Upload
hadieu
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
BRICS MonitorEspecial RIO+20
Os BRICS rumo à Rio+20: África do Sul
Novembro de 2011Núcleo de Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade
BRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisas BRICS
BRICS MonitorEspecial RIO+20
Os BRICS rumo à Rio+20: África do Sul
Novembro de 2011Núcleo de Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade
BRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisas BRICS
BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Os BRICS rumo à Rio+20: África do Sul
3
Autor: Sérgio Veloso Coordenação: Pedro Claudio Cunca Bocayuva
Os BRICS rumo à Rio+20: África do Sul
1. Introdução
Em junho de 2012, será realizada
na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, a
Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável –
Rio+20. A conferência celebra os vinte
anos da Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento – Eco 92, e os dez
anos da Cúpula Mundial de
Desenvolvimento Sustentável –
Rio+10, sediada na cidade de
Johanesburgo, em 2002. Ambos os
eventos deixaram importantes legados
na busca pela sustentabilidade. A
Declaração do Rio1 e a Agenda 212,
principais heranças da Eco 92,
fornecem os princípios e definições
chaves para a implantação de um
paradigma de desenvolvimento
econômico sustentável. Por sua vez, o
Plano de Implementação de
Johanesburgo – PIJ, legado da Rio+10,
se caracteriza como um plano
detalhado de implementação da
Agenda 21. Nesse sentido, ambos os
eventos têm caráter complementar.
No dia primeiro de novembro
de 2011, encerrou-se o prazo para que
os países que participarão da Rio+20
enviassem às Nações Unidas
documentos com suas posições e
propostas oficiais. Nesse BRICS
Monitor, que fecha uma série de
relatórios que apresentam de forma
sintética as posições e propostas
sugeridas pelos BRICS, analisaremos o
documento submetido pelo governo da
República da África do Sul, intitulado
South African Inputs to the
Preparatory Processes of the United
Nations Conference on Sustainable
Development3. Nesse documento, o
governo sul-africano expressa, de
forma bastante clara e num tom pouco
combativo, a complementaridade entre
as duas conferências acima citadas e os
desafios ainda existentes para a
concretização da sustentabilidade
como um paradigma global para o
desenvolvimento.
2. Economia Verde no Contexto
do Desenvolvimento Sustentável e da
Erradicação da Pobreza
BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Os BRICS rumo à Rio+20: África do Sul
4
Na Rio+20, dois pontos
controversos, porém cruciais para a
consolidação do paradigma de
desenvolvimento sustentável, serão
tratados: economia verde e uma
moldura institucional internacional
para promovê-la. O conceito de
economia verde busca reunir os três
pilares da sustentabilidade –
crescimento econômico,
desenvolvimento social e proteção
ambiental – na construção de um
paradigma de desenvolvimento que
erradique a pobreza ao mesmo tempo
em que garante a diminuição de
emissão de gases poluentes e de
utilização de recursos não-renováveis.
Em seu documento oficial, o governo
sul-africano define economia verde
como “sistema de atividades
econômicas relacionadas à produção,
distribuição e consumo de bens e
serviços que resultam no bem-estar
social, sem expor futuras gerações a
riscos ambientais ou escassezes
ecológicas”4.
A definição acima citada
baseia-se em certos princípios chaves
que, como defende o governo sul-
africano, devem ser consensuais. Uma
economia de fato verde deve se pautar
em eficiência de recursos, diminuição
da emissão de carbono, utilização de
recursos renováveis, promoção de
padrões de consumo e produção
sustentáveis, reconhecimento
econômico e fiscal do valor dos
recursos naturais e proteção social.
Além disso, a erradicação da pobreza,
por meio da criação de empregos
baseados em tecnologias limpas e
sustentáveis, deve ser um objetivo
fundamental. Segundo a definição sul-
africana, Economia verde deve, então,
promover desenvolvimento sustentável
desacoplando crescimento econômico
de degradação ambiental ao buscar, a
todo momento, a promoção de
empregos sustentáveis.
3. Moldura Institucional
Internacional
Com o intuito de revigorar o
comprometimento político em torno da
sustentabilidade, segue o argumento
sul-africano, a Rio+20 deve ser capaz
de reafirmar os princípios e objetivos
da Declaração do Rio, da Agenda 21 e
do Plano de Implementação de
Johanesburgo. Dessa forma, o vão
entre as práticas discursivas e os
projetos de implementação de medidas
sustentáveis de desenvolvimento
seriam diminuídos. Faz-se necessário,
BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Os BRICS rumo à Rio+20: África do Sul
5
então, que as negociações da Rio+20
resultem no consenso sobre que
moldura institucional será responsável
pela promoção e viabilização da
transição de um paradigma não-
sustentável de desenvolvimento
econômico e social para a economia
verde.
Nesse tópico em específico, o
governo da República da África do Sul
entende que qualquer moldura
institucional de caráter internacional
deve respeitar alguns princípios
básicos, tais como:
i. Responsabilidades comuns,
porém diferenciadas;
ii. Respeito à liberdade de cada
país em decidir sua própria estratégia
de transição para a economia verde, de
acordo com suas prioridades nacionais
e estágios de desenvolvimento;
iii. Promoção do desenvolvimento
financeiro, científico e tecnológico de
países em desenvolvimento;
iv. Acesso universal a tecnologias
limpas;
v. Valorização do conhecimento
tradicional;
vi. Promoção de melhores práticas
e compartilhamento universal de
informação.
Baseado nos princípios acima
listados, o governo sul-africano propõe
o aumento da coordenação, do
alinhamento e da colaboração entre as
agências das Nações Unidas já
existentes. No entanto, o documento
deixa bastante claro a posição sul-
africana de que qualquer reforma
institucional não deve ser reduzida à
substituição de antigas instituições por
novas. Dessa forma, a África do Sul,
assim como os outros BRICS, se
distancia das propostas da União
Européia e da Colômbia/Guatemala
que, de forma complementar, visam,
respectivamente, a criação de um
órgão independente de fiscalização e
monitoramento, por meio de reforma
do PNUMA, e a consolidação de
Metas Globais de Sustentabilidade.
A principal proposta sul-africana,
no que concerne à moldura
institucional, se concentra na criação
de um Comitê Ministerial de Alto-
Nível que implemente o
desenvolvimento sustentável sob
auspício da Comissão de
Desenvolvimento Sustentável, como
estabelecida na Agenda 21, e do
BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Os BRICS rumo à Rio+20: África do Sul
6
ECOSOC. Seria, então, imperativo a
reestruturação financeira e institucional
do ECOSOC, a fim de aumentar sua
capacidade de implementação. O
governo sul-africano acredita que
dessa maneira os países em
desenvolvimento, que buscam o
crescimento econômico como forma
diminuir as desigualdades sociais e
erradicar a pobreza, teriam maiores
facilidades para transitar para padrões
mais sustentáveis de desenvolvimento.
4. Conclusão
Assim como os outros BRICS, o
governo da África do Sul defende a
liberdade dos países em
desenvolvimento de escolherem suas
próprias estratégias
desenvolvimentistas e de transitarem
em seu próprio ritmo para a economia
verde. Nesse sentido, a África do Sul
traz à tona o princípio sete da
Declaração do Rio que versa sobre as
responsabilidades comuns, porém
diferenciadas. No entanto, em
contraste com o posicionamento de
Índia e China que, de maneiras
diversas, sublinham as taxas históricas
de emissão e poluição dos países
desenvolvidos e, a partir daí,
argumentam que é dever deles auxiliar
e financiar os países em
desenvolvimento para que cresçam
econômica e socialmente de forma
sustentável, a África do Sul apresenta
um tom menos combativo. Nesse
sentido, o governo sul-africano entende
que a construção de um ambiente
marcado por consenso absoluto entre
as partes tem de ser um dos principais
objetivos da Rio+20.
1http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576 (último acesso 19/11/2011) 2http://www.ecolnews.com.br/agenda21/ (último acesso 23/11/2011) 3http://www.uncsd2012.org/rio20/content/documents/368South%20Afric%20Inputs%20to%20the%20United%20Nations%20Conference%20on%20Sustainable%20Development.pdf (último acesso 22/11/2011) 4 Ibidem, p.4 (tradução minha)