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179 CAPÍTULO VI CITAÇÃO DO RÉU NA EXECUÇÃO FISCAL Marcos Paulo Sandri Sumário: Introdução: particularidades da citação na execução fiscal; 1. Despacho do juiz – Efeitos quanto à prescrição; 2. Pessoas que podem ser citadas; 2.1. Pessoas físicas; 2.2. Pessoas jurídicas; 2.3. Espólio, inventariante e administrador provi- sório; 2.4. Sucessores; 2.5. Massa Falida; 3. Modalidades de citação; 3.1. Citação pelo correio por carta com aviso de recebimento; 3.2. Citação por mandado; 3.3. Citação por edital; 3.4. Citação por hora certa. INTRODUÇÃO: PARTICULARIDADES DA CITAÇÃO NA EXECUÇÃO FIS- CAL Citação, nos termos do art. 213 do Código de Processo Civil (CPC), “é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se defender.” Para Barbosa Moreira, a citação do réu é requisito de validade de qualquer processo, seja de conhecimento, cautelar ou de execução 1 . O comparecimento espontâneo do réu em juízo supre, todavia, a falta de citação (art. 214, § 1º, CPC). Na lição de José da Silva Pacheco, a citação, no processo de execução, visa ao chamamento do devedor para pagar a dívida ou sujeitar-se à constrição forçada sobre seus bens 2 . Diferentemente do processo de conhecimento, por- tanto, no processo de execução, que já vem lastreado por um título executivo, o executado é chamado para pagar a dívida ou sujeitar-se à constrição forçada sobre seus bens, e não para apresentar defesa diante do pedido do autor. Como regra, no procedimento de execução comum a citação do executado é efetuada através de oficial de justiça, por força do disposto no art. 222, “d”, do CPC 3 , a contrario sensu, diversamente do procedimento de execução fiscal, em que o ato processual será levado a cabo preferencialmente pelo correio, por meio de carta com aviso de recebimento. É o que se depreende da leitura 1. MOREIRA, José Carlos Barbosa. O Novo Processo Civil Brasileiro. 22ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2002. p. 27. 2. PACHECO, José da Silva. Comentários à Lei de Execução Fiscal. 12ª ed. São Paulo: Editora Saraiva. 2009. p. 140. 3. “Art. 222. A citação será feita pelo correio, para qualquer comarca do País, exceto: [...] d) nos processos de execução;”

C VI CItação do réu na ExECução FIsCal · do CPC3, a contrario sensu, ... com a interrupção do prazo prescricional - aos despachos de citação que tenham sido proferidos a

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Capítulo VICItação do réu na ExECução FIsCal

Marcos Paulo Sandri

Sumário: Introdução: particularidades da citação na execução fiscal; 1. Despacho do juiz – Efeitos quanto à prescrição; 2. Pessoas que podem ser citadas; 2.1. Pessoas físicas; 2.2. Pessoas jurídicas; 2.3. Espólio, inventariante e administrador provi-sório; 2.4. Sucessores; 2.5. Massa Falida; 3. Modalidades de citação; 3.1. Citação pelo correio por carta com aviso de recebimento; 3.2. Citação por mandado; 3.3. Citação por edital; 3.4. Citação por hora certa.

INTRODUÇÃO: PARTICULARIDADES DA CITAÇÃO NA EXECUÇÃO FIS-CAL

Citação, nos termos do art. 213 do Código de Processo Civil (CPC), “é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se defender.”

Para Barbosa Moreira, a citação do réu é requisito de validade de qualquer processo, seja de conhecimento, cautelar ou de execução1. O comparecimento espontâneo do réu em juízo supre, todavia, a falta de citação (art. 214, § 1º, CPC).

Na lição de José da Silva Pacheco, a citação, no processo de execução, visa ao chamamento do devedor para pagar a dívida ou sujeitar-se à constrição forçada sobre seus bens2. Diferentemente do processo de conhecimento, por-tanto, no processo de execução, que já vem lastreado por um título executivo, o executado é chamado para pagar a dívida ou sujeitar-se à constrição forçada sobre seus bens, e não para apresentar defesa diante do pedido do autor.

Como regra, no procedimento de execução comum a citação do executado é efetuada através de oficial de justiça, por força do disposto no art. 222, “d”, do CPC3, a contrario sensu, diversamente do procedimento de execução fiscal, em que o ato processual será levado a cabo preferencialmente pelo correio, por meio de carta com aviso de recebimento. É o que se depreende da leitura

1. MOREIRA, José Carlos Barbosa. O Novo Processo Civil Brasileiro. 22ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2002. p. 27.

2. PACHECO, José da Silva. Comentários à Lei de Execução Fiscal. 12ª ed. São Paulo: Editora Saraiva. 2009. p. 140.

3. “Art. 222. A citação será feita pelo correio, para qualquer comarca do País, exceto: [...] d) nos processos de execução;”

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conjunta dos arts. 7º, I, e 8º da Lei nº 6.830/80 (Lei de Execuções Fiscais – LEF), que serão novamente abordados ao longo deste capítulo.

Outra particularidade da citação na execução fiscal é que o executado será citado para pagar a dívida, juntamente com os seus encargos (multa, juros e encargo legal, se houver), ou garantir a execução, no prazo de 05 (cinco) dias (art. 8º, caput), ao passo que no Código de Processo Civil esse prazo é de 03 (três) dias, por força do disposto no art. 652.

A primeira referência à citação na LEF é feita no art. 7º, inciso I, o qual dispõe que:

Art. 7º. O despacho do juiz que deferir a inicial importa em ordem para:

I – citação, pelas sucessivas modalidades previstas no art. 8º;

[...].

Assim, uma vez recebida a petição inicial e encontrando-se em termos, sobrevém despacho do juízo que, ordenando a citação, e ainda que silenciando sobre a forma pela qual o ato se cumprirá, implica a observância das sucessivas modalidades previstas no art. 8º.

Nesse ponto, revela-se oportuno assinalar que nas execuções fiscais movidas pelas Fazendas Públicas Estadual ou Municipal, ou mesmo por algu-ma de suas autarquias ou fundações, o despacho do juiz que defere a inicial deverá arbitrar também o percentual de honorários, visto que estes não estão incluídos na Certidão de Dívida Ativa (CDA) que subsidia a execução desses entes. Cuidando-se, todavia, de execução fiscal movida pela União, a própria petição inicial já fará menção à cobrança do encargo legal de 20% (Decreto-lei nº 1.025/1969), o qual se destina a cobrir as despesas lato sensu do processo - aí incluídos os honorários advocatícios - relacionadas com a arrecadação dos créditos federais.

Feita essa breve introdução e realçadas algumas nuances da citação no procedimento de execução fiscal, passa-se agora, em um primeiro momento, a analisar os efeitos do despacho do juiz que determina a citação no tocante à interrupção da prescrição.

1. DESPACHO DO JUIZ – EFEITOS QUANTO À PRESCRIÇÃO

Segundo o disposto no art. 8º, § 2º da LEF, “o despacho do juiz, que ordenar a citação, interrompe a prescrição”.

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Esse dispositivo foi objeto de acalorados debates acerca de sua recep-ção pela Constituição Federal de 1988 (CF/88), especificamente no caso de execução fiscal de créditos de natureza tributária. Explica-se.

Como é sabido, o art. 146, III, “b”, da CF/88, reservou à lei complemen-tar a competência para estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários.

Na sua redação original, o inciso I do parágrafo único do art. 174 do CTN dispunha que a prescrição era interrompida “pela citação pessoal feita ao devedor”. Por ocasião do advento da CF/88, portanto, somente a citação – e não o mero despacho que a ordenasse – estava catalogada pelo CTN como hipótese de interrupção da prescrição.

Como é cediço, a Lei nº 5.172/66 (Código Tributário Nacional - CTN), embora aprovada formalmente como lei ordinária, foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988 com o status de lei complementar nos pontos em que disciplinou matéria reservada a essa espécie normativa (normas ge-rais). Dessarte, ganhou vulto a discussão acerca da possibilidade de a Lei de Execuções Fiscais, que é uma lei de natureza ordinária, veicular nova hipótese de interrupção da prescrição de créditos tributários, a par daquelas já tratadas pelo CTN (art. 174, parágrafo único), uma vez que, como visto, a Constituição Federal reservou a disciplina desse tema à lei complementar.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ), instado a se manifestar sobre o assunto, em mais de uma oportunidade pronunciou-se no sentido de afastar a aplicação do disposto no art. 8º, § 2º, da LEF, aos créditos tributários, os quais, em matéria de prescrição, deveriam observância unicamente aos dis-positivos do CTN.

Tal inclinação pode ser conferida, v.g., nos Embargos Declaratórios no REsp 629.030/PE, a seguir transcritos4:

TRIBUTÁRIO - EXECUÇÃO FISCAL - PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE - LEI DE EXECUÇÕES FISCAIS - CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL - PREVALÊNCIA DAS DISPOSIÇÕES RECEPCIONADAS COM STATUS DE LEI COMPLEMENTAR - PRECEDENTES. DESPACHO CITATÓRIO. ART. 8º, § 2º, DA LEI Nº 6.830/80. ART. 219, § 5º, DO CPC. ART. 174, DO CTN. INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA. JURISPRUDÊNCIA PREDOMINANTE.

[...]

2. A mera prolação do despacho que ordena a citação do executado não produz, por si só, o efeito de interromper a prescrição, impondo-se a inter-

4. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 1ª Turma. Embargos de Declaração no Recurso Especial nº 629.030-PE. Relator: Ministro Luiz Fux. Decisão Unânime. Brasília – DF, 15 de março de 2005. publicação em 25.04.2005.

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pretação sistemática do art. 8º, § 2º, da Lei nº 6.830/80, em combinação com o art. 219, § 4º, do CPC e com o art. 174 e seu parágrafo único do CTN.

[...]

Insta registrar, por oportuno, que em relação aos créditos não tributários exigidos pelo rito da LEF, v.g., multas administrativas diversas, créditos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), sempre se aceitou pacifica-mente a interrupção da prescrição pelo simples despacho do juiz que ordena a citação, porquanto, em relação a essa espécie de créditos, não há exigência constitucional de lei complementar para dispor sobre prescrição.

Com a superveniência da Lei Complementar nº 118, de 09 de fevereiro de 2005, tal discussão acabou perdendo o objeto, já que o inciso I do parágrafo único do art. 174 do CTN passou a apresentar a seguinte redação:

Art. 174 [...]

Parágrafo único. A prescrição se interrompe:

I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal;

[...].

Portanto, a partir de 09 de junho de 2005, data da entrada em vigor da LC nº 118/2005, que alterou o inciso I do parágrafo único do art. 174 do CTN, basta o despacho do juiz ordenando a citação para que se obtenha a in-terrupção da prescrição em relação aos créditos tributários, agora não mais por força da LEF (lei ordinária), senão do próprio CTN (que possui status de lei complementar).

Sobre a aplicação da LC 118/2005 no tempo, cabe atentar para o fato de que a norma que dispõe sobre a interrupção do curso prescricional tem cunho processual, razão pela qual incide imediatamente sobre os processos em curso, sem prejuízo, todavia, da validade dos atos anteriormente praticados. Assim, aplica-se a novel legislação – com a interrupção do prazo prescricional - aos despachos de citação que tenham sido proferidos a partir do dia 09 de junho de 2005, regendo-se, todavia, pela legislação pretérita, pena de retroação dos efeitos da lei, os despachos prolatados até o dia 08 de junho de 2005.

Diante disso, afigura-se correto afirmar que hodiernamente, nas execu-ções fiscais, independentemente da natureza dos créditos cobrados, se tribu-tários ou não, o despacho do juiz que ordena a citação implica a interrupção da prescrição.

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Nesse sentido5:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. IPTU. INTERRUP-ÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL. DESPACHO DO JUIZ QUE ORDENA A CITA-ÇÃO. ALTERAÇÃO DO ART. 174 DO CTN ENGENDRADA PELA LC 118/2005. APLICAÇÃO IMEDIATA.

1. A prescrição, posto referir-se à ação, quando alterada por novel legisla-ção, tem aplicação imediata, conforme cediço na jurisprudência do Eg. STJ.

2. A Lei Complementar 118, de 9 de fevereiro de 2005 (vigência a partir de 09.06.2005), alterou o art. 174 do CTN para atribuir ao despacho do juiz que ordenar a citação o efeito interruptivo da prescrição. (Precedentes: REsp 782.867/SP, DJ 20.10.2006; REsp 708.186/SP, DJ 03.04.2006).

[...]

5. Com efeito, tendo a execução fiscal sido proposta em 23.12.2005 (fl. 02) e o despacho que ordenou a citação ocorrido em 28.12.2005 (fl. 07), ou seja, ambos após o advento da Lei Complementar 118/2005, ressoa inequívoca a inocorrência da prescrição em relação ao crédito tributário constituído em 01.01.2001, porquanto não decorrido o prazo prescricional qüinqüenal.

6. Recurso especial parcialmente provido.

No caso de créditos não tributários, conforme já visto, o despacho do juiz determinando a citação sempre foi acolhido como causa interruptiva da prescrição. Ademais, por força do disposto no art. 219, § 1º, do CPC6, aplicável subsidiariamente à LEF, os efeitos da interrupção da prescrição - no caso de créditos não tributários - acabam retroagindo à data da propositura da ação.

Isso se justifica porque o credor que propõe a ação no prazo conferido pela lei não pode sofrer as consequências da demora do Judiciário em deter-minar a citação do devedor. Com efeito, a prescrição pressupõe a inércia do titular da ação e esta não pode ser reconhecida quando a ação é proposta no prazo legal e, por inércia do Judiciário, não sobrevém a interrupção do prazo prescricional. Esse entendimento vem corroborado pelos enunciados sumu-lares nº 106/STJ7 e 78/TFR8.

5. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 1ª Turma. Recurso Especial nº 945.962-RS. Relator: Ministro Luiz Fux. Decisão Unânime. Brasília, 23 de outubro de 2007, publicação em 29.11.2007.

6. “Art. 219 [...] § 1o A interrupção da prescrição retroagirá à data da propositura da ação”. 7. “Súmula nº 106/STJ. Proposta a ação no prazofixado para o seu exercício, a demora na citação, por

motivos inerentes aomecanismo da Justiça, não justifica o acolhimento da argüição de prescrição oudecadência”.

8. “Súmula nº 78/TFR. Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, pormotivosinerentesaomecanismodajustiça,nãojustificaoacolhimentodaargüiçãodeprescrição”.

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Recentemente, todavia, uma decisão do STJ proferida sob a égide do art. 543-C do CPC promete acender a discussão sobre a validade da aplicação desse entendimento também em matéria tributária.

Isso porque, nos autos do REsp nº 1.120.295/SP, a Primeira Seção, por unanimidade, deu provimento ao recurso interposto pela Fazenda Nacional para reconhecer que os efeitos da interrupção do prazo prescricional devem retroagir à data da propositura da ação também no caso de execução fiscal de créditos tributários.

Trocando em miúdos: em relação a créditos não tributários, exigidos sob o rito da LEF, a interrupção da prescrição ocorre com o despacho do juiz que ordena a citação, retroagindo seus efeitos à data do ajuizamento do feito9; no caso de créditos tributários, antes da LC 118/2005, que conferiu nova redação ao art. 174, parágrafo único, I, do CTN, somente a citação era hábil a inter-romper a prescrição; após o advento da Lei Complementar nº 118/2005, que alterou o CTN, o STJ passou a entender que a fluência do prazo prescricional em matéria tributária era interrompida com o despacho do juiz que ordenasse a citação do devedor, sem qualquer retroação dos seus efeitos; e agora, por força da aludida decisão, a Primeira Seção daquele Tribunal, por unanimidade, e sob o rito do art. 543-C do CPC, concluiu que os efeitos da interrupção da prescrição devem retroagir à data da propositura da ação também no caso de créditos tributários.

Como se trata de entendimento firmado sob a sistemática de julgamento por amostragem dos recursos extremos repetitivos (543-C), devem-se obser-var, a priori, duas consequências imediatas dessa decisão:

a) serão automaticamente inadmitidos todos os recursos especiais que se encontravam sobrestados nos tribunais de origem, aguardando o julgamento do recurso paradigma pelo STJ, quando os acórdãos recorridos coincidirem com a decisão daquela Corte Superior;

b) serão novamente analisados pelos tribunais de origem aqueles re-cursos especiais interpostos em face de acórdãos que tiverem divergido da posição adotada pelo STJ.

É certo que essa decisão ainda pode ser revista, especialmente no tocante aos seus efeitos, em sede de embargos de declaração, que já foram opostos pelo contribuinte e aguardam julgamento, visto que o objeto do recurso repetitivo

9. Écerto,nãoparececorretoomitir,quehácorrentedoutrináriacontráriaaesseentendimento,resistindoàaplicação do art. 219, § 1º, do CPC, uma vez que a LEF teria disciplinado expressamente o tema, elegendo, comomarcointerruptivodaprescrição,apenasodespachodecitação,nãosendoocaso,pois,deaplicaçãosubsidiária daquele diploma legislativo.

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era definir o termo inicial do prazo prescricional nos casos de tributos sujeitos a lançamento por homologação, e não o termo final.

Todavia, por ora, pode-se afirmar que o Resp nº 1.120.295/SP consagra uma mudança significativa no rumo da jurisprudência do STJ.

Pelo caráter didático, pede-se vênia para transcrever excerto do voto condutor do acórdão, lavrado pelo Min. Luís Fux:

Desta sorte, com o exercício do direito de ação pelo Fisco, ante o ajuizamen-to da execução fiscal, encerra-se a inação do credor, revelando-se incoeren-te a interpretação segundo a qual o fluxo do prazo prescricional continua a escoar-se, desde a constituição definitiva do crédito tributário, até a data em que se der o despacho ordenador da citação do devedor (ou até a data em que se der a citação válida do devedor, consoante a anterior redação do inciso I, do parágrafo único, do artigo 174, do CTN).

Ademais, o Codex Processual, no § 1º, do artigo 219, estabelece que a inter-rupção da prescrição, pela citação, retroage à data da propositura da ação, o que, na seara tributária, após as alterações promovidas pela Lei Comple-mentar 118/2005, conduz ao entendimento de que o marco interruptivo atinente à prolação do despacho que ordena a citação do executado retro-age à data do ajuizamento do feito executivo, a qual deve ser empreendida no prazo prescricional.

Impende assinalar que essa mudança de posicionamento, caso venha a se consolidar, não trará significativo impacto às ações ajuizadas em período mais recente, haja vista a agilidade com que têm sido proferidos os despachos de citação, aproximando-se muito da data do próprio ajuizamento da ação. Nas ações mais antigas, todavia, pode existir um lapso temporal considerá-vel entre a data do ajuizamento e a superveniência do despacho de citação, abrindo espaço para a aplicação do novel entendimento, desde que, repita-se, venha a se cristalizar.

Pode-se antever, ainda, que esse novo entendimento projetará efeitos sobre uma situação bastante específica que pode surgir logo no ajuizamento da ação de execução fiscal, que é a hipótese de o juiz, ao analisar a inicial, determinar a intimação do exequente para que se manifeste sobre a possível ocorrência da prescrição. Nesse caso, seria razoável equiparar os efeitos dessa decisão que determina a manifestação prévia da parte exequente ao despacho de deferimento da inicial, que implica ordem para citação e, consequentemen-te, interrompe a prescrição?

Em princípio, a resposta parece ser negativa, i.e., esse despacho não possui o condão de interromper a prescrição, já que não pode ser igualado ao deferimento da inicial. Todavia, a análise da prescrição deve ser realizada

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tendo como marco interruptivo o momento do ajuizamento da demanda, uma vez que o despacho que vier a ser proferido após o retorno dos autos com a manifestação do exequente, caso seja de deferimento da inicial, retroagirá seus efeitos exatamente à data do ajuizamento.

Dito de forma mais didática, com o retorno dos autos ao juízo vislum-bram-se dois cenários: i) caso o juiz conclua, com base nas informações prestadas pela parte exequente, que não se consumou a prescrição até a data da propositura da ação, deverá proferir despacho determinando a citação, cujos efeitos, no tocante à interrupção da prescrição, retroagirão à data do ajuizamento do feito, ainda que se cuide de créditos tributários, conforme decidido no Resp nº 1.120.295/SP; ii) todavia, caso seja reconhecido que a prescrição se consumou anteriormente ao ajuizamento da demanda, não será, obviamente, proferido o despacho de citação, devendo o feito ser extinto ainda no nascedouro10.

Mas, e se a prescrição se consumar exatamente no interregno entre o despacho determinando a manifestação do exequente e a efetiva análise da quaestio pelo juiz? Ou ainda, se o juiz, com subsídio apenas nas informações constantes da CDA, deixar de intimar a parte exequente para se manifestar e extinguir desde logo a ação por prescrição, existindo, todavia, alguma causa interruptiva anterior ao ajuizamento que não era de seu conhecimento?

Pois bem, em ambos os casos abre-se novamente a possibilidade de incidência do disposto no enunciado sumular nº 106 do STJ11, uma vez que a demora na prolação do despacho de citação deve ser atribuída unicamente ao Juízo.

Com efeito, no primeiro caso a ação havia sido proposta antes da fluência do prazo prescricional, o qual, todavia, veio a se consumar somente porque o juiz, em lugar de proferir o despacho de citação, prestigiando a presunção de certeza da CDA, inverteu tal lógica, presumindo que a CDA estaria prescrita. Parece-nos, assim, que tal situação amolda-se perfeitamente à hipótese de retardamento da interrupção da prescrição “por motivos inerentes ao meca-nismo da Justiça”.

10. Emresumo,aindaqueadiscussãoacercadanaturezadessedespachoquedeterminaamanifestaçãodoexequente sobre a prescrição apresente interesse do ponto de vista acadêmico, na prática não se vislumbra a mesma relevância, já que, conforme proposto, a solução dependerá da análise das circunstâncias do caso concreto: se a parte exequente não for capaz de afastar a ocorrência da prescrição até a data do ajuizamento da ação de execução, o juiz extinguirá desde logo o feito; se lograr êxito em demonstrar que nãohouveaprescriçãoatéaqueladatadoajuizamento,ojuizproferirádespachodeterminandoacitação,aqual retroagirá seus efeitos exatamente a esse marco.

11. “Súmula nº 106/STJ. Proposta a ação no prazofixado para o seu exercício, a demora na citação, pormotivos inerentes aomecanismo da Justiça, não justifica o acolhimento da argüição de prescrição oudecadência”.

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No segundo cenário, demonstrando a parte exequente, em sede recur-sal, que havia causa interruptiva ou suspensiva da prescrição anterior ao ajuizamento, como, v.g., o parcelamento na esfera administrativa, o despacho de citação somente será proferido quando os autos baixarem da instância superior para prosseguimento. Nessa hipótese, a fortiori, parece-nos que o atropelo processual causado pelo juízo não pode redundar em qualquer prejuízo ao exequente, que propôs a ação no prazo fixado para o seu exer-cício e foi surpreendido pela decisão extintiva, sem qualquer oportunidade de manifestação prévia nos autos. Assim, também nesse caso deve incidir o disposto no enunciado sumular nº 106 do STJ, com a retroação da interrupção da prescrição à data do ajuizamento do feito.

2. PESSOAS QUE PODEM SER CITADAS

Neste capítulo será abordada de forma bastante breve - quase enuncia-tiva a bem da verdade, dada a ausência de maiores dificuldades práticas – a temática concernente às pessoas que podem vir a ser citadas no âmbito das ações de execução fiscal.

2.1. Pessoas físicas

Em se tratando de execução fiscal subsidiada por CDA que indica como devedor principal uma pessoa física, a citação, por razões óbvias, será levada a cabo na pessoa indicada no título executivo.

Também serão citadas as pessoas físicas cujos nomes estejam incluídos na CDA na condição de corresponsáveis pelo débito. Como a CDA goza de presunção de liquidez e certeza, não são necessários outros requisitos, bas-tando o pedido de citação dos corresponsáveis já indicados no título executivo, competindo a estes, se for o caso, através da ação autônoma de embargos à execução ou de exceção de pré-executividade, ilidir a presunção normativa e provar que não agiram com excesso de poderes, infração da lei, do contrato social ou estatutos, bem como não estar configurada hipótese de dissolução irregular da empresa.

2.2. Pessoas jurídicas

Quando a CDA apontar como devedora uma pessoa jurídica, em face dela é que a citação deverá ser buscada, diligenciando-se, primeiramente, no endereço indicado pela Fazenda Pública na inicial.

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Pode ocorrer, todavia, que a citação – ainda que se trate de execução movida em face de pessoa jurídica - tenha de ser levada a termo junto a uma pessoa física: é o caso, não raro, de a citação da pessoa jurídica restar frustrada porque o endereço indicado na inicial não corresponde mais àquele em que a mesma exerce suas atividades. Tal ciência pode-se dar através do retorno do aviso de recebimento (AR) com alguma informação nesse sentido, ou mesmo por meio de certificação do oficial de justiça.

Em casos tais, constatada a impossibilidade de citação da pessoa jurí-dica no local indicado na inicial, e após a identificação do seu representante legal, seja através de pesquisa junto ao Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), seja por meio de consulta à Junta Comercial ou qualquer outro banco de dados disponível, cabe ao exequente buscar a citação da pessoa jurídica através de seu representante legal, com subsídio no art. 215 do CPC: “Far-se-á a citação pessoalmente ao réu, ao seu representante legal ou ao procurador legalmente autorizado”.

Impende assinalar, por oportuno e para prevenir qualquer conclusão equivocada, que não se cuida, nessa hipótese, de redirecionamento da execu-ção fiscal à pessoa física responsável pela jurídica, senão de citação da pessoa jurídica através do seu representante legal.

Cabe registrar, igualmente, que a certificação do oficial de justiça de que a empresa não mais se encontra em atividade no local indicado na inicial poderá legitimar, desde logo, o pedido de redirecionamento do feito ao(s) administrador(es) da sociedade, nos termos do enunciado sumular nº 435 do STJ12, cabendo ao exequente optar pelo pedido imediato de redirecionamento ou pela citação em nome do representante legal, buscando obter, nesse último caso, a confissão deste acerca do encerramento de atividades.

Em outra hipótese, ainda, em que a execução fiscal é dirigida contra uma pessoa jurídica, a citação poderá ser concretizada em face de uma pessoa física: quando se tratar de execução fiscal movida contra firma individual – circunstância esta que normalmente pode ser constatada a partir da própria denominação do executado. Nesses casos, conquanto a CDA aponte uma pessoa jurídica como devedora, indicando até mesmo um número de CNPJ, a citação poderá ser requerida diretamente em face da pessoa física subjacente à pessoa jurídica, uma vez que a personalidade jurídica, nesse caso, não passa de mera ficção.

12. “Súmula nº 435/STJ. Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicíliofiscal,semcomunicaçãoaosórgãoscompetentes,legitimandooredirecionamentodaexecuçãoparaosócio-gerente.”

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Com efeito, em se tratando de firma individual, não há “sociedade”, já que não há “sócios”, recaindo a responsabilidade sobre a pessoa física titular da firma individual, a qual poderá ser desde logo citada em nome próprio.

Finalmente, vale registrar que é plenamente aplicável às ações de exe-cução fiscal a Teoria da Aparência13, reputando-se válida a citação da pessoa jurídica quando esta é levada a cabo em pessoa que, na sua sede, apresenta-se como representante14 da mesma, embora sem poderes para tanto, mas também sem qualquer ressalva quanto a esta circunstância15. Cuida-se, nesse caso, de prestigiar a boa-fé que deve nortear a condução dos negócios jurídicos.

2.3. Espólio, inventariante e administrador provisório

Quando a execução fiscal for dirigida contra pessoa física, originariamen-te ou em virtude de redirecionamento, e sobrevier a informação de que ela faleceu previamente à citação, cabe ao exequente, em um primeiro momento, buscar informações acerca da existência de processo de inventário ou arrola-mento de bens junto à comarca em que o citando residia.

Hodiernamente, a maioria – senão a totalidade – das comarcas disponi-biliza a consulta de dados dos processos que se encontram tramitando, desde que não sigilosos, através da rede mundial de computadores, ferramenta esta que se tem revelado bastante útil para a localização da informação buscada.

Nada impede, todavia, onde não houver tal serviço, ou ainda a critério do exequente, que este dado seja buscado através de ofício remetido à secretaria da vara do foro competente para o processamento da ação de inventário.

De toda forma, identificada a existência de processo de inventário ou arrolamento de bens, deve-se requerer a citação do espólio, que é o conjunto de bens deixados pelo falecido, a qual será feita na pessoa do inventariante.

Inexistindo processo judicial de apuração dos bens do de cujus, os atos processuais devem prosseguir na pessoa do administrador provisório, que tem legitimidade para representar o espólio, nos termos do Código de Pro-cesso Civil:

Art. 985. Até que o inventariante preste o compromisso (art. 990, parágrafo único), continuará o espólio na posse do administrador provisório.

13. A denominada Teoria da Aparência, que ainda carece de uma formulação legal no Direito Brasileiro, pode ser conceituada, grosso modo, como a proteção conferida pelo ordenamento jurídico a terceiros de boa-fé quecelebraramnegóciosjurídicosconfiandoemumasituaçãoexteriordivorciadadarealidade.

14. O termo “representante” aqui utilizado não o é no seu sentido técnico - em contraposição ao termo “presentante”,quedesignaaquelaspessoascujospoderesprovémdosprópriosestatutosoucontratosocialda pessoa jurídica -, senão em sentido lato, abarcando tanto os representantes quanto os presentantes da pessoa jurídica.

15. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 2ª Turma. Agravo Regimental no Recurso Especial 1037329 – RJ. Relator: Ministro Humberto Martins. Decisão Unânime. Brasília, 13 de agosto de 2008, publicação em 16.09.2008.

Citação do réu na execução fiscal

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Art. 986. O administrador provisório representa ativa e passivamente o es-pólio, é obrigado a trazer ao acervo os frutos que desde a abertura da su-cessão percebeu, tem direito ao reembolso das despesas necessárias e úteis que fez e responde pelo dano a que, por dolo ou culpa, der causa.

Neste contexto, segundo o artigo 986 do CPC, o administrador provisório dos bens é quem representa ativa e passivamente o espólio, devendo a citação ser feita na sua pessoa. Em regra, tal encargo é assumido pelo cônjuge supérs-tite, quando houver, ou por um dos herdeiros, que podem ser identificados, tanto um quanto outro, junto à certidão de óbito.

Insta ainda registrar que, tendo havido a abertura de processo para apuração de bens do de cujus, é desnecessária a busca pela certidão de óbito para confirmar o evento morte, porquanto tal documento obrigatoriamente terá sido apresentado por ocasião do pedido de abertura do processo de ar-rolamento ou inventário; todavia, inexistindo o referido processo, é impres-cindível buscar tal certidão junto ao Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais do local do óbito, a fim de comprovar o falecimento do citando e, por conseguinte, legitimar o pedido de citação do espólio ou do administrador provisório dos bens.

Merece ainda referência a circunstância de que, em alguns casos, a notícia da morte do executado pode significar até mesmo a extinção do feito executivo, independentemente de ter havido a citação. É o que acontece, v.g., nos casos de execução fiscal de multas penais, cuja punibilidade é extinta pela morte do executado, ex vi do disposto no art. 107, I, do Código Penal, e 5º, XLV, da CF.

Vale a pena transcrever, pelo seu caráter didático, os pontuais comen-tários de Damásio de Jesus acerca do tema: “Sendo personalíssima a respon-sabilidade penal, a morte do agente faz com que o Estado perca o jus puniendi, não se transmitindo a seus herdeiros qualquer obrigação de natureza penal: mors omnia solvit”16.

A extinção da punibilidade, todavia, deve ser declarada por sentença, incumbindo ao exequente, ao tomar conhecimento da morte do executado, extrair cópia da certidão de óbito e remetê-la ao juízo penal que proferiu a sentença que subsidiou a confecção da CDA, a fim de que se pronuncie sobre a extinção da punibilidade.

2.4. Sucessores

Pode ainda o contexto processual demonstrar a necessidade de citação dos sucessores do executado.

16. JESUS, Damásio. Direito Penal. 23ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 1999. p. 691

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É o que ocorre, v.g., quando se busca a citação de uma pessoa física - seja como devedor originário, seja em razão de redirecionamento - e sobrevém a informação de que o citando é falecido e o processo de apuração de seus haveres já se encontra encerrado.

Nesses casos, busca-se a citação de todos os sucessores do de cujus, devi-damente identificados a partir da certidão de óbito ou da análise dos autos do processo de inventário ou arrolamento, os quais responderão pelos créditos até as forças da herança ou legado.

2.5. Massa Falida

Finalmente, pode ainda suceder, cuidando-se de execução fiscal movida em face de pessoa jurídica, que sobrevenha a notícia da decretação da falência da demandada.

Nesse caso, identificados os autos do processo de falência, por uma das formas descritas em tópico precedente (rede mundial de computadores, ofício), deve-se buscar a citação da massa falida através do seu síndico ou administrador, conforme a falência se processe nos termos do Decreto-lei nº 7.661/45 ou da Lei nº 11.101/2005, respectivamente.

Por oportuno, a par da citação, revela-se conveniente que o exequente requeira a intimação do síndico ou administrador para que apresente, nos autos da execução fiscal, o quadro geral de credores, bem como indique o ativo da massa, a fim de que possa ser corretamente apreendido, desde logo, o contexto processual da falência.

3. MODALIDADES DE CITAÇÃO

Neste tópico, serão analisadas as sucessivas modalidades de citação enumeradas pelo artigo 8º da LEF, sempre buscando realçar algumas pecu-liaridades de ordem prática.

3.1. Citação pelo correio por carta com aviso de recebimento (ar)

Conforme já visto, a primeira e principal modalidade de citação nas execuções fiscais é a postal, através de carta remetida pelos correios, com aviso de recebimento (AR), desde que o exequente não opte por outra forma.

Cumpre ao exequente, portanto, dentre as formas de citação previstas na LEF ou no CPC, eleger aquela que pretenda ver adotada com prevalência na execução fiscal. Não fazendo uso dessa prerrogativa, ou desde que essa seja a modalidade indicada na inicial, a citação será feita pela via postal, mediante carta com aviso de recebimento.

Citação do réu na execução fiscal

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Sobre a necessidade do aviso de recebimento na citação postal, há até mesmo enunciado do STJ, consubstanciado na súmula nº 429, segundo o qual “a citação postal, quando autorizada por lei, exige o aviso de recebimento”.

Nesses casos, ex vi dos art. 141, II, e 223 do CPC, incumbe ao escrivão ou chefe de secretaria onde tramita a execução providenciar a expedição da carta, a qual se fará acompanhar de cópia da petição inicial e das respectivas CDAs, a fim de que o executado tome ciência, por inteiro, da natureza da dí-vida executada.

Por força da regra de isenção do art. 39 da LEF17, a Fazenda Pública - nessa expressão compreendidos a União, os Estados, os Municípios, o Distrito Federal e suas respectivas autarquias e fundações públicas – não está sujeita ao pagamento de custas e emolumentos. Assim, considerando a orientação juris-prudencial predominante no STJ, no sentido de que a citação postal constitui ato abrangido pelo conceito de custas processuais, revela-se indevida qualquer exigência de pagamento das despesas com a postagem das cartas de citação18.

17. “Art. 39 - A Fazenda Pública não está sujeita ao pagamento de custas e emolumentos. A prática dos atos judiciaisdeseuinteresseindependerádepreparooudepréviodepósito.

Parágrafo Único - Se vencida, a Fazenda Pública ressarcirá o valor das despesas feitas pela parte contrária.”18. “PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. ATUAÇÃO DA FAZENDA NACIONAL

PERANTE A JUSTIÇA ESTADUAL. PAGAMENTO DE POSTAGEM DE CARTA CITATÓRIA PELA FAZENDA PÚBLICA. DESNECESSIDADE. ART. 39, DA LEI Nº 6.830/80. ART. 27, DO CPC. DIFERENÇAS ENTRE OS CONCEITOS DE CUSTAS E DESPESAS PROCESSUAIS. PRECEDENTE DA C. PRIMEIRA SEÇÃO.

1. A Fazenda Pública não está obrigada ao pagamento das custas processuais e, a fortiori ,nãoháqueseexigir o prévio adimplemento do quantum equivalenteàpostagemdecartacitatória.Precedente:REsp 1028103/SP, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJ. 21/08/2008; EREsp 506.618/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, DJ 13/02/2006; REsp 546.069/RS, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, DJ 26/09/2005.

2. A1ªSeçãofirmourecenteentendimentonosentidodequeacertidãorequeridapelaFazendaPúblicaaocartórioextrajudicialdeverserdeferidadeimediato,diferindo-seopagamentoparaofinaldalide,acargodo vencido. Exegese da 1ª Seção do E. STJ aos art. 27, do CPC e 39, da Lei n.º 6.830/80, no julgamento do Resp. 1.036.656/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado no dia 16.02.2009, pendente de publicação.

3. O Sistema Processual desobriga a Fazenda Pública de arcar com quaisquer despesas, pro domo sua, quando litiga em juízo, suportando, apenas, as verbas decorrentes da sucumbência (artigos 27 e 1.212, parágrafoúnico,doCPC).Tratando-sedeexecuçãofiscal,étextualaleiquantoàexoneração,consoantesecolhedosartigos7ºe39,daLeinº6.830/80.Enquantonãodeclaradainconstitucionalalei,cumpreaoSTJ velar pela sua aplicação.

4. É cediço em sede doutrinária que:”A União está isenta de custas, selos, taxas e emolumentos na execução fiscal. Os processos de execução fiscal para cobrança da dívida da União, ainda que em curso perante a justiça dos Estados, do Distrito Federal ou dos Territórios, estão isentos de qualquer pagamento, seja ele qual for, no que concerne a custas ou despesas judiciais. Não paga a taxa judiciária, não paga selo nas petições ou papéis juntos aos autos; não paga remuneração aos cartórios ou órgãos auxiliares, tais como depositários, avaliadores, partidores, etc. Não há exigência de taxa judiciária, de selos ou estampilhas ou papel selado, de comissões, custas, emolumentos, dos serventuários, preparo, etc. Invoque-se o art. 150, IV, a, da CF, que veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios criar imposto sobre serviço uns dos outros, e interprete-se o art. 1.212, parágrafo único, do CPC, amplamente. Não só os atos judiciais, nos processos em que autora é a União, estão isentos desses pagamentos. O privilégio e a isenção são recíprocos entre a União, Estados e Municípios.” (José da Silva Pacheco,in Comentários à Lei de Execução Fiscal, Ed. Saraiva, 7ª ed., 2000, São Paulo)

5. Ressalte-se ainda que, de acordo com o disposto no parágrafo único art. 39 da Lei 6.830/80, a Fazenda Pública,sevencida,éobrigadaaressarcirapartevencedoranoquehouveradiantadoatítulodecustas,oquesecoadunacomoart.27,doCódigodeProcessoCivil,nãohavendo,destaforma,riscosdesecriaremprejuízos à parte adversa com a concessão de tal benefício isencional.

6. Mutatis mutandis a exoneração participa da mesma ratio essendi da jurisprudência da Corte Especial

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Consoante disposição do art. 8º, II, da LEF, considera-se realizada a citação na data da entrega da carta no endereço do executado ou, sendo esta omitida no aviso de recebimento, dez dias após a entrega da carta na agência postal.

Cabe aqui realçar outra variante em relação à disciplina do CPC, já que este reputa efetivada a citação, nos casos em que a admite pela via postal, somente na data da juntada aos autos do aviso de recebimento (art. 241, I).

Nesse passo, cabe registrar que, tendo a carta sido entregue no endereço constante do aviso de recebimento, e colhendo o carteiro o “ciente” de quem a recebeu, considera-se aperfeiçoada a citação, ainda que seja outra pessoa, que não o devedor, quem a recepcionou (Resp. 702.392/RS; AgRG no Resp 432.189/SP19).

Esse tratamento se justifica porque a própria LEF prevê, no art. 12, § 3º, que a intimação da penhora, marco inicial da contagem do prazo para oposição de embargos, será realizada pessoalmente ao demandado quando o aviso de recepção, no caso de citação pela via postal, não tiver sido assinado pelo próprio executado ou seu representante legal.

Preservam-se, dessarte, através da intimação pessoal da penhora, as garantias do contraditório e ampla defesa, ainda que a citação não se tenha realizado na pessoa do devedor ou seu representante.

Na hipótese de a citação ser levada a cabo por meio de correspondência remetida para caixa postal da parte executada, parece-nos que tal ato somente poderá ser reputado válido se o endereço postal for o único localizado pela parte exequente. Havendo, pois, algum outro endereço, preterido em relação ao da caixa postal, deve ser declarada nula a citação realizada por esse meio – obviamente desde que a parte não tenha comparecido ao processo, suprindo a nulidade.

Restando frustrada a citação pela via postal, caberá ao exequente identifi-car, junto ao aviso de recebimento, a razão pela qual o ato não se perfectibilizou, para, a partir dessa informação, eleger o próximo passo na busca da citação.

queimputaadespesaextrajudicialdaelaboraçãodeplanilhadocálculoaquelequepretendeexecutaraFazenda Pública.

7. Recurso especial provido.” (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 1ª Turma. Recurso Especial nº 1.076.914/SE. Relator: Ministro

Luiz Fux. Decisão Unânime. Brasília, 19 de março de 2009, publicação em 22.04.2009).19. “PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. CITAÇÃO POSTAL. ENTREGA NO ENDEREÇO

DO EXECUTADO. VALIDADE. CITAÇÃO POR EDITAL. DESCABIMENTO. 1. Nos termos do art. 8º, inciso I, da Lei de Execuções Fiscais, para o aperfeiçoamento da citação, basta que

sejaentregueacartacitatórianoendereçodoexecutado,colhendoocarteiroocientedequemarecebeu,aindaquesejaoutrapessoa,quenãooprópriocitando.

2.Somentequandonãolograrêxitonaviapostaleforfrustradaalocalizaçãodoexecutadoporoficialdejustiça,ficaocredorautorizadoautilizar-sedacitaçãoporedital,conformedispostonoart.8º,incisoIII,da citada Lei de Execuções Fiscais.

3. Agravo regimental desprovido.” (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 1ª Turma. Agravo Regimental no Recurso Especial nº 432.189/

SP. Relator: Ministro Teori Albino Zavascki. Decisão Unânime. Brasília, 26 de agosto de 2003, publicação em 15.09.2003).

Citação do réu na execução fiscal

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Dentre as diversas informações que podem constar do AR, as mais co-muns são as seguintes:

a) “Mudou-se”

Nesse caso, cuidando-se de citação de pessoa física, deve ser buscado outro endereço junto aos bancos de dados acessíveis ao exequente. No caso da União, quando presentada pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), é possível o acesso ao Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), administrado pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, o qual, cabe registrar, é atualizado sempre que o contribuinte entrega a declaração de ajuste anual (DIRPF) ou apresente pedido de atualização.

Identificado outro endereço, diverso daquele constante do AR, deve ser requerida a expedição de nova carta de citação, dirigida ao novo endereço.

Caso a pesquisa indique que o endereço do CPF é o mesmo constante do AR que já retornou sem cumprimento, incumbe ao exequente realizar buscas junto a outros bancos de dados disponíveis, v.g., sites de buscas franqueados ao público junto à rede mundial de computadores, sites de empresas concessio-nárias de serviços de eletrificação, de água ou de esgoto. Não sendo possível o acesso de tais dados junto aos sites das aludidas companhias, é aconselhável a remessa de ofícios a essas empresas, solicitando, paralelamente, a suspensão do feito executivo pelo período necessário à obtenção da resposta - normal-mente 60 dias.

Se todas essas diligências se revelarem infrutíferas, autorizada estará a citação por edital, que será oportunamente detalhada.

Tratando-se de citação de pessoa jurídica e tendo o AR retornado com a informação “mudou-se”, impõe-se a busca da identificação do responsável legal da empresa, através da Junta Comercial do respectivo Estado ou do Car-tório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, quando for o caso. Na hipótese de execução fiscal patrocinada pela União, presentada pela PGFN, essa mesma informação pode ser obtida através de consulta junto ao Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), o qual, todavia, somente estará atualizado se a pessoa jurídica houver comunicado as alterações efetuadas nos seus dados cadastrais, conforme lhe impõe a legislação.

A propósito, vale (re)lembrar que a sanção prevista para a pessoa jurí-dica que deixa de comunicar a alteração de endereço aos órgãos competentes (Receita Federal, Junta Comercial) é a presunção de encerramento irregular de atividades, conforme enunciado sumular nº 435 do STJ20.

20. “Súmula nº 435/STJ. Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicíliofiscal,semcomunicaçãoaosórgãoscompetentes,legitimandooredirecionamentodaexecuçãoparaosócio-gerente.”

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Devidamente identificado o representante legal e localizado o seu ende-reço através de uma das consultas mencionadas, segue-se o pedido de citação da pessoa jurídica através da pessoa física que a representa, com subsídio no art. 215 do Código de Processo Civil: “Far-se-á a citação pessoalmente ao réu, ao seu representante legal ou ao procurador legalmente autorizado”.

Essa citação poderá ser requerida mais uma vez através de carta com aviso de recebimento ou, havendo suspeita de que a pessoa jurídica não apenas alterou o seu endereço, como também encerrou suas atividades, por meio de mandado, situação em que o exequente poderá requerer que o oficial de justiça questione o representante legal sobre a manutenção de atividades, bem como sobre o local onde estão sendo exercidas.

b) “Não procurado”

Quando o AR retornar com essa anotação significa que o agente postal diligenciou por três vezes a entrega da carta de citação, sendo que em todas constatou a ausência do destinatário.

Consequência de tal ausência é que o agente postal deixa notificação para que o destinatário compareça à agência local dos correios para retirada da carta. Se o destinatário, após tal procedimento, não se dirigir à repartição postal, a carta será devolvida ao remetente com a informação “não procurado”.

Nesse caso, constatado que o endereço do executado permanece o mesmo junto aos bancos de dados do exequente, cabível o pedido de citação por mandado, a ser cumprido por oficial de justiça, a fim de comprovar se tal informação está correta.

c) “Ausente”

Essa informação não permite identificar as razões da ausência do exe-cutado, como, v.g., mudança de domicílio, ausência temporária. Nesses casos, revela-se igualmente oportuno requerer a expedição de mandado de citação, a fim de que o oficial de justiça especifique o motivo da ausência do citando.

d) Outras informações

Outras informações, menos comuns, podem constar do AR, tais como “endereço insuficiente”, “número inexistente”, “desconhecido” ou quaisquer outras observações que venham a ser apontadas pelo agente postal.

Nesses casos, a providência a ser adotada será orientada pelo teor da informação, dificilmente afastando-se, contudo, de alguma daquelas já expli-citadas.

Citação do réu na execução fiscal

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3.2. Citação por mandado

A citação por mandado afigura-se, em princípio, modalidade subsidiária, reservada para os casos em que reste frustrada a citação por carta com aviso de recebimento, mas há indícios de que o citando ainda reside no endereço indicado na carta.

Também poderá ser requerida nos casos em que não se mostra possível aferir as razões do insucesso da citação por carta com AR, como, por exemplo, quando o aviso retorna com as informações “ausente” ou “não procurado”.

E nada impede, é w retornar no prazo de 15 (quinze) dias da entrega da carta à agência postal, conforme previsão do inciso III do art. 8º da LEF.

Cabe registrar que é bastante usual, nas execuções fiscais movidas pela União perante a Justiça Federal, que a citação seja realizada diretamente atra-vés de mandado, por decisão do próprio juiz, sem qualquer requerimento da União nesse sentido.

Valem, aqui, todas as observações feitas no tópico precedente em rela-ção às possíveis razões do insucesso da citação, com a evidente vantagem de que os oficiais de justiça, diversamente dos agentes postais, possuem ampla liberdade para buscar maiores informações sobre o paradeiro do citando.

Por força disso, através das certidões lavradas por esses agentes podem ser obtidas informações das mais diversas, que conduzirão à adoção de uma das providências já enumeradas, tais como a citação do espólio (no caso de notícia de falecimento), a busca por outro endereço (caso sobrevenha a infor-mação de que o citando não reside mais no local), a citação da massa falida e tantas outras.

Vale registrar que os oficiais de justiça, por força do disposto no art. 230 do CPC21, poderão promover citações ou intimações em comarcas contíguas, de fácil comunicação, e nas que se situem na mesma região metropolitana, sem necessidade da expedição de carta precatória para a prática de tais atos.

Pode-se questionar se, a par das citações e intimações, poderiam os ofi-ciais de justiça praticar também atos de constrição patrimonial em comarcas contíguas, já que tais atos, em princípio, não estariam contemplados no art. 230. Além de não se vislumbrar qualquer prejuízo ao executado, basta uma interpretação que se liberte das amarras puramente literais para concluir pela prescindibilidade da expedição de carta precatória para a prática de tais atos, forte nos princípios da economia e celeridade processuais.

21. “Art. 230. Nas comarcas contíguas, de fácil comunicação, e nas que se situem na mesma região metropolitana,ooficialdejustiçapoderáefetuarcitaçõesouintimaçõesemqualquerumadelas.”

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3.3. Citação por edital

A citação por edital está prevista no art. 8º, incisos III e IV, e § 1º da LEF, reservada aos casos em que i) o aviso de recepção não retornar no prazo de 15 (quinze) dias contados da entrega da carta à agência postal, ou ii) o executado se encontrar ausente do país.

A partir de uma interpretação puramente literal do inciso III do art. 8º, seria possível sustentar que bastaria a não devolução do aviso de recebimento no prazo de 15 (dias) contados da sua entrega à agência postal para que o exequente pudesse desde logo postular que a citação fosse levada a cabo por edital. Essa interpretação, todavia, ainda que defensável, acaba por mitigar a relevância desse ato pelo qual o devedor é chamado a pagar a dívida ou indicar bens à penhora.

Abraçando-se essa interpretação literal, seria possível, em tese, que uma simples falha do serviço postal levasse à citação por edital - espécie de cita-ção ficta, em que há apenas a presunção de que a parte tomou ciência do ato -, a qual se faria seguir, no curso normal do procedimento de execução, pela expedição de mandado de penhora sobre bens do executado, ou mesmo pela expedição de ordem de bloqueio de ativos financeiros, subtraindo da parte a faculdade de indicar algum bem de sua livre escolha – e tudo isso sem que ela tivesse se ausentado do seu domicílio ou descumprido qualquer dever legal de informação.

Por essa razão, nos casos em que não houver a devolução do aviso de recebimento, a solução mais adequada parece ser a repetição do ato, com a remessa de nova carta de citação, ou a expedição de mandado, conforme previsão do próprio inciso III do art. 8º da LEF, a fim de que o oficial de justiça esclareça melhor o contexto fático, providência esta, inclusive, que melhor se concilia com o procedimento de execução por quantia certa do CPC.

Fracassadas as tentativas de citação pelo correio e por oficial de justiça – modalidades contempladas expressamente pela LEF -, autorizada está a citação por edital, conforme jurisprudência consolidada do STJ.

Nesse sentido, o enunciado sumular nº 414 do STJ dispõe que “a citação por edital na execução fiscal é cabível quando frustradas as demais modalidades”.

Até pouco tempo era possível encontrar julgados daquela Corte enten-dendo que não bastava que o exequente tivesse buscado a citação pelo correio ou oficial de justiça, exigindo, a par dessas diligências, que fosse demonstrado o esgotamento dos meios possíveis à localização do citando22.

22. PROCESSUAL CIVIL – EXECUÇÃO FISCAL � CITAÇÃO POR EDITAL – POSSIBILIDADE

Citação do réu na execução fiscal

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Entretanto, após o julgamento do Resp nº 1.103.050/BA, submetido à sistemática do art. 543-C do CPC, fixou-se o entendimento de que é suficiente que se tenham revelado inexitosas as outras modalidades de citação previstas na LEF, quais sejam, a citação pelo correio e por oficial de justiça, para que tenha cabimento a citação editalícia.

Veja-se, por elucidativo do posicionamento da Corte, a ementa do julgado:

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL. CITAÇÃO POR EDITAL. CONDIÇÃO DE CABIMENTO: FRUSTRAÇÃO DAS DEMAIS MODA-LIDADES DE CITAÇÃO (POR CORREIO E POR OFICIAL DE JUSTIÇA). LEI 6830/80, ART. 8º.

1. Segundo o art. 8º da Lei 6.830/30, a citação por edital, na execução fiscal, somente é cabível quando não exitosas as outras modalidades de citação ali previstas: a citação por correio e a citação por Oficial de Justiça. Preceden-tes de ambas as Turmas do STJ.

2. Recurso especial improvido. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/0823.

Contudo, enquanto busca a citação através do oficial de justiça, que precede a citação editalícia, não há como a parte exequente eximir-se das pesquisas visando à localização do executado, de sorte que, ao fim e ao cabo, previamente à citação por edital, acabam sendo realizadas algumas diligências em busca da localização do devedor.

Regra geral, essas diligências se resumem à pesquisa junto aos bancos de dados acessíveis ao exequente, tais como, no caso da União, consultas junto ao CPF e ao CNPJ. Para além disso, consultas frente às empresas prestadoras de serviços de água, esgoto e energia elétrica também podem ser realizadas, assim como pesquisas junto a bancos de dados disponíveis ao público em geral através da rede mundial de computadores.

A citação por edital é cabível, ainda, conforme previsão do § 2º do art. 8º da LEF, quando se constatar que o executado se encontra ausente do País.

SOMENTE APÓS O EXAURIMENTO DE TODOS OS MEIOS POSSÍVEIS À LOCALIZAÇÃO DO DEVEDOR – SÚMULA 83/STJ – AFERIÇÃO DO ESGOTAMENTO – IMPOSSIBILIDADE – SÚMULA 7/STJ.

1.AjurisprudênciadesteTribunalSuperiorépacíficanosentidodeentendernecessárioesgotartodososmeiosdisponíveisparaalocalizaçãododevedorparasomenteapósdeferiracitação editalícia.

2.Contrariar acórdãoqueafirmanão teremsidoesgotados todososmeiosde localizaçãododevedor,implicaemreexamedematériafático-probatória,oqueencontraóbicenaSúmula7/STJ.

Agravo regimental improvido. (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 2ª Turma. Agravo Regimental no Recurso Especial nº

2008/0183691-9/PE. Relator: Ministro Humberto Martins. Decisão Unânime. Brasília – DF, 03.03.2009. DJ 31.03.2009).

23. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 1ª Seção. Recurso Especial nº 1.103.050-BA. Relator: Ministro Teori Albino Zavascki. Decisão Unânime. Brasília – DF, 25 de março de 2009. Publicação em 06.04.2009.

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Esse conhecimento, todavia, nem sempre é de fácil alcance. Nos casos em que o executado, ausente do país, tenha apresentado a Declaração de Saída Definitiva do País, conforme exigido pela legislação, essa informação constará do CPF, já que este é atualizado pelas informações prestadas pelos contribuintes que apresentam declarações de ajuste ou outras a que se en-contram obrigados.

Como é bastante rara a apresentação dessa declaração, até mesmo por desconhecimento da lei, normalmente essa informação é obtida através de certidão do oficial de justiça, em contato com familiares, amigos ou vizinhos do citando.

Mesmo com a certidão do oficial de justiça, alguns juízes ainda exigem a realização de outras diligências, tais como aquelas já citadas, para somente depois autorizar a citação por edital, conferindo, pois, ao aludido dispositi-vo, um caráter de subsidiariedade que definitivamente não foi previsto pelo legislador.

Analisadas as hipóteses que autorizam a citação por edital, cabe agora tecer algumas considerações acerca do procedimento e dos efeitos dessa espécie de citação.

O procedimento vem delineado no próprio inciso IV do art. 8º da LEF, com a especificidade, em relação à citação editalícia disciplinada pelo CPC, de que o edital será publicado em órgão oficial, gratuitamente.

Considerar-se-á citado o executado, quando se encontrar em lugar incerto e não sabido, trinta dias após a publicação do edital de citação ou, no caso de encontrar-se ausente do país, sessenta dias após a publicação.

A citação por edital atrai, ainda, a necessidade de nomeação de curador especial ao executado, nos termos do art. 9º, II, do CPC, in verbis:

Art. 9º O juiz dará curador especial:

I – ao incapaz, se não tiver representante legal, ou se os interesses deste colidirem com os daquele;

II – ao réu preso, bem como ao revel citado por edital ou com hora certa.

Parágrafo único. Nas comarcas onde houver representante judicial de inca-pazes ou de ausentes, a este competirá a função de curador especial.

Assim, em prestígio aos princípios do contraditório e ampla defesa, uma vez levada a efeito a citação por edital, se o réu não comparecer em juízo, deve ser-lhe nomeado curador especial, notadamente se, após a citação, o processo tiver prosseguimento, em razão da existência de bens penhoráveis.

Citação do réu na execução fiscal

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Para Ricardo Cunha Chimenti, somente será imprescindível a nomeação de curador especial se houve o prévio arresto ou penhora de bens, revelando-se dispensável tal nomeação quando a citação editalícia visou unicamente à interrupção da prescrição24 25.

Oportuno tecer, nesse ponto, algumas considerações acerca das conse-quências processuais da ausência de nomeação de curador ao réu citado por edital na execução fiscal, especialmente no tocante à possível nulidade dos atos processuais posteriormente praticados.

Parece, na mesma linha de raciocínio do autor citado, que se não foram arrestados, penhorados ou de qualquer forma tornado indisponíveis quaisquer bens do executado, não se há de declarar qualquer nulidade.

Com efeito, analisando-se o vício sob o prisma da doutrina clássica das nulidades, observa-se que a norma que determina a nomeação de curador especial é de natureza pública (norma processual), possui caráter cogente (impositiva) e tutela interesse privado do executado. Sendo assim, cuida-se de nulidade relativa, que admite, para fins de exame de validade do ato, que se passe à análise da existência ou não de prejuízo à parte, conforme o princípio “pass de nulité sans grief”. No caso delineado, ainda que inobservada a forma processualmente prevista, se não houver a constrição sobre qualquer bem, a ausência de curador não implicará qualquer prejuízo ao executado, razão pela qual não se há de decretar a nulidade do ato.

Somente haverá prejuízo se, a par da ausência de nomeação de curador, vierem a ser constritados ou alienados bens do executado, sem que lhe seja oportunizado, ainda que por meio de curador, ofertar a sua defesa. Nesse caso específico, a ausência de curador importará evidente prejuízo ao executado, que poderá ver-se destituído dos seus bens sem oportunidade de defesa, ra-zão pela qual a nulidade, embora relativa, poderá ser decretada até mesmo ex officio pelo juízo. Não que a nulidade, nessa hipótese, transmude-se em absoluta: ainda se cuida de nulidade relativa, mas que não passa pelo exame do prejuízo e, sendo assim, não pode ser convalidada.

Em conclusão, a nomeação de curador ao réu citado por edital só se re-vela imprescindível se houver arresto, penhora ou qualquer outra forma de restrição sobre o seu patrimônio, podendo ser dispensada nos demais casos.

24. CHIMENTI,RicardoCunha et al.Lei de Execução Fiscal Comentada e Anotada. Lei nº 6.830, de 22.09.1980: Doutrina, Prática, Jurisprudência. 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2008. pp. 130/131.

25. Na verdade, a citação por edital com o intuito de prevenir a prescrição perdeu a sua razão de ser, em razão de que agora basta o despachoordenandoacitaçãoparaqueobtenhatalefeito,independentementedanatureza dos créditos, se tributários ou não.

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Quanto aos efeitos da citação por edital, especialmente no tocante à prescrição, o REsp nº 999.901/RS, julgado sob a égide do art. 543–C do CPC, sepultou qualquer controvérsia que ainda persistisse sobre a interrupção do prazo prescricional por essa espécie de citação, ao afiançar, sem margem para quaisquer dúvidas, que a citação por edital interrompe a prescrição.

Portanto, realizada a citação do executado por edital, nos termos do art. 8º, IV, da LEF, operam-se normalmente os efeitos da interrupção da prescrição.

3.4. Citação por hora certa

Uma quarta modalidade de citação, embora não contemplada expres-samente no art. 8º da LEF, pode ser, por força da aplicação subsidiária das regras do CPC26, intentada: é a citação por hora certa, prevista nos arts. 227 a 229 daquele diploma legislativo.

Essa modalidade é reservada para os casos em que o devedor não é encontrado no endereço diligenciado pelo Sr. Oficial de Justiça e há suspeita de que esteja se ocultando da citação.

Cuida-se de situação distinta daquela que autoriza a citação por edital, na medida em que é conhecido o endereço do devedor, o qual, todavia, pro-cura-se esquivar da citação.

Para que não sobejem dúvidas: quando não for localizado o endereço do devedor, é admissível a citação por edital; quando o endereço é conhecido, mas há indícios de que o devedor está utilizando artifícios para se ocultar, furtando-se à citação, é cabível a citação por hora certa.

Nessa espécie de citação, o oficial de justiça deverá, de oficio, consta-tando que o devedor tenta se ocultar, ou em cumprimento de ordem judicial expedida a requerimento do exequente, intimar qualquer pessoa da família, ou mesmo algum vizinho, de que no dia imediato retornará em hora previamente marcada para efetuar a citação.

Sobre a admissibilidade dessa forma de citação no executivo fiscal, veja-se o seguinte precedente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região:

EXECUÇÃO FISCAL - PARCELAMENTO - AJUIZAMENTO DA EXECUÇÃO - EX-TINÇÃO - CITAÇÃO POR HORA CERTA.

1. Para sustar os efeitos da exeqüibilidade do crédito tributário, não basta à parte comprovar que requereu o parcelamento no prazo legal, mas sim que teve o pedido deferido pela Administração, tacitamente, pelo decurso do

26. Paramelhorcompreensão,remete-seoleitoraoCapítuloI,noitemquetratoudosaspectosgeraisdaleideexecuçõesfiscais.

Citação do réu na execução fiscal

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prazo legal previsto para sua apreciação, ou expressamente, quando assim for exigido pela legislação. No caso dos autos, não havia, ainda, perfectibi-lizado-se nenhuma dessas formas de deferimento da moratória individual, de modo que não havia razão para que a Fazenda não ajuizasse a execução, e, muito menos, que o juízo a extinguisse.

2. Quanto à determinação para que a citação se realizasse por hora certa, a certidão, circunstanciada, do Oficial de Justiça, lavrada nos autos, bem de-monstra a forma renitente com que os representantes da executada se man-tiveram para a realização do ato citatório pela via normal. Essa resistência oposta ao cumprimento do mandado, autoriza a citação por hora certa.

3. Agravo improvido27.

Não se desconhece a existência de posicionamentos refratários a esse entendimento, sob o argumento de que a LEF não catalogou essa espécie de citação no rol do art. 8º. Tal argumentação, todavia, parece facilmente rebatível quando se observa, conforme referido no início do tópico, que o próprio artigo 1º da LEF autoriza a aplicação subsidiária das regras do CPC aos processos de execução fiscal.

Para finalizar, oportuno assinalar que, nesses casos, assim como nos de citação por edital, deverá ser nomeado curador especial ao executado, con-forme enunciado sumular nº 196 do STJ, valendo, ainda, as mesmas ressalvas à nomeação de curador analisadas naquela espécie de citação.

27. TRF 4. 2ª Turma. Agravo de Instrumento nº 2007.04.008089-0/PR. Relator: Juíza Federal Convocada Maria Helena Rau de Souza. Decisão Unânime. Porto Alegre, 12 de fevereiro de 2008, publicação em 21.02.2008.

Marcos Paulo Sandri