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1 Identificação do Folhas Nome do professor: Osni Zioli Orientador: Deoclécio Rocco Gruppi Escola: Colégio Estadual Castelo Branco - EM Disciplina: Educação Física Série: 2ª série Faixa etária do aluno: a partir de 13 anos Unidade Temática: Esporte: Futebol Palavras chaves: Futebol, História do Futebol, Racismo e Preconceito, Alienação, Cultura Popular. Título: Por que o brasileiro é apaixonado pelo futebol? Relacionado com conteúdos de: Educação Física Matemática ( ) Língua Portuguesa ( ) Geografia ( ) História ( ) Artes ( ) Filosofia ( ) Sociologia ( X ) LEM ( X ) Biologia ( ) Educação Física ( ) Química ( ) Física ( ) Prática Social Inicial Prática Social Inicial Prática Social Inicial Prática Social Inicial A prática social é aponada por Saviani como ponto de partida do processo. Este é o momento de mobilização do aluno para o trabalho ou seja para a desconstrução e re-construção do conhecimento. Onde busca-se um contato inicial com o tema a ser estudado. Para Gasparin (2003) uma das formas de motivar o aluno e conhecer a sua prática social imediata a respeito do tema, pois é um contra-senso ensinar sem partir das necessidades e interesses dos alunos (CORTELA, 2002). Assim, o tema será trazido aos alunos em forma de questões, perguntas e informações. Um segundo passo, é pedir aos alunos para anotarem o que pensam sobre o futebol: Qual sua importância? Quem são seus idólos? E os seus pais o que acham do futebol? A intensão é desafir os alunos a manifestar tudo o que sabem ou gostariam de saber mais sobre o futebol. Feito isso é momento onde aproveita-se para contextualizar o futebol. Assim, este folhas inicia-se com esta contextualização, após a conhecimento por parte do professor dos interesses e conhecimentos que os alunos trazem consigo. Brasil: O país do Futebol. Véspera da Copa do Mundo. O país do futebol literalmente se transforma, preparando-se para o evento de forma singular e que não é percebida em qualquer outra manifestação esportiva. Começa a contagem regressiva. Logo este será o principal assunto nas rodas de conversa: quem deveria ser convocado; qual a escalação ideal; qual o melhor sistema tático; etc. As ruas, lojas, praças e escolas serão enfeitadas com faixas, bandeiras, balões e demais ornamentos nas cores verde e amarela. Quando começa a Copa, o país inteiro para durante os jogos da Seleção. Os horários de funcionamento da indústria, comércio e setores públicos são remanejados para que todos possam assistir, torcer e festejar em caso de vitória. Nesse período os brasileiros ficam ainda mais empolgados, mais fanáticos e mais nacionalistas do que nunca.

Brasil Pais Do Futbol

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Identificação do Folhas Nome do professor: Osni Zioli Orientador: Deoclécio Rocco Gruppi Escola: Colégio Estadual Castelo Branco - EM Disciplina: Educação Física Série: 2ª série Faixa etária do aluno: a partir de 13 anos Unidade Temática: Esporte: Futebol Palavras chaves: Futebol, História do Futebol, Racismo e Preconceito, Alienação, Cultura Popular. Título: Por que o brasileiro é apaixonado pelo futebol? Relacionado com conteúdos de: Educação Física Matemática ( ) Língua Portuguesa ( ) Geografia ( ) História ( ) Artes ( ) Filosofia ( ) Sociologia ( X ) LEM ( X ) Biologia ( ) Educação Física ( ) Química ( ) Física ( )

Prática Social InicialPrática Social InicialPrática Social InicialPrática Social Inicial A prática social é aponada por Saviani como ponto de partida do processo. Este é o momento de mobilização do aluno para o trabalho ou seja para a desconstrução e re-construção do conhecimento. Onde busca-se um contato inicial com o tema a ser estudado. Para Gasparin (2003) uma das formas de motivar o aluno e conhecer a sua prática social imediata a respeito do tema, pois é um contra-senso ensinar sem partir das necessidades e interesses dos alunos (CORTELA, 2002). Assim, o tema será trazido aos alunos em forma de questões, perguntas e informações. Um segundo passo, é pedir aos alunos para anotarem o que pensam sobre o futebol: Qual sua importância? Quem são seus idólos? E os seus pais o que acham do futebol? A intensão é desafir os alunos a manifestar tudo o que sabem ou gostariam de saber mais sobre o futebol. Feito isso é momento onde aproveita-se para contextualizar o futebol. Assim, este folhas inicia-se com esta contextualização, após a conhecimento por parte do professor dos interesses e conhecimentos que os alunos trazem consigo.

Brasil: O país do Futebol.

Véspera da Copa do Mundo. O país do futebol literalmente se transforma,

preparando-se para o evento de forma singular e que não é percebida em qualquer outra

manifestação esportiva. Começa a contagem regressiva. Logo este será o principal assunto nas

rodas de conversa: quem deveria ser convocado; qual a escalação ideal; qual o melhor sistema

tático; etc. As ruas, lojas, praças e escolas serão enfeitadas com faixas, bandeiras, balões e

demais ornamentos nas cores verde e amarela.

Quando começa a Copa, o país inteiro para durante os jogos da Seleção. Os horários

de funcionamento da indústria, comércio e setores públicos são remanejados para que todos

possam assistir, torcer e festejar em caso de vitória. Nesse período os brasileiros ficam ainda

mais empolgados, mais fanáticos e mais nacionalistas do que nunca.

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PoblematizaçãoPoblematizaçãoPoblematizaçãoPoblematização É neste momento que coloca-se ou identifica-se os problemas postos pela prática social, ou seja reconhecer quais questões precisam ser resolvidas no âmbito da prática social, e em conseqüência, que conhecimento é necessário dominar (SAVIANI, 2006). Para Gasparin (2003), trata-se do elemento-chave na transiçào entre prática e teoria, isto é estreo o fazer cotidiano e a cultura elaborada. É o momento que se inicia o trabalho com o conteúdo sistematizado. Isto é feito através de situações-problemas que estimula o raciocínio do aluno. Pode-se considerar que aqui acontece a desconstrução da totalidade, mostrando ao aluno que o fenômeno não pode ser visto sem considerar os aspectos sociais, políticos, econômicos, religioso, etc. Importante lembrar que a problematizaçào não acontece em uma aula, ou numa unidade didática, ela é um processo que deve estar presente por toda a vida do estudante.

Neste contexto, questionamos:

Por que o povo brasileiro é tão apaixonado pelo Futebol?

O que tem o futebol, que exerce tanto fascínio sobre o povo brasileiro? O que ele tem

que os outros esportes não tem? Quais os sentidos e significados que cada praticante da ao

futebol? Quais as características do futebol como um negócio? Quem mais ganha neste

negócio? Ele realmente faz a promoção social? Por que os trabalhadores eram proibidos de

jogar futebol em clubes filiados?

Vamos tentar responder estas questões?

InstrumentalizaçãoInstrumentalizaçãoInstrumentalizaçãoInstrumentalização Saviani (2006) considera a instrumentalização momento de apropriação dos instrumentos teóricos e práticos necessários para facilitar a resolução dos problemas detectados na prática social. Gasparin (2003) coloca que todo processo de ensino-aprendizagem neste momento deve explicitamente confrontar os alunos com o conhecimento sistematizado. “Trata-se da apropriação pelas camadas populares das ferramentas culturais necessárias ã luta social que travam diuturnamente para se liberar das condições de exploração em que vivem” (SAVIANI, 2006, p. 71).

Onde tudo começou...

Várzea do Carmo – São Paulo, 15 de abril de 1895. Nesse dia é realizado o primeiro

jogo organizado de futebol em terras brasileiras, com árbitro, súmula e tudo mais. Tinha até

uma pequena e seleta torcida. Os teams vinham sendo treinados por Nipper, (como era

chamado Charles Miller pelos amigos) há vários meses. O endinheirado moço paulista, filho

de ingleses radicados no Brasil, havia retornado da Inglaterra onde passou os últimos 10 anos

estudando. Na sua bagagem trouxe bolas, uniformes, chuteiras e as regras do football. 1

1 COUTINHO, 1985, P. 107.

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Charles Miller, não sabia ou talvez não imaginasse, que no Brasil viria a reinventar

este esporte, sendo hoje reconhecido aqui e acolá como “País do Futebol”.

Bola de Futebol do Final do Século XIX

As preferências esportivas de um povo refletem o seu estilo e a sua mentalidade. O esporte age como a janela de uma cultura, segundo pesquisadores. O futebol no Brasil veio unir-se ao carnaval, como uma das fontes mais importantes da identidade brasileira. Observando os esportes de maior interesse dos americanos e brasileiros, pode-se segundo o antropólogo americano Robert Sands2, entender as diferenças entre as duas culturas. Para os americanos esportes como o basquetebol o beisebol e o seu foot-ball, jogado com as mãos, são muito mais interessantes pela pontuação e placar mudando o tempo todo, jogadas boas são aquelas que marcam pontos. O público americano acha o “nosso futebol” uma chatice. Onde já se viu um jogo terminar zero a zero? Quem pode gostar de algo sem emoção? A preferência esportiva dos americanos revela o culto à produtividade reinante nos Estados Unidos, enquanto no Brasil, valoriza-se acima de tudo, o prazer de um belo espetáculo. Vibra-se nos estádios com um drible bem executado. São imortais na memória dos torcedores brasileiros os lances de Pelé na Copa de 70, mesmo aqueles que não aconteceram o gol.

Football: Esporte de ingleses e filhos de pais ricos

As primeiras equipes a desenvolverem o futebol de forma organizada foram os

clubes que na época eram formados por sócios ingleses3, jovens brasileiros que ocupavam

postos de chefias ou de alto nível em grandes empresas, ou ainda simplesmente filhos de pais

ricos4.

O novo esporte também passou a ser praticado e incentivado nos colégios da elite,

onde se formava bons jogadores que integravam mais tarde as equipes dos clubes da época,

como: Payssandu, Germânia, São Paulo Athetic Club.

2 Quem vê esporte vê coração. Coleção Completa Super Interessante – cd-rom 2005. 3 BETTI, 1997, aponta a colônia de inglesa ligada as companhias de gás, ferrovias e bancos da Inglaterra instaladas no Brasil. 4 LOPES, 1994 apud BRUHNS, 2000, p. 57

“O futebol é uma moda fugaz. Vai haver por ai uma excitação, um furor dos demônios, um entusiasmo de fogo de palha que não durará um mês” Graciliano Ramos (1892-1953), escritor Brasileiro.

Figura 01

Figura 02

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A origem inglesa do jogo, explica a predominância das palavras em inglês na prática do football. Até 1930 era obrigatória a utilização de termos em inglês no jogo. As posições dos jogadores e até os gritos dos capitães:

Come back forwards, man on you, take your man!

Quando um jogador cometia uma falta que machuca-se o seu oponente, as desculpas deveriam ser pedidas em inglês:

I’m sorry.

Com o tempo o dribbling, transformou-se em drible, penalty transformou-se em pênalti, back transformou-se em beque, scratch virou escrete, goal virou gol.

Após o termino do match, os jogadores encontrava-se em bares, onde bebia-se whisky e cantava-se canções inglesas, excluído-se é claro jogadores e torcedores brasileiros de classes populares.

A vingança dos brasileiros consistia em abrasileirar os dizeres das canções, transformando: When more we drink togheter. em “onde mora o Pinto Guedes”; e for he is

joly good fellow, em: “a baliza é bola de ferro”.5 A revista “Auto Sport”, do dia 1° de Dezembro de 1912, fez o seguinte comentário

sobre o jogo em que o Payssandu venceu o poderoso Fluminense6:

No domingo 20, teve lugar o match entre os dois clubes acima mencionados. Foi um bom match, não obstante o resultado apresentar grande superioridade do Payssandu. O primeiro half-time terminou em 1x1. No segundo half-time, o Fluminense conseguiu mais um belíssimo gol. Logo depois o Payssandu, sempre desenvolvendo um jogo leal e honesto, logrou desfazer a diferença. Estamos convencidos de que o terceiro gol do Paysandu não foi um ponto regular, no entanto, o referee aprovou-o. O quarto gol, fechou o score de 4x2. O jogo foi sempre muito disputado, sobressaindo-se no Payssandu Pullen, Swart, Harry Robinson e Sidney e no Fluminense, Belo, Gilbert e Pernambuco.” (Museu do Esporte)

O futebol conquista o povo brasileiro

Logo o futebol começa a ser praticado pela classe média e pelas classes populares

nas conhecidas “peladas” em terrenos baldios por pobres e negros que não freqüentavam a

escola. O futebol foi se tornando cada vez mais popular e atraia um publico cada vez maior.

Monteiro Lobato, um apaixonado pelo futebol, escreve para um jornal7:

Do dia para noite surgiram mais de 250 clubes esportivos (...) e a “seleção natural” fez com que quatro clubes brasileiros há anos lutassem com dois clubes estrangeiros pela taça de ouro do campeonato (...). Tratava-se de verificar se o paulistano tinha capacidade para sai vitorioso entre a enorme oposição dos filhos de Albion. O povo compreendeu de imediato o extraordinário alcance deste duelo (...) Essa luta tinha para a população de São Paulo um significado moral dez vezes maior do que a eleição de um presidente de Estado. Parava nas ruas para apontar com os dedos os jogadores − aqueles renovadores do nosso sangue. São Paulo reconhece que cada um desses jovens é socialmente mais importante do que todos os deputados estaduais e federais somados, multiplicados e elevados à sétima potência (...) O ultimo gol do Clube Paulistano contra os ingleses provocou a maior tempestade de aplausos jamais conhecida em São Paulo.

5 BRUHNS, 2000, p. 61. 6 Museu do Esporte: disponível em <http://www.museudosesportes.com.br/causo13.htm> 7 ROSENFELD apud BETTI, 1997, p. 22

Albion?

Figura 03

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5

No Paraná, um certo dia apareceu no Clube Ginástico Teuto-Brasileiro um fabricante

de piano, chamado Frederico Fritz Essenfelder, com uma bola de futebol, incentivando os

jovens a jogar o novo esporte. O Clube não admitia jogo de futebol em sua sede, assim os

jovens criaram em 1909, o Coritibano Foot-Ball Club, mais tarde trocado por Coritiba Futebol

Clube.

O futebol, por ser um esporte muito simples, com poucas regras, oportunizou a todos

os indivíduos inclusive dos segmentos pobres e não alfabetizados da sociedade, estarem

praticando o novo esporte. Para realizar um “racha” necessitava-se somente de uma bola, e

um local (terreno baldio, praça, rua ou várzea).

Uma discussão que não tem fim: O Brasil é um país preconceituoso ou racista?

Com a popularização do futebol, e conseqüentemente a adoção do esporte pela classe

trabalhadora, pobres, negros e mulatos entram em cena. Mas não foi fácil entrar nos clube

filiados. Ao contrário dos Estados Unidos que possuíam até a metade do século XX, leis

segregacionistas o Brasil nunca teve estas leis. Isto parece ser bom. Entretanto a história foi

escrita de outro jeito, não haviam documentos legais proibindo negros no futebol, havia sim

atas e correspondências dos clubes brasileiros do inicio do século proibindo que trabalhadores

braçais, empregados subalternos, contínuos, garçons, barbeiros, entre outros jogassem futebol

em clubes filiados. Será que é preconceito contra os pobres? Afinal, havia algum negro que na

época não estivesse em uma destas restrições?

Segundo o Caderno Especial 100 anos de Futebol, publicado pela Folha de São

Paulo, “Negros só foram aceitos em 1918”8 citando o caso de Arthur Friedenreich, primeiro

mulato a projetar-se no futebol, sempre chegando atrasado aos jogos, ficando horas no

vestiário tentando alisar o cabelo com goma arábica.

8 BRUHNS, 2000, p. 59

O termo “mulato” vem de mulo, o animal ambíguo e híbrido por excelência; aquele que é incapaz de reproduzir-se enquanto tal, pois é o resultado de um cruzamento entre tipos genéticos altamente diferenciados. e, por essa razão, é por vezes considerada "politicamente incorreta" por intelectuais de esquerda. E para outros como o escritor João Ulbaldo Ribeiro: uma bobagem do atual governo, de não se poder usar a palavra “mulato" porque vem de mula.

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Até o poder público interferia, nestes casos. Epitácio Pessoa solicitou ao presidente

da CBD, que a seleção brasileira de 1921, fosse formada somente por brancos, segundo ele

para evitar que argentinos e uruguaios chamassem os brasileiros de “macaquitos”, como

aconteceu no Sul-americano de 1919.

Em 1923 o Vasco da Gama apresenta uma grande novidade para época o seu time,

apresentava uma grande quantidade de jogadores pobres. Muitos deles negros e mulatos.

Entretanto esta invasão das camadas populares no futebol, não era bem visto pela aristocracia

futebolística. Numa tentativa de impedir esta invasão, a Liga Metropolitana de Futebol do Rio

de Janeiro decidiu que somente seriam registrados os atletas capazes de assinar o próprio

nome na súmula, e que comprovassem estar estudando ou trabalhando.

Ao jogador negro não era permitido infringir as regras do jogo, quando cometia uma falta sobre um jogador branco ele não era punido somente com a sinalização da falta, conforme relata Domingos da Guia9: “Ainda garoto eu tinha medo de jogar futebol porque vi muitas vezes jogador negro, lá e Bangu, apanhar em campo, só porque fazia uma falta, nem isso às vezes...“

Uma das teorias para a invenção do drible (finta), e da ginga própria dos jogadores

brasileiros vem da situação descrita por Domingos da Guia. Para fugir das agressões e evitar

contato físico com os jogadores brancos, os jogadores negros arrumaram um jeitinho. O que

passou a ser uma forma de confrontar-se com o adversário, tão perigosa como a do contato

físico: “Incrível o que se viu naquela tarde de ontem, meus amigos! El tigre, El namorado de

la América, (Friedenreich) com gingas espetaculares, driblou oito inimigos da Pátria.

Embaixo dos paus, não quis fazer o goal, voltando até o meio de campo. Os inimigos

arrancaram-lhe, de puro ódio, 12 dentes da boca...” (SANTOS apud SOARES, 1999)

O que faz do Brasil o país do futebol?

O antropólogo Roberto DaMatta, considera que o futebol tornou-se uma instituição

nacional, assim como é a cachaça, o samba, o música sertaneja, etc. Esta preferência e

identificação do brasileiro com o futebol, talvez esteja ligado ao fato de ele ser jogado com os

pés. Os esportes jogados com as mãos como o basquetebol, handebol e voleibol, necessitam

de uma alta precisão técnica e tática. É pouco provável que uma equipe superior perca para

um adversário inferior nestes esportes.

9 AQUINO, 2002, p. 43

Figura 04

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A imprevisibilidade do jogo de futebol, não só em termos de resultado, traz uma

emoção muito forte e apreciada pelo brasileiro.

No futebol, é extremamente comum a torcidas, jogadores e dirigentes buscarem na

religião ou em elementos como destino, predestinação e sorte, para justificar a derrota ou

alcançarem a vitória.

No futebol, os brasileiros experimentam a justiça que não existe no dia a dia:

O futebol também funciona como um formidável instrumento de integração social. Graças a ele, o povo brasileiro experimenta as vantagens da organização e saboreia o gosto da vitória. Ao torcer por seus times favoritos, as multidões sentem que o seu desempenho produz resultados palpáveis. E o estádio vira uma escola de democracia. Não foi no Parlamento que o nosso povo aprendeu a respeitar as leis, mas assistindo a jogos em que as regras são as mesmas para todos. Lá, ao contrário da experiência política corriqueira, as leis não podem ser mudadas por quem está perdendo nem por quem está ganhando. No futebol não existem golpes de Estado. As regras do jogo valem para todos – para times ricos e pobres, famosos ou anônimos, campeões ou comuns. O respeito pelas regras assegura que vitoriosos e perdedores se alternem o tempo todo, em contraste com as hierarquias imutáveis de poder e de diferenciação social que marcam o nosso cotidiano. Aí está uma bela lição de justiça social. Produzindo um espetáculo complexo, mas governado por regras simples que todos conhecem, o futebol demonstra que o melhor, o mais capaz e o que tem mais mérito pode, de fato, vencer. 10

Outro aspecto interessante é o que Damo (1999), chama de invenção do estilo

brasileiro, marcado pela ruptura, demarcando e por vezes negando determinadas visões de

mundo. Assim que o futebol veio para o Brasil, era entendido como símbolo de modernidade

e civilidade. O importante não era jogar, mas jogar, vestir, torcer, falar, tudo como os

ingleses. Entretanto da imitação e dos valores europeus deram origem a criatividade e ao

estilo brasileiro de jogar:

futebol europeu futebol brasileiro competitivo artístico

eficiência espetáculo apolíneo Dionisíaco clássico Barroco racional Intuitivo cultural Natureza

aprendizado Dom Clube/escola Rua

esporte Jogo coletivo Individual rigidez Agilidade

força Habilidade caxias Malandro

Catoliscismo/protestantismo Camdoblé/umbandismo Futebol força Futebol arte

Quadro comparativo entre os dois estilos de jogar futebol (DAMO, 1999)

10 DAMATTA “Sambando com a bola no Pé”. Coleção Completa Super Interessante – cd-rom 2005.

Para o brasileiro, o jogo de futebol tem semelhanças com a da sorte presente no jogo do bicho e na loteria esportiva, do

improviso do samba, da malandragem da capoeira e do conhecido “jeitinho brasileiro”.

Figura 05

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DaMatta (1982) apud Damo (1999), acredita que o futebol promove a coesão

nacional na medida que permite a expressão e o reconhecimento de quem somos em

detrimento dos outros, (Ingleses e europeus), que cujo o esporte nos apropriamos.

Esta cultura de jogar e aprender livremente vêm acabando. Se quando o futebol

chegou ao Brasil não encontrou instituições devidamente organizadas para assumir o seu

controle e ensino, hoje os esportes em geral estão institucionalizados. Atualmente ninguém

aprende um esporte livremente, nem nas cidades pequenas. Existem escolinhas esportivas

públicas ou privadas para tudo.

A desvantagem desse desenvolvimento institucionalizado, em relação ao aprendizado

livre e lúdico, está nas possibilidades de expressão que o segundo oportuniza.

Esta situação fica mais clara na fala de Schmidt (1994) apud Kröger e Roth (2006, p.

9): “as crianças são treinadas antes de aprender a jogar”.

Futebol & Poder: Orgulho de ser brasileiro?

Quando a seleção brasileira de futebol vence, ela é capaz de trazer ao brasileiro um

alento, um orgulho, sentindo-se mais nacionalistas do que nunca. E é muito bom saber que o

nosso país é respeitado internacionalmente nesta área, em qualquer lugar do mundo. Nelson

Rodrigues disse, após a conquista da Copa do Mundo de 1958, que o Brasil finalmente

"perderia seu complexo de vira-lata". Afinal, naquela ocasião o Brasil entrara no primeiro

mundo do futebol. Éramos o número um em alguma coisa.

Dizem que o Brasil tem analfabetos demais. (50% da população em 1950) E, no entanto, vejam vocês: A vitória final, na Copa as Suécia (1958), operou o milagre. Se analfabetos existiam, sumiram-se na vertigem do triunfo. A partir do momento em que o rei Gustavo da Suécia veio apertar as mãos dos Peles, Didis, todo mundo aqui sofreu uma alfabetização súbita. Sujeitos que não saiam se gato se escreve com “x” iam ler a vitória no jornal. Sucedeu essa coisa sublime: - analfabetos natos e hereditários devoraram vespertinos, matutinos, revistas e liam tudo com uma ativa, uma devorada curiosidade, que iam do “lance ao lance” da partida até os anúncios da missa. Amigos, nunca se leu e, digo mais, nunca se releu tanto no Brasil”. (Nelson Rodrigues, “Manchete Esportiva”, 1958)11

Esta paixão também foi ao longo da história, manipulada por governos e empresário.

Getúlio Vargas já utilizou um jogo da Seleção Brasileira como distração para anuncias uma

reforma ministerial.12 A seleção brasileira que viria a perder a Copa de 50, não tinha paz nem

11 TOLEDO, 1996, p. 11. 12 LYRA FILHO, 1973, p. 107.

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um minuto na concentração, infestada de políticos, que procuravam aparecer junto com

aqueles que eram considerados antecipadamente os campeões do mundo.

O tricampeonato mundial de 1970 seria, entretanto o período que o futebol foi mais

explorado. A ditadura militar aproveitava a distração do povo brasileiro com a seleção para

promover a tortura e matança dos seus opositores. Com a proposta de unidade nacional, o

governo militar lançou a loteria esportiva, com isso entedia-se ao povo brasileiro a fantasia de

mobilidade nacional. Além dos craques, os torcedores também poderiam ficar ricos com o

futebol.13

"Meus caros jogadores e comissão técnica da Seleção Brasileira: Quero parabenizá-los pela excepcional atuação na final da Copa das Confederações, na Alemanha. Os 4 a 1 sobre a Argentina foram uma vitória maiúscula, inquestionável, que lembrou alguns dos melhores momentos do nosso futebol. Um forte abraço ao técnico Carlos Alberto Parreira e a todo o elenco, em especial ao "quadrado mágico" (Adriano, Robinho, Ronaldinho e Kaká) que deram um aperitivo do que pode ser a atuação do Brasil na Copa do Mundo de 2006. Ver vocês em campo dá ainda mais orgulho de ser brasileiro".14

A história do Brasil nas Copas Em 1930 foi organizado pela FIFA, a primeira Copa do Mundo de Futebol, realizada

no Uruguai, o evento contou com a participação de quatro paises europeus: Iugoslávia,

França, Bélgica e Romênia. Todos os demais participantes, 13 no total eram americanos. Até

o momento foram realizadas 17 copas, sendo o Brasil o único país a disputar todas.

Acompanhe abaixo a classificação brasileira nas copas:

COPA DO MUNDO COLOCAÇÃO J V E D GP GC 1930 – Uruguai Primeira fase 2 1 0 1 5 2

1934 – Itália Primeira fase 1 0 0 1 1 3

1938 – França 3º lugar 5 3 1 1 14 11

1950 – Brasil 2º lugar 6 4 1 1 22 6

1954 – Suíça Quartas de final 3 1 1 1 8 5

1958 – Suécia Campeão 6 5 1 0 16 4

1962 – Chile Campeão 6 5 1 0 14 5

1966 – Inglaterra Primeira fase 3 1 0 2 4 6

1970 – México Campeão 6 6 0 0 19 7

1974 – Alemanha 4º lugar 7 3 2 2 6 4

1978 – Argentina 3º lugar 7 4 3 0 10 3

1982 – Espanha Segunda fase 5 4 0 1 15 6

1986 – México Quartas de final 5 4 1 0 10 1

1990 – Itália Oitavas de final 4 3 0 1 4 2

1984 – Estados Unidos Campeão 7 5 2 0 11 3

1998 – França 2º lugar 7 4 1 2 14 10

2002 – Coréia & Japão Campeão 7 7 0 0 18 4

2006 - Alemanha Quartas de final 5 4 0 1 10 2

13 GOLÇALVES, 1985, p. 27. 14 Luiz Inácio Lula da Silva em mensagem à Seleção Brasileira de futebol parabenizando pela conquista

do bicampeonato da Copa das Confederações.

Figura 06

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2014 o ano em que vingaremos 1950?

O brasileiro tende a eternizar não só a vitória, mas também a derrota. A história da

Copa de 1950 é mais cultuada e difundida que as vitórias em algumas Copas. A campanha da

Seleção de 82 é mais exaltada que a da Seleção de 94. Coisas próprias de um povo que vibra e

diverte-se com a beleza, com a estética, com o drible, tanto quanto com o gol.

Para ilustrar a paranóia brasileira em torno da Copa de 1950, vale a pena ver o curta-

metragem “Barbosa” que conta a história de um homem (Antônio Fagundes) que volta no

tempo para impedir a derrota do Brasil para o Uruguai na final. O que mudaria no Brasil se

isso fosse possível é o que ninguém sabe. Entretanto vale a pena conferir.

Contudo não é só a vitória ou a derrota na Copa de 2014 que deve preocupar os

brasileiros. Existem algumas perguntas que devem ser respondidas: Quem vai pagar a conta?

Quem vai lucra com o evento? O temor é que recursos que deveriam ter origem na iniciativa

privada acabem como sempre saindo dos cofres públicos, ficando para a primeira o lucro.

Futebol é coisa para Homem?

No quadro acima, tudo indica que só temos homens jogando futebol. Entretanto,

temos futebol feminino sim. As meninas vêm fazendo bonito mundo a fora, tanto que em

2007 das três finalistas que concorrem ao título de melhor jogadora da FIFA, duas são

brasileiras: Adriana e Marta (melhor jogadora de 2006). A expressão mundo a fora, deve ser

lida e entendida literalmente. Dentro do país o futebol feminino só é lembrado em épocas de

competições internacionais como no Pan-Americano e Mundial de Futebol de 2007.

E comum ouvir relatos de brasileiros que estiveram nos Estados Unidos, comentar

que naquele país o futebol é praticado mais por mulheres do que por homens. Entretanto o

fato que causa muita estranheza aos nossos costumes é o da família americana jogar futebol.

Isto mesmo: pais, mães e os filhos (meninos e meninas) jogando juntos. Você já imaginou se

o Presidente do IBOPE e Vice-Presidente do Botafogo Carlos Augusto Montenegro assistisse

uma cena destas. Ele provavelmente ficaria indignado. Lembram-se dele? Ele é aquele que ao

ver seu time eliminado da Copa do Brasil de 2007 esbravejou: “Ela15 é totalmente

despreparada. Não vejo mulher em Copa do Mundo, nem em decisão da Liga Européia. Não

vejo nas decisões mais importantes, mas colocaram uma mulher aqui, justamente contra o

Botafogo”.

15 Montenegro referia-se a auxiliar Ana Paula Oliveira

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E você o que pensa? Futebol é coisa para homem? Pode-se jogar e dar um sentido

diferente ao futebol que vemos no dia-a-dia?

Catarse Se na instrumentalização a análise é uma das operações mentais básicas para a construção do conhecimentos, na Catarse a operação fundamental é a síntese (GASPARIN, 2003). Após incorporados os conteúdos e o seu processo de construção, é chagado o memento onde o aluno é solicitado a mostra o quanto se aproximou da solução dos problemas levantados. Prática Social É o ponto de chegada sendo caracterizada pela transposição do teórico para o prático. Ou seja, a situação do aluno no interior da prática social alterou-se qualitativamente. Não se trata somente de passar a realizar ações como jogar futebol misto, ou alterar todas as regras permitindo que toda a turma jogue ao mesmo tempo. Mas, apresentar uma nova maneira de pensar, de entender e julgar os fatos, as idéias. Para Gasparin (2003) trata-se de uma nova ação mental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AQUINO, Rubin Santos Leão de. Futebol, uma paixão nacional. Rio de Janeiro : Ed. Jorge Zahar. 2002.

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