19
 1 BREVE HISTORIA DA MODERNA PSICOLOGIA SOCIAL Maria Cristina Ferreira INTRODUÇÃO A psicologia social é uma disciplina relati- vamente recente, já que adquiriu tal status apenas no começo do século XX, razão pela qual alguns dos que contribuíram para a construção de seu passado ainda estão vi- vos e atuantes em suas respectivas áreas de investigação. Um rápido exame dessa curta história evidencia que, desde o início, essa área da psicologia social foi marcada por uma relativa falta de consenso acerca de seu objeto de estudo. Ainda assim, é possível ob- servar que o binômio indivíduo-sociedade, isto é, o estudo das relações que os indiví- duos mantêm entre si e com a sociedade ou a cultura, esteve freqüentemente no centro das preocupações dos psicólogos sociais.  No entanto, a ênfase maior dada ao indivíduo ou à sociedade irá acompanhar a evolução da teorização no campo da psico- logia social desde os seus primórdios, levan- do à caracterização de duas diferentes mo- dalidades da disciplina: a psicologia social psicológica e a psicologia social sociológica. A psicologia social psicológica, segundo a definição de Gordon Allport (1954), que se tornou clássica, procura explicar os senti- mentos, pensamentos e comportamentos do indivíduo na presença real ou imaginada de outras pessoas. Já a psicologia social socio- lógica, segundo Stephan e Stephan (1985), tem como foco o estudo da experiência so- cial que o indivíduo adquire a partir de sua participação nos diferentes grupos sociais com os quais convive. Em outras palavras,  os psicólogos sociais da primeira vertente tendem a enfatizar principalmente os pro- cessos intraindividuais, enquanto os da se- gunda tendem a privilegiar as coletividades sociais.  A história "oficial" da psicologia social foi contada, durante muito tempo, nos ca- pítulos dos  Handbooks of Social Psychology, escritos por Gordon Allport e sucessiva- mente publicados nos anos de 1954, 1968 e 1985 com ligeiras modificações. Contudo, o trabalho de Allport tem sofrido críticas (Apfelbaum, 1992) associadas ao fato de ser uma história parcial, que ressalta ape- nas as raízes da psicologia social psicológi- ca, procurando assim legitimar tão somente os pressupostos teóricos e metodológicos de parte da comunidade científica que atua no âmbito dessa modalidade de psicologia social. Publicações mais recentes (Álvaro e Garrido, 2007; Farr, 1999; Jahoda, 2007; Vala e Monteiro, 2004) têm procurado supe- rar tais limitações ao abordar as raízes não apenas da psicologia social psicológica, mas também da psicologia social sociológica e de outras vertentes que, ao longo do tempo, fo- ram desenvolvendo-se em outras partes do mundo, de forma independente da corrente dominante que era praticada sobretudo nos Estados Unidos. O presente capítulo tem como objetivo realizar uma revisão descritiva e cronológi- ca dos principais eventos apontados como marcantes no desenvolvimento das diferen- tes modalidades nas quais se desdobra a moderna psicologia social, como forma de  

Breve História Da Moderna Psicologia Social_Ferreira2011

Embed Size (px)

Citation preview

  • 1 BREVE HISTORIA DA MODERNA PSICOLOGIA SOCIAL

    Maria Cristina Ferreira

    INTRODUO A psicologia social uma disciplina relati-vamente recente, j que adquiriu tal status apenas no comeo do sculo XX, razo pela qual alguns dos que contriburam para a construo de seu passado ainda esto vi-vos e atuantes em suas respectivas reas de investigao. Um rpido exame dessa curta histria evidencia que, desde o incio, essa rea da psicologia social foi marcada por uma relativa falta de consenso acerca de seu objeto de estudo. Ainda assim, possvel ob-servar que o binmio indivduo-sociedade, isto , o estudo das relaes que os indiv-duos mantm entre si e com a sociedade ou a cultura, esteve freqentemente no centro das preocupaes dos psiclogos sociais.

    No entanto, a nfase maior dada ao indivduo ou sociedade ir acompanhar a evoluo da teorizao no campo da psico-logia social desde os seus primrdios, levan-do caracterizao de duas diferentes mo-dalidades da disciplina: a psicologia social psicolgica e a psicologia social sociolgica. A psicologia social psicolgica, segundo a definio de Gordon Allport (1954), que se tornou clssica, procura explicar os senti-mentos, pensamentos e comportamentos do indivduo na presena real ou imaginada de outras pessoas. J a psicologia social socio-lgica, segundo Stephan e Stephan (1985), tem como foco o estudo da experincia so-cial que o indivduo adquire a partir de sua participao nos diferentes grupos sociais com os quais convive. Em outras palavras,

    os psiclogos sociais da primeira vertente tendem a enfatizar principalmente os pro-cessos intraindividuais, enquanto os da se-gunda tendem a privilegiar as coletividades sociais.

    A histria "oficial" da psicologia social foi contada, durante muito tempo, nos ca-ptulos dos Handbooks of Social Psychology, escritos por Gordon Allport e sucessiva-mente publicados nos anos de 1954, 1968 e 1985 com ligeiras modificaes. Contudo, o trabalho de Allport tem sofrido crticas (Apfelbaum, 1992) associadas ao fato de ser uma histria parcial, que ressalta ape-nas as razes da psicologia social psicolgi-ca, procurando assim legitimar to somente os pressupostos tericos e metodolgicos de parte da comunidade cientfica que atua no mbito dessa modalidade de psicologia social. Publicaes mais recentes (lvaro e Garrido, 2007; Farr, 1999; Jahoda, 2007; Vala e Monteiro, 2004) tm procurado supe-rar tais limitaes ao abordar as razes no apenas da psicologia social psicolgica, mas tambm da psicologia social sociolgica e de outras vertentes que, ao longo do tempo, fo-ram desenvolvendo-se em outras partes do mundo, de forma independente da corrente dominante que era praticada sobretudo nos Estados Unidos.

    O presente captulo tem como objetivo realizar uma reviso descritiva e cronolgi-ca dos principais eventos apontados como marcantes no desenvolvimento das diferen-tes modalidades nas quais se desdobra a moderna psicologia social, como forma de

  • 14 TORRES, NEIVA & COLS.

    contextualizar suas origens, sem ter a pre-tenso de esgotar o assunto. Nesse sentido, inicia-se com a abordagem dos autores que, na segunda metade do sculo XIX, desen-volveram reflexes sobre temas que exer-cero significativa influncia na construo da nova disciplina para, em seguida, tecer comentrios sobre as obras que assinalaram a sua fundao. Posteriormente, discutem--se os desdobramentos que ocorreram nos Estados Unidos, na Europa e na Amrica Latina, para, guisa de concluso, trazer algumas reflexes acerca do estado atual da psicologia social. Cumpre ressaltar que a excelente reviso histrica de ambas as vertentes da psicologia social, realizada por lvaro e Garrido (2007), mostrou-se fundamental elaborao do presente captulo.

    OS PRECURSORES DA PSICOLOGIA SOCIAL A expresso "psicologia social" foi utilizada pela primeira vez em 1908, ou seja, no in-cio do sculo XX, em dois diferentes livros, razo pela qual esse ano considerado por muitos como a data de fundao da discipli-na. Porm, ao longo do sculo XIX, quando os limites entre a sociologia e a psicologia ainda no eram muito claros, foram publi-cadas vrias obras nas quais o indivduo e a sociedade j eram abordados e discutidos. Seus autores eram pensadores oriundos de vrios campos do saber, como, por exemplo, a filosofia, a antropologia, a biologia, etc., j que naquela poca o papel profissional do psiclogo social ainda no havia sido insti-tudo. Entre esses, merecem destaque os es-tudos de Darwin e Spencer, na Inglaterra, os estudos de Wundt, na Alemanha, e os estudos de Durkheim, Tarde e L Bon, na Frana.

    Os precursores da psicologia social na Inglaterra A teoria da evoluo de Charles Darwin (1809-1882) considerada uma das mais poderosas e populares inovaes do sculo

    XIX, tendo exercido grande influncia sobre a psicologia. Em 1859, Darwin publica a obra Origem das espcies, na qual desenvolve a tese da seleo natural (Boeree, 2006a). Segundo ela, na briga pelos escassos recur-sos da natureza, somente as espcies com maior capacidade de adaptao s varia-es da natureza conseguiram sobreviver e reproduzir-se. Darwin acreditava, portanto, que o ser humano constitui-se como o pro-duto final de um processo evolucionista que envolveu todos os organismos vivos, ou seja, um animal social que desenvolveu maior ca-pacidade de se adaptar fsica, social e men-talmente s mudanas ambientais e sociais. Para ele, ento, haveria uma continuidade entre as espcies humanas e no humanas.

    Tempos depois, Herbert Spencer (1820-1903), fundamentando-se na teoria da seleo natural, converte-se em um dos principais lderes do movimento conhecido como darwinismo social, sendo dele a ex-presso "sobrevivncia do mais adaptado". No livro Princpios de psicologia, publicado em 1870, ele aplica as idias de Darwin so-bre o desenvolvimento da espcie humana ao desenvolvimento de grupos, socieda-des e culturas, enfatizando a existncia de uma continuidade entre ambos (Boeree, 2006a). Seu principal argumento era o de que as naes e os grupos tnicos podiam ser classificados na escala evolucionista de acordo com o seu grau de desenvolvimento, organizao, poder e capacidade de adap-tao. Desse modo, os povos mais civiliza-dos e avanados em termos culturais eram hierarquicamente superiores aos povos mais atrasados no que tange escala evolucio-nista. As abordagens de Darwin e Spencer exerceram forte influncia na psicologia dos instintos, praticada ao incio do sculo XX por alguns psiclogos sociais, conforme se ver mais frente.

    O precursor da psicologia social na Alemanha Wilhelm Wundt (1832-1920) o principal representante da psicologia dos povos, que

  • PSICOLOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES 15

    surgiu na esteira do movimento de reunifi-cao da Alemanha e que tinha como foco o estudo dos principais atributos em comum que definiam o carter nacional ou o pensa-mento coletivo do povo alemo (Mcgarty e Haslam, 1997). Suas idias, entretanto, so-freram uma considervel evoluo ao longo de sua carreira. Assim que, inicialmente, ele defendia que a psicologia cientfica de-veria ser vista como uma cincia natural que se ocupava do estudo da mente, isto , dos processos mentais bsicos (sensao, ima-gem e sentimentos). Para Wundt, esse tipo de investigao deveria ser conduzido por meio da introspeco, ou seja, mediante a auto-observao rigorosa e controlada do modo pelo qual esses fenmenos ocorriam (lvaro e Garrido, 2007).

    Em virtude dessas preocupaes, Wundt criou em 1879, na cidade de Leipizig, o pri-meiro laboratrio de psicologia do mundo, tendo ali realizado uma srie de experimen-tos com o objetivo de estudar os processos mentais bsicos, alm de ter fundado o pri-meiro peridico de psicologia experimental. Tais aes levaram-no a ser considerado o fundador da psicologia experimental.

    Com o passar do tempo, porm, Wundt sentiu necessidade de estudar os proces-sos mentais mais complexos ou superiores, como a memria e o pensamento, tendo constatado que o mtodo experimental no era adequado a tal estudo. Assim, props uma distino entre a psicologia experimen-tal, responsvel pelo estudo dos processos mentais bsicos, e a Vlkerpsychologie (psi-cologia dos povos), dedicada ao estudo dos processos mentais superiores por meio do mtodo histrco-comparativo. Com isso, ele estabelece uma clara distino entre os fenmenos psicolgic@s mais externos, que estariam na periferia da mente, e os fen-menos mais profundos, que constituiriam a mente propriamente dita (lvaro e Garrido, 2007).

    Em sua Vlkerpsychologie, Wundt toma a mente como um fenmeno histrico, um produto da cultura e da linguagem de um determinado povo, que no poderia ser ex-plicada em termos individuais, mas sim em

    termos coletivos. Por essa razo, detm-se no estudo da lngua, da arte, dos mitos e dos costumes, como forma de compreender a mente. Em sntese, haveria uma ntima relao entre a mente humana e a cultura, entre o indivduo e o contexto cultural no qual ele se desenvolve. Desse modo, a psico-logia deveria estudar as produes mentais coletivas originadas das aes de conjuntos de indivduos se quisesse chegar mente humana (Farr, 1999). A psicologia dos po-vos de Wundt exerceu influncia principal-mente sobre a psicologia social sociolgica, em virtude da nfase atribuda questo da determinao scio-histrica do indivduo e ao uso da metodologia no experimental.

    Os precursores da psicologia social na Frana Conforme j mencionado, entre os pre-cursores da psicologia social na Frana encontram-se Durkheim, Tarde e L Bon. Emile Durkheim (1858-1917) considerado um dos fundadores da sociologia, tendo publicado vrias obras nas quais aborda a evoluo da sociedade, os mtodos da socio-logia e a vida religiosa. No livro intitulado Representaes individuais e representaes coletivas, publicado em 1898, ele desenvolve o conceito de representaes coletivas (Melo Neto, 2000), que exerceu significativa influ-ncia sobre a psicologia social europia. Para ele, as representaes coletivas (como a re-ligio, os mitos, etc.) constituem-se em um fenmeno ao nvel da sociedade e distinto das representaes individuais, que esto no nvel do indivduo. Nesse sentido, postula que os sentimentos privados s se tornam sociais quando extrapolam os indivduos e associam-se, formando uma combinao que se perpetua no tempo, transformando--se na representao de toda uma sociedade. As posies de Durkheim influenciaro sobretudo o psiclogo social Serge Moscovici, que, muitos anos depois, desenvolve a teoria das representaes sociais.

    Gabriel Tarde (1843-1904), na obra As leis da imitao, publicada em 1890, de-

  • ^H

    16 TORRES, NEIVA&COLS.

    fende que a vida social tem como mecanis-mo bsico a imitao (Karpf, 1932). Desse modo, qualquer produo individual, surgi-da sob a forma de uma inveno ou desco-berta, propaga-se na vida social por meio da imitao, uniformizando-a. Para ele, as ini-ciativas individuais constituem-se em uma inveno, enquanto as uniformidades da vida social associam-se imitao, que con-siste, portanto, em uma socializao da ino-vao individual. Avanando em suas pro-posies, o autor ressalta que as pessoas de status inferior costumam imitar as de maior status, que o processo de imitao comea lentamente e com o tempo se acelera e que a cultura nacional imitada antes da estran-geira (lvaro e Garrido, 2007). As idias de Tarde exercero influncia no trabalho de Ross, que publicou um dos primeiros livros de psicologia social.

    Em 1895, Gustav L Bon (1814-1931) publicou o livro Psicologia das multides (Melo Neto, 2000), que exerceu significa-tiva influncia nos trabalhos de vrios psi-clogos sociais posteriores. Nesse livro, o autor defende a tese de que as massas ou multides constituem-se em seres psquicos de caractersticas diferentes dos indivduos que as compem. Nesse sentido, quando eles se juntam s massas, perdem suas ca-ractersticas superiores e sua autonomia, passando a ser regidos por uma alma cole-tiva, com caractersticas independentes das de seus membros, alm de mais primitivas e inconscientes. As multides seriam, assim, as responsveis pelo fato de os sujeitos per-derem sua individualidade e passarem a fazer parte de um todo com caractersticas totalmente distintas das partes que o com-pem.

    Segundo L Bon, ao se encontrar em uma multido, o indivduo sufoca sua per-sonalidade consciente e passa a ser domi-nado pela mente coletiva da multido, que capaz de levar seus membros a apresen-tar comportamentos unnimes, emocionais e desprovidos de racionalidade. Em outras palavras, as pessoas perdem sua capacidade de raciocnio e tornam-se altamente suges-tionveis, o que as leva a cometer atos de

    barbrie que no praticariam se estivessem sozinhas.

    Quando enfatiza a irracionalidade das multides, L Bon estabelece um vnculo en-tre a psicologia social e a psicopatologia, ao qual se contrape a psicologia social psicol-gica de base cognitiva, surgida nos anos de 1970 (Farr, 1999). Por outro lado, a questo da sugesto ou influncia social, implcita na psicologia das multides, posteriormente se converter em objeto de ateno da psicolo-gia social psicolgica de base experimental. No entanto, o estudo da mente grupai e do comportamento das multides propriamen-te dito, foco central da obra de L Bon, so-mente ser resgatado mais recentemente, por autores como Moscovici e colaboradores (McGarty e Haslam, 1997).

    A FUNDAO DA PSICOLOGIA SOCIAL No incio do sculo XX, a psicologia social comea a adquirir o status de uma discipli-na independente, e seu centro de gravidade comea a mudar da Europa para os Estados Unidos (Jahoda, 2007). Duas obras, publica-das no ano de 1908, iro marcar a fundao oficial da psicologia social moderna: Uma introduo psicologia social, de William McDougall, e Psicologia social: uma resenha e um livro texto, de Edward Ross (Pepitone, 1981). Cumpre registrar, porm, que esses dois autores, embora fossem contemporne-os e tivessem usado a expresso psicologia social nos ttulos de seus livros, no estavam falando do mesmo assunto.

    Edward Ross (1866-1951) era um so-cilogo norte-americano que, influenciado pelas obras de Tarde e de L Bon, caracte-rizou a psicologia social como o estudo das uniformidades de pensamentos, crenas e aes decorrentes da interao entre os seres humanos (Pepitone, 1981). Segundo Ross, os fenmenos subjacentes a essa uniformi-dade so a imitao, a sugesto e o cont-gio, o que explicaria a rpida uniformidade verificada entre as emoes e as crenas das multides. Embora Ross tenha especificado

    --

    '.: : er:

    - - - - - -

    "

    - . . -

    :

    amo, por 7 - 1

    :,

    . -

    :. : - : - T :

  • PSICOLOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES 17

    algumas variveis que interferem na suges-to Ccomo, por exemplo, o prestgio da fon-te), sua anlise da vida social humana no se reverteu no desenvolvimento de um mo-delo terico formal, tendo ele se limitado a organizar observaes extradas da histria, da literatura e do trabalho de outros auto-res.

    McDougall (1871-1938), por outro lado, era um psiclogo britnico que foi fortemente influenciado pelas concepes de Darwin e Spencer sobre a evoluo. Sua obra gira em torno do conceito de instinto, ressaltando a importncia de certas carac-tersticas inatas e instintivas para a vida so-cial. Segundo ele, os instintos apresentam trs componentes: a percepo, que leva o indivduo a prestar ateno aos estmulos relevantes a seus instintos; o comporta-mento, responsvel por levar o indivduo a manifestar condutas destinadas a satisfazer seus instintos; e a emoo, que faz com que os instintos estejam associados a estados emocionais positivos ou negativos (Boeree, 2006b).

    Props ainda uma classificao dos instintos em primrios, de segunda ordem e pseudoinstintos (lvaro e Garrido, 2007). Os instintos primrios so em nmero de sete e associam-se a emoes. Entre eles, es-to, por exemplo, a fuga, associada ao medo, e o combate, associado raiva. Os instintos secundrios so em nmero de quatro e mostram-se importantes para a vida social, como, por exemplo, o instinto gregrio. J os pseudoinstintos so em nmero de trs e interferem nas interaes entre as pessoas, como no caso da imitao, por exemplo. Os estudos de McDougall so considerados pre-cursores das teorias motivacionais, que pos-teriormente se tornaro objeto de investiga-o de alguns psiclogos sociais (McGarty e Haslam, 1997).

    No momento em que a psicologia co-mea a se definir como uma disciplina in-dependente, a publicao concomitante das obras de Ross e McDougall, estando situadas uma no mbito da psicologia e outra, no m-bito da sociologia, pode ser vista como uma evidncia da separao entre a psicologia

    social psicolgica e a psicologia social socio-lgica que se avizinhava. A partir do incio do sculo XX, ambas as correntes sofrero grande impulso nos Estados Unidos, ainda que trilhando direes distintas. Nesse sen-tido, acompanharemos inicialmente a evolu-o da psicologia social psicolgica para, em seguida, trilharmos os caminhos percorridos pela psicologia social sociolgica ao longo do sculo XX.

    O DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA SOCIAL PSICOLGICA NOS ESTADOS UNIDOS

    Nas primeiras dcadas do sculo XX, os Estados Unidos assistem ascenso do beha-viorismo, segundo o qual uma psicologia verdadeiramente cientfica deveria estudar e explicar apenas o comportamento humano observvel, sem considerar construtos mentais no observveis, como a mente, a cog-nio e os sentimentos (McGarty e Haslam, 1997). Com isso, os psiclogos sociais pro-gressivamente abandonam as explicaes do comportamento social em termos de instintos, bem como o uso da introspeco, passando a adotar uma psicologia social eminentemente experimental e focada no in-divduo (Jahoda, 2007). Consequentemente, a diviso entre psicologia social psicolgica e sociolgica aprofunda-se na medida em que a psicologia passa a ser vista muito mais como uma cincia natural do que como uma cincia social (Pepitone, 1986).

    Cumpre registrar, porm, que o primei-ro experimento em psicologia social ocorreu ainda no sculo XIX, tendo sido conduzido por Tripplett em 1897 (Rodrigues, 1972). Esse experimento foi realizado com crianas que foram solicitadas a enrolar um anzol o mais rapidamente possvel, sozinhas ou na presena de outras crianas que faziam a mesma tarefa. Os resultados mostraram que elas agiam muito mais rapidamente quan-do estavam acompanhadas do que quando estavam sozinhas, lanando assim as bases do estudo do fenmeno de facilitao social,

  • TORRES, NEIVA&COLS.

    que ainda hoje um dos temas de interesse da psicologia social psicolgica.

    Entretanto, somente em 1924 que surge o livro-texto de psicologia social de Floyd Allport (1890-1978), considerado um dos mais famosos psiclogos sociais beha-vioristas da poca (Pepitone, 1981). O autor contrape-se ao estudo da conscincia coletiva ou mente grupai pela psicologia social, por acreditar no ser possvel a existncia de uma mente comum a vrias pessoas, de modo similar ao que ocorre com um indivduo particular. Alm disso, ele considera que a psicologia social faz parte da psicologia do indivduo e no da sociologia e, como tal, deve ocupar-se do estudo das influncias do comportamento do indivduo em outras pessoas e das reaes a tais influncias (Karpf, 1932).

    Allport desenvolve uma srie de expe-rimentos sobre facilitao social, demons-trando que os grupos nos quais as pessoas estavam juntas, mas trabalhando individual-mente, em tarefas mentais ou perceptuais, apresentavam melhor desempenho do que pessoas que estavam sozinhas realizando o mesmo tipo de tarefa. Com sua obra, ele de-fine, portanto, os limites da psicologia social psicolgica como uma disciplina objetiva e de base experimental (Jones, 1985).

    Nos anos de 1920, inicia-se tambm o estudo das atitudes, sob a coordenao de Thurstone e colaboradores, que desen-volveram uma metodologia prpria para a investigao do referido construto, tomado como um fenmeno mental (McGarty e Haslam, 1997). Esse trabalho pioneiro sus-citou o desenvolvimento de vrias outras tcnicas para a mensurao das atitudes. Tais tcnicas, aliadas sofisticao cada vez maior do mtodo experimental, garantiro o status cientfico da psicologia social psico-lgica ao longo das dcadas subsequentes (Graumann, 1996).

    A Segunda Guerra Mundial Com a escalada do nazismo na Europa e a Segunda Guerra Mundial, muitos cientistas

    imigraram para os Estados Unidos. Alm dis-so, os psiclogos sociais foram convocados a cooperar na resoluo dos problemas sociais provocados pela guerra. Tais fatos influen-ciaro sobremaneira os novos rumos toma-dos pela psicologia social psicolgica no pe-rodo que vai da dcada de 1930 dcada de 1950. Nesse sentido, os psiclogos europeus traro para a psicologia norte-americana a perspectiva do gestaltsmo, que substituir o behaviorismo at ento dominante. Para o gestaltismo, as propriedades perceptivas de um objeto formavam uma gestalt, isto , um todo que apresentava caractersticas distintas da soma das partes que o consti-tuem (McGarty e Haslam, 1997). Entre os psiclogos sociais europeus que, nos anos 1940, desenvolveram trabalhos influencia-dos pelas idias do gestaltismo destacam--se Muzar Sheriff (1906-1988), Kurt Lewin (1890-1947), Fritz Heider (1896-1988) e Solomon Asch (1907-1996).

    Com o objetivo de explorar as condies e os fatores que levam formao e perma-nncia das normas sociais, Sheriff (1936) de-senvolveu vrios experimentos. Neles, uma pessoa era solicitada a fazer julgamentos de estmulos ambguos (o quanto uma luz em um quarto escuro se movia, quando na rea-lidade estava parada), individualmente ou na presena de outras pessoas. Observou-se que a pessoa, ao tomar conhecimento dos julgamentos feitos pelos demais (norma so-cial), antes ou depois do prprio julgamento, tendia a convergir para a norma do grupo e a desconsiderar a prpria norma.

    Lewin era um psiclogo judeu que imigrou para os Estados Unidos em 1933 e, juntamente com seus colaboradores (Lewin, Lippitt e White, 1939), desenvolveu pesqui-sas sobre o clima grupai, nas quais estudou experimentalmente, em grupos reais, a in-fluncia dos estilos de liderana no compor-tamento do grupo. Os resultados levaram-no a concluir que o papel do lder era central para o funcionamento do grupo, j que di-ferentes estilos de liderana provocavam n-veis distintos de produtividade e agresso. Lewin (1943) tambm props a teoria de campo, na qual o grupo era visto como um

    campo dt suas parte inauguro minou de avaliar o grupos da - . ::;-.::

    Eme e de ou tais, para somente u influncia Qtipavam, grupo tem dutfvel s soou como impacto na poca (Per. erperiment paia dentre -se em um r ss sobre pi eram ao me (Smith, 196

    Os tr (1944, 194( comais de < urinaro as Hkaes de fundamento defender a i terpessoai! e soas aes for essa raz, db comporte de tomar o i estvel e pr de fatores p esforo, etc.) emos (sorte. 1946, Heider da consistnc fio do equill as pessoas tei oognies coe i pessoa, de de equilbrio. iz. elas viver eprocuram n dana de algu

    18

  • campo de foras que tinha primazia sobre suas partes, isto , sobre seus membros. Ele inaugurou ainda um programa a que denominou de pesquisa-ao, cujo objetivo era avaliar o comportamento dos membros de grupos da comunidade e colaborar com sua mudana de atitudes e comportamentos.

    Em contraste com a posio de Allport e de outros psiclogos sociais experimen-tais, para quem o grupo representava to somente uma varivel externa que exercia influncia sobre os indivduos que dele par-ticipavam, a concepo de Lewin de que o grupo tem uma dinmica prpria, no re-dutvel soma das partes que o compem, soou como bastante original e teve grande impacto nas discusses tericas travadas na poca (Pepitone, 1981). Seus engenhosos experimentos trouxeram a realidade social para dentro do laboratrio e converteram--se em um modelo paradigmtico de pesquisas sobre processos e estruturas grupais que eram ao mesmo tempo empricas e tericas (Smith, 1961).

    Os trabalhos seminais de Heider (1944, 1946, 1958) lanaram as bases con-ceituais de duas linhas de pesquisa que do-minaro as dcadas subsequentes. Nas pu-blicaes de 1944 e 1958, ele estabelece os fundamentos das teorias de atribuio, ao defender a idia de que, em suas relaes interpessoais, o indivduo percebe o outro e suas aes como um todo organizado e, por essa razo, tende a procurar as causas do comportamento do outro, como forma de tornar o mundo social mais organizado, estvel e previsvel. Para tanto, utiliza-se de fatores pessoais, internos (capacidade, esforo, etc.) ou de fatores impessoais, ex-ternos (sorte, situao, etc.). J no artigo de 1946, Heider constri os pilares das teorias da consistncia cognitiva ao propor o princ-pio do equilbrio cognitivo, segundo o qual as pessoas tendem a manter sentimentos e cognies coerentes sobre um mesmo objeto ou pessoa, de modo a obter uma situao de equilbrio. Quando esse equilbrio se des-faz, elas vivenciam uma situao de tenso e procuram restabelec-lo mediante a mu-dana de algum dos elementos da situao.

    19

    Asch (1946) coloca-se contra a posio adotada pelos psiclogos sociais adeptos do behaviorismo, procurando aplicar os princ-pios gestaltistas no campo da percepo de pessoas, que at hoje consiste em uma das reas centrais de estudo da psicologia so-cial psicolgica. Segundo ele, ao formarmos uma impresso sobre uma pessoa, constru-mos um todo organizado sobre ela, uma im-presso que difere do somatrio de todas as suas caractersticas pessoais. Os trabalhos de Sheriff, Lewin, Heider e Asch exerceram forte influncia sobre toda uma gerao de seguidores que fizeram a histria da psico-logia social psicolgica nas dcadas subse-quentes.

    O perodo do ps-guerra O perodo do ps-guerra constituiu-se em uma fase de intensa produo pelos psi-clogos sociais da poca, estimulada pela continuao dos esforos de cooperao empreendidos durante a guerra e pela cons-tatao por parte das entidades militares e governamentais de que as cincias sociais e comportamentais estavam preparadas para colaborar no gerenciamento dos comple-xos problemas humanos daquele perodo. Desse modo, nas duas dcadas seguintes Segunda Guerra Mundial, a psicologia so-cial psicolgica converte-se em um campo cientfico produtivo, com bases solidamen-te estabelecidas, e torna-se responsvel por uma srie de pesquisas inovadoras, talentosas e cada vez mais sofisticadas do ponto de vista metodolgico, as quais desencadearo o surgimento de novas direes de pesquisa e teorizao (Jackson, 1988).

    Com o intuito de melhor compreender as razes que levaram pessoas aparente-mente normais e civilizadas a cometer hor-rores contra outros seres humanos durante a guerra, Theodor Adorno (1903-1969) dedica-se ao estudo dos tipos de persona-lidade. Ele pertencia Escola de Frankfurt - nome utilizado para designar o Instituto de Pesquisa que funcionava na Universidade de Frankfurt - e, a exemplo de outros emi-

    PSICOLOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES

  • 20 TORRES, NEIVA&COLS.

    nentes psiclogos j citados, tambm imi-grou para os Estados Unidos durante a guerra. Logo aps o trmino do conflito, ir publicar, juntamente com outros membros de sua equipe (Adorno, Frenkel-Brunswik, Levinson e Sanford, 1950), a obra A personalidade autoritria, na qual defende a tese de que o preconceito contra as minorias sociais em geral (bem como o antissemitismo, em particular) est associado a um tipo de personalidade autoritria, caracterizado por traos de rigidez de opinies, adeso a valores convencionais e intolerncia.

    Outra conseqncia do perodo do ps-guerra foi o ressurgimento do interesse pela pesquisa sobre atitudes. Enquanto na primeira fase da pesquisa sobre o tema o foco era a mensurao das atitudes, confor-me j apontado, nessa nova fase os psiclo-gos sociais se concentraro na investigao experimental da mudana de atitudes.

    Tais estudos iniciaram-se ainda nos tempos de guerra, sob a liderana de Carl Hovland (1912-1961), com o objetivo de verificar os efeitos de filmes blicos e de programas de treinamento do exrcito norte--americano sobre as atitudes dos soldados. Terminada a guerra, Hovland e colaboradores (Hovland, Jonis e Kelley, 1953) desenvolveram um extenso programa de pesquisas experimentais sobre comunicao e persuaso, com o intuito de elucidar as influncias das caractersticas do comunicador (como, por exemplo, seu prestgio, seu grau de credibilidade, etc.), da mensagem (como, por exemplo, seu contedo) e da audincia (como, por exemplo, suas caractersticas de personalida-de) na mudana de atitudes. Esses estudos fizeram com que as atitudes tivessem um papel central na psicologia social psicolgi-ca durante os anos de 1960, tendo ocupado maior espao do que qualquer outro tpico nos livros-texto da poca (McGuire, 1968). Contudo, nos anos de 1970, esse interesse entrou em declnio com a conseqente ascen-so do cognitivismo.

    Uma terceira conseqncia do ps--guerra foi o impulso que as investigaes sobre grupos receberam, especialmente pe-

    las mos de Solomon Asch (1907-1996), que anteriormente havia realizado estudos sobre a formao de impresses, e Leon Festinger (1919-1989). Tais pesquisas constituram as bases da teorizao sobre influncia social e processos intragrupais, temas presentes na maior parte dos modernos manuais de psi-cologia social psicolgica.

    Na seqncia dos estudos iniciados por Sheriff nos anos de 1930, Asch (1952) dedicou-se a pesquisas sobre a influncia social, procurando avaliar a influncia da presso do grupo sobre o julgamento dos in-divduos. Em contraste com os experimen-tos de Sheriff, nos quais os estmulos eram ambguos, ele usou estmulos sem nenhuma ambigidade (comparao de linhas de va-riados tamanhos com uma linha de tama-nho padro). Ainda assim, seus experimen-tos demonstraram que, quando uma pessoa tem certeza de que seu julgamento est cor-reto, mas confrontada com uma maioria que fez um julgamento errado, ela tende a se conformar com essa maioria e mudar seu julgamento, seja porque realmente passa a acreditar que estava enganada em seu julga-mento e que a maioria que estava correta, seja porque tem necessidade de ser aceita pelo grupo.

    Os estudos de Asch sobre conformida-de suscitaram uma srie de desdobramentos posteriores, relacionados investigao dos diferentes fatores que influenciavam tal fe-nmeno, alm de inspirar os experimentos clssicos de Milgram (1965) sobre obedin-cia autoridade. Em tais experimentos, o autor demonstra que os indivduos sentem--se to submissos autoridade do experi-mentador que, atendendo s suas instrues, so capazes de ministrar choques cada vez mais fortes em uma determinada pessoa (por causa de erros que ela vai simulando cometer durante o desempenho de uma tarefa), apesar de ela demonstrar que est sentindo dores cada vez piores.

    Festinger (1954) recebeu influncias de Lewin, tendo publicado uma das primeiras teorias formais em psicologia social - a teoria da comparao social -, com base nos resul-

  • PSICOLOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES 21

    tados de uma srie de experimentos destina-dos a testar hipteses sobre as presses para a uniformidade que ocorrem nos grupos. De acordo com essa teoria, as pessoas, quando no tm um padro objetivo de comparao, sentem necessidade de se comparar com os demais membros de seu grupo e confirmar que eles tm crenas e habilidades seme-lhantes s suas, o que as faz se sentirem mais seguras. Quando, por outro lado, surge um membro com opinio divergente, o grupo faz presso para que ele mude essa opinio e conforme-se s regras grupais e, caso isso no acontea, rejeita-o, levando esse mem-bro a escolher outros grupos de comparao. A teoria de Festinger foi submetida a in-meros desdobramentos, especialmente por Shachter (1959), que desenvolveu uma s-rie de experimentos sobre a necessidade de comparao de experincias emocionais.

    No final dos anos de 1950 e ao longo dos anos de 1960 e 1970, as pesquisas sobre mudana de atitudes e sobre processos gru-pais foram progressivamente sendo substi-tudas pelas teorias de base cognitiva. Nesse sentido, as teorias da consistncia domina-ram a dcada de 1960, sob a influncia do princpio do equilbrio cognitivo de Heider (1946). Entre elas, merece destaque a teoria da dissonncia cognitiva de Festinger (1919-1989), que antes j havia desenvolvi-do a teoria da comparao social.

    De acordo com Festinger (1957), as pessoas tendem a buscar a harmonia ou a congruncia entre suas crenas e atitudes. Desse modo, quando so induzidas a emitir atitudes contrrias s suas crenas, entram em dissonncia cognitiva, o que lhes causa desconforto e as leva a mudar suas crenas ou atitudes, de modo a alcanar novamente a congruncia. Assim, por exemplo, se uma pessoa fuma e sabe que isso prejudicial sade, ela poder resolver essa dissonncia parando de fumar (mudana de atitude) ou buscando informaes de que fumar no prejudicial sade (mudana de crenas).

    A teoria da dissonncia suscitou, nas dcadas seguintes, um volume consider-vel de pesquisas experimentais rigorosas,

    destinadas a testar seus pressupostos sobre as inconsistncias, contradies, tenses ou perturbaes da harmonia cognitiva que movem o comportamento social, bem como sobre os diferentes fatores que interferiam na reduo ou no da dissonncia. Apesar de ter sido tambm alvo de crticas, ela foi a principal responsvel pelo desenvolvimento da psicologia social psicolgica nas dcadas seguintes (Rodrigues, Assmar e Jablonski, 2000).

    medida que o interesse pelas teo-rias da dissonncia e do equilbrio decaa, a pesquisa sobre as teorias da atribuio au-mentava, tendo marcado os anos de 1970 e 1980. Essas teorias desenvolveram-se a partir dos trabalhos de Heider (1944, 1958) sobre as relaes interpessoais e tm como principal objetivo a investigao acerca do modo pelo qual as pessoas inferem causas sobre o prprio comportamento e sobre o comportamento das outras pessoas, isto , o que as leva a concluir que o responsvel pelo comportamento o prprio indivduo ou a situao. Tais preocupaes foram in-tensamente exploradas nas obras de Jones e Davis (1965), Kelley (1967), Ross (1977) e Weiner (1986), sendo as responsveis pelo fato de, ainda hoje, as teorias atribuicionais constiturem-se em importante campo de estudo e pesquisa da psicologia social psi-colgica.

    As teorias da atribuio representam tambm a consolidao definitiva do cogni-tivismo, que se tornou, a partir dos anos de 1980, a perspectiva dominante na psicologia social psicolgica atual. Tal abordagem focaliza-se na compreenso da cognio social, isto , do processamento da informao social, baseado no pressuposto de que o comportamento social pode ser explicado por meio dos processos cognitivos a ele subjacentes (Fiske e Taylor, 1984). Ela se volta para o estudo da categorizao dos objetos sociais, ou seja, para a anlise das estratgias que as pessoas utilizam para formar impresses, crenas ou cognies sobre os estmulos sociais que as rodeiam (o prprio indivduo, bem como outras pessoas, grupos

  • 22 TORRES, NEIVA&COLS.

    e eventos sociais), e do modo pelo qual tais categorias afetam seu comportamento.

    A crise da psicologia social O perodo que vai do ps-guerra aos anos de 1970 visto por alguns autores (Apfelbaum, 1992) como a era de ouro da psicologia social, em funo da grande evoluo ob-servada na construo e na verificao de teorias, assim como na elaborao de pro-cedimentos metodolgicos e estatsticos cada vez mais sofisticados. Com o passar do tempo, porm, o modelo de pesquisa-ao orientado para a comunidade e para o estu-do dos grupos, introduzido por Lewin ainda nos anos de 1930, foi sendo paulatinamente abandonado e substitudo pela investigao de fenmenos e processos eminentemente intraindividuais, de natureza cognitiva.

    Tendo como meta ltima a investiga-o das leis universais capazes de explicar o comportamento social, a psicologia social psicolgica estrutura-se progressivamente como uma cincia natural e emprica, que desconsidera o papel que as estruturas so-ciais e os sistemas culturais exercem sobre os indivduos (Pepitone, 1981). nesse contexto que a dcada de 1970 assistir ao surgimento da chamada "crise da psicologia social", que marcar em definitivo os novos rumos tomados pela psicologia social psico-lgica a partir de ento.

    A crise da psicologia social ou "era das dvidas" surgiu, portanto, em conseqncia da excessiva individualizao da psicologia social psicolgica e dos movimentos sociais ocorridos nos anos de 1970 (como o femi-nismo, por exemplo), tendo se caracteriza-do pelo questionamento das bases concei-tuais e metodolgicas da psicologia social psicolgica at ento dominante, no que tange sua validade, relevncia e capacida-de de generalizao (Apfelbaum, 1992). Os questionamentos voltam-se principalmente sua relevncia social, isto , ao fato de essa vertente da psicologia social usar uma linguagem cientfica cada vez mais neutra e afastada dos problemas sociais reais e,

    consequentemente, desenvolver modelos e teorias que no so capazes de contribuir para a explicao da nova realidade social que surgia. Alm disso, criticava-se a artifi-cialidade dos experimentos conduzidos em laboratrio, a falta de compromisso tico de seus mentores e a excessiva fragmentao dos modelos tericos (Jones, 1985).

    Tais crticas suscitaram grande resis-tncia da comunidade cientfica estabeleci-da poca. No entanto, contriburam para o movimento de internacionalizao da psi-cologia social, responsvel pelo desenvolvi-mento de uma psicologia social europia, mais preocupada com o contexto social, e, mais recentemente, de uma psicologia latino-americana.

    O DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA SOCIAL SOCIOLGICA NOS ESTADOS UNIDOS

    Durante o sculo XIX, as questes psicos-sociais estiveram entre as preocupaes de filsofos, socilogos e psiclogos europeus e norte-americanos. No incio do sculo XX, porm, os socilogos sentiram a necessidade de se diferenciar dos psiclogos sociais que, no contexto da psicologia, passaram a adotar o behaviorismo como paradigma e a praticar uma psicologia social psicolgica que aos poucos se tornava cada vez mais in-dividualista. Surge ento a psicologia social sociolgica, cuja principal vertente o inte-racionismo simblico e que tem, nas figuras de Charles Cooley (1864-1929) e George Mead (1863-1931) seus mais notveis precursores.

    Os precursores da psicologia social sociolgica Cooley era um socilogo que recebeu in-fluncias de Spencer, tendo defendido uma concepo evolucionista da mente e da so-ciedade. Em sua obra Natureza humana e

  • PSICOLOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES 23

    ordem social, datada de 1902, ele ressaltou a influncia do ambiente social na configu-rao da natureza humana e, consequen-temente, da natureza da identidade ou self (lvaro e Garrido, 2007).

    Ao explicar a formao da identidade, Cooley usa a expresso "eu refletido no es-pelho" para designar o fato de que tal for-mao est eminentemente associada ao modo pelo qual a pessoa imagina que apa-rece diante das outras pessoas, assim como ao modo pelo qual ela imagina que as outras pessoas reagem a ela e aos sentimentos da decorrentes, que podem ser de orgulho ou de decepo. Em outras palavras, segundo o autor, o indivduo, ao interagir com as ou-tras pessoas, torna-se consciente da imagem e dos sentimentos que essas outras pessoas nutrem por ele, isto , elas atuam como um espelho no qual o indivduo se v.

    Para Cooley, o desenvolvimento da identidade ocorre no contexto da intera-o com os outros e por meio do uso da linguagem e da comunicao. Tais formula-es serviram de base a desenvolvimentos posteriores, tendo influenciado Mead, que tambm adota a expresso "eu refletido no espelho" ao discorrer sobre a identidade.

    Mead era um filsofo norte-americano que estudou por algum tempo com Wundt em Leipizig, o que teve grande influncia em sua obra. Posteriormente, ele passou a dar aulas de filosofia em Michigan, onde conviveu com Cooley, que na poca estava escrevendo sua tese de doutorado, e depois em Chicago, onde permaneceu at a sua morte. Suas aulas de psicologia social foram posteriormente compiladas no livro A men-te, o eu e a sociedade: do ponto de vista de um behaviorista social, publicado aps a sua morte, em 1934 (Farr, 1999).

    A linguagem desempenha um papel fundamental no pensamento de Mead, a ponto de ele considerar o ato comunicativo como a unidade bsica de anlise da psi-cologia social. Segundo ele, a linguagem um fenmeno inerentemente social e, con-sequentemente, as atitudes e os gestos s adquirem significado por meio da interao simblica. , portanto, no contexto das rela-

    es sociais que a comunicao e a expres-so tornam-se possveis, bem como a possi-bilidade de uma pessoa prever a reao do outro a seus atos, isto , de assumir o papel do outro (Jahoda, 2007).

    Analisando a emergncia desse pro-cesso na infncia, Mead enfatiza a impor-tncia dos jogos infantis, em virtude de eles permitirem criana assumir o papel dos outros (outro significativo) ou dos membros da sociedade em que vive (eu generaliza-do). Com isso, ela passa a ter conscincia de si mesma, formando assim a sua prpria identidade, que reflete a internalizao das normas e dos papis presentes em sua co-munidade (lvaro e Garrido, 2007).

    Em sntese, para Mead, o indivduo produto do desenvolvimento das pesso-as em sociedade e estrutura-se por meio do processo de interao simblica, que leva as pessoas a tomarem conscincia de si prprias, mediante a perspectiva dos de-mais membros de seu grupo social. Ele si-tua, portanto, a formao da identidade no campo das relaes interpessoais, da organi-zao social e da cultura ao postular que o sujeito apropria-se do conjunto de padres comuns a diferentes grupos socioculturais para desenvolver seu prprio eu (Stephan e Stephan, 1985).

    Mead considerado um behaviorista social, porque, ainda que defendesse o es-tudo do comportamento observvel, consi-derava que este era apenas um meio para se chegar experincia interna do indivduo (lvaro e Garrido, 2007). Suas proposies, apesar de terem recebido vrias crticas, exerceram forte influncia no desenvolvi-mento da psicologia social sociolgica, ten-do dado origem a duas diferentes correntes tericas: a escola de Chicago e a escola de lowa.

    A Escola de Chicago Durante os anos de 1930 e 1940, as idias de Mead no tiveram grande impacto. Caber, porm, a Herbert Blumer (1900-1987), em Chicago, nos anos de 1950, e a Manford

  • 24 TORRES, NEIVA & COLS.

    Kuhn (1911-1963), em lowa, nos de 1960, reacenderem o interesse pela temtica. Blumer era um socilogo que, aps a morte de Mead, assumiu seu curso anual de aulas de psicologia social, tendo cunhado de in-teracionismo simblico a posio defendida por Mead. Segundo ele, o uso da expresso derivou-se da nfase na compreenso do modo pelo qual as pessoas interagem com as outras usando smbolos. Desse modo, o in-teracionismo simblico pode ser visto como uma forma sociolgica de psicologia social iniciada em Chicago por Blumer, a partir de sua interpretao da obra de Mead.

    Segundo Blumer (1969), os principais pressupostos do interacionismo simbli-co so os seguintes: a pessoa interpreta o mundo para si prpria, atribuindo-lhe sig-nificado; o comportamento no uma re-ao automtica a um dado estmulo, mas sim uma construo criativa derivada da interpretao da situao e das pessoas que nela se encontram; a conduta humana im-previsvel porque os significados e as aes dependem de cada situao, enquanto a in-terpretao das situaes e a construo do comportamento so processos que ocorrem durante a interao social.

    A escola de Chicago costuma ser iden-tificada com a abordagem qualitativa de pes-quisa, talvez porque Blumer fosse da opinio que o estudo do comportamento humano deveria ser conduzido por meio de mtodos prprios que, em vez de impor estruturas ao indivduo, fossem capazes de captar as realidades subjetivas construdas em cada situao (Stephan e Stephan, 1985). Na rea-lidade, porm, a escola de Chicago primou pelo ecletismo metodolgico, tendo usado abordagens quantitativas e qualitativas na tentativa de estudar cientificamente a rea-lidade social e resolver os problemas sociais que a cidade de Chicago enfrentou nos anos de 1930 e 1940, tais como o aumento da imigrao, da criminalidade e da violncia (lvaro e Garrido, 2007).

    A esse respeito, vale destacar a pes-quisa realizada por Thomas e Znaniecki (1918), com o objetivo de analisar as ati-tudes de imigrantes poloneses, na qual uti-

    lizaram a anlise de documentos, cartas e histrias de vida para traar um perfil da situao social desses imigrantes, segundo a sua prpria perspectiva (lvaro e Garrido, 2007). Em contrapartida, Bogardus (1925), outro membro da escola de Chicago, desen-volveu a primeira escala para a medida de atitudes, numa evidncia de que ambos os tipos de metodologia ali conviviam (lvaro e Garrido, 2007).

    A Escola de lowa e a psicologia social sociolgica na atualidade Conforme j mencionado, Kuhn (1964) um dos principais representantes da escola de lowa, responsvel pela continuidade do interacionismo simblico ao longo dos anos de 1960. Ele, no entanto, distancia-se mais das idias de Mead do que a escola de Chicago. Nesse sentido, defendia a utiliza-o dos mesmos mtodos de pesquisa das ci-ncias naturais, tendo testado algumas das proposies de Mead e abandonado outras, por consider-las no passveis de serem submetidas verificao emprica.

    Alm disso, ele postulava que o self e a sociedade dependiam da estrutura social. Desse modo, afirmava que as expectativas da sociedade a respeito do desempenho de determinados papis limitavam as intera-es sociais ao exercer influncia sobre as concepes que as pessoas desenvolviam acerca de si prprias e dos outros, sobre as definies das situaes e sobre os sig-nificados que as pessoas construam. Kuhn (1964) destaca, porm, o papel ativo do in-divduo nesse processo, na medida em que ele quem escolhe os papis a desempenhar, podendo tambm modific-los.

    Orientados predominantemente pela perspectiva do interacionismo simblico, e usando primordialmente a observao par-ticipante como mtodo, aliada ao uso de entrevistas, os psiclogos sociais adeptos da corrente sociolgica prosseguiram, nos anos subsequentes, investigando temas como a interao face a face, os processos de socia-lizao, a formao e o desenvolvimento da

    -

    -por essa r Esses desd revitaliza j ca que, du

    - : - . : : - - -

    ...L. ~.'.-coiogia.

    ODESENV 3SICOLOG

    Xo ano de ciai psicol betecida no pas um Coi cnio do Sc com o obje nalizaco d Maricov, 2 o comit er norte-ameri presidncia rs iniciam'; tar o desem na Europa, realizao d treinamento ropeus, nos < produzidos < Comit Tran papel ativo co da Asso Experimenta

  • PSICOLOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES 25

    identidade, o comportamento desviante e o comportamento coletivo.

    Novos desdobramentos tericos tam-bm foram surgindo com o tempo, entre os quais podem ser citadas a escola dramatr-gica de Goffman (1985) e a teoria da identidade de Stryker (1980). Goffman deteve-se na anlise da interao face a face, considerando seus participantes como atores que podem ser mais ou menos eficazes no desempenho de seus papis. Stryker, por sua vez, prope que a identidade apresenta mltiplos componentes, os quais se encontram associados aos diferentes papis desempenhados pelo indivduo, sendo que alguns componentes so mais salientes e, por essa razo, mais evocados nas situaes. E;ses desdobramentos contriburam para a revitalizao da psicologia social sociolgi-ca que, durante certo tempo, permaneceu margem da psicologia social psicolgica, dominante no cenrio acadmico da psi-cologia.

    O DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA SOCIAL NA EUROPA No ano de 1964, quando a psicologia so-cial psicolgica j estava firmemente esta-belecida nos Estados Unidos, foi criado no pas um Comit Transnacional, sob o patro-cnio do Social Science Research Council, com o objetivo de promover a internacio-nalizao da psicologia social (Moscovici e Markov, 2006). Em sua formao inicial, o comit era composto por seis psiclogos norte-americanos e dois europeus, sob a presidncia de Leon Festinger. Suas primei-ras iniciativas foram no sentido de fomen-tar o desenvolvimento da psicologia social na Europa, razo pela qual promoveu a realizao de vrios encontros cientficos e treinamentos para os psiclogos sociais eu-ropeus, nos quais os conhecimentos por eles produzidos comearam a ser divulgados. O Comit Transnacional exerceu tambm um papel ativo na construo e na consolida-o da Associao Europia de Psicologia Experimental.

    Nos anos de 1960, em vrios pases eu-ropeus, os psiclogos j realizavam pesquisas psicossociais, mas foi ao final da dcada que comearam a ser realizados esforos mais sis-temticos, no apenas por parte do Comit Transnacional, mas tambm por meio de ou-tras iniciativas mais isoladas, dirigidas in-tegrao dos psiclogos sociais europeus em uma comunidade cientfica atuante. Assim que, desde os anos de 1970, a psicologia social europia vem crescendo progressiva-mente em tamanho e influncia.

    Apesar de ela ter caminhado inicial-mente lado a lado com a psicologia social psicolgica, comeou rapidamente a adqui-rir sua prpria identidade e a demonstrar maior preocupao com a estrutura social. Nesse sentido, os temas de estudo mais fre-qentes entre os psiclogos sociais europeus so as relaes intergrupais, a identidade social e a influncia social, que remetem a uma psicologia dos grupos (Graumann, 1996). Entre os principais representantes dessa moderna psicologia social europia, destacam-se Henri Tajfel (1919-1982) e Serge Moscovici.

    Tajfel (1981) procurou enfatizar a dimenso social do comportamento indivi-dual e grupai, postulando que o indivduo moldado pela sociedade e pela cultura. Apoiando-se em tal perspectiva, desenvol-veu a teoria da identidade social, por meio da qual defende que as relaes intergrupais esto intimamente relacionadas a processos de identificao grupai e de comparao so-cial.

    Moscovici (1976), retomando os estu-dos sobre influncia social, que at ento se preocupavam exclusivamente com os efeitos da maioria dos membros do grupo, isto , com as presses para a conformidade, intro-duz na rea o conceito de influncia das mi-norias, tendo realizado investigaes com o intuito de averiguar a inovao e a mudana social introduzida por essas minorias. Outro campo de estudos a que ele se dedicou (Moscovici, 1981) foi o das representaes sociais, derivado do conceito de representa-es coletivas de Durkheim e caracterizado como modos de compreenso da realidade

  • 26 TORRES, NEIVA & COLS.

    compartilhados por diferentes grupos so-ciais. A teoria das representaes sociais foi amplamente difundida nas dcadas seguin-tes, inclusive no Brasil, caracterizando-se hoje como uma das principais tendncias da psicologia social europia.

    O DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA SOCIAL NA AMRICA LATINA A psicologia social praticada na Amrica Latina, at a dcada de 1970, esteve for-temente influenciada pelo paradigma da psicologia social psicolgica de natureza ex-perimental, dominante poca nos Estados Unidos. Ao final dos anos de 1960, de modo similar ao que j havia ocorrido na Europa, o Comit Transnacional, fundado com o ob-jetivo de promover a internacionalizao da psicologia social, procurou tambm atuar na Amrica Latina (Moscovici e Markov, 2006). Nesse sentido, trs de seus membros mantiveram contatos com vrios psiclogos sociais latino-americanos e, em seguida, o Comit Transnacional estimulou a criao de um comit local, alm de patrocinar al-guns encontros com esse grupo e um primei-ro treinamento para os psiclogos sociais latino-americanos, no qual foi amplamente discutida a necessidade de a psicologia so-cial estar mais diretamente vinculada aos problemas sociais da Amrica Latina.

    Alguns dos psiclogos desse comit lo-cal fundam, em 1973, a Associao Latino--Americana de Psicologia Social (ALAPSO), que nos anos seguintes continuar a fomentar o desenvolvimento de atividades na rea da psicologia social. Contudo, os problemas polticos que muitos dos pases latino--americanos vivenciaram naquele perodo, aliados a dissidncias entre os membros do comit local, acabaram por inviabilizar a con-tinuao da ao do Comit Transnacional em prol da internacionalizao da psicolo-gia social psicolgica na Amrica Latina.

    Ao final da dcada de 1970, porm, muitos dos psiclogos sociais latino-america-nos iniciam um forte movimento de ques-

    tionamento psicologia social psicolgica norte-americana, marcada pelo experimen-talismo e pelo individualismo, em prol de uma psicologia social mais contextualizada, isto , mais voltada para os problemas po-lticos e sociais que a regio vinha enfren-tando. Estimulados pela arbitrariedade dos regimes militares e pela grande desigualda-de social do continente, esses psiclogos so-ciais defendem uma ruptura radical com a psicologia social tradicional (Spink e Spink, 2005).

    Ento, passam a praticar o que tem sido designado como psicologia social cr-tica (lvaro e Garrido, 2007) ou psicologia social histrico-crtica (Mancebo e Jac--Vilela, 2004), expresses que abarcam, na realidade, diferentes posturas tericas, como, por exemplo, o socioconstrucionis-mo (Gergen, 1997), a anlise do discurso (Potter e Wetherell, 1987) e a psicologia marxista, entre outras. Em que pesem as diferenas observadas entre essas correntes, a psicologia social crtica, grosso modo, caracteriza-se por romper com o modelo neopositivista de cincia e, em conseqncia, com seus postulados sobre a necessidade de o conhecimento cientfico apoiar-se na verificao emprica de relaes causais entre fenmenos. Em contraposio a tal modelo, defende o carter relacionai da linguagem e a importncia das prticas dis-cursivas para a compreenso da vida social (lvaro e Garrido, 2007).

    Na esteira da psicologia social crti-ca, iro surgir, na Amrica Latina, diversos manuais de psicologia social organizados segundo tal perspectiva crtica (como, por exemplo, Aguilar e Reid, 2007; Cordero, Dobles e Prez, 1996; Montero, 1991), bem como algumas associaes de psico-logia social que se contrapem ALAPSO, como o caso, por exemplo, da Associao Venezuelana de Psicologia Social (AVEPSO). Um autor freqentemente citado como legti-mo representante dessa nova perspectiva na psicologia social latino-americana Martin--Bar (1942-1989), psiclogo e padre jesuta espanhol, radicado em El Salvador, que defendeu em suas obras o desenvolvimento

    A partir 1970. a psico ifo

    no restai : ::.:.- :: social durante tal tendncia.

    -J : .- . ;:.; wz em 1972. ponsvel pelo tua linha de psicolgica no unia srie de dkos nationai anos de 1970 < Apartird psiclogos soei pam ativame com a psicolog a Amrica Lat co, em 1984, < Lane e \knderl sodaL o homen -se vrios outrc cologia social l Jacques et ai., Mancebo e Jac a da psicologii Outra im movimento foi Associao Bra ABRAPSO), es

    de redefinir o c contribuir para

  • ~e uma psicologia social comprometida com a realidade social latino-americana. Para ele (1989), a construo terica em psicologia social deve emergir dos problemas e conflitos vivenciados pelo povo latino-americano, de forma contextualizada com sua histria.

    No Brasil, as primeiras publicaes com foco na anlise de questes psicosso-aais comearam a surgir na dcada de 1930 TJomfim, 2003). Contudo, a instituciona-lizao da psicologia social ocorre apenas em 1962, quando o Conselho Federal de Psicologia, por meio do Parecer n 403/62, criou o currculo mnimo para os cursos de psicologia, estabelecendo, assim, a obriga-::>riedade do ensino da psicologia social.

    A partir de ento, e at os anos de 1970, a psicologia social psicolgica norte--americana foi a dominante, tal como ocorreu no restante da Amrica Latina. Uma das obras adotadas nos cursos de psicologia social durante esse perodo, que expressa ti tendncia, o livro Psicologia social, de Aroldo Rodrigues, publicado pela primeira vez em 1972. Seu autor tambm foi o responsvel pelo desenvolvimento de uma pro-ncua linha de pesquisa em psicologia social psicolgica no pas, a qual foi divulgada em uma srie de artigos publicados em peridicos nacionais e estrangeiros ao longo dos anos de 1970 e 1980.

    A partir do final da dcada de 1970, os psiclogos sociais brasileiros tambm parti-cipam ativamente do movimento de ruptura com a psicologia social tradicional ocorrido na Amrica Latina. Assim, a partir da publica-o, em 1984, do livro organizado por Silvia Lane e Vanderley Codo, intitulado Psicologia iodai: o homem em movimento, sucederam--se vrios outros manuais brasileiros de psicologia social (Campos e Guareschi, 2000; Jacques et ai., 1998; Lane e Sawaia, 1994; Mancebo e Jac-Vilela, 2004) na perspectiva da psicologia crtica.

    Outra importante contribuio a tal movimento foi a fundao, em 1980, da .Associao Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), estabelecida com o propsito de redefinir o campo da psicologia social e contribuir para a construo de um referen-

    27

    cial terico orientado pela concepo de que o ser humano constitui-se em um produto histrico-social, de que indivduo e socieda-de implicam-se mutuamente (Jacques et ai., 1998).

    No que tange breve histria da psi-cologia social brasileira, cabe registrar, por fim, o desenvolvimento dos cursos de ps--graduao stricto-sensu no pas a partir da dcada de 1980. Esses cursos exerceram importante papel na estruturao de diferentes linhas de pesquisa na rea de psicologia social, orientadas por paradigmas e tendncias diversificadas, bem como no incremento da produo cientfica brasileira em psicologia social.

    CONSIDERAES FINAIS A reviso dos eventos que marcaram a his-tria da psicologia social contempornea re-vela que, no sculo XIX, as reflexes sobre o indivduo e a sociedade desenvolveram-se no contexto da psicologia e da sociologia, sem que houvesse a preocupao com o estabelecimento de limites sobre a nature-za do conhecimento psicossocial. No incio do sculo XX, ocorre uma ntida separao entre esses dois campos do conhecimento, com a subdiviso da psicologia social, que se situava na interface dos dois, em psico-logia social psicolgica e psicologia social sociolgica, que passam a ter suas prprias questes centrais, suas teorias e seus mto-dos (House, 1977).

    No contexto da psicologia social psico-lgica que se desenvolveu a partir de ento, o indivduo sempre esteve no centro das principais perspectivas tericas e dos temas de pesquisa. Desse modo, as teorias e os programas de pesquisa que lidavam com os fenmenos grupais ou coletivos, trabalhan-do com conceitos relacionais, acabaram por sofrer uma soluo de descontinuidade e ti-veram pouco impacto na rea. Tal tendncia individuocntrica amparou-se na concepo da psicologia como uma cincia natural em-prica e, com o passar do tempo, revelou--se incapaz por si s de explicar o compor-

    PSICOLOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES

  • 28 TORRES, NEIVA&COLS.

    tamento social em todas as suas nuances (Pepitone, 1981).

    Ainda assim, durante muito tempo, os livros de psicologia social adotados nos cur-sos de psicologia abordavam, em sua maio-ria, apenas a psicologia social psicolgica, o que fez com que a psicologia social sociol-gica tenha permanecido, ao longo de vrias dcadas, com menos peso do que a psicolo-gia social psicolgica no mbito da psicolo-gia (Jackson, 1988). Entretanto, a crise por que passou a psicologia social psicolgica nos anos de 1970 contribuiu para modificar substancialmente esse quadro.

    Devido a isso, a psicologia social psico-lgica, sem abandonar os temas tradicional-mente estudados, passou por uma correo de rumos e prosseguiu na expanso de seu corpo de conhecimentos. Paralelamente, fo-ram surgindo novos olhares sobre antigos tpicos (como, por exemplo, no caso do estudo da identidade e das relaes inter-grupais), novos tpicos de estudo (como, por exemplo, a anlise das influncias da cultura sobre o comportamento social, pela psicologia transcultural) e um maior esforo de aplicao dos conhecimentos sociopsico-lgicos na resoluo dos problemas sociais (Jackson, 1988).

    Acrescente-se a isso o fato de que a psicologia social sociolgica ressurgiu com nova fora, levando um nmero cada vez maior de psiclogos sociais a recorrer ao in-teracionismo simblico e a outros modelos psicossociolgicos como estrutura de referncia terica de suas pesquisas. Alm disso, novos e diversificados paradigmas tericos e metodolgicos, que tm como trao em comum a crtica aos pressupostos da psicologia social tradicional, desenvolveram-se e vm sendo designados de psicologia social crtica ou ps-modernas (lvaro e Garrido, 2007). Por fim, as ltimas dcadas assistiram in-ternacionalizao da psicologia social e conseqente produo de um conhecimento psicossocial cada vez mais expressivo na Europa e na Amrica Latina.

    A psicologia social contempornea pode ser assim considerada uma disciplina plural que convive com vrias tendncias.

    Nesse sentido, DeLamater (2003) enfatiza que a psicologia social consiste hoje em um campo que se situa na interface da psicolo-gia e da sociologia, buscando compreender a natureza e as causas do comportamento social humano, partindo do pressuposto de que o contexto intraindividual e o social in-teragem mutuamente, influenciando e sendo influenciado pelo comportamento individu-al. Orientados por tal perspectiva, os manu-ais de psicologia social mais recentes tm procurado contemplar as vrias vertentes nas quais a disciplina atualmente se desdo-bra, na tentativa de contribuir para a cons-truo de um conhecimento psicossocial de natureza cientfica e capaz de ser aplicado realidade social dos novos tempos.

    REFERENCIAS

    ADORNO, T.W.; FRENKEL-BRUNSWIK, E.; LE-V1NSON, D.J.; SANFORD, R.N. The autoritarin personality. New York: Harper, 1950. AGUILAR, M.A.; REID, A. (orgs.). Tratado de psico-logia social: perspectivas sooculturales. Barcelona: Anthropos, 2007. LVARO, J.L.; GARRIDO, A. Psicologia social: perspectivas psicolgicas e sociolgicas. So Paulo: McGraw-Hill, 2007. ALLPORT, G.W. The historical background of mo-dern social psychology. In: LINDZEY, G. (org.). Handbook of social psychology. Reading, M.A.: Addison-Wesley, 1954. ALLPORT, G.W. The historical background of social psychology. In: LINDZEY, G.; ARONSON, E. (orgs.). Handbook of social psychology. 2.ed. Reading, M.A.: Addison-Wesley, 1968. ALLPORT, G.W. The historical background of social psychology. In: LINDZEY, G.; ARONSON, E. (orgs.). Handbook of social psychology. 3.ed. New York: Random House, 1985. APFELBAUM, E. Some teachings from the history of social psychology. Canadian Psychology, v. 33, p. 529-539, 1992. ASCH, S. Forming impressions of personality. Journal ofAbnormal and Social Psychology, v. 41, p. 258-290, 1946. ASCH, S. Scia; psychology. New York: Prentice Hall, 1952.

  • f^m

    PSICOLOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES 29

    5LUMER, H. Symbolic interactionism: perspective di method. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1969. 3OEREE, C.G. History ofpsychology, part three: the lsOO's. 2006a. Disponvel em: . Acesso em: 25 ago. 2007. BOEREE, C.G. History ofpsychology, partfour: the 19OO's. 2006b. Disponvel em: . Acesso em: 25 ago. 2007. BOMFIM, E.M. Contribuies para a histria da psicologia no Brasil. In: JAC-VILELA, A.M.; ROCHA, M.L.; MANCEBO, D. (orgs.). Psicologia sxia: eelatos na Amrica Latina. So Paulo: Casa do Psiclogo, 2003. CAMPOS, R.H.F.; GUARESCHI, R. Paradigmas em psicologia social: a perspectiva latino-americana. fctrpolis: Vozes, 2000. CORDERO, T.; DOBLES, L; PREZ, R. Dominacin scia/y subjetividad: contribuiciones de Ia psicologia social. San Jos: Editorial de Ia Universidad de Costa Rica, 1996. DELAMATER, J. Handbook of social psychology. New York: Kluwer Academic/Plenum Publishers, 2003. r.-VRR, R.M. As razes da psicologia social moderna (1872-1954). 2.ed. Petrpolis: Vozes, 1999. FESTINGER, L. A theory of social comparison pro-cesses. Human Relations, v. 7, p. 117-140, 1954. FESTINGER, L. A theory of cognitive dissonance. Stanford, CA: Stanford University Press, 1957. FISKE, S.T.; TAYLOR, S.E. Social cognition. Rea-ding, MA: Addison-Wesley, 1984. GERGEN, K. Social psychology as social construc-tion. In: MCGARTY, C.; HASLAM, A.A. (orgs.). The message of social psychology. London: Blackwell Publishers, 1997. GOFFMAN, E. A representao do eu na vida coti-diana. 9.ed. Petrpolis: Vozes, 1985. GRAUMANN, C.F. Introduction to the history of social psychology. In: HEWSTONE, M.; STROEBE, W; STEPHENSON, G.M. (orgs.). Introduction to social psychology. 2.ed. London: Blackwell Publi-shers, 1996. HEIDER, F. Social perception and phenomenal causality. Psychological Review, v. 51, p. 358-374, 1944. HEIDER, F. Altitudes and cognitive organization. Journal of Psychology, v. 21, p. 107-112, 1946. HEIDER, F. The psychology of interpersonal rela-tions. New York: John Wiley & Sons, 1958.

    HOUSE, J.S. The three faces of social psychology. Sociometry, v. 40, p. 161-177, 1977. HOVLAND, C.I.; JANIS, I.L.; KELLEY, H.H. Com-munication and persuasion. New Haven: Yale University Press, 1953. JACKSON, J.M. Social psychology, pastandpresent: an integrative orientation. Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates, 1988. JACQUES, M.G.C.; STREY, M.N.; BERNARDES, N.M.G.; GUARESCHI, R.; CARLOS, S.A.; FONSE-CA, T.M.G. Psicologia social contempornea. 3.ed. Petrpolis: Vozes, 1998. JAHODA, G. A history of social psychology: from the eighteenth-century enlightenment to the Second World War. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. JONES, E.E. History of social psychology. In: KIM-BLE, G.A.; SCHLESINGER, K. (orgs.). Topics in the history ofpsychology. Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates, 1985. JONES, E.E.; DAVIS, K.E. From acts to dispositions: the attribution process in person perception. In: BERKOWITZ, L. (orgs.). Advances in experimental social psychology. New York: Academic Press, 1965. KARPF, EB. American social psychology: its origins, development, and european background. New York: McGraw-Hill, 1932. KELLEY, H. Attribution theory in social psycholo-gy. In: LEVINE, D. (orgs.). Nebraska symposium on motivation. Nebraska: University of Nebraska Press, 1967. KUHN, M. Major trends in symbolic interaction theory in the past twenty years. The Sociological Quarterly, v. 5, p. 61-84, 1964. LANE, S.; CODO, W. (orgs.). Psicologia social: o homem em movimento. So Paulo: Brasiliense, 1984. LANE, S.; SAWAIA, B. Novas veredas da psicologia social. So Paulo: Brasiliense, 1994. LEWIN, K. Defining the "field at a given time". Psychological Review, v. 50, p. 292-310, 1943. LEWIN, K.; LIPPITT, R.; WHITE, R.K. Patterns of aggressive behavior in experimentally created "social climates". Journal of Social Psychology, v. 10, p. 271-299, 1939. MANCEBO, D.; JAC-VILELA, A.M. Psicologia social: abordagens scio-histricas e desafios contem-porneos. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2004. MARTIN-BAR, I. Sistema, grupo y poder: Psicolo-gia social desde Centroamrca. San Salvador: UCA Editores, 1989.

  • 30 TORRES, NEIVA & COLS.

    MCGARTY, C.; HASLAM, S.A. Introduction and a short history of social psychology. In: MCGARTY, C.; HASLAM, A.A. (orgs.). The message of social psychology. London: Blackwell Publishers, 1997. McGUIRE, W.J. The nature of attitudes and altitude change. In: LINDZEY, G.; ARONSON, E. (orgs.). Handbook of social psychology. 2.ed. Reading, MA: Addison-Wesley, 1968. MELO NETO, G.A.R. A psicologia social nos tempos de S. Freud. Psicologia: teoria e pesquisa, Braslia, v. 16, p. 145-152, 2000. MILGRAM, S. Liberating effects of group pressure. Journal of Personality and Social Psychology, v. l, p. 127-134, 1965. MONTERO, M. Accin y discurso: problemas de Ia psicologia poltica. Caracas: Eduven, 1991. MOSCOVICI, S.A. Scia; influence and social chan-ge. London: Academic Press, 1976. MOSCOVICI, S.A. On social representations. In: FORCAS, J.P (orgs.). Social cognition: perspectives on everyday understanding. London: Academic Press, 1981. MOSCOVICI, S.A.; MARKOVA, I. The making of modern social psychology: the hidden story of how an international social science was created. Cam-bridge: Polity, 2006. PEPITONE, A. Lessons from the history of social psychology. American Psychologist, v. 36, p. 972-985, 1981. PEPITONE, A. Culture and the cognitive paradigm in social psychology. Australian Journal of Psycho-logy, v. 38, p. 245-256, 1986. POTTER, J; WETHERELL, M. Discourse and social psychology: beyond attitudes and behavior. London: Sage, 1987.

    RODRIGUES, A. Psicologia social. Petrpolis: Vozes, 1972. RODRIGUES, A.; ASSMAR, E.M.L.; JABLONSKI, B. Psicologia social. 18.ed. Petrpolis: Vozes, 2000. ROSS, L. The intuitive psychologist and his shor-tcoming: distortions in the attribution process. In: BERKOWITZ, L. (orgs.). Advances in experimental social psychology. New York: Academic Press, 1977. SCHACHTER, S. The psychology of affiliation. Stan-ford: Stanford University Press, 1959. SHERIFF, M. The psychology of social norms. New York: Harper, 1936. SMITH, M.B. Recent developments in the field of social psychology. AnnaZs ofthe American Academy ofPolitical and Social Science, v. 338, p. 137-143, 1961. SPINK, M.J.; SPINK, R A psicologia social na atualidade. In: JAC-VILELA, A.M.; FERREIRA, A.A.L.; PORTUGAL, F.T. (orgs.). Histria da psi-coogia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2005. STEPHAN, C.W.; STEPHAN, WG. Two socialpsycho-logies: an integrative approach. Homewood, I.L.: The Dorsey Press, 1985. STRYKER. Symbolic interactionism: a social structural approach. Menlo Park, CA: Benjamin/ Cummings, 1980. TAJFEL, H. Human groups and social categories: studies in social psychology. Cambridge: Cambridge University Press, 1981. VALA, J.; MONTEIRO, B. Psicologia social. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 2004. WEINER, B. An attributional theory ofmotivation and emotion. New York: Springer-Verlag: 1986.

    PSICOl

    : _

    " :

    - :

    --

    -_

    ; : :

    ._

    --

    -

    :

    -: -