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30 dias NA VIDA DOS BRASILEIROS 20 21 A corrupção é uma espécie de sombra permanente dos dirigentes brasileiros, mas a posição relativa dos planetas pode trazê-la à luz, em grandes escândalos Todo mapa astrológico tem como ponto de partida a data, a hora e o local de nas- cimento. Para um país, seu “nascimento” é sua constituição como nação – no caso do Brasil, a declaração de independência: dia 7 de setembro de 1822, às 16h28min38s, às margens do Ipiranga, em São Paulo. Naquele momento, o Sol transitava pelo signo de Virgem (14º33’), Aquário era o signo que ascendia no horizonte (a 25°22’) e a Lua estava em Gêmeos (6°54’). ASTROLOGIA do e constante é capaz de superar as limitações impostas pelo chamado “pla- neta da razão”. Isso nos leva a olhar o Sol do País, que representa o governo. O Sol do Brasil, em Virgem, está na Casa 8 – área dos empréstimos e acordos fi- nanceiros com outros países ou organizações internacio- nais, das perdas, da morte e das transformações. O Sol em Virgem explica a lentidão nas tomadas de decisão, o eterno rombo na Previdência Social, os problemas de saú- de pública. O Brasil tem longa tradição de dependência do dinheiro que vem de fora, do excesso de burocracia e de leis – re- sultado de uma quadratura do Sol com Júpiter, em Gê- meos. O trígono do Sol com Saturno mostra um caminho: tratar nossas fragilidades com seriedade e trabalho sis- temático. Sol na Casa 8 – do dinheiro do outro – também explica certa “tradição” de mordomia e corrupção dos governantes. No mapa de um país, a Casa 10 representa o po- der constituído e a Casa 11, o parla- mento, a sociedade civil organizada e os projetos para o futuro. No caso brasileiro, a configuração astrológica (Casa 10 em Escorpião, cujo regente, Plutão, está em Áries) explica o egoís- mo de nossos governantes, sua falta de sensibilidade para as necessidades do povo, sempre esperando que o dinheiro que vem de fora possa resolver nossos problemas. O mapa também mostra al- gumas soluções. O Sol – o governante – mantém uma relação harmônica com Netuno e Urano na Casa 11, indicando que maior atuação da sociedade civil pode melhorar as coisas. POR MARGARETH HARDSON DOMINGUES O ascendente molda as características predominantes de um povo, seu perfil pe- rante o mundo. O Brasil – e os brasileiros – tem o ascendente em Aquário, o que explica sua abertura para as novidades, seu pouco respeito às barreiras e às nor- mas, a tendência à misci- genação. Os brasileiros prezam a liberdade, gos- tam de trabalhos de equipe e praticam a solidariedade. O Brasil é um país rico. Plutão na Casa 2 – a da economia e das finanças – repre- senta fontes inesgotáveis de riqueza. Lua e Júpiter na Casa 4, que corresponde à terra e aos recursos naturais, mostram a que os brasileiros devem recorrer para acumular riquezas: colheitas altamente produtivas, flora exuberante e variada, riqueza no subsolo, água em abundân- O que vem pela frente Embora a corrupção seja uma marca astrológica registrada dos governantes brasileiros, nunca se falou tanto dela quanto no atual governo. A oposição de Saturno com Netuno – um aspecto de longa duração –, proeminente no mapa do segundo mandato do presidente Lula, dá esse tom a seu atual governo. Em junho, essa oposição volta a ficar exata, sugerindo uma nova rodada de escândalos envolvendo autoridades federais e estaduais. A Operação Na- valha, deflagrada em meados de maio, envolvendo governadores e parlamen- tares em obras superfaturadas, pode ter novos desdobramentos ou redundar em novos es- cândalos. De qualquer forma, a po- sição dos planetas indica que ainda teremos eventos inesperados e sacudidas que trarão à luz temas até então escondidos. Festa e mulheres bonitas Um povo muito falante, com uma rica cultura popular, excelentes atores e esportistas, que adora uma festa e mantém um comportamento de eterno adolescente. Essas são características advindas da conjunção Lua–Júpiter em Gêmeos, na Casa 4. Vênus em Leão, na Casa 6, das classes populares, empresta beleza às nossas mulheres e explica a exuberante alegria do carnaval brasileiro. Lua em Gêmeos também aponta caminhos: investir na inteligência e nas soluções criativas. LILITH, A LUA NEGRA Corrupção e irreverência A sensualidade, a irreverência brasileira ante o mundo e a associação reincidente de nossos governantes com a corrupção têm a ver com uma certa figura misteriosa – Lilith, a Lua Negra. Primeira mulher de Adão, antes de Eva, Lilith nasceu do mesmo pó que ele e foi expulsa do Paraíso por reivindicar sua igualdade. Ela era cheia de “sangue e saliva” (menstruação e desejo) e tornou-se a rainha dos Demônios, declarando guerra a Deus e tirando a paz dos homens em paz. É a sombra ou o lado escuro da Lua, contrapondo-se a Eva, princípio feminino submisso ao Sol. Na Astrologia, Lilith representa o ponto de frustração e de inversão – ou seja, os temas relativos à casa e ao signo onde ela se encontra podem acontecer de maneira inversa ao esperado. No mapa do Brasil, Lilith está na Casa 10 do governo e de nossa imagem perante o mundo – e explica por que os brasileiros elegem governantes corruptos ou que se vêem envolvidos pela corrupção e pela criminalidade. cia. Plutão, o planeta da energia, em harmonia com a conjunção Lua–Júpiter, reforça a opção pelos biocombustíveis como altamente rentável. Apesar da riqueza do País, os brasilei- ros em sua grande maioria são pobres. Para entender essa equação, é preciso olhar a posição de Saturno no mapa as- trológico e seus aspectos com os demais planetas. Saturno indica o ponto frágil, a área em que é preciso concentrar es- forços para superar as restrições e rea- lizar suas potencialidades. No caso, Saturno está na Casa 3, da educação básica e das comunicações – imprensa, correio, rádio, TV, transportes e malha viária. Isso faz com que essas áreas sejam críticas na vida nacional. Para se beneficiar da riqueza indica- da por Plutão na Casa 2, os brasileiros têm de superar essas restrições. E é bom saber que com Saturno não há truques nem golpes de sorte que resolvam. Ope- rações tapa-buracos, por exemplo, não solucionam a precariedade da infra-es- trutura viária do País. A oposição entre Saturno e Marte, o planeta da guerra, localizado na Casa 9, do estrangeiro, nos alerta a não con- fiar a educação e as comunicações a ins- tituições internacionais e a militares, pois os resultados podem ser desastrosos. Apenas o trabalho sistemático, dedica- SOL EM VIRGEM A hipocondria dos brasileiros, que mantêm uma farmácia em cada esquina, é uma das características do Sol neste signo, na Casa 8 O Céu do Brasil

Brasileiros

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Page 1: Brasileiros

30 diasNA

VID

A DO

S BR

ASIL

EIRO

S

20 21

A corrupção é uma espécie de sombra permanente dos dirigentes brasileiros, mas a posição relativa dos planetas pode trazê-la à luz, em grandes escândalos

Todo mapa astrológico tem como ponto de partida a data, a hora e o local de nas-cimento. Para um país, seu “nascimento” é sua constituição como nação – no caso do Brasil, a declaração de independência: dia 7 de setembro de 1822, às 16h28min38s, às margens do Ipiranga, em São Paulo. Naquele momento, o Sol transitava pelo signo de Virgem (14º33’), Aquário era o signo que ascendia no horizonte (a 25°22’) e a Lua estava em Gêmeos (6°54’).

ASTROLOGIA

do e constante é capaz de superar as limitações impostas pelo chamado “pla-neta da razão”.Isso nos leva a olhar o Sol do País, que representa o governo. O Sol do Brasil, em Virgem, está na Casa 8 – área dos empréstimos e acordos fi-nanceiros com outros países ou organizações internacio-nais, das perdas, da morte e das transformações. O Sol em Virgem explica a lentidão nas tomadas de decisão, o eterno rombo na Previdência Social, os problemas de saú-de pública. O Brasil tem longa tradição de dependência do dinheiro que vem de fora, do excesso de burocracia e de leis – re-sultado de uma quadratura do Sol com Júpiter, em Gê-meos. O trígono do Sol com Saturno mostra um caminho: tratar nossas fragilidades com seriedade e trabalho sis-temático. Sol na Casa 8 – do dinheiro do outro – também explica certa “tradição” de mordomia e corrupção dos governantes.No mapa de um país, a Casa 10 representa o po-der constituído e a Casa 11, o parla-mento, a sociedade civil organizada e os projetos para o futuro. No caso brasileiro, a configuração astrológica (Casa 10 em Escorpião, cujo regente, Plutão, está em Áries) explica o egoís-mo de nossos governantes, sua falta de sensibilidade para as necessidades do povo, sempre esperando que o dinheiro que vem de fora possa resolver nossos problemas. O mapa também mostra al-gumas soluções. O Sol – o governante – mantém uma relação harmônica com Netuno e Urano na Casa 11, indicando que maior atuação da sociedade civil pode melhorar as coisas.

POR MARGARETH HARDSON DOMINGUES

O ascendente molda as características predominantes de um povo, seu perfil pe-rante o mundo. O Brasil – e os brasileiros – tem o ascendente em Aquário, o que explica sua abertura para as novidades, seu pouco respeito às barreiras e às nor-

mas, a tendência à misci-genação. Os brasileiros prezam a liberdade, gos-

tam de trabalhos de equipe e praticam a solidariedade. O Brasil é um país rico. Plutão na Casa 2 – a da economia e das finanças – repre-senta fontes inesgotáveis de riqueza. Lua e Júpiter na Casa 4, que corresponde à terra e aos recursos naturais, mostram a que os brasileiros devem recorrer para acumular riquezas: colheitas altamente produtivas, flora exuberante e variada, riqueza no subsolo, água em abundân-

O que vem pela frenteEmbora a corrupção seja uma marca astrológica registrada dos governantes brasileiros, nunca se falou tanto dela quanto no atual governo. A oposição de Saturno com Netuno – um aspecto de longa duração –, proeminente no mapa do segundo mandato do presidente Lula, dá esse tom a seu atual governo. Em junho, essa oposição volta a ficar exata, sugerindo uma nova rodada de escândalos envolvendo autoridades federais e estaduais. A Operação Na-valha, deflagrada em meados de maio, envolvendo governadores e parlamen-tares em obras superfaturadas, pode

ter novos desdobramentos ou redundar em novos es-cândalos. De qualquer forma, a po-sição dos planetas indica que ainda teremos eventos inesperados e sacudidas que trarão à luz temas até então escondidos.

Festa e mulheres bonitas Um povo muito falante, com uma rica cultura popular, excelentes atores e esportistas, que adora uma festa e mantém um comportamento de eterno adolescente. Essas são características advindas da conjunção Lua–Júpiter em Gêmeos, na Casa 4. Vênus em Leão, na Casa 6, das classes populares, empresta beleza às nossas mulheres e explica a exuberante alegria do carnaval brasileiro. Lua em Gêmeos também aponta caminhos: investir na inteligência e nas soluções criativas.

LILITH, A LUA NEGRA Corrupção e irreverência

A sensualidade, a irreverência brasileira ante o mundo e a associação reincidente de nossos governantes com a corrupção têm a ver com uma certa figura misteriosa – Lilith,

a Lua Negra. Primeira mulher de Adão, antes de Eva, Lilith nasceu do mesmo pó que ele e foi

expulsa do Paraíso por reivindicar sua igualdade. Ela era cheia de “sangue e saliva” (menstruação

e desejo) e tornou-se a rainha dos Demônios, declarando guerra a Deus e tirando a

paz dos homens em paz. É a sombra ou o lado escuro da Lua, contrapondo-se a Eva,

princípio feminino submisso ao Sol. Na Astrologia, Lilith representa o ponto de frustração e de inversão – ou seja,

os temas relativos à casa e ao signo onde ela se encontra podem acontecer de maneira

inversa ao esperado. No mapa do Brasil, Lilith está na Casa 10 do governo e de

nossa imagem perante o mundo – e explica por que os brasileiros elegem governantes corruptos ou que se vêem envolvidos pela

corrupção e pela criminalidade.

cia. Plutão, o planeta da energia, em harmonia com a conjunção Lua–Júpiter, reforça a opção pelos biocombustíveis como altamente rentável. Apesar da riqueza do País, os brasilei-ros em sua grande maioria são pobres. Para entender essa equação, é preciso olhar a posição de Saturno no mapa as-trológico e seus aspectos com os demais planetas. Saturno indica o ponto frágil, a área em que é preciso concentrar es-forços para superar as restrições e rea-lizar suas potencialidades. No caso, Saturno está na Casa 3, da educação básica e das comunicações – imprensa, correio, rádio, TV, transportes e malha viária. Isso faz com que essas áreas sejam críticas na vida nacional. Para se beneficiar da riqueza indica-da por Plutão na Casa 2, os brasileiros têm de superar essas restrições. E é bom saber que com Saturno não há truques nem golpes de sorte que resolvam. Ope-rações tapa-buracos, por exemplo, não solucionam a precariedade da infra-es-trutura viária do País. A oposição entre Saturno e Marte, o planeta da guerra, localizado na Casa 9, do estrangeiro, nos alerta a não con-fiar a educação e as comunicações a ins-tituições internacionais e a militares, pois os resultados podem ser desastrosos. Apenas o trabalho sistemático, dedica-

SOL EM VIRGEMA hipocondria dos brasileiros, que mantêm uma farmácia em cada esquina, é uma das características do Sol neste signo, na Casa 8

O Céu do Brasil

Page 2: Brasileiros

Seu investimento nas bancas para todos os

Todas as histór ias que valem a pena contar

foTo

: EM

BRAE

R/DI

VULG

AÇÃo

Limpo, renovável, gerador de empregos no campo e na cidade, o combustível vegetal, produzido

a partir da cana-de-açúcar e de oleaginosas como soja, mamona, girassol, dendê e outras culturas, está

substituindo o petróleo como fonte energética

A decolagem do biocombustível

B I O E N E R G I A

91

por ALex brAnco colaborou cArLos mAttos

o avião agrícola Ipanema, produzido pela neiva para a embraer: primeira aeronave movida a álcool do mundo

dossiêJULHO’07A H I S T Ó R I A DA H I S T Ó R I A

Page 3: Brasileiros

ocampo não cessa de pro-duzir boas notícias para a economia brasileira. Depois de quebrarem novo recorde de expor-tações no ano passa-

do (US$ 49,422 bilhões – resultado 13,4% maior do que o movimento as-sinalado no ano anterior), os produto-res brasileiros estão colhendo a maior safra de grãos da história, estimada em mais de 130 milhões de toneladas, quase 12% maior do que a anterior.

Essa montanha de alimentos não significa apenas comida farta e ba-rata para a população (a chamada âncora cambial) e mais divisas para o País. Boa parte dessa oferta cons-

titui matéria-prima para uma das fontes de energia com maior poten-cial de crescimento de consumo nas próximas décadas: o biocombustível (leia “A ficha dos biocombustíveis”, na página 32).

Os apelos dessa nova fonte ener-gética são, de fato, poderosos. Com-bustível limpo e renovável, o biocom-bustível é um aliado na luta contra o aquecimento climático e uma resposta para a extinção anunciada do petró-leo. Mais ainda: trata-se de uma nova frente de criação de empregos – no campo, beneficiando principalmente os pequenos produtores, e até mesmo nas cidades (leia quadro “Semeando empregos”, na página seguinte).

A energia que brota do campo

2005 2006

27,1

14,418,9

20,6

CultIvANdO RIquEzAs

Projeção da evolução da receita de produção das principais fontes de biocombustível – em r$ bilhões

1,3bilhão

de litros de biodiesel. esta é a projeção

da produção brasileira para 2008.

180 mil novos empregos no campo deverão ser criados a cada 1% de participação da

agricultura familiar no mercado de biodiesel.

6milhões de hectares

é a área cultivada com cana-de-açúcar no brasil, o equivalente a menos de 10% dos

62 milhões de hectares agricultados em janeiro

de 2008.

US$ 17 bilhõesestão sendo

investidos na construção de 300 novas usinas de

produção de álcool.NO AR E NA tERRA – Além de movimentar aviões e automóveis, o biocombustível está sendo testado nos double decker – os ônibus típicos de Londres

2008

Região Norte Isenção de 100% do PIS-Cofins para as usinas que comprarem até 50% de dendê cultivado por agricultores familiares

ENGENhARIA sOCIAlPara incentivar a participação da agricultura familiar na produção de biodiesel, o governo concede uma série de benefícios fiscais às empresas, conforme região e tipo de cultivo

Região Centro-Oeste Isenção de até 68% do PIS-Cofins para as usinas que comprarem até 10% de qualquer matéria-prima

Regiões sudeste e sul Isenção de até 68% do PIS-Cofins para as usinas que comprarem até 30% de qualquer matéria-prima cultivada por agricultores familiares

Regiões Norte e Nordeste Isenção de até 35% do

PIS-Cofins para as usinas que comprarem qualquer matéria-

prima para fabricação de biodiesel

Regiões Norte e Nordeste

Isenção de 100% do PIS-Cofins para as usinas que

comprarem até 50% de mamona dos

agricultores familiares

2007 2008

22,4

34,0

20,4

27,2

sEmEANdO EmpREGOs

Além das vantagens ambientais e da contribuição para reduzir as im-portações de diesel, o biodiesel também proporciona enormes bene-fícios sociais. estudos realizados pelos ministérios do Desenvolvimento Agrário, da Agricultura, da Integração nacional e das cidades mos-tram que seria possível gerar, a cada 1% de participação da agri-cultura familiar no mercado de biodiesel, cerca de 45 mil empregos no campo, ao custo médio anual de r$ 4.900 por posto de trabalho. se cada vaga na área rural gerasse três na cidade, seriam criados 180 mil novos empregos.A participação da agricultura familiar na produção de culturas des-tinadas ao biodiesel é fundamental para ampliar o mercado de tra-balho rural no País. enquanto a agricultura empresarial emprega, em média, um trabalhador para cada cem hectares cultivados, a familiar ocupa dez pessoas numa área de mesma dimensão.

NORTE

SUDESTE

CENTRO OESTE

NORDESTE

SUL

Os estrangeiros estão chegando

De olho no potencial do mercado de biocombustí-vel e de etanol, grandes corporações internacionais tratam de marcar posição em território brasileiro. Os investimentos externos podem che-gar a US$ 100 bilhões nos próximos dez anos. segundo cálculo da sociedade rural brasileira (srb), a participação do capital estrangeiro pode atingir 50% em dez anos, a maior parte advinda de fundos e grupos de investidores, que costumam reunir gente famosa. É o caso da companhia brasi-leira de energia renovável (brenco), criada em março, que pretende tornar-se um dos principais produtores mundiais de álcool a partir da cana-de-açúcar.

A companhia está investindo US$ 200 milhões na aquisição e construção de usi-nas no centro-oeste do brasil. Dentre seus acionistas figuram James Wolfensohn, ex-presidente do banco mundial; stephen case, fundador da AoL; ronald burkle, que fez fortuna no varejo norte-americano; Vinod Khosla, indiano naturalizado americano e um dos fundadores da sun microsystems; e o produtor de cinema stephen bing.

A Adecoagro, empre-sa criada por grandes investidores norte-ame-ricanos, dentre eles o megainvestidor George soros, já aplicou US$ 100 milhões em oito fazendas no Brasil e pretende desembolsar outros Us$ 600 milhões.

92 93FOTOS: 1. embrAer/DIVULGAção 2. DomInIc bUrKe/Getty ImAGes 3. mIchAeL mAhoVLIch/Getty ImAGes 4. Junko kImura/Getty ImaGeS 5.PatrICIa SantoS/ae

1 32

dossiêJULHO’07

A H I S T Ó R I A DA H I S T Ó R I A

Fonte: r&c consultores

Fonte: ministério do Desenvolvimento Agrário

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5

Page 4: Brasileiros

na corrida mundial para o de-senvolvimento do novo com-bustível, o Brasil larga com

vários corpos de vantagem. O País, com efeito, é imbatível na produção bioenergética, por uma feliz conju-gação de vantagens comparativas: vastas extensões de terra inexplora-das, enorme disponibilidade de água e sol, muito sol – fator determinante para o processo de fotossíntese, pelo qual as plantas transformam a luz que captam em energia.

Some-se a tudo isso a reco-nhecida competência técnica dos agricultores brasileiros e – bingo! – não há nenhum outro produtor que possa competir em condições de igualdade com o Brasil. Os dois encontros do presidente norte-

americano George W. Bush com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva constituíram-se no melhor atestado dessa superioridade bra-sileira (leia quadro “Uma parceria de muita energia”, abaixo). Com-bustível do futuro, o biodiesel já é uma realidade no Brasil. Neste ano, o País deve produzir cerca de 800 milhões de litros, devendo chegar a quase 1,3 bilhão em 2008. “Isso é quase o dobro do necessário para cumprir com a adição de 2% de biodiesel ao diesel, prevista para janeiro de 2008”, diz o coordena-dor do Programa Nacional de Pro-dução e Uso de Biodiesel (PNPB), Arnaldo de Campos (leia mais no quadro “A ficha dos biocombustí-veis”, ao lado).

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A ficha dos biocombustíveis

biocombustíveis são fontes renováveis de energia, derivados de produtos agrícolas como cana-de-açúcar, plantas oleagi-nosas, biomassa florestal e outras matérias-primas orgânicas. eles podem ser usados tanto isolada-mente como adicionados aos combustíveis conven-cionais. há, entretanto, diferenças entre os tipos mais conhecidos – etanol, biodiesel e hbio.

BiodieselProduzido a partir de óleos vegetais, principalmente oleaginosas, e até mesmo de gordura animal, como o sebo bovino

Etanoltecnicamente conhecido como álcool etílico, é obtido a partir da fermentação de restos vegetais, grãos e cul-turas como a cana-de-açúcar

HbioDesenvolvido pela Petrobras e inédito no mundo, trata-se de mistura de óleos vegetais adicionada ao óleo diesel diretamente na unidade de refino

1

2

3

w2

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Garrafa meio cheiaVisto sob os aspectos econômico, so-cial e ambiental, o negócio do bio-combustível é, recorrendo à imagem do otimista, uma garrafa meio cheia – ou muito cheia. Há, entretanto, quem recomende um Engov antes. Os ambientalistas, por exemplo, alertam para o perigo do avanço da monocul-tura. Os ecologistas temem que o Bra-sil se transforme num grande deserto verde de canaviais.

“Esse risco não existe”, tranqüili-za Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e presidente da Comissão Interamericana de Etanol, que con-grega empresas e governos de Estados Unidos e Brasil. A cana-de-açúcar, diz ele, é cultivada em 6 milhões de hec-tares, menos de 10% dos 62 milhões

de hectares agricultados. Segundo Rodrigues, a expansão

da cana pode se dar nos 22 milhões de hectares de pastagens degrada-das existentes no Brasil – o suficiente para multiplicar por oito a produção

brasil produziu cerca de 17,5 bilhões de litros de álcool, dos quais 3,4 bilhões foram exporta-dos. Para a próxima safra, a produção brasilei-ra deverá somar 20 bilhões de litros.o ritmo de crescimento da produção brasi-leira de álcool é bem superior ao dos nor-te-americanos. o brasil conta com mais de 350 usinas de açúcar e álcool em operação e aproximadamente 100 em construção. essas novas unidades, que devem entrar em opera-ção até 2012, representam investimentos de cerca de Us$ 17 bilhões. Para incentivar o consumo mundial do etanol, os dois países criaram a comissão Interamericana de etanol (cIe), presidida pelo ex-ministro bra-sileiro da Agricultura, roberto rodrigues, e pelo irmão do presidente norte-americano e ex-go-vernador da Flórida, Jeb Bush. Grande entusias-ta do etanol, Jeb esteve no Brasil nos dias 15 e 16 de abril, para aprofundar negociações que se traduzam no aumento do consumo mundial de etanol. e, para que isso aconteça, ele sabe que precisará da produção brasileira. “temos de

unir forças para criar um mercado mundial de etanol”, disse ele, em são Paulo.Foi dele a idéia do plano “15 por 15”, que recomenda o consumo de 15 bilhões de ga-lões de etanol nos estados Unidos até 2015. É dele, também, a iniciativa de mudar as regras da Fórmula Indy, adotando o etanol como combustível padrão de todos os carros. e, para surpresa de muitos, Jeb defende aber-tamente o fim das barreiras à importação do álcool brasileiro. não se trata, evidentemente, de altruísmo, mas de reconhecimento da importância do brasil como player do mercado de etanol e da notória limitação da produção nos estados Unidos, que não dispõem de novas fronteiras agrícolas para expandi-la.os objetivos da cIe são ambiciosos. “o brasil e os estados Unidos produzem cerca de 34 bilhões de litros por ano. nossa meta é produzir cerca de 50 bilhões de litros até 2015, promovendo uma maior utilização do etanol em todo o he-misfério”, diz roberto rodrigues. essa nova janela de mercado deve dar um im-pulso e tanto à agroindústria da cana, um dos alicerces da economia brasileira, que movi-menta negócios estimados em Us$ 8,3 bilhões. A cadeia produtiva de álcool é constituída por um moderno parque industrial, integrado por 306 usinas, que exploram uma área de aproxi-madamente 6 milhões de hectares, processando 387 milhões de toneladas de cana por ano.o presidente Luiz Inácio Lula da silva acertou em cheio ao declarar em alto e bom som, em mineiros (Go), que os usineiros brasileiros “es-tão virando heróis nacionais e mundiais, porque todo o mundo está de olho no álcool”.

A produção brasileira de etanol combustível é de

17 bilhões de litros anuais, volume que deverá dobrar nos próximos dez anos

os presidentes bush e Lula: unidos pelo etanol

umA pARCERIA dE muItA ENERGIA

“os estados Unidos são um país viciado em petróleo. Devemos seguir o exemplo do bra-sil, que criou um bem-sucedido programa de etanol.” essa declaração não teria nada de surpreendente, não fosse seu autor o próprio presidente norte-americano George W. Bush, personalidade reconhecidamente vinculada à indústria do óleo. em nome do petróleo, bush perpetrou vários descalabros, como a autorização para explorar jazidas em santuários ecológicos no Alasca que obteve junto ao congresso, a terminante oposi-ção a qualquer entendimento em torno do Pro-tocolo de Kyoto, chegando ao extremo da in-vasão do Iraque – declaradamente em defesa “da democracia”, mas na verdade de olho numa das maiores reservas de óleo do planeta.Demagogia, peça de marketing ou contraponto ao discurso ambientalista do ex-vice-presidente norte-americano Al Gore, o fato é que bush co-locou suas idéias em prática, instando os norte-americanos a aumentar a produção de etanol extraído do milho dos atuais 19 bilhões de litros para 225 bilhões anuais até 2030.mais ainda: demonstrando sua disposição de fazer do etanol uma commodity, bush reuniu-se duas vezes com o presidente Luiz Inácio Lula da silva – uma vez no brasil, outra nos estados Unidos – para assinar um acordo de colaboração sobre biocombustíveis e discutir formas de desenvolvimento de novos merca-dos consumidores e de compartilhamento de pesquisas tecnológicas.A abordagem faz sentido: brasil e estados Uni-

dos são os dois maiores produtores de álcool do mundo, responsáveis por 70% da produção global. As relações comerciais entre brasil e es-tados Unidos neste campo, a propósito, estão cada vez mais estreitas. em 2006, os estados Unidos importaram cerca de 1,7 bilhão de litros de álcool combustível do brasil, o que representa exatamente metade do volume exportado pelo País, segundo dados da secretaria de comércio exterior. neste ano, os embarques brasileiros de álcool para os estados Unidos devem somar cerca de 1 bilhão de litros.Quando o assunto é álcool, os dois países es-tão muitas e muitas doses à frente de qualquer outra nação. os estados Unidos são o maior produtor de álcool do mundo, com uma oferta de 20 bilhões de litros – volume que deverá dobrar nos próximos três anos. ocorre que a matéria-prima dos produtores norte-america-nos é o milho, cujo potencial de rendimento de álcool é bem inferior ao da cana-de-açúcar, utilizada pelos brasileiros.na safra 2006/2007, encerrada em abril, o

O governo norte-americano estabeleceu

como meta multiplicar por 12 a produção de

etanol extraído do milho, saltando dos atuais 19

bilhões de litros para 225 bilhões até 2030

dossiêJULHO’07

A H I S T Ó R I A DA H I S T Ó R I A

94 95FotoS: 1. JorGe arauJo/Folha ImaGem 2.luCIo Píton/Folha ImaGem 3. DIGItal Jonne rorIZ/ae 4. JorGe arauJo/Folha ImaGem 5. João WeIner/Folha ImaGem

Biodiesel

os óleos vegetais, extra-ídos de oleaginosas como soja, girassol, palma, mamona, algodão, amen-doim, pinhão-manso, ou mesmo as gorduras animais, como o sebo bovino, podem ser utilizados em motores de ciclo diesel. esses óleos, entretanto, não devem ser empregados em estado bruto, pois a glicerina ne-les contida pode provocar danos ao motor.

Assim, o óleo passa por um processo denomi-nado transesterificação ou esterificação, que, a despeito do complicado nome, nada mais é do que a remoção da glicerina por meio da adição de 10 a 15% de etanol ou metanol e de 5% de um catalisador (reagente que acelera o processo). Pronto: tem-se obiodiesel, que pode, em tese, substituir em até 100% o diesel – o chamado B100. na Alemanha, alguns postos já comercia-lizam o biodiesel puro (e em diversas formulações de mistura com o diesel). no brasil, no entanto, a mistura total ainda não é recomendada, porque a idade da frota de veícu-los que rodam a diesel é extremamente desigual, havendo grande descom-passo tecnológico.

mais ainda: os próprios fabricantes de motores e equipamentos ainda não atingiram nível tecnológi-co aceitável para rodar com o chamado b100. Assim, os que operam no País dão garantia para a mistura de até 20% – o chamado b20 (adição de 20% de biodiesel ao diesel).

Continua >>

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Page 5: Brasileiros

de cana para etanol e produzir 120 bilhões de litros de etanol por ano. “Tudo isso sem plantar um pé de cana na Amazônia”, lembra ele.

De toda a forma, não há como ig-norar a drástica transformação da pai-sagem rural no Estado de São Paulo. Além de pastagens, tradicionais cultu-ras, como laranja, café e grãos, estão sendo deglutidas pela voraz cana-de-açúcar.

Outro complicador é o chamado Selo Combustível Social, um con-junto de medidas do governo para incluir a chamada agricultura fami-liar no programa de biodiesel. Ele é conferido às empresas produtoras de biodiesel que comprovadamente operem com pequenos produtores, cuja participação varia em função do cultivo e da região.

Esse coquetel de boas intenções, porém, conjuga ingredientes de difícil harmonização, a começar pela supe-rioridade da soja em relação às demais culturas. “A soja é a melhor fonte de biodiesel, porque pode ser cultivada em grande escala e na maior parte do País”, diz o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), que presta consul-toria à indústria energética.

Mesmo apresentando um rendi-mento de óleo por planta inferior ao de outras culturas (veja quadro “Usi-na vegetal”, na página 36), o grão

será responsável por cerca de 60% da produção nacional deste ano. Outros 20% serão provenientes da mamona e os 20% restantes sairão de palma (dendê), amendoim, girassol, algodão e sebo bovino.

A própria regulamentação do mercado de biodiesel é outro gargalo, pois os benefícios fiscais concedidos pelo Selo Social também concorrem, paradoxalmente, para engessar o mercado. Isso porque a engenharia social, que incorpora a agricultura familiar à cadeia produtiva, invia-biliza, na prática, a participação de pequenos e médios produtores. Só as grandes usinas, já articuladas com agricultores familiares e beneficiadas pelo Selo Social, terão competitivida-de para operar no mercado.

A produção de biodiesel neste ano no Brasil absorverá cerca

de 350 mil toneladas de soja

Os investimentos em novas unidades de produção de etanol no Centro-Oeste nos próximos seis anos são calculados em

us$ 14,6 bilhões. Esses recursos serão investidos na construção de pelo menos 73 usinas

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Além disso, já se constatam irre-gularidades nas operações realizadas pelo chamado Selo Social: parte da mamona produzida por agricultores familiares é esmagada, mas o óleo re-sultante é vendido no mercado físico para uso industrial, não entrando na composição do biodiesel. Enquanto o litro do biodiesel adquirido pela Petro-bras é vendido a R$ 1,75, em média, o óleo de mamona custa R$ 2,85 por litro. A diferença de preço é explica-da pelo fato de o óleo de mamona ser um produto nobre, utilizado até como lubrificante de aeronaves e foguetes – por não congelar – , sendo, portanto, muito mais caro que o biodiesel.

“Não é economicamente viável produzir biodiesel de mamona”, dis-se o operador de mercado Roberto Silvério, da Aboissa Óleos Vegetais, corretora que há 20 anos atua nesse mercado, ao jornal Valor Econômico.

Não bastassem os problemas em nossa própria casa, o biocombustível brasileiro ainda é fustigado pelos her-manos argentinos, que estão passan-do o Brasil no florescente e promissor mercado internacional de biodiesel.

“Enquanto a Argentina trata de incentivar, por meio de benefícios fis-cais, a exportação de produtos de va-lor agregado, como farelos e óleo de soja, o Brasil trafega na contramão da tendência internacional, priorizando as exportações de soja em grão. Es-tamos nos transformando na grande roça do mundo”, alerta César Borges de Souza, vice-presidente da Caramu-ru Alimentos, uma das grandes pro-cessadoras de soja do País, que está investindo numa usina de biodiesel em São Simão (GO).

Por conta do descompasso tribu-tário entre os dois países, a Argentina arrebanhou nos últimos dez anos mais de US$ 12 bilhões da fatia de merca-do de produtos de valor agregado do Brasil. “O mesmo vai ocorrer com o biodiesel. Neste andar, vamos nos transformar em fornecedores de ma-

téria-prima para o lucrativo biodiesel argentino”, diz César Borges.

Isso não é tudo. A regulamentação do mercado inibe uma utilização mais ampla do biodiesel, que é comprado pela Petrobras – detentora do mono-pólio da comercialização – em leilões públicos realizados pela Agência Na-cional do Petróleo, Gás Natural e Bio-combustíveis (ANP).

Esse modelo abortou o projeto de democratização do álcool, idealizado pelo geólogo Marcelo Guimarães, um dos pais do Proálcool. Sua fórmula

tORNEIRAs ABERtAs

o banco nacional de Desenvolvimento econô-mico e social (bnDes) vem dobrando, nos últimos anos, o volume de recursos destinados ao fi-nanciamento de usinas de biocombustível – em r$.

500 mi 1bi

2 bi

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o programa de biodiesel foi estabelecido pela Lei nº 11.097/2005, que determinou a mistura de 2% de biodiesel ao diesel até janeiro de 2008 e a mistura de 5% a partir de 2013. hoje, a mistura de biodiesel ao diesel, na proporção de até 2%, é facultativa.

segundo o ministério de minas e energia, há atualmente 21 usinas em operação, das quais duas em processo de ampliação. elas têm capacidade de produção de 700 milhões de litros de biodiesel ao ano e o investimento para a construção dessas unidades varia de r$ 450 milhões ar$ 500 milhões.boa parte dos investimen-tos em usinas de biodiesel é de capital externo ou misto. É o caso da hispano-brasileira naturoil combustíveis renováveis s/A, que está investindo r$ 110 milhões na construção da maior unidade de biodiesel da América Latina, situada em ourinhos, no sul de são Paulo, com capaci-dade para produzir 227 milhões de litros/ano a partir de 2008. com a entrada desta e de outras unidades de produ-ção ainda este ano, o brasil não terá problema para cumprir a meta de adição de 2% de biodiesel ao diesel em 2008, o equiva-lente a 840 milhões de litros de biodiesel.

2013 em dianteFonte: AnP

1bi2% (obrigatório)

2,4 bi 5% (obrigatório)

2008 a 2013

800 mi 2% (voluntário)

Em quINtA mARChA

cronograma de utilização de percentuais mínimos de mistura de biodiesel ao diesel, definidos pelo Programa nacio-nal de Produção e Uso do biodiesel – em r$

2005 a 2007

dossiêMAIO’07

A H I S T Ó R I A DA H I S T Ó R I A

dossiêJULHO’07

A H I S T Ó R I A DA H I S T Ó R I A

2004 Fonte: bnDes

2005

2006

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dossiêMAIO’07

A H I S T Ó R I A DA H I S T Ó R I A

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pINhãO-mANsO 45% a 55%

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AlGOdãO 30% a 40%

GIRAssOl 45% a 55%

mAmONA 45% a 55%

sOjA 18% a 21%

dossiêJULHO’07

A H I S T Ó R I A DA H I S T Ó R I A

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Etanol

As bebidas fermentadas, como o vinho e a cerveja, e as destiladas, como a cachaça e o uísque, são as mais conhecidas embalagens do etanol, produto obtido a partir da fermentação de grãos e restos vegetais. sua grande aplicação, entre-tanto, é como fonte de energia renovável, princi-palmente como substituto da gasolina.

combustível renovável, ecológico e gerador de empregos, o álcool foi alçado à condição de estrela mundial graças à inventividade brasileira, que se manifestou em dois recentes momentos. o pri-meiro deles ocorreu há mais de 30 anos, quando foi lan-çado o Proálcool, o pioneiro programa brasileiro para substituir a gasolina pelo álcool, como resposta à alta dos preços do petróleo na década de 1970.

A segunda oportunidade deu-se com o desen-volvimento dos motores bicombustíveis (a chamada tecnologia flex fuel), que rodam tanto com gaso-lina quanto com álcool – um feito da engenharia brasileira, que mudou, literalmente, o perfil da frota de veículos do País. o percentual de carros movidos a motores híbridos saltou dos 3% registrados em 2003 para os 81% de 2006. o motor híbrido brasileiro começa, agora, a movimentar veículos de outros países.

Fotos: 1. ArQUIVo/únIcA 2. sebAstIAo moreIrA/Ae - ILUstrAçÔes: hIroe sAsAKI

1

usINA vEGEtAl o pinhão-manso, que nada tem a ver com o pinhão, é uma das culturas de maior rendimento – produz até duas toneladas por hectare

A oleaginosa que apresenta o maior rendimento de óleo por planta é o pinhão-manso (Jatropha curcas), que, ao contrário do que o nome

sugere, nada tem a ver com nosso conhecido pinhão. trata-se, na verdade, de um arbusto integrante da família das euforbiáceas – a mesma da mamona e da mandioca – que produz duas toneladas de óleo por hectare.

A produtividade do pinhão-manso é tão alta que o óleo chegou a ser utilizado na iluminação de Portugal, antes da chegada da energia elétrica. o pinhão-manso ain-da é pouco cultivado no brasil – o arbusto é mais plantado no norte de minas, sendo utilizado como cerca viva para pastos. tra-ta-se, entretanto, de excelente opção para grandes e pequenos produtores, por ser de cultura perene e resistente à seca, o que o torna especialmente indicado para o plan-tio no nordeste.

De fácil cultivo, o pinhão-manso leva de três a quatro anos para atingir a idade pro-dutiva, que pode estender-se por 40 anos.

Além disso, ele é um aliado na conservação do solo, por recobri-lo com matéria seca, re-conduzindo a erosão e a perda de água por evaporação. caracterizado por suas proprie-dades inseticidas, a espécie é de ocorrência espontânea do maranhão ao Paraná.

Fonte: Associação brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove)

AMENDOIm 40 a 60%ARROz 15 a 23%BABAçu 58 a 67%COCO 50 a 65%COLZA 39 a 45%GERGELIM 48 a 55%LINHAÇA 35 a 45%MILHO (GERME) 30 a 36%PALMA (DENDÊ) 35 a 45%PALMISTE 55 A 65%

Os mAIs RENtÁvEIs rendimento em óleo de diversas oleaginosas

hbio

no rastro do biodiesel, o brasil produziu um biocom-bustível ainda inédito no mundo. É o hbio, desen-volvido pela Petrobras a partir da mistura de óleos vegetais ao óleo mineral diretamente na unidade de refino. Com isso, é possível obter um diesel de qualidade superior ao produzido exclusivamente com o petróleo, com baixo teor de enxofre, o que pro-porciona uma combustão mais eficiente e, conseqüen-temente, provoca menos impactos ambientais.A Petrobras espera terminar 2007 com pelo menos qua-tro unidades produtoras de hbio “Até o fim do ano, pelo menos quatro refinarias já estarão processando com óleo vegetal”, informa Nilo Carvalho Vieira Filho, um dos executivos da estatal. A empresa pretende usar anualmente entre 200 milhões e 225 milhões de litros de óleos vegetais, principalmente de soja, para produzir o diesel por meio do processo hbio. Isso pode acarretar uma queda de até 10% no volume das importações de diesel convencional até dezembro. o novo combustível está em fase de testes nas refinarias Gabriel Passos, em betim (mG); Presidente Getúlio Vargas, em Araucária (Pr); Alberto Pasqualini, em canoas (rs); e na do Planalto Paulista (rephan), em Paulínia (sP). A previsão é de que oito unidades da Petrobras estejam pro-cessando hbio até 2001, com um consumo anual de pouco mais de 1 milhão de litros de óleo vegetal, o que corresponde a aproxima-damente 35% do volume de óleo de soja exportado em 2005.

2

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para popularizar o etanol tem a sim-plicidade das grandes invenções: o financiamento de microdestilarias de álcool, com capacidade para processar 200 litros por dia.

Essa produção é obtida da cana colhida em cerca de cinco hectares de terra (um hectare equivale a um campo de futebol). O investimento necessário para todo o projeto, in-cluindo máquinas, caldeira e alam-bique, gira em torno de R$ 60 mil. A produção de uma microdestilaria poderia encher o tanque de cinco carros por dia, ao custo de R$ 0,50 o litro – menos de um terço do preço na bomba registrado em abril.

mercado concentradoO projeto de democratização do

etanol, entretanto, estacionou em ponto morto. Talvez porque assistir à profusão de miniusinas e minipos-tos movendo milhares de veículos do litoral aos grotões do País não seja uma imagem que propriamente em-polgue um mercado controlado pelas grandes usinas, regulado pela ANP e operado pela Petrobras.

Hoje, todo o álcool combustível produzido por cerca de 350 usinas só pode ser vendido diretamente para as cerca de cem distribuidoras autoriza-das pela ANP, que o revendem aos 30

mil postos existentes no País.O biocombustível brasileiro tam-

bém é alvo de fogo amigo, como o desfechado pelo presidente da Ve-nezuela, Hugo Chávez. “O etanol e os biocombustíveis são absoluta-mente irracionais e antiéticos, coisa de loucos rematados”, disparou o presidente bolivariano, durante as manifestações antiBush realizadas em março, em Buenos Aires.

É verdade que Chávez, nesse rom-pante, não se lembrou dos convênios assinados pela PDVSA, a estatal pe-trolífera venezuelana, com a Petro-bras. Esses acordos resultaram na criação da Etanol de Venezuela, para produção de etanol, e no fornecimento de álcool brasileiro, que é adicionado à gasolina venezuelana e comerciali-zada como “gasolina ecológica”.

Bravatas à parte, o fato é que o preço do milho simplesmente dobrou no último ano, pressionado pela forte demanda do cereal para a produção de álcool nos Estados Unidos. Ou seja, os biocombustíveis estão, sim, impactando os preços dos alimentos, já que milho e soja são os principais insumos na criação de aves e suínos (70% a 80%) e importantes compo-nentes na produção de carne bovina, leite e derivados – isso sem falar no consumo humano direto.

óleo diesel

54,5%

gasolina

25,6%

gás natural

2,9%

álcool hidratado

8,4%

álcool anidro

8,5%

Fonte: ministério de minas e energia/Petrobras

O dOmÍNIO dO dIEsEl

Perfil do mercado brasileiro de combustíveis. o derivado de petróleo responde por mais

da metade do consumo de combustíveis – em %

A ONu recomenda o etanol

o etanol foi considerado o principal aliado na luta contra o aquecimento cli-mático global por espe-cialistas de 150 países que participaram do Painel In-tergovernamental de mu-danças climáticas (IPcc), realizado pela onU na tailândia. o relatório final do encontro recomenda que os governos dêem ên-fase à aplicação do etanol para a expansão de seu consumo como energia até 2020, a fim de reduzir as emissões de gás carbônico. os especialistas recomen-dam ainda a utilização do etanol produzido a partir da cana-de-açúcar, cujo impacto ambiental e sobre o preço dos alimentos é menor do que o do etanol derivado do milho.

O problema foi vivido na pele – ou no bolso – pelos mexicanos, para quem a tortilla feita de milho tem igual ou maior importância que nosso pãozinho francês. Como o México não é auto-suficiente em milho, dependen-do do produto norte-americano, a alta das cotações do cereal provocou uma disparada nos preços da tortilla, le-vando à eclosão de greves, manifesta-ções e revoltas populares, no episódio que ficou conhecido como “Guerra da Tortilla”.

O tema, como se vê, é controverso e comporta críticas, como fez o músico e compositor Raul Seixas, para quem o álcool se presta mesmo é a encher o copo e não o tanque de veículos (veja quadro “No copo é melhor”, ao lado).

A despeito dos percalços e contra-tempos momentâneos que o mercado de biocombustível atravessa, não há dúvida de que os óleos vegetais e o etanol vieram para ficar, participando em proporção cada vez maior da ma-triz energética não apenas brasileira, mas mundial.

Uma coisa, entretanto, é certa, in-dependentemente da velocidade do

avanço dos biocombustíveis: o petró-leo continuará reinando por muito tempo, como principal fonte energé-tica, pois as reservas conhecidas são suficientes para atender à demanda, pelo menos, dos próximos 50 anos, e o produto tem elasticidade de preço bastante elevada, podendo reagir à pressão de combustíveis concorrentes.

Mais ainda: os biocombustíveis respondem, hoje, por 1% do mercado mundial. Para multiplicar essa fração por cinco, seriam necessários investi-mentos da ordem de US$ 200 bilhões. “O petróleo continuará soberano por três décadas, pelo menos”, diz o di-retor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer.

600 mil toneladas é a disponibilidade total de sebo bovino no Brasil para ser utilizado como biodiesel. processado, esse volume é suficiente para a produção de

500 milhões de litros

NO COpO é mElhOR

o irreverente cantor e compo-sitor raul seixas, falecido em 1989, manifestou seu desacordo com a utilização do álcool como combustível em Movido a Álcool, música composta em parceria com oscar ramussen. Para raulzito, álcool é para ser degustado e não queimado.

Diga, seu dotô as novidades

Já faz tempo que eu espero

Uma chamada do senhor

eu gastei o pouco que eu tinha

mas plantei aquela cana

Que o senhor me encomendou

eu tô confuso e quero ouvir sua palavra

sobre tanta coisa estranha acontecendo sem parar

Por que o posto anda comprando tanta cana

se o estoque do boteco

Já está pra terminar?Derramar cachaça em automóvel

É a coisa mais sem graça

De que eu já ouvi falar

Por que cortar assim nossa alegria

Já sabendo que o álcool também vai ter que acabar?

Veja, um poeta inspirado em coca-cola

Que poesia mais estranha ele iria expressar

É triste ver que tudo isso é real

Porque assim como os poetas

todos temos que sonhar

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A H I S T Ó R I A DA H I S T Ó R I A

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A H I S T Ó R I A DA H I S T Ó R I A

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na última safra, a área plantada de girassol avançou 17,3% (de 66,9 mil para 80,9 mil hectares) e a de mamona, 27% (de 147,9 mil para 203,3 mil hectares).

O óleo utilizado para fritar batatas nas lojas da rede mcDonald’s instaladas no estado de são Paulo será reprocessado e convertido em biodiesel. o trabalho está sendo conduzido pelo Departamento de Química da Universidade de são Paulo, de ribeirão Preto. A produção inicial estimada é de 60 mil a 100 mil toneladas de biodiesel.A empresa argentina oil Fox está investindo US$ 25 milhões na construção da primeira unidade do mundo de produção de biodiesel obtido a partir do cultivo de microalgas.

Foto: 1.mArcos Peron/KIno.com.br 2.sILVIo FerreIrA/ FoLhA ImAGem

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