Upload
marcelo-z-bueno
View
216
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
1/26
SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros
BRILHANTE, OM., and CALDAS, LQA., coord. Gestão e avaliação de risco em saúde ambiental
[online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1999. 155 p. ISBN 85-85676-56-6 Available fromSciELO Books .
All the contents of this chapter, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non
Commercial-ShareAlike 3.0 Unported.
Todo o conteúdo deste capítulo, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição -Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada.
Todo el contenido de este capítulo, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative
Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.
Risco potencial em toxicologia ambiental
Luiz Querino de A. Caldas
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
2/26
R I S C O P O T E N C I A L E M
T O X I C O L O G I A
A M B I E N T A L
L U I Z Q U E R I N O D E A . C A L D A S
A p e s a r d e d e b r i d a m e n t o s c u l t u r a i s q u e p o r s é c u l o s v ê m s o l a p a n d o
a A m é r i c a L a t i n a n o p l e n o d e s e n v o l v i m e n t o d e s e u p o t e n c i a l h u m a n o n a s á r e a s
de ciência e tecnologia , não se pode negar que, independentemente da vontade de suas
própr ias l ideranças sociais , informação e progresso têm alcançado distantes r incões do con
t inente . A necessidade de esclarecimento, o crescente quest ionamento da opinião pública
ou mes m o as dúvidas dos que exercem o poder de decisão em organism os governam enta is
ou não-governamentais têm contr ibuído enormemente para esse impulso desenvolvimentista
nas A m éric as: a socied ade civil defenden do seus interesses - o lazer, o t rabalho, a qual id ade
de vida e a sobrevivência econômica acima de tudo.
C o m o c o n s e q ü ê n c i a d e s t a i n c e s s a n t e b u s c a p e l o p r o g r e s s o , m o d i f i c a m - s e o s
referenciais . Pr ior idades e preocupações em saúde pública sobrepassam os indicadores t ra
dicionais do binômio saúde-doença nos diversos envelopes sociais , na medida em que estes
cada vez mais se a trelam ao concei to ser-natureza, na ampla def inição que vislumbra im
pactos causa do s na biosfera . Eis que vida, sobrev ivência e m orte estão profu ndam ente afe
tadas por var iáveis biogeoquímicas ambientais que, no curso das úl t imas t rês décadas, têm
aler tado a comunidade sobre os efei tos antropogênicos deletér ios de agentes químicos, por
vezes i r reversíveis , nos ecossistemas naturais .
Pa íses em desenvolvimento, como o Bras i l , t êm procurado de tec ta r precocemente
esses impac tos e a magni tude des tas per turbações . Como conseqüênc ia , inúmeros progra
mas e projetos que prevêem soluções prát icas e economicamente viáveis têm sido aventa
dos ,
na expectat iva de que m od elos e inferências c ient if icamente úteis dimin uam o erro e a
incer teza destas propostas. E, desta forma, a judem a maximizar a conf iança da comunidade
leiga com vistas à tomada de decisões que envolvam a sustentabi l idade com eqüidade soci
al, ou seja , equil íbr io ecossocial sem (ou pelo menos com um mínimo de) iniqüidade.
Longevidade, hoje , s ignif ica o quanto a sociedade está disposta a se sacr if icar para
el iminar ou minimizar o r isco. Diante da escassez global e progressiva de recursos não há
como ignorar a quantif icação da cer teza e da var iabi l idade, por mais mecanicista que seja ,
bem co m o o valor predi t ivo, prát ico c apl icado do s estudos de r isco. Ain da que prem aturo s,
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
3/26
buscam estabelecer probabil idades e custo-benef ício de necessidades essenciais do cidadão
como: o combate ao cr ime, a redução da misér ia ou a melhor ia dos sistemas de saúde e
educação.
Em toxicologia , r isco baseia-se no estudo interat ivo das ciências exatas (matemática/
estat ís t ica) , c iências biológicas e sociais , de modo a reduzir o empir ismo, as incer tezas e
falhas na aval iação de toxicidade de agentes químicos. A toxicologia ambiental , por sua
vez, estuda as interações tóxicas de substâncias químicas no ecossistema e sua capacidade
de afetar a f isiologia normal de organismos vivos.
O r isco potencial em toxicolog ia ambiental t ra ta do estudo da prob abil idad e de fontes
per igosas para a saúde e o meio ambiente , capazes de provocar dano, doença ou morte para
os seres vivos quando em concentrações super iores àquelas que estes possam assimilar cm
condições normais, is to é , absorver , distr ibuir , metabolizar e e l iminar do organismo.
Quando se refere a r isco c ao per igo, torna-se essencial def inir a terminologia , pois
com um ente são usados com o s inônimos ou de modo inconsis tente , de manei ra a não deno
tar possibi l idade ou probabil idade.
A u niform idade no uso destes e de outros term os é desejável , já qu e se tra ta de jargã o
nos compê ndio s e t raba lhos em saúde ambienta l . Ass im sen do, def ine-se com o:
• Risco: a probabi l idade med ida ou es t imad a de dano , doen ça ou mor te causa da por
um agente químico em um indivíduo a este exposto.
• Per igo: te rmo qua l i ta t ivo que expressa o potenc ia l noc ivo do agente para a saúde
e/ou para o meio ambiente .
• Aval iação de Risco: o pr imei ro passo no desencad eamen to de processos de c isór ios ,
advém do conhec im ento da relação causa-efe i to e de poss íve is danos ocas io nado s
pela exposição a um determ inad o agen te qu ímic o. As etapas de Avaliação de R isco
também oferecem sinonímia própr ia:
• Identif icação de Per igo: t ra ta-se da identif icação do agen te per igoso na sua essên
cia , seus efei tos, as condições de exposição e a população-alvo.
• Avaliação da Expo sição: refere-se à quantificação da concen tração do agente
nocivo em um meio, para um indivíduo ou grupo.
• E s t i m a t i v a d o R i s c o : r e l a c i o n a a q u a n t i f i c a ç ã o d a r e l a ç ão d o s e - r e s p o s t a
ou dose - e f e i to pa r a um dado agen te ambien ta l , demons t r ando a p r obab i l i
dade e a natureza dos seus efei tos na saúde e no meio ambiente .
• Expo sição ou Do se: t ra ta da def inição quanti ta t iva da concen tração de substân
cia química que at ingiu (dose externa) o indivíduo ou daquela que foi absor
vida (dose interna) por ele.
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
4/26
• Carac te r ização do Risco: t ra ta -se da reunião das e tapas ante r iores que , de posse
de todos os dados dispon íveis sob re o assun to, caracter iza o uso específ ico ou a
ocor rênc ia de dano, doença ou mor te provocada por exposição a de te r minada
concent ração de agente químico.
• Ge r enc iamento ou Ges t ão de R i sco : a s s im co nceb ido , r e fe r e -se à c om par ação
do r isco calculado ou dos impactos para a saúde púb lica, da exposiçã o amb iental
ao agente , bem como a possível constr ibuição de fatores sociais e econômicos
que incluem também os benef ícios associados a estes. Em últ ima anál ise , neste
processo, pode-se estabelecer que perante as condições propostas, o r isco pode
ser aceitável.
Outro aspecto de grande relevância para o estudo do r isco refere-se à percepção da
existência do r isco químico pela população le iga. Ainda que as preocupações relat ivas à
saúde façam par te de nossas vidas desde tempos imemoriais , só recentemente têm sido
evidenciadas mudanças signif icat ivas nas a t i tudes e na acei tação do r isco. Durante o pro
cesso evolut ivo, os organismos t iveram de se adaptar e se a justar a agentes químicos
endógenos c exógenos na luta pela sobrevivência entre espécies. Até os mais evoluídos
sofreram um processo de seleção natural e adaptações f is iológicas que concorreram para o
aperfeiçoamento de sua interação com o meio ambiente que os cerca. O homem, além
disso , vem d esenvolvendo , ao longo do tempo , padrões cul tura is e de com por tam entos que
minimizam ou mesmo evitam a exposição a agentes químicos nocivos. Tais a justes têm
desper tado a consciência cr í t ica de dir igentes e autor idades que não consideram o r isco
como fator inevitável .
Pra tt & Zeckh auser (19 94) , em inte ressante exerc íc io econom étr ico, d iscutem sobre o
desejo individual e colet ivo de cidadãos desembolsarem de suas própr ias economias para
reduzir o r isco. Mostram que esta vontade depende de quão enraizado o r isco pode estar no
seio populacional , do grau desse r isco e da magnitude de redução do r isco ( intervenção)
oferecida por cada centavo desem bo lsado . Para tanto, dem ons tram (Gráf ico 1) que , quan to
maior é a fração de redução do risco (0,25), maior será o custo final para o grande público,
mas que, não necessar iamente, is to abala a vontade de desembolsar de suas economias para
evitar o r isco. Entretanto, quando a f ração de r isco reduzido traz soluções ínf imas ao pro
blema (0,1) , não apenas eleva a quantia a ser dispendida pelo segmento mais exposto como
tamb ém reduz o dese jo do desem bolso. S i tuações in te rmediár ias (0 ,16) consc ient izam ape
nas o segm ento da população mais próxim o ao problem a (1 ,37 ) , ou seja , ocor re um a
nít ida tendência ao comportamento individual ista .
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
5/26
Fatores cont r ibuintes para a percepção do r isco químico pe las populaçõ es têm s ido as
campanhas de protes to de organizações não-governamenta is cont ra os danos ecológicos e
humanos causados pe la exposição a agentes dec la radamente noc ivos à saúde .
A consciência ambiental desses grupos está a lém das expectat ivas do público le igo no
que tange à poluição do ar , solo e água. Refere-se também à contaminação ambiental por
l ixo nuclear , ruídos e resíduos industr ia is . Pest ic idas têm desper tado uma atenção especial ,
bem como xenobiót icos de pers i s tênc ia prolongada e , conseqüentemente , danosa para o
m eio am biente , tai s com o: organoc lorad os , meta is pesados , c lorof luorcarbono e tc .
Acidentes de grandes proporções têm aguçado o in te resse públ ico na proteção das
comunidades . Dent re os desas t res ecológicos de grandes proporções , pode-se ass ina la r a
contaminação de Seveso, I tá l ia , por d ioxina ; o ac idente da Baía de Minamata , Japão, por
H g ;
a con taminação de r ios amazôn icos por me ta i s pe sados como Hg, Cd e Pb , en t r e
out ros ; as contaminações em Michigan, nos EUA, e em Formosa , na China , por b i feni las
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
6/26
poli-halogenadas (P CB s); e no Brasi l , a ampla contaminação da 'C idad e dos M en ino s ' - no
bairro de Du que de Caxias , Rio de Janeiro, por toneladas de hexaclorociclohexano técnico.
Esses inc identes têm serv ido para impor mu dança s subs tancia is na v isão conse rvado
ra da sociedade, no que diz respeito aos métodos e processos da obtenção, ut i l ização e
d ispos ição de produtos químicos . Mes mo porqu e , es tudos têm demons t rado os per igos d os
efeitos retardado s na saúd e desse s agentes , tais co m o: doenças gené ticas e cânce r por expo
s ição prolongada.
A Avaliação de Risco Químico-Tóxico tem sido crucial para assegurar a qualidade de
vida no ambiente. Vários países vêm uti l izando a Avaliação de Risco para substâncias quí
micas produzidas ou importadas , na tentat iva de minorar o impacto do desenvolvimento
industr ial na saúde e nos ecossis temas.
CLASSES DO
RISCO
A Avaliação de Risco não é uma nova ciência. Há décadas vem sendo uti l izada por
com panh ias de seguro, na proteção de carregamentos transportados por veículos e e mba rca
ções de carga, na expectativa da ocorrência de acidentes naturais, colisões, abalroamentos,
entre outros, que possam danificar ou fazer perecer o material segurado. Tais avaliações são
relativamente simples mesmo que envolvam risco de vida, ou seja, baseado na experiência de
atuários pode-se prever, com razoável grau de certeza, as falhas, erros, vítimas (inclusive) e
acidentes que, porventura, venham ocorrer com esses carregamentos , baseado em experiênci
as acumu ladas pert inentes às rotas e desvios de percurso que aconteceram em si tuações ante
riores.
Na realidade, o resultado da Avaliação de Risco de um determinado evento es tá nas
apólices de seguro diretamente relacionadas com o prêmio a ser pago pelo beneficiár io, e
es te com a magnitude do evento. Atualmente, os r iscos não são caracter izados apenas para
os bens mater iais ; outras classes podem ser incluídas , como apresentado a seguir :
• Ris co para pes soas : refere-se ao r isco intencional , ou não, de profissões ou at ivida
des perigosas ou insalubres que venham a inf l igir algum tipo de doença, lesão ou
m es m o mo rte daquele s que es tão expos tos a es tes . Parte daí a idéia de se fazer u m
seguro especial de parte do corpo hum ano de 'm aio r ' valor para o beneficiár io. Por
exemplo , as mãos dos p ian is tas e c i rurg iões , as pernas dos ba i lar inos , a audição
dos af inadores de ins t rumentos de corda , ou por ou t ro lado , a própr ia v ida dos
submarinis tas , escafandris tas , entre outros .
• Risco para o amb iente : t rata do a tivo e do pass ivo ambienta l an te a contamin ação ,
poluição, degradação ou devastação dos recursos naturais e dos ecos sis temas . C om o
exemplo, temos a emanação de gases e vapores perigosos ou tóxicos por indústr i
as;
a con tam inaç ão de manan ciais por pest icidas ou meta is pesad os; o efei to es tufa
por combustão de derivados de petróleo.
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
7/26
Risco para bens materiais: refere-se à probabilidade da ocorrência de eventos
inesperados, cujos custos são estimados ou perdas contabilizadas no valor total
do seguro. Por exemplo: seguro de veículos e cargas; contra incêndios, roubos e
furtos; em casos de corrosão de pontes e edifícios; nos eventos naturais, como
sismos e maremotos.
Na classe de risco para pessoas existe um fator preponderante que pode determinar o
aumento ou diminuição do grau do risco no evento: o fator humano. Assim, poder-se-ia
condicionar a ocorrência do fenômeno à volição, ou seja, ao ato determinado, ou não pela
vontade do homem.
A classe de risco para pessoas deve então englobar:
O risco voluntário: decidido pelo livre arbítrio do indivíduo, ou seja, um risco
intencional calculado (extração de minérios, jateamento de areia etc.).
O risco involuntário: onde o indivíduo não sabe o que está acontecendo, não tem
consciência do perigo ou não foi informado sobre o assunto (trabalhar ou morar
em áreas extremamentes poluídas, pessoal de escritório que executa atividades em
plantas industriais insalubres etc).
Existe ainda um risco que não é percebido ou sentido, mas que pode se revelar alta
mente perigoso no momento em que se prenuncia: é o chamado risco potencial (galão de
combustível bem acondicionado, cápsula intacta contendo microorganismos de alta viru
lência etc).
A Gestão de Risco trata do processo decisório que leva em consideração fatores como:
Avaliação de Risco, facilidade tecnológica, relação custo/benefício e custo/efetividade, preo
cupações do público e outras atitudes eminentemente políticas.
Para entender melhor a magnitude do evento considerado arriscado ou perigoso, é
necessário montar cenários específicos que possam descrever as circunstâncias pelas quais
os objetos (biológicos ou não) possam estar expostos a esses riscos (por exemplo: poluentes
ou contaminantes). Esses cenários freqüentemente formam a base necessária para a padro
nização, regulamentação e avaliação do risco específico. Eles podem ser compostos de uma
ou mais vias de exposição e, por conseguinte, utilizados para estimar graus de exposição a
agentes. Algumas informações podem ser essenciais para se estabelecer o desenho comple
to de um cenário, quais sejam, entre outras:
fontes de perigo (ascarel armazenado em tambores de latão, por exemplo);
fatores de deflagração (tambores contendo ascarel expostos ao tempo, por exemplo);
transporte e transformação (capacitores com ascarel submetido a altas temperaturas >
1.000ºC,
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
8/26
• e x p o s i ç ã o h u m a n a ( c o m u n i d a d e le ig a com acesso a tambor es con tendo a sca r e l ,
por exemplo) ;
• in ge stã o
ou
captação ( fugas , der rames
ou
uti l ização
de
asca r e l con taminado
em
domic í l i os ,
por
exem plo) ;
• fa to re s
de
conf und imento
(por
exemplo, re la t ivo
ao
ambiente : la tões contendo
ascare l deposi tados em vazadour os ou em área cont ígua a zonas industr ia is; re la
tivo ao homem: tabagismo, e t i l i smo, exposição a pest ic idas c lorad os etc).
TOXICOGÊNESE DE SUBSTÂNCIAS PERIGOSAS
A c u m u l a m - s e
as
evidênc ias
de que os
fatores ambientais
que
dete r minam
a
higidez
dos ecoss is temas vêm gradualmen te sendo mod if icados . Ent re tanto , são escassos os relatos
sobre as alterações que tais fa tores tenham determinado os níveis de correlação entre essas
m u d a n ç a s e a deter ioração da saúde do ecoss is tema. N ão obs tante , existe m for tes su spei ta s
sobre
os
xenoquímicos b ioacumuláve is
que
cont inuam
se
depos i t ando
nas
diversas m at r i
zes biót icas e abióticas.
O poss íve l r esul tado que o h o m e m c o m p a r t i lh a , no m o m e n to , com a natur eza , é a
pr ogr e ss iva reduçã o
do
n ú m e r o
de
espéc ies v ivas
que até
então
não
tinham ex pec ta t iva
de
ex t inção eminen te , a s s im como em co nt r apa r t ida o r essur g imento de enf e r midades por
agen te s b io lóg icos
que já se
cons ide r ava
sob
cont r o l e ,
a
s u p e r p o p u l a ç ã o
ou
m e s m o
a
prol i fe ração de mic r oor gan i smos nunca an te r io r mente i den t i f i c ados em ár eas de c o l o
nização recente (Pla t t , 1995; Couto, 1996) .
Na
real idade , t r a ta - se
de uma
r e a d a p t a ç ã o
das
espéc i e s às cont ingênc ia s r e su l t an t e s no tadamente do est re s se qu ím ico do a m b i e n t e , ou
seja , uma c o n t e n d a de sobr ev ivênc ia ao d e s a p a r e c i m e n t o da s i m b i o s e q u í m i c a com o
ecoss i s t ema .
C o m o as condições de desequi l íbr io dependem bas icamente da quant idade , da dur a
ção
e da
intens idade
da
exposição
aos
xenoquímicos , ma i s c edo
ou
mais ta rde
se
haverá
es tabe lec ido
a
etiologia quím ica
e as
respec t ivas re lações dose- respos tas dessas in te rações
na procura do nexo causa l de tais ext inções . R es t r ingindo a discussão a substânc ias quími
cas ,
pode r-se- ia infer ir que essas a l terações são de origem essenc ia lmente ant ropogênica e
in t imamente re lac ionadas
às
emissões
de
grande quant idade
de
contaminan te s
no ar, ma
nanciais , aqüíferos, a lém
de
adit ivos tóxicos
nos
alimentos
e em
solos cul t iváveis ,
a
dispo
s ição de deje tos urbanos per igosos não-degradáve is , a excess iva combustão da biomassa
(carvão, madei ra e petróleo) e o desenv olvime nto indust ra l desenf reado.
O r i sco potenc ia l
de
alimentos , água ,
ar e
solo contaminados
por
xenoquímicos
são as
causas ma i s comu ns de doenças de etiologia ambiental (Craighead, 1995) . O c a m i n h o que
c o n d u z
ao
apar ec imento
de
modif icações subc l ín icas
nas
populações expos t a s , doença
( mor b idade ) e casos fatais (mortal idade) são apresentados na Figura 1 (Vaca-M ier Cal
das , 1995) .
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
9/26
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
10/26
A despei to de muitos es tudos em toxicologia te rem dem ons t rado q ue , com algumas
exceções , quase todos
os
xenoquímicos são inócuos quando d isso lv idos
no
m e i o
em
quan
tidades iguais ou próx imas à relação
1:10
9
,
ou seja , aproxima dame nte lp pb e, por cons e
guin te , as interações tóxicas são improváveis , os mode los de Aval iação de Risco podem
demons trar ,
por
extrapo lação, que tais quantidade s podem ocasion ar danos ir reparáv eis
ao
organ i s mo .
Por
exemplo ,
a
ingestão diár ia
de 1
litro
de
água potável tratada
por
m e i o
da
cloração (Yang, 1994).
1
O autor postula elegantemente que, no universo de molécu las , o
espect ro capaz de produzir êxito letal de uma célula ou tecido é ext remamen te pequeno
quando com parado com os métod os usuais de análise das curvas dose-re sposta/d ose-efe i to.
Traduzindo
e
adap tando
a
curva dose-resposta apresentada pelo autor ,
ou
seja, transfor
ma ndo-a em curva logar í tmica do número de moléculas versus a respos ta máxima observa
da (morte) , incluindo doses tóxicas e letais , a escala de m agn i tude da curva s igm óide , de
inclinação bastante pronunciada, parece desprezível , ainda que seja 10
3
ou 10
4
vezes m aior
que
a
dose on de
há
ausência c omple ta
de
efei tos (convencionalmente d enom inada de
N O E L
- No Observed Effect Level) (Gráfico 2). Neste caso , a respos ta à dose molecular média
( R M
5 0
) p roduzida por um agente com o o clorofórmio ser ia de 5 X 10
16
m olécu las , ao passo
que a resposta letal ser ia obtida com doses moleculares de 1 X 1 0
l 8
. Proporcionando tais
valores
ao
n ú m e r o
de
células
do
organ is mo human o
de um
adulto
de 70
kg, seria plaus ível
imaginar que a dose letal seria de 10
2
a 10
3
moléculas de clorofórmio por célula. Isso vem
conf i rmar a vulnerabil idade biológica dos s is temas a subs tâncias xenoquím icas , que , con
frontadas com as halobió t icas (com o o ferro), deveria ter uma dose letal de 10
4
a 1 0
5
m o l é
culas
do
meta l
por
célula (G osser
Bricker, 1994).
O espec t ro prev iamente me ncionad o pode ser reduzido dras ticamente (1 0
1
a 10
2
)
pela
presença de misturas químicas múlt iplas , ou seja, quantidades minúsculas destas substânci
as em associação podem desenvolver ações s inérgicas e/ou com pleme n tadas p rovocando
efeitos intensos diversos
nos
sistemas biológicos (Kligerman
et
al., 1993 ).
Teoricam ente, por exposição ambiental múltipla pode-se observar a superposição de efei
tos tóxicos. Por exem plo, curvas teóricas concentração-resposta que dem onstram
a
toxicidade
de metais pesados (Pb, Hg e A s) no sistema nervoso central de humanos (Gráfico 3). Onde o
logaritmo da concentração sangüínea (m g/dl) foi plotado, versus a porcentagem de toxicidade
obtida até
o
êxito letal. Neste caso,
o
risco torna-se proporcional ao núm ero
de
agentes q uími
cos,
modo
de
ação, dose absorvida, interação c om
o
sistema biológico, entre outros.
CONVIVENDO COM O PERIGO
Ações regulamentadoras como aquelas preconizadas nos Programas de Prevenção de
Riscos Ambientais (PPRA), adotadas pelo Minis tér io do Trabalho em 1995, mesmo que
preambulares , são de imensa im portância no desenvolvimento das ciências do r isco. Enquan
to a Avaliação
de
Risco Tóxico trata de analisar as características pelas quais
os
agentes quí
micos
e
as condições de exposição hum ana pod em determ inar
a
proba bilidade p ela qual estes
1
Ver adiante exemplo relatado por
Jo, WEISEL
LIOY (1990).
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
11/26
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
12/26
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
13/26
possam ser deleteriamente afetados, o gerenciamento do risco é o processo em que se deter
mina a medida mais adequada para controlar ou el iminar o r isco. Ε o qu e se p r e te n d e c o m
programas s ingelos como esses , mas de grande a lcance socia l .
N o s
países em desenvolvimento, onde a apl icação desses conhec imentos é bas tante
escassa, med ida s de intervençã o quase semp re resul tam em açõe s drást icas , sens acion al is¬
tas e , em geral , impróprias para l idar com o problema, for temente determinadas por indica
dores sociopolí t icos do per íodo em questão. Com freqüência , permitem-se níveis de expo
s ição/contaminação bem ac ima daque les reconhec idamente inócuos à saúde da população.
Em mui tas c i rcuns tânc ias , por exemplo, a descontaminação de s í t ios com res íduos per igo
sos é bem menos r igorosa do que a necessár ia para preservar os recursos ambientais dispo
níveis , uma vez que os própr ios moradores da área se acostumaram a conviver com o per i
go .
No Q uadro 1, apresentam os um a l is ta de res íduos cons iderados per igosos . Com mu i tos ,
as comunidades convivem diuturnamente sem se aperceberem ou mesmo se incomodarem
com o r isco potencial que representam.
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
14/26
D ep end en do do grau de ignorância científ ica, os resultados de um a Avaliação de Ris
co são desprovidos de qualquer importância ou mesmo interesse para as comunidades afe
tadas,
na sua capa cidad e de lutar por melho r qualidade de vida, ou seja, med ida preventiva
(precatória) por dem and a pública efet iva capaz de ma nter ou reduzir a incidênc ia/prevalência
de doença, dano, lesão ou morte provocadas por exposição a agentes perigosos .
Entretanto, Kelly & Cardon (1994) f izeram vários questionamentos sobre a or igem e
definição de r isco aceitável para populações humanas, conjecturando as bases científ icas
que levaram as agências governamentais a es tabelecerem que o r isco para a saúde humana
é a chanc e de , por exem plo, um indivíduo em um milhã o (1:1.000.000) desenvolver cânc er
ao longo de sua vida, em decorrência da ingestão de cer ta quantidade de al im ento con tend o
pesticida ou adit ivo al imen tar sabidam ente carcin ogên ico. N a opinião das autoras , um r isco
de 1 mil a 100 mil vezes infer ior à probab il idade d e adquir ir câncer por todas as outras
causas . Ainda em se tratando de contaminação ambiental , al imentar e ocupacional , a possi
bil idade de se at ingir o r isco 'essencialmente zero ' (10
6
) é vir tualmente implausível e eco
nom icam ente inv iável . Para as pesquisadoras , ser ia o m esm o que cons iderar que s ome nte a
velocidade de 1,6 Km/h (1 milha/h) ser ia aquela vir tualmente segura e aceitável para que
não ocorram mortes por acidente automobil ís t ico em rodovias , levando-se em consideração
a relação custo-benefício embutida no conceito de tráfego automotr iz.
Ainda que conservadores , esses níveis de r iscos (1:1.000.000), largamente uti l izados
por agências regulamentadoras internacionais , têm s ido objeto de constantes reavaliações ,
e as ex t rapolações , cu idadosamente red imens ionadas por tomadores de decisão que têm a
intenção (muitas vezes relutam) de aplicar tais l imites para implementar aleatoriamente
normas e decretos com esta f inalidade.
Em síntese, pode -se dizer que a Avaliação de Risco tornou-se im portan te ins trum ento
para a identif icação do Risco Potencial de agentes (quím icos , fís icos ou biológico s) no civos
à saúde da população, para a formação de polí t icas públicas e regulatórias , bem como para
o es tabelecimento das pr ior idades de combate dimensionadas a es tes agentes , seja na área
pública ou privada, com implicações econômicas inequívocas nos processos decisórios a
que es tão sujei tos . Tais considerações têm, em geral , suscitado acalorados debates sobre o
tema, por vezes pondo em dúvida a credibil idade dos métodos e medidas propostas . Trata-
se de um assunto em plena ascenção, nos meios científ icos , que merece destaque nos pro
cessos 'mo dela dos ' de desenvolv imento sus ten tável para pa íses do Terce i ro Mu ndo .
A RELAÇÃO DOSE-RESPOSTA
Para cada substância química exis te um espectro de doses para as quais não se conse
gue identif icar manifes tações de toxicidade em pessoas expostas . Porém, quando esse é
extrapolado, efei tos tóxicos começam a aparecer , com gravidade e freqüência dose-depen¬
dentes . Agentes químicos diferem muito entre s i na sua dose-resposta caracter ís t ica. Se
cons ideramos unidades de medida em ordem de grandeza proporc ional ao micrograma
(µg) ou mesmo ao micromol (µmol) , compor tam-se de igual maneira em termos f í s ico-
quím icos , porém bastante diversa em termos de potênc ia e ef icácia, em diferentes espé cies
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
15/26
anima is , sob as m esm as cond ições de tes te , a inda que todos possam de sencad ear o m esm o
tipo de fenômeno.
Por mais abjeto que seja , somente a par t i r da aval iação das caracter íst icas da relação
dose-resposta consegue-se entender quais os r iscos para a saúde que ta is substâncias cau
sam. Signif ica dizer que para cada uma delas, se conhecemos o espectro de doses conside
radas inócuas e , por con segu inte , onde e co m o os efei tos tóx icos se iniciam, torna-se poss í
vel prevenir exposições que sejam capazes de desencadear efei tos deletér ios no organismo.
Todavia , especial is tas em Avaliação de Risco Toxicológico se encontram bem distan
tes destes objet ivos. A começar pela escassez de dados sobre dose-resposta e toxicidade,
disponíve is apenas para uma reduz ido número de agentes químicos . Para nosso contenta
mento , a g r ande ma ior i a de subs t ânc i a s manuf a tu r adas pa r a uso como medicamentos ,
pest ic id as, adi t ivos al imen tares e para outros propósi to s industr ia is têm essas caracter ís t icas
bem de l ineadas , ao cont rá r io do que acontece com dezenas de mi lhares de produtos de
consumo diá r io ou mesmo componentes na tura is de nossa die ta .
Assim, se faz importante lembrar que uma das molas propulsoras da toxicologia como
ciência foi justam ente aqu ela que originou as preocu paçõe s com a saúde dos trabalhadores pela
expo sição a vários toxicantes gerados pela revolução sem precedentes na indústria quím ica.
Associe-se a is to a regulamentação normativa que introduziu a obr igator iedade de
aval iação de toxicidade de muitas dessas substâncias, antes que estas estejam disponíveis
para com erc ia l ização. No entanto , o m esm o não acontece na á rea de subs tânc ias de or igem
natural , a lém do que também ser ia incorreto af irmar que conhecemos profundamente a
toxicogên ese das subs tânc ias já es tudadas .
A documentação disponíve l reve la que es tamos mui to mais próximos do empir i smo
do que da val idação cient íf ica , ou seja , mesmo para substâncias mais conhecidas são ainda
bastante incer tos os espectros de ação onde se pode declarar com razoável cer teza as doses
seguras e inseguras de exposição. Por mais inusi tado possa parecer , mas este seja ta lvez o
pr incipal motivo para que haja compreensão do valor , ou que just i f ique uma Avaliação de
Risco To xicológico.
Cabe aqui uma breve explicação do grau de importância dado à representação gráf ica
(gera lmente uma curva) da re lação dose- respos ta . Como toxicologis tas , ac redi tamos que
quanto mais diversif icada for a informação a respei to do produto (categor ia e t ipo de
toxicid ade, por exem plo ) , m aior será o con hec im ento sobre seus efeitos deletér io s na f isio¬
logia do organismo.
Especial is tas em Avaliação de Risco, por outro lado, gostar iam de ter em mã os resul ta
dos ligado s a espéc ies tão nobres qu anto os seres hum ano s, de preferência por diferentes vias
de exposição, de mod o a infer ir gravidade à exposição, me sm o por pequenas qu antidades do
agente .
Não se deve esquecer de ressal tar a prudência em aval iar em detalhes quaisquer
extrapolações fei tas a par t i r das curvas dose-resposta , uma vez que a grande maior ia das
informações cient íf icas obt idas advém de invest igações epidemiológicas e estudos exper i
mentais real izados em animais de laboratór io. E, tanto no pr imeiro quanto no segundo caso,
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
16/26
relatos sobre o binômio dose observada-resposta esperada são bastante imprecisos sob o
ponto de vista predi t ivo (para seres humanos) .
Entretanto, com o f ranco desenvolvimento cient íf ico, esta possibi l idade se torna cada
vez m ais próxim a. Em algu ns casos, já se con segu e obter a con centraç ão de subs tâncias e
seus metabóli tos em f luidos biológicos e tecidos-alvo, de modo a designar sua real a t ivida
de intr ínseca, is to é , repercussões cl ínicas no objeto biológico. Exposição ou dose externa
( em m g / m
3
ou mg/kg de peso/dia) de chumbo, por exemplo, não se const i tui hoje um bom
indicador do grau de r isco como o que se ver if ica usando a f luorescência de raios X de
tecido ósseo (X RF ) para detectar a dep osiçã o de Pb (dose interna) ao longo da vida (W edeen
et a l . , 1995) , mesmo com as atuais l imitações da técnica.
Por sua vez, geram bastante controvérsia as respostas tóxicas esperadas. As do t ipo
' tudo-ou-nada ' , i s to é , d icotômicas ou descont ínuas , que se t r aduzem na inc idênc ia de
toxicidade em uma grande var iedade de eventos cl ínicos ou exper imentais , e as respostas
contínuas, que espelham a sever idade do quadro de intoxicação ante as doses simples de
uma substância . Em nenhum dos dois casos há o r isco potencial dos agentes envolvidos, ou
seja, não se deve confundir tox icidad e com r isco . C om o exem plo do pr im eiro caso, temos o
efei to tumorigênico da 2-naf t i lamina, que pode provocar câncer de bexiga em trabalhado
res da indústr ia têxt i l ou em an ima is de exper iência , e , no segu ndo , a toxicid ade hep át ica d o
tetracloreto de carbono que, de acordo com a dose, vai progressivamente degenerando o
parênquima até a completa morte celular . Nas duas si tuações o r isco de câncer existe , mas
não necessar iamente em conseqüênc ia da exposição aos produtos .
Um bom exemplo é o que se re fe re à inges tão de bebida a lcoól ica , no qua l a té um
determinado níve l sé r ico , torna-se fac t íve l a f i rmar que uma pessoa não es te ja sent indo
abso lu t amente nada , por ém, quando ce r to l imi t e é u l t r apassado ( va r i ando de ind iv íduo
para indivíduo) , es ta se apercebe que es tá sob a inf luênc ia dos e fe i tos inebr iantes pró
pr ios do á lcool . Ainda que es tes e fe i tos não se jam ni t idamente de tec tados , é bas tante
prováve l que quando se passa a se r usuár io c rônico, cedo ou ta rde desenvolver - se -á um
gr ave quadr o de degene r ação gor dur osa do f ígado . E x i s t em inúmer os exemplos de to
l e r ânc i a ao agen te , en t r e t an to , s ab idamente uma f r ação da popu lação t em um ' l imia r '
que pa r ece e s t a r í n t ima e qu imicamente r e l ac ionado ao de senvo lv imento da doença
( c i r r ose hepá t i ca ) .
Es ta abordagem sobre pa tamares de respos ta da curva dose-efe i to carac te r iza o que
se convenc ionou chamar de
NEL (NO
Effect Level) ,
NOEL (NO
Observed Ef fec t Leve l ) ,
NOAEL (No Observed Adverse Ef fec t Leve l ) e FEL (Frank Ef fec t Leve l ) (Gráf ico 4) ,
a c r ôn imos ado tados da l í ngua ing le sa .
2
Dentre esses , o
NEL
foi pra t icamente desprezado, pois s igni f ica ausênc ia comple ta
de e fe i to de uma subs tânc ia . Não se pode infe r i r que uma de te rminada dose se ja absolu
tamente desprovida de e fe i to . O a rgumento de contes tação é que os in t rumentos disponí
ve is de de tecção e medida foram incapazes de perceber , a té o momento, qua lquer a l te ra
ção no obje to biológico.
2 P a r a m a i s d e t a l h e s , v e r c a p í t u l o 4 e g l o s s á r i o .
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
17/26
Em ambos casos, a porção da curva que estabelece a t ransição efei to tóxico e não-
tóxico é tecnicamente chamada de ' l imiar ' , mas na real idade tra ta-se de um concei to vir tu
al,
pois se há que provar a existência de efei to an ter ior ao qu e foi dem on strad o co m o ausên
cia de resposta, o que torna o pleito cientificamente contestável (Gráfico 4).
GRÁ FICO 4 - Curvas dose-resposta diagramadas para demonstrar os diversos segmentos da resposta p
fatores de incerteza (Fl) e fatores modificadores (FM), não impõe risco à popu lação. Enquanto as dem ai
não são observados (NOA EL), apenas alguns efeitos adversos não são observados (LOAEL ) OU quando
O NOEL admite es ta poss ibi l idade quando insere o conce i to de 'observado ' , ou se ja ,
não foram notados os e fe i tos em uma de te rminada dose , mas é prováve l que exis tam (é
bom lembrar que a grande maior ia de resul tados des tas curvas são obt idos de um número
l imi tado de animais de exper iênc ia e de dados epidemiológicos com ampla margem de
confundimento) . Mesmo porque , curvas dose- respos ta /dose-efe i to t íp icas gera lmente des
prezam es ta t i s t icamente os resul tados apontados nos seus ext remos. I s to s igni f ica que
quan do os m esm os se d i s t ri buem nor m a lmente , 4 , 6 dos dados que se agr upam nos
ext rem os da curva (2 ,3 em cada lado) não têm s igni f icado es ta t í s t ico para um de te rm i
nado even to , e s tuda do na ma ior i a da po pu lação .
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
18/26
O
NOAEL
contempla o conce i to de ' adverso ' , e des ta forma também a capac idade
metaból ica e /ou regenera t iva do organismo de não de ixar que ocor ram danos ce lula res
antes que as concent rações esgotem a habi l idade de reparo das cé lulas ou tec idos .
O
FEL
é um nível de dose ou concentração que adm ite uma respo sta ou efeito 'ab er to '
(franco) da substância.
Todos estes conceitos implicam afirmar que na realidade não existem limiares, mas sim
limitações na capac idade de detecção ou m edida de eventos bioló gicos, ou seja, o risco persis
te até que a dose ou conc entraçã o do xeno biótico decaia para zero. He nrion & Fischoff (198 6)
demonstram, no Gráfico 5, exatamente a variação (leia-se incerteza) observada na medida da
velocid ade da luz no curso do último século e, ainda, que m eno s de 50 dos limites estabele
cidos incluíam os valores atuais no cálculo da variação do erro. Po rém , algu m as contro vérsias
fora do escopo deste texto podem ser identificadas em tais conceitos.
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
19/26
Rod r icks (1992) busca demonst ra r , u t i lizando curvas dose- respos ta h ipo té t icas (Grá
f ico 6) , o comportamento de efei tos l imiares e não- l imiares em modelos que teor icamente
representam a probabil idade de se adquir ir câncer , induzido ao longo da vida, por exposi
ção a doses mínimas de uma substância . Nesta si tuação, considerou como r isco tolerável
aquele em que se obtém apenas um único caso desta doença em uma população de 100 mil
pesso as, ou seja, um a probabil idad e 10 mil vezes me nor que aquela ob servada para o valor
mínimo de r isco est imado para testes com animais inteiros.
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
20/26
Assim, uti l izando-se diferentes modelos , observam-se importantes variações de acor
do com as extrapolações permitidas por determinado modelo. No caso da curva C, por
exemplo, somente uma dose três ordens de magnitude superior ser ia capaz de induzir cân
cer com o r isco de 0.01 , ou seja, aproxim adam ente mil vezes infer ior à dose corres pon dente
ao r isco tolerável ut i l izando-se os dois outros modelos (não-l imiares) .
3
ASSESSORANDO O RISCO
Avaliar r isco não s ignif ica s implesmente quantif icar o perigo destinando proporções
às centenas de milhares de indivíduos expostos a um determinado agente ambiental . Impli
ca elevada incerteza (probabil idade) que, entre outros conceitos , var ia enormemente, de
acordo com o grau de importância dado pelo público (em geral, via órgãos formadores de opi
nião) ao fenôme no ou evento.
Morgan & Henrion (1992), redesenhando o gráf ico elaborado por Lichtenstein et al .
(1978) (Gráfico 7) , observaram que a heurís t ica, mesmo operacionalizada junto a uma po
pulação m ais esclarecida, es tabelece resultados bastante tenden ciosos (envie sados ) , fora da
realidade dos fatos . Os casos de botulismo, por exemplo, es tar iam sendo superest imados
pela população entrevis tada, ao passo que os derrames cerebrais , subestimados. Os primei
ros, largam ente alardeados pela mídia, ao passo que os últ imos sem desp ertar a devid a
impor tância na mesma.
No Brasil , em termos heurís t icos , um paralelo pode ser traçado entre a importância
dos óbitos por A I D S e a mortal idade causada por diarréias em crianças com menos de um
ano de idade.
En quan to alguns r iscos são bem conhe cidos e entend idos pelo grande público, outros ,
como os r iscos químicos , passam despercebidos. A morte anual por algumas at ividade cor
r iqueiras , por exemplo, são de domínio público. A morte por acidente automobil ís t ico para
um motoris ta habitual ser ia
1:4.000.
Para um ciclista cotidiano, esta seria de
1:30.000,
ao
passo que para fumantes inveterados desde os 15 anos de idade a morte por câncer de
pulmão ser ia de 1:800. Ainda na década de 70 , Crouch & W ilson (1986) de mo ns t ram ,
uti l izando a árvore de falhas/acertos , a probab il idade de mo rte por r iscos com uns e inusita
dos como os apresentados no Quadro 2 .
Como o r isco químico dispõe de reduzido senso comum - é menos conhecido - e
quase sempre embasado em extrapolações de dados obtidos em animais de laboratório, o
objet ivo maio r da avaliação será es t imar o exce sso de r isco caus ado por expo sição a o agen
te químico acima da qual o r isco exis te, ainda que a exposição ao agente não ocorra.
Ass im, sabe-se que a exposiçã o a xenoestróg enos, hormôn ios-s ímiles amb ientais (Aril
(Ah)-agonis tas e antagonis tas) capazes de gerar um leque de al terações no s is tema reprodutor
de ma mífe ros , nas últ imas duas década s têm sido responsabil izad os por ma is de um caso d e
3 Para mais informações sobre tais conceitos, consultar o capítulo 4.
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
21/26
câncer de mam a em cada mi l mulheres amer icanas (Davis & Bradlow, 1995). N o entanto ,
há que se diferenciar , por exemplo, a incidência desse t ipo de câncer na presença e na
ausênc ia desses ho rmô nios , que nes te caso denuncia que o excesso desses tum ores deve te r
s ido provocado pe la es t imulação endócr ina dos tec idos , a t ivando a taxa de repl icação do
DNA e , dessa forma, aumentando o número de mutações , poss ive lmente carc inogênicas ,
que se mult ipl icam sem o devido reparo gênico.
Co m o já dito anteriormente, r isco toxicológico significa probabilidade m edid a ou estim a
da de que um evento nocivo à saúde venha a ocorrer por exposição a um xeno biótico. Co m o se
refere à probabil idade de ocorrência , o r isco é expresso como fração, sem uma unidade de
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
22/26
medida específ ica . O espectro de valores var ia do zero (ausência absoluta de r isco) ao 1,
qu and o há a total cer teza de qu e o r isco irá acontecer . Assim , o valor que est iver entre zero
e 1 será interpretado co m o a prob abil idad e com q ue o r isco po derá ocorrer . O cálculo d e
probabi l idades também inc lui o r i sco em excesso da população exposta , em comparação
com a não-exposta .
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
23/26
Qu and o pos tulam os, por exem plo, que a exposição amb ienta l c rônica de um a cr iança
a níveis e levados de chumbo (>10 µg/dl) deverá provocar um decréscimo de seu quociente
intelectual numa razão de 1:100.000, is to implica af irmar que uma em cada 100 mil cr ian
ças (expostas versus não-expostas) te rá seu desenvolvimento in te lec tua l ps icométr ico a fe
tado pe la expo sição ao agente . Cr ianças bem do tadas in te lec tua lmente (Q. I .>130 ) , que com
põem uma fa ixa reduz ida da população, se permanecerem com teores e levados de Pb, po
derão apresenta r acentuado déf ic i t neurocogni t ivo, d is túrbios de com por tam ento e ap rendi
z a d o , igualando-se em Q.I . à média da população ( -100) (Gráf ico 8) . Si lbergeld (1996)
relata que nestes casos não conseguiu-se est ipular , a té o momento, um ' l imiar ' para ta is
efeitos.
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
24/26
Todavia, o exemplo anter ior deixa bem claro que não se deve confundir Risco com
Fator de Risco. Por exem plo, a obes idade n ão necessar iamente ocas ion a doen ças ca rdíacas ,
mas é considerada um fator de r isco. Por conseguinte , obesos têm maior chance de adquir ir
doenças cardiovasculares, a inda que possam exist i r outros fatores correlatos. O importante
a relevar é a verdad eira contr ibu ição d o fator para que o r isco ven ha a ocorrer .
Especial is tas no assunto têm também que ser hábeis o bastante para l idar com o leque
de incer tezas que se impõe quando se t ra ta de r isco químico na área da saúde ambiental .
Em gera l , nes ta s i tuação o ja rgão ep idem iológico é o m ais u t i l izado, de m od o que
r isco relat ivo e r isco absoluto por agentes químicos são aleator iamente aufer idos sem a
devida parcimônia da dúvida. Para superar as incer tezas lança-se mão de valores de refe
rência inespecíf icos
default)
que podem supr i r es ta base de conh ec im ento ou com o dad os
cient íf icos de produtos cujos valores ( indicadores de saúde ou doença, por exemplo) , este
jam indisponíve is .
Tom adores de dec isão devem, po r tanto , prees tabe lecer as escolhas que nor tearão suas
conc lusões em uma Aval iação de Risco, inc luindo a maior probabi l idade poss íve l de incer
teza (apl icando a distr ibuição de Monte Car io ou hipercubo la t ino, por exemplo) em cada
opção, contr ibuindo assim para a diminuição de erro grosseiro ou for tui to.
Não tão somente a par t i r de dados cient íf icos obt idos, mas vár ias hipóteses de t raba
lho e modelos de extrapolação apl icados revelaram que o r isco de se contrair câncer inge
r indo água clorada, a inda que cient if icamente plausível , não foi submetido a nenhuma ba
ter ia de testes empír icos, não sendo, por tanto, comprovado.
Em t raba lho recente , Jo , W eise l & Lioy (199 0) cons ideraram todos es tes asp ec tos
quando e s tuda r am a concen t r ação de r e s íduo de c lo r o f ór mio na água pa r a consumo hu
mano, que se r ia capaz de causar um excesso de cânceres ao longo da vida em uma popu
lação de um mi lhão de pessoas . De acordo com índices de c loração da água empregados
(24 pg/ l ) , conc luí ram que 122 pessoas qu e se banham por dez min utos /d ia em água c lo rada
se expõem ao r i sco de adqui r i r câncer no curso de suas vidas , por meio da absorção
dérmica e ina la tór ia do c lorofórmio, da mesma forma que a concomitante inges tão de um
copo/dia (150 ml) ou de 2 L /dia de água c lorada nes ta concent ração i rá teor icamente
incrementar o r i sco, r espec t ivamente para 153 ou 300 pessoas com câncer na mesma
população, r i sco re la t ivamente ba ixo e , por conseguinte , d i f íc i l de se demonst ra r . O que
s igni f ica diz er que a ma ior ia das Ava l iações de Risco Tox icológico são a inda hip óteses de
t r a b a l h o c o m g r a n d e c o n t e ú d o e s p e c u l a t i v o , g e r a l m e n t e c a r e c e n d o d e e s t u d o
epid em ioló gico de ordem p rá t ica , no qua l os ava l iadores base iam suas ações ora em regu
lamentos lega is , ora na prudênc ia .
Ent re tanto , há que se cons iderar que na tomada de dec isão sobre um problema,
qua lquer in te rvenção pol í t ica antes de um consenso, aba l izado por espec ia l i s tas no as
s u n t o ,
não m inim iza a incer teza c ient í fica . Po rém , isso não desqua l i f ica es te t ipo de es tu
do que , na rea l idade , de a lguma forma responde aos anse ios da população, ca rente de
respostas sobre o tema, ante a pressão se le t iva imposta por ambientes contaminados por
subs t ânc i a s qu ímicas .
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
25/26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
C O U T O R. C. S.
Hidrelétricas
e
Saúde
na
Amazônia:
um
Estudo sobre
a
Tendência
da a-
lária
na
Área
do
Lago
da
Hidrelétrica
de
Tucu ruí-PA, Brasil,
1996. Tese
de
D outo rado ,
R io de Janeiro : Ensp/F iocruz .
C R A I G H E A D Τ . E.
Pathology of Environmental and Occupational diseases.
St.
L o u i s :
Mo sby -Yea r Bo o k In c . , 1995.
C R O U C H
E.
W I L S O N
R.
I n f o r m i n g
and
e d u c a t i n g
the
p u b l i c a bo u t r i sk .
Risk Analysis
6 : 403 -415 ,
1986.
D A V I S D . L .
BRADLOW,
H . L .
Can environmental estrogens cause breast cancer?
Scientific Am erican
2 7 3 ( 1 0 ) : 1 6 6 - 1 7 2 ,
Oct. 1995.
G O S S E L
T . A .
B R I C K E R ,
J. D.
Principles of Clinical Toxicology . 3.ed. Ne w
York:
R a v e n
Press ,
1994.
H E N R I O N M. F I S C H O F F
B.A ssess ing uncer ta in ty
in
physica l constan ts . American Journal
of Physics
54 (9 ) : 791 -798 ,
1986.
J o
W .
K.; W E I S E L C. P. L I O Y P. J.
Choroform exposure
and the
health risk associated with
mul t ip le uses
of
chlorinated
tap
w ater. Risk Analysis 10 (4 ) : 581 -585 ,
1990.
K E L L Y K. A. C A R D O N N. C. The
m y t h
of
10
-6
as a
definiton
of
acceptable r isk. EP atch
3 (17 ) : 4 -8 , 1994.
K L I G E R M A N
A. D. et
al . A n a ly s i s
of
cy to g en e ti c d amag e
in
ro d en t s fo llo win g ex p o su re
to
s imula t ion ground water con taminated
by
pesticies
and a
fertilizer.
Mutation Research
3 0 0 : 1 2 5 - 1 3 4 ,
1993.
L I C H T E N S T E I N S. et al.
J u d g e f r e q u e n c y
of
l e t h a l e v e n t s . Journal of Experimental
Psychology: Human Learning
and
Memory 4 : 5 5 1 - 5 7 8 ,
1978.
M O R G A N M. G. H E N R I O N M.
Uncertainty. Ne w York : Ca mb r idge Univers ity Press ,
1992.
N E E D L E M A N
M .
D. et
al. D efici t
in
psycolog ica l
and
classm ent performance of children with
elevated dentine
lad
level . New England Journal of Medicine 3 0 0 : 6 8 9 - 6 9 5 ,
1979.
P L A T T A. The
resurgence
of
infec tious d iseases . W or ld W atch . Technical Report p .26 -32 ,
Ju l ./ A u g . ,
1995.
P R A T T
J.
W .
Z E C K H A U S E R
R. J.
Willingness
to pay and the
distribution of risk
and
wealth.
T e c h n i c a l R e p o r t , E E P S ,
J. F.
Ken n ed y Scho o l
of
Go v ern men t , Ha rva rd Un ive r s i ty ,
F e b . 1 9 9 4 . R O D R I C K S
J.
V .
Calculated Risks. Ne w York: Ca mb ridge Universi ty Pres s,
1992.
8/18/2019 brilhante-9788575412411-05
26/26
SILBERGELD, Ε . Κ . Na tu re and ex ten t o f lead exposu res and tox i c it y in the A mer i cas . I n :
H O W S O N , C. P. et al . Lead in the Americas: a call for action. M e x i c o C i t y : I n s t i t u t e o f
M ed ic ine (NA S /U SA ) and Na t iona l I ns t it u te o f Pub l i c Hea l t h (M e x ico ) , 1 9 9 6 .
V A C A - M I E R ,
M .
CALDAS,
L . Q . A .
Resíduos peligrosos medio amb iente y
salud
Technical
Repor t . ECO/OP S , To luca , Mex ico , Dec .
1 9 9 5 .
Y A N G ,
R. S. H.
Toxicology of Chem ical Mixtures.
S an Diego : A cadem ic P res s ,
1 9 9 4 .
W EDEEN , R. P. et al . Clinica l ap plication of
in vivo
t ibial
K - X
ray f luorescence for monitoring
lead s tores . Archives of Environm ental Health 5 0 5 ) : 3 5 5 - 3 6 1 , 1 9 9 5 .