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A DITADURA MILITAR E A REDEMOCRATIZAÇÃO BRASILEIRA ANALISADA ATRAVÉS DA MÚSICA

Autora: Mariza Conceição Lopes Vieira1

Orientador: Flávio Massami Martins Ruckstadter2

Resumo

O presente artigo aborda um estudo desenvolvido no projeto PDE referente a Didática do Ensino de História e trata da História do Brasil das décadas de 1960 a 1990, utilizando a música como fonte histórica e recurso didático. Esta proposta de intervenção na realidade escolar foi implementada no 2º semestre de 2011, com alunos do 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual “Prof. Segismundo Antunes Netto”, da cidade de Siqueira Campos. O período estudado se estende entre 1964, com o Golpe Militar, e início da redemocratização do Brasil. A música contribuiu para elucidar determinado contexto histórico, no qual compositores e músicos protestaram, denunciaram e convocaram a população em geral, a lutar por dias melhores. Esta pesquisa surgiu da experiência docente, após verificar que grande parte dos alunos apresenta certa resistência em relação ao estudo de História, pela dificuldade de interpretação dos fatos e das fontes históricas. A música foi o objeto de estudo, pesquisa e análise, como recurso didático, que muito contribuiu para a compreensão do recorte histórico e seu contexto. A intenção principal foi a de tornar as aulas da disciplina mais atraentes, por meio de uma linguagem bem conhecida e aceita no meio estudantil, na qual foi possível questionar as músicas que retrataram uma dada realidade social brasileira, a ter um olhar crítico sobre o fato histórico abordado e por fim, apresentar uma das diferentes formas de ensinar, para uma melhor qualidade do ensino.

Palavra-chaves: Ensino de História; Linguagens; Música; Ditadura Militar; Redemocratização

1 Professora PDE da disciplina de História do Colégio Estadual “Profº Segismundo Antunes Netto”. EFMN.

2 Doutor em Educação, docente do Colegiado de História, Campus de Jacarezinho, Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP).

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho é fruto de momentos de pesquisa, estudo aprofundado,

discussões e reflexões, oportunizados pelo Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE) que, em parceria com a Universidade Estadual do Norte do

Paraná (UENP), possibilitou momentos de intensa reflexão sobre o ensino de

História, especialmente sobre as novas abordagens propostas pelas Diretrizes

Curriculares do Ensino de História do Estado do Paraná.

O PDE é uma política pública de Estado regulamentado pela Lei

Complementar nº 130, de 14 de julho de 2010, que estabelece o diálogo entre os

professores do ensino superior e os da educação básica, através de atividades

teórico-práticas orientadas, tendo como resultado a produção de conhecimento e

mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense.

O problema inicialmente levantado foi a falta de interesse dos alunos pela

disciplina de História. Na visão de grande parte deles, é monótona, cansativa e sem

graça, devido ao fato de sempre estar revirando o passado, mais o agravante de não

terem base teórica suficiente para entender o contexto histórico. Há também a

dificuldade de interpretação dos fatos, apresentados quase sempre em forma de

longos textos narrativos, falando de um tempo que para eles é muito distante e fora

de suas realidades. Justifica-se assim, a importância fundamental da intervenção do

professor com a utilização de novas metodologias e linguagens.

Partindo desse pressuposto, objetivou-se apresentar aos alunos um jeito

agradável de aprender História, através da música, respondendo ao que propõe as

Diretrizes, ao sugerir um trabalho voltado à pesquisa e a investigação de diferentes

fontes históricas, como: músicas, charges, caricaturas, teatro, dança, cinema, jornal,

quadrinhos, entre outros.

Por isso, ao considerar que o ensino de História deve amparar-se em

diferentes linguagens, foi trabalhada a História do Brasil com o recorte histórico e

temporal das décadas de 1960 a 1990. Após esta escolha, lançou-se o desafio de

responder ao seguinte questionamento. Em que medida a música, permite aos

alunos a investigação sobre o contexto histórico e social brasileiro dos anos da

Ditadura Militar e da redemocratização do Brasil?

Assim, na busca de responder tal questão, o projeto de intervenção

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desenvolvido em uma das turmas de 9º ano de Ensino Fundamental, teve como

objetivo, implementar uma prática pedagógica com uma linguagem conhecida e bem

aceita no meio estudantil, com sugestões de análise de letras da produção musical

das décadas de 1960 a 1990, priorizando as músicas de protesto ao regime político

então vigente, as que convocavam a população a tomada de atitudes e aquelas que

faziam críticas ao cidadão brasileiro pacato e conformado, que certamente os alunos

puderam conferir em suas pesquisas.

Portanto, a música, objeto de análise neste trabalho, foi um recurso didático

muito importante para o estudo do tema proposto, visto que os alunos adquiriram

novos comportamentos e até mesmo em sala de aula, onde vivem com os fones de

ouvido ligados às músicas de suas preferências. Diante deste cenário, a intenção foi

a de levar ao aluno, uma proposta de conhecer e questionar músicas que retrataram

uma dada realidade social brasileira; a ter um olhar crítico sobre o que seria a

música como fonte histórica; que consciência se deve ter ao analisar uma letra; a

ideologia que ela transmite; os valores; ideais e mensagens que estão implícitos.

2 A DITADURA MILITAR NO BRASIL E A REDEMOCRATIZAÇÃO ANALISADA

ATRAVÉS DA MÚSICA

As Diretrizes Curriculares do Ensino de História objetivam que “(...) ao

concluir a Educação Básica o aluno entenda que não existe uma verdade histórica

única e sim verdades, sendo elas produzidas a partir de evidências que organizam

diferentes problematizações fundamentadas em fontes diversas (...)” e como

metodologia de ensino, propõe um trabalho voltado à pesquisa e a investigação, de

“(...) diferentes fontes históricas (livros, cinema, canções, palestras, relatos de

memória, etc. (...) Isto é, para além dos documentos oficiais, porém sem deixar de

relacionar, contextualizar e fundamentar teoricamente. (PARANÁ, 2008, p. 69).

O recorte histórico desta pesquisa foram os anos da Ditadura Militar e início

da redemocratização do Brasil. Uma época em que os direitos individuais foram

suprimidos e no qual aconteceram vários conflitos sociais que, mais tarde

possibilitaram mudanças. A música aqui entendida como crítica social ao poder

vigente contribuiu na investigação de determinado contexto histórico, em que

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compositores e músicos protestaram, denunciaram e convocaram a população em

geral, a lutar por dias melhores. Segundo Abud (2005, p.312), “as músicas são

representações, não se constituem em discurso neutro, mas identificam o modo

como, em diferentes lugares e em diferentes tempos, uma determinada realidade

social é pensada e construída.” Nesse sentido, a música de protesto teve grande

repercussão na sociedade da época, se tornando a bandeira de luta dos

movimentos sociais e uma forma de difundir ideias e demonstrar insatisfação com o

poder político dominante.

Nos meios inquietos dos anos 60 e 70 se acreditava que convicções

políticas bastavam para fornecer todas as respostas e nortear as práticas de ensino.

Porém, em tempos atuais de globalização, a qual trouxe consigo a “ideia” de que

tudo deve ser rápido e instantâneo, e o que não serve mais, deve ser descartado.

Assim, a disciplina de História ficou pouco atrativa para alunos que cresceram em

meio a tantas novidades e os professores também encontram dificuldades em

acompanhar as mudanças dos novos tempos e em adequar suas práticas de ensino

e trabalhar com as diferentes linguagens, de modo que seja atraente para os alunos.

“Hoje se sabe que estudar História, interpretá-la, ensiná-la não é tão fácil como

parecia, um mero instrumento de propaganda ideológica ou revolução.” (PINSKY;

PINSKY, 2009, P. 18).

As grandes agitações político-sociais dos anos 60 nasceram no meio

universitário, com a juventude engajada das chamadas lutas estudantis. Países

como França, Inglaterra, Tchecoslováquia, Estados Unidos, México, Brasil, entre

outros, se revoltaram contra seus governos imperialistas e autoritários. Diante de

sistemas governamentais como estes, os jovens fizeram história. Passaram a

questionar as velhas estruturas que sustentavam a sociedade e a exigir uma tomada

de posição quanto às injustiças e misérias humanas. Na América e na Europa, os

jovens protestaram contra as guerras, a corrida armamentista, o poder imperialista, o

racismo, o preconceito, a discriminação de minorias étnicas, o consumismo e os

modelos de educação até então baseados na repressão cultural e sexual.

Esses movimentos de contestação atingiram seu clímax em 1968, quando

vários países do mundo, foram tomados por revoltas de grandes dimensões na

forma de protesto de massa contra a ordem dominante. O capitalismo era visto

como um sistema desumano e explorador e o comunismo era criticado pela falta de

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liberdades democráticas.

O historiador Boris Fausto, afirma que:

1968 não foi um ano qualquer. Em vários países, os jovens se rebelaram, embalados pelo sonho de um mundo novo. Nos Estados Unidos, houve grandes manifestações contra a Guerra do Vietnã; na França, a luta inicial pela transformação do sistema educativo assumiu tal amplitude que chegou a ameaçar o governo De Gaulle. Buscava-se revolucionar todas as áreas do comportamento, em busca da libertação sexual e da afirmação da mulher. As formas políticas tradicionais eram vistas como velharias e esperava-se colocar “a imaginação no poder”. Esse clima, que no Brasil teve efeitos visíveis no plano da cultura em geral e da arte, especialmente da música popular, deu também impulso à mobilização social. (FAUSTO, 2007, p. 477).

É nesse contexto e panorama mundial que despontaram as canções de

protesto. A música serviu como canal de expressão para a juventude refletir sobre

os problemas internos e externos de seus países. No Brasil, os estudantes se

organizaram em torno da União Nacional dos Estudantes (UNE)3 e questionaram um

regime ditatorial que nasceu reprimindo a participação política e as manifestações

que demonstrassem perigo à nova ordem estabelecida.

Os estudantes que tinham tido um papel de relevo no período Goulart foram especialmente visados pela repressão. Logo a 1º de abril, a sede da UNE no Rio de Janeiro foi invadida e incendiada. Após sua dissolução passou a atuar na clandestinidade. As universidades constituíram outro alvo privilegiado. A Universidade de Brasília, criada com propósitos renovadores e considerada subversiva pelos militares, sofreu também invasão um dia após o golpe. (FAUSTO, 2007, p.467).

O Regime Militar que passou a vigorar no Brasil, a partir de 1964 foi

implantado em nome da restauração da ordem e da defesa da democracia. Os

militares tomaram o poder e alteraram completamente as regras da vida política

brasileira, que passou a ser comandada por Atos Institucionais (AIs), os quais

conferiam ao presidente poderes excepcionais, suspendendo os direitos e garantias

estabelecidos na Constituição.

O primeiro episódio da confrontação que marcou o ano de 1968 no Brasil,

aconteceu no mês de março. O restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro, era

parcialmente financiado pelo governo para fornecer alimentação barata aos

estudantes, e passou a ser visto como foco de agitações, nas quais se misturavam

reclamações contra a comida aí servida com críticas militares. Na noite de 28 de

3 A UNE foi criada em 11 de agosto de 1937, na Casa do Estudante do Brasil, no Rio de Janeiro, com o objetivo de discutir temas políticos e sociais. É a entidade de representação dos universitários em âmbito nacional..

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março, os estudantes iriam partir do Calabouço em passeata, mas foram impedidos

pela Polícia Militar. Nesse confronto o estudante paraense Édson Luís de Lima

Souto, foi morto, gerando grande comoção no povo do Rio de Janeiro e

manifestações nas capitais de todo o Brasil. (FAUSTO, 2007, p. 478).

A partir desse momento, os tempos já não eram de paz. Outras

manifestações ocorreram como a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, os

confrontos entre a população e a polícia se tornaram constantes e cada vez mais

reprimidos pelo regime militar. Os conflitos, o clima tenso e a angústia, refletiam nas

músicas e nas artes em geral. A irreverência da juventude deixou as ruas e subiu

nos palcos, num protesto tolerado pelos donos do poder. A peça Roda Viva, de

Chico Buarque, explodiu nos palcos.

Desse período, a música “Pra não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré, transformou-se em hino de resistência, cantada de forma emocionada no Festival Internacional da Canção em 1968, e silenciada, assim como seu autor, até 1979, e que passou a ser mais conhecida por “Caminhando”. (CUNHA, 2005, p.61).

Diante desses movimentos de protesto, o Presidente Artur da Costa e Silva

decretou o mais repressor de todos os Atos Institucionais o AI-5, no dia 13 de

dezembro de 1968, o qual lhe dava plenos poderes, como: de intervir nos estados e

municípios; fechar o Congresso; suspender os direitos políticos; cassar mandatos

eletivos; entre outros, como também a censura prévia a imprensa, ao teatro, ao

cinema e a televisão; universidades e escolas ficaram sob estreita vigilância. “O AI-5

foi o instrumento de uma revolução dentro da revolução”. A essa altura o povo

brasileiro já havia percebido que não se tratava de uma democracia e sim de uma

ditadura, pois “a tortura passa a fazer parte integrante dos métodos do governo”

(FAUSTO, 2007, p. 480).

Sobre os anos de Ditadura Militar, o sociólogo Herbert José de Souza,

comentou em seu artigo na Folha de São Paulo.

O golpe militar de 1964 foi o fim do voto, da liberdade, da dignidade do cidadão. Começo da tortura, da morte, da tentativa de inibir a liberdade pelo reino do terror. Lutar contra a ditadura era prova de loucura. Custou para que os sinais se invertessem e o poder se dobrasse. A sociedade se levantou, movida a amor pela liberdade. O golpe deixou um Congresso sem poder e dignidade. Um Congresso corrompido. Um judiciário domesticado. Partidos medrosos. Civis servis de militares arrogantes. Riqueza para uma minoria e a pobreza e indigência para a maioria. Transformou o Brasil num

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grande apartheid social. (SOUZA, 1994).

Depois de 1964, aumentou a importância da música popular brasileira (MPB)

como forma de resistência na vida dos brasileiros. Estudantes, músicos, artistas

saíram às ruas para denunciar a ditadura e convocar a sociedade a exigir a volta da

democracia. Nesse contexto, as produções musicais engajadas tiveram grande

repercussão entre a população. Destacaram-se compositores como: Geraldo

Vandré, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo, Milton Nascimento,

entre outros, como observou um historiador: (…) tornaram-se porta-vozes dos

valores democráticos e emancipadores, que se contrapunham à realidade política

vigente. (NAPOLITANO, 1998 p. 45).

A contestação pela música tinha como objetivo “conscientizar politicamente”

a sociedade em geral e protestar contra o autoritarismo do governo federal, como

pode ser verificado no decorrer da História.

Nos anos 1970 e 1980, outros nomes, também se destacaram: Ivan Lins,

Fagner, Moraes Moreira, Belchior, Hermeto Pascoal, João Bosco, Aldir Blanc, Zé

Ramalho, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Tom Zé, Elis Regina, Rita Lee, Raul

Seixas, entre outros.

Os 21 anos de governo militar no Brasil caracterizaram-se pelo agravamento

dos problemas sociais, inflação, dívida externa e também pela hostilidade às

manifestações culturais. Escritores, compositores, cineastas, tiveram suas

produções artísticas censuradas, quando não foram presos, torturados e exilados.

Para melhor entender o papel dos artistas e pela própria evolução dos

acontecimentos, esse período pode ser dividido em três fases: a primeira se deu de

1964-1968, foi a época dos grandes festivais, da canção de protesto, de denúncias

sociais e de agitação no meio estudantil. Dessa fase, a canção “Ensaio Geral”, de

Gilberto Gil, retrata muito bem as passeatas do movimento estudantil, convidando o

povo para que apoiasse a luta. A segunda foi de 1968-1974, após o AI-5. Nesse

período, tudo tinha que passar pela avaliação da censura e só era aprovado o que

não ofendesse o sistema de governo. Essa fase foi marcada pela canção “Apesar de

Você”, de Chico Buarque, que fazia uma séria crítica a tudo o que acontecia no país,

e a terceira fase, de 1974-1985. Nessa época, a Igreja Católica assume as lutas

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populares, acontecem passeatas de estudantes e greves operárias articuladas pelo

movimento sindical. A canção “Coração de Estudante”, de Wagner Tiso e Milton

Nascimento, sintetiza a esperança de novos tempos para o sofrido povo brasileiro.

A abertura política foi lenta e gradual. Após mais de uma década a

sociedade se mobilizou e forçou as mudanças do regime com as manifestações

públicas, reunindo milhares de pessoas como, por exemplo, na campanha pela

anistia (1979) e a campanha pelas Diretas Já (1984). O povo voltou a cantar as

músicas que foram censuradas, entre elas, “Caminhando” de Geraldo Vandré.

Artistas famosos foram a comícios para cantar e apoiar o movimento das Diretas.

Em 15 de janeiro de 1985 aconteceu a eleição indireta de Tancredo Neves e José

Sarney. Não foi como o povo esperava, mas mesmo assim foi muito festejada, pois

significava a volta da tão sonhada democracia. Porém, a ansiedade e a expectativa

do povo brasileiro durariam mais algum tempo. Tancredo Neves adoeceu e morreu

antes da posse, e o seu vice, José Sarney, assumiu a presidência com o

compromisso de redemocratizar o Brasil e elaborar de uma nova Constituição que

contemplasse igualdade de direitos para todos.

Com a abertura do regime político, o radicalismo dos jovens dos anos 60 e

70 foram tomando outras direções, sem, contudo deixar de fazer valer seus

protestos quando necessário. Exemplo disso foi o impeachment (1992) do ex-

presidente Fernando Collor de Mello, os “caras-pintadas”, como foram rotulados.

Porém, outros desafios passaram a ser questionados como: desigualdade social,

ecologia, drogas, consumismo e a chamada “geração coca-cola.” No campo da

música surgem outras tendências musicais como o rock, o funk e o hip-hop.

Compositores e músicos continuaram a fazer suas críticas diante do cenário da

história brasileira em suas produções. Entre eles os grupos musicais: Skank, Ultraje

a Rigor, Legião Urbana, Os Paralamas do Sucesso, Engenheiros do Hawaii, Cidade

Negra e Cazuza, com a música “Brasil” de 1988, causando grande repercussão na

sociedade da época, pois denunciava os podres da política vigente.

3 O ENSINO DE HISTÓRIA E A NECESSIDADE DE UMA REVISÃO

Uma das principais discussões nos últimos tempos sobre o ensino de .

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História tem sido o uso de diferentes linguagens como fontes históricas, isto é, para

além dos livros didáticos tradicionais, em que se priorizavam os conteúdos de

natureza política e enalteciam os “heróis” nacionais, considerados os únicos sujeitos

da História. Nessa nova abordagem, o ensino de história passou a dar voz e vez ao

homem comum, até então marginalizado e não considerado como sujeito histórico e

isso passou a exigir dos professores uma reflexão sobre sua prática em sala de

aula, aprofundamento do conhecimento e permanente atualização.

Ao utilizar a música como fonte histórica e recurso didático, esta pesquisa se

propôs responder às novas linguagens e abordagens que a metodologia da História

atual exige. Conforme afirma Abud que:

“(...) no processo de aprendizagem as fontes se transformam em recursos didáticos, na medida em que são chamadas para responder perguntas e questionamentos adequados aos objetivos da história ensinada”. (ABUD, 2005, p.310).

Para isso, foi necessário pensar esta música que fazia crítica social a uma

realidade de determinado período da História do Brasil e analisar em que contexto

histórico viviam os compositores e cantores da época.

Existem diferenças entre ouvir música e pensar a música. Por isso que, ao

propor a formação do aluno/cidadão: “o ensino de História deve organizar-se no

sentido do entendimento da realidade do aluno, contribuindo para que ele se

exercite no ato de pensar e de se expressar” (CABRINI, 2005, p.14).

Nesse sentido, a música é uma possibilidade de superar a apatia e

desinteresse pelo saber, devido muitas vezes, à vivência de uma realidade

desalentadora que impede o aluno de se perceber como sujeito histórico. Pensar a

linguagem musical de determinado período da História, não é tarefa simples; “no

processo de transformação da música para ser ouvida em música para ser

compreendida, é importante acompanhar a produção historiográfica sobre a música

e entender como os historiadores a pensam”. Assim, somente a investigação e a

pesquisa histórica, permitirão a análise do contexto em que viviam compositores e

cantores da época e o esclarecimento dos fatos abordados nas composições. Por

isso é importante que “o professor conheça a história da música, se possível,

especialmente a história da música no Brasil.” (BITTENCOURT, 2008, p. 380).

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Portanto, este trabalho teve como objetivo principal, aproximar o conteúdo à

vida do aluno, de relacionar passado e presente, levando-o a perceber as

transformações, mudanças e permanências no decorrer da História e a verificar que

a História é construção feita pelo povo de seu tempo e que mesmo uma canção

precisa ser analisada e pensada sobre a ideologia que a mesma transmite. “Um

panfleto, por melhor que seja, nunca será lido mais do que uma vez, mas uma

canção é memorizada e repetida vez após vez.” (HILL apud FIUZA, 2005, p. 86)

4 O TRABALHO APLICADO E RELATO DE EXPERIÊNCIAS

O presente projeto “Ensino de História e Música”, foi uma proposta de

intervenção na realidade escolar, desenvolvido em uma das turmas do 9º Ano do

Ensino Fundamental do Colégio Estadual “Prof. Segismundo Antunes Netto”. EFMN,

da cidade de Siqueira Campos, dividido nas seguintes etapas:

Inicialmente foi feito a apresentação do projeto à Direção, Equipe

Pedagógica, professores e funcionários, durante a formação continuada, quando do

retorno das férias no mês de julho de 2011, com a presença da equipe de

coordenação do Núcleo Regional de Educação de Ibaiti. A proposta foi bem aceita

pela Direção e Equipe Pedagógica da escola, que deu total apoio, para que fosse

possível desenvolver este trabalho com a turma selecionada para a implementação.

Num segundo momento, o projeto foi apresentado aos alunos, com a

explicação de todos os passos que deveriam realizar como: pesquisas das músicas,

associadas a charges, caricaturas, jornais, entrevistas com professores e alunos

desse período, cartazes, exposição das pesquisas, dança, teatro, entre outras

atividades, com o compromisso de que ao final fariam a apresentação dos trabalhos

para os demais alunos da escola.

A metodologia seguiu as orientações das Diretrizes Curriculares, relacionada

à História Temática, privilegiando conteúdos da História do Brasil e de acordo com o

Projeto Político Pedagógico do Colégio. A fundamentação teórica foi pesquisada nos

materiais disponíveis na biblioteca, na internet utilizando o laboratório do colégio e

inclusive livros didáticos e textos complementares, que contextualizam a História do

Brasil nas décadas de 1960 a 1990 e que correspondiam ao tema selecionado para

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a pesquisa.

O conteúdo exposto em sala de aula foi feito através de documentários,

vídeos, depoimentos de pessoas, leitura de textos históricos, aula expositiva,

entrevistas e por fim, as músicas que tinham como finalidade “conscientizar

politicamente” a sociedade. Tudo acompanhado de muita reflexão sobre o papel da

produção cultural engajada em oposição ao Regime Militar. Foi uma oportunidade

oferecida aos alunos de aprender História pela análise das letras das músicas, bem

como pensar a linguagem musical como forma e expressão de lutas e de

experiência histórica.

A partir desta exposição realizou-se um questionamento onde os alunos

responderam por escrito as seguintes questões: Quais as suas expectativas sobre a

participação neste projeto? Você acha que é possível aprender História com a

análise de letras de música? Por quê? A maioria afirmou que seria muito

interessante aprender História através da música.

Logo após esse questionamento, organizou-se juntamente com os alunos

um roteiro de trabalho, e eles foram divididos em grupos para as pesquisas. Cada

grupo pesquisou determinadas músicas, com um roteiro pré-elaborado, para

posterior apresentação em sala: compositor, intérprete, data da produção musical,

meio de divulgação, realidade social brasileira retratada nas músicas e o contexto

histórico da época. Entre elas: Pra não dizer que não falei das flores / 1968 Geraldo

Vandré / Composição: Geraldo Vandré; Cálice / 1970 Chico Buarque / Composição:

Chico Buarque e Gilberto Gil; Apesar de você / 1970 Chico Buarque / Composição:

Chico Buarque; O bêbado e a equilibrista / 1972 Elis Regina / Composição: João

Bosco e Aldir Blanc; Aluga-se / 1980 Raul Seixas / Composição: Cláudio Roberto /

Raul Seixas; Coração de Estudante / 1983 Milton Nascimento / Composição:

Wagner Tiso / Milton Nascimento; Inútil / 1985 Ultraje A Rigor / Composição: Roger

Rocha Moreira; Toda forma de poder / 1986 Engenheiros do Hawaii / Composição:

Gessinger; Que País é Esse? / 1978/1987 Legião Urbana / Composição: Renato

Russo; Brasil / 1988 Cazuza / Composição: Cazuza / Nilo Roméro e George Israel;

Pacato Cidadão / 1995 Skank/ composição: Samuel Rosa e Chico Amaral.

O encaminhamento seguinte foi a exposição geral do tema e a discussão do

papel dos artistas e intelectuais, diante da censura, a repressão do governo federal e

as manifestações dos movimentos sociais, pela reabertura política. Estes momentos

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foram ilustrados com depoimentos dos sobreviventes dos porões da Ditadura,

gravados da novela “Amor e Revolução” do SBT, que estava passando no mesmo

período da implementação do projeto. Estes depoimentos foram muito importantes,

pois confirmaram o que os alunos estavam pesquisando, complementando com

outros vídeos de documentários da época e análise de textos complementares.4

Importante destacar a entrevista com uma Profª de Geografia, estudante da

época da Ditadura Militar, a qual residia em Santa Maria (RS), cidade onde havia

quartel do exército e DOPS.5 Esta professora expôs sua experiência enquanto

estudante, afirmando que havia espiões dentro de sua própria sala de aula e que no

pátio os alunos deveriam ficar espalhados, nunca em grupos e se houvesse alguma

desconfiança por parte dos espiões sobre algum aluno, este era convidado a

comparecer no DOPS, para investigação e dependendo da denúncia ia parar atrás

das grades. Muitos estudantes e líderes estudantis foram presos, submetidos à

tortura ou “desapareceram”. Foi um momento rico de informações, confirmando tudo

o já havia sido exposto.

Os resultados das pesquisas sobre as músicas, foi discutido com a turma em

mesa redonda, complementando com a análise do significado das figuras de

linguagem, das mensagens subliminares e pseudônimos retratados nas letras das

composições e ainda com a apresentação de vídeos das músicas na TV multimídia

e o ensaio das mesmas. Cada passo realizado, foi registrado em um portfólio e ao

final todos haviam montado suas pastas contendo as músicas, análises das

mesmas, entrevistas, depoimentos, pesquisas realizadas, constituindo assim, um

arquivo considerável de estudo. Isso se comprova com o depoimento de uma aluna

”Aprendi mais História com a música, do que com os livros”. (Maria, 14 anos). 6 Na

verdade, esta aluna, assim como os outros em seus depoimentos, aprenderam mais

História com os livros, porém eles foram motivados através da música e outras

fontes, a pesquisar o conteúdo, por isso, afirmam que aprenderam mais.

4 A novela estreou em abril de 2011 e terminou em 31 de agosto do mesmo ano, o contexto histórico foi inteiramente na época da ditadura Militar, entre as décadas de 60 e 70. Ao final de cada capítulo havia um depoimento dos sobreviventes da tortura, do exílio e de pessoas que perderam parentes, entre outros.5 DOPS – Departamento de Ordem Política e Social, órgão do governo brasileiro, criado em 1924, cujo objetivo era controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime no poder.6 Para preservar a identidade dos alunos e demais participantes do projeto, utilizamos nomes fictícios.

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Alerta-se que ao apresentar para os alunos tais músicas, deve-se levar em

conta que eles desconhecem tanto as músicas, quanto o sentido atribuído a elas.

Quando se ouve a mesma gravação/interpretação, já não se pode ter o mesmo

sentido original.

Cabe ao professor (...), aproximar o aluno dos personagens concretos da História, sem idealização, mostrando que gente como a gente vem fazendo História. Quanto mais o aluno sentir a História como algo próximo dele, mais terá vontade de interagir com ela, não como uma coisa externa, distante, mas como uma prática que ele se sentirá qualificado e inclinado a exercer. O verdadeiro potencial transformador da História é a oportunidade que ela oferece de praticar a “inclusão histórica”. (PINSKY; PINSKY, 2009, p. 28).

Por isso, o professor deve orientar seus alunos para que não se perca o

sentido, devido à mudança de contexto, mas também, atribuir sentido condizente

com o contexto atual. Fazer as relações com o passado e o presente, as mudanças

e permanências dos problemas sociais do país em todos os tempos. Isso é

fundamental para que o aluno tenha consciência de que é “sujeito de sua própria

história e, por conseguinte, da História Social do seu tempo.” (PINSKY; PINSKY,

2009, p.28).

Após cumprir o cronograma previsto no projeto, no mês de dezembro, foi

feito a apresentação aos demais alunos do colégio, com as canções trabalhadas e

outros trabalhos realizados, como: exposição dos cartazes confeccionados por eles

com as charges pesquisadas, explicações, músicas relacionadas a estas charges e

caricaturas, bem como o coral onde eles cantaram parte de algumas músicas.

Professores e alunos que assistiram as apresentações gostaram muito, pois

realmente a turma conseguiu demonstrar que havia aprendido História, com as

músicas e atividades complementares realizadas em outras fontes de pesquisa.

Como sugere Alexandre Fiúza:

“As canções podem se traduzir em outras manifestações artísticas em sala de aula: pinturas, charges, teatralizações, produção textual, paródias, composições musicais que, por sua vez, podem também fazer parte do material a ser utilizado em sala, ser pensados como documentos, como novas formas de problematização dos temas propostos.” (FIÚZA, 2005, p. 96).

Todo o desenvolvimento do trabalho se deu de forma intensa, com muitas

atividades, faltando ainda a dança com a música “Roda Viva” de Chico Buarque e o

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teatro com a música “O Bêbado e a equilibrista” de João Bosco e Aldir Blanc. Os

alunos sentiram muito, pois já haviam feito alguns ensaios, porém faltou tempo,

como citou uma aluna: “Foi uma experiência gratificante, pena que acabou e ainda

ficaram coisas por fazer, mesmo assim, valeu a pena” (Patrícia, 14 anos). Pode-se

perceber a satisfação dos alunos, como até exagerou um outro: “Aprendi mais com

esse projeto, do que em todos os outros anos de escola juntos.” ( Renato, 14 anos).

Outra aluna acrescentou: “Agradeço a Profª Mariza, que nos permitiu sair da rotina e

aprender com mais facilidade.” (Aline, 14 anos). Ao final de tudo realizado, em seus

depoimentos, puderam relatar a importância desse trabalho para a disciplina de

História, respondendo ao seguinte questionamento:

Com base no Projeto “Ensino de História e Música”, associado a outras

atividades realizadas através de leituras de textos, vídeos, charges, caricaturas,

quadrinhos, análise de letras de músicas, documentários, pesquisas, entre outras,

dê sua opinião sobre o trabalho realizado destacando a importância da música como

fonte histórica.

Uma das alunas disse que é possível aprender fatos importantes de nossa

trajetória histórica através da abordagem da música:

Sim, é possível aprender História através da música, pois as músicas falam de fatos históricos importantes e facilitam a aprendizagem. Com a participação neste projeto aprendi conteúdos que vou guardar para toda a vida (Leila, 14 anos).

O desenvolvimento desse projeto, com análise de músicas, pôde confirmar

para os professores, que a música é um recurso facilitador de aprendizagem e

prazerosa para os alunos.

Como afirma outro aluno:

Aprendemos bastante sobre a Ditadura Militar com o uso da música. Nunca pensei que determinadas músicas pudessem refletir o contexto histórico de uma época e este trabalho me proporcionou isto (Alex, 14 anos).

Uma das pedagogas da escola Professora Leocimara Laura de Faria

Azevedo, que acompanhou a implementação do projeto, deu o seguinte depoimento.

“Adentrar em uma sala de aula e presenciar os alunos – lendo, explicando, argumentado, cantando, expondo suas opiniões sobre momentos que aconteceram na vida de um País que traz até hoje as marcas de um

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período sórdido, desumano como a violação dos direitos humanos – foi surpreendente e porque não dizer que foi mesmo emocionante. Desde o momento em que a professora apresentou esta proposta de trabalho para a escola já se pensava que a ideia teria tudo para gerar respostas satisfatórias. E foi assim de etapa em etapa. A professora foi conduzindo os trabalhos e os alunos foram se envolvendo e o mais importante aprendendo e refletindo sobre a história. Durante a apresentação era nítido o efeito causado nos diferentes públicos: nos mais jovens a curiosidade e a concentração para não perder a sequência dos fatos e assim poder entender o trabalho dos colegas e também a vontade de participarem de um trabalho semelhante; nos adultos a constatação do valor da música na sala de aula aliando o gosto por essa produção artística com as intenções e mensagens que cada letra reproduz conforme o contexto de cada momento histórico. É relevante destacar que estudar historia é entender que cada ser humano é um ser histórico, mas estudar a historia por meio da música oportuniza entender que também pela arte se pode manifestar o entendimento de mundo – de homem – de cultura e ainda se pode manifestar ideias e opiniões libertas do senso comum participando dos principais momentos de tomada de decisões de uma sociedade, tendo como fator motivador a defesa dos interesses públicos. (Leocimara Laura de F. Azevedo)

Os professores que participaram do Grupo de Trabalho em Rede – GTR, em

que foram discutidos nas temáticas, os aspectos relevantes do projeto e umas das

temáticas consistia justamente na análise do projeto e discussão sobre a

importância do uso da música como fonte histórica, todos foram unânimes em

responder que a música é importante fonte histórica e recurso didático do qual não

se deve abrir mão e ainda mais que está de acordo com as DCEs. A música possui

uma memória, está inserida na história, faz da parte do cotidiano, proporciona

aprendizagem dinâmica e prazerosa, aproxima o aluno com o tema de estudo,

desperta o interesse, permite conhecer estilos musicais de outra época, não tem um

conteúdo neutro, ela sempre vem acompanhada de uma intenção e permite análise

da realidade histórica, social e política de um período. Enfim, abre outras

possibilidades de trabalho como: dança, teatro, pesquisa, filmes, comparações,

entre outras.

Outra temática abordada pelo grupo do GTR foram os aspectos do Material

Didático Pedagógico que em síntese os professores participantes disseram que a

temática pôde oferecer possibilidades de explorar um conteúdo usando recursos que

despertam o interesse e curiosidade dos alunos, por ser a música algo que faz parte

da realidade dos mesmos, oportunizando a compreensão histórica e análise crítica

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do período em questão e o momento atual. As possibilidades são variadas,

interessante também, mostrar para o aluno que nesse período além das músicas de

protesto, havia as músicas de exaltação à Pátria, aprovadas pelo governo, como

forma de fomentar o ufanismo no país. Apresentar as duas versões da história em

que passava o país naquele momento, é muito importante para que o aluno possa

fazer uma análise crítica e tirar suas próprias conclusões. A observação de uma

professora participante do GTR reforça que

O projeto e as diretrizes pregam, que o objetivo da História é que se tenha uma metodologia, voltada a pesquisa e a investigação de diferentes fontes históricas. Devido a própria resistência dos alunos em relação à disciplina, pois estuda bastante o passado. Devemos trazer para nossas aulas, formas interessantes e prazerosas de ensinar a história, que venham ao encontro desta motivação. A música é uma possibilidade de superar a apatia e o desinteresse pelo saber. Como já dizia o pensador à música é o acalanto da alma. Nós professores de escola pública, temos que cada vez mais melhorar e buscar novas formas de incentivo aos nossos alunos, para que eles próprios se motivem a pesquisarem e inovarem seus sonhos e projetos para o futuro, avançando através do conhecimento e não se desmotivando e tentando desistir. Quem sabe através do gosto pela música haja assim, um objeto norteador de pesquisas e o gosto pela história analisada. As músicas destas décadas do projeto foram de um tempo revolucionário e os jovens de hoje têm sempre dentro de si um pouco de revolucionário, de querer cobrar, de buscar soluções, e isso é bom, faz de nossos alunos críticos, já que as grandes lutas destas décadas nasceram no meio universitário. Que os jovens de hoje aprendam, não só a cobrar, mas também a participar das decisões de nosso país e assim transformá-lo em dias melhores. (Profª Marina).

Ao final do Grupo de Trabalho em Rede, pôde-se considerar que a música

foi o fio condutor que levou os professores a ampliar as possibilidades de trabalho,

tiveram suas práticas pedagógicas enriquecidas, ao compartilharem suas

experiências e sugeriram diversas estratégias da ação. Foi provado na prática que é

possível ensinar História através da música de qualquer época ou período histórico.

Concluiu-se também que a Escola Pública, tem excelentes profissionais,

responsáveis e comprometidos e de que vale a pena acreditar que usando

metodologias diferenciadas, é possível fazer a diferença na aprendizagem dos

alunos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao Confrontar a história tratada nos livros didáticos e outros documentos

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oficiais, com a música, comprovou-se o potencial que a mesma possui para

enriquecer a prática docente. Apontou para a viabilidade de usá-la como opção

metodológica, atentando para as suas relações como objeto de estudo e seus

efeitos no período em que foram produzidas.

Pode-se considerar que o objetivo principal deste trabalho foi alcançado; o

uso de uma linguagem diferenciada, a música, no processo de ensino e

aprendizagem tornou as aulas de História mais dinâmicas e motivadas. Levou os

alunos a pesquisarem e investigarem, como demonstraram nas apresentações. Isto

possibilitou a eles o sentimento de serem capazes de produzir conhecimento e de

fazer história. Embora não fosse objeto deste estudo, a análise das letras das

músicas associada a outras análises como de textos escritos, vídeos, charges,

caricaturas, quadrinhos, documentários, depoimentos e entrevistas, muito contribuiu

com a prática docente, não se esgotando aqui as possibilidades de estratégias e

ações, que poderão ser realizadas para auxiliar o aluno na compreensão do

contexto histórico e que igualmente, seja motivação para entender que costumes e

hábitos do cotidiano vividos no presente, podem ser explicados historicamente

através da música.

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