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braz 1 V CONGRESSO V CONGRESSO BRASILEIRO BRASILEIRO DE BIOÉTICA DE BIOÉTICA O Estado e a O Estado e a vulnerabilidade vulnerabilidade MARLENE BRAZ [email protected].

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V CONGRESSO V CONGRESSO BRASILEIROBRASILEIRODE BIOÉTICADE BIOÉTICA

O Estado e a O Estado e a vulnerabilidadevulnerabilidade

MARLENE [email protected].

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IntroduçãoIntrodução

Qual o papel do Estado na proteção Qual o papel do Estado na proteção dos vulneráveis?dos vulneráveis?

Quem são os vulneráveis?Quem são os vulneráveis?

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O Estado e seu papelO Estado e seu papel

Zelar pela Lei e Pela ordemZelar pela Lei e Pela ordem

Monopólio da ViolênciaMonopólio da Violência

Proteção da vulnerabilidadeProteção da vulnerabilidade

O estado temO estado tem

cumprido comcumprido com

seu papel?seu papel?

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O que é vulnerabilidade?O que é vulnerabilidade?

• Nas raízes do início da utilização do conceito de vulnerabilidade está o início da epidemia de AIDS que estava ligada às formas discriminadas de práticas sexuais levando a epidemia a ser utilizada como recurso discursivo de controle e intervenção sobre a vida sexual de pessoas consideradas vulneráveis.

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O que é vulnerabilidade?O que é vulnerabilidade?O conceito de vulnerabilidade hoje foi O conceito de vulnerabilidade hoje foi

ampliadoampliado. .

Toda vulnerabilidade se traduz por uma Toda vulnerabilidade se traduz por uma condição instávelcondição instável. .

TodosTodos de um jeito ou de outro, em relação a de um jeito ou de outro, em relação a algo são mais ou menos vulneráveisalgo são mais ou menos vulneráveis. .

Através das análises dos fatores sócio-Através das análises dos fatores sócio-materiais materiais diferentes gruposdiferentes grupos sociais estão sociais estão diversamente mais suscetíveis a agravos.diversamente mais suscetíveis a agravos.

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O que é vulnerabilidade?O que é vulnerabilidade?

A verificação da vulnerabilidade de uma pessoa :

- COMPARAÇÃO ENTRE PESSOAS com condições diferentes.

Vulnerabilidade social:

- possibilidade de alguém ter sua condição de vida alterada em relação à sociedade da qual faz parte ou da qual é integrante.

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O que é vulnerabilidade?O que é vulnerabilidade?

• Estado de privação própria da população excluída das necessidades básicas requeridas para seu bem estar físico, mental e social

Vulnerabilidade é sinônimo de desmedro?

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O que é vulnerabilidade?O que é vulnerabilidade?

Distinção entre vulnerabilidade e desmedro Distinção entre vulnerabilidade e desmedro ou susceptibilidade (Kottow).ou susceptibilidade (Kottow).

• Vulnerabilidade - todos somos vulneráveis. Vulnerabilidade - todos somos vulneráveis. Ela Ela é inespecífica porque todos somos vulneráveis a diferentes riscos que não podem ser determinados e nem quantificáveis, assim como frente à realidade ou à fantasias. As vulnerabilidades são muitas e podemos nos sentir de várias maneiras frente a elas, seja nos angustiando, negando ou mesmo exaltando o risco. (Kottow)

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O que é vulnerabilidade?O que é vulnerabilidade?• Por “vulnerabilidade se entende uma debilidade,

uma fragilidade” .(.(Stälsett, 2003 )

• Vulnerabilidade significa, deste modo, a capacidade de ser ferido (ibidem).

• Ninguém quer ser ferido e, portanto, a “vulnerabilidade tem direito à proteção e a necessidade de segurança num sentido amplo”.

• A busca de se eliminar a vulnerabilidade pode conduzir a uma preocupação muito grande com a segurança com conseqüências até desumanizantes. “Ser humano é ser vulnerável.(.(Stälsett, 2003 )

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Desmedro ou susceptibilidade

• Estado de desamparo, isto é, situações concretas de dano iminente, nas quais o indivíduo afetado não conta com recursos para evitar o prejuízo ou mesmo defender-se de forma adequada.

• Indivíduos privados de contar com bens primários necessários para sustentar um projeto de vida. Estão susceptíveis a severos riscos existenciais (Kottow).

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O Estado e a proteção da O Estado e a proteção da vulnerabilidadevulnerabilidade

Há milhares de anos, na savana africana onde os Há milhares de anos, na savana africana onde os homens eram caçadores-coletores, se eles homens eram caçadores-coletores, se eles encontravam com desconhecidos, ocorria uma luta encontravam com desconhecidos, ocorria uma luta de morte. Isto porque o desconhecido era sempre o de morte. Isto porque o desconhecido era sempre o inimigo.inimigo.

Com a domesticação de animais e a agricultura, Com a domesticação de animais e a agricultura, começa a haver comida excedente e não era mais começa a haver comida excedente e não era mais necessário o deslocamento. As famílias necessário o deslocamento. As famílias aumentaram, deixaram de ser nômades e criaram as aumentaram, deixaram de ser nômades e criaram as cidades.cidades.

Para que não houvesse necessidade de se matar uns Para que não houvesse necessidade de se matar uns aos outros, surgiram leis de convivência e um poder aos outros, surgiram leis de convivência e um poder central que zelava pelo cumprimento desta leis.central que zelava pelo cumprimento desta leis.

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O Estado e a proteção da O Estado e a proteção da vulnerabilidadevulnerabilidadeNasce a cleptocracia (poder-ladrão), isto é, os Nasce a cleptocracia (poder-ladrão), isto é, os

governantes roubavam do povo, sob a forma de governantes roubavam do povo, sob a forma de impostos, prometendo em troca manter a lei.impostos, prometendo em troca manter a lei.

A violência passa a ser monopólio do Estado e mais A violência passa a ser monopólio do Estado e mais ninguém podia tomar as leis nas próprias mãos.ninguém podia tomar as leis nas próprias mãos.

O povo achou bom porque não precisava despender O povo achou bom porque não precisava despender esforços em matar ou se defender e podia ocupar esforços em matar ou se defender e podia ocupar o tempo com tarefas mais importantes como as o tempo com tarefas mais importantes como as invenções para o bem-estar.invenções para o bem-estar.

Não se importava com o roubo dos governantes Não se importava com o roubo dos governantes (impostos) desde que eles cumprissem seu papel (impostos) desde que eles cumprissem seu papel principal: zelar pela lei e pela ordem.principal: zelar pela lei e pela ordem.

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O Estado e a proteção da O Estado e a proteção da vulnerabilidadevulnerabilidade

Se houvesse desconfiança por parte do povo Se houvesse desconfiança por parte do povo que os governantes estivessem roubando que os governantes estivessem roubando demais e protegendo de menos, a revolta demais e protegendo de menos, a revolta era certa e sanguinolentaera certa e sanguinolenta. (Jared Diamond - . (Jared Diamond - Armas, germes e açoArmas, germes e aço).).

Alguma semelhança?

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O Estado e a proteção da O Estado e a proteção da vulnerabilidadevulnerabilidade

• As fragilidades a que todos estão expostos variam entre os indivíduos e segundo cada história de vida.

• A proteção coletiva (o Estado) não protege estas fragilidades pessoais.

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O Estado e a proteção da O Estado e a proteção da vulnerabilidadevulnerabilidade

• Não caberia ao Estado precaver a todos os indivíduos quanto aos agravos pessoais, mas tão somente proteger contra a ameaça que possam atingir a todos coletivamente, como no caso de segurança pública, guerras, epidemias.

• Caberia, também a proteção da parcela da população que se encontra em situação de desmedro, já que provocada por políticas econômicas ou catástrofes ambientais.

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ENTRETANTO

• Apesar da vulnerabilidade ser compartilhada Apesar da vulnerabilidade ser compartilhada por todos, ela é assimétrica.por todos, ela é assimétrica.

““Não afeta a todos igualmente, da mesma Não afeta a todos igualmente, da mesma maneira e no mesmo grau” (Sturla J. maneira e no mesmo grau” (Sturla J. Stalset).Stalset).

• Há uma polarização entre economia e Há uma polarização entre economia e exclusão social.exclusão social.

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O Estado brasileiro e a O Estado brasileiro e a globalizaçãoglobalização

• Se por um lado a Se por um lado a globalizaçãoglobalização abriu um mundo de abriu um mundo de possibilidadespossibilidades, na realidade, foi para uma , na realidade, foi para uma pequena pequena elite.elite.

• Ao mesmo tempo que a globalização abarca tudo, Ao mesmo tempo que a globalização abarca tudo, do mesmo modo deixam cada vez do mesmo modo deixam cada vez mais pessoas de mais pessoas de fora.fora.

• A marginalização de pessoas e a exclusão, a A marginalização de pessoas e a exclusão, a assimetria da vulnerabilidade compartilhadaassimetria da vulnerabilidade compartilhada, , conduz as questões de conduz as questões de poder e justiçapoder e justiça que são que são questões éticas fundamentais (Stalset).questões éticas fundamentais (Stalset).

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O século XXI trouxe O século XXI trouxe o fim de uma ética socialo fim de uma ética social, , baseada no trabalhobaseada no trabalho; (...) O trabalho, ao ; (...) O trabalho, ao deixar de ser a base de organização da deixar de ser a base de organização da sociedade, transforma o ócio em sociedade, transforma o ócio em mercadoria simbólica; mercadoria simbólica; insuflando desejos insuflando desejos primitivos de uma multidão de primitivos de uma multidão de desesperançados, a participar como desesperançados, a participar como consumidores de um mundo que os excluiconsumidores de um mundo que os exclui. .

O conceito de O conceito de cidadania é transmutado para o cidadania é transmutado para o de consumidorde consumidor. . (Bahia, 2001)(Bahia, 2001)

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Um modo de produção ilícito:Um modo de produção ilícito: fabricação de fabricação de remédios, CDs, cigarros, bebidas, biscoitos e remédios, CDs, cigarros, bebidas, biscoitos e macarrões falsos, linhas de ônibus, kombis e macarrões falsos, linhas de ônibus, kombis e vans piratas ocupam o espaço público. vans piratas ocupam o espaço público.

Um comércio lucrativo, informal e ilegal de todos Um comércio lucrativo, informal e ilegal de todos os tipos de mercadorias roubadas, falsificadas os tipos de mercadorias roubadas, falsificadas e de drogas é capilarizado em nossos e de drogas é capilarizado em nossos territórios, territórios, estando ao alcance de todos.estando ao alcance de todos.

““O fim da ética do trabalho produz um cenário O fim da ética do trabalho produz um cenário obscuro para o futuro, pois as regras do obscuro para o futuro, pois as regras do mercado são as regras do capital, e este cada mercado são as regras do capital, e este cada vez mais é gerado por redes criminosas vez mais é gerado por redes criminosas hierarquizadas em escala mundialhierarquizadas em escala mundial””. . (Bahia, (Bahia, 2001)2001)

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Vulnerabilidade e éticaVulnerabilidade e ética

• Vulnerabilidade implica numa abertura para Vulnerabilidade implica numa abertura para os “Outros”.os “Outros”.

• Se não há reconhecimento da Se não há reconhecimento da vulnerabilidade própria de cada um, não há vulnerabilidade própria de cada um, não há como reconhecer a vulnerabilidade dos como reconhecer a vulnerabilidade dos “Outros” e a demanda ética que se faz “Outros” e a demanda ética que se faz presente.presente.

• Por este motivo o sonho de Por este motivo o sonho de invulnerabilidade tão caro ao projeto da invulnerabilidade tão caro ao projeto da modernidade e tão caro aos imperialismos modernidade e tão caro aos imperialismos antigos e atuais é um sonho imoral (Stalset).antigos e atuais é um sonho imoral (Stalset).

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A busca por segurançaA busca por segurança

““A preocupação excessiva com a segurança A preocupação excessiva com a segurança é expressa pela construção de muros: o é expressa pela construção de muros: o muro de Berlim, o muro que está sendo muro de Berlim, o muro que está sendo construído dividindo judeus e palestinos, construído dividindo judeus e palestinos, os milhões de muros que cercam as os milhões de muros que cercam as propriedades particulares da violência propriedades particulares da violência das ruas, os muros de controle de das ruas, os muros de controle de fronteiras entre o mundo rico e o pobre e fronteiras entre o mundo rico e o pobre e até o projeto de construir muros anti-até o projeto de construir muros anti-mísseis no espaço” (Stalset).mísseis no espaço” (Stalset).

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A violência, a vulnerabilidade A violência, a vulnerabilidade e o caso do Rio de Janeiroe o caso do Rio de Janeiro

• O Muro da rocinha. Por que não? É apartheid? O Muro da rocinha. Por que não? É apartheid? Por que os pobres não podem viver em Por que os pobres não podem viver em condomínios seguros?condomínios seguros?

• Visão paternalista sobre os pobres. Quem Visão paternalista sobre os pobres. Quem sabe o que é melhor é o rico que mora ao sabe o que é melhor é o rico que mora ao redor e não os moradores das favelas.redor e não os moradores das favelas.

• Por que nomear a rocinha como comunidade? Por que nomear a rocinha como comunidade? São Conrado, Gávea, Barra da Tijuca não são São Conrado, Gávea, Barra da Tijuca não são assim denominados. São bairros tão somente.assim denominados. São bairros tão somente.

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Preconceito e discriminaçãoPreconceito e discriminação• Estas são as palavras para descrever as Estas são as palavras para descrever as

relações entre os ricos e pobres do Rio de relações entre os ricos e pobres do Rio de Janeiro.Janeiro.

• São também as palavras que descrevem a São também as palavras que descrevem a presença do aparato policial nas favelas em presença do aparato policial nas favelas em época de crise.época de crise.

• A busca por segurança é legítima desde que A busca por segurança é legítima desde que seja para todos e não como meta para reduzir seja para todos e não como meta para reduzir ou remover a vulnerabilidade.ou remover a vulnerabilidade.

• É preciso procurar soluções para que as É preciso procurar soluções para que as pessoas possam desenvolver-se como seres pessoas possam desenvolver-se como seres vulneráveis e não como desmedrados.vulneráveis e não como desmedrados.

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A violência urbana cotidiana dentro das comunidades ou A violência urbana cotidiana dentro das comunidades ou tendo seus moradores como vítimas, por vezes, parece ser tendo seus moradores como vítimas, por vezes, parece ser assimilada como parte da vida metropolitana. Tanto assim, assimilada como parte da vida metropolitana. Tanto assim, que o primeiro posicionamento público das nossas que o primeiro posicionamento público das nossas autoridades estaduais e municipais, apesar da troca de autoridades estaduais e municipais, apesar da troca de acusações, converge para um elemento comum e acusações, converge para um elemento comum e historicamente já conhecido: a historicamente já conhecido: a criminalização da pobreza e criminalização da pobreza e o conseqüente enfrentamento desta com mais violência, o conseqüente enfrentamento desta com mais violência, opressão e segregaçãoopressão e segregação, procurando livrar aqueles que , procurando livrar aqueles que pagam impostospagam impostos e formam opinião, da ameaça das "classes e formam opinião, da ameaça das "classes perigosas". perigosas". Tanto a construção de muros em torno das Tanto a construção de muros em torno das favelas quanto a solução pela ocupação militar na cidade favelas quanto a solução pela ocupação militar na cidade são medidas que, além de não resolverem estruturalmente são medidas que, além de não resolverem estruturalmente o problema, ferem direitos civis e não contribuem para o problema, ferem direitos civis e não contribuem para aprofundar o debate real sobre o problema da segurança aprofundar o debate real sobre o problema da segurança públicapública no estado do Rio de Janeiro. no estado do Rio de Janeiro.

NOTA OFICIAL da ABONG sobre a NOTA OFICIAL da ABONG sobre a violência no Rio de Janeiroviolência no Rio de Janeiro

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A cidade do Rio de Janeiro tem comandos A cidade do Rio de Janeiro tem comandos

paralelos, mais presentes e coercitivos que o do paralelos, mais presentes e coercitivos que o do

Estado de fato. Estado de fato.

OO poder das armas e da coerção legitimam as poder das armas e da coerção legitimam as

ações. ações.

““OO Estado transforma-se em uma vasta Estado transforma-se em uma vasta

máquina policial mantenedora da ordem públicamáquina policial mantenedora da ordem pública. .

(...) (...) ele é cooptado pela dinâmica social imposta ele é cooptado pela dinâmica social imposta

pelo “narcopoder” e pelas “lúmpen-elitespelo “narcopoder” e pelas “lúmpen-elites”.”.

(Bahia, 2001)(Bahia, 2001)

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Há os que pregam uma ampliação na repressão estatal:Há os que pregam uma ampliação na repressão estatal:

- ““Pena de MortePena de Morte”, ”,

- ““Prisão PerpétuaPrisão Perpétua”, ”,

- ““Colocar o Exército nas RuasColocar o Exército nas Ruas”, ”,

- ““Fuzilar sumariamente criminososFuzilar sumariamente criminosos”, etc. ”, etc.

O O Estado, responsável maior pelo aumento da violência e do Estado, responsável maior pelo aumento da violência e do desespero da populaçãodesespero da população, deve ser uma uma “máquina de , deve ser uma uma “máquina de extermínio”. extermínio”.

““O Estado falha na formação do cidadão, falha ao não criar a todos O Estado falha na formação do cidadão, falha ao não criar a todos condições de trabalho e emprego, falha ao não permitir a todos condições de trabalho e emprego, falha ao não permitir a todos oportunidades iguais, falha no atendimento médico, dentário, oportunidades iguais, falha no atendimento médico, dentário, hospitalar e educacional e, ao criar “monstros” deve incumbir-se hospitalar e educacional e, ao criar “monstros” deve incumbir-se de “exterminá-losde “exterminá-los”. ”. (CHAVEZ, 2004)(CHAVEZ, 2004)

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DIGNIDADEDIGNIDADE

• Significado de auto-estima, auto Significado de auto-estima, auto respeito dos pobres.respeito dos pobres.

• Pobreza não tem a ver somente com Pobreza não tem a ver somente com privação de recursos econômicos.privação de recursos econômicos.

• Pobreza também tem a ver com a Pobreza também tem a ver com a privação das capacidades para privação das capacidades para realizar objetivos de vida. É a realizar objetivos de vida. É a privação no sentido pessoal, na privação no sentido pessoal, na honra e no respeito públicohonra e no respeito público

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Apresentar-se publicamente Apresentar-se publicamente sem sentir vergonha (Adam sem sentir vergonha (Adam Smith)Smith)

• Não se pode medir pobreza apenas com Não se pode medir pobreza apenas com estatística, porque ela é um fenômeno estatística, porque ela é um fenômeno interpessoal e social (Amartya Sen).interpessoal e social (Amartya Sen).

• Pobreza deve ser vista como privação do Pobreza deve ser vista como privação do respeito social ou público.respeito social ou público.

• Pobreza como sentimento de vergonha.Pobreza como sentimento de vergonha.

• Isto se refere à dignidade do ser humano.Isto se refere à dignidade do ser humano.

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• Pode haver crescimento econômico, Pode haver crescimento econômico, mas se a dignidade não for mas se a dignidade não for respeitada e nem fortalecida, não é respeitada e nem fortalecida, não é um verdadeiro desenvolvimento.um verdadeiro desenvolvimento.

““A boa sociedade, no sentido A boa sociedade, no sentido ético, é uma sociedade na qual ético, é uma sociedade na qual todos os seres humanos todos os seres humanos integrantes desta sociedade integrantes desta sociedade reconhecem, respeitam e reconhecem, respeitam e realizam mutuamente sua realizam mutuamente sua dignidade humana” dignidade humana” (Stalset)(Stalset)

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Estado e justiçaEstado e justiça• Justiça não é só seguir as leis, apesar Justiça não é só seguir as leis, apesar

de ajudar bastante.de ajudar bastante.

• A corrupção e a a impunidade têm A corrupção e a a impunidade têm efeitos desastrosos sobre a sociedade. efeitos desastrosos sobre a sociedade. Porém:Porém:

A justiça deve ter um papel de inclusão A justiça deve ter um papel de inclusão frente às leis jurídicas e econômicas frente às leis jurídicas e econômicas que excluem e desumanizam. A Lei que excluem e desumanizam. A Lei deve estar serviço da vida e não ao deve estar serviço da vida e não ao contrário.contrário.

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Se o Estado com sua política econômica Se o Estado com sua política econômica impõe leis e critérios excludentes é fato impõe leis e critérios excludentes é fato que ela não está servindo ao seu propósito que ela não está servindo ao seu propósito fundamental que é proteger à vida fundamental que é proteger à vida humana. humana.

As As leis mais perigosasleis mais perigosas são justamente as são justamente as vistas como vistas como eternaseternas e não sujeitas à e não sujeitas à modificações como as do modificações como as do cálculo custo-cálculo custo-benefício, da eficiência e rentabilidadebenefício, da eficiência e rentabilidade..

As leis devem estar subordinadas à lógica da As leis devem estar subordinadas à lógica da vida humanavida humana..

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O caráter imoral da política econômica O caráter imoral da política econômica consiste na prioridade que se dá à consiste na prioridade que se dá à propriedade e ao contrato, mesmo propriedade e ao contrato, mesmo que custe vidas humanas.que custe vidas humanas.

Priorização da economia em detrimento Priorização da economia em detrimento das necessidades do povo não é nem das necessidades do povo não é nem economicamente sustentável e nem economicamente sustentável e nem moralmente legítimo.moralmente legítimo.

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Obrigar um povo (70% dele) a Obrigar um povo (70% dele) a pagar dívidas que não pagar dívidas que não contraiu, em que não teve contraiu, em que não teve participação e que não participação e que não recebeu nenhum benefício é recebeu nenhum benefício é imoral.imoral.

Os pobres são as vítimas Os pobres são as vítimas preferencias da violência do preferencias da violência do Estado e da política.Estado e da política.

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Homem em silêncioHomem em silêncioHomem na prisãoHomem na prisãoHomem no escuroHomem no escuroFuturo da naçãoFuturo da nação

Estado violênciaEstado violênciaDeixem-me quererDeixem-me quererEstado violênciaEstado violência

Deixem-me pensarDeixem-me pensar

Estado violênciaEstado violênciaDeixem-me sentirDeixem-me sentirEstado violênciaEstado violência

Deixem-me em pazDeixem-me em paz

Sinto no meu corpoSinto no meu corpoA dor que angustiaA dor que angustiaA lei ao meu redorA lei ao meu redorA lei que eu não queriaA lei que eu não queria

Estado violênciaEstado violênciaEstado hipocrisiaEstado hipocrisiaA lei que não é minhaA lei que não é minhaA lei que eu não queriaA lei que eu não queria

Meu corpo não é meuMeu corpo não é meuMeu coração é teuMeu coração é teuAtrás de portas friasAtrás de portas friasO homem está sóO homem está só

ESTADO VIOLÊNCIA (charles gavin)Titãs

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Este é o resultado:Este é o resultado:

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http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI292083-EI316,00.html

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•http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI292083-EI316,00.html

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