74
UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM HIPOA BOTULISMO ALIMENTAR Kelly Souza dos Santos Cerchiaro São Paulo, maio 2008

Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM HIPOA

BOTULISMO ALIMENTAR

Kelly Souza dos Santos Cerchiaro

São Paulo, maio 2008

Page 2: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

KELLY SOUZA DOS SANTOS CERCHIARO

Aluna do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em HIPOA do Instituto Qualittas de Pós-Graduação

BOTULISMO ALIMENTAR Trabalho monográfico de conclusão do curso de Pós-Graduação em HIPOA (TCC), apresentado à UCB como requisito para obtenção do título de Especialização, sob orientação do Prof. Zander Barreto Miranda

São Paulo, maio 2008

Page 3: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

BOTULISMO ALIMENTAR

Elaborado por Kelly Souza dos Santos Cerchiaro Aluna do Curso de Pós-Graduação

Lato Sensu em HIPOA do Instituto Qualittas de Pós-Graduação

Foi analisado e aprovado com Grau:........................................

São Paulo, .........de................de ....................

.............................................. Membro

.............................................. Membro

................................................ Professor Orientador

Presidente

São Paulo, maio 2008

Page 4: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

Dedico este trabalho a Deus e aos meus familiares principalmente, meu marido Luciano e filha Isabella, pela compreensão e incentivo. Aos meus pais, Walter e Maria José, pelo apoio dado em todos os momentos de minha vida. À minha irmã Keila, por ter sido uma grande amiga e pelo seu apoio constante.

Page 5: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

Agradecimentos A Deus, por ter-me concedido a oportunidade de estudar além da Graduação em Medicina Veterinária, a Pós-Graduação em HIPOA. Ao Professor Zander pelo seu apoio e ajuda indispensável.

Page 6: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

CERCHIARO, Kelly Souza dos Santos Botulismo alimentar O objeto deste estudo é o botulismo alimentar tendo como objetivo à prevenção desta intoxicação alimentar tão grave, causada por uma toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum, presente no solo e em alimentos contaminados e mal conservados. A intoxicação se caracteriza por um comprometimento severo do sistema nervoso e, se não tratada a tempo, leva o indivíduo a óbito. Os sintomas da intoxicação pela toxina botulínica aparecem de duas horas a 10 dias e forma geral, prevalecem os sinais e sintomas neurológicos, sendo estes os primeiros e mais importantes achados ao se examinar o paciente. A morbidade situa-se entre 75 e 100 %. O tratamento deverá ser feito em unidade de terapia intensiva (UTI), com dois enfoques importantes: o tratamento específico e o geral, sendo que da sua precocidade dependerá o êxito terapêutico. Alguns cuidados podem ser adotados para evitar o botulismo, como higiênicos-sanitários das conservas e a vacinação.

Page 7: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

CERCHIARO, Kelly Souza dos Santos Alimentary botulismo The object of this study is the alimentary botulismo having as objective to the prevention of this so serious alimentary poisoning, caused for a toxin produced for the bacterium Clostridium botulinum, gift in the ground and contaminated foods and badly conserved. The poisoning if characterizes for a severe compromise of nervous system e, if not treated the time, it takes the individual the death. The symptoms of the poisoning for the botulinica toxin appear of two hours the 10 days and general form, take advantage the neurological signals and symptoms, being found these first and the most important ones to if examining the patient. The morbidade is placed enters 75 and 100 %. The treatment will have to be made in unit of intensive therapy (UIT), with two important approaches: the specific treatment and the generality, being that on its precocious the therapeutical success will depend. Some cares can be adopted to prevent the botulismo, as hygienical-sanitary of the conserves and the vaccination.

Page 8: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

SUMÁRIO

Página

Resumo/ Abstract ..................................................v/vi

Parte

1. Introdução .........................................................01

2. Revisão da literatura .........................................03

2.1. Descrição da doença

2.2. Agente causador da doença e toxina

2.3. Patogenia

2.4. Ocorrência da doença

2.5. Alimentos associados

2.6. Modo de transmissão

2.7. Período de incubação

2.8. Sintomas do botulismo no homem

2.9. Diagnóstico da doença no homem

2.10. Tratamento para pessoas acometidas pelo

botulismo

2.11. Complicações da doença

2.12. Como prevenir o botulismo em humanos

2.13. Conduta epidemiológica

2.14. Conduta sanitária

2.15. Conduta laboratorial

2.16. Conduta educativa

Page 9: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

2.17. Alguns exemplos de casos de botulismo no

Brasil

2.18. Benefícios da toxina botulínica

3. Conclusão .........................................................62

4. Referências bibliográficas .................................64

Page 10: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

1. INTRODUÇÃO

O botulismo é considerado a mais séria das intoxicações alimentares.

Caracteriza-se pela doença produzida no

homem e nos animais pelas toxinas da bactéria

anaeróbia esporulada Clostridium botulinum.

A doença é geralmente adquirida pela

ingestão de alimentos que não foram devidamente

esterelizados.

Geralmente, os alimentos envolvidos em

surtos de botulismo humano são as conservas caseiras

de vegetais e pescado, bem como embutidos de carne

e presunto. A toxina não altera o sabor dos alimentos,

tornando difícil identificar sua presença.

As espécies animais mais acometidas pelo

Clostridium botulinum são os bovinos, eqüinos, ovinos,

caprinos e também o homem.

Os sinais clínicos do botulismo se

desenvolvem após a ingestão das toxinas pré-formadas

Page 11: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

do Clostridium botulinum, caracterizado por

manifestações nervosas.

A toxina produz um bloqueio neuromuscular

pela inibição da liberação de acetilcolina dos terminais

das fibras colinérgicas.

A duração da enfermidade é de um a dez

dias.

A letalidade depende do tipo de bactéria,

variando nas diversas localidades geográficas.

A morbidade situa-se entre 75 a 100%.

O tratamento com antitoxina é mais eficaz

contra o tipo E do que contra os tipos A e B.

A prevenção consiste em cuidados higiênico-

sanitários.

A presente pesquisa tem por objetivo fazer

uma revisão da literatura sobre o tema Botulismo

Alimentar, dando ênfase à prevenção desta doença

transmissível pelos alimentos de grande importância

para a Saúde Pública.

Page 12: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. DESCRIÇÃO DA DOENÇA

A despeito de rara ocorrência, em razão de

sua gravidade o botulismo é considerado a mais séria

das intoxicações alimentares (PARDI et al., 2006).

As intoxicações são provocadas pela

ingestão de quantidades variáveis de toxinas, formadas

em decorrência da intensa proliferação do

microorganismo patogênico no alimento. Embora as

bactérias produtoras das toxinas também sejam

usualmente ingeridas, a expressão da patogenicidade

não envolve uma etapa infecciosa dentro do organismo.

Conseqüentemente, a produção de doses efetivas de

toxina capaz de afetar os seres humanos depende

fundamentalmente da contaminação do alimento pelo

agente patogênico seguida de sua multiplicação e

produção de toxinas. Exemplo clássico deste processo

Page 13: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

é a intoxicação causada pelo Clostridium botulinum

(FIGUEIREDO, 2003).

O botulismo é uma doença neuroparalítica

grave, não contagiosa, resultante da ação de uma

toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum

(SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2005).

Segundo o CENTRO DE VIGILÂNCIA

EPIDEMILÓGICA (1999), o botulismo é uma doença

habitualmente adquirida pela ingestão de toxinas

presentes em alimentos previamente contaminados e

que foram produzidos ou conservados de maneira

inadequada (embutidos e conservas em latas e vidros),

de ocorrência súbita caracterizada por alterações

neurológicas e elevada mortalidade.

Há três formas de botulismo: botulismo

alimentar, botulismo por ferimentos e botulismo

intestinal. Embora o local de produção da toxina seja

diferente em cada uma delas, todas as formas

caracterizam-se pelas manifestações neurológicas e/ou

gastrointestinais (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM

SAÚDE, 2005).

Page 14: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

2.2. AGENTE CAUSADOR DA DOENÇA E TOXINA

O agente causador da doença é uma

bactéria que, na ausência de oxigênio, produz a toxina

causadora do botulismo. Por esta razão, os alimentos

em conservas e enlatados são os principais

veiculadores da toxina no homem (BRESSAN et al.,

1999).

O Clostridium botulinum é comumente

encontrado no solo, em legumes, frutas, fezes humanas

e animais (CENTRO DE VIGILÂNCIA

EPIDEMILÓGICA, 2005).

De acordo com BRESSAN et al (1999), o

habitat natural do Clostridium botulinum é o solo e os

sedimentos aquáticos, podendo contaminar também os

diferentes tipos de alimentos, tanto de origem vegetal

como os de origem animal.

Essa bactéria é um bacilo Gram Positivo.

Estes anaeróbios para desenvolverem a toxina

necessitam de pH básico ou próximo do neutro. São

descritos sete tipos de Clostridium botulinum (de A a G)

os quais se distinguem pelas características antigênicas

das neurotoxinas que produzem. Os tipos A, B, E, e o F

(este último, mais raro), são os responsáveis pela

Page 15: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

maioria dos casos humanos. Os tipos C e D são causas

da doença do gado e outros animais. O tipo E, em

seres humanos, está associado ao consumo de

pescados e frutos do mar. Alguns casos do tipo F foram

atribuídos ao C. baratii ou C. butyricum (CENTRO DE

VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA, 1999).

Segundo a SECRETARIA DE VIGILÂNCIA

EM SAÚDE (2005), o Clostridium botulinum em sua

forma vegetativa produz 8 tipos de toxinas (A, B, C1,

C2, D, E, F e G). As toxinas patogênicas para o homem

são as do tipo A, B, E e F, sendo as mais freqüentes a

A e a B

A toxina é uma exotoxina ativa (mais que a

tetânica), de ação neurotrópica (ação no sistema

nervoso), e a única que tem a característica de ser letal

por ingestão, comportando-se como um verdadeiro

veneno biológico. É letal na dose de 1/100 a 1/120 ng.

Ao contrário do esporo, a toxina é termolábil, sendo

destruída à temperatura de 65 a 80º C por 30 minutos

ou a 100 º C por 5 minutos (CENTRO DE VIGILÂNCIA

EPIDEMILÓGICA, 1999).

Os esporos, embora termorresistentes,

podem ser destruídos por tratamento térmico. A

temperatura máxima de crescimento das bactérias

Page 16: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

botulínicas é de 50 ºC e, em temperaturas superiores, o

crescimento é inibido. Como conseqüência do

tratamento térmico, os alimentos que contém a toxina

geralmente estão isentos de outros microorganismos

(BRESSAN et al., 1999).

As células vegetativas do Clostridium

botulinum são destruídas pelo calor, porém a

temperaturas muito mais baixas do que as necessárias

para exterminar os esporos. Este fato, porém, carece de

praticidade, uma vez que, invariavelmente, encontram-

se esporos juntamente com as formas vegetativas

esporuladas devendo por esta razão a

termorresistência fundamentar-se no efeito das diversas

temperaturas ou em outro tipo de ação sobre as formas

resistentes (PARDI et al., 2006).

A temperatura ótima para o desenvolvimento

da bactéria é de 37 º C para o tipo A e de 30 º C para o

tipo E, assinalando-se, como temperatura mínima, para

os tipos A e B, a de 10 º C; para o tipo E, entre 3 e 4 º C

ou, mais precisamente,3,3ºC. Considera-se como

temperatura mínima, para a germinação de esporos, a

de 15 º C e, como temperatura máxima 45 º C (PARDI

et al., 2006).

Page 17: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

A bactéria inibe-se em alimento com pH

abaixo de 4,5 e em alimento com pH acima de 4,6

ocorre seu crescimento e a produção de toxina (PARDI

et al., 2006).

A maioria dos estudos de termorresistência

foi realizado com os tipos A, B e E, os mais comumente

implicados em intoxicações alimentares (PARDI et al.,

2006).

As velocidades de desnaturação térmica se

expressam em valores D ou “tempo de redução

decimal”. Significando os minutos necessários para, a

uma determinada temperatura, se reduzir à contagem

viável de uma suspensão de esporos a uma décima

parte de seu valor original (PARDI et al., 2006).

A resistência térmica dos esporos depende

da natureza do alimento, do tipo e cepa do clostrídio, do

meio em que se desenvolvem os esporos, da

temperatura em que foram gerados, de sua idade

(sendo os jovens mais resistentes), da quantidade

existente, além do pH do meio e da atividade de água

(PARDI et al., 2006).

Consideram-se os esporos do tipo A os mais

resistentes à ação do calor, decorrendo daí o perigo de

ordem sanitária, sobretudo em relação às conservas

Page 18: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

alimentícias. Seguem-se, em termorresistência, os tipos

B e F, com discordância entre alguns autores quanto à

resistência dos esporos do tipo E. Enquanto Nickerson

e Sinskey (1981) enfatizam a termorresistência do tipo

E, comparando-a à do tipo A, Frazier (1972) refere-se à

sua inativação em 15 minutos, à temperatura de 80 º C.

O último autor também considera os esporos dos tipos

C e D menos resistentes ao calor do que os de tipo A e

B (PARDI et al., 2006).

Já a termorresistência dos esporos do

Clostridium botulinum dependerá da temperatura em

que se desenvolvem os cultivos (PARDI et al., 2006).

Relatando que o processamento térmico

inativa a toxina a 85 º C em 15 minutos, Judge et al.

(1989) apontam as relações tempo/temperatura

necessárias para destruir os esporos (PARDI et al.,

2006).

Sugiyama, alud Smith (1980), demonstrou

que nos tipos A e B os esporos gerados a 37 º C

resistiam mais ao calor que os obtidos a 24, 29 ou 41 º

C. O mesmo autor assinalou que os ácidos graxos do

meio de cultura influíram na termorresistência dos

esporos, sendo tanto maior a resistência quanto mais

longa era a cadeia do ácido graxo. Importante também

Page 19: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

foi à concentração em ferro e cálcio do meio de cultura,

sendo menor a termorresistência quando abaixo de um

determinado nível (PARDI et al., 2006).

O pH do meio em que estão os esporos

também influi consideravelmente na sua

termorresistência. Estando as carnes, peixes e a

maioria dos legumes e hortaliças, como batatinha,

vagem, espinafre, aspargo, ervilha, milho e outros, na

classificação de baixa acidez, ou pH acima de 4,6,

admite-se que o Clostridium botulinum possa crescer

nestes alimentos, requerendo-se assim um

processamento que destrua os esporos (PARDI et al.,

2006).

Outro fator que influencia a resistência

térmica dos esporos é a atividade de água. Assim, para

os esporos do tipo E, à medida que decresce a

atividade de água, o valor D cai progressivamente,

dando-se também o decréscimo da resistência térmica.

Os tipos B mostraram um comportamento semelhante,

com um valor D muito elevado, a valores de atividade

de água 0,2 a 0,3, decrescendo à medida em que os

esporos secavam-se. Convencionou-se, assim que a

baixa atividade de água, de valor 0,85 ou menos, ao

lado da condição de baixa acidez, não exigem um

Page 20: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

processamento para destruir o Clostridium botulinum

(PARDI et al., 2006).

Dentre as poucas informações a propósito da

ação de germicidas sobre os esporos de Clostridium

botulinum, destaca-se a atuação do cloro, agindo de

modo mais eficaz que os componentes detergentes

clorados ou iodíferos, uma vez que estes requerem o

dobro do tempo de exposição. As soluções cloradas

são mais eficientes em meio ácido (PARDI et al., 2006).

Tais esporos são relativamente resistentes à

luz ultravioleta e também aos álcoois, compostos

fenólicos, compostos quaternários de amônio e

mercuriais orgânicos. Os ácidos de etileno e propileno,

o formaldeído e os ácidos e bases fortes os destroem,

ainda que menos rapidamente. Também são letais para

os esporos dos clostrídios inclusive para o Clostridium

botulinum os ácidos ascórbico e dehidroascórbico

neutralizados (PARDI et al., 2006).

Quanto a resistência dos esporos ao sal

(NaCl), os níveis máximos que ainda permitem o

crescimento do tipo E são: 5,8% a 30 º C; 5,1% a 20 º C

e 4,3% a 15 º C. Determinadas linhagens de Clostridium

botulinum crescem em alimento com 7% de sal sem,

contudo, conseguirem elaborar toxina. Mas a

Page 21: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

concentração de 10% de sal inibe seu crescimento.

Deve-se considerar que as concentrações

ordinariamente empregadas para carnes, presuntos

enlatados e outras conservas, não inibem

convenientemente o crescimento do Clostridium

botulinum; devem-se evitar concentrações de 6,25 a 9%

tendo em vista que aquele microorganismo pode gerar

toxina sem modificar os caracteres organolépticos do

alimento (PARDI et al., 2006).

A ação do nitrito sobre os esporos, por sua

vez, merece menção especial considerando-se sua

eficácia em contraste com o risco decorrente da

formação de nitrosaminas, consideradas cancerígenas

(PARDI et al., 2006).

O nitrito na carne mantém um elevado

potencial de oxi-redução. Isto faz com que o produto

conserve condições de aerobiose, a ponto de se tornar

o meio impróprio ao desenvolvimento de anaeróbios.

Não aumenta ele, desse modo, a destruição de

esporos, quando em tratamento térmico, mas inibe o

crescimento dos que sobrevivem. A concentração de

nitrito necessária à inibição do desenvolvimento de

esporos do Clostridium botulinum depende do pH, do

Page 22: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

conteúdo em sal, do número de esporos presentes e da

intensidade do tratamento térmico (PARDI et al., 2006).

A 4,4 º C a refrigeração inibe o crescimento

da maioria das bactérias responsáveis pelas

toxinfecções alimentares. No caso particular do

Clostridium botulinum, demonstrou-se ainda que

inóculos grandes de esporos se desenvolviam entre os

31 e 45 dias da incubação, a 3,3 º C, sendo ainda mais

seguras as temperaturas de 2,2 e 1,1 Graus Celsius

(PARDI et al., 2006).

Embora morram continuamente os esporos

em germinação, durante a estocagem de carnes

curadas, diminui-se também o nitrito residual. Assim,

estocagem muito longa de carnes perecíveis pode

resultar em um nível de nitrito residual incapaz de inibir

a germinação dos esporos, no momento em que a

temperatura do produto for inadequada (PARDI et al.,

2006).

Quanto à faculdade que têm os esporos de

Clostridium botulinum, de resistir às radiações

ionizantes, (Frazier 1972) relata que a resistência aos

raios gama apresenta considerável variação entre os

tipos A e B, sendo que, para a maioria deles, os valores

D, na carne, variam de 0,224 a 0,336 Mrad, ainda que

Page 23: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

alguns sejam mais sensíveis. Na carne de bovino

guisada, os esporos menos resistentes do tipo E têm

valores D de 0,125 a 0,138 Mrad (PARDI et al., 2006).

Melhores resultados são alcançados quando

se combinam mais de um processo, aplicando-se, por

exemplo, uma dose de radiação inferior à normalmente

requerida, associando-se: refrigeração, envase à vácuo,

antibióticos, cura ou aquecimento. Assim, a resistência

dos esporos do Clostridium botulinum ao calor é

reduzida a um terço ou mesmo à metade, mediante o

tratamento com uma dose de 0,9 Mrad de radiação

gama (PARDI et al., 2006).

A respeito da resistência das toxinas do

Clostridium botulinum, sabe-se que, contrariamente à

dos esporos (com exceção daquele tipo E) são elas

relativamente termolábeis. Sua destruição pelo

tratamento térmico depende do meio e do tipo de

microorganismo produtor da toxina. Experimentos de

laboratório demonstraram que a inativação das toxinas

dos tipos A, B e C leva de 15 a 30 minutos a 80 º C. A

radiopasteurização, no entanto, por si só não inativa a

toxina botulínica pré-formada, como ocorre com a

pasteurização pelo calor (PARDI et al., 2006).

Page 24: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

2.3. PATOGENIA

A toxina produz um bloqueio neuromuscular

pela inibição da liberação de acetilcolina dos terminais

das fibras colinérgicas. A velocidade de condução

nervosa pode ser diminuída em alguns pacientes

indicando que também pode ocorrer uma interferência

com a transmissão do impulso (WINGFIELD, 1998).

A toxina botulínica absorvida no trato

gastrointestinal ou no ferimento dissemina-se por via

hematogênica até as terminações nervosas, mais

especificamente para a membrana pré-sináptica da

junção neuromuscular, bloqueando a liberação da

acetilcolina (neurotransmissor responsável pela

contração muscular). Com isso haverá falha na

transmissão de impulsos nas junções das fibras

nervosas, resultando na paralisia flácida dos músculos

que estes nervos controlam. O dano causado na

membrana pré-sináptica pela toxina é permanente. A

recuperação depende da formação de novas

terminações neuromusculares. Por este motivo, a

recuperação clínica é prolongada, podendo variar de 1

Page 25: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

a 12 meses (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM

SAÚDE, 2005).

A toxina botulínica não afeta o sistema

nervoso central e sim os nervos periféricos do sistema

autônomo, ao nível das conexões mioneurais (PARDI et

al., 2006).

2.4. OCORRÊNCIA DA DOENÇA

O botulismo foi primeiramente descrito na

Alemanha,

no século XVIII, após um surto associado à ingestão

de salsicha de produção doméstica, de onde se

originou o nome (botulus em latim significa salsicha)

(CENTRO DE VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA, 2005).

O microorganismo foi

identificado em 1897, na Bélgica,

quando Emile Pierre Van Ermengen descreveu um

surto em 23 membros de um clube de músicos que

adoeceram e três morreram após a ingestão de

presunto contaminado. Nessa ocasião se identificou

a toxina botulínica tipo A. Em 1904 foi identificada a

toxina tipo B. Em 1943 foi descrito o botulismo por

ferimento e em 1976 o botulismo infantil, atualmente

Page 26: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

conhecido como botulismo intestinal. A partir da década

de 80 foram relatados casos de botulismo associadas

ao uso de drogas inalatórias e injetáveis (CENTRO DE

VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA, 2005).

No Brasil, os casos de botulismo registrados

são devido à toxina tipo A, associados às conservas de

carnes ou vegetais, em geral caseiras (CENTRO DE

VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA, 2005).

Os esporos do Clostridium botulinum são

amplamente distribuídos na natureza, em solo e em

sedimentos de lagos e mares (SECRETARIA DE

VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2005).

A distribuição do botulismo é mundial, com

casos esporádicos ou surtos familiares, em geral

relacionados à produção e a conservação de alimentos

de maneira inadequada. Raramente ocorrem surtos

envolvendo produtos processados comercialmente

(SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2005).

Os casos de botulismo infantil têm sido

notificados na Ásia, Austrália, Europa, América do Norte

e América do Sul. A incidência e a distribuição real não

é precisa, porque os profissionais da saúde, em poucas

ocasiões, suspeitam de botulismo. Ele pode ser

responsável por 5% dos casos de morte súbita por

Page 27: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

lactentes (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE,

2005).

O botulismo infantil é resultado da

colonização do trato intestinal após ingestão de esporos

de C. botulinum, uma vez que o trato intestinal de uma

criança com menos de 1 ano não contém ainda uma

flora microbiana normalizada, assim como ácidos

biliares inibidores do crescimento de C. botulinum, que

é evidente num indivíduo adulto. Neste tipo de

botulismo as neurotoxinas mais frequentes são a A e a

B. Ocorre, geralmente, em crianças com menos de 1

ano e está associado à ingestão de mel, devido à

prevalência de esporos (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA

EM SAÚDE, 2005).

A doença afeta diferentes espécies

domésticas e aves silvestres. No Brasil, o botulismo tem

causado grandes prejuízos econômicos na pecuária,

devido ao grande número de animais que morrem por

essa doença (BRESSAN et al., 1999).

A incidência da doença é baixa, com alta

letalidade se não tratada adequada e precocemente.

São conhecidos casos esporádicos ou em grupos de

pessoas, em todos os países do mundo, na maioria das

vezes relacionados à ingestão de alimento, preparado

Page 28: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

ou conservado em condições que permitam a produção

da toxina pelo bacilo. Alguns casos de botulismo podem

estar subnotificados devido às dificuldades diagnósticas

(CENTRO DE VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA, 1999).

2.5. ALIMENTOS ASSOCIADOS

Devem-se os surtos de botulismo sobretudo

à contaminação de produtos domésticos, como as

conservas de hortaliças, frutos, peixes e produtos

cárneos, sendo excepcionais aqueles devidos a

produtos preparados industrialmente. Na Alemanha,

estimam-se em 90% os casos de botulismo oriundos de

produção caseira, atribuindo-se a responsabilidade, até

há algum tempo, a embutidos de sangue, fígado e

Page 29: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

outras vísceras, preparados sem o emprego de nitrato

ou nitrito (PARDI et al., 2006).

Os alimentos mais comumente envolvidos

são: conservas vegetais, principalmente as artesanais

(palmito, picles e pequi); produtos cárneos cozidos,

curados e defumados de forma artesanal (salsicha,

presunto, carne frita conservada em gordura); pescados

defumados, salgados e fermentados; queijos e pasta de

queijos e raramente em alimentos enlatados

industrializados (CENTRO DE VIGILÂNCIA

EPIDEMILÓGICA, 2005).

Muitos são os alimentos descritos como

responsáveis pelo botulismo, tais como embutidos de

carnes em geral, ou conservas em lata e vidro de

doces, hortaliças, legumes (palmitos, aspargos,

cogumelos, alcachofra, pimentões, berinjelas, alho,

picles, etc.), peixes, frutos do mar, e outros,

especialmente acondicionados em embalagens

submetidas à vácuo, sem oxigênio, que favorecem o

desenvolvimento do microorganismo (CENTRO DE

VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA, 1999).

Sabe-se que o esporo só é inativado em

processo de esterilização industrial em autoclaves a

120 º C. Sabe-se também que o meio ácido pode inibir

Page 30: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

o C. botulinum. Assim, os alimentos de natureza ácida

impedem o desenvolvimento da toxina. Contudo,

alimentos têm um pH acima de 4,5, em condições de

higiene inadequadas, em anaerobiose, e esterilizados

em temperatura abaixo de 120 º C, constituem-se em

alimentos de alto risco. As conservas de vegetais tenros

(palmitos, alcachofras, pimentões, etc.), que pelas

características, não suportariam uma esterilização à

120 º C exigem processos cuidadosos de

processamento, como lavagem e desinfecção dos

alimentos, acidificação adequada, salmoura adequada

ou outros, tamanho, etc.. Além de técnicas normais de

produção dos alimentos, para controle de pontos

críticos na produção (HACCPP), controles de

qualidade, condições higiênico-sanitárias adequadas

dos estabelecimentos, licença e registro na Vigilância

Sanitária, etc. (CENTRO DE VIGILÂNCIA

EPIDEMILÓGICA, 1999).

No Brasil, em especial a produção de palmito

tem sido uma atividade extrativista e artesanal, onde

famílias recolhem o palmito da mata selvagem

(atividade proibida em lei pelo IBAMA), geralmente

cozinhando-o às margens dos rios e envasando-os em

vidros, sem qualquer controle de qualidade, critério de

Page 31: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

acidificação e esterilização, tamanho, controle

microbiológico, etc. Esses produtos, de procedência

duvidosa, acabam sendo rotulados por diversos

distribuidores ou mesmo fabricantes, chegando às

prateleiras dos supermercados e comércio de alimentos

em geral, aos restaurantes, etc. e indo para a mesa do

consumidor que não tem o hábito de ferver esses

alimentos antes do consumo. As Resoluções ANVS/MS

no. 362 e 363, de 29.07.99 (D. O. U. 02.08.99)[

http://www.in.gov.br] modificam os critérios relativos à

fabricação do palmito em conserva, alimento

incriminado nos últimos casos de botulismo (CENTRO

DE VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA, 1999).

Em estatística de 1899 a 1967, abrangendo

1669 casos de botulismo nos Estados Unidos, não se

identificaram os alimentos responsáveis em 69,8% dos

casos. Os vegetais figuravam positivamente num

percentual de 17,8%, em geral representados por feijão,

milho verde, beterraba, espinafre, aspargos e

cogumelos, via de regra, derivados de envasados

domésticos. As frutas representaram 4,1% dos casos; o

pescado, 3,6%; os condimentos, 2,2%; os produtos de

carnes de bovinos, 0,8%; os produtos lácteos, 0,5% e

os produtos avícolas, 0,1%. Em termos gerais, os

Page 32: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

alimentos contaminados eram tidos como de acidez

baixa ou média. Contudo, houve alguns casos de

intoxicação por alimentos ácidos (PARDI et al., 2006).

Relatam-se, também, casos cuja causa é o

atum envasado em latas defeituosas, o patê de fígado

importado do Canadá e, num outro país, o presunto

envasado (PARDI et al., 2006).

Os embutidos que, aliás, deram origem à

nomenclatura científica, contam-se também entre os

produtos cárneos causadores de intoxicação botulínica

(PARDI et al., 2006).

2.6. MODO DE TRANSMISSÃO

Uma grande variedade de alimentos de

origem animal e de origem vegetal podem transmitir o

botulismo para a espécie humana, dentre esses pode-

se citar o milho, beterraba, palmito, aspargos, azeitonas

verdes, espinafre, cogumelo, atum, patê de fígado,

presunto, lingüiça, lagostas, peixes defumados e

mortadelas (BRESSAN et al., 1999).

As intoxicações por botulismo estão quase

sempre associadas a conservas caseiras. Em

contrapartida, as conservas industrializadas não são

Page 33: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

descritas como veiculadoras de toxinas, pois no

processo de fabricação, os alimentos são submetidos a

altas temperaturas que causam a destruição dos

esporos presentes na matéria prima e, além disso, o

envasamento correto impede a contaminação do

alimento após a manipulação industrial (BRESSAN et

al., 1999).

A intoxicação é causada pela ingestão de

alimento contaminado em que houve a multiplicação da

bactéria e formação de toxina (PARDI et al., 2006).

São descritos os seguintes modos de

transmissão para o Botulismo:

1) por ingestão de alimentos - que é a

forma mais comum e responsável por surtos

esporádicos, através do consumo de alimentos

insuficientemente esterilizados, e consumidos sem

cocção prévia, que contém a toxina. É conhecido

também o botulismo em lactentes (associação com a

Síndrome de Morte Súbita do Recém-Nascido) e em

crianças mais jovens, desenvolvido à partir da ingestão

de esporos nos alimentos, que no intestino, sem

microbiota de proteção, desenvolvem e liberam a

toxina;

Page 34: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

2) por ferimentos - a ferida contaminada

pelo C. botulinum é lugar ideal para o desenvolvimento

da toxina com produção do quadro clínico e patogenia

idênticos ao do quadro por intoxicação oral. Nos EEUU,

são freqüentes os casos por ferimentos contaminados e

em usuários de drogas injetáveis;

3) por vias aéreas - através da inalação da

toxina, que acaba por atingir a corrente sangüínea, e

daí alcança o sistema nervoso central e demais órgãos,

exercendo a sua ação patogênica com o mesmo quadro

já descrito; 4) infecção por via conjuntival (aerossol ou

líquido) - a toxina alcança imediatamente a corrente

sangüínea, desenvolvendo o quadro típico (CENTRO

DE VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA, 1999).

2.7. PERÍODO DE INCUBAÇÃO

No botulismo alimentar os sintomas

aparecem de duas horas a 10 dias, com média de 12h

a 36 horas, dependendo da quantidade de toxina

ingerida. É muito raro o aparecimento vários dias após

a ingestão do alimento contaminado. Quanto maior a

concentração de toxina no alimento ingerido, menor o

período de incubação. Quanto menor o tempo de

Page 35: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

aparecimento da doença, maior a gravidade e a

letalidade da mesma.

No botulismo por ferimento os sintomas aparecem de 4

a 21 dias, com média de 07 dias.

Já no botulismo intestinal, o período não é conhecido

devido à impossibilidade de determinar o momento da

ingestão de esporos (CENTRO DE VIGILÂNCIA

EPIDEMILÓGICA, 1999).

Segundo, PARDI, et al (2006) a duração da

enfermidade é de um a dez dias. Nos casos mais

graves, como na intoxicação pelo tipo E, foram

registrados casos de morte entre a 20a e a 24a horas

após a ingestão da toxina.

Os sinais clínicos se desenvolvem após um

período de incubação de 6 dias ou menos

(WINGFIELD, 1998).

A letalidade depende do tipo de germe,

variando nas diversas localizações geográficas. Assim,

mencionam-se 76% na Inglaterra, 65% nos EUA, 41%

na Dinamarca, 13,8% na República Federal Alemã e

8% na França. A morbidade situa-se entre 75 e 100 %

(PARDI et al., 2006).

A despeito de o fato de ser o homem uma

das espécies mais sensíveis ao botulismo, não há

Page 36: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

elementos suficientes para se avaliar a quantidade de

toxina necessária para causar a sua morte ou para o

cálculo da taxa de mortalidade. Contudo, supõe-se que

as doses vão de sete doses letais/rato, que

equivaleriam a uma dose parenteral para o homem, até

quantidades muito superiores. Supõe-se ainda que a

dose humana letal de toxina tipo E, por via oral, seja de

pelo menos 500.000 doses letais/rato, enquanto dois

pacientes sobreviveram ao botulismo após a ingestão

de cerca de 240.000 DL/rato, respectivamente. É fato

também conhecido a recuperação de um paciente que

ingeriu umas 370.000 DL/rato de toxina tipo B. Contudo,

doses bem menores seriam letais como, por exemplo, a

ingestão de apenas uma porção de pimenta verde, de

conservação doméstica, que, a despeito do paciente tê-

la cuspido, provocou sua morte. O suco de pimenta

continha 100.000 DL/rato de toxina do tipo A por ml

(PARDI et al., 2006).

2.8. SINTOMAS DO BOTULISMO NO HOMEM

De forma geral, prevalecem os sinais e

sintomas neurológicos, sendo estes os primeiros e mais

Page 37: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

importantes achados ao se examinar o paciente

(SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2005).

Sinais de desidratação, distensão abdominal

e dispnéia podem estar presentes. Não há febre, a

menos que haja uma complicação infecciosa

(SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2005).

Embora seja neurotóxica, os primeiros

sintomas causados pela toxina podem ser

gastroenterite, manifestando-se por constipação

intestinal, náuseas e vômito. Diarréias podem ocorrer,

embora não sejam freqüentes, pois a toxina não tem

ação irritativa na mucosa digestiva (BRESSAN et al.,

1999).

Segundo, PARDI et al., (2006), podem

ocorrer sintomas gastrointestinais precedendo os

neurológicos. À diarréia inicial pode suceder a paralisia

dos esfíncteres anal e vesical.

Os sinais indicam uma desordem neuronal

motora baixa aguda progressiva que varia com a

quantidade de toxina ingerida, desde uma fraqueza

generalizada e vaga até tetraplegia e insuficiência

respiratória. Um paciente com botulismo pode mostrar

envolvimento dos nervos craniais e medulares

(WINGFIELD, 1998).

Page 38: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

De acordo com o CENTRO DE VIGILÂNCIA

EPIDEMILÓGICA (1999), os sintomas podem iniciar-se

com vômitos e diarréia (mais comum a constipação),

debilidade, vertigem, sobrevindo logo em seguida,

alterações da visão (visão turva, dupla e fotofobia),

flacidez de pálpebras, modificação da voz (rouquidão,

voz cochichada, afonia ou fonação lenta), distúrbios da

deglutição, flacidez muscular generalizada

(acentuando-se na face, pescoço (cabeça pendente) e

membros], dificuldade de movimentos, agitação

psicomotora e outras alterações relacionadas com os

nervos cranianos, podendo provocar dificuldades

respiratórias, cardiovasculares, levando à morte por

parada cárdio-respiratória.

Os primeiros sintomas surgem entre uma

hora e oito dias após a ingestão do alimento

contaminado, caracterizando-se por: tontura ou

vertigem; visão dupla ou turva; secura na boca,

garganta e pele; dificuldades para deglutir, falar e

respirar; debilidade muscular descendente;

constipação; dilatação ou fixação das pupilas e paralisia

respiratória. A paralisia muscular inicia-se nos olhos e

na face, passando depois para a garganta, peito, mãos

e pernas para, havendo toxina suficiente no sangue,

Page 39: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

atingir o diafragma e músculos do peito, dando-se a

morte por asfixia (PARDI et al., 2006).

As alterações respiratórias se manifestam

por paralisia dos músculos intercostais, brônquios e

diafragma, levando a taquipnéia, dispnéia, respiração

superficial, cianose e deficiência de deglutiação

(BRESSAN et al., 1999).

A morte pode ocorrer por hipóxia devido à

paralisia do diafragma ou parcial ou total obstrução das

vias respiratórias superiores (BRESSAN et al., 1999).

2.9. DIAGNÓSTICO DA DOENÇA NO HOMEM

O botulismo é diagnosticado através dos

sintomas e sinais, pela detecção e tipo da toxina no

sangue do paciente, e pelos testes complementares

nos alimentos suspeitos:

A. a anamnese é dirigida buscando verificar

os tipos de alimentos ingeridos, tempo de ingestão e

aparecimentos da doença, a possível existência de

outros casos e fontes comuns de ingestão, além da

caracterização dos sinais e sintomas apresentados. O

exame neurológico consiste na pesquisa do grau de

capacidade muscular devendo ser realizadas provas

Page 40: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

exploratórias motoras (de cabeça, pálpebras, membros

superiores e inferiores, mãos e dedos, deslocamento

corporal no leito) e fonatórias, com registro de

intensidade e de localização, a cada 2 horas. A

realização de eletromiografia para detecção de

denervação precoce (às 72 horas), para diagnóstico,

tem sido exame tardio.

B. os exames laboratoriais específicos

são a investigação da toxina no sangue do paciente,

cuja coleta deve ser o mais precoce possível e antes da

administração do soro (antitoxina) específico. A coleta

tardia do sangue pode impedir a detecção de toxina no

sangue, pois esta vai sendo rapidamente absorvida

pelos tecidos. Após 8 dias do início da doença, a toxina

não é mais encontrada. A pesquisa da toxina botulínica

nas fezes (conteúdo intestinal) e lavado gástrico pode

ser um meio auxiliar importante de diagnóstico. Além da

determinação da toxina, o diagnóstico pode ser

complementado por cultura de C. botulinum nos casos

de botulismo infantil, por ferimentos e por causa

indeterminada. As amostras devem ser transportadas e

conservadas sob refrigeração, por tratar-se de toxina

termolábil. A coleta de rotina da coprocultura será

Page 41: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

importante também para diagnóstico diferencial entre

algumas doenças transmitidas por alimentos que

possam apresentar quadros similares.

C. os exames nos alimentos suspeitos são

importantes para detecção da toxina, auxiliando no

diagnóstico da doença, e para a tomada de

providências sanitárias e medidas de prevenção. A

família deve ser orientada pelo serviço médico para

guardar os alimentos devidamente acondicionados e

em geladeira para possibilitarem a investigação

epidemiológica e sanitária. As amostras coletadas

devem ser transportadas sob refrigeração.

D. os cuidados com os familiares

(comunicantes) são extremamente importantes para

prevenir ou detectar precocemente o surgimento de

mais casos de botulismo. Deve-se identificar aqueles

que fizeram ingestão comum dos alimentos, orientá-los

quanto ao aparecimento de sinais e sintomas e a

procurar urgentemente os cuidados médicos ao

primeiro sinal; como ação preventiva, o hospital, em

que se encontra internado o paciente, deve examiná-los

à procura de manifestações neurológicas, aproveitando

os horários das visitas que fazem ao paciente ou

Page 42: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

marcando consultas prévias. Quando possível,

recomenda-se provocar o vômito, lavagem gástrica ou

indução da evacuação intestinal aos que partilharam da

mesma comida, para expulsão rápida do alimento

(CENTRO DE VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA, 1999).

O uso da antitoxina profilática a pessoas que

ingeriram o mesmo alimento não é rotineiramente

recomendado, devido ao risco de reações de

hipersensibilidade. Esta medida deve ser muito

criteriosa (CENTRO DE VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA,

1999).

E. o diagnóstico diferencial deve ser feito

com as demais intoxicações e infecções de origem

alimentar a seguir:

a. Bacterianas - salmonelas, enterotoxina

estafilocócica, enterococus fecais, que evoluem sem

sintomatologia neurológica e com manifestações

gastroentéricas muito agudas. Atenção especial deve

ser dada à bactéria Campylobacter que pode ser

responsabilizada por quadros de paralisia flácida

simulando a Síndrome de Guillan Barré. A coprocultura

ou hemocultura quando indicada, são de grande valor,

nas doenças de origem bacteriana.

Page 43: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

b. Vírus - enterovírus e o vírus da

poliomielite que são síndromes infecciosas, com

paralisias periféricas, sintomatologia e sinais

meníngeos e alterações de líquor. Testes virológicos

são de valor.

c. Vegetal - devem ser buscadas as

intoxicações denominadas micetismo nervoso,

micetismo coleriforme, favismo, síndrome de Kwok ou

do "restaurante chinês".

d. Animal - mariscos e peixes tropicais,

ciguatera poisoning (barracuda), triquinelose.

e. Química - pesticidas clorados, pesticidas

organofosforados e outros inseticidas, raticidas, etc..

f. Outros quadros neurológicos - Síndrome

de Guillan-Barré, meningoencefalites, polineurites,

acidentes vasculares cerebrais, miastenia gravis,

neurastenia, araneísmo, hipopotassemia, intoxicação

por atropina ou beladona, intoxicação por

álcool/embriagues, envenenamento por curare

(CENTRO DE VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA, 1999).

O diagnóstico diferencial inclui Síndrome de

Guillain-Barré, miastemia gravis, AVC, overdose de

Page 44: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

drogas, intoxicações por cogumelos e outras doenças

com sintomas neurológicos (CENTRO DE VIGILÂNCIA

EPIDEMILÓGICA, 2005).

2.10. TRATAMENTO PARA PESSOAS

ACOMETIDAS PELO BOTULISMO

O êxito da terapêutica do botulismo está

diretamente relacionado à precocidade com que é

iniciada e às condições do local onde será realizada

(SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2005).

As pessoas que suspeitam terem sido

intoxicadas por alimentos em geral devem procurar

imediatamente um posto de saúde, o qual irá fornecer

orientação adequada (BRESSAN et al., 1999).

O tratamento com a antitoxina é mais eficaz

contra o tipo E do que contra os tipos A e B (PARDI et

al., 2006).

O tratamento recomendado é a pronta

administração da antitoxina de origem eqüídea

polivalente que irá permitir: a diminuição da progressão

da paralisia e da severidade da doença; não reverte a

paralisia já ocorrida; disponível apenas através do

Page 45: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

sistema público de saúde (CENTRO DE VIGILÂNCIA

EPIDEMILÓGICA, 2005).

Este tratamento deve ser realizado em

unidade hospitalar que disponha de terapia intensiva

(UTI). Observa-se significativa redução da letalidade

quando o paciente é tratado nessas unidades

(SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2005).

O tratamento deverá ser feito em unidade de

terapia intensiva (UTI), com dois enfoques importantes:

o tratamento específico e o geral, sendo que da sua

precocidade dependerá o êxito terapêutico.

A. Tratamento específico -

1) soroterapia específica - feita com soro

antibotulínico (heterólogo) específico para o tipo

imunológico ou polivalente (anti-A, B, E e F). A

antitoxina atua contra a toxina circulante e não contra a

que se fixou no sistema nervoso; portanto sua eficácia

dependerá da precocidade do diagnóstico. Nos casos

tardios a antitoxina poderá não ser mais eficaz.

2) anatoxinoterapia - alguns autores

preconizam o uso de anatoxina botulínica

simultaneamente com a antitoxina.

Page 46: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

O soro deverá ser solicitado à Central de

Vigilância Epidemiológica/Centro de Referência do

Botulismo (0800 - 55-5466), que passará todas as

informações para essa obtenção, a partir da discussão

detalhada do (s) caso (s) e solicitação por escrito. O

soro antibotulínico será fornecido pelo Instituto

Butantan, e pode atender as solicitações em todo o

país.

B. Tratamento geral –

1) Medidas para eliminar a toxina do

aparelho digestivo, quando possível, como lavagem

do estômago, clisteres, etc. Observa-se que os doentes

que tiveram o quadro inicial com vômitos e diarréias têm

melhor prognóstico.

2) Antibióticos - indica-se o uso de

antibióticos para o tratamento de infecção secundária.

Segundo a teoria da toxiinfecção de que há o

crescimento do C. botulinum no intestino humano e em

ferimentos profundos, com produção da toxina, estaria

também indicado o uso de antibióticos contra o bacilo

além do tratamento com o soro específico. No

Botulismo infantil, a antibioticoterapia deve ser

Page 47: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

empregada apenas em infecções secundárias, pois a

destruição bacteriana intraluminal pode aumentar a

absorção de toxina. Aminoglicosídeos podem

potencializar os efeitos da toxina.

3) Ação no mecanismo fisiopatogênico da

doença - medicamentos usados para neutralizar o

bloqueio muscular têm resultados controversos. A

administração de indutores da liberação de serotonina

tem efeito antitóxico no botulismo, sendo os mais

usados a reserpina e a clorpromazina.

4) Terapêutica de sustentação -

O aspecto mais importante em todas as

formas da doença são os cuidados de suporte ao

paciente, particularmente respiratórios e nutricionais.

Realizar controles freqüentes do meio interno. O

controle oftalmológico é fundamental para evitar a

ocorrência de lesões da conjuntiva ou córnea, e o

controle cardiológico, uma vez que a toxina atinge todos

os órgãos, podendo haver a parada cárdio-respiratório

e óbito.

O tratamento ideal para as pessoas é o soro

antibotulínico, que deve ser administrado logo no início

Page 48: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

do curso da doença por um profissional responsável,

pois uma vez nas terminações nervosas, a toxina não

poderá ser mais inativada (BRESSAN et al., 1999).

O soro antibotulínico é uma solução rica em

imunoglobulinas purificadas, que neutralizam

especificamente a toxina produzida pelo Clostridium

botulinum (BRESSAN et al., 1999).

2.11. COMPLICAÇÕES DA DOENÇA

O botulismo é uma doença com alta

letalidade que exige a internação em unidades de

terapia intensiva, por tempo prolongado, dependendo

da gravidade do quadro e da precocidade do

atendimento médico em relação ao início dos sintomas.

A internação prolongada, a baixa imunidade do

paciente decorrente da doença, dos tratamentos

realizados e dos procedimentos invasivos deixam-no

mais suscetível às infecções hospitalares além das

possíveis complicações decorrentes de paradas cárdio-

respiratórias que possam ocorrer. Após a alta hospitalar

o doente necessitará de acompanhamento médico e

fisioterápico para garantir ou reaprender funções

Page 49: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

básicas como respirar, andar, falar, escrever, etc.

(CENTRO DE VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA, 1999).

A desidratação e pneumonia por aspiração

podem ocorrer precocemente, antes mesmo da

suspeita de botulismo ou do primeiro atendimento no

serviço de saúde. Infecções respiratórias podem ocorrer

em qualquer momento da hospitalização, sendo a longa

permanência sob assistência ventilatória e os

procedimentos invasivos considerados importantes

fatores de risco (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM

SAÚDE, 2005).

2.12. COMO PREVENIR O BOTULISMO EM

HUMANOS

Alguns cuidados podem ser adotados para

evitar o botulismo, como higiênicos-sanitários das

conservas e a vacinação.

Com relação aos higiênicos-sanitários

devem-se descartar alimentos suspeitos ou com

embalagens danificadas; não consumir alimentos que

estejam em latas amassadas, enferrujadas ou

estufadas; verificar as “costuras” da lata que devem

estar intactas; nas embalagens de vidro verificas as

Page 50: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

condições da tampa e o líquido da conserva não deve

estar turvo; procurar comprar conservas com boas

condições de armazenamento; evitar o consumo de

carne sem Inspeção Federal, Estadual ou Municipal

(BRESSAN et al., 1999).

Como prevenção do botulismo alimentar

deve-se seguir as Boas Práticas de Fabricação e

preparação e manipulação dos alimentos;

fervura/aquecimento de alimentos crus ou fermentados

ou em conservas, principalmente caseiras por mais de

15 minutos antes de comer; seguir procedimentos

adequados na preparação de conservas (acidificação,

salmoura, temperatura, etc) (CENTRO DE VIGILÂNCIA

EPIDEMILÓGICA, 2005).

A vacinação em humanos tem sido utilizada

em profissionais e para pessoas que estão em contato

direto com o agente e/ou sua toxina como pessoas

envolvidas no diagnóstico da doença; com a elaboração

de produtos para o diagnóstico; vacinas e mesmo

pesquisadores atraídos pelo tema, que podem se

intoxicar por ingestão acidental, inoculação acidental ou

inalação devido à formação de aerossóis (BRESSAN et

al., 1999).

Page 51: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

A imunização, realizada com toxóide

botulínico polivalente, é recomendada apenas a

pessoas com atividade na manipulação do

microorganismo (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM

SAÚDE, 2005).

Três aspectos chamam de pronto a atenção

do higienista: o controle na indústria, na

comercialização e os cuidados preventivos por parte do

consumidor (PARDI et al., 2006).

No âmbito industrial, independentemente do

tratamento térmico no caso de conservas enlatadas,

visando especificamente à destruição das formas

vegetativas, esporos e toxinas do Clostridium

botulinum, devem ser adotadas determinadas normas

destinadas a criar um meio que não permita o

crescimento da bactéria ou a formação da toxina

(PARDI et al., 2006).

O processamento industrial, desde a

fabricação de carnes enlatadas não sensíveis ao

tratamento térmico, como acontece com o corned beef,

obedecerá à exigência mínima de esterilização, tendo

em vista a resistência do próprio esporo do Clostridium

botulinum ou de qualquer outro, por acaso mais

resistente. Assim, as conservas devem ser submetidas

Page 52: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

à temperatura que ofereçam o máximo de segurança,

atingindo no mínimo graduações de temperatura

capazes de destruir as toxinas do Clostridium botulinum

ou seus esporos, temperaturas estas alcançadas na

autoclavagem. Complementa-se o processamento

posteriormente, pela inspeção sanitária e a tecnológica

das latas, após a incubação (PARDI et al., 2006).

A higiene dos estabelecimentos industriais e

de processamento é importante no sentido de que eles

não sejam transformados em fontes de contaminação.

É fundamental também que a rede varejista obedeça

aos prazos de validade e às exigências de manutenção

dos diferentes produtos, à constância das temperaturas

prescritas e às condições de umidade e de higiene em

geral (PARDI et al., 2006).

Ao consumidor, recomenda-se,

independentemente da adoção de cuidados quanto à

procedência do alimento cárneo, pressionar para que o

varejista obedeça às boas regras de manutenção dos

produtos. Deve-se rejeitar os produtos envasados com

sinais de fermentação ou enlatados com bombeamento,

não provando sequer qualquer alimento com mostras

de deterioração. A mais leve suspeita deve ferver o

alimento pelo menos por 15 minutos. Deve-se evitar

Page 53: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

ainda o consumo de alimentos crus ou pré-cozidos, que

foram descongelados e mantidos à temperatura

ambiente. Mesmo os produtos cozidos, mantidos em

condições normais de meio ambiente, devem ser

submetidos à nova cocção (PARDI et al., 2006).

2.13. CONDUTA EPIDEMIOLÓGICA

O botulismo é uma doença de notificação

compulsória em todo o território nacional. Devido à

gravidade da doença e à possibilidade de ocorrência de

outros casos resultantes da ingestão da mesma fonte

de alimentos contaminados, um caso é considerado um

surto e uma emergência de saúde pública (CENTRO

DE VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA, 2005).

A suspeita de um caso de botulismo exige

notificação e investigação imediatas. Portanto, o

profissional do serviço de saúde que atendeu o

paciente deve notificá-lo imediatamente à vigilância

epidemiológica local e esta, por sua vez, às equipes de

vigilância regional e central (CENTRO DE VIGILÂNCIA

EPIDEMILÓGICA, 2005).

Page 54: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

O botulismo é uma doença de notificação

compulsória desde a publicação da Portaria MS número

1.943, de 18 de outubro de 2001. Devido à gravidade

da doença e à possibilidade de ocorrência de outros

casos resultantes da ingestão da mesma fonte de

alimentos contaminados, um caso é considerado surto

e emergência de saúde pública. A suspeita de um caso

de botulismo exige notificação e investigação imediatas

à vigilância epidemiológica local. O técnico que recebeu

a notificação deve, inicialmente, verificar a consistência

das informações. Uma vez caracterizada suspeita de

botulismo, comunicar imediatamente tal fato aos níveis

hierárquicos superiores e áreas envolvidas na

investigação, iniciando o planejamento das ações

(SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2005).

1) Notificação do caso - o médico ao se

deparar com quadros neurológicos abruptos, em

adultos geralmente saudáveis, e com história de

ingestão de alimentos suspeitos (conservas em latas ou

vidros de palmitos, embutidos, ou compotas) deve

notificar imediatamente a suspeita de Botulismo ao

Serviço de Vigilância Epidemiológica Regional,

Municipal, ou Central. Sediado no Centro de Vigilância

Epidemiológica do Estado de São Paulo, está o Centro

Page 55: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

de Referência do Botulismo, e uma Central de

Vigilância Epidemiológica - Disque CVE, funciona 24

horas para atender as notificações e orientar

tecnicamente os profissionais de saúde com relação a

todas as doenças de notificação compulsória. Seus

técnicos estão preparados para informar todos os

aspectos técnicos e operacionais relativos à doença. O

telefone é 0800-55-5466.

2) A investigação epidemiológica parte da

notificação do caso e deve ser imediatamente realizada

pela equipe de Vigilância Epidemiológica cumprindo-se

os seguintes passos:

a) Levantamento da história do doente e

de sua internação nos serviços, obtendo-se esses

primeiros dados dos médicos que realizaram o

atendimento ao doente, bem como, de seus familiares.

b) Os dados importantes consistem em

estabelecer o início preciso da doença, sinais e

sintomas, resultados dos exames neurológicos,

alimentos consumidos dentro de um período mínimo de

5 dias, relacionando-os por ordem de data de consumo

em relação ao início dos sintomas, procurando

estabelecer o consumo comum entre o paciente e

demais familiares ou outras pessoas, o que todos

Page 56: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

comeram, o que só o paciente comeu, o quanto foi

ingerido de cada alimento, para buscar a

responsabilização sobre o alimento suspeito.

c) Acionar imediatamente a Vigilância

Sanitária para coleta na casa dos pacientes ou em

restaurantes ou outro estabelecimento (dependendo da

história do alimento consumido) dos alimentos ingeridos

para a análise laboratorial de detecção da toxina nas

sobras encontradas. É muito importante que se consiga

exatamente recolher os alimentos que foram

consumidos pelo paciente, e se não for possível,

recolher exemplares da mesma marca que tenha sido

ingerida, ainda na casa do paciente ou no

estabelecimento suspeito.

3) Vigilância e acompanhamento do

paciente e seus familiares (quadro clínico do paciente,

resultados dos exames laboratoriais realizados,

orientações aos familiares ou pessoas próximas que

consumiram o alimento para procurarem o serviço

médico frente a sinais e sintomas suspeitos), para

detecção precoce de novos casos de botulismo.

4) Preenchimento da Ficha de

Investigação de Surtos/Casos de DTAA e envio dos

Page 57: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

dados aos vários níveis do sistema do informação

(CENTRO DE VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA, 1999).

2.14. CONDUTA SANITÁRIA

Quando a Vigilância Sanitária for a primeira a

ser acionada pelos médicos ou familiares, ou outros

meios, esta deve acionar imediatamente a Vigilância

Epidemiológica para a iniciar a investigação

epidemiológica, em ações integradas e conjuntas. Dar

início à:

1) Coleta de alimentos na casa do paciente

ou estabelecimento suspeito onde foi feita a ingestão do

alimento, para encaminhamento ao laboratório de

análise. É importante recuperar informações como a

marca do produto, onde foi comprado, data de validade

(e todas as demais, a partir da descrição detalhada do

rótulo, como nome e endereço do fabricante,

distribuidor, número de lote, data de fabricação, etc..),

quando foi aberto, onde ficava armazenado, etc..

2) Inspeção sanitária nos locais de

fabricação dos alimentos suspeitos para verificação das

Page 58: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

condições higiênico-sanitárias, controles e técnicas de

processamento, origem da matéria-prima, verificação de

lotes, datas de fabricação e validade, número de

registro no Ministério da Saúde, etc. recolhendo

amostras dos produtos para a análise laboratorial de

pH, microbiológica e outras, e tomando as medidas

sanitárias perante as infrações já detectadas (CENTRO

DE VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA, 1999).

2.15. CONDUTA LABORATORIAL

1) Presença de toxina antibotulínica no

sangue do paciente e neutralização da toxina em

camundongos - teste em ratos, observando-os para

sinais de botulismo e morte, até um período de 96

horas (em média, a morte ocorre em 48 horas).

2) Presença de toxina ou C. botulinum nas

fezes e lavado gástrico do paciente - cultura 5 a 7 dias.

3) Detecção da toxina nos alimentos

suspeitos - teste em ratos, até 96 horas (em média, a

morte ocorre em 48 horas) (CENTRO DE VIGILÂNCIA

EPIDEMILÓGICA, 1999).

Page 59: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

Procedimentos laboratoriais: Teste de

detecção da toxina no soro do paciente, alimentos e

lavado gástrico

a) no paciente:

Coleta de Material - colher 15 ml a 20 ml de

sangue total ou 10 ml (no mínimo) de soro, antes da

introdução do soro antibotulínico, em frasco sem

anticoagulante. Encaminhar (em isopor com gelo

reciclável ou gelo comum envolvido em saco plástico)

para o Laboratório Central do Instituto Adolfo Lutz -

setor de triagem da Bromatologia e Química. Poderá

ser também encaminhado material de lavado gástrico

ou intestinal (em frasco coletor de fezes) para o mesmo

local.

b) no alimento:

Se houver, encaminhar as sobras do (s)

alimentos suspeito (s). Todo o material, além da

identificação específica do produto, deverá ser

acompanhado de formulário/receituário contendo dados

de identificação do paciente, local de atendimento e

endereço completo (incluindo telefone, médico para

contato), suspeita diagnóstica, etc.

Page 60: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

As amostras de soro são inoculadas

diretamente em camundongos. As amostras de

alimentos, lavado gástrico e conteúdo intestinal devem

ser homogeneizadas em solução de gel-fosfato,

mantidas "overnight" em refrigerador. Centrifugação a

2.500 rpm, sob refrigeração. O sobrenadante deve ser

separado em 3 porções: uma delas para inoculação

direta; outra para a inativação da toxina, por no mínimo,

85 º C, por 15 minutos, e outra, que sofrerá tratamento

por tripsina. A inoculação é de 0,5 ml, via

intraperitoneal, em camundongos (2 por amostra

inoculada) de, no máximo, 25 g. É diagnóstico

presuntivo de botulismo se os animais inoculados com

soros e extratos tripsinizados e/ou não apresentarem

sintomas e morrerem no espaço de 96 horas ( 48 horas

em média costuma ocorrer a morte), e a porção do

extrato tratada termicamente não afetar o camundongo.

É diagnóstico de botulismo se o anti-soro tipo específico

proteger o camundongo, conforme metodologia descrita

em "Compendium of Methods for the Microbiological

Examination of Foods", APHA, 1992 ou "Bacteriological

Analytical Manual", AOAC, 1992.

Page 61: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

Para a cultura de C. botulinum consultar

essas referências citadas.

A manipulação das secreções do paciente e

dos restos alimentares, e todo o procedimento de

inoculação em ratos requer cuidados e o atendimento

aos requisitos de biossegurança. Uma das primeiras

condições para o laboratorista realizar o exame é estar

devidamente vacinado. A vacina, no momento é

fornecida pelo CDC/Atlanta/USA, através do

preenchimento de formulário próprio, e solicitação por

FAX, mas, será produzida pelo Instituto Butantã do

Estado de São Paulo, até setembro de 1999 (CENTRO

DE VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA, 1999).

2.16. CONDUTA EDUCATIVA

1) educação sanitária da população em

geral, de produtores, manipuladores de alimentos, etc.,

quanto à higiene, preparo e conservação de alimentos e

informações sobre a doença.

2) recomendações específicas de prevenção,

para as donas de casa e demais manipuladores de

Page 62: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

alimentos de que o produto industrializado em e as

conservas caseiras que não ofereçam segurança,

sejam fervidos ou cozidos por 15 minutos, antes de

serem consumidos, uma vez que a toxina é destruída

pelo calor. Devem ser descartados os vidros

embaçados, as latas estufadas, etc. porque estes são

sinais de contaminação por outros microorganismos,

também nocivos à saúde. Contudo, pode haver

conservas, sem estas características, com toxina

botulínica, pois a mesma, não altera a cor, o sabor ou o

aspecto. Por isso, se não há certeza de garantia de

qualidade do produto, a prevenção utilizando-se da

fervura prévia será a melhor maneira de se evitar o

Botulismo (CENTRO DE VIGILÂNCIA

EPIDEMILÓGICA, 1999).

2.17. ALGUNS EXEMPLOS DE CASOS DE

BOTULISMO NO BRASIL

Exemplo 1-

Em março de 1999 no Estado de São Paulo,

em que foi detectada a presença da toxina tipo A no

Page 63: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

sangue do paciente, com história de ingestão de

conserva de palmito de marca boliviana, proveniente da

mesma região e endereço do local de fabricação da

marca responsável por botulismo, mas que por

ausência dos restos alimentares do palmito consumido

pelo paciente, não foi possível estabelecer a relação

direta. Entretanto, todos os demais alimentos de risco

ou medicamentos (cápsula de proteína animal

manipulada e fórmulas para emagrecimento)

consumidos foram analisados, com resultados

negativos. Mais 3 frascos de palmito da marca em

questão, encontrados na casa do paciente, mas ainda

não consumidos, foram analisados, sendo encontrado

um com pH de 4,6. A inspeção sanitária encontrou

irregularidades gravíssimas (ausência de número de

lotes, várias datas de validade em rótulos sobrepostos,

etc.) recolhendo o produto de várias marcas importadas

da Bolívia, além de proibir a importação do produto sem

prévia inspeção dos técnicos da Vigilância Sanitária

Brasileira (CENTRO DE VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA,

1999).

Com este caso, a Vigilância Sanitária

Nacional determinou a rotulagem de todos os produtos

nacionais e estrangeiros, na prateleira e na fábrica, com

Page 64: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

a advertência ao consumidor para "Ferver o produto por

15 minutos antes de ser consumido", pois, todo o

palmito passou a ser considerado suspeito, até a

implantação das novas normas de fabricação e do

Programa Nacional de Inspeção das Fábricas de

Palmito, que têm por finalidade desencadear um

controle mais rígido e permanente das Vigilâncias

Sanitárias dos Estados na fiscalização de

estabelecimentos produtores, distribuidores e comércio

em geral de palmito em conserva (CENTRO DE

VIGILÂNCIA EPIDEMILÓGICA, 1999).

Exemplo 2-

O ministro Ruy Rosado de Aguiar, da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), autorizou

o envio do recurso, para apreciação do Tribunal, em

que a Indústria de Conservas Gini S/A tenta reverter à

condenação de indenizar a auxiliar de escritório Melissa

Castro por fornecer palmito contaminado por botulismo.

A única questão a ser examinada pelo STJ será quanto

ao dano moral, pois o ministro manteve a condenação

da empresa imposta pela primeira instância quanto aos

danos materiais.

De acordo com a sentença, mantida pela Décima

Page 65: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de

São Paulo, Melissa receberá da empresa a diferença

entre o salário que recebia no emprego e o que recebeu

pelo INSS durante os oito meses que ficou afastada do

serviço; o tratamento de fisioterapia para correção de

paralisia no braço por dois anos, no valor de R$ 6 mil;

R$ 2 mil pelas despesas havidas com empregada e

manutenção do filho em outro Estado; e mais R$ 8 mil

devido às despesas com oftalmologista. A Gini foi

condenada ainda ao pagamento de pensão alimentícia

de cinco salários-mínimos mensais até que Melissa

complete 70 anos.

Ruy Rosado ordenou que o caso chegue para o STJ

para que seja apreciada a indenização de 2.700

salários-mínimos a título de danos morais estipulada

pelo TJ/SP, que já havia reduzido os 5.400 salários-

mínimos impostos pela Segunda Vara Cível da

Comarca de Santos como reparação pela dor sofrida e

desestímulo para a empresa comercializar produto

impróprio para consumo.

Melissa Niwa Habu pediu indenização por danos

físicos, materiais e morais porque, segundo relata, em

fevereiro de 1997, foi hospitalizada após ingerir um

pedaço de palmito da marca Gini contaminado com

Page 66: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

botulismo, que se encontrava em sua geladeira. Mesmo

depois de ter sido atendida no pronto-socorro, onde

diagnosticaram o mal-estar como decorrente de

desgaste físico e um princípio de intoxicação alimentar,

e retornado para casa, o mal-estar persistiu. Nova

hospitalização ocorreu, quando sofreu uma primeira

parada cardíaca. Ela entrou em coma, sendo

transferida para a UTI da Santa Casa de Misericórdia

de Santos, onde precisou de traqueostomia diante da

impossibilidade de respirar. Lá foi que detectaram sua

intoxicação por botulismo e trataram-na com a

soroterapia própria, obtida nos Estados Unidos, por

intermédio da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No mês seguinte, no entanto, o estado geral de saúde

de Melissa se agravou e ela foi transferida para a UTI

do Hospital Albert Einstein, onde continuou o

tratamento com ventilação mecânica, fisioterapia

motora e respiratória e tratamento clínico. Lá adquiriu

leucopenia, pneumonia e infecção das vias urinárias.

Após as primeiras melhoras da força muscular, que

surgiram lentamente, foi necessário tratamento

fisioterápico, fonoaudiológico e psicológico. Até que

recebesse alta, a seu pedido, Melissa ficou seis meses

hospitalizada, dos quais cinco em coma, prosseguindo

Page 67: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

com o tratamento em consultório e a fisioterapia. A Gini

pagou as despesas do Albert Einstein, médicos e

fisioterapias.

Afora os meses afastada do trabalho, ficaram seqüelas

como dores, três cicatrizes (uma no pescoço e duas nos

ombros); diminuição da visão; fraquezas constantes;

perda parcial do controle muscular; semiparalisação

dos músculos, inclusive os faciais; paralisação da mão;

dentre outras. O filho foi levado para casa de uma tia.

No STJ, a única questão a ser julgada é o valor da

indenização por dano moral, uma vez que o restante a

que foi condenada pelo Judiciário paulista ficou mantido

pelo relator. O ministro havia indeferido, em uma

medida cautelar, uma liminar à empresa para que

fossem suspensos os efeitos da condenação até que o

agravo de instrumento seja apreciado, teve liminar

negada pelo ministro Ruy Rosado por não ter

identificado possibilidade de dano irreparável. A

questão está aguardando decisão da Turma.

A empresa garantiu na Primeira Seção do STJ que a

Justiça de São Paulo o seu pedido de indenização

contra o Governo de São Paulo, em razão de alegada

divulgação sem provas pela diretora técnica da

Secretaria de Estado de Saúde de que a contaminação

Page 68: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

de seu produto teria levado Melissa Niwa Habu Castro

a contrair botulismo. A decisão garantiu apenas que a

ação de indenização seja julgada em razão da

jurisprudência já firmada no Tribunal reconhecer que

uma empresa também pode pedir indenização por

danos morais (AMARAL, 2002).

Exemplo 3-

O Instituto Adolfo Lutz, da capital, confirmou

no final da tarde de sexta-feira, 29 de 2007, que o

menino Luís Alberto Nicolucci Filho, de 12 anos,

internado desde o último dia 13 na Santa Casa de

Misericódia de Santos, é vítima de botulismo. O garoto,

internado na UTI pediátrica do hospital, continua

respirando por meio de aparelhos. De acordo com os

médicos que o acompanham, seu quadro clínico se

mantém estável.

A mãe de Luís Alberto, que permanece o

tempo todo no corredor da Santa Casa, Silvana André

Coelho, de 39 anos, disse que pressentia tratar-se de

uma doença grave. Ela contou que, desde o último dia

10 de junho, quando o garoto ingeriu uma pizza

portuguesa, contendo palmito, junto com os colegas da

rua onde mora, na Vila Fátima, em São Vicente, que ele

Page 69: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

começou a passar mal. "Ele acordou na segunda-feira

com dor nos olhos e na garganta e não conseguia

engolir nada".

O adolescente chegou a ser atendido no

Pronto-Socorro do bairro, mas foi medicado e

dispensado. "O médico achava que o Luís tinha uma

inflamação na garganta, mas no dia seguinte, ele

acordou ainda pior, com dor nos olhos e sem conseguir

falar e andar direito", disse. Foi quando ela resolveu

levá-lo à Santa Casa, onde foi internado imediatamente.

Silvana observou que os colegas do filho,

que também comeram da mesma pizza, nada tiveram.

Este é o segundo caso de botulismo na Baixada

Santista, depois de dez anos. Em fevereiro de 1997,

uma jovem de 18 anos foi internada com os sintomas

da doença, após ter consumido palmito (JORNAL

ESTADÃO, 2007).

A partir do momento em que as autoridades

governamentais e a indústria de alimentos organizada

passaram a considerar todo alimento como

potencialmente contaminado pelo Clostridium

botulinum, os casos de botulismo tornaram-se

excepcionais (PARDI et al., 2006).

Page 70: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

2.18. BENEFÍCIOS DA TOXINA BOTULÍNICA

Os efeitos terapêuticos da toxina botulínica

vêm sendo estudado há décadas. No início, a

substância foi utilizada para tratamento de estrabismo e

espasmos involuntários da pálpebra (SAÚDE

INFORMAÇÕES, 2008).

Atualmente ela é muito utilizada no

tratamento estético para amenizar as rugas de

expressão na face, sob a forma de Botox -nome

comercial da toxina empregada (SAÚDE

INFORMAÇÕES, 2008).

Sendo assim o Botox em pequenas doses,

acabou por conquistar a vaidade de inúmeras pessoas

do Brasil e do mundo, atestando um possível benefício

deste perigoso microorganismo à nossa espécie

(SAÚDE INFORMAÇÕES, 2008)

Page 71: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

3. CONCLUSÃO

Por tratar-se de uma intoxicação alimentar

muito grave podendo levar o paciente à morte apesar

da baixa notificação, conclui-se que a prevenção do

botulismo alimentar é imprescindível.

A prevenção é simples e consiste em

cuidados higiênico-sanitários das conservas caseiras

sem inspeção sanitária tanto por parte dos higienistas

quanto pelos consumidores.

O ideal seria que houvesse uma educação

sanitária da população em geral. Alertando inclusive os

profissionais da saúde sobre a pronta intervenção,

evitando o agravo (social e econômico).

Deve-se alertar dos perigos e sobre a

prevenção por meio de folhetos educativos/informativos

para a população, principalmente as donas de casas e

os manipuladores de alimentos sendo distribuídos em

Page 72: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

supermercados, restaurantes, escolas, parques, feiras,

etc.

Neste material educativo/informativo deve

constar que as conservas caseiras que não ofereçam

segurança sejam fervidas por 15 minutos, antes de

serem consumidas, uma vez que a toxina é destruída

pelo calor. Descartar os vidros embaçados, as latas

estufadas, etc. devido à contaminação por outros

microorganismos. Além disto à toxina botulínica pode

estar presente nas conservas sem alterações, pois ela

não altera a cor, sabor ou aspecto do alimento.

Page 73: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, R.C. Danos morais por intoxicação por botulismo serão analisados pela Quarta Turma do STJ. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Brasília, 29 mai. 2002. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/webstj/Noticias/detalhes_noticias.asp?seq_noticia=5653>. Acesso em: 23 abr,2008.

ANVS/MS. Resoluções ANVS/MS no. 362 e 363, de 29.07.99 (D. O. U.02.08.99) <http://www.in.gov.br>Acesso em: 23 abr 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.Guia de Vigilância Epidemiológica/ Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, 6a.

Edição, Brasília: Ministério da Saúde, 2005, 816 p.

BRESSAN, M. C.; GALINDO, G. M.; SANTOS, M. A . O Botulismo no Homem, nos Animais e em alimentos. Lavras, 1999. 19p.

JORNAL ESTADÃO, São Paulo, 30 jun. 2007. Médicos confirmam botulismo em garoto internado em Santos. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/cidades/not_cid15104,0.htm>. Acesso em: 23 abr, 2008.

FIGUEIREDO, R. M. As armadilhas de uma cozinha: Doenças veiculadas por alimentos. São Paulo: Manole, V 3, 2003, 217 p.

Manual das doenças transmitidas por alimentos e água. Clostridium botulinum/ Botulismo. 1999. Disponível em:

Page 74: Botulismo Anlimentar- Kelly Souza Dos Santos Cerchiaro

http://www.cve.saude.sp.gov.br/htm/hidrica/If_54bot.htmAcesso em: 23 abr 2008.

SAÚDE INFORMAÇÕES, São Paulo, 2 mai.2008. Enlatado assassino. Disponível em: <http://www.saudeinformacoes.com.br/materias_ver_materia.asp?id=235>. Acesso em: 05 mai 2008.

SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE/ MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria 33/MS de 14 de julho de 2005. Atualiza e determina as doenças de notificação compulsória em todo o território nacional. Disponível em: http://www.saude.gov.br. Acesso em: 23 abr 2008.

PARDI, M.C.; SANTOS, I, F.; SOUZA, E.R.; PARDI, H.S. Ciência, Higiene e Tecnologia da Carne: Intoxicações alimentares por microorganismos. Goiânia: Editora UFG, V.1, 2006, 624 p.

WINGFIELD, W. E. Segredos em Medicina Veterinária: Doença Neuronal Motora Baixa Aguda Progressiva. Porto Alegre: Artmed, 1998, 546 p.