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 Univer sidade de São Paulo Instituto de Biociências Programa de Pós-Graduação em Ecologia Livro da Disciplina BIE5701 Ecologia de Campo 2003 Organizadores: Silvana Buzato Vânia Regina Pivello Waldir Mantovani São Paulo, novembro de 2003

Buzato Et La. (2003) - Ecologia de Campo

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Universidade de So Paulo Instituto de Biocincias Programa de Ps-Graduao em Ecologia

Livro da Disciplina BIE5701 Ecologia de Campo 2003

Organizadores:Silvana Buzato Vnia Regina Pivello Waldir Mantovani

So Paulo, novembro de 2003

ndice

Introduo Disciplina Cronograma Projetos Orientados Populaes Comunidades Macro-Escala Projetos de um dia Projetos Finais

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Introduo Disciplina Este livro apresenta os resultados obtidos durante a disciplina Ecologia de Campo (BIE 5701), oferecida desde 2000, pelo Programa de Ps-Graduao em Ecologia do Instituto de Biocincias da Universidade de So Paulo. Em 2003, a disciplina foi oferecida de 14 de julho a 01 de agosto, na Estao Ecolgica e Experimental de Itirapina, Unidades do Instituto Florestal, bem como em rea de Cerrado pertencente a Fazenda So Jos, Itirapina, SP. Os objetivos principais da disciplina so: 1. Exercitar a prtica de pesquisa em Ecologia, abordando teorias correntes em diversos nveis: populaes, comunidades, ecossistemas, com exemplos de pesquisas de campo. 2. Colocar em prtica a metodologia cientfica aplicada Ecologia, envolvendo todas as suas etapas, do delineamento experimental preparao de textos cientficos. Buscamos atingir estes objetivos atravs de prticas de campo orientadas, individuais e em grupo, incluindo discusses tericas, delineamento experimental, tomada de dados no campo, anlise de dados, discusso dos resultados, apresentao oral e preparao de relatrio. A disciplina conta tambm com palestras proferidas pelos professores, sobre diversos assuntos. Projetos orientados Os projetos orientados so desenvolvidos pelo professor com um grupo de trs a quatro alunos. A rotina de trabalho pode ser caracterizada por quatro fases: 1. Na noite anterior a atividade de campo, aps o jantar ou palestra, o professor se rene com seu grupo para propor e discutir o trabalho a ser feito. A discusso aborda a idia original, o delineamento experimental e organizao do material necessrio para o trabalho, sendo o material separado pelo grupo. 2. Na manh seguinte, logo aps o caf da manh, o professor vai com o grupo para o campo para a coleta de dados, que se estende at as 1200h. 3. Depois do almoo, por volta das 1400h, os alunos iniciam a anlise e interpretao dos resultados, ainda orientados pelo professor. 4. s 1800h so feitas as apresentaes orais dos trabalhos. Cada grupo tem 10 minutos para a apresentao e 5 minutos para discusses.

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Cada projeto orientado d origem a um relatrio, entregue pelos alunos aos coordenadores do curso alguns dias depois, conforme o cronograma. Projetos de um dia O projeto de um dia realizado totalmente pelos alunos, sendo estes responsveis pela idia e metodologia geral. Para alguns alunos estes projetos servem como piloto de projetos a serem executados no final do curso. Neste momento, os professores ajudam em aspectos relacionados a escolha da rea, desenho amostral, anlise dos dados, etc... No dia seguinte, at 2400 h, os alunos entregam um relatrio do trabalho. Projetos Finais O projeto final segue o mesmo princpio dos projetos de um dia, porm a coleta mais longa, sendo esperado que a discusso seja mais elaborada que a obtida nos projetos de um dia. Professores Participantes Coordenadores: Dr. Silvana Buzato (Depto. Ecologia, IB/USP) e-mail: [email protected] Dr. Vnia Regina Pivello (Depto. Ecologia, IB/USP) e-mail: [email protected] Dr. Waldir Mantovani (Depto. Ecologia, IB/USP) e-mail: [email protected] Professores colaboradores: Ms. Cinthia Brasileiro (PG Ecologia, IB/USP) Ms. Cristiano Nogueira (PG Ecologia, IB/USP) Ms. Julio Voltolini (Prof. UNITAU, Taubat e PG- Unesp, Rio Claro) Dr. Marcelo Pompo (Depto. Ecologia, IB/USP) Dr. Paulo Takeo Sano (Depto. Botnica, IB/USP) Ms. Pedro Ferreira Develey (PG Ecologia, IB/USP) Dr. Renata Pardini (Depto. Zoologia, IB/USP) Dr. Srgio Tadeu Meirelles (Depto. Ecologia, IB/USP)

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Agradecimentos Os coordenadores da disciplina so gratos aos Diretores da Estao Experimental e Ecolgica de Itirapina, Cludio Porto e Denise Zanchetta, bem como aos demais funcionrios por disponibilizarem a infraestrutura e facilitarem nosso trabalho no campo e no laboratrio. Somos gratos tambm aos proprietrios da Fazenda So Jos por darem acesso a rea de cerrado pertencente a Fazenda, incentivando as atividades de ensino e pesquisa. Aos professores convidados, que contriburam de forma decisiva para a qualidade da disciplina, nossos sinceros agradecimentos. Aos funcionrios do Departamento de Ecologia, Lenilda Maria de Oliveira, Maurcio Perine, Patrcia Gabryela Moreira Cesrio, Paulo Csar Fernandes e Wellington Alessandro Bispo por nos ajudarem em momentos decisivos antes, durante e aps o curso, tais como os de separao de material e preparao do livro. Os recursos financeiros para o oferecimento da disciplina foram obtidos atravs do PROAP e, em especial, queremos mencionar a Pr-Reitoria de Ps-Graduao, USP por nos conceder a maior parte do recurso financeiro necessrio para o desenvolvimento deste curso durante os trs ltimos anos.

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Programa 2003Data Dia Coordenador Professores Externos ao Programa 14.07 Segunda 15.07 16.07 17.07 2 3 4 Silvana Silvana Silvana 1 Silvana Pedro Jlio Pedro Jlio Pedro Jlio Jlio Viagem Itirapina (manh) Planejamento projeto, reconhecimento rea (tarde) Projeto orientado 1 Populaes Palestra Marcelo Projeto orientado 2 Populaes Palestra Pedro Planejamento do Projeto 1dia e Redao Relatrios 1 e 2 Palestra Jlio 18.07 19.07 5 6 Silvana Silvana Waldir 20.07 21.07 22.07 23.07 24.07 25.07 26.07 27.07 28.07 29.07 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Waldir Waldir Waldir Waldir Waldir Waldir Waldir Waldir Waldir Vnia Vnia Renata Cristiano Renata Cristiano Renata Cristiano Paulo 30.07 17 Vnia Renata Cristiano Paulo 31.07 01.08 18 19 Vnia Vnia Renata Cristiano Renata Cristiano Rodzio dos grupos pelas reas Palestra Cristiano Anlise e Redao de relatrios Apresentao e Entrega dos relatrios (manh) e Viagem So Paulo (tarde) Paulo Csar Paulo Csar Rodzio dos grupos pelas reas Palestra Renata Anlise e Redao de relatrios Paulo Csar Rodzio dos grupos pelas reas Palestra Paulo Anlise e Redao de relatrios Paulo Csar Jlio Jlio Cinthia Jlio Cinthia Jlio Cinthia Jlio Cinthia Jlio Cinthia Entrega de relatrios - Projetos 3 a 5 Planejamento do Projeto Final Projeto Final Coleta de dados Projeto Final Coleta de dados Projeto Final Coleta de dados Projeto Final Anlise e Redao de relatrio Entrega de relatrio (at 2400h) 1400 as 1800h Ecologia em Macro-escala (Vnia) Paulo Csar Tadeu Paulo Csar Paulo Csar Paulo Csar Paulo Csar Paulo Csar Projeto orientado 4 Comunidades Palestra Cinthia Projeto orientado 5 Comunidades Tadeu Tadeu Projeto de 1 dia Entrega de relatrios Projetos 1 a 2 e Projeto de 1 dia Projeto orientado 3 Comunidades Paulo Csar Tadeu Paulo Csar Tadeu Paulo Csar Marcelo Marcelo Atividade Professores do Programa e Tcnicos Marcelo

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Ecologia de Campo 2003 Projetos Orientados

Populaes

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Ecologia de Campo 2003 Projetos Orientados

Efeito de Borda sobre a palmeira Attalea geraenses em um fragmento de Pinus na Estao Ecolgica de Itirapina, SP Carla Z. Sandrin, Jos A. Fernandes, Mariana Ferreira, Norberto L. Hlle & Jlio C. Voltolini Introduo O termo efeito de borda refere-se a alteraes na composio ou abundncia de espcies na faixa prxima ao permetro de um ecossistema onde as influncias do entorno evitam que se desenvolvam condies ambientais semelhantes s do interior (Forman, 1997). Tal efeito pode surgir a partir de trs situaes bsicas: (1) ambientes que naturalmente apresentam caractersticas fsicas em mosaico, (2) descontinuidades criadas a partir de perturbaes naturais, como incndios espontneos ou tornados, e (3) descontinuidades geradas por ao antrpica (Forman & Godron, 1986 apud Forman, 1997). Independentemente da origem das bordas, o solo dos habitats nestas reas tende a ficar mais exposto luz direta, aumentando a temperatura e, consequentemente, reduzindo a umidade relativa. Alm disso, a ao dos ventos tende a ser mais severa na vegetao exposta, podendo acarretar na mortalidade de rvores e em maiores taxas de transpirao foliar (Primack, 1993). Dessa forma, espcies menos adaptadas a tais condies podem ser eliminadas, enquanto outras, so favorecidas. A largura da faixa atingida pelo efeito de borda (width, em ingls) determinada pela distncia entre a borda e o ponto no interior do habitat no qual a varivel considerada, p.e. luz, no muda significativamente, podendo variar de acordo com a exposio s condies solares, de vento, de relevo e fenmenos externos em cada poro do fragmento (Forman, 1997). Assim, pode-se supor que em reas de borda mais expostas esses fatores, como por exemplo cantos de fragmentos quadrados ou retangulares, a extenso do efeito possa ser maior do que nas laterais. Considerando que luz um dos fatores associados ao efeito de borda, esperamos que em espcies helifilas, como algumas espcies de palmeiras, a densidade diminua da borda para o interior de habitats. Objetivos Dois objetivos foram explorados; primeiro descrever como a abundncia de uma espcie de palmeira variava da borda para o interior em dois tipos de borda e segundo, estimar qual o 8

efeito da abertura do dossel sobre a densidade das plantas. Assim, as seguintes perguntas foram exploradas: 1) Caracterizar a variao de luz via abertura de dossel, a fim de delimitar a borda para a varivel luz; 2) Verificar como a abundncia de palmeiras da espcie Attalea geraenses varia de acordo com a luz em bordas na lateral e no canto de um fragmento de Pinus sp.; 3) Verificar se h associao entre a intensidade luminosa e a distribuio espacial de Attalea geraenses em um fragmento de Pinus sp. Material e Mtodos O trabalho foi realizado em um fragmento de Pinus sp. na Estao Ecolgica de Itirapina (2212 S, 4753 W), localizada nos municpios de Brotas e de Itirapina, no Estado de So Paulo. O fragmento um talho da Estao Experimental e possui uma rea de 250.000 m (500 x 500 m). O objeto de estudo foi a palmeira acaule Attalea gearenses que apresenta densidade de cerca de 400 indivduos por hectare em reas de campo sujo (Zanella, et al. 2002.), ocorrendo em todas as fisionomias de cerrado, incluindo o interior dos talhes de Pinus sp. Para estimar a abundncia das palmeiras foi utilizado o mtodo de parcelas. Essas possuam 100 metros de comprimento por 10 metros de largura distribudas em dois tipos de bordas: lateral (n=3) e de canto (n=3) conforme a figura 1.

Figura 1 Esquema da posio das parcelas utilizadas para amostragem de Attalea geraenses no fragmento de Pinus sp. 9

Foram medidas as distncias em relao borda de todos os indivduos jovens e adultos encontrados dentro da parcela. Para cada indivduo, foi feita uma estimativa da abertura do dossel com o auxlio de uma grade com 36 quadrculas de um centmetro quadrado registrandose o nmero de cruzamentos cobertos por vegetao. Os dados de abertura foram transformados para porcentagem. Para verificar a relao entre distncia da borda com nmero de indivduos e porcentagem de abertura de dossel foi utilizado o teste de correlao de Spearman (Stasoft 1996). Resultados e Discusso Nas parcelas de canto (figura 2), foi verificado um maior nmero de indivduos entre 0 e 40 metros, com reduo gradual dos mesmos a partir de 50 metros (rs= - 0,73; p=0,02; n=10). J nas parcelas laterais (figura 3), a maior parte dos indivduos foi encontrada at 50 metros, seguida tambm de reduo gradual a partir de 60 metros (rs= - 0,76; p=0,01; n=10). Isso sugere a ocorrncia de um efeito de borda at pelo menos 40 metros para o interior do fragmento. Tais resultados concordam com o padro de efeito verificado em outros ecossistemas estudados. Em fragmentos florestais da Amaznia, por exemplo, a largura do efeito de borda tambm se estendeu at 40 metros em relao a temperatura e umidade (Kapos, 1989 apud Primack, 1993). De modo geral, no foram observadas diferenas significativas entre os efeitos de borda nas parcelas de canto e laterais (figura 2 e 3). Entretanto, nas regies mais prximas borda (010m) das parcelas de canto foi verificado aproximadamente o dobro de indivduos quando comparado s mesmas regies das parcelas laterais, o que poderia estar relacionado com a maior entrada de luz nos cantos do fragmento.

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20,00 Nmero de Indivduos

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0,00 0-10 10-20 20-30 30-40 40-50 50-60 60-70 70-80 80-90 90-100 Classes de Distncia (m)

Figura 2 Nmero de indivduos de Attalea geraenses e a distncia em relao borda nas parcelas de canto.

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20,00 Nmero de Indivduos

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Figura 3 Nmero de indivduos de Attalea geraenses e a distncia em relao borda nas parcelas laterais. Em relao influncia da luz, no foi registrada associao entre a porcentagem de abertura do dossel e a distncia das palmeiras at a borda (figuras 4 e 5) nas parcelas de canto (rs= - 0,11; p=0,25; n=104) e nas parcelas laterais (rs=0,19; p=0,09; n=81). Essa ausncia de

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relao pode ser explicada pela homogeneidade da cobertura vegetal, visto que os indivduos de Pinus sp. foram plantados a distncias regulares.

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DISTNCIA DA BORDA DO CANTO (m)

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ABERTURA DO DOSSEL (%)

Figura 4 Porcentagem de abertura do dossel e a distncia dos indivduos de Attalea geraenses em relao borda nas parcelas de canto.

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DISTNCIA BORDA LATERAL (m)

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ABERTURA DO DOSSEL (%)

Figura 5 Porcentagem de abertura do dossel e a distncia dos indivduos de Attalea geraenses em relao borda nas parcelas laterais. Um mtodo alternativo que talvez traga resultados mais elucidativos seria a medida absoluta da intensidade luminosa que atinge os indivduos de Attalea. Alm disso poderiam ser

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tomadas medidas de outras variveis que tambm podem evidenciar o efeito estudado, como por exemplo, rea foliar, quantidade de folhas e tamanho (ou porte) de cada indivduo. A partir desses resultados, pode-se concluir que a palmeira da espcie Attalea geraenses apresenta um padro de distribuio diferenciado de borda para interior, uma vez que tende a ser mais freqente na borda. Referncias Bibliogrficas Forman, R.T.T. 1997. Land mosaics: the ecology of landscapes and regions. Cambridge University Press, Cambridge. 632 p. Odum, E.P. 1988. Ecologia. Guanabara, Rio de Janeiro. 434 p. Primack, R.B. 1993. Essentials of Conservation Biology. Sinauer Associates Inc. Massachusetts. 564p. Stasoft, 1996. Statistica for Windows. Programa de computao. Verso 5.1, Stasoft Inc, Tulsa. Zanella, N. 2002. Densidade de Clyomis bishop (Mammalia: Rodentia) e Attalea geraensis (Arecacae) na Estao Ecolgica de Itirapina, SP. Relatrios do Curso Ecologia de Campo 2002.

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Ecologia de Campo 2003 Projetos Orientados

Produtividade primria e distribuio espacial de Mayaca sp. na Lagoa Dourada, Brotas, SP Carla Z. Sandrin, Jos A. Fernandes, Mariana Ferreira, Norberto L. Hlle & Marcelo Pompo Introduo Diferentemente de sistemas profundos em que o fitoplncton, o zooplncton e o benton so as comunidades chaves, em sistemas rasos com penetrao de luz at o fundo a comunidade de macrfitas a principal geradora de biomassa (Esteves, 1950). As macrfitas so importantes componentes dos ecossistemas aquticos, podendo contribuir de maneira significativa para a produtividade primria e para a regulao do metabolismo dos mesmos (Pompo & MoschiniCarlos, 1997). Vrios fatores ambientais tm importncia fundamental no controle da produtividade primria dos ecossistemas aquticos, dentre os quais a penetrao de luz parece ser de alta importncia (Tundisi & Matsumura-Tundisi, 1976 apud Pompo & Moschini-Carlos, 1997) como tambm a quantidade de nutrientes disponvel no sistema. As comunidades de plantas nos ecossistemas aquticos so formadas por assemblias caractersticas de espcies que se encontram em equilbrio em termos de riqueza e abundncia, ocupando stios relativamente homogneos (Best, 1988 apud Pompo & Moschini-Carlos, 1996). Objetivos Este projeto teve como objetivo verificar a relao da produtividade primria de Mayaca sp com as profundidades da coluna de gua (penetrao luminosa), e o efeito dessa relao na distribuio espacial dessa espcie. Material e Mtodos Esse estudo foi realizado na Lagoa Dourada (22o11S e 47o55W), localizada no Municpio de Brotas, So Paulo. A lagoa apresenta uma cobertura de macrfitas aquticas submersas, com diferentes espcies, dentre elas Mayaca sp. Para a determinao da produtividade primria da Mayaca sp foi empregado o mtodo dos frascos claros e escuros com a posterior determinao do teor de oxignio dissolvido pelo

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mtodo adaptado de Winkler (Pompo & Moschini-Carlos, 1996). Devido s condies de trabalho, foi utilizado a medida de peso fresco no lugar de peso seco. Amostras de gua subsuperficial foram coletadas em frascos transparentes de aproximadamente 250 ml sendo que, no momento da coleta, uma das amostras foi fixada com 2 ml de sulfato manganoso e 2 ml de azida para determinao do teor de oxignio inicial (frasco inicial - FI). Em cada frasco de incubao foi adicionado um ramo da Mayaca sp com cerca de 10 cm de comprimento. Esses ramos foram coletados na margem e lavados com gua do local. Foram incubados um frasco claro (FC) e um escuro (FE, frasco embrulhado com papel alumnio visando impedir a penetrao da luz) para cada profundidade, 0, 0,5, 2 e 4m, respectivamente. Os sistemas foram ento incubados por um perodo de 2 horas. Aps o perodo de incubao as macrfitas foram removidas e as amostras fixadas como descrito para FI. Para a obteno do teor de oxignio foi realizada titulao das amostras com sulfato de sdio e os valores de produtividade primria lquida (PPL), respirao (R) e produtividade primria bruta (PPB) foram estimados a partir das equaes: PPL = (FC-FI) x (VC x 0,312 x 103)/(t x PFC x 103) mgC/mgPS/h R = (FI-FE) x (VE x 0,312 x 103)/(t x PFE x 103) mgC/mgPS/h PPB = PPL + R mgC/mgPS/h sendo: VC = volume do frasco claro (ml) VE = volume do frasco escuro (ml) PFC = peso fresco da macrfita no frasco claro (mg) PFE = peso sfresco da macrfita no frasco escuro (mg) Para descrever a distribuio espacial da espcie foram coletadas amostras do fundo do lago com uma draga de 20 x 20cm a cada 10 metros ao longo de uma transeco de 120m de comprimento que cruzava o lago no sentido norte-sul. A profundidade a cada ponto foi determinada utilizando-se o prprio cabo da draga. A existncia de relao entre a ocorrncia de macrfitas e a profundidade foi analisada pelo teste de Mann-Whitney. As amostras foram triadas para o levantamento da riqueza de macrfitas.

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Para obteno de vrios parmetros relevantes a estudos limnolgicos como temperatura, oxignio dissolvido, pH e condutividade da gua em vrias profundidades foi utilizada uma sonda multiparmetro. Resultados e Discusso Como podemos visualizar na tabela I os dados obtidos para respirao apresentam valores negativos, o que no esperado, uma vez que isso reflete um maior teor de oxignio no frasco escuro do que no frasco inicial, ou seja, aps a respirao haveria mais oxignio dissolvido do que na condio inicial do sistema. J os valores obtidos para PPL (tabela I), ainda que positivos, no devem ser considerados, uma vez que provavelmente ocorreu inadequao do mtodo s condies do experimento indicada pelos valores negativos de respirao. Tabela I Valores de produtividade primria lquida (PPL), respirao (R) e produtividade primria bruta (PPB) para as diversas profundiades. Profundidade (m) 0 0,5 2 4 PPL 0,04 0,09 0,06 0,09 R -0,10 -0,55 -0,01 -0,04 PPL+R -0,06 -0,46 0,05 0,05

Os resultados acima podem ser explicados em parte pela baixa condutividade eltrica medida nas amostras de gua do lago, da ordem de 1,7mS/cm na superfcie. A ttulo de comparao, a gua destilada apresentou valor de 1,11mS/cm. Como a condutividade eltrica reflete o teor de ons na coluna de gua, os baixos valores medidos indicam reduzidos teores de nutrientes dissolvidos. Baseado nisso pode-se dizer que provavelmente o tempo de incubao empregado tenha sido excessivo, esgotando os reduzidos teores de nutrientes presentes nos frascos de incubao e refletindo nos valores muito prximos do teor de oxignio entre os tratamentos (claro, escuro e inicial), e no caso da respirao apresentando valores negativos e nulos. Nesse caso, mtodos alternativos poderiam ser empregados na tentativa de determinao da PPL, como marcao com 14C. Para testar a idia de que os nutrientes seriam o fator limitante de produtividade primria poder-se-ia repetir o experimento enriquecendo o meio, em sistemas separados, com nutrientes como nitrognio e fsforo.

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importante ressaltar que os valores de condutividade refletem apenas o teor de nutrientes livres na coluna de gua, o que no significa necessariamente uma baixa quantidade de nutrientes no sistema. Em diversos sistemas, a ciclagem de nutrientes entre os organismos muito rpida, mantendo o teor dos mesmos reduzidos em outros estratos do sistema. Outra explicao para esses valores poderia ser a fisiologia dos indivduos utilizados, que talvez no se encontrassem em condio tima realizao de fotossntese, como em senescncia. Para a distribuio espacial das macrfitas encontradas (U=0,00; p=0,01; n=10), bem como para Mayaca (U=1,00; p=0,03; n=10) foi observada relao entre o padro de distribuio e a profundidade (figura 1), sugerindo que a profundidade explica a distribuio das macrfitas. Em sistemas desse tipo, a profundidade um indicativo da luminosidade penetrante, que nesse caso, apesar de atingir o fundo da lagoa, decresce gradativamente. Todos os indivduos foram coletados entre 1,5 e 3,5m de profundidade, independente da margem, sendo que na margem norte no foram encontradas macrfitas no ltimo ponto da transeco (110m) provavelmente devido atividade antrpica de remoo da cobertura para atividades recreativas. Mayaca se restringiu faixa entre 1,5 e 2,5m. Por no ter sido possvel estimar a produtividade primria, a relao dessa com a profundidade de ocorrncia de Mayaca no pde ser determinada, entretanto, foi verificada uma relao significativa entre a distribuio de Mayaca e a profundidade do fundo da lagoa, sugerindo que a variao de luminosidade que atinge o fundo seja o fator explicativo desse padro.

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distncia da margem sul (m) 0 0 profundidade (m) 1 2 3 4 5 6Mayaca sp Sp A Sp B Sp C

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Figura 1 Perfil da lagoa ilustrando as profundidades obtidas ao longo da transeco bem como a zonao das macrfitas.

Referncias Bibliogrficas Esteves, F. A. 1950. Fundamentos de limnologia. 575pp. Intercincia, Rio de Janeiro, RJ. Pompo, M. L. M. & Moschini-Carlos, V. 1996. Seasonal variation in the density of the macrophyte Scirpus cubensis Poepp & Kunth (Cyperaceae) in the Lagoa do Inferno, State of So Paulo, Brazil. Limntica, 12(1):17-23. Pompo, M. L. M. & Moschini-Carlos, V. 1997. Produtividade primria da macrfita aqutica submersa livre Utricularia gibba L. na Lagua Dourada (Brotas, SP). Acta Limnologica Brasiliensia 9:1-9.

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Ecologia de Campo 2003 Projetos Orientados

Influncia

da

estrutura

da

vegetao

na

abundncia

do

macuquinho-de-colar

(Melanopareia torquata) na Estao Ecolgica de Itirapina, SP Cibele Bragagnolo, Dennis D. Beyer, Olidan P. Simes & Pedro Develey Introduo No Brasil, as formaes de cerrado abrigam uma fauna diversa de aves, representadas por 837 espcies, includas em 64 famlias (Silva, 1995). A Estao Ecolgica de Itirapina, cuja vegetao predominante de cerrado sensu lato, abriga diversas espcies de aves endmicas Nogueira et al.(2001) e ameaadas de extino (So Paulo, 1998), entre elas, Melanopareia torquata. Segundo Ridgely & Tudor (1994), M. torquata uma espcie tpica de cerrado, ocorrendo no Par, Piau, Bahia, Gois, Mato Grosso, Minas Gerais e So Paulo, encontrada em Campos Limpos, Campos Sujos e Campos Cerrados. Entretanto, ocorre mais freqentemente em Campos Cerrados que nas demais fisionomias (Sick, 1997). Ridgely & Tudor (1994) relatam que a espcie rara em Campo Limpo. Desloca preferencialmente pelo solo, em alturas baixas, entre a vegetao (Sick, 1997). Esta caracterstica tambm foi encontrada em observaes anteriores sobre a espcie, onde foi notado o deslocamento entre os arbustos e touceiras, bem como o freqente empoleiramento em arbustos emergentes do estrato herbceo-graminoso, porm no muito distantes do solo (P. Develey, com. pess.). Objetivo Com base na literatura sobre o comportamento e o habitat de M. torquata, foi realizada uma anlise comparativa da abundncia desta espcie em trs fisionomias de cerrado (Campo Limpo, Campo Sujo e Campo Cerrado), em funo de alguns parmetros descritores da vegetao, com o objetivo de verificar a influncia da estrutura da vegetao sobre a abundncia da ave. Material e Mtodos A Estao Ecolgica de Itirapina possui 2.300 ha, situada a 2215 S e 4749 W, a 762 m de altitude, sob o clima CWA de Koeppen (Mantovani, 1985). As formaes vegetais que

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ocorrem na estao so mata-galeria, campos e cerrado, com predominncia desta ltima formao (Mantovani, 1987). Este estudo concentrou-se nas reas de Campo Limpo, Campo Sujo e Campo Cerrado. Para a obteno dos dados de abundncia de Melanopareia torquata foram empregados dois mtodos, Ponto Fixo e Play-Back. No mtodo do Ponto Fixo (Ralph et al, 1993), foi estabelecido um transecto de 1.200m em cada uma das fisionomias estudadas. Foram amostrados seis pontos por fisionomia, e estabelecido uma distncia de 200m entre cada ponto amostrado. Permaneceu-se cinco minutos em cada ponto, e foi anotado a ocorrncia dos contatos com a espcie (visual e/ou auditivo) num raio de 100m. O mtodo de Play-Back consistiu em reproduzir a vocalizao da espcie em estudo durante 30 segundos e registrar uma possvel resposta num intervalo de dois minutos. Para a anlise da vegetao foi delimitado, de maneira aleatria, uma parcela fixa de 5m2 em cada ponto amostrado, perfazendo um total de seis parcelas por transecto no Campo Sujo e Campo Cerrado, sendo somente trs no Campo Limpo. Em cada parcela, foram analisados os seguintes parmetros: (1) porcentagem de solo exposto, estimado visualmente; (2) nmero de arbustos adequados, considerados aqui como aqueles que esto enquadrados nas caractersticas que favorecem o empoleiramento da espcie com base em observaes pessoais anteroores ( pouca densidade foliar e emergentes do estrato herbceo-graminoso, porm no muito distantes do solo) e (3) densidade do estrato herbceo-graminoso, estimado a partir da mediana do nmero de contatos da vegetao em uma vareta inserida em cinco pontos de cada parcela (uma em cada canto e uma no centro). Para a escolha de tais parmetros foi considerado o hbito comportamental da espcie. Foi realizado um teste de correlao de Spearman (Zar, 1996) para os parmetros da descritivos em seis pontos da vegetao (Statistica v.5.0). Resultados O nmero de contatos de Melanopareia torquata foi igual entre as fisionomias de Campo Limpo e Campo Sujo (0,33) enquanto que para a fisionomia de Campo Cerrado a freqncia observada foi superior (0,67). Um padro similar foi obtido atravs do mtodo de Play-Back, onde o numero de respostas no Campo Cerrado foi superior s demais fisionomias (Tabela I).

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Tabela 1. Freqncia de contatos e nmero de respostas de Melanopareia torquata, em trs fisionomias de cerrado da E.E. Itirapina. Fisionomias Campo Limpo Campo Sujo Campo Cerrado Freqncia Contatos 0.33 0.33 0.67 Nmero de Respostas 0 1 2

A anlise dos parmetros da vegetao mostrou que h um declnio da densidade do estrato herbceo-graminoso no gradiente C. Limpo, C. Sujo e C. Cerrado, respectivamente. Por outro lado, o nmero de arbustos observados e a porcentagem de solo exposto apresentou uma tendncia oposta, aumentando significativamente no gradiente de fisionomias (Tabela II). Tabela 2. Parmetros da estrutura da vegetao obtidos para as fisionomias amostradas. Fisionomias Campo Limpo Campo Sujo Campo Cerrado Densidade Min / Max N Arbustos 19.00 10.00 5.00 12 / 32 4 / 24 0 / 17 0.67 1.83 8 E.P. 0.67 0.75 1.09 Solo Exposto (%) 11.67 20.83 35.00 E.P. 1.67 7.23 4.28

A anlise de correlao entre o nmero de arbustos e a porcentagem do solo exposto, considerando-se todas as fisionomias, apresentou um valor baixo e no foi significativo (r = 0,43; n = 15; p = 0,10). No h associao entre a mediana da densidade e o nmero de arbustos (r = -0,35; n = 15; p = 0,206). Por outro lado, houve uma associao negativa entre a mediana da densidade e a porcentagem de solo exposto (r = -0,63; n = 15; p = 0,011). Discusso A maior abundncia de Melanopareia torquata na fisionomia de Campo Cerrado est provavelmente associada s caractersticas da vegetao desta rea. A anlise da vegetao mostrou que no Campo Cerrado h uma densidade menor de gramneas, com uma maior porcentagem de solo exposto. Sabendo-se que esta espcie habita preferencialmente o solo (Sick, 1997), a maior abundncia no Campo Cerrado pode ser explicada pelo aumento da rea livre para o forrageio, pois uma alta densidade da vegetao poderia dificultar a locomoo destes indivduos. Alm disso, no Campo Limpo e no Campo Sujo, o nmero de arbustos relativamente menor que no Campo Cerrado, o que tambm deve influenciar na ocorrncia da

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espcie, que freqentemente empoleira nestes arbustos. Esse comportamento foi claramente detectado durante o estudo, numa observao de aproximadamente 10 minutos no Campo Cerrado, onde o indivduo locomoveu pelo solo ou prximo a ele, e por diversas vezes empoleirou em pequenos arbustos. Portanto, apesar das analises terem sido realizadas com um nmero pequeno de indivduos, o que impossibilita o julgamento da confiabilidade dos resultados, este apresentou tendncias que coincidem com os dados disponveis na literatura e tambm com as observaes em campo j realizadas. Referncias Bibliogrficas Ridgely, R. & Tudor, G. The Birds of South America. 1994. 6 ed, vol.2. University of Texas Press. Austin. Sick, H. 1997. Ornitologia brasileira. pp. 519-554. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, RJ. Silva, J.M.C. 1995. Birds of the cerrado region, South America. Steenstrupia 21: 69-92. So Paulo, 1998. Lista das espcies ameaadas de extino no Estado de So Paulo. SEMA. PrBio. So Paulo, SP. Zar, J.H.1996. Biostatistical Analysis. 3th ed. Prentice-Hall International, Inc. Nogueira, A. , Quijada, C.C.D., Zanella, N, Azevedo, R. C. & Develey, P. 2001.Diversidade da avifauna em trs fisionomias vegetais na Estao Ecolgica de Itirapina, So Paulo. Relatrio do curso de Ecologia e campo, Universidade de So Paulo Mantovani, W. 1985. Anlise florstica e fitossociolgica do estrato herbceo-subarbustivo do cerrado na Reserva Biolgica de Mogi-Gua e em Itirapina, SP. Tese apresentada ao Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas-SP.

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Ecologia de Campo 2003 Projetos Orientados

Efeito da densidade sobre a produo de flores em uma espcie de gramnea na Estao Ecolgica de Itirapina Cibele Bragagnolo, Dennis D. Beyer, Olidan P. Simes & Jlio C. Voltolini Introduo Os modelos tericos que explicam a dinmica e a abundncia das populaes derivam em sua maior parte de estudos experimentais clssicos que tiveram o objetivo de investigar o efeito do aumento da densidade sobre a aptido darwiniana; o tamanho de prole e a sobrevivncia (Begon 1986 e Krebs 1994). Com o aumento da densidade as populaes podem se ajustar a dois diferentes modelos tericos quanto a competio. Primeiro, as diferenas na aptido sob diferentes densidades podem ocorrer devido a competio, pois o crescimento de uma populao limitado pelo esgotamento de recursos, uma vez que no existe um estoque infinito dos mesmos. Populaes em baixa densidade, em ambientes onde os recursos no so limitantes, tendem a apresentar alta taxa reprodutiva e grande tamanho de prole (Harper, 1990). Com o aumento progressivo da densidade e o esgotamento dos recursos pode-se observar uma estabilizao no tamanho de prole ou mesmo um declnio desta e da sobrevivncia (Larcher, 2000). Segundo, se no h competio o aumento do tamanho da prole ocorre em conjunto com o aumento da densidade, ou seja um aumento linear sem declnio da aptido (Begon, 1986; Harper, 1990; Krebs, 1994). Deste modo, pode-se testar os dois modelos de variao de aptido com populaes em diferentes densidades, na avaliao da variao na sobrevivncia da prole e produo de sementes. Em plantas perenes, como por exemplo Trifolium subterranium, o aumento da densidade de indivduos promove uma diminuio da produo do nmero de sementes, do peso mdio da semente e da viabilidade desta (Donald, 1951 apud Harper, 1990). Em plantas anuais, como por exemplo trigo, o aumento da densidade apresenta forte associao com a diminuio da biomassa e da altura das espigas, bem como com a diminuio no nmero de espiguilhas por espiga. Alm disso, o nmero total e o peso de sementes por espiga apresenta diminuio significativa para indivduos ocorrendo em populaes de alta densidade (Clements et al, 1929 apud Harper, 1990).

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Objetivo O objetivo do presente trabalho investigar se existe associao entre a densidade de indivduos e o numero de flores sendo que, o esperado em case de competio seria que o numero de flores diminusse com o aumento da densidade. Metodologia O estudo foi realizado na Estao Ecolgica de Itirapina, localizada nos municpios de Itirapina e Brotas, Estado de So Paulo (2215 S, 4749 W). A Estao possui cerca de 2.300 ha, apresentando vegetao composta principalmente por fisionomias de campo limpo, campo sujo, campo cerrado e mata de galeria (Mantovani, 1987). O estudo concentrou-se na rea de campo limpo. Utilizou-se como objeto de estudo uma espcie de gramnea de ocorrncia freqente em diversas reas da E.E. Itirapina. Devido a densidade varivel. Para a realizao da amostragem foi determinada uma rea de Campo Limpo, na qual foram escolhidos 33 touceiras com nmero de indivduos reprodutivos (que apresentavam hastes com flores) entre 5 e 10, considerados como touceiras de baixa densidade e 33 touceiras com nmero de indivduos reprodutivos de 25 a 50, considerados como touceiras de alta densidade. Para cada touceira tomou-se o nmero de hastes e para cada haste contou-se o nmero de flores. A amostragem foi realizada ao longo da estrada principal da reserva em pontos intercalados a cada 30 a 40 metros entre si. Utilizou-se uma anlise grfica para investigar a linearidade da associao entre a densidade de indivduos e o nmero total de flores por touceira. Resultados O nmero de flores por indivduo (haste) no diminuiu com o aumento da densidade, mantendo-se aproximadamente entre 50 e 70 flores. Alm disso, foi observado que com o aumento da densidade, h um aumento da variao no nmero de flores por indivduo. Mesmo em nveis muito elevados de densidade, a produo de flores se manteve na mdia observada em todas as densidades (figura 1). existncia de propagao vegetativa atravs de rizomas, esta espcie assume uma distribuio agregada, formando touceiras conspcuas, de

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108 Mdia + 2*EP Mdia - 2*EP Mdia + EP Mdia - EP Mdia

98

88

Nmero de Flores

78

68

58

48

38

5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59 61 63 65 67 69 71 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70 72

Densidade

Figura 1: Relao entre a densidade de indivduos e o nmero mdio de flores.

Discusso Ao contrrio do esperado se ocorresse competio intra-especfica, os resultados mostraram uma constncia no nmero de flores por indivduo, mesmo com o aumento da densidade. A partir disso, possvel sugerir que no esteja ocorrendo competio intraespecfica entre os indivduos da touceira. Uma possvel explicao deste resultado que estas touceiras no tenham esgotado os recursos, no atingido o limiar da capacidade suporte e, desta forma, os recursos do solo no estariam atuando de forma limitante no crescimento do nmero de flores. O aumento da variao do numero de flores por indivduo em touceiras de alta densidade pode estar refletindo possveis manchas de recurso, ou seja, uma heterogeneidade no padro de distribuio espacial destes. preciso levar em considerao uma possvel influncia de alguns parmetros que no foram includos na amostragem, como por exemplo a desconsiderao da rea das touceiras, parmetro necessrio para uma melhor inferncia da densidade de indivduos dentro da touceira.

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A escolha da poca de amostragem pode ainda no ter sido a mais adequada, uma que vez a anlise foi realizada com a inflorescncia, sem a semente. Referncias Bibliogrficas Begon, M. 1986. Population Ecology: a unified study of animals and plants. 2 ed. Blackwell Scientific Publications, Oxford. Harper, J. L. 1990. Population biology of plants. Academy Press, London. Krebs, C. J. 1994. Ecology: The experimental analysis of distribution and abundance. 4.ed. Harper Collins College Publishers. EUA,New York. Larcher, W. 2000. Ecofisiologia Vegetal. Rima, Brasil, So Carlos. Mantovani, W. 1987. Anlise florstica e fitossociolgica do estrato herbceo-arbustivo do cerrado na Reserva Biolgica de Mogi-Gua e em Itirapina, S.P. Tese apresentada ao Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas, S.P.

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Ecologia de Campo 2003 Projetos Orientados Estimativa da Biomassa de Eleocharis sp. na Lagoa Dourada, Brotas, SP: um estudo comparativo entre mtodo destrutivo e no destrutivo Carlos R. Bertim, Cristiane Rensi, Rodrigo R. Scartozzoni & Marcelo Pompo Introduo As macrfitas aquticas so importantes componentes limnicos, podendo contribuir de maneira significativa para a produtividade primria e para a regulao do metabolismo dos ecossistemas aquticos. Em lagos rasos com penetrao de luz ate as camadas mais profundas, as macrfitas aquticas podem representar uma parcela significativa dos produtores de matria orgnica (Esteves, 1988). Os estudos limnolgicos sempre requerem uma fase preliminar de anlises para poder verificar e quantificar as variveis a serem estudadas. H vrios mtodos de coleta para se estimar a biomassa de comunidade de macrfitas aquticas. A maioria dos mtodos empregam amostragem destrutiva da vegetao, e o material coletado levado ao laboratrio, processado e pesado. Esses mtodos podem causar danos irreparveis estrutura da vegetao aqutica. Para minimizar esses danos podemos determinar a biomassa vegetal atravs de tcnicas indiretas que consistem na quantificao de variveis biomtricas da planta, para posterior estimativa de sua biomassa. Para isso so utilizadas equaes matemticas que relacionam o peso com as variveis analisadas (e.g. comprimento e dimetro foliar ou nmero de indivduos) de indivduos similares coletados previamente no ambiente (Pompo & Henry, 1996; Pompo et al., 1999; Pompo & Moschini-Carlos, no prelo). Objetivo Este trabalho teve como objetivo principal comparar os mtodos destrutivo e no destrutivo na quantificao de biomassa de Eleocharis sp., a fim de evitar impactos na vegetao. Material e Mtodos A Lagoa Dourada (22 11 S e 45 55 W) um pequeno reservatrio localizado no municpio de Brotas (SP), prximo a represa do Lobo. Em funo da penetrao da luz at o

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fundo do reservatrio, uma exuberante cobertura de macrfitas aquticas submersas pode ser observada, principalmente Mayaca sp. e Eleocharis sp. (Pompo & Moschini-Carlos, 1997). O clima da regio mesotrmico com uma estao seca entre abril e setembro (32 a 88 mm mensais) e uma estao mida entre outubro e maro (117 a 257 mm mensais); as temperaturas mdias mensais oscilam entre 16 oC e 20oC na estao seca, e 20 oC e 22 oC na estao mida.(valores obtidos junto a DAEE, Posto D4-014, Itirapina, SP). Para estimar a biomassa de Eleocharis sp. foram utilizados 3 mtodos: (1) contagem cumulativa das hastes; (2) medidas dos comprimentos das hastes e (3) mtodos dos quadrantes. A coleta de dados seguiu as seguintes etapas: i) as hastes coletadas foram aquelas expostas acima da lamina da gua, as quais foram cortadas com o auxlio de tesoura; ii) foram separadas as hastes nas fraes vivas e mortas. Para tanto, foi considerado frao morta a haste que se apresentava seca em mais de 25% de sua extenso; iii) medidas de comprimento e peso fresco das hastes foram feitas com auxlio de rgua milimetrada e balana eletrnica, respectivamente (Pompo, comunicao pessoal). Para quantificar a biomassa utilizando o parmetro da contagem cumulativa foram coletadas 465 hastes e foram registrados os valores de peso fresco de cada conjunto: 1 indivduo, 2 indivduos, at 30 indivduos sucessivamente. Utilizando o parmetro de comprimento foram coletadas 30 hastes, que foram medidas e pesadas separadamente. E, atravs do parmetro dos quadrantes foram utilizados dois valores distintos de rea (0,25 e 0,0625m2), onde para cada um foram realizadas trs unidades amostrais. As hastes coletadas estavam situadas acima da lamina da gua e dentro dos quadrantes. Posteriormente, cada haste foi medida e foram pesadas as fraes viva em conjunto, separadamente da frao morta. Foram aplicados tratamentos estatsticos de regresso linear simples e calculados seus respectivos coeficientes de determinao (Zar, 1996). As equaes das retas obtidas sero instrumentos na determinao da viabilidade da utilizao de mtodos no destrutivos. Resultados Os valores do parmetro nmero cumulativo de hastes vivas e mortas e os valores de peso fresco foram relacionados positivamente atravs da reta de regresso (r2 = 0.97; p=0,00; n = 30), apresentando a seguinte equao de reta: Y = - 0.173 +0.151X (Figura 1).

28

5

4

Peso fresco (g/m2)

3

2

1

0

0

5

10

15

20

25

30

35

Numero de Individuos

Figura 1: Relao entre nmero cumulativo de indivduos e peso fresco (g/m2) dos conjuntos (pesagens sucessivas) de fraes vivas e mortas de Eleocharis sp. (r2 = 0.97; p = 0,00; n = 30). Valores do parmetro altura de hastes vivas e mortas juntas e os valores de peso fresco foram relacionados atravs da reta de regresso (r2 = 0,08; p = 0,13; n = 30), apresentando a seguinte equao de reta: Y = 0.088 + 0.004X (Figura 2).

0.36

0.30

0.24 Peso fresco (g/m2)

0.18

0.12

0.06

0.00

7

11

15 Comprimento (cm)

19

23

27

Figura 2: Relao entre peso fresco (g/m2) e comprimento (cm) das hastes de fraes vivas e mortas (r2 = 0,08; p = 0,13; n = 30).

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Uma vez que para os valores de peso vivo e morto juntos no foi encontrada uma relao entre os valores, foram separadas as fraes viva e morta e submetidas novamente ao mesmo tratamento estatstico separadamente nas duas fraes. O tratamento apresentou as seguintes equaes de reta Y = 0.064 + 0.003X ( r2= 0,08; p = 0,34; n = 13) para frao morta (Figura 3), e Y = 0.029 + 0.013X (r2 = 0,64; p = 0,00; n = 17) para frao viva (Figura 4), sendo que apenas para esta ltima houve relao positiva. A partir das equaes de reta para os parmetros nmero cumulativo e comprimento da frao viva, foi possvel estimar valores de biomassa de Eleocharis sp. (Tabelas 1 e 2).

0.24

0.20

0.16 Peso fresco (g/m2)

0.12

0.08

0.04

0.00

7

11

15 Comprimento (cm)

19

23

27

Figura 3: Relao entre peso fresco (g/m2) e comprimento (cm) das hastes de fraes mortas (r2 = 0,08; p = 0,34; n = 13).

30

0.34

0.28

Peso fresco (g/m2)

0.22

0.16

0.10

0.04

7

9

11

13

15

17

19

21

Comprimento (cm)

Figura 4: Relao entre peso fresco (g/m2) e comprimento (cm) das hastes de fraes vivas (r2 = 0,64; p = 0,00; n = 17).

Tabela 1: Valores reais e estimados (g/m2) a partir da equao obtida na regresso entre nmero cumulativo das hastes e peso fresco. Quadrante de 0,250 m2 Frao real #1 #2 #3 23.96 24.01 39.99 viva estimado 24.08 20.44 30.72 real 14.73 7.64 30.71 morta estimado 18.64 7.16 30.72 real 54.24 63.92 36.36 Quadrante de 0,625 m2 viva estimado 40.72 31.85 28.64 Real 47.58 15.52 30.48 morta estimado 52.96 18.97 52.80

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Tabela 2: Valores reais e estimados (g/m2) a partir da equao obtida na regresso entre comprimento das hastes vivas e peso fresco. Frao viva Quadrante de 0,250 m2 real #1 #2 #3 23.96 24.01 39.99 estimado 28.80 24.36 30.80 Quadrante de 0,625 m2 real 54.24 63.92 36.36 estimado 48.32 51.04 38.88

Discusso Qualquer estudo descritivo em limnologia requer uma quantificao da biomassa vegetal, por isso mtodos no destrutivos se tornam importantes para reduzir custos e impacto ambiental e nos experimentos em que a preservao e integridade da vegetao so essenciais. Foi verificado que o parmetro nmero de indivduos pode ser bom estimador de biomassa em mtodos no destrutivos. O parmetro comprimento poder ser um estimador de biomassa se a frao viva for utilizada em separado. Estudos posteriores que visem estimar a biomassa de macrfitas, a partir dos parmetros aqui utilizados, devem ser conduzidos utilizando-se valores de peso seco das pores e com nmeros amostrais maiores, aumentando assim a confiabilidade dos mtodos utilizados para a estimativa da biomassa. Referncias Bibliogrficas Esteves, F. A. 1988. Fundamentos de Limnologia. Ed. Intercincia, Rio de Janeiro, RJ. 573 pp. Pompo, M.L.M. & Henry, R. 1996. Biometria de lminas foliares e entrens caulinares da macrfita aqutica Echinochloa polystachya (H.B.K.) Hitchcock na zona de desembocadura do rio Paranapanema na represa de Jurumirim, SP. Naturalia 21: 147-157. Pompo, M.L.M. & Mosichini-Carlos, V. 1997. Produtividade primria da macrfita aqutica submersa livre Utricularia gibba L. na lagoa dourada (Brotas, SP). Acta Limnol. Brasil. 9: 1-9. Pompo, M.L.M. & Mosichini-Carlos, V. (no prelo). Macrfitas aquticas e perifiton: aspectos ecolgicos e metodolgicos. So Carlos, Ed. Rima.143pp.

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Pompo, M.L.M. Mosichini-Carlos, L.& HENRY, R. 1999. Growth of tropical helophyte Echinochloa polystachya (H.B.K.) Hitchcock in Jurumirim reservoir (So Paulo, Brazil). Acta Biol. Venez. 19 (4): 1-8. Zar, J. H. 1996. Bioestatistical analysis. Prentice-Hall, New Jersey. 662pp.

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Ecologia de Campo 2003 Projetos Orientados

Comportamento do tico-tico (Zonotrichia capensis) associado a bandos mistos de aves no campo cerrado Carlos R. Bertim, Cristiane Rensi, Rodrigo R. Scartozzoni & Pedro Develey Introduo A espcie Zonotrichia capensis (sub-familia Emberezinae) um pssaro de pequeno porte (cerca de 15 cm de comprimento) e popularmente conhecido como tico-tico. Apresenta um pequeno topete, com padro de colorao estriado na cabea e um colar ferrugineo, caractersticos da espcie. encontrado em todas as regies do Brasil, predominando em paisagens abertas, como campos de cultura, fazendas, e no ocorrendo em ambientes florestados. Seu habitat tem sido aumentado constantemente pelo desmatamento, tornando-o sinantropo (Sick, 1997). Na Estao Ecolgica de Itirapina, ele encontrado abundantemente, com maior ocorrncia no campo cerrado. De modo geral, sua dieta constituda de gros e insetos, e tem como principal predador aves de rapina (por exemplo, gavies e corujas). Podem ser encontrados em casais ou em pequenos grupos ou ainda em associaes com bandos mistos (Sick, 1997). Um bando misto pode ser definido como uma relao interespecfica harmnica onde vrias espcies de aves se agregam. A formao destes bandos observada em quase todas as famlias de aves na regio neotropical durante o ano todo, e apresenta como significado adaptativo a proteo contra predao e conseqente maximizao do forrageio (Munn, 1986). A vida em grupos pode ser benfica para os indivduos devido ao efeito de diluio (Alcock, 1993). As taxas de captura por um predador so menores quando estes grupos so maiores; indivduos de grupos pequenos so mais facilmente predados. Alm disso, alguns grupos apresentam espcies sentinelas em sua composio. A presena destas espcies no bando pode conferir proteo extra devido aos gritos de alarme que emitem quando um predador se aproxima (Munn, 1986). Objetivo Este projeto teve como objetivo verificar possveis diferenas no comportamento do ticotico, Z. capensis, quando associado ou no a bandos mistos.

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Material e Mtodos Os dados foram obtidos a partir de transectos feitos ao longo das bordas e reas de campo cerrado, durante um tempo total de 3 horas. Assim que um tico-tico era avistado, foi registrado: se estava associado ou no com um bando; qual a altura em relao ao solo em que ele se encontrava; e, por fim, qual o deslocamento horizontal e vertical observado durante 1 minuto. Para avaliar possveis diferenas comportamentais do tico-tico quando associado ou no a bandos mistos, foram considerados os seguintes parmetros: altura do animal em relao ao solo e padro de movimento que foi medido como deslocamento horizontal e vertical.Foi estabelecido como deslocamento horizontal o raio (amplitude) de deslocamento, e como deslocamento vertical, a amplitude entre as alturas inicial e final. Foi aplicado o teste de Mann-Whitney para verificar diferenas entre os dois grupos (associado ou no ao bando) em relao a cada um dos parmetros medidos (Zar, 1996). Resultados Durante os transectos foram observados um total de 16 tico-tico, sendo 8 associados a bandos mistos e 8 no associados. Os pssaros associados a bandos apresentaram menores valores mdios de altura e maiores valores de deslocamento tanto horizontal como vertical, em relao aos resultados de pssaros sem bando, sendo que o nico parmetro que apresentou diferena dos valores dos grupos foi o deslocamento vertical (ver tabela 1). Tabela 1: Valores mdios e erro padro (em metros) das variveis medidas dentro dos grupos em estudo, com seus respectivos valores de significncia. Grupos Sem Bando (n=8) Com Bando (n=8) Mann-Whitney Altura 2.19 0.53 1.44 0.53 U = 23,00; p = 0.34 Deslocamento Horizontal 6.75 3.66 14.87 5.67 U = 20,00; p = 0.21 Deslocamento Vertical 0.25 0.25 1.94 0.36 U = 43,00; p = 0.01

Discusso O fato de ter sido encontrado um valor de altura menor para os pssaros associados a bandos mistos devido a maior freqncia de utilizao no solo em relao aos indivduos

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sozinhos que provavelmente procuram proteo nas copas das rvores o que pode dificultar a sua localizao e acesso do predador. O mesmo aplicado para o valor mais alto de deslocamento vertical observado para indivduos associados aos bandos. Estes indivduos poderiam aproveitar para arriscar mais descidas ao solo para explorao de recursos alimentares, contando com a maior proteo propiciada pelo efeito de diluio (Alcock, 1993) e pela presena de espcies sentinelas no bando (Munn, 1986). O maior valor de deslocamento horizontal pode ser explicado de acordo com a necessidade do tico-tico em acompanhar o bando misto, tendo que se deslocar assim que o bando avana. Somente foi encontrada diferena entre os grupos para o deslocamento vertical. A no constatao de diferenas entre grupos nos parmetros altura e deslocamento horizontal, pode ser explicada pelo baixo nmero de observaes realizadas e em tempo reduzido, o que ocasionou variao grande nas amostras. No entanto, existe a tendncia de menor altura e maior deslocamento horizontal e vertical do tico-tico quando em presena do bando misto, demonstrando que a espcie se beneficia da associao com bandos mistos provavelmente devido a reduo de predao, maximizando consequentemente seu forrageio. Referncias Bibliogrficas Alcock, J. 1993. Animal behavior: an evolutionary approach. 5. ed. Sinauer Associates, Sunderland, Massachusetts. 625 pp. Munn, C. A. 1986. Birds that cry wolf. Nature, 319: 143-149. Sick, H. 1997. Ornitologia brasileira. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, RJ. 862pp. Zar, J. H. 1996. Bioestatistical analysis. Prentice-Hall, New Jersey. 662pp.

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Ecologia de Campo 2003 Projetos Orientados

Comunidades

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Ecologia de Campo 2003 Projetos Orientados

Relao entre rea foliar e nmero de ramos com permetro do caule em comunidade de lenhosas no campo cerrado na Estao Ecolgica de Itirapina, SP Carla Z. Sandrin, Cristiane Rensi, Dennis D. Beyer & Srgio Tadeu Meirelles Introduo Plantas obtm seus recursos minerais do substrato e muitas das condies que governam sua disponibilidade como recurso para crescimento so similares para aqueles que afetam a gua (Ricklefs, 1996). Desse modo, a raiz pode absorver os minerais provenientes do solo de trs maneiras: pela absoro dos nutrientes contidos na soluo, por meio da troca dos nutrientes inicos adsorvidos e pela mobilizao dos nutrientes quimicamente ligados (Larcher, 2000). Quando um nutriente removido pela raiz, ocorre uma reduo na concentrao local deste e, logo, um gradiente criado possibilitando sua difuso. Aps entrar nas razes, os minerais juntamente com a gua atingem o xilema, sendo distribudos ativamente para a parte area da planta (Harper, 1990). Por diferena de potencial hdrico entre atmosfera e solo, a transpirao gera um fluxo de gua ascendente dentro do xilema, auxiliando a absoro de nutrientes do solo pelas razes (Larcher, 2000). Para que esta condutividade seja mantida, as paredes do xilema no devem apresentar resistncia ao fluxo, evitando a cavitao. Neste processo, a fora de tenso da gua pode ser rompida em locais onde nucleaes esto presentes, havendo a formao de bolhas que podem inativar permanentemente um vaso (Jones, 1986). Com base nestas informaes, o presente trabalho foi proposto partindo-se da premissa que plantas lenhosas de cerrado apresentariam uma relao positiva entre rea foliar, nmero de ramos e com o permetro do caule, uma vez que por se tratar de um ambiente oligotrfico, um investimento em folhas maiores refletiria em uma maior taxa de transpirao, favorecendo o fluxo em massa no xilema para a aquisio de minerais. Alm disso, um maior permetro do caule poderia representar uma maior quantidade de vasos de xilema para a conduo destes nutrientes por toda a planta.

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Objetivo O objetivo do presente trabalho foi verificar as relaes entre rea foliar e nmero de ramos com o permetro do caule em plantas lenhosas no campo cerrado. Material e Mtodos Este estudo foi realizado numa rea de campo cerrado na Estao Ecolgica de Itirapina, So Paulo (2215S; 4749W). Foram feitos 4 transectos de 50 m de extenso, eqidistantes em 20 m, onde foram sorteados aleatoriamente 10 pontos correspondentes metragem do transecto. Em cada um destes pontos, foi escolhida a espcie mais prxima, excluindo-se Leguminosas e de folhas compostas, para medio do permetro do caule na altura do solo, contagem do nmero de ramos terminais portadores de folhas e coleta de 10 folhas para posterior determinao da rea foliar. No laboratrio, foram tomadas medidas de comprimento e largura destas folhas e as espcies foram identificadas (tabela 1). A rea foliar foi estimada conforme a seguir: AF = rL x rc x p, onde: AF = rea foliar; rL = raio da largura; rc = raio do comprimento; p = 3,1416. Os resultados foram analisados estatisticamente atravs de teste de correlao entre os valores mdio, mximo e mnimo da rea foliar e o permetro do caule. O mesmo tipo de anlise foi feito para o nmero de ramos. Ainda, foi realizada uma anlise de regresso mltipla entre todas estas variveis. Tabela 1. Lista de espcies coletadas ao longo dos quatro transectos no campo cerrado. Espcie Aegiphila LhotzKyana Annona dioica Aspidosperma tomentosum Byrsonima coccolobifolia Byrsonima verbascifolia Diosphyros hyspida Eryotheca gracilipes Erythroxylum suberosa Polteria torta Polteria ramiflora Qualea grandiflora Tabebuia aureaNmero de indivduos amostrados

05 05 05 04 01 02 01 01 11 01 01 03

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Resultados Os resultados do teste de correlao entre os valores mdio (r = 0,13), mximo (r = 0,07) e mnimo (r = 0,17, figura 1) da rea foliar e o permetro do caule mostraram tendncia positiva, porm com baixa correlao. J a correlao entre o nmero de ramos e o permetro mostrou-se altamente positiva (r = 0,86, figura 2), ou seja, quanto maior o nmero de ramos, maior o permetro do caule. Em relao anlise de regresso mltipla, que considerou todas as variveis j mencionadas, tambm obteve-se uma forte correlao positiva (per = 0,3 n modulos + 0,13 mdia 0,1 mxima + 0,1 mnimo + 8.05; r = 0,91, R2= 0,83; p