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Informativo Nº 28 Brasília (DF) Novembro de 2013 InformANDES SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR - ANDES-SN ANDES-SN se prepara para o 33º Congresso da entidade. 13 Movimento Docente em luta G reves, encontros, intensificação da luta contra a Ebserh, contra o Funpresp e os ataques à aposentadoria, a mobilização em torno da autonomia e da democracia nas instituições e o lançamento da segunda edição da Revista Dossiê Denúncia estão entre as atividades que marcaram o fim do segundo semestre de 2013 do movimento docente organizado no ANDES-SN. Tanto o VII Encontro Intersetorial, que aconteceu em Brasília no fim de outubro, quanto as atividades realizadas, em novembro, pelos três setores do Sindicato Nacional apontam que 2014 será o ano da defesa da Educação pública, de luta por melhores condições de trabalho nas Instituições de Ensino Superior e do fortalecimento da unidade da classe trabalhadora. Confira. 3 a 12 Entrevista: Mário Magalhães, autor do livro sobre a vida de Carlos Marighella, concedeu entrevista exclusiva ao InformANDES. O jornalista abordou a polêmica a respeito da legislação que proíbe a publicação de biografias, materiais culturais e jornalíscos sem autorização prévia e falou sobre a experiência de pesquisar e contar a história de Marighella. 14 a 16 Movimento Docente em luta

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Informativo Nº 28

Brasília (DF) Novembro de 2013InformANDES

SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR - ANDES-SN

ANDES-SN se prepara para o 33º Congresso da entidade. 13

Movimento Docente em lutaGreves, encontros,

intensificação da luta contra a Ebserh, contra o

Funpresp e os ataques à aposentadoria, a mobilização em torno da autonomia e da democracia nas instituições e o lançamento da segunda edição da Revista Dossiê Denúncia estão entre as atividades que marcaram o fim do segundo semestre de 2013 do movimento docente organizado no

ANDES-SN. Tanto o VII Encontro Intersetorial, que aconteceu em Brasília no fim de outubro, quanto as atividades realizadas, em novembro, pelos três setores do Sindicato Nacional apontam que 2014 será o ano da defesa da Educação pública, de luta por melhores condições de trabalho nas Instituições de Ensino Superior e do fortalecimento da unidade da classe trabalhadora. Confira. 3 a 12

Entrevista:Mário Magalhães, autor do livro sobre a vida de Carlos Marighella, concedeu entrevista exclusiva ao InformANDES. O jornalista abordou a polêmica a respeito da legislação que proíbe a publicação de biografias, materiais culturais e jornalísticos sem autorização prévia e falou sobre a experiência de pesquisar e contar a história de Marighella. 14 a 16

Movimento Docente em luta

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InformANDES/20132

EXPEDIENTEO Informandes é uma publicação do ANDES-SN // site: www.andes.org.br // e-mail: [email protected] responsável: Luiz Henrique SchuchRedação: Renata Maffezoli, Nayane Taniguchi MTb 8228, Carla Lisboa DRT 1635-DFFotos: Renata Maffezoli // Edição: Renata Maffezoli MTb 37322 e Nayane Taniguchi // Diagramação: Ronaldo Alves DRT 5103-DF

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Editorial

O ano caminha para o fecha-mento do calendário político apresentando uma dupla face, de um lado para o

mando dos grandes, de outro para o dos trabalhadores. Para os grandes, tivemos há pouco tempo o leilão do Campo de Libra, um suculento prato para o capital; estão ocorrendo os leilões de concessões dos aeroportos, agora também com a participação de empresas internacionais, e continuam os leilões de concessão das nossas estradas. A palavra chave é parceria. Antes, chamávamos isso de desnacio-nalização. Hoje, é “cooperação para o crescimento”. De forma recorrente, os meios de comunicação chamam a atenção para o empenho do governo em se aproximar do empresariado e associá-lo aos grandes empreen-dimentos nacionais, com os quais o governo visa alavancar a retomada econômica, realizar grandes obras e anestesiar a massa com a ode do Brasil grande, enredo antigo já utiliza-do por governos de várias matrizes.

E para os trabalhadores, o povo de um modo geral, o que está em curso? Está por ser aprovado o Plano Nacional de Educação (PNE) que não

atende às demandas das entidades da educação expressas no Plano Nacional de Educação da sociedade brasileira. Por isso, as entidades que estão preocupadas com os rumos reais da educação preparam para o próximo ano o Encontro Nacional de Educação Pública, realmente voltado para os interesses do povo e às ne-cessidades do país.

A desmontagem dos hospitais públicos das universidades está em curso pela existência da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), experiência gerencial que favorece os ventos da privatização do país. Faz parte da cultura que se busca implantar no país, de que o pú-blico é ineficiente. Não é por menos que o governo deixa o SUS à deriva e a saúde pública cada vez mais sub-metida aos grupos organizados em convênios, planos de saúde, atração forte também para os interesses in-ternacionais que já estão atuando no filão das aposentadorias.

Agora, anda a passos rápidos a regu-lamentação do direito de greve do ser-vidor público. A categoria já não tem contrato coletivo, agora querem impor, ao direito constitucional, restrições

tantas que o direito se transformará em obrigação de não fazer a greve, ficando o servidor público sujeito aos caprichos do governo.

A forma imperial dos governantes confere ao Estado brasileiro um cará-ter autoritário, que contradita com a Constituição. A maneira de governar manipuladora, sujeita a conchavos, ga-rante sempre a permanência dos mes-mos no poder e sucesso para aqueles que privam das mesmas vantagens que lhes distingue o poder.

Continua válida a máxima de que dias melhores virão. Porém, isto se crermos que, para mudar, tem que haver referenciais, sendo o principal o da classe. Assim, poderemos falar em mudanças de qualidade. As inúmeras ações focais podem alegrar momen-taneamente, mas não alteram o es-sencial com a rapidez necessária da transformação radical.

Essa transformação só virá com muito trabalho dos que já trabalham; com o labor dos que fazem diaria-mente o caminho cultural de cons-trução de um mundo diferente: com igualdade, alegria e solidariedade. Sem, fanfarras, sem foguetes, contu-do de todos. É o bastante!

O início de um balanço

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InformANDES/2013 3Movimento Docente

Carla Lisboa

Várias universidades estaduais aproximam-se do encerramen-to do ano de 2013 em greve e, outras, prometem iniciar 2014

com as atividades acadêmicas paralisa-das. “Essa é a resposta do movimento docente aos governadores que quebraram acordos firmados em greves passadas e ameaçam cortar recursos financeiros dessas instituições no ano que vem”, diz Gean Claudio de Souza Santana, 2º vice-presidente do ANDES-SN e um dos coordenadores do Setor das Instituições Estaduais e Municipais de Ensino Superior do Sindicato (IEES/IMES).

Nos estados da Bahia e do Paraná, as comunidades universitárias estão mobiliza-das e têm denunciado o estrangulamento orçamentário previsto para 2014. No Ceará, os três segmentos universitários protagonizam greve geral unificada, por tempo indeterminado, e com quase 100% do pessoal parado.

Todavia, durante todo o ano de 2013 houve greves, mobilizações e protestos em todo o país em instituições estaduais distintas contra o não cumprimento dos acordos, os ataques à autonomia e à de-mocracia e a precarização do trabalho. De acordo com informações do relatório da

última reunião do Setor das IEES/IMES, houve mobilizações em Roraima, Paraíba, São Paulo, Amapá, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul.

CearáNo fim de novembro, estudantes, do-

centes e técnicos ocuparam a Assembleia Legislativa, em Fortaleza, local em que estão emperradas regulamentações que interessam aos três setores. Os professo-res esperam desde 2008 a regulamenta-ção de artigos da lei do Plano de Cargos,

Carreiras e Vencimentos (PCCV), o qual era para ter tido as regras fixadas em 90 dias, naquele mesmo ano. Mas, até hoje, não houve regulamentação e a categoria tem acumulado prejuízos por causa disso. Um deles é que quem está na classe de adjunto não pode progredir para a classe de associado.

Os técnicos reivindicam a regulamenta-ção do Plano de Cargos, Carreira e Salários (PCCS) e os estudantes pleiteiam a reto-mada do Plano de Assistência Estudantil que, assim como o PCCV e o PCCS, está parado na Assembleia Legislativa. Na pauta geral, cobram acesso ao regimente de trabalho de Dedicação Exclusiva (DE), realização de concurso e a cessão do prédio da Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Itapipoca para a Universidade Estadual do Ceará (Uece).

Estopim dessa paralisação, o prédio teve a destinação mudada pelo governador Cid Gomes assim que foi construído. Grande e equipado, era para abrigar a Uece, mas o governador o doou para o Instituto Federal de Educação (IF). A mudança revoltou os docentes que o ocuparam e deflagraram a greve. “Estávamos certos de que, finalmente, teríamos uma estrutura multicampi, com laboratórios, bibliote-ca, sala de aula, área desportiva e tudo mais que o outro prédio da Faculdade de

Universidades estaduais mobilizadas contra o arrochoQuebra de acordo levou estaduais do Ceará a deflagrarem greve unificada em novembro. Na Bahia e no Paraná, docentes ameaçam cruzar os braços no início de 2014 caso governos mantenham cortes nos orçamentos

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Até o fechamento desta edição, o movimento ocupava a Assembleia Legislativa do Ceará para pressionar por negociação

Pela primeira vez, docentes, técnicos e estudantes da Uece, Urca e UVA realizam paralisação com pauta unificada

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InformANDES/20134Movimento Docente

Educação de Itapipoca não tinha”, disse Elda Maciel, presidente do Sindicato dos Docentes da Uece (Sinduece – Seção Sindical do ANDES-SN).

As outras estaduais também são sub-metidas a condições precárias e não demorou muito para elas aderirem ao movimento. No dia 5 de novembro, a Universidade Regional do Cariri (Urca) paralisou as atividades. Dois dias depois, a Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) aderiu à greve. Outro problema que uniu as categorias é a falta de concurso. “Um estudo do sindicato dos servidores revelou que se não houver concurso urgentemente, em 2016 a Uece não terá nenhum servidor efetivo”, alerta a pre-sidente do Sinduece. Segundo Elda, ao todo, existem hoje apenas 600 técnicos efetivos nas três universidades.

Fundada há 40 anos, a Uece nunca fez concurso para docentes e técnicos. “Antes de 1988 não havia concurso para ingresso no serviço público estadual, e, depois, quando a Constituição foi promulgada com a definição de que ‘a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público’, a Uece não promoveu nenhuma seleção. Com isso, há um número elevado de professores substitutos e temporários e o número de terceirizados superou o de efetivos: hoje são 270 técnicos efetivos e 500 terceirizados”, informa.

Na UVA, o quadro é de 120 efetivos e 260 terceirizados. Na Urca, são 210 terceirizados. Esse pessoal atende a mais de 50 mil estudantes e mais de 2 mil pro-fessores das três universidades. “Faltam 800 professores nas três estaduais para atender à demanda”, afirma a presidente do Sinduece. Dados da Regional Nordeste I do ANDES-SN indicam que há hoje 774

docentes efetivos e 289 substitutos na Uece. Na UVA são 388 docentes, dos quais 88 são substitutos com contratos temporários. Na Urca, há 336 efetivos, 101 substitutos e 146 temporários.

Privatização Apesar de ter sido a última a aderir à

greve, a UVA tem uma variação de proble-mas que chega a ser considerada esdrúxula entre as universidades do Ceará. Nunca teve eleição para reitor, diretor de centro e coordenador de curso; não tem sede própria; não tem programas de doutora-do; tem apenas três cursos de mestrado (Geografia, Zootecnia e Saúde Pública) e uma demanda imensa para isso. “Nossa realidade é muito difícil”, afirma Flávio Telles Melo, secretário-geral do Sindicato dos Docentes da UVA (Sindiuva - Seção Sindical do ANDES-SN).

“Elaboramos um novo estatuto e agora o Sindiuva negocia com o Consuni sua aprovação. E um dos maiores motivos é porque, ao dizer que ela é pública de direi-

to privado, o atual estatuto possibilitou a instalação de cursos pagos e a celebração de convênios para a UVA chancelar certi-ficados de conclusão de cursos emitidos por institutos privados e diplomas para estudantes que pagaram por cursos precá-rios de licenciatura em História, Pedagogia, Geografia, Administração, Ciências Sociais e Gestão de Recursos Humanos, minis-trados durante as férias ou nos fins de semana”, denuncia o dirigente sindical.

EquiparaçãoNo Paraná, uma ameaça do governador

Beto Richa de quebrar o acordo de greve que prevê o pagamento de 31% de reajuste para equiparar o salário do docente ao do técnico-administrativo levou a categoria a finalizar o ano de 2013 focada no pa-gamento dos 7,14% relativos à segunda parcela, de quatro, desse ajuste. Em 2011, quando o pacto foi firmado, um técnico com jornada de trabalho de 40 horas recebia R$ 2.200, e um professor com a mesma carga horária recebia R$ 1.800.

“O governo já deu vários sinais de que não pretende cumprir este acordo. Em agosto de 2012 os 6.500 professores tiveram que parar as sete universidades estaduais para que ele mandasse o pro-jeto de lei com essa convenção para a Assembleia Legislativa. Este ano, em vez de pagar a parcela em outubro, conforme o combinado, o fez em novembro. Além dos cortes generalizados no custeio das instituições – que paralisam obras, in-viabilizam viagens, impedem compra de materiais, entre outros –, ele anunciou pela imprensa que o estado não tem re-cursos para a educação em 2014”, informa Denny William, presidente da Associação dos Docentes da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Adunicentro – Seção Sindical do ANDES-SN).

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Na Bahia, o movimento docente realizou vários atos para denunciar o arrocho no orçamento das universidades

No Paraná, governo ameaça quebrar acordo firmado com os docentes em 2011

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InformANDES/2013 5Movimento Docente

Na Bahia e no Paraná a categoria docen-te está mobilizada para impedir cortes no orçamento das estaduais. Governadores alegam falta de recursos para a educação. As quatro estaduais da Bahia paralisa-ram duas vezes este ano, uma, em 9 de outubro, e, outra, no dia 7 de novembro, por deliberação do Fórum das ADs. E irão paralisar novamente no dia 11 de dezem-bro, em protesto contra a decisão do go-vernador Jacques Wagner de cortar R$ 12 milhões do orçamento das estaduais.

Entre os prejuízos, essa redução irá prejudicar a expansão em andamento, suspender construções em curso, impedir viagens, realização de concurso, contrata-ção de aprovados, e diminuir a aquisição de material de escritório. “Isso acontece porque a proposta de orçamento que o governador mandou para a Assembleia Le-gislativa na Lei Orçamentária Anual (LOA) corta recursos da rubrica de manutenção/custeio e ações já previstas no Plano Plu-rianual (PPA) para as quatro universida-des”, afirma o presidente da Associação dos Docentes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Adusb – Seção Sindi-cal) e coordenador do Fórum das ADs da Bahia, Marcos Antonio Tavares Soares.

O Fórum das ADs solicitou uma emenda à LOA propondo um acréscimo de R$ 430 milhões ao R$ 1,2 bilhão que o governo baiano irá destinar à educação. “O orça-

mento do governo corresponde a 4,92% da Receita Líquida de Impostos, mas, com o acréscimo que pedimos, esse percentual sobe para 7%”, explica Soares. No dia 11 de dezembro, está previsto ato público em frente à Assembleia Legislativa, em Salva-dor, com uma aula pública. “Há possibili-dades de os mais de 50 mil estudantes e os cerca de 5 mil docentes iniciem 2014 em greve”, avisa o coordenador.

Os docentes do Paraná estão apreensivos e prometem paralisar as atividades acadê-micas logo no início de 2014, caso o gover-nador mantenha os cortes prometidos no orçamento do ano que vem. Outro proble-ma é que um estudo preliminar, preparado pelo Dieese a pedido do ANDES-SN, indicou que o estado está no limite da Lei de Res-ponsabilidade Fiscal.

“Esse estudo nos deixou temerosos quanto aos desdobramentos desses cortes para o ano que vem porque, em primeiro lugar, em maio temos a nossa data base, reposição das perdas advindas da inflação; em segundo, há necessidade de imediata contratação dos recém-aprovados em con-curso para as sete universidades estaduais; e, terceiro, há compromisso do governo como o pagamento da terceira parcela de 7,14% do acordo de equiparação”, afirma a 2ª vice-presidente da Regional Sul do AN-DES-SN e também coordenadora do Setor das IEES/Imes do Sindicato, Cintia Xavier.

Docentes da Bahia e do Paraná mobilizam-se contra cortes no orçamento

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InformANDES/20136Movimento Docente

Nayane Taniguchi e Renata Maffezoli

A privatização da Educação no Brasil com evidente patrocínio do governo por meio de suas políticas possui consequências

tão graves que comprometem o setor, tanto nas instituições pública quanto nas particulares, como a redução da qualidade do ensino, que interfere na formação dos estudantes, e as condições de trabalho nas quais os docentes são submetidos, com o crescimento da precarização, a falta de valorização profissional e a sobrecarga de trabalho. Nas Instituições Particulares de Ensino Superior (IPES), a situação ainda é agravada devido ao vínculo empregatício dos professores, que além das incertezas sobre os direitos trabalhistas e péssimas condições salariais, ainda convivem diaria-mente com o assédio moral e a ameaça de demissão, especialmente aos professores mais titulados.

“Infelizmente o Brasil é campeão em uma coisa que não é muito

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e isso há bastante tempo. Não tem nenhum outro lugar no mundo em que o Ensino Superior seja tão privatizado quan-to é aqui. Isso tem consequências mui-to ruins”, afirma a 1ª tesoureira da Regional São Paulo do ANDES-SN, Lighia Brigitta Matsushigue. De acordo com a diretora do ANDES-SN, atualmente 75% das matrículas do país em ensino superior estão em ins-tituições particulares. Destas, 50% estão em unidades que explicitamente visam lucro, e 25% em instituições comu-

nitárias, concessionais ou filantrópicas. “Compare com os Estados Unidos, sempre tomados como parte do liberalismo eco-nômico. Em 2011, eram 12% matrículas em instituições particulares, contra 75% aqui no Brasil. São Paulo concentra, desde 2011, 87% das matrículas em instituições particulares. As públicas praticamente desapareceram”, exemplifica.

A expansão das mantenedoras, que concentram o ensino superior particular em vários estados brasileiros, as alterações no mercado de trabalho com a explosão de cursos aligeirados e vagas em deter-minadas épocas, as consequências para estes profissionais recém-formados, e os problemas enfrentados pelos docentes das IPES, como dificuldades de mobilização por medo de represálias, ameaças e retirada de direitos trabalhistas são apenas algu-mas das consequências citadas por Lighia. “A partir de meados da década de 90, foi aberta a possibilidade de as instituições de educação darem lucro, e ai a situação degringolou de vez, mudando totalmente

o caráter, pois se tornaram empresas. As mantenedoras começaram a realmen-

te se desenvolver como empre-sas. Nos últimos dois, três

anos, isto culminou em algo muito pior,

porque há uma fusão contínua,

a compra de

institui-ções menores e

agora a compra por grandes conglome-

rados que trabalham em bolsas interna-cionais e brasileiras”, explica. “O fato de as mantenedoras de instituições de ensino trabalharem na bolsa para aumentar o lu-

cro por meio de ações é extremamente inédito e tem acontecido no Brasil, em empresas como a Kroton, por exemplo. Esta situação é uma verdadeira bola de neve”, ressalta.

A 1ª vice-presidente da Regional Sul e uma das coordenadoras do Setor das IPES, Maria Suely Soares, acrescenta: “o grande problema nas Instituições Particulares de Ensino Superior é que os donos das mantenedoras, os patrões, estão totalmente vinculados ao mundo do capital. E em função disso existe uma exploração mais acentuada que nos outros setores. Esses professores têm que dar muitas aulas com salários mais baixos, contratos reduzidos com poucas aulas e salários muito mais baixos ainda ou têm contrato como horistas. Eles também têm muitos alunos para aten-der e estão em um sistema totalmente sem autonomia, e têm que obedecer a um regime dentro da instituição”. Maria Suely observa que, muitas vezes, estes docentes ficam confinados ao ensino, não tendo oportunidade em atuar na pesquisa e na extensão.

De acordo com Lighia, atualmente dois terços dos professores das institui-ções de ensino superior do país atuam nas particulares. “Até não muito tempo atrás nós éramos o dobro em relação aos professores das particulares e es-tas sempre empregaram menos para o mesmo número de alunos. Em São Paulo, simplesmente 87% das matrículas está

em instituições particulares, juntando as ditas filantrópicas com as decla-radamente lucrativas. Se você tem

13% dos docentes no setor público, nós somos uma gota d’água. O que acontece no setor privado tem reflexos no setor público, que já tem acontecido em algu-mas universidades municipais, que desde sempre são o elo mais frágil do sistema pública”, destaca.

Além de serem mal remunerados, Lighia conta ainda que há casos de professores que foram demitidos e descobriram que não tiveram o fundo de garantia deposi-

Brasil está entre os campeões na privatização do Ensino SuperiorConsequências do inchaço das Instituições Particulares de Ensino Superior, fomentado pelos grandes conglomerados e mantenedoras comerciais, atingem não só os docentes, mas a formação dos estudantes e a qualidade do ensino no país

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tado, e tem como única alternativa fazer acordo com as instituições, visto a demora no julgamento destas causas pela Justiça.

No dia 23 de outubro, o ANDES-SN, representado pela Regional São Paulo, participou de uma audiência pública na Alesp, em São Paulo, na Comissão de Educação e Cultura, argumentando no

sentido de impedir o desrespeito aos direitos trabalhistas dos professores e ao direito do aluno à Educação de qualidade. “Na fala inicial de uma das professoras, foi colocado claramente: ‘nós sofremos assédio moral e nós temos medo, e o medo nos torna covardes’, dizendo como isso se reflete”, conta Lighia, que acrescenta:

“esta é a mais direta escravidão que esta-mos vivendo no país e isto é muito ruim, não só para os professores que estão en-volvidos, mas para os estudantes, que não recebem educação, recebem no máximo um treinamento”. A diretora do ANDES-SN defende ainda que estas instituições não potencializam o desenvolvimento de uma personalidade nos alunos, que são criados para serem submissos. “Eles não podem se organizar em grêmios e a sociedade não está percebendo como a nossa formação para o futuro está exatamente o contrário que queremos”.

Lighia relata que, em algumas insti-tuições, os estudantes têm, no máximo, três horas de aula em quatro dias da semana nos cursos de licenciatura. “No quinto dia, abre-se um telão e faz de conta que estamos dando 20% do que falta em ensino à distância, e o profes-sor ganha como um tutor”. A diretora do ANDES-SN acrescenta que as IPES ainda podem criar e extinguir vagas. “Eles encharcam o mercado e, agora com os conglomerados, a situação está bem pior. Teve o 'boom' da Fisioterapia, da Educação Física. Eles veem os nichos e enchem até ter um dumping salarial que é péssimo para o país também, e ai caminham para o outro nicho”.

Movimento Docente

Entre os dias 22 e 24 de novembro, o ANDES-SN promoveu o Encontro do Setor das Instituições Parti-culares de Ensino Superior (IPES), em São Paulo. Sob o tema central Condições de trabalho e direitos dos docentes nas IPES, o En-contro apresentou dados atualizados da pesquisa sobre o perfil dos docen-tes das IPES, e fez debates sobre Políticas Públicas em Educação no Brasil e sobre a Internacionaliza-ção do Ensino Superior Privado e Formas e En-frentamento da Explora-ção do Trabalho Docente nas IPES, além de infor-mes nacionais, das Seções Sindicais e dos convida-

dos. “Dialogamos com os docentes em relação aos direitos que eles têm, a responsabilidade do Esta-do, e o quanto que, se eles conseguissem se organizar no nosso Sindicato, talvez pudessem exigir mais e melhor estes direitos”, afir-ma Maria Suely.

A diretora do ANDES-SN acrescenta que a expec-tativa era buscar a cons-ciência desses docentes em relação às condições as quais são submetidos. “Muitas vezes eles acabam ficando alienados dentro desta condição. Eles sa-bem que são explorados e não tem, muitas vezes, outra alternativa por falta de colocação”, explica.

Encontro do Setor das IPES discute as condições de trabalho e direitos dos docentes nas IPES

"Não tem outro lugar no mundo em que o Ensino Superior seja tão privatizado quanto é aqui", afirma Lighia

"O grande problema nas IPES é que as mantenedoras estão totalmente vinculadas ao mundo do capital", observa Maria Suely

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InformANDES/20138

Nayane Taniguchi

Um retrato da real situação das Instituições Federais de Ensino do Brasil em 90 páginas, as quais abordam a precariedade

à qual está sendo exposta a comunidade acadêmica das IFE no país. A segunda edição da Revista Dossiê Nacional 3 Precarização do Trabalho – Na defesa da Educação pública de qualidade, que será lançada pelo ANDES-SN no início de dezembro, dá continuidade às denúncias feitas pelo Sindicato Nacional no 1º volu-me da Revista - lançado nacionalmente durante a Marcha do dia 24 de abril, em Brasília - sobre as condições de trabalho nas IFE, prejudicadas ainda mais após a implementação do Reuni e do processo de expansão sem qualidade adotado pelo governo, além do caráter privatizante incluso nas políticas para a Educação pública, impostas pelos governos.

Entre as graves consequências para a Educação, está a mudança da função social das universidades públicas em favorecimento das políticas que forta-lecem o capital e o ensino privado no Brasil, a partir da fragilização do papel institucional de referência no padrão da qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão, da imposição da mudança de paradigmas curriculares a fim de aligeirar a formação dos estudantes e do aumento da precarização do trabalho docente.

“As condições de trabalho e a carreira pioraram muito e irão se agravar em 2014. Em algumas universidades, os reitores estão impondo para a política de progressão na carreira critérios produti-vistas com pontuação, que se assemelha à antiga GED que vigorou até 2004 e foi extinta por pressão do movimento docente. Dessa forma, as condições de trabalho piorarão e muito. Este dossiê já apresenta as péssimas condições de trabalho com falta de infraestrutura para

ensino, pesquisa e extensão, e com a política de progressão na carreira que os reitores estão impondo, isso se agravará. Vimos com o Dossiê como tem crescido o assédio moral e o adoecimento docente. Todos estes fatores são consequências das precárias condições de trabalho. O Ministério da Educação (MEC) diz que está liberando vagas para concurso, mas o que presenciamos é que os reitores, para atender ao MEC, estão utilizando estas vagas para abrirem novos cursos e não estão resolvendo o passivo da falta de professores, que foi um dos motivos da nossa greve de 2012”, contextualiza a pre-sidente do ANDES-SN, Marinalva Oliveira. A falta de democracia e transparência na gestão do orçamento; a pressão por parte da administração das universidades para adesão à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) e os prejuízos para a comunidade acadêmica e população em geral; a repressão e perseguição aos docentes, técnicos administrativos e estudantes; o aumento nos casos de assédio moral e de adoecimento dos

professores são alguns dos temas abor-dados na publicação.

A segunda edição da Revista é continui-dade de um trabalho iniciado pelo ANDES-SN ainda em 2012, com a produção de dossiês locais pelos comandos locais e nacional de greve, durante a paralisação histórica de 124 dias em 2012. Ao todo, 34 dossiês subsidiaram a produção das matérias, que mostram a precarização das condições de trabalho em conse-quência do novo paradigma imposto às IFE, resultado da política de expansão adotada pelo governo. “Foram recolhidos dos dossiês os elementos para a ação política do movimento, que ensejaram uma aglutinação temática de mais de 20 temas e serviram de lastro às reportagens jornalísticas de cobertura nacional, que resultaram nas duas edições da Revista”, explica o 1º vice-presidente do ANDES-SN e encarregado de Imprensa do Sindicato Nacional, Luiz Henrique Schuch.

Segundo o diretor do ANDES-SN, os temas variam desde questões materiais, como a “falta de salas de aula, bibliotecas

Movimento Docente

ANDES-SN lança segunda edição da Revista Dossiê Nacional 3 – Precarização do trabalho docenteEm 90 páginas, publicação denuncia realidade das Instituições Federais de Ensino no país, a partir do tema “Na defesa da educação pública e de qualidade”

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InformANDES/2013 9Movimento Docente

Dossiê NacionalPUBLICAÇÃO ESPECIAL DO ANDES-SN3

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Na defesa da educação pública de qualidade

Precarização do trabalho docente II

Dossiê NacionalPUBLICAÇÃO ESPECIAL DO ANDES-SN3

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e laboratórios até o ataque aos valores e condutas impostos às relações, como o autoritarismo e o assédio moral, passan-do por uma inflexão negativa a respeito do carater público do ambiente e dos percursos acadêmicos, como é o caso desestruturação da carreira docente, o desvio ideológico na concepção do mérito acadêmico, perdas de direitos e o empresa-riamento dos hospitais universitários”, cita. Para a produção das reportagens, foram entrevistados docentes de todo o país.

Para Marinalva, o governo continua implantando o projeto no qual o Estado se desobriga do compromisso com a educação pública e gratuita e incentiva a mercantiliza-ção. “Com a aprovação do PNE, o processo de expansão e financiamento ocorrerá prioritariamente através da parceria politica privada como o Prouni, o Fies, e a Lei das Comunitárias – nº 12881 - e limitação da autonomia universitária com redução do espaço verdadeiramente público, conforme Lei Orgânica que o governo tenta impor as universidades”, afirma.

Sobre o processo de negociação com o governo, a diretora do ANDES-SN afirma que, apesar das inúmeras tentativas, não houve avanço na negociação da pauta dos docentes, como melhores condições de trabalho e carreira. Entre as lutas de 2013, Marinalva destaca as mobilizações contra a Ebserh, o Funpresp, o Plano Nacional de Educação (PNE), a rearticulação do Comitê dos 10% do PIB para a educação pública, já!, e a construção do Encontro Nacional de Educação. “O dossiê mostra que em nada melhorou as condições de trabalho dos docentes, pelo contrário, temos uma carreira mais desestruturada, piores condições de trabalho e perda de direitos para os novos docentes, com o Funpresp, por exemplo”.

A presidente do ANDES-SN destaca a importância da atuação das Seções Sindicais na divulgação do conteúdo da Revista. “As Seções Sindicais devem fazer amplamente divulgação da Revista dentro e fora das universidades. Marcar com a imprensa local em cada cidade e estado e divulgar a Revista como forma de mostrar a sociedade que as condições de trabalho dos professores continuam iguais ou piores a cada dia que passa e dentro dessa perspectiva a desresponsabilização do governo com o financiamento das uni-versidades”. Para Marinalva, os reitores das IFE também têm responsabilidade com as precárias condições atuais nas instituições, ao abrirem novos cursos nas universidades sem resolver o passivo dos cursos já existentes.

A realidade nas IFE é contada por docentes de 34 Seções Sindicais, que durante a maior greve da categoria em 2012 elaboraram dossiês que mostram a situação precária das insti-tuições onde trabalham, e que resul-taram na terceira edição da Revista Dossiê Nacional: Precarização das Condições do Trabalho I e II. A publi-cação aborda mais de 20 temáticas, em formato jornalístico, e foi dividida em dois volumes: a primeira com nove e a segunda com 10 matérias. A segunda edição, que será lançada em dezembro deste ano, tem como tema

Na defesa da educação pública e de qualidade.

O volume 1, lançado no dia 24 de abril durante ato das entidades do setor da Educação no MEC, aborda o tema Cargos, vagas e Reuni: os efeitos da expansão quantitativa da educa-ção federal e apresenta uma série de reportagens com entrevistas, fotos, depoimentos, documentos e char-ges, além de ensaio fotográfico que mostra a realidade da Universidade Federal Fluminense (UFF) e oito ar-tigos. Ao todo, as duas publicações somam 190 páginas.

Revista Dossiê Nacional 3 – Precarização do trabalho docente I e II

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Nayane Taniguchi e Renata Maffezoli

Com participação histórica de re-presentantes dos docentes, o VII Encontro Intersetorial do ANDES-SN reuniu em Brasília, em outubro,

144 professores de 62 Seções Sindicais. A ampla participação permitiu avançar no debate sobre os desafios políticos e organi-zacionais do Sindicato Nacional e sinalizou para 2014 um ano de luta em defesa da Educação pública, gratuita e de qualidade.

“A grande participação reafirma que o ANDES-SN está no caminho certo para a construção da unidade necessária para barrar os constantes ataques do gover-no contra os docentes e toda a classe trabalhadora”, afirmou a presidente do ANDES-SN, Marinalva Oliveira.

Ela ressaltou a importância de se com-partilhar o acúmulo do Intersetorial entre os docentes para enriquecer os debates na base e para auxiliar na elaboração de pro-postas a serem levadas ao 33º Congresso do Sindicato Nacional, em fevereiro de 2014, em São Luís (MA).

Um dos saldos positivos do encontro foi o aprofundamento na discussão so-bre a atuação do Sindicato Nacional e a organização da categoria nas instituições multicampi. A questão, antes mais restrita a algumas Instituições Estaduais de Ensino Superior (IEES), é uma realidade em quase

todas as Instituições de Ensino Superior (IES) e um dos reflexos da expansão de-sordenada promovida pelo governo.

Outro destaque do Encontro foi a im-portância da construção, pelo Sindicato Nacional, juntamente com as outras entidades da Educação, do Encontro Nacional de Educação, em 2014, como contraponto à Conferência Nacional de Educação (Conae) – prevista para ocorrer em abril do próximo ano – e ao projeto de educação do governo federal consolidado no Plano Nacional de Educação (PNE).

“É importante que as Seções Sindicais se organizem com os demais trabalhadores da Educação em cada estado, fortale-cendo a CSP-Conlutas, nossa central que tem se ampliado como polo classista, na realização dos encontros estaduais de Educação para construirmos a unidade entre professores, técnicos, estudantes e toda a sociedade”, disse Marinalva.

A presidente do ANDES-SN ressaltou que a unidade entre docentes e demais entidades é o elemento que dará força ao movimento. “Diante de todos os ataques que se acirram em todos os setores, o grande desafio é construir essa unidade segundo os princípios que norteiam o Sindicato e com todos que estão dispostos a lutar. Assim teremos mais força para enfrentar o que está por vir com avanço do capital”.

DebatesPara municiar os participantes de

elementos para as discussões nos grupos de trabalho e nas plenárias, foram reali-zadas duas mesas acerca da história de construção do ANDES-SN, das relações do Sindicato Nacional com a base e com outras entidades.

Concepção OrganizativaO secretário-geral do ANDES-SN, Márcio

de Oliveira, e o 1° vice-presidente da en-tidade, Luiz Henrique Schuch, dividiram a primeira mesa sobre a concepção orga-nizativa do Sindicato Nacional. Oliveira resgatou a história do movimento sindical no Brasil e a conjuntura em que o ANDES-SN foi criado e destacou a importância de trazer essa experiência para o debate sobre os desafios atuais.

“É preciso que todos saibam que o nosso sindicato não foi criado nessa conjuntura. Precisamos nos adequar a essa nova concepção e realidade, mas

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“2014 será o ano da Educação”, aponta IntersetorialA proposta é unir os vários setores dos movimentos sindicais e sociais na construção do Encontro Nacional de Educação

VII Encontro Intersetorial reuniu 144 docentes de 62 Seções Sindicais do ANDES-SN

Marinalva destacou a importância de se compartilhar o acúmulo do Intersetorial para debates na base e na elaboração de propostas para o 330 Congresso

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InformANDES/2013 11

sem abrir mão da democracia que nos rege. Criamos um sindicato para além do economicismo, do assistencialismo, que não pensa só em aumentar salário, mas em melhorar as condições de trabalho, logo, em melhorar a universidade brasi-leira”, comentou.

Schuch abordou os desafios atuais do Sindicato Nacional surgidos a partir da reestruturação produtiva e da contrarre-forma do Estado e seus impactos no perfil docente e nas próprias IES.

“A nossa base tem contradições e demanda uma organização com foco na classe trabalhadora porque somos uma categoria oprimida pela retirada de direitos e explorada pela precarização das condições de trabalho. O ANDES-SN não está cristalizado. Como podemos ver, temos mudado muita coisa, mas este é um processo de permanente desafio. Essas são provocações para alimentar as discussões nos grupos com a certeza de que colheremos bons elementos para ven-cer os gargalos e para avançar enquanto Sindicato Nacional”, ressaltou.

Disposição de lutar“Normalmente se diz que tem sempre

uma notícia boa e outra ruim. No caso do movimento sindical, e diante dessa

conjuntura, dizemos que temos uma notícia ruim e outra pior. Mas, diante de tudo o que foi apresentado aqui, a boa notícia é que não perdemos a disposição de lutar”. Com esta análise, o 2º secretá-rio do ANDES-SN, Paulo Rizzo, encerrou a mesa de debates do sábado (26) – a segunda do VII Encontro Intersetorial do Sindicato Nacional.

Rizzo abordou a atuação do ANDES-SN na luta educacional, na organização dos trabalhadores, na Constituinte de 1988, na construção do Plano Nacional de Educação da Sociedade Brasileira. Ele falou sobre a inflexão do movimento sindical nos anos 1990 e o acirramento da luta de classe sob os ataques aos diretos dos trabalhadores até o momento atual, com Lula e Dilma.

Rizzo ponderou que as agendas e as pautas dos movimentos sindicais combativos tiveram de assumir caráter defensivo nos últimos anos por causa das ofensivas constantes e da crescen-te criminalização das organizações. E reforçou a ideia de unidade.

“Diante disso, temos de construir a unidade das entidades de classes com afinidade na luta, pois, os problemas que afetam os docentes hoje, estão postos para todos os trabalhadores. A luta contra o produtivismo não é uma

agenda exclusiva da universidade, essa é uma invenção do capital para a lógica do trabalho atual”, avaliou.

Rizzo ressaltou que é dever do Sindicato pensar para além de suas pautas coorpo-rativas e ver que a luta ampla é conjunta e não contraditória. Para isso, ele aponta a necessidade de consolidar a concepção da CSP-Conlutas, ou seja, a busca da uni-dade não só das organizações sindicais, mas também dos movimentos sociais e populares. “Os enfrentamentos estão ocorrendo e vão continuar. O importante desse momento é percebermos que, com todas as contradições está posto o desafio de relacionar os movimentos sindical e social para fortalecer a luta”, reafirmou.

O diretor do ANDES-SN observou que, diferentemente do encontro de 2012, em que muitas falas apresentavam queixas sobre condições de trabalho e dificulda-de de ampliação da luta, no VII Encontro Intersetorial, os participantes discutiram a organização da luta. “Não perdemos a disposição de lutar e é isso que temos de ampliar e de fortalecer para enfrentar os desafios”, concluiu.

PlenáriasAs dificuldades de organização das

Seções Sindicais nas instituições mul-

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"Temos mudado muita coisa, mas este é um processo de permanente desafio", ressaltou Schuch "A boa notícia é que não perdemos a disposição de lutar", afirmou Rizzo

Encontro aprofundou discussões sobre atuação do ANDES-SN e a organização dos docentes nas instituições multicampi

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InformANDES/201312

Celeste Pereira – Adufpel

“A riqueza desse debate, com tantas polêmicas que en-volvem a carreira, precarização do trabalho, a forma de organização do

nosso Sindicato, torna o ANDES-SN um dos espaços em que praticamos um grande exercício de democracia, sempre com a articulação com a base. Acho que esse reforço é o que tem de mais importante: faz com que a gente queira voltar para a categoria, levando as discussões feitas pelo país e podendo, de lá, contribuir para continuar a construção deste Sindicato, mantendo-o cada vez mais forte”.

Alexandre Galvão – Adusb

“As discussões são relevantes para qualificar o deba-te a ser feito nas Seções Sindicais, particularmente na nossa, acerca do

que é o ANDES-SN e o que se pretende do ANDES-SN diante da nova realidade dos movimentos sociais e do movimento

docente . Esse é o elemento que aglutina, por isso, é um Encontro Intersetorial. Ele pode nos levar a, no próximo Congresso, apresentar TR’s e a fazer uma discussão mais qualificada de como avançar na luta em defesa dos docentes nos três setores.

Claudia Durans – Apruma

“Esses dias fo-ram produtivos porque vivemos uma conjuntura complexa em que a população co-meçou a reagir às

duas décadas de neoliberalismo, de reti-rada de direitos e de financiamento das políticas públicas, em que há um mal-estar grande na vida da população. Vivemos um momento de ressurgimento das lu-tas sociais e esse Encontro serviu para refletirmos sobre como a universidade, a educação, o ANDES-SN estão se colocando e vai se colocar na próxima conjuntura. O Intersetorial prepara a nossa intervenção no Congresso de São Luís. É um orgulho para a Apruma receber os docentes de todo o país. Há uma expectativa dos pro-fessores, estudantes, movimentos sociais, sindicatos, da CSP-Conlutas Maranhão, em receber este evento”.

Sofia de Anísio Santos – Aduc

“É importante a gente participar desses espaços de discussão no ANDES-SN porque ouvimos as expe-riências de outras

Seções Sindicais. Teve um debate impor-tante sobre os multicampi, uma realidade muito cara em Cajazeiras. Outra discussão importante sobre a conjuntura que se apresenta tanto atualmente quanto para 2014. Tudo isso vai me fazer voltar para a base com discussões importantes e bastante trabalho pela frente”.

Alexandre dos Santos – Seção Sindical do ANDES-SN na UFG

“É o primei -ro encontro que participo como militante de base. O Intersetorial é fundamental por-que discute a or-

ganização sindical, no âmbito nacional e local, e é uma antecipação da pauta do Congresso, que é como está o quadro de lutas no âmbito das particulares, das estaduais e das federais. É um espaço no qual a gente percebe a articulação nacional e o desenvolvimento das lutas. No nosso caso, para 2014, indica um conjunto de tarefas para levar à base e prepará-la para os próximos enfrentamentos, incluindo aí a participação no 33º Congresso. Pudemos fazer uma troca de experiência e o que a percebemos é um esforço coletivo, no con-junto do ANDES-SN, das Seções Sindicais, de construir e fortalecer as relações com a base. Foi importante esse encontro porque nos deparamos com realidades muito distintas e outras relativamente semelhantes às de Goiás”. O encontro ressaltou a importância do sentimento de pertencimento, entre os docentes, nas lutas do sindicato

ticampi foram destacadas na plenária Organização do ANDES-SN. Os partici-pantes partilharam experiências vividas em vários estados e reforçaram a impor-tância de uma atuação que favoreça o sentimento de pertencimento entre os docentes nas lutas do Sindicato.

“Trabalhamos na perspectiva e com a expectativa de chegarmos no 33º Congresso com boas indicações para melhorarmos a relação multicampi

dentro do sindicato nacional”, comentou Josevaldo Cunha, 1º vice-presidente da Regional Nordeste 2.

Além de reforçarem a importância de uma construção unificada do Encontro Nacional de Educação, os encami-nhamentos da Plenária de Relações Sindicais apontaram para a retomada da greve dos docentes, suspensa em 2012, a partir de discussões na base e com mobilizações que envolvam outras

entidades da educação e o Espaço de Unidade de Ação.

“Tivemos um momento extraordinário nesse evento com diversas falas reafir-mando ANDES-SN na CSP-Conlutas. E um debate muito rico debate, com várias intervenções mostrando a necessidade dos professores se organizarem em 2014 para reivindicar os seus direitos”, ressaltou José Valter da Silva, 1º vice-presidente da Regional Nordeste 3.

Depoimentos

Movimento Docente

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InformANDES/2013 13Movimento Docente

Nayane Taniguchi

Instância máxima de deliberação do ANDES-SN, o 33º Congresso, que tem como tema central ANDES-SN na defesa dos direitos dos trabalhadores: orga-

nização docente e integração nas lutas sociais, será realizado em um contexto de mudança de conjuntura no país, for-talecido após a explosão de mobilizações populares em vários estados brasileiros que expõe a situação a qual a população tem sido submetida, consequências das políticas de governo. Entre os dias 10 e 15 de fevereiro, delegados e observadores, representantes das Seções Sindicais do ANDES-SN de todo o país, estarão reunidos em São Luís (MA), para deliberar sobre a centralidade da luta e o plano de lutas para o ano de 2014.

As discussões e os resultados das plená-rias do VII Encontro Intersetorial, realizado em Brasília entre os dias 25 e 27 de outu-bro, também nortearão os debates do 33º Congresso, que fará um balanço do que representou 2013 para a categoria e apontar como serão os trabalhos em 2014. “Em 2013 não houve avanço no atendimento de nossa pauta de reivindicação de nenhum setor. Em 2014, além de ano eleitoral e de Copa do Mundo, será um ano de crescimento da infla-ção e, como consequência, de mais arrocho salarial, acirramento da retirada de direitos dos trabalhadores, tudo isso para atender o capital. Isso refletirá no aprofundamento da precarização das condições de trabalho e nos nossos salários. Por outro lado, as manifestações desse ano foram pedagógi-cas para nos mostrar que a sociedade não suportará mais tanta precarização. O povo está indo às ruas para exigir direitos básicos que são paulatinamente retirados, como educação, saúde, moradia e transporte público”, avalia a presidente do ANDES-SN, Marinalva Oliveira.

Durante o VII Intersetorial, os docen-tes indicaram que 2014 será o ano da Educação Pública. A luta contra o atual Plano Nacional de Educação (PNE), que re-tira da Educação o caráter de direito social garantido constitucionalmente e privatiza o setor, e o Encontro Nacional de Educação estão entre os pontos que serão discutidos no 33º Congresso, e foram amplamente debatidos no VII Encontro Intersetorial. “2014 será o ano da Educação pública, pois pretendemos ampliar nossa intervenção na política educacional brasileira a partir de acúmulos das entidades participantes, e nos organizar para construir uma frente de intervenção na política de inclusão social e nela, a de educação. O Encontro Nacional de Educação está sendo organizado junto à CSP-Conlutas, Anel, Oposição de Esquerda da UNE, Sinasefe e outras entidades da edu-cação de esquerda”, afirma Marinalva, que acrescenta: “precisamos retomar e fortale-cer a articulação no campo dos movimentos populares e classistas como protagonistas nas lutas pela educação pública, gratuita e de qualidade social, tendo como referência o PNE da sociedade brasileira”.

A privatização e mercantilização da educação: das creches à pós-graduação; financiamento da Educação Pública;

precarização das atividades dos traba-lhadores da Educação; avaliação merito-crática na Educação; e democratização da Educação são alguns dos temas que serão debatido no 33º Congresso.

O presidente da Apruma, Seção Sindical do ANDES-SN que organiza o 33º Congresso, Vilemar Gomes da Silva, fala sobre a importância da realização do Congresso em São Luís. “Estamos com uma luta muito grande localmente e vivendo um momento de grande gestão autoritária. Estaremos aqui para mobilizar a categoria e mostrar importância de se ter um sindicato forte e organizado na-cionalmente”, afirma Vilemar, que acres-centa: “temos enfrentado um momento político de grandes transformações na universidade, com uma gestão que imple-menta de forma muito rápida as políticas do governo federal, como a expansão, interiorização acentuada, que resulta em incertezas em r elação aos campi do interior, muitas obras em andamento e a acentuação da precarização do trabalho do professor, além das indefinições e variações nas formas de contratação na categoria docente”, contextualiza.

Para o diretor da Apruma, o 33º Congresso contribuirá para fortalecer ainda mais a organização da categoria. “Há uma grande quantidade de docentes novos e nós estamos fazendo uma grande discussão inclusive sobre a carreira, por-que eles estão entrando em condições bem desfavoráveis. Este é o momento de a gente fortalecer a organização e estrutura sindical do ANDES-SN, mas também de debater sobre a precarização do trabalho acadêmico, acentuada pela expansão, em detrimento da qualidade, e pela sobrecar-ga de trabalho. São questões importantes para a gente debater no Congresso e se organizar para fazer a luta e enfrentar esta situação”, conclui.

ANDES-SN se organiza para 33º CongressoA partir do tema central “ANDES-SN na defesa dos direitos dos trabalhadores: organização docente e integração nas lutas sociais”, docentes se preparam para fazer de 2014 o ano da Educação pública

Agenda33º Congresso do Andes-sn

♦ 10 a 15 de fevereiro de 2014♦ Local: São Luís (Maranhão)♦ Organização: Apruma – Seção

Sindical♦ Credenciamento prévio: a partir de

3 de dezembro♦ Prazo para envio do Anexo ao

Caderno de Textos: 27 de janeiro

São Luís foi eleita sede do 33º Congresso durante a última edição do encontro, no Rio de Janeiro, em março deste ano

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InformANDES/201314Entrevista

Renata Maffezoli

Em meio às polêmicas sobre a legislação que proíbe a publicação de biografias, materiais

culturais e jornalísticos sem autorização prévia, o livro do jornalista Mário Magalhães sobre Carlos Marighella ganhou o 55º prêmio Jabuti, como melhor biografia do ano de 2013. O material, fruto de nove anos de pesquisa, foi escrito sem o consentimento prévio dos familiares de Marighella e das inúmeras personalidades, que junto com o personagem título foram protagonistas de quatro décadas da história do país.Magalhães esteve presente no 19º Curso do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), no Rio de Janeiro, que contou também com a presença de diretores e jornalistas do Sindicato Nacional e de diversas Seções Sindicais, e com a participação do ANDES-SN na mesa sobre experiências de comunicação sindical no Brasil hoje.Em entrevista exclusiva ao InformANDES, o jornalista falou sobre a experiência de pesquisar e contar a história de Marighella. Quando questionado sobre a atual lei sobre as biografias, disparou: “o cenário é tão esdrúxulo que, se um descendente de torturador de Marighella quiser tirar meu livro de circulação, não faltará juiz que dê abrigo à sua pretensão, com base na lei”. Confira a seguir.

Informandes: Como foi o processo de produção do livro sobre Carlos Marighella?Mário Magalhães: Foram nove anos de

trabalho, de 2003 a 2012, dos quais cinco anos e nove meses em regime de dedicação exclusiva. Entrevistei 256 pessoas, algumas em muitas sessões, somando ao todo per-to de mil horas de gravação, ao menos 42 entrevistados, quase todos muito idosos, já faleceram. Tive acesso a 32 mil páginas de documentos, na maior parte secreta na origem, produzidas por órgãos de Estado ou por organizações políticas que se contra-punham a eles. Os papéis estavam guarda-dos em 32 arquivos públicos e privados de Rússia, República Tcheca, Estados Unidos, Paraguai e Brasil. A bibliografia somou 500 títulos, o equivalente a quase 600 volumes.

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Carteira do PCB emitida em um período de legalidade do partido, de 1945 a 1947

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InformANDES/2013 15Brasil

A despeito da apuração monumental, o mais difícil foi escrever. Meu maior desafio estético era lograr uma narrativa nos mol-des da trajetória do protagonista: Marighella teve uma vida de tirar o fôlego, logo eu tinha de reconstituí-la tirando o fôlego do leitor. Por isso o livro é escrito com as fer-ramentas literárias clássicas do romance. A diferença, contudo, é que tudo nele, até um espirro, é escrupulosamente lastreado em fatos. Ou seja, aconteceram mesmo.

Você mencionou que Marighella foi o personagem mais interessante que encontrou. Você procurou outros ou foi a primeira escolha? Quais fatos te levaram a esta afirmação?MM: Antes de escolher Marighella eu

vasculhei séculos de história do Brasil. Não faltavam grandes personagens, para todos os gostos, como Leonel Brizola e Carlos La-cerda. Não encontrei personagem mais fas-cinante do que Carlos Marighella (1911-69), simpatizemos ou não dele. Como costumo dizer, é legítimo amá-lo ou adiá-lo, mas é impossível ficar indiferente à vida frenética que ele teve. Para quem gosta de biografias e de história, como eu, costuma haver uma espécie de “imposto”: até chegar aos feitos da vida adulta dos personagens, os episó-dios que nos motivaram a ler a biografia, é comum penarmos com relatos enfado-nhos sobre a infância e a juventude. Pois a história de Marighella começa alucinante muitas décadas antes de ele nascer: escra-vos africanos muçulmanos, como eram seus antepassados, fizeram a cidade de Salvador arder em 1835, na Revolta dos Malês, a maior rebelião urbana negra das Américas. Quando Marighella tinha um mês, a capital Bahia, onde ele nasceu e cresceu, foi bom-

bardeada. Aos 17 anos, o estudante Mari-ghella ficou famoso não pela política, mas ao responder em versos rimados uma prova de física no ensino médio.

Sua vida de revolucionário o tornou, ex-cluindo artistas e desportistas, um dos 10 brasileiros de maior projeção internacional no século XX. Narrar sua história me per-mitiu contar quatro décadas trepidantes no Brasil e no mundo, dos anos 1930 aos 1960. Além de perfilar dezenas de coadjuvantes e figurantes cujas vidas, de tão espetaculares, merecem biografias exclusivas.

Havia dois obstáculos gigantescos. Por um lado, certa historiografia oficial tentou eliminar Marighella da memória nacional. Por outro, para sobreviver às perseguições, ele tentou apagar suas pegadas. É tudo com o que sonha um repórter por vocação, em busca de empreitadas complexas.

Apesar de todo o empenho em contrário, Marighella continua sendo mais conhecido

fora do que dentro do Brasil. Enquanto os manuais de história e os livros escolares so-negarem sua trajetória, ele desgraçadamen-te será um brasileiro maldito. Não defendo que os livros o defendam ou condenem, mas que contem quem ele foi. É isso o que busquei fazer, escrevendo o que Marighella fez, disse e, na medida do possível pensou. Sem preconceitos, para que cada leitor tire as suas próprias conclusões.

Por que é importante contar a história desse personagem? Qual a dimensão histórica e política do livro?MM: Porque é impossível conhecer a his-

tória do século XX sem conhecer Marighella. Quem acha que conhece se engana. Por isso, fico muito feliz ao saber que três facul-dades incluíram meu livro na bibliografia de cursos _dois de Direito e um de Jornalismo. Aos poucos, vai se quebrando o silêncio sobre Marighella imposto não somente pela ditadura encerrada em 1985, mas por quem divergia de suas opiniões e ações.

Na repressão que se seguiu ao levante comunista de 1935 e na ditadura do Estado Novo (1937-45), Marighella é uma das sínte-ses mais agudas: foi torturado três semanas sem parar e passou sete anos preso.

A Constituinte de 1946, que redemocra-tizou o Brasil, teve nele um dos mais ativos representantes: Marighella integrou a mesa diretiva, foi um dos dois ghost-writers do Partido Comunista (com Jorge Amado), coor-denou a assessoria da bancada e cuidou das questões relativas a família, Estado e Igreja.

O episódio que marcou a virada do movi-mento sindical, então decadente, e que iria desembocar no auge da mobilização popu-lar de 1964, foi a célebre Greve dos 300 Mil, em São Paulo, em 1953. Pois foi Marighella quem, secretamente, desde um esconderijo, dirigiu aquela greve. Seu pombo-correio com os líderes sindicais foi seu camarada e amigo João Saldanha, que anos mais tarde seria técnico da seleção brasileira.

Isso tudo sem falar na condição de guer-rilheiro, de 1967 a 1969, quando Marighella ganhou projeção mundial. Ele e sua orga-nização armada, a ALN (Ação Libertadora Nacional), foram ajudados por personali-dades como o filósofo francês Jean-Paul Sartre, o cineasta italiano Luchino Visconti e seu colega francês Jean-Luc Godard, e o pintor catalão Joan Miró. O jornal francês “Le Monde” tratava Marighella como “mu-lato hercúleo”. A revista norte-americana “Time”, como “mulato de olhos verdes” - e os dele eram castanhos. A CIA, central de inteligência do EUA, avaliou que Marighella sucedeu Che Guevara como inspirador dos

Registro de Marighella quando era deputado, em 46/47

Em abril de 45, Marighella viaja da Ilha Grande para o Rio de Janeiro, onde seria solto, depois de quase seis anos de prisão

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movimentos rebeldes latino-americanos. Os escritos de Marighella foram adotados por movimentos contestatórios dos EUA, com os Panteras Negras, à Palestina, com a antiga OLP. Seus documentos passaram a ser estudados em todo o planeta, da aca-demia militar de Nanquim, na China, à sede da CIA, em Langley.

Marighella foi um gigante da história, in-dependentemente do que pensemos dele.

Você acha que a reportagem - em forma de biografia - também pode ser um instrumento na luta contra a hegemonia e em defesa da classe trabalhadora?MM: O direito à memória é um direito

humano reconhecido universalmente. A his-tória costuma ser contada pelos vencedores ou poderosos. É incrível, como eu anotei, que Marighella ainda seja mais famoso no exterior do que no Brasil, onde ele viveu e combateu por toda a vida.

A reportagem é um gênero jornalístico. O jornalismo é um serviço público, ainda que exercido com fins lucrativos. O serviço público é informar. Quanto mais bem infor-mada for uma sociedade, mais democrática ela será. As biografias ajudam a contar a história. Nós saberíamos muito menos sobre o século XX no Brasil se não fossem tantas biografias escritas por jornalistas, historiadores e autores com outras forma-ções acadêmicas.

Um dos meus prazeres com o livro foi fa-lar sobre grandes educadores, como Anísio Teixeira, que reformou o Ginásio da Bahia, onde em seguida se matriculou o jovem Marighella. E Darcy Ribeiro, amigo de Ma-righella. Darcy foi militante comunista na juventude e ficou à esquerda do PCB no seu

tempo de ministro, antes da deposição gol-pista do presidente João Goulart. Se depen-desse de certa historiografia, Anísio e Darcy seriam apagados da história.

Qual a sua opinião sobre a lei que exige autorização prévia para biografias? É possível dizer que a reação à alteração da lei e exigência de restrição à publicação de informações sobre os biografados é um fato isolado ou pode estar atrelada à um projeto maior de controle ao acesso à informação? É possível dizer que tal lei confronta a lei de acesso à informação pública?MM: A legislação em vigor fez do Brasil a

única grande democracia - pelo menos for-malmente - do planeta a manter a censura prévia não apenas para biografias, mas para toda a produção cultural ou jornalís-tica. É isso o que está previsto nos artigos 20 e 21 do Código Civil de 2002. Basta ler para confirmar, por mais incrível que pare-ça. Essa norma afronta a Constituição de 1988, que assegura liberdade de expressão e acesso à informação.

A lei exige autorização prévia de biogra-fados (ou personagens de reportagem) para que uma biografia possa circular. Isso significa que, se lhe der na veneta, um descendente de Joaquim Silvério dos Reis pode barrar na Justiça um livro - inclusive acadêmico - que afirme que o antepassado foi um dos traidores dos conspiradores mineiros do século XVIII, como Tiradentes, apesar de os Autos da Devassa confirma-rem essa informação.

Para escrever uma biografia do emérito torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra,

eu teria de pedir autorização ao coronel. Imagine que tipo de livro obteria sua per-missão. Que país se constrói assim, só com biografias chapas-brancas?

Outro exemplo: para contar a história do ditador Emílio Garrastazu Médici, um histo-riador precisa pedir autorização prévia aos seus herdeiros. Assim se consagra a história oficial, aquela em que o tirano vira demo-crata e o medíocre é incensado como gênio.

Essa lei é antidemocrática, própria de ditaduras. Na prática, fez com que nume-rosos historiadores e jornalistas abando-nassem projetos de biografias. O dano à memória e à vida cultural é incalculável. Não é à toa que o deputado Jair Bolsonaro apoia a manutenção dessa legislação. Ele não quer que a história seja contada, teme a verdade e os relatos não laudatórios a gente como ele.

O cenário é tão esdrúxulo que, se um descendente de torturador de Marighella quiser tirar meu livro de circulação, não faltará juiz que dê abrigo à sua pretensão, com base na lei. Na biografia, dou nome aos bois, aos agentes públicos que tortura-ram Marighella em 1936.

A lei de acesso à informação é uma con-quista, embora haja muitos problemas na sua execução. Ao cidadão que tem o direito de buscar a informação é imposta, pelo Código Civil, autorização prévia para com-partilhar o que descobriu. Censura prévia é o atraso, representa as trevas.

Entrevista

Arquivo da polícia de SP um mês depois de terceira prisão de Marighella, em junho de 39

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