, abordando os impactos da CBS por setor da economia. União Europeia: entrada em vigor da DAC 6, que trata da abertura do planejamento tributário internacional Entraram em vigor no dia 1º de julho de 2020 as modifica- ções introduzidas pela Diretiva (UE) 2018/822, conhecida como “DAC 6” (ou sexta emenda), à Diretiva (UE) 2011/16, que trata sobre troca de informações em matéria fiscal (con- texto da Ação 12 do Projeto BEPS, da OCDE). A DAC 6 introduz, no âmbito comunitário, a obrigação de reportar o planejamento tributário de estruturas interna- cionais, assim entendidas aquelas envolvendo residentes de mais de um Estado-membro, ou de um Estado-membro e de um terceiro país – será o caso, por exemplo, de uma reorga- nização societária envolvendo uma subsidiária, no Brasil, de uma residente na União Europeia. A obrigação de reportar é, inicialmente, do assessor externo residente na União Europeia (advogado, contador, etc. – o “intermediário”), ou de qualquer pessoa que se prove ter desenhado, comercializado, disponibilizado ou gerenciado a implementação de um planejamento tributário nos termos acima. Caso o assessor externo esteja protegido por sigilo profissional (conforme direito interno de cada país), ou caso não tenha havido serviço externo prestado, responde, por exemplo, o departamento jurídico interno e, em último caso, o próprio contribuinte residente na União Europeia (o “rele- vant taxpayer”), a quem a estrutura foi disponibilizada. Os casos reportáveis, ou Reportable Cross-Border Arran- gement (RCBA), estão listados na própria Diretiva (em “hallmarks”, ou “características-chave”, na versão oficial em português), agrupados em cinco categorias. Em linhas gerais, há situações genéricas, como a obrigação de reportar serviços cuja remuneração é baseada no montante da vanta- gem tributária; e situações mais específicas, como a transfe- rência de um ativo mediante relevante valor, entre outros. No caso de transações envolvendo o Brasil, os intermediários residentes na União Europeia e que atuarem na estrutura deverão atentar, por exemplo, para operações como contribuição de capital brasileiro para empresas europeias, operações de exportação baseadas em safe-harbours brasileiras (como as aplicáveis pela legislação de transfer pricing) e fusões envolvendo aproveitamento de ágio, quando uma das empresas é detida por um residente europeu. É importante destacar que a Diretiva é recepcionada pelo direito interno de cada país-membro da União Europeia, e que algumas características (como as penalidades em caso de descumprimento) podem variar conforme a legislação nacional. Um ponto sujeito a tratamento interno é o prazo para entrega da primeira declaração. Por conta da COVID-19, o Conselho da União Europeia permi- tiu que os países postergassem a primeira data de entrega, que seria em 31 de agosto para estruturas implementadas entre 25/07/2018 (data de adoção da DAC 6) e 01/07/2020 (data da entrada em vigor de seus efeitos). Para novas estruturas, o prazo é de 30 dias a contar das hipóteses de aplicação da estrutura, conforme o caso. Vale lembrar que o Brasil já procurou estabelecer, sem sucesso, legislação semelhante, pela MP nº 685/2015, implementando a Declaração de Informa- ção de Operações Relevantes (DIOR). PLP nº 9/2020 prevê transações tributárias envolvendo empresas do SIMPLES Em 14/07/2020, o Senado Federal aprovou o Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 9/2020. O projeto, de autoria da Câmara dos Deputados por iniciativa do deputado Marco Bertaiolli (PSD/SP), autoriza a celebração de transação resolutiva de litígio para os créditos da Fazenda Pública apurados na forma do Regime do Simples Nacional. Além disso, o PLP prorroga o prazo para enquadramento no Simples Nacional em todo o território brasileiro, no ano de 2020, para microempresas e empresas de pequeno porte em início de atividade. Em síntese, pode-se afirmar que o PLP busca estender a transação tributária, prevista na Lei do Contribuinte Legal (Lei nº 13.988/2020) às empresas optantes pelo Simples Nacional. Como o Senado manteve na íntegra a redação aprovada pela Câmara dos Deputados, o PLP atualmente aguarda somente a sanção presidencial. Proposta de reformulação de ICMS, ITCMD e IPVA no Rio Grande do Sul No último dia 16, foi divulgada proposta à Reforma Tributária do Rio Grande do Sul. A previsão é de que até o início de agosto o projeto de lei seja enviado para a Assembleia, para que seja aprovado até setembro deste ano. As modificações envolvem alterações de alíquotas e bases de cálculo de ICMS, ITCMD e IPVA. ICMS No âmbito do ICMS, a proposta prevê uma redução do número de alíquotas para duas (17% e 25%), observado um processo de transição gradativo até 2023. Haverá uma redistribuição de alíquotas, como a dos refrigerantes, que passaria de 20% para 25%. Ainda, tem-se algumas mudanças de alíquota nominal, mas atreladas à redução de base de cálculo, o que manteria a mesma carga tributária, como no caso do diesel. Além disso, o projeto propõe a) a redução da alíquota efetiva para compras internas; b) a devolução parcial de ICMS pago na aquisição de bens de uso e consumo; c) a revisão do Simples Gaúcho, mantendo a isenção para pequenas empresas que faturem até R$ 360 mil por ano em 2021, alterando para a faixa de R$ 180 mil por ano a partir de 2022, extinguindo o Diferencial de Alíquotas (DIFAL) a partir de 2022, dispensando as micro e pequenas empresas do Simples do ajuste da Substituição Tributária e estimulando a importação pelo RS, por meio da equalização do tratamento tributário nas importações de produtos que não sejam produzidos no RS; d) a revisão de benefícios fiscais, como a extinção parcial de isenções e reduções de base de cálculo, atingindo hortifrutigranjeiros, ovos, flores naturais, entre outros produtos; e) a extinção de algumas desonerações e a redução da alíquota nor- mal, de 18% para 17%; e f) a redução do ônus fiscal para famílias de baixa renda, com a restituição correspondente a um valor fixo mínimo e mais um percentual do imposto suportado. IPVA No que diz respeito ao IPVA, pode-se destacar como principais propostas de alterações: a adoção de alíquota de 3,5% para automóveis e camionetas; a alteração dos critérios de isenções, sendo isentos apenas veículos fabricados há mais de 40 anos (e não 20 anos); e a redução do valor mínimo do IPVA de quatro UPF ( ~ = R$ 81,20) para até uma UPF (atualmente, R$ 20,30). Não há mudanças no IPVA de motos e caminhões, e seguem as isenções para táxi, lotação, ônibus, transporte escolar e veículo de instituições sociais. ITCMD A reforma inclui novas faixas de alíquotas progressivas para causa mortis de 7% (acima de 40.000 UPF até 50.000 UPF) e 8% (acima de 50.000 UPF) e de alíquotas progressivas para doações de 5% (acima de 40.000 UPF até 50.000 UPF) e 6% (acima de 50.000 UPF), tendo como UPF o valor atual de R$ 20,30. Propõe-se, ainda, a incidência de ITCMD, com Substituição Tributária, sobre planos de previdência privada como PGBL (Programa de Gerador de Benefício Livre) e VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre). Sancionada a lei que estabelece a tributação de variação cambial de hedge no exterior realizado por instituições financeiras Foi sancionada no último dia 29/07/2020 a Lei nº 14.031/2020, resulta- do da conversão da MP nº 930. A nova lei prevê que, a partir de 2021, a variação cambial da parcela com cobertura de risco (hedge) do valor do investimento realizado pelas instituições financeiras em sociedade contro- lada, coligada, filial, sucursal ou agência domiciliada no exterior, registra- da em conformidade com o regime de competência, deverá ser computada na determinação do IRPJ/CSLL. As parcelas de investimento com hedge serão tributadas de forma progressiva, sendo 50% em 2021 e 100% em 2022. As instituições realizam operação para cobertura do risco (hedge) de po- sição cambial em investimentos em controladas no exterior com o propó- sito de neutralizar os efeitos da variação cambial no seu patrimônio. Além desse hedge, usualmente é necessária a contratação de proteção exceden- te a esse valor (overhedge), em virtude da diferença de tratamento tribu- tário entre os resultados da variação cambial do investimento no exterior, que não afetam a tributação do IRPJ/CSLL, e o resultado do hedge, que compõe a base de cálculo desses tributos. Nesse sentido, a Exposição de Motivos que acompanhou a MP nº 930 es- clareceu que a nova regra tem o objetivo de “diminuir as distorções resul- tantes da assimetria de tratamento tributário entre as variações cambiais dos investimentos realizados por instituições financeiras e demais insti- tuições supervisionadas pelo BCB em sociedade controlada estabelecida no exterior e sua respectiva proteção cambial”. Tratamento tributário dos benefícios concedidos pela Lei nº 14.020/2020 A Medida Provisória nº 936/2020 foi, recentemente, convertida na Lei nº 14.020/2020, com a primordial finalidade de instituir o Programa Emergen- cial de Manutenção de Emprego e Renda no período em que perdurar a pandemia causada pelo coronavírus. O programa visa à redução dos impactos econômicos e sociais causados pelo estado de calamidade pública, com a possibilidade de suspensão de con- tratos de trabalho e redução da jornada de trabalho. Para tanto, será concedido auxílio com recursos da União Federal, denominado como Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEM). Há a possibilidade de cumular o benefício com o pagamento de ajuda compensatória mensal pelo empregador, a qual possui natureza indenizatória e deverá ser previamente fixada em acordo coletivo ou individual (por escrito). Conforme previsto na legislação, como a ajuda compensatória mensal possui natureza indenizatória, esta não deverá compor a base de cálculo do Im- posto de Renda Retido na Fonte (IRRF) ou da declaração de ajuste anual do imposto sobre a renda da pessoa física do empregado. Para as pessoas jurídicas tributadas pelo Lucro Real, a lei autoriza, ainda, a dedução do valor correspondente como ajuda compensatória por considerá- -la como despesa operacional dedutível. O escritório permanece à disposição para mais esclarecimentos acerca da Lei nº 14.020/2020 e seus efeitos tributários. Nova regra para empresas localizadas em ZPE Por meio do Ato nº 87/2020 o Congresso Nacional prorrogou por 60 dias o prazo de vigência da Medida Provisória (MP) nº 973/2020. A MP esta- belece que as pessoas jurídicas autorizadas a operar em Zona de Processamento de Exportação (ZPE) estão dispensadas de auferir e manter, no ano de 2020, receita bruta decorrente de exportação para o exterior de, no mínimo, 80% da receita bruta total de venda. Este boletim é um informativo da área de Direito Tributário de TozziniFreire Advogados. SÓCIOS RESPONSÁVEIS PELO BOLETIM: Gustavo Nygaard Christiane Alvarenga Erlan Valverde Jerry Levers de Abreu Rafael Mallmann Ricardo Maitto Thiago Medaglia Vinicius Jucá Mais informações tributárias em: tozzinifreire.com.br/blog/tributário/ Colaboraram com este boletim: Ana Flavia Neves Lambiasi Anna Beatriz Setubal Dini Bernardo Mascarenhas Mardini Bruno Rodrigues Teixeira de Lima Caio Sicchieri Albarello Camilla Pugliese Udiloff Carolina Jezler Muller Claudia Rocha de Morais Eric Simoes Visini Gabriela Cargnin Franzói Gabriela Laís Dias Maier Ivy Bergami Goulart Barbosa Julia Figueiredo Laviola Simoes de Carvalho Lucca Peracchi Pinheiro Machado Mariana Marcal Fragoso Vera Kanas William Guimaraes Cyrelli Este material não pode ser reproduzido integralmente ou parcialmente sem consentimento e autorização prévios de TozziniFreire Advogados. Imagens: André Correa, Evan Krause, Fernando Palacios, Hoana Gonçalves, Pat Whelen, Randy Colas, Sahand, Hoseini, Milton Jung, Thiago Melo Reforma Tributária Entendimento dos Tribunais Novidades na Legislação Disse o Fisco Fique de Olho Tributário Internacional

BOLETIM TRIBUTÁRIO - Tozzinifreire

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Page 1: BOLETIM TRIBUTÁRIO - Tozzinifreire

STF retoma julgamento que definirá a incidência de contribuição previdenciária sobre o salário-maternidadeO Supremo Tribunal Federal (STF) deve finalizar, no dia 04/08/2020, o julgamento do Tema de Repercussão Geral nº 72 (RE nº 576.967/PR), no qual se discute a constitucionalidade da inclusão do salário-maternidade na base de cálculo da contribui-ção previdenciária a cargo do empregador.

No julgamento iniciado em novembro/2019, o ministro relator Luís Roberto Barroso havia proferido seu voto pelo provimento do recurso e proposto a fixação da seguinte tese: “É inconstitucio-nal a incidência de contribuição previdenciária a cargo do empregador sobre o salário-maternidade”. Na ocasião, houve voto divergente proferido pelo ministro Alexandre de Moraes, tendo sido sus-penso o julgamento após pedido de vista do ministro Marco Aurélio.

Retomado em 26/06/2020, na modalidade de julgamento vir-tual, até o momento o recurso extraordinário possui oito votos proferidos, cinco deles pela inconstitucionalidade da tributação sobre o salário-maternidade, de sorte que basta mais um voto nesse sentido para que se obtenha a maioria necessária para que a discussão tenha um desfecho favorável aos contribuintes.

Vale lembrar que, a se confirmar uma decisão favorável aos contribuintes, restará superado o entendimento sobre a matéria consolidado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) no Recurso Especial nº 1.230.957/RS, julgado sob o rito dos recursos repe-titivos.

Casos tributários relevantes estão pautados para ser julgados em agosto pelo STFAlém da incidência da contribuição previdenciária sobre o salário maternidade, outros temas tributários relevantes estão pautados para ser julgados no mês de agosto de 2020 pelo STF. Dentre eles, destacamos dez casos:

PAUTA ASSUNTO N° DO RECURSO

04/0

8

Extensão da imunidade relativa ao ICMS para a comercialização de embalagens fabricadas para produtos destinados à exportação. RE nº 754917 (Tema 475)

Alcance da imunidade tributária do ITBI, prevista no art. 156, § 2º, I, da Constituição, sobre imóveis incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica, quando o valor total desses bens exceder o limite do capital social a ser integralizado.

RE nº 796376(Tema 796)

Inconstitucionalidade da incidência do ISSQN sobre os serviços de cessão de andaimes, palcos, coberturas e outras estruturas de uso temporário, previstos no subitem 3.05 da lista de serviços anexa à LC nº 116/2003. ADI nº 3287

Inconstitucionalidade da incidência de ISSQN sobre serviços prestados mediante locação, sublocação, arrendamento, direito de passagem ou permissão de uso de ferrovia, rodovia, postes, cabos, dutos e condutos de qualquer natureza. ADI nº 3142

07/0

8

Referibilidade e natureza jurídica da contribuição para o INCRA, em face da Emenda Constitucional nº 33/2001. RE nº 630.898 (Tema 495)

Constitucionalidade da incidência da Contribuição ao SEBRAE, à APEX e à ABDI sobre a “folha de salários” das empresas, em face da Emenda Constitucional nº 33/2001.

RE nº 603.624/SC (Tema 325)

Compatibilidade da LC nº 24/1975 com a CF/1988, tendo em vista a exigência de unanimidade dos estados para a concessão de benefícios fiscais de ICMS. ADPF 198

Constitucionalidade da cobrança do adicional de 10% após atingida a finalidade que motivou a sua instituição. RE nº 878.313(Tema 846)

Constitucionalidade do parágrafo único do art. 73 da Lei nº 9.430/1996, com a redação dada pela Lei nº 12.844/2013, que prevê a possibilidade de o Fisco, aproveitando o ensejo da restituição ou do ressarcimento de tributos administrados

pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, proceder à compensação, de ofício, com débitos não parcelados ou parcelados sem garantia.

RE nº 917.285(Tema 874)

14/0

8 Violação ao princípio da isonomia (art. 150, II, da Constituição Federal) ante a incidência de IPI no momento do desembaraço aduaneiro de produto industrializado, assim como na sua saída do estabelecimento importador para comercialização no mercado interno.

RE nº 946.648(Tema 906)

STJ confere direito creditório de PIS/COFINS sob o regime monofásicoA 1ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu provimento ao recurso especial de contribuinte (REsp nº 1.861.190/RS) que objetivava o reco-nhecimento do direito ao creditamento de PIS/COFINS em operações de aquisição de bens destinados à revenda, sujeitos ao sistema monofásico das contribuições, nos termos do artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, que instituiu o REPORTO.

Referido artigo dispõe, expressamente, que “As vendas efetuadas com suspensão, isenção, alíquota 0 (zero) ou não incidência da Contribuição para o PIS/PA-SEP e da COFINS não impedem a manutenção, pelo vendedor, dos créditos vinculados a essas operações”.

O voto vencedor do acórdão, proferido pela ministra Regina Helena Costa, relatora do caso, discorre sobre a “possibilidade de aplicação da técnica da não cumulatividade, que gera direito a creditamento, no regime de incidência monofásica das contribuições”. Destaca-se que a não cumulatividade do PIS/COFINS é direito constitucional expressamente previsto no § 12 do artigo 195 da Constituição Federal.

A ministra relembra que o sistema monofásico do PIS/COFINS consiste “na incidência única da contribuição, com alíquota mais gravosa, desonerando-se as demais fases da cadeia produtiva” e, ainda, que “Na monofasia, [...], o contribuinte é único e o tributo recolhido, ainda que as operações subsequentes não se consu-mem, não será devolvido”.

Analisando o caso em concreto, a ministra Regina Helena Costa entendeu que a não cumulatividade do PIS/COFINS, por ser direito constitucional, deve ser prestigiada em sua máxima eficácia.

Nesse contexto, a ministra afirmou que o artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, apesar de estar inserido no contexto da Lei instituidora do REPORTO, con-fere a “possibilidade de o contribuinte utilizar créditos da contribuição ao PIS e da COFINS no caso de venda efetuada no regime monofásico, pois garante a manu-tenção desses créditos pelo vendedor na hipótese de venda de produtos com incidência monofásica”, não se limitando às operações realizadas pelos beneficiários do REPORTO.

Conclui a ministra, com supedâneo em outros julgados do Tribunal, pela irrelevância do fato de que as demais operações da cadeia produtiva não sejam sujeitas ao recolhimento do PIS/COFINS no sistema monofásico, o que não é impeditivo para a manutenção dos créditos das aquisições efetuadas pelos contribuintes.

Após precedente do STJ, crescem decisões reconhecendo a limitação da base de cálculo das contribuições de terceiros em 20 salários mínimosEm março de 2020, foi publicado acórdão relativo ao julgamen-to do agravo interno em recurso especial nº 1.570.980/SP, por meio do qual a 1ª Turma do STJ reiterou a sua jurisprudência e reconheceu a aplicação do limite de 20 salários mínimos, previs-to no art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 6.950/1981, sobre a base de cálculo para o recolhimento das contribuições destinadas a terceiros. No entender do colegiado, o art. 3º do Decreto-Lei nº 2.318/1986 revogou esse limite apenas quanto às contribuições previdenciárias.

Após aproximadamente quatro meses da decisão, é notável o aumento de demandas movidas por contribuintes para discutir o tema. Ademais, outro importante reflexo desse precedente é o aumento de decisões favoráveis aplicando a referida limitação da base de cálculo.

Nesse aspecto, embora a Fazenda Nacional siga defendendo que o art. 3º do Decreto-Lei nº 2.318/1986 teria revogado tacita-mente esse limite também para as contribuições de terceiros, decisões recentes proferidas pelos Tribunais Regionais Federais (TRFs) da 3ª Região (5001788-41.2020.4.03.0000 e 5006603-81.2020.4.03.0000) e da 5ª Região (0820287-55.2019.4.05.8100 e 0800488-89.2020.4.05.8100) vêm aplicando o entendimento firmado no precedente do STJ e limitando a base dessas contri-buições em 20 salários mínimos.

Como as contribuições destinadas a terceiros podem chegar à alíquota de 5,8% sobre a folha de salários, o reconhecimento do limitador de base em 20 salários mínimos pode representar importante redução no recolhimento dessas contribuições, prin-cipalmente em um momento em que as empresas sofrem com a crise econômica causada pelo novo coronavírus. Ademais, como envolve legislação infraconstitucional, dificilmente a discussão será levada ao Supremo Tribunal Federal, de modo que prevale-cerá o entendimento do STJ.

Vale ressaltar que não existe definição clara se esse limite dos 20 salários mínimos se aplica à folha inteira da empresa ou é computado por empregado. Os contribuintes têm defendido que a limitação se aplica à folha inteira.

TRF da 3ª Região analisa plano de stock optionEm recente acórdão, a 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, no julgamento de recurso de apelação (nº 5000156-46.2018.4.03.6144), entendeu, por maioria dos votos, que a stock option sob análise nada mais é do que um sistema de remuneração vinculado ao contrato de trabalho ou de prestação de serviço, razão pela qual deve sofrer a incidência do imposto de renda retido na fonte à alíquota progressiva de até 27,5% sobre acréscimos patrimoniais decorrentes dessa opção.

O recurso de apelação decorre de mandado de segurança ajuizado por empresa que pretendia a declaração da natureza mercantil das stock options con-cedidas a seus empregados e a consequente tributação de ganhos de capital atrelados ao exercício das opções de compra à alíquota de 15% a 22,5%.

O voto vencedor ainda determinou que o fato gerador para incidência do IRPF se dá no momento do exercício da opção de compra de ações, e que, por ocasião de revenda dessas ações, o novo acréscimo patrimonial também deverá ser tributado – o que, segundo entendimento do acórdão, não configura bitributação, pois nesse segundo momento o IRPF incidirá sobre o ganho de capital.

O voto divergente entendeu pela natureza mercantil da stock option, alegando, em síntese, que eventual proveito econômico a ser obtido pelo funcioná-rio não deriva diretamente do trabalho por ele desempenhado, mas da conjuntura econômica e de diversos fatores de mercado.

Vale notar que esta discussão já foi objeto de decisões esparsas por parte dos Tribunais Regionais Federais, que ora entendem pelo caráter remunerató-rio, ora pelo caráter mercantil do contrato de opção de compra de ações, tendo em vista, principalmente, a existência dos elementos da facultatividade, onerosidade e risco.

O Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, ainda não analisou a natureza dos planos de stock options. Consideramos que, mesmo que haja interpreta-ção mais abrangente, é muito provável que o STJ siga pelo mesmo caminho de exigir a presença – de forma concomitante – dos três elementos mencio-nados acima.

Assim, cabe às empresas rever os seus planos de stock option, a fim de verificar se estão presentes as características da facultatividade, onerosidade e risco típico do acionista, tendo em vista que ainda há argumentos para defender que, quando presentes esses elementos, o plano terá caráter mercantil e não será considerado remuneração.

Lei que extinguiu o voto de qualidade no CARF é aplicada retroativamente pela Justiça Federal em MGA juíza Carla Dumont Oliveira de Carvalho, da 18ª Vara Federal Cível de Belo Horizonte, deferiu pedido de tutela de urgência nos autos do processo nº 1024238-49.2020.4.01.3800 para suspender a exigibilidade de débito de instituição bancária que havia sido mantido por voto de qualidade na esfera administrativa.

Para a juíza, o art. 29 da Lei nº 13.988/2020, que extin-guiu o voto de qualidade, pode ser aplicado retroativa-mente, de forma a atingir casos já julgados pelo CARF. Em seu entendimento, o dispositivo possui caráter meramente interpretativo, o que justifica a sua aplicação retroativa, a teor do que dispõe o artigo 106 do Código Tributário Nacional. Para ela, a Lei nº 13.988/2020, ao inserir o artigo 19-E na Lei nº 10.522/2002, “traz nova interpretação à aplicabilidade do voto de qualidade, tendo estabelecido que, nos casos de empate, deverá ser adotado o entendimento mais favorável ao contribuinte”.

Trata-se de uma das primeiras decisões a aplicar de forma retroativa o artigo 29 da Lei nº 13.988/2020. Em nosso boletim de junho, já havíamos noticiado decisão proferida pela 27ª Vara Federal do Rio de Janeiro, que determinou o retorno de um processo ao CARF para novo julgamento, em face da extinção do voto de qualidade pela Lei nº 13.988/2020 (processo nº 5094299-45.2019.4.02.5101).

Tais decisões servem de precedente para diversos con-tribuintes que se encontram na mesma situação e aguar-dam decisão judicial a respeito de seu pedido quanto ao retorno do processo ao CARF para novo julgamento, tendo em vista a extinção do voto de qualidade.

CARF decide pela exclusão de créditos presumidos de ICMS das bases de cálculo do PIS/COFINSRecentemente, foi publicado acordão proferido pelo CARF no Processo nº 11516.720832/2016-28 que, em sede de julgamento do Recurso Voluntário, entendeu que os créditos presumidos de ICMS devem ser excluídos da base de cálculo do PIS e da COFINS.

A 3ª Seção de Julgamento da 2ª Câmara da 1ª Turma Ordinária do CARF entendeu que o caso concreto tratava de subvenção para investimento e não de subvenção para custeio. Ou seja, no caso, a empresa teria direito a receber o benefício estadual de crédito presumido de ICMS se, em contrapartida, realizasse investimentos para modernização e expansão da região em que instalada.

Sendo caracterizada a subvenção para investimento, os julgadores aplicaram o disposto no artigo 1º, § 3º, inciso IX, da Lei nº 10.833/2003 e no artigo 1º, § 3º, inciso X, da Lei nº 10.637/2002, que são expressos ao determinar que as subvenções para investimentos não integram a base de cálculo do PIS e da COFINS no regime não cumulativo, uma vez que são meros ingressos e não receita.

O acórdão analisou fatos geradores ocorridos antes da Lei Complementar nº 160/2017, que passou a tratar todos os incentivos e benefícios fiscais ou financeiro-fiscais de ICMS como subvenções para investimento, acabando, portanto, com a discussão sobre as diferenças existentes entre as subvenções para custeio e investimento.

Aplicando-se o racional do acórdão a fatos geradores ocorridos após a Lei Complementar nº 160/2017, todo e qualquer crédito presumido de ICMS deve ser excluído da base de cálculo do PIS e da COFINS.

BOLETIM TRIBUTÁRIO

Entendimento dos Tribunais

Edição Julho 2020

Novidades na Legislação

Disse o Fisco

Reforma Tributária

Tributário Internacional

Fique de Olho

Novo voto de qualidade é regulamentado pelo ministro da EconomiaEm abril deste ano, foi publicada a Lei nº 13.988/2020, fruto do projeto de conversão em lei da chamada Medida Provisória do Contribuinte Legal (nº 899/2019). No que diz respeito ao chamado voto de qualidade no âmbito do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), o artigo 29 da norma prevê que “em caso de empate no julgamento do processo administrativo de determinação e exi-gência do crédito tributário, não se aplica o voto de qualidade, [...] resolvendo-se favoravelmente ao contribuinte”.

A despeito das críticas (e dos elogios) à alteração legis-lativa, que significou uma virada histórica nos julga-mentos do CARF, a resistência dos órgãos fazendários à aplicação prática do dispositivo ganhou um novo capítulo. Neste mês de julho, o Ministério da Economia editou a Portaria ME nº 260/2020, que, sob o pretex-to de regulamentar a aplicação do artigo 29 da Lei nº 13.988/2020 no âmbito do CARF, acabou por restringir a sua aplicação prática.

De acordo com a Portaria, o resultado do julgamento decidido por voto de qualidade será declarado em favor do contribuinte apenas nos processos em que “há exigên-cia de crédito tributário por meio de auto de infração ou de notificação de lançamento”.

Com isso, a norma exclui da alteração da Lei nº 13.988/2020 os casos em que o colegiado resolva, por voto de qualidade, matérias de natureza proces-sual, bem como de conversão do julgamento em diligência, embargos de declaração e demais espécies de processos de competência do CARF, tal como as manifestações de inconformidade apresentadas na hipótese de não homologação de compensação. A norma estabelece ainda que o julgamento favorá-vel ao contribuinte se aplica apenas a ele, não aproveitando ao responsável tributário.

Por fim, a Portaria prevê que o artigo 29 da Lei nº 13.988/2020 se aplica somente aos julgamentos realizados a partir de 14 de abril de 2020, deixando claro o entendimento do Ministério da Economia de que a norma possui natureza processual e, portanto, não poderia retroagir para anular julgamentos anteriores à publicação da Lei.

A nosso ver, a Portaria ME nº 260/2020 não só violou a Lei nº 13.988/2020, limitando o seu alcance quando nem o próprio Congresso Nacional o fez, mas, ainda mais relevante, feriu os princípios do devido processo legal e do colegiado, na medida em que retirou das atribuições dos conselheiros do CARF a interpretação de normas e a sua aplicação ao caso concreto. Dita portaria fere ainda o princípio da isonomia, ao tratar de forma desigual contri-buintes e responsáveis tributários. Resta agora observar a aplicação da Portaria no dia a dia do órgão fazendário.

Transação de créditos tributários administrados pela AGU é regulamentadaDestinada à transação de crédito tributário administrado pela Advocacia Geral da União (AGU), foi publicada, em 09/07/2020, a Portaria AGU nº 249/2020. Assim como as portarias editadas em junho pela PGFN e pelo Ministério da Economia (Portaria PGFN nº 14.402 e Portaria ME nº 247/2020), na linha da proposta da Lei nº 13.988/2020, a Portaria da AGU objetiva a resolução de litígios administrativos e judiciais, possibilitando a negociação de débitos decorrentes de multas aplicadas pelas Agências Reguladoras, Tribunal de Contas da União e outros órgãos e entidades.

Poderão ser transacionados débitos de pessoas físicas ou jurídicas classificados como irrecuperáveis ou de difícil recuperação perante a AGU por meio de proposta a ser oferecida pela PGF, AGU ou pelo devedor. Ficam excluídas da transação as propostas que envolvam a redução do valor principal do débito.

A Portaria prevê descontos progressivos de até 50%, com parcelas de até 84 meses para pessoas jurídicas. A solicitação à adesão ao programa encontra--se disponível desde 15 de julho de 2020. Os contribuintes cadastrados no site www.agu.gov.br estão habilitados a receber eventuais propostas da AGU e PGF.

A Portaria também disciplina a transação de débitos irrecuperáveis e de difícil recuperação devidos por empresários ou sociedades empresárias em recu-peração judicial, bem como de débitos devidos por pessoas físicas. Os critérios de classificação dos débitos como “irrecuperáveis e de difícil recuperação” se encontram detalhados na Portaria, assim como os efeitos da assunção do termo de transação, e as hipóteses e consequências da sua rescisão.

Secretaria de Comércio Exterior regulamenta regimes de drawbackA Secretaria de Comércio Exterior aprovou portaria que regulamenta a concessão e a gestão dos regimes aduaneiros especiais drawback suspensão e drawback isenção. As novas regras constam da Portaria nº 44, que foi publicada no Diário Oficial da União de 27 de julho de 2020.

De modo geral, no Drawback Suspensão, a aquisição no mercado interno ou a importação, de forma combinada ou não, de mercadoria para emprego ou consumo na industrialização de produto a ser exportado poderá ser realizada com suspensão do Imposto de Importação, do IPI, das Contribuições para o PIS/PASEP e COFINS, da Contribuição para o PIS/PASEP-Importação, da COFINS-Importação e do Adicional ao Frete para a Renovação de Marinha Mercante (AFRMM).

Já no modo Isenção, a aquisição no mercado interno ou a importação, de forma combinada ou não, de mercadoria equivalente à empregada ou consumida na industrializa-ção de produto exportado poderá ser realizada com isen-ção do II e com redução a zero do IPI, da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, da Contribuição para o PIS/PASEP-Importação e da COFINS-Importação.

A norma apresenta as disposições sobre competências, análises, prazos, atos concessórios e encerramento dos regimes, e entrará em vigor no dia 17/08/2020 (15 dias úteis após a publicação da Portaria).

Nova IN da Receita Federal consolida normas sobre cálculo de IOF A Instrução Normativa nº 1.969, publicada em 30/07, com vigência a partir de 1º/08/2020, fixa normas sobre a cobrança do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, Títulos ou Valores Mobiliários. De forma geral, pode-se afirmar que o propósito da IN é apenas consolidar normas e dire-trizes já previstas na legislação.

Destaca-se a menção expressa ao IOF, na modalidade crédito, sobre as operações de “factoring”, cujas alíquotas ficam reduzidas a zero no período de 03/04/2020 a 02/10/2020, com a aplicação de alíquota diferenciada de 0,00137% ao dia, acrescida da alíquota adicional de 0,38%, quando o tomador for optante pelo Simples Nacional e o valor da operação não superar R$ 30.000,00.

A IN ainda esclarece que, relativamente aos fundos de investimentos, o valor do IOF, na modalidade título, será deduzido da base de cálculo do imposto de renda, e sua retenção será realizada caso haja resgate de cotas, sendo dispensada, no último dia útil dos meses de maio e novembro, se não houver resgate de cotas (com a ressalva de que o valor do IOF será adicionado à base de cálculo do imposto de renda na sua subsequente incidência).

Por fim, em relação às operações com derivativos, a IN confirma a aplicação da alíquota zero, não obstante a possibilidade de aplicação de alíquota de até 25%.

SEFAZ/SP entende que a renegociação de dívidas no âmbito do crédito bancário não é doação para fins de incidência do ITCMDEm recente entendimento exarado por meio da Solução de Consulta n° 20.978/2019, disponibilizada em 30/06/2020, a Secretaria da Fazenda do Esta-do de São Paulo entendeu que a renegociação de dívidas não é fato gerador para a incidência do Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), desde que sejam legítimas, pertinentes e justificáveis.

Considerando a situação de crise que assola o Brasil, diversas empresas têm renegociado suas dívidas com seus credores que, em diversas situações, concedem remissão parcial da dívida, visando ao adimplemento da obrigação. Nestes casos, muito embora o perdão da dívida, ainda que parcial, possa parecer uma doação realizada pelo credor, não haverá incidência do ITCMD se demonstrada a razoabilidade da medida.

Ressaltamos que o entendimento da SEFAZ/SP deixa claro que operações realizadas com o intuito de fraudar a incidência do ITCMD poderão ser desconsideradas, promovendo a incidência do imposto acrescido de juros e multa.

Retomada gradativa da reforma tributáriaOs esforços do presidente da Câmara dos Deputados, depu-tado Rodrigo Maia, para avançar com as discussões sobre a reforma tributária devem ser reconhecidos. No último dia 16, a Comissão Especial da Reforma Tributária, que discute, no âmbito da Câmara, a Proposta de Emenda Constitucio-nal (PEC) nº 45/2019, teve os seus trabalhos retomados, a pedido do presidente. Esse movimento de Rodrigo Maia foi uma resposta ao Senado Federal pela inércia em relação ao retorno dos trabalhos da Comissão Mista da Reforma Tri-butária, composta por membros de ambas as casas.

Deve-se reconhecer, entretanto, que a reunião da Comis-são Especial foi quase simbólica, sem o aprofundamento necessário a uma alteração constitucional dessa magnitude e com discursos dos membros voltados fundamentalmente à importância da reforma. Vale destacar a manifestação do deputado Luis Miranda (DEM/DF), para incluir nas dis-cussões da Comissão Especial a PEC nº 128/2019, de sua autoria, uma terceira proposta em trâmite no Congresso Nacional sobre alterações no Sistema Tributário Nacional (semelhante à PEC nº 45/2019 em alguns aspectos).

Não demorou muito e o cenário político foi movimentado. No dia 21, o ministro da Economia, Paulo Guedes, apresen-tou a proposta de reforma tributária do Governo Federal. Essa proposta será apresentada gradativamente, em fases distintas. Na primeira fase, o Governo apresentou ao Con-gresso Nacional projeto de lei de unificação da contribuição ao Programa de Integração Social (PIS) e da contribuição para o financiamento da seguridade social (COFINS), sob a denominação de contribuição sobre bens e serviços (CBS). Veja o artigo especial abaixo sobre a CBS.

Por ora, a apresentação da proposta do Governo Federal rendeu uma entrevista coletiva com Paulo Guedes, Rodri-go Maia e Davi Alcolumbre, presidente do Senado. Nessa oportunidade, o presidente do Senado anunciou a retomada dos trabalhos na Comissão Mista, contudo sem maiores detalhes. Há expectativa de que ainda ocorra uma reunião da Comissão neste mês.

O que se observa desse movimento político de atores do Congresso Nacional e do Governo Federal é a retomada, ainda que inicial, do ambiente propício para as discussões relativas à reforma tributária, especialmente para dar con-dições mais favoráveis para que o país possa se recuperar da retração econômica no período pós-pandemia.

Apresentado Projeto de Lei que institui a Contribuição sobre Bens e ServiçosO Projeto de Lei nº 3.887/2020, entregue ao Congresso Nacional no dia 21/07/2020 pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, tem por objetivo instituir a Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS). Trata-se da substituição das atuais contribuições “PIS” e “COFINS”, com tentativa de simplificação das regras desses tributos, principalmente com relação à tomada de créditos.

De acordo com o projeto, a CBS terá como fato gerador o auferimento da receita bruta de que trata o art. 12 do Decreto-Lei nº 1.598/1977 nas operações de venda de produtos e cobrança de serviços. O art. 2º, § 1º, prevê ainda a incidência sobre “adições à receita bruta”, exemplifi-cando-as com “multas e encargos”.

Os contribuintes serão as pessoas jurídicas ou assim equiparadas que auferem a receita mencionada. Dentre as novidades, destaca-se a res-ponsabilidade das plataformas digitais que cobram pelo serviço (termo definido no próprio PL) sobre o recolhimento da CBS incidente sobre operação não documentada para efeitos fiscais, o que é de questionável legalidade e constitucionalidade.

A base de cálculo da CBS será o valor da receita bruta auferida em cada operação, não se incluindo o valor destacado do ICMS, do ISS, dos descontos incondicionais e da própria CBS (cálculo passa a ser “por fora”).

A alíquota será de 12%, o que deverá impactar setores da economia que têm na mão de obra própria seu principal valor agregado e não têm direito a crédito sobre despesa com pessoal, especialmente empresas inseridas no lucro presumido, que atualmente apuram o PIS/COFINS cumulativo à alíquota de 3,65%. O consenso é que a alteração aumentaria o preço de serviços a consumidores finais, especialmente na aquisi-ção de serviços de empresas do lucro presumido.

As empresas do Simples não devem ser afetadas, continuarão recolhendo pelas mesmas alíquotas de sempre. As instituições financeiras per-maneceriam sob o regime cumulativo na apuração da CBS, embora com alíquota majorada dos atuais 4,65% (PIS/COFINS) para 5,8%.

A CBS observará a técnica da não cumulatividade, buscando tributar somente o valor agregado. Para isso, o PL prevê a utilização de créditos correspondentes ao valor da CBS destacado em todas as aquisições feitas de pessoas jurídicas (há algumas hipóteses de crédito presumido nas aquisições de pessoas físicas, como é o caso de subcontratação de transportador autônomo).

Assim como ocorre com o PIS/COFINS, a CBS incidirá nas importações de bens, serviços e intangíveis. Entendemos que é questionável a in-cidência de CBS sobre qualquer coisa que não sejam bens e serviços, pois existe limitação constitucional para isso. Por exemplo, não está claro no projeto, mas entendemos que a CBS não pode incidir sobre arrendamento de bens de proprietário no exterior, por empresa brasileira.

A CBS não incidirá nas exportações, sendo permitido que os exportadores mantenham o crédito decorrente da aquisição de insumos ou bens para exportação.

A apuração de créditos e débitos, com o recolhimento do saldo devedor, será mensal. Já o saldo credor ao final de cada trimestre-calendário poderá ser utilizado para compensação com outros tributos administrados pela RFB ou objeto de pedido de ressarcimento.

TozziniFreire divulgará em breve material específico sobre o Projeto, abordando os impactos da CBS por setor da economia.

União Europeia: entrada em vigor da DAC 6, que trata da abertura do planejamento tributário internacionalEntraram em vigor no dia 1º de julho de 2020 as modifica-ções introduzidas pela Diretiva (UE) 2018/822, conhecida como “DAC 6” (ou sexta emenda), à Diretiva (UE) 2011/16, que trata sobre troca de informações em matéria fiscal (con-texto da Ação 12 do Projeto BEPS, da OCDE).

A DAC 6 introduz, no âmbito comunitário, a obrigação de reportar o planejamento tributário de estruturas interna-cionais, assim entendidas aquelas envolvendo residentes de mais de um Estado-membro, ou de um Estado-membro e de um terceiro país – será o caso, por exemplo, de uma reorga-nização societária envolvendo uma subsidiária, no Brasil, de uma residente na União Europeia.

A obrigação de reportar é, inicialmente, do assessor externo residente na União Europeia (advogado, contador, etc. – o “intermediário”), ou de qualquer pessoa que se prove ter desenhado, comercializado, disponibilizado ou gerenciado a implementação de um planejamento tributário nos termos acima. Caso o assessor externo esteja protegido por sigilo profissional (conforme direito interno de cada país), ou caso não tenha havido serviço externo prestado, responde, por exemplo, o departamento jurídico interno e, em último caso, o próprio contribuinte residente na União Europeia (o “rele-vant taxpayer”), a quem a estrutura foi disponibilizada.

Os casos reportáveis, ou Reportable Cross-Border Arran-gement (RCBA), estão listados na própria Diretiva (em “hallmarks”, ou “características-chave”, na versão oficial em português), agrupados em cinco categorias. Em linhas gerais, há situações genéricas, como a obrigação de reportar serviços cuja remuneração é baseada no montante da vanta-gem tributária; e situações mais específicas, como a transfe-rência de um ativo mediante relevante valor, entre outros.

No caso de transações envolvendo o Brasil, os intermediários residentes na União Europeia e que atuarem na estrutura deverão atentar, por exemplo, para operações como contribuição de capital brasileiro para empresas europeias, operações de exportação baseadas em safe-harbours brasileiras (como as aplicáveis pela legislação de transfer pricing) e fusões envolvendo aproveitamento de ágio, quando uma das empresas é detida por um residente europeu.

É importante destacar que a Diretiva é recepcionada pelo direito interno de cada país-membro da União Europeia, e que algumas características (como as penalidades em caso de descumprimento) podem variar conforme a legislação nacional.

Um ponto sujeito a tratamento interno é o prazo para entrega da primeira declaração. Por conta da COVID-19, o Conselho da União Europeia permi-tiu que os países postergassem a primeira data de entrega, que seria em 31 de agosto para estruturas implementadas entre 25/07/2018 (data de adoção da DAC 6) e 01/07/2020 (data da entrada em vigor de seus efeitos). Para novas estruturas, o prazo é de 30 dias a contar das hipóteses de aplicação da estrutura, conforme o caso.

Vale lembrar que o Brasil já procurou estabelecer, sem sucesso, legislação semelhante, pela MP nº 685/2015, implementando a Declaração de Informa-ção de Operações Relevantes (DIOR).

PLP nº 9/2020 prevê transações tributárias envolvendo empresas do SIMPLES

Em 14/07/2020, o Senado Federal aprovou o Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 9/2020. O projeto, de autoria da Câmara dos Deputados por iniciativa do deputado Marco Bertaiolli (PSD/SP), autoriza a celebração de transação resolutiva de litígio para os créditos da Fazenda Pública apurados na forma do Regime do Simples Nacional. Além disso, o PLP prorroga o prazo para enquadramento no Simples Nacional em todo o território brasileiro, no ano de 2020, para microempresas e empresas de pequeno porte em início de atividade.

Em síntese, pode-se afirmar que o PLP busca estender a transação tributária, prevista na Lei do Contribuinte Legal (Lei nº 13.988/2020) às empresas optantes pelo Simples Nacional. Como o Senado manteve na íntegra a redação aprovada pela Câmara dos Deputados, o PLP atualmente aguarda somente a sanção presidencial.

Proposta de reformulação de ICMS, ITCMD e IPVA no Rio Grande do SulNo último dia 16, foi divulgada proposta à Reforma Tributária do Rio Grande do Sul. A previsão é de que até o início de agosto o projeto de lei seja enviado para a Assembleia, para que seja aprovado até setembro deste ano. As modificações envolvem alterações de alíquotas e bases de cálculo de ICMS, ITCMD e IPVA.

ICMS No âmbito do ICMS, a proposta prevê uma redução do número de alíquotas para duas (17% e 25%), observado um processo de transição gradativo até 2023. Haverá uma redistribuição de alíquotas, como a dos refrigerantes, que passaria de 20% para 25%. Ainda, tem-se algumas mudanças de alíquota nominal, mas atreladas à redução de base de cálculo, o que manteria a mesma carga tributária, como no caso do diesel.

Além disso, o projeto propõe a) a redução da alíquota efetiva para compras internas; b) a devolução parcial de ICMS pago na aquisição de bens de uso e consumo; c) a revisão do Simples Gaúcho, mantendo a isenção para pequenas empresas que faturem até R$ 360 mil por ano em 2021, alterando para a faixa de R$ 180 mil por ano a partir de 2022, extinguindo o Diferencial de Alíquotas (DIFAL) a partir de 2022, dispensando as micro e pequenas empresas do Simples do ajuste da Substituição Tributária e estimulando a importação pelo RS, por meio da equalização do tratamento tributário nas importações de produtos que não sejam produzidos no RS; d) a revisão de benefícios fiscais, como a extinção parcial de isenções e reduções de base de cálculo, atingindo hortifrutigranjeiros, ovos, flores naturais, entre outros produtos; e) a extinção de algumas desonerações e a redução da alíquota nor-mal, de 18% para 17%; e f) a redução do ônus fiscal para famílias de baixa renda, com a restituição correspondente a um valor fixo mínimo e mais um percentual do imposto suportado.

IPVA No que diz respeito ao IPVA, pode-se destacar como principais propostas de alterações: a adoção de alíquota de 3,5% para automóveis e camionetas; a alteração dos critérios de isenções, sendo isentos apenas veículos fabricados há mais de 40 anos (e não 20 anos); e a redução do valor mínimo do IPVA de quatro UPF (~= R$ 81,20) para até uma UPF (atualmente, R$ 20,30). Não há mudanças no IPVA de motos e caminhões, e seguem as isenções para táxi, lotação, ônibus, transporte escolar e veículo de instituições sociais.

ITCMD A reforma inclui novas faixas de alíquotas progressivas para causa mortis de 7% (acima de 40.000 UPF até 50.000 UPF) e 8% (acima de 50.000 UPF) e de alíquotas progressivas para doações de 5% (acima de 40.000 UPF até 50.000 UPF) e 6% (acima de 50.000 UPF), tendo como UPF o valor atual de R$ 20,30. Propõe-se, ainda, a incidência de ITCMD, com Substituição Tributária, sobre planos de previdência privada como PGBL (Programa de Gerador de Benefício Livre) e VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre).

Sancionada a lei que estabelece a tributação de variação cambial de hedge no exterior realizado por instituições financeirasFoi sancionada no último dia 29/07/2020 a Lei nº 14.031/2020, resulta-do da conversão da MP nº 930. A nova lei prevê que, a partir de 2021, a variação cambial da parcela com cobertura de risco (hedge) do valor do investimento realizado pelas instituições financeiras em sociedade contro-lada, coligada, filial, sucursal ou agência domiciliada no exterior, registra-da em conformidade com o regime de competência, deverá ser computada na determinação do IRPJ/CSLL. As parcelas de investimento com hedge serão tributadas de forma progressiva, sendo 50% em 2021 e 100% em 2022.

As instituições realizam operação para cobertura do risco (hedge) de po-sição cambial em investimentos em controladas no exterior com o propó-sito de neutralizar os efeitos da variação cambial no seu patrimônio. Além desse hedge, usualmente é necessária a contratação de proteção exceden-te a esse valor (overhedge), em virtude da diferença de tratamento tribu-tário entre os resultados da variação cambial do investimento no exterior, que não afetam a tributação do IRPJ/CSLL, e o resultado do hedge, que compõe a base de cálculo desses tributos.

Nesse sentido, a Exposição de Motivos que acompanhou a MP nº 930 es-clareceu que a nova regra tem o objetivo de “diminuir as distorções resul-tantes da assimetria de tratamento tributário entre as variações cambiais dos investimentos realizados por instituições financeiras e demais insti-tuições supervisionadas pelo BCB em sociedade controlada estabelecida no exterior e sua respectiva proteção cambial”.

Tratamento tributário dos benefícios concedidos pela Lei nº 14.020/2020A Medida Provisória nº 936/2020 foi, recentemente, convertida na Lei nº 14.020/2020, com a primordial finalidade de instituir o Programa Emergen-cial de Manutenção de Emprego e Renda no período em que perdurar a pandemia causada pelo coronavírus.

O programa visa à redução dos impactos econômicos e sociais causados pelo estado de calamidade pública, com a possibilidade de suspensão de con-tratos de trabalho e redução da jornada de trabalho. Para tanto, será concedido auxílio com recursos da União Federal, denominado como Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEM).

Há a possibilidade de cumular o benefício com o pagamento de ajuda compensatória mensal pelo empregador, a qual possui natureza indenizatória e deverá ser previamente fixada em acordo coletivo ou individual (por escrito).

Conforme previsto na legislação, como a ajuda compensatória mensal possui natureza indenizatória, esta não deverá compor a base de cálculo do Im-posto de Renda Retido na Fonte (IRRF) ou da declaração de ajuste anual do imposto sobre a renda da pessoa física do empregado.

Para as pessoas jurídicas tributadas pelo Lucro Real, a lei autoriza, ainda, a dedução do valor correspondente como ajuda compensatória por considerá--la como despesa operacional dedutível.

O escritório permanece à disposição para mais esclarecimentos acerca da Lei nº 14.020/2020 e seus efeitos tributários.

Nova regra para empresas localizadas em ZPE Por meio do Ato nº 87/2020 o Congresso Nacional prorrogou por 60 dias o prazo de vigência da Medida Provisória (MP) nº 973/2020. A MP esta-belece que as pessoas jurídicas autorizadas a operar em Zona de Processamento de Exportação (ZPE) estão dispensadas de auferir e manter, no ano de 2020, receita bruta decorrente de exportação para o exterior de, no mínimo, 80% da receita bruta total de venda.

Este boletim é um informativo da área de Direito Tributário de TozziniFreire Advogados.

SÓCIOS RESPONSÁVEIS PELO BOLETIM:

Gustavo Nygaard Christiane Alvarenga Erlan Valverde Jerry Levers de Abreu Rafael Mallmann Ricardo Maitto Thiago Medaglia Vinicius Jucá

Mais informações tributárias em: tozzinifreire.com.br/blog/tributário/

Colaboraram com este boletim:Ana Flavia Neves LambiasiAnna Beatriz Setubal Dini

Bernardo Mascarenhas MardiniBruno Rodrigues Teixeira de Lima

Caio Sicchieri AlbarelloCamilla Pugliese UdiloffCarolina Jezler Muller

Claudia Rocha de MoraisEric Simoes Visini

Gabriela Cargnin FranzóiGabriela Laís Dias Maier

Ivy Bergami Goulart BarbosaJulia Figueiredo Laviola Simoes de Carvalho

Lucca Peracchi Pinheiro MachadoMariana Marcal Fragoso

Vera KanasWilliam Guimaraes Cyrelli

Este material não pode ser reproduzido integralmente ou parcialmente sem consentimento e autorização prévios de TozziniFreire Advogados.

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