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BUSCANDO O PRAZER DA LEITURA POR MEIO DOS … · Buscou-se propor um projeto de leitura, voltado, especificamente para o público do 6º ano do Ensino Fundamental, classificado por

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BUSCANDO O PRAZER DA LEITURA POR MEIO DOS CONTOS DE FADAS

Autor: Rosi de Fátima Oliveira Santos 1

Orientador Profº. Dr. Marcio Matiassi Cantarin 2

RESUMO

A presente pesquisa teve como prioridade considerar a importância do ato de ler, através dos contos de fadas infantis abrangentes na literatura dentro da proposta pedagógica escolar. Sabe-se do papel importante ao estímulo da leitura para nossas crianças, onde professores e família sentem dificuldades de trabalhar com esse tema tão fundamental para sua formação, cujo desenvolvimento motor e cognitivo está em plena capacidade de assimilação. Os contos de fadas, certamente, vêm para complementar esse processo de abstração no contexto de formação da criança. Buscamos propor um projeto de leitura, voltado, especificamente, para o público do 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Cel. Joaquim Pedro de Oliveira - EFM – na cidade de Japira – Paraná. O objetivo principal desta proposta foi desenvolver um incentivo à leitura através do gênero Conto de Fadas, com perspectiva de estimular uma formação crítica dos alunos. Assim, construir um trabalho, para que os educandos consigam desenvolver o letramento através de atividades que lhes propiciem diferentes significados, inferências e intertextualidade. A metodologia utilizada foi a princípio da pesquisa bibliográfica concomitantemente com a realização de atividades práticas no cotidiano escolar, que propôs aos alunos uma postura mais consciente quanto à Literatura, onde através de textos selecionados a reflexão foi uma constante e um agente especial no processo de aprendizagem, enriquecendo-o intelectualmente. O resultado e avaliação que serão demonstrados no decorrer deste trabalho, foi realizando em cinco etapas de implementação. Pôde-se observar que a participação, a curiosidade, o estímulo, a percepção foram aguçadas. A proposta inicial foi atendida e que como crianças respondem muito bem às novas propostas, basta um despertar positivo por parte do educador.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura Infantil; Conto de Fadas; Leitura; Estímulo.

1 - Professora da Rede Estadual participante do Programa de Desenvolvimento Educacional do Governo do Paraná (PDE) – Col. Est. Cel. Joaquim Pedro de Oliveira – EFM – Japira – Paraná. 2 - Professor Orientador Dr. Marcio Matiassi Cantarin da UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Jacarezinho-PR.

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1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como proposta fundamental, além do incentivo à leitura

do gênero do conto de fadas no sentido de estimular uma formação mais crítica de

nossos alunos, também auxiliar o professor em sala de aula, com os resultados obtidos

na implementação deste projeto, para que possa se utilizar de informações obtidas

pedagogicamente e empiricamente para o público do 6º ano do Ensino Fundamental do

Colégio Estadual Coronel Joaquim Pedro de Oliveira da cidade de Japira – Paraná.

Buscou-se propor um projeto de leitura, voltado, especificamente para o público

do 6º ano do Ensino Fundamental, classificado por Aguiar (1986, p. 89) “como 3ª fase

de leitura (9 a 12 anos), quando ainda restam vestígios do pensamento mágico (dos

contos de fadas, mitos e lendas), e o leitor começa a perceber mais o real à sua volta”.

Um dos problemas sempre observados por professores, pedagogos,

pesquisadores, pais e sociedade é que o hábito da leitura é uma das maiores

dificuldades encontradas em todos os segmentos educacionais e, no caso específico

deste trabalho, fica um questionamento bem amplo: Como o gênero “Conto de Fadas”

pode desenvolver a criticidade, a apropriação dos significados linguísticos e a leitura no

processo de ensino-aprendizagem?

Justifica-se este trabalho na busca de investigar causas, formas, fontes, meios,

oportunidades, atividades e ações sempre na perspectiva de visar o desenvolvimento

crítico através deste tipo de literatura que tem por intuito a valorização da “Fantasia” e

da “Imaginação”, onde sua importância está diretamente ligada ao fato de que essas

estórias traziam alguma representação imaginária quanto ao que se produz

‘popularmente’ ou de forma considerada erudita, trazendo elementos orais da tradição.

Entende-se que em nossa cultura, não temos o hábito de dialogar com a

criança sobre suas emoções, e através das histórias, pode-se proporcionar momentos

mágicos para que a criança reflita sobre sentimentos como a alegria, a raiva, o prazer,

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a tristeza, enfim, que faça comparações com a sua vida e torne consciente alguns

comportamentos, pois podem espelhar-se no comportamento do personagem.

[...] lidas ou contadas às histórias constituem-se em generoso processo educativo, pois ensinam recreando, dando à criança os estímulos e motivações apropriadas para satisfazer suas tendências, seus interesses, suas necessidades, seus desejos, sua sensibilidade. (MALAMUT, 1990, p. 06).

Portanto, a Literatura Infantil, por iniciar o homem no mundo da leitura, deve ser

utilizada como instrumento para a sensibilização da consciência, para a expansão da

capacidade e interesse de analisar o mundo. Sendo fundamental mostrar que a

literatura deve ser encarada, sempre, de modo global e complexo em sua ambiguidade

e pluralidade.

Importante registrar que uma das precauções e atenção especial que se

dispomos neste trabalho é a observação de que o trabalho com as crianças através do

Conto de Fadas dentro da Literatura Infantil não deve se esgotar em mero exercício de

leitura de gramática, ou simplesmente em lazer. Pois assim não se alcançará o objetivo

maior que é formar leitores de postura crítico-reflexiva. E sim, que a leitura precisa se

dar através de uma atividade prazerosa e realizada com obras escritas especificamente

para tal faixa etária, permitindo a exploração de toda a sua característica formativa de

que tal obra é portadora.

Neste sentido, o quanto antes esse aluno entrar em contato com os livros e

perceber o prazer que a leitura produz, maior será a possibilidade de se tornar um

adulto leitor. É na relação prazerosa e lúdica do aluno com a obra literária que se

observa uma das possibilidades de se formar o futuro pequeno leitor. Com base na

exploração do fantástico e do imaginário que se excita a criatividade e se fortalece

interação entre texto e leitor.

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Segundo Saviani (1986, p. 82):

É de fundamental importância a garantia de uma escola que possibilite a cultura letrada, o acesso à alfabetização e ao domínio da língua – padrão a todas as crianças, pois somente assim ocorre a formação dos cidadãos, capazes de participar nos destinos da nação, interferir nas decisões e expressar seus pontos de vista”.

Assim sendo, é de suma importância o trabalho do professor que deverá

implementar formas de criar no aluno o hábito, o gosto pela leitura e a formação de

leitores eficazes.

Para que se pudesse chegar a um bom termo de resultados na aplicação das

atividades propostas no plano de ação deste trabalho, foi utilizado inicialmente o

procedimento de pesquisas bibliográficas de autores renomados no tema em tela, e

através do cotidiano escolar, o processo de construção do conhecimento foi

fundamentado na execução das investigações de participações individuais e coletivas,

dentro de um caráter interdisciplinar, onde pode-se observar que nossos alunos são

criativos, interessados e participativos, o que fica mais significativo no resultado final é

que falta na verdade, é maior estímulo e motivação por parte de nós, educadores.

Assim, construir um trabalho, para que os alunos consigam desenvolver o

letramento através de atividades que lhes propiciem diferentes significados, inferências

e intertextualidade, bem como maneiras de alcançar o aprendizado é um compromisso,

uma possibilidade, como um meio de superação das dificuldades de aprendizagem que

possam vir a produzir uma motivação e expectativa positiva em nossos educandos.

O presente trabalho terá nos próximos tópicos, sequencialmente, os resultados

investigados na literatura especializada sobre o tema do Conto de Fadas dentro

Literatura Infantil através da pesquisa bibliográfica, e, consequentemente os resultados

da pesquisa de campo através da demonstração dos resultados dos eventos

construídos durante o período da proposta de intervenção pedagógica pré estabelecida

para a efetivação deste projeto e todas as informações básicas que promoveram um

suporte filosófico e pedagógico dentro da realidade de nossos educandos.

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2 LETRAMENTO: O DISCURSO COMO PRÁTICA SOCIAL

Nos dias de hoje, em que as sociedades do mundo inteiro estão cada vez mais

centradas na escrita, ser alfabetizado, isto é, saber ler e escrever, tem se revelado

condição insuficiente para responder adequadamente as demandas contemporâneas. É

preciso ir além da simples aquisição do código escrito, é preciso fazer uso da leitura e

da escrita no cotidiano, apropriar-se da função social dessas duas práticas, é preciso

letrar-se.

É comum o entendimento do papel da escola, no que se refere ao aprendizado

da leitura e escrita, sabemos que só o domínio do sistema alfabético de escrita não

garante a total inserção da criança no mundo letrado. É preciso ir além do domínio do

código escrito, é preciso que a criança conheça as diferentes formas de discurso

escrito, como se estruturam, como e quando são usados. É preciso que ela se utilize

amplamente da leitura e da escrita no cotidiano e isto vai muito além do escrever ou ler

algumas palavras ou frases simples.

Para se tornar um usuário competente da língua a criança deve capaz de

compreender e usar o código escrito e, este “modo de usar”, está relacionado ao

letramento.

Deste modo, faz-se necessário que a escola proponha atividades que

possibilitem o letramento.

Conforme Soares (2004, p. 20), letramento.

[...] é entendido como o desenvolvimento de comportamentos e habilidades de uso competente da leitura e da escrita em práticas sociais; distinguem-se (alfabetização e letramento) tanto em relação aos objetos de conhecimento quanto em relação aos processos cognitivos e lingüísticos de aprendizagem e, portanto, também de ensino desses diferentes objetos.

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Goulart (2006, p. 452) mostra que “o letramento estaria relacionado ao conjunto

de práticas sociais orais e escritas de uma sociedade”. Essa autora acrescenta:

“Compreendo que o letramento está relacionado à apropriação de conhecimentos, que

constituem a cultura chamada letrada”.

Entende-se, assim por alfabetização a aquisição do código escrito, e letramento

o uso desse código em práticas sociais.

2.1 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO DA CRIANÇA

Uma das perguntas mais frequentes que se ouve na sociedade, e,

principalmente, nas escolas é essa: Haverá lugar para a literatura infantil nesse mundo

da tecnologia que nos invadiu?

É difícil de responder, mas, há possibilidade de se entender que a literatura

infantil tem como função fundamental dentro da sociedade em transformação a de

servir como agente de formação, seja no convívio do leitor e livro, ou seja, no diálogo

de leitor e texto que deve ser estimulado pela comunidade escolar.

É através do livro, ou seja, da palavra escrita que atribuímos a maior

responsabilidade de formar crianças e jovens críticos e conscientes com capacidade de

analisar o mundo.

Como cita Bettelheim (1998):

Hoje como no passado, a tarefa mais importante e também mais difícil na criação de uma criança é ajudá-la a encontrar significado na vida. À medida que se desenvolve ela aprende a se entender melhor e torna-se capaz de entender os outros, e assim se relacionar com eles de forma mutuamente satisfatória e significativa [...]

E a escola é o lugar privilegiado para que a criança entre em contato com a

literatura, especialmente a infantil. E que muitas vezes representa a única oportunidade

da criança entrar em contato com a leitura.

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A criança aprende a ler, ouvindo, soletrando e repetindo as palavras. Daí o

papel da literatura infantil como agente transformador da aprendizagem. Quando o

professor mantém uma rotina de contar histórias, ele estimula a curiosidade dos alunos

pelos livros e que aos poucos vão se sentido atraídos para conhecer as histórias

contidas nele.

Segundo Lajolo (2000, p. 66):

Na tradição brasileira, literatura infantil e escola mantiveram sempre uma relação de dependência mútua. A escola conta com a literatura infantil para difundir atividades pelo envolvimento da narrativa, ou pela força encantatória dos versos-sentimentos, conceitos, atitudes e comportamentos que lhe compete inculcar em sua clientela.

Na afirmativa acima, mostra a ligação e a importância que a literatura infantil

têm junto com a escola, em que os livros tem o papel importante na formação da leitura

das crianças, não deixando que o livro venha a ser uma obrigação, mas sim um prazer.

A escola como principal parceira do livro ajuda a mantê-lo no mercado,

preservando-o como um dos principais elementos de entretenimento e transmissão de

saberes indispensáveis à nossa vida.

A aproximação das crianças com o livro não deve ser realizado de uma forma

obrigatória, mas, de um jeito que ele se torne atraente aos pequenos leitores. Para que

a escola atraia seus alunos para a leitura é preciso criação de projetos que visam à

qualificação das práticas escolares, de leitura em todas as disciplinas.

Como cita Lajolo (2000, p. 74):

Os projetos precisam abrir-se com a crítica da inevitável participação nos rituais de apropriação da literatura infantil pela escola e vice-versa: que os professores lutem por uma formação competente, regular e supletiva, que os liberte da tutela de cursos efêmeros e do paternalismo autoritário de receitas de leituras opostas a livros, que os autores se mobilizem no sentido de fazerem frente à escolarização de seus textos. E que os demais envolvidos – nós todos – discutamos nos circuitos, bastidores e arrabaldes da literatura infantil o caráter histórico da organicidade institucional dos livros infantis.

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Neste sentido, a afirmativa acima mostra que a leitura deve ser um prazer e não

uma regra, sendo uma responsabilidade da escola e seus integrantes fazer com que a

literatura infantil abra caminhos para a formação de futuros leitores no processo de

ensino aprendizagem.

2.2 O CONTO DE FADAS NO CONTEXTO ESCOLAR

Os diversos gêneros textuais refletem diferentes situações comunicativas,

sendo essas práticas discursivas que indicam o cotidiano e respondem a determinadas

estruturas, composições e ideias comunicativas.

Estes gêneros formaram-se através de desenvolvimento social e histórico

através de uma realidade ou finalidade.

O aluno quando entra em contato com diversos gêneros textuais, progride em

seu conhecimento social e ambiental, pois cada um destes interage em realidades,

fazendo com que o discente reflita sobre a sociedade, valores e aperfeiçoe seus ideais,

transpondo a ideia do texto para muito além do contexto escolar.

Na França do século XVIII, na monarquia do rei Luís XVI, se manifesta

abertamente a preocupação com uma literatura para crianças ou jovens (COELHO,

2000).

Esse tipo de literatura tem por intuito a valorização da “Fantasia” e da

“Imaginação”, que se constrói a partir de textos da Antiguidade Clássica ou de

narrativas que viviam oralmente entre o povo. Sua importância está diretamente ligada

ao fato de que essas estórias traziam alguma representação imaginária quanto ao que

se produz ‘popularmente’ ou de forma considerada erudita, trazendo elementos orais da

tradição, inclusive.

Seu momento político e cultural foi de muita efervescência quanto ao

Renascimento e uma maior Humanização e Racionalização das relações entre o

Homem e a Natureza. Seu maior legado está diretamente relacionado ao que se pode

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trabalhar como histórias de grandes heróis medievais que dariam algum sentimento de

pertencimento ao nascimento dessa nova concepção de cultura e nacionalismo

incipiente.

Jean La Fontaine é, certamente, a quem cabe o mérito de dar forma definitiva

na literatura ocidental (COELHO, 2000), ao criar a forma de ‘fábula’, com suas

prerrogativas morais, heroicas e históricas, no intuito de criar alguma relação com o

pequeno leitor na busca de alguma ordenação social e política, visto o grande apelo

moral e crítico de suas estórias.

Certamente, portanto, há uma grande necessidade da criança, em seu

desenvolvimento para a vida, de imergir numa atmosfera sonhadora que os contos – e

isso inclui os contos de fadas, propiciam (ALBERGARIA, 1996), profundas satisfações

psicológicas no universo mental infantil, com desejos de compensação (ALBERGARIA,

1996), buscando vários modos de explicação para a vida de infância e sua relação de

fascínio com essa forma de literatura. Provavelmente, os contos de fadas teriam mais

coisas a ensinar sobre os problemas interiores do ser humano e suas soluções do que

qualquer outra forma de história (BETTELHEIM, 1998). Não seria, portanto, inoportuno

frisar a relevância desse tipo de trabalho, quanto à importância dos livros de contos de

fadas para a educação da fase infanto-juvenil – ou seja, os alunos da 6º ano os quais

se pretende aqui serem avaliados, e como essa temática pode ser transformadora para

uma busca de perspectivas de leituras para sua conduta social.

O lúdico destaca-se como uma das maneiras mais eficazes de envolver o aluno

nas atividades, pois a brincadeira é algo inerente na criança, e sua forma de trabalhar,

reflete e descobre o mundo que a rodeia.

Ferreiro e Teberosky (1985) aponta como benefício físico, o lúdico satisfaz as

necessidades de crescimento e de competitividade da criança. Como benefício

intelectual, o brinquedo contribui para a desinibição produzindo uma excitação mental e

altamente fortificante. Já como beneficio social, a criança, através do lúdico representa

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situações que simbolizam uma realidade que ainda não pode alcançar através dos

jogos simbólicos se explica o real do eu.

Segundo Pinto e Lima (2003) é através das atividades lúdicas que a criança

pode conviver com os diferentes sentimentos que fazem parte da sua realidade interior.

Ela irá aos poucos se conhecendo melhor e aceitando a existência dos outros,

estabelecendo suas relações sociais.

Para manter o equilíbrio com o mundo, a criança necessita brincar, jogar, criar e

inventar. Estas atividades lúdicas tornam-se mais significativas à medida que se

desenvolve, inventando, reinventando e construindo. Destaca Chateau (1987, p. 14)

que “uma criança que não sabe brincar, uma miniatura do velho, será um adulto que

não saberá pensar”.

Acrescenta Kishimoto (1994) a ludicidade é uma necessidade do ser humano

em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do

aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural,

colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os

processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento.

A literatura infantil tem sido observada sim, como uma espécie de diálogo entre

o leitor e texto, obviamente, contudo, com fundamental importância para o estímulo

desse indivíduo, cujo desenvolvimento motor e mental, de sua formação identitária e

seus conflitos passam a ser tratados pacificamente.

Os contos de fadas, certamente, vêm para complementar esse processo. Seu

processo tem sido de “problematização existencial, busca de realização interior pelo

amor”, por ser daí retirado “cinco invariantes sempre presentes” nos contos de fadas:

aspiração (desígnios), viagem, obstáculos (ou desafios), mediação auxiliar e conquista

do objetivo (final feliz) (COELHO, 2000, p. 109).

Seu maior trunfo está diretamente relacionado ao fato de se trabalhar com a

representação ou o imaginário. Diante desta organização estrutural é que justifica este

trabalho que visa o desenvolvimento crítico através deste tipo de literatura que tem por

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intuito a valorização da “Fantasia” e da “Imaginação”, onde sua importância está

diretamente ligada ao fato de que essas estórias traziam alguma representação

imaginária quanto ao que se produz ‘popularmente’ ou de forma considerada erudita,

trazendo elementos orais da tradição.

Por que será que os contos infantis são tão importantes no desenvolvimento

das crianças? Uma resposta bem simples seria que é por meio dos contos infantis que

as crianças desenvolvem seus sentimentos, emoções, sua personalidade e aprende a

lidar com todas essas sensações.

As histórias infantis são contos bem antigos e ainda hoje podem ser

consideradas verdadeiras obras de arte, lembrando sempre que seus enredos falam de

sentimentos comuns a todos nós, como o ódio, inveja, ciúmes, ambição, rejeição e

frustrações além de alegrias, felicidades, etc., vivenciadas e compreendidas pelas

crianças através das fantasias e emoções.

Por ter a finalidade de envolver as pessoas, instigar a mente e comover; os

contos funcionam como instrumentos para a descoberta dos sentimentos da criança ou

até mesmo dos adultos. Ao conter em seu enredo experiências e vivências do

cotidiano, existe então uma identificação com as dificuldades e conflitos dos

personagens.

Como descreve Villardi (1999, p. 6):

Inicialmente, o conto – uma vez que não tem comprometimento com a realidade, mas com o real que ela mesma cria – é ficção e, por natureza, da ordem da fantasia. Assim, fomenta no leitor a curiosidade e o interesse pela descoberta permite que ele vivencie situações pelas quais jamais passou, alargando seus horizontes e tornando-o mais capaz de enfrentar situações novas. Ao romper com as barreiras da realidade, possibilita ao leitor o acúmulo de experiências só vividas imaginariamente o que torna mais criativo e mais crítico, além de ensiná-lo a reagir a situações desagradáveis e ajudá-los a resolver seus próprios conflitos.

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Apesar de terem se originado há séculos atrás, os contos, as fábulas e as

lendas foram transcritas da oralidade e continuam resistindo por transparecer

sentimentos inerentes ao homem.

Os grandes clássicos infantis como: O Lobo Mau; Cinderela; Chapeuzinho

Vermelho e outros, ainda funcionam como excelentes aliados de pais, educadores ao

trabalharem conflitos e temores infantis. Ao ouvir uma narrativa a criança identifica-se

com determinado personagem ao perceber que o drama que o envolve é verossímil ao

que ela vive. Ocorrendo, então, um intenso envolvimento com o mundo do faz de conta.

(VILLARDI, 1999, p. 17).

Outro fato importante, narra ainda a mesma autora, nas histórias infantis é a

controvérsia, no comportamento dos personagens; Como exemplo, a Chapeuzinho

Vermelho, apesar de ser uma menina prestativa, se mostra desobediente ao passar

pelo caminho mais perigoso e ainda aceitar sugestão de um estranho (o lobo mau).

Outro clássico é a Branca de Neve, pela sua ingenuidade foi envolvida pela madrasta,

disfarçada de uma pobre velha, e come uma maça envenenada.

Vê-se nestes exemplos que os contos infantis apresentam tanto o lado bom

quanto o mal de seus personagens principais, que apesar de possuírem um caráter

aceitável socialmente apresentam alguns aspectos negativos e por isso sofreram

consequências graves. Mas também mostra que apesar de nossos aspectos negativos

podemos obter ajuda e perdão das pessoas que amamos. Como no caso do Pinóquio

que só se envolve em apuros por causa de suas mentiras, mas ao final da história se

arrepende e vê seu sonho se realizar ao ser transformado em um menino de verdade.

Ainda outro ponto em relação a esses personagens é que mesmo enfrentando

dificuldades e sofrimentos, ao final da história sempre saem recompensados e

vitoriosos, enquanto que outros personagens que apresentam maldade, orgulho, inveja

em seu caráter, são castigados e terminam de uma forma trágica.

Veem-se então nos dois aspectos apresentados acima a intenção de se

transmitir uma lição de moral e princípios, onde o mal nunca prevalece sobre o bem.

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No desenrolar das histórias vemos tentativas de perseguição de um

personagem contra o outro, gerando tensões na história, que causam expectativa em

quem lê ou ouve, prendem a atenção, despertando a sensibilidade. Nessas passagens

de tentativas, de destruição, com más intenções contra uma pessoa que é do bem,

recorre-se a encantamentos, magias, etc. Na busca de soluções para esses conflitos

surgem então, as figuras mágicas: fadas, anões, bruxas malvadas, duendes, príncipes

e princesas, etc.

Bettelheim (1998, p. 19) complementa:

Só partindo para o mundo é que o herói dos contos de fadas (a criança) pode se encontrar; e, fazendo-o, encontrará também o outro com quem será capaz de viver feliz para sempre, isto é, sem nunca mais ter de experimentar a ansiedade da separação.

Sendo assim, vê-se que a literatura, através dos contos infantis orienta o futuro

e guia a criança a entender o inconsciente e o consciente e assim fazendo com que a

mesma se torne independente em suas ações. E ainda, por possibilitar o processo de

identificação, a literatura relaciona-se com aspectos que formam a personalidade

infantil sem, entretanto, colocá-la numa posição de pouco apreço, mas antes de tudo

valorizando o que ela tem de melhor, contribuindo para o desenvolvimento de sua auto-

estima.

É este mundo encantador dos contos que nos leva a lugares inesquecíveis, que

vão além da imaginação, buscando assim novos horizontes e desafios a leitura e mexe

com nossos sentimentos mais íntimos promovendo o estímulo da imaginação, fantasia

e até mesmo da personalidade humana.

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3 METODOLOGIA

O método utilizado foi o recepcional, organizado por Bordini e Aguiar (1993),

pois este atende às perspectivas das Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa e

Literatura. Embora a intenção desse trabalho, não se restrinja ao método, pretendeu-se

utilizá-lo, considerando toda a sua potencialidade dialógica e interativa no trabalho com

o texto literário. O processo de recepção se inicia antes do contato do leitor com o texto.

O leitor possui um horizonte que o limita, mas que pode transformar-se continuamente,

abrindo-se.

Por sua vez, o texto pode confirmar ou perturbar esse horizonte, em termos das expectativas do leitor, que o recebe e julga por tudo o que já conhece e aceita. O texto, quanto mais se distancia do que o leitor espera por hábito, mais altera os limites desse horizonte de expectativas, ampliando-os. (BORDINI & AGUIAR, 1993, p. 87).

O método assim sistematizado se embasa em estratégias dialógicas e

interacionistas e tem na participação efetiva do leitor o seu fundamental interesse. É a

recepção da obra pelo leitor o lócus de observação e análise do professor, servindo

tanto para a identificação do nível e gosto de leitura dos alunos, quanto do valor

estético da obra em si.

Segundo as autoras, isso é possível porque ocorre, no momento da leitura, a

fusão dos horizontes históricos em que obra e leitor estão inseridos, podendo haver por

parte do leitor estranhamento ou interação. Quanto mais a obra se distancia do

horizonte de expectativa do leitor mais poder de transformação ela possui.

Nosso objetivo foi o de desenvolver em nossos alunos o espírito crítico e a

compreensão dos textos literários para que se tornem sujeitos atuantes na sociedade

contemporânea.

Em resumo o método trabalhado consistiu em cinco etapas de implementação

do projeto, sendo a primeira a determinação do horizonte de expectativa, onde se

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realizou um diálogo com os alunos para identificar em que nível de leitura este se

encontra.

Na segunda foram levados para a classe textos literários que os alunos

apreciaram, e as estratégias era trabalhar na forma que eles conheçam e não tenham

dificuldades de se interagir com os respectivos textos;

Na terceira fase foi manter a mesma estrutura dos textos e mesma temática,

porém, foram alterados outros aspectos, exigindo do leitor mais atenção e raciocínio

para a compreensão;

Na quarta etapa foi à relação de reflexão e de questionamento do material

literário trabalhado;

Na quinta e última etapa, foram observados o nível de conscientização das

aquisições feitas com a leitura e das alterações vividas por meio da experiência com a

literatura, assim sendo, avaliar a motivação para outras leituras e a reação individual e

coletiva de todo processo instituído da leitura como elemento básico de toda atividade

realizada.

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Após o período estabelecido pelo projeto de implementação organizado para a

realização desta pesquisa, observou-se que foi um trabalho de auxílio mútuo, realizou-

se uma excelente parceria entre a receptividade dos alunos o que nos auxiliou na

motivação da aplicação das atividades e o interesse em desfrutar daqueles momentos

que impulsionaram tantos instantes de debates, descobertas, reflexões, interações,

novos aprendizados, observação no crescimento individual e coletivo, o que torna

prazeroso o feed back para qualquer professor.

Iniciou-se as atividades com a seguinte caracterização e estrutura:

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Apresentação do projeto para a Direção, a Equipe Pedagógica, o Corpo

Docente e Funcionários do Colégio.

ETAPA 1 - DETERMINAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS:

Nesta etapa para detectar o horizonte de expectativa, foi realizado um diálogo

com os alunos para identificar em que nível de leitura a turma se encontrava em relação

a diversos aspectos: social, intelectual, ideológico, linguístico, psicológico e literário.

A atividade iniciou-se com o conto e o filme do “Chapeuzinho Vermelho”, por

ser um dos mais conhecidos e apresentar várias versões semelhantes, mas com suas

particularidades.

Para iniciar as atividades foi questionada a turma a respeito da história que

seria lida. O que sabiam sobre ela, o que esperavam encontrar nessa versão, que data

do séc. XVII e outros questionamentos que julgaram necessários no decorrer da

conversação.

Após a conversação foi apresentado o conto “Chapeuzinho Vermelho” na

versão de Charles Perrault. O professor leu o conto para os alunos. Essa leitura foi

planejada com antecedência, planejando intervenções que foram realizadas antes,

durante e depois da leitura.

Após a leitura, feita pelo professor, desta versão foi solicitado aos alunos que

comentassem sobre o texto livremente. (E o resultado foi altamente positivo, muitos

queriam falar ao mesmo tempo, perguntas das mais variadas foram surgindo e isto foi

muito interessante, pois logo na primeira atividade, pois o fato de ouvir com entonação,

caretas e performance estimulou a imaginação dos alunos, e para nós, professores, foi

um momento de grande motivação também.) Quando percebeu-se que os alunos já

haviam comentado a respeito de quase tudo o que gostariam, passou-se a uma outra

etapa que era uma discussão, onde foi chamada a atenção sobre determinados

detalhes, foi importante observar a descrição dos personagens, o cenário, a ação e o

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diálogo que ocorre entre os personagens, onde seria realizado uma comparação com

outra versão da mesma história. A comparação foi realizada na versão dos irmãos

Grimm, nesta versão pode-se observar que a descrição das personagens é mais

elaborada, os diálogos são mais presentes e o final da história é bem diferente.

Também na interação da atividade foi chamada a atenção para os alunos

relendo algumas descrições e conversando sobre a linguagem literária e os efeitos que

ela produz no leitor para que ficasse mais marcante o enredo, a história, a mensagem.

Após a leitura do texto foram realizados comentários comparativos a partir dos

assuntos evidenciados nos mesmos, buscando atrair os alunos e motivando-os para

trabalharem o tema, foi solicitado aos alunos que falassem sobre o “Conto de Fadas”, a

diferença entre as histórias dos contos de fadas e as outras histórias, o que há nos

contos fantásticos que outros contos não têm; questionados foram também sobre os

autores de contos de fadas que já ouviram falar e sobre os contos conhecidos, e a

intenção era induzi-los a comparar diferentes versões de um mesmo conto.

Em termos de comparação foram realizadas atividades sequenciais priorizando

os seguintes elementos:

*Como o autor descreve o lobo no início da história? A descrição é diferente da

versão de Perrault?

* Como o autor caracteriza a floresta? Era uma floresta comum? O que tinha de

diferente?

* Quando o lobo encontra a menina pela primeira vez, o que ele diz a ela?

* Como o lobo fez para fingir ser a avó da menina? Deu certo esse plano?

* O autor descreve nessa história tanto as personagens como o ambiente, a

floresta e a casa da avó, isto torna a história mais monótona que a outra versão ou

não?

Explique sua resposta.

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* Quanto ao uso dos diálogos, isso torna a história mais emocionante ou só a

prolonga mais?

*A versão de Perrault tem um fim trágico e uma moral. O que você entendeu

dessa moral?

* Na versão contada pelos Irmãos Grimm, A protagonista Chapeuzinho recebe

auxílio do caçador e sobrevive. Quem tem um fim trágico nessa versão? A moral está

presente nessa história ou não? Se sua resposta for afirmativa explique essa moral?

Após o debate sobre as semelhanças e diferenças e o registro escrito das

conclusões da turma, pode-se fazer uma pesquisa orientada, que levantou os tópicos

que os alunos iriam pesquisar através de um questionário.

A pesquisa foi sobre a origem dos contos de fadas e sobre os três principais

autores “Charles Perrault”, “Irmãos Grimm” e “Hans C. Andersen”. Os alunos fizeram a

pesquisa na Internet e em livros disponíveis na biblioteca da escola. Foram indicados

alguns sites e referências de livros e revistas de fácil acesso aos alunos.

Após a pesquisa feita e as questões respondidas, foi montado um texto.

Utilizou-se de perguntas para não deixar o aluno copiar tudo o que encontrasse, mas

para incentivá-lo a ler e selecionar o que realmente fosse importante para a construção

do texto da pesquisa que foi realizado em grupos pequenos, juntando as respostas e

construindo o texto sob a supervisão do professor que os orientou sobre como proceder

para que o texto ficasse coerente, claro e que fosse realmente um produto do trabalho

deles.

ETAPA 2 - ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS

Esta segunda etapa consistiu no atendimento do horizonte de expectativas, em

que foram levados para a classe textos literários para que os alunos apreciassem, e as

estratégias trabalhadas foram na medida da realidade do aluno, do seu conhecimento

elementar e o grau de dificuldade.

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Nesta etapa, apresentou-se o conto “A Bela e a Fera” e posteriormente foi

assistido o filme do mesmo conto. Com esse texto e o filme foi possível fazer a

comparação entre a versão escrita e a do filme, verificando os elementos estruturais e

os símbolos presentes tanto no texto quanto no vídeo.

Para estabelecer relação entre o filme e a realidade social do aluno, as

seguintes perguntas foram dirigidas à turma: Qual seria sua reação ao encontrar com

uma fera como a do filme? Apesar das aparências, mas mostrando-se humanizada

você seria capaz de amá-la? Bela teve razões para recusar o amor de Gastão? Quais?

Para você as qualidades internas são mais importantes que a aparência física? Você

conhece alguma história (fictícia ou real) que tenha semelhança com a que acabou de

ver? Vamos narrar para os colegas.

Após as leituras, foi a vez de trabalhar a escrita através da reprodução dos

contos lidos fazendo paráfrase, paródias, ou desconstruindo os mesmos, modificando o

ambiente, acrescentando personagens ou misturando as histórias.

Através da leitura, das atividades de paráfrases, paródias e desconstrução dos

textos, os alunos deveriam estar aptos a produzirem seus próprios contos. Novamente

foi colocado no quadro os elementos que eram necessários para elaborar um conto de

fadas.

Foi solicitado para os alunos que consultassem o Dicionário de Símbolos,

preparado anteriormente, um pequeno esquema que ajudou a entender melhor alguns

dos simbolismos implícitos no conto, por exemplo:

• Conhecer o castelo – introspecção ao nosso mundo interior; busca de

autoconhecimento; simboliza a conjunção dos desejos, sendo que o Castelo às escuras

(onde vivia a Fera) representa o inconsciente; a parte luminosa (onde Bela transitava)

representa o consciente;

• Espelho mágico – símbolo do conhecimento e da sabedoria é o

instrumento da iluminação; simboliza também o coração do iniciado;

• Floresta – símbolo do inconsciente pela obscuridade;

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• Relógio – ligado ao simbolismo do tempo e ao ciclo da vida;

• Castiçal – símbolo de luz espiritual, de semente de vida e de salvação;

• Pai – ligado ao simbolismo da dominação, da posse, do valor, é uma

forma de representação da autoridade; representa a consciência diante dos impulsos

instintivos e dos desejos espontâneos do inconsciente;

• Lobo – imagem arquetípica cujo simbolismo está ligado ao fenômeno de

alternância dia-noite, morte-vida; também simboliza a sexualidade instintiva.

Ligando-se essa simbologia, têm-se uma descida ao inconsciente em busca de

autoconhecimento, onde os conteúdos sombrios são gradativamente assumidos e

integrados à consciência. Todos nós, no desenvolvimento de nossa personalidade

consciente, teremos o acompanhamento da sombra. E ela se torna perigosa quando a

personalidade consciente perde contato com ela. Pois então poderá irromper com toda

a potencialidade do inconsciente, como força poderosa e irracional. Como Bela temos

que aprender a amar a Fera - nosso lado obscuro, pois ele faz parte de nós, e

integrando essa parte obscura de nosso todo psíquico, proporcionamos um

desenvolvimento rico e criativo à nossa personalidade.

ETAPA 3 - RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS

Nessa fase, foi a hora de romper com ideias pré-concebidas e preconceituosas.

A estrutura do texto apresentado manteve a mesma temática, porém, foram

alterados os outros aspectos, exigindo do leitor mais atenção e raciocínio para a

compreensão.

Após a leitura do livro de Pedro Bandeira “O fantástico mistério de Feiurinha”,

os alunos fizeram uma viagem pelo universo fantástico dos contos de fadas, isso

porque o autor reúne numa versão nova e bem humorada, vários contos de fadas,

apresentados sob nova perspectiva.

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Nesta fase foi escolhida a obra “O fantástico mistério de Feiurinha”, por tratar-se

de uma narrativa que rompe com os contos de fadas tradicionais e, em muitos

aspectos, perturba completamente a ordem dos acontecimentos, misturando

brincadeiras com uma pitada de ironia, o autor focaliza clichês presentes nas histórias

infantis, colocando-os em dúvida, requerendo do público leitor uma nova postura, ao

mesmo tempo aventureira e questionadora.

Desse modo, ao caminhar junto com os personagens para desvendar o mistério

de Feiurinha, o leitor relembra as histórias tradicionais, observando com desconfiança

os elementos curiosos que compõem o universo fantástico dessas narrativas. Assim,

além de alterar o quadro de referências do leitor, ele pode também, atuar como

detetive, buscando pistas que justifiquem o sumiço da princesa.

Essa caminhada instigante na recuperação das pistas dá margem á mediação

do professor para apontamentos de aspectos importantes a serem observados durante

o percurso de leitura. Entre eles a linguagem; os usos figurativos, as técnicas de

composição dos cenários, personagens (características físicas e psicológicas) e a

forma de utilização do tempo (cronológico e ou psicológico), ou seja, toda a gama de

recursos utilizados pelo autor que traduzem o seu estilo e garantem a literariedade do

texto. E, ainda, os elementos estruturais, próprios do texto teatral (os diálogos, as

indicações, as descrições dos cenários [...]) que indicam a diferença entre o texto

dramático e o narrativo.

Solicitou-se aos alunos a releitura dos contos feitos nas aulas anteriores, para

identificarem pontos de semelhança com a obra de Pedro Bandeira quanto a estrutura

composicional, em seguida foi solicitado aos alunos que fizessem a leitura dos contos

do segundo livro, Sete faces dos contos de fadas: “Um par de tênis novinho em folha”,

“Chapéu vermelho II – as bocas do lobo”, “A salvadora do mundo”, “Bela”, “Luz verde”,

que tratam, respectivamente dos clássicos: “Cinderela”, “Chapeuzinho vermelho”,

“Branca de Neve e os sete anões”, “A bela adormecida”, e “A bela e a fera”. Foi dado

um prazo para que todos os alunos pudessem ler. Terminado o prazo para a leitura e

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compreensão da obra de Pedro Bandeira, pediu-se para que os alunos apresentassem

uma encenação do livro, “O fantástico mistério de Feiurinha”,

Ao final dessa etapa, os alunos deveriam ser capazes de retomar as diferenças

e semelhanças fundamentais das personagens e trazê-las para a vida real. E esta foi

uma conquista muito positiva apresentada pelos mesmos.

ETAPA 4 - QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS

A próxima etapa desenvolvida com os alunos foi, conforme citam Bordini e

Aguiar (1993), de questionamentos dos materiais literários trabalhados. Quais textos

exigiram um nível mais alto de reflexão, realização de análises e comparações das

leituras realizadas, e, através disso, a intenção era detectar as dificuldades que ainda

existiam, e que os educandos percebessem que o conhecimento e a experiência que

tiveram estavam sendo ajudados na compreensão dos textos vistos.

Apresentou-se ainda aos alunos, uma leitura totalmente diferente do esperado

como a história da “Chapeuzinho Amarelo de Medo” de Chico Buarque. Onde foi

promovida uma interpretação sobre o texto e solicitado aos alunos que em grupos

criassem uma nova versão para o conto, mudando o final ou colocando elementos da

nossa realidade que depois seriam expostas em um varal de contos.

Trabalhou-se também a intertextualidade e a interdisciplinaridade, com o texto

Fita Verde no Cabelo de Guimarães Rosa. Após uma leitura do texto Fita Verde no

Cabelo de Guimarães Rosa, foi explicado o contexto social que foi escrito, mostrando

para o aluno a importância da intertextualidade e proporcionando através das

atividades, a sensibilização e a socialização entre os alunos.

A seguir foram abordados temas importantes do conto Fita Verde no Cabelo

como: as relações familiares, a doença, a velhice, os perigos a que estamos sujeitos, os

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medos que estão no outro e dentro de nós mesmos, entre outros que poderão surgir

através do diálogo em sala de aula, é importante que ele perceba a riqueza da

narrativa. O aluno ainda pôde, através de uma leitura comparativa dos vários textos,

estudar não só nossa flora e fauna, como também, criar seu próprio Chapeuzinho

Vermelho.

Como atividades para aprofundamento e compreensão da leitura da música

Chapeuzinho Amarelo foram realizados os seguintes questionamentos:

1) Quais as diferenças entre Chapeuzinho Vermelho e Chapeuzinho Amarelo?

2) Qual dos medos da personagem você achou mais estranho?

3) Em sua opinião, como deve ser a vida do Chapeuzinho Amarelo?

4) Qual é o tema que se pode extrair da música de Chico Buarque?

5) Você é medroso? Se for, qual é o seu maior medo? Argumente.

Algumas histórias, ainda hoje, são passadas de geração em geração. Você

deve dar continuidade ao Era uma vez, desenvolvendo a atividade proposta abaixo.

I momento:

Entreviste os avôs coletando histórias.

Selecione a que mais gostou e apresente para a sala.

II momento:

Em grupo, selecionem as histórias que provocaram gostinho de quero

mais, risos, surpresas, medos, emoções...

III momento

• Assim como os autores Charles Perrault e os irmãos Grimm, no coletivo,

vamos registrá-las.

• Escrevam um sumário com o título das histórias;

• Façam um pequeno texto informando o leitor do que vai encontrar na

coletânea.

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ETAPA 5 - AMPLIAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS

Nesta última etapa, conforme afirmam Bordini e Aguiar (1993), os alunos devem

perceber que os textos literários não são apenas tarefas da vida escolar, mas estão

conscientes das aquisições feitas e das alterações vividas por meio da experiência com

a Literatura, assim sendo, eles deverão buscar outras leituras, isso ampliará ainda mais

os seus horizontes.

Segundo Bordini e Aguiar (1993) o final desta etapa é o início de uma nova

aplicação do método, que evolui em espiral, sempre permitindo aos alunos uma postura

mais consciente com relação à literatura e à vida.

Foi passado o filme: “Deu a Louca na Chapeuzinho”, com o objetivo de

promover a discussão e reflexão em grupo e fazer apontamentos sobre os temas mais

interessantes da história. Fizeram uma comparação com os textos já vistos,

confirmando assim, a ampliação, ou não, do horizonte de expectativas de cada aluno.

PRODUZINDO UM CONTO DE FADAS

Foi solicitado o seguinte esquema ao aluno: Você observou que nos contos de

fadas, algumas situações se repetem:

▪ a presença do herói ou da heroína;

▪ a armadilha;

▪ a luta entre herói e vilão;

▪ a vitória;

▪ o castigo do vilão.

Agora é a sua vez de escrever um lindo conto de fadas e divulgá-lo através do

mural “Cantinho do Conto”, que será organizado junto com seu professor.

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4.1 AVALIAÇÃO FINAL

Percebeu-se no decorrer das atividades o interesse da turma nos momentos de

contação de histórias, tais momentos eram propostos ao longo do dia, a dramatização

com o auxílio de máscaras e roupas e sempre com muita criatividade.

A história da Chapeuzinho Vermelho foi necessário recontá-la várias vezes e

suas versões também, e embora eles tivessem decorado as falas e as passagens,

mostravam-se sempre concentrados e atentos a cada nova interação. E a cada nova

atividade se mostravam cada vez mais estimulados a ouvir e curiosos no que viria na

sequência, quais as surpresas que estavam sendo reservadas para eles.

Bastava realizar uma atividade como colagem, pintura, desenho livre,

dobradura, folhear revistas e livros, para se criar uma nova história. Ficou evidente que

a proposta de ouvir, ler, pesquisar, relatar, escrever e ilustrar as produções sobre várias

temáticas enriquece a desenvoltura, o interesse e a participação natural do aluno.

Fica bem visível também que com a conveniência deste projeto, a ampliação do

vocabulário foi um dos elementos positivos, a possibilidade de interação entre o grupo,

uma vez que todas as crianças participavam de todas as etapas do processo de

criação. É fato, que alguns alunos se destacam mais por se expressarem com clareza e

possuírem um perfil mais espontâneo, extrovertido, aberto, mas sem tirar o mérito sobre

os mais tímidos, fechados, quietos que na sua forma de ser também se expressavam

de maneira confortável e muito natural, expressando-se não através de palavras, mas

com expressões faciais para demonstrar alegria, surpresa, espanto, descontentamento,

etc. Enfim, esse projeto oportunizou que se aflorassem muitas emoções no grupo,

enriquecendo o vocabulário e incentivando o gosto pela leitura.

Ao desenvolver a pesquisa faz com que o aluno possa trabalhar com a

informação, a criatividade, a imaginação, a socialização, aguçar a curiosidade, mas, de

certa forma, trabalha-se o desenvolvimento geral, isto é, o cognitivo, motor, verbal,

expressão corporal, escrita, localização geográfica e espacial, coordenação, raciocínio

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lógico e abstrato, e ainda, o fator emoção, que é um sentimento que existe na forma de

muita carência em nossos educandos, e este emocionar faz com que o aluno possa

reconhecer sua própria reação perante a sua relação com o mundo, com as estórias do

mundo real e isto é um auxílio altamente salutar que o professor deve ter no seu rol de

metodologia pedagógica para auxiliar o educando na construção de sua personalidade.

Acredito que o gestor, professor, educador, deva investir mais nestas

possibilidades inovadoras, pois, é a personalidade do aluno que está dentro da

prioridade do processo. E assim, ele contribuirá para um mundo melhor com grandes

leitores e verdadeiros cidadãos.

Em suma, foi um trabalho enriquecedor para ambos, motivante, gratificante e ao

final das atividades observar aquele sentimento em nossos alunos de “quero mais” é

um valor impagável.

É o fechamento que qualquer profissional sente na pele o prazer da realização

de seu papel, o prazer de dizer com veemência: “missão cumprida”.

5 CONCLUSÃO

Conclui-se o presente trabalho, partindo do princípio elementar de que segundo

a pesquisa bibliográfica que vários autores são enfáticos e categóricos quando se

referem à importância, o prazer e o gosto pela leitura. Que quanto mais cedo o contato

com a Literatura, maior será o sucesso com a formação de futuros leitores.

Infelizmente nos dias atuais, numa sociedade imediatista, onde a televisão e os

jogos eletrônicos ocupam grande parte do dia a dia da população, principalmente das

crianças, o professor tem um grande desafio quanto se trata de prazer pela literatura.

Portanto, a formação do futuro leitor, o desenvolvimento da sua capacidade de

ler e do gosto que ele apresentará pela leitura, supera os limites escolares, porém, é

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impossível dissociar instituição escolar e leitura, devido ao nível de responsabilidade

que essa instituição chamou para si com o consentimento da sociedade.

Cabe ao professor buscar inserir democraticamente esse aluno em práticas

variadas, de modo que possa experimentar a leitura em diversos contextos e de

diversas formas.

Portanto, afirma-se que é através de atividades pedagógicas criativas que os

alunos têm a oportunidade de entrar ou reentrar no contexto da leitura, do ouvir

histórias e reproduzir sua própria história. Mas este contato não pode ser encarado

como uma obrigação escolar nem como parte de aquisição de conteúdos, apenas. É

necessário que se busquem alternativas para a utilização da literatura como algo

formador e transformador, indispensável à formação do atual e futuro leitor, que saberá

interpretar o mundo que o cerca, como um verdadeiro cidadão.

É de extrema necessidade que nossos alunos possam exercer sua capacidade

de criar, que exista riqueza e diversidade nas experiências que lhes são oferecidas

dentro da escola, sejam elas voltadas através do lúdico, do conto de fadas ou das

aprendizagens que ocorrem por meio de uma intervenção direta ou indireta.

Pois existem modos de agir e de pensar que competem somente às crianças,

porém, somente ao adulto é possível questioná-las para que estruturem logicamente o

seu pensamento e consequentemente suas ações.

Esta é a verdadeira postura do educador, do profissional da educação.

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