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O impeachment de Dilma Rousseff e a consequente ascensão do peemedebista à Presidência da República expuseram feridas abertas já há muito tempo na política brasileira. Com todas as dificuldades e questionamentos, poderá o presidente cumprir seu papel à altura das expectativas do país? www.3poderesbrasil.com.br

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O impeachment de Dilma Rousseff e a consequente ascensão do peemedebista à Presidência da República expuseram feridas abertas já há muito tempo na política brasileira. Com todas as dificuldades e questionamentos, poderá o presidente cumprir seu papel à altura das expectativas do país?

www.3poderesbrasil.com.br

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CARTA DO EDITOR

3 Poderes Brasil não se responsabiliza por matérias e

artigos assinados, pois não refletem necessariamente a

opinião da revista. As matérias especiais publicadas em

3 Poderes Brasil são de colaboração de seus autores e

cedidas espontaneamente, sem fins lucrativos.

DIRETOR DE REDAÇÃOJoão Pedro Marques

COORDENADOR EDITORIALJoão Negrão

ARTE E PROJETO GRÁFICOMarco Antonio Raimundo

ARTE/DIAGRAMAÇÃOFernando Inácio / [email protected]

Cris Nascimento

REVISÃODoralice Jacomazi

REPORTAGEMLucas Lyra - João Negrão

Isa Ramos - Ricardo Padue (Fotografia)

Colaboram nesta edição:

TEXTOSAdeildo Lucena, Angelo Guilherme, Beatriz

Zendersky, Caroliny Rodrigues, Jéssica Dantas e Oswaldo Rocha

FOTOSAgências Brasil, Senado, Câmara, Assessorias

Redação, Comercial e Administração

SIG Quadra 4, Lote 25, Sala 221, Centro Empresarial Barão de Mauá - CEP 70610-440

Brasília - DF

Tel.: 61 30381012 - Ramal 1026

A revista 3 Poderes Brasil é publicação da

Edição 01, Jul/Ago/Set Ano I, de 2016

P rezado leitor, esta revista lhe chega às mãos no momento de grandes desafios para o Brasil e para os brasileiros. A 3 Poderes Brasil culmina um processo editorial que vem sendo maturado há ao menos dois anos, quando se

iniciaram as primeiras inserções do portal Rede de Mídias, cujo um dos produtos, o site 3 Poderes, entrou no ar. De lá para cá, o que se consolidaria como um projeto regional acabou sendo alçado à esfera nacional. Desde antes, a 3 Poderes trazia edições impressa, TV e rádio Webs, mas com a limitação de um veículo voltado para apenas parte do território nacional. Mas, agora, inauguramos uma nova fase da publicação - que passa à abrangência nacional e ganha o nome de 3 Poderes Brasil - e suas versões online.

A revista 3 Poderes Brasil chega com o compromisso de espelhar o que acontece nas esferas dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Ju-diciário) em todos os âmbitos (municipal, estadual, distrital e federal). Não temos a pretensão de uma ampla cobertura em impresso, já que teremos, por enquanto, tiragem e periodicidade aquém do projeto. Mas a versão impressa consolida as principais informações sobre o nosso foco de cobertura e é complementada pela maior abrangência online (www.3poderesbrasil.com.br), onde o leitor poderá desfrutar de infor-mações atualizadas a todo instante, com textos, vídeos (TV 3 Poderes Brasil) e áudios (Rádio 3 Poderes Brasil).

Nesta edição o prezado leitor poderá conhecer um pouco do que transcorre na atualidade nos âmbitos do Executivo, Legislativo e Judi-ciário, com matérias sobre as eleições municipais, os desafios do novo governo, as crises política e econômica. Trazemos ainda um pouco do panorama de Brasília como sede do Poder, mas com um viés sobre ou-tros temas além da política, tais como a moda, o turismo e o consumo das elites política e empresarial. A economia brasileira e a encruzilha-da em que se pegou o novo governo também são objetos de análise.

Desejo ao querido leitor que tenha uma ótima leitura e que nossa revista lhe agrade e abra perspectiva de uma boa opção de veículos de informação. Sabemos que nosso país passa por grandes dificulda-des. São dificuldades em várias frentes. Mas também acreditamos ser possível superá-las. E para isto estamos todos contando uns com os outros. Nossa tarefa é trazer boas informações para os cidadãos, con-tribuir para que formem sua opinião e colaborar para o salutar debate acerca dos temas nacionais.

Forte abraço.

João Pedro MarquesDiretor de Redação

Tempos de desafios

Brasil

www.3poderes.net.br

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SUMÁRIOEdição 01, Julho/Agosto Ano I, de 2016

BOA IMPRESSÃOCom a evolução digital, alguns

poderiam pensar que o mercado de impressos estaria condenado. Porém, as novas tecnologias aplicadas levam

o setor a ter uma importância cada vez mais estratégica

ENTREVISTAPrincipal alteração na

legislação eleitoral é em relação ao financiamento.

Ministro do TSE diz que objetivo é ‘trazer candidato

mais natural e menos montado na forma

de produto’

ANÁLISESEspecialistas analisam o novo

cenário político, sem o governo do PT e com a efetivação do

interino Michel Temer, e a proposta de novas eleições

16. MEIO AMBIENTESexto aniversário da PNRS é marcado por avanços na iniciativa privada, mas pelo desleixo por parte do poder público

28. GENTE & PODERA jovem que fez o presidente JK chorar é uma das notas que nosso colunista Oswaldo Rocha traz na coluna desta edição

30. MODA E POLÍTICAAparência dos políticos e funcionários públicos transmite credibilidade e influência, daí a preocupação com o que se vestir no cotidiano da capital da República

20. TURISMO DE NEGÓCIOSFora do eixo de destinos turísticos, Brasília se destaca entre as cidades mais procuradas para o turismo de negócios, recebendo um maior número de visitantes durante a semana

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CRISE ECONÔMICAEnquanto o ministro da Fazenda

tenta aprovar medidas no Congresso para fazer o ajuste fiscal, não se

afasta a possibilidade de aumentar impostos para equilibrar as contas

2006

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A s elites formam o grupo mi-noritário de pessoas que, numa sociedade, ocupa um lugar de relevo devido a

certos atributos muito valorizados, quando não invejados.

Seu peso, em todas as sociedades, é imenso. Os passos que dá podem mudar os destinos de um país, con-forme vimos nos últimos dias nas reuniões realizadas no Clube das Eli-tes de Brasília, o Senado Federal.

É um clube curioso: em suas reuni-ões podemos encontrar sócios perma-nentes, sócios atletas, sócios temporá-rios e às vezes até alguns penetras.

Quando se reúne todo o corpo so-cietário, o que é muito raro, natural-mente o ambiente fica mais nervoso ou mais festivo. Em sua última reu-nião, nos dias 30 e 31 do inacreditável mês de agosto, o salão do clube ficou agitado e dividido entre a alegria e o nervosismo.

Salão que será o cenário princi-pal do filme ‘O Impeachment’, bre-ve nos cinemas. Talvez por isso os sócios se esmeraram em atitudes marcantes: ninguém quer aparecer como coadjuvante, todos querem figurar como atores principais, mo-cinhos ou bandidos. Lembrando que em muitos filmes o bandido tem mais apelo que o mocinho...

Minha intenção aqui é colaborar com o roteirista do filme e destacar algumas das atuações que, creio eu, merecem escapar da lata de lixo da sala de montagem.

Vamos lá:

* Lindbergh Farias, querendo so-bressair, resolveu pisar um terreno

que não lhe é familiar, o da História do Brasil. Em seu úl-timo pronunciamento do dia 31 quis comparar o “Canalha! Cana-lha! Canalha!” do bravo Tancredo Neves quando foi deposto João Gou-lart. Evidentemente, pagou um belo de um mico, já que foram momentos absolutamente distintos.

* Janaína Paschoal, a quem de-vemos a base sólida para o impeach-ment que nos livrou de um governo muito danoso ao país, teve seu mo-mento infeliz: chorar porque seu brilhante trabalho estava ajudando a destituir uma presidente mulher, francamente, foi um passo em falso. O que tem o gênero da presidente a ver com os motivos para cassar seu mandato? A não ser que ela concor-de com Dilma que esse processo foi misógino, homofóbico e racista! Mi-soginia? Homofobia? Racismo? De quem Dilma falava?

* Renan Calheiros, sacudindo um exemplar da Constituição como um salvo-conduto para seus corre-ligionários fatiarem o artigo 52 do livrinho! Foi o que fizeram esque-cendo-se, propositadamente, que a preposição COM não deixa margem a dúvidas no parágrafo único do dito artigo. Não se trata de ‘e/ou’ perda de mandato e direitos políticos, mas sim de ‘com’. O presidente do clube disse que não queria ser mau, nem desumano e que não seguiria um dito comum nas Alagoas: “Depois da que-da, o coice”. O que será que passou pela cabeça de Fernando Collor ao ouvir confirmado aquilo que sofrera em 1992, o coice que levou depois

da queda? Mas Collor, que de bobo não tem nada, sabe muito bem que o fatiamento foi inventado para que os sócios do clube não percam o direito ao foro privilegiado.

* Vanessa Grazziotin... O que foi mesmo que ela disse? Desculpem, não consigo me lembrar. Mas como o filme tem que ter uma estrela, sob pena de ser considerado machista... cito a amazonense.

* Ricardo Lewandovski passou o julgamento batendo na tecla de que não estava ali como juiz. Mas, na Hora H, esqueceu seu papel e decidiu, sem os votos do plenário, pelo fatiamento do parágrafo único do artigo 52.

O que ainda não sabemos é em que categoria entrará o filme. Co-média, terror, ou drama romântico? Logo saberemos, precisamos só de um pouco mais de paciência.

Termino sugerindo outro título. Em vez de ‘O Impeachment’, meio ultrapassado, que tal ‘As Elites em Todo seu Esplendor’?

* Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa é professora e tradutora

OPINIÃO

POR MARIA HELENA RUBINATO RODRIGUES DE SOUSA

CLUBE DAS ELITES

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ADMAR GONZAGA

ENTREVISTA

‘O ELEITOR DEVE VOTAR CONSCIENTE E PARAR

DE RECLAMAR’

As regras das eleições mu-nicipais deste ano passa-ram pela Reforma Eleitoral 2015, determinadas pela Lei

13.165/2015, o que levou candidatos a prefeito e a vereador e os partidos a terem que repensar as estratégias de campanha e de propaganda. Em entrevista exclusiva à 3 Poderes Bra-sil, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Admar Gonzaga, ex-plicou as principais mudanças na legislação e, principalmente, ao que os eleitores devem ficar atentos neste pleito.

Qual é a principal alteração na le-gislação eleitoral deste ano?

As alterações fundamentais fo-ram as que diminuíram os custos da campanha. Em primeiro lugar, a questão do financiamento. Com a proibição, que foi assentada pelo Supremo Tribunal Federal, e depois veio encartada na legislação, da proi-bição de contribuição financeira de pessoas jurídicas, ou seja, empresas, entidades, não poderão contribuir financeiramente com as campanhas políticas. Essa contribuição será ape-nas do próprio candidato, recursos do fundo partidário, recursos que dispõem os partidos para a sua atu-ação política, e também recursos de

financiadores que sejam pessoas físi-cas. A intenção foi trazer o candidato mais natural, um candidato menos montado na forma de produto, um candidato que traga propostas e não aquelas pirotecnias de transformar o cidadão num super-homem que traz mensagens espetaculares e que aca-bam com esse apoio financeiro exa-cerbado captando o voto do eleitor.

Agora, o candidato vai ter que cap-turar a atenção do eleitor com suas propostas, ficarão todos mais iguais e menos ‘publicizados’, transformados em produtos.

A mudança na regra do finan-ciamento vai mesmo combater o ‘caixa dois’? Como o TSE pretende agir em casos de denúncias dessa irregularidade?

Com relação ao ‘caixa dois’, o Tri-bunal Superior Eleitoral vem manten-do contato e convênios com o Banco Central, com a Receita Federal, para justamente coibir a prática do uso de recursos que não sejam devidamente contabilizados. Como nós temos uma eleição municipal, vai ser muito fácil, com essa diminuição bastante signifi-cativa do aspecto financeiro das cam-panhas, identificar aquelas campanhas que sejam incompatíveis com aquilo que apresentaram com os recursos ar-recadados. Nos quase seis mil municí-pios que nós temos no país, nós temos o Ministério Público, temos os adver-sários dos partidos menores, temos os adversários que têm menos possibi-lidade financeira, e que poderão de-monstrar e fazer suas representações ou manifestações ao Ministério Públi-co indicando quais seriam os abusos que estão sendo perpetrados.

Principal alteração na legislação eleitoral é em relação ao financiamento; ministro do TSE diz que objetivo é ‘trazer candidato

mais natural e menos montado na forma de produto’

O eleitor tem que parar de reclamar e se assenhorar do processo eleitoral,

votar com consciência, expurgando do

processo político quem nos gastos

excessivos, propostas impossíveis, e depois vem aí manchando as

páginas policiais do nosso noticiário

3 PODERES | 9

PATRÍCIA FAHLBUSCH - DA REPORTAGEM

A prestação de contas dos candi-datos também será mais rigorosa?

A Justiça Eleitoral vem evoluindo a cada eleição na avaliação das pres-tações de contas. Nós também temos pedido auxílio a pessoas que têm expertise nessa área de financiamen-to, na área de publicidade, para nos auxiliar e assim podermos fazer uma apuração real dessas contas dos can-didatos.

Como será o limite de gastos de candidatos e de partidos políticos?

Isso foi contabilizado de acordo com cada município, com os gastos efetivados na última eleição. Em al-guns municípios, nos pequenos, can-didatos a vereador não terão mais que R$ 10 mil para fazer gastos. Os candi-datos necessariamente terão que bater à porta dos eleitores para trazer o con-vencimento corpo a corpo, olho no olho, que é isso que se pretende para a democracia que tem em si como ali-cerce a igualdade na oportunidade na disputa.

Quais são as outras alterações na legislação eleitoral previstas na reforma?

Tivemos uma diminuição de 45 para 35 dias da propaganda eleitoral no rádio e na TV. Teremos os candi-datos em menor tempo tendo que cau-sar uma boa impressão no eleitorado. A campanha eleitoral começa oficial-mente a partir do dia seguinte ao pedi-do de registro (16.08), essa campanha comum, da distribuição de panfletos, santinhos, aposição de cartazes, a campanha de rua. A campanha de rá-dio e TV se iniciará a partir do dia 26 de agosto. A eleição ocorre no primei-ro domingo de outubro, dia 2.

Quais foram as mudanças ocorri-das na propaganda eleitoral em mo-dalidades como materiais impressos, adesivos, cartazes, entre outros? 

Com relação aos limites de tama-nho da propaganda que se faz na rua, por exemplo, os adesivos a partir de agora terão tamanho reduzido. Adesi-

vos em carro, na lateral, poderão ser de no máximo de 50 por 40 centíme-tros, os cartazes de no máximo meio metro quadrado. Nos carros também só pode se fazer aquela adesivação da-quele micro perfurado no para-brisa traseiro, e também não poderá mais ter aqueles bonecos nas praças públi-cas, nas vias públicas, que tanto en-feavam, atrapalhavam a sinalização,

tiravam a atenção do motorista, e de-pois ficava aquele lixo enorme, mos-trando que tivemos ali um excesso de gastos. Estandartes em vias públicas, faixas, essas coisas todas foram veda-das. Também não se pode fazer propa-ganda em bens de uso comum, luga-res onde tenham comércio, cinemas, lugares onde as pessoas transitam de forma mais numerosa.

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ADMAR GONZAGA

ENTREVISTA

O que muda na propaganda eleitoral no rádio e TV, além da di-minuição do tempo de campanha? Os partidos terão, por exemplo, o mesmo tempo de publicidade nes-ses veículos de comunicação?

O maior ativo que os partidos têm é o tempo de propaganda eleitoral. É como eles vão conseguir se apresentar, no tempo, e isso é o maior ativo das campanhas. Nós não temos uma igual-dade de tempo de propaganda no rádio e TV para todos os partidos, há uma distribuição diferenciada, e isso ocorre porque nós temos no Brasil um espec-tro muito grande de partidos. Temos, só no Congresso Nacional, 28 partidos. Isso dificulta a produção legislativa. Temos um registro no TSE de 35 parti-dos. Será que todos esses partidos têm identificação política com o eleitor? En-tão, a diferenciação dessa identificação política dos partidos com o eleitorado é que dá a alguns partidos um tempo mais elevado, porque a ideia que se tem é que nosso sistema tenha cláusulas de contenção para solucionarmos esse nú-mero enorme de partidos que acabam

não servindo como fontes de tantas ideologias, porque não temos tantas ideologias assim. A campanha no rádio e na TV é de acordo com a bancada na Câmara, com aquilo que foi conquista-do, com a identificação do eleitor com os políticos.

Comícios, passeatas e carreatas serão permitidos?

É possível fazer caminhadas, passe-atas, acho que isso é até salutar, envol-ver a população na campanha política. Agora, os showmícios, eles, além de terem um custo muito alto, o que não é compatível com essas limitações, você acaba trazendo primeiro uma suspeita de que alguma coisa, algum financia-mento não esteja sendo identificado. Em segundo lugar, é um apelo que não tem conexão com a proposta política, você chamar um artista, um cantor, para uma campanha, tira do eleitor a possibilidade de ouvir as propostas, que é isso que tem que ser feito. Essa atração tem que ser feita de forma na-tural e não com essas pirotecnias. Já o comício pode e deve ser feito.

Foram determinadas regras para a propaganda eleitoral nas redes sociais?

Ocorre que nas redes sociais, nesses canais que nós temos aí de congregação de pessoas que se encontram depois de muito tempo, isso é como se nós esti-véssemos na sala da nossa casa. Porque você só entra na minha rede social se eu te autorizo. Então é um convite que eu faço para você entrar em um ambiente meu, ainda que seja virtual. Não há in-teresse na Justiça Eleitoral em proibir ou causar qualquer impedimento porque isso é uma liberdade de manifestação, isso pode ser feito de forma tranquila. O que não é permitida é a utilização de ferramentas para que estes canais, essas redes sociais, tenham uma aparência, tenham um privilégio de apresenta-ção na internet, como essas fan pages. Também não é possível em portais, ainda que de forma paga, a publicida-de. Então, na internet, o que nós vamos ter são os adversários se fiscalizando,

porque a norma impõe aqueles limites, e se houver algum tipo de agressão em rede social isso também poderá ser de-nunciado pelo usuário, por aquele que esteja dentro da rede social, para o Mi-nistério Público ou para os adversários, e aí a Justiça Federal fará o julgamento caso a caso.

As mudanças na legislação fo-ram feitas neste pleito para melhor adequação das normas para as elei-ções de 2018, quando haverá elei-ções estaduais e presidenciais?

Toda eleição é um teste. Nós sem-pre estamos evoluindo, evoluindo no nosso sistema impositivo de normas da legislação eleitoral, nos nossos contro-les quanto aos abusos e às prestações de contas. Esta eleição é significativa

A intenção é ter o candidato mais

natural, com propostas e não

pirotecnias de um super-homem

com mensagens espetaculares, acabar com apoio financeiro

exacerbado. O candidato terá que

capturar a atenção do eleitor com propostas e ser menos produto’

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PATRÍCIA FAHLBUSCH - DA REPORTAGEM

porque a redução de gastos deverá ser observada para ver onde o legislador ‘pesou a mão’. O que muitos dizem é que haveria que ter sido feito um limite de gastos para as pessoas jurídicas, para que nós não tivéssemos aquelas contri-buições de mais de R$ 100 milhões, por-que aí nós começamos a ver o interesse implícito e muitas vezes sem saber de onde vieram esses recursos, se vieram até mesmo de bancos de fomento, essas coisas assim. De fato, esta eleição será peculiar e realmente um experimento para a próxima geral, eleição federal.

Em casos de irregularidades nas campanhas, como os eleito-res, por exemplo, devem proceder para fazer denúncias?

É muito importante que o eleitora-do repudie aquelas práticas abusivas, e principalmente a corrupção eleitoral, a tentativa de corromper o eleitor com algum tipo de benefício para angariar o voto. É isso que tem maculado nos-so sistema político, porque as pessoas que têm esse tipo de conduta na elei-ção o que não farão depois no coman-do do dinheiro público? O eleitor tem que denunciar ao Ministério Público, tem que falar com os adversários, com o adversário de seu candidato preferi-do, para que ele tome providências. O

eleitor tem que parar um pouco de ficar reclamando e se assenhorar do proces-so eleitoral e votar com consciência. Fa-zer um voto consciente e expurgar do processo político esses que insistem em fazer gastos excessivos, propostas im-possíveis, e depois vêm aí manchando as páginas policiais do nosso noticiário.

Com as mudanças na legislação eleitoral, como o senhor espera que seja o pleito?

O candidato pode apresentar pro-postas, pode fazer críticas desde que de forma elegante aos seus adversá-rios, pode ser uma crítica contunden-te, mas desde que seja feita sem agres-sões, sem xingamentos, porque senão é possível dar-se o direito de resposta. A liberdade de manifestação de pen-samento se confronta também com o direito à justa resposta. E são dois princípios, dois direitos, de ordem constitucional. Então, nesse confronto dos direitos, temos aí uma necessida-de de um comportamento adequado dos candidatos, e também os eleitores que identificarem aqueles candidatos mais agressivos, geralmente causam uma certa repulsa no eleitorado. Essa agressividade é sempre um fator de afastamento do interesse do eleitor em votar naquele candidato.

Financiamento - Pessoas jurídicas estão proibidas de dar contribuições. Só podem contribuir: o próprio candidato, recursos do fundo partidário, e financiadores que sejam pessoas físicas.

Início da campanha eleitoral - A partir de 16 de agosto, distribuição de santinhos, panfletos, aposição de cartazes.

Propaganda eleitoral no rádio e na TV - Início em 26 de agosto. Diminuição de 45 para 35 dias.

Proibidos - Bonecos, estandartes, galhardetes e faixas em praças e vias públicas, além de showmícios.

Redes sociais - Proibida a utilização dos canais que tenham privilégio de apresentação na internet, como fanpages. Também não é possível publicidade em portais, ainda que de forma paga.

Denúncias de irregularidades - Ministério Público de cada região.

Eleições - 2 de outubro.

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES DA REFORMA ELEITORAL:

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BASTIDORES DA REPÚBLICAEXECUTIVO | LEGISLATIVO | JUDICIÁRIO

SECA NA AMAZÔNIA

ECONOMIA BRASILEIRA

TORTURA E JURISPRUDÊNCIA

TRABALHO INFANTIL

AUDIÊNCIAS DE CUSTÓDIA

DIFERENTES TIPOS

Por João Pedro Marques

O ano de 2016 deverá ser muito mais seco do que os anos de 2005 e 2010, períodos de seca severa na Amazônia. A conclusão é dos pes-quisadores da agência espacial americana, Nasa (National Aeronau-tics and Space Administration). O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), que vem monitorando a distribuição das chuvas no Brasil, mostra que nos últimos dois anos tivemos chuvas muito abaixo das normais climatológicas em quase todo os estados, em especial na região amazônica. O agravamento da falta de chuva é provocado pelo El Niño (anomalia climática que causa o aquecimento das águas da superfície do oceano Pacífico). Com isso, a Amazônia está com me-nos umidade e as árvores se tornam mais vulneráveis às queimadas, que deverão bater recorde nos próximos meses.

O ministro da Fazenda, Henri-que Meirelles, prevê que a eco-nomia brasileira deve crescer 2,5% em 2018, com tendência de avançar ainda mais. Segun-do ele, o governo trabalha em reformas estruturais para que o Produto Interno Bruto (PIB) do país volte a crescer a taxas anuais de 4% ao ano. “O fato de estarmos crescendo numa recuperação de 1,6% ano que vem e 2,5% no ano seguinte não quer dizer que vai passar por aí. A tendência histórica do potencial do Brasil é ter taxas substancialmente maiores. E vamos trabalhar para fazer as reformas fundamentais para que o Brasil volte a ter taxas de crescimento ao redor de 4% ao ano, em média, como já teve no passado”, disse Meirelles. Segundo Meirelles, o governo trabalha para manter no Brasil um ambiente macroeconômico estável e em reduzir o tamanho do Estado, priorizando o aumento da eficiência com concessões na área de infraestrutura e privatizações.

Uma ampla pesquisa a respeito da jurisprudência sobre tortura, o per-fil das vítimas e dos agressores no Brasil, produzida por cinco ONGs, foi debatida no “2º Seminário sobre Tortura e Violência no Sistema Prisional e no Sistema de Cumpri-mento de Medidas Socioeducativas – Atuação do Poder Judiciário no Enfrentamento à Tortura”, organi-zado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A pesquisa mostra como a tortura é julgada no Brasil, por meio da análise de 455 acór-dãos proferidos pelos Tribunais de Justiça (TJs) no período de 2005 a 2010. O relatório, intitulado “Jul-gando a tortura: análise da juris-prudência nos Tribunais de Justiça do Brasil (2005-2010)”, foi apresen-tado no início do ano pelas ONGs.

Uma nova ferramenta para smartphones deve facilitar a realização de denúncias de violações cometidas contra os direitos da criança e do adolescente no estado de Mato Grosso. O aplicativo, chamado “SOS Infância”, foi lançado pelo Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (Fepeti-MT), que tem dentre os parceiros o Tribunal Regional do Trabalho de Mato Grosso (TRT-MT). O aplicativo está disponível para usuários de dispositivos móveis tanto da tecnologia Android, quanto IOS, e possibilita, a qualquer cida-dão, denunciar violações de direitos à criança e ao adoles-cente, como trabalho infantil, violências física, sexual e psicológica, tortura, abandono e tráfico de crianças, entre outros. A tecnologia permite que o denunciante ofereça detalhes do ocorrido, inclusive envie fotos da violência praticada.

Juízes dos Tribunais de Justiça discutiram estratégias para apri-morar a realização das audiên-cias de custódia, principalmente no que diz respeito à prevenção, identificação e encaminha-mento de situações de tortura e maus-tratos. Editada em dezembro do ano passado, a Resolução n. 213/2015 do CNJ traz diversos protocolos a serem seguidos na realização das audiências, mas nem todos os tribunais conseguiram até o momento implementar todas as medidas previstas. “Acredita-mos que a audiência de custódia é uma das ferramentas mais va-liosas implantadas no país para prevenir a violência policial”, afirmou Silvia Dias, delegada no Brasil da Associação para a Prevenção da Tortura. “Apresentar a pessoa que acabou de ser presa perante uma autoridade judicial por si só já tem um aspecto dissu-asivo, mas, para que a gente tenha esse impacto de preven-ção, precisamos que algumas condições sejam efetivamente implementadas”, explicou.

Em relação aos acusados de crimes de tortura, o relatório mostra que agentes públicos representaram 61% dos casos. O relatório classifica diferentes finalidades da tortura, como castigar, obter confissão ou informação, intimidação ou ainda os casos em que o crime ocorre sem razão justificadora aparente. De acordo com a análise apresenta-da no relatório, quando a tortura é utilizada como forma de castigo, aparecem como autores dessa violência, primordialmente, os agentes privados (61%). No entanto, quando a tortura é utilizada como meio de obtenção de confissão ou informação, aparecem como autores, na maioria dos casos, os agentes públicos (65,6%).

A nossa realidade fiscal indica um perfil de muitas

dificuldades. A ideia que nos orientou foi trazer o realismo à elaboração do orçamento.

É uma administração pública não baseada no mérito, mas na sinecura, na

difusão de que o que importa é ser malandro. O lulopetismo deixa como legado a esperteza,

a malandragem. O país não quer mais isso.

- O Sistema de Auditoria Interna (Siaudi) desenvolvido e utilizado pela Companhia Nacional de Abas-tecimento (Conab) foi incorporado ao Portal do Software Público Brasilei-ro, do Ministério do Planejamento, e já está disponível para download a qualquer interessado.

- Todas as instituições da administra-ção pública poderão utilizar a fer-ramenta de suporte às atividades de auditoria. Na cerimônia de lançamen-to do sistema no Portal do Software Público Brasileiro, no início de setem-bro, o ministro interino da Agricultu-ra, Pecuária e Abastecimento, Eumar Novacki, destacou que iniciativas como essas devem ser incentivadas na administração pública brasileira.

- A criação de um plano nacional para discutir a resistência aos antimicro-bianos em animais, até maio de 2017, é uma das questões relevantes que vêm sendo tratadas pelo Ministério da Agricultura. Técnicos da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) debateram o tema com representantes do setor. As entidades pediram que o Mapa avance na elaboração do Plano de Ação Nacio-nal, de forma integrada e multisseto-rial, alinhado com as recomendações dos organismos internacionais.

- O Congresso Nacional aprovou recentemente três projetos de lei com créditos suplementares ao orçamento de 2016, além do PLN 3/16, que modi-fica a lei orçamentária para ampliar o número de cargos e funções comissio-nadas que poderão ser providos este ano pela Justiça Eleitoral.

- A Lei 13.150/15 criou 6.412 cargos e funções nos tribunais regionais eleito-rais do país. O PLN 3 viabiliza a con-tratação de metade (3.206) este ano. O orçamento em vigor só traz autorização para provimento de 161 cargos.

CURTAS DITO & FEITO

Do senador Wellington Fagundes (PR-MT), relator do Orçamento Geral da União.

Do jurista Miguel Reale Júnior, um dos autores do pedido de impeachment da presidenta afastada Dilma Rousseff.”

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O POLÊMICOGOVERNO TEMERO impeachment de Dilma Rousseff e a consequente ascensão de Temer à Presidência da República expuseram feridas abertas já há muito tempo na política brasileira

NOVO GOVERNO

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LUCAS LYRA - DA REPORTAGEM

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A desvalorização do real perante as maiores economias do mundo

foi travada, a projeção de inflação e juros para 2017 vem

constantemente melhorando e a confiança do comércio também já

mostra sinais de avanço

Michel Temer é o presidente da República. Polêmico, mas aparentemente definitivo. Ao menos até as análises das ações movidas ante o Supremo Tribunal Federal (STF), com todas as polêmicas e conturbações no processo, Michel Temer é o

presidente. Por trás da guerra de bastidores que em muitos momentos chegou a envergonhar o país, inclusive perante diversos órgãos internacionais de imprensa, o que esperar do experiente cacique paulista do PMDB à frente do Palácio do Planalto?

“Expectativa Temer”Até mesmo antes de tomar posse na Presidência da República, o

núcleo duro de apoio a Michel Temer já usava um bordão que pode significar a redenção do impopular sucessor de Dilma Rousseff, ou ainda, sua total ruína. Conforme acreditam os assessores mais próximos, a “expectativa Temer” guarda o sucesso ou fracasso do governo do PMDB.

Em uma reunião realizada ainda antes do afastamento da presidente petista pelo Senado Federal, Temer, quando confrontado por seus assessores sobre a importância de restaurar a confiança em sua atuação à frente do governo federal, revelou um plano ousado: dar uma resposta à sociedade em até 30 dias. O paulista queria mostrar claros sinais ao mercado financeiro e investidores internacionais de que seu governo conseguirá dar estabilidade ao Brasil.

É evidente que a meta de 30 dias não foi cumprida, mas a equipe do presidente conseguiu dar um novo ânimo

à economia brasileira. A desvalorização do real perante as maiores economias do mundo foi travada, a projeção de inflação e juros para 2017 vem constantemente melhorando e a confiança do comércio também já mostra sinais de avanço.

O desemprego, porém, ainda não mostra sinais de redução e, pior: segue avançando a galope. Alguns dados do IBGE, relativos ao mês de agosto, são preocupantes: desde novembro de 2014, o país “produziu” pouco mais de 5,3 milhões de desempregados – cerca de 11,6%

dos brasileiros. Em nível macroeconômico, porém, especialistas concordam que o caminho para a retomada

do crescimento em todos os âmbitos socioeconômicos passa primeiro pela estabilização do Produto Interno Bruto (PIB) e pela gradual redução de juros.

Entre a população brasileira, a posição de Temer não é fácil. Apesar de não ter alcançado as manchetes em escândalos de corrupção, mantém relações e alianças políticas no mínimo polêmicas, como são os casos de Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR) e de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Nesta expectativa, Temer possui um desafio ainda maior que todas as crises pelas quais o Brasil passa. Além de resolver o

problema da economia em um curto prazo, deve atuar no resgate não só da própria popularidade e legitimidade junto ao povo, mas também do Congresso Nacional, representado pelos presidentes de suas casas, os quais, ainda por cima, fazem parte da mais alta cúpula

de seu próprio partido.

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Empurrar com a barriga seria bom, dado o colapso (que se desenha) até 2018, mas não fazer nada não é empurrar com a barriga. Para chegar lá (em 2018) o Brasil terá de melhorar bastante”, disse o ex-presidente do Banco Central.

‘Dança das cadeiras’Temer claramente não buscou

popularidade ao indicar seus ministros. Também não optou por ser um paladino da ética, e selecionou seu círculo mais próximo com extrema astúcia política, buscando garantir influência sobre o Congresso através de acordos com os partidos em troca de cargos no primeiro escalão. Nenhuma novidade para a política, porém, em um momento em que existe um claro apelo em nome da ética e integridade moral na política, pode ser que tal manobra do presidente se volte contra ele.

Notadamente, não demorou para que a estratégia começasse a gerar problemas. Antes de completar um mês da posse de Temer, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado fechou acordo de delação premiada com a Justiça e implicou dois dos recém-empossados ministros em acusações de corrupção:

Romero Jucá e Fabiano Silveira, respectivamente, então ministros do Planejamento e da Transparência.

Por causa de tais depoimentos, ambos foram afastados da cúpula do governo federal. Fábio Medina Osório, ex-advogado-geral da União (AGU), também foi precocemente afastado do governo Michel Temer. Osório, porém, não ganhou as manchetes por escândalos de corrupção. A situação do magistrado se desgastou devido a três principais motivos. Na base aérea de Brasília da Força Aérea Brasileira, Osório tentou dar uma “carteirada” para ser levado até Curitiba pelos aviões militares. Após uma dura discussão com Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, que o endossou ao cargo perante Temer, Osório foi afastado da AGU no começo de agosto. A escolha do novo nome a frente da AGU é estratégico para Temer, já que a indicada foi Grace Mendonça, a primeira mulher do núcleo duro do governo do PMDB.

Outro forte motivo foi o desgaste sofrido pelo Governo Temer quando houve a tentativa de destituição da presidência da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), processo interrompido pelo ministro Dias Toffoli, do STF, além da sindicância

aberta por Osório para investigar seu antecessor, José Eduardo Cardozo, que muito o desgastou perante advogados e juízes de todo o país.

EconomiaPara um dos maiores desafios

de sua gestão, Temer chamou Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, que é visto como mais tradicional e ortodoxo que o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa, mais identificado com o “desenvolvimentismo econômico”. O novo titular da Fazenda defende menos intervenção estatal na economia e um país mais aberto ao comércio exterior.

Em termos de perfil profissional, Meirelles se aproxima do antecessor de Barbosa na pasta. Joaquim Levy, ministro da Fazenda no ano de 2015, inclusive, chegou a tecer diversos elogios públicos a Meirelles quando ainda fazia parte do primeiro escalão do governo petista.

Apesar das divergências internas, o governo Temer enviou ao Congresso Nacional, logo que assumiu a presidência, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa criar um teto para o avanço das

NOVO GOVERNO LUCAS LYRA - DA REPORTAGEM

‘Ponte para o Futuro’Ainda antes do acirramento da crise política, em outubro de 2015, o PMDB

lançou um documento com diretrizes para um país em crise econômica e institucional. O “Ponte para o futuro” causou polêmica ao ser publicado, uma vez que deixou claro as diferenças de opinião sobre a gestão do país entre Dilma e Temer. Muito focado na necessária recuperação econômica do país, o texto propõe mudanças importantes em diversos aspectos das organizações governamentais visando ao enxugamento das contas públicas. Alguns trechos chegaram a incendiar setores próximos ao PT, que historicamente apoiam o aparelhamento do Estado em prol das necessidades da população.

“Executar uma política de desenvolvimento centrada na iniciativa privada, por meio de transferências de ativos que se fizerem

necessárias, concessões amplas em todas as áreas de logística e infraestrutura, parcerias para complementar a oferta de

serviços públicos e retorno a regime anterior de concessões na área de petróleo, dando-se à Petrobras o direito de preferência”, diz parte do texto.

O conteúdo do texto propõe ainda outras medidas consideradas “intragáveis” para alguns setores políticos, como uma nova diretriz diplomática, com mais foco em transações com os Estados Unidos, Europa ou Ásia, em detrimento ao Mercosul ou ao BRICS, o exato oposto do que os governos petistas implantaram desde a eleição de Lula, em 2002. Para os opositores de Temer, a medida visaria “retomar medidas subservientes aos países do capitalismo central, atentando contra a soberania nacional”.

Entretanto, assim como agitou os opositores de Temer, também animou alguns entusiastas das mudanças e, é claro, seus aliados políticos. Armínio Fraga, presidente do Banco Central durante a segunda gestão de Fernando Henrique Cardoso à frente do Palácio do Planalto, se mostra otimista em relação aos planos de Temer para a economia. “Uma Ponte para o Futuro é um bom roteiro, mas precisa ser executado”, alertou Fraga.

Ainda segundo ele, o momento do país é ideal para uma mudança do modelo de desenvolvimento econômico brasileiro. “O modelo populista deu errado, quebrou. A hora de fazer mudanças é agora. O governo tem a obrigação de tentar passar a bola”, opina.

Contudo, o economista reconhece que o desafio de reerguer a economia deve ser grande, ainda mais se contextualizado com a crise institucional e política que atinge o país. “Num mundo isolado das questões políticas,

das outras crises que vivemos, seria essencial jogar no ataque e tentar corrigir os problemas. Mas

nesse ambiente complicado, com o país com mais de 30 partidos, vivendo essa tão importante operação

Lava Jato, é preciso jogar no ataque no sentido de definir objetivos para a política pública, se partir para a execução.

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Ainda antes do acirramento da crise política, em outubro

de 2015, o PMDB lançou um documento

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como Estados Unidos, Japão e Europa. Com a mensagem, o ministro deixa claro que quer ‘remover a ideologia’ da relação com os Estados Unidos, por exemplo, e se concentrar em economias mais dinâmicas, distantes

da política do ‘Sul-Sul’ aplicada pelos governos petistas.

Outro trecho polêmico do discurso de posse do ministro, mas que encontra seus apoiadores dentro da política brasileira, versa sobre a relação com países africanos. “Ao contrário do que se procurou difundir entre nós, a África moderna não pede compaixão, mas espera um efetivo

intercâmbio econômico, tecnológico e de investimentos. Essa é a estratégia Sul-Sul correta, não a que chegou a ser praticada com finalidades

publicitárias, escassos benefícios econômicos e grandes investimentos diplomáticos”, cutucou o novo ministro, se referindo a Lula, que abriu 17 novas embaixadas de países africanos no país, e a Dilma, que perdoou dívidas de vários países africanos durante sua gestão.

Futuro promissor ouherança maldita?

Ao menos sob os olhares das pesquisas de opinião, a história reserva um bom presságio ao presidente recém-empossado. Impedido pelo primeiro processo de impeachment da América Latina, Fernando Collor, eleito em 1990 como o ‘Caçador de marajás’, após uma acirrada disputa em segundo turno com Lula, teve 50,4% dos votos. Já Dilma Rousseff, a ‘Mãe do PAC’, se reelegeu em 2014 com apertados 51,6% dos votos contra Aécio Neves. Ao serem impedidos pelo Senado, Collor e Dilma, respectivamente, contavam com a aprovação de 9% e 13% da população. Na posse de seus vices, a paridade numérica persiste. Itamar Franco tinha a confiança de 18% dos brasileiros, enquanto o vice de Dilma contou com 16% de apoio popular quando assumiu o Palácio do Planalto.

Cabe a Temer fazer jus à comparação feita com Itamar. Além de emplacar seu sucessor à frente do governo federal, o vice de Collor conseguiu implantar o Plano Real, que estancou a inflação desenfreada que atacava o país após a redemocratização. Tendo conseguido tais feitos, a popularidade de Itamar pulou dos 18% de aprovação para 46% quando passou a faixa presidencial a Fernando Henrique Cardoso, em 1994.

Para tal, mesmo que Temer consiga se manter à frente do país e ainda ajude a construir soluções efetivas tanto para a crise política quanto para a econômica, o presidente ainda terá um grande desafio pela frente: conquistar a confiança do povo brasileiro.

despesas públicas, o que deve ser o mais polêmico ponto das mudanças propostas por Temer. O documento propõe que a alta dos gastos públicos em um ano não pode ser maior que a inflação do ano anterior. No anúncio da proposta, Meirelles declarou que todas as áreas seriam vinculadas a esse teto, inclusive, Saúde e Educação. Porém, observando a repercussão no meio político, Temer pode cortar as duas áreas do teto proposto para as despesas públicas.

Na viagem que fez à China no começo de setembro, o presidente reforçou a necessidade de estabelecer o teto. “A prioridade agora é aprovar o teto constitucional. Como diz o ministro Meirelles, desde a Constituição de 1988, é a primeira vez que se tem essa ousadia, ousadia no sentido positivo, que é para consertar e equilibrar as finanças brasileiras. O primeiro ponto é esse”, disse.

Caso aprovada pelo parlamento, o governo calcula que a medida geraria uma queda nas despesas públicas entre 1,5% e 2% do Produto Interno Bruto (PIB).

Outra mudança importante já anunciada é a contenção dos subsídios estatais. Basicamente, Temer pretende limitar o valor final utilizado em cada programa de subsídio pelo valor utilizado no ano anterior. O plano é que os beneficiários possam ser mudados pelo órgão responsável pelo subsídio, mas o valor não deverá passar do utilizado pelo mesmo programa no último ano. A medida, que ainda precisa tramitar no Congresso e ser regulamentada, economizaria até R$ 2 bilhões aos cofres públicos por ano.

Há também a política de privatizações, anunciada mais minuciosamente no fim de agosto. Na intenção de não aumentar impostos já em 2016, a equipe de Temer anunciou um pacote de R$ 40 bilhões em concessões,

que devem englobar usinas hidrelétricas, leilões de campos de petróleo do pré-sal, concessões de aeroportos, a privatização da Loteria da Caixa Econômica Federal, entre outros.

Guinada na política externaAs diretrizes da política externa já demonstradas

por Temer e seu ministro de Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP), são muito distintas daquelas adotadas desde que Lula assumiu o Palácio do Planalto em 2002. Serra já deixou bem claro que não pretende se limitar ao Mercosul ou ao BRICS, e deve buscar acordos comerciais com países fora destes eixos. A exceção é a China, parceira comercial de grande porte do Brasil. Temer já participou de duas reuniões do G20 (formado pelos países de maior economia do mundo) no país asiático.

Serra também já fez questão de mandar um recado bem claro a países sul-americanos que tradicionalmente apoiam os governos petistas. Logo em seu discurso de posse, Serra deu arrepios na espinha dos defensores de uma relação próxima com alguns países que flertam com regimes autoritários. Além disso, Venezuela, Equador, Cuba, Bolívia e Nicarágua questionam publicamente o afastamento de Dilma, tornando-os inimigos naturais do governo Temer. “Estaremos atentos à defesa da democracia, das liberdades e dos direitos humanos em qualquer país”, disse Serra em sua posse no Palácio do Itamaraty, referindo-se claramente a tais países.

No mesmo discurso, Serra aproveitou para esclarecer algumas diferenças essenciais entre a política externa petista e o projeto do novo governo. “Precisamos renovar o Mercosul, para corrigir o que precisa ser corrigido,

O titular da Fazenda, Henrique Meirelles, defende menos intervenção estatal na economia

e um país mais aberto ao comércio

exterior

Entre os brasileiros, a posição de Temer não é fácil. Apesar

de não ter alcançado as manchetes em

escândalos de corrupção, mantém relações e alianças políticas no mínimo

polêmicas

com a intenção de fortalecê-lo, e continuar a construir pontes, em vez de aprofundar diferenças, em relação à Aliança para o Pacífico, que envolve três países sul-americanos, Chile, Peru e Colômbia”, disse Serra.

O discurso vai ao encontro dos anseios de grande parte dos críticos da política externa dos governos petistas, que acreditam que o país estava alinhado com os países que menos cresceram nos últimos anos no continente, como Venezuela, Bolívia e Equador, enquanto se manteve afastado dos que mais cresceram economicamente, como Peru, Chile e Colômbia.

Serra também deixou claro que deseja mudar a posição do Brasil junto a países mais desenvolvidos,

“Ao contrário do que se procurou difundir entre nós, a África moderna não pede compaixão, mas espera um efetivo intercâmbio

econômico, tecnológico e de investimentos”, acredita o ministro dasRelações Exteriores, José Serra

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GOVERNO ESTÁ ENTRE A CRUZ E A ESPADA

É possível que quando esta edição estiver circulando o governo interino de Michel Temer (PMDB) tenha encon-

trado uma solução para o impasse que se instalou na última semana de julho. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e sua equipe econômica viviam a expectativa de retorno dos trabalhos no Congresso Nacional em relação à votação das

medidas de ajuste fiscal. Naquele instante uma ameaça velada, como que transferência para os ombros dos congressistas, a aprovação ou medidas mais amargas, como au-mento de impostos. Junto deles, a Contribuição Provisória sobre Movi-mentação Financeira (CPMF).

Em verdade, muito dificilmente não haverá reajuste de tributos. O go-verno interino assumiu e fez cortes no

osso, reduzindo ainda mais o núme-ro de ministérios, e sinalizando com uma série de cortes em programas sociais, na Educação, Saúde e outros setores. De outro lado, contraditoria-mente, tomou medidas que impacta-ram em mais gastos, como aumentos de salários para funcionalismo. Mas está na elevação da meta fiscal o cal-canhar de aquiles do governo interi-no. A meta aprovada pelo Congresso

Enquanto o ministro da Fazenda tenta aprovar medidas no Congresso para fazer o ajuste fiscal, não se afasta a possibilidade

de aumentar impostos pra equilibrar as contas

CRISE ECONÔMICA

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JOÃO NEGRÃO - DA EDITORIA

prevê um déficit de R$ 170,5 bilhões e já se fala em seu alcance para além dos R$ 180 bilhões. Para chegar lá, o próprio Meirelles aventou a possi-bilidade de “aumentos pontuais” de tributos. Contudo, nada indica no ho-rizonte que tais “aumentos pontuais” possam equilibrar as contas públicas num cenário como este. Daí a expec-tativa de que a abrangência dos au-mentos será mais ampla.

Meirelles espera que a proposta de emenda à Constituição que cria um teto para os gastos públicos seja aprovada e que a queda na arrecada-ção seja revertida nos próximos me-ses, para retomada do crescimento da economia. Ele estabeleceu um prazo. Seria até o dia 31 de agosto para que o Congresso Nacional se posicionasse. A partir de então, a área econômica analisaria o crescimento das receitas públicas, previsto para ocorrer neste ano e em 2017, e o possível ingres-so de recursos com privatizações, concessões e outorgas. “Vamos fazer a previsão e se necessário, sim, fare-mos aumentos pontuais, mas apenas se necessário, porque é possível que não seja necessário”, disse o ministro.

Até o fechamento desta edição, o governo ainda não havia definido quais seriam os setores atingidos pela eventual elevação de tributos. O certo é que a volta da CPMF está nos planos. O governo só aguarda o momento propício para colocá-la em pauta. Embora o interino Mi-chel Temer afirme resistir à volta da contribuição, seu ministro da Fazenda e o da Casa Civil, Eliseu Padilha, a advogam. E cresce a cada dia no governo esta compreensão. O que joga por terra os argumentos que antes, no governo Dilma, quan-do ela pretendia a volta da CPMF, seus opositores combatiam.

CrescimentoO presidente interino Michel Te-

mer fala em estímulo à volta do cres-cimento. E vê um bom horizonte. A projeção de retração do PIB passou de 3,8% para 3,3%, ainda no governo

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CRISE ECONÔMICA

Dilma, e a recessão em 2016, segun-do o Fundo Monetário Internacional (FMI) está prevista para ser menor, com o retorno ao crescimento em 2017. Mas as incertezas em torno da crise política – com a iminência da volta de Dilma Rousseff à Presidência – e a crise econômica mundial, com a possibilidade de um novo retrocesso nos Estados Unidos e na União Euro-peia, podem colocar tudo a perder.

Mas o problema maior do interino é justamente a interinidade. Na ava-liação de seus ministros da chama-da “cozinha do Planalto”, o núcleo político composto pelos ministros que o presidente ouve diariamente, como Padilha e Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo e respon-sável pela articulação política, Te-mer só poderá avançar em suas pre-tensões depois da votação definitiva do impeachment de Dilma Rousseff. O que não é favas contadas, já que há grande possibilidade de a petista conseguir os votos necessários para reverter a votação no Senado a seu favor. De outro lado, o movimento Fora Temer tem crescido à medida que a popularidade do peemedebis-ta tem despencado.

Assim, mesmo com o forte apoio que detém do empresariado e o mer-cado financeiro, que não quer nem sonhar com a volta de Dilma, Temer possui pouca margem de manobra para fazer mudanças bruscas na eco-nomia. Daí o que explica a lentidão de suas medidas econômicas.

Inflação e crise mundialOutra ameaça às pretensões eco-

nômicas do governo interino é a infla-ção, que, desde que assumiu Temer, vem se tornando galopante. O salto no preço dos alimentos, por exemplo, tem sido muito grande. E isto ocorre mesmo com a manutenção da taxa Selic de juros em 14,5%, o que pode fazer o Banco Central interromper de ciclo e iniciar um novo, de alta. A inflação oficial, medida em julho, mostra o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15),

principal medidor da inflação, em 8,93% no acumulado do ano. Isto o oficial, porque na prática o con-sumidor vê os preços explodirem nas gôndolas dos supermercados. Do leite ao feijão, há aumentos que beiram os 100%.

Em outra vertente, o que pode-rá atrapalhar os planos do governo, em curto e médio prazos, é a crise mundial, novamente com o epi-centro nos Estados Unidos. Para o economista Ricardo Amorim, o cenário externo é um grande em-pecilho para a recuperação econô-mica do Brasil nos próximos anos. Segundo ele, uma nova bolha está prestes a estourar. “Eu acho que o risco de estouro dessa bolha nos Estados Unidos aumentou brutal-mente. E quando ela estourar, a chance de jogar a economia mun-dial em uma nova crise financeira é enorme”, afirmou. Ele é um crí-tico moderado do governo Temer e também prega a necessidade de ajuste nas contas públicas para o Brasil continuar crescendo.

Reforma trabalhistaNo pacote de medidas que pre-

tende implantar, o governo interino trabalha com a proposta de reforma trabalhista. Segundo o ministro do Trabalho e Previdência Social, Ro-naldo Nogueira, a medida vai valo-rizar a negociação coletiva e tratar de assuntos como salário e jornada de trabalho. Para as centrais sindi-cais, no entanto, a proposta vai pre-judicar profundamente os trabalha-dores e fazer o Brasil regredir séculos em termos de relações de trabalho. Junto com a medida, o governo Temer quer também regulamentar a terceiri-zação, outra proposta muito criticada pelos sindicalistas, segundo os quais, irá precarizar as relações trabalhistas.

O governo usa um argumento que parece não convencer os trabalhado-res, o de que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) “virou uma colcha de retalhos que permite interpreta-ções subjetivas”. “A CLT será atuali-

zada com o objetivo de simplificar, para que a interpretação seja a mesma para o trabalhador, o empregador e o juiz. Direitos não serão revogados”, se referindo ao não parcelamento de férias e 13º salário.

Quanto à terceirização, Noguei-ra disse que quer abrir o debate so-bre o que foi aprovado até agora no Congresso Nacional. “Vamos trazer o trabalhador, o empregador e espe-cialistas da área para aprimorar as propostas da terceirização em busca de um consenso. Essa discussão de atividade-fim e atividade-meio é irre-

JOÃO NEGRÃO - DA EDITORIA

levante neste momento”, afirmou.Para os sindicalistas, o objetivo

do governo interino “é o de destruir a legislação trabalhista, jogando o peso da crise econômica nas costas dos as-salariados com carteira assinada”. O jornalista Altamiro Borges, experien-te estudioso do mundo sindical e do trabalho, lembra que o documento “Uma Ponte para o Futuro”, lançado por Michel Temer e seu partido, o PMDB, “já deixou explícito este pro-pósito”. “O texto defende, de forma marota, o fim das leis trabalhistas. Prega ‘a prevalência do negociado so-

bre o legislado’. Ou seja: de nada vale o que está fixado na CLT, como férias, 13º salário e outros direitos. Passa a valer o que for negociado diretamen-te entre patrões e empregados. Em tempos de crise, com a explosão do desemprego, será a típica negociação da forca com o enforcado”, compara.

Para o presidente da Central Úni-ca dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, a proposta do ministro do Trabalho é um “atentado” à CLT. “Uma hora de almoço pode ser trans-formada em apenas meia hora. O 13º salário pode deixar de ser pago em

determinado ano sob alegação de di-ficuldades financeiras. E por aí vai. Com o tempo, os direitos trabalhistas vão acabar. A carteira de trabalho vai ser peça de museu”, afirma.

Entre os magistrados também há críticas à proposta do governo inte-rino. “Esse projeto é gravíssimo. Em momentos de crise, como este que vivemos e que ainda deve durar bas-tante tempo, os trabalhadores têm menor poder de barganha, e as em-presas vão fazer chantagem, coação econômica”, explica Hugo Cavalcanti Melo Filho, presidente da Associação Latino-Americana de Juízes do Tra-balho. Ele também refuta a afirmação do ministro do Trabalho de que os princípios constitucionais não serão desrespeitados. Pura retórica, explica o juiz Hugo. “É fácil dizer isso, por-que a Constituição só aponta princí-pios, ela não regulamenta os direitos e a proteção ao cidadão. Isso quem faz são as leis específicas”, afirma. “Se você torna a negociação entre as partes um instrumento mais forte que as leis, a Constituição não tem valor prático”, diz.

Votação ainda em 2016Apesar de todas as críticas, o

presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defende a aprova-ção ainda neste ano da proposta que permita que negociações entre em-pregados e empregadores se sobre-ponham à CLT. O tema já está sen-do debatido nas comissões da Casa. Para Maia, a medida representará um “grande avanço” para o Brasil na geração de emprego, assim como a aprovação pelo Senado de um pro-jeto que libera a terceirização para todos os setores. “Se a gente avançar na terceirização no Senado e tratar o negociado sobre o legislado, você já fez muito num tema muito polê-mico. Acho que, nesse curto prazo, isso já seria um grande avanço para o Brasil, para que as empresas pu-dessem voltar a gerar emprego no Brasil, seria uma boa colaboração do Legislativo brasileiro”, afirmou.

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PARA SE ESTABELECER, TEMER PRECISA ARREGAÇAR AS MANGAS

U ma semana antes do fecha-mento desta edição estava marcada a sessão do Senado Federal para o julgamento

final do impeachment da presiden-te afastada Dilma Rousseff. Estava praticamente certo que a cassação aconteceria e mesmo a ida da petista pessoalmente para fazer sua defesa não indicava que o placar seria re-vertido. Diante de tal situação, dois cientistas políticos analisa o quadro atual da dinâmica política.

Para Enrico Ribeiro, da Queiroz Assessoria Parlamentar, o governo de Michel Temer vai precisar es-tabelecer uma política econômica uniforme de reconquista, confiança e investimento, principalmente no setor produtivo, um dos mais afeta-dos com a crise econômica. “O atual governo precisa mostrar segurança e criar confiança, mostrando projetos concretos para retomada do cresci-mento econômico. Como qualquer retomada de crescimento não tem efeito imediato, olhar só os índices

econômicos não ajudará a entender o processo”, explica.

O analista vislumbra chances mínimas na realização de uma nova eleição, e acredita que a proposta feita por Dilma Rousseff pode levar o país a ficar sob a governança de um governo extremista. “Do ponto de vista social, há uma pequena chance de uma nova eleição ajudar a reequi-librar as forças políticas. Acredito que uma eleição em períodos con-turbados pode levar a uma maior polarização política, possibilitando que setores extremistas cheguem ao poder. Além do mais, a questão jurí-dica de uma nova eleição precisaria ser avaliada, uma vez que estamos em um sistema presidencialista, que não prevê novas eleições nesse caso”, enfatiza.

De acordo com o sociólogo Mar-cello Cavalcanti Barra, o modelo de gestão do presidente interino não demonstra distinções ao governo de Dilma, e que as medidas impopulares engajadas por Temer deram sustenta-

Especialistas analisam o novo cenário político, sem o governo do PT e com a efetivação do interino Michel Temer, e a proposta de novas eleições

DIA SEGUINTE ANGELO GUILHERME - DA REPORTAGEM

ção para Dilma acreditar na reversão da situação. “As inúmeras revelações sobre o governo Temer, com muitos ministros envolvidos na corrupção desfraldada pela Operação Lava Jato, além de diversas medidas impopula-res, continuando-se com as políticas chamadas de ajuste fiscal, mostram que se trata de um governo que per-manece com as mesmas crises do go-verno Dilma”, pondera.

O sociólogo acredita que uma nova corrida eleitoral possa aconte-cer devido à população não ter mais confiança em ambos os governos,

mas chama atenção para a suficiên-cia e garantias que um novo governo posso acarretar para o país. “Como não há mais confiança na política do país para com seus e suas go-vernantes, as eleições renovariam a possibilidade de confiança popular na classe política. Eleições gerais são necessárias, mas não são suficientes. Por quê? Porque as regras de novas eleições seriam dentro das mesmas regras gerais já estabelecidas na Constituição”, afirma.

Ainda segundo Marcelo, um novo governo precisa ter como tema central um novo processo de constituinte no Brasil para cum-primento eficaz das normas e re-gras. “Um governo que convoque um novo processo constituinte no Brasil, para que as normas e regras sejam transformadas no país. Para tanto, é necessário que o governo chame uma Constituinte exclusiva, ou seja, onde constituintes eleitos e eleitas atuarão exclusivamente no processo de Assembleia Popular Constituinte, que se finda quando a Constituição é finalizada, sem pos-sibilidade de reeleição”, finaliza.

Uma eleição em períodos

conturbados pode levar a uma maior

polarização política, possibilitando que

setores extremistas cheguem ao poder

Sociólogo Marcello Cavalcanti Barra

Enrico Ribeiro, da Queiroz Assessoria Parlamentar

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Com a complicada situação política, inúmeras ‘soluções’ são ventiladas no meio político. Existe alguma saída em curto

prazo para a crise?

NOVAS ELEIÇÕES

Desde a conturbada (e apertada) vitória de Dil-ma Rousseff (PT) sobre Aécio Neves (PSDB) nas

eleições presidenciais de 2014, o ce-nário da política brasileira vem se deteriorando bastante, e levando a si-tuação econômica, institucional e até social do país a patamares alarmantes.

Se antes do afastamento de Dilma da Presidência a situação já era confu-sa, depois, tornou-se caótica. Denún-cias de interferência entre os três Po-deres, a queda sumária de alguns dos maiores medalhões da política nacio-nal e a polêmica acerca da ascensão de Temer à Presidência repercutem no cenário político como uma bomba. Existe alguma solução que acalmaria os ânimos em ambos os lados da gan-gorra política brasileira e afastaria o fantasma da crise da população?

Consulta à populaçãoGrupos parlamentares articularam

uma tentativa de seduzir alguns sena-dores para que votassem contra a saí-da definitiva de Dilma, que, ao voltar à Presidência, conduziria um plebis-cito sobre a antecipação das eleições.

Uma consulta popular poderia

ter atraído os votos de senadores in-decisos, que não desejavam a volta de Dilma, mas que também não es-tavam satisfeitos com Michel Temer na Presidência. Apesar de Dilma ter acenado positivamente para a propos-ta, a ideia encontrou divergências na base social petista. Enquanto o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, se mostrava favorável à consulta po-pular, os líderes do Movimento Sem Terra (MST) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), respectivamen-te, João Pedro Stédile e Vagner Frei-tas, não se uniram à luta pelo plebisci-to. Até o próprio PT, simbolizado por seu presidente, Rui Falcão, chegou a demonstrar insatisfação com a possi-bilidade para a imprensa.

Um entrave, talvez até maior do que o político, seria a própria Cons-tituição brasileira. Alguns especia-listas afirmam que a manobra seria irregular, pois a Carta Magna define que eleições presidenciais diretas só podem ser antecipadas em caso de os cargos de presidente e vice ficarem vagos antes da metade do mandato (no caso, ao fim de 2016).

Para esses especialistas, somen-

te duas opções seriam viáveis para a ideia. Após a queda de Dilma, ou Te-mer renuncia, ou somente uma anu-lação de toda a chapa Dilma-Temer pelo TSE, ainda em 2016, teria lastro legal para abrir o caminho para novas eleições. Movimentos sociais pedem ainda um plebiscito sobre novas elei-ções para todos os cargos, mas a pro-posta esbarra na mesma questão da antecipação da eleição somente para presidente. Os políticos (parlamenta-res, governadores, além, é claro, de Michel Temer) têm que renunciar a seus cargos para que a proposta seja juridicamente viável.

Cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE

Uma das opções ventiladas há mais tempo seria a cassação da cha-pa formada em 2014 por Dilma e Te-mer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O maior entrave para essa saí-

NOVAS ELEIÇÕES?NOVA CONSTITUINTE? PLEBISCITO? QUAL A SAÍDA PARA O BRASIL?

LUCAS LYRA - DA REPORTAGEM

Depois do choque do afastamento de Dilma, a esquerda

busca consenso para encontrar uma solução

para a crise no país. Algumas forças políticas defendem a convocação de um plebiscito sobre

a formação de uma Constituinte exclusiva para uma reforma do

sistema político

da é o curto prazo para que aconteça: para que novas eleições presidenciais sejam convocadas, a cassação deve ocorrer até dois anos do início do mandato. Logo, se a decisão sair so-mente em 2017 ou 2018, o presidente brasileiro será escolhido pelo Con-gresso Nacional.

O PSDB já homologou quatro pe-didos de cassação da chapa presiden-cial no TSE. Nos documentos, o par-tido aponta supostas irregularidades no uso da máquina pública em prol da campanha. Dentre os argumentos enumerados nas ações, o PSDB indica que a campanha presidencial teria se beneficiado de dinheiro ilícito prove-niente dos casos de corrupção na Pe-trobras investigados pela Lava Jato, a distribuição irregular de quase cinco milhões de panfletos eleitorais pelos Correios, participação indevida de ministros na campanha, entre outros.

“Certamente haverá comparti-

lhamento de provas, muitas das dis-cussões estão ligadas à Lava Jato. Se se concluir neste semestre, melhor. Porque esse processo também traz instabilidade política. O eventual desfecho desse processo no sentido da sua aceitação significa a cassação dos mandatos e a realização de elei-ções”, disse o ministro Gilmar Men-des, presidente do TSE.

Entretanto, Mendes admitiu que ainda não existem elementos sufi-cientes para a conclusão do proces-so. “A gente não sabe se as provas existem. Se diz que elas existem e elas podem ser carreadas aos autos da ação de impugnação de manda-to e, claro, contrastadas com outros elementos”, disse.

Resta observar se o PSDB irá manter a mesma postura contra a chapa vencedora em 2014, uma vez que mantém relações políticas dura-douras com Michel e com o PMDB.

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Aos 16 anos de idade Cosete Ramos chegou a Brasília, antes de a cidade ser a capital do

país. O ano, 1960, o mês, fevereiro. O pai dela, na época deputado federal, Rui Ramos, do PTB do Rio Grande do Sul, se uniu a outros parlamentares, no Rio de Janeiro, no movimento ‘Grupo Mudancista’, para transferir a capital federal para cá. E em abril daquele ano ela presenciou a história começar. Também foi aqui que Cosete, hoje com 75 anos, construiu a própria trajetória de dedicação a um dos pilares da sociedade, a educação. A gaúcha de Alegrete foi a primeira líder estudantil de Brasília e seu pioneirismo lhe rendeu a indicação para receber da Câmara Legislativa do Distrito Federal o título de cidadã honorária de Brasília.

“Meu coração explode de emoção”, diz a última frase do discurso que ela preparou para receber o título. “Com muita satisfação recebi essa homenagem, pois eu sou uma mulher apaixonada pela vida e por Brasília. As minhas raízes estão no Alegrete, porque você nunca deixa de estar com os pés enterrados nas suas raízes, mas eu

me apaixonei pelo barro vermelho do cerrado”, declarou Cosete.

Cosete diz que, quando adolescente, se lembra da mãe, professora de Geografia, falar da importância de Brasília para o país e para a integração nacional. Ela conta com orgulho de como foi o dia da inauguração da capital, em 21 de abril de 1960: “Eu vi o presidente Juscelino Kubitschek, debaixo de chuva, em um Fusca, chegar ao Palácio do Planalto e os candangos correrem todos para abraçá-lo. Eram várias caravanas vindas de toda parte do Brasil e se encontraram em Brasília. Assistimos ao show das três capitais, a um concerto, foi uma emoção total, estavam todos felizes com aquele momento histórico. Na primeira fileira estava o presidente da República, atrás dele sentamos eu, meu pai e minha mãe. Para mim foi especial também o baile, pois eu usei

um belo vestido e o primeiro sapato com saltinho alto”, recorda.

Educação e políticaO ‘binômio’ educação/política

fazia parte da vida de Cosete desde o nascimento dela. O ex-presidente da República Getúlio Vargas chegou a ficar hospedado na casa da família dela, em Alegrete. Foi ele que iniciou Rui Ramos na política. Com muito orgulho, ela fala sobre o pai: “Ele era um nacionalista ferrenho, repleto de ideias, e que lutava pelo desenvolvimento do Brasil e pela igualdade dos povos”. Mas foi na Educação que Cosete encontrou sua vocação, mais precisamente como aluna da escola Caseb, na Asa Sul.

“Era uma escola extraordinária, com 360 alunos e 60 professores da melhor qualidade, selecionados no Brasil inteiro em um concurso nacional. A Caseb foi erguida em

HISTÓRIA PATRÍCIA FAHLBUSCH - DA REPORTAGEM

A JOVEM QUE FEZ O PRESIDENTE JK CHORARDoutora em Educação e primeira líder estudantil da capital federal, Cosete Ramos relembra parte de sua história, que se confunde com a de Brasília

Eu vi o presidente Juscelino Kubitschek, debaixo de chuva, em um Fusca, chegar ao Palácio do Planalto e os candangos correrem todos para abraçá-lo. Eram

várias caravanas vindas de toda parte do Brasil e se encontraram em Brasília

“ “

dois meses, porque, quando o presidente JK chegou ao local onde estava sendo construído o centro de ensino médio de Brasília, que veio a se chamar Elefante Branco, e viu aquele prédio só no alicerce, ele declarou: ‘Isso aqui é um elefante branco, não vai ficar pronto até a inauguração de Brasília e sem escola eu não inauguro a cidade’”, contou ela sobre o surgimento da Caseb.

Em 19 de maio de 1960 Juscelino chegou a Caseb para a aula inaugural da instituição de ensino. Momento de muita emoção para os alunos. Cosete diz que os 360 estudantes correram para abraçar o presidente da República, que retribuía com sorrisos.

“Para JK os jovens eram o futuro, ele via na gente o futuro do Brasil. A aula que ele deu foi esplendorosa. Foi um momento eletrizante, a gente sentia o magnetismo no ar”, lembra Cosete.

Um mês depois da inauguração, ela teve a ideia de criar o Grêmio Estudantil JK da Caseb. Duas chapas foram formadas, uma encabeçada por Cosete, que teve que ir de sala em sala e fazer corpo a corpo com os ‘alunos-eleitores’. No pleito, a chapa dela saiu vencedora, e Cosete se tornou a primeira líder estudantil de Brasília eleita por votação direta.

“Nós queríamos instituir a política estudantil na escola, chegamos até a criar um código de ética, de valores para nortear os alunos. O objetivo principal do grêmio era transformar a Caseb na melhor instituição de ensino do Brasil, e para isso trabalhamos junto com os professores por uma educação moderna, democrática, transparente, que primasse pelo estudo e o papel da juventude nesse desenvolvimento nacional. Nós éramos tão engajados com essa causa e com a política que, na época, não havia ônibus, então os alunos pegavam carona em tratores até o Congresso para poder assistir aos discursos dos deputados”, recorda, com orgulho.

Nós queríamos instituir a política estudantil na escola, chegamos até a criar um código de ética, de valores

para nortear os alunos. O objetivo principal do grêmio era transformar a Caseb na melhor instituição de

ensino do Brasil, e para isso trabalhamos junto com os professores por uma educação moderna, democrática, transparente, que primasse pelo estudo e o papel da

juventude nesse desenvolvimento nacional

O dia que JK chorou“A data era 15 de dezembro de

1960, ele ia deixar de ser presidente da República em 15 dias. Então eu perguntei no artigo: por que ele chorou? Por que ele via na frente dele nove mulheres professoras, iguais à mãe dele, dona Julia, por quem ele tinha profunda admiração? Por que ele via nas nove normalistas diante dele o futuro do Brasil? Chorou por que ainda faltava o que fazer pelo país? Por que queria ficar mais tempo

para terminar o que ele não pôde terminar, e se sentia preso à vontade de querer continuar?”, questionou Cosete no texto.

A normalista de 17 anos da Caseb via o presidente do Brasil chorar enquanto ela discursava, e também não conteve a emoção, tampouco as lágrimas. Ela falou sobre a mãe de JK, e que o Brasil nunca tinha sido tão unido em torno de um presidente. Quando terminou, foi abraçada por Juscelino, que tirou do bolso do paletó

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HISTÓRIA PATRÍCIA FAHLBUSCH - DA REPORTAGEM

o discurso que havia preparado para aquele momento e mostrou a ela, mas que não foi usado. O presidente fez um discurso de improviso, destacando cada ponto do discurso da oradora. No livro de registro da Caseb, JK imortalizou o que Cosete entendeu como um dos seus maiores objetivos, escrevendo: ‘Depois do discurso da oradora da turma, Cosete Ramos, vejo, agora, mais tranquilo, o destino da educação no Planalto’.

“Como é que pode uma menina de 17 anos receber um legado destes? Mas eu recebi, e procurei carregar pela vida inteira com a maior honra. Eu entendi que ele

queria que eu estudasse cada vez mais, e foi o que fiz”, afirmou.

Formada normalista, Cosete, então, escolheu lecionar na recém-inaugurada, e ainda de madeira, Escola de Aplicação do Curso Normal do Elefante Branco. Trabalhou no local por pelo menos cinco anos. Tempos depois, se formou em Pedagogia na Universidade de Brasília; fez mestrado em Educação na Universidade da Califórnia, e doutorado na área na Universidade da Flórida, ambas nos Estados Unidos. Escreveu 50 livros para, segundo diz, espalhar novos conhecimentos pelo Brasil. No Ministério da Educação atuou por 25

anos, desempenhando funções como de diretora do departamento de livros didáticos. Em sua gestão, 80 milhões de exemplares foram distribuídos pelo país. A doutora em Educação ainda ministrou palestras para 350 mil pessoas, no Brasil e no exterior.

A mulher e a políticaCosete perdeu o pai no ano de

1962. Chegou a ser convidada para entrar para a política no lugar dele na época, mas, como já estava grávida do primeiro filho – ela tem dois filhos -, preferiu manter-se somente na Educação. O que não significou que não tenha adquirido olhar crítico acerca da participação feminina no

cenário político nacional. “Realmente é lamentável o quadro

da participação feminina na política brasileira, mas isso tem muito a ver com a nossa história, com o papel da mulher, que era um papel mais reservado ao lar. Poucas mulheres tinham a ousadia de sair de casa para fazer política em praça pública, por exemplo. A mulher colocou na cabeça que o seu lugar, que o seu trono, deviam ser usados na família, era na família que ela ia se mostrar aquela ‘rainha do lar’, aquela mulher maravilhosa. Ela foi educada para ser mãe, para tocar piano, para costurar e bordar. Ela absorveu esse papel, ela interiorizou”, explica.

A doutora em Educação faz uma análise mais aprimorada dessa situação, de acordo com seu ponto de vista.

“A mulher não via na política a beleza que ela esperava. Ela sempre quis ver aquilo que se constrói de forma bela, grande, bonita, que tenha significância para o país, e ela não via na política isso. A vida política não atraía. O que a mulher ia fazer na política? Ia lutar contra grandes grupos que tinham dinheiro? Seria uma voz a clamar sozinha no deserto. Então a mulher não via o espaço bonito como era o espaço do lar, que ela pode trabalhar, se dar”, pontuou.

Em relação à participação dos jovens na política, Cosete também não poupa críticas.

“Nunca se deu educação política para os jovens no Brasil. Cadê a educação política nas escolas brasileiras? Nós nunca demos educação política para a juventude do Brasil. Onde está isso? Onde estão neste momento os professores de Geografia, de História, de Estudos

Sociais, de Filosofia, para ensinar a juventude? Como se educa um ser político na escola? Isso não é ensinado”, desabafa.

A dívida com a EducaçãoDedicada há mais de cinco

décadas à Educação, Cosete lamenta que a qualidade do ensino tenha sofrido uma queda vertiginosa ao longo dos anos: “Crianças reprovadas na primeira série é de doer o coração de qualquer educador”, garante. Para ela, o ano de 1970 foi

crucial para a área no âmbito nacional, pois foi quando foi efetivamente aberto o ensino para o povo brasileiro, e o acesso não ficou mais restrito apenas à elite. Todavia, ela diz que naquele momento tiveram de ser formados, às pressas, dezenas, centenas, e até milhares de professores, sem que eles tivessem o preparo essencial para estar em sala de aula.

“O Brasil tem uma dívida com os professores. Mas eu acredito que um dia vamos resgatar essa dívida,

para que eles possam ser melhores professores. Isso só será possível dando cada vez mais treinamento para os docentes não pararem de estudar nunca. O desafio é levar para as salas de aula os mais capazes. Só estímulos financeiros não adiantam. O professor leciona porque tem paixão por algo que tenha a transmitir. É ele o maior aprendiz, só que ele não recebe educação para se tornar um grande professor, o que se tornou um círculo vicioso”, analisa.

Para o que chamou de ‘resgate da dívida com os professores’, Cosete acredita que será a nova

geração de homens e mulheres brasileiros, agindo com muita

determinação, que vai romper com o que também chamou de ‘círculo vicioso na educação’.

“Com toda a minha experiência nessa área eu afirmo: para termos um novo Brasil é necessário outro JK, ou seja, outro grande brasileiro que tenha o Brasil no coração e

que o mais importante seja educar o povo,

mas educar de verdade, e não ficar de discurso,

porque de discurso nós já estamos fartos, de dizerem que

a educação é prioridade enquanto a educação não é prioridade nada”, declarou.

Não só a educação, mas também a política, continuam sendo prioridades para Cosete. Todos os anos ela retorna a sua cidade natal para realizar o Concurso de Oratória Rui Ramos. O objetivo é estimular os jovens a se tornarem políticos e grandes oradores.

“É um grande orgulho para mim organizar esse concurso, e mais ainda dizer que, em cinco anos de realização, duas mulheres sagraram-se vencedoras com os melhores discursos”, finaliza, emocionada.

“Como é que pode uma menina de 17 anos receber um legado

destes? Mas eu recebi, e procurei carregar

pela vida inteira com a maior honra. Eu entendi

que ele queria que eu estudasse cada vez mais, e foi o que fiz”

Com toda a minha experiência nessa área eu afirmo: para termos um novo Brasil é

necessário outro JK, ou seja, outro grande brasileiro que tenha o Brasil no coração e que o

mais importante seja educar o povo, mas educar de verdade, e não ficar de discurso, porque de discurso nós já estamos fartos, de dizerem que a educação é prioridade enquanto a educação

não é prioridade nada

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DESPREZO PELO RESÍDUO SÓLIDO

O dia 2 de agosto marcou o sexto aniversário da Lei nº 12.305/10, que instituiu a Política Nacional de Resídu-

os Sólidos (PNRS). Nesse dia era para acontecer uma audiência pública da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Con-trole (CMA) do Senado. O objetivo: discutir a responsabilidade pelo des-cumprimento do prazo legal para o fechamento dos lixões no Brasil, deter-

minado pela lei até 2014. Ocorre que, findado o prazo há dois anos, menos de 300 dos mais de cinco mil municípios brasileiros cumpriram a legislação.

A audiência foi requerida pelo se-nador Otto Alencar (PSD/BA), que de-sejava trazer a público as razões pelas quais os municípios não cumprem o prazo legal para o fechamento desses lixões. Foram convidados o ministro de Meio Ambiente, Sarney Filho; Al-ceu Segamarchi Júnior, secretário na-

cional de Saneamento do Ministério das Cidades; Cláudia Lins, consultora da Confederação Nacional de Municí-pios (CNM); Jaira Pupim, representan-te da Associação Brasileira de Enge-nharia Sanitária (Abes); e Victor Bicca Neto, presidente do Compromisso Em-presarial para Reciclagem (Cempre). O resultado da reunião foi extremamente emblemático em relação ao descaso. Não compareceu ninguém, além do próprio Alencar.

Sexto aniversário da PNRS é marcado por avanços na iniciativa privada, mas pelo

desleixo por parte do poder público

MEIO AMBIENTE JOÃO NEGRÃO - DA EDITORIA

No ano passado, o Senado apro-vou e enviou à Câmara projeto de lei (PLS 425/2014) prorrogando até 2021 o prazo para os municípios se adequa-rem às exigências da Lei 12.305/2010. Com isso, foi estendida a data limite anteriormente fixada para a extinção dos lixões e sua necessária substituição por aterros sanitários, com a adoção de práticas de reciclagem, compostagem e coleta seletiva.

Falta de vontade política, plane-jamento e recursos financeiros estão entre as causas apontadas para o Brasil até hoje não ter executado essa política de tratamento do lixo. Veem-se lixões a céu aberto em todo o país, situando-se em Brasília o maior deles, conhecido como Lixão da Estrutural. Outra barrei-ra imposta a esse avanço é o argumento apresentado por administradores pú-

blicos referente à sobrevivência de ci-dadãos que vivem desses lixões. Só em Brasília, estima-se que duas mil famí-lias tirem seu sustento disso.

Alguns avanços Se de um lado o poder público peca

ao não cumprir prazos e jogar para frente o problema, no âmbito da inicia-tiva privada há avanços na destinação dos resíduos gerados pela população após o consumo. Assinada por 22 as-sociações e mais de 500 empresas, a lei amplia a capacidade do Brasil na destinação adequada das embalagens pós-consumo e prevê o gerenciamento integrado de resíduos sólidos gerados em larga escala diariamente. Segundo pesquisas divulgadas pelo Compromis-so Empresarial para Reciclagem (Cem-pre), desde a aprovação da lei ocorreu

um aumento de 138% no número de cidades que desenvolvem programas de coleta seletiva.

Muitas ações superaram as exigên-cias da PNRS. Isso porque, as inicia-tivas de algumas empresas atingiram todo o território nacional, contemplan-do um número 44% maior de municí-pios do que a meta estabelecida pelo Ministério do Meio Ambiente.

As parcerias da indústria e comér-cio expandiram também nesse período o índice de Pontos de Entrega Volun-tária existentes no Brasil. Os dados revelam que, entre 2012 e 2014, foram instalados 1.646 PEVs, resultado 255% superior à meta estipulada para 2015.

“A PNRS, aprovada em 2010, lan-çou obrigações que devem ser compar-tilhadas por todos os setores da socie-dade”, comenta Vitor Bicca, presidente do Cempre. “Apesar do aumento ex-pressivo, apenas 18% do total de cida-des em todo o Brasil desenvolvem pro-gramas de coleta seletiva. Ainda temos muitos desafios pela frente. Nossa meta no acordo é reduzir em 22% a quanti-dade de embalagens pós-consumo des-tinadas a aterros até 2017”, finaliza.

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VOCAÇÃO

TURISMO NO CORAÇÃO DO PODER

A pesar de Brasília ser a capital do país, a cidade não é um destino muito vi-sado para o turismo de lazer, quando comparado a outros lugares no Brasil.

Entretanto, se destaca entre os locais mais pro-curados para a realização de eventos corporati-vos. Durante a semana, de segunda a sexta-fei-ra, a capital tem uma maior movimentação de pessoas que visitam a cidade, em sua maioria, a trabalho. Por outro lado, nos fins de semana, o número de visitantes é bem menor, o que reflete, inclusive, em promoções e descontos na rede hoteleira no período de sexta a domingo.

Segundo o secretário adjunto de Turismo da Secre-taria de Estado do Esporte, Turismo e Lazer do Distrito Federal, Jaime Recena, o turismo de negócios é o mais praticado no DF. “Brasília é o centro do poder do país, e isso contribui para que boa parte dos eventos corporati-vos aconteça na cidade”, afirma.

Além de ser um núcleo político, a infraestrutura da capital é um atrativo para este tipo de evento. “A proxi-

midade do aeroporto e da rede hoteleira com o centro de convenções e órgãos públicos, a arquitetura de projeto único, a história da cidade, a gastronomia e o fato de ser patrimônio cultural, são alguns dos fatores que contri-buem para que Brasília seja uma referência no turismo corporativo”, explica o secretário.

Ele destaca ainda que o turismo de negócios gera uma grande economia local, e que a Secretaria de Turis-mo tem um trabalho especializado na captação de even-tos, buscando incentivar e fortalecer ainda mais a cidade como referência para essas atividades turísticas.

“O turista de negócio acaba gastando mais na cidade

Fora do eixo de destinos turísticos, Brasília se destaca entre as cidades mais procuradas para o turismo de negócios, recebendo um maior número de visitantes durante a semana

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JOÃO NEGRÃO - DA REPORTAGEM

do que o de lazer. Muitos locais de-sejam o turismo de negócio por esse fator”, conta. O coordenador-geral de Segmentos Turísticos da Embra-tur, Rafael Felismino, explica que Brasília está há mais de 10 anos entre os destinos mais procurados para realizar o turismo de negócios no país. “São Paulo e Rio de Janeiro são responsáveis por mais de 50% dos eventos turísticos corporati-vos. Logo em seguida estão Brasília,

Belo Horizonte e Porto Alegre”.Para o secretário Jaime Recena,

o fato de Brasília estar entre os cin-co primeiros é uma grande vitória. “Acredito que estamos bem à frente de Belo Horizonte e Porto Alegre. E é preciso lembrar que o DF so-brevive basicamente do comércio, diferentemente de São Paulo, que possui a maior quantidade de em-presas e indústrias do país, e do Rio de Janeiro, que é referência mun-

dial quando se fala em realização de eventos no Brasil”.

A época do ano em que acon-tecem mais eventos corporativos é entre setembro e novembro. Se-gundo o gerente de eventos de uma rede hoteleira, Gustavo Leite, a mé-dia no hotel em que trabalha é de quase um evento por dia.

“Nós realizamos entre 23 e 30 eventos por mês, com cerca de 250 pessoas em cada”.

Brasília está há mais de 10 anos entre os destinos mais procurados para

realizar o turismo de negócios no país

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procura, tivemos que reduzir em 50% o valor das salas de evento, e a tarifa de hospedagem tem o mesmo valor há quase dois anos”.

De acordo com Gustavo, o gasto com turismo é um dos primeiros a ser cortado durante uma crise econômica. “O ano passado foi ruim, mas neste ano a perspectiva é ainda pior. O turismo é necessário, mas sempre é o primeiro a

ser descartado”, explica. Ele destaca também o fato de Bra-

sília ser setorizada. “A maior parte dos hotéis são um do lado do outro. Além disso, abriram muitos estabelecimen-tos novos para a Copa do Mundo de 2014. Isso tudo gera uma maior con-corrência”. E não é só a crise econô-mica que afeta o turismo de negócios atualmente. Existe ainda a questão

do desenvolvimento tecnológico. As novas tecnologias e a otimização da internet fazem com que seja possível realizar videoconferências e reuniões a distância, fazendo com que os encon-tros sejam dispensáveis. “Quando exis-te a necessidade de realizar um evento, eles são feitos com um número bem reduzido de pessoas”, afirma.

Rafael Felismino confirma que houve uma redução de eventos reali-zados em Brasília, quando compara-do a anos anteriores. “Eventos inter-nacionais já foram cinco a menos em relação a 2015”. Mas, de acordo com o coordenador, a expectativa é de que futuramente o nome da cidade se for-taleça ainda mais como referência no turismo de negócios do país. “Com-petir com São Paulo e Rio de Janeiro é difícil, mas temos todas as qualida-des e preparativos para, pelo menos, nos aproximar dessas duas grandes capitais”, conclui Rafael.

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VOCAÇÃO

Entretanto, os encontros acontecem durante a semana, e aos sábados e do-mingos o movimento cai em até 30% no hotel em que trabalha. “A maioria dos visitantes não vem com a inten-ção de fazer turismo, mas aproveita o turismo de negócio para conhecer a cidade. Sobrevivemos basicamente dos negócios e eventos, não existe turismo natural aqui”, conta Gustavo.

Além de buscar fortalecer o turismo de negócios em Brasília, o secretário Jaime Recena conta que o grande de-safio é desenvolver o turismo de lazer na cidade. De acordo com ele, a capital federal tem um potencial muito grande para todos os tipos de turismo, inclu-sive o cívico, e que um grande passo é fazer com que os turistas de negócios fiquem na cidade durante o fim de semana. “Existe um grande potencial para o turismo de lazer. É preciso mos-trar para a sociedade que Brasília vai muito além da Esplanada dos Ministé-rios e do Congresso Nacional”, conclui.

Crise econômicaAssim como em outras áreas, a cri-

se econômica nacional e internacio-nal também atingiu o turismo, seja o de lazer ou de negócios. O gerente de eventos Gustavo Leite afirma que des-de 2014 a realização de conferências no hotel diminuiu consideravelmente.

“Já tivemos uma média bem maior. Agora, além da diminuição drástica na

Existe um grande potencial para o turismo de lazer. É preciso mostrar

para a sociedade que Brasília vai muito

além da Esplanada dos Ministérios e do Congresso Nacional

Por ser a capital do país Brasília abriga uma infinidade de eventos nacionais de entidades representativas da sociedade

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JOÃO NEGRÃO - DA REPORTAGEM

O turista de negócio acaba gastando mais na cidade do que o de

lazer. Muitos locais desejam o turismo de negócio por esse fator

DADOS ECONÔMICOS

A contribuição das atividades turísticas para o PIB do DF é de 2,5%. No Brasil, como um todo, a contribuição é de 3,28%.

No DF, a contribuição já é representativa para a cidade, mas ainda está em crescimento.

Em relação ao turismo no DF, os maiores poten-ciais em geração de empregos são os setores de alimentação e alojamento.

Em Brasília, o gasto médio diário de um turista de negócios é de R$ 563,38, enquanto um turista de lazer gasta cerca de R$ 489,34 por dia.

PRINCIPAIS MOTIVOS PARA REALIZAR UM EVENTO EM BRASÍLIA:

- É o centro político do Brasil.- Possui um dos maiores centros de convenções do país.- Proximidade do aeroporto.- Segunda cidade brasileira de maior fluxo aeroportuário.- Terceiro maior polo gastronômico do país.- Ampla infraestrutura turística.- Distâncias menores de um ponto ao outro da cidade.- Patrimônio cultural da humanidade.- Arquitetura diferenciada.

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BRINQUEDOS PODEROSOS

A opção de adquirir um carro de época ou importado ain-da segue em alta para quem tem uma vida econômica es-

tabilizada e também para os amantes de coleção. Carros com preços na casa de R$ 150 mil ou até R$ 500 mil con-tinuam sendo objeto de consumo dos endinheirados. Veículos de grandes marcas, como Ferrari, BMW, Audi e

Lamborghini estão no rol dos predile-tos desse público. Apreciar não é só o que leva um consumidor até uma con-cessionária. O que vale mesmo é levar um desses “brinquedinhos” para casa e desfilar toda a exuberância e elegân-cia do automóvel pelas ruas da cidade.

De acordo com Renato Constanti-no, gerente de uma loja de carros im-portados no Lago Sul, o mercado de

carros luxuosos ficou elitizado, pro-porcionando uma mudança no perfil do comprador e conceitualiza bem esse momento. “O perfil do compra-dor mudou. Tinha o consumidor que comprava por achar legal, mas não ti-nha preço sem valor agregado. Virou hoje um mercado elitizado de carro antigo”, explica.

Segundo ele, o público é diversifi-

Veículos de grandes marcas como Ferrari, BMW, Audi e Lamborghini estão no rol dos prediletos do público classe

A e para os que acreditam que ter é poder

CONSUMO

cado, e os carros de preço mais elevado costumam ser o de maior saída. “Tem gente que gosta de carro da primeira geração, conhecido popularmente de calhambeque e os importados acima de R$ 150 mil são os que saem”, deta-lha. Diz ainda que existem dois tipos de clientes, aqueles que são mais deta-lhistas e outros que procuram por um carro mais moderno.

Gerente de uma loja que fica locali-zada na cidade do automóvel, Fabiane Macene conta que na loja são vendidos todos os tipos de veículos e que as ven-das continuam a todo vapor. Nós tra-balhamos com carro popular até uma Ferrari, Mercedes e BMW. “No caso da Ferrari tem procura, mas tem o públi-co específico e tem pessoas que com-pram porque gostam mesmo. Os clien-tes continuam comprando”, comenta.

Destaca também que a Ferrari é um dos carros mais caros, custando R$ 459 mil, e acrescenta que no mês de maio foram vendidos por volta de 20 carros importados, tais como o Mustang GT, com valor médio de R$ 149 mil.

Prazer de se aventurarAlém de belos carros atraentes,

as motos são outro objeto de desejo de quem busca conciliar lazer com a família e amigos. Conhecidas por ser uma diversão sobre duas rodas, elas

chamam atenção onde quer que pas-sem. A sensação de bem-estar é sen-tida por quem é adepto à velocidade sobre duas rodas, o que permite à moto alcançar a mesma importância de um carro bem equipado ou antigo.

Para o casal de motoqueiros Tita Maia e Sérgio Leoni, que possui atu-almente quatro motos, o prazer de se aventurar em motos luxuosas vai além de um simples passeio. “Todas são para diversão no final de sema-na, sair com os amigos. Compramos como forma de se entreter e relaxar”, compartilha Tita.

Normalmente o público que opta por este estilo já está estabilizado e por volta da faixa etária de 40 anos ou mais, mas o perfil jovem é presente só não de forma tão significativa. De acor-do com o gerente de vendas Fernando Barros, tem muito cliente que se des-faz do carro só para ficar com a moto e assim andar todos os dias. “A Har-ley tem perfis de moto para atender o público que só anda na cidade. Tem a família com o perfil de moto que usa muito bem na cidade e atende na estra-da. Normalmente o cliente vem aqui e começa a evoluir dentro da própria marca”, complementa.

Para ele, os públicos vão atrás de um sonho de adquirir um modelo e acaba saindo com outro. A média dos preços dessas motos luxuosas varia

em torno de R$ 42.900 podendo che-gar a até R$ 153 mil. Comenta ainda que na sua época como consultor de vendas, a média de motos vendidas era de 60 por mês, e atualmente está na faixa de 20 a 30 motos por causa da economia. “Mesmo assim isso não tem interferido nos negócios, o públi-co consumidor de Harley, como é um público classe A, continua consumin-do. Então, a galera classe média que consumia continua consumindo, mas eles planejam um pouco mais”, pon-tua Fernando Barros.

Fugindo da monotoniaO universo dos usuários de carros

e motos luxuosos é observado de perto não só pelo público assíduo que bus-ca viver uma vida longe da monotonia diária. O prazer em andar de moto é uma alternativa que transita entre várias ramificações. No Distrito Fede-ral, médicos, advogados, políticos e funcionários públicos enumeram um quantitativo expressivo de participan-tes de grupos de motoqueiros.

A variação entre estes consumido-res de objetos de poder se destaca por ser uma forma de lazer e entreteni-mento fora do comum das pessoas em geral. Entreter-se em carros luxuosos nunca pareceu ser algo tão sofistica-do, divertido e viciante e que chama atenção pelas ruas de toda a Brasília.

POR ANGELO GUILHERME E JÉSSICA DANTAS- DA REPORTAGEM

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da indústria gráfica é o design – con-sumidores procuram experiências novas, diferentes, com design, cheiro, relevos – querem pegar nos produtos, e a experiência digital não permite isso ainda”, diz Élvio.

“Para cada mídia existe uma estra-tégia distinta. Observo que, quando trabalhadas juntas, estão produzindo resultados e experiências mais agra-dáveis para o público-alvo, gerando sucesso da campanha”, completa o diretor. O presidente da Sindigraf--DF corrobora a análise de Élvio. “O ato de imprimir passou a ser uma ferramenta de uma atividade muito mais abrangente: oferecer soluções ao cliente. O desenvolvimento e cres-cimento da impressão digital estão gerando oportunidades de agregar maior valor ao produto gráfico atra-vés de recursos inovadores”.

Pedro Henrique destaca que as ati-vidades do Sindigraf estão voltadas à atualização constante dos executivos gráficos do DF, mantendo-os sempre a par das principais inovações do mer-cado. Além da experiência interna-cional promovida pela Drupa, ainda neste ano foi realizado em Brasília o IV Encontro Nacional dos Sindicatos da Indústria Gráfica. “Ressalto a impor-tância de ações como essa que possibi-litam aos nossos associados ter contato com tudo o que o mundo está fazendo

na comunicação impressa e ainda po-der ampliar o relacionamento entre o grupo e com os fornecedores de produ-tos e serviços do setor”, disse.

“Trazer para nosso meio a experi-ência que tiveram (durante os even-tos) é de suma importância para que o nosso parque industrial continue atu-alizado e capacitado a atender nossos clientes com os recursos inovadores que a tecnologia nos proporciona”, citou o presidente, que concluiu: “Como vimos na Drupa, essa deman-da existe. Por isso, é o momento de pensarmos em soluções e mercados diferentes. Isso vai levar ao desenvol-vimento da indústria gráfica”.

Nichos abertos Como afirma Élvio Junior, o futuro

do setor mora na convergência de es-tratégias do meio impresso e do meio digital. Um ótimo exemplo da união dos setores é a tecnologia do QR Code, uma espécie de código de barras criado para ser lido por câmeras de celulares. As empresas costumam utilizar a tec-nologia estampando o código em revis-tas, jornais e panfletos, e ao realizar o reconhecimento do código através do celular, o usuário recebe uma série de informações detalhadas – muitas vezes exclusivas – sobre o produto, serviço ou empresa em questão.

A tecnologia permite uma integra-ção do meio digital com o impresso, levando a diversas aplicações, como

no mercado da segurança, que utiliza os QR Codes como bilhetes únicos de identificação. O mercado bibliográfico também constitui um exemplo factível da “imortalidade” da indústria impres-sa, como explica Élvio: “Observa-se um aumento nos índices de leitura de livros impressos, fato comprovado pelo retorno da Amazon em abrir lojas físicas para venda de produtos edito-riais impressos. Em pesquisa divulga-da na Drupa 2016 ficou patente a força da mídia impressa, comprovada pelos investimentos efetuados por empresas gráficas de mais de 130 países. Já é rea-lidade a queda de crescimento do livro digital, o que reforça a experiência de ler e ter consigo (fisicamente) uma pu-blicação impressa, mantendo compro-vadamente a escolha da maioria”.

Outra tecnologia que está revo-lucionando o mercado e mantendo o setor de impressos na vanguarda da tecnologia mundial, é a Realidade Aumentada. Baseada na integração de informações virtuais a visualizações do mundo real, normalmente através de uma câmera de celular, a tecnolo-gia garante mais recursos a campanhas publicitárias tornando-a mais atra-ente. Em aplicações mais avançadas, a tecnologia pode rastrear dados em movimento, reconhecer marcadores e mensurar de distâncias ou rotas, e até a construção de ambientes virtuais con-trolados através de diversos sensores interagindo com o software.

FUTURO DO IMPRESSO É MAIS PRÓSPERO QUE NUNCA

C om o advento da internet e sua consolidação, houve aqueles que diziam que a indústria dos impressos, uma hora ou outra,

estaria acabada; que com a nova mídia, as pessoas, as empresas e governos pa-rariam de investir em impressos para se valerem das novas opções propor-cionadas pela chamada ‘era digital’. Não poderiam estar mais equivocados.

O setor, dinâmico e antenado às necessidades do mercado, evoluiu jun-to com a sociedade e se coloca, como sempre, imprescindível para uma co-municação abrangente e competente, seja qual for o público-alvo da ação.

“O desenvolvimento e crescimen-to da impressão digital está gerando oportunidades de agregar maior valor ao produto gráfico através de recursos inovadores”, garante o presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas do Distrito Federal (Sindigraf-DF), Pedro Henrique Verano.

Os empresários do setor no DF, inclusive, estão na linha de frente da inovação gráfica nacional. Eles parti-ciparam recentemente da Drupa 2016, o maior evento do universo gráfico do mundo, com mais de 60 anos de exis-tência. Graças a uma missão organiza-da pelo Sindigraf-DF, que levou dez

empresários de Brasília, o mercado brasiliense assegura que estará sempre na vanguarda das novas técnicas e tec-nologias do mercado.

União com o digital O diretor de Comunicação e Ma-

rketing do Sindigraf-DF, Élvio Junior, acredita que a união com o digital deve ser a principal arma do setor para se manter competitivo. “A grande saca-da para o mercado de comunicação é saber comunicar estrategicamente. Hoje temos como associar as mídias e torná-las híbridas, dando maior valor agregado à campanha. Outra virtude

Com a evolução digital, alguns poderiam pensar que o mercado de impressos estaria condenado. Porém, as novas tecnologias aplicadas

levam o setor a ter uma importância cada vez mais estratégica

BOA IMPRESSÃO

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LUCAS LYRA - DA REPORTAGEM

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IMAGEM E PODER: A MODA DITANDO A POLÍTICA NO

PLANALTO CENTRAL

É comum andar em Brasília, em especial nos órgãos públicos, e encontrar políticos, funcioná-rios públicos e autoridades. O

que eles têm em comum? Todos pre-cisam se vestir de forma adequada às

exigências do local em que trabalham, e transmitir uma imagem de compe-tência e poder. Essa imagem, basica-mente, é passada pela aparência, que inclui roupas e atitudes exigidas pelos códigos de conduta.

Fernando Lackman, jornalista e di-retor criativo do Capital Fashion Week, afirma que o modo como as pessoas se vestem influencia a forma como são vistas, principalmente em um ambien-te de trabalho. “A roupa expressa sen-

Aparência dos políticos e funcionários públicos transmite credibilidade e influência, daí a preocupação com o que se

vestir no cotidiano da capital da República

COMPORTAMENTO

timentos, humor, preocupações e, aci-ma de qualquer coisa, o desejo de ser visto ou de alcançar algo”. De acordo com ele, apresentar uma boa imagem é importante, sobretudo, para políticos e autoridades, pois são os representan-tes da própria população. “Os políticos são os retratos do que pregam e do que são visualmente, e os indivíduos são muito críticos quanto ao que veem. Uma pessoa bem vestida transpõe boas qualidades”, explica.

Na maior parte dos órgãos públi-cos o código de conduta é rígido em relação ao vestuário. Nos Poderes Le-gislativo e Executivo, por exemplo, são exigidas roupas formais para funcioná-rios e visitantes. “Além de cumprir re-gras por intermédio das roupas, os pro-fissionais devem se vestir para estarem prontos para qualquer ocasião. Saber escolher uma boa roupa é importante”, explica Lackman.

Ele destaca que, mesmo com a ne-cessidade do uso de roupas formais, é possível se vestir com elegância sem perder o estilo próprio. De acordo com Lackman, o grande aliado de pessoas com estilo diferenciado das regras de conduta são os acessórios. “Há homens que optam por uma gravata ou camisa estampada, assim como há mulheres que expõem as mesmas qualidades de escolhas usando sapatos exclusivos ou colares, brincos e lenços”, pontua. Mesmo tendo essa possibilidade de variar opções nos complementos, ele ressalta que o estilo deve andar ao lado das normas. “Basta saber combi-nar o básico e exigido com o diferen-te e ousado”, conta.

PersonalidadeSegundo o estilista Romildo Nas-

cimento, o modo de se vestir e de se portar em público é extremamente importante, pois o profissional não passa credibilidade se não estiver ves-tido conforme os códigos da profissão. “É preciso entender que a vestimenta revela a personalidade do indivíduo”, observa. Além disso, ele lembra que o funcionário também está representan-do o órgão ou local em que trabalha. “É sempre importante seguir as regras básicas de etiquetas, a importância dis-so tudo é deixar o ambiente mais har-mônico, dinâmico, e não desvirtuar as atenções”, conta o estilista.

Na opinião de Romildo, uma boa solução para quem tem dúvidas quan-to à escolha das próprias roupas ou não tem disponibilidade para cuidar da própria aparência é contratar uma pessoa responsável pela função. “Ge-ralmente políticos e figuras públicas têm pouquíssimo tempo, então ter uma pessoa responsável para cuidar da imagem não é frescura, mas ganho de tempo”, conclui.

O coordenador do curso de De-sign de Moda do Instituto de Educa-ção Superior de Brasília (IESB), Mar-co Antônio Vieira, explica que, para aqueles que desejam construir uma boa imagem, é importante ter alguma forma de consultoria. “É necessário saber qual cor e alfaiataria vai cair melhor, de acordo com a idade, tipo físico e tipos de corpo, que variam em cada pessoa”, conta.

Marco Antônio destaca que princi-palmente nos órgãos dos Três Poderes

é muito importante saber exatamente o tipo de roupa indicado para cada um. “Sobretudo nesse universo em que eles atuam, a roupa possui uma codificação muito rigorosa e os desvios permitidos são mínimos, pois existe uma conven-ção que precisa ser adotada e respeita-da pelos membros daquela comunida-de”, afirma o coordenador.

Lackman ressalta que consultoria é realmente importante para que pelo menos cada um aprenda o que cai melhor em si, e saiba o que comprar depois. “Assim como profissionais de áreas técnicas, um consultor de ima-gem se faz essencial, que seja em um primeiro momento”, defende.

Erros mais comunsVestir-se bem não significa ter que

chamar atenção. É necessário pensar no visual como um todo, e saber com-binar roupas e acessórios de acordo com cada ocasião. Segundo Fernando Lackman, o maior erro da pessoa ao se vestir é o excesso, principalmente em relação a objetos caros e extravagantes. “Muitos itens caros apenas mostram o quanto se tem de dinheiro, não neces-sariamente traduzem boas escolhas.

BEATRIZ ZENDERSCKY - DA REPORTAGEM

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Ostentar é bem diferente de saber escolher”.

Ele explica que é possível usar acessórios de luxo, mas, assim como no resto do visual, é preciso tomar cuidado quanto ao conjunto. “O erro está em colocar o relógio com um anel, colar, abotoadura e clipe de gravata, todos cheios de informação financei-ra. Para um bom estilo basta fazer boas escolhas”, esclarece Lackman.

Para o coordenador Marco Antô-nio, além dos excessos de acessórios, um dos maiores erros que se come-

te ao se vestir são os exageros. “Para mulheres, é o excesso de maquiagem, roupas muito curtas, sapatos e joias muito excêntricos, saltos muito altos e tons extravagantes no cabelo”. Já para homens, ele destaca que as maiores fa-lhas que podem ser cometidas são os excessos de joias, o tom de tingimen-to e corte de cabelo, barba malfeita e os tons da roupa. “Mas tanto homens quanto mulheres precisam ter o cabelo bem cuidado e arrumado, cuidados es-pecíficos com a pele e uma boa higiene pessoal”, afirma Marco Antônio.

A edição deste ano do Festival de Cannes, evento cinematográfico mais importante do mundo, foi alvo de pro-testo contra os sapatos de salto alto. Renomadas atrizes, como Julia Roberts, Sasha Lane e Kristen Stewart passaram pelo tapete vermelho descalças. O moti-vo foi o fato de na edição do ano passa-do algumas atrizes terem sido barradas na exibição do filme Carol, por estarem usando sapatos baixos. Além da polê-mica, o protesto gerou debates sobre a exigência de sapatos de salto para mu-lheres para determinados ambientes.

De acordo com Fernando Lackman, não há necessidade de estabelecer o uso de sapatos de salto alto. Ele afir-ma que, caso a mulher não queira ou não possa usar este tipo de calçado, ela pode substituí-lo por sapatilhas, sandá-lias, tênis ou outros sapatos que combi-nem. “Não há exigências, todas podem ser livres e optar por algo mais confor-tável desde que esteja colocado no look de maneira coordenada e inteligente”.

Ele destaca que o uso de sapato de salto demonstra uma maior sensação de poder, mas que o acessório é dis-pensável. “Mulheres com salto alto se mostram firmes e se sentem po-derosas, pelo menos a maioria delas expressa isso abertamente, mas toda mulher, com ou sem salto, é linda. Os acessórios são apenas traços de aper-feiçoamento dessa beleza que lhes é peculiar”, conclui Lackman.

Personal StylistPersonal stylist, ou consultor de ima-gem, são profissionais responsáveis por analisar o estilo, tipo físico e rotina de cada um, fazendo um ser-viço de consultoria de moda especia-lizada. Após a avaliação do perfil, o personal organiza o guarda-roupa

do cliente, ensinando as melhores combinações e indicando peças que devem ser compradas para comple-tar as opções. Ou seja, consiste em conduzir as pessoas a conhecerem o próprio corpo e estilo, com recursos para saberem se vestir de acordo com as situações do cotidiano.

COMPORTAMENTO BEATRIZ ZENDERSCKY - DA REPORTAGEM OPINIÃO

POR PAULO DELGADO

MANIFESTO DO PARTIDO OTIMISTA

Ettore Scola, advogado e cine-asta italiano, não viveu para filmar o magistrado brasi-leiro Ricardo Lewandowski,

que suavizou, seguro de que só tem o céu acima de sua cabeça, a pena da presidente. Mas “Nós que nos amávamos tanto”, seu filme de mais de 40 anos atrás, deveria ser visto por ele, Dilma, Renan e Lula, juntos, para observarem por que a esperan-ça saiu do catálogo das virtudes.

Não aceitar ser julgada, bom Deus, vamos condenar a democra-cia brasileira à desordem. O político não é lotado no Estado, como o ti-jolo na parede! A verdade enfrenta um tráfego pesado no mundo. Sou a versão para gringos, o gigante que se debruça sobre ela.

Ótimo, a história inicial se per-deu, não vale a pena procurar o seu começo. Encontrei muitas pessoas dispostas a me amarem, mas nada de promiscuidade, meritíssimo. Mantenho meu passado! São sujos! Ora, moça, se aceitou assentar ali bem comportada, enterrou sua ilu-são retrospectiva. Acione seus pu-nhos de ferro, mas pense, sua vergo-nha não passa de orgulho.

Todo julgamento, para conter al-guma possibilidade de sucesso para o acusado, deve carregar uma dúvi-da razoável e necessária, que parali-se a consciência de quem julga. Ela sempre teve seu próprio método.

Nunca quis aliados, mas deve-

dores de obrigação. Sentia seus de-sejos como exigência. E, assim, não reconhecia a ninguém o direito de entendê-la. Czarina do czar que a escolheu, caminhava negligente se fazendo dura. Para dar credibilida-de à sua história, multiplicou por dez seus inimigos. Povoava seus dias contando traições. Ampliava sua angústia, mas as coisas não fi-cavam nisso.

E aquele quase nada para a razão do outro era reforçado por interlo-cutores que a faziam escapar mais ainda da realidade. Eles temiam complicações com aquele nenhum talento para a reciprocidade. Sua bossa é botar culpa nos outros. Ela se fatigava e seus amigos a mima-vam, dizendo que caminhava para a perfeição.

Tempestade sem relâmpago con-fundiu seu desencanto com virtude, sua incapacidade com a verdade. Embora vivendo no rebanho co-mum da política desde sempre, só não era joão-ninguém quem a tole-rava. E foi assim, só reconhecendo legitimidade em quem a inocentas-se, que entrou naquela sala azul de quase 200 anos.

Ao nomear a realidade de es-cândalo, a política traz o escândalo para a realidade. E fica dispensada

de se convencer que desvios políti-cos costumam ser sempre obra de panelinhas. Grupos que conquis-taram posição estrutural e material acima das condições da sociedade e se alienaram em relação a ela. Suas ideias perdem a maturidade para representar o interesse e a consci-ência da maioria. E o ciclo histórico de onde vieram se esgota, com seus principais personagens ainda vivos.

Não há necessidade mais de crí-tica. O argumento tornou-se parasita do problema velho. São anomalias, que serão mais bem retratadas pela literatura e o cinema. O que preci-samos, agora, é de um movimento abolicionista de práticas antigas.

Não é que ela venha de fora, da conversa, das leituras, da experiên-cia. A liberdade que sustenta a co-erência e o respeito à opinião dos outros vem de dentro da pessoa que já tenha dentro dela o gosto pela li-berdade.

*Paulo Delgado é sociólogo e cientista político. Deputado

constituinte, exerceu mandatos federais até 2011.

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GENTE & PODER POR OSWALDO ROCHA

O 42º aniversário da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) foi marcado pela cerimônia de pos-se da nova presidente da empresa, Kênia Marcelino, em Brasília. Na comemoração foram lançados o novo Plano Nascente São Francis-co e o Plano Nascente Parnaíba e aberta uma exposição de fotos e li-vros históricos que ajudam a contar a história da companhia. Kênia fez um breve histórico de sua trajetória na empresa, desde 2003, quando in-gressou por meio de concurso públi-co na função de chefe da Unidade de Brasilândia de Minas. “Devido a esse trabalho técnico e de todo o apoio recebido ao longo desses 13 anos de profissão, hoje estou aqui para receber essa importante missão em minha vida. O desafio é enorme, mas, com a equipe que a companhia possui, qualquer obstáculo pode ser superado”, declarou.

A possibilidade de legalização dos bingos, caça-níqueis, jogo do bicho e jogos online no Brasil já está atrain-do empresários estrangeiros. Para eles, a abertura dos cassinos é uma questão de tempo e muitos já traba-lham com a expectativa de libera-ção no segundo semestre de 2017. Empresários de Las Vegas já estão no país negociando parcerias para abertura de cassinos de luxo em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas. Além do incentivo ao turismo, prevê-se a criação de 450 mil empregos e ar-recadação de R$ 20 bilhões em im-postos. Para Leonardo Baptista, CEO do Betmotion – maior site de jogos e apostas online da América Latina – a ideia central da legalização dos jogos é tornar legal aquilo que já ocorre clandestinamente sem gerar qualquer benefício ao Estado.

A luta pelo voto feminino no Bra-sil começou em 1916, com o regis-tro do primeiro pedido formal de direito ao voto para as mulheres. Cem anos depois, o Brasil amar-ga a 153ª posição no ranking da Inter-Parliamentary Union (IPU) de participação feminina no par-lamento entre os 185 países lis-tados, atrás de países como Serra

Leoa, Somália, Iraque e Afega-nistão. Como se a colocação em si já não fosse decepcionante, há retrocesso: o Brasil perdeu 32 po-sições depois da eleição de 2014. Hoje, há 16% de mulheres no Se-nado e apenas 9,9% na Câmara Federal. Considerando as Améri-cas, o Brasil só está na frente de Haiti e Belize.

A Latam Airlines Brasil anuncia Adriana Conde Fernandes Gomes como sua nova diretora de Ma-rketing. A executiva, que está na companhia desde abril deste ano, é líder da diretoria de Marketing e E-commerce realizando a ges-tão das áreas: Latam Fidelidade, Experiência do Cliente, Digital,

POSSE DA PRESIDENTE DA CODEVASF MARCA 42 ANOS DA EMPRESA

LEGALIZAÇÃO DOS JOGOS JÁ ATRAI INVESTIDORES ESTRANGEIROS

MULHERES ESTÃO NA POLÍTICA HÁ 100 ANOS NO BRASIL

ANDRIGHI LANÇA LIVRO COM HISTÓRIAS PECULIARES

ADRIANA É A NOVA DIRETORA DE MARKETING DA LATAM

E-commerce, Receitas Adicionais (Ancillary), Comunicação & Mar-ca e Patrocínio. Em sua trajetória profissional, Adriana atuou na Nokia como gerente de Marketing (em São Paulo, Dallas e Miami) e, posteriormente, como diretora de Marketing (em Londres). No Bra-sil, entre 2009 e 2011, foi head na área de branding da Monsanto e, recentemente, de 2011 a 2016, di-retora de Marketing e de Produ-tos da Liberty Seguros. Adriana é formada em Engenharia Mecâni-ca pela USP com MBA em Marke-ting pela ESPM São Paulo.

A Justiça Além dos Autos é o livro que a ministra Nancy Andrighi lan-çou em agosto último, no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), pouco an-tes de deixar o cargo de corregedora nacional de Justiça. O livro, organi-zado em homenagem à magistratura brasileira, reúne em 504 páginas 173 casos peculiares vivenciados por ma-gistrados de todo o país no exercício de sua atividade. Histórias seleciona-das pelos coordenadores do projeto, desembargadores Fátima Bezerra Cavalcanti (TJPB) e Pedro Feu Rosa (TJES) e o juiz Álvaro Kalix Ferro. “São situações vivenciadas nos mean-dros de cada instituição, que refletem as esferas individuais, os fatos corri-queiros, e até repetitivos, das facetas

e dos rincões brasileiros”, define a ministra no prefácio. “São casos próprios do relacionamento social, os quais merecem ser divulgados e ponderados, numa demonstração de que as emoções jamais cederão lugar às máquinas e às técnicas da modernidade”, continua.

Na foto, este colunista aniversariando, na Tratoria da Rosario, com o embaixador da Turquia, Hüseyin Lazip Diriöz, e o casal Françoise e Kiriakos Amiridis, embaixatriz e embaixador da Grécia, e o chef Rosário Tessier.

COMEMORAÇÃO

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