2
24 - Revista Coplana - Setembro 2008 Manejo ser criteriosamente inspecionadas, assim como os talhões plantados com estas mudas de cana. Ciclo biológico da broca gigante A broca gigante é da Classe In- secta, Ordem Lepidóptera, ante- riormente pertencente ao gênero Castnia, mas que foi revisto para Telchin. As espécies mais comuns são Telchin licus licus (broca gigan- te), mais problemática pelos danos causados e Telchin licus laura, me- nos agressiva. O adulto de Telchin licus licus (broca gigante) vive de 10 a 15 dias, possui hábitos diurnos, é de colora- ção escura com faixas esbranquiça- das nas asas (figuras 1 e 2). As fê- meas ovipositam em média de 50 a 100 ovos, nas bases das touceiras. A fase de ovos dura de 8 a 10 dias e estes podem ser esverdeados ou marrons no formato de carambola (figura 3). Não são facilmente visu- alizados no campo e foram obser- vados no laboratório do CTC onde a broca está sendo criada para estu- dos mais detalhados. As larvas, de coloração branca leitosa (figura 4), vivem de 100 a 120 dias e, próximo à mudança de fase, permanecem nas bases das touceiras, abaixo do nível do solo BROCA GIGANTE Nova praga da cana-de-açúcar na região centro-sul Introdução Em julho de 2007 foi detectada na região de Limeira, no Estado de São Paulo, uma nova praga nos ca- naviais da região Centro Sul, a bro- ca gigante, considerada a mais im- portante praga da região nordeste do Brasil onde seus danos resultam em perdas anuais estimadas em R$ 34,5 milhões. Objetivando disseminar o fato, o CTC - Centro de Tecnologia Ca- navieira realizou no mês de março de 2008, em Piracicaba, um en- contro para conscientização das usinas, destilarias e associações de fornecedores filiadas ao CTC sobre este novo problema. Especialistas da área de Entomologia do CTC e técnicos de associadas debateram o assunto. Participaram do even- to 1/3 das associadas sendo que técnicos de 12 Associações de For- necedores estiveram presentes, demonstrando o interesse e a pre- ocupação no reconhecimento da praga. Após este evento, a equipe do “Muda Sadia” com o apoio téc- nico dos especialistas, vêm realizan- do treinamento individualizado nas associadas abrangendo até meados de agosto, 84 reuniões técnicas (nove delas em associações de for- necedores) para aproximadamente 1.530 colaboradores e funcionários das associadas, orientando na iden- tificação, no levantamento popula- cional e nas práticas atuais de con- trole da praga. Além disso, o CTC, juntamente com a UDOP, realizou três reuni- ões regionais (Araçatuba, Ribeirão Preto e Dourados), aberta também às não associadas, visando maior divulgação dos acontecimentos. Aproximadamente 230 profissio- nais participaram destes três even- tos. O CTC disponibiliza às suas asso- ciadas maiores informações sobre a praga em seu site (www.ctcanaviei- ra.com.br), inclusive com um vídeo explicativo sobre a praga no portal exclusivo de treinamento. Solicite maiores informações para acessá- lo à sua associação. O CTC solicita a colaboração de todos para mapear as áreas de ocor- rência da praga, monitorar todas as áreas que ainda não apresentam o problema, para descobrir possíveis novos focos objetivando evitar a sua rápida proliferação. Cuidado especial deve ser dado às áreas próximas a viveiros de plantas or- namentais, pois possivelmente foi através destes viveiros que a broca gigante foi trazida para o estado de São Paulo e, posteriormente, mi- grou para canaviais próximos. Mu- das de cana oriundas das regiões Norte e Nordeste também devem Mauro Sampaio Benedini - Armene José Conde

BROCA GIGANTE - coplana.com€¦ · 24 - Revista Coplana - Setembro 2008 Manejo ser criteriosamente inspecionadas, assim como os talhões plantados com estas mudas de cana. Ciclo

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: BROCA GIGANTE - coplana.com€¦ · 24 - Revista Coplana - Setembro 2008 Manejo ser criteriosamente inspecionadas, assim como os talhões plantados com estas mudas de cana. Ciclo

24 - Revista Coplana - Setembro 2008

Manejo

ser criteriosamente inspecionadas, assim como os talhões plantados com estas mudas de cana.

Ciclo biológico da broca gigante

A broca gigante é da Classe In-secta, Ordem Lepidóptera, ante-riormente pertencente ao gênero Castnia, mas que foi revisto para Telchin. As espécies mais comuns são Telchin licus licus (broca gigan-te), mais problemática pelos danos causados e Telchin licus laura, me-nos agressiva.

O adulto de Telchin licus licus (broca gigante) vive de 10 a 15 dias, possui hábitos diurnos, é de colora-ção escura com faixas esbranquiça-das nas asas (figuras 1 e 2). As fê-meas ovipositam em média de 50 a 100 ovos, nas bases das touceiras.

A fase de ovos dura de 8 a 10 dias e estes podem ser esverdeados ou marrons no formato de carambola (figura 3). Não são facilmente visu-alizados no campo e foram obser-vados no laboratório do CTC onde a broca está sendo criada para estu-dos mais detalhados.

As larvas, de coloração branca leitosa (figura 4), vivem de 100 a 120 dias e, próximo à mudança de fase, permanecem nas bases das touceiras, abaixo do nível do solo

BROCA GIGANTE Nova praga da cana-de-açúcar na região centro-sul

IntroduçãoEm julho de 2007 foi detectada

na região de Limeira, no Estado de São Paulo, uma nova praga nos ca-naviais da região Centro Sul, a bro-ca gigante, considerada a mais im-portante praga da região nordeste do Brasil onde seus danos resultam em perdas anuais estimadas em R$ 34,5 milhões.

Objetivando disseminar o fato, o CTC - Centro de Tecnologia Ca-navieira realizou no mês de março de 2008, em Piracicaba, um en-contro para conscientização das usinas, destilarias e associações de fornecedores filiadas ao CTC sobre este novo problema. Especialistas da área de Entomologia do CTC e técnicos de associadas debateram o assunto. Participaram do even-to 1/3 das associadas sendo que técnicos de 12 Associações de For-necedores estiveram presentes, demonstrando o interesse e a pre-ocupação no reconhecimento da praga. Após este evento, a equipe do “Muda Sadia” com o apoio téc-nico dos especialistas, vêm realizan-do treinamento individualizado nas associadas abrangendo até meados de agosto, 84 reuniões técnicas (nove delas em associações de for-necedores) para aproximadamente 1.530 colaboradores e funcionários das associadas, orientando na iden-tificação, no levantamento popula-

cional e nas práticas atuais de con-trole da praga.

Além disso, o CTC, juntamente com a UDOP, realizou três reuni-ões regionais (Araçatuba, Ribeirão Preto e Dourados), aberta também às não associadas, visando maior divulgação dos acontecimentos. Aproximadamente 230 profissio-nais participaram destes três even-tos.

O CTC disponibiliza às suas asso-ciadas maiores informações sobre a praga em seu site (www.ctcanaviei-ra.com.br), inclusive com um vídeo explicativo sobre a praga no portal exclusivo de treinamento. Solicite maiores informações para acessá-lo à sua associação.

O CTC solicita a colaboração de todos para mapear as áreas de ocor-rência da praga, monitorar todas as áreas que ainda não apresentam o problema, para descobrir possíveis novos focos objetivando evitar a sua rápida proliferação. Cuidado especial deve ser dado às áreas próximas a viveiros de plantas or-namentais, pois possivelmente foi através destes viveiros que a broca gigante foi trazida para o estado de São Paulo e, posteriormente, mi-grou para canaviais próximos. Mu-das de cana oriundas das regiões Norte e Nordeste também devem

Mauro Sampaio Benedini - Armene José Conde

Page 2: BROCA GIGANTE - coplana.com€¦ · 24 - Revista Coplana - Setembro 2008 Manejo ser criteriosamente inspecionadas, assim como os talhões plantados com estas mudas de cana. Ciclo

Revista Coplana - 25

levantamentos populacionais por amostragens e quando constatado sua presença, efetua-se o controle manual. A lagarta é coletada ma-nualmente imediatamente após o corte, com auxílio de ferramentas apropriadas, matando-se no pri-meiro dia até 65% das mesmas. No quinto dia não há mais eficiência de controle, pois ela migra para outro colmo.

Numa segunda etapa (45 dias depois), avalia-se o coração mor-to e retira-se o broto ou perfilho atacado com ou-tro tipo de enxadinha. O controle manual é caro, mas o pior é perder o canavial. Se não for con-trolado desta maneira, o avanço populacional da praga condena o cana-vial à reforma, pelo ele-vado número de falhas que aparecem.

Considerações finais

Todos devem estar aten-tos para detectar o apare-cimento de novos focos. O CTC está criando a broca em laboratório para estu-dos de controle (biológico, principalmente). Devemos ter cuidado com canaviais instalados perto de viveiros

Figuras 1 e 2: Adulto de Telchin licus licus (vista dorsal e ventral)

Figura 3 – Ovos de Telchin licus licus

de mudas ornamentais (figura 7) e com mudas de cana oriundas das áreas problemas.

O monitoramento proposto pelo CTC para o mapeamento da praga é semelhante ao caminhamento no levantamento da cigarrinha-da-raiz. Converse com o agrônomo da sua associação para maiores escla-recimentos.

onde preparam a câmara pupal. O período pupal é de 30 a 45 dias (fi-gura 5). O ciclo biológico completo pode ocorrer em 158 a 190 dias, podendo haver até duas gerações/ano.

DanosA broca gigante danifica a cana

abrindo galerias de baixo para cima até 1/3 da altura do colmo da cana, deixando-o ocado, causando perdas na produção agrícola e in-dustrial. Quando acaba a reserva no colmo, a larva migra para outro fazendo nova galeria de baixo para cima podendo danificar as toucei-ras resultando em falhas na brota-ção e em casos de altas infestações, necessidade de reforma do cana-vial. Causa também o conhecido “coração morto” na fase de brota-ção das soqueiras (figura 6). O clima influencia o aumento populacional, sendo que melhores distribuições de chuva favorecem o ataque.

Controle A broca gigante é “praga chave”

da cana e de difícil controle, pois a larva fecha o buraco (orifício ocado) logo após o corte da cana, dificul-tando o acesso de predadores e tornando ineficiente a aplicação de inseticidas. O controle manual (ca-tação da praga) é o único método eficiente, até o momento, porém os custos são elevados. Fazem-se

Mauro Sampaio Benedini e Armene José Conde Gerentes Regionais de Produto

Figuras 4 e 5 – Larva e pupa de Telchin licus licus

Figura 7 - Mudas mortas de “Strelitzia”, planta ornamental, atacada pela praga

Figura 6: Sintoma de ataque de T.licus licus, “coração morto”