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Brasil Memória em Rede: um novo jeito de conhecer o país

Brasil Memória em Rede: um novo jeito de conhecer o país · foi estendida com edital próprio (foi Lyara Apostólico que formatou o edital). Com os Pontões criamos outra forma

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Editora Casa Aberta

EditoresJosé Isaías Venera

José Roberto Severino

ComercialIvana Bittencourt dos Santos Severino

Rua Lauro Müller, n. 83, Centro, Itajaí – CEP 88301-400Fone/Fax: (47) 30455815

www.editoracasaaberta.com.br

Brasil Memória em Rede : um novo jeito deconhecer o país. — São Paulo : Museu da Pessoa; Itajaí, SC : Editora Casa Aberta, 2010.

Vários colaboradores.

1. Brasil - História 2. Cultura - Brasil 3.Diversidade cultural 4. Grupos sociais 5.Histórias de vida 6. Memória - Aspectos sociais -Brasil.

ISBN: 978-85-62459-15-3

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:1. Brasil Memória em Rede : Cultura e sociedade : Sociologia 306.0981

10-03342 CDD-306.0981

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Sumário

ApresentaçãoHistórias escondidas de um Brasil que

pouco vê a si mesmoCélio Turino

PrefácioMemória do improvisso

Mario Chagas

IntroduçãoKaren Worcman

Trajetória doBrasil Memória em Rede

Que Brasil é esse que oBMR ajuda a revelar

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Pólo Regional Rio Grande do Sul

Pólo Regional Santa Catarina

Pólo Regional Ceará

Pólo Regional Bahia

Pólo Regional Paraíba

Pólo Regional Pará

Pólo Regional Goiazes

Pólo Regional Minas Gerais

Pólo Regional São Paulo

Pólo Regional Rio de Janeiro

Os grupos sociais:máquinas de memoriarRogério Silva

Agradecimentos

Legenda das fotos

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Histórias escondidas de um Brasil que pou-co vê a si mesmo. Este é o propósito do BrasilMemória em Rede. Depois que virou Pontãode Cultura1, passou a poder articular melhor ex-periências de comunidades e instituições queprezam pela memória. Que lidam com a me-mória. Se o Ponto de Cultura2 é a sedimenta-ção da rede no território, o Pontão de Cultura éo nó que sustenta a rede. Pontões sãoarticuladores, capacitadores e difusores na rede,integram ações e atuam na esfera temática outerritorial. Tanto podem abarcar uma linguagemartística, pública, área de interesse, gestão outerritório. O primeiro Pontão nasceu quase queem paralelo aos Pontos, foi o Navegar Amazô-

nia, um barco/estúdio a percorrer a foz do rioAmazonas. Depois vieram os Pontões Ação

Griô, Invenção Brasileira, Vídeo nas Aldeias eMapa da Rede, fazendo a gestão e sistematiza-ção das informações sobre os Pontos e o Cultu-

ra Viva. A partir de 2007 a rede de Pontõesfoi estendida com edital próprio (foi LyaraApostólico que formatou o edital). Com osPontões criamos outra forma de gestão eacompanhamento, a gestão intra-rede; umaforma de buscar os mecanismos de gestãona própria rede, sem agentes externos, con-tando com a capacidade e competênciasdos próprios integrantes da rede. Uma com-petência antes desprezada.

Há muitos Pontões: de Gestão, deQuilombolas, de Teatro, da Paz. Este último,praticamente uma Ação: as oficinas deausculta, a cultura de convivência e paz, amediação de conflitos. A Cultura de Paz, decerta forma, está disseminada por toda redee um Ponto de Cultura também poderia serdenominado Ponto de Paz. Pontão de Cultu-ra de Paz e Convivência e Caravana Arco Írispela Paz, uma trupe com gente de diversos

Histórias escondidas de um Brasilque pouco vê a si mesmo

Célio Turino

Apresentação

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países, disseminando práticas como:permacultura, oficinas de convergência e con-senso, jogos circenses, canções de paz, trocade conhecimentos, banheiros secos para co-munidades ribeirinhas, biodigestores, dimi-nuição de resíduos. Alberto, um mexicano,e sua esposa, Verônica, uma verdadeira des-cendente dos Incas, lá do Equador, cantam:

“PatchamamaLa madre tierra me calientaLa Patchamama me alimentaPatchamama”Com o Pontão, a rede ganha nós, se sus-

tenta com mais força. Ganha autonomia efomenta o protagonismo interno. Agorasão os próprios agentes dos Pontos de Cul-tura que alimentam a rede de novas idéi-as, iniciativas e ações. Do Pontão Navegar

Amazônia ao Soy Loco por ti, América, emCuritiba. Ou do Brasil Memória em Rede.Redes que rompem a relação de dependên-

cia e dão mais um passo no caminho da eman-cipação.

Notas:

1 Pontões são instituições articuladoras,conveniadas para tal fim. Os pontos articulamredes, grupos de ação cultural, linguagens. Napolítica nacional de cultura, eles têm papelarticulador das ações dos pontos de culturaem todo o território nacional.

2 Frutos de políticas públicas para a cultura, osPontos de Cultura fazem parte de um progra-ma do Ministério da Cultura (MinC), o Cultu-ra Viva. Os pontos selecionados sãoconveniados com o MinC e ou/SecretariasEstaduais. Recebem recursos segundo umcronograma bienal para compra de equipa-mentos de audiovisual e para outros usos de-finidos no plano de trabalho aprovado. Exis-tem mais de dois mil pontos conveniados emtodo o Brasil.

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Prefácio

“A memória é uma ilha deedição”

“A cultura é meu coração”. Esta frase doMestre Griô é um arrebatamento. Uma defini-ção de cultura que, talvez ,não apareça nosmanuais de antropologia, mas que nos cap-tura completamente porque fala de uma cul-tura do íntimo, de uma cultura impregnadade subjetividade, que é exatamente a dimen-são definidora da cultura. Não há cultura semsubjetividade, ainda que manifestada no so-cial, ela está completamente impregnada desubjetividade. E vendo e ouvindo o que estáacontecendo nesse encontro, fico muito en-tusiasmado e emocionado com certas coisas.Acho que tenho alma griô. Não me conside-ro um griô, mas deve ter algum pedaço domeu coração que é griô.

Memória do improviso1

Mario Chagas2

Ao observar as apresentações no dia dehoje, me veio à memória uma frase lapidardo poeta Waly Salomão, que hoje me pa-rece profundamente verdadeira. Ele diz as-sim: “a memória é uma ilha de edição”. Eele repetia isso brincando muito: “a memó-ria, a memória, a memória é uma ilha, éuma ilha. A memória é uma ilha de edição.A memória é uma ilha de edição”. E ele fi-cava com esse poema-ritmo: “a memória éuma ilha de edição”.

Estou convencido de que foi isso o quevimos e comprovamos hoje aqui. “A me-mória é uma ilha de edição”, e agora eumesmo vou editar a memória do que vi,do que assisti. E a memória que vocêsapresentaram, a memória que vocês vive-ram e trouxeram para partilhar, também éuma ilha de edição. A maioria das memóri-as apresentadas em imagens e movimento

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foram memórias editadas, levadas efetiva-mente a uma ilha de edição. Então, a me-mória é uma ilha de edição, tanto do pontode vista simbólico e metafórico - a língua detrapo do poeta - quanto do ponto de vistaefetivo, concreto.

Os casos concretos que vimos hoje sãoexemplos de operação em ilhas de edição.Assistimos a operações de memória por in-termédio de vídeos que foram editados. Mas,se nós parássemos um pouquinho para ana-lisar a frase do poeta: “A memória é uma ilhade edição”, poderíamos encontrar muita ma-téria para reflexão. Ele não diz que a memó-ria é também uma ilha de edição. Ele não dizque a memória pode ser uma ilha de edição.Ele diz: “A memória é uma ilha de edição”.Ele não tem dúvida quanto a isso e ao dizerisso, ele está nos dizendo, de modo muitocontundente, que nós operamos com a me-mória como quem edita. Nós operamos coma memória como quem seleciona, comoquem realiza escolhas.

Sempre que nos lembramos, escolhemos,selecionamos. Operamos como quem edita,como um editor que corta, recorta, sublinha,realça, colore, ritma, oculta, evidencia, colocano primeiro ou segundo plano, rearranja, re-organiza. Assim nós operamos individualmen-te, cotidianamente. Mas, também, coletivamen-te. Nós editamos as memórias, sejam elas dosgrupos ou coletivos sociais, dos coletivos famili-ares, de amigos, de amores, sejam memórias in-teiramente individuais.

Memórias voluntárias einvoluntárias

Agora mesmo, enquanto falo com esse so-taque meio carioca, meio não sei o quê, perce-bo que esse meu sotaque é uma memória. Umamemória difícil. A memória do sotaque é muitodifícil, porque ela está num campo da memóriainvoluntária. Nós temos memórias que são vo-luntárias e temos outras memórias que sãoinvoluntárias. As memórias voluntárias sãoaquelas que nós decidimos que queremos pro-duzir. São, vamos dizer, “uma ilha de edição”mais explícita. As memórias involuntárias, ain-da que sejam também editadas, o são não peloeu organizador, controlador. Alguém edita e nósnão sabemos muito bem quem é. Alguém editaessa memória por nós, um pouco do nosso so-taque, os gestos que reproduzimos e que lem-bram alguém, a mãe ou o pai. Alguém poderiadizer que a forma como eu cruzo as pernas mefaz parecer com meu pai. Eu não tenho essamemória, eu não sei disso, elas estão em outrolugar, elas vêm de um outro lugar e me vêemde um modo que eu não vejo. Então, há umamemória que é uma decisão de vontade, queeu decido registrar e guardar. E há outra quenão é assim. Qual é a mais valiosa? E a menosvaliosa?

Essa diferença de valor não se sustenta. Asduas existem, as duas funcionam, e muitas ve-zes, uma passa para o campo da outra e as duasse interpenetram. Assim vamos construindo me-

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mórias individuais e memórias coletivas.Retomando o poeta: de algum modo, ele nos

desafia com a idéia de ilha e a idéia de edição.Nós selecionamos. E essa compreensão é mui-to importante para quem trabalha com memó-ria, porque sabemos, ou deveríamos saber, quenão podemos nos lembrar de tudo. A ilha estácercada por todos os lados de uma vida quelhe toca. Não é impossível imaginar que nailha existam outras ilhas. Há memória e há vidapara além da ilha. A metáfora da ilha de edi-ção permite a compreensão de que não temoscapacidade de nos lembrar de tudo; a memó-ria total é impossível.

A memória total não existe. A memória totaltraria a abolição da nossa capacidade de pen-sar. Porque pensar é esquecer, ainda que tam-bém seja lembrar. Pensar é generalizar. Porexemplo, eu só posso pensar que aqui na salaestá um conjunto de seres humanos se eu es-quecer por um átimo que temos aqui homense mulheres, com idades diferentes, mais velhos,menos velhos, pretos, pardos, brancos, amare-los, azuis, cor de abóbora e de outras tantascores. Porque eu esqueço isso momentanea-mente, eu digo que aqui temos seres humanos.Se eu ficar fixado na totalidade da memória,com todos os seus detalhes, perco a capacida-de de generalizar, de compreender.

Existe a esse respeito um conto famoso deJorge Luís Borges, chamado “Funes, oMemorioso”. Para sintetizar: nesse conto, elenarra a desventura de um indivíduo que tinhatanta capacidade de memória, que se lembra-

va de tanta coisa, que para recordar de um dia,em todos os seus detalhes, ele levava exata-mente um dia. Alguém poderia exclamar: quememória extraordinária, esse tal de Funes ti-nha! Mas, aí vem a pergunta: ele viveu ouele perdeu esse dia? Se ele levou um dia parase lembrar de um dia, é possível pensar queele perdeu esse dia. Então, a memória tam-bém traz um problema, ou seja: se eu fosseapenas memória, eu não teria possibilida-de de ser feliz. Eu preciso esquecer para serfeliz e aceitar o jogo da memória e do es-quecimento. Eu preciso me libertar das gar-ras aduncas do carcará da memória.

Certa ocasião, quando meu filho maisnovo tinha oito anos, estávamos em casa esua mãe ligou para o avô, o pai dela. Aca-bou a ligação e ela me disse: “... estou tãopreocupada com meu pai, ele está esque-cendo tanta coisa...”. Meu filho entrou naconversa e disse: “Mamãe, qual o proble-ma? Eu também esqueço”. Achei incrível,o menino correr em socorro do avô, e pen-sei: é claro que ele entendeu tudo. Ele en-tendeu que a mãe estava desconfiada queo pai estivesse doente, que estivesse perden-do a memória por doença. Mas ele se opôsà idéia de que o esquecimento é ruim: “Qualo problema? Eu também esqueço”. Quer di-zer: isso não é um problema do mais velho;o mais novo também esquece. Com uma pe-quena pergunta e uma pequena afirmaçãomeu filho mais novo resgatou o avô e redimiuo esquecimento. Esquecer não é pecado, es-

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quecer não é crime, não é um mal ou um vírusdaninho. A tensão entre o esquecimento e amemória é que nos humaniza. Quando o po-eta diz que “A memória é uma ilha de edi-ção”, ele diz também que para trabalhar coma memória eu preciso ter capacidade de tra-balhar com o esquecimento. Seria o mesmoque dizer assim: O esquecimento é uma ilha

de edição. Quando eu digo: eu corto ou euedito, eu digo também esqueci. Então euvou editando: memória, esquecimento,memória, esquecimento. E produzo o meuvídeo, edito. E assim é a história que conto,assim é com o nosso colega ArqueólogoPescador, é este o mecanismo que ele ope-ra colhendo cacos que são, ao mesmo tem-po, fragmentos de memórias e de esqueci-mento.

E, ainda, quando tomamos essa idéia damemória como ilha de edição, o que secoloca aqui, como nos lembrou o colegado Pólo de Santa Catarina, é a dimensãopolítica da memória. Se ela trabalha comseleção, ela tem uma dimensão política. Porquê? Porque memória é escolha, é eleição.Eu seleciono, eu escolho, elejo, voto. Eudigo: “voto por esse daqui, aquele dali eudeixo de lado”. E assim, construo minha nar-rativa e história, assim é a memória.

Mas, o que eu vi hoje aqui foi especial, etem a ver com essa ilha de edição a que opoeta faz referência. Quando, por exemplo, oprojeto dos Argonautas se apresenta, eu vejoesse ato político. Aliás, cabe dizer que o nome

Argonautas é um nome que se apropria damemória do mundo ocidental, nos remete aosgregos, a Jasão e aos seus companheirosArgonautas. Os Argonautas da Amazônia vãoaté a Grécia, voltam e dizem aqui: “osArgonautas somos nós, nossa força e nossa voz”.Nós somos os Argonautas em busca do Tosãode Ouro na Amazônia, nessa reinvenção domito. E os Argonautas, no século XXI, tambémsão “caosnautas”, são navegantes do caos. Es-tão aí, navegando o caos contemporâneo, na-vegando o caos da Amazônia, se constituindoem grupo, em gesto e em ato político.

E no Brasil Memória em Rede, a gente vaivendo também esse jogo político da edição,entre aquilo que ela (a Rede) pega e não pega,entre o que quer reter e o que deixa passar. Emalguns momentos, a Rede é de malha mais finae em outros de malha mais grossa. E a Rede ésempre alguma coisa que a gente articula,arrebanha, apanha, mas deixa escapar, neces-sariamente. E é bom que deixemos escapar.Porque, de novo, se fossemos só memória, nãoseríamos humanos, poderíamos ser deuses,animais, vegetais, minerais, mas não humanos.Os humanos são tensão entre esquecer e lem-brar.

E da experiência na Amazônia passamospara o Pólo Ceará, com a Fundação Brasil Ci-dadão. Ali me chamou especialmente atençãoa linha da vida das instituições. É importante acompreensão de que as instituições têm biogra-fias; muitas vezes, nós pensamos que apenasos seres humanos têm biografias. Não. As insti-

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tuições também têm biografias e, se as institui-ções têm biografias, também os grupos sociaistêm as suas biografias. As biografias não sãoprivilégio ou exclusividade dos indivíduos.

Quando nos encontramos com o Pólo daParaíba, vimos o material do SEBRAE e a refe-rência ao Reisado do Zabelê, também em vídeo.E vimos um trabalho do Pólo do Rio de Janei-ro, com aqueles vários movimentos e, naqueleprocesso, a idéia do relatório em movimentome agradou bastante. Aliás, enquanto passavaesse material do Rio de Janeiro, eu fiquei lem-brando mais uma vez do movimento e da roda;do quanto a idéia e a prática da roda estão pró-ximas desses projetos de memória. A ciranda,a roda, como práticas que colocam em movi-mento, práticas capazes de movimentar a me-mória, de pôr a memória em movimento. E fi-quei pensando também em torno dessa pala-vra, dessa expressão: a roda, adora, a dor, move,a roda, move, a dor, adora, move, roda, roda,roda, adora, arado, arador, ara... É possível gi-rar e se movimentar em torno dessas coisas,dessas idéias, dessas palavras. Fiquei pensan-do nisso tudo.

Depois fomos pro Pólo Regional de MinasGerais, e nos deparamos novamente com aidéia da articulação entre a memória individu-al e a memória coletiva, quando o colega pro-jetou a imagem do filho recém-nascido e disse:“Meu projeto de memória individual”. Ao queeu poderia acrescentar: projeto que também éde esquecimento, necessariamente. É precisoesquecer para sobreviver.

Os colegas de Minas Gerais falam da im-portância do nosso legado. Eu tenho pensa-do muito nessa questão do legado. Nós cha-mamos de patrimônio esse legado que passade uma geração para outra. De pai para fi-lho. Heranças que são transmitidas do pontode vista material, do ponto de vista espiritu-al. São transmitidas de uma geração paraoutra, sempre numa perspectiva diacrônica,de um tempo para outro tempo. No entan-to, o que vimos aqui, nos leva a pensar emoutro patrimônio, numa outra possibilida-de de memória que não é uma memóriaque se transmite para outra geração, não éum patrimônio que se transmite de uma ge-ração para outra, e sim, um patrimônio in-ventado, uma memória inventada e parti-lhada no agora. Nós reinventamos os griôs.Na verdade, os griôs estavam dormindo naÁfrica, nós fomos lá, buscamos, trouxemosde volta, reinventamos, partilhamos e ostransformamos numa coisa da geração atu-al, dos viventes contemporâneos. Estou fa-lando de uma memória e de um patrimônioque é partilhado entre irmãos.

Eu inventei uma palavra pra isso: é ofratrimônio. O fratrimônio é o patrimônioque partilhamos entre nós, na nossa geração,entre irmãos, independente da idade quetêm. Já não é mais aquilo que vem de umageração para outra, mas sim, o que é parti-lhado sincronicamente no tempo em que vi-vemos. Como diz a juventude: “juntos e mis-turados”. Aqui e agora.

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Mas tem ainda outra memória, e essa talvezseja a mais complexa de todas, que é a me-mória (e o patrimônio) que vem de uma ge-ração mais nova para uma mais velha. Osnovos me fazem lembrar, me chamam aten-ção. Os novos também sublinham, destacam,cortam, apontam coisas, denunciam, criti-cam, editam, acendem a memória. Os filhosfazem isso com os pais. Ou seja, é umpatrimônio (ou uma memória) que se trans-mite na direção dos pais para os filhos, masno sentido inverso. Porque o meu filho exi-ge de mim uma invenção de futuro dife-rente, um pensamento diferente. Então oprojeto individual do nosso colega de Mi-nas Gerais também me levou a pensar issotudo. Hoje, o projeto individual que eleapresenta é também o projeto que o filhodita pra ele como uma palavra de ordemou linha de fuga: “Invente uma coisa. Crieaí. Faça. Invente”. E está dizendo, mesmoquando não diz. Onde isso tudo nos leva?

Muitas vezes, acho graça de alguns ob-jetos com os quais estou operando, porquetambém, muitas vezes, eles estão operandosobre mim. Os objetos não são somenteobjetos; eles também são sujeitos, e nosobjetificam. É como se os objetos pudessemme conhecer, me estudar. É uma idéia estra-nha essa. No entanto, é muito operativa. Asroupas, por exemplo, me condicionam, me li-mitam, põem barreiras no meu corpo e nãosó no meu corpo, põem barreiras em tudo. Eassim são os brincos, as tatuagens, os piercings.

Além disso, os objetos são frutos da nossa hu-manidade e ajudam a nossa humanização.

Eu sou capaz de olhar para um pandeiropercebendo toda a dimensão humana que temaquele pandeiro. Posso pensar: coisa mais inú-til, um pandeiro. Para que serve um pandeiro?Aquilo não produz comida, feijão, arroz, café,não produz nada. É uma inutilidade total. Paraque serve o pandeiro? Só serve para mehumanizar. Só pra isso. Ele só serve pra mehumanizar, porque ele produz arte, ele produzritmos, produz som; produz coisas que alimen-tam outra dimensão, que não é apenas a domeu corpo físico: alimenta minha alma, meu es-pírito, minha alegria, minha tristeza, e dialogacom isso tudo, produz outra coisa.

E a memória coletiva? Ela também é impor-tante. Nós falamos muito em memória coletiva,memória social. É fundamental perceber que amemória é sempre social, mas quem lembra éo indivíduo.

Quando passamos pelo Instituto Boimamão,no Pólo de Santa Catarina, com a idéia do mu-seu comunitário e os processos de musealização,também podemos antever que muitos projetosde memória tendem à musealização, por umaspecto muito simples: não podemos fugir damaterialidade. Todo espírito quer ter corpo. Todoimaterial quer abraçar a matéria. Também Ogumtem seu cavalo. Portanto, não tem patrimôniointangível, não tem patrimônio imaterial quepossa dispensar a materialidade. Todopatrimônio imaterial vai se organizar no senti-do de encontrar uma saída material pra ele.

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Quando encontrar essa saída, essa potência defuga, vai acabar no museu. No museu ou algoassemelhado, algo que faça função de abrigo,ainda que seja um abrigo provisório. E de ummuseu ou abrigo, poderá inventar outras fugascriativas. Não estou falando que tudo tenha quese chamar museu, pode se chamar centro dememória, centro de reflexão, espaço de convi-vência, centro de irradiação, pode ter o nomeque nós quisermos dar.

O que eu sustento é que o 100% espiritualnão existe entre nós, e nem o 100% material. Adança tem que ter corpo. Não tem dança semcorpo. O que é a dança? Dança é movimento,o corpo em movimento, não é só movimento.O que é a música? Música é ritmo. Som, ritmo emovimento, mas que depende de instrumentomusical e depende de alguém que ouça o som,senão não tem música.

Depois fomos ao Pólo Bahia, onde isso tudose conecta na poética. A poética é que grudaessas coisas, a poética é que junta, agrega, arti-cula, atravessa, distingue, diferencia. Tudo quenós falamos - o movimento griô, as artes visu-ais, a música, a dança, o pandeiro - tudo isso éatravessado pela poética. A poética é que dáliga para essas coisas todas, porque a poética énossa capacidade de simbolização, de usar a lin-guagem, a língua, para falar de outras tantascoisas.

E depois passamos pelo colega do Pólo deSanta Catarina, que trouxe a dimensão políticada memória. Tanto temos a memória política,quanto a política de memória, a memória a fa-

vor do poder e o uso do poder da memória.Na viagem das imagens, chegamos ao Pólo

Rio Grande do Sul, ao Museu 13 de Maio, quefala dos clubes sociais e de uma dimensãoque, muitas vezes, nós esquecemos em rela-ção ao Rio Grande do Sul: a presença dosafrodescendentes no Rio Grande do Sul éexpressiva e sabemos disso; não só em San-ta Maria, como em todo o Rio Grande doSul.

Na apresentação do Pólo Goiás vimosoito comunidades quilombolas e a produ-ção de um vídeo com alta densidade políti-ca. Esse vídeo nos remeteu mais uma vez àidéia da memória como uma ilha de edi-ção. E ali, no Pólo Goiás, revelou-se umacoisa importante: partimos da memóriacomo uma ilha de edição e chegamos àmemória a favor da luta pela terra. Foi issoo que vimos na última fala. Uma memóriaque está trabalhando a favor de uma ques-tão fundiária. O que isso quer dizer? Que amemória serve para muitas coisas. A memó-ria não é um bem em si; ela pode ser ummal. O esquecimento não é um bem em si,ele pode ser bom ou mau. A memória podeser boa, a memória pode ser má. A memóriapode servir para me aprisionar, mecondicionar, me limitar e me escravizar, masa memória pode servir para me libertar. As-sim também o esquecimento. Ele pode servirpara libertar e pode servir para aprisionar.

O que resulta disso tudo? Nós, que somostrabalhadores do campo da memória, que com-

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preendemos que a memória é uma ilha deedição, que compreendemos o que é um pro-jeto como o Brasil Memória em Rede, preci-samos ter um ponto de atenção - e talvez essaseja a única coisa importante que eu vá dizeraqui, porque a outra, quem disse foi o WalySalomão. Talvez a única coisa importanteque eu possa dizer é a seguinte: o trabalhocom a memória exige de cada um de nós oabandono da ingenuidade. Não sejamosingênuos. Vamos trabalhar com a memóriade modo consciente, de modo crítico, demodo atento. Então não cabe o lúdico e ocriativo? Evidente que cabe o lúdico, o po-ético e o criativo, mas, tudo isso de modoatento e sem ingenuidade, porque quementra no campo da memória de modo in-gênuo pode ser fatalmente contaminado.Pode sofrer um acidente letal, porque amemória tem essa dimensão, de segurar eaprisionar, morder e não largar.

Então a minha sugestão é essa: pensar amemória como uma ilha de edição. Pensar quea memória liberta e aprisiona; pensar que o es-quecimento liberta e aprisiona. Sugerir a cadaum de nós uma atenção permanente no traba-lho com a memória.

E mais uma vez quero agradecer a vocês,especialmente à Karen, pela oportunidade deestar aqui. Para mim é uma alegria. Obrigado.

Notas:1 Este texto foi editado a partir da palestra pro-

ferida por Mário Chagas durante o III FórumBrasil Memória em Rede, no dia 20 de agostode 2009.

2 Poeta, museólogo, doutor em ciências sociais,professor da Escola de Museologia da Unirioe diretor do Departamento de ProcessosMuseais do Instituto Brasileiro de Museus.

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Existem inúmeras formas de pensarmos edelinearmos as realidades que nos cercam.Quais delas são sonhos? Quais são projeções?E qual nosso papel frente à realidade que deci-dimos encarar? O Brasil Memória em Rede nas-ceu de um desses instantes mágicos que nosfazem perceber a realidade com olhares reno-vados.

O terreno vinha sendo preparado desde que,em agosto de 2003, realizamos, junto com oSESC-SP e com o apoio da Petrobras, o semi-nário Memória, Rede e Mudança Social.Durante os preparativos do seminário, nós, doMuseu da Pessoa, discutimos longamente coma equipe do SESC-SP o que deveria ser focode um seminário que procurasse juntar os trêseixos que terminaram por dar título ao mesmo:o que memória tinha a ver com rede? E deque forma memória em rede levaria à mu-dança social?

Introdução

Acreditávamos profundamente naimportância de juntarmos as três idéias. Essacrença, aliás, norteava as ações do Museuda Pessoa desde 1991. Os painéis, as con-ferências e as atividades culturais fizeram doseminário um sucesso, mas duas atividadesprevistas inicialmente para serem de âmbi-to complementar e periférico, nos chama-ram especial atenção: um espaço para rela-tos de iniciativas de registro e usos de me-mórias por indivíduos e comunidades; eoutro, para troca de experiências de usos damemória na educação, nas instituições e nascomunidades. O número e a qualidade deiniciativas inscritas nos surpreenderam. Sim,o Brasil estava pleno de idéias, ações e dese-jos voltados para o registro de suas históri-as. Histórias de todos os cantos e tipos. His-tórias ainda invisíveis para a maior parte dasociedade. Qual não seria o poder ao

Karen Worcman

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articulá-las? Estávamos os autores de cadauma das ações, fragmentados. Cada um denós empenhados em construir um novo tipode História para o Brasil.

No ano seguinte, durante o I Fórum Mun-dial de Cultura em São Paulo, convidamos17 pessoas representando 14 organizações1

para conversarmos sobre a construção deuma rede de memória intersetorial no Bra-sil. O importante seria transpor os limites darealidade de cada um. Porque ainda queestejamos acostumados a falar entre pares,temos dificuldade em estabelecer diálogosentre diferentes setores da sociedade.

Ali começamos a conversa. Nos doisanos seguintes, aconteceram outros doisgrandes encontros entre o que terminoupor se denominar um grupo de trabalho,composto por 22 organizações de todos ossetores da sociedade2. Com esses encon-tros, perguntas e mais perguntas começa-ram a emergir e a nos mover em produti-vos diálogos: para que rede de memória?O que nos une? Qual nosso foco? O quefaz parte do patrimônio intangível? Comogarantir o protagonismo das pessoas na for-mação do acervo? Como garantir umaintegração sistêmica do acervo com aces-so gratuito e universal? Nos momentos dediscussão, garimpávamos o que fazer pau-tados pela percepção de que uma rede po-deria potencializar a memória como fator deinclusão e transformação social; contribuircom a construção da identidade cultural do

país, diversificar as vozes na construção danarrativa histórica brasileira, integrar acervosdispersos no país e colaborar com a elabora-ção de políticas referentes ao patrimônioimaterial.

Dessas discussões nasceu um projeto, poste-riormente, apoiado pela PETROBRAS e a ini-ciativa Brasil Memória em Rede, começoua passar de sonho à realidade. No I Fórum, em2006, 110 participantes de todos os lugares dopaís dividiram-se em quatro grupos de traba-lho - Memória e Desenvolvimento Comunitá-rio; Memória, Comunicação e Cultura; Memó-ria e Educação; Memória Institucional e Socie-dade - para definir as primeiras ações em Rede.Não as primeiras ações da rede, mas as primei-ras ações em rede. Decidiu-se que era impor-tante mapear iniciativas de memória, trabalharpor indicadores de impacto e trocar experiênci-as e metodologia. Era, em suma, importante co-nhecer.

Foi então que nasceu a Expedição doRedescobrimento. Se, nos tempos coloniais, vi-ajantes percorreram o Brasil coletando históri-as, descrevendo costumes, desenhando pesso-as, mapeando o Brasil para narrá-lo além mar,não seria a hora de redescobri-lo nós próprios?Para desenhar essa Expedição, o grupo Memó-ria e desenvolvimento comunitário, se organi-zou para formular novas estratégias. Fizemosmais perguntas. O que significava redescobrir oBrasil? Quem o redescobriria? Como realizaralgo que tivesse o poder do encontro presenciale que ao mesmo tempo, transcendesse o

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regional? Surge então uma proposta inusitada.Todos viajam. O importante é o encontro. É aredescoberta. Nascem daí os seis primeiros pó-los regionais de memória: em São Paulo, com aAssociação Cultural Cachuera!; no Rio de Ja-neiro, com Instituto de Imagem e Cidadania; naBahia, com a Associação Grãos de Luz e Griô;no Pará, com os Argonautas Ambientalistas daAmazônia, em Goiás, com a Guaimbê, espaçoe Movimento CriAtivo; e em Santa Catarina,com a Fundação Genésio Miranda Lins. Todasas organizações coordenadoras já eram sensí-veis pela memória e se propunham a mapear,articular e mobilizar outras organizações de suaregião.

Ao longo de 2007 e 2008, sessenta organi-zações das cinco regiões do país se encontra-ram, narraram suas histórias, registraram suasexperiências, coletaram histórias de vida, troca-ram metodologias, contaram seus feitos, seusdesafios. Assim, o Pólo Regional Sul visitou oPólo Sudeste – Rio de Janeiro, que visitou oPólo Norte que visitou o Pólo Sul. Enquantoisso, o Pólo Nordeste visitou o Pólo Centro-Oeste que visitou o Pólo Sudeste – São Paulo,que visitou o Pólo Nordeste.

O resultado foi a exposição “Expedição doRedescobrimento: um novo jeito de conhecero Brasil”, que passou por sete cidades brasilei-ras. Nela, um pouquinho de cada viagem e decada descoberta.

Em 2008 o Brasil Memória em Rede se tor-na um Pontão de Cultura, numa ação do Mi-nistério da Cultura, e ganha quatro novos

pólos de memória: no Ceará, coordenado pelaFundação Brasil Cidadão, na Paraíba, coor-denado pelo SEBRAE-PB, em Minas Gerais,coordenado pela SABIC e no Rio Grande doSul, Coordenado pelo NEP-UFSM. Em 2008realizamos também o II Fórum Brasil Memó-ria em Rede. No total, 100 participantes es-tiveram presentes, discutindo propriedadeintelectual, políticas públicas, integração deacervos, sustentabilidade. Como resultado,as primeiras diretrizes da rede começaram aser traçadas.

Durante 2008 e 2009, o Museu daPessoa compartilha sua metodologia deregistro de histórias de vida e, cada pólodefine um plano de ação para envolvercomunidades e organizações de seuentorno. Projetos de mobilização localque resultam em programas de rádio, TV,sites, sementes de museus locais. Novasmemórias. Novas histórias. Durante esseperíodo, uma plataforma colaborativa(www.brasilmemoriaemrede.org.br) permiteque iniciativas de todo país registrem suasações e passem a compartilhar suas experi-ências em um Centro de Referência Virtual,onde organizações interessadas podem secadastrar, disponibilizando para todos os usu-ários informações sobre o trabalho que reali-zam com memória.

Em 2009, o III Fórum Brasil Memória emRede se dá num processo cada vez maiscolaborativo, no qual o encontro é formadopor atividades propostas pelos participantes

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que coordenam apresentações e propõem di-nâmicas. Novas conversas e novas perguntas.Para onde vai a rede? Qual nosso papel nomundo? E no Brasil? Percebemos novosatores, novas organizações presentes, novaspessoas. Ainda o início. Haverá um fim?

Para nutrir o diálogo em torno destas eoutras perguntas, preparamos esta publica-ção. Ela não resume o total de experiênciase aprendizados de todos esses anos, mastraz um relato da experiência de cada póloe pequenos fragmentos de outras experiên-cias que participam da plataforma virtual.Para que registrar essas experiências? Maisuma vez nos perguntamos. Talvez para ins-pirar novas iniciativas? Para fortalecer arede? Para dar visibilidade às memóriasveladas?

Talvez um pouco de cada. Talvez a eter-na necessidade de registrar, ampliar, trans-formar, refletir. As reflexões presentes e asoma dos capítulos são, de alguma forma,o resumo dos ganhos e dos desafios denossas ações nesses últimos anos: encon-tro inédito entre grupos que estudam etniase imigrações diversas no sul; valorização damemória pelos jovens agentes culturais emMinas; a vivência e registro da poética da tra-dição oral na Bahia; a força do presencial edo encontro entre comunidades dispersas emGoiás; a descoberta de patrimônios imateriaisna Paraíba; a aproximação entre a universi-

dade e as comunidades catarinenses no regis-tro de novas histórias, a biografia de jovens emestres populares na Amazônia e o encontrode diversidades de organizações e metodologiasdo Rio de Janeiro, Ceará e São Paulo.

Onde isso nos levará? Para onde queremosir? Perguntas. Novas perguntas. Mas assim setece uma rede. Um nó de cada vez. Assim setece a história. Não mais uma única narrativa,resultado de um único olhar. Assim nasceminúmeras histórias, inúmeros olhares. Assim as re-alidades são projetadas, descritas, sonhadas. As-sim tornamo-nos autores, ou pelo menos, co-au-tores de nossa história. Como pessoas. Como país.

Notas:

1 UNESCO, IPHAN, Ministério da Cultura, SESC-SP,

Petrobras, Aberje, GIFE, Rits, ABDL, CEASM, Ação Griô,

Observatório de Favelas, Overmundo, Fundação Avina.

2 Ministério da Cultura; Overmundo, Museu da Pessoa,

IPSO - Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e

Tecnológicos; SESC SP; ABDL - Associação Brasileira

de Desenvolvimento de Lideranças; RITS - Rede de Infor-

mações do Terceiro Setor; GIFE - Grupo de Institutos,

Fundações e Empresas; Fundação AVINA; Ponto de Cul-

tura Grãos de Luz e Griô; Aracati - Agência de mobilização

social; Petrobras; Museu da Maré do CEASM - Centro de

Estudos e Ações Solidárias da Maré; Odebrecht; Aberje -

Associação Brasileira de Comunicação Empresarial; Ob-

servatório das Favelas do Rio de Janeiro; Unesco.

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Museu da Pessoa e SESC-SP realizam o Se-minário Memória, Rede e Mudança Social;mobilização de 600 participantes, 91 rela-tos de experiências.

Fórum Cultural Mundial: em reunião de 22organizações, surge a idéia da rede. Cria-ção de um grupo de trabalho intersetorial:

UNESCO, IPHAN, MinC, SESC-SP,Petrobras, Aberje, GIFE, Rits, ABDL,CEASM, Ação Griô, Observatório de

favelas, Overmundo, Fundação Avina.

Mapeamento de 150 organizações que trabalhamcom memória das mais diversas formas. Museu daPessoa escreve projeto que foi aprovado pela Lei

Rouanet. Chancela da UNESCO Brasil.

2003

2004

2005

Trajetória doBrasil Memória em Rede

2

3

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Articulação dos 10 pólos regionais de memória, com forma-ção na metodologia do Museu da Pessoa e construção de

ações locais. Planejamento coletivo e realização do IIIFórum BMR, com grande espaço para apresentação das

próprias iniciativas participantes da rede.

O Museu recebe o apoio da Petrobrás. Realização doI Fórum Brasil Memória e Rede para construir agendascomuns de ações em rede. Formaram-se os seguintesgrupos de trabalho: Memória e Educação, Memória eDesenvolvimento Comunitário, Memória, Comunicaçãoe Cultura, Memória Institucional e Sociedade.

Articulação dos grupos de trabalho. Concepção pelo grupoMemória e Desenvolvimento Comunitário da Expedição doRedescobrimento. Criação de seis Pólos Regionais, quedeveriam articular 10 organizações para troca de experiências,mapeamento e registro de histórias de vida. Em outubro,somos selecionados como Pontão de Cultura, com o objetivode aprofundar a descentralização da rede.

Encontros locais dos 6 pólos da Expedição doRedescobrimento. Em julho, acontece o lançamen-to da plataforma colaborativa:www.brasilmemoriaemrede.org.br .Produção da exposição itinerante "Expedição doredescobrimento: um novo jeito de conhecer oBrasil". Realização do II Fórum Brasil Memória emRede. Lançamento do Pontão de Cultura e seleçãode mais 6 Pólos Regionais.

2006

2007

2008

2009

7

5

6

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Que Brasil é esse que oBMR ajuda a revelar

Um dos grandes objetivos do Brasil Memó-ria em Rede é fortalecer as múltiplas identida-des culturais do país. Estamos certos que a prin-cipal forma de realizá-lo é disseminando as inú-meras histórias produzidas pelas organizações quetecem essa rede. A Expedição do Redesco-brimento, ação criada pelo Grupo Memória eDesenvolvimento Comunitário em 2007, foi umaviagem para conhecer, preservar e disseminar his-tórias, tradições e memórias do Brasil.

Expedicionários das cinco regiões do Paíssaíram para encontrar tesouros, ainda desco-nhecidos, por grande parte da sociedade bra-sileira. Histórias de gente comum, moradoresde lugares tão distantes quanto diferentesentre si. Histórias de instituições e organiza-ções espalhadas pelo país e que se dedicamao trabalho com a memória e com a preserva-ção do patrimônio cultural brasileiro. Viajandopelo país, com olhar de quem busca conhecer his-tórias ainda não reveladas, nossos viajantes trou-xeram na mala um pouco de cada região, naspalavras de Helena, Miuza, Ana, Laurita, Narcisa,Sebastião, Frederico, José, Aurino, Coriolano, José

Francisco e José Varella.Ao todo, foram registradas 12 histórias de

vida e coletados cerca de 80 objetos e li-vros, produzidos pelas 60 organizações par-ticipantes, revelando um pouco da trajetó-ria e das ações de cada uma delas. Tal quala mala de um viajante, são pequenos frag-mentos que desvendam riquezas de um Bra-sil invisível, mas, pleno de histórias e me-mórias que merecem ser descobertas.

Um dos grandes objetivos do Brasil Me-mória em Rede é fortalecer as múltiplas iden-tidades culturais do país. Estamos certos quea principal forma de realizá-lo é disseminan-do as inúmeras histórias produzidas pelas or-ganizações que tecem essa rede. A Expedi-ção do Redescobrimento, ação criada peloGrupo Memória e Desenvolvimento Comu-nitário em 2007, foi uma viagem para conhe-cer, preservar e disseminar histórias, tradiçõese memórias do Brasil.

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Pólo Regional Centro-Oeste

As Histórias do Centro-Oeste

Em Goiás, a vida de Helena era fiar o al-godão, que virava lençol, virava camisa, vi-rava calça. Nas horas vagas, aprendia o al-fabeto com o irmão e escrevia letras em fo-lha de bananeira.

Essa é uma das memórias de Helena Ma-ria de Oliveira, que contou sua história àCamila Drummond e ao Guitinho daXambá, expedicionários da Grãos de Luze Griô, organização coordenadora do PóloRegional Nordeste. Nas palavras deles:

Helena Maria de Oliveira nasceu emMonte Carmelo, Minas Gerais, em 1943.Viveu sete anos na fazenda Brejo Alegre e,após esse tempo, mudou-se para Goiás,onde passou a infância. Acordava às 4 damanhã, tirava leite de vaca, amassava fubáe colhia café. Filha de pai rígido, mas comgosto por contar piadas, aprendeu o costu-me do pai logo cedo. Helena não estudou,mas o irmão, que teve oportunidade de ir àescola, tentava ensinar algumas palavrasdurante a hora do almoço, escrevendo emfolha de bananeira. O tempo passou, donaHelena casou-se e teve sete filhos, três dosquais, estão vivos.

E na voz de Helena:“A minha mãe falava assim: ‘nós temos que

fiar algodão. Nessa semana eu quero 12 quar-tos de linha para fazer corte de calça pra seu

pai, que ele está ficando sem roupa’. E quartoera aqueles novelos bem grandões e eram 12quartos que dava um corte de calça certinhopra ele. E aí a gente ia e fiava o algodão. A mi-nha mãe punha no tear e eu tecia. A gente mes-mo plantava e colhia o algodão, que chamavaalgodão ganga, aquele marronzinho. A gentefazia umas camisas de manga comprida, paraapanhar café e não arranhar os braços, faziaroupa para o meu pai, fazia lençóis, fazia toa-lha...”

No mesmo Goiás, Miuza vivia em cabana sóde uma parede, esperava com as filhas o mari-do garimpeiro e sofria de medo da onça. Até odia em que tomou coragem e partiu.

Esta é uma parte da história de Miuza Correade Souza, que também contou sua vida àCamila e ao Guitinho, que escreveram:

Miuza Correa de Souza nasceu na roça DoisIrmãos, em Goiás, 1953. Aos sete anos já ia paraa roça trabalhar. Diz que o “pai era mau”, poisele colocava a carabina em suas mãos e diziaque “qualquer coisa é para dar tiro”, o que adeixava com muito medo. Miuza cresceu, ca-sou-se e mudou para o garimpo de Minaçu.Vivia em uma cabana de pau com teto de pa-lha. Só havia uma parede ao lado da cama, orestante era tudo aberto e uma cerca ao redorda cabana. Seu marido ia para o garimpo e elapassava dias ali, com duas filhas e um cachor-ro, esperando ele voltar. E nada. O pior, é quedo lado de fora da cerca, constantemente, apa-recia uma onça que comia os porcos e as gali-nhas. Ela sofria muito com medo da onça

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pegar as meninas. Um dia, Miuza desistiu de es-perar o marido voltar, tomou coragem, pegouas crianças e foi para a cidade de Pirenópolis,onde está até hoje.

E nas palavras da própria Miuza, como seestivéssemos ouvindo-a falar:

“A onça quase me comeu, com as duas me-ninas minhas. Nessa época, nós morávamos prabaixo de Minaçu, em Cavalcante, numa fazen-da. Foi lá que aconteceu isso tudo. Eu que vigi-ava as meninas dia e noite. Até que comigo eunão me importava não. Eu tinha medo delas. Ecom um cachorro que eu tinha, nada chegavana porta. Na entrada, quer dizer, porque portanão tinha. Todo lado do rancho era porta, en-trava de um lado e saía do outro. E onça pega-va porco no chiqueiro, pegava galinha no po-leiro, corria atrás dos cavalos, dos animais. Equando era de noite ninguém podia dormir. Aonça ficava com o rabo beirando o arame. Eradesse jeito, o cachorro e eu a noite inteira, quenem jacaré chocando os ovos. Não dormia não.Aí um dia eu enjoei e falei: ‘eu vou embora, eunão aguento isso não’. Larguei tudo lá também;eu só carreguei as meninas e fui embora”.

Ana, ou melhor, Taninha sempre foiforrozeira, de saia engomada pra rodar bastan-te enquanto dançava com os rapazes do salão.Moça de Pirenópolis, ela também contou suahistória aos nossos viajantes:

Ana da Conceição Oliveira, conhecida comoTaninha, nascida em Pirenópolis, em 1948.Quando criança, morava na fazenda e trabalha-va muito, plantando arroz, puxando engenho,

fazendo garapa, rapadura e açúcar de forma.Mas também aprontava bastante na beira dorio. Uma vez, ela e sua turma pegaram a ima-gem de São Sebastião da mãe e foram lavarno rio, porque diziam que se o lavasse, o san-to fazia chover. E deu uma chuva tão forte,mas tão forte, que morreram muitos peixes.Neste dia, eles passaram apertados. Taninhasempre foi forrozeira, desde pequena. Quan-do moça, passava goma na saia, que ficavarodada e fazendo barulho, e assim dançavamuito com os moços pelo salão. Casou-secom 15 anos, descasou e mais tarde, casou-se novamente. Teve seis filhos.

E na voz da própria Taninha:“A gente ía pra festa do mutirão, e aí de

repente, chovia. Eu jogava sabão na chu-va, jogava feijão, sal. Tudo pra parar a chu-va e eu poder ir pra festa. Eu engomava asaia que virava um couro e ficava com aque-le saião, achava bom, ia dançar, fazer aque-le barulhão assim, era a coisa melhor queeu achava. E eu ia em todas as festas demutirão, cantava aquela música, o forró, esó dançava com os rapazes bonitos”

Na mesma Pirenópolis, Laurita teve umainfância de bastante trabalho e pais muitobravos. Quando casou, mudou o rumo desua vida e até já perdeu a conta dos dias emque amanheceu na rua cantando.

Foi o que Laurita contou aos viajantes doPólo Centro-Oeste. E revelou ainda mais umpouco à Camila e Guitinho, que nos tazem:

Laurita Vitoriano da Veiga nasceu em

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Campos Belos - Goiás, mas, desde um ano deidade mora em Pirenópolis. Vida simples, me-nina pobre, filha de pais muito bravos. Tra-balhava bastante, fazia adobe, curtia o barrodurante a noite e cedinho levantava paraenformar. Se ficasse um buraquinho noadobe, o pai esfregava o nariz dela ali, paraaprender a trabalhar direito. Filha mais ve-lha, ajudou a mãe a criar dez filhos. Faziade tudo na casa, passava terno de brim comferro de brasa, amanhecia bordando comluz de lamparina. Desde cedo ia garimparouro, coisa que gostou muito de fazer. Mastambém brincava de boneca de papelão,fazia famílias de pano, curralzinho e coma-dre. Cantava igual cigarra. Crescida, casou-se e teve oito filhos. Logo que casou co-meçou a ir para serenatas com o marido.Amanheciam na rua cantando, e hoje, fa-zem parte dos seresteiros de Pirenópolis.

E na fala da própria Laurita, conhece-mos outros detalhes:

“Cresci ajudando mamãe a trabalhar edesde pequena, além de fazer as coisas, oserviço rústico que era buscar lenha, faziaadobe pra vender. A gente ‘cavucava’ a ter-ra, molhava, que era feito assim, molhavada tarde, amassava ele, deixava molhadinho,deixava ele curtindo durante a noite, no ou-tro dia você levantava cedinho, com o escu-ro e ia amassar ele pra enformar. Aí essa for-ma tinha que ser muito bem arrumado, o bar-ro muito bem batido na forma, porque se fi-casse um buraquinho no adobe, meu pai

desmanchava e esfregava o nosso narizinho láno barro que era pra aprender a trabalhar prafazer as coisas bem feitas.”

De Corumbá a uma fazenda, da fazenda àPirenópolis, Dona Narcisa tem lembrança daroça e de momentos de diversão, das brinca-deiras de roda e dos bailes.

Foi o que ela contou aos nossos expedicio-nários, que registraram:

Narcisa Pereira da Cunha ou Dona Narcisa,como é conhecida, nasceu em 7 de agosto de1942 na cidade de Corumbá, em Goiás. Écantadeira de Presépio, tradição pirenopolinada época do Natal. Moradora do bairro doBonfim, nasceu e se criou em uma fazenda atécasar e se estabelecer na cidade. De lá, guardaas lembranças do tempo em que colhia caféjunto com as outras mulheres da família e davizinhança em sistema de mutirão, cantando ver-sos durante o trabalho, e das brincadeiras de rodada infância, perpetuadas há muitas gerações.

E ouviram, segundo as palavras de DonaNarcisa:

“No tempo do mutirão, as pessoas estavamatrasadas com as roças, não tinha como pagarpeão, porque é tudo pobre, e aí faziam mutirão.Convidava os companheiros, aprontava e apessoa ajudava, limpava a roça, às vezes, plan-tava o milho. Aí à noite era o baile, a gente dan-çava e cantava a noite inteira, isso que era nos-sa diversão na roça e a solidariedade de ajudaruns aos outros.”

Histórias de Garimpeiro? Seu Bastião deChica tem muitas para contar, da época em que

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viveu do garimpo de Pirenópolis e pegava ruti-lo e ouro.

Histórias que ele contou aos viajantes denossa expedição, que escreveram:

Sebastião Profeta do Amaral ou Seu Bastiãode Chica, como é conhecido, nasceu em 1926,em Pirenópolis, Goiás. Em 1930, com 14 anos,começou a trabalhar como garimpeiro. Nessa épo-ca, tinha muito rutilo, uma pedra azulzinha queficava pegada na bateia, um dos instrumentos uti-lizados pelo garimpo de pequena escala. A pri-meira vez que vendeu ouro, foi a quatro “merréis”a grama, e ficou satisfeito demais. No garimpo emPirenópolis, Seu Bastião fazia um rancho (casa)de capim pelo mato e ficava enquanto estavaachando bom, tirando ouro e rutilo. Gostava decaçar tatu, paca, cutia, macaco, e tudo o que ma-tava, comia. Em 1940 casou-se com Idalina da

Veiga e juntos tiveram dez filhos. Hoje, dá graçasa Deus porque agora vive bem, pois no seu tem-po de infância, era muito custoso.

E na voz de Sebastião:“Eu não posso reclamar da vida, tive vida

boa do meu modo. Agora, se for pra morrer,eu prefiro ceder a vaga pra outro, porqueagora a vida está boa. O queijo cura com otempo. E eu fui levando essa vida, superan-do aquele sofrimento, não reclamava davida, porque não gosto de amolar os ou-tros. Minha mulher falava que eu era orgu-lhoso, mas não era isso. Foi o sofrimento queeu tive quando era menino. Mamãe era bra-va, chegava numa mesa de reza e serviamalguma coisa, só podia pegar um porquesenão apanhava. E assim também foi comos filhos meus. E hoje estão todos bem.”

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Pólo Regional Sudeste

As Histórias de São Paulo

Em Cananéia, Frederico Mandira, des-cendente do fundador da ComunidadeQuilombola do Mandira, viu muitas mudan-ças em seu entorno: da plantação e da roça,que garantia o sustento, todos tiveram demudar e viver da pesca.

Foi o que Frederico contou às expedici-onárias Daraína e Emília, da Guaimbê -Espaço e Movimento CriAtivo, organizaçãocoordenadora do Pólo Regional Centro-Oeste.

Frederico Mandira nasceu e criou-se naComunidade de Santo Antônio, localiza-da em Cananéia (SP ), 13 de junho de1932. Atualmente, está com 77 anos. Temnove filhos com sua esposa e prima, comquem é casado há 45 anos. É descendentede Francisco Vicente Mandira, o fundadorda Comunidade Quilombola do Mandira.Desde criança trabalhou na roça ajudandoos pais na plantação. Ele nos contou que,antigamente, quando ainda era permitidoter roça na comunidade, eles organizavammutirões de plantação onde todos participa-vam. Nada era comprado na cidade: arroz,feijão, milho, mandioca, cana, criação de ani-mais, tudo era produzido na comunidade epela comunidade. Quando proibiram a plan-tação nas áreas de proteção ambiental, a

comunidade mudou de rumo, passando a vi-ver da pesca e da produção de ostras.

E nas palavras do próprio Frederico, contan-do como era o mutirão das plantações:

“A gente saía de casa em casa, chamando opovo pra ajudar. Ia de manhã cedo com toda afamília, outra vez de tarde. Os homens iam promato, sofrer no mato, as mulheres nas panelas.Depois de tudo, não tinha dinheiro para o pa-gamento. Voltava em casa pra tomar banho e a“paga” era dançar. O forró era o fandango e amoda de viola. Iam vinte, trinta pessoas. Tinhacomida, bebida, tudo. O pagamento era esse.Quem não tinha mesa, arrumava comida naesteira.”

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História da Comunidade Mandira

Durante o encontro do Pólo RegionalSudeste, visitamos a ComunidadeQuilombola Mandira e pudemos conhecersua história, desde a formação do quilombo,no século XIX, até sua transformação emreserva extrativista modelo, premiada pelaONU como uma das 27 melhores iniciati-vas de desenvolvimento sustentável do pla-neta. Chico Mandira, que atua na Associa-ção de Moradores da reserva, nos apresen-tou a comunidade, que hoje em dia éuma reserva extrativista e se organiza emduas frentes: pesca de ostras e produçãoartesanal.

Ele nos contou que a comunidade nãose reconhecia como quilombola até o iní-cio dos anos 90. Foi a partir de um projetodesenvolvido na comunidade, que busca-va vias alternativas de renda e a melhoriada qualidade de vida, que se iniciaram asprimeiras reflexões sobre sua origem. Esseprocesso durou até o ano de 2000, quandoa comunidade se reconheceu comoquilombola.

Em 2002 Chico Mandira viajou para aÁfrica do Sul para receber em nome dacomunidade o prêmio oferecido pelaONU. Lá, ele reconheceu sua identificaçãocom a cultura africana e a importância daexperiência desenvolvida por sua comuni-dade.

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Pólo Regional Sul

As Histórias do Sul

Quem ouviu as histórias do Pólo Regio-nal Sul, foram os expedicionários visitantesNilton Silva e José Maria Reis, que vieramdo outro extremo do País, da organizaçãoArgonautas Ambientalistas da Amazônia. Adistância geográfica era enorme, mas nãoimpediu que fossem descobertas semelhan-ças culturais entre regiões tão distantes.

Zé da Viola, repentista quase por acaso,ganhou o primeiro instrumento ao remen-dar os restos de um violão quebrado pelovizinho.

Foi o que José Dognini narrou aos via-jantes Nilton e José Maria, que anotaram:

José Dognini, ou Zé da Viola, nasceuem Blumenau, em Santa Catarina, no diaoito de abril de 1948. Seu Zé da Viola éfilho de um ferroviário da Empresa Ferro-viária de Santa Catarina. Contou que suavida foi praticamente dentro do trem. É ar-tesão e faz réplicas das locomotivas de trens.No terceiro casamento, seu Zé da Viola lem-brou que ganhou o primeiro violão apósemendar os pedaços de um violão quebra-do, que tinha sido jogado fora pelo vizinhoao bater com ele na esposa. O pai do Zé daViola, ao chegar em casa, perguntou de quemera o violão e diante da explicação do filho foiaté a casa do vizinho, que confirmou a histó-

ria. No dia seguinte, quando chegou docolégio, tinha um violão novinho no sofá decasa. Itajaí ganhou um ótimo repentista, quenarra a história da Estrada de Ferro e do portodaquele município.

E na voz do próprio Zé da Viola, ficamosconhecendo sua história de intimidade com ostrens, já que ele passou boa parte da infânciadentro deles:

“Meu pai era maquinista da estrada de fer-ro. E eu nasci e me criei em cima de trem, des-de que eu me conheço por gente. Quando eutinha três meses de idade, minha mãe estavaandando no meio dos trilhos, na ponte deIbirama. Ela tropeçou e eu caí do colo dela. Masa ponte é bem alta. Quem conhece sabe queela é alta. Caí e escapei do braço dela. E fuirolando e parei com meio corpo em cima deum trilho e meio para baixo. Balançando. Mi-nha mãe saiu dali, foi patinando lá e me pegouainda pelo pé, puxou para dentro. Não caí porsorte e por puro milagre mesmo. Com 12 anosde idade eu manobrava o trem sozinho para omeu pai. Ele ia descansar, ia para o pernoite eeu ficava fazendo a manobra com a locomotivaaqui na Estação de Itajaí. E assim foi a minhavida, toda a vida em cima de trilho, em cima detrem.”

Em Santa Catarina, José Maurício Souza vivede defender a fauna e a flora da sua região, coi-sa que faz com as próprias mãos, como contouaos viajantes expedicionários, que nos revelam:

José Maurício de Souza Santos, nascido emFeira de Santana, Bahia, em 26 de abril de

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1946, foi lavrador da agricultura familiar, degrandes fazendas, trabalhou na pecuária, com re-florestamento e fiscal do meio ambiente. Viveuem São Paulo, Paraná, passou até em Belém doPará, e hoje, vive há mais de 20 anos em Itajaí –SC, onde o conhecemos. Lá, defende a fauna eflora de um Morro, onde ele mora. Segundo con-ta, já plantou mais de 5000 árvores neste lugar.Tem defendido as nascentes de água, combatidoo desmatamento, falado sobre o tratamento do lixocom os vizinhos. Para nós, ArgonautasAmbientalistas da Amazônia, foi um prazer e umahonra conhecer outro ambientalista do outro ladode nosso país, uma pessoa com as mesmas preo-cupações e desejos que os nossos.

E nas palavras de José Maurício, conhece-mos mais um pouco de sua luta:

“Aquele morro ali queimava duas vezes porano, não sobrava nada. Da vegetação ficava sóas cinzas. Pra fazer uma recuperação desse mor-ro, ia depender de dinheiro e trabalho, tinha queentrar com trabalho de engenharia ali. Mascomo ninguém se importou com isso, eu fuiplantando conforme eu achava que era pre-servar, ali, de tudo tem plantado: todos os ti-pos de fruta dentro daquele morro, todo tipode madeira… Ninguém nunca me deu essasidéias. Eu tive a minha idéia de fazer. Meusvizinhos foram contra quando eu comecei afazer. Se eu for contar, acho que passa de cin-co mil árvores. Não estou fazendo isso pramim, é pra você, pro seus filhos, pro seus ne-tos, seus bisnetos e meus também.”

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Pólo Regional Sudeste –Rio de Janeiro

Uma história para não esquecer

E as histórias do Rio de Janeiro? Quemconheceu um pedaço da vida dessa re-gião foram os expedicionários JoséRoberto Severino, Evelise de Moraes eJosiane Silva da Fundação GenésioMiranda Lins, organização coordenado-ra do Pólo Regional Sul, vindos de Itajaí-SC, que nos relatam o encontro que tive-ram com seus entrevistados:

“Tínhamos como incumbência fazeruma entrevista, definida pelo pólo recep-tor. Após sabermos com quem seria, inici-amos um processo de entender e reconhe-cer o contexto do entrevistado. Guajajara ePotira seriam nossos entrevistados. Com ascoisas acertadas e o equipamento apropri-ado, iniciamos a conversa. Eles estavamvestidos a caráter. Guajajara e Potira foramfalando sobre suas vidas, de como se co-nheceram, da militância no Rio de Janeiro.Um corte de gênero pode ser percebido nafala de cada um deles. Ele: militante, sensí-

vel às causas indígenas, articulador, conscientede seu papel e da importância de se manter naluta. Ela: articuladora, mas pelo viés das açõescom mulheres, mãe. As vivências e experiênci-as do casal nos apresentam a dimensão dosmovimentos sociais e da luta pela terra, peloreconhecimento, pela cidadania plena. Beto,Josi e Evelise conduziram a entrevista. Para oregistro foram feitas filmagens e fotos da con-versa. Durante o papo, a emoção fluía. Lem-branças da infância e também da militância,dos encontros e desencontros, enquanto a pla-téia ria e chorava. Emocionante. No final,Guajajara começou a tatuar as pessoas comuma técnica de seu povo: jenipapo e carvão.Todos partilharam disso. Palavras, toques,grafismo. Não foi qualquer conversa. Não so-mos mais os mesmos”.

Com os convidados para a entrevista, umaconversa muito especial, nas vozes de JoséGuajajra e Potira Krikati:

“O índio aprendeu a subjetividade com osanimais. Os Tentejaras, os Guajajaras, atéhoje, não se preocupam com o horário dacaça. Fico, às vezes, observando que as pes-soas têm horários para comer, para dormir. OsTentejaras, até hoje, não tem essa questão dohorário. Nem relógio têm às vezes.”

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Pólo Regional Nordeste

A Chapada Diamantina e seus tesouros

O Encontro do Pólo Regional Nordestereuniu dez participantes na ChapadaDiamantina em Lençóis-BA, onde está asede da Associação Grãos de Luz e Griô,coordenadora do pólo. Logo no início doencontro, em uma visita à Comunidade doRemanso, os participantes vivenciaram ametodologia de turismo comunitário que oProjeto Bagagem e o Grãos de Luz e Griôdesenvolvem em parceira. Caminharam pe-las casas dos moradores, ouviram suas his-tórias, dançaram com as crianças na escolae almoçaram a deliciosa comida de uma dasmoradoras da comunidade. Este dia de-monstrou na prática, uma maneira de se tra-balhar com a memória associada à geraçãode renda para a comunidade. Os expedicio-nários Henry Durante e Renato Nunes, daAssociação Cultural Cachuera!, organizaçãocoordenadora do Pólo Sudeste São Paulo,voltaram para casa com a mala cheia de no-vas experiências, idéias e histórias.

Sanfoneiro descoberto pelo pai, seuAurino é todo música, com a vida embala-da pelo ritmo da Marujada, Terno de Reis epelo toque da sanfona, que também o aju-dou a conquistar amores e namoradas.

Foi o que descobriram nossos expedicio-nários, ao buscar as riquezas da Chapada.Eles narram:

“Seu Aurino é um reconhecido mestre local.Quando perguntei sobre sua infância, falou-meque nunca brincou muito, porque trabalhoudesde cedo. A sanfona tem uma importância es-pecial em sua vida, ao lado da Marujada. Con-tou-nos a história de como se tornou tocador:um belo dia, durante um baile, seu pai deixoua sanfona de lado e foi ao banheiro. O pai, es-cutando ao longe a sanfona rangendo, pensou:‘quem seria esse sanfoneiro’? Ao retornar, qua-se não acreditou quando viu o pequeno Aurinotocando sua sanfona. Notei que, enquanto fa-lava, os dedos de Seu Aurino percorriam as te-clas da sanfona, e, de fato, não demorou muitopara que tocasse algumas notas no instrumen-to, contente. Senti que sua vida era marcada pelamúsica: Sanfona, Marujada e Terno de Reis.”

Assim como Seu Aurino, que nos embalacom sua divertida história:

“Meu pai não queria que eu pegasse na san-fona dele pra tocar, com medo de eu quebrar.Ele botava essa sanfona dentro de um baú gran-de, e ainda tinha um cadeadozinho que elepassava e ia embora. Eu dizia para minha mãe:‘mãe, me dá a chave aí’. ‘Eu vou dá, mas vocêsabe, se ele chegar, vai brigar’. Na hora de pa-pai chegar, ela tornava a botar lá, trancava.Quando ele foi descobrir, já foi num dia de ca-samento. Ele foi tocar e eu fui com ele. Aí elesaiu pra ir ao banheiro e não tinha lugar parabotar a sanfona: ‘segura aí, menino, segura aípra eu ir ao banheiro’. Eu aproveitei, lembreido que eu já sabia, o pessoal pegou pandeiro enão perdeu tempo: ‘opa rapaz, é você, vamos

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dançar’. Ele, de lá, escutou, cismou, porquesabia que ali não tinha outro, e eu só na sanfo-na, tocando. Ele perguntou ‘Quem foi que che-gou aí, alguém de fora?’ Quando me viu, disse:‘Quem lhe ensinou? Aprendeu aonde?’ O jeitofoi contar a história, né? Desse dia pra cá, eleliberou. Eu fiquei rapazinho, já caçando jeitode namoro, aí peguei a tocar e achei muita na-morada, você sabe que a pessoa quando co-meça a tocar, nem que seja feio...”

Seu Cori sempre viveu do garimpo, desdecriança, até formar uma família e sustentá-la como que encontrava no meio de muito cascalho.Hoje, aposentado, a vida de seu Cori ainda estáligada ao garimpo. Mas agora, como criador deum museu muito especial.

É o que nos tem para contar nossos bravosviajantes expedicionários:

Seu Coriolano Rocha, mais conhecido comoSeu Cori, nasceu no dia 15 de agosto de 1927.Ele nos contou que sua vida inteira foi pratica-mente no garimpo. Desde criança, saía com opai e o irmão para garimpar, em busca de dia-mantes, que quando chegavam traziam umaalegria enorme, mas quando não chegavam“dava até medo de voltar para casa, sem nadapara a família”. Com o dinheiro do garimpo,comprou sua casa, alimentou e “estudou” ossete filhos. Quando Seu Cori resolveu se apo-sentar, teve a idéia de construir em seu quintalum rancho como o que tinha na sua época degarimpeiro e, assim, criou o Museu do Garim-po. Seu Cori organizou todo o processo dogarimpo no seu quintal e até misturou o único

diamante que lhe restou no meio de muito cas-calho para mostrar que, como todo bom ga-rimpeiro, consegue encontrá-lo de novo. Visi-tantes de 25 países já visitaram o Museu deSeu Cori e levaram suas histórias para os qua-tro cantos do mundo.

Nas palavras do próprio Seu Cori, conhe-cemos a vida dura levada no garimpo:

“Moço, a situação no garimpo não é boanão. A gente está tirando ali, parece que osolhos da gente não enxergam o diamante,de todo jeito que se faz não há jeito, e aí,você estonteia. Você tira aqui duas sema-nas e não pega; você vai acolá, tira duassemanas e não pega; vai tirar em outro lu-gar, e fica assim. E acontece que o outro vemtirar aqui, na primeira semana já pega dia-mante e é de uma maneira que a gente mes-mo não sabe nem como é que passa, né?Mas, também, quando a sorte dele está boa,basta ele chegar lá, ferir o chão e vem dia-mante. É desse jeito.”

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Pólo Regional Norte

Quem visitou e conheceu as histórias devida do pólo Regional Norte foram MarjorieBotelho e Claudio Paolino, expedicionáriosdo Instituto Imagem e Cidadania organiza-ção coordenadora do Pólo Sudeste Rio deJaneiro.

Ainda criança, José Varella mudou suavisão de mundo ao ser salvo da morte porum colega negro. Depois deste episódio,nunca mais tirou da cabeça a preocupaçãocom o social.

Essa foi uma das histórias que José com-partilhou com a Marjorie e o Cláudio, emsua viagem ao norte de nosso país. E sãoesses dois expedicionários que nos contam:

José Varella, 71 anos, nasceu em Belémdo Pará, no dia 30 de outubro de 1937.Tinha de 7 a 8 anos, quando começou aenxergar o mundo de outra forma, ao sersalvo de um afogamento por uma criançanegra, passando a ter uma preocupação so-cial, querendo valorizar a cultura em queestava mergulhado. Trabalhou com gado,apanhou açaí e remou canoa. O seu primei-ro trabalho no serviço público foi como

secretário-contador em Faron. Teve outros car-gos públicos, sempre motivado a mudar sua ci-dade e o padrão de vida do Brasil. Queria tam-bém ser escritor, romancista. Uma das coisas queJosé fez de bom foi constituir uma família. Josée Palmeira, sua mulher, tiveram quatro filhos.O mais novo é adotado e tem 10 anos e o maisvelho tem 33 anos. José, junto com seu filhomais velho, continua com o trabalho de seu avôAlfredo, rodando um jornal chamado Guarinim,agora via Internet.

E na fala do próprio José, a emoção destemomento entre a vida e a morte:

“Eu estava chegando com sete a oito anosde idade e não sabia nadar, e para todo ribeiri-nho a principal diversão é o rio, né? E o rio iame levando, me tragando, então eu fui salvopor um colega negro, da classe inferior, e eu daclasse superior, na gloriosa cidade de Ponta dePedras. Meu pai era funcionário e, quando avi-saram ele, a última imagem que eu tive foi vero meu pai correndo bastante, a distância, e nãoteria me alcançado. Então, graças a esse colegasalvador, eu sobrevivi; e depois que tomei cons-ciência das coisas, comecei a ter uma preocu-pação social, a querer valorizar uma cultura emque eu estava mergulhado.”

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Pólo Regional Rio Grande do SulPólo Regional Rio Grande do Sul

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O Rio Grande do Sul é mais do que um dosextremos do país. É mais que o frio ou a chuva.Aqui se encontram imigrantes de vários países,agregando uma ampla diversidade cultural. Es-palhadas pelo estado, nós podemos ver comu-nidades libanesas, judaicas, afrodescendentes,francesas, siberianas, italianas, japonesas, entreoutras.

O Núcleo de Estudos do Patrimônio e Me-mória (NEP) é um local onde acontecem pro-jetos de pesquisa, ensino e extensão. Uma dasmarcas mais fortes de nosso trabalho é a açãojunto a comunidades, por isso estamos ligadosà Pró-Reitoria de Extensão da UniversidadeFederal de Santa Maria (UFSM), nesta cidadedo centro do Rio Grande do Sul. E, junto coma universidade, estão as diversas organizaçõesque participam desta “memória em rede”. Nos-so trabalho é valorizar e preservar a diversida-

de de manifestações culturais e étnicas. Acre-ditamos que todos nós temos direito à cida-dania, aos direitos e, principalmente, a gos-tar de nós mesmos, reconhecendo e valori-zando diferenças. Nossa marca é a luta peloresgate da autoestima onde quer que atue-mos.

Tecendo a rede

Em uma gota d'água existe o oceano, as-sim como o oceano é feito por milhões demilhões de gotas d'água. Sozinhos, lutamosmuito, mas unidos, dividimos fardos e com-partilhamos alegrias. Com este sentimento,o NEP reuniu pessoas e organizações quetrabalham com memórias de grupos étnicosou sociais, com o objetivo de favorecer atroca de experiências, conhecimentos e téc-nicas para a valorização das histórias de vidae memórias coletivas. Convidamos pessoasque trabalham com organizações, museus,casas de memória e universidades, todos,com algum envolvimento em ações de retor-no social visível e disposição em comparti-lhar conhecimentos de forma pública e semrestrições.

Com este foco, nossa rede foi tecida comas seguintes instituições: Museu Treze de Maio

Pólo Regional Rio Grande do Sul

A festa de cada povo de um lugar

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(Santa Maria-RS); Casa de Memória EdmundoCardoso (Santa Maria); Centro de Memória doOeste de Santa Catarina – CEOM (Chapecó-SC); Memorial da Imigração e Cultura Japo-nesa (Santa Maria e Porto Alegre – RS); Nú-cleo de Estudos Japoneses – NEJa (PortoAlegre – RS); Laboratório de Antropologiae Arqueologia – LEPAARQ (Pelotas – RS);Associação Italiana de Santa Maria – AISM(Santa Maria); Posteriormente, foram agre-gadas ainda, a Sociedade Cultura Libane-sa de Santa Maria e Região (Santa Maria) eo Núcleo de Estudos Contemporâneos-NECON (Santa Maria).

Mas o que tanta gente diferente tinha emcomum? Para fazer “rede” queremos pescaralgo, ou alguma coisa. Durante três dias, emum encontro bastante intenso, conversamose depois de muito “assuntar” pensamos: so-mos tantos e tão diferentes. Imaginamos umarevista onde pudéssemos contar quem so-mos, nossas singularidades e semelhanças;várias etnias, várias culturas, mas todos hu-manos, que deveriam ter o mesmo direito àmemória e à diversidade. Assim nasceu a re-vista Memória e Etnicidade, como um projetode valorização e cooperação entre pessoas deetnias diferentes.

Mas, o que fazer? O objetivo era juntar vo-zes, histórias, lembranças. A partir dessa idéia,recolhemos histórias das gentes, suas fotos,objetos, saberes. Um povo de cada vez, mas,a história de todos.

E como recolher essas histórias, fotos, ob-

jetos? Conversando, registrando, pedindolicença, “deixa eu olhar?, ”Que bonito! pos-so fotografar?”. Vamos conversar, conta umpouco da vida, de como eram as festas da co-munidade, quem participava, como aconte-cia? Nesta prosa, registramos e guardamostudo: as fotos, as histórias, as memórias, paraque o tempo não as carregue embora. E as-sim, conversando, proseando, tomando ummate, comendo um biscoito, ouvindo mais doque falando, todos ouvimos, rimos, sorrimos,choramos, entristecemos. Tudo guardado.

E as pessoas que se tornaram parceiras, tam-bém registraram, fotografaram, documentaram.E tudo isso, para que as pessoas pudessem terorgulho de ser o que são, como são.

Mas história boa tem de ser contada,recontada, espichada e reinventada. E para quepudéssemos também contar, nasceu a RevistaMemória e Etnicidade.

Por que uma revista?

A escolha por uma revista como a divulga-ção do nosso trabalho se deu por algumas ra-zões simples e outra nem tanto. Apesar dosvídeos e documentários serem ótimos produ-tos, pensávamos algo diferente. Lembrando dealguns lugares onde trabalhamos, das casas quevisitamos, em algumas pequenas comunidades,concluímos que havia uma necessidade e umdesejo de que nosso produto fosse algo que sepudesse pegar, emprestar, reler, rever. Dessaconclusão nasceu a Revista.

Pólo Regional Rio Grande do Sul

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Uma revista que fala do quê? Era precisoescolher um tema, um ponto, algo que pudes-se ser falado por todos, sem deixar ninguémde fora. E o que todo povo faz? Todo povofaz festa: cada qual diferente da outra, commúsica, com dança, com brincadeira, ou semnada disso, mas todo mundo tem um jeitode se divertir. E foi esse o tema que esco-lhemos para nossa revista: as festas nas co-munidades. Poderia ter sido outra coisa: re-ligião, casamento, língua, culinária, entreum montão de coisas. Na verdade, quere-mos que essa revista seja só a primeira demuitas. O que também tentamos mostrar éque o Rio Grande do Sul tem muito maisgentes e comunidades diferentes do que seimagina, muito mais do que, comumente,aparece nos cartões postais.

Nossa revista não quer ser mais uma

revista. Quer ser a revista onde as etnias pre-sentes e formadoras das identidades no suldo país (não apenas do Rio Grande do Sul,mas Santa Catarina, que já participou desseprojeto, e Paraná) encontrem a vez de contarsua história. Pela própria voz ou própria mão.Com a revista, queremos mostrar que essas pes-soas tão diferentes, de nacionalidades dos qua-tro cantos do mundo, fazem sua história aquino sul, e mantêm vivas sua língua, sua vida, suamemória.

O que a revista apresenta são pessoas, comsuas memórias e trajetórias de vida. É para elasque a revista foi feita, e é para elas que quere-mos dizer que todos, trabalhadores, agriculto-res, serventes, colonos, comerciantes, entre vári-as outras qualificações, possuem uma história quevale a pena ser contada, possuem uma cultura ecostumes que valem a pena ser divulgados.

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Você conhece oMuseu Treze de Maio?

O Museu Treze de Maio, situado no prédioda centenária Sociedade Cultural FerroviáriaTreze de Maio, desenvolve desde 2001 proje-tos relacionados à preservação e difusão da cul-tura africana e afrobrasileira. A partir de 2006o Museu deu início à pesquisa e mapeamentodos Clubes Sociais Negros do Brasil, estandona gênese do processo de construção e articu-lação do Movimento Clubista. O principal ob-

O Núcleo de Estudos do Patrimônio e Memória – NEP, é um projeto institucional da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Desde 1998 desenvolveações ligadas a preservação do patrimônio cultural, em suas diversas formas. A partir das expe-riências que envolvem uma forte ligação educação e cultura, o NEP incluiu, em seus projetos,ações ligadas ao resgate e a valorização das memórias das pessoas e comunidades onde atua.

jetivo deste trabalho é o reconhecimento dosClubes Sociais Negros enquanto PatrimônioCultural Imaterial Afrobrasileiro e a sua ins-crição no "Livro dos Lugares" do IPHAN, vis-lumbrando com isso, um Plano de Salva-guarda para esses espaços de memória,identidade e resistência negra, cuja maio-ria, encontra-se em situação precária e emvias de desaparecimento.

Pólo Regional Rio Grande do Sul

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O pólo Santa Catarina nasceu da articulaçãoentre diversas experiências com memória na re-gião Norte do Estado. A partir do projeto Me-mória dos Bairros, o trabalho inicial previa umaação sistemática sobre acervos que tendem adesaparecer. Com base na premissa de que amemória é um direito de todos e de que pode-mos preserva-la e transmiti-la, é que foramestabelecidas metas para as ações das institui-ções e parceiros envolvidos: Fundação GenésioMiranda Lins, Instituto Boi Mamão, Comunida-de Morro do Boi, UNIVALI, FURB e Proarte,para os anos de 2005-2008.

A dinâmica de nossa sociedade promoveinúmeras e permanentes atualizações nos am-bientes urbano e rural. O movimento constantepromovido pelo crescimento urbano, impele aocupação de novos espaços, readequação dosantigos, enfim, redesenha os espaços já conso-lidados por ocupações de longa duração. Exem-plo disso, são as áreas atingidas pelas cheias de2008, que produziram a perda de vidas e bens,além da imensa perda da experiência de vidanaquelas localidades, marcadas por ciclos decatástrofes há muito tempo. Neste movimentoencontram-se os diversos grupos sociais quepromovem e vivem o afrouxamento dos laçosque unem as pessoas ao lugar, as gerações e

saberes que são dispersados, as experiênci-as que se perdem. Lembranças esparsas so-bre a cidade e seus bairros podem ser en-contradas em acervos fotográficos esqueci-dos em fundos de gavetas ou que circulamapenas no âmbito familiar. Imagens espe-culares circulam nas cabeças de verdadei-ros arquivos ambulantes (SAMUEL, 1989).

Neste sentido, iniciamos um programa deintervenção e educação a partir de cada co-munidade, localidade e experiência, confor-me os parceiros envolvidos. Os coordena-dores de unidade da Fundação e das Uni-versidades, com vistas a otimizar os recur-sos de cada uma delas, foram os responsá-veis pelo “departamento de ensino”.

Ao longo de 2007 e 2008 fizemosinúmeras atividades de formação esensibilização de professores, ativistas ejovens envolvidos com atividades culturaise educacionais. O uso de recursosaudiovisuais permitiu a circulação de ima-gens, memórias, hiper textos das realidadeslocais, além de ativar desejos de novos regis-tros e ações. Este movimento ocorreu a partirde escolas, museus, arquivos, sempre com apresença das universidades. Com vista nisso, opólo realizou exposições, coordenou entrevis-

Pólo Regional Santa Catarina

A experiência do pólo SC e a interaçãocom os outros Pólos do BMR

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tas filmadas, organizou e editorou livros, aju-dou a sistematizar material paradidático e ou-tros produtos que foram surgindo, como expres-são de necessidades pontuais, lacunas, interfacesde atividades que permitiram o desabrochar donovo e do pouco conhecido. A cada encontro,sempre havia o desdobramento em outra frente,que deveria ser pensada, coberta, incorporada.

A partir de 2009 o pólo sul passou por umaampliação e reformulação que exigiu a escolhade um novo representante. Os membros atuaisda rede, disponíveis e participantes sãoo Instituito Boimamão, a comunidadeQuilombola Morro do Boi, o Gephavi- FURB,o CEMOP- FURB, o prof. Aluízio – UNIVALI ea Proarte. Os critérios para escolha basearam-se em instituições e ativistas que atuam em al-gumas frentes:

1. Comunidades atingidas pelas cheias e a ou-tras intempéries que forçam ao deslocamen-to/perda das raízes tradicionais;

2. Comunidades remanescentes de quilombose afrodescendentes no Vale do Itajaí;

3. Comunidades e ativistas que lidam com apreservação da cultura em ambientes de ace-leração das transformações culturais.

Já nesta segunda fase, foi realizada a forma-ção em Blumenau, agregando as antigas e no-vas parcerias. A experiência foi muito importantepara definir ações e projetar os próximos pas-sos. A partir das universidades envolvidas, acre-

ditamos poder estabelecer um cronograma deações:

a) Estabelecer ações de coleta e organizaçãonas comunidades de bairros atingidos pe-las enchentes;

b) Formação e capacitação de professoresda rede próximos às áreas de risco sobreo escudo azul para a cultura;

c) Formação e capacitação sobre Históriada Àfrica (demanda Morro do Boi).

ComunidadeQuilombola do Morrodo Boi

Na caminhada do Pólo, merece desta-que, a comunidade quilombola do Morrodo Boi. Criaram uma associação, em 21 dejunho de 2007, que passou a se chamar As-sociação quilombola do Morro do Boi. Paraa construção da sede foram organizados al-moços , deliciosas feijoadas capitaneadaspela Dona Guita (Margarida), a matriarca dafamília, e com o envolvimento de familiarese amigos para a preparação e organizaçãode tudo. O envolvimento de outras pessoasfoi uma crescente. Aproximação do NUER daUFSC, da UNIVALI e de voluntários que abra-çaram a causa dos quilombolas. No âmbitofederal, foi encaminhado o registro à Funda-ção Palmares para o reconhecimento do

Pólo Regional Santa Catarina

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quilombo. Ana Elisa, estudante de Direito eSueli, líder na comunidade, construíram jun-tas ações no sentido de estabelecer diálogocom o poder público municipal: educaçãoambiental, aplicação da lei 10.639/03 nas es-colas onde estudam os filhos da comunida-de, produção de material de referência paraos formadores e educadores. Atendimentomédico especial. Mas falta muito: linhas deônibus especiais para o local, acessibilida-de universal para os portadores de necessi-dades especiais, regularização do registroda propriedade da área. Na busca por ge-ração de renda, as meninas passaram a pro-duzir lindas Abayomis. Algumas pessoas dacomunidade participam de outros progra-mas e projetos ligados à produção e comér-cio de hortifrutos orgânicos e também deeducação e preservação ambiental. Exis-tem ainda projetos associados que pode-rão viabilizar outras fontes de renda.

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Um mosaico dehistórias

O pôr-do-sol em Icapuí tem algo de mági-co. As cores cambaleantes, refletidas nas arei-as molhadas no refluxo da maré, fundem céue terra, mar e barcos com silhuetas de pes-cadores recortadas na linha do horizonte. Éa hora da saudade. Hora de contar históriasretiradas do baú da memória coletiva. His-tórias como a do “sêo” Mundinho falandodos tempos da fartura da lagosta: “A praiaera um horrô de cabeça de lagosta”. Ou dedona Francisca suspirando pelos velhos ebons costumes: “Hoje, meu filho, o mundotá perdido”. Ou de Josué, na celebrada Pon-ta Grossa, fazendo arqueologia à moda dele,mas pacientemente rejuntando os cacos demuitas outras lembranças para recompor,num imenso mosaico de peças, o vitral damemória da sua própria gente.

São tantas memórias que daria até paraescrever um livro de muitos capítulos, refa-zendo no tempo, a linha da vida dessas co-munidades. E este foi o trabalho que a Fun-dação Brasil Cidadão fez ao assumir oPólo Regional Ceará como organização co-ordenadora no contexto do Brasil Memóriaem Rede. Dessa maneira, a caracterização dascomunidades se deu por meio da compreen-são de suas tradições, costumes, habilidades,histórias pessoais, lutas e sonhos.

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A construção da linha da vida com toda asua riqueza de detalhes e o levantamento dopatrimônio material e imaterial forneceraminformações preciosas tanto para o conhe-cimento da comunidade, quanto para oplanejamento de futuras ações, evidenci-ando o importante papel da memória nes-se processo.

Às comunidades e ao trabalho comsuas memórias, somaram-se os GruposTeatrais Cervantes do Brasil e Flor do Sol,ambos de Icapuí, que fizeram do teatro aarena dos seus sonhos, onde essas me-mórias, individuais e coletivas, comonum espelho, refletem a realidade, geran-do a percepção da história que todos osparticipantes constroem, com suas afirma-ções e contradições, fazendo-os entende-rem-se como verdadeiros atores da pró-pria vida.

Quem sabe faz a horaO Pólo Regional Ceará nasce com umabonita história para contar.

As cinco instituições que o compõe -Associação Titanzinho, Fundação CasaGrande, Cervantes do Brasil, Grupo de Te-atro Flor do Sol e Associação de TurismoComunitário da Ponta Grossa - já acumu-lam experiências e sistematizações no de-

senvolvimento de atividades de divulgaçãoda memória coletiva em âmbito local.

Como Organização Coordenadora, a Fun-dação Brasil Cidadão, por meio do Pólo Re-gional Ceará, criou a oportunidade para queessas instituições comecem a tecer uma novahistória de compartilhamento, fazendo da me-mória um instrumento de diversificação econstrução de uma nova narrativa, de umnovo jeito de ver e registrar a vida.

Encontros e seminários coordenados peloMuseu da Pessoa e pela Fundação Casa Gran-de - Memorial do Homem Kariri, possibilita-ram o aprofundamento de metodologias, con-ceitos e atividades práticas como as entrevis-tas com personalidades locais, que trouxeramà luz, memórias ancestrais, unindo passado epresente num grande compromisso para o fu-turo.

O resultado de todo esse esforço desistematização mereceu ser registrado emvídeo, como uma memória institucional doPólo Regional Ceará, evidenciando comocada uma das organizações opera e compar-tilha as atividades com a memória em seucotidiano.

Com isso, o Pólo Regional Ceará,conectado ao Brasil Memória em Rede, abreas cortinas para uma nova história, escrita pe-los próprios atores que sabem que essa é ahora para fazer acontecer.

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“Trabalhar com desenvolvimento local écompreender o território e desenvolver proje-tos a partir deste conhecimento com o territó-rio. Trabalhamos com uma metodologia dememória coletiva, fizemos um inventárioparticipativo de patrimônio de cada comunida-de a partir do conceito de patrimônio de territó-rio. Cada comunidade escolheu o patrimônioque ela queria cuidar e fizemos todo o inventá-rio. Quando se parte desta proposta ,temos umaabrangência enorme de trabalho que pode serdesenvolvida. Há mil possibilidades. Trabalha-mos com mulheres, com crianças, com adoles-centes, com inclusão social, com software livre,

há uma gama de projetos. Nós temos a Teiada Sustentabilidade que engloba “n” projetoscom o protagonismo das comunidades, sem-pre tendo isso como foco principal de traba-lho.”

Foi apenas depois de se aposentar de seutrabalho no UNICEF, que Leinad decidiu cor-rer atrás de um sonho. Já tinha o plano tra-çado, sabia o que queria fazer e o municí-pio onde iria executar seu plano. E assimfoi. Entrou para a Fundação Brasil Cidadão,há sete anos, e desde então, realiza um tra-balho de desenvolvimento local no muni-cípio de Icapuí, no litoral cearense.

Depoimento de Maria Leinad Cabogim -Ceará

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O “Museu” de Josué

“Eu era pescador e, nas horas vagas, eu ia àsdunas, e quando chegava lá, eu encontravauma lança de flecha indígena, eu pescava e co-letava esse material. Fui acumulando materialarqueológico e enchi uma sala; e a turma, a mi-nha família, quando chegava algum turista, di-zia: “Rapaz, vai lá no Josué, Josué pega muitacoisa velha, caco velho, vai lá.” Aí o cara che-gava e falava: “Cadê o Museu?” Em Jataí não

existe Museu, existe alguma coisa que eu faço,mas não é Museu.

O que eu posso oferecer ao Brasil Memó-ria em Rede é uma presença. Devolvendoaquilo que eu vou aprendendo. O que euaprendi no fórum, vou levar para a minhacomunidade, vou levar para Icapuí e paraqualquer canto. Vou dar o exemplo do queeu vi e do que aprendi aqui.”

Josué Pereira Crispim – Icapuí-CE,depoimento durante o III Fórum do BrasilMemória em Rede.

A Fundação Brasil Cidadão, a partir do conceito de território, da visão sistêmica das rela-ções e de estudos de natureza socioeconômica e ambiental, elegeu a história e a memória cole-tivas como importantes ferramentas para a transformação social e a elevação da auto-estima dascomunidades.

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Pólo Regional Bahia

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“Lá nos sertões da África entre aldeiasdistantes caminham mulheres e homens

aprendendo e ensinando a sabedoriadaquele povo, são griôs e quando os griôschegam nas aldeias, as crianças, os pais, ostios e os avós sentam na roda, está formado

o ritual do contador de histórias”Fala de chegada do Velho

Griô do Grãos de Luz e Griô

e da Ação Griô Nacional

É na caminhada e na brincadeira de encan-

tamento do velho Griô e de tantos griôs por eleiniciados que o Grãos de Luz e Griô exerce asua missão. A partir de pesquisas, reflexões evivências compartilhadas, criou-se a pedagogiagriô, que apresenta a roda de brincadeiras e acaminhada como território de identidade eancestralidades, vinculando escola e comuni-dade, tradição e invenção, oralidade e escrita.

Por meio da caminhada e ritual de cantigas,de danças e das histórias de vida, procurou-seconstruir uma ampla rede entre empreendedo-res, poder público, conselhos municipais, a co-munidade escolar e os grupos culturais, valori-zando a cultura e a integração das idades comoestratégias fundamentais para a reconstrução dofio da história e fortalecimento da identidadedas crianças, adolescentes e jovens. A idéia éinovadora porque propõe incorporar à esfera

da educação, da política e da economia dacomunidade, a força e o poder da tradiçãooral.

Criou-se, assim, a Rede Ação Griô, umarede afetiva e cultural de griôs e mestres detradição oral, vinculados a educadores e es-tudantes das escolas públicas, cujo objeti-vo é instituir uma política nacional de trans-

missão dos saberes e fazeres de tradição oral

em diálogo com a educação formal, para o

fortalecimento da identidade e ancestrali-

dade do povo brasileiro, por meio do reco-

nhecimento do lugar político, econômico e

sócio cultural dos griôs, das griôs, mestres e

mestras de tradição oral do Brasil. Na caminhada da Ação Griô, o Grãos

de Luz e Griô tece novas relações ereinventa rodas com o Museu da Pessoa,com a Fundação Pierre Verger, com a Fun-dação Terra Mirim e com o projeto Baga-gem, a fim de formar o Pólo Bahia do BrasilMemória em Rede. Mais uma rede e maisuma dualidade em desafio para a pedago-gia Griô: a vivência e o registro. A pedagogiaGriô prioriza a vivência, a partir de um mo-delo pedagógico que integra: música, movi-mento e sentimentos; cantigas da comunida-de, danças tradicionais, mitos e símbolos dacomunidade; tendo como centro do saber ahistória de vida de cada um. Como interferir

Pólo Regional Bahia

No compasso de uma caminhada

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nesse espaço de revelação da identidade e daancestralidade com o registro? A solução acon-teceu por meio de técnicas audiovisuais dosdocumentários, que, nas mãos dos artistasgriôs, têm se transformado também em fic-ções e poéticas atravessadas pelas históriasde vida da comunidade.

Nessa rede de novas relações cada insti-tuição tem o seu papel. A Fundação PierreVerger preserva, produz e divulga conheci-mento sobre a cultura afrobrasileira a partirda obra e vida de seu fundador, procuran-do despertar a noção de pertencimento ét-nico cultural, respeitando as diferenças cul-turais e fortalecendo o indivíduo criativo,crítico e consciente de seus direitos na so-ciedade. Nesta Fundação, senta-se na rodacom Dona Cici, contadora de histórias e aouve dizer “ a Ação Griô deu vida às mi-nhas histórias”, mas quem na verdade, dáa vida é mesmo a Dona Cici: a Ação Griô,assim como o Brasil Memória em Rede, éuma facilitadora desse processo. Dona Cicicria seus bonecos em um avental para con-tar e registrar sua história. Desta forma, suamemória se revela com arte, de maneira se-melhante ao que acontece com oscordelistas, os repentistas e tantos outrosgriôs.

A Fundação Terra Mirim é uma comuni-dade residencial xamânica feminina e umaONG que registra, divulga, vivencia e valori-za saberes orais e tradicionais do Vale do RioItamboatá, em Simões Filho, na Bahia, onde a

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tradição da Palhinha é uma expressão culturaldo povo. Na Fundação Terra Mirim, os mitosxamânicos em templos dos 4 elementos, dia-logam com os versos e as devoções para omito do Deus Menino na Lapinha. É um jei-to de contar a história de um nascimento pormeio de cantigas, danças, dramatizações efigurinos coloridos. É o teatro vivo. O rotei-ro se reinventa e, tradicionalmente, não éescrito. Como registrá-lo? Quem irá escrevê-lo e de que forma? Qual é a linguagemapropriada para uma peça de teatro popu-lar? Como contar a história desse povo semesse roteiro de teatro mítico e dramático?Foi assim, respondendo a essas perguntasque as histórias puderam ser registradascom o apoio do trabalho da Fundação TerraMirim.

O Projeto Bagagem colaborou para quea caminhada griô pudesse ser estruturadae sistematizada em trilhas griôs economi-camente sustentáveis e geradoras de rendapara as comunidades, com princípios doturismo de base comunitária, criando orça-mentos participativos, modelos de gestãocomunitária e investimento em infraestruturacomunitária.

As trilhas griôs foram escolhidas para se-rem registradas pelo projeto das ONGs da

Ação Griô junto ao Brasil Memória em Rede. Ecomo a questão era registrar vivências buscan-do uma linguagem e uma técnica coerente coma beleza e riqueza do universo da tradição oral,criou-se o projeto Poética das Trilhas Griôs. Oprojeto visava produzir audiovisuais documen-tais de três minutos, com uma leitura poéticados gestos, símbolos, cores, cenas e imagens cri-adas pelos griôs e mestres de tradição oral nocotidiano de sua comunidade, com suas canti-gas, danças, remédios e ofícios locais.

Os griôs aprendizes, jovens líderes comuni-tários das suas respectivas associações, registra-ram por meio de uma oficina de roteiro, filma-gem, edição de vídeo e de poesia, enquantoparticipavam da trilha griô da sua comunidade,exercitando o olhar poético no enquadramentoe na aproximação desses ofícios e saberes. Oproduto final foi um vídeo bastante poético datrilha griô entre a comunidade, a ONG e a “es-cola da vida” que acontece na casa de farinha,embaixo da árvore, no leito do rio e dentrode um barco, numa cozinha, num terreiro,numa trilha no meio do mato, aos pés de umaentidade religiosa, nas ruas, nas estradas... E,assim, vamos registrando nossa história, amesma e diferente história, numa roda quesempre existiu, mas que precisa ser continua-mente reinventada.

O Grãos de Luz e Griô tem a missão de semear educação e tradição oral fortalecedora da identi-dade das crianças, adolescentes e jovens brasileiros. Reinventar a integração entre o velho e o novonum presente pleno de ancestralidade e identidade na educação para a celebração da vida.

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Pólo Regional Paraíba

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Em todo 6 de janeiro, há uma belíssima fes-ta na cidade de Zabelê, Paraíba. Neste dia dereis, como parte das comemorações natalinas,os brincantes iniciam os festejos dentro da igre-ja e depois, saem pela cidade, indo às casas daspessoas que abrem as suas portas para oReisado e seus cânticos, as suas danças e dra-mas, as suas brincadeiras de rua.

As cantigas e brincadeiras do Reisado deZabelê têm início com o apito do Mestre Abel,que rege os quatro grupos que fazem parte doReisado: os músicos (Sanfoneiro, Cavaquista,Caixeiro, Pandeirista e Zabumbeira), as filas deFigurás (cantores e cantoras), os Embaixadoresque ficam à frente das filas dos Figurás e os Per-sonagens (Boi, Burrinha, Jaraguá, Mateus, o Reie a Rainha).

Em Zabelê, este festejo acontece desde 1919.Sua história começou com a chegada doalagoano Manoel João à cidade. Manoel vinhada União dos Palmares para Zabelê, onde aca-bou por casar-se com uma moça da famíliaMartins, mesclando culturas e fixando o Reisadonessa comunidade.

Apesar de existir, desde essa época emZabelê, o Reisado ficou fora das manifestaçõespopulares por um bom tempo (por mais de trintaanos) e voltou a ser comemorado, em 2001, poriniciativa de mulheres e homens entre 60 e 70e poucos anos de idade. Muitas das estruturas

ritualísticas que existiam desde o seusurgimento na comunidade sofreram modi-ficações, como por exemplo: a inserção demulheres no grupo e a extinção do confron-to entre os cordões vermelhos e azuis. Noentanto, outras questões comuns na tradi-ção do Reisado como as canções, as brin-cadeiras, os processos ritualísticos, asazonalidade e os personagens são, fre-quentemente, relembrados pelos brincantesmais antigos e reincorporados dentro dogrupo.

A atual conjuntura social, em que gran-de parte dos grupos de tradição oral estãoinseridos, necessita de ações para que aque-les que exercem as atividades culturais se-jam respeitados pela comunidade local e in-centivados a perpetuarem seus saberes. Eisso ocorre quando os mesmos são visita-dos por admiradores, pesquisadores e ou-tros grupos, ou mesmo, quando saem da co-munidade para outras localidades, a fim dese apresentarem. Nessas ocasiões, há umagrande valorização de sua cultura e de seussaberes.

Considerando a importância dessa valori-zação, o Sebrae Paraíba vem desenvolven-do um trabalho de capacitação, disseminaçãode informações e estímulo à cooperação noCariri paraibano, privilegiando os saberes e fa-

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Abra a porta para o Reisado de Zabelê

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zeres locais, no sentido de enaltecer a culturae a memória coletiva da região. Para isso, fez-se de extrema importância registrar, principal-mente, por meio do audiovisual, os depoi-mentos das pessoas envolvidas num impor-tante festejo da região: O Reisado de Zabelê.

A parceria com o BrasilMemória em Rede

Avaliando a importância de conhecer,disseminar e garantir a continuidade des-tas importantes manifestações culturais,demos início à parceria com o projeto Bra-sil Memória em Rede. Por conta disso, oSebrae-PB candidatou-se para serarticulador do Pólo Regional Paraíba doreferido projeto, já que este possui umametodologia específica de registro de me-mória e articulação em rede.

Para estruturar o Pólo Regional, convi-damos outras organizações e pontos de cul-tura que trabalham com a memória e cultu-ra popular, tanto na capital, quanto no Caririparaibano, focos de nossa ação. Primeira-mente, esta articulação foi feita com a Asso-ciação Brasileira de Documentaristas – Se-ção Paraíba [ABD-PB], a Associação Cultu-ral de Zabelê [ASCUZA] e o Instituto Históri-co e Geográfico do Cariri [IHGC], no municí-pio de São João do Cariri, resultando na pro-dução do registro audiovisual do folguedo.

A filmagem do material realizou-se, exata-

mente, no dia oficial da apresentação doReisado em Zabelê, em 06 de janeiro de 2009,Dia de Reis, fazendo com que tudo ocorressecomo realmente deveria ser: deixando que oscomponentes ficassem bastante à vontade, cer-tos de que estavam fazendo a coisa no seu tem-po. Como resultado desta ação de registro damemória cultural do Cariri paraibano, foram gra-vados oito depoimentos de alguns dos integran-tes do Reisado, nos quais, eles contam suas his-tórias de vida e sua relação com o Reisado ecom o dia da Festa de Reis. Deste material, foieditado um interprograma com cerca de trêsminutos de duração de cada depoimento co-lhido e vídeo de treze minutos, composto, es-pecificamente, de vários momentos da Festa doReisado, intercalados com algumas dessas en-trevistas.

Somado a esses produtos, existe uma boapossibilidade da veiculação deste material ememissoras públicas de televisão, inicialmente aTV UFPB, além, dele ser também difundido nainternet de forma eficaz, no portal de intercâm-bio audiovisual que a ABD-PB desenvolve como projeto do Pontão de Cultura Rede Nordesti-na Audiovisual [RNA].

Além disso, a exibição em praça pública dotrabalho realizado no próprio município foimotivo de grande festa e fez com que a sensa-ção de pertencimento à cultura se engrandeces-se, contribuindo imensamente, para a difusãodo Reisado além das fronteiras da Paraíba.

Entende-se que a proposta foi válida no quetange à valorização dessa manifestação cultu-ral, em que pese a pontualidade da ação,

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O Sebrae Paraíba acredita na importância do conhecimento e disseminação das manifesta-ções populares, que privilegiam os saberes e fazeres locais, valorizando o povo, seu patrimôniocultural e a memória coletiva.

Um pouco sobre aASCUZA

A cidade de Zabelê, no Cariri Ocidentalda Paraíba, é um daqueles lugares onde acultura popular nasce para ser particularmen-te interessante. As diversas manifestações es-pontâneas passaram muitos anos negligen-ciadas e, algumas delas, como o Reisado,até mesmo deixaram de ser realizadas. A As-sociação Cultural de Zabelê (ASCUZA) foifundada em novembro de 2002, com a pro-posta de agregar e catalisar toda essaefervescência.

Hoje, entre outras atividades, a ASCUZAproduz documentários com o objetivo deregistrar e fortalecer o povo da região doCariri Ocidental paraibano pelo uso doaudiovisual, enquanto oferece formação aosparticipantes. Esta produção audiovisual re-presenta a forma mais eficaz que a associa-ção encontrou para comunicar e fortificaruma cultura, de se posicionar como elemen-to agregador, condutor e formador de pes-soas que participam da vida social no Caririparaibano.

porém, deverá ser melhor estruturada de formaa dar um melhor aporte financeiro, para que suaabrangência se amplie, fortalecendo, assim, asatividades da rede. Para nossa organização, ficao aprendizado da necessidade de um registro,cada vez mais aprofundado, das manifestaçõespopulares, intensificando um olhar mais apu-rado sobre as riquezas do patrimônio imaterialdo nosso Estado, o que pode gerar inúmerosresultados, fruto de um sério trabalho deempreendedorismo cultural.

O Pólo Regional Paraíba do Brasil Memóriaem Rede, é coordenado em parceria peloSEBRAE-PB e pela Associação Brasileira deDocumentaristas - Seção Paraíba [ABD-PB], atra-vés do Pontão de Cultura Rede NordestinaAudiovisual [RNA]. E para esta ação, em específi-co, contou com o fundamental apoio da Associa-ção Cultural de Zabelê [ASCUZA] e da PrefeituraMunicipal de Zabelê.

Pólo Regional Paraíba

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Pólo Regional Paraíba

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Pará, mostra tuahistória!

O homem chega, já desfaz a nature-

za, tira gente, põe represa, diz que

tudo vai mudar...

Sá e Guarabyra,letra da canção Sobradinho.

Como na famosa letra de Sá e Guarabira,que cantaram as mudanças sofridas no rioSão Francisco, a região amazônica é, fre-quentemente, alvo de projetos desenvolvi-mentistas que trazem modificações físicas esociais. São projetos e mudanças drásticasque, muitas vezes, desconsideram a históriae cultura dos habitantes da região. Aliás, oque comumente vemos é uma tentativa deafirmar para a opinião pública de que aAmazônia é uma terra desocupada, ignoran-do-se os saberes e a memória dos muitospovos que a habitam, como os indígenas,quilombolas, ribeirinhos, camponeses e aspopulações urbanas.

O dilema atual é o da implantação da Usi-na Hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu-PA. No local em que essa usina será instalada,está prevista a remoção de centenas de pesso-as, inclusive, populações indígenas, para quese possa realizar o alagamento necessário àgeração de energia. Serão alagados mais de

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20 mil km2 de áreas representativas do biomaamazônico: 18 populações indígenas terãosuas reservas inundadas, e muitas famíliasserão retiradas de suas casas.

Com a população retirada de seu lugarde origem e com o fim de muitas atividades desobrevivência, alguns conhecimentos tradicionaislocais, associados à natureza, podem ser fada-dos ao esquecimento. Para que isto não aconte-ça, é importante que qualquer projeto de desen-volvimento para esta região, preserve e leve emconta, a sociobiodiversidade amazônica. E é tam-bém fundamental que se preserve estepatrimônio imaterial, associado aos saberes e cos-tumes da região.

Percebendo essa necessidade da região,de se manter a memória e os saberes deum povo, de guardá-los bem para que nãosejam perdidos e, visando potencializar asações ligadas à preservação da memória naregião amazônica, iniciamos nossa partici-pação no Brasil Memória em Rede, valen-do-nos de várias experiências colaborativas,a fim de nos colocarmos na posição de umdos Pólos da Rede.

Ao selecionar as organizações que deve-riam ser convidadas a integrarem o Pólo, ele-gemos como principais critérios: oenvolvimento e inserção social, a capacida-de de replicar as informações e conhecimen-tos adquiridos, a possibilidade de agregarnovos valores e saberes à Rede. Também bus-camos organizações que já trabalhavam coma memória, e que fizessem parte do nosso cír-

culo de relações sociais. Outro critério, foi o deterritorialidade, ou seja, a necessidade de abar-car diferentes regiões do Pará (Ilha de Marajó,Região do Salgado, Região Metropolitana, etc.)e de outros estados (como foi o caso do Amapá).Além disso, procuramos incluir organizações dediferentes perfis e áreas de atuação, tais como,ONGs, universidades, instituições de pesquisas.

Nessa breve experiência, podemos dizer quenossos maiores avanços e dificuldades estãorelacionados a um mesmo fator: a dimensãocontinental da região amazônica e sua diversi-dade de formas de vida, em espaços suposta-mente uniformes. Promover a articulação deuma rede social de memória, neste local, foi umdesafio e essa conquista surge como um gran-de resultado de nosso trabalho. A articulaçãodessa rede de memória também proporcionoua integração de organizações que poderiam es-tabelecer algum tipo de parceria, mas não seconectavam.

Em Cachoeira de Arari, naIlha de Marajó, a juventudeque mantém as tradiçõesvivas

Juventude e tradição são palavras que nãocostumam andar muito juntas. Mas em Cacho-eira de Arari, na Ilha de Marajó, não é bem as-sim... Ou melhor, não é mais assim, desde queo Argonautas percebeu que o maior trunfo paraque a tradição, as manifestações e os saberes

Pólo Regional Pará

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populares mais antigos perpetuassem, seriapor meio da conquista dos jovens.

Como a juventude de Cachoeira de Ararivia a importância das manifestações popula-res de sua localidade, em particular a Festi-vidade de São Sebastião? Esta foi uma per-gunta importante formulada pelosArgonautas. E o que deveria ser feito paraque esta mesma juventude se interessassepela tradição cultural local? Esta foi outraquestão e a resposta veio, ainda que, compoucos recursos, por via de sensibilizaçãode jovens e mestres de folia para a necessi-dade de se manterem vivas as suas tradi-ções, costumes e práticas culturais.

Além de sensibilizar os mais jovens, elestambém ganharam um papel importantís-simo ao se responsabilizarem pela missãode repassarem essa “memória viva” para

as gerações futuras.Esse trabalho com a juventude de Cachoei-

ra do Arari foi fundamental para a nossa per-cepção de que a maior estratégia para a perpe-tuação do patrimônio cultural e da memóriaamazônica é o envolvimento dos mais jovenscom as tradições de seu povo. Esse foi tambémum dos maiores ganhos de nossas ações.

Há 20 anos o Argonautas se dedica a pensare construir novas formas de desenvolvimentopara Amazônia, tecendo redes sociais em tornode causas comuns. Percebemos que as organi-zações e pessoas que compõem uma rede, seaproximam mais quando se conhecem melhore valorizam as histórias de vida e memóriasinstitucionais dos outros integrantes. Ouvir es-sas narrativas pode ser um importante instru-mento para o fortalecimento dos laços e tramasdas teias em construção.

Pólo Regional Pará

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Em Alter do Chão, outrastramas entre a juventude ea tradição

O Ponto de Cultura da Oca/Grupo de AçãoAmbiental Vila Viva, sempre objetivou traba-lhar com a valorização da Cultura Amazônica,mais ,especificamente, da vila de Alter do Chão,antiga aldeia dos Borari, no município deSantarém, Pará. Desde 2004 jovens do Pontode Cultura desenvolvem atividades de resgatecultural com os mestres de tradição da vila, atra-vés de conversas, vivências, visitas, entrevistas,documentários, digitalização de imagens e do-cumentos, entre outras atividades. Em 2006,com o reconhecimento do Ministério da Cultu-

ra, o Ponto de Cultura da Oca fortaleceu suasatividades de memória cultural, por meio doscursos de dança regional (carimbó,marambiré, desfeitra), do resgate das músicas,cantos e folias, com a criação da Bandoca, abanda de música da Oca; além das oficinasculturais de transmissão dos saberes e faze-res artísticos dos artistas, mestres e griôs dacomunidade. A transmissão e o fortaleci-mento desses saberes também acontece naBiblioteca Comunitária Oca do Saber, du-rante as atividades de mediação de leiturae contação de histórias; nas atividades daAção Griô junto aos estudantes e educado-res, e da Cultura Digital, onde os recursostecnológicos são ferramentas de afirmaçãoda identidade.

A missão do Argonautas é defender a Amazônia e conservar os patrimônios culturais, naturais,artísticos e sociais, assim como promover capacidades de articulação em rede na região. Aafirmação da cultura e o trabalho com a memória do povo amazônico tornam-se cada vez maisprementes na medida em que a autodeterminação dos povos é um instrumento de combateaos projetos desenvolvimentistas na região.

Pólo Regional Pará

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Pólo Regional Goiazes

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O Quintal da Aldeia é a sede da entidadeGuaimbê em Pirenópolis-GO, no populosobairro do Bonfim, lugar habitado por remanes-centes da zona rural. E é ali neste bairro e nestequintal, que mestres e griôs, que sempre leva-ram a vida como lavadeiras, garimpeiros, lavra-dores, pedreiros e caminhoneiros, se transfor-mam e exercem outras funções. No quintal, aslavadeiras viram bordadeiras, rezadeiras,cantadeiras; e os garimpeiros, lavradores, pe-dreiros e caminhoneiros passam a ser músicos,foliões, catireiros e congadeiros.

Por que isso é tão importante? Porque nes-tas funções, a tradição oral e as memórias cul-turais de um povo são reconhecidas e valoriza-das, tornando-se vivas por meio das brincadei-ras, das cantorias e danças, que atuam comofonte de identidade, criatividade pessoal e co-letiva, mantendo a comunidade unida e forta-lecendo os vínculos de respeito, de responsabi-lidade e de aprendizado entre gerações.

No Quintal da Aldeia, as tradicionais brinca-deiras de roda e a capoeira angola convivemdemocraticamente com o muay thai, o tai chichuan e o hip hop, em apresentações evivências educativas na sede e nas escolas par-ceiras. A valorização da cultura tradicional acon-tece, juntamente, com a abertura para novasmanifestações culturais, procurando unir gera-ções e diferentes saberes.

Além disso, procurando trazer as mani-festações culturais para dentro da comuni-dade, muitas outras atividades tambémacontecem para além do Quintal. Nas ruase na rede pública escolar, por exemplo, en-cenam-se autos teatrais, danças e corais.Publicam-se livros infanto-juvenis distri-buídos nas escolas e entidades afins, con-feccionam-se brinquedos educativos e re-alizam-se trilhas griôs para geração de ren-da, revitalizando a cultura e elevando aautoestima da comunidade local.

Guaimbê e o BrasilMemória em Rede

Com o objetivo de ampliar e consoli-dar a nossa ação junto à disseminação, va-lorização e conservação da memória e tra-dições culturais, iniciamos a participaçãono Brasil Memória em Rede, procurandounir os caminhos histórico-culturais entreo norte e o sul de Goiás, incluindo e reco-nhecendo também a diversidade culturaldas cidades de Brasília e de Goiânia. Alémdisso, buscamos legitimar uma rede entre ascomunidades de tradição oral, que são fon-tes de referência para a cultura do DistritoFederal e do Estado.

Pólo Regional Goiazes

Lá no Quintal da Aldeia

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Em Pirenópolis, oprimeiro encontro

Neste contexto, realizou-se, em 2007, oencontro de formação do Pólo Goiazes doBrasil Memória em Rede, em Pirenópolis-GO, buscando a identidade comum entre onorte goiano quilombola, o centroeste fo-lião e as urbanidades de Goiânia – com asmilitantes dos direitos femininos eafrodescendentes - e das cidades satélitesde Brasília - herdeiras e recriadoras de tra-dições de todo o Brasil.

Durante o encontro, brincadeiras da tra-dição oral permearam rodas de história devida, conversas e reflexões sobre as memó-rias, as demandas e os anseios pelo reco-nhecimento, valorização e garantia de con-tinuidade de suas tradições, ajudando a tra-çar o mapa coletivo dos fazeres e saberesculturais criativos que as mantêm vivas eem constante renovação.

Como metodologia de interação, a enti-dade propôs um cortejo pela feira de açõese produtos de cada entidade presente noencontro, e convidou os participantes avivenciarem ações do cotidiano da entida-de, como o Baile da Roça e a apresentaçãodo auto teatral “Caravana Guaimbê: um pas-seio pelas danças de Goiás”, montado coleti-vamente com 60 crianças de uma escola pú-blica parceira, como ciclo de vivência

educativa transdisciplinar sobre as expressõesculturais urbanas e rurais da região dePirenópolis.

Monte Alegre de Goiás, apresença da comunidadeKalunga no segundoencontro

O segundo encontro do Pólo foi realizadoem Monte Alegre de Goiás, um dos três muni-cípios da comunidade quilombola Kalunga,contemplando a demanda por envolvimentopresencial de um maior número de represen-tantes das comunidades do norte de Goiás nasações do Pólo.

Seguindo com metodologias em torno desuas memórias e contando com a presença dejovens, mestres e griôs, professores e liderançaspolíticas locais, representantes das redesANEPS1, e MOPS2, o encontro reforçou as di-mensões de trabalho com a memória nos âm-bitos da educação formal, saúde institucional ecomunitária, a partir do patrimônio de tradiçãooral local.

O grande avanço deste encontro foi a reto-mada da autoestima dos grupos ao reconhecerrecursos próprios presentes em seu patrimôniocultural. Por outro lado, constatou-se que omaior obstáculo, sem sombra de dúvidas, é agrande distância que separa as comunidades de

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tradição oral e as isola dos meios de comunica-ção e articulação contemporâneos, fazendo-senecessário, maior número de ações presenciaispara a construção de seus processos de media-ção.

No curso desta rica experiência, a principalação desenvolvida pelo Pólo foi a construçãodos planos de trabalho que cada comunidadedesenvolveu para promover atuações locais deincentivo à tradição oral, vivencial e inter-geracional de suas memórias culturais coletivas.

Como exemplo, as comunidades kalunga deMonte Alegre, Cavalcante e de Teresina deGoiás representadas por jovens, lideranças po-líticas e griôs, puderam dialogar a respeito doreconhecimento de sua origem comum, no ter-ritório quilombola das Contendas; de técnicaspróprias do fazer artesanal da farinha e da cerâ-mica; da aplicação de plantas e ervas. O encon-tro também contribuiu para que o grupo refle-tisse sobre a postura frequente, de receber ofi-cinas de artesanato e outros saberes técnicos,organizados sem sua participação ou em desa-cordo com a cultura local.

A retomada do respeito e responsabilidadecomunitários, em torno destas memórias, foi oponto de partida considerado pelo Pólo pararealizar atividades e projetos realmente legíti-mos e transformadores das comunidades. Comisso, as ações têm proporcionado um novo sen-timento de reconhecimento e conscientizaçãodas identidades e coletividades locais e regio-nais.

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A Comunidade quilombolaKalunga: sua história

Foi no solo anguloso do nordeste de Goiás,que o povo Kalunga construiu os 40 quilombosrurais, que hoje, compõem o Sítio Histórico ePatrimônio Cultural da Humanidade Kalunga.Em um território de vastas proporções, incrusta-do entre serras e vãos específicos do cerrado, sur-ge uma configuração geográfica com caracterís-ticas de uma fortaleza natural. Este fenômenocontribuiu significativamente para a formação doestilo de vida regionalizado e nuclear dosKalunga.

A história falada do povo Kalunga conta que,quando o ouro das minas terminou, os bandei-rantes e alguns senhores de escravos abando-naram as Minas dos Goiazes e não se deramao trabalho de levar seus escravos consigo, dei-xando-os naquele lugar deserto. O medo da es-cravidão os levou a se embrenhar nas matas elá viveram escondidos, durante mais de um sé-culo, até que as primeiras cidades começaram asurgir nas proximidades.

O Projeto “O Povo Kalunga” teve como obje-tivos: identificar, descrever e compreender comose estabeleceu o processo de formação cultural nogrupo social Kalunga; identificar elementos quecompõem a riqueza e diversidade da culturaKalunga; provocar situações de aprendizado sobresua formação cultural. Essa tentativa de construçãoteórica utilizou um intenso diálogo entre o aporte te-órico, a pesquisa documental e a pesquisa de campo.

Notas:

1 Articulação Nacional de Educação Popular e Saúde

2 Movimento Popular de Saúde

Pólo Regional Goiazes

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O pólo Goiazes é a celebração dos rios da me-mória viva e solidária, que reinventa costumesindígenas, mouros e africanos. Isto acontece nasfestas de batuque da rainha, folias de reis e dodivino, nas danças de sussa e catira, nascongadas e bailes de mutirão, nas brincadeirasde roda e palhaços, nas rezas benditas, no partonatural e nos cantos de presépio que alimentamtodas as gerações das comunidades de Colinasdo Sul, Pirenópolis, Goiânia, Distrito Federal eKalunga de Cavalcante, Monte Alegre, Teresinade Goiás e Minaçu.

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Pólo Regional Goiazes

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Pólo Regional Minas GeraisPólo Regional Minas Gerais

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“Ao falar da minha vida, pude falar domovimento social do qual faço parte e da

minha crença de que cada um de nós podefazer a diferença na comunidade”.

Vera Lúcia Lisboa, líder de uma associa-

ção de bairro.

Conhecer uma história de vida pode sertransformador. Pode-se mudar o jeito de olharo mundo e de se relacionar com nossos vizi-nhos. Ouvir a própria história, recontando-a efazendo com que seja conhecida por outraspessoas pode fazer revelações preciosas a quemconta. É isto o que o Pólo de Minas Gerais temobservado, ao trabalhar com histórias de vidade pessoas que movimentam a cultura de di-versas comunidades.

Como aconteceu com Cristiano Soares, umjovem agente cultural, para quem contar a pró-pria história foi uma oportunidade de “ver o

quanto tenho sido persistente nas coisas em que

acredito, e de pensar no porquê das coisas da

minha vida. E a minha história vai chegar a

outras pessoas e pode provocar uma reflexão

nelas também”. E com a Elaine Santos, militan-te de um movimento de cidadania, que tam-bém destaca o caráter reflexivo da experiência:

“a gente olha pro passado, faz um balanço e

vê que valeu a pena. E pensa pra frente, olha

pro futuro também”. Como foi a experiên-cia da Vera Lúcia, cuja fala , abre o nosso tex-to.

Apostando neste poder transformador damemória e da troca entre pessoas e gruposque contam sua própria história, nossa redede bibliotecas comunitárias espalhadas pelaRegião Metropolitana de Belo Horizonte,preocupada em promover a mobilizaçãocultural, objetivou valorizar e criar articula-ções entre os sujeitos que movimentam acultura nas comunidades, utilizando-se damemória como elemento fundamental.

E para compor essa rede local de memó-ria (o Pólo MG do BMR) integramos cercade 20 entidades e grupos com os quais aSabic, Associação dos Amigos das Bibliote-cas Comunitárias, já dialogava em ações só-cio-culturais. Reunimos um grupo bem di-versificado, que envolve uma ONG de mídiacomunitária, movimentos juvenis, associaçãode bairro, universidade, meios de comuni-cação. Junto a esse grupo, coletamos e disse-minamos histórias de vida de pessoas que re-alizam ações culturais em suas comunidades.

Pólo Regional Minas Gerais

As histórias de quem movimenta a cultura

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Realizamos mais de 20 produções, nasmídias jornal, TV, rádio e blog. Escolhemosdiversas mídias com o objetivo de trabalharcom linguagens variadas e criar espaços devisibilidade para as histórias de vida. Comisso, foi possível ter um amplo leque de su-jeitos e experiências de memória, e fomen-tar o permanente intercâmbio e a coopera-ção. E como os registros das histórias circu-lam entre as comunidades e grupos, há umamaior valorização da ação cultural informale cotidiana, além do incentivo aoengajamento das pessoas nas iniciativas cul-turais locais. Por outro lado, enfrentamosdificuldades em termos de recursos huma-nos e materiais para viabilizar o conjunto

ambicioso de ações às quais nos propusemos.Além das histórias de vida de pessoas liga-

das à cultura, coletamos uma série de narrati-vas sobre o próprio processo de se contar e co-nhecer histórias, surgidas nos espaços que te-mos criado para que os participantes do Pólofalem do significado da experiência e pensemjuntos sobre o sentido das ações. Nestes encon-tros, é possível articular todos os envolvidos epromover sua formação metodológica.

Todo esse processo tem sido muito rico paraa Sabic, que incorporou novos referenciaismetodológicos, fortaleceu suas articulações comdiversos parceiros e criou uma frente de valori-zação da memória das comunidades com àsquais dialoga permanentemente.

Pólo Regional Minas Gerais

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Ainda em Minas, outrasexperiências com amemória e histórias de vida

Viraminas Associação Cultural: garapa, saci,fumo de rolo e lobisomen – histórias de quemviveu para contar.

Nosso trabalho teve início em fevereiro de2007, em Luminárias, cidade de cinco mil ha-bitantes, localizada no sul de Mina Gerais. Co-meçamos a gravar depoimentos de idosos, como objetivo de organizar um livro de memórias.O projeto cresceu, conseguiu patrocínio do Go-verno do Estado e, a partir daí, nosso trabalhoganhou destaque.

Inicialmente, muitos dos nossos entrevista-dos não entendiam porque estavam sendo vi-

sitados por uma dupla de “pesquisadores defora”. Eles insistiam que não sabiam nada dehistória pra contar, que a vida deles não inte-ressava, pois o passado dali era repleto de coi-sas atrasadas, que não tem mais utilidade nosdias atuais. O que eles tinham para contar?

Histórias do saci, da mula-sem-cabeça,do lobisomem (vários já os tinham vistode perto) e de como se fazia garapa, rapa-dura, fumo de rolo, óleo de mamona, car-ro de boi, quitandas. Histórias valiosas, pa-trimônios de nossa cultura, sem dúvida.Os pesquisadores passaram, então, aconvencê-los de que o conhecimento queeles detinham fazia parte de nossa culturae que revelá-los era fundamental, pois osjovens precisavam entender o valor da-quelas tradições.

Pólo Regional Minas Gerais

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A Sabic é um grupo formado por bibliotecários, educadores, agentes de leitura e outros profis-sionais que resolveram unir esforços de modo a fortalecer e ampliar a atuação das bibliotecascomunitárias da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Entre suas missões, estão: possibili-tar o acesso ao universo da leitura e da troca de conhecimentos a um maior número de pessoas,apoiar as atividades de promoção de leitura e programas artísticos e culturais, promover maiorintegração com a comunidade e contribuir para a formação, lazer e bem-estar dos indivíduos.http://polomineirodememoria.acsolidaria.org.br.

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Pólo Regional São Paulo

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Viajar e conhecer novas terras. Viajar e co-nhecer pessoas e histórias. Viajar e conhecermemórias ou reconhecer lugares, com um novoolhar. Viajar e conhecer, para agregar organiza-ções e pessoas que trabalham com a memória,a preservação, e divulgação do patrimônio his-tórico-cultural brasileiro.

A Expedição do Redescobrimento, que teveseu início em setembro de 2007, em São Pau-lo, propunha aos seus valorosos desbravado-res uma viagem e um novo olhar marcado pelamemória e pelo patrimônio histórico-cultural.A memória entendida aqui como um direitocultural de indivíduos e de grupos, não apenascomo entretenimento ou privilégio de poucospesquisadores. Muito menos como infantiliza-ção de certos grupos por outros, como por ve-zes acontece com os velhos. E muito menos ain-da, de maneira a reservar um lugar de segundacategoria para aqueles que vêm de uma cultu-ra oral.

Na lógica da cidadania cultural, os deten-tores de memórias devem ser encaradoscomo agentes ativos, assim, como as açõesno campo da memória histórica devem re-verter em benefícios diretos também para osherdeiros legítimos de tradições e conheci-mentos ancestrais.

Nossos desbravadores,suas memórias: algunsexemplos No Brasil de 2007, Ailton Krenak, nosso

padrinho na Expedição do Redes-cobrimento, percorreu o caminho inverso deLangsdorff (médico, explorador e viajanteem terras brasileiras durante século XIX, queescreveu um longo diário sobre a sua expe-dição), indo até a “tribo” russa para trazer devolta parte de seu passado e devolvê-lo aseu povo. Na América Latina e no Caribe,mulheres utilizaram cartas e se organizaramem uma Rede de Mulheres Rurais. No Riode Janeiro, Condutores de Memória percor-reram a Favela do Borel, ao mesmo tempoque, em Osasco, São Paulo, o registro de his-tórias de vida ajudou na articulação do Movi-mento dos Trabalhadores Sem Teto.

Pólo Regional São Paulo

E que comece a viagem

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Que outros tesourosquererão encontrar osolhares desejantes dosexpedicionários de2007 e do futuro?

Para tentar responder a esta pergunta,em fevereiro de 2008, durante três dias,reuniram-se na l inda cidade deCananéia, litoral sul de São Paulo, a As-sociação Cultural Cachuera!, o MestreRomário Caxias, do Batuque deUmbigada das cidades de Capivari,Piracicaba e Tietê, o capitão DirceuFerreira Sérgio, da Federação dosCongadeiros do Estado de Minas Gerais,o jongueiro novo André Luiz de Olivei-ra, neto e discípulo da jongueira DonaMazé, do Jongo do Tamandaré deGuaratinguetá. A estes somaram: SarahFaleiros, do Museu da Pessoa, Angela diSessa, do Projeto Santu Paulu, AnaBlaiser, da ONG Nossa Tribo, Marcos San-tos, da UESP, Paulo Matheus, do movi-mento de pesquisa e vivência do sambapaulista Kolombolo Diá Piratininga, JoséMarcos, do grupo Cupuaçu de DançasBrasileiras, inúmeros integrantes da RedeCananéia e, por fim, Daraína e Emília, vi-sitantes expedicionárias do Pólo Brasil Cen-tral, da Guaimbê Espaço e Movimento Cri-ativo. Com todos esses participantes, estava

formado o Pólo Sudeste SP.E o que nosso grupo queria encontrar? Co-

munidades tradicionais e seus saberes valori-zados como patrimônio cultural que são; co-locando seus verdadeiros herdeiros comoprotagonistas de sua história.

Entre as comunidades tradicionais visita-das pelo Pólo Sudeste, estão o Quilombo dosMandiras, onde foi feita uma entrevista como “seu” Frederico, que do alto de seus maisde setenta anos, nos contou histórias antigas,como a do Saci, entre outras; e a São PauloBagre, ambas em Cananéia. Nesta última, osparticipantes do Pólo dançaram num baile defandango, que durou até a madrugada.

Depois da visita àscomunidades tradicionais,como registrar a memóriade maneira a beneficiarcada grupo envolvido?

Essa foi uma das questões fundamentais,com as quais nos deparamos, além de outrassemelhantes, que ajudaram a nortear nossotrabalho: “No que uma rede como esta po-derá contribuir para o desenvolvimento dosgrupos participantes?” E ainda: “o que cadaum de nós quer da Rede?”.

Como uma das propostas iniciais,elencamos a “possibilidade dos participantesvisitarem os demais, a fim de aprender e en-

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sinar como são transmitidos os conhecimen-tos em suas comunidades ou organizações”.

Outras ações, ainda foram citadas, comopossíveis metas para o Pólo, tais como: a rea-lização de inventários e de registro das ex-pressões como Patrimônio Imaterial Brasilei-ro (Lei 3.551 – IPHAN), para posteriores pla-nos de salvaguarda, além, da socialização deinformações como editais públicos e a respec-tiva realização de cursos de elaboração deprojetos para jovens das comunidades parti-cipantes do Pólo.

Com a entrada de novas organizações noBrasil Memória em Rede, ainda em 2008, oPólo Sudeste subdividiu-se, constituindo-seem grupos mais reduzidos, um destes grupos,denominou-se Pólo São Paulo.

O Pólo São Paulo e aRede de Memória doJongo de Caxambu:a primeira ação

No ano de 2009, entre os dias 23 e 25 dejaneiro, o Pólo São Paulo realizou sua pri-meira ação: a formação na metodologia deregistro de Histórias de Vida do Museu daPessoa aos integrantes da Rede de Memó-ria do Jongo e Caxambu, em parceria como Museu da Pessoa e o Pontão de Culturada Rede de Memória do Jongo e Caxambu,coordenado pelo Laboratório de HistóriaOral e Imagem da Universidade Federal

Fluminense. A idéiafoi capacitar osjongueiros na meto-dologia de Históriade Vida e discutir as-pectos correlatoscomo os direitos auto-rais, edição, divulgação,desenvolvimento e ma-nutenção de acervos, en-tre outros, de modo quepossam progressivamen-te tornar-se autônomosem seus projetos de me-mória.

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Na cidade de São Paulo,outras históriasdescobertas e recontadas

A história de Welington e de outras cri-anças: a emocionante experiência do Insti-tuto Fazendo História.

Nós realizamos um trabalho de resgatee registro da história de crianças que vivemem abrigos, afastadas de suas famílias, e quemuitas vezes, desconhecem sua infânciaquando adultas. Durante um ano, cada cri-ança é acompanhada por um adulto - cola-borador formado pelo projeto Fazendo Mi-nha História. Construímos uma espécie de“garantia de memórias” que, no caso dosabrigos e do “peso social” da instituição,muitas vezes, apaga o acolhimento, a po-tência e as boas relações da memória, dei-xando só a falta, o abandono, a vitimização.Buscamos, assim, garantir pela memória eo protagonismo na história, um registro im-portante para os adultos que essas criançasserão.

Welington descobre sua história

Welington participou do Fazendo MinhaHistória por 18 meses, quando tinha 8 anos.Ele vivia em abrigos desde os 4 anos, conhe-cia pouco de sua história e demonstrava pou-co interesse em conhecê-la. Ao contrário, pare-

cia sempre focado no momento atual, tanto queo passado e o futuro não apareciam em sua fala.Até que o menino começou a solicitar leiturasde livros sobre a relação de pais e mães comseus filhos, sobre morte, o medo, sobre o aban-dono. Foi a partir daí que Welington teve inte-resse em saber um pouco mais de sua família ede como havia parado no abrigo. Levantamose registramos uma história dura de abandono,enfatizando os momentos e pessoas importan-tes nesta jornada. Sua vida estava sendo relidae reorganizada. Um dia, falou que agora ele es-tava conhecendo melhor sua história e seriabom contá-la inteirinha para deixar “bem direi-tinho, bem organizadinho aqui no álbum paraquando eu crescer.” Era o mesmo Welington,agora com um passado e um futuro. Eassim começou, de forma linda, acontar sua história, que termi-nou em livro.

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Pólo Regional Rio de Janeiro

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Pólo Regional Rio de Janeiro

Sobrado Cultural: um galpão, muitas memórias

Quem é que não se lembra do trágico aci-dente do Bateau Mouche, ocorrido em 31 dedezembro de 1988, na Baía de Guanabara?Neste dia, 150 pessoas estavam a bordo do bar-co para assistir a queima de fogos do réveillonem Copacabana, mas a ganância pelo dinhei-ro acarretou na morte de 55 pessoas. Entre ospassageiros que faleceram estava EmílioPaolino Sobrinho, artista e produtor cultural,que sempre contribuiu para a promoção da ci-dadania por meio do seu trabalho.

Mas, por que lembrar daquele naufrágio aofalar da história da sede do Instituto de Imagem

e Cidadania? Porque sua existência está pro-fundamente ligada à tragédia do BateauMouche, pois, entre os fundadores da orga-nização estão Claudio Paolino e TulioPaolino, filhos de Emílio Paolino Sobrinho,que deixou para a família um galpão de 160metros quadrados, em Vila Isabel, Rio deJaneiro. Em 1997, os filhos, a mãe DonaAdagmar Paolino e Marjorie Botelho. inici-aram a construção do que ficaria conheci-do como Sobrado Cultural.

Neste contexto, em janeiro de 1999, umgrupo de jovens, com idades entre 20 e 29anos, oriundos do movimento social, estu-dantil e sindical, fundou o Instituto de Ima-gem e Cidadania. Todos motivados por sen-timentos de transformação social, demobilização a favor dos direitos humanos,da democratização da cultura, da comuni-cação e da educação de qualidade para to-dos.

O Sobrado Cultural revolucionou a his-tória da região da Grande Tijuca que vinhasofrendo com a perda de espaços de encon-tro e o aumento de shoppings centers. Suaconstrução motivou a abertura de novos es-paços e de ações culturais na região. Essa ex-periência demonstrou como é importante aexistência de espaços de arte engajada.

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Memória sempre Presente

O Instituto de Imagem e Cidadania sem-pre desenvolveu ações valorizando o uso damemória. Entendemos o tempo como umaconstrução social, pois cada sociedade o vivede uma maneira peculiar. A pesquisadora eescritora Ecléa Bosi, no livro "Memória esociedade: lembranças de velhos" diz quea memória deve ser entendida "como umtrabalho sobre o tempo, mas sobre o tem-po vivido, conotado pela cultura e pelo in-divíduo". Eis algumas de nossas iniciativasque são reveladoras de grandes histórias ede diferentes olhares:

Fotografando os Movimentos Soci-ais que realiza o registro fotográfico de di-versas formas e manifestações de participa-ção e organização dos movimentos sociais.

Alfabetizando o Olhar que realiza ofi-cinas de fotografia pinhole com jovens eeducadores com o objetivo de abordarquestões relacionadas com oreaproveitamento do lixo, democratizaçãoda comunicação, o registro como instru-mento da memória local e o incentivo a lei-tura visual.

Contar, Ouvir e Trançar que realizaatividades lúdicas em parceria com Mestrese Griôs da Terra em escolas públicas valori-zando a importância das pessoas que traba-lham na agricultura. Essa iniciativa integra arede da ação Griô.

O trabalho em rede, maisuma história

Como pensar a transformação social sem ar-ticular ações coletivas? Somente desta forma,seremos capazes de radicalizar a luta por direi-tos na sociedade. Por isso, atuamos em dife-rentes espaços de participação como Conse-lhos, Fóruns e Redes.

Quando tivemos acesso ao edital propostopelo Museu da Pessoa, vislumbramos a possi-bilidade de contribuir com a articulação de or-ganizações que trabalham com memória. Sa-bíamos da existência de pessoas, grupos e or-ganizações que estavam preservando e fazen-do memória, mas que não atuavam coletiva-mente. Fizemos nossa inscrição no processo de

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seleção para pólos, acreditando que podería-mos fortalecer as ações desenvolvidas localmen-te.

Quando falamos em rede pensamos emroda, teia, horizontalidade, sinergia, consensose diferenças. É no espaço de rede que nosconectamos. Que damos sentido político paraas nossas ações.

A rede possibilita a troca de experiências,amplia as possibilidades de intercâmbio eviabiliza a reflexão e a construção de temáticasque podem desdobrar-se em políticas públicas.Diversos debates circulam na rede: preservaçãode acervo, registro audiovisual, interação dascomunidades no processo, entre outros.

E, é por isso, que o trabalho de articula-ção dos Pólos cumpre um papel importantede animação da iniciativa do Brasil Memó-ria em Rede. Eles possibilitam a retroali-mentação da dinâmica da rede, ou seja,anima as ações que a rede desenvolve na-cionalmente, conectando-as e interligandodinâmicas, trocas de metodologias, ampli-ando a roda e tornando essa ciranda umainfinita soma de pontos de memória. Sem-pre aberta para a chegada de novos inte-grantes.

Dessa forma, a rede fortalece as ações lo-cais na construção de um projeto políticonacional de memória. Esse é o caminho queestamos trilhando.

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Primeiro, o Pólo Sudeste,depois o Pólo Rio deJaneiro

A constituição do Pólo Rio de Janeiro, ini-cialmente, Pólo Sudeste, se estruturou a par-tir de alguns princípios, como: garantir a di-versidade de temáticas voltadas ao uso damemória, articular atores para além das nos-sas redes, envolver organizações de diferen-tes municípios do Estado do Rio de Janei-ro, convidar um participante de Minas Ge-rais para garantir a representação de outroestado e envolver organizações de diferen-tes setores.

Nossa preocupação era agregar diferen-tes formas de preservação da memória, poissabemos que este tipo de trabalho não éuniforme. Não devemos cristalizar uma ououtra metodologia, pois são inúmeras asestratégias para tornar visíveis milhares dehistórias que normalmente não são conta-das nos livros.

O Pólo Rio de Janeiro nasce com umagrande missão e com um grande parceiroao seu lado, o Sesc Rio de Janeiro, queesteve presente e apoiando todas as iniciati-vas realizadas pelo coletivo.

A Expedição doRedescobrimento:primeira ação do PóloSudeste

Neste contexto convidamos algumas organi-zações para participar do primeiro encontro noSESC Nogueira. Esse encontro aconteceu nocontexto da Expedição do Redescobrimento,concretizando a primeira ação coletiva do gru-po. Foram três dias de intensa troca. Por meiodas linhas do tempo individual e coletivas, co-nhecemos um pouco mais sobre os participan-tes do encontro e suas organizações. Comparti-lhamos objetos de nossas histórias, dançamosum ritual indígena, fizemos uma roda de jongoe filmamos a história de vida do Guajajara e daPotira da tribo Guajajara.

Escravos, rezadeiras,futebol e bicicleta

A diversidade temática e a forma singularcomo cada organização atua é uma das caracte-rísticas mais marcantes do Pólo Rio de Janeiro.No CEASM – Museu da Maré são as memóriasdos moradores da comunidade da Maré; no Ins-

tituto de Imagem e Cidadania, a memória dobairro; no Instituto Pretos Novos, a memória dosescravos; na Mãos de Luz, a história dasrezadeiras; no Ponto de Cultura América Football

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Pólo Regional Rio de Janeiro

Club, o futebol como transformação social; noCentro de Referência em Etno Conhecimento

Socioambiental Cauiré, a valorização e luta dospovos indígenas; no Ciclomemória, o registroda memória da bicicleta e das pessoas que a uti-lizam; no Centro de Pesquisa, Memória e His-

tória da Educação da Cidade de Duque de

Caxias e Baixada Fluminense e no Instituto Su-

perior de Educação do Rio de Janeiro é a valo-rização da memória da educação; na Socieda-

de Musical e Artística Lira de Ouro, os mestres egriôs da capoeira; no Instituto Tá na Rua, a me-mória do teatro; no Jongo do Bracuí, a memó-ria dos quilombolas e na Irmandadade de Reis

de São Gonçalo, a memória das folias de reis.Posteriormente, outras ações foram realizadas

como o II Encontro Pólo Rio de Janeiro queaconteceu no SESC Tijuca e o III Encontro “His-tórias, Memórias e Narrativas” que aconteceu em

Nova Friburgo no Distrito de Lumiar/RJ.No II Encontro Pólo Rio de Janeiro as or-

ganizações e convidados reuniram-se para dis-cutir as diferentes experiências em torno desuas memórias. Como uma das conclusõesdo encontro, percebeu-se a importância dereunir em livro, as trajetórias dos diferentesgrupos presentes, socializando suas memó-rias e dando voz aos diferentes atores que,na capilaridade das práticas comunitárias,reinventam o sentido da cidadania.

Durante o encontro, também estabele-cemos uma importante parceria com o La-boratório de Estudos da Imagem e do Olhar(LEIO), da Faculdade de Educação da Uni-versidade Federal Fluminense, que sedisponibilizou a auxiliar o processo de cons-trução do livro do Pólo.

Histórias, Memóriase Narrativas: outrosencontros

Como ouvimos e registramosuma história? Qual a veracidade deuma narrativa? Existe fidedignida-de do texto escrito à oralidade?Como é ouvir e escrever uma histó-ria e qual a importância da imagemnesse processo de registro? Será quea fotografia pode contar uma histó-ria? A fotografia é interpretada de for-ma igual por todos? Qual papel a fo-

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tografia pode ter numa narrativa? Estas foramas questões que o III Encontro Histórias, Me-mórias e Narrativas, organizado em conjuntocom o professor Armando Barros, do LEIO,tentou responder.

Neste encontro conversamos muito sobrecomo registrar as ações do pólo Rio de Ja-neiro num livro. Imaginamos qual seria oformato, refletimos sobre qual seria sua fun-ção. Se ele poderia ser visto como um ins-trumento emancipador. Quais seriam asmúltiplas possibilidades das narrativas e seexistiriam diferenças entre narrativa e regis-tro. Estas foram algumas das questões viva-mente discutidas.

Enquanto a publicação não fica pronta,elaboramos pequenos vídeos que contamum pouco da história de cada organizaçãoem relação ao uso da memória como fer-

ramenta de desenvolvimento local. Eles podemser encontrados no youtube e no portal do BrasilMemória em Rede.

Trançando a rede

A experiência do Brasil Memória em Redeaponta para a importância da criação de umapolítica nacional voltada para a preservação damemória.

Em 2010, Marjorie Botelho foi contempla-da no Prêmio, Tuxáua Cultura Viva 2009, pelaSecretaria de Cidadania Cultural do Ministérioda Cultura, que selecionou oitenta projetos demobilização e articulação de rede. O projetoselecionado visa fortalecer as ações do Pólo Riode Janeiro ampliando os espaços de encontrodeste coletivo.

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O Instituto de Imagem e Cidadania tem na sua trajetória de atuação a valorização do trabalhoem rede. Acreditamos que um mundo melhor só será possível se houver articulação entre pes-soas, grupos e organizações.

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Podemos aprender a amar não apenas oque é, mas o que está para ser?

Bernard Lievegoed

I

Há algum tempo atrás, fui abordado por umgrupo de profissionais do campo social, impli-cados de corpo e alma em ações de produção epreservação da memória de pessoas, grupos eda sociedade como um todo. Entre as várias per-guntas que faziam em busca de amadurecer evalorizar sua luta, questionavam o mérito e arelevância de sua causa e ações, atravessandocom coragem um ardiloso campo deproblematização do sentido do trabalho e da di-reção de suas estratégias, perguntando-se: "afinal,qual o impacto das iniciativas de memória?".

Naquele momento, minha escolha foi apelarà juventude das perguntas, pedindo a eles queas mantivessem vivas enquanto enveredavam-se na práxis da história oral. Havia razões parainvestir no acúmulo metodológico, na amplia-

Os grupos sociais:máquinas de memoriar

ção dos trabalhos colaborativos e na disse-minação de discursos políticos sobre o tema,e era preciso criar caldo e matéria, pôr pa-lavras onde elas ainda não existiam e, so-bretudo, confiar no processo de desenvol-vimento social em que seu fazer se inscre-via. E lembrei-me de meu avô a me dizercom firmeza e doçura que "sempre há as ho-ras do semear".

Algum tempo depois, encontro-me dian-te do papel a produzir esses escritos e umavez mais, aquelas perguntas retornam dossilêncios onde andavam repousando. Aoretomá-la, leio e releio os relatos produzi-dos pelos pólos da iniciativa Brasil Memó-ria em Rede (BMR) e enxergo uma pedrade onde zarpar. Dela, ao mesmo tempo emque lhes rogo uma vez mais manter vivas asperguntas, quero alinhavar aqui, algumasimpressões e ideias, tendo como base as res-postas já produzidas no corpo do BMR, nes-tes seus primeiros anos. O mérito e a relevân-cia são coisas visíveis e extravasam os beiraisdos pólos, projetos e iniciativas públicas e pri-vadas realizadas Brasil afora.

Rogério Silva1

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De certa maneira, o que agora gostaria dedizer àqueles sujeitos perguntadores é nadaalém de uma breve frase que empresto dalembrança que tenho do mestre Paulinho daViola, e que evoco para nos ajudar a olharpara aquilo que o BMR viu e fez acontecerem sua breve e intensa trajetória dos últi-mos anos: "as coisas estão no mundo, só queé preciso aprender"; mas, aprender o quê?- perguntariam os mais apressados.

Em primeiro lugar, e tendo em vista osentido e mérito das iniciativas em rede,aprender que toda prática capaz de inte-grar saberes, sujeitos, gerações, discursos edesejos, contribui de maneira marcante parao desenvolvimento dos organismos nosquais se inscreve e com os quais se relacio-na. Integrar no sentido de produzir inclu-são, associação e complemento. Integrarcomo ato de aproximar e sustentar diferen-ças e ambivalências e a partir delas, e comelas, produzir.

Quando uma intervenção no campo damemória inaugura um dispositivo em quepassado e presente encontram-se em luga-res e momentos de interlocução ativa, ouque saberes acadêmicos e populares mistu-ram-se para produzir jeitos de compreendere intervir na realidade, ela produz possibili-dades de que sujeitos e grupos caminhem nadireção de um mundo, em que a diferençacausa menos espanto e que a desigualdade,essa sim, torna-se objeto de permanente tra-balho de erradicação.

É quando integrar significa aprender na re-lação entre as coisas, no infinito campo de pro-dução em que se articulam possibilidades dereconhecimento, influência e interdependênciaque opera em meio aos atores e suas ideias.Naquilo ao que remete sua etimologia2, é quan-do integrar significa "recomeçar, renovar; resta-belecer e restaurar", que o potencial das práti-cas de memória ganha ainda mais evidência.E, portanto, não parece ser ufanismo ou utopiaafirmar que toda prática integradora da experi-ência do sujeito é socialmente importante enecessária. E é preciso realizá-las.

Por outro lado, integrar não significa promo-ver práticas e discursos totalitários no seio dosgrupos sociais, instituições e da sociedade comoum todo. Não se trata de buscar posições e ar-ranjos que exijam para si o papel de abraçar otodo, de significar totalidades e de oferecer desi mesmas, a imagem de que são algo que nãofalha, não tem lacunas, limites e ambivalências.Aquilo que integra o faz se, e somente se, pre-serva um princípio de parcialidade das verda-des, apostando na imagem de um mosaicocomo arranjo para pensar os encontros e as pro-duções na sociedade.

Integrar é sustentar o valor e o sentido doque é múltiplo. Nesta direção é que mora, naspráticas de memória, a sublime intenção de va-lorizar a experiência de cada sujeito e gruposocial como fundamento do estudo que podemfazer de si mesmos. A experiência é o cenário ea interpretação, roteiro e direção, plano em quese realiza o possível, se pode acessar o limite e

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o não-saber e, ao mesmo tempo, onde se podeviver o desejo de "ser-mais". Nas palavras deBentinho3, tomadas para ilustrar essas ideias,anuncia-se o mergulho no detalhe de um acon-tecimento para um sujeito particular, que diz:"vou deitar ao papel as reminiscências que mevierem vindo. Deste modo, viverei o que vivi, eassentarei a mão para alguma obra de maiortomo. Eia, comecemos a evocação por umacélebre tarde de novembro, que nunca me es-queceu. Tive outras muitas, melhores, e piores,mas aquela nunca se me apagou do espírito".

Como demonstram as experiências no cor-po do BMR, muitas das quais retratadas ao lon-go desta publicação, é no encontro de cada gru-po que opera o escrever e o reescrever a pró-pria história, a descoberta dos saberes encerra-dos na vivência de cada geração, a reafirmaçãode valores, a ruptura de isolamentos e, ao ladode tantas outras conquistas, a validação daqui-lo que se é e se sabe. Tratar a experiência deum sujeito e elevá-la à potência de um saberlegítimo a um grupo e, portanto, à potência deuma ciência, é um ato de profunda afirmaçãopolítica no campo contemporâneo da cultura;um importante ato de inclusão social.

Valendo-nos das palavras de Bondía(2001)4, "se a experiência é o que nos acontecee se o saber da experiência tem a ver com aelaboração do sentido ou do sem-sentido do quenos acontece, trata-se de um saber finito, ligado àexistência de um indivíduo ou de uma comuni-dade humana particular; ou, de um modo aindamais explícito, trata-se de um saber que revela ao

homem concreto e singular, entendido indivi-dual ou coletivamente, o sentido ou o sem-sentido de sua própria existência, de sua pró-pria finitude. Por isso, o saber da experiênciaé um saber particular, subjetivo, relativo, con-tingente, pessoal". E por isso, um saber ca-paz de constituir a medida que espelha; ca-paz de informar e formar a medida que re-vela; capaz de libertar a medida que reco-nhece e legitima. E não é desse processo depermissão e redescobrimento que trata o tra-balho do BMR e o estatuto da política pú-blica ao qual ele se vincula?

Falando de vínculos, interessa retomar umadas raízes que parecem sustentar o trabalhocom a memória, objeto deste ensaio: aefetuação da palavra como instrumento deescavação da experiência, nessas práticas quequeremos denominar certa arqueologia dosujeito. Nas iniciativas no âmbito do BMR, apalavra ocupa lugares fulcrais na ativação dosprojetos e na produção de saberes. No encon-tro daquele que fala e daquele que escuta, apalavra é vínculo a permitir que um perceba eapreenda o outro, que isto questione aquilo,que agora resiginifique ontem e que, cada re-lação, possibilite o refazimento daquilo que serompeu e perdeu nos instantes anteriores. Aprática de produção e uso da memória, comopor exemplo, nos mostram os trabalhos pós-apartheid na África do Sul, é um ato de reconci-liação. Faz-se um uso da palavra que evoca umacura e, com a palavra, arma-se um dispositivoque, por finalidade, como ressalta Deleuze

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(1990)5, vai organizar-se em algo como "as má-quinas de Raymond Roussel, máquinas de fa-zer ver e de fazer falar".

Por "fazer falar" entendemos o ato da cria-ção de possibilidade e, essencialmente, daconstituição de um interlocutor que testemu-nha e acolhe em razão de que escuta ativa-mente, interessasse pela história. O falar éponte que se faz em direção ao outro e, porisso mesmo, que se eleva em direção à pró-pria experiência. Falamos aquilo que po-demos, tão simples como isso. Falamos oque temos e o que precisamos falar, a fimde sustentar nosso lugar no próprio discur-so e no discurso do outro.

Nesta direção, as práticas de memóriaorganizam-se na ótica de um tratado sobreo narrador, seja ele sujeito individual oucoletivo. E, por anunciar um tratado, todaação integradora de memória é capaz defundar uma teoria da ação do sujeito e umanova realidade ética, no contexto de quemnarra e, de quem escuta. Com ousadia, nãoé demais afirmar que a memória é a mãeda ética. Retomando, uma vez mais, o dis-curso de Bondía (2001), "O saber da expe-riência é um saber que não pode separar-sedo indivíduo concreto em quem encarna.Não está, como o conhecimento científico,fora de nós, mas somente tem sentido, nomodo como configura uma personalidade, umcaráter, uma sensibilidade ou, em definitivo, umaforma humana singular de estar no mundo, queé, por sua vez, uma ética (um modo de condu-

zir-se) e uma estética (um estilo)"Mas, se por ventura, nos distanciamos da di-

reção central deste ensaio, tentemos retomar oolhar para o mérito das iniciativas de memória,das quais estamos a tratar nesta publicação. Pornatureza, o trabalho com a palavra e com amemória encontra-se no campo ao qual deno-minamos simbólico, nos valendo de Lacan(2008)6. E é justamente pela via do simbólicoque as iniciativas têm sido capazes de favorecera ampliação das representações daquilo quehabita os sujeitos com a qualidade de algo quenão se pode saber, que se esqueceu e se apagou.No âmago dos projetos articulados no BMR, par-te-se de uma profunda confiança no discurso,como um ato capaz de emprestar representaçãoàquilo que não está representado, ou seja, pala-vra e sentimento, afeto e explicação onde há si-lêncio, embotamento, angústia e agressão.

Se aprendemos que na realidade que nos cer-ca interagimos com um conjunto de forçasexógenas e endógenas que agem, no sentido dereprimir a memória da experiência, quando nãoa própria experiência, sejam as forças da moral,da política e da economia, sejam as forças subje-tivas do desejo (e da censura), é possível que nosdemos conta de quantas estratégias de polimentoe repressão da experiência é preciso lidar nas prá-ticas de memória. Por isso, a razão de ser das prá-ticas e dos projetos, por isso, o grande território aser irrigado pelas políticas públicas neste campo ea importância política destes projetos, seja peloque justifica seu nascimento, seja pelo que sus-tenta seus métodos.

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II

Anunciados então alguns elementos em tor-no da discussão de mérito dos projetos, é im-portante abrir espaço para falar do tema da re-levância, e seguir na montagem do diálogo ne-cessário com aqueles gestores, pesquisadores eeducadores que continuam a nos olhar e dizer:"afinal, qual o impacto das iniciativas de me-mória?". Enquanto o mérito mira a matéria esua consistência intrínseca, sua razão de ser esua coerência interna, olhar a relevância exigeque procuremos falar das possíveis alteraçõesna realidade, produzidas sob influência das prá-ticas de memória. Trata-se de olhar resultados,de pensar legados e construções; de alcançarsaberes ancorados em registros quantitativos equalitativos válidos para apoiar cada interessa-do a construir para si, uma leitura de onde che-gam as iniciativas, do que elas alcançam, do queproduzem e, de que maneira, sustentam-se nosespaços sociais.

Mas, por onde começar? Há pouco tempoatrás, lendo Mia Couto, romancista moçam-bicano, cuja obra é repleta de apelos ao senti-do da memória como fundadora da cultura deum povo, uma frase me marcou profundamen-te. Dizia ele o seguinte provérbio: "todo velhoque morre é uma biblioteca que arde"7. Se pu-déssemos, por um instante, tomar sua afirma-ção como um tipo de descrição arquetípica doobjeto de trabalho das práticas de história oral,talvez, nos colocássemos uma questão mais ou

menos assim: como evitar que essas bibliote-cas se percam? E faríamos isso, a partir de doispressupostos de base. O primeiro deles, denossa impossibilidade de evitar a morte. O se-gundo deles, de um imperativo das culturas de-mocráticas a orientar que uma biblioteca é algoque não se pode queimar e perder.

A partir deste constructo, é bem possívelque nos lançaríamos em projetos com pro-pósitos, tanto de garantir que aquilo que foivivido pelo velho pudesse ganhar meios deser revisitado, significado e partilhado comoutros, quanto que o processo de partilhafosse capaz de nutrir reflexões, elaboraçõese construções culturais que tornassem o fu-turo algo construído com base no que seviveu no passado. Quereríamos aprendercom ele, revisitar as escolhas e compreen-der as consequências. Saber o que susten-tar e o que deixar para trás, como se olharpara a história nos favorecesse certa cartogra-fia de nossa trajetória, permitindo que tenha-mos noções de onde nos encontramos comosujeitos e sociedade, para saber por onde se-guir.

Portanto, o pensamento sobre relevânciadas ações de memória pode percorrer várioscaminhos e navegar em vários estágios. Háas idéias, que em si são um tipo de resultado,as maneiras como as pessoas sentem-se ao vi-sitarem a história, os produtos desenvolvidos acada momento em suporte a novas aprendiza-gens (porque todo registro é um meio), as mu-danças nas relações, os acúmulos de saber, a

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tomada de novas decisões e o que é maisdifuso e, por isso, menos governável, às mu-danças qualitativas na cultura, influenciadaspor miríades de atos de um grande conjuntode atores e de um infinito conjunto de rela-ções. O que, então, olhar?

Nas iniciativas articuladas no BMR, é no-tável a presença de resultados diferentes decaso a caso, sejam filmes e livros, seminári-os e reuniões, museus e exposições, discur-sos diretos a sustentar e reivindicações a in-fluenciar as políticas públicas e o investi-mento social privado na cultura.

O desafio está na ambivalência de nemnegar a abordagem utilitarista que nos levaa encontrar resultados da mesma naturezaem todos os projetos, falando de uma ne-cessidade de reconhecer avanços transver-sais nas iniciativas, nem aferrar-se ao resul-tado particular do projeto como a única con-firmação possível de seu sucesso. Como senossas noções de singularidade, fossemtraduzidas em formas autistas de gestão, quenão escutam a pergunta do outro, tampouco,enxergam sua demanda, perdendo a capaci-dade de perceber a si mesmas.

Por isso, podemos perceber que nos pro-jetos, cada criança ou jovem que escreve suahistória significa um resultado e representauma conquista à qual se pode lançar luz. Aívive um indicador de resultado. E são tam-bém resultados, cada encontro em que se con-ta uma história, cada linha do tempo vividaem grupo, cada depoimento recolhido e cada

texto escrito. Cada vídeo ou áudio que arquivauma narrativa, cada exposição que revela opassado ou a produção do agora, cada diag-nóstico e plano, cada visita e cantiga resgatada,entre tantas coisas que podemos experimentarnas iniciativas articuladas no BMR.

Em complemento, cada um desses resulta-dos singulares e transversais, de fácil identifica-ção nos projetos, sugere resultados de outra na-tureza. Trata-se do trabalho que eleva (ou alte-ra) a percepção de um sujeito sobre si mesmo esua cultura, que resolve um dilema ou conflitoe desobstrui um caminho, que reafirma um tra-ço cultural, que valoriza uma luta, que demons-tra a contribuição de um povo para a história,que relembra ou descobre o sentido de um es-paço físico, de um texto ou de um trabalho ar-tístico. Como se os resultados edificassem umlugar de legitimidade e de valor para um sujei-to ou grupo, para uma organização ou uma co-munidade inteira.

Indo além, é do acúmulo não linear dos resul-tados primários e seu desdobramento nos resul-tados secundários, que novas ordens de percep-ção e interesse sobre o patrimônio material eimaterial dos sujeitos e coletividades é alcançado,o que tende a refletir no campo da formulação depolíticas públicas, no incentivo ao investimentosocial privado nessas questões, bem como, no de-senvolvimento de toda uma escola e uma econo-mia sobre a questão, como podemos perceber aoolhar para os cenários mais amplos, aos quais, ainiciativa BMR se vincula, dos quais, são evidên-cias a multiplicação das ofertas de formação, a am-

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pliação dos financiamentos públicos e privados,a criação de organizações, a conquista de espa-ços na mídia, entre tantas outras.

A relevância é algo que se visita e se desco-bre ao associar as partes a um todo, algo que sereconhece na experiência íntima e primitiva,encerrada no encontro de um sujeito com suaprópria experiência, para influenciar os macrocampos da ética e da estética erigidos e modifi-cados pelas experiências particulares de cadaum de nós. Ao mesmo tempo, é na experiênciaque se desdobra a cultura, que se materializapara o sujeito aquilo que vive e vem da cultura.Quem influencia o quê, é algo a variar em ra-zão das lentes com as quais olhamos o mundo.

Em razão desta breve associação de ideiasem torno do mérito e da relevância das iniciati-vas no corpo do BMR, quero concluir este en-saio fazendo destaques para uma característicaparticular de boa parte das iniciativas contem-pladas nesta publicação. Trata-se de experiên-cias jovens, de projetos em fases pioneiras dedesenvolvimento, por isso, merecedores de aten-ção e apoio, a fim de que seu caminho possacontar com as condições necessárias ao processode crescimento daquilo que é jovem.

Neste caminho, valho-me da imagem propos-ta por Schaefer & Voors (2005)8, ao falarem que"uma maneira de visualizar as dificuldades dasiniciativas é vê-las como um exército de dragõestentando devorá-las". Uma vez reconhecidos emanejados, como os "dragões da desintegração,do modelo ideal, da pressa e do diletantismo (pe-jorativo)", talvez sejamos capazes de obter permis-

são para que aquilo que arriscamos como causae experiência e que encarnamos como desejo eprojeto de vida, possa ganhar de cada um denós e da sociedade, o olhar e o acolhimentonecessário para gozar a possibilidade de sim-plesmente ser.

Notas:1 Rogério Renato Silva é psicanalista, doutor em saúde

pública pela Universidade de São Paulo, e diretor exe-cutivo do Instituto Fonte para o Desenvolvimento So-cial. Atuou como facilitador do processo de sistema-tização do BMR e co-organizador desta publicação.

2 Do Latim Intégro. Ver: Dicionário Eletrônico Houaissda Língua Portuguesa.Versão 1.0.7. São Paulo: Edi-tora Objetiva, 2004.

3 Assis, Machado de. Dom Casmurro. Porto Alegre:LP&M, 2009. Pg. 52.

4 Bondía, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiên-cia e o saber de Experiência. Conferência pro-ferida no I Seminário Internacional de Educação deCampinas, traduzida e publicada, em julho de 2001,por Leituras SME; Textos-subsídios ao trabalho pe-dagógico das unidades da Rede Municipal de Edu-cação de Campinas/FUMEC. Tradução de JoãoWanderley Geraldi. UNICAMP, Departamento de Lin-güística, 2001.

5 Deleuze, Gilles. ¿Que és un dispositivo? In: Michel

Foucault, filósofo. Barcelona: Gedisa, 1990, pp.155-161. Tradução de wanderson flor do nascimento.

6 Lacan, Jacques. Nomes-do-pai. Coleção CampoFreudiano no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; 2008.

7 Couto, Mia. Venenos de Deus, Remédios do Di-abo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

8 Schaefer, Christopher & Voors, Tyno. Desenvolvimen-to de iniciativas sociais: da visão inspiradora àação transformadora. São Paulo: Instituto Fonte/Ed.Antroposófica, 2005.

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Como toda rede que tem alma, esta também se fez a partir de pessoas. Cada uma teceu umnovo nó. Sem elas, não haveria rede. A partir delas, novos nós surgirão. Por isso, agradece-mos imensamente a todos aqueles que construíram e continuam construindo esta rede:

Adair Rocha - Ministério da Cultura; Adão, Deuzelito da Silva Dourado e Domingos NetoTorres Dourado; Adriana Leite - Fundação Bradesco; Adriana Porto - Projeto Percepções doAmapá; Adriana Teixeira - Instituto Âmbar; AIC - Associação Imagem Comunitária (BH);Alexandre Costa, Alexandre Mizhari, Amanda, Francine Albernaz, Josy Almeida, RenanFernandes, Roberto Waite e Vanessa Junqueira - Instituto de Imagem e Cidadania; Alexan-dre Magno Duarte de Melo - Amar; Alexandre Santini - Instituto Tá na Rua; Alexandre Youssef- Overmundo ; Aloísio Luiz dos Reis - NESP - Univale; Amir - Associação Rede Cananéia;Ana Blaser - Nossa Tribo; Ana Carolina Vinholi - ASA; Ana Claudia dos Santos da Silva -Museu Paraense - Emilio Goeldi; Ana Claudia Martins dos Santos e Kele Cristina dos Reis -Projeto de Pesquisa das Comunidades Negras Rurais e Comunidades Remanescentes deQuilombos do Estado de Mato Grosso; Ana Flávia Martins Teixeira - Instituto Algar; Ana Isa-bel de Carvalho - Grupo Cupuaçu; Ana Ligabue - Largo da Memória Projetos em História eArquivística; Ana Luce Girão - Fundação Oswaldo Cruz; Ana Magali de Souza Silva - Grupode mulheres do Acre; Ana Miranda - Grupo Tortura Nunca Mais; Ana Nassar; André Aguiar -Associação dos Moradores do Titanzinho; André Aguiar Nogueira - Comunidade do Titanzinho;André Luiz Soares e Guilherme - Núcleo de Estudos da Memória e do Patrimônio - UFSM;André Oliveira - Jongo do Tamandaré; Andres Falconer - Associação Brasileira de Desenvol-vimento de Lideranças; Andressa Gonçalves - Viraminas Associação Cultural; Andrew FerreiraGrube - Rede Cananéia; Angela di Sessa - Projeto Santu Paulu; Angélica Silva - Elo Amigo;Anizia do Nascimento Carvalho - Ponto Cultura ao Alcance de Todos; Antônio Carlos Pinto

Agradecimentos

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Vieira - CEASM / Museu da Maré; Antônio Nilton Silva e José Maria Reis - ArgonautasAmbientalistas da Amazônia; Arilene Sandra Lyra de Castro - Olha o Chico; Artesãos do Valedo Jequitinhonha - MG; Associação da Irmandade de Reis de São Gonçalo; Associação deRemanescentes Quilombolas de Santa Rita/Bracuí; Associação FOTOATIVA, Ponto de Cultu-ra Olhos de Ver Belém; Associação GLSBT Sempre Viva; Auta Azevedo - Etapas; Bento HuzakAndreato - Almanaque Brasil; Beth Ziani - Associação dos Amigos Casa Guimarães Rosa /Museu Guimarães Rosa; Breno Castro Alves - Museu da Pessoa; Boca, Elias, Elizabeth, Emilia,Julio, Juruna, Larissa, Luciana, Murcegão, Telita, Gabriela, Silvio, Tereza Santana e Welton -Guaimbê - Espaço e Movimento CriAtivo; Caciano Silva Lima - Fundação de Cultura doMato Grosso do Sul; Camila Drumond - Associação Grãos de Luz e Griô; Campus Avança-do; Carla da Paz Bezerra - Grupo Flor do Sol de Teatro de Rua; Carlos Alberto Xavier -Ministério da Educação; Carlos Dowling - Pontão de Cultura Rede Nordestina; Liuba deMedeiros e Francisco Sales - ABD - PB; Carlos Seabra - IPSO - Instituto de Pesquisas eProjetos Sociais e Tecnológicos; Carol Caffé - Instituto Pólis; Carolina Misorelli - Museu daPessoa; Claudia Candido - GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas); CarolineNogueira - Memória Petrobras; Catarina Ribeiro - A bruxa tá solta; Cátia Araújo Lopes eMaria das Graças Leal - SEBRAE/RN; CEASM - Museu da Maré; Cecília Zanotti - ProjetoBagagem; Célia Szniter - Pesquisadora; Célio Turino - Ministério da Cultura; Centro CulturalCorrente do Bem (Santa Luzia - MG); Centro de Educação Popular - CEPEPO; Centro deMemória Institucional do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro; Centro de Pes-quisa, Memória e História da Educação da Cidade de Duque de Caxias e Baixada Fluminense;Centro de Referência em Etno Conhecimento Sócio Ambiental Cauiré; César Piva - InstitutoCidade de Cataguases; Ciça Lessa - Rede Andi Brasil; Ciclocultura - Mobilidade Humana;Circo de Todo Mundo; Clarissa Moreira dos Santos Schmidt - Gol Transportes Aéreos S/A;Cláudia Cândido - GIFE - Grupo de Institutos, Fundações e Empresas; Cláudia Fonseca -Museu da Pessoa; Cláudia Leonor - Museu da Pessoa; Cláudia Malbergier Caon - UNESCO;Claudia Vidigal - Instituto Fazendo História; Claudio Paolino - Instituto Imagem e Cidadania;Cláudio Prado - Ministério da Cultura; Cleber Rocha Chiquinho - Associação Rede Cananéia;Cleilton da Paz Bezerra - Grupo Sol Nascente de Teatro de Rua; Comunidade Quilombola doAbacal; Cooperativa Educacional Unbutu; Cristiane Guimarães de Araújo - UFF; CristianeMelitto Valério - Unimed do Brasil; Cristianne Lameirinha - SESC-SP; Cristiano Cardoso Soa-res - Entreface; Cristiano Duarte; Cynthia Camargo - Instituto Inhotim; Rogério Ramos Caval-cante, Juliana Franco e Marina Casagrande - AlmA - Associação Intercultural de Projetos Soci-ais; D. Idália - Comunidade de Contendas; Dailir Marta Cezaria, Maria Vilma, Elza e Deusa -

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Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado; Dalberto Adulis - Associação Brasileira deDesenvolvimento de Lideranças; Dalila - Associação Kalunga de Cavalcante; Dalvaci AraújoPorto Santiago - Instituto de Permacultura da Bahia; Damião Aureliano - Fundação Casa Gran-de; Miguel Barros - Fundação Casa grande; Daniel Duarte - IHGC; Daniel Raviolo - Ong Comu-nicação e Cultura; Daniel Samy Gorgonho Pereira - Canto Jovem; Daniel Silva Porto e MarcoLlobus - Rede Catitu Cultural; Daniela Savastano - SESC-SP; Daniele Juaçaba - FundaçãoBunge; Danielle A. Xavier e Maria Luiza D. de Melo - SEBRAE / PB; Danilo Eiji - Museu daPessoa; Daraína Pregnolato - Guaimbê; David Harris - Global Lives; Débora Kikuti - Contado-ra de Histórias; Demétrio; Denise Argenta e Miriam Carbonera - Centro de Memória do Oestede Santa Catarina - CEOM; Denise Baena - SESC-SP; Denise Lucas - Centro Cultural LiberalinoAlves de Oliveira; Denísia Martins Borba - Centro de Convergência de Novas Mídias; Diniz eRicardo - Colibri Turismo; Dirceu Ferreira Sérgio - Federação dos Congadeiros de MG; Edielzade Souza Dias - INCAF - Instituto Cafuzo; Edson Lopes - Doutores da Alegria; Eduardo Bar-bosa e Rafaela Lima - SABIC; Eduardo Barros - Museu da Pessoa; Elaine Ariane Souza San-tos - Frente de defesa da criança e do adolescente; Elaine Mathias da Silva - SESC-SP; ElainePastore Cimino; Elaine Souza da Silva - Instituto Aliança; Eliabe Crispim da Silva e JosuéPereira Crispim - ASTUMAC - Associação de Turismo, Meio Ambiente e Cultura da PontaGrossa; Eliana Costa - PETROBRAS; Eliana Lobo de Andrade - Fundação Padre Anchieta(Rádio e TV Cultura); Eliana Martins - DIEESE (Centro de Documentação); Luís Brito - Petrobras;Elsony, Geronei e Luís Coelho - Caçada da Rainha; Elza Maria Vasques La Farina Cabrera -Fundação Telefônica; Emília Brosig - Guaimbê; Eniele Santos - Associação Grãos de Luz eGriô; Equipe "Linha de Frente" - movimento comunitário do bairro Paulo VI (BH-MG); ErickKrulikowski - Museu da Pessoa; Ester Fernandes de Castro, Suziana, Aparecida, Delfino,Jocenira, Louriene e Raiane - Comunidade Kalunga de Teresina; Etelvina Susana - Museu daPessoa de Portugal; Evelise de Moraes - FGML e Pró arte; Fabiana de Souza Costa - Centro deEstudos e Memória da Juventude; Fabiana Santos - Prefeitura Municipal de Ilha Solteira;Fabiana Valec - Memorial/Acervo Caetano de Campos; Fabiele Lessa - Historianos; Fábio Pa-lácio de Azevedo - CEMJ; Fábio Vergara, Jorge Oliveira Viana e a Luciana Peixoto - Laborató-rio de Antropologia e Arqueologia - LEPAARQ (Pelotas - RS); Fernando Garcia de Faria -Centro de Estudos e Memória da Juventude - CEMJ; Fernando Rossetti - GIFE - Grupo deInstitutos, Fundações e Empresas; Fidelis Paixão - COMVIDA - Ponto de Cultura; Flávia BorgesPereira - Tempo e Memória; Fórum de Entidades e Movimentos Juvenis da Região Metropolita-na de Belo Horizonte; Francisco Sales de Lima Segundo - Pontão de Cultura Rede Nordestina;Francisco Simões de Oliveira Neto - Invenção Brasileira; Luciana Meireles Cardoso, Thiago Dias

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Francisco - Invenção Brasileira; Frente de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente deMinas Gerais; Fundação Cultural de Ananindeua; Gavin Andrews - Navegar Amazônia / Vozes;Gereba; Geronei da Silva Coelho - Caçada da Rainha; Giane Escobar - Museu Treze de Maio;Giselle Rocha - Museu da Pessoa; Grupo Cultural Entreface; Guitinho da Xambá - SociedadeReligiosa Africana Nação Xambá; Helena Aragão - Overmundo; Helenita, João de Maura,Maria Celeste, Maronice, Nirizete e Valdeci da Comunidade Kalunga; Heloisa Helena Valio -Instituto de Pesquisas Cananéia - IPeC / Ponto de Cultura Caiçaras; Henry Durante e JoséRenato Nunes - Associação Cultural Cachuera!; Hermanny Cruz - SATEC/PB; HumbertoMiguez - Associação Guardiã da APA do Pratigi; Ilaina Damasceno Pereira - Fundação MataAtlântica Cearense; Ilona Hertel - Sesc-SP; Inês Sadalla - Votorantim; Instituto Cafuso; Institu-to de Pesquisa e Memória Pretos Novos; Instituto Mãos de Luz (Nova Friburgo); IPHAN -Regional Pará; Irmandade de Carimbo de São Benedito; Isaac Wyllian Farias Loureiro - Ir-mandade de Carimbó de São Benedito - Campanha "Carimbó Patrimônio Cultural Brasilei-ro"; Issac Patreze - Museu da Pessoa; Isabella Carvalho de Menezes - Fundação ArcelorMittalBrasil; Itamara Chrystina e Dita Godinho - ADCQUIMI - Associação de Desenvolvimento daComunidade dos Quilombolas de Minaçu; Janaína Souza Costa - BibliASPA; Janine PrimoCarvalho de Menezes - Centro de Memória da Iputinga; João Celino Xavier - ACPROMAM;João Mello - IPSO; João Mendes - Fundação Telefônica; Jorge Gustavo Rocha - Museu daPessoa Portugal; Jornal Hoje em Dia; José Araújo Paixão - Conselho das ComunidadesAfro-descendentes do Amapá; José Marcos - Grupo Cupuaçu; José Marcos Pires Bueno -Grupo Cupuaçu; José Maria Reis - Argonautas Ambientalistas da Amazônia; José Nilo eKathussa - ACASUL - Associação de Cultura e Arte de Colinas do Sul; José Roberto Severino- Fundação Genésio Miranda Lins, FURB; Evelise de Moraes e Josiane Silva; José Santos -Museu da Pessoa; Josi de Almeida Santos - Instituto Imagem e Cidadania; Josué Pereira Crispim- ASTUMAC; Joveci e Ségio - Secretaria de Turismo da Prefeitura Municipal de Pirenópolis eZé Azevedo - Motorista e Sanfoneiro; Judith Zuquim - Escola do Futuro da USP; Juliana Limade Souza - TV Futura; Juliana Oshima Franco - Projeto Roda Memória; Julio César J. Marcelino- Movimento Cultural Penha; Jurami, Adriana, Elson, Mayara e Alan Kardeck - Prefeitura Mu-nicipal de Colinas do Sul; Kaká Werá - Instituto Arapoty; Karen Worcman - Museu da Pessoa;Kátia Gama - GIFE; Laboratório de Estudos da Imagem e do Olhar (Leio), da Faculdade deEducação da Universidade Federal Fluminense; Leinad Carbogim - Fundação Brasil Cidadão -FBC; Leonardo Brant - Brant Associados; Lídia Ivecsson - IDÉIAS Consultoria em Educação;Lídia Rebouças - AVINA Brasil; Liko Turle - Instituto Tá Na Rua; Lilian Kelian - Aprendiz; LilianMariela Suescun Florez - Mestrado em Museologia e Patrimônio Histórico - UNIRIO; Lilian Pacheco

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- Grãos de Luz e Griô; Lindolfo Alves do Amaral Filho - Imbuaça Produções Artísticas - GrupoImbuaça; Lourdes Alves de Souza - SENAC SP; Lúcia Campolina - Ministério da Cultura; LucianaGuimarães - Centro da Cidadania da Juventude / Prefeitura de SP; Luciana Martinelli - Aracati- Agência de mobilização social; Luciana Santos - Guaimbê; Lucicarla Martins - Ponto deCultura Lira de Ouro; Luciene da Cruz - Associação Grãos de Luz e Griô; Luis Brito - Petrobras;Luiz Antônio de Oliveira - Museu da Maré (CEASM - Centro de Estudos e Ações Solidárias daMaré); Luiz Márcio Caldas Junior - Aberje; Makota Kisandembu Kamaza - Monabantu/MG;Manuel de Freitas Filho - Fundação Brasil Cidadão; Maria Leinad Vasconcelos Carbogim -Fundação Brasil Cidadão; Marcele Pereira - Instituto Brasileiro de Museus; Márcia MontilioRufino - Centro de pesquisa, memória e história da educação da cidade de Duque de Caxiase Baixada Fluminense; Márcia Ruiz - Museu da Pessoa; Márcia Trezza - Museu da Pessoa;Márcio Caíres - Ponto de Cultura Grãos de Luz e Griô; Marcio Polidoro - Odebrecht e Aberje- Associação Brasileira de Comunicação Empresarial; Márcio Rangel - IPHAN; MarcosCampolim - Rede Cananéia; Marcos dos Santos - Centro de Documentação e Memória doSamba; Marcos Marsulo - Estação História Cultura e Patrimônio Ltda; Maria Amélia Kuhlmann- Acessa São Paulo; Maria Angela Di Sessa - Projeto Santu Paulu; Maria Catarina Zanini -NECON - UFSM; Maria Dalva Cabral Franceschetti - Secretaria de Educação de São Bernardodo Campo / SP; Maria das Graças Moraes Cardoso Pereira Leal - Ponto de Cultura "Sons daVila"; Maria de Fátima Silva - Rede LAC; Maria Doralice - AMPARE; Maria Josevânia Dantas- Cervantes do Brasil; Maria Linete Matias - Ponto de Cultura Caminhos de São Francisco;Maria Luiza Barroso Magno - MOPROM; Maria Luiza Borba - Oficina Escola As Mãos de Luz;Maria Luíza Soares - SEBRAE-PB; Maria Rosa Gomes Castaldell - Secretaria de educação deSão Bernardo; Maria Salles - Centro de Referência em Educação Mario Covas; Maria Vilma -Grupo de Mulheres Negras Dandara do Cerrado; Mariana kz - Museu da Pessoa; MarinaCasagrande de Campos - Projeto Roda Memória; Marina Sallovitz Zacchi - IPHAN - Institutodo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; Marinalva Ribeiro e Jacilene Ribeiro, professorasde Monte Alegre; Mário Chagas - IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus); Marjorie Botelho eCláudio Paolino - Instituto de Imagem e Cidadania; Marla Carvalho Neves - CAIS do Parto:Centro Ativo de Integração do Ser; Marta Cezaria de Oliveira - Grupo de Mulheres NegrasDandara no Cerrado; Marta Grosbaun - IDÉIAS Consultoria em Educação; Mary Kawauchi -Programa Escola da Família; Mary Monteiro - Ponto de Cultura América - Arte e Cultura naBaixada; Mauriléa Januário Ribeiro - IBASE; Mauro Alves Bonfim - Fundação Tide Setubal;Mauro Malin - Observatório da Imprensa; Meninos catireiros de Mário e Dedé; Mestre SebastiãoProfeta do Amaral (Bastião de Chica) e Guerreiras do Bonfim: Taninha, Helena, Laurita, Miusa

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e Narcisa e aos griôs Armando, Duti, Lourenço Sanfoneiro, Lourival, Luis Cantos, Nego Aires eNô Sanfoneiro; Mestres griôs e griolas da comunidade Kalunga: Adelina, d. Albertina, Alex,Antônia, Durvalino, Éderson, Ermina e Eugênio; Michel Brasil - AIC - Associação ImagemComunitária; Miguel de Almeida - Editora Lazuli; Ministério da Cultura (Regional Norte); MiriamCollares Figueiredo - Memória Petrobras; Mônica Santana - Cipó; Mônica Silveira - FundaçãoTerra Mirim; Monique Carvalho - Observatório das Favelas do Rio de Janeiro; Morgana Mazeti- Doutores da Alegria; Movimento de Promoção da Mulher; Movimento Sem Terra; Museu daImagem e do Som - MIS; Museu Paraense Emilio Goeldi; Myrian Sepúlveda dos Santos -UERJ; Nana Girassol - Projeto Percepções do Amapá; Navega Amazônia; Neida CeccimMorales - Sociedade Cultura Libanesa de Santa Maria; Nicolle Konai; Nilce Lea LobatoCristovao dos Santos - PROEJA - ALFASOL; Nilton Silva - Argonautas Ambientalistas daAmazônia; Observatório da Juventude da UFMG; Observatório de Favelas; Olegário Macha-do Neto - SESC-SP; Oriol Freixa - União Européia; Osvaldo Marco Alves - Fundação Muni-cipal de Cultura de Belo Horizonte; Patrícia Amantino Estivallet - Instituto Boi Mamão; Patrí-cia Andrade - IPSO - Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e Tecnológicos; Patrícia Dunker- Associação Rede Cananéia; Patrícia Freire; Paula Bouéri - ONG Formação - Centro deApoio à Educação Básica; Paulo Daniel Farah - BibliASPA; Paulo de Morais - ViraminasAssociação Cultural; Paulo Nassar - Aberje; Paulo Roberto (Mestre Paulo); Pim - ProgramaIntegração pela Música; Política Pública Comunicação; Pontão de Cultura "Acorda"/ Museudo Círio; Pontão de Cultura Rede Amazônica de Protagonismo Juvenil; Ponto de CulturaAmérica Football Club - Arte e Cultura na Baixada; Ponto de Cultura COM-VIDA; Ponto deCultura Galpão de Artes de Marabá - GAM; Ponto de Cultura Museu do Marajó; PriscilaGonsales - CENPEC; Programa Ações Afirmativas da UFMG; Pró-Reitoria de Extensão daUFMG; Rádio UFMG Educativa; Raquel Pulita - Pastoral da Juventude Nacional; ReginaAbreu - Programa de Pós-Graduação em Memória Social - UNIRIO; Regina Siqueira da Silva- SESC SP; Renata Borges - Editora Peirópolis; Rita Okamura - Fundação Padre Anchieta -TV Cultura; Roberta Kuruzu - ABEVD - Associação Brasileira de Empresas de Vendas Dire-tas; Roberto Dias - Ciclocultura; Rodnei - Projeto "O Caiçara se revela"; Rodrigo de Mello Brito- Aliança Empreendedora; Rodrigo Esponi - Memórias SESC-SP; Rodrigo Martins; RogérioRamos Cavalcante - Projeto Roda Memória; Romério Humberto Zeferino Nascimento - ASCUZA(Associação Cultural de Zabelê - PB); Ronaldo Amorim e Silvio Pereira - Ponto de CulturaCirco, Boneco e Riso; Rosali Henriques - Museu da Pessoa; Rosana de Freitas - Dieese; RosaneLuchtenberg - Instituto Boimamão Preservação e Fomento da Cultura; Rosângela Rocha dosSantos - Casa Curta-se; Rosiane Limaverde - Fundação Casa Grande; Rosineire Marques -

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Instituto Juventude Contemporânea; Ruth Pereira de Barros - IBASE ; Sabrina Gottschlisch doPrado - Gol Transportes Aéreos S/A; Samir Raoni Pinheiro Silva - Argonautas Ambientalistas daAmazônia/Jovens Ambientalistas Argonautas (JAA); Sandro Felix - Pierre Verger; Sarah MartinsFaleiros - Museu da Pessoa; Secretaria de Estado de Cultura do Pará; SESC-RJ; Seu RomárioCaxias - Batuque de Umbigada; Sheila Regina Sant Anna - Memória Petrobras; Sidênia FreirePereira - SESC São Paulo; Silvia Carvalho - Instituto Avisa Lá; Simone Alcântara - Museu daPessoa; Simone Sayuri Takahashi Toji - IPHAN Regional São Paulo; Sociedade Musical eArtística Lira de Ouro; Som das Comunidades; Sônia Couto - Instituto Paulo Freire; SôniaLondon - Museu da Pessoa; Stella Chebli - PNH/ Ministério da Saúde; Sueli Marlete Leodoro- Associação Quilombola Morro do Boi; Suziane Maria Silva de Souza - Grupo de Mulheresdo Acre, Nossos Saberes; Tania de Falco - UNESCO; Tássia Maria Batista de Souza - CRIA -Centro de Referência Integral de Adolescentes; Teodora Fernandes Costa Moreira, Tico -Manuel Edeltrudes Moreira - Associação Mãe Quilombo Kalunga de Monte Alegre; Therezinhade Jesus Pires Santos e Gilda May Cardoso dos Santos - Casa de Memória Edmundo Cardo-so; Tomoko Kimura Gaudioso - Memorial da Imigração e Cultura Japonesa e do Núcleo deEstudos Japoneses - NEJA; Universidade Federal do Pará - Campi Marabá; Valdiane Soaresda Silva - SERTA - Serviço Tecnológico Alternativo; Vanete Almeida - REDE LAC Rede deMulheres Rurais da América Latina e Caribe; Vânia Dolores Estevan de Oliveira - Museu doFolclore Edson Carneiro; Vânia Matos - Instituto Tá Na Rua para as artes, educação e cidada-nia; Vera Lucia Monteiro Lisboa - Equipe Linha de Frente - 100% Luta Para Bem Viver;Vivianne Naigeborin; Wayra Silveira - Terra Mirim; WCPRC - Programa Prêmio Crianças doMundo pelos Direitos da Criança; Willian Cunha Golçalves - Coletivo Jovem Caiçara.

Além dessas, muitas outras pessoas compartilham desse sonho conosco. O nosso muitoobrigado se estende a elas também.

Secretaria Executiva Brasil Memória em Rede - Museu da Pessoa

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Legenda das fotos

Página 21Coordenadores dos pólos regionais e representantes do Mu-seu da Pessoa ao final do encontro que deu início às ativida-des do Pontão de Cultura BMR, São Paulo (2008).

Página 221. Mesa do Seminário Memória, Rede e Mudança Social, 2003.2. Fórum Cultural Mundial, 2004.3. Apresentação de grupo no seminário Memória, Rede eMudança Social. (2003).

Página 231. Participantes do I Fórum Brasil Memória em Rede, 2006.2. Detalhe da Exposição "Expedição do Redescobrimento",2007.3. Participante da Formação dos Pólos Regionais do BrasilMemória em Rede, 2008.4. Participantes do III Fórum Brasil Memória em Rede, 2009.

Página 291. Participantes do encontro do Pólo Goiás, em Monte Alegre(GO), 2008.

Página 301. Detalhe dos tambores da Flor do Pequi, Guaimbê, 2008.

Página 311. Baile de Fandango promovido durante o Encontro do PóloRegional São Paulo, em Cananéia, 2008.

Página 33Formação do BMR. A comunidade quilombola do Morro do Boi,em destaque. Ao centro, a D. Guida (D. Margarida). Auditório daUniversidade Regional de Blumenau, FURB, em Blumenau.

Página 351. Participantes durante encontro do Pólo Regional SantaCatarina, 2009.

Página 371. Cecília Zanoti apresenta o Projeto Bagagem, no En-contro do Pólo Regional Bahia, em 2008.

Página 391. Apresentação do grupo de Carimbó "Unidos do Para-íso", em Santa Bárbara, Pará, 2008.2. Detalhe da decoração do encontro do Pólo RegionalPará, 2008.

Página 40Apresentação de dança no Undokai, em Porto Alegre.

Página 41Formação no Pólo Regional Rio Grande do Sul, sob acoordenação do professor André Soares.

Página 43Apresentação de dança no Undokai, em Porto Alegre.

Página 45Foto do acervo Museu Treze de Maio.

Página 46Maracatu Jaé, no encontro em Bombinhas, SC.Evento Re-latos, Sabores e Retratos promovido pela Fundação GenésioMiranda Lins, de Itajai/SC, em parceria com Quilombo doMorro do Boi, Sertão do Valongo e Instituto Boimamão,pautam a tradição oral em suas ações. Através de narrativasda memória local, arte da cerâmica, do beijú, degustação e

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celebração com cantorias no Engenho do Sertão, tem-se umamostra de elementos significativos da cultura local.

Página 48Denise Martins realiza entrevista para o programa Memóriados Bairros, do Ponto de Cultura Memória e Identidade,da Fundação Genésio Miranda Lins - FGML.

Página 501. Daniel Dotto Wiersinski registra as ações do ProgramaJovem Comunicador, do Ponto de Cultura Memória eIdentidade, da FGML.2. Encontro no Engenho do Instituto Boi Mamão, parcei-ro do Pólo Santa Catarina. Da esquerda para a direita,Acyr Osmar de Oliveira (diretor do Museu Histórico deItajaí), Silvio (Terno de Reis), Sueli (ComunidadeQuilombola do Morro do Boi), Eduardo Tiriba (Grupode Maracatu Jaé), junho de 2008.3. Sala do Programa Memória dos Bairros. Na foto, àesquerda, o idealizador do Programa que reinventou aspráticas arquivísticas referentes à memória social em Itajaí,o Prof. Dr. José Bento Rosa da Silva, junto a alunos daUnivali. Arquivo Público de Itajaí, 2005.4. Formação do BMR no Museu Histórico de Itajaí. Patrí-cia Estivallet (Escola da Terra - Instituto Boi Mamão) aocentro, Beto Severino e demais representantes do PóloRegional Santa Catarina. Fevereiro 2008.

Página 511. Entrevista com pescadores, na ação Memórias da Pes-ca. Daniel Galhm (com mochila), coordenador do Pro-grama Memória dos Bairros, e Leandro dos Santos,entrevistador. Porto Pesqueiro de Itajaí. Entrevista reali-zada em novembro de 2005.2. Entrevista com o artesão Sr. Antônio Melatti, especi-alizado em miniaturas de madeira. Suas peças deveriamilustrar a seção de tecnologia do Museu da gente do vale(Museu Etno-arqueológico de Itajaí). Em suas entrevistas,nos ensinou como fazer as miniaturas, qual a sua utilidadeem escala natural, bem como os usos nas atividades do cam-po na região do vale. Programa Jovem Comunicador, doPonto de Cultura memória e identidade.3. Próspero Girardi, na lida diária do campo. Agricultor eprofundo conhecedor das lides do campo, na região de colo-nização do Vale do Itajaí. Programa Jovem Comunicador, do

Ponto de Cultura memória e identidade.4. Recepção de nossos expedicionários do Pará: José Maria eNilton Silva. Presentes os parceiros do Pólo Regional SantaCatarina e os funcionários e ativistas da memória na região.Da esquerda para a direita, ao fundo Nilton Silva e JoséMaria (Argonautas Ambientalistas da Amazônia-Belém, PA),Daniel Galm (Memória dos Bairros), Dagoberto Coelho(Univali), Rosane Luchtemberg (Inst. Boi Mamão), BetoSeverino (FGML), Patricia Estivallet (Instuto Boi Mamão),Evelise Moraes Ribas (FGML), Acyr Osmar de Oliveira(FGML), Daniel Dotto Wiersinski (FGML). Sentados: GelciCoelho Peninha (Núcleo de Estudos Açorianos), Sueli eAcácio (Associação Quilombola Morro do Boi), Gisele (Mu-seu da Pessoa), Sônia Peres (Açor - Itajaí), Joseane Silva(FGML), José Maurício de Souza Santos (morador da comu-nidade Nossa Senhora das Graças - foi entrevistado nessedia pelos expedicionários do Pará). No Museu Histórico deItajaí em fevereiro de 2008.5. Pausa para um biju quentinho. Encontro de formação doBMR, Bombinhas.Museu Comunitário Engenho do Sertão.Os saberes e fazeres da comunidade local podem ser perce-bidos através de narrativas e objetos que remetem ao univer-so simbólico açoriano, guardados desde 1998, pelo InstitutoBoimamão Preservação e Fomento da Cultura. O espaço tor-nou-se ponto de referência histórica na região, lugar devivências, de afetos, apoio ao ensino formal, participaçãocomunitária e desenvolvimento sociocultural.6. Nilton Kucker sendo entrevistado por José RobertoSeverino. História e memória ajudam a reescrever as páginasda história política. Residência do entrevistado. BalneárioCamboriú. Programa memória dos bairros, Ponto de CulturaMemória e Identidade - FGML.

Página 52Participantes do Cortejo de 20 anos de emancipação doMunicípio de Icapuí (CE), 2004.

Página 53Participantes do Cortejo de 20 anos de emancipação doMunicípio de Icapuí (CE), 2004.

Página 55Maria Leinad Carbogim e Evelise Morais durante o III FórumBMR.

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Página 56Josué, arqueólogo amador, em seu Museu, com objetos líticospré Cabralinos, cerâmica e inúmeros objetos do período colo-nial.

Página 57Detalhe da foto da página 56. Nota-se a botica farmacêutica,as garrafas de cerâmica vitrada e os pratos de faiança portu-guesa. Acervo e paisagem se confundem na atuação cidadãde Josué, defensor dos sítios arqueológicos da região.

Página 581. O Expedicionário Renato Nunes, do Cachueira, entrevistao Mestre Aurino, em Lençois (BA), 2008.

Página 601. Participantes do Pólo Bahia em cortejo pelas ruas de Lençois(BA), 2008.

Página 611. Participantes do Pólo Bahia em cortejo pelas ruas de Lençois(BA), 2008.

Página 631. Participantes do Pólo BA durante a feira das organizações,no encontro do Pólo Bahia, 2008.2. Apresentação durante a Trilha Griô. Encontro Pólo Bahia,2008.3. Mestre Cori demonstra as técnicas do garimpo no museuque ergueu dentro de sua casa, em Lençóis (BA), 2008.

Página 641. Detalhe de apresentação do Reizado de Zabelê (PB), 2009.

Página 671. Exibição do documentário produzido pelo Pólo Paraíbapara a comunidade de Zabelê (PB), 2009.

Página 681. Carlos Dowling entrega um DVD para representante doReizado do Zabelê, durante exibição do documentário nacomunidade, 2009

Página 691. Detalhe de apresentação do Reizado de Zabelê (PB), 2009.

Página 70 e 711. Ato sociocultural em comemoração do aniversário de BobMarley na praça da República. Belém, PA. .

Página 731. Expedicionários do Pólo Regional Rio de Janeiro sãorecepcionados pelo Pólo Regional Norte.2. Oficinal de edição de vídeo em Software livre do Pontode Cultura Ananin.

Página 741. Participantes do Ponto de Cultura Ananin. Belém, PA.

Página 751. Apresentação do boi-bumbá no teatro WaldemarHenrique. Belém, PA.

Página 761. Família da Comunidade Kalunga de Engenho II, deCavalcante (GO).

Página 79Apresentação da Sussa, no encontro do Pólo RegionalGoiazes, em Monte Alegre (GO), 2009.

Página 80Detalhe da foto da página 79.

Página 81Participantes do Pólo Regional Goiazes durante encontroda Expedição do Redescobrimento, 2007.

Página 82Mobilização cultural: ação permanente nas bibliotecas co-munitárias da região Metropolitana de Belo Horizonte (MG).

Página 84Participantes do encontro de formação do Pólo RegionalMinas Gerais, 2008.

Página 85Participantes do encontro de formação do Pólo RegionalMinas Gerais, 2008.

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Página 86Participantes do encontro de formação do Pólo RegionalMinas Gerais, 2008.

Página871. Participantes do encontro de formação do Pólo Regio-nal Minas Gerais, 2008.2. Verinha, mobilizadora social da Comunidade deBarreiros, com outros participantes da Equipe Linha deFrente.3. Mobilização cultural: ação permanente nas bibliotecascomunitárias da região Metropolitana de Belo Horizonte(MG).

Página 88Detalhe de roda de Jongo, em encontro promovido peloPólo Regional São Paulo, 2009.

Página 89Participantes do Encontro do Pólo Regional São Pauloem visita a Comunidade Mandira, em Cananéia (SP),2008.

Página 91Participantes do encontro promovido pelo Pólo Regio-nal São Paulo, 2009.

Página 92Detalhe de fachada de casa em Cananéia (SP), 2008

Página 931. Apresentação durante do Fórum Social Cultura, 2004.2. Roda de Jongo durante encontro promovido pelo

Pólo Regional São Paulo, 2008.3. Tambores do Jongo (2008).4. Roda de Jongo durante encontro promovido pelo PóloRegional São Paulo, 2008.5. Roda de Jongo durante encontro promovido pelo PóloRegional São Paulo, 2008.

Página 94Detalhe da Mala dos expedicionários do Rio de janeiro, naExposição do Redescobrimento, 2008.

Página 95Fachada do Sobrado Cultura.

Página 96Participantes do encontro promovido pelo Pólo Regional Riode Janeiro, 2008.

Página 97Participantes do encontro promovido pelo Pólo Regional Riode Janeiro, na Expedição do Redescobrimento, 2008.

Página 99Participantes do encontro promovido pelo Pólo Regional Riode Janeiro, na Expedição do Redescobrimento, 2008.

Página 100O líder indígena Guajajra e sua mulher, Potira, contam sua histó-ria de vida durante o encontro da Expedição doRedescobrimento, 2008.

Página 1011. Guajajara e Potira na Expedição do Redescobrimento. PóloRegional Rio de Janeiro, RJ.2.Apresentação de Circo do projeto As mãos de Luz, duranteencontro promovido pelo Pólo Regional Rio de Janeiro, 2008.3.Equipe do Instituto de Imagem e Cidadania, coordenadordo pólo RJ.

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Um novo jeito de conhecer o país | 123

Projeto, Concepção e ExecuçãoMuseu da Pessoa

DireçãoKaren WorcmanEly Harasawa

Projetos EspeciaisJosé Santos Matos

Memória InstitucionalMárcia Ruiz

FormaçãoSônia London

AcervoRosali Henriques

Mobilização e RedesSarah Faleiros

Mídias DigitaisEduardo Barros

Administrat ivoPaulo Mazzarello

ProduçãoIsaac Patreze

Secretaria Executiva BrasilMemória em RedeSarah Faleiros

FormadoresMárcia TrezzaDanilo EijiGiselle RochaCláudia Leonor

Coordenação dos Pólos RegionaisPólo Regional Pará: Antonio Nilton Sil-va e José Maria ReisPólo Regional Ceará: Leinad Carbogime Manuel FreitasPólo Regional Bahia: Lilian Pacheco,Luciene da Cruz e Wayra - MônicaSilveiraPólo Regional Paraíba: Maria LuizaDuarte de Melo e Romério ZeferinoPólo Regional Goiazes: DaraínaPregnolatto e Luciana SantosPólo Regional Minas Gerais: EduardoBarbosa e Rafaela LimaPólo Regional Rio de Janeiro: CláudioPaolino e Marjorie BotelhoPólo Regional São Paulo: Henry Duran-te e Cleber Rocha

Pólo Regional Santa Catarina: JoséRoberto Severino e Evelise Moraes RibasPólo Regional Rio Grande do Sul: AndréLuis Ramos Soares e Guilherme DiasPólo Regional Pará: Acervo ArgonautasAmbientalistas da Amazônia

EntrevistadosAna da Conceição OliveiraAurino de SouzaCoriolano Rocha de OliveiraFrancisco MandiraFrederico MandiraHelena Maria de OliveiraJosé DogniniJosé GuajajaraJosé Maurício SouzaJosé VarellaLaurita Vitoriano da VeigaMiuza Correa de SouzaNarcisa Pereira da CunhaSebastião Profeta do Amaral.

Ficha TécnicaEste livro foi escrito coletivamente pelaSecretaria Executiva do Brasil Memóriaem Rede e pelos coordenadores dosPólos Regionais, com a orientação deRogério Silva e José Roberto Severino.

Museu da PessoaOrganizaçãoKaren WorcmanRogério SilvaSarah Faleiros

RedaçãoAndré SoaresAntonio Nilton SilvaBreno Castro AlvesCláudio Marcio PaolinoDaraína PregnolattoEduardo Barbosa de AndradeEvelise Moraes RibasGuilherme DiasHenry Alexandre Durante MachadoJosé Maria Reis - ZehmaJosé Roberto SeverinoKaren WorcmanLilian PachecoLuciana Soares SantosLuciene da CruzManuel FreitasMaria Leinad Vasconcelos CarbogimMaria Luiza Duarte de MeloMarjorie BotelhoRafaela LimaRomério Humberto Zeferino NascimentoSarah FaleirosWayra - Mônica Maria de Souza Silveira

Revisão Final dos TextosAna Carolina Carvalho

FotografiaFotos do Pólo Regional Ceará: MilaPetrillo e Maria Leinad CarbogimFotos do Pólo Regional Paraíba: BrenoCésar e Maria Luiza Duarte de MeloFotos do Pólo Regional Rio de Janeiro:Cláudio PaolinoFotos do Pólo Regional São Paulo:Cleber Rocha Chiquinho, Ana Nassar,Marcia Zoet, Emilia Brosig e SarahFaleirosFotos do Pólo Regional Goiás: Acer-vo da Família da comunidade do En-genho II de Cavalcante GOFotos do Pólo Regional SantaCatarina: Josiane Silva e Daniel DottoWiersinskiFotos do Pólo Regional Minas Ge-rais: Alexandra Simões e SarahFaleirosFotos do Pólo Regional Rio Grandedo Sul: Acervo Museu Treze de Maio,Acervo Memorial de Imigração e Cul-tura JaponesaFotos do Pólo Regional Pará: JoséMaria Reis e Lucio Baia

Revisão de TextoRoberta Bittencourt

Projeto Gráfico e DiagramaçãoJosé Isaías Venera – Editora CasaAberta

ImpressãoGráfica Nova Letra

Parceiros do BMRInstituto Brasileiro de MuseusMinistério da Cultura – Secretaria deCidadania CulturalPetrobrasSESC- SPUNESCO

PatrocinadoresMinistério da Cultura –Secretaria de Cidadania CulturalBrasil – Um país para todos

Museu da PessoaRua Natingui, 1100Vila Madalena – São Paulo – SPTel: (11) 2144 7150E-mail: [email protected]: www.museudapessoa.netSite Brasil Memória em Rede:www.brasilmemoriaemrede.org.br

Ficha técnica