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Budô nº 02

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Revista de artes marciais e cultura oriental. Nesta edição: * BUGEI - A Arte dos Samurais * O Kiai * Tributo a Noriyuki “Pat” Morita * ESPECIAL: A Influência do Budismo Mahayana Sobre o Wushu * CURIOSIDADES e PENSAMENTOS * CINEMA: Os 25 Anos de “Karatê Kid” * ARMAS: Sai, Nunte e Jitte * PERFIL: Yang Luchan * e mais

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Ano I, No 02

Dezembro de 2009

Ano I, No 02

Dezembro de 2009

ESPECIAL

A Influência doBudismo Mahayana

Sobre o Wushu

CINEMA

Os 25 Anos de“Karatê Kid”

CINEMA

Os 25 Anos de“Karatê Kid”

BUGEIA Arte dosSamurais

BUGEIA Arte dosSamurais

ARMAS

Sai, Nuntee Jitte

ARMAS

Sai, Nuntee Jitte

O KiaiO KiaiO KiaiO KiaiO KiaiO KiaiO KiaiO KiaiO KiaiO Kiai

PERFIL

Mestre YangLuchan

PERFIL

Mestre YangLuchan

Tributo aNoriyuki “Pat”Morita

Tributo aNoriyuki “Pat”Morita

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Gilberto Antônio SilvaEditor

Editorial

Editorial

ARTES MARCIAIS,FILOSOFIA,

CULTURA ORIENTAL,COZINHA,

TRADIÇÕES,CINEMA

E UM POUCO DE TUDO DO

ORIENTE

Visite: http://vidaoriental.blogspot.com

Novos Companheiros do Caminho

Estamos de volta, embora um pouco distantesde nossa periodicidade desejada. Gostaríamos queBUDÔ fosse mensal, mas teremos que nos contentarcom a bimestralidade, ao menos por enquanto. Vári-os motivos nos levaram a isso, tanto técnicos quanto

financeiros. Afinal, esta é uma revista com qualidadeprofissional. Gostaria também de contar com a SUASUASUASUASUA co-

laboração, divulgando nossa revista para seus amigos ecolocando-a em blogs e sites para download. Lembre-se deque é gratuitagratuitagratuitagratuitagratuita. Também queremos saber sua opinião, co-opinião, co-opinião, co-opinião, co-opinião, co-mentários e sugestões de matériasmentários e sugestões de matériasmentários e sugestões de matériasmentários e sugestões de matériasmentários e sugestões de matérias, pois estamos sempreabertos aos nossos leitores. Nesta edição inauguramos aseção de cartas e ficaremos esperando a sua para o próxi-mo número.

Esta edição está muito especial. Contamos com umamatéria muito interessante da Sociedade Brasileira deSociedade Brasileira deSociedade Brasileira deSociedade Brasileira deSociedade Brasileira deBugeiBugeiBugeiBugeiBugei, organização dedicada à artes marciais tradicionaisdo Japão e com sede em Goiânia. Tivemos uma calorosarecepção de Shidoshi JordanShidoshi JordanShidoshi JordanShidoshi JordanShidoshi Jordan, atualmente desenvolvendo oBugei na Espanha, e do Sensei FinottiSensei FinottiSensei FinottiSensei FinottiSensei Finotti, responsável peloBugei no Brasil. Temos certeza de que será uma longa efrutífera colaboração.

Mais duas estréias, desta vez, internacionais. OMestrMestrMestrMestrMestre Te Te Te Te Tonyonyonyonyony, que nos concedeu uma entrevista publicadano último número, estréia como colaborador regular de nos-sa revista. Para os que perderam a última edição, MestreTony é herdeiro do Grão-MestrGrão-MestrGrão-MestrGrão-MestrGrão-Mestre Huang Ye Huang Ye Huang Ye Huang Ye Huang Yu Wu Wu Wu Wu Wenenenenen, do KungFu Nam Pai e desenvolve seu trabalho atualmente na Áus-tria. Nesta edição temos uma matéria especial dele sobreBudismo Mahayana e Artes Marciais. Excepcional eimperdível! Montamos uma formatação diferente do restan-te da revista para que as citações originais em chinês nãocausassem confusão. Tudo em benefício de você, leitor.

O Sensei Víctor López MegíaSensei Víctor López MegíaSensei Víctor López MegíaSensei Víctor López MegíaSensei Víctor López Megía, da Espanha, apare-ce pela primeira vez em nossa revista cedendo a foto deNunte-Bo que abre a matéria sobre o Sai. Sensei Megía éespecialista em história do Karatê e Kobudô e já enviou suaprimeira matéria, que será publicada na próxima edição. Éum prazer tê-lo conosco.

Trazemos nesta edição outros assuntos de interesse,como o SaiSaiSaiSaiSai e suas variantes, o KiaiKiaiKiaiKiaiKiai, Curiosidades e Pensa-Curiosidades e Pensa-Curiosidades e Pensa-Curiosidades e Pensa-Curiosidades e Pensa-mentosmentosmentosmentosmentos, e os 25 anos do filme “Karatê Kid”25 anos do filme “Karatê Kid”25 anos do filme “Karatê Kid”25 anos do filme “Karatê Kid”25 anos do filme “Karatê Kid”. Tenho umcarinho especial com este filme pois na época de seu lança-mento eu estudava Karatê Goju-RKaratê Goju-RKaratê Goju-RKaratê Goju-RKaratê Goju-Ryuyuyuyuyu e os treinamentos dofilme retratam com grande acuidade várias técnicas desteestilo de Okinawa. A filosofia transmitida também marcoutoda uma geração de artistas marciais.

Temos também uma notícia, a última de 2009, sobrea refilmagemrefilmagemrefilmagemrefilmagemrefilmagem (“remake” para os aficcionados) de… “TheKarate Kid”! Mostramos algumas fotos e o link para o traileroficial do novo filme. Como regra geral, ABOMINOrefilmagens. Elas, em geral, são uma mistura de absolutafalta de capacidade criativa com ânsia de lucros fáceis.Neste caso, o problema é ainda pior pois trata-se de sim-ples pirataria de título, acredite. Leia a nota e vai saber doque estou falando.

Para encerrar, gostaria de estender o convite a todostodostodostodostodosos mestros mestros mestros mestros mestres e pres e pres e pres e pres e professorofessorofessorofessorofessores de ares de ares de ares de ares de artes martes martes martes martes marciaisciaisciaisciaisciais para que com-partilhem seu conhecimento com todos nós. Enviem matéri-as para análise e, se forem aprovadas, serão publicadasSEM CUSTO ALGUM. Verifiquem nossas normas de enviona página 27.

Boa Leitura.

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Nesta Edição:

06 BUGEI - A Arte dos Samurais10 O Kiai15 Tributo a Noriyuki “Pat” Morita20 ESPECIAL: A Influência do Budismo Mahayana

Sobre o Wushu

Seções

05 CARTAS / ÚLTIMAS08 NEWS: Jiu-Jitsu Perde o Grande Mestre

Pedro Hemetério09 CURIOSIDADES09 PENSAMENTOS12 CINEMA: Os 25 Anos de “Karatê Kid”16 ARMAS: Sai, Nunte e Jitte28 PERFIL: Yang Luchan

Editor: Gilberto A. Silva (Mtb 37.814)

Produção e Diagramação: Studio 88Esta revista é uma publicação de

Longevidade

www.longevidade.netRevista digital do Caminho

Marcial e da Cultura OrientalISSN 1516-3903

Comente, opine, parComente, opine, parComente, opine, parComente, opine, parComente, opine, participe:ticipe:ticipe:ticipe:ticipe:[email protected]@[email protected]@[email protected]

ESPECIAL

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AgradecemosParabenizo pelo trabalho realizado com a revistaBudo, espero que haja continuidade. Estou a dispo-sição para receber os futuros números, bem comopara divulgá-los. Conheça o blog do ICSDA Brasil:http://icsdabrasil.blogspot.comRodrigo MüllerSouth America DirectorBrasil DirectorICSDACuiabá - MT

Muito boa a revista. Precisávamos de uma publicação sé-ria assim no Brasil. Só tragam mais matérias sobre técnicasmarciais e armas.Gustavo CorreiaFortaleza - CE

Adorei a entrevista com o Mestre Tony e a matéria no tem-plo budista. Espero que continuem com essa qualidade.Aldine Carrasco GonçalvesSão Caetano do Sul - SP

Cartas

Cartas

Karatê e MestresGostei da revista e queria sugerir que viesse umtexto sobre a história do karatê-do e a vida de gran-de mestres. Obrigado.Sérgio KreytzSão Paulo - SP

Olá, Sérgio. Suas sugestões foram anotadas e se-rão disponibilizadas aos poucos, pois é muito ma-terial. As biografias de Mestres começam a serpublicadas nesta edição.

Queria sugerir uma matéria sobre Tai Chi Chuan.Cláudia LisboaSão Paulo - SP

Poderiam falar sobre Tai Chi Chuan na revista.André P. de SouzaCuritiba - PR

O Tai Chi Chuan está na pauta para as próximas edições.

Tai Chi Chuan

Participe você também! Envie sugestões e comentários para [email protected].

As cartas poderão ser resumidas para melhor uso deste espaço.

Última de 2009

Quando uma refilmagem não é uma refilmagem?Resposta: quando é um golpe de marketing! Estamos falando do lançamento, emjulho de 2010, do “novo” The Karate Kid. Como a história é diferente, a filmagemfoi feita na China, com um garoto com outro nome e um mestre chinês que luta KungFu, fica-se a pergunta sobre o “karate” do título. A intenção era fazer o “The Kung

Fu Kid”, mas na última hora o nome do clássico com Pat Moritafoi mantido, mesmo sem ter NENHUMA relação com o filme.

Certo, tem Jackie Chan como o mestre, então a coi-sa não está perdida. Mas o título, se for realmente mantido, éum golpe baixo de Hollywood como não se via há muito tem-po. O protagonista é um iniciante de sangue nobre: JadenSmith, filho de Will Smith (que também é o PPPPPAIAIAIAIAItrocinador,digo, Produtor do filme). Vamos ver. Assista o trailer aqui:http://www.youtube.com/watch?v=jy3TwgpOfr0&feature=player_embedded

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Bugei é a Arte da Guerra. Presente em todas as civilizações e considerada por muitos como parte da natureza humana, a guerra sempre movimentou a histó-

ria e a mente dos grandes estrategistas.A Arte da Guerra... O entendimento sobre uma ex-

pressão tão abrangente pode se iniciar pela terminologia.Bu é um kanji relacionado com o militarismo e amarcialidade. Gei significa arte, performance. Assim, a jun-ção de ambos – BuGei – pode ser interpretada como a arteda guerra ou desempenho militar e engloba estudos que serelacionam com o combate armado, desarmado e estraté-gia, suas sub-especializações e também as artes ligadas aodesenvolvimento mental e espiritual do guerreiro.

Compondo parte do Bugei, o Bujutsu denota a funci-onalidade dessas artes e suas estratégias, ligando a práti-ca à efetividade em se cumprir os objetivos relacionados.

O Bugei tem suas raízes no Japão antigo e sua ori-gem existia com fins puramente bélicos. Hoje, os objetivosda perpetuação da arte estão voltados ao estudo e à manu-tenção de uma tradição. Estudado em formato de discipli-nas ou matérias, o fator comum que une todas é a busca

BUGEIA Arte dosSamurais

Sensei Thiago Finotti de Moraes

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pela realidade e eficácia – a distinção das ilusões dentrodo guerreiro e ao seu redor.

Historicamente tratando, o apogeu militar do Japãose deu na Era Tokugawa – também conhecida como Perío-do Edo (1603–1868), enquanto socialmente a nação esta-va divida em quatro classes: comerciantes, artesãos, cam-poneses e samurai - a estes últimos cabia a função de ga-rantir a ordem nas terras de seu senhor. Era a eles atribuídoo direito de decisão sobre a vida e morte de outras pesso-as, usualmente sem necessidade de justificativas. Eram sim-bolizados pela honra de seu nome e de seu Senhor, e pelaespada. Preferiam a morte honrada a uma vida manchadapor algo que os tornasse indignos ou que lhes causassevergonha e embaraço diante de seu senhor, ao passo queregia em suas relações o Bushido, um código de honra trans-mitido de geração a geração.

O Japão sempre foi um país recheado de guerras einstabilidades, tentativas sucessivas de se alcançar o podere destruir os clãs inimigos. Relatos mostram que a atividadeda guerra e disputas civis eram algo tão presente naquelepovo que impressionavam mesmo aqueles que chegavamda Europa, que por sua vez nunca foi reconhecidamenteuma terra pacífica. Ainda assim essa natureza bélica eraalgo normal e natural para eles e enquanto observaçõeshistóricas descreviam os antigos japoneses como “um povoviciado em guerras”, o Japão também era referido por elesmesmos como “a terra da Grande Paz”. Ironicamente, eracomum se encontrar nomes de ruas e passarelas do tipo‘Armadura’, ‘Elmo’, ‘Flecha’, etc.

Essa paixão pelo poder e pelo letal era acompanha-da pela admiração pela graça das finas expressões danatureza, pela vida delicada das cerejeiras, pela relaçãocom os templos energéticos naturais, pela busca da perfei-ção na caligrafia e na pintura.

Toda essa combinação forjou uma forma muito pecu-liar de se encarar a existência e suas transições. Sob essaótica, a arte marcial – faço aqui referência ao termo marci-al no sentido original da palavra, remontando o Deus roma-no da Guerra, Marte, e não apenas auto-defesa – abremportas para experimentações e um conjunto de vias quedespertam para a formação e retidão do caráter.

Enquanto Bugei pode ser entendido como qualqueratividade militar, diversas escolas/linhagens (Bujutsu Ryu)ensinavam suas artes por todo o Japão, não sendo possívelprecisar um número e cada uma dessas linhagens se carac-terizava por suas particularidades, sendo assim a cada es-tilo atribuído um senso de unicidade ou identidade.

O Kaze no Ryu Bugei chegou ao Brasil com afamília Ogawa, que segundo histórico interno da escoladesembarcou no Porto de Santos em uma data imprecisaem torno de 1935, estabelecendo-se no estado do Paraná.Sendo considerado um grande gênio em seu raciocínio emarcialidade, existem indícios históricos que fazem refe-rência ao desenvolvimento das técnicas do Kaze no Ryu

por Ogawa Sensei. Por isso, é possível encontrar diferen-ças no que tange ao Kakuto no Bujutsu, ou seja, as formasreais de guerra praticadas pelos alunos de Ogawa Senseiem relação às do Kaze no Ryu. Assim se diz que desde adécada de 70 nossa linhagem também se denomina OgawaRyu. Shidoshi Jordan Augusto foi um dos poucos que rece-beu das mãos de Ogawa Hiroshi a graduação de Shidoshie a permissão para ensinar a tradição da linhagem, dandoinício a anos de ensino até mudar-se para a Espanha efundar a EBS – European Bugei Society. Thiago Moraes es-tuda sob a orientação de Shidoshi Jordan Augusto e juntoao seu direcionamento é responsável pela continuidade dotrabalho da SBB – Sociedade Brasileira de Bugei, hojepresente em Escolas de Bugei e Universidades.

Os estudos de Bugei na linhagem Ogawa estão com-preendidos no Kobujutsu e no Taijutsu.

Kobujutsu, traduzido literalmente como “Arte Velhada Guerra” freqüentemente faz referência ao uso e práticade armas. Considerando o aspecto mais geral de Kobujutsusão nele encontradas várias artes: Kenjutsu – Arte da Espa-

da, Iaijutsu e Battojutsu – Arte do Saque e Corte, Tantojutsu– Arte da Faca, Yarijutsu (Sojutsu) – Arte da Lança, Bojutsu– Arte do Bastão Longo, Naginatajutsu – Arte da Naginata,antiga arma no formato de alabarda ou lança com lâminano formato de espada, Tanbojutsu – Arte do Bastão Curto,Nawa no Gikkou – Artes com Cordas e outras.

No currículo da escola, o estudo desarmado se dáno Taijutsu, termo usado para designar as artes corporais –Tai significa corpo, Jutsu significa arte. Trata-se de uma for-ma de luta bastante antiga, cujo cerne consiste em prepa-rar os praticantes para que o corpo se tornasse uma armaextremamente perigosa e aperfeiçoar a tal ponto que per-

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mitiria enfrentar qualquer situação semproteção além do próprio corpo. Na-turalmente, tudo isso dentro das reali-dades da época e no limiar da reali-dade prática.

Analisando a imensa quantida-de de possibilidades de conflitos quetemos a partir desses conceitos, oTaijutsu se expandiu e evoluiu em umamiríade de formas, com o intuito deabranger consistentemente as maisdiversas vantagens em combates, con-tando inclusive com sub-especializa-ções contra adversários armados. Aeficácia das artes corporais no Japãoantigo se tornou tão marcante que oestudo chegou ao ponto de interagircom ângulos, projeções, imobiliza-ções, chaves, impactos, traumas, tra-ções e alavancagens que lhes davam condições de coloca-rem-se supostamente contra qualquer adversário.

Em termos das classificações das artes no Taijutsu esuas naturezas, este é dividido sumariamente em três gran-des artes: o Jujutsu, o Aikijujutsu e o Kenpo.

O Jujutsu, arte que teve origens no Kumi Uchi (ouYoroi Kumi Uchi, no caso de usarem armadura) que por suavez procurava levar os adversários ao solo e explorar asvantagens rápidas dessa situação. Já no Jujutsu, podemosencontrar uma grande quantidade de técnicas e imobiliza-ções, com maior enfoque no agarramento e o uso do chãocomo arma.

O Aikijujutsu se baseia na utilização da energia inte-rior Ki e na harmonia ou interação entre os oponentes e oguerreiro. Ainda que belo, o Aikijujutsu possui faces de gran-de periculosidade.

Trabalha com o princípio do vazio, ou Sukima, queem essência consiste em não permitir que a intenção doinimigo atinja seus objetivos e conta-se que fundamental-

mente esse desenvolvimen-to surgiu quando o bushi(guerreiro) perdia a Katana(espada) em campo de ba-talha e dificilmente encon-traria outro recurso para sedefender além do Sukima.

Os movimentos circu-lares são facilmenteobserváveis durante a exe-cução de Aikijujutsu repre-sentando o redire-cionamento, o não conflitoe a junção com a energiaKi do inimigo. Porém nos es-tudos voltados para a reali-dade da guerra as práticasse tornam rígidas edestrutivas, com atuações

retilíneas que, compostas com o movimento circular atu-am por meio de espirais e adquire uma violenta carac-terística.

Sua complexidade a consagrou como uma artede nobres costumes. A dificuldade se encontra exata-mente na harmonia interior do praticante, não se dei-xando levar por qualquer sentimento ou emoção queafetasse a sua técnica. 

Por outro lado, o Kenpo é uma arte que trabalhacom a agressividade e o fortalecimento corporal. A boapreparação do corpo visava tornar suas partes em ar-mas, por conseguinte capazes de absorver impactos.Sua filosofia consiste em encontrar harmonia entre anaturalidade do corpo e sua agressividade.

Torna-se interessante entender que existem estu-dos específicos dentro de Taijutsu que surgem como es-pecializações dentro de uma arte. É o caso, por exem-plo, do Koppojutsu, arte que estuda o ataque aos ossosdo corpo e estabelece uma ligação entre o Jujutsu e o

Aikijujutsu, uma vez que algumas de suas se-qüências clássicas – Seiteigata – são usadastanto em uma arte quanto em outra.

Sensei Thiago Finotti de Moraes é formado emEngenharia Eletrônica pela Universidade Federalde Uberlândia. Iniciou seus estudos em artesmarciais ainda criança e estuda sob a orientação deShidoshi Jordan Augusto. Foi diretor do CentroIntegrado de Artes Marciais (CIAM), escola de artesmarciais, em 2002. Participou de vários cursos deformação com Shidoshi Jordan Augusto, estando aoseu lado em cursos internos, acompanhando-o emeventos e viagens e estado nas principais revistas emídias do mundo sobre artes marciais. É oresponsável técnico da SBB no Brasil.

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“A filosofia de nosso estilo pode ser resumida no nosso lema:amar a pátria, não recuar um só passo na luta, ajudar osfracos e obter a confraternização mútua”– Mestre Ranulfo Amorim, Hapkidô

“ Ao estudar o Caminho, é difícil percebê-lo; ao percebê-lo,é difícil preservá-lo. Quando se pode preservá-lo, é difícilcolocá-lo em prática” ­- Pensamento Ch’an

“Quando o professor é rigoroso, o caminho estudado éhonrado” - Pensamento Ch’an

“Nenhum homem confia em alguém que se mostre agressi-vo. E aquele em quem ninguém confia permanecerá solitá-rio e sem amparo” – Lieh Tzu, Sábio Taoísta

“A filosofia aparece no caráter do praticante à medida emque este evolui na técnica” – Shihan Makoto Nishida, Aikidô

“…tudo o que tive foram aulas de técnicas e filosofia devida: nunca agredir ninguém, não freqüentar lugares ondehaja encrencas e viver sempre na serenidade”– Mestre Tomeji Ito, Karatê

Pensamentos

Shiro Saigo, famoso lu-tador do Kodokan que venceuvários Mestres de Jujitsu naaurora do Judô, era Mestre emDaito-Ryu Aikijujutsu e o primei-ro na linha sucessória do Gran-de Mestre Tanomo Saigo, seupai. Ele desistiu de chefiar oDaito-Ryu para se dedicar aoJudô, sendo substituído porSokaku Takeda na direção doAikijujutsu. PosteriormenteMestre Saigo abandonou tam-

bém o Judô para se dedicar apenas ao Kyudô, a Arte Zendo Arco e Flecha. Seu golpe principal, Yama-Arashi (“Ventoda Montanha”), era tido como invencível quando usado porSaigo.

O sexto patriarca do Zen Budismo, Hui Neng, eraum cozinheiro analfabeto do mosteiro quando foi reconhe-cido como Patriarca pela sua profunda compreensão doZen.

Curiosidades

“É mais útil acender uma vela do que amaldiçoar a escuri-dão” – Chuang Tzu, Filósofo Chinês

“É difícil ter uma vida longa com um nome famoso”– Pensamento Ch’an

“O homem que alcançou o domínio de uma arte revela-oem cada um de seus atos” – Provérbio Samurai

“Para alimentar o coração não há nada melhor do que terpoucos desejos” – Mencius, Filósofo Chinês

“Se você perseguir o conhecimento por milhares de dias,não vai lhe valer mais do que um único dia de estudo apro-priado do funcionamento da mente. Se você não a estudar,você não será capaz de entender um simples pingo d’água”– Huang Po, Sábio Chinês

“Tzu-Kung perguntou em que consistia o Homem Superior.O Mestre disse:’Ele age antes de falar, e em seguida falade acordo com suas ações” – Confúcio

“O Home Superior tem uma calma dignidade sem orgulho.O homem comum tem orgulho sem calma dignidade”- Confúcio

Os seis pontos brancosalinhados que se vêem na ca-beça raspada dos monges deShaolin representam os seisvotos que eles tem que manter.Esses pontos são feitos com abrasa de um incenso e refor-çados pelo menos duas vezesao ano.

Ao lado vemos o perso-nagem “Kulilin”, da sérieDragon Ball. Note os seis pon-tos, que ele perdeu quando secasou em “Dragon Ball Z” (tam-bém deixou crescer o cabelo)

Entre as centenas de artes marciais diferentes exis-tentes na China, uma chama a atenção: trata-se do PANQUAN BI. Esta é uma arte marcial que utiliza como arma –acreditem – os pincéis usados para escrever! Realmente, lána China a pena é mais forte do que a espada…

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O Kiai é a técnica mais conhecida das artes marciais por ser a mais aparente, na forma de um gritocaracterístico. Qualquer pessoa que tenha assisti-

do a um filme qualquer sobre artes marciais sabe do queestamos falando. Mas pro trás do grito existe toda uma artemuito complexa, mas que iremos abordar de forma bemsimplificada.

KIAI é uma palavra japonesa composta por doisideogramas (veja a figura). O primeiro, KI, pode ser tradu-zido por espírito, sopro oumais comumente, energia.Seria a energia universal quepermeia e toma parte em to-das as coisas. O segundo, AI,significa harmonia ou maisprecisamente, ficar junto. Éuma contração do verbo“awasu”, que significa “unir”. Seu ideograma é formadopor um telhado ou tampa sobre um receptáculo, mostrandoa condição de se ficar “fechado” com alguma coisa ou fi-car junto.

Como podemos perceber, Kiai significa “unir a ener-gia”. Trocando em miúdos, Kiai pode ser entendido como aliberação da energia (Ki) que estava armazenada, em har-monia com o praticante (Ai). O Ki deve ser aumentado econservado no Hara, o centro de energia do ser humano,como se estivesse dentro de um pote tampado. Isso demons-tra que seu significado é muito mais profundo e cheio denuances do que se imagina.

Aspectos EnergéticosA base do Kiai está no Hara e na concentração total

do praticante nessa área, chamado de Haragei. Discutire-mos o Hara e o Haragei em outra ocasião.

O GritoMas então onde fica o grito?O grito que se escuta constantemente nas artes mar-

ciais japonesas e coreanas é uma forma de se liberar o KIpara formar o “receptáculo” com o oponente e ao mesmotempo funcionar como arma. Vamos por partes.

A respiração é de suma importância nas artes marci-ais, como é de conhecimento comum. É através dela quetiramos o KI do ar e controlamos o fluxo de energia emnossos movimentos, como por exemplo, quando expiramosao mesmo tempo em que desferimos um golpe. Sempre que

O KIAI

fazemos um esforço muito grande nós soltamos naturalmen-te um Kiai, sendo que na maioria das vezes isso não passade um grunhido, como quando levantamos um grande pesoou quando os lenhadores cortam uma árvore. Esse somgutural não é produzido completamente na garganta masparece vir de dentro, da barriga. Essa é a essência do Kiai!O som que emitimos deve vir da região abdominal, doHARA, e não da garganta e deve ser simultâneo com ogolpe! O que assistimos em muitos campeonatos de Karatênão passa de encenação para a platéia ou para dar aentender ao juiz que o golpe teve força. Vemos até prati-cantes soltarem o grito depois de darem as costas para ooponente, retornando à sua marca. Bobagem! Não bastagritar, mas deve haver certas qualidades presentes, comoveremos a seguir.

O Kiai como ArmaAlguns autores consideram que todas as artes marci-

ais japonesas que se utilizam do Kiai (e TODAS utilizam deuma ou outra maneira) deveriam ser enquadradas comoKIAI JUTSU (A Arte do Kiai), dada a sua importância. Maso Kiai não é apenas algo “esotérico” como a influência doKI de um oponente a outro, mas possui também poder de

Gilberto Antônio Silva

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produzir síncopes, estas comprovadas cientificamente. Suaforça é tão grande que a arte do Kiai também é chamadade TOATE-NO-JUTSU (A Arte de Golpear à Distância).

Uma síncope é um estado clínico em que há perdamais ou menos completa da consciência e do movimento,com uma parada ou pelo menos diminuição das batidascardíacas, da circulação e dos movimentos respiratórios.Tal estado pode ser induzido pelo Kiai, desde que executa-do da maneira devida. Os nervos vegetativos do ouvidomédio condensam-se em um plexo que se relaciona direta-mente com os nervos pneumogástrico e simpático. O siste-ma simpático estimula os órgãos a ele associados enquantoo parassimpático atenua. O Pneumogástrico é um dos maisimportantes nervos parassimpáticos, agindo sobre o cora-ção, pulmões, estômago, intestinos, fígado, e outros órgãos.O nervo auditivo que parte do ouvido interno está em cone-xão direta com o sistema simpático. Qualquer estimulaçãodo sistema parassimpático (como o pneumogástrico) causauma queda da atividade dos órgãos, enquanto umaestimulação do sistema simpático acarreta uma estimulaçãofísica. Como podemos perceber, esses dois sistemas agemantagonicamente.

Um estímulo muito intenso do ouvido médio pode pro-vocar uma queda da pressão arterial, efeito que pode seragravado com o mesmo fenômeno ocorrendo no ouvidointerno. Assim, um som intenso e repentino incidindo sobreesses dois aparelhos delicados pode provocar uma síncopepor diminuição da pressão arterial e dos batimentos cardí-acos. Contam-se várias histórias de Mestres que podiamparalisar seus oponentes ou mesmo matá-los apenas com opoder de seu Kiai! Mas para que o Kiai seja eficiente sãonecessários alguns fatores:

- Grito grave e gutural- Utilização da sílaba correta

- O som deve nascer do HARA- A postura da voz deve ser observada. Um tom auto-

ritário, firme, é mais importante do que um grito muito alto- É preciso que o grito seja carregado de emoção- Deve ser súbito e intenso- A distância deve ser entre 0,80 e 1,50 metro do

oponente (para maior eficácia)

Psicologia e Medicina ChinesaClaro que também existe um efeito psicológico muito

grande. Somos programados para evitar e temer ruídos al-tos e repentinos. Várias criaturas fazem uso de sons paraatemorizar seus inimigos, parecendo maiores e mais temí-veis. Essa técnica é utilizada pelas tropas de choque dapolícia, especializadas em dissolver tumultos. Eles se apro-ximam gritando ou batendo o cassetete no escudo, criandoum ruído que, mesclado à marcha ritmada, parece muitoameaçador.

A síncope física mencionada anteriormente pode tersua eficiência ampliada pelos fatores psicológicos da inten-sidade e modulação do grito do Kiai, que nos despertamreações primitivas de fuga. Na medicina chinesa a emoçãoatribuída ao Rim é “medo” e a abertura do Rim se dá nosouvidos. Logo, um som determinado pode alterar o equilí-brio energético do Rim, causando um princípio de pânico.

O Kiai MedicinalO Kiai também pode ser utilizado como agente

estimulador na recuperação de praticantes que sofreramsíncopes. O grito emitido nestes casos é mais agudo, agin-do sobre o sistema nervoso simpático que estimula o siste-ma cardíaco, acelerando os batimentos, e sobre o circula-tório, dilatando os vasos sangüineos. O Kiai pode ser emi-tido sozinho ou acompanhado de percussões no corpo dopaciente. Tais técnicas são cuidadosamente estudadas eaplicadas numa arte denominada KUATSU.

ConclusãoComo pudemos ver, o Kiai está muito longe de ser

apenas um grito. Muitas vezes, aliás, ele é silencioso (quan-do então é chamado de KENSEI). Grande parte das artesmarciais chinesas são silenciosas mas possuem o Kiai. Jáas coreanas o conhecem por KIHAP e as vietnamitas porHET, utilizando-o muito.

Espero que você não se engane mais com a aparen-te superficialidade do Kiai e estude e treine, treine, treinemuito nesta que é uma das artes maravilhosas do Oriente eque está em processo de esquecimento.

Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo e Terapeuta Oriental,estudioso de filosofia e cultura oriental desde 1977. Como jor-nalista e pesquisador, estudou e teve contato nos anos 80 e 90com os principais introdutores das artes marciais no Brasil. Pra-ticou Karatê Okinawa Goju-Ryu, Aikidô e Tai Chi Chuan.

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O filme “Karatê Kid – A Hora da Verdade” foi umestrondoso sucesso de bilheteria no cinema e umfenômeno de aluguel no recém criado mercado

de videocassete. Produzido em 1983 e lançado em 1984,trazia a história de um garoto, Daniel Larusso (protagonizadopor Ralph Macchio), que se muda com a mãe para aCalifórnia e se torna alvo de uma turma de baderneiros quetreinam artes marciais. Casualmente, o zelador do condo-mínio onde mora é um Mestre em Karatê, o Sr. Kesuke Miyagi(protagonizado por Pat Morita). Sr. Miyagi resolve treinaro garoto na antiga arte marcial de sua família para queDaniel possa se defender de seus oponentes.

Sucesso de público e de crítica (foi indicado ao Os-car e ao Globo de Ouro), o filme é memorável até os diasatuais, tendo tido três coninuações: duas com os mesmosprotagonistas e uma quarta fita, desta vez com o Sr. Miyagitreinando uma garota, interpretada pela excelente HilarySwank – ganhadora de dois Oscars de Melhor Atriz por“Meninos não Choram” e “Menina de Ouro”.

Muitas pessoas, especialmente praticantes de artesmarciais, criticam duramente o filme por não ser “realista”.Mas muitas vezes isso é injusto. Em 1984 não assistíamosao festival de sangue e ossos quebrados que invadem osfilmes de hoje. Era uma época em que as pessoas tentavamse firmar depois das mudanças de 60 e 70, ainda com operigo do holocausto nuclear sobre nossas cabeças. O fil-me “O Dia Seguinte” (The Day After), lançado em 1983,causava grande impacto mostrando o que seria a devasta-ção de uma guerra nuclear. Isso era mais assustador aindapor ser uma realidade pronta a se fazer presente a qual-quer momento, e se necessitava de esperança. Nessa épo-ca, os filmes de aventura eram a grande sensação, commocinhos combatendo inimigos cruéis como em O ImpérioContra-ataca e O Retorno de Jedi (fechando a trilogia origi-

nal de Star Wars), Batman, Caçadores da Arca Perdida,Indiana Jones no Templo da Perdição, Indiana Jones e aÚltima Cruzada ou filmes mais familiares e com lições demoral como E.T. O Extraterrestre, Os Caça-Fantasmas, DeVolta para o Futuro I e II e Um Tira da Pesada I e II. Paraentender um filme dessa época devemos ver as entrelinhas.

“Karatê Kid” mostra basicamente que arte marcialnão é pancadaria e nem deve ser utilizado para coagir osmais fracos. Que existe um código de honra dentro dasartes marciais e que ter grande eficiência marcial não sig-nifica sair por aí batendo em todo mundo. Que arte marcialpossui um significado espiritual, profundo, que deve serpuxado de dentro de nós (como na cena em que Daniel temque podar um bonsai). Também chama a atenção para ofato de que as técnicas marciais estão integradas em nossodia-a-dia e que o artista marcial deve VIVENCIAR a suaarte em tudo o que faz. Este é o significado das hilárias“tarefas” que Daniel tem que se submeter, como lixar o chão,pintar cercas e polir carros. No final, ele aprendeu técnicasmarciais sem perceber. Ed Parker, o grande divulgador dasartes marciais na década de 60 e descobridor artístico deBruce Lee, expõe isso claramente em sua coleção “Infinite

KaratêKid

25 Anos

Cinema

Cinema

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Insights Into Kenpo”. Ele mostra que muitos gestos do dia-a-dia podem se transformar em técnicas marciais, como olevantar de um joelho para subir um lance de degraus. Selevantar mais alto o joelho e com mais velocidade, terá umgolpe marcial. Pense nisso na próxima vez que for subiruma escada…

O filme “Karatê Kid” também foi pioneiro em levaras artes marciais para dentro do ambiente familiar. Até entãoos filmes marciais eram muito violentos para a época. Mui-tos deles se pareciam com os filmes pornográficos: muitoação e pouca história. “Karatê Kid” mostrou que existiaCONTEÙDO nas artes marciais, um porquê de se fazer ascoisas daquele jeito, uma forma de disciplina e desenvolvi-mento ideal para os mais jovens. Seu ritmo um tanto lentodá tempo ao espectador, não acostumado na época, paraentender a filosofia por trás das técnicas marciais. Acredi-to que é nisso que reside a grande vitória desse filme –mostrar que existe mais do que chutes e socos em uma artemarcial.

É oportuno ressaltar que esta obra começou com umasimples observação do Produtor Jerry Weintraub, veteranocom mais de 30 anos de Hollywood e produtor de “Rocky,Um Lutador”, com Sylvester Stallone. Ele assistiu a uma re-portagem de TV que mostrava um garoto que havia apren-dido Karatê para lidar com as perseguições que sofria naescola (o hoje conhecido “bullying”). Ele procurou depois ogaroto e perguntou se ele era tão bom em lutas reais quantoem torneios. O garoto respondeu: “Eu não luto. Não hárazão para isso”. O produtor ficou impressionado com afilosofia do menino. E nascia o embrião de um clássico docinema.

>>>>> O árbitro na luta final é Pat E. Johnson, especialista emartes marciais e parceiro de Chuck Norris no Tang Soo Do. Teveuma pequena participação em “Operação Dragão”, com BruceLee, mas preferiu ficar por trás das câmeras. Foi instrutor de vári-os astros de cinema e creditado como “instrutor de lutas/coreó-grafo” para o filme.

·>>>>> “Miyagi” é o nome real do fundado do estilo Goju-Ryude Karatê, Chojun Miyagi. Este é um dos estilos mais tradicionaisde Okinawa e que serviu como inspiração para as técnicas mar-ciais do filme.

·>>>>> Os exercícios que Mr. Miyagi passa para Daniel sãoretirados de técnicas reais do estilo Goju-Ryu.

·>>>>> O diretor de “Karatê Kid”, John G. AJohn G. AJohn G. AJohn G. AJohn G. Avildsen,vildsen,vildsen,vildsen,vildsen, foi oganhador do Oscar de Melhor Diretor por “Rocky – Um Lutador”,com Sylvester Stallone.

·>>>>> O dublê de Pat Morita nas cenas de ação de “KarateKid” e da série de TV “Ohara” foi o lendário Fumio Demura,Instrutor-Chefe da Japan Karate Federation Itosu-Kai in América epresente em muitos filmes de ação. Sensei Fumio Demura é umdos mais importantes instrutores de karate dos EUA desde os anos60.

·>>>>> Ouve rumores de que o papel de “mestre-vilão” daCobra-Kai, brilhantemente interpretado por Martin Kove, haviasido oferecido à Chuck Norris mas ele havia recusado, pois mos-traria o Karatê sendo mal utilizado e ensinado. Tempos depois eledesmentiu esse convite em uma entrevista, mas afirmou que casotivesse sido convidado, recusaria pelos mesmos motivos. Mas eleajudou a produção a encontrar artistas marciais para o filme.

·> > > > > “The Karate Kid” era o nome de um personagem dequadrinhos da DC Comic’s que aparecia na “Legião dos Super-Heróis”. A DC, dona dos direitos autorais do personagem, deu

CURIOSIDADES DA PRODUÇÃO

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uma permissão especial para utilização do nome no título dofilme. Existe um agradecimento a eles nos créditos finais.

·>>>>> Elisabeth Shue, que fez a namorada de Daniel, inter-rompeu seus estudos em Harvard para estrelar o filme.

·>>>>> Pat Morita inicialmente foi desconsiderado para o pa-pel principal por ser um comediante. Acabou ganhando “Mr.Miyagi” por ser o melhor de todos que fizeram o teste.

·>>>>> A cena na praia foi a primeira filmada.·>>>>> William Zabka (Johnny) não tinha experiência em artes

marciais antes de ser escolhido para o filme.·>>>>> A famosa cena na qual o senhor Miyagi tenta pegar

uma mosca com pauzinhos (hashi) é uma referência ao filme“Miyamoto Musashi kanketsuhen: kettô Ganryûjima”, de 1956,na qual uma cena similar aparece. Este filme é o final de umatrilogia sobre o grande samurai Miyamoto Musashi, estreladopelo astro japonês Toshiro Mifune

·>>>>> O mesmo Toshiro Mifune foi cogitado para o papel deMiyagi, mas se mostrou muito sério nos testes para o persona-gem, apesar de seu brilhantismo. Os produtores e o diretor queri-am alguém mais descontraído e menos “samurai” por ser um fil-me familiar e não um épico de Kurosawa.

·>>>>> O estúdio quis cortar a cena de embriaguez de Miyagi,por ser indiferente ao desenrolar da história. O diretor Avildsendiscordou e lutou para manter a cena na edição final. Ela foiresponsável pela indicação de Pat Morita ao Oscar.

·>>>>> Durante as filmagens, em 1983, Ralph Macchio tinha22 anos. Todos no elenco se surpreendiam com sua idade real.Quando fez sua última participação, em Karate Kid III, estavacom quase 30 anos.

·>>>>> A canção que Miyagi entoa na celebração de seu ani-versário é uma canção folclórica japonesa real que Pat Moritaouvia quando criança.

·>>>>> O Chevrolet Conversível 1950 amarelo que Daniel po-liu durante o treinamento e que recebeu de presente de aniversá-rio de Miyagi foi dado realmente a Ralph Macchio pelo produtorapós as gravações, e ele ainda o mantêm.

>>>>> Os outros carros da coleção de Miyagi eram um DeSoto1948, um Stuebaker 1952 e um Nash Rambler 1956.

>>>>> Durante a cena em que Miyagi fica bêbado, ele revelaque atuou na Segunda Guerra Mundial no 442º Regimento deCombate do exército americano. Esta unidade existiu mesmo eera constituída de nipo-americanos que lutaram na Europa duran-

te a Guerra e se tornaram a unidade militar mais condecorada nahistória dos EUA. Esta citação e o fato da família de Miyagi ficarem um campo de concentração americano durante a SegundaGuerra foram homenagens do elenco e dos produtores aos nipo-americanos.

>>>>> O troféu original da competição “All Valley” é agoraparte da decoração do restaurante “Hollywood” na Euro Disney,em Paris.

>>>>> A cena de abertura em “Karate Kid II” foi realizada notérmino do primeiro filme. Apesar de não ter sido aproveitada namontagem final, ela foi guardada para uma eventual seqüência.

>>>>> As filmagens de “Karatê Kid” começaram em 14 deoutubro de 1983 e duraram apenas 42 dias. Foi um filme debaixo orçamento que levantou mais de 100 milhões de dólaresapenas nos EUA.

·>>>>> A banda de rock “Broken Edge” que fez a performancede algumas das músicas da trilha sonora aparece no filme tocan-do na cena do baile de Halloween.

·>>>>> Ralph Macchio deu o nome de “Daniel” ao seu primei-ro filho.

·>>>>> Karate Kid foi o vídeo mais alugado em 1985.·>>>>> Praticamente todas as locações utilizadas no filme exis-

tem realmente.·>>>>> Um dos alunos da Cobra-Kai no filme foi interpretado

por Chad McQueen, filho do grande astro Steve McQueen.·>>>>> Karate Kid foi o 500º filme produzido em som Dolby e

o primeiro a ser produzido em massa em Hi-Fi stereo quandolançado em VHS. Está listado entre os 100 filmes mais inspiradoresdo cinema.

Indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante – Pat Morita

Indicado ao Golden Globe por Melhor Ator Coadjuvante – PatMorita

Indicado ao Young Artist Awards por Melhor Ator Coadjuvanteem Filme Musical, Comédia, Aventura ou Drama – William Zabka

·Vencedor do Young Artist Awards por Melhor Atriz Coadjuvanteem Filme Musical, Comédia, Aventura ou Drama – Elisabeth Shue

·Vencedor do Young Artist Awards por Melhor Filme - Drama

PRÊMIOS (1985)

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Pat Morita foi um dos mais carismáticos astros de Hollywood. Comediante capaz e ator versátil, teve mais de 160 trabalhos em suafilmografia, entre filmes, dublagens e séries de TV. Participou de vári-

os clássicos da TV como “Columbo”, “Havaí 5-0”, “M*A*S*H”, “PoliceWoman”, “Cannon”, “Kung Fu”, “Starsky & Hutch”, “O Homem do Fundodo Mar”, “O Incrível Hulk”, “Magnum” e outros.

Noriyuki Morita Noriyuki Morita Noriyuki Morita Noriyuki Morita Noriyuki Morita nasceu em Sacramento, Califórnia, em 28 deJunho de 1932. Filho de imigrantes japoneses que tinham uma pequenaloja de presentes em Chinatown, Morita desenvolveu tuberculose espi-nhal aos 2 anos e passou a infância em hospitais até que um médicoefetuou uma cirurgia de ligamento de vértebras, nove anos depois. Eleaprendeu a andar com 11 anos de idade. Durante a Segunda GuerraMundial Noriyuki Morita esteve com os pais em um campo de concentra-ção americano (sim, eles também tinham campos de concentração) juntocom outros imigrantes orientais e suas famílias, por serem consideradosum “risco à segurança americana”. Como outras famílias, tudo o quepossuíam foi confiscado pelo governo e muitos ainda lutam até hoje parareaver suas posses. Pat Morita era grande defensor da causa destes ame-ricanos injustiçados pelo próprio governo. Durante a estada no campo deconcentração conheceu um padre católico de nome “Pat”, adotando de-

pois como nome artístico “Pat Morita”.Depois da guerra a família gerenciou um restaurante chinês e ele entretinha os convidados contando piadas e

sendo mestre de cerimônias para jantares. Depois de formado na Armijo High School arrumou emprego como programa-dor de computadores em uma empresa aero-espacial que projetava motores de foguetes. Aos 30 anos desistiu da progra-mação de computadores e assumiu uma carreira solo de comediante “stand-up”.

No início dos anos 60 fez uma série de turnês pelo país e começou a aparecer em programas de TV. Começou aganhar fama e se consagrou no papel de “Arnold” na prestigiada série de TV “Happy Days”.

Depois de dezenas de participações em séries e filmes durante os anos 70 e 80, estrelou em 1984 o filme “TheKarate Kid”, que o elevou à categoria de astro de Hollywood e lhe valeu uma indicação aoOscar e outra ao Golden Globe. Apesar de usar o nome de “Pat Morita” há muitos anos, oprodutor de “Karate Kid”, Jerry Weintraub, sugeriu que ele fosse creditado com seu nomereal para soar mais nipônico.

Adorado e lembrado por todos como divertido e espirituoso, dizia sempre que haviatido uma vida muito alegre e feliz. Alegria era seu modo de fazer as coisas.

Em 1994 ele recebeu uma merecida estrela na Calçada da Fama, no número 6633da Hollywood Boulevard.

Noriyuki “Pat” Morita faleceu em Las Vegas em 24 de novembro de 2005, de causasnaturais. Deixou a esposa Evelyn e três filhas de um casamento anterior.

Noriyuki “Pat” Morita

Tributo

Tributo

“The Match Game”, game show da TV1976

“O Barco do Amor”, série de TV1977

“M*A*S*H*”, série de TV1974

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Sai,

Nunte

e Jitte

Armas

Foto: cortesia do Sensei Víctor López Megía

Armas

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Sai

Uma das poucas armasde metal do arsenal doKobudô de Okinawa, o Sai éuma arma vistosa e muito bo-nita, bem como extremamen-te eficiente em várias situa-ções.

Suas origens estão co-bertas de lendas, afirmando-se inclusive que teria sido umaespécie de grampo de cabe-lo para os elevados pentea-dos em moda em Okinawa.

Pesquisas mais recentes indicam que o Sai nasceu comoarma, propriamente dita, provavelmente com base em ar-mas chinesas ou indonésias. Seus prolongamentos lateriasprendiam a lâmina da espada, chegando a quebrá-la numgiro de pulso.

Formado em síntese como um tridente com seu dentecentral alongado, o Sai também é uma arma extremamentepessoal, com dimensões similares à Tonfa (do cotovelo àpalma da mão). Confeccionado todo em metal, possui umaalargamento ou bolinha na empunhadura, utilizada paragolpear o oponente como um “tsuki” (golpe de percussão).

O Sai pode ser utilizado em bloqueios, estocadas(“tsuki”), apresamentos e chaves ou como arma de arre-messo utilizando sua ponta afilada. Normalmente essa armaera levada aos pares, utilizando-se uma em cada mão.Consta que os praticantes que gostavam de arremessá-locostumavam andar com três armas destas, uma no cinto, dereserva, para o caso de arremessar uma ou duas. O arre-messo preferido era no pé do oponente, pregando-o aochão.

Manji Sai

Uma forma parti-cular de Sai, desenvol-vido pelo SenseiShinken Taira com baseem um ideograma vistoem um templo budista,onde um dos ganchoslaterais se projeta emdireção contrária, crian-do uma forma semelhan-

te à cruz suástica (chamada em japonês de “manji”). Asuástica é um desenho muito antigo, proveniente da Índia,e adotado como um dos símbolos do budismo. O Manji Saiem geral não possui empunhadura coberta, tendo pontasaguçadas nas duas extremidades o que lhe permite desen-volver uma série de técnicas rápidas. Também se pode cha-mar de “Matayoshi Sai”, por ter sido divulgado pelo clãMatayoshi, lendários cultuadores do Kobudô em Okinawa.Foi inspirado pela forma do Nunte-Bo, arpão de Okinawa,do qual Sensei Taira extraiu a ponta para utilizar como umSai..

Nunte-Bo

Quando o ManjiSai é preso na ponta deum bastão (Bo) temos oNunte-Bo ou “arpão”.Utilizado originariamen-te em pesca, acredita-seque sua origem seja chi-nesa. Sua movimenta-ção é similar à de umalança, mas o fato de queum dos ganchos lateraisestá em uma direção

Uma das armas mais interessantes do arsenal de Okinawa, o Sai e suas variações deve ser conhecido por todosque estudam artes marciais seriamente. Incluímos também o Jitte, que apesar de não ser exatamente uma variação do Sai,é muito similar em aparência e utilização.

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oposta amplia sua versatilidade, podendo aparar, estocarou enganchar o oponente.

Jitte (Jutte)

Arma similar aoSai, mas com apenasum gancho lateral acha-tado, e utilizado em umasó peça. Seu nome sig-nifica “Dez Mãos” e sim-boliza a força que podeser criada através daalavanca. De origemjaponesa, era muito uti-lizado por forças polici-ais para desarmar um

oponente sem machucá-lo e pelos Samurais para enfrentara Katana. Possui cerca de 45 cm de comprimento em mé-dia e seu cabo metálico é encordoado.

Demonstração de Jitte (Ikkaku Ryu) na comemoração do diado Samurai, em São Paulo, pelo Sensei Jorge Kishikawa.

Pedro Hemetério em pé (primeiro à esquerda) junto de HélioGracie, Carlos Gracie, alguns de seus filhos e outroslendários pioneros do Jiu-Jitsu Brasileiro

Faleceu em 11 de outubro deste ano, aos 86anos, o Grande Mestre Pedro Hemetério, uma daslendas do Jiu-Jitsu brasileiro.

Formado por Carlos e Hélio Gracie, PedroHemetério representava a primeira geração da mo-dalidade em São Paulo e era Faixa Vermelha 9o Grau.

Ele sofria de problemas cardíacos e chegou aficar dois meses internado.

Conhecido como “homem-quiabo” pela facili-dade com que escorregava pela guarda do oponen-te para chegar em suas costas, Mestre Hemetério seestabeleceu em São Paulo na década de 60 e ficoufamoso pelos desafios no estilo vale-tudo quecelebrizaram o Jiu-Jitsu.

Nossas condolências à sua família e a toda a“família” do Jiu-Jitsu brasileiro.

Jiu-Jitsu perde oGrande Mestre

Pedro Hemetério

News

News

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Quem

usa

Droga

não é

vítima.

É um

idiota.

Artes

Marciais

não

combinam

com

drogas.

NENHUMA.

NÃO USE

DROGAS

Campanha BUDÔ

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20 Especial

A INFLUÊNCIA DO BUDISMO MAHÂYANA SOBRE O WUSHU

Tony Garcia

arte marcial tradicional chinesa teve momentos de esplendor e decadência. O taoísmo nutriu desde tempos imemoriais a prática do Wushu, principalmente nos estilos de tendência interna, com suas concepções filosóficas emanadas da doutrina elaborada por Laozi (老子) y Zhuangzi (莊子),1 nas quais são patentes as noções

expostas no Yi Jing (易經),2 com alguns ingredientes da religião tradicional.

O período no qual nasce o fundador do budismo, Sidhârtha Gautama,3 foi marcado pelos fortes conflitos de uma sociedade de classes, onde a diferença de castas4 e a opressão de um estado encravado sobre os privilégios da minoria se abatiam sobre a ultrajada massa de seres em um mundo físico depauperado, dividido entre os laços de sangue e a posição social.

Em sua origem o budismo não foi cimentado sobre as bases religiosas de interpretação do mundo que havia na época, sua visão negava a autoridade dos Vedas e expulsava o barroco ritualismo dos deuses tradicionais, com a política de portas abertas onde não era necessário nascer sob o teto de uma família brahmânica para acessar as amplas margens do despertar.

Sua estrutura ideológica estava sustentada pela compreensão das Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho Łctuplo:

As Quatro Nobres Verdades As Quatro Nobres Verdades As Quatro Nobres Verdades As Quatro Nobres Verdades (Cattâri(Cattâri(Cattâri(Cattâri----ariyaariyaariyaariya----saccâni)saccâni)saccâni)saccâni) ((((四圣谛四圣谛四圣谛四圣谛 ---- Si SheSi SheSi SheSi Shen Di)n Di)n Di)n Di)

A VERDADE DO SOFRIMENTO (Dukkha-sacca) (苦谛 - Ku Di)

O nascimento, a enfermidade, a morte, a conexão que se estabelece com o que se ama, a separação do que se ama, a não obtenção do que se deseja e tudo o que constitui uma causa de ligação, está circunscrito ao sofrimento e à dor.

A CAUSA DO SOFRIMENTO (Samudaya-sacca) (集谛 - Ji Di)

A busca do prazer, da novidade, as ânsias de satisfazer o deleite dos sentidos e o apetite, amarram o homem à roda eterna da existência.

1 Zhuangzi (aproximadamente de 369-286 a.C.). Filósofo taoísta, seu foco é uma elaboração posterior das teorias

expostas por Laozi. A essência do seu pensamento se fundamenta sobre a doutrina do Wu-wei (無為) ou “não ação”.

2 Yijing, (Livro das Mutações), originalmente titulado Zhouyi (周易 – As Mudanças de Zhou). Texto que condensa as

bases fundamentais da filosofia chinesa, assim como os conceitos das ciências naturais e médicas. Sua origem situa-se entre a Dinastia Yin (1765-1122 a.C.) e a Dinastia Zhou (1122-256 a.C.). 3 Nascido no século VI a.C., Sidhârtha Gautama foi o filho maior do rei Suddhódana de Kapilavatthu, cidade situada atualmente no Nepal. Sidhârtha é o nome de nascimento e Gautama o sobrenome familiar. Como pertenceu ao clã dos Sâkya, o povo o chamava de Sâkyamuni (o sábio de Sâkya). 4 O sistema de castas foi criado pelos ários na Índia. Em sânscrito a palavra varna, utilizada para designar a casta, significa “cor”. Os ários acreditavam-se superiores aos escuros dravidianos e às outras raças aborígenes. O sistema de castas foi estabelecido para delimitar o acesso dos não ários através de uma estrita divisão de ocupações e obrigações.

A

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21 Especial

EXTINGUIR O SOFRIMENTO (Nirodhasacca) (灭谛 - Mie Di)

Mediante a extinção do desejo o homem se liberta da dor e do sofrimento.

O CAMINHO PARA CESSAR O SOFRIMENTO (Magga-sacca) (道谛 - Dao Di)

A via para alcançar a emancipação da dor passa pela prática impecável do „Caminho Łctuplo‰

Caminho ŁCaminho ŁCaminho ŁCaminho Łctuplo ctuplo ctuplo ctuplo (Magga)(Magga)(Magga)(Magga) ((((八正道八正道八正道八正道 ---- Ba Zheng Dao)Ba Zheng Dao)Ba Zheng Dao)Ba Zheng Dao)

VIS‹O CORRETA (Sammâ-ditthi) (正见 - Zheng Jian)

PENSAMENTO CORRETO (Sammâ sankapa) (正思维 - Zheng Si Wei)

PALAVRA CORRETA (Sammâ vâcâ) (正语 - Zheng Yu)

AÇ‹O CORRETA (Sammâ kammanta) (正业 - Zheng Ye)

MEIO DE VIDA CORRETO (Sammâ âjiva) (正命 - Zheng Ming)

ESFORÇO CORRETO (Sammâ vâyâna) (正精进 - Zheng Jing Jin)

ATENÇ‹O CORRETA (Sammâ sati) (正念 - Zheng Nian)

CONCENTRAÇ‹O CORRETA (Sammâ samâdhi) (正定 - Zheng Ding)

É evidente que o budismo original proposto por Sidharta foi uma corrente inédita para a época. Buddha aceitou a ideia do ciclo das reencarnações e a retribuição das boas e más ações cármicas que já existiam antes dele, mas com uma interpretação diferente. A ideia predominante de que os membros de uma casta reencarnam no mesmo nível foi abolida. Ele acreditava que nada podia salvar o homem da penúria que lhe impõem a causa e o efeito, nem mesmo os sacrifícios consequentes nem os rituais habituais que a caterva de deuses convencionais exigia, se o homem não cuidava para que suas atitudes e ações fossem boas. O budismo proclamou uma moral baseada na consciência plena do sofrimento de todos os seres vivos e na compaixão universal. Buddha não alimentou a crença em um Deus pessoal que castiga as individualidades e exonera os pecados mediante obediência cega, mostrou-se resistente a aceitar a eficiência da doutrina Védica, entretanto ensinou que o homem pode construir seu próprio carma5 em um ato de completa responsabilidade sobre si mesmo. Esta revolucionária concepção foi aceita rapidamente pela faminta massa de desesperados que, perseguidos pela dureza das crenças tradicionais, viram nesta luz o caminho da liberdade incomensurável.

5 Carma (sânsc. Karma – ação). O termo é utilizado para denotar causa e efeito de uma atividade mental ou física, seja a consequência desencadeada nesta vida ou em uma vida anterior.

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22 Especial

A evolução histórica do budismo pode ser estabelecida em quatro períodos:

• Proclamação da doutrina de Sidharta Gautama (séculos VI-V a.C.).

• O budismo sofre interpretações, surgem Concílios e nasce o Budismo Hinayana (século IV a.C. ).

• O budismo Mahayana6 já está elaborado, acoplado a duas derivações fundamentais: o Madhyamaka e o Yogakara (século I d.C.).

• Surgimento do budismo Tântrico, do Lamaísmo e do Vajrayana (depois do século VII).

No século XIII as chamas do budismo começam a extinguir-se na ¸ndia, mas o calor do seu conteúdo doutrinal havia alcançado os cantos mais longínquos da ˘sia.

Na China os vestígios do contato com missionários budistas estabeleceram-se ao longo da Rota da Seda, um longo trecho onde o intercâmbio comercial se fundia com as ideias, os costumes, as tradições e os fundamentos filosóficos e religiosos das antigas culturas. Muitos monges hindus penetraram por esta via e difundiram entre a população o budismo Mahâyana, nutrindo-se por sua vez com os primeiros rudimentos conceituais do taoísmo.

A afiliação do budismo com o lugar onde se cultivariam os aspectos mais destacados da arte marcial chinesa remonta a 386-534 d.C., quando o imperador Xiao Wen Di (孝文帝) da dinastia Wei do Norte ordenou a construção de um

templo budista no condado de Deng Feng Xian (登封縣), provincia de

Henan, ao norte do monte Shao Shi (少室), para um monge indiano chamado Bhadra. Ao construir o monastério com a ajuda dos camponeses, plantaram nos arredores jovens pinheiros que protegiam o monastério dos ventos. Por isso o lugar foi batizado com o nome Shaolin (少林 - bosque jovem).

No ano 426 d.C., o imperador visitou Shaolin decretando que fosse ampliado ainda mais com novas construções e proporcionou-lhe uma guarnição permanente para a proteção contra assaltos de bandidos. Os monges já não tinham que exaurir-se montando guarda dia e noite, e se concentraram exclusivamente no autocultivo espiritual do dogma religioso, em um sistema monárquico onde a meditação e a austeridade de cerimônias e rituais eram privilegiadas. Nesta situação pouco favorável para o cultivo físico, as artes de combate foram caindo no esquecimento e não foi até a chegada de Damo que os conceitos do Wushu se revolucionaram.

Antiga sala de treinamento no monastério de Shaolin

6 Mahâyana (大乘 - Grande Veículo). Corrente do budismo indiano do século I a.C., elaborada a partir dos conceitos

expostos pelo seu criador Sidhârtha Gáutama. Junto ao Hinayâna (小乘 - Pequeno Veículo), formam as duas escolas

fundamentais do budismo.

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23 Especial

Pútidamo ou Damo (達摩), conhecido no Ocidente como Bodhidarma, e no Japão como Bodaidaruma ou Daruma, nasceu aproximadamente no ano 470 d.C. na ¸ndia. Reconhecido como o vigésimo oitavo patriarca desde Sakyamuni, o Buda, na linha de transmissão do budismo indiano e o primeiro patriarca do budismo Chan (禅),7 Damo foi discípulo

e sucessor de Prajñadhara 8 e mestre de Hui Ke (慧可), quem o sucedeu como segundo patriarca do budismo Chan na China.

Convidado pelo imperador Liang Wu (梁武帝) para predicar sua doutrina, Damo chegou à China no ano 527 d.C., no

reinado do imperador Wei Xiao Ming (魏孝明帝). Após uma infrutífera prédica com o monarca, cruzou o rio Huang He

(黃河) em direção ao norte, dirigindo seus passos ao monastério de Shaolin. Sua chegada não agradou ao monge principal que, intuindo os pontos de vista não convencionais do visitante, temia que fossem introduzidas reformas religiosas em um sistema doutrinal que durante mais de cem anos havia permanecido fiel à tradição do Mahâyana. Por estes motivos recusou a entrada de um monge indiano com ideias novas neste ambiente conservador. Segundo conta a lenda, Damo retirou-se a meditar sob a cúpula de uma caverna próxima e, contemplando a parede de pedra, submergiu-se no processo de autoconhecimento, vivendo neste recinto natural durante nove anos.9

Espantado pela silenciosa demonstração de perseverança e austeridade, o monge principal permitiu sua entrada no templo. Damo comoveu-se pelo aspecto doente e o estado de fragilidade física dos devotos. Dedicou-se, então, à tarefa de desenvolver vários sistemas de treinamento para corpo, mente e espírito, escrevendo dois clássicos: o Yi Jin Jing, transformação dos músculos e tendões e o Xi Siu Jing, limpeza de medula e cérebro.

Pela ordem da história poder-se-ia pensar que Damo elaborou seu trabalho somente pela longa hibernação à que se submeteu durante nove anos frente ao muro de pedra, mas a verdade é que o budismo, depois da morte do seu fundador Sidharta Gautama, havia sofrido uma forte mudança em conteúdo e forma. A assimilação abrangeu todas as teorias e práticas que os devotos importavam de outras escolas, desde o brahmanismo até as sofisticadas práticas do Yoga, inclusive os sistemas religiosos construídos posteriormente e a herança das artes guerreiras dos Ksatriyas. Era de se esperar que a mensagem que Sidharta proclamara, após alcançar a iluminação em sua essência das „quatro nobres verdades‰, tivesse se fragmentado em um complicado sistema de rituais, visualizações, mantras, posturas físicas, oferendas e obrigações religiosas em um extenso panteão de deuses e divindades.

Pórtico de entrada à caverna de Damo

7 Corrente budista surgida na China desde os séculos VI-VII d.C. mediante a fusão do budismo Mahâyana com o taoísmo autóctone. Conhecida no Ocidente como budismo Zen. 8 Patriarca número vinte e sete do budismo hindu. 9 Esta passagem mostra a relevância que obteria nesta corrente do budismo a prática do Da Zuo (打坐 - combate

sentado), término que representa o esforço que demanda focar a mente para aquietar o discurso interno e compreender a verdadeira natureza das coisas (Dhammas), obtendo a entrada à sabedoria (Paññâ) e a iluminação espontânea (Citta). Este método condensar-se-ia no monastério de Shaolin com alguns treinos tradicionais de Qigong,

para despertar gradualmente o Dantian e fazer circular o Qi pela órbita celestial menor (小周天).

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Já na célebre conversa que Damo manteve com o imperador delimitaram-se claramente os aspectos da sua teoria. O imperador era um crente fervoroso e acreditava ser merecedor de certos méritos celestiais pelo seu apoio brindado à construção de alguns templos e sua política de amparo ao budismo. Influenciado por essa tendência da classe dominante a persuadir o clero para obter a aprovação divina, disse ao monge:

·Quais méritos obtive para minha próxima vida com a minha atitude de aprovação do budismo?

·Nenhum·respondeu Damo com voz cortante..

Contrariado, o imperador insistiu::

·Qual é o sentido da verdade suprema?

·Um vazio interminável, um esquecimento de si mesmo.

O imperador, obviamente não contando com semelhante resposta, engendrou outra estratégia de penetração na obtusa natureza do seu hóspede.

·Quem está à minha frente?

·Não sei·disse Damo com indiferença.

Neste diálogo Damo mostra com clareza as bases de uma visão que rompe com os cânones do budismo hindu. Ele não queria uma prática ritualista repleta de obrigações e rotinas onde o homem se esquece da própria responsabilidade e de seu verdadeiro crescimento interior. Sabia que o ser humano busca a glória, ainda que ajoelhando-se frente a uma imagem divina. O caminho do autêntico conhecimento baseia-se na sinceridade de dirigir um esforço adequado sobre si mesmo. Nem carma, nem vida futura, rezas, pedidos, sacrifícios nem votos, podiam elevar o ser humano sobre a atração permanente que o barro das paixões exerce. O autodomínio e a meditação constante são as vias para descobrir que o pedaço de carvão de uma montanha pode-se transformar em um precioso diamante quando polido com humildade e perseverança.

Com este substrato de conhecimento, Damo dispôs de uma ampla gama de informação para elaborar as bases de um novo enfoque à prática do budismo. Só necessitava combinar corretamente a experiência da ¸ndia com os fundamentos que o taoísmo lhe oferecia para ter em suas mãos um excelente material com o qual purificar o budismo indiano da roupagem desnecessária e criar um método de crescimento físico, mental e espiritual de acordo com as leis universais.

Bodhidarma, além disso, não era partidário de um ascetismo passivo onde somente se cultiva a mente e o espírito, pelo qual propôs um novo enfoque do budismo através de uma filosofia de vida desligada de todo ritualismo efêmero, em um concentrado esforço para transformar a passividade ascética-religiosa em um exercício tenaz do corpo e do espírito. O budismo Chan havia nascido com a tendência à busca da iluminação espontânea e sua carência de apego por cerimônias e rituais.

Se analisarmos cuidadosamente o conteúdo do diálogo entre Damo e o imperador descobriremos os conceitos fundamentais da filosofia do Wushu:

·Quais méritos obtive para minha próxima vida com a minha atitude de aprovação do budismo?

·Nenhum·respondeu Damo com voz cortante..

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O imperador representa o homem cotidiano que é incapaz de realizar uma ação sem esperar um resultado. Este estado universal de apego não é somente uma pintura histórica com mistura literária, é a imagem permanente do homem amarrado ao poder: „é mais fácil passar um camelo pelo furo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus‰. Cristo não disse isso em vão. O rico queria atingir os confins celestiais com tudo o que não estava disposto a renunciar. O homem sem vontade sempre tenta um pacto com deus e com o demônio, não pode – nem quer – compreender que a verdade se mostra quando não temos nada a opor. No Wushu não há iniciação possível ao domínio de si mesmo se antes não se está disposto a renunciar a tudo. Não há mérito algum com sua prática. Não há prêmios nem troféus. O destino não é uma competição, é uma passagem pela vida e nestes confins não há espaço para satisfações pessoais. Praticar Wushu da perspectiva de Damo é entrar pelo olho de uma agulha completamente nu.

·Qual é o sentido da verdade suprema?

·Um vazio interminável, um esquecimento de si mesmo.

Aqui se expõe claramente a visão do budismo Zen: „sentar-se sem espírito de aproveitar.‰ Quando há abandono e controle, a consciência atinge o sentido das coisas. O movimento do Wushu deve ser expresso desde o vazio. Não se pode gerar uma reação verdadeira tentando elaborar a resposta desde o monólogo interno da mente. Somente quando o guerreiro se esquece de si mesmo pode realizar a ação justa sem satisfação nem arrependimento.

Wushu é a porta que acessa o inefável. O mesmo estado de iluminação atingido no budismo é transferido à execução de um gesto marcial. No Nanhua zhenjing 10 incentiva-se a „acostumar-se ao vazio para conservar a vida‰. Toda a filosofia oriental nasce da concepção do vazio.

·Quem está à minha frente?

·Não sei.

Assumir a vida sem ego é uma proeza dificilmente realizável. O homem busca identificar-se com todas as coisas e não admite uma vida impessoal. A verdadeira dimensão do ser humano não pode ser escrita e guardada em um arquivo. Somos muito mais que essa ridícula sombra que projetamos. O segredo da sabedoria consiste em reconhecer a própria ignorância. Esta humildade é uma qualidade fóssil em estado de extinção. O homem não se pode entender com a lógica formal. Esta divide o antes e o depois e não pode entender que seja ao mesmo tempo as duas coisas.

O autor com o monge Shi De Chao, no Bosque das Pagodas (Shaolin), junto à lápide de pedra do reverendo monge Shi Suxi, falecido no ano 2002.

10 Nanhua zhengjing (Livro canônico do país das flores do sul). Texto clássico da filosofia taoísta conhecido como

Zhuang Zi (莊子), que remonta ao século IV a.C.

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„Não sei‰, é uma excelente alternativa para começar no caminho. O Wushu tradicional é a arte de enraizar-se, o que significa: „viver integrado ao universo sem divisão nem fronteiras‰.

Damo não somente expôs este pragmático sistema de vida, mas também ensinou aos monges, com o Yi Jin Jing (sistema de transformação de músculos e tendões), a construir um corpo físico e mental saudável e harmonioso, além de aumentar a força, pela aplicação de uma teoria energética onde se combina a quietude com o movimento, a tensão com o relaxamento e a concentração com a respiração. Enquanto que, com o Xi Sui Jing (limpeza de medula e cérebro), transmitiu os métodos para elevar a capacidade de defesa do sistema imunológico contra os agentes patógenos exógenos em um treinamento destinado ao fortalecimento da medula e dos ossos. Pela sua grande complexidade o Xi Sui Jing permaneceu como um segredo dentro de seletos círculos do templo de Shaolin.

Damo também desenvolveu um sistema para o cultivo da força vital denominado Shi Ba Luo Han Quan (as dezoito mãos do iluminado), o qual assentaria as bases para a criação de muitos estilos de Wushu, incluindo o famoso Wu Xin Quan (boxe dos cinco animais), o San Shi Qi Shi (三十七式 – boxe das trinta e sete formas), o Hou Tian Fa (後天法 -

técnicas do céu posterior) e o Xiao Jiu Tian (小九天 - técnicas dos nove pequenos céus). Os três últimos desenvolveram a tendência suave de Shaolin, onde os movimentos rápidos e vigorosos estavam combinados com intervalos de fluidez e lentidão, em uma cadência concentrada de espírito, mente, corpo e respiração.

Com o passar do tempo os monges descobriram que não somente fortaleciam sua saúde senão que também o poder e a força aumentavam consideravelmente a níveis nunca antes suspeitados. Os artistas marciais assimilaram esse novo enfoque, criando novos sistemas na medida em que se aperfeiçoava a teoria de Damo.

Podemos ver como a união do budismo Mahâyana com o taoísmo filosófico e religioso deu lugar ao budismo Chan. Este sistema de atingir a claridade da mente e a iluminação penetrou para sempre no caminho das artes marciais, disseminando-se como uma onda expansiva pelo resto da ˘sia. Como era possível integrar uma filosofia nascida da não-violência com um sistema corporal de ataque e defesa? Por acaso o budismo podia conciliar o desenvolvimento da paz interna com o ardor de um treinamento bélico? Este é o enigma que Damo relegou à posteridade.

O autor junto ao monge Shi De Chao, da trigésima primeira geração do monastério de Shaolin.

Mestre José Antonio Reys Garcia (Tony) é praticante de artes marciais desde os 11 anos de idade e desde 1981 pratica os estilos de Kung Fu Shaolin do Sul. Neste momento tem a mais alta graduação e é o Vice-Presidente da Academia Huang Yu Wen Nam Pai Kung Fu, com sede em Tai Shang, província de Guang Tong (China). Em 2007 foi nomeado pelo Grão-Mestre Huang Yu Wen como seu sucessor direto.

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colocar e-mail de contato e/ou site.o Matérias técnicas, com fotos explicativas passo-a-passo, serão muito bem-vindas.

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O Tai Chi Chuan muito deve a essa lendária figura: Yang Luchan, fundador doEstilo Yang.

Nascido em 1789 na província de Hebei,Yang começou a prática das artes marciais ainda cri-ança, como é costume na China, aprendendo oestilo de sua aldeia com o Mestre Liu. Após amorte de seu pai serviu como soldado na milíciada aldeia até que seu Mestre lhe recomendouque estudasse artes marciais com o Mestre ChenChangxin, expoente do Estilo Chen de Tai ChiChuan (NOTA: nessa época, o Tai Chi era umatécnica de combate, voltada para lutas reais.Apenas no início do século XX houve a novaconotação terapêutica). O problema era que ovelho Mestre Chen só ensinava a arte aos mem-bros de sua família. Yang, então, se empregoucomo criado da família e assistia o treinamento es-condido, como ocorreu com diversos Grandes Mestres deKung Fu. Após muitos anos de práticas escondidas em seuquarto, ele foi descoberto e afinal convidado a aprender oestilo Chen oficialmente, o que fez por vários outros anos.

Voltou finalmente à sua aldeia para ensinar o Tai ChiChuan, mas após um período indefinido, partiu para Pe-quim (Beijing) para abrir uma escola, desenvolvendo seupróprio estilo. O estilo Yang fez grande sucesso e acaboupor ser ensinado aos oficiais manchus e membros da no-breza. Com seus três filhos o assessorando (Yang Banhou,Yang Jianhou e Yang Fenghou), Mestre Yang Luchan propa-gou o Tai Chi Chuan na capital do império, abrindo cami-nho para que outros Mestres de Tai Chi Chuan deixassemas aldeias e fossem para as cidades divulgar sua arte. Esteainda é o estilo mais ensinado em todo o mundo.

Sua fama em combate lhe rendeu vários desafios.Conta-se que podia arremessar seus oponentes a até 9metros de distância. Durante sua peregrinação à Pequim

Yang LuchanPerfil

Perfil andava com uma trouxa onde iam seus pertences e uma

lança curta, desafiando os Mestres que encontrava pelafrente. O mais extraordinário é que afirmam que nunca ma-chucou alguém durante seus combates. Conta-se que certavez lutou com um Grande Mestre de Kung Fu em cima deum muro e, depois de acertá-lo, segurou-o rapidamente pelopé para que não caísse 4 ou 5 metros até o chão. Outra

história conta que foi desafiado pelo segurança deum mandarim. Ele disse que podia atacá-lo a qual-

quer momento e soltou uma gargalhada demora-da. O segurança atacou e foi projetado longeantes que a gargalhada de Mestre Yang aca-basse…

Outra história interessante é a deChang, um riquíssimo negociante do oeste dePequim. Ouvindo histórias sobre as proezasde Mestre Yang Luchan, mandou que o convi-dassem à sua casa. Mas quando Mestre Yangse apresentou o que se viu foi um homem

franzino, baixo e vestido com roupas simples.Dessa forma, foi tratado com indiferença e

descortezia por Chang, que lhe serviu um pouco de comi-da. Consciente do que acontecia, Mestre Yang pegou seuvinho e foi beber em um canto isolado, o que enfureceuChang. Ele perguntou se Yang era tão bom assim e eleretrucou que haviam apenas 3 tipos de homens que nãopodiam sentir seus goles: homens de ferro, homens de bron-ze e homens de madeira. Chang então trouxe um homemgigantesco, forte como um touro, professor de seus guarda-costas, para “experimentar” o poder de Yang Luchan. Estese levantou de má-vontade e foi atacado com a ferocidadede um tigre. Mestre Yang apenas girou seu tronco, se esqui-vando do golpe, e deu um “tapa” que jogou o grande ho-mem a várias dezenas de metros, caindo inconsciente. Per-cebendo o erro, Chang tratou-o com toda gentileza, servin-do-lhe um verdadeiro Banquete Manchu completo!

Em 1872 Mestre Yang Luchan chamou seus filhos ediscípulos e deu-lhes as últimas instruções e recomendações,falecendo em seguida, aos 83 anos.