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ALMANAQUE BRASIL SOCIOAMBIENTAL

Brasil Espaco Socio Ambiental - Livro Geografia Ler

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  • almanaquebrasil socioambiental

  • SOCIOAMBIENTAL SE ESCREVE JUNTO.

    www.soc

    ioam

    bien

    tal.o

    rg

    EQUILBRIO SOCIOAMBIENTAL. SE MEXER, todo MUNDO V A I PERDER.

    ISA BANDEIRA320x230.indd 1 7/27/07 5:54:45 AM

  • SOCIOAMBIENTAL SE ESCREVE JUNTO.

    www.soc

    ioam

    bien

    tal.o

    rg

    EQUILBRIO SOCIOAMBIENTAL. SE MEXER, todo MUNDO V A I PERDER.

    ISA BANDEIRA320x230.indd 1 7/27/07 5:54:45 AM

  • O Instituto Socioambiental (ISA) uma associao sem fins lucrativos, qualificada como Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico (Oscip), fundada em 22 de abril de 1994, por pessoas com formao e experincia marcante na luta por direitos sociais e ambientais. Tem como objetivo defender bens e direitos sociais, coletivos e difusos, relativos ao meio ambiente, ao patrimnio cultural, aos direitos humanos e dos povos. O ISA produz estudos e pesquisas, implanta projetos e programas que promovam a sustentabilidade socioambiental, valorizando a diversidade cultural e biolgica do Pas.

    Para saber mais sobre o ISA consultewww.socioambiental.org

    Conselho DiretorNeide Esterci (presidente), Srgio Mauro Santos Filho (vice-presidente),Adriana Ramos, Beto Ricardo, Carlos Frederico Mars

    Secretrio executivoBeto Ricardo

    Secretrio executivo adjuntoEnrique Svirsky

    Coordenadores de Programas e de Atividades PermanentesAdriana Ramos, Andr Villas-Bas, Antenor Bispo de Morais, Beto Ricardo, Ccero Cardoso Augusto, Fany Ricardo,Guilherme Tadaci Ake, Mrcio Santilli, Maria Ins Zanchetta, Marussia Whately, Nilto Tatto, Raul Silva Telles do Valle

    Apoio institucionalIcco (Organizao Intereclesistica para Cooperao ao Desenvolvimento)NCA (Ajuda da Igreja da Noruega)

    So PauloAv. Higienpolis, 90101238-001So Paulo SP Brasiltel: (11) 3515-8900fax: (11) [email protected]

    BrasliaSCLN 210, bloco C, sala 11270862-530Braslia DF Brasiltel: (61) 3035-5114fax: (61) [email protected]

    CanaranaRua Redentora, 362, Centro,78640-000Canarana MT Brasiltel: (66) [email protected]

    EldoradoResidencial Jardim Figueira, 55Centro, Eldorado SP Brasil11960-000tel: (13) [email protected]

    ManausRua Costa Azevedo, 272,1 andar, Largo do Teatro,Centro, 69010-230,Manaus AM Brasiltel/fax: (92) 3631-1244/[email protected]

    So Gabriel da CachoeiraRua Projetada, 70, Centro,Caixa Postal 21, 69750-000S. G. da Cachoeira AM Brasiltel/fax: (97) [email protected]

  • AlMAnAquE BrASIl SoCIoAMBIEntAl (2008)InStItuto SoCIoAMBIEntAl

    EDItorES GErAIS: Beto Ricardo e Maura Campanili

    tExtoSEDItorA: Maura CampaniliEDItorA-ASSIStEntE: Livia Chede AlmendarynDICE rEMISSIvo: ngela GalvoDIrEtrIo: Leila Maria Monteiro da Silva e Geni Aparecida Toffoli

    IMAGEnSEDItor: Beto RicardoASSIStEntE: Claudio Aparecido TavaresMAPAS: Alicia Rolla; Alexandre Degan Perussi; Ana Carolina Rezende Rodrigues;Cicero Cardoso Augusto; Carolina Born Toffoli; Renata Alves; Rosimeire Rurico Sac

    ArtEProjEto GrfICo: Sylvia MonteiroEDItorAo ElEtrnICA: Ana Cristina Silveira e Vera FeitosaProDuo GrfICA: Marcia Signorini

    ProDuo: Andr Troster; Adriana Figueiredo; Cristina Kahn; Enrique Svirsky (coordenao);Fabio Massami Endo; Guilherme Tadaci Ake; Margareth Nishiyama; Moiss Pangoni

    ADMInIStrAo E DIStrIBuIo: Carlos Alberto de Souza e Simone Pereira

    ColABorADorES PArA o fEChAMEnto: Adriana Figueiredo; ngela Galvo; Arminda Jardim; Csar Pegoraro; Fany Ricardo;Geni Aparecida Toffoli; Leila Maria Monteiro da Silva; Lilia Toledo Diniz; Luis Roberto de Paula; Maria Ins Zanchetta; Marussia Whately; Oswaldo Braga de Souza; Paula Santoro; Pilar Cunha; Rita de Cssia Cordeiro Soares; Rogerio do Pateo

    CAPA: Sylvia Monteiro

    ISBn: 978-85-85994-45-7

    So Paulo, outubro de 2007

  • O Almanaque Brasil Socioambiental 2008, segunda edio da publicao lanada em 2005, uma

    contribuio do ISA, com apoio de uma extensa rede de colaboradores, reflexo e ao debate sobre

    o futuro da vida no Brasil e no mundo. A iniciativa adquire importncia renovada diante da conscincia

    planetria cada vez mais aguda sobre os modelos insustentveis de produo e consumo.

    A publicao traz um panorama dos ambientes brasileiros incluindo dez ensaios fotogrficos autorais e

    das grandes questes socioambientais contemporneas. Os temas so acompanhados de casos importan-

    tes, de curiosidades, de referncias para quem quiser saber mais, de personagens e de dicas de como agir

    e participar de campanhas e solues alternativas que possam conciliar desenvolvimento com valorizao

    da diversidade socioambiental do Pas.

    Os 85 verbetes, dispostos em 11 captulos temticos, foram escritos por 122 colaboradores, entre jornalistas,

    ativistas e especialistas das mais diferentes reas. Faz parte da publicao um mapa-pster, que evidencia

    a ao humana sobre o territrio brasileiro. A inteno atingir um pblico amplo, sobretudo estudantes e

    professores dos ensinos fundamental e mdio. Por isso, optou-se por uma linguagem simples e concisa, sem

    ser superficial, e um projeto grfico dinmico, com muitas tabelas, mapas, grficos e imagens.

    No imaginrio das populaes urbanas em geral, homem e natureza so coisas distintas. A noo de que

    ambos esto interligados umbilicalmente, de que um depende do outro, fundamenta a viso do universo

    das populaes tradicionais (ndios, quilombolas, ribeirinhos etc.), como mostra o captulo DIvErSIDADE

    SoCIoAMBIEntAl. Assim como os saberes desses grupos foram responsveis pela proteo e at a di-

    versificao dos ecossistemas, o desafio do Almanaque justamente apresentar o Brasil (e o mundo) com

    uma viso crtica capaz de resgatar a inter-relao entre ambiente e sociedade.

    S hoje a cincia ocidental comea a entender melhor como as foras que moldaram e condicionam a vida

    no Planeta esto interligadas em uma cadeia que manteve-se estvel por milhares de anos. Mas que d

    sinais de fragilidade diante da magnitude alcanada pela ao do homem. O aquecimento causado pela

    aPresenTaO

  • industrializao em uma rea contribui para alteraes climticas at mesmo em regies distantes. Por

    isso, esta publicao procura integrar, no captulo AMBIEntES, informaes sobre as vrias dimenses

    que afetam a vida do Planeta, comeando pela formao do Universo, da Terra, at detalhar os ambientes

    que marcam o Brasil.

    Em 500 anos, por exemplo, destrumos mais de 90% da Mata Atlntica, abrigo dos mananciais de gua que

    alimentam 60% da populao brasileira. Mas temos memria curta e, como revela o captulo florES-

    tAS, vamos trilhando caminho parecido em relao ao Cerrado e Amaznia, a maior floresta tropical do

    mundo, com aes ainda tmidas para reverter a situao.

    Em MoDEloS DE DESEnvolvIMEnto, o leitor saber como nosso padro de civilizao afeta o meio

    ambiente e a qualidade de vida no Pas e como podemos mud-los. Em CIDADES, ter informaes para

    entender porque nossas metrpoles cresceram tanto no sculo XX, sem que isso tenha significado mais

    distribuio de renda, qualidade de vida e equilbrio ambiental.

    A confirmao de que o homem responsvel por grande parte do aquecimento global vem estimulando

    o debate sobre os efeitos da explorao desenfreada dos recursos naturais e da produo de energia sobre

    os mecanismos regulatrios que sustentam a vida no Planeta. A implementao de polticas que conciliem

    a mitigao e o enfrentamento das alteraes do clima, a readequao de nossas matrizes energticas e a

    preservao de nossas fontes de gua apontam para o dilema de reorientarmos radicalmente os padres

    de produo e consumo, como mostram os captulos MuDAnA ClIMtICA, GuA e rECurSoS EnEr-

    GtICoS E MInErAIS.

    A publicao trata tambm de outras questes que podem ajudar a entender os conflitos sociais e ambien-

    tais que o Pas vive hoje, como tErrAS e lEGISlAo SoCIoAMBIEntAl. Trazemos ainda dados sobre

    frunS E ConfErnCIAS que vm debatendo esses conflitos no Pas e no mundo.

    Como todos esses processos so dinmicos, o Almanaque Brasil Socioambiental dever ser periodica-

    mente atualizado. O ISA conta com as sugestes de todos os leitores para aprimor-lo.

  • DiversiDaDe sOciOambienTal

    A diversidade das formas de vida na Terra (e sabe-se l mais onde) consubstancial vida enquan-

    to forma da matria. Essa diversidade o movimento mesmo da vida enquanto informao, tomada de

    forma que interioriza a diferena as variaes de potencial existentes em um universo constitudo pela

    distribuio heterognea de matria/energia para produzir mais diferena, isto , mais informao. A

    vida, nesse sentido, uma exponenciao um redobramento ou multiplicao da diferena por si mes-

    ma. Isso se aplica igualmente vida humana. A diversidade de modos de vida humanos uma diversidade

    dos modos de nos relacionarmos com a vida em geral, e com as inumerveis formas singulares de vida que

    ocupam (informam) todos os nichos possveis do mundo que conhecemos (e sabe-se l de quantos outros).

    A diversidade humana, social ou cultural, uma manifestao da diversidade ambiental, ou natural a

    ela que nos constitui como uma forma singular da vida, nosso modo prprio de interiorizar a diversidade

    externa (ambiental) e assim reproduzi-la. Por isso a presente crise ambiental , para os humanos, uma

    crise cultural, crise de diversidade, ameaa vida humana.

    A crise se instala quando se perde de vista o carter relativo, reversvel e recursivo da distino en-

    tre ambiente e sociedade. O poeta e pensador Paul Valry constatava sombrio, pouco depois da Primeira

    Guerra Mundial, que ns, civilizaes [europias], sabemos agora que somos mortais. Neste comeo algo

    crepuscular do presente sculo, passamos a saber que, alm de mortais, ns, civilizaes, somos mort-

    feras, e mortferas no apenas para ns, mas para um nmero incalculvel de espcies vivas inclusive

    para a nossa. Ns, humanos modernos, filhos das civilizaes mortais de Valry, parece que ainda no

    desesquecemos que pertencemos vida, e no o contrrio. E olhem que j soubemos disso. Algumas civi-

    lizaes sabem disso; muitas outras, algumas das quais matamos, sabiam disso. Mas hoje, comea a ficar

    urgentemente claro at para ns mesmos que do supremo e urgente interesse da espcie humana

    abandonar uma perspectiva antropocntrica. Se a exigncia parece paradoxal, porque ela o ; tal nossa

    presente condio. Mas nem todo paradoxo implica uma impossibilidade; os rumos que nossa civilizao

    tomou nada tm de necessrio, do ponto de vista da espcie humana. possvel mudar de rumo, ainda

    que isso signifique est na hora de encararmos a chamada realidade mudar muito daquilo que muitos

  • considerariam como a essncia mesma da nossa civilizao. Nosso curioso modo de dizer ns, por exem-

    plo, excluindo-nos dos outros, isto , do ambiente.

    O que chamamos ambiente uma sociedade de sociedades, como o que chamamos sociedade um

    ambiente de ambientes. O que ambiente para uma dada sociedade ser sociedade para um outro am-

    biente, e assim por diante. Ecologia sociologia, e reciprocamente. Como dizia o grande socilogo Gabriel

    Tarde, toda coisa uma sociedade, todo fenmeno um fato social. Toda diversidade ao mesmo tempo

    um fato social e um fato ambiental; impossvel separ-los sem que no nos despenhemos no abismo assim

    aberto, ao destruirmos nossas prprias condies de existncia.

    A diversidade , portanto, um valor superior para a vida. A vida vive da diferena; toda vez que uma

    diferena se anula, h morte. Existir diferir, continuava Tarde; a diversidade, no a unidade, que est

    no corao das coisas. Dessa forma, a prpria idia de valor, o valor de todo valor, por assim dizer o

    corao da realidade , que supe e afirma a diversidade.

    verdade que a morte de uns a vida de outros e que, neste sentido, as diferenas que formam a con-

    dio irredutvel do mundo jamais se anulam realmente, apenas mudam de lugar (o chamado princpio

    de conservao da energia). Mas nem todo lugar igualmente bom para ns, humanos. Nem todo lugar

    tem o mesmo valor. (Ecologia isso: avaliao do lugar). Diversidade socioambiental a condio de uma

    vida rica, uma vida capaz de articular o maior nmero possvel de diferenas significativas. Vida, valor e

    sentido, finalmente, so os trs nomes, ou efeitos, da diferena.

    Falar em diversidade socioambiental no fazer uma constatao, mas um chamado luta. No se

    trata de celebrar ou lamentar uma diversidade passada, residualmente mantida ou irrecuperavelmente

    perdida uma diferena diferenciada, esttica, sedimentada em identidades separadas e prontas para

    consumo. Sabemos como a diversidade socioambiental, tomada como mera variedade no mundo, pode

    ser usada para substituir as verdadeiras diferenas por diferenas factcias, por distines narcisistas que

    repetem ao infinito a morna identidade dos consumidores, tanto mais parecidos entre si quanto mais di-

    ferentes se imaginam.

    Mas a bandeira da diversidade real aponta para o futuro, para uma diferena diferenciante, um devir

    onde no apenas o plural (a variedade sob o comando de uma unidade superior), mas o mltiplo (a

  • variao complexa que no se deixa totalizar por uma transcendncia) que est em jogo. A diversidade

    socioambiental o que se quer produzir, promover, favorecer. No uma questo de preservao, mas de

    perseverana. No um problema de controle tecnolgico, mas de auto-determinao poltica.

    um problema, em suma, de mudar de vida, porque em outro e muito mais grave sentido, vida, s

    h uma. Mudar de vida mudar de modo de vida; mudar de sistema. O capitalismo um sistema pol-

    tico-religioso cujo princpio consiste em tirar das pessoas o que elas tm e faz-las desejar o que no tm

    sempre. Outro nome desse princpio desenvolvimento econmico. Estamos aqui em plena teologia

    da falta e da queda, da insaciabilidade infinita do desejo humano perante os meios materiais finitos de

    satisfaz-los. A noo recente de desenvolvimento sustentvel , no fundo, apenas um modo de tornar

    sustentvel a noo de desenvolvimento, a qual j deveria ter ido para a usina de reciclagem das idias.

    Contra o desenvolvimento sustentvel, preciso fazer valer o conceito de suficincia antropolgica. No se

    trata de auto-suficincia, visto que a vida diferena, relao com a alteridade, abertura para o exterior

    em vista da interiorizao perptua, sempre inacabada, desse exterior (o fora nos mantm, somos o fora,

    diferimos de ns mesmos a cada instante). Mas se trata sim de auto-determinao, de capacidade de

    determinar para si mesmo, como projeto poltico, uma vida que seja boa o bastante.

    O desenvolvimento sempre suposto ser uma necessidade antropolgica, exatamente porque ele su-

    pe uma antropologia da necessidade: a infinitude subjetiva do homem seus desejos insaciveis em

    insolvel contradio com a finitude objetiva do ambiente a escassez dos recursos. Estamos no corao da

    economia teolgica do Ocidente, como to bem mostrou Marshal Sahlins; na verdade, na origem de nossa

    teologia econmica do desenvolvimento. Mas essa concepo econmico-teolgica da necessidade , em

    todos os sentidos, desnecessria. O que precisamos de um conceito de suficincia, no de necessidade.

    Contra a teologia da necessidade, uma pragmtica da suficincia. Contra a acelerao do crescimento, a

    acelerao das transferncias de riqueza, ou circulao livre das diferenas; contra a teoria economicista do

    desenvolvimento necessrio, a cosmo-pragmtica da ao suficiente. A suficincia uma relao mais livre

    que a necessidade. As condies suficientes so maiores mais diversas que as condies necessrias.

    Contra o mundo do tudo necessrio, nada suficiente, a favor de um mundo onde muito pouco neces-

    srio, quase tudo suficiente. Quem sabe assim tenhamos um mundo a deixar para nossos filhos.

    Eduardo ViVEiros dE Castro Antroplogo do Museu Nacional (UFRJ), especial para o Almanaque Brasil Socioambiental.

  • Devastamos mais da metade

    de nosso Pas pensando

    que era preciso deixar a natureza

    para entrar na histria:

    mas eis que esta ltima,

    com sua costumeira predileo

    pela ironia, exige-nos agora

    como passaporte

    justamente a natureza.(de Eduardo Viveiros de Castro, antroplogo, um dos motes da fundao do ISA em 1994)

    www.socioambiental.org

  • aPresenTaODO GruPO aes

    Os padres vigentes de consumo, aliados capacidade de transformao por parte do homem, impuse-

    ram um ritmo que os recursos naturais do Planeta tm sido utilizados em um padro no sustentvel. O

    crescimento econmico , por excelncia, a principal via de gerao de emprego e distribuio de renda,

    um propulsor da reduo das desigualdades sociais. No entanto, vem acompanhado por um pesado cus-

    to ambiental. O futuro do Planeta depende do urgente restabelecimento do equilbrio entre crescimento

    da economia, reduo das desigualdades sociais e preservao do meio ambiente. O Brasil apresenta-se

    como candidato a uma grande nao desenvolvida, mas vem pagando uma conta alta, como evidenciam

    as fotografias areas de nossas florestas e demais biomas ameaados.

    O Grupo AES no Brasil tem enfrentado esse desafio investindo em programas de manejo de flora e manejo

    pesqueiro, projetos de reciclagem, metas de reduo de emisses de gases poluentes e insumos diversos,

    regularizao de ligaes eltricas, eficincia energtica e projetos de pesquisa e desenvolvimento ligados

    ao meio ambiente. Essas aes esto descritas nos relatrios de sustentabilidade das geradoras e distri-

    buidoras de energia eltrica do Grupo. J o conceito de desenvolvimento sustentvel est cada vez mais

    em pauta na sociedade e tambm disseminado nas empresas do Grupo AES no Brasil. Acreditamos que

    esse conhecimento, aliado a um conjunto de aes concretas realizadas por todos os nossos funcionrios,

    poder provocar as mudanas necessrias para o equilbrio entre as necessidades imediatas de nossos p-

    blicos de relacionamento funcionrios, meio ambiente, clientes, fornecedores, comunidades, governo,

    acionistas, entre outros , sem comprometer as necessidades das futuras geraes.

    Por essa razo, as empresas do Grupo AES no Brasil renovam sua parceria com o Instituto Socioambiental

    (ISA) para viabilizar a reedio atualizada do Almanaque Brasil Socioambiental e, assim, disseminar esse

    conhecimento e estimular a construo de um relacionamento mais saudvel com o nosso Planeta.

    Britaldo PEdrosa soarEs Diretor Presidente do Grupo AES no Brasil

  • Esta a segunda edio do Almanaque Brasil Socioambiental, revista, atualizada e ampliada. A publicao contou com a participao de especialistas das mais diversas reas, que colaboraram voluntariamente como autores ou consultores dos textos e das imagens. O ISA agradece a tod@s.

    aGraDecimenTOs

    AutorES DE tExtoS Adalberto Verssimo; Ademar Romeiro; Adriana Ramos; Adriano Paglia; Alcides Faria; Alec Zeinad; Alessandra Nava; Amalia Safatle; Amncio C. S. Friaa; Ana Lise Thurler; Ana Lucia Ancona; Ana Valria Arajo; Andr Giacini de Freitas; Andr Lima; Andr Rocha Ferretti; Andr Trigueiro; Angel Perez; Antonio Carlos Robert Moraes; Antonio Donato Nobre; Arnaldo Carneiro Filho; Augusto Auler; Bernt Rydland Olsen; Beto Ricardo; Bruce Albert; Carlos Frederico Mars de Souza Filho; Carolina Rossini; Clvis Borges; Cristiane Fontes; Cristina Velasquez; Danielle Celentano; Eduardo Ehlers; Eduardo Viveiros de Castro; Elaine Pinto; Elza Berqu; Emerson Galvani; Evaristo Eduardo de Miranda; Fany Ricardo; Fer-nando Gabeira; Fernando Mathias Baptista; Flavia Pardini; Geraldo Mosimann da Silva; Gil Anderi da Silva; Gilda Collet Bruna; Gina Rizpah Besen; Giorgio Brighetti (in me-morian); Gustavo Pacheco; Helena Ribeiro; Helio Mattar; Jacques Demajorovic; Jos Augusto Pdua; Jos Eli da Veiga; Jos Galizia Tundisi; Jos Heder Benatti; Juliana Santilli; Kathia Vasconcellos Monteiro; Ladislau Dowbor; Laure Emperaire; Leonardo Boff; Liana John; Lisa Gunn; Livia Chede Almendary; Lcio Flvio Pinto; Luis Enrique Snchez; Luis Henrique Marton Marcondes Silva; Luis

    Piva; Marcelo Caus Asfora; Marcelo Leite; Mrcia Hirota; Mrcio Santilli; Marcus Polette; Maria de Azevedo Bran-do; Maringela Graciano; Marilena Lazzarini; Marina Antogiovanni da Fonseca; Marina Kahn; Mrio Csar Mantovani; Marussia Whately; Mary Alegretti; Maura Campanili; Mauro Almeida; Miriam Prochnow; Moyss Simantob; Natalia Hernndez; Natalie Unterstell; Neide Esterci; Nely Blauth; Nide Guidon; Nilo DAvila; Nurit Bensusan; Paul Singer; Paula Arantes; Paulo Miguez; Paulo Moutinho; Pedro Ivo de Souza Batista; Pedro Ro-berto Jacobi; Pedro Novaes; Rachel Trajber; Rafaela Nico-la; Raul Silva Telles do Valle; Renato Cymbalista; Ricardo Arnt; Ricardo Miranda de Britez; Ricardo Salgado; Ro-berto Kishinami; Roberto Smeraldi; Rosa Artigas; Rosely Alvim Sanches; Rubens Onofre Nodari; Srgio Cortizo; Srgio Haddad; Sergio Leito; Sezifredo Paz; Slvia Franz Marcuzzo; Soraia Silva de Mello; Suzana M. Padua; Teresa Urban; Vanderley M. John; Violta Kubrusly; Wagner Costa Ribeiro.

    ConSultorES DE tExtoS Aldo da Cunha Rebouas; Ana Lucia Ancona; Isabella Clerice de Maria; Marcelo Glei-ser; Neide Esterci; Violta Kubrusly, Washington Novaes.

  • IluStrADorES Carlos Matuck (personagens) e Rubens Matuck (aquarelas Cerrado e Um P de Qu?).

    AutorES DE EnSAIoS fotoGrfICoS Araqum Al-cn- tara (Brasil); Fernando Soria (Amrica Latina); Geyson Magno (Caatinga); Iat Cannabrava (Cidades); Ma rio Frie-dlnder (Pantanal); Paulo Backes (Pampa); Pedro Matinelli (Amaznia); Roberto Linsker (Zona Costeira); Sebastio Salgado (Planeta Terra); Zig Koch (Mata Atlntica).

    fotGrAfoS Adenor Gondim; Alec Krse Zeinad; Ana Lcia Pessoa Gonalves; Andr Ricardo; Andr Villas-Bas; Antonio Bragana; Araqum Alcntara; Beto Ricardo; Car-los Cazalis; Claudia Andujar; Claudio Tavares; Daniel Beltra; Eduardo Viveiros de Castro; Fbio Del Re; Felipe Leal; Gey-son Magno; Iat Cannabrava; Joo Paulo Capobianco; Jr-gen Braastad; Jos Carlos Ribeiro Ferreira; Lalo de Almeida; Laure Emperaire; Leopoldo Silva; Livia Chede Almendary; Mar cus Pollete; Marcus Vincius Chamon Schmidt; Mario Friedlnder; Mauro Almeida; Michael Pellanders; Miriam Prochnow; Mnica Monteiro Schroeder; Orlando Brito; Otto Hassler; Paulo Backes; Paulo Jares; Pedro Martinelli; Pio Fi guei roa; Raul Silva Telles do Valle; Roberto Linsker; Rosa

    Gauditano; Rosely Alvim Sanches; Rui Faquini; Sebastio Salgado; Sheila Oliveira; Simone Athayde; Snia Lorenz; Vincent Carelli; Wigold Schaffer; Zig Koch.

    APoIo Programa Um P de Qu?, realizao Pindorama Filmes e Canal Futura; Folhapress.

    AGrADECIMEntoS Alice Lutz (Pindorama Filmes); Ana Ligia Scachetti (Fundao SOS Mata Atlntica); Ana Lucia Mariz de Oliveira; Camila Melo (Instituto Akatu); Carlo Paixo; Cesar Brustolin (Prefeitura Municipal de Curitiba); Daiani Mistieri (Instituto Ethos); Daniela Soares (Greenpe-ace); Dominique Tilkin Gallois; Dora Negreiros (Instituto Baa de Guanabara); Eduardo Neves (USP); Estevo Ciavat-ta (Pindorama Filmes); Fernanda Pereira (Iphan); Gabriela Juns (Greenpeace); Geraldo Andrello (ISA); Igor Felippe Santos (MST); Inara Vieira (Iphan); Jan Thomas Odegard (Amigos da Terra); Leo Serva; Mariana Bassani (Terra Virgem); Marina Verne (Iphan); Nuno Godolphim (Pindo-rama Filmes); Patrcia Rocha (ATB Comunicaes); Priscila Mantelatto (Imaflora); Renina Valejo (Critas Brasileira); Ricardo Salgado Rocha (Instituto Terra); Susana Horta Camargo; Tatiana Moliterno (F/Nazca).

  • Pg. 24 Pg. 195

    Pg. 283 Pg. 186

    Pg. 336

    Pg. 170

    Pg. 48

    Pg. 107

    Pg. 230

    Pg. 47

    Pg. 121

    Pg. 276

  • sumriOcomo usar o almanaque 21

    ambientes 23

    Universo 24 Planeta Terra 33 Amrica Latina 48 Brasil 61 Amaznia 83 Caatinga 107 Cerrado 128 Mata Atlntica 144 Pampa 163 Pantanal 177 Zona Costeira 195

    Diversidade socioambiental 215

    Populao Brasileira 216 Populaes tradicionais 223 Povos Indgenas 226 Quilombolas 234 Direito Socioambiental 236 Processos da Diversidade Biolgica 241 Fauna 243 Flora 251 Recursos Genticos 254 Biossegurana 258 reas Protegidas 261 Bens Culturais 270

    Florestas 273

    Poltica Florestal 274

    Desmatamento 276 Queimadas 283 Manejo 285 Recuperao Florestal 288

    gua 291

    Disponibilidade e Distribuio 292 Conflitos de Uso 298 Saneamento Bsico 303 Barragens 311 Esporte e Lazer 313 Hidrovias 314 Indstria 315 Irrigao 317 Pesca 319

    Terras 323

    Ordenamento Territorial 324 Fronteiras 327 Reforma Agrria 329 Solo 333 Transporte 336

    recursos energticos e minerais 339

    Energia 340 Matriz Energtica 344 Eletricidade 346 Combustveis 348 Energia Nuclear 351 Minerao 352

  • mudana climtica 357

    Mudana Climtica Global 358 O Brasil e a Mudana Climtica 365 Desafio do Sculo 373

    cidades 379

    Urbanizao 380 Arquitetura 391 Enchentes 395 Habitao 396 Lixo 398 Poluio Urbana 405 Transporte 409 Cidades Sustentveis 410

    modelos de Desenvolvimento 413

    Agricultura Sustentvel 414 Cincia e Tecnologia 423 Comrcio Justo 425 Consumo Sustentvel 428 Contabilidade Ambiental 431 Cooperao Internacional 432 Crescimento Econmico 433 Desenvolvimento Humano 435 Desenvolvimento Sustentvel 439 Economia Ecolgica 441 Economia Solidria 443 Educao 444

    Indicadores Socioambientais 446 Poltica Ambiental 448 Reforma Tributria 451 Responsabilidade Socioambiental Corporativa 452 Riscos e Acidentes Ambientais 456 Servios Ambientais 459 Socioambientalismo 461 Turismo Sustentvel 469

    legislao socioambiental 475

    Acordos Internacionais 476 Legislao Brasileira 481 Responsabilidade por Danos Socioambientais 488

    Fruns e conferncias 493

    Conferncia Nacional do Meio Ambiente 494 Conferncias Internacionais 496 Fruns Social e Econmico 498

    calendrio 499

    campanhas 501

    Diretrio 517

    Glossrio & siglrio 533

    ndice remissivo 542

  • Pg. 452 Pg. 358

    Pg. 402 Pg. 384

    Pg. 391

    Pg. 367

    Pg. 505

    Pg. 386

    Pg. 376

    Pg. 419

    Pg. 469

    Pg. 410

  • Sociodiversidade e biodiversidade definemo Brasil em um mundo em acelerado

    processo de globalizao.Mas o desenvolvimento predatrioe socialmente excludente dilapida o patrimnio, corri a identidade

    e agrava a crise brasileira.O futuro pede como passaporte

    uma nova sntese:a sustentabilidade socioambiental.

    (um dos motes da criao do ISA em 1994)

    www.socioambiental.org

  • cOmO usar O almanaqueEste Almanaque est dividido em captulos temticos, com verbetes relacionados.Todos os textos foram escritos ou validados por profi ssionais ligados aos temas abordados

    Entenda os verbetes

    Todos os verbetes so acompanhados das seesSaiba Mais (com indicaes bibliogrfi cas ou sites sobre o tema) e veja tambm (indicando outros verbetes ou sees do Almanaque relacionadas ao tema).

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    Os temas abordados neste Almanaque podem ser encontrados no Sumrio (pg. 18), nas aberturas de captulos ou no ndice remissivo (pg. 542).

    O Diretrio (pg. 517) traz uma lista de organizaes relacionadas temtica socioambiental, com endereos postais e eletrnicos.

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    relacionadas temtica socioambiental, com endereos postais e eletrnicos.

  • ambientes

    A integrao entre os diferentes nveis do Universo faz com que nenhum de seus

    elementos seja independente de todo o resto, como a Terra, que tambm um

    sistema composto pelos elos de uma mesma cadeia. Desde os ecossistemas mais

    simples, passando por biomas, chegando a estruturas climticas regionais e globais,

    influenciadas, por sua vez, por foras csmicas. O aquecimento causado pela indus-

    trializao ou o desmatamento em uma rea do Planeta contribui para alteraes

    no clima at mesmo em regies distantes. A conscincia desses fatos avanou nos

    ltimos anos, como indicam algumas polticas pblicas ambientais nascidas da

    presso da sociedade em todo o mundo. Por outro lado, a regra geral continua sendo

    a dos modelos insustentveis de desenvolvimento que desconsideram a finitude

    dos recursos naturais. O Almanaque Brasil Socioambiental apresenta sob o tema

    Ambientes informaes sobre as vrias dimenses que afetam a vida do Planeta,

    desde a formao do Universo, da Terra, at detalhar os biomas presentes no terri-

    trio brasileiro (Amaznia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlntica, Pampa, Pantanal e

    Zona Costeira).

    Universo, pg. 24Planeta Terra, pg. 33Amrica Latina, pg. 48Brasil, pg. 61Amaznia, pg. 83Caatinga, pg. 107

    Cerrado, pg. 128Mata Atlntica, pg. 144Pampa, pg. 163Pantanal, pg. 177Zona Costeira, pg. 195

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    ambientes

    Sabemos muito pouco sobre o que est alm do nosso Planeta, que teria apenas o tamanho de um gro de pimenta se, proporcionalmente, o Sol fosse comparado a uma bola de futebol. Assim, a origem do Universo, seu tamanho, os corpos celestes e, principalmente, a possibilidade de vida em outros planetas - como a conhecemos na Terra ou de outras formas - sempre despertaram a curiosidade do homem, que, desde os tempos pr-histricos, em qualquer cultura, elaborou teorias e mitos sobre ele.

    A cincia de hoje explica vrios fenmenos, como, por exemplo, como as estrelas nascem ou como o movimento dos planetas no nosso Sistema Solar, mas ainda perma-necem muitas lacunas. Apesar de mito e cincia serem

    universo

    Toda a matria presente na Terra e da qual somos feitos representa somenteum sexto das outras formas de matria existentes no Universo, ou seja, somos apenas

    uma pequena parte do que conhecemos sobre o Cosmo

    concepes diferentes, ambos representam os esforos do homem em desvendar os mistrios do Universo e da vida. Por isso, devem ser compreendidos dentro do contexto cultural onde foram criados e no comparados como o falso e o verdadeiro. Os mitos de criao (do homem, do universo, da natureza), por exemplo, so retratos importantes sobre a maneira como uma sociedade percebe e organiza a realidade sua volta. E a Cincia tambm uma forma de organizar essa realidade, mas no a nica.

    Hoje em dia, a teoria de criao do Universo mais aceita pela Cincia o Big Bang, segundo a qual, h cerca de 14 bilhes de anos, houve uma grande exploso, que concen-trava toda a matria existente na parte do Universo que

    Pluto visto a partir de uma de suas luas.

    nASA/jPL

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    ambientes

    no confunda...

    M Astronomia a palavra astronomia signi-fica, etimologicamente, leis das estrelas e a cincia que observa os eventos que acontecem fora da Terra e em sua atmosfera. Estuda as origens, a evoluo e os aspectos fsicos e qu-micos dos objetos que podem ser observados no espao, assim como todos os processos que envolvem esses corpos celestes.M Cosmologia estudo da estrutura fsica e da histria do Universo ao longo de sua existncia. Em particular, trata de assuntos relativos sua origem, expanso e tamanho.M Cosmogonia tambm estuda a origem do Universo, mas sob o ponto de vista filosfico, que busca um sentido para sua existncia. Mitos de criao do Universo, como nas religies, so exemplos de Cosmogonia.

    saiba mais Biblioteca Virtual de Astronomia (www.prossiga.br/astronomia).

    podemos observar. A partir da exploso gerada pela enorme concentrao de energia, essa matria se espalhou, criando incontveis galxias, que continuam se afastando umas das outras na medida em que o Universo se expande.

    As galxias so conjuntos de estrelas, planetas, poeiras, gases e nebulosas que se mantm agrupados pela gravidade dos corpos celestes e podem ter diversas formas: elpticas, espirais e irregulares. A partir de 1986, mapas do Universo mostraram que essas galxias no esto organizadas de maneira aleatria, e sim em estruturas complexas, em torno de bolhas chamadas vazios csmicos (partes do Universo sem concentrao de matria). Esses mapas so construdos a partir da posio das galxias no Universo, situadas a distncias que chegam a bilhes de anos-luz da Terra.

    e ns?A Via Lctea a galxia onde vivemos, cuja forma uma

    espiral. Uma das bilhes de estrelas desse aglomerado as mais velhas esto no centro - o nosso Sol, em torno do qual giram diversos satlites, asterides, cometas, meteorides, poeira e planetas, entre eles a Terra. Esse conjunto forma o nosso Sistema Solar (SS). Sozinho, o Sol responde por 99,8% da massa total do SS e, com sua fora de atrao, mantm unidos esses corpos celestes.

    o que um ano-luz?

    Ano-luz a unidade de comprimento utili-zada para marcar distncias no espao csmico, seja entre as estrelas de uma mesma galxia ou entre galxias diferentes, e corresponde ao espao percorrido por um raio de luz em 1 ano.

    Como a velocidade da luz a mais rpida que conhecemos, o ano-luz muito grande para ser aplicado como medida na Terra.

    Para se ter uma idia dessa grandeza, imagine um carro viajando a 300 mil quilmetros por segundo (velocidade da luz) durante um ano, sem parar: o trajeto percorrido ser o equivalente a um ano-luz, ou aproximadamente 9.500 trilhes de quilmetros.

    voc sabia?

    M Os elementos qumicos que compem o Planeta Terra, nossos rgos, ossos e todos os outros elementos que fazem parte do corpo humano como o carbono, o nitrognio e o oxignio , so os restos mortais de estrelas que existiram h 5 bilhes de anos, antes da formao do nosso Sistema Solar.M Os mais antigos registros astronmicos datam de aproximadamente 3000 a.C. e so atribudos aos chineses, babilnios, assrios e egpcios. O estudo dos astros serviam, entre outras coisas, para medir o tempo (para, por exemplo, prever a melhor poca de colheita).

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    A Ecologia trata de nveis de organizao biolgica crescentes, a partir da populao de indivduos de mesma espcie, segundo a hierarquia: Populao gComu-nidade gEcossistema gBiosfera. Classicamente, a Biosfera considerada o conjunto de todos os ecossis-temas da Terra. Porm, as condies para a emergncia da vida dependem das vizinhanas astronmicas da Terra, da situao do Sol dentro da Galxia e da prpria natureza do Universo. A Bioesfera teria, portanto, uma escala csmica e no apenas terrestre. A conexo entre ecologia e cosmologia magnificamente expressa pelo astrnomo britnico Martin Rees: a cosmologia a maior das cincias ambientais.

    As condies fsicas do nosso Universo o tornam hospitaleiro para a vida. Dentro de um Multiverso com vrios possveis universos, o nosso Universo um universo bifilo, que permite a emergncia de nveis de complexidade altos o suficiente para que a vida surja. Em um outro universo no teramos essa sorte.

    Um modo de se situar a origem da vida na evoluo cosmolgica observar a tendncia de temperatura decrescente de um cosmos em expanso. O Universo muito jovem estava preenchido com um campo de radiao de temperatura muito alta. Em cerca de 10-10 segundos depois do Big Bang, o Universo se resfriou o suficiente para que matria e antimatria se aniqui-lassem, convertendo massa em energia, deixando um pequeno excesso (uma parte em um bilho) de matria. Essa matria, embora um componente minoritrio no Universo (na radiao de fundo csmica, h dois bilhes de ftons para cada tomo), permitiu que prtons, ncleos, tomos e ns aparecssemos.

    Em 10-5 segundos do Big Bang, o contedo trmico do Universo reduziu-se o suficiente para que os quarks se juntassem em trincas, formando os familiares prtons e os nutrons, que constituem o componente pesado da matria visvel do Universo at hoje. Quando o Universo tinha entre 1 e 300 segundos de idade, sua

    temperatura j era baixa o suficiente para que a fora nuclear ligasse os prtons e nutrons nos primeiro ncleos, produzindo, alm do hidrognio, que apenas um prton, o deutrio, o hlio e o ltio. Essa etapa um pouco inspida, pois ainda no h nenhum carbono ou oxignio.

    Passaram-se 400.000 anos sem nenhuma novi-dade. A matria se mantinha em equilbrio com o mar de ftons que preenchia o Universo. no final desta era, porm, a temperatura havia cado suficiente para que a fora eletromagntica ligasse eltrons e prtons em tomos de hidrognio. Surge mais um nvel de estrutura: os tomos.

    Finalmente, h uns poucos milhes de anos do Big Bang, a temperatura cai o suficiente para que se formem as primeiras molculas de hidrognio (H2). um novo nvel de complexidade: as molculas. Porm, como ainda no h carbono, nitrognio e oxignio, nessas nuvens moleculares primitivas no h molculas de interesse biolgico, no h gua.

    somos restos de estrelasO Universo continua a se expandir e a se resfriar.

    Quando a temperatura das nuvens moleculares cai ainda mais, entra em jogo a fora mais fraca do Uni-verso: a fora gravitacional. As nuvens moleculares colapsam sob a ao da gravidade e do origem s primeiras estrelas. Este evento torna o Universo muito mais interessante. O perodo anterior conhecido como idade das trevas, pois nada brilha no Universo. Agora brilham as estrelas, com importantssimas conseqncias. Em primeiro lugar, as estrelas formadas reionizam o Universo, tornando-o relativamente trans-parente. Em segundo lugar, as estrelas criam regies com temperaturas muito altas, rompendo o equilbrio termodinmico e fornecendo energia livre pela primeira

    ecossistemas na escala csmica

    Amncio c. S. FriAA*

    *Astrofsico, professor associado do Instituto de Astronomia,Geofsica e Cincias Atmosfricas da USP

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    ambientes

    vez na histria do Universo (e sem energia livre, no h vida). E, finalmente, e mais excitante, elas produzem os elementos pesados (alm do hlio e ltio).

    As estrelas inicialmente queimam hidrognio em hlio no seu interior, repetindo um processo que j havia acontecido no Big Bang. Aps algum tempo, o hidrognio se esgota no centro estelar, cessa a queima termonuclear e resta um ncleo estelar de hlio. O ncleo se comprime, atinge presses e temperaturas altssimas, at que se dispara a queima do hlio. Cada trs ncleos de hlio se fundem em um de carbono. O aparecimento do carbono um salto sem precedentes na evoluo da complexidade, pois ele permite uma qumica complexa. Dentro das estrelas so posterior-mente produzidos os demais elementos da tabela peridica. Os primeiros elementos sintetizados so carbono, oxignio e nitrognio. Outros elementos, em especial o ferro, so produzidos nas geraes estelares seguintes.

    A vida terrestre constituda por H, O, C e n, os primeiro, terceiro, quarto e quinto elementos mais abundantes do Universo (o segundo elemento o quimicamente inerte He) e os primeiros a surgirem. Assim, a vida na Terra representativa da qumica do Universo. de se esperar que HCnO tambm seja a

    base da vida em outras partes do cosmos, refletindo as abundncias csmicas dos elementos.

    gua est em toda parteTambm as abundncias csmicas favorecem

    a existncia da gua. H2O a combinao dos dois mais abundantes elementos quimicamente ativos do Universo. a mais abundante molcula tri-atmica do Universo. Encontramos gua em toda parte. Porm, gua lquida muito menos comum, pois ocorre em uma estreita faixa de temperaturas. Alm disso, exige altas presses, pois abaixo de uma presso crtica, h transio de fase direta do slido para o gasoso e vice-versa.

    inferno de DantePor uma coincidncia csmica, a gua formada

    no Universo, quando as temperaturas so suficiente-mente baixas para que ela exista no estado lquido. Planetas surgem nessa etapa da evoluo csmica fornecendo os ambientes propcios para a gua lqui-da. Tais ambientes no se restringem s atmosferas e superfcies planetrias, mas podem ser tambm subterrneos.

    Os limites de temperatura para que a gua exista em estado lquido na superfcie terrestre situam-se entre 0o C e 100 C, mas sob alta presso, o ponto de ebulio pode chegar a 650 C. Tal fato, em vista da evoluo geral de universo quente para um universo frio, pode sugerir uma origem de alta temperatura para a vida. De fato, nas origens da vida na Terra, h um predomnio dos hipertermfilos (organismos com mxima temperatura para o crescimento prxima ou acima de 100 C). Esse limite para o domnio da vida das primitivas Archaea igual ou maior a 120 C, para as Bacteria, 95 C e, para os evoludos Eukarya (dos quais fazemos parte), 60 C. Pode-se suspeitar que, tambm em um contexto csmico, os locais mais provveis para o aparecimento da vida estejam mais prximos do Inferno de Dante do que do Paraso do Gnesis.

    Nuvem de hidrognio e poeira, formando uma es-trela recm-nascida.

    SITE

    DA

    nASA

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    Os planetas so astros bem menores do que o Sol essa estrela mais de cem vezes maior do que a Terra, por exemplo.

    Em ordem crescente de distncia do centro do Sis-tema Solar, os oito planetas se distribuem da seguinte forma: Mercrio, Vnus, Terra, Marte, jpiter, Saturno, Urano e netuno. O maior deles jpiter aproximada-mente 11 vezes maior que a Terra.

    saiba mais Livro Virtual de Astronomia e Astro fsica (http://astro.if.ufrgs.br/index.html); Imagens do Universo (http://antwrp.gsfc.nasa.gov/apod/archivepix.html); Observatrio nacio-nal (www. on.br).

    VeJa tambm Planeta Terra (pg. 33).

    Em 24 de agosto de 2006, Pluto deixou de ser um planeta! nessa data, a Unio Astronmica Inter-nacional (IAU), em sua Assemblia Geral, aprovou resoluo segundo a qual um planeta um corpo celeste que: a) est em rbita ao redor do Sol; b) tem forma aproximadamente esfrica (e no com forma de batata, por exemplo, como alguns asterides); e

    nova ordem do sistema solar

    Amncio c. S. FriAA*

    c) limpou a vizinhana de sua rbita. essa ltima condio que elimina Pluto como um planeta. Um verdadeiro planeta teria eliminado todos os corpos celestes prximos de sua rbita, seja colidindo com eles, capturando-os como luas ou expulsando esses corpos para longe. Essa condio no se aplica a Pluto, pois ele pequeno demais para ter limpado a sua rbita, que, at mesmo, chega a cruzar a rbita de netuno, que possui um raio quase 25 vezes maior do que o de Pluto. Agora, o Sistema Solar possui apenas oito planetas conhecidos: Mercrio, Vnus, Terra, Marte, jpiter, Saturno, Urano e netuno.

    Pluto faz agora parte de uma nova categoria de corpos do Sistema Solar, os planetas anes. Em seguida resoluo da IAU de 2006, o conjunto dos planetas anes j contava com trs membros: o prprio Pluto, Ceres e ris. Ceres, o maior objeto do Cinturo de As-terides, entre Marte e jpiter, tem o dimetro de 950 km e foi reconduzida da condio de asteride para a de planeta ano. j ris, com dimetro de 2.400 km e, portanto, maior que Pluto, com 2.274 km de dimetro, a responsvel pela desplanetarizao de Pluto. Foi ris a deusa que lanou o pomo da discrdia a Pris, provocando o confronto entre as deusas olmpicas que levou Guerra de Tria. O nome ris assinala o tenso debate entre os astrnomos antes da deciso de mudar a categoria de Pluto.

    *Astrofsico, professor associado do Instituto de Astronomia,Geofsica e Cincias Atmosfricas da USPSistema Solar (montagem Nasa).

    nASA

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    quem faz a histria

    Grandes cientistas elaboraram diferentes teorias sobre o Universo ao longo da Histria. Conhea alguns deles, responsveis pela construo da concepo moderna do Cosmo na Cincia.

    M CLUDIO PTOLOMEU (sculo II d.C.) Ptolomeu, astrnomo grego, elaborou o Geocentrismo, teoria na qual a Terra o centro do Universo e todos os corpos celestes - estrelas, planetas, cometas etc. - giram em torno dela. Essa concepo foi oficialmente adotada pela Igreja Catlica, que considerava ser o Homem e a Terra o centro de tudo.M NICOLAU COPRNICO (1473-1543) Coprnico, em seu livro Revoluo dos Corpos Celestes, defende que o centro do Universo o Sol e no a Terra, como props Ptolomeu. Essa teoria, chamada de Heliocentrismo (porque se achava que o elemento hlio, que compe em torno de 9% do Sol, s era encontrado ali), provoca uma revoluo na concepo do Universo e desafia a Igreja Catlica da poca, j que derruba a concepo de que o homem tem um lugar especial no Cosmo. Por essa razo, Coprnico, que era eclesistico e no queria desrespeitar a Igreja, tomava cuidado para que, na poca, ela no tivesse muita repercusso.M GALILEU GALILEI (1564-1642) Galileu foi o primeiro a apontar para o cu um telescpio, construdo por ele mesmo. Com seu experimento, constatou que a Lua era cheia de crateras e montanhas, que satlites orbitavam em torno de jpiter, que o Sol tinha manchas, e outras observaes que contrariavam o conhecimento da poca.M JOHANNES KEPLER (1571-1630) Kepler, baseado na idia de Coprnico, publica os estudos mais im-portantes de introduo astronomia heliocntrica (Sol no centro do Universo). Descobre que os planetas se movem em torno do Sol em rbitas elpticas e cria leis especficas para esse movimento, gerando provas de que Coprnico estava certo. Suas obras figuravam entre os livros proibidos pela Igreja Catlica.M ISAAC NEWTON (1642-1727) newton, um dos mais importantes cientistas da Histria, elaborou a teoria da gravitao Universal, na qual os corpos celestes possuem uma fora central que atrai outros corpos para si. Assim, explica o movimento dos corpos celestes em torno de outros, como a Lua em volta da Terra e tambm o fato de os elementos do Planeta Terra se manterem na superfcie, sem cair para o espao.M ALBERT EINSTEIN (1879 - 1955) Einstein formulou, em 1905, a Teoria da Relatividade, segundo a qual o tempo e o espao no so absolutos e fixos: eles podem ter diferentes medidas de acordo com o sistema de referncias adotado. Um outro ponto dessa teoria de que a velocidade da luz no vcuo constante, podendo ser usada como medida de distncia no Universo (anos-luz). Einstein d o exemplo dos raios e o trem. Dois indivduos observam dois raios que atingem simultaneamente as extremidades de um trem (que anda em velocidade cons-tante em linha reta) e chamuscam o cho. Um deles est dentro do trem, exatamente na metade dele. O segundo indivduo est fora, bem no meio do trecho entre as marcas do raio. Para o observador que est no cho e fora do trem, os raios caem simultaneamente. Mas o homem no trem v os raios carem um depois do outro, porque ele, ao mesmo tempo que se desloca dentro do trem em direo ao relmpago da frente, se afasta do relmpago que cai na parte traseira. Como a velocidade da luz constante, o relmpago da frente chega antes que o de trs aos olhos do indivduo dentro do trem. Sua Teoria da Relatividade Geral (1916) revolucionou a descrio da gravidade, atribuindo-a a curvatura do espao em torno de objetos massivos.M EDWIN HUBBLE (1889-1953) Hubble realizou uma das mais importantes descobertas para a cosmologia moderna. Usando o telescpio mais potente da poca, Hubble observou que as galxias se afastam uma das outras, fugindo para distncias cada vez maiores. Isso mostra que o Universo est em expanso, em todos os sentidos.

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    De onde viemos? Estamos ss? Estas ques-tes fundamentais so feitas desde a aurora da hu-manidade. A origem e a natureza da vida pertence a esta ordem de indagaes primeiras. A Astrobiologia uma abordagem recente, cheia de efervescncia intelectual dessas grandes questes. O nAI (nASA Astrobiology Institute) define a Astrobiologia como o estudo do Universo vivo. Essa definio inclui implicitamente o estudo da vida na Terra e como a evoluo da vida terrestre condicionada por even-tos no Sistema Solar e na Via Lctea. O impacto do asteride em Chicxulub, no Golfo Mxico, que teria causado a extino dos dinossauros h 65 milhes de anos atrs, a mais conhecida das dramticas interferncias csmicas sobre a vida na Terra. Mas, fundamentalmente, a tarefa mais excitante da Astro-biologia a procura da vida fora da Terra.

    no comeo do sculo XXI, a Astrobiologia sofreu uma revoluo. Isso graas aos resultados das sondas espaciais a Marte e a Titan (o satlite de Saturno), aos avanos da biologia molecular, reconstituio por simulaes computacionais do processo de es-peciao em escalas de tempo da ordem do bilho de anos, descoberta de uma enorme quantidade de planetas extrassolares, aos novos resultados observacionais, computacionais e laboratoriais da astroqumica, s estimativas mais acuradas dos impactos sobre a evoluco da vida causados por eventos csmicos, como supernovas e quedas de asterides e cometas.

    De fato, algo que tem impulsionado enorme-mente a Astrobiologia a descoberta de exoplanetas, ou seja, planetas orbitando em torno de outras estrelas. Cada uma dessas estrelas constitui um sol em torno do qual orbita um exoplaneta. As vezes, descobre-se vrios exoplanetas em torno da mesma estrela. At 2007, havia mais de 250 exoplanetas descobertos. Esse nmero dever ser multiplicado

    vrias vezes com a entrada em operao do telesc-pio espacial europeu Corot (lanado no final de 2006 e do qual o Brasil faz parte), assim como do satlite norte-americano Kepler.

    Uma das novidades das misses Corot e Kepler que elas permitem descobrir planetas rochosos e pequenos como a Terra, os chamados planetas telricos. Antes do lanamento desses satlites, a esmagadora maioria dos exoplanetas eram planetas gigantes gasosos girando prximos das suas estrelas. O prottipo de um planeta gigante gasoso jpiter, que tem 300 vezes a massa da Terra.

    A descoberta preferencial de jpiteres devida limitao do mtodo de descoberta, o chamado mtodo das velocidades radiais. A estrela balana em torno do centro de massa do sistema planetrio, devido perturbao gravitacional exercida pelo planeta, enquanto ele orbita a estrela. Esse balano necessariamente pequeno, porque a estrela bem maior que o planeta. Esse balano faz com que a velocidade radial (isto , na nossa direo) da estrela varie, ora ela se afastando mais, ora se aproximando mais. O que se observa a estrela e sua velocidade radial, e no o planeta diretamente. As caractersticas do planeta massa, distncia da estrela e perodo orbital so deduzidas a partir das observaes da estrela.

    O mtodo de velocidades radiais no permite que se descubra planetas pequenos como a Terra, porque a perturbao gravitacional de uma Terra na estrela seria diminuta, indetectvel. no mximo, esse mtodo poderia levar descoberta de Superterras, como o caso do exoplaneta Gliese 581c, anunciado em 2007. Ele foi descoberto pelo telescpio de 3,6 m do Observatrio Europeu do Sul (ESO) em La Silla, no Chile. Gliese 581c, um planeta com cinco vezes a

    a vida no universo

    Amncio c. S. FriAA*

    *Astrofsico, professor associado do Instituto de Astronomia,Geofsica e Cincias Atmosfricas da USP

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    ambientes

    massa da Terra, orbita em torno de Gliese 581, uma estrela menor, mais fria e muito menos luminosa que o nosso Sol, e que fica a 20,5 anos-luz da Terra. Gliese 581c faz parte de um sistema solar com trs planetas conhecidos. Algo fascinante a seu respeito que ele est a uma distncia da estrela que permite a existncia de gua em estado lquido. Ou seja, esse planeta est na zona habitvel.

    Os telescpios espaciais Corot e Kepler usam um outro mtodo de deteco, o mtodo dos trnsitos. nesse mtodo, o planeta passa na frente da estrela e produz uma pequena reduo no brilho, porque oculta um pedao da estrela. O valor dessa reduo permite deduzir o tamanho do planeta. Esse mtodo preciso o suficiente para permitir a descoberta de planetas do tamanho da Terra, os planetas telricos. Estima-se que se descubram com o Corot cerca de 1.000 planetas gasosos gigantes e 100 planetas telricos, dos quais algumas dezenas na zona habitvel. Futuros telescpios espaciais, como o europeu Darwin e o norte-americano TPF (Terres-trial Planet Finder), obteriam espectros de planetas telricos, com o objetivo de verificar a presena de gases - como O2, O3 e CH4 - indicadores da ao de seres vivos. As misses Corot e Kepler forneceriam os alvos a serem posteriormente investigados por esses telescpios.

    A zona habitvel se refere quela zona, de uma dada largura, em torno da estrela, onde possvel a existncia de gua lquida. Essa zona mais dis-tante do sol do exossistema solar, para estrelas mais luminosas, e vice-versa. A Terra, a 150 milhes de km, por exemplo, est no meio da zona habitvel do Sol. j Gliese 581c, a 11 milhes de km de Gliese 581, encontra-se na zona habitvel dessa estrela.

    cachinhos douradosTemos o humorosamente chamado problema

    da Cachinhos Dourados. na histria da Cachinhos Dourados, ela chega na casa da Famlia Urso e en-contra trs tigelas de mingau, uma muito quente,

    uma muito fria e outra no ponto. Assim, a zona de habitabilidade definida por dois raios, um interno, mais prximo da estrela, mais quente, onde a gua comea a ferver, e um raio externo, onde a gua comea a congelar.

    A definio da zona de habitabilidade depende tambm da atmosfera planetria. Um planeta com uma atmosfera muito fina pode no ter efeito es-tufa o suficiente para manter a gua acima do ponto de congelamento. no Sistema Solar, Vnus sempre foi quente demais, enquanto Marte, no passado, j esteve no ponto. Da as evidncias de gua lquida no passado de Marte. A Terra em geral esteve no ponto, exceto em duas ocasies de quase total glaciao (a chamada Terra Bola de neve).

    Por que definir a zona habitvel pela presena de gua lquida? Em primeiro lugar, por que gua essencial para a vida como conhecemos. A prpria Terra pode ser chamada com propriedade de Pla-neta gua. Se ela tivesse um pouco mais de gua, poderiam nem existir os continentes. no Sistema Solar, Marte teve gua lquida em seu passado, e Europa, uma das quatro grandes luas de jpiter, tem um vasto oceano subterrneo, debaixo de sua crosta de gelo.

    Porm, a gua tambm pode ser essencial para a vida em outros pontos do Universo. Afinal, h gua por toda parte no Cosmos. A gua a combi-nao dos dois elementos quimicamente ativos mais abundantes, o hidrognio e o oxignio. Os grandes depositrios de gelo no Universo so os cometas e a gua o principal componente dos cometas e dos seres vivos. na verdade, as propores dos elementos qumicos em cometas e nos seres vivos, considerando o hidrognio, oxignio, carbono e nitrognio, so semelhantes. O ranking de importncia desses elementos tambm o mesmo nas abundncias csmicas. j a crosta terrestre apresenta um dficit de carbono e dficit ainda maior de nitrognio e hidrognio. Seramos ento antes filhos do Cosmos do que da Terra?

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    o tamanho e a forma do universoA primeira revoluo sobre o tamanho do Universo

    uma questo to antiga quanto a histria da humanidade - foi a teoria do cientista ingls Isaac newton de que o Cosmo deveria ser infinito em todas as direes. Caso contrrio, a atrao gravitacional dos corpos celestes faria com que eles se embolassem todos no centro do Universo (se ele fosse finito e, portanto, possusse um centro). Depois de newton, houve outra grande descoberta: Edwin Hubble, em 1929, observou que o Universo est em expanso, contrariando Albert Einstein, que havia proposto um Universo finito e esttico. Apenas em 1931, aps uma visita a Hubble, Einstein admitiu a expanso do Cosmo.

    Hoje, sabe-se que o Universo tem a forma plana, como a superfcie de uma mesa, e estende-se ao infinito em trs dimenses. Mesmo assim, no possvel determinar seu tamanho. Isso se deve ao fato de que estamos limitados a observar o Universo visvel para ns, isto , a parte que est dentro da esfera de 14 bilhes de anos-luz (a maior distncia espacial detectada pela Cincia at hoje). Assim, conhecemos a parte do Universo que nossa vizinha, sabemos que ela plana, mas no se pode ter certeza do que est do outro lado.

    conSultor: mArcelo GleiSerProfessor de fsica terica do Dartmouth College, em Hanover (EUA),e autor do livro A Dana do Universo (Companhia Das Letras)

    (1) Via-Lctea; (2) Telescpio Orbital Corot; (3) Regio de formao das estrelas mais densas que se tem notcia; (4) Galxia Andrmeda.

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    planeta terra

    Urbanizao acelerada, escasseamento dos recursos naturais, mudanas climticas,alm da perda da biodiversidade e da sociodiversidade, levam a populao humana

    a discutir a sustentabilidade da vida no Planeta

    O Planeta Terra abriga, atualmente, 6,4 bilhes de pes-soas. Esse nmero seis vezes maior do que em 1830, poca da Revoluo Industrial e incio do processo de crescimento acentuado da populao nas cidades e reas urbanas. nos prximos 50 anos, segundo estimativas, a previso de que o mundo tenha entre 8,5 e 9 bilhes de habitantes.

    Mas como viver essa populao em 2050, se metade dos recursos hdricos disponveis para consumo humano e 47% da rea terrestre j so utilizados e ainda assim 800 milhes de pessoas passam fome e 24 mil a cada dia morrem por este motivo? Estudos afirmam que a relao entre o crescimento populacional e o uso de recursos do Planeta j ultrapassou em 20% a capacidade de reposio da biosfera e esse dficit aumenta cerca de 2,5% ao ano. Isso quer dizer que a diversidade biolgica - de onde vm

    novos medicamentos, novos alimentos e materiais para substituir os que se esgotam - est sendo destruda muito mais rpido do que est sendo reposta e esse desequilbrio est crescendo: at 2030, 70% da biodiversidade poder ter desaparecido. As florestas tropicais, responsveis pela maior parte dessa biodiversidade, so destrudas ao ritmo de 130 mil km2 por ano, o equivalente a pouco mais que o estado do Cear. Para se ter uma idia, dos 64 milhes de km2 de florestas existentes antes da expanso demogrfica e tecnolgica dos humanos, restam menos de 15,5 milhes, cerca de 24%. Ou seja, mais de 75% das florestas primrias j desapareceram. Com exceo de parte das Amricas, todos continentes desmataram, e muito.

    Essa perda afeta gravemente os servios naturais (ciclos e processos responsveis pelo equilbrio da natureza), como

    Reconstruo digital do Planeta Terra a partir de fotos das misses espaciais Apollo, da Nasa, e imagens de satlite.

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    por exemplo o regime hidrolgico, a fertilidade natural do solo e as cadeias reprodutivas marinhas (ver Servios Ambientais, pg. 459).

    Os cenrios de escasseamento dos recursos naturais tm gerado discusses sobre o possvel surgimento de conflitos e disputas entre pases. o caso da gua, por exemplo, que por ter sua disponibilidade comprometida (pelo mau uso, desperdcio, poluio, entre outros problemas) e ser distri-buda de maneira irregular pelo mundo (algumas regies com muita e outras com pouca), pode ser o principal motivo de guerras no sculo XXI, segundo advertncias das naes Unidas, que tambm chama a ateno para a necessidade de uma maior cooperao internacional.

    A urbanizao do Planeta tambm tem gerado debates e preocupaes. nos ltimos 50 anos, a velocidade e a escala com que a populao urbana cresceu, principalmente em regies menos desenvolvidas, geraram grandes desafios sustentabilidade das cidades. Cerca de 4% da populao mundial vive nas maiores concentraes urbanas do mundo,

    das quais a Regio Metropolitana de So Paulo est em quarto lugar, atrs de Tquio (japo), Cidade do Mxico (Mxico) e Mumbai (ndia). Em 2015, estima-se que 10% da populao urbana mundial viver em mega-cidades. A previso de que o nmero de pessoas em regies urbanas subir de 3 bilhes em 2003, para 5 bilhes em 2030 (ou seja, 60% da populao mundial viver em cidades). Em parte, essa mudana atribuda ao fenmeno da migrao, que provocou grande crescimento nas zonas urbanas de pases subdesenvolvidos.

    A rapidez do crescimento dessas reas nas ltimas dcadas gerou problemas como falta de saneamento apropriado e a ocupao urbana irregular, muitas vezes em locais que deveriam ser preservados, como as zonas costeiras e de mananciais.

    Com todas essas mudanas, a sociodiversidade tambm fica comprometida, com povos espalhados por todos os continentes perdendo suas terras, identidade e lngua. Atualmente, segundo a Unesco, so mais de 6 mil

    MAPA-MNDI

    LABORATRIO DE GEOPROCESSAMEnTO DO InSTITUTO SOCIOAM

    BIEnTAL, 2004. FOnTE: DCw.

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    cAfVamos tomar um caf? Essa frase pode ser o

    comeo ou o fim de um namoro, de um contrato, de um projeto ela pode pontuar decises importantssimas ou apenas servir a matar o tempo. Em todo caso, 400 bilhes de vezes ao ano toma-se uma xcara de caf. Depois da gua, o caf o lquido mais consumido no Planeta.

    Diz a lenda que um pastor de cabras l no Imen, na antiga Abissnia, percebeu que elas ficavam super animadas quando comiam uma frutinha vermelha de um arbusto. O pastor, claro, quis saber qual era a da frutinha, deu uma mordida e ficou animadssimo! A notcia da bebida mgica se espalhou. Os monges islmicos que moravam perto do pastor comearam a preparar uma infuso com a semente bebiam e ficavam ligades durante as oraes noturnas. Pronto, surgiu o cafezinho.

    Os livros de histria contam que os peregrinos islmicos que partiam da Abissnia para Meca levavam consigo alguns gros para ficarem acordados durante a longa viagem. Assim, os rabes ficaram conhecendo a planta africana ao verem chegar aqueles viajantes vindos de to longe e nem to cansados assim.

    Os vidos mercadores rabes atravessaram o Mar Vermelho e trouxeram o caf da frica para o Oriente. Quando os turcos tomaram Constantinopla levaram o caf com eles mundo afora nas suas conquistas. O sucesso do caf foi tanto que, no Oriente Mdio, uma lei turca autorizava a mulher a pedir divrcio, caso seu marido no lhe desse a sua quota diria de caf.

    na Europa Ocidental, at o incio do sculo XVII o caf era apenas uma lenda do Oriente. A porta de entrada

    foi Viena, que sitiada pelos turcos descobriu a bebida. Mas os rabes queriam guardar o monoplio e escal-davam todas as sementes antes de export-las. Assim eles impediam o replantio. Os rabes se apegaram tanto ao caf que hoje em dia o tipo mais comum classificado como arbica em homenagem ao povo que vislumbrou maior futuro para aquela bebida.

    Os primeiros ocidentais a conseguirem sementes frteis foram os holandeses. Eles logo saram plantando em suas colnias como Ceilo, java, Malabar. Em 1718 levaram o caf para o Suriname. S dava caf holands. Mas logo virou mania entre os nobres presentearem mudas de caf. Franceses, ingleses e espanhis espa-lharam o caf por todas as colnias, de Cuba ao Qunia, do Vietn Austrlia.

    Os primeiros gros de caf que chegaram no Brasil, dizem, estavam no bolso da casaca do sargento-mor Francisco de Melo Palheta, vindo de uma expedio Guiana Francesa, em 1727.

    A histria brasileira do caf comeou l no Par. Depois veio descendo pelo nordeste, passando pelo Maranho, Cear, Pernambuco e Bahia, at chegar, por volta de 1760, no Rio de janeiro. Em terras fluminenses, comea o sucesso do caf brasileiro, seguindo serra acima o Vale do Paraba. Em 1870, o plantio entra em

    declnio no Vale e o Oeste Paulista, com sua terra roxa, toma a frente. no final do sculo XIX, So

    Paulo j era a capital mundial do caf. O campeo da safra de 2004/2005

    foi Minas Gerais, com 48% da oferta nacional. O Brasil ainda , junto

    com a Colmbia, o maior produtor de caf do Planeta coloca todo mundo no bolso onde, alis, essa histria comeou.

    saiba mais Pindorama Fil-mes (www.pindoramafilmes.com.br; www.futura.org.br).

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    A Cpula do Milnio o maior encontro de dirigentes mundiais de todos os tempos , reuniu chefes de estado de 191 pases, em setembro de 2000, para fazer consideraes sobre as urgncias socioambien-tais do Planeta. Como resultado, alm de uma declarao das Naes Unidas chamando a ateno para os problemas mais graves, foram estabelecidas as Metas do Milnio, a serem atingidas at 2015. Faltam, agora, apenas sete anos para o prazo fixado, e no h mudanas expressivas. As metas esto estreitamente vinculadas entre si: para alcan-las, ser preciso contar com aes combinadas e bem fundamentadas dos governos, da sociedade civil e da comunidade internacional mobilizados em torno de enfoques estratgicos. Estudos indicam que particularmente a erradicao da pobreza no suceder sem aes incisivas e maior destinao de recursos para as reas de sade, educao e controle do aumento demogrfico.

    1) Erradicar a extrema pobreza e a fomeObjetivo: reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, a proporo da populao com renda inferior a um dlar por dia, que hoje ultrapassa 1 bilho de pessoas (Banco Mundial) e a proporo da populao que sofre de fome.

    2) Atingir o ensino bsico universalObjetivo: garantir que, at 2015, todas as crianas, de ambos os sexos, terminem um ciclo completo de ensino bsico.

    3) Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheresObjetivo: eliminar a disparidade entre os sexos no ensino primrio e secundrio, se possvel at 2005, e em todos os nveis de ensino, o mais tardar at 2015.

    4) Reduzir a mortalidade de crianasObjetivo: reduzir em dois teros, entre 1990 e 2015, a mortalidade de crianas menores de 5 anos.

    5) Melhorar a sade maternaObjetivo: reduzir em trs quartos, entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade materna.

    6) Combater o HIV/AIDS, a malria e outras doenasObjetivo: at 2015, ter detido a propagao do HIV/AIDS e comeado a inverter a tendncia atual.

    7) Garantir a sustentabilidade ambientalObjetivo: Integrar os princpios do desenvolvimento sustentvel nas polticas e programas nacionais e reverter a perda de recursos ambientais e reduzir pela metade, at 2015, a proporo da populao sem acesso permanente e sustentvel a gua potvel segura.

    8) Estabelecer uma Parceria Mundial para o DesenvolvimentoObjetivo: avanar no desenvolvimento de um sistema comercial e financeiro aberto, baseado em regras, previsvel e no discriminatrio e tratar globalmente o problema da dvida dos pases em desenvolvimento, mediante medidas nacionais e internacionais de modo a tornar a sua dvida sustentvel no longo prazo.

    saiba mais (www.undp.org.br/milenio).

    as metas do milnio para o planeta terra

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    no apenas as pessoas mais idosas mas tambm jovens fazem a experincia de que tudo est se acele-rando excessivamente. Esse sentimento ilusrio ou tem base real? Embora seja questionada por muitos cientistas, a ressonncia Schumann procura dar uma explicao a essa sensao.

    O fsico alemo w.O. Schumann constatou em 1952 que a Terra cercada por um campo eletromagntico poderoso que se forma entre o solo e a parte inferior da ionosfera, cerca de 100 km acima de ns. Esse campo possui uma ressonncia (dai chamar-se ressonncia Schumann), mais ou menos constante, da ordem de 7,83 pulsaes por segundo. Funciona como uma espcie de marca-passo, responsvel pelo equilbrio da biosfera, condio comum de todas as formas de vida. Verificou-se tambm que todos os vertebrados e o nosso crebro so dotados da mesma freqncia de 7,83 hertz.

    Empiricamente fez-se a constatao de que no podemos ser saudveis fora dessa freqncia biolgica natural. Sempre que os astronautas, em razo das via-gens espaciais, ficavam fora da ressonncia Schumann, adoeciam. Mas submetidos ao de um simulador Schumann recuperavam o equilbrio e a sade.

    Por milhares de anos as batidas do corao da Terra tinham essa freqncia de pulsaes e a vida se desenrolava em relativo equilbrio. Ocorre que a partir dos anos 1980, e de forma mais acentuada a partir dos anos 1990, a freqncia passou de 7,83 para 11 e para 13 hertz por segundo. O corao da Terra disparou.

    Coincidentemente, desequilbrios ecolgicos se fizeram sentir: perturbaes climticas, maior atividade dos vulces, crescimento de tenses e conflitos no mun-

    do e aumento geral de comportamentos desviantes nas pessoas, entre outros. Devido acelerao geral, a jornada de 24 horas, na verdade, somente de 16 horas. Portanto, a percepo de que tudo est passando rpido demais no ilusria, mas teria base real nesse transtorno da ressonncia Schumann.

    Os dados do Painel Inter-governamental sobre Mudanas Climticas de fevereiro de 2007, rgo da ONU envolvendo cerca de 2.500 cientistas, nos revela-ram esta grave notcia. A Terra ultrapassou o limite de suportabilidade. Ela encontrar seu equilbrio ao subir a temperatura entre , 8, 3 e at, em alguns lugares, 6 graus Celsius. Este um fato inevitvel. no podemos mais parar a roda, apenas desaceler-la mediante um processo de adaptao ou de minorao dos efeitos nocivos. Haver grandes dizimaes de espcies e milhes de pessoas podero correr risco de vida. A Terra Gaia, quer dizer, um super-organismo vivo que articula o fsico, o qumico, o biolgico e o antropolgico de tal forma que ela se torna benevolente para com a vida. Agora ela no consegue sozinha se auto-regular. Temos que ajud-la, mudando o padro de produo e de consumo. Caso contrrio, poderemos conhecer o destino dos dinossauros. ns, seres humanos, somos Terra que sente, pensa e ama.

    A busca do equilbrio deve comear por ns mes-mos: fazer tudo sem estresse, com mais serenidade, com mais amor, que uma energia csmica e essen-cialmente harmonizadora. Precisamos respirar juntos com a Terra, para conspirar com ela pela paz, que o equilbrio do movimento.

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    leonArdo BoFF*

    * Membro da Comisso Internacional da Carta da Terra(www.leonardoboff.com)

    lnguas faladas no mundo, das quais 50% esto ameaadas de desaparecer. Elas representam no s diferentes formas de comunicao, mas tambm sistemas de valores e expresso cultural da identidade dos povos. A metade de todos esses idiomas, no entanto, est concentrada em apenas oito pases:

    Papua-nova Guin (832), Indonsia (731), nigria (515), ndia (400), Mxico (295), Camares (286), Austrlia (268) e Brasil (em torno de 180). no por acaso, quatro desses pases (Brasil, Mxico, ndia e Indonsia) tambm fazem parte do grupo das 12 naes com a maior biodiversidade do Planeta.

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    FOTOS: SEBASTIO SALGADO/AM

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    Pgina ao ladoIceberg entre a ilha Paulet e as ilhas Shetlands no Canal Antrtica, 2005 (alto); Lees-marinhos Zalophus californianus, Puerto Egas na Baa de James, Ilha de Santiago. Galpagos, Equador, 2004 (embaixo).

    Nesta pgina Colnia de centenas de milhares de pinguins Pygoscelis antarctica na Baily Head, Ilha Deception, Antrtica, 2005 (acima); Baleia franca austral, chamada Adelita. Tem esse nome pelo fato de ter sempre sido vista na Baa de Adlia que est perto do ponto Pirmede no Golfo Novo. Pennsula Valds, Patagnia, Argentina, 2004 (ao lado).

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    Nesta pginaRetrato de um grupo de chefes Kamaiur. O homem sentado no meio, com um chapu de pele de jaguar, um dos mais importantes chefes religiosos no Xingu inteiro. Seu nome Takum Kamaiur e o precedente cacique da tribo. Alto Xingu, Mato Grosso, Brasil, 2005 (acima).Preparao da jovem ndia para o estgio final da cerimnia Amuricum (festa das mulheres) na tribo Kamaiur. Alto Xingu, Mato Grosso, Brasil, 2005 (ao lado).

    Pgina ao ladoLago na cratera do vulco Bisoke, no Parque de Virunga. Quase toda a superfcie do topo dessa montanha coberta por uma planta conhecida como Senecio gigante. Fronteira entre Ruanda e a Repblica Democrtica do Congo, 2004.

    FOTOS: SEBASTIO SALGADO/AM

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    GenesisEsse projeto o fruto de reflexo sobre o nosso Planeta

    que est em perigo de morte. O uso no cotidiano da energia nuclear, sem que te nhamos a soluo para o lixo e os efeitos secundrios, a utilizao abusiva de produtos qumicos que levam ao envenenamento dos solos e das guas, adicionados ao excesso de gs carbnico fabricado pelas indstrias e destruio das florestas tropicais, comprometem inexora-velmente a sade da estratosfera e reduzem a fotossntese que fabrica o oxignio, essencial nossa vida. A prpria existncia do ser humano est em perigo.

    Somente em zonas no exploradas poderemos encontrar a chave da nossa origem como espcie e a

    biodiversidade quase intacta. O objetivo desse trabalho tentar mostrar o mais longe possvel a origem do nosso Planeta: o ar, a gua e o fogo que lhe deram vida, os animais que resistiram domesticao e continuam selvagens, as tribos humanas que ainda vivem em estado prstino. Por isso, foi intitulado GEnESIS . Foi prevista uma durao de oito anos para explorar o mundo e mos-trar a face virgem e pura da natureza e da humanidade. Essas imagens aqui expostas so o produto dos dois primeiros anos de trabalho.

    Llia Wanick Salgado (Diretora da Amazonas Images)

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    M Agricultura, silvicultura e pesca so responsveis por um a cada dois empregos em todo o mundo e sete de cada dez empregos na frica Subsaariana, leste da sia e do Pacfico. Para um quarto do mundo, cultivo, madeira e peixe ainda contribuem mais para a economia do que bens industriais.M Aproximadamente dois teros das terras usadas para a agricultura foram degradadas nos ltimos 50 anos por motivos como eroso, salinizao do solo, poluio e degradao biolgica. Dessas terras, 40% foram seriamente danificadas.M O processo de desertificao avana razo de 60 mil quilmetros quadrados por ano. j atinge 2 bilhes de hectares (20 milhes de km2) e degradou 15% das terras agrcolas (5,5 milhes de km2).M Um relatrio elaborado pelo Centro Hadley para o Prognstico e as Pesquisas sobre o Clima, vinculado ao Escritrio Meteorolgico do Reino Unido, indica que aproximadamente um tero do mundo ser deserto em 2100. M 1,7 bilho de pessoas no mundo no tm acesso gua de boa qualidade.M 5 milhes de pessoas morrem a cada ano por beber gua poluda e viver em condies sanitrias inadequadas. Alm disso, doenas como diarria e esquistossomose atingem 50% da populao de pases subdesenvolvidos. M 12,5% das espcies de plantas conhecidas esto ameaadas.M Existem hoje no mundo 2,5 bilhes de pessoas sem acesso a formas adequadas de energia e a demanda mundial cresce 2,5% ao ano. Se todas forem atendidas nos formatos atuais, as emisses de gases que intensificam o efeito estufa podero crescer muito, pois hoje a matriz energtica baseia-se fundamentalmente no petrleo (45%), carvo mineral (25%) e gs natural (16%), responsveis por grande parte da emisso desses poluentes.M 52% da populao rural mais pobre do mundo possui terras muito pequenas para o prprio sustento ou simplesmente no possui terras.M As florestas cobrem em torno de 25% da superfcie terrestre, sem considerar a Groenlndia e a Antrtica.M Existem aproximadamente 5 mil espcies de peixes ainda no-descritas nos mares e oceanos do Planeta. M A populao mundial segue crescendo rapidamente, em uma razo de 76 milhes de pessoas por ano.M Em 2007, pela primeira vez na histria mundial, o nmero de habitantes das zonas urbanas ultrapassou o de zonas rurais no Planeta. M Uma mulher morre por minuto, no mundo, vtima de complicaes obsttricas. Segundo a OnU, para cada 1 milho de dlares no investidos em programas de planejamento familiar, registram-se: 360 mil gestaes indesejadas; 150 mil abortos em condies precrias; 800 mortes maternas; 11 mil mortes de crianas menores de 1 ano e 14 mil mortes de crianas menores de 5 anos.M Em 1960, havia 79 milhes de imigrantes internacionais. Em 2000, esse nmero subiu para 175 milhes (1 imigrante em cada 35 pessoas).

    voc sabia?

    concentrao de riquezas e pobrezaO cenrio de degradao ambiental do Planeta e

    urbanizao desenfreada no so as nicas causas da baixa qualidade de vida em muitas regies, principalmente urba-nas: a concentrao de riquezas tambm muito acentuada, impossibilitando uma vida digna maior parte do mundo. Mais de um bilho de pessoas vivem em estado de extrema

    pobreza no mundo. Em contrapartida, as 258 pessoas com ativos superiores a 1 bilho de dlares cada detm, juntas, o equivalente renda anual de 45% da humanidade. En-quanto isso, 1 bilho de crianas (56%) sofrem pelo menos um dos efeitos da pobreza (falta de gua potvel, falta de saneamento bsico, moradia precria, falta de informao, falta de alimentao ou condies de sade precrias).

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    consumo e extino GloBAlizADos: o cAso Do BAcAlhAu

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    Diversas espcies de bacalhau foram includas na lista vermelha norueguesa de espcies em extino em 2006. E a responsabilidade no apenas dos noruegueses, mas de consumidores em todos os cantos do mundo, inclusive no Brasil. Cerca de 85% do bacalhau que vai para a mesa dos brasileiros importado da noruega, o que corresponde a 10% de todo o bacalhau pescado por l. A espcie mais apreciada o bacalhau-do-atlntico (gadus mohua) j na lista global de espcies em perigo do Oceano Atlntico -, at cinco vezes mais cara que outra espcie consumida pelos brasileiros, o escamudo (Pollachius virens), ainda no includo na lista de espcies ameaadas. Enquanto o primeiro consumido pela classe mdia-alta e em restaurantes de luxo, o segundo usado no famigerado bolinho de bacalhau.

    O Brasil importou mais de 27 mil toneladas de bacalhau da noruega em 2006, mais de 85% do consumo nacional desse Pas. H 50% de chance dos brasileiros consumidores do peixe contriburem para a extino dos estoques de uma das mais produtivas e exploradas reas de pesca do mundo, o Atlntico norte.

    A sustentabilidade dos estoques de bacalhau no est ameaada apenas pelo enorme consumo, mas tambm pelo tipo de barco e material usados na pesca, muito nocivos ao meio ambiente. Grandes redes industriais fazem os barcos gastarem cinco vezes mais combustvel, alm de sua malha capturar muito mais peixes jovens, ainda em fase de crescimento. Duas outras espcies de bacalhau importadas pelo Brasil donzela (molva molva) e zarbo (Brosme brosme), tambm ameaadas vivem em grandes profundidades, e para captur-las so necessrias redes de arrasto que reviram o fundo do mar. Essa prtica proibida em muitos pases - considerada uma das principais causas da crescente destruio dos bancos de coral nos oceanos, fundamentais para a existncia de diversas outras espcies de peixe.

    A grande demanda do mercado internacional no s estimula o uso das redes industriais na noruega como incentivaram um novo tipo de negcio, altamente rentvel: as fazendas de bacalhau, que em breve chegaro tambm ao Brasil. preciso se ter em mente que esses criadouros muitas vezes de peixes geneticamente modificados para que cresam mais rpido, mais fortes e mais carnudos - tambm representam uma grande ameaa s espcies selvagens, uma vez que muitos peixes escapam da fazenda e podem se sobressair em relao aos outros peixes na disputa por comida e parceiros, alterando o equilbrio ecolgico. Alm disso, os peixes das fazendas comem outros peixes, ou seja, demandam ainda mais pesca. Estima-se que sejam necessrios 3 quilos de peixes selvagens para produzir um quilo de peixe nesses criadouros.

    O antes abundante bacalhau-do-atlntico dos ma-res canadenses praticamente se esgotou na dcada de 1990, e talvez nunca se recupere. A noruega e a Europa esto prximas de cometerem o mesmo erro.

    *Pesquisador do setor de vida marinha da ONG Amigos da Terra da Noruega

    voc sabia?

    M Para abastecer o mercado internacional de salmo, outro peixe muito apreciado mun-dialmente, os criadouros dessa espcie ne-cessitam de 2 a 3 kg de peixes selvagens para alimentar e produzir apenas 1 kg de salmo. Alm disso, 50% dos alimentos dados aos salmes de fazenda so ingredientes vege-tais, incluindo a soja, importada do Brasil e de outros pases da Amrica Latina.

    VeJa tambm Pesca (pg. 319).

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    Alm disso, se a mdia do padro de consumo dos pases industrializados fosse estendida a todos os habi-tantes da Terra, seriam necessrios mais dois planetas para sustentar todo mundo. A cada ano, mais de 10 bilhes de toneladas de materiais (recursos naturais) en-tram na economia global, mas apenas 20% da populao do mundo responsvel por cerca de 80% do consumo anual de energia e recursos, sendo tambm responsvel por 80% da poluio, incluindo os processos que geram riscos globais, como o aquecimento do Planeta.

    A degradao do meio ambiente afeta diretamente a qualidade de vida de todos, porm tem impacto ime-diato sobre aqueles que tm na pesca, nos bosques, nas

    pegada ecolgica

    O Planeta possui em torno de 11,4 bilhes de hectares de terra e mar produtivos, capazes de fornecer sus-tento para a populao mundial. Se divididos pelos 6,5 bilhes de habitantes, deixam uma mdia de 1,8 hectare por pessoa. Mas a mdia nos EUA, por exemplo, chega a 9,6 hectares. Isso significa que se todos os habitantes da Terra tivessem o mesmo padro dos americanos, seriam necessrios em torno de 5 planetas como o nosso para sustentar todo mundo. Para medir o impacto das naes sobre os recursos naturais do Planeta, a pegada ecolgica de cada pas mostra o quanto de espao no territrio necessrio para suprir os hbitos de consumo de cada habitante. A tabela abaixo indica qual a pegada de cada pas, o quanto est disponvel de espao na prtica e o dficit - que representa, quando negativo, quanto cada nao consome a mais do que teria espao disponvel para produzir.

    (em hectare/hab)Pas Pegada Capacidade disponvel Dficit ndia 0,8 0,4 -0,4 Estados Unidos 9,6 4,7 -4,8 Reino Unido 5,6 1,6 -4,0 japo 4,4 0,7 -3,6 Rssia 4,4 6,9 2,5 Mxico 2,6 1,7 -0,9 Brasil 2,1 9,9 7,8 Frana 5,6 3,0 -2,6 Itlia 4,2 1,0 -3,1 Alemanha 4,5 1,7 -2,8 Fonte: Living Planet 2006, WWF

    saiba mais Para saber qual a sua pegada ecolgica, acesse o site www.earthday.net/footprint/.

    saiba mais guia da pobreza (indicaes de sites de organizaes governamentais, multilate-rais e OnGs com fontes de informao e relatrios sobre o estado da pobreza no mundo) (www.worldbank.org/poverty/portuguese/webguide.htm); Site Oficial (brasileiro) da Rio+10 (www.riomaisdez.gov.br); ndice de Desenvolvimento Humano (www.pnud.org.br/idh); world Resour-ces Institute wRI (www.wri.org).

    VeJa tambm Cooperao Internacional (pg. 432); Acordos Internacionais (pg. 476).

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    ambientes

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    m u d a n a c l i m t i c a

    nas ltimas dcadas, a temperatura da Terra elevou-se 0,7 grau Celsius ( C). Em fevereiro de 2007, mais de 500 cientistas e representantes governamentais, reunidos para anlise do 4 Painel Intergovernamental de Mudanas Climticas (IPCC) da Organizao das naes Unidas (OnU), confirmaram formalmente o que vinham dizendo desde o final da dcada de 1980: que a maior parte desse aumento se deve s aes humanas, especificamente s emisses de gases que intensificam o efeito estufa. O relatrio apresentou dados de consenso entre os cientistas, com mais de 90% de probabilidade de acontecer. Isso significa que, se esses gases continuarem a serem lanados na atmosfera no ritmo atual, at o final do sculo XXI a temperatura pode elevar-se entre 1,8 C na melhor das hipteses - e 4 C. Para se ter uma idia do que esse aumento representa, a variao da temperatura mdia da Terra, desde a ltima era glacial que terminou em torno de 10 mil anos atrs - at os dias de hoje, foi de cerca de 6 C. As conseqncias do aquecimento global podem ser desastrosas para o Planeta: secas e inundaes, tufes, ciclones e maremotos podem se intensificar significativamente; a desertificao poder atingir um tero do mundo e espcies animais e vegetais podero estar ameaadas. Os oceanos podero elevar-se de 18 cm a 58 cm (por causa do aumento da temperatura dos oceanos e derretimento de geleiras) e inundar diversas regies costeiras, onde vive grande parte da populao da Terra. Alm disso, mais de 30 pases localizados em ilhas podero desaparecer. H indcios de que algumas dessas mudanas j esto acontecendo, com o aumento da temperatura nos plos. Onze dos ltimos doze anos (1995 -2007) foram os mais quentes j registrados em toda a histria.

    Desde a Conferncia das naes Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel, realizada no Rio de janeiro em 1992, a Rio-92, a populao mundial vem sendo alertada para os nveis crticos de degradao socioambiental sofrida pelo Planeta. Dez anos depois, porm, a Cpula Mundial de Desenvolvimento Susten-tvel, a Rio+10, realizada em 2002, em joanesburgo, fr