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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE BULLYING: UMA QUESTÃO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL E A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Por: Maria Alice Cabral Ribeiro Pinto Orientador Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

BULLYING: UMA QUESTÃO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL E A ORIENTAÇÃO

EDUCACIONAL

Por: Maria Alice Cabral Ribeiro Pinto

Orientador Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

BULLYING: UMA QUESTÃO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL E A ORIENTAÇÃO

EDUCACIONAL

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Orientação Educacional e Pedagógica. Orientador Professor Doutor Vilson Sérgio de Carvalho

Por: Maria Alice Cabral Ribeiro Pinto

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AGRADECIMENTO

AGRADECER: palavra que não seria o bastante

para alcançar o significado do quanto de gratidão

há dentro de mim por todos os amigos que,

direta ou indiretamente, me ajudaram neste

trabalho:

Deus

Mãe

Família

Marido

Filho

Professores e amigos do Curso de Pós-

graduação

Orientador professor Doutor Vilson Sérgio de

Carvalho

Maria Gorette Neves de Almeida

A todos, minha profunda gratidão.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho, cujo significado somente aqueles muito próximos de mim sabem as “montanhas” alcançadas e os “mares indômitos” navegados para concluí-lo. Para eles, que quando estava com os pés “calejados” da caminhada e o corpo exaurido ampararam-me, encorajaram-me e acreditaram em mim; mesmo quando eu não tinha força para fazê-lo! Carlos Alberto (marido)

Lucas (filho)

Meus amados pais Aurora

e Joaquim (in memorian)

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EPÍGRAFE

Jeremy1

(Pearl Jam – Compositor: Eddie Vedder)

Jeremy2 At home

Drawing pictures of mountain tops With him on top, lemon yellow Sun

Arms raised in a "V" The dead lay in pools of maroon below

Daddy didn't give attention To the fact that mommy didn't care

King Jeremy the wicked Oh, ruled his world

(2x) Jeremy spoke in class today

Clearly I remember Picking on the boy

Seemed a harmless little fuck Oh, but we unleashed a lion

Gnashed his teeth And bit the recess lady's breast

How could I forget? And he hit me with a surprise left

My jaw left hurting Oh, dropped wide open

Just like the day Oh, like the day I heard

Daddy didn't give affection, no And the boy was something That mommy wouldn't wear

King Jeremy the wicked Oh, ruled his world

(3x) Jeremy spoke in class today

Try to forget this (Try to forget this) Try to erase this (Try to erase this)

From the blackboard (2x)

Jeremy spoke in class today (2x)

Jeremy spoke Spoke

Jeremy spoke in class today

Jeremy Em casa Desenhando figuras de topos de montanhas Com ele no topo, sol amarelo limão Braços erguidos em V Os mortos estendidos em poças de cor marron embaixo deles Papai não deu atenção Para o fato de que a mamãe não se importava Rei Jeremy, o perverso Governou seu mundo Jeremy falou na aula de hoje Jeremy falou na aula de hoje Lembro-me claramente Perseguindo o garoto Parecia uma sacanagem inofensiva Mas nós libertamos um leão Que rangeu os dentes e mordeu os seios da menina na hora do intervalo Como eu poderia esquecer E me acertou com um soco de esquerda de surpresa Meu maxilar ficou machucado Deslocado e aberto Assim como no dia Como dia em que ouvi Papai não dava carinho E o garoto era algo Que mamãe não aceitaria Rei Jeremy, o perverso Governou seu mundo (3x) Jeremy falou na aula de hoje Tente esquecer isto Tente apagar isto Do quadro negro (2x) Jeremy falou na aula de hoje (2x) Jeremy falou Falou Jeremy falou na aula de hoje

1 Na década de 1990, nos Estados Unidos, houve grande incidência de crimes praticados nas escolas secundárias, causados por situações envolvendo prática de bullying, alguns se revelaram verdadeiros massacres. Um dos casos mais chocantes foi o ocorrido em 08 de janeiro de 1991, que envolveu o estudante de 15 anos, Jeremy Wade Dalle, na cidade de Dallas, Texas. Dentro da sala de aula, na frente de 30 colegas e da professora de inglês, o estudante se matou com um tiro na boca, acredita-se que foi uma reação pelos atos de perseguição que sofria de forma contumaz. Essa história inspirou a música Jeremy, interpretada por Eddie Vedder, vocalista da banda Pearl Jam. [Trecho do jornal virtual “jornalsaocamilloonline - http://www.saocamilo.br/jornalsaocamilo_online/direito_pauta.html] 2 Acesso site: http://letras.terra.com.br/pearl-jam/30324/traducao.html

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RESUMO

Análise das ações do Orientador Educacional quando diante do comportamento

agressivo verificado entre estudantes, no ambiente escolar, identificado como fenômeno

bullying. Fundamentada nos pressupostos científico-teóricos ao longo do curso de Pós-

Graduação Lato Sensu, do Instituto A Vez do Mestre, intitulado “Orientação Educacional e

Pedagógica”, a presente monografia teve sua estrutura tecida nos conhecimentos que

possibilitaram uma leitura exploratória do cotidiano de situações críticas destacadas na

literatura sobre o bullying. A pesquisa foi essencialmente produzida sob as bases teóricas

da função do Orientador Educacional, contrapondo suas ações ao impacto do fenômeno

bullying, para dar suporte aos profissionais de uma Escola da Rede Pública (Colégio Pedro

II) que atuam com alunos da 6ª à 9ª ano do Ensino Fundamental, no município do Rio de

Janeiro. Baseado, ainda, na teoria de educação e paz de Cléo FANTE e na teoria de não

violência de Aramis Lopes NETO, o presente estudo buscou destacar elementos que

indiquem estratégias para o Orientador Educacional desenvolver e articular um canal de

comunicação entre os membros da Instituição Escolar, bem como definir um plano de ação

que aponte para a prevenção e a redução do bullying.

Palavras-chave Escola – Educação – Orientação Educacional – Bullying – Violência – Responsabilidade Social – Família

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I – ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

CONCEITO

11

11

A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NO CENÁRIO NACIONAL 14

CAPÍTULO II – O ORIENTADOR EDUCACIONAL

PRINCÍPIOS

22

22

OBJETIVOS 24

FUNÇÕES 25

CAPÍTULO III – O FENÔMENO BULLYING

CONCEITO

29

29

A ESCOLA E O BULLYING 31

O ORIENTADOR EDUCACIONAL x BULLYING 33

CONCLUSÃO 36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 40

ANEXOS 43

FOLHA DE AVALIAÇÃO 50

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INTRODUÇÃO

A aprendizagem da regulação da conduta não pode ser considerada

tarefa só da família, mesmo porque umas séries de situações que

ocorrem na escola não acontecem no lar, e vice-versa. (Maria Isabel

da Silva Leme, in Revista Educação: Grandes Temas: Educar para a

convivência: gestão de conflitos na escola)

O que deve fazer então para cumprir a sua parte na formação afetiva

e social do aluno? (...) pensar sobre a dinâmica da vida social na

escola, que não pode ser vista como uma instituição isolada, alheia

ao contexto social (...) (idem)

O objetivo deste trabalho é identificar as atividades do orientador educacional sobre

o tema da violência escolar, identificada como a prática do bullying.

Quais estratégias o Orientador Educacional pode desenvolver, como canal de

comunicação e articulação entre os membros da Instituição Escolar, para definir um plano

de ação que aponte para a prevenção e a redução do bullying?

A Escola é o local no qual o jovem consolida sua identidade, porque é ali, dividindo o

espaço entre outros jovens, que ele se percebe como indivíduo, que descobre um ambiente

diferente do núcleo familiar, que aprende e é incentivado a atuar pela disciplina nas

relações de amizade, afetividade e cooperação.

Esse princípio torna-se impossível de alcançar a partir do momento em que a

sociedade se depara com a realidade na qual a intolerância nos relacionamentos sociais é

constatada no dia a dia, refletindo-se nas crianças e nos adolescentes, que assumem

comportamentos agressivos, posturas anti-sociais e atitudes individualistas.

Sendo assim, cabe à Instituição Escolar e a todos os envolvidos na área da

Educação, reconhecer a necessidade de planejar e programar ações que propiciem aos

alunos, condições favoráveis para se tornarem cidadãos cônscios dos direitos e deveres

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seus e dos próximos, conhecendo e respeitando sua subjetividade, bem como, aprendendo

a valorizar, a conviver e a aceitar a diversidade.

Também cabe à comunidade escolar reconhecer a extensão e o impacto gerado

pelo “bullying” e desenvolver medidas para reduzi-lo, implantando uma política de direitos

que assegure às crianças e adolescentes a manutenção de sua integridade física e

psicológica, bem como ao respeito às suas características individuais.

Ressalte-se que esse fenômeno, nem tão recente, está quase se transformando

numa “epidemia invisível”, pois geralmente os adultos ignoram ou fazem pouco caso das

agressões, considerando-as até naturais ou “brincadeira de criança”, deixa marcas

profundas e até irreparáveis na vida do ser humano. Portanto, é imprescindível que os

profissionais da educação desenvolvem habilidades além das técnicas educacionais, pois

só assim, vivendo num ambiente saudável e seguro, os alunos poderão desenvolver

plenamente os seus potenciais intelectuais e sociais.

É fundamental a percepção de que o envolvimento de todos é a primeira medida

eficaz no sentido de prevenir e reduzir a violência na escola. Como educadores,

precisamos apostar na capacidade das pessoas serem, elas mesmas, construtoras da vida

social, sem a exclusão de ninguém. A criança é um ser que merece respeito, ajuda e

condições saudáveis para seu crescimento físico, mental e afetivo.

A Escola é uma instituição que deve desenvolver, de forma digna, um processo

democrático, de tempo para ouvir, de espaço para o falar, de respeito às idéias, sem

opressão. É nela que vemos a sociedade do amanhã, mas que precisa ser construída no

hoje, em seu movimento concreto.

Dividido em três capítulos e respectivos subtítulos, cuja análise se fundamentou na

bibliografia acima citada, no capítulo I, tentaremos abordar os conceitos da Orientação

Educacional e a trajetória dessa atividade no cenário nacional.

Os estudos que focaram as questões do Orientador Educacional, os princípios,

objetivos e funções na atualidade, bem como com os desafios decorrentes ao tema aqui

proposto serão delineados no capítulo II.

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Prosseguindo, o capítulo III, abordará a questão central desse estudo: o fenômeno

bullying. Neste capítulo tentaremos apresentar os conceitos desse fenômeno em

contrapartida à estrutura escolar em conjunto com o Orientador Educacional.

Por fim, na Conclusão pretendemos observar quais as propostas ou soluções para a

problemática das responsabilidades sociais que necessitam ser compreendidas na escola,

na família e na sociedade.

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CAPÍTULO I

ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

A ação da Orientação Educacional, no sentido de captar o mundo do aluno seria se mobilizar e mobilizar a comunidade-escola e a comunidade maior, realizando a ponte escola-família-comunidade. (Regina Leite Garcia, 1994.p.32)

CONCEITO

Conceituar a função do Orientador Educacional (OE) remete-nos ao marco histórico

de sua trajetória, suas conquistas, pois a Orientação Educacional (OE) no nosso país

percorreu um longo caminho e seus idealizadores estiveram sempre comprometidos com a

educação e com as “políticas” vigentes.

Todo o processo da OE manteve sempre estreita relação com as tendências

pedagógicas, sendo o seu trabalho desenvolvido a partir do que se esperava nas diversas

concepções. A análise desta relação engloba diferentes aspectos e significados da prática

da OE.

No Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, o sentido da palavra “orientar”

significa: “indicar o rumo a; dirigir; encaminhar; guiar; nortear”.

Já a palavra orientação significa: “o ato ou arte de orientar”.

Ainda no mesmo Dicionário, orientação educacional pode ser descrita como: “o

processo intencional e metódico destinado a acompanhar, segundo técnicas específicas, o

desenvolvimento intelectual e a formação da personalidade dos estudantes, sobretudo os

adolescentes”.

Prosseguindo na pesquisa para identificarmos o conceito de OE verificamos que

dada a ampla gama de atividades que essa atividade desenvolve, constatamos que o

conceito descrito acima, expresso em outros termos, é confirmado e ampliado

complementado em textos de diferentes autores educacionais, dos quais destacamos os

seguintes.

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a) Miguel (1973) afirma que:

“Orientação Educacional é o processo organizado, e inserido na escola, pelo qual todos os conhecimentos científicos sobre o educando e métodos educacionais são colocados a serviço da máxima evolução e formação integral do educando, considerado este, em todos os seus aspectos, capaz de aperfeiçoamento e realização” (p. 12).

Para o autor, essa atividade é abrangente e caracteriza a OE como uma ação

organizada, intencional, permanente, e que, como tal, é parte integrante do processo

educacional da escola onde é desenvolvida. Miguel diz ainda que, para se concretizar, a OE

utiliza métodos, recursos e técnicas que permitem um conhecimento do educando, visando

sua formação integral.

b) Penteado (1976) define que:

“A Orientação é um processo sistemático, contínuo, uma assistência profissional realizada através de métodos e técnicas pedagógicas e/ou psicológicas, que levam os educandos ao conhecimento de suas características pessoais e das características do ambiente sócio-cultural, a fim de que possam tomar decisões apropriadas às perspectivas maiores de seu desenvolvimento pessoal e social” (p. 2).

Como pode ser observado, esse autor retoma aspectos já evidenciados e expressos

por Miguel (1973) para conceituar a OE. No entanto, seu conceito analisado com cuidado,

mostra um dado novo e importante que é o caráter profissional e especializado dessa ação

educativa.

c) Loffredi (1976) entende que:

“A Orientação como desenvolvimento das relações interpessoais define-se como uma ação no sentido de mobilizar os agentes educativos de forma que cada um, dentro de suas limitações, possa desenvolver relações significativas, com o objetivo de criar um clima educativo que favoreça o processo de aprendizagem-maturação” (p. 25).

Verificamos que esse conceito amplia o entendimento do que seja OE ao destacar

sua capacidade de mobilização dos agentes envolvidos no processo educativo (professores,

supervisores, Direção, pais, etc.) para que possam contribuir e favorecer o desenvolvimento

pessoal do educando.

d) Garcia (1986) enfatiza que:

“A ação da Orientação Educacional, no sentido de captar o mundo do aluno seria se mobilizar e mobilizar a comunidade-escola e a comunidade maior, realizando a ponte escola-família-comunidade” (p.32).

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Neste conceito é possível perceber que a educadora vislumbra uma dimensão maior

para esta especialidade pedagógica. Além de afirmar a capacidade mobilizadora da OE, ela

destaca que o seu papel deve transcender os limites da escola, envolvendo a família e a

comunidade do aluno.

Acreditamos que a seleção intencional destes conceitos, entre os muitos encontrados

em nossa pesquisa na literatura existente, já nos possibilita compreender com clareza o que

se entende por OE. Isto porque, ao observarmos com atenção cada conceito de OE aqui

expresso, identificamos alguns pontos que nos parecem de grande importância para nosso

estudo.

Assim, após nos determos sobre esses conceitos, fica claro que a Orientação

Educacional se caracteriza por ser uma ação intencional, contínua, que envolve um método

de trabalho e se desenvolve por meio de técnicas próprias que visam a auxiliar o aluno nos

seus problemas de estudo, na sua vida escolar e social. Para tanto, é necessário que os

profissionais qualificados se dediquem, que busquem a colaboração de todo o corpo técnico

da escola de modo que ultrapassem até mesmo os muros da escola, trabalhando, também,

com a família e a comunidade do educando.

Complementando essas idéias, importante salientar que “desde l942 as leis

brasileiras fazem obrigatória a orientação educacional nas escolas. Na maior parte dos

casos, os orientadores educacionais são consultores para a Direção e interlocutores entre

os pais, o aluno e a escola. Disciplinam o estudante, reúnem-se e discutem problemas

didáticos e disciplinares com os professores e com os pais do aluno, aplicam e interpretam

testes padronizados, promovem eventos que estimulam o relacionamento interpessoal, e

aconselham o encaminhamento a psicólogos e psiquiatras dos casos de desvios mais

complexos”3.

Destacaremos no item a seguir, o impacto das leis subsequentes sobre a Orientação

Educacional no Brasil.

3 Trecho do texto “O orientador educacional e o seu momento”, de Rubem Queiroz Cobra, site original: www.cobra.pages.nom.br

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A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NO CENÁRIO NACIONAL

A Orientação Educacional surgiu no Brasil na década de 20 de 1924 a 1941 na

grande São Paulo, no Liceu de Artes e Ofícios, criada pelo engenheiro suíço Roberto

Mange, pretendendo ser um serviço de orientação e seleção profissional para alunos no

curso de mecânica. Em 1930 ainda da direção de Mange teve início um serviço de seleção,

orientação e formação de alunos em cursos de aprendizagem mantidos por aquela

instituição.

Esses serviços deram origem, em 1934, à criação do Centro Ferroviário de Ensino e

Seleção Profissional (CFESP), que passou a ser modelo para outras ferrovias do país.

Dentre os princípios que regiam os trabalhos do CFESP encontra-se a seleção profissional

baseada no conhecimento das características individuais e nas aptidões funcionais para

determinadas funções e ocupações, celebrando assim a primeira experiência em orientação

vocacional, preparar o aluno para o mundo das profissões, auxiliando-o na escolha

adequada de cursos e de ocupações.

Em 1931 foi criado o primeiro serviço público de Orientação Profissional pelo

professor Lourenço Filho, depois prosseguiu no Instituto de Educação da Universidade de

São Paulo, tendo sido extinto em 1935. Começa a ser estruturado o serviço de orientação

profissional nas escolas cuja experiência pioneira é de Aracy Muniz Freire e de Maria

Junqueira Schmidt, no Colégio Amaro Cavalcante, no Rio de Janeiro, em 1934, tendo como

objetivo preparar o aluno para o mundo das profissões, auxiliando-o na escolha adequada

de cursos e de ocupações. Uma das funções da Orientação é aconselhamento para uma

escolha justa da profissão, seleção e encaminhamento dos alunos aos cursos adequados e

postos de trabalho.

Entretanto, vigorou, na década de 30, um dos fatores sócio-político-econômicos da

época: a mudança do meio econômico – de agrário econômico para o de setor urbano

industrial, exigência de mão de obra especializada, aparecendo como justificativa do

sistema capitalista, defendendo a predominância da liberdade e os interesses individuais na

sociedade.

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Neste sentido, o modelo educacional sofreu transformações, tais como: concepção

liberal, sustentando a idéia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para

desempenhar os papéis sociais requeridos pela sociedade de classes. Educação como

processo interno, partindo das necessidades e interesses individuais necessários para a

adaptação ao meio; ênfase na escolarização como via de ascensão social; pedagogia liberal

sustenta a idéia de que a escola tem a função de preparar o indivíduo para o desempenho

de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais; a escola é vista como espaço na

sociedade, que oferece oportunidades iguais para todos.

Para Grispun (2003), o período de 1920 a 1941 é o da implementação, onde a

Orientação começa a aparecer no cenário educacional brasileiro, timidamente associada à

orientação profissional, com ênfase nos trabalhos de seleção e escolha profissional. (p. 17).

Um grande marco do ponto de vista legal da OE na legislação brasileira foi de 1942 a

1960, conceituando a Orientação eminentemente corretiva, tratando o aluno nos campos da

saúde, família e educação, visando o desenvolvimento integral do aluno.

No entanto, só em 1942 surge a primeira lei que aborda a OE. Trata-se da Lei

Orgânica do Ensino Industrial, também conhecido como Lei Capanema, que define as

diretrizes para o funcionamento da OE nas escolas secundárias e atribui como função do

Orientador Educacional facilitar as escolhas profissionais, esclarecendo e aconselhando o

aluno.

A partir de 1942 é instituído na Lei Orgânica do Ensino Industrial, o Serviço de OE

surgindo pela primeira vez referência à Educação Educacional, destinada aos serviços

secundários profissionalizantes com os decretos: Decreto-lei 4.073/42 – Lei Orgânica do

Ensino Fundamental; e o Decreto-lei 4.424/42 – Lei Orgânica do Ensino Secundário, que

tem como objetivo facilitar a escolha profissional, esclarecendo e promovendo o

aconselhamento em cooperação com a família. O papel da Orientação é o de desvelar as

aptidões que cada um tem naturalmente, independente de sua condição. E fica estabelecido

como funções da orientação, orientar e encaminhar o aluno na escolha profissional;

cooperar com os professores e a família na ajuda ao aluno; encaminhamento e correção de

alunos-problemas; caráter corretivo; busca de um aluno “normal” idealizado pela escola.

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A Orientação não questionava os objetivos da Educação, mas se colocava de modo

a atendê-los da melhor maneira. Os fatores sócio-político-econômicos; mudança no modelo

de produção agrário que se vê forçado a dividir o poder com o surgimento da burguesia

industrial acelerando o processo industrial (urgência de mão de obra especializada);

desloca-se o foco da crise social para o da escolarização.

Nesta época, o modelo educacional sofre nova transformação de conceito e passa a

ser identificado como: escola nova – manifesto dos pioneiros da educação; concepção

liberal renovada; adequação das necessidades individuais ao meio; afrouxamento das

normas disciplinares; papel do professor como orientador da aprendizagem; papel da escola

é o de formar atitudes; aluno visto como um ser ativo, que aprende fazendo.

Na década de 50 o conceito de orientação muda para assumir um caráter terapêutico

e preventivo, destinada a todos os alunos da escola, prevenindo comportamentos

desajustados. Em 1957 acontece o Simpósio de OE, promovido pelo MEC, e em 1958, o II

Simpósio de Orientação Educacional inspirado nos estudos de Psicologia, tendo como

objetivo buscar o equilíbrio entre o individual e o social, adaptando as necessidades e

aspirações dos alunos em prol das exigências profissionais do futuro.

No período de 1961-1970 o conceito de Orientação passa para Orientação

desenvolvimentista, orientando o aluno dentro do seu próprio desenvolvimento pessoal.

Em termos de legislação somente em 1961, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB) 4.024/1961, volta a se referir à Orientação Educacional e Vocacional como

ajuda ao aluno em suas escolhas. Essa lei reafirma a necessidade da OE relacionar-se aos

objetivos da Educação; estabelecendo normas para s formação do Orientador Educacional;

ação educativa da Orientação no Ensino Médio direcionada para área vocacional;

característica assistencialista visando o desenvolvimento integral do aluno.

Em 1958, a Lei 5564 amplia as atribuições do Orientador Educacional, mas reafirma

o compromisso com a orientação vocacional, que estabelece:

“A orientação educacional se destina a assistir ao educando, individualmente ou em grupos, no âmbito das escolas e sistemas escolares de nível médio e primário, visando o desenvolvimento integral e harmonioso de sua personalidade, ordenando e integrando os elementos que exercem influência em sua formação e preparação para o exercício de suas opções básicas.”

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A Lei 5564 de 1958, que também previa o exercício da profissão de Orientador

Educacional só foi regulamentada em 1973, pelo decreto 72.849. O decreto também

enfatiza a orientação educacional vocacional, a sondagem de aptidões e interesses do

educando como função da OE. No entanto, é preciso salientar que o Decreto já prevê a

articulação da família, da comunidade e o do mundo do trabalho.

Como podemos constatar, desde o início da sua trajetória no Brasil, a partir da

década de 70, no século XX, a OE foi marcada quase que exclusivamente por uma

vinculação conservadora, com a questão vocacional e com o encaminhamento para as

escolhas profissionais.

Como vimos, considerando a legislação brasileira sobre educação, o exercício da

profissão de Orientador Educacional fica estabelecido na Lei 5564/68 e é regulamentado

pelo Decreto 72.846/63.

Mas é a Lei 5692, de 11 de agosto de 1971, que fixa as Diretrizes e Bases para o

Ensino de 1º e 2º Graus, fazendo uma grande reformulação na Educação Brasileira que,

pela primeira vez, inova e trata de modo detalhado os professores e especialistas em

educação. No capítulo V da lei e em vários artigos, observamos que há referências a

professores e especialistas considerando aspectos como formação, aperfeiçoamento,

recrutamento, seleção, remuneração e carreira.

Entre os especialistas do Ensino, segundo a Lei 5692/71, estão o administrador, o

orientador e o supervisor. A formação desses profissionais deverá ser feita em curso

superior de graduação em educação ou pós-graduação, que passam a ter habilitações

específicas para formar especialistas.

A mesma lei, no capítulo I, artigo 1º, dispõe que “será instituída obrigatoriamente a

Orientação Educacional, incluindo aconselhamento vocacional, em cooperação com os

professores, a família e a sociedade.”

Portanto, a Lei 5692 torna com este artigo, a partir de 1971, o serviço de OE

obrigatório nas escolas de 1º e 2º Graus, definindo o Orientador como responsável pela

articulação escola-família-comunidade, dando sentido de terminalidade ao sentido

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secundário, quando assim o 1º Grau com os objetivos de sondagem e a preparação para o

trabalho e o 2º Grau com o objetivo de trabalhar a habilidade profissional.

O Orientador se destacava promovendo a orientação vocacional, realizando

aconselhamento vocacional e individual, usando testes de aptidões e de interesses,

ajudando o aluno no seu ajustamento social, tendo assim uma visão individualista do

homem e do processo educacional.

O Modelo de educação era de tendência liberal tecnicista; subordinação da educação

à sociedade, tendo a função de preparar recursos humanos, a escola era estruturada a

partir dos conceitos empresariais; divisão do trabalho pedagógico; educação vista como

instrumento de desenvolvimento econômico; escola organiza o processo de aquisição de

habilidades, atitudes e conhecimentos necessários à integração à sociedade capitalista;

interesse da escola em produzir indivíduos competentes para o mercado; conteúdos

organizados por instrução programada; ensino é um processo de condicionamento do

comportamento; objetivos operacionais em comportamentos observáveis.

Atualmente os educadores, ao fazer uma análise histórica e crítica da Lei 5692/71,

percebem muitos dos avanços pelos quais a orientação educacional passou, mas também

apontam que em outros aspectos é considerada específica, diretiva e controladora.

Por exemplo, quanto à OE, a Lei 5692/71 institui a obrigatoriedade nas escolas na

década de 70, esquecendo que na realidade do país, pela precariedade das condições

existentes, muitas vezes em grande parte das escolas, isto era praticamente impossível de

ser concretizado.

No entanto, é preciso salientar que por força dos artigos da Lei 5692/71, que a partir

da década de 70, a Orientação, bem como a especialidade de Supervisão Escolar, ganha

força institucional nos sistemas de Ensino.

Em 1973, o Decreto-lei regulamenta a Lei 5564/68 e determina as funções do

Orientador Educacional no exercício da profissão, confirmando o caráter psicológico de

aconselhamento individualizado dessa especialidade.

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Em seu processo histórico de atuação, ao longo do tempo, percebe-se que a OE

deixou seu papel dos primeiros tempos, apenas voltada para orientar os alunos em suas

escolhas profissionais e, saberes e fazeres, acertos e desacertos, suas tendências marcam

a OE e o papel do orientador desde a década de 1970 até os dias atuais: uma que privilegia

o trabalho no espaço escolar e outra que dá ênfase ao espaço social mais amplo.

Na década de 80 a Escola não consegue dar conta da evasão e da repetência,

revelando-se incompetente para lidar com p aluno concreto, sendo necessário pensar que

aluno é este que habita o espaço educativo.

O Orientador Educacional questiona o sentido do seu trabalho, a sua especialização

em prol da maioria; questiona uma educação que atenda a todos os segmentos da

sociedade; uma visão crítica da realidade e democratização da escola transformando a

sociedade como um todo, sendo o Orientador o pesquisador do universo cultural do aluno.

A Educação com grande destaque atuando como síntese de superação das

condições sociais concretas, instância dialética que serve a um projeto e um ideal de

sociedade, democratizando o ensino e apropriando-se do saber acumulado universalmente,

surgindo assim a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96).

Diferente da Lei 5692/71, que é fruto de um período político conservador e repressor,

a Lei 9394/96 é uma conquista que resulta de uma época mais democrática e flexível da

vida brasileira.

Por este motivo os educadores apontam este novo projeto educacional do nosso país

como descentralizador, aberto e criativo. Seu próprio autor, o educador Darcy Ribeiro

(1996), que deu nome a esta Lei, afirma que é uma boa lei sucinta, funcional, libertária,

modernizada.

Mas que perspectivas a Lei 9394/94 oferece ao orientador educacional que é nosso

objeto de estudo? Vejamos o que dispõe a LDB no artigo 64:

“A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a Educação Básica será feita em cursos de graduação em Pedagogia ou em nível de Pós-Graduação, a critério da instituição de ensino, garantida nesta formação a base comum nacional.”

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Vemos que este artigo da nova Lei, quanto à formação de orientadores educacionais

e demais especialistas, não difere muito do que estava previsto na Lei 5692/71 sobre o

mesmo assunto. No entanto, a Lei anterior era mais burocrática, autoritária, pouco flexível,

centralizadora.

Na lei atual, a chamada “base comum nacional” dos cursos de formação desses

especialistas educacionais será orientada por norma do Conselho Nacional de Educação,

mas as Instituições de Ensino terão mais liberdade e flexibilidade para estruturar esses

cursos.

A formação de especialistas, ou seja, profissionais de educação para administração,

planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional está confirmada na nova LDB.

Pode-se afirmar que, entre rejeições e aceitações desses profissionais ao longo de tantos

anos, hoje sua importância para o bom funcionamento do sistema escolar finalmente é

reconhecido.

Ao percorrermos as trajetórias da OE e suas dimensões no cenário nacional,

percebemos uma estreita relação com a educação, fazendo com que suas histórias sejam

coincidentes.

É perceptível que a OE hoje está cada vez mais junto à Educação na busca das

finalidades, caracterizando um trabalho muito mais abrangente no sentido de sua dimensão

pedagógica, mediando junto aos demais educadores, atuando com todos os protagonistas

da escola no resgate de uma ação mais efetiva e de uma educação de qualidade nas

escolas.

Segundo André (1995):

“Conhecer a escola mais de perto significa colocar uma lente de aumento na dinâmica das relações e interações que constitui seu dia-a-dia, aprendendo as forças que impulsionam ou a retém, identificando as estruturas de poder e os modos de organização do trabalho escolar, analisando a dinâmica de cada sujeito neste complexo interacional”. (p. 111)

A importância do Orientador Educacional, hoje, se dá tanto pela implementação de

leis no país como pela necessidade de, no corpo docente da Escola, constar um profissional

de Educação, um especialista capaz de ajudar na formação do aluno, a qual não se esgota

apenas no racional, mas que engloba o sensível e o emocional do indivíduo em formação.

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Aprofundaremos esses aspectos quando expusermos, no capítulo II deste trabalho,

os Princípios, os Objetivos e as Funções que envolvem as dinâmicas dessa área da

educação.

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CAPÍTULO II

ORIENTADOR EDUCACIONAL

(...) por detrás das ações humanas, estão as necessidades e emoções humanas, antecedendo a ação, as relações com os outros, as linguagens. Isso significa que as ações humanas estão impregnadas de sentidos subjetivos, projetando-se em várias esferas da vida dos sujeitos, obviamente também na atividade dos alunos, na compreensão das disciplinas escolares, no envolvimento com o assunto estudado. (José Carlos Libâneo, 2009)

PRINCÍPIOS

Nos diferentes autores pesquisados no capítulo anterior, encontramos um elenco de

princípios que devem nortear o trabalho do Orientador Educacional.

Entre esses, selecionamos para o presente estudo os cinco princípios apontados por

Luck (1991) porque são aqueles considerados mais abrangentes e por possibilitarem maior

clareza na direção para uma política de ação construtiva na área da Orientação

Educacional.

Para melhor entender os Princípios de Luck (1991), optamos por apresentá-los em

sequência e com um breve resumo das características basilares para as quais os Princípios

estão direcionados.

PRINCÍPIO UM – A Orientação Educacional é um processo dinâmico, contínuo,

sistemático e integrado em todo currículo escolar.

Tal como verificado no estudo dos conceitos, este primeiro princípio demonstra que

as atividades da OE na escola não podem ocorrer de forma isolada e descontínua. Suas

ações devem ser sempre recorrentes e, além disso, têm sempre que estar interligadas às

demais áreas e ações do currículo escolar.

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PRINCÍPIO DOIS – A Orientação Educacional é um processo cooperativo e

integrado em que todos os educadores e, em especial, o professor, assumem

papel ativo e de relevância.

Este segundo princípio chama a atenção para a necessidade da criação de

condições adequadas na escola para que o trabalho de OE aconteça de forma cooperativa,

contando com a participação integrada de professores, da direção escolar, demais técnicos

da escola, pais e orientadores.

Isto porque se entende que é o trabalho integrado, cooperativo que possibilitará

compreender melhor cada aluno em sua individualidade, criar um ambiente equilibrado e

favorável ao desenvolvimento dos alunos e organizar procedimentos adequados para

atendimento das necessidades de orientação dos educandos. Se esses aspectos forem

alcançados, o orientador educacional poderá dar assistência direta não só aos alunos, mas

também auxiliar em muito o trabalho dos professores.

PRINCÍPIO TRÊS – A Orientação Educacional vê o aluno como um ser global

que deve desenvolver-se harmoniosamente e equilibradamente em todos os

aspectos: físico, mental, emocional, social, moral, estético, político, educacional e

vocacional.

Neste terceiro princípio verificamos que tal como a própria educação da qual é parte

integrante, a orientação educacional também se preocupa com o desenvolvimento global do

aluno. Por isso ela deve funcionar como um elemento integrador de todas as áreas do

currículo, contribuindo de forma efetiva para que o crescimento harmonioso e equilibrado do

aluno realmente aconteça.

Este princípio também indica que o orientador pode trabalhar com mais cuidado um

ou outro aspecto acima, caso considere que o educando ou grupos de educandos assim o

necessitem. Ele poderá priorizar, então, seu trabalho em momentos específicos em função

da necessidade sentida em determinado aspecto.

PRINCÍPIO QUATRO – A Orientação é um processo de assistência direta ou

indireta a todos os educandos indistintamente.

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Para que a diretriz deste quarto princípio possa ser cumprida é necessário que a

equipe de OE da escola formule estratégias de atendimento preventivo, de desenvolvimento

em grupo, indireto, para resolver o freqüente problema de um orientador que necessita dar

atendimento a muitos alunos. E, também, para que os orientadores tenham condições de

prestar uma real assistência ao Corpo Docente de forma a que ele possa melhor atender

aos alunos quanto ao seu desenvolvimento global.

PRINCÍPIO CINCO – A Orientação Educacional procura, antes de tudo, promover

situações e condições que favoreçam o desenvolvimento do educando bem como

prevenir situações de dificuldade, e não estabelecer-se como recurso de

remediação de problemas já criados.

Este último princípio remete-nos, novamente, para a importância da criação de um

clima educacional equilibrado e cooperativo na escola, proporcionando direta ou

indiretamente o bem-estar do educando. Em contrapartida, a OE tem que considerar

sempre a realidade, o contexto sócio-econômico e cultural do aluno para que possa atuar de

forma preventiva e favorecer o seu real crescimento.

OBJETIVOS

Sabemos que a OE é uma modalidade do processo educativo. Assim sendo, seus

objetivos gerais estão relacionados aos objetivos e finalidades da Educação Nacional e

colaboram de forma definitiva para que esses sejam alcançados.

A Orientação Educacional, sempre coerente com os objetivos da educação, formula

seus próprios objetivos específicos. Assim, podemos dizer que no âmbito geral essa área

atua baseando-se nos seguintes objetivos:

a) Orientar o educando no sentido de obtenção de bons resultados nos estudos;

b) Promover a integração familiar, escolar e social do aluno;

c) Auxiliar o educando no autoconhecimento;

d) Selecionar aptidões, interesses e traços de personalidade, a fim de levar o

educando a sua plena realização;

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e) Orientar o educando na escolha profissional;

f) Orientar o educando para o lazer e práticas de higiene física e mental;

g) Orientar o educando para apreensão de bons princípios éticos, morais e

religiosos;

h) Sensibilizar o educando para o respeito às coisas da natureza;

i) Sensibilizar o educando para que tenha noção dos valores comportamentais e

aceitação do próximo;

j) Proporcionar o necessário entrosamento família-escola;

k) Favorecer um bom relacionamento professor-aluno;

l) Promover um ambiente de alegria, confiança e satisfação;

m) Promover a integração escola-comunidade.

Segundo Luck (1991), os objetivos da OE devem sempre considerar “os objetivos

educacionais da escola em que o processo de Orientação Educacional

está inserido” (p. 103).

Esse autor ainda enfatiza que,

“Qualquer lista de objetivos de Orientação Educacional desvinculada de uma situação real, ou organizada de forma aleatória em relação a uma situação determinada e específica, constitui apenas um prol de possíveis objetivos” (LUCK, 1991, p. 103).

Concluímos, então, que só há sentido em se especificar os objetivos da OE quando

se tem um plano de ação educativo a se desenvolver.

FUNÇÕES

As funções da OE têm um cunho eminentemente prático, porque dizem respeito às

tarefas e às ações que devem ser executadas para cumprir seus objetivos.

Essas funções podem ser caracterizadas em dois grupos que fazem parte do mesmo

processo e não existem isoladamente. São as chamadas funções de organização e funções

de implementação.

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As funções de organização são todas as tarefas que o orientador ou a equipe de OE

da escola, quando houver, precisa desenvolver para que seu trabalho não ocorra de forma

descontínua, imediatista ou que ocasione a execução de tarefas que não lhe dizem respeito.

A organização das tarefas a serem realizadas prepara, prevê, sistematiza, avalia e

retroalimenta a atuação da OE e o alcance dos resultados pretendidos.

Entre as principais funções da organização estão o levantamento de dados, o

planejamento e a avaliação. Estas funções são integradas e interdependentes, pois o modo

como uma é desenvolvida influencia diretamente na qualidade de execução das demais.

O levantamento de dados implica na coleta, tabulação e interpretação de

informações que permitem o diagnóstico da realidade social (do aluno, da escola, da

comunidade) no qual o processo educacional está inserido e sobre o qual atua. É esse

procedimento, também, que indica as necessidades, as prioridades que devem ser

consideradas e os objetivos que nortearão o planejamento e a avaliação das ações de

orientação.

O planejamento é uma função que pressupõe o conhecimento e a compreensão da

realidade na qual se atua, o que exige uma etapa inicial de diagnóstico, pois é preciso

conhecer, refletir, para poder agir de modo coerente e organizado.

Segundo Martins (1992), “o planejamento visa à ação, sendo um processo que exige

tomada de decisões, tanto no início como no decorrer do mesmo” (p. 79).

Luck (1991) detalha a ação de planejamento da seguinte forma:

“Planejar é levantar a situação atual, estabelecer o que se deseja mudar e organizar a ação futura, a fim de se obter maior eficiência, exatidão e melhores resultados, maximizando os esforços e gastos” (p. 25).

Ao conhecer a realidade de suas funções, o OE pode iniciar o planejamento das

ações. É por meio do amplo conhecimento da situação que se estabelece o plano de

trabalho, ou seja, os objetivos a serem alcançados e quais as atividades de orientação

serão desenvolvidos, como serão coordenadas e quais os recursos que serão envolvidos; a

partir daí é possível determinar os prazos e o cronograma de execução.

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Ainda de acordo com Luck (1991), “mediante uma prática pedagógica planejada, o

orientador educacional poderá construir e estabelecer a relevância do seu trabalho; garantir

a natureza peculiar da prática de Orientação Educacional; estabelecer uma imagem positiva

da Orientação Educacional; dar à prática profissional um caráter sistemático e contínuo; e

demonstrar a importância e relevância da Orientação Educacional para o desenvolvimento

da prática pedagógica da escola como um todo” (p. 40).

A avaliação como função de organização da prática de OE é fundamental porque é

ela que vai fornecer elementos que possibilitem reformular, corrigir eventuais falhas ou

deficiências das ações que foram planejadas, redirecionando-as para que os objetivos

possam ser alcançados.

As funções de implementação são as ações propriamente ditas de OE que podem

visar à transformação do educando individualmente, a grupos dentro da escola, a

segmentos dentro da instituição educacional ou ao contexto pedagógico como um todo.

São caracterizadas como funções de implementação: aconselhamento; coordenação;

consultoria; encaminhamento; orientação em grupo.

Como podemos observar, o trabalho de Orientador Educacional se desenvolve

utilizando um conjunto de técnicas e estratégias de ações dinâmicas e interdependentes

junto aos alunos, professores, Direção da Escola, a família, a comunidade. No entanto, o

uso desses recursos pelo orientador pressupõe o conhecimento da realidade, o

planejamento e avaliação sistemática para que a prática seja realmente intencional e

consciente e possa contribuir de modo efetivo para a transformação do aluno, do ensino e

da própria sociedade.

Com esses pressupostos, quais as estratégias que o Orientador Educacional pode

desenvolver como canal de comunicação e articulação entre os membros da Instituição

Escolar, para definir um plano de ação que aponte para a prevenção e a redução do

bullying, fenômeno – objeto deste trabalho – que é cada vez mais frequente nas escolas?

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Tentaremos encontrar uma resposta para essa questão no capítulo III, quando

analisaremos o fenômeno bullying e os vários aspectos que envolvem a prática entre os

jovens estudantes.

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CAPÍTULO III

O FENÔMENO BULLYING

A paz não é sinônimo de ausência de conflito, mas sim de conflito resolvido entre as partes, cujo desfecho contempla os direitos de todos os envolvidos. (Maria Isabel da Silva Leme, in Revista Educação: Violência e Disciplina, n.1) A crítica hoje disseminada sobre a inoperância da escola, e muito particularmente da escola pública, por vezes leva a crer que, em algum momento na história, a educação das crianças e dos jovens aconteceu em plena harmonia, isso é falso. É necessário, portanto, problematizar alguns consensos que, vez por outra, são criados quando se discute educação – como parece ser, hoje, o caso da violência escolar. (Carlota Boto, in Revista Educação: Violência e Disciplina, n.1)

CONCEITO

O termo em inglês refere-se a uma denominação diferenciada para designar a

violência, evidenciando uma repercussão negativa da violência entre pares, com destaque

para o ambiente escolar.

Em linhas gerais, o bullying pode ser evidenciado por situações relacionadas com a

violência, a agressão, a intimidação, as ameaças, as humilhações, gozações e colocações

de apelidos. São manifestações que exigem atenção e ação de todos os profissionais da

educação.

De acordo com Neto (2003), as características do bullying podem ser identificadas

sob vários aspectos:

Bullying caracteriza–se por atos repetitivos de opressão, tirania, agressão e dominação de pessoas ou grupos sobre outras pessoas ou grupos, subjugados pela força dos primeiros. Trata-se de indivíduos valentões e brigões que põem apelidos pejorativos nos colegas, aterrorizam e fazem sofrer seus pares, ignoram ou rejeitam garotos da escola, humilham, discriminam, intimidam ou quebram pertences dos colegas, entre outras ações destrutivas. (p.16)

Para o autor, “bullying compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e

repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes

contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de

poder, tornando possível a intimidação da vítima”. (NETO, p.16)

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Somente há alguns anos o bullying é objeto de estudo e reflexão, no Brasil, por parte

de educadores, professores, psicólogos e médicos, principalmente pelos efeitos

provocados nas vidas dos jovens e de suas famílias. Esse é o fenômeno que, nas escolas

– local de maior incidência –, tem sido investigado por teóricos brasileiros e do exterior.

Não se trata, no entanto, de um problema novo, mas tem recebido especial

destaque, sobretudo pela necessidade de compreender e enfrentar a crescente violência

nos vários espaços sociais e nas suas mais diferentes formas de apresentação.

O bullying ocorre quando alguém sofre sistematicamente intimidações, agressões

verbais e exclusão por parte de um ou mais elementos do seu grupo, os colegas de classe.

Para alguns pesquisadores, caracteriza-se o bullying quando a mesma vítima sofre,

no mínimo, três ataques durante o ano

Sob a análise de Fante (2005), “os atos do bullying entre os alunos apresentam

determinadas características comuns: são comportamentos produzidos de forma repetitiva

num período prolongado de tempo contra uma mesma vítima; apresentam uma relação de

desequilíbrio de poder, o que dificulta a defesa da vítima; ocorrem sem motivações

evidentes; são comportamentos deliberados e danosos”. (p. 49)

Quais as formas desse fenômeno e como ocorrem? Ainda de acordo com Fante

(2005) observamos que:

Os comportamentos bullying podem ocorrer de duas formas: direta e indireta, ambas aversivas e prejudiciais ao psiquismo da vítima. A direta inclui agressões físicas (bater, chutar, tomar pertences) e verbais (apelidar de maneira pejorativa e discriminatória, insultar, constranger); a indireta talvez seja a que mais prejuízo provoque, uma vez que pode criar traumas irreversíveis. (p.49).

O bullying pode acontecer em qualquer contexto no qual seres humanos interajam,

tais como casa, local de trabalho, nas atividades que as pessoas participam. Porém, o

problema acontece com mais freqüência no ambiente escolar, independentemente de

serem escolas públicas ou privadas, atingindo todas as faixas etárias. Nas escolas, o

bullying normalmente ocorre em áreas de supervisão adulta mínima ou inexistente. Ele

pode acontecer dentro ou em torno da escola.

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A ESCOLA E O BULLYING

Tradicionalmente a escola foi sendo entendida como a instituição social responsável

por garantir a formação de conhecimentos e valores de crianças e jovens. Mas isso não

significa dizer que a escola não apresente conflitos e problemas, principalmente quando

observamos inúmeras situações cotidianas relacionadas à proliferação da violência.

De fato, todo esse contexto acaba sendo potencializado em função da inabilidade

dos profissionais da educação para resolver os conflitos detectados no ambiente escolar.

Muitos profissionais desconhecem o tema, por isso não desenvolvem habilidades

para atuar de maneira efetiva contra o conjunto de situações e práticas que caracterizam o

fenômeno do bullying.

Muitos profissionais desconhecem o tema, por isso não desenvolvem habilidades

para atuar de maneira mais efetiva contra o conjunto de situações e práticas que

caracterizam o fenômeno do bullying.

Retomando a análise, sobre esse aspecto, Neto (2003) acredita que:

Provavelmente o bullying seja a forma mais comum de violência entre crianças e adolescentes, podendo causar traumas irreversíveis como meso, insegurança, vingança e até mesmo o suicídio nas vítimas. Também podem deixar seqüelas nos próprios agressores como, por exemplo, danos físicos e psicológicos, agressividade e comportamento anti-social. (p. 24)

Neto (2003) ainda valia que a “ocorrência de bullying é muito mais freqüente do que

se pode imaginar, admitindo-se, inclusive, que seria esta a forma mais comum de violência

entre crianças e adolescentes. Segundo alguns autores, o bullying pode ser gerador de

seqüelas tanto nas vítimas (danos físicos e psicológicos), quanto nos agressores

(agressividade e comportamento anti-social”. (p.24).

Os atores sociais envolvidos na situação são o agressor, a vítima e o espectador.

Mas, ao longo de sua trajetória escolar, cada indivíduo parece não assumir um único papel.

Na verdade, tal tipologia serve como referência para entender cada situação concreta de

interação.

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O agressor pratica o bullying contra seus colegas e apresenta aversão às normas.

Geralmente está envolvido em atos de pequenos delitos como roubo e ou vandalismo.

Apresenta certa fragilidade, lidando de maneira conflituosa com seus sentimentos, na

medida em que frágil e impõe-se ao grupo por meio da intimidação. Costuma agir de

maneira violenta, tanto com agressões físicas, depredações e brigas, quanto também com

discriminações, ofensas verbais, humilhações, etc.

A vítima/alvo é a pessoa que sofre bullying e sobre quem recaem, repetidamente, as

consequências dos comportamentos agressivos dos outros. Os alunos com baixa auto-

estima apresentam problemas de relacionamento, colocando-se na posição de vítimas da

violência. A vítima é um aluno que sofre a perseguição constante do agressor que, com

frequência a humilha e discrimina. Por ter a baixa auto-estima, tem dificuldades de livrar-se

da perseguição do agressor.

Há um terceiro grupo que assiste de maneira pacífica a prática violenta do agressor,

o espectador/testemunha. O espectador adota a “lei do silêncio”, testemunhando tudo, mas

sem tomar partido, por medo de se tornar vítima.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) assegura a proteção às crianças,

mas o controle e a percepção da violência ao redor delas cabem à escola e à família. A

escola seria a instituição social responsável por ampliar a socialização de crianças e

adolescentes, oriundas de diferentes classes sociais, com hábitos, culturas e atitudes

diferentes.

A primeira atitude que a escola deve ter para garantir um espaço seguro e saudável

para seus alunos é reconhecer que existe a prática do bullying dentro da escola. Mas, para

isso aconteça, de acordo com Neto (2003), “o primeiro passo é admitir a existência do

bullying dentro da Escola, pois nas escolas onde se diz não haver bullying, os seus

profissionais estão desinformados, ou negligenciam o bem estar de seus alunos” (p. 115).

Para esse autor, é “importante lembrar que a escola é um espaço de aprendizagem

e, principalmente, de formação de pessoas. Para isso, deve ser garantido aos alunos, o

direito de freqüentar um espaço seguro, onde eles possam aprender e conviver com outras

pessoas, num clima saudável e tranqüilo”. (p. 115.)

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Ao reconhecer a existência do bullying, a escola precisa criar estratégias para

combatê-lo, desenvolvendo medidas urgentes e efetivas que possibilitem o tratamento das

manifestações desse fenômeno, responsável pelos comportamentos antissociais e

agressivos de seus alunos. As estratégias devem ser psicopedagógicas e socioeducativas

que visem à intervenção e a prevenção na escola, priorizando a redução do bullying entre

alunos.

Se a missão da escola é a formação de novos cidadãos, como preparar os agentes

que atuam no espaço acadêmico para executar essa tarefa? De acordo com os estudos de

Fante (2005), “para que possam desenvolver estratégias de intervenção e prevenção do

bullying em uma determinada escola, é necessário que a comunidade escolar esteja

consciente da existência do fenômeno e, sobretudo, das consequências advindas desse

tipo de comportamento”. (p. 91)

Não obstante, de acordo com Fante (2005), é necessário preparar esses agentes

para a “conscientização e a aceitação de que o bullying é um fenômeno que ocorre, com

maior ou menor incidência em todas as escolas de todo o mundo”, ( independentemente

das características culturais, econômicas e sociais dos alunos, e que deve ser encarado

como fonte geradora de inúmeras outras formas de violências, são fatores decisivos para

iniciativas bem sucedidas no combate à violência entre escolares”. (p. 91)

O ORIENTADOR EDUCACIONAL x BULLYING

A escola deve buscar meios para reduzir a violência no convívio escolar por meio do

comprometimento de todo o corpo docente e discente, fundamental na campanha de

socialização, pois seus alunos precisam de atitudes positivas vindas de toda a comunidade

escolar para que se sintam confiantes em relação ao ambiente propiciado pela escola.

Para que as estratégias a serem desenvolvidas pela escola tenham êxito, é

necessário e fundamental que se reconheça enquanto lugar privilegiado de transformação

para uma sociedade mais justa, mais igualitária e menos violenta.

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Assim, o corpo docente que ali atua deve ter atitudes afetuosas, simples e que

demonstrem respeito e admiração, propiciando através de seus atos intra e extraclasse

uma promoção da auto-estima e colaborando efetivamente contra a diminuição da violência

escolar.

A escola deve desenvolver um olhar observador e atento, tanto por parte dos

professores quanto dos demais profissionais ligados ao espaço escolar.

Cabe a esse espaço pedagógico estar atento para os sinais de violência, procurando

neutralizar os agressores, bem como assessorar as vítimas e transformar os espectadores

em principais aliados; tomar algumas iniciativas preventivas tais como: supervisão na hora

do recreio e intervalos; evitar que haja em sala de aula menosprezo, apelidos ou rejeição

de alunos por qualquer que seja o motivo.

Dentre outras atividades, a escola poderia promover uma pesquisa tendo a ampla

participação dos alunos, da escola e, após análise dos resultados seria possível definir e

priorizar ações e estratégias a serem adotadas para a divulgação, sensibilização e

prevenção do bullying.

A escola deve ainda promover palestras sobre o bullying, divulgar reportagens a

respeito das consequências geradas pelo problema nas mais diversas situações, estimular

os alunos a informar sobre os casos, realizar campanhas educativas, reconhecer e

valorizar atitudes no combate à prática do bullying.

A temática do bullying também pode ser discutida através do texto teatral,

promovendo assim uma reflexão sobre as situações de violência e exclusão observadas no

espaço escolar.

Cabe ressaltar que a divulgação do tema deve envolver toda a comunidade escolar,

pois o êxito do trabalho depende da participação dos pais, pois eles precisam estar atentos

e conhecer o cotidiano de seus filhos, ouvir suas vivências e ajudá-los, seja ele agressor,

agredido ou espectador, pois todos precisam de proteção. É importante ajudá-los a resolver

situações de conflito com postura correta, diálogo e, acima de tudo, com muito amor.

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Para Neto (2003), autor que se debruçou sobre o tema, todos nós nos deparamos

com um problema essencialmente complexo, sobre o qual não há solução para minimizá-

lo. No entanto, “para que possam trabalhar as situações de bullying nas escolas, torna-se

fundamental a percepção de que o envolvimento de todos é a primeira medida eficaz no

sentido de preveni-lo e reduzi-lo”. (p. 118)

Ainda de acordo com esse autor, “cada escola deve desenvolver suas próprias

estratégias no combate ao bullying, observando suas prioridades, suas características

ambientais e, principalmente as influências culturais, sociais e econômicas exercidas sobre

as comunidades atendidas (p.118)

Uma boa escola é aquela que não só oferece um ensino de qualidade, como

também envolve seus professores e funcionários, pais e responsáveis em ações voltadas

para a garantia de um ambiente seguro e saudável para suas crianças e adolescentes;

onde predomine a amizade, o respeito às diferenças, dando condições, necessárias e

indispensáveis para o desenvolvimento físico, social e intelectual de suas crianças e

adolescentes.

Não nos restam dúvidas de que o bullying merece uma atenção especial para que

assim consigamos evitar que continue crescendo de forma acelerada entre os jovens.

Agindo assim, conseguiremos fazê-los adultos mais conscientes, solidários e humanos.

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CONCLUSÃO

Educar é uma dinâmica e uma prática social, constante e ininterrupta. Os membros

dessa dinâmica são, essencialmente, a Família e a Escola. Em cada desses núcleos há a

necessidade de indivíduos com preparação específica que se ocupem de determinadas

áreas. Neste sentido, a Orientação Educacional deve ser vista como uma prática que

ocorre dentro da escola, mas cujas atividades podem e devem ultrapassar seus muros. É

um procedimento que caminha no sentido da objetividade e da totalidade da educação. É

uma Orientação cada vez mais junto da Educação, vista como um todo, na busca das

finalidades de projetos formulados pela escola, em favor de seus próprios alunos.

A Orientação, hoje, caracteriza-se por um trabalho muito mais abrangente, no

sentido de sua dimensão pedagógica. Possui caráter mediador junto aos demais

educadores, atuando com todos os protagonistas da escola no resgate de ações mais

efetivas para uma educação de qualidade nas escolas. Sendo assim, essa área está

comprometida com a formação da cidadania dos alunos, considerando, em especial, o

caráter da subjetividade. Seu principal papel será ajudar o aluno na formação de uma

cidadania crítica, ajudando-o “por inteiro”, com utopias, desejos e paixões. A Orientação

Educacional atua em favor da cidadania, não para atender aos excluídos (do

conhecimento, do comportamento, dos procedimentos), mas para entendê-los, por meio

das relações que ocorrem (poder/saber, fazer/saber) na instituição escolar.

O Orientador Educacional, por sua vez, desenvolve um trabalho participativo, cujo

currículo deve ser construído por todos e onde a interdisciplinaridade deve ser buscada

para a melhor compreensão do processo pedagógico da escola. Esse profissional tem

como missão tentar esclarecer as contradições e confrontos que ocorrem entre alunos,

verificar a situação existente no momento do corrido e busca ajudar o aluno a compreender

as redes de relações que na sociedade se estabelecem. O Orientador dinamiza, mobiliza

as questões coletivas, levando em conta que esse coletivo não é abstrato, e sim formado

de indivíduos que devem pensar, que podem criar e agir.

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A Orientação Educacional deve, hoje, estar comprometida com:

• A construção do conhecimento por meio de uma relação sujeito-objeto • A realidade concreta da vida dos alunos, vendo-os como atores de sua

própria história • A responsabilidade do processo educacional na formação da cidadania,

valorizando questões do saber pensar, saber criar, saber agir e saber falar na prática pedagógica

• A atividade realizada na prática social, levando-se em conta que é dessa prática que provém o conhecimento, e que ele se dá como um empreendimento coletivo

• A diversidade da educação, questionando valores pessoais e sociais, submersos nos atos de escolha e da decisão do indivíduo

• A construção de uma rede de subjetividade que é tecida em diferentes momentos na escola e por ela

• O planejamento e a efetivação do projeto político-pedagógico que o sustentam, portanto, a filosofia da educação que o fundamenta e as demais áreas que o articulam.

No que diz respeito ao fenômeno bullying, o Orientador Educacional deve

empenhar-se com intuito de conscientizar pais, professores, alunos e demais envolvidos no

processo educacional, procurando demonstrar que com o envolvimento de todos é possível

reduzir os índices de manifestação da prática fenômeno, com estratégias bem traçadas,

sugeridas e analisadas por todos.

Para isso, importante que esse profissional passe a adotar algumas atitudes simples

no cotidiano institucional (COMPREENDER), que podem reduzir drasticamente os casos de

bullying no âmbito escola, e CONHECER profundamente esse fenômeno e os mitos que o

envolvem, conforme delimitamos na tabela a seguir.

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COMPREENDER CONHECER

(Mitos que sustentam a continuidade do fenômeno bullying)

• Esclarecer o que é o bullying • Refletir a importância das regras de

convivência e as diferenças a fim de ajudá-los a cultivar a paz nos segmentos sociais

• Demonstrar abertura e respeito para conversar com os alunos

• Escutar atentamente qualquer tipo de reclamação ou sugestão dos alunos

• Estimular os alunos a falarem sobre os casos de bullying, como também a diminuí-los

• Valorizar e reconhecer atitudes positivas dos alunos no combate ao bullying

• Divulgar o bullying dentro das classes e também aos familiares

• Identificar possíveis agressores (prevenção) • Acompanhar atentamente o desenvolvimento

de cada aluno • Dar oportunidade aos alunos para que criem

regras de disciplina e convivência para suas classes consoantes com as regras gerais da escola

• Estimular lideranças positivas entre os alunos • Interferir o quanto antes na dinâmica dos

grupos, para quebrar a prática do bullying • Auxiliar os educadores a detectarem e

entenderem o fenômeno bullying, para que possam desenvolver iniciativas preventivas e assessoramento às vítimas

• Envolver as famílias no projeto, a fim de que compreendam a implicação de um comportamento de violência na escola.

• O bullying é implicância de criança e não as afeta. • O bullying termina quando os alunos saem do

Ensino Fundamental. • A criança que conta que alguém está praticando

bullying com ele/a é delator/a. • A criança que sofre bullying deve retaliar (Lei da

Selva). • A culpa é da vítima, que é fraca, impopular,

sensível demais. • Passar pelo bullying torna a criança mais forte e

preparada para a vida. • Crianças devem resolvendo o problema por si

próprias e enfrentar o bullying como adultos. • O bullying é um ritual de passagem normal entre

crianças e adolescentes, é uma situação inevitável. • Na nossa escola não há bullying.

• O bullying não é importante. Temos problemas mais prioritários nessa escola.

• Se aparecer casos de bullying, vamos pensar no problema.

• O problema é dos pais. • O problema é das crianças.

Todas as estratégias criadas pelo Orientador Educacional devem estar baseadas

nos princípios da solidariedade, tolerância e respeito às diferenças. Esse profissional deve

fazer um trabalho de direcionado, visando à inclusão, o fortalecimento da auto-estima e a

canalização da agressividade. Deve evidenciar os valores de cidadania e ensinar o respeito

mútuo. O respeito e a educação dos alunos são essenciais para transformar a comunidade

escolar em um ambiente próspero e inspirador ao processo ensino-aprendizagem.

O bullying está presente significativamente no cotidiano dos alunos e há

necessidade de a escola desempenhar o papel de interventora em situações que,

mascaradas na forma de “brincadeiras”, acarretam sérias conseqüências para o

desenvolvimento emocional e social dos alunos.

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Apesar de ser um fenômeno reconhecidamente mundial, nem tão recente, as

escolas e os professores ainda não estão preparados para lidar com este problema. O

bullying por vezes parece uma epidemia invisível, pois geralmente os adultos ignoram ou

fazem pouco caso das agressões.,considerando-as naturais.

Nota-se a existência da despreocupação das escolas e órgãos correlatos, para com

o fenômeno bullying;constata-se a falta de políticas públicas à favor do combate e

prevenção à discriminação, minimizando as diferenças entre os vários atores sociais

participantes da Educação.

Tendo a instituição escolar a importante função de promover formação integral de

crianças e adolescentes, inclusive no que diz respeito à ética e à formação de uma cultura

voltada para a paz, cabe a ela a discussão de atos de violência e dos conflitos que

prejudiquem o convívio escolar.

Outra razão para o trabalho de redução do bullying e estímulo ao respeito mútuo. É

o fato de a ética ser tema transversal ao currículo, segundo os Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCN), de acordo com os quais, a reflexão sobre as condutas humanas, sobre o

respeito mútuo, a justiça e a solidariedade é que possibilita o desenvolvimento da

autonomia moral e a formação de cidadãos.

É preciso que sejam difundidas todas as experiências já apontadas e sugeridas por

educadores cuja preocupação é a superação que se encontra na educação: a violência

escolar; a questão do bullying. Isso só será possível se houver conscientização,

planejamento, investimentos, atitudes de compromisso e de responsabilidade, cooperação.

A violência nas escolas tornou-se um fenômeno discutido em várias áreas do

conhecimento, isso é fato. Mas a Escola, como qualquer outro lugar frequentado por

crianças, jovens e adultos, possui a obrigação de ter como objetivo prioritário a promoção

de um contexto que seja satisfatório desse ponto de vista, aberto ao amadurecimento do

grupo, ao desenvolvimento das relações positivas entre todos, suficiente para construir um

sentido, um peso e um significado em termos de amizade, ajuda e solidariedade,

reconhecíveis por seus componentes.

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dezembro de 1968, [provê o exercício da profissão de orientador educacional]

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ANEXOS4

CARTA ABERTA DE BRASÍLIA

Com o objetivo de aprofundar as discussões sobre o bullying e encontrar alternativas que auxiliem sua redução, realizou-se no dia 03 de junho de 2006, em Brasília- DF, o I Fórum Brasileiro sobre o Bullying Escolar. O evento contou com a participação de especialistas que discutiram o tema, em seus diversos aspectos: escolar, familiar, social, cultural, ético-legal e saúde. Participaram das discussões, autoridades educacionais representando escolas públicas e particulares de ensino, representantes do Conselho Tutelar, Polícia Militar, Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente, Vara da Infância e Juventude, Secretaria de Inclusão do MEC, Ministério Público, Segurança Escolar, além de representante da Escola Pais do Brasil, pesquisadores, pais, profissionais de educação, saúde, justiça e estudantes de diversas áreas.

Ao final foi elaborada a presente Carta Aberta de Brasília, estruturada nos seguintes

temas: 1. Necessidade de conscientizar a sociedade sobre o bullying escolar e suas

conseqüências; 2. Desenvolvimento de políticas públicas emergenciais; 3. Criação de comissão permanente de estudos sobre o bullying escolar.

1. NECESSIDADE DE CONSCIENTIZAR A SOCIEDADE SOBRE O BULLYING ESCOLAR

Os estudos sobre bullying escolar tiveram início na Suécia, na década de 70 e na Noruega, na década de 80. Aos poucos, vem se intensificando nos mais diversos países. No Brasil, os estudos são mais recentes, datam do ano de 2000, motivo pelo qual a maioria das pessoas desconhece o tema, sua gravidade e abrangência.

Neste sentido, faz-se necessário e urgente desenvolver campanhas educativas,

especialmente veiculadas nos meios de comunicação, que conscientizem a sociedade sobre a relevância do tema, bem como encontrar soluções para sua redução. Tais campanhas devem ter como objetivo:

Considerar as práticas bullying, como violências graves, comprometedoras do pleno

desenvolvimento do indivíduo, por suas conseqüências psicológicas, emocionais, sociais e cognitivas, que se estendem para além do período acadêmico.

Incentivar a convivência pacífica nos diversos contextos sociais, visando educar para a solidariedade, cooperação, tolerância, empatia e respeito às diferenças individuais, o que incorrerá na redução do comportamento bullying.

4 Anexo que fez parte da Dissertação apresentada à Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação. Autora: Cristina Helena Bernardini, Rio de Janeiro, dezembro de 2008 Título da Monografia: Representações Sociais de Bullying por Professores (acessado em: http//www.geledes.org.br/attachement/21383_representações sociais de Bullying)

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2. POLÍTICAS PÚBLICAS EMERGENCIAIS VOLTADAS PARA O BULLYING ESCOLAR

Necessidade de elaboração de políticas públicas emergenciais, para conter a propagação

do Bullying por tratar-se de fenômeno psicossocial expansivo, de caráter epidemiológico, que somado a outras formas de violência precisa ser contido.

Neste sentido, foram elencados os principais segmentos: A. Família B. Sistema de Educação C. Conselho Tutelar D. Sistema de Saúde E. Segurança Pública F. Política Pública

Detalhamento dos segmentos elencados

A. FAMÍLIA É dever da família, proporcionar aos filhos, ambiente emocional seguro, que favoreça a

liberdade, o respeito e a dignidade, visando o pleno desenvolvimento do ser. Buscar auxílio, orientação e parcerias junto às escolas e demais segmentos sociais, visando

aprender a educar para a paz, por meio de modelos educativos humanistas que desconstruam a cultura da violência e favoreçam a afetividade, o diálogo, a coerência, os limites, o respeito e a tolerância.

Apoiar, sugerir e participar de ações preventivas, desenvolvidas pela escola e demais

segmentos sociais, visando a reeducação do comportamento agressivo e abusivo entre estudantes.

B. SISTEMA DE EDUCAÇÃO As Secretarias de Educação devem exigir que as escolas incluam o bullying escolar em

seus regimentos internos, como um ato de indisciplina grave e desenvolvam estratégias preventivas, integrando-as em seus projetos pedagógicos.

A escola é a principal instituição responsável pela prevenção e encaminhamento de

situações de violência infanto-juvenil. A escola deve reconhecer a existência de práticas bullying, conscientizar e capacitar seus

profissionais para atuarem estrategicamente na identificação, diagnóstico e encaminhamento, viando à reeducação do comportamento agressivo, bem como a redução dos prejuízos causados ao processo de aprendizagem e socialização.

É imprescindível que a família seja inserida nos programas antibullying desenvolvidos pela

escola e que assuma com maior responsabilidade a vida escolar dos filhos. As ações pedagógicas de prevenção ao bullying escolar devem incluir toda a comunidade

escolar e incentivar o compromisso com a educação para a paz.

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C. CONSELHO TUTELAR

O Conselho Tutelar deve desenvolver parceria com a escola, no sentido de orientar para

que as ocorrências bullying sejam devidamente encaminhadas, em consonância com o Estatuto da Criança e do Adolescente.

O Conselho Tutelar deve capacitar seus membros para o atendimento e orientação de

envolvidos em bullying escolar, bem como seus familiares. A capacitação dos conselhos tutelares deve prever a identificação, diagnóstico e

encaminhamento do bullying escolar.

D. SISTEMA DE SAÚDE Reconhecer a relevância do bullying escolar como fonte geradora de ansiedade, estresse,

sintomas psicossomáticos diversificados, doenças e transtornos psicológicos, com graves prejuízos para a saúde física e mental dos envolvidos.

Desenvolver campanhas preventivas junto às escolas visando reduzir a incidência de

bullying escolar e os investimentos em saúde pública, decorrentes desse fenômeno. Capacitar seus profissionais para identificação, diagnóstico e tratamento imediato e em

conjunto. Estabelecer parcerias que viabilizem o atendimento privilegiado a envolvidos em bullying

escolar.

E. SEGURANÇA PÚBLICA Reconhecer o bullying como uma das principais causas da violência nas escolas. Reconhecer o bullying escolar no âmago da violência, da delinqüência, do envolvimento

com drogas e armas, da formação de gangues e da marginalização. Incluir o tema bullying na formação de seus profissionais e em programas preventivos. Auxiliar a escola e a família a encontrarem alternativas para a redução da violência familiar

e a reeducação do comportamento agressivo.

F. POLÍTICAS PÚBLICAS Reconhecer o bullying como forma de exclusão escolar, num momento em que as políticas

públicas se voltam à inclusão educacional. Consolidar políticas públicas que garantam às instituições de ensino, proteção, auxílio e

assistência aos envolvidos em bullying. Incluir o bullying como tema de estudos e pesquisas aos cursos de graduação e capacitação

de profissionais de educação e áreas afins. Desenvolver ações preventivas que atinjam todas as escolas do país, por meio de

municipalização.

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Implementar políticas públicas e investimentos para a formação de equipe multiprofissional, para auxiliar a escola e família na reeducação do comportamento agressivo, na readaptação social e na educação das emoções.

Implementar políticas públicas para o desenvolvimento de programas antibullying, nos

diversos contextos sociais.

3. CRIAÇÃO DE COMISSÃO PERMANENTE Necessidade de criação de comissão permanente para estudos, pesquisas e elaboração de

legislação específica junto às instâncias superiores. Confiantes de que as propostas elaboradas neste I FÓRUM BRASILEIRO SOBRE O

BULLYING ESCOLAR nortearão a atuação dos diversos segmentos sociais na redução do bullying escolar, na minimização dos seus efeitos e, que serão levadas em consideração pelas autoridades públicas, visando o compromisso com a educação para a paz, agradecemos a participação de todos no evento, certos de que um importante passo foi dado no enfrentamento da violência que assola o nosso país e em especial a comunidade escolar.

Brasília, 03 de junho de 2006. Coordenação-Geral: Profª Cléo Fante

Instituições Representadas:

ABRAPIA – Associação Brasileira Multiprofissonal de Proteção à Infância e à Adolescência Dr. Aramis Lopes Neto

Ministério Público do Distrito Federal e Territórios – Grupo de Apoio e Segurança às Escolas Sra. Eunice Correa Araújo

Cemeobes – Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar Dr. José Augusto Pedra

Polícia Militar do Distrito Federal- “Batalhão Escolar” Tenente Coronel Jorge Dornelles Passamani

Conselho Tutelar de Brasília Dr. Racib Elias Tiely

PROERD – Polícia Militar Tenente Márcio Alves dos Santos

Conselho Regional de Psicologia de Brasília Drª Meluzia Fernandes de Almeida

Procuradoria da República Dr. Guilherme Zanina Schelb

Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente do DF Dr. Wisllei Gustavo Mendes Salomão

Promotoria de Defesa da Educxação do Ministério Público do DF Dra. Ana Carolina Mendonça Lemos

Escola de Pais do Brasil Sr. José Florentino Caixeta

Secretaria de Estado de Ação Social do Distrito Federal Dr. Walmir Moreira Leão

Instituto Agilitá de Psicologia Sra. Beatriz Shwah Fernandes

Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal Profª Vandercy Antônia de Camargos

Instituto Saber de Brasília Dr. Edival Jacinto

Secretaria de Estado da Juventude do Distrito Federal Dra. Araci Quênia Cotrim

Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial Prof.ª Drª. Windyz Ferreira

Vara da Infância e Juventude do DF – Seção de Medidas Sócio-educativas Dra. Deiza Carla Medeiros Leite

Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF Profª Amábile Pácios

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PROJETO DE LEI Nº 350, DE 20075

Fica o Poder Executivo autorizado a instituir o Programa de Combate ao Bullying, de ação interdisciplinar e de participação comunitária, nas escolas públicas e privadas do Estado de São Paulo.

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO DECRETA: Artigo 1º - Fica o Poder Executivo autorizado a instituir o Programa de Combate ao Bullying, de ação interdisciplinar e de participação comunitária, nas escolas públicas e privadas, no Estado de São Paulo. Parágrafo único – Entende-se por bullying atitudes de violência física ou psicológica, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente, praticadas por um indivíduo (bully), ou grupos de indivíduos, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas. Artigo 2º - A violência física ou psicológica pode ser evidenciada em atos de intimidação, humilhação e discriminação, entre os quais:

I. Insultos pessoais; II. Comentários pejorativos;

III. Ataques físicos; IV. Grafitagens depreciativas; V. Expressões ameaçadoras e preconceituosas; VI. Isolamento social;

VII. Ameaças; VIII. Pilhérias.

Artigo 3º - O bullying pode ser classificado em três tipos, conforme as ações praticadas:

I. Sexual: assediar, induzir e/ou abusar; II. Exclusão social: ignorar, isolar e excluir; III. Psicológica: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, infernizar, tiranizar, chantagear e manipular.

Artigo 4º - Para a implementação deste programa, a unidade escolar criará uma equipe multidisciplinar, com a participação de docentes, alunos, pais e voluntários, para a promoção de atividades didáticas, informativas, de orientação e prevenção. Artigo 5º - São objetivos do programa:

I. Prevenir e combater a prática de bullying nas escolas; II. Capacitar docentes e equipe pedagógica para a implementação das ações de discussão, prevenção, orientação

e solução do problema; III. Incluir, no Regimento Escolar, após ampla discussão no Conselho de Escola, regras normativas contra o

bullying; IV. Esclarecer sobre os aspectos éticos e legais que envolvem o bullying; V. Observar, analisar e identificar eventuais praticantes e vitimas de bullying nas escolas;

VI. Discernir, de forma clara e objetiva, o que é brincadeira e o que é bullying; VII. Desenvolver campanhas educativas, informativas e de conscientização com a utilização de cartazes e de

recursos de áudio e áudio-visual; VIII. Valorizar as individualidades, canalizando as diferenças para a melhoria da auto-estima dos estudantes; IX. Integrar a comunidade, as organizações da sociedade e os meios de comunicação nas ações multidisciplinares

de combate ao bullying; X. Coibir atos de agressão, discriminação, humilhação e qualquer outro comportamento de intimidação,

constrangimento ou violência; XI. Realizar debates e reflexões a respeito do assunto, com ensinamentos que visem a convivência harmônica na

escola; XII. Promover um ambiente escolar seguro e sadio, incentivando a tolerância e o respeito mútuo; XIII. Propor dinâmicas de integração entre alunos e professores; XIV. Estimular a amizade, a solidariedade, a cooperação e o companheirismo no ambiente escolar; XV. Orientar pais e familiares sobre como proceder diante da pratica de bullying;

XVI. Auxiliar vitimas e agressores.

5 Transcrição do Projeto de Lei nº 350, de 2007, que também fez parte da monografia citada na nota 4.

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Artigo 6º - Compete à unidade escolar aprovar um plano de ações, no Calendário da Escola, para a implantação das medidas previstas no programa. Artigo 7º - Fica autorizada a realização de convênios e parcerias para a garantia do cumprimento dos objetivos do programa. Artigo 8º - A escola poderá encaminhar vitimas e agressores aos serviços de assistência médica, social, psicológica e jurídica, que poderão ser oferecidos por meio de parcerias e convênios. Artigo 9º - O Poder Executivo regulamentará esta lei no prazo de 90 (noventa) dias a contar da data da sua publicação. Artigo 10º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. JUSTIFICATIVA O bullying, palavra de origem inglesa, significa tiranizar, ameaçar, oprimir, amedrontar e intimidar. A prática já se tornou comum entre os adolescentes. Um problema que começa a ser discutido com mais intensidade diante do aumento da violência escolar. A preocupação com o bullying é um fenômeno mundial. Pesquisa feita em Portugal, com 7 mil alunos, constatou que 1 em cada 5 alunos já foi vitima desse tipo de agressão. O estudo mostrou que os locais mais comuns de violência são os pátios de recreio, em 78% dos casos, seguidos dos corredores (31,5%). Na Espanha, o nível de incidência de bullying já chega a 20% entre os alunos. O percentual assusta as autoridades espanholas, que já desenvolvem ações para coibir a pratica. A Grã Bretanha também está apreensiva com a maior incidência de ocorrências. Foi apurado, em pesquisa, que 37% dos alunos do primeiro grau das escolas britânicas admitiram que sofrem bullying pelo menos uma vez por semana. O tema desperta o interesse de pesquisadores dos Estados Unidos, onde o fenômeno de violência foge o controle. Estima-se que até 35% das crianças em idade escolar estão envolvidas em alguma forma de agressão e de violência na escola. Em Colorado (EUA), dois adolescentes do ensino médio mataram 13 pessoas e deixaram dezenas de feridos, em um repentino ataque com arma de fogo. Após o ato, cometeram suicídio. Os agressores sofriam constantes humilhações dos colegas de escola. No Brasil, não há pesquisas recentes sobre o bullying, muito embora seja evidente o aumento do número de agressões e atos de discriminação e humilhação em ambiente escolar. Estudo feito pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia), em 2002, no Rio de Janeiro, com 5875 estudantes de 5ª a 8ª séries, de onze escolas fluminenses, revelou que 40,5% dos entrevistados confessaram o envolvimento direto em atos de bullying. Em São Paulo, faltam estatísticas oficiais sobre esse tipo de agressão. Porem, diante da maior incidência de casos, algumas escolas paulistas desenvolvem, isoladamente, trabalhos de orientação sobre o assunto. Como conseqüência do agravamento das ocorrências de bullying, pais de alunos ameaçam processar a escola, acusando professores e diretores de falta de supervisão. Principalmente em atos de violação dos direitos civis e de discriminação racial ou de assédio moral. Nas ações, os pais requerem indenizações por danos patrimoniais e morais. A responsabilidade da escola é objetiva, ou seja, não precisa provar a intenção, basta a comprovação da omissão. O bullying é uma forma de agressão que afeta a alma das pessoas. Pode provocar, nas vitimas, um sentimento de isolamento. Outros efeitos são a redução do rendimento escolar e atos de violência contra si e terceiros. Em 2004, um aluno de 18 anos de uma escola de Taiúva (SP) feriu oito pessoas com disparos de um revólver calibre 38, suicidando-se em seguida. O jovem era obeso e, por isso, vitima constante de apelidos humilhantes. Alvo de gargalhadas e sussurros pelos corredores.

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O modo como os adolescentes agem em sala de aula, com a colocação de apelidos nos seus colegas, pode contribuir para que pessoas agredidas não atinjam plenamente o seu desenvolvimento educacional. São atitudes comportamentais que provocam fissuras que podem durar para a vida toda. Criar um estigma ou um rótulo sobre as pessoas é como pré conceituá-las, ou seja, praticar o bullying. Além de ser uma agressão moral, é uma atitude de humilhação que pode deixar seqüelas emocionais à vítima. Outros exemplos são os comentários pejorativos sobre peso, altura, cor da pele, tipo de cabelo, gosto musical, entre outros. A instituição de programa de combate ao bullying nas escolas vai permitir o desenvolvimento de ações de solidariedade e de resgate de valores de cidadania, tolerância, respeito mútuo entre alunos e docentes. Estimular e valorizar as individualidades do aluno. A iniciativa pretende ainda potencializar as eventuais diferenças, canalizando-as para aspectos positivos que resultem na melhoria da auto-estima do estudante. Sala de Sessões, em 18-4-2007

Paulo Alexandre Barbosa – PSDB

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FOLHA DE AVALIAÇÃO