171
130 SAGA DA LUA CHEIA LIVRO I O Último Conto BRIZZ BRISEIRA Equipe de revisão : Márcia Oliveira, Rosilene Xavier, Iluska Benício, Cildinha May, Ady Miranda, Jaqueline Maia, Leila Fernanda. Revisão Final : Márcia Oliveira e Serenah. Formatação : Lívia Marina Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

Citation preview

Page 1: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

SAGA DA LUA CHEIALIVRO I

O Último ContoBRIZZ BRISEIRA

Equipe de revisão: Márcia Oliveira, Rosilene Xavier, Iluska Benício, Cildinha May, Ady Miranda, Jaqueline Maia, Leila Fernanda.

Revisão Final: Márcia Oliveira e Serenah.Formatação: Lívia Marina

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 2: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

À minha mãe e irmã,Minhas maiores amigas e cúmplices.

ARGUMENTO

Os sonhos podem se tornar realidade? Que alegria! Mas, e se forem pesadelos…? Vanessa escreve todas as noites seus pesadelos, relacionados com um homem lobo. Jamais imaginou que na verdade Marcus, o Homem lobo, existisse. Sua chegada desencadeia uma série de terríveis desgraças na vida de nossa protagonista e agora ela tem que enfrentá-las com a ajuda de quem poderia matá-la de um momento para o outro.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 3: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

CAPÍTULO 01 - UMA ESCRITORA DE CONTOS

“Quando as notas do coração param, o universo dá um silêncio à canção que se perdeu.”

Abro os olhos lentamente, ainda posso sentir o sabor do sangue em minha boca e o aroma impregnado por todo meu corpo. "É uma delícia". Ao recordar os gritos que deu quando comecei a destroçar sua carne lentamente e a maneira como seus olhos se arregalaram pela surpresa quando viu o seu final. Inocência e virgindade, duas palavras que nunca encontrarei em um corpo. Infelizmente esta era virgem, e o prazer de assassinar se incrementa quando vejo os rastros do que foi uma bela garota e do que agora é. Estão aí atirados clamando por uma vingança que nunca chegará. O que mais gosto em minhas vítimas? Quando fogem, claro. Adoro perseguí-las enquanto correm por suas vidas e não se dão conta de que é impossível escapar. Não há saída, e mesmo assim acreditam poder viver. Quando tomo seu coração em minhas garras, vejo como toca sua última nota, a audiência aplaude e faço uma reverência por tão grande atuação. Este sou eu, meu nome é Marcus. E sou um Homem Lobo. Espere-me que logo você e eu nos conheceremos e faremos música para o universo... Vanessa deu um grande suspiro ao terminar de escrever seu conto de terror. Seu editor tinha falado com ela há três dias e advertido que ela tinha que entregar o terceiro rascunho da história para as correções que se fariam logo. Tinha 17 anos e já era uma escritora. Jovem, seu primeiro livro era um conto chamado "Marcus o Homem Lobo", e foi tão popular entre os jovens de sua cidade que a editora se interessou e decidiu colocá-lo à venda. Era um livro tétrico, a respeito desse assassino sanguinário e ela o detestava, mas por estranho que pareça, não podia deixar de escrever a respeito dele. Desde que se lembrava, tinha sonhado ou melhor dizendo, tinha pesadelos com esse monstro e para que superasse, o psicólogo de sua mãe lhe disse que podia escrever a respeito de seus pesadelos e assim desapareceriam. GRANDE ENGANO. Nunca desapareceram e a cada vez eram mais vívidos, assim optou por escrever como se fossem pequenos contos de terror, mas todos com um protagonista, Marcus o homem lobo. — Porquê raios o nomeei Marcus? — Vanessa enrugou o cenho quando olhou os últimos parágrafos — Vá, tenho imaginação de uma menina de sete anos — Seguia encurvada em seu pequeno escritório. Levantou-se lentamente, enquanto voltava a ler o rascunho e caminhou em círculos até que se deitou em sua cama, esparramando todas as folhas ao seu redor. — Maldita história de bobeiras! Maldita editora! E MALDITO HOMEM DE MEUS PESADELOS, ME DEIXE EM PAZ!— Vanessa, ESTOU TE OUVINDO AMALDIÇOAR ATÉ A ESQUINA! Será melhor que controle sua boca! — Gritou sua mãe do primeiro piso.— Sim MA, já ouvi! — E fechou a porta de uma cacetada. — Isso me acontece por andar escrevendo antes da comida, todo mundo está de mau humor — Disse enquanto se deitava de novo em sua cama e contemplava todas as folhas pulverizadas como chuva de letras.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 4: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Certamente estava chateada nesse dia em especial. Amanhã faria dezoito anos e tinha um mundo de tarefas por terminar, não só da escola, mas também do seu "trabalho", se poderia dizer assim. Realmente não ia fazer um aniversário fabuloso, nem tampouco interessante. A escola não era complicada, mas era muito tediosa às vezes. A não ser por seus amigos que a faziam rir, todos os dias ela seria como um zumbi submetida ao jugo escolar. Com seus pensamentos, lembrou do rosto de seu melhor amigo. Esteban com certeza estaria quebrando a cabeça, estudando em casa pra passar e as sardas em seu nariz se enrugariam por tanta concentração a cada vez que se enroscasse no cabelo ruivo ou de "cenoura" como dizia Bety, era certo que estava a ponto de jogar tudo para o alto e ficar jogando Nintendo. Este pensamento foi suficiente para tirar um sorriso dos lábios de Vanessa, porque só em pensar que amanhã ambos estariam pedindo cola da Bety, lhe prometendo que estudariam mais e que seriam bons meninos, era algo que valia a pena desfrutar. Sua pobre amiga sempre olhava-os com reprovação, mas terminava dando cola a ambos do que não sabiam. Vanessa parou, voltou para o seu escritório e a contra gosto tirou seus cadernos de sua mochila negra e começou a estudar senão desta vez Bety não iria engolir seus juramentos.

Outra vez estava sonhando. Definitivamente era um sonho, porque nunca em sua vida poria um pé em um cemitério e ainda mais à noite. O ar gelado queimava o rosto e os dedos de seus pés e as mãos se encontravam rígidas. Claro que isso não era o pior da situação, mas sim ao perceber que usava um vestido branco que ondulava brandamente com o ar — "Por que não estou logo nua, vestido estúpido?” — Pensou. O que a irritava era que não podia despertar, porque ele tinha que aparecer para que ela terminasse gritando em seu quarto a cada noite — "Por que não me assassina de uma vez? Tenho sono" — Repetiu de novo em sua mente. Era claro que desta vez estava demorando — "Nunca demora" — Disse a si mesma. Caminhou alguns passos lentamente entre as lápides e os montões de terra que se encontravam em frente a estas. Para ela, este tipo de ambiente já não era desconhecido, não lhe temia depois de vê-lo por tantos anos, tantas noites. — Crack! Vanessa parou subitamente quando passava por uma lápide com a figura de um anjo. Faziam só uns segundos que tinha escutado como se quebravam uns galhos no chão, como se alguém os tivesse pisado. Isto era suficiente! Já não a intimidaria e gritaria que havia chegado ao seu limite. Voltou-se rapidamente, mas já não havia nada, as tumbas estavam tão silenciosas e solenes... Era como se ele não estivesse disposto a aparecer. Isso a enfureceu e a tirou do sério. — Muito bem monstro estúpido! — Gritou para o nada — A não ser que vá aparecer tenho algo a lhe dizer! — Suas bochechas se estavam esquentando pela ira que a embargava, já não sentia frio, era calor, calor de ira — Esta será a ultima vez! Ouve-me! — Agitou seus braços — Última!— Adeus pesadelos! — Sua voz não pôde soar mais cheia de desprezo — Adeus. Vanessa quase saltou do susto de sentir seu fôlego na nuca. Ao se virar o viu, ele estava parado, mas era estranho, tinha outra apresentação. Sempre

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 5: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

tinha sonhado com ele e tudo que podia ver era um monstro sedento com os olhos injetados de sangue que o fazia atemorizante. Mas desta vez havia uma enorme mudança, o homem lobo parecia diferente e seus olhos tinham mudado! Eram de um verde arrebatador, seu rosto já não estava contraído pela necessidade de assassinar, mas sim por um sorriso cheio de paz que lhe transmitia certa simpatia. Mas mesmo com todos estes sinais, não baixou a guarda. — Ahhh... Falei que já..... — Maldita seja, estava titubeando frente a ele — "Deve deixar de amaldiçoar" — Disse-se enquanto ordenava a última frase — Já não tenho medo! — Excelente! — Disse o assassino sorrindo mais — Logo faremos música juntos — E lentamente se aproximou de seus lábios e sussurrou junto a eles — Muito em breve.— AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! O grito que deu sentiu correr do fundo de seu estômago e surgir em sua garganta em um minuto. Isso foi suficiente para despertá-la e deixá-la aturdida por um momento. Enquanto reconhecia seu quarto e acendia o abajour, notou tinha escurecido muito rápido.— Lápis e papel, lápis e papel — Começou a procurar sem poder encontrar na escrivaninha — Maldita seja! Nunca terei algo à mão — Parou rapidamente, nervosa pelo que acabava de ocorrer. Com as pernas tremendo, sentou-se em seu escritório e encontrou o que procurava. Tinha que escrever o que tinha sonhado, mas em vez de começar a escrever as letras no papel, tocou-se no rosto desesperadamente e então saíram palavras de seus lábios com grande sinceridade, a qual não tinha tido em anos e sentindo-se como uma garotinha de sete anos sussurrou — Tenho medo! Escreveu toda a noite, não parou para comer ou tomar água e agora tinha muita sede, mas não podia separar o lápis do papel; sabia que se não terminasse, não poderia dormir em paz. Ao terminar os últimos detalhes do pesadelo, ou seria sonho? — "O que seja" — Saiu do escritório e procurou nas gavetas de seu closet branco, o seu computador portátil. Seu editor tinha sugerido que escrevesse tudo à mão e logo passasse para o computador para assegurar de não perder a informação. A Vane, isso não incomodava, mas tinha que pôr uma contra-senha em seus arquivos para que ninguém visse o que estava escrevendo. É que nem seus amigos sabiam que era ela a que escrevia sobre o Homem lobo mais famoso do momento. Encarregou-se de que a editora ocultasse seu nome sob as iniciais “V&M”, e para ser exata até o momento ninguém havia descoberto seu segredo e esperava que seguisse assim, porque não encontrava a forma de dizer a seus amigos: — “Ouçam meninos, adivinhem, sou eu a sádica que escreve os contos do Marcus" — Não, definitivamente nunca diria a eles. — Bem, terminei — Deu um bocejo e desligou a máquina, deu uns tropeções e a guardou em sua mochila, amanhã teria que levá-la à escola. Lentamente dormiu e para seu grato alívio, não sonhou com o Marcus outra vez. Bom, antes de fechar seus olhos, o rosto do outro Marcus se projetou em sua mente e então se rendeu. — Bem, pelo menos agora já não parece humanóide — Disse ao rosto moreno e de olhos verdes que sorria com falsa malícia.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 6: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

CAPÍTULO 02 - FELIZ ANIVERSÁRIO!

“Nossos corações são fogo com o seu violão elétrico e minha voz”.

— Calem essa gritaria! Vanessa estava de mau humor e tinha razão, pois seus pais a levantaram junto com seu irmão menor às 4 da manhã para cantarem — “Parabéns pra você, parabéns...” — Mas ela já estava farta. Não era que se incomodasse, já tinha se resignado, cada ano era igual e o pior de tudo era que por costume teriam que tirar uma foto junto ao festejado a essa hora da manhã e isso já não era normal, muito menos para Vane que tinha que dormir pois ia à escola e escrever de noite realmente a esgotava, mas sua família nunca tinha sido compreensiva com ela.— Ai, vamos minha vida, à foto da lembrança! — Seu pai suplicou com os olhos de cachorrinho que ela tanto detestava por que terminava por convencê-la — Vamos, é seu aniversário, alegre-se — Terminou enquanto agarrava a câmera instantânea e se colocava junto de sua mulher e seu filho ao lado da Vane.— Estou feliz — Contestou ela, chiando os dentes com seu cabelo enredado estilo ninho de pássaros— Minha menina já é uma moça — Sua mãe era muito emotiva e sempre chorava em todas as festas, isso não era novo, Vane pôs os olhos em branco enquanto lhe dava tapinhas na costas — Quem necessita de quem? — Pensou sarcasticamente.— Abaço mani — Téo seu irmãozinho de 3 anos abriu seus bracinhos para felicitá-la. isso foi o último, pois não podia resistir ao Teo. Assim, se deu por vencida, de todos os modos nunca poderia trocar de família.— Muito bem família, SORRIAM! — Seu pai sustentou firmemente a câmera e tirou a foto soando um "click" e um flash que poderia deixar cego até mesmo São Pedro — Agora vou por a foto no refrigerador e...—Nada disso, alguém poderá ver — Rapidamente Vanessa lhe tirou a foto e a escondeu sob seu travesseiro — E agora vão dormir que nem o galo cantou ainda — Incitou a irem com urgência.—OK, meu amor — Seu pai e sua mãe a abraçaram muito forte enquanto Téo lhe dava o beijo mais babado que podia. — Durma bem — Olhou seu pai que fechava a porta.— Sim... — E pôs os olhos em branco — Tentarei... Vanessa sorriu por todo o show desde sua cama e rapidamente tirou a foto de baixo de seu travesseiro. Ao examinar a foto, notou a família feliz de quatro integrantes: Seu pai, que tinha os óculos postos e sorria de orelha à orelha, era comum que levasse os óculos a todos os lugares. Realmente, se não tivesse óculos, seu pai não se destacaria, era um homem muito simples, cara alargada de estatura normal de 1,78m, cabelo negro como a noite e pele moreno-canela

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 7: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

com olhos de cor café claro. Era diferente de sua mãe, que em contrapartida, parecia a mulher mais elegante do mundo. Seu rosto era arredondado, com olhos cor café e cabelo castanho. E o mais bonito, sua pele tinha a cor do leite. Seu irmão não estava longe, era igual a sua mãe, mas seus olhos eram os de seu pai. Pensou e se disse — "Eu também tenho os mesmos olhos" — Observou-se na fotografia e era a única que sorria com dificuldade. Notava-se, tinha o cabelo castanho escuro com mechas ruivas, cara alargada, e pele acastanhada. Não se parecia com seus pais, mas se parecia com sua avó quando ela era jovem. O bom é que tinha crescido bastante, se é que medir 1,60m em sua família era considerado um lucro, pois sua mãe era de baixa estatura. Observou um pouco mais a fotografia, procurou uma caneta na sua mochila negra - "Por que tenho tudo metido nesta estúpida mochila?" — Sussurrou. Pegou a caneta e escreveu na parte de baixo da foto. Feliz Aniversário, 18 Anos. 23 Março. Um pouco mais tarde, pela manhã, a família tomou o café da manhã o mais rápido possível. Vanessa tomava um prato de cereal, enquanto seu pai comia um pão-doce que sua mãe havia preparado noite passada. Téo estava confortável dormindo em seu berço, pois sua mãe ainda estava preparando seu café da manhã para que Vane o levasse a escola. Sua mãe era fotógrafa independente. Assim praticamente todo seu trabalho era feito em casa. Seu pai era contador e tinha que ir ao escritório que abriu com um companheiro e que estava começando a dar certo. Vane viu que não tinha muita pressa, pois comia seu pão muito lentamente.— Papai, atenção! — Gritou Vane, fazendo com que seu pai atirasse quase todo seu café em cima da roupa.— Mas o que aconteceu, minha vida? — Seu pai se levantou e colocou os trastes na lavadora, se divertindo com a expressão sua filha.— É que o senhor está tão despreocupado, até parece que não tem pressa — Vanessa terminou as últimas folhinhas de cereal.— Hahahahaha— Qual é a graça? — Franziu o cenho.— Minha pequena, não seja tão resmungona e tranqüilize-se, parece que você é a que trabalha. —Mas querido, ela trabalha — Sua mãe interveio docemente enquanto dava o almoço para Vane — Ela é uma escritora — Disse com orgulho.— É verdade — Sorriu seu pai — "Por que não deixa de sorrir?" — Pensou ela — Diga-me pequena, está preparada para estudar Letras na universidade?— Está louco?! — Vanessa parou e agarrou sua mochila.— Por que não? — Seu pai parecia surpreso com a sua declaração — É a escritora mais jovem que eu já vi e tem muito êxito com suas histórias de terror, não é assim?— Isso não tem nada a ver. — Mas se você gosta!— Eu não gosto. Faço para tirar esses malditos pesadelos da cabeça!— Não amaldiçoe, Vanessa — Sua mãe interveio de novo com um olhar reprovador.—Tá... Mas tenho que dizer uma coisa a vocês — Olhou seus pais nos olhos enquanto apoiava as mãos na mesa — NÃO – ESCREVEREI - MAIS! — Disse estirando sua boca com cada palavra.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 8: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— QUE?!!! — Ouviu as vozes de seus pais por toda a casa.— Deixei de ter pesadelos. Ontem foi o último. Assim, direi ao meu editor que foi um prazer e que minha carreira como escritora chegou ao fim — Resolveu o assunto.— Mas... Antes que seu pai prosseguisse com as palavras de reflexão, Vanessa já tinha saído correndo de sua casa e chegado à esquina. Realmente não sabia se seria o último pesadelo, mas era definitivo. Deixaria de escrever de uma vez, já estava decidido. Caminhou em silêncio por uma quadra, mas sua escola se encontrava a 5 quadras e entrava por trás, mas uma voz interrompeu seus pensamentos.— Hey! Espera Vane!— Não caminhe tão rápido! Vanessa se deu conta que não era uma voz, eram duas e sabia perfeitamente de quem eram. Esteban e Bety quase caem de cansaço para seguir o seu ritmo e quando o primeiro recuperou o fôlego, começou a falar.— Por que raios, não espera seus amigos? — O cenho franzido de Esteban fazia que o visse como um de diabo ruivo de mau humor — É muito má!— Não me importo em ser má, gosta de mim mesmo assim, não? — Disse elevando uma sobrancelha.— Se não gostasse não valeria a pena...— Bom, CHEGA! — Bety, ficou em frente aos dois — Não vão começar a discutir certo? — Ambos encolheram os ombros e seguiram caminhando.— Não, isso para você seria o céu — Respondeu Esteban que gostava de ver Bety corar.— Ahhaa! Muito engraçadinho! Vamos ver se te ajudo no exame — Ela respondeu voltando-se e elevando a cabeça, fingindo ofensa suficiente para que Esteban se retratasse rapidamente.—Perdão, sou um burro— Olhou Vanessa dissimuladamente — Ainda não encontrei meu caminho, por isso a confundo com você — Nem Vanessa e nem Bety viram sua expressão de frustração quando Esteban observou que a primeira tinha a vista fixa no chão — Você vai cair e não vou te ajudar a levantar.— Ah, perdão! Não escutei — Vanessa o olhou inquieta — O que disse? — Esteban bufou para um lado e começou com outro tema.— Diga Bety, que tal o livro? — Comentou interessado.— Q-qual livro? — Vanessa começou a sentir um nó no estômago.— Qual mais amiga? Marcus, O Homem Lobo!— Não sabia que vocês o tinham comprado...— Perdão Vane, mas como sei que você não gosta desse livro, — Olhou o Esteban — Eu e ele compramos um exemplar para cada um — Cada um pegou uma das mãos de Vane e começaram a agitá-las como sinal de desculpa.— A CURIOSIDADE ERA MUITA, PERDOA! — Gritaram ao mesmo tempo.— OH, está bem! Não sou ninguém para lhes proibir algo — Mas os olhou com reprovação, como Bety fazia nos exames — Mas o que as pessoas vêem nesse livro tão horrível? — Soltou-se e caminhou. Já tinham chegado à escola e começaram a ver alunos por toda parte.— Porque é o livro do momento e todo mundo diz que é muito bom — Disse Presépio entusiasmada — Até na sala falam do livro.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 9: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— É verdade, o escritor é muito bom, as histórias são muito interessantes e... — Mas Esteban foi interrompido.— Interessantes?! — Falou Vane com um tom histérico em sua voz — Mas se é um livro de sangue e morte, como pode ser interessante?—Mas, é! — Disse Presépio enquanto corava — Sobre tudo o personagem principal.— Chega! — Vane pôs os olhos em branco — Falaram para mim que é um assassino sanguinário, isso não educa, deprava!— Gosto que me depravem, hahahaha — Riu Esteban. — Engraçadinho — Vanessa lhe mostrou a língua. Chegaram ao terceiro andar onde estavam suas classes, tudo estava alvoroçado com meninos e garotas de uniforme tagarelando enquanto tocava o sino e Vane se despedia de seus amigos já que ela estudava no Bloco de Humanas, Esteban no de Física e Bety no de Economia, e suas capacitações os tomavam juntos.— Boa aula, os vejo daqui à pouco.— OK! Com certeza, bruxa — Gritaram juntos a todo pulmão — Feliz Aniversário! — Com isto, chamaram suficiente atenção para que todos a olhassem, saudando-a, o que a fez entrar na sala como uma bala.— Deveria golpear alguém por cada felicitação dada — Grunhiu enquanto se dirigia a seu assento. Vane estava quase se sentando, quando alguém inesperadamente a agarrou pela mochila, virou-a e para sua surpresa lhe deu um beijo nos lábios.— MAS O QUE É ISSO, Carlos!!? — Vanessa quase bateu nele, mas ele foi mais rápido e fugiu para o outro canto da sala.— Ai, vamos Vane! — Seu sorriso estava radiante — Não me diga que não gostou — Disse enquanto piscava um olho.— DE NADA ESTUPIDO! — Ameaçou-o com o punho e limpou a boca com rapidez.— Isso aconteceu por ser má e não nos dizer que é seu aniversário! — Gritou ele. Nesse momento todos seus colegas da sala se voltaram e com um sorriso maligno, se acercaram dela passo a passo com as mãos levantadas como se fossem destroçar a sua forma de ver.— Nem tentem — Potencializou Vane que já estava se dirigindo para seu lugar com muita precaução, mas se chocou contra alguém no momento em que planejava fugir.— O que não deveríamos tentar? — Perguntou Francisco, seu companheiro e o menino mais alto da escola, — Por acaso não quer que façamos isto, NÉ?! — Exclamou enquanto a abraçava por trás e a levantava do chão — Peguei meninos, agora abracem-na! — E como se fossem seus soldados, todos começaram a felicitar e a lhe desejar um feliz aniversário. A Vane não restou remédio, a não ser esperar que todos a felicitassem, um por um enquanto Francisco e Carlos cantavam "Feliz, Feliz Anivrsário". Logo que passou todo o alvoroço e o professor acalmou a todos depois de felicitá-la também, Vanessa se sentou e começou a procurar sua caderneta. Quando se dispôs a escrever, sentiu três olhadas curiosas que a observavam divertidas.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 10: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Muito bem. — Virou para frente e viu Carlos que sorria como sempre. O certo era que seu colega era um bom tipo. Não eram muito amigos, mas grandes colegas. Era moreno e seus olhos cor de café, mas seu sorriso era seu principal atrativo. Além do mais, era muito atlético e quando jogavam juntos no futebol a deixava ganhar, o que lhe somava pontos para chegar a ser seu amigo — O que deseja?— Não vai pedir o seu presente?— Perguntou Francisco, que se sentava atrás dela. Quando chegaram à sala pela primeira vez, atrasou-se por ficar dormindo e ao chegar à escola teve que se sentar atrás dele, o que lhe tinha causado problemas. Mas ao vê-lo tão alto, ficou receosa de perguntar se trocava de lugar com ela. No final foi ele quem se apresentou e lhe sugeriu trocar de lugar, logo quando notou a diferença de estatura. Isso fez com que Vane o observasse melhor. Era loiro e seus olhos eram negros ou bom, isso pareciam, porque não se atrevia a olhá-lo mais atentamente. Com o tempo descobriu que era um bom tipo. — Anda, peça.— Se por acaso não sabe, não espero nenhum presente e por isso não disse o dia do meu aniver...— Sério que é obstinada, Marcel — Vane olhou ao seu lado e viu sua melhor amiga de toda a sala.— Não me diga que está participando do jogo, Bélen — Olhou-a com reprovação. Presépio era uma garota muito divertida, embora quase não se juntasse com ninguém por ter uma reputação de bagunceira, do primeiro momento que se falaram se deram bem. Bélen era descontraída, o que tranquilizava Vane, já que quando entravam na classe de Cálculo Extra com Bety e Esteban (única classe de capacitação onde se encontravam) era Presépio que os descontraía na sala e se encarregava de entreter ao professor com perguntas, enquanto eles colavam o que não sabiam. Bélen era genial apesar de ser bagunceira.— Nesta ocasião deixaram seu medo e me falaram para te dar algo de presente — Olhou para Carlos, que teve um leve tremor e não precisamente de frio — Hahahahaha. Vê, são tão imaturos — Brincou, com o típico brilho em seus olhos.— Bom Bélen, dê pra ela já! — Francisco apontou Vanessa e Bélen procurou dentro de sua mochila. Realmente não trazia muitos livros, era uma garota prática, mas isso não se refletia em seu traje. Quando estava na escola o uniforme era muito impecável, mas quando saía com seus colegas de turma, sua transformação era total. Soltava seu cabelo negro, passava rímel e delineador, o que destacava seus olhos e seus lábios de cor rosa. Diferente de Bety, que tinha cabelo curto e quase não usava maquiagem. Mas ambas tinham uma pele branca como a de sua mãe.— Aqui está, neném — Belen lhe entregou um pacote quadrado envolto em um papel negro com lantejoulas prateadas e ao redor uma fita da mesma cor— NEGRO! — Exclamou Carlos — Mas concordamos que seria rosa!— Se não escolheria essa cor, então cale-se — Reprovou Belen com um olhar assassino que o deixou gelado.— Vamos abra-o já! — Francisco animou ao Vane. Por um estranho pressentimento, Vanessa ao desembrulhar o presente repetia em sua mente com voz ansiosa — "Que não seja o que penso, que não

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 11: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

seja o que penso, que não...." mas suas dúvidas terminaram calando-a e confirmando que este aniversário não seria um "FELIZ ANIVERSÁRIO", quando se viu segurando um de seus exemplares de "Marcus O HOMEM LOBO" e em seu interior sentiu como este sorria com satisfação da ironia ao aparecer nesse momento a ela.

CAPÍTULO 03 - BEIJO ESCARLATE

“O bater do seu coração toca o solo de nosso amor e se funde com minha alma”.

Agora caminhava sozinha pela rua rumo a sua casa. Sentia-se péssima e não era de surpreender, depois do dia nefasto na escola, para ela e para seus amigos. Primeiro, ao desembrulhar o presente do Carlos, Fran e Belen, tinha ficado com cara de poucos amigos e lhes disse que o presente era péssimo, então era melhor que não tivessem dado nada ao invés de lhe dar um presente porcaria. Isso tinha trazido consequências, além do professor mandá-la para diretoria pelo escândalo. Belen não falou com ela durante toda a aula de capacitação e o resto do dia. Francisco foi de causar pena, tanto que já nem a olhava. Carlos lhe jogou a bola de futebol no rosto na aula de esportes enquanto gritava "malvada", por isso o enviaram à diretoria e o suspenderam. Esta situação não havia sido o pior, pois amanhã sem falta lhes pediria perdão, pois eles não eram os culpados. Mas caminhava sozinha por causa da discussão que tinha acabado de ter com Esteban e Bety. Essa lembrança a amargurava no caminho de volta. Tudo aconteceu no final do dia, apenas alguns momentos atrás. — Olá preciosa — Esteban a abraçou na saída, mas viu a cara de poucos amigos que Vanessa tinha — O que houve? — Franziu suas sobrancelhas e olhou melhor. Entre suas mãos Vanessa tinha um exemplar de "Marcus O HOMEM LOBO" e o apertava tanto que parecia como se quisesse enforcar o livro — Já vejo — Vanessa se limitou a seguir caminhando quando Bety fez a pergunta menos apropriada.— E que tal, já o leu? — Bety quase cai de costas com os gritos que Vanessa proferiu cheia de fúria.— SE EU GOSTO?!! — Gritou histérica enquanto Bety e Esteban se encolhiam — ACREDITA QUE SOU ESTÚPIDA PARA LER ISTO?!! ACREDITA QUE ALGUMA VEZ GOSTAREI DESTA PORCARIA?!! — Disse assinalando o livro.— Vamos Vane, tranqulize-se — Esteban tratou de acalmá-la — Talvez você goste, não? Vanessa o olhou com tal ódio que ele teve que esquivar seu olhar.— Não me venha com essa estupidez — Vanessa parou em seco frente a ele.— Bom, nós pensamos que você gostaria — Esteban sem querer tinha agregado o último, mas foi suficiente para que Vanessa explodisse.— VOCÊ DEU A IDÉIA?!!

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 12: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Bom eu.... — Esteban havia ficado vermelho e olhava com insistência a Bety que estava igualmente nervosa.— ESCUTE BEM!! — Acercou-se dele — GUARDE AS SUAS OPINIÕES PARA ALGUÉM QUE REALMENTE PRECISE!! TE DEVOLVO SUA GRANDIOSA IDEIA!! — E com isto lançou o livro aos seus pés. Nesse momento Vanessa reagiu ao que acabava de fazer ao seu amigo. Olhou e esperou a resposta de Esteban. Esperava que ele gritasse como sempre e a pusesse em seu lugar, mas se deu conta da gravidade que tinham sido suas palavras quando ele ficou calado. Agachou, pegou o livro e saiu correndo com a cabeça baixa. Nesse momento Vanessa se sentiu pior que seu personagem assassino.— Esteban, espera, não quis dizer isso! — Vanessa ia correr atrás dele, mas Bety a deteve— Não vá — Bety a via com olhos compreensivos, talvez fosse a única que não havia se sentido ofendida para não vê-la com desprezo — Irei falar com ele quando se acalmar. Vá para casa — Dizendo isto, correu para alcançar Esteban e deixou Vanessa com um grande sentimento de culpa. Ao chegar em casa, sua mãe a recebeu com um grande abraço, mas ao ver sua expressão vazia assustou-se um pouco, mas não perguntou nada. Não lhe pareceu o melhor momento. Mentalmente Vanessa agradeceu, pois não queria explicar nada. Seu pai chegou de noite com um grande bolo de amoras, que dividiram entre os quatro. Jogou um pouco com o Teo o jogo dos piratas e logo foi para seu quarto terminar a tarefa. Teve que sorrir para que seu pai não se preocupasse, não gostava disso, mas ao chegar a sua cama, se deitou de barriga para baixo e chorou contra o travesseiro por ser tão estupida. E acabou dormindo. Encontrava-se no cemitério de novo. Estava sonhando... Mas este sonho era diferente, ela o tinha provocado. Sabia bem, se sentia tão culpada que desejava castigar-se de forma que não sentisse tão miserável. O ambiente era escuro e frio como em todos os sonhos, só faltava o protagonista deles. Não sabia porque, mas soube que ele estava parado atrás dela no momento em que se voltou ao ouvir um ruído. Ali estava. Marcus o Homem Lobo estava erguido sobre suas patas traseiras, tinha a forma humanoide que a aterrorizava, seus olhos não podiam estar mais injetados em sangue e sua boca marcada por seus incisivos sobressalentes. Nela havia sangue também — "Acaba de matar"— Pensou. O humanoide caminhou para ela com toda a segurança que desta vez ela não escaparia — "Vamos, enterra bem suas presas amigo" — Vanessa estava aterrorizada, queria correr mas não podia, este sonho havia sido provocado por ela, assim aguentaria de pé até o final com os olhos fechados — "Por quê se tortura assim?" Ouvindo a voz, Vanessa se sobressaltou e abriu de repente seus olhos, em vez de ver a besta, viu um homem jovem com as roupas rasgadas e manchado de sangue, até em sua boca se via o sangue viscoso escorrer, seu corpo, ao qual se aderiam os restos de roupa, era grande, seus braços e pernas pareciam os de um atleta — "É preciso estar em boa forma para caçar" — Falou de novo com mais suavidade ou precaução, sua voz era grave, mas seus olhos eram os mais impressionantes, eram tão verdes, cheios de mistério, de magia.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 13: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Seu coração começou a palpitar quando se aproximou um pouco até que seus corpos ficarem perto. Era terrivelmente alto, mas ao ver seus olhos deixou de se importar, Marcus já não lhe dava mais medo.— Isso é uma vantagem para minha menina — Sua voz se elevou no silêncio, e ressonava tão bem com o ambiente que parecia que fazia música com ela.— Não sou uma menina — Vanessa se surpreendeu ao escutar-se ela mesma, mas o jovem sorriu com ironia, enquanto baixava seu rosto à altura dela.— Sim, já não é minha menina — Sorriu e seus dentes brilharam com malícia — Pensei que já não queria sonhar comigo. — Vane arregalou os olhos. Era verdade ela o tinha dito noite passada.— Disse que já não escreveria mais — corrigiu.— Então... — Suspendeu-a fortemente pelos braços e a elevou, até que ficasse à altura de seu rosto — Posso fazer música com sua alma?— Mú-música? — Doía-lhe as unhas dele que estavam se enterrando como garras em sua carne suave — Vai me matar? — Ela se atreveu a perguntar.— Não — Aproximou-a de sua boca perigosamente — Desta vez não me divertirei dessa forma com minha presa — Sua boca quase encostava na dela. Vanessa estava paralisada, podia cheirar o sangue que estava nos lábios dele. O sangue e o aroma dele — Quero que termine minha história.— O que!? — Vanessa não sabia o que pensar, era como se o seu pesadelo tivesse tomado as rédeas de novo.— Termine-a — E a aproximou um pouco mais — Necessito de ti — Um leve gemido de frustração saiu da boca de Vanessa quando ele a beijou. Estava surpresa pelo que estava acontecendo. Ela nunca imaginou que um beijo pudesse ser tão intenso. Já tinha beijado meninos, então a boca de um homem não era desconhecida, mas esta se movia contra seus lábios de forma exigente, agressiva e pouco amável. Era um beijo estranho, podia sentir a textura e o sabor de sangue que se mesclava com o fôlego dos dois. Eram tão fortes as sensações que estava percebendo que seu cérebro estava bloqueado. Estava permitindo isso? Então, como se uma voz a chamasse de seu interior, começou a chutá-lo — "Estupida, ele não sentirá dor", pensou e como se sua boca houvesse advertido o acontecido, mordeu-o com tal força que soltou um alarido. Ainda assim, separou-se dela de uma maneira brusca, mas não a deixou cair. Ela estava furiosa, queria lhe arrancar os olhos. Quando ele elevou sua cabeça, esperou ver sua cara cheia de ira assassina, mas se surpreendeu ao vê-lo sorrir de orelha a orelha.— Não é uma garota fácil não? — Vanessa o olhou furiosa — É forte, eu gosto disso, escritora — E tudo terminou. Estava sentada fora de sua casa, levantou-se cedo para esperar seus amigos —"Se é que ainda querem sê-lo" — Pensou. A manhã estava fresca e as ruas se estavam vazias, — "Talvez não venham" — Abriu sua mochila e pegou sua caderneta de anotações. Começou a escrever tudo o que tinha sonhado ontem e ao terminar examinou todos os detalhes. Não era muito, mas foi o pesadelo mais estranho que ela teve, até podia sentir o sabor do sangue por sua língua. Ao dar-se conta que seguia pensando no beijo, sentiu-se doente.— Maldito cão! — Resmungou para si mesma.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 14: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Ei, continua zangada!? — A voz de Esteban a fez voltar-se rapidamente e ao vê-lo, percebeu que tinha o cenho franzido — “Eu gosto quando ele franze o cenho" — Pensou.— Perdoa pela má ideia — Bety falou calmamente. Apertava mão de Esteban fortemente, como se esperasse que Vane explodisse novamente e isso a fez se sentir o ser mais desprezível do mundo. Fazia sofrer seus amigos por coisas que eles nem sabiam e não eram culpados.— Desculpem-me — Vanessa parou e baixou a cabeça — Sei que sou uma amargurada. Não sou muito certa, grito muito e sou enjoada — Esteban e Bety a olhavam como se não a reconhecessem — Isso não me faz uma boa amiga— Não diga... — Vane elevou a mão para calar Esteban, que parecia não gostar de vê-la assim.— Por favor me deixe terminar — Olhou-os nos olhos com toda a sinceridade que podia dar nesse momento — Quero lhes dizer que são os melhores amigos que uma teimosa como eu pode ter e sequer mereço que falem comigo.— Isso é verdade — Esteban a olhava de uma maneira estranha como se quisesse penetrar sua cabeça, sua alma e descobrir suas razões verdadeiras, mas assim que viu seu olhar mudou rapidamente e um sorriso enorme iluminou seus olhos amendoados — Esperamos um abraço grupal! — Nesse momento todos se abraçaram fortemente — "Não quero me separar deles jamais!" — Vanessa gritou em seu interior.

Esse dia na escola foi muito longo, e o mais difícil, teve que apresentar exames e desculpar-se com Fran, Belen e Carlos. Não foi difícil convencer o primeiro e a perdoou, pois não era o tipo de pessoa que busca que outras se desculpem até se rebaixarem. Belen estava realmente ofendida e lhe prometeu uns ingressos para um concerto quando não estivesse mais zangada — "Bondade sua" — Disse-lhe enquanto a abraçava e quanto ao Carlos, teve que ir até sua casa ao final da aula para lhe pedir perdão. Os pais dele acreditaram que ela era sua namorada por que ele a abraçou e beijou por todo rosto como se ela fosse um milagre, como se tivesse revivido dos mortos. Teve que acalmá-lo e lhe pedir desculpas. Carlos sorriu e antes de fechar a porta disse — "Não se preocupe, já verei como cobrar isso logo, linda" — Enquanto piscava um olho.— Acredito — Disse. Caminhou pra casa e se encontrou com Esteban, que estava sentado na esquina antes de chegar. Parecia muito pensativo e cutucava o asfalto como se quisesse fazer um enorme buraco nele. Vane caminhou lentamente — O que quer? — Esteban percebeu sua presença e a olhou profundamente. Levantou quando viu que Vane estava parada na rua sem intenção de seguir caminhando. Esteban caminhou até ela, ainda com o uniforme escolar. Não sorria, mas seu rosto tampouco estava sombreado pela tristeza. Seu olhar era de alguém que está estudando algo.— Qu- o que? — Vane não podia falar, algo lhe dizia que Esteban estava esperando algo.— Agora quero que me diga a verdade — Seus lábios se moveram rapidamente ao pronunciar a última palavra — Amiga.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 15: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

—Hahaha. Por que essa cara? — Vane tentou distraí-lo — Que verdade? — Esteban tomou sua mão antes que chegasse à entrada de sua casa — Está tudo bem.—Tudo? — Esteban estava deixando ela desesperada e começava a sentir-se muito nervosa . — O que fez com o livro? — Perguntou, afinal — Por que tem tanto medo?—São muitas perguntas — E o olhou com dignidade — Eu não temo nenhum estúpido livro.— Não teme ao livro — E aproximou sua boca do ouvido de Vane — Teme ao que está no livro, equivoco-me? — Vanessa se paralisou imediatamente, seu olhar se encheu de terror e um calafrio correu por todo o seu corpo. Estes sinais foram detectados por Esteban — Sabia.— Bem, tenho medo — E se soltou dele — Está satisfeito? Sente-se orgulhoso? Bravo! — Falou, batendo palmas — Um prêmio para o amigo impertinente leva-o...— Maldita seja! — Vanessa nunca havia ouviu Esteban lhe gritar assim e isso a calou imediatamente — Apenas me preocupo com você...! Por que suponho que somos amigos?! Queria que me contasse tudo — Seu rosto se encheu de amargura — Suas mágoas, seus sonhos, suas alegrias, suas tristezas e... — Olhou-a decidido — Seus medos.— Não pod...— Basta! Não diga que não pode! — Pegou sua mochila e tirou rapidamente o livro de Marcus — Não posso acreditar, não posso. Perdoa, mas é bobagem, não é mesmo? É um livro estúpido — E o lançou ao outro lado da rua com todas suas forças.— Não faça isso. — Vanessa caminhou rumo ao livro e o tomou entre suas mãos, observou as letras douradas que contrastavam com o vermelho da capa — Não o faça...— Vane...— Esteban — Custou-lhe tirar as palavras, mas sabia que eram necessárias — Quem escreveu este livro? — Esteban a olhou desconcertado.— Foi um tal de V&M — Respondeu enfim, cortando o silêncio.— Sabe como é fisicamente?— Não — Vane caminhou até ele com o livro entre os braços, Esteban estava confuso, viu isso em seus olhos e sorriu com ironia.— V&M, sou eu — Esteban arregalou os olhos ao escutá-la dizer a verdade — Sou a escritora — Esteban começou a retroceder.— Não é verdade...— Sabia que não acreditaria — Pensou que Esteban tinha ido, mas ao levantar os olhos, o viu ali parado, olhando-a, estudando-a. — O que fará agora?— Acredito que farei isto — Nunca esperou essa reação de Esteban quando a abraçou e lhe disse no ouvido — Nunca te abandonarei, sempre confie em mim, eu estou aqui para ser seu baú de secretos, porque... Te quero — Vanessa nunca tinha chorado por algo tão insignificante. Nesse momento quis fazê-lo mas não pôde derramar nenhuma lágrima. Seus soluços podiam ser ouvidos quando se apertou mais ao peito do Esteban, mas nenhuma lágrima caiu de seus olhos. Não queria ter que separar-se de seu amigo, na verdade desabafar com ele tinha sido uma experiência maravilhosa, sentia-se livre e muito feliz. Até

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 16: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

agora, enquanto estava deitada em sua cama e fechava os olhos, podia sentir seus braços ao redor. Algo nela se sentia protegida e lamentou não poder chorar com ele, mas as lágrimas que derramaria mais adiante só seriam de dor, de sangue escarlate, recordaria esse abraço e desejaria não haver separado dele.

CAPÍTULO 04 - PROCURA

“Suas mãos tocam as notas e seus beijos fazem música com meu corpo”.

Definitivamente gostava de sorvete de morango. É maravilhoso sentir a sensação das pedrinhas de gelo derretendo-se contra sua língua. Como o sabor se funde com o sentido do gosto e quase poderia jurar que lhe acelerava o coração quando chegava a última parte do cone. Será que os humanos tinham inventado um manjar dos deuses?! Eram realmente espertos quando se propunham. Enquanto comia a última parte do cone, estirou suas pernas enormes e os braços aos lados para dar um grande bocejo. Deveria estar preocupado em lugar de estar fazendo estas criancices, mas adorava doces. Sentado no meio do centro comercial, se deu conta do olhar de crítica e a sobrancelha levantada dos que se encontravam a seu lado que esperavam uma resposta.— Esta bem, ganhou! — Os olhos verdes da menina que estava ao seu lado o mirava com aprovação — É delicioso, não me arrependo, fazia anos que não comia um — jogou a cabeça para trás e voltou-se para ver — Deveríamos fazer isto mais vezes.—Disse-lhe isso — A garota falou por fim, enquanto seguia saboreando lentamente o sorvete do mesmo sabor — Mas sempre quer se comportar como o presunçoso do Adolfo — Enquanto fazia com a mão direita, um gesto nada educado para uma menina — Percebe que parece um bebê quando faz isso — Torceu sua fina boquinha.— Hahaha. Olha só, nada mais que uma menina, me dando aulas de personalidade — Sorriu-lhe tão travesso que a garota bufou e girou sua cara — Anda, não se zangue preciosa.— Não sou uma menina — E se estirou em seu assento, tanto que parecia um cisne com o pescoço no alto — Dentro de uma semana, completarei uns adequados 13 anos, o que me converte em uma senhorita.— Você o diz — E lhe revolveu o cabelo loiro com uma mão, fazendo com que ficasse vermelha e não por que se coibiu ante a carícia.— Bruto! — A garota começou acomodar o cabelo curto dos lados, seu corte era simples, reto até o queixo e tão amarelo como um limão, o homem se deu

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 17: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

conta que a boca já não era a de uma menina. Tinha razão, era uma mulher e algo em seu interior o fez alarmar-se.— O que fará quando encontrar seu objetivo? — A garota era direta e queria que respondesse da mesma forma. Essa era a maneira de ser de Paula, por isso a havia escolhido. Isso a fazia invencível ante uma situação crítica e a enchia de beleza.— Suponho que lhe darei uma surra — Chiou entre dentes — E logo lhe cortarei sua mão — Era bom que não houvessem pessoas perto da mesa que compartilhavam a esta hora do dia ou pensariam que era um valentão, mas isso era exatamente no que o tinham convertido dentro de um livro, no “Marcus O HOMEM LOBO” — Desejará não haver se preocupado uma pluma em sua vida, o muito desgraçado — Fixou seus olhos nela, a qual o olhou sem nenhuma expressão.— Agora entendo porque o diretor dessa editora se negou rotundamente te dar a direção do autor — Marcus e Paula pararam no momento em que ouviram a voz — Perdão, assustei vocês? — Eles olharam Adolfo que tinha um papel na mão.— Nem em sonhos — Marcus sorriu com ar divertido.— É muito sigiloso — Paula tinha entrecerrados os olhos — “Aqui vai" — Pensou Marcus enquanto voltava a sentar-se — Deveria relaxar, nós não lhe atacaremos Adolfo — Ela parecia tão adulta que costumava a se perguntar quem diabos era o adulto?!— Por Deus! — Adolfo a olhou com irritação, a Marcus não cabia dúvida de que Adolfo tinha uma vontade imensa de dar uns bons tapas em Paula desde que esta havia chegado à família, mas era muito cavalheiro para fazê-lo. Adolfo se sentou com toda a elegância que poderia ter um cavalheiro inglês — "É inglês" — Disse a si mesmo. Marcus olhou os olhos verdes de Adolfo e sua longa cabeleira dourada até o pescoço, que estavam em um contraste perfeito com um terno cor café, enquanto que ele usava jeans e uma camiseta azul. Estranha família que encontrou ou melhor dizendo, foi escolher. Paula e Adolfo, apesar de suas raizes, eram seres delicados e finos, muito diferentes da maioria deles. Por isso eram tão estranhos dentro Da Grande Família, pois os loiros não eram abundantes. Podia-se dizer que Marcus tinha escolhido uma equipe muita especial.— Conseguiu algo? — Marcus o examinou enquanto Adolfo tirava algo de seu bolso. Maldito fosse até revirando seus bolsos, era delicado!— Efetivamente — Tirou um papel e o colocou de barriga para baixo na mesa — Tenho o endereço do escritor.— Suponho que não teve que o golpear? — Paula limpava suas mãos com um lenço rosa, os restos de sorvete que pudessem ter restado, enquanto olhava ao Adolfo com má vontade.— Não — Adolfo voltou-se para Marcus que estava olhando o papel com tal intensidade que o teria queimado se tivesse essa capacidade — Mas devemos ser cuidadosos, o editor me deixou claro que o escritor não é muito sociável e que esta manhã falou com ele — Apoiou-se com os braços cruzados enquanto o olhava nos olhos — Parece que seu escritor já não seguirá no negócio.— QUE?! — A voz de Marcus e Paula soou por todo o centro comercial causando muitas olhadas indiscretas.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 18: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Baixem o tom — Repreendeu-os — Não acredito que seja tão mau depois de tudo isto se acabar — Sorriu satisfeito — Assim devemos voltar para a Inglaterra e deixar este plano louco.— De maneira nenhuma — Marcus se levantou da mesa enquanto a golpeava e esta quase desabava com o contato de seu punho — Tenho que encontrar ao maldito e lhe fazer falar.— É absurdo que escrevam lendas sobre nós — Adolfo se levantou também, encarando-o — É ridículo que você tome esses contos de uma maneira tão séria.— Mas Adolfo — Paula continuava sentada, mas os dois homens a olharam com muita atenção. Depois de tudo, ela era a estrategista — Marcus segue tendo esses sonhos — Desviou o olhar do Marcus e pousou por completo em Adolfo — E são cada vez mais intensos.— Falou que tinham parado — Adolfo quase não se zangava, mas quando o fazia esse olhar assassino faria estremecer a um leão, mas não a Marcus o qual não o teria agregado à família se não fosse por esse olhar e seu poder de convencimento.— Ah! Que posso fazer — Marcus começou a afastar-se — Vejo-os no hotel — E ficou fora de alcance para não escutar mais queixa.— Não posso ajudá-lo se não for sincero — Adolfo se sentou e seu rosto se tornou sereno de novo.— Por que teria que lhe dizer isso? — Paula era tão segura de si mesma que não temia um golpe por parte do Adolfo, pelo qual lhe falava como seu igual — Você é o que insiste em negar o que acontece. Se o escutasse, lhe contaria, mas é tão teimoso como ele — Adolfo apoiou suas mãos no rosto com exasperação.— Onde estão os outros? — Paula sorriu docemente, o tipo de sorriso que a fazia parecer uma menina indefesa e não uma fria estrategista.— Estão comprando umas lembranças para mim — Levantou-se e ofereceu sua mão, a qual tomou Adolfo a contra gosto, depois de tudo não podia deixar que uma menina andasse a sós pelas ruas de uma cidade como essa.— Vá, parece que sou o único que faz o seu trabalho — Sua mão apertou a dela, Paula ia vendo as vitrines enquanto falava os nomes e os preços.— Relaxe — E parou em uma chocolateria que liberava um aroma delicioso — vamos! — Correu para a loja — Você gosta do chocolate, não? — Adolfo ruborizou-se levemente enquanto assentia e observava a loja — Então, às compras.— Não sou seu banco pessoal como aqueles três — Mas seus olhos não deixavam de olhar os chocolates que se encontravam por toda a loja, de diferentes tamanhos, cores e sabores. Isso não passou despercebido a Paula que o seguiu devorando.— Digamos que serei uma boa menina e comprarei esta vez — E lhe entregou uma bandeja e um pegador de doces que pegou da recepção. Ele a olhou vencido, por fim, pelo aroma doce e caminhou entre as vitrines. Paula sorriu travessa enquanto via como Adolfo comia a prateleira com os olhos por ter o que parecia ser seu chocolate branco favorito e sussurrou muito devagarzinho, tão baixo que nem seu acompanhante se deu conta — Parece que obteve um desconto, depois de tudo não me sai tão caro companheiro. — E arrumou calmamente os botões de seu vestido CHANEL cor rosa.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 19: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Marcus caminhava por um beco úmido e sombrio, a noite estava por chegar, seus olhos focaram o céu escuro carente de estrelas, — "Depois de tudo tinha que ser uma cidade grande" — Grunhiu. Não era um tipo especial, mas o aroma era asqueroso, havia se entretido caminhando pelo centro comercial em vez de ir para o hotel. Estava seguro que Adolfo estaria soltando espuma pelo focinho. Claro que não falava literalmente, isto o fez sorrir. Se os gerentes do hotel soubessem que estavam dando alojamento a uma manada de homens lobos não os tratariam com condescendência, mas os filhos dos acionistas principais desses hotéis famosos eram nada menos que seus dois companheiros de quarto, Elías e Eliseo. O primeiro era o maior e não era sério em nada. Sozinho nas batalhas, poderia dizer que a força dele era a mais importante. Era o mais alto da família, seu grupo, paquerava todas as garotas que apareciam na sua frente. Um entretenimento que Marcus seguiu quando fez 18 anos e não sabia muito do mundo e a vida. Elías nessa época, apesar de não ser sua família direta, o tratava como seu irmão menor Eliseo, que era responsável, mas muito rebelde, não gostava de acatar ordens. Muito instável costumava simplesmente desaparecer por dias para ir descansar. Ambos os irmãos eram loiros e de olhos verdes, pelo qual sua própria família os tinha rechaçado e afastado de sua mãe. Isto para eles era "Uma Estupidez insalubre", mas não podiam lutar contra o prejuízo de sua família. Quando Paula chegou à Família de Marcus, Elías e seu irmão se apegaram a ela, era sua princesa, a menina e monarca da casa. O que ela pedisse, eles conseguiam, pois não tinham problemas com o dinheiro. Agora se dava conta do que isto tinha feito de Paula, uma garota segura e obstinada. Sabia que conseguiria o que quisesse e Marcus nunca proibiria que eles se comportassem assim com a garota. Mas, às vezes, para trazê-los ao mundo real, Adolfo intervinha, e isso o convertia na figura do pai mau e repressor. Marcus nunca se queixou de sua família, eles complementaram o que sempre lhe fez falta, atuando como os personagens da família que sempre quis ter. Um pai rabugento, uma mãe segura e bela, um irmão maior condescendente e um irmão menor rebelde. Um quadro familiar.— Desculpe! — Marcus não havia se dado conta que alguém tinha tropeçado com ele, a não ser pela voz angustiada e olhos cheios de lágrimas que se cruzaram com os seus —Moço, não viu um menino pequeno por aqui? — Ele olhou à mulher que segurava um ursinho de pelúcia entre suas mãos e olhava por todos lados, enquanto lhe assinalava a estatura do garoto perdido — É pequeno assim, tem três anos e... e.... — As lágrimas da mulher saíram e cobriram suas bochechas enquanto soluçava e se deixava cair ao chão — Por Deus, meu bebê!! — Marcus estava congelado, não sabia como atuar nestes casos, não gostava de ver alguém chorar e muito menos uma mãe. A mulher estava desesperada, sua pele era branca como leite e seus olhos cor de café o olhavam buscando ajuda, a qual ele não sabia se podia prestar. Que tipo de mulher caminhava entre os comércios a esta hora? Não uma sensata e menos ainda com um menino tão pequeno e a esta hora. A mulher tentou levantar-se, mas estava tão fora de si, que se deixou cair ao chão de novo.— Calma — A mulher o viu com surpresa quando falou com sua voz mais fria e indiferente — Vou ajudá-la — Parou a mulher muito bruscamente e sentou-a

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 20: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

em um banco, onde as pessoas ficavam olhando — Bem, quanto tempo faz que o perdeu? — A mulher estava desesperada, deduziu por seu aroma e sua reação física e imediatamente relacionou que o menino estava perdido há algumas horas.— Eu devia buscar meu marido — Sua voz se apagou igualmente aos seus olhos — Quando tirei meu filho do carro e dava a volta para pegar minha bolsa... — Apertou suas mãos contra seu peito enquanto sustentava o ursinho — Meu bebê já não estava! — Suas lágrimas começaram a brotar — Faz cinco horas. Pelo meu desespero, não esperei meu marido e comecei a caminhar entre as pessoas! — Mostrou-lhe o ursinho — Mas só encontrei isto.— Deixe-me ver — Marcus agarrou o urso e balançando discretamente, gravou o aroma do menino rapidamente e o devolveu à mãe com um sorriso — Seu filho estará aqui antes do jantar — Parou e começou a correr — Eu o trarei, espere aqui! — A mulher estava surpresa por sua reação e levantou-se para gritar — Chama-se Teo!! Marcus corria entre as pessoas a uma velocidade normal para um humano, mas não iria perder o aroma que despedia do menino, assim se desviou, escalou com suas unhas um edifício e começou a saltar entre as lojas. De repente o aroma se fez mais forte, parou e começou a localizá-lo. Separou cada uma das essências que se encontravam por ali e encontrou a que andava procurando —"Já te encontrei" — Saltou e caminhou entre o tumulto de pessoas, que falavam e riam, sem darem-se conta do pequeno que estava sentado em uma rua entre duas lojas, atrás de um enorme urso de uma loja de brinquedos — "Irônico"— Pensou Marcus. Aproximou-se do pequeno que olhava as estrelas com uns olhos enormes e belos cor café claro, parecia que contava as estrelas. Parou junto a ele, o menino que não teria mais de três anos o olhou e lhe sorriu. Marcus se desconsertou por sua reação, não era lógico que um menino sorrisse a um estranho, e este menino o estava fazendo em vez de chorar e gritar mamãe.— Com mamãe? — O menino parou e elevou seus braços, Marcus sorriu e o subiu em seus ombros — Alto! — Gritou alegre, o menino, quando o subiu a seus ombros— Obrigado — Marcus começou a caminhar rapidamente para que a mãe visse seu filho ao longe — Chama-se Teo, não? — Perguntou e se por acaso estava equivocando-se do menino,podia ser que estivesse roubando outro menino.— Tadeo… Marlí Celi — O menino começou a se inquietar e a gritar — Mamãe! — Agitou seus bracinhos quando a mulher o distinguiu ao longe e se aproximou correndo — Mami aqui!— OH Teo! — A mulher se elevou para agarrar a seu filho, Marcus baixou o pequeno para que ela pudesse tomá-lo entre seus braços. A mulher se via muito feliz e abraçava seu filho como se fosse o maior tesouro do mundo — Muito obrigada — A mulher olhou Marcus com um infinito agradecimento que fez com que se ruborizasse por suas palavras.— Não se preocupe — E começou a se retirar, tinha que afastar-se daí e chegar ao hotel— Não o esquecerei! — A mãe gritou para que a ouvisse, pois Marcus começou a correr mais rápido — Seja quem for! Prometo que não o esquecerei!— Adeus! — A voz do pequeno foi última coisa que conseguiu distinguir entre o murmúrio de vozes que se fechavam atrás dele.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 21: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Marcus correu tão forte que se encontrou de novo em outro beco e recordou as palavras de uma pessoa a quem tinha chamado pai — "Marcus meu pequeno guerreiro"— Ao ouvir a voz, cobriu os ouvidos e se deixou cair no chão encharcado.— NÃO SOU SEU FILHO!! — Seu grito derramava a dor e as lágrimas que teria querido derramar nesse instante, mas as seguiria negando, ainda que sua vida dependesse disso — Escritora, muito em breve você e eu nos conheceremos — Seus olhos se tornaram dourados no momento que via a lua no alto do edifício e seu instinto animal tomava seu corpo por breves segundos — E se arrependerá, juro!

CAPÍTULO 05 - A AMEAÇA

“Seus olhos são o mistério de minhas canções; seu coração é a alma que as interpreta”.

— Não teve pesadelos?! Essa mesma pergunta foi feita a Vane esta manhã, ao descobrir que em toda a semana não tinha tido nenhum pesadelo. Não que desejasse tê-los, mas faltava algo. Estava tão acostumada com eles que agora seus sonhos estavam ocos como um fosso negro, —"Foram-se"— Foi a resposta que deu a si mesma. Ao recordar que Marcus já não voltaria, seu estômago se contraiu com esse pensamento. Era estranho. Como era possível que sentisse saudades dele também? Queria pensar que no que tinha passado não era mais que pesadelos sem sentido, mas frente a esta situação, não podia deixar de perguntar-se se era realidade. Esteban, sentado à mesa da cafeteria a estudava, enquanto ela parecia refletir na resposta que lhe daria. Esta semana parecia que eles haviam se complementado, tornado seu laço de amizade mais resistente. Entretanto, como todas as mulheres, ela preferiu guardar os comentários a respeito de seus dois últimos pesadelos e sentia que apesar de ter Esteban, não queria envolvê-lo mais em suas tolices.—Responde! — Pediu seu amigo, dando um grande gole em sua soda — Combinamos que seria sincera não é assim?—Sim, já sei — Vane o olhou nos olhos, enquanto brincava com o copo de sua bebida — Bem.... — Agitou o milk-shake—E.... — Esteban queria uma resposta rápida e que o satisfizesse, coisa que Vane não acreditava poder lhe dar.—Pois foi como ouviu — Vane se rendeu e apoiou as costas na cadeira — Não tive nenhum espantoso sonho — Agitou suas mãos em frente de seus olhos — É como se uma névoa negra não me deixasse sonhar mais. Talvez seja só meu subconsciente, como dizia o psicólogo e como já cresci... Terminou — Pôs seus braços na mesa de novo — Não é para tanto.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 22: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

—Tola — Esteban segurou sua mão e a acariciou docemente — Eu acredito que isso é genial. Sabe, eu gostava dos contos do Marcus — Vane grunhiu à defensiva e tentou tirar a mão, mas Esteban a apertou mais forte —Mas, se ele lhe incomodava, então já não me agrada — Se acercou de Vane o suficiente para ficarem frente a frente — Eu gosto mais de você.— Bruto! — Vane o empurrou e fez com que quase toda a soda caísse em cima.— Ei! Foi um elogio! — Falou enquanto se levantava de sua cadeira para que o líquido que estava derramado por toda a mesa não o molhasse — Vou procurar algo para limpar, espera eu pagar e vamos para casa, de acordo? — Piscou um olho.— OK — Vane observou como seu amigo se desculpava com a gerente e pedia um pano. Não pôde evitar dar um sorriso quando viu como Esteban recebia um pequeno golpe na cabeça da amiga de sua mãe. Era sorte que conhecesse a proprietária da cafeteria. Esteban sempre era amável, amigável e sociável. Quando estava com ele sentia que nada mais lhe faltava no mundo, ele complementava tudo com suas risadas e comentários desconjurados. Seu amigo era a luz que iluminava aqueles dias tristes, tê-lo perto desde que eram pequenos os tinha feito quase irmãos, mas os laços de sangue não existiam e isso era algo que ambos apreciavam cada um à sua maneira — Ele gosta de mim igualmente — Agarrou suas mãos e as apertou sob a mesa imaginando um mundo sem Esteban. Seu rosto ficou branco imediatamente — Não queria te perder... Não por ele — O rosto de Marcus apareceu e recordou aquele beijo, e o bem que havia sentido, lhe dando um calafrio por todo o corpo e desejando que desaparecesse a sensação de estar sendo perseguida por algo ou alguém. Esteban apertava sua mão docemente enquanto caminhavam pela rua do estacionamento. Estavam ambos em silêncio e isso também era uma forma de comunicação entre eles desde que eram pequenos. Não necessitavam palavras quando sozinhos e isso era uma regra universal. As ruas eram iluminadas pelos raios do entardecer anunciando que logo anoiteceria, e com ela os segredos, lendas, mitos e tragédias que logo se desatariam dentro da vida de uma garota. Vane ficou paralisada quando viu seu pai abraçando, fora de sua casa, a sua mãe e seu irmão, enquanto choravam. Seu coração se comprimiu contra seu peito — "Algo anda mal" — Soltando a mão de Esteban correu para seus pais, que ao vê-la chegar lhe contaram sobre como Teo havia se perdido. Ouvindo tudo, se lançou ao seu irmãozinho e o abraçou fortemente, enquanto imaginava o terror que teria passado sua mãe e as consequências trágicas que teriam acontecido. Só imaginar que poderia não ter entre seus braços esse pequenininho e não voltar a vê-lo, fez com que lágrimas começassem a cair. Graças ao destino, não aconteceu.— Bom, bom ... — Seu pai secou seus os olhos úmidos e olhou sua esposa com ternura — Tranquilize-se Olga, acabou e devemos estar contentes que não tenha acontecido nada de mau.Hahaha — Tomou Teo em seus braços e entrou em casa. Sua mãe contemplou como se afastavam e olhou Vane. Até esse momento nunca havia notado que sua mãe tivesse um semblante tão cansado, era como vê-la morta. Este sentimento voltou a imprimir-se em seu coração antes de escutar o Esteban atrás dela.— Vane... — Esteban tinha ficado olhando de uma distância prudente, mas havia escutado tudo, e por sua expressão, adivinhou que estava um pouco

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 23: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

nervoso por não saber o que fazer, Vane soltou-se da mão de sua mãe e lhe fez um gesto que lhe dizia que estaria bem — OK! Então nos vemos na segunda-feira. Com licença, senhora — Despediu-se com um beijo em sua mãe, que estava tão nervosa que nem sequer notou sua carícia e de Vane, com um profundo olhar. Vane se encontrou sozinha com sua mãe, a levou caminhando até entrar no jardim e justo quando foram entrar sua mãe a deteve tão fortemente que quase lhe machucou por ter suas mãos tão apertadas em seu braço.— Filha — Esse som foi suficiente para que seu olhar se voltasse para ela — Estou tão assustada, foi como se meu coração parasse, se não fosse por.... — Sua mãe vacilou para falar as última palavras — Por esse jovem — Soltou o braço de Vane e terminou entrando em casa com passos lentos e apoiando-se nas paredes.— Mama... — Sua mãe se deixou cair no sofá e fechou os olhos como se quisesse recordar algo ou alguém, sentou-se então junto a ela e fez com que sua mãe falasse — A quem se refere?— Um jovem me ajudou a encontrar seu irmão — Levantou uma mão para lhe fazer uma idéia daquele sujeito — Era muito alto e apesar de ter um aspecto de... Malandro, diria que é um grande menino e seus olhos eram tão amáveis.... — Sua mãe olhou-a e tomou sua mão — Já não há o que pensar, mas acredito que foi uma tarde muito longa e a noite já esta aqui. Assim, é melhor começar a preparar o jantar — Sua mãe parou e lhe sorriu antes de desaparecer atrás da porta da cozinha.— MA... Um ruído no escritório da casa, a fez voltar-se à porta. Parou, pensando que um dos livros que seu pai sempre colocava nas prateleiras houvesse caído. Entrou no escritório e não se importou em acender a luz. Caminhou no escuro, contornando a escrivaninha e viu um dos livros de seu pai no chão — "Ai papai!" — Pegou o livro e o colocou de novo em seu possível lugar. Um som de porta fechando-se fez com que girasse, mas nesse momento, algo bateu sua cabeça contra a escrivaninha e sentiu uma mão que fechava sua boca e o fôlego do desconhecido chocou-se como fogo junto a sua bochecha, pronunciando as palavras mais alarmantes que alguém lhe teria dirigido com ódio puro, ao ouvido.— Encontrei-a — Sentiu o peso daquele corpo que a machucava com muita crueldade — E se fizer algo para escapar, te matarei.... Escritora.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 24: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

CAPÍTULO 06. HOMEM LOBO

“ Meu sangue ferve com a sinfonia do vento em seus olhos e vejo a primeira nota sair”.

Vane podia sentir os dedos do desconhecido fecharem-se com força ao redor de sua boca, machucava-a. O peso que colocava nela, fazia com que suas pernas tremessem, pensou que também era pelo terror que estava percorrendo-a por todo o corpo. Não podia, ou melhor dizendo, não queria abrir os olhos e só o efeito de saber que o ser que acabava de submetê-la era o monstro que a atormentava em sonhos, quase a fez chorar; algo lhe dizia nesse momento, que havia perigo e que talvez não voltasse a ver sua família. As enormes mãos de seu captor a giraram e ficou de frente com os olhos fechados. Sentiu como seu hálito de vinho chegava em seu rosto e a enjoava.— Muito bem — O homem apertava seu braço com força enquanto sua mão lhe fechava a boca — Abra os olhos agora! — Estas últimas palavras não haviam sido ditas fortes, mas se notava a ordem nelas, o que fez com que Vane abrisse os olhos de repente, encontrando-se com dois pares de esmeraldas observando-a com um cenho franzido. Era igual a seu último sonho, o rosto deste rapaz era algo tão belo e ao mesmo tempo, tão perigoso — Agora está melhor — Sua cara mostrou um sorriso irônico como quem está seguro de ter ganho algo.— Muito bem pombinha, se me prometer não gritar, baixarei a mão e falaremos muito civilizada e seriamente — Nesse momento, sua mão apertou mais seu braço — Mas se gritar, juro por Deus que lhe mato e aos que estão nesta casa — Vane assentiu lentamente. Já que era o monstro que via em seus pesadelos, era melhor não zangá-lo e por um instante pôde ver que esses olhos verdes tinham um toque dourado quando havia dito as últimas palavras que a fizeram aterrorizar-se. O homem jovem desviou sua mão com suavidade e se afastou dois passos dela. Nesse momento foi como se uma onda de ar entrasse por seu nariz e seus pulmões voltavam a funcionar perfeitamente. Ele continuava observando-a, mas seu olhar agora a observava com curiosidade enquanto lhe assinalava para se sentar. Vane obedeceu, mas em nenhum momento lhe deu

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 25: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

as costas ou desviou o olhar daqueles olhos, era o chamado sexto sentido ou o medo que lhe dizia para não confiar muito. Foram os momentos mais longos. O caçador e a presa estavam observando-se mutuamente e agora só faltava que um dos dois lançasse o primeiro ataque.— Sou Marcus... Seu homem lobo— Qu-o que? ... — Vane quase cai do assento quando o ouviu pronunciar as palavras que passavam por sua cabeça, este homem era o ser que tinha temido toda sua vida. Marcus parecia um pouco zangado por sua reação, mas sabia controlar-se e não era o tipo ao que podiam tirar do sério, embora, quando a viu fora de sua casa com aquela mulher que tinha ajudado, quis saltar sobre ela e lhe arrancar o braço. O instinto sempre era vencido, por isso a razão é o que separa os humanos dos animais e seu controle era algo que não perderia. Não antes de saber todas e cada uma das histórias e a informação pela qual as tinha obtido. Até esse momento, a razão ganharia, mas ao final desta conversa não sabia se ela seguiria viva.— É real, certo ...? — Vane tinha uma face de incredulidade ao ver-se nesta situação. Suas mãos se torciam enquanto olhava fixamente o sujeito em questão — Espera. Hahaha. Já entendi, bati a cabeça num livro de papai e estou sonhando de novo — Seus olhos agora estavam quase histéricos e golpeava a cabeça com seu punho. Por sua parte, Marcus não deixava de observá-la como quem via a uma louca cantando "Estrelinha!" em meio da avenida e isto não era nada engraçado. Esta garota não podia ser a mesma que tinha escrito todas aquelas coisas sobre ele, estava louca! E não sabia se à parte era perigosa. O que era evidente, é que tinha a informação correta e não havia dúvidas sobre quem a havia dado, — "Devia ter trazido o Adolfo" — Pensou, mas rapidamente abandonou a ideia ao concluir que ele não deixaria que a menina os visse tão de perto, cara a cara.— Poderia deixar de dizer bobagens e baixar a voz? — Ao ouvir a voz de Marcus, Vane congelou e ficou muito quieta — Tem medo de mim, não é verdade? Maldição! Estava sorrindo ao ver que ela arregalava os olhos ao ouvir suas palavras. Que o inferno a levasse se temesse a este monstro, se repreendeu internamente. Agora, o que importava era que não fizesse nada a sua família e tinha que encontrar uma maneira rapidamente ou se veria em uma grande confusão. Começou a pensar em um plano.— De você? Hahaha. Nem em um milhão de sonhos — Vane girou os olhos e fez um gesto condescendente com a mão, sem ocultar seu nervosismo — Não se faça de fanfarrão.— Não pombinha — Ela não pôde notar como ficou seu rosto no momento em que pronunciou esse estúpido apelido — Talvez não em sonhos — Tomou seu rosto e a fez com que olhasse seus olhos, com os quais pretendia intimidá-la — Mas em seus pesadelos, não é assim?— Bem... Isso não sabe — Disse enquanto lhe tirava a mão de seu rosto.— Por isso estou aqui — Ele se sentou rapidamente na cadeira em frente e embora, pela escuridão não o notasse, quase estava segura que estava sorrindo estupidamente enquanto via-a — Quero que me diga quem te deu o direito de escrever sobre minha vida privada? E mais importante, como sabe o que acontecerá se me converto em um loisón infiel?

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 26: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Loisón?— Um homem lobo louco — Concluiu Marcus como se fosse a palavra mas óbvia do vocabulário cotidiano— Ahhh se... — Vane se mostrava até incrédula ao que ouvia, mas algo lhe dizia que não a estava enganando.— VENHAM JANTAR FAMÍLIA!! A voz da mãe dela fez com que ambos saltassem de seus assentos. Esqueceram que não estavam sozinhos na casa. Mas a reação ao que sua mãe acabava de gritar fez com que Van parasse rapidamente e que Marcus ficasse na defensiva, retraindo como um animal que atacaria se ela chegasse a cruzar a porta. Isto, e ver como seus olhos mudavam para dourado fez com que ela retrocedesse.— Aonde crê que vai pombinha?— Olhe, se não me deixar ir, minha família suspeitará do por que estou trancada aqui. — Diga-lhes que não tem fome — As presas de Marcus começavam a se fazerem notórias quando abriu a boca. — Quer se acalmar?! — Vane caminhou decidida até a porta e quando começou a girar o Trinco, Marcus voltou a lhe negar a saída.— Não.—Bem — Ela suspirou e tratou de fazê-lo raciocinar, tinha que deixá-la ir — Prometo que virei falar com você em seguida, direi que não tenho fome e irei para cama, de acordo? — Marcus a olhou direto em seus os olhos como querendo comprovar se dizia ou não a verdade — "Lê mentes?" — Perguntou-se Vane quando ouviu a resposta.— De acordo, mas está advertida — Abriu-lhe a porta como um cavalheiro e Vane se dispunha a sair quando a agarrou pelo braço, mas ao olhá-lo notou um certo rubor no rosto dele quando perguntou — Em que parte da casa dorme? — Ela não pôde evitar sorrir, melhor dizendo, querer gargalhar, mas se acalmou e lhe respondeu com toda a força de vontade para que não saísse a risada.— É a janela superior direita da minha casa, suponho que já está escuro lá fora, assim ninguém te notará.— OK, não demore.— Não se perca — Disse divertida e conseguiu ouvir como falava entre dentes— Hahaha, engraçadinha Vane ficou congelada ao ficar frente a seus pais, e reagiu quando se deu conta que acabava de brincar com um ser extremamente perigoso. Não era tão aterrorizante como tinha imaginado, mas não podia baixar a guarda. Ele a tinha ameaçado, assim se dispôs a desculpar-se e subir os degraus para seu quarto. Era estranho, como quando tem uma surpresa lhe esperando, o chegar a ela parece tão difícil e lento. Chegou a sua porta, tomou ar e girou a maçaneta. Marcus se achava sentado em sua cama. Vane girou rapidamente e viu os vidros quebrados de seu quarto, pulverizados por todo o chão. Sentiu como seu rosto ficava vermelho de ira. Como se atrevia esse lobo estúpido a quebrar algo que não era dele?! Antes que lhe ocorresse lançar a lâmpada e lhe partir o crânio, se acalmou. Este homem era perigoso e não devia fazê-lo se zangar. Não estava segura e sua família muito menos. Caminhou para ele que não lhe

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 27: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

tirava os olhos de cima e se sentou na cadeira de sua escrivaninha. Ele a estudava como se fosse uma classe de inseto estranho. Não sabia se o seu olhar refletia cautela, medo ou dúvida. Ela tampouco perdeu tempo e lançou uma rápida estudada ao tipo. Era incrivelmente alto, mas não parecia velho, seus olhos agora eram de um verde alarmante como em seu sonho, quase fosforescentes, era moreno e seu corpo estava proporcionado como o de um corredor, com pernas muito largas e fortes, e claro, sua mãe tinha razão, vestia e tinha pinta de malandro. Antes que ela se desse conta, o homem levantou e isso a intimidou um pouco. Ela, quando muito, media 1,60m e essa não era uma estatura, era uma vergonha.— Bem? — Marcus caminhou até ficar de frente a ela. Vane reagiu instintivamente e quis fugir, mas ele a agarrou pelo braço tão forte que quase o desloca. Vane teve que esforçar-se para não gritar de dor — Como ficamos pombinha? — Aproximou a boca de sua orelha — Não quer romper nosso acordo, ou quer? — Apertou-a mais e ela solto um gemido — Não lhe convém.— É... Detestável! — Ofegou com dificuldade e ele a lançou à cama com uma força surpreendente. Se não fosse pelo colchão, haveria quebrado a coluna.— Não me importa o que pensa — Sentou-se na cadeira e cruzou os braços — Agora tem que me contar o por que de estar escrevendo sobre mim, senão... — Sua cara foi acertada por um urso de pelúcia, o que o deixou confuso. Viu nos olhos da garota medo e valor ao mesmo tempo. Isto quase lhe tirou um sorriso, recordava uma certa menina, quase senhorita, que era parte de sua família, mas eliminou seus pensamentos descabidos e se concentrou na garota que tinha em frente — Vamos, fala!— Você é que me deve uma desculpa — Os lábios da jovem se moveram tão rápidos que Marcus pensou que tinha ouvido mal. Foi quando viu que os olhos da jovem se nublaram por algo parecido a lágrimas que o deixaram calado, melhor dizendo gelado e um sentimento de amargura veio a ele — Você acabou com a minha infância desde que tenho uso da razão — A garota se levantou da cama lentamente, não baixava o olhar, sabia que isso dava vantagem às presas em relação ao predador. Uma lição de vida não exclusiva dos animais selvagens — Você destruiu meus sonhos — Os olhos da garota de repente brilharam com recriminação e algo quase parecido ao ódio — Você é o monstro culpado por eu ser como sou. Agora me diga, quem deve uma explicação a quem?— Sonhos? — Marcus a olhava com o cenho franzido e seu rosto de repente empalideceu quando confessou a si mesmo — "Ela sonha comigo, como eu sonho com meu destino. Ela vê meu futuro, mas por que?"— Assim é. Sonhos e nada mais.— Tem mais escritos? — Vanessa se surpreendeu, não esperava uma reação assim, mas ao escutar a última frase, seu alarme disparou e seus nervos a traíram ao voltar-se para ver seu laptop na escrivaninha. O homem se deu conta e ambos se lançaram ao aparelho, ela quase bateu a cabeça na quina da escrivaninha, mas conseguiu tomá-lo a tempo. Soltou uma maldição quando seus pés se enredaram com a colcha da cama e seu coração se sobressaltou quando ele caiu em cima dela e quase a esmaga com seu enorme corpo. Depois de tudo, ela era muito baixa para ele — Será.... Quase lhe mato — Seus cotovelos se apoiavam de ambos os lados do corpo da garota que fechava os olhos e sustentava o laptop com todas as suas forças.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 28: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Vane abriu os olhos lentamente, e se encontrou com duas esmeraldas que a observavam com enorme frustração. Foi quando se deu conta da estúpida que era, arriscar sua vida pelo segundo livro? Não, definitivamente estava louca, começou a se mexer para se soltar quando sentiu um puxão que a deixou de pé em um instante.—Anda, me dê isso — Marcus lhe arrebatou o computador, era óbvio que os homens lobos não tinham maneiras ou pelo menos este não as tinha nem de brincadeira.— É MEU! — Ela levantou seu braço para querer tirar-lhe, mas ele era muito forte — Diabos! Nem sequer pede permissão, ali têm coisas pessoais, bruto — Vane tampou a boca no mesmo instante e esperou que chegasse um golpe, mas por alguma razão este não aconteceu, o homem já estava em sua escrivaninha, ligando seu computador portátil.— Qual é sua contra-senha?— Crê que vou dar? — Ele a olhou como querendo atravessá-la com seus olhos igual a adagas — Ok, é.... — Vane amaldiçoou a si mesma por não ter sido mais criativa e ter que passar agora por esta vergonha, mas estava passando por estúpida.— Rápido que não tenho toda a noite! — Estava desesperado, ela tinha a resposta para seus sonhos e não desperdiçaria esta oportunidade. Vane disse a contra-senha deixando-o perplexo.— É Marcus — Os olhos dele, por um instante, se tornaram dourados e isto a assustou, eram iguais aos do monstro de seus sonhos. Quando voltou a olhar, continuavam sendo verdes e ficou esperando o seguinte movimento. Vida ou Morte. Marcus se movia por todo quarto. Fazia uma hora que tinha acabado de ler as últimas anotações da escritora e sua pele morena estava pálida de só pensar no destino que tinha em frente. Não era o efeito de que já estivesse marcado e condenado, mas sim de matar pessoas inocentes, e que pelas características de cada vitima, estava quase seguro de quem se tratava, em outras palavras eram conhecidos. Tinha que mudar isto. Já tinha o suficiente com seus sonhos para que agora uma menina lhe arruinasse sua nova vida. Marcus se precaveu de não se fixar na garota e foi então quando a viu. O olhar dela o tinha seguido por todo o quarto com muita cautela, era cuidadosa, pois sabia que suas possibilidades vida eram muito inseguras.— São todas? — Perguntou quando ela se acomodou na quina da cama.— Sim — A contestação não o satisfazia, isso que leu não podia ser o final, estava truncado, devia haver outras anotações, algo com o qual o pudesse combater seu destino.— Não acredito — A tomou pelo pescoço e a elevou. Seus olhos quase saem das órbitas pela surpresa de ver-se nessa situação — Você esconde algo...— N-Não— Então não é honesta — Suavizou sua mão e a atraiu para si. Vane estava contrariada, pois o homem, se podia dizer assim, começou a cheirar ao redor do seu pescoço. Isso começou a incomodar quando ouviu o que disse — Não cheira especial, não parece ser uma bruxa, só elas têm poderes deste tipo, mas digamos que elas e eu não nos damos muito bem. Assim, que você esteja sonhando comigo, é um dos mistérios que vou resolver — Não deixava de cheirar seu pescoço e nisso ela lhe deu um murro no olho.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 29: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Imbecil! — Vane segurava a mão com desespero, lhe golpear tinha doído muito e era uma doida por agir impulsivamente, tinha que aprender a ser mais cuidadosa.— Tola pombinha — Marcus tomou sua mão e como se fosse um profissional, estirou seus dedos, ouvindo um crack! E um "obrigado" muito sarcástico.— Agora que já viu por si mesmo que não há nada que reclamar, poderia ir? Isto é um incômodo e amanhã me levanto cedo... — Vanessa se dirigiu à janela abrindo o que restava dela. Marcus a estudou, os movimentos eram lentos, muito normais, sem dúvida era humana, mas não uma especial.— Você gostaria de me ver de verdade? — Marcus tinha elevado a voz e ela assentiu levemente enquanto se recordava que "a curiosidade matou ao gato". Vane não sabia o que a tinha picado para ter aceito, mas era muito tarde para se arrepender quando Marcus, com ela na costas, se atirou de um edifício muito alto ao pequeno parque cheio de árvores que se encontrava debaixo deles. Quando caíram, ou melhor dizendo, ele caiu em suas duas pernas, ela sentiu como se visse estrelinhas e seu estômago estava revolto pelo nervosismo. Não tinha fechado os olhos e isso tinha sido um grande engano, e enquanto anotava isso em sua mente, sentiu que Marcus a colocava debaixo de uma árvore e como se fosse normal para todos os seres vivos, a olhou carrancudo enquanto dizia:— Levante!— Está louco! Não poderei me pôr de pé durante toda a semana.— Não seja exagerada, se quisesse te machucar, a teria soltado antes de cair, e lembre-se que ainda está à minha mercê — Isto não agradou nadinha à Vane. Quando ele a olhou com seus olhos verdes, quis ficar de pé, mas só voltou a cair desajeitada, sobre seu traseiro e jurou que quase viu como o tipo sorria.— Vai para ao diabo! Eu vou levantar se você demonstrar que não é o monstro que vejo em meus sonhos, ficarei aqui sentada.— Como queira — A resposta do Marcus foi seca, mostrando cara de impaciência e a passos ágeis, se assegurou, revisando que não houvesse ninguém pelos arredores. Quando estava confirmado, parou a 10 metros de Vane e olhando a lua disse a si mesmo — Isto me doerá, não há Lua — Vane não pôde perguntar o porque de sua frase, mas sua voz ficou presa na garganta ao contemplar como o homem tirava a roupa e começava a ficar nu frente à ela. Não é que ficasse mal em ver, mas sim o decoro que era parte de sua vida e teve que protestar.— Espera, espera, espera não se dispa em minha frente! — Marcus já ia pelas calças e o cinturão sem prestar atenção ao que ela dizia, — Hey, bruto! — Marcus seguia sem lhe dar atenção, assim teve que fechar olhos quando viu que se dispunha a tirar a cueca boxer negra.— Vamos resmungona! Olhe-me... — Vane estava com as mãos sobre seus olhos, apertando a tal ponto de ficarem brancas. Marcus não podia acreditar que esta garota fosse tão infantil.— Que você tenha sentido vergonha, não é meu problema!— Eu tenho sentido de decoro... — Marcus estava ficando impaciente para ver a reação da garota e terminou acrescentando — Não acredito que a estas alturas não tenha visto um homem nu. Tem a televisão, cinema e revistas, vive no século 21, por favor!

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 30: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Pois não sei que classe de revistas, programas e filmes crê que vejo — Vanessa já não o notava, abriu os olhos e olhava jogando faíscas a Marcus — Mas acredite, não são de classificação “C”ou triplo "X" e... — Marcus sorria de orelha a orelha porque os olhos da garota estavam saindo de suas órbitas. Por fim deu-se conta — Deus! — O corpo de Marcus estava completamente nu e ele parecia sentir-se muito belo. Tinha os braços cruzados, era simplesmente lindo. Parecia um gladiador de Roma com sua pele morena e brilhante, seus ombros largos e braços musculosos tão fortes. Nesse instante Vane sentiu que morreria de vergonha e olhou para o céu mesmo que já fosse tarde — Bem a contento.— Ainda não está me vendo.— Farei quando vir que já não é humano.— Sou humano!— Como dizer... — Vane estava se engasgando, já não sabia o que dizer — Mas espero jamais voltar a ver algo assim — Sob sua vista e a fixou nos olhos verdes do Marcus só via seus olhos — Adiante. A pupila de Marcus mudou de uma maneira surpreendente, de um verde brilhante a um dourado devastador. Era como ver ouro puro, o homem começou a se contorcer, e a se pôr em quatro patas, seu cabelo cresceu por todo seu corpo até cobrir todas suas partes, era de um negro espesso, seus braços e pernas se estiraram e alargaram enquanto se formavam suas patas, seu focinho se sobressaía de seu rosto e suas presas cresceram alarmantemente. Vane assistiu em completo mutismo todo o processo. Agora entendia porque disse que era doloroso, os olhos do animal pareciam expressar a enorme dor que sentia. De repente o lobo ficou escondido como um cachorrinho cobrindo seu focinho e olhos. Tudo tinha terminado, a dor se foi, o homem lobo estava completo.— Marcus? — Vane falou tão baixinho que só ela escutou, quando o animal levantou o focinho e a olhou com esses olhos dourados, algo nela a fez sentir-se aterrorizada e sentindo como se o seu corpo ganhasse forças, levantou e correu por sua vida. Correu para não morrer como em seus sonhos, enquanto ao longe se ouvia um barulho anunciando o começo da caçada.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 31: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

CAPÍTULO 07 - FOGO AZUL

“Seu sangue faz a música, sua respiração o fogo do amor, juntos chegaremos ao céu, apenas diz se você gosta de rock”.

Todo seu corpo estava tão quente, os ossos das pernas doíam, seus olhos estavam pesados e não podia abri-los, a dor crescia cada vez mais e sentia que se afogava, tudo era tão escuro. Vane despertou em sua cama, estava levantando-se quando sentiu que a mão de alguém a retornava a seu lugar. Era uma mão pesada e seu corpo reconheceu a quem pertencia. Seus olhos começaram a focar e foi quando o viu. Marcus continuava ali, era "normal" de novo. Rapidamente arrumou sua cabeça e a acomodava. Foi quando se deu conta de que estava de novo em casa. E então tudo voltou à sua mente como uma chuva de lembranças que se entrelaçavam em seu rosto. Ela correu gritando, mas ele tinha sido mais rápido e a havia derrubado. Ela lutou com o lobo, mas ele era muito grande e forte; tão forte que quando ela lhe deu um chute, sentiu como se sua perna quase se rompesse em duas. Seu grito de dor foi tão forte que desmaiou. Havia percebido como o animal a agarrava pelo braço e pensou — "Agora morrerei" — Mas em lugar disso, o animal a subjugou e colocou-a em cima de seu lombo e a levou de volta. Tudo era escuro, só ouvia a voz distante acalmando o começo de novos pesadelos — Você pombinha, estará bem, eu juro...— Desculpe, pensei que você ia me matar — Vane olhou Marcus enquanto este, com seu olhar sereno, não parecia perturbado por suas desculpas— Os humanos nunca deveriam ver o que não é como eles — Seus olhos a penetraram — Nunca deveriam tentar ser mais poderosos do que já são, essa é a causa de sua própria destruição...

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 32: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Puxa, você tem uma maneira peculiar de dizer "aceito as desculpas"— A cabeça dela latejava e isso a fazia sentir-se mal. Talvez fosse porque era madrugada e sabia que não tinha dormido bem.— Nunca peço desculpas — Ele se levantou e caminhou trazendo sua mochila da escola — Coloquei seu laptop aqui, não acredito que esteja danificado, assim que...— O que?...— Hoje à noite vai me contar tudo — Vane esteve a ponto de protestar — Dou um dia, espero algo melhor que um simples "não".— De acordo — Vane fechou os olhos, hoje não iria à escola e sua perna doía muito, sobre o vidro, diria a sua mãe que escorregou e tudo ficaria como um acidente. Pegou seu cobertor e se cobriu por completo. Perfeito, o idiota tinha lhe posto o pijama!

Marcus estava entrando na suíte principal do hotel quando ouviu atrás, um pigarro de desaprovação. Seu corpo ficou rígido, mas em seguida relaxou, conhecia de quem procedia esse som que chegava a desagradar. Voltou resignadamente elevando as mãos em sinal de rendição.—Você me apanhou — Grunhiu. Adolfo e todos os demais o estavam esperando, e pela cara de seu companheiro, era óbvio que não estavam muito felizes.— São 4 horas da manhã! Onde diabos se meteu? — Adolfo estava soltando faíscas pelos olhos, era o único do grupo que não trazia roupa de dormir, a não ser um terno marron confeccionado e sem uma ruga — "O típico" — Pensou Marcus, mas parecia que o havia esperado toda a noite para lhe soltar seu discurso de responsabilidade.— Ei! O que deu em você? — A resposta de Marcus quase descontrolou Adolfo, mas achou melhor se resignar. Afinal de contas, Marcus era Marcus.— Que desconsideração, eu aqui de pijama e você não me convida a entrar — Paula falou tão repentinamente que os demais se deram conta que só levava uma camisola rosa sem mangas, com encaixes e fitas de seda na fronte; não era uma camisola de menina, tampouco de mulher, mas gritava "me olhem, sou bela" em todas suas formas femininas, era sem dúvida uma sobremesa irresistível para qualquer homem ou homem lobo, e em seus braços só tinha Merlin, seu gato negro. Marcus a observou um instante, coçou a cabeça e terminou de passar o cartão de acesso.— São tão irritantes — Dito isto, todos passaram por trás dele e se acomodaram na sala branca. Marcus teve que lhes contar tudo o que tinha feito, não era possível ocultar nada. Por estranho que parecesse, se conheciam tão bem que sabiam quando um deles dizia a verdade ou não. Quando terminou, foi para o bar, agarrou o wiski e o serviu bem cheio, com o olhar do Adolfo lhe seguindo.— Hahahaha. Assustou-lhe. Hahahaha — Marcus viu com ironia a Elías, o segundo de seus mais velhos. Tinha 28 anos, mas era o mais imaturo de todos. Seu cabelo loiro e seus olhos Verde musgo lhe davam uma aparência mais jovem. Assim como Adolfo, não pareciam ter mais de 26 anos. Só vestia uma cueca boxer e agarrava o estômago de tanto rir. Quando o conheceu, parecia um tipo engraçado e divertido, e graças a ele sua vida tinha passado de cinza a

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 33: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

cheia de cores e aventuras. Não tinha nada contra ele, mas sua risada o estava irritando sobremaneira.— Não acho nada engraçado.— Pois claro que é, e eu que pensei que lhe tinham treinado bem. Hahahaha — De maneira melodramática, tocou a testa, nenhum ator de teatro o teria igualado — Este jovem não sabe como seduzir uma garota. Hahahahaha.— Cale-se! — Seu irmão Eliseo golpeou Elias, deixando-o sem ar — Por que não tenho um irmão menos infantil? — Eliseo era mais jovem um ano que Marcus, mas eram completamente diferentes. O rapaz era loiro e de olhos verdes, era amadurecido e responsável, tão diferente de seu irmão, mas sua lealdade era tão forte como o ouro puro — Não vejo por que tinha que procurar essa garota nessas circunstâncias — Eliseo usava umas calças de algodão e tanto seus braços cruzados como seu olhar, pareciam desaprovar Marcus — Poderia matá-la, é humana.— Não aconteceu nada grave — Marcus golpeou a mesa com o copo vazio — Tampouco é tão inocente, ela é a escritora.— Vamos, acalmem-se queridos — Paula estava finamente sentada em um sofá redondo, acariciando seu gato negro que parecia desfrutar de seus cuidados, e seu sorriso travesso o relaxou imediatamente. Somente ela não julgava seus atos, era uma garota compreensiva e de mente ágil. Ela se levantou, deixou Merlin no carpete, tomou o copo e com passos lentos e cativantes levou-o à cozinha, com o gato seguindo-a com seu fiel guardião — Não vejo porque discutirmos se você já descobriu que ela não vai voltar atrás — Falou da cozinha, enquanto ouvia-se que estava procurando algo no refrigerador — O que temos que fazer é apoiá-lo e começar a traçar um plano, isso é tudo — Terminou dizendo com um sorriso de orelha a orelha enquanto dava um copo de leite a Marcus.— Já não é um menino para que o defenda Paula! — Adolfo não relaxou, parecia que estava tão zangado como quando Marcus tinha comentado sobre seus sonhos pela primeira vez.— Você é muito azedo — Disse Paula com o cenho franzido. Ela nunca estava de acordo com Adolfo. Entre eles havia uma faísca de antipatia desde o momento em que se olharam — Talvez deva se servir de mel com leite quente, cachorrinho — Disse elevando o queixo, mostrando superioridade — Assim acalmará seu mau humor — Adolfo não suportou o comentário e fechou os olhos fortemente, a garota o tirava do sério e só tinha 13 anos. Era claro que ele não queria nem pensar quando ela tivesse seus poderes, seria uma guerreira temível e insuportável como sempre.—Tudo bem, aceito, fui um irresponsável mas não me arrependo — Marcus terminou o leite e caminhou até seu quarto — Mas lhes direi algo... — Olhou-os por cima do ombro mostrando pouca importância pelo que fossem dizer — Hoje de noite voltarei a vê-la e isso é tudo — Terminou batendo a porta de seu quarto.— É adorável quando pensa que tem tudo sob controle— Elias zombou parecendo tão divertido como um momento atrás.— Sim. É por isso que nós estamos aqui — Sorriu Paula enquanto avançava docemente para Eliseo que estendeu, satisfeito, os seus braços a sua pequena para acomodá-la entre eles.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 34: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Para protegê-lo — Completou a frase com um sorriso quando lhe fez uma leve carícia no rosto.— Diga a seu gato sujo que deixe de passar entre minhas pernas! — Grunhiu Adolfo e todos fizeram silêncio.

“Os passos se faziam mais pesados, seu desejo por sangue o fazia enlouquecer; pegada após pegada procurando saciar a sede. Suas vítimas agora são lembranças esquecidas e seus olhos vermelhos são que o dirigem. Gritos, pranto e sofrimento; sua alma esta feita à medida do ódio, nada pode detê-lo agora. Tudo está perdido para o último que tem esperança... Por que eu sou Marcus..." Vanessa estava teclando uma palavra atrás da outra. Tinha sonhado com ele de novo, algo em seu interior lhe dizia que isto iria parar, não da forma que ela queria. Fechou o notebook com um tapa. Não suportava mais. Às vezes queria cortar suas mãos.— Diga-me, sente-se melhor?— Não se preocupe, minha temperatura já está baixando — Vane não tinha ido ao colégio, havia falado com sua mãe e esta consentiu em que descansasse já quenão passava bem. Claro que tinha armado um alvoroço pela janela quebrada, mas seus pais não insistiram. Assim, ficou cuidando de Teo e Esteban falava com ela querendo saber o por que de ter faltado, isso a fazia sentir-se um pouco mal por não poder confiar nele. Assim eram as coisas e se queria que Marcus saísse de sua vida, teria que cooperar. E isso era outra coisa que a preocupava seriamente.— Por que está tão calada? — Esteban sabia quando não lhe dizia tudo — Está acontecendo alguma coisa?— Mmmmmmm — Vane já não queria mais complicações e mudou o tema — Quer vir até minha casa? — "Estúpida"— Pensou, mas já havia falado.— Chego aí em cinco minutos — Ouviu como desligou com pressa. Vane saiu rapidamente da cama e arrumou seu cabelo. Olhou-se por um momento no espelho e ao ver que usava calças de pijama e blusa roxa a essa hora da tarde envergonhou-se. Resignou-se rapidamente, já que Esteban nunca se fixava nisso. Saiu de seu quarto e foi ver Teo, que dormia em seu berço como de costume, o acomodou com a manta e desceu à sala. Poucos segundos antes de chegar ouvir a campainha.— Aqui, deixe-me entrar, linda — Esteban sorriu amplamente com seu cabelo de cenoura quando abriu a porta.— É rápido quando lhe convém! — Vane o deixou entrar, apontou o sofá e Esteban se sentou de um salto — Quer um refresco?— Não, obrigado — Esteban sorria de uma maneira que a fazia sentir-se especial e mais ainda quando seus olhos a olhavam de forma tão penetrante — Até que você não está tão mal.— Não... — Vane sentou-se a seu lado e ele se acomodou para abraçá-la — Sabe Esteban? Acredito que... — Vane não se atreveu a dizer, mas simplesmente o abraçou e se manteve assim por um bom momento.— Melhor? — Ela elevou seu rosto e sorriu— Sim — E se separou dele

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 35: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Ei, gosto desta tua forma de adoecer — Vane mostrou-lhe a língua — Mas recebeu um abraço — E uma almofada em sua cara.— O que fizeram na classe? — Vane agarrou suas pernas e se balançou de um lado a outro, mas ao ver o rosto sério do Esteban ficou quieta — Aconteceu algo?— Na escola nada — Esteban pegou um chocolate da bomboniere na mesa e o admirou um momento antes de colocá-lo na boca — Mas vamos à pergunta? — Olhou Vane e chegou perto de seu ouvido — Bety diz que gosta...— QUE?! — Vane quase cai da poltrona ao ouvir o pequeno, mas perturbador comentário.— Hahahaha, sabia que ficaria com essa cara — Esteban se encolheu para o lada antes que outra almofada o atingisse — Mas é certo.— E?— E... Pois lhe disse que não— Deus! É um bruto — Vane parou e o olhou fixamente e Esteban ficou vermelho por seu escrutínio.— E agora? O que acontece? Você sabe que ela e eu não nos gostamos, é apenas uma amiga.— Os homens são uns animais! Nunca percebem quando magoam....— De quem fala? — Vane ficou petrificada, era uma idiota, quase disse o nome de Marcus.— Nada, só que me desconcertou — Aproximou-se — Sempre pensei que eram mais que amigos .... — Esteban quase lhe faz desviar os olhos com o olhar — Ei, perdão! Mas isso é o que pensa.— De acordo — Ele já não seguiu com o assunto e cruzou os braços — Mas sou sincero com o que sinto. De todas as maneiras, recebi uma boa surra da parte de Carlos e Belen.— Talvez merecesse isso.— Ha! Esses dois deveriam se ocupar de suas coisas.— E como está ela? — Vane começou a preocupar-se com Bety. Desde meninas tinham sido as melhores amigas, e contavam tudo uma para outra e de certa forma lhe doía que não tivesse acreditado nela em um momento tão delicado, mas para que serviam as amigas? Se não era para apoiarem-se.— Bety é muito amadurecida — Esteban baixou o olhar e se via muito confuso — Mas sei que se magoou...— Tenho que falar com ela — Vane estava estirando seu braço para agarrar o telefone quando sentiu como seu amigo a detinha e a girava para que o olhasse — O que acontece?— Não fale com ela.— Por que? — Olhou-o franzindo o cenho— Ela sabe por que lhe disse não... — E olhou-a fixamente de novo mas em seu olhar estava aquilo a fazia sentir-se tão bem — Foi por ti— Esteban... Eu não.— Já sei o que me responderá, mas assim é o coração — Soltou seu braço e se inclinou no sofá, fechando os olhos — Mas eu gosto. Ela o olhou por um momento, e se acomodou a seu lado. Não é que ela não o quisesse, ele era tudo para ela, mas saber que Bety estava sofrendo não a fazia sentir-se feliz. Algo se rompeu em seu interior e lhe gritava que não devia deter-se, pois poderia ser a última vez.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 36: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Esteban— Vanessa.... Que lindo soam nossos nomes juntos, não é verdade? — E voltou a abraçá-la.— Soaram lindos — E ela o abraçou. Marcus olhava como a escritora estava abraçada com aquele menino. — "É óbvio que tem um companheiro"— Disse para si, mas algo lhe incomodava. Acomodou-se na árvore de onde estava vendo a cena. Teria que esperar que ela fosse dormir, não seria nada fácil convencê-la a voltar com ele ao parque, mas tinha que terminar com esse assunto de uma vez por todas. Cheirou o vento e se ajeitou no ramo para dormir um pouco. Esta noite seria muito longa. Os pais da Vanessa chegaram cedo e convidaram Esteban para jantar, mas ele declinou do convite porque tinha tarefa por fazer. Vane se despediu com um apertão de mãos e ele foi correndo pelas ruas do quarteirão.— Este menino cresceu! — Seu pai estava muito alegre e olhou a sua filha de forma interessante — Entendo agora porque nos visita tanto. — Sim querido, com certeza não é pela minha forma de cozinhar! — Gritou sua mãe da cozinha. — Vou procurar o Teo — Falou Vane, revirando os olhos.— Foge do amor covarde! Mas ele a alcançará — esculachou seu pai no final das escadas. Teo estava sentado em seu berço jogando com seus cubinhos e quando a viu entrar lhe sorriu docemente. Vane amava Teo, era um anjinho e por alguma estranha razão nunca lhes deu problemas embora estivesse na fase da pré rebeldia.— Por que despertou e não me falou? — Disse-lhe enquanto o carregava e lhe dava um beijo em sua bochecha — Minha irmãzinha estava feliz — Respondeu o menino não lhe dando importância.— Feliz? — Olhou-o nos olhos. Seu irmãozinho a olhou e beijou sua boca.— Ele faz feliz a minha irmã. Hahahahaha.— É um espertinho — E lhe acariciou o nariz — Será que pode ler mente, pequeno duende?— Não sou um duende — Teo a olhou carrancudo enquanto baixavam as escadas — Eles dão medo.— Hahaha e como sabe se não viu um?— Eu se tiver visto duendes? — E pôs a mãozinha em sua orelha para lhe dizer um segredo — Eles nos observam de noite, seus olhos azuis nos observam — Essa últimas palavras fez que Vane visse Teo com estranheza.— Não assistirá mais Teletubies depois do jantar.— Eu não gosto dos Teletubies, sou um menino grande. Depois de ter uma conversa estranha com Teo, jantou e se preparou para a chegada de seu pequeno problema. Banhou-se e colocou uma roupa cômoda, um jeans e um suéter branco. Deixou a janela aberta e se acomodou entre os cobertores. Olhou o relógio e confirmou que não passava das dez. Seu olhar não desgrudava da janela, não queria que seu visitante a pegasse com a guarda baixa como no outro dia, mas ao chegar à meia noite estava dormindo e não sentiu quando seu pequeno problema entrou com muito cuidado pela janela, olhando-a sorridente.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 37: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Acorda, pombinha... Vane não deixava de ouvir essa insistente voz em sua cabeça, queria continuar dormindo. Amanhã tinha escola e não poder dormir estava chateando-a muito. Então sentiu algo úmido passar sobre sua bochecha, isso foi suficiente para despertar e ver o homem enorme que estava sobre ela olhando-a fixamente com aqueles olhos esmeralda que a deixavam por momentos nocauteada.— Mmmm... Muito ruim, você nem sabe — Foi a resposta de Marcus ao ver os olhos de surpresa de Vane.— Ah-h....! — Ela estava a ponto de denunciá-lo se Marcus não lhe tivesse abafado a boca antes que gritasse— Esqueça — Bufou — Você não consegue suportar uma pequena brincadeira — Os olhos de Vane pareciam dardos venenosos — É ilógico que pense que poderia te comer — Marcus revirou os olhos — Não na forma que você crê... — Terminou enquanto ia para o lado ao ver que ela começava a lhe golpear com seus pezinhos que, comparados com os dele, eram muito pequenos.— É um animal — Vane parou abruptamente e o olhava com reprovação — O que foi que fez em meu rosto — Perguntou e bem no fundo sabia que não ia gostar da resposta.— Queria despertá-la, mas é uma pedra — Sorriu sentando-se na cadeira da escrivaninha —Assim, não pude resistir e te provei um pouco — Vane quase caiu da cama ao ouvir a palavra "provei", por acaso a estava degustando como um prato de comida? Ela fez uma cara de nojo com esses pensamentos e passou o braço pela bochecha para tirar sensação de estar sendo comida — Vamos mulher, não seja tão fechada!— Vai para o diabo — Respondeu-lhe entre dentes — Se voltar a fazer isso eu lhe...— Você o que? — Perguntou— Simplesmente não volte a fazer — Vane levantou da cama, sentia o olhar dele quando ia daqui e ali procurando o que tinha para lhe entregar. Agarrou uma caixa negra sob sua cama e puxou-a com um pouco de dificuldade. Quase lhe pediu que a ajudasse, mas isso seria como convidá-lo a tripudiar mais dela. E isso não permitiria, o orgulho estava acima de tudo. Assim que usou mais força e desentalou a caixa, revisou todos os jornais e o olhou — Isto lhe pertence.— O que é isso? — Marcus se agachou junto a ela e olhou um monte de livros de todos os tamanhos e cores — Fiuuuuu..... Você gosta de livros.— São meus diários — Respondeu-lhe Vane. Mas ao ver que ele não entendeu, decidiu ser mais direta — É tudo o que escrevi desde que tenho seis anos — Marcus agora a olhava diretamente, parecia querer esquadrinhá-la, lhe arrancar a cabeça para ver dentro dela — É sua história.— Isto não é minha história! — Respondeu bruscamente — São as loucuras de uma menina estúpida que por alguma razão tem minha informação metida em sua cabeça!— Como quiser! — Vane não ia se deixar intimidar de novo, esvaziou a caixa e a ofereceu — Isto é teu agora. Por favor, pegue e não volte mais.— O que te faz pensar que iria querer voltar? — Marcus pegou a caixa e com um passo furioso se adiantou à janela.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 38: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Ela estava furiosa, ele era um tipo ingrato e selvagem. Não bastava a atormentar em sonhos e agora na realidade. Mas logo sairia de sua vida assim que cruzasse a janela. Marcus estava saindo pela janela, quando sentiu algo estranho, como se estivesse deixando algo importante. Girou sua cabeça ao interior do quarto e viu Vane parada com os braços cruzados, esperando sua partida com ânsia nada dissimulada nos olhos. Isso, por alguma razão o enfureceu, jogou a caixa no pequeno jardim sem cerimônia e para o horror de Vane, que estava a ponto de abrir sua porta e fugir, segurou-a pelo braço e tirou-a da casa.— O que pensa que está fazendo?! — Vane o golpeava com sua mão esquerda, pois a direita tinha sido apanhada pelos braços de Marcus que agora a olhava com estranheza — Coloque-me no chão! Gritarei se não o fizer.— Tente — Disse-lhe para terminar a discussão e saltou com ela em seu braços.— Aonde está me levando? — Agora ela se sentia aterrorizada, o olhar de Marcus não era bom, era gelado e com um toque de maldade — Vai me matar! — Gemeu quando ele parou em uma ponte por onde passavam os automóveis.— Não — Marcus estava sendo irracional e sabia disso, mas não podia evitar. Algo lhe dizia que tinha que tirar a garota daquela casa. Era como se alguém ordenasse desesperadamente e era irritante como o diabo — Sai da minha cabeça!— Eu não estou fazendo nada — Vane agora estava mais assustada e olhava como Marcus agarrava a própria cabeça com ambas as mãos e parecia querer arrancar. — Não f-fa-falo com vo-você — Marcus a olhou com desespero, o que parecia uma voz em sua cabeça estava manipulando-o com muita facilidade e o alarme lhe dizia que tomasse à garota e fugisse a um lugar desconhecido para ambos, pois se os encontrassem estariam perdidos — Perdoe-me, garota. Marcus levou Vane em seus braços de novo e seguiu saltando e correndo entre os telhados. Não podia desobedecer ao que estava manipulando seu cérebro. Se desobedecesse algo muito ruim ocorreria. Assim, os dois seguiram fugindo sem saber por que ou para onde, mas cientes de que esta noite ia marcar seus caminhos para sempre e em muito poucas horas.

O pai de Vane se levantou com uma intuição, algo dizia que sua casa estava insegura, olhou para o lado e sua esposa seguia dormindo tranquilamente. Sorriu ao vê-la e a beijou na bochecha. Afastou as colchas que o cobriam e decidiu ir tomar um copo de água. Pensou que isso o acalmaria dessa repentina ansiedade. Caminhou até a porta e quando a abriu viu um par de olhos azuis como uma safira que o deixaram paralisado de surpresa.— Desculpe a interrupção senhor... — Disse uma voz suave que pertencia a esses olhos e tudo se pintou de vermelho sangue.

Vane se agarrava fortemente à camisa de Marcus. Na velocidade em que iam, era quase impossível abrir os olhos, mas bastou um momento para que um pressentimento tão forte como o medo lhe fizesse ver que sua família corria perigo.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 39: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Coloque-me no chão já! — Começou a brigar de novo com o Marcus, mas este parecia não escutá-la. Seus bonitos olhos verdes estavam nublados. Era como se só estivesse apoiando-se em seus instintos de sobrevivência — Por favor, me deixe voltar! — Mas o homem não parava e suas enormes pernas e os levaram rapidamente aos subúrbios da cidade. Era algo que não compreendia, a angústia crescia em seu interior à medida que via as luzes da cidade desaparecerem entre as colinas. Este homem lhe faria algo! E como um raio, uma voz soou em sua mente, dizendo as palavras que deteriam seu captor: — "Seu nome" — Disse a voz em sua cabeça, e imediatamente, respirou fundo para gritar o mais forte que podiam suas forças. — Marcus! E como se fosse mágica, Marcus tropeçou antes de parar de repente e deixar Vane cair. Sentiu seu braço esquerdo se quebrar e gritou.— Que diabos?! — Marcus ficou confuso, olhou suas mãos e ao mesmo tempo em que se levantava, pensava que algo faltava em seus braços. Quando ouviu um gemido de dor atrás dele se virou e viu a escritora se retorcendo de dor. Parecia estar machucada no braço — Espera, não se mova! — Marcus caminhou até ela, mas esta ao vê-lo, com o rosto pálido de dor, começou a fugir como se ele fosse o diabo — Não lhe farei mal! Não queria ter feito isto— Marcus a agarrou pelo braço esquerdo para trazê-la para ele e ouviu claramente o grito de agonia por ser tão rude. A garota não tinha culpa e ele sabia, assim, amaldiçoou-se por dentro. Então tomou seu braço mais delicadamente — Está quebrado.— Ahh! Surpreende-me a sua conclusão — Marcus olhou a garota, que apesar de tudo parecia estar a ponto de sofrer um colapso.— Não acredito que esteja para brincadeiras, sabia? — Tirou seu celular e começou a digitar um número. Vane pensou que apesar de ter mãos grandes, era muito rápido apertando as teclas, algo que ela não conseguia, pois era uma tartaruga — Necessitamos de ajuda — Marcus a olhava com irritação enquanto falava com o que parecia ser um amigo.— Não irei com você — Vane se levantou, mas só de se mover já causava dor. Decidiu que desesperar-se como estava começando a fazer nesse momento, não era bom. Por outro lado, Marcus não fez o menor movimento para detê-la. Talvez lhe fosse óbvio que ela não iria a parte alguma.— Você está disponível? — A voz de Marcus soou na escuridão do campo quando pareceu que alguém tinha respondido — Mmmmm.... Obrigado, sabia que podia contar com você — Vane viu por uns instantes algo que não acreditava encontrar nesse homem de dois metros, um sorriso sincero. Era óbvio que quem quer que estivesse respondendo era alguém de sua confiança — Você verá logo, amor — E era óbvio também que podia ser uma amante... Quando este pensamento lhe veio à cabeça, o desprezou. Ela não tinha que se preocupar com isso. — Preparada? Vamos! — Se levantou com ela em seus braços, apesar de sua queixa — Estão esperando por nós.— Eu quero ir para minha casa — Vane estava muito cansada, assim só pôde dizer isto antes de desmaiar. Sua casa toda estava cheia de sangue. Os pés nus da Vanessa caminharam manchados para o quarto de seus pais. Seu coração pulsava com violência, nas paredes até se podia escutar os gritos de tortura, dor, pranto e súplica. Os olhos dela estavam a ponto de estalar em pranto, sabia que algo ruim havia

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 40: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

ocorrido. Continuou avançando até ficar em frente ao quarto de seus pais, abriu a porta e tudo se fez escuridão...— Nãoooooo! — Ela gritou ao levantar-se e ficou confusa ao ver que se encontrava em uma cama que não era a sua. O pesadelo de alguns momentos atrás lhe dizia que devia voltar para casa o quanto antes.— Ei, pensei que não despertaria — Vane olhou Marcus, que saía com uma toalha úmida secando o rosto, parecia que havia tomado um banho. Foi então que percebeu a atadura que tinha no braço — Ela é muito hábil, colocou isto para que se curasse até de manhã.— Já despertou? — Ouviu uma voz musical que saía do banheiro. Era da mulher que a havia tratado e isso a fez sentir-se incomodada.— Sim — respondeu Marcus, que se sentou em um sofá rosa com flores estampadas e colocou seus enormes pés na mesinha de centro da saleta.— Tire seus pés das minhas coisas — Vane olhou a dona dessa voz tão doce. Era só uma jovenzinha de cabelos dourados e olhos verdes que sorria marota enquanto piscava um olho — Os homens são uns mal educados, não acha? — Marcus estava baixando os pés quando escutou o comentário e sorriu, enquanto a jovenzinha se aproximava delicadamente de Vane. Seu corpo era quase o de uma menina, mas seu andar era o de uma mulher — Olá, sou Paula Maine — Saudou-lhe enquanto tomava sua mão direita com delicadeza — Espero que não se incomode que eu tenha te ajudado tão tarde, mas se vê que o irresponsável de meu companheiro não tem tato, apesar de sempre viver com uma dama — A garota olhou Marcus com reprovação e este só lhe respondeu com uma inclinação de ombros e um olhar alegre — Eu sou Vanessa — E soltou a mão da moça quando voltou seu olhar para Marcus que agora já não sorria — Quero que ele me leve para casa.— Não posso te levar — Marcus cruzou seus braços e a olhou com ironia.— Por que? — Vane estava chegando ao seu limite.— Acalme-se querida — Paula a olhou com preocupação — O que acontece, é que parece que alguém o advertiu que não a deixasse voltar para casa esta noite— Isso é um disparate!— Cuidado como lhe responde, escritora — Ele parou de repente e caminhava para ela a fim de intimidá-la — Paula cuidou de você e permitiu que se deitasse em sua cama, você deveria ser cortês.— Não ligo para o que você e ela pensem de mim — Vane começou a parar e justamente quando ia se levantar, a mão de uma pessoa ou melhor dizendo a mão de Paula a segurou com uma força impressionante, que quase a afundou na cama de novo. Esta garota não era normal.— Perdoe minha falta de tato, mas o medicamento que apliquei em você tem que fazer efeito — Paula fez uma careta que Vane não teve coração para zangar-se com ela— Escutem, algo me diz que minha família necessita de mim — Paula e Marcus se olharam estranhamente — Sei que não acreditam numa pessoa como eu, mas digo a verdade — Eles não pareciam muito convencidos — Amo a minha família, são tudo para mi... — Terminou em um sussurro e parece que estas palavras fizeram Marcus olhá-la com sinceridade.— Está bem — Disse e chegou tão perto do seu rosto a ponto de quase se chocar — Mas o que quer que encontre lá, é certo que não vai gostar!

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 41: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Isso eu decido — Vane sentiu como a tomava em seus braços e o ar da janela abrindo pegou em seu rosto, dando uma fria acolhida à escuridão.— Deus, por que não usam o elevador?! — Disse Paula a suas costas e parecia que não pensava em detê-los — Todos os homens são igualmente teimosos — Conseguiu ouvir as últimas palavras antes de Marcus saltar no vazio com ela segurando-se a ele com esperança.

Vanessa nunca tinha chorado por ninguém, desde pequena sempre tinha procurado que seus pesadelos não interferissem em sua vida e mostrava uma cara alegre todo o tempo. Sentia que se chorasse, sua vida terminaria e sua razão não voltaria. Eram pensamentos que guardava e não compartilhava com ninguém, nem com sua família. Jamais imaginou que chorar por alguém, também pudesse romper seu coração. E as chamas azuis se levantavam como montanhas por toda sua casa, o fogo estava arrasando tudo, suas lembranças, seus sonhos e sua família.— Mamãe, papai...Teo! — As lágrimas de Vane não paravam, sentia que se afogava. Toda sua vida estava se extinguindo com as chamas. Se aproximou do incêndio, mas Marcus a impediu agarrando-a fortemente pela cintura— Está louca?! São chamas azuis — Marcus estava tentando não magoá-la, mas seu rosto refletia tristeza e muita indignação — Não pode fazer nada por eles, esse fogo não é normal e te consumirá até os ossos como se nunca tivesse existido!— Solte-me! — Vane o mordeu e se soltou, correu para sua casa mas não pôde cruzar. Suas pernas se congelaram e só ficou parada observando e chorando — Por que?— Ninguém pode salvar o que é queimado pelas chamas azuis — Marcus estava atrás dela e a segurou para que não se machucasse — Sinto muito...— Você não entende... — Ela o olhou com seus olhos vazios e um calafrio cruzou por toda a pele do homem lobo, era como vê-la morta e não gostava nada dessa sensação — Eram tudo para mim — Começou a chorar de novo; a garota estava se rendendo.— Entendo mais do que pensa — Marcus a carregou de novo. Ela não opôs resistência desta vez, parecia uma bonequinha de trapo, tão bonita e sozinha. — Temos que ir — Os humanos se darão conta daqui a pouco e já não tem nada que fazer aqui.... — Vane não respondeu, seus olhos seguiam fixos em sua casa — Escuta — A garota não o olhou, mas ele se aproximou de seu ouvido e com um sussurro disse — Eu encontrarei os causadores e os matarei. É uma promessa. Ambos regressaram ao hotel, mas Marcus não estava nada contente. A fúria que sentia era imensa. A garota que ele odiava agora precisava dele. Ele prometeu-lhe vingança e isso daria. As chamas azuis eram o símbolo da morte no seu mundo, nenhum humano podia causá-las, os únicos capazes eram seres como ele. Algo em seu interior lhe dizia que isto tinha a ver com ele principalmente, e se esse fosse o caso, a família da Escritora tinha pago por sua imprudência. Quando chegaram ao hotel, decidiu que era melhor que ela descansasse em seu quarto. Amanhã teria que enfrentar quatro opiniões diferentes e teria que estar preparado para fazer com que eles vissem as coisas da sua

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 42: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

perspectiva. Marcus sentiu a mão da garota apertar-se nele como se fosse uma menina pequena. Este gesto fez com que se sobressaltasse. Mas de alguma maneira ilógica, ele também queria estar com ela. Deitou-a na cama e cobriu-a com o edredom. Alegrou-se que estivesse limpo pela delicadeza da Paula e se deitou junto a ela sentindo sua respiração e esperando que pela manhã seus olhos já não estivessem mortos.

CAPÍTULO 08 - DOLOROSA DESPEDIDA

“ Musa de minha alma me inspire com seu fôlego suave e enquanto choras lágrimas de cristal, me deixe tocar para ti ”.

Os olhos da Paula estavam fixos no quarto enquanto dava de comer a seu gato Merlin. Só assim Marcus, que estava sentado na sala de estar, se deu conta que sua companheira estava preocupada com a escritora. Já tinha passado exatamente uma semana desde que tinha trazido a garota com ele, e ela permanecia igual, totalmente calada com um olhar vazio; não comia a menos que Paula lhe desse, entre outras necessidades básicas. Era óbvio que tinha perdido a vontade de viver. A manhã em que disse a seus demais companheiros sobre a garota, tinha caído como uma bomba. Adolfo, o mais velho de todos, se zangou como de costume e para não discutir mais, tinha decidido voltar para a Inglaterra. Por outro lado, Elias e Eliseo tinham ficado impressionados com tudo que aconteceu, mas só até sentirem-se entediados e decidirem viajar e reunirem-se com o Adolfo. Só uma pessoa havia permanecido com ele e era sua querida Paula. E ambos sabiam pelo que a garota estava passando, a dor de perder a sua família. Assim, não sabia como falar com a escritora, temia que não pudesse tratá-la. Sentia-se muito confuso, não sabia o que fazer ou como ajudá-la. A mão quente de Paula lhe acariciou a bochecha enquanto se sentava junto a ele com Merlin nos braços. Estava muito bonita, desta vez usava uma saia pregueada rosa e um suéter negro de gola alta, isso a fazia parecer uma dama.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 43: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Está preocupado, não é verdade? — Paula podia ler seus pensamentos sem necessidade de lhe perguntar. Era uma garota muito intuitiva e dava graças aos espíritos que não pudesse ver seu verdadeiro eu.— Não realmente... — Marcus a abraçou e se recostou na poltrona enquanto acariciava seu cabelo amarelo limão — Só não sei o que vou fazer com ela...— Ela esta sozinha — Os olhos verdes da Paula se encontraram com os dele com uma expressão serena e cheia de compaixão — Não a abandone.— É humana.— E o que isso tem a ver? — Paula deixou de lado o seu gato negro que se espreguiçava com muita elegância — Sabe que isso não impede que a ajudemos... Você mais que ninguém.— Quer que tenha pena como você? — Elevou suas sobrancelhas quase lhe reprovando, Paula simplesmente sorriu e parou ao seu lado.— Não — Olhou-o tão profundamente que ele sentiu que sua respiração faltava. Odiava que ela fizesse isso, esse olhar conseguia tudo, inclusive uma vez Adolfo a tinha chamado de bruxa por olhá-lo assim. Seus olhos enfeitiçavam e eram cheios de sensualidade para uma garota de 13 anos — Eu não te obrigarei — Caminhou para sair do quarto com seu mascote atrás — Mas lhe prometeu vingança e isso é pôr sua palavra em jogo. Paula saiu do quarto com a mesma elegância que seu felino. Marcus levantou da poltrona e chegou à porta de sua convidada inesperada. Bateu uma vez, mas ninguém respondeu, ninguém respondia nunca. Tocou a maçaneta e a girou. Se encontrasse a escritora e esse olhar vazio de novo era certo que teria que suportá-lo e confrontá-lo. Mas qual foi sua surpresa quando, em vez disso, encontrou um olhar decidido e frio como a noite. A voz da garota se ouviu como um assobio quando se levantou da cama e disse:— Me leve até lá de novo...

O cabelo de Vane se agitava com o vento, fazia algumas horas tinha pedido a esse homem que a trouxesse, agora não sabia se estava arrependida. Olhando sua casa ou os restos desta era como reviver de novo a dor. Pelo que Paula mencionara, nas notícias diziam que tinha sido um acidente e que toda a família foi carbonizada. Era óbvio que não sabiam a verdade e só tiraram conclusões para que as pessoas não falassem ou suspeitassem. O vento era frio, abraçou a si mesma tratando de recompor tudo que aconteceu. Queria encontrar a explicação do que estava acontecendo; o por que do assassinato de sua família. Mais tudo o que pôde destacar foi que suas desgraças tinham começado quando Marcus apareceu. Vane estava furiosa e ao ver sua casa de novo e o que uma vez teve, suas lágrimas começaram a escorrer. Tinha perdido tudo, não sabia o que fazer. Agora estava sozinha, seus pais nunca mencionaram ter um familiar, ambos eram órfãos e haviam se conhecido num orfanato onde se apaixonaram. Tudo o mais era irrelevante. Isso comprovava que não tinha nada, seus estudos, suas lembranças, sua família e seus amigos; a agonia que sentiu no estômago era tão forte ao destinar o último de seus pensamentos a só uma pessoa, mas tinha que lutar, ir adiante. Não sabia como, mas faria e encontraria justiça. Esse pensamento lhe deu esperança enquanto secava as lágrimas com seu suéter.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 44: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Marcus não desviava o olhar da garota, estava zangado por ter cedido ao seu pedido e tê-la trazido a esta hora da noite e com um frio que era insuportável para os seres humanos como ela. Observava suas costas, perguntava-se no que estaria pensando, não queria incomodá-la. O silêncio costumava ser o melhor remédio e sobretudo quando a pessoa ao seu lado não era nada agradável. Entretanto o cabelo da garota brilhava com a lua e parecia que tocava sinfonias com cada movimento. Não havia notado, mas não era uma garota comum, era como se ela o tivesse estado esperando, como se tudo isso tivesse tido que acontecer para que ela pudesse estar ao seu lado. No momento em que pensou isso, se repreendeu por esse ato e meteu as mãos nos bolsos. O ambiente entre ambos era tenso e Vane não queria se virar, pois encontraria com aquele olhar verde, e não saberia como enfrentá-lo. Todos estes pensamentos desapareceram quando ouviu uma voz conhecida que não provinha daquele homem.— Vane? — Ela se voltou e seu coração quase sai quando viu Esteban caminhando para ela. Tinha uma péssima aparência, como se não tivesse dormido em anos. Seu cabelo ruivo e suas sardas lhe faziam parecer um adulto e não um jovem. Ele estava preocupado e muito triste.— Como... Está viva? — Sua voz tinha um toque de incredulidade.— Eu... — Esteban estava parado frente a ela, seu olhar era inescrutável, parecia como se estivesse vendo um fantasma — Eu... — Vane não podia falar, era como se sua voz não tivesse o poder de dar um explicação a seu amigo. Mas apenas pôde reagir quando sentiu como os braços do Esteban a rodeavam e a traziam para seu peito.— Pensei que nunca mais voltaria a vê-la — Ela o olhou e as lágrimas de ambos se fundiram com um tenro beijo nos lábios, parou um pouco e falou — Já não queria viver sem você, saber que não veria seu sorriso, seus olhos, seu cabelo e sua boca... — E a beijou de novo. Vane nunca tinha beijado Esteban por considerá-lo um amigo, mas neste momento necessitava tanto dele que não se importava como demonstrasse o seu apoio — Por isso vinha até sua casa todos os dias, esperando que saísse dessas ruínas e sorrisse como sempre.— Esteban, eu... — Mas antes que Vane pudesse dizer algo mais, ouviu um pigarro, tão sutil e de um modo tão severo que só então os dois amigos notaram a presença daquele intruso.— Quem é ele? — Esteban abraçou Vane mais forte, como protegendo-a de algo malvado. Marcus pensou que isso era ridículo, não duvidava da força humana do moço, mas o problema era que ele não era humano e isso deixava o pobre menino em uma desvantagem fatal. Tinha observado como os apaixonados se abraçavam e se beijavam, só nesse momento raciocinou que era o mesmo menino que a tinha abraçado naquela sala, era seu namorado.— Sou Marcus — Aproximou-se deles, mas Esteban continuava na defensiva, era compreensível que não quisesse que tocasse à garota — Não sou o tipo mau — Olhou-o com aqueles olhos profundos que por um momento projetaram ao moço — Mas posso chegar a ser.— Esteban, é suficiente — A voz de Vane se escutou baixa e sem ânimo. Tomou o braço de seu amigo e o segurou atrás dela, mas sem deixar de agarrar sua mão — Este homem salvou a minha vida — Esteban arregalou os

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 45: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

olhos ante tal revelação, pois nunca imaginou como ela tinha acabado com vida — Eu lhe devo isso— Acredito que é hora de partirmos — Marcus tinha se aproximado tão rapidamente quando tomou o braço de Vane, que ela sobressaltou-se de surpresa, o que disparou o alarme em Esteban.— Você não vai levá-la a parte nenhuma!! — Esteban tomou o outro braço de Vane e olhou com desafio ao homem dos olhos verdes — Ela fica!— Olhe menino...— Sou Esteban — Sibilou— Como seja... — Marcus segurou Vane até tê-la por completo a seu lado — Ela já não tem nada, agora estará comigo — Vane ficou petrificada ao ouvir isto do homem de quem menos se esperava — Ela é minha responsabilidade.— Quem diabos lhe deu o direito de decidir por ela?! — Esteban estava furioso e Vane começou a temer que fosse golpear Marcus. Não que se preocupasse com o homem lobo, era Esteban o motivo de sua angústia, se brigasse com ele, sairia ferido— Esteban não continue! — Vane tinha se soltado de Marcus e agarrou a seu amigo pelo ombro.— Ele tem razão...— Vane não diga isso, você sabe que podemos dizer a meus pais e ... — Ela colocou um dedo em seus lábios.— Não — Vane o olhava com decisão quando começou a falar — Eu deixei de existir em sua vida e não darei problemas a ninguém mais.— O que estas dizendo?— Eu já não tenho nada que me una a você.— E eu? — Perguntou o menino — Não sou nada para você? — Seu olhar doído atravessou a alma de Vane e seus olhos começaram a se encher de lágrimas — Por favor, não diga mais nada — Ela se afastou e o olhou desconsolada — Tenho que encontrar aos responsáveis — Olhou Marcus, o qual tinha um olhar severo — E este homem os encontrará.— Não... — Esteban estava a ponto de desafiá-lo, mas ao ver que Vane decidia e ela era dona de seu destino, ele só poderia esperá-la e amá-la. — Se for o que deseja, vá — Dizendo isto, se afastou caminhando para sua casa. Vane observou como Esteban estava se afastando, seu coração estava palpitando fortemente. Se ficasse, nunca encontraria justiça e se fosse, seu coração ficaria feito pedaços. Por fim, seus pés se moveram e correu para o Esteban, conseguindo alcançá-lo e abraçá-lo por trás em suas costas. Ele se voltou e com um olhar confuso, mas alegre abraçou-a, embora soubesse que esta era uma despedida dolorosa e que a deixaria ir. Tomou-a entre seus braços e a beijou de novo, o beijo que permaneceria nela para recordar-se e para que voltasse para ele.— Estarei lhe esperando com toda a minha alma — Disse quando se separaram uns centímetros — Volta, que eu te amo.— Voltarei — Vane se desprendeu de seus braços e caminhou para Marcus, o qual parecia ter um olhar frio e descontente — Estou preparada — Olhou-o.— Então vamos — Marcus olhou o menino e este parecia advertir-lhe com o olhar que cuidasse dela; Marcus só encolheu os ombros e a tomou em seus braços para leva-la.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 46: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Esteban viu como seu amor se afastava dele, ao notar que este homem era especial quando saltou tão alto que pensou que voava, tinha fé em voltar a vê-la. Ela retornaria e ele estaria esperando-a com um sorriso em sua volta.

Os dois, que agora se embrenhavam na cidade escura, não se olharam em todo o trajeto, tão pouco houve uma conversação. Quando chegaram por fim ao hotel, Vane caminhou rumo ao quarto de Marcus, onde se hospedou na semana passada, mas uma mão fechou a porta de repente quando ela tentou entrar. Voltando-se, viu Marcus apoiado na porta, seus olhos eram tão bonitos que feriam, tão verdes e cheios de vida. Só que suas palavras não foram de vida, mas sim de morte.— Talvez não retorne jamais.

O assento de avião a estava incomodando, ela nunca havia viajado neste transporte, sempre tinha imaginado que os assentos seriam mais cômodos, isso foi um grande engano. Quando olhou Paula e Marcus, frente a ela foi como ver um casal de apaixonados, ele estava tão cansado que dormiu no ombro da garota. Esta parecia não notá-lo, lia uma revista de modas tranquilamente. Era como ver um gigante amansado por uma pequena fada. Viam-se tão perfeitos juntos, o cabelo e pele morena dele contrastava com a branca e perfeita dela. Quando Paula se deu conta que Vane a olhava, sorriu mostrando seus belos dentes.— Aconteceu algo? Sente-se enjoada? — Paula era muito amável. Quando a viu pela primeira vez, só tinha apreciado sua aparência exterior, mas no tempo em que havia cuidado dela, percebeu que também era bela por dentro. Era uma garota realmente bela.— Não obrigada, estou só cansada — Paula levantou-se delicadamente para não despertar Marcus e se levantou de seu assento para colocar-se a lado de Vane. Sorriu.— Sinto que tenhamos que viajar tão rapidamente à Inglaterra — Os olhos de Paula eram de um verde mais claro e cheios de vida — Mas este avião é da companhia da família de um de nossos companheiros, assim aproveitamos a oportunidade.— Não se preocupe, sou eu que estou de causar pena — Vane agarrou suas mãos nervosamente. — Não tenho nenhum dinheiro e até assim vocês compraram para mim todo o necessário... Estou em dívida contigo.— Não tem que... — Paula desviou seu olhar para Marcus que parecia estar começando a roncar — Só saber que ele tenha interesse em você me faz feliz — E um sorriso enorme cruzou por seu formoso rosto.— Ai não! Não pense mal — Vane estava vermelha, nunca imaginou que Paula pensasse que ela tinha algo com o Marcus, era uma loucura — Ele apenas me ajudará a encontrar quem fez isso... — A voz de Vane se apagou com a lembrança de sua família. Esteve a ponto de chorar se não fosse pelas palavras de Paula— Marcus e eu temos uma teoria — Vane se viu surpreendida. Nas semanas seguintes em que tinha estado com eles, Marcus jamais mencionou suspeitar de alguém. Paula a olhou e prosseguiu com seu comentário — Acredito que ele

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 47: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

não te disse nada para não se preocupar. Assim é melhor que quando chegarmos em casa, seja ele quem lhe diga isso pessoalmente.— Por que não você?— Digamos que me apertaria o pescoço se o fizesse — Sorriu-lhe.— Não acredito — Vane a olhou incrédula — Parece te adorar.— Sim, gosta de mim — E o olhou — Mas só quando sou boa garota.— Desculpa... — Estava envergonhada por fazer a pergunta, mas não pôde evitá-la, era irresistível — Você e ele...?— Hahahahaha — Paula riu — Não como crê, somos como irmãos... O que acontece é que Marcus e eu temos muitas coisas em comum.— Ah...— Não é que não me agrade — Paula lhe lançou um olhar travesso — Mas meus gostos são distintos e com exceção dele, como os demais me amam muito para pensar assim em mim.— Os demais?— Assim são meus companheiros, meus irmãos — As últimas palavras disse com tanto carinho e amor que era óbvio que havia feito uma hipótese muito apressada — Claro que costumam não ser muito amáveis — Paula franziu o cenho — Mas quando os conhecer saberá que são um monte de meninos grandes — Paula levantou-se — Desculpe, irei ver Merlin, deve estar andando atrás de uma aeromoça — Piscou-lhe com um olho — Isso me deixa ciumenta.— OK — E relaxou em seu assento quando já não via Paula. Era uma garota agradável, disse a sim mesma e gostou de conversar com ela. Só então seus pensamentos lhe apareceram como um raio — Será que ela?!— Nem te ocorra dizer que é uma loba — Vane quase cai do assento quando ouviu a voz dura de Marcus que parecia acordar de mau humor.— Não ia dizer.. — "Mentirosa" penso que era justamente o que suspeitava.— Não tenho por que nos desculpar.... — Marcus a olhava de seu assento como se quisesse lhe arrancar a língua — Certamente minha raça aprecia às mulheres, resultando em que elas amadurecem antes que os homens — Marcus agora parecia confuso — Assim que, por lógica têm ao fazer 12 anos, uma força impressionante. Além disso, seus demais sentidos se fazem incrivelmente agudos, seriam magníficas amazonas — Deu de ombros — Mas cuidam de você como um tesouro e procuram não brigar.— Brigar?— Minha raça até discute territórios, limite para não proliferar nem alterar o ecossistema, respeitamos os elementos.— Tá... Então ela pode se transformar como você? — Perguntou esperando uma reprimenda, mas parecia que Marcus não estava de humor para discutir.— Não, elas somente se transformam aos 20 anos ... Embora tenha ouvido que umas podem se transformar aos 18, como os homens, mas são muito poucos casos, quase não acontece.— É interessante, são mais fortes, mas sua transformação chega por último — Marcus viu a cara de Vane quando ela pronunciou esse comentário, Por alguma razão, esperava que ela se assustasse e o olhasse com asco, mas resultou justamente o contrário.— Chegaremos logo — Marcus olhou seu relógio enquanto o mudava para um novo horário — Fará frio quando aterrizarmos e têm que estar bem agasalhada — Olhou-a de esguelha e viu que usava uma blusa azul abotoada e calças

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 48: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

escuras de jeans de marca. Era incrível como Paula podia trocar e vestir a alguém a seu gosto. Viu que seus cabelos estavam soltos como sempre, mas já não traziam luz a seu rosto, prosseguia sendo a mesma, um rosto valente.— Oh sim, Paula comprou para mim um casaco e luvas para o frio, diz que sempre chove, nunca teria imaginado isso...— Sim, é um pouco entediante, prefiro o sol — Ele se sobressaltou quando se deu conta que estava começando a dizer mais que o normal — Onde está Paula?— Aqui, querido — Paula se aproximou com seu gato negro e lhe deu um beijo na bochecha – O capitão é um homem amável, me deu de presente uns postais.— Nunca muda — A repreendeu com um sorriso que derreteria a qualquer garota normal, pensou Vane.— Hahahaha. Que coisas diz — Deu-lhe uma palmadinha no ombro — Mas temos que nos preparar para a chegada.— De acordo — Parou e com seu corpo tão grande, pensou Vane que poderia bater no teto do avião — Irei procurar umas coisas Uma aeromoça vinha saindo e se chocou com seu carrinho contra Marcus. Ele a sustentou a tempo e lhe sorriu intensamente, fazendo que a garota se projetasse, esta se desculpou e parecia começar a mover-se mais para perto dele do que uma aeromoça bem educada faria. Mas Vane não sabia de aeromoças, isso não era um comportamento supôs para si. Marcus parecia coquete ao falar com ela, disse que tinha que procurar algo e ela se ofereceu com muito entusiasmo em levá-lo ao seu destino.— Esta bem — Marcus olhou a moça com aprovação e esta segurou seu braço — Seria agradável que alguém tão profissional resolvesse esse problema — Vane pensou que isso era muito ruim, mas a garota tomou como se o próprio rei da Espanha estivesse dizendo.— Oh, não é problema! Por aqui, por favor — E os dois se foram.— É tão imaturo... — Vane olhou então para Paula que tinha estado tão concentrada nessa paquera que não se deu conta de sua outra companheira de viagem e parece que a esta não tinha agradado essas adulações — O que alguém tem que aguentar desses cachorrinhos — Bufou — Parecem não pensar? — Dirigiu-se a Vane.— Não sei — Respondeu com sinceridade.— As mulheres sempre se comportam assim quando os têm muito perto.... É como uma reação química — Paula se sentou e acariciou Merlin — Por isso amo Merlin, ele é só meu, hahahahahahaha. Vane sorriu e as duas chamaram a outra aeromoça, que muito amável, trouxe algo para lanchar. Suco de laranja e torta de ovo, comeram e viram um filme juntas enquanto esperavam que Marcus retornasse. Vane não punha muita atenção ao diálogo do filme, a sua mente estava no homem lobo e sua conquista. Seu estômago começou a revolver e foi correndo para o banheiro do compartimento vomitar, enjoou-se. Marcus beijava com muita paixão à garota cujas pernas o apertavam com tal urgência que parecia como se quisesse o tomar nesse banheiro. Ele sabia que seu comportamento era inadequado quando mordeu a garota na orelha e se viu no espelho enquanto ela ria de prazer, mas ele era o que era e sua urgência por algo tão instintivo tinha sido muito forte, a garota o beijava por

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 49: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

todo rosto e se agarrava a ele pedindo mais do que podia dar, levantou-lhe enquanto a apoiava na pia e desabotoou as calças que estavam mais do que dispostas a sair disparada. Quando estava decidido, fechou os olhos, mas o rosto da escritora veio em sua repreensão, era como se ela o estivesse olhando e julgando, esses olhos em sua mente foram suficientes para apagar o fogo nele e se retirou delicadamente da garota, enquanto se acomodava e arrumava-a com rápida maestria. Podia ver pela cara da aeromoça que estava se comportando como um estúpido — Maldita seja! — Se dirigiu a escritora em sua mente.— Por que não? — A garota o olhava desiludida e muito magoada — Sou pouca coisa?— Não pense assim — Marcus tomou seu rosto e a olhou com ternura — É belíssima, mas digamos que isto não é algo correto, sou um animal por ter pensado isto.— Não é, eu o queria — A garota tomou sua mão.— Eu também, — Marcus já estava fora do jogo — Mas sou um mau tipo, hahaha. Preciosa, será melhor assim, acredite — Desceu-a da pia e quando abriu a porta encontrou os olhos cor de café da pessoa que tinha arruinado sua aventura. Logo, não pôde reagir quando a escritora o olhou com angústia e vomitou em cima de seus All Star e amaldiçoou por sua má sorte.

CAPÍTULO 09 - TEORIAS, TEORIAS

“A banda do coração canta, Os sons se ativam em minhas veias,A energia se transmite de meus pés a seus lábios vermelhos.”

Quando desceram do avião, Vane procurava não olhar nos olhos de Marcus e ele por sua parte, tratava de não incitar uma conversação. Quando Paula se deu conta do porque de ambos estarem se comportando como meninos primários, estalou em gargalhadas em frente às duas caras que não aguentavam a humilhação.— Deixa de rir, Paula! — Marcus trocou seus tênis por um par de sandálias Gucci que a garota lhe havia comprado. Olhava-a como se quisesse que esta se afogasse — Não é divertido.— Hahahaha.... Claro que é — Paula não se detinha e agora agarrava seu estômago — Quando disser isto a outros não irão parar de te incomodar — Vane estava terrivelmente ver- melha, pois ao terminar de vomitar em cima de Marcus se deu conta que detrás dele estava aaeromoça e não muito arrumada para ser exata. As cores lhe subiram à cabeça ao ver o show que tinha armado, enquanto que Marcus não havia como conter seu mau gênio em não lhe gritar. Em poucos momentos, Paula chegou e soube tudo o que tinha se passado. Marcus foi se trocar amaldiçoando sua sorte, a

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 50: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

aeromoça não tinha como se desculpar e fugiu dali. À sua vez, Paula ajudava Vane a limpar-se contendo uma risada.— Não tem por que falar — Grunhiu e caminhou mais rápido à saída do aeroporto. Por um momento Vane quase riu ao lhe ver fazer uma manha de criança, como se fosse um menino pequeno, mas decidiu que não era bom momento.— Não se preocupe, Vane — Paula sorria e tomava sua bolsa Louis Voitton da bagagem que levavam três guarda-costas — É pura boca.— Não me preocupo — Vane a olhou angustiada — Mas a mim tampouco gostaria que contasse o que fiz a seus companheiros.— Bom, que isso que seja um segredo, mas o outro... — Levantou uma sobrancelha com um sorriso de menina má — Guardarei para quando necessitar uma mudança de roupas novas.— Como quiser, enquanto não tenha que ser eu — Mostrou-lhe seus bolsos vazios — Não tenho um quinto. Ambas riram e caminharam rapidamente para alcançar Marcus, que já estava fora. Vane se surpreendeu com o enorme Aeroporto de Heathrow. Sem dúvida era de primeiro mundo, havia pessoas de distintas nacionalidades caminhando aqui e ali. Quando chegou à entrada com Paula, sua boca se abriu pelo que nunca imaginou ver: uma limusine negra os estava esperando. Não que isto a surpreendesse, pois parecia que seus novos acompanhantes eram pessoas importantes, a não ser o fato de subir. Tudo ia muito bem quando sentiu que alguém lhe colocava algo no pescoço e a girava. Marcus lhe estava amarrando um cachecol azul e quando terminou a olhou nos olhos. Era a primeira vez que a olhava assim desde que desceram do avião, mas a forma como seus olhos verdes brilhavam era hesitante.— É para que não machucar a garganta — Vane saiu de sua projeção, quando ouviu as palavras e tirou as mãos dela.— Sei, por isso trago um bom casaco — Cortou seu olhar e entrou na limusine. Paula sorriu e piscou um olho, enquanto tomava assento em frente a ela. Marcus demorou a entrar; parecia estar falando ao celular, indicando a hora de chegada, mas logo se sentou a lado de Paula e tomou suas mãos.— Está muito fria — Disse à sua companheira e olhou alternamente a Vane — Melhor seria se houvesse dado a você o cachecol — Vane lhe mostrou a língua em resposta enquanto acariciava Merlín, que ronronava em seu regaço.— Esquece querido! — Paula sorriu e fez um gesto melodramático — Esse cachecol, quem sabe de onde é, prefiro minha mascada de seda sem ofender — Marcus a olhou com um sor-riso e lhe deu um beijo nas mãos.— Assim é e será — Sorriu-lhe com mais força. O trajeto pela cidade foi uma experiência inesquecível para Vane. Ela nunca se imaginou vivendo algo no estilo. Estava feliz, mas seu coração estava oprimido contra seu peito ao recor- dar porque se encontrava ali. Quando olhou pela janela, uma pequena lágrima escorreu por sua bochecha, a qual só Marcus conseguiu captar de soslaio. Para Marcus era muito difícil olhar a escritora, sabia que deu sua palavra para se vingar, mas realmente não queria que ela se envolvesse mais. Era uma humana e esta busca seria muito perigosa. Por outro lado, sentia que se não a protegesse e a deixasse ir, se arrependeria.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 51: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

No fim das contas, os dois pactuaram que se ele a ajudasse, ela voltaria a escrever e não fugiria até lhe dar o último de seus sonhos. No momento, tinha de sua parte Paula e seus companheiros de Família. Apesar das repreensões de Adolfo, o importante era que seus superiores aceitassem o pacto, e isso não seria fácil. A Grande Aemilia era um grupo de homens lobos que controlava as demais Famílias, eram os que guiavam e tomavam decisões para sua raça. Se eles aceitassem não seria problema, mas se decidissem o contrário, ele e a escritora estariam com grandes problemas.

Era uma casa enorme, uma mansão sem dúvida. Vane só conseguia ver o teto e as janelas superiores, que apareciam por cima da parede de concreto que rodeava todo o lugar. Era de um tom bege com toques de vermelho queimado nos acabamentos. Quando as portas de segurança se abriram e a limusine entrou, podia-se apreciar um jardim cheio de rosas brancas e árvores tão grandes, tão formosas e frondosas que Vane não pôde resistir a baixar a janela e respirar o aroma embriagador da natureza.— São formosos, não é verdade? — Paula ficou ao lado dela para apreciá-los — As rosas foram um presente da família do Esteban que provêm dos Benefici, eles cultivam esta classe de rosas — Os olhos da garota se obscureceram por um momento – Foi tudo o que lhe deram quando o expulsaram.— Paula, se cale! — A voz de Marcus se ouviu forte e muito zangada, Paula fechou a boca e olhou para Vane com um sorriso enquanto seguia com a conversa.— Os salgueiros e pinheiros já pertencem a este lugar e juntos dão este aroma peculiar.— São belos — Vane se fixou na enorme estátua de um gladiador em frente a fachada da casa. Era uma escultura de bronze de um jovem apoiado em um joelho elevando uma espada para baixo, seu olhar era tão real que por um momento acreditou que a olhava fixamente, como fazia Marcus. Seus pensamentos foram interrompidos quando abriram a porta de repente e alguém entrou tão rápido que mal que pôde notar quem tinha sido.— MINHA FORMOSA BONECA! — A voz veio de um homem com cabelos loiros como o sol. Vestia um traje branco com gabardina cinza, e abraçava Paula que estava cativa daquele abraço e correspondia igualmente.— Hahahaha. Elias fique tranquilo, já estamos aqui. Hahahaha — Paula o abraçava e beijava nas bochechas.— Por que raios demoraram, minha boneca? — Os olhos verdes do homem quase brilharam de tristeza.— Não sabe que aborrecido é estar em companhia do Adolfo e Elias não faz mais que sair-se de pinta — O tom do homem era suave e de uma vez ressentido. Vane lhe calculou uns 27 anos, mas não estava segura. Tinha uma barba em forma de cavanhaque e suas sobrancelhas cheias eram mais escuras que seu cabelo, o qual se encontrava bem penteado e curto, um estilo moderno e um sorriso delicioso dessas que deixam sem respiração.— Não seja queixoso e se afaste que vamos sair — Marcus o empurrou para fora da limusine e o rapaz e Paula faziam mímicas como se dois amantes estivessem sendo separados.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 52: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Meu amor, este ogro quer nos separar, mas lute! — O tipo era muito engraçado e notava-se que apreciava Paula. Ela tinha razão, a amavam como irmã.— Anda logo, Don Juan! — Marcus consiguiu tirá-lo e se colocou a um lado para deixar que as garotas saíssem.— Obrigada, querido — Paula tomou sua mão ao sair e caminhou rapidamente para os braços do outro jovem, que a abraçou e lhe deu um beijo na fronte. Vane apareceu pela porta e se assombrou até mais quando observou como mansão era maior do que imaginava!— Vai sair ou ficará babando? — Marcus lhe tinha dado a mão, mas ela a rechaçou e desceu por sua conta.— Não necessito de sua ajuda, seu mal educado.— Por Deus! Respondeu ao Marcus? — O homem ao lado da Paula a olhava assombrado e em seu rosto apareceu um enorme sorriso — Vá, trouxe a garota?— É claro — Marcus lançou-lhe um olhar assassino. Quando o outro se aproximou de Marcus, ela comprovou que este era muito mais alto que seu homem lobo por vários centímetros.— Mademoiselle — O homem se aproximou e lhe fez uma reverência — Meu nome é Elias — Tomou uma mão e a beijou. Marcus segurou Vane contra ele com tal força que ela quase gritou de dor.— Não tem que fazer isso, ela não está aqui para que se divirta — Marcus exalava fogo verde por seus olhos e Elías se limitou a lhe sorrir.— Ok. — Caminhou para Paula, que assistia à cena divertida e a segurou pelo braço, começando a subir as escadas, e quando voltou um pouco a vista por cima do ombro, esclareceu a seu colega — Jamais machucaria ou abusaria da garota de outro irmão. Vane ficou vermelha pelo comentário, e quando tentou falar para arrumar o mal-entendido, Marcus a virou de frente para ele e a olhou com desaprovação. Parecia pensar que ela era a culpada pelo comportamento de Elias e não gostava disso. Ela por sua parte, não devia ligar para homens lobo.— Esclareço que eles são meus irmãos — Marcus lhe apertou os braços sutilmente, mas sua voz estava carregada de advertência — Elias é meu segundo irmão mais velho. Confio plenamente nele, mas em você não — Vane se indignou e tratou de soltar-se:— Deixe-me! — Vane escapou e se separou dele, fazendo os outros dois que estavam esperando por ele voltassem ao ouvir sua objeção. Ela o olhou desafiante — Se pensa que estarei aqui para que me maltrate pode ir para o inferno!— Não grite!— Pois não me ameace!— Eu não te ameaço! Elias, que esteve esperando por eles com ânsia, se divertia ao ver seu companheiro de tão boa saúde e humor. Era óbvio que esta garota o estava perturbando. Pensou que era bonita; todas as mulheres o eram para ele, mas tanto ele como seu irmão tinham um olfato infalível e da entrada da limusine tinha notado um aroma especial realmente embriagador, que provinha da garota que agora tirava uma luva e jogava na cara de Marcus. Parecia ter caráter e era valente. Divertiu-se muito e sorriu sem uma gota de preocupação

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 53: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

enquanto Marcus levantava a garota, a carregava escadas acima e o fazia até de lado para entrar na mansão.— Marcus, me baixe e não seja bruto! — Paula se soltou de Elias e caminhava atrás de Marcus, sua voz deixou-se de escutar no corredor da recepção. Elias se despediu dos guardas e fechou a porta atrás de si— Coloca-me no chão, já! — Vane estava furiosa e esperneava contra o estômago de seu captor — Irritante!— Coloque-a no chão, já! — A voz agora não tinha vindo de Vane e ela tentou ver quem era. Paula, que se encontrava ao seu lado, sorriu e correu para essa pessoa. Marcus tinha parado. — Marcus, ela não é um brinquedo, é um ser normal. — E isto parece que fez Marcus baixá-la com um grunhido e de maneira brusca ao chão.— Contente? — Vane viu o sorriso irônico de Marcus e voltou o olhar.— Isso está melhor — Era a voz de um jovem muito alinhado, se Elias era varonil, este menino era alinhado e com traços um pouco mais finos. Tinha o cabelo loiro com um corte juvenil e uns olhos verdes no mesmo tom que Elias, vestia uns jeans rasgados e uma chamar- ra negra com vários fechamentos — Não posso acreditar irmão, que deixasse que Marcus fizesse isso — O menino confirmou as suspeitas de Vane quando se dirigiu ao outro presente.— Vamos Eliseo, não seja tão rígido. — Bocejou Elias. Eram irmãos — Apesar de ser o mais novo dos homens, é tão irritante às vezes....— Quer parecer com o Adolfo? — Paula elevou sua sobrancelha esquerda enquanto dizia isto com uma ironia que fez Vane se perguntar onde estava a garota doce — Isso não gostaria.— E fez uma careta.— Jamais! — Eliseo mudou seu rosto e suas feições se fizeram mais jovens enquanto abraça- va Paula — Perdoe meu mau humor — E lhe deu um beijo na fronte.— Se já estivermos de acordo, então me diga onde esta Adolfo — Marcus falou com muita autoridade e Eliseo, recordando quem era maior, lhe respondeu adequadamente.— No escritório — E olhou Vane com surpresa — Vá.... Você tem um...— Irmãozinho, será melhor que feche o bico — Elias sorria, mas Vane sentiu calafrios. Sem dúvida era uma advertência, algo não andava bem. É que Elias não queria que a garota sou- besse de seu aroma tão especial, era óbvio que Marcus e Paula não tinham notado.— De acordo — Eliseo sob seu olhar — Desculpe, não é de minha incumbência, apresento-me, sou Eliseo Baobhan, irmão do Elías como pode notar e guerreiro desta família — Terminou com orgulho.— Muito prazer, meu nome é Vanessa — Eliseo lhe sorriu e ela correspondeu, era alguém muito cortez e lhe inspirava muita confiança.— Não é um encanto? — Paula disse ao Eliseo — É muito linda e se converteu em minha amiga.— Isso é bom — Eliseo lhe acariciou o cabelo — Não tinha mais que a estes brutos a seu la- do, era hora que encontrasse uma companheira para conversar.— Bom, o que esperam? — Marcus caminhou para um corredor à direita — Não temos tempo.— Por aqui preciosa — Elias indicou o caminho a Vane, que apreciou o interior da enorme mansão, as escadas em frente se dividiam em três, recobertas com

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 54: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

tapetes café chocolate, estava mobiliada estilo Art Decó e sem dúvida era maravilhosa. Quando caminhou pelo corredor ao lado de Paula se admirou pelas pinturas que se encontravam dos lados. Eram de homens muito arrumados, com olhos tão verdes que enfeitiçavam como os de Marcus. Poderia jurar que eram quase seus gêmeos somente pelos olhos. Marcus parou em frente a uma porta esculpida com figuras mitológicas, que pareciam quatro deuses entrelaçando seus braços ao redor de um enorme lobo. Marcus bateu de maneira educada, isso a surpreendeu e esperaram a resposta.— Entre — Uma voz soou do outro lado e Marcus abriu a porta. A porta se abriu lentamente e deixou ver uma sala branca rodeada de estantes largas e com formas curvilíneas. No fundo encontrava-se uma escrivaninha comprida com um globo terrestre num canto e alguns pergaminhos do outro lado, mas Vane não se fixou, pois na cadeira estofada de veludo café se encontrava um homem muito alinhado, que a olhava com seus olhos verdes como as folhas dos mastreie na primavera. Seu cabelo era loiro com reflexos castanhos, comprido um pouco abaixo das orelhas e sua mandíbula lhe recordava a estátua do gladiador que tinha visto no pátio dianteiro. Era perfeito, estava barbeado e sua pose o fazia parecer um homem muito importante e seguro de si mesmo, mas sua expressão fria e desdenhosa fixa nela a fez sentir-se muito incômoda quando todos se acomodaram ao redor da sala que estava iluminada pela enorme janela de cristal talhado.— Bom dia — A voz do homem era rouca e pastosa, Vane quase podia imaginá-lo narrando uma história romântica pela rádio, mas era certo que ele não fazia esse tipo de coisas.— Bom, Adolfo. Chegamos, como pode ver — Marcus se adiantou e apontou às duas garotas que agora se tiravam da mão. Adolfo olhou a cada uma e parecia que nenhuma era de seu total agrado.— Isso vejo — Levantou da cadeira e caminhou para Marcus lhe dando a mão em sinal de boas vindas — Espero que tenha sido uma boa viagem.— Não houve problemas — Respondeu Marcus com um sorriso, e olhou para Paula lhe adver- tindo a não comentar algo sobre a aeromoça.— É bom ouvir isso.— Não vai me perguntar como foi? — A voz da Paula soou por toda a sala, Vane sentiu como se o ambiente ficasse tenso, como se sua amiga houvesse dito algo indevido.— Ao vê-la, estou seguro que não mudou nada de sua personalidade querida... — As últimas palavras de Adolfo soaram com um profundo veneno, mas pareceu que Paula não havia se ofendido, a não ser sorrir e pousar seu olhar nele. O olhar de feiticeira, como agora nomeava Vane. O resultado foi que Adolfo se ruborizasse levemente e imediatamente sacudisse sua cabeça — Suficiente.— Claro — Paula olhou Marcus e este parecia negar com desaprovação.— Adolfo — Marcus chamou a atenção de seu companheiro antes de que ele soltasse outra frase que fizesse que Paula se magoar — Como pode ver — Apontou Vane — Trouxe a garota e queria falar contigo sobre isto.— Ela é a causa de seus pesadelos? — Adolfo agora olhava direto nos olhos de Vane. Se alguma vez havia se sentido como uma intrusa, esta era a ocasião — Não é nada do outro mundo — E caminhou para ela com toda calma. Parou em frente e baixou seu rosto para apreciá-la melhor. Este gesto fez com que

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 55: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Vane se sobressaltasse. Se não tivesse sido por Paula lhe segurando a mão, teria saído correndo ao ver esses olhos verdes cheios de intolerância.— Esse não é o caso — Marcus agora estava ao lado de Adolfo e o afastava de maneira educada, mas de uma vez com força — Tampouco é um fenômeno.— Claro que não! — Elias, que não tinha falado, estava do outro lado do Adolfo e sorria com muito entusiasmo — É uma criatura formosa — E piscou um olho para Vane.— Assim é — Eliseo fez distância entre as garotas e Adolfo com seu corpo — Meu irmão tem razão — Confirmou.— Se meus irmãos de família o dizem — Encolheu os ombros — Então está bem — E caminhou de novo para a escrivaninha, tomando seu lugar.— Odeio quando faz isso — Sussurrou Paula a Vane em seu ouvido — Crê que é o dono deste lugar e de nós.— Então falemos — Adolfo terminou dizendo, indicando aos outros a saída — Só ficarão Marcus e a senhorita aqui presente.— Mas por que?! — Soaram ao mesmo tempo Paula e Elias.— Não necessitamos espectadores — Olhou com severidade Adolfo.— Oh é tão...! — Paula fez uma careta enquanto Eliseo tomava a ambos pelos ombros e ia com eles para fora da sala. Quando a porta se fechou atrás deles, Vane sentiu como Marcus a guiava para duas cadeiras que estavam em frente à escrivaninha. As teria colocado ali enquanto estava distraída? Sentou-a e tomou seu lugar à direita. Adolfo tinha um olhar sério, mas por mais que Vane tivesse a ideia de que ele não a queria, não podia deixar de pensar que era um homem atraente, como uma lâmpada às mariposas e que não era de todo mau, pois quem com esses olhos tão nobres o seria?— Bem, meu nome é Adolfo Benefici — Apresentou-se — Seu nome? — Indicou-lhe com um ademão.— Vanessa— Sobrenome?— Marlí Celi— Bem — Adolfo parecia dessas pessoas que preferiam conhecer tudo de seu inimigo antesde atacar — E qual é a sua desculpa para trazê-la a este lugar? — Dirigiu-se a Marcus.— Ela é a escritora — Disse Marcus com convicção de quem não se coibia com o seu olhar de maior em idade.— Só isso? — Adolfo tampouco se subordinava ao olhar.— Não — Marcus se levantou do respaldo — Fiz uma promessa de palavra.— Maldição! — Adolfo golpeou a escrivaninha, que devia ser muito forte para não ter se quebrado com esse golpe — O que tinha na cabeça? — Repreendeu Marcus que pareceu começar a se incomodar por sua forma de falar.— Seus pais morreram — Respondeu Marcus, sem alterar-se.— Não era seu problema, cada dia morrem os pais de muitos meninos e isso bem sabe — O espetou Adolfo cruelmente sem se importar com Vane.— Não sou capaz de deixá-la! — Os olhos de Adolfo se arregalaram ao escutar as palavras de Marcus, como se houvesse se tornado louco por completo. Quando Marcus viu a reação de seu companheiro, se explicou melhor, pois

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 56: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Vane também o olhava com surpresa — O que me refiro é que na morte de seus pais esteve comprometido o fogo.— E isso o que?— Era fogo Azul — Terminou. Adolfo voltou seu olhar a Vane, que saltou sobre sua cadeira, esperando uma igual reprimenda.— Está seguro? — Adolfo parecia ter recuperado sua imagem de homem sereno.— Não há dúvida, o vi com meus olhos.— É verdade, senhorita Marlí? — Perguntou a Vane.— Assim é — Respondeu com segurança e surpreendida por não ter gemido de medo.— Deus! — Adolfo tomou com as mãos o rosto e sob seu olhar — olhou a Marcus — Bom... — Levantou a vista — Esta é sua casa, eu não posso te proibir que traga alguém a este lugar, é seu direito.— Bem — Respondeu o rapaz moreno.— Mas... — Adolfo apontou com um dedo a Vane — Eles devem vê-la e saber de seu jura- mento.— Já havia previsto.— Ela sabe então o que acontecerá se eles disserem não? — Quando o homem terminou a frase, Marcus empalideceu.— O que acontecerá? — Ambos os homens a olharam. Pareceu que não esperavam que ela participasse da conversação, mas Vane queria saber se algo iria ocorrer e tinha que se preparar. Um sorriso nos lábios do Adolfo apareceu quando pronunciou:— Irão matá-la.

A porta trovejou após Vane sair com tal força que as pessoas que estavam na sala correram para ver o que tinha ocorrido. Paula foi a primeira a chegar e ver como Vane tentava chegar à entrada. Parecia estar furiosa. Infelizmente, Marcus chegou a tempo e a deteve. Segurou-a contra ele enquanto ela se queixava e lhe golpeava inutilmente no peito. Pareciam um casal de apaixonados discutindo.— Solte-me já! — Vane chutou-o na tíbia, mas Marcus não a soltava.— Pare já, demônio! — Marcus a levantou e a arrastou de novo ao estúdio a pesar das queixas da garota. Elias, Eliseo e Paula estavam de pé para observarem melhor. O que receberam foi um olhar assassino de Marcus. Era óbvio que não lhe causava graça os três espectadores. Marcus fechou a porta e sentou Vane de novo na cadeira, mas quando fez isto recebeu uma bofetada da garota que o deixou desconcertado.— Mentiroso! — A garota estava vermelha de raiva — Disse que me ajudaria, não pode voltar atrás e dizer que me enviará de volta!— Acalme-se já! — Marcus agarrou os punhos da garota e os apertou lhe tirando um gemido de dor.— Animal! — Vane esfregou os punhos para aliviar a dor.— Você buscou isso! — Olhou-a carrancudo enquanto se sentava na outra cadeira.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 57: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Bem. Se ambos já deixaram de comportarem-se como duas crianças — Falou Adolfo, que até então tinha olhado o espetáculo com cuidado — Acredito que devemos explicar à senhorita a função disto.— Como quiser — Cuspiu Marcus que estava de saco cheio.— Senhorita Marli espero que entenda que isto é muito delicado — Adolfo posou seus olhos nela de maneira paciente — O grupo de que falamos se chama A Família e são os que se encarregam de controlar esta classe de situações, são muito ciumentos da privacidade — E olhou Marcus com reprovação — E o que fez meu companheiro aqui, tem suas conseqüências.— Mas eu, sozinha, deverei encontrar o assassino de minha família?— Ou se eles não quiserem que Marcus se responsabilize por você — Firmou o olhar no globo terrestre — Digamos que seria como rebaixá-lo a certo status.—Status?— Vane não compreendia. Se Marcus era um homem lobo que classe de complicação havia?— Basta! Ela não necessita que lhe diga mais nada por mim — Marcus não parecia nada contente com as palavras de Adolfo, que se limitou a ignorá-lo.— Mas como ele deu sua palavra, não podemos fazer nada mais que deixá-lo nas mãos da Família — Cruzou os braços — Isso nos deixa numa grande desvantagem. —Por quê?— Eles regem por votos — Explicou Marcus — Se a maioria disser que cometi um engano ao te trazer e te revelar minha identidade, então você....— Me matarão — Vane pronunciou estas palavras, mas por alguma razão não tinha medo.— Se! — Marcus agora não estava zangado, mas seu olhar mostrava cautela.— Então façamos — Marcus e Adolfo se olharam, duvidando — Olhem, eu sou a intrusa aqui. Eles estão em seu direito de protegê-los — Vane parou, queria que eles vissem que estava decidida – E se por alguma razão decidirem me eliminar, aceitarei — Encolheu os ombros — No fim, já não tenho ninguém — Mas suas palavras lhe levaram a pensar em Esteban que a esperava, lamentando muito.— Mmmmm — Adolfo coçou o queixo — Se você está convencida, então que assim seja.— Espera! — Marcus parou e caminhou para Vane — Está completamente segura?— É claro! — Respondeu sem dar chance a mais discussões.— Ok — Marcus olhou Adolfo, que estava acomodando uns papéis — Acredito que devemos conseguir aliados fortes — Adolfo quase deixou cair uma pasta no chão ao escutar o que disse Marcus.— Pois... — Adolfo lhe olhou muito severamente — Espero que não esteja pensando nesse par?— Em quem mais a não ser eles?— Não sei — Adolfo parou e começou a digitar em seu celular — Quase não gostam de conviver com a Aemilia.— Mas são nossa solução — Marcus olhou Vane — É uma oportunidade para que ela viva. Adolfo ficou de costas e começou a falar pelo celular em um idioma desconhecido, muito suave e forte uma vez, demorou uns minutos enquanto

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 58: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

escutava a pessoa que estava do outro lado que o fez rir um pouco, logo desligou e olhou a ambos:— Preparado — Disse com um sorriso até que deixou Vane desconcertada — Estiveram esta noite no lugar de sempre... Mas ao que parece estão de visita.— Isso foi um golpe de sorte — Marcus sorriu e agarrou Vane delicadamente — Tudo correrá como a água — Assegurou-lhe— Vamos ver alguém importante? — Vane disse isto e a resposta dos outros dois foi uma gargalhada – Disse algo engraçado?— Perdão — Adolfo se voltou para recuperar a compostura e Marcus se aproximou dela:— Digamos que eles salvaram minha pele uma vez. Os três saíram do estúdio e quando anunciaram aos outros três que estavam esperando, riram. Paula começou a dançar por toda a sala, Elias saltava de um lugar ao outro, Eliseo sorria de maneira exorbitante e Vane não entendia nada.— Se anime Vane! — Paula pegou suas mãos e começou a dançar com ela — Eles vão lhe ajudar, seguramente!— Não posso acreditar – Elias agora tinha sentado em uma das poltronas brancas – Faz um ano que não os vemos.— Será genial! — Eliseo fechou as mãos em punhos — Não aguento, isto será fabuloso.— Bom, acalmem-se! — Adolfo elevou a voz, mas tampouco podia ocultar seu entusiasmo – Iremos às 12h da noite, é o melhor momento, seguro que estarão nos esperando com igual ardor— Sorriu— Levarei Vane ao quarto de hóspedes! — Paula pegou Vane e começaram a subir as escadas da esquerda – Necessita de um banho e descanso para esta noite — Disse-lhe enquanto corriam pelo corredor superior.— Paula, quem são essas pessoas? — Perguntou — Por que estão tão felizes em vê-los? — Paula parou de repente e a olhou como duvidando do que lhe dizer, mas depois, sem mais começou a rir. — São nossos pais adotivos — Disse com um sorriso — Os Guerreiros Melchor e Baltazar.— Melchor e... – Vane a olhou duvidosa – Como…?— Hahahaha, assim é — E seguiu caminhando — Mas digamos que eles não são tão Santos como aqueles reis a parte... — Paula se deteve diante de uma porta branca que cheirava a íris — Já não são três... — Abriu a porta e entraram. O quarto era muito formoso, todo de cor branco. Havia um penteadeira negra que fazia jogo com a pequena banqueta. Paula puxou Vane e entraram em outra parte do quarto, onde era o dormitório. A cama parecia muito cômoda, aconchegante e seus lençóis brancos com flores bordadas davam um toque feminino. Aparentemente das toalhas de mesa até a ponta das paredes era branca, só as rosas brancas lhe davam um toque verde com seus caules. Suas malas já se encontravam a lado do baú de madeira negra. Era óbvio que os criados eram rápidos e sigilosos, pensou Vane.— Bem este é seu quarto no momento — Paula lhe mostrou muito orgulhosa — você gosta?— É muito formoso — Vane não sabia se isso era suficiente para ver toda aquela beleza que a rodeava. Sem dúvida, alguém com um bom estilo a tinha decorado.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 59: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Obrigada, foi um prazer — Paula chamou sua atenção — Eu o decorei pessoalmente — Terminou por esclarecer — Como passatempo... — Puxou-lhe a mão e a guiou a outras duas portas — Remodelei esta casa toda a meu gosto desde que tinha 8 anos. Foi muito duro, parecia pó — Abriu uma porta da direita — Este é o banheiro — Indicou-lhe. Todos os toques em negro e prata se faziam muito elegantes — Esta banheira eu trouxe da Índia. É formosa e muito relaxante – Vane estava de acordo nisso. O que mais queria era um banho — Agora veham por aqui — Saíram do banheiro e abriram a outra porta. Vane quase caiu para trás quando viu o maior guarda-roupa de sua vida — Este será seu recanto — Paula a soltou e começou a lhe mostrar o lugar – Estes armários são elétricos, madeira negra igual; o daqui é um espelho de corpo inteiro e aqui é para guardar nossos queridos amigos, os diamantes — Apontou um móvel com sete divisões — Tudo o que esta aqui é meu — Disse sem importância — Mas vou tirar de imediato com a ajuda dos criados, enquanto você toma um banho — Empurrou Vane para fora – Daria tudo, pra você, mas é melhor que fique assim. Iremos às compras para enchê-lo todo e...— Oh não, Paula! – Vane estava vermelha – Não acredito suportar que me dê de presente mais roupa — Disse — Causa pena.— Você vai! — Paula caminhou para a cama e se sentou placidamente — Para mim é um prazer — Mas Vane a olhou inconformada – Vane, prometo que não encheremos tudo, e se quiser ver como um empréstimo, é melhor, — Assegurou-lhe — É minha amiga, e as amigas compartilham tudo — Fez olhos de novilho — Por favor! — E juntou suas mãos em forma de súplica.— Ok — Rendeu-se — Mas o que? — Vane viu uma cauda negra e larga aparecer por debaixo da cama. Paula voltou-se e sorriu sem surpreender-se:— Merlin, querido — E tirou o gato, colocando-o em seu regaço — Bem, aqui estava — O acariciou na orelha. O gato limitou a acomodar-se melhor — Aviso que este já não será meu recanto de tesouros, ok? — O gato fixou seu olhar em Vane. Paula a olhou — Agora ela é nossa amiga — O gato saltou das pernas de Paula e caminhou elegantemente até Vane e se enroscou em suas pernas como se a cariciasse e se foi da habitação — Acredito que ficou ofendido, mas aceitou mais rápido do que supus.— Este era seu recanto — Vane olhava Paula, com uma sobrancelha levantada.— Foi faz muito tempo, — Disse Paula com nostalgia — Decidi me mudar quando completei meus 13 anos — Agora é teu.— Mmmmm, não sei...— Nada — Parou e empurrou-a ao banheiro — Relaxe e descanse. Hoje será uma noite muito agitada.— Aonde iremos? – Perguntou Vane— Ao Clube Moon — Disse Paula franzindo levemente o cenho.— Lá veremos Melchor e Baltazar.— Sim? — Paula desviou os olhos – Além de outras surpresas.— Surpresas?— Não me dê atenção — Paula caminhou à porta de entrada, que estava aberta — Quando chegar, comprovará o que te digo. Vane ficou sozinha na antecâmara, caminhou para o banheiro e começou a despir-se. Quando tocou a água das torneiras se sentiu muito bem, estava morna. Colocou um pé na banheira e logo todo o corpo e relaxou. Afinal foi isso que lhe pediram. Quando estava lavando-se escutou ruídos fora. Ao que

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 60: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

parecia, Paula entrava praticando com seus ajudantes. Era uma boa garota, a porta do banheiro se abriu e Merlin entrou ronronando, parou ao lado da banheira e observou Vane como a avaliando, seus olhos Dourados eram impressionantes, pareciam matizar como o arco íris. O felino se abaixou e saiu de novo, deixando Vane um pouco sentida de saudades. Se não fosse por ser um animal juraria que estava lhe dizendo que este não era o seu lugar, seu lar.

CAPÍTULO 10 - O CLUBE

“O café de seus olhos chocolate e seus lábios de morango cremoso beijam as cordas de meu violão, a proprietária de sua voz.”

Quando Vane esteve em frente a entrada do Clube Moon no princípio não pareceu estranho, as letras eram de um prateado, era um lugar pequeno mas ao que parecia muito custoso, os automóveis luxuosos se detinham em frente e as pessoas eram escoltadas ao interior do edifício por mulheres vestidas de traje negro, se não fosse por Vane ter notado o detalhe de que somente entravam homens ao interior então o lugar passaria por um clube qualquer.— Bem este é o Moon, o que te parece chérrie? — Elías ia com um traje branco informal e um suéter negro por dentro. Vane não sabia que dizer, em certa ocasião tinha entrado em uma disco, mas isto era muito diferente.— Acredito que é elegante — Sorriu acanhadamente ante o olhar de seus cinco acompanhantes, Paula a puxou pelo braço enquanto saíam do BMW que Adolfo conduzia. Elías vinha à frente e Marcus, Paula e Vane na parte traseira; Eliseo não os acompanhou, pois optou por sua moto SUZUKI, então era certo que chegaria atrasado.— Parece que é um bom ambiente — Marcus sorriu enquanto se aproximavam da mulher que custodiava a entrada, esta usava um smokin negro e uma

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 61: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

máscara que só deixava ver a metade direita de seu rosto com lantejoulas e pedras negras, uma combinação perfeita junto com seus lábios vermelho sangue. — Hey Martha! — Saudou Marcus, a garota se voltou ao escutar seu nome e seus olhos verdes brilharam com intensidade enquanto sorria de orelha a orelha.— Monseur Marcus — A garota seguia vigiando a entrada quando os seis se aproximaram a sua esquerda — Que maravilhosa surpresa? — E lançou um olhar rapido a todos os outros — Pelo visto há gente nova — Sorriu para Vane enquanto detinha a entrada de um tipo ébrio – Sinto muito amigo, aqui não entra nesse estado — Dito isto apareceram outras dom mulheres com a mesma vestimenta e levaram o sujeito — Estes tipos nunca aprendem — Minha! Diga a Baltazar que chegaram — Uma garota loira assentiu e foi ao interior do lugar — Bem já sabem o que têm que fazer não? — Os cinco concordaram e começaram a caminhar para o outro lado do edifício.— Por que não entramos? — Perguntou Vane.— Sei que entraremos — Elías disse — Só que será por outro lugar — Indicou uma entrada traseira cor verde, ali os estava esperando a garota que parecia ser Minha com um sorriso travesso — Por aqui meninos!— Desculpa o incômodo no horário de trabalho — Adolfo pegava a mão para lhe saudar, e a garota se derretia ao ver seus olhos.— Vocês nunca são incômodos — Lhe deu um leve golpe no ombro — Com exceção de nos termos sentido muito abandonadas — Sorriu coquetamente.— Eles têm melhores coisas a fazer — Paula tinha se convertido outra vez em menina má, a garota a olhou enquanto passavam para um corredor, mas ao que parecia não lhe desgostou o comentário ao contrário, a abraçou e beijou.— Mas se a bonequinha esta aqui! — Paula agora tratava de escapar de seus braços.— Pare Minha! Não sou uma garotinha — Disse zangada.— OH, perdoe-me, é que para mim sempre será a pequena! — E lhe acariciou o cabelo – Ela estará feliz de te ver.— Olhe, apresento-lhe Vane — Paula empurrou Vane para que a garota a estudasse — É uma amiga.— Já vejo — A garota a olhou curiosa com seus olhos azuis — É simpática — Concluiu enquanto mostrava uma porta para que passassem — Sentem-se, eles virão em seguida — E se foi, fechando a porta atrás de si. O lugar era uma pequena sala com enormes almofadas vermelhas, cortinas da mesma cor com dourado e um pequeno bar. Todos se sentaram e Elias se serviu de um gole, Vane estava nervosa, atrás das paredes não se escutava nenhum ruído, então por mais que quisesse saber que lugar era, não imaginava. Marcus ligou o televisor e trocava os canais que Paula lhe indicava. Quando Vane se deu conta, Adolfo a estava observando com aqueles olhos feiticeiros, mas antes que pudesse perguntar o por que de seu estudo, a porta se abriu de par em par.— Olá filhos pródigos! — Saudou um tipo alto com a cabeça raspada e um brinco de diamante na orelha esquerda, todos os presentes saltaram da emoção, exceto Vane. Depois deste, apareceu um homem com o cabelo comprido até os ombros e um sorriso de comercial, ambos eram muito atrativos, e pelo que Vane notou, tinham os mesmos olhos verdes. Mas ao que parecia, em seus rostos se refletiam os anos de boa juventude.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 62: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Como estão meninos? — O homem de cabelos compridos cumprimentou e todos se atiraram em cima deles, abraçando e dando saltos por todo o lugar, um e outro beijo para a Paula com um "olhe que grande está".— Baltazar quando chegaram? — Adolfo se dirigia ao tipo de cabelo comprido.— Faz uns dias — E apontou com o olhar ao outro sujeito — Melchor queria lhes ver.— Sim, claro — E o homem elevou Paula para lhe plantar outro beijo — Não é o mesmo que estar no lar.— Vá e desta vez aonde foram?! — Perguntou Elías enquanto se dirigia ao bar.— Estivemos em Marrocos com nossos irmãos, os Badr — Baltazar se sentou em uma almofada — Foi maravilhoso, um dia terá que viajar junto conosco.— Fantásticos tecidos marroquinos! — Aplaudiu Paula.— Não pense que nos esquecemos de você amor — Melchior piscou um olho — Trouxemos uns presentes divinos, só tenha paciência.— Estupendo! — Paula abraçou Marcus — Vê como sentia saudades?— Eu sei — Marcus olhou para Vane e isso ao que parecia, foi suficiente para que os dois novos se dessem conta.— OH! E esta preciosa, quem é?! — Perguntou Melchior enquanto se aproximava dela saudando-a com um beijo.— Meu nome é Vanessa.— Meu nome é Melchior, a seu serviço — E olhou a seu companheiro que começava a se aproximar — Vanessa não se chamava aquela mulher que o levou a praia e...— Sim irmão — Baltazar o calou — Enquanto saudava Vane — Mas esta pequena não tem que se inteirar desses detalhes não é assim? — Sorriu.— Estraguem — Vane lhes calculou 40 anos, se viam fortes e muito vigorosos.— Temos que falar com vocês de um assunto delicado — Adolfo irrompeu no ambiente.— Deveriam te chamar desmancha-prazeres oficial — Recriminou Paula.— Hahahahaha, continuam inimigos, não é? — Melchior dava umas palmadas à costas de Adolfo que não pareceu nada contente — Vamos, relaxem, mal tem 13 anos, me diga que lutam com você parecendo adolescentes?!— É verdade, quando ela chegar aos 16 anos a cuidarão como uns lobos — Os olhos dos presentes se ampliaram — Perdão, hahahahaha, se formos esses — Riu.— Como dizem — Adolfo se abandonou na esquina — Seu Marcus é o interessado, não eu.— De acordo — Marcus olhou para Vane e Paula — Vocês duas vão para a cozinha.— Mas... — Paula já ia protestar, mas pareceu que algo lhe ocorreu quando terminou dizendo — Como quiser querido — E com um sorriso, arrastou Vane para fora da sala.— Te juro que quando fala assim, me dá calafrio. — Vane conseguiu ouvir Adolfo, mas a porta já tinha se fechado.— É sério? Vamos para a cozinha?— Hahahaha, claro que sim — Disse Paula — Mas antes, te mostrarei o lugar — Piscou inocentemente — Eles não proibiram. Paula a levou por outro corredor escuro, mas em pouco tempo umas luzes tênues revelaram várias garotas, vestidas extravagantemente por assim dizer,

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 63: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

é que eram, coelhinhas, policias, governantas, etc... Vane estava surpreendida, todas tinham máscaras segundo a cor de seu traje. Parecia que Paula a tinha levado ao vestuário.— Disse que seria divertido — Uma garota se deu conta da presença de Paula e a chamou.— Paulin! Paulin! — A saudou e todas as garotas se aproximaram de Paula para abraçá-la e beijá-la ao que esta respondia com elogios e que lhe eram devolvidos.— Garotas.... Garotas — Estas seguiam tagarelando — Garotas! — Gritou e todas calaram — Hahahaha. Perdão — Desculpou-se e puxou Vane — Ela é uma nova amiga — Indicou a elas — Chama-se Vane e vive conosco.— Olá — Saudou Vane, um pouco nervosa por ver tantas mulheres formosas de todas as nacionalidades, estas sorriram docemente e a começaram a saudar com entusiasmo, como se fosse uma amiga de toda a vida e começaram a lhe perguntar coisas um pouco indecorosas.— Então vive com os meninos né? — Disse uma mulher de cor, muito formosa, que estava vestida de policial.— Sim.— Com Marcus e Adolfo? — Perguntou uma morena de olhos azuis.— Sim— Com os irmãos Baobhan — Se referindo a Elías e Eliseo.— Pois sim.— E continuam igualmente bons? — Perguntou uma loira com uma risada tola.— Ahhh! — Vane começou a ruborizar.— Mas o que estão lhe dizendo! — Paula as repreendeu — Ela não é esse tipo de amiga garotas.— Ahhhhhhhh! — Responderam todas em coro.— Desculpe elas — Paula começou a procurar algo — Venha por aqui, poderá ver o show.— Sim! Esperamos que goste — Disse uma ruiva que vestia um traje de bombeiro.— Paula... — Vane se aproximou um pouco.— Mmm? — Respondeu a garota enquanto a levava a uma esquina e tirava as cortinas vermelhas.— Este lugar é... — Mas Paula lhe tampou a boca.— Aqui elas entretêm aos homens com suas danças e atos, nada mais — Paula assegurou séria — Não pense mau — Ela sorriu — Elas são grandes artistas. Vane confiou em Paula e juntas observaram o lugar, tudo era muito elegante e a música ia de acordo com um lugar tranqüilo, mulheres com smoking atendiam aos presentes que ao que pareciam, eram cavalheiros muito importantes. As mesas eram redondas e de cristal, a pista tinha meio metro de altura ao que parecia e na ponta era circular, Vane deduziu que era onde davam o show. Os homens podiam comer ou pedir o que eles quisessem e se via que estavam ansiosos. Vane se surpreendeu ao ouvir uma voz suave que falava em francês e parecia todos os presentes a entendiam, mas ela não, então Paula traduziu para ela.— A voz é de Mily — Ela disse — E está dizendo " Cavalheiros bem-vindos ao Clube da Lua, hoje vocês são os escolhidos para verem as mulheres mais belas do mundo e desfrutar destes bailes exóticos e truques fantasticos" — Agora

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 64: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Paula imitou a voz com um pouco de advertencia — "Lhes recordo para não interromper o show ou ter comportamentos indevidos com nossos artistas, obrigado por sua atenção!” — Terminou Paula e ao que se seguiu, foi uma música muito sensual. Da pista de dança, saiu uma garota vestida de smoking com uma máscara negra, a música era ao vivo e os instrumentos eram tocados por homens que estavam com os rostos pintados como mímicos. Usavam trajes de noite extravagantes e máscaras tão estranhas como as das mulheres. A garota com smoking começou a caminhar com uma roupa negra muito sensual e todos os homens pareciam que tinham perdido a voz. A garota começou a cantar enquanto se movia entre os presentes — "Você é o tesouro dos céus, minha vida e minha sedução" — Cantava enquanto deslizava cuidadosamente entre as pernas de um homem que estava como estátua — "Quer provar de meus lábios a tentação" — se aproximou do rosto do tipo que parecia custar-lhe ter as mãos em seu lugar — "Prova-os bebê" — A garota o olhava provocativamente — "Eles são teus" — E com um salto digno de uma ginasta, separou-se do tipo e limpamente subiu em cima da pista novamente. A garota prosseguia cantando e dançando, enquanto tirava uns lenços vermelhos de sua blusa desabotoada. Retirou doze lenços e os agitou no ar, os homens pareciam hipnotizados e seguiam os movimentos da garota que rebolava aqui e acolá. De repente sua voz parou e com um estalo, um ramo de doze rosas vermelhas apareceu em suas mãos e os homens começaram a aplaudir e assobiar.— Então este é o show... — Vane estava realmente surpreendida.— É sim, são maravilhosas — Paula sorria e aplaudia enquanto a garota mágica fazia aparecer umas mariposas de suas luvas brancas.— Jamais imaginaria — Vane também aplaudia, era realmente fantástico.— Pode-se saber o que fazem aqui? — Uma voz alegre e doce lhes roçou os ouvidos.— Eliseo! — Paula o abraçou com entusiasmo e ele correspondeu — Quando chegou?— Olá — Saudou Vane e ele assentiu — Pois cheguei antes de vocês, mas estava na cozinha ajudando Matilde, já vê como fica quando seus ajudantes de cozinha são lentos.— Hahaha, sei — Paula agora saía de braços dados e Vane lhes seguiu, Eliseo pegou com a outra mão a da Vane e as escoltou fora de seu lugar secreto.— Bem, parece que deveriam estar na cozinha e não fofocando sobre as garotas — Sorriu.— Que malvado você é! — Paula o beliscou na bochecha — As mulheres não fofocam — E olhou para Vane — Só trocamos informação, não é Vane?— Sim — Respondeu.— Vá! Agora tem a uma mentirosa a mais — Eliseo passou junto às outras garotas e estas mandaram beijos e saudações coquetes — Olá preciosas, vou levar estas duas para que jantem algo, logo as saudarei — As garotas lhe sorriram como sinal que o estariam esperando. — Vocês nunca mudam — Paula pôs os olhos em branco.— Hahahaha. Ciumenta — Eliseo a olhou divertido.— Jamais! — Assegurou esta — Uma mulher nunca fica ciumenta, simplesmente... — Sorriu para ele — Somos protetoras.— Hahaha. OK.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 65: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Acha que os outros irão demorar com a convera? — Vane estava muito curiosa de saber o que estava se passando com seu assunto.— Não acredito — Eliseo se voltou para olhá-la — É seguro que agora estejam na cozinha, então nos apressemos ou nos deixarão sem nada — E assim juntos, os três caminharam pelo estreito corredor. Marcus golpeava seus nódulos contra a mesa da cozinha do clube, pensava em como explicaria a escritora sobre a discussão que acabara de ter entre seus pais, irmãos e ele. As opiniões variaram, os que estavam a favor de que a garota se apresentasse ante o conselho eram Melchor, Elías e ele. Pelo contrário, Adolfo discutia que poderiam idealizar um plano para que a garota retornasse a seu lugar de origem. Baltazar estava apoiando esta idéia, ele era o chefe por ser o mais velho, mais de uma vez sentia que a palavra de seu filho adotivo pesava muito, isto o punha entre dois bandos. No final, depois de muito deliberar, Melchor conseguiu convencer Baltazar de apoiar à garota, então chegaram ao acordo que se Aemilia chegasse a declinar em contrário, teriam um plano para lhe salvar. Isto não caiu nada bem a Adolfo que respeitava as tradições, mas muito a contra gosto deu sua palavra de protegê-la. Agora tudo ficava nas mãos de Marcus, pois sua palavra e defesa poderiam ser as que a condenassem ou salvassem. Os pequenos golpes de seus dedos se fizeram mais fortes quando sentiu um tapa em sua cabeça a modo de silenciá-lo.— Auch! Que diabos? — Marcus se voltou e Matilde, uma mulher de cabelos negros o olhava e apontava com a colher, estava zangada — O que acontece? Por que me bateu?— Estou farta de seus tamborilares! — E seguiu movendo o molho — Desesperam-me e com todos aqui não necessitamos mais pressão — O repreendeu. E era certo que todas as suas garotas ajudantes iam e vinham a toda pressa passando os ingredientes ou algum prato que estivesse preparado. Era uma cozinha grande, todos já tinham jantado.— Desculpe Matilde, já sabe que meus filhos, com exceção de Adolfo, são pouco educados — Se desculpou Baltazar com uma piscada inocente. Matilde ficou vermelha e assentiu movendo o molho mais do que o normal.— Bal, não necessito mais ajuda — Marcus o olhou nefasto — Já estou grande para pôr em seu lugar, a resmungona da Matilde. Auch! — O tapa se estrelou de novo contra sua cabeça, era óbvio que Matilde não opinava o mesmo, Baltazar riu e saiu da cozinha deixando a todos degustando. E nisso, entraram Paula, Eliseo e a escritora rindo sem nenhuma preocupação. Quando a viu rindo, sentiu uma estranha fúria por dentro, era como se odiasse vê-la feliz e ao ver seus horríveis pensamentos tratou de se controlar, quando Paula se aproximou para comer de seu pires de massa italiana.— Yomi! Massa — Paula meteu delicadamente o garfo na boca, e mastigou lentamente.— Não deve tomar as coisas de outros sem permissão — Paula o olhou com surpresa e ele mesmo se desconheceu, jamais tinha negado nada a sua companheira, e tudo isso por estar vendo como Eliseo e Elías conversavam com a escritora como se ela já fosse da família.— O que tem? — Paula entrecerrou os olhos —Por acaso não ficaram a nosso favor!

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 66: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Perdão — E olhou de esguelha como Elías recolhia o cabelo da contista lhe dizendo que um corte moderno ficaria bem, estava ficando louco ou que? — É que estou nervoso... Perdão, quis dizer desesperado para que isto termine — Se corrigiu.— Ahhh claro — Paula olhou para onde Marcus estava cravando o olhar, era óbvio o porque de seu irmão estar tão distraído, agilmente se levantou de sua cadeira e caminhou para Eliseo e Elías com seu andar sedutor e seu olhar enfeitiçante. E como se fosse um ímã, ambos a olharam e não houve nada mais que ela em seu mundo — "Deve-me uma querido" — Pensou enquanto Marcus se sentava ao lado da escritora bruscamente. — Olá — A escritora o saudou amavelmente enquanto se desenredava o cabelo, era ondulado e muito grosso, poderia se fazer uma peruca com as pontinhas.— Olá — Respondeu contundente enquanto levava uma parte de pão de alho à boca. Quando a olhou, notou que o observava com os olhos muito abertos — Quer pão ou o que?— Ah! Não — Ela se afastou um pouco dele — "Tem medo de mim"— Disse a si mesmo e partiu uma parte de queijo que ficava à mão e o ofereceu — Toma isto, é gostoso e o trazem da Itália — Ela pegou o pedaço e mordeu um pouquinho — Não se preocupe, não tem veneno — Ela se voltou ofendida e lhe respondeu sarcasticamente.— O veneno às vezes se costuma estar no sangue — O olhou nos olhos zangada — Não no pão — Marcus estava a ponto de lhe lançar um pouco de molho de seu prato no rosto quando a voz de Melchor interrompeu.— E me diga senhorita Vanessa... — A escritora se acomodou para ouvir bem a Melchor que estava comendo como um caminhoneiro do outro lado da mesa — O que lhe parece Londres?— Mmmmm, a verdade é que não saberia lhe dizer, apenas chegamos hoje.— Não me diga que estes tolos não a levaram para conhecer o Tower Bridge! — Se referindo à ponte mais conhecida da Inglaterra.— OH! Não se zangue com eles! — Marcus olhou como agitava suas mãos a modo de tranqüilizá-lo.— É que com tudo isto, não tivemos tempo — Sorriu um pouco — A parte do pouco que vi sim, diria que é uma cidade formosa.— Mas querida! As lojas em Soho, as compras e o bom comer pelas ruas, isso não tem preço — Melchor lhe sorria enquanto metia outro pedaço de pão na boca — Se gostar... — Disse com a boca cheia, Marcus se perguntava como tinha crescido com este tipo — Eu poderia levá-la.— Amanhã te levo às compras! — Marcus desejou que não tivesse sido ele o que disse isso, mas quando viu a expressão de surpresa de Melchor e de Adolfo, que estava a seu lado, quase desejou que o braço de Matilde lhe desse outro golpe.— Obrigada... — A escritora olhava à frente e suas mãos faziam nós no guardanapo. A risada infantil que surgiu da porta fez todos se voltarem, e virem Baltazar carregando à pequena Isabel que com suas mãozinhas lhe agarrava o cabelo e sorria dizendo entre frases o que gostava. Marcus estava feliz de ver novamente essa menina. Era um sol com seus olhos verdes pistache, seu cabelo castanho curto e junto com seu vestido verde a faziam parecer uma

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 67: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

boneca de porcelana. Baltazar levava a pequena Isabel a saudar todos por seus nomes, estava aprendendo a falar melhor; só então, quando Baltazar se aproximou da escritora, foi que se deu conta do olhar triste dela.— Olhe Isabel, ela é uma nova amiga! — Baltazar apontava a escritora e a pequena agitava sua mãozinha saudando energicamente — Chama-se Vanessa, mas pode lhe chamar Vane — Sorriu.— Vane — Isabel estendeu sua mãozinha até tocar a testa da escritora a modo de saudação. Marcus estava muito quieto observando a reação dela e o surpreendeu ver como correspondia à saudação e sorria à pequena.— Olá Isabel, gosto de te conhecer — Todos os que conheciam a história de Vane, se davam conta de quão difícil era para ela se mostrar serena — Quantos anos tem? — Perguntou.— Três anos — Isabel elevou três dedinhos gordinhos.— Três anos — Os olhos da escritora começaram a se encherem de lágrimas — Teo... Tinha três anos e...e... — Marcus se congelou ao ver como a garota começou a soluçar, todos os presentes se sentiram incômodos e Baltazar ao ver seu engano se desculpou — Perdoe-me, minha dama — Acariciou sua cabeça — Não foi minha intenção — Vane secou as lágrimas e lhe sorriu.— Não, perdoe você a mim. Acredito que a assustei — Olhou a Isabel que, ao que parecia, somente estranhava com seus olhinhos bem abertos — Sua filha é formosa — Disse Vane.— Minha filha? — Baltazar aumentou seus olhos e pequenas risadas se ouviram — Não querida, esta formosura não é minha, hahahaha.— Ah não! Então... — Vane olhou para Melchor o qual se engasgou.— Não linda — Disse passando a comida — Tampouco essa boneca me pertence, embora quisesse — Ele sorriu.— Não entendo... — Vane agora franzia o cenho.— É órfã como todos aqui — A voz de Adolfo se elevou e Vane se sentiu muito envergonhada.— Vá! Você! — Melchor deu um tapa em Adolfo que causou a risada da Paula — Essas coisas não se dizem de repente — Adolfo o fulminou com o olhar enquanto esfregava a cabeça.— Ele tem razão querida — Baltazar se dirigiu a Vane e em seus olhos, a tristeza quase se podia apalpar — ela... — Beijou a Isabel que riu e o abraçou — É filha de nosso antigo colega.— Do Gaspar Goeth — Melchor agora tinha deixado de comer — Ele morreu faz três anos, a três meses de Isabel nascer.— Sinto muito — Vane estendeu seus braços — Posso carregá-la?— Claro — Baltazar lhe entregou a menina, que feliz começou a jogar com suas mechas de cabelo.Ao vê-la aconchegar Isabel entre seus braços, Marcus compreendeu que a escritora não abraçava Isabel, sustentava com força, as lembranças de sua família para não esquecê-los. Muito em seu interior, ele também desejou que sua família houvesse valido o suficiente para não esquecê-los, pois ao contrário dela, sabia que seus pais mereciam estar mortos e tê-lo abandonado.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 68: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

CAPÍTULO 11 - ÓDIO PURO

“O violão é minha amante, a domino, a abraço e faço amor com ela, mas sua voz é a melhor de tudo, mas não superior a ela.”

Depois de jantar, todos se prepararam para a tão esperada apresentação, desde o momento em que chegaram ao lugar, que era uma casa em forma triangular e cor verde escura, Vane não tinha tido um bom pressentimento, isto se confirmou quando entraram na mansão. No que parecia ser uma recepção de escritório, se encontravam várias pessoas que iam de um lugar a outro, de repente estas pararam e se fixaram no grupo que acabava de chegar, as olhadas não eram de boas-vindas, quando Adolfo se aproximou de uma garota que parecia ser uma recepcionista, esta lhe ignorou de uma maneira obvia e franziu o nariz como se Adolfo cheirasse mal, isto poderia ter enfurecido o Marcus, mas os olhos de seus novos colegas de quarto, estavam baixos, Paula, Elias e Eliseo, não olhavam a ninguém. Vane quis perguntar, mas quando Baltazar lhe tocou o ombro, entendeu que não era boa idéia. Melhor falar com a garota que oferecia um sorriso como se não tivesse sido mal educada com o Adolfo, esta assentiu lentamente e olhou a Vane com desconfiança, parece que a mesma mandou uma mensagem por seu computador e disse a Melchor algo que não pôde captar, parecia observar aos demais meninos.— Bem, a garota disse que poderia acontecer Marcus — Melchor tomou a mão de Vane — Esperemos que a sorte esteja contigo — Olhou aos demais com tristeza — Disse que têm que ficar fora da mansão, lamento isto, não pude convencê-la.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 69: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— É uma harpia — Murmurou Paula com o olhar baixo, estava vermelha de fúria e apertava seus punhos com tal indignação que Vane podia assegurar que tinha vontade de arrancar os cabelos da recepcionista.— Sei cherie — Melchor acariciou seu cabelo dourado — Algum dia entenderão.— Não há problema, é melhor do que seguir sendo o fenômeno de circo — Eliseo soltou Paula e se dispôs a sair, este se soltou e abraçou Vane com força, era um gesto muito bonito de sua parte apoiá-la neste momento.— Sei que não necessita da boa sorte — Assegurou-lhe. Adolfo tocou o ombro do Marcus e saiu junto com os outros. Somente ficaram Baltazar, Mechor, Marcus e ela e isto lhe era tão estranho, pois no momento em que seus companheiros saíram, todos voltaram para seus assuntos, como se nada tivesse acontecido.— O que há vocês? — A voz do Marcus estava calma, sua expressão era séria e não parecia querer alterar-se— Entraremos logo, eles lhe estão esperando — Assegurou Baltazar com cautela — Faz muito que não lhe viam e pensam que é um milagre que tenha voltado.— Não voltei com eles — Marcus deu o braço a Vane e começaram a subir umas escadas escuras. Chegaram ao primeiro piso e Marcus decidiu tomar o elevador, a casa era mais alta do que Vane imaginou, justo quando as portas se abriram encontraram-se com dois pares de olhos verdes, frente a uma porta de madeira negra. Sentia como o olhar deste homem lhe cravava o corpo, era um olhar cheio de ódio, o verde de seus olhos tinha desaparecido e o dourado intenso estava em ambos, era um homem alto, não passaria dos trinta ou menos, era moreno e com um corpo musculoso que séria a inveja de qualquer treinador de ginásio, sua mandíbula era quadrada, cabelo negro e uma postura autoritária. Vanessa estava muito inquieta, o dia em que lhe apresentariam à Aemilia era hoje e sentia que seu estômago se contraía de nervoso, tampouco era bom ver aquele tipo quando ela e Marcus caminhavam para a porta principal, ao que parece o homem acabava de sair. Sua boca estava em uma linha reta de insolência, por outra lado a companheira que tinha a seu lado não era menos intimidante, era uma mulher muito formosa e jovem, seu cabelo castanho refletia a luz das velas e seu vestido vermelho deixava ver partes de seu corpo que estava certa, não tinha descoberto por acidente. Ela também tinha os olhos em um tom dourado, ao que parece os homens lobo mostravam assim seu descontentamento. Vane despertou de seu escrutínio quando sentiu o braço de Marcus rodear seus ombros. Quando o olhou, viu como este apertava a mandíbula, isso não era um bom sinal. Quando por fim chegaram até a porta, o homem fez uma reverência zombadora, a mulher passou a língua delicadamente por seus carnudos lábios vermelhos.— Grande Marcus — O tipo parecia quase rir ao pronunciar essas palavras, era claro que queria ofender ao Marcus.— Baptiste — Assentiu Marcus com muita rigidez.— Olá Marcus, já tem muito tempo que não lhe vemos por aqui — A mulher do vestido vermelho parecia muito interessada nas pernas do homem lobo — Você cresceu muito.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 70: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Obrigado Juliette — Marcus nem sequer a olhou, era como se estivesse contendo-se — Você, sempre tão formosa — Adicionou acidamente. A garota não se ofendeu, ao contrário, o dourado de seus olhos aumentou de uma maneira aterradora para Vane que agora se aferrou com ambas mãos ao braço do Marcus. Quando sentiu que alguém lhe tocou o cabelo congelou, virou-se e descobriu que o homem lobo chamado Baptiste fazia uma careta de asco.— ARG! Como pode trazer ao braço isto?! — Limpou as mãos em suas calças.— Isso não te interessa — Marcus lhe dedicou um gesto totalmente zangado, ao que parece não lhe agradava sua expressão.— Não se zangue com ele querido — A garota captou a atenção de Marcus quando esta lhe tocou no rosto e deu um beijo em seus lábios de uma maneira provocadora. Vane olhou para cima sentindo-se envergonhada. — Avise aos seus velhos e asquerosos companheiros que estamos vindo — Marcus deu um passo atrás junto com Vane — OH não se zangue comigo! Hahahaha — A risada da garota era malvada — Mas é a verdade e sabe — Vane sentiu vontades de esbofeteá-la, o teria feito se não soubesse que terminaria morta, mas estava pensando que não era má idéia.— Ninguém pediu sua opinião — Marcus começou a caminhar para a porta, mas Baptiste lhe barrou.— Não acredito que essa deva entrar — Apontou a Vane — Não acha?— Ela entrará — E o empurrou deliberadamente. Vane nem se deu conta quando foi arrebatada do braço de Marcus e sujeita bruscamente pela cintura por Baptiste. Este lhe enterrava o que parecia ser suas unhas. Deu um grito de dor, o qual fez que Marcus arremetesse contra Baptiste, mas Juliette lhe cortou o passo, atirou-o com tal facilidade ao chão que Vane pensou que lhe tinha quebrado a coluna. De sua parte, Vane tratava de não seguir gritando mas a dor era tão intensa que sua mente estava se recusando.— Isso não foi uma boa idéia irmão — Baptiste movia seu dedo de forma desaprovadora enquanto que Juliette deixava Marcus imobilizado e o lambia o rosto — Juliette é muito boa não acredita? — E olhou à garota que lhe dedicou um sorriso triunfante — Não como esta que tenho aqui — E agitou bruscamente a Vane que se queixou de novo.— Solte-a! — Marcus agora não estava jogando, seus olhos dourados estavam ardendo e pareciam que logo explodiria — Agora! — Gritou enquanto habilmente tirava Juliette de cima, que surpreendida afastou-se dele.— E que me fará se não solto? — A voz de Baptiste soava rouca pela adrenalina que estava correndo por seu corpo.— Suficiente a ambos! — A voz de Baltazar soou quando o elevador se abriu e ele apareceu junto a Melchor, não estavam nada contentes. Isto foi suficiente para que Baptiste obedecesse.— Solta à senhorita ou deixará de se sentir homem quando eu terminar de lhe dar uma lição menino presunçoso!— Você não me dá ordens exilado — Baptiste estava rígido, era óbvio que não estava nada intimidado.— Exilados ou não lhe chutaremos isso! — Melchor caminhava ameaçador.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 71: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Isto já ficou aborrecido — Baptiste girou Vanessa e falou em seu ouvido — Logo —Sussurrou com desprezo — Nos veremos logo — E a empurrou para Marcus que procurou não machucá-la mais.— Juliette, acredito que outros nos esperam — Esticou seu braço e tomou delicadamente as mãos de sua companheira, que de muito bom grado chegou ao seu lado.— Iremos nos ver querida — Juliette se despediu e assentiu quando passou junto aos outros dois homens que estavam tão furiosos que só corresponderam ao assentimento de uma forma fria. Quando ambos os personagens se foram, a atmosfera se relaxou imediatamente, Vane estava tão assustada que quando Baltazar lhe perguntou se estava melhor não o respondeu.— Acredito que esse bastardo passou do limite — Melchor cuspiou no chão enquanto apertava os punhos.— Acalme-se irmão — Baltazar tomou o rosto de Vane — Pequena, acredito que fomos uns tolos por não te proteger, esse cabeça dura é o lider do Croix Noir.— Croix Noir? — Vane piscou em sinal de que estava se recuperando.— Assim é — Marcus a olhou irritado — É um grupo de homens lobo que detestam aos humanos e a... — Olhou-a intranqüilo — ...Seres especiais — Adicionou — Você viu como eles depreciaram Paula e os outros por serem diferentes?— Sim... Mas todos os outros que estão lá embaixo não nos olharam com bons olhos — Vane alisava sua cintura esperando não ter hematonas — Era como se os...— Repudiassem — Melchor agora estava de mau humor — Faz muitos séculos algum imbecil começou a dizer que os homens lobos de cabelos dourados eram seres de má sorte, — Deu um golpe no chão — O pior não é o que disse...— Mas sim, todos os demais que acreditaram em sua palavra — Terminou Baltazar — Os Croix Noir é um grupo que está sob as leis de a Aemilia, mas eles tem suas regras.— Ele é um homem horrível — Vane não duvidou em dizê-lo, não queria voltar a repetir sua experiência com aquele tipo.— Sua família o criou dessa forma — Marcus lhe disse — Logo, ele não conhece nada mais, apesar do mundo ter mudado, eles não o fizeram.— Você está dolorido — As palavras de Vane para Marcus foram recebidas com surpresa.— Dolorido? — O menino a olhou ironicamente.— Sim ela te golpeou muito forte — Vane se inquietou, pois era óbvio que com um golpe assim as pessoas como ele não se machucavam — Perdão — Encolheu os ombros — É que não estou acostumada a isto.— Entendo — Marcus assentiu — Acredito que é hora de passar, é seguro que estão olhando todo o alvoroço e não se importam com nada que ocorre fora, enquanto não tenha conseqüências para eles.— Refere-te ao Conselho? — Vane estava muito dolorida e até o nervosismo por aqueles a que tinham ido ver se foi.— Sim — Grunhiu Marcus e a tocou no braço — Não deixarei que voltem a lhe machucar, se eu puder evitar — Assegurou-lhe.— Não há problema sou forte.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 72: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Aqui não importa — Apontou a porta — Se eles decidem te eliminar não haverá tempo — A intimidação em sua voz a convenceu — Assim, se te disser que corra, tem que correr de acordo?— OK. Marcus tocou a porta. Quando recebeu a resposta, os quatro entraram. A habitação estava iluminada por luzes brancas tão intensas que Vane teve que cobrir seus olhos com uma mão. Quando sua vista se esclareceu, notou um grupo de 13 homens que estavam acomodados ao redor de uma mesa de cristal, a habitação branca os iluminava de tal maneira que suas vestimentas negras destacavam-se sobre sua pele acobreada, pôde ver uma mulher miúda, mas de boa compleição com um rosto cansando parada a lado de um deles. Todos olhavam a Vane com uma expressão de claro interesse, por alguma razão isto a aliviou. Havia só uma diferença entre todos os assentos e era que só quatro deles estavam esculpidos em madeira e com formas animais. Alguém tinha um touro gravado em sue encosto, outro uma águia abrindo suas asas, o terceiro um leão rugindo e o último, mas, não menos importante um formoso anjo que parecia abraçar ao homem sentado nele, isso era muito curioso pois todos os demais assentos eram metálicos e muito modernos.— Bem, aqui estamos — Disse Marcus enquanto caminhava sem hesitação para os juizes. A mesa redonda aonde estavam os treze homens se abriu na metade formando um círculo no centro, que representava uma lua cheia. Colocando-se no chão, um dos homens das cadeiras especiais, a do leão, indicou a Marcus que se colocasse ali junto com Vanessa. Quando pararam em cima desta, a lua começou a subir e a mesa a fechar-se, a lua era feita do que parecia conchas marinhas cortadas junto com outras pedras, pareciam diamantes e o perímetro que lhe rodeava era feito de cristal. Vanessa e Marcus ficaram em cima dela e à vista de todos. Baltazar e Melchor estavam agachados e com a cabeça para baixo, como uma forma de mostrar respeito para o conselho e os homens. Quando Vane fixou sua atenção, deu-se conta dos traços de cada um, para começar os mais importantes eram homens entre 30 ou 40 anos, morenos e de olhos verdes, seus rostos mostravam inteligência, astúcia e serenidade, por outro lado os nove homens ao redor tinham idades variadas parecidas com a dos outros em amadurecimento. Todos com os mesmos rasgos que os anteriores, mas em seus rostos havia um quê de curiosidade e em alguns uma grande desaprovação. Eram tão parecidos e tão diferentes entre si que somente o feito de vê-los deixavam a qualquer um sem respiração. Nas palavras de Vane "Tipos ao estilo Men Power".— Bom, se começarmos com a apresentação da jovem seria de grande ajuda — A voz do homem na cadeira de Leão, fez Vane saltar, era aguda e com uma matiz de autoridade que recordava a Marcus, o qual lhe apertou um pouco o braço em modo de advertência. Este homem era muito diferente fisicamente em alguns traços, tinha o cabelo comprido até a mandíbula e umas sobrancelhas grossas muito varonis, nem precisava dizer que seu corpo estava bem tonificado. O homem a olhou nos os olhos e ela, por um momento acreditou que ele estava lendo sua mente, mas reagiu quando este voltou a falar.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 73: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Adiante senhorita.— Sim — Vane se soltou do braço de Marcus e ficou erguida, não queria que estes homens pensassem que tinha medo. Se tinha que mostrar coragem, era esse o momento.— Meu nome é Vanessa Marlí Celi e estou ante vocês para lhes pedir que deixem o Marcus cumprir sua palavra, não mais que isso. — Vane falou com tal solenidade em suas palavras que os presentes aspiraram fortemente quando terminou.— Bom — O homem da cadeira de leão, olhou os outros três — Acredito que é momento de esclarecer certas coisas que...— Não terá que esclarecer nada, prometi vingança e a darei — Quando Marcus falou interrompendo aquele homem, os presentes começaram a murmurar entre si, Vane começou a pensar se o que Marcus disse não o faria ser preso.— Marcus — Outro dos homens falou, desta vez o que estava sentado na cadeira com um anjo esculpido. Era um homem maduro, por volta de uns trinta anos, seu cabelo ondulado curto parecia brilhar. Quando pronunciou o nome de Marcus, soou como se sua voz fosse uma melodia, era agradável à vista, alto em comparação com os outros três e de traços um pouco mais finos e elegantes — Não é necessário que interrompa ao Peter — E olhou ao homem da cadeira de leão que estava sereno meditando — Compreendemos esta situação o melhor que podemos — Olhou a seus outros companheiros — E te garanto justiça nisto — Terminou assegurando a Marcus.— De você não duvido Mateo — Marcus lhe olhou desafiante e ao mesmo tempo com um grande respeito — Mas duvido que os outros pensem igual — E olhou a todos os outros.— Duvida? — O homem com a figura de um touro no respaldo, elevou uma sobrancelha e esquadrinhou a Marcus que não desviou o rosto dele. Seus olhos eram mais perspicazes que o dos outros, de uma cor verde tão escura que chegaria a confundir-se com o negro, seus óculos quadrados denotavam que era uma pessoa muito culta, e seu cabelo curto e impecável falava muito dele. O homem juntou suas mãos e prosseguiu falando — Não está na posição de duvidar, Marcus filho de Licaón — Quando pronunciou isto, Marcus se esticou e apertou seus punhos. — Cometeu uma grave falta — Olhou para Vane sem nenhum traço de malícia, mas com severidade — Levou somente um de nossos segredo que foi guardado com cuidado durante anos — Elevou um dedo — Para não falar nos relatórios dos tutores de vocês que dizem que isso tudo tem haver com o fogo azul — Todos os presentes esticaram-se, pareceram que essas últimas palavras eram profundamente perturbadoras — Se for assim, pôs em perigo não só ao seu grupo, se não a toda nossa raça.— Uma humana não pode acabar com séculos de tradições! — Explorou Marcus — Já deixamos entrar humanos anteriormente, por que então têm que ser tão difíceis com isto?!— Não acredito que deva elevar sua voz — Avisou o homem.— Vai para o diabo Lucas! — Marcus estava soltando faíscas pelos olhos, muito ao contrário de Lucas que estava em totalmente calmo.— Por favor é suficiente — A voz do quarto homem soou tão segura e forte que Vane não pôde evitar fechar seus olhos, era como receber um repreensão sem uma intenção.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 74: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Acredito que ambos estão se comportando sem nenhuma educação e vindo de ambos isso me surpreende — O homem era de uma pele acobreada tão formosa que parecia brilhar, seus olhos verdes com pontinhos amarelos lhe dava um toque selvagem com seu cabelo revolto como se o ar jogasse com suas mechas. Não parecia ser agressivo, mas sim poderoso, pois para ter calado os dois homens de uma estatura maior que ele era óbvio que era uma pessoa de respeito. A águia na parte traseira de sua cadeira de madeira abria suas asas triunfante ante aos outros — A senhorita aqui ficará impressionada — E apontou com o olhar a Vane que não pôde evitar ruborizar-se — Não deve ver a pior parte de nós, sinto muito querida. — Vane lhe assentiu — Se estamos aqui, é para ouvir a opinião e voto dos nove representantes das tribos e esperamos que esta seja uma solução pacífica — Olhou de seu assento e todos outros incluindo Marcus, baixaram suas cabeças com exceção dos outros três homens a sua esquerda — Acredito que temos os fatos: Nosso irmão Marcus foi imprudente ao ir procurar esta garota, logo revelar-se ante ela e talvez, não duvido, lhe ameaçar — Vane baixou o olhar, não sabia como se podiam inteirar de tudo — Logo... O desafortunado incidente da família dela — Inclinou-se respeitosamente para Vane — Dou-lhe meu pesar — Olhou aos outros — Que culminou com a promessa feita, palavra de VINGANÇA por parte de Marcus o homem lobo — Todos se olharam — Bem terminado, acredito que é hora de votar e decidir o que fazer.— Alguém quer advogar por nosso irmão Marcus? — Mateo pareceu dar uma ordem, os,presentes meditaram e logo um deles elevou a mão — Zacarías tem a palavra — Assinalou ao jovem de cabelos largos negros com nariz perfilado, jovem e ao que parece indulgente.— Eu estou a favor de que Marcus cumpra sua palavra — Estava de pé e falava com suavidade — Acredito que ele, somente pelo feito de ser nosso irmão, merece que o respeitemos em suas decisões, pois ficou a frente com um fato que significaria um grave perigo se estamos falando de fogo azul. É tudo — E se sentou de novo.— Obrigado — Mateo olhou de novo a todos e outra mão se levantou, esta vez era de um homem uns anos mais velho que o outro, sua mandíbula dura e seus cortes nas mãos, braços e em uma parte da cara mostravam que era um homem duro. A mulher que Vane viu ao entrar estava a sua direita parada, parece que entre eles havia algo, pois o olhava preocupada, mas não interferiu quando começou a falar.— Estou totalmente contra — Marcus pareceu surpreso com a reação daquele tipo — Marcus deve ser repreendido por ter arriscado a nossa família em misturar-se com os humanos.— Não acredita ser irônico que diga isso David? — Marcus espetou ao homem que não se deteve em lhe responder.— Por experiência — E olhou à mulher de fragil constituição — Conheço melhor que ninguém o difícil que é conviver e proteger a um humano — Os homens de seu lado assentiram lhe dando razão — Não tinha direito de invadir a vida cotidiana desta garota humana e lhe tirar de seu mundo para introduzi-la ao nosso — Suas mãos se agarraram aos braços da sua cadeira — Foi irresponsável e muito egoísta de sua parte, não acredito que mereça a aprovação, a não ser que é suficientemente amadurecido para aceitar que te

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 75: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

equivocou e que ela pode morrer por sua causa — E apontou Vane — Esta garota é fragil ...— Um momento! — Vane elevou a voz e se repreendeu por dentro por não ter mantido a boca fechada — Mas terei que esclarece algo, não sou covarde e muito menos frágil, sei defender-me — Suas pernas tremiam, mas cuidava para que sua voz soasse convincente — Eu tenho parte da culpa em tudo e se castigassem ao Marcus, acredito que eu também mereço o castigo, não sou a vitima de tudo, somente quero justiça e se isso levar a que me assassinem para protegê-lo compreenderei. David lhe olhou surpreso e a mulher a seu lado lhe sorriu, parecia orgulhosa dela — Entendo que só procuram defender aos seus, eu o faria..— Não diga isso — Marcus lhe pegou pelo braço e a puxou para o lado dele, isto não passou despercebido por todos — Se tiver de haver um castigado, seria então o destino que nos juntou. Sou responsável e não fujo disso, mas quero cumprir minha palavra como digno irmão de vocês e não me importa se rechaçarem esta petição, eu a vou realizar.— Já vejo — Mateo sorriu e apontou a uns dos nove homens — E você Abrahan, nos diga o que opina o mais velho de todos nós, confiamos em seu critério. Abrahan se levantou, era um homem muito imponente, seus olhos eram nobres e seu olhar era velho, embora seu corpo não mostrasse isso e estava muito bem, muito melhor que certos jovens que passavam a vida sedentários. Teria a idade de Baltazar ou Melchor e quando falou foi tão sereno e tranqüilo que parecia influenciar no animo de cada um.— Obrigado por seu voto de confiança Mateo — Abrahan se inclinou — Minha opinião é muito independente do critério que tenha cada um nesta sala, não pretendo influenciar ou impor, mas o que direi é a causa de minha opinião final depois de presenciar e ler tudo sobre esse tema tão delicado — Vane se agarrou a Marcus e este segurou sua mão firmemente esperando as palavras de Abrahan — Estou a favor de que Marcus cumpra sua palavra, já que em nossa gente, dar ou fazer uma promessa é sagrado se esta se faz entre duas pessoas que ao parece compartilham um laço especial — Vane não sabia como interpretar isso, talvez suas palavras deram a entender algo mas — Não importa os enganos que cometemos no passado, isso já está escrito e não se pode apagar, nos sobra é melhorar o presente, superar e ter uma mente aberta. Tenho anos aqui no conselho, lhes digo que Marcus é velho o suficiente para tomar decisões e arcar com o que cria, é por demais dizer que leva no sangue não crê Peter? — O homem sentado no leão lhe deu um olhar severo — E não o digo isso para que aqui comece uma discussão, Marcus tomou uma decisão há tempos atrás que respeitamos. Então por que não respeitar a esta que tomando agora é consciente do que faz? Se cometer um engano quero lhes dizer que será seu engano e não o nosso, se não deixarmos voar a águia esta nunca descobrirá o que há além do ninho e isso seria uma pena. Acredito que devemos nos pôr no lugar de nosso irmão e pensar que é o que faríamos, se sua mente disser que não merece nosso apoio é totalmente respeitável. Mas pensem, vocês não se sentiriam defraudados se não tivessem o apoio de sua gente? Acredito que esta é a resposta. É tudo — E se sentou em meio de um silêncio absoluto.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 76: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

O silêncio na sala era entristecedor, todos os olhos estavam postos em Vane e Marcus que tinha um pressentimento estranho, seus braços se juntaram quando Mateo se sentou e refletiu, mas em vez dele falar, a voz do Peter soou rompendo o silêncio.— Senhorita Vanessa — Olhou-a nos olhos e respondeu com uma expressão neutra e cautelosa — Sua família foi atacada com fogo azul — Vane assentiu lentamente — Pode me dizer se sabe que significa o fogo azul?— Eu não sei — Respondeu com sinceridade — Mas aquilo matou toda a minha família.— Entendo — Peter olhou Marcus — Por que razão não lhe contaram esse detalhe? — Quis saber.— Não achamos necessário nesse momento — Respondeu Marcus e tirou a mão da mão de Vane que franziu o cenho.— Então ela não sabe ao que enfrenta certo? — A ironia de Lucas irritou a Marcus que só lhe deu um olhar venenoso em resposta — Que maduro da parte de vocês — E apontou a Baltazar e Melchor que seguiam prostrados — Supõe-se que estão cuidando de Marcus e olhem o que acontece.— Eles não tem culpa pelo meu comportamento — Marcus objetou rapidamente.— Marcus, tenha respeito aos seus superiores! — David falou com muita autoridade, mas não o suficiente para intimidar a Marcus.— Acredito que teremos que te dizer o que significa querida — Juan se levantou de sua cadeira para que Vane o escutasse claramente — Porque depois disto resolverá se está suficientemente decidida em seguir adiante e é quando então, daremos nosso veredicto.— Estou de acordo — Vane concordou o mais serena possível embora, por dentro, estava terrivelmente desesperada por saber — O fogo azul significa Morte Eterna — Juan falou pausadamente como querendo que ela escutasse tudo sem perder nenhum detalhe — Esse fogo só pode ser produzido por três seres neste mundo.

— Seres? — Vane sentia que seu estômago estava contraído e seu coração batia mais do que o necessário.— Sim — O homem a olhou na cara e disse as palavras que mais ela temia — os Licantropos, Feiticeiros .... — Parou e ao dizer a última palavra, seus lábios ficaram rígidos — Noturnos ou Nosferatus— Noturnos?— Vampiros é como os seres humanos os chamam — Respondeu Marcus com um olhar fixo — Estes, em vez de tirar sangue, o que fazem é apoderarem-se de sua força vital até te matar se eles assim o quiserem, o sangue só lhes proporciona força terrestre — Vane abriu seus olhos ante a surpresa e escutou atentamente ao Juan quando começou a falar.— Os Feiticeiros respeitam a vida dos humanos, comumente só procuram defendê-los e separá-lo de nós, mas os noturnos apesar de poderem sobreviver comendo,bebendo e vivendo como humanos normais, existem os mais velhos que não podem resistir aos humanos — Juan parecia irritado — É sua natureza assassina e infelizmente acredito que sua família foi assassinada por um que estava realmente interessado em você.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 77: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Não... — Vane levou as mãos aos lábios e reprimiu um grito, seus olhos se encheram de lágrimas em somente imaginar seus pais e seu irmãozinho sendo atacados — Mas... O sangue que vi...— Os noturnos são muito discretos mas.... Alguns adoram o sangue pelo fato de sentirem-se cômodos nele, o sangue é sagrado para eles, o elemento mais prezado que um ser humano possui além de sua força vital — Juan parecia que estava a ponto de vomitar — O sangue é como uma droga e isso os faz muito perigosos.— Por isso precisamos saber se está disposta a seguir com sua busca por justiça — Mateo estava sentado e seu olhar indulgente lhe demonstrava que o somente queria o melhor para todos os presentes.— Sim — A decisão saiu antes que ela pudesse pensar, mas só de saber o porquê do assassinato ou quem o tinha feito fez que seu corpo respondesse.— Então está decidido — Lucas se levantou e com ele todos outros.— Nossa decisão esta tomada e será respeitada — Anunciou Peter aos presentes que assentiram.— Pode cumprir com sua palavra Marcus — Mateo sorriu e acenou com aprovação ao rapaz.— Muito obrigado Mateo — Marcus sorria, sabia que estava livrando-se de algo muito delicado — Cumprirei minha promessa e lhes honrarei.— Esperemos isso — Lucas lhe desafiou com o olhar — Mas há algo mais que queremos falar contigo a sós, os cinco.— Não, obrigado.— Não é sugestão, é uma ordem de seu superior — O homem lhe olhou e sua postura se encurvou a maneira de intimidação, Marcus se encolheu e assentiu.— Pois seja bem-vinda a nossa família por um tempo, pequena — Juan desceu Vane da mesa em meio aos sorrisos dos presentes — Acredito que lhe fizemos passar um mal momento.— Não se preocupe — Vane sorriu enquanto via Marcus entrar em outra sala com os demais — Aonde...?— Não se preocupe, ele estará bem — Juan a entregou a Baltazar que a esperava com um sorriso — Aqui está, sã e salva, agora me retiro — Baltazar e Melchor fizeram uma reverência enquanto Juan cruzava a sala baixou todos baixaram os olhos.— Ele é muito amável — Comentou a seus companheiros — Também o senhor Mateo.— Sim,são grandes homens — Respondeu Melchor.— Todos os são — Baltazar olhou-a meigamente — Somente Lucas que é muito ciumento e precavido. Preocupa-se muito, por isso pode parecer duro, mas é um ser muito justo e amável, por outro lado Peter é muito calado, como você viu, é o mais velho de todos eles, mas seu lugar o põe em uma posição difícil.— Por quê?— Peter é o usurpador — Respondeu Melchor — Ocupa o lugar de alguém que deveria estar neste conselho.— De quem?— Do Marcus — Baltazar enrugou a testa — Mas esse é um tema que somente corresponde a ele lhe dizer, entende? — Vane assentiu — Bem, é hora de apresentá-la aos outros querida.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 78: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Marcus estava rodeado dos quatro superiores. Bom, em realidade de três se ver de outro ponto de vista. Desde que tinha completado 8 anos tinha procurado não ter muito contato com estes homens, havia rejeitado uma responsabilidade que não lhe correspondia e em vez da honra que significava um posto deste estilo; mas agora encontrava-se sob seu olhar que parecia não ser muito amigável por alguma razão.— Bem, o que tem para dizer? — Colocou as mãos nos quadris e olhou ao redor da sala principal, era pequena e estava adornada de mosaicos brancos com incrustações de prata ao redor, parecia que faziam um círculo para o centro onde encontrava-se uma pilha em forma de taça de onde um líquido dourado surgia a fervuras mas não se derramava. — Vá, tudo segue igual a aquela vez.— É bom saber que não esqueceu de sua verdadeira linhagem — Respondeu Juan com um sorriso.— Não é fácil esquecer o passado, não é assim? — Lucas olhou severamente e Marcus se ergueu para mostrar seu valor.— Bom, mas não foi por isso que lhe trouxemos para este lugar — Peter falou e Marcus lhe olhou surpreendido, este se limitou a desviar o olhar para a fonte, era óbvio que inclusive ele não estava acostumado a tratar a Marcus como um inferior.— Marcus, estamos aqui para avisar sobre algo — Mateo pôs uma mão no ombro de Marcus para chamar sua atenção — Quero fazer uma pergunta, me permite?— Claro— Nos diga irmão, não sente algo estranho com a presença dessa garota humana? — Juanagora estava totalmente sério e seu tom foi muito precavido.— Estranho? — Marcus, por um momento, meditou sobre a pergunta e logo respondeu com sinceridade absoluta — Não senti nada — Encolhendo os ombros — É outra humana comun e corrente.— Seguro? — Lucas elevou uma sobrancelha.— Já disse que não sinto nada — Marcus estava se irritando — Nada de nada — Enumerou com seus dedos — Nem seu aroma, nem sua presença espiritual, tudo nela é como se ... — E de repente tudo nele se esclareceu — Não existisse ...— Vá, isso é algo peculiar — Mateo dirigiu-se aos seus companheiros que assentiram — Isso Marcus, quer dizer que nada o une a ela.— Isso acredito... é estranho — Começou a arrepiar-se.— Muito ao contrário de nós — Lucas se moveu de um lado a outro.— O que quer dizer?— Marcus, nós podemos sentir em excesso aquelas coisas que você não nota — Mateo olhou Peter — Bom, em especial Lucas, Juan e eu.— Não é certo! — A voz do Marcus rugiu com advertência — Isso seria horrível.... Queria dizer que... — Seus olhos se fixaram em seus quatro irmãos — Que ela é feita para um de vocês?— Assim é — Lucas afirmou — E isso não é muito agradável já que ela é humana.— Isso não tem nada que ver — Mateo olhou com reprovação ao Lucas — O grave viria a ser que ela poderia significar um perigo para você.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 79: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Que?! — Marcus agora estava aponto de ficar colérico — É somente uma humana por favor! — Elevou os braços.— Entenda bem isto Marcus! — Peter falou tão forte que os demais ficaram calados pela surpresa — Não sentiram isso somente seus irmãos — Os demais estavam tão inquietos que Marcus teve que fazer caso a Peter — Eles sentiram a má sorte nela, está marcada com o selo da má sorte, posso ver ao redor dela, sabe bem que minha família tem essa habilidade e não estou mentindo, essa garota é perigosa para você e sua família.— É um...! — Marcus avançou sobre Peter, mas os outros o detiveram — Soltem-me droga!— Marcus não seja teimoso! — Falaram com ele — Peter te diz a verdade,ele jamais jogariacom algo assim — O tomaram pelos braços e o imobilizaram entre os três — Nós podemossentir.— Então ela também é um perigo para vocês! — Rugiu furioso.— Não — Lucas lhe torceu o braço — imbecil! Ela seria o equilíbrio para nós três, mas para você que tem o mesmo selo, seria como juntar duas bombas relógio, HAVERIA EXPLOSÃO!— Vão para o diabo! Vane estava feliz em conhecer todos outros homens do conselho, eram amáveis e sociáveis. A maioria eram jovens, somente quatro dos nove mostravam sinais de luta e viam-se mais velhos, de uma idade amadurecida. Baltazar e Mechor apresentaram cada um, Abraham era um homem muito atrativo e pela maneira em que os demais se dirigiam a ele, era lógico que se tratava do cabeça de todos eles. Logo conheceu Benjamim, o mais novo de todos eles, era um jovem alegre e ambos se surpreenderam ao descobrir que tinham a mesma idade, os seguintes foram Tadeo, Tobías e Darío só um pouco mais velhos,mas mostraram grande entusiasmo ao saudá-la com um abraço e lhe dizer que era muito bonita. Quando viu Zacarías e Jacod apresentarem-se, Vane não pôde evitar de compará-los, o primeiro era alto e com cabelo comprido com um ar amável e o segundo com o cabelo curto quase a raiz, com um corpo atletico e olhar de poucos amigos, mas quando a saudou descobriu que era o ser mas pacífico que tinha conhecido; igual quando Toma sorriu e com um olhar tímido lhe saudou para logo retirar-se à um canto da sala. Por último Baltazar conduziu Vane até o casal que havia visto juntos na hora de seu julgamento. O primeiro era David, mas o nome da mulher que estava a seu lado com um sorriso sincero e andar delicado, não sabia.— Boa tarde David — Saudou Baltazar. David se inclinou respondendo a saudação e sorriu ao ver seu companheiro, mas quando se voltou para Vane seu rosto se apagou e somente a olhou. Quando Baltazar notou isto, se apressou em fazer as apresentações — Apresento-lhe formalmente a Vane, é uma garota encantadora.— Prazer em lhe conhecer — David olhou à mulher ao seu lado que lhe sorriu com olhos cheios de malícia, fazendo que ele se ruborizasse. Um gesto assim quase fez que Vane risse — Esta é minha esposa Beth — Indicou-lhe à mulher ao seu lado, que sem demora tomou a mão de Vane para saudá-la.— Olá preciosa! — Sorria como uma menina e seu rosto iluminava a todos ao seu redor, por estranho que parecesse, esta mulher tinha o mesmo efeito que

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 80: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Paula, mas ela era diferente, não tinha os olhos verdes e isso era muito estranho .— OH! Já vejo que notou.— Ai! Desculpe, não devia olhá-la assim — Desculpo-se — Sou uma mal educada.— Hahahaha, não se preocupe — Beth a abraçou e olhou seu marido — Eu não sou como meu amado marido, mas você e eu temos em comum mais de uma coisa — Sorriu — Ambas somos humanas.— Sério?! — Vane se alegrou, era como receber um presente de aniversário, agora já não se sentia tão estranha como antes, Beth parecia compreendê-la muito bem.— Claro! Vem — Pegou-a pela mão e se despediu de seu marido com um beijo enquanto afastavam-se — É hora da conversa entre garotas, ui! Quando Baltazar viu como Vane e Beth se afastavam, voltou o olhar para seu amigo David, que parecia estar tão embevecido com sua mulher como desde o dia em que se conheceram, era amor puro.— É uma pequena humana, não machucará a seu tesouro — Sorriu.— Não diga estupidez velho — Grunhiu mal-humorado, David. Vane se sentou junto a Beth que parecia estar mais emocionada que ela por vê-la. Isso era algo óbvio de se disser, pois pelo visto, neste lugar os humanos não eram muito bem-vindos. As cadeiras em que se sentaram eram de veludo branco tão confortáveis que quem não gostaria de parar por um bom momento, quando menos por uma hora de boa conversação?— Meu Deus é tão emocionante ver uma garota como eu por aqui!— Obrigada... Acredito — Vane estava um pouco nervosa por conversar com esta mulher.— Não se preocupe em agradar a esses daí — Assinalou aos homens que estavam conversando entretidos — Ninguém te incomodará, juro — E se tocou no coração.— Eu espero isso... — Vane não sabia como responder a uma mulher com um nível de alegria acima do normal.— Deus te assustei!— Não! De forma alguma!— Tudo bem querida?— Bem— Hahaha, é encantadora — E Beth se olhou no reflexo de um espelho — Pensei que andava mal arrumada — Piscou um olho.— Não claro que não— Assim, Marcus cuidará de você.— Parece.— É um bom menino — Quando Beth disse isto Vane, sentiu seu tom um pouco maternal — E tem sofrido muitas coisas,— Como quais?— Não devo te dizer, é um segredo a 7 chaves — Colocou um dedo na boca e trancou como a um cadeado.— Mmm, mas eu não sei nada sobre este mundo e menos ainda sobre Marcus que é tão teimoso e costuma...— Exasperante?— Sim! Como sabe?

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 81: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Por que meu marido é igual — Sorriu — Todos são assim — Assegurou.— Queria poder compreender melhor o Marcus — Vane juntou as mãos — Embora agora gostaria de lhe dar uma patada — E ergueu as sobrancelhas.— Hahahaha, não é a única — Beth a observou, parecia julgar algo sobre Vane e não sabia se encontraria — Você demora um pouco entender — Olhou sigilosamente a seu marido — Agora estão tão entretidos que não se dão conta — Tocou-lhe a mão — Mas prometa que não usará contra Marcus nunca!— Juro-o— Bem, o que quer saber?— Por que Marcus deveria estar no lugar do senhor Peter?— Essa é uma pergunta muito complicada.— Se não quiser responder, não há problema.— Está bem, eu te dei minha palavra — Ficou pensativa e começou a falar — A família de Marcus era a representante do Grande Leão, seu sangue era um dos mais antigos e portanto com maior prestígio e sobre todos os demais licantropos. Todos os homens nas gerações das quatro famílias principais herdam o nome de seu antecessor e portanto a responsabilidade e a honra de dirigir a todos seus irmãos.— Hum... E por que Marcus deixou tudo?— O pai do Marcus, chamava-se como ele; era um homem muito bom e um guerreiro respeitado por todos seus colegas, apreciava a todos os seres e pensava que algum dia poderíamos conviver juntos e ser um mesmo povo — Os olhos de Beth estavam um pouco tristes — Um dia conheceu a mãe de Marcus, mas tinha o pequeno problema dela ser humana... Beth subiu o olhar.— OH!— Acredito que já adivinhou o problema não é verdade? — Vane assentiu — Quase todo o conselho que não eram na maioria estes jovens que você vê aqui, eram seus pais ou avós, opuseram-se à decisão do pai do Marcus de casar-se.— Isso é muito egoísta — Assinalou Vane sentindo-se indignada.— Eu pensava igualmente ante, mas agora acredito compreender, só tinham medo de que algo ocorresse a um dos chefes principais — Encolheu os ombros — Devemos compreender que todos se vêem como irmãos e este laço é mais forte estando em uma posição superior.— Bem... E o que aconteceu então?— O pai do Marcus se rebelou e se casou com a garota humana — Beth sorriu — Eu apenas tinha conhecido ao David quando tudo isto aconteceu, éramos noivos às escondidas, acredito que para meu marido, o pai do Marcus foi como um heroi por lutar por algo que amava — Tocou um anel que parecia ser um presente de David — Tudo para os pais de Marcus foi difícil, mas foram muito felizes até Marcus vir ao mundo, não imagina o quanto alegres se encontravam todos por estes lugares. David me contava que embora Marcus fosse em parte filho de uma humana, todos queriam no futuro o pequeno chefe, pois era o primogênito de uma das famílias mais poderosas.— Assim Marcus foi querido por todos.— Assim é — Beth segurou suas mãos — Mas como deve imaginar, havia quem não o aceitava, como o grupo Croix Noir — Vane recordou o Baptiste e um calafrio a percorreu — Esses são tão teimosos e retrógrados — A formosa cara

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 82: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

de Beth se encheu de desaprovação — Tentaram destituir o pai de Marcus, mas ninguém lhes apoiou, e assim foi durante quatro anos.— E? — Vane estava muito impaciente e sua garganta tão seca que parecia que se somente tragasse saliva se engasgaria.— Aconteceu algo terrível há 21 anos — O terror na cara de Beth avisou a Vane que o que viria não seriam notícias muito boas — A mãe do Marcus foi assassinada brutalmente.— Que horror! — Vane cobriu a boca.— O pior de tudo foi que pai do Marcus se encerrou e não deixava que ninguém visse a ele e nem ao pequeno. David estava tão preocupado nesses dias que eu não sabia como lhe acalmar — Seus olhos se encheram de lágrimas não derramadas — E começou o pesadelo.— O que foi que aconteceu?— O pai do Marcus se voltou contra o conselho, assassinou a muitas famílias de licantropos e formou um exercito com puros Lokis, diziam que estava louco — Beth quase não podia falar — Matou e dizem que cometia atos tão terríveis que são impossíveis nomear, ameaçou a todos os que não estavam com ele, que acabaria com as pessoas que mais amavam e que esse seria o castigo por lhe tirar seu tesouro.— Não posso acreditar — Vane olhou a todos os homens que agora riam e tratava de compreender o que muitos deles sentiram quando essa ameaça aconteceu.— Essa foi uma de minhas despedidas mais dolorosas. David para me proteger, me disse que não iria me ver mais, pois temia que eu fosse machucada. Só por cartas secretas me contou tudo o que acontecia — Suas mãos apertavam suas pernas — Passado um ano e então tudo chegou a seu fim...Mataram ao pai do Marcus.— O que?! Quem fez algo tão horrível? Não posso entender...— Foram os três guerreiros... — Beth olhou para um lado e pronunciou os nomes lentamente — Gaspar, Baltazar e Melchor, os legendários...—Mas... — Vane esteve a ponto de gritar, mas seu corpo tremia tanto. Quando olhou a Baltazar e Melchor, não podia por mais que quisesse compreender, o por que desse ato. Se por acaso não havia outro método... Poderiam ser tão cruéis, acaso sua cara feliz só era uma máscara e por que os assassinos do pai do Marcus agora lhe cuidavam como se fosse um filho?— Não lhes julgue — Disse Beth — Eles fizeram o melhor, liberaram-no de sua loucura ... Sabe Vane, uma vez Melchor estava bêbado e me disse que lutaram até o cansaço, cheios de sangue de seus próprios irmãos e quando chegaram à guarida onde se encontrava "O Grande Marcus", tremiam de medo, os olhos do homem estavam cheios de sangue e ódio. Com sua espada desembaiada, colocou–se em posição de ataque em frente a um pequeno baú, logo que atacou, venceu com facilidade a Baltazar e Melchor, mas Gaspar foi mais rápido e lhe feriu sua espada com o veneno dourado. A única palavra que Gaspar escutou foi um "Obrigado" e assim acabaram com o líder da família do Leão. Quando os três abriram o baú procurando o que ele parecia proteger, encontraram ao pequeno herdeiro Marcus, com cinco anos e em um estado catatônico. Tinha presenciado tanta maldade e até a morte de seu pai, que o menino não parecia mas que um bonequinho — Beth secou uma lágrima que escorreu por sua bochecha — Imagine o terrível em que se sentiram ao ver que

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 83: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

eram assassinos do pai desse pequeno, assim como compensação e respeito ao pai, cuidaram do Marcus até que cumpriu 18 anos... Claro que depois de toda essa guerra, as famílias estavam ressentidas e magoadas com o sangue Marcus, por isso quando cumpriu 18 anos, declinou seu lugar e Peter se converteu no usurpador... Por petição do Marcus.— Lamento tanto isso — As lágrimas de Vane começaram a surgir e Beth teve que voltá-la e lhe secar o rosto para que ninguém se desse conta.— Isto era um segredo... Mas eu confio que você fará feliz ao Marcus.— Eu?— Sim, algo me diz que sua ajuda fará como que sua se alma se cure, sei.— Não sei o que te dizer.... — Vane pensou em todos os sonhos relacionados com Marcus e as coisas que aconteceram depois da morte de seus pais, mas antes que pudesse responder, a porta por onde Marcus tinha entrado antes abriu e dela saíram cinco figuras.— Vamos embora daqui! — Marcus caminhava feito um louco quando pegou seu braço e a arrastou consigo — Vamos!— O que aconteceu? — Vane estava assustada por sua reação e ele se amaldiçoou por não ser delicado mas queria sair desse lugar antes de assassinar a um de seus irmãos por todas as bobagens que lhe disseram.— Não é da sua incumbência — Olhou a Baltazar e Mechor que se apressaram atrás dele.— Deixem-me sozinho! Agora! — Ordenou e eles que ficaram como pedra. Saindo do edifício, Vane sentia que seu braço ia se separar pela força que Marcus fazia e começou a irritar-se lhe dando beliscões na mão para que a soltasse — Diabos, deixa de fazer isso!— Então deixa de te levar como um animal! — Gritou-lhe quando foram por um beco, quis corrigir-se mas Marcus a empurrou para a parede e a prendeu por ambos os lados com seu enorme corpo.— Maldito seja se permito que algum desses te faça deles! — Gritou-lhe e ela fechou os olhos tampando as orelhas.— O que...?! — Nesse momento Marcus a beijou e lhe agarrou pela cintura para tê-la mais perto, seus lábios eram tão duros e cheios de ódio que Vane sentiu que a fúria vinha em sua ajuda. Golpeou-lhe e quis gritar, mas sua boca a impedia, era como lutar contra o mar quando se está afogando. Sem saber como, algo trocou de repente e correspondeu de igual maneira, fúria com fuira, ódio com ódio e paixão com paixão, movendo suas bocas a um ritmo quase musical.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 84: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

CAPÍTULO 12 - O loki

“Seus lábios quando beija meu corpo, São como notas de amor a tocar.Fazem-me chorar lágrimas de sangue.Suas mãos me provocam,Quando vêm e vão...”.

Havia se passado um mês, desde que Marcus a tinha beijado e saiu correndo, como se tivesse fugindo. Era o que pensava enquanto se olhava no espelho do provador da Loja Chanel, aonde Paula a havia levado. O mesmo homem que propôs em lhe ajudar a descobrir os assassinos de sua família lhe arrebatou os lábios num beijo possessivo e inebriante. Quando seus lábios separaram, os olhos dele eram duas chamas verdes que a atravessavam como punhais, depois a soltou e com a voz rouca soprou em seus ouvidos “Em breve nos veremos...”, se não tivesse encontrado com Melchor naquela rua, sabe-se lá o que poderia ter acontecido. Estava muito chateada com Marcus, aquele beijo... Ela não sabia o que pensar.— Vane? O que acha deste casaco para o natal? — Paula perguntou ao entrar no provador. O modelo era vermelho muito bonito, que a fez parecer com “Chapeuzinho Vermelho” com enormes olhos verdes.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 85: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— É lindo! Vane sorria com dificuldade, não pretendia estragar o passeio com Paula. Nos últimos tempos havia-se criado um laço afetivo muito intenso entre as duas, tão intenso quanto o da própria família. Mas Paula viu que Vane não estava bem, algo ia mal. Ela ainda pensava em Marcus.— Vane? Ainda pensando nele?— Ah! Não deveria estar preocupada com essa cabeça-dura... — E pegou o vestido bege que Paula havia lhe trazido para experimentar, escondendo assim sua irritação por Marcus.— Será que ele voltará?— Ah! Querida... — Paula a olhou com bom humor. — Não pense nisso. Logo ele estará aqui. No princípio de dezembro ele estará de volta.— Não me diga... O que lhe faz ter tanta certeza do retorno dele? — Vane perguntou sem acreditar no que Paula dizia, porém ela a olhou com altivez e orgulho ciente que possuía uma informação, que poderia ser revelada ou não.— Tenho certeza do que lhe digo. Isso tem haver com uma promessa que ele me fez. — Abaixou os olhos para pulseira vermelha em seu braço e prosseguiu — Quando me tornei órfã, odiava o natal, Paula falava como se sentisse saudades de um tempo distante — Marcus mudou essa situação, no meu primeiro natal junto com eles, me deu este presente. Essa pulseira é o símbolo do pacto que fizemos, nós prometemos um ao outro de estarmos sempre juntos nesta época do ano.— Entendo... — Vane respondeu com uma pontinha de dor, ao pensar em seu primeiro natal sem sua família. Estavam em novembro e o frio já era insuportável, tal qual sua tristeza. Não era o que queria pra si.— Vane? — Paula pegou em suas mãos com carinho, na intenção de lhe dar segurança. — Acredito que ele esteja bem. Não fez contato, porque com certeza deve estar investigando, procurando informações. Olhou–a nos olhos — Marcus têm muitos aliados que o protegem, não se preocupe...— Se é o que você diz... — Vane respondeu com os ombros caídos.— Ora vamos! Anima-se! A garota saiu entre saltos graciosos — Parece que terminamos por aqui, vamos pagar? Terminou a frase com um piscar de olhos.— Vou ligar para que venham nos buscar, Adolfo deve estar grudado ao telefone esperando por minha ligação, deve estar imaginando em que confusão nos metemos, Ah!Ah!Ah!Ah! Saíram da loja observando as demais vitrines ao redor. Quando chegaram à mansão Elias se encontrava tomando chocolate e Adolfo uma xícara de chá. O primeiro as recebeu com um sorriso e os braços abertos, mas o segundo lhes lançou um olhar de reprovação por causa da demora causando em Vane uma sensação de desconforto e insegurança, sentiu suas orelhas pegarem fogo. Paula passou por ele como se nada tivesse acontecido, foi direto ao encontro de Merlin, um bichano peludo que aceitou de bom grado os carinhos de sua ama. — Quando Eliseo chega? Eliseo é o irmão mais novo de Elias, um homem livre. Não que não gostasse de viver com a família, mas não desejava ter uma. Simplesmente tem o prazer de viver na solidão, o que para muitos é estranho, por que a maioria prefere viver com alguém para se apoiar.— Hum! Vejamos... — Elias pensou — Acredito que no fim de novembro ele esteja conosco, ele não gosta muito do calor. Ah! Ah! Ah! Ah! — Sim, espero

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 86: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

que retorne logo de sua vigem, fez um gesto frívolo com as mãos — Ele é um homem do mundo!— Eu o estranho muito. — A moça de cabelos amarelos falava enquanto acariciava seu gato.— Não vejo razão nenhuma, ele ter uma vida diferente, só pra satisfazer seus caprichos. O veneno na voz de Adolfo era tão claro que Paula irritou-se e lhe jogou um sapato, porém acertou Vane, o que fez, ela ficar ainda mais chateada com o comentário.— Sinto muito Elias. — O rapaz falou entre sorrisos, o que fez Vane ficar confusa com a situação.— Suponho que Melchor e Baltazar viram não é?— Sim e nos trarão uma surpresa. — Paula caminhou até os braços de Elias. — Que foi? Este a abraçou e a encostou em seu peito. – Logo estarão aqui. Meninas não fiquem ansiosas. Quando Eliseo chegou, ele monopolizou a atenção das duas garotas, contou-lhes sobre sua viagem ao amazonas junto com seus amigos. Estavam tão imersos na conversa do rapaz que nem notaram a presença de Baltazar e Melchor.— Muito bem crianças, o que temos aqui? Melchor sorria de orelha a orelha e caminhava divertido para as crianças que se apressaram em receber os presentes.— Isto sim, que é uma recepção bem-vinda, ei! — Baltazar trazia consigo Isabel que caminhou depressa para os presentes debaixo da árvore de natal.— Meu. — Disse agarrando um enorme urso cor de rosa.— Isso mesmo menina inteligente. Adolfo a pegou e lhe acariciou as bochechas.— Meu noivo. Isabel o abraçou e lhe deu inúmeros beijos na face. — Meu, meu, meu.— Vai ser isso mesmo, claro. AH!AH!AH! — Paula riu tanto que chegou a sentir dor no estômago. Adolfo lhe lançou um olhar assassino e limitou-se a levar Isabel até a uma poltrona.— Onde aprendeu essa palavra? — Baltazar lhe perguntou antes de virar para Elias que estava conversando com Melchor. — Diga-me, Marcus já chegou?— Ainda não. Parece que vai chegar amanhã.— Hum! Então... Naquele momento entrou na sala um homem tremendamente grande, tinha os olhos tão verdes que pareciam negros, seus cabelos eram uma mistura de grisalhos com preto, mais preto do que grisalhos, era o mordomo. Tinha um semblante sério e grave.— Desculpe-me Senhores. — Ele inclinou-se respeitosamente e anunciou. – Ao que parece temos uma visita.— Marcus chegou! — Paula pulou de excitação e Vane ficou com a boca seca, seu coração começou a bater em desespero, porém o mordomo afastou e ao seu lado surgiu um jovem de origem asiática com um sorriso simpático no rosto cumprimentou a todos. — Olá senhores! Há muito tempo não venho vê-los. — Paula correu para os braços do jovem que deveria ser uns dois anos mais velhos que ela, se abraçaram de modo fervoroso. — Vá, não imaginava que sentia tanto minha falta.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 87: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Seu bobo! — Paula olhou para ele com os olhos marejados, o jovem de cabelos negros enxugou-lhes as lágrimas.— Vamos ver se você realmente cresceu, pequeno lagarto. — Melchor coça-lhe a cabeça e o rapaz se afasta para evitar que Elias fizesse o mesmo.— Vá! Você deseja essas coisas Ah!Ah!Ah!Ah! — O jovem olhou para Vane que permanecia quieta observando toda a cena do canto da sala. — Quem é ela? Perguntou enquanto apontava em sua direção.— Ela é nossa amiga Vane. — Paula agarrou Vane e a trouxe até perto do rapaz. — Este é Shin, ele é nosso amigo e nosso mensageiro pessoal.— Muito prazer. — Vane o saudou e ele correspondeu com uma inclinação leve de cabeça. — Igualmente. Ao que parece é pra você que trago uma mensagem. — Todos os presentes se silenciaram ao ouvirem essas palavras. — Eh!Eh!Eh! Creio que necessito me explicar.— Sim. É melhor que se explique. — Paula o puxou pela camisa de forma divertida.— Bem, Marcus me enviou da Espanha.— Que diabos ele está fazendo na Espanha? — Adolfo interrompeu o rapaz de forma ameaçadora. Shin continuou a explicar sem se intimidar com o tom da voz de Adolfo.— Ele me pediu para lhe entregar isto. — Vane pegou a carta das mãos de Shin. – Ele disse que era muito importante. E para os demais me disse que não virá neste natal.— O que!? Depois de um tempo, Shin explicou que atendeu ao chamado Marcus. Se encontraram em um bar perto de uma praça, não sabia para onde ele ia e nem o que procurava. Enquanto conversava com Marcus, notou que ele não estava bem. Todos ficaram perturbados com a notícia, sobretudo em relação a carta que ele enviou para Vane. Segurou a carta como se fosse a única salvação dele, se Marcus estava ferido era por sua culpa, se algo aconteceu, ela nunca se perdoaria.— Bem, isso é tudo. Shin cruzou as pernas abaixo da mesa e se reencostou em Paula que lhe afagou os cabelos, em sinal de apoio.— Muito obrigado por nos ter trago essa mensagem, Shin.— Por nada, mas tenho algo a mais para lhes dizer.— O que se passa? — Adolfo estava sentado no salão principal e parecia não estar nada contente em saber que seu amigo Marcus estava mal.— Bem. Shin parou e pela sua fisionomia, Vane pressentiu que o que ele estava preste a dizer não ia ser nada bom. – Devo preveni-los sobre o que está acontecendo em algumas regiões da Europa.— Prevenir!? Paula arregalou os olhos e tomou as mãos de Shin, que seguiu olhando os olhos dos demais naquela sala.— Sim. — Este suspirou. — Nos últimos meses, anda desaparecendo muito “lokis”, há rumores que estão sendo mortos.— Deus, isso é terrível.— Sim, porém nada pode confirmar nada. Empunhou suas mãos e viu os olhos de Vane. — Muitos dizem que podem ser nossos primos, “os vampiros”. — Vane quase gritou ao ouvir esta revelação. Não podia acreditar que os

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 88: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

possíveis assassinos de sua família tinham haver com os lobisomens, definitivamente isso não era normal.— Você está correndo perigo, conte conosco. — Elias olhou para Shin que assentiu.— Não sou nenhum covarde, se sou um loki, esconder-me não me salvará de nada. Olhou para Paula que lhe sorriu. — Além disso, minha família serve por séculos a de Leon, sendo assim Marcus é meu amo.— Nós entendemos que você é um lutador valente, fique conosco esta noite, suponho que você pretenda partir amanhã cedo. — Dito isso, Adolfo levantou-se para sair da sala.— Agradeço-lhe por me permitir passar a noite aqui.— Bem, quero me conte o que fez durante este tempo. — Paula abraçou Shin e o levou para o jardim, atrás deles estava Eliseo, observava Shin e a atenção demasiada de sua amiga.— Eles se dão bem, estão felizes. — Vane sentou-se ao lado de Isabel que brincava com seu urso novo. Olhou seriamente para Baltazar.— Sim. Mas o que Shin disse é muito delicado.— Por quê?!— Duvido que os vampiros estejam por trás desses ataques. — Melchor parecia muito irritado, mas ao ver a cara de incredulidade de Vane, decidiu lhe explicar – Não é só vampiros que podem atacar lobisomens.— Então, quem mais poderia?— Outro de nós — Baltazar caminhou até ela.— Isso seria impossível, como poderiam atacar a... — Mas Vane não terminou, pois olhava para os homens, lembrando-se de Baptiste e o quanto ele foi cruel com ela — Falam dos “Croix Noir”?— Não somente deles, em nosso mundo há muitos seres que poderiam te machucar muito mais do que você possa acreditar — Disse Melchor.— Porque matar um loki? Eles não são iguais a um lobisomem?— Hum... Hum... Os lokis não são exatamente como nós. — Baltazar sentou-se próximo a ela — Não que sejam menos que nossos irmãos. Vou te explicar para que você possa compreender a nossa hierarquia. — Vane assentiu. — A parte mais alta de nossa espécie se encontra a família dos “Aemilia”, que encabeça o conselho que é formado por quatro famílias principais ai segue-se as castas; as dos “Croix Noir”, os “Heiligtum” e os “Bard”, que são responsáveis pelas regiões do planeta, ou seja, eles se encarregam de vigiar outros lobisomens, que se encontram em seus territórios,ao contrário de manter os inimigos a distância,eles vigiam de perto. Como os filhos dos “Eclipses” e os “Mestiços” que são a mistura de um membro de uma das famílias com um “humano sol” estes se dividem em “Adelphos” que protegem e servem os clãs dos “Heiligtum” e os “Apolline” que seguem os “Bard”. Compreende?— Sim, mas onde estão os “lokis” ?— Na hierarquia, eles são os últimos, são os filhos de um “Mestiço” com um “humano sol”. Baltazar olhou em direção a porta onde havia deixado Shin. — Os lobisomens mais fortes são da família principal, eles podem alterar sua aparência quando querem, de acordo com a lua se tornam mais fortes, muitos possuem os sentidos cem vezes mais agudos que de um ser humano. Outras castas possuem menos poderes, mas podem controlar seus instintos lunares como os “Aemilia”. Geralmente os “Mestiços” preferem controlar seu lado

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 89: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

selvagem, e vivem tranquilamente em suas cidades, porém com “os lokis” são diferente, eles perdem a consciência quando se transformam, não tem controle ao se transformar, podem ferir ou mesmo matar alguém querido. Só se transformam na lua cheia e não tem as mesmas habilidades que os outros, são de certa forma humanos comuns, porém com uma percepção alterada.— Entendo, há de ser muito difícil para Shin, verdade?!— Se é difícil? Por isso “os lokis” se põe a disposição da família “Aemilia”, para que estes possam controla-los. — Melchor golpeou a parede com força. — Mas os demais os consideram um perigo, uma abominação,por isso estão matando, acabando com um de cada vez. É mais fácil, especialmente para os “Croix Noir”, eles são orgulhosos de sua raça.— São horríveis!— Sim, mas muitas famílias sentem o mesmo. — A voz de Baltazar se tornou amarga. — Shin é um exemplo de que um “loki” pode conviver com outros sem problemas, ele pode controlar seus instintos e trabalha duro para ajudar e ensinar os companheiros que sofrem do mesmo mal, porque se “loki” matar um ser humano ou um de sua espécie, ele enlouquece e morre. Vane não pode evitar em recordar de seus sonhos. Nele Marcus era sedento de sangue, os olhos vermelhos, injetados de sangue, o ódio corria em suas veias como se fosse sangue. Seu corpo tremeu só de pensar que ele poderia estar correndo perigo.— Marcus é um “Eclipse” verdadeiro? — Esta pergunta saiu dela sem que pudesse evitar.— Sim. — Baltazar lhe respondeu com uma expressão aborrecida. – Creio que você sabe o que isso significa.— Ele está em perigo. — Ao afirmar, ela se convenceu que era hora de buscar Marcus e embora segurando a carta firmemente, prometeu encontra-lo e descobrir quem foi o assassino de sua família, não importava o custo. Era noite, Vane se encontrava diante do espelho de uma cômoda, estava olhando cuidadosamente a carta que lhe foi enviada por Marcus, era um papel amarelo, estava manchado e enrugado, talvez por ter escrito a mensagem muito rápido, a caligrafia era grande e clara e a parte de trás da folha estava o nome do destinatário. Por alguma razão, ponderou muito antes de abri-la e saber o que estava escrito. Lentamente rasgou o envelope de dentro dele saltou uma moeda e um cartão. Vane a pegou e viu que se tratava de uma moeda mexicana e em seguida olhou o cartão e leu a pequena mensagem: “Pombinha não deixes de escrever... Até. Marcus”

— Eu não acredito! — Vane balançou o cartão, indignada com aquela mensagem, “Marcus só pode estar brincando comigo” acreditou. — É um... — Por um momento suas ideias clarearam e ela novamente leu o cartão cuidadosamente. — “Escrever” — Ei – Tudo está claro. “Bem hoje eu continuarei com sua história”. Shin estava dormindo no quarto de hospedes. Sua respiração era lenta e relaxada, seus braços e pernas possuíam cicatrizes devido às transformações desde a infância, uma mão branca e larga subia por seu torso. Sorrindo, ele pegou as mãos da garota que vinha perturbá-lo.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 90: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Paula. — Tirou suas mãos e as colocou para o lado. — Você sabe que deve me deixar dormir. Amanhã estarei de partida. Me deixa descansar, já lhe disse tudo a respeito do meu encontro com Marcus.— Oh! Bem... Está difícil de resistir... — Ele tomou-lhes as mãos e pulou para fora da cama, embora fosse mais velho que ela, sempre se trataram como irmãos e isso criou uma relação especial entre eles. — Não consigo evitar ficar triste. Caminharam até a varanda e se apoiaram para ver a paisagem. — Amanhã você parte e não saberemos quando iremos nos ver novamente. Por que você contou sobre os ataques, isso é algo sério e eu me sinto inquieta.— Tudo vai acabar bem. — Shin olhou para a lua coberta por nuvens — Nós “os lokis” temos esperanças... — Seus olhos refletiram por um momento. Toda dor da responsabilidade de ter que viver de acordo com a vontade de alguém. — Acredita que essa jovem poderá fazer alguma coisa?— Você se refere à Vane?— Sim. Ela é especial, pude notar pela sua aura, é como se te envolvesse com ela, não se pode ver, mas pode sentir. — Marcus confia nela. — Paula suspirou enquanto ele caminhava rumo ao quarto e lhe perguntou: — Mas... E se ela acabar com ele?— Marcus é forte, ele jamais se rende. Por isso é um líder natural.— Talvez você tenha razão. Só espero que seu instinto natural o ajude a tomar a decisão certa.

A rua por onde caminhava com cautela era escura como um buraco negro, a umidade nas paredes cobertas pela sujeira cheirava a esgoto velho, ele se encontrava encostado na parede enquanto a chuva caia pesada em sua face, seus ossos estavam congelando. Marcus desejava que o que estava preste a fazer valesse a pena para afastar-se de seus amigos e de sua casa. Quando estava em frente à porta negra de madeira, viu o número treze em prata, seu instinto lhe dizia que ao atravessar aquela porta não haveria volta, mas aquele lugar o atraia como se fosse mariposa para a luz “se aproximar muito, se queima” disse ele, e bateu três vezes para chamar.— Quem foi o rei mais sábio? — Perguntou uma voz roupa do outro lado da porta. —Marcus — Sussurrou a resposta: — Salomão. — A porta se abriu, revelando o interior de um corredor iluminado com a luz cálida das velas. O lugar não havia mudado desde a última vez em que esteve ali, juntamente com seus dois amigos Elias e Eliseo. Devido a uma confusão, acabaram por ser expulsos do local. Nessa ocasião a porta havia rachado em sua cabeça e o número treze tinha sido a última lembrança dele antes de perder a consciência.— Bem vindo ao Club Salomão, vamos entrar? — A voz do homem o trouxe de volta ao presente, o jovem era alto, de corpo atlético, com a face amarrenta, acentuava-lhe as características de um homem rude e bem mais velho. Usava uma jaqueta preta e um relógio prateado com número em vermelho que indicava que o integrante ocupava o lugar.— Claro! — O homem curvou-se educadamente e o levou através do corredor, após descer as escadas, que parecia levar a um porão ouvia-se um rock pesado e o brilho dourado resplandecente do piso ofuscava os olhos, o lugar exalava um aroma exótico.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 91: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Pode me dizer onde encontro a senhorita Salomé? — Perguntou assim que entraram no salão.— Minha Senhora Salomé virá atendê-lo. Terá que aguardar um momento. — O jovem fez a indicação a uma garçonete vestida de verde, que prontamente veio atender o cliente recém chegado. — Ela o levará até sua mesa, daqui a pouco minha senhora virá falar com o senhor, — A garçonete veio atendê-lo com um sorriso nos lábios, o rapaz saiu a passos largos.— Bom dia cavalheiro, se me permite. — A garota lhe entregou uma toalha para secar a água e o guiou entre as mesas, que era uma mistura de cama sem pernas, com encostos grandes, onde várias almofadas e cortinas contribuíam para a decoração daquele ambiente, cortinas semitransparentes emprestavam ao lugar uma falsa privacidade aos hospedes do club, a atmosfera era misteriosa e os clientes não eram seres normais. Marcus sentou-se próximo a um grupo de bruxo e bruxas. Ele observou os olhos cor de violeta dos seres, então soube do perigo que estes representavam para outros seres, pois poderiam ficar encantados, presos só em olhar para aqueles olhos. Rapidamente desviou o olhar e deparou-se com um loki, que comia depressa e uma garçonete vestida com um uniforme verde, ela trazia em suas mãos uma jarra de cerveja. — Senhor? Este é seu lugar, fique a vontade. — A garota ao seu lado o trouxe de volta. Ele a olhou e viu um belo rosto a sua frente, seu uniforme verde consistia de uma saia curta, botas negras e um manto da mesma cor cobrindo o corpo sensual, possuía um pequeno relógio pendurado no pescoço. Suas sobrancelhas arquedas combinavam perfeitamente com o cabelo que estava amarrado em um coque. Era uma garçonete do segundo nível.— Por hora traga-me um wiski. — Ele sorriu, a garota devolveu-lhe o sorriso e o olhou bem nos olhos e se foi. Sozinho, notou que entre as garçonetes havia uma jovem de cabelos curtos até os ombros, seu uniforme era vermelho, sem dúvida era uma aprendiz, ela caminhava entre as mesas com uma visível apreensão, o nervosismo dela estava a flor da pele, era possível ver pela maneira em que ela anotava aos pedidos.— Senhores, o pedido de vocês. — A jovem falou ao chegar perto de um grupo, onde homens e mulheres riam ,estavam eufóricos, alterados. — Com sua permissão. A garota se retirou quase chorando de medo. Marcus não entendia porque no mundo nasciam esta classe de humanos com capacidade para conviver entre eles. Não terminou de concluir seus pensamentos. A garota tropeçou em outra garçonete vestida de verde que estava atendendo um rapaz de olhos azuis e pele de um branco rosado muito intenso. O jovem era acompanhado por duas mulheres, todos vestiam negro, os olhos estavam muito maquiados intensificando o ar sinistro e aparência dos mesmos, viram a irritação da garota ao topar com a garçonete, o jovem de olhos azuis sorriu e evitou a queda da garçonete vestida de vermelho. — Obrigada Senhor, não foi minha intenção...— Eu não faço nada sem receber um pagamento. — O jovem de cabelos castanhos pronunciou essas palavras e sem avisar tomou o pescoço da jovem garçonete que gritou em pânico e queria fugir. A outra garçonete vestida de verde, de uma maneira rápida conseguiu livrar a moça das garras do jovem rapaz com uma força absurda.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 92: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Sinto muito Senhor Nicolas, mas essa jovem não esta na lista de pedidos. A garçonete de vermelho soluçou e os demais presentes ficaram em silêncio esperando a resposta daquele jovem que sorria de maneira perversa e até malvada para assombro de Marcus, o jovem sorria enquanto mostrava suas presas afiadas como se fossem troféus.— Entendo. — Nicolas, relutante, olhou a jovem e começou a rir; —- É apenas um jogo querida. Ah! Ah! Ah! — A aprendiz olhou com terror ao descobrir que o rapaz era um vampiro, e saiu caminhando rapidamente em direção oposta. — Já sabe o que queremos.— Sim. — Foi à resposta fria da garçonete vestida de verde. Ela se sentou junto às outras moças que como tigres cravaram suas bocas nos braços da garçonete que arregalou os olhos diante do modo rude das moças.— Marcus. — Uma mulher vestida de azul estava ao seu lado, com seus cabelos longos amarrados em um simples rabo de cavalo.— Salomé, por favor. — Marcus mudou-se de lugar enquanto olhava para o rapaz na outra mesa. Salomé sentou-se e viu as reações deste.— Seu nome é Nicolas Bathory. — Marcus a olhou intrigado; — Como viu, ele é um vampiro, as duas mulheres que o acompanham são suas guardas pessoais, ele é extremamente poderoso, veja a aura que o cerca, minha garçonete teve sorte dessa vez.— Não me agradam.— Nem todos aqui são como ele. — Indicou um outro vampiro que estava em outra mesa lendo e sublinhando um livro de poesias — Além do mais , assim como ele, você não poderia ter feito nada por ela, conhece as regras da casa. — Marcus lembrou-se de quando tinha dezenove anos, ele e seus companheiros vieram até ao club para comemorar, mas a alegria foi interrompida por causa de uma discussão com um grupo de vampiros. As garçonetes do club lhes deram uma surra e os lançaram para fora do recinto como batatas na sopa. Estas mulheres não eram simples mortais, elas tinham uma força descomunal também... Marcus observou como Nicolas e suas companheiras soltaram a garçonete de verde sob uma almofada, seus olhos estavam estatelados vendo o vazio, após alguns segundos o brilho voltou aos seus olhos, às marcas de dentes apagaram de sua pele, como se nada tivesse acontecido, levantou-se e foi atender as outras mesas.— Sem dúvida nenhuma. Vocês são especiais. — Salomé lhe sorriu e lhe entregou outro wiski que a garçonete lhe trouxe.— Obrigada. Como sempre simpático e atencioso. — Passou as mãos nos cabelos com delicadeza. — Bem o que você procura?— Informações sobre seres como esses que acabamos de ver por aqui que puderam estar aqui neste dia e hora. — Enquanto falava, entregou-lhe um pequeno papel. Salomé olhou para o papel e em seguida respondeu:— É... Esta informação vai lhe custar muito.— Se for dinheiro, não será problema...—Então, vou ver o que posso fazer, volte amanhã e você terá a informação que procura. Salomé respondeu enquanto se preparava para sair da mesa, ela parou e lhe deu um longo olhar... — O que anda acontecendo por aqui?— “Fogo Azul”, — Salomé abriu bem os olhos e ficou ali para por um momento e em instantes falou: — Você está se metendo em algo perigoso. — Olhou para

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 93: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Nicolas que começava a circular pelo recinto. — Se algum deles estiver metido nisso, não poderá fazer nada. — Sussurrou para Marcus.— Primeiro tenho que averiguar tipos como ele. Seguiu Nicolas com a cabeça. — Não são os únicos a usarem o “fogo azul”.— Você quem sabe. — A mulher concluiu se retirando e Marcus ficou de olhos fechados por um momento, como se tivesse relaxando, quando abriu os olhos deparou-se com dois pares de olhos azuis como fogo, que o olhava divertidos da outra mesa era como se soubesse de algo que Marcus ignorava.— Sai pra lá maluco! — Disse a si mesmo e saiu do lugar rapidamente para passar a noite no quarto de hotel que havia alugado. Nicolas observou Marcus sair, a muito tempo o procurava e agora podiam se ver cara a cara, sem dúvida Marcus era um grande exemplar do clã “Aemilia”. Nicolas sorriu com satisfação ao imaginar ver aquele homem com os olhos cheios de sangue, será que se parecia com rubi tal como fora o louco de seu pai?— Ah!Ah!Ah! Que divertido. — Nicolas fez um gesto e outra garçonete veio em sua direção.— Mestre. — Laura uma de suas subordinadas lhe abraçou e começou a beijá-lo na orelha... — Estou com sede... — Grunhiu como um gato. — Também estou meu amo... — Dizia Marina enquanto beijava-lhe a mão; ele as acariciou por um momento depois lhes beijou os lábios com paixão.— O que acham de beber um sangue mais encorpado? — As garotas ficaram atentas à proposta do vampiro. — Um sangue puro de lobisomem...— Mas meu amo! Não é contra as regras? — Laura estava um pouco chocada, porém sua expressão denotava uma enorme ansiedade.— Dizem que o sangue deles nos deixa loucos... — Nicolas sorria enquanto falava, — Mas já bebi tantos, centenas e eu não fiquei. Ah!Ah!Ah!— Mestre, será um prazer ir à caça, — Marina o abraçou, e então franziu o cenho e olhou indagando. — Mas quem iremos caçar?— Tenha paciência. Ele disse; — Ele virá até nós... — Disse enquanto cravava suas presas no pescoço da garçonete.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 94: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

CAPÍTULO 13 - DE VIAGEM

“Pandeiros, violões e contrabaixos Tocam sons psicodélicos, Em uma mescla perfeita de amor, Quem poderia resistir a tentação?”

O sonho começa: "Ao abrir os olhos se encontrou em um lugar conhecido, não sabia como, mas recordava o seu antigo lar, que alguma vez apreciou e teve saudades; caminhou entre os corpos de suas vítimas, podia sentir o cheiro de sangue e fumaça ao redor, haviam lutado inutilmente, tratando de proteger a seus filhos e seus entes queridos, todos estavam dormindo o sono da morte; a mansão se impunha diante dele como um titã, mas já não lhe temia, podia sentir a adrenalina correr por seu corpo, o sangue escorrendo por suas garras e patas, para onde olhasse, tudo era vermelho sangue. Quando cruzou a porta rota e estilhaçada, caminhou de forma erguida pelo corredor até encontrar um espelho, seu reflexo não o surpreendia, já não era um lobo nobre, pelo contrário, era um híbrido, a mescla de duas raças, com todo o poder e toda a escuridão dentro dele, seus

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 95: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

braços e pernas arranhados e feridos, seu cheiro de suor e tristeza; mas quando terminou de inspecionar-se, olhou de novo seus olhos no espelho, já não eram vermelhos; o azul mais puro se refletia neles, deu um passo para trás ao descobrir que já não era quem se refletia, era outra pessoa, de cabelos dourados e olhar vazio, com uma estatura e corpo similar ao seu em constituição, com a diferença de que este ser era de um branco saudável, ao contrário de sua pele, que antes era morena acobreada; este ser lhe sorria como se fossem amigos, mas por que lhe sorria? O que queria? O medo cruzou a sua mente e ele quebrou o espelho com um golpe seco e forte; os pedaços refletiam o mesmo rosto só que agora eram mais, caiu de joelhos e começou a quebrá-los em pedacinhos, um a um, sem dar-se conta que uma figura mais baixa e débil chegava por trás dele com muita cautela. Quando ele sentiu sua presença, deparou-se com uns olhos com reflexos cor de café. Aqueles olhos que o hipnotizavam, sua debilidade, seu rosto manchado de sangue lhe dizia que ela acabava de atacar, suas presas se refletiam quando sorriu perversamente. Um risinho ecoava no vazio enquanto ela acariciava sua cabeça com uma mão de cor vermelha carmim; era um toque perversamente delicioso e ambos o desfrutavam. Ele deu um passo para atrás e a contemplou sob o reflexo da lua cheia, seu cabelo castanho escuro brilhava e se confundia com a noite, seus olhos já não eram da cor que ele adorava, eram brancos ao ponto de brilhar mais que lua e a figura daquele homem que agora a rodeava com os braços e a trazia para ele lhe dizendo com gestos o que já não se podia dizer com palavras. "Ela era dele". Uma fúria incontrolável o encheu por dentro e desejou a morte dela, era uma traidora e por esse fato a mataria, embora isso acabasse com ele... Mataria.... Mataria a sua Pipoca...” As últimas palavras tecladas deixaram Vane pensando que ainda não havia ido dormir, por estar metida com seu novo Macbook, presente de Elías e Eliseo. Não era que seus sonhos tivessem parado com antecedência, mas sim, que agora estavam mais focados que antes, essa noite tinha conseguido sonhar algo diferente, se levantou tremendo e foi escrever. Quanto mais o fazia mais se dava conta que, pouco a pouco retrocedia ao momento em que tudo se desencadearia em uma desgraça; se Marcus ia se converter em um monstro, com ela havia de ser igual... Mas que classe de monstro?— Tenho uma idéia, mas é tão absurda... — Ela apoiou-se no encosto da cadeira e mordeu o lápis com o qual tinha desenhado alguns lugares que tinha visto em seus outros sonhos — Isto que sonhou tinha a ver com estas imagens, presumiu... — Ela as olhou, eram belas paisagens naturais de casas, campos, bosques e cidades pequenas, muito pitorescas; mas o que mais lhe chamou a atenção foi o desenho de dois vulcões, era como se entre eles houvesse uma relação — Tão perto e tão longe entre si — Disse para si mesma enquanto estudava melhor a imagem — Mas e se isso... — Pegou a moeda mexicana com a impressão de uma águia - tem relação com isto - e elevou o desenho — Mmmmm, acho que vou a investigar um pouco na internet.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 96: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

No dia seguinte, acordou cedo e tomou o café da manhã na cozinha com os empregados, todos eram muito amáveis com ela e lhe parecia que por alguma estranha razão estes despediam o calor de um lar; não é não gostasse de se alimentar com os outros ou algo assim, mas cada vez que se sentava a lado de Paula, sentia que o olhar de Adolfo a atravessava como uma espada, era muito incômodo, no princípio dissimulava para não lhe ver fazendo isso, mas há dois dias se cansou e lhe desafiou com o olhar. Para sua grande surpresa descobriu que ele não estava nada com pena, seu comportamento ao enfrentar o seu olhar o encheu de mais irritação, como se ela o houvesse ofendido. As bochechas de Vane ficaram vermelhas e teve que sair da sala de jantar aos tropeções, com uma Paula surpresa detrás dela, aos gritos, pedindo que a esperasse. Não queria passar mais por isso, então, agora se levantava cedo. Enquanto examinava na mesa da cozinha o desenho dos dois vulcões, uma garota se aproximou dela e a tocou no ombro. Quando se voltou, a garota sorriu alegremente.— Esse desenho foi a senhorita quem fez? — Indicou o desenho.— Ahhhhh, sim — Foi sua vaga resposta — Mas não é muito bom. Sou péssima com os lápis de desenho.— É muito lindo. Recorda-me a foto que Luis tem em seu quarto — A garota procurou com o olhar por alguém entre os serventes que estavam preparando-se para sair e fazer suas obrigações.— Hey, Luis, vem aqui um momento! — Gritou a garota a um jovem que se aproximou delas, deixando as tesouras de jardim de lado. — O que acontece, Rose? — O menino era muito bonito, se assim podemos empregar o termo em um rapaz. Sua idade refletia alegria e vontade de viver, pele morena, olhos escuros e traços suaves. Por seu acento, viu que este menino não era muito viril.— Olhe o desenho da senhorita — Mostrou-lhe – Não é igual a foto que me mostrou de seu povoado?— Vamos ver — Quando olhou a imagem, arregalou os olhos, chegando a conclusão — São os vulcões de meu povoado! — Exclamou efusivamente.— Sim? — Vane se espantou e decidiu seguir lhe perguntando — De onde é? — O menino se entristeceu por um momento, mas logo, com orgulho, a olhou nos olhos, com seus olhos refletindo o amor que professava ao seu país de origem.— Sou do México — Assegurou com um sorriso.— México? México! — Vane quase caiu da cadeira e começou a procurar a moeda, a pegou e deu ao menino — Diga-me, esta moeda é de lá?— Sim, claro, como a conseguiu?— Me deram de presente — Ela estava feliz, agora sabia aonde tinha ido Marcus — Ouça, me diga, como se chama seu povoado e os vulcões, pode chegar de carro? — O menino se aturdiu com perguntas mas logo respondeu.— Meu povo se chama Santiago Apostolo — Entregou-lhe a moeda — E pode chegar de carro, a partir da cidade do México. Os vulcões se chamam Popocatepelth e o Iztazihualth — "Os eternos amantes" — São um ícone de nosso país por sua lenda.— Lenda? — É muito romântica — Disse-lhe Rose — Conte para ela, Luis. O menino a olhou e foram para fora da mansão, enquanto ele contava a história, trabalhava no jardim e ela anotava cada detalhe importante. Se ia se

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 97: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

encontrar com Marcus nesse lugar, era melhor saber tudo o que pudesse. Quando o menino terminou de relatar a lenda, suas lágrimas não paravam de sair de seus olhos, era uma história muito triste, mas cheia de ensinamentos. Despediu-se de Luis e caminhou rumo à casa. Ao entrar no corredor chocou-se com alguém, levantado a vista percebeu que era Baptiste. Ele a olhava com um sorriso cheio de maldade, enquanto lhe tampava a boca e a empurrava para dentro de um armário de ferramentas. Ele começou a tocá-la e a saboreá-la como se ela fosse um prato delicioso.— Olá pequena vadia, sentiu saudades? Seus esforços para tirá-lo de cima dela eram inúteis, podia sentir sua respiração em seu rosto, enquanto que com sua mão direita apertava seu pescoço ao ponto de quase estrangulá-la, seus olhos lacrimejavam de frustração e se Paula não tivesse aberto a porta do armário nesse momento, não queria imaginar o que Baptiste poderia ter feito.— Que diabos faz aqui, Croix Noir! — A voz da garota se ouviu por toda a cozinha. Baptiste soltou Vane como se ela fosse uma boneca de trapo que sem força caiu sobre o chão frio. Ele deu um salto até a Paula, suas caras ficaram tão juntas que nem o vento poderia passar entre eles.— Olá pequena impura — Saudou com total desprezo — Vejo que já não é tão pequena como antes — Olhou a figura esbelta da Paula e fixou seus olhos no pescoço nu de seu traje cinza — Se... Agora é toda uma mulher — Sorriu com malícia. Mas isso não assustava ou intimidava a alguém como Paula, que o desdenhou com o olhar sedutor que sempre levava consigo e com sua delicada mão o tomou pela camisa e o jogou no chão, sentando-se sobre ele.— Muito bem — Sussurrou em seu ouvido, o homem lutou. mas para surpresa de Vane, sua amiga só parecia um pouco incomodada — Agora vai me dizer, por que está aqui?— Hahahaha, de acordo — Forçou seu corpo, mas Paula sustentou as pernas ao redor dele. Ele dando um empurrão, a agarrou com suas enormes mãos — Que bela vista tenho de você — Riu.— Não me tente! — Ela o golpeou na cabeça como podia, deixando Baptiste atordoado por um momento. Quando este reagiu, Paula já se encontrava ao lado de Vane com as mãos nos quadris e um olhar assassino — Se não me disser isso, asseguro que não sairá daqui — Ameaçou com grande segurança.— OK — Baptiste se levantou e sacudiu a camisa. Quando as olhou, tinha um sorriso triunfal e cheio de satisfação — Vim buscar um dos meus.— Dos teus? — Paula enrugou a testa — Mentira! Nenhum dos teus esteve aqui! — Gritou, mas Baptiste se encostou na parede e sorriu.— Não. Você é que esta equivocada — Farejou o ar como procurasse algo — Posso sentir o cheiro de um dos meus nesta casa — Seus olhos se voltaram com um dourado tão perigoso que Vane retrocedeu — E está se divertindo.— O que quer dizer? — Paula se limitara a não baixar a guarda, mas estava muito inquieta.— Se... Bom, meu subordinado está, neste momento, passando muito bem neste lugar sujo. — Pau...

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 98: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Vane logo que viu a figura ágil de Paula cruzando a cozinha, saiu correndo atrás dela e subiu a toda pressa ao segundo andar, quando ouviu o estrondo de madeira sendo partida. Quando chegou ao quarto de Adolfo, sua amiga já havia atirado a porta abaixo e isso quase lhe tira os olhos ao comprovar a força de uma garota como Paula. — Paula... O que.... Acontece? — Conseguiu articular com o ar quase saindo de seus pulmões. Paula só olhava para uma figura deitada de costas sobre a cama de Adolfo.— Quem é?— Juliette, vim por você — A voz de Baptiste soou divertida, quando a garota se voltou com sonolência, sua formosa figura transpareceu nos lençóis bege.— Oh, Baptiste, que linda surpresa! — Esta sorriu apoiando-se na cabeceira da cama, levando com ela a colcha para tampar a sua figura nua — O que faz aqui?— Isso pergunto eu a voce? — A voz contida da Paula interrompeu a mulher que dedicou-lhe um olhar de desprezo.— Estou falando com você?!— O que esta acontecendo aqui? — A figura de Adolfo envolta em um roupão de banho saiu para do banheiro para acalmar o alvoroço.— É imbecil!! — Paula apontou à garota que ria como tola — Ela é dos que sempre nos insultaram e feito de menos! — Vane jamais tinha visto a Paula tão zangada como neste momento, a garota tremia de ira e se via à léguas o que estavcustando para se conter — O que estava pensando?— Isso não te interessa — Grunhiu Adolfo. Isto foi suficiente para que uma Paula exasperada, caminhasse até ele e lhe desse uma bofetada seca.— Ui! não sabia que aqui as meninas tinham o controle — Baptiste estava se divertindo muito e talvez por isso, Adolfo se irritou mais, pegou o braço de Paula e a sacudiu com agressividade de tal forma que Vane pensou que o arrancaria.— Me escute bem Paula! — Adolfo estava furioso e a garota tentava escapar sem êxito — Nem voce, nem ninguém pode me dizer o que devo ou não fazer! Ou a quem diabos devo levar para cama! — Apontou Juliette — Pode deixar de ser uma menina e amadurecer!— Adolfo, está lhe fazendo mal! — A voz de Vane mal se escutava pelos gritos de Adolfo, mas alguém falou fortemente fazendo com que este se voltasse e deixasse Paula.— Solte-a agora Adolfo! — Eliseo estava soltando fumaça pelo nariz e dando passos pesados em direção a eles. Adolfo empurrou a Paula sobre cama e tirou as presas a maneira de ameaça para intimidar ao jovem lobo que se manteve a certa distância.— Muito bem, é suficiente! — Paula saiu da cama chorando mas sem mostrar que estivesse afetada pelos maus tratos — Vai para o inferno e fica com ela! — E saiu do quarto com o Eliseo atrás dela. Adolfo ficou só e quieto vendo-a afastar-se e por um momento, Vane jurou que lhe tinha doído o que a garota disse .— Adolfo... — Vane tentou se aproximar, mas este lhe enviou um olhar assassino, a mão de Elías que tinha chegado a deteve.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 99: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Querida será melhor que você vá encontrar a Paula — Sorriu-lhe — Ao que parece, não quer saber nada e nem de nenhum homem. Eliseo falou que quando descia escada, ela não deixou que ele a tocasse.— De acordo... Mas... — E olhou o Baptiste e Juliette.— Estaremos bem.— Não se preocupe impuro Elías, minha fêmea e eu iremos agora mesmo — Olhou para Juliette que agora estava a lado de Adolfo acariciando sua mandíbula que estava vermelha ainda pela mão da Paula.— Juliette, sabe que vamos te castigar por algo assim, não é? — A garota sorriu e entrou no banheiro. A garota saiu depois de um minuto com um vestido vermelho que não deixava nada à imaginação — Mas foi divertido — Olhou de novo para Adolfo e lhe piscou os olhos. — Adeus, amor.— Bem, isso é tudo — Disse Baptiste saindo com a garota — Não voltarei a te assustar — Dirigiu-se a Vane que estava protegida pelo braço de Elías — Nem sempre poderão mantê-la a salvo.— Talvez não — Assegurou Elias — Mas algum dia vão dar uma lição a esse seu enorme ego. Elías discutia com Adolfo quando Vane se lembrou que Paula necessitava de alguém a seu lado. Deixou os dois discutindo e saiu nervosa. Quando chegou ao jardim de rosas brancas, Paula estava sentada em um banco branco, não se notava que estivesse triste, entretanto sua figura frágil a fazia parecer indefesa pela forma que se agarrava as pernas e as apertava a seu peito.— Olá — Vane se sentou a seu lado e sorriu.— Olá — Paula lhe sorriu — Fui uma menina malcriada, não é verdade?— Mmm digamos que se não fosse por você agora, quem sabe onde eu estaria?— Não se preocupe, Baptiste é um cabeça dura e muito mal educado — Fez um punho — Mas se ocorrer de vir de novo...— Bem, entendo — Sob o punho — As duas ficaram caladas por um momento quase desesperante.— Ouça, Rose me falou que estava falando com o jardineiro mexicano.— Isso ahhh... — Por um momento Vane ficou inquieta em seu assento — Estava averiguando algumas coisas.— Como?— A história dos vulcões foi o que mais me interessou.— História? Mmm, eu não... — Paula estava agora com o corpo ereto para escutar melhor — Conte-me, quero ouvi-la — Animou-a.— Bem. A história começa... “Faz muito tempo no Mexico, quando as civilizações pré-hispânicas eram livres e caminhavam em paz sobre a terra, duas grandes cidades declararam guerra. Em uma dessas cidades se encontravam dois apaixonados que se professavam eterna lealdade. Ela era a princesa Iztazihuatl, uma garota realmente formosa, com seu cabelo negro como a noite e lábios tão vermelhos como o sangue, era a adoração de seu povo. Por outra parte, se encontrava o

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 100: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

jovem guerreiro Popocatepelth que servia ao rei e era admirado por seu grande valor. Uma noite quando a jovem princesa caminhava pelo lago, o guerreiro cruzou seu caminho. As estrelas sorriram quando o amor a primeira vista cruzou pelos olhos dos dois jovens, e a lua serviu de madrinha a tão doce união. Ambos os apaixonados eram felizes em se ver nas noites e contemplarem-se de dia. Iztazihualt prometeu ao seu amado sempre esperá-lo com os braços abertos, quando este teve que ir à guerra. A guerra se estendeu, o sangue, a dor e o desespero chegou a grande cidade da jovem Princesa, que todos os dias subia a pirâmide para ver chegar o seu grande amor, mas este não voltava e seu coração começou a debilitar-se pela solidão. Suas forças decaíram ao ponto de tombá-la em seus aposentos, o monarca estava desesperado, pois não sábia a razão de seu estado tão lamentável. As noites e dias caminhavam com o sol, as flores murchavam e floresciam, mas a princesa definhava. Um dia uns guerreiros feridos chegaram ao palácio caminhando orgulhosos e a princesa apareceu para ver se algum deles era seu amado, mas para sua surpresa, um dos guerreiros disse sem mais: "Nosso guerreiro Popocatepelth morreu! E seu sangue se pulveriza por toda a terra de nossos deuses, feliz pela vitória que tão corajosamente conseguiu", o discurso foi como se uma flecha atravessasse o coração da pobre princesa que caiu morta esperando encontrar na terra dos Deuses o seu grande amor. Quem poderia imaginar que o seu amor entrava nesse momento, sem uma ferida grave, pois os deuses o haviam protegido e que pela inveja de seus próprios guerreiros, esteve a ponto de morrer. Quem poderia conhecer a dor que golpeou como um punho seu coração quando viu sua bela e amada princesa prostrada e sem vida. Quando se ajoelhou para beijar seus lábios ainda mornos e tocar seu cabelo sedoso, a fúria contra a guerra, contra seu povo e contra os que haviam ocasionado tal desgraça foi tão intensa que não sabia como desfazer-se de tal fúria. Rogou aos deuses por justiça e deu castigo aos guerreiros malvados. Falou com o monarca e tomou a sua amada em seus braços. Caminhou sem rumo entre o bosque gelado, chorando seu amor perdido, suplicando aos deuses que o levassem também ou que a devolvessem. Sua pena e dor foi tão grande que os deuses lhe ouviram e falando ao seu ouvido disseram: "Toma a sua amada, vela bem, não está morta, só dorme profundamente e a única coisa que poderá despertá-la é a neve que cai nessa montanha, só servirá a neve da ponta, corre e se una a seu amor". Popocatepelth cheio de felicidade, caminhou e caminhou a toda pressa, com sua amada nos braços protegendo-a do frio que atravessava seus pulmões com crueldade, seus pés estavam tão gelados que já não sentia dor, e quando chegou ao cume, repousou a sua amada, agarrou um pouco de neve e pôs sobre suas pálpebras fechadas, mas ela não abriu os olhos e o sono que ele tinha era tão grande pelo cansaço, que lutava para não fechar os olhos, não queria que sua bela Iztazihualth despertasse e não fosse o primeiro a ver, assim que, para mantê-la aquecida, acendeu a seu lado uma fogueira e se ajoelhou aos seus pés esperando... esperando... esperando... mas ela não despertava.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 101: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Quando os moradores da grande cidade se encontravam dormindo, um tremor os despertou e qual não fora sua surpresa, pois as montanhas pareciam dançar e começaram a formar duas grandes figura; a primeira tinha forma de uma mulher dormindo e a segunda foi uma enorme chaminé que lançava chamas de tão viva e acordada. As pessoas que não esqueceram a sua princesa e o seu guerreiro elevaram as mãos em saudação ao enorme amor que aqueles dois seres tinham demonstrado. Pois até hoje as duas montanhas seguem em pé, são nomeadas de Iztazihuatl (a mulher deitada) e Popocatepelth. Popocatepelth até hoje vela por sua amada e espera fumegando, acordado, dia e noite para que quando ela abrir os olhos, ele esteja aos seus pés, mostrando sua lealdade e recordando a promessa de estar com ela para sempre. Cruzando a vida e a morte”.

Vane terminou e deu um suspiro imaginando o guerreiro ao pé de sua amada, uma cena muito tenra e cheia de amor. A lenda lhe deu segurança de que Marcus a estava esperando e tinham que voltar a se ver uma vez mais.— Deus, que linda história! — Paula secava as lágrimas — Não acredito que agora exista um homem assim?— Mmmmm não chore — Vane sorriu e também secou umas quantas lágrimas.— Quando eu encontrar o meu guerreiro eterno, você será a primeira a saber.— Bem, o mesmo digo de minha parte — Segurando as mãos uma da outra, olharam o céu azul e sonharam com a lenda novamente.— Paula tenho que ir ao México.— Irá — Assegurou a garota — Eu te apoiarei — E não houve mais palavras.

"É meia noite no aeroporto da cidade de México, obrigado por sua visita" Marcus tomou sua mochila da bagagem e caminhou pelo corredor rumo à entrada, estava fazendo frio pois a época natalina estava muito perto, só levava uns jeans e uma camiseta vermelha com uma jaqueta e boina pretas.— Bem, agora ao hotel — Ajeitou a jaqueta e foi tomar um táxi para ir ao seu destino, que se encontrava no centro da cidade o Zocalo Capitalino. Lá se encontrava esperando-o seu próximo contato que o colocaria em contato com o Tonatiu, o chefe da família de homens lobos. Um grupo pequeno, mas que lhe daria, exatamente, a resposta sobre o fogo e quem o provocou. Eram os únicos a detectarem um aroma seja de besta, homem ou planta a quilômetros e dizerem exatamente de onde provinha. Esta habilidade o ajudaria, pois tinha tirado dos restos da casa de Vane um pedaço de madeira, se um de sua espécie ou de outra teve algo que ver, Tonatiu e seu grupo o comunicariam.— Aonde deseja que o leve cavalheiro? — O taxista o tirou de seus pensamentos. Marcus acomodou-se no assento dianteiro, sorriu e deu a direção.— Zócalo — Em uma só palavra, o taxista acelerou e se perdeu na cidade enquanto ele pensava se ela teria decifrado a sua mensagem e se estava preparando-se para segui-lo, pois era tão teimosa que talvez estivesse tomando um avião agora mesmo.— Hoje é uma noite cheia de estrelas.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 102: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Disse algo jovem?— Nada, só que há estrelas – Assinalou.— Estrelas? — O taxista lhe olhou carrancudo — Aqui as estrelas não brilham, faz muito tempo que esta cidade não vê o brilho de estrelas.— A não? E o que são essas? — o homem colocou a cabeça para fora da janela e abriu a boca ao descobrir as estrelas mais resplandecentes que tinha visto em sua vida.— Pois isto parece muito estranho.— Nem tanto.... Nem tanto — Marcus ficou sério, se algo era estranho, era a sua chegada e isso não era um bom presságio.

Paula caminhava rapidamente pelo aeroporto de Londres, seguida por Vane, para o embarque num vôo para o México, ambas tinham escapado da casa com o pretexto de ir às compras. Ninguém as havia descoberto quando saíram da loja CHANEL pela porta traseira. Por certo que os outros estariam furiosos, perguntando-se aonde teriam ido, mas se não agissem desta forma, eles teriam impedido sua partida.— Olhe, aqui estão os tickets de viagem — Shin apontou para Paula. Ele sorria e agitava os ingressos enquanto se aproximava delas com alegria.— Voces chegaram a tempo! — Parou e revisou se elas estavam preparadas e ao ver que não levavam bagagem, olhou-as espantado — E suas malas?— Não há problema — Paula tirou da bolsa seu cartão de crédito especial. Como resposta a isto, Shin sorriu e os três repartiram as passagens.— Bem, agora é só embarcar. Quando estivermos voando, vou tomar uma sesta — Olhou para Paula que estava vermelha pela corrida — Espero que isto não traga mais problemas, estou metido até o pescoço por ti preciosa.— Vou recompensá-lo por isso — E piscou um olho — Preparados?— Sim — Vane tomou seu cachecol e o passou por seu pescoço para cobrir seus tremores faciais.— Então ao México! Os três se encaminharam para o embarque onde uma aeromoça tomou os ingressos e os dirigiu ao interior da aeronave. Uma outra ficou para fechar a porta, mas justo nesse momento, uma mão branca e rosada a deteve com uma força impressionante. De impulso, tomou a garota pelo pescoço e o quebrou. Duas figuras femininas caíram sobre o corpo ainda quente de vida, enquanto o garoto dos olhos azuis como chamas sorria e esfregava as mãos como um menino que acabou de fazer uma travessura.

Vane não sabia como tinha chegado a este lugar, quando abriu os olhos se encontrou em uma cela escura e úmida, parecia ser muito antiga pela forma das barras e paredes de tijolo, suas pernas e braços doíam tremendamente e por mais que quisesse se levantar, só conseguiu se cansar e retornar a postura que a haviam deixado. Podia ver a lua pela pequena janela coberta com barras, isso lhe dava uma idéia do tempo que tinha passado. Recordava de ter saído do aeroporto e logo

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 103: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

tudo se obscureceu. Estar completamente imobilizada em o chão frio a fazia sentir-se muito impotente, era como estar acorrentada.— Paula, Shin! — Seus olhos se abriram ao pronunciar os nomes de seus acompanhantes. Até este momento não os via por nenhuma parte, só o silêncio sepulcral da cela a acompanhava — Tenho que achá-los... E-eu — Tentou levantar-se mas só conseguiu inclinar-se para um lado, os ossos doíam e seus gemidos se repetiam como eco ao redor — Por que sou tão inútil neste momento? — Perguntou-se desesperada quando caia sobre seu peito e voltava a estar quase na mesma postura de antes. Foi nesse momento que ouviu uns passos ou parecia isso, colocou seu ouvido no chão e escutou atentamente, pareciam os passos de mais de uma pessoa e algo que era arrastado. Sua pele ficou arrepiada, pois era óbvio que seus sequestradores estavam se aproximando perigosamente dela. O que queriam? Logo umas figuras encapuzadas abriram com rapidez a cela, entraram arrastando um corpo muito ferido e o jogaram ao seu lado com um golpe seco que fez que fechasse os olhos por puro instinto. Quando voltou a abri-los, seus captores continuavam ali, observando-a com curiosidade ou isso lhe parecia pois não podia ver seus rostos por causa do capuz e da enorme escuridão. Ela manteve a vista alta e decidida o quanto pôde, não queria lhes mostrar medo, isso era a última coisa que faria, mas tudo mudou quando ouviu o gemido de seu acompanhante, seu olhar se desviou deles e se dirigiu para o corpo quase nu, cheio de feridas e sangrando de um jovem.— Deus meu, Shin, o que lhe fizeram! — Reconheceu o cabelo negro e o verde de um de seus olhos que estava aberto. Haviam-no espancado até convertê-lo em uma massa de sangue, carne e ossos.— Shin, me responda! — O menino estava concentrado, apoiando-se nos braços com tal força que parecia que iriam quebrar-se. Era tão doloroso vê-lo. Começou a se arrastar para poder tocá-lo. Esticou a mão e quis acariciar uma parte de sua cabeça mas ele se esquivou rapidamente.— Não, por favor — Disse com um gemido que soava mais uma a súplica — Peço-lhe que não me toque.— Oh, mas o que está dizendo?! — O menino estava aterrorizado por alguma razão. Era possível que Vane lhe desse medo? — Shin, eu não vou te machucar — Quis lhe tranqüilizar.— Você não — Disse com muita dor em cada palavra, olhou para os raptores que seguiam a cena.— Eu suplico, não me façam isto! — Shin parecia fora de si e seus olhos começaram a chorar.— Não podem ser tão cruéis, eu imploro! — Estava desesperado e enquanto se arrastava, ele seguia pedindo algo que Vane não compreendia.— Sabem perfeitamente o que acontecerá. Por favor! Não podem nos fazer isto — Conseguiu chegar até a bota de um dos homens, mas ele recuou andando em volta e a força de seus passos retumbavam nas paredes.— Não! — Vane não agüentou nem um momento mais e se dirigiu a eles — São uns monstros! O estão matando — Os homens não pareciam querer lhes

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 104: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

responder, mas aquele que havia ocasionado os novos soluços de Shin se dirigiu a ela com uma voz aguda e desajeitada como se de um felino.— Monstros? — Perguntou — Suas palavras saltaram no ar, tão cheias de ódio que pareciam milhares de adagas venenosas.— Se isso for o que são — Vane se surpreendeu quando o tipo se aproximou e tomo-a pelo cabelo a arrastando para junto de Shin que recebeu o impacto tentando protegê-la.— Pessoas como voce e essa Raposa não devem existir, são tão débeis que dão asco!— Por favor! — Voltou a ouvir a voz de Shin naquele repugnante lugar cheio de miséria.— Se deixasse de suplicar, se sentiria melhor — Vane quase pôde notar uma nota de alegria na voz daquele monstro — Se ela te ajudasse a te sentir melhor — apontou para Vane — Só tem que esperar a lua cheia — Apontararam o céu onde resplandecia a lâmpada natural do mundo — Só três dias — Soaram em coro — E quando isso acontecer... — Estaremos aqui para acabar com seu sofrimento.— Q-o que? — Vane só pôde pronunciar estas palavras, mas os homens com a mesma rapidez que chegaram, partiram deixando-os a sua própria sorte.— Me perdoe Vane — Disse Shin, tentando abraçá-la mas suas feridas eram tão grandes que sequer conseguia levantar seus braços — Não pude protegê-las.— O que acontecerá em três dias? — A pergunta atravessou o corpo de Shin como uma espada. Seus músculos se contraíram e sua respiração se fez mais difícil até ao ponto de não saber se estava tendo um ataque. Diante dessa reação, Vane imaginou qual era a resposta.— Vou te matar — As palavras de Shin ressonaram na cabeça de ambos. Com que restou de suas forças, ficaram esperando seu destino.

Paula estava dormindo em uma cama limpa e cheia de flores de girassol a seu redor, seu cabelo fazia um perfeito contraste com as pétalas que se misturavam com os fios de seus cabelos, sua beleza era tal, que podia deixar a qualquer ser babando e desejando ter essa beleza perfeita para ele. Estava dormindo sem saber que seus amigos agora mesmo estavam passando por um dos piores momentos de sua vida. Dormia tão profundamente que nem notou a mão grossa, cor de canela, de um homem que lhe acariciava a bochecha com suavidade tal que parecia mais uma adoração que outra coisa. Dos lábios desse ser puderam sair as palavras que poderiam descrever Paula a menina-mulher nesse momento encantador.— Perfeita!

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 105: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

CAPÍTULO 14 - LUA QUEBRADA

“Sirva-me uma tequila babyE ponho a garganta para cantarSons agudos se mesclamComo sal e o limão dos seus lábios”

— Se nunca recorri a você, agora é o momento Tonatihu.

A voz do Marcus parecia decidida, cheia de força e isso era o que ele transmitia ao homem de barbas chapeadas que estava sentado a sua frente em uma cadeira de carvalho, esculpida com delicadeza e desenhada

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 106: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

exclusivamente para o chefe da família que se encontrava naquela sala. Os homens e mulheres rodeavam o seu chefe, como forma de protegê-lo e para atacar e evitar derramamento de sangue, caso necessário. Marcus tinha chegado ao Mexico com a informação que tinham fornecido a ele no Salomon´s clube, sabia que neste país existia um pequeno grupo de homens lobo, mas com grande força. Quando teve a oportunidade de reunir-se com aquele grupo, notou a diferença que havia entre eles, o grupo era composto de homens com olhares penetrantes era como se soubessem o que ele pensava. Era de tamanho um pouco menor, mas sua postura denotava poder, todos falavam com respeito ao homem mais velho e pareciam guardar segredos por detrás de suas conversas, que eram fascinantes.— Marcus, filho daquele que derramou nosso sangue. — Marcus se esticou ao escutar a afirmação do homem velho e cego sentado na cadeira — Vem a esse pequeno grupo pedir um favor que o está preocupando? Como desceu o seu status.— Fiquei sabendo de fonte segura que você o único lupino capaz de ver todo aquele que esta relacionado com... — Fez uma pausa quando os dois tipos mais grandes do grupo se encurvaram — O fogo azul.— Ah! — O ancião cego levantou as sobrancelhas pela dedução acertada — Então acredito que serei útil.— Peço que me ajude — Marcus ficou de joelhos ante o assombro dos presentes — Não sou melhor que vocês ou seus descendentes — Olhou os olhos de todos — Mas como homem lobo que somos, podemos compreender que este favor perdurará no sangue de meus descendentes pela eternidade até que seja pago.— Levante Marcus, o leão. — O homem fez um sinal e uma mulher morena com uma cicatriz no rosto o ajudou a parar. — Ajudarei você. — Marcus inclinou a cabeça em agradecimento — Mas... — O ancião se aproximou de Marcus — Acredito que o favor será devolvido a minha família mais brevemente, uma vez que já precisamos dele.— Como você disse?— Ela é minha filha Marinha — Apontou à mulher que assentiu — Ela tinha um marido chamado Tlaloc. — O silêncio na sala era tal que parecia que a respiração do ancião era a única presente — Ele era um Homem Jaguar — Marcus se levantou ante a revelação.— Estou seguro que você está surpreso — O ancião parecia cansado e muito velho — Mas eles são nossa família, somente optaram por uma outra forma de proteção.— Entendo você. — E recordou a sua mãe sorridente e dizendo que ele o era o menino mais lindo do mundo, ambos abraçados e soltando pipa.— Obrigado por sua compreensão — O ancião se apoiou um pouco em um suporte que lhe foi trazido por um menino de cabelo encaracolado — Ele é amigo do meu neto — O menino olhou o Marcus, seu olhar parecia de um homem mais velho. — O marido de minha filha morreu faz um ano, e a família dele não perdoa que tenha sido ele e não minha filha — A mulher parecia muito debil neste momento — Assim eles tomaram a seu filho Chac e o levaram.— Você quer que eu recupere o menino — Disse afirmando.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 107: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Assim é. Não desejo que a família dos jaguares rompa relação com os meus — A mulher derramou lágrimas — Mas ver e sentir a dor de minha filha é mais do que um ancião como eu, com 500 anos, pode suportar.— Mas toda família dele esta contra vocês?— Não — O ancião tomou o ombro do menino ao seu lado — Somente o grupo de seus três irmãos. Aparentemente alguém colocou coisas na cabeça deles, que não escutam a seu lider, a mãe e conselheira deles. Ela veio e disse que temos sua permissão para procurar o meu neto. Se agora você está aqui, é por que os céus assim o querem— Assim seja. — Marcus estendeu a mão e apertou a do ancião — Mas primeiro me dirá o que vim saber.— Uma promessa é uma promessa — Ambos caminharam para outra sala.

Adolfo estava muito inquieto. Quando o tinham informado de que elas foram ao México entrou em estado de fúria, até mais quando soube que Shin as tinha ajudado. Mas isso ajudou a saber onde se encontrava Marcus, desta forma pôde tomar a decisão de ir a esse lugar, e avisou a Elías e Eliseo. Ambos queriam ir, mas Adolfo considerou que deixar o Elias era melhor, para que ele cuidasse da casa e elas chamassem embora duvidasse disso.— Bem Eliseo acredito que isto nos vai tomar um tempo. — O rapaz sorriu e mostrou seus dentes.— Eu posso encontrar o aroma de minha menina onde esteja — Adolfo girou os olhos para trás.— Só espero que sua "menina" não tenha cometido uma estupidez— Ela é muito forte — Eliseo confiava tanto na Paula que provocava nausea em seu companheiro de viagem, como era possível que essa menina tivesse tanto poder?— Espero que esteja se saindo bem — Disse com um tom assassino — Por que quando a encontrar serei o pirmero em lhe dar umas boas palmadas das quais ela sempre precisou.— Hahahaha... Se você colocar as mãos em cima... — Eliseo era jovem mas não estúpido — Quero até ver essa tentativa.— Fecha o focinho "Lassie".

Era a segunda noite naquele horrível lugar, tinha muita sede e sentia que seu corpo estava ressentindo da falta de comida, havia muito frio que soprava constantemente tornando difícil a possibilidade de esquentar as mãos que estavam geladas. Vane havia se recuperado sozinha, as costelas ainda doíam um pouco e a dor dificultava a respiração, mas não estava se saindo tão mal como Shin. O pobre estava quase curado, mas havia se esquecido e não deixava ela chegar muito perto, seus olhos estavam avermelhados e não dormia para nada, estava muito nervoso, suas roupas estavam rasgadas e seu corpo cheio de cicatrizes. Quando ela ficou quieta olhando-o ele recuou um pouco mais.— Shin, não tenho medo que você possa me machucar. — Disse exasperada, o menino parecia não ouvi-la, estava tão concentrado em não detectar seu

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 108: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

aroma que fazia todo o possível por afastar-lo de sua mente. — Por favor, eu estou tão preocupada com ela quanto você! O menino sequer reagia a estas palavras, Paula era muito importante para ele. Quando tinham viajado no avião, ambos lhe contaram que se conheciam desde meninos, que inclusive faziam aniversário no mesmo dia, toda uma vida amizade.— Eu também a amo, é minha amiga — Vane derramou umas lágrimas pensando no que estariam fazendo a Paula — E sinto tanto havê-los trazido para este lugar.— Não se culpe — Shin olhou tranqüilo, parecia que o conhecimento de que sua amiga podia estar em perigo fazia com que reagisse — Paula é forte e ela sempre tem do seu lado a sorte.— O que acha que estão fazendo com ela? — Se contraiu numa expressão de dor.— Não sei. — Olhou através das grades da janela — Mas em vez de estar preocupada com ela, deveria temer por você. — Vane se sobressaltou ao ver que ele tinha toda a razão — Amanhã de noite não serei eu, por anos estive treinando e pude controlar a besta por pouco tempo, mas sempre estive entre outros que podiam me acalmar.— Então pode ser... — Mas Shin não permitiu que ela terminasse.— Não — Sua expressão tornou-se sombria. — Eu vou te atacar, você se depesdeçará e nem sequer saberei quem sou ou quem é você, não serei Shin.— Confio em você — Vane engatinhou até ele e tocou seu rosto muito jovem apesar do menino parecer ter envelhecido pela angústia — Aconteça o que acontecer amanhã — Vane teve que procurar as palavras que poderiam ajudá-lo — Não tenha remorso pois eu te perdôo.— Agora vejo por que Marcus te procurava. — Vane abriu muito os olhos com surpresa — você é única Vane, muito obrigado — Ele lhe dirigiu um sorriso desses que não se esquecem jamais.

Marcus estava furioso, quando tropeçava em algo, o liquidava com um pontapé ou o destroçava com suas mãos. Quando tinha visto Adolfo e Eliseo, sabia que Vane o havia seguido, mas Paula a acompanhava, e isso não era o pior do caso, mas sim que nenhuma das duas tinha sido vista. Adolfo lhe disse que os vídeos do aeroporto foram apagados após sua chegada e isso lhes dava um mau pressentimento. Eliseo saiu com uns rastreadores para procurar o aroma de Paula, mas inclusive eles não haviam chegado, o que lhe zangava ainda mais.— Maldita seja, quanto demoram! — Marcus chutou uma cadeira que se fez pedacinhos em instantes, Tonatiu agora estava sentado na sala, Marinha estava tão tensa por todo o assunto que sobressaltou-se ao ouvir Marcus gritar de novo um palavrão, como quem parecia já não notar sua presença.— Acalme-se — A voz do Adolfo soou autoritária e apesar de Marcus ser o alfa, não podia deixar de fazer o que seu companheiro lhe dizia, resultava um estímulo para sua fúria— Bem então o que há?

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 109: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Não estou acostumado a ficar no vácuo, e estou ansioso para saber o que aconteceu— Olhou Tonatiu — E acredito que você tem algo a dizer.— Tonatihu? — Marcus olhou ao ancião esperando sua resposta, este se agarrou a sua bengala e se apoiou na mão de sua filha.— Eles devem ter sido capturados pelos outros.— Mas eles não sabiam que eu estava aqui?— Está seguro?— Bom... quase— Há alguém por trás de tudo isto e quase posso assegurar que é o mesmo do que te falei.— Ainda não posso acreditar no que me contou.— Um ansião como eu não se surpreende, já faz muito tempo que esta classe de coisas que acontecem debaixo de nossos narizes — Encolheu os ombros.— Qual é seu local de caça? — Era Adolfo que perguntava agora.— Nosso, está no território delimitado pelos vulcões — Marinha falou pela primeira vez, sua voz era melodiosa, doce como a de uma mãe arrulhando — Nós pertencemos ao Popocatepelth e eles ao Iztazihualt, por isso nosso alfa é um homem e o deles uma mulher.— Então devemos procurar do lado do Iztazihualt? — Marcus enrugou a testa incrédulo.— Não — Olhou-o e hesitou ao dizer — Eles estão em nosso território, mas é difícil saber exatamente onde se encontram... Mais um forte som os interrompeu e apareceu Eliseo cheio de sangue, tinha aberto a porta com um pontapé, antes que Marcus reagisse saiu disparado para o ancião,derrubando seus guardas como cartas no baralho e o agarrou pelo pescoço para horror de sua filha que via impotente como o jovem sacudia seu pai.— Maldito mil vezes! — Eliseo parecia possuído — Paula está em suas mãos e pensam possuí-la por pura maldade! — Marcus agarrou ao Eliseo com facilidade e o tombou no chão para imobilizá-lo, mas o menino seguia gritando a todo pulmão — Esses malditos nos atacaram Marcus e o que ficou vivo me contou tudo!— Tranqüilo irmão!— Não, tudo isto é pela maldita disputa que há entre essas famílias! — Olhou ao ancião que estava se sentando de novo na poltrona — Deveria te matar como a ele!— NÃO É CULPA DO MEU PAI! — Marinha olhou com ódio para o Eliseo — Se for culpar a alguém, que seja a mim! — Suas lágrimas começaram a surgir e parecia a ponto de cair —Tlaloc era um homem bom! — Soluçou — Não me arrependo de ter me apaixonado por ele.— Não tem que se desculpar — Adolfo chegou perto dela e a sentou na cadeira novamente, dirigiu um olhar reprovatório ao Eliseo que se acalmou imediatamente — Não deve julgar, não seja estúpido e se acalme,os encontraremos se estivessem a salvo.— Não pode prometer — Afirmou Eliseo— Não — Adolfo ofereceu um lenço à mulher que agradeceu devagar — Mas não temos outra alternativa que esperar que eles não lhes façam mal suficiente e os deixem viver.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 110: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Eliseo sabe onde se escondem? — Marcus levantou o menino e esse olhou o chão.— Sim.— Então devemos ir antes de Shin entrar em fase.— Não poderemos chegar até eles sem um bom plano — Raciocinou Adolfo— Meu estrategista está em suas mãos — Marcus apreciava Paula e ao nomeá-la seu estrategista principal a tornava uma garota superior a outras — Trate de igualar ao seu talento.— Precisam esperar um dia e atacar amanhã a noite — O ancião lhes falou dolorosamente — Sua família está em perigo, mas não podem fazer nada por hoje, com certeza agora estão alertas.— Bem, mas amanhã a noite tudo vai mudar — Marcus olhou a seus companheiros e estes assentiram, estavam preparados para o que os aguardava e isso não lhes faria retroceder nem um passo.

Paula estava sentada no chão desse cômodo estranho quando tinha percebido que se encontrava rodeada de flores e com o rosto de um menino de não mais que sete anos muito próximo ao dela, o menino a olhava fascinado e sorriu quando ela se fixou em seu cabelo, era loiro igual ao dela e seus olhos verdes eram muito escuros. O menino lhe mostrou seus brinquedos que estavam espalhados por todo o cômodo. Ele jogava com sua pista de corrida, enquanto isto ela procurou uma possível saída, nas três horas que estava ali se deu conta da ausência de pessoas adultas, era como se seus instintos lhe alertassem para não confiar.— Dou pra você este de presente. — O menino lhe deu um carrinho vermelho e ficou vendo hipnotizado quando ela sorriu. — É muito linda— Obrigada, meu nome é Paula — O menino ficou todo vermelho e começou a rir. — Qual é o seu?— Meu nome é Chac — O menino continuou jogando com seus carrinhos — Vai ser minha amiga, verdade?— Não é uma má idéia Chac — Paula sorriu de novo e o menino quase caiu de bruços.— Meu tio Paco me disse que seria minha se eu fosse um bom menino — Sorriu maliciosamente.— Sua? Paco?— Sim. Ele era irmão de meu pai, mas agora quer que o chame de papai. — O menino franziu as sobrancelhas, era óbvio que não gostava da idéia — Mas eu tive um papai e não era ele.— E sua mamãe? — Perguntou Paula inocentemente.— Não sei. — O menino encolheu os ombros — Mas meu tio diz que não voltarei a vê-la. — Paula não estava segura mas era muito óbvio que o tal Paco se tramava algo.— Não estranhou?— No princípio chorei — Ele sussurrou — Mas logo vi que ela não viria — Sua voz soou ressentida — Ela já não me quer.— Eu duvido disso — O menino a olhou com incredulidade.— Por que diz isso?

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 111: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Por que se eu fosse sua mamãe, estaria muito preocupada com meu filho que é uma lindeza. — O menino sorriu e começou a saltar por todo quarto.— É linda, gosto de você. — Abraçou-lhe e beijou sua bochecha — Meu tio diz que agora você e eu somos como meu pai e minha mãe.— Casados? — Paula o olhou preocupada — Por que diria isso?— Não sei mas se o diz, deve ser verdade.— Seu tio quer que eu seja sua esposa? — Paula sorriu. — Sou maior que você.— Eu gosto — O menino se aconchegou em seus braços — É como um anjo, como a princesa Iztazihualt — Paula se lembrou da história que Vane havia contado. — Tão branca como a neve.— Hahahaha, então seria Branca de Neve — Riu.— Hahahaha. Diga que não me deixará.— Claro que não! — Paula beijou e o menino que pareceu tremer. — Porque você e eu somos iguais.— Foi isso que meu tio disse.— Você sabe onde ele está agora?— Não sei. — O menino a guiou até sua cama de novo — Dorme comigo de novo tenho vontade de tirar um cochilo.— Não tenho muito sono, mas cantarei para você.— Sim!— Não sou boa cantando.— Não importa, mamãe tampouco o era — O menino parecia muito triste ao recordar-se de sua mãe — Quero que ela venha me ver. — Paula lhe abraçou.— Eu te levarei a ela.— Como?— Acredito que seremos bons amigos — Paula revisou a porta e viu que havia uma figura protegendo a entrada — Agora dorme — Disse-lhe baixinho. Quando o menino adormeceu, Paula abriu a porta, olhava curiosamente ao homem que estava atrás, era muito alto e tinha uma cicatriz em forma de lua no olho esquerdo. Apesar disso não deixava de ser atraente, vestia jeans e uma camisa um pouco suja, seu cabelo comprido chegava aos ombros e seus olhos se puseram em Paula com muita urgência de algo que não lhe agradava.— Bem acredito que você é o tal Paco — Sorriu para ele.— Bem-vinda linda — Inclinou-se, mais que uma galanteria, parecia uma brincadeira.— Onde estão meus amigos? — Perguntou friamente.— Onde devem estar os impuros — Sua voz soou cruel, cheia de ódio.— Então me leve com eles, não vejo razão de me ter como brinquedo de seu sobrinho — Eladeu um passo e notou como ele retrocedeu com cautela — Não ponha resistência, só quero encontrá-los.— Não — O homem a olhou aborrecido — Ele quer esses dois sozinhos e você, ele não quer por enquanto. — Olhou-a de acima a baixo — Mas eu a quero.— Não vejo qual seja a diferença — O olhou venenosa — Quem é ele?— Não pergunte — Parecia nervoso, algo que ela se surpreendeu de ver. Era como se houvesse pronunciado o nome do diabo — Somente fique aqui com ele — Apontou o Chac que dormia feliz — Ele é igual a você, ambos serão felizes, eu prometo.— Não quero ficar aqui se algum de meus amigos estão sofrendo

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 112: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Não pode fazer nada.— Por que tem tanto medo? — O homem a agarrou pela cintura e a esmagou contra a parede até que ficaram muito próximos.— Se continuar provocando meus instintos terá o que merece menina — Paula não se assustou apesar de estar em uma posição muito intima.— Não temo você — O homem a apertou mais a seu corpo e a farejou quase com violência.— Cheira tão bem — Saboreiou-lhe com a língua — E sabe bem — Disse-lhe no ouvido — Não sabe como precisei me controlar e aos meus homens para que não a tomassem. — Paula olhou nos olhos desafiando-o — Seus olhos são o melhor de ti menina...Se eu somente pudesse...— Não! — Chac tinha despertado pelo golpe e quando viu como seu tio tinha a sua amiga reagiu como reage um menino quando outro lhe tira seu doce. Se lançou sobre seu tio e o lançou com tal força ao outro lado da habitação que Paula fico surpreendida — Ela é minha amiga!— Obrigada, mas eu poderia ter feito isso — Disse Paula e o menino sorriu e logo mostrou os dentes a seu tio que se levantou grunhindo — Sou mas forte do que pensa — O acariciou na orelha — Mas você me surpreendeu, jamais tinha visto um lobo tão forte em tão tenra idade.— Sou forte? — O menino parecia duvidar.— Claro que é. Você é de Tlaloc — Paco agora estava perto de ambos e eles o olharam com antagonismo. — Não faça nada aqui se não quiser que te façam mal filho.— Não sou seu filho.— Logo mudará de idéia. — Paco olhou para Paula e estremeceu — Não entendo por que me sinto assim, mas... — Olhou seu sobrinho — Suponho que ele gosta de você, deste modo não a tocarei. — Obrigada. — Disse Paula com ironia.

O homem se foi fechando a porta atrás dele. Paula e Chac se olharam por uns momentos, o menino a levou de novo à cama e se deitou em suas pernas, ela acariciou seu cabelo dourado e se perguntou o que deviam fazer para escapar, quando viu a janela já não ficaram dúvidas.Tirou Chac do colo e se aproximou da janela, retirou um brinco e para assombro do menino o estendeu como se fosse um alfinete, piscou um olho e começou a cerrar os grades. O menino parou à porta e ficou alerta para escutar se alguém vinha. Ambos iriam escapar e teriam que ser rápidos a não ser que quisessem que seu confinamento se prolongasse.

— Shin você está bem? — Vane estava dormindo quando ouviu uns soluços.— Não — Shin se retorcia e parecia sofrer muito — A transformação chegará amanhã. Agora já estou sentindo as primeiras mudanças — Olhou-a.— Tranqüilo — Vane se arrastou e tomou a mão dele — Não acredito que isto ajude, verdade?— Não — Foi sincero — Mas me reconforta — Sorriu, mas a dor não lhe deixava — Não quero te fazer mal.— Tudo vai ficar bem, Marcus nos encontrará logo.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 113: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Que os deuses lhe ouçam. Shin não deixou de se retorcer a noite toda. Seus gritos aterravam Vane que acreditava que a transformação o estava matando, conteve mais de uma vez suas lágrimas para que Shin visse que não tinha medo, o menino necessitava de toda sua força e ela não ajudaria parecendo uma Madalena. O dia brilhou através das grades, estava tão cansada que dormiu apertando a mão ao Shin, tampouco notou que uns olhos azuis os olhavam com grande entusiasmo de um orifício na parede.— Latido! Desta vez você brilhou. — Nicolas se voltou triunfante para o Paco e seus companheiros que mostravam-se muito nervosos quando o menino de olhos azuis sorriu. —Será um espetáculo.— O que fará com a moça que esta com meu sobrinho?— Ela? — Nicolas caminhou entre eles e se uniu a suas duas garotas que se jogaram em seus braços — Não me importa que lhe aconteça, pode tê-la.— Obrigado senhor.— Estou te dando o que desejava — Nicolas semicerrou seus olhos — Tem a seu sobrinho por que ordenei a meus escravos que lhe ajudassem agora está em dívida.— Sim, eu sei.— Logo a lua cheia sairá e quando isso acontecer procedam como disse a vocês.— Assim faremos.— Não quero problemas. — Os olhos do Nicolas flamejaram e todos se esconderam— Não os terá.— Excelente, agora irei, à hora indicada começará nossa pequena festa — Sussurrou algo a uma de suas garotas e esta se aproximou com um cofre do Paco — Quando for o momento... — A garota entregou o cofre ao lobo. — Deverá usar isto.— Sim.— Hehehe — Nicolas beijou meigamente à outra garota e olhou como os homens lobo o observavam aterrorizados — Espero ansiosamente para ver a Vanessa, logo será natal.

O dia passou lentamente, enlouquecedoramente para alguns quem forjavam um plano de batalha, angustiante para os que estavam querendo escapar, perfeitamente para os que já se imaginavam no final, e muito rapidamente para os que sabiam que sua vida acabaria logo. O tempo é o pior inimigo ou o melhor aliado em uma guerra, se o senhor tempo tem piedade de você não terminará sangrado e morrendo; mas tem aqueles a quem o tempo não favorece, podem esperar o pior deste inimigo silencioso, pois ele é o carrasco de vidas e não se pode fazer nada para detê-lo que é o pior de tudo. Ou você seria capaz de desafiá-lo? O sonho estava chegando a seu fim, Vane podia senti-lo. “Corria pelo bosque na total escuridão, tentava encontrar alguém ou algo, seu coração se apertava fortemente a seu peito e sua respiração se acelerava a um ritmo enlouquecedor. Quando por fim seus pés ficaram estáticos, distinguiu a certa distância um menino, por curiosidade se aproximou e começou a decifrar suas feições; era alto de pele rosada, seu sorriso se curvava em um rictus perfeito,

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 114: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

seu cabelo café com mechas douradas brilhava intensamente à lua, mas algo em seus olhos lhe advertiu que este menino não era normal, era a maldade pura como fogo o que despediam. Pareciam duas tochas ardendo cor azul. Vanessa se deu conta que o menino, com um movimento de sua mão conseguiu fazer uma faísca e esta se incendiou como chama ao cair no pasto seco, eram chamas azuis que agora a rodeavam, não foram quentes, mas muito geladas, era como se estivessem queimando-a com gelo, sua pele começou a se dissolver entre as chamas e um grito de agonia surgiu do fundo do seu ser.” Vanessa acordou sobressaltada quando terminou seu sonho. Ele foi tão vivido que não parava de tremer, olhou para onde se encontrava seu companheiro de cela e o que pôde ver foi um menino retorcendo-se à luz da lua cheia.— Shin! — O primeiro impulso foi querer lhe tocar, mas algo, ao parecer seu instinto de sobrevivência, a deteve. Observou como o menino a encarava com dois grandes olhos da cor dourada. Olhos tão intensos que pareciam que iriam sair faíscas — Meu Deus! — Tampou a boca quando viu como o menino começava a convulsionar de novo.— Se afaste de mim! — Shin percorria com o olhar toda a prisão querendo encontrar uma saída que não existia — Ahhhhhhh! O grito do Shin foi apagado quando entraram na cela seis homens, dois deles o agarraram pela cabeça e começaram a arrasta-o para fora, outro começou a procurar algo entre sua tunica, outro se ocupou de riscar na parede o que ao parecer era um simbolo em forma de um zero, o quinto parecia dirigir tudo e observar cada detalhe da cena, o último homem tomou Vane pelo braço e a levantou tão rudemente que ela proferiu um grito de dor ao sentir como suas costelas se quebravam.— Soltem-no! — Vane lutava com as poucas forças que ficavam mas era inútil, estes homens eram como rocha de granito.— Não se preocupe logo começaremos a festa — Disse seu captor com tom de brincadeira Horrorizada, observou como guiavam o Shin e a ela para um clarão no bosque, rodeadode chamas azuis, Shin parecia não opor resistência, sua dor era tal que nada já o importava, seus olhos estavam perdidos em um nada. Os homens os tombaram dentro do círculo de fogo e esperaram que acabasse a transformação e o sangue fosse derramado.— Shin resiste, Shin te quero, Shin fica a meu lado... — Vane não deixava de falar com seu amigo que estava desaparecendo lentamente para deixar lugar a um enorme monstro de 2 metros que lhe grunhiu ao sentir seu aroma. Paco estava observando a caixa que Nicolas tinha entregue, a habitação onde estava era escura e sentia grande desejo de que tudo terminasse, sem dúvida era o poder dessa adaga o que o fazia sentir isso, não estava seguro de como proceder mas teria que cumprir as ordens o mais rápido possível, tampouco viu vir o grupo de lobos que nocautearam com facilidade três de seus guardas, e muito menos quando um lobo dourado lhe lançou os dentes e olhar impregnados com raiva. O animal parecia fora de si e se não tivesse sido pelo lobo negro qu tinha chegado depois de seu companheiro era quase certo que este lhe tivesse arrancado a cabeça.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 115: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Me diga onde está ela — O lobo falou em sua mente — Agora!— Nunca trairia a minha família.— Ela é minha Paula — Grunhiu o animal.— Eliseo, se reúna com os demais. Parece que precisam de você para localizar o rastro da escritora. — A voz em sua mente, do outro lobo dourado soou como bomba — Marcus, eu me ocuparei disto! — O enorme lobo negro assentiu e correu arrastando com os dentes o seu outro companheiro. Quando os outros dois estiveram longe, Paco aproveitou para converter-se em Jaguar e esconder o cofre do Nicolas em um lugar seguro, claro que isto não passou desapercebido ao Adolfo que já estava a par de suas ações.— Muito bem gatinho, se quiser leite terá que responder.— Vai ao diabo seu “saco de pêlos” fedorento. — Atacou com rapidez ao enorme cão que somente tomou o cuidado de afastar-se.— Fedorento? — O animal cheirou-se todo, mas aparentemente não encontrou o que procurava. — Não acredito, na verdade tomo três banhos por dia — Afirmou.— Não me importa em nada o que você faz. — O jaguar negro agora o olhava com raiva — O que têm que ver com isto?— Nós não teríamos intervindo se vocês nunca tivessem posto um dedo em cima de nossos companheiros — O lobo caminhou ao seu redor com elegância mostrando quão superior poderia ser.— Largue-me! — O jaguar voltou a enfiar-se contra Adolfo que desta vez conseguiu tomá-lo pela jugular e apertar-lhe, o que causo gemidos na fala do enorme gato.— Acredito que já não é tão valente, certo?— O que você tem a ver com isso? — Espeto-lhe o animal, os olhos do Adolfo brilharam de fúria e sua mandíibula se apertou mais.— Ela é minha família e se lhe fez algo — Os pensamentos do Adolfo lhe transmitiram a imagem de um jaguar esquartejado — Isto será pouco em relação a tudo o que eu possa decidir fazer com você. — O jaguar tentou dar uma pancada, mas o lobo esmagou sem piedade suas patas — Não sou tão bom, não me tente.— Adolfo! — A voz da Paula o tomou de surpresa, soltou o jaguar e este se colocou rapidamente em modo de defesa — O que faz aqui? — Os lábios de sua companheira continuavam tão apetecíveis como a última vez, sua voz tão forte e alegre, somente seu rosto estava contraído em uma ruga na testa.— Não é obvio porque vim? — Disse sarcástico enquanto dava uma olhada ao pequeno que ela segurava pela mão — É Chac? — Ela abriu seus olhos pela surpresa, essa forma de reagir era tão tipica dela.— S-sim. — Paula agarrou ao Chac e o pôs atrás dela ao ver o enorme gato atrás do Adolfo — Esse é...?— Meu tio — O menino sujeitou a Paula pelo braço e se pegou a ela como se quisesse que fossem siameses. — Por que esta zangado?— Seu tio se deu mau — Afirmou Adolfo — E quer uma lição.— Onde estão Vane e Shin? — Paula mudou de assunto tão rápidamente que Adolfo só pôde lhe responder sinceramente— Aparentemente os levaram ao bosque — Seu semblante se tornou sombrio. — Ele esta em fase.— Devo buscá-los. — Paula tomou ao Chac e correu para a porta principal

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 116: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Tome cuidado — Adolfo se surpreendeu de haver dito estas palavras, Paula parou na porta e lhe dirigiu um desses sorrisos que podiam derreter a qualquer bloco de gelo. Shin cheirava e se aproximava perigosamente, passo a passo. Vane se manteve muito quieta e não deixava de olhar em seus olhos, era um ser impressionante, sua pelagem era negra com tons cafes, suas patas pareciam acolchoadas e suas orelhas faziam ver que ele podia escutar a pulsação acelerada de seu coração.— Shin... — Gemeu ela e o animal a olhou por um instante antes de uivar à lua e lançar-se a ela — Não! — Vane pôde se esquivar do primeiro ataque e correu com dificuldade ao outro lado do aro de fogo que os rodeava — Shin por favor! — O animal lhe grunhiu e voltou a se colocar em posição. Levou apenas um minuto para que Vane se desse conta de que não havia escapatória, tratou de esquivar-se novamente mas o lobo já não queria jogar mais, deu-lhe um pontapé que a jogou por cima de suas costas e a jogou pesadamente o chão, seu sangue começou a brotar de sua cabeça, tocou-se e tentou-detê-lo, apesar de ser inútil.— Não Shin — O lobo se aproximou dela e enterrou as garras em suas costas rasgando sua roupa e provocando feridas graves, suas unhas eram como navalhas que se enterravam ao mesmo tempo. Isto fez que um grito de pura dor se ouvisse nos ouvidos de todos os presentes que desfrutavam do espetáculo.— Vamos, mate-a agora! Tem que matá-la! Que brote o sangue! — Eram as exclamações que Vane podia escutar quando sentiu como a enorme pata do animal rompia o osso do femur de uma perna.— Ah! — Vane chorou porque já não podia mais, seu fim se aproximava lentamente,seu coração bombeava rapidamente. Um dos homens presentes saltou ao circulo de fogo com um sorriso dissimulado, outros nove o seguiram, começaram a despirem-se e a rir do que aparentemente para eles era o melhor espetáculo já visto. O enorme lobo deixou Vane semi-inconsciente e voltou sua atenção aos intrusos, grunhiu e lhes indicou que não queria participantes; os homens o ignoraram e como para piorar ainda mais, estas coisas começaram a tomar uma forma, Vane abriu os olhos e visualizou dez formosos jaguares de pelagem negra mostrar-se ante o enorme lobo, os felinos rodearam o lobo que ficou histérico e começou a olhar em todas direções.Vane debaixo deles e não sabia se o lobo ou Shin a protegiam mas manteve a esperança,embora tivesse muito medo. Os jaguares um a um se lançaram à luta contra o enorme lobo que os sujeitava e os machucava, mas estes pareciam não sentir seu ataque, simplesmente se sacudiam e voltavam para enterrar suas unhas nele. Vane observou impotente como o enorme Lobo era golpeado, mordido e humilhado pelos enormes e formosos jaguares. Um destes lhe olhou e saltou para cravar-se nela, mas algo no lobo reagiu no último momento, Vane não soube se Shin tinha recuperado a consciência mas o enorme cão pegou o jaguar e o lançou fora do circulo. Diante de tal reação, os demais se enfureceram e começou a verdadeira dor, tomaram o lobo e começaram a rasga-lo como papel, tombaram-no e um a um arranhou e rasgou sua pele formosa que agora estava

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 117: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

manchada de sangue,o lobo não podia se levantar, fez várias tentativas mas os felinos não deixavam de lhe atacar, era uma carnificina.— Não! Deixem-no! — Vane abriu os braços e tentou inutilmente chamar atenção para si.Um dos jaguares agarrou o pescoço do lobo moribundo e o apertou até que se escutou o quebrar de uns ossos, as lágrimas de Vane se intensificaram quando comprovou como o enorme lobo ficava quieto, e pouco a pouco voltava a tomar forma humana, enquanto o felino seguia apertando cruelmente. Em poucos minutos o enorme lobo só era um menino de 15 anos nu e sendo mordido por um enorme animal. As mãos do Shin todavia pareciam ter vida, mas quando o jaguar terminou de apertar a jugular, o movimento se deteve com um espasmo do corpo juvenil. O jaguar o soltou como quem atira o lixo e limpou o sangue em excesso, os demais começaram a sair do círculo de fogo um a um até que ficou somente o assassino do Shin.— Por que? — Vane não pensou que sua voz poderia ser escutada mas quando o gato enorme olhou-a, soube que ela era a seguinte — Assassino! O jaguar se aproximou sigilosamente dela, cheirava a sangue do Shin por todo seu corpo, era repulsivo. Vane estava muito triste pela morte de seu amigo, assim que quando viu como o jaguar abria sua grande boca para matá-la, ela olhou em seus olhos com tranqüilidade e esperou encontrar-se com o Shin e sua família do outro lado, aonde quer que seja que as alma vão depois da morte.. Paula se estrelou nas costas do jaguar a tal velocidade que Vane só pôde ver quando este saiu disparado como um bumerangue fora do circulo de fogo. Sua amiga tinha um aspecto realmente feroz seus olhos se tornaram dourados e estava em posição de defesa como se esperasse que o enorme gato voltasse a tentar algo contra elas. Vane notou que os olhos de Paula se postaram nela e ao ver sua expressão compreendeu que não devia ter bom aspecto. A amiga retorceu sua boca com desgosto e olhar preocupado quando se agachou para revisá-la.— Malditos covardes! — Os demais jaguares que agora eram homens, olhavam ameaçadores à pequena loira — Estará bem amiga — E sorriu com esforço. Algo no ambiente mudou, foi como se milhares de tambores se aproximassem em todas direções do lugar onde se encontravam. Quando abriu os olhos de novo, todos os jaguares estavam sendo atacados por uns lobos enormes, foi quando viu o lobo negro com o qual há tempo havia sonhado, Marcus. O enorme lobo negro saltou dentro do círculo de fogo e ficou ao lado dela, a acariciou e lambeu suas feridas. Paula o olhava como se este estivesse louco e lhe deu uma cotovelada, o animal olhou a ambas e assentiu. Foi nesse momento que Vane viu os enormes olhos dourados do Marcus que recordou do Shin e foi como se uma adaga se houvesse enterrado em seu coração, gemeu e quis levantar-se, para surpresa dos dois ao seu redor.— Shin! — Vane estirou com esforço sua mão e assinalou a um menino nu atirado e sangrado que se via certa distância.— Q-o que? — Paula voltou-se rapidamente e quando pôde ver o Shin, um alarido de dor saiu de seus formosos lábios antes de ir lhe buscar — Shin! Marcus estava tenso e olhou Vane como procurando respostas para o que estava acontecendo, ver a Paula tombada no chão tentando ressuscitar o Shin era a cena mais dolorosa que ela tinha visto, as mãos pequenas da Paula

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 118: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

tocavam os braços,peito e pernas do menino que não mostrava sinais de vida, tomou seu rosto e lhe fez respiração boca a boca. Marcus uivou e todos os lobos que já tinham controlados os homens-jaguar, voltaram-se para contemplar os dois meninos.— Shin querido...Fale comigo — Paula tinha o rosto cheio de lágrimas, havia compreendido que seu amigo já não voltaria a abrir seus olhos — Não, não, não, não, não — Paula gemia sacudindo a cabeça negativamente — Volte! Eliseo que tinha entrado em fase, estava a seu lado no momento que a ouviu e a consolava tocando com o nariz seu ombro e lhe lambendo o rosto para lhe tirar suas lágrimas. Paula abraçou o Shin e seguiu chorando desconsoladamente.— Sinto tanto — Vane estava chorando e Marcus lhe olhou com olhos tristes, era óbvio que ele também estava sofrendo por seu amigo — É minha culpa — O lobo a olhou e negou com sua enorme cabeça — Não pude fazer nada.— Não é sua culpa — A voz do Adolfo soou no ar, ele havia se aproximado deles sem que se dessem conta, não estava em fase como os outros, mas se via a léguas pela forma de vestir que não tinha tido tempo de arrumar-se bem — Ninguém fala que é — Por estranho que parecesse, o olhar acusador sobre ela era tão distinto de suas palavras que parecia claro que de sua parte que ele a responsabilizava por tudo — Marcus, traga roupa, saia da fase para que possa levá-la a um lugar seguro — Olhou para Vane — Agora — O lobo negro saiu correndo para outra direção, Vane observou como Adolfo recitava algo e o fogo azul se apagava por completo, viu-o com severidade e a seguir caminhou em direção à Paula — Eliseo basta. Vá fazer o mesmo que Marcus! — O lobo de pelagem entre dourado e branco lhe grunhiu o ignorando e continuou ao lado de Paula. — Faça já! — Eliseo saiu correndo atrás do Marcus enquanto Adolfo chegava até a Paula, tocou o Shin e confirmou seu estado, logo agarrou a Paula e a afastou do cádaver, coisa que a enfureceu.— Me solte! — Paula escapou facilmente da “prisão” do seu superior e voltou a abraçar o Shin. Isto não agradou ao Adolfo que a tomou pela cintura e voltou a segurá-la. — O Que acontece com você, estupido?! — Arranhou-o. — Quero estar com ele!— Já é suficiente! — Adolfo a sacudiu com brutalidade desnecessária — Estou farto de seu pranto — Agarrou seu rosto e o virou para ele — NÃO VOLTARÁ! — Disse incisivamente — Suas lágrimas não vão trazê-lo de volta. Comporte-se como deve ser uma guerreira. — Vane pensou que Paula o golpearia, mas a garota assentiu educadamente com um olhar frio, ele a soltou e ela se secou as lágrimas para logo voltar para lado do Shin aparentemente tranqüila.— Amava-o — Disse calmamente.— Era nosso amigo — Afirmou ele. Marcus carregou Vane com extremo cuidado quando voltou vestido, mas ela gritou devido a dor ao sentir como suas feridas entravam em contato com a pele dele. Não era nada agradável e isso a enlouquecia, aferrou-se a sua camisa e mordeu os lábios para agüentar a dor.— Tudo ficará bem.— Confio em você. — Ela tentou sorrir para ele, mas seu rosto se contraiu em outro soluço.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 119: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Perdoe-me por não ter cuidado de você Pipoca. — Disse com um tom de melancolia. Ela se apertou a ele com mais força enquanto a levava caminhando para fora do círculo. Mas uma voz alegre surgiu de dentro do bosque e com ela um ser inacreditavelmente belo.— Não leve isso ainda Marcus — Ele se virou junto com Vane e contemplou, estranhando o tipo que lhes sorria com seus enormes olhos azuis como chamas. Algo dentro de si, lhe dizia que este ser não era confiável.— Quem é? — Perguntou a voz fria de o Marcus.— Oh, é o que visita meu tio! — Chac estava rodeado de vários guarda-costas com forma de lobos quando apontou em direção ao ser belo — Vampiro! — Gritou. Todos os lobos começaram a rosnar para o novo visitante que contemplava divertido como todos ficavam em guarda, olhou com seus enormes olhos a Paula e Shin, logo mudou para o rosto do Vane ensangüentado.— Você está tão bela com essa cor — Marcus apertou Vane e se esticou – Hahahaha. Vá, que você está tão mascote que não deixa lhe dizer nada?— Alto! Quem é você?— Mmmmm, vejamos... — O homem os olhou astutamente para finalmente lhes sorrir . — Eu sou Nicolas.

CAPÍTULO 15 - O INIMIGO

“Junta seus sons vibrantes Une-os a meus dedos mágicos Mesclemos o que o cosmos diz:o som do amor"

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 120: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

“Vampiro". Assim era como esse menino tinha chamado o jovem que se acabava de apresentar ante eles como Nicolas. Vanessa estudou o formoso jovem de acima a abaixo, não parecia o que ela conhecia como um "vampiro", ao contrário, não era pálido a não ser sua pele era rosada, não parecia ter algo estranho em seu rosto salvo a cor de seus olhos que era azul como o fogo que esteve a ponto de queimá-la, tampouco tinha orelhas pontiagudas. Se ela o tivesse visto caminhando pela rua, teria pensado que era o jovem mais bonito que seus olhos tinham visto, mas por sua mente jamais passaria que fosse um soldado da noite.— Nicolas... — Marcus pronunciou o nome deste menino com precaução e sujeitou a Vane com um pouco mais de força. Este gesto foi notado pelo Nicolas que não deixava de lhes ver com um sorriso.— Estive te procurando por muito tempo — Nicolas cravou seu olhar em Vane — Não sabe como desejava seu nascimento Vanessa— Você sabe meu... Nome — Vane estava surpreendida, ela jamais o havia visto em sua vida, como era que este deus mitológico poderia saber seu nome? Não era bom— Sim — O vampiro sorriu mostrando sua formosa dentição branca — Também conheci sua família — Com sua mão larga começou a enumerar — O seu pai, a sua mãe e a você... — Olhou com uma maldade pura nos olhos que fizeram com que Vane se estremecesse — ...Irmãozinho— CO-?— Não se aproxime — A advertência de Marcus se escutou por todo o campo de batalha, os demais lobos começaram a grunhir ao menino sorridente — Se afaste!— OH, vamos Marcus! — Nicolas caminhou até eles, mas três lobos se adiantaram para lhe impedir o passo — Vá! Não querem que me aproxime — Um lobo quis lhe saltar em cima, mas uma sombra negra o obstruiu. Para assombro do Vane uma garota com cabelos negros foi que serviu como escudo, quando o lobo se chocou contra ela foi jogado para um lado — Vêem, não é bom tratar as coisas agressivamente — Disse aos demais lobos que lhe seguiam grunhindo.— Como sabe meu nome? — Voltou a perguntar Vane. Marcus a olhou com um pouco de precaução, mas ela mantinha o olhar fixo nos olhos de Nicolas — Fala.— Muito simples, estive te vigiando por muito tempo— Pipoca não acredito que queira...— O que acontece? Não quer que lhe responda — Marcus grunhiu a Nicolas e este riu enquanto outra garota vestida de negro se colocava a sua direita, agora tinha dois escudos.— Eu quero ouvir... — Vane viu o Marcus e lhe apertou o peito — Por favor.— Você não entende — Marcus a sujeitou junto a seu ouvido — Você não gostará— Diga-me, quer ouvir o que tenho que te dizer? — Nicolas os interrompeu e Vane respondeu com cautela.— Sim— Bem. — Aplaudiu — Verá que eu tenho estado procurando à escolhida —Apontou-a — E quando soube que era você, não sabe a felicidade que senti —

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 121: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Sorriu tão docemente que Vane não o imaginava sendo parte de alguma sacanagem. — Te segui, te conheci e estive perto de você esperando o momento indicado — Sua cara se tornou escura e dedicou um olhar cheio de rancor ao Marcus — Mas quando decidi que era momento de me apresentar... Você não estava em casa.— O que?— Assim é — Voltou a sorrir — Não estava... E eu me senti muito mal — Tocou-se no peito — Me rompeu o coração. Mas mesmo quando soube que você havia se encontrado com seu destino — Marcus ficou tenso — Eu já não podia fazer nada, você estava com ele —- As duas garotas que estavam a seu lado se aproximaram dele e lhe abraçaram — E decidi que era hora de você conhecer sua família... Não seria um bom prometido se não me apresentasse.— Minha família — Vane começou a sentir-se mal, nunca mais voltaria a ver sua família — Eles estão...— Mortos! — Nicolas disse às palavras que mais feriam a Vane — Sim... isso foi lamentável — Não estava gostando nada do sorriso do Nicolas — Seu pai nem sequer sentiu o que o esperava — O coração de Vane se oprimiu em seu peito a ponto de quase parar — Sua mãe... Ela era tão bela, protetora mas isso não funcionou. Entretanto sua essência era tão doce — Nicolas olhou ao céu passando a língua pelos lábios como que degustando— Estou seguro que sua essência é igual— ASSASSINO! — Vane saltou dos braços do Marcus com todas suas forças e não soube como correu até Nicolas que a esperava com os braços abertos. Se não tivesse sido por Marcus que a alcançou e a sustentou fortemente enquanto ela lutava para se soltar, quem sabe o que teria ocorrido? — Assassino! Desgraçado!— Ohhhh, que decepção — O vampiro sob suas mãos fingindo desilusão — Minha bela não parece feliz— Perdoe-me — Marcus a abraçou contra seu peito — Devia ter te contado quando soube da historia e o nome que havia sido falado — Vane não acreditava no que estava se passando — Meu amigo Tonatiu disse-me o nome do causador do fogo azul, Nicolas, assim foi como lhe chamou. Sinto muito— Não! — Vane quis se voltar e pegar Marcus por querer detê-la, mas suas forças estavam se acabando — por que?— Querida não sabe quão especial é... — Olhou a todos os presentes. Paula sustentou ao Shin e olhava o Nicolas com estranheza — Para todos eles é uma bomba de tempo, mas para mim é o mais belo que o mundo pôde crer. Se vier comigo te mostrarei as coisas tão belas que juntos poderemos criar— Você fez isto — Paula acusou Nicolas que agora a olhou com mas interesse, mas Adolfo colocou-se a seu lado para evitar que esta fizesse algo desatinado — Voce fez isto!— Se não o negar, tudo resultou como o esperava. Mas não estava em meus planos que seu amigo morresse.— Matem-no — Disse Eliseo que já estava fora de si. Quando disse isto as duas garotas que abraçavam Nicolas ficaram em guarda— Acredito que não — Nicolas olhou a Vane — Bem, ficará a meu lado? — Levantou sua mão.— Vai para o inferno — Disse Marcus

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 122: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Não pedi sua opinião cão — Agora o vampiro mostrava sua irritação — Qual é sua resposta? — Dirigiu-se a Vane— Nunca— Que dor — Encolheu os ombros — Eu tenho um presente para você.— Leve seus malditos presentes contigo ao inferno — Disse Marcus — Por que quando acabarmos com você não sobrará nada, mal nascido— Mmmm, não estaria tão seguro — Nicolas olhou atrás dele e estalou os dedos — Susana, vem e mostra meu presente para Vanessa. Uma sombra tomou forma dentro dos arbustos, caminhando para eles, uma mulher lindíssima vestida com um traje negro tinha algo entre seus braços, era uma manta branca. A beleza da mulher era assombrosa, seus olhos era iguais aos do Nicolas, sua pele era tão branca e rosada que parecia uma pintura de boticelli. Como a formosa Vênus. Vane se fixou no vulto branco que se movia e então viu uma mãozinha se sobressair e tocar o pescoço da mulher.— Querida irmã — Nicolas se dirigiu à garota que se inclinou a modo de saudação — Mostre a Vane o porque deve vir a meu lado.— Sim — A garota descobriu o vulto e Vane quase grita quando viu o Teo, seu irmãozinho dormindo nos braços dessa vampireza, sem um arranhão e completamente a salvo.— Teo!— Shhhhhh... Vais despertá-lo — A repreendeu divertido Nicolas que se aproximou do menino dormido e acariciou sua bochecha — É um bom menino, não fizemos nada, segue sendo humano.— Bastardo! — Marcus estava igualmente furioso— Cuidei de seu irmão, pois sei que ele é importante para você.— Não faça mal a ele — Suplicou Vane deixando-se cair nos braços do Marcus que asustentou com delicadeza — Por favor... Não o machuque.— Claro que não o machucarei — Olhou-a para logo sorrir. — Não irei com você.— Bom, acredito que logo trocará de idéia— Não o farei— Então ficarei com seu irmão até que venha a mim e suplique por estar a meu lado— Ela é minha!— Ela não é de ninguém! — Espetou Nicolas a Marcus, ambos se olhavam com ódio puro — Bom, acredito que já é hora de partir — E cobriu Teo que seguia dormindo entre os braços de Susana que começou a arrulhar.— Devolva-o — Vane quis pará-los de novo, mas já não tinha mais energia. Somente conseguiu saltar um pouco.— Não querida, ele ficará aqui conosco — Colocou seus escudos e a Susana quem olhou-a com seus olhos azuis — E se não decidir vir a meu lado logo — Ergueu suas sobrancelhas — Acredito que Teo estará em graves problemas... A essencia dos meninos é mais pura que a de um adulto e será tão delicioso.— Não!— Então vem a mim — Mas ao ver a negativa de Vane, suspirou com decepção —Bom, então não há nada mais... Voltaremos a nos ver.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 123: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

As lágrimas de Vane fluíram ao ver como Nicolas entrava no bosque escuro com seu irmão. Quis gritar, brigar, arranhar, mas isso não a ajudaria em nada, só os braços de Marcus em sua cintura a faziam sentir-se protegida. Quis esquecer-se em seus braços, mas sabia que este pesadelo não se acabaria até que pusesse fim a sua história.— Sempre lhe protegerei Pipoca — Sussurrou Marcus enquantocarregava–a Encontraremos de novo com ele. Agora você é a que deve curar-se— Alguma vez sentiu vontade de morrer? — Vane chorou em silencio depois de sua pergunta— Sim — Marcus lhe elevou seu queixo — Mas agora sei por que sigo vivo — Vane fico maravilhada por seus olhos. Ambos podiam sentir essa corrente de energia correr entre eles, era tão poderosa que não podiam evitar sentir milhares de emoções correr por seu sistema nervoso.— Marcus — Adolfo caminhou até eles e chamou a atenção do Marcus que apartou o olhar de Vane — Tonatihu está perto, ela está bem— E Paula? — Olhou a sua amiga que estava sendo levantada gentilmente por Eliseo— Ela está melhor agora — Adolfo parecia não dizer isto com muito convencimento — O corpo do Shin será transportado à Inglaterra, teremos que entregá-lo a sua mãe.— Sim— Sinto por seu irmão — Olhou a Vane que ocultou sua cara — Mas não podemos ir atrás desse vampiro até informar à Aemilia— Eles não querem se meter a menos que falem com os Arautos— Não há outra solução— Os Arautos jamais aceitarão que um dos seus tenha haver com toda esta animação — Marcus caminhava rapidamente — Haverá problemas — Como sempre — Adolfo sorriu tristemente— Então bem vindos os problemas — E se perderam no bosque

Despedidas sempre são difíceis. Marcus sabia melhor que ninguém o sentimento de não voltar a ver alguém era pior que ser torturado dias e noites nas mãos dos inimigos; mas agora que via a Vane enfaixada nas pernas e braços, entrava-lhe uma raiva imensa de saber que por sua teimosia ela poderia ter morrido. Tonatiu estavam curando as feridas de Vane com ajuda de seu Neto Chac, eles conheciam o poder das ervas que a ajudariam a sarar rapidamente, mas lhe fizeram saber que a ferida em suas costas ficaria marcada para sempre, Vane disse que para ela não se sentia incomodada enquanto pudesse seguir caminhando.— Esta segura? — Ele a olhou sentindo pesar, estava seguro que para as mulheres normais terem uma marca como essa nas costas resultaria doloroso, mas Vane não era como as mulheres normais, viu seus olhos com total serenidade.— Sim. Há coisas piores que uma cicatriz nas costas— Sinto isto, mas por agora é seguro deixar esta ferida assim — O ancião Tonatiu colocou uma bolsa café nas mãos da cientista — Esta raiz te ajudará com a dor enquanto a demais feridas cicatrizam — Seus olhos pareciam

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 124: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

cansados pela vida e com voz sentida se desculpou — Sinto que isto tenha passado e estou em dívida com a Família Sol — Olhou a Marcus— Não se preocupe — Inclinou-se para Vane— Eu posso levá-la já?— É óbvio— Obrigado Tonatihu, espero vê-lo de novo— Que os espíritos dos elementos lhe ouçam — O ancião fez um sinal e Marcus mostrou sua mão a modo de despedida, o velho se inclinou — É digno de ser chamado líder, Marcus, O Leão— Hahaha. Velho, será melhor que não diga meu nome desta forma ou você terá problemas — Tomou a mão de Vane e partiu da sala.— Como está Paula? — Ela era muito especial, até com a dor que produzia seu toque, não se queixava e se preocupava com uma garota que apenas conhecia.— Está sofrendo muito — Não queria mentir. Paula não havia sorrido desde aquela noite, tampouco chorava mas seu rosto era impassível e nem sequer os abraços e os mimos do Eliseo a tinham confortado, esquivava do olhar de Marcus e sempre se afastava quando ouvia os demais rir por ter ganhado a vitória contra o grupo rebelde, era claro que parecia injusto esse momento de felicidade.— Eu também gostava do Shin.— Acredito que todos o apreciávamos de uma ou outra maneira.— Ele tinha família?— Uma mãe... — Titubeou e a deitou em uma cama pequena quando chegaram ao quarto de hóspedes— Ela vai chorar, verdade?— Sim — Marcus a cobriu com o lençol da cama com muito cuidado para não lhe fazer mal em suas feridas.— Shin era um Loki muito valente, ela está orgulhosa de seu filho.— Quem era seu pai? — Marcus ficou parado, mas decidiu que Vane merecia conhecer uma parte da história da pessoa que a havia protegido e convivido com ela durante a dor.— Não sabemos... Os lokis são filhos de uma mulher ou um homem normal com um eclipse — Olhou o lençol fixamente — Shin era filho de uma mulher como você e um ser como eu.— OH!— Por alguma razão, os Lokis não podem evitar atacar agressivamente a seus seres queridos, Shin é um exemplo de que um Loki até possui raciocínio — Sentou-se junto a ela — Por mais estranho que pareça, te protegeu no último momento, isso quer dizer que para os da sua classe, até há esperança.— Por que sua gente os odeia tanto— Os Aemilia não os odeia, mas não lhes deixam livres. Desde pequenos, os encerram e tratam de encontrar um pai para que possam viver sadiamente mas há outros... — Empunhou suas mãos — Como os que os capturaram, que provêm da família principal dos Croix Noir, essa família tem se encarregado de desprestigiar aos lokis, chamam raposas e assustam às outras famílias para que ninguém se aproxime deles e os façam emparelhar.— Quão mesmo fizeram com a Paula e os outros — Sussurrou Vane— Sim isso mesmo

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 125: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— Você é um eclipse —- Ela elevou sua mão e lhe tocou no rosto, Marcus estremeceu por seu movimento e pregou seu olhar nela — Filho de um homem lobo puro e uma mulher humana, o que pode te fazer diferente dele? — Perguntou — Se ambos compartilharam sua ascendência humana?— A diferença não é notória em mim — Tomou sua mão e a baixou — Mas está em que meu pai era um homem lobo puro e o dele era um eclipse como eu sou neste momento. Isso faz uma diferença pequena, mas que chega a ser grande e poderosa no sangue.— O sangue — Ambos ficaram se entreolhando. O sangue era o que havia sido derrubado até este momento, a de sua família e a de seus amigos. Alguém bateu na porta— Quem? — Marcus parou e se dirigiu à porta.— Sou Eliseo, posso entrar?— Claro — Vane respondeu antes de Marcus dizer algo e Eliseo sorriu quando a porta se abriu, caminhando até ela e depositando um beijo em sua frente a modo de saudação— Estou feliz de que esteja se curando rapidamente! — Exclamou — Mas querida, se você visse Elias, deprimiria-se por seu look. Hahahah.— Hehehe. Obrigada Eliseo — Tomou sua mão e a apertou com lágrimas— Cale a boca Lassie, você não vê que lhe dó? — Marcus, por alguma razão agora, estava de mau humor.— Vamos B- I-N-G-O! Ou se acalme, não estou para suas cenas de ciúmes. Hahaha.— Imbecil — O insultou — Estou indo preparar sua saída, fique com ela para o que necessite— Às ordens, meu capitão — Eliseo o saudou de forma respeitosa e Marcus bateu a porta quando saiu amaldiçoando.

É incrível a natureza, podia sentir quando algo não estava bem. O frio que se transmitia por seus pulmões e a chuva que cobria como mantos as cabeças dos presentes no funeral de Shin, era evidência de toda a dor que se abatia sobre sua mãe quem abraçava o corpo de seu filho antes que o sepultassem.— Meu bebe! Meu filho! Por que? — Ela era uma mulher pequena, quando Vane a viu o baixar no caixão, notou seu cabelo comprido cor café e seus olhos verdes apistachados. Quando Marcus se aproximou dela para lhe contar sobre seu filho, esta só suspirou e cobriu o seu rosto. Mas agora estava destroçada, Vane sabia o que era perder a alguém querido. Não conhecia a dor de uma mãe, mas sim o de filha e irmã.— Por favor Chaveque, deixemos que ele se vá em paz — Adolfo tomou à mulher que se apoiou nele resignadamente, mas seus olhos só estavam fixos no caixão de seu filho que entrava na fossa escura lentamente.— Nunca gostou da escuridão... Ele vai sofrer se não ver a lua — Soluçou.— Chaveque, segura minha mão — A voz da Paula soou doce e vazia ao mesmo tempo, Chaveque tomou sua mão e ambas apoiando-se, viram como Shin descia pela vida da terra.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 126: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Elias e Eliseu estavam tão calados que não eram reconhecíveis, sua alegria foi coberta de tristeza. Adolfo tomou o ombro de Paula, que não lhe olhou e só atirou uma rosa branca em despedida.— Shin Tokugawa foi um guerreiro valente — Marcus estava vestido de negro e sua voz de autoridade sossegava a todos os que tinham assistido ao funeral — Um Homem Lobo autêntico e digno de recordar — Uns murmúrios se levantaram, mas voltaram para seu silêncio — Quem dizer o contrário é um covarde, que não sabe o que na verdade faz um guerreiro de coração e que os espíritos o levem em paz.— Assim é, pela eternidade! — Pronunciaram todos O funeral terminou, mas a chuva prosseguia. Vane caminhou pelas tumbas do cemitério privado dos licaons, eram todas de prata, rígidas e tão fria ao contato. Diferente dos seres que nelas se encontravam, seu significado deixava claro que era a morte. Os outros haviam resolvido as papeladas, Paula se despediu dela com um abraço e disse que a veria mais tarde, deu-lhe uma bolsa negra e esboçou um sorriso triste enquanto se afastava da mão do Eliseo que a olhava com adoração e respeito.— É hora de voltar — Vane levantou a vista, frente a ela estava Marcus, seu traje negro o fazia diferente e isso oprimia o coração no mais profundo de seu ser.— Sua mãe...— Ela está bem, a Aemilia disse que cuidariam dela como compensação pelo Shin.— Marcus, tenho um desejo — Aproximou-se com dificuldade até Marcus, ainda doía a ferida das costas, notou como ele ficava rígido.— Um desejo que vem do fundo de meu ser — A tomou pela cintura e caminhou com ela rumo ao automóvel.— Qual é? — Sua voz era rígida, abriu a porta e a colocou com muito cuidado no assento dianteiro. Olhou nos olhos, mas antes que lhe respondesse, alguém falou detrás deles— Senhorita Vanessa — Quando ambos olharam, encontraram-se com Mateo e Lucas. Estes homens eram especiais de certa forma, embora estivesse chovendo parecia como se a água não lhes molhasse, talvez porque fossem os cabeças da Família dos Lacaión — Inteiramo-nos de tudo por meio de Baltazar e melhor, sentimos as feridas que lhe ocasionou Shin Tokugawa— Não tem que desculparem-se, ele me protegeu — Vane estava cansada, queria falar com Marcus, mas estes homens agora frente a ela pareciam muito interessados em separá-los.— Se importa de falarmos um momento com o Marcus? — Mateo sorriu e ela se rendeu, em outra ocasião teriam que conversar.— Não tenho nada o que dizer — Marcus fechou a porta de Vane e quando ia subir no carro, Lucas foi até ele.— Se não o fizer, então não temos opção a não ser levar conosco essa garota — Olhou Vane com altivez, Marcus o olhou furioso e ambos se desafiaram com os olhos.— Fique aqui! — Disse a Vane e fechou a porta do condutor de repente. Ela observou como se afastavam para que não pudesse ouvir, por seus olhares e a forma em que se moviam era lógico que algo não estava bem. Logo Marcus empurrou Lucas e caminhou para o carro. — Preparada? — E ligou o carro.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 127: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

Quando se afastaram, Vane observou pelo retrovisor que Mateo seguia com um olhar de decepção o rumo que eles tomavam.— O que aconteceu?— Nada de sua incumbencia — Vane se zangou, ela estava farta de seus segredos, tomou sua bolsa e lançou em seu rosto. — Que diabos te passa?!— Se não confiar em mim, acredito que chegou a hora de que isto acabe — Vane abriu a porta e Marcus esticou a mão para fechá-la de novo.— Esta louca! Como lhee ocorre se lançar à rua assim?— É melhor do que estar perto de alguém que está louco! — Marcus parou o carro e a olhou furioso, ela tampouco sabia as razões e agora lhe julgava — É um teimoso e não quero seguir a seu lado! Eu... Marcus a tomou pelo pescoço e a beijou. Ela se surpreendeu com seu ataque. Podia sentir a respiração dele e a dela, seus corpos ardiam e queimavam, era uma sensação tão boa e perigosa, era como brincar com fogo, ele seguia tomando-a e agora a aproximou de seu corpo com urgência, a apertava contra ele como se lhe dizendo com ações o que não podia com palavras "fica comigo". O beijo terminou quando ela soltou um gemido por causa da ferida em suas costas. Marcus a soltou bruscamente e se apoiou no volante, parecia furioso, confundido e cheio de indignação, não entendia o que acontecia com ambos, ela também se perguntava.— Você e eu não podemos estar juntos — Vane se esticou ao escutá-lo. Por acaso diria a verdade depois de tudo? Ela o exigiu, mas agora não sabia o que pensar — Acredito que é mais que óbvio que nós... — Olhou-a procurando que lhe ajudasse, mas Vane não o faria, teria que abrir-se se queria que ela confiasse nele depois de tudo. — Nós estamos marcados pela má sorte e pela morte.— Má sorte? — Vane abriu os olhos por aquilo, não esperava algo como aquilo — Não acredito em você.— Sabia que não o faria — Segurou-a sem se importar com suas queixas e a colocou acima de seu colo, tomou seu rosto e o aproximou do dele — Agora nesta posição, quando nossos olhares se encontram, nossos corpos reagem — Seu olhar verde cintilava tão magicamente, era um pecado tanta beleza em um olhar — Eu sou como pólvora seca, você é a mecha que me acende — Seus lábios se aproximaram dos dela — O que você acha que aconteceria se nos juntássemos?— Eu... — Vane sentia que lhe faltava ar, estar tão perto não era bom.— Morte — A palavra retumbou em seu ouvido quando a pronunciou.— Somos morte, juntos — Afirmou — E eles querem que te mate antes que você me leve a loucura — Olhou-o assustada e foi quando notou que a rua em que estacionaram estava deserta.— Você... Quer me matar? — A Pergunta se lançou no ar— Não sabe quanto desejei fazê-lo desde que sonhei com você e li seu livro — Confirmou — Mas agora... — Segurou seu rosto — Agora não sei o que fazer.— Não quero morrer... Até... — Olhou desafiante, não estava pronta, ainda tinha que encontrar seu irmão, depois disso, ele poderia fazer com ela o que quisesse.— Há outra opção para que eu não te mate — Vane olhou Marcus confundida.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 128: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

— O que diz?— Te entregar a um deles — Essas palavras impregnaram no orgulho de Vane —-Jamais!— Isso foi o que pensei — E sorriu, seus braços passaram ao redor de sua cintura e a fizeram apoiar-se em seu peito rígido — Isso não os agradou muito mas não podem fazer que troque de opinião— Então...— Fica comigo até que cumpra minha palavra — Ambos sentiam como a calidez percorria seus corpos, Vane tomou o rosto do Marcus e o beijou de novo, mas agora com delicadeza com algo diferente à raiva e longe da vingança, algo que estava crescendo entre eles. Se seus corpos eram uma bomba juntos já não importava, fariam explosões juntos para não fazer mal a ninguém.— Não serei sua noiva — Afirmou Vane desafiante— Não quero que seja minha "Noiva"—Tampouco serei sua amante — Ela se ruborizou, quando ele a olhou com curiosidade.— Não havia pensado nisso.— Não te darei meu coração — Afirmou— Não quero algo que tampouco estou disposto a dar— Então seremos sócios de acordo — Afastou-se dele e estendeu sua mão, ele não a tomou mas devorou-a com um beijo de novo, sua língua em sua boca era como saborear um sorvete de morangos.— Eu gostaria de ser seu sócio — E sorriu divertida, uma lágrima correu por sua bochecha e ele a secou com sua língua — E trataremos de não estalar enquanto estejamos juntos.— Poderemos? — Beijou-a de novo e correspondeu atraindo-o para si— Não sei — Seu olhar brilhava de uma maneira que lhe hipnotizava, e voltou a beijar com mais paixão e necessidade. Quando retornaram à mansão, encontraram-se com seus companheiros, estavam na sala calados. Adolfo lia enquanto escrevia o que lhe parecia mais importante, Elias olhava a televisão com seu irmão e Paula brincava com Merlín quem ronronava de felicidade. Vane saudou a última e se sentou no sofá grande junto a Marcus que olhava seus companheiros como um pai a seus filhos, Vane se sentiu por um momento feliz de estar a seu lado. Sem que os outros se dessem conta, mais tarde quando ela subia as escadas, Marcus a deteve para interrogá-la. A decisão estava tomada, o tempo corria e assim como a vida mesma é um sonho, Vane voltou a escrever os seus. Se encontrasse alguma pista, então encontraria Teo. Seria difícil, mas não impossível.— Qual é seu desejo? — Ela ficou a sua altura e pronunciou as palavras tão claras para que não confundisse o que de verdade queria— Quero Matá-lo — Disse referindo-se ao Nicolas— Entendido. Mas não será fácil— Eu sei— Mas ali estarei— Isso, também sei— Então o mataremos — E ambos subiram as escadas juntos até irem cada um para seu quarto.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 129: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

IMORTALIDADE

“Abre seus braços e me deixe em timova seus lábios e sorria para mim,me olhe com seu coração e prometoque seu palpitar será o último que tenho que escutar”

Martha observa o pequeno enquanto este brincava sob a árvore de natal, suas mãozinhas rosadas e gordinhas seguravam um urso de pelúcia e o mordiscava para assegurar-se de seu material. O pequeno de três anos olhou com atenção ao brinquedo, logo lentamente girou seu rosto para ela que estava sentada no enorme sofá de veludo vermelho, aos olhos do pequeno ela era uma deusa, uma mulher lindíssima, mas também era algo mais.— Mamãe! — O pequeno correu para ela com o urso entre seus braços, quando chegou estendeu um bracinho e ela o pegou abraçando-o.— Eu gosto do meu urso! — A voz de Teo era tão clara que poderia assombrar a qualquer menino de sua idade, Teo era especial.— Eu sei e é somente para você — Ela acariciou seu rosto e olhou dentro de seus olhos cafés claro — Não há ursos iguais no mundo, porque este é somente para você.—Meu? — Ela assentiu quando o pequeno a olhou com assombro, logo sorriu e apoiou sua cabecinha em seu peito — Mamãe... Obrigado.—De nada meu bebê — O coração dela era frio como um gelo, há muito não havia duvidado em levantar o pequeno, inclinar seu pescoçinho e beber dele até saciar-se unindo sua força vital com o sangue vermelho, mas agora tudo era diferente — Meu bebê, Teo — Pronunciou com possessividade, a diferença desses outros meninos é que Teo agora era dela, era e seria seu bebê, do momento em que seu irmão o entregou, no instante em que ela apagou sua pequena memória e colocou novas lembranças onde agora ela era o centro de seu universo, os dois se pertenciam. Mãe e filho.—Boa noite — Disse uma voz divertida da porta e Martha a reconheceu imediatamente e como reação, sujeitou um pouco mais forte ao Teo contra ela — Hei, não tem saudação para mim?— Papai! — O pequeno Teo se soltou de Martha e correu para seu possível assassino, o que agora tomava o lugar de seu pai — Papai! — Riu quando Nicolas o elevou em braços e o deu voltas.— Que alegria vê-lo acordado! — Nicolas o acercou e deu um beijo em sua frente, Martha saltou em seu lugar ao ver como Teo abraçava o pescoço de seu irmão e sem querer tentava ao destino. Cautelosa viu como Nicolas aspirava o aroma do pequeno e seus olhos azuis brilharam por um momento — Senti saudades! E você? - Olhou Martha— Também senti saudades — Respondeu ela, fez um sinal a suas duas guardiãs que entraram na habitação, seu aspecto lúgubre não parecia alterar o menino que sorrio e saudou com suas pequenas mãos. Elas traziam consigo duas bolsas vermelhas muito grandes, se fossem garotas normais não haviam agüentado o peso, mas elas não eram normais disse a si mesma.

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 130: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

—Trago presentes Teo! — Entusiasmado, Nicolas baixou o pequeno e o levou até as garotas que esvaziaram o conteúdo das bolsas e revelaram brinquedos de todo tipo, cor e lugares. O pequeno aplaudiu e começou a rir enquanto revisava com alegria cada um de seus presentes. Quando pegou um trenzinho, Nicolas agarrou sua mão — Este eu vou colocá-lo sob a árvore, me ajuda?—Sim!— Muito bem - Nicolas tomou as peças da maquina e ficou a montá-lo.— Teo também tenho algo que te dizer— Sim papai - disse o pequeno enquanto pegava alguns trilhos.— Você nos ama, não é verdade? — O olhar do Nicolas passou da inocência à maldade em questão de segundos, Martha não sabia explicar como seu irmão podia obter isso — Sim, os quero muito — Respondeu Teo que não se intimidou pelo olhar de quem crê que é seu pai, não mudou seu sorriso.— Você faria qualquer coisa que eu pedisse, verdade? — Martha estava nervosa pelas coisas que Nicolas dizia, era óbvio que estava tratando de receber a palavra de Teo— Sim— O que seja?— Sim!— Estou feliz por isso! — Nicolas soltou as peças e abraçou tão efusivamente ao Teo que Martha parou imediatamente, Nicolas notou sua mudança e a olhou com autoridade e enquanto seguia estreitando o pequeno, a olhou nos olhos, e lhe deixou claro quem era ele — Sou Nicolas— Sinto muito — Martha se sentou e seguiu observando, mas a voz de seu irmão havia retumbado em sua cabeça "ele não é teu" o havia confirmado, e com esses pensamentos sorriu a Teo quando este foi abraçá-la.— Mamãe, tenho fome.— Então vamos jantar que já são doze horas — Tomou-o em seus braços e seguida por Nicolas, entraram na cozinha que era o lugar mas sagrado nessa casa. Teo observou a sua mãe, amava-a. Era tão pequeno, mas ainda assim compreendia o que era o querer, gostava dos olhos de seus pais, não conhecia outros. Estava feliz de sentar com eles à mesa, mas muito no fundo, em seu pequeno coração, lhe dizia que ele havia sido muito mais feliz em outro lugar. Mas não recordava onde. Tomou a mão de sua mãe sob a mesa e esta sorriu, lhe assegurando que sempre estaria por uma eternidade junto a ele. E acreditou.

A AUTORA

Briseira ou Brizz como é conhecida por seus amigos e companheiros. É uma estudante de Desenho Gráfico no México, sua paixão pela leitura e ilustração a impulsionaram a criar este grande projeto com o apoio de sua família e conhecidos. Adora escrever desde que sua mãe lhe deu de presente seu primeiro jornal aos sete anos e daí não parou de imaginar e contar à sua irmã pequena os contos que entre ambas realizavam, sua imaginação também a explorou com a

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto

Page 131: Brizz Briseira - Saga Da Lua Cheia - 01 - O Último Conto (Rev. RS & RTS)

130

pintura e o desenho que são suas outras duas paixões e não deixou de praticá-los. Os livros foram uma grande influencia para ela, em especial os de terror e suspense. Assim, seu gênero favorito de filmes também se centra neste tema, adicionando efeitos especiais e animação de todo tipo. Com o tempo se deu conta da forma de expressão na ilustração, música e cinema que lhe pode brindar a suas obras. Sua música favorita é o Rock mas adora também a Clássica contrapondo muitos gostos dos jovens de sua idade, adora os grupos como Coldplay, Linkin Park, Maroon 5, Korn, Sem Bandeira e Nirvana. Seus cantores favoritos são Andrea Bocelli e Marisela. OLÁ!!! Saudações a todos aqueles leitores que dedicaram seu tempo a ver meu projeto e de antemão muito obrigado e espero sigam meu trabalho. Muitos beijos.Brizz

Para mais informação sobre este livro e outros projetos da Autora pode visitar seu Blog Oficialhttp://brizzk.blogspot.com/

Brizz Briseira Saga da Lua Cheia O Ultimo Conto