Brasil - Caso 12.001 - Simone

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    RELATRIO N 66/06[1]

    CASO 12.001MRITO

    SIMONE ANDR DINIZBRASIL

    21 de outubro de 2006

    I. RESUMO

    1. No dia 7 e 10 de outubro de 1997, o Centro pela Justia e o Direito Internacional(CEJIL), a Subcomisso do Negro da Comisso de Direitos Humanos da Ordem dos Advogadosdo Brasil (OAB/SP) e o Instituto do Negro Padre Batista, apresentaram ante a ComissoInteramericana de Direitos Humanos (doravante a Comisso ou a CIDH) uma petio contraa Repblica Federativa do Brasil, (doravante Brasil, o Estado ou o Estado Brasileiro). Areferida petio denunciou violao dos artigos 1, 8, 24 e 25 da Conveno Americana sobreDireitos Humanos (doravante a Conveno ou a Conveno Americana) e, em funo do

    artigo 29 desse mesmo instrumento, os artigos 1, 2 (a), 5 (a)(I) e 6 da Conveno Internacionalpara a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao Racial (doravante Conveno Racial),em prejuzo da senhora Simone Andr Diniz.

    2. Os peticionrios alegaram que o Estado no garantiu o pleno exerccio do direito justia e ao devido processo legal, falhou na conduo dos recursos internos para apurar adiscriminao racial sofrida pela senhora Simone Andr Diniz e por isso descumpriu a obrigaode garantir o exerccio dos direitos previstos na Conveno Americana.

    3. O Estado prestou informaes alegando que o Poder Judicirio j havia emitidosentena decisria sobre o assunto objeto da presente denncia e que, segundo o Governo, o

    caso apresentado no configurava nenhuma violao de direitos humanos.

    4. A Comisso chega concluso de que o Estado responsvel pela violao aodireito igualdade perante a lei, proteo judicial e s garantias judiciais consagradasrespectivamente nos artigos 24, 8 y 25 da Conveno Americana. A Comisso determinaigualmente que o Estado violou a obrigao que impe o artigo 1(1) de respeitar e garantir osdireitos consagrados na Conveno. Finalmente a CIDH efetua as recomendaes pertinentes aoEstado brasileiro.

    II. TRMITE ANTE A COMISSO E SOLUO AMISTOSA

    5. Nos dias 7 e 10 de outubro de 1997, a CIDH recebeu denncia contra o EstadoBrasileiro. Na data de 10 de abril de 1998 a CIDH notificou ao Estado e lhe concedeu prazo de 90dias para responder. Em 12 de maio de 1998 o Estado enviou nota fazendo consideraes sobreo caso e comprometendo-se a oportunamente enviar informaes pertinentes ao caso. Em 2 deoutubro de 1998 os peticionrios enviaram fax requerendo a incluso do Instituto do NegroPadre Batista, como co-peticionrio na denncia ora em anlise. Em 3 de novembro de 1998 a

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    CIDH enviou ao Governo nota onde reiterou o pedido de informao feito em 10 de abril de 1998e concedeu ao Estado o prazo de 30 dias. Em 9 dezembro de 1998, o Governo Brasileiroapresentou suas observaes sobre a denncia.

    6. A Comisso publicou Relatrio de Admissibilidade N 37/02, em 2002, com o qual

    determinou que era competente para analisar o mrito do caso.[2]Em 20 de dezembro de 2002,os peticionrios solicitaram prorrogao do prazo para enviar observaes de mrito sobre ocaso. A Comisso, em 6 de janeiro de 2003, concedeu o prazo adicional de dois meses aospeticionrios, para apresentao de observaes. Em 20 de fevereiro de 2003, os peticionriossolicitam uma prorrogao de um ms para enviar suas observaes.

    7. A Comisso, em 26 de fevereiro de 2003, concede um ms de prorrogao aospeticionrios, nesta mesma oportunidade, a Comisso enviou aos peticionrios cpias dasrespostas do Governo emitidas nas datas de 12 de maio e 8 de dezembro de 1998. Em 5 demaio a Comisso acusa recebimento das observaes enviadas pelos peticionrios sobre o mritodo caso, nas datas de 25 de maro e 5 de abril de 2003. Na data de 8 de maio de 2003, atravsde comunicao enviada a ambas as partes, a Comisso se colocou disposio das mesmaspara iniciar uma Soluo Amistosa, fixando um prazo de 30 dias para iniciar o procedimento. Em14 de maio de 2003, a Comisso concede prazo de 60 dias para que o governo brasileiro efetuesuas observaes comunicao dos peticionrios.

    8. Em 14 de julho de 2003 o Estado brasileiro enviou suas observaes, mesmaoportunidade na qual manifestou interesse em iniciar uma Soluo Amistosa. Na data de 16 dejulho do mesmo ano a Comisso abriu prazo de 15 dias para que os peticionrios aportassemsuas observaes. Em 15 de agosto de 2003 a Comisso acusou recebimento de petio dospeticionrios atravs da qual manifestavam a inteno de iniciar o procedimento de SoluoAmistosa proposto pelo Estado brasileiro. Na data de 8 de setembro de 2003, a CIDH enviou aoEstado brasileiro cpia da petio enviada pelos peticionrios e lhe concedeu prazo de 30 diaspara se manifestar sobre o mesmo.

    9. Em 12 de dezembro de 2003, a Comisso acusou recibo de comunicao enviada

    pelos peticionrios em 7 de novembro de 2003, atravs da qual manifestavam sua desistncia do

    procedimento de Soluo Amistosa em razo da ausncia de proposta por parte do Estado, aomesmo tempo em que requeriam CIDH que aprovasse um relatrio de mrito do caso. Na datade 12 de dezembro de 2003, a Comisso transmitiu ao Estado a comunicao enviada pelospeticionrios em 7 de novembro. O governo brasileiro, em nota de 15 de janeiro de 2004, solicitauma audincia para o 119 perodo de sesses da CIDH. Em nota de 29 de janeiro de 2004, oEstado solicita a excluso do caso da pauta de audincias. Em nota de 11 de fevereiro de 2004 oEstado solicita o adiamento da audincia para o 120 perodo de sesses da Comisso.

    III. POSIO DAS PARTES

    A. Posio dos Peticionrios

    10. Os peticionrios alegaram na exordial que o Estado Brasileiro violou os direitos da

    senhora Simone Andr Diniz, concernente ao cumprimento do disposto nos artigos 1.1, 8, 24 e25 da Conveno Americana e, em funo do artigo 29 desse mesmo instrumento, os artigos 1,2 (a), 5 (a) (I) e 6 da Conveno Internacional para a Eliminao de Todas as Formas deDiscriminao Racial. Assim, os peticionrios solicitaram a responsabilizao do Brasil pelaviolao dos direitos acima mencionados, a recomendao para que o Estado procedesse apurao e investigao dos fatos, indenizao vtima e publicidade sobre a resoluo dopresente caso a fim de prevenir futuras discriminaes baseadas em cor ou em raa.

    11. Segundo os peticionrios, na data de 2 de maro de 1997, a senhora AparecidaGisele Mota da Silva, fez publicar no jornal "A Folha de So Paulo", jornal de grande circulaono Estado de So Paulo, na parte de Classificados, nota atravs da qual comunicava o seuinteresse em contratar uma empregada domstica onde informava que tinha preferncia por

    pessoa de cor branca.[3]Tomando conhecimento do anncio, a vtima Simone Andr Diniz, ligoupara o nmero indicado, apresentando-se como candidata ao emprego. Atendida pela senhoraMaria Tereza - pessoa encarregada por D. Aparecida para atender os telefonemas das

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    candidatas, foi indagada por esta sobre a cor de sua pele, que de pronto contestou ser negra,sendo informada, ento, que no preenchia os requisitos para o emprego.

    12. Os peticionrios aduziram que a senhora Simone Diniz, denunciou a discriminaoracial sofrida e o anncio racista Subcomisso do Negro da Ordem dos Advogados do Brasil,Seo So Paulo, e, acompanhada de advogado, prestou notitia criminisjunto a ento Delegaciade Crimes Raciais. Em 5 de maro de 1997 foi instaurado Inqurito Policial de nmero

    10.541/97-4[4] para apurar a eventual violao do artigo 20 da Lei 7716/89, que define a

    prtica de discriminao ou preconceito de raa como crime.[5] O delegado de polciaresponsvel pelo Inqurito tomou depoimento de todas as pessoas envolvidas: a suposta autora

    da violao e seu esposo, a suposta vtima e testemunha e a senhora que atendeu o telefonemada senhora Simone Diniz.

    13. De acordo com os peticionrios, na data de 19 de maro de 1997 o delegado depolcia elaborou relatrio sobre a notcia crime e o enviou ao Juiz de Direito. Dando cincia aoMinistrio Pblico sobre o Inqurito somente o Ministrio Pblico tem legitimidade paracomear a Ao Penal pblica, este se manifestou em 02 de abril de 1997, pedindo arquivamentodo processo fundamentando que:

    no se logrou apurar nos autos que Aparecida Gisele tenha praticado qualquer atoque pudesse constituir crime de racismo, previsto na Lei 7.716/89 e que no havia nos

    autos qualquer base para o oferecimento de denncia.[6]

    14. Os peticionrios informaram que o Juiz de Direito, prolatou sentena dearquivamento em 07 de abril de 1997, com fundamento nas razes expostas pelo membro do

    Ministrio Pblico.[7]

    15. Os peticionrios alegaram que o Inqurito Policial tinham indcios de prova

    suficientes e adequados para a denncia penal baseada na violao do artigo 20 caputda Lei7716/89, uma vez que estavam comprovadas a autoria e a materialidade do delito penal.Demais disso, informaram que a s publicao de anncio discriminatrio j se configuraria como

    crime punvel de acordo com o pargrafo 2 do artigo 20 da mesma Lei, residindo nesses fatosfundamento suficiente para o Ministrio Pblico ter iniciado a Ao Penal.

    16. Outrossim, segundo os peticionrios, o Ministrio Pblico tambm no poderia terbaseado sua fundamentao no fato alegado, e no provado, de que a senhora Aparecida teriatido experincia negativa com empregada negra que maltratou seus filhos. Tais fatos, segundoos peticionrios no autorizavam a senhora Aparecida a discriminar qualquer outra domstica decor negra. De outra forma, o somente fato de ser casada com um homem negro tambm no aeximia ou a tornava menos culpada da prtica do delito.

    17. Por fim, aduziram que ainda que o Ministrio Pblico desse seu parecer pelo

    arquivamento do Inqurito policial, o juiz de direito no estava obrigado a aceit-lo. Se agiudessa forma, foi porque igualmente no agiu de forma diligente na apurao dos fatos.

    18. Os peticionrios alegaram que o Estado Brasileiro se comprometeu a cumprir odisposto na Conveno Internacional para a Eliminao de Todas as Formas de DiscriminaoRacial e conseqentemente a condenar a discriminao racial e zelar para que as autoridadespblicas nacionais ou locais atuem em conformidade com essa obrigao. Outrossim,informaram que, conforme a referida conveno, o Brasil se comprometeu a garantir o direitode cada um igualdade perante a lei, sem distino de raa, de cor direito a um tratamentoigual perante os tribunais ou qualquer rgo que administre a justia.

    19. Demais disso, informaram que o Brasil se obrigou a assegurar a qualquer pessoaque estiver sob sua jurisdio, proteo e recursos eficazes perante os tribunais nacionais eoutros rgos do estado competentes, contra quaisquer atos de discriminao racial que,contrariamente presente Conveno, violarem seus direitos individuais e suas liberdadesfundamentais, assim como o direito de pedir a esses tribunais uma satisfao ou reparao justae adequada por qualquer dano de que foi vtima, em decorrncia de tal discriminao.

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    20. Os peticionrios alegaram que no sistema processual penal brasileiro, da sentenaque determina o arquivamento do inqurito policial, no cabe recurso, a no ser que surjamfatos novos que autorizem e justifiquem a abertura de nova investigao. Ainda segundo ospeticionrios, tal deciso impediu a senhora Simone Diniz de provar em sede de Ao Penal quea senhora Aparecida Gisele praticou discriminao racial, bem como foi encerrada para aquela apossibilidade de propositura de Ao Civil por Danos Morais, caso a autora tivesse sidocondenada. Tais atos, violaram seu direito de acesso justia. No mesmo diapaso, senhoraSimone lhe foi negado o direito de ter sido tratada igualmente pela Justia, em relao quelasvtimas que tiveram suas denncias investigadas e denunciadas pelo Ministrio Pblico paraapurao de responsabilidade.

    B. Do Estado

    21. O Estado, em escrito datado de 12 de maio de 1998, informou que encaminhariaoportunamente informao pertinente que viesse a receber sobre o caso. No obstante isso,declarou que da leitura da petio no leva forosamente percepo de que em suacomunicao Comisso os peticionrios tenham claramente fundamentado a alegada violaoda Conveno Americana sobre Direitos Humanos e da Conveno para Eliminao de todas asFormas de Discriminao Racial.

    22. Com efeito, o Governo Brasileiro pontuou que o processamento automtico de

    peties manifestadamente infundadas poderia gerar desconforto desnecessrio, alm de desviarescassos recursos materiais e humanos disponveis nessa Comisso e nos estados Membros paratramitar peties que deveriam ser declaradas inadmissveis ab initio".

    23. Demais disso, o Estado recordou que o artigo 47, letra c da ConvenoAmericana de Direitos humanos, bem como o artigo 41, letra c do regulamento da Comisso,determinam que a Comisso declare inadmissvel toda petio que, pela exposio do prpriopeticionrio ou do Estado, for infundada ou improcedente. O chamado princpio pro homine,que rege os sistemas de proteo internacional dos direitos humanos e segundo o qual cabeaos Estados o nus da prova s faz sentido em contexto de alegaes verossmeis efundamentadas. Do contrrio, corre-se o risco de minar a transparncia e a segurana jurdica

    do sistema.24. O Estado aduziu que o caso em comento no configurava violao de direitos

    humanos. Disse que o inqurito policial foi conduzido de acordo com o que preceitua alegislao brasileira e arquivado pela autoridade judiciria competente com base em parecer doMinistrio Pblico aps terem sido ouvidos os depoimentos das pessoas envolvidas.

    25. Em sua resposta de 14 de julho de 2003, na qual aceitava iniciar o processo de

    Soluo Amistosa, o Estado informou que pretendia responder s alegaes feitas pelospeticionrios no curso do processo da soluo amistosa, oportunidade na qual exporia a evoluoocorrida no Brasil no campo da promoo da igualdade racial. Assim mesmo, sublinhou que:

    O Governo brasileiro no nega a existncia e a dimenso do problema racial no Brasil:tanto nas discusses internas mantidas com setores interessados da sociedade civil,quanto nos relatrios apresentados aos rgos internacionais de monitoramento, oEstado brasileiro reconhece a natureza do problema e tem dado provas de suadeterminao em super-lo, com a colaborao ativa da sociedade.

    IV. ANLISE SOBRE O MRITO

    A. Fatos estabelecidos

    26. Da anlise dos elementos de convico disponveis como pronunciamentos daspartes e documentos adunados, a Comisso d por estabelecido os seguintes fatos:

    27. Na data de 2 de maro de 1997, a senhora Aparecida Gisele Mota da Silva, fezpublicar na parte de Classificados do jornal A Folha de So Paulo, o seguinte anncio:domstica. Lar. P/ morar no empr. C/ exp. Toda rotina, cuidar de crianas, c/docum. E ref.;Pref. Branca, s/filhos, solteira, maior de 21a. Gisele

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    28. A senhora Simone Andr Diniz, de cor negra, para candidatar-se vaga anunciada,

    ligou para o telefone informado no anncio, tendo sido atendida por uma colega de trabalho deAparecida Gisele Mota da Silva, de pr-nome Maria Tereza, que lhe indagou sobre a cor de suapele. Em contestando ser negra, Simone Andr Diniz foi informada que no preenchia osrequisitos exigidos para o cargo.

    29. A senhora Simone Andr Diniz, por se sentir vtima de racismo em base a sua cor,registrou ocorrncia na Delegacia de Investigaes de Crimes Raciais, no dia 2 de maro de1997.

    30. O Inqurito Policial foi instaurado sob o nmero 10.541/97-4, para apurar a prticado crime de racismo estabelecido no artigo 20 da Lei 7716/89 que dispunha: "praticar, induzir ouincitar, pelos meios de comunicao social ou por publicao de qualquer natureza, adiscriminao ou preconceito de raa, cor, etnia, religio ou procedncia nacional. Pena:recluso de 2 a 5 anos e multa."

    31. No Inqurito Policial foram ouvidas Simone Andr Diniz que declarou haver tomadoconhecimento do anncio quando procurava emprego atravs dos Classificados do jornal A Folhade So Paulo e ligando para o nmero indicado foi rejeitada para o trabalho em razo de sernegra, conforme o teor de sua declarao abaixo transcrita:

    "Devidamente intimada, a vitima, declara as fls. 06, que procurava emprego, quandouma sua amiga deparou com o anuncio fls. 04 dos autos, demonstrando indignao.Que telefonou ao numero anunciado, e foi quando lhe solicitaram que informasse a corde sua pele. Que ao responder ser negra, teve como resposta no preencher osrequisitos para o cargo."

    32. Nos autos do mesmo Inqurito Policial, foi ouvida sua colega Paula Ribeiro da Silvaque confirmou que ambas estavam procurando emprego e que Simone ligou para o nmeroanunciado e que a pessoa que a atendeu, de prenome Maria, informou que candidatas negrasno poderiam concorrer vaga anunciada, conforme sua declarao abaixo transcrita;

    "...que encontrava-se junto com sua amiga Simone, consultando os classificados doJornal a Folha de So Paulo, quando notou um anuncio para vaga de DOMESTICA, noqual dizia pref. Branca. Que sua amiga ali telefonou, e foi consultada sobre sua cor depele, tendo informado ser negra, ao que ouviu que no preenchia os quadros para o

    cargo."[8]

    33. A senhora Gisele Silva tambm prestou depoimento confirmando haver feito

    publicar o anncio em que procurava uma empregada domstica preferencialmente branca.Declarou que a preferncia era em razo do fato de haver tido uma empregada domstica negraque havia maltratado seus filhos;

    34. O marido de Gisela Silva, Jorge Honrio da Silva, tambm prestou depoimentoconfirmando as declaraes feitas por sua esposa, Gisela Silva.

    35. O relatrio final do Inqurito Policial foi enviado ao Ministrio Pblico em 19 demaro de 1997.

    36. O Ministrio Pblico do Estado de So Paulo, em 2 de abril de 1997, emitiu parecerrequerendo arquivamento do feito, por falta de base para o oferecimento da denncia.

    37. O Juiz do Departamento de Inquritos Policiais, em data de 7 de abril de 1997,

    acolheu e adotou como razo de decidir o pronunciamento do Ministrio Pblico e determinou oarquivamento dos autos.B. Anlise da Responsabilidade Internacional do Estado por fato praticado

    por particular38. A Comisso inicialmente gostaria de se pronunciar sobre a responsabilidade

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    internacional do Estado brasileiro com relao aos fatos aqui analisados.

    39. Na jurisdio internacional, as partes e a matria da controvrsia so, por

    definio, distintas das da jurisdio interna.[9] Alicerada na jurisprudncia da Corte

    Interamericana,[10] no presente caso, a Comisso tem atribuies, no para investigar esancionar a conduta individual entre particulares, mas sim para estabelecer a responsabilidadeinternacional do Estado em razo da violao dos direitos consagrados nos artigos 8.1, 24 e 25da Conveno Americana.

    40. Como ressaltado pela mesma Corte,

    [11]

    o direito internacional dos direitoshumanos tem por finalidade proporcionar ao indivduo meios de proteo dos direitos humanosreconhecidos internacionalmente frente ao Estado e todos aqueles que atuam em seu nome. Eque um princpio bsico do Direito Internacional dos Direitos Humanos, que todo o Estado internacionalmente responsvel por todo e qualquer ato ou omisso de qualquer de seus poderesou rgos em violao dos direitos internacionalmente consagrados.

    41. Em uma relao entre particulares, deve-se levar em conta que existe umaobrigao de respeito dos direitos humanos entre particulares. A Corte Interamericana, desde osprimeiros casos contenciosos que resolveu, vem esboando a aplicao dos efeitos da ConvenoAmericana em relao a terceiros (erga omnes), tendo assinalado que:

    pois claro que, em princpio, imputvel ao Estado que toda violao aos direitosreconhecidos pela Conveno cumprido por um ato do poder pblico ou de pessoas queatuam prevalecidas dos poderes que ostentam por seu carter oficial. No obstante, nose esgotam ali as situaes nas quais um Estado est obrigado a prevenir, investigar esancionar as violaes aos direitos humanos, nem os supostos em que suaresponsabilidade pode ver-se comprometida pelo efeito de uma leso a esses direitos.Com efeito, um fato ilcito, violatrio dos direitos humanos que inicialmente no resulteimputvel diretamente a um Estado, por exemplo, por ser obra de um particular ou porno se haver identificado o autor da transgresso, pode acarretar a responsabilidadeinternacional do Estado, no por esse fato em si mesmo, mas sim pela falta da devidadiligncia para prevenir a violao ou para trat-la nos termos requeridos pela

    Conveno.[12]

    42. A Corte tambm deixou claro que essa obrigao de respeito e garantia dosdireitos humanos frente a terceiros se baseia tambm em que os Estados so os quedeterminam seu ordenamento jurdico, o qual regula as relaes entre particulares e, por tanto,o direito privado, pelo que devem tambm velar para que nessas relaes privadas entreterceiros se respeitem os direitos humanos, j que do contrrio o Estado pode resultar

    responsvel pela violao dos direitos.[13]

    43. Portanto, embora tratar-se o presente caso de uma relao havida entre

    particulares no caso, Simone Andr Diniz e Aparecida Gisele Mota da Silva -, o Estadobrasileiro tinha a obrigao de velar para que nessa relao fossem respeitados os direitoshumanos das partes a fim de prevenir a ocorrncia de uma violao, bem como, naeventualidade de haver a violao, buscar, diligentemente, investigar, processar e sancionar oautor da violao, nos termos requeridos pela Conveno Americana.

    C. Anlise do Direito Igualdade perante a Lei e No Discriminao1. Resumo sobre a situao racial no Brasil44. A Comisso gostaria de comear citando suas prprias concluses a respeito da

    situao dos afro-brasileiros, que tomou conhecimento quando de sua visita in loco ao Brasil em1995. Nessa visita, a Comisso foi informada de que no Brasil, de uma maneira geral, os afro-brasileiros se encontram em uma situao de vulnerabilidade como sujeitos de direitos humanose particularmente em uma situao de diferena de poder com relao populao branca.Persistem ainda hoje diferenas que distam de uma igualdade mnima aceitvel, discriminaesque se traduzem em muitos casos, em padres atentatrios aos direitos humanos,

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    especialmente igualdade, no-discriminao e ao direito dignidade.[14]

    45. Num persistente contexto de profunda desigualdade estrutural que afeta os afro-

    brasileiros,[15] pesquisa realizada pelo IPEA tem demonstrado a sobre-representao dapobreza entre os negros brasileiros, numa concentrao que tem se mantido estvel ao longo do

    tempo.[16]De acordo com a pesquisa, em 1999 os negros representavam 45% da populao dopas, mas correspondiam a 64% da populao pobre e 68% da populao indigente. Segundoconcluiu a pesquisa, nascer negro no Brasil est relacionado a uma maior probabilidade decrescer pobre.

    46. Na rea da educao, em todas as regies do Brasil, o analfabetismo entre negros

    , de longe, mais alto do que entre os brancos.[17]Segundo dados do IBGE de 1999, 21% dapopulao afro-descendente era analfabeta contra 8% da populao branca. Entretanto,considerando-se a alfabetizao funcional, definida pela a UNESCO como o domnio da leitura,escrita, matemtica e cincias, equivalente a, no mnimo, educao at o quarto ano primrio,22.7% dos brancos e 41% dos afro-descendentes so funcionalmente analfabetos no Brasil.

    47. Dados sobre mortalidade infantil demonstram que para cada grupo de 1.000crianas negras ou mestias, 62 no viviam at a idade de 1 ano, enquanto a taxa de

    mortalidade das crianas brancas, num grupo de 1.000 era de 37.[18]

    48. Pesquisas sobre o sistema criminal judicial brasileiro,[19]do conta do acesso

    diferencial de brancos e negros justia criminal. Na cidade de So Paulo, que no ano de 1980contava com uma populao branca de 72.1% e negra (pretos e pardos) de 24.6%, havia umamaior proporo de rus negros condenados (68.8%) do que rus brancos (59.4%), em virtudedo cometimento do mesmo crime. A absolvio favorecia preferencialmente brancos (37.5%),comparativamente a negros (31.2%).

    49. Da mesma forma, rus negros condenados esto proporcionalmente muito maisrepresentados do que sua participao na distribuio racial da populao do municpio de So

    Paulo. No sendo o mesmo cenrio quando se trata de rus brancos. Neste caso, a proporo decondenados brancos inferior participao dessa etnia na composio racial da mesmapopulao. A pesquisa concluiu que tal contexto sugere uma certa afinidade eletiva entreraa e punio.

    50. De outra maneira, a violncia policial no Brasil vitimiza desproporcionalmente

    pretos e pardos. A Comisso tomou conhecimento que no Brasil,[20]o perfil racial determina umalto nmero de detenes ilegais e que a populao negra mais vigiada e abordada pelosistema policial, sendo esse tema objeto de recomendao pela Comisso no somente em

    relatrio geral sobre o pas mas tambm em relatrio de mrito.[21]

    51. Com efeito, de acordo com outro levantamento,[22]ficou manifesto que no Rio deJaneiro, o perfil da maioria das crianas e adolescentes assassinados, em um conjunto de 265investigaes, de pobre, sexo masculino, negro e mulato. Em outra investigao conduzida

    pelo ISER,[23]comprovou-se que a incidncia da raa no uso da forca policial letal talvez seja afonte de violaes mais graves dos direitos humanos no Brasil.

    52. Depois de avaliar mais de 1000 homicdios cometidos pela Polcia do Rio de Janeiroentre os anos de 1993 e 1996, o relatrio concluiu que a raa constituiu um fator que incide napolcia seja conscientemente ou no quando atira para matar. Quanto mais escura a peleda pessoa, mais susceptvel est de ser vtima de uma violncia fatal por parte da polcia.Concluiu dizendo que a violncia policial discriminatria pois alcana em maior nmero e com

    maior violncia aos negros. Com efeito, em seu relatrio para o CERD o governo brasileiroreconheceu a letalidade da ao policial no Brasil quando a vtima era no branca.[24]

    53. A desigualdade no mercado de trabalho tambm atinge a populao afro-brasileira.

    Para socilogos, o emprego visto como o melhor indicador na anlise social. Segundo Telles,[25]o conceito de desigualdade racial atravs da anlise de emprego pode ser definido como a

    http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn25http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn24http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn23http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn22http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn21http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn20http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn19http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn18http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn17http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn16http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn15http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn14
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    vantagem ou desvantagem que um grupo tem sobre outro em uma escala de tipos de ocupao.

    54. Para demonstrar essa desigualdade, segundo pesquisa conduzida pelo INSPIR,[26]

    que coletou informao sobre salrios de trabalhadores em 6 reas metropolitanas do pas, ossalrios dos trabalhadores negros so sistematicamente menor do que trabalhadores no-negros. De acordo com a pesquisa, isso o resultado de uma combinao de fatores, tais comoprecoce entrada no mercado de trabalho, colocao de trabalhadores negros nos setores menosdinmicos da economia, desproporcionalidade no nmero de negros que so empregados emposies informais e que no exigem muita qualificao.

    55. De outra forma, pesquisa do IBGE de 1999 demonstrava que 5.7% da populaobranca empregada ocupava posies de empregadores contra 1.3% de negros e 2.1% demestios. Igualmente, 5.7% da populao branca empregada ocupava posio de trabalhador

    domstico contra 13.4 de negros e 8.4 de mestios.[27]

    56. Em outra pesquisa conduzida sobre prtica discriminatria no mercado de trabalho

    dois aspectos chamaram a ateno[28](1) a discriminao racial era uma prtica permanente ediria que garantia privilgios econmico e simblico para trabalhadores brancos e (2) aintegrao no local de trabalho no era obstaculizada pelos negros, mas pelos brancos quebloqueavam a entrada e mobilidade daqueles no mercado de trabalho.

    57. Relativamente discriminao no recrutamento, a mesma pesquisa constatou que"a discriminao foi relatada em recrutamento e seleo pessoal em todos os tipos de trabalho,seja entre empregadas domsticas, servios gerais ou trabalhadores profissionais. Testemunhoscoletados durante a pesquisa indicaram que a identidade racial era avaliada na admisso, noobstante essa prtica no fosse oficial."

    58. Para ilustrar, em duas denncias de discriminao racial em recrutamento, atravsde anncios de emprego publicados pelo jornal A Folha de So Paulo, a promotoria pblica pediuo arquivamento dos inquritos. No primeiro caso, procurava uma assistente administrativa louraou japonesa, com boa aparncia. As partes envolvidas negaram responsabilidade pelo anncio o

    que foi aceito pelo Ministrio Pblico. O segundo caso, buscava um garom experiente ebranco. Aqui o Ministrio Pblico estabeleceu que o anncio era discriminatrio mas nodeterminou qual das partes era responsvel pelo mesmo, da por que o arquivamento do feito.[29]

    59. Em outro caso de discriminao no recrutamento ocorrido tambm em So Paulo,em 1994, o anncio veiculado em jornal procurava um advogado que possusse boaapresentao. A investigao no foi capaz de identificar a pessoa da firma de advocacia que fezveicular o anncio. Ademais, a firma argiu que uma vez que no tinha admitido nenhumadvogado que tivesse respondido ao anncio, no havia cometido nenhum crime. Por esta razo,o Ministrio Pblico sugeriu o arquivamento do feito.

    2. Evoluo do Ordenamento Jurdico Anti-Racismo no Brasil60. A Comisso sabe que a condio de vulnerabilidade dos afro-brasileiros tem uma

    dimenso histrica que mantida por questes de fato como a que ocorreu por exemplo comSimone Andr Diniz e que conduz ao estabelecimento de diferenas no acesso de uns e outros adireitos bsicos, como por exemplo, acesso justia, direito educao, ao trabalho etc.

    61. A Comisso reconhece que o Brasil, atento a essa realidade e no cumprimento de

    tratados internacionais sobre a matria,[30]construiu um ordenamento jurdico em matria deproteo e garantias contra o preconceito e a discriminao racial, como o caso da penalizao

    de tal prtica.[31]

    62. Para se ter uma idia da evoluo jurdica da penalizao do racismo no Brasil, o

    governo brasileiro, j na segunda metade do sculo XX, promulgou a Lei N 1390/51, conhecidacomo Lei Afonso Arinos, que tipificava a prtica de preconceito de cor ou de raa comocontraveno penal, ou seja, crime de menor potencial ofensivo, punido com pena de deteno

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    (mximo de um ano) e multa.63. Embora fosse o primeiro estatuto jurdico que criminalizava o racismo, segundo

    estudiosos do assunto,[32] tal lei produzia efeitos meramente simblicos por tratar a matriacomo contraveno, com penas reduzidas que no coibia a prtica do crime. Ademais, em seusquase 38 anos de existncia foi quase letra morta, tendo sua inaplicabilidade no pelainexistncia de casos concretos de racismo, ou pela recusa de potenciais vtimas em denunciarcasos, mas sobretudo pelas imperfeies tcnicas da prpria lei que, por ser enumerativa, no

    abarcava toda a mirade de condutas racistas.[33]

    64. Finalmente, por estatuir como contraveno prticas decorrentes de preconceito de

    raa ou de cor, limitava o alcance da lei para cobrir somente atos que limitava, impediaexplicitamente o direito de ir e vir do cidado em razo de preconceito de cor ou raa.

    65. Alm disso, j naquela poca, quando da anlise de casos de racismo, geralmente

    os tribunais descaracterizavam a contraveno opinando que se tratavam de mal entendidos.

    66. Para ilustrar essa afirmao, podemos destacar um julgado do Tribunal de AladaPaulista, que absolveu um ru acusado de haver probido a entrada de estudante negro norecinto de um clube, sob o argumento de no haver configurado a infrao contraveno penal,

    mas sim apenas um mal entendido entre ele e a diretoria do clube.[34] Tratava-se, aduzia a

    deciso, de indivduo estranho na cidade que no se identificou, desde logo, como componentede uma caravana estudantil. Estava em causa a inteligncia do artigo 4 da Lei 1390/51: recusara entrada de algum , por preconceito de raa ou de cor, em estabelecimento publico dediverses ou de esporte.

    67. Posteriormente, a Constituio de 1998 distinguiu este crime em sede prpria,entre os direitos e deveres individuais e coletivos, no ttulo destinado aos Direitos e GarantiasFundamentais, artigo 5, XLII, onde o racismo passou a ser considerado crime e, por suagravidade, era inafianvel (a priso no poder ser relaxada em favor do criminoso) eimprescritvel (a pena perene, no ficando o Estado impedido de punir a qualquer tempo oautor do delito), sujeito pena de recluso. O Brasil tambm fez incluir no artigo 4, inciso VIII,

    de sua Constituio Federal, o repdio ao terrorismo e ao racismo como princpio que rege suasrelaes internacionais.

    68. Em conseqncia deste statusconstitucional da coibio da prtica de racismo, foi

    editada a Lei N 7716/89,[35]que regulamentou e definiu os crimes resultantes do preconceitode raa e de cor. Esta Lei foi posteriormente modificada pelas Leis Ns 8081/90, 8882/94 e9459/97 que ampliaram seu objeto, para aprimorar artigos, suprimir outros. e incluir a puniodos crimes resultantes de discriminao ou preconceito de etnia, religio ou procedncianacional.

    69. A Lei 9459/97 modificou particularmente o artigo 20 da Lei 7716/89 para

    estabelecer como crime a prtica, a induo e o incitamento da discriminao ou preconceito edeterminar que a prtica atravs de meio de comunicao social agravaria o crime. Ademais,modificou o artigo 140 do Cdigo Penal para incluir a figura penal de injria racista quesancionava a injria consistente na utilizao de elementos referentes raa, cor, etnia, religioou origem.

    3. Problemas na Aplicao da Lei Anti-Racismo no Brasil

    70. No obstante a evoluo penal no que tange ao combate discriminao racial noBrasil, a Comisso tem conhecimento que a impunidade ainda a tnica nos crimes raciais.Quando publicou relatrio sobre a situao dos direitos humanos no pas, a Comisso chamou aateno para a difcil aplicao da lei 7716/89 e como a Justia brasileira tendia a sercondescendente com a prtica de discriminao racial e que dificilmente condenava um branco

    por discriminao.[36]Com efeito, uma anlise do racismo atravs do Poder Judicirio poderialevar falsa impresso de que no Brasil no ocorrem prticas discriminatrias.

    71. Tambm o Comit que fiscaliza a Conveno Racial da ONU, em suas Observaes

    http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn36http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn35http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn34http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn33http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn32
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    Finais a respeito do Relatrio submetido pelo Brasil, deixou clara sua preocupao com adifundida ocorrncia de ofensas discriminatrias e a inaplicabilidade da legislao domstica paracombater os crimes raciais.

    72. Nessa oportunidade o Comit recomendou ao Estado brasileiro que coletasse

    dados estatsticos sobre investigaes abertas e sanes impostas, bem como recomendou que ogoverno melhorasse programas de treinamento e conscientizao sobre a existncia e otratamento de crimes racistas por parte das pessoas envolvidas na administrao de justia,

    incluindo juizes, promotores, advogados e policiais.[37]

    73. Os peticionrios assinalam que a maioria das denncias de crimes de preconceito ediscriminao racial no se convertem em processos criminais e dos poucos processados, umnmero nfimo de perpetradores dos crimes condenado.

    74. Mesmo no caso de So Paulo, onde existia uma delegacia para crimes raciais, os

    crimes no eram de todos investigados ou as denncias no eram processadas. Na prtica, afalta de uma investigao diligente, imparcial e efetiva, a discricionariedade do promotor parafazer a denncia e a tipificao do crime, que exige que o autor, aps a prtica do atodiscriminatrio, declare expressamente que sua conduta foi motivada por razes dediscriminao racial so fatores que contribuem para a denegao de justia para a investigaodos crimes raciais e a impunidade.

    75. Para ilustrar com alguns dados o padro de desigualdade no acesso justia para

    as vtimas de crimes de cunho racial, de 300 Boletins de Ocorrncia analisados, de 1951 a 1997,nas cidades do Rio de Janeiro, So Paulo, Salvador e Porto Alegre, apenas 150 foramconsiderados como crime pelos delegados de policia chegando ao estgio de inqurito policial.Desses, somente 40 foram encaminhados pelo Ministrio Pblico para uma ao penal contra odiscriminador, dos quais apenas nove cinco em So Paulo e quatro no Rio Grande do Sul

    chegaram a julgamento.[38]

    76. Segundo Telles, a impunidade nos casos de racismo reflete a brandura da

    legislao especifica, a ineficcia do sistema de justia criminal do Brasil e a m-vontade dosrepresentantes da Justia ao analis-los.Primeiramente, para condenar algum por racismo, as leis anti-racismo brasileirasexigem que o acusado tenha agido com inteno racista. Alem disso, os tribunaisdemonstram falta de seriedade para lidar com esse tipo de crime. Os juizes evitam imporas pesadas sentenas estabelecidas pela Constituio aos culpados por crime de racismo.Juizes e promotores, assim como demais membros da sociedade brasileira, vemsupostos incidentes de racismo como incuos e no esto dispostos a colocar osinfratores atrs das grades por um tipo de comportamento que comum na sociedade

    brasileira.[39]

    77. Desde os idos de 1995, a Comisso tem recebido informaes que j davam contada ineficcia da lei anti-racismo no Brasil, dada a seu laconismo, que revelava umsegregacionismo que no refletia o racismo existente no Brasil e a resistncia de membros dopoder judicirio em aplic-la. De acordo com essas informaes, a Comisso pde identificar pelomenos trs causas para a ineficcia da aplicao da Lei 7716/89 no Brasil, o que far continuao.

    Necessidade de provar dio racial ou a inteno de discriminar78. Segundo ilao da Comisso, a Lei 7716/89, no representou maior avano no

    campo da discriminao racial por ser excessivamente evasiva e lacnica e exigir, para atipificao do crime de racismo, o autor, aps praticar o ato discriminatrio racial, declare

    expressamente que sua conduta foi motivada por razes de discriminao racial".[40]Se no ofizesse, seria sua palavra contra a do discriminado.

    79. Racusen[41] examinou sistematicamente vrias denncias de racismo e

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    discriminao racial no Brasil e, segundo ele, os juizes brasileiros requerem evidncia direta dotratamento desigual no qual o ato discriminatrio no somente ofende algum com base em suaraa mas tambm demonstra a motivao discriminatria. Por conseguinte, numa eventual aopenal, a maioria dos juizes requeriam a comprovao de trs elementos (1) evidncia direta doato discriminatrio (2) evidncia direta da discriminao do ofensor para o ofendido e (3)evidncia da relao de causalidade entre aqueles.

    80. Para o autor, a exigncia de todos aqueles elementos para a comprovao do atoracista, representa um standardevidencirio muito alto, difcil de alcanar. Conseqentemente,um ofensor poderia replicar qualquer desses trs elementos refutando no ser uma pessoa

    preconceituosa, no possuir uma viso preconceituosa do ofendido ou que essa viso noconstituiu motivao. Ao invs de inferir causalidade da ordem cronolgica em que ocorreram osfatos ou a lgica, os juizes brasileiros geralmente examinam o comentrio discriminatrio doofensor de maneira estreita e requer evidncia direta de causalidade.

    81. Contextualizando essa prtica legal, ele constatou que a Lei 7716/89 herdou da leiAfonso Arinos o conceito de discriminao racial como um preconceito de raa ou de cor queexige para a sua comprovao a explcita prtica do racismo e a inteno do ofensor de

    discriminar a vtima[42]

    82. Ainda segundo Racusen,[43]a lei no define preconceito. Os brasileiros s vezesusam os termos preconceito, discriminao, racismo e desigualdade permutavelmente. Opreconceito tem mltiplos significados no Brasil: dio, intolerncia, noes pr-concebidas sobreoutra pessoa e depreciao verbal. A expresso de dio, como um explcito crime de dio degrupos de inspirao nazista a forma mais fcil de preconceito analisado pelos juizes. Mas anoo de preconceito tambm se refere a mau tratamento velado por um perpetrador que agecom base em noes pr-concebidas o que um tipo muito diferente de preconceito e difcil deser assimilado pelos tribunais brasileiros.

    83. Esse standardaplicado pelo Judicirio brasileiro, levou at mesmo o governo a

    afirmar junto ao CERD que h decises que no punem discriminao racial em razo da faltaou insuficincia de evidncia ou fraude maliciosa, que considerada elemento subjetivo docrime. Em ltimo ponto requer que o dio racial seja provado, uma tarefa difcil de ser

    conseguida.[44]

    Racismo Institucional

    84. A Comisso tem conhecimento que o racismo institucional um obstculo

    aplicabilidade da lei anti-racismo no Brasil. Da prova testemunhal, passando pelo inqurito napolcia at a deciso do Judicirio, h preconceito contra o negro. Os trs nveis so incapazes de

    reconhecer o racismo contra o negro.[45]

    85. Segundo informou os peticionrios, este tratamento desigual que dado aos

    crimes raciais no pas, seja na fase investigativa, seja na judicial, reflete a distino com que osfuncionrios da polcia e da justia tratam as denncias de ocorrncia de discriminao racial,pois na maioria das vezes em que recebem estas denncias, alegam a ausncia de tipificao docrime e dificuldade em provar a inteno discriminatria toda vez que o perpetrador nega quequis discriminar a vtima, como fatores para no processar a denncia.

    86. Pretende-se tambm minimizar a atitude do agressor, fazendo parecer que tudono passou de um mal entendido. Poucos ou rarssimos casos so denunciados, entre estes, amaioria barrada na delegacia, onde os delegados minimizam a ao do acusando, entendendocomo simples brincadeira ou mal entendido. Das denncias que chegam a virar inqurito, muitas

    so descaracterizadas como mera injria.[46]

    87. Essa prtica tem como efeito a discriminao indireta na medida em que impede oreconhecimento do direito de um cidado negro de no ser discriminado e o gozo e o exercciodo direito desse mesmo cidado de aceder justia para ver reparada a violao. Demais disso,tal prtica causa um impacto negativo para a populao afro-descendente de maneira geral. Foi

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    isso precisamente que ocorreu com Simone Andr Diniz, quando buscou a tutela judicial para versanado a violao de que foi vtima.

    88. Segundo Teles,[47]o racismo consciente e explcito, na forma de insultos raciais,apesar de repreensveis, so menos importantes para a manuteno da desigualdade racial doque as sutis prticas individuais e institucionais, comumente caracterizadas como racismoinstitucional. Ainda de acordo ao autor, estas prticas, no Brasil, derivam da forma de pensarque naturaliza a hierarquia racial e provavelmente causam mais danos dos que os menoscomuns e mais divulgados insultos raciais.

    Desclassificao do racismo para Injria Genrica ou Racista89. O autor da injria racista no Brasil, na maioria das vezes fica impune. Segundo

    advogados de organizaes afro-brasileiras, o fato do insulto racista no estar enquadrado na lei7716/89, cria um empecilho na administrao da justia pois a injria, segundo o Cdigo PenalBrasileiro crime de ao privada e depende da iniciativa da vtima para ser iniciado. Entretanto,

    a maioria das vtimas de racismo no Brasil pobre e no tem como contratar advogados.[48]

    90. Segundo Racusen,[49] durante o perodo de 1993 a 1995, a DelegaciaEspecializada em Crimes Raciais em So Paulo, classificou como crimes de Injria 75% das

    reclamaes recebidas na Delegacia e somente 18% das queixas foram classificadas de acordocom a Lei 7716/89. Das alegaes classificadas como Injria, 20% foram investigadas e 3%resultaram em processo judicial. Segundo Racusen, uma alegao de injria, era 9 vezes maisimprovvel de alcanar um tribunal brasileiro do que uma classificada como discriminao racial.

    91. Nessa mesma linha, a organizao Centro de Articulao de Populaes

    Marginalizadas CEAP, que atua no Rio de Janeiro e mantm um programa legal deacompanhamento s vtimas de discriminao racial, informou que a maioria das denncias dediscriminao racial recebidas naquela cidade pela organizao, foram classificadas como injria.[50]

    92. As razes acima explicitadas, que servem como filtro para o processamento deeventuais denncias de racismo, seja atravs da lei 7716/89, seja atravs do art. 140 do CdigoPenal, levou o governo brasileiro a informar ao CERD que a jurisprudncia brasileira

    inconsistente e heterognea sobre a questo da discriminao racial.[51] Com efeito, hdecises que no punem discriminao racial em razo da falta ou insuficincia de evidncia oufraude maliciosa, que considerada elemento subjetivo do crime. Em ltimo ponto requer que odio racial seja provado, uma tarefa difcil de ser conseguida.

    93. Relativamente s desclassificaes da discriminao racial e injria racista, o

    governo brasileiro, em seu relatrio para o CERD, informou aos membros daquele Comit que:No obstante o fato da lei 7716/89, em criminalizar atos decorrentes de discriminaobaseada na raa ou na cor, ter representado um claro avano, uma das maiores crticasao texto centra-se no fato de que ele no incluiu, dentro da definio dos atosconsiderados criminosos, crimes envolvendo difamao de natureza discriminatria. Emno incluindo, dentro da Lei 7716/89, atos difamatrios fundados em discriminao racial(xingamentos, atos de denegrio, abuso verbal), estes eram finalmente classificadoslegalmente, no como racismo, mas como difamao em sentido geral (e.g., insulto,difamao). Entretanto, enquanto racismo punvel com pena de priso de um a cincoanos, difamao punvel com pena de priso de seis meses. Adicionalmente, crimes dedifamao so iniciados somente atravs de ao penal privada (cuja prescrio de seismeses), enquanto crimes de racismo so iniciados atravs de ao penal pblica.

    Enquanto prescrio, enquanto racismo imprescritvel, crimes de difamao soprescritveis dentro de um curto perodo de tempo (dois anos no caso de difamao).[52]

    94. Mesmo com a posterior criao da figura penal da injria racista,[53]aquela queassocia elementos como raa, cor, etnia, religio ou origem, o governo vai mais longe e apontaque mesmo que a lei tenha feito distino entre injria genrica e aquelas baseadas em

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    discriminao (por raa, cor, origem, etnia ou religio), conferindo a esta uma pena mais severa,essa lei permanece mais fraca que o tratamento prescrito para os crimes de racismos prescritosna lei 7716/89, alm do que, por ser esse crime perseguvel somente por ao privada, quandoum particular tipo de conduta reduzida de racismo para injria, a vitima forada a abrir uma

    ao dentro do breve prazo de seis meses restantes, o que leva o crime a no ser punido.[54]

    4. Violao do Direito de Simone Andr Diniz Igualdade e no

    Discriminao95. Segundo os peticionrios, o arquivamento da denncia feita por Simone Andr

    Diniz, representa uma situao generalizada de desigualdade no acesso justia e impunidadenos casos de denncia de crimes com motivao racial. Com efeito, tal conjuntura revelaria aineficcia da Lei 7716/89 uma vez que esta no tem sido aplicada pelas autoridades brasileiras egera no Brasil uma situao de desigualdade de acesso justia para aqueles que so vtimas depreconceito racial e racismo.

    96. Esses fatores, segundo os peticionrios, e os dados acima demonstrados tmresultado em suspenses de investigaes, investigaes parciais e arquivamento de inquritospor suposta falta de fundamento para a denncia.

    97. A Comisso j julgou que toda vtima de violao de direitos humanos deve ter

    assegurada uma investigao diligente e imparcial e, em havendo indcios de autoria do delito,deve ser iniciada a ao pertinente para que juiz competente, no marco de um processo justo,determine ou no ocorrncia do crime, como ocorre com todo delito levado ao conhecimento daautoridade pblica.

    98. Em assim no ocorrendo com as denncias de discriminao racial levadas a efeitopor pessoas afro-descendentes no Brasil, o Estado Brasileiro viola flagrantemente o princpio daigualdade insculpido na Declarao e Conveno Americanas, as quais se obrigou a respeitar eque determinam que todas as pessoas so iguais perante a lei e tm direito, sem discriminao,a igual proteo da lei.

    99. Em primeiro lugar a Comisso entende que excluir uma pessoa do acesso aomercado de trabalho por sua raa constitui um ato de discriminao racial. A respeito, aComisso toma em conta que o artigo 1 da Conveno Internacional para a Eliminao de Todasas Formas de Discriminao Racial dispe que a expresso discriminao racial visa qualquerdistino, excluso, restrio ou preferncia fundada na raa, cor, ascendncia na origemnacional ou tnica que tenha como objetivo ou como efeito destruir ou comprometer oreconhecimento, o gozo ou o exerccio, em condies de igualdade, dos direitos do homem e dasliberdades fundamentais nos domnios poltico, econmico, social e cultural ou em qualquer outrodomnio da vida publica.

    100. Se o Estado permite que dita conduta permanea impune, convalidando-a

    implicitamente ou prestando sua aquiescncia, a CIDH entende que se viola o artigo 24 daConveno Americana em conjuno com o artigo 1.1. A igual proteo perante a lei exige quequalquer manifestao de prticas racistas seja diligentemente tratada pelas autoridades.

    101. No caso concreto de Simone Andr Diniz, existia um anncio publicitrio que aexclua, por sua condio racial, de um trabalho. Ao apresentar a denncia, as autoridadesjudiciais procederam ao arquivamento do caso, apesar de que a prpria autora do anncioconfirmou sua publicao.

    102. O arquivamento ocorrido no foi um fato isolado que ocorreu na justia brasileira e

    mais bem a Comisso tem por provado que reflete um padro de comportamento dasautoridades brasileiras adrede explicitado, quando se vem frente de uma denncia de prticade racismo.

    103. De outra forma, o arquivamento automtico de denncias de racismo impede a

    apreciao do Poder Judicirio da ocorrncia ou no do dolo. Como demonstrado anteriormente,a ausncia da motivao racial tem levado inaplicabilidade da Lei 7716/89 seja por

    http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn54
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    arquivamento automtico das denncias na fase de inqurito, seja em sentenas absolutrias. Oarquivamento do Inqurito Policial foi justamente a hiptese do caso em anlise. O fato de asenhora Gisela Silva haver declarado no Inqurito Policial que no tinha a inteno de discriminarracialmente ou que tinha motivos para preferir uma empregada branca, no autorizava oarquivamento do feito, devendo a defesa sobre a falta de motivao racial ter sido argida eanalisada pelo juiz competente, no marco de um processo penal regular.

    104. O Estado brasileiro se comprometeu a respeitar e garantir os direitos humanos detodos aqueles que vivem sob sua jurisdio, de acordo com o artigo 1 da Conveno Americanasobre Direitos Humanos e segundo entendimento da Corte Interamericana:

    Os Estados esto obrigados a adotar medidas positivas para reverter ou mudar situaesdiscriminatrias existentes em suas sociedades, em prejuzo de determinado grupo depessoas. Isso implica no dever especial de proteo que o Estado deve exercer comrespeito as atuaes e prticas de terceiros que, sob sua tolerncia ou aquiescncia,

    criem, mantenham ou favoream as situaes discriminatrias.[55]

    105. De outra forma, a Corte Interamericana estabeleceu que:

    O artigo 24 da Conveno consagra o principio da igualdade perante a lei. Assim, aproibio geral de discriminao estabelecida no artigo 1.1 se estende ao direito internodos estados Partes de tal maneira que possvel concluir que, com base nessasdisposies, estes se comprometeram, em virtude da Conveno, a no introduzir emseu ordenamento jurdico regulamentaes discriminatrias referentes proteo da lei.[56]

    106. Por conseguinte, os Estados devem assegurar, em seu ordenamento jurdico

    interno, que toda a pessoa tenha acesso, a um recurso simples e efetivo que a ampare nadeterminao de seus direitos, sem discriminao.

    107. A Comisso chama a ateno do governo brasileiro que a omisso das autoridadespblicas em efetuar diligente e adequada persecuo criminal de autores de discriminao racial

    e racismo cria o risco de produzir no somente um racismo institucional, onde o Poder Judicirio visto pela comunidade afro-descendente como um poder racista, como tambm resulta gravepelo impacto que tem sobre a sociedade na medida em que a impunidade estimula a prtica doracismo.

    108. A Comisso gostaria de concluir dizendo que de fundamental importncia

    estimular uma conscincia jurdica capaz de tornar efetivo o combate discriminao racial e aoracismo pois o poder judicirio de um pais deve ser um sistema de uso eficaz porquanto instrumento imprescindvel no controle e combate discriminao racial e do racismo.

    109. Em razo do tratamento desigual conferido pelas autoridades brasileiras denncia

    de racismo e discriminao racial feita por Simone Andr Diniz, revelador de uma prticageneralizada discriminatria na anlise desses crimes, a Comisso conclui que o Estado brasileiroviolou o artigo 24 da Conveno Americana, em face de Simone Andr Diniz.

    D. Anlise do Direito s Garantias Judiciais e Proteo Judicial

    110. Em razo dos fatos adrede estabelecidos, a Comisso da opinio que ainvestigao efetuada para apurar o crime de racismo ocorrido em desfavor de Simone AndrDiniz, no obstante haver sido aberto um Inqurito Policial, no foi adequada e eficaz, uma vezque no foi aberta a ao penal para julgar a responsvel pelo ilcito, tampouco foram impostassanes pertinentes, como determina a lei 7716/89.

    111. Por conseguinte, aps o arquivamento do processo, Simone Andr Diniz ficouimpossibilitada de aceder justia, atravs de um recurso eficaz, para ver amparado seu direitocontra o ato de racismo sofrido, uma vez que, de acordo com a legislao processual penalbrasileira, da deciso que determina o arquivamento dos autos do inqurito policial no cabe

    recurso.[57]

    http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn57http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn56http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn55
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    112. O Estado, por seu turno, defendeu-se alegando que no houve violao

    Conveno Americana, uma vez que houve a abertura do Inqurito Policial onde foi colhidadeclarao das partes envolvidas, que foi arquivado pela autoridade judiciria competente, combase em parecer do Ministrio Pblico, razo pela qual a justia havia sido administrada.

    113. Seguindo esse entendimento, a Comisso avalia que o Estado falhou nocumprimento de sua obrigao de administrar a justia no caso de Simone Andr Diniz que foidiscriminada em base a sua cor, uma vez que no cumpriu sua obrigao convencional de, eficaze adequadamente investigar, processar, sancionar e buscar o restabelecimento do direito violado,

    como ser demonstrado a seguir.114. De acordo com os peticionrios, a denncia de racismo feita por Simone Andr

    Diniz, no obstante haver iniciado o caminho judicial, atravs do inqurito policial, no setransformou na ao penal pertinente, nica capaz de, instaurado o contraditrio e colhidas asprovas, determinar a ocorrncia ou no do racismo, posto que a justia brasileira, em decisoque no permitia recurso, decidiu arquivar o inqurito policial, sob o fundamento de no haverbase para uma denncia penal de acordo com a Lei 7716/89.

    115. Neste sentido, o aspecto substancial da controvrsia ante esta Comisso, no seno mbito interno foi emitida sentena condenatria pela violao cometida em prejuzo de

    Simone Andr Diniz, mas sim se os processos internos permitiram que se garantisse um acesso justia conforme os padres previstos na Conveno. Para tanto, mister se faz analisar, se nofato denunciado por Simone, havia ou no elementos indicirios da prtica de racismo comescopo na Lei 7716/89, a fim de inquirir se houve ou no a denegao de justia.

    116. A Comisso deve indicar que a Conveno Internacional sobre a Eliminao deTodas as Formas de Discriminao Racial exige aos Estados a penalizao das prticas deracismo definidas no artigo 1 da Conveno Racial. O CERD tem insistido na importncia dapenalizao. O governo brasileiro ratificou a referida Conveno em 27 de maro de 1968, razopela qual, luz do disposto na Conveno contra a Discriminao Racial em conjuno aodisposto no artigo 29 da Conveno Americana, est obrigado a cumpri-la.

    117. Com efeito, segundo denunciou os peticionrios e est estabelecido no presentecaso, a Sra. Aparecida Gisele Mota da Silva, fez publicar um anncio em jornal de grandecirculao em que tinha preferncia em empregar como domstica pessoa de cor branca e avtima, em se candidatando, foi preterida por ser pessoa de cor negra. Esses fatos foramdeclarados e admitidos por ambas em suas declaraes e foram corroborados por testemunhas.[58]

    118. Segundo os peticionrios, a violao que nos ocupa no presente caso, estavatipificada no artigo 20 da lei 7716/89 com posterior modificaes atravs das Leis 8081/90 e8882/94, que acrescentou o referido artigo para definir no caputuma nova figura penal praticar,

    induzir ou incitar, pelos meios de comunicao social ou por publicao de qualquer natureza, adiscriminao ou preconceito de raa, cor, etnia, religio ou procedncia nacional cujo crime erapunvel com recluso de dois a cinco anos e multa.

    119. Trata-se de tipo penal em que o crime s ocorreria se se operasse atravs de meiode comunicao social ou por intermdio de qualquer publicao. Ademais, havia a relao decausalidade. Como era crime formal ou de mera conduta, isto , de consumao antecipada, suaconsecuo independia dos efeitos que viessem a ocorrer, quer dizer, no havia a necessidade doresultado para que se consumasse o crime. Praticar a preferncia j seria suficiente para seconcretizar o crime.

    120. Os peticionrios denunciaram tambm que, concludo o Inqurito Policial,[59]estefoi remetido ao Ministrio Pblico para que este rgo, iniciasse a ao penal pertinente, umavez que a Lei 7716/89, tipifica crimes cuja titularidade da ao pertence ao Ministrio Pblico. Demaneira que, em razo do principio da obrigatoriedade, bastavam estar presentes no inqurito,indcios de autoria e materialidade para o Ministrio Publico estar legitimado e obrigado a

    instaurar a denncia penal pertinente.[60]

    http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn60http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn59http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn58
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    121. Segundo os peticionrios, no obstante a existncia desses elementos indicirios, o

    Ministrio Pblico pediu o arquivamento dos autos do Inqurito Policial, pois entendeu que noficou apurado que a Sra. Aparecida Gisele Mota da Silva tivesse praticado qualquer ato quepudesse constituir crime de racismo previsto na lei 7716/89. O juiz da ao acatou o parecer doMinistrio Pblico e determinou o arquivamento do feito.

    122. A Comisso tem conhecimento que a lei processual penal brasileira estabelece queo Ministrio Publico poder pedir o arquivamento de uma denncia penal quando no encontrar

    elementos que possam indicar a ocorrncia de crime e o juiz, apesar de no estar obrigado,[61]

    poder determinar esse arquivamento. Entretanto, tal deciso no pode ser incongruente com ocomando constitucional brasileiro que garante a apreciao do Judicirio para toda leso ou

    ameaa de direito.[62]Como tambm no pode ferir o comando convencional que garante atoda pessoa no somente o direito a um recurso efetivo mas tambm o direito aodesenvolvimento da possibilidade de recurso judicial.

    123. De acordo com o estabelecido pela Comisso e no controvertido pelas partes e

    aceito por todos, existe que houve um anncio discriminatrio publicado por um meio decomunicao e sobre isso uma pessoa afro-descendente apresentou uma denncia e adeterminao efetuada pelo Ministrio Pblico lhe impediu de aceder a um recurso judicialefetivo que a tutelasse em seu direito a no ser discriminada.

    124. A Comisso salienta que um dos fins do Estado administrar justia. Com efeito, o

    Estado brasileiro est obrigado, no somente por instrumentos internacionais que ratificou, mastambm pela sua prpria constituio, a administrar justia aos seus cidados toda vez que for

    invocada a tutela jurisdicional do Estado.[63]

    125. obrigao domstica de investigar, julgar e sancionar crimes de motivao

    racial, soma-se a obrigao internacional advinda da ratificao de tratados sobre a matria quecoloca o direito de no ser discriminado no grupo de normas imperativas do direito internacionaldos direitos humanos que so absolutas, inderrogveis e no sofrem modificao.

    126. O artigo 6 a Conveno Internacional sobre a Eliminao de Todas as Formas deDiscriminao Racial, ratificada pelo Brasil e aqui utilizada como pauta interpretativa, estabeleceum padro que assegura especificamente s vitimas de discriminao racial proteo e recursoefetivo junto aos tribunais internos, nos termos seguintes:

    "Os Estados Partes asseguraro s pessoas sujeitas a sua jurisdio proteo e recursoefetivos aos tribunais nacionais e outros organismos do Estado competentes, contratodos os atos de discriminao racial que, contrariando a presente Conveno, violem osseus direitos individuais ou as liberdades fundamentais, assim como o direito de pedir aesses tribunais satisfao ou reparao, justa e adequada, por qualquer prejuzo de que

    sejam vitimas em razo de tal discriminao."127. De outra forma, a Corte Europia de Direitos Humanos, quando da anlise de um

    caso de violao ao direito vida de uma pessoa pertencente a uma minoria tnica estatuiu quequando h a suspeita de que uma motivao racial induziu a prtica de uma violao, particularmente importante que a investigao oficial seja praticada com vigor e imparcialidade,em razo da necessidade de reafirmar, continuamente a condenao da sociedade ao dio tnicoe racial e para manter a confiana das minorias na habilidade das autoridades de proteg-los da

    ameaa de violncia racista.[64]

    128. No caso em tela, no obstante se tratar de um caso havido entre particulares, em

    razo de seu compromisso internacional de prevenir e combater a discriminao racial, o Estadobrasileiro tinha a obrigao adicional de tomar todas as medidas necessrias para estabelecer senos fatos denunciados por Simone Andr Diniz, houve ou no a prtica de racismo ediscriminao racial.

    129. A obrigao dos Estados de respeitar os direitos e liberdades reconhecidos na

    Conveno, deixa para o Estado a obrigao de prevenir violaes ou trat-la nos termos

    http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn64http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn63http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn62http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftn61
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    requeridos pela Conveno. sabido que, no presente caso, foi aberto um Inqurito Policial que tem natureza de procedimento administrativo, para apurar a eventual ocorrncia de racismo.

    130. Entretanto, a instaurao do Inqurito Policial no eximia o Estado de suaresponsabilidade em negar acesso justia a Simone Andr Diniz. Isto porque o InquritoPolicial, como pea meramente informativa no era remdio jurdico adequado e eficaz paraprocessar, sancionar e reparar uma denncia de violao de direitos humanos, de acordo com ospadres convencionais. Neste caso, o meio jurdico idneo seria a ao penal pblica, instauradapelo Ministrio Pblico que conferiria ao juiz o poder de, havendo indcios da ocorrncia do crime,julgar o autor da violao e eventualmente conden-lo, o que no ocorreu no particular.

    131. De outra maneira, o arquivamento determinado pela justia brasileira, encerroupara a vtima a possibilidade de invocar a tutela jurisdicional do Estado para aplicar a lei7716/89, uma vez que, como pontuado pelos peticionrios e verificado por esta Comisso, dadeciso de arquivamento no cabia recurso e a reabertura do Inqurito Policial somente seriapossvel na ocorrncia de fatos novos, de acordo com a inteligncia do artigo 18 conjugado com

    o artigo 28 do Cdigo de Processo Penal Brasileiro, secundado por firme jurisprudncia.[65]

    132. Alm da impossibilidade de buscar a tutela judicial penal, dito arquivamento

    tambm encerrou para a vtima a possibilidade de obter uma reparao civil pelo dano moralsofrido. Isso assim por que, no sistema judicial brasileiro, no obstante haver independncia de

    ritos e a vtima estar obrigada a provar o dano sofrido em uma eventual ao civil, oarquivamento de uma denncia penal, fragiliza qualquer pedido de reparao moral na esferacivil.

    133. Da anlise dos fatos aqui denunciados denota-se a inaplicabilidade da Lei 7716/89,

    em razo da denegao de um recurso efetivo para levar apreciao do poder judicirio a lesoao direito de no ser discriminado. A Corte reiteradas vezes assinalou que no franquear aolesionado o direito de acesso justia menoscaba os padres convencionais:

    A inexistncia de um recurso efetivo contra as violaes aos direitos reconhecidos pelaConveno constitui uma transgresso da mesma pelo Estado Parte no qual semelhante

    situao tenha lugar. Nesse sentido, deve-se salientar que, para que tal recurso exista,no basta que esteja previsto pela Constituio ou pela lei ou que seja formalmenteadmissvel, mas sim se requer que seja realmente idneo para estabelecer se se incorreuem uma violao aos direitos humanos e prover o necessrio para remedi-la. Nopodem ser considerados efetivos aqueles recursos que, pelas condies gerais do pas ouinclusive pelas circunstncias particulares de um dado caso, resultem ilusrios. Isso podeocorrer, por exemplo, quando sua inutilidade tenha ficado demonstrada pela prtica,porque o Poder Judicial carece da independncia necessria para decidir comimparcialidade ou porque faltem os meios para executar suas decises; por qualqueroutra situao que configure um quadro de denegao de justia, como sucede quandose incorre em retardamento injustificado na deciso; ou, por qualquer causa, no se

    permita ao presumvel lesionado o acesso ao recurso judicial.[66]

    134. Diante do exposto, a Comisso entende que o Estado brasileiro violou os artigos

    8.1 e 25 em conjuno com o artigo 1.1 da Conveno Americana, em face de Simone AndrDiniz, por no haver iniciado a ao penal pertinente para apurar denncia de discriminaoracial sofrida por esta.

    V. ATUAES POSTERIORES AO RELATRIO No83/04

    135. A Comisso Interamericana aprovou o Relatrio de Mrito no83/04 sobre o caso

    12.001 (Simone Andr Diniz) em 28 de outubro de 2004, em seu 121o

    perodo de sesses.[67]

    136. O mencionado relatrio de mrito foi enviado em 18 de janeiro de 2005 Repblica

    Federativa do Brasil, qual se concedeu dois meses para cumprir as recomendaes daComisso, contados a partir da data de remessa do relatrio.

    137. Em nota de 15 de fevereiro de 2005, as peticionrias se manifestaram no sentido

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    de que a Corte Interamericana de Direitos Humanos no teria competncia temporal paraconhecer do presente caso.

    138. Em nota de 12 de abril de 2005, o Estado brasileiro solicitou a prrroga em 90 diaspara o cumprimento das recomendaes e, em 18 de abril de 2005, a Comisso atendeu suasolicitao. Aos 27 de junho de 2005, o Estado ofereceu sua resposta, detalhando asprovidncias para cumprir as recomendaes do relatrio de mrito supramencionado.

    139. A CIDH deseja observar que, dadas as circunstncias especficas do presente caso,que incluem a posio dos peticionrios sobre a matria, a data em que ocorreram os fatos, as

    datas de incio e arquivamento do inqurito policial, todas anteriores data em que o Brasilaceitou a competncia contenciosa da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a saber, em10 de dezembro de 1998, a Comisso Interamericana, em conformidade com o disposto em seuRegulamento, decidiu no submeter este caso ao conhecimento da Corte Interamericana deDireitos Humanos.

    140. Em conformidade com o disposto no artigo 51.1 da Conveno Americana sobreDireitos Humanos, o que a Comisso deve determinar nesta etapa do procedimento se oEstado solucionou ou no o assunto. Em sua resposta, o Estado brasileiro mencionou,preliminarmente, a gesto da Secretaria Especial de Polticas de Promoo da Igualdade Racialda Presidncia da Repblica (SEPPIR) e da Secretaria de Justia e Cidadania do Estado de So

    Paulo em relao ao desenvolvimento de negociaes com a vtima e os peticionrios nadefinio dos termos da reparao.

    141. O Estado invocou a ausncia de nexo de causalidade entre as recomendaes 1, 3e 4 [ver infra, pargrafo 146(1)(3)(4)] e a causa de pedir das peticionrias, entendendo serprefervel deixar critrio das partes o contedo das reparaes. Em relao recomendao denmero 2 [ver infra, pargrafo 146(2)], manifestou sua disposio em reconhecer publicamentea responsabilidade internacional pelos danos causados vtima com o decorrente encerramentodo caso.

    142. Quanto s recomendaes de nmero 5, 7 e 10 [ver infra, pargrafo 146(5)(7)

    (10)], o Estado descreveu programas governamentais, atuaes de organismos pblicos nombito federal e no Estado de So Paulo, projetos de lei em tramitao no Congresso e leis jpromulgadas, de alguma forma relacionadas com a promoo da igualdade racial e a educaoem direitos humanos de servidores pblicos ligados segurana pblica e justia. Em relao recomendao de nmero 6 [ver infra, pargrafo 146(6)], ressaltou que o inqurito policialinstaurado pela vtima Simone Andr Diniz no poder ser reaberto, nos termos do Cdigo deProcesso Penal Brasileiro, salvo pelo surgimento de novas provas. Enfatizou que a vtima poderiater ajuizado ao penal privada, subsidiria ao penal pblica, consoante a legislaoordinria e garantias constitucionais pertinentes.

    143. Em relao s recomendaes de nmero 8 e 9 [ver infra, pargrafo 146(8)(9)], o

    Estado mencionou a convocao de uma Conferncia Nacional de Promoo da Igualdade Racial,a mobilizao da SEPPIR e de rgos da Presidncia da Repblica para um debate pblico e arealizao de estudos sobre a desigualdade racial no Brasil. Enfim, em referncia srecomendaes 11 e 12 [ver infra, pargrafo 146(11)(12)], mencionou o empenho do MinistrioPblico nos mbitos federal e estadual no combate discriminao racial e a parceria entrergos pblicos e empresas privadas no desenvolvimento de um projeto dedicado divulgaode contedos audiovisuais e impressos sobre a cultura afro-brasileira.

    144. No dia 1 de setembro de 2005, o Estado solicitou esclarecimentos em relao terceira recomendao do relatrio de mrito n 83/04 (in verbis Conceder apoio financeiro vtima para que esta possa iniciar e concluir curso superior), e a conseqente suspenso das

    demais fases procedimentais at o oferecimento de resposta. A Comisso forneceu osesclarecimentos aos 19 de janeiro de 2006, pelo qual, levando em conta as informaesprestadas pelo Estado e a posio da vtima e das peticionrias, decide por dar continuidade anlise do presente caso.

    VI. CONCLUSES

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    145. Com base nas consideraes de fato e de direito expostas anteriormente, aComisso Interamericana reitera sua concluso em relao a que o Estado brasileiro responsvel pela violao do direito igualdade perante a lei, proteo judicial e s garantiasjudiciais, consagrados, respectivamente, nos artigos 24, 25 e 8 da Conveno Americana, emprejuzo de Simone Andr Diniz. A Comisso determina, ainda, que o Estado violou o dever deadotar disposies de direito interno, nos termos do artigo 2 da Conveno Americana, violando,tambm, a obrigao que lhe impe o artigo 1.1, de respeitar e garantir os direitos consagradosna Conveno.

    VII. RECOMENDAES

    146. Tendo por base a anlise e as concluses deste informe,

    A COMISSO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS REITERA AO ESTADOBRASILEIRO AS SEGUINTES RECOMENDAES:

    1. Reparar plenamente a vtima Simone Andr Diniz, considerando tanto o aspectomoral como o material, pelas violaes de direitos humanos determinadas no relatrio de mritoe, em especial,

    2. Reconhecer publicamente a responsabilidade internacional por violao dos

    direitos humanos de Simone Andr Diniz;3. Conceder apoio financeiro vtima para que esta possa iniciar e concluir curso

    superior;

    4. Estabelecer um valor pecunirio a ser pago vtima ttulo de indenizao pordanos morais;

    5. Realizar as modificaes legislativas e administrativas necessrias para que alegislao anti-racismo seja efetiva, com o fim de sanar os obstculos demonstrados nospargrafos 78 e 94 do presente relatrio;

    6. Realizar uma investigao completa, imparcial e efetiva dos fatos, com o objetivode estabelecer e sancionar a responsabilidade a respeito dos fatos relacionados com adiscriminao racial sofrida por Simone Andr Diniz;

    7. Adotar e instrumentalizar medidas de educao dos funcionrios de justia e dapolcia a fim de evitar aes que impliquem discriminao nas investigaes, no processo ou nacondenao civil ou penal das denncias de discriminao racial e racismo;

    8. Promover um encontro com organismos representantes da imprensa brasileira,

    com a participao dos peticionrios, com o fim de elaborar um compromisso para evitar a

    publicidade de denncias de cunho racista, tudo de acordo com a Declarao de Princpios sobreLiberdade de Expresso;

    9. Organizar Seminrios estaduais com representantes do Poder Judicirio,Ministrio Pblico e Secretarias de Segurana Pblica locais com o objetivo de fortalecer aproteo contra a discriminao racial e o racismo;

    10. Solicitar aos governos estaduais a criao de delegacias especializadas nainvestigao de crimes de racismo e discriminao racial;

    11. Solicitar aos Ministrios Pblicos Estaduais a criao de Promotorias Pblicas

    Estaduais Especializadas no combate ao racismo e a disriminao racial;

    12. Promover campanhas publicitrias contra a discriminao racial e o racismo.VIII. FATOS POSTERIORES REMESSA DO RELATRIO AO ESTADO/

    PUBLICAO DO RELATRIO

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    147. Em 29 de maro de 2006, a Comisso Interamericana de Direitos Humanosencaminhou correspondncia ao Estado Brasileiro, comunicando que o presente Relatrio foiaprovado no decorrer da 124 Perodo Ordinrio de Sesses. Ademais, solicitou ao Governo queno decorrer do prazo de um ms, a contar a partir da transmisso do comunicado, queinformasse quais medidas foram adotadas para dar cumprimento s recomendaes daComisso e solucionasse a situao denunciada, conforme art. 45 (2) do Regulamento da CIDH.

    148. Os peticionrios informaram, em 06 de setmbro de 2006, que o Estado nada havia

    feito no sentido de dar cumprimento ao que foi recomendado pela Comisso, solicitando, poresta razo, que o Relatrio fosse publicado de acordo com o que estabelece o art. 51.3 da

    CADH. 149. Baseada nas consideraes anteriores e pela ausncia de uma resposta pelo Estadoao Informe 10/06, a Comisso, em conformidade com o artculo 45(3) de seu Regulamento, decideratificar suas concluses e reitera as recomendaes neste informe, o fazendo pblico e o incluindono seu Informe Anual Assemblia Geral da Organizao dos Estados Americanos. Emconformidade com as normas contidas nos instrumentos que regem seu mandato, a Comissocontinuar avaliando as medidas adotas pelo Estado do Brasil com respeito s recomendaesanteriormente mencionadas at que estas tenham sido devidamente cumpridas.

    Passado e assinado na sede da Comisso Interamericana de Direitos Humanos, na cidadede Washington, D.C., aos 21 dias de outubro do ano de 2006. (Assinado): Evelio Ferndez

    Arvalos, Presidente; Florentn Melndez, Segundo Vice-presidente; Comissionados: FreddyGutirrez, Paolo Carozza y Vctor Abramovich.

    VOTO FUNDAMENTADO DOS COMISSIONADOS JOS ZALAQUETT E EVELIO FERNNDEZARVALOS AO RELATORIO DE MRITO No. 83/04

    Ns Comissionados, Jos Zalaquett e Evelio Fernndez Arvalos concorremos com adeciso majoritria da Comisso Interamericana no presente caso, com respeito violaosubstantiva ao direito igualdade perante a lei, consagrado no artigo 24 da ConvenoAmericana sobre Direitos Humanos, assim como o descumprimento pelo Estado brasileiro de sua

    obrigao de garantir os direitos consagrados na Conveno Americana, a que se refere o artigo1(1) de dito tratado.

    Com relao violao aos artigos 8(1) e 25 da Conveno Americana, em conjunocom o artigo 1.1 de dito tratado, a que se referem os pargrafos 134 e 135 supra, a deciso damaioria da Comisso se fundamenta em que o Estado brasileiro no iniciou a respectiva aopenal para investigar a discriminao sofrida pela vtima, senhora Simone Andr Diniz.

    A respeito, observamos que ante a denncia efetuada pela vtima perante a DelegaciaPolicial de Investigao de Crimes Raciais, em 2 de maro de 1997 (supra, 29), a resposta doEstado brasileiro consistiu em iniciar uma investigao policial (inqurito policial nmero

    10.541/97-4, mencionado no 30 supra), ao fim da qual, o Ministrio Pblico, na data de 2 deabril de 1997, solicitou o arquivamento das atuaes, por considerar que no se haviadeterminado que a denunciada, senhora Aparecida Gisele Mota da Silva, houvesse praticado atosque pudessem constituir o crime de racismo previsto na lei 7716/89. continuao, o juizcompetente, mediante deciso de 7 de abril de 1997, ordenou o arquivamento das atuaes(supra, 37). Nossa opinio a respeito que, no marco das circunstncias fticas e jurdicasespecificas do presente caso, as atuaes policiais, do Ministrio Pblico e do Poder Judicialbrasileiros constituram em seu conjunto uma resposta que no chega a configurar violao aosartigos 8, 25 e 1(1) da Conveno Americana.

    Outubro 2004

    [1]Conforme o disposto no artigo 17(2) do Regulamento da Comisso, o Comissionado, Prof. Paulo SrgioPinheiro, de nacionalidade brasileira, no participou no debate nem na deciso do presente caso.

    [2]CIDH, Relatrio de Admissibilidade N 37-02 Simone Andr Diniz v. Brasil, publicado no 116 Perodo

    http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftnref2http://www.cidh.oas.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm#_ftnref1
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    de Sesses da CIDH.

    [3]O aviso em questo assinalava o seguinte: domstica. Lar. P/ morar no empr. C/ exp. Toda rotina,cuidar de crianas, c/docum. E ref.; Pref. Branca, s/filhos, solteira, maior de 21a. Gisele.

    [4]Cpia do referido Inqurito Policial se encontra anexada ao expediente.

    [5]Lei 771/89 Art. 20 " praticar, induzir ou incitar, pelos meios de comunicao social ou por publicaode qualquer natureza, a discriminao ou preconceito de raa, cor, etnia, religio ou procedncia nacional. Pena:recluso de 2 a 5 anos e multa." (cpia consta do expediente).

    [6] Ministrio Pblico do Estado de So Paulo, I.P. (Inqurito Policial). n 10.541/97-4, Pedido deArquivamento de 2 de abril de 1997.

    [7]Poder Judicirio de So Paulo, I.P. (Inqurito Policial) n 10541/97, Sentena de 7 de abril de 1997.

    [8]Relatrio do Inqurito Policial N 10.541/97-4, preparado pelo Delegado de Polcia da Delegacia deCrimes Raciais de So Paulo.

    [9]Corte I.D.H.,Caso Cesti Hurtado.Excepciones Preliminares. Sentena de 26 de janeiro de 1999. SerieC No. 49, prr. 47.

    [10]Corte I.D.H., Caso de Los Hermanos Gmez Paquiyauri. Sentena de 8 de julho de 2004, Serie C, N110, 73. Ver tambm Caso Cesti Hutado, Excees Preliminares. Sentena de 26 de janeiro de 1999, Srie C, N49 47.

    [11]Corte I.D.H., Caso 19 Comerciantes. Sentena publicada em 5 de julho de 2004, 181, Srie C,N 109.

    [12]Corte I.D.H., Caso Velsquez Rodriguez. Sentena de 29 de julho de 1988, Serie C, N 4 172.

    [13]Corte I.D.H., OC-18/03, Condio Jurdica e Direitos dos Imigrantes Sem Documentos, 147,

    publicada em 17 de setembro de 2003, Srie A, N 18.

    [14]CIDH, Relatrio sobre a Situao dos Direitos Humanos no Brasil, Cap. IX, A, OEA/Ser.L/V/ii.97 Doc.29 rev. 1, 29 de setembro de 1997.

    [15]CERD, Concluding Observations of the Committee on the Elimination of Racial Discrimination: Brazil.12/03/2004, 12. CERD/C/64/CO/2.

    [16]IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada, Texto para Discusso N 807, Desigualdade Racialno Brasil Evoluo das Condies de Vida na Dcada de 90, Ricardo Henriques, 2001.

    [17]CERD, Brazil Report, CERD/C/431/Add.8 233.

    [18]IBGE PNAD, 1996.

    [19]Discriminao Racial e Justia Criminal em So Paulo, Srgio Adorno, 1995.

    [20]Relatrio sobre a Situao dos Direitos Humanos dos Afro-brasileiros, apresentado no 114 Perodode Sesses da CIDH.

    [21]Ver nota 14 supra, Cap. IX e CIDH, Relatrio de Mrito N 23/03, Nri da Fonseca v. Brasil, aprovado

    no 117 Perodo de Sesses da CIDH.

    [22]IBASE.

    [23]Instituto Superior de Estudos da Religio, Cano, Igncio : O relatrio avalia dados que incluem todosos incidentes na cidade do Rio de Janeiro, entre janeiro de 1993 e julho de 1996, nos quais civis foram mortos eferidos por armas de fogo nos confrontos com a polcia. As vtimas so classificadas pelas fontes oficiais em trs

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    categorias: branco, pardo e negro. O estudo demonstrou que civis pardos e negros so alvos de ao policial fatalcom muito maior freqncia do que suas percentagens na populao como um todo.

    [24]Ver nota 17 supra 408.

    [25]Telles, Edward Racismo Brasileira, Uma Nova Perspectiva Sociolgica, 2003, p. 236, p. 204.

    [26]Ver nota 17 supra 246.

    [27]IBGE, Sntese dos Indicadores Sociais, 1999.

    [28]Race in Contemporary Brazil From Indifference to Inequality, Edited by Rebecca Reichmann, ThePennsylvania State University Press, University Park, Pennsylvania, Silente Conflict: Discriminatory Practices, MariaAparecida Silva Bento, p. 114.

    [29]Racusen, Seth, A Mulato cannot be Prejudiced: The Legal Constrution of Racial Discrimination inContemporary Brazil. June 2002, p. 288. Denuncias feitas pelo Geledes Instituto da Mulher Negra ao autor daobra citada.

    [30]O Brasil ratificou a Conveno Internacional sobre a eliminao de Todas as Formas de DiscriminaoRacial da ONU, em que se obriga a proibir e eliminar a discriminao racial, de acordo com os artigos 2.d, 4 e

    5 do referido tratado.[31]A este propsito, a Comisso gostaria de deixar claro que a penalizao da prtica do racismo e da

    discriminao racial uma forma eficaz de combate a este tipo de violao dos direitos humanos e est emharmonia com o artigo 2 da Conveno Americana e em consonncia com os artigos 2 e 4 da ConvenoInternacional contra o Racismo e com os pargrafos 66, 84 e 89 do Programa de Ao de Durban.

    [32] Crimes resultantes de discriminao ou preconceito de raa, cor, etnia, religio ou procedncianacional. Leon Fredja Szklarowsky, publicado na Revista Jurdica Jus Navegandi.

    [33]O crime de racismo na legislao penal brasileira passado, presente e futuro. Eliezer Gomes da Silvae Ivonei Sfoggia.

    [34]Informao extrada do artigo Crimes resultantes de discriminao ou preconceito de raa, cor, etnia,religio ou procedncia nacional. Leon Fredja Szklarowsky, publicado na Revista Jurdica Jus Navegandi.

    [35]Mais conhecida no Brasil como Lei CAO em referncia ao seu autor, o Deputado Carlos Alberto deOliveira.

    [36]Ver nota 14 supra 26.

    [37]Ver nota 15 supra 18.

    [38]Racismo Cordial, Hdio Silva.

    [39]Ver nota 25 supra p