Burke Culturas Populares e Cultura de Elite

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  • 8/18/2019 Burke Culturas Populares e Cultura de Elite

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    http://www.dhi.uem.br/publicacoesdhi/dialogos/volume01/Rev_a01.htm

    REVISTA DIÁLOGOS - VOLUME 01 CULTURAS POPULARES E CULTURA DE ELITE 

    Peter Burke

    O que é história cultural? O que é cultura? o!e" é di#$cil respo%der a essas pergu%tas que" do século &'& até i%$cio do século &&" eram relativame%te simples"

     per$odo que poder$amos de%omi%ar de história cultural cl(ssica. )l(ssica em doisse%tidos: primeiro" porque a tare#a do historiador era estudar obras*mestras" #alar 

    sobre a história dos cl(ssicos+ segu%do" porque também #oi um per$odo produtor deobras históricas cl(ssicas.

    ,ou citar aqui dois historiadores bem co%hecidos. O primeiro é -acob urcardt"historiador su$o de meados do século &'& " com sua obra )ultura doRe%ascime%to %a 't(lia" rece%teme%te tradu2ida para o portugu3s" publicada em45o 6aulo. Outra obra" quase rival de urchardt" é a de -. ui2i%ga" historiador

    hola%d3s de i%$cio do %osso século" especialista em cultura #ra%cesa*hola%desamedieval. 7sses dois livros" com v(rias edi8es" #oram muito apreciados" pe%so eu"como livros de literatura. 45o cl(ssicos %a literatura alem5 e hola%desa. 7sse tipo dehistória cultural era um pouco di#ere%te da história da arte ou da história daliteratura porque a tare#a desses historiadores era escrever sobre tudo" sobre as artese sua rela5o com a cultura %um se%tido mais geral ou" como di2iam as pessoas doséculo &'&" sobre a rela5o e%tre as artes e o esp$rito da época" esse célebre9eitgeist" epress5o que %5o era ape%as usada pelo alem5o.

    urcardt era muito i%teressado pela arte da 't(lia do Re%ascime%to" mas" em seulivro" %5o dedica cap$tulos a ela. ;alve2 a i%spira5o para escrever o livro viesse da

    observa5o de obras de arte" mas seu método era o de escrever cap$tulos bem maisgerais" %5o some%te sobre obras de arte" %um se%tido literal" mas sobre o 7stadoe%qua%to obra de arte" como %o cap$tulo sobre o dese%volvime%to do i%div$duo esuas co%seqeo%ardo =a,i%ci.

    4empre admirei o livro de urcardt" porque ele %os mostra" muito bem" queeistem liga8es e%tre arte" literatura" #iloso#ia" religi5o e até #ormas desociabilidade" mas co%sidero imposs$vel" atualme%te" te%tar escrever esse tipo dehistória cultural. 5o só é imposs$vel como i%dese!(vel. 5o é simplesme%te porqueest( #ora de moda. 5o #alo de um #e%@me%o de curto pra2o" o que também éi%teressa%te para a história cultural. o e%ta%to" quero destacar a importA%cia de#alar sobre #e%@me%os de lo%go pra2o %este mome%to. O gra%de problema" pe%soeu" é a i%capacidade da história cultural cl(ssica ou tradicio%al" tipo urcardt" derespo%der a cr$ticas que" %os Bltimos cem a%os" t3m sido #eitas a respeito desse tipode abordagem. 6ara simpli#icar" vou utili2ar ape%as quatro cr$ticas e depois te%tarrespo%der se re!eitamos essa abordagem ou quais modelos temos a seguir agora.

    '%icio com a idéia de que a história da cultura estava" em um certo se%tido" suspe%sa%o ar. Reali2a%do muito bem liga8es e%tre pi%tura" escultura" #iloso#ia e poesia"urcardt %5o teve muito tempo para deter*se sobre a i%#ra*estrutura eco%@mica e a

    estrutura pol$tica da 't(lia %a época. 6ouco #alou sobre os co%#litos sociais e é quaseimposs$vel imagi%ar dois ou tr3s séculos de história da 't(lia sem co%#litos sociais.

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    7ssa" %aturalme%te" era a cr$tica #eita pelos historiadores maristas" melhor di2e%do"da mi%oria dos autores maristas i%teressados pela cultura" o que %5o é eatame%teuma co%tradi5o. 6odemos di2er que eiste uma certa te%s5o" pois escrever sobresuperestrutura é ece5o e%tre os maristas. a '%glaterra" 7dward ;hompso%" emseu gra%de livro sobre a #orma5o da classe oper(ria i%glesa" trabalhou com históriacultural" através da eperi3%cia do trabalho" te%ta%do reco%stituir o u%iverso me%tal

    dos trabalhadores i%gleses" seus valores" os livros que gostavam. ;hompso%" poressa abordagem" recebeu v(rias cr$ticas de outros historiadores maristas" pelo seuculturalismo. C esse o problema para a história marista de cultura: ela temi%imigos de dois lados. =e um lado" o historiador tradicio%al de cultura e" de outrolado" o historiador marista mais eco%omicista.

    6or volta dos a%os D0 e E0" %a 7uropa )e%tral" eistiu um grupo muito i%teressa%tede historiadores maristas de arte. 7ram" sobretudo" !udeus e comu%istas re#ugiados%a '%glaterra depois de 1FDD" com a asce%s5o do #ascismo %a 7uropa. G idéia dessegrupo era #a2er uma história social da arte" i%clusive esse era o t$tulo do livro de umdeles" Gr%old auser" publicado após a 4egu%da Huerra Iu%dial. 7sse tipo de

    abordagem %5o é mais %ovo" mas é uma resposta cr$tica J história culturaltradicio%al.

    7sse mesmo procedime%to utili2ei ao escrever um livro de história social sobre oRe%ascime%to italia%o" pe%sa%do" sobretudo" em RaKmo%d Lillia%s" autor bemco%hecido %o rasil através do livro )ultura e 4ociedade. O t$tulo do meu livroera )ultura e 4ociedade %o Re%ascime%to 'talia%o e #oi um tipo de home%agem"%os a%os M0" a esse gra%de cr$tico liter(rio que também era historiador da cultura.

    G segu%da cr$tica di2 respeito ao problema do pressuposto. O gra%de pressuposto dahistória cultural tradicio%al é o esp$rito da época. 6ara %5o ser #$sico demais"

     podemos di2er" o pressuposto de co%se%sos culturais" da u%idade cultural de uma

    dada época. Nma cultura %5o é homog3%ea. ;alve2 eistam culturas que s5o mais oume%os homog3%eas" mas s5o culturas muito peque%as" que co%tam com umasmilhares de pessoas" como" por eemplo" a cultura dos tupi%amb(s. o e%ta%to"qua%do #alamos da cultura i%glesa" #ra%cesa" brasileira" é imposs$vel pe%sar emhomoge%eidade. 7istem sempre o que os sociólogos chamam de subculturas"varia8es.

    Retor%a%do ao Re%ascime%to italia%o" tema que co%heo ra2oavelme%te" %5o sedeve pe%sar que" %essa época" todos sabiam que esse movime%to estava ocorre%do.6e%so que a maioria do italia%os %5o sabia que" %os séculos &, e &,'" eistiu ummovime%to chamado Re%ascime%to. 7ssa palavra eistia" mas estava restrita a uma

     peque%a elite.

    ;ambém eistiram i%telectuais %a 't(lia" dura%te esse per$odo" que eram co%tra ummovime%to de i%ova5o ou re%ova5o. a arquitetura eistiram arquitetos comidéias %ovas" mas também havia opositores" arquitetos que queriam dese%har igre!as%o tradicio%al modo gótico. a #iloso#ia" ocorreu a mesma coisa. Iocilio icci%oaprese%tou uma %ova #iloso#ia" %a realidade mais a%tiga" uma #iloso#ia cl(ssica"

     baseada em 6lat5o" mas também eistiu a tradicio%al #iloso#ia escol(stica medieval. esse se%tido" a#irmo que s5o v(rias as subculturas" %5o some%te culturas diversas"mas culturas em co%#lito. 7 a maioria das pessoas" campo%eses e artes5os dascidades" provavelme%te" %5o mostrou muito i%teresse por tudo isso.

    6or essa ra25o" é sempre importa%te pergu%tar: cultura de quem? a 't(lia" eistiu acultura do Re%ascime%to para a elite" mas também eistiu cultura popular. Gpesarde %5o eistir muita docume%ta5o sobre a cultura dos campo%eses" #eli2me%te é

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    ra2o(vel a docume%ta5o sobre a cultura urba%a dos artes5os" que %a época erammeio al#abeti2ados. 7istem livros" ou melhor" #olhetos de oito" de2esseis p(gi%as"de versos muito simples" #eitos para o povo da época" como %o rasil do século&'&" que teve poetas de rua ou de praa ca%ta%do para o povo e depois pedi%doesmolas ou te%ta%do ve%der os #olhetos.

    Glém dessas ma%i#esta8es" eistiam v(rias culturas %a 't(lia dos séculos &, e&,'" como" por eemplo" a cultura regio%al" a cultura de ;osca%a" a cultura do,3%eto" a cultura do sul da 't(lia" todas importa%tes e com di#ere%as e%tre si. Gcultura popular %5o é homog3%ea" possui varia8es regio%ais" varia8es segu%do aocupa5o da pessoa. G cultura do campo%3s %5o é a mesma que a do artes5o+ acultura do campo%3s criador de gado %5o é a mesma do campo%3s que se dedica Jagricultura.

    ;ambém temos problemas de g3%ero. ós estamos melhor i%#ormados sobre acultura masculi%a" mas podemos di2er que" %o século &," %a 't(lia" eistiu umacultura #emi%i%a e" segu%do traos e%co%trados em docume%tos" que eistiu umacultura popular #emi%i%a. 6e%sa%do %as gra%des cidades italia%as da época" que %os

    séculos &, e &,' somavam du2e%tos mil habita%tes" %5o podemos esquecer a prese%a de v(rios grupos ét%icos" dadas as o%das de imigra5o" processo que %5oocorreu ape%as %as Gméricas.

    7m ,e%e2a" %o século &,'" era poss$vel ouvir v(rias l$%guas %a rua" desde ove%e2ia%o" o dialeto do italia%o" até o grego" o turco" o alem5o" o croata Pque %aépoca era schiavo" pessoas da ribeira do Gdri(ticoQ. 45o v(rios peque%os mu%dos"com problemas de comu%ica5o" literalme%te %5o #ala%do a mesma l$%gua.6ergu%to: como" com toda essa variedade %a ,e%e2a do século &,'" podemosacreditar %o esp$rito da época e %uma homoge%eidade cultural?

    G terceira cr$tica leva%ta a discuss5o de que a idéia cl(ssica de cultura era estreita

    demais. )ultura era si%@%imo de arte" mBsica" poesia etc. C ir@%ico e meioe%graado que" %o século &'&" qua%do os i%telectuais europeus descobriram o

     povo" os #olcloristas Pa %ova discipli%a da épocaQ e os historiadores comearam areali2ar pesquisas sobre cultura popular. G idéia que ti%ham de cultura popular eramais ou me%os um equivale%te da cultura da elite" ou se!a" só para o povo" #eito pelo

     povo.

    6e%sa%do dessa ma%eira" eistiu arte da elite e arte popular" e esse esquema valia para a pi%tura" a escultura" a poesia e também a religi5o. 4im" porque eistia religi5o popular" mas orga%i2ada %um modelo de cultura da elite. 7ssa vis5o dos #olcloristasdo século &'& #oi deiada a %ós" historiadores" como hera%a. ua%do trabalhamos

    com cultura popular" utili2amos esse tipo de abordagem. Gcho que * eu mesmo * #i2isso em um livro que escrevi %o #im dos a%os M0.

     o que di2 respeito J %ova história cultural" pergu%to: %o que ela é %ova? 6e%so queé %ova" sobretudo" pela idéia de cultura que dela emerge" que é muito maisabra%ge%te" i%clui%do as pr(ticas e as represe%ta8es. ;alve2 #ique mais claro di2erque a gra%de i%ova5o é a i%corpora5o ou" ao me%os" a te%tativa de i%corporar avida cotidia%a %a história cultural. Nm eemplo pio%eiro" que gosto de utili2ar" é ode um estudioso russo" -uri >otma%" um dos estruturalistas russos dos a%os S0 eM0"que escreveu um artigo com o #asci%a%te t$tulo G 6oética da ,ida )otidia%a %aRBssia %o século &,'''. O que vem a ser a idéia de que eiste poética %a vida

    cotidia%a? Gcho que o autor queria di2er que a vida cotidia%a %5o tem regrasr$gidas" mas pri%c$pios.

     ós" que vivemos o cotidia%o %ormalme%te" %5o estamos co%scie%tes disso. C muito

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    mais #(cil para o estra%geiro observar" perceber isso. Gssim" era preciso i%ve%tar aa%tropologia" porque #oi eatame%te assim que o a%tropólogo agiu: vive%do %umacultura estra%geira" observa%do tudo %o cotidia%o das aldeias. 6ara o a%tropólogo" émuito importa%te pergu%tar o que s5o os pri%c$pios. O que h( atr(s da #achada davida cotidia%a? C muito di#ere%te" ou %5o" da vida em outras culturas" outrassociedades? O que é #asci%a%te e também muito di#$cil %essa epa%s5o do campo da

    história cultural?)hegamos a um po%to em que podemos pergu%tar: o que %5o é história cultural?7iste a cultura pol$tica" a cultura do trabalho" os rituais" os gestos" o humor" acomida" a história do corpo" a história da li%guagem" até a história do sil3%cio Palgoque te%tei escrever através de uma história social cultural do sil3%cio europeu emalgu%s séculosQ. -( que ta%tos s5o os temas e as variedades" é ra2o(vel pergu%tar: oque %5o é história cultural?

    Gtualme%te" é melhor di2er que a %ova história cultural %5o é um campo estreito"com #ro%teiras separa%do*a de outros campos de pesquisa. C melhor pe%sar" talve2"em aspectos da cultura ou da sociedade i%teira vistos sob um determi%ado po%to de

    vista" ate%ta%do*se" sobretudo" para o simbolismo co%scie%te ou i%co%scie%te e"também" para a poética" para regras e pri%c$pios de vida cotidia%a. Gssim" podemosdescrever essa abordagem da história cultural como a%tropologia histórica ou"também" como história a%tropológica.

    G quarta e Bltima cr$tica di2 respeito ao #ato de %5o ser mais apropriado" para %ossaépoca" escrever %os moldes da história tradicio%al de cultura. 5o digo" com isso"que %ossa história se!a melhor que a do século &'&" mas que" talve2" a história deurcardt #osse apropriada ao seu auditório" mas %5o para o %osso" pois %5o é %ossacultura.

    G tare#a do historiador é tare#a de media5o" é agir como um i%térprete" mediar o

     passado e o prese%te. C preciso sempre reescrever a história porque o prese%te est(sempre muda%do e a história cl(ssica de cultura #a2 parte do que algu%s #ilóso#osatualme%te gostam de chamar de a gra%de %arrativa da civili2a5o ocide%tal. Nma%arrativa de asce%s5o da %ossa civili2a5o ocide%tal" #ormada pelos gregos a%tigos"

     pelos roma%os" pela crista%dade" pelo re%ascime%to" pelas descobertas" pelarevolu5o cie%t$#ica" pelo século das lu2es" pela revolu5o #ra%cesa etc.

    C uma história que legitima" ou legitimava" o que podemos chamar de ca%altradicio%al das elites ocide%tais" %o qual %5o eiste muito espao para outras classessociais" outras culturas. O problema é que o mu%do mudou e" até rece%teme%te" ahistória cultural %5o acompa%hou essa muda%a. Hosta%do ou %5o" vivemos %uma

    época de multiculturalismo. 5o surpree%de que agora" %o Ocide%te" ha!a maisi%teresse pelas tradi8es alter%ativas" pelas %ossas tradi8es populares" mas também%os i%teressamos pelas tradi8es cl(ssicas de outras culturas como a chi%esa" a

     !apo%esa" a islamita" a i%dia%a" e%tre outras.

    =ia%te desse quadro" como escrever a história cultural ho!e? C muito mais di#$cil doque a%tes" porque precisamos de muita história cultural %uma época demulticulturalismo" de relativismo cultural e de hiper especiali2a5o %o campo doco%hecime%to. essa t5o caracter$stica #ragme%ta5o cultural" precisamos dehistoriadores como -. urcardt" de seu verdadeiro g3%io para perceber liga8es"#a2er co%e8es. 4em seguir seu modelo" precisamos de historiadores com esse tipo

    de vis5o.Ggora" para ser mais co%creto" gostaria de reali2ar come%t(rios r(pidos sobre doislivros relativame%te %ovos. O primeiro é de um i%gl3s e o segu%do é de um

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     brasileiro. O primeiro livro é de 1FTF e #oi tradu2ido para o portugu3s com o t$tuloO =esco%#orto da Rique2a" do autor 4imo% 4chama" um bom eemplo da %ovahistória cultural. O gra%de i%teresse de 4chama é a vida cotidia%a %a ola%da"aproimadame%te de #i%s do século &,' até i%$cio do &,'''. O gra%de tema dolivro é a #orma5o da ide%tidade hola%desa" !( que a ola%da era" %esse per$odo" um7stado %ovo" uma %ova %a5o.

    7m meados do século &,'" ocorreu uma gra%de rebeli5o %as prov$%cias hola%desasco%tra a 7spa%ha" através da qual a ola%da tor%ou*se uma %a5o" o quedese%cadeou o surgime%to de outras %a8es %a regi5o. 7ra uma %a5o em busca deuma ide%tidade cultural. aquela época" a ola%da era uma civili2a5o domi%ada

     pelo protesta%tismo" sobretudo calvi%ista" com alto %$vel de al#abeti2a5o" %a qual aleitura da $blia era comum e%tre as pessoas. G ide%tidade %a ola%da reprodu2ia ahistória escrita %a $blia" se%do elipe '' da 7spa%ha associado ao #araó e a ola%dare#erida como a ova 'srael.

    4chama estuda a ide%tidade hola%desa %5o ape%as através dos tetos" mas utili2atambém image%s e outras #ormas de epress5o como a privacidade e a

    domesticidade. 6ara demo%strar isso" de%tre outras #o%tes" 4chama utili2a poemasda época. 7iste um" muito célebre" sobre a #am$lia" sobre os papéis da mulher" domarido e da cria%a" escrito por um membro da elite" que acabou se tor%a%do parteda cultura popular a%tes do #im do século &,''. o que ta%ge Js image%s" a%alisouv(rias pi%turas" se%do muito i%teressa%te o co%traste que reali2ou e%tre os temas

     pre#eridos dos pi%tores hola%deses e aqueles pre#eridos pelos pi%tores i%gleses"#ra%ceses e italia%os.

    O autor também demo%stra muito i%teresse pela casa" pela #am$lia" pela mulher"ilustra%do a especi#icidade da cultura hola%desa da época" que talve2 possamoschamar de burguesa. ;ambém a obsess5o pela limpe2a era muito declarada %a

    ola%da dessa época. 6ara o estra%geiro" co%#igurava um choque cultural e%trar%uma casa hola%desa" ver tudo limpo e ser imposs$vel cuspir %o ch5o" costumemuito comum %a 7uropa. 6ara 4chama" esse tipo de co%duta era uma ma%eira deepressar a ide%tidade cultural" usa%do um termo de 6ierre ordieu" era #a2er umadisti%5o e%tre %ós e os outros. ;alve2 isso #osse especulativo demais" mas tradu2toda uma sig%i#ica5o cultural.

    4chama também estuda a cultura material" como mesas e cadeiras" chega%do a #alarsobre cadeiras que as cria%as usavam. C um livro com v(rios temas %ovos e muitoorigi%al" escrito brilha%teme%te" mas possui uma #raque2a ce%tral que queroe%#ati2ar e que %os leva ao problema mais geral de como escrever história cultural.

    Gpesar de ser um eemplo de %ova história cultural" 4chama parte do mesmo pressuposto de -. urchardt" ao meu ver absurdo" que é o da u%idade cultural deuma época. G tradi5o a%tropológica talve2 re#orce essa idéia de tradi5odurheimia%a em que o a%tropólogo deve olhar uma cultura como um todo" sem

     pe%sar em varia8es" sem pe%sar em subculturas. Olha%do para a ola%da do século&,''" mesmo se%do um pa$s peque%o" co%sidero meio óbvio que eistiamsubculturas. avia varia8es regio%ais" sobretudo um gra%de co%traste cultural e%treas prov$%cias mar$timas e o i%terior próimo da Glema%ha" demarca%do di#ere%asculturalme%te.

    ;ambém eistiam di#ere%as religiosas" porque %em todos eram protesta%tes

    %aquela época. Ietade da popula5o era católica" eisti%do" %o m$%imo" te%s5oe%tre a cultura católica e a cultura protesta%te. Gté mesmo a cultura protesta%te eradividida" porque eistia" de um lado" a cultura calvi%ista e" de outro" a cultura

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     batista" que era muito sig%i#icativa. Outro co%traste ocorria e%tre a cultura dascidades e a cultura rural. G ola%da era o pa$s mais urba%i2ado da época" mastambém possu$a campo%eses com suas respectivas culturas. 'sso sem #alar %amulher" %a co%tracultura do rebelde" do ba%dido etc. >ogo" é importa%te te%tardescobrir o método para escrever história cultural sem apoiar %esse pressuposto deu%idade" de co%se%sos.

    ;alve2 icolau 4evce%o aprese%te uma solu5o em seu livro Or#eu 7t(tico %aIetrópole. 45o 6aulo %os #reme%tes a%os U0. Go co%tr(rio de 4chama" 4evce%o émuito c@%scio da diversidade. 7le #ala" em seu livro" sobre a célebre 4ema%a de GrteIoder%a de 45o 6aulo" mas também #ala sobre esporte" classe trabalhadora"especula5o %o mercado imobili(rio e também sobre o moder%ismo europeu. C umlivro" ao meu ver" caleidoscóspico" te%do !ustaposi8es #asci%a%tes. O que %5oco%sigo ver s5o liga8es+ é um livro #ragme%tado. 6rovavelme%te" essa #oi umaescolha co%scie%te do autor" porque essa época" i%$cio do século &&" #oi de#ragme%ta5o. 6elo me%os podemos di2er que é um livro sobre uma gra%de cidadedo século &&. Nm livro #ragme%tado" com cap$tulos que %ada t3m a ver um com o

    outro. 6e%so que aceitar a #ragme%ta5o é %egar a ra25o de ser da história cultural.'%iciei te%ta%do #a2er uma disti%5o e%tre" de um lado" história da arte" história daliteratura" história da #iloso#ia e" de outro" a história cultural. 4e optarmos some%te

     pela história #ragme%tada" %5o precisamos de história cultural. 4ó precisamos dehistória da poesia etc. G tare#a ce%tral para a ide%tidade cultural da história culturalé te%tar #a2er co%e8es" #a2er liga8es. O gra%de problema é te%tar e%co%trar uma#órmula simples de como resistir J #ragme%ta5o sem voltar ao pressuposto de9eitgeist ou u%idade cultural.

    6rovisoriame%te #ala%do" vou te%tar aprese%tar mi%ha solu5o" i%trodu2i%do"rapidame%te" um grupo de outros trabalhos" %5o cita%do autores %em t$tulos. 7iste

    um grupo de trabalhos %ovos" muito i%teressa%tes" sobre a história dos e%co%trosculturais. Nm livro #ala sobre )ristov5o )olombo e os habita%tes do )aribe" o outrosobre o )apit5o )oo e os havaia%os do século &,'''. O primeiro e%co%tro e%treduas culturas é um choque cultural. O que é eemplar para outros historiadoresculturais é que esses livros s5o i%spirados pela a%tropologia cultural e muitosescritos por a%tropólogos.

    7m primeiro lugar" est( o i%teresse pela i%tera5o cultural" pelo si%cretismo. 5o %o primeiro mome%to" mas esses livros t3m alguma coisa a di2er sobre asco%seq

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    Re%ascime%to. -( escrevi sobre o Re%ascime%to italia%o e agora escrevo sobre oRe%ascime%to europeu. 5o co%sidero que" em %ossa época" se!a uma boa idéia

     !ogar o Re%ascime%to %o lio. -( disse que o mu%do mudou e agora precisamosolhar esse movime%to sob outros po%tos de vista" pois o movime%to e seusresultados ai%da s5o importa%tes para %ós. Ias o problema que se coloca é o decomo escrever essa história a partir de um po%to de vista %ovo? Hostaria de

    salie%tar" %esse se%tido" tr3s A%gulos: o e%co%tro cultural" a circularidade e o processo de cotidia%i2a5o.

    )om rela5o J ce%tralidade do e%co%tro" o eemplo que utili2o é o e%co%tro e%tre o%orte e o sul da 't(lia e em outros pa$ses como ra%a e '%glaterra. Nsa%do termosmais tradicio%ais" privilegio a recep5o do Re%ascime%to te%ta%do ver esse processocomo criativo de adapta5o. O a%tropólogo Iichel de )erteau escreveu um livromuito importa%te para a %ova história cultural sobre a vida cotidia%a como processocriativo" até mesmo como um processo de co%sumo" segu%do sua tradi5o.

    Gcho até i%teressa%te co%ce%trar maior ate%5o sobre a peri#eria da 7uropa" como a'rla%da e a 6ol@%ia" para ver mais clarame%te esse processo" uma ve2 que qua%to

    maior a distA%cia cultural e%tre um determi%ado pa$s e a 't(lia" mais importa%te ser(o processo de adapta5o" e mais #(cil para o historiador perceb3*lo.

    O segu%do A%gulo que quero privilegiar é o da i%tera5o e%tre elites e classes populares" através da chamada circularidade. 6ara pe%sar a idéia de populari2a5odo Re%ascime%to" utili2o as idéias de Iihail ahti%. 7istia" %a época" um

     processo de reprodu5o mecA%ica" %a qual a gravura era muito importa%te. Iilharesde pessoas" que %u%ca puderam ver a Vltima )eia" de >eo%ardo =a ,i%ci" porque%u%ca #oram a Iil5o" viam" %o século &,'" a sua reprodu5o.

    =esse modo" #oi poss$vel que as classes populares urba%as co%hecessem esoubessem" gradualme%te" que houve um processo" um movime%to de%omi%ado

    Re%ascime%to. Hostaria ape%as de di2er que as gra%des obras liter(rias doRe%ascime%to tiveram i%spira5o %a cultura popular da época. 7ssa era a tese deahti%" que trabalhou com Rabelais" mas podemos di2er a mesma coisa de Griosto%a cultura italia%a e o i%teressa%te é que seu gra%de épico" Orla%do urioso" tevecomo #o%te de i%spira5o os #olhetos italia%os" que citei a%teriorme%te.

    i%alme%te" o terceiro A%gulo di2 respeito ao processo de cotidia%i2a5o" o mesmoque ocorreu com a Re#orma 6rotesta%te e a Revolu5o ra%cesa" e%tre outros. Cmuito importa%te para o historiador te%tar escrever sobre essa história dasco%seq

  • 8/18/2019 Burke Culturas Populares e Cultura de Elite

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